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Fábrica de Noobs
Natanael Antonioli
Fevereiro de 2023
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1. SUMÁRIO
1. Sumário ......................................................................................................................................... 2
7. Quais consequências reais esse ciclo de 70 anos possui? Quais não possui? .................... 11
8. Conclusões ................................................................................................................................. 14
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2. IDENTIFICAÇÃO DA HISTÓRIA
Inicialmente, imagine o carro amarelo está andando em uma velocidade maior que a do
carro vermelho. Para um observador no carro vermelho, o carro amarelo está andando para a
frente. Essa situação é equivalente a dizer que “o núcleo da Terra gira na direção usual”.
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Por fim, suponha que o carro vermelho esteja em velocidade inferior à do carro
amarelo. Para um observador no carro vermelho, o carro amarelo está andando para trás,
mesmo que, em relação à rodovia, ambos estejam andando para a frente. Essa situação é
equivalente a dizer que “o núcleo da Terra inverteu sua rotação”.
Dessa forma, perceba que, ao ler notícias como “o núcleo da Terra parou de girar”, é
de se imaginar que o núcleo cessou toda e qualquer rotação, da mesma forma que “o núcleo
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da Terra inverteu sua rotação” nos faz imaginar que, após cessar toda e qualquer rotação, ele
começou a girar no sentido oposto. Na realidade, não é isso que acontece, e as situações
correspondem, respectivamente, apenas a girar na mesma velocidade do manto e a girar
mais devagar que o manto.
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Ainda assim, mesmo 25 anos depois, não havia consenso sobre a rotação diferencial
do núcleo terrestre. Por exemplo, um artigo de 2022
(https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0012821X22001406?via%3Dihub
) apontou, através de análise de dados sísmicos, que o núcleo interno da Terra havia estado
parado em relação ao manto entre 2002 e 2003, para então ter havido um pico de super-
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rotação diferencial. Esse artigo sugeriu, assim, que um ciclo de 6 anos se fazia presente, e
explicava ciclos de 6 anos na duração do dia.
Ao mesmo tempo
(https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1029/2019JB017532), outros cientistas
argumentavam que super-rotação diferencial não existe, e que as mudanças no tempo de
viagem das ondas sísmicas são provocadas por mudanças na densidade do núcleo
interior
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O artigo deixa claro que esse tipo de fenômeno certamente não provoca eventos
apocalípticos – afinal, se provocasse, o mundo acabaria uma vez a cada 70 anos. Porém, o
estudo verificou que há uma relação entre esse padrão e um ciclo de duração do dia de duração
de 70 anos, na casa de alguns microssegundos. Você pode saber mais sobre esses ciclos em
https://youtu.be/fdGcpYfB-kA.
Além disso, ciclos de 70 anos também parecem estar presentes em padrões climáticos,
temperatura média global de variação do nível do mar, ciclos para os quais os cientistas ainda
procuram explicações. Mais uma vez, todos esses eventos ocorrem de maneira cíclica e
não apocalíptica.
Ainda assim, isso não impediu que páginas como a Outro Mundo fizessem alegações
apocalípticas a respeito da descoberta. A página começa errando ao associar eventos dos
“últimos dias” com a descoberta, uma vez que o núcleo teria parado não em 2023, mas
em 2009.
A página menciona a inversão dos polos como uma “realidade”, mas nada no artigo
publicado indica que essa periodicidade tenha relação com a inversão dos polos
magnéticos. Os eventos relatados ocorrem a cada 70 anos, e a última inversão magnética
ocorreu a 772 mil anos atrás (https://ec.europa.eu/research-and-innovation/en/horizon-
magazine/earths-magnetic-poles-could-start-flip-what-happens-then), e, desde então,
ocorreram mais de 10 mil paradas do núcleo terrestre.
A página faz menção a “fortes terremotos”, mas isso mais uma vez sequer é
mencionado no artigo. Conforme visto em
https://www.statista.com/statistics/263105/development-of-the-number-of-earthquakes-
worldwide-since-2000/, não parece haver uma tendência fixa na variação no número de
terremotos de magnitude maior que 5 nos últimos anos.
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Incêndios e apagões são mais difíceis de se quantificar, uma vez que não há estatísticas
globais para esse tipo de incidente. Porém, é importante lembrar que uma busca no Google
News por “power outage”
(https://www.google.com/search?q=power+outage&biw=1366&bih=589&tbm=nws&sxsr
f=AJOqlzWvTr-
OiiGr4JGu8Up6tgYcrkaxcQ%3A1675377954462&ei=Ij3cY4jvG5Lx1sQP56eQ6AQ&ved=
0ahUKEwiIiNye9ff8AhWSuJUCHecTBE0Q4dUDCA0&uact=5&oq=power+outage&gs_l
cp=Cgxnd3Mtd2l6LW5ld3MQAzIFCAAQgAQyBQgAEIAEMgUIABCABDIFCAAQgA
QyBQgAEIAEMgUIABCABDIFCAAQgAQyBQgAEIAEOgcIABCABBAKOgYIABAW
EB46CAgAEBYQHhAKOgoIABAWEB4QDxAKOgsIABCABBCxAxCDAToICAAQsQ
MQgwE6CAgAEIAEELEDOgcIABCxAxBDOgQIABADOgQIABBDUIEFWPEXYNcY
aABwAHgAgAGAAYgBxg2SAQQxLjE1mAEAoAEBwAEB&sclient=gws-wiz-news) ou
“fire explosion”
(https://www.google.com/search?q=fire+explosion&biw=1366&bih=589&tbm=nws&sxsr
f=AJOqlzWHJu1cbJKoVVD84quSZDAGFobwrQ%3A1675378549583&ei=dT_cY-
mmI9ax5OUP7NajmAM&ved=0ahUKEwiptb-
69_f8AhXWGLkGHWzrCDMQ4dUDCA0&uact=5&oq=fire+explosion&gs_lcp=Cgxnd3
Mtd2l6LW5ld3MQAzIHCAAQgAQQEzIHCAAQgAQQEzIHCAAQgAQQEzIHCAAQg
AQQEzIHCAAQgAQQEzIHCAAQgAQQEzIHCAAQgAQQEzIHCAAQgAQQEzIHC
AAQgAQQEzIHCAAQgAQQEzoICAAQgAQQsQM6BQgAEIAEOgsIABCABBCxAxC
DAToICAAQsQMQgwE6CggAELEDEIMBEEM6BwgAELEDEEM6BwgAEIAEEAo6C
ggAEIAEELEDEApQjwRYtxNg9xRoAnAAeACAAYwBiAHmDpIBBDIuMTWYAQCg
AQGwAQDAAQE&sclient=gws-wiz-news) sempre levantará alguns resultados, indicando
que o momento presente ou o ano de 2009 não são especiais em relação a esse tipo de
ocorrência.
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8. CONCLUSÕES
Assim, podemos concluir que as notícias sobre o núcleo da terra ter parado foram
sensacionalizadas e distorcidas por diversos veículos de comunicação, uma vez que o que
realmente ocorreu foi a publicação de um artigo apontando um ciclo de 70 anos no qual
o núcleo, gira mais rápido e mais devagar em relação ao manto, ficando, em algum
momento, na mesma velocidade deste. No momento, estaríamos em um momento de sub-
rotação.
Esse ciclo pode explicar variações de mesmo período no nível do ar, temperatura e
clima, bem como na duração dos dias na casa dos microssegundos, mas não provoca
quaisquer outras mudanças perceptíveis pelo ser humano, nem é responsável por
eventos apocalípticos.