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Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
59 | 2023
Número 59
Um século de recenseamentos no Brasil (1920-2020)
“O Censo é a Infraestrutura
Informacional do País”: O Censo
de 2020 e as Controvérsias
Tecnopolíticas de sua
Implementação
« Le recensement est l’infrastructure informationnelle du pays » : le recensement de 2020 et les controverses
techno-politiques de sa mise en œuvre »1
“The Census is the Information Infrastructure of the Country”: The 2020 Census and the Techno-Political
Controversies of Its Implementation
Moisés Kopper
https://doi.org/10.4000/confins.51641
Résumés
Português Français English
Explora-se as controvérsias tecnopolíticas da execução do censo populacional de 2020 no Brasil.
Através de entrevistas e pesquisa documental, mapeia-se as disputas tecnomorais e
transformações sociotécnicas de dois dispositivos censitários: o questionário e o orçamento. Isso
permite captar a emergência de uma forma de ativismo encabeçada pela mobilização de experts.
Conclui-se pensando o censo como infraestrutura informacional que inscreve, imagina e
estabiliza ideais de futuridade via números.
Cet article explore les controverses techno-politiques liées à la mise en œuvre du recensement de
2020 au Brésil. Des entretiens et des recherches documentaires ont permis de cartographier les
débats techno-moraux et les transformations sociotechniques de deux de ses dispositifs : le
questionnaire et le budget. Cet abord a permis de mettre en évidence l’émergence d’une forme
d’activisme portée par la mobilisation des experts. Le texte conclut en interprétant le
recensement comme une infrastructure informationnelle qui inscrit, imagine et stabilise des
idéaux pour le futur au moyen des chiffres.
This article explores the techno-political controversies related to the implementation of the 2020
census in Brazil. Through interviews and documentary research, I have mapped the techno-moral
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debates and the socio-technical transformations of two of its devices: the questionnaire and the
budget. This approach allowed to highlight the emergence of a form of activism carried by the
mobilization of experts. The text concludes by interpreting the census as an informational
infrastructure that inscribes, imagines and stabilizes ideals for the future through numbers.
Entrées d’index
Index de mots-clés : recensement, statistiques publiques, techno-politique, questionnaire,
budget, Brésil, XXIe siècle
Index by keywords: population census, public statistics, techno-politics, questionnaire, budget,
Brazil, 21st century
Index géographique : Brasil
Índice de palavras-chaves: censo populacional, estatísticas públicas, tecnopolítica,
questionário, orçamento, Brasil, século XXI
Texte intégral
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Crédits : biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?
view=detalhes&id=428226
1 Em uma de suas primeiras aparições públicas como “Superministro” da Economia,
em fevereiro de 2019, o economista Paulo Guedes sugeriu que o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) deveria vender dois dos prédios sob sua jurisdição na
cidade do Rio de Janeiro para cobrir os gastos de implementação do censo populacional
de 20202. O Chicago Boy3 havia recém sido investido com a missão de desenhar uma
agenda ambiciosa de privatizações, cortes de despesas e subsídios, e desregulação fiscal
que ajudaria a nova administração de Jair Bolsonaro a atingir a utopia neoliberal de um
Estado reduzido.
2 “Falta dinheiro para o censo, mas o Presidente fica de frente para o Pão de Açúcar, a
Diretoria fica no Centro e a turma da ralação fica aqui (no Maracanã). Devia todo
mundo estar junto em um prédio só. Ou quem sabe a gente vende os prédios e bota
dinheiro para complementar para fazer o censo bem-feito. Esse é um desafio. (…) Tem
que acabar com o privilégio e acabar com a vista para o mar do Presidente”4.
3 O IBGE é um dos mais antigos e respeitados Institutos Nacionais de Estatísticas do
mundo. Alguns de seus membros e ex-presidentes conquistaram significativa
notoriedade internacional, tendo recentemente presidido a Comissão de Estatísticas
das Nações Unidas e ocupado a presidência do Instituto Internacional de Estatísticas.
Com uma história que remonta a 1936, quando o então Presidente Getúlio Vargas
centralizou a produção de informação territorial, cartográfica, ambiental e estatística, o
IBGE passou a implementar um Sistema Nacional Estatístico robusto ancorado no
censo populacional que é realizado a cada dez anos desde 1872 e cuja edição de 2010,
totalmente digital, se tornou modelo a ser replicado em outros países latino-americanos
e africanos (Bianchini 2011, Senra 2006, 2009).
4 Apesar dessas inovações, o IBGE entrou na nova administração de Bolsonaro
acumulando incertezas institucionais e orçamentárias. Reformas estruturais e
normativas em “uma direção modernizante muito sólida” vinham ocorrendo desde pelo
menos a década de 1990, quando a instituição já enfrentava “muitas dificuldades
orçamentárias,” um descolamento com o “imaginário de todo o Brasil sobre o IBGE,” e
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“greves muito longas junto ao movimento sindical” (Besserman apud Senra et al. 2016:
301; Schwartzman apud Senra 2009: 450). Entre essas mudanças—que se
consolidaram no contexto de abertura econômica, enxugamento do estado e
privatizações típicos do neoliberalismo daquele momento—estava a adoção de
princípios de New Public Management como uma “cultura de consciência de custos”, a
manutenção de uma “rede de aliados externos” e a promoção de “uma consciência de
serviços” que cultivasse “os interesses e as preocupações de seus clientes” (Senra 2009:
420). Essas estratégias bem refletem o quadro de descentralização estrutural,
desfinanciamento, precarização do quadro de funcionários e downsizing institucional
de um regime estatístico neoliberal que se instaurou em diversos Institutos Nacionais
de Estatística no contexto da globalização a partir da década de 1980, e contra o qual
aqueles (ex-)presidentes buscaram, justamente, se impor ao implementarem fóruns de
consultas públicas, regimes de boas práticas e fomento à transparência dos dados junto
à sociedade (Beaud 2010).
5 No seu discurso inaugural como Presidente empossada naquela mesma manhã de
fevereiro de 2019, a economista Susana Guerra mencionou algumas das consequências
de longo prazo desses reajustes, entre as quais os cortes de verbas sistemáticos, o
número cada vez menor de funcionários concursados e permanentes, e a dependência
cada vez maior de recenseadores e operadores de campo com contratos temporários e
precários5. Guedes concluiria sua fala reafirmando que “o censo é importante. Mas
vamos tentar simplificar. O censo de países ricos tem dez perguntas. O brasileiro tem
150 perguntas. Sejamos espartanos e façamos o essencial. (…) Ninguém tem bala de
prata. Não existe Superministro.”
6 O discurso de Guedes é ilustrativo em vários aspectos. Com suas aproximações
inexatas (em relação, por exemplo, ao número de perguntas de outros censos nacionais)
e generalizações descontextualizadas, ele contém elementos do desdém pela ciência que
se tornaria a marca do governo Bolsonaro durante a gestão da pandemia (Camargo et
al. 2021). Ainda mais importante, porém, ele dá o tom para como questões de
austeridade fiscal e desregulação orçamentária se tornariam indissociavelmente
conectadas ao desenho científico da infraestrutura informacional central do censo: o
questionário. Se bem controvérsias em torno do orçamento e do questionário sejam
elementos-chave de qualquer operação censitária—e se inscrevam em rotinas técnicas
que antecedem, em anos, sua implementação—, o discurso de Guedes introduz uma
nova ordem de justificação (Boltanski e Thévenot 2006) nesse debate, marcada pela
passagem da arena técnica à arena político-midiática. Em sua visão, um dispositivo
mais simplificado, com menos questões e maior velocidade de aplicação, lançaria as
bases para uma nova forma—mais eficiente e menos custosa—de conhecer a sociedade
brasileira e criar políticas públicas focalizadas.
7 Este artigo é uma incursão qualitativa sobre a produção tecnopolítica do censo
populacional enquanto infraestrutura informacional do país. Especificamente, mapeia-
se as controvérsias sociotécnicas de dois artefatos infraestruturais—o questionário e o
orçamento do censo de 2020.6 Empiricamente, prioriza-se o marco temporal da
politização desse debate, que corresponde aos primeiros anos da gestão Bolsonaro,
quando controvérsias técnicas inerentes a operações censitárias latu sensu se chocaram
com novos modelos de gestão populista e conservadora dos dados que desencadearam
debates públicos efervescentes sobre a produção de números oficiais, o papel de
políticas baseadas em evidência, e o surgimento de novos ativismos de dados no país.
8 Mapear “les controverses scientifiques et surtout toutes celles qui ont débordé les
limites du monde statistique pour devenir publiques” (Beaud 2014:41) não apenas é
possível como também desejável, uma vez que ilustra a co-produção das estatísticas
simultaneamente como ferramenta de governo e de prova (Desrosières 1998). Como
atestam outros casos documentados pela literatura internacional recente,7 em contextos
políticos orientados pela “mobilisation populiste du monde ordinaire” (Beaud 2014:47),
a lógica do estado e da política interage de modo complexo com maquinarias
estatísticas (Beaud 2012, Aragão e Linsi 2020), recolocando questões sobre o papel das
evidências e das tecnologias de coleção e mensuração no mundo contemporâneo.
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tema técnico a gente conseguiu alcançar uma repercussão pra fora da bolha acadêmica
e a gente começou a ser chamado pra um monte de coisa.”
54 De fato, a página de Facebook do grupo21, com mais de 25 mil seguidores, conta a
história de mobilização desses funcionários e o apoio de diversas entidades da
sociedade civil e personalidades famosas, como atores da Rede Globo, que se engajaram
“em defesa” da realização do censo em diversos momentos da negociação política de
2019, 2020 e 2021. A entidade também passou a se mobilizar ativamente em debates
técnicos, como, por exemplo, em relação aos cortes do questionário propostos pela nova
administração de Susana Guerra, bem como ao modo pouco dialógico que, como vimos,
teria marcado o processo. Santos explicou que “esse novo período do IBGE virou uma
caixa preta. Não tem nenhuma comunicação das Direções com o Sindicato. Todos os
ofícios que a gente mandou desde 2019, quando a Susana Guerra tomou posse, nenhum
foi respondido.” Como consequência, o Sindicato pautou audiências públicas na
Comissão do Idoso da Câmara dos Deputados e na Comissão de Direitos Humanos do
Senado para demandar explicações da Presidente do IBGE quanto aos cortes do
questionário. O Sindicato também moveu ações judiciais para garantir seu direito de
receber clarificações quanto ao andamento técnico das questões pertinentes à
implementação do censo. À medida que o movimento ganhava forma, representantes
do Sindicato foram chamados a participarem em audiências nas Assembleias
Legislativas de estados como Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia, que criaram seus
próprios fóruns locais para estabelecer parâmetros tecnopolíticos de defesa do censo.
55 A mobilização da ASSIBGE foi amplificada por meio de alianças com representantes
da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) e funcionários de alto escalão
do IBGE, incluindo-se cinco ex-presidentes, o que permitiu que a Associação
estruturasse um discurso tecnicamente embasado nesse campo de embates. “A gente
baseou todo nosso discurso nas previsões que o IBGE vinha fazendo desde 2019,”
Santos argumentou. “A gente teve muita participação de técnicos da casa; dos
demógrafos, que tinham mais experiência na realização de censos; pessoas que estão no
IBGE há muito mais tempo que nós, que já fizeram outros censos, que sabem a
implicação de você tirar um tema do [questionário] básico para a amostra.” Por meio
dessas redes, a campanha lançou, em agosto de 2019, uma carta de ex-presidentes, com
as assinaturas de Eduardo Nunes, Roberto Olinto, Wasmália Bivar, Paulo Rabello de
Castro e Edson Nunes, “defendendo a integridade orçamentária, metodológica e de
conteúdo do censo.” Já em setembro, o grupo realizou um evento internacional no Rio
de Janeiro que trouxe especialistas e ex-Diretores de Institutos de Estatística do
Equador, Chile e Argentina para argumentarem “que mudanças de última hora no
censo não são bem-vindas; interferências políticas externas no Instituto de Estatística
não são bem-vindas.” O evento culminaria no lançamento de uma coletânea de artigos,
já em 2020, contendo as transcrições editadas das falas desses intelectuais, bem como
de uma breve apresentação por Santos sobre o histórico de mobilização da entidade
(Botelho 2020). “A gente resolveu lançar o livro como mais uma forma de registrar todo
esse processo. O que eu sempre falo, ainda que tudo dê errado, que o Censo dê errado e
que falte coisa, ou que não tenha Censo, a gente vai registrar que houve luta, houve
quem estivesse dizendo que não tava certo.”
56 Apesar de todo o esforço, Santos avaliou com ambivalência os efeitos gerados pela
mobilização entre a sociedade civil. Por um lado, a campanha repercutiu massivamente
entre usuários de dados, acadêmicos, associações profissionais e meios de
comunicação. “Houve momentos que a gente foi super procurado. A gente precisou até
ter uma assessoria de imprensa profissional porque não dava, só a gente, responder. A
gente participou do Jornal Nacional mais de uma vez; GloboNews mais de uma vez.”
Porém Santos duvidou que “alguém no bar” já tivesse debatido tais questões. “As
pessoas viram isso em algum momento, só não sei se elas entenderam,” concluiu. Para a
funcionária e sindicalista, apenas uma campanha publicitária bem-feita poderia
aumentar os níveis de interesse e participação do cidadão médio na mobilização por um
censo de qualidade.
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63 Como vimos através das lentes desses operadores, o censo é visto como a
infraestrutura informacional do país. Ele tem o potencial de tornar visível padrões
amplos de desigualdade socioeconômica e de mudanças demográficas por meio da
tradução de grandes números e séries históricas longitudinais. Entretanto, ao
observarmos a tecnopolítica da sua constituição, somos deparados com uma fotografia
bem menos estabilizada e nítida dessa infraestrutura (Beaud 2014).
64 Ao ser desenhado e realizado, o censo coloca em marcha sua própria infraestrutura
de produção, gestão e circulação de informações, redes e expertises—não apenas
técnicas, mas também políticas, sociais e econômicas. Ao focarmos na composição
sociotécnica de seu dispositivo central, o questionário, joga-se luz sobre a história
profunda de alianças contingentes e disputas tecnopolíticas que em última instância
formatam os modos pelos quais nós pensamos, medimos e contamos a diferença.
Talvez ainda mais importante, nós nos damos conta de que os valores quantificados que
atribuímos a essas diferenças são na verdade tentativas de estabilizar o fluxo de
controvérsias políticas disputadas em termos técnicos.
65 Como argumentado por Antina von Schnitzler (2016) para o caso de medidores pré-
pagos de água no contexto pós-apartheid da África do Sul, conflitos em torno da
instanciação de estatísticas públicas—o fundamento informacional de um país—expõem
as formas tecnopolíticas através das quais a democracia toma forma. Por meio da
realpolitik de negociações de bastidor, os imponderáveis de alianças transnacionais, e
dos ativismos de dados de especialistas—incluindo-se os operadores e usuários do
censo—podemos apreender os sustentáculos concretos e materiais dos números como
indexadores de cidadania. Desta perspectiva, o censo carrega pouca semelhança com a
forma como ele é retratado pela literatura convencional, como um instrumento de
governança total que conta corpos através de aferições estatísticas (Desrosières 1998,
Thorvaldsen 2018) e os transforma na substância de uma identidade nacional unificada
(Appadurai 1993, Scott 1998). Ao contrário, minha pesquisa em andamento tem
mostrado que o censo pode ser mais bem descrito como a atualização de múltiplas
forças alinhadas apenas parcial e intermitentemente por meio do trabalho tecnopolítico
desses especialistas como stakeholders ativos na produção de dados. Uma abordagem
etnográfica desses processos de census-making, portanto, pode privilegiar as práticas
experimentais com tecnologia, política e pertencimento que dados quantificados
evocam em sociedades informacionais pós-coloniais como a brasileira.
Referências Bibliográficas
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New Haven: Yale University Press.
67 Appadurai, Arjun. 1993. "Number in the Colonial Imagination." In Orientalism and
the Postcolonial Predicament, dirigé par Carol A. Breckenridge & Peter van der Veer,
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68 Aragão, Roberto, & Linsi, Lukas. 2020. Many Shades of Wrong: What Governments
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69 Beaud, Jean-Pierre. 2016. Une Bien Étrange Controverse: L’Abolition du
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70 ———. 2012. Recensement et Politique. Cahiers Québécois de Démographie, 41(2),
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71 ———. 2014. Controverses, Crises et Changement dans les Systèmes Statistiques.
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72 ———. 2010. L’Histoire de la Statistique Canadienne dans une Perspective
Internationale et Panaméricaine. In N. de C. Senra & A. de P. R. Camargo (Eds.),
Estatísticas nas Américas: Por uma Agenda de Estudos Históricos Comparados.
IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações.
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73 Bianchini, Zélia. 2011. "The 2010 Brazilian Population Census: Innovations and
Impacts in Data Collection." Communication présentée au congrès annuel de la
International Statistical Institute, 21-26. Dublin, 21-26 août, manuscrit.
74 Boltanski, Luc & Thévenot, Laurent. 2006. On Justification: Economies of Worth.
Princeton University Press.
75 Botelho, Luanda (ed.). 2020. Censo 2021: Experiências na América do Sul. Rio de
Janeiro: Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE - Assibge Núcleo Chile.
76 Bruno, Isabelle & Emmanuel Didier. 2013. Benchmarking: L’état sous pression
statistique. Paris: Éditions La Découverte.
77 Camargo, Alexandre de Paiva Rio. 2015. "Dimensões da nação: uma análise do
discurso estatístico da Diretoria Geral de Estatística (1872-1930)." Revista Brasileira de
Ciências Sociais 30 (87): 79-96.
78 ———. 2018. ‘O Censo de 1872 e a utopia estatística do Brasil Imperial." História
Unisinos 22 (3): 414-28.
79 Camargo, Alexandre, Motta, Eugênia, & Mourão, Victor. 2021. "Números
Emergentes: Temporalidade, Métrica e Estética da Pandemia de Covid-19." Mediações,
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80 Cunha, José Marcos Pinto da. 2005. "Migração e urbanização no Brasil: alguns
desafios metodológicos para análise." São Paulo em perspectiva 19 (4): 3-20.
81 ———. 2012. "Retratos da mobilidade espacial no Brasil: os censos demográficos
como fonte de dados." REMHU: Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana 20:
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82 Desrosières, Alain. 1998. The Politics of Large Numbers: A History of Statistical
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83 Didier, Emmanuel & Isabelle Bruno. 2021. "O 'Estatativismo' como uso Militante da
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84 Ghosh, Arunabh. 2020. Making It Count: Statistics and Statecraft in the Early
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85 Gupta, Akhil. 2012. Red Tape: Bureaucracy, Structural Violence, and Poverty in
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86 Hull, Matthew S.. 2012. Government of Paper: The Materiality of Bureaucracy in
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87 Latour, Bruno. 1987. Science in Action: How to Follow Scientists and Engineers
through Society. Cambridge, MA: Harvard University Press.
88 ———. 2007. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory.
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89 Loveman, Mara. 2009. "The Race to Progress: Census Taking and Nation Making in
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90 ———. 2021. A política de um cenário de dados transformado: estatísticas
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91 Milan, Stefania & Lonneke van der Velden. 2016. "The Alternative Epistemologies of
Data Activism." Digital Culture & Society 2 (2), 57-74.
92 Scott, James C.. 1998. Seeing Like a State: How Certain Schemes to Improve the
Human Condition Have Failed. New Haven & London: Yale University Press.
93 Senra, Nelson de Castro (ed.). 2006. História das estatísticas brasileiras:
Estatísticas organizadas (c.1936-c.1972). Vol. 3. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
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94 ——— (ed.). 2009. História das estatísticas brasileiras: Estatísticas formalizadas
(c.1972-2002). Vol. 4. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
95 Senra, Nelson de Castro, Fonseca, Silvia, & Millions, Teresa (eds.). 2016. O Desafio
de Retratar o País: Entrevistas com os Presidentes do IBGE no Período de 1985 a
2015. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Notes
1 Cet article est la traduction d'un texte paru dans la revue Brésil(s), qui a publié en français dans
son numéro 23 le dossier "Un siècle de recensements au Brésil (1920-2020)", les mêmes articles
que ceux qui sont publiés, en portugais, dans ce numéro 59 de Confins : Moisés Kopper, « « Le
recensement est l’infrastructure informationnelle du pays » : le recensement de 2020 et les
controverses techno-politiques de sa mise en œuvre », Brésil(s) 23 | 2023, URL :
http://journals.openedition.org/bresils/14425 ; DOI : https://doi.org/10.4000/bresils.14425
2 Este artigo faz parte do projeto Starting Grant “InfoCitizen” que recebe financiamento do
Conselho Europeu de Pesquisa (ERC) no âmbito do programa de pesquisa e inovação Horizon
Europe da União Europeia (Convênio de concessão nº 101076030). O artigo foi escrito como
parte do projeto Future-Data na Universidade livre de Bruxelas, Bélgica, que projeto recebeu
financiamento do European Union Horizon 2020 research and innovation programme sob o
Marie Skłodowska Curie grant agreement nº 801505. Uma versão preliminar foi apresentada na
XVI Reunião da Brazilian Studies Association (Brasa). Sou grato a Claudia Fonseca por seus
comentários atentos.
3 Chicago Boy é o termo pelo qual são conhecidos os latino-americanos egressos do
Departamento de Economia da Universidade de Chicago que lá se graduaram durante os anos
1970 e 1980 e que ajudaram a implementar, em seus países de origem, reformas econômicas de
caráter neoliberal (Klüger 2017: 415).
4 Disponível: https://oglobo.globo.com/economia/guedes-quer-vender-predio-do-ibge-para-
fazer-censo-sugere-simplificar-pesquisa-23473491 . Acessado: 17.02.2022.
5 Vários interlocutores de pesquisa apontam para este problema, que está na origem da falta de
quadros técnicos capazes de permanecer por tempo suficiente na instituição para garantir a
implementação de pesquisas domiciliares de qualidade.
6 O censo de 2020 foi adiado por duas vezes, primeiramente para 2021 e em seguida para 2022,
ano de sua implementação. Ainda assim, refiro-me a 2020 por ser este o ano inicialmente
concebido na série histórica para a realização do censo e, também, para preservar o sentido
histórico das controvérsias aqui documentadas, já que a perspectiva de um adiamento viria a se
concretizar apenas com o advento da pandemia, em 2020.
7 Veja-se, a esse respeito, a crise de representação pública dos dados oficiais causada pela
abolição da obrigação de responder ao questionário amostral do censo canadense de 2011, que foi
substituído por uma pesquisa voluntária com 30% da população. Essas mudanças ocorreram
durante o governo de Stephen Harper (Partido Conservador Canadense) e objetivaram preservar
as liberdades e privacidades individuais (Beaud 2014, 2016).
8 Cabe lembrar, aqui, que bifurcações ideológicas importantes em torno de nova reformulação do
questionário e do adiamento do censo se estabeleceram entre esses intelectuais durante a fase
seguinte dessas controvérsias, que chamo de “judicialização” e que surge com o advento da
pandemia e a intervenção do Supremo Tribunal Federal para garantir a realização do censo.
Embora a visão dos intelectuais que nalgum momento se retiraram do front de debates públicos
e/ou se expressaram a favor do adiamento não seja o foco deste artigo, a pesquisa em andamento
procura captar essas clivagens para mapear o quadro mais amplo de posicionamentos
tecnopolíticos da controvérsia.
9 Os DMCs são equipamentos portáteis com geolocalização embutida usados por recenseadores
para o registro e armazenamento de informações coletadas em campo.
10 Para um olhar sobre a perspectiva que defendia um questionário sucinto e eficiente para o
censo 2020, ver o texto da demógrafa Susana Cavenaghi:
https://www.scribd.com/document/408169248/Por-um-Censo-Demografico-de-qualidade-em-
2020. Acessado: 15.03.2022.
11 Pseudônimo utilizado para preservar a identidade do interlocutor de pesquisa.
12 Disponível: https://ces.ibge.gov.br . Acessado: 15.03.2022.
13 Guerra foi contatada diversas vezes para a realização de entrevista para esta pesquisa, porém
até o momento da redação deste artigo não se havia obtido retorno para a realização da mesma.
14 Veja-se, sobre isso, as intervenções públicas de sete ex-presidentes, em julho de 2019, através
de carta aberta sustentando que a redução do questionário não implicaria “perda irreparável de
séries históricas sobre diferentes características da população” uma vez que “o questionário do
Censo brasileiro tem sido diferente a cada década, e não se pode pretender que ele fique
congelado no tempo”
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/07/29/internas_economia,788071/grupo-
liderado-por-bacha-defende-corte-nos-questionarios-do-censo.shtml . Acessado em: 10.07.2022.
https://journals.openedition.org/confins/51641 16/17
29/08/2023, 12:34 “O Censo é a Infraestrutura Informacional do País”: O Censo de 2020 e as Controvérsias Tecnopolíticas de sua Implementa…
15 Entendo, neste ponto, que minha relativa facilidade de acesso às figuras de cúpula que
encabeçariam a defesa de um questionário mais longo também reflete a tentativa desses atores de
ampliarem o repertório dos instrumentos de comunicação com a sociedade, fazendo seu discurso
circular em espaços menos hegemônicos e tradicionalmente menos afeitos ao discurso estatístico,
como, neste caso, o universo acadêmico da antropologia. Até o momento da redação deste artigo,
não havia obtido a mesma facilidade para realizar entrevistas com os presidentes mais antigos da
instituição.
16 Ver, por exemplo: https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/bid-colabora-com-o-
censo.html . Acessado: 15.03.2022.
17 Para um olhar acadêmico sobre as potencialidades abertas pelos dados censitários de migração
interna, consultar Cunha (2005).
18 A Contagem Populacional está prevista para ocorrer nos anos terminados em 0 e 5 e serve de
complemento ao censo para ajudar no cálculo da estimação da população.
19 Em novembro de 2018, por exemplo, o então presidente eleito criticou a metodologia de
cálculo do desemprego adotada pelo IBGE. Disponível:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/bolsonaro-usa-informacoes-incorretas-ao-
criticar-indicador-de-desemprego-no-pais.shtml . Acessado: 15.03.2022.
20 Pseudônimo utilizado para preservar a identidade do interlocutor de pesquisa.
21 Disponível: https://www.facebook.com/EmDefesaDoCenso/ . Acessado: 15.03.2022.
Auteur
Moisés Kopper
Institute of Development Policy, Université d’Anvers. ORCID : https://orcid.org/0000-0003-0327-
7681.
Droits d’auteur
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https://journals.openedition.org/confins/51641 17/17