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Uma avassaladora discriminação em prol de

costumes antigos e atuais sempre foi, e


provavelmente continuará sendo por muito tempo,
uma das mais proeminentes características da
humanidade. Não importa o quão totalmente
inconsistentes com o atual estado da sociedade,
não importa o quão completamente insensatas,
tanto em princípio quanto na prática, não importa
o quão eminentemente absurdas, sob cada
aspecto, tais instituições ou costumes sejam,
ainda assim, caso elas possuam o semblante da
moda ou da antiguidade, caso elas tenham sido
abraças e transmitidas por nossos antepassados,
seus gritantes defeitos, inconsistências e
puerilidades são tão completamente escondidos
pela radiante auréola sobre elas colocada por uma
veneração cega, que é praticamente impossível
abrir os deslumbrados e ofuscados olhos do
mundo e fazer com que haja uma visão imparcial a
respeito delas. (Herbert Spencer,The Proper Sphere
of Government)
Como atesta essa citação, muitas pessoas,
talvez a maioria, possuem uma profundamente
enraizada predisposição a manter as coisas como
elas estão. Para cada pessoa ávida por mudanças,
existem 99 que instintivamente as rejeitam. Essa
inata resistência a mudanças encontra sua
expressão na filosofia política chamada
conservadorismo.
Contrariamente aos conservadores, a
postura dos libertários em relação a mudanças
não é derivável de seu nome. Embora a
expressão libertários denote o alto apreço pela
liberdade que esse grupo possui, ser pró-
liberdade não necessariamente significa adotar
uma atitude especificamente contrária ao status
quo — a menos, é claro, que o status quo esteja
limitando ou impedindo a liberdade humana.
Seriam essas filosofias políticas intrinsecamente
opostas uma à outra, ou seria possível ser
conservador e libertário ao mesmo tempo?
Russell Kirk acredita que, exceto o ódio em
comum que ambos nutrem pelo coletivismo e
pelos governos que vão além de sua competência,
conservadores e libertários têm pouco ou não
têm nada em comum. O problema com os
libertários, segundo Kirk, é sua "fanática fixação...
com a noção de liberdade pessoal como sendo o
fim de toda a ordem social civil; com efeito, de
toda a existência humana." Sua preocupação
patológica com a liberdade os leva a adotar uma
atitude de tolerância para com todos os tipos de
visões e opiniões, uma tolerância que leva, no
final, à sua própria condenação! Na visão de
Kirk, "É uma completa loucura tolerar todas as
variedades de opiniões, em todos os tópicos, por
pura devoção a uma 'liberdade' abstrata", pois "a
opinião cedo ou tarde acaba se materializando
em ação, e os fanáticos que nós toleramos não
irão nos tolerar quando tiverem o poder."
O que os libertários temem acima de tudo,
ao que parece, é obediência aos ditames do poder
estabelecido. Eles são intolerantes a qualquer
autoridade; e, em termos morais, tal intolerância
pode levar à perversidade. No final das contas,
"não existe nenhum abismo separando o
libertarianismo da libertinagem". E, como se não
bastasse, os libertários também sofrem de um
tipo de loucura metafísica, dado que, não
obstante suas doutrinas serem repetidamente
rejeitadas tanto lógica quanto praticamente, eles
ainda assim insistem em propugná-las. Se a
estupidez consiste em insistir no impraticável,
como uma mosca batendo reiteradamente sua
cabeça na vidraça, então os libertários devem ser
incrivelmente estúpidos.
Os libertários são necessariamente
utilitaristas? O libertarianismo põe em risco a
liberdade humana? Os libertários menosprezam
ou depreciam todos os valores humanos exceto a
liberdade? Eles rejeitam todos os tipos de
governo e advogam o caos? Os libertários
esvaziam o mundo não apenas do amor e da
amizade, mas também da responsabilidade, da
disciplina e do sacrifício?
Um insensível e nada simpático crítico do
conservadorismo poderia devolver esse elogio de
Kirk afirmando que o conservadorismo tem seus
próprios débitos a serem respondidos. Uma
descrição crua do conservadorismo poderia ser a
de que ele se resume, com efeito, a uma arraigada
política de resistir a mudanças de qualquer tipo
ou descrição. Se essa resistência a mudanças for
algo mais do que a expressão prática da reação,
ela deve se basear em uma afirmação normativa
— explícita ou implícita — de que a maneira
como as coisas estão agora é ótima. Com efeito,
tal resistência deve estar comprometida com a
afirmação de que, não apenas a maneira como as
coisas estão é ótima, como também elas estão em
seu melhor — pois, se elas não estivessem em seu
melhor, por que resistir a mudanças do ruim para
o bom, do bom para o melhor, e do melhor par o
ótimo, e do ótimo para o perfeito?
A absurdidade autoevidente dessa postura
indica sua fundamental irracionalidade. A
maneira como as coisas estão hoje é
manifestamente diferente de como elas sempre
foram. Da mesma forma, daqui a cem anos as
coisas estarão diferentes de uma maneira que
hoje é inimaginável. Uma política de "nenhuma
mudança" consignaria um conservador não
apenas à alegação normativa de que as coisas
como estão hoje são ótimas, como também à
alegação absurda de que a maneira como elas
estão hoje é perfeita — ao menos até amanhã.
Você deve se lembrar que no filme A Vida
de Brian, do Monty Python, quando os membros
da Frente dos Povos da Judéia (não confundir
com as facções rivais Frente dos Povos Judeus e
Frente Popular da Judéia) estão conspirando para
sequestrar a esposa de Pôncio Pilatos, é feita a
pergunta: o que os romanos já fizeram por nós?
A resposta é: nada — bem, nada exceto
saneamento, medicina, educação, irrigação,
saúde pública, estradas, sistema de águas, casas
de banho públicas e ordem pública.
O conservador fundamentalista tem de
acreditar — como o herói Cândido, de Voltaire —
que tudo atualmente está em seu melhor estado e
que ele vive no melhor possível dos mundos —
até que, obviamente, as coisas melhorem. Ted
Honderich observa que "se o conservadorismo
fosse, em sua forma básica, uma defesa do
rotineiro... teríamos um mistério em nossas
mãos, o mistério de entender como uma idiotice
extraordinária conseguiu se tornar uma ampla
tradição política".
Com efeito, conservadores não se opõem a
mudanças, mas apenas a certos tipos de
mudança. Uma maneira de tentar capturar a
essência da abordagem conservadora com relação
a mudanças foi fornecida pelo filósofo
contemporâneo Roger Scruton, que observa que
o desejo de conservar "é compatível com todo o
tipo de mudança, contanto que a mudança
também represente uma continuidade."
Mudanças contínuas, de acordo com Scruton, são
boas; mudanças descontínuas são ruins.
Novamente, esse critério parece
implausível. Se algo é realmente ruim, sua
continuação certamente não é melhor do que sua
terminação. Por exemplo, quando a injustiça da
escravidão, a injustiça mais básica de todas,
finalmente penetrou a consciência do mundo
civilizado, havia apenas uma coisa a ser feita:
aboli-la imediatamente. Tal abolição foi algo
radicalmente descontínuo em relação ao que
vinha ocorrendo até então — com efeito, foi algo
radicalmente descontínuo em relação a toda
história humana desde seus registros mais
primitivos. Porém, quem argumentaria que essa
mudança não foi para melhor? Qual conservador
está preparado para defender a perpetuação da
escravidão simplesmente para evitar o
desconforto da descontinuidade?
Ao enfocarem a tradição, os conservadores
tocam em algo importante que, no entanto, pode
não ter bem a importância que eles atribuem. É
verdade que grande parte do que nós somos é
algo que simplesmente nos foi dado, não sendo
uma questão de escolha. A família a que
pertencemos, a nação que concebemos como
nossa, o idioma que falamos, o modo como
falamos, várias de nossas ideias — todas essas
coisas são partes importantes, talvez
constitutivas, do que nós somos; partes de nossa
própria identidade, por assim dizer, e ainda
assim não são uma questão de escolha.
Isso nos traz à lembrança o herói da ópera
de W. S. Gilbert, H.M.S. Pinafore, que se orgulha
de ser um inglês. Embora, como declara o
contramestre do navio, "ele pudesse ter sido um
russo, um francês, um turco, um prussiano ou
talvez um italiano", ele continua sendo um inglês
"não obstante todas as tentações de pertencer a
outras nações." Mesmo que um indivíduo troque
sua sujeição política e obtenha um novo
passaporte, dificilmente é possível deixar de ser,
de algum modo fundamental, um membro do
país em que se nasceu.
Um ponto fundamental de tensão entre
conservadores e libertários é exatamente essa
questão da coerção. Porém, se for aceito que um
indivíduo não deve ser coagido a seguir costumes
e manter as tradições, então passa a haver vários
pontos em comum entre conservadores e
libertários. Rothbard, para citar o exemplo de
um libertário, aderia alegremente a vários
aspectos do pensamento conservador. Em um de
seus últimos ensaios, ele fez um apelo a seus
companheiros libertários, advertindo que os
libertários frequentemente, porém erroneamente,
assumem "que os indivíduos estão ligados uns
aos outros somente pelos vínculos das trocas de
mercado", esquecendo que "todo mundo
necessariamente nasceu em uma família" e "cada
indivíduo nasceu em uma ou em várias
comunidades entrecruzadas, as quais
normalmente incluem um grupo étnico, com
valores específicos, culturas específicas, crenças
religiosas e tradições próprias." Entretanto,
embora seja um componente parcial de nossas
identidades, a tradição possui, na melhor das
hipóteses, uma função heurística, pois, não
importa por quanto tempo algo tenha sido feito,
com qual intensidade e quantas vezes, perguntas
sempre poderão ser feitas: Isso é o certo? Isso é
bom? Isso é o melhor? E essas perguntas
derrubam quaisquer pretensões normativas
supremas que a tradição queira ter.
Equívocos podem surgir da incapacidade de
reconhecer que o libertarianismo possui um
escopo ético severamente limitado. O
libertarianismo não se propõe a ser, e não é, um
sistema ético completo; ele impõe, na realidade,
uma limitação abrangente sobre qualquer sistema
ético. O libertarianismo não sugere que todos os
modos de conduta são igualmente valiosos ou
possuem méritos iguais. É perfeitamente possível
que existam indivíduos que se considerem
libertários e que pensem assim, porém tal visão
— não obstante a afirmação de Kirk de que a
liberdade descamba em um redemoinho de
libertinagem — não é uma necessária
consequência do libertarianismo como tal.
Um libertário pode escolher ser um
libertino, mas não há nada no libertarianismo
que o force a ser um. Tibor Machan pergunta: "A
libertinagem está implícita na defesa da liberdade
como o mais elevado princípio político?", e ele
próprio responde, "Não — o libertarianismo
apenas proíbe a repressão coerciva de conduta
indecente, mas não a sua vigorosa crítica,
oposição, boicote ou repreensão feitas de maneira
pacífica."
Conservadores estão comprometidos com a
centralidade e a prioridade da noção de ordem.
Embora o princípio da ordem se manifeste, em
grande parte, essencialmente em pequenas
sociedades, como nas famílias ou nas
comunidades locais, ele culmina no estado, que,
do ponto de vista conservador, é o garantidor das
condições que permitem que as comunidades que
o constituem prosperem. Libertários, por outro
lado, são algumas vezes retratados como se
considerassem a desordem social algo desejável.
Nada pode estar mais longe da verdade.
Embora possa haver indivíduos libertários que,
bizarramente, creiam que um ambiente
desordenado e hobbesiano seja um objetivo a ser
ardorosamente perseguido, a maioria dos
libertários, tanto quanto os conservadores,
desejam viver em uma sociedade ordeira. A
diferença entre conservadores e libertários não
está em decidir se a ordem é algo desejável; a
diferença está em que tipo de ordem é desejável
e de onde deve ela deve provir. Para o libertário,
a verdadeira ordem emana intrinsecamente da
livre interação entre indivíduos e entre grupos de
indivíduos; ela não descende extrinsecamente lá
de cima.
É algo evidente que conservadores e
libertários atribuem diferentes prioridades à
liberdade. Nisbet alega que, para os libertários,
"a liberdade individual, em praticamente todos os
âmbitos concebíveis, é o mais elevado de todos os
valores sociais" e isso ocorre "independentemente
de quais formas e níveis de degradação moral,
estética e espiritual venham a ocorrer como
conseqüência inesperada de tal liberdade."
Muito pelo contrário, eu deveria dizer que,
para os libertários, a liberdade é o mais baixo dos
valores sociais, mais baixo no sentido de ser o
mais fundamental, uma condição sine qua
non para que a ação de um ser humano seja
suscetível a qualquer forma de avaliação moral.
A liberdade humana pode ser utilizada para todos
os tipos de ação, direcionada para todos os tipos
de propósitos, os quais serão então suscetíveis a
avaliações morais. Porém, a menos que a ação
humana seja livre de coerção, a avaliação moral é
intrinsecamente impossível.
Libertários valorizam a liberdade como o
fundamento básico sem o qual toda a ação
humana moralmente significante é simplesmente
impossível; porém, embora o libertarianismo
como tal nada tenha a dizer além de sua defesa
intransigente da liberdade individual, isso de
maneira alguma é o mesmo que pensar que os
libertários, ao viverem suas vidas, não estão
preocupados com nada além da liberdade. Isso
seria tão absurdo quanto pensar que um
indivíduo que insista em afirmar a absoluta
necessidade da água para a sobrevivência
humana deva ser obrigado a afirmar que a água é
a única coisa necessária para uma dieta rica e
interessante.
Como que para contradizer Nisbet, Murray
Rothbard, de cujas credenciais libertárias
ninguém pode duvidar, observou que "Somente
um imbecil poderia afirmar que a liberdade é o
mais elevado, ou mesmo o único, princípio ou
fim da vida", e concordou com máxima de Lord
Acton: "A liberdade é o mais elevado fim político,
e não o mais elevado fim do homem per se."
Até aqui, argumentei que conservadorismo
e libertarianismo não são necessariamente
opostos um ao outro. Com efeito, muitas pessoas
à esquerda do espectro político acreditam que
conservadorismo e libertarianismo são, na
realidade, coisas idênticas, e até mesmo alguns
conservadores tendem a pensar que os libertários
são seus aliados naturais. Porém, isso não é
necessariamente verdade. Embora em algumas
questões haja de fato coincidências entre as duas
escolas de pensamento, principalmente nas áreas
de comércio, empreendedorismo e economia, em
outras áreas o conservadorismo e o
libertarianismo se divergem acentuadamente.
O libertarianismo tem um e apenas um
princípio básico — que todos devem ser livres
para fazer o que quiserem, desde que suas
atitudes não agridam terceiros. Esse princípio é,
inicialmente, ao mesmo tempo simples e
atraente; o que realmente não é tão simples ou
atraente (pelo menos para os conservadores) são
suas consequências. Quando conservadores
percebem quais são essas consequências, eles
tendem a ter dúvidas quanto a esse princípio.
H.L. Mencken dizia que a liberdade era uma
bebida excessivamente forte para muitas pessoas,
e que o que elas realmente queriam era
segurança. O que tende a dividir conservadores
de libertários é a incapacidade — ou relutância —
dos conservadores de reconhecer que tolerância
não é o equivalente a aprovação. Deveria ser
óbvio (mas aparentemente não é) que tolerar algo
não é o mesmo que endossar esse algo. Se a
tolerância requeresse aprovação, então a
tolerância não seria uma virtude. Que valor há
em se estar preparado para tolerar apenas aquelas
coisas que você aprova?
O libertário pode adotar qualquer atitude
moral em relação a várias questões — drogas,
prostituição etc. —, porém a única questão para
ele, na condição de libertário, não é determinar
se tais atividades devem ser louvadas ou se são
adequadas como um todo, mas sim se, ao praticar
tais atividades, um indivíduo está infringindo a
liberdade de outro. Se a resposta a essa questão
for não, então tal atividade não pode ser
coercivamente proibida, por mais moralmente
reprovável que ela seja.
É claro que, em uma sociedade erigida sobre
princípios libertários, um indivíduo tem o direito
de autorizar ou de se recusar a autorizar qualquer
tipo de comportamento dentro de sua
propriedade; todos têm esse direito. Donde se
segue, portanto, que em tal sociedade um
indivíduo estaria perfeitamente dentro do seu
direito (por mais inconveniente que seja fazer
isso) de proibir determinados tipos de
comportamento dos quais ele moralmente
discorde dentro de sua propriedade, assim como
qualquer pessoa tem o direito de exigir que um
visitante saia de sua casa caso seu
comportamento se torne inaceitável, ou por
qualquer outro motivo, inclusive motivo
nenhum. Tal direito existe tanto para uma
propriedade que pertença a uma pessoa quanto
para uma propriedade que pertença a um grande
grupo de pessoas. É por meio destas medidas,
portanto, que princípios conservadores podem
progredir em uma sociedade libertária.
Portanto, seriam o conservadorismo e o
libertarianismo moralmente opostos um ao
outro, ou seria possível ser conservador e
libertário ao mesmo tempo? A resposta a essa
pergunta, assim como a resposta para várias
outras perguntas, é: depende. Depende
principalmente da posição por onde se começa.
Como já vimos, o conservadorismo baseia-
se na disposição de se resistir a mudanças rápidas
e fundamentais, e de aceitar apenas aquelas
mudanças que são, por assim dizer, reformativas
e orgânicas. O conservador valoriza a ordem e a
virtude acima de tudo, ao passo que a liberdade é
apenas um valor dentre vários outros, não sendo
de modo algum proeminente. O libertário, em
contraste, vê a liberdade como sendo a
fundamental e necessária pré-condição para uma
vida verdadeiramente humana. A liberdade não é
o único valor — o libertário reconhece o amor, a
amizade, o altruísmo, a coragem, a caridade —,
porém nenhum dos outros valores pode existir a
menos que sejamos livres. É verdade que alguns
tipos de simulacros comportamentais dessas
virtudes podem ser produzidos por meio da
coerção, da regulação e da força, porém eles
seriam meros cadáveres repugnantes, destituídos
de qualquer resquício de vida real.
Se um indivíduo escolhe sua ideologia
partindo de uma posição conservadora,
apegando-se a valores conservadores, ele sempre
estará disposto a sacrificar a liberdade em nome
de outros valores mais importantes. Ele poderá
ser, na melhor das hipóteses, um libertário
durante as épocas de sol, mas não durante
tempestades e tormentas. Por outro lado, se um
indivíduo começa partindo de uma posição
libertária, ele pode adotar e adaptar valores
conservadores de modo a incrementar e
concretizar seu comprometimento com a
liberdade, contanto que, ao fazer isso, ele não
faça concessões quanto ao seu compromisso
primordial para com a liberdade.
Se um indivíduo começa adotando uma
posição conservadora, é improvável que ele venha
a se tornar um libertário ou que venha a apoiar o
libertarianismo, a menos que ele passe por uma
conversão político-filosófica. Por outro lado, se
um indivíduo começa adotando uma posição
libertária, ele pode aceitar — sem
necessariamente ser obrigado — o valor
heurístico da tradição e a antecedente (porém
refutável) normatividade dos costumes e hábitos.
Tentei mostrar aqui que o libertarianismo
não é necessariamente redutível à libertinagem.
Uma maneira relativamente segura de impedir
sua desintegração na libertinagem é adotando os
valores culturais centrais do conservadorismo, e
isso os libertários são livres para fazer. O
conservadorismo, por outro lado, estará sempre à
mercê das perguntas: Qual tradição? Quais
costumes? Quais hábitos? Caso ele desenvolva
uma resposta racional, proba e baseada em
princípios para essas perguntas, então ele deixou
de ser radicalmente conservador, e começou a se
mover em uma direção que, creio eu, fará com
que advogue a liberdade como sendo a
condição sine que non de todas as virtudes,
transmutando assim o conservadorismo em uma
forma de libertarianismo.

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