Órfã de mãe escravizada, Negrinha estava só no mundo. Entregue aos deleites de
crueldade de dona Inácia. - Como alivia a gente uma roda de croques bem fincados - Dizia a dona da casa. A menina fora criada em um canto escura da sala aos pés da Senhora, era-lhe repreendida qualquer manifestação que fizesse a dona lembrar da sua existência. Um suspiro mais sonoro já motivava as judiações, beliscões, tapas, ovos ferventes goela abaixo. Certa vez o sofrimento cotidiano deu-lhe trégua. Bem quando as sobrinhas da Sinhá vieram passar férias na residência. Trouxeram consigo uma boneca. Negrinha não sabia que isso existia, assim como não sabia que podia sentir felicidade. Descobriu ali que também tinha alma. Com a partida das meninas, e também do brinquedo, Negrinha caiu em uma tristeza infinita, mal comia e por fim, morreu! Vala comum! A terra papou com indiferença sua carne de apenas trinta quilos mal pesados.