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A Utilização de Jogos Pedagógicos no


Ensino da Leitura Musical para
Crianças: propostas didáticas para
aulas de ...
Vinícius Eufrásio

Anais do 1º Colóquio de pesquisa em música da UFOP

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ENSAIO ABERT O: Reflexões art íst icas de uma formação docent e. - BARROSO, A. 2011.
Alan Villela Barroso
1º Colóquio de Pesquisa em Música da UFOP
Ensino, memórias e linguagens em diálogo interdisciplinar
28 e 29 de março de 2017 - Ouro Preto – MG – Brasil

A UTILIZAÇÃO DE JOGOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DA


LEITURA MUSICAL PARA CRIANÇAS: PROPOSTAS DIDÁTICAS
PARA AULAS DE EDUCAÇÃO MUSICAL NO ENSINO
FUNDAMENTAL
87
Vinícius Eufrásio

Resumo:
Partindo da discussão sobre a utilização do jogo enquanto material pedagógico concreto e enquanto
atividade lúdica, caracterizado como brincadeira, mesmo que inserido no contexto de salas de aula,
apresenta-se o questionamento e reflexão sobre sua aplicação didática na qual, dirigido pelo professor, o
jogo transcende sua ludicidade, passando a não conter fim apenas em si mesmo, sendo utilizado em prol
de ações de ensino e aprendizagem. Com o objetivo de contribuir para o estudo acerca do emprego de
jogos pedagógicos na Educação Musical, este trabalho apresenta uma investigação em torno de algumas
possibilidades de utilização e aplicabilidade do jogo como ferramenta didática, tendo-o em perspectiva
enquanto material concreto e, simultaneamente, atividade educativa dentro do contexto do ensino de
música em escolas da rede regular de ensino, explorando especificamente os processos de ensino e
aprendizagem da leitura musical por alunos que cursam os primeiros anos do Ensino Fundamental em
escolas da rede municipal de uma determinada cidade em Minas Gerais. Deste modo, partindo de uma
discussão e reflexão conceitual, embasada na literatura referente ao estudo dos termos jogo, brinquedo e
brincadeira, buscou-se conceituações que caracterizem o emprego deste termo em salas de aula,
principalmente, nas quais ocorrem aulas musicalização, indagando o comportamento do educador perante
duas possibilidades opostas: 1) a postura de atuação puramente tradicional, embasada no modelo
conservatorial 2) a postura completamente livre, pouco deliberativa e que faz com que as aulas de música
tornem-se momentos de recreação. Assim, este trabalho apresenta propostas didáticas para a aplicação de
jogos enquanto ferramentas pedagógicas para o ensino da leitura musical em aulas de Educação Musical,
bem como um relato de experiência elaborado a partir da utilização de jogos planejados e confeccionados
para utilização em sala de aulas na escola regular, através dos quais foi possível trabalhar conteúdos
musicais de forma lúdica, transformando momentos de estudo e automatização da leitura musical e
momentos prazerosos de aquisição de conhecimento, trocas de experiências e diversão entre colegas.

Palavras-chave: Música na escola. Educação musical. Brinquedo pedagógico. Musicalização. Ensino


lúdico.

Introdução
Quando fala-se nos termos jogo, e educação, na pretensão de lhes atribuir uma
associação para fins pedagógicos, muitas dúvidas ainda persistem entre os educadores,
sendo estes, atuantes de qualquer área do saber (KISHIMOTO, 2002/1994, p. 13).
Muitos, portanto, se perguntam se há diferença entre jogo, e material
pedagógico, e se o jogo quando inserido em uma sala de aula ainda mantém a
característica de jogo enquanto brincadeira, contendo fim apenas em si mesmo, ou se
passa a ser uma mera atividade dirigida pelo professor perdendo sua ludicidade. Tais

*
Especialista, Universidade Federal de Minas Gerais/CAPES. (vni_mus@hotmail.com)

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dúvidas ainda insistem em existir em contextos educativos em qualquer esfera do


conhecimento, e na educação musical não é diferente.
Poderia o jogo, ser um recurso utilizado em sala de aula para fins educativos
mantendo sua essência lúdica e ao mesmo tempo contribuir dentro dos processos de
aprendizagem sem perder o foco didático?
É proposta deste artigo a investigação das possibilidades de aplicação do jogo
utilizado como ferramenta pedagógica, sobretudo, dentro do contexto específico de
educação musical, dentro da área que compete ao estudo da leitura musical, visto que o
ensino de música tende a se estender pelo Brasil com o surgimento da lei 11.769
sancionada em 18 de agosto de 2008, determinando a música como conteúdo
obrigatório em toda a educação básica brasileira.
Para se chegar à formação de uma opinião sobre a aplicação do jogo em
momentos de educação musical, é feita neste trabalho, uma abordagem sobre o ensino
de música e sua posição social atual. Visto que é fato, sua grande importância no
decorrer da história como prática educativa, principalmente na educação dos cidadãos
nas primeiras sociedades.
Para a exposição de alguns elementos que possam conduzir esta pesquisa a uma
resposta sobre a utilização do jogo como recurso pedagógico nas aulas de educação
musical serão abordadas citações de vários autores, estudiosos sobre o jogo, a educação,
e o ensino de música, que contribuirão com uma ampla parcela nos resultados obtidos.
Por fim, este trabalho propõe alguns jogos elaborados a partir de uma abordagem que
busca considerar a influência de uma aprendizagem em relação à outra, quando uma
nova informação pode ser apoiada em elementos de um conhecimento já adquirido,
criando relações com este, facilitando a assimilação.

1. Conceituando e caracterizando jogo


O jogo é estudado em várias áreas do conhecimento, tais como Psicologia,
Pedagogia, Filosofia, Sociologia e Antropologia. “Cada uma dessas áreas define e
estuda o jogo de maneira própria, levando-se em conta o contexto social e cultural em
que este é empregado” (SILVA, 2003 apud MORAIS, 2009, p. 15).

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Consultando o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2004, p. 439), e o


Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa (1964, vol.03, p. 2280), é possível
encontrar dezenas de definições para a palavra jogo, entre elas: “Atividade física ou
mental fundada em sistema de regras que definem a perda ou o ganho”; ou “Exercícios
ou passatempo recreativo sujeito a certas regras”; ou “Conjunto de regras, sob as quais
se devem jogar”.
Existe uma variedade enorme de tipos de jogos conhecidos como faz-de-conta,
jogos simbólicos, intelectuais ou cognitivos, jogos motores, sensório-motores,
metafóricos, verbais, de palavras, de adultos, de salão, e vários outros. Isso mostra o
âmbito que pode abranger o termo jogo e quão complexo pode ser lhe atribuir um
significado.
Existem, também, os termos brinquedo e brincadeira, que têm sido utilizados
com o mesmo significado do termo jogo na língua portuguesa. De acordo com
Kishimoto (2002/1994, p. 7) é esta utilização polissêmica que tem trazido maiores
dificuldades à conceituação de jogo. “O temo brinquedo tem significado tanto como
sendo o objeto com que as crianças brincam como a brincadeira ou jogo propriamente
dito” (HOUAISS, 2001, p. 514 apud MORAIS, 2009, p. 16). O jogo, brinquedo e
brincadeira são conceitos distintos; e assim devem ser tratados. O primeiro pressupõe
uma regra, o segundo é o objeto que pode ser manipulado, e o terceiro é a ação de
brincar, sendo tanto com o brinquedo ou com o jogo (MIRANDA, 2001, p. 12).
O jogo é visto como “ uma atividades física ou mental, que utiliza de materiais
concretos ou não, amparada por regras e imbuída de objetivos, seja ela realizada com
brinquedos ou não” (MIRANDA, 2001, p. 31 apud: MORAIS, 2009, p. 16). Sendo
assim, o jogo pode ocorrer tanto com ou sem o uso do brinquedo. De acordo com
ARAÚJO (1992, p. 64) "jogo é uma atividade espontânea e desinteressada, admitindo
uma regra livremente escolhida que deve ser observada ou, um obstáculo
deliberadamente estabelecido, que deve ser superado”.
Kishimoto (2002/1994) aponta a existência de regras como sendo uma
característica marcante de todo jogo, sendo essas regras, reesposáveis pela organização
do mesmo e da série de acontecimentos que levam à sua realização. Além de tudo,
entende-se que o jogo, por ser uma ação voluntária, possui um fim em si mesmo, e não
visa um resultado final um produto.

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Para Henriot (1989, apud: Kishimoto 2002/1994, p. 5) todo e qualquer jogo se


distingue de outras condutas por uma atitude mental caracterizada pelo distanciamento
da situação, pela incerteza dos resultados gerada pela liberdade de ação, e pela ausência
do sentido de obrigação em seu engajamento. O jogo supõe uma situação concreta onde
o jogador age de acordo com ela baseando-se nas possibilidades permitidas pelas regas.
Nota-se que o fato de conter regras é o principal divisor que distingue o termo
“jogo” dos termos “brinquedo” e “brincadeira” colocando-o como uma ação, conduta.
Através do ato de jogar, as crianças podem aprender a seguir determinadas condutas e
também passar a aceitar uma série de normas que permitem que o jogo possa acontecer.
Com isso a criança ganha consciência do valor das regras e entendem a necessidade
delas para viver em sociedade. “É brincando que a criança pode ser chefe, pai, professor
e general”. (VELASCO, 1996 p. 32).
De acordo com Guia e França (2005), “o jogo é também um espaço oferecido à
criatividade, à interação e à participação que transforma a aula em oportunidades de
aprendizado efetivo”. Jogando, o aluno tem a oportunidade de experimentar o
inesperado, de refletir estratégias, e de desafiar a si mesmo e aos outros. “Nestes
momentos há entendimentos, compreensão, descobertas e revelações” (GUIA;
FRANÇA, 2005, p. 9).
Os autores citados até então, apresentam pontos comuns; elementos que podem
se interligar e nos aproximar de uma conceituação para o termo jogo. Liberdade de ação
do jogador, caráter voluntário, caráter não sério, efeito positivo, regas, relevância do
caráter de brincar, incerteza de seus resultados, representação da realidade, imaginação,
contextualização no tempo e no espaço. “São tais características que permitem
identificar condutas que podem ser chamadas como jogo” (KISHIMOTO, 2002/1994, p.
7).

2. O jogo e a educação de crianças


Muitas dúvidas persistem entre educadores que procuram associar o jogo à
educação (KISHIMOTO, 2002/1994, p. 13). Como já dito anteriormente, entende-se
que o jogo é uma ação voluntária de um ou mais indivíduos denominados como
jogadores, regida por regras, que possui um fim apenas em si mesmo. Mas, e o jogo

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empregado em sala de aula como ferramenta pedagógica, que consequentemente não


possui um fim apenas em si mesmo, seria então realmente jogo?
Kishimoto (2002/1994) entende que qualquer atividade que é realizada pelo
aluno na escola visa sempre um resultado, e é uma ação dirigida e orientada buscando
fins pedagógicos. Sendo assim, o emprego de um jogo em sala de aula se transforma em
um meio para atingir tais resultados. Então, o jogo entendido como ação livre e tendo
um fim apenas em si mesmo não teria lugar na escola?
Brougère (2008/1994) aponta considerações que estabelecem relações entre jogo
e educação. Primeiramente considerando o jogo como sendo uma recreação e um
relaxamento indispensável, dessa forma, contribuindo indiretamente com a educação
permitindo ao aluno relaxado ser mais eficiente no processo educativo. Em seguida o
autor destaca o interesse que a criança manifesta pelo jogo e a possibilidade de
aproveitamento disso em sua educação. ”É possível dar o aspecto de jogo a exercícios
escolares, é o jogo como artifício pedagógico” (BROUGÈRE, 2008/1994 p. 54). Sendo
assim, é possível que o jogo ofereça ao pedagogo a possibilidade de explorar a
personalidade infantil e adaptando assim o ensino ao aluno e a sua infância.
Chateau (1987, p.126 apud MORAIS, 2009, p. 27) “observou que certos jogos
infantis (como “fazer comidinha”, ou “brincar de mecânico”) culminavam em trabalhos
reais”. A escola então aliou o esforço ao lúdico, assim diluindo-o, transformando-o em
jogo. Quando a atividade é repleta de significado para a criança, ela aprende a
considera-la tanto como tarefa quanto jogo, ou seja, esforça-se simplesmente pelo
prazer que contém a atividade lúdica. Essa é uma situação ideal do uso do jogo em
auxílio à aprendizagem (MORAIS, 2009, p. 27).
Quintiliano (1975, apud BROUGÈRE, 2008/1994, p. 55) propõe técnicas para
fazer com que a aprendizagem se torne diversão; tais como, por exemplo, doces em
formas de letras para transvestir o trabalho em atividade lúdica. “O jogo é um meio, um
suporte para seduzir a criança”, lê-se em Brougère (2008/1994 p. 55). Para despertar o
interesse da criança, o trabalho ou tarefa deve se assemelhar, de maneira subjetiva, ao
jogo, porém não se tratando de um jogo, só guardando sua aparência. “Dentro desta
visão, utiliza-se do jogo a motivação que este gera, e o interesse que desperta nas
crianças” (BROUGÈRE, 2008/1994, p. 55).

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Entende-se que o jogo, dentro de sua própria conceituação e caracterização não é


o mesmo jogo utilizado como ferramenta pedagógica utilizada em contextos educativos
pelo fato de quando empregado desta forma perde totalmente o fim em si mesmo. O
jogo usado dentro de um contexto educativo deve ser entendido como uma mistura da
ação lúdica com a orientação do professor, visando à aquisição de saberes e o
desenvolvimento de habilidades e competências nos educandos (KISHIMOTO,
2002/1994, p. 23). O jogo deve representar um fim em si mesmo apenas para a criança,
para o professor ele deve ser um meio de ensinar e educar. Daí vem o nome de “jogo
educativo” (BROUGÈRE, 2003/1998, p.122).
Segundo Chateau (1972, apud ROSAMILHA, 1978, p.52) em uma tentativa de
se caracterizar e definir o conceito de infância observa-se o jogo como a conduta mais
característica desta fase da vida. A criança, diferentemente dos adultos, considera o ato
de jogar não apenas como “passar o tempo”, mas, vê objetivos imediatos que dão
origem a processos intelectuais de adaptação ao real. (ROSAMILHA, 1979, p. 49-52)
De acordo com Brougère (2003/1998, p. 122) o jogo educativo nasceu da junção
da necessidade de a criança jogar com a necessidade de se educá-la. “Ele contém, ao
mesmo tempo, uma função lúdica e uma função educativa, exercidas em equilíbrio”
(MORAIS, 2009, p. 26). É preciso grande atenção quanto ao equilíbrio necessário entre
as funções lúdicas e educativas, pois, se eventualmente ocorrer um desequilíbrio, ele
provocaria uma situação de ensino onde o jogo não está sendo realmente utilizado, ou,
uma situação onde não ocorreria um processo de ensino, mas si, apenas o jogo com
finalidade si mesmo.
Santos (2000, p. 39) enfatiza alguns aspectos para que se possa usar o jogo como
estratégia de aprendizagem:

Existem dois aspectos cruciais no emprego dos jogos como instrumentos de


aprendizagem significativa. Em primeiro lugar, o jogo ocasional, distante de
uma cuidadosa e planejada programação, é tão ineficaz quanto um único
momento de exercício aeróbico para quem pretende ganhar maior mobilidade
física. E, em segundo lugar, certa quantidade de jogos incorporados a uma
programação somente tem validade efetiva quando rigorosamente
selecionada e subordinada à aprendizagem que se tem como meta. Em
síntese, jamais pense em usar os jogos pedagógicos sem rigoroso e cuidadoso
planejamento, marcado por etapas muito nítidas e que efetivamente
acompanhem o progresso dos alunos, e jamais avalie sua qualidade de
professor pela quantidade de jogos que emprega, mas sim pela qualidade dos
jogos que se preocupou em pesquisar e selecionar. Nem todo jogo, portanto,
pode ser visto como material pedagógico. Em geral, o elemento que separa

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um jogo pedagógico de um outro de caráter apenas lúdico é este: desenvolve-


se o primeiro com a intenção explícita de provocar aprendizagem
significativa, estimular a construção de novo conhecimento e principalmente
despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatória (SANTOS, 2000,
p. 39).

Os jogos fazem parte do mundo da criança, são fundamentais para sua formação
e desenvolvimento. “Sua importância é notável já que através deste a criança constrói
seu próprio mundo” (SANTOS, 1995, p.4). Segundo Piaget (1962, p.162 apud
ROSAMILHA, 1979, p.59) “o jogo constitui o polo extremo da assimilação da
realidade”, fazendo intima relação com a imaginação e a criatividade, fontes de todo
pensamento e raciocínio posterior (ROSALMILHA, 1979, P. 59). Por isso se torna tão
importante para criança e tão funcional em termos de educação, a utilização do jogo
como ferramenta pedagógica.
Além do auxílio do jogo no desenvolvimento cognitivo, este ajuda a criança
também a aprender valores sociais, a respeitar e se orientar perante regras e normas para
conquista de uma harmonia cultural com seu meio de pessoas e objetos. Segundo
Hartley (1971, apud ROSAMILHA, 1979, p. 62), “além desta aprendizagem social, há
também a pessoal: que advém dos valores que emergem dos jogos infantis, como a
coragem, a curiosidade, o otimismo, a aceitação, a maturidade emocional, o
comprometimento e a alegria”.
“No jogo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua
idade. Por isso, Vygotsky considera que essa atividade condensa todas as tendências do
desenvolvimento e é, ele mesmo, uma fonte de desenvolvimento” (VYGOTSKY,
2007/1984, p.120 apud MORAIS, 2008, p.57). “A criança em idade pré-escolar possui
necessidades e incentivos que são importantes para o seu desenvolvimento, e
espontaneamente expressos no jogo” (VYGOTSKY, 1966/1933, p.2 apud MORAIS,
2008, p.57).
Graças às contribuições dos autores citados é possível perceber o quão
importante é o jogo para o desenvolvimento da criança, e o quanto pode ser válida a sua
aplicação como elemento pedagógico na busca por processos de aprendizagem que
conduzam o aluno de uma maneira mais natural à aquisição do saber. Mas, e em se
tratando de aulas de música? Será possível também a aplicação do jogo como
ferramenta pedagógica? Para respostas destas perguntas, primeiramente faz-se

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necessário saber por onde anda a educação musical no Brasil, e em como esta tem
atuado dentro do sistema educacional e social do país.

3. O jogo e a educação musical


Em meio ao contexto em que se encontra educação musical no Brasil, faz-se
necessário a busca por metodologias de ensino de música, capazes de dialogar com os
objetivos pedagógicos, com a música em si, e é claro com os alunos. “Diante da atual
diversidade de manifestações musicais, justificadas pelo processo acelerado da
globalização, uma nova postura inspira e busca uma nova identidade para educação
musical” (LOUREIRO, 2010/2003, p. 164).

Não adianta reformular ou completar programas de ensino, se a didática e a


metodologia, na prática, continuarem desatualizadas, e se limitarem a
transmitir ao aluno os conhecimentos herdados, consolidados e
frequentemente repetidos em todos os semestres através de aulas de doutoral
e fastidiosa autuação do professor (KOELLREUTTER, 1985, p. 195 apud
LOUREIRO, 2010/2003, p. 164).

As fases iniciais de uma formação que precedem o domínio de um conteúdo,


consistem muitas vezes em momentos densos, às vezes difíceis, porém, decisivos para
que o processo se resulte em aprendizagem (GUIA; FRANÇA, 2005, p. 10). Ao se falar
de ensino de música não é diferente, principalmente quando se trata de conteúdos
teóricos, como por exemplo, a identificação de notas no pentagrama musical.
O jogo, utilizado como material didático é um recurso criativo que possibilita
estratégias capazes de predispor o aprendizado, tornando o que poderia ser uma sessão
longa de exercícios, um momento agradável de descontração e aprendizado em sala de
aula. Visto que jogos utilizados como ferramenta pedagógica são exercícios fantasiados
de brincadeira, trabalho transvestido em ludicidade.
Na educação musical moderna, escolas da Europa e dos Estados Unidos da
América tomam o jogo como um considerável recurso pedagógico a ser utilizado em
aulas de música, considerando-o até como sendo um elemento vital da metodologia de
ensino que utilizam nos processos de musicalização. (STORMS, 2000/1989, p. 12).
Jogos utilizados como ferramentas pedagógicas para o ensino de música
consistem em atividades lúdicas que se apoiam em um material concreto ou não para

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promover a automatização de forma gradativa de elementos do conteúdo musical em


questão (GUIA; FRANÇA, 2005, p. 11). A criança joga e, enquanto joga, reflete sobre
informações, exercitando o conteúdo que precisa ser trabalhado para que aconteça o
aprendizado. “Se de certa forma podemos dizer que tudo em música é variação, torna-se
importante nos processos educativos variar, subverter as expectativas usuais, incluir o
diferente no mesmo aparente e aí caminhar” (GUIA; FRANÇA, 2005, p. 9).
Embora a utilização dos jogos seja um excelente recurso dinamizador para ser
aplicado em uma aula de música, o processo de educação musical não pode ser
resumido pelo professor apenas no emprego de jogos pedagógicos musicais (GUIA;
FRANÇA, 2005, p. 18). Os jogos representam uma opção a mais para se trabalhar
conteúdos nas aulas, que devem ser compostas tendo também a presença de atividades
puramente musicais, que trabalhem canções, ritmos, movimentos corporais, apreciação
musical, e promovam a criatividade dos alunos ao explorarem os sons; Ao jogo então,
fica a função de ilustrar o conteúdo e os elementos trabalhados na aula.

A prática do jogo é fundamental para o desenvolvimento e a aprendizagem


musical dos alunos. Ele permite praticar e refinar a representação mental dos
conteúdos musicais e, pelo componente imaginativo que lhe é inerente, abre
caminhos para o desenvolvimento do pensamento abstrato. A atividade lúdica
favorece o desenvolvimento integral da criança dentro de uma atmosfera de
agradável cumplicidade entre professores e alunos (GUIA; FRANÇA, 2005,
p. 20).

Cabe ao professor a responsabilidade de selecionar o jogo de acordo com o


planejamento de sua aula, e adequar o mesmo ao conteúdo que está trabalhando,
alinhando-o com os objetivos a serem desenvolvidos em sala de aula (ROCHA, 2007,
s/p). O professor é quem deve promover a articulação da criança com o material
utilizado e garantir o equilíbrio entre o lúdico e o pedagógico.

A utilização do material deve permitir, ainda, a articulação entre as


modalidades de jogo na prática musical diária, oferecendo, desse modo,
possibilidades para o efetivo engajamento da criança com o “fazer musical”
e, consequentemente, para o seu desenvolvimento musical (MORAIS, 2008,
s/p).

Toda criança possui potencial para aprender música, e quanto mais cedo é
iniciada na educação musical, maior e mais completo será o seu aprendizado,
desenvolvimento e envolvimento com a música, pois, diferente do que muitas pessoas

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pensam, aprender música está muito além do ato de tocar um instrumento musical, este,
é apenas um meio de exterioriza-la (ROCHA, 2007, s/p).
Assim sendo, a utilização do jogo como recurso pedagógico pode contribuir para
o desenvolvimento da criança dentro do processo de educação musical, visto que, os
jogos fazem parte do universo da criança e são fundamentais para sua formação. Como
o processo de educação musical possui várias vertentes, e diferentes conteúdos a serem
aprendidos pelo aluno, é preciso uma vasta coletânea de jogos para que o professor
possua ferramentas suficientes para utilizar o recurso “Jogo” como complementação em
sua prática de ensino.

4. A leitura musical e seu ensino por meio de jogos


Neste trabalho, será dada uma atenção especial aos jogos para ensino da leitura
musical, por esta ser um conteúdo fundamental para o aprendizado musical prático do,
já que 90% do material musical disponível em todo o mundo está grafado na linguagem
musical convencional (MORAIS, 2010, p. 4).
Embora o processo de musicalização não se inicie com o ensino da leitura ou da
escrita musical, e sim com o vivenciar da música, que se dá através de práticas
sensoriais, afetivas e de movimento motor, ter acesso ao aprendizado desta linguagem
musical é uma forma de tomar consciência da música em sua representação gráfica
(ROCHA, 2007, s/p).
“O ensino da leitura musical é um dos principais pontos de disputa e polêmica
em educação musical” (MARTINS, 1985, p. 27 apud FIREMAN, 2007, p. 04). É
comum ver em ambientes onde se ensina música, ou mesmo em escolas de música
especializadas, professores com dificuldades de ensinar leitura musical para seus alunos,
e alunos com dificuldade em aprender a ler o que se é chamado de partitura musical,
ainda mais quando se tratam de crianças. Na tentativa de que ocorra compreensão por
parte de crianças, muitos educadores utilizam de substituição dos elementos
convencionais da grafia musical por elementos simbólicos ou desenhos que por muitas
vezes, não são análogos e nem fazem conexão com as figuras que representam a escrita
padrão da música.

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Suponha-se o aluno aprenda a ler estes ditos elementos simbólicos ou desenhos,


e consiga ler e reproduzir o que seu professor propõe; como este aluno conseguirá
seguir seus estudos posteriormente já que não encontrará pela frente a mesma
representação gráfica? Apenas para fazer com que o aluno reproduza música seria
motivo forte o bastante para induzi-lo a aprender uma grafia musical que não faz sentido
com a convencional utilizada no mundo todo?
É arriscado, em termos psicológicos de ensino, sobrepor dois sistemas que não
apresentam pontos comuns e nem dialogam entre si, como no caso representado acima.
Portanto, toda forma de grafia musical alternativa deve ser coerente com a forma de
representação simbólica contida na notação musical convencional (MORAIS, 2010, p.
5). Quando uma criança passa pelo processo de alfabetização na escola, é preciso que as
letras sejam substituídas por outros signos?

Talvez a maneira como se ensine leitura musical não seja a mais adequada.
Normalmente, o que se observa em aulas de música é uma simples
decodificação de signos em detrimento ao desenvolvimento musical. Isso
sem contar que em muitas escolas ela é exigida, mas não é ensinada ou
exercitada. Sobre os benefícios, acredito que uma leitura fluente permita ao
estudante realizar uma maior quantidade de peças, possibilite uma
aproximação mais rápida da música (FIREMAN, 2007, p. 3).

Muito tem se ouvido falar sobre a importância da leitura musical para o


aprendizado em música, embora, ainda se encontre poucos estudos de aplicação prática
nesta área ou formas diversificadas de como ensinar alunos a lerem música. Segue-se
geralmente um padrão que parte desde a grafia do movimento sonoro até o que é
considerado como leitura absoluta (ROCHA, 2007, s/p), entretanto, metodologias
diferenciadas ainda são escassas.
“Não necessariamente se precisa ler partitura para realizar música. Contudo,
creio que às vezes os educadores se esqueçam das possibilidades de desenvolvimento
decorrentes dessa habilidade” (FIREMAN, 2007, p. 3). Ou em muito dos casos, não
sabem quais as camadas de conhecimento são necessárias sobrepor para construção
desta habilidade e nem como transmitir estes conhecimentos aos alunos, criando neles
uma significação, ou seja, uma aprendizagem significativa88.

88
A aprendizagem significativa ocorre quando uma nova informação apoia-se em conceitos ou
informações já existentes na estrutura cognitiva (ASUBEL apud OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010,
p. 23).

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Vários autores argumentam sobre as dificuldades encontradas por músicos ao


realizarem a leitura de partituras. Sendo assim, é extremamente importante a
realização de estudos que busquem entender como se dá essa leitura musical
e como é possível desenvolvê-la. (SLOBODA, 1985; NEIDT, 2005a;
MOLANO, 2005 apud FIREMAN, 2007, p. 3).

5. Propostas de jogos para ensino da leitura musical


Botelho (2005, p. 2) afirma que dentro das perspectivas de um estudo musical, a
leitura é sempre entendida como sendo uma prática árida e pouco prazerosa para os
alunos. Mas, por outro lado, é possível se pensar em uma metodologia que aborde os
complexos elementos encontrados na leitura musical com a ludicidade encontrada nos
jogos infantis.
Com base na minha experiência enquanto educador musical proponho neste
trabalho alguns jogos que podem ser utilizados no ensino da leitura musical em turmas
de ensino de música no Ensino Fundamental da Educação Básica. Os jogos aqui
apresentados foram concebidos a partir de fundamentações teóricas e da observação das
respostas apresentadas pelas crianças aos problemas propostos dentro das aulas de
educação musical, levando em conta principalmente as dificuldades apresentadas na
aprendizagem da leitura musical.
Vários autores assim como, Storms (1989), Zagonel, Boscardin e Moura (1989),
Rocha (2003), Guia e França (2005), entre outros, já propuseram jogos ou atividades
para o trabalho da leitura musical com crianças. Este trabalho, portanto, trás a proposta
de somar, apresentando jogos que já foram testados em aulas música em várias cidades
para que sirvam como recurso didático para professores de música que encontram
dificuldades no ensino da leitura musical para crianças.

5.1. Valor de Som, o dinheiro musical.


Com o apoio de professores de musicalização das cidades de Formiga, no estado
de Minas Gerais; sendo estes os senhores Gibran Mohamed Zorkot, Moisés Menezes,
Daniel Menezes; e com base na teoria da Transferência da Aprendizagem de Edward
Thorndike e Robert Woodworth (1901, apud MORAIS, 2011, p. 34) que busca o

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impacto de uma aprendizagem sobre a outra, onde uma nova informação se apoia em
elementos de um conhecimento já pronto criando relações com este a fim de facilitar a
assimilação. Foi criado um jogo que aborda as estreitas relações entre música e
matemática para o ensino de leitura rítmica e reconhecimento das figuras de valores de
som, onde houve uma alusão dos valores musicais transvestidos em forma de moeda,
como no quadro apresentado a seguir:

Figura 5 - Relação entre equivalência de figuras musicais e valores em moeda


(elaborado por Vinícius Eufrásio)

Rocha (2007, s/p) afirma que é importante que desde cedo se exercite o ritmo
com as crianças, pois, é através dele que se trabalha o aspecto fisiológico da música e,
sobretudo o sentido de tempo, que é um elemento fundamental para o pleno
desenvolvimento musical. Assim, este jogo é indicado para ser trabalho com crianças
que tenham um mínimo de domínio sobre as relações em dobro e metade. É feito a
partir da confecção de pequenas cédulas confeccionadas em computar e depois
impressas em papel colorido, cada valor de cédula em uma cor.
No corpo de cada cédula vem impresso a figura musical a qual corresponde, seu
nome e valor de moeda. O professor pode utilizar deste material pedagógico propondo
que os alunos joguem de várias maneiras, mas, objetivando trabalhar principalmente: a
memorização dos nomes e valores das figuras que representam cada cédula; a relação
proporcional entre as figuras e seus valores (dobro e metade); a múltipla possibilidade
de combinações para formação de determinado valores.
Este material propicia a sensação no aluno de estar lidando com dinheiro de
verdade, então, lhe é dada a oportunidade de jogar com valores multiplicando-os e
dividindo-os ao mesmo tempo em que faz relações entre esses e as figuras musicais. É
interessante a utilização deste material dentro da proposta de um jogo que simule um

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mercado de compra e venda, onde alguns alunos serão mercadores e outros


compradores de mercadorias, que podem ser desde doces e balas, até mesmo algum
material existente na sala de aula ou na escola que possa ser fantasiado como produto de
mercado.
Mesmo com a utilização deste jogo, posteriormente, os alunos devem ser
oportunizados de sentir o que as figuras de valores de som representam na prática
musical. O professor deve propiciar momentos em que os alunos possam percebê-las e
relaciona-las umas as outras auditivamente, e também reproduzi-las através da criação
de pequenos trechos compostos pelos próprios alunos a partir da seleção de algumas
figuras, organizadas pelo professor, respeitando uma lógica de relações de valores e
proporções para não impossibilitar o entendimento dos alunos.
O treino da escrita também é fundamental. O professor pode propor a criação de
pequenos trechos musicais através das figuras de som, onde compassos deverão ter no
máximo um valor determinado. Assim os alunos usarão do conhecimento adquirido
sobre a relação de valor entre cada figura para preencher o valor de cada compasso. Os
trechos musicais rítmicos criados pelos alunos podem ser reproduzidos posteriormente
para que o resultado sonoro seja sentido por eles na prática.

5.2. O baralho Sol Sozinho89


Através da observação de como geralmente são maçantes e áridas as formas de
aplicação de vários dos exercícios utilizados para fixação do posicionamento das notas
no pentagrama musical independentemente da clave, foi desenvolvido este jogo que
busca tornar este processo mais divertido e dinâmico, possibilitando que os alunos
interajam uns com os outros e com o conteúdo em questão. As vinte e cinco cartas são
classificadas em três grupos, sendo estes, cartas com partitura, cartas com nome de
notas, carta “Sol Sozinho”.

Atualmente o jogo é produzido de forma industrializada e distribuído pela MUSICAR – Educação


89

Musical, empresa que dedica suas atividades à formação de educadores musicais, fomento à atividades de
ensino e aprendizagem de música, produção e vende de materiais didáticos para o ensino musical.
Disponível em: www.musicar.mus.br. Acesso em 24/02/2017.

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Figura 6 - Cartas com partitura; Cartas com nome de notas; Carta "Sol Sozinho"

Com cada baralho do jogo Sol Sozinho joga-se no máximo cinco pessoas, pois,
um número maior de jogadores poderia comprometer o bom andamento de cada partida.
As cartas do jogo devem ser distribuídas entre os jogadores uma a uma até o fim do
baralho, assim, cada jogador ficará com no mínimo cinco cartas para jogar. À medida
que o jogo for acontecendo, os jogadores deverão e tentar eliminar as cartas que têm na
mão formando pares entre cartas com partitura e cartas com nome de notas.
O mesmo jogador que distribui as cartas é que deve começar a jogar. Ele então
deverá apanhar uma carta da mão do colega sentado à sua esquerda e logo em seguida
verificar se as cartas que possuem em sua mão formam algum par (entre carta com
partituras e cartas com nome de notas). Caso seja positivo, deve então apresentar o par
de cartas aos demais jogadores para que o verifiquem. Se tudo estiver certo, a jogada é
passada para o jogador cujo qual a carta foi apanhada, devendo este, portanto, repetir o
mesmo procedimento.
À medida que os jogadores formam pares, vão eliminando todas as cartas em
mãos e saem vitoriosos do jogo. O jogador que ao fim da partida não conseguir eliminar
todas as cartas em mãos perde a partida, e consequentemente portará a carta “Sol
Sozinho” que não faz par com nenhuma outra. Este jogador é quem deverá embaralhar
as cartas e distribuí-las para o início de uma nova rodada.
À medida que os alunos jogam este jogo, atentam-se na atividade de analisar as
notas grafadas nas partituras para descobrir seu nome e assim poder formar pares e
vencer o jogo. Este processo de análise para o reconhecimento da posição da nota é
fundamental para o aprendizado deste conteúdo e ajudará o aluno posteriormente a
identificar notas na partitura com maior velocidade e precisão até que se automatize esta
ação e a transforme em uma habilidade.

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Contudo, o professor não pode ignorar a questão de que a leitura de partitura se


dá pelo processamento de múltiplas informações simultâneas, que vão desde o
reconhecimento de notas até sua execução dentro de um ritmo ditado pelas figuras de
valores de som ou silêncio. Deve-se então, a trabalhar paralelamente com este jogo, o
reconhecimento gráfico de melodias, incialmente simples, por graus conjuntos,
oferecendo à criança subsídios para a leitura mútua de ritmo e notas musicais.

Conclusão
Este trabalho teve como objetivo buscar na literatura uma definição para o termo
jogo, abordando, dentro de contextos educacionais, sua utilização como ferramenta
pedagógica para a promoção de processos de aprendizagem. Sobretudo, trouxe também
a proposta de verificar a utilização deste recurso nas aulas de educação musical a partir
de uma análise sobre as práticas metodológicas utilizadas por professores de
musicalização para o ensino da leitura musical.
Através da compreensão dos elementos que compõe o jogo aplicado como
material pedagógico, e da utilização do estudo sobre a transferência da aprendizagem
foi possível propor neste trabalho, alguns jogos pedagógicos voltados para o ensino da
leitura musical, apoiados sobre uma nova abordagem que consequentemente pode
estimular iniciativas de várias outras pesquisas nesta área.
Percebendo que o jogo empregado dentro de processos educativos é em partes
uma atividade dirigida pelo professor, e não apenas uma prática com um fim em si
mesmo como o jogo convencional tido apenas como ação lúdica. Torna-se viável então,
a utilização dos jogos propostos neste trabalho para os momentos de reiteração,
permitindo que o aluno exercite o conteúdo trabalhado em sala de aula fazendo do
lúdico um aprendizado.
Com base em minha experiência, amparada por este trabalho e as várias
referências aqui citadas, posso afirmar que os alunos que passam por um processo de
aprendizagem através do jogo como ferramenta pedagógica apresentam um melhor
rendimento nas aulas além de obterem resultados na assimilação dos conteúdos
propostos e, posteriormente, em sua prática musical. Provavelmente, isso ocorre pelo
fato de estarem participando de um processo dinâmico, divertido, que gera curiosidade e

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que é natural, visto que a partir da concepção infantil, é extremamente importante


brincar.
Assim sendo, a partir deste trabalho, espera-se contribuir não só para a prática de
educadores musicais e com a pesquisa na área, mas, também, e principalmente, para a
formação dos alunos que estudam ou que venham a estudar música, podendo ter mais
uma rota de acesso ao aprendizado da leitura musical por meio dos jogos propostos
aqui. Espero que através da abordagem utilizada neste trabalho, possam surgir novos
processos metodológicos para o ensino de conteúdos da área de educação musical, já
que esta pesquisa abre apenas uma pequena janela para ser explorada e aprofundada em
estudos posteriores.

Referências
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