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Espécies Arbóreas Exóticas de Uso Múltiplo para o Semiárido Brasileiro
Espécies Arbóreas Exóticas de Uso Múltiplo para o Semiárido Brasileiro
Capítulo 7
Marcos Antonio Drumond
Jorge Ribaski
Iêdo Bezerra Sá
Clóvis Eduardo de Souza Nascimento
Viseldo Ribeiro de Oliveira
ESPÉCIES ARBÓREAS EXÓTICAS DE USO MÚLTIPLO...
Introdução
A região semiárida do Brasil está compreendida entre os paralelos 3º e 18º
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latitude sul e 35º e 46º longitude oeste, ocupando cerca de 900 mil km . A
precipitação média anual varia de 400 a 800 mm, concentrada nos meses de
fevereiro e março (GOLFARI; CASER, 1977). A temperatura média varia de 22
a 28ºC, com umidade relativa entre 50% e 70%. A insolação média é alta (2.800
horas.ano-1), com taxas de evaporação em torno de 2.000 mm.ano-1
(EMBRAPA, 1979). Os solos formam um verdadeiro mosaico, com
predominância dos Latossolos Vermelho-Amarelo e Luvissolos; são geralmente
rasos, chegando a apresentar afloramentos rochosos, de baixa capacidade de
retenção de água, com baixos teores de nutrientes e matéria orgânica. A
vegetação existente é uma formação arbóreo arbustiva, com pequena
diversidade de espécies arbóreas, denominada Caatinga, caracterizada pela
baixa capacidade para produção de madeira e forragem. Quanto à produção
madeireira, o volume médio encontrado varia de 7 m3.ha-1 a 58 m3.ha-1
(TAVARES et al., 1970; CARVALHO, 1971; LIMA et al., 1978), enquanto a
demanda por madeira é, em média, 6,7 m≥/ano.pessoa-1, consumidos ou
comercializados pela população rural (RIBASKI, 1986). Para a pecuária, a
capacidade de suporte da vegetação nativa é, em média, 17 ha para cada bovino
adulto (SALVIANO et al., 1982) e de 1 ha a 3 ha para unidade caprina
(GUIMARÃES FILHO; SOARES, 1988). Nos últimos anos, o Semiárido do
Nordeste brasileiro tem passado por um processo acelerado de degradação
ambiental e socioeconômica, especialmente pela escassez de água. Milhares de
hectares foram abandonados e excluídos do sistema produtivo, como resultado
da degradação. Outra consequência danosa deste processo é o aumento
dramático do desemprego na região, levando boa parte da população a viver em
condições de miséria.
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Desenvolvimento do Semiárido brasileiro - Contribuições da Embrapa Semiárido
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Caracterização do Semiárido brasileiro: fatores naturais e humanos
Tabela 1. Médias de altura, diâmetro - DAP (Diâmetro à Altura do Peito), volume de madeira,
incremento médio anual (IMA) e sobrevivência de algumas espécies arbóreas exóticas cultivadas
no município de Petrolina,PE.
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Sua ampla divulgação no Brasil se deu com uma reportagem sobre a espécie na
mídia televisiva nacional que coincidia com a comemoração dos dez anos da
Revista Globo Rural. Nesta ocasião, a Embrapa Semiárido doou grande
quantidade de sementes, que foram distribuídas em pequenas amostras,
juntamente com cada exemplar da edição comemorativa da Revista. Com isso, a
Embrapa Semiárido recebeu milhares de cartas de todas as partes do Brasil, de
pessoas solicitando mais informações e sementes para cultivar a espécie em suas
propriedades.
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a b
Fotos: Marcos Antonio Drumond.
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Foto: Marcos Antonio Drumond.
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3 -1
PE, e acima de 7 m /ha.ano para a variedade K67 na localidade de Mossoró,
RN. Como não houve um controle rigoroso sobre essas variedades, houve o
cruzamento entre elas e o material genético hoje existente é único, sem distinção
de variedade, onde apenas o manejo da espécie irá defini-la como madeireira ou
forrageira, especialmente.
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Vol.
Altura (m) DAP (cm) IMA (m3.ha-1)
Local (m3.ha-1)
28* 38* 48* 28* 38* 48* 48* 48*
DAP = Diâmetro à altura do peito; Vol. = volume cilíndrico; IMA = Incremento médio anual; * = meses
Fontes: Drumond et al. (1999); Drumond e Oliveira, (1998).
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No Semiárido sergipano, a gliricídia tem sido utilizada como fonte proteica para
suplementação de dietas a baixo custo para vacas leiteiras (Tabela 3). Apesar de
ser uma espécie de folhas decíduas no período seco, as podas podem alterar sua
fenologia, favorecendo o fornecimento de forragem durante todo o ano (Figura
6) (CARVALHO FILHO et al., 1997; DRUMOND; CARVALHO FILHO,
2005).
Foto: Marcos Antonio Drumond.
Como forrageira, sua folhagem é palatável e de alto valor proteico (Tabela 3),
podendo ser consumida por bovinos, ovinos, suínos, caprinos e aves
(CARVALHO FILHO et al., 1997), porém é considerada tóxica para os equinos
(SHERMAN, 1977), caninos (MORTON, 1981) e roedores (HAINES, 1961),
justificando-se um de seus nomes vulgares na América Central: “matarratón”.
Como cercas vivas (Figura 7), para sustentação de arames farpados, é uma das
espécies mais utilizadas nos trópicos, especialmente pelos pequenos produtores
rurais, podendo funcionar como árvore de sombra, amenizando as elevadas
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Figura 9. Frutificação da
algarobeira aos dois anos de idade
em Petrolina, PE.
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Tabela 5. Teor de proteína bruta (PB), digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e
tanino em folhas e vagens de Prosopis juliflora, em Petrolina, PE.
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Tabela 6. Localização geográfica e dados climáticos dos municípios onde foram testadas as
diferentes espécie e procedências de Eucalyptus.
Precipitação Temperatura
Latitude Longitude Altitude
Localidade média anual média anual
(S) (W) (m)
(mm) (ºC)
Caetité, BA 14º04’ 42º28’ 826 847 21,4
Contendas do Sincorá, BA 13º45’ 41º02’ 286 557 22,7
Brumado, BA 14º12’ 41º40’ 457 640 25,0
Euclides da Cunha, BA 10º30’ 40º01’ 523 724 23,6
Petrolina, PE 09º24’ 40º30’ 376 480 26,0
Trindade, PE 07º45' 40º16' 450 565 26,0
Souza, PB 06º45’ 38º13’ 220 784 27,0
Umbuzeiro, PB 07°41’ 35°39’ 541 658 26,4
Barbalha, CE 07º18’ 39º18’ 414 1.112 24,1
Pedro Avelino -RN 05º31’ 36º23’ 097 414 25,5
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Tabela 7. Espécies e procedências de Eucalyptus introduzidas pela Embrapa Semiárido, por meio
do programa Nacional de Pesquisa Florestal no Semiárido brasileiro.
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E. alba 12,2 6,3 4,0 6,8 2,7 3,6 - 1,9 3,6 2,4
E. camaldulensis 60.8 8,0 44,2 25,6 8,5 19,1 41,6 14,4 10,0 9,6
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Figura 13. Balanço hídrico de diferentes localidades do Semiárido brasileiro. Fonte: Golfari e
Caser (1977).
Segundo trabalho que vem sendo desenvolvido por Drumond et al. (2009), em
fase inicial de implantação de um sistema de integração Lavoura-Pecuária-
Floresta, na Chapada do Araripe, o plantio de híbridos de Eucalyptus para
produção de madeira para lenha, com o cultivo do feijão caupi nas entrelinhas
na fase inicial (Figura 14), favoreceu a redução dos custos de implantação do
empreendimento florestal, colhendo, aos 80 dias de implantação do ensaio, o
equivalente a 800 kg.ha-1 de feijão. Nesta mesma área, plantou-se o capim-
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Tabela 9. Volume de madeira do eucalipto antes da entrada dos animais (1990) e nos dois
períodos após a saída dos animais (1992-1993).
Volume de madeira (m3.ha-1)
Tratamento
1990 1992 1993
Área sem pastejo 47,2 a 59,6 a 65,1 a
Na mesma coluna, médias com letras iguais não diferem entre si (teste T; P<0,1).
Fonte: Ribaski et al. (1993).
Considerações finais
No Semiárido brasileiro, o comportamento silvicultural das espécies leucena,
algaroba e gliricídia, em áreas de sequeiro, tem-se mostrado bastante promissor,
principalmente quando são levados em consideração a densidade da madeira, o
rendimento gravimétrico de carbonização e os teores de carbono fixo e cinza
apresentados pela leucena e pela algarobeira.
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