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Paulo Peres, Gabriella Bezerra

PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES

ARTIGO
PARLAMENTARES: uma análise crítica da literatura comparada

Paulo Peres*
Gabriella Bezerra **

Nossa proposta neste artigo é analisar o debate teórico sobre o presidencialismo tendo como eixo central o
tema da governabilidade e sua relação com a atuação das oposições partidárias na arena legislativa, brasi-
leira e latinoamericana. Argumentamos que a preocupação com a consolidação das democracias recentes
levou os analistas a privilegiarem a governabilidade em detrimento da efetividade da oposição parlamentar,
demonstrando que a evolução dos estudos e dos debates acerca dos desenhos constitucionais mais adequa-
dos à consolidação democrática resultou, por um lado, na concepção de que, se forem efetivas, as oposições
parlamentares podem prejudicar a consolidação das novas democracias e, por outro, num déficit de pesqui-
sas empíricas sobre as suas prerrogativas e o seu comportamento. Defendemos a necessidade de superação
desse viés normativo e do desenvolvimento de uma agenda de investigações sobre a sua atuação estratégica.
Palavras-Chave: Oposições parlamentares. Presidencialismo. Governabilidade. Executivo e Legislativo.

INTRODUÇÃO tariam em crises que podem levar à interrup-


ção do mandato presidencial pelo Parlamento
A governabilidade continua sendo uma (Pérez-Liñan, 2007, 2008, 2018; Marsteintredt;
das maiores preocupações dos analistas de po- Berntzen, 2008; Llanos; Marsteintredt, 2010;
lítica comparada considerando-se os estudos Hochstetler, 2011; Kim, 2014; Lameira, 2019).
especializados das democracias da “terceira Ainda assim, uma crise política pode se pro-
onda” (cf. Foweraker, 1998; Zelaznik, 2001; longar, ou aprofundar, a despeito do afasta-
Ames, 2001; Weaver, 2002; Kooiman, 2008; mento do Presidente, abrindo-se espaço para
Freeudenreich, 2016). De fato, tanto as refle- dois cenários mais traumáticos: a drástica rup-
xões teóricas, como as pesquisas empíricas de- tura do regime democrático por meio de algum
senvolvidas neste âmbito, tinham e ainda têm golpe de Estado clássico, ou, então, a lenta ero-
como meta a identificação do arranjo institu- são das instituições democráticas por meio da
cional mais adequado à promoção de uma rela- eleição de uma liderança populista (Levitski;
ção cooperativa entre Executivo e Legislativo, Ziblat, 2018; Mounk, 2018; Pappas, 2019; Ur- Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

evitando-se impasses que, muitas vezes, resul- binati, 2019).


Desse modo, uma “engenharia constitu-
* Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). cional” tornou-se prioritária nos estudos com-
Departamento de Ciência Política.
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Prédio 43322 (IFCH)/Sala parados das novas democracias (Sartori, 1997;
205. Bairro Agronomia. Cep: 91509900. Porto Alegre – Rio Lijphart, 1992, 1994, 1996, 2003). Para diversos
Grande do Sul – Brasil. peres.ps@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3880-4261 analistas, era imprescindível a identificação de
** Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Departamento de Ciências Sociais. arranjos institucionais que fossem imunes ou,
Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n. Campus Dois Irmãos. ao menos, resistentes a possíveis retrocessos
Andar Térreo do Prédio Ariano Suassuna. Cep: 52171-900.
Recife – Pernambuco – Brasil. gabriellamlb@gmail.com autoritários em decorrência de impasses ins-
https://orcid.org/0000-0003-1420-5667
Agradecemos ao suporte financeiro da CAPES/CNPq ao
transponíveis entre o Executivo e o Legislativo
projeto de pesquisa que resultou nesta análise. Somos igual- (por exemplo: Linz, 1990a, 1990b , 1994, 2002;
mente gratos aos pareceristas pela avaliação criteriosa do
artigo, assim como à Editoria da Revista pelo valioso espaço. Shugart; Carey, 1992; Stepan; Skach 1993; Sar-

http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v33i0.25447 1
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tori, 1997; Lijphart, 1994; Mainwaring, 1993, lidade em situações de extrema fragmentação
1999; Linz; Valenzuela, 1994a e 1994b, Jones, partidária aliada a contextos de real separação
1995; Lijphart; Waisman, 1996; Huber, 1996; entre os Poderes, tal como propiciado pelo sis-
Diamond, 1997; Mainwaring; Shugart, 1997a tema presidencialista (cf. Amorim Neto, 2006).
e 1997b; Tsebelis, 1995, 2002). Em ambos os A proposta deste artigo é analisar este
casos – governabilidade difícil e ingovernabili- debate teórico sobre o arranjo institucional
dade com crise institucional – os especialistas presidencialista no que se refere à sua capa-
preconizaram desenhos constitucionais que cidade de assegurar a governabilidade perante
consideravam menos sujeitos à manifestação as oposições partidárias na arena legislativa.
de múltiplos atores com poder de veto às po- Como procuraremos mostrar, a preocupação
líticas propostas pelo Executivo. Entendida com a governabilidade refletiu uma postura de
como a capacidade do Executivo de aprovar cautela diante do potencial oposicionista para
sua agenda, sem maiores obstáculos interpos- obliterar o governo e se envolveu em um dile-
tos pela oposição parlamentar (cf. Foweraker, ma de difícil resolução. Se a efetividade das
1998), a governabilidade legislativa foi asso- oposições parlamentares pode resultar na pa-
ciada tanto à eficiência como à qualidade da ralisia do governo, ou ao menos em governos
democracia sem a qual o próprio regime de- acuados, meramente reativos, por outro lado,
mocrático estaria ameaçado. Em consequência a governabilidade plena implica na nulida-
disto, os analistas convergiram num ponto, de dessas oposições. Diante desse paradoxo,
qual seja, a governabilidade é a grande meta a literatura temática foi levada a privilegiar a
a ser atingida pelas novas democracias (cf. governabilidade em detrimento da oposição
Ames, 2001; Amorim Neto, 2006). parlamentar, com base na premissa de que a
Uma vez estabelecida essa concordân- consolidação das democracias recentes depen-
cia, os especialistas divergiram em relação aos deria do predomínio do governo nas relações
fatores institucionais que produziriam efeitos Executivo-Legislativo. Esse posicionamento
deletérios sobre a governabilidade. Enquanto ocasionou duas consequências: por um lado,
alguns deles alertavam para os perigos que tanto os estudos como os debates a respeito
a forma de governo presidencialista trazia à dos desenhos constitucionais impregnaram-se
governabilidade (Linz 1990a; Linz;Valenzue- de um viés normativo desfavorável à atuação
la,1994a, 1994b;Valenzuela, 2004), outros cha- efetiva das oposições parlamentares;1 por ou-
mavam atenção para o fato de que tais perigos tro, não se formou uma agenda de pesquisas
somente existem no caso de se combinar mul- voltadas ao exame das prerrogativas e do com-
tipartidarismo com presidencialismo (Shugart; portamento dessas oposições nas novas de-
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Carey, 1992; Mainwaring, 1993,1999). Mais mocracias (Morgenstern; Negri; Pérez-Liñan,


otimista, outro grupo de pesquisadores defen- 2008). Torna-se necessário, entretanto, a supe-
dia que, a despeito das desconfianças iniciais, ração desse déficit, sobretudo no caso dos paí-
o presidencialismo de coalizão brasileiro de- ses da América Latina, onde a combinação da
monstrava que, tanto a forma de governo pre- forma de governo presidencialista com o mul-
sidencialista como o sistema multipartidário, tipartidarismo tem implicações não apenas so-
não eram, necessariamente, obstáculos à go-
vernabilidade (Abranches, 1988; Figueiredo; 1
Por efetividade entendemos o desempenho eficaz de suas
principais funções: (1) controlar/fiscalizar o governo, (2)
Limongi, 1999, 2007; Santos, 2003; Amorim influenciar/ retardar ou vetar projetos do governo. Isso
depende das prerrogativas constitucionais e regimentais,
Neto, 2006, 2019; Limongi, 2008; Melo; San- mas também de sua força numérica e sua capacidade es-
tos, 2013; Figueiredo, 2007; Luz; Aflalo; Dutra, tratégica no processo legislativo. Essa efetividade, confor-
me discutiremos, enfrenta uma dificuldade que é ao mes-
2018). Havia, portanto, uma solução institucio- mo tempo teórica e prática, referente ao que chamamos de
paradoxo das oposições parlamentares em regimes demo-
nal que permitiria alcançar elevada governabi- cráticos (Bezerra, 2017; Peres e Bezerra, 2020).

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bre a formação de governos de coalizão, mas que uma oposição partidária eficaz na arena
também nas estratégias de coordenação das legislativa pode ser um entrave à governabili-
oposições parlamentares. dade e, por extensão, uma ameaça à consolida-
Ao analisar esta literatura, tendo tais en- ção da democracia.
foques e objetivo, pretendemos contribuir com Sem dúvida, esse é um dilema de difícil
o debate em dois aspectos. Primeiro, pretende- resolução e, provavelmente, vem daí a reserva
mos mostrar como o percurso analítico nesta da literatura quanto à efetividade das oposi-
área de investigação resultou nessa lacuna e às ções parlamentares. Com efeito, no âmbito des-
reticências, tácitas ou explícitas, dos pesquisa- se debate a forma de governo presidencialista
dores em relação às oposições parlamentares. foi percebida como a mais propensa ao blo-
Segundo, intentamos ressaltar a relevância do queio das oposições partidárias no Legislativo;
estudo das prerrogativas e do comportamento afinal, no presidencialismo não há nenhum
das oposições no processo de governo, pois, instrumento regimental ou constitucional que
assim como a governabilidade, a efetividade permita uma saída institucional para impasses
das oposições parlamentares é indispensável entre o Presidente e o Congresso (Linz, 1990 a,
ao regime democrático. 1994; Shugart; Carey, 1992). Assim, se os par-
lamentares atuarem em oposição ao Executivo,
a governabilidade será ameaçada e, obviamen-
A GOVERNABILIDADE E AS OPO- te, esse bloqueio depende de vários cenários,
SIÇÕES NO PRESIDENCIALISMO como a posição majoritária ou minoritária do
governo no Parlamento, o tamanho e a coesão
A análise comparada das democracias da coalizão de governo, os tipos de projetos em
recentes levou os pesquisadores à formação apreciação, o tamanho das maiorias exigidas
de um consenso acerca da relação negativa en- para a aprovação dos projetos, os custos eleito-
tre governabilidade e oposição partidária (por rais dos projetos em deliberação, assim como
exemplo: Linz, 1990a, 1990b, 1994; Mainwa- das prerrogativas regimentais à disposição das
ring, 1990; Geddes, 1991, 1996; Shugart; Ca- oposições. E mais, se houver alta fragmentação
rey, 1992; O’Donnell, 1992; Valenzuela, 1993; partidária no Legislativo, a possibilidade de
Mainwaring, 1993; Whitehead, 1996; Fowe- ocorrer tensões entre a oposição parlamentar e
raker, 1998; Shugart, 1998). Com efeito, en- o Presidente eleva-se sensivelmente.
quanto a governabilidade foi alçada à condição Já no parlamentarismo, em princípio,
de máximo objetivo a ser garantido, a oposição o governo é formado mediante a produção de
partidária no Parlamento foi entendida como uma maioria partidária no Congresso. No caso
um potencial obstáculo à sua consecução. Ob- de regimes parlamentaristas bipartidários, o Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

viamente, nem toda e qualquer oposição parti- partido do chefe de governo será majoritário
dária foi percebida dessa maneira. Essencial- no Parlamento, assegurando-lhe alta governa-
mente, a oposição partidária ou a “contestação bilidade. Mas em sistemas multipartidários, o
pública” pode se manifestar em duas arenas governo será formado depois de pactuada uma
interligadas, porém, distintas – a eleitoral e a coalizão majoritária mais comprometida com a
governamental (Verney, 1959). Sendo assim, governabilidade.2 Impasses em situações como
podemos dizer que, na perspectiva da litera- essas são extremamente difíceis e, se isso ocor-
tura temática, a atuação da oposição partidária rer, o Primeiro-Ministro poderá ser afastado
na arena eleitoral garante a necessária compe- por meio de uma moção de desconfiança dos
tição pelo poder e, por isso mesmo, é um in- 2
Entretanto, cumpre-nos observar, governos minoritários
dicador de efetividade da democracia (Dahl, em democracias multipartidárias não são incomuns e tam-
pouco mais instáveis do que as majoritárias (cf. Strom,
1997). Em contrapartida, seria possível cogitar 1990).

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parlamentares, assim como o Primeiro-Mi- questão prática de desenhar suas constituições


nistro poderá dissolver o Congresso e chamar (Shugart; Carey, 1992; Foweraker, 1998).
novas eleições legislativas (Linz, 1990b,1994; Naquela altura, a motivação principal
Shugart; Carey, 1992). Em contrapartida, como dos pesquisadores era avaliar as condições ins-
observa criticamente a literatura, os Presiden- titucionais da forma de governo presidencialis-
tes não podem dissolver o Congresso e nem ta para sustentar a consolidação da democracia
o Congresso pode emitir uma moção de des- nos países latino-americanos. Seu expoente
confiança aos presidentes (Valenzuela, 1993; mais notório e um dos principais responsáveis
Mainwaring, 1993). pelo retorno das instituições políticas consi-
Com efeito, em decorrência do pessimis- deradas como variáveis centrais no estudo das
mo dos especialistas em relação ao presiden- democracias foi Juan Linz. Preocupado com a
cialismo, por um lado, e à sua ampla adoção identificação das variáveis que poderiam pro-
pelas novas democracias latino-americanas, vocar falhas nas democracias recentes, Linz
por outro, a governabilidade veio a ser investi- (1990a, 1990b e 1994) retomou uma dicotomia
gada pela ótica dos efeitos negativos dessa for- já tipificada anteriormente (Verney, 1959) para
ma de governo no que se refere à construção ressaltar os efeitos negativos do presidencia-
de uma relação cooperativa entre Executivo lismo na governabilidade. Ele chamou atenção
e Legislativo (Cheibub; Limongi, 2002; Chei- para duas características institucionais dessa
bub, 2006). Inevitavelmente, o presidencialis- forma de governo que considerava contrapro-
mo acabou por se tornar um dos objetos mais ducentes para a democracia: a legitimidade
estudados e debatidos no período posterior às dual, que oporia o Executivo ao Legislativo, e o
transições democráticas – em realidade, discu- mandato fixo do Presidente. No primeiro caso,
tir as novas democracias era discutir a dicoto- sendo cada poder totalmente independente
mia presidencialismo versus parlamentarismo, um do outro, não haveria nenhum mecanismo
com a finalidade de se apontar as armadilhas institucional para a resolução de impasses, a
do sistema presidencialista para a governabili- não ser a disposição dos atores para a negocia-
dade (cf. Foweraker, 1998). ção, o que, para Linz, era algo muito incerto.
Historicamente, as reticências em rela- No segundo caso, agravando esse problema, a
ção ao presidencialismo têm suas raízes nos rigidez do mandato fixo do Presidente não se-
estudos sobre as transições democráticas dos ria um fator de estabilidade como se pensava,
anos 1980 e 1990. De maneira resumida, des- mas sim de instabilidade, tanto em momentos
de o final da Segunda Guerra já tinham se de- de baixa popularidade do governo como em
senvolvido três tipos de explicações para as situações de crises insolúveis na sua relação
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“falhas” da democracia no “terceiro mundo” com o Congresso. Dito de maneira mais direta,
– socioeconômicas, culturais e institucionais. Presidentes impopulares e indesejáveis teriam
Em decorrência da chamada “revolução com- que se arrastar até o fim do mandato, mesmo
portamentalista”, as explicações estruturais, à custa de uma crise de governo e até da insta-
centradas em variáveis sociais e econômicas, bilidade institucional. Nesse caso, a gravidade
e, principalmente, as explicações culturalistas, da crise poderia levar a um golpe de Estado.
ofuscaram os estudos de caráter instituciona- Nesse contexto, Linz estabeleceria toda
lista (cf. Peres, 2008). Porém, a “terceira onda uma agenda de pesquisa destinada a verificar
democrática”, iniciada nos anos 1970, trouxe se o presidencialismo de fato era uma amea-
à tona a necessidade de se discutir com mais ça à estabilidade das recentes democracias
afinco os arranjos institucionais e seus efei- latino-americanas. Dessa forma, essa região -
tos políticos, afinal, os países que transitavam assim como o Leste Europeu e a Europa Cen-
para a democracia tinham que lidar com a tral – tornar-se-iam atraentes laboratórios para

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análises comparadas com esse escopo analí- continuidade; afinal, uma coisa era a obtenção
tico.3 As investigações voltadas às recentes de governabilidade no presidencialismo, no
democracias tinham, portanto, um norteador caso dos regimes autoritários; outra coisa se-
normativo central, qual seja, buscar a eficiên- ria assegurar a governabilidade num ambiente
cia institucional para se evitar as tensões e os democrático. Em regimes autoritários não há
possíveis impasses entre o Executivo e o Legis- problemas de impasses entre Executivo e Legis-
lativo. Seguindo de perto as pegadas deixadas lativo, o que significa dizer que não há oposição
pela literatura sobre as transições democráti- efetiva – ou esta não é tolerada, ou é controlada
cas, os analistas de orientação institucionalista rigidamente, ou, ainda, restringe-se a uma fun-
deduziram que os desenhos constitucionais ção apenas protocolar. Já nas democracias, su-
adotados, especialmente na América Latina, põe-se justamente que as oposições não apenas
não ajudariam na consolidação do regime. sejam toleradas, mas que tenham algum grau de
Para eles, em virtude da herança histórica de efetividade. O problema, nesse caso, é que sua
um passado autoritário e da continuidade ins- eficácia pode ser um obstáculo à governabili-
titucional de alguns elementos dos regimes dade. Portanto, como lidar com essa diferença
ditatoriais no arranjo assumido pelas recentes entre o presidencialismo autoritário (sem opo-
democracias, esses países estavam sujeitos a sição efetiva) e o presidencialismo democrático
retrocessos ou, no mínimo, a um desempenho (com oposição efetiva) quando a principal meta
de baixa qualidade (Mainwaring, 1990; Whi- a ser buscada é a governabilidade?
tehead, 1996; Geddes,1996). De acordo com os analistas, em seme-
Acreditando não ter havido reais inova- lhantes situações haveriam apenas dois cami-
ções nos desenhos constitucionais das novas nhos a trilhar: (1) ou a oposição legislativa não
democracias latino-americanas, alguns analis- seria contornada pelo Executivo e as crises de
tas concluíram que se tratava de modelos ins- governabilidade seriam frequentes, chegando,
titucionais bastante homogêneos e propensos possivelmente, a provocar abalos institucio-
à crise. Essa homogeneidade constitucional se nais (2); ou os Presidentes recorreriam a ins-
assentaria na forma de governo presidencialista trumentos autoritários, embora, constitucio-
– inclusive, a adesão da região ao presidencia- nalmente previstos, para sobrepujar o bloqueio
lismo teria limitado sobremaneira as escolhas legislativo. Neste último caso, no entanto, im-
institucionais nesses países e garantido, como por-se-ia uma dinâmica de governo baseada no
efeito colateral, uma continuidade institucio- “decretismo” (Shugart;Carey, 1992, Mainwa-
nal importante do passado autoritário no novo ring, 1993; Geddes, 1996; Shugart,1998) e na
ambiente democrático. Ou seja, tratou-se muito “democracia delegativa” (O’Donnell, 1992). O
mais de se reestruturar as instituições adjacen- problema disso é que, ao lançar mão de instru- Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

tes ao formato presidencialista já presentes nos mentos executivos autoritários - tais como, no
governos autoritários, adaptando-as à democra- caso brasileiro, o uso recorrente de Medidas
cia na medida do possível, do que propriamen- Provisórias, o abuso de iniciativas de legislação
te de se desenhar instituições totalmente novas e a interferência recorrente na tramitação de
(Geddes, 1991; Linz, 1994; Shugart, 1998). projetos – para superação das crises de gover-
Para os autores comparativistas, um dos no, o resultado seria, em primeiro lugar, a inde-
principais problemas a serem enfrentados por vida subordinação dos parlamentares ao Exe-
essas novas democracias era precisamente essa cutivo, com o consequente amesquinhamento
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Nas palavras de Foweraker (1998, p. 651): “in particular, do Congresso. E em segundo lugar, o potencial
it created a new context for the study of the relationships recrudescimento das tensões entre os Poderes,
between institutional design, party system and governabi-
lity – defined in the narrow sense of institutional efficacy, pois, os legisladores poderiam se unir para re-
as express through government stability, legislative capacity
and the avoidance of gridlock”. taliar o Presidente em momentos críticos.

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Em síntese, em regimes democráticos, o qualidade operacional, mas sim a variação do


presidencialismo provocaria uma oscilação dos presidencialismo adotada na América Latina.
governos entre o gridlock e o “decretismo”; en- Nessa região, de acordo com os autores, essa
tre os impasses do Presidente com o Congresso forma de governo foi combinada com dispo-
e o autoritarismo presidencial. No caso de um sitivos constitucionais que prejudicariam seu
Legislativo forte, ou seja, com uma oposição funcionamento. Em especial, eles chamaram
majoritária e coesa, o cenário provável seria de a atenção para os efeitos “explosivos” da jun-
impasses e crises institucionais; e no caso de ção de presidencialismo com multipartidaris-
um Executivo forte, o qual recorre a recursos mo (Mainwaring, 1990, 1993; Shugart; Carey,
de controle unilateral do processo decisório, a 1992; Jones, 1995; Ames, 2001).4
qualidade da democracia seria afetada por uma De modo geral, aqueles que se envolve-
dinâmica autoritária de governo. Logo, golpes ram com essa agenda de pesquisas, conforme
de Estado, autogolpes e funcionamento insti- estabelecida por Juan Linz, conseguiram perce-
tucional precário com crises de governabilida- ber três pontos relevantes. Em primeiro lugar,
de recorrentes permaneceriam como ameaças não há apenas um presidencialismo, mas uma
perenes às democracias latino-americanas. variedade de modelos presidencialistas, cuja
Portanto, se não plenamente violados, tais re- variação depende de sua combinação com ou-
gimes democráticos seriam de baixa qualidade tros fatores institucionais, como o sistema elei-
(O’Donnell, 1992; Mainwaring, 1993; Geddes, toral, o sistema partidário, o arranjo federativo,
1996; Shugart, 1998), uma vez que o presiden- as regras do processo legislativo e os poderes
cialismo padeceria de problemas endêmicos, atribuídos ao Presidente. Em segundo lugar, a
como, por exemplo, a legitimidade dual que fragmentação partidária está diretamente asso-
contrapõe o Parlamento ao Presidente em um ciada à taxa de governabilidade – quanto maior
contexto de interesses divergentes e até irrecon- a fragmentação, menor a governabilidade. Fi-
ciliáveis (Shugart; Carey, 1992). nalmente, em terceiro lugar, modelos presiden-
cialistas multipartidários são os mais propensos
a impasses e crises institucionais que somente
PRESIDENCIALISMO MULTIPAR- podem ser superadas mediante a formação de
TIDÁRIO E GOVERNABILIDADE coalizões de governo majoritárias. Porém, além
de envolver custos de transação muito elevados,
O desenvolvimento do debate inaugura- as coalizões só são realmente efetivas se conta-
do por Juan Linz levou os pesquisadores a le- rem com alta taxa de disciplina parlamentar e
vantarem uma série de questionamentos con- elevada fidelidade dos partidos parceiros, algo
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ceituais e metodológicos às suas afirmações que os analistas consideram difícil de ocorrer,


sobre a relação direta entre a forma de gover- especialmente em países com sistemas eleito-
no e a governabilidade. Anteriormente, Riggs rais que promovem o voto pessoal para o Parla-
(1988) já havia alertado para a necessidade mento e que estimulam o paroquialismo.
de se considerar os impactos de fatores “para- Ademais, de acordo com os compara-
constitucionais”, como a cultura no funciona- tivistas, as democracias presidencialistas la-
mento do presidencialismo. Na sequência, au- tino-americanas via de regra elegem os seus
tores como Shugart e Carey (1992) e Mainwa- 4
Ressalta-se que a percepção pioneira dos efeitos da com-
ring e Shugart (1997a,1997b) chamaram a binação de presidencialismo com multipartidarismo foi de
Abranches (1988), ao analisar o caso brasileiro, para ele,
atenção para um detalhe de suma importância sui-generis àquela altura. Ao apontar que essa combina-
até então não observado, qual seja, o presiden- ção pode gerar problemas de governabilidade, entretanto,
ressaltou que esse é o modelo mais indicado para a reali-
cialismo, por si mesmo, não é um obstáculo à dade complexa e heterogênea da sociedade brasileira. Daí
o dilema institucional: é propenso à instabilidade, mas é o
consolidação da democracia, ou mesmo à sua arranjo constitucional mais adequado ao Brasil.

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deputados pelo princípio de representação Pérez-Liñan, 2007). Conclui-se daí que, num
proporcional, o que é considerado um fator cenário de alta fragmentação partidária e per-
de instabilidade do presidencialismo na re- sonalismo parlamentar, a governabilidade é
gião, dado que essa fórmula estimula o multi- uma meta praticamente inalcançável.
partidarismo, um formato sistêmico “inimigo Diante disso, para alguns pesquisadores,
da democracia estável” (Mainwaring, 1990). o ideal seria a combinação do presidencialismo
Evidência disso seria o fato de que nenhuma com um sistema bipartidário. Para Mainwaring
democracia consolidada é presidencialista e (1993), por exemplo, o bipartidarismo contri-
multipartidária – com a exceção do Chile entre bui para a moderação da competição, uma vez
1933 e 1973, todas as democracias presiden- que sua dinâmica é centrípeta, levando à re-
cialistas que sobreviveram por pelo menos 25 dução da polarização ideológica. Mas, em sen-
anos eram bipartidárias ou tinham pouco mais do inviável a prevalência do bipartidarismo, a
de dois grandes partidos (Mainwaring, 1993). segunda melhor alternativa seria criar um sis-
Podemos inferir que, aos olhos dos pesquisa- tema de incentivos institucionais para a exis-
dores, o multipartidarismo cria impeditivos à tência de um multipartidarismo moderado,
formação de um governo majoritário porque o com não mais do que três ou quatro partidos
partido do Presidente dificilmente conquista a relevantes, já que os presidentes, forçosamen-
maioria das cadeiras parlamentares (Mainwa- te, têm que contar com um sistema de partidos
ring, 1990, 1993; Jones, 1995; Ames, 2001; com baixa fragmentação legislativa e alta dis-
Sani; Satori, 1983). Consequentemente, o pre- ciplina dos parlamentares (Mainwaring, 1990,
sidencialismo multipartidário não promove 1993; Stepan; Skach, 1993).5
uma democracia de consenso, pois, com esse Sendo assim, para a resolução dos dois
modelo, até mesmo a construção de uma coa- problemas – fragmentação partidária elevada
lizão majoritária é custosa e incerta (Mainwa- e baixa disciplina parlamentar – os analistas
ring, 1990, 1993; Valenzuela, 1993). sugeriram que se investisse na alteração do sis-
Depreende-se disso, também, que o pon- tema eleitoral (Mainwaring, 1993,1999; Ames,
to nevrálgico aqui é a capacidade de o Execu- 1995a, 1995b, 2001; Jones, 1995; Samuels,
tivo controlar a maioria parlamentar (Mainwa- 2003). Em realidade, segundo os pesquisado-
ring, 1993; Mainwaring; Scully, 1995). Partin- res, ao impactar a fragmentação partidária, o
do-se da premissa de que quanto mais frag- sistema eleitoral, indiretamente, produz efeitos
mentado o sistema partidário na arena legisla- sobre a capacidade do Executivo de formar co-
tiva, maior é a dificuldade de se obter a gover- alizões majoritárias. A redução do número de
nabilidade, e admitindo-se que mesmo a for- partidos e o aumento do controle das organiza-
mação de uma coalizão partidária majoritária, ções partidárias sobre os seus parlamentares, Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

assim como a garantia de sua lealdade, é mais depende do abandono do voto em listas abertas,
dispendiosa quando o número de parceiros é juntamente com a adoção de regras que funcio-
maior (Mainwaring, 1990, 1993, 1999; Sani; nem como desincentivos à entrada de pequenos
Sartori, 1983), então, a governabilidade depen- partidos no sistema, assim como a adoção de
de consideravelmente do número de partidos instrumentos partidários para a punição dos
com poder de veto no Parlamento, bem como parlamentares indisciplinados. A representa-
da taxa de disciplina partidária. Adicione-se 5
Curiosamente, Linz (1994) adverte para o contrário, ou
a isso o fato de que os governos minoritários, seja, que em regimes presidencialistas multipartidários, o
melhor é que os parlamentares sejam indisciplinados, pois
ou os governos que fazem coalizão majoritária somente assim o Presidente poderia negociar com cada um
com partidos indisciplinados, lidam, frequen- seu apoio em cada votação, recorrendo aos mecanismos
de pork barrel e ao logrolling. Partidos disciplinados pode-
temente, com ameaças de destituição dos seus riam formar um bloco oposicionista ao governo de manei-
ra inflexível, provocando uma crise institucional de difícil
Presidentes (Mainwaring, 1993; Jones, 1995; resolução dentro das regras do jogo democrático.

7
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

ção majoritária em distritos pequenos, de pre- dos, o problema do impasse entre os Poderes
ferência uninominais, associada a cláusulas de no presidencialismo não seria completamente
barreira à representação partidária e a uma série resolvido, pois, sempre haveria a possibilidade
de desestímulos à criação de novas legendas po- de existirem “governos divididos”, que é quan-
deriam resolver, ou ao menos minorar, o proble- do um dos dois principais partidos controla o
ma da fragmentação parlamentar. Aliado a isso, Executivo e o outro controla o Legislativo.
a realização de eleições concomitantes para a De fato, o problema do “governo dividi-
Presidência da República e o Parlamento contri- do” veio à baila por causa de sua ocorrência na
buiria para a redução da fragmentação partidá- política norte-americana. Nos Estados Unidos,
ria no Legislativo (Jones, 1995). O voto em listas já houve situações como essa em vários mo-
partidárias fechadas, por sua vez, daria aos par- mentos, dando ensejo a alguns impasses impor-
tidos um maior poder de controle sobre o com- tantes entre a Casa Branca e o Congresso.7 Há,
portamento de suas bancadas, solucionando ou é claro, quem defenda que o “governo dividido”
atenuando o problema da indisciplina nas vo- traz efeitos positivos porque garante a real sepa-
tações em Plenário (Ames, 1995a, 1995b, 2001; ração entre os Poderes e, portanto, torna efetivo
Samuels, 2003). o processo de checks and balances. Isso porque,
Contudo, essa “solução ideal” para o no caso do “governo unificado”, ou seja, quando
presidencialismo latino-americano esbarrava o mesmo partido controla o Executivo e o Legis-
em obstáculos sociais e operacionais não vis- lativo, ocorreria uma espécie de junção virtual
lumbrados pela literatura. Em primeiro lugar, e temporária entre os Poderes, em moldes pare-
a quantidade de partidos não é uma função cidos com o que acontece no modelo clássico
apenas das regras eleitorais, conforme já ob- do parlamentarismo inglês, como já apontado
servado pelo próprio Duverger (1951) – e, de há tempos por Bagehot (1867).
certo modo, admitido por Mainwaring (1993)6. Porém, há alguns aspectos que devem
Há fatores sociais e históricos que também ser considerados mais detidamente. Ao con-
contribuem para a existência de muitos par- trário do modelo inglês, a Câmara Alta dos
tidos (Amorim Neto; Cox, 1997; Ordeshook; Estados Unidos tem muito mais poder, o que
Shvetsova, 1994); inclusive, em alguns casos, torna mais difícil uma situação de governo
a própria heterogeneidade social exige o mul- completamente unificado, caracterizado pelo
tipartidarismo (Abranches, 1988). Operacio- controle da Presidência da República e o do-
nalmente, tampouco seria factível supor que mínio simultâneo das duas casas legislativas
os partidos existentes num sistema possam vir pelo mesmo partido. Em desenhos constitucio-
a adotar regras eleitorais que reduzam drasti- nais de real separação dos poderes – ou seja,
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

camente a quantidade de legendas, pois, eles o presidencialismo – e com um legislativo bi-


próprios poderiam se extinguir. Isso quer dizer cameral em que as duas Casas parlamentares
que, em sistemas partidários muito fragmenta- têm poderes efetivos, a ocorrência de “gover-
dos, como o brasileiro, as barreiras aos parti- nos divididos” em sistemas bipartidários pode
dos serão mínimas e atingirão apenas os parti- ser mais frequente. Assim, conforme apontam
dos pequenos, deixando o mercado livre para seus críticos, ao invés de facilitar o checks and
as diversas legendas de tamanho médio. Além balances, os “governos divididos” podem levar
disso, mesmo que chegássemos a dois parti- a momentos de quase-paralisia do governo e
a constantes gridlocks (Fiorina, 1992; Mayhew,
6
Mainwaring (1993, p. 225) diz à certa altura: “the ad-
vantages of bipartism diminish where are sharp political 2005), pois o governo enfrentará uma oposição
or social cleavages”. De fato, como evidenciado por outros
pesquisadores, o número de partidos de um sistema par- 7
Nos Estados Unidos, houve muitos momentos de gover-
tidário depende da interação de variáveis institucionais, no dividido, oscilaram de maneira pendular entre os dois
nomeadamente o sistema eleitoral, e de variáveis sociais partidos e os Republicanos são os que mais enfrentaram
(Amorim Neto; Cox, 1997; Ordeshook; Shvetsova, 1994). períodos de governo dividido.

8
Paulo Peres, Gabriella Bezerra

parlamentar majoritária e pouco afeita à coo- disciplina parlamentar (cf. Mainwaring, 1990,
peração. Portanto, se, por um lado, a dinâmica 1993, 1999; Ames, 1995a, 1995b, 2001). Esse
de “governo dividido” incentiva as negocia- modelo explicativo, por consequência, coloca
ções entre o Presidente e o Congresso em torno o sistema eleitoral no centro do debate acerca
de compromissos programáticos básicos, por da instabilidade institucional das novas demo-
outro lado, dificulta consideravelmente a go- cracias latino-americanas. Como é sabido, pelo
vernabilidade (Moe, 1990). menos desde a obra mais reconhecida de Du-
Em realidade, situações de “governo di- verger (1951), as formas de escrutínio influen-
vidido”, em regimes presidencialistas, podem ciam a quantidade de partidos de um sistema;
levar a crises institucionais mais rapidamen- do mesmo modo, o voto em listas partidárias
te do que nos casos de multipartidarismo. Em abertas, sujeitas à interferência dos eleitores na
sistemas bipartidários, o partido que não con- ordem dos eleitos, foi associado ao tipo de com-
quista o Executivo, mas ocupa a maioria das portamento que o parlamentar adota no proces-
cadeiras legislativas, terá todos os incentivos so legislativo, se mais paroquial ou mais uni-
para atuar como uma oposição de bloqueio sis- versalista (Mayhew, 1974; Ames, 1995a, 1995b,
temático às políticas do governo, já que, agin- 2001). Por isso, o sistema eleitoral foi alçado à
do desse modo, aumentam as suas chances de condição de variável explicativa das falhas do
conquistar a Presidência na próxima rodada presidencialismo e, assim, seus efeitos sobre
eleitoral. Certamente, em casos como esses, a o formato do sistema partidário e o comporta-
formação de uma coalizão é improvável. Por- mento parlamentar foram considerados os res-
tanto, se nos Estados Unidos as situações de ponsáveis por diferenciar as democracias presi-
“governo dividido” não resultaram numa gra- dencialistas estáveis daquelas sujeitas a crises
ve crise institucional, não devemos descartar constantes (Mainwaring, 1990, 1993).
que isso talvez viesse a ocorrer de forma mais Com base nessa concepção, a literatura
acentuada na América Latina, cuja tradição é temática inferiu que a fórmula de representa-
de “oposição desleal”, aquela que, em determi- ção proporcional era a indutora do multipar-
nadas circunstâncias, força as regras do jogo tidarismo (Shugart; Carey,1992; Mainwaring;
democrático para além de seus limites cons- Shugart, 1997a, 1997b) e, portanto, da baixa
titucionais visando a chegar ao poder anteci- governabilidade. Claro que, no caso de países
padamente no próximo ciclo eleitoral - ilus- nos quais se considerou haver uma larga per-
trativos disso são os diversos golpes de Estado missividade à criação de novos partidos, outros
e, nos últimos anos, a elevada frequência de aspectos da legislação eleitoral e da legislação
destituições constitucionais dos Presidentes partidária foram incluídos no rol de fatores de
da região. Portanto, há fundamentos empíricos estímulo à fragmentação excessiva do sistema Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

para a suspeita de que “governos divididos” partidário – quanto ao modelo brasileiro, por
poderiam agravar ainda mais essa situação. exemplo, o voto nominal em listas abertas foi
identificado como um incentivador da compe-
tição entre os candidatos da mesma legenda,
SISTEMA ELEITORAL, MULTIPAR- assim como da ligação paroquialista entre po-
TIDARISMO E GOVERNABILIDADE líticos e eleitores (Jones, 1995; Ames, 1995a,
1995b, 2001; Samuels, 2003). Além disso, essa
Para os analistas de política compara- forma de escrutínio levaria os Deputados a se
da, o problema da baixa governabilidade em comportarem de maneira individualista no Le-
regimes presidencialistas radica nas regras gislativo, incrementando ainda mais o proble-
eleitorais, pois são elas as principais causado- ma da fragmentação parlamentar. O voto em
ras da proliferação de partidos e, ainda, da in- listas abertas atuaria, enfim, como uma força

9
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

contrária à coesão e à disciplina dos partidos. (Figueiredo; Limongi, 1999; Santos, 2003).8 Ou
Sob a rubrica de “conexão eleitoral”, pos- seja, a dinâmica da política institucional brasi-
tulou-se, então, a influência direta do sistema leira indicava que, conforme já havia sido ca-
eleitoral sobre o comportamento clientelista racterizado por Abranches (1988), era possível
dos eleitores e, principalmente, sobre o com- um presidencialismo de coalizão.9
portamento parlamentar antipartidário. Não É claro que esse otimismo com o presi-
é por menos que esses analistas identificaram dencialismo de coalizão e seus assemelhados
o Brasil como o país com o sistema partidário foi sensivelmente abalado pelos frequentes
mais fragmentado do mundo e menos institu- episódios de instabilidade política e interrup-
cionalizado da região (Mainwaring, 1995,1999; ções de mandatos presidenciais na América
Mainwaring; Scully, 1995), e onde os parlamen- Latina (Valenzuela, 2004). Não obstante, aná-
tares atuariam orientados pela política do pork lises mais aprofundadas desses episódios dão
barrel (Ames, 1995a, 1995b; Pereira; Rennó, conta de que os afastamentos dos Presidentes
2001,2007; Carvalho, 2003; Samuels, 2003). na região demonstram que as reservas de Juan
Desse modo, a circularidade do argumento atin- Linz e tantos outros em relação aos efeitos ne-
ge a meta normativa a ser perseguida – median- gativos da rigidez temporal do mandato presi-
te os incentivos dados por essa estrutura ins- dencial sobre a estabilidade institucional não
titucional, a governabilidade seria gravemente se confirmaram, pois, nos momentos de crises
comprometida, senão impossível. política, os mandatos fixos dos Presidentes
Não obstante, a evolução desse debate não provocaram retrocesso autoritário (Pérez-
centrado no Brasil acabou provocando uma -Liñan, 2007; Marsteintredet; Berntzen, 2008;
inflexão na literatura. Pesquisas posteriores, Llanos; Marsteintredet, 2010; Marsteintredet,
concentradas apenas no caso brasileiro, con- 2014). Na verdade, ainda de acordo com os
tribuíram para dissipar ou pelo menos relati- especialistas, as pressões dos protestos popu-
vizar muitas das suspeitas em relação à via- lares e seu acolhimento pelo Legislativo, cujos
bilidade do presidencialismo multipartidário. resultados muitas vezes foram interrupções
Alguns pesquisadores brasileiros reuniram de mandatos presidenciais, seja por renúncia
dados empíricos surpreendentes sobre o grau ou por processos de impeachment, são indica-
de disciplina dos partidos nas votações em tivos tanto do fortalecimento da “democracia
plenário e a taxa de governabilidade dos pre- das ruas” como da maleabilidade institucional
sidentes no país. Seus estudos mostraram que, do presidencialismo em episódios de impasse
apesar da fragmentação partidária no Legisla- entre os Poderes. Em suma, as tensões irrecon-
tivo, os Presidentes formavam coalizões majo- ciliáveis entre os Presidentes e os Parlamentos,
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

ritárias, os parlamentares votavam de acordo assim como entre os Presidentes e a popula-


com a orientação de suas lideranças e, assim, ção, não são mais resolvidas por golpes de
a governabilidade era elevada (Figueiredo; Li- Estado, mas por procedimentos previstos nas
mongi, 1999; Meneguello,1998; Amorim Neto, Constituições (Pérez-Liñan, 2007).
2006; Melo; Pereira, 2013).Dessa maneira, de 8
Os livros de Figueiredo e Limongi (1999) e Santos (2003)
acordo com esses estudos, a centralização do são coletâneas de diversos artigos publicados em revistas
científicas desde meados dos anos 1990, contendo resul-
processo decisório em determinados tipos de tados de suas pesquisas que traziam achados empíricos
sobre a elevada governabilidade, a alta taxa de disciplina
presidencialismo, garantida por aspectos ins- partidária e o processo de racionalização do processo le-
gislativo brasileiro.
titucionais até então não contemplados pelos
9
Sobre isso, Melo e Pereira (2013, p. 01-02) chegaram a
analistas de política comparada, como os re- declarar que “the association between multiparty presiden-
gimentos internos das Casas Legislativas, as- tialism and sustainable democracy is now beyond dispute
(...). (...) Chile and Brazil have emerged as the successful
segurava, simultaneamente, maior eficiência models for governance in the Latin American region. And
both countries are multiparty presidential democracies
administrativa e menor instabilidade política whose presidents are among the strongest in the region”.

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Paulo Peres, Gabriella Bezerra

Não cabe explorar aqui pontos contradi-


vernabilidade é apenas uma parte do processo
tórios e polêmicos desses argumentos, mas é im-
de governação em regimes democráticos. A de-
portante destacar que, no mínimo, é controversa
satenção em relação a esse ponto, em favor de
a alegação de que as interrupções dos mandatos
uma acentuada preocupação com a governabi-
lidade, teve como resultado um hiato empíri-
presidenciais são evidências de fortalecimento
co e uma contradição conceitual na literatura
da democracia participativa, por intermédio das
temática. Além das oposições parlamentares
pressões populares nos protestos de rua, cujo re-
não figurarem nas agendas de pesquisa dos
sultado é o afastamento dos chefes do Executivo.
especialistas como um objeto de investigação
Tampouco é isenta de controvérsias a alegação
de que o uso do impeachment como um instru-principal, sua potencial atuação de maneira
mais efetiva acabou sendo percebida, mesmo
mento de flexibilização da rigidez temporal do
que indiretamente, como um entrave ao bom
mandato presidencial para a solução de proble-
funcionamento do regime democrático. Isso
mas de governabilidade, mediante a remoção do
chefe do Executivo, seja um mecanismo seme-porque, como já salientado, sua capacidade de
vetar as políticas do Executivo veio a ser con-
lhante ao voto de desconfiança do parlamenta-
siderada nociva à governabilidade.
rismo. Em princípio, recorrer ao dispositivo do
impeachment como uma moção de desconfiança Destarte, as oposições partidárias acaba-
ram sendo percebidas como veto-players capa-
ao Presidente para removê-lo do cargo contribui
zes de produzir crises institucionais e, se deti-
para solapar as bases institucionais da forma de
verem poder excessivo, hábeis para produzir
governo presidencialista. Esta é uma observação
situações de “quebra” da democracia. A lógica
estritamente institucional, pois, além de nem
desse raciocínio assentou-se na concepção de
sempre resolver satisfatoriamente as crises polí-
que se o regime democrático dá poder à vonta-
ticas, que podem se prolongar ou até se aprofun-
de da maioria, e se o governo é uma coalizão
dar, o impeachment como moção de desconfian-
partidária que controla o Executivo e a maior
ça atribui ao Legislativo o poder de cassar um
mandato atribuído pelo voto popular. parcela das cadeiras do Legislativo, então, a
oposição ao governo deveria ser praticamente
Seja como for, o que é mais relevante
protocolar, pois, em caso contrário, constituir-
dessa discussão é que, por detrás de todo esse
-se-ia numa barreira interposta pela minoria
debate, e até das divergências entre os pesqui-
sadores, permanece um consenso bastante ní-ao governo. No caso de a oposição parlamentar
ser majoritária, o problema seria ainda mais
tido quanto àquela que é a maior preocupação
grave, uma vez que o governo ver-se-ia com-
de fundo: qual o desenho constitucional mais
indicado para a obtenção de governabilidadepletamente bloqueado no processo legislativo,
elevada? Nesse contexto, a governabilidade correndo o risco de até ser destituído em virtu- Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

mesma é identificada com a agenda do Poder de de processos de impeachment, ou outros ex-


pedientes previstos constitucionalmente para
Executivo, enquanto as oposições parlamenta-
res são percebidas como um entrave à imple-seu afastamento, como também já ressaltado.
mentação dessa agenda. Daí resulta a contradição, ou seja, ao
mesmo tempo em que a literatura adota a con-
cepção de democracia de Robert Dahl (1997),
CONTRADIÇÕES DA LITERATURA transparece nessas análises a noção de que a
COMPARADA EM RELAÇÃO ÀS oposição é um ator político secundário e pe-
OPOSIÇÕES rigoso, pois é um potencial obstáculo à con-
solidação do regime, ou, no mínimo, é capaz
Apesar de realmente ser indispensável de comprometer a sua qualidade. É como se a
ao bom funcionamento da democracia, a go- consolidação da democracia dependesse mais

11
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

diretamente da governabilidade por inter- de uma democracia é a tolerância às oposições.


médio do protagonismo do Executivo do que Não obstante, do ponto de vista de sua atuação
dos controles exercidos sobre o governo pelas efetiva, há uma disparidade quando conside-
oposições parlamentares – por isso, atribui-se ramos as arenas eleitoral e legislativa. Espera-
ao Poder Executivo um grau de importância -se que as oposições partidárias sejam bastante
muito maior do que à efetividade das oposi- eficazes na arena eleitoral, garantindo a ne-
ções no Legislativo. Em realidade, é como se cessária competição pelo governo. Todavia, na
as oposições se predispusessem a colocar ve- arena legislativa, as oposições partidárias de-
tos indesejáveis à agenda governista sempre vem ser protocolares. Isso quer dizer que elas
que tivessem a possibilidade de desempenhar devem cumprir sua função de propor alterna-
de maneira efetiva as suas funções; é como se tivas, de fazer denúncias e fiscalizar o gover-
governo fosse sinônimo de Poder Executivo e no, mas não é desejável que as oposições par-
seus projetos fossem a expressão imediata da lamentares se tornem eficazes enquanto atores
vontade popular majoritária. Haveria, assim, de veto à agenda do Executivo. Obviamente,
um trade-off democrático a ser manejado a fa- em casos assim, também não é desejável que a
vor do Executivo: para que o governo seja mais oposição parlamentar seja majoritária e coesa.
efetivo, a oposição deve ser menos efetiva. De fato, esse descompasso já está pre-
Dessa forma, podemos extrair desse de- sente na própria teoria de Dahl, que assevera
bate o seguinte posicionamento da literatura no que:
que diz respeito ao status que a oposição tem ou
quando regimes hegemônicos e oligarquias compe-
deve ter, de acordo com o regime. Em governos titivas se deslocam na direção de uma poliarquia,
autoritários, a oposição partidária ou inexiste eles aumentam as oportunidades de efetiva partici-
ou é controlada – quando o regime autoritário é pação e contestação e, portanto, o número de indiví-
bastante rígido e não tem qualquer pretensão de duos, grupos e interesses cujas preferências devem
exibir uma fachada democrática, os opositores ser levadas em consideração nas decisões políticas
(Dahl, 1997, p. 36).
não são admitidos em nenhum canal institucio-
nal de atuação; eles são combatidos em todas
Isso significa que, ainda de acordo com
as instâncias da vida social. Quando o regime
o autor,
autoritário é menos rígido – ou mesmo quan-
do é consideravelmente rígido e tenta parecer (...)quanto maior o conflito entre governo e oposi-
minimamente democrático ou sinalizar que se ção, mais provável é o esforço de cada parte para
negar uma efetiva oportunidade de participação à
trata de uma intervenção momentânea – algum
outra nas decisões políticas. Em outras palavras,
nível de oposição será permitido, inclusive se-
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

quanto maior o conflito entre o governo e seus opo-


rão disponibilizadas algumas arenas institucio- nentes, mais difícil se faz a tolerância de cada um
nais para a sua contraposição ao governo. Po- para com o outro (Idem, p.36).
rém, tratar-se-á de uma oposição controlada por
diversos expedientes, até mesmo pela manipu- Devido a isso, Dahl sugere que os custos
lação casuística das regras eleitorais e procedi- de eliminação da oposição devem ser maiores
mentais do Legislativo – o regime autoritário de do que os custos de sua tolerância, e que tais
1964 brasileiro é um exemplo disso. custos seriam impostos por algum dispositivo
Já no caso de regimes democráticos, po- da estrutura institucional democrática.
demos identificar uma posição contraditória da Não obstante, dois problemas permane-
literatura especializada mencionada há pouco. cem. Em primeiro lugar, o autor não dá aten-
Cerrando fileiras com os critérios propostos ção à necessidade de que a oposição também
por Dahl (1997), os analistas consideram que tolere o governo, algo que se tornou crucial na
um dos aspectos cruciais para a identificação América Latina depois da redemocratização,

12
Paulo Peres, Gabriella Bezerra

como ilustram os inúmeros casos de pedidos bilidade abriria espaço para crises e possíveis
de impeachment e de perdas de mandatos pre- golpes de Estado.
sidenciais. Em segundo lugar, o que é mais re- De acordo com essa perspectiva, a con-
levante para a presente discussão, Dahl (1997) solidação democrática dependia da capaci-
parece resguardar para a oposição partidária dade de o desenho constitucional incentivar
apenas o espaço para o exercício da contesta- a coordenação de partidos e indivíduos em
ção pública nos processos eleitorais, deixando torno de uma vontade majoritária intranspo-
a descoberto outra arena igualmente impor- nível, expressa por uma coalizão de governo
tante de atuação, a legislativa. Ao não salien- coesa (Shugart; Carey, 1992; Lijphart, 1992;
tar a necessidade de tolerância às oposições Linz; Stepan, 1993; Sartori, 1997; Mainwaring;
na arena parlamentar, e mais, a necessidade Shugart, 1997; Cheibub, 2006; Amorim Neto,
de que estas sejam efetivas no Legislativo, a 2006). Com esse enquadramento, tanto teórico
identificação dos regimes democráticos pelos como normativo, os sistemas presidencialistas
seus critérios considera apenas a existência de da América Latina foram escrutinados a fim de
competição partidária nas eleições, que devem se determinar o grau de descentralização dos
se caracterizar por ampla inclusão eleitoral. O seus arranjos federativos, dos seus sistemas
resultado disso, vale a pena reforçar, foi a des- eleitorais, das suas organizações partidárias e
preocupação com o estudo das oposições par- das relações entre os Poderes Executivo e Le-
tidárias parlamentares e com a sua efetividade. gislativo (Kitschelt et al., 2010; Amorim Neto,
Indubitavelmente, esse foi um desen- 2006; Haggopian; Mainwaring, 2005; Gibson,
volvimento inusitado para os estudos com- 2004; Morgenstern; Nacif, 2002; Coppedge,
parados dos regimes democráticos. Nos anos 1998; Mainwaring; Shugart, 1997; Mainwa-
1970 e 1980, quando o debate girava em torno ring; Scully, 1995; Linz; Valenzuela, 1994; Ste-
das transições dos regimes autoritários para a pan; Skach, 1993; Linz 1990a, 1990b, 1994).
democracia, os pesquisadores se mostraram No âmbito desse debate, era mesmo de
amplamente receptivos à atuação das oposi- se esperar que surgissem poucos estudos sobre
ções políticas, inclusive no Parlamento, como as oposições parlamentares. Até mais do que
é o caso do Brasil. A perspectiva predominante isso, era de se esperar que as oposições par-
naquela altura era a de que a tolerância às opo- lamentares fossem vistas com desconfianças.
sições seria um indicador de transição para a Agregue-se aqui, ainda, o fato de que, desde
democracia, e a própria democracia aprofun- há muito tempo, difundiu-se uma perspectiva
dar-se-ia à medida que as oposições, principal- bastante favorável ao parlamentarismo, cujas
mente as partidárias, lograssem êxito na con- principais qualidades sempre foram exaltadas
testação ao governo e na competição eleitoral, (Linz, 1990a, 1990b e 1994; Linz; Valenzuela, Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

resultando na rotatividade dos grupos políti- 1994a e 1994b; Stepan; Skach, 1993). Dentre
cos no poder. A partir dos anos 1990, porém, já elas, a principal seria a fusão institucional-
motivados pelo debate acerca da consolidação mente prevista entre Executivo e Legislativo
democrática e sua relação com os desenhos para a formação do governo e, com isso, a su-
constitucionais, os comparativistas mudaram posta existência de uma oposição não-disrup-
sensivelmente de perspectiva em relação às tiva. Agregue-se a isso, por fim, as dificulda-
oposições parlamentares. Desde então, estas des de os governos presidencialistas atingirem
foram percebidas como potencial ameaça à taxas mais elevadas de sobrevivência a longo
estabilidade política – nesse sentido, enquan- prazo (cf. Lijphart, 1992; Mainwaring, 1993;
to nas ditaduras a instabilidade seria positiva Stepan; Skach, 1993; Przeworski et al., 2000).10
porque representaria a possibilidade de supe- 10
Esses dados e essa conclusão são contestados por Chei-
ração desse regime, nas democracias, a insta- bub (2006). Para ele, a taxa de sobrevivência do presiden-

13
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

GOVERNABILIDADE E DEMOCRACIA sadores mais pessimistas subdividiram-se em


NA LITERATURA SOBRE O BRASIL dois grupos. O primeiro deles considerava que
o Poder Executivo manteve resíduos autoritá-
O debate sobre as condições constitucio- rios do regime ditatorial, pois o atual modelo
nais de obtenção de governabilidade, protago- constitucional o equipou com prerrogativas
nizado pelos analistas de política comparada, excessivas, como as medidas provisórias e o
chegou ao contexto brasileiro de duas manei- controle do orçamento (Geddes, 1991; Shugart;
ras. A primeira foi por meio das análises do pre- Carey 1992; O’Donnell,1992); assim, o Legislati-
sidencialismo na América Latina, nas quais o vo ver-se-ia na condição de um Poder submisso
Brasil muitas vezes estava incluso e costumava ao Executivo (cf. Foweraker, 1998). Já o segun-
ser identificado como o caso exemplar de uma do grupo defendia a posição de que, a despeito
péssima escolha constitucional – presidencia- dos poderes conferidos ao Presidente, o Legisla-
lismo com multipartidarismo e arranjo federa- tivo detêm prerrogativas constitucionais que o
tivo (Mainwaring, 1990, 1993; 1999; Abrúcio permitem controlar e limitar as ações do Chefe
1998; Ames, 2001). Com um dos arcabouços do Executivo, que muitas vezes enfrenta sérias
institucionais mais fragmentados da região, a dificuldades para aprovar sua agenda (Mainwa-
política brasileira abrigaria muitos atores com ring, 1990; Jones, 1995; Ames, 2001).
poder de veto e estaria sujeita a crises intermi- Para os filiados a esta última perspectiva,
tentes de governabilidade. A segunda maneira por ser tão poderoso, o Legislativo pode repre-
foi por intermédio do impacto que o debate des- sentar uma ameaça à governabilidade, espe-
sa literatura provocou na agenda de pesquisa de cialmente quando há multipartidarismo. Isso
cientistas políticos brasileiros a partir de mea- porque, em seus traços fundamentais, o dese-
dos dos anos 1990. Esse debate deu impulso aos nho institucional de 1988 reproduziu a mesma
estudos legislativos no país, cujos achados re- lógica fragmentadora do modelo de 1946 – fe-
verteram as afirmações da literatura comparati- deralismo, representação proporcional, multi-
va e trouxeram elementos para se pensar em ou- partidarismo e presidencialismo (Mainwaring,
tros termos o problema da governabilidade em 1993; 1995, 1997, 1999; Mainwaring; Pére-
regimes presidencialistas (Figueiredo; Limongi, z-Liñan, 1997; Abrúcio, 1998; Ames, 2001;
1999, 2000; Santos, 2003; Amorim Neto, 2006; Samuels, 2003). Ademais, esse arranjo geraria
Melo; Pereira, 2013).11 incentivos para a prevalência do personalismo
Com efeito, desde o surgimento dos es- eleitoral e a consequente falta de coesão par-
tudos legislativos no país, o debate sobre a de- tidária num cenário de elevada fragmentação
parlamentar, fatores que inviabilizam a cons-
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

mocracia brasileira se bifurcou, tendo como


parâmetro a dicotomia presidencialismo/parla- trução de maiorias legislativas para garantir
mentarismo (Miranda 2009, 2010; Cheibub et a governabilidade. Portanto, assim como no
al., 2004; Freitas, 2016). No centro do debate, período de 1946-64, a democracia atual esta-
uma disputa teórica e empírica sobre a viabili- ria propensa a crises de “paralisia decisória”
dade do nosso modelo. De uma parte, pesqui- (Santos, 1986).
cialismo é uma medida enviesada porque a instabilidade
De outra parte, pesquisadores de uma
desse regime não se deve propriamente ao seu desenho geração mais recente se mostram mais otimis-
institucional, mas sim à instabilidade política da América
Latina. Quando se compara os regimes, tem-se esse resul- tas e defenderam que o presidencialismo de co-
tado desfavorável à forma de governo presidencialista. In-
fere-se daí que regimes parlamentaristas seriam igualmen- alizão é capaz de assegurar uma taxa de gover-
te ou mais instáveis na região. nabilidade satisfatória e, assim, a estabilidade
11
Para uma análise crítica dessa literatura, ver Peres e institucional. De fato, essa literatura trouxe
Carvalho (2012) e Peres (2014). Para uma discussão mais
recente sobre a evolução das relações entre Executivo e Le- evidências de que o Presidente da República
gislativo no presidencialismo de coalizão brasileiro, con-
ferir: Santos e Perlin (2019), Dantas (2018), Freitas (2016). dispõe de diversos recursos para incentivar

14
Paulo Peres, Gabriella Bezerra

a colaboração dos partidos por meio de coa- empíricos de Figueiredo e Limongi (1999)
lizões estáveis e coesas (Abranches, 1988; Fi- daria início à agenda dos estudos legislativos
gueiredo; Limongi, 1999; Limongi; Figueiredo, revisionistas, considerada mais otimista em
2008; Santos, 2003; Inácio; Rennó, 2009; Melo; relação às perspectivas anteriores, inclusive,
Pereira, 2013).12 Tais trabalhos mostraram que do próprio formulador da expressão “presi-
duas dimensões institucionais favoreciam a dencialismo de coalizão”, o cientista político
centralização das decisões no Parlamento – os Sérgio Abranches. Para este, ainda no contexto
poderes legislativos do Presidente e as regras da produção da Carta Constitucional, o Brasil
do processo decisório na Câmara dos Depu- teria de enfrentar um dilema institucional, ca-
tados. Além dos instrumentos institucionais racterizado “(...) pela necessidade de se encon-
que permitem o controle da agenda legislativa trar um ordenamento institucional suficien-
e a interferência na tramitação de projetos, o temente eficiente para agregar e processar as
Executivo detém a prerrogativa de elaborar a pressões derivadas do quadro heterogêneo [do
peça orçamentária e de liberar emendas parla- país, em] bases mais sólidas para sua legitimi-
mentares ao orçamento, assim como inúmeros dade”. Um modelo que, continua o autor, “(...)
cargos para serem distribuídos aos aliados, in- o capacite a intervir de forma mais eficaz na
cluindo-se as pastas ministeriais. redução das disparidades e na integração da
Em linhas gerais, os autores colocaram ordem social” (Abranches, 1988, p. 7-8).
em relevo o que chamaram de bases institucio- Reconhecendo que o arranjo institucio-
nais do presidencialismo de coalizão brasileiro nal atual reflete a estruturação histórica bas-
(cf. Figueiredo; Limongi, 1999) – um modelo tante complexa e plural da sociedade brasilei-
que, para eles, contêm um sistema de incen- ra, Abranches (1988) defendeu a ideia de que
tivos capaz de fazer do Poder Executivo uma tentar impor a representação majoritária para a
força gravitacional irresistível, atraindo, as- alocação das cadeiras legislativas, a fim de se
sim, os partidos para sua base de apoio no Le- reduzir o número de partidos, seria uma artifi-
gislativo.13 O processo decisório, centralizado cialidade prejudicial que não resolveria o nosso
na Presidência da República e nas lideranças dilema institucional. Em sua perspectiva, nosso
partidárias, seria então alimentado com uma desenho constitucional foi a solução mais ade-
série de prerrogativas institucionais inovado- quada para se articular a pluralidade de inte-
ras trazidas pela Constituição de 1988, aliada à resses com as demandas sociais, expressas no
continuidade de dispositivos oriundos do pe- sistema multipartidário; ao mesmo tempo, po-
ríodo autoritário, nomeadamente, as medidas rém, isso significa que temos que produzir uma
provisórias. Somam-se a isso os dispositivos maioria governativa capaz de evitar a obstrução
dos regimentos internos da Câmara dos Depu- da agenda do governo pelas oposições parla- Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

tados e do Senado que auxiliam as lideranças mentares. O problema da formação de maioria,


partidárias na coordenação das suas respecti- por sua vez, agrava-se com a crescente fragmen-
vas bancadas. tação do sistema partidário, pois isso obriga o
Sem dúvida, a sequência de estudos Executivo a formar coalizões muito amplas,
inclusive acima da mínima maioria necessária
12
Para uma revisão crítica dessa literatura, consultar Paler- para aprovar os seus projetos. Isso ocorre por-
mo (2000) e Peres e Carvalho (2012).
que, segundo ele, as coalizões devem acomodar
13
Em texto posterior, Limongi (2006) voltou à discussão
do conceito de presidencialismo de coalizão, à luz dos não apenas os partidos, mas também grupos po-
estudos legislativos desenvolvidos a partir de meados
dos anos 1990. Mais recentemente, Figueiredo e Limongi líticos regionais suprapartidários.14
(2017) voltaram a esse debate para tentar explicar a crise
política brasileira que levou ao impeachment da presiden-
ta Dilma Rousseff, mantendo-se a validade teórica e prá- 14
Sobre a formação de maiorias acima do mínimo neces-
tica do modelo de governo denominado presidencialismo sário no Brasil e também nos outros países da América
de coalizão. Latina, ver Meireles (2016).

15
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

O problema mais grave dessa dinâmica governo e, assim, a estabilidade e a fidelidade


é que, além de se ampliar demais a diversida- da coalizão. Desse modo, as reivindicações de
de ideológica da coalizão, dificultando a im- Sérgio Abranches para a superação do que ele
plementação de uma agenda política coerente, chamou de “dilema institucional brasileiro”
a própria administração dessa aliança adquire, teriam sido atendidas na nova Carta Constitu-
cada vez mais, custos proibitivos, do mesmo cional. Até mais do que isso, os poderes agora
modo que a distribuição de cargos e recursos atribuídos ao Presidente asseguraram ao Exe-
sempre gerará insatisfações entre os parcei- cutivo a posição de preponderância em rela-
ros.15 Além disso, é provável que surja algu- ção ao Legislativo. Por consequência, a gover-
ma oposição parlamentar de dentro da própria nabilidade seria assegurada pelos incentivos
base partidária do governo (Hiroi, 2013). Por do arranjo institucional à cooperação entre o
isso, ao mesmo tempo em que as coalizões são Presidente e o Congresso.17
necessárias para expressar acordos e negocia- Certamente, desse debate saíram valio-
ções dos diversos interesses e demandas do sas contribuições. Os estudos legislativos bra-
país, elas são o comburente da explosão pre- sileiros, desenvolvidos a partir de meados dos
vista para o presidencialismo multipartidário. anos 1990, aportaram à agenda dessas pesqui-
Este é, portanto, o dilema institucional sas uma perspectiva mais empírica, análoga
brasileiro: precisamos de um sistema político à desenvolvida no contexto norte-americano.
fragmentado (presidencialismo multipartidá- Esses estudos, ademais, trouxeram importan-
rio), mas isso demanda coalizões de governo tes contribuições teóricas ao debate constitu-
(presidencialismo de coalizão) que, no geral, cionalista ao adotar uma abordagem neoinsti-
são instáveis.16 Rejeitando o parlamentarismo tucional que que demostrou que o presiden-
e o bipartidarismo como solução, Abranches cialismo e o parlamentarismo podem operar
(1988) conclui sua análise ressaltando que o de maneira semelhante em certos aspectos.
desafio consiste em dotar o presidencialismo Contribuíram, também, ao mostrar que o em-
de coalizão de mecanismos institucionais que bate político central não é simplesmente entre
favoreçam a regulação do conflito partidário o Executivo e o Legislativo, mas entre o gover-
dentro da base de apoio ao governo, com a fi- no e a oposição, uma vez que o governo abran-
nalidade de se evitar que ela se esgarce e atinja ge partidos que estão tanto no Executivo como
o Presidente, e, ao mesmo tempo, que possibi- no Legislativo. E, ainda, inovaram ao salientar
lite a regulação mais estável da diversidade de que não apenas o sistema eleitoral e a forma de
demandas sociais em relação ao governo. governo influenciam a governabilidade, mas
Figueiredo e Limongi (1999) acreditam também o grau de centralização do processo
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

que o atual desenho constitucional sanou es- legislativo estabelecido pelas regras internas
ses problemas. Eles enfatizaram justamen- do Congresso e pelos poderes legislativos atri-
te suas inovações no que se refere a dotar o buídos ao Presidente (cf. Power, 2009, 2010).18
presidencialismo brasileiro de determinados Entretanto, a polêmica envolvendo essa
mecanismos institucionais capazes de garan-
tir a coordenação dos partidos que apoiam o
17
“(...) o Poder Executivo, em virtude de seus poderes le-
gislativos, comanda o processo legislativo (...). (...) O re-
sultado é a atrofia do próprio Legislativo e a predominân-
cia do Executivo(...). Assim, a hipótese segundo a qual o
15
Para uma análise recente desses efeitos, ver Pereira Legislativo se constitui em obstáculo à ação do Executivo
(2016). não encontra apoio, quer se olhe para o quadro legal, quer
se olhe para a produção legal. (...) O Congresso se revela
16
“(...) é um sistema caracterizado pela instabilidade, de disposto a facilitar a tramitação das matérias presidenciais
alto risco (...)[a formação] mais provável é a grande coali- (...) (Figueiredo; Limongi, 1999, p. 41-42).
zão, que inclui maior número de parceiros e admite maior
diversidade ideológica. A probabilidade de instabilidade e 18
Isso não quer dizer que não haja críticas às premissas e
a complexidade das negociações são maiores. [E mais,] no conclusões dessa agenda de estudos legislativos do país,
presidencialismo, a instabilidade da coalizão pode atingir como, por exemplo as apontadas por Melo (2007), Reis
diretamente a Presidência” (Abranches, 1988, p. 27). (2007), Nunes (2011), Lucas e Samuels (2011).

16
Paulo Peres, Gabriella Bezerra

literatura sobre as novas democracias não mo- a assim chamada preponderância do Executi-
dificou aquele que sempre foi seu consenso vo, na verdade, é a preponderância da coalizão
básico, qual seja, a governabilidade é o bem de governo que se impõe não diante do Poder
maior a ser atingido e as oposições partidárias Legislativo, mas sim perante a oposição parla-
podem ser um obstáculo à consecução desse mentar no Legislativo.
objetivo. Para os críticos do modelo constitu- Percebidos dessa forma, os grupos polí-
cional brasileiro, o governo tem dificuldades ticos cruciais do jogo político-constitucional
para ultrapassar a oposição legislativa, o que são o governo, de um lado, resultado da so-
é negativo; para os revisionistas, a oposição breposição de partidos que ocupam o Execu-
parlamentar não consegue vetar o governo, o tivo com partidos que ocupam o Legislativo,
que é positivo. Para ambos, a governabilidade, e a oposição parlamentar, de outro, que ocu-
enquanto preponderância da coalizão de go- pa apenas o Legislativo e que não sela aliança
verno, é positiva e a efetividade da oposição com o Presidente. Desse modo, a dominância
parlamentar é negativa. do Executivo é, na verdade, a dominância do
governo frente à oposição legislativa. O Parla-
mento não é ameaçado quando o Presidente
CONCLUSÃO exerce controle sobre o processo legislativo,
pois há partidos nessa Casa representativa que
A constatação de que, intencionalmente agem em colaboração com o Executivo. O que
ou não, a literatura comparada sobre as novas está sob ameaça quando o Executivo e parce-
democracias, ao privilegiar a governabilidade, la do Legislativo têm poderes suficientes para
privilegiou o governo em detrimento das opo- sempre impor a sua agenda é a efetividade das
sições parlamentares põe em relevo a seguinte oposições parlamentares. Assim, a governabi-
questão: qual, afinal, é o espaço institucional lidade tão almejada pelos Presidentes e, como
previsto para a atuação efetiva das oposições vimos, pela literatura especializada, pode sig-
partidárias no Legislativo? Outra questão crucial nificar a anulação da oposição no Legislativo.
que emerge desse debate é esta: dado que a lógi- Em realidade, há dois paradoxos nessa
ca da governação envolve a interação competiti- relação intrincada entre democracia, governo e
va do governo com a oposição, faz sentido supor oposição. O primeiro envolve duas situações.
que a preponderância do governo significa a pre- Se forem muito efetivas, as oposições parlamen-
ponderância do Executivo diante do Legislativo? tares podem induzir o governo ao aumento da
Numa lógica governativa em que as co- coesão de sua coalizão para fazer frente às inves-
alizões são a tônica, tudo indica que não faz tidas oposicionistas. Nesse caso, a efetividade
sentido supor que a preponderância do Execu- da oposição resulta na sua posterior perda de Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

tivo seja uma ameaça à autonomia do Legis- efetividade. Por outro lado, se a efetividade da
lativo enquanto tal. Afinal, não há um Legis- oposição parlamentar sobrepujar a coalizão de
lativo compactado que age em uníssono em governo, corre-se o risco de um acuamento do
oposição ao governo, assim como não há um governo e de sua paralisia. Ou seja, a oposição,
Legislativo que se movimenta em bloco a favor nesse caso, não é uma força marginal no proces-
do governo ou que se curva completamente à so de decisão, mas um fator importante na de-
sua vontade. O presidencialismo de coalizão, terminação das negociações e dos resultados. O
assim como qualquer coalizão de governo em segundo paradoxo resulta da situação de baixa
regimes parlamentaristas, impõe uma dinâ- efetividade ou nenhuma efetividade da oposição
mica de confronto mais ou menos tenso entre parlamentar. Nesse caso, como considerar que
grupos partidários que ocupam o Executivo e há uma democracia de elevada qualidade quan-
o Legislativo simultaneamente. Dessa maneira, do o governo tem a oposição controlada e inerte?

17
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

Esse paradoxo, por consequência, en- BAGEHOT, W. The English Constitution. London:
Chapman and Hall, 1867.
volve a identificação do ponto ótimo da efe-
BEZERRA, G. Oposições parlamentares no Brasil: uma
tividade da oposição parlamentar vis-à-vis a análise dos incentivos institucionais e de suas práticas,
1995-2014. 2017.Tese (Doutorado em Ciência Política)
governabilidade. Se a governabilidade for ex- – Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da
cessiva, isso dar-se-á à custa da efetividade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
CARVALHO, N. R. E no Início eram as Bases: Geografia
oposição; se a efetividade oposicionista for de- Política do Voto e Comportamento Legislativo no Brasil.
masiada, isso comprometerá a efetividade do Rio de Janeiro: Revan, 2003.

governo. Não há dúvidas de que esse é um pa- CHEIBUB, J. Presidentialism, parliamentarism, and
democracy. Cambridge University Press, 2006.
radoxo de difícil resolução, mas, de qualquer
CHEIBUB, J. et. al. Government Coalitions and Legislative
modo, ele aponta para o fato de que se, por Success under Parliamentarism and Presidentialism.
British Journal of Political Science, n. 34, p. 565-587, 2004.
um lado, a oposição não faz parte do governo,
CHEIBUB, J.; LIMONGI, F. Democratic institutions
por outro, ela deve fazer parte da governação. and regime survival: Parliamentary and presidential
democracies reconsidered. Annual review of political
Ou seja, não é possível avaliar a democracia science, v. 5, n. 1, p. 151-179, 2002.
sem avaliar a atuação e a efetividade das opo- COPPEDGE, M. The dynamic diversity of Latin American
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foi desconsiderado pela literatura comparada DAHL, R. Poliarquia: participação e oposição. Edusp,
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que, de modo geral, negligenciou estudos mais DANTAS, H. (Org.) Governabilidade: Para Entender a
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Adenauer, 2018.
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de de se estabelecer essa agenda de pesquisa,
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21
PRESIDENCIALISMO, GOVERNABILIDADE E OPOSIÇÕES ...

PRESIDENTIALISM, GOVERNABILITY AND PRÉSIDENTIALISME, GOUVERNABILITÉ ET


PARLIAMENTARY OPPOSITIONS: a critical OPPOSITIONS PARLEMENTAIRES: une analyse
analysis of the comparative literature critique de la littérature comparée

Paulo Sérgio Peres Paulo Sérgio Peres


Gabriella Maria Lima Bezerra Gabriella Maria Lima Bezerra

Our proposal in this article is to analyze the debate Notre proposition dans cet article est d’analyser
on presidentialism, having as central the theme of le débat sur le présidentialisme, ayant comme
governability and its relation with the performance central le thème de la gouvernabilité et sa relation
of party oppositions in the legislative arena. We avec la performance des oppositions dans l’arène
argue that the concern with the consolidation of législative. Nous soutenons que le souci de la
recent democracies has led analysts to privilege consolidation des démocraties récentes a conduit
governance over the effectiveness of parliamentary les analystes à privilégier la gouvernance sur
opposition. In this way, the evolution of studies and l’efficacité de l’opposition parlementaire. De cette
debates about the most appropriate constitutional manière, l’évolution des études et des débats sur les
designs for democratic consolidation has resulted, conceptions constitutionnelles les plus appropriées
on the one hand, in the conception that, if pour la consolidation démocratique a abouti,
effective, parliamentary oppositions can harm d’une part, à l’idée que, si elles sont efficaces, les
the consolidation of new democracies and, on oppositions parlementaires peuvent nuire à la
the other, in a lack of empirical research on their consolidation des nouvelles démocraties et, d’autre
prerogatives and behavior. We defend the need to part, à une manque de recherche empirique sur
overcome this normative bias and the development leurs prérogatives et leurs comportements. Nous
of an investigation agenda on its strategic défendons la nécessité de surmonter ce biais
performance, after all, parliamentary oppositions normatif et le développement d’un programme
are indispensable actors in the democratic regime. d’enquête sur ses performances stratégiques, après
tout, les oppositions parlementaires sont des acteurs
indispensables du régime démocratique.

Keywords: Parliamentary oppositions. Presidentialism. Mots-Clès: Les oppositions parlementaires.


Governance. Executive and Legislative. Présidentialisme. La gouvernance. Exécutif et
législatif.

Paulo Peres – Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Professor adjunto do
Departamento de Ciência Política e pesquisador e professor permanente do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordenador do Núcleo de Estudos
sobre Partidos e Democracia - NEPD/UFRGS, desenvolvendo pesquisas na área de Ciência Política,
atuando principalmente nos seguintes temas: instituições políticas brasileiras, partidos e sistemas
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-22, e020034, 2020

partidários, teoria democrática e história, epistemologia e metodologia da Ciência Política. Publicações


recentes: PERES, P. S.; BEZERRA, G. Oposição Parlamentar: Conceito e Funções. Lua Nova: Revista de
Cultura e Política, v. 110, p. 247-298, 2020; CORREA, C.; PERES, P. S. Governabilidade e Comissões:
Três Gerações de Estudos Legislativos no Brasil. In: Dantas, Humberto. (Org.). Governabilidade: Para
Entender a Política Brasileira. 1ªed.Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer Stiftung, 2019, v. 1, p. 63-86;
LENINE, E.; MORSCHBACHER, M.; PERES, P. S. Methodological. International Political Science Review,
p. 019251211875559-689, 2018.
Gabriella Bezerra – Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE,
Integra o Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará –
LEPEM/UFC e o Núcleo de Estudos sobre Partidos e Democracia- NEPD/UFRGS, desenvolvendo pesquisas
na área de Ciência Política, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria democrática, instituições
políticas comparadas e estudos legislativos. Publicações recentes: PERES, Paulo S.; BEZERRA, Gabriella.
M. L. Oposição Parlamentar: Conceito E Funções. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, v. 110, p. 247-
298, 2020; LOPES, Monalisa S.; PAIVA, Graziella. M.; BEZERRA, Gabriella M. L. 2018, a batalha final?:
Lava Jato e Bolsonaro numa campanha anticorrupção e antissistema. CIVITAS: REVISTA DE CIÊNCIAS
SOCIAIS (no prelo), edição de dezembro de 2020.

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