Você está na página 1de 1

A dependência das rodovias: os desafios para promover a variação dos modais de transporte

no Brasil
Até meados do século XIX, o transporte de cargas era majoritariamente marítimo e ferroviário,
devido às suas ocupações e explorações concentradas nas regiões mais próximas à faixa
litorânea. Contudo, nos governos dos presidentes Washington Luís e Getúlio Vargas, o modal
rodoviário ganhou destaque com a construção de rodovias em diversos trechos do país e,
atualmente, realiza cerca de 60% do transporte de cargas no Brasil. Dessa forma, essa
conjuntura exemplifica uma problemática que age no atual cenário econômico brasileiro: a
dependência das rodovias no cenário logístico, responsável pelos desafios enfrentados para
promover a variação dos modais de transporte no país. A subordinação logística à malha
rodoviária, que ocorre em razão da falta de investimentos públicos em infraestruturas
adequadas para o aprimoramento dos demais modais disponíveis no território, corrobora para
o quadro citado que atinge a sociedade brasileira.
Nessa perspectiva, é válido abordar que a dependência da malha rodoviária que impossibilita a
variação dos modais de transporte no país é decorrente da falta de investimentos públicos em
devidas infraestruturas nos setores ferroviários, aeroviários, dutoviários e hidroviários.
Segundo previsões do Ministério de Infraestrutura, no Brasil, aproximadamente 72% dos
recursos financeiros destinados aos modais de transporte de cargas são direcionados apenas
ao modal rodoviário e 28% são divididos entre os outros modais. Além disso, a série
“Transamazônica – Uma Estrada para o Passado”, produzida pela HBO, aborda essa situação
ao retratar os gastos públicos na construção civil de uma grande rodovia, a Rodovia
Transamazônica que liga Norte-Nordeste. Assim, esse cenário exemplifica incontestavelmente
a má distribuição dos investimentos públicos entre as malhas de transporte de cargas no país,
a qual viabiliza a demasiada dependência dos transportes rodoviários no setor econômico
brasileiro e o pouco desenvolvimento das demais vias de transportes.
Em consequência desse contexto, a subordinação em relação às rodovias tem se tornado cada
vez mais frequente nas áreas logísticas brasileiras. Dados da Confederação Nacional de
Transportes (CNT) comprovam que mais de 60% dos transportes de cargas realizados no Brasil
provêm da malha rodoviária. Essa dependência é ameaçadora para as empresas e instituições
que utilizam apenas esse modal como opção para a realização de suas transportações, visto
que sofrem grande impacto quando as rodovias apresentam divergências ou são interditadas,
como ocorreu com o bloqueio das vias com a greve dos caminhoneiros em 2018 e com a atual
paralisação após as eleições de 2022. Dessa forma, os impactos que atingem as rodovias
refletem e influenciam diretamente na área logística e econômica do Brasil, além de interferir,
principalmente, nos processos de abastecimento dos suprimentos necessários no cotidiano da
população.
Portanto, nesse viés, é imprescindível que ações sejam tomadas para reverter a dependência
rodoviária e a desigualdade entre os modais no país. Para isso, cabe ao Ministério da
Infraestrutura, com o auxílio da Confederação Nacional da Indústria, realizar planejamentos e
traçar estratégias que possam alterar essa situação por meio de uma melhor distribuição dos
investimentos públicos destinados ao sistema de transporte de cargas no Brasil, viabilizando
recursos para as manutenções e construções de ferrovias, portos, aeroportos e dutos, para
que, assim, os setores logísticos e industriais possam usufruir de uma maior variedade de
escolha entre os modais utilizados em seus transportes. Através disso, será possível possibilitar
aplicações mais eficientes dos recursos públicos entre as malhas de transporte, de maneira a
atuar nos desafios da subordinação logística em relação à dependência das rodovias, e com
isso, solucionar essa problemática encontrada no atual contexto nacional.

Você também pode gostar