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Objetivo Pedagógico: apresentação de um índice temático nas áreas de História, Geografia,
Matemática e Física para alunos do nível médio e interessados.
Materiais: esta apostila (11 páginas) e um modelo de relógio mecânico construído com peças
de Lego, outros materiais, como impressão 3D, madeira ou sucata podem servir igualmente.
Um tutor que tenha recebido instrução poderá operar o mecanismo e repassar o conhecimento,
além de formar novos tutores.
Índice Temático
História Física
3. solstício 8. moto-perpétuo
2. divisibilidade Astronomia
Que horas são? Hoje podemos dar uma resposta rápida e precisa através de celulares e
relógios de pulso. Por trás deste ato corriqueiro estão milênios de acumulação de conhecimento
de diversas culturas e gênios singulares.
“(...) nenhum dos discursos que temos vindo a fazer sobre o universo poderia de algum
modo ser proferido sem termos visto os astros, o Sol e o céu. Foi o fato de vermos o dia e a noite,
os meses, o circuito dos anos, os equinócios e os solstícios que deu origem aos números que nos
proporcionam a noção de tempo e a investigação sobre a natureza do universo.”
a) Relógio de Sol
b) Clepsidras
A primeira limitação dos relógios de Sol é a sua inoperância durante a noite. A Lua por
sua natureza, principalmente suas fases, não permite o uso diário como marcador de forma tão
evidente como o Sol, embora permitam a medição de períodos mais longos como os meses,
divisão do ano criada justamente pela observação de um ciclo completo das fases lunares.
d) Relógio de vela
Resumo
A clepsidra, ampulheta e relógio de vela têm origens históricas difíceis de rastrear, com
várias culturas utilizando-as de forma independente. O erro nesses instrumentos era de vários
minutos no período de um dia em função de fatores ambientais, como temperatura e umidade.
Para civilizações pré-industriais tal imprecisão era aceitável.
O relógio de Sol e a observação de outros corpos celestes eram o padrão por excelência
de aferição de outros dispositivos até que a precisão dos relógios mecânicos avançasse ao ponto
de detectar variações nos movimentos da Terra e demais astros.
2. O Relógio Mecânico
Os registros desses mecanismos são escassos, mas é certo que em poucas décadas a
técnica de construção se espalhou pela Europa. O esquema de todos os relógios mecânicos
desde a sua criação até os dias de hoje tem seis partes principais: estrutura, fonte de energia,
trem de engrenagens, mostrador, escapamento e oscilador.
Estrutura
Fonte de energia
Toda máquina precisa de energia para funcionar e os dispositivos antigos não são
exceção: a clepsidra e a ampulheta usam a energia potencial gravitacional, respectivamente da
água e da areia que foram colocadas por uma pessoa em um ponto mais alto. Por construção
essa energia potencial se transforma em energia cinética lentamente. A pessoa que repõe a
água na clepsidra ou vira a ampulheta por sua vez obtém energia dos alimentos, estes têm sua
energia derivada do Sol via fotossíntese ou dos animais que consumiram plantas (os relógios de
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vela têm sua fonte aqui). A energia do Sol vem de um processo conhecido como fusão nuclear,
onde átomos de hidrogênio comprimidos pela imensa pressão e altas temperaturas do núcleo
solar fundem-se em átomos de hélio liberando energia.
A maioria das fontes de energia que utilizamos no nosso dia-dia tem origem do Sol. De
forma direta temos a energia solar fotovoltaica e solar térmica; e indireta a energia hidrelétrica
de reservatórios reabastecidos pelo ciclo da água e a energia eólica. A Biomassa vem de
resíduos orgânicos vegetais ou animais e finalmente os combustíveis fósseis, carvão, petróleo
e gás são energia solar de organismos de milhões de anos atrás.
São exemplos de fontes que não derivam do nosso Sol: a energia nuclear, proveniente
da fissão nuclear onde átomos Urânio ou Plutônio se dividem gerando energia, a energia das
marés e a energia geotérmica. Curiosamente o elemento Urânio foi formado por estrelas que
precederam o nosso Sol em um processo chamado de nucleossíntese.
O relógio de Sol deriva seu funcionamento de duas fontes, a luminosidade solar cuja
fonte, como vimos, é a fusão nuclear e a energia cinética rotacional da Terra, resultado da
rotação do disco protoplanetário que formou nosso sistema Solar, um exemplo de conservação
do momento angular. Esta energia se manifesta também na rotação e translação de todos os
planetas, asteróides e cometas. O simples movimento de uma sombra nos conecta com as
origens da Terra! Concluímos então que todo máquina ou processo que observamos consome
energia e não existe moto-perpétuo ou movimento perpétuo.
No caso do relógio mecânico, historicamente a primeira fonte de energia foi uma massa
ligada a uma corda enrolada num cilindro. Uma massa erguida armazena energia potencial
gravitacional e ao cair desenrola a corda girando um cilindro. Os relógios de torre fazem duplo
da sua posição: visibilidade a distância e altura para a descida da massa.
As vantagens dessa fonte são sua durabilidade e constância de torque, para pequenas
alturas a variação do peso é irrelevante. Sua fórmula é dada por:
Epg = m.g.h
c) Trem de engrenagens
Em um relógio sua função é multiplicar o número de voltas do cilindro movido pelo peso
ou mola, auxiliando assim na autonomia (ou seja, no número de horas de operação) do relógio.
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A relação entre cada eixo é de cada vez menos torque e mais velocidade. É possível construir
um relógio sem esta parte, mas com inconvenientes:
- localizado em local muito alto (para ter altura suficiente para a massa cair)
Alguns raros relógios não possuem trem de engrenagens, procure na internet pelo
modelo W5 do horologista Philip Woodward.
Uma alavanca consiste em uma haste e fulcro e são classificadas pela posição relativa
deste aos locais onde se aplicam o esforço e a carga:
classe 1: fulcro no meio, esforço em um braço e carga no outro a vantagem mecânica pode ser
maior, menor ou igual a 1
Existem duas situações possíveis num par de engrenagens: uma pequena move uma
grande ou uma grande move uma pequena. No primeiro caso ganhamos torque e perdemos
velocidade e números de voltas. No segundo caso ganhamos velocidade e perdemos torque e
número de voltas. Esta oposição é observada em todas as máquinas simples e deriva das leis de
conservação de energia e momento.
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Atividade 01 vamos analisar o nosso modelo:
3 pinhões: 8 dentes
5 x 5 x 3 = 75
- a roda de escape gira 75 vezes para cada volta completa da grande roda
- a grande roda gira uma fração de 1/75 ou na forma da dízima periódica: 0,01333333... para
cada volta completa da roda de escape
- para cada incremento (de 60°) da roda de escape a grande roda gira:
A potência da roda de escape é a mesma da grande roda pois é produto do torque pela
velocidade angular.
A fonte de energia do nosso modelo é um motor de corda que supri aproximadamente 16 voltas,
a grande roda está conectada diretamente a fonte, o que significa que a roda de escape gira 16
x 75 = 1200 voltas, mas na prática o número é inferior, pois conforme a mola vai desenrolando
o torque vai diminuindo até não poder vencer o torque oposto do atrito e inércia do trem de
engrenagens, do escapamento e do oscilador.
d) Mostrador
Com apenas dois ponteiros, da hora e os dos minutos é possível codificar 720 posições
distintas (60 minutos x 12 horas). Os 1.440 minutos de um dia são expressos em uma forma
simples e elegante. O eixo dos ponteiros dos minutos vem do trem de engrenagens sem
modificações e o ponteiro das horas é gerado por uma redução de 12:1, a única redução desse
tipo no mecanismo. É interessante notar que a velocidade do ponteiro das horas é duas vezes a
velocidade de rotação da Terra, o que nos permite contemplar quão lenta é esta rotação,
quando observada próxima ao eixo.
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A divisão do dia em 24 horas com 12 horas de dia e 12 de noite já era usada na
antiguidade pelos romanos e tem origens egípcias. A divisão da hora em 60 minutos e do minuto
em 60 segundos vem da matemática Babilônica e é usada também para medir ângulos. Um
mostrador atual tem portanto três bases numéricas: a duodecimal para horas, a sexagesimal
para minutos e segundos e a decimal para expressão de todos esses valores.
0° = 0g 45° = 50g 90° = 100g 180° = 200g 270° = 300g 360° = 400g
Observa-se que o número 360 é divisível por 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 12, 15, 18, 20, 24,
30, 36, 40, 45, 60, 72, 90, 120, 180 e 360 num total de 24 divisores, já 400 é por 1, 2, 4, 5, 8, 10,
16, 20, 25, 40, 50, 80, 100, 200, 400, um total de 15 divisores, o número 60 tem 12 divisores e
que a base 12 possui mais divisores que a base 10.
1g = 100 km = 100.000 m
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1c (centigrado ou novo minuto 1/100) = 1 km
O quilômetro é o análogo decimal da milha náutica, de base sexagesimal que é 1 minuto de arco
1/60:
1’ = (1/360)/60 = (1/21.600)
Atualmente, como todas as unidades do Sistema Imperial, a milha náutica é definida como
exatamente 1.852 m.
Finalmente, temos que mencionar a diferença entre Dia Solar (de 24 h) e Dia Sideral
(23 h 56 min 4,1 s). O primeiro é o tempo necessário para que o Sol retorne a mesma posição
em relação a um marco na Terra, ou alternativamente, quando de um dia para o outro
observamos a mesma sombra (o mesmo ângulo) em um relógio solar. É o nosso conceito comum
de dia que já na antiguidade foi dividido em 24 partes. A esta definição empírica é dado o nome
de dia solar aparente ou verdadeiro pois corresponde ao que de fato vemos. A excentricidade
(formato elíptico) da órbita terrestre e da inclinação do eixo em relação a eclíptica (plano da
órbita da Terra) gera uma variação de menos de meio minuto para mais ou para menos em
alguns dias do ano. A fim de se obter uma unidade mais adequada para medição dos dias e do
ano, foi criado o conceito de dia solar médio de 24 h.
O dia sideral é o tempo necessário para uma estrela aparecer na mesma posição em
relação a um marco na Terra, ou alternativamente em uma perspectiva geocêntrica, a medição
da rotação da esfera celeste. A diferença para o dia solar advém do fato que além da rotação a
Terra translada uma distância (cerca de 1 °, já que o ano tem 365 dias) ao longo de sua órbita.
Assim, após um dia sideral, a Terra precisa girar mais um pouco até o Sol aparecer na mesma
posição.
O fato do ano tropical durar um pouco mais que 365 dias, requer correção na forma do
ano bissexto, com a inclusão do dia 29 de fevereiro tanto no Calendário Juliano (de 45 a.C.)
quanto no Gregoriano (de 1582).
no nosso modelo o mostrador é o equivalente ao ponteiro de minutos e não existe ponteiro das
horas
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e) Escapamento
f) Oscilador
O primeiro oscilador foi uma massa rotacional paralela ao chão, na forma de uma haste
(foliot) ou roda (chamada roda de balanço). Após 400 anos, com a invenção por Galileo Galilei
por volta de 1602 e contribuição de Christiaan Huygens em 1656 o pêndulo foi pela primeira
vez utilizado como oscilador em um relógio mecânico, na mesma época a mola espiral foi
acrescentada à roda de balanço permitindo os relógios portáteis. No nosso modelo podemos
fazer a transição do escapamento foliot para pêndulo, que levou 400 anos na história, em alguns
segundos!
Tanto o pêndulo como a roda de balanço com mola espiral funcionam como osciladores
harmônicos, sistemas que, quando deslocados da sua posição de equilíbrio, experimentam uma
força restauradora linearmente proporcional ao deslocamento. O pêndulo foi o mais preciso
oscilador harmônico por 300 anos até a invenção do oscilador de quartzo nos anos 20 do século
XX.
O pêndulo é muito estudado pela física, com extensas análises matemáticas do seu
comportamento. O período T de um pêndulo simples, para pequenas oscilações, depende
apenas de duas variáveis: seu comprimento L e a aceleração local da gravidade g:
𝐿
𝑇 = 2𝜋√
𝑔
Uma observação importante é que fomos da base do relógio até aqui (de baixo para
cima), mas uma vez apresentados ao pêndulo podemos inverter nossa análise (de cima para
baixo) e ver o pêndulo como a parte principal e todo o resto apenas como um meio de suprir o
pêndulo e registrar quantos oscilações aconteceram via ponteiros.
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sendo a energia perdida no atrito com o ar e no pivô cuidadosamente suprida pela mão da
pessoa assistindo-o.
𝐼
𝑇 = 2𝜋 √
𝑘
3. Pêndulo Físico
𝐼𝑆
𝑇 = 2𝜋√
𝑚𝑔𝐿𝑐𝑚
𝐿𝑐𝑚 𝐼𝑐𝑚
𝑇 = 2𝜋√ +
𝑔 𝑚𝑔𝐿𝑐𝑚
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Também podemos expressar pelo artifício do Raio de giração:
𝐼𝑐𝑚
𝑅𝑐𝑚 = √
𝑚
𝐿2𝑐𝑚 + 𝑅𝑐𝑚
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𝑇 = 2𝜋√
𝑔𝐿𝑐𝑚
Atividade 02:
b) medindo a gravidade
4𝜋²𝐿
𝑔=
𝑇2
Como os pêndulos eram usados para medir a aceleração local da gravidade, esta era geralmente
expressa não por valor da aceleração em m/s2 como hoje, mas pelo comprimento naquele local
do pêndulo de segundos (isto é com T = 2 s), pois g é proporcional a L:
𝑔 = 𝜋²𝐿
No século XVIII o relógio foi chamado a resolver um difícil problema presente desde
antiguidade, o problema da longitude. Para tanto o esforço de uma vida foi necessário: John
Harrison, horologista inglês.
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Um desses desastres levou o governo britânico a estabelecer o Comitê da Longitude em
1714, com prêmios para quem resolvesse o desafio. Outros países da Europa também criaram
instituições semelhantes. Este esforço internacional representou um dos maiores
empreendimentos científicos da história.
Por volta de 1683, Edmund Halley propôs o uso de um telescópio para observar o tempo
de ocultações de estrelas pela Lua, essas observações contribuíram para o método das
distâncias lunares. Halley também esperava que observações cuidadosas de desvios magnéticos
pudessem fornecer uma determinação da longitude. Marinheiros observaram que o norte
magnético se desviava do norte geográfico em muitos locais, se esse padrão fosse consistente
poderia ser usado para determinar a longitude, o que acabou não sendo viável.
O método das distâncias lunares, fruto do trabalho de vários astrônomos, incluía tabelas
diárias de diversos dados astronômicos, permitindo que, com a medição da distância angular
entre a Lua e estrelas, mais alguns cálculos, fosse possível calcular a longitude.
Finalmente a proposta era usar um relógio mecânico, que manteria o tempo correto em
de um local de referência. Muitos, incluindo Isaac Newton, eram pessimistas sobre a
possibilidade de um relógio com a precisão necessária e tolerante aos movimentos abordo de
uma embarcação. Entra em cena John Harrison, com seus cronômetros marítimos, uma série
de modelos culminando no H-4, no entanto, ele não foi reconhecido como vencedor pelo Comitê
da Longitude. Harrison também criou com um engenhoso arranjo para compensar a dilatação
térmica dos pêndulos.
Entre 1800 e 1850, com a evolução da técnica, os cronômetros ficaram com preços mais
acessíveis e foi possível o uso de dezenas abordo afim de aumentar ainda mais a precisão.
5. Conclusão
Com a revolução do quartzo nos anos 70 os relógios mecânicos foram substituídos por
relógios digitais, com osciladores de quartzo e eletrônica. No entanto sua produção continua,
por apreciação histórica e estética. Um relógio mecânico tem suas partes produzidas por mãos
humanas.
Para aplicações que requerem grande precisão, como satélites de GPS, são utilizados
relógios atômicos, onde transições na eletrosfera fazem o papel de oscilador. A humanidade foi
do Sol ao átomo.
No final dessa jornada convidamos a todos a fazer suas próprias pesquisas sobre os
temas abordados. Bons estudos!
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