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ISSN: 0104-026X
ref@cfh.ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina
Brasil
TOUSSAINT-SAMSON, Adèle.
Tradução do original francês: Maria
Edited and introduced by June E. Hahner. Lucia Machado.
Translated by Emma Toussaint. Prefácio: Maria Inês Turazzi.
Wilington, Delaware: Scholarly Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2003.
Resources, 2001. 121 p. 190 p.
Depois de esperar mais de século por Française, que se propôs a publicar um livro sobre
traduções para outras línguas, a escritora e a vida cotidiana, nos 12 anos em que viveu no
tradutora Adèle Toussaint-Samson é Rio de Janeiro, declarando ter vindo para fazer
homenageada no século XXI com duas fortuna.
traduções: uma para o inglês e outra para o A própria exclusão desse prefácio pelo
português, realizadas por profissionais tradutor brasileiro é muito significativa. O senhor
competentes e apreciadoras de seu texto, A. E. C. C., autor de livros didáticos para o ensino
publicado em francês, em 1883. primário, é muito severo em relação aos enganos
June Hahner, pioneira de estudos sobre a de geografia e de redação, como diversos
mulher na América Latina, freqüentadora assídua brasileiros que se sentiram agredidos pelas
dos arquivos paulistas e cariocas, com bagagem observações superficiais feitas por estrangeiros
bibliográfica sobre as jornalistas mulheres, desde sobre o que presenciaram no Brasil. A. E. C. C.
1978, ampliou os conhecimentos biográficos acrescenta a essa predisposição geral uma
sobre Mme. Toussaint embora tenha sido iludida arrogância marcante referente à autora. Para ele,
pelo nome da tradutora do livro para o inglês, os esforços feitos junto a editores franceses e à
Emma Toussaint, supondo-a filha da autora população brasileira na França não apresentam
estudada. o interesse e a atualidade que têm para
Maria Inês Turazzi, arquiteta e historiadora, estudiosos das relações de gênero.
que cuida do acervo Paulo Geyer, colocado hoje Quando li o livro, o que inicialmente chamou
no Museu Imperial de Petrópolis, onde existe o o meu interesse foi a contradição entre uma
único original português do livro de Mme. escritora que declarava ter vindo fazer fortuna e
Toussaint-Samson, teve o privilégio de estudar na o belo texto, as traduções apresentadas de
França tendo acesso, entre outros, aos arquivos poetas brasileiros e o prazer de ler José de
do Figaro e pôde aproveitar os conhecimentos Alencar. Em seguida, as observações feitas a
de June Hahner sobre a publicação no Jornal respeito das mulheres encontradas no Brasil, muito
de Commercio do Rio de Janeiro para comparar mais penetrantes que as de outros viajantes,
a tradução de 1883 com a atual do livro homens e mulheres.
recusado por quatro editores franceses. Em muitos trabalhos tive oportunidade de
Essa dificuldade de publicar em meados citar o trecho que mais me chamou a atenção,
do século XIX em um gênero eminentemente o que fala sobre sua percepção do trabalho
masculino, como os livros de viagem, não foi feminino contínuo e que pretende ser invisível
exclusiva de Mme. Toussaint-Samson. O que a para os de fora. Mesmo havendo mulheres livres,
singularizou, entre as demais mulheres viajantes brancas, mulatas e negras no Brasil daquela
que escreveram livros sobre o Brasil, foi ser já uma época, a maioria dos viajantes distinguiu a
escritora, dos círculos ligados à Comedie escrava como um burro de carga e a branca