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204 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitmrilo

marital por tempo de quatro meses, e deixou de o fazer daí por diante porque o tempo de seu degredo, e que estava para partir para a Bahia uma frota para nela
vigário da vara da dita vila o mandou separar da dita mulher por lhe chegar a se transportar à sua pátria, e pedia que lhe dessem licença. A Mesa lhe conccdeu
notícia de que ele confitente tinha ainda viva a sua primeira e legítima mulher, parecer positivo em 9 de fevereiro de 1751. Ignoro seu destino final.
e estafai a primeira notícia que teve de que não estava viúvo, como até ali en-
tendia, e que esta é toda a verdade das suas culpas de que está muito arrepen- Um bisneto de Diogo da Costa Tavares, Carlos Martins de Sousa, "pro-
dido, e pede a esta Mesa que com ele se use de misericórdia, certificando-a de vou" que era cristão-velho, em um processo de puritatis sanguinis no Juízo Ecle-
que as cometeu ignorantemente, e que por nenhum princípio se tornaria a casar siástico de São Paulo, em 1718. 379 Um bom exemplo que mostra que as investi-
senão se certificara de que estava viúvo por falecimento de sua primeira, e legí- gações nem sempre eram conduzidas com rigor e honestidade por parte das insti-
tima mulher. tuições.

Ouvida no inquérito que se formou, em 16 de agosto de 1743, na igreja


de Nossa Senhora da Penha, Rosa Leme do Prado, declarou ser natural e mora- 7) Família Rocha do Canto, de Santana de Parnaíba
dora do bairro da Penha, distrito da cidade de São Paulo, de 35 anos de idade, A família Rocha do Canto não fugiu à regra dos seus maiores, Por desti-
pouco mais ou menos. Disse que teve marital com José Vieira Tavares por tem- no, escolheu as terras das capitanias do Sul do Brasil, mais exatamente Santana
po de um ano, sem que tivessem filhos, e que ele "era meio aloucado, e costu- de Parnaíba, Desta pequena vila, acompanhando a evolução política e mercanti I.
mado a puxar facas para ela". E que ele lhe pedira licença para ir a Itu para bus- os membros dessa família, por décadas e décadas, participaram ativamente do
car sua legítima, de onde voltou sem ela, e que depois lhe pedira licença para ir desbravamento de seus sertões, alargando horizontes e fronteiras da nação portu-
para Minas Gerais a tratar de seu negócio pelo tempo de cinco anos, a que ela guesa na América. Mantiveram vivo o espírito português. Nessas andanças. car-
condescendeu, dando-a por escrito, feito pelo escrivão do vigário da Vara, e regaram os apelidos Rocha e Canto, espalhando-os, notadamente, pelos Estados
como não voltasse passados os cinco anos, tornou a impetrar nova licença, cha- de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina,380
mando-o para viver consigo, mas ele não quis. Confirmando que o casal não
A origem da família Rocha do Canto deu-se com o casamento, cerca de
vivia bem, do Colégio de São Paulo, em 22 de agosto de 1743, escreveu Belchior
1622, de André Gonçalves do Canto com Maria da Rocha, ele batizado na
Mendes que eles "nunca foram bem casados, que sempre viveram com rixas
freguesia de Estorãos (São Tomé), concelho de Fafe, no antigo concelho de
entre si".
Montelongo, comarca de Guimarães, distrito de Braga. 381 E ela, possivelmente
O curioso é que, na sessão de Genealogia, em 11 de julho de 1746, o réu natural da vila de Guimarães, o berço da nacionalidade lusitana.
.losé Vieira Tavares disse que se tinha em conta de cristão-velho. Se desmentido
Os primeiros Rochas do Canto estabeleceram-se no Brasil cm meados
f()sse, não teria mentido, pois não afirmou que era cristão-velho ... Sabia muito
do século XVII: eram os irmãos Antônio e Bartolomeu, filhos do casal tronco de
bem a doutrina cristã, sahia apenas ler e escrever, não tendo recebido ordens
Portugal. Outros mais, sobrinhos e sobrinhos netos, convidados pelos tios, f(1-
algumas. I~esidill na vila de Itll, sua pútria, e nas Minas no Arraial dos Prados, e
ram, ao longo daquele século e do XVIII, grassando o número de familiares que
de passagem tinha assistido nas terras que lhe licaram pelo caminho.
ficaram conhecidos como os Rochas do Canto, de Santana de: Parnaíhll, Entilo,
 Mesa, 1'l.'lInida L'Ill I H lk julho do mesmo ano, o condenou a ir ao auto Antônio e Bartolomeu, migraram de São Gens para Santana de Parnaíha, ali SL'
dc ré na limna L·ostulllada. L' nL'k ",'Ivisse sua sL'ntelll;a e que lizesse abjuração de casaram e faleceram. Mas, curiosamente, sem deixar registro de liliaç.lo, porqlll'
Ie:vi suspeito na li\ SL'r açoulado pl'l:lS ruas 1,,'lhlil'as na l'idade de Lisboa e degre-
dado para as gall-s por L'spaço (k l.'inL'o anos , Â ~;L'nIL'llI;a lili puhlicada no auto
público da Il: quI.' SI.' L'l'kbrou lla igreja do UlIlVt'nlo dt' S:lo Domingos da cidade
379
de Lisboa enl 1(1 de outubro dL' I 7411. L'stando 1lIl'SI'nll's I'I -Rei D . .loão V, o Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. I'rol'l'SSO 11" I I 111.1
Príncipe D, JOSl', os inl:llltes 1>. I'L'dro L' 1>. ÂllhlllHI, tIS senhmes inquisidores, 380
BOGACJOVAS, Marcelo Meira Amaral;,' I' ARIA, I~III .1.-1"'1111"" I "Ih" 1\1<-11''''''
mais ministros. L' Illllita nohrt'/.a L' povo, No dia sq,l,lIilltl' IIssinoll ábjuração de de. Cantos e Rochas, de Guiman;('.I', S"/I (;"/1.1' " SIIIII'/IIo/ ,I, ' 1',/11/0//1'01 I" Ih'l I~hl
Ie:vi e termo dL' sl.'grL'th I':In I t) dL' olltubro. Il'l'IIlIl til' 11111 " Ill'nitl-nál. Finalmen- da ASBRAP n,O21 , pp. 83-578 .
te, em 5 de li.'Vl'rL'iro dL' 1751, .lOSl' ViL'ira TIIVIIIl'~. ~HIII\'IIIIU ;\ ML'sa do Tribunal J~l
O concelho de Montelongo hú Illuilo l'sl!'! ,'\1111111 " tOIlI'~I'"I1IIo ' II,t , 1111'1 .. 1111 11 H'
do Santo Olkio que sofria lil- aSllla e padn'ill tlllllhl\1l1 tllI qtldll'a de ullla virilha, nos, ao atual concelho de Fare, que hOjl' nhllw,n, l'lllh' 0111'''. 1I~' lIt1V~'n~, 1111" I .1"
originadas no servit;o da gall', e IldtavlIlll 1I1ll'1l11l'i 1I11t1 IIlt'.'I'S pura eOlllpletar o r:los, de {)uinchães c de São (lens .
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Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitaçfl(J 207

os seus assentos de casamento não foram conservados. Antônio fez testamento, pos e Escolástica de Camargo e Oliveira, certificou em 29 de novembro de
que não foi acostado ao seu inventário e dele não há vestígio algum. Bartolomeu 1768: 385 '
tàleceu ab intestato. Nenhum filho ou neto de um migrante da família Rocha do
Canto seguiu carreira eclesiástica. Caso alguém o fizesse, teria que declarar, Por não ~~har nes~a freguesia pessoa alguma desinteressada, que com jU.I't(li-
forçosamente, nome e pátria dos pais e avós, para, nessas pátrias, serem inquiri- cada nO:ICla e razao de saber me informasse do parentesco declarado em 0,1'
das testemunhas sobre a qualidade do sangue dos mesmos. ba~hos juntos, e dos graus do mesmo parentesco, me informei com João de 01;-
velra e Sousa, Manuel de Oliveira e Sousa, homens casados, Maria da Ro('ha
Para dificultar ainda mais a identificação, ocorreram duas interpretações do ,Canto, e Isabel da Rocha do Canto, viúvas, porém todos parentes con.WI/-
equivocadas de Silva Leme, consagrado genealogista paulista. Ao tratar de Filipa gUl~eos .dos contraentes, e cada um deles em particular me disse que semp1'l'
de Camargo, mulher do Capitão Bartolomeu da Rocha do Canto, falecido em OUVIU dizer a seus pais, e avós, que o tronco desta sua geração foram Anc/1'I'
1685, Silva Leme entendeu que os herdeiros do marido dela eram filhos desse Gonçalves do Canto, e sua mulher Marta [sie] da Rocha, dafreguesia de St111
casaP82 Ao se proceder a uma leitura mais apurada do inventário, depositado no ~ens, que destes nasceram o Reverendo Padre João da Rocha do Canto, e Ma-
Arquivo Público do Estado de São Paulo, percebe-se, claramente, que foram na da Rocha do Canto, irmãos, que desta nasceu Isabel da Rocha do Canto.
desta Pedro da Rocha do Canto, deste João da Rocha de Oliveira, e deste a
declarados herdeiros da fazenda: a viúva Filipa de Camargo e Antônio da Rocha contraente Escolástica de Camargo, e que do dito Reverendo Padre Joiio da
do Canto, que assinou por si e pelos seus irmãos, na qualidade de procurador Rocha do Canto procedeu [a] Catarina Rodrigues [sie], e desta o contraent"
deles. Baltasar da Rocha Campos, e que por este princípio viviam todos os seus pa-
No mesmo inventário há um recibo, lavrado em São Paulo, em 25 de rentes na ~e:teza de que os tais contraentes estavam entre si no terceiro 1{rall d"
consanguzmdade com o quinto,
dezembro de 1685, assinado por Domingos de Castro, que elimina qualquer
dúvida:
Recebi do senhor Antônio da Rocha oito patacas, em dinheiro de contado que Sobre parte da 'família Canto ter fama de ser cristão-nova
me era a dever seu irmão Bartolomeu da Rocha. A prisão do Padre André do Canto de Almeida
o outro engano de Silva Leme deu-se quando, ao tratar do segundo ma- , Um homen:, pad,re, preso p~lo Tribunal do Santo Ofício da Inquisiçilo
rido de Ascença de Pinha Cortês, Capitão Antônio da Rocha do Canto, o velho ?e ~Isboa, na terceIra decada do seculo XVl1, no auge da intolerância contra
(irmão do Capitão Bartolomeu, acima citado), Silva Leme o fez filho de João Judatzantes, quando inquirido se era católico, respondia que não: que era ju-
Lopes de Oliveira e de Maria da Rocha do Canto, quando ele era irmão da citada deu!. .. Era o Padre André do Canto de Almeida,386 Foi, a partir desse aconteci-
Maria da Rocha. 383 O autor o confundiu um homônimo, seu sobrinho (o moço, mento, que a fama de que os Cantos eram judeus, se espalhou. Mas, corno se
marido de Sebastiana Rodrigues de Aguiar), filho dos citados João Lopes de depreende da documentação pesquisada, já havia a fama, que apenas começou a
Oliveira e de Maria da Rocha do Canto. Este Antônio da Rocha do Canto, o se esvanecer quando houve o fim da diferença entre cristãos-velhos e eristilos-
moço, segundo informou Pedro Taques, era irmão de Jerônimo da Rocha do novos, em 25 de maio de 1773, com o decreto real assinado por D. José.
Canto, o qual fez testamento em Santos, solteiro, em 3 de dezembro de 1696, Pa~semos ao estudo de caso do Padre André do Canto de Almeida. Prc.
dizendo-se filho de João Lopes de Oliveira e de Maria da Rocha do Canto, acima s~ em 7 deJunh~ ~e_1636 na.cidade de Coimbra, foi, no mesmo dia, enlrcgUl' aos
citados. 384 ~arceres da InqUlslça? de C.o~n:bra. Ape.sar de ser beneficiado de Silo (Il'ns, rq.!,i
Há um relato interessante, colhido pelo vigário de Santana de Parnaíba, ao q~~ s_e report.ava a InqUlslçao de COimbra, foi transferido rara o Trihllnal dll
Padre Manuel Mendes de Almeida, que, investigando se haveria impedimento InqUlslçao d~ LI~b~a, .em 25 do mesmo mês c ano. Isso porqlll' l'IlI 11111111111 dll
wnsanguíneo entre um casal contratado para se casar, Baltasar da Rocha Cam- Ilha da MadeIra, JUrIsdIção da Inquisição de I,isboa.

I ,I':ME, Luís Gonzaga da Silva. Op, cil. Vo!. I: ('alllaq,(os, p, IXO, IX ,

IK I
Arquivo da Cúria Metropolitana de sno 1'1111111 . 1',"1'1' __ " 11 '" I ,I "1-1 , 11 • .'11"" I
L!':MI':, Luís Gonzaga da Silva. Op. dI. Vo!. VIII: I'rl'los, p, I}"
IANI Torre do Tombo , Trihunal do SIIIlIII (1111'11 h"I"I.I,RII Ih. I l.hllOl "1111"00"
IH -I
I ,I ': M I':, Pedro Taques de Almeida Pais, 0/I di , Vo\. 11 : A IOllsos( iayas, p, 14.1, n," 1151\7,
20X Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobililUI(i\o

Seus primeiros acusadores foram dois parentes muito próximos: seu ir- cando-o primeiro com ele senhor Dom Prior, que o dito André do Canlo lod(/ (/
mão, o Padre Francisco Lopes do Canto e o primo e tio (por afinidade), Francis- dito sábado, e ao domingo de Pascoela que foram trinta dias do mês de IIIlIl'~'(/
co Ribeiro do Canto. À primeira vista, pode parecer estranho familiares tão pró- próximo passado, se confessou o dito André do Canto na igreja de Slio .I(}/:~('
ximos e chegados o acusarem. Estes fizeram, nada mais, nada menos, que o com o vigário dela, e de sua mão recebeu o Santíssimo Sacramento da ('011111-
nhão,
'jogo' da Inquisição. Eles tinham perfeito entendimento que se a Inquisição des-
cobrisse, por outras pessoas, a 'heresia' do Padre André do Canto, eles teriam E logo no dito domingo da Pascoela depois de jantar tendo bebido vinho 111m
que se explicar ao Tribunal o porquê de o terem acobertado. E não haveria de ser em muito pouca quantidade, na dita freguesia de São Jorge, em casa dll dilll
Ana do Canto, disse o dito André do Canto que tinha que falar com ele dO/I/I/-
fácil a explanação ... ciante, e com a dita sua mulher Maria Lopes Galvão, e apartando-se todos 11'(;,\'
Então, Francisco Lopes do Canto e Francisco Ribeiro do Canto, foram para uma eira da dita quinta, apartados de mais gente disse o dito padre AmJI"\
denunciar, de motu proprio, em 10 de abril de 1636 na vila de Guimarães, na do Canto que duvidava de sua salvação, e que não sabia se ia encaminhando,
casa do Priorado. Estavam aí presente o Prior D. Bernardo de Ataíde e, servindo ou errado, mas que lhe parecia que a Lei de Moisés era boa, e que nela havill
de escrivão, o Padre Simão de Almeida Barbosa, vigário de São Paio. de viver, e morrer, e chegando-se à conversação Bento Nogueira infanç'ão dl's-
ta vila parente por afinidade dele denunciante, e do dito André do Canlo, ('111
Acusaram o Padre André do Canto de Almeida de, apesar de ser cristão- presença do dito Bento Nogueira, dele denunciante, da dita Maria Lopes (ill/-
velho, seguir a Lei de Moisés. Interessante foi o relato de Francisco Ribeiro do vão, foi continuando o dito André do Canto com a dita prática declarando-sI' ('
Canto: na sexta-feira, depois da Páscoa, que se deu em 28 de março do ano ante- dizendo que queria morrer na Lei de Moisés. e nela esperava salvar-se, qlll' I'l'lI
rior, na freguesia de São Jorge de Riba de Selho, termo da vila de Guimarães, em a melhor, e repreendendo-o ele denunciante e as ditas pessoas, o dito And/'(; do
casa de Ana do Canto, cristã-velha, tia dele denunciante, viúva de Jorge Peixoto, Canto persistia em sua pertinácia, e dizendo-lhe ele denunciante porqll(, co-
infanção desta vila, ali, em presença da sua tia, do denunciante e de mais paren- mungara e se confessara, se tinha para si aquela erronia, o dito André do ('lIl/-
tes, declarou que não estava louco em crer na Lei de Moisés, que doido estava to respandeu que achava que diante de seus parentes e familiares tinha ohl'(l!.lI-
ção de dizer a verdade, mas que diante de estranhos que se calaria, e mO,I'lrario
quando cria na Santa Fé Católica. Segue alguns trechos do seu relato:
que era cristão no exterior, mas que no ânimo sempre havia de ser judell, ('
'" indignando-se todos contra o dito André do Canto, ele persistia em sua per- desde então até o presente permanece na mesma pertinácia, o que ele /es/{'II/II-
tinácia, dizendo que não sabiam o que diziam e que todos eram uns idiotas, e nha sabe pelo ouvir ao dito Antônio Ribeiro, e por ele denunciante () ver (' 0/11 'ir
'gritando a dita Ana do Canto que lhe deitassem fora de casa aquele homem, ele duas vezes que falou com o dito André do Canto depois de passarem () sohr('di-
denunciante, e o dito Frei Luís ajudados do dito Antônio Ribeiro do Canto seu to indo ele denunciante falar com o dito André do Canto em um aposento c/li c/i-
filho para que isso chamaram, o levaram em corpo e alma para a quinta dele ta quinta em que o tem fechado,
denunciante, [E] logo na mesma sexta-feira à noite, chamou o dito André do E declarou ele denunciante que falando com o dito André do Canto m/o .I'i'/('II/ ,
Canto a dita Maria Lopes Galvão mulher dele denunciante, e esteve chorando bra o lugar e tempo, mas sabe que foi desde a quarta-feira de treVi/S /11//'0 ní,
muito com ela, e a dita Maria Lopes Galvão disse a ele denunciante que o dito disse o dito André do Canto que havia mais de um ano que andm'lI COII/ ,',1'1('
André do Canto estava arrependido, e chamando ele denunciante ao dito André pensamento de crer na Lei de Moisés e que não achava quem o enSinll.l',I"', 11('11/
do Canto em presença da dita Maria Lopes Galvão sua mulher o dito André do quem o seguisse, e dizendo-lhe ele denunciante se queria ir pOI'll FllIlldl"'s (!1I1'
Canto chorou muitas lágrimas dizendo que o diabo o enganara, e que não sabia lá teria quem o ensinasse, respondeu o dito André que isso i/lle/'ill, (' I!III'},I,I!"
se lhe perdoaria Deus tão grande pecado como [era] o da heresia, e que estava ria muito de ir para lá e de achar quem lhe ensinasse a /.ei di' MO;'I'(:,I'
muito arrependido dando mostras e sinais de arrependimento, e ao sábado se- Disse mais que o dito André do Canto em todo ('.1'/(' le/lll''' IItlO ('0/11,' , ',// '/1,' .!,'
guinte se levantou o dito André do Canto muito cedo cousa que não costuma e porco, nem coelho, e dando-se-lhe uma pouca da o/'ell/('ir(/ ti" I, 'il.lo (/ I/,}" '/11/,1
botou aos pés dele denunciante chorando muitas lágrimas, e pedindo perdão do comer e tirou com ela à parede dizendo-lhe 11111' ntlo 111,' /"1"1.1.1"'/11111,111 ."/111/"
erro que cometera, e escândalo que lhe dera com mostras, e sinais de arrepen-
dimento , e a mesma diligência e satisfação teve o dito Andr'; do Canto com a Aliás, André do Canto já se achava prl'SIl l'lll 1.1 Ik IIhlll di' I (, Ih, I'I'III~
dita Maria Lopes Galvão sua tia mulher dele denunciante, (' (,Ollr' (/ dilll Ana do autoridades eclesiásticas da vila de (illimar:ks. 1-:111 ~1'~IIIIIII, 1'111 .", 1111 "II'~ IIIII
Canto, Maria Peixoto, e Frei Luís Peixoto, e 1I.\'.\'illl 111'1'11/0//("('('11 Imlo o dia do
mês, em casas do Priorado da vila de (illilllank'i, kl "I' "I!lUl'lIlllI ,,,,1111' li ~"II
.\'úhado, e ouviu missa o que dante.\' mio (/IIaia./ú::a, (' odoroll 00 SII//Iissimo
Sa('ramenlo com muila reverência, e 1'011/ IIIlIilo (1IIi('III~'do 1I,IS;slill t' /'('SI}(}//(lcl/
caso. Foram ouvidas testemunhas, qlll' l'lIl 'i 11 11 111111111 1',1Ih' , ' 111111 ~I'II~ 1""1' 1111" ,
aos exel'cicios III/i' o dilo Padre F,.!'i 1,IIis 1''';1010 /11,'/": 1'"'' ,'//1,'//,1..,. f'(J/lIlff1i- próximos. E que ele fora batizado COIIIO l'1I~1I1o, '1111' tn'lI. I'I\I~ \" 11\ ,',_ 1'111111 111"
tãos-velhos c, por essa razão, dcvcrillllll'slllllodoll 1111 IlIh'lIll'
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Ouvido em 28 de abril de 1636 na vila de Guimarães, em casas do Prio- diante de um crucifIXo, e outras imagens, lhes vira os rostos tristes e I!n/el//h'lI
rado, foi o seu sobrinho Antônio Ribeiro do Canto. Era cristão-velho, de 28 anos que lhe diziam não nos adores que somos de pau, e que olhando o di/o AlI/In:
de idade, morador na vila de Guimarães, em casa de Francisco Ribeiro do Canto, do Canto, e apalpando das ditas imagens, e vendo que eram de pau, se reso"'I'-
ra em ser judeu.
seu pai. Além de ratificar as declarações anteriores, lembrou-se em dizer que,
quando ele falou para o Padre André do Canto crer em Nosso Senhor Jesus Cris- Sobre a ressurreição de Cristo, André do Canto não acreditava porque
to, que era o verdadeiro Deus, André lhe respondeu que só o Deus de Israel era o ninguém o viu ressuscitar, e essas eram suas opiniões sobre religião:
verdadeiro Deus, e que Cristo estava nos infernos ardendo, e que era filho de
José e de uma mulher casada, Maria, que não era virgem. A testemunha disse Cristo fora um doudo, filho de uma mulher casada, e de seu marido um carpin-
ainda que André do Canto jejuava na Lei de Moisés, e que ... teiro, e tivera irmãos, e não fora virgem como estava profetizado que havia dI'
nascer o Messias de virgem, e que até os parentes de Cristo o tiveram por dOIl'
Estando ambos sós. a saber ele testemunha e o dito André do Canto. passeando do, e quiseram prender por tal, que andava por ali pregando sem saber la nem
na sala da dita casa em que está pintado um Cristo Crucificado e Nossa Senho- escrever, que em Jerusalém havia de haver homens letrados, e graves, que SI'
ra e fazendo zombaria disse a ele testemunha que para que estava ali aquilo Cristo fora Messias que o conhecessem por ele, e o seguissem, que nenhum o
que o queima.l·sem e pusessem no fogo; E dizendo-lhe ele testemunha que mais seguira, senão pescadores baixos e néscios, e se ele era Rei e Deus porque ha-
certo era ser ele André do Canto queimado, o que isso era o que buscaria; e di- via de morrer açoitado e crucificado, e como havia de ficar amaldiçoado o po-
zendo-lhe ele te.~temunha no mesmo dia e lugar a noite, se havia de dizer missa, vo bendito, em o qual se haviam de abençoar todas as nações, qual era o pOVII
o dito André do Canto respondeu que a diria exteriormente, e que se fosse para hebreu, e o dos gentios, que era amaldiçoado, ficara sendo errado, que m/li
a Ilha [da Madeira] havia de ensinar a dita Lei de Moisés a sua mãe e irmãs, cria nisto, e que como o doido que isto ensinava o acintaram em por se .fitzef'
porque tinha a obrigação de lhes procurar a salvação. Messias, e que fizeram muito bem ...
os padre; da Igreja eram errados, que alguns deviam de crer, e morrer na lei
Outra testemunha ouvida foi Ana do Canto, cristã-velha, viúva de Jorge de Moisés, pois foram grandes letrados, e deviam saber bem a verdade das pro-
Peixoto, já defunto, infanção da vila de Guimarães, e nela moradora nas suas fecias não cumpridas ...
casas da rua de Silo Paio, com mais de 70 anos de idade. Apesar de ouvir mal, Aos lugares da Escritura dizia, e ainda hoje o diz o dito André do Canto, que os
ela percebeu que André do Canto, seu sobrinho, estava falando palavras contra a não entendia, e que não sabia mais que crer a lei de Moisés por boa, e que /udll
Santa Fé Católica e .. , o que contra ele ia, era mentira; E querendo ele testemunha mostrar a vadmjl'
católica pela propagação da fé feita pelos Apóstolos de Cristo idiotas, (' pe,I'CII-
E com isso ('()ml'~'ou a I'hllrar I' a ~ri/ar, dizendo [ela]: mentes, cão, por muitas
dores, respondeu o dito André do Canto, que mais entendida era a lei de Ma/i)·
vezes, és cri,I'/clo-l'/'lI/11 ('.Iitze,I' de im/el/, c' IJ di/IJ André do Canto respondeu que
ma, o qual era irmão de Cristo, e tal um como o outro, e que tinha mais reis, ('
quem dizia o contrúrilJ I'f'II /1('.1'/11 (para André do Canto, bestas eram os que
mais monarcas que seguiam a Mafoma dos que eram os que seguiam ti Cris/II.,
acreditavam na ré calólica),
ao Deus de Israel me encomendo, que a esse Crucificado não, que eu m/o lfUI'/'IJ
E com isto come(OIl e/a /1',I'/I'lIIl/nl/1I Ih, nIJI'O o gri/or dizem/o, nós não temos ou-
senão ser judeu, e o mesmo sabe ele testemunha .... como 0,1' j1ldeus ('rcndll 1/11
tra causa senão nossu ,I'un/u/(: I'U/lílil'll, I' o ,\'11I1I;.I',I'/InU trindade, Padre, Filho,
Lei de Moisés se podiam fingir cristãos ... e que os presos que na /nlfllisi(t//J ,1'1'
e Espírito Santo, /re;s Pl',I',I'O(/'I' " lI/li ,l'lí /),'11,1', 1',/1,/,' tI" lIIilll/" casa cão que te
fingiam cristãos e confessavam suas culpas era por medo, e pelo lflll' /I/I'jit::illll/
não quero ver nela,
os ministros daquele tribunal, disse mais que só as pro/i'dal' 11'/"11 tllI ",I/'ri/II/'II
Mais detalhista e profundo nas queslões r~IijJ.!m;as li)! o depoimento do que as sabia, e entendia, e que nenhuma estava cumpridu ...
Frei Luís da Natividade, pregador e guardião do ( 'ollvclllo dl' S:)o Francisco da O Licenciado Francisco Nogueira do Canlo. abadl' til' SI)O lill).',o I k
vila de Guimarães, de 48 anos de idade. <)lIHndo II rl'lHk 1ll'lf',lIl1toU a André da Burgães, também parente próximo, fez um relalo curioso sohrl' 11 lll'r")IIIIIlllildl'
Cunha se havia cruz bastante no cárcere. esle lhe rl'spolHku: .1',' l'fI ,I'OU judeu do Padre André do Canto, em 6 de maio de I (116, na vila til' ('UI11ll1l11t' ..
para que hei de usar? Disse que aprendeu ti J.l'! dl' MOISl'S ('sludalldo na sua
banca em Coimbra, e que ninguém o persumlil'll. " 11"0 Sl'l dl' tknlro de si. E E que o dito André do Canto de Alml'itl" .~ !t011l"11I .t" /'0/1, " , '1/"" 1,/,,,/,, " ./,
prosseguiu a testemunha: limitado entendimento pouco di,I'/'III',I'/I'II, "/'I/.II/.}IIIIII" " '/"" II,U'" ./., 1".f.1 "
conversação, muito melancálico, " 1111., 1111111,,\ .tl./\ .'\',11'" ,'111 ,.1\" 1f'lI/ 1,11, /"
,., logo ao outro dia SI' .!úra (/0 ('0/11,,'11/0 .I,' ,\',11/'" ../1/1"1/10 .10.1 (J!il'llÍs, com ra, e tão limitado no disClir,l'IJ, 1/1/1' /'0//1 '1",tI'fl/l' ,1/ Mil 1111'11/0 '1"" "'" /I' I/I'/II1I1,{'"
tençiio de se jázcr .fi·ade, e lU/O (h'd,I/'oll o /"//If 'o ,. '1/, I. .' 'f/l" "/!lI< /0 -,1'1' (/ rezar lhe punha, o dito And/'(; do ('tll//O ,lI' • 'lI/ft,II,/\ ,/I'" .' ,/'/,. 1,//./,/ ti, /' \,//,/.,,, 11'"
212 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitaçiln 21 ,

opinião, e que de um ano a esta parte viu ele testemunha ao dito André do Can- novo enquanto dela lhe não consta com mais certeza, e ai não disse C' ao coslll-
to com notável diferença no olhar, mas que ele testemunha não viu nunca ao di- me nada.
to André do Canto ação al1{uma de doudo, posto que da diferença de olhar que
lhe viu, e também no andar. entendeu que o dito André do Canto tinha algum A Mesa do Santo Oficio da Inquisição de Coimbra, em sessão de 20 de
mal. maio de 1636, deliberou que, por ter o réu, Padre André do Canto de Almeida,
ter dito que cria e vivia na Lei de Moisés e ...
Para as outras testemunhas, ouvidas em maio de 1636 na vila de Guima-
rães, em geral, havia fama de os Cantos terem sangue cristão-novo. Alguns rela- ... que visto outrossim dizerem cinco testemunhas que se tiraram de genere q//('
taram que ouviram dizer que Pedro Gonçalves Cambada seria filho (ou neto) de o réu tinha parte da nação dos cristãos-novos, que como herege e apóstata dI'
nossa santa fé católica seja preso nos cárceres do Santo Oficio com sequestro
uma Brites Henriques, cristã-nova inteira, que seria de Vila do Conde. 387 Outras
de bens.. .
comentaram o fato de João Peixoto ter perdido a beca na Universidade de Coim-
bra por ser cristão-novo. Uma testemunha chegou a dizer que a cristã-novice do Já transferido para os cárceres de Lisboa, em 9 de agosto de 1636, na
Padre André do Canto seria por parte de sua avó paterna, Ana Fernandes. Vale a primeira sessão, a de Genealogia, não quis jurar pelos evangelhos, já que os
pena reproduzir, parcialmente, o depoimento de Torcato de Barros de Faria, tinha por nada e não queria seguir a seita de Cristo porque era maldita e. só que-
cristão-velho, infanção da vila de Guimarães, de 56 anos de idade. Não conhecia ria guardar a lei que Deus deu a seu servo Moisés e morrer por ela. Disse que
a André do Canto, nem a seu pai Jerônimo Pires do Canto, ... nunca ouvira falar que tivesse parte da nação hebreia, mas que folgaria ser todo
... mas que deles e de sua geração tem bastante notícia e que ele testemunha te- inteiro dela ...
ve sempre e viu ter ao dito Jerônimo Pires do Canto e a sua geração por cris- Essa afirmação de que ele não se considerava cristão-novo pode ter sido
tãos-velhos, limpos sem raça alguma de judeu, nem de outra seita dos nova- empregada para ,salvar a pele dos seus parentes. Ele se considerando judeu, po-
mente convertidos à fé, mas que de mais de vinte anos a esta parte vindo-se fa- rém sendo considerado cristão-velho, sua heresia passaria a ser vista como um
zer a esta vi/a umas inquirições do Licenciado João Peixoto Golias para uma
problema de foro íntimo e não de sangue. Dizer-se cristão-novo signific;~ria
beca do Colégio de São Paulo da Universidade de Coimbra, a que veio João de
Amaral Colegial do dito Colégio, se disse publicamente nesta terra, que então comprometer seriamente todos seus parentes. Aparentemente, parece ter sido
se averiguara, que o dito Licenciado João Peixoto tinha parte de cristão-novo uma maneira de isentá-los de problemas.
por parte de seu pai Jorge Peixoto o qual era descendente de um Gomes Gon- Finalmente, em 31 de dezembro de 1636, após ter jurado pelos Santos
çalves que foi tido havido por cristão-novo, do qual descendem alguns dos Go- Evangelhos, mostrou-se arrependido de suas culpas. Atribuiu culpa ao diaho.
lias desta vila, e que depois de feita esta inquirição, à instância do dito João Segundo os guardas dos cárceres da Inquisição de Lisboa, o Padre André do
Peixoto viera a esta vi/afazer-lhe segundas inquirições o Doutor Cid de Almei-
Canto teria melhorado depois de lhe darem uma purga e ter feito uma evacua-
da Colegial do dito Colégio; e então se averiguou segundo se dizia publicamen-
te que o dito João Peixoto além da sobredita raça tinha também parte de cris- ção ... Essas declarações foram levadas a sério pelo Tribuna\! .. Que aceitou que li
tão-novo por via de sua mãe Ana do Canto, que era prima co-irmã do dito Je- réu se arrependera e que voltara à fé cristã! ..
rônimo Pires do Canto, e que tinha a dita raça por via de Brites Henriques, que Como havia dúvidas se o réu era ou não cristão-novo, foram (citas novas
era avó, ou bisavó da dita Ana do Canto, e do dito Jerônimo Pires do Canto e inquirições, sobre a qualidade do seu sangue. Da parte materna, gente da Ilha da
Ana do Canto, da qual se dizia que era cristã-nova, e que de todo o sobredito Madeira, várias testemunhas disseram que ele teria sangue de cristão-novo, por
há pública voz e fama nesta terra, e assim o ouviu ele testemunha publ icamente
ter parentesco propínquo com Rodrigo Fidalgo, que '()i preso nos r:'IIH'I'l'S dll
a pessoas dignas de fé e crédito, e desde o dito tempo a esta parte ficou ele tes-
temunha com alguma dúvida na qualidade do dito Jerônimo Pires do Canto, e Inquisição de Lisboa.
nem se afirma ao ter por cristão-velho pela dita fama, nem o tem por cristão- Já 'curado' de ser judeu, escreveu dcll:sa a Sl'lI 1:lvor l'nl ., til' 11111110 dI'
1637, nos cárceres de Lisboa. Entre outros assllnlos akgoll o qlll' ~I'1l111'
Provará que em razão da nohn'::<I .I,' ,I','" .1.lIIglI,· "'''/'''' """,./"" " d. ' " '11 .' "
seus irmãos à Universidade {li, ('oi",""" ., "/'1'1'/1.1.'1 " • /.'1,. /" ,I,,, .\"'IJI"./.I\
lS 7
Não se encontraram provas documentais de Ilrill'S I h'Ill'lclll4'S ~l'I' III:k 011 avó de Cânones sustentando-o,l' como /lf'S.VII.,.V /111"". '1 , .. ", ,1/',"',/"\ )/'''/11\ . ' 1'/\" '/1./..
Pedro (,onçalves Cambado. Por essa nl/.ilo 11:\0 adotlllll'" l'~~:I 11).':1,':\0. hea , \:on- em casas principais com criados I{U,' /1.\ ,\, " 1'1"",
tlldo, a rclCrência.
214 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação 21'i

Provará que ele réu foi sempre retirado de conversações e muito dado ao estu- ... que também teve notícia do pai do dito Pedro Gonçalves ao qual chlltllllvatll
do, tanto que se fechava só em casa, sem ir visitar a pessoa alguma, e muitas João Gonçalves quefora morador nesta vila e casado com uma mulher (/111' di-
vezes vindo alguma a visitá-lo, deixava a visita com seu irmão e se recolhia. ziam ser natural de Vila do Conde ou de Azurara, cujo nome dizem ser /Jri/I'.I'
Provará que por respeito de ser retirado foi sempre entrado a melancolia e to- Henriques, a qual ele testemunha ouviu dizer ser cristã-nova sem declllra~'c7o
das as pessoas que o conheciam o tinham por melancólico. em que grau, e isto ouviu ele testemunha dizer geralmente depois que o dito
André do Canto foi preso pelo Santo Oficio, e aI não disse e aos costumes quI'
Provará que ele réu foi sempre muito odioso a gente da nação, até por ser cris-
ouviu ele testemunha dizer a sua mãe que era parente de Pedro Gonçalves fldll
tão-velho, como por não ter nenhuma comunicação com ela.
parte de seu pai João Gonçalves bisavô do dito André do Canto, mas mio slIhi'
o Tribunal do Santo Oficio da Inquisição de Lisboa solicitou mais in- em que grau.
formações sobre a limpeza de sangue do réu. Assim, em setembro de 1637, fo- Da inquirição feita na cidade do Funchal, Ilha da Madeira, sobre a qua-
ram ouvidas mais testemunhas na capela de São Pedro, da Colegiada da vila de lidade do sangue do réu André do Canto de Almeida, em agosto de 1637, resul-
Guimarães. De doze pessoas, dez disseram que tinham aos Cambados por cris- tou que a maioria das testemunhas entendia que ele teria sangue cristão-novo
tãos-novos. Uma não tinha notícia, e outra os tinha por cristãos-velhos. através de sua mãe Domingas Galvão. Os pais desta senhora eram Gonçalo Lo-
Não há dúvida de que a fama se espalhara... pes, o toucinheiro de alcunha, e Beatriz Gonçalves, a qual seria filha bastarda de
Dessa inquirição, é importante o depoimento de Pedro de Freitas Peixo- um cristão-novo chamado Rodrigo Fidalgo, o qual teve mulher e filhos presos
to, cristão-velho, infanção da vila de Guimarães e dela natural, morador na rua pelo Santo Oficio. Ou que a própria Domingas Galvão seria filha do citado Ro-
de Santiago, de mais ou menos 80 anos de idade. Sabia que André do Canto era drigo Fidalgo. A mãe do réu seria parente, também, de Pedro de Elvas e do PC/-
neto de ... peladas, dos quais se dizia serem cristãos-novos. Entretanto, ficou evidente, que
a fama de Domingas Galvão ser cristã-nova ganhou substância com a prisão de
... Pedro Gonçalves o Cambada, e de sua mulher Ana Fernandes e que era no- seu filho.
tório nesta vi/a que o dito Pedro Gonçalves era sapateiro e filho de uma mulher
que viera de Vila do Conde a qual era judia inteira, o que ele testemunha sabe A sentença do réu Padre André do Canto de Almeida foi publicada no
por ser natural desta terra e se criar entre as pessoas acima nomeadas, e que auto público da fé que se celebrou na Ribeira velha da cidade de Lisboa, em I I
~abe que em umas diligências que nesta vila se fizeram para uma beca de um de outubro de 1637, em presença do Ilustríssimo senhor Bispo Inquisidor Geral,
Colégio de Coimbra a que era opositor o Licenciado João Peixoto primo se- dos inquisidores do Conselho, inquisidores deputados, Cabido e muita gente do
gundo do dito André do Canto porquanto era filho de Jorge Peixoto e de Ana povo:
do Canto prima co-irmã de Jerônimo Pires do Canto pai do dito André do Can-
to, se provou nelas que o dito Licenciado João Peixoto era cristão-novo por Pareceu a todos os votos que ele réu deve ser capitulado por pessoa q//c 1,'11/
descender do dito Pedro Gonçalves Cambada, e disse que não conhecera a mãe parte da nação dos cristãos-novos, visto constar que ele é bisnelo dc I/rit, ',I'
do dito Pedro Gonçalves mas que se tinha por certo que se chamava Brites Henriques natural que diziam ser de Vila do Conde, que conjórme li maior, "
Henriques a qual viera de Vila do Conde tida e havida por cristã-nova inteira e melhor número de testemunhas era tida e imputada por cristã-nova. dll qual, '
aI não disse e aos costumes nada. de seu marido João Gonçalves [nasceu] Pedro Gonçalves de alc//l1hll (J (',//Ilha -
do, pai de Jerônimo Pires do Canto.
Outro depoimento que vale reproduzir, inclusive pelo fato de se dizer
provável parente e, mesmo assim, mostrar-se imparcial, é o de Manuel Antunes
dc Freitas, cristão-velho, infanção da vila de Guimarães e dela natural, morador
na rua das Flores, de 76 anos de idade. 388 Não conhecera a André do Canto, mas de Fiança e Obrigação de 22 de fevereiro de 15XCl «(.,,) Na 1~1I11 Ih- ""111" MIIIIII
conhecera a seu pai e a seu avô Pedro Gonçalves. E que ... nas Pousadas do tabelião apareceu Manuel Ânlllnl'S lilho ,h- 1\1111"1110 (11'"\111\'1'"
mercador e morador ao Salvador Arrahallk da vila !Ir (,IIIII""lk~ " til"'''' '1111' Mil
nuel da Cunha de Mesquita cavakiro lidalgo Ih,' l'III)lH'·.11I1II .1.- 111111" " 11111\11 ~~\~
senta mil reis em dinheiro os quais l'Ollfi:sSIIII 1,'1 I", ,'hlllll " .11" 11 '"11111 ~.' II 1111.1'11
c principal pagador a Francisço l{odrill.1II's 1111'11'11,101 " 11101111101 ti .,no 'Inl o 111' ~ltI
IHX
I': ra lilho de Antônio Gonçalves, men.:ador, nHlradllr ;\s ( ' ilSiI~ Nllvas d" Salvador
vila ( .. . ) testemunhas: Antônio (;OIl\'UI\ ,." pUI ,I .. ,Uh' ~I,IIIIII· I .\ 1I111111'~ .. 10(111
do ( 'ano, casado com Jsahcl (jonçalvcs (k h "'iIIlS , ÂIIIIII\'II 'Mlllli,'ipal Alli'cdo
(,ollt;alvcs altaiatc morador na Rua do ,~ ('111m til I IIhllltl.· ..
l'inlcnla (em (juimarãcs, Porlllgal) . NOlarial 11." .1(" 11.. I ',H\ :1 I ', ') , IlIslrlllllenlo
216 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nohilit,u,:l1n li'!

Apesar de ter praticado o judaísmo, a Mesa considerou que o réu se ar- Para concluir o episódio da prisão do Padre André do Canto de Almeidu.
rependera. Que ele, apesar de ter sido herege apóstata de nossa santa fé católica, e utilizando conhecimento adquirido da vivência de pesquisa em processos in-
estava em termos de ser recebido ao grêmio e união da santa madre igreja com quisitoriais, há alguns comentários a serem feitos. Em primeiro lugar, o Tribunal
cárcere e hábito penitenciai a arbítrio dos inquisidores e que fosse ao auto de fé e da Inquisição não perseguia um cristão-novo apenas pelo fato de ele ser cristí1o-

I
nele ouvisse sua sentença e que abjurasse seus heréticos erros em forma em que novo. Qualquer um, cristão-velho ou cristão-novo seria perseguido caso viesse li
incorrera em sentença de excomunhão maior e confiscação de todos seus bens ser acusado de ter cometido algum crime contra a fé católica. Sendo cristão-
para o Fisco e Câmara Real e nas mais penas em direito contra as semelhantes novo, aí sim, em geral, seria incriminado com mais rigor. Em segundo lugar. a
.~
estabelecidas, e que fosse absolvido da excomunhão maior e instruído nas cousas Inquisição, através dos seus tribunais, não se preocupava tanto em levantar a
da santa fé necessárias para salvação de sua alma; registrando que se lhe tiraria o ascendência total e completa de um denunciado. Não se pode imaginar que em
hábito penitenciai e ficaria recluso por três anos em um mosteiro qual parecer todo o tempo da Inquisição seus inquisidores e promotores eram néscios e par-
aos inquisidores e privado para sempre do exercício de suas ordens. vos. Não seria nada dificil fazer inquirições mais rígidas, com um levantamento
Pouco depois, em 27 de outubro de 1637, em Lisboa, tiraram-lhe o hábi- genealógico mais criterioso, para estabelecer se a pessoa era ou não cristã-nova.
to penitenciai e lhe mandaram que não saísse do Reino sem autorização da Mesa, Obviamente ainda estavam disponíveis as listas de fintas que cobravam taxas
nem trouxesse sobre sua pessoa ouro, nem prata, nem seda, e que não andasse exclusivas aos cristãos-novos.
em cavalgadura de sela. Em 2 de novembro seguinte o entregaram ao Superior Esse estudo de caso do Padre André do Canto de Almeida nos faz com-
do Convento de Almada, para que fosse instruído nas matérias da fé, com a in- preender bem como eram os bastidores da Inquisição. O que realmente interes-
formação de que não era para estar preso em uma cela e que poderia andar em sava era a voz pública sobre o sangue do denunciado, ou melhor, a fama. Entim.
todo o mosteiro livremente. Em uma petição não datada, André do Canto dizia a Inquisição preocupava-se mais com a fama do que com o fato em si. Poder-se-
que padecia de muitas necessidades, sem ajuda dos parentes. Pedia licença para ia entender que à Inquisição perdoava a quem havia pecado e mostrava arrepen-
ir fora do Reino e queria voltar a rezar missa. Chamado em audiência à Casa do dimento. Essa era a mensagem que queriam passar. Entretanto, a Inquisição era,
Despacho da Santa Inquisição, em 6 de novembro de 1638, na cidade de Lisboa, na prática e na sua essência, uma instituição hipócrita. O Tribunal entendeu ser
André do Canto ouviu que o Bispo Inquisidor Geral, D. Francisco de Castro, mais prudente aceitar que o Padre André do Canto de Almeida, apesar de consi-
usando com ele de misericórdia, o dispensou do tempo que lhe faltava cumprir e derá-lo cristão-novo e de ter praticado o judaísmo, se arrependera e voltara a ser
que fosse em paz para onde bem entendesse. Havia passado para a Espanha: de cristão.
Madrid, em 22 de dezembro de 1638, André do Canto rogava à Mesa da Santa
Inquisição que lhe restituíssem sua fazenda e dignidade perdida: ali estava com o
hábito de peregrino, por absoluta necessidade. Finalmente, em 20 de outubro de Primórdios da fama
1639, as irmãs de André do Canto pediram à Mesa que lhes passassem certidão Mas, mesmo antes da prisão do Padre André do Canto, em 1636. a fiulla
de como fora levantada a penitência e concedida licença para se ausentar do de os Cantos serem cristãos-novos, já era constante por volta de 161 n. Ao mc-
Reino. Era para facultar a entrada em alguma ordem religiosa. nos, os Cantos Cambados. Assim se verifica na habilitação ao Santo Olkio de
Nada mais se conhece da vida de André do Canto de Almeida. Pedro Peixoto da Silva. 389 Da parte que interessa a esse estudo, o hahilitando cra
filho de Francisco Peixoto e neto, por ele, de Jorge Peixoto e de sua Illulher Âlla
Não ficara tanto tempo preso, nem chegara a sofrer tormento na prisão.
do Canto, naturais e moradores da vila de Guimarães, já dcfillltos elll I (,.'iO,
Teve uma pena que pode ser considerada branda. Ou seja, comparando com
quando se iniciou o processo. Sobre a qualidade de sangue dL' Pl'dro Pei ,\lIlll dll
outros presos do Tribunal da Inquisição, não padeceu muito. O mesmo não se
Silva, ratificando o que escrevemos acima, no depoillll'nto (Il- Torl'lItll (li' 1\111111"
pode dizer do estrago que eausou à família. A fama de a família ser cristã-nova
de Faria, em 1636, assim se expressou o Dr. Pedro BarhllslI (k I 111111, 11\111111- dI'
atravessou gerações, em grande parte dos séeulos XVII c XVIII. l:omo veremos
Santiago de Oliveira, de mais ou menos 44 anos dl' idlllk, IIlIVIIIII 1\111' 11,1 (' 11111'
adiante. O que obrigava aos membros da família a apn:sl'ntarL'111 inquirições e
justilkações todas as vezes que eles se candidatavam 11 L'argos ou funções que
'exigiam sangue "puro". Por esse motivo. deixaram lillllúslil'a massa dOl:lllnental.
qUI: foi exaustivamente utilizada neste trahalho,
389
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do SlIlIlo C'111'10 111111111111\11 .. 110 ~IIIIIII
Pedro, mç. 38, di!. 668.
c."",.
218 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação 219

março e abril de 1650 na freguesia de São Salvador de Pena: que seu padrinho Inácio Machado de Miranda disse mais, que Jorge Peixoto era filho de
era irmão de Francisco Peixoto, pai do habilitando e que sabia que ... uma fulana Gomes (seria Maria ou Isabel), irmã de Rui Gomes, Antão Gomes,
Águeda Gomes, e de Isabel (ou Maria) Gomes, todos filhos de Gomes Gonçal-
... um irmão do dito Francisco Peixoto padrinho dele testemunha, perdeu uma
beca do Colégio de São Paulo, o defeito porque constara dos livros do dito Co- ves e de sua mulher Ana Anes, judeus vindos de Chassim e da vila de Isol, que
légio, porém também ouviu, e era público nesta vila, que as testemunhas que foram batizados em pé na vila de Guimarães. 39o Outra testemunha entendia que
contra ele juraram foram Jerônima de Freitas, e cuida que também ouviu dizer, os Cantos de São Gens eram descendentes de uma fulana Henriques, cristã-nova,
que jurara o marido da dita Jerônima de Freitas, que chamavam Salvador de Outra testemunha ouvida em agosto de 1650 na vila de Guimarães foi o Licenci-
Lemos, e Pedro de Freitas meirinho desta vila todos já defuntos, e também ou- ado Francisco Peixoto de Sá, morador nessa vila, no campo do Toural, de mais
viu dizer comumente a homens de sãs consciências, e aos pais dele testemunha ou menos 76 anos de idade. Do costume, disse ser da família dos Peixotos e que.
já defuntos, e a sua tia Francisca Barbosa mulher de muita idade que esta fama por essa parte, poderia ser parente do habilitando, mas não sabia em que grau.
fora levantada, de novo, pelas ditas testemunhas sobreditas, com que tinham Ele declarou que o pai do habilitando, Francisco Peixoto, e bem assim seu pai
capital inimizade, e tanto assim que ensinavam a um papagaio, que dissesse
(Jorge Peixoto) e sua mãe (Ana do Canto) estavam infamados de terem raça de
bebeca, perdeu a beca por viverem uns defronte dos outros, e que não obstante
a dita fama, ele os tem por cristãos-velhos e de limpa geração e sangue por as-
cristãos-novos. E que ...
sim o ouvir dizer a seus antepassados, e porque conheceu muito bem a Pedro ... essa fama se publicou desde o tempo que João Peixoto irmão do dito Fran-
de Freitas Peixoto porquanto tem uma irmã casada com um filho seu, o qual cisco Peixoto foi opositor ao Colégio Real de Coimbra por sua causa veio a es-
era homem de larga consciência, e de todo o homem dizia mal, sem fundamento ta vila um Colegial fulano de Amaral fazer inquirições de sua limpeza as quais
e consideração, e esta é a razão de seu testemunho. se disse publicamente irem com estas faltas e que ao depois por provisão que ()

Mais pessoas foram ouvidas, agora em maio de 1650 na vila de Guima- ,


rães, na capela de São Pedro da Real Colegiada. Apesar de confmnarem a fama
de serem cristãos-novos, não houve nenhuma informação mais consistente. Po- .190
Relato que não se verificou na documentação. Alão de Morais coloca Gomes
rém, em agosto de 1650, na vila de Guimarães, foi ouvida a testemunha Inácio Gonçalves a encabeçar um título próprio em sua obra, onde declara o seguin-
Machado de Miranda, morador nessa vila e dos da govemança, de mais ou me- te: «Gomes Gonçalves de Abreu, irmão de Fr .... de Abreu, Provincial da Trinda-
nos 55 aftos de idade. Disse que ... de, foi um cavaleiro muito honrado de Guimarães. Casou com Catarina Eane,\' do
Vale filha de João Afonso Golias e de Isabel Vasques do Vale» [MORAIS. Cris-
... desde menino da escola ouvira por vezes a Pedro de Freitas Peixoto seu pa- tóvão Alão de (1632-1693). Peda/ura Lusitana. Braga: Ed. Carvalhos de Basto,
drasto dele testemunha e a sua mãe que Jorge Peixoto pai de Francisco Peixoto 1997. 6 volumes. VoI. lI: Abreus, de Guimarães, p. 118]. Embora os Machados
tinha muita parte de cristão-novo e assim se lembra ele testemunha ouvir dizer de Miranda surgissem na contenda, denunciando os Golias, a geração há muito
isso a mais pessoas, e principalmente na ocasião em que querendo entrar no que se havia consorciado com a descendência de Gomes Gonçalves. Veja-se. por
Colégio de São Paulo João Peixoto irmão de Francisco Peixoto de que se trata exemplo, o casamento de Luísa Machado de Miranda com Antão Gomes (iolias,
veio a esta vila o Doutor João de Amaral Colegial que então era do dito Colé- filho de Gomes Gonçalves e de sua mulher Catarina Anes [do Vale). Estu eru Ii-
gio o qual lhe tirou inquirições, e não surtiu por elas o ef eito que pretendia, e lha, segundo Gaio, de filha de João Machado da Maia e de sua segllndullllllhcr
assim a seu requerimento, por se dizer serem inimigos os que haviam testemu- Inês Machado de Miranda, irmã inteira de Beatriz Machado de Mirundu cusmh,
nhado, se veio tirar segunda inquirição pelo Doutor Luís Pereira de Castro, com Antão Martins, pais de Inácio Machado de Miranda casudo COIll Muriu Bur-
Colegial que também era do dito Colégio o qual lhe fez segundas informações, bosa que por sua vez foram pais de Inês de Miranda. que teve de seu primeiro 11111-
e que geralmente se disse que foram ainda mais sujas que as primeiras, e ele rido Inácio Machado de Miranda, o depoente na inquiri,,11o. I(iÁIO, MIIIIII~'I .I0N~
testemunha sabe que o dito seu padrasto e sua mãe testemunharam nas ditas da Costa Felgueiras (1750-1831). Nobiliúrio dI' Fllmllla.v dI' I 'Or/IIM"I , II vlIl,,-
inquirições, e disseram a ele testemunha o que haviam testemunhado. murmu- mes, 2." ed. , 1989 a 1990. Braga: Ed. Carvulhos de Busto, Vol. VII: M,u. IIIUIIIN • .\
rando que o dito João Peixoto quisesse que jurassem falso sem ;~e porem em "'' 010.
N 22]. Após a viuvez, Inês de Miranda CIISOII-se CIIIl1 Iledro li" IIr" ti .. 11 11
semelhantes pretensões, e que isto passou há quarenta anos !,o//co mais ou me- igualmente depoente no processo do Pudrc Álllh'~ \10 l '1111111 \1" AIII"'I,III It IA\( I,
nos e que ele desde então até agora ele testemunha (J.I· tem I' rl'jJ/lIl/ por cris- Manuel José da Costa Felgueiras. Oh, dt, Vol. V: "'""tllI •• 7 N .), Na.. litr.m
t(ios-novos, e que por tais entende ele testemunha ,\'/111 1!dIl,I' ~ .. mjll/('n'(' nesta vi- apenas os Machados de Miranda a cIIIlNllrd .. rom·., 11\1111 'li' IInh. (11111•• , V.I"
la. também os Carvalhos, os Peixoto!!, 011 I-'lIrl •• 'UII V..IIId.". '.'lhtIMflItt ~llIlIlr.,
los matrimoniais com descendentell de (lo"'''. ","'Vai"..,
220 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação 221

dito João Peixoto irmão inteiro do dito Francisco Peixoto houve d'EI-Rei para em Braga, afirmando que eram inimigos do habilitando Pedro Peixoto da Silva e
se lhe tirarem novas informações veio a esta dita vila fazê-las o Doutor Cid de que, mesmo assim, fizeram inquirições sobre seu sangue.
Almeida e nestas segundas foi ele testemunha perguntado e sua mãe Beatriz
Lopes Peixoto já defunta e neles se lembra ele testemunha dizer o mesmo que Parece ter dado resultado a intervenção do citado Jerônimo da Rocha
agora, e logo pela terra se divulgou que as inquirições iam contra o dito João Freire. Pedro Peixoto da Silva acabou por ser aprovado, porque. assim constou
Peixoto que não entrou no dito Colégio. em outros processos, que a ele fazem menção.

Mais depoentes foram ouvidos em Guimarães. Uns afirmando que a fa-


mília de Pedro Peixoto era cristã-velha, outros que era cristã-nova. Para estes, Outros impedimentos da família
corroborando o que afirmou João Barroso Vieira, morador na vila de Guimarães, Outro membro da família Canto, Antônio Peixoto da Silva, ordenou-se
da govemança dela, de mais ou menos 67 anos de idade, que ... 391 padre no Reino de Galiza e, ao retomar para o concelho de Montelongo, foi acu-
Ana do Canto mãe do dito Francisco Peixoto a qual era tida e havida e geral- sado de ter apresentado ascendência falsa e, assim, ter conseguido sentença favo-
mente reputada por descendente de cristãos-novos com raça de judia pela parte rável. 393 Por esse motivo, em 1665, ele quis justificar que o parentesco com o
de sua mãe filha de André Gonçalves o cara rossa o qual foi tido e havido por Padre André do Canto é que dera origem à fama de que era cristão-novo, o qual
cristão-novo também pela parte de sua mãe dele André Gonçalves, e que isso se foi preso pelo Santo Ofício por ser doido e dizer blasfêmias, e não por ser judeu
fez mais notório com a prisão de um beneficiado de São Gens filho de Jerônimo por parte de seu pai. Novamente, queriam desviar a cristã-novice de André do
Pires morador na Ilha da Madeira primo co-irmão de Ana do Canto mãe do di- Canto para a linha madeirense ...
to Francisco Peixoto, porquanto Pedro Gonçalves Cambada e a mãe da dita
Ana do Canto foram irmãos inteiros e de Pedro Gonçalves Cambada nasceu Além dessa alegação, Antônio Peixoto reforçou que o impedimento era
Jerônimo Pires do Canto e deste nasceu o beneficiado que foi preso e sentenci- falso, levantado que fora pelo abade de Estorãos, Domingos Pereira, que induzi-
ado por herege no Santo Oficio, e que da irmã do dito Pedro Gonçalves Cam- ra testemunhas contra ele, e o qual era inimigo capital de André da Silva, tio
bada cujo nome não sabe nasceu Ana do Canto mãe do dito Francisco Peixoto. dele, irmão de sua mãe Maria da Silva, morador na freguesia de Santa Maria de
Ribeiros, ...
Não há conclusão da habilitação de Pedro Peixoto da Silva. Mas, curio-
samente, . apareceu em setembro de 1650, nos estaus e Casa do Despacho da Por um seu filho tomar a égua do dito abade, e lhe pôr uma tranca na boca com
'"
Santa Inquisição de Lisboa, sem ser chamado, Jerônimo da Rocha Freire 392 , as vergas atadas ao pescoço, e assim lha deixou no monte, e por vezes tiveram
arcediago de Vila Cova no Colegiado de Guimarães. Ele foi protestar contra os muitas dúvidas, e diferenças, e por isso o dito Abade quis impedir ao impedido
seu sobrinho, saindo-lhe com este falso impedimento.
comissários Cristóvão Ferraz, cônego em Guimarães, e João Moniz de Carvalho,
Os embargos de purga impetrados pelo Padre João da Rocha do Canto.
já mencionados na apresentação deste artigo, foram responsáveis por um grande
número de informações genealógicas, aqui exploradas à exaustão. 394 Apresenta-
391
Notar que as testemunhas, em geral, falavam o que tinham ouvido de outras pes- dos no ano de 1673, assim se manifestou o interessado:
soas. Era normal haver confusão com nomes e graus de parentesco.
392 Diz o Padre João da Rocha do Canto vigário ad mutum da igreja de Sanlll/JlII
Curioso notar que o Arcediago Jerônimo da Rocha Freire era, também ele,
de Gagos terra de Basto, que à sua notícia veio, que o Abade de S. Cleml'nfl' d~
descendente das gentes de nação, Era filho de João Freire da Rocha e de sua
Basto um dos padroeiros da dita Igreja lhe fez inquirição de generc, qUI' t',~'111/1/
mulher Ana Cardoso, moradores em Barcelos. Neto paterno de Belchior Freire e
mão de V Ilustríssima, e porque o dito Ahade é inimigo capital do ,l'/IfllI('l"'f~, F
de sua mulher Apolônia da Rocha. Neto materno de João de Saraiva, tendeiro em
Barcelos, pai do Mestre Escola Jerônimo de Saraiva e da supradita Ana Cardoso,
mulher de João Freire. João de Saraiva era filho de Jerônimo Saraiva, cristão-
novo, natural de Mesão Frio e de sua mulher Guimar Nunes, !ilha do afamado
mestre Tomás da Vitória, In GUERRA, Luiz José de: Bivur SUlIS" Leão Pimentel.
393
Arquivo Distrital de Braga. lnquiriçRo de }o:(,I/I'rI' . Processo n," 411, 41. Ânltlnlll
Um caderno de cristãos-novos. Lista dos judeus qllf' ,\'(1 hllflfl::llrwn ('m Barcelos e Peixoto.
das gerações que deles procedem; In Armas c: '['rotCua, I.iNhou: Instituto Portu-
guês de Heráldica, Série 2, I (1), 1959, § 3. pp. 2H~-21J(}, .
394
Arquivo Distrital de Braga, lnquiriçllll de JlC'/II '''C'. ProCC!lIIO n," 143l, d. J"," dI!
Rocha do Canto.
222 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitaçAo 223

com ele andou em demanda cinco anos sobre a pretensão da dita igreja, e trata vezes assim da confraria do Senhor, como de Nossa Senhora, e o dito Pedro
de expulsar dela ao suplicante, por cabe caber o tumo [sic] dela, e perguntou Gonçalves Cambada mandou fazer a ermida de São Roque no tempo da peste, ,
testemunhas do suplicante inimigas; e o suplicante quer purgar o impedimento. a dotou com medidas perpétuas para missas ...
E assim Maria do Canto foi irmã do dito Pedro Gonçalves Cambada avô paterno do
Pede a V. Ilustríssima lhe mande dar cópia do impedimento para formar os em- embargante, a qual teve por filho a Francisco Nogueira do Canto, que foi aha-
bargos de purga, e mande que o escrivão da câmara venha cobrar a inqu irição de de Burgães ... , o que não fora, se ele ou seu pai, foram cristãos-novos, antt!s
para isso. o dito Francisco Nogueira levou a dita igreja por concurso desta Mitra.
Espera Receber Mercê Vindo ao impedimento por parte do avô materno do embargante Franci"co
Martins Esquerdo, pai de Maria da Rocha, mãe do embargante, nenhum há da
Sucintamente, essa foi a defesa do Padre João da Rocha do Canto: nação hebreia, porquanto a dita Maria da Rocha era filha legítima do dito
Francisco Martins da Rocha o Esquerdo, e de sua mulher Leonor Álvares de
Opõem-se este defeito da pureza do sangue ao embargante assim por parte de Passos, que foram moradores no lugar de Selho da vila de Guimarães, e eram
seu avô paterno Pedro Gonçalves Cambada, como por parte de seu avô mater- cristãos-velhos sem haver fama, nem rumor em contrário ...
no Francisco Martins Esquerdo. As quais testemunhas são da vila de Guimarães naturais sem terem razão de
Porém por parte do dito avô paterno Pedro Gonçalves Cambada provará o em- saber bem a geração da mãe e avós maternos do impedido, e não os que moram
bargante ser filho legítimo de André Gonçalves do Canto, e de sua mulher Ma- na freguesia de São Gens de Montelongo, onde ela não nasceu, por serem es-
ria da Rocha, moradores na freguesia de São Gens de Montelongo, os quais tranhos ...
eram cristãos-velhos, e por tais tidos e havidos sem raça de judeu, ou mouro, Corrobora-se esta verdade, porque foram irmãs do dito Francisco Martins da
ou de outra infecta nação sem haver fama, nem rumor em contrário. Rocha Mência Rodrigues de Morgade, da qual nasceu Margarida Jorge de
Provará mais ser o embargante neto por via de seu pai do dito Pedro Gonçal- Morgade, e desta nasceu o Padre João de Faria da vila de Guimarães, e o Pa-
ves Cambada e de uma mulher Apolônia Álvares, solteira, dafreguesia de São dre Frei Roque pregador capucho de Santo Antônio, e seus sobrinhos filhos de
Tomé de Estorãos, que eram cristãos-velhos, e por tais conhecidos sem haver sua irmã Anastácia Ribeiro o Licenciado André Gomes Caveira, que foi para o
fama em contrário, nem rumor... ; e consta melhor do instrumento antigo feito Rio de Janeiro por vigário geral com o Prelado, e seu irmão o Padre Frei Ro-
no ano de 1616... que e outro seu irmão religioso de São Francisco Frei Bento, e outro capucho
f suposto algumas poucas testemunhas digam, que por parte da mãe do impe- Frei David. ..
dido havia fama, ou rumor de ser cristã-nova, contudo logo dão razão, que não Catarina Rodrigues era irmã do dito Francisco Martins Esquerdo, e dela nas-
sabem a origem disso, por ela vir de Guimarães, e as testemunhas serem de São ceu o Padre João Rodrigues de Morgade, sobrinho de Ana de Morgade, quefoi
Gens distantes da dita vila; e dizem outras que essa origem procedeu de a avó mãe do Padre Baltasar Soares da vila de Guimarães, e de seu irmão o Padre
do embargante se querer fazer parente de uns cristãos-novos, por os querer José Soares, que todos são cristãos-velhos inteiros sem haver fama, nem rumor
herdar, não sendo seus parentes ... , e a dita fama erafalsa. em contrário ...
Porém a mãe, e avó materna do impedido eram cristãs-velhas, como afirmam E por isso o dito Francisco Martins da Rocha avô do embargante .fói homem
as testemunhas de Guimarães, que as conheceram, e tem razão de o saber, co- nobre procurador e almotacel na vila de Guimarães, e irmão da casa da Santa
mo abaixo se mostrará. Misericórdia, e era muito devoto de São Francisco e Santo Antônio, e a}{tl.w-
Finalmente tanto era cristão-velho o avô do impedido Pedro Gonçalves Cam- lhava seus religiosos, e teve um sobrinho reitor de Sobradelo o Padre Halta.mr
bada, que seu filho legítimo o Licenciado Antônio Pires do Canto foi abade de Rodrigues de Morgade ... e por este modo se prova a pureza da ~('raç'17o ...
Donim, efoi beneficiado na igreja de São Bartolomeu de São Gens, e o renun- Resulta desta legítima prova a pureza do sangue do impedido"" {Joi,~ dc'la d,··
ciou em um seu sobrinho André de Almeida, que haverá 30 anos foi preso pelo põem tão copioso número de testemunhas liio anli}{as c/c' mais dI' ()(J-70-HO-VfJ·
Santo Oficio, mas por blasfemo, que por isso se lhe pôs uma mordaÇ"a na boca, e mais anos, que depõem com fimdamen/o, conheccndo tlll,~ {JIII,~, " t/l',b 1'11/""-
mas não por ser judeu ... , que deixou por herdeira e testamenteira a ("asa da nos, e maternos do impedido, e sendo militas II(',~,WII,~ "1I"rl',~, I' d~I'IJlII,V, ,w"",
Santa Misericórdia de Guimarães os legados pios, e {JerptltIlIJS, qlle se repartem exceção, e sem serem parentes do impc'tl/c/II, c' tI,u/""/,,,,,,,,
1I/'tII'lI /PJl"/ ti" 1'/'.'"
a pobres todos os anos nafreguesia de São Gens ... presente.
E também era irmão inteiro do dito abade, e.lllho "'}{/tlmo do dito Pedro Gon- Sendo certíssimo em direito que li 1'111'''%11 d" ,W"I/Jl/l" ,rI' /'f'f'''''
IHII' "'1I"HfHHI",,,,
"'alves Cambada Francisco Álvares do Canto, 1/1I1'/i'I "II","l'Íro/itla{~IJ, e capi- depoentes de pública voz, e fama .. ,
tiio-mor do concelho de Montelongo, tido c' hllV/d1l /lor ..,.is/c}II-velho, que deu
~randes ornamentos à confraria do Senhor d" ,\'(10 (/,'11.\'. linde Jái jlliz muilas
224 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação

Provará ter-se a sentença apensa dada a favor do Padre Antônio Peixoto da


Já na freguesia de São Martinho de Quinchães, em janeiro de 1674, foi
freguesia de São Tomé de Estorãos do concelho de Montelongo, que é primo
segundo do impedido por parte de seu pai André Gonçalves do Canto.
comentada a fama de o ramo materno do embargante, Padre João da Rocha ter
sangue ?~istão-novo, mas por ouvirem falar. O comissário fez por ignorar e~se8
o pedido do Padre João da Rocha do Canto foi atendido. Fez-se o tras- COmentárIOS, porque as testemunhas eram de outro lugar e por não haver funda-
lado dos depoimentos das testemunhas, mas, para se manterem anônimas, foram m~n:ação séria. Depuseram que o avô pa!erno, Pedro Gonçalves Cambado era
retirados os nomes e qualificações das mesmas. Em síntese, conheciam bem a cnstão-velho, e ele e seu filho Francisco Alvares do Canto fizeram a ermida de
sua família; seus pais já eram falecidos, moradores que foram na freguesia de São Roque, para ali enterrarem os corpos que estavam impedidos por causa da
395
São Gens. Que o Padre João da Rocha era cristão-novo por parte de seu avô peste. Que Francisco Álvares do Canto foi juiz da confraria do Senhor de Slo
paterno, Pedro Gonçalves Cambada, como também por parte de seu avô mater- Gens e lhe deu muitos ornamentos. Sobre a fama de a família da mãe do embar-
no, Francisco Martins da Rocha. E que, por parte de Pedro Gonçalves Cambado, gante, Maria da Rocha, ser cristã-nova, depreende-se o que segue:
houve um parente que foi preso por blasfemo haverá mais de 36 anos (tratava-se ... somente havia fama de que a dita Maria da Rocha tinha parte de cristã-nova
do nosso velho conhecido, o Padre André do Canto de Almeida). Uma das tes- por via de sua mãe queera de Guimarães mas por via de seu pai que chamou o
temunhas, incógnita, pelos motivos acima mencionados, disse o que segue sobre Esquerdo e era cristão-velho conforme ele testemunha ouviu, mas também disse
os esforços que Maria da Rocha fez para que seu filho João da Rocha do Canto a ele testemunha, o Beneficiado João do Vale Peixoto que a dita fama erafa/aa
fosse aprovado em ordens de missa: e que se levantara da dita mulher do Esquerdo se querer fazer parente de um
cristão-novo que veio de Vila Flor por o querer herdar e o mesmo disse a e/e
Maria da Rocha por saber que o dito Manuel Soares conhecera que ela era testemunha Antônio de Freitas do Amaral, da vila de Guimarães.
cristã-nova o fora buscar à sua casa e se pusera de que lher [sic] diante ele di-
zendo que pelas chagas de Deus lhe não impedisse cantar o seu filho missa no- Mas, a ,realidade seria outra, conforme o processo que o Santo Oficio
va e que por muitas vezes ouvira do dito folano que as testemunhas que juraram move~ contra um tal de Gaspar de Ceia. Este teria nascido cerca de 1551 na vila
na inquirição de genere do dito padre juraram falso por o dito padre ser cris-
d~ GUImarães, onde era morador e exercia o oficio de alfaiate, filho de Francisco
tão-novo por parte de seu avô paterno e avó materna e que no ano de cinquenta
Pires, ~ chanom, alfaiate, e de Marta de Ceia, neto matemo de Antônio de Ceia e
e sete sendo juiz folano se encontrara com folano e passara por ele uma irmã
,. do dito Padre João da Rocha por nome Maria da Rocha já defonta lhe chamara de GUIomar Zores, todos cristãos-novos. 396 Houvera sido preso, primeira vez, em
cachorra fazendo de m..... trassos [sic] com quem chamava por cadelinho. E' 21 de dezembro de 1575, saindo no auto de fé em 21 de outubro de 1576 na
querendo ele testemunha repreendê-lo respondeu o dito fulano que tinha causa Inquisição de Coimbra, por proposições heréticas. 397 Na segunda vez em qud foi
para isso porquanto lhe haviam de mandar injúria a respeito de que chamado o pres?, em 12 de novembro de 1623, por culpas de judaísmo, fez sessão de Gene-
dito folano sendo preso na dita audiência por um seu tio por nome Antônio alogia em 14 de agosto de 1624. 398 Já estava idoso e tendo ficado bastante tempo
Martins da Rocha irmão da mãe do dito padre a sobredita Maria da Rocha que
servia de alcaide diante o juiz de fora da vila de Guimarães muitas vezes judeu,
e fazendo ambos o dito juiz de fora das sobreditas palavras segu ira a causa da .195
Como se virá adiante, a ermida de São Roque teria sido concluída pela mulher de
prisão em que o puseram e no Porto alcançara sentença em seu favor que ne-
Pedro Gonçalves Cambado, Ana Fernandes. Pode-se, então, inferir, que () inicio
nhuma injúria lhe fIZera em lhe chamar cristão-novo e lhe pagara as custas dos
deu-se com ele e o término, após sua morte, pelo filho. Francisco Álvurcs do ('UII-
autos e dias de pessoa.
to, e pela sua mulher, Ana Fernandes.
A pedido do embargante, foram ouvidas testemunhas em janeiro de G.aspar de Ceia era tio de Catarina Álvares de Ceia, primeim mulher dc I )omllllloll
1674 na vila de Guimarães. Desta vez, de forma unânime, nada se falou sobre a SImões da ~unhal que foi capitão-mor da vila de Montelollll\l. IIllhlCCIINlII', 1111 ,'IH.
cristã-novice do Padre João da Rocha do Canto. Ao contrário, lembraram-se dos go, a FranCISco. ~Ivares, d? Canto. Os Ceius fllI.iulll purtc de 1111111 11II1'0rllm1Q 11
parentes já habilitados. Do avô materno, Francisco Martins da Rocha, que foi nhagem de ofiCIaiS mecamcos que se dcstllcllrIlm, Nohrdllllo, 1111 IIl1rlvoIUIfI .. ""1ft'
homem nobre, tendo servido de almotacel e de procurador da viía de Guimarães, Braga e Guimarães. O processo dos CciUN lili um WrIllldc IIcllIUlll ,llI MIII Ir.rl.'
d.l·llh"".... r",,,,••.
\97
irmão da Santa Casa de Misericórdia e de São Francisco. 4l1e serviu, por muitas IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do SUlllo Ol1dll. 11I\IIII.lyAII
so n.O780.
vezes, na confraria de Santo Antônio e, notadamentc, 4l1C scmpre se tratou à lei
da nobreza e era muito devoto dos religiosos. aos '1l1l1i!l ItlotllSlIlhava em sua casa. IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do SIIIlIII (111\1111, I"'ful.ly'n dt
so n." 3268.
t ·uh,,"".1'111\1'.'
226 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação 227

nos cárceres da Inquisição de Coimbra, ali faleceu, de morte natural, fazendo-se teava O beneficio da abadia de São Tiago de Burgães, quis mostrar que seu pai.
registro de sua morte, em 9 de junho de 1626. Tempos depois, em 20 de dezem- Vicente Nogueira do Canto, "era das melhores famílias que há na vila de Guima-
bro de 1636, de Coimbra, os inquisidores enviaram edital para o pároco da igreja rães", cristão-velho de limpo e puro sangue, e que tinha servido de juiz, vereador
da vila de Guimarães, de que os parentes e herdeiros do defunto se apresentas- e mais cargos nobres e honrados da vila de Guimarães. E enumerou os parentes
sem para defenderem sua memória, fama e fazenda. Mesmo morto, seu nome habilitados: Francisco Nogueira do Canto, irmão de seu pai, abade da Paroquial
saiu no auto de fé que se fez em 31 de outubro de 1638. igreja de São Tiago de Burgães, à qual foi admitido por abade dela como cristão-
velho e por diversas vezes serviu em inquirições do Santo Oficio. Que sua avó
E, entre os notificados, em 8 de janeiro de 1637, na vila de Guimarães,
paterna, Maria do Canto, era irmã inteira, de João Álvares do Canto, o qual pas-
além de filhos e netos de Gaspar de Ceia, também foram citados Leonor Álvares
sou à cidade do México, e fez provanças em Guimarães, haveria mais de 70
de Passos, viúva de Francisco Martins da Rocha, e seus filhos Antônio da Rocha,
anos, de que era de limpo e puro sangue. Que, por parte de sua avó paterna, Ma-
Helena da Rocha, Damásia da Rocha e Madalena da Rocha, todos solteiros, na
ria do Canto, eram parentes de Brás do Canto e de Manuel do Canto, os quais
Quinta da Moita, freguesia de Fermentões, onde morava Leonor Álvares. Foram
eram secretários do Santo Oficio da Inquisição de Coimbra. Eram também seus
notificados, também, outros filhos de Leonor Álvares: André Gonçalves do Can-
parentes: Dr. José Peixoto de Azevedo, Reverendo Gonçalo Peixoto da Silva,
to, por sua mulher Maria da Rocha (moradores em São Gens), João Martins por
cônego da Sé de Lisboa e desembargador eclesiástico, e o Familiar do Santo
sua mulher Ana de Morgade (moradores na freguesia de Fermentões, no Casal
Ofício Pedro Peixoto.
do Bairro), Pedro Martins da Rocha (na freguesia de Santa Marinha da Costa) e
Apolônia da Rocha, viúva de Jerônimo de Meira (na rua das Flores, vila de Quanto ao impedimento, aparentemente surgiu pelo parentesco próximo
Guimarães). com o Padre André do Canto de Almeida, e justifica o que segue:
Não foi declarado o parentesco de Leonor Álvares de Passos com Gas- Porque p Beneficiado André de Almeida que era filho de Jerônimo Pires do
par de Ceia. Os pais deste último moravam na rua das Flores, em Guimarães, a Canto que casou na llha da Madeira com uma mulher da mesma Ilha chamada
mesma onde a mãe de Leonor havia herdados umas casas. Mas fica evidente que, Maria Lopes Galvão foi preso por o Santo Oficio o foi por ser cismático ou as-
havendo parentesco com ele, cristão-novo pelos quatro costados, que Leonor sombrado, e fosse pelo que fosse ele por parte de seu pai, que era por cá tinha
parentesco com a dita Maria do Canto era cristão-velho...
também seria cristã-nova (inteira ou não).
Retomando ao processo de purga do Padre João da Rocha do Canto, Depois foi corrigido o nome da mãe do Padre André do Canto. As inqui-
uma testemunha, de nome Pedro do Bouxo (?), de mais ou menos 40 anos de rições promovidas na vila de Guimarães, apontavam, quase que com unanimida-
idade, morador no lugar de Paredes, freguesia de São Gens, disse que ... de. especialmente entre os mais velhos, que os Cantos eram cristãos-novos e a
justificativa era a prisão do Padre André do Canto. Uma delas, o Licenciado Luis
... ouvira dizer a sua mãe já defunta que seria de oitenta anos quando faleceu
neste ano passado falando a ele testemunha na geração dos Cambados que pa- I,cite Ferreira, foi além, ao se referir à avó paterna do justificante:
ra este concelho viera um homem que de alcunha lhe chamavam o chapéu par- ... Maria do Canto é dos Cantos Cambadas de Montelongo, e não dos Canto,\'
do o qual era mercador o qual teve dous filhos de uma mulher solteira e que um verdadeiros desta vila, os quais Cantos Cambadas são infamados de cristiio,\'-
deles fora para o Brasil e outro ficara neste concelho donde descendiam os novos.
Cambados o que ele testemunha também ouviu dizer ao comissário do Santo
Oficio Domingos Pereira abade de Estorãos e sempre foi fama constante neste A fama da família ser cristã-nova custou algum tempo de espera para D,
concelho que o avô do embargante Pedro Gonçalves Cambado tinha fama de Mariana de Fontoura Carneiro casar-se com o Familiar do Santo Ofício Dr, Ben-
cristão-novo por descender do mercador do chapéu pardo. lo da Silva Ramalho. Assaz interessante foi o relatório escrito de Mirandela. em

A fama dos Cantos Cambados fez com que o Padre Francisco de Sam-
1(1 dejunho de 1721, pelo Comissário Antônio Álvares Moreno, sobre o pai uu
Iloiva. João Machado de Magalhães, o qual era .. ,
paio Ribeiro fizesse embargos de purga, no ano de 1675. já que aparecera impe-
tlimento por parte de sua avó paterna Maria do Canto.W'I () hahililando. que plei-

de Samraio Ribeiro,
I\rquivo Distrital de Braga. Inquiriçllodc J.{c'fll'rt'. I'l"IIl'l'MNIIIl." J475. de Francisco
228 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação 229

... publicamente infamado de cristão-novo por ser descendente de uma Isabel Portugal. Alegava ainda que a fama poderia vir dos Meiras, já que um Jerônimo
Alvares do Canto, que veio aí casar à casa de Magalhães, a qual é de uns Can- de Meira foi casado com uma irmã do citado Pedro Martins da Rocha.
tos, ou Cantinhos da dita vila, que eram notoriamente infamados; razão porque
pretendendo Carlos de Magalhães irmão da dita D. Mariana ordenar-se em Foi indicado, ainda na defesa de Francisco da Rocha, que já no ano de
Braga lhe saíram as inquirições impedidas e porisso se embarcou e é certo es- 1616, André Gonçalves do Canto mostrara, através de testemunhas, que ele era
tão assim na câmara de Braga; e como este Tribunal seja tão reto como todos legítimo cristão-velho. E que eram filhos de Pedro Gonçalves Cambada, entre
veneramos não é justo que os oficiais dele encubram a verdade, ou deixem de outros: Antônio Pires do Canto, abade de Donim, beneficiado em São Gens, o
averiguá-la para que não se confundam as famílias, e aí nele o mesmo acolhi- Capitão-Mor Francisco Álvares do Canto, cavaleiro-fidalgo, e Maria do Canto,
mento os infamados, e por infamar, e assim parece deve Vossa Senhoria ser mãe de Francisco Nogueira do Canto, abade de Burgães e comissário do Santo
servido mandar juntar esta às ditas diligências e fazer averiguar, e purgar Ofício. Fez constar, ainda, inquirições a favor dos Meiras e dos Rochas.
aquela fama que poderá ser injusta, como são muitas naquela província; porém
o povo não se cala... A sequência do caso Francisco da Rocha e Sousa Lisboa resvalou no
Padre Manuel dos Reis da Costa Pego, ao se habilitar ao Santo Ofício. Os inqui-
A favor da noiva certificou o Dr. Francisco Carneiro de Fontoura, do sidores, em Mesa, em 22 de setembro de 1755, da cidade de Coimbra, entende-
Conselho Geral do Santo Oficio, em 30 de agosto de 1722: ram que deveria ser feita mercê ao habilitando, sendo considerado inteiro e legI-
timo cristão-velho, apesar de que ... 401
Vi segunda vez estas diligências e as que mandei juntar pelo meu despacho su-
pra [de 23 de julho de 1722] de Carlos de Magalhães irmão da habilitanda fei- ... por parte de seu avô paterno João da Rocha [padecia da fama de cristão-
tas pelo Ordinário de Braga, das quais consta estarem limpos sem que testemu- novo]; porquanto esta tal fama ...... se entende já extinta pela habilitação de
nha alguma nelas depusesse contra a limpeza de seu sangue, e que como tais Francisco da Rocha e Sousa Lisboa, que se acha familiar pela Inquisição dessa
foram aprovadas, como que se manifesta ser totalmente falso, o que se refere Corte, o,qual é irmão do pai do pretendente; efilho do mesmo avô João da Ro-
na carta, de que acima faço menção, pelo que aprovo a habilitanda para casar cha infamado.
com o dito Familiar, de que lhe fará aviso naforma do estilo.
Quando outro membro da família, Manuel Lourenço Salgado, habilitou-
Como se viu acima, uma das maneiras de a família livrar-se do incômo- se ao Santo Ofício, para se tomar familiar, surgiram impedimentos sobre a qua-
do de ser nomeada cristã-nova, era atribuir como causa para a fama um contrapa- lidade de seu sangue. 402 Apesar disso, recebeu carta de familiar em 18 de agosto
rentesco com famílias infamadas. Desta mesma maneira, quando se habilitou ao de 1761. Esse processo conserva uma notável tábua genealógica, partindo de
Santo Oficio o mercador Francisco da Rocha e Sousa Lisboa, ele quis mostrar Álvaro Pires do Canto (ou Álvaro Anes do Canto), filho de Fernão Anes do Can-
que o sangue dos Cantos não o ofendia, uma vez que a consanguinidade era por to. Essa tábua baseava-se, em parte, na obra genealógica de Torcato de Freitas,
afinidade. 40o Ele se referia ao Padre João da Rocha do Canto, que estava infama- conforme se verifica no processo. 403 Deve-se salientar que não seguimos rigoro-
do de ser cristão-novo pelos Cantos, não pelos Rochas, uma vez que a mãe do samente a descendência ali descrita, preferindo documentos coevos. Porém, do
citado padre era irmã inteira de Pedro Martins da Rocha, bisavô do pretendente. referido processo constou a seguinte nota, autoexplicativa:
Para obter a aprovação da Mesa do Santo Ofício da Inquisição de Lis-
boa, Francisco da Rocha mostrou que, por parte dos Rochas, tinha muitos paren-
tes habilitados, como foram: o Beneficiado Luís Antônio da Costa Pego de Bar-
bosa, sacerdote, assistente na cidade de Lisboa, onde é oficial da Secretaria das
401
Mercês, e tem o hábito da Ordem de Cristo, Manuel dos Reis da Costa Pego, IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Hahilitu~ílo no Snnto ()fldll,
cônego cura na Real Colegiada de Nossa Senhora de Oliveira da vila dc Guima- Manuel, mç. 172, di\. 1823.
rães, Frei José de São Bernardo Rosa, religioso de São Francisco da Província de 402
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. IllIhilitll~RII 1111 SlIntll (lIklll,
Manuel, mç. 182, di\. 1936.
403
Cremos que se referia ao Padre Torcuto Peixoto de Al.eVellll, 11111111' "li
1IIIIIIIIhlllA
rio, com volumes perdidos e outros dispCfllIIN (1.'111 ~·hh"I". ~'1I11I11 1'111111 , (111 I111M
400
lAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Of1cio. IIl1hilitll\,Ro 110 SlInto Ofício. rães), e também de Memórias re.\"VII.~d,(/(I(/,Y ,I" ''''''M/I UI/Im/lI"'''''. IIlIm",,!,'11I1 ~I.
Francisco, mç. 84, di!. 1444. 1692.
230 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitaçi111 2.\1

Toda a ascendência desta árvore se verifica das inquirições de José Peixoto de filhos do dito quarto avô até o sobredito ano de 1734 claramente se vé I('r havI-
Azevedo, das do Padre Custódio Rodrigues, dafreguesia de São Pedro do Bair- do sempre na sua descendência muitas habilitações, não só as referidas 111'10
ro, das do Padre Francisco de Magalhães Machado dafreguesia de São Miguel Ordinário; e Legacia, mas também pela congregação de São João Evangt'lMII
de Taíde, e das do Padre João da Rocha do Canto dafreguesia de São Gens do na pessoa do Padre Francisco de São Joaquim Peixoto, e quase todal' contro-
Montelongo, e no inventário que se fez por morte de João Lopes de Oliveira versas em razão da dita fama, que só teve princípio na prisão para o Santo qn-
marido de Maria da Rocha sua irmã. A fama é pelos Cantos, e bem se mostra cio de um parente do dito quarto avô, que era beneficiado na igreja de Silo
entrar nela pelo Beneficiado André de Almeida natural da Ilha da Madeira, e Gens, chamado André de Almeida, e que este impedimento se pusera a um prI-
beneficiado que foi na Igreja de Montelongo neste arcebispado, porque até aí mo do pretendente por nome Agostinho Costa Novais, segundo neto do dito Pa-
se habilitavam todos sem dúvida, e nas matrículas antigas, que se acham no dre João da Rocha e que não o pudera purgar; porque saindo por acórdc10 da
Cartório da Câmara deste Arcebispado de Braga se acham muitos destafamí- Relação de Braga, que juntar certidão do Tribunal do Santo Oficio em como
lia, que receberam ordens; donde se colige, que se havia fama em André do não saíra em auto público, nem fora julgado cristão-novo; não se achara na
Canto, era por via de sua mãe Domingas Galvão, natural da Ilha da Madeira, e Inquisição de Coimbra, aonde pertencia que ele fosse preso, nem penitenciado
assim o mostrou José Peixoto de Azevedo da vila de Guimarães quando se ha- pelo mesmo Tribunal, o que mais se confirma pelas respostas das listas, que/c)-
bilitou. ram à dita Inquisição; e ao que ocorrem algumas pessoas informantes; que/á-
laram na dita prisão, dizendo que o referido beneficiado fora preso da fregu('-
Favoravelmente a Manuel Lourenço Salgado, essa foi a decisão da Mesa sia de São Gens de Montelongo, para a vila de Guimarães, e que assim estivaa
da Inquisição de Évora, composta por Jerônimo Ferreira Magro e Nicolau Joa- no Convento de São Domingos, e no de São Francisco afim de que os padres o
quim Torel, em 21 de fevereiro de 1761, sobre ... reduzissem a não proferir as blasfêmias, que se assenta ele dizia, e pelas cluai,l'
se procedeu contra ele, o que poderia ser por recomendação do mesmo Trihu-
... a fama de de cristã-novo pela mãe, e avó materna do pretendente; mostra es-
nal, para examinarem se era doudice, e conhecida esta o mandariam soltar; o
te pela árvore junta a sua ascendência até o quarto avô Pedro Gonçalves Cam-
que o dUo Agostinho Costa Novais não mostrara, continuando a purgar aquele
bado, donde se diz lhe procede o defeito, e com esta clareza se repetiu a dili-
impedimento; porque tomando posse do dito Arcebispado o Sr. D. José de Bra-
gência extrajudicial com uma inter..... nela, que pelo justo impedimento do pri-
gança, proibira que se deferisse as inquirições duvidosas: e pelo respeito da-
meiro comissário informante; se cometeu ao Comissário Antônio Luís de Fon-
quela prisão, que no caso' de verificar-se no dito beneficiado por culpas dt'
toura, o qual averiguou ser em tudo certa, como na mesma árvore se represen-
blasfemo, não resultara a consequencia, de que fosse cristão-novo, e que II/"(}-
ta; e comprova por documentos jurídicos, que viu e examinou, tanto na Câmara
cedeu a dita fama, já tantas vezes purgada pelas referidas habiliti1l,.'e}es, e de-
Eclesiástica do Arcebispado de Braga, como em outros cartórios, pelos quais
pois delas tem cessado, principalmente na vila de Guimarães, aonde ,1'(' //c/hil;-
se mostra desvanecida a tal fama, ou rumor, porque sendo o motivo dela a sus-
taram muitas pessoas, que refere o segundo informante; e entre elas a Mal/III'I
pensão do Padre João da Rocha, ordenado em Sé vacante, e de quem fala o
dos Reis familiar do Santo Oficio; e a um irmão seu comissário. F: sei 1/0 dita
primeiro informante, já então vigário na igreja de Santiago de Gagos, lhe man-
freguesia de São Gens é que se conservava algum rumor, sem/imdamento sá/I-
darafazer novas diligências de genere o Arcebispo daquela diocese D. Veríssi-
do, antes bem julgado por falso, como atestam as pessoas in/iJrmantt's da II/(,,~­
mo de Lancastro, e saindo impedido com a dita fama por parte de seu pai An-
mafreguesia que são oito em número; no caráter qualificadas, e 1/0 idCld(' /1/'1)
dré Gonçalves do Canto por ser filho do dito Pedro Gonçalves Cambado, ape-
vectas com sessenta, setenta, oitenta, e noventa anos; pelo qU(' nO,I' /)(II"I'C'" 11""
lara para a Legacia, aonde foi julgado por inteiro cristão-velho, como se vê do
Vossa Ilustríssima admita o pretendente às diligéncia.l' de ('slilo: "ono III/HIÚ
traslado autêntico, nesta incluso, e dos fundamentos da sentença do mesmo
sima mandará o que for servido. Évora em Mesa 21 ele I-'I'\'I'/'I'I/'o d,' 17ft I
Tribunal se mostra que o tal impedimento fora movido na dita inquirição, por
ser tirada por comissário inimigo; procurando testemunhos, também inimigas No processo à familiatura ao Santo Oficio de Agostinho NO\llliN th, ( ''''I
do impedido: e que José Peixoto de Azevedo, segundo neto do dito Pedro Gon-
çalves Cambado purgara o mesmo impedimento na Relação do dito Arcebispa-
ta Campos, apareceu impedimento. 404 Apesar disso, rerd'll'lI ~'III't" ti,· '"111111111 "111
do. e na Legacia o Abade de Santiago de Burgães o Padre Francisco de Sam- (, de março de 1767. De Coimbra, em Mesa, em 6 dl' 111111\'0 ti" 17ft/, " ... " 1111 ti
paio por sentença de 25 de novembro de 1677, como também o Padre Custódio parecer:
Rodrigues pela dita Relação no ano de 1734, e todos os sobreditos impedidos
legílimos descendentes do tal Pedro Gonçalves Cambado, que se diz maculado,
o Ifl/al./iJi ci1.l"i1do com Ana Fernandes, e entre outros ./ilho.\" tiveram a Gaspar
c/o ('anto, llue lomou ordens menores em 1592, e a Anldnio I'ires do Canlo, que ,11'" lAN/ Torre do Tomho. TrihulllIl 1111 SIIIIIII tll1~llll III.hllll __ l .. t .. ilM1ht (.",,111,
!ili ohoc/e em f)onim, e lomou ordens de /:','allgl'lllO ('//I 1586, (' c/esta era, e dos
Agostinho, mç, 6, di!. 93.
232 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitaçilu 2.11

Tomamos informação com o Comissário Antônio Luís de Fontoura, sobre a pu- 9) Familia Pardo
reza de sangue, e mais requisitos de Agostinho Novais da Costa Campos, que
pretende ser familiar do Santo Oficio conteúdo na petição inclusa, que Vossa Dois irmãos castelhanos, d. Antônio Pardo e d. Luís Pardo, cristãos-
Excelência nos manda informar; e achamos, que por si, seus pais, avós pater- novos, foram moradores na vila de São Paulo no século XVII, sem levantar sus-
nos, e maternos é legítimo e inteiro cristão-velho sem que obste o falso, e teme- peitas ou denúncias de serem judaizantes, se é que o foram. Em São Paulo nllo
roso rumor de cristão-novo que algumas das pessoas informantes lhe atribuem usaram o tratamento de dom, normalmente atribuídos à elite castelhana.
por sua avó materna Maria da Rocha; porquanto se acha inteiramente desva- Essa descoberta foi possível graças ao processo do Santo Ofício, por
necido com as habilitações dos familiares Antônio Lourenço Salgado, e outro
crime de judaísmo, do sobrinho deles, Francisco Nunes da Costa.405 Na sessão de
sobrinho deste, ambos parentes do habilitando, e descendentes do mesmo tron-
co infamado. É o habilitando de boa vida, e costumes no tempo presente com Genealogia, em 12 de agosto de 1715, ele declarou que era natural da cidade do
juízo e capacidade para servir o Santo Oficio na ocupação que pretende; trata- Rio de Janeiro, de 73 anos de idade, batizado na igreja da Candelária, filho de
se com abundância, e decência do produto dos seus bens, que valerão três mil Gabriel Rodrigues, natural da cidade de Lisboa, mercador, e de Isabel Rodrigues,
cruzados, e de dinheiro, que tem, vivendo como lavrador muito abonado; é sol- cristã-nova, natural da cidade de Zamora, de onde a furtou o dito Gabriel Rodri-
teiro e teve um filho ilegítimo que houve de Maria de Castro, que por sua mãe a gues para se casar com ela, como depois casou, e foram moradores na cidade do
avós maternos é legítimo cristão-velho. Sabe ler, e escrever, e representa ter 50 Rio de Janeiro. 406 Que sua mãe fora para Portugal com a idade de 14 anos. Igno-
anos de idade. Parece-nos, que Vossa Escelência mandará o que for servido. rava o nome dos avós paternos. Dos matemos sabia apenas que eram mercadores
e que seu pai comprava fazenda deles.
Não é possível afirmar, de forma cabal, veemente e categórica, que a
família dos Cantos Cambados fosse cristã-nova. Mas, ao menos, não há nenhu- Declarou, ainda na sessão de Genealogia, que por parte de sua mãe teve
ma dúvida que era muito forte a fama de ter esse sangue, fama essa que perdurou dois tios, d. Antônio Pardo e d. Luís Pardo, que também saíram de Castela. Que
por, pelo menos, um século e meio!.. Antônio Pardo,'já defunto, foi morador na vila de São Paulo, casado com Juliana
Nogueira, de cujo matrimônio não teve filhos, e que Luís Pardo, também defun-
De qualquer maneira, os Rochas do Canto de Santana de Parnaíba são
to, foi morador na mesma vila de São Paulo, casado, não sabia com quem, nem
cristãos-novos por via de Leonor Álvares dos Passos.
se teve filhos.
Como já escrevemos acima, há um dado curioso quando se investiga a
Antônio Pardo nasceu cerca de 1612 em Castela. Foi tabelião na vila de
descen'tlência dos Rochas do Canto, de Santana de Parnaíba: não houve nenhum
São Paulo no ano de 1673, conforme constou do inventário de Manuel Pereira
sacerdote na família entre os filhos ou netos dos que vieram diretamente de Por-
Sardinha.407 Foi testemunha em 1674, no inventário de Estêvão Ribeiro Baião,
tugal. Talvez houvesse um acordo tácito de não pleitearem ordens religiosas
sendo qualificado como morador na vila de São Paulo, com 62 anos de idade. 40H
porque tinham pleno conhecimento que, se o fizessem, haveria obstáculos para a
No ano de 1675, morador na vila de São Paulo, foi procurador de alguns interes-
aprovação no quesito do sangue. Pois, caso um deles requeresse ordens, teria que
sados no inventário de Margarida de Brito, a saber: Simão Nogueira de Paz,
declarar, forçosamente, nome e pátria dos pais e avós, para serem inquiridas
morador em Taubaté, Manuel Lopes Fernandes, Beatriz Gonçalves, Simão Lo-
testemunhas sobre a qualidade do sangue dos mesmos. Obviamente haveria in-
res, os três moradores em Itanhaém. 409 Foi testemunha no processo de banhos
quirições em São Gens, onde era constante a fama de serem cristãos-novos. E,
sem dúvida, a recusa causaria mal-estar à família na vila de Santana de Parnaíba,
onde residiam. Já, quanto aos bisnetos dos migrantes, não haveria, obrigatoria-
mente, inquirições na região de Braga. IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Processo n.o 10697 do Tribunal
do Santo Oficio da Inquisição de Lisboa.
Irmão do Padre Francisco Nunes da Costa, pároco em São Julião da cidade tk
8) Manuel Lobo Franco (ver em 2.5.: Religiosos e autoridades cristãos-
Lisboa.
novos). ·111 7
Arquivo Público do Estado de São Paulo. Inventário do 1.0 Oficio. N." de ordem:
CO 623.
Inventários e Testamentos, volume 26, p. 153.
I!/I'{'ntúrio,," e Testamentos, volume 19, pp. 47,49, 50, 51.
234 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação

entre o Capitão Manuel de Sá e Ana de Morais, no ano de 1680, na vila de São ... Os bastardos415 de José Pardo em plena rua, e alto dia, mataram um part/I-
Paulo. 410 Ouvido em julho de 1680 na vila de São Paulo, declarou ter 71 anos de guês e, feita a morte, correram para a casa do patrão perseguidos pelo clamor
idade, e que era parente, por afinidade, em grau remoto, dos oradores. Serviu, público. Cercada a casa, saíram os carijós pela porta dos fondos e se escond('-
ainda, de testemunha, declarando ter 83 anos de idade, em 29 de novembro de ram no mato. Os amigos da vítima reclamaram a entrega deles e acusavam (/
José Pardo por lhes ter dado escapula, quando este, saindo à porta, começou ti
1692 na vila de São Paulo, por ocasião do processo de banhos entre Nuno de
se excusar, e uma bala certeira neste ato varou-o pelos peitos. O infeliz tomhou
Campos Bicudo e Maria Pires. 411 fulminado.
Luís Pardo nasceu cerca de 1620 em Castela. Serviu de testemunha no Esta morte prosternou todo o arraial e os paulistas ficaram profondamente
ano de 1673 em São Paulo no inventário de Manuel Pereira Sardinha, acima abatidos. Era José Pardo homem de grande suposição, inofensivo e benquisto,
citado, com auto feito em 4 de julho de 1682 na vila de São Paulo. Também Se de fato ajudou os seus bastardos a fugirem daquela trucidação inevitável em
serviu de testemunha no inventário de Estêvão Ribeiro Baião, sendo designado mãos da turbamulta, o caso não dava para que fosse morto. Ninguém havia en-
morador na vila de São Paulo, de 54 anos de idade. 412 tão, que não houvesse criado os seus carijós e todos fariam o mesmo que ele
Há na história da guerra dos emboabas, entre paulistas e não-paulistas, a
quem os paulistas chamavam de emboabas, ocorrida entre 1708 e 1709, nas Mi-
nas Gerais, um episódio interessante envolvendo um tal de José Pardo, paulista,
I
j
í
fez, se de fato os salvou.

D. Antônio e D. Luís tinham uma irmã que residia na cidade do Rio de


Janeiro, de nome Isabel Rodrigues, natural de Zamora, onde nasceu cerca de
figura desconhecida da historiografia. Não há o apelido Pardo nas genealogias
paulistas: é como se não tivesse existido em São Paulo. Pois, graças à documen-
tação inquisitorial, é hoje, possível especular que José Pardo pertencesse à mes-
l 1622, casada que foi com o mercador Gabriel Rodrigues, lisboeta. O casal teve,
ao menos, quinze descendentes, entre filhos, netos e bisnetos, moradores no Rio
de Janeiro, que foram presos pelo Tribunal do Santo Oficio. Uma família inteira

I
ma família Pardo, aqui discutida, podendo ser (filho ou sobrinho) de d. Luís destruída pela Ipquisição!
Pardo. Foram presos, todos por judaísmo, os filhos Francisco Nunes da Costa,
José Pardo foi o estopim da guerra dos emboabas, já que sua morte in- nascido cerca de 1642 no Rio de Janeiro, escrivão da Almotaçaria e meirinho
flamou o ânimo dos paulistas, antecedendo o episódio do "Capão da Traição", dos Contos, pres0416 em 1715, casado com a cristã-velha Joana das Neves Ran-
consoante o historiador Capistrano de Abreu: 413 gei, e Maria Rodrigues, nascida cerca de 1657 no Rio de Janeiro, presa417 em
~

A morte da gente miúda não se levava em conta, mas um dia os forasteiros ma-
1 1711, viúva do cristão-velho Diogo Lopes Simões 418 , capitão das Ordenanças do
taram José Pardo, paulista poderoso, e seus patrícios começaram a se armar, Rio de Janeiro.
para em janeiro do seguinte ano de i709 dar cabo dos emboabas. Foram presos, todos por judaísmo, os netos: Isabel das Neves Rangel,
prcsa419 em 1711, casada com o soldado Filipe Rodrigues, Rosa das Neves Ran-
Outro historiador, Diogo de Vasconcelos, retrata com mais detalhes o
ge/, nascida cerca de 1690 no Rio de Janeiro, presa420 em 1719, solteira, Inácia
ocorrido: 414

Bastardos, neste caso, significa gente do serviço, e eram índios administrados.


410 Ilfl
Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Processo n.o 4-1-1, fls. 39 a 43, de IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Inquisição de Lisboa. Prot:t:sso
dispensa matrimonial, ano de 1680. 11." 10697.
411 11/
Processo n.o 4-1-2, fls. 18 a 30, de dispensa matrimonial, ano de 1692,110 Arquivo IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Inquisição de Lisboa. Prot:t:sso
da Cúria Metropolitana de São Paulo. 11." 7915.
412 Ilti
inventários e Testamentos, volume 26, p. 153. RHEINGANTZ, Carlos G. Op. cito Vol. lI, p. 445.
413 11'/
ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de História CO/(/I/ia/. lido Iloriw11tclSão IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Inquisição de Lisboa. Prm:t:sso
Paulo: ItatiaialEDUSP, 1988. Capítulo IX- () st:rtfto, p. 11/2. 8283.
lI."

414 VASCONCELOS, Diogo de. História Anli~a da.\" Mil/o.1 (;,·roi.l, 4." t:d. Iklo I.'()
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Inquisição de Lisboa. ProCCNNo
Horizonte: Itatiaia, 1999. p. 241. lI." 11225.
236 Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Cristãos-novos em São Paulo (séculos XVI-XIX): assimilação e nobilitação 2.17

Rangel, nascida cerca de 1699 no Rio de Janeiro, presa42I em 1719, solteira, cárceres, casada com o cristão-velho João Batista, mestre-de-açúcar, e Maria clt-
Francisco Mendes Simões, mestre de meninos, pres0 422 em 1714, casado com a Jesus, presa43I em 1720.
cristã-nova Teresa Pais de Jesus, presa423 em 1718 aos 65 anos de idade, tendo
sido relaxada ao braço secular, Capitão Pedro Mendes Simões, nascido cerca de
1682 no Rio de Janeiro, morador nas Minas Gerais, pres0 424 em 1715, solteiro, 10) Luís Gomes Pereira
capitão das Ordenanças do Rio de Janeiro, Margarida da Gama, ou Margarida Nenhuma família paulista teve maior número de seus membros presos
Rodrigues, nascida cerca de 1670, presa425 em 1714, mulher do cristão-velho pelo Santo Oficio, pelo crime de judaísmo, que os descendentes do casal Luis
Antônio Pires Moreira, oleiro. Gomes Pereira e Inês do Rosário que, de Santos passaram a residir na cidade do
Rio de Janeiro, na freguesia da Candelária. Há, pelo menos, 24 processos da
Foram presos, todos por judaísmo, os bisnetos: Félix Mendes Leite, nas-
família na Inquisição de Lisboa. Segundo testemunhas ouvidas em 12 de setem-
cido cerca de 1694 no Rio de Janeiro, pres0426 em 1718, solteiro, Maria Teresa
bro de 1713 na vila de Santos, no Colégio da Companhia de Jesus, Luís Gomes
do Rosário, ou Maria Teresa de Jesus, nascida cerca de 1693 no Rio de Janeiro
casada primeira vez, em 1713, com o Alferes Domingos Álvares Corrêa e se~
Pereira era lavrador pobre e forasteiro (ou seja, não era da terra), com pública
fama de cristão-novo, que vivia do oficio de vender coisas comestíveis e que
gunda vez, em 1721, com Simão da Costa Jaques, presa427 em 1718, Atanásio
fazia constantemente viagens a Buenos Aires, e que fora meirinho do mar.
Mendes, mulato, pres0428 em 1720, com 36 anos de idade, harpista, Bartolomeu
Mendes Simões, mulato, pres0429 em 1720, aos 25 anos de idade, ourives, Mar- Sua mulher era Inês Pinto, natural da vila de Santos, em cuja igreja ma-
garida Mendes, mulata, presa430 em 1713, aos 30 anos de idade, falecida nos triz foi batizada, que, por ser afilhada de uma Maria do Rosário, tomou o apelido
do Rosário. Inês Pinto, ou Inês do Rosário, era descendente do gentio da terra
ou, como também era chamado, do cabelo corredio, e era filha de João Pinto e de
Joana Rodrigu~, naturais e moradores que foram na vila de Santos. Sobre João
Pinto, as testemunhas asseguraram que era cristão-velho, motivo pelo qual fora
421
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo admitido na Irmandade da Misericórdia, bem como Joana Rodrigues, sua mu-
n. o 8214. lher.
422
' ~ IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo Da investigação que se fez do avô materno de Simão Farto Diniz, Luis
n. o 11597. (iomes Pereira, ser cristão-novo, testemunhas foram ouvidas em maio de 1713
423
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo na vila de Sousel. Apesar de ser crível que Luís Gomes Pereira fosse cristão-
n.o 2218. novo, fica-se em dúvida sobre a perfeita identificação do mesmo, uma vez que
424
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo de deveria ter saído daquela terra antes de 1650. Portanto, para alguém tê-lo
n.o 7958. conhecido, deveria ter, ao menos, 80 anos de idade. O que se apurou é que haviu
425 11m Luís Gomes Pereira [nada consta ter se passado para a vila de Santos, no
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo
n.o 7899. Brasill. morador na vila de Olivença, bispado de Elvas, natural da vila de Sousel.
426 lilho de um Fernando Gomes e de uma fulana das Neves, neto paterno de um
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo
n.o 8916. 1.lIís Pereira e de Branca Álvares, mercadores e moradores na vila de Sousel. ()
427
qual Fernando Gomes, além do dito seu filho Luís Gomes, teve mais filhos, um
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo dos quais loi Diogo Gomes, relaxado na Inquisição de Lisboa, sendo queimado
n.o 11407.
por 1710. Eram todos cristãos-novos e também havia gente desta família peni-
428
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo ll'lll:iada pela Inquisição de Évora.
n.o 3580.
429
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lishoa. Processo
n.o 1378.
430 111
IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisiçlln de I.isho;l. Processo IA N/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Oficio. Inquisição de Lisboa. Processo
o
n. 7976. lI." (17 1).

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