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ENTREVISTA GESNER OLIVEIRA

DIVULGAÇÃO
Se o problema é acabar com o Aedes
aegypti, a solução é usar aviões para
pulverizar inseticida sobre as cidades.
Se o problema é a falta de água, a solução
é fazer captações em regiões cada vez
mais remotas, onde os mananciais ainda
estão preservados. Ou seja, parece que
nós, brasileiros, não temos o costume de
atacar o problema na sua raiz, onde em tese
estão as soluções sustentáveis. Por quê?
Acho que é característica não só do Brasil.
Essa é uma solução [a forma como lidamos com a

A céu aberto água e o esgoto] romana, da Antiguidade. Você


estabelece uma cidade e daí capta água à dis-
tância, usa e joga fora. Muitos mil anos atrás é
P O R MA G A L I C A B R A L compreensível que se tenha começado assim,
o que não é sustentável, mas havia muito me-
Esgoto é dos temas menos palatáveis da esfera da sustentabilidade. Talvez por isso poucas nos gente. Os países em desenvolvimento, que
ainda não contam com instituições maduras,
pessoas se dediquem a estudar e cobrar soluções para a universalização do saneamento
têm passado por um processo de urbanização
no Brasil – hoje a coleta chega à metade da população e apenas 40% do esgoto produzido é muito intenso – caso de Brasil, Índia, China,

CRÉDITO: DIVULGAÇÃO
Bangladesh, onde praticamente se vê a urba-
tratado. Entra século e sai século, de tão lento, o setor parece não avançar. Por causa das
nização acontecendo –, e isso tem gerado uma
Olimpíadas em agosto no Rio de Janeiro o site de notícias Business Insider chegou a com- catástrofe. A frequência da disseminação de
doenças transmitidas pela água é brutal. É um
parar o saneamento brasileiro ao de Londres e de Paris no século XIV. Exageros à parte, o
atraso muito custoso para a saúde pública e o
fato é que, mesmo com um PIB per capita dos mais altos da América Latina e Caribe, quando bem-estar dos brasileiros.
O Brasil tem ainda uma peculiaridade: é um
comparados com os nossos vizinhos, estamos em 18º lugar no ranking do saneamento
país com um PIB per capita relativamente alto
básico, que, como o próprio nome diz, é o mais básico dos serviços públicos. Por quê? para o nível de cobertura de água e esgoto que
tem. Quando comparamos países com o mesmo
Para tentar deslindar esse “mistério”, procuramos o especialista em infraestrutura com
PIB per capita, estatisticamente esperaríamos
ênfase na cadeia de água Gesner Oliveira, professor da Fundação Getulio Vargas e presi- ter coberturas de tratamento de esgoto, de cole-
ta, ou mesmo de abastecimento de água maiores
dente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) entre 2007
no Brasil. Mas não.
e 2010. A primeira lição que se tira desta entrevista é que “não existe esgoto e água, existe Outra peculiaridade brasileira é que em al-
gumas cidades relativamente prósperas, como
o ciclo da água”. O esgoto apenas se insere à cadeia da água ao longo de uma etapa. Uma
é o caso de São Paulo ou do Rio de Janeiro e ou-
vez separado e tratado, a água limpa retorna à natureza e o ciclo se reinicia. Outra é que, tras cidades da Região Sudeste, chama atenção
a negligência com o saneamento. Por exemplo, a
no ritmo atual de investimento, não teremos universalização antes de 2050.
cidade de São Paulo, que é um grande centro fi-
nanceiro e industrial, ter uma bacia tão poluída
e um odor tão forte é uma coisa chocante. Assim
como ter uma orla toda poluída e ver o descaso
com os resíduos sólidos. Outras cidades que são
cartões-postais, como Paraty [RJ] ou Apareci-
da [SP], onde acorrem grandes multidões, não
têm uma estrutura mínima de saneamento para
acomodar tudo isso.
Chama atenção a negligência e o fato de o
Sócio da GO Associados, Gesner Oliveira é doutor pela Universidade da Califórnia (Berkeley), mestre pela Universidade de Campinas e bacharel pela USP. saneamento ter estado tão ausente das políticas
Exerceu dois mandatos como presidente do Cade e foi presidente da Sabesp. Realiza atividades especializadas de consultoria e arbitragem nas áreas de
defesa da concorrência, regulação, infraestrutura, energia e saneamento. Foi eleito "O Economista do Ano" em 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil. públicas no Brasil. Isso precisa mudar.

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GESNER OLIVEIRA

É possível uma previsão? porque hoje há uma maior consciência ambien- nos da metade do esgoto gerado é tratada. Dessa
Olhando como tem crescido o investimen-
to em saneamento e qual é o déficit de investi-
tal sobre qual é o efeito de descargas sistemá-
ticas de poluição sobre os cursos d’água. Isso
forma, mais da metade é jogada na natureza.
Tem um outro indicador muito importante Vi que as grandes questões
[dos ambientalistas] eram
mento, se a gente continuar no ritmo atual, na afeta a vida das pessoas, por exemplo, quando que mostra a fragilidade do nosso sistema: as
melhor das hipóteses, nós teríamos a univer- vão para a praia e veem a bandeira vermelha, perdas de água, que em média são de 37%. De cada

em relação às florestas, às
salização somente em 2052. Convenhamos que quando vem uma Olimpíada e os nadadores 10 litros de água, 3,7 litros não são faturados – ou
não termos uma ampla difusão de inteligência têm que nadar afastando o lixo. Isso assom- têm uma perda física (vazamento), ou uma perda
artificial em 2052 vá lá, mas não ter água e es- bra. Segundo, porque pela primeira vez houve comercial (gato hidráulico). Normalmente essas
goto é inaceitável. uma crise hídrica fortíssima na Região Sudeste
que ganhou as manchetes nacionais. Atingiu
ligações irregulares também são geradoras de
problemas de epidemia, contaminação etc.
espécies em extinção.
Essa mesma afirmação teria sido
válida também se tivesse sido
a maior cidade brasileira, ameaçou a atividade
industrial e agrícola e o dia a dia das pessoas – Como estamos em relação a outros países
Só que uma questão-chave
feita no século passado: “Entrar
no novo milênio sem água e esgoto é
houve uma ameaça de racionamento que dei-
xou as pessoas assustadas. Eu acho que o tema
e especificamente aos da América Latina?
A gente fez uma comparação utilizando dados
para a própria floresta não
inaceitável”. No entanto, cá estamos.
Sem dúvida, é um problema que poderia ter
da água entrou no cotidiano. A questão da seca
até então era predominantemente regional, as-
da Cepal [Comissão Econômica para América Latina
e Caribe, órgão das Nações Unidas]. Em uma amos- era tratada [o saneamento]
sido resolvido no século XIX e em circunstân- sociada historicamente ao Nordeste, e não era tra de 24 países, a nossa posição era a 18ª. Veja
cias muito mais favoráveis do que em muitas vista como um problema nacional. Em terceiro que, mesmo comparando com países da América
outras regiões do mundo. Aqui as bacias hidro- lugar, o Ministério Público e os órgãos de con- Latina, a gente está bem atrás. Certamente está
gráficas são mais abundantes. Na média, o País trole têm sido mais ativos, exigindo a reparação atrás da Argentina, do Uruguai e muito atrás do resta, ao clima, à biodiversidade e até à
tem muita água, mas o problema não é o recurso de danos ambientais, processando autoridades Chile, que é o país que tem o maior avanço na re- água. Mas o esgoto é o patinho feio até na
natural, mas o tripé que é muito escasso no Bra- que não implementam determinados planos e gião em termos de saneamento. área ambiental. A sustentabilidade não
sil: boa gestão, bom planejamento e boa regu- isso também tem ajudado bastante. Em quarto, deveria começar pelo básico?
lação. Três elementos que não estão presentes. tem crescido no mundo essa consciência, e isso Uma reportagem publicada pelo Business Eu não podia concordar mais com essa afir-
São 26 as empresas públicas estaduais que acaba afetando o Brasil, seja por acordos inter- Insider, site de notícias sobre o mundo mação. Eu percebi isso quando comecei a traba-
fornecem o saneamento. Dessas, tirando a Sa- nacionais, seja por instituições globais, como a dos negócios, compara o saneamento lhar na Sabesp [2007-2010] e uma das missões
besp [SP], Sanepar [PR] e Copasa [MG], e talvez Igreja com a sua Campanha da Fraternidade [de brasileiro ao do século XIV em Londres e era conscientizar a empresa da importância de
mais umas três ou quatro, todas as demais não 2016] com o tema Água e Saneamento. Paris. O senhor concorda? ter uma área ambiental que fosse transversal
possuem a menor capacidade de investimento. Eu acho que tudo isso vai colocando a questão É difícil fazer esse tipo de comparação, talvez aos departamentos e que desse uma consciên-
Têm uma ineficiência brutal e não conseguem do saneamento na agenda pública. E, quando a eles tenham usado a imagem como uma figura cia ao fornecedor de serviços. Tentei quebrar os
fornecer os serviços. A maioria dos municípios gente pensa o saneamento, durante muito tem- de retórica. São situações muito diferentes para muros que havia entre organizações ambien-
não tem plano de saneamento e a maioria dos es- po houve uma separação entre água e esgoto e serem comparadas. No século XIV não se devia talistas e as empresas, na tentativa de criar um
tados não tem um planejamento estadual do sa- uma falta de consciência de que é o mesmo ciclo. tratar 40% do esgoto gerado. Eu não saberia di- diálogo mais permanente. Acho que foi bacana.
neamento. Para milhares de municípios não há Na verdade é a mesma coisa. Não existe água e zer, mas desconfio que seja meio forçada essa Nesse processo eu também percebi que ha-
sequer dados. Até que temos uma base de infor- esgoto, existe o ciclo da água. À medida que isso comparação. Embora a situação seja muito grave via do outro lado do muro total ignorância acer-
mações estatísticas boas, a do Sistema Nacional vai sendo percebido, procura-se dar uma solu- hoje, tenho a impressão de que, até o século XVII ca do saneamento e, por isso, uma ausência de
de Informações sobre Saneamento (SNIS), mas ção global que torne o ciclo da água sustentável. e XVIII não se tinha nenhum tratamento pro- prioridade. As grandes questões eram em rela-
ainda há muitas lacunas. E sem os dados é difícil Daí a importância da reutilização e das técnicas priamente. Eram populações muito menores e, ção à defesa das florestas, das espécies em ex-
pensar em planejar, gerir e regular. para reutilizar a água. E a importância de captar portanto, a capacidade de diluição da natureza tinção, todas causas louváveis e meritórias. Só
água de maneira mais eficiente e de devolvê-la era muito maior. Você podia jogar no Sena todo que uma questão-chave para a própria floresta
E por que é assim? Onde está a para a natureza de maneira amigável. Enfim a o esgoto de Paris que o rio o diluía. O problema é não era tratada. Isso me chamou muita atenção.
causa dessa negligência toda? Os sustentabilidade vai entrando nesse ciclo. quando as populações começam a crescer muito, Não havia preocupação em aprofundar o tema.
políticos não têm interesse porque depois da Revolução Industrial. Acho que o sécu- Por exemplo, em conhecer os dados sobre o dé-
é um tipo de obra que não aparece? O senhor poderia nos fornecer dados lo XVIII é um marco de início de uma urbaniza- ficit do saneamento no Brasil. Onde ele é maior,
Não só os políticos. Esse é um problema de atualizados sobre a situação do sanea- ção mais forte e também de descartes industriais onde precisa ser atacado com mais urgência.
sociedade. A classe política reflete a sociedade. mento no Brasil, no que diz respeito à começando a poluir. Acho que a comparação feita Estabelecer metas. É um absurdo a gente perder
Eu acho que tem o lado da economia política do coleta e tratamento de esgoto doméstico? pelo Business Insider é bem ousada. 37% em água. Tem de haver metas de redução
saneamento que é perversa, porque os dividen- Hoje o percentual da população que tem das perdas para pelo menos 20%. Mas por algu-
dos políticos das ações de saneamento não são acesso à água é de 83%. À coleta de esgoto, 51%. As organizações voltadas para a susten- ma razão isso passa ao largo. Ninguém liga.
tão claros. Os canos soterrados não aparecem. Do esgoto gerado, apenas 40% é tratado. Ou seja, tabilidade também parecem não dedicar Eu me lembro de que, para a reunião de Co-
Mas essa é uma história antiga, que obviamen- metade da população brasileira aproximada- muito esforço ao tema. Tanto que costu- penhague [Conferência das Nações Unidas para a
te só explica uma parte do problema. Primeiro mente não tem acesso à coleta de esgoto, e me- mamos associar sustentabilidade à flo- Mudança do Clima – COP 15, realizada em 2009],

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crise hídrica. O desenho não deveria ser a zação, cujo custo vem caindo muito. A gente pode
quantidade de famílias atendidas em vez avançar muito na redução das perdas. Só para dar
de volume de água vendido? um número, o valor perdido em água é de cerca de

É curioso como a população não associa Eu acho que não. Essa visão de que a empre-
sa vende água é antiga. Uma empresa de sa-
R$ 8 bilhões ao ano, valor igual ao que se investe
hoje. Ou seja, perde-se o mesmo montante que

saneamento à saúde. Normalmente as pesquisas neamento é na verdade uma empresa que deve
prover soluções ambientais. Ninguém mais que
se investe. Quanto às impurezas químicas, é pre-
ciso tomar cuidado no tratamento dos resíduos

indicam que a principal preocupação é com a empresa de água deve estar preocupada em
preservar a água, caso contrário não terá o que
líquidos, principalmente os industriais. Muitas
vezes há metais pesados que precisam ser reti-

saúde, e o saneamento vem lá embaixo no ranking


vender. A empresa deve vender um serviço efi- rados para que a água possa se tornar potável.
ciente e inteligente, deve induzir o consumidor
a ter hábitos que poupem água. Aí você vai dizer: Os rios brasileiros que cruzam cidades
“Mas isso não é contrário à lógica do lucro?” Se a onde há forte densidade populacional são
empresa achar que é apenas uma vendedora de verdadeiros canais de esgoto a céu aberto.
quando o Itamaraty preparava as contribuições maior empresa de saneamento do mundo em água, sim. Mas não é o caso. A empresa vende um Quanto já se gastou tentando despoluir
da delegação brasileira, a gente, do grupo de número de clientes. O estado de São Paulo, em serviço sustentável. Vende reutilização da água, o Rio Tietê? Por que nada aconteceu?
economia da infraestrutura, fez uma sugestão termos de saneamento, é o mais avançado do vende a medição individualizada para um con- O mesmo se pode dizer sobre a Baía de
colocando a questão da água entre os temas. O País. É onde as perdas são menores [25% em mé- sumo mais racional, vende soluções que usem Guanabara, no Rio.
tema praticamente não fora tratado naquela dia], e a cobertura de água é maior. E algumas de menos produtos químicos para o tratamento, Quanto ao Rio Tietê, não é verdade que nada
ocasião. É muito estranho. Assim como a classe suas cidades têm padrão internacional, caso de vende processos mais baratos e eficientes. Seria mudou. O montante de poluição e a carga po-
política não vê dividendos no saneamento, tal- Lins e Franca. A Sabesp opera 364 municípios dos uma visão míope querer que a população lavas- luidora de décadas e décadas foram enormes,
vez o conjunto das organizações também não 645 existentes. Os demais municípios operam se a calçada e usasse muita água para arrecadar mas o Projeto Tietê, financiado pelo BID [Banco
veja glamour no assunto. com autarquias municipais, ou outras empresas. mais. Talvez arrecadasse mais durante uma dé- Interamericano de Desenvolvimento], tem sido
Eu realmente acho que a gente precisa colocar No Estado de São Paulo a universalização cada, mas na próxima não teria mais água. bem-sucedido e já reduziu em mais de 100 qui-
esse tema no centro da agenda. É curioso como está próxima. Creio que deverá ocorrer em 2022. lômetros a mancha de poluição do rio. Em várias
a população também não associa saneamento à Mesmo assim já deveria ter ocorrido. Mas acho Do ponto de vista tecnológico, há cidades [do interior do Estado] o rio agora já está
saúde. Normalmente as pesquisas indicam que a que mesmo no Estado está faltando mais ges- inovações no setor de tratamento de despoluído. O problema é que demora mesmo
principal preocupação das pessoas é com saúde e tão, mais planejamento e melhor regulação, o esgotos? Quais as principais etapas de para limpar rios. Realisticamente não vere-
invariavelmente o saneamento vem lá embaixo tripé básico para manter a capacidade de in- inovação na história do saneamento mos o Tietê despoluído amanhã ou depois. Mas
no ranking. Ninguém enxerga que a falta de sa- vestimento. Ainda assim, a Sabesp é a empre- básico? A gente sabe que é possível eu arriscaria dizer que é possível não ter mais
neamento explica grande parte dos problemas sa que tem mais capacidade de investimento. transformar esgoto em água potável, esgoto entrando no Tietê num espaço de cinco
de saúde. A chave está em como conscientizar as Consegue reinvestir os lucros, consegue acesso mas e quanto às impurezas químicas – anos. Mas já houve um avanço considerável.
pessoas para a centralidade do tema. ao mercado de capitais. Tanto a Sabesp quanto antibióticos, anticoncepcionais etc. Quanto à Baia de Guanabara, precisaria criar
Outra característica é que ninguém reclama a Sanepar e a Copasa são empresas de econo- O saneamento tem sido pouco dinâmico em um projeto específico, como o do Tietê. Não será
de pagar R$ 200 numa conta de telefone celular. mia mista, abertas, e isso facilita a governança inovação. Poderia inovar mais. Mas há pontos fácil despoluí-la, mas é possível. (Leia em goo.
Mas reclamam muito da conta de água. E a água é e a capacidade de investimento. Mas ainda falta interessantes. A capacidade de reutilização de gl/ZNQvjE sobre cidades que despoluíram seus rios)
baratíssima. A pessoas vão à padaria e pagam até um bom caminho para universalização. Acho água tem avançado muito. Infelizmente no Bra-
R$ 3,50 numa garrafinha de 350 ml de água. É o possível chegar lá num espaço de 5 a 6 anos. A sil há pouco reúso de água. As empresas a reu- Em São Paulo, a cobrança do sistema de
mesmo preço que custa para encher uma caixa- Sabesp já tem um potencial de 300% – 100% de tilizam no processo industrial e isso tem cres- esgoto é calculada pela Sabesp com base no
-d’agua de 1.000 litros com água igualmente po- abastecimento de água, 100% de coleta de esgo- cido bastante, mas as companhias de água, por consumo de água. Com isso, há pessoas que
tável. Como pode existir tanta disparidade? Há to e 100% de tratamento. sua vez, não têm feito a reutilização a partir dos não têm serviço adequado de esgoto, mas
um problema de valoração aí. Acho que não es- efluentes. A Sabesp tem o Projeto Aquapolo, que pagam por ele, e há empresas que buscam
tamos valorando a água de uma forma racional. Essa meta existe? produz quase 1 metro cúbico por segundo de água fontes independentes de água para não
Sim, no plano de metas da Sabesp. Quando de reúso para a lavagem de ruas e para resfria- pagar conta, mas continuam usando o
O senhor foi presidente da Sabesp, a eu trabalhava lá, tínhamos um acompanha- mento industrial. Mas acho que poderia haver esgoto. Como contornar esse problema?
maior empresa de saneamento do Brasil. mento semanal das metas. Agora eu não saberia mais ênfase no reúso. Por exemplo, poderia con- Sim, usam a água que é um bem comum,
Por que nem o estado mais rico do Brasil dizer exatamente qual é a meta. dicionar a outorga de captação [autorização para usam o esgoto e não pagam por isso. Isso é parte
conseguiu universalizar o tratamento uma indústria captar água em rios, represas ou len- da regulação de utilização de água subterrânea.
de esgoto, nem sequer na capital? Qual O senhor mencionou o capital misto da çol freático] a um certo percentual de produção de A lei permite que se coloque um macromedidor
o maior entrave? Quais as principais Sabesp. Por esse modelo, que busca divi- água de reúso para estimular. Você quer tirar da que indique quanto de água está sendo puxada
dificuldades que o senhor encontrou? dendos, quanto mais água se consumir natureza, então aumente a sua taxa de reutiliza- para ter uma aproximação daquilo que está sen-
Só fazendo um adendo, a Sabesp é a quarta mais a empresa ganha e mais alimenta a ção. Poderíamos avançar também em dessalini- do colocado na rede para tratamento.

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