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OGUM

Ogum era o filho mais velho de Odùdùa, o fundador de Ifé. Era um


terrível guerreiro que lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Dessas expedições, ele trazia sempre um rico espólio e numerosos
escravos. Guerreou contra a cidade de Ará e a destruiu. Saqueou
devastou muitos outros estados. Apossou-se da cidade de Irê, matou o
rei e instalou seu filho no trono, retornando a Ifé, glorioso.

Ogum teria sido o mais energético dos filhos de Odùdùa e foi ele que se
tornou regente do reino de Ifé quando o pai ficou temporariamente cego.
Ogum decidiu, depois de anos ausente de Irê, voltar para visitar seu
filho. Infelizmente, as pessoas da cidade celebravam, no dia de sua
chegada, uma cerimônia em que os participantes não podiam falar sob
nenhum pretexto. Ogum tinha fome e sede; viu vários potes de vinho de
palma, mas ignorava que estavam vazios. Ninguém o havia saudado ou
respondido às suas perguntas. Ele não era reconhecido no local por ter
ficado ausente durante tanto tempo.

Ogum, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, por


ele considerado ofensivo. Começou a quebrar com golpes de sabre os
potes e, logo depois, sem poder se conter, passou a cortar as cabeças
das pessoas mais próximas; até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe
suas comidas prediletas; cabritos e feijão preto regado a azeite de
dendê e potes de vinho de palma. Enquanto saciava a sua fome e a sua
sede, os habitantes de Irê cantavam louvores em que não faltava a
menção a Ògúnjajá, o que lhe valeu o nome de ògunjá.

Tomado pela culpa, Ogum se torna Orisà

Vestiram Ogum com roupas novas, cantaram e dançaram para ele, mas
Ogum estava inconsolável, pois havia matado os habitantes de sua
cidade. Não se deu conta da cerimônia tão importante para todo o reino.
Ogum sentia que já não podia ser rei. Estava arrependido de sua
intolerância, envergonhado por tamanha precipitação, fustigou-se dia e
noite em autopunição.
Não tinha medida no seu tormento, nem havia possibilidade de
autocompaixão. Ogum então enfiou sua espada no chão; e num átimo
de segundo a terra se abriu e ele foi tragado solo abaixo. Ogum estava
no Orun, morada dos deuses. Não era mais humano, tornara-se um
Orisà.

Antes de desaparecer, entretanto, ele pronunciou algumas palavras. A


essas palavras, ditas durante uma batalha, Ogum aparece
imediatamente em socorro daquele que o evocou. Porém, elas não
devem ser usadas em outras circunstâncias, pois, se não encontrar
inimigos diante de si, é sobre o imprudente que o evocou sem
necessidade que Ogum se lançará em batalha.

Há um motivo em especial para iniciarmos nosso curso com esse itan:

Orisàs são divindades da religião yorubá representados pela natureza.


Dividem-se em dois grupos, os aborós (aborò) que são orisàs
masculinos, e as aiabás que são orisàs femininos (comumente se ouve:
borós ou iyabas). Foram enviados por Olodumarê para a criação do
mundo e após isso, ensinar e auxiliar a humanidade a viver no planeta.
Quase todos encarnaram como humanos e tiveram vida terrena, mas já
existiam anteriormente no Orun, e outros eram humanos que se
tornaram orisàs pelos seus feitos extraordinários e sabedoria durante a
vida, ou porque teriam nascido com poderes sobrenaturais e podiam
controlar a natureza, como raios, chuvas, rios, fogo, vento, árvores,
minérios e controle das condições humanas, como agricultura, pesca,
metalurgia, guerra, maternidade e saúde.


Ogum, na África Ocidental, significa Guerra; Senhor da metalurgia,
Ogum é um guerreiro conhecido por sua coragem e força; tem o
domínio sobre o ferro e o aço e todas as ferramentas feitas com esses
materiais. É associado a todo tipo de trabalho.

Ogum foi o primeiro orisà a chegar no Aiye (planeta Terra), por isso é
considerado o orisà que abre os caminhos.

Agora, vamos interpretar essa energia:

O que define inicialmente uma pessoa?

CARÁTER, metaforicamente, primeiro orisà


Caráter é a coerência entre o que você acredita ser o certo e suas
atitudes. Se não serve para você, não é aceitável para o outro, ou seja,
quando você não pratica, mas compactua com o que o outro faz,
demonstra o caráter do outro.

Como se forma o caráter de uma pessoa?

FORJA, metaforicamente, criando ferramentas para evolução


Ferramentas para formação do caráter implicam em mudanças de
hábitos.

Como aumentar essa energia?

TRABALHO, metaforicamente, utilizando as ferramentas criadas


Trabalhar essa energia é fundamental, por isso são associadas ao ferro;
quando não utilizadas, enferrujam, perdem o fio.

Como manter Ogum equilibrado dentro de você?

GUERRA, metaforicamente, guerrear interna e externamente contra


tudo e todos que possam desequilibrar o seu caráter.
Ser um guerreiro de Ogum significa lutar pelo que acredita e executa,
mas sem ferir o próximo, apenas protegendo o seu próprio caráter, e
assim, servindo de exemplo ao outro. Suas atitudes são o seu legado.

….

Interpretação do Itan

Ogum saqueia, mata, escraviza, enriquece e se torna um oba, rei de Irê.


Sua prepotência e intolerância, visto ser o senhor do ferro e do aço,
além de outros tantos títulos, não têm limites, até quando resolve voltar
onde acreditava ter sua família. Ignorando os motivos alheios, ao não
lhe atenderem as necessidades, simplesmente decide por eliminar os
que não estavam ao seu dispor.
Quando atingiu seu intuito, comer e beber, descobriu que atingiu suas
próprias raízes, enquanto estava cego pela arrogância.

- Uma pessoa sem caráter não tem limites para conquistar seus
desejos; passa por cima de qualquer um, independente da arma
que tenha que usar. Se apropria do que não é seu por direito, ou
seja usurpa, rouba, castiga sem nenhum remorso. O preço que
lhe será impingido, recai ́ sobre as próprias raízes.

Vestiram Ogum com roupas novas, cantaram, dançaram e festejaram o


seu nome.

- Não adianta procurar desculpas para a falta de caráter sua ou do


outro; mascarar a real intenção do ato, não alivia o peso da ação;
sempre há uma maneira digna de adquirir o que realmente
necessita.
Ogum ficou inconsolável, arrependido e envergonhado por sua atitude.
Fincou a espada na terra e foi tragado.

- Não existe como se desculpar de um erro, ele deve ser entendido


e enterrado. A morte é necessária para que se renasça. Somente
com atitudes propícias e de caráter, para poder ser merecedor da
energia pura.

OGUM É A ENERGIA QUE ABRE NOSSOS CAMINHOS RUMO À


EVOLUÇÃO, MAS PARA OBTÊ-LA É NECESSÁRIO FIRMEZA DE
CARÁTER.

OGUM É QUEM RESPONDE QUANDO NINGUÉM MAIS PARECE


NOS ESCUTAR

OGUM É QUEM QUEBRA DEMANDAS, PORQUE NINGUÉM TEM O


PODER DE DETERMINAR NOSSO DESTINO, SOMENTE NÓS
MESMOS

Evocação de Ogum

Antes de passar a evocação, devo lembrar que toda energia evocada,


agirá sobre o problema em questão, ou seja, cabe bem o ditado: quem
deve paga, quem merece recebe; então analise seu pedido antes de
fazê-lo.

Após termos entendido a energia Ogum, há duas possibilidades para


evocá-la:

. Pedir o nosso equilíbrio e consequentemente positivar esse odú

. Necessidade de proteção ou abertura de caminhos


A evocação pode ser feita de duas maneiras, através de um oriki, reza
cantada, ou de um adura, reza falada. Passarei a seguir, um adura de
Ogum, onde podemos fazer uma oferenda simples, que também estarei
passando, e deverá ser entregue num ponto de força (quando não se
tem a certeza do local, entregue em uma estrada).

. Asse um inhame grande (no sudeste conhecido como cará) e


descasque somente depois de assado.

. Espete 21 palitos de dente

. Coloque num alguidar ou sobre uma folha de mamona

. Leve uma vela e um pade de pinga para Esú, que será entregue antes

. Arrie numa estrada com uma vela branca ao lado e faça seu pedido

obs.: Lembrando que para a preparação de qualquer comida de Orisà, é


necessário estar vestido corretamente, além do corpo limpo (essas
informações poderão ser colhidas no grupo)

Adura

Ògùn laka aye


Osinmolè
Olomi nile fi ejè we
Olaso ni le
Fi imo bora
Laka aye
Mojú re
Ma je ki nri ija re
Iba Ògun
Iba re Olomi ni le fi ejè we
Feje we ejè ta sile ki ilero
Asè
Tradução:

Ogun poderoso do mundo


O próximo a Deus
Aquele que tem água em casa, mas prefere banho com sangue
Aquele que tem roupa em casa
Mas Prefere se cobrir de mariô
Poderoso do mundo
Eu o saúdo
Que eu não depare com sua ira
Eu o saúdo Ogun
Eu o saúdo, aquele que tem água em casa mas prefere o banho com
sangue
Que o sangue que caía no chão seja para que haja paz e tranquilidade

OUTROS ITANS DE ÒGÚN

Ògún dá aos homens o segredo do ferro

Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os Orisás e os seres humanos


trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam
usando frágeis instrumentos feitos de madeira ou pedra, por isso todo
trabalho exigia grande esforço.

Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa; era


necessário ́ plantar uma área maior.

Os Orisás então se reuniram para decidir como fariam para remover as


árvores do terreno e aumentar a área de lavoura.

Ossain, o Orisà das ervas e das plantas, foi o primeiro a dispor em


limpar o terreno, mas seu instrumento de corte era frágil e se quebrou; e
ele não foi bem sucedido.
Do mesmo modo, todos os outros Orisàs tentaram, um por um; e
fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.

Ògún, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então,
quando todos os outros tinham fracassado. Ele, então, pegou seu facão
de ferro, foi até a mata e rapidamente limpou o terreno.

Admirados, os Orisàs perguntaram de que material era feito aquele


facão tão resistente. Ògún respondeu que era de ferro, um segredo
recebido de Orunmilá.

Os Orisàs invejaram Ogum pelo benefício que o ferro trazia; não só à


agricultura, mas também à caça e até mesmo à guerra. Por muito
tempo, importunavam Ogun para revelar o segredo, mas ele o mantinha
só para si.

Os Orisàs decidiram então oferecer-lhe um reinado em troca de ele lhes


ensinasse tudo sobre aquele material tão resistente. Ogum aceitou a
proposta.

Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro;


e Ogum lhes deu o conhecimento da forja. Certo tempo depois, todo
caçador, guerreiro ou trabalhador da terra teve suas lanças, armas e
instrumentos de ferro.

Mas, apesar de Ogum ter cedido ao pedido dos Orisàs, antes de mais
nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou
muitos dias fora numa difícil temporada; quando voltou da mata, estava
sujo e maltrapilho.

Os Orisàs não gostaram de ver um líder naquele estado, eles o


desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou
com os Orisàs, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja,
eles o fizeram rei e agora dizem que não era mais digno de governar.
Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas,
pegou suas armas e partiu para um lugar distante chamado Irê;
construiu uma casa embaixo de uma árvore de acocô e lá permaneceu.

A casa marcada

Um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa,


ora noutra plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se
apoderavam de tudo o que ele construía.

Um dia esse homem foi a um babalaô, que o mandou fazer um ebó na


mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo
tanto barulho que Ogum, o dono da mata, foi ver o que estava
acontecendo.

O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus


pés, implorando perdão por invadir sua casa. Ofereceu-lhe todas as
coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e se satisfez com o ebó.

Depois conversou com o peregrino, que lhe contou porque estava


naquele lugar. Falou-lhe de todos os seus infortúnios.

Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro, mariwo, e as


colocasse nas portas das casas de todos os seus amigos, marcando
assim cada casa a ser respeitada. Assim o peregrino o fez.

Naquela noite, Ogum destruiu tudo na cidade de onde vinha o


peregrino, menos as casas protegidas pelo mariwo
Ejioko Meji e a origem de Ògún

Conta um antigo babalawô que se chamava Ojibeniji que Ogum,


querendo ter o poder de ser invencível nas batalhas e nas lutas, fez
uma oferenda para Ejiokô de dois galos de briga, duas adagas, dois
elos de ferro e dois inhames akará. Ofertou tudo em uma mata que
nenhum homem jamais havia penetrado. Nesse local havia um senhor
com roupas em farrapos e pediu a Ogum que lhe desse os akarás, pois
estava faminto e já fazia sete dias que ele não comia.

Ogum, gurerreiro louco dos músculos de aço - que tinha água em casa,
mas se lava com sangue - aquele que não tinha piedade nem de si
próprio - aquele que jamais poderia ser chamado em vão - pois eles se
volta contra o que o chamou - aquele que mta o ladrão e o proprietário
da coisa roubada, Ogum se sentiu penalizado perante o ebomi, pegou
os akará e deu ao pobre homem; entregou-lhe as adagas para que se
defendesse, pegou os elos e também os entregou dizendo para que em
quaslque momento que estivesse em perigo e sem defesa, batesse um
elo no outro chamando por ele, que mesmo estando em qualquer lugar
do mundo, viria para lhe socorre.

Esse senhor então se apresentou:

- Me chamo Ejiokô e foi a mim que vieste ofertar estas oferendas e


seu bom coração lhe tornou invencível na guerra e ninguém
poderá tirar sua vida a não ser você mesmo quando cansar de
viver no Ayê. Devolvo suas adagas e lhe presentearei com o Isá
de Ogm e terás o nome que seus filhos poderão le chamar: ÒGÚN
MEJI ALODÊ IRÊ (Senhor das sete partes de Irê) ou também
ÒGÚN MEGÊ (Guerreiro que na terra divide-se em sete).

- Em cada região conquistada, terás uma denominação, que com


opassar do tempo, se tornará um de seus nomes.

- Quando se armar para ir à guerra, lhe chamarão de IGBI MEJI


(aquele que nasce e se transforma em dois - referência de Ogum
e suas duas espadas). Quando for trabalhar na forja, lhe
chamarão de ALAGBEDE (O ferreiro).

- Quando for visitar seu pai, se vestirá de branco. Irá desarmado e


levará sua preferência gastronômica, o ajá e se sentará à mesa
para degustar de sua iguaria junto a seu pai e seus irmãos que lhe
chamarão de uma forma íntima, de OGUN JE AJÁ (Ogum que
come cachorro) e lhe saudaram com OGUN PATAKURI JESE
JESE (Ogum cabeça importante de todos os Orisàs)

- Quando for colher suas folhas junto com Ossain, lhe chamarão
OGUN ASO MARIWÔ (Ogum que veste mariwo).

- Quando conquistar reinos que não lhe pertence, usará um


capacete que se chamará AKORÔ (coroa de mariwo que somente
os descendentes de Ogm poderão usar).

- Estará sempre à frente das batalhas, dos caminhos, dos palácios


governamentais e palácios religiosos, Pois quando Ogum vai a
guerra, não usa escudo porque sabe que é imortal. Por esse
motivo, não se pode fazer feitiço para os filhos de Ogum.

- E os galos comeremos juntos, pois toda vez que ofertarem a


Ogum, terão que ofertar a Ejiokô também, porque Ogum e Ejiokô
passarão a ser um só corpo e uma só cabeça que lutarão juntos
nas guerras. Cada um representando uma espada (por isso Ogum
usa duas espadas) e não tocarão em nada de Ogum sem a
permissão de Ejiokô, senão serão sentenciados por Esù Olobè
(guardião das ferramentas de Ogum).

Mó dupé a todos
Iyalorisá Monica de Ògún

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