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MINHA VISÃO SOBRE O CASO GLORIA – CARL ROGERS

Sergio Said Lima Silva

Ao meu ver, Gloria chega ao consultório de Rogers incongruente e sedenta por


afirmação, com se fugisse da própria responsabilidade das suas escolhas, pois põe a culpa nas
filhas por não poder viver livremente a sexualidade de uma mulher adulta solteira, mas não se
sente bem em ter relação sexuais apenas por necessidade fisiológica ou atração. Não sabe se
quer ter uma relação verdadeira com as filhas mostrando quem realmente é, ou se prefere
manter uma imagem de mãe puritana e perfeita, embora tenha inveja da imagem que as filhas
têm do pai, mesmo sabendo que ele está passando uma imagem falsa de si mesmo. Durante a
entrevista por várias vezes Glória usa a palavra “demônio” para representar ações,
pensamentos e sentimentos que ela não aprova, assim dando a entender que é uma pessoa
religiosa, ou que tem fortes influências da moral cristã da sociedade da época.
Por outro lado, Rogers a todo instante tenta trazer sua cliente ao aqui agora, com uma
postura acolhedora, livre se julgamentos, tentando faze-la ver os sentimentos por trás de seus
pensamentos e comportamentos – assim como na Comunicação Não Violenta -, e isso parece
funcionar muito bem com Gloria, que vai ficando cada vez mais à vontade para se expressar e
estar presente na relação que ambos estão construindo. Quase no final da entrevista, Gloria
diz que gostaria de ter tido um pai como Rogers (acolhedor que a ouvisse abertamente), no
mesmo instante, Rogers a traz novamente para o aqui agora, e lança luz sobre essa afirmação,
dizendo: talvez você sinta falta de não ter conseguido ser franca com seu pai como está sendo
comigo. Gloria afirma que sim, e experiência esse momento com lagrimas, me dando ainda
mais a impressão da assertividade cirúrgica de Rogers.
Sem querer soar como uma freudiano na disciplina de humanismo, mas parece que
Gloria carrega consigo muitas questões mal resolvidas de sua infância, desde não ter uma
relação aberta com sua mãe para lhe falar sobre sexo e outras questões da vida (isso durante
algum tempo gerou nojo em Gloria quando soube que seus pais tinham relação sexual,
deixando claro que nunca ouve uma educação sexual em sua familia), mas também por não
tem aceitação nem acolhimento de seu pai, impossibilidade ela de ser quem realmente era,
isso acabou gerando a necessidade de afirmação externa para tudo na vida de Gloria,
refletindo diretamente na relação de Gloria com suas filhas, já que ela não sabia se queria
correr o risco de ter uma relação aberta com as filhas, ou continuaria a passar uma imagem de
mãe doce, meiga e pura. Gloria precisava de afirmação das filhas para poder viver livremente,
precisava seguir a moral da época para ter a aceitação da sociedade e isso também se repete
no consultório de Rogers quando ela chega sedenta por afirmação mesmo já sabendo o que
deve fazer.
Toda via, eu entendo que questões sexuais sempre foram tabu nas sociedades,
principalmente para as mulheres que desde muito cedo é posto um manual de conduta da “boa
mulher” para ser seguido. Mas acontece que as sociedades foram evoluindo e repensando
algumas atitudes, possibilitando as mulheres viverem livremente sua sexualidade, mas como
algumas questões já estão enraizadas nas pessoas, viver o novo gera incongruência e essa por
sua vez gera o sofrimento psíquico. Para Rogers um espaço com aceitação incondicional,
congruência e empatia facilita que as pessoas ressignifiquem pensamentos, atitudes,
sentimentos e tudo que traga um peso desnecessário para a existência.

“Estudante de Graduação em Psicologia da FIED IEDUCARE/ Tianguá, email:


sergiosaidlima@gmail.com “

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