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Projeto Educacional Relógio

tempus rerum imperator


Brasília
2020
Autores:
- Thiago Bouzan
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Apoio:
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Agradecimentos:
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Contato:
bouzan@gmail.com
Objetivo Pedagógico: apresentação de um índice temático nas áreas de História, Geografia,
Matemática e Física para alunos do nível médio e interessados.

Materiais: esta apostila (11 páginas) e um modelo de relógio mecânico construído com peças
de Lego, outros materiais, como impressão 3D, madeira ou sucata podem servir igualmente.

Um tutor que tenha recebido instrução poderá operar o mecanismo e repassar o conhecimento,
além de formar novos tutores.

Índice Temático

História Física

1. Platão 1. pressão hidrostática

2. Eratóstenes 2. paradoxo hidrostático

3. Revolução Francesa 3. energia

4. energia potencial gravitacional

Geografia 5. fusão nuclear

1. inclinação do eixo da Terra 6. fissão nuclear

2. equinócio 7. conservação do momento angular

3. solstício 8. moto-perpétuo

4. linha do equador 9. máquinas simples

5. pólo norte geográfico 10. pêndulo simples

6. pólo norte magnético 11. pêndulo físico

Matemática 12. oscilador harmônico

1. bases numéricas 13. momento de inércia

2. divisibilidade Astronomia

3. medidas de ângulo 1. eclíptica

4. dízima periódica 2. satélites Galileanos


Introdução

Que horas são? Hoje podemos dar uma resposta rápida e precisa através de celulares e
relógios de pulso. Por trás deste ato corriqueiro estão milênios de acumulação de conhecimento
de diversas culturas e gênios singulares.

A necessidade de registrar a passagem do tempo é universal, sendo a fonte primária a


observação celeste. O filósofo Platão escreve no clássico diálogo Timeu:

“(...) nenhum dos discursos que temos vindo a fazer sobre o universo poderia de algum
modo ser proferido sem termos visto os astros, o Sol e o céu. Foi o fato de vermos o dia e a noite,
os meses, o circuito dos anos, os equinócios e os solstícios que deu origem aos números que nos
proporcionam a noção de tempo e a investigação sobre a natureza do universo.”

1. Brevíssimo histórico dos dispositivos de medição do tempo

a) Relógio de Sol

Derivada diretamente da observação celeste, a primeira ferramenta criada pela


humanidade foi o relógio de Sol. Existem dezenas de configurações possíveis, mas todas se
baseiam na observação cuidadosa da sombra de um objeto fixo, ou no isolamento de um feixe
solar, projetadas em uma superfície com marcações que devem abarcar o percurso do Sol no
céu durante todo um ano. Um relógio de Sol deve levar em conta a posição geográfica em que
se pretende instalá-lo assim com seu posicionamento (vertical, horizontal, etc). A teoria sobre
estes dispositivos é bastante extensa.

b) Clepsidras

A primeira limitação dos relógios de Sol é a sua inoperância durante a noite. A Lua por
sua natureza, principalmente suas fases, não permite o uso diário como marcador de forma tão
evidente como o Sol, embora permitam a medição de períodos mais longos como os meses,
divisão do ano criada justamente pela observação de um ciclo completo das fases lunares.

Os relógios d’água ou clepsidras foram desenvolvidos por diversas culturas do mundo


antigo, da bacia do mediterrâneo à Índia e China, seu princípio de funcionamento é o
esvaziamento ou enchimento de um recipiente por gotejamento, fontes históricas atestam um
alto nível de sofisticação sobre este simples princípio.

Uma observação interessante sobre o funcionamento da clepsidra mais simples, um


cilindro com um furo na base, é que o ritmo de esvaziamento depende do nível da água, pois a
pressão hidrostática no fundo decresce com o esvaziamento, o que é potencialmente uma fonte
de erro; uma das maneiras de evitar isso é manter o nível de água alto. Outra observação é que
a pressão hidrostática no fundo não varia com o formato do recipiente, apenas com a altura da
coluna d’agua e a isso é dado o nome de paradoxo hidrostático. Uma represa geralmente tem
sua base mais larga para acomodar a maior pressão no fundo do lago, mas seu tamanho não
depende da extensão do lago, sendo indiferente se este cobre quilômetros quadrados de
extensão ou apenas poucos centímetros.
c) Ampulhetas

Outro invento da antiguidade é a ampulheta, análoga à clepsidra, mas substituindo a


água por areia, com vantagens, pois esta não evapora ou congela facilmente como a primeira e
o fluxo de areia praticamente independe da altura.

d) Relógio de vela

Finalmente o último artifício historicamente conhecido é relógio de vela, onde o ritmo


constante da queima de velas feitas com cera de abelhas ou gordura animal (a parafina das velas
atuais é um produto moderno) permitia a leitura das horas por marcações feitas na própria vela
ou próximas a esta. Há registros do uso de incenso na China para a mesma função.

Resumo

A clepsidra, ampulheta e relógio de vela têm origens históricas difíceis de rastrear, com
várias culturas utilizando-as de forma independente. O erro nesses instrumentos era de vários
minutos no período de um dia em função de fatores ambientais, como temperatura e umidade.
Para civilizações pré-industriais tal imprecisão era aceitável.

O relógio de Sol e a observação de outros corpos celestes eram o padrão por excelência
de aferição de outros dispositivos até que a precisão dos relógios mecânicos avançasse ao ponto
de detectar variações nos movimentos da Terra e demais astros.

2. O Relógio Mecânico

Embora existam registros de mecanismos com engrenagens para medição de tempo na


China e nações islâmicas, foi na Europa entre 1280 e 1320 da nossa era que o relógio mecânico
como o conhecemos surgiu. Sua primeira função era auxiliar monges na realização de liturgias,
através do toque de sinos.

Os registros desses mecanismos são escassos, mas é certo que em poucas décadas a
técnica de construção se espalhou pela Europa. O esquema de todos os relógios mecânicos
desde a sua criação até os dias de hoje tem seis partes principais: estrutura, fonte de energia,
trem de engrenagens, mostrador, escapamento e oscilador.

Estrutura

É a parte imóvel do relógio onde se apoiam todos os eixos do trem de engrenagens, do


escapamento e do oscilador. Serve também de base do mostrador e da fonte de energia.

Fonte de energia

Toda máquina precisa de energia para funcionar e os dispositivos antigos não são
exceção: a clepsidra e a ampulheta usam a energia potencial gravitacional, respectivamente da
água e da areia que foram colocadas por uma pessoa em um ponto mais alto. Por construção
essa energia potencial se transforma em energia cinética lentamente. A pessoa que repõe a
água na clepsidra ou vira a ampulheta por sua vez obtém energia dos alimentos, estes têm sua
energia derivada do Sol via fotossíntese ou dos animais que consumiram plantas (os relógios de
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vela têm sua fonte aqui). A energia do Sol vem de um processo conhecido como fusão nuclear,
onde átomos de hidrogênio comprimidos pela imensa pressão e altas temperaturas do núcleo
solar fundem-se em átomos de hélio liberando energia.

A maioria das fontes de energia que utilizamos no nosso dia-dia tem origem do Sol. De
forma direta temos a energia solar fotovoltaica e solar térmica; e indireta a energia hidrelétrica
de reservatórios reabastecidos pelo ciclo da água e a energia eólica. A Biomassa vem de
resíduos orgânicos vegetais ou animais e finalmente os combustíveis fósseis, carvão, petróleo
e gás são energia solar de organismos de milhões de anos atrás.

São exemplos de fontes que não derivam do nosso Sol: a energia nuclear, proveniente
da fissão nuclear onde átomos Urânio ou Plutônio se dividem gerando energia, a energia das
marés e a energia geotérmica. Curiosamente o elemento Urânio foi formado por estrelas que
precederam o nosso Sol em um processo chamado de nucleossíntese.

O relógio de Sol deriva seu funcionamento de duas fontes, a luminosidade solar cuja
fonte, como vimos, é a fusão nuclear e a energia cinética rotacional da Terra, resultado da
rotação do disco protoplanetário que formou nosso sistema Solar, um exemplo de conservação
do momento angular. Esta energia se manifesta também na rotação e translação de todos os
planetas, asteróides e cometas. O simples movimento de uma sombra nos conecta com as
origens da Terra! Concluímos então que todo máquina ou processo que observamos consome
energia e não existe moto-perpétuo ou movimento perpétuo.

No caso do relógio mecânico, historicamente a primeira fonte de energia foi uma massa
ligada a uma corda enrolada num cilindro. Uma massa erguida armazena energia potencial
gravitacional e ao cair desenrola a corda girando um cilindro. Os relógios de torre fazem duplo
da sua posição: visibilidade a distância e altura para a descida da massa.

As vantagens dessa fonte são sua durabilidade e constância de torque, para pequenas
alturas a variação do peso é irrelevante. Sua fórmula é dada por:

Epg = m.g.h

onde m é a massa, g aceleração gravitacional e h a altura até o chão, a unidade de medida de


qualquer forma de energia é o Joule (J).

A segunda fonte de um relógio mecânico é a mola, na forma de energia potencial


elástica. Ela permite o relógio de mesa, bolso e pulso.

Todos os relógios mecânicos portanto armazenam energia na forma de potencial


gravitacional ou elástica. Os relógios modernos, assim como os celulares, armazenam energia
potencial química nas suas baterias.

c) Trem de engrenagens

O trem de engrenagens é um mecanismo comum utilizado em várias máquinas como


marchas de bicicleta e o câmbio manual de automóveis, onde sua função é alternar relações de
torque e velocidade. Já era conhecido na antiguidade como atesta o mecanismo de Anticítera
(Antikythera) do século II a.C..

Em um relógio sua função é multiplicar o número de voltas do cilindro movido pelo peso
ou mola, auxiliando assim na autonomia (ou seja, no número de horas de operação) do relógio.
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A relação entre cada eixo é de cada vez menos torque e mais velocidade. É possível construir
um relógio sem esta parte, mas com inconvenientes:

- tempo de operação inferior a 24 horas

- localizado em local muito alto (para ter altura suficiente para a massa cair)

- uma mola grande, ocupando muito espaço

- osciladores muito lentos, no caso dos pêndulos, com tamanho proibitivo

Alguns raros relógios não possuem trem de engrenagens, procure na internet pelo
modelo W5 do horologista Philip Woodward.

Uma engrenagem deriva das máquinas simples, nomenclatura desenvolvida pelo os


polímatas da Grécia Antiga e da Renascença, são elas: a Alavanca, a Roda e eixo, a Roldana, o
Plano inclinado, a Cunha e o Parafuso. Todas proporcionam vantagem mecânica, uma medida
da amplificação da força ou da velocidade. A engrenagem deriva da alavanca, que iremos ver
com mais detalhes.

Uma alavanca consiste em uma haste e fulcro e são classificadas pela posição relativa
deste aos locais onde se aplicam o esforço e a carga:

classe 1: fulcro no meio, esforço em um braço e carga no outro a vantagem mecânica pode ser
maior, menor ou igual a 1

classe 2: carga no meio, a vantagem é maior que 1

classe 3: esforço no meio, a vantagem é menor que 1

Existem duas situações possíveis num par de engrenagens: uma pequena move uma
grande ou uma grande move uma pequena. No primeiro caso ganhamos torque e perdemos
velocidade e números de voltas. No segundo caso ganhamos velocidade e perdemos torque e
número de voltas. Esta oposição é observada em todas as máquinas simples e deriva das leis de
conservação de energia e momento.

A perda de torque é inerente ao trem de engrenagens dos relógios, a primeira


engrenagem, ou grande roda, conectada a fonte de energia, possui máximo torque e a roda de
escape, a última roda, é a mais veloz (velocidade angular) mas com tão pouco torque que pode
ser parada com uma pena. Um relógio sem manutenção para de funcionar por falta de
lubrificação nesses eixos de pouco torque.

Existem duas outras formas de multiplicar o número de voltas: um sistema de roldanas,


usado de modo reverso, quando desejamos erguer um grande peso usamos roldanas móveis
para dividir o peso por 2, este mesmo peso vai mover a corda duas vezes mais. Tal idéia foi usada
em alguns relógios que possuem uma roldana móvel conectada ao peso, duplicando assim o
comprimento da corda pela mesma altura. No entanto não parecem existir registros de um
relógio apenas com roldanas, apesar de serem mais simples de serem confeccionadas o sistema
não seria tão compacto. A segunda forma seria um sistema de polias, cujo princípio de
funcionamento é muito semelhante ao das engrenagens.

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Atividade 01 vamos analisar o nosso modelo:

grande engrenagem: 40 dentes

engrenagem central: 40 dentes (ponteiro dos minutos)

terceira engrenagem: 24 dentes

3 pinhões: 8 dentes

roda de escape: 6 dentes, gira em incrementos de 1/6 de volta ou 60°

8/40 = 1:5 8/40 = 1:5 8/24 = 1:3

5 x 5 x 3 = 75

Disso deduzimos que:

- a roda de escape gira 75 vezes mais rápida que a grande roda

- a roda de escape tem 75 vezes menos torque que a grande roda

- a roda de escape gira 75 vezes para cada volta completa da grande roda

- a grande roda gira uma fração de 1/75 ou na forma da dízima periódica: 0,01333333... para
cada volta completa da roda de escape

- para cada incremento (de 60°) da roda de escape a grande roda gira:

(1/75) x (1/6) = 1/450 ou 0,00222222...

A potência da roda de escape é a mesma da grande roda pois é produto do torque pela
velocidade angular.

A fonte de energia do nosso modelo é um motor de corda que supri aproximadamente 16 voltas,
a grande roda está conectada diretamente a fonte, o que significa que a roda de escape gira 16
x 75 = 1200 voltas, mas na prática o número é inferior, pois conforme a mola vai desenrolando
o torque vai diminuindo até não poder vencer o torque oposto do atrito e inércia do trem de
engrenagens, do escapamento e do oscilador.

d) Mostrador

Embora o mostrador não desempenhe nenhuma função no funcionamento de um


relógio, sem uma forma de nos comunicar a passagem do tempo ele seria inútil. Alguns relógios
já na idade média mostravam a posição dos planetas, fases da Lua, entre outras complicações.

Com apenas dois ponteiros, da hora e os dos minutos é possível codificar 720 posições
distintas (60 minutos x 12 horas). Os 1.440 minutos de um dia são expressos em uma forma
simples e elegante. O eixo dos ponteiros dos minutos vem do trem de engrenagens sem
modificações e o ponteiro das horas é gerado por uma redução de 12:1, a única redução desse
tipo no mecanismo. É interessante notar que a velocidade do ponteiro das horas é duas vezes a
velocidade de rotação da Terra, o que nos permite contemplar quão lenta é esta rotação,
quando observada próxima ao eixo.

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A divisão do dia em 24 horas com 12 horas de dia e 12 de noite já era usada na
antiguidade pelos romanos e tem origens egípcias. A divisão da hora em 60 minutos e do minuto
em 60 segundos vem da matemática Babilônica e é usada também para medir ângulos. Um
mostrador atual tem portanto três bases numéricas: a duodecimal para horas, a sexagesimal
para minutos e segundos e a decimal para expressão de todos esses valores.

A inclinação do eixo de rotação da Terra de 23°26′12,5″ (vinte e três graus, 26 minutos


e 12 e meio segundos de arco) faz com que as horas do dia tenham durações diferentes das da
noite. Nos dias de Equinócios (março e setembro) a divisão é de 12 h de Sol e 12 h de noite em
todo o planeta, nos Solstícios (junho e dezembro) alcança-se a máxima diferença entre a noite
e o dia. Em latitudes mediterrâneas a duração do dia pode chegar a 75 minutos no verão até 45
minutos no inverno (no Brasil, devido à proximidade com a linha do equador essa variação é
menor). Em um relógio mecânico, por questões de simplicidade, todas as horas tem duração
igual.

O sentido dos ponteiros, chamado horário é o sentido da sombra em um relógio de Sol


vertical (numa parede) no hemisfério norte. Vemos que o mostrador acumula uma série de
influências culturais, testemunha de sua antiguidade. Várias dessas escolhas são convencionais
e é possível conceber sistemas diferentes.

Durante o período da Revolução Francesa, iniciada em 1789, criou-se o sistema


métrico, precursor do atual Sistema Internacional Unidades (SI), sendo uma de suas principais
características a divisão em múltiplos de dez. Uma proposta da época foi dividir o dia em 10
horas, cada hora em 100 minutos e cada minuto em 100 segundos. Neste caso a face do relógio
teria o numeral 5 na posição das 12 h e o número 10 na posição das 6 h.

A principal vantagem do sistema de tempo decimal é facilitar a representação escrita e


operações de soma e subtração, por exemplo, 1:23:00 é 1 hora decimal e 23 minutos decimais,
ou 1,23 horas, ou 123 minutos; 3 horas são 300 minutos ou 30.000 segundos. Esta propriedade
também permite representar datas fracionariamente: 2019-04-03,534 são cinco horas e 34
minutos ou 0,534 (53,4%) desse dia.

Outra proposta de decimalização que também data da Revolução Francesa é o grado,


que divide a circunferência em 400 partes ao invés das usuais 360 (em graus):

0° = 0g 45° = 50g 90° = 100g 180° = 200g 270° = 300g 360° = 400g

Observamos como a divisão em quadrantes fica mais evidente, mas perde-se na


representação dos ângulos notáveis de 30° (33 1/3g) e 60° (66 2/3g). O ângulo de rotação da
Terra de 15° por hora, base das linhas de Fuso Horário, seria expresso na fração mista de 16 2/3g.

Observa-se que o número 360 é divisível por 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 12, 15, 18, 20, 24,
30, 36, 40, 45, 60, 72, 90, 120, 180 e 360 num total de 24 divisores, já 400 é por 1, 2, 4, 5, 8, 10,
16, 20, 25, 40, 50, 80, 100, 200, 400, um total de 15 divisores, o número 60 tem 12 divisores e
que a base 12 possui mais divisores que a base 10.

O metro foi originalmente definido como a décima milionésima (1/10.000.000) parte da


distância entre o pólo norte geográfico e o equador:

400g = 40.000 km, a circunferência da Terra ou 40.000.000 m (quarenta milhões de metros)

1g = 100 km = 100.000 m

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1c (centigrado ou novo minuto 1/100) = 1 km

O quilômetro é o análogo decimal da milha náutica, de base sexagesimal que é 1 minuto de arco
1/60:

1’ = (1/360)/60 = (1/21.600)

360° = 21.600 milhas náuticas, a circunferência da Terra

40.000.000 m/21.600 ~ 1851,85 m

Atualmente, como todas as unidades do Sistema Imperial, a milha náutica é definida como
exatamente 1.852 m.

Eratóstenes, polímata grego do século II a.C. estimou a circunferência da Terra através


da medida do ângulo de (~7°) e do perímetro (~800 km) de um setor circular.

Aproveitando o ensejo, temos também o conceito de tamanho angular, utilizada na


Astronomia, Cartografia, Ótica, etc: o Sol e a Lua têm aproximadamente 1/2° ou 0,5 graus ou 30
arco-minutos de grau.

Finalmente, temos que mencionar a diferença entre Dia Solar (de 24 h) e Dia Sideral
(23 h 56 min 4,1 s). O primeiro é o tempo necessário para que o Sol retorne a mesma posição
em relação a um marco na Terra, ou alternativamente, quando de um dia para o outro
observamos a mesma sombra (o mesmo ângulo) em um relógio solar. É o nosso conceito comum
de dia que já na antiguidade foi dividido em 24 partes. A esta definição empírica é dado o nome
de dia solar aparente ou verdadeiro pois corresponde ao que de fato vemos. A excentricidade
(formato elíptico) da órbita terrestre e da inclinação do eixo em relação a eclíptica (plano da
órbita da Terra) gera uma variação de menos de meio minuto para mais ou para menos em
alguns dias do ano. A fim de se obter uma unidade mais adequada para medição dos dias e do
ano, foi criado o conceito de dia solar médio de 24 h.

O dia sideral é o tempo necessário para uma estrela aparecer na mesma posição em
relação a um marco na Terra, ou alternativamente em uma perspectiva geocêntrica, a medição
da rotação da esfera celeste. A diferença para o dia solar advém do fato que além da rotação a
Terra translada uma distância (cerca de 1 °, já que o ano tem 365 dias) ao longo de sua órbita.
Assim, após um dia sideral, a Terra precisa girar mais um pouco até o Sol aparecer na mesma
posição.

O conceito de se referenciar ao Sol ou as estrelas pode ser estendido ao período do ano,


gerando o Ano Tropical e o Ano Sideral (~20 minutos mais longo), cuja diferença é causada pela
Precessão dos Equinócios (um ciclo de aproximadamente 26 mil anos!).

O fato do ano tropical durar um pouco mais que 365 dias, requer correção na forma do
ano bissexto, com a inclusão do dia 29 de fevereiro tanto no Calendário Juliano (de 45 a.C.)
quanto no Gregoriano (de 1582).

Atividade 02 vamos analisar o nosso modelo:

no nosso modelo o mostrador é o equivalente ao ponteiro de minutos e não existe ponteiro das
horas

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e) Escapamento

O Escapamento é a parte mais importante do relógio mecânico distinguindo-o de todos


os outros inventos anteriores. Sem o escapamento a energia do relógio seria gasta em poucos
segundos e com velocidade crescente, portanto a função primária do escapamento é disciplinar
a liberação da energia cinética de forma lenta e idealmente constante.

O primeiro escapamento foi o verge e foliot, posteriormente no século XVII,


desenvolveu-se o modelo âncora, o mais comum entre as centenas de tipos historicamente
registradas.

f) Oscilador

Atuando junto ao escapamento, temos sempre um Oscilador cuja função é garantir


intervalos de tempo iguais, propriedade conhecida como isocronismo. O oscilador faz isso
alternando entre fases de energia cinética e potencial (gravitacional ou elástica). Durante estas
fases e também na passagem de uma para outra, a energia do relógio é perdida na forma de
calor e som.

O primeiro oscilador foi uma massa rotacional paralela ao chão, na forma de uma haste
(foliot) ou roda (chamada roda de balanço). Após 400 anos, com a invenção por Galileo Galilei
por volta de 1602 e contribuição de Christiaan Huygens em 1656 o pêndulo foi pela primeira
vez utilizado como oscilador em um relógio mecânico, na mesma época a mola espiral foi
acrescentada à roda de balanço permitindo os relógios portáteis. No nosso modelo podemos
fazer a transição do escapamento foliot para pêndulo, que levou 400 anos na história, em alguns
segundos!

Tanto o pêndulo como a roda de balanço com mola espiral funcionam como osciladores
harmônicos, sistemas que, quando deslocados da sua posição de equilíbrio, experimentam uma
força restauradora linearmente proporcional ao deslocamento. O pêndulo foi o mais preciso
oscilador harmônico por 300 anos até a invenção do oscilador de quartzo nos anos 20 do século
XX.

O pêndulo é muito estudado pela física, com extensas análises matemáticas do seu
comportamento. O período T de um pêndulo simples, para pequenas oscilações, depende
apenas de duas variáveis: seu comprimento L e a aceleração local da gravidade g:

𝐿
𝑇 = 2𝜋√
𝑔

Uma observação importante é que fomos da base do relógio até aqui (de baixo para
cima), mas uma vez apresentados ao pêndulo podemos inverter nossa análise (de cima para
baixo) e ver o pêndulo como a parte principal e todo o resto apenas como um meio de suprir o
pêndulo e registrar quantos oscilações aconteceram via ponteiros.

Um pêndulo sozinho é um relógio em si e uma pessoa poderia (sabendo de antemão


seu período em segundos) contar quantas oscilações um pêndulo fez para medir tempo; este
mesmo pêndulo não precisaria estar conectado a uma fonte de energia ou trem de engrenagens,

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sendo a energia perdida no atrito com o ar e no pivô cuidadosamente suprida pela mão da
pessoa assistindo-o.

O período de oscilação de uma roda de balanço é:

𝐼
𝑇 = 2𝜋 √
𝑘

I é o momento de inércia em kg m² (massa rotacional) e k a constante da mola em N.m/rad,

N.m é a unidade de torque

Uma mola linear tem sua constante medida em N/m

Além do pêndulo e da roda de balanço outro exemplo de oscilador utilizado em relógios


é o diapasão e nos relógios eletrônicos, o cristal de quartzo operado em 32.768 Hz (= 215).

3. Pêndulo Físico

No mundo real um objeto jamais poderá satisfazer as exigências de um pêndulo simples,


sendo denominado portanto de pêndulo físico.

𝐼𝑆
𝑇 = 2𝜋√
𝑚𝑔𝐿𝑐𝑚

Pelo teorema dos eixos paralelos IS = Icm + m(Lcm)2 :

𝐿𝑐𝑚 𝐼𝑐𝑚
𝑇 = 2𝜋√ +
𝑔 𝑚𝑔𝐿𝑐𝑚

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Também podemos expressar pelo artifício do Raio de giração:

𝐼𝑐𝑚
𝑅𝑐𝑚 = √
𝑚

𝐿2𝑐𝑚 + 𝑅𝑐𝑚
2
𝑇 = 2𝜋√
𝑔𝐿𝑐𝑚

Atividade 02:

a) achando o período do pêndulo

b) medindo a gravidade

4𝜋²𝐿
𝑔=
𝑇2
Como os pêndulos eram usados para medir a aceleração local da gravidade, esta era geralmente
expressa não por valor da aceleração em m/s2 como hoje, mas pelo comprimento naquele local
do pêndulo de segundos (isto é com T = 2 s), pois g é proporcional a L:

𝑔 = 𝜋²𝐿

Em 1673, Christiaan Huygens, em sua análise matemática de pêndulos, na publicação


Horologium Oscillatorium, mostrou que um pêndulo físico possui o período equivalente a um
pêndulo simples de comprimento L igual à distância entre o pivô e um ponto chamado de centro
de oscilação ou de percussão. Se este centro for usado como pivô o pivô anterior será o novo
centro de oscilação, sendo portanto intercambiáveis, este era o princípio do pêndulo de Kater,
inventado pelo físico inglês Henry Kater em 1817.

4. O Desafio da Longitude – o grande momento do relógio mecânico

No século XVIII o relógio foi chamado a resolver um difícil problema presente desde
antiguidade, o problema da longitude. Para tanto o esforço de uma vida foi necessário: John
Harrison, horologista inglês.

Imagine um barco, como as caravelas, partindo de Portugal cruzando o Atlântico em


direção ao Brasil, um navegador da época tinha uma indicação dos pontos cardeais com a
bússola apontando para o pólo norte magnético e podia determinar sua latitude facilmente,
observando o Sol ao meio-dia ou a Estrela Polar com um astrolábio à noite.

No entanto para a longitude só a navegação estimada era possível, calculando a


velocidade do navio em nós com auxílio da nossa conhecida ampulheta. A imprecisão deste
método muitas vezes levava a naufrágios.

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Um desses desastres levou o governo britânico a estabelecer o Comitê da Longitude em
1714, com prêmios para quem resolvesse o desafio. Outros países da Europa também criaram
instituições semelhantes. Este esforço internacional representou um dos maiores
empreendimentos científicos da história.

Em 1612, Galileu tendo descoberto e determinado os períodos orbitais dos quatro


satélites mais brilhantes de Júpiter, Io, Europa, Ganimedes e Callisto, propôs usar suas posições
como um relógio. Este método requeria a observação das luas no convés do navio em
movimento e nunca foi usado no mar, no entanto serviu para determinação da longitude em
terra.

Por volta de 1683, Edmund Halley propôs o uso de um telescópio para observar o tempo
de ocultações de estrelas pela Lua, essas observações contribuíram para o método das
distâncias lunares. Halley também esperava que observações cuidadosas de desvios magnéticos
pudessem fornecer uma determinação da longitude. Marinheiros observaram que o norte
magnético se desviava do norte geográfico em muitos locais, se esse padrão fosse consistente
poderia ser usado para determinar a longitude, o que acabou não sendo viável.

O método das distâncias lunares, fruto do trabalho de vários astrônomos, incluía tabelas
diárias de diversos dados astronômicos, permitindo que, com a medição da distância angular
entre a Lua e estrelas, mais alguns cálculos, fosse possível calcular a longitude.

Finalmente a proposta era usar um relógio mecânico, que manteria o tempo correto em
de um local de referência. Muitos, incluindo Isaac Newton, eram pessimistas sobre a
possibilidade de um relógio com a precisão necessária e tolerante aos movimentos abordo de
uma embarcação. Entra em cena John Harrison, com seus cronômetros marítimos, uma série
de modelos culminando no H-4, no entanto, ele não foi reconhecido como vencedor pelo Comitê
da Longitude. Harrison também criou com um engenhoso arranjo para compensar a dilatação
térmica dos pêndulos.

Entre 1800 e 1850, com a evolução da técnica, os cronômetros ficaram com preços mais
acessíveis e foi possível o uso de dezenas abordo afim de aumentar ainda mais a precisão.

5. Conclusão

Com a revolução do quartzo nos anos 70 os relógios mecânicos foram substituídos por
relógios digitais, com osciladores de quartzo e eletrônica. No entanto sua produção continua,
por apreciação histórica e estética. Um relógio mecânico tem suas partes produzidas por mãos
humanas.

Para aplicações que requerem grande precisão, como satélites de GPS, são utilizados
relógios atômicos, onde transições na eletrosfera fazem o papel de oscilador. A humanidade foi
do Sol ao átomo.

No final dessa jornada convidamos a todos a fazer suas próprias pesquisas sobre os
temas abordados. Bons estudos!

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