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Processo nº 240.

812-3/21

Rubrica Fls.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


GABINETE DO CONSELHEIRO SUBSTITUTO
CHRISTIANO LACERDA GHUERREN

VOTO GCS-3

PROCESSO: TCE-RJ No 240.812-3/21


ORIGEM: PREFEITURA DE BARRA DO PIRAI
ASSUNTO: CONSULTA

CONSULTA. DÚVIDA SOBRE A FORMA DE UTILIZAÇÃO


PELO MUNICÍPIO DE RECURSOS DECORRENTES DE
TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS DA UNIÃO. MATÉRIA
FORA DA COMPETÊNCIA DO TCE-RJ. VIOLAÇÃO AOS
ARTIGOS 3º E 5º, II, DA DELIBERAÇÃO TCE-RJ Nº
276/2017. NÃO CONHECIMENTO. EXPEDIÇÃO DE
OFÍCIO. ARQUIVAMENTO.

Trata-se de Consulta subscrita pelo Sr. Mário Reis Esteves, Prefeito do


Município de Barra do Piraí, em que pretende que este Tribunal se pronuncie acerca da
aplicação do artigo 75, §9º da Lei Federal nº 13.898/19, que trata de transferências
voluntárias oriundas da União e destinadas aos Municípios, e o possível conflito da
regra com o disposto no artigo 167, X da Constituição da República.

A consulta foi redigida nos seguintes termos:


“(...)
(1) É constitucional ao Município utilizar transferências voluntárias recebidas da
União através de convênio para custear as despesas oriundas da contratação
temporária de pessoal (nos moldes do artigo 37, IX, da Constituição Federal) para
desempenho exclusivo de atividade objeto do próprio convênio, nos termos da Lei
n. 13898 de 2019?

(2) Enquanto inexistir declaração de constitucionalidade do artigo 75 § 9º da Lei n.


13898 de 2019, o Município pode ordenar despesa de custeio de pessoal
contratado temporário ou deve prevalecer a vedação do art. 167, X, da Constituição
Federal?

(3) Caso se compreenda pela inconstitucionalidade ou inaplicabilidade do artigo 75


§9º da Lei n. 13898/19, a contratação de mão-de-obra por intermédio de empresa
licitada (terceirização), financiada mediante recursos voluntários da União para

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executar ações de convênio, encontra obstáculo no artigo 167, X, da Constituição


Federal?”

A Coordenadoria de Análise de Consultas e Recursos – CAR, em sua análise


técnica, aponta que a consulta tem como objeto matéria fora da competência deste
Tribunal, violando o artigo 3º, caput, e o artigo 5º, II da Deliberação nº 276/2017. Em
função deste fato, sugere o não conhecimento da consulta, com a expedição de ofício
ao consulente para ciência e arquivamento do processo.

Em igual sentido opinaram a douta Procuradoria-Geral deste Tribunal – em


parecer da Ilustríssima Procuradora, Drª. Joana Tavares da Silva, ratificado pelo
Ilustríssimo Subprocurador-Geral, Dr. Leonardo Fuentes Fauaz de Andrade e pelo
Ilustríssimo Procurador-Geral, Dr. Sergio Cavalieri Filho – e o douto Ministério Público
Especial – em parecer do Excelentíssimo Procurador-Geral, Dr. Henrique Cunha de
Lima.

É o Relatório.

Inicialmente, registro que atuo nestes autos em virtude de convocação


promovida pela Presidência desta Egrégia Corte de Contas, em Sessão Plenária de
17/04/2018.

No que diz respeito aos requisitos de admissibilidade da presente Consulta,


alinho-me ao entendimento das instâncias precedentes desta Corte, pelo seu não
conhecimento. De fato, a peça inicial aborda matéria alheia à competência deste
Tribunal de Contas. Nessa linha, entendo pertinente destacar o seguinte trecho do
parecer a douta PGT:

“(...)

Entendo, assim como a CAR, que a consulta não deve ser conhecida, em
razão da inobservância do requisito de admissibilidade disposto no art. 5 º
inciso II da Deliberação n. 276/2017, pelas razões que se seguem.
De plano, é possível afirmar que a matéria abordada na consulta não é de
competência deste Tribunal de Contas, uma vez que trata sobre dúvida
relativa à realização de transferências voluntárias efetuadas pela União ao
Município, para execução de ações vinculadas a convênio e utilização para
pagamentos relativos a contratações por tempo determinado.

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De acordo com o art. 3º, inc. VII e X, da Lei Complementar nº 63/1990,


compete a este Tribunal de Contas analisar consultas que tratem sobre
questionamentos suscitados na aplicação de dispositivos legais e
regulamentares concernentes à matéria de sua competência, que inclui
aquelas formuladas pelos titulares dos Três Poderes, ou por outras
autoridades, na forma estabelecida no Regimento Interno, a respeito de
dúvida relativa à aplicação de quaisquer recursos repassados pelo Estado
mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres.
Assim, considerando que os recursos objeto dos questionamentos foram
transferidos pela União Federal, a prestação de contas a eles referente
deve ser feita ao Tribunal de Contas da União, na forma do inciso VI do art.
71 da Constituição Federal, que determina que cabe ao TCU fiscalizar a
aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município. Não cabe, portanto, a este TCE discorrer
acerca de eventuais dúvidas decorrentes da Lei n. 13898/2019.
(...)”

Como bem apontado pela CAR, o artigo 3º da Deliberação nº 276/2017


estabelece que cabe ao Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro analisar
consultas acerca de dúvidas na aplicação de dispositivos legais e regulamentares das
matérias de sua competência.

Deste modo, na mesma linha de entendimento da CAR, da PGT e do MPE,


reputo ausente o requisito de admissibilidade ínsito no inciso II do artigo 5º da
Deliberação TCE-RJ nº 276/2017, o que resulta no NÃO CONHECIMENTO da peça.

Por oportuno, cumpre registrar que o interessado poderá acessar livremente, na


página eletrônica deste Tribunal, o conteúdo das manifestações dos órgãos aqui
citados.

Diante de tudo o que foi exposto, posiciono-me DE ACORDO com a proposta do


Corpo Instrutivo e com os doutos pareceres da Procuradoria-Geral deste Tribunal e do
Ministério Público Especial, de maneira que

VOTO:

I - Pelo NÃO CONHECIMENTO da presente Consulta, uma vez que formulada


em desconformidade com o artigo 3º e o artigo 5º, inciso II, da Deliberação TCE-RJ nº
276/2017;

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II - Pela EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO ao Consulente, para que tome ciência da


presente decisão;

III - Pelo posterior ARQUIVAMENTO do feito.

GCS-3,

CHRISTIANO LACERDA GHUERREN


Conselheiro Substituto

10006 / 3041 Assinado Digitalmente por: CHRISTIANO LACERDA


GHUERREN:00869923765
Data: 2022.03.17 12:21:14 -03:00
Razão: Processo 240812-3/2021. Para verificar a autenticidade
acesse http://www.tcerj.tc.br/valida/. Código: 9B8D-3588-52B4-
42D4-B4E3-C4F3-8BEC-B1A1
Local: TCERJ

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