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Equipe brasileira investiga rota misteriosa no

espaço-tempo em novo estudo

Pesquisadores utilizaram termodinâmica para analisar gás em


buraco de minhoca; estudo foi publicado em periódico
internacional

Pesquisadores brasileiros estudaram as propriedades termodinâmicas de um gás ideal


encontrado em um buraco de minhoca, uma "passagem" hipotética entre duas regiões remotas
no espaço-tempo. Os resultados foram publicados em 17 de outubro no periódico
internacional Classical and Quantum Gravity.

O estudo foi desenvolvido pelo Grupo de Física Teórica e Computacional da Universidade


Federal do Cariri (UFCA), no Ceará, que estuda três temas desde 2018: gravitação/cosmologia,
teoria quântica de campos e física da matéria condensada, consolidando-se como referência
nesses assuntos no cenário internacional.

Fizeram parte da equipe os professores Job Saraiva Furtado Neto e José Euclides Gomes da

Silva, da UFCA. A dupla contou com a parceria dos pesquisadores João Alfíeres Simão dos Reis,

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e Adailton Azevedo de Araújo Filho, da

Universidade de Valência, na Espanha.

Conforme explicou Saraiva em comunicado, um buraco de minhoca seria, de maneira bem

simplista, "como se você desejasse fazer a viagem de um ponto a outro do universo e, em vez

de tomar o caminho normal, você pudesse tomar uma rota alternativa bem mais curta”.

Segundo o pesquisador, essas estruturas já haviam sido previstas por Albert Einstein e Nathan
Rosen em 1935, e eram conhecidas como pontes de Einstein-Rosen. Porém, foram deixadas de
lado até 1988, quando cientistas mostraram que elas poderiam ser usadas para viagens
interestelares.

Porém, há algumas contradições nos buracos de minhoca: no contexto da teoria da

relatividade geral de Einstein, eles necessitam de matéria exótica para se formarem, ou seja,
de uma matéria que se desvia da norma, apresentando propriedades “exóticas” que violam as

leis da física.

Além disso, os buracos de minhoca não podem ser observados – apenas seus efeitos indiretos

permitem sua visualização. “Há alguns indícios que podem permitir a diferenciação entre

um buraco negro e um buraco de minhoca, tais como sombras e discos de acreção [estrutura

formada por materiais difusos em movimento orbital ao redor de um corpo central]", cita

Saraiva.

Outro indício possível dessas "pontes" no espaço-tempo é a termodinâmica, explorada no novo

estudo. "Portanto, a pergunta que buscamos responder era: como um gás se comporta nas

imediações de um buraco de minhoca?”, explica o pesquisador.

Os cientistas descobriram que as propriedades de um determinado gás nas imediações do


buraco de minhoca de Ellis são extremamente dependentes dos parâmetros geométricos que
definem essa "rota" no espaço-tmpo.

Dependendo de onde o gás se encontra no buraco de minhoca, também há indícios de que ele

exiba comportamento de matéria ordinária e de matéria exótica. Tais resultados, conforme

Saraiva, contribuem para o avanço da área de gravitação e cosmologia por desvendar

questões que estavam em aberto sobre esses objetos curiosos.

Astrônomos estão descobrindo "embriões" de buracos negros do início do universo. Desta


vez, eles encontraram o buraco negro mais distante já visto em raios-X, usando
telescópios da Nasa. O objeto supermassivo data de apenas 470 milhões de anos
após o Big Bang – o qual teria ocorrido há cerca de 13,7 bilhões de anos,
segundo estimativas da agência espacial americana.

A equipe do Observatório de Raios-X Chandra da Nasa, que contribuiu com o


achado, divulgou a novidade ontem (6). A descoberta foi registrada em dois estudos:
um deles ainda será publicado na revista Nature Astronomy, mas já está disponível em
pré-impressão no site Arxiv, e o outro foi publicado no periódico Astrophysical Journal
Letters.
A assinatura característica do buraco negro mais distante foi detectada a partir de uma
combinação de dados do Chandra e do Telescópio Espacial James Webb da Nasa. O objeto está em
um estágio inicial de crescimento que nunca havia sido testemunhado antes, no qual sua
massa é semelhante à de sua galáxia hospedeira.
"Precisávamos do Webb para encontrar essa galáxia incrivelmente distante e do

Chandra para encontrar seu buraco negro supermassivo", explica em comunicado Akos

Bogdan, do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian (CfA), que lidera a pesquisa

na Nature Astronomy. "Também aproveitamos uma lente cósmica que aumentou a

quantidade de luz que detectamos".

A galáxia que abriga o buraco negro recém-descoberto se chama UHZ1 e foi localizada na
direção do aglomerado de galáxias Abell 2744, localizado a 3,5 bilhões de anos-luz da Terra.
Porém, os dados do Webb revelaram que a galáxia está muito mais distante do que
o aglomerado, a 13,2 bilhões de anos-luz do nosso planeta, quando o universo tinha apenas 3%
de sua idade atual.
Após mais de duas semanas de observações com o Chandra, os astrônomos

descobriram gás intenso e superaquecido emitindo raios-X nessa galáxia — uma

característica de um buraco negro supermassivo em crescimento.

Devido à lente gravitacional, a luz da galáxia e os raios-X do gás ao redor de seu

buraco negro supermassivo foram ampliados em cerca de quatro vezes pela matéria

interposta em Abell 2744. Isso ampliou o sinal infravermelho detectado pelo Webb e

permitiu ao Chandra detectar a fraca fonte de raios-X.

A descoberta pode ajudar os cientistas a entender como alguns buracos negros

supermassivos atingiram massas colossais logo após o Big Bang. "Há limites físicos

para quão rapidamente os buracos negros podem crescer uma vez que se formam,

mas aqueles que nascem mais massivos têm uma vantagem inicial", explica Andy
Goulding da Universidade de Princeton, nos EUA, coautor do estudo da Nature

Astronomy e autor principal do artigo no The Astrophysical Journal Letters.

O pesquisador compara o crescimento dos buracos negros ao de plantas. "É como

plantar uma muda, que leva menos tempo para crescer até se tornar uma árvore de

tamanho normal do que se você começasse com apenas uma semente", observa.

O buraco negro recém-descoberto, por exemplo, nasceu massivo, o que lhe deu a

mesma vantagem de crescimento. Sua massa é estimada entre 10 e 100 milhões de

sóis, com base no brilho e na energia dos raios-X.

Essa faixa de massa é semelhante à de todas as estrelas da galáxia do buraco negro,

o que contrasta com os buracos negros nos centros das galáxias no universo próximo,

que geralmente contêm apenas cerca de um décimo da massa das estrelas de sua

galáxia hospedeira.

A grande massa do buraco negro logo após ele nascer, somada à quantidade de raios-

X que ele produz e ao brilho da galáxia detectado pelo Webb, está de acordo com

previsões teóricas de 2017 da coautora Priyamvada Natarajan da Universidade de

Yale, nos EUA.

"Achamos que esta é a primeira detecção de um 'buraco negro excessivamente grande' e a

melhor evidência já obtida de que alguns buracos negros se formam a partir de nuvens maciças

de gás", diz ela. "Pela primeira vez, estamos vendo uma breve fase em que um buraco negro

supermassivo pesa aproximadamente o mesmo que as estrelas em sua galáxia, antes de ficar

para trás", conclui.


Fazer ciência de fronteira, aquela no limite do desconhecido, muitas vezes é como

tatear no escuro. Mas a física teórica propõe modelos com base nas leis da natureza

e nas regras matemáticas mais avançadas. Partindo igualmente de uma hipótese, de

postulados, nasce uma teoria física.

A prova de fogo para a validação de uma teoria é a observação experimental. Por conta de

inúmeras observações e medidas feitas pelos telescópios mais potentes, entre outros

experimentos, podemos afirmar que o Modelo Padrão da Cosmologia não é mais uma mera

teoria.

Mas isso não significa que seja a teoria definitiva. Mais conhecida como Teoria do Big

Bang, ela é o que temos de melhor na cosmologia quando se trata de descrever

a origem e evolução do Universo. Isso graças a observações da expansão acelerada do

cosmos, da formação de estruturas a partir de flutuações quânticas de densidade e

temperatura medidas na radiação cósmica de fundo, da formação estelar, entre

outros aspectos.

Mas há “defeitos” tão importantes nesse modelo que, para alguns cientistas, o Modelo

Padrão da Cosmologia passa por uma crise. A mais atual diz respeito a recentes

observações feitas pelo Telescópio Espacial James Webb, da Nasa. É que, com

ele, pesquisadores detectaram galáxias muito mais distantes (e, portanto, muito mais

antigas) do que o Modelo Padrão da Cosmologia prevê. E essas são provas muito

convincentes de que ele precisa ser atualizado.

Galáxias são os blocos de construção fundamentais da matéria em escalas cósmicas. Por isso,

nós, cosmólogos, as estudamos mais do que qualquer outro corpo celeste. Estrelas e planetas
são objetos de estudos da astrofísica, uma “irmã” da cosmologia, ambas “filhas” da Relatividade

Geral.

Uma galáxia é uma coleção de bilhões e bilhões de estrelas, ligadas

gravitacionalmente entre si, e podemos estudá-las para entender e descrever a

evolução do próprio espaço-tempo cósmico.

Mas as galáxias sofrem de uma espécie de problema de idade. É o que chamamos de

relação idade-desvio para o vermelho. O Modelo Padrão diz que a matéria começou a

se formar aproximadamente 400 mil anos após o Big Bang. Nessa época do Universo

primordial, elétrons e prótons se atraíam e formavam os primeiros átomos de

hidrogênio.

Antes disso, eles eram partículas livres compartilhando o espaço-tempo com fótons,

partículas fundamentais da radiação eletromagnética que mais tarde se tornariam a

radiação cósmica de fundo em micro-ondas.

A partir da recombinação em hidrogênio, o Universo passou a ser composto por um

gás muito tênue desses átomos, além de alguma dose de hélio, e pela radiação de

fundo remanescente. Depois, com a força da gravidade que age nas perturbações e a

partir das nuvens de gás primordiais, se formaram as primeiras estrelas, de

hidrogênio e hélio. E por meio da fusão nuclear desses elementos, começaram a se

formar todos os outros elementos químicos que conhecemos.

Essas estrelas de primeira geração, após esgotarem seus processos de

fusão, explodem em supernova lançando esses elementos no espaço ao seu redor.

Depois que o Universo passou por algumas gerações de estrelas, havia elementos
pesados e radiação UV suficientes para alimentar a formação de galáxias. Estrelas e

grandes quantidades de gás colapsaram em entidades gravitacionalmente ligadas

para unir essas primeiras galáxias.

E o desvio para o vermelho?

Bem, o Modelo Padrão da Cosmologia nos dá uma maneira de vincular as distâncias

observadas dos objetos celestes com sua idade relativa ao Big Bang. O desvio para o

vermelho leva em conta a expansão do Universo e, consequentemente, o

afastamento entre as galáxias. As distâncias são medidas pela observação e não

podem ser alteradas.

A idade, por outro lado, surge do modelo teórico. A partir do nosso modelo de um

Universo em expansão, guiados pela Relatividade Geral de Einstein, inserimos neles

nossa compreensão da matéria, tal como expressa no modelo padrão da física de

partículas. Juntos, eles nos dizem como a distância, ou desvio para o vermelho, se

correlaciona com uma idade desde o Big Bang.

E qual é a crise, afinal? O problema surgiu quando o Telescópio James Webb, logo nas

primeiras observações, encontrou galáxias com desvios para o vermelho maiores que

o previsto e, portanto, com idades muito maiores do que a Teoria do Big Bang

pressupõe.

Antes do James Webb, o Telescópio Espacial Hubble já havia encontrado indícios dessas

galáxias mais antigas, porém as observações iam no limite do telescópio. Com as

novas imagens, porém, estamos olhando para um passado muito, muito distante. E o
que vemos é que galáxias muito bem formadas estão aparecendo cedo demais na

evolução cósmica.

Assim, o modelo do Big Bang precisa ser atualizado, melhorado e adaptado para

explicar essas observações. E a grande questão é: quanta atualização será necessária?

Houve um período de rápida formação de galáxias primordiais seguido por outro em

que novas galáxias levaram mais tempo para se formar? Houve um período de

criação de matéria a mais? Enfim, muitas perguntas.

As respostas podem estar nas chamadas Teorias Alternativas de Gravidade. São

modelos teóricos que complementam a Relatividade Geral e mostram modelos

cosmológicos que permitem, por exemplo, supor a existência de épocas

intermediárias na evolução do Universo.

Sim, o Modelo Padrão da Cosmologia explica muito bem a origem e evolução do Universo. Mas,

como diz o físico Marcelo Gleiser em seu livro O Caldeirão Azul, “nenhuma teoria criada pelo

homem é perfeita”. A realidade é sempre um pouco mais complexa.

No primeiro microssegundo do Big Bang surgiu uma matéria inicial, um tipo específico de plasma,

que uma equipe internacional de pesquisadores resolveu recriar em busca dos segredos da origem

do universo. Eles publicaram suas descobertas em 11 de maio, no jornal acadêmico Physics Letters

B.

O Big Bang foi uma enorme explosão, que os cientistas estimam ter ocorrido há cerca de 14 bilhões
de anos. No processo, uma rápida expansão liberou energia e criou o espaço-tempo, além das
partículas, átomos, estrelas e galáxias – tudo o que existe hoje no universo.

A equipe internacional de pesquisa ALICE Collaboration, liderada pela Universidade de

Copenhagen, na Dinamarca, investigou uma substância chamada plasma de quark-glúons (QGP),

que era a única matéria que existia no primeiro microssegundo da explosão que originou tudo.
Naquele período inicial, o cosmos era como uma sopa extremamente quente e densa formada
apenas pelo QGP, ou seja, por partículas elementares. Entre elas, estavam os quarks e glúons, que
constituem os prótons e nêutrons.
“Nossos resultados nos contam uma história única de como o plasma evoluiu no estágio inicial do
universo", diz You Zhou, coautor do estudo, em comunicado. Segundo o professor, primeiro só
existia o plasma de quark-glúons, mas esse acabou sendo separado pela expansão quente do
universo.
Em seguida, pedaços de quark se transformaram nos chamados hádrons. Um hádron com três
quarks forma um próton, que está presente no núcleo dos átomos. Zhou compara as partículas a
blocos de construção que “constituem a terra, nós mesmos e o universo”.

Como o QGP desapareceu com a expansão do cosmos, os cientistas tiveram que recriá-lo para

entender o que de fato aconteceu. Para isso, utilizaram o maior acelerador de partículas do mundo,

o Grande Colisor de Hádrons (LHC).

"O colisor esmaga os íons do plasma com grande velocidade – quase como a velocidade da luz. Isso
nos torna capazes de ver como o QGP evoluiu de ser sua própria matéria para se transformar nos
núcleos dos átomos e os blocos de construção da vida", explica Zhou.

Os pesquisadores também desenvolveram um algoritmo para analisar a expansão de partículas e

descobriram que o QGP costumava fluir como líquido, mudando constantemente sua forma ao

longo do tempo. Até então, achava-se que esse plasma era em forma de gás.

O detalhe parece ser pequeno, mas é de extrema importância para desvendar a origem do universo.
"Cada descoberta é um tijolo que aumenta nossas chances de descobrir a verdade sobre o Big Bang.
Levamos cerca de 20 anos para descobrir que o plasma de quark-glúons era fluente antes de se
transformar em hádrons e nos blocos de construção da vida", conta o pesquisador.

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