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O MUNDO EM QUE VIVI, Ilse Losa

Este conto fala de uma menina chamada Rose, essa menina era frágil, de cabelo loiro, de feições
infantilmente lisas é marcada pelo amor e admiração que tinha pelo avô “Markus”, mas também por
questões sem resposta como os motivos que levam os adultos a envolverem-se em guerras.
O crescimento de Rose, foi marcado pois era uma criança diferente das outras por ser judia, mas
como tantas outras na sua maneira de ser, na vista que tinha acerca do mundo que a rodeava, apenas o que a
diferenciava era mesmo ser judia. Rose, sendo então uma criança como tantas outras, caracterizava-se pela
sua curiosidade, imaginação, ingenuidade e sensibilidade. A curiosidade de Rose revela-se pelo
desconhecimento que tem do mundo em geral e da guerra. Além disso, é muito curiosa, querendo conhecer
os membros da família que via nos álbuns com o avô, tentando também perceber por que razão não usa
meias como as dos colegas ou qual o problema de ser judia, entre outros aspetos. 
A sensibilidade de Rose está ligada aos seus avós, tendo dois irmãos, que não viviam com ela mas
com os seus pais. A relação que estabelece com eles é diferente. Para ela, o avô é uma figura paterna, que
lhe dá força e ânimo, que lhe dá mimos, que lhe faz surpresas, ou seja, o avô é o adulto que mais
importância tem na sua vida. Verifica-se que tem uma dependência afetiva do seu avô. Por outro lado, Rose
associa a avó “Ester” à figura de autoridade pois ela é bastante rigorosa, é ela que castiga e que repreende,
sendo por essa razão que Rose age com timidez muitas das vezes que fala sobre algo ou em algumas
circunstâncias em que se relaciona com a avó.
A família de Rose tinha sido afetada pela guerra e, acima de tudo, pelo facto de ser judia. A religião
desempenha um papel fundamental na sua vida devido às regras e princípios que ela e os avós têm de seguir.
Congregam-se numa igreja diferente, o dia do culto religioso é o sábado e há vários rituais que tinham que
cumprir.    
Rose via as guerras como jogos para onde os soldados eram obrigados a ir, onde se podia matar sem se ser
castigado. Mais tarde, ainda reforçou mais a ideia que já tinha anteriormente, associando as guerras a um
jogo por se poder ganhar ou perder.
O pai de Rose estava doente, conseguindo a doença do pai superar  a dificuldade de comunicação, a
tristeza dominava-a por completo. Havia falta de amor entre Rose e os seus pais, pois estes estavam quase
sempre a trabalhar, e tendo em conta que passou a maioria da sua infância com os seus avós, estando muito
ligada a eles.
Mais tarde, após a morte dos avós, do pai e de outros familiares e amigos. Rose teve que desistir de
tirar um curso , tendo em conta que as suas qualidades financeiras não o permitiam, então Rose vai trabalhar
para Berlim, onde consegue uma colocação modesta numa companhia de seguros, mantendo viva a
lembrança daquele que foi o seu primeiro amor, “Paul”. Aceitou esse emprego para ter uma vida melhor e
para a sua mãe não ter que trabalhar tanto, ajudando-a assim, a sustentar a família.
É então que, ao ver-se procurada por dois polícias, com o objetivo de a questionarem acerca do seu
chefe de trabalho, abandona assim o seu país rumo a um longo exílio da terra natal e um tempo de felicidade
ensombrada, com medo de matarem ou de prenderem, devido ao facto de ser judia.
GRUPO I
Lê atentamente o texto e logo de seguida todas as questões deste grupo; depois, responde.

SER DIFERENTE

O Tio Franz mandou dizer, por carta, que casara e que a mulher se chamava Marie. “Kleina Oma”
queixou-se de que, bem vistas as coisas, não ficou a saber nada, nem sequer se Marie era judia. A
minha mãe pediu informações mais pormenorizadas e o tio Franz respondeu que não, que Marie não
era judia. Que era uma jóia!
- Resposta bem dada!, comentou o pai, e deu uma gargalhada. (...)
A partir do momento em que Marie me pediu que não lhe chamasse tia, mas pelo nome, afeiçoei-me
a ela. Marie morreu. No fim da guerra o seu nome figurou, burocraticamente, entre os dois mortos em
Buchenwald. Como poderei eu esquecê-la?
Como se soubesse das dúvidas que me afligiam, procurava ocasiões para estar a sós comigo. Viu
entrar o sr. Heim e perguntou quem era. Falei-lhe então das lições de Bíblia e de hebraico que com ele
tomávamos e, em seguida, falei do liceu onde frequentemente me sentia humilhada por ser judia. Não
mostrava ter pressa nem impaciência, dava a ideia de estar à espera das minhas palavras, de ter sede
das minhas palavras. De vez em quando pousava a mão sobre a minha cabeça como se quisesse dizer:
“Fala, desabafa. Estou aberta para te receber, inteirinha, tal como és”. E tudo o que em mim se debatia
há tanto tempo, saía: porque é que eu era diferente da maioria?» Porque é que, desejando ser igual,
quando ouvira o médico Schonberg dizer que batizara os filhos, não me apetecera fazer o mesmo? (...)
E Marie ouvia, silenciosa.
Mas um dia também me falou de si:
- Eu era pobre, Rose. Passava muitas vezes fome. A fome magoa e eu sofria, chorava. Torturava-me
a ideia de ser diferente das colegas de escola. Perguntava-me: porque é que não tenho uma casa bonita
como tantos outros? Porque é que não posso ir ao teatro e às confeitarias como eles? Porque é que...
porque é que...
- Afaguei-lhe a cara e ela, com um sorriso ao mesmo tempo calmo e penetrante, disse:
- Não tenhas pena de mim, Rose. Sou muito feliz agora.
- Marie, tu rezas de noite na cama?
- Não, amor, não rezo. Proponho-me ser recta e tenho esperança de o poder cumprir.
Mas posso eu falar de Marie dum modo diferente se é assim que a vejo na memória?

Ilse Losa, O Mundo em que vivi


Edições Afrontamento. (texto com supressões)

1. O excerto transcrito da obra de Ilse Losa destaca dois exemplos diferentes de discriminação.
1.1. Que formas de discriminação são referidas neste texto?
1.2 Transcreve as expressões do texto em que se faz referência a essas duas formas de
discriminação:
a) ______________________________________________________________________________
b) ______________________________________________________________________________

2. Rose, a narradora, e Marie vão-se aproximando pouco a pouco. Que sentimento as uniu?
2.1. Que facto fez nascer esse sentimento?
3. Neste texto, os acontecimentos não são apresentados na sua ordem natural.
3.1. Faz uma listagem dos acontecimentos:
Pela ordem de apresentação no texto Pela ordem real, no tempo




4. Presta atenção ao texto e destaca excertos em que encontres:


a) Um momento de narração:
________________________________________________________________
b) Um momento de diálogo:
_________________________________________________________________
c) Um momento de descrição:
_______________________________________________________________

5. Tenta explicar as seguintes expressões:


a) ”ter sede das minhas palavras”.(l.13) ______________________________________________________
b) “Proponho-me ser recta”. (l.27) ___________________________________________________________

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