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Economia Política

Lula viabiliza
aumentos
salariais e faz
defesa do
funcionalismo

Por Maurício Hashizume

17/01/2005 00:00

Brasília - “Todos que conhecem a máquina

administrativa têm motivos para ser

orgulharem dos servidores públicos

brasileiros. Essa é outra coisa, para mim,

impressionante: a qualidade do

funcionalismo público brasileiro. Pode ter

destoamento em qualquer lugar, tem até

em time de futebol. Tem o bom, tem o

ruim, mas eu diria que é para cima da

média a dedicação que as pessoas têm, que

os servidores públicos brasileiros têm”. A

homenagem aos trabalhadores e


trabalhadoras do setor público feita de

improviso pelo presidente Luiz Inácio Lula

da Silva foi ofuscada, entre outros temas de

interesse nacional, pela chegada do novo

avião presidencial de cerca de R$ 140

milhões.

O presidente defendeu o funcionalismo em

discurso feito na última quarta-feira (12),

durante a cerimônia de sanção da lei que

definiu uma nova estruturação do plano de

carreira para 151 mil servidores técnico-

administrativos que compõem os quadros

de pessoal das universidades federais,

escolas técnicas e agrotécnicas, e centros

federais de educação e tecnologia. Pelo

novo plano, o piso salarial passará de R$

452,00 para R$ 701,88 a partir de março

deste ano. O aumento varia entre 5% e

30% (os maiores ganhos serão para o

pessoal de apoio, ou seja, os que ganham

menos) e cada degrau de ascensão na

carreira representará aumento de 3%. O

plano de carreira é uma reivindicação de

mais de dez anos de entidades como a

Federação de Sindicato dos Trabalhadores

das Universidades Brasileiras (Fasubra) que,

apesar da comemoração, considera a

definição do plano de carreira apenas um


pontapé para outras medidas de

fortalecimento da categoria.

“A iniciativa privada tem fama de que lá se

trabalha muito e não se ganha tanto. Os

servidores públicos têm uma fama

contrária: a de que ganham muito e

trabalham pouco. Durante dez anos isso foi

vendido para a sociedade brasileira: o

servidor público é aquele que não trabalha e

ganha muito; a iniciativa privada são

aqueles que trabalham muito e ganham

pouco. É só vocês pegarem, aqui do Palácio

do Planalto, 50 profissionais da mais alta

competência e compararem com o salário

da iniciativa privada que vocês vão perceber

que os nossos ganham um terço do que

ganham os da iniciativa privada. E o que me

impressiona é a dedicação das pessoas”,

adicionou o presidente em seu discurso para

uma platéia de servidores. Lula ainda

completou: “(...) no serviço público se

trabalha muito e se formam profissionais da

mais alta competência que, muitas vezes,

não recebem uma remuneração condizente.

E aí, muitas vezes, as pessoas vão para a

iniciativa privada”.

O Estado brasileiro, na opinião do


presidente, tem contenciosos históricos com

seus servidores. “São dívidas de mais de

três décadas que vêm se acumulando”,

apontou Lula. Esse contexto, Lula disse que

considera o ano de 2004 um marco: “Foi o

primeiro ano na nossa história republicana

em que houve um amplo acordo coletivo

entre os servidores públicos brasileiros e o

governo, assinado por todos os sindicatos -

com exceção dos companheiros da Andes

[Sindicato Nacional dos Docentes das

Instituições de Ensino Superior]”.

Os números apresentados pela Secretaria

de Recursos Humanos do Ministério do

Planejamento, divulgadas em matéria

publicada pelo jornal Valor Econômico na

semana passada, de fato, não são

desprezíveis. Nos dois primeiros anos de

governo, foram realizadas 54 negociações

que já resultaram ou vão resultar em ganho

salarial para os servidores públicos.

O governo Lula, ainda segundo o Valor,

mudou o foco da política salarial da União.

“Com medo de perder quadros altamente

qualificados para o setor privado, o governo

Fernando Henrique Cardoso preocupou-se,

prioritariamente, em recompor os salários


mais altos, principalmente os das chamadas

carreiras típicas de Estado, como fiscais da

Receita, procuradores e policiais federais”,

aponta o jornal. Lula, por sua vez, optou

por reduzir o fosso salarial entre os

servidores e priorizou o reajuste das

categorias de apoio, como no caso dos

funcionários de instituições federais de

ensino.

Em 2003, o atual governo deu ao

funcionalismo reajustes que custaram R$

1,238 bilhão. Em 2004, com a conclusão de

novas negociações, a conta anual dos

aumentos salariais dados desde o início de

2003 chegou a R$ 5,116 bilhões. Os

aumentos salariais concedidos a servidores

públicos federais durante os dois primeiros

anos do governo Lula vão custar à União R$

9,2 bilhões em 2005, revelou ainda a

matéria do Valor Econômico.

No último ano do governo Fernando

Henrique Cardoso, as despesas da União

com pessoal ativo e inativo somaram R$ 75

bilhões. Comparando-se esse valor com a

despesa prevista para 2005 (R$ 98,1

bilhões), o crescimento total da folha chega

a R$ 23,1 bilhões, um acréscimo de 30,8%,


aponta o Valor. O acréscimo total, segundo

a Secretaria de Recursos Humanos, supera

o valor decorrente das negociações porque

as despesas com pessoal também sofrem

impacto de decisões judiciais (pagamento

de atrasados de reajustes retroativos, por

exemplo), de novas contratações de

servidores por concurso e, ainda, da

incorporação natural de vantagens previstas

nas carreiras.

O presidente ainda colocou esse conjunto

de iniciativas, no mesmo discurso, em

perspectiva histórica. “O que eu quero é

que a gente não perca o bom senso para

estabelecer todas as discussões possíveis, e

até as impossíveis, até que a gente possa ir

subindo degrau por degrau e construir uma

base sólida em que a máquina pública seja

tratada dignamente por qualquer que seja o

governo, como é em qualquer democracia

sólida no mundo. No mundo mais velho do

que nós - para não dizer mais desenvolvido,

mas mais velho do que nós -, percebemos

que, independentemente de quem seja o

governo, tem uma máquina pública que

funciona perfeitamente bem. E todo mundo

sabe qual é o valor da máquina pública,

todo mundo sabe qual é o valor e o papel


daqueles que ganham as eleições e vão

governar por um prazo determinado”.

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