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UNIVERSIDADE PAULISTA

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DIAGNÓSTICA

HELDER HENRIQUE GUEDES GUERRA

INVESTIGAÇÃO DO DESCOLAMENTO DO REVESTIMENTO


DE FACHADA COM ACABAMENTO CERÂMICO:
ORIGENS E CAUSAS

JOÃO PESSOA
2019
HELDER HENRIQUE GUEDES GUERRA

INVESTIGAÇÃO DO DESCOLAMENTO DO REVESTIMENTO


DE FACHADA COM ACABAMENTO CERÂMICO:
ORIGENS E CAUSAS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Pós-Graduação em
Engenharia Diagnóstica, Universidade
Paulista, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista.

JOÃO PESSOA
2019
DEDICATÓRIA

Dedico ao meu pai, Hermano de Albuquerque Guerra, este trabalho, pelo


empenho em minha formação como ser humano e como profissional, por ter me
inspirado a estudar engenharia e incentivado meus estudos.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à todos os meus familiares e meus amigos em especial


a minha namorada Marcela Bringel Cruz, que me dá apoio em tudo o que faço, neste
trabalho inclusive.
Agradeço também ao INBEC, aos coordenadores locais pela oportunidade
dada a nós por ter nos ofertado esse curso fantástico, pelo acolhimento e suporte
durante toda essa jornada.
Agradeço a todos os professores que nos repassaram o máximo que puderam
de toda a sua expertise a nós alunos.
E em especial agradeço o professor Engº Civil, MSc Renato Freua Sahade, e
ao INBEC pôr o ter escolhido para nos lecionar as disciplinas de Patologia das
Vedações, Patologia dos Revestimentos Argamassados e Patologia dos
Revestimentos Cerâmicos.
Sou muito grato a todos vocês.
“Aprendi que vai demorar muito para me
transformar na pessoa que quero ser, e
devo ter paciência. Mas aprendi também,
que posso ir além dos limites que eu
próprio coloquei.”

Charles Chaplin.
RESUMO

A indústria da construção civil, atualmente, tem sido marcada pela inovação dos
materiais empregados e desenvolvimento de tecnologias construtivas pouco
abordadas em pesquisas científicas, o que pode ser um dos fatores do surgimento,
cada vez mais precoce, das manifestações patológicas nas edificações. Quanto ao
sistema de vedação vertical externo, as fachadas, o surgimento dessas anomalias
podem envolver um alto custo monetário de reparo, e além disso, o desprendimento
de uma camada de revestimento no alto de um prédio é um defeito que traz um alto
risco a segurança, saúde, e até mesmo a vida de seus usuários e a terceiros, em seu
entorno. Esse defeito está se tornando cada vez mais recorrente. O objetivo dessa
pesquisa é buscar a compreensão dos principais causadores do descolamento das
diversas camadas do sistema de revestimento e sua relação com a base. Neste
trabalho foram revisados, através de uma pesquisa bibliográfica, todos os conceitos
acerca do tema Patologia das Construções, tentando colocá-los numa ordem de
classificação uniformizada, dando enfoque para o sistema de vedação vertical
externo. Foram diferenciados os conceitos de vício, defeito, manifestação patológica
ou anomalia e falha do sistema. Classificou-se as origens das anomalias buscando
uma uniformização, pois foram encontrados diversas formas distintas. Foram
estudadas as características dos componentes desse sistema, e pesquisadas nas
normas técnicas os requisitos básicos que devem ser apresentados por cada um
deles, ao passo que investigou-se o funcionamento do conjunto: revestimento e
substrato.

Palavras-chave: Descolamento do revestimento. Fachadas. Principais causas


ABSTRACT

The civil construction industry has currently been marked by the innovation of the
applied materials and by the development of constructive technologies little addressed
in scientific researches, which might have been one of the factors of the early
emergence of pathological manifestations in buildings. Regarding the external vertical
sealing system, the facades, the appearance of such anomalies may involve a high
monetary repair cost. Besides, the detachment of a coating layer on the top of a
building carries a high risk to safety, health, and even to its users lives, and to third
parties around. This defect is becoming more recurrent. The aim of this paper is to
search the understanding of the major causes to the detachment of several layers of
the coating system, and its relation to the base. On this current paper, all the concepts
regarding the theme Pathology of Buildings were reviewed through a bibliographical
research, in an attempt to put them in a standardized sort order, focusing on the
external vertical sealing system. The concepts of vice, defect, pathological
manifestation or anomaly and system failure were differentiated. The origins of the
anomalies were classified seeking for a standardization, since several ways to do it
were found. The characteristics of these system components were studied, and
researched on the technical standards for the basic requirements that must be
presented by each one of them, while investigating the operation of the set: coating
and substrate.

Key Words: Coating Detachment. Facades. Main Causes


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 9
1.1. Objetivos .................................................................................................... 9
1.1.1 Objetivo geral .............................................................................................. 9
1.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 9
2. METODOLOGIA ....................................................................................... 11
3. CONCEITOS GERAIS DA ENGENHARIA DIAGNÓSTICA ...................... 12
3.1 Patologia das Construções .................................................................... 12
3.2 Desempenho ............................................................................................ 13
3.3 Manifestação Patológica ......................................................................... 14
3.4 Classificação das manifestações patológicas prediais ........................ 14
3.4.1 Endógenas ................................................................................................ 15
3.4.1.1 Congênitas ................................................................................................ 15
3.4.1.2 Construtivas .............................................................................................. 15
3.4.2 Exógenas .................................................................................................. 15
3.4.3 Funcionais ................................................................................................. 15
3.4.3.1 Degradação Natural .................................................................................. 15
3.4.3.2 Falha de Manutenção ................................................................................ 16
3.4.3.3 Mal uso...................................................................................................... 16
3.4.4 Fenômeno da Natureza ............................................................................. 16
4. SISTEMA DE VEDAÇÃO VERTICAL EXTERNO (SVVE) E SISTEMA DE
REVESTIMENTO DE FACHADA CERÂMICO (SRFC) ........................................... 17
4.1 Definições ................................................................................................ 17
4.2 Componentes do SVVE ........................................................................... 18
4.2.1 Base ou substrato ..................................................................................... 18
4.2.2 Chapisco ................................................................................................... 24
4.2.3 Argamassa de emboço .............................................................................. 25
4.2.4 Argamassa colante .................................................................................... 27
3.2.5. Placas cerâmicas ...................................................................................... 28
3.2.6. Juntas........................................................................................................ 33
5. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM SISTEMA DE REVESTIMENTOS
DE FACHADA CERÂMICO (SRFC): ....................................................................... 36
5.1 Anomalias mais frequentes .................................................................... 36
5.2 Origens das anomalias mais recorrentes .............................................. 38
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 41
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 43
9

1. INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil, atualmente, tem sido marcada pela inovação


dos materiais empregados e desenvolvimento de tecnologias construtivas pouco
abordada em pesquisas científicas, o que pode ser um dos fatores do surgimento,
cada vez mais precoce, das manifestações patológicas nas edificações.
Quanto ao sistema de vedação vertical externo, as fachadas, os surgimentos
dessas anomalias podem envolver um alto custo monetário de reparo, e além disso,
o desprendimento de uma camada de revestimento no alto de um prédio é um defeito
que traz um alto risco para a segurança, a saúde, e até mesmo a vida, de seus
usuários e a terceiros, em seu entorno.
O presente trabalho busca investigar quais são as principais causas e origens
dessa manifestação patológica que pode ser caracterizada um defeito, que na
linguagem jurídica é um problema apresentado por um produto, que afete a segurança
do usuário. Nos termos da engenharia podemos dizer que o defeito é uma
manifestação patológica que gera riscos à segurança, saúde, e até mesmo à vida de
seus usuários.
Esse defeito está se tornando cada vez mais recorrente, e além dos altos custos
envolvidos na sua execução e possíveis manutenções corretivas, pode haver um
custo jurídico, gerando custosas indenizações, caso alguém venha a sofrer qualquer
dano físico.

1.1. Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Investigar as causas e origens das manifestações patológicas mais frequentes


que ocorrem no sistema de revestimento de fachada cerâmico.

1.1.2 Objetivos Específicos

a) Buscar definir um padrão para os diferentes conceitos encontrados na


literatura dentro da área de patologia da construção civil;
10

b) Modelar o sistema de revestimento de fachada cerâmico, delimitando-o,


buscando entender a particularidade e importância de cada um deles
c) Analisar estudos da bibliografia que contenham amostras e investigar quais
as causas e origens das anomalias mais frequentes.
d) Compreender quais são os vícios que estão catalisando estas manifestações
patológicas.
11

2. METODOLOGIA

Primeiramente buscou-se definir os conceitos em torno do tema de patologia


das construções, distinguindo suas classificações.
Após definidos os conceitos foram analisadas algumas amostras encontradas
na bibliografia. Estas amostras contem a ocorrência das origens das anomalias
encontradas e quais foram as manifestações mais recorrentes.
Analisadas as amostras, buscou-se relacionar a origem, as causas e
mecanismos predominantes no processo de formação das manifestações mais
recorrentes.
12

3. CONCEITOS GERAIS DA ENGENHARIA DIAGNÓSTICA

3.1 Patologia das Construções

Para a área da construção civil, o termo patologia pode ser descrito de acordo
com Lichtenstein (1985) como “a ciência que estuda as origens, causas, mecanismos
de ocorrência, manifestações e consequências das situações nas quais o edifício, ou
suas partes não apresente um desempenho mínimo preestabelecido”.
Segundo Thomaz (1990) a patologia das construções é a ciência que procura,
de forma metodizada, estudar os defeitos dos materiais, dos componentes, dos
elementos ou da edificação como um todo, diagnosticando suas causas e
estabelecendo seus mecanismos de evolução, formas de manifestação, medidas de
prevenção e recuperação.
A manifestação patológica, ou o conjunto delas, podem levar a uma falha do
sistema relacionado, como no caso, o sistema de vedação vertical externo. Quando
um sistema deixa de apresentar um de seus requisitos básicos para que tenha o
mínimo de desempenho aceitável, dizemos que o sistema falhou, ou que o sistema
atingiu sua vida útil, de forma precoce, Neves e Branco (2009).
O mecanismo de ação é um processo pelo qual dá origem ao problema, na
linguagem jurídica é conhecida como vício, que é o dano propriamente dito, ou
também pode ser chamada de vício oculto, quando o dano já existe mas não é de fácil
detecção (RED REHABILITAR, 2003).
Os vícios são danos que não causam risco ao patrimônio, a saúde, segurança
ou a vida dos seus usuários, mas que diminuem seu desempenho, o seu valor, ou o
tornam impróprio para o uso, enquanto os defeitos são falhas que afetam a saúde ou
a segurança do consumidor (DE ARRUDA ALVIM, 1991).
Enquanto o conceito de defeito, embora se assemelhe ao conceito de vício, é
descrito no Decreto n. 8078 - Código de defesa do consumidor, art. 12, § 1° como “o
produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se
espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes” (BRASIL, 1990)
13

3.2 Desempenho

O conceito de desempenho está associado ao comportamento em uso da


edificação dentro de determinadas condições que atendam as expectativas dos
usuários ao longo de uma determinada vida útil. Esses parâmetros são determinados
através de normas que estabelecem uma série de propriedades que uma edificação
e seus diversos sistemas que a compõem devem atender.
No Brasil estes critérios são definidos pela norma de desempenho NBR 15575
(ABNT, 2013) estabelecendo uma série de requisitos quantitativos e, principalmente,
qualitativos, que os diversos sistemas que compõem toda a edificação devem
apresentar. Classifica os diversos sistemas prediais, determinando as necessidades
do usuário. É dividida em 6 partes distintas, organizada por elementos da edificação,
sendo cada uma explicando e auxiliando sobre suas disciplinas específicas, são elas:
 Parte 1: Requisitos gerais;
 Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais;
 Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos;
 Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e
externas;
 Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas;
 Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários.
Como estes requisitos devem promover a segurança, habitabilidade e
sustentabilidade (duração e manutenibilidade) aos usuários, a norma de desempenho
pode ser considerada uma regulamentação técnica e jurídica para a construção civil
brasileira. Recomendando prazos e exigindo que seja informado a vida útil e nível de
desempenho dos diferentes sistemas e componentes existentes no imóvel. Por isso é
essencial que uma empresa que queira sobreviver no mercado tenha de se adequar
a tais exigências.
De acordo com a norma de desempenho NBR 15575-1 (ABNT, 2013) a vida
útil (VU) de um sistema construtivo é o período em que ela satisfaz todas aquelas
exigências de segurança, habitabilidade e sustentabilidade aos usuários. Enquanto
que a vida útil de projeto (VUP) é o período de tempo que é estipulado em projeto, o
teórico que, não necessariamente, coincidirá com a prática, aquela já citada (VU).
As anomalias ou manifestações patológicas que surgem através de um
conjunto de vícios são fatores determinantes da vida útil de uma edificação ou um
14

ciclo de manutenção, pois diminuem o nível de desempenho de determinado sistema


a patamares não satisfatórios, deixando de atender aos critérios mínimos exigidos
pela norma. Quando esses sistemas deixam de apresentar algum requisito básico,
podemos dizer que tal sistema falhou, e com isso é atingida sua vida útil (NEVES e
BRANCO, 2009).

3.3 Manifestação Patológica

A manifestação patológica é um vício ou defeito que pode ter sua origem em


anomalias, falhas de manutenção, causas naturais não previstas, ou até mesmo mal
uso, quando o usuário não utiliza a edificação para o fim ao qual foi projetada.
As anomalias podem ser de origem endógenas ou exógenas. A primeira
quando tem sua origem relacionada ao próprio empreendimento, seja um vício de
projeto, materiais, execução ou uma combinação delas. As anomalias exógenas são
de origens externas, originárias de terceiros, como a influência da fundação de uma
construção vizinha ao empreendimento ou serviços públicos subterrâneos.
A falha de manutenção pode se dar por diversos fatores como a ausência ou
deficiência do manual de operação, manutenção da edificação, falhas de gestão do
condomínio ou até mesmo mão de obra não capacitada.
O mal uso da edificação também pode ser um agente originador dessas
manifestações, quando alterada a finalidade para qual foi projetada a edificação.

3.4 Classificação das manifestações patológicas prediais

Existem diversas maneiras de se classificar as manifestações patológicas,


Pedro et al (2002) propôs uma classificação a vida do empreendimento como um todo,
desde sua fase de projeto à manutenção e uso. Dividiu a origem das manifestações
em congênitas, construtivas, adquiridas e acidentais.
Há também outras classificações quando tratamos da origem desses danos.
Neves e Branco (2009) propuseram a divisão dessas manifestações em endógenas,
exógenas, naturais e funcionais.
Podemos afirmar que as manifestações congênitas e construtivas são
endógenas pois ambas são provenientes de vícios de projetos, materiais e execução.
As acidentais e naturais também se assemelham, pois ambas são causadas
por um fenômeno atípico da natureza
15

Enquanto as manifestações adquiridas e funcionais têm como definição o uso


inadequado, a degradação natural ou manutenção inadequada.
Entretanto a classificação proposta por Pedro et al (2002) não engloba os
danos que podem vir a ser gerados por terceiros, congênitas, como propõe Neves e
Branco (2009).

3.4.1 Endógenas

3.4.1.1 Congênitas

Originadas na fase de projeto, pela sua ausência ou deficiência, como por


exemplo a não observância das normas técnicas, falta de detalhes construtivos, ou
incompatibilidade de materiais. Afetando a estabilidade do sistema de revestimento,
direta ou indiretamente. São responsáveis por grande parte dos danos observados

3.4.1.2 Construtivas

Tem sua origem na fase de execução da obra, como o uso de materiais não
certificados, mão de obra não qualificada e ausência de metodologia para um correto
assentamento das peças cerâmicas. Pesquisas apontam que também são grandes
responsáveis por grande parte das anomalias observadas nas edificações.

3.4.2 Exógenas

As anomalias exógenas são danos causados por terceiros, são interferências


externas que tem sua área de influência afetando algum sistema da edificação, seja
fundação, estrutura ou até mesmo o próprio revestimento, como a poeira ou respingos
de massa causada por uma obra vizinha vindo a danificar ou diminuir o período de
uma intervenção de manutenção.

3.4.3 Funcionais

3.4.3.1 Degradação Natural

O sistema de revestimento do prédio é o primeiro a receber as intempéries que,


ao longo do tempo, é natural que degrade os materiais expostos às suas ações. Estas
16

manifestações são resultantes dessa exposição dos revestimentos, rejuntes e juntas


ao longo de sua vida útil.

3.4.3.2 Falha de Manutenção

Podem ter sua origem num plano de manutenção deficiente ou inexistente, má


gestão do condomínio, mão de obra não qualificada ou aplicação de materiais de baixa
qualidade ou incompatíveis aqueles já existentes. Podemos exemplificar uma
interferência incorreta, lavagem com pressão acima daquela especificada nos
revestimentos, danificando rejuntes e desencadeando um processo patológico.

3.4.3.3 Mal uso

O mal uso da edificação também pode ser um agente originador dessas


manifestações. Alterando a finalidade de toda a edificação, como exemplo: sendo a
edificação projetada para uso doméstico e posteriormente transformada em comércio,
ou modificar parcialmente sua finalidade, como adicionar uma sobrecarga não prevista
em alguma laje, a exemplo da instalação de uma hidromassagem em uma laje não
dimensionada para tal. Colocar excesso de peso em sacadas, como jarros de
cerâmica, podem fazer com que surjam deformações não previstas, causando danos
às camadas de revestimento da fachada.

3.4.4 Fenômeno da Natureza

Podem ser originadas a partir de um fenômeno natural – externo – que não seja
possível de prever no projeto. Decorrem de condições climáticas adversas como calor
ou sol intensos, o frio excessivo, chuvas torrenciais, o granizo, as ventanias, etc. Por
exemplo uma chuva combinada com ventos muito intensos, cuja periodicidade de
repetição está além daquele previsto em recomendações de normas e projeto.
17

4. SISTEMA DE VEDAÇÃO VERTICAL EXTERNO (SVVE) E SISTEMA DE


REVESTIMENTO DE FACHADA CERÂMICO (SRFC)

4.1 Definições

A NBR 15.575-4 (ABNT, 2013) trata os sistemas de vedações verticais internos


e externos (SVVIE) de forma unificada, não fazendo uma divisão dos revestimentos
internos, externos e da base (estrutura e elementos de vedação). Entretanto como o
presente trabalho tem o enfoque somente para o sistema de vedação vertical externo
(SVVE) será discutido somente os elementos, requisitos e critérios a este sistema
relacionado.
O SVVE é o conjunto de componentes que formam a proteção contra ações
externas e devem promover desempenho térmico e acústico, proteção de resistência
contra fogo, controle de passagem de ar, de iluminação e de raios visuais e condições
uso e operação, proporcionando condições de manutenibilidade e durabilidade
adequadas às exigências de seus usuários.
A segurança estrutural exigida para o SVVE pode ser considerada a não
ocorrência de falhas quando da ação de cargas de serviço da estrutura, ou ações de
impactos externos, que podem levar de fissurações até mesmo a ruína desse sistema.
Outro requisito exigido pela NBR 15.575-4 (ABNT, 2013) é a da estanqueidade.
Refere-se a infiltração de água nos sistemas de vedações verticais externas, cujo
critério é resistência contra a infiltração da água da chuva considerando a ação dos
ventos.
O SVVE, de acordo com a norma de desempenho, também pode ter função
estrutural, porém, neste estudo, será abordado somente os casos que não possuem
essa característica.
O revestimento do SVVE pode ser de argamassa em duas camadas cujas
denominações são emboço (massa grossa) e reboco (massa fina), onde, este último,
usualmente recebe o acabamento final em pintura, ou também pode ser de camada
única, denominado de emboço paulista (SABBATINI, 1990).
Embora existam diversas opções de acabamento para revestimentos em
argamassa, os revestimentos cerâmicos têm sido amplamente difundido e utilizado no
Brasil e será o tipo de acabamento que terá enfoque neste trabalho.
18

Os componentes integrantes do SVVE podem ser descritos como base ou


substrato, o preparo da base ou chapisco, argamassa de emboço, argamassa colante,
placa cerâmica e juntas, como ilustra a Figura 3.1.

Figura 1 – Sistema de vedação vertical externo

Fonte: Adaptado de Manual Setorial de Desempenho (ANFACER, 2016)

Medeiros e Sabbatini (1999) dividem este modelo em dois subsistemas: o


primeiro e mais interno como a base ou substrato (que pode ser em blocos de
alvenaria ou a própria estrutura de concreto) e o segundo e mais externa, um sistema
monolítico, composto de emboço, argamassa colante, placas cerâmicas e juntas. De
forma sintética, eles dividiram o SVVE em base e revestimento.
Esta divisão será útil neste trabalho, que por vezes irá se relacionar ao sistema
base e revestimento como um todo, sendo chamado de SVVE (sistema de vedação
vertical). Por outro lado, também será útil quando tratarmos de forma separada a base
do revestimento, este último, será tratado neste trabalho como Sistema de
Revestimento de Fachada Cerâmico (SRFC), delimitando também, o tipo de
acabamento que terá enfoque nesta pesquisa: placas cerâmicas.

4.2 Componentes do SVVE

4.2.1 Base ou substrato

Tratando-se de sistemas de vedação vertical externa, não se pode negligenciar


a importância da base para que seu funcionamento atinja um bom período de vida útil
com um nível de desempenho adequado.
19

Diversas anomalias podem surgir a partir desse componente do SVVE. As


bases de concreto e alvenarias também estão sujeitas a falhas que podem
desencadear eflorescências, sendo a qualidade e quantidade de depósitos salinos
variáveis de acordo com as características dos materiais empregados na base e
também com as condições atmosféricas como temperatura, sais solúveis, umidade e
vento (THOMAZ, 1990).
O Coeficiente de dilatação também é outro parâmetro que deve ser levado em
conta, pois sabendo-se o coeficiente de dilatação da base é possível estabelecer um
traço para o emboço que seja compatível nesses termos. Desta forma podemos
propiciar uma interface mais harmoniosa e com menos esforços cisalhantes devido a
diferença desses coeficientes.
Para o desenvolvimento da aderência é necessário que haja uma
compatibilidade entre o substrato e a argamassa de emboço. A rugosidade superficial
da base é um parâmetro fundamental para que esta coesão ocorra pois aumentam a
superfície de contato, ainda mais se a superfície for rugosa e possuir poros abertos.
Contudo, há muitos vícios na aplicação das alvenarias de vedação que,
segundo Silva, R, et al (2006) são originados de forma congênitas e construtivas,
como ausência de projetos de alvenarias, falta de controle no recebimento dos
materiais e na sua execução.
Há estudos que investigam a absorção de água pelo substrato, que interfere
diretamente a aderência da argamassa de emboço além de prejudicar sua resistência.
Paes (2004), buscou parâmetros da base a fim de relacionar o desempenho dos
revestimentos com sua absorção de água. Dentre estes parâmetros estão o IRA (Initial
Rate Absortion, ou taxa de absorção inicial), a absorção total e a absorvidade,
constatando que os blocos cerâmicos possuem baixo valor de IRA, quando
comparado aos de concreto, mas de elevados valores de absorção total, como mostra
a Tabela 1.
Desse modo é imprescindível que se tenha um cuidado quanto a cura da
camada de emboço, pois exposta às condições atmosféricas severas, como vento e
insolação intensa, a camada de revestimento que perderá água com a evaporação irá
também sofrer perda para o substrato. Diminuindo o desempenho do SRFC.
20

Tabela 1 - Resultados de IRA, absorção total de água e absorvidade dos blocos


cerâmicos e de concreto.
IRA Absorção total Absorvidade
Natureza (g/194cm²/min) (%) (mm.min-1/2)
Média CV (%) Média CV (%) Média CV (%)
Cerâmico 25,70 4,10 20,60 4,90 0,38 3,00
Concreto 60,30 13,80 8,10 16,70 0,47 12,50
Fonte: Paes, I. (2004)

Deformações excessivas da base também podem comprometer o sistema de


revestimento. Vale ressaltar que as estruturas de concreto estão ficando cada vez
mais esbeltas, com grandes vãos e seção transversal reduzida, além do concreto
possuir módulo de elasticidade muito diferente da camada mais externa, acarretando
numa incompatibilidade mecânica, como ilustra a Figura 2.

Figura 2 – Módulos de elasticidade dos componentes do SVVE.

Fonte: notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

De acordo com Sahade, R. (2017) “a magnitude das tensões de cisalhamento


na interface BASE/ARGAMASSA tem correlação direta com o módulo de deformação
(E) da argamassa e da sua espessura (e), de acordo com a Equação 1:
𝑒
. 𝛵𝑐 = 𝐸. 𝜀 . , onde: (Equação 3.1)
𝐴
21

 Tc=tensão cisalhante
 E=módulo de elasticidade
 ε=deformação
 e=espessura da camada de argamassa

 A=área de contato

Analisando a equação e a Figura 2, com todas as camadas contíguas, observa-


se que a tensão cisalhante vai diminuindo ao passo que o módulo de elasticidade das
camadas subsequentes também diminuem. A NBR 13749 (ABNT, 2013) também
recomenda que o sistema de revestimento tenha resistência decrescente, ou
uniforme, a partir da primeira camada com a base.
Além disso, observa-se que o módulo de elasticidade e espessura da camada
de revestimento é diretamente proporcional à tensão de cisalhamento, ou seja, quanto
mais rígida e mais espessa a camada do revestimento for, maior será a tensão
cisalhante na sua interface com a base.
Com isso, é razoável dizer que ao passo que a estrutura trabalha, surgem
inúmeras tensões dentro do SRFC. A compatibilidade dos materiais das diferentes
camadas devem promover um alívio de tensões, diminuindo gradativamente até as
camadas mais externas.
É importante observar também, que o módulo de elasticidade da placa
cerâmica é muito maior que a da argamassa colante e de todo o resto do sistema.
Para que haja um correto funcionamento do SVVE é razoável observar que o tamanho
da placa deve ser compatível com o movimento da base, pois são as juntas que irão
dissipar essas tensões que surgirão tanto pelo movimento termo-higroscópico, de todo
o sistema SVVE, quanto pelo próprio trabalho da estrutura, gerada por suas cargas
acidentais.
Deve ser tomado cuidado também para o fenômeno da eflorescência, causada
por sais solúveis ou parcialmente solúveis pelo processo da lixiviação, advindos do
interior da base para sua superfície ou para a superfície de outras camadas, podendo
comprometer a coesão adesiva entre elas. Estes sais e suas principais fontes estão
discriminados na Tabela 2.
22

Tabela 2 – Sais lixiviáveis que podem desenvolver-se nas alvenarias ou na


superfície de camadas mais externas
Composição Fórmula
Solubilidade em água Fonte provável
química química
Carbonato de carbonatação da cal lixiviada da
CaCO3 pouco solúvel
cálcio argamassa ou concreto
Carbonato de carbonatação da cal lixiviada da
MgCO3 pouco solúvel
magnésio argamassa de cal
carbonatação dos hidróxidos
Carbonato de
K2CO3 muito solúvel alcalinos do cimento com
pótássio
elevado teor de cálcio
carbonatação dos hidróxidos
Carbonato de
Na2CO3 muito solúvel alcalinos do cimento com
sódio
elevado teor de cálcio
Hidróxido de cal liberada na hidratação do
Ca(OH)2 solúvel
cálcio cimento
Sulfato de cálcio hidratação do sulfato de cálcio
CaSO42H2O parcialmente solúvel
dihidratado de componentes cerâmicos
Sulfato de componentes cerâmicos e/ou
MgSO4 solúvel
magnésio água de amassamento
componentes cerâmicos e/ou
Sulfato de cálcio CaSO4 parcialmente solúvel
água de amassamento
agregados contaminados, água
Sulfato de contaminada ou reação entre
K2SO4 parcialmente solúvel
potássio constituintes do cimento e
constituintes da cerâmica
Sulfato de sódio NaSO4 parcialmente solúvel água de amassamento
Cloreto de cálcio CaCl2 parcialmente solúvel água de amassamento
Cloreto de
MgCl2 parcialmente solúvel água de amassamento
magnésio
Nitrato de solo adubado ou contaminado
KNO3 muito solúvel
potássio por sais solúveis
solo adubado ou contaminado
Nitrato de sódio NaNO3 muito solúvel
por sais solúveis
solo adubado ou contaminado
Nitrato de amônio NH4NO3 muito solúvel
por sais solúveis
Fonte: Thomaz (1990).

Em componentes cerâmicos, a grande parte dos sais eflorescentes foram-se


durante a queima do produto. Os sulfatos de sódio e potássio poderão migrar para a
superfície das alvenarias ou de outras camadas, constituindo a eflorescência. Porém
há outro problema que está envolvido na lixiviação desses sais. O aluminato tetra-
23

cálcico presente no cimento pode reagir com os sais de sulfatos advindos dos blocos,
resultando na seguinte reação, equação 3.2:

Al2O34CaO+3(CaSO4.2H2O)+14H2 ► Al2O3.3CaO.3CaSO231H2O+Ca(OH)2 (Equação 3.2)

Onde:
 Al2O34CaO – aluminato tetra-cálcico, do cimento;
 CaSO4.2H2O – sulfato de cálcio dihidratado, das cerâmicas;
 Al2O3.3CaO.3CaSO231H2O – Sal de Candlot ou etringita
 Ca(OH)2 – Cal hidratada

Embora seja um fenômeno relativamente raro, os sais de Candlot ou etringita


são compostos expansivos que podem gerar tensões do sistema de revestimento e
até mesmo causar o descolamento de uma de suas camadas.
Entretanto, de acordo com Mehta e Monterio (2008), a cristalização dos sais
deixados pela evaporação da água nos poros podem deteriorar os materiais
cimentícios, devido às tensões causadas por cristalização desses sais.
Binda e Baronio (2001) discutiram a influência que as condições
microclimáticas têm ou não nos sérios danos que possam ocorrer devido à
cristalização do sal nos poros de materiais cimentícios. De acordo com os autores, a
extensão do dano depende do local da cristalização do sal, que é determinado por um
equilíbrio dinâmico entre a taxa de evaporação da água a partir da superfície exposta
do material e a taxa de fornecimento da solução de sal para este local deteriorado
(seja por processo de lixiviação pela infiltração da água da chuva, ou solução aquosa
advinda de outras origens)
Observou-se que quando a taxa de evaporação é menor do que a taxa de
fornecimento de água advinda de camadas mais internas, a cristalização do sal ocorre
na superfície externa, sem causar qualquer dano, gerando então somente uma
eflorescência, apenas danos estéticos. Porém, quando a taxa de migração da solução
de sal através dos poros interconectados do material é mais lenta do que a velocidade
de reposição, a zona de secagem ocorre substancialmente abaixo da superfície. A
cristalização dos sais nessas condições pode resultar em tensões expansivas para
causar descamamento ou lascamento (Ibid).
24

Essas cristalizações subsuperficiais, podem prejudicar os rejuntes, as


argamassas colantes e o emboço, resultando em destacamento do revestimento,
tendo como consequência o descolamento das placas cerâmicas ou de qualquer outra
camada a qual venha sofrer o efeito dessas tensões.
Durante a execução das do SRFC, qualquer tipo de eflorescência que surgir,
deverão ser tomadas providências para que sejam removidas antes da aplicação de
camadas subsequentes, pois a aderência poderá estar comprometida.
Este componente (base ou substrato) não fará parte do sistema de
revestimento (SRFC), por questão de definição e separação dos sistemas que serão
abordados neste trabalho.

4.2.2 Chapisco

A função do chapisco é de preparar a base, melhorando as condições de


aderência do substrato à argamassa de emboço. Sua principal propriedade é o
aumento da rugosidade, área de contato e porosidade, possuindo uma espessura
média de 5mm.
O chapisco consiste de uma mistura de areia média-grossa com cimento e água
pelo método convencional, preparado no traço em volume de 1:3 à 1:4. Deve ser
aplicado utilizando a colher de pedreiro, fazendo um lançamento sobre a base para
que adquira a textura irregular adequada.
Há também outras opções de chapiscos industrializados, sendo a sua aplicação
variando de acordo com o fabricante, sendo geralmente necessário somente a adição
de água.
Uma das grandes negligências que se comete na execução do chapisco é a
durante sua cura. Pois, visto que os blocos cerâmicos possuem capacidade de
absorção de água além das condições atmosféricas de evaporação, e, sendo o
chapisco uma camada muito fina, é natural que ocorra uma fuga de água dessa
camada antes mesmo que a sua hidratação se finalize.
Há métodos exequíveis de se contornar essa situação, como a colocação de
uma mangueira com pequenos furos circundando toda a edificação, intercalando-se
os pavimentos, para que seja garantida uma cura adequada do chapisco, garantindo
sua resistência.
25

Um bom chapisco deve ser resistente. É possível fazer um pequeno teste in


loco. Com uma espátula ou até mesmo um prego, risca-se o chapisco, se ficarem
marcas em baixo relevo com o esfarelamento do material pulverizado, o chapisco não
possui o mínimo das características mecânicas recomendáveis, do contrário esta
camada pode ser considerada em boas condições.
Estes cuidados não devem ser negligenciados, pois todas as outras camadas
que virão a seguir estão dependentes do desempenho do preparo da base: o
chapisco.

4.2.3 Argamassa de emboço

Podemos definir, de forma sintética, o emboço como sendo uma mistura


inorgânica de aglomerante, agregado miúdo e água. Segundo a NBR 7200 (ABNT,
1998) é uma “mistura homogênea de agregado(s) miúdo(s), aglomerante(s)
inorgânico(s) e água, contendo ou não aditivos ou adições, com propriedades de
aderência e endurecimento”.
O emboço é a camada de revestimento que cuja função é encobrir e regularizar
a superfície da base, possuir resistência mecânica, e ter a textura necessária para a
aplicação da argamassa adesiva ou colante, que virá em seguida.
A NBR 13749 (ABNT, 2013), recomenda algumas características que devem
ser apresentadas pelos revestimentos de argamassas externos:

- Ser compatível com o acabamento decorativo (pintura, papel de parede,


revestimento cerâmico e outros);
- Ter resistência mecânica decrescente ou uniforme, a partir da primeira
camada em contato com a base, sem comprometer sua durabilidade ou
acabamento final;
- Ser constituído por uma ou mais camadas superpostas de argamassas
contínuas e uniformes;
- (...);
“ - resistir à ação de variações normais de temperatura e umidade do meio,
quando externos.

Essas recomendações são os requisitos básicos para que este componente do


SRFC apresente desempenho satisfatório.
Quanto a sua espessura a NBR 13749 (ABNT, 2013) recomenda alguns limites
a serem obedecidos para o revestimento sem a necessidade de reforço, de acordo
26

com a Tabela 3 É importante observar que se a camada de emboço for mais espessa
que 20mm, deverá ser executada em camadas de, no máximo 20mm.

Tabela 3 – Espessuras admissíveis de revestimentos internos e externos


Espessura
Revestimento (mm)
Parede interna 5 ≤ e ≤ 20
Parede externa 20 ≤ e ≤ 30
Tetos interno e
externo e ≤ 20
Fonte: adaptado de NBR 13749 (ABNT, 2013)

O revestimento de argamassa deve apresentar aderência satisfatória com a


base e suas camadas constituintes. O controle desse componente pode ser realizado
através do ensaio de percussão como preconiza a NBR 13749. Para paredes a
avaliação deve ser feita em 1m² a cada 100m² de revestimento. As áreas que
apresentarem som cavo nessa inspeção por amostragem, devem ser integralmente
percutidos para que se possa estimar toda a área com falha de aderência a ser
reparada.
Além da falta de aderência outras falhas podem ocorrer neste componente do
SRFC:
A. As fissuras mapeadas são originadas através da retração superficial, que
podem ocorrer devido ao excesso de finos ou excesso de
desempenamento, onde há um acúmulo de água superficial.
B. Fissuras geométricas em 45º podem ocorrer devido ao movimento
estrutural, de balanços ou sacadas, ou na vertical devido a retrações
higrotérmicas deste componente.
C. Fissuras lineares podem ocorrer também na junção de dois substratos
contíguos, mas de características mecânicas distintas, como na junção da
estrutura de concreto com os blocos de alvenaria.
Quando estas fissuras não atingem o substrato, podem ser preenchidas com o
material de acabamento do revestimento, no caso de estudo, que são placas
cerâmicas, podem ser preenchidas com a argamassa colante ou a própria argamassa
de emboço.
27

Caso as fissuras não sejam superficiais e originadas a partir da movimentação


da estrutura, da base, devem ser estudados os mecanismos envolvidos na formação
dessa fissura para o correto reforço da área afetada.

4.2.4 Argamassa colante

A argamassa adesiva ou argamassa colante é um produto industrializado a


base de cimento, agregados finos e aditivos cuja aplicação basta a adição de água à
mistura para a formação de uma pasta com características viscosa, plástica e
aderente, empregada no assentamento de placas cerâmicas para revestimento.
De acordo com a NBR 14081-1 (ABNT, 2012) são 3 os tipos básicos de
argamassas colantes industrializadas existentes, que se diferenciam entre si por
propriedades de aderência e resistência de aderência à tração aos 28 dias. As
propriedades fundamentais das argamassas colantes estão listadas na Tabela 3.4. e
principais características que as diferem são:
1. Tipo I – AC I: mecanismo de aderência é mecânico. Não indicado para uso
em churrasqueiras, saunas, estufas e outros revestimentos especiais.
2. Tipo II – AC II: mecanismo de aderência mecânico e químico (adesivo).
Pode ser utilizado em pisos e paredes internos que possuam ciclos de
variação termo-higrométrica.
3. TIPO III – AC III: o mecanismo de aderência é mecânico e químico,
possuindo aderência superior aos tipos I e II.
Caso seja necessário alguma outra propriedade específica, há também
regulamentado por esta mesma norma algumas características de maior tempo em
aberto e deslizamento reduzido, opcionais, que podem ser agregadas às argamassas
colantes tipo I, II e III. Temos os critérios discriminados na Tabela 4.
O tempo em aberto estendido favorece ao maior tempo de trabalho e aplicação
da argamassa enquanto o deslizamento reduzido propicia que sejam coladas placas
cerâmicas mais pesadas sem que ela saia do lugar pela ação de seu peso.

Tabela 4 – Propriedades fundamentais para argamassas colantes


Método Critério
Requisito de Unidade
ensaio AC I AC II AC III
28

ABNT
Tempo em aberto NBR min. ≥ 15 ≥ 20 ≥ 20
14081-3

Resistênciade Cura
≥ 0,5 ≥ 0,5 ≥ 1,0
aderência à normal
ABNT
tração aos 28 Cura NBR MPa ≥ 0,5 ≥ 0,5 ≥ 1,0
dias, em submersa 14081-4
função do tipo Cura em
de cura ≥ 0,5 ≥ 1,0
estufa
Fonte: NBR 14081-1 (ABNT, 2012)

Tabela 5 – Propriedades opcionais para argamassas colantes


Método
Requisito de Critério
ensaio
Tempo em ABNT Argamassa do tipo I, II ou III, com tempo em
aberto NBR aberto estendido no mínimo 10 min. além do
estendido (E) 14081-3 especificado como propriedade fundamental
ABNT
Deslizamento Argamassa do tipo I, II ou III, com
NBR
reduzido (D) deslizamento menor ou igual a 2 mm
14081-5
Fonte: NBR 14081-1 (ABNT, 2012)

3.2.5. Placas cerâmicas

A placa cerâmica, junto à argamassa de rejunto, é o componente que irá


proteger e decorar todo o SRFC. Tem como principal matéria prima a argila, mas
outras matérias primas inorgânicas também podem estar presentes em sua
composição. Sua produção passa por diversos processos como moagem,
conformação e queima, podendo também passar por outros processos que irão
diferenciar a qualidade do produto final como o esmaltagem e polimento.
Podemos simplificar a sequência desses processos em um fluxograma, como
mostra a Figura 3.3.
Quanto ao primeiro processo, o de moagem, os dois métodos possuem suas
vantagens. A principal diferença entre elas é que a via úmida não precisa esperar
secar a argila pelo sol e há uma conformação de massa mais homogênea, enquanto
que a via seca requer menos demanda energética, pois o material já estará seco,
causando um menor impacto ambiental (SAHADE, 2017)
O processo de conformação pode se dar de duas maneiras, sendo a primeira
por meio da prensa do produto moído e a segunda a partir de sua extrusão, cujo
29

método proporciona à peça a possuir garras de fixação da sua face inferior. A Figura
3 mostra um corte desses dois tipos de placas.

Figura 3 – Processos da produção da placa cerâmica em fluxograma

Fonte: adaptado de notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

O processo de esmaltagem agregam características mais robustas às placas


cerâmicas, além da estética, deixam aumentam seu grau de impermeabilidade e
aumentam sua resistência ao desgaste natural, ao ataque químico e agregam
resistência mecânica (SAHADE, 2017).

Figura 4 – Rugosidades das placas prensadas (acima) e extrudadas (abaixo).

Fonte: próprio autor

O engobe é uma outra camada que pode estar agregada às peças esmaltadas.
Localizadas entre a cerâmica e o esmalte, aumenta a impermeabilidade da peça,
favorece um acoplamento adequado do esmalte, dificulta a formação de anomalias
como a curvatura da placa, gretamento e descolamento do esmalte (SAHADE, 2017).
Além dessas características as placas cerâmicas possuem uma grande
importância dentro do SRFC. É um dos componentes mais resistentes e seguros
quando submetidos ao fogo, sua superfície não retém líquidos, devido à baixa
30

porosidade, não absorvem vapores nem odores, são excelentes isolantes térmico e
elétrico.
As placas cerâmicas são classificadas e nomeadas de acordo com os seguintes
critérios:
a) Esmaltadas (glass - GL) e não esmaltadas (unglass – UGL);
b) Métodos de fabricação: Extrudada (A) , prensada (B) ou outros
processos (C);
c) Grupos de absorção de água (5 grupos). A Tabela 6, além de conter os
5 grupos Ia, Ib, IIa, IIb e III, faz uma relação com a carga de ruptura e o
módulo de resistência a compressão;
d) Classe de resistência a abração superficial (5 classes). Tabela 7 –
classificação PEI;
e) Classe de resistência ao manchamento (5 classes). Tabela 8;
f) Classe de resistência ao ataque de agentes químicos, segundo
diferentes níveis de concentração (3 classes). Tabela 9.
O conhecimento dessas classificações são úteis para a especificação desse
material, tanto na fase de projeto como para uma manutenção de reparo (retirada de
sujeiras e manchas) ou preventiva, a fim de evitar problemas durante o uso,
prolongando a vida útil com o máximo de desempenho possível do SRFC.
Outras características também merecem atenção no controle desses materiais.
Para que o sistema apresente desempenho satisfatório, algumas observações
dimensionais devem ser feitas, para que sejam detectadas falhas no material. A NBR
13818 (1997) estabelece tolerâncias que as placas cerâmicas devem obedecer, como
retitude dos lados, ortogonalidade dos lados, curvatura central, curvatura lateral,
empeno e espessura.

Tabela 6 – Relação entre grau de absorção, carga de ruptura e módulo de


resistência.
Absorção de Carga de Módulo de resistência a
Nomenclatura usual Grupo
água - Abs (%) ruptura (Kgf) compressão (MPa)
Porcelanato Ia 0 < Abs ≤ 0,5 ≥ 130 ≥ 35
Grés Ib 0,5 < Abs ≤ 3,0 ≥ 110 ≥ 30
Fiança semi-grés IIa 3,0 < Abs ≤ 6,0 ≥ 100 ≥ 22
Semi-Poroso IIb 6,0 < Abs ≤ 10 ≥ 80 ≥ 18
Poroso III acima de 10 ≥ 60 ≥ 15
Azulejo III acima de 10 ≥ 40 ≥ 15
31

Azulejo fino III acima de 10 ≥ 20 ≥ 15


Fonte: Notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

Tabela 7 – Classificação de resistência a abrasão superficial – PEI


Grupo Resistência a abrasão Recomendações de uso
Grupo 0 baixíssima paredes
Grupo 1 / PEI-1 baixa banheiros residenciais
Grupo 2 / PEI-2 média ambientes residenciais sem porta para fora
Grupo 3 / PEI-3 média alta ambientes residenciais com porta para fora
Grupo 4 / PEI-4 alta ambientes públicos sem porta para fora
Grupo 5 / PEI-5 altíssima e sem encardido ambientes públicos com porta para fora
Fonte: Notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

As propriedades mais importantes de serem avaliadas nas placas cerâmicas


para revestimentos verticais são a absorção de água, expansão por umidade (EPU) e
resistência mecânica da base da placa. Os procedimentos de ensaios para avaliar
essas características são importantes para avaliar se a placa cerâmica é ou não um
possível foco de anomalias. Esses ensaios estão especificados pela NBR 13818
(ABNT, 1997).

Tabela 8 – Classe de resistência ao manchamento.


Classe Resistência
1 Impossibilidade de remoção
2 Removível com ácido clorídrico, acetona
3 Removível com produto de limpeza forte
4 Removível com produto de limpeza fraco
5 Máxima facilidade de remoção
Fonte: Notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

Tabela 9 – Classe de resistência ao ataque de agentes químicos.


Níveis de resistência química
Agentes químicos Concentração
Alta (A) Média (M) Baixa (C)
Alta (H) HA HB HC
Ácidos e alcalis
Baixa (L) LA LB LC
Produtos domésticos e de
piscinas A0 B C
Fonte: Notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)
32

De acordo com a NBR 13755-1 (ABNT, 2017) as placas cerâmicas devem


atender, além das exigências das normas NBR 13818 (ABNT, 1997) e NBR 15463
(ABNT, 2013), também:
a) Absorção de água máxima de 6% (para regiões onde a temperatura
ambiente atinja 0ºC, máxima de 3%, devido à expansão por
congelamento);
b) Devem estar secas para sua aplicação;
c) Sua EPU máxima de 0,6mm/m;
d) Devem ser armazenadas na obra por lote, tonalidade, acabamento, etc.,
de acordo com o especificado nas embalagens;
e) Não podem apresentar engobe de muratura pulverulento no seu tardoz
(face inferior, verso da placa), com quantidade acima de 30% da área da
placa (avaliação visual), pois causam uma barreira para a argamassa
colante, impedindo uma aderência adequada.
De acordo com a O projeto de revestimento cerâmico (PRC) deve levar em
conta diversos fatores, dentre os quais se destacam:

NBR 13755 (ABNT, 2017):


a) estado-limite de serviço da estrutura: com vistas a inferir possíveis
deslocamentos excessivos e que comprometem a estabilidade do
revestimento;
b) cronograma de execução da estrutura;
c) exigências arquitetônicas: paginação das placas em função do tamanho
dos panos e da presença de juntas de movimentação;
d) tipo de emboço: rigidez (módulo de elasticidade), resistência mecânica e
resistência superficial;
e) características e propriedades das placas: espessura, tamanho, cor,
dilatação térmica, absorção de água, expansão por umidade (EPU),
esmaltada/não esmaltada;
f) características e propriedades da argamassa colante: resistência de
aderência à tração e capacidade de absorver deformações;
NOTA: A capacidade de absorver deformações pode ser analisada segundo
os critérios da ISO 13007-1.
g) características e propriedades do rejunte: rigidez, aderência à lateral das
placas, resistência mecânica;
h) características e propriedades do selante;
i) variação térmica: condições climáticas a curto e médio prazos, insolação
das fachadas, temperatura à época do assentamento.

Apesar da importância desses parâmetros, que devem ser levados em conta


para que SRFC alcance um desempenho adequado, os projetos de revestimento
cerâmico (PRC) nem sempre estão presentes na concepção das edificações.
33

3.2.6. Juntas

As juntas são dispositivos de separação do revestimento em blocos. Tem o


objetivo de reduzir o módulo de elasticidade da capa de revestimento, permitindo que
este se movimente juntamente com a base sem que haja um acréscimo significante
de tensão nas diferentes camadas do SRFC.
As juntas em revestimentos cerâmicos podem ser de dois tipos: juntas de
colocação e juntas de deformação ou dilatação.
De acordo com Campante et al (2001) as juntas de dilatação dividem o sistema
de revestimento cerâmico em blocos de interrupção, com o objetivo de permitir
pequenas variações nas dimensões estruturais que possam ocorrer no sistema
revestido. As juntas de colocação formam a união entre as peças formando padrões
paralelos verticais e horizontais. Estes tipos de produtos dividem-se em três grandes
grupos: juntas à base de cimento, juntas de dispersão e juntas de resinas reativas.
A Figura 3.2, mostra que a compatibilidade mecânica está intimamente ligada
ao decaimento do módulo de tensão ao longo das camadas do SRFC. Entretanto,
nota-se que a placa cerâmica não possui módulo de elasticidade compatível com o
sistema, sendo muito maior que as duas outras camadas anteriores que são a
argamassa colante e o emboço, ratificando a importância das juntas. Na Figura 3.6
estão detalhados os diferentes tipos de juntas que ajudam no funcionamento desse
sistema de revestimento.
As juntas de assentamento podem ser definidas como “o espaço livre entre as
placas cerâmicas assentadas” NBR 14992 (ABNT, 2003).

Figura 4 – Tipos de juntas do SRFC

Fonte: Adaptado de ABCP (2002)


34

Segundo Junginger (2003) as juntas de assentamento reduzem o módulo de


elasticidade do pano de revestimento, permitindo deformações sem que sejam
geradas tensões prejudiciais. Consequentemente, facilita o assentamento das placas
e disfarça suas imperfeições.
As juntas de movimentação geralmente são mais largas que as de
assentamento e subdividem o sistema de revestimento em painéis. De acordo com a
NBR 13755 (ABNT, 2017) as juntas de movimentação podem ter diferentes
nomenclaturas de acordo com o corte do emboço e sua posição, sendo chamadas de
juntas de dessolidarização, contorno, transição, etc.
De acordo com esta norma as juntas de movimentação tem como principais
funções dissipar tensões geradas pelo movimento relativo dos diferentes tipos de base
contíguos, como por exemplo a estrutura de concreto e os blocos de vedação bem
como minimizar as tensões induzidas pela variação térmica ou higroscópica.
A NBR 13755 (ABNT, 2017) recomenda que algumas dimensões sejam
respeitadas na execução e detalhamento das juntas de movimentação. A espessura
mínima do ponto crítico da junta (no sentido de sua profundidade) deve ser de 6mm.
Enquanto que a largura dessa junta não deve ser inferior à 15mm.
Como regra geral, caso não existam recomendações geométricas fornecidas
pelo fabricante do material, devem ser utilizadas proporções de profundidade e largura
entre as razões de 1:1 e 1:2, como ilustra a Figura 3.6.

Figura 5 – Detalhamento das juntas de movimentação seladas.

Fonte: NBR 13755 (ABNT, 2017)


35

Os selantes são materiais elastoméricos. Devem apresentar uma série de


propriedades que lhes garantam um bom desempenho durante a vida útil prevista em
projeto (VUP), não sendo este menor que cinco anos (ABNT, 2017):
a) Devem ser impermeáveis;
b) Apresentar resistência a agentes químicos, intempéries, ação
ultravioleta, temperatura, maresia e outros agentes agressivos a qual
possa estar exposta
c) Manter as propriedades de coesão e elasticidade e integridade;
d) Não devem sofrer exsudação por produtos químicos, como solventes e
plastificantes, para não manchar o revestimento;
e) Não formar gases nem ondulações, provenientes de materiais voláteis
em sua composição;
f) Absorver deformações cíclicas de contração e expansão previstas no
projeto da junta, sem se romper;
g) Não induzir esforços danosos nas bordas da junta.
Segundo Thomaz (1990), após o assentamento das placas cerâmicas
recomenda-se aguardar de 2 à 3 dias para a aplicação do material de rejuntamento.
Sob condições de baixas temperaturas pode ser necessário aguardar de quatro à
cinco dias. Em obras localizadas no litoral, sujeitas a maresia (umidade com
considerável quantidade de sais dissolvidos), é recomendável que a aplicação do
rejunte não ultrapasse sete ou oito dias após o assentamento das placas cerâmicas.
A solução salina é depositada entre as placas e a insolação faz com que a água se
evapore e o sal se cristaliza, gerando eflorescências e prejudicando a aderência do
material de rejunte.
36

5. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM SISTEMA DE REVESTIMENTOS


DE FACHADA CERÂMICO (SRFC):

São diversas as causas para que o surgimento de uma manifestação patológica


nos sistemas de revestimentos de fachadas cerâmicos. Geralmente é um conjunto de
vícios que desencadeiam um processo para o surgimento da anomalia e a
consequente falha do sistema de revestimento.

5.1 Anomalias mais frequentes

Descolamento de placas cerâmicas, deterioração das juntas e eflorescências


estão surgindo em edificações com pouca idade, mostrando que essas anomalias não
estão relacionadas somente com a idade, mas também com vícios, como a falta de
projeto de revestimento de fachada cerâmico, falta de controle no recebimento de
materiais, falta de controle na execução como também falha de execução, tanto
devido a mão de obra não treinada adequadamente quanto ao ritmo acelerado para o
cumprimento de prazos cada vez mais curtos. A deterioração das juntas também
podem ser causa das pela formação de fungos, com a falta de manutenção adequada.
Bauer et al (2013) realizaram um estudo de revestimentos de fachada em 4
edificações da cidade de Brasília e observou que as anomalias mais recorrentes em
sua amostra foram de acordo com o Gráfico 4.1

Gráfico 1 - Distribuição relativa da ocorrência de anomalias em uma amostra com 4


edificações na cidade de Brasília (BAUER et al, 2013)

1% DESCOLAMENTO DE
2% CERÂMICA
12% FALHA DE REJUNTE

18%
FISSURAÇÃO
67%

EFLORESCÊNCIA

OUTROS

Fonte: adaptado de Bauer et al (2013)


37

Enquanto um estudo realizado por SAHADE (2017), observou que dentre as


anomalias construtivas ocorridas na sua amostra, a distribuição das origem das
anomalias no revestimento se apresentaram conforme o Gráfico 4.2.

Gráfico 2 - Distribuição relativa da ocorrência de anomalias em uma amostra com 80


edificações estudada por SAHADE (2017)
UMIDADE
1%
4% CORROSÃO
10%
37% DEDRADAÇÃO DA
12% ARGAMASSA
DESTACAMENTO DO
12% REVESTIMENTO
24% MANCHAS SUPERFICIAIS

DEFORMAÇÃO
ESTRUTUAL
NINHOS

Fonte: notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

A presença de umidade, corrosão e manchas superficiais, estão relacionadas


com a presença de água, que pode ter diversas origens: do solo, água contida nos
componentes do SVVE durante a própria fase de construção devido aos métodos
construtivos ou de precipitações atmosféricas.
Já o estudo realizado por Bauer et al (2013) teve sua amostra contendo 4
edificações baseado em inspeções realizadas pelo LEM – UNB (Laboratório de Ensaio
de Materiais da Universidade de Brasília). Ao analisar as anomalias mais recorrentes
do SRFC, observou que o descolamento de placas cerâmicas foi predominante.
Entretanto esse estudo não buscou explicar os agentes causadores desse
descolamento, foram supostos as prováveis causas. Observa-se que a falha do
rejunte foi a segunda anomalia mais frequente, o que leva a crer que há uma relação
entre elas.
Foi observado em uma de suas amostras, uma edificação de 10 anos, que a
placa cerâmica descolou de forma que não veio material de argamassa colante junto
ao seu tardoz, como também foi constatado que as juntas de movimentação, em
diversos pontos da fachada, o uso do selante foi realizado com espessura reduzida.
38

Em todas as 4 edificações desse estudo, foi constatado que as anomalias


poderiam ser evitadas, ou pelo menos minimizadas, caso houvesse um estudo prévio
do funcionamento dessas fachadas, como um projeto de revestimento cerâmico.

5.2 Origens das anomalias mais recorrentes

Como visto no capítulo 2 do presente trabalho, as origens das anomalias são


diversas, podendo ser endógenas, quando tem origem na própria concepção ou
construção, exógenas quando é originada por ação de terceiros, funcionais quando
são anomalias que aparecem durante a vida útil da edificação, ou podem ser também
causada por fenômenos naturais não previsíveis ou não passíveis de serem previstos
por norma.
Um estudo realizado por Motteau (1987) foi observado que grande parte das
anomalias em sistemas de revestimento tinham sua origem ainda no projeto,
congênitas ao empreendimento. A ocorrência das origens dessas anomalias constam
no Gráfico 4.3.
Sahade (2017) também observou em sua amostra, que continham 80
edificações, que grande parte das anomalias eram congênitas, devido à vícios de
projeto, seguindo um padrão parecido, como mostra o Gráfico 4.
Enquanto Thomaz (1990) observou que a água provinda de infiltrações é o
principal agente causador das anomalias nos sistemas de revestimento. Ver gráfico 5.

Gráfico 3 - Distribuição relativa das origens das anomalias nos sistemas de


revestimentos na amostra estudada por Motteau (1987)

9%
8% PROJETO

15% 46% EXECUÇÃO


MATERIAIS
22% USO
DIVERSOS

Fonte: adaptado das notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)
39

Grafico 4 - Distribuição relativa das origens das anomalias na amostra com 80


edificações estudada por Sahade (2017)

8%
PROJETO
38%
33% EXECUÇÃO
MATERIAIS
2% 19% MANUTENÇÃO
DIVERSOS

Fonte: notas de aula do curso Engenharia Diagnóstica. (SAHADE, 2017)

Grafico 5 – Origem da umidade que afetam as edificações (THOMAZ, 1990)

15%
10% INFILTRAÇÃO
ASCENDENTE
15% 60%
CONDENSAÇÃO
OBRA

Fonte: Thomaz (1990).

Analisando os gráficos 4.3 e 4.4 observa-se que as manifestações patológicas


em revestimentos de fachada tem sua origem na concepção da edificação, ainda na
fase de projeto.
Enquanto que no estudo realizado por Thomaz (1990), Gráfico 4.5, indica que
o maior responsável pela origem da umidade dentro dos imóveis analisados são
provenientes de infiltrações de água da chuva, que ocorrem através da fissuração dos
rejuntes. 1, observando que as falhas de rejuntes são uma das anomalias mais
recorrentes no SRFC.
Anomalias originadas na fase de projeto são decorrentes da má especificação,
que podem ser uma omissão ou um equívoco. Quando há omissão de especificação,
na execução do serviço prevalecerá o improviso, que é o tipo mais frequente de vício:
40

a falta de um projeto de revestimento de fachada. Quando especificados, são de forma


bastante sucinta não respeitando as exigências da NBR 13755 (ABNT 2017), faltando
detalhamentos, como por exemplo, dos locais onde serão necessários telas metálicas
para reforço, pingadeiras para expulsão da água da chuva, caracterização das
argamassas de emboço ou ausência de indicação dos procedimentos de execução
do revestimento da fachada.
A falta de estanqueidade do (SVVE) é uma das falhas que podem ser
desencadeadas por diversas causas. As infiltrações, além de provocar danos ao
sistema de revestimento de fachada cerâmico (SRFC) podem também prejudicar o
substrato, comprometendo todo o sistema de vedação vertical externo (SVVE).
Dentre os danos que podem ser causados ao substrato, podemos alavancar a
corrosão das armaduras da estrutura de concreto armado, que se expandem, gerando
tensões e o destacamento, ou descolamento, do SRFC.
Outro problema que causa esse descolamento, e que pode ser desencadeado
no substrato pela infiltração de água, é a solubilização de sais presentes nos blocos
de vedação, que são carreados para camadas mais externas através da evaporação,
podendo ser recristalizado, e com isso expandir-se, gerando tensões que podem levar
ao descolamento das camadas do SRFC, como é o caso dos sais de Candlot, como
visto na Equação 3.2, sendo a eflorescência o estado final da solubilização e
percolação dos sais presentes nos diversos componentes do SVVE.
41

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O descolamento do revestimento cerâmico e as fissuras nos sistemas de juntas


são as anomalias recorrentes nas amostras analisadas. As prováveis causas iniciam-
se no comportamento do movimento da base, que não são acompanhados pela capa
de revestimento cerâmico. Em edificações novas, com idades de até 10 anos, o
sistema de rejuntes podem não estar acompanhando essas deformações.
Edificações antigas, possuíam uma estrutura menos esbeltas e mais rígidas,
menos cuidados eram tomados quanto ao estudo do comportamento do revestimento.
Entretanto, atualmente, essa anomalia vem sendo apresentada ainda nas primeiras
idades de uso. Com o avanço tecnológico do concreto, as edificações estão ficando
cada vez mais altas, esbeltas e deformáveis, e um estudo detalhado do
comportamento do sistema de revestimento está tornando-se cada vez mais
necessário, pois as anomalias dos casos estudados poderiam ter sido evitadas, caso
existissem algum estudo prévio do comportamento de compatibilidade do SRFC com
a estrutura.
A água é um dos principais agentes de deterioração dos materiais cimentícios.
Sua capacidade de dissolver diversas substancias, contidas nas argamassas, como
também de trazê-las para dentro do sistema de revestimento, pode desencadear
diversos processos físico-químicos nefastos para o funcionamento adequado do
SRFC.
Tendo a água como um dos agentes mais agressores dentro dos materiais
cimentícios, um bom funcionamento do sistema de juntas também pode ser um fator
determinante para o bom desempenho do SRFC, pois através da falha dela a água
infiltra-se por todo o sistema de revestimento.
Neste estudo foram discriminados diversos sais que podem ser lixiviados pela
ação da água, podendo ser carreados de uma camada para outra, cristalizar-se nos
poros de outros locais previamente estáveis, ou reagir com outros componentes do
sistema de revestimento causando tensões expansivas, como é o caso da formação
da etringita, que pode levar a um descolamento da argamassa de revestimento e
comprometer todo o desempenho do SRFC.
A exigência de prazos cada vez mais apertados na indústria da construção civil
também pode ser um fator de origem dessas anomalias. O controle do recebimento
42

de materiais e da execução dos serviços não podem ser negligenciados, assim como
ensaios para a comprovação da qualidade do serviço executado.
E principalmente, um bom projeto de revestimento é essencial para o bom
desempenho do SVVE, pois conterá todas as especificações dos materiais
componentes desse sistema, devendo responder de forma compatível com o
comportamento da base, combatendo a deterioração precoce das juntas e evitando a
infiltração de água no sistema de revestimento.
43

REFERÊNCIAS

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revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas - procedimento. Rio de
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cerâmicas para revestimento – Especificação e métodos de ensaio. Rio de Janeiro,
1997.

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de paredes e tetos de argamassas inorgânicas - Especificações. Rio de Janeiro,
2013.

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Argamassa à base de cimento Portland para rejuntamento de placas cerâmicas -
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Habitacionais — Desempenho Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.

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