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SÁVIO FREIRE BRUNO

AS RESTINGAS
FLUMINENSES E
SEUS ÚLTIMOS
REFÚGIOS
O Núcleo Experimental de Iguaba Grande da
Universidade Federal Fluminense (NEIG-UFF)
Universidade Federal Fluminense
REITOR
Antonio Claudio Lucas da Nóbrega

VICE-REITOR
Fabio Barboza Passos

Eduff - Editora da Universidade Federal Fluminense


CONSELHO EDITORIAL
Renato Franco [Diretor]
Ana Paula Mendes de Miranda
Celso José da Costa
Gladys Viviana Gelado
Johannes Kretschmer
Leonardo Marques
Luciano Dias Losekann
Luiz Mors Cabral
Marco Antônio Roxo da Silva
Marco Moriconi
Marco Otávio Bezerra
Ronaldo Gismondi
Silvia Patuzzi
Vágner Camilo Alves
Copyright © 2021 Sávio Freire Bruno
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da editora.

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Editor responsável: Renato Franco
Coordenador de produção: Ricardo Borges
Supervisão Gráfica: Marcio André Baptista de Oliveira
Revisão: Maria das Graças C. L. L. de Carvalho
Normalização: Camilla Almeida
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - CIP


B898 Bruno, Sávio Freire
As restingas fluminenses e seus últimos refúgios [recurso eletrônico] : o Núcleo Experimental de Iguaba
Grande da Universidade Federal Fluminense (NEIG-UFF) / Sávio Freire Bruno. – Niterói : Eduff, 2021. –
22,94 Mb. ; PDF.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-5831-130-0
BISAC NAT011000 NATURE / Environmental Conservation & Protection

1. Universidade Federal Fluminense. Núcleo Experimental de Iguaba Grande. 2. Conservação ambiental.


3. Gestão ambiental. I. Título.

CDD 304.2
Ficha catalográfica elaborada por Márcia Cristina dos Santos (CRB7-4700)

Direitos desta edição cedidos à


Eduff - Editora da Universidade Federal Fluminense
Rua Miguel de Frias, 9, anexo/sobreloja - Icaraí - Niterói - RJ
CEP 24220-008 - Brasil
Tel.: +55 21 2629-5287
www.eduff.uff.br - faleconosco.eduff@id.uff.br

Publicado no Brasil, 2021.


Foi feito o depósito legal.
A todos os expedicionários do século XIX que, com agudez
científica, doaram suas vidas em prol do saber, com
ênfase a Johann Baptist von Spix, Carl Friedrich Philipp
von Martius, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e
Auguste de Saint-Hilaire, pelas contribuições à ciência e
ao Brasil. Igualmente, a Alexander von Humboldt que,
embora impedido de navegar pelos rios amazônicos,
manteve seus sonhos e seu carinho pelo Brasil.
AGRADECIMENTOS

Colaboraram nesta obra com


expressividade, que destaco
e deixo meus sinceros
agradecimentos, Diego Ramos
Inácio, Fábio Guimarães
Oliva, Giulia Laura Felix Paz
e Márcia Ferreira Tavares.
No esforço de fugir à mata obscura,
Bromélias em família buscam luz
E em suas folhas uma gota d’água,
Puro diamante líquido, reluz.

Carlos Drummond de
Andrade (JORNAL GGN, 2011)
SUMÁRIO

5 AGRADECIMENTOS

8 INTRODUÇÃO

11 CAPÍTULO I
11 Caracterização introdutória da área de estudo
1 5 Breve histórico de ocupação do NEIG-UFF pela Faculdade de
Veterinária da Universidade Federal Fluminense
1 6 Simbolismos paisagísticos
2 2 Breves considerações quanto às
condições legais de proteção ao NEIG-UFF
26 Caracterizações das restingas

29 CAPÍTULO II
29 Levantamento do uso do solo e sua caracterização
31 Cobertura vegetal
35 Topografia (Relevo e Acidentes Geográficos)
36 Fauna
4 0 Flora
45 Caracterização das condições ambientais da Laguna de Araruama e
atividades humanas tradicionais
4 8 Mapeamento das praias no entorno do NEIG-UFF
50 Breve caracterização e considerações quanto aos impactos ambientais
oriundos de atividades antrópicas no NEIG-UFF após sua doação à
Faculdade de Veterinária da UFF
51 Estudo das áreas de risco de incêndios no NEIG-UFF
53 Caracterizações do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) nos municípios de Iguaba
Grande e São Pedro da Aldeia e breves considerações
5 8 Breves considerações quanto às atividades
culturais, artísticas e esportivas regionais atuais
59 Propostas e subsídios para a caracterização
de um plano gestor para o NEIG-UFF

62 CAPÍTULO III
62 Considerações finais

69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO

A caracterização geográfica de um dado espaço favorece o en-


tendimento de sua importância social, econômica ou ecológica. Áreas
protegidas, como as Unidades de Conservação, são potencialmente
merecedoras desta caracterização, enfatizando, assim, a importân-
cia de se conservar tais áreas. E esta importância perpassa a conser-
vação de sua diversidade biológica pelos aspectos geomorfológicos,
climáticos, socioeconômicos e ambientais de forma geral.
A presente obra apresenta um levantamento e análise sobre as
características geográficas do Núcleo Experimental de Iguaba Gran-
de (NEIG-UFF), propriedade doada na década de 1960 à então Escola
de Veterinária, atual Faculdade de Veterinária da Universidade Fede-
ral Fluminense, e propõe medidas a serem adotadas em um futuro e
necessário plano gestor.
Desde os princípios da década de 1990, como será detalhado no
decorrer desta obra, na Área de Proteção Estadual (APA) de Sapiati-
ba, RJ, insere-se o referido Núcleo, com duas subcategorias da Uni-
dade: uma Zona de Ocupação (ZOC) e uma Zona de Conservação de
Vida Silvestre, às margens da Laguna de Araruama, nos municípios
de Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia.
Para elaboração deste livro foi realizada uma análise de docu-
mentos, como escritura e decretos que fizeram e fazem parte da his-
tória de uso e ocupação da área em estudo e, ainda, uma análise e
síntese do conhecimento oriundo dos trabalhos acadêmicos e demais
publicações associadas à área de estudo ao longo do tempo, por di-

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versos autores. Outros documentos de grande valia para a elaboração
desta obra consistem em artigos, orientações e trabalhos apresenta-
dos em eventos científicos de autoria pessoal ou sob minha orien-
tação no exercício da docência universitária, além de observações e
registros pessoais realizados ao longo de minha carreira na Universi-
dade Federal Fluminense, bem como registros visuais de autoria des-
conhecida, como das antigas salinas que ocupavam parte do campus,
denominado NEIG-UFF.
Esta obra inclui ainda mapas e planta topográfica, elabora-
dos com métodos de geoprocessamento que se fundamentaram na
melhoria da definição do espaço geográfico do NEIG-UFF, com ope-
rações como clip (operação de recorte); merge (operação que funde
camadas vetoriais) e vetorização (criação de vetores que dão limite
aos polígonos, linhas ou pontos). A base geográfica para o geopro-
cessamento foi obtida a partir da Base de Dados Geoespaciais (INEA/
RJ, S.d.). As imagens utilizadas para o Uso e Cobertura do Solo foram:
Word View 02 bandas do Visível (RGB) Digital Globe.
A obra está organizada em três capítulos. O primeiro capítu-
lo aborda uma caracterização introdutória da área de estudo, assim
como um breve histórico de ocupação territorial a partir da aquisição
desta área pela então Escola de Veterinária, hoje Faculdade de Veteri-
nária (UFF). Tece, por fim, considerações quanto às condições legais
atuais de proteção ao locus deste livro.
O segundo capítulo traz resultados relativos a imagens e mapas
confeccionados e apresentados nesta obra, relativos às informações
sobre o levantamento do uso do solo e sua caracterização, da cober-
tura vegetal, topografia, simbolismos paisagísticos regionais, fauna
e flora. Traz ainda uma breve caracterização das condições ambien-
tais da Laguna de Araruama, bem como um mapeamento das áreas
de entorno do NEIG-UFF, uma caracterização e considerações quan-
to aos impactos ambientais oriundos de atividades antrópicas neste
Núcleo após sua doação à Faculdade de Veterinária da UFF e uma
brevíssima análise e caracterização do IDH e ICMS Verde dos muni-

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cípios de Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia, RJ, circunvizinhos ao
NEIG-UFF. Por fim, apresenta propostas e sugestões para a caracte-
rização de um Plano Gestor para o NEIG-UFF.
O terceiro e último capítulo tece considerações finais a este li-
vro, não se omitindo, no entanto, de discutir brevemente as princi-
pais abordagens deste referido trabalho.
Esta obra justifica-se pela produção de um documento que me-
lhor caracterize geograficamente uma área pública federal, onde se
institui um segmento territorial de uma universidade pública, assim
como de uma Unidade de Conservação Estadual de Uso Sustentável.
Justifica-se, portanto, por oferecer novos subsídios à ocupação terri-
torial, ou seja, uso, conservação e/ou preservação do NEIG-UFF.

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CAPÍTULO I

Caracterização introdutória da área de estudo

O Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG/UFF – 22°51’ S


42°10’ W) está situado no município de Iguaba Grande, na Região dos
Lagos, estado do Rio de Janeiro, embora possua uma menor parte de
sua área no município de São Pedro da Aldeia (Figura 1). Trata-se de
um campus pertencente à Faculdade de Veterinária da UFF e consiste
em uma área de 1.449.047 m2 (UFF, 1976).
A parte norte do NEIG é delimitada pela Rodovia Amaral Pei-
xoto (RJ 106, Tribobó, SG – Macaé), e ao sul pela Laguna de Ararua-
ma. Desde a década de 60 do século passado este recorte geográfi-
co, hoje reconhecido como Núcleo Experimental de Iguaba Grande
(NEIG/UFF), pertence à Faculdade de Veterinária da UFF, que fica
a uma distância de 135 km. Sua aquisição vincula-se a uma doação
por parte do ex-presidente Juscelino Kubitschek e atrelava-se a pro-
pósitos de instituir-se uma granja-escola para aulas práticas sobre
grandes animais. À época aquele recorte era conhecido como “Morro
do Governo”, denominação não totalmente esquecida pelas comuni-
dades regionais.
A doação foi realizada quando ainda não existia a Universi-
dade Federal Fluminense e a Faculdade de Veterinária denomina-
va-se Escola de Veterinária (UFF IMAGEM, S.d.). Para melhor com-
preensão do NEIG-UFF, a Figura 2 mostra o mapa da localização da
área de estudo.
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Figura 1 – Vista aérea (em destaque) do Núcleo Experimental de Iguaba Grande, RJ
(NEIG-UFF) (2 de fevereiro de 2012)
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 2 – Mapa de localização do NEIG-UFF (junho de 2018)


Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

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Atualmente, insere-se em uma APA, fazendo parte da Área de
Proteção Ambiental da Serra de Sapiatiba (APA – Serra de Sapiatiba),
conforme o Decreto-lei nº 15.136 de 20 de julho de 1990. Para melhor
entendimento da localização do NEIG-UFF na APA – Serra de Sapia-
tiba, além da Figura 3, sugere-se a análise imediata e complemen-
tar da Figura 4.
No intuito de facilitar a localização do NEIG-UFF na APA de
Sapiatiba, foi elaborado o mapa (Figura 4).
O NEIG-UFF é, portanto, parte de uma Unidade de Conserva-
ção de Uso Sustentável (BRASIL, 2000), que tem o parceiro institu-
cional (Protocolo de Intenções nº 01/2014, vigente desde novembro de
2014), o Instituto do Ambiente (INEA-RJ), como referência, tratando-
-se da organização do Conselho Gestor da APA como um todo, entre
outras inferências.
Na área do NEIG podem ser encontradas espécies vegetais au-
tóctones, características de restinga, vegetação do tipo savana esté-
pica e floresta estacional semidecidual (NAVEGANTES, 2009).
Este Núcleo abriga muitas espécies governamentalmente
ameaçadas de extinção, conforme o Ministério do Meio Ambiente
(2014), dentre as quais a ave conhecida como com-com ou formiguei-
ro-do-litoral (Formicivora littoralis) na categoria de ameaçada; o trin-
ta-réis-real (Thalasseus maximus), vulnerável; e a borboleta-da-praia
(Parides ascanius), ameaçada na categoria vulnerável (BRUNO, 2009).
De sua fauna, trabalhos introdutórios realizados no final do primeiro
decênio deste novo século não só registraram, mas seus resultados
sedimentaram a importância do NEIG para a conservação da biodi-
versidade em nosso estado (BRUNO, 2008; 2010a; 2010b; MARTINS;
BRUNO, 2009; MARTINS; BRUNO; NAVEGANTES, 2009; MARTINS;
SILVEIRA; BRUNO, 2009; FUSARO; NAVEGANTES; BRUNO, 2010;
BRUNO; MELLO, 2010; MARTINS; SILVEIRA; BRUNO, 2010; MAR-
TINS; BRUNO; VECCHI, 2010; NAVEGANTES et al., 2009; 2010a;
2010b; 2011a; 2011b) todos sob a orientação e/ou execução do autor
desta obra, frutos da atuação de um grupo de trabalho, particular-

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Figura 3 – Mapa da Área de Proteção Ambiental da Serra de Sapiatiba, entre os
municípios de Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia
Fonte: Wikiparques (S.d.).

Figura 4 – Localização do NEIG-UFF na APA de Sapiatiba (junho de 2018)


Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

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mente entre 2008 e 2009. Tais pesquisas também incluíram Traba-
lhos de Conclusão de Curso (FUSARO, 2009; NAVEGANTES, 2009;
MARTINS, 2009). Iniciações científicas (Navegantes em 2009 para
o Bacharelado e em 2001 para Licenciatura em Ciências Biológcas
da Universidade Federal Fluminense) foram instituídas. Trabalhos
anteriores em educação ambiental também foram realizados com a
participação de alunos e professores (ANGONESI et al., 2002), sob a
orientação do autor desta obra.

Breve histórico de ocupação do NEIG-UFF


pela Faculdade de Veterinária da
Universidade Federal Fluminense

A partir da década de 1960, o atual NEIG-UFF tornou-se, por


doação, propriedade da então Escola de Veterinária, posteriormente,
Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense. Tra-
ta-se de uma área então popularmente conhecida no meio acadêmico
como campus de Iguaba, de alta salinidade, ventos fortes, vegetação
de restinga e terreno, em sua grande parte, levemente acidentado –
com cotas não muito superiores a 60, desde o nível do mar – e de solo
ácido, e solos que sofreram pouco intemperismo químico e, portan-
to, são rasos. O objetivo inicial de se tornar uma granja-escola, ou
seja, um local para práticas com animais domésticos de grande por-
te, como sonhado, era, de fato, um grande desafio que felizmente não
foi completamente vencido. Para tais empreendimentos de interesse
acadêmico, a Universidade Federal Fluminense adquiriu, ao final da
década de 1980, a hoje reconhecida Fazenda Escola de Cachoeiras de
Macacu, RJ, com seus distintos matizes de utilização, embora, priori-
tariamente adquirida para suprir as necessidades de ensino no meio
rural e a prática de grandes animais domésticos.
O campus de Iguaba, entretanto, foi alvo de inúmeras interven-
ções ao longo da história administrativa da Faculdade de Veteriná-
ria – UFF. Ainda na década de 1980, foram promovidas alterações

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da composição vegetacional e instituídas estruturas para abrigar
bovinos, caprinos e outras espécies domésticas, incluindo projetos
zootécnicos posteriores, em tempos distintos, como a minhocultu-
ra, apicultura e, mesmo, uma expressiva estrutura para criação de
camarões (carcinicultura). Tais projetos não perduraram ou sequer
foram, efetivamente, implantados (Figura 5). Deixaram, entretanto,
sinais do empreendedorismo passado, seja pelas referidas estruturas
ou por outras alterações perceptíveis na paisagem.
Figura 5 – Ao centro da imagem as alterações no relevo e na paisagem consequentes da
confecção de tanques de carcinicultura no NEIG-UFF a partir de projeto aprovado em 2002
e subsequentemente abandonado (2 de fevereiro de 2012)

Fonte: Acervo pessoal.

Simbolismos paisagísticos

A lagoa de Araruama, uma laguna, na verdade, estende-se pe-


los municípios de Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro
da Aldeia e Arraial do Cabo, cidades do estado do Rio de Janeiro com

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histórias e transformações, desde 1503, quando Américo Vespúcio
organizou uma expedição, a primeira, pelo interior do Brasil, quan-
do teve necessariamente de atravessar o Canal de Itajuru, que liga a
lagoa ao mar (BIDEGAIN; BIZERRIL, 2002).
De acordo com Alcoforado (1950 apud BIDEGAIN; BIZER-
RIL, 2002), nos primórdios históricos a lagoa era conhecida como
Iruarama. Iriru, ariru ou araru são sinônimos de concha. Iama ou
uama trazem o significado de abundância, portanto, uma lagoa re-
pleta de mariscos.
A bacia hidrográfica desta lagoa abrange em torno de 404 km2,
sendo formada por um conjunto de 20 sub-bacias (BIDEGAIN; BI-
ZERRIL, 2002), estando o NEIG-UFF na sub-bacia 12 (SB-12). Neste
Núcleo, a Ponta da Farinha (Figura 6) e a Ponta do Bico Preto (Figuras
6 e 7) são acidentes topográficos marcantes na memória e na cultura
de certa parcela da população regional. Entretanto, tais acidentes são
frequentemente confundidos ou desconhecidos, pela escassa catego-
rização cartográfica, tornando-se de difícil identificação para mui-
tos, tanto da comunidade local quanto para visitantes.
Na segunda metade do século XX, durante o período em que
as salinas ainda predominavam na região, a paisagem trazia o en-
canto dos tabuleiros e das pilhas de sal, e dos moinhos de vento. E no
NEIG-UFF não era diferente.
A atividade salineira foi descrita por Saint-Hilaire, já em 1818,
ao contemplar a salina de Cachira que, de acordo com estudos rea-
lizados por Silva (2008), era a própria salina que veio a pertencer à
Universidade Federal Fluminense:
Quando as águas do Lago aumentam, enchem as cisternas naturais exis-
tentes às suas margens. O lago baixa em seguida, mas a água fica nas
cisternas, evaporando-se pouco a pouco e deixando um depósito salino.
Os mais antigos moradores da região sabiam tirar partido das salinas,
ali abundantes [...]

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Figura 6 – Fotografia aérea da Ponta do Bico Preto (A) e Ponta da Farinha (B) (19 de
fevereiro de 2014)
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 7 – Fotografia aérea da Ponta do Bico Preto (3 de março de 2013)


Fonte: Acervo pessoal.

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Ainda segundo Silva (2008), a salina de Cachira é citada por ou-
tro cronista do século XIX, monsenhor Pizarro, autor de Memórias
históricas do Rio de Janeiro.
Tais simbolismos se perderam pela decadência da atividade sa-
lineira (Figura 8A e B) na região e, no NEIG-UFF, em 2002, quando as
salinas históricas cederam lugar a pressupostos tanques abandona-
dos de carcinicultura, os quais serão abordados no subcapítulo “Bre-
ve caracterização e considerações quanto aos impactos ambientais
oriundos de atividades antrópicas no NEIG – UFF após sua doação à
Faculdade de Veterinária da UFF”.
Figuras 8A e B – As salinas do Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG-UFF) em ple-
na produção (março de 2001)

Fonte: Autor desconhecido.

Outras alterações na paisagem de caráter antrópico, remanes-


centes de culturas tradicionais, ainda são percebidas no NEIG-UFF,
como as coleções de pedras formando currais. Tais currais com fina-
lidade de pesca são mais bem descritos na literatura quando consti-
tuídos de varas de madeira, telas de náilon, redes e cabos de amarra-
ção, construídos em regiões de mar tranquilo e de baixa declividade,
como na região Nordeste, a exemplo, em Pernambuco (LUCENA et al.,
2013). As formações em currais de pedra, aqui descritas e fotografi-
camente registradas, carecem, no entanto, de estudos aprofundados,
tais como origem e datação, visto que são, supostamente, resquícios
de atividades pesqueiras indígenas na região.
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Silva (2008), ao tratar da história do município de Iguaba Gran-
de, aponta que estudos indicam tratar-se de uma espécie de armadi-
lha – gamboa – utilizada pelos indígenas para aprisionar peixes, os
quais eram tocados para ali com varas de bambu agitadas na água.
De acordo com o Projeto Conhecer para Preservar, no entanto, os ín-
dios esperavam a maré baixar e pescavam os peixes grandes que fi-
cavam presos entre as pedras (BUENO et al., 2007). Silva (2008), em
outra passagem, sinaliza que os primeiros habitantes desta região
pertenciam à nação Tupinambá, mais especificamente, os Tamoios.
Portanto, tais técnicas de pesca apontam para esta grande nação.
Conforme o historiador Joaquim Norberto de Souza Silva, as
povoações Tupinambás eram vastas e se estendiam de Ubatuba a
Cabo Frio. Em 1574, em um terrível massacre, os portugueses dizi-
maram cruelmente milhares de indígenas que habitavam o território
que compreendia Cabo Frio e a Laguna de Araruama: “[...] os tamoios
foram entrados, mortos infinitos, e cativos oito ou dez mil almas”
(SOUZA, 2001 apud SILVA, 2008). Os sobreviventes refugiaram-se na
Serra do Mar, e a baixada litorânea, de Macaé a Saquarema, se tornou
um deserto humano, somente visitado por episódicas incursões dos
índios goitacás (SILVA, 2008).
Tais currais de pedra podem ser contados em número de seis
ou mais, se considerarmos certas condições resquiciais, conforme
demonstra a Figura 9.
Na arquitetura, destaca-se a atual sede administrativa do
NEIG-UFF (Figura 10), com traços arquitetônicos típicos do final da
primeira metade do século XX na região. De acordo com Alves (2018):
A primeira vista, o imóvel em questão não aparenta trazer resquícios
de arquitetura pertencente a algum estilo de passado remoto, que po-
deriam vir a classificá-lo como um exemplar colonial descaracterizado,
por exemplo. Embora a tipologia da fachada principal, com a composi-
ção do telhado e a disposição formal das janelas e portas, possa remeter
a algo do gênero (excetuando-se a varanda), a fina espessura das paredes
externas que estruturam a casa denuncia que é uma construção de um
passado recente, talvez da década de 1940.
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Figura 9 – Registro dos currais de pedra no litoral do NEIG-UFF, indicando, ao me-
nos, seis dessas formações na Lagoa de Araruama, RJ (fevereiro de 2012)
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 10 – Traços arquitetônicos típicos do final da primeira metade do- século


21 -
XX na Região dos Lagos do Rio de Janeiro e arredores (setembro de 2017)
Fonte: Acervo pessoal.
Após extensa consulta, concluiu-se que não consta nenhum
registro de tombamento junto ao Instituto Estadual do Patrimônio
Cultural (INEPAC) para o imóvel.

Breves considerações quanto às


condições legais de proteção ao NEIG-UFF

Desde a criação da Unidade de Conservação denominada Área


de Proteção Ambiental – APA Estadual da Serra de Sapiatiba, RJ, por
meio do Decreto Estadual nº 15.136, de 20 de julho de 1990 (RIO DE
JANEIRO, 1990), anteriormente citada, na qual o campus de Iguaba
é atualmente reconhecido como Núcleo Experimental de Iguaba
Grande, RJ (NEIG-UFF), reforçou-se a percepção da importância de
se conservar as condições naturais locais. De agosto de 2007 a maio
de 2008, tais esforços receberam maior atenção, conforme indicam
as referências bibliográficas já citadas, carecendo, contudo, de no-
vos impulsos. Para fins de adoção de medidas necessárias para dis-
ciplinar a ocupação do solo e o exercício de atividades causadoras de
degradação ambiental, o Decreto Estadual nº 41.730, de 05 de março
de 2009, divide a APA da Serra de Sapiatiba em zonas, como: I - Zona
de Preservação de Vida Silvestre (ZPVS); II - Zona de Conservação da
Vida Silvestre (ZCVS); III - Zona de Uso Agropecuário (ZUAP); IV -
Zona de Ocupação Controlada (ZOC); V - Zona de Uso Especial (ZUE).
Considerando a referência APA da Serra de Sapiatiba – Proje-
to Conhecer para Preservar (BUENO et al., 2007), institui-se grande
parte do NEIG-UFF como ZCVS, com a seguinte configuração:
- ZCVS Ponta da Farinha: divisa a sul com a Lagoa de Araruama,
entre as UTM’s 7.470.939 N 866.145 S e 7.470.801 N 864.389 S; a leste,
faz divisa com a Salina Boa Vista seguindo em direção geral norte
até as margens da RJ-106, na UTM 7.471.364 N 866.082 S; daí segue
pela mesma rodovia em direção oeste até o ponto de UTM 7.471.387 N
866.712 S, daí seguindo para sul acompanhando o limite da APA até
o ponto inicial.

- 22 -
Esta caracterização (ZCVS) corresponde à parte mais ao sul do
NEIG-UFF, portanto, a margem direita da RJ-106, no sentido Iguaba
Grande a São Pedro da Aldeia, RJ. A margem esquerda está caracte-
rizada como Zona de Ocupação (ZOC 01), que se caracteriza mais ao
norte. Tais condições foram instituídas pela deliberação CECA/CN
Nº 4.512, de 01 de outubro de 2004, a qual “Institui o Plano Diretor,
cria o Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental – APA da Serra
de Sapiatiba, criada pelo Decreto Estadual nº 15.136, de 20/07/1990,
e dá outras providências” (INEA/RJ, 2004). A referida deliberação
apresenta o seguinte mapa em seus anexos (Figura 11).
Para efeito da deliberação supracitada e com base no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) (BRA-
SIL, 2000) e seu decreto correspondente (em 2002), e com base na
referência APA da Serra de Sapiatiba – Projeto Conhecer para Preser-
var, ressalta-se:
Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) é aquela que se caracteri-
za por admitir uso moderado e autossustentado da biota, não dispondo
dos atributos ecológicos que justificam seu enquadramento como ZCVS
[sic; ZPVS]. Apresenta-se, no entanto, com potencial para recuperação
ou regeneração futura (BUENO et al., 2007).

Sob a referência INEA/RJ (2004), foi concebido o mapa de loca-


lização do NEIG-UFF e respectivo zoneamento ambiental na APA de
Sapiatiba, RJ (Figura 12).
Embora tal condição não seja diretamente associada ao
NEIG-UFF, conforme enfatiza a Sea (RIO DE JANEIRO, 2008), as res-
tingas, quando fixadoras de dunas, são consideradas de preservação
permanente pelo Código Florestal Brasileiro (1965) e pelo artigo 268
da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
No Novo Código Florestal (BRASIL, 2012) as restingas também
foram destacadas como Área de Preservação Permanente (APP), em
zonas rurais ou urbanas, ao teor do artigo 4º, inciso VI.

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Figura 11 – Mapa do Zoneamento Am-
biental da Área de Proteção Ambiental
da Serra de Sapiatiba
Fonte: INEA/RJ (2004).
Figura 12 – Mapa de localização do NEIG-UFF e respectivo zo-
neamento ambiental na APA de Sapiatiba, RJ (junho de 2018)
Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

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Art. 4º. Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais
ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

[...]

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

Sobre essa possibilidade de supressão de Área de Preservação Perma-


nente (APP), e de acordo com Silva (2016), vejamos o teor do artigo 8º da
referida Lei nº 12.651/2012:

Art. 8º. A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Pre-


servação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade públi-
ca, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.

§ 1º. A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e res-


tingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.

Portanto, o NEIG-UFF, caracterizado em grande parte como


uma Zona de Conservação de Vida Silvestre (ZCVS) de uma APA Esta-
dual, sob uma ótica socioambiental alinhada às condições previstas
por lei, demanda novas perspectivas de ocupação territorial, ou seja,
uso, conservação e/ou preservação do NEIG-UFF, objetos de interes-
se desta obra, realizando uma caracterização geográfica desta área.
Há de se inferir a inadvertência do município de Iguaba Grande
ao tentar converter o NEIG-UFF em uma APA municipal, suposta-
mente denominada APA do Governo (Decreto nº 152/2000), consi-
derando já tratar-se de uma APA Estadual (RIO DE JANEIRO, 1990),
ou seja, uma Unidade de Conservação (UC) de nível inferior criada
sobre uma UC superior. Tal incongruência é explicitada no mapa re-
presentativo das UCs sobrepostas ao NEIG-UFF e seus respectivos
zoneamentos (Figura 13), confeccionado e proposto sobre a base re-
ferencial: Mapa do Zoneamento Ambiental da Área de Proteção Am-
biental da Serra de Sapiatiba, sob a fonte: CECA/CN Nº 4.512, de 01 de
outubro de 2004 (INEA/RJ, 2004). Quanto às informações da munici-
palidade (Iguaba Grande), ver Lopes e Abrahão (2017).

- 25 -
Notório se faz lembrar que, embora já tenha sido expressiva-
mente ativo na primeira década de criação da referida APA Estadual
(RIO DE JANEIRO, 1990), o Conselho Consultivo da Área de Prote-
ção Ambiental da Serra de Sapiatiba, oficialmente estabelecido pela
Portaria INEA/DIBAP n° 04 de 22 de março de 2010 (INEA/RJ, 2010),
encontra-se atualmente sem atividade.
Figura 13 – Mapa das Unidades de Conservação e respectivos zoneamentos inerentes ao
NEIG-UFF (junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

Caracterizações das restingas

A interpretação de restinga enquanto pontal arenoso, a exem-


plo do que ocorre na Laguna de Araruama e sob a ótica do renomado
geógrafo Christofoletti (1980), nos esclarece que o ambiente de res-
tinga designa-se por barreiras ou cordões litorâneos e são caracteri-
zados por faixas arenosas alongadas depositadas de forma paralela à
- 26 -
praia. As restingas posicionam-se acima da maré alta e, conforme se
estendem, podem isolar do mar corpos d’ água que se transformam
em lagoas costeiras.
Neste contexto, as restingas em forma de barreiras arenosas
isolam corpos d’água do oceano e formam as lagunas costeiras, con-
forme bem caracterizado na Laguna de Araruama.
Com relação à gênese das restingas nacionais, é de opinião que
os exemplos brasileiros de formação de restingas ocorreram a partir
do transporte de areia efetuado por correntes longitudinais paralelas
à costa (LAMEGO, 1946 apud CHRISTOFOLETTI, 1980).
Christofoletti (1980) acrescenta que uma variação nas feições
das restingas está relacionada à presença de esporões. Estes são re-
presentados por cordões com prolongamentos encurvados em dire-
ção ao interior de lagunas ou baías devido ao fluxo causado pelas on-
das, particularmente, em locais onde se encontram ondas provindas
de direções diferentes.
Os esporões são feições bem destacadas no interior da La-
guna de Araruama.
Complementarmente às caracterizações do ambiente restinga,
Sampaio et al. (2005) afirmam que a restinga é caracterizada por di-
versas fitofisionomias que ocupam as planícies do litoral do Brasil,
formadas por sedimento de origem marinha, depositado devido ao
rebaixamento e elevação do nível do mar em milhares de anos.
Neste contexto e de acordo com o Decreto Estadual 41.612 de 23
de dezembro de 2008 (RIO DE JANEIRO, 2008), as restingas presen-
tes no estado do Rio de Janeiro são caracterizadas como
planícies arenosas costeiras de origem marinha, abrangendo praias, cor-
dões arenosos, dunas, depressões entre cordões e depressões entre-du-
nas com respectivos brejos, charcos, alagados e lagos, cuja vegetação e
fauna estão adaptadas às condições ambientais locais.

Já o Novo Código Florestal, Lei nº 12.651/2012, define em seu


artigo 3º, inciso XVI, desta lei:
- 27 -
depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alon-
gada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram
diferentes comunidades que recebem influência marinha, com cober-
tura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, du-
nas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional,
estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado
(BRASIL, 2012).

As vegetações de restinga cobriam cerca de 1.200 km2 do esta-


do do Rio de Janeiro na época pré-colonial (RIO DE JANEIRO, 2008).
Araújo (2000) descreve que tais formações ocorrem, no entanto, ao
longo de todo o litoral, de forma descontínua e reduzida em alguns
trechos, como no litoral do Amapá, onde prevalecem áreas de man-
guezal. Em contrapartida, possuem uma planície costeira maior, a
saber, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí,
Alagoas/Sergipe e Bahia. Podem também apresentar extensas áreas
de dunas, a exemplo, do litoral do Maranhão até o Ceará.

- 28 -
CAPÍTULO II

Levantamento do uso do solo


e sua caracterização

De acordo com Ibraimo et al. (2004) os solos na Região dos La-


gos do estado do Rio de Janeiro são caracterizados como eutróficos,
apresentando minerais primários com reserva de nutrientes e classi-
ficados entre os argissolos vermelho e luvissolos.
Nas áreas de maior altitude do NEIG-UFF se encontra a Flores-
ta Estacional Semidecidual, também conhecida como mata seca (sa-
vana estépica; vide adiante, a exemplo, BIDEGAIN; BIZERRIL, 2002);
se caracteriza pelo solo seco, argiloso, profundo e escuro, com rochas
afloradas (QUINTANILHA, 2014).
Com base em INEA/RJ (S.d.), estabeleceu-se que o município
de Iguaba Grande possui 8,98% de mata nativa em seu território.
Tratando-se desta relação de uso e cobertura do solo do NEIG-UFF
com o município de Iguaba Grande, 21,26% de mata nativa deste mu-
nicípio encontra-se no NEIG-UFF. Em outro prisma, pode-se dizer
que 2,93% do território de Iguaba Grande (NEIG-UFF) detém 21,26%
da área natural deste município. Neste contexto, pode-se dizer que
o NEIG-UFF vem executando um trabalho muito significante para a
preservação do meio ambiente do referido município.
De acordo com a atual configuração de uso e cobertura do solo
e utilizando-se de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessa-

- 29 -
mento com a finalidade de vetorizar e classificar os aspectos de uso
e cobertura do solo em uma escala cartográfica de 1:5.000, o refina-
mento desses dados foi elaborado a partir de técnicas de geoproces-
samento e sensoriamento remoto; o mapeamento foi elaborado com
imagem Word View 02 bandas do Visível (RGB) Digital Globe, usando
software de Sistema de Informações Geográficas (SIG) e de conhe-
cimento pessoal da área (conhecimento empírico). O resultado do
mapa de Uso e Cobertura do Núcleo Experimental de Iguaba Grande
(NEIG-UFF) está expresso na Figura 14.
Figura 14 – Mapa de Uso e Cobertura do Núcleo Experimental de Iguaba Grande
(NEIG-UFF) (junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

- 30 -
Cobertura vegetal

Bohrer et al. (2009) referencia o Centro de Diversidade Vegetal


de Cabo Frio (CDV Cabo Frio) como uma área aproximada de 1.562
km2, incluindo os municípios próximos de Iguaba Grande e São Pe-
dro da Aldeia, pertinentes a este trabalho, além de outros: Maricá,
Saquarema, Araruama, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Armação de Bú-
zios. Araújo (2000) enfatiza a elevada riqueza de habitats desta re-
gião, com extensas restingas, lagunas, depósitos aluviais, maciços
costeiros e costões.
A área de vegetação do CDV Cabo Frio é composta principal-
mente por restingas situadas nas planícies sedimentares costeiras
nas quais ocorrem diversas comunidades arbóreas, arbustivas e her-
báceas em área inundável ou não e também por vegetação do tipo
savana estépica (SÁ, 2006).
A vegetação de restinga abrange grande complexidade de for-
mações vegetais, mais condicionadas pela característica do solo do
que pelo clima local (RIO DE JANEIRO, 2011). Tais formações têm ca-
pacidade de produzir flores e frutos o ano inteiro. De cores variadas,
os frutos e bagas constituem rica fonte de alimento para insetos e
aves (MACIEL, 1984).
Rizzini (1979) já considerava a vegetação de restinga entre as dez
categorias dos grandes tipos de vegetação brasileira em seu tratado
de fitogeografia do Brasil. Ainda, segundo a Sea (RIO DE JANEIRO,
2011), são caracterizadas nove tipologias de vegetação das restingas
fluminenses: tipo reptante, tipo arbustivo fechado pós-praia, tipo
herbáceo inundável, tipo arbustivo aberto não inundado, tipo arbus-
tivo aberto inundável, tipo arbóreo não inundado, tipo arbóreo pe-
riodicamente inundado, tipo arbóreo permanentemente inundado
e tipo lagunar.
A savana estépica é um tipo de vegetação peculiar ao redor
da Laguna de Araruama que ocorre nos morros e colinas de Iguaba
Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo (BIDE-

- 31 -
GAIN; BIZERRIL, 2002). A área do NEIG-UFF constitui um mosaico
de habitats com presença de espécies vegetais autóctones típicas de
restinga (Figura 15A e B) e vegetação do tipo savana estépica, embora
os limites entre essas diferentes fitofisionomias sejam de difícil dis-
cernimento (Figura 16); (BOHRER apud NAVEGANTES, 2009).
Figura 15A e B – Aspectos gerais da vegetação de restinga na porção litorânea do NEIG-UFF
(A), a saber, (B), tipo reptante e tipo arbustivo fechado pós-praia, segundo a classificação
da Sea (RIO DE JANEIRO, 2011) (11 de janeiro de 2008)

Fonte: Acervo pessoal.

De acordo com Bidegain e Bizerril (2002):


A savana estépica é uma vegetação arbustiva com aparência acinzenta-
da e com muitos cactus, com alguns exemplares que ultrapassam qua-
tro metros de altura. Adaptada à aridez do clima e aos fortes ventos, seu
maior remanescente encontra-se na área da UFF, em Iguaba Grande.

Navegantes (2009), em seu Trabalho de Conclusão de Curso


(TCC), mapeou a cobertura vegetacional do NEIG-UFF de forma in-
trodutória, mas também inédita (Figura 17), considerando os recur-
sos de sensoriamento remoto, à época.
Estudos mais específicos sobre a cobertura vegetal no NEIG-UFF
foram introduzidos por Quintanilha (2014) e, portanto, são bem re-
centes, assim como iniciais. Embora com as divergências já expostas
com relação à classificação da fitofisionomia nas maiores altitudes
do NEIG-UFF (por outros, denominada savana estépica), em seu
Trabalho de Conclusão de Curso a autora supracitada classifica duas
formações vegetais neste Núcleo: a Floresta Estacional Semidecidual

- 32 -
Figura 16 – A vegetação do tipo savana estépica que ocorre nos morros e colinas ao
redor da Laguna de Araruama apresenta limites entre essas diferentes fitofisiono-
mias de difícil discernimento (19 de fevereiro de 2014)
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 17 – Imagem do Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG-UFF), no


Rio de Janeiro, com os primeiros resultados da literatura sobre o uso e cobertura
do solo com três classificações: restinga, savana estépica e área degradada.
Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.
Nota: As trilhas demarcadas são decorrentes do estudo efetuado por Navegantes (2009).

- 33 -
(FES) e a Restinga (RES). Esta última apresenta duas comunidades
vegetais: a Comunidade Arbustiva (CA) e a Floresta de Restinga (FR).
Com certa frequência, a Comunidade Arbustiva beira as mar-
gens da Laguna de Araruama, apresentando ali solo arenoso profun-
do, de coloração clara. De acordo com Quintanilha (2014) esta Comu-
nidade é predominante, densa e fechada, de dossel contínuo, sem
formar moitas, com lianas, epífitas e poucas herbáceas terrestres.
Certos indivíduos apresentam troncos espinhosos e perfilhados.
Após estudos revisionais contemplados na classificação esta-
dual e nacional de fitofisionomias, apresentamos a seguir a configu-
ração fitofisionômica do NEIG-UFF (Figura 18):
Figura 18 – Fitofisionomia do Núcleo Experimental de Iguaba Grande, RJ (NEIG-UFF)
(junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

Conforme relata Silva (2008), Iguaba Grande é um dos municí-


pios da Região dos Lagos que apresenta uma das menores coberturas

- 34 -
vegetais em proporção à sua área geográfica e, excetuando-se a área
da UFF, pouco resta neste município da vegetação de outrora.
Torna-se evidente, portanto, a importância deste Núcleo na
conservação da biodiversidade local.

Topografia (Relevo e Acidentes Geográficos)

O relevo presente na área ocupada pelo NEIG-UFF é represen-


tado predominantemente por um maciço costeiro e uma planície flu-
viomarinha. Neste contexto, apresentamos nossos resultados quanto
à topografia da área (Figura 19), de acordo com a base de dados carto-
gráficos do IBGE, escala 1:25.000.
Figura 19 – Topografia do NEIG-UFF (junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

- 35 -
Fauna

De acordo com Lacerda e Esteves (2000), o primeiro simpósio


sobre restingas brasileiras, realizado em dezembro de 1984, na Uni-
versidade Federal Fluminense, foi a primeira tentativa de sistemati-
zação dos estudos ecológicos sobre restingas e seus ecossistemas, um
verdadeiro marco histórico. Os estudos sobre comunidades animais
restringiram-se, entretanto e naquele momento, às comunidades de
insetos e aves. Estudos sobre fauna (aves, répteis, mamíferos e ou-
tros) avançaram, desde então, significativamente.
De acordo com Cerqueira (2010), 20 anos após um simpósio
que marcou época reunindo pesquisadores na Universidade Federal
Fluminense, que vinham estudando os vários aspectos das restingas
brasileiras, conheciam-se alguns registros de mamíferos e outros
animais, mas parecia que as restingas não tinham fauna própria,
com exceção de alguns lagartos.
Cerqueira (2010), no entanto, cita estudos recentes que de-
monstram ocorrer uma espécie de pequeno mamífero endêmica de
restingas, como os realizados por Pessoa et al. (2011 apud CERQUEI-
RA, 2011), bem como o caso especial do mico-leão-de-cara-preta
(Leontopithecus caissara), descrito por Lorini e Persson (1990), espé-
cie restrita à costa do Paraná e extremo sul de São Paulo, confor-
me ICMBio (2018).
Em suas conclusões, Cerqueira (2010) enfatiza a necessidade de
aprofundamento dos estudos faunísticos na restinga, particularmen-
te, analisando os padrões demográficos. Deixa as seguintes questões:
São os parâmetros bionômicos iguais na restinga e na Mata Atlântica?
A montagem dos conjuntos de espécies tem o mesmo padrão? Existem
certos padrões de adaptação que favorecem certas espécies habitarem
restingas e outros que restringem as distribuições de outras espécies fa-
zendo com que estas não ocupem esta região?

- 36 -
Herpetofauna

Em estudo realizado nos limites do NEIG-UFF, sob a orienta-


ção deste autor (MARTINS, 2009), durante os meses de julho de 2008
a agosto de 2009, foram registradas 35 espécies associadas à herpe-
tofauna, sendo 19 anfíbios, a exemplo, na Figura 20, pertencentes às
famílias Hylidae (16), Leptodactylidae (2) e Caeciliidae (1).
Figura 20 – Exemplos da herpetofauna registrada no NEIG-UFF no período de julho de
2008 a agosto de 2009. Legenda: A: Philodryas patagoniensis; B: Oxyrhopus petola; C: Mabuya
agilis; D: Tantilla sp.; E: Boa constrictor; F: Micrurus ibiboboca; G: Trachycephalus nigromacu-
latus; H: Scinax fuscovarius; I: Phyllomedusa rohdei; J: Rhinella ornata; L: Leptodactylus mista-
cinus; M: Phyllomedusa burmeisteri.

Fonte: acervo pessoal e equipe.

As espécies registradas apresentaram ampla distribuição no


NEIG-UFF. Os anfíbios concentraram-se em brejos de restinga, com
maior abundância após períodos chuvosos. Com relação aos répteis,
a maior concentração de registros ocorreu nas áreas de zonas de
moitas próximas à margem da lagoa. A riqueza da herpetofauna do
NEIG-UFF é relativamente alta para um fragmento de Mata Atlân-
tica, e seu conhecimento mais detalhado é crucial para a tomada de
medidas conservacionistas neste Núcleo (MARTINS; BRUNO; NA-
VEGANTES, 2010).

Ornitofauna

Com relação à avifauna, estudos cadastrados na UFF têm sido


realizados nos últimos dez anos com a geração de monografias (FU-
SARO, 2009; NAVEGANTES, 2009), trabalhos em congressos (NAVE-

- 37 -
GANTES et al., 2009; 2010a; 2011a; 2011b; FUSARO; NAVEGANTES;
BRUNO, 2010; NAVEGANTES; FUSARO; BRUNO, 2010), seminários
(NAVEGANTES et al., 2010b), revistas (BRUNO; BRANDES, 2009;
NAVEGANTES; MARTINS; BRUNO, 2011) e parte de conteúdo de li-
vros (BRUNO, 2008).
A continuidade das pesquisas, basicamente a partir da obser-
vação direta, já abrange 165 espécies registradas no NEIG. Destas,
destacam-se aquelas oficialmente ameaçadas de extinção (ICMBIO,
2014), a saber: o formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis) e o trin-
ta-réis-real (Thalasseus maximus), ambos na categoria “em perigo de
extinção” (EN).
O trinta-réis-real (Figura 21) migra para o Hemisfério Norte
para se reproduzir em colônias, embora alguns casais permaneçam
em território brasileiro e se reproduzam em costões rochosos do lito-
ral sudeste. A migração ocorre após a primavera e o verão. Já o formi-
gueiro-do-litoral (Figuras 22 A e B) é uma espécie territorialista, que
se estabelece na Região dos Lagos, Costa Fluminense, sem adentrar
mais que 500m nas áreas de restinga (BRUNO, 2008; NAVEGANTES,
2009). Habita desde a praia de Jaconé em Maricá, nas proximidades
do limite com Saquarema, sendo considerado o limite oeste da dis-
tribuição da espécie (GONZAGA; PACHECO, 1990; MATTOS, 2009),
abrangendo Iguaba Grande como limite interiorano, até a praia de
Tucuns, em Armação dos Búzios (VECCHI; ALVES, 2008), em um to-
tal de somente 233,5 km2 (MATTOS, 2009).

Mastofauna

Os mamíferos ainda não foram sistematicamente estudados no


NEIG-UFF. A capivara, hoje não mais encontrada, habitou áreas ar-
tificialmente alagadas no interior do NEIG, nas últimas décadas do
século XX (observação pessoal). Outros roedores, porém de pequeno
porte, marsupiais e quirópteros, em potencial, são passíveis de ob-
servação direta no Núcleo, carecendo, contudo, de estudos específi-
cos, dirigidos à mastofauna.
- 38 -
Figura 21 – Trinta-réis-real (Thalasseus maximus), em perigo de extinção e
integrante da avifauna do NEIG-UFF (julho de 2009)
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 22 – Fêmea (A) e macho (B) do formigueiro-do-litoral (Formicivora littoralis), ave


em perigo de extinção, que habita o NEIG-UFF (A: dezembro de 2008; B: abril de 2010)
Fonte: Acervo pessoal.

- 39 -
Invertebrados

Não há estudos sistematizados sobre a comunidade de inverte-


brados no NEIG-UFF. Há, no entanto, registros e breves observações
(BRUNO, 2008) do lepidóptero, a borboleta-da-praia (Parides asca-
nius), sob registro na Figura 23, que habita as margens do rio da Capi-
vara e está ameaçada de extinção no grau vulnerável (BRASIL, 2014).

Flora

Em 2019, transcorreram 200 anos da viagem de Saint-Hilaire


ao Brasil. Sobre a flora das restingas, o resgate das impressões de
Saint-Hilaire (apud LAMEGO, 1946), ao conhecer as margens da La-
guna de Araruama:
[...] exceção feita da serra do Caraça e das vizinhanças da Penha, na pro-
víncia de Minas, não creio ter achado, desde o comêço de minha viagem,
uma região tão interessante para a Botânica que essa península ou res-
tinga que separa o oceano da Araruama. Durante o tempo que passei em
Cabo-Frio herborizei todos os dias nessa península, e, diàriamente aí
encontrava grande número de plantas interessantes.

Nas restingas do estado do Rio de Janeiro já foram identifica-


das mais de 1.200 espécies de vegetais superiores pertencentes a 120
famílias botânicas, com destaque para leguminosas, bromeliáceas,
mirtáceas, rubiáceas e orquidáceas (RIO DE JANEIRO, 2008).
Silva (2008) nos lembra de que a flora do município de Iguaba
Grande, característica de um ecossistema ímpar, ainda pode ser
apreciada e estudada, nos dias de hoje, na área remanescente per-
tencente à Universidade Federal Fluminense. Uma constatação clara
e reconhecimento público da importância do NEIG-UFF na manu-
tenção da biodiversidade autóctone regional.
Navegantes (2009), ao estudar os substratos utilizados pelo for-
migueiro-do-litoral (Formicivora littoralis) no NEIG-UFF, identificou
as seguintes espécies vegetais: Schinus terebinthifolius (aroeira); Scutia
- 40 -
Figura 23 – Borboleta-da-praia (Parides ascanius), ameaçada de extinção no
grau vulnerável e habitante do NEIG-UFF (setembro de 2007)
Fonte: Acervo pessoal.

Figura 24 - O capim-colonião (Panicum maximum Jacq.), oriundo da África (BRU-


NO; BARD, 2012), está presente particularmente nas bordas das áreas de inter-
ferência antrópica (alteradas) do NEIG-UFF (6 de junho de 2018)
Fonte: Acervo pessoal.

- 41 -
arenicola (ribeira); Siphoneugena guilfoyleiana (vamirim-de-ferro); a es-
pécie exótica Eupatorium laevigatum (maracanã); Eugenia neoglomerata
(coração-de-negro); Machaerium hirtum (espinho-de-santana), Mayte-
nus obtusifolium e Syderoxylon obtusifolium (sapotiaba). Outras espécies
frequentes nas áreas de ocorrência de F. littoralis foram: Thunbergia
alata (maria-sem-vergonha); Cereus fernambucensis, Pilosocereus arrabi-
dae (cardeiros); Bromelia antiacantha (gravatá); Guapira pernambucensis
(guapira); a espécie introduzida Agave sisalana (agávea) e Euphorbia
tirucalli (aveloz).
Quintanilha (2014) realizou cinco coletas (2012 e 2013), quatro
vezes na restinga e uma no morro (Floresta Estacional Semideci-
dual), utilizando-se de método não sistematizado de caminhamen-
to, de acordo com Filgueiras et al. (1994), além de fotografias e outras
metodologias adotadas, seguindo Mori et al. (1989). Em seus resul-
tados destacam-se entre as espécies arbustivas Cordia curassavica
(Jacq.) Roem. & Schult. e Cratylia hypargyrea Mart. ex Benth. Dentre
as arbóreas, Schinus terebentifolius Raddi, bastante frequente na área,
Conocarpus erectus L., Ceiba erianthos (Cav.) K. Schum e Trichilia casaret-
ti C. DC. Entre as herbáceas, Anthurium harrisii (Graham) G. Don, Til-
landsia stricta Sol. ex Sims, entre outras. A autora enfatiza que “uma
grande parte desta comunidade, próxima à lagoa, está degradada e
foi invadida pela gramínea Panicum maximum Jacq” (Figura 24), que
domina boa parte da fisionomia desta região.
Nas áreas de maior altitude do que foi denominado Morro do
Governo se encontra uma vegetação com aspecto seco e cor acinzen-
tada típica de Floresta Estacional Semidecidual. Ainda de acordo
com Quintanilha (2014):
O dossel é contínuo e possui cerca de 12m de altura. Na vertente voltada
para a lagoa, a mata é mais úmida, com a presença de Anthurium harri-
sii (Graham) G. Don e Asplenium douglasii Hook. & Grev. no sub-bosque.
Também no sub-bosque destaca-se a presença de Tillandsia stricta Sol. ex
Sims. A floresta possui alguns indivíduos com troncos finos dando apa-
rência de floresta de paliteiros, alguns apresentando liquens. Podem ser

- 42 -
Figura 25 - Exemplos de espécies nativas que têm o NEIG-UFF como refúgio. Legenda: A: aroeira (Schinus terebin-
thifolius); B: gravatá (Bromelia antiacantha); C: guapira (Guapira pernambucensis); D: barbasco, pimenteira ou tingui
(Jachinia brasiliensis), espécie ameaçada de extinção no grau “vulnerável”; E: ribeira (Scutia arenicola); F: sapotiaba
- 43 -
ou quixabeira (Sideroxylon obtusifolium); G: mangue-botão (Conocarpus erectus); H: cardeiro (Cereus fernambucencis).
Fonte: Patro (2013).
encontradas entre as arbóreas Alseis involuta K. Schum., Maytenus commu-
nis Reissek, Rudgea minor (Cham.) Standl., Pterogyne nitens Tul., Parapip-
tadenia pterosperma (Bojer) Brenan, entre outras. Há um estrato herbáceo
representado por muitas bromélias, com destaque para Aechmea floribun-
da Mart. ex Schult. & Schult. f. e outras ervas como Baccharis bifrons Ba-
ker, Sida carpinifolia Mill., Talinum patens (L.) Willd., Croton triqueter Lam.

Quintanilha (2014) listou para o NEIG uma expressiva diversi-


dade de plantas: 72 são árvores, 28 trepadeiras, 19 ervas terrestres,
oito arbustos e três epífitas (Figura 25). Além das espécies endêmicas
às restingas, assim como à Mata Atlântica, o NEIG abriga espécies
ameaçadas de extinção, como Pouteria psammophila, Swartzia glazio-
viana e Machaerium obovatum, o que lhe confere ainda mais relevância
nos esforços conservacionistas. A Figura 25 ilustra algumas dessas
plantas nativas do local. Com relação à vegetação exótica, destaca-
mos algumas espécies (Figura 26):
Figura 26 – Exemplos de espécies vegetais exóticas ao NEIG-UFF e região. Legenda: A:
Agávea (Agave sisalana); B: Casuarina (Casuarina sp.); C: Leucena (Leucaena leucocephala); D:
luca-gigante ou iuca-elefante (Yucca gigantea).

Fonte: Acervo pessoal.

- 44 -
Caracterização das condições
ambientais da Laguna de Araruama e
atividades humanas tradicionais

A representação da Laguna de Araruama perdurou até um pas-


sado recente na memória dos que a conheceram como um das mais
aprazíveis paisagens, de um ambiente calmo, em que o azul das águas
contrastava com o azul do céu, ambos cristalinos e repletos de luz, e
pescadores enchiam suas redes de variados peixes e crustáceos, uma
fartura na justa medida, em uma época em que a poluição ainda não
dava sinais de novos e preocupantes tempos.
Ainda hoje, no entanto, persiste a cultura pesqueira, com os pes-
cadores, a exemplo do município de Iguaba Grande, organizados em
suas atividades no que denominaram “Casa do Pescador” (Figura 27).
Voltando um tantinho da história e de acordo com Lima-Green
(2008), o aumento da pressão antrópica sobre a lagoa ocorreu a par-
tir dos anos 1950, com destaque para o período que procede a 1974,
com a ponte Rio-Niterói em plena atividade. Moreira-Turcq (2000)
acrescenta que tal ocupação se deu de forma caótica, e o aporte
das águas domiciliares na lagoa resultou em uma mudança de es-
tado no sistema.
A Laguna de Araruama, portanto, nos últimos 50 anos foi im-
pactada pela ampliação de novas formas de apropriação dos espaços,
no intuito de satisfazer a demanda da atividade turística. Sabe-se
que, na valorização dos espaços, um ambiente preservado contribui
para o sucesso de atividades econômicas e geração de capital. Por-
tanto, o desenvolvimento urbano planejado e a ocupação organizada
resultam em riqueza e vantagem no processo de exploração capitalis-
ta (BERTUCCI et al., 2016).
Neste contexto, as características ambientais da Laguna de
Araruama refletem os impactos das atividades econômicas que nela
tiveram lugar em dois momentos, definidos pelo binômio desenvol-
vimento econômico / degradação ambiental e decadência econômica
/ preservação ambiental (BERTUCCI et al., 2016).
- 45 -
Figura 27 – Na denominada Casa do Pescador, fora do período de defeso, os pescadores
de Iguaba Grande, RJ, concentram suas atividades laborais após a pesca, propriamente
(junho de 2018)

Fonte: Acervo pessoal.

Até a década de 1970, em um primeiro momento, as atividades


econômicas envolveram especialmente a pesca, o extrativismo e o tu-
rismo (TEIXEIRA, 2006), sem que se levasse em conta a capacidade
de reprodução e a resiliência ambiental. A mercantilização dessa na-
tureza, vista como um conjunto de bens utilizáveis, principalmente,
resultou em expressiva degradação do ambiente com consequências
negativas ao turismo (BERTUCCI et al., 2016).
Ainda de acordo com a referência supracitada, o segundo ciclo
das atividades econômicas, configurado especialmente pela especu-
lação imobiliária e o turismo, chega sob o arquétipo do desenvolvi-
mento sustentável, em suma:
[...] A degradação ambiental leva à decadência econômica, que demanda
a preservação ambiental como forma de recuperação das atividades for-
temente ligadas ao turismo e à indústria imobiliária.

- 46 -
Com relação à diversidade biológica e de acordo com Bidegain e
Bizerril (2002), as espécies são típicas de estuários de áreas costeiras,
que somam diferentes habitats naturais em suas margens, como ro-
chas, praias e mangues. No leito, a diversidade biológica se distribui
por diferentes tipos de sedimento.
A composição dos zooplânctons é heterogênea, considerando
neste grupo animais que têm pouca ou nenhuma capacidade de lo-
comoção na massa d’água, sendo dependentes da ação das corren-
tes (como os plânctons em geral, incluindo os fitoplânctons). Cons-
tituem-se de micro-organismos, mas também de larvas e ovos de
invertebrados e peixes, embora em baixíssima densidade, sendo o
peixe-rei a espécie predominante. A riqueza de zooplânctons é consi-
derada baixa, possivelmente pela baixa quantidade de microalgas (fi-
toplâncton) e a alta salinidade da laguna. Destacam-se os crustáceos
copépodes, em especial, Oithona oswaldocruzi, assim como as larvas
de mariscos (Anomalocardia brasiliana), particularmente nos meses de
março e outubro (BIDEGAIN; BIZERRIL, 2002).
Já a comunidade bentônica, aquela que vive no substrato (fun-
do) ou associada a este é a base da cadeia alimentar da lagoa e parti-
cipa da decomposição da matéria orgânica, assim como colabora na
liberação de nutrientes do sedimento para a coluna d’água. A flora
bentônica inclui micro-organismos como bactérias e algas cianofí-
ceas e diatomáceas, que formam “tapetes” no fundo de areias rasas.
Inclui também macroalgas, que somam 90 espécies: 25 clorofíceas,
15 feofíceas e 50 rodofíceas, verdes, pardas e vermelhas, respectiva-
mente. Os zoobentos somam mais de 180 espécies, representantes
de grupos como esponjas, celenterados (anêmonas), platelmintos,
nematódeos, briozoários, moluscos, crustáceos e outros. Na faixa da
praia, o sernambi (Anomalocardia brasiliana) tem maior distribuição
(BIDEGAIN; BIZERRIL, 2002).
Dentre os recursos pesqueiros da lagoa destacam-se, de acordo
com Thebald (1997), o camarão-rosa (Penaeus brasiliensis e P. paulensis)
e, conforme Saad (2003), 39 espécies de peixes, desde os acidentais,

- 47 -
visitantes ocasionais ou frequentes e residentes, com destaque para
a carapeba (Eugerres brasilianus), a perumbeba (Pogonias cromus) e a
tainha (Mugil liza).

Mapeamento das praias no entorno do NEIG-UFF

Após a análise de documentos oficiais, a exemplo UFF (1976),


constatou-se que toda a área, terreno ou lugar, como se refere o do-
cumento supracitado, onde hoje denomina-se NEIG-UFF é conheci-
do e referenciado documentalmente como “Ponta da Farinha”.
Alguns pontos deste recorte geográfico têm reconhecimento
local mais recente, como Ponta-do-Bico-Preto e Praia Curral do Ín-
dio. Neste contexto, optou-se pela elaboração de dois mapas. O pri-
meiro, com as referências locais, a partir de consultas a residentes e
comunidade local, e o segundo, com uma proposta de nomeação de
certos sítios, como praias, ainda não denominadas.
Os cordões litorâneos, as ilhas barreira e os pontais, assim
como as praias e outras feições formadas por sedimentos inconso-
lidados, são moldados de acordo com o clima de ondas e a altura do
nível do mar, exigindo, para uma permanência, uma razoável estabi-
lidade por parte deste último (MUEHE, 1994).
O NEIG-UFF apresenta, conforme a Figura 28, feições tais
como praias de razoável estabilidade, assim como outros acidentes
geográficos reconhecidos.
A Figura 29 propõe a caracterização nominal das praias e aci-
dentes geográficos localmente reconhecidos no NEIG-UFF (Praia
da Farinha e Praia Curral do Índio), assim como propostas para
nomeações de praias até então não definidas (Praia da Índia Potira
e Praia do Sal).
Na proposta acima, destaca-se a inclusão cartográfica da Praia
Curral do Índio, reconhecida por este nome pela comunidade local
tradicional; a proposta da Praia do Sal considera a antiga estrada do
Sal, que chegava até a antiga salina, favorecendo o transporte do sal,
- 48 -
Figura 28 – Caracteriza-
ção nominal das praias e
acidentes geográficos lo-
calmente reconhecidos no
NEIG-UFF (junho de 2018)
Fonte: Elaborado por Diego Ramos
Inácio e Sávio Freire Bruno.

Figura 29 – Proposta para


caracterização nominal das
praias e acidentes geográfi-
cos localmente reconhecidos
no NEIG-UFF (junho de 2018) - 49 -

Fonte: Elaborado por Diego Ramos


Inácio e Sávio Freire Bruno.
no passado, amplamente produzido. Percebe-se, além, uma enseada
bem característica de praia, com suas singularidades próprias, entre
a Praia da Farinha e a Praia Curral do Índio. Esta carece de batismo e,
considerando a história local, modestamente sugere-se batizá-la de
Praia da Índia Potira, índia Tamoio, filha do chefe indígena Aimberê
(ALMEIDA, 1988). Praia do Aimberê também seria uma forma de ho-
menagear esta nação, embora se sugira a primeira opção.

Breve caracterização e considerações


quanto aos impactos ambientais oriundos de
atividades antrópicas no NEIG-UFF após sua
doação à Faculdade de Veterinária da UFF

A partir da década de 1960, quando a área que hoje se denomi-


na NEIG-UFF foi doada à Faculdade de Veterinária e considerando
o objetivo de ser uma granja-escola, com prioridade para animais
domésticos de grande porte, transformações na paisagem foram
impressas, com supressão ou impactos negativos na vegetação au-
tóctone. Dentre as atividades que historicamente foram conduzidas,
independentemente do sucesso na implantação ou do tempo de du-
ração, destacamos: bovinocultura, caprinocultura, minhocultura,
apicultura e carcinicultura, além da manutenção de equinos com fins
acadêmicos ou não claramente definidos.
A bovinocultura e a caprinocultura implementadas na segunda
metade dos anos 1980 deixaram marcas na paisagem, pela supressão
vegetacional e estruturas, como um curral bovino, até hoje com seus
escombros erguidos. O capril, construído em madeira, já não mais
se nota. Mas a vegetação natural não foi restabelecida. Os caprinos,
no entanto, dispersaram-se pelo Núcleo, ameaçando todas as for-
mas vegetacionais.
Os impactos da minhocultura foram menores, valendo-se, ba-
sicamente, de uma construção de alvenaria em que, em seus escom-
bros, estabeleceu-se um viveiro de mudas em 2008. Os impactos da

- 50 -
apicultura foram, igualmente, mínimos, associados a limpezas de
áreas para a implantação de caixas. Os impactos relacionados à com-
petição das abelhas introduzidas com outros insetos polinizadores
não foram passíveis de mensuração.
A carcinicultura, instituída logo nos primeiros anos deste novo
século (2001/2002), embora não efetivamente implantada, resultou
em expressivo impacto, não só pela alternância / substituição de uso
territorial da área que antes era utilizada por uma histórica salina ex-
perimental, extirpando por completo esta atividade, mas pela grande
movimentação de sedimentos sólidos. Um dos morros do NEIG-UFF
perdeu parte de sua vegetação para ceder o solo necessário à cons-
trução dos viveiros (represas; tanques), que, de acordo com a FAPERJ
(2002), seriam em número de três, cada qual com 12 mil metros qua-
drados. As marcas dessas movimentações de terra perduram até os
dias atuais. Ainda de acordo com a fonte supracitada, o projeto ob-
jetivava a produção de camarões da espécie Litopenaeus vannamei, na-
tiva do Oceano Pacífico. A produção não se iniciou, o que nos isenta
de uma discussão quanto a potenciais impactos relacionados às es-
pécies bioinvasoras.

Estudo das áreas de risco de


incêndios no NEIG-UFF

De acordo com o Laboratório de Proteção Florestal da UFPR,


a ocorrência dos incêndios está relacionada aos combustíveis in-
flamáveis expostos a materiais acesos (UFPR, 2018). É sabido que
os incêndios florestais têm sido de grande impacto negativo nas
áreas naturais.

- 51 -
Figura 30 – Mapa de diagnóstico de áreas de risco de incêndio no NEIG-UFF (junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

Dentre as ações de combate aos incêndios, a prevenção é consi-


derada a mais importante e deve ser contínua, objetivando impedir
a ocorrência de incêndios que têm origem antrópica, e a propagação
dos que não podem ser evitados. Para tanto, preconiza-se: educação
da população; aplicação da legislação; eliminação ou redução das
fontes de propagação do fogo (UFPR, 2018). A partir da análise da co-
bertura do solo, com base nos dados de riscos de incêndio do estado
do Rio de Janeiro, elaborado pela Diretoria de Biodiversidade, Áreas
Protegidas e Ecossistemas (INEA/RJ, S.d.), apresentamos abaixo (Fi-
gura 30) nossa interpretação quanto às áreas de risco de incêndios no
NEIG-UFF, um refinamento de escala da referência supracitada, de
1:25:000 para 1:5.000.

- 52 -
Caracterizações do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
nos municípios de Iguaba Grande e São
Pedro da Aldeia e breves considerações

ICMS Ecológicos dos municípios de Iguaba Grande e São Pedro da


Aldeia, RJ e breves considerações

De acordo com o ICMS Ecológico (2012) e considerando a Lei nº


5.100 de 04 de outubro de 2007 (RIO DE JANEIRO, 2007):
O ICMS Ecológico é um mecanismo tributário que possibilita aos muni-
cípios acesso a parcelas maiores que aquelas a que já têm direito, dos
recursos financeiros arrecadados pelos estados através do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS, em razão do atendimento
de determinados critérios ambientais estabelecidos em leis estaduais.
Não é um novo imposto, mas sim a introdução de novos critérios de re-
distribuição de recursos do ICMS, que reflete o nível da atividade econô-
mica nos municípios em conjunto com a preservação do meio ambiente.

De acordo com Corrêa (2017), a supervisão geral do programa


ICMS Ecológico é exercida pela Secretaria de Estado do Ambiente
(Sea), por meio da Subsecretaria de Mudanças Climáticas e Gestão
Ambiental. A coordenação técnica operacional é da Assessoria de
Apoio à Gestão Ambiental Municipal, da Presidência do Instituto Es-
tadual do Ambiente (Inea), com apoio da Fundação Centro Estadual
de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio
de Janeiro (CEPERJ).
Conforme a Alerj e a Sea (RIO DE JANEIRO, 2007; S.d.), para
se habilitar a receber os recursos, os municípios devem dispor de
Sistema Municipal de Meio Ambiente, composto por órgão executor
de política ambiental, um conselho e um Fundo de Meio Ambiente,
além de guarda ambiental. Os repasses são proporcionais às metas
alcançadas em áreas como: tratamento de esgoto; gestão de resíduos
sólidos; áreas protegidas; e recursos hídricos. Quanto melhores os
- 53 -
indicadores, mais recursos as prefeituras recebem. A cada ano, os
índices são recalculados, dando uma oportunidade para que os mu-
nicípios que investiram em conservação ambiental aumentem sua
participação no repasse de ICMS. O Índice Final de Conservação
Ambiental (IFCA), que indica o percentual do ICMS Verde que cabe
a cada município, é composto por seis subíndices temáticos com pe-
sos diferenciados:
– Tratamento de Esgoto (ITE): 20%
– Destinação de Lixo (IDL): 20%
– Remediação de Vazadouros (IRV): 5%
– Mananciais de Abastecimento (IrMA): 10%
– Áreas Protegidas – todas as Unidades de Conservação –
UC (IAP): 36%
– Áreas Protegidas Municipais – apenas as UCs Municipais
(IAPM): 9%
De acordo com o artigo 2º da Lei nº 5.100, de 04 de outubro de
2007, 45% (quarenta e cinco por cento) do valor destinado ao ICMS
está relacionado à existência e efetiva implantação de áreas prote-
gidas. Neste quesito, cada município pontuará o seu Índice de Área
Protegida (IAP), composto pela soma das Parcelas de Áreas Prote-
gidas (PAP) localizadas dentro do território municipal, ponderadas
(cada uma delas) pelo Fator de Importância da parcela (FI), Grau de
Implementação da parcela (GI) e o Grau de Conservação da parce-
la (GC). O Fator de Importância da parcela (FI) varia de acordo com
a categoria da UC. A categoria Parque tem fator de importância 4,
enquanto as APAs têm fator de importância 2. A situação da conser-
vação e os instrumentos de gestão utilizados para a implementação
das UCs também são pontuados segundo o Grau de Implementação
(GI) de acordo com a existência e/ou operação/implementação dos
seguintes instrumentos de gestão:
– Conselho consultivo ou deliberativo, conforme o caso;
– Plano de manejo;

- 54 -
– Sede;
– Centro de visitantes;
– Regularização fundiária;
– Infraestruturas de fiscalização e controle.
A APA da Serra de Sapiatiba, onde está localizado o NEIG-UFF,
possui grande importância quanto ao repasse de ICMS ecológico dos
municípios em que está inserida (Iguaba Grande e São Pedro da Al-
deia). Em 2017, Iguaba Grande, RJ, pontuou em quatro itens obtendo
um total de R$ 4.195.736,82 (ano), sendo por suas Unidades de Con-
servação: R$ 561.591,68; UC municipal: R$ 104.961,10; tratamento de
esgoto: R$ 3.147.785,42 e resíduos sólidos: R$ 381.398,62 (ICMS ECO-
LÓGICO, 2018). Segundo ICMS ECO 2017, o município de Iguaba
possui em seus limites, aproximadamente, 1.600 hectares de áreas
protegidas, sendo cerca de 1.400 hectares relativos à APA de Sapia-
tiba. O grau de conservação e de implementação para a APA no mu-
nicípio de Iguaba recebeu pontuação 02 para um total de 04, sendo
considerada parcialmente conservada e implementada. O município
ocupou a vigésima posição no ranking estadual no ano de 2017. O mu-
nicípio de São Pedro da Aldeia, décimo oitavo colocado no ranking
estadual, possui aproximados 4.500 hectares de áreas protegidas,
dos quais aproximadamente 4.000 hectares referem-se aos limites
da APA de Sapiatiba, dentro do referido município. A pontuação para
os graus de implementação e conservação foi igual a 02. No ano de
2017, o município de São Pedro da Aldeia recebeu o repasse de R$
5.579.551,00 dos quais R$ 322.028,00 referem-se à pontuação rela-
cionada às Unidades de Conservação.
É possível que um município aumente sua pontuação relativa
ao ICMS ecológico no que diz respeito a uma UC já criada, investin-
do seus recursos do ICMS Ecológico para implementar e estruturar
a UC como forma de enriquecimento ambiental: com a elaboração
do Plano de Manejo, construção de sede, postos de fiscalização ou
sinalização, Conselho Consultivo atuante, controle de incêndios flo-
restais, ações de melhoria para fauna, flora. Ou mesmo a cidade que
- 55 -
teve baixa pontuação no índice de qualidade da água e quer melhorar
em curto prazo seus indicadores, investindo no controle de sedimen-
tos e tratamentos de efluentes por meio de sistemas alternativos e de
baixo custo. Tudo isso contará mais pontos e fará com que o municí-
pio receba mais recursos no ano seguinte.

IDH dos municípios de Iguaba Grande e


São Pedro da Aldeia, RJ e breves considerações

Conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-


mento (PNUD), o IDH é uma medida resumida do progresso a lon-
go prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano:
renda per capita, expectativa de vida e nível de educação. Segundo
o PNUD, o conceito de desenvolvimento humano está voltado para
as pessoas, suas oportunidades e capacidades, sendo a renda um
dos meios de desenvolvimento, e o IDH uma referência mundial. No
Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal e por administrações
regionais através do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDH-M) que é uma adaptação da metodologia aplicada para o IDH
Global. Os dados referentes ao IDHM brasileiro são disponibilizados
no Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil. A versão mais re-
cente do Atlas foi publicada em 2013 (PNUD, 2013a) e divulgada pelo
PNUD, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fundação
João Pinheiro (FJP), com dados extraídos dos Censos Demográficos
de 1991, 2000 e 2010. Segundo este Atlas, o IDH Municipal varia de 0
a 1, sendo 0 (zero) o pior e 1 o mais alto desenvolvimento.
Ainda, segundo o PNUD (2013a; 2013b), é considerada uma fai-
xa de Desenvolvimento Humano Alto os municípios com índice en-
tre 0,700 e 0,799. IDHM do município de Iguaba Grande em 2010 é
0,761, 8º no estado do Rio de Janeiro e 350° entre os 5.565 municípios
brasileiros (sendo o maior IDHM do ranking 0,862 em São Caetano
do Sul, SP, e o menor 0,418, em Melgaço, PA). O item que mais con-
tribui para o IDHM de Iguaba Grande é Longevidade, com índice de
0,841, seguida de Renda, com índice de 0,744, e de Educação, com

- 56 -
índice de 0,704. A renda per capita média de Iguaba Grande cresceu
160,89% nos últimos 20 anos, passando de R$ 313,55, em 1991, para
R$ 818,01, em 2010. A proporção de pessoas pobres passou de 41,95%,
em 1991, para 9,25%, em 2010. O percentual da população economica-
mente ativa passou de 61,19% em 2000 para 58,77% em 2010 e o per-
centual da população economicamente ativa que estava desocupada
passou de 14,86% em 2000 para 13,48% em 2010. Em 2010, das pes-
soas ocupadas, 2,82% trabalhavam no setor agropecuário, 0,77% na
indústria extrativa, 4,88% na indústria de transformação, 13,07% no
setor de construção, 1,11% nos setores de utilidade pública, 15,72% no
comércio e 54,67% no setor de serviços.
De acordo com o PNUD (2013b), o IDHM de São Pedro da Al-
deia é considerado alto, ocupando a 1.546ª posição no país, com ín-
dice 0,712 em 2010. Longevidade foi a dimensão que mais contribuiu
para o IDHM do município, com índice de 0,801, seguida de Renda,
com índice de 0,721, e de Educação, com índice de 0,626.
A renda per capita média de São Pedro da Aldeia cresceu 132,98%
desde 1991, passando de R$ 304,7 para R$ 710,04, em 2010. A propor-
ção de pessoas pobres passou de 38,43% para 9,11%, no mesmo perío-
do. Entre 2000 e 2010, a taxa de atividade da população que era eco-
nomicamente ativa passou de 65,29% para 66,04, enquanto o percen-
tual da população que estava desocupada passou de 14,94% em 2000
para 10,31% em 2010. Em 2010, 3,73% das pessoas trabalhavam no se-
tor agropecuário, 1,50% na indústria extrativa, 4,47% na indústria de
transformação, 12,63% no setor de construção, 1,24% nos setores de
utilidade pública, 19,65% no comércio e 53,16% no setor de serviços.
Após a consulta dos dados do IBGE, foi possível um refinamen-
to por meio de técnicas de geoprocessamento das informações do
IDH e cruzamento de dados de área (INEA/RJ, S.d.) em hectares, em
relação à população existente em cada município localizado no sis-
tema lagunar da Laguna de Araruama (Figura 31). Os dados de base
geográfica para geoprocessamento foram realizados a partir da base
GEOInea (INEA/RJ, S.d.).

- 57 -
Figura 31 – Caracterização do IDH dos municípios no entorno da Lagoa de Araruama
(junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno de acordo com os dados do IBGE (2010).

Breves considerações quanto às atividades


culturais, artísticas e esportivas
regionais atuais

A Laguna de Araruama atrai para os municípios de Iguaba


Grande e São Pedro uma grande variedade de praticantes dos mais
diversos esportes: futevôlei, caminhadas, corrida, caiaque, stand up
paddle, kite surf, canoa havaiana, vôlei, futebol e diversos esportes
a vela, tais como wind surf e hobie cat (FERNANDES, 2011). A região
apresenta também vocação para lazer e esportes terrestres de aven-
tura em suas Unidades de Conservação, a exemplo de trekking, corri-
da de orientação, mountain bike, fotografia da natureza e birdwatching.
A atividade de colonização dos municípios supracitados foi
iniciada com a catequese dos grupos indígenas realizada pelos mis-
- 58 -
sionários da Companhia de Jesus, que fundaram a Aldeia de São Pe-
dro em 1617 (TCE, 2003), conferindo às referidas cidades uma série
de atrativos culturais arquitetônicos que permanecem até os dias
atuais. Segundo a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), dentre os
atrativos culturais de Iguaba Grande podem-se destacar a Matriz de
Nossa Senhora da Conceição e a Capela de Nossa Senhora da Concei-
ção (construída em 1761 e tombada pelo INEPAC em 1979), Casa de
Cultura e Casa de Farinha. O município possui também como patri-
mônio cultural os vários sítios arqueológicos dos índios Tupinambás.
Como atrativo natural cultural, além da Laguna de Araruama, é im-
portante citar a Ilha de Santa Rita e as Serras Sapiatiba e Sapiatiba
Mirim (estas últimas constantes também como atrativos de São Pe-
dro da Aldeia, por estarem inseridas nos dois municípios). Dentre os
atrativos culturais de São Pedro da Aldeia estão uma das mais antigas
igrejas do país, a Igreja dos Jesuítas, de 1783, a Capela de São Pedro, a
Casa da Cultura, a Casa dos azulejos, a antiga Estação Ferroviária e a
Casa da Flor (RIO DE JANEIRO, 2018).

Propostas e subsídios para a caracterização


de um plano gestor para o NEIG-UFF

Em adição ao já exposto e às considerações finais, na perspecti-


va de inserção do NEIG-UFF acadêmica e regionalmente, propõe-se
que sejam investidos recursos financeiros e da equipe gestora dire-
cionados prioritariamente a projetos para:
– Reformar e modernizar a estrutura administrativa do
NEIG-UFF;
– Projetar alojamentos para alunos no NEIG-UFF;
– Estruturar espaços para Centro de Ciência e Educação
nas dependências do NEIG-UFF e seu devido mobiliário,
instalações de rede receptora de sinal de internet e equi-
pamentos de informática;

- 59 -
– Estruturar um centro de atividades que incorpore even-
tos artísticos e culturais nas dependências do NEIG-UFF;
– Estabelecer uma biblioteca com ambiente acolhedor, in-
cluindo computadores e locais de leitura ao ar livre nas
proximidades;
– Estabelecer parcerias municipais e condições estruturais
e logísticas para recepcionar escolas dos municípios cir-
cunvizinhos ao NEIG-UFF, com ênfase na Educação Am-
biental, incluindo a utilização de trilhas e vivências nas
áreas abertas do NEIG-UFF;
– Estruturar áreas e fluxos de visitação do NEIG-UFF com
vistas ao lazer contemplativo e visitas dirigidas com enfo-
que no conhecimento;
– Estabelecer um viveiro para produção de mudas para
revitalização interna e para projetos de revitalização re-
gionais;
– Elaborar projetos de revitalização de áreas degradadas;
– Promover cursos de extensão, projetos de pesquisa e
ensino;
– Criar ciclovia com fluxo interno de bicicletas públicas;
– Adequar o prédio abandonado na área de carcinicultura
para o projeto Laboratório / Observatório de Aves Ponta
da Farinha - Universidade Federal Fluminense;
– Estimular a reativação e oferecer base para as reuniões
do Conselho Consultivo da APA Estadual de Sapiatiba nas
dependências do NEIG-UFF;
– Fomentar parcerias com municípios circunvizinhos e
instituições públicas que possam colaborar de forma mú-
tua no NEIG-UFF.
Com o objetivo de contribuir na ordenação de propostas de zo-
neamento de uso territorial e aproveitamento de trilhas e estradas
para fins educacionais e contato com a natureza no NEIG, foi elabo-
rado o mapa abaixo (Figura 32):
- 60 -
Figura 32 – Propostas de zoneamento de uso territorial e aproveitamento de trilhas e es-
tradas para fins educacionais e contato com a natureza no NEIG-UFF (junho de 2018)

Fonte: Elaborado por Diego Ramos Inácio e Sávio Freire Bruno.

- 61 -
CAPÍTULO III

Considerações finais

Ao propormos a caracterização geográfica do NEIG-UFF, in-


tencionamos, dentre tantas razões, favorecer o entendimento de sua
importância socioambiental, seus vieses ecológicos e econômicos,
de forma a enfatizar a necessidade de conservar esta área e dar-lhe
subsídios para sua ordenação territorial. A planta topográfica e os
mapas presentes nesta obra são ferramentas úteis para tais fins.
Acreditamos que a vasta diversidade biológica apresentada
neste livro, as peculiaridades geomorfológicas e os aspectos socioe-
conômicos e ambientais aqui descritos reforçam a importância do
NEIG-UFF no desenvolvimento sustentável regional.
Com relação ao primeiro capítulo, particularmente, no históri-
co de ocupação territorial da área de estudo, desde a década de 1960,
pela então Escola de Veterinária, e até os dias de hoje como Faculda-
de de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, embora com
certa excepcionalidade, é irrefutável o viés utilitarista em relação à
natureza. Considerando seu histórico, desde os motivos de aquisi-
ção, como granja para grandes animais domésticos, enumeram-se
atividades zootécnicas, portanto, produtivistas. A inerente falta de
vocação da área para fins pecuários, tais como a alta salinidade, con-
dições do solo, entre outros, foi determinante para a desmotivação
acadêmica para tais fins, culminando na aquisição de outra proprie-

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dade rural que atendesse melhor os interesses pecuários, no municí-
pio de Cachoeiras de Macacu/RJ, no final dos anos 1980.
Fazia-se imprescindível, no entanto, enfatizar as reais voca-
ções do Núcleo Experimental de Iguaba Grande, deixando-se de lado
as perguntas que, com frequência, foram ouvidas no passado e ainda
se fazem ecoar: “O que se produz lá? Para que serve?” O “conhecer
para conservar” é um lema nesta obra. Para reforçar o imensurável
valor intrínseco que os ambientes naturais e toda a vida que abriga
detêm, lembremos que eles prestam inúmeros serviços ecológicos e
ambientais, por exemplo, associados aos ciclos biogeoquímicos. Sua
beleza e recursos, no entanto, se bem direcionados, contribuem con-
sideravelmente no desenvolvimento socioeconômico regional.
Rompido o desconhecimento da sua importância ecológica, so-
cial e econômica, devem-se reconhecer os aspectos legais relativos
ao recorte espacial estudado, para assim serem vislumbradas novas
vocações para o Núcleo Experimental de Iguaba Grande. Introduto-
riamente, é possível que, ao término da leitura deste livro, tais consi-
derações tenham sido alcançadas.
Sob a ótica da gestão territorial, uma das mais ímpares carac-
terísticas do Núcleo Experimental de Iguaba Grande é sua sobreposi-
ção a duas importantes condições: a de ser um campus universitário,
ou seja, uma área sob a posse de uma Unidade de uma Universidade
Pública Federal, e a de ser parte de uma Unidade de Conservação de
Uso Sustentável, em nível estadual. Nesta condição, o Núcleo Expe-
rimental em questão tem não só a vocação, mas também a oportuni-
dade, e por que não dizer, a obrigação de integrar-se e desenvolver-se
em ambas as óticas e suas respectivas missões.
Sob tal vocação, foi proposta, no âmbito do Colegiado de Uni-
dade da Faculdade de Veterinária da UFF, a alteração do nome deste
campus para Reserva Ecológica Ponta da Farinha / Faculdade de Ve-
terinária / Universidade Federal Fluminense, a qual foi aprovada por
unanimidade em 2020, estando a proposta em trâmite pelas demais
instâncias universitárias.

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A missão da UFF é produzir, difundir e aplicar conhecimento e
cultura de forma crítica e socialmente referenciada (UFF, 2018). Nes-
te contexto, enumera-se uma gama infinita de ações extensionistas,
assim como de ensino e pesquisa.
Considerando que, de acordo com a UFF (2018):
Hoje, a UFF é constituída por 41 Unidades de Ensino sendo 24 Institutos,
10 Faculdades, 6 Escolas e 1 Colégio de Aplicação. São ao todo 124 Depar-
tamentos de Ensino, 129 Cursos de Graduação presenciais e 6 Cursos de
Graduação a distância oferecidos em 28 Polos da Universidade Aberta do
Brasil, em convênio com o CEDERJ-RJ. Na Pós-Graduação Stricto Sensu
são 81 programas de Pós-Graduação e 120 cursos, sendo 42 de Doutora-
do, 62 de Mestrado Acadêmico e 16 Mestrados Profissionais. A Pós-Gra-
duação Lato Sensu apresenta 131 cursos de especialização e 45 programas
de Residência Médica.

E considerando as possibilidades multi e transdisciplinares, é


admissível imaginar que muitas dessas Unidades de Ensino tenham
características vocacionais para contribuir na construção de um ter-
ritório, não só sustentável, mas integrado regionalmente.
Ademais, a UFF e o INEA/RJ possuem uma parceria técnico-
-científica desde novembro de 2014, com prazo de três anos (RIO DE
JANEIRO, 2014), a qual favorece e potencializa as atividades conjun-
tas, se renovada. Portanto, a missão de uma APA Estadual prevista
no SNUC, que tem como objetivos básicos “proteger a diversidade
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustenta-
bilidade do uso dos recursos naturais” (BRASIL, 2000).
Iniciando o segundo capítulo, ao tratarmos do levantamento
do uso de solo e sua caracterização, constatam-se contingentes de
solo exposto e áreas degradadas, sendo essas últimas em maior pro-
porção. A carcinicultura abandonada potencializou os solos expos-
tos, inclusive à sua margem, ao se remover o solo para a construção
das barragens. Faz-se necessária a recuperação de grande parte das

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áreas degradadas, elegendo-se prioridades, como também das áreas
de solo exposto, à exceção das vias de acesso (estradas).
Tratando-se da cobertura vegetal, percebe-se que o conceito
de savana estépica não é adotado de forma absoluta pelos autores e
há certa dificuldade em estabelecer limites, a exemplo, com a Flores-
ta Estacional Semidecidual Submontana. Recomenda-se uma mais
precisa categorização fitofisionômica do NEIG-UFF.
Já as características do relevo do NEIG-UFF apresentam varia-
ções topográficas de 0 a 60 m, conferindo à área maior diversidade
de ambientes e rara beleza cênica.
Os simbolismos regionais somam magníficas paisagens, como
os acidentes geográficos da Ponta-do-Bico-Preto, da Ponta-da-Fari-
nha, da Praia-do-Curral-do-Índio e seus respectivos currais de pe-
dra. Alguns simbolismos foram destruídos, como a antiga salina do
NEIG-UFF, historicamente revisada, com menções que remontam ao
século XIX. Tais simbolismos, à exceção do que, claro, já foi destruí-
do, devem ser valorizados, divulgados, visitados e, mais que tudo,
considerados no plano gestor deste Núcleo, como potenciais atrati-
vos educacionais, a saber, histórico-culturais, de esporte e de lazer.
Estudos antropológicos são necessários para elucidar as ativi-
dades indígenas que ocorreram no NEIG-UFF. Como os Tupinam-
bás, em especial, os Tamoios relacionavam-se com a natureza local,
incluindo datações e demais informações.
Com relação à diversidade biológica, alguns grupos, como as
aves, têm sido estudados nos últimos anos. Estudos introdutórios re-
lacionados à herpetologia também foram realizados. Já grupos como
dos mamíferos ou mesmo da grande maioria dos invertebrados lo-
cais carecem de interesse e projetos efetivos. Na vertente botânica,
embora tenham-se iniciado estudos, esses podem ser considerados
igualmente introdutórios, carecendo a área do NEIG-UFF de apro-
fundamentos científicos.
Dentre os estudos botânicos que devem ser desenvolvidos com
prioridade destaca-se o aprofundamento do conhecimento sobre as
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espécies exóticas ao NEIG-UFF, incluindo o levantamento de espé-
cies, sua localização e abundância.
Conforme relata Silva (2008), Iguaba Grande é um dos municí-
pios da Região dos Lagos que apresenta uma das menores coberturas
vegetais em proporção à sua área e, excetuando-se a área da UFF, pou-
co resta neste município da vegetação de outrora. Torna-se evidente,
assim, a importância deste Núcleo na conservação da biodiversidade
local. Isto inclui o imenso banco genético, que propicia, em parte, a
criação de um horto viveiro com potencial de produção de mudas a
partir de sementes e projetos de revitalização florística regional.
Quanto às condições ambientais da Laguna de Araruama, nas
últimas décadas houve um expressivo declínio de peixes e crustáceos
e, consequentemente, um declínio na atividade pesqueira, entre ou-
tras atividades que também declinaram e que dependiam de condi-
ções ambientais equilibradas, como a produção salina.
Ainda que Bertucci et al. (2016) considere que a degradação am-
biental levou a uma decadência econômica, que demandou a preser-
vação ambiental como forma de recuperação ligada ao turismo e à
indústria imobiliária, é impensável deixar de conceber um projeto de
cunho conservacionista e inclusivo para uma área com característi-
cas como as do NEIG-UFF e que possa contribuir no desenvolvimen-
to sustentável regional.
A Educação Ambiental tem campo fértil no NEIG-UFF e ações
que incluam oficinas, trilhas interpretativas e atividades associadas
à percepção e sensibilização ambiental, com ênfase direcionada aos
estudantes regionais, com a participação do corpo discente e docen-
te da UFF, são fundamentais quando vislumbramos as vocações do
NEIG-UFF. Importante pensar que, embora com as parcas estruturas
existentes no Núcleo seja possível iniciar tais ações, faz-se necessária
a construção de um Polo de Ciência e Educação (Iruarama), de cará-
ter transdisciplinar, com plantas e detalhamentos propostos por este
autor, já elaborados pelo Setor de Arquitetura da UFF e arquivados na
Direção da Faculdade de Veterinária desta Universidade.

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Dentro desta ótica, e sob novos olhares, tramita na Universida-
de, desde 2020, um projeto/proposta para o estabelecimento de um
Laboratório de Ornitologia denominado Laboratório e Observatório
de Aves Ponta da Farinha, uma proposta transdisciplinar envolven-
do a saúde ecossistêmica e, como um todo, a Saúde Única. O atual
convênio estabelecido entre a UFF e a Prefeitura de Iguaba Grande
(2020) favorece ações de interesse mútuo, cujas propostas acima in-
tencionam alinhar.
Sob o ponto de vista cartográfico da região litorânea do
NEIG-UFF, e como já comentado, nos documentos oficiais consulta-
dos tudo se resume a Ponta-da-Farinha. Entretanto, das diversas en-
seadas que o litoral deste Núcleo apresenta, ao menos uma tem reco-
nhecimento local, embora nunca antes cartograficamente determi-
nada, a Praia Curral do Índio. Propõem-se aqui, além do mapeamen-
to da Praia Curral do Índio, a definição cartográfica e a denominação
de duas novas praias: a Praia da Índia Potira, entre a Praia da Farinha
e a Praia Curral do Índio, e a Praia do Sal, entre a Praia Curral do Ín-
dio e o condomínio particular que se confronta com o NEIG-UFF, to-
das essas no município de São Pedro da Aldeia, à exceção da Praia da
Ponta-da-Farinha e conforme a Figura 28. Tais proposições devem,
no entanto, estar sujeitas ao encaminhamento e possível aprovação
na municipalidade de São Pedro da Aldeia. Considera-se, à parte de
tais conjunturas, que os mapas aqui apresentados estabelecem um
detalhamento cartográfico até então não disponibilizado.
Em relação aos incêndios florestais e seus métodos de preven-
ção e combate, além do já exposto, podemos enumerar outras ações
prioritárias, a saber: o combate e monitoramento de gramíneas exó-
ticas e a substituição de áreas invadidas por tais gramíneas por ve-
getação nativa; estruturação de contingente de guardas ambientais
em parcerias (prefeituras) que contribuam no combate e prevenção
de incêndios; cursos de aperfeiçoamento e trocas de experiências
com relação à prevenção e combate de incêndios para tais equipes
especializadas e para a equipe do NEIG-UFF; ações educativas e pre-

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ventivas com as comunidades locais e aparelhamento do NEIG-UFF e
parcerias, para o efetivo combate aos incêndios florestais.
Tratando-se do ICMS verde e das possíveis parcerias com as
prefeituras regionais, principalmente de Iguaba Grande e São Pedro
da Aldeia, com a colaboração de parceiros como o INEA/RJ, fica evi-
dente que ações conjuntas visando à melhoria das estruturas e de-
mais melhorias, a exemplo, instituição de sede oficializada para a
APA Estadual, centro de visitantes e infraestrutura de fiscalização e
controle, dentre outras, especialmente a reativação do Conselho Con-
sultivo da APA de Sapiatiba, controle de incêndios florestais, ações de
melhoria para fauna e flora, são ações que favorecem todos, poder
público e sociedade em geral. Para tanto, o NEIG-UFF, em parcerias
bem estabelecidas e documentadas, tem enorme potencial para con-
tribuir com a maior arrecadação dos municípios e, paralelamente,
ser duplamente um polo universitário e fragmento de Unidade de
Conservação Estadual, com ações regionais expressivas.
Ainda com relação à expressividade regional e às ações univer-
sitárias de Ensino, Pesquisa e Extensão, promover, apoiar e incenti-
var ações esportivas, culturais e artísticas, as quais sejam vocacio-
nalmente adequadas ao NEIG-UFF e bem estruturadas em um plano
gestor, beneficiará todos os segmentos institucionais e a sociedade,
incluindo os índices de desenvolvimento humano regional (IDH).
Faz-se importante enfatizar nestas palavras finais, que a pre-
sente obra traz à discussão questões de forma majoritariamente
introdutória, e se as questões aqui apontadas forem consideradas e
aprofundadas, em parte ou em seu conjunto, o trabalho terá alcan-
çado uma dimensão não absoluta ou necessariamente explícita na
sua estrutura acadêmica. Talvez, esta dimensão seja o prazer de ver
alunos contentes em atividades além-muros. Não poderia a mesma
estar dissociada do intento de motivar, sensibilizar e agregar estu-
dantes, pesquisadores, técnicos e sociedade em geral, na construção
do conhecimento e de uma sociedade com mais oportunidades, me-
lhores condições de vida e melhoras nas relações de todos nós com o
ambiente que nos cerca e os seres que o habitam.
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A obra de Sávio Freire Bruno perpassa por tantos cam-
pos de ação que seria difícil enquadrá-la em um só
tema. Não poderia ser diferente, pela característica
multiprofissional e multidisciplinar do autor, demon-
strada através da imensa vastidão de seu conhecimento
teórico e prático. Dados técnicos nas áreas da Biologia,
Medicina Veterinária, Geografia entre outros saberes se
entrelaçam em uma deliciosa narrativa histórica, que in-
stiga o leitor da primeira à última página. Além disso, o
autor nos presenteia com belíssimas ilustrações da flora
e fauna locais e com uma importante revisão bibliográfi-
ca. Não há dúvida de que a obra revela um local precio-
so, sede de tantas oportunidades na prática das ciências
acadêmicas. Entretanto, mais do que isso, é um convite
à responsabilidade social de preservação de um espaço
absolutamente relevante para a história da Faculdade
de Veterinária, da Universidade Federal Fluminense, dos
municípios de Araruama, Iguaba Grande e São Pedro da
Aldeia e do próprio estado do Rio de Janeiro.

Leila Gatti Sobreiro


Diretora da Faculdade de Veterinária
Professora Titular do Departamento de
Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública
Universidade Federal Fluminense

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