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A Guerra Que Eu VI - General Patton
A Guerra Que Eu VI - General Patton
A GUERRA QUE EU VI
Rio de Janeiro - RJ
1979
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO Publicação 489
Renaldo di Stasio
Direitos para esta edição cedidos por HOUGHTON MIFFLIN CO., 2 Park
Street, Boston, Massachusetts 02107, EUA.
Impresso no Brasil
FUNDADOR,
em 17 de dezembro de 1881,
REORGANIZADOR,
DIRETOR
SUBDIRETOR
CONSELHO EDITORIAL
Militares:
Ten Cel R-l Carlos de Souza Scheliga (relator deste livro) nomeado em 25
de abril de 1975
Civis:
Não é somente por este motivo, entretanto, que esta Editora militar lança,
pioneiramente no Brasil, o livro cujo título é sobejamente forte e chamativo
— A Guerra Que Eu Vi — mas também porque, como é salutar para a
história, está ele escoimado daquilo que poderia transformá-lo numa obra
altamente polêmica, em razão dos comentários a respeito de outros chefes.
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO-EDITORA
AGRADECIMENTO
Este fato não tem grande importância no que concerne às operações do III
Exército e em nada alterou os resultados da campanha. Quanto ao mais,
pode-se garantir, através do que se constata com a comparação cuidadosa
dos dois documentos, que nada de importância a respeito do planejamento e
execução da campanha deixou de ser mencionado pelo general neste livro.
0 leitor só perde o sabor apimentado do diário; o estudioso pode ficar certo
de que não será refutado por declarações que fizer com base neste livro.
Incluindo estas cartas, "A Guerra que eu vi" representa uma espécie de
história prematura — pode-se até dizer história provisória — com lugar
garantido na bibliografia sobre a Segunda Guerra Mundial. Por exemplo,
este livro pode ser comparado com as memórias de Jubal A. Early, John B.
Hodd, Richard Taylor e Joseph E. Johnston, publicadas poucos anos depois
do colapso da Confederação Sulina, com a diferença de que Patton não
precisa se desculpar de nenhuma derrota, nem ventilar nenhuma queixa. Os
livros daqueles sulistas não apresentavam documentos comprobatórios e
eram inexatos em alguns aspectos, mas tinham grande valor histórico por
terem sido escritos enquanto algumas impressões da guerra ainda estavam
bem vivas.
1. OPERAÇÃO TORCH
O material deste capítulo, escrito durante a campanha africana, não contém
pormenores sobre o combate real por causa das restrições impostas pela
censura, na época em que foi redigido. Entretanto, um breve sumário das
operações militares será útil para a orientação do leitor.
P. D. H.
ÁFRICA DO NORTE
29 de outubro de 1942
O portador desta é o Capitão-de-Mar-e-Guerra Gordon Hutchins, do
Augusta. Quando ele chegar aí, tudo o que aconteceu já terá sido noticiado
pelos jornais. Saímos de Norfolk às 8h10min do dia 24; a largada foi
notável pela impecável eficiência da sua organização. Navegamos em
coluna através do campo de minas, utilizando um canal varrido e sinalizado.
Adotamos uma formação com cinco colunas, com o Augusta na frente.
2 de novembro
6 de novembro
11 de novembro
Ambas as tropas eram garbosas, cada uma com a sua banda de música
própria, composta de cornetas, tambores e um guarda-chuva de metal com
sinos pendurados nas extremidades e que rodava durante a execução da
marcha batida.
O chão era coberto pelos tapetes mais grossos e mais bonitos que eu já vira.
O sultão estava sentado na extremidade da sala, em uma plataforma mais
elevada; tratava-se de um jovem de fisionomia atraente e muito expressiva,
mas de aparência muito frágil.
O ANIVERSÁRIO DO SULTÃO
Um aspecto interessante acerca do sultão é que ele deveria usar barba, por
tradição, mas preferia ter o rosto escanhoado (o que era feito com uma
lâmina que lhe deixava os pelos com um milímetro de comprimento). Os
bigodes eram aparados. Também não se admitia que o sultão usasse traje
europeu, mas alguns de nossos oficiais, bem como inúmeros oficiais
franceses, viram-no cavalgando através do campo, sem escolta e com roupa
de montaria inglesa. Eu tinha certeza de que ele falava francês e quase
certeza de que falava inglês. Na realidade, ouvi o boato de que se diplomara
em Oxford, usando um nome de cobertura.
Dizem que alguns fortes são de origem romana, mas ainda não vi, até agora,
nenhum que me parecesse tão antigo assim. O forte situado em Port
Lyautey é muito resistente. Lutou contra nós durante 3 dias e só foi
conquistado depois que os obuseiros autopropulsados de 105mm abriram
brechas para o ataque a baioneta e granadas de mão, realizado pelo 2º
batalhão do 60º RI10. O forte resistira aos canhões navais de 6 polegadas,
aos morteiros pesados e aos bombardeiros de mergulho; só cedeu diante do
infante armado com fuzil e granada. Não cheguei a indagar se houve
sobreviventes entre a guarnição, mas acho difícil que haja sobrado alguém.
No combate corpo-a-corpo um soldado não chega a dispor de tempo para
tecer considerações sobre os acontecimentos.
O dinheiro deixou de ter valor porque não havia quase nada para se comprar
no Marrocos; também era muito difícil contratar mão-de-obra local.
Estávamos providenciando para que os árabes contratados por nós
pudessem adquirir artigos de maior necessidade, como açúcar, chá, arroz,
café e roupas, a preços reduzidos. O salário dos contratados seria pago em
francos, a fim de valorizar a moeda local.
Nos campos, a terra é arada com auxílio dos mais variados tipos de animais.
Os camponeses usam parelhas seja de um cavalo e um camelo, seja de um
burro e um camelo, seja um touro e um camelo, ou um touro e um cavalo.
Disseram-me que não podem usar dois camelos porque um brigaria com o
outro. Qualquer animal atrelado junto com um camelo torna-se indiferente e
perde o interesse pela vida.
Cada cova era assinalada por uma cruz; nas covas dos americanos a cruz
continha uma tabuleta onde seriam pintados os nomes, posteriormente. Por
fim, retornamos até o portão, embarcamos nos carros e voltamos para o
quartel-general. A cerimônia fora bastante solene; quando revelei ao
General Noguès a opinião de que a mistura de sangue americano e francês
gerara um sacramento sagrado, ele pareceu-me satisfeito e comovido.
Quando chegamos, ninguém lhe dava a mínima atenção; por isto, dirigi-me
a ele para conversar. Durante o almoço sentei-me à direita da senhora
Noguès e o grão-vizir à esquerda dela. Mais uma vez não havia ninguém
conversando com ele. Ao entrar e sair da sala de jantar eu deveria caminhar
na frente do grão-vizir, mas fiz tudo para que isto não acontecesse, o que
parece haver produzido uma excelente impressão no velho.
Coube-me dizer ao grão-vizir o quanto era importante para mim saber o que
se passava no Marrocos espanhol e que tinha certeza de que ele e o sultão
eram as pessoas melhor informadas sobre o assunto. O velho respondeu-me
que certos nativos que viviam no Marrocos espanhol, erradamente
chamados de árabes, constituíam a razão de todos os problemas; ele e o
sultão considerariam como missão manter-me informado sobre o que
planejavam aqueles falsos crentes e seus patrões espanhóis, e que tais
informações me seriam dadas como se eu fosse um membro da família.
Tudo isto parece muito engraçado quando é posto em letra de forma e deve
ter sido ainda mais engraçado quando expressado através do meu francês,
mas é exatamente deste jeito que os árabes gostam de conversar.
Atrás da carruagem segue uma carroça com toldo e cheia de caixas brancas;
atrás dela, um camelo carregado de caixas brancas e seguido por uma mula
com o mesmo tipo de carga. Pelo que pude observar, as caixas estavam
vazias, mas parece que simbolizam as provisões que Sua Majestade
normalmente carregava consigo. A solenidade relembra a visita anual que,
antigamente, o sultão fazia às províncias do império, deslocando-se com os
meios representados na cerimônia. Nas portas de cada cidade o sultão era
recebido pelas autoridades locais, atualmente deslocadas para o palácio a
fim de participarem no cerimonial de comemoração da visita anual.
1 de janeiro de 1943
Podíamos ouvir outros aviões por cima das nuvens e, vez por outra, a
explosão de bombas. Por uma vez um estilhaço passou zumbindo, mas
parece que o nosso edifício não se achava na área atingida pelos estilhaços.
Por volta das 4h45min ouvimos um outro bombardeiro vindo pela nossa
retaguarda; repetiu-se a mesma cena, embora este voasse a uma altitude
inferior à do outro. Tenho certeza de que este avião foi atingido duas vezes,
mas vi-o desaparecer na direção da Europa.
Assim que clareou o dia saí para averiguar os danos e conversar com os
soldados. Estavam todos calmos; falei com a guarnição de uma peça situada
a 50 metros de uma cratera. Os soldados contaram que não haviam sido
derrubados ao solo, mas que ficaram cobertos de poeira.
12 e 13 de janeiro de 1943
A maioria dos vizires andava por volta dos 90 anos de idade e não podia
subir escadas; fiquei junto com eles, em conversa amistosa e contando
anedotas. É falsa a teoria de que os árabes não têm senso de humor.
Casablanca
1 de fevereiro de 1943
O paxá dispõe de três casas de hóspedes, cada uma das quais custou, na
minha opinião, um milhão de dólares. A casa destinada a mim e ao General
Wilbur tinha, no andar térreo, um museu e o gabinete particular do paxá. O
museu abrigava de tudo, desde moedas romanas até os tipos mais modernos
de arma de fogo. A coleção de espadas era fabulosa; tenho certeza de que
uma das que vi era uma espada de cruzado. Eu não podia exprimir nenhuma
admiração por qualquer peça do museu porque, se o fizesse, ela me seria
presenteada imediatamente. De qualquer maneira, tratava-se de peças
interessantes. Vi uma cota de malha em perfeitas condições, provavelmente
por causa do clima seco que impedira que ela se enferrujasse. Vi também a
parte das costas e a parte da frente da armadura a ser usada sobre a cota;
datavam do ano 1400, eram bastante pesadas e entalhadas a ouro. Entre
outras peças o museu abrigava um aparelho de porcelana que o Presidente
da França presenteara ao paxá.
No fim do corredor que levava aos meus aposentos havia um árabe a quem
o paxá se referiu como escravo. Era bastante cortês e estava armado com
uma adaga; passou o tempo todo tentando descobrir o que poderia fazer por
mim.
A casa ocupada pelos outros oficiais era igual à minha, mas creio que tinha
um número maior de aposentos, cerca de quatro ao todo. As camas eram
cobertas com veludo, sobre o qual se colocavam as colchas bordadas. Cada
quarto de dormir dispunha de um banheiro moderno.
Depois de meia hora de abluções, o que parecia ser uma regra da casa,
dirigimo-nos para uma terceira residência, construída no mesmo estilo das
outras, e fomos servidos de chá. Depois, o cadi, que era filho do paxá,
levou-nos para visitar a cidade e os campos adjacentes, tudo pertencente ao
paxá.
Depois de viajarmos 200 quilômetros, paramos em uma tenda, onde nos foi
servido um novo desjejum, com bolos, vinho e café, e onde encontramos
seis oficiais franceses. Também se encontrava no local um bom número de
goums, armados com carabinas, montando um cavalo e puxando um outro.
Recebi um belíssimo garanhão árabe. A sela era uma cópia exata da sela
militar que comprei no Jannin, em Saumur, em 1912. O paxá cavalgava em
uma mula, grande e preta, com uma sela vermelha que tinha uma forma
parecida com a de uma banheira. Montados, marchamos montanha acima
durante uma hora. Além dos soldados montados, havia um número
equivalente de homens a pé que carregavam espingardas de caça para os
homens montados ou simplesmente nos seguiam por prazer. Nós
marchávamos em bom trote, mas estes homens nos acompanhavam com
facilidade, descalços e passando por terreno pedregoso e alguns cactos.
Depois que todos ocuparam suas posições, cerca de mil batedores iniciaram
o trabalho. Primeiro, surgiram chacais e raposas fugindo em grande
velocidade de dentro do mato; errei três tiros, como todo o resto do pessoal.
Então surgiu um javali de bom tamanho bem em frente do paxá, que errou o
tiro mas apanhou rapidamente seu fuzil Mannlicher e atirou na direção do
javali e dos criados que estavam fugindo do animal; felizmente ninguém foi
atingido, nem mesmo o javali.
Neste momento, sobre as pedras na encosta abaixo de mim e avançando na
minha direção, surgiu o javali maior e mais negro que eu já vira. Acertei-o
no olho esquerdo com uma bala, quando o animal encontrava-se uns 10
metros na minha frente; o impulso do bicho fez com que ele viesse cair tão
perto de mim que chegou a manchar-me de sangue. Foi realmente
emocionante; se não o houvesse atingido, provavelmente ele me teria
atingido, e o animal tinha dentes afiados.
Um outro javali surgiu no local onde o paxá atirara sobre os criados e pôs
todos eles em fuga, outra vez. Todos atiraram, menos eu; felizmente
ninguém foi atingido, exceto o javali.
Como eu tinha que tomar o avião de volta antes das 17 horas, o banquete
foi rápido, isto é, não durou mais de uma hora e meia; pois bem, nem por
um instante os habitantes pararam de cantar e dançar.
20 DE MAIO DE 194329
Durante quase uma hora desfilaram as tropas francesas que haviam tomado
parte na batalha. Como sempre, desfilaram de forma magnífica. Elas
possuem uma habilidade inata para desfiles marciais, bem como para
qualquer outro tipo de marcha. O contingente francês compreendia tropas
brancas, senegaleses, goums e a Legião Estrangeira. Os legionários
apresentaram-se em excelente forma, com bigodes enormes, alguns ruivos
ou louros. Na realidade, pareceu-me que a Legião Estrangeira francesa era
integrada, em grande parte, por alemães e suecos. Tinha uma aparência
garbosa.
Espero que este seja apenas o primeiro dos muitos desfiles triunfais a que
terei de comparecer.
Casablanca
9 de junho de 1943
Nas regiões secas, em geral, as estradas são retas, mas não no brutal sentido
matemático do termo. São retas apenas enquanto um homem puder andar
em linha reta de um ponto a outro, ou tão retas quanto o muco seco deixado
pela lesma ao atravessar uma calçada.
Nas regiões litorâneas, onde chove, existem estradas alternativas. O traçado
principal segue a linha de crista pelo mesmo motivo que, no nosso oeste, as
trilhas dos índios, as sendas dos búfalos e até as estradas construídas pelos
pioneiros estendiam- se pelo terreno elevado. Durante a estação seca, as
sinuosidades da estrada na crista são encurtadas através de trilhas que se
desenvolvem em terreno baixo e que são impraticáveis na estação chuvosa.
É claro que os boatos continham dados errados mas, de modo geral, eram
um pouco menos truncados do que algumas notícias recebidas através do
rádio. Nos boatos, muitas vezes os carros de combate eram anunciados
como caminhões e os caminhões como carros de combate, e os efetivos
sempre atingiam proporções astronômicas, mas isto é coisa que acontece.
Certa ocasião perguntei a um fazendeiro na Virgínia quantos soldados ele
havia visto; respondeu-me: "Bem, não tenho certeza, mas acho que cerca de
um milhão". E ele sabia ler e escrever, e possuía um rádio.
Todos os animais são retardados e muitos são cegos por causa do hábito
comum de golpeá-los na cabeça com uma vara.
19 de junho de 943
Depois que a tropa francesa ocupou sua posição, nosso pelotão apresentou
armas e a banda tocou a marcha batida em continência à bandeira francesa.
2. OPERAÇÃO HUSKY
O 1º Corpo Blindado, que planejou a campanha da Sicília, era constituído
pelo que restara da Força-Tarefa Ocidental, depois de fornecer oficiais e
soldados para o recém-criado 5º Exército. O efetivo do Corpo foi reforçado
para a invasão da Sicília e, após o desembarque, veio a constituir o 7º
Exército.
P. D. H.
A INVASÃO DA SICÍLIA
11 de julho de 1943
Disse a Gaffey para fechar a brecha entre Gela e a 1ª Dl e para mandar uma
companhia de carros de combate para ajudar Darby. A ordem foi cumprida.
Darby contra-atacou imediatamente, na esquerda, e fez 500 prisioneiros.
Também destruímos os sete carros de combate alemães, na direita.
Acho que foram destruídos 14 carros de combate inimigos naquele dia. Eu,
pessoalmente, contei onze.
18 de julho de 1943
O apoio de fogo naval — isto é, o fogo naval lançado sobre as praias pelos
navios situados ao largo do litoral — representou um papel destacado.
Chegamos a solicitar este apoio até durante a noite e conseguimos
enquadrar o alvo já na terceira salva.
A população deste país é a mais miserável e esquecida por Deus entre todas
as que já vi. Certo dia, eu estava na cidade quando o inimigo quase a
reconquistou; algumas granadas mataram civis. Pois bem, todo mundo na
cidade levou cerca de 20 minutos gritando que nem coiote.
As carroças são bem diferentes. Têm o formato de uma caixa com umas
coisas que parecem pés de cama nos cantos e ao longo das bordas laterais.
Os painéis que ficam entre esses pés de cama são desenhados com figuras.
Na parte de baixo da carroça existe uma voluta, colocada entre o eixo e o
fundo da caixa, parecida com as existentes nas varandas das casas
construídas em 1880.
A CONQUISTA DE PALERMO
27 de julho de 1943
Passei por uma coluna em movimento e fui alvo de calorosa acolhida por
parte da 2ª DB. Todos pareciam conhecer-me; primeiro faziam continência,
depois acenavam com a mão.
1 de agosto de 1943
Ordem Geral Nº 10
G. S. Patton Jr.
Comandante
DISTRIBUIÇÃO "D"
22 de agosto de 1943
Ordem Geral Nº 18
Soldados do 7º Exército:
G. S. Patton Jr.
Comandante
outubro de 1943
Os sicilianos do sul são os tipos mais porcos de toda a ilha. Houve casos de
pessoas que passaram dias com cadáveres dentro de casa por serem
preguiçosas demais para removê-los. Por outro lado, quando utilizamos
cavadores de buraco para postes a fim de abrir buracos para os cadáveres,
estes sicilianos protestaram, alegando que os mortos deviam ser sepultados
horizontalmente e não na vertical. Concedemos permissão para o
sepultamento horizontal, desde que as covas fossem abertas por eles
próprios.
Certa vez, no quintal da casa que ocupei, contei oito crianças, onze bodes,
três cães, várias galinhas e um cavalo, todos catando restos de lixo sobre o
chão. Nenhum deles morria. Acho que uma pessoa criada na base do molho
de tomate produzido à moda siciliana fica imune a qualquer doença. O
modo de preparar este molho consiste em recolher os tomates, grande parte
deles já excessivamente maduros, e espremê-los com as mãos sobre panos
velhos, ou pedaços de papel, ou qualquer outra coisa. Esta massa vermelha
permanece intocada durante alguns dias; depois, é colocada em bandejas,
que são dispostas na calçada, para secar. Como as ruas nunca são varridas,
há sempre uma boa quantidade de poeira contaminada para juntar-se ao
molho. É isto que eles misturam com o macarrão.
Por causa da escassez de água, e por outros motivos mais, decidimos beber
champanha durante a permanência em Gela; reservamos uma caixa, o que
poderia parecer excessivo, mas que se esgotou em dois dias por causa do
elevado número de visitantes que nos procuraram. Houve necessidade de
obter mais champanha. Para isto foi preciso tirar da cadeia o vendedor, que
era também um conhecido contrabandista; conseguimos isto graças à
interferência do bispo. O homem ficou solto o tempo suficiente para vender
mais champanha e, depois, foi devolvido à prisão.
Agrigento foi uma das primeiras cidades gregas na ilha, como mais tarde
seria dos cartagineses. Existiam três belos templos gregos em Agrigento:
um dedicado a Juno, outro a Concórdia e outro a Hércules, havia também
um caminho sagrado ligando os templos entre si, em cujas margens
existiam túmulos cavados na rocha; atualmente, todos estavam violados e
saqueados.
Este templo não tinha nada de especial. As colunas não eram monolíticas,
ou compostas de 2 ou 3 blocos, como seria normal; tinham sido construídas
com pedras pequenas. Vale a pena notar que, decorridos dois milênios e
meio, não se conseguia enfiar uma lâmina afiada no espaço entre duas
pedras.
O teatro, com capacidade para umas duas mil pessoas sentadas, localizava-
se no topo de um colina elevada. Assim, além de avistar os atores, os
espectadores também desfrutavam de uma paisagem marinha maravilhosa.
Parece que os gregos que construíram o teatro habitavam uma vila existente
nas vizinhanças. Entretanto, o vandalismo, praticado contra as antiguidades
por várias gerações, fizera desaparecer a vila; sua existência podia ser
deduzida do fato de as pedras que ainda se encontravam no local revelarem
traços de trabalho humano. Por falar em vandalismo, ouvi dizer que uma
boa parte de Pisa foi construída com pedras retiradas de Cartago.
Certa vez encontrei um soldado com uma sela italiana colocada sobre o
pescoço do cavalo, na frente da cernelha. Detive-o, para ouvir a sua idéia a
respeito da colocação da sela, mas o cavalo abaixou a cabeça ao parar e o
soldado foi ao chão. Respondeu à minha pergunta dizendo pensar ser aquele
o local apropriado para a colocação da sela. Imaginei que o pobre homem
só havia visto um quadrúpede em picadeiro de circo, onde o artista monta
na cabeça do elefante.
Desde que os sicilianos passam a maior parte da vida sentados, seria natural
que, depois de milhares de anos, houvessem pensado em fabricar cadeiras
confortáveis; nada disto, sentam-se em pedras, na lama, em caixas, em tudo
exceto cadeiras. De qualquer maneira, trata-se de um povo muito jovial e
que parece contente com a sujeira em que vive; na minha opinião seria um
erro tentar elevá-los aos nossos padrões, os quais eles poderiam muito bem
não apreciar.
13 de dezembro de 1943
A TERRA SANTA
14 de dezembro de 1943
Até este voo nunca me passara pela cabeça que, na época em que foi
realizada a travessia, os judeus não precisavam ter transposto nenhuma água
pois existia uma faixa de deserto entre o lago Bitter e o Mediterrâneo,
completamente enxuta. Apesar disto os judeus realizaram a travessia;
Napoleão também atravessou quase no mesmo lugar, e perdeu toda a
bagagem por causa de um vento violento.
Dali nos dirigimos para o lugar onde fora erguida a Cruz. A maior parte do
monte havia sido escavada durante a ocupação dos romanos, que soterraram
o Sepulcro e construíram um templo dedicado a Vênus, abrangendo o
monte Calvário e o Sepulcro. Entretanto, existe um altar que se supõe
localizado exatamente no lugar onde se ergueu a Cruz.
Nesta capela adquiri um rosário para Mary Sacally64 e consegui que fosse
benzido sobre o altar.
Saindo da capela percorremos a Via Sacra, uma rua muito suja, até o ponto
onde existiu o Foro Romano. Creio que a extensão não é mais de 800
metros. Além das estações da Via Sacra dos católicos, os gregos
acrescentaram mais outras; por isto, um padre grego leva praticamente um
dia inteiro percorrendo a Via e parando em cada estação.
16 de dezembro de 1943
Embora um pouco menor e não tão bom quanto um dos nossos centros em
Mostaganum, o centro de instrução inglês apresentava um ou dois
aperfeiçoamentos em relação aos nossos métodos. Possuíam imitações dos
bordos dos navios, construídos dentro da água, e que permitiam a atracação
de embarcações de desembarque a fim dos homens praticarem a descida
pelas redes, desde o convés até às embarcações.
18 de dezembro de 1943
19 de dezembro de 1943
MALTA
O solo é formado por rocha porosa e macia, capaz de ser entalhada tão
facilmente quanto a madeira, enquanto permanecer dentro da escavação,
mas endurecendo quando exposta ao ar livre.
Vale a pena lembrar que a maioria da população de Malta jamais viu uma
montanha, um rio, um lago, uma floresta ou uma estrada de ferro e, segundo
dizem meus amigos, não tem o menor desejo de vê-los.
Como critiquei muitas pessoas sem que elas me revelassem suas próprias
versões dos acontecimentos, devo acrescentar que esta descrição contém a
maior quantidade possível de fatos que consegui dos meus apontamentos
pessoais, na época em que a escrevi.
julho—agosto de 1945
PARTE 2. OPERAÇÃO
OVERLORD
P.D.H.
Nosso Posto de Comando fora muito bem localizado pelo General Gay3 em
um velho pomar de maçãs.
Durante a minha permanência na região aproveitei a oportunidade para
examinar, do chão e do ar, as defesas germânicas em torno de Cherburgo.
Também mandei que o chefe do Serviço de Engenharia do Exército
levantasse a planta dessas defesas; na minha opinião, por ser um povo
muito metódico, os alemães construiriam defesas semelhantes onde quer
que os enfrentássemos. Imaginava que as defesas não tinham nada de
excepcional; as plantas provaram que eu tinha razão.
Existia uma outra construção gigantesca cuja razão de ser não consegui
explicar. Consistia de um bloco de concreto com mais de 1,5 quilômetros de
comprimento e 20 a 25 metros de largura. Nas elevações de cada lado
tinham sido feitas escavações em forma de cunha, com 30 metros de
profundidade e 60 metros de largura no topo, as quais tinham sido
preenchidas com concreto. Na minha opinião esta obra consumira mais
material do que a construção das grandes pirâmides. Durante dois anos
cerca de 3.000 trabalhadores forçados foram empregados pelos alemães e
nem a metade da obra ficara completa.
O General Teddy Roosevelt4 morreu no dia 12 de julho; estivemos
presentes ao sepultamento no cemitério próximo de St. Sauveur; os canhões
antiaéreos prestaram a salva fúnebre ao bravo soldado.
O Coronel Flint7 foi morto no dia 24; ele e o General McNair8 foram
enterrados dia 26. Paddy teria gostado do seu funeral. Mandamos fazer um
caixão especial para ele, o qual foi transportado até a sepultura em uma
viatura blindada de meia-lagarta. Carregaram o caixão um comandante de
exército, três comandantes de corpo de exército, um chefe e um subchefe de
estado- maior de exército e todos os cavalarianos que serviam no QG.
Por outro lado, por motivos de segurança, o enterro de McNair foi discreto,
apenas com a presença de Bradley, Hodges, eu, Quesada9 e o ajudante-de-
ordens do falecido general.
Por causa das grandes distâncias que era obrigado a percorrer, realizava a
maior parte dos meus deslocamentos em um avião da ligação L-5. Vi
inúmeros aviões derrubados. Em volta de cada destroço existia uma trilha
aberta por uns vampiros esquisitos. A cena me fazia lembrar aves mortas e
parcialmente comidas pelas abelhas. Os planadores, com as fuselagens
alongadas e as asas colocadas bem para a frente, lembravam libélulas.
No final deste dia chegou até nós o boato de que os alemães dispunham de
várias divisões blindadas18 e atacariam para oeste, partindo da linha
Mortain-Barenton sobre Avranches. Pessoalmente, achei que se tratava de
um blefe germânico para encobrir um movimento retrógrado. De qualquer
maneira, detive as 80ª e 35ª Divisões de Infantaria e 2ª Divisão Blindada
francesa nas vizinhanças de St. Hilaire, para o caso de ocorrer alguma
novidade.
No dia 13, ficou claro que o XX Corpo não estava fazendo nada;
deslocamo-lo para nordeste de Le Mans, usando a 7ª Divisão Blindada e a
5ª Divisão de Infantaria e mandando um grupamento tático da 80ª Dl para
Angers. Isto nos permitiu reunir o XII Corpo, formado pela 4ª DB e 35ª Dl.
Ainda integrado pelas 5ª DB, 2ª DB francesa, 90ª Dl e 79ª Dl, o XV Corpo
ocupou a linha Alençon-Sées-Argentan. Poderia ter entrado facilmente em
Falaise e fechado o bolsão, mas recebemos ordem para não fazer isto
porque, diziam, os ingleses tinham semeado uma grande quantidade de
bombas de retardamento pela região. Esta parada constituiu um erro grave,
pois eu tinha certeza de que poderíamos ter conquistado Falaise, mas não
tinha certeza se os ingleses poderiam fazê-lo. Na verdade, nossos pelotões
de reconhecimento já estavam nas orlas da cidade quando recebemos ordem
para recuar.
No dia 16, Stiller, Codman e eu viajamos para Chartres, que acabara de ser
conquistada por Walker; encontramo-lo na ponte, ainda sujeita a alguns
tiros inimigos. A ponte fora parcialmente destruída por um alemão
escondido em um abrigo individual e que acionou o detonador das cargas de
explosão depois que os elementos da vanguarda haviam ultrapassado a
ponte; morreram alguns americanos. Em seguida, o alemão ergueu as mãos
e rendeu-se. Os americanos o aprisionaram, o que considerei o máximo da
insensatez.
No dia 19, acompanhado pelo General Wyche da 79ª Dl, fui até Mantes e vi
o rio Sena. Senti-me muito tentado a ordenar que a 79ª transpusesse o rio,
mas contive-me até encontrar o General Bradley. Encontrei-o naquela noite,
depois de realizar um voo longo, no qual fomos obrigados a nos desviar
duas vezes do mau tempo. Bradley não só aprovou a travessia da 79ª Dl
como ordenou que a 5ª DB, do mesmo corpo, atacasse para o norte, ao
longo da margem ocidental do Sena, enquanto o XIX Corpo (Major-
General C. H. Corlett) do 1º Exército progredia pela margem oriental.
Também aprovou o meu plano de transposição: XX Corpo em Melun e
Fontainebleau e XII Corpo em Sens. Ficou claro que depois da realização
destas travessias os rios Sena e Yonne não teriam mais utilidade para os
alemães como obstáculos fluviais. A transposição em Melun deu-se no
mesmo local da realizada por Labienus com a sua 10ª Legião, em 55 A.C.
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Por causa da nossa experiência na Tunísia e na Sicília nossas estimativas
eram bastante corretas. As perdas materiais eram as seguintes:
Assim que os emissários saíram, chegou o meu amigo General Juin26. Foi
extremamente lisonjeiro e disse que o meu arrojo era napoleônico. Disse
também, e isto foi mais importante, que a brecha de Nancy era o melhor
caminho para atravessar a Linha Siegfried. Eu chegara à mesma conclusão
através do estudo na carta, pelo seguinte motivo: quando se encontra um
grande número de estradas principais passando em um mesmo lugar, é para
lá que se tem que ir qualquer que seja a resistência do inimigo. É inútil
conquistar um lugar com facilidade se ele não facilitar a sua progressão. A
fim de tornar mais viável o plano para progredir através da brecha de Nancy
era aconselhável conseguir duas divisões extras. Nem a 90ª Dl, nem a 80ª
Dl estariam prontas em tempo; por isto tentei persuadir o General Bradley a
dar-me duas divisões do VII Corpo (Major-General J. L. Collins), do 1º
Exército, que eu julgava achar-se na vizinhanças de Chartres. Não consegui
nada na conversa com Bradley e tive que continuar avançando para leste
sem as divisões.
Monty vencera mais uma vez e o esforço principal ia ser deslocado para o
norte, ao invés de para leste. O 1º Exército, com nove divisões, atravessaria
o Sena em Melun e Mantes, dois locais conquistados e transpostos pelo 3º
Exército. Após a travessia o 1º Exército avançaria para Lille. Com sete
divisões — XII Corpo: 4ª DB, 35ª Dl e 80ª Dl; XX Corpo: 7ª DB e 5ª Dl;
XV Corpo: 2ª DB francesa e 90ª Dl — cabia ao 3º Exército progredir
sozinho em direção à linha Metz-Estrasburgo. Apesar de tudo, as coisas não
iam tão mal assim, pois ainda tínhamos sete divisões de boa qualidade
avançando na direção que eu e Bradley desejávamos seguir.
Na minha opinião, o dia 29 de agosto foi um dos dias mais críticos desta
guerra; depois, serão escritas muitas páginas sobre este dia — ou melhor,
sobre os acontecimentos que marcaram este dia. Nesta ocasião, tornara-se
evidente que não existia nenhuma ameaça real contra nós, desde que não
nos deixássemos deter por inimigos imaginários. Por isto, disse a Eddy, do
XII Corpo, que avançasse sobre Commercy e determinei que Walker, do
XX Corpo, fizesse o mesmo com relação a Verdun. Tudo parecia cor-de-
rosa quando, às 14 horas, informaram-me que não haviam chegado os
530.000 litros de gasolina que deveríamos receber naquele dia. No princípio
pensei tratar-se de um processo indireto de diminuir o ímpeto do 3º
Exército. Depois, verifiquei que não se tratava disto; o atraso devia-se a
uma alteração do plano, feita no Alto Comando e implementada, na minha
opinião, pelo General Montgomery.
No dia 30, fui a Chartres falar com Bradley, com o Major- General H. R.
Bull (E-3 do General Eisenhower) e Allen, chefe do estado-maior de
Bradley. Apresentei o meu plano de avançar rapidamente para leste, com a
finalidade de romper a Linha Siegfried antes que ela pudesse ser
guarnecida. Bradley era favorável, mas Bull e, conforme percebi, o resto do
Estado-Maior do SHAEF29 não concordavam.
Sou de opinião de que este foi o erro mais grave da guerra. No que
concerne ao 3º Exército, não só deixamos de recuperar a gasolina que faltou
como também não recebemos mais nenhuma. Em consonância com a
decisão de deslocar o esforço para o norte, incluindo nele dois corpos do 1º
Exército, todos os suprimentos — gasolina e munição — tiveram que ser
orientados naquela direção.
Além do mais, a ponte aérea com que havíamos contado para o transporte
de boa parte dos nossos suprimentos tinha sido desviada para alimentar os
parisienses. Ao mesmo tempo, sem que eu soubesse do fato, os demais
aviões de transporte estavam sendo reunidos para um lançamento aéreo na
frente do 21º Grupo de Exércitos. Por fim, à guisa de tiro de misericórdia no
3º Exército, a Zona de Administração30 utilizou várias companhias de
transporte para realizar a mudança do seu quartel-general de Cherburgo
para Paris, e logo nesta ocasião.
Correu um boato que, oficialmente, achei que não poderia ser verdadeiro.
Contavam que o pessoal do nosso Serviço de Intendência simulou pertencer
ao 1º Exército e conseguiu que o depósito daquela grande unidade nos
fornecesse uma boa quantidade de gasolina. Invertendo o aforisma a
respeito da Brigada Ligeira, isto não é guerra, mas é maravilhoso.
Viajei para a linha de frente, passando por Verdun e Etain, onde viramos
para o norte, e cheguei ao quartel-general da 90ª Dl. É verdade que
atingimos o local do quartel-general antes da chegada da divisão. Depois,
voltamos para Etain e viajamos para Conflans, lugar famoso como berço do
lendário Brigadeiro Gerard, dos Hussardos. Conflans achava-se na linha de
frente e era mantida por elementos do 2º RI da 5ª Dl. Na orla leste da cidade
encontrei um GT da 7ª DB que se achava detido, há uma hora, por fogo de
metralhadoras e morteiros. Evidentemente era um absurdo que uma unidade
blindada aceitasse tal situação. Ordenei-lhe que avançasse e voltei ao
quartel-general da divisão para falar com o comandante. Era a segunda vez
que me via forçado a exigir mais combatividade da parte dele. O General
Walker fora o primeiro a observar a falta de combatividade deste
comandante, quando nos achávamos em Chartres, e solicitara a sua
substituição. Apesar da minha reputação de decepador de cabeças, na
realidade suporto as coisas por bastante tempo.
Viajando para o XII Corpo, via Toul, Pannes e Essey, passei pelos mesmos
lugares em que vivera e atacara há vinte e seis anos e quatro dias. Alguns
acidentes capitais ainda estavam bem nítidos, mas um muro atrás do qual
me abrigara ao comandar um ataque era, agora, de tijolos, quando a minha
recordação registrava que tinha sido de pedra. Provavelmente haviam
construído um muro novo. De qualquer maneira, devo ter passado por maus
momentos naquele dia 12 de setembro de 1918.
Bradley telefonou para dizer que Monty desejava que todas as unidades
americanas parassem a fim de que ele, Monty, pudesse dar "uma punhalada
com o 21º Grupo de Exércitos no coração da Alemanha". Bradley declarou-
me que ao invés de punhalada, sairia um golpe com "faca de cortar
manteiga". Com a finalidade de evitar uma tal parada, era evidente que o 3º
Exército teria que se engajar a fundo imediatamente; solicitei que Bradley
não me telefonasse antes da noite de 19 de setembro.
No dia 18, condecorei o General Leclerc com a Estrela de Prata e entreguei-
lhe seis Estrelas de Prata e vinte e cinco Estrelas de Bronze para serem
concedidas aos integrantes da sua divisão. Nesta ocasião o Coronel Vennard
Wilson, do 106º Regimento de Reconhecimento, informou que duas colunas
de Infantaria alemã atacavam Lunéville, partindo da direção de Baccarat.
Determinei que Haislip atacasse imediatamente. Suas ordens foram bastante
simples e, como Wyche estava conosco, tudo se desencadeou na mesma
hora.
P. D. H.
A INUNDAÇÃO
A nossa força aérea atacara e danificara o quartel uns quinze dias antes do
XV Corpo do 3º Exército conquistar Chaumont. Entretanto, a minha sala
perto do portão ficou intacta. Gostava dela, pois foi o local do meu primeiro
comando efetivo, na qualidade de comandante da Companhia do QG da
FEA.
Em seguida, passamos por Langres, sem ter tempo de parar, e fomos para
Bourg, quartel-general da minha Brigada de Carros de Combate, em 1918.
O primeiro homem que vi na rua estava parado sobre o mesmo monte de
estrume onde, tenho certeza, se encarapitara em 1918. Indaguei se ele
estivera na cidade por ocasião da última guerra e ele respondeu-me: "Sim,
General Patton, e o senhor estava aqui como coronel". O homem organizou
um desfile triunfal, com os habitantes carregando forcados, segadeiras e
ancinhos e saímos procurando os meus velhos antros, inclusive o meu
gabinete e o quarto de dormir no castelo de Madame de Vaux.
Recebemos muitos visitantes no dia 27. Ao todo foram dez generais, dos
quais Hughes e Spaatz eram os mais amigos. Recebemos também a
comunicação definitiva sobre a perda do XV Corpo, constituído pela 2ª DB
francesa e 79ª Dl. Entretanto, prometeram-nos as unidades de Infantaria da
26ª Dl, comandada pelo Major-General Willard S. Paul, e mais o restante da
divisão, caso pudéssemos encontrar os recursos necessários para que
chegassem até nós. Sempre encontrei recursos para o deslocamento de
qualquer unidade que fosse transferida para o 3º Exército; só tinha
dificuldade para fornecer recursos às unidades que saíam do nosso exército.
Esta escassez de unidades durou algum tempo e era indecorosa. Parece que
desviaram onze batalhões de Infantaria para realizar o trabalho de
estivadores e utilizaram todas as viaturas das divisões recém-chegadas para
o transporte de suprimentos.
Durante cerca de dez dias pensamos em sondar o valor defensivo dos fortes
alemães que cobriam Metz, a oeste do Mosela. A 5ª Dl estimava que um
desses fortes, Driant, poderia ser conquistado com um batalhão. No dia 3 de
outubro puseram o plano em execução e obtiveram considerável sucesso
inicial. Todavia, depois de cerca de sete dias de operação resolvemos
abandoná-lo porque as baixas estavam aumentando muito.
Minha experiência revela que qualquer oficial-general que viola esta regra
e, digamos, no escalão exército, começa a anotar a posição dos batalhões,
acaba comandando-os e perdendo a sua eficiência. Na Tunísia, o E-3 inglês
do General Alexander começou a mostrar-me onde colocar os batalhões e
tive que recusar-me categoricamente a aceitar tais ordens. Alexander deu-
me razão.
A 26ª Dl chegou e assumiu o controle do setor mantido pela 4ª DB; um dos
seus regimentos substituiu o regimento mais ao norte da 80ª Dl.
No dia 8, decidi voar para Nancy, o que foi um erro, pois o mau tempo só
nos permitiu decolar quando já era tarde demais para que eu pudesse assistir
ao início da batalha. Quando consegui chegar no Posto de Observação do
XII Corpo, quatro cidades à nossa frente ardiam violentamente e de uma
delas elevava-se uma coluna de fumaça com, pelo menos, 1,5 quilômetros
de altura. Os carros de combate da 6ª DB avançavam contra o flanco sul de
duas aldeias, de onde recebiam uma concentração considerável de fogo; no
fundo da paisagem os P-47 do XIX Comando Aerotático realizavam um
excelente trabalho de bombardeio. Imediatamente à nossa frente, em um
campo, estavam reunidas várias centenas de prisioneiros aguardando o
devido encaminha mento. Foi uma pena que o General Marshall não
pudesse ficar para assistir ao combate.
Depois de observar tudo durante algumas horas, fui visitar o General Paul,
comandante da 26ª DI. Ele fora Ajudante do 27º Regimento de Infantaria no
quartel Schofield, em 1925 e 1926, quando causou-me excelente impressão,
plenamente justificada posteriormente. Do seu quartel-general, dirigimo-
nos para o Posto de Observação da 80ª Dl. Das duas colinas à sua frente, a
mais ao sul já havia sido conquistada, mas a do norte, justamente a mais
boscosa, parecia ainda estar na mão dos alemães. Quando cheguei, achei
que estavam dispostos a permitir que os alemães ali permanecessem até a
manhã do dia seguinte. Julguei isso muito perigoso e determinei que a
colina fosse conquistada naquela noite, o que foi conseguido.
No dia 15, acompanhado pelos Generais Eddy e Wood, fiz a minha preleção
tradicional a todos os oficiais e à maior quantidade de graduados e soldados
que foi possível reunir. Dei ênfase especial ao fogo em movimento. Esta
divisão foi uma das primeiras a adotar a doutrina que eu preconizava e,
durante os combates, obteve bons resultados, com perdas bastante
reduzidas.
Ouvi gritos partindo de dentro das ruínas; apanhei minha lanterna de mão,
atravessei a rua e encontrei um francês puxando vigorosamente a perna de
um homem que parecia preso pelos escombros. Segurei a outra perna e
comecei a puxá-la também, mas a vítima passou a gritar ainda mais alto, de
repente engasgou e deixou de emitir qualquer som. Depois, verificamos que
o homem ficara com a cabeça presa embaixo de uma mesa e que a nossa
tentativa de socorro quase a separara do resto do corpo. Todavia, o homem
não sofrera outro ferimento além de uma escoriação no pescoço.
Enquanto participava desta cena, mais para o lado uma velha, também presa
pelos escombros de outra casa, começou a gritar; o francês tentou confortá-
la com as seguintes palavras: "Por favor, madame, não se perturbe; fique
calma, esteja tranquila. Imagine que o grande General Patton em pessoa
está executando a remoção dos escombros; logo, a senhora também poderá
ser salva. Além disto, ele já chamou um médico e uma ambulância. Mais
uma vez peço-lhe que se tranquilize". Enquanto ajudávamos a pobre
senhora, caiu a terceira das granadas já mencionadas e a sua explosão atirou
alguns detritos sobre nós. Creio firmemente que, nesta madrugada, fiquei
mais atemorizado do que em qualquer outra ocasião da minha carreira.
A situação logística era excepcionalmente má, em particular no que dizia
respeito a rações, gasolina e munição; a situação era tal que, no dia 25 de
outubro, recebemos a visita pessoal do General Lee e seus subordinados
imediatos, que tudo fizeram para atenuar nossas dificuldades.
Inspecionei e fiz uma preleção para o 761º BCC no dia 21. Uma boa parte
dos tenentes e alguns capitães tinham sido meus sargentos no 9º e no 10º
Regimentos de Cavalaria. Individualmente eram bons soldados; entretanto,
manifestei minha opinião naquela época e jamais encontrei motivo para
mudá-la, de que o soldado preto não raciocina com a velocidade necessária
para servir em blindados.
Neste mesmo dia, falei para os oficiais da 10ª DB, da 90ª Dl, da 95ª Dl e do
QG do XX Corpo. Cada uma destas preleções foi realizada na chuva. Como
sempre, transmiti-lhes minhas palavras de estímulo antes de batalha.
Por fim, ainda neste dia, recebi a visita do General Hughes. No dia 6, ele e
eu, a pedido dele, falamos às 4ª e 6ª Divisões Blindadas. Inicialmente, não
havia incluído estas divisões na minha programação porque achava que
eram tão experientes e tão veteranas que não havia necessidade de ensinar o
padre-nosso ao vigário; pareceu-me que esta exclusão ofendeu-as, o que me
fez revogar minha decisão e dirigir-me a elas. Na prelação à 4ª DB
aproveitei o fato de o 1º Exército não atacar conforme fora previsto e fiz um
gracejo para eles: "o primeiro será o último e a quarta será o primeiro".
P. D. H.
ATOLADO NA LAMA
O contra-ataque foi repelido com uma bravura incrível, embora nossa tropa
não dispusesse de carros de combate, nem de canhões destruidores de
carros na margem oriental do rio Mosela; além disto, a ponte na retaguarda
da 90ª Dl fora destruída. Entretanto, a resistência foi apoiada por cerca de
30 grupos de Artilharia de Corpo de Exército.
Nesta época, a idéia de Bradley era atribuir ao 15º Exército, tão logo fosse
organizado, as regiões à retaguarda dos 1º e 3º Exércitos, para deixar uma
área menor sob nossas responsabilidades.
O General Van Fleet levou-nos para percorrer o campo de batalha do dia 12;
eu nunca tinha visto tantos alemães mortos45 em uma única região.
Estavam alinhados em uma extensão de quase dois quilômetros,
praticamente ombro a ombro.
Eddy telefonou para dizer que a sua dotação de munição para o dia 18 eram
9 mil tiros; respondi-lhe que gastasse 20 mil, pois não via motivo para
acumular munição. Não há meio termo para a munição, você gasta ou não
gasta. Perder-se-iam mais homens gastando 9 mil tiros por dia, durante três
dias, do que consumindo 20 mil tiros em um dia — e provavelmente sem
conseguir progredir tanto. Acredito que se deva lutar até que a escassez de
suprimento nos obrigue a parar; então, trata-se de cavar trincheiras.
A última coluna alemã que tentou fugir de Metz foi apanhada na estrada por
uma companhia de CC médios da 6ª DB, que abriu fogo sobre a coluna de
uma distância de cerca de 150 metros. Percorri a estrada e raramente vi uma
cena de destruição tão grande.
Por falar em voo, recordo-me que quando comecei a voar sobre a França
observei, do ar, um grande número de abrigos individuais cavados em
ambos os lados das estradas principais. Uma investigação revelou que tal
proteção se tornara necessária para manter em atividade os motoristas dos
caminhões alemães; quando os nossos bombardeiros apareciam, eles
saltavam direto para dentro dos abrigos. Os habitantes locais eram
obrigados a cavar e conservar tais abrigos, os quais eram rapidamente
tapados por eles próprios assim que conquistávamos a região.
No dia 25 inspecionei a 95ª DI. O moral dos combatentes era bom, mas
seus métodos de ataque pareciam carecer de ímpeto. Durante o trajeto
ocorreram vários impactos de granadas de 88 e 105 mm bem perto de nós.
Passamos por dentro de Metz; foi uma sensação agradável entrar em uma
cidade que não havia sido conquistada durante 1.300 anos.
Uma outra escassez que se tornou aguda naquela ocasião foi a de bebidas.
Estavam encerrados aqueles bons tempos em que capturávamos 26 mil
caixas de champanha em uma cidade e 14 mil caixas de conhaque na outra
(todas elas marcadas como propriedade do Exército Alemão).
Naquela época eu achava que a situação era mais favorável do que o fora
anteriormente e examinava a possibilidade de colocar o III Corpo na
retaguarda da 35ª Dl; a finalidade seria aproveitar qualquer sucesso que
pudesse ser conseguido durante a penetração, uma vez que pelo menos
Millikin não estava fatigado, embora lhe faltasse experiência de combate.
Pensei seriamente em obrigar Eddy a descansar um pouco e teria feito isto
se não temesse que o resultado de umas férias fosse pior do que o da
permanência na função.
Abri a reunião dizendo que os planos haviam sido alterados e que, embora
estivéssemos acostumados a deslocamentos rápidos, agora teríamos que
demonstrar a nossa capacidade para atuar com maior rapidez ainda. Em
seguida, elaboramos um plano de operações sumário, baseado na hipótese
de podermos empregar o VIII Corpo (Middleton) do 1º Exército e o III
Corpo (Millikin) do 3º Exército em duas ou três direções possíveis. A partir
da esquerda e em ordem de prioridade, os eixos de ataque eram: das
vizinhanças de Diekirch direto para o norte; das vizinhanças de Arlon até
Bastogne, cidade ainda na posse de nossas forças; das vizinhanças de
Neufchâteau contra a extremidade esquerda da penetração inimiga.
Uma vez decidido que o 3º Exército deveria atacar, realizou-se uma reunião
entre Eisenhower, Devers e Bradley para tratar do deslocamento da frente.
A decisão final foi atribuir ao 7º Exército uma parte da frente do 3º Exército
e determinar que aquele exército mantivesse as posições atuais desde um
ponto ao sul de Sarrelautern até a extremidade da sua zona de ação atual, no
rio Reno. Enquanto não chegasse a divisão que a substituiria, não tínhamos
autorização para deslocar a nossa 6ª DB.
Tão logo foram tomadas estas decisões, telefonei para Gay determinando o
deslocamento da 26ª DI e da 4ª DB para Arlon, via Longwy, e da 80ª Dl
para Luxemburgo, via Thionville. Na realidade, a 4ª DB já estava se
deslocando desde a noite anterior (18 de dezembro). A 80ª Dl iniciara o
movimento na manhã do dia 19 e a 26ª DI iniciou o deslocamento com o
recebimento da ordem.
P. D. H.
O BOLSÃO
Passei a noite de 19 de dezembro com o XX Corpo, em Thionville; de lá
telefonei ordenando que a 5ª Dl fosse retirada da frente de combate e se
deslocasse para o Luxemburgo. Na manhã do dia seguinte fui ao quartel-
general de Bradley, na cidade de Luxemburgo, e descobri que ele
movimentara o GT-B (General-de-Brigada H- E. Dager) da 4ª DB de Arlon
para uma posição a sudoeste de Bastogne e detivera a 80ª Dl em
Luxemburgo, tudo isto sem me comunicar nada. Como o GT-B ainda não se
engajara no combate, fi-lo voltar para Arlon e mandei a 80ª Dl prosseguir
na marcha para as vizinhanças de Mersch.
O dia de Natal amanheceu claro e frio; tempo ótimo para matar alemães,
embora a idéia parecesse um tanto antagônica com o espírito do dia. Saí de
manhã bem cedo com a finalidade de visitar todas as divisões que
combatiam; consegui visitar dois grupamentos táticos da 4ª DB, a 26ª, 80ª e
5ª Divisões de Infantaria, e elementos da 4ª Dl e 10ª DB.
Ordem Geral
1º de janeiro de 1945
Nº 1
E minha firme convicção, e são meus votos de Ano Novo, que vocês
permaneçam sob a proteção de Deus Todo Poderoso e a direção esclarecida
do- nosso Presidente e do nosso Alto- Comando, nesta trajetória vitoriosa
até o fim, para eliminar a tirania e a corrupção, vingar os nossos camaradas
mortos e restabelecer a paz em um mundo exausto de guerra.
Para finalizar, não pude encontrar nada melhor para expressar os meus
sentimentos do que repetir-lhes as palavras imortais do General Scott em
Chapultepec: "Bravos fuzileiros veteranos, vocês foram batizados com fogo
e sangue e adquiram a têmpera do aço".
Comandante
Nossa progressão no dia de Ano Novo não chegou a ser importante, com
exceção da 6ª DB que avançou bem; não havia nenhum motivo de
preocupação para nós. Todas as unidades do 3º Exército encontravam-se na
posição em que deveriam se encontrar; se fôssemos derrotados, o motivo
seria a melhor capacitação do inimigo para o combate e não algum erro que
eu pudesse ter cometido no desdobramento das grandes unidades.
Em uma das primeiras destas cartas, afirmei que Bradley não interferia de
forma alguma no combate do 3º Exército. Houve um caso em que ele não
chegou a dar ordem, mas sugeriu com bastante veemência que deveríamos
colocar uma nova divisão a sudeste de Bastogne, para garantir a integridade
do corredor, ao invés de atacar ao norte de Diekirch, para dividir o inimigo
ao meio. Confesso que me deixei levar pelo ardor da insistência de Bradley,
mas assumi toda a responsabilidade pelo erro representado pelo
engajamento da 90ª Dl deslocada muito para oeste. Se eu houvesse
colocado a 90ª Dl ao norte de Diekirch, tenho certeza de que teria capturado
um número muito maior de alemães e por um preço muito menor.
Ficou previsto para o dia 13 o ataque final dos VIII e III Corpos para a
conquista de Houffalize. No dia 12, o General Gay visitou os dois corpos
para coordenar o plano de ataque e para conseguir que o VIII Corpo
restituísse um grupo de obuses de 155mm que recebera por empréstimo do
XII Corpo.
O ataque contra Houffalize começou no dia 13, mas a progressão não foi
tão rápida quanto esperávamos. De qualquer maneira, a atitude mental dos
soldados era excelente. Até aqui eles tinham tido dúvida; a partir de agora,
estavam caçando uma raposa debilitada e queriam vê-la morta.
No dia 15, foram expedidas as ordens para que o XII Corpo iniciasse o
ataque para o norte, através de Diekirch, na manhã de 18 de janeiro. Para
este ataque o XII Corpo recebeu a 4ª DB e a 87ª Dl, além das divisões de
que dispunha — 80ª, 4ª e 5ª Divisões de Infantaria. O tempo continuava
muito frio.
No dia 21, os VIII e III Corpos receberam ordem para retomar a ofensiva ao
longo do eixo Bastogne—St. Vith.
Tivemos que enviar para o 6º Grupo de Exércitos a 101ª DAet, uma unidade
antiaérea e algumas unidades de destruidores de carros, para participarem
de um ataque que principiara quando alguém disse que poderia reduzir o
bolsão de Colmar com uma divisão, e que acabou exigindo mais cinco
divisões.
Walker telefonou para saber se poderia executar um ataque no triângulo
Mosela —Sarre com a 94ª Dl e um GT da 8ª DB. Dei-lhe luz verde.
O atraso do ataque dos VIII e III Corpos para o dia 21 dava possibilidade ao
inimigo de deslocar para a zona de ação do XII Corpo algumas unidades
que se achavam na frente daqueles dois corpos. Apesar disto, o XII Corpo
estava descansado e precisava percorrer uma distância curta para atingir o
objetivo.
No dia 21, o XII Corpo praticamente atingiu o seu objetivo inicial e colheu
uma numerosa concentração de alemães na ponte, perto de Vianden; o
corpo dispunha de excelente observação sobre a área e manteve o inimigo
debaixo de fogo contínuo de Artilharia empregando espoletas de tempo
variável.
Neste mesmo dia, durante a visita ao VIII Corpo, sucederam dois episódios
bastante instrutivos. Em certo local, elementos da 17ª DAet ficaram
imobilizados em um aclive escorregadio e não houve um oficial que
lembrasse de mandar os soldados desembarcarem para empurrar os
caminhões ladeira acima. Quando alguém tomou esta atitude, a divisão
prosseguiu no deslocamento. O outro episódio foi provocado pelo gelo, que
neutralizou o funcionamento das minas americanas e alemãs; formou-se
tanto gelo sob as aranhas das minas que não havia pressão que as fizesse
detonar. Por outro lado, quando ocorresse o degelo poderiam surgir muitas
baixas quando as unidades percorressem as estradas que supunham limpas,
mas cujas minas estariam com as aranhas novamente livres. Determinamos
a utilização do maior número possível de detectores de minas em todas as
estradas.
Também nesta data todas as grandes unidades do VIII, III e XII Corpos,
com exceção do regimento da esquerda da 80ª Dl, achavam-se em seus
objetivos finais, isto é, o conjunto de elevações a leste da estrada Diekirch
—St. Vith. As 76ª e 87ª Divisões estavam efetuando a troca de posições.
Naquela data, o VIII Corpo abriu a nova ofensiva, seguido pelo III Corpo
que lhe ficava imediatamente ao sul. O XII Corpo atacou no dia 6 e 7 de
fevereiro e o XX Corpo no dia 19.
P. D. H.
MUITOS RIOS E DEFESA PASSIVA
Depois da conversa com Eddy telefonei para o 12º Grupo de Exércitos para
ver se conseguia a 9ª DB e uma divisão de Infantaria para substituir a 17ª
DAet, cujos efetivos achavam-se muito desfalcados. Quando o General
Allen respondeu ao meu telefonema, não só declarou-me que não receberia
nenhuma grande unidade, como também informou-me que não deveria
realizar nenhum movimento enquanto não recebesse novas ordens. Como
consequência, tive que dizer a Eddy para suspender o ataque planejado para
o dia 4 de fevereiro.
O que resultou da reunião de Spa foi uma perda de dois dias no lançamento
do ataque. Meus planos baseavam-se na hipótese de que os alemães não
estavam em condições de desfechar um contra-ataque de vulto. A hipótese
revelou-se verdadeira.
O VIII Corpo ficou em situação logística tão crítica que Middleton sugeriu
a suspensão do ataque; disse-lhe que prosseguisse e conquistasse Prum
porque, depois, eu tentaria abastecê-lo pelo chamado “caminho do céu"71.
A estrada achava-se sob fogo direto dos alemães, mas eu pensava em
utilizá-la durante a noite. O que conseguimos, mais tarde.
No dia 9, viajei para Trois Vierges, via Wiltz, para ver Middleton. A
situação da rede rodoviária era lastimável, mas Middleton, com sua
tenacidade habitual, realizava o impossível para se movimentar. Recebi o
General Keyes72, que se achava em gozo de uns dias de férias. Desde 10 de
julho de 1943, Keyes não se afastava da luta; quando lhe concederam um
descanso, ao invés de repousar em um lugar tranquilo, veio visitar-me para
ver mais guerra.
No dia 10, Bradley telefonou para indagar a partir de que data eu poderia
passar à defensiva. Respondi-lhe que era o comandante mais idoso e com
mais experiência de combate do Exército dos Estados Unidos na Europa; se
fosse obrigado a passar à defensiva, pediria demissão do comando. Ele
respondeu que eu significava muita coisa para os meus subordinados e que
não poderia abandoná-los. Retruquei que fazia jus a alguma consideração e
que teria de ser substituído se não me deixassem prosseguir no ataque.
Além disto, sugeri que seria excelente se ele pudesse enviar membros do
seu estado-maior para inspecionarem a frente de combate e verificarem o
que ocorria por aqui. Bradley era excelente pessoa, mas seu estado-maior
não parecia grande coisa. Ele mencionou como o maior erro já cometido
pelo SHAEF o ataque de Montgomery, utilizando o 9º Exército. Eu não
achava que este era o maior dos erros; na minha opinião, o maior de todos
ocorrera em fins de agosto, quando o General Eisenhower desviou o 1º
Exército para o norte, para ajudar Montgomery, e, como consequência,
cortou o abastecimento do 3º Exército.
A situação logística do VIII Corpo atingiu um nível tão ruim, no dia 11, que
o General Weyland tomou providências para abastecer as 87ª e 4ª Divisões
de Infantaria por via aérea, se e quando isto fosse necessário.
Por outro lado, o XII Corpo conseguiu, finalmente, construir pontes sobre
os rios Our e Sauer e progredia bem.
No dia 12, eu e o General Keyes viajamos para o VIII Corpo, via Arlon,
Bastogne e Wiltz, atravessando a floresta que fora intensamente
bombardeada pela Artilharia durante a operação contra Bastogne. Notava-se
perfeitamente o efeito produzido pelas granadas com espoleta de tempo
variável. Podia-se distinguir o ângulo de queda de todas as granadas que
haviam explodido mais ou menos 9 metros acima do topo das árvores. Após
a explosão, os estilhaços deceparam os galhos em um ângulo de 40º em
relação ao solo. Todavia, naquela época pareceu-me que a espoleta de
tempo variável não seria muito eficaz contra pessoal em área coberta de
vegetação, porque os troncos e galhos absorveriam os estilhaços;
posteriormente, uma conversa com o General Grow confirmou a minha
impressão. Em áreas cobertas a espoleta com retardo é mais eficaz, porque
só funciona no impacto contra a parte mais grossa dos troncos das árvores,
já perto do solo. Guerreando aprende-se muito sobre a guerra.
No dia 19, escrevi uma carta ao General Bradley dizendo que todas as
unidades americanas, com exceção do 3º Exército, não estavam fazendo
absolutamente nada e como eu ainda continuava atacando, poderia obter
melhor resultado se dispusesse de mais divisões. Solicitei de uma a três
divisões. Acredito ter sido esta a única carta que escrevi para registrar a
minha posição; sentia que seríamos criticados pela história por não
havermos atuado com mais energia.
Ás 11h30min do dia 19, Walker telefonou para dizer que achava a situação
madura para se obter uma ruptura no triângulo do Sarre, desde que lhe fosse
entregue uma divisão blindada. Bradley achava-se ausente; falei com o
General Bull e consegui a 10ª DB, mas sob uma condição: "só para esta
operação".
O VIII Corpo progredia bem e prometia alcançar o rio Prum no dia 23.
Mais uma vez obtive autorização de Bradley para tentar uma ruptura a leste
do rio Prum, se e quando surgisse uma oportunidade. Garanto que Bradley e
Allen sentiram-se muito satisfeitos, pelo menos Allen confessou isto, por se
acharem no meio de um grupo de pessoas dispostas a combater.
No dia 28, a 10ª DB ainda não havia entrado em Trier, mas achava-se em
boa situação, depois de atingir uma região que lhe permitia atacar com
várias colunas. Até então o terreno só permitira o ataque com uma coluna, o
que dificulta muito a ação de uma divisão blindada.
Neste dia, uma visita ao General Morris demonstrou de forma cabal que
nossas linhas telefônicas sofriam escuta inimiga. Antes de sairmos, Codman
utilizou o telefone para saber o nome da cidade onde deveríamos encontrar
o General Morris. Ao chegarmos a uma encruzilhada, perto de tal cidade,
um soldado da PE nos deteve e informou-nos que o general deslocara-se
para um outro lugar. Pois bem, enquanto viajávamos para o novo local a
cidade combinada para o nosso encontro sofreu uma concentração violenta
de Artilharia, exatamente na hora em que deveríamos estar juntos.
Acho que esta granada dirigiu nossos pensamentos para assuntos religiosos.
No caminho de volta do estabelecimento vinícola um dos oficiais da minha
comitiva explicava, com muita ênfase, a tradição religiosa de seus
ancestrais; para demonstrar o grau de santidade de família, declarou:
“General, minha família é católica há mais de três mil anos". Indaguei,
então: “Já eram católicos antes de Cristo?" A resposta foi: "Sim senhor". Já
contei este caso várias vezes e pouca gente achou graça.
O General Bradley declarou que preferia que não atacássemos para o sul,
transpondo o Mosela, a não ser que conquistássemos uma ponte intata.
Walker não conseguiu desencadear o ataque no dia 12, mas prometeu cruzar
a linha de partida no dia 13 às 3 horas. O XII Corpo estava pronto para
atacar logo depois da meia-noite, já no dia 14.
13 a 21 de março de 1945
P.D.H.
O PRINCÍPIO DO FIM
No dia 15, voei para Mayen e encontrei-me com os Generais Eddy, do XII
Corpo, e Middleton, do VIII Corpo. Disse a Middleton que iria tirar as
divisões do seu corpo de exército, com exceção da 87ª Dl, mas que lhe
mandaria a 76ª Dl o mais breve possível. O general não protestou; pelo
contrário, apresentou uma sugestão brilhante para a conquista imediata de
Coblença com a 87ª Dl. Middleton era o comandante de corpo que
apresentava maior facilidade para o trabalho em equipe, e era também um
dos mais eficientes.
No conjunto, o exército não foi bem, a não ser nas zonas de ação das 80ª e
94ª Divisões, onde a progressão atingiu 10 quilômetros.
O dia 18 não chegou a ser nem bom, nem mau. A 4ª DB foi detida por um
contra-ataque idiota, executado por dois regimentos de Infantaria da 2ª
Divisão Panzer (comandada pelos General-Tenente von Luttwitz e General-
Major von Lauchert). As demais unidades dos VIII, XII e XX corpos
atuaram bem, mas não de forma brilhante.
O nosso total de perdas no dia 19, tanto em combate como fora de combate,
somou 800 homens; além dos mortos, ainda aprisionamos 12.000 alemães.
Apesar de tudo, julgo-me culpado pelo erro de não haver realizado uma
travessia do rio ao norte da confluência do Meno com o Reno, isto é, ao
norte de Mainz. O que me levou a cometer este erro foi o receio de ser
contido pelo terreno elevado ao norte da confluência dos dois rios. Por
outro lado, se esta travessia houvesse sido executada, ter-se-ia evitado a
transposição no rio Meno em Frankfurt e na sua foz. Foi esta uma das
poucas vezes em que me deixei levar por um excesso de precaução.
82
No dia 23 de março, divulguei a Ordem Geral nº 70, abrangendo as
operações realizadas no período de 29 de janeiro a 22 de março. Publico-a
neste livro porque ela contém as minhas opiniões sobre a campanha do
Palatinado.
Ordem Geral
23 de março de 1945
Nº 70
Comandante
Recebi a notícia de que o Coronel John Hines, filho do meu velho amigo
Major-General John L. Hines, fora ferido no rosto por um tiro de canhão de
88 mm, quando liderava seus carros de combate no ataque a um aeroporto
ao sul de Frankfurt, e que perdera os dois olhos. Depois de ferido, o coronel
comunicou-se pelo rádio com o comandante da divisão, fez-lhe um relato
preciso da situação e concluiu dizendo: "Além disto, general, é melhor que
o senhor mande alguém substituir-me porque estou bastante ferido83. Pela
bravura demonstrada, Hines recebeu a Palma de Carvalho para a Cruz de
Serviços Relevantes que lhe fora concedida durante a campanha do Sarre.
Tratava-se de um grande soldado e foi poupado pela morte. O General
Grow ficou bastante perturbado com a perda de Hines. Na verdade, ficou
tão perturbado que não fez nada no dia seguinte e teve que ser acionado
para conquistar Frankfurt.
Por fim, voei para o Posto de Comando do VIII Corpo, a oeste de Limburg.
O aeroporto de Limburg estava sendo abastecido de gasolina pelo Comando
de Transporte Aéreo, que enviava 60 aviões por hora, cada avião trazendo
115 camburões de 5 galões de combustível. Se não fosse o Comando de
Transporte, mais uma vez teríamos ficado sem gasolina.
No fim da noite, Patch telefonou para dizer que haviam chegado ao seu QG
três oficiais libertados de Hammelburg; segundo eles, o Coronel Waters fora
gravemente ferido. Patch informou que faria o possível para conquistar o
campo no dia seguinte.
No dia 5, a 4ª DB controlava completamente as cidades de Gotha, Ohrdruf e
Muhlberg. Fiquei muito feliz com a promoção do General Gay a Major-
General, bem com as estrelas ganhas por Williams, oficial de Artilharia do
3º Exército, e por Conklin, chefe do serviço de Engenharia do 3º Exército.
Todos os três corpos que visitei durante a tarde estavam prontos para iniciar
a ofensiva limitada destinada a atingir a linha de controle nº 2091. No caso
particular do XX Corpo, expliquei a eles que, ao atingirem a linha nº 20, se
pudessem conquistar Erfurt, um pouco para leste, então prosseguissem no
avanço para conquistá-la através de um desbordamento pelo sul; com isto
ficaria abortada qualquer tentativa de fuga de alemães do alto escalão em
direção ao chamado "Reduto" (eu pessoalmente não acreditava na
existência disto). O VIII Corpo, com a 89ª Dl ao norte e 87ª Dl ao sul,
avançou para a linha 20 com ordem para conquistar Arnstadt. O XII Corpo
já estava progredindo em direção à linha de controle, mas eu acreditava que
ele se atrasaria pois o seu flanco direito tinha a missão de conquistar Eisfeld
e Coburg.
Dali seguimos para a 80ª Dl, onde o General McBride descreveu a nova
técnica que descobrira. Consistia em disparar um par de granadas cheias de
proclamações à população anunciando que a cidade seria arrasada se não se
rendesse no fim de um determinado prazo. Caso a cidade optasse pela
rendição, o prefeito deveria avançar em direção às linhas aliadas, depois de
afastar da cidade as tropas alemãs. Durante o período estipulado na
proclamação os caças-bombardeiros do XIX Comando Aerotático
sobrevoavam a cidade; na medida em que o prazo se ia esgotando, o voo
tornava-se cada vez mais rasante. Decorrido o prazo, os aviões recebiam um
aviso e descarregavam as bombas, caso os alemães não houvessem
concordado com a rendição. Uma concentração de Artilharia caía sobre a
cidade, sincronizada com o bombardeio aéreo. Como consequência deste
método inúmeras cidades renderam-se sem criar problemas.
Recolhi-me ao leito já muito tarde; notei, então, que esquecera de dar corda
no meu relógio e que o mesmo parara de funcionar. Liguei o rádio para
ouvir a hora certa. Exatamente neste momento o locutor anunciou o
falecimento do Presidente Roosevelt. Informei, imediatamente, os Generais
Eisenhower e Bradley; discutimos sobre o que poderia acontecer. Parecia-
nos muito azar ter que mudar de chefe numa ocasião tão importante da
nossa história. Na realidade, os acontecimentos posteriores demonstraram
que nada sofremos com isto.
No dia 13, Bradley pediu-me que deixasse a 65ª Dl em suas posições atuais
até o domingo próximo, a fim de facilitar uma operação desencadeada pelo
1º Exército.
Visitei o Coronel Allen no hospital em que fora encontrado quando
conquistamos Weimar. Seu braço direito fora amputado logo abaixo do
cotovelo. Ele forneceu-me alguns dados interessantes. O cirurgião que o
operou ministrou-lhe a última dose de éter que possuía, para anestesiá-lo; a
dose foi insuficiente e, no fim da operação, fizeram-no beber brandy à guisa
de anestésico. Allen declarou que viu pelo menos 80 alemães serem
operados sem anestesia, a não ser conhaque; não havia mais esterilização,
nem água ou sabão, e os médicos e enfermeiras andavam praticamente
cobertos de sangue. Muitos homens eram transportados a braço para a sala
de operações; havia escassez de padiolas. O cirurgião que o operou era
austríaco e deu informações falsas sobre o estado de saúde de Allen,
durante os poucos dias em que ele permaneceu no hospital, porque os
alemães ficaram ansiosos para interrogá-lo no quartel-general do exército,
quando souberam tratar-se de um coronel americano. Por fim, o cirurgião
disse a Allen que o ajudaria a fugir, se a situação piorasse, e o esconderia
nas montanhas até a nossa chegada. Allen era um sujeito muito resistente; o
único pedido que formulou foi para continuar servindo no QG do 3º
Exército, no que foi imediatamente atendido. Até o fim da guerra prestou-
nos um excelente serviço.
O 3º Exército recebeu o III Corpo, comandado pelo General Van Fleet, além
de unidades provenientes do bolsão do Ruhr. O III Corpo ia ocupar a zona
de ação que pertencera ao XXI Corpo (Major-General F. W. Milburn) do 7º
Exército.
Além da 11ª DB, recebemos mais três divisões blindadas: 13ª (Major-
General John Millikin), já experimentada em combate, 16ª (General-de-
Brigada J. L. Pierce) e 20ª (Major-General Orlando Ward), ambas sem
experiência de combate. Fiquei satisfeito em receber estas divisões,
principalmente por caber a mim lançá-las em combate, depois de toda a
instrução que haviam recebido, e antes que a guerra acabasse.
Veio passar a noite conosco o General Millikin, que comandara o III Corpo
e comandava, agora, a 13ª DB. Seu estado de espírito era excelente;
prometi-lhe dirigir a palavra à sua divisão na primeira oportunidade que
aparecesse.
A região entre Nuremberg e Hersfeld era uma das mais bonitas dentre as
que sobrevoei. Avistamos diversas fazendas, sem dúvida de criação de
cavalos, pois dispunham de pistas de treinamento atrás dos estábulos.
P. D. H.
A SÍNTESE FINAL
Por volta de 22 de abril, eu não tinha mais dúvida que o fim da guerra
estava bem próximo, mas ainda existiam aqueles que insistiam na hipótese
de uma grande concentração alemã no sul, no chamado "Reduto".
Deslocamos o nosso Posto de Comando de Hersfeld para Erlangen. Choveu
durante a viagem que fiz em companhia de Codman; nevou um pouco
quando atravessamos as montanhas, numa altitude de 1.200 metros. As
condições de trânsito entre Bamberg e Erlangen estavam péssimas, porque
todas as pontes só davam passagem para uma viatura de cada vez; nenhum
oficial, exceto eu e o General Maddox, teve iniciativa suficiente para sair da
viatura e colocar em ordem a confusão que se formara.
Para se ter uma idéia de como a luta se tornara pouco dispendiosa, convém
lembrar que naquela ocasião o 3º Exército dispunha de 14 divisões em
combate, além das unidades orgânicas de corpo de exército e de exército.
Para se ter uma avaliação aproximada do efetivo, basta multiplicar o
número de divisões por 30.000; o resultado incluirá o efetivo das unidades
orgânicas de divisão, corpo de exército e exército.
A 86ª Dl, do III Corpo, atingiu Ingolstadt e já lutava nas orlas da cidade.
O XII Corpo não podia participar da corrida porque as estradas da sua zona
de ação eram tão ruins que só permitiam a progressão em coluna de
divisões, e, assim mesmo, com grande dificuldade.
Como prova de que todos achavam que a guerra chegara ao fim, recebi
ordem para gravar um discurso de dois minutos de duração, para ser
transmitido no dia da vitória na Europa.
Dali seguimos para Landshut, onde a 90ª Dl atravessava o rio Isar. Foi em
Landshut, no castelo situado na margem sul do rio, que o Coronel Codman
esteve preso na Primeira Guerra Mundial, e de onde conseguiu fugir. Tirei
uma fotografia do castelo e outra de Charley, com o castelo no fundo.
Durante a viagem passamos por uma fábrica de doces onde, no dia anterior,
o General Van Fleet presenciara o saque praticado por uma multidão de
alemães. Se não fosse a intervenção pessoal do General Van Fleet e seu
motorista, provavelmente o valioso estoque de açúcar, chocolate e farinha
da fábrica teria sido totalmente destruído. Ainda assim, caminhei por
corredores cujo piso estava coberto de açúcar e chocolate. Parece que a
oportunidade de conseguir artigos rigorosamente racionados transtornou a
cabeça dos alemães sempre disciplinados.
Não pude me afastar do PC até às 13 horas, pois tive que esperar pelo
General Bradley para saber se prosseguiríamos no ataque contra o
"Reduto", ou passaríamos a missão para o 7º Exército. Às 13h30min
Bradley deu-me um novo limite que resolvia a questão: a missão ficou para
o 7º Exército. O limite era o seguinte: o antigo limite do 3º Exército e do III
Corpo a noroeste de Freising; daí, na direção geral de leste até Muhldorf,
depois pelo rio Inn até a confluência deste com o Salzach; daí seguia até
Strasswalchen e, depois, numa direção paralela ao rio Enns até a
confluência deste com o Danúbio em Mauthausen, dez quilômetros a leste
de Linz. Os russos encontravam-se na outra margem do Enns. Ao norte do
Danúbio, o limite provisório entre os americanos e os russos era o leito da
estrada de ferro que corria para o norte, a partir da confluência do Enns com
o Danúbio. A consequência deste limite era espremer o III Corpo e
estabelecer uma linha de limite de progressão para o 3º Exército.
Como a minha esperança não conhecia limites, ordenei ao III Corpo que
parasse em Wasserburg e conquistasse qualquer ponte que encontrasse
intata sobre o rio Inn.
A minha idéia era deixar que o XII Corpo utilizasse o local de travessia
conquistado em Passau pela 65ª Dl do XX Corpo, a fim de avançar
rapidamente sobre Linz, pela estrada Scharding-Linz. O General Gay e o
General Maddox convenceram-me do contrário, porque haviam avaliado,
melhor do que eu, a fraca resistência existente na frente do XX Corpo.
Acredito que eles também hajam percebido, naquela ocasião, a
possibilidade de avançar para nordeste com o XII Corpo. Toda vez que o 3º
Exército mudava a localização do seu Posto de Comando, no curso de uma
operação, ocorria uma estranha coincidência: ou recebíamos ordem para
alterar a direção do eixo de progressão, ou mudavam a nossa missão.
1. A RESPEITO DO SOLDADO
O soldado é o exército. Nenhum exército é melhor do que os seus soldados.
O soldado também é um cidadão. Na realidade, o maior dever e o mais alto
privilégio da cidadania é empunhar armas pelo país. Portanto, constitui
enorme privilégio ser soldado — um bom soldado. Qualquer pessoa, em
qualquer ramo de atividade, que se contenta com a mediocridade engana-se
a si própria e renega a tradição americana. Para ser um bom soldado um
homem deve ser disciplinado, respeitar-se, ter amor à sua unidade e ao seu
país, possuir um elevado sentimento de obrigação e devotamento aos seus
camaradas e aos seus superiores e autoconfiança gerada por sua
comprovada competência.
Sempre se falou, e se fala muito, sobre disciplina; mas pouca gente, dentro
e fora do exército, sabe o que é ela, ou porque é necessária.
Não cave abrigos individuais embaixo de árvores, sempre que puder evitá-
las; quando uma granada atinge uma árvore funciona como se estivesse com
espoleta de tempo. Os estilhaços vêm do alto e o abrigo cavado não tem a
menor utilidade, exceto como cova a ser usada pelo Pelotão de
Sepultamento.
Na época em que a maior parte do fogo de armas portáteis que incidia sobre
o campo de batalha era disparado pelos fuzis, justificava-se a progressão
por lanços, a fim de ampliar a linha de atiradores. Hoje, quando a maior
parte dos fogos ofensivos no campo de batalha, bem como dos fogos de
neutralização, são desencadeados por metralhadoras, morteiros e Artilharia,
não há vantagem em progredir por lanços porque, enquanto não se chegar a
250 metros de distância, o tiro das armas portáteis têm pouca eficácia, ao
passo que enquanto se permanece deitado, entre os lanços, há grande
exposição ao efeito dos estilhaços. Quando se chega a 250 metros de
distância, nossas próprias armas portáteis, que são superiores a tudo o que
existe atualmente, neutralizarão o fogo das armas portáteis inimigas, de
modo que não se precisa progredir por lanços. Digo isto com perfeito
conhecimento de causa porque vi, diversas vezes em manobras e em
combate, tropas avançarem por lanços quando estavam desenfiadas por
colinas e poderiam avançar em automóveis, em perfeita segurança.
Pela mesma razão, não escolha a única casa existente em uma elevação para
instalar o seu Posto de Comando, como já vi fazerem muitas vezes.
Também não instale o seu PC, como vi fazerem, junto de um monumento
assinalado no mapa, e que possa ser avistado a quilômetros de distância.
"MACETES" DE COMBATE
Pontes: nas travessias de curso de água até que a situação esteja garantida
para nós, todas as pontes só devem permitir movimento em uma única
direção — em direção ao inimigo. Enquanto a situação não estiver firme,
feridos e viaturas de transporte vazias voltarão à margem amiga em botes e
portadas.
Minas e arame farpado: não utilize minas e arame na defensiva, exceto sob
a forma de armadilhas a fim de denunciar alguma infiltração inimiga. Minar
e cercar uma posição produz um efeito péssimo sobre o moral das nossas
tropas. Entretanto, como simulação, as minas e as cercas são úteis. Por
exemplo, podemos colocar uma cerca de arame farpado sumária em um
campo de minas simulado em uma parte da frente, pela qual pretendemos
atacar, e deixar o restante da frente ostensivamente sem cerca; quando
começar o ataque, não precisaremos nos preocupar com o campo de minas
simulado e poderemos nos livrar da cerca rapidamente.
Local do ataque: jamais ataque onde o inimigo espera que você deva fazê-
lo. É muito melhor atacar por um terreno difícil, onde você não é esperado,
do que por um terreno bom e onde estão à sua espera. Esta observação
aplica-se a todos os escalões até divisão. Abre-se uma exceção para corpo
de exército e escalões superiores, por que essas grandes unidades devem
conquistar terreno onde as rodovias e ferrovias permitam o estabelecimento
de linhas de suprimento. Provavelmente tais vias estarão defendidas. O que
desejo ressaltar é que a divisão deve conquistá-las atacando através de
terreno difícil, e não acompanhando o leito da estrada ou da ferrovia.
Fogo e movimento: a norma de segurar o inimigo pelo nariz, através do
fogo, e chutar-lhe o traseiro, por meio do movimento, continua tão
verdadeiro como o era quando escrevi isto pela primeira vez, há vinte anos
atrás; e, naquela época, já se constituía em verdade desde que começaram
as guerras. Reduzida à sua expressão mais simples, qualquer operação
consiste em deslocar-se pela estrada até chocar-se contra o inimigo. Pode
ser por uma única ou por várias estradas. Ao encontrar o inimigo, fixe-o no
ponto de contato empregando o fogo de um terço do seu efetivo. Desloque
o restante em um desbordamento amplo, para poder atacá-lo pelo flanco. O
ataque com a força desbordante deve começar primeiro. O ataque frontal só
deve ser desfechado depois que o inimigo começar a reagir adequadamente
contra o ataque desbordante. Aí então o ataque direto poderá avançar rápido
e com facilidade.
Tiro de tempo: o fogo tanto com espoleta de tempo variável como com
espoleta normal de tempo é muito eficaz na cobertura de um ataque de
carros de combate; normalmente, impedirá que o inimigo guarneça seus
canhões anticarro. Os carros de combate nada sofrem quando se deslocam
sob tiros de tempo de granadas de 105 ou 155 mm. As espoletas de tempo
variável são ineficazes em regiões boscosas porque a granada explode
acima do topo das árvores mais altas e os estilhaços são absorvidos pela
folhagem antes de atingirem o solo, onde afetariam o inimigo.
COMANDO
O sistema de dois sacos de bagagem (saco "A" e saco "B"), utilizados desde
o início da guerra, constitui uma rematada estupidez porque quando as
unidades recebem os sacos "B", muitos dos seus proprietários já se
tornaram perdas em combate.
Não atrase: o perfeito é inimigo do bom. Isto significa que mais vale um
plano bem executado com ímpeto já, do que um plano perfeito para ser
executado na semana que vem. A guerra é uma coisa muito simples e suas
características marcantes são a autoconfiança, a rapidez e a audácia.
Nenhuma delas jamais poderá ser perfeita, mas pode chegar a ser boa.
Quando falar com um oficial subalterno a respeito do inimigo que ele tem
pela frente, subestime-lhe o efetivo. Faça isto porque a pessoa em contato
com o inimigo superestima-lhe o efetivo invariavelmente; ao ouvir você
subestimar o valor do inimigo, provavelmente o subalterno formará uma
idéia mais aproximada da realidade sobre o efetivo do inimigo, e você terá
também contribuído para aumentara autoconfiança do oficial.
Jamais diga aos outros como fazer as coisas. Diga-lhes o que fazer e eles o
surpreenderão com a criatividade que possuem.
No curso das vinte e quatro horas do dia qualquer tipo de QG enfrenta duas
fases de atividade máxima. Nestas ocasiões, todos os oficiais e praças
devem estar presentes em seus respectivos locais de trabalho. Durante as
fases de pouca atividade o maior número possível de oficiais e praças deve
realizar outras coisas, como comer, dormir ou praticar exercícios. Sei de
muitos oficiais que prejudicaram a própria capacidade de trabalho por
ficarem presos às respectivas seções durante uma campanha inteira. Os
oficiais devem ser obrigados a praticar educação física.
Nos níveis exército, corpo e divisão, o escalão avançado deve realizar uma
reunião diária, tão logo o QG respectivo esteja de posse dos informes do
dia. Na minha opinião, a oportunidade para a realização desta reunião é a
seguinte: divisão — uma hora depois do alvorecer; corpo de exército —
duas horas após o alvorecer; exército — três horas após o alvorecer.
GENERALIDADES
O pessoal de saúde das unidades engajadas deveria usar uma blusa branca,
sem mangas, cobrindo o peito e as costas até a altura da cintura. A cruz
vermelha seria aplicada sobre a blusa, na frente e nas costas. Durante a
marcha de aproximação, e considerando que a cor branca é facilmente
identificável do ar, a blusa seria usada pelo avesso, e a parte das costas teria
a cor verde-oliva.
Ataques aéreos: conhecemos os efeitos dos nossos ataques sobre as redes de
comunicações, as ferrovias e as rodovias do inimigo. Portanto, deveríamos
admitir os mesmos ataques contra nós e imaginar formas de prosseguir na
luta com as nossas comunicações, ferrovias e rodovias destruídas ou
danificadas.
Sempre que for possível, é melhor solicitar à Força Aérea que interrompa as
ferrovias em pontos afastados das cidades; o ataque deverá ser desfechado
contra três pontos do leito da estrada de ferro, a fim de dificultar o acesso
ao ponto central para o socorro enviado de qualquer direção da linha férrea.
Além disto, esta técnica obriga as equipes de reparação a percorrerem
grandes distâncias e a trabalharem em regiões onde podem ser facilmente
atacadas do ar; no campo aberto, em geral não existe defesa antiaérea
montada.
Olhando para trás, para a minha carreira militar um tanto longa, surpreendi-
me ao verificar que poucas vezes fiz jus, por assim dizer, ao meu soldo. Por
outro lado, o fato de ter sido obrigado a tomar atitudes drásticas tão poucas
vezes talvez sirva como prova de que eu realmente cumpria o meu dever.
Para entregar a ordem seria preciso viajar durante uma hora e meia em um
carro Ford em mau estado, com os faróis acesos e através do campo, em
uma região infestada de villistas. Preferi ir a cavalo; cheguei ao esquadrão
depois de cavalgar a noite inteira sob chuva, granizo e neve. Quando
atingimos Providência, o major começou a dar ordens para o
reconhecimento das montanhas a oeste de Providência. Ora, o rancho
situava-se em um vale com montanhas em ambos os lados, mas o PC do
General Pershing ficava a leste das montanhas localizadas a leste de
Providência. Portanto, o que era oeste para o general, era leste para o
rancho. Disse ao comandante do esquadrão que ele deveria reconhecer as
montanhas a leste de Providência. O major mostrou-me a ordem e indagou:
"Você está querendo dizer que devo transgredir uma ordem escrita?"
Respondi-lhe: "Sim senhor". O major disse-me alguns desaforos, mas
resolveu proceder de acordo com a minha orientação. O reconhecimento
durou o dia inteiro e não encontrou nada.
O major chamou-me e cavalgamos até o PC do general, onde ele declarou:
"Este rapaz idiota fez com que eu fracassasse na missão". O General
Pershing retrucou: "O que quer que o Tenente Patton haja dito corresponde
às minhas ordens". E dirigindo-se a mim, indagou: "Qual foi a ordem que
você deu?" Relatei o que fizera e o general disse: "Você estava
absolutamente certo".
Esta operação não envolveu nenhuma ameaça, mas sim inúmeros riscos que
deixarei de citar.
Certa vez, quando eu era instrutor em Fort Riley, realizei em minha casa
uma festa só para homens e oferecida aos integrantes da turma do segundo
ano. Evidentemente fizemos muito barulho, mas ninguém se portou como
bêbado, nem mesmo de forma descontrolada. No dia seguinte fui chamado
pelo comandante, um homem que vivia dominado pela esposa; declarou-me
haver recebido um informe verdadeiro, a respeito de um tenente que
comparecera à minha festa e que se tornara inconvenientemente
embriagado. O comandante desejava saber o nome do oficial. Respondi-lhe
que não denunciaria ninguém. Disse-me ele: "Daqui a um mês e meio
terminará o seu tempo de instrutor; se o senhor não responder à minha
pergunta, desligá-lo-ei imediatamente e prejudicarei a sua folha de serviços,
até agora excelente". Menti, declarando que estava tão embriagado, na
festa, que não notara o estado dos outros oficiais. O comandante não fez
nada contra mim.
Depois que fui ferido no combate de St. Mihiel, sofri forte hemorragia e
permaneci cerca de uma hora deitado em uma cratera de granada, a uns
trinta metros das linhas alemãs; durante esse tempo o local foi alvejado por
tiros de metralhadora e morteiro. Como nunca havia sido ferido, julguei-me
em mau estado, e, na verdade, pensei que ia morrer. Apesar de tudo,
contrariando a prescrição médica, insisti em ser levado ao QG da 35ª Dl, a
qual minha unidade prestava apoio na ocasião, a fim de fazer um relatório
exato da situação na linha de frente; só depois consenti em ser levado até o
hospital. Na realidade o meu ferimento não era grave, mas sofri os efeitos
do temor mental, que é tão grande quanto o físico.
Para chegar ao General Terry Allen era preciso viajar por uma estrada
situada entre estes carros de combate e a 1ª Dl. Tratava-se de uma operação
arriscada, uma vez que correspondia a passar pelo meio de dois exércitos
engajados em combate (os alemães tinham desencadeado contra nós um
contra-ataque com cerca de 60 carros de combate). Apesar de tudo,
encontramo-nos com o General Allen e ajustamos os planos para o
prosseguimento do ataque na manhã seguinte. Esta reunião ficou gravada na
minha memória porque as granadas explodiam à nossa volta durante todo o
tempo. Como consequência, foi uma das mais rápidas reuniões de estado-
maior em toda a história. Por esta ação, fui condecorado com a Palma de
Folhas de Carvalho para a minha Cruz de Serviços Relevantes; acho que
não fiz jus a ela, uma vez que só cumpri com o meu dever, além da situação
não ter sido tão perigosa assim. É verdade que uma granada caiu a poucos
metros do local em que me achava, junto com o General Gay, e uma outra
explodiu na margem da estrada oposta àquela em que nos encontrávamos.
Na noite de julho de 1943 a minha opinião era de que o contra-ataque
alemão dos dias 11 e 12 representara o último grande esforço do inimigo.
Baseado nesta hipótese refiz os meus planos para o restante da operação na
Sicília. Se me tivesse deixado guiar pelo receio, ou se houvesse acreditado
no que dizia o E-2, a campanha teria durado mais tempo e o sucesso obtido
seria menor.
É muito difícil ordenar a dois oficiais, nos quais você deposita grande
confiança, que executem uma operação que nenhum dos dois julga viável.
Um dos riscos mais sérios com que nos deparamos foi o de deixar
completamente aberto o flanco direito do 3º Exército, desde St. Nazaire até
um ponto nas vizinhanças de Troyes. Esta decisão baseou-se na minha
convicção não só de que os alemães não dispunham de mobilidade para
executar golpes rápidos, embora dispusessem de forças consideráveis, como
na certeza de que o XIX Comando Aerotático descobriria qualquer
concentração de unidades inimigas que se dispusessem a nos atacar; além
disto, este Comando Aerotático seria capaz de conter o inimigo o tempo
suficiente para permitir que a nossa imensa mobilidade colocasse na luta as
unidades americanas de que necessitássemos.
A única coisa que não poderia dizer, naquela ocasião, e que ainda não disse,
é que o meu interesse principal em instituir a ordem na Alemanha visasse a
impedir que o país se tornasse comunista. Receio que a nossa política,
maluca e absolutamente tola, para com a Alemanha venha a lançar o país na
mão dos russos, criando, a partir daí, uma Europa ocidental comunizada.
1. OPERAÇÃO TORCH
[1] A história que se segue me foi narrada pelo oficial de Relações Públicas
do Ministério da Guerra, Major-General A. D. Surles. No fim da tarde do
dia 7 de novembro de 1942, a imprensa invadiu o seu gabinete. Exigiam
informações; alguns repórteres chegaram a ameaçar o oficial que os
atendeu. Por fim, um deles disse: "Está bem, pessoal, Vamos à Casa Branca;
lá eles sempre nos ajudam". E o grupo de jornalistas saiu do gabinete.
Por fim, Early voltou à sala com um telex. "Pronto, minha gente!"
exclamou. "Nossas tropas desembarcaram. Liguem o rádio". B. A. P.
[5]Goumiers.
2. OPERAÇÃO HUSKY
B.A. P.
[59] 218-201 A. C.
[63] Leito seco de um rio, no norte da África e Oriente Médio. (N. do T.)
[39] Pé-de-pato foi o nome dado a uma placa colocada como extensão na
face externa da lagarta dos carros de combate para aumentar-lhes a
sustentação na lama. Era fabricado na França e Luxemburgo especialmente
para os carros do 3º Exército.
General Patton "Capelão, quero que o senhor produza uma oração para
pedir bom tempo. Estou cansado de ver estes soldados terem que lutar tanto
contra a lama e a enchente quanto contra os alemães. Veja se o senhor
consegue colocar Deus do nosso lado".
Capelão O’Neil: "Senhor, vai ser necessário um tapete muito felpudo para
rezar este tipo de oração''.
Capelão O'Neil: "Sim senhor. Permita-me dizer, general, que não constitui
uma atividade comum entre os homens da minha profissão rezar para pedir
condições meteorológicas favoráveis para que outros homens sejam
mortos".
Do lado de fora o capelão disse: "Puxa! que sujeito duro. O que é que você
acha que ele quer?"
REVERSO
G. S. PATTON Jr.
P. D. H.
MEMORANDO:
26 de dezembro de 1944
f. nosso poder aéreo ficará com uma zona de atuação bem definida,
podendo concentrar o esforço em uma área limitada como o é o bolsão.
Atualmente a Força Aérea opera de aeroportos capazes de apoiar a presente
ofensiva, dispõe das dotações previstas, tanto em aviões como em
tripulantes, de uma forma que ainda não havia sido alcançada em outras
operações;
H. G. Maddox
General-de-Brigada
E-3
[69] Neste dia o XIX CAT realizou 700 surtidas e destruiu 200 veículos
inimigos, o máximo de atividade diária da grande unidade durante a guerra
[71] Rodovia federal nº 16, para o norte, de Diekirch para St. Vith.
No interior, havia uma escrivaninha com gavetas laterais, luz elétrica, dois
telefones e demais objetos de escritório. Havia ainda uma carta da região,
raramente utilizada pelo general. A carta de situação ficava no reboque que
servia como gabinete de trabalho e não no reboque-dormitório. Havia
também um armário pequeno para roupas, um lavatório e um armário para
artigos de banheiro e, no fim do reboque, uma cama fixa. Um rádio,
colocado em uma prateleira elevada, servia para ouvir os programas
transmitidos pelas estações comerciais. — O general não empregava o rádio
para falar com os comandos subordinados. O Serviço de Comunicações
proporcionava ligações por fio, mesmo durante as progressões rápidas. Vez
por outra usava-se radiotelefonia, mas a conversação se processava através
dos telefones instalados no reboque. Um dos dois telefones — por
coincidência o de cor verde — era o da linha direta para o General Bradley
e o General Eisenhower. O aparelho era dotado de um misturador, para
alterar as palavras no percurso entre um telefone e o outro. O general não
parava de xingar o misturador e achava que o aparelho misturava suas
próprias palavras antes que ele as pronunciasse.
O General Huebner estava sentando-se para jantar, por volta das 19h30min,
quando chegou o E-3 com a ordem de transferência do corpo para o 3º
Exército. Huebner observou: "Acho que nas próximas doze horas, no
máximo, o General Patton telefonará e nos mandará atacar alguma coisa". A
sopa ainda estava quente quando o chefe do estado-maior foi interrompido
por uma chamada telefônica. Regressou com um sinal de espanto
estampado na fisionomia e disse: "General, é o General Patton. Ele quer
falar com o senhor". A conversa foi mais ou menos a seguinte:
— "Alô, Huebner?"
— "Sim senhor."
— "Sim senhor."
— "Muito bem; agora, ande depressa. Esta guerra não vai durar muito
tempo. Visitá-lo-ei em breve. Até logo."
— "Até logo."
O General Huebner voltou para a mesa do jantar e disse: "Desta vez eu
errei. Ao invés de doze horas foram apenas doze minutos. Vamos atacar
Pilsen amanhã, ao amanhecer".
PARTE 3 - RETROSPECTO
1. A RESPEITO DO SOLDADO
Afinal de contas, general, não é verdade que a maior parte dos nazistas
ingressou no partido da mesma maneira que os americanos se tornam
republicanos ou democratas?"
Patton não percebeu a armadilha e respondeu: "Sim, é mais ou menos isto".
E o repórter produziu uma manchete arrasadora: "General americano diz
que nazistas são iguais a republicanos e democratas". (Nota do Tradutor.)