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Capítulo 1

Sakura estava impaciente. Ino tinha o costume de se atrasar, algo com que
normalmente ela não se importaria muito, mas dessa vez elas precisavam estar no ponto
marcado no horário exato, antes que a van da excursão chegasse. Já era a quinta ligação
que ela fazia a Ino e essa não atendia.
Impaciente era apenas uma forma de colocar isso. A verdade é que ela escolhia se
sentir impaciente, porque a essa altura seu verdadeiro sentimento era preocupação e se
sentir preocupada com Ino era muito pior, porque geralmente não havia motivo para tal.
Mesmo assim, um canto da mente dela começava a criar teorias que acabavam com Ino em
algum acidente, o que o resto da mente dela tentava afastar com a visão mental de Ino
perdendo a noção do tempo enquanto se maquiava.
O que deixava ela ainda mais preocupada era o celular desligado de Sai, mas até
agora também decidira não pensar no assunto.
Parada no ponto com sua bagagem de mão e travesseiro de pescoço para
compensar a noite virada trabalhando, já estava começando a traçar outro plano de ação na
cabeça quando Ino atendeu a sexta ligação.
— Sakura? — A voz de Ino não demonstrava nenhum sofrimento maior.
— Ino, onde você tá? A van deve chegar em cinco minutos — Seu tom era
apressado, a impaciência finalmente tomando controle total de sua mente uma vez que Ino
parecia a salvo de algum acidente grave.
— Amiga, desculpa, mas não vai rolar.
— Como assim, Ino? — O tom de Sakura passou a ser exasperado.
— Sai acordou passando mal... Acho que pode ter sido algo que ele comeu ontem,
eu estava até agora limpando vômito. As coisas que eu faço por esse homem, senhor…
Olha, não acho que seja nada grave, mas também não acho uma boa ideia arriscar trancá-lo
em algum meio de transporte fechado.
— Justo — Sakura franziu o nariz — Mas como vão ficar as coisas? A gente pagou
por um chalé duplex, amiga…
— Assim, daria dor de cabeça demais cancelar agora e nem acho que vão nos
reembolsar. Vai, fica com o chalézão pra você, aproveita esse tempo pra relaxar um pouco,
okay?
Sakura pensou na perspectiva de ter um espaço enorme só para ela, com a
possibilidade de adiantar seu livro mais recente sem a voz animada de Ino ou as
interrupções sarcásticas de Sai. A ideia a agradava mais do que gostava de admitir.
— Bem, se é assim…
— Você está pensando em escrever, não está?
Sakura ficou feliz por Ino não poder enxergá-la pelo telefone, pois sabia pelo calor
nas bochechas que provavelmente estava corada.
— … Talvez?
— Sakura, pelo amor de deus — Ino começou — Esse final de semana tem o
propósito de te fazer relaxar. Tente relaxar um pouco, uma vez na vida. E vê se come direito,
ok? A pousada oferece um dos melhores buffets da região segundo o Chouji. Não
desperdiça nosso dinheiro, okay?
— Tá, tá, entendi… — Sakura falou apressadamente.
— Tô falando sério, Sakura. Coloca um alarme, tanto faz. Mas se eu descobrir que
você esqueceu de alguma refeição trabalhando no seu fim de semana de férias…
— Eu disse que entendi, Ino! Relaxa!
— Humpf — Ino parecia desconfiada, mas então continuou apressada — Falo com
você mais tarde, ok? Sai parece estar ficando verde de novo…
— Boa sorte, amiga. Acho que tô vendo a van. Até mais!
Sakura de fato estava vendo a van chegando no fim da rua.
Quando ela chegou, Sakura cumprimentou o motorista, mostrou sua documentação
e aceitou ajuda para levar sua bagagem de mão dentro da van espaçosa.
Era a última parada antes de seguir para o chalé fora da cidade, e nem metade dos
assentos estavam ocupados. Sakura contava com isso. Ninguém pensava em ficar nos
chalés da área mais fria da região em pleno verão, o que permitia que a área ficasse ainda
mais tranquila que o de costume.
Ino a convenceu de ir na viagem organizada pela pequena agência recém
inaugurada por uma amiga usando o silêncio e a tranquilidade como argumento. E é claro,
com a promessa da banheira jacuzzi.
Ela se ajeitou no assento, colocando os óculos escuros para escurecer a luz que
vinha das janelas, os fones de ouvidos sintonizados em um city pop qualquer, o travesseiro
no pescoço e a cabeça apoiada na janela. Pensava em todos os furos do plot que sua
editora a apontara enquanto lentamente se afundava na inconsciência.

Sasuke estava impaciente. Como era de costume, aliás, quando viajava com seus
dois melhores amigos.
Naruto e Hinata se divertiam horrores nessas viagens, com o carro lotado de mais
tralhas do que qualquer um julgaria necessário numa viagem de poucos dias.
O dia estava nublado o suficiente para que o sol não incomodasse demais o rosto de
Sasuke, um alívio, considerando o horário de início da tarde. Haviam começado sua viagem
no meio do dia, uma vez que precisaram buscar Naruto no fim do seu treino do outro lado da
cidade antes de seguir seu caminho para a saída oposta que os direcionava para a serra.
Sasuke estava exausto da semana atarefada, o corpo desconfortável no banco de
trás do carro que dividia com as bagagens e os ouvidos começando a latejar em meio a
cantoria desafinada de Naruto e os risos altos de Hinata no banco da frente.
Ele não sabia em que bolsa havia acabado a sacola com seus produtos de higiene e
os abafadores de ouvidos que guardava pra essas ocasiões então apenas se virou para os
amigos:
— Pelo amor de todos os santos, como caralhos vocês dois conseguem ser tão
animados desde tão cedo?
— Como você consegue ser tão resmungão em todos os horários do dia, cara? --
Naruto perguntou de volta sem diminuir seu grande sorriso em nada.
— Bebê, dá um desconto pro Sasuke-chan. Essas últimas semanas têm sido
cansativas para ele. -- Hinata intercedeu com delicadeza ao seu favor.
— É, mas ele já era assim antes. Na mochila vermelha em cima da mala laranja do
seu lado. Terceiro bolso. E aproveita e me dê umas jujubas.
Sasuke seguiu as coordenadas de Naruto sem entender muito bem o que estava
fazendo e imaginando como faria para dar um chute em Naruto sem que ele perdesse o
controle da direção do carro caso se tratasse de alguma pegadinha do rapaz. No fim,
encontrou sua sacolinha de pano e pegou os pequenos abafadores de ruído, se sentindo
grato.
— Minhas jujubas, babaca! Nem colocou esse troço ainda e já está surdo? —
Naruto tinha um jeito único de trazer de volta a irritação no rosto de Sasuke.
— Você tem comido doces demais. Quer uma úlcera ou coisa assim? Coma algo
salgado. — Assim, Sasuke achou a bolsa que tinha alguns lanches, pegou um Baozi e
enfiou na boca de Naruto com vontade.
Ao ouvir uma reclamação abafada, Hinata foi ao resgate do namorado retirando o
bolinho da boca de Naruto.
— Você está querendo me matar sufocado?! Porque enfiou o bolinho inteiro na
minha boca? Está tentando arrumar confusão com o seu motorista?
— Agora está com problemas em enfiar coisas na boca? Você não reclamava assim
quando era meu…
— Hm! Ainda parece fresquinho! É a receita da Tia Mikoto? — Hinata perguntou,
mordendo o Baozi também.
— Sim, sim, mamãe colocou no vapor antes de sairmos. — Sasuke voltou a se
aconchegar no meio das malas, a discussão interrompida ignorada.
— Como uma mulher tão doce pode ter um filho tão chato? Que mãos de fada. —
Naruto disse, se virando para morder outro pedaço oferecido por Hinata na sua boca
enquanto abaixava o som da música no carro.
— Pelo amor de deus, supere essa crush estranha na minha mãe, por favor. —
Sasuke provocou, vendo as bochechas de Naruto imediatamente se avermelhando.
— E pare de desenterrar coisas de quando eu era criança! — O tom de Naruto era
exasperado.
Ele ouviu a risada delicada de Hinata.
— Mas você fica vermelho até hoje quando ela resolve te mimar. E acho que às
vezes é de propósito porque ouço ela morrendo de rir da cozinha.
— Até você, Hinata! — O tom de Naruto era exasperado, enquanto Hinata ria mais.
Sasuke colocou os fones e se encolheu no travesseiro de pescoço, satisfeito.

Sakura acordou com a parada final da van, e precisou de alguns segundos para se
lembrar de onde estava. Quando exatamente havia pegado no sono…? Ela se lembrava de
outras paradas rápidas para o embarque de escassos outros passageiros, mas em algum
momento a paisagem da serra havia se desmanchado em inconsciência.
Ela olhou para o lado e viu que quase todos os passageiros já haviam
desembarcado, os poucos restantes saindo de forma arrastado com a mesma cara de sono
que sabia que deveria ter estampada no próprio rosto. Ela se alongou preguiçosamente e
desceu com suas coisas cuidadosamente da van.
Uma fila já mínima ia em direção a uma jovem mulher de cabelos castanhos com
uma prancheta, que deveria ser organizadora da viagem. Sakura aguardou sua vez atrás de
uma senhorinha pequena e enrugada que conversava animadamente com um rapaz
sonolento de cabelos vermelhos.
Ela aproveitou os segundos livres para observar o lugar ao seu redor. O cenário ao
seu redor era tão verde quanto possível. A van havia parado no último resquício de área
plana ao seu redor, próximo de uma construção baixa que parecia ao mesmo tempo
elegante e rústica, com detalhes em madeira, paredes claras e portas de vidro que davam
para uma recepção que se encontrava vazia. Mais à frente, nas laterais da trilha que ia
subindo o relevo, podia ver chalés altos em madeira e pedra com aparência aconchegante.
As árvores devido ao dia nublado pareciam adotar um tom escuro de verde, além de alguns
tons avermelhados em suas folhas.
Quando as pessoas na sua frente se afastaram, a mulher de cabelos castanhos
sorriu para ela.
— Olá! Pelos cabelos cor de rosa, você deve ser a Sakura Haruno, correto? Eu sou a amiga
da Ino, TenTen. — Ela se apresentou.
— Oi! É um prazer conhecê-la. — Sakura retribuiu o tom simpático.
— O prazer é meu! Recebi mensagem de Ino mais cedo, é uma pena que Sai não esteja
muito bem.
— Ah, você conhece o Sai também?
— Sim! Eu conheci os dois numa das exposições dele na galeria do centro da cidade. —
Ela explicou — Uma surpresa que a gente nunca tenha se esbarrado.
— Ah, eu tenho andado meio atarefada com a faculdade, então tenho sido meio relapsa
quanto às exposições dos meus amigos… É uma pena.
— Então pode ficar aliviada porque você encontrou o lugar certo para relaxar! Essa aqui é a
chave do seu chalé, fica quase no final da trilha. Número 16. — Tenten apontou para o
caminho a frente, que separava duas fileiras de chalés altos. — É o espaço perfeito para
relaxar. Eu acho que o buffet do almoço já fechou, mas o restaurante aceita pedidos por
fora. O buffet de jantar é servido às 18:00h. Eu recomendo chegar cedo. Aqui tem o nosso
flyer com as direções das melhores trilhas e do lago, que super recomendo para
piqueniques.
Sakura ouviu com atenção todas as coordenadas de Tenten, e no final a agradeceu e
seguiu para o chalé.
Os raios do sol eram visíveis entre as nuvens mesmo naquele dia cinzento, mas o ar
era gelado e fresco, o cheiro das árvores parecendo decididas a limpar seu organismo.
Conseguia ouvir alguns pássaros à distância, tornando o caminho até o seu chalé algo
prazeroso e tranquilo.
A frente de seu chalé era decorada com cactus floridos, papoulas vermelhas e flores
de íris, com uma escada de poucos degraus na diagonal que a levavam para um pequeno
alpendre de madeira. Ao abrir as portas, Sakura deu de cara com um espaço enorme,
aberto e elegante. O piso de madeira escuro envernizado contrastava com as paredes e
móveis claros, a parede dos fundos de vidro dava passagem para uma varanda com vista
para as montanhas. Havia uma lareira próxima dos sofás claros, que ficavam de frente à
uma grande SmartTv. Um frigobar estava ao lado, e na mesa de centro, havia um pequeno
aparelho de fondue.
Sakura foi até a varanda, que havia um pequeno sofá e uma convidativa jacuzzi no
canto. Respirou fundo e uma paz profunda pareceu se apoderar de todo seu corpo. Seguiu
para o segundo andar que dava uma visão aberta para a sala embaixo e havia apenas duas
portas que davam para as duas suítes.
Não havia muita diferença entre os quartos além de que no primeiro havia uma
grande cama de casal, enquanto o segundo havia apenas uma cama de solteiro e uma
escrivaninha com luminária, como num pequeno escritório. Deixou seu notebook e alguns
cadernos de notas na escrivaninha, mas decidiu colocar suas coisas no quarto com a cama
maior. Não era como se Ino fosse reclamar da cama que não seria usada.
Pensando em Ino, riu sozinha. Mesmo levando em consideração possíveis preços
promocionais, não havia forma da parcela que pagou a Ino cobrir esse lugar. Teria que
agradecer a sua amiga mais tarde.
A filha única dos Yamanaka do grupo farmacêutico InoShikaCho era conhecida por
sua elegância e beleza, mas nem todos tinham noção do quanto sua generosidade para
aqueles que a rodeavam era abundante. Herdeira de uma das famílias mais influentes do
país, Ino frequentemente era vista como apenas uma menina mimada, com a maioria de
seus interesses extracurriculares vistos como futilidades, mesmo constando nos rankings de
melhores estudantes da Universidade do País do Fogo. Poucos sabiam da sua tendência
com o auxílio financeiro aos amigos em condições menos afortunadas.
Sakura era sua melhor amiga desde a infância, e quem frequentemente acabava
usufruindo do altruísmo da amiga. Sakura era bolsista na UPF e uma de suas melhores
alunas, apesar da origem de família desconhecida em meio aos alunos de grande influência
e poder aquisitivo. Ela sabia que outras famílias tradicionais de Konoha apresentariam
costumes mais antiquados, mas ela e Sai eram recebidos como amigos próximos na casa
da família Yamanaka. Apesar disso, ainda costumava pedir a Ino para que evitasse
presentes espalhafatosos e desnecessariamente luxuosos, como a estadia num lugar tão
chique quanto o que se encontrava agora. Ainda assim, se sentiu grata pelo carinho e
cuidado da amiga para lhe proporcionar um momento de descanso sereno num ambiente
tão valioso.
Ela não sentia muita vontade de almoçar agora e, apesar de saber que deveria
trabalhar em seu conto, pensou que não faria mal tirar um cochilo de vinte minutos antes de
voltar ao trabalho, a cama de casal com a roupa de cama limpa parecendo a convidar para o
seu abraço…

Sasuke não conseguira dormir mesmo com os abafadores de ruído. Ao invés disso,
tinha se apoiado em uma mala fofa, preso no estágio entre a consciência e o sono,
pensando em todas as coisas que deveria estar fazendo e na saudade que sentia de sua
cama. Naruto precisou chamá-lo pelo menos três vezes para que percebesse que já tinham
chegado.
À distância, conseguia ver Hinata com sua melhor expressão apaziguadora e dócil
conversando no balcão da recepção iluminada com uma moça de aparência irritada, e então
voltando com as chaves do chalé dos três.
— Perdemos o almoço, mas chegamos a tempo do jantar, se vocês quiserem.
Pessoalmente, eu acho que estou cheia da comida do carro, mas eu topo se vocês toparem.
— Eu real só quero um banho, na verdade. Kakashi parecia estar querendo compensar
pelos dias sem treino me surrando completamente hoje. — Naruto respondeu — Eu
também tô cheio dos lanches da tia Mikoto.
— Eu aceito o banho e talvez esticar os músculos num lugar confortável. — Sasuke
completou.
— Então vamos! O nosso chalé é um dos penúltimos seguindo esse caminho aqui. —
Hinata apontou para um caminho que separava duas fileiras de chalés altos.
Ao chegarem, abriram a porta da entrada decorada com flores de Iris e gardênias em
vasos com cerejeiras pintadas a mão, e foram recebidos por um espaço que era ao mesmo
tempo aberto e acolhedor. Os móveis eram de madeira caramelo e a decoração em cores
quentes. Havia uma lareira próxima aos sofás espaçosos e uma televisão à frente. Havia
uma porta que dava para a suíte que contava com duas camas, uma de casal e uma de
solteiro e um banheiro bem arrumado. Na lateral, contava com uma porta de vidro por onde
conseguiam ver uma varanda que contava com um espaço para fogueira e pufes.
Os três decidiram terminar de trazer as coisas do carro antes de explorar melhor o
local. Foi decidido que Sasuke tomaria seu banho antes de Naruto e Hinata, mas o loiro
receberia o benefício de não se preocupar com as malas devido às horas de direção.
O banheiro tinha o chuveiro mais potente que Sasuke já havia experimentado fora da
residência dos Hyuuga, o que dizia muita coisa. Sentiu a água quente desatar nós pelo seu
corpo, o cheiro familiar de chocolate e baunilha de seu shampoo tranquilizando a sua mente,
a respiração ficando mais serena. Colocou uma muda de roupas enquanto ouvia o diálogo
vindo da sala.
— … mesmo sem jantar. Mas a gente pode passar no restaurante pra pegar algo antes de ir
dormir?
— Ela disse que o restaurante tem hora pra fechar, mas a gente pode pedir algo à parte
antes disso. A regra da comida tá valendo. — Mesmo à distância, podia imaginar Hinata
sorrindo e dando sua piscadinha característica.
Hinata era a filha favorita da família Hyuuga. Dona de uma beleza, charme e
inteligência capaz de encantar todos da alta sociedade, poucas pessoas conheciam a
verdadeira personalidade da garota e seus hábitos, pessoas das quais Sasuke estava
incluso. Ela esbanjava seu dinheiro e status o necessário para se manter a fachada de
herdeira superficial que precisava para ter as liberdades a que fazia questão, enquanto
secretamente financiava coletivos e debates de movimentos estudantis da Universidade
Nacional do País do Fogo. A filosofia de Hinata incluía gastar o menos possível além de
coisas que pudessem ser exibidas para o pai, com uma exceção: A Regra da Comida.
Apelidada por Sasuke e Naruto de “A Rainha Glutona”, Hinata estava sempre disponível
para todos os gastos possíveis com alimentação. Bem, Sasuke não iria reclamar.
Sasuke deu lugar no banheiro para Naruto e Hinata que se arrastaram para o
chuveiro. Ele pegou seu leitor de livros e seguiu para a varanda, pensando em colocar em
dia os artigos que precisaria ler para terminar um de seus trabalhos.
A varanda era fresca, com visão das árvores ao redor do local e pelo caminho que
desciam os chalés pela trilha até a área em que estavam a recepção, o estacionamento
improvisado onde haviam deixado seu carro e o restaurante que ainda não haviam visitado.
Sasuke tirou uns segundos com os cotovelos apoiados nos parapeitos da varanda,
respirando fundo o cheiro das árvores e ar puro que cercavam o local. Era tão pacífico e
pouco movimentado que talvez devesse dar o braço a torcer e admitir que talvez, apenas
talvez Naruto e Hinata tivessem razão e essa pausa da cidade fosse algo que Sasuke
realmente precisava.
Um pouco mais à frente, além dos pufes, do suporte de metal para fogueira e as
cadeiras de varanda, havia uma rede espaçosa enorme.
Sasuke franziu o cenho olhando para a rede. Nunca havia visto uma tão grande e
numa rápida pesquisa na internet descobriu se tratar de uma rede de casal, ou seja lá o que
fosse isso. O que ele não poderia reclamar, no entanto, era o quão convidativa e confortável
a tal rede parecia: Não demorou muito para que decidisse se alongar na rede enquanto
abria a tela do leitor, apenas para ser recebido com uma mensagem de pouca bateria.
Gemeu, se forçando a levantar. Achava que tinha posto o leitor para carregar na
noite anterior, mas a droga do cabo deveria estar com mal contato novamente.
Se ajoelhou em frente a sua mala no chão e retirou a sacola que costumava deixar
esse tipo de item pessoal. Sentou-se na cama enquanto virava seu conteúdo: fones de
ouvido, um carregador de celular extra, uma caixa de balas de hortelã, os diferentes crachás
dos trabalhos que acumulava e pelo visto havia esquecido de tirar da bolsa, desodorante e
preservativos extras, absolutamente nada do carregador do leitor de livros.
Gemeu novamente, percebendo que provavelmente havia esquecido na sua mesa
de estudos no dia anterior. Derrotado, largou ali mesmo leitor descarregado e voltou para
rede, extremamente mal humorado.

— Qual foi dessa cara de emburrado? — Ouviu a voz de Naruto chegando na varanda.
— A porcaria do leitor. Esqueci o carregador dele em casa — Sasuke respondeu em um
gemido.
— Eu acho que talvez o cabo do celular novo de Hinata sirva pra isso, Teme — Naruto
respondeu num tom tranquilo, se sentando na rede ao lado de Sasuke, munido de algumas
tiras de alcaçuz — O que você está lendo?
— Alguns textos que eu precisava pôr em dia para enviar os trabalhos da semana que vem.
Eu costumava lê-los no café, mas nessa época de provas do meio do período fica lotado
demais, então não tenho conseguido.
— Você deveria se preocupar menos com a faculdade, ‘ttebayo — Naruto dizia, se
alongando na rede. — Você vai acabar com outra gastrite.
— Eu não sei você, idiota, mas eu preciso do meu diploma. Logo, de preferência. — Sasuke
respondeu, irritado.
Naruto mordeu sua tira de alcaçuz.
— Duvido que você vá conseguir um diploma nesse final de semana. Pelo menos
enquanto estivermos aqui, vê se relaxa um pouco, cara.
Sasuke não respondeu, mas sabia que Naruto tinha um ponto. Naruto também sabia,
e apenas fechou os olhos ao se esticar. Sasuke olhou pro loiro, com apenas uma blusa leve
e calças de moletom, o cheiro de roupa lavada e sabonete forte.
Era um cheiro muito bom, e se permitiu olhar para o amigo mais um pouco. Podia ver
a sombra do cansaço em seu rosto pacífico, leves olheiras na pele bronzeada e uma ou
outra ruga de expressão que não sumiam nem mesmo em um momento tão tranquilo. Ao
olhar para seu corpo, ele podia ver um hematoma ou outro leve dos treinos nos músculos
bem definidos.
Antes que percebesse, tinha estendido a mão para tocar em seus ombros e braços,
sentindo a tensão escondida na postura tranquila. Naruto abriu os olhos devagar, abrindo
um sorriso.
— É disso que eu tô falando! — Naruto puxou Sasuke, até agora sentado ao seu
lado, para seus braços, beijando-o.
Sasuke sentiu o gosto de menta fresco na boca, a língua quente de Naruto se
convidando em sua boca, e não conseguiu não retribuir o gesto. Mesmo assim, após alguns
segundos o afastou, dizendo:
— Não era isso que eu tinha em mente, porra. — Sasuke disse, irritado novamente,
mas sem se desvencilhar do abraço de Naruto — Vocês dois parecem que resolvem tudo
dessa forma.
O sorriso de Naruto aumentou.
— Nem tudo. — Ele disse, então continuou: — Mas com certeza é isso que você
precisa para relaxar um pouco. Quanto tempo faz que tu não tem uma companhia para te
ajudar aí embaixo, hein?
Sasuke corou. A verdade é que Naruto estava certo, de novo. Já havia algum tempo
desde a última vez que tinha transado com alguém, e com o estresse contínuo da faculdade,
já fazia algum tempo que sentia cada vez mais suas necessidades se acumulando em
segundo plano.
Naruto aproveitou a oportunidade, e mordeu a orelha de Sasuke por trás, beijando
seu pescoço enquanto descia uma mão por sua barriga, por de baixo da blusa, até sua
cueca.
— Naruto… — O tom de Sasuke era grave, mas trêmulo. Naruto sorriu, uma das
mãos levantando seu rosto pelo queixo, permitindo que beijasse mais seu pescoço,
passando a boca por seu rosto e tocando o canto da boca de Sasuke com a língua,
enquanto sua mão entrava dentro da cueca.
— Que foi? Quer que eu pare? — Ele segurou o pau de Sasuke ao desafiá-lo. O tom
petulante de Naruto provocava o efeito de costume em Sasuke: a sensação de irritação e
desejo a que já havia se habituado.
Sasuke grunhiu.
— Desgraçado… — Foi só o que conseguiu dizer antes de beijá-lo de volta.
Sentiu o riso abafado de Naruto por dentro do beijo, enquanto começava a
masturbá-lo.
Nesse momento, ouviram a voz de Hinata saindo do quarto.
— Nossa, eles deixaram fondue para prepararmos, vocês tem que experimentar isso.
— Ela chegava com um espetinho de alguma coisa coberta com chocolate na boca. Ela
parou em choque olhando para os dois.
— Eu não acredito nisso. — Ela disse, em tom indignado.
Sasuke olhou para ela, enquanto as mãos de Naruto ainda estavam em seu corpo.
Um fio de esperança tinha acabado de se formar.
— Eu não acredito que vocês começaram sem mim — Um bico estava formado nos
lábios cheios de Hinata, enquanto se jogava na rede em frente a Sasuke, colocando o
espetinho agora vazio em cima da mesinha ao lado.
— Pelo amor de deus, Hinata... — Sasuke disse.
— É por um bom motivo, amor — Naruto o interrompeu — Eu estava justamente
falando o quanto Sasuke precisa relaxar. Acho que nem ele lembra a última vez que usou
esse pau.
Hinata fez um som de reprovação, enquanto pressionava os seios contra o peito de
Sasuke. Ela chegou a apenas centímetros de distância de seu rosto, o cheiro de groselha e
flores do campo preenchendo os sentidos de Sasuke, enquanto esse se perdia no olhar fixo
dos olhos claros, emoldurado por cílios longos e escuros.
— Por que você sempre deixa as coisas chegarem a esse ponto em vez de pedir
ajuda, hein? — Ela disse, então Sasuke sentiu os lábios macios contra os seus, o gosto de
chocolate intenso invadindo sua boca, e percebeu que a menina não usava sutiã enquanto
amassava seus seios contra si, as coxas macias se metendo no meio da perna dos dois
garotos.
Em um último momento de sanidade, Sasuke se desvencilhou de Naruto, afastando
Hinata pelos ombros.
— Deus do céu, estamos ao ar livre. E se alguém passar por aqui?
— Bobagem — Hinata falou — Todos foram jantar. Devem ter começado o prato
principal agora, pela hora.
— Todo mundo que tinha que passar aqui, já passou, medroso. Já passou bastante
da hora do jantar e a gente tá num dos chalés mais distantes do restaurante e de tudo. Tem
tempo de sobra pra fazermos algumas coisas interessantes por aqui — Naruto continuou,
enquanto voltava a passar as mãos pelo corpo de Sasuke.
— Você não precisa se preocupar, meu bem. Só relaxe um pouco — Hinata disse na
sua orelha. Os cheiros misturados de sabonete e perfume de groselha deixavam Sasuke
tonto, como sempre. Ele sentiu Naruto o ajeitando em seu colo, sentindo algo duro roçando
em sua bunda. Ele tremeu.
— … Vocês tem certeza…? — Sasuke fez uma última tentativa, a voz fraca,
enquanto sentia a mão delicada de Hinata passando por si. Suas mãos acabaram descendo
pelos braços dela, ainda incerto.
— Claro que eu tenho. — Ouviu duas vozes juntas, uma em cada orelha, uma grave
e outra suave, uma rouca e outra provocante.
Naruto agora se remexia atrás dele e Sasuke sentiu que inconscientemente se
esfregava contra o volume em suas costas, ouvindo, frustrado, o riso do loiro em seu ouvido.
As mãos de Naruto agora percorriam seu corpo de novo, uma passando por sua coxa, a
outra beliscando seu peito.
A mão de Hinata desceu até onde a de Naruto estava a alguns segundos atrás. Ela o
olhou surpresa, o pênis duro e quente em suas mãos.
— Acho que você também concorda conosco, afinal. — Ela disse em seu ouvido,
então descendo por seu baixo ventre, deixando um fino rastro com sua saliva. Ele
involuntariamente tirou o cabelo escuro e sedoso de seu rosto com delicadeza,
segurando-os acima da nuca da garota cujas bochechas pareciam levemente coradas com a
excitação.
— Sempre um cavalheiro — Ela murmurou, logo antes de enfiar metade dele em sua
boca, o chupando. Sasuke sentiu um arrepio percorrendo todo seu corpo.
Ele sentiu sua língua brincando com toda a ponta de seu pau.
Foi nessa hora que sentiu os dedos de Naruto atrás de si, provocando a entrada do
jeito exato que sabia que deixava Sasuke mais excitado.
Enquanto Naruto enfiava o primeiro dedo para relaxá-lo, Sasuke percebeu algo.
— De onde você… tirou lubrificante? — Sasuke conseguiu gemer.
— Se você não sabe que eu tenho sempre lubrificante e camisinhas no bolso, não
sei como ainda acha que me conhece — Naruto respondeu, com a voz rouca entrecortada.
— Babaca — Foi tudo que conseguiu responder antes de deixar escapar um gemido
quando outros dedos de Naruto foram introduzidos nele.
Entre Hinata lambendo sua extensão enquanto massageava seus testículos e Naruto
criando espaço para si em sua bunda, Sasuke dificilmente conseguia produzir um
pensamento coerente, e os dois namorados que agora se divertiam com seu corpo pareciam
satisfeitos com isso. Hinata começava a chupar com vontade ao mesmo tempo que Naruto
decidira introduzir seu pênis dentro dele, o ritmo de ambos parecendo em sincronia.
A boca de Hinata era quente, e suas mãos macias pareciam firmar os quadris de
Sasuke ainda mais a cada estocada de Naruto atrás de si, que por sua vez gemia e chupava
seu pescoço.

Sakura acordou desorientada, e ao olhar para o celular, percebeu que o jantar


deveria estar sendo servido agora. Ainda não sentia vontade de comer, e pensou que
mesmo se tivesse, poderia comer algum dos sanduíches guardados no frigobar, então
aproveitou para desfazer as malas, pensando em quanto tempo havia desperdiçado em seu
sono. Bem, pelo menos tinha descansado um pouco. Com a mente mais clara, seria mais
fácil escrever tudo que faltava, ainda mais com a inspiração do ambiente.
Quando terminou as malas, se espreguiçou e decidiu seu novo objetivo: Terminaria
seus projetos a noite, assim teria como aproveitar pelo menos algumas horas na jacuzzi no
dia seguinte, sentir cada nó de seu corpo dissolvendo junto à água quente.
Ao lavar o rosto, percebeu que mesmo que não comesse, precisaria de um bom café
para concluir seu plano. Tinha dúvidas se o restaurante atenderia se pedisse uma garrafa
inteira de café, pensando que teria que talvez tivesse que surrupiá-la no buffet e então
devolvê-la vazia pela manhã no café da manhã. Parecia um plano à prova de falhas. Munida
de um casaco grosso grande o suficiente para que não percebessem uma garrafa térmica
escondida junto a seu corpo e sua caneca favorita para servir de disfarce para o que tinha
ido fazer ali, marchou para o lado de fora do chalé em sua busca.
Desceu as escadas e seguiu para baixo no caminho, quando algo em sua visão
periférica a chamou atenção. Quando virou o rosto para sua lateral, tentando entender o
movimento que havia lhe atraído a atenção no chalé mais a frente, o choque paralisou seu
corpo pela cena que viu.

Com os minutos se passando, sentiu um tremor passar por seu corpo,


involuntariamente agarrando mais forte nos cabelos de Hinata. Enquanto sentia a garota
engolindo seu gozo, percebeu que Naruto estava chegando a seu limite quando algo
chamou atenção em sua visão periférica, os pensamentos nublados pelo momento.
Perto de um chalé mais distante, uma mulher de cabelos rosas e casaco escuro se
encontrava em pé, a expressão completamente chocada, os olhos arregalados e a boca
aberta, completamente imóvel, uma caneca no chão como se a tivesse derrubado devido a
surpresa. Ao cruzarem os olhares, a mulher apenas fechou a boca, os olhos ainda
esbugalhados, deu de costas e voltou pro caminho de onde tinha vindo.
— … Merda — Sasuke falava, ao mesmo tempo que Naruto gozava.
— O que foi? — Um dos dois perguntou.
— Fomos vistos, idiotas. — Sasuke se levantava e punha a roupa apontando pra
figura apressada. Os outros dois tiveram apenas a visão da menina terminando de subir o
seu chalé e batendo a porta com vontade.
— Oooooooooh — Ouviu os dois juntos.

Hanakotoba - Meaning Of Flowers In Japanese - Suki Desu (skdesu.com)


Capítulo 2

Quando o alarme tocou de manhã, Sakura ainda estava na escrivaninha em seu


quarto. Não tinha conseguido pregar o olho.
Depois de alguns momentos de choque e coração acelerado sentada no chão do
quarto, Sakura voltou a sua mesa de escritório e decidiu focar em seu roteiro.
Exceto que não conseguiu focar em absolutamente nada.
Desde que começou o trabalho de escritora freelancer na editora por indicação de
***, esse era o terceiro livro que trabalhava como ghost writer. Não era seu trabalho ideal,
mas sempre gostara de escrever e o trabalho pagava o suficiente para pagar por todo o
material da faculdade de medicina e até pequenos luxos como um feriado num pequeno
chalé com um bom desconto. Bem, tirando que Ino aparentemente escolhera um grande
chalé, e pagara grande parte disso.

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