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Campanhas Eleitorais Diálogo Político 1 2022
Campanhas Eleitorais Diálogo Político 1 2022
ELEITORAIS
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v Ano xxxviii, n.º 1, 2022 Plaza Independencia 749, oficina 201
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Índice
–
4
Prólogo
Campanhas eleitorais 54
O papel da Internet
em campanhas: lições aprendidas
Marta Rebolledo de la Calle
6
Como serão as campanhas eleito-
rais do futuro?
Roberto Rodríguez Andrés 62 Jornalistas e políticos,
uma relação necessária
Verónica Fumanal
14
Assim deve ser uma líder política
María Gabriela Ortega Jarrín
70 Audácia e antecipação:
novas tendências
22
Erros a evitar
em campanhas eleitorais
Yehonatan Abelson
na publicidade eleitoral
Ricardo Amado Castillo
30 Liderança em tempos
de desconfiança
78
A arte de contar histórias:
por que os relatos funcionam
María Gabriela Páez
Ignacio Martín Granados
40
Pesquisas? Sim, obrigado
Verónica Crespo Val
86 O que podemos aprender
com as campanhas eleitorais
na Roma antiga?
Thomas Schaumberg
48
É a mensagem, estúpido!
Kike Borba
Prólogo
Campanhas eleitorais
As eleições não são tudo na democracia, mas certamente sem elas não há
democracia. Não são um mal necessário, senão um elemento que define a quali-
dade democrática e o elemento-chave que dota as autoridades de legitimidade.
O mesmo se aplica às campanhas eleitorais. As pessoas não votam apenas pela
campanha, mas, sem uma campanha eleitoral profissional e bem planejada, di-
ficilmente se ganha na democracia.
O ponto de partida desta edição especial de Diálogo Político é a cole-
ção de podcasts En Campaña publicada durante 2021 em colaboração com mas
Consulting da Espanha. A coleção recorre diferentes aspectos das campanhas
eleitorais, seus problemas e desafios para o futuro.
Os textos aqui apresentados abordam as diversas áreas que compõem uma
campanha eleitoral e complementam e aprofundam aquelas reflexões:
Sebastian Grundberger
Diretor do Programa Regional
Partidos Políticos e Democracia na América Latina
Fundação Konrad Adenauer
Manfred Steffen
Chefe de Redação
Diálogo Político
CAMPANHAS ELEITORAIS 5
Como serão
as campanhas eleitorais
do futuro?
Podcast
“Cómo planificar con éxito
una campaña electoral”
Roberto
Rodríguez Andrés
Licenciado e doutor em
Jornalismo pela Universi-
dade de Navarra. Diretor
de Comunicação da Ama-
vir e sócio de mas Consulting Group. Pro-
fessor associado da Universidade Pontifícia
de Comillas e professor convidado da Uni-
versidade de Navarra. Lecionou em mais de
uma dezena de universidades, em mestrados
e cursos de pós-graduação sobre comunica-
ção política e campanhas eleitorais, sua área
de investigação, em que escreveu diversos
livros e artigos acadêmicos. Em 2018, rece-
beu em Washington o prêmio internacional
Napolitan Victory Award pela Excelência no
Ensino da Comunicação Política. Anterior-
mente, atuou como diretor adjunto de Co-
municação nos Ministérios de Educação e de
Saúde do Governo da Espanha.
Podcast
“El candidato”
Yehonathan Abelson
Podcast
“Estrategia”
Por que escrever sobre erros e não sobre o 1. O candidato como protagonista
que é preciso fazer bem? Primeiro, porque da campanha
há muitos artigos sobre o que fazer e muito
poucos sobre o que não fazer. Por outro lado, Resolvi começar por este erro clássico por-
porque, embora na campanha em que você, que é o mais comum, se repete em todos os
caro leitor, esteja participando, se faça tudo o países e é o mais intuitivo. O clássico quando
que o manual de campanhas diz que é preci- se começa uma campanha é fazê-la ao redor
so fazer, talvez você também esteja cometen- do candidato. Que a foto seja do candidato,
do erros que, mais cedo ou mais tarde, vão que o slogan destaque as qualidades do can-
lhe custar caro no resultado da eleição. didato, que haja vídeos do candidato falan-
Em geral, a maioria dos consultores sa- do para a câmera, que haja outros sorrindo
bemos logo após o início se uma campanha com sua família enquanto um cachorro cor-
é competitiva ou não devido pela quantida- re alegremente no entorno, que as redes so-
de erros que comete. Devo dizer que há sur- ciais tenham milhares de fotos do candidato
presas agradáveis, campanhas que corrigem em diferentes situações, que haja tiktoks em
o rumo, outras que vencem percorrendo os que o candidato dança espetacularmente, ele
caminhos mais improváveis, mas, na gran- inclusive é mostrado jogando futebol e pare-
de maioria dos casos, as eleições são venci- ce que joga bem.
das pelas campanhas que cometem menos Mas… onde estão as pessoas? Sim, as
erros. Por isso, vamos tentar, a partir deste pessoas, aquelas que o candidato preten-
pequeno texto, que você tenha as ferramen- de beneficiar. Também não deveriam fazer
tas básicas para evitar os erros não forçados parte da campanha?
que a maioria das campanhas que fracassam A década de 1990 (há trinta anos já) foi a
comete. década dos meios de comunicação de mas-
Cabe dizer que muitas vezes os erros sa, da televisão, em que grandes ídolos como
muitas vezes se anulam, porque todas as Michael Jackson ou Madonna moviam mul-
campanhas os cometem, o que não per- tidões, a mtv moldava uma geração intei-
mite que nenhuma delas tire proveito des- ra, os jornais vendiam milhões de cópias,
sa situação. A ideia é, justamente, que sua os noticiários marcavam a agenda do dia,
campanha possa sair beneficiada frente aos e os políticos fizeram discursos de um púl-
erros de seus adversários. Comecemos. pito para dezenas de milhares de pessoas.
Yehonathan Abelson
Mestre pela Graduate School
of Political Management
da Universidade George
Washington. Sócio-diretor
de Bia Consulting. Escre-
ve regularmente para o jornal Perfil da Ar-
gentina. Vencedor do prêmio Raising Star
outorgado pela revista Campaigns and Elec-
tions e de um Victory Award como Consul-
tor de Imagem Política, ambos em Washin-
gton dc. Trabalhou em governos e campa-
nhas como consultor político na Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Estados Uni-
dos, México, República Dominicana, entre
outros países.
Podcast
“Gestión de crisis”
Podcast
“Investigación eleitoral”
Kike Borba
Podcast
“La construcción
del mensaje”
É A MENSAGEM, ESTÚPIDO! 49
mico associado a um Estado enxuto em que « As mensagens-chave
prevaleça o livre mercado e a privatização devem ser acompanhadas
dos serviços públicos. O termo de referên-
de submensagens
cia é o mesmo (liberdade), mas o significado
é diametralmente oposto. Saber como nosso elaboradas com o objetivo
público vai decodificar a mensagem e não de explicar ou aprofundar
perder de vista quem está nos ouvindo é es- detalhes ou nuances sobre
sencial. Conhecer como e quando ativar um
os temas, tornando-os
ou outro sentido da mensagem faz parte do
resultado da pesquisa. mais interessantes para
Uma vez que contamos com os resulta- as diferentes audiências
dos da pesquisa, estamos em condições de selecionadas. »
definir quais serão as mensagens-chave e as
submensagens. As mensagens-chave são es-
cassas — duas ou três no máximo — e cen- cisão entre o povo e os políticos de Washin-
tram todo o nosso agir, nosso projeto polí- gton, ou entre os brancos e os afro-ameri-
tico e a campanha. São mensagens centrais, canos. A mensagem principal era de que ele
em torno das quais girará toda a comuni- vinha para unir e as submensagens se refe-
cação. riam a quais questões Obama estava vindo
Como exemplo de mensagens-chave para unir.
podemos recordar Barack Obama apelan- Esta definição de mensagens-chave e es-
do à «união de uma nação fragmentada en- pecíficas é tão importante que uma elabora-
tre “azuis e vermelhos”»; ler no boné do ex- ção equivocada da mensagem pode destruir
-presidente Donald Trump a inscrição com uma liderança e levar qualquer estratégia
o Make America Great Again ou descobrir o eleitoral à ruína. Na verdade, uma mensa-
tweet fixado que a presidenta da Comuni- gem equivocada é a principal causa de morte
dade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, mante- de campanhas fracassadas.
ve durante a última campanha eleitoral, que Por isso, devemos parar e pensar naque-
dizia: “Liberdade ou comunismo”. Como ve- las características que nos permitem cons-
mos, mensagens que definem os temas, tons truir uma mensagem política atrativa, seja
e abordagens em que a campanha será leva- para uma campanha eleitoral, seja para uma
da adiante. comunicação governamental. Longe de
Mas como essas mensagens-chave po- abordar todas as características (o que exi-
dem ser muito gerais para o público, elas giria um texto acadêmico exclusivo), lista-
devem ser acompanhadas de submensa- remos aquelas questões que podem ser mais
gens elaboradas com o objetivo de explicar determinantes, assim como nos deteremos
ou aprofundar detalhes ou nuances sobre os nos erros ou omissões mais comuns.
temas, tornando-os mais interessantes para O primeiro, por ser óbvio, não deve ser
as diferentes audiências selecionadas. Nor- ignorado: o objetivo da mensagem políti-
malmente, trata-se do mesmo conceito ves- ca. A mensagem deve se conectar com nos-
tido de outra forma. Voltando ao exemplo sa audiência. Sua finalidade é a persuasão e
da campanha de Obama em 2008, as sub- para isso é necessário estabelecer uma co-
mensagens tratavam de outras fraturas mais nexão com o cidadão, que permita captar
específicas do que a mencionada entre de- a sua atenção, isolando-o por um momen-
mocratas e republicanos, para avançar na to de outras mensagens que também lutam
É A MENSAGEM, ESTÚPIDO! 51
em um concurso de inteligência nem deve-
mos demonstrar nossos conhecimentos téc- « A comunicação política
nicos elaborados; temos de conseguir que moderna nos obriga a pensar
os cidadãos nos entendam, seja para nos es- nas diversas audiências
colher entre nossos adversários, seja para
que devemos impactar com
apoiar nossas medidas de governo.
Como vemos, uma parte da mensagem nossa mensagem. »
é transformada e traduzida em palavras. A
mensagem também é discurso: é o que diz se fotografaram juntos em protesto contra
um líder político ou um candidato. A pa- o Governo, foi uma mensagem tão potente
lavra, nesse sentido, tem um protagonismo que acabou legitimando um Vox incipiente
especial na construção da mensagem. Uma e mergulhando o “liberal” Albert Rivera, lí-
seleção cuidadosa de uns termos por ou- der do Ciudadanos, em uma profunda cri-
tros pode mudar radicalmente nossa men- se. Este é um grande exemplo que evidencia
sagem. Da mesma forma, as entonações e as como a agenda, as pessoas com quem nos
ênfases fazem com que um discurso emo- reunimos e os espaços que visitamos são
cione ou caia no esquecimento. Deixar este parte da mensagem política.
aspecto para as habilidades inatas de um di- Isso, que parece efêmero, fica evidente
rigente é não aproveitar o potencial do dis- quando pensamos na foto que todos os lí-
curso e das capacidades do emissor político. deres buscam na Casa Branca. Estar no Sa-
Uma boa narrativa com recursos estilísticos lão Oval, ao lado do presidente dos Estados
e símbolos que encapsulem muito signifi- Unidos, é um símbolo e tanto. Um cenário
cado em pouco espaço é um elemento en- e uma ação que transcende as palavras e ad-
riquecedor que leva nossa mensagem a um quire muito mais sentido em um momen-
novo patamar. to em que o visual prevalece sobre o escrito,
Por outro lado, a mensagem deve ser coe- nas redes sociais e nas mídias tradicionais.
rente. Coerente com o líder, com a campa- Isso nos leva ao fato de que a mensagem
nha ou com a corporação que a enuncia. política deve ser visual. Toda mensagem po-
Coerente com seus ideais e com os valores derosa deve ser concebida e enunciada em
que historicamente defende. Vimos como imagens. A fotografia de George W. Bush
a perda de coerência enterra os partidos de com um alto-falante, de pé sobre os escom-
centro quando se inclinam para um lado; os bros das Torres Gêmeas logo após o ataque
partidos locais quando se concentram em de 11 de setembro e cercado por bombeiros e
temas nacionais; ou os líderes que hoje di- policiais é, por exemplo, a mensagem ante-
zem uma coisa e pouco depois dizem o con- cipatória que ilustrou a subsequente incur-
trário. A coerência, um ingrediente essen- são no Iraque e no Afeganistão.
cial na construção da confiança, deve ser Mas não se deve pensar na mensa-
constante, permanente e resistir a qualquer gem visual só como uma fotografia, senão
hemeroteca. que o próprio discurso poderá apelar para
Mas a mensagem política é mais do que imagens que sejam facilmente decodifica-
palavras em um pedaço de papel ou um das e ilustradas visualmente na imaginação
tweet. A mensagem são os cenários e as ati- de nossos públicos. Públicos que uma boa
tudes. “A foto de Colombo” [“La foto de Co- mensagem deve segmentar.
lón”], em que três líderes espanhóis — de A comunicação política moderna nos
partidos de direita, centro-direita e centro — obriga a pensar das diversas audiências que
É A MENSAGEM, ESTÚPIDO! 53
O papel da Internet
em campanhas: lições
aprendidas
Marta Rebolledo de la Calle
Podcast
“La importancia
de las redes sociales
en campaña”
Verónica Fumanal
Podcast
“Gestión con los medios
de comunicación”
Má relação
Atomização midiática
Podcast
“La publicidad”
Podcast
“El discurso político”
Os seres humanos precisamos de relatos sim- empresarial, social ou eleitoral, são muitas
ples para compreender a realidade. Natural- as atividades cotidianas que estão impregna-
mente os procuramos. São eles que nos per- das de relatos. No entanto, os primórdios do
mitem compreender e ordenar as situações storytelling remontam às empresas na déca-
e contradições do mundo em que vivemos, da de 1990, especificamente nos Estados Uni-
que facilitam que identifiquemos e tenha- dos. Naquela época, as corporações entende-
mos empatia com um determinado cenário. ram que, além de destacar as características de
De geração em geração, esta necessidade ina- seus produtos, ao oferecer valores associados
ta fomentou que façamos uso dos relatos para à sua marca poderiam comprometer ainda
conectar e aprender; para transferir com efi- mais seus clientes com o projeto. Atualmente,
ciência uma informação, para que esta seja já sabemos que esta técnica transcendeu para
entendida e retida pelo ouvinte; para persua- outros âmbitos.
dir e mobilizar.
De fato, o relato acompanha a história do
homem. É uma parte elementar de nossa cul- Cercados de histórias
tura, tradições, memória coletiva e muito mais.
Os formatos têm variado: discursos, imagens, Para ilustrar como os relatos permearam a
vídeos, áudios; mas a essência segue sendo sociedade, recapitulemos o que pode ser uma
a mesma. Por que, então, se há tanto tempo manhã qualquer durante a semana. Você se
o relato tem estado presente em nossa expe- prepara em casa para ir trabalhar. Você liga a
riência, agora parece que contar relatos — ou televisão enquanto faz o café da manhã e as-
storytelling — é a nova grande descoberta? siste a um comercial protagonizado por um
casal de idosos, desfrutando de uma refeição
em família. Ao mesmo tempo, uma voz em
Origem do storytelling off fala sobre a importância de passar tem-
po com nossos entes queridos. Segue um
À direita e à esquerda observamos como (parti- carrossel de vídeos: o casal brincando com
cularmente nas últimas duas décadas) o termo os netos, vendo um entardecer, indo às com-
storytelling é mencionado pelos especialistas pras. Nos últimos três segundos do comer-
como uma técnica elementar para, dependen- cial, a frase “Nós cuidamos dos seus” apare-
do das audiências, captar a atenção de clientes, ce ao lado de um frasco de comprimidos de
usuários ou cidadãos. Seja para uma campanha cálcio. Você muda de canal e estão repetindo
Referências bibliográficas
O que podemos
aprender com as
campanhas eleitorais
na Roma antiga?
Thomas Schaumberg
no conselho (ordo), onde se concentrava a tecedem as eleições, bem como as pessoas que
elite da cidade. Ao mesmo tempo, era um vêm diariamente recebê-los e jurar sua lealda-
cargo caro, pois uma grande parte das medi- de, ou seja, seu voto no candidato.
das tinha que ser financiada pelo titular do Pessoas de todos os grupos sociais vie-
cargo com sua fortuna privada. No ano de ram para prestar homenagem ao candida-
79 d.C., quatro pessoas se apresentaram aos to: o núcleo familiar com todos os servos, os
dois postos de edis, o que tornou o ambiente escravos libertos (que devem sua liberdade
político altamente competitivo. Para os can-
didatos, era preciso fazer campanha e con- « [...] esta atenção ao
quistar a maioria do eleitorado.
cliente é o momento de
Nesse sentido, Pansa saúda a todos que
se reuniam no átrio de sua casa, os ouve com mostrar publicamente
atenção e promete ajuda. Sabe bem que esta que se preocupa com
atenção ao cliente é o momento de mostrar as necessidades de seus
publicamente que se preocupa com as neces-
eleitores e que possui
sidades de seus eleitores e que possui os recur-
sos sociais e econômicos para desempenhar os recursos sociais
o cargo desejado. No final, todos recebem e econômicos para
um pequeno presente, geralmente comida ou desempenhar
dinheiro. Esses presentes — sportulae em la-
tim — geralmente aumentam nos dias que an- o cargo desejado. »
de campanha eleitoral), distingue três tipos Para chamar a atenção, Pansa sai de casa
de seguidores: “os que vêm cumprimentá-lo acompanhado de seus seguidores. Eles gri-
em sua casa, os que você leva ao fórum e os tam seu nome, mencionam suas virtudes e
que o seguem em todos os lugares”.7 O texto deixam claro que ele é o melhor candida-
faz referência à salutatio e menciona outros to. Esse desfile de seguidores, a adsectatio,
dois rituais relacionados com os seguidores. é o momento para que Pansa mostre a todo
Após a saudação matinal, Pansa sai de mundo sua popularidade por meio da quan-
casa e dirige-se ao fórum, a praça central do tidade de seguidores que sacrificaram seu
centro da cidade (fig. 2). Este percurso cha- tempo para acompanhá-lo.
ma-se deductio. A casa de Pansa está locali- Pansa para nos pontos de concentração,
zada em uma das ruas principais de Pompeia se aproxima das pessoas, cumprimenta e
que leva diretamente ao fórum. Devido às chama as pessoas pelo seu nome. Conver-
muitas lojas, oficinas e tabernas, os arqueó- sa com donos de lojas e tabernas, com co-
logos nomearam esta rua de Via dell’ Abbon- merciantes ou com os prefeitos dos bairro e
danza (fig. 3). Passar por aqui significava representantes de associações profissionais
atravessar o bairro mais povoado e economi- ou religiosas. Dessa forma, quer convencer
camente importante da cidade, ideal para um também multiplicadores em bairros fora de
candidato que queria ser visível para o maior sua área de influência a mobilizar as massas
número possível da população. e ganhar apoio em todos os grupos sociais.
sem sentido até poemas artísticos. Similar Os candidatos preparavam sua candida-
ao que podemos ver hoje nas paredes de ba- tura muito antes de se inscreverem. Tenta-
nheiros públicos, ou talvez também no feed vam aumentar sua popularidade por meio
de nossas redes sociais. de doações generosas, jogos de gladiadores
ou estabelecendo vínculos com as famílias
mais importantes, por exemplo, por meio
Cinco características das eleições de jantares opulentos.
romanas e suas implicações Uma vez no cargo, o eleito tinha pouco
em campanhas eleitorais tempo para mostrar suas habilidades de ges-
tão e sua generosidade. As eleições davam
As particularidades da campanha eleitoral ritmo à vida política cotidiana.
de Pansa estão relacionadas ao contexto po-
lítico e social em que as eleições ocorriam. 2. Eleições parcialmente livres
Aqui algumas características: e altamente injustas
Já o requisito de ter uma certa fortuna para atitude pragmática e não ideológica. As
concorrer a um cargo político limitava sig- alianças políticas e os grupos de seguidores
nificativamente o grupo de possíveis candi- não eram partidos políticos em um sentido
datos e favorecia as famílias abastadas. Para moderno. Tinham características de movi-
reforçar ainda mais esta vantagem, os filhos mentos sociais que se formavam ao redor de
dos membros do conselho, constituído por um político carismático. Se algo exigia uma
antigos titulares de cargos políticos, eram gestão política — por exemplo, regular os
convidados para as reuniões e tinham opor- preços dos grãos ou restaurar as termas —
tunidade de opinar em determinadas situa- era feito para aumentar a popularidade pes-
ções. Isto permitia-lhes serem conhecidos soal, não com base em algum programa po-
pelos chefes de família politicamente in- lítico.
fluentes e melhorar a sua posição frente aos
candidatos que tentavam concorrer por fora 5. Eleições como rituais religiosos
deste círculo. e eventos sociais
4. Um panorama político sem partidos O caráter exclusivo das eleições fazia com
políticos e sem programas eleitorais que o direito ao voto fosse um privilégio.
Exercer esse privilégio e participar das elei-
Para estabelecer vínculos com outras famí- ções criava identidade política: se como ci-
lias importantes, alguns candidatos se apre- dadão se ia votar, isso mostrava que se per-
sentavam com outros depois de formar uma tencia ao grupo dos livres — mais próximo
aliança política. Na última campanha eleito- dos mais privilegiados da sociedade, embora
ral de Pompeia, Pansa, por exemplo, concor- quase sempre fossem estes últimos que po-
reu junto com outro candidato — Lucio Po- diam se candidatar e ganhar.
pidio Secundo — para os dois cargos de edis. Outro aspecto que contribuía para for-
Isso pode ser observado em cartazes eleito- mar identidade coletiva era o contexto re-
rais em que se pedia para votar em ambos. ligioso em que se enquadravam as eleições.
Além disso, cartazes de um candidato são Uma sequência de rituais e sacrifícios no
vistos perto da casa do outro. início e no final de cada votação devia ga-
O discurso político, como se pode ver rantir a boa vontade dos deuses e, portanto,
nas fontes literárias ou na evidência epigrá- legitimar o resultado das eleições de forma
fica, é estruturalmente conservador; a men- religiosa. Desta forma, as eleições no mun-
talidade romana orientava-se para a tradi- do romano nunca eram somente um assun-
ção dos antepassados e para a manutenção to político, mas sempre um evento social re-
do status quo. As coisas eram mudadas com levante para toda a comunidade.
3. Mobilizar as massas
com multiplicadores