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Brasília – DF
Setembro/2016
Fredson Ferreira Gomes
A EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE
APLICADA AO SETOR PÚBLICO: UMA
ABORDAGEM SOBRE AS
TRANSFORMAÇÕES E O
CRESCIMENTO DA IMPORTÂNCIA DA
CONTABILIDADE PÚBLICA FEDERAL
Brasília – DF
Setembro/2016
A EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO: UMA
ABORDAGEM SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES E O CRESCIMENTO DA
IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE PÚBLICA FEDERAL
RESUMO
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Servidor do Ministério do Trabalho, Licenciado em Matemática e Bacharel em Contabilidade. Especialista em
Orçamento e Políticas Públicas. Pós-Graduando em Gestão Pública.
1− INTRODUÇÃO
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Portaria/MF nº. 184/08 “Dispõe sobre as diretrizes a serem observadas no setor público (pelos entes públicos)
quanto aos procedimentos, práticas, elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, de forma a torná-los
convergentes com as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público”. Disponível em:
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/08/2008&jornal=1&pagina=24&totalArquivo
s=100. Acesso em: 01 de setembro de 2016
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Lei nº 4.320/64 “Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e
balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal”.
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Lei Complementar nº 101/00 “Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na
gestão fiscal e dá outras providências”.
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Essa Lei regulamentou o Capítulo II do VI da Constituição Federal, em que no inciso I do Art. 163 determina
que Lei complementar disporá sobre “finanças públicas”.
2− REFERENCIAL TEÓRICO
Neste sentido Castro (2015) destaca que “o cidadão precisa ter a garantia de órgãos
especializados de que os números estão corretos, que os atos praticados estão de acordo com
as normas fixadas e, ainda, que as ações desenvolvidas estão nos rumos dos resultados
esperados”. E o cidadão está cada vez mais atento e com maior acesso às informações,
conforme destaca Slomski (2014):
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A Constituição Federal dedicou Seção específica do Capítulo II – Administração Pública, sobre o tema “da
Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária” (a Seção IX, artigos 70 a 75), que estabelece e disciplina o
controle externo e o sistema de controle interno da Administração Pública.
exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações”.
(ABRAHAM, 2010, p. 183)
Quintana et al (2016, pag. 57), afirma que o objeto da Contabilidade Aplicada ao Setor
Público é prestar todas as informações demandadas pelo usuário:
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Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. (NBCT 16.1 a 16.11)
valorizada e irrelevante na tomada de decisão”. (Quintana et al., 2016, pag.
153).
Além disso, a Lei Complementar nº101, de 2000, destinou uma seção para tratar do
patrimônio público e em seu Art. 44 enfatiza o cuidado com a conservação desse patrimônio,
quando define:
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O Decreto Nº 4.536, de 28 de janeiro de 1922, “Organiza o Código de Contabilidade da União” e define que a
contabilidade é centralizada no Ministério da Fazenda a direção da “Diretoria Central de Contabilidade da
Republica e fiscalização do Tribunal de Contas” do Ministério da Fazenda. O Decreto cria também as
“contabilidades seccionais dos Ministérios”.
Cabe registrar que em 1921 foi criada a Contadoria Central da República, posteriormente
transformada em Contadoria Geral da República, por meio do Decreto-Lei nº 1.990, de 19409.
Outro marco histórico desse período foi o Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946,
que cria o Conselho Federal de Contabilidade e define as atribuições do Contador e do
Guarda-livros.
O artigo 85 da Lei nº 4320 de 196, aponta Slomski (2014), definiu que os serviços de
contabilidade nas entidades públicas seriam organizados de forma a permitir, entre outros, a
interpretação dos resultados econômicos e financeiros. (SLOMSKI, 2014, p. 100)
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Decreto-Lei Nº 1.990, de 31 de janeiro de 1940, que “Dispõe sobre a organização da Contadoria Geral da
República e dá outras providências”.
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O Decreto nº 15.210, de 28 de Dezembro de 1921 “Aprova o regulamento que altera a organização dos
serviços da Administração Geral da Fazenda Nacional”. Cabe registrar que o regulamento de 1909 já estruturava
o Tesouro Nacional com uma “Diretoria Geral da Contabilidade” (Decreto nº 7.751, de 23 de Dezembro de
1909).
Em 1967, surge o Sistema de Contabilidade Federal por meio do Decreto-Lei nº 200, de
25 de fevereiro de 1967 e as Inspetorias-Gerais de Finanças (IGF), em cada ministério, como
órgão setorial dos sistemas de administração financeira, contabilidade e auditoria11. A IGF do
Ministério da Fazenda12 assume também a função de Órgão Central dos referidos sistemas do
governo federal. Em 1979, as Inspetorias-Gerais de Finanças passaram a denominar-se
Secretarias de Controle Interno13, que têm em sua estrutura uma unidade denominada
Secretaria de Contabilidade.
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Artigo 23 do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967.
12
Conforme o Decreto Nº 64.136, de 25 de fevereiro de 1969, que aprova o Regulamento das Inspetorias-Gerais
de Finanças e dá outras providências.
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Decreto Nº 84.362 de 31 de dezembro de 1979.
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Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI) do Governo Federal que consiste no principal
instrumento utilizado para registro, acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira e
patrimonial do Governo Federal. Disponível em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi. Acesso em: 01 de
setembro de 2016.
da época no âmbito da Administração Pública Federal. A implantação do Sistema Integrado
de Administração Financeira - SIAFI, em 1987, fez com que a contabilidade pública passasse
a focar na visão de resultados e na instituição da base de informações oficiais de governo.
Todas as informações passaram a ser geridas por meio do SIAFI, que, por sua vez,
converteu-se num sistema contábil automatizado que além dos atos administrativos,
especificamente emissão de empenhos e de pagamentos, também permite o controle
patrimonial da entidade. Ou seja, as técnicas contábeis foram implantadas em sistema
eletrônico para maior rapidez e segurança dentro da lógica da Contabilidade Pública.
(CASTRO, 2015, p. 161).
“No campo da auditoria para o setor público, além das técnicas de avaliação e
confirmação do patrimônio, foram introduzidas as auditorias de programas e
a avaliação dos atos praticados pelos gestores. Esta área ampliou o conceito
da auditoria, que passou a tratar do controle e verificação física das ações de
governo programadas no orçamento”. (CASTRO, 2015, p. 5)
De acordo com Castro (2015) a LRF, complementada pela Lei de Crimes, trouxe grande
impacto nas regras orçamentárias de como deve ser gasto o dinheiro público, atribuindo
limites de dispêndio como pagamento de pessoal e de endividamento, dentre outras
inovações, rompendo com a cultura de falta de punição para gastos sem recursos e sem
planejamento.
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Decreto nº 6.976 de 07 de outubro de 2009 - Dispõe sobre o Sistema de Contabilidade Federal e dá outras
providências.
e apropriação das receitas e despesas orçamentarias, considerando a necessidade de
proporcionar maior transparência sobre as contas públicas. (ABRAHAM 2010, p.190).
Oliveira e Diniz Filho (2001) abordam que se um sistema de contabilidade não tiver por
pressuposto um controle interno eficaz, poderá ser considerado até certo ponto dispensável.
Nessa direção, informações contábeis desvirtuadas podem levar os gestores e seus vários
usuários externos a ilações erradas e danosas. Os autores explicam que quando não existem
procedimentos de controle internos eficientes, os erros involuntários e desperdícios podem se
tornar contumaz. Assim, a função da contabilidade como instrumento de controle
administrativo e fundamental para a saúde da organização.
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Disponível em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/mcasp. Acesso em: 03 de agosto de 2016.
Quintana (2016, apud SILVA, 2000) justifica que a contabilidade pública não pode ficar
circunscrita à prestação de contas, mas presta-se ao efetivo controle da gestão governamental,
buscando alternativas para contribuir com o processo deliberativo e apresentando de forma
transparente informações suficientes para analisar a forma de atuação do governante.
Em 2008 foram publicadas as NBC-T 16.1 a 16.11, que tratam dos aspectos contábeis
da contabilidade governamental. Essas normas tiveram o efeito prático de alinhar os conceitos
da Contabilidade aplicada ao setor público aos aplicados no setor privado, em termos
patrimoniais. Estas mudanças produzem profundo impacto no oficio dos contabilistas que
atuam no setor público.
Desse modo, segundo Quintana et al. (2016), o tratamento reducionista que, face à
escassez de tempo, o profissional dava às suas atividade cede espaço à validação e
conferência dos registros contábeis. Assim, o profissional pode atuar mais confortavelmente,
visto que pode responder legalmente por eventuais inconsistências encontradas nas
informações prestadas.
“Art. 89. Todo aquele que, a qualquer título, tenha a seu cargo serviço de
contabilidade da União é pessoalmente responsável pela exatidão das contas
e oportuna apresentação dos balancetes, balanços e demonstrações contábeis
dos atos relativos à administração financeira e patrimonial do setor sob sua
jurisdição”.
Para trabalhar na área contábil, seja no Setor Privado ou no Setor Público, existem
certas atribuições que são especificas do Contabilista, definidas no Art. 25 do Decreto-Lei nº
9.295, de 194617, regulamentada pela Resolução CFC nº 560, de 198318. O Art. 3º dessa
Resolução enumera as atribuições privativas do contabilista, algumas das quais citadas a
seguir:
A conformidade tem que ter como base os Princípios e Normas Contábeis Aplicáveis ao
Setor Público, a Tabela de Eventos, o Pano de Contas da União e a Conformidade de
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Decreto-Lei Nº 9.295, de 27 de maio de 1946, “Cria o Conselho Federal de Contabilidade, define as atribuições
do Contador e do Guarda-livros, e dá outras providências”.
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Resolução CFC 560 de 28 de outubro de 1983, “Dispõe sobre as PRERROGATIVAS PROFISSIONAIS de
que trata o artigo 25 do Decreto-Lei nº 9.295,de 27 de maio de 1946”
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Instrução Normativa STN Nº 06, de 31 de outubro de 2007 - Disciplina os procedimentos o relativos ao
registro das Conformidades Contábil e de Registro de Gestão.
Registros de Gestão. A citada conformidade segundo Quintana et al. (2016), compete ao
profissional devidamente registrado e habilitado no conselho de classe e credenciado no
SIAFI para essa finalidade:
Assim, conforme preceitua a Lei nº 10.180 de 200120, em seu art. 18, compete às
unidades responsáveis pelas atividades do Sistema de Contabilidade:
Castro (2004) considera que vários indicadores de gestão podem ser formulados e
constituem excelente fonte de informação gerencial e de controle que permite coletar
evidências para avaliar a gestão quanto aos aspectos da eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, legalidade e situação dos controles administrativos.
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Lei nº 10.180, de 06 de fevereiro de 2001 - Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento
Federal, de Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder
Executivo Federal, e dá outras providências.
Castro (2004) enumera as cinco principais finalidades da existência de um controle
interno, quais sejam: segurança ao ato praticado e obtenção da informação adequada;
promoção da eficiência operacional da entidade; estímulo à obediência e o respeito às
políticas traçadas; proteção dos ativos; e inibição da corrupção.
A auditoria precisa, então, atuar validando e dando credibilidade aos dados divulgados,
tornando-se responsável por controlar a qualidade dos mesmos. E é aí que entra o papel do
controle interno e da auditoria.
Cada vez mais a Contabilidade, informa Castro et al. (2004) é utilizada como
instrumento de gestão e de controle, deixando para a informática a tarefa de cuidar de
registros complexos, que sempre estiveram sujeitos a elevado risco de erro humano com
lançamentos manuais.
Como se vê, nem sempre esse controle interno é bem visto pelos gestores. Na
Administração Pública, adverte Castro (2015) um dos motivos de rejeição ao controle é o
desejo que todo dirigente tem de possuir autoridade e fugir da responsabilidade. Ele procura
deter a autoridade que lhe confere o direito e o poder de dar ordens e de se fazer obedecer.
Entretanto, não quer arcar com a consequência desse poder, que é a obrigação de responder
pelas próprias ações ou de outros a quem delegou poderes. A importância do controle está na
garantia de que a autoridade e responsabilidade devem estar equilibradas. Esse controle é
feito, geralmente, debaixo de severas críticas ou reações, porque os resultados das ações de
controle, revelados nos relatórios técnicos, afetam os sentimentos e o amor próprio das
pessoas quando apontam erros, falhas ou descumprimentos das normas. (CASTRO, 2015, p.
340).
Nesse aspecto, Castro et al. (2004) considera que a Lei 10.180, de 2001, que organiza e
disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira
Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal,
representou um marco, na medida em que “trouxe uma inovação no setor público que pode
ser um exemplo para responsabilização de dirigentes” (CASTRO, 2015, p. 574). Vale
registrar que os Incisos I, II e III do Art. 29 dessa Lei estabelecem que o gestor governamental
que tiver suas contas julgadas irregulares por tribunais de contas, de forma definitiva, não
poderá ser nomeado para exercer funções na área federal num período de cinco anos.
4− CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há dois fatores que explicam essa dificuldade na implantação: Em primeiro lugar houve
a necessidade de reestruturar a contabilidade pública e de preparar as pessoas, preparar as
normas, que é o trabalho que o Tesouro Nacional e os tribunais de contas estão fazendo há
algum tempo. Em segundo lugar o que levou à demora na assimilação do novo paradigma não
é a contabilidade em si, mas os sistemas de informática que dão suporte à contabilidade
pública, a falta de integração entre os diversos órgãos federais persiste e vem dificultando
alimentar a contabilidade pública no aspecto patrimonial.
Um dos maiores desafios hoje é a integração não só sistêmica, mas das pessoas. A
maioria dos contabilistas ainda está preso, conceitualmente, ao viés orçamentário e, por isso, é
preciso prepará-los para pensar e exercer a contabilidade no viés patrimonial. Então, cabe aos
conselhos de contabilidade, aos tribunais de contas e ao Tesouro, definir bem as regras
contábeis da competência e fazer isso chegar ao contabilista, que ainda não sentiu esse
impacto em seu cotidiano profissional com a profundidade que o novo cenário econômico
requer.
Outro aspecto a considerar é que a contabilidade mudou, mas outros segmentos não
acompanharam essa mudança. A contabilidade deu o pontapé inicial, mas outros setores
precisam ser impactados. Senão, vejamos, se o orçamento não mudar, convive-se com dois
produtos, um produto antigo que é a visão orçamentária, e outro produto novo, que é a visão
contábil. Essa dualidade leva a dificuldade na implantação dos novos sistemas de informação
e controle.
Uma medida que contribuiria muito para ampliar a transparência seria a exigência, nos
tribunais de contas, de que os contabilistas assinassem a prestação de contas, principalmente
nos processos de convênios, criando a obrigatoriedade da auditoria contábil. Atualmente, a
auditoria do setor público é, basicamente, ancorada no princípio da legalidade, campo em que
prolifera a atuação dos advogados. A partir do momento em que for exigida, também, a
auditoria contábil, o contabilista passará a ter um papel mais estratégico nesse processo.
Estamos no início de um processo de mudança. A contabilidade fez a parte dela, mas há ainda
muito que avançar.
Outro passo importante seria fortalecer a carreira pública do contabilista federal. Vale
lembrar que quando foi criada a carreira de Finanças e Controle no âmbito do Tesouro, nem o
controle e nem a contabilidade pública tinham a importância atual. A criação da Controladoria
Geral da União (CGU) impôs uma divisão formal na Carreira, ficando a parte de Finanças no
Tesouro e de Controle na CGU. Criar a Secretaria de Contabilidade melhora o arranjo
institucional da área contábil do governo federal. Essa mudança, mais que uma bandeira
corporativa dos Conselhos Regionais de Contabilidade e do Conselho Federal de
Contabilidade, é uma necessidade pontual do momento histórico em que o país atravessa.
Para finalizar, sugere-se para estudos futuros alguns temas do campo da gestão da
contabilidade pública que inquietam as equipes que atuam na área e que não foram analisados
neste artigo, entre eles: a questão do orçamento por Regime de Competência; a extinção dos
restos a pagar não processados; e a eliminação do empenho que caracteriza a despesa baseada
no papel e não num fato gerador.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 31ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2003.
_______. Domingos Poubel de; GARCIA, Leice Maria. Contabilidade Pública no Governo
Federal. São Paulo: Atlas, 2004.
COSTA, Hélder Rodrigues; COELHO, Jaqueline Kíssila Vieira; SOUSA, Marta Alves de
Sousa. A importância da Contabilidade Pública como instrumento de controle na
Administração Pública. Univale: 2010.
OLIVEIRA, Luís Matins; DINIZ FILHO, André. Curso Básico de Auditoria. São Paulo:
Atlas,