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Tony e Brenda Last são casal quase exemplo, enredados numa morna relação. Vivem
em Hetton Abbey, a mansão familiar dos Last. Ela, sentindo-se acantonada, enfastia-se.
Ele, proprietário terratenente semi-arruinado, algo pedante e vácuo, esgota os seus
interesses na preservação da casa e na continuidade já anacrónica do velho modo de
vida local, que considera associado ao seu estatuto. O tom satírico de toda a trama
desvenda-se nas características neo-góticas do edifício, então fora de moda, assim
desvalorizando aos olhos alheios todo aquele empenho, até ridicularizando a
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personagem. Um ridículo que é também desvalorização social, pois denota-lhe a
ausência do “gosto correcto” da época, desajustando-o ao seu meio social.
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modernidade [tecnológica] que vem disromper a genea-lógica vigente); perder-se-á a si
próprio, finalmente, devido à sua recusa no divórcio. Com efeito, ao ser confrontado
com as exigências financeiras da mulher – ainda que ela seja a adúltera [e toda essa
situação, portanto o próprio destino do livro, incrusta-se nas características legais de
então] -, que o obrigariam a vender a propriedade, portanto implicariam uma radical
destituição sociológica (de conteúdo espiritual), Last recusa-se a conceder o divórcio.
Algo que o impele a um período de nojo, um afastamento sazonal que lhe permita
“manter a face” no seio do seu meio. A viagem final em que incorre é assim causada
pelo seu desejo de imobilidade, social e geográfica.
Mas nela, e seus efeitos, explicita-se também uma concepção individualista dos
percursos sociológicos, pois são as tramas conjugais que demonstram a incapacidade
individual de manter, estrategicamente, o estatuto social herdado. Ou seja, os efeitos da
viagem, que causa o desapossamento radical (da liberdade e da vontade, o proprietário
feito escravo) fica explícita a mensagem subliminar: o desastre individual é causado
pelas estratégias que procuram suportar o primado da propriedade, num meio social
terratenente serôdio.
E que também contrasta com as características do protagonista. Certo que nele culmina
a continuada apatia de Last, a concepção de que as mudanças geográficas não mudam as
personalidades (“Para quê viajar?”, será a questão), ainda que lhes possam alterar (e até
inverter) os estatutos. Mas é também certo que o próprio perfil aventureiro da viagem é
infundamentado, não condizente com o conteúdo psicológico do protagonista, e muito
pouco justificável pela dimensão da personagem Messinger, o explorador que dinamiza
a viagem (influenciando o influenciável Last), mas cujos traços meramente esboçados,
quase caricaturais, não convencem como potencial dínamo.
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escravizado pelo bárbaro, o anacrónico Last vitimizado pelos novos tempos e assim
condenado a servir, ecoando o saber racional moderno a quem, ainda que apreciando-o
(o som das palavras) verdadeiramente não o percebe – que dickensiano apaixonado,
como Todd aparenta ser, escravizaria um indefeso? É uma polissémica crítica da
exportação da modernização, casando os dois núcleos textuais.
Mas mais fundo está a tal ruptura: pois Todd, na sua rudeza curiosa e amoral é símbolo
da barbárie. Não da selvajaria, essa característica da inanidade dos ameríndios que o
rodeiam – e que na sua maioria deles descendem, grande procriador que se reclama.
Filho mestiço e analfabeto de missionário anglófono, deste herdou não só uma mala de
velhos livros como a paixão por Dickens. Não é um selvagem, é um bárbaro, estádio
intermédio da evolução que lhe advém da ascendência biológica e do contacto
civilizado (e cristão). Mas é também um estádio intermédio da involução, aos seus
múltiplos filhos não transmitiu essa vontade imaginativa. Em ambos os cenários, o
britânico e o amazónico, Waugh fala da “Queda”. Todd, na sua boçalidade inane, é um
avatar de Last, procurando manter a sua Hetton Abbey, o seu Dickens ali anacrónico, ali
absurdo. A escravização de Last, a sua putativa morte, é uma osmose. Ou seja, a
barbárie está no destino de Todd e no de Last, a dissolução da mensagem passeia-se em
Todd a caminho da selvajaria, a sua Queda está também em Hetton Abbey.
Há ainda o final alternativo, remedeio que Waugh compôs para possibilitar a publicação
do livro nos EUA, onde o conto já tinha sido editado autonomamente. Ainda que a
narrativa possa assim parecer mais coerente com o registo anterior do que o enxerto
amazónico aparenta, o certo é que não só o tom muda radicalmente (o texto aparenta ter
sido escrito de rajada, por razões pragmáticas), mas também o ideário. Aqui o casal
sobrevive enquanto tal, mas com papéis actuantes invertidos: Tony regressa a Londres,
mergulhando nas teias da infidelidade, Brenda recolhe a Hetton Abbey, à domesticidade
reprodutiva assim assegurando a perenidade. É notória a inflexão do conteúdo moral.
Não é de Queda que se fala, mas da Ressureição, para a qual apenas se exigirá a
alteração das práticas individuais – de novo o individualismo. Que a apatia de Last se
desvaneça, que Brenda se recolha e a continuidade sobrevirá. Um conformismo
individualista que ultrapassa, por completo, qualquer intenção satírica.
Finalmente. A tradução aparenta ser pastosa (algo que surge “escondida na ideia”, por
exemplo), sublinhando que Waugh se lê no original. Para mais a edição tem notas algo
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desnecessárias (uma nota explicitando o que é “Senegal” será necessária? Um mapa
legendado não substituiria as cansativas notas – no fim ainda para mais – relativas a
zonas e bairros londrinos?)