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DINHEIRO DO CONTRIBUINTE

Lula, Bolsonaro, Dilma ou Temer:


quem gastou mais no cartão
corporativo?
Levantamento da BBC News Brasil no Portal da
Transparência mostra que Lula foi o que mais usou o cartão
corporativo. Entenda
Mariana Schreiber - @marischreiber - Da BBC News Brasil em
Brasília
26/01/2023 05:56 - Atualizado em 26/01/2023 08:14

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva disponibilizou


rapidamente uma enorme planilha que detalha
dezenas de milhões de reais em gastos públicos com
cartão corporativo pelos últimos quatro presidentes
(2003 a 2022), retirando o sigilo de milhares de
operações.

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Desde que os números foram revelados, apoiadores


de diferentes governos passaram a discutir nas redes
sociais sobre qual presidente teria usado mais o
cartão: Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer ou Jair
Bolsonaro?
A planilha divulgada pelo governo — após pedido da
organização especializada em transparência Fiquem
Sabendo — não é a fonte ideal para concluir qual
deles registrou mais despesas. Os dados do Portal da
Transparência, que trazem o total dos gastos com
cartão por cada governo, indicam que essa planilha
não traz todas as despesas feitas pelos quatro
presidentes.

Os gastos de Bolsonaro no cartão corporativo


que podem entrar na mira da Justiça

Por isso, a BBC News Brasil fez um amplo


levantamento no portal, tanto das despesas totais
com cartão, como dos gastos específicos da
Presidência da República, em cada governo, desde
2004 (o portal não tem dados anteriores a isso).

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cartão corporativo

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servidores com cartão corporativo

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carnes nobres em casa

Os números analisados pela reportagem indicam que,


na média anual, a administração Lula foi a que mais
gastou com o cartão, tanto quando se considera o
total do governo (R$ 111,6 milhões ao ano), como
quando se observa apenas as despesas da
Presidência (R$ 13,6 milhões). Os valores foram
atualizados pela inflação.

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Na outra ponta, a administração Temer aparece como


a que menos usou o cartão: R$ 66 milhões na média
anual de todo o governo, e R$ 6,3 milhões na média
anual da Presidência.
Já Dilma e Bolsonaro se alternam. O governo dela
aparece como o segundo que mais gastou no total (R$
105,4 milhões em média), enquanto ele aparece com
o segundo maior gasto quando se considera apenas o
uso do cartão pela presidência (R$ 11,3 milhões em
média).
Considerando os quatro governos, foram gastos
quase R$ 1,78 bilhão de 2004 a 2022 com cartões
corporativos.
Eis a média anual de cada presidente, calculada após
atualização das despesas pela inflação:
Gasto total do governo com cartões (média anual)
Lula: R$ 111.615.995,03
Dilma: R$ 105.359.749,99
Temer: R$ 66.018.287,49
Bolsonaro: R$ 66.859.775,58
Gasto da Presidência com cartão com cartões
(média anual):
Lula: R$ 13.651.977,23
Dilma: R$ 10.168.224,19

Temer: R$ 6.352.463,95
Bolsonaro: R$ 11.297.276,77
Já na segunda-feira (23/01), uma nova leva de
informações trouxe mais detalhes sobre o hábito de
consumo presidencial, com a liberação das notas
fiscais dessas operações, novamente a pedido da
Fiquem Sabendo. Essas notas, porém, foram
divulgadas pelo governo em papel físico e e estão
sendo escaneadas pela organização. Isso permite
saber os itens exatos consumidos no cartão.
A primeira leva digitalizada (cerca de 2,6 mil páginas,
20% do total) revelou que Bolsonaro usou o cartão
corporativo para comprar itens como picanha, caviar,
filé mignon e camarão, além de combustível para as
motociatas que realizava com apoiadores.
A organização está tentando obter acesso também às
notas fiscais das despesas dos governos anteriores.
A seguir, a BBC News Brasil explica melhor a
diferença entre a planilha divulgada pelo governo e
os dados do Portal da Transparência. E detalha
também os números de cada governo levantados pela
reportagem.

Planilha x Portal da Transparência

O cartão corporativo passou a ser adotado no


governo Fernando Henrique Cardoso com objetivo
de dar mais agilidade para compras emergenciais e de
baixo valor, evitando os trâmites burocráticos de uma
licitação. Seu uso, porém, tem sido acompanhado de
polêmicas em diferentes governos, já que há
operações com valores vultosos pouco
transparentes.
Esses cartões são usados não só para despesas
diretas do presidente, mas também gastos de
diferentes órgãos, como os ministérios ou o Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), que cuida da
segurança presidencial. Um uso comum, por exemplo,
ocorre em viagens oficiais de autoridades e
servidores.
Os gastos com esses cartões são disponibilizados a
cada mês no Portal da Transparência, uma
ferramenta administrada pela Controladoria Geral da
União (CGU) que permite acompanhar as despesas
do governo. No entanto, parte do uso do cartão é
mantida em sigilo — ou seja, embora o Portal traga os
valores totais gastos, não é possível saber os detalhes
de parte das operações, como o local da compra, o
que foi adquirido e por qual servidor responsável
pelo cartão.

A justificativa costuma ser a segurança de


autoridades ou garantir o sucesso de ações sigilosas,
como operações da Polícia Federal.

A justificativa para manter gastos no cartão


corporativo em sigilo costuma ser a segurança de
autoridades (foto: Getty Images)

A organização Fiquem Sabendo, especializada em


transparência, chegou a solicitar a queda desse sigilo
ao governo Bolsonaro, mas o pedido foi negado. A
justificativa da recusa se baseou neste trecho da Lei
de Acesso à Informação: "As informações que
puderem colocar em risco a segurança do Presidente
e Vice-Presidente da República e respectivos
cônjuges e filhos(as) serão classificadas como
reservadas e ficarão sob sigilo até o término do
mandato em exercício ou do último mandato, em caso
de reeleição".
Com o fim do mandato de Bolsonaro, portanto, a
justificativa para o sigilo caiu e as informações foram
disponibilizadas pelo novo governo, junto com
despesas de outros presidentes desde 2003,
atendendo ao pedido da Fiquem Sabendo.
No entanto, o governo Lula liberou a planilha sem
explicar o seu conteúdo, o que levantou muitas
dúvidas e questionamentos sobre qual seria
exatamente o escopo das despesas divulgadas.
Assim como os números do Portal da Transparência
analisados pela BBC News Brasil, o conteúdo dessa
planilha indica que os maiores gastos teriam sido
realizados pelo atual presidente, nos seus dois
primeiros mandatos (2003 a 2010). Seus apoiadores,
porém, passaram a argumentar que os dados de Lula
incluiriam despesas de todo governo — ou seja, não
seriam apenas da Presidência da República, mas
também de ministérios.

Segundo essa argumentação, as despesas de Lula


estariam infladas em relação a de outros anos, que
seriam restritas aos gastos da Presidência da
República.
No entanto, essa informação não procede. A BBC
News Brasil questionou a Secretaria de Comunicação
da Presidência da República (Secom) no dia 13 de
janeiro e, após uma semana, o órgão esclareceu que
os dados divulgados na planilha se referem apenas a
gastos relacionados diretamente aos presidentes,
registrados no Portal da Transparência como
despesas da Secretaria Especial de Administração da
Presidência (unidade gestora identificada pelo código
110001).
Ainda assim, há diferenças entre o conteúdo da
planilha e os dados dessa unidade gestora extraídos
pela BBC News Brasil diretamente do Portal da
Transparência.
Um ponto que não foi esclarecido ainda pelo governo
é se os dados incluem gastos dos presidentes em
viagens ao exterior, por exemplo. A planilha não
parece incluir essas despesas, enquanto a CGU disse
à reportagem que "é possível que despesas no
exterior componham as transações" dos cartões
corporativos.
A nota da Secom diz ainda que está produzindo uma
nova planilha das despesas com cartão. "Haverá uma
nova publicação em breve, uma vez que alguns
registros não foram incluídos na extração original",
respondeu o órgão.

A Secom ressaltou ainda que gastos do Gabinete de


Segurança Institucional (GSI) que foram classificados
como sigilosos "permanecerão sem publicação até o
posicionamento do GSI acerca da persistência ou não
das razões para classificação".
Segundo o órgão, o governo "divulgará, juntamente
com a nova planilha, os critérios (escopo) utilizados
para extração (dos dados)".

Entenda o levantamento da BBC


News Brasil

Diante do argumento de apoiadores de Lula de que


não seria possível comparar os gastos no cartão
corporativo porque as despesas do petista incluiriam
mais órgãos do governo do que as de outros
presidentes, a BBC News Brasil fez duas análises.
A reportagem comparou tanto o total gasto por cada
governo, como as despesas relacionadas diretamente
ao presidente, por meio da Secretaria Especial de
Administração da Presidência.
Esses gastos são identificados pela CGU na categoria
"cartões de pagamentos do governo federal". Os
dados disponibilizados vão de 2004, segundo ano do
primeiro governo Lula, até outubro de 2022. Ou seja,
os dois meses finais do mandato de Bolsonaro ainda
não entraram no sistema.

Em ambos os casos, foi retirada uma média anual


dessas despesas para cada governo — como cada um
dos presidentes governou por uma quantidade
diferentes de anos, não faria sentido comparar o
total.
Para essa comparação, o gasto de cada ano foi
atualizado pela inflação (IPCA) até dezembro de
2022, e depois foi retirada a média de cada
presidente.
No caso de Lula, como o Portal da Transparência
fornece apenas dados a partir de 2004, foi feita a
média de sete anos de gestão (2004 a 2010), ficando
de fora o primeiro ano do mandato.
O valor total gasto pelo governo corrigido pela
inflação ficou em R$ 781.311.965,24, dando uma
média anual de R$ 111,6 milhões.
Já o gasto da Secretaria Especial de Administração da
Presidência somou R$ 95.563.840,61 em sete anos,
uma média de R$ 13,6 milhões.
Para Dilma, foram considerados os anos de 2011 a
2015 (cinco anos), já que em 2016 ela foi afastada do
cargo em abril. O total do governo deu R$
526.798.749,95, e a média anual ficou em R$ 105,4
milhões.

A despesa da Secretaria Especial de Administração


da Presidência com cartão somou R$ 50.841.120,94
nos cinco anos da presidente (R$ 10,2 milhões em
média)
Para Temer, foram considerados apenas 2017 e 2018,
já que são os únicos anos completos de mandato, o
que significou um total de R$ 132.036.574,98 para o
governo e uma média de R$ 66 milhões.
No seu caso, a Secretaria Especial de Administração
da Presidência gastou R$ 12.704.927,90 com cartão
nos dois anos, ou R$ 6,3 milhões em média.
E, para Bolsonaro, foi feita a média dos quatro anos
de governo (2019 a 2022). O total gasto por sua
administração com cartões deu R$ 267.439.102,32,
com a média anual em R$ 66,8 milhões.
Já a Secretaria Especial de Administração da
Presidência somou R$ 45.189.107,08 no cartão. Na
média anual, o gasto ficou em R$ 11,3 milhões.
Os dados disponibilizados pela CGU não têm uma
apresentação padronizada. O Portal da
Transparência mantém apenas dez anos de gastos
dos governos (2013 a 2022) para consulta online.

"Isso se deve à necessidade de se manter um volume


administrável de dados em disco, de maneira a não
comprometer o desempenho do Portal", explicou a
instituição.
Já as despesas com cartão corporativo de 2004 a
2012 foram enviadas em planilhas de Excel após a
solicitação da reportagem.

Sigilo questionado

Para Gil Castello Branco, secretário-geral da


organização Contas Abertas, o cartão corporativo
deveria ser destinado, sobretudo, às despesas
emergenciais ou imprevisíveis.
"Notadamente quando não há tempo, ou
conveniência, para que seja feita uma licitação e que
sejam emitidos empenhos e ordens bancárias",
ressalta.
Na sua avaliação, é compreensível que algumas
despesas sejam sigilosas, como operações da Polícia
Federal que não podem ser antecipadas com
emissões de notas de empenho, descrevendo
previamente os nomes dos agentes, o local, e a data
das compras.

"Em fóruns internacionais, são debatidos, inclusive, o


sigilo ou não, por exemplo, da padaria onde é
comprado o pão para a residência oficial do
presidente da República. Supostamente, essa
informação facilitaria um eventual atentado",
acrescenta.
Na sua avaliação, porém, parte das informações não é
divulgada porque as autoridades temem algum
constrangimento.
"Costumo dizer que os presidentes não têm salário, e
sim poupança. Tudo o que imaginarmos relacionados
ao dia a dia da família presidencial e seguranças são
pagos pelos cidadãos. E os presidentes, seja quem for,
comem iguarias preparadas por chefs famosos,
vestem-se bem orientados por estilistas, têm
cabeleireiros e outros serviços pessoais à disposição,
consomem bebidas alcoólicas, etc", exemplifica.
"São despesas pagas pelos contribuintes que, se
reveladas, pensam as autoridades, geram
constrangimento perante os eleitores", acredita
Castello Branco, que defende a ampla divulgação das
despesas com os cartões corporativos, com exceção
apenas das que envolvam a segurança do presidente
e de seus familiares.

A planilha divulgada pelo governo Lula revela, por


exemplo, que todos os quatro presidentes eram
clientes do mercado La Palma, um comércio gourmet
em Brasília.
No total, a Presidência da República consumiu cerca
de R$ 3,6 milhões nas duas unidades do mercado, em
valores não atualizados pela inflação. Lula, em oito
anos, usou o cartão em compras que somaram R$
1,175 milhão. Dilma, por sua vez, gastou cerca de R$
1,2 milhão em pouco mais de cinco anos. Já as
despesas de Temer somaram R$ 492 mil em cerca de
dois anos e meio. Enquanto Bolsonaro consumiu
cerca de R$ 680 mil em quatro anos.

Polêmicas novas e antigas

Essas despesas têm sido alvo de polêmicas desde que


o cartão corporativo foi adotado no governo
Fernando Henrique Cardoso.
Em 2008, no segundo mandato de Lula, o Senado
chegou a instalar uma Comissão Parlamentar de
Inquérito para apurar o uso dos cartões. Um dos
investigados foi o então ministro dos Esportes,
Orlando Silva (PCdoB-SP), que virou alvo após pagar
R$ 8,30 em uma tapioca em Brasília com o cartão
corporativo. Ele alegou que se enganou no momento
do pagamento e que ressarciu o valor, já que o cartão
só poderia ser usado em viagens.
Também sofreu questionamento uma despesa de R$
20.112 com diárias em hotel e alimentação, em uma
viagem ao Rio de Janeiro para qual levou a esposa,
sua filha bebê e uma babá. Ele argumentou que
estava em agenda oficial e que a presença de sua
mulher fazia parte do protocolo da viagem.

Apesar disso, Silva decidiu devolver do próprio bolso


R$ 30.870,38 gastos com o cartão em dois anos como
ministro.

Gastos em motociatas promovidas pelo ex-


presidente também aparece em cartão corporativo
(foto: EPA)

No caso de Bolsonaro, algumas despesas também


chamam atenção, como gastos elevados com
alimentação e abastecimento de combustível em dias
que o ex-presidente realizou motociatas com
apoiadores.
Segundo levantamento do jornal O Globo, o uso do
cartão corporativo soma R$ 1,5 milhão em dias de
motociata. A maior parte envolve hospedagens em
hotéis de alto padrão (R$ 865.787), alimentação (R$
580.181), apoio logístico (R$ 36.047) e gasolina (R$
18.691).
Quando Bolsonaro realizou uma motociata em São
Paulo no dia 15 de abril de 2022, por exemplo, o
cartão da presidência realizou sete compras no valor
total de R$ 62.206 na lanchonete Tony e Thais, que
fica em Moema.
Nessa mesma data, também foram gastos no total R$
2.614,61 em dois postos de combustível.

Após a divulgação desses dados, foi levantado o


argumento de que as despesas indicam a
possibilidade de o cartão da presidência ter sido
usado não só para os gastos da equipe presidencial,
mas para fornecer lanches e combustível para os
apoiadores que participaram da motociata.
Segundo Gustavo Badaró, professor de Direito
Processual Penal da Universidade de São Paulo, se
isso tiver ocorrido, o ex-presidente poderia ser
enquadrado no crime de peculato (desvio de dinheiro
público), que tem pena de 2 a 12 anos de prisão, além
de multa.
Além disso, poderia ser cobrado a ressarcir os cofres
públicos na esfera civil.
Outras despesas podem levantar esse tipo de
suspeita. A planilha revela que Bolsonaro gastou R$
55 mil em uma padaria no Rio de Janeiro um dia após
a festa de casamento do seu filho Eduardo Bolsonaro,
que ocorreu na cidade em 25 de maio de 2019.
- Este texto foi publicado em
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64380490

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