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Crescimento e regeneração de tecidos vs.

diferenciação celular
1. Diferenciação celular

A mitose garante que, a partir de uma célula, se formem duas células geneticamente iguais à
célula-mãe e geneticamente iguais entre si. Porém, estas novas duas células-filhas, podem
sofrer outras divisões. Assim, concluímos que todos os fenómenos de multiplicação,
crescimento e renovação celulares e de reprodução assexuada estejam associados e
dependentes de fenómenos mitóticos.

O ciclo celular pode repetir-se inúmeras vezes, de tal forma que a partir de uma célula pode
ser obtido um organismo multicelular (para isso tem de haver várias células com diferentes
funções e diferenciadas). Para esse processo da diferenciação ocorrer, tem de existir uma
célula inicial.

Após a fecundação, a célula irá passar por várias mitoses e citocineses sucessivas, de modo a
formar um organismo multicelular. O ovo (junção do espermatozoide e oócito) é a primeira
célula de um organismo e é capaz de originar células-filhas, as quais poderão depois originar
outras células ainda. Diz-se por isso que o ovo é totipotente, ou seja, tem todas as
potencialidades para originar outras células.

As primeiras divisões do ovo, originam células indiferenciadas, porque são muito semelhantes
entre si e à célula que lhes deu origem. Porém, à medida que os ciclos celulares se repetem, as
células iniciam um processo de diferenciação, até se tornarem células especializadas.

A presença de fatores citoplasmáticos envolvidos nos processos de transcrição e tradução (por


exemplo as proteínas) ou de sinais provenientes das células vizinhas, conduz à diferenciação
celular. Estes fatores interagem com alguns genes, levando uns a permanecer ativos e outros a
serem bloqueados. Por exemplo uma célula que está definida para se tornar numa célula
muscular, produz uma grande quantidade de proteínas para a função contráctil, enquanto que
uma célula definida para ser nervosa, exprimem genes responsáveis pela produção de
neurotransmissores. Cada célula terá uma determinada função em cada tecido.

As células totipotentes, só o são assim designadas quando estão em forma do ovo, passando a
ser pluripotentes quando se dá a formação do blastocisto e durante o feto na barriga. Após
isso, passam a ser multipotentes no humano já nascido, tendo um potencial de diferenciação
restrito sendo constituintes já de tecidos formados. Mas isto não significa que o humano passe
a ter já toda as células diferenciadas, o processo continua a ocorrer, mas apenas em células de
cada tecido.
O processo de diferenciação nos organismos multicelulares envolve saber quais são as
características responsáveis pela construção do corpo e das plantas e dos animais. Essas
células são chamadas de células estaminais e apresentam as seguintes características:

o São indiferenciadas (não são especializadas);


o Têm a capacidade de expansão, ou seja, são capazes de se dividir e diferenciar em
diferentes tipos de células;
o Apresentam a capacidade de autorrenovação, sendo a sua divisão assimétrica, isto é,
originam duas células-filhas que têm destinos diferentes (uma célula filha pode
diferenciar-se, enquanto que a outra permanece estaminal).

Em síntese, há células:

o Embrionárias: Obtidas a partir do embrião pré-implantação (embrião com 3 dias com 6


a 12 células).
o Fetais: Obtidas do embrião pós-implantação e do feto (no embrião pré-implantado
com 6 dias de vida, o blastocisto, e no embrião pós-implantação).
o Adultas: Obtidas da placenta, cordão umbilical ou de um organismo adulto. (Dados
mais recentes indicam que os tecidos fetais, da placenta e dos adultos também
possuem uma população minoritária de células estaminais pluripotentes.)
o Totipotentes: Diferenciam-se em qualquer tipo de célula.
o Pluripotentes: Diferenciam-se em todos os tipos de tecidos com exceção da placenta.
Ex: Células Sanguíneas.
o Multipotentes: Originam células de tecidos específicos (reserva celular para renovação
e reparação de tecidos). Foram isoladas de tecidos como a medula óssea, pele, fígado,
etc. Mais recentemente, também no cérebro, coração e músculos.

1.1 Hipóteses da diferenciação celular

Experiência de Steward e colaboradores - clonagem de vegetais

Nas célula vegetais adultas, existem os meristemas, que são capazes de se dividir levando ao
crescimento de órgãos ou à regeneração de zonas lesadas.

Hipótese - Cada grupo de células perde parte dos seus genes, retendo apenas aqueles que
eram funcionais num determinado órgão.

Em 1950, J. Steward, trabalhando com cenouras, obteve plantas completas a partir de células
diferenciadas da raiz. Estavam dados os primeiros passos da clonagem, que inclui um conjunto
de procedimentos e técnicas através das quais se podem obter clones.

Clones:

o Podem ser definidos ao nível dos genes, das células ou mesmo dos indivíduos.
o Trata-se respetivamente de um conjunto de genes, de células ou de indivíduos
multicelulares, geneticamente idênticos entre si e que são todos descendentes de um
único ancestral [gene, célula ou indivíduo]. No caso das cenouras, as células
diferenciadas que se obtêm por divisão a partir das células iniciais, ao serem
removidas do seu local original e em condições apropriadas, podem originar um
grande número de organismos iguais entre si e ao seu único progenitor inicial.

Da experiência de Steward pode então concluir-se que uma célula diferenciada pode reverter
o seu processo de diferenciação e tornar-se de novo indiferenciada. Desta forma, estas células
podem originar todos os tipos de células especializadas necessárias para a produção de uma
nova planta. Isto implica que o processo de diferenciação não envolva necessariamente,
alterações irreversíveis do ADN.

Steward tentou realizar a mesma experiência, mas desta vez em células animais, porém
fracassou, pois as células apresentaram dificuldade em dividir-se, não formando um ser-vivo
completo.

Experiência de Robert Briggs e Thomas King – transplante nuclear em células animais

Também Robert Briggs e seus colaboradores, transplantando núcleos de células especializadas


de um girino para óvulos cujo núcleo tinha sido destruído, conseguiram obter girinos.

A partir dos resultados apresentados, verifica-se que, em determinadas circunstâncias, as


células diferenciadas podem perder a sua especialização, transformando-se em células
indiferenciadas.

Estas células readquirem a capacidade de originar um indivíduo completo e dizem-se


totipotentes, uma vez que conservam todas as potencialidades genéticas do núcleo inicial.

Pode, assim, concluir -se que as células diferenciadas conservam todo o seu DNA, embora
apenas uma pequena parte desse DNA esteja ativa.
Experiência de Ian Wilmut – primeira clonagem manipulada pelo homem “ovelha Dolly”

o Clonagem é a produção de um ou mais indivíduos geneticamente idênticos ao


progenitor.

Processo:

1. Foi transplantado uma célula das glândulas mamárias de uma ovelha para um ovulo de
outra.
2. Após se ter cultivado estas células num meio de cultura apropriado, este grupo parou
o ciclo celular em G1. Seguidamente, fundiu-se estas células com óvulos de ovelha, aos
quais se tinha removido o núcleo.
3. As células resultantes desenvolveram embriões e foram implantados noutra ovelha.
Desta forma tinha sido conseguido o primeiro clone de mamífero manipulado pelo
Homem.

O processo que conduziu à formação da ovelha Dolly exigiu uma reprogramação do núcleo de
uma célula diferenciada, tornando-a totipotente. Porém a ovelha não durou muito tempo,
envelhecendo precocemente.

Outras experiências provaram, tal como nas experiências em células vegetais, que se o núcleo
implantado proviesse de um embrião ou de um ser vivo mais novo, havia mais chances de
sucesso.

1.2 Diferenciação celular e cancro

As células dividem-se descontroladamente e podem adquirir características de malignidade.

o As células dos tumores malignos podem, então, invadir os tecidos vizinhos ou


espalharem-se por outras partes do corpo - metastização (do grego metástasis =
mudar de lugar).
o Sendo os mecanismos de regulação influenciados por moléculas provenientes quer do
meio interno quer do meio externo, é fácil compreender o perigo que determinadas
substâncias químicas, como o fumo do cigarro, poluentes, corantes e outras
substâncias podem representar para a saúde.
o Por outro lado, há que evitar todas as situações que possam danificar o DNA, como
radiações, na medida em que os mecanismos de reparação e de controlo podem não
atuar.

Proliferação celular não controlada (aumento da proliferação e/ou diminuição da


apoptose, que é a morte celular programada e necessária)  perda de diferenciação
(displasia)  cancro in situ (localizada mas não invasivo)  cancro invasivo
(resultante da acumulação de várias alterações genéticas nas células)

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