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O que é o buraco gravitacional da Terra?
Redação do Site Inovação Tecnológica - 07/07/2023

Não é um buraco, é uma área que parece ter menor densidade e, portanto, uma gravidade
ligeiramente menor.
[Imagem: ESA]
Anomalia gravitacional

Um artigo científico publicado por dois pesquisadores indianos chamou a atenção da imprensa
para uma anomalia gravitacional da Terra que é conhecida há décadas, chamada Baixo Geoide
do Oceano Índico (IOGL, na sigla em inglês para Indian Ocean Geoid Low).

Inicialmente detectada por medidores de gravidade em navios, essa anomalia mostrou seus
contornos verdadeiros quando a sonda espacial GOCE, da Agência Espacial Europeia, mapeou
pela primeira vez o campo gravitacional da Terra, há quase 15 anos.

Debanjan Pal e Attreyee Ghosh, do Instituto Indiano de Ciências, publicaram agora um novo
modelo oferecendo uma possível explicação para a existência dessa anomalia, que a imprensa
está chamando de "buraco gravitacional da Terra".

Mas, como explicou em uma entrevista à BBC a professora Gabriela Viejo, a Universidade de
Oviedo, na Espanha, "esse 'buraco' não é uma área onde as coisas afundam, nem os objetos
caem mais rápido. E também não é um buraco visível."

Acontece que a Terra está longe de ser homogênea em termos da formação de suas diversas
camadas. Juntamente com a variabilidade do próprio formato do planeta - a Terra é mais
parecida com uma batata, que os cientistas chamam de geoide, do que com uma esfera
perfeita - isso resulta em valores locais da força da gravidade que fogem ao padrão de 9,8
m/s2.

São essas variações que são chamadas de anomalias gravitacionais, e não são só "buracos": As
anomalias podem ser positivas, quando o valor da gravidade (g) é maior que o padrão, ou
negativas, quando o valor é menor. Assim, para seguir a ilustração popular, existem "buracos
gravitacionais" e "montanhas gravitacionais".

Buraco gravitacional do Oceano Índico

O Baixo Geoide do Oceano Índico é o ponto mais baixo do geoide da Terra. Ele está localizado
no Oceano Índico, ao sul do Subcontinente Indiano.

É uma depressão circular que fica 105 metros abaixo do nível médio do mar e com uma área de
mais de 3 milhões de quilômetros quadrados.
Neste modelo da gravidade da Terra, o "buraco gravitacional" no Oceano Índico é visto em um azul
profundo.
[Imagem: ESA]

Já foram propostas inúmeras hipóteses sobre como esse espaço que registra a menor
gravidade do planeta pode ter-se formado, todas partindo da noção básica de que a gravidade
é proporcional à massa - menos massa implica menos gravidade.

Assim, o raciocínio natural é que na área do "buraco gravitacional" há menos massa. Só que
não há consenso sobre o porquê dessa quantidade menor de massa.

Os modelos disponíveis até hoje baseiam sua explicações nas interações das placas tectônicas
da região, que teriam umas entrado embaixo das outras ao se chocarem. Mas esses modelos
não conseguem explicar as velocidades das ondas sísmicas quando elas atravessam a região -
as velocidades sísmicas são tipicamente explicadas pelas diferentes densidades e temperaturas
das camadas do planeta.

É aqui que entra a nova explicação proposta pelos dois pesquisadores indianos.

Plumas do manto menos densas

Debanjan Pal e Attreyee Ghosh argumentam que "estudos anteriores analisaram a anomalia
atual e não se preocuparam com a forma como ela surgiu".
A nova explicação envolve as plumas do manto.
[Imagem: Debanjan Pal et al. - 10.1029/2022GL102694]

Com os avanços da computação, eles conseguiram agora criar um modelo que, pela primeira
vez, explica a anomalia gravitacional e os dados de velocidades sísmicas registrados.

A dupla simulou 19 cenários diferentes para o movimento das placas tectônicas e mudanças no
manto da Terra nos últimos 140 milhões de anos. Para isso, eles variaram diferentes
parâmetros, como a viscosidade ou densidade do manto, a temperatura, a resistência das
placas ou o tempo de deformação, até chegar a um conjunto de valores que explica os dados
reais.

Em seis das simulações, a forma e a extensão do geoide abaixo do Oceano Índico se


aproximaram dos dados reais.

Uma das novidades é que o papel das placas oceânicas, sobretudo de uma placa antiga,
chamada Tétis, tem apenas um papel secundário na geração da anomalia gravitacional. Além
disso, os cenários mais fiéis aos dados colocam na equação outra parte do planeta, a África
Oriental.

Sabe-se que materiais mais quentes e menos densos que emergem do manto, chamados
"plumas do manto", podem resultar em anomalias de baixa densidade. No entanto, não se
conhece nenhuma pluma de manto sob o IOGL, o que estava fazendo com que essa possível
explicação fosse deixada de lado. Contudo, os pesquisadores descobriram que há material
quente subindo da grande província africana de baixa velocidade de cisalhamento, ou da
superpluma africana, na vizinhança do IOGL, que está sendo desviado para o leste, terminando
bem abaixo do IOGL. Esse desvio possivelmente se deve ao movimento rápido da placa
indiana, argumentam os pesquisadores.

Como essa pluma do manto consiste em um magma quente e menos denso, ele se eleva acima
do restante dos materiais. Nos modelos propostos pelos dois pesquisadores, é essa menor
densidade desse material que explicaria o "buraco gravitacional" do Oceano Índico.

Bibliografia:

Artigo: How the Indian Ocean geoid low was formed


Autores: Debanjan Pal, Attreyee Ghosh
Revista: Geophysical Research Letters
Vol.: 50, Issue 9 e2022GL102694
DOI: 10.1029/2022GL102694

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