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A TESE E A

MODALIZAÇÃO NA
DISSERTAÇÃO

2023

Prof. Ademar Nogueira


2 — O QUE É TESE?

É uma proposição intelectual, portanto teórica, que se apresenta ou expõe


para ser defendida e sustentada em caso de contestação. É a OPINIÃO
CENTRAL do texto (PONTO DE VISTA assumido pelo autor) que direciona
toda a seleção e organização das ideias apresentadas com a finalidade de
PERSUADIR o leitor.

"
Posso não
concordar com
uma só palavra
sua, mas
defenderei até a
morte o direito de
dizê-la.
Voltaire

Em linhas gerais, a TESE

1. é a essência do texto do texto do participante.


2. é aquilo que resume, de forma sintética a ideia defendida pelos
candidatos sobre o tema proposto na prova de redação.
3. é o que encaminha a problemática proposta pelo recorte temático.
4. é o que sobraria se tivéssemos de reduzir a redação a um único
período.

#E - BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE XT U A L 1


EXEMPLO DO QUE NÃO É TESE NA REDAÇÃO

VEJAM COMO NÃO DEVE SER FEITO


TEMA: A REALIDADE DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL ATUAL

Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos
no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a
mesma no pais: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de
preconceito. Ao mesmo tempo, exaltamos a miscigenação étnica como uma marca
brasileira diante da intolerância global. Para compreender - e superar - esse
panorama, faz-se necessário analisar os fatores sociais, econômicos e políticos
que sustentam a distribuição racial brasileira.

Autoria: Aluno do Prof. Ademar Nogueira

Observem que é uma INTRODUÇÃO que atende à estrutura do Enem e dos


Vestibulares também. Ela encaminha para atender ao tema proposto, a partir da
CONTEXTUALIZAÇÃO do assunto. No entanto, essa INTRODUÇÃO carece de uma
essência que a torne única e que permita visualizar a defesa contundente de
ponto de vista a ser mostrado em seguida. Isso ocorre porque a apresentação
simples dos planos de análise (fatores sociais, econômicos e políticos) é
insuficiente para sugerir posicionamento ideológico do texto, na medida em que
apenas sugerir a análise dos "fatores sociais, econômicos e políticos" não
configura uma OPINIÃO DO AUTOR.

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EXEMPLO DO QUE É TESE NA REDAÇÃO

VEJAM COMO DEVE SER FEITO

TEMA: A REALIDADE DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL ATUAL

Há mais de cem anos, em 1888, a Lei Áurea foi assinada para libertar os
negros escravos no Brasil. Desde então, a desigualdade na distribuição racial
mantém-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas
formas de preconceito. Incoerentemente a essa situação, exaltamos a
miscigenação étnica como uma marca brasileira a ser mostrada em um mundo em
que prevalece a intolerância global. Para compreender - e superar - esse
panorama, é fundamental que se rompa com os fatores sociais, econômicos e
8 políticos que sustentam a cruel realidade da população negra no Brasil atual.

Autoria: Modificações feitas pelo Prof. Ademar Nogueira com autorização do aluno.

Percebam agora que a INTRODUÇÃO passou a ter uma CONTEXTUALIZAÇÃO com


REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL legitimado, pertinente e produtivo, o TEMA está
bem delimitado, a partir do emprego de TODAS AS PALAVRAS-CHAVE, mesmo que
no final do parágrafo .

Quanto à TESE, "Para compreender - e superar - esse panorama, é fundamental que


se rompa com os fatores sociais, econômicos e políticos que sustentam a cruel
realidade da população negra no Brasil atual.", Vejam que ela constitui um
PERÍODO PRÓPRIO, MODALIZADA ("é fundamental", "cruel"), PROBLEMATIZADA
e, principalmente, COM EVIDÊNCIA NO CAMINHO ARGUMENTATIVO a ser trilhado
pelo autor e, consequentemente, pelo leitor/avaliador.

Agora sim, há um PONTO DE VISTA sobre a situação-problema apresentada no


tema, e uma marca de autoria, já que essa TESE traduz uma essência de quem a
produz.

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EXEMPLO DO QUE É TESE NA REDAÇÃO DA FUVEST

VEJAM COMO DEVE SER FEITO

TEMA: PELA DESCATRACALIZAÇÃO DA VIDA

Uma definição de catraca diz que ela é um instrumento usado para controlar o
movimento de pessoas. Na observação da vida, a catraca pode se mostrar de várias
formas, não como um instrumento físico, mas com o mesmo fim de controlar os
indivíduos. O fato é que colocamos outros nomes e muitas vezes não percebemos
que estamos passando por catracas invisíveis, que controlam todas as ações,
pensamentos e decisões do indivíduo dentro da sociedade.

Autoria não divulgado pela Fuvest

ANÁLISE DA TESE:
"O fato é que colocamos outros nomes e muitas vezes não percebemos
que estamos passando por catracas invisíveis, que controlam todas as
ações, pensamentos e decisões do indivíduo dentro da sociedade".

Percebam que o candidato ou a candidata (?) inaugurou sua tese já marcando seu
posicionamento com um MODALIZADOR (O fato é...). Isso prepara o leitor para o que
vai ser defendido pelo autor (a tese dele): não percebemos, mas "as catracas
invisíveis controlam nossas ações, pensamentos e decisões". Se pedissem para
resumir o texto, poderíamos dizer que esta seria a frase-resumo. Portanto, pode-se
dizer é há uma tese clara e objetiva.

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EXEMPLO 1 DO QUE É TESE NA REDAÇÃO DO ENEM

VEJAM COMO DEVE SER FEITO

TEMA: INVISIBILIDADE E REGISTRO CIVIL: GARANTIA DE ACESSO À CIDADANIA NO BRASIL

Uma das referências quando o assunto é democracia é a antiga cidade grega Atenas, onde surgiu
essa forma de governo com a participação popular na política e a valorização da cidadania, a qual,
contudo, era bastante restrita, visto que excluía mulheres, extrangeiros e escravos. Nesse sentido, é
possível observar que o Brasil atual vive uma situação análoga à ateniense, dado que, mesmo sendo uma
democracia – neste caso, indireta -, quase 3 milhões de brasileiros, segundo projeção do IBGE, não
possuem registro civil, não sendo, por isso, reconhecidos como cidadãos. Assim, torna-se imprescindível
discutir essa situação, pois ela repete erros antigos ao privar grupos sociais da participação democrática
8 e se perpetua por conta da morosidade do Estado que afeta direitos constitucionais.

Autoria: Luiza Mamede, 18, Goiânia (GO) - Nota 1000 (2021)

ANÁLISE DA TESE – ENEM

"Assim, torna-se imprescindível discutir essa situação, pois ela repete erros
antigos ao privar grupos sociais da participação democrática e se perpetua por
conta da morosidade do Estado que afeta direitos constitucionais".

A participante Luiza Mamede marca o início de sua tese com a modalização "torna-
se imprescindível discutir essa situação". Logo em seguida, ela anuncia, a partir da
conjunção "pois", que irá abordar a causa e, com a expressão "e se perpetua" a
consequência da falta de cidadania ocasionada pelanão existência de registro civil.
Assim, a tese da autora ficou bem delimitada e evidência, de acordo com o que o
Enem deseja, os caminhos argumentativos a serem trilhados nos parágrafos
subsequentes (D1 e D2).

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EXEMPLO 2 DO QUE É TESE NA REDAÇÃO DO ENEM

VEJAM COMO DEVE SER FEITO

TEMA: INVISIBILIDADE E REGISTRO CIVIL: GARANTIA DE ACESSO À CIDADANIA NO BRASIL

Em sua obra “Os Retirantes”, o artista expressionista Cândido Portinari faz uma denúncia à
condição de desigualdade compartilhada por milhões de brasileiros, os quais, vulneráveis
socioeconomicamente, são invisibilidades enquanto cidadãos. A crítica de Portinari continua válida nos
dias atuais, mesmo décadas após a pintura ter sido feita, como se pode notar a partir do alto índice de
brasileiros que não possuem registro civil de nascimento, fatos que os invisibiliza. Com base nesse viés,
é fundamental discutir a principal razão para a posse do documento promover a cidadania, bem como o
principal entrave que impede que tantas pessoas não se registrem.
8

Autoria: Giovanna Dias, 19, Recife (PE)

ANÁLISE DA TESE – ENEM

"Com base nesse viés, é fundamental discutir a principal razão para a posse
do documento promover a cidadania, bem como o principal entrave que impede
que tantas pessoas não se registrem".

A autora Giovanna Dias também inicia sua tese modalizando com "é fundamental
discutir", o que evidencia um posicionamento contundente do texto, apontando para
a discussão da razão de o registro civil ser tão importante para a cidadania e para o
principal obstáculo (entrave) que impede muitos brasileiros en não tirarem a certidão
de nascimento.

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EXEMPLO DO QUE É TESE NA REDAÇÃO NA UNB

VEJAM COMO DEVE SER FEITO

TEMA: A PRESSA NOSSA DE CADA DIA: O TEMPO NA CONTEMPORANEIDADE

Na obra “A metamorfose”, de Franz Kafka, o protagonista do enredo (Gregor Samsa) acorda


transformado em um enorme inseto. O fato mais interessante dessa personagem, contudo, é que, mesmo
após perceber-se inseto, Gregor só consegue pensar que está atrasado para o serviço. Essa narrativa
apresenta de forma brilhante a escravidão permanente do homem contemporâneo em relação ao tempo, o
qual impõe-lhe a cultura da pressa e da velocidade.

Autoria: GABRIEL MOTA NASCIMENTO (Aluno Prof. Ademar Nogueira)

ANÁLISE DA TESE – UNB

"Essa narrativa apresenta de forma brilhante a escravidão permanente do


homem contemporâneo em relação ao tempo, o qual impõe-lhe a cultura da
pressa e da velocidade".

Aqui, o autor se posiciona a respeito do tema claramente – e logo no início do período –


por meio da expressão "de forma brilhante” (MODALIZADOR). Para ele, "o
tempo escraviza o homem contemporâneo, impondo-lhe pressa e velocidade".

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EXEMPLO DO QUE É TESE NA REDAÇÃO NA FAMEMA

VEJAM COMO DEVE SER FEITO


TEMA: FATOS DA VIDA DAS PESSOAS NOTICIADOS NA INTERNET: ENTRE O DIREITO AO
ESQUECIMENTO E O INTERESSE PÚBLICO DE ACESSO À INFORMAÇÃO

1 A curta-metragem “Escravos da Tecnologia “, do cinegrafista Steve Cutts, narra a história de uma sociedade de ratos

2 humanizados, que são alienados pelos aparelhos tecnológicos, pelas mídias sociais e pela internet. Diante desse enredo, é

3 notória a espetacularização da vida dos indivíduos, dado que a conduta de cada um é divulgada nos canais noticiários da rede, o que

4 não respeita o direito de privacidade. Sendo assim, de forma análoga à curta, é inegável a influência da internet nos dias atuais, em

5 destaque na divulgação das notícias, que gera uma grande discordância entre o direitos ao esquecimento e a informação dos fatos

6 noticiados, principalmente no que se refere à vida das pessoas. Por fim, ainda que ter acesso à notícia seja defendido pela Constitui-

7 ção, esse, indubitavelmente, fere o direito à privacidade, como foi representado no pequeno filme de Steve Cutts.

Autoria: Izadora Arantes (Aluno Prof. Ademar Nogueira - 2020) - Nota 9,5 em 10,0 pontos

ANÁLISE DA TESE – UNB

"Sendo assim, de forma análoga à curta, é inegável a influência da internet nos


dias atuais, em destaque na divulgação das notícias, que gera uma grande
discordância entre o direitos ao esquecimento e a informação dos fatos noticiados,
principalmente no que se refere à vida das pessoas. Por fim, ainda que ter acesso à
notícia seja defendido pela Constituição, esse, indubitavelmente, fere o direito à
privacidade, como foi representado no pequeno filme de Steve Cutts".

A aluna Izadora Arantes confecciona a tese do seu texto em 02 períodos. Ela


começa afirmando categoricamente que "é inegável a influência da internet no dias
atuais, em destaque na divulgação de notícias que desrespeitam os direitos das
pessoas". Essa afirmativa é complementada no período seguinte ao dizer que esse fato
"fere o direito à privacidade".

#E - BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE XT U A L 8


VAMOS COMBINAR ASSIM:

1. A TESE DEVE CONSTITUIR-SE DE UM PERÍODO OU DOIS PERÍODOS BEM PRÓPRIOS E BEM


DELIMITADOS.

Isso significa dizer que ela precisar estar presente na INTRODUÇÃO e, na

maioria das vezes, no último ou nos últimos períodos deste parágrafo.

2. A TESE NÃO PODE SER EXPOSITIVA.


Ela precisa marcar o posicionamento contundente do candidato. Queremos dizer com
isso que a TESE deve ser extremamente argumentativa. Não é porque a frase está no
último trecho do parágrafo de introdução que podemos considerá-la como tese.

3. DEVE DEIXAR O PONTO DE VISTA DO CANDIDATO(A) EVIDENTE.


Para isso, ela precisa ser MODALIZADA ( expressões que vão reforçar a
opinião de quem escreve). Mas que fique bem claro: os modalizadores não
transformam por si só um texto expositivo em argumentativo. (Veja, na página
8, deste #E-Book 5, o que é MODALIZAÇÃO e quais são os principais
MODALIZADORES).

4. D1 E D2 NÃO SÃO TESE, MAS SIM PARTE DA TESE. E ELES DEVEM FICAR
EVIDENTES NO ENEM
O D1 e o D2, são integrantes de uma tese, evidenciando, mesmo que
implicitamente, um PROJETO DE TEXTO, o caminho escolhido por quem
escreve para defender seu ponto de vista e, consequentemente, CONVENCER o
leitor/avaliador. Assim, a importância do D1 e do D2 na INTRODUÇÃO reside no
fato de orientar tanto quem escreve quanto quem lê para o que se desenvolverá
nos parágrafos de DESENVOLVIMENTO.

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NOSSOS COMBINADOS SOBRE A TESE

NÃO SER EXPOSITIVA MODALIZADA

É CONVENIENTE QUE D1
PERÍODO (S) PRÓPRIO (S) E O D2 FIQUEM
EVIDENTES NO ENEM

TESE
(ENEM & VESTIBULARES)

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OS MODALIZADORES TEXTUAIS

O QUE SÃO OS CHAMADOS MODALIZADORES TEXTUAIS?

MODALIZAÇÃO é o fenômeno pelo qual o sujeito expressa com mais força a sua
OPINIÃO. Por meio dos chamados MODALIZADORES DISCURSIVOS ou
TEXTUAIS é possível perceber as articulações adotadas pelo autor e pela autora
do texto na pretensão de convencer o leitor. Com este artifício, nota-se se o
escrevente acredita naquilo que diz, se suaviza, se limita ou se impõe seu ponto
de vista.

É importante dizer que não existe texto sem MODALIZAÇÃO. O que pode ocorrer
é que se tornar menos ou mais perceptível.

Na Dissertação ( Enem e Vestibulares ), procurem MODALIZAR em TODOS os


PARÁGRAFOS. Essa poderosa ferramenta argumentativa deve ser utilizada não
só na TESE, mas também no DESENVOLVIMENTO e na CONCLUSÃO .

Vamos, nas próximas páginas, aprender onde e como MODALIZAR. Já fiquem


atentos que para cada parte do sua redação existem MODALIZADORES
apropriados. Portanto, muita atenção a todos eles.

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CATEGORIAS DE MODALIZAÇÃO

DEÔNTICOS

EPISTÊMICOS AFETIVOS

MODALIZADORES

#E - BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE XT U A L 12


CATEGORIAS DE MODALIZAÇÃO

1 – MODALIZAÇÃO EPISTÊMICA

EXPRESSA UMA AVALIAÇÃO DE VERDADE E AS CONDIÇÕES DE VERDADE


DA PROPOSIÇÃO, COMPREENDE TRÊS SUBCATEORIAS:

A) MODALIZADORES B) QUASE-ASSERTIVOS C) DELIMITADORES


ASSERTIVOS:

- Afirmativos: realmente, Talvez, possivelmente, geograficamente,


evidentemente, está provavelmente,
biologicamente, sob o
claro, é certo, é lógico, eventualmente...
viés sociológico, no que
fica nítido, sem dúvida...
se refere ao campo
filosófico...
- Negativos: de forma
alguma, de jeito
nenhum...

2 – MODALIZAÇÃO DEÔNTICA

EXPRESSA UM OBRIGATORIEDADE, E ELA TAMBÉM SE DIVIDE EM DUAS


MODALIDADES

A) NO CAMPO DO “DEVER”. B) NO CAMPO DA PROIBIÇÃO (= NÃO PODE /


NÃO DEVE...)

Ex.: O Brasil tem que mudar...


Ex.: Os jovens não podem mais ...
Os brasileiros precisam ...
O preconceito não deve mais...

3 – MODALIZAÇÃO AFETIVA

EXPRESSA AS REAÇÕES EMOTIVAS DO AUTOR DIANTE DO CONTEÚDO QUE ELE/ELA


EXPRESSA. NESTE TIPO DE MODALIZAÇÃO O QUE SE EVIDENCIA É A SUBJETIVIDADE
QUEM ESCREVE. PORTANTO, MUITO EQUILÍBRIO EM UTILIZÁ-LA EM UM TEXTO DE
CARÁTER DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO.

felizmente, infelizmente, surpreendentemente, espantosamente,


lamentavelmente...

#E - BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE XT U A L 13


VEJAM A MODALIZAÇÃO EM REDAÇÃO NOTA 1000
TEMA: INVISIBILIDADE E REGISTRO CIVIL: GARANTIA DE ACESSO À CIDADANIA NO BRASIL
AUTOR: Luiza Mamede, 18 anos, Goiânia (GO)
REDAÇÃO NOTA 1000 - ENEM 2021

Uma das referências quando o assunto é democracia é a antiga cidade grega Atenas, onde surgiu
essa forma de governo com a participação popular na política e a valorização da cidadania, a qual,
contudo, era bastante restrita, visto que excluía mulheres, extrangeiros e escravos. Nesse sentido, é
possível observar que o Brasil atual vive uma situação análoga à ateniense, dado que, mesmo sendo uma
democracia – neste caso, indireta -, quase 3 milhões de brasileiros, segundo projeção do IBGE, não
possuem registro civil, não sendo, por isso, reconhecidos como cidadãos. Assim, torna-se imprescindível
discutir essa situação, pois ela repete erros antigos ao privar grupos sociais da participação democrática
8 e se perpetua por conta da morosidade do Estado que afeta direitos constitucionais.

9 Sob essa ótica, cabe frisar que a garantia do registro civil a todos os brasileiros é essencial e urgente,
10 porque permite a sua participação na sociedade. Acerca disso, o filósofo grego Aristóteles, segundo o
11 conceito de Zoon Politikon, afirmava que o ser humano é um animal político e que a sua finalidade é a
12 obtenção da felicidade, adquirida ao exercer o que lhe é substancial: pensar e viver e em sociedade.
13 Dessa forma, evidencia-se a problemática de falta de acesso à cidadania no Brasil, uma vez que as
14 pessoas que não são reconhecidas pelo Estado, devido à falta de documentação, são, por conseguinte,
15 privadas da participação política e negligenciadas pela sociedade, impedidas de exercer a sua finalidade e

16 de alcançar a felicidade.

17 Ademais, é válido apontar que essa exclusão política e social vem sendo perpetuada pela lentidão

18 administrativa do Estado. Nesse contexto, relembra-se que o sociólogo Gilberto Dimenstein, em sua obra “O

19 Cidadão de Papel”, afirma que, embora o Brasil possua um sólido aparato legislativo, ele mantém-se restrito

20 ao plano teórico. Dessa maneira, verifica-se a materialização do apontado por Dimenstein no fato de que os

21 direitos previstos na Constituição Cidadã de 1988 não são garantidos a todos os brasileiros na prática, o

22 que ocorre em grande parte devido à burocracia e à morosidade do Estado, que dificultam o registro dessas

23 pessoas. Logo, sem documento, esses cidadãos invisíveis são privados do pleno acesso aos seus direitos

24 constitucionais.

25 Portanto, infere-se que é mister que o Estado1 – cumprindo seu papel de garantir a cidadania a todos os

26 brasileiros e de efetivar a Constituição Federal Det.– combata as razões de sua própria lentidão2, por meio do
27 destino de verbas para a construção de novas zonas de registro e para a contratação de profissionais para

28 esse fim3. Isso deve ser feito a fim de que não mais existam grupos excluídos da participação democrática4,
29 como ocorria em Atenas, e se garantam a cidadania e os direitos, além da plena vivência política, a toda a
30 população do Brasil.

LEGENDA DA ESTRUTURA 1 Agente 2 Ação

Vermelho: Repertório da Introdução e dos Argumentos 3 Meio/Modo 4 Efeito

Azul: Palavras-chave Lilás: Argumento 1 (D1)


Verde: Argumento 2 (D2) Rosa: Conectores 'HW'HWDOKDPHQWR
0RGDOL]DGRU
Vinho: Modalizadores

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#DATEORIAÀPRATICA

QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA

QUESTÃO 01
As palavras classificadas como advérbios agregam noções diversas aos termos a que
se ligam na frase, demarcando posições, relativizando ou reforçando sentidos, por
exemplo.
O advérbio destacado é empregado para relativizar o sentido da palavra a que se refere
em:

A. “...utilizá-las em história presumivelmente verdadeira?”

B. “Certamente me irão fazer falta,...”

C. “Afirmarei que sejam absolutamente exatas?”

D. ”...desenterrarmos pacientemente as condições que a


determinaram.”

QUESTÃO 02

"Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista,...”

No fragmento acima, o vocábulo "claro" projeta uma opinião do autor do texto sobre o
que vai ser dito em seguida. Outro exemplo em que a palavra ou expressão destacada
cumpre função semelhante é:

A. Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado.

B. Infelizmente, até agora nada foi encontrado.

C. Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus.

D. Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses.

#E - BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE XT U A L 15


QUESTÃO 03 (UECE/2015)
A dor
O que torna a tortura atraente é o fato de que ela funciona. O preso não quer falar,
apanha e fala. É sobre essa simples constatação que se edifica a complexa
justificativa da tortura pela funcionalidade. O que há de terrível nela é sua verdade. O
que há de perverso nessa verdade é o sistema lógico que nela se apoia valendo-se da
compressão, num juízo aparentemente neutro do conflito entre dois mundos: o do
torturador e o de sua vítima. Tudo se reduz à problemática da confissão.
Assim, a tortura pressiona a confissão e triunfa em toda a sua funcionalidade
quando submete a vítima. Essa é a hipérbole virtuosa do torturador. Assemelha-se ao ato
cirúrgico, extraindo da vítima algo maligno que ela não expeliria sem agressão.
A teoria da funcionalidade da tortura baseia-se numa confusão entre interrogatório e
suplício. Num interrogatório há perguntas e respostas. No suplício, o que se busca é
a submissão. O “supremo opróbrio” é cometido pelo torturador, não pelo preso.
Quando a vítima fala, suas respostas são produto de sua dolorosa submissão à
vontade do torturador, e não das perguntas que ele lhe fez. Prova disso está no fato
de que nos cárceres soviéticos milhares de presos confessaram coisas que
jamais lhes haviam passado pela cabeça, permitindo ao stalinismo construir suas
catedrais conspiratórias.
O poder absoluto que o torturador tem de infligir sofrimento à sua vítima transforma-
se em elemento de controle sobre seu corpo. No meio da selva amazônica,
espancando um caboclo analfabeto que pedia ajuda divina para sustar os
padecimentos, um torturador resumiria sua onipotência embutida: “Que Deus que nada,
porque Deus aqui é nós mesmo”. A mente insubmissa torna-se vítima de sua carcaça,
que é, a um só tempo, repasto do sofrimento e presa do inimigo. “O preso só lastima uma
coisa:
(GASPARI,Hélio. A ditadura escancarada.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 37-41. Texto adaptado.)

Ao longo do texto, a palavra “tortura” é substituída por outras, em um processo que se


conhece como anáfora. Nesta questão, lidamos com duas anáforas de tortura: “suplício”;
“supremo opróbrio”. Atente ao que se diz a respeito dessas anáforas.

I. O vocábulo “tortura” e suas anáforas – “suplício” e “opróbrio” – estão em uma ordem


aleatória, casual. Poder-se-ia mudar a ordem em que foram distribuídos e o texto não
seria prejudicado em nenhum nível.

II. A ordem em que os três vocábulos – “tortura”,“suplício”e “opróbrio”– estão dispostos no


texto indica uma intenção argumentativa do enunciador,isto é, uma intenção de convencer
o leitor sobre as ideias que expressa. Esse cunho argumentativo intensifica-se com oadjetivo
“supremo”..
III.
O vocábulo "supremo "significa “que está acima de qualquer coisa; que se encontra no
limite máximo”. Assim, esse adjetivo modaliza o discurso do enunciador. Mostra a
relação dele com o que está dizendo. No caso do texto, essa relação é de conteúdo
assumido: o enunciador assume totalmente o conteúdo do que diz.

Está correto o que se afirma em

A. I, II e III.
B. II e III apenas.
C. I e III apenas.
D. I e II apenas.

# E-BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE X T U A L 16


Texto para as questões 04 e 05
CINEMA

Entre os meios de comunicação que padronizam o comportamento de milhões, e são por isso chamados de
massa, o cinema é o mais antigo, entre nós. A imprensa o antecedeu, certamente, mas o problema
cronológico não é o essencial no caso. Exigindo a alfabetização, a imprensa, ainda que exercendo enorme
influência, não teve, particularmente no passado, característica de meio de comunicação de massa. A
antecedência do cinema, assim, parece ser indiscutível. E cinema pode ser apresentado, e deve, sob o
aspecto cultural e sob o aspecto econômico, material. Nos dois, fomos, por longos decênios, aqui,
protagonistas de papel passivo: consumimos influências culturais estranhas, sofremos de sua penetração e
domínio, ao mesmo passo que constituímos mercado consumidor de proporções crescentes para a
produção estrangeira de filmes. [...]

Há que pensar, também, na deformação cultural: há mais de meio século, o cinema norte-americano
trabalha o espírito de massas brasileiras apresentando o seu way of life, isto é, o cowboy, o gangster, a
violência desenfreada, e as suas glórias, os seus mitos, os seus heróis — a sua cultura, em suma. Que isso
tenha sido assim, e continue a ser assim, constitui, por si só, anomalia indiscutível, das mais graves e
profundas a que foi já submetida a cultura, em qualquer época, em qualquer país; mas que, além disso,
essa gigantesca deformação tenha sido financiada pelas próprias vítimas — como se aos condenados
coubesse pagar o serviço dos carrascos — constitui um dos problemas da singular época histórica em
que vivemos. A deformação se apresenta com dimensões tão extraordinárias e com duração tão longa que
chegou ao cúmulo de ganhar foros de naturalidade, como se o contrário é que fosse absurdo.

Por longos e longos decênios, foram familiares aos brasileiros padrões de comportamento inteiramente
diversos dos aqui vigentes, e hábitos, e normas, e regras. Por longos e longos decênios, nossas 19
crianças adoraram heróis estrangeiros, sentiram-se fascinadas por seus feitos, incorporaram impressões
e sentimentos deles derivados à sua cultura. Por longos e longos decênios, as massas brasileiras
aprenderam histórias norte-americanas, cultuando feitos norte-americanos, adotando posições norte-
americanas. E, por tudo isso, há longos e longos decênios, vêm pagando, e pagando caro [...]. Nossos
jovens assimilam padrões culturais de uma civilização em crise, angustiada entre o sexo e a violência.
Esse tem sido o papel de descaracterização cultural que o cinema norte-americano vem desenvolvendo,
há mais de meio século, no Brasil. Não há talvez, em toda a história, exemplo tão gigantesco de alienação
cultural.
Nélson Werneck Sodré. Síntese de História da Cultura
Brasileira. Extraído da 15ª edição, de 1988. p. 79-80; 91-92. Texto adaptado.

QUESTÃO 04 (UECE/2013)

Há palavras ou expressões consideradas modalizadoras. Com elas, o locutor expressa sua


atitude em relação ao seu próprio discurso. Dentre as expressões em destaque assinale a
única que NÃO tem essa função.

A. parece ser C. por isso E. deve

B. indiscutível D. talvez

#E - BOOK - TESE E M O DALI ZAÇÃO TE XT U A L 17


QUESTÃO 05 (UECE/2013)
No primeiro parágrafo, o locutor emprega dois modalizadores: “pode (ser)” e “deve (ser)”. Atente
ao que se diz sobre esse uso.

I. Com o uso do “pode (ser)”, o locutor expressa possibilidade; com o uso do “deve (ser)”, indica
obrigatoriedade.

II. O emprego dessas duas expressões modalizadoras, do modo como aparecem no texto, é um
recurso linguístico para valorizar a segunda: “deve (ser)”.

III. Expressões como a primeira atenuam a responsabilidade do locutor; expressões como a segunda
maximizam a responsabilidade do locutor.

Está correto o que se diz em


A. I, II, III.

B. I e II.

C. II e III.

D. I e III.

E. apenas II.

QUESTÃO 06 (UNIOESTE PR/2013)

“Eu acredito firmemente que os jovens devem ingressar na política, até mesmo como um gesto de
sacrifício pela nação”.
Alain de Botton, em entrevista à Revista Filosofia, nº 36, 2012.

Marque a alternativa correta.

A. Eu acredito é um recurso linguístico de caráter isento, usado com o objetivo de manipular o


leitor.

B. O uso do verbo acredito implica numa tomada de posição por parte da revista que publicou a
entrevista.

C. firmemente poderia ser substituído no enunciado por duramente, pois os termos definem
uma mesma postura.

D. até mesmo é um recurso linguístico que introduz um argumento para a defesa do ponto de
vista do autor exposto na primeira parte do enunciado.

E. A presença do modalizador firmemente expressa a postura flexível do autor, ao se posicionar


sobre o fato de os jovens pouco se interessarem pelos assuntos da nação.

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QUESTÃO 07 (MACK SP/2014)
No ano de 1485, foi convocada uma junta de sábios com o propósito de elaborar
a codificação da nova navegação científica, de forma a ser mais bem entendida e
praticada pelos homens do mar. Uma das decisões parece ter sido obrigar os pilotos a
ler o livro De Sphaera, de Sacrobosco, para aprender a teoria da esfera celeste.
Portanto, não foi acidental o fato de surgirem, no final do século XV, almanaques
náuticos e manuais de pilotagem, elaborados em Portugal. Infelizmente, ao que
tudo indica, todos eles se perderam com o passar dos anos, porquanto os dois
mais antigos conhecidos, e preservados até hoje, são o Regimento de Munich,
publicado em 1509, e o de Évora, datado de 1517. Dom João II, hábil político, sou
transferir o conhecimento científico e técnico restrito a um pequeno círculo de sábios
para empreendimentos econômicos e sociais mais amplos, por meio de
expedientes administrativos, educacionais e financeiros. Destarte, mais bem
preparados, os portugueses conseguiram superar o terrível obstáculo da fúria oceânica do
cabo das Tormentas, dobrando-o em 1488 com a expedição de Bartolomeu Dias. Doravante,
para os lusitanos, aquele seria o cabo da Boa Esperança.
Shozo Motoyama, em Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil

Assinale a alternativa correta.

A. pilotagem possui duas grafias possíveis: a própria pilotagem e sua variante


“pilotajem”.

B. parece tem a função de modalizar a afirmação imediatamente posterior, para que esta não
assuma valor de verdade inquestionável.

C. restrito denota o mesmo tipo de caracterização que o adjetivo amplos , empregado nesse
período.

D. O pronome o refere-se cataforicamente ao navegador Bartolomeu Dias.

E. lusitanos refere-se exclusivamente ao pequeno círculo de sábios a que o texto faz referência.

QUESTÃO 08 (USP - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA/2014)

No plano coletivo, o processo saúde-doença é mais do que a soma das condições orgânicas de
cada indivíduo que integra um grupo ou população. Embora a situação de saúde de uma
comunidade seja geralmente representada por indicadores quantitativos, aspectos e dimensões
qualitativas também podem ser usadas para caracterizá-la. Medidas demográficas e
epidemiológicas, indicadores relativos a óbitos, doenças, serviços de saúde, riscos de adoecer e
morrer e às condições de vida são exemplos de alguns indicadores que podem ser empregados.
Nesse plano, saúde-doença é considerada expressão de um processo social mais amplo
que resulta de uma complexa trama de fatores e relações, representadas por determinantes
mais próximos e mais distantes do fenômeno, conforme o nível de análise: familiar, domiciliar, por
micro área, bairro, município, região, país e continente.

Paulo Capel Narvai e Paulo Frazão. Práticas de Saúde Pública. ġn:Aristides


Almeida Rocha e Chester Luiz Galvão Cesar.
Saúde Pública. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2008, V. 1, p. 269-295.

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Considere as seguintes afirmações sobre diferentes fatos linguísticos do texto:

I. O emprego do masculino no trecho “podem ser usadas” estaria também gramaticalmente


correto.

II. No trecho “Embora a situação de saúde de uma comunidade seja geralmente


representada por indicadores quantitativos (...)”, o autor modaliza ou relativiza sua
afirmação mediante o emprego tanto do termo “geralmente” como da estrutura passiva da
frase.

III. Para se evitar a repetição da palavra “indicadores”, poderia ser usado o termo
“índices”, em qualquer dessas três ocorrências.

Está correto o que se afirma em

A. I, apenas.
B. II, apenas.
C. III, apenas.
D. I e II, apenas.
E. I, II e III.

GABARITO

1–A
2–B
3–B
4–C
5–A
6–D
7–B
8–E

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