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CAPÍTULO 1
Vida que segue
O dia amanhece na agitada cidade de São Paulo. É sexta-feira. __ Alecsander
termina logo de escovar esses dentes que já estamos atrasados, meu amor. __ diz Branca
de dentro do quarto apressando o filho.
Eles pegam um ônibus e 25 minutos depois estão na Estação do metrô. Depois são
mais 10 minutos até a escola dele e mais 35 minutos de ônibus novamente até a Unidade
de Pronto Atendimento (UPA 24 horas) onde ela trabalha. A rotina é bastante agitada,
mesmo nos dias em que está de folga sendo uma jovem viúva e mãe de uma criança
deficiente física.
O jovem marido morreu em um trágico acidente de trânsito há aproximadamente
quatro anos, e o filho que estava junto, ficou paraplégico.
__ Ufa! Finalmente cheguei. Hoje já vi que vai ser mais um dia daqueles. __ diz
ela sozinha caminhando pelo pequeno corredor da pequena unidade de saúde. São apenas
cinco consultórios entre consultórios médicos, de enfermagem e classificação de risco,
além de sala de observação coletiva, sala de reanimação, um pequeno laboratório e toda
uma estrutura mínima para um espaço de serviço de saúde como recepção, banheiros e
etc.
Ela corre para receber o plantão que parece estar mais agitado que nos dias
anteriores, mas nada fora do normal... O normal que já está acostumada numa escala de
12x60 horas quando não precisa fazer plantões extras. Mas ela sempre está fazendo
plantões extras, tanto pela necessidade própria quanto pela necessidade da unidade.
Faltando pouco para o término do plantão, que por sinal foi agitado com muitas
intercorrências e várias remoções de pacientes, ela escuta rumores de um grave acidente
de trânsito que aconteceu neste instante onde a vítima é a esposa do famoso cantor
sertanejo do momento: o Renato Dias. __ O meu Deus, ajude essa pobre coitada e
restabeleça a saúde dela. __ diz ela em pensamentos e seguindo para organizar o setor de
serviço para a passagem do plantão.
Na UPA ela faz de tudo, desde a classificação de risco quando os colegas estão
sobrecarregados, quanto a remoção de pacientes para hospitais, mas ela é responsável
mesmo pelo posto de enfermagem, sala de observação coletiva e sala de reanimação. A
equipe de saúde está desfalcada há mais de seis meses e todos ali se viram como podem.
Hoje no auge dos seus trinta e um anos de idade, dois empregos e um filho que
necessita de vários tratamentos e terapias, ela leva a vida como a maioria dos brasileiros:
tendo que trabalhar muito para sobreviver, então essa rotina da UPA ela tira de letra.
__Lê lê lê lê lê... Lê lê lê lê lê lê lê lê. __ canta ela brincando que todos ali estão
escravos do serviço por falta de recursos humanos. Ela está no posto de enfermagem
fazendo as últimas anotações nos prontuários e fazendo o relatório de enfermagem no
livro ao mesmo tempo que explica sobre o plantão para o colega que acabou de chegar.
É uma rotina da equipe de enfermagem explicar sobre o plantão que finda para o colega
que assumirá o próximo plantão, explicar sobre os pacientes, o estado de saúde de cada
um, quem está aguardando vaga de internação hospitalar, resultado de exames, etc.
__ Hoje foi pank. __ comenta uma colega técnica de enfermagem que está
organizando os materiais no posto de enfermagem. __ Hoje foi puxado mesmo. O
paciente da reanimação tá aqui desde ontem aguardando vaga de internação e a família já
chamou a polícia, fez BO, já chamou a imprensa e amanhã disseram que vão ao ministério
público. Eu já liguei diversas vezes na regulação e nada. A família quase me bateu. Eles
acham que a demora é culpa nossa. __ explica Branca para o colega enfermeiro que está
assumindo o plantão noturno. __ Já tô acostumado com isso e não podemos fazer nada a
não ser esperar. __ completa o colega. __ Ir ligando na regulação é fazer alguma coisa.
Só esperar é frustrante e deixa a família mais nervosa. __ retruca ela criticando o colega.
Ele é taxado de preguiçoso e comodista por todos ali. Ele se presta a fazer somente o que
é obrigação da sua profissão e nada mais. Acha que já é o suficiente e pronto. Branca e
os demais enfermeiros sempre batem de frente com ele.
Branca é enfermeira com especialidade em urgência e emergência. É uma
profissional muito competente e sempre faz muito mais além do que a profissão pede. Ela
acha que não custa nada tentar ajudar um pouco mais. Nos plantões sempre se esforça ao
máximo para resolver mesmo aqueles problemas que pareçam impossíveis.
__ Não vou ficar ligando. A hora que sair a vaga o serviço social me avisa. E se a
família vier crescer pra cima, chamo a polícia e ponto final. __ completa o colega. Ele é
baixinho, sardentinho e muito chato aos olhos de todos ali da unidade.
__ Sua consciência é seu guia. Se fosse sua mãe ou seu pai duvido que tivesse essa
postura. Mas quem sou eu pra te falar sobre como deve trabalhar. Meu plantão acabou
aqui. Bom plantão pra você e fique com Deus! __ diz ela estressada com a postura do
colega que sempre prefere esperar que as coisas aconteçam ao invés de ir atrás. Ele não
faz o mínimo esforço para ajudar um pouco mais os pacientes. Nos plantões ele faz
somente o básico e o que julga não ser função da enfermagem ele não “põe a mão”.
Branca sai apressadamente para mais 12 horas de plantão noturno em um hospital
privado. São 45 minutos de ônibus lotado até chegar lá.
Em pé dentro do ônibus segurando o suporte para se apoiar, ela não se lamenta, e
nem reclama do serviço, mas reclama de outras coisas. Ela almeja muito uma vida e uma
rotina melhor. __ Cada dia esse trânsito tá mais complicado. __ diz ela para uma moça
que também está em pé dentro do ônibus bem ao seu lado, na verdade as duas estão quase
coladas uma na outra de tão cheio que o ônibus está. __ Muito complicado mesmo, além
do trânsito que não colabora, ainda temos que enfrentar esse ônibus lotado. Pobre sofre
mesmo. __ responde de volta a moça se lamentando e com a expressão facial bem
cansada. __ chegando em casa ainda tem muita bagunça pra arrumar. Eu mal descanso a
coluna e logo já tenho que acordar de novo. __ completa a moça. A cabeça dela está
amparada pelos braços que estão levantados segurando o suporte de apoio, os cabelos
feito um coque estão meio bagunçados, as olheiras estão bem acentuadas como se não
dormisse há dias, as rugas na testa mostram que ela tem mais de quarenta anos ou tem
uma vida muito sofrida.
__ E eu, que ainda vou enfrentar mais 12 horas de plantão agora à noite nem vou
saber o que é descansar a coluna. __ responde Branca também com a expressão facial
cansada. Ela olha para os lados e nem sinal de alguém descer para ela poder sentar e
descansar as pernas. __ A jornada das mulheres é bem puxada, e ainda tem homens que
acham que a gente não faz nada. __ completa a moça já se preparando para descer no
próximo ponto de ônibus. __ Tchau! Já vou descer. Eu ainda tenho mais 1 hora de ônibus
até chegar em casa. Fique com Deus e boa sorte pra você! __ se despede a moça. __
Amém! Boa sorte pra você também! __ responde Branca.
Após alguns minutos ainda ali dentro do ônibus e na mesma posição, surge
finalmente uma cadeira, ela se senta e quando se acomoda para tentar relaxar a coluna,
entra uma idosa. Como nenhum “cavalheiro” se levanta para dar lugar, ela oferece a
cadeira que está sentada. __ Senhora! Senhora! Sente aqui. __ diz ela chamando a idosa
que acaba de entrar no ônibus.
São mais 15 minutos que parecem uma eternidade ali em pé, cansada, suada,
porém agradecida pelos empregos que tem.
Na frente do hospital ela chega, para e observa a movimentação de um grupo de
pessoas, sendo alguns da imprensa. __ Eita! Mas quanta gente. O que será que tá
acontecendo aqui hoje? __ questiona ela falando sozinha enquanto arruma os longos e
volumosos cabelos negros. Ela entra no hospital e para na recepção. __ Meninas, e esse
tanto de gente aqui na frente do hospital, em? Tem gente famosa aqui hoje, é? __ pergunta
ela ainda com um pouco do sotaque nordestino que resta. Ela mora em São Paulo há quase
10 anos.
Na recepção a movimentação também estar fora do normal, são vários grupinhos
espalhadas que conversam entre si. __ Você não está sabendo da esposa do cantor Renato
Dias que sofreu um acidente de trânsito hoje? Ela veio pra cá. Mas parece que não tá nada
bem. __ responde Janaína, colega de serviço que trabalha na recepção do hospital: uma
jovem de vinte e poucos anos, muito simpática e educada.
Branca se emociona e os olhos brilham com as lágrimas que se formam. Todas as
vezes que ela atende vítimas de acidente de trânsito ou escuta falar em acidentes, ela
lembra do marido falecido. __ Hoje lá na UPA eu ouvir falar mesmo desse acidente. Que
tragédia. Ela tá na UTI? __ pergunta ela. __ Não. Ela foi direto pro centro cirúrgico. O
doutor Bruno e toda a equipe estão tentando salvar a vida dela. __ responde Janaína com
tristeza estampada no rosto. Ela se levanta da cadeira e vai dar um abraço em Branca. __
É difícil pra você não é, amiga? Sempre lembra do seu marido. __ completa Janaína
enquanto consola a amiga com um carinhoso abraço. __ Obrigada pelo carinho minha
amiga. Não tem como não lembrar do terror que vivi, mas o doutor Bruno, a enfermeira
Juliana e toda a equipe do centro cirúrgico são excelentes. Ela tá em boas mãos. Vou lá
receber o plantão. Beijos meninas. __ diz ela saindo rumo ao setor de trabalho onde é
lotada: a ala dos apartamentos.
Enquanto caminha pelo longo corredor deserto do hospital, de longe ela avista o
cantor Renato Dias junto a algumas pessoas que parecem ser da família, todos muito
tristes e apreensivos. Neste momento mais uma vez um filme vem à cabeça ao lembrar
do marido. __ O Deus, dê conforto a essas pessoas. Sei que nestas horas dinheiro não vale
nada, somente a sua compaixão. __ diz ela falando sozinha enquanto observa a aflição, a
agonia e desespero de todos ali aguardando por notícias em uma pequena sala de espera.
Pequena sala mesmo, do lado de dentro tem três pessoas sentadas em um sofá e de fora
da sala está Renato e mais quatro pessoas.
Depois de alguns minutos ali parada olhando e as lágrimas escorrendo pelo rosto,
ela segue para receber o plantão. O corredor é longo com várias rampas. Ela tinha a opção
de usar o elevador, mas preferiu ir pelas rampas. Ela quase sempre usa as rampas, ela
aproveita esse momento para refletir e pensar. Com a notícia do acidente da esposa do
cantor, ela fica mais sensível. Ela se coloca no lugar daquela família ali a espera por
notícias. Ela mensura o tamanho do desespero deles e a ansiedade de cada um e
principalmente dos pais e do próprio Renato. Ela sabe e conhece muito bem essa angustia,
essa dor, essa ansiedade.
Por volta das 23 horas, espalha pelos corredores do hospital a notícia que Deborah,
esposa do cantor Renato Dias, acaba de falecer. A esposa amada e companheira de todas
as horas. O amor da vida dele desde a adolescência e desde quando eles eram pobres e
moravam em uma cidade do interior de Goiás.
Os fofoqueiros de plantão sempre noticiavam que Deborah foi quem mais ajudou
Renato a conquistar tudo o que a família tem hoje. Ela quem sustentava a casa fazendo
doces e salgados junto com a mãe enquanto ele se dedicava à carreira. Ele sempre falava
nas entrevistas que nunca deixaria a esposa por nada e por ninguém. E de repente está ali
devastado, sem chão, desesperado, recebendo a notícia que a amada esposa está morta.
Branca junto à amiga Gleyce que também é enfermeira e colega de plantão,
observam tudo de longe. __ A vida tem dessas coisas, minha amiga. Quando a gente
menos espera ela nos dá uma rasteira. É, vida que segue. Eu bem sei disso. __ diz ela,
segurando algumas pranchetas com uma mão e com a outra enxugando as lágrimas que
escorrem pelo rosto. Gleyce, que é muito elétrica e extrovertida, nem percebe que a amiga
está emocionada. __ Gato desse tanto, famoso e rico, mulher bonita não vai faltar. __
rebate Gleyce.
Gleyce sempre fala o que pensa e nunca mede as palavras. Ela é sempre muito
intensa, mas é uma excelente pessoa e grande profissional.
__ Credo amiga! Que horror! O cara tá sofrendo e você aqui falando besteiras. __
se irrita Branca que ao contrário de Gleyce, sempre pensa muito antes de falar. __ Sou
realista. Homens são todos iguais. Um gato desse não vai ficar viúvo muito tempo não
amiga. Ele tem mais é que botar a fila pra andar mesmo. __ insiste Gleyce criticando a
amiga que na opinião dela é muito certinha e ainda acredita em contos de fadas. __
Discordo de você. Nenhum ser humano é igual. Olha você mesmo: doida desse jeito só
existe uma. __ responde Branca que sorrir, um sorriso de quem sabe que a amiga está
falando essas coisas só da boca para fora.
Em silencia, ela observa o desespero de todos ali. Encostada na parede do
corredor, os olhos brilham por causa das lágrimas que se formam. Ela mal escuta o que a
amiga Gleyce fala. __ E você minha amiga, tá aí curtindo a viuvez até hoje porque quer.
Homem tem de mais na tua fila. Acorda! Vai viver, vai botar a fila pra andar, vai namorar,
vai transar que você tá precisando é disso. __ diz Gleyce, se virando para a amiga. Gleyce
leva as mãos ao ombro da amiga e sacode para que preste atenção no que ela está falando.
Branca por alguns instantes parecia ter saído do seu corpo e viajado para bem
longe dali junto com o marido e o filho e indo para um mundo distante sem dor e sem
sofrimento. Então, com a sacodida da amiga ela volta a realidade.
__ Meu objetivo você sabe que é criar o meu filho, dar um bom exemplo pra ele
e morrer de trabalhar pra poder pagar as contas e a faculdade dele daqui há alguns anos.
__ diz ela com um ar de cansaço. __ Fica aí fugindo do amor. Beleza acaba viu. Olha o
doutor Samuel mesmo, vive atrás de você, mas você vive fugindo dele... Ops! E por falar
no bonitão... olha quem vem chegando ali. Licencinha estou saindo. Meus pacientes me
chamam. __ diz Gleyce apressadamente e correndo pelo longo corredor, antes mesmo
que o doutor Samuel notasse ela ali.
Gleyce é a amiga que mais se preocupa com Branca. É muito companheira e
muitas vezes a conselheira também. Mesmo Branca achando que ela só fala besteiras e
vive se metendo em confusões por causa disso, no fundo o que Gleyce fala tem sentido e
razão na maioria das vezes. Por falar sempre o que pensa e na hora que pensa, Gleyce é
considerada uma pessoa verdadeira e em quem se pode confiar, e Branca confia muito
nela. É a única para quem conta os segredos, as angústias, as preocupações e é a única
amiga que ainda frequenta a casa dela. Ela tem 29 anos, é um pouco mais baixa que
Branca, mas pouca coisa. É mais encorpada também, mas não chega a ser gordinha. Tem
cabelos longo bem lisinho na cor castanho. Ela é muito simpática, alegre, divertida e
muito maluquinha também.
Doutor Samuel caminha pelo corredor e se aproxima de Branca. Ele estampa no
rosto um sorrisão quando a ver ali. __ Oi, gata! Tudo bom? Hoje você tá mais linda que
nos outros dias. Só falta aceitar o convite pra jantar comigo. __ diz ele se aproximando.
Ela olha para ele de cima em baixo com aquele olhar de quem quer, mas não pode. __
Obrigada pelo convite, mas o senhor sabe que não tenho tempo. __ responde ela se
esquivando para sair de perto dele. Ela adora está perto dele e adora as cantadas dele
também, mas sempre se faz de difícil principalmente por causa da fama de pegador que
ele tem.
Ele se aproxima cada vez mais e como sempre, insiste em chama-la para sair. __
Ah gata, arruma um tempinho pra mim vai? Só um jantar sem maldade nenhuma. Só pra
gente conversar um pouco mais à vontade. __ insiste ele lindamente e sedutoramente com
aquela voz baixinha como se fosse um sussurro ao pé do ouvido. Ela se derrete, mas se
mantém firme.
Ela veste calça comprida na cor branca que marca bem o quadril. Ele adora
observar o quadril dela, aliás, ele está observando agora mesmo. Ele nem disfarça. Ela
veste uma blusa regata e um jaleco comprido branco com bordado na cor rosa. O jaleco
é bem cinturado que marca o tronco deixando a cintura que já é fina bem delineada e o
colo meio à mostra. O olhar dele vai subindo pelo corpo dela e para na altura do colo.
Realmente ele não faz nenhuma questão de disfarçar. Ela usa sapatos fechado salto alto
tipo scarpin. Ele a devora com os olhos. Ela fica sem graça. Ele leva a mão levemente
para tocá-la e ela se esquiva. __ Você sabe que eu não posso sair com você. __ responde
ela olhando para baixo para evitar o olhar fixo dele.
Tem quase quatro anos que ele a chama para sair e a resposta é sempre não. Ela
sempre inventa uma desculpa, mas no fundo ela tem vontade de sair com ele. No último
ano ela vem pensando em dizer sim, mas falta coragem e tempo também.
Ele é médico cardiologista. É considerado pela equipe feminina do hospital como
o super gato e sedutor. É solteirão e desde a primeira vez que a viu no hospital, ele se
interessou de imediato pela beleza exótica que ela tem.
__Por favor, sai comigo. Prometo me comportar. __ diz ele e mais uma vez
levando a mão para tocá-la e ela mais uma vez se afasta. __ O problema, doutor Samuel
é que o pouco tempo livre que tenho é para aproveitar o meu filho. __ responde ela meio
tímida e fugindo do olhar guloso dele.
Para disfarçar as bochechas que já estão começando a ficar vermelha, ela mexe
nos longos cabelos negros que estão presos tipo rabo de cavalo. E como ela sabe que as
bochechas estão ficando vermelhas? Porque o rosto está quente, tão quente que se ele se
aproximar mais um pouco é capaz de sentir o calor vindo dela. Mas ele percebe que ela
está totalmente sem graça e vermelha de vergonha e fica excitado só de vê-la assim toda
sem graça e sem saber o que fazer e o que falar. Essa é a certeza que ele tem de que ela
sente alguma coisa por ele.
Ele não se convence do não que recebe e insiste com o convite: __ Seu filho vai
adorar jantar com a gente. Eu vejo um restaurante que tenha parquinho. __ insiste ele. __
Meu filho é deficiente e esses parquinhos normalmente não são adaptados para crianças
cadeirantes. Mas eu agradeço pelo o convite e a intenção. Vou ver direitinho e te ligo. __
responde ela. Mas é lógico que ela não vai ligar. Ela sempre dar essa resposta como uma
forma sutil de dar um fora nele. __ Esqueci gata que seu filho é cadeirante. Mas tenho
certeza que ele vai adorar jantar com a gente. __ insiste ele fingindo não entender que ela
está dando mais um fora nele.
Todas as vezes que ele encontra com ela nos plantões é assim desse jeito e ela
gosta. Ele mexe com ela de uma forma que ela não sabe explicar, mas por medo, ela
sempre foge.
Desde que ela ficou viúva, nunca ficou com nenhum homem. Nunca beijou e
nunca transou também. A desculpa é sempre a falta de tempo, mas na verdade é medo de
se apaixonar e se machucar. O marido era muito companheiro e sempre muito presente,
carinhoso e dedicado. Literalmente o contrário do que ela escutava das amigas e colegas
sobre os relacionamentos: traições, violência psicológica, violência física e ciúmes
exagerados. Tudo isso fez e faz com que ela tenha medo de se envolver com alguém.
Ela muda de assunto e se despede: __ Vou correr ali que os pacientes estão me
esperando. Fique com Deus, doutor Samuel. Depois a gente se fala. __ diz ela apressada
e se posicionando para voltar ao setor de trabalho. Ele sorrir e não insiste, apenas observa
ela indo pelo corredor. Ele observa o movimento do quadril dela, do bumbum, que para
ele é o bumbum mais bonito e sexy que ele já viu dentro de uma calça por debaixo de um
jaleco. __ Tenho certeza que ele tá olhando pra minha bunda neste exato momento. __
diz ela em pensamentos enquanto caminha. Um sorriso meio amarelo estampa o rosto
dela, mas ele não ver.
Branca tem uma beleza exótica que cativa a todos a sua volta e principalmente aos
homens. Com 62 kg bem distribuídos nos 1,68 metros de altura, ela mais parece uma
modelo, mas não aquelas modelos magricelas com os ossos pontudos. A pele é clarinha
como a neve, os lábios carnudos e vermelhos como o sangue e os cabelos longos,
ondulados e negros como a escuridão. Não é mera consciência, é o que todos estão
pensando mesmo. O nome é em homenagem ao conto de fadas Branca Neve justamente
por ela ter as mesmas características da personagem e na época que nasceu sua mãe era
muito fã do conto.
Doutor Samuel a acha a mulher mais linda de todas que já viu e a mais difícil
também. Ela nunca caiu em nenhuma cantada dele e nem dos colegas, mas mesmo assim,
ele insiste porque no fundo ele sabe que ela gosta e ele acredita que vai conseguir “pegar”
ela, como ele mesmo diz.
Ainda ali parado olhando ela sumindo no longo corredor, ele se recompõe do calor
que está sentindo. __ Um dia você vai ser minha, gata. Tenho certeza e paciência pra
esperar você lá na minha cama. __ diz ele sozinho parado. Ele ajeita “as coisas” dentro
da calça que parece estar volumosa, arruma também os cabelos e segue para o repouso
médico.
Ele é um homem bem humorado. Tem uma fama de pegador. Praticamente já
“varreu” todo o hospital, mas ele fica apenas com mulheres interessantes aos olhos dele.
Ele é bonitão e charmoso. Pesa 90 kg que são bem distribuídos nos seus 1.85 metros de
altura. Tem corpo malhado, mas é um corpo malhado sem anabolizantes, apenas com
suplementos proteicos. Os olhos são da cor de mel, os cabelos volumoso e preto, a pele é
morena clara. É um tipão de homem, segundo as mulheres. Ele tem 35 anos e nunca esteve
em um relacionamento sério.
Tem quase quatro anos que ele tentar sair com ela. Os amigos falam que ele é
completamente apaixonado por ela, mas ele nega e insiste que quer apenas uma aventura
e que não vai sossegar enquanto não “pegá-la”.
Branca por sua vez, com o passar do tempo foi se acostumando com o jeito dele e
foi se interessando também. Ele é o único que ela permite “brincar” dessa forma. Os
demais que tentam algum tipo de cantada ela logo se afasta. As amigas acham que ela
deveria dar uma chance a ele por ela quase nunca se divertir e tem quatro anos que não
transa também.
O marido era a sua paixão louca, afinal de contas, ele foi o primeiro namoradinho,
primeiro beijo e todos os primeiros momentos que passou feliz foram ao lado dele e isso
faz aumentar o medo de se relacionar e se decepcionar.
Ela e o marido decidiram se casar e ir embora para o estado de São Paulo quando
ela terminou a faculdade de enfermagem, já grávida do filho Alecsander. Atualmente ela
é servidora pública em uma cidade da região metropolitana de São Paulo, onde faz
plantões durante o dia. Durante a noite ela trabalha neste hospital privado (particular),
que é bem conceituado e tradicional na capital paulista. Sua rotina é bastante exaustiva,
além das escalas de serviço, ela também tem que dividir o tempo que sobra em levar o
filho para o tratamento de reabilitação, psicóloga, escola e ter tempo para dar atenção a
ele. A família dela é natural do nordeste, estado do Maranhão. Ela não tem nenhum
familiar em São Paulo. Quando precisa, conta apenas com a ajuda dos amigos e vizinhos.
Amanhece e ela chega em casa. É sábado e finalmente um dia e uma noite inteira
de folga com o filho. Ela dispensa a Júlia, a jovem filha da vizinha que cuida de
Alecsander quando ela está trabalhando.
Ela vai até o quarto e acordar o pequeno para que eles aproveitem bem o dia. __
Hoje vamos fazer um piquenique no parquinho... __ diz ela da porta do quarto e
mandando beijos. __ Vou tomar um banho e já venho. __ completa ela, acendendo a luz
do quarto.
O banho é demorado e relaxante. A vontade é de ficar ali debaixo do chuveiro
para sempre. Ela apoia os braços na parede e a água cai sobre a costa, e assim ela
permanece por alguns minutos: sem se mexer e curtindo a água morna caindo e
massageando a pele.
O plantão foi tranquilo, mas ela quase nunca descansa. Fica sempre em alerta para
qualquer intercorrência. Profissionalmente é muito competente e dedicada. Sempre se
dedica ao máximo quando está nos plantões.
Ao sair do banho, ela veste um macacão curto e bem soltinho. Os cabelos
molhados ela enxuga com uma toalha para tirar o excesso da água e não ficar pingando
pela casa. Ela odeia água escorrendo pelo pescoço. Ela faz um café bem cheiroso e em
seguida vai ajudar o filho com a cadeira de rodas. Mesmo sem poder andar, Alecsander
não é uma criança revoltada. Ele tem muito o amor e a dedicação da mãe. E também desde
cedo Branca ensinou a ele muito sobre humildade, gratidão, sobre Deus e a dar valor as
pequenas coisas, e talvez seja por isso que ele não seja, até então, uma criança revoltada
por não andar, correr, jogar o futebol que tanto gostava.
Alecsander tem oito anos de idade. Fisicamente ele se parece com o pai, mas o
jeito dele de ser é mais parecido com a mãe. Ele tem a pele clarinha, os olhos cor de mel
e o cabelo ondulado na cor castanho.
Na pracinha, que fica na rua de cima, Branca e o filho interagem com outras
pessoas. Ela canta, dança, carrega o filho no colo e brincam no chão. Algumas pessoas
param para olhar Alecsander somente pelo fato dele ser cadeirante. Olham com cara de
pena, de dó, mas Branca não se incomoda. Ela já está acostumada com esses olhares e
Alecsander também não se importa.
Ao chegar de volta em casa, ela olha a caixinha do correio e ver uma
correspondência. __ Meu Deus! Esqueci de pagar a conta de luz e agora vão cortar e nem
dinheiro sobrou esse mês. O que eu vou fazer? __ diz ela em pensamentos e disfarçando
para o filho não perceber. Rapidamente ela já começa a pensar no plano B. Apesar de ter
dois empregos, o que ganha mal dá para pagar as contas, pois em São Paulo tudo é muito
longe e tem todo o tratamento do filho que embora seja pelo SUS, ela tem que arcar com
as despesas do transporte, também tem que pagar a Julia, o aluguel da casa, a escola, os
remédios, o motorista do aplicativo que fica por conta de Alecsander quando ela está nos
plantões e todas as despesas do dia-a-dia. Realmente não sobra dinheiro.
Alecsander percebe que a mãe ficou diferente quando pegou a correspondência na
caixinha de correio. __ Mamãe, aconteceu alguma coisa? __ Pergunta ele. Branca disfarça
a aflição e agonia. __ Não, meu amor. Não aconteceu nada. Vamos entrar. __ responde
ela guardando a correspondência na bolsa. __ Já sei... Vou ver se consigo pegar um
plantão hoje à noite. __ diz ela em pensamentos enquanto empurra a cadeira de rodas do
filho.
Na sala, ela posiciona o filho na frente da televisão. __ Só um minutinho meu
amor que já volto pra gente assistir um filme bem juntinhos. __ diz ela se dirigindo até o
quarto.
Imediatamente ela liga para algumas colegas e consegue um plantão noturno em
um hospital bem no centro de São Paulo. Não é a primeira vez que Branca tem
dificuldades para pagar as despesas e tem que recorrer a plantões extras.
Na sala deitados em um colchonete, ela abraça o filho e não presta atenção em
nada, apenas pensa na vida, que ultimamente não tá nada fácil, mas também nunca se
lamenta, se tem um problema ela trata logo de resolver. Ela é uma mulher bem resolutiva.
Não é qualquer coisa que a deixa desesperada.
__Mamãe, mamão! Eu sei o que quero ser quando eu crescer e ficar do tamanho
do meu papai. __ diz Alecsande deixando o filme de lado. __ O que, meu amor? Fala pra
mamãe o que você quer ser quando ficar um homão bem grandão? Porque seu pai era
bem grande, quase não passava pela porta. __ diz ela passando a mão no cabelo do filho.
__ Eu quero ser médico pra ajudar todas as crianças que não podem andar. __ diz ele todo
empolgado. Branca abre um sorrisão. __ Que lindeza meu amor! Parabéns! Tenho muito
orgulho do meu filhão. __ responde ela, também muito empolgada. __ E também mamãe,
eu quero ganhar muito dinheiro pra ajudar você. Porque você trabalha muito e não tem
tempo pra ficar comigo. Se eu ganhar muito dinheiro, você não precisa mais trabalhar e
nós vamos poder viajar e visitar a vovó e o vovô lá na praia. __ explica Alecsander.
Decididamente ela não esperava por esse assunto agora. Ela sabe que sobra pouco
tempo para o filho, mas não tinha tanta consciência que isso o machucava.
Em silêncio por alguns segundos, ela respira fundo, se emociona, mas não deixa
que ele a veja assim com os olhos cheios de lágrimas. __ Mas meu amor, pra você ganhar
muito dinheiro, você vai ter que trabalhar muito. E aí é você que não vai ter tempo pra
mim. __ diz ela, com a voz engasgada. __ Mas você pode ficar aqui me esperando. E você
não vai se cansar tanto, mamãe __ Insiste Alecsander.
Ela abraça o filho bem forte e as lágrimas escorrem pelo rosto. __ Meu amor, eu
te prometo que você vai se formar. Seja em médico ou no que você escolher e também te
prometo que vou dar um jeito de arrumar mais tempo pra nós dois. __ diz ela, agarrada
ao filho. __ Tenho que dá um jeito na minha vida. Não dar pra ficar assim deixando o
meu filho de qualquer jeito. Ele já não tem mais o pai. __ diz ela em pensamentos.
Antes do acidente que matou o marido e deixou o filho deficiente, Branca tinha
apenas um emprego e todas as noites ela estava em casa com a família. O marido
trabalhava numa oficina de carros e sempre tirava um tempinho para a família. Alecsander
jogava futebol todos os dias com os amigos num campinho perto de casa. E sempre que
podia, o pai também entrava na diversão.
Alecsander sonhava ser jogador de futebol e ir morar na Europa para jogar em
grandes times. Porém, desde o acidente ele perdeu o interesse pelo esporte que tanto
amava.
Branca se emociona com as palavras do filho e sabe que neste momento a
prioridade é trabalhar muito para poder custear todas as despesas e principalmente com o
tratamento dele.
Ela e o filho tem uma rotina toda esquematizada e cronometrada, tanto durante o
dia quanto a noite. Ao amanhecer, como não tem carro próprio, ela enfrenta um ônibus
coletivo, depois metrô para deixar o filho na escola e depois mais um ônibus para chegar
ao serviço. Um dos salários é praticamente para pagar um amigo, o Luiz, motorista de
aplicativo que fica à disposição de Alecsander nos dias em que ela está trabalhando, e a
noite ela paga a Júlia para cuidar dele.
A noite está chegando, Branca se arruma e sai para o plantão extra. Não é a
primeira vez que ela trabalha nesse hospital. No ano passado ela foi contratada para cobriu
as férias de algumas colegas.
Ao assumir o plantão, ela primeiro passa a visita de enfermagem a todos os
pacientes a qual estão sob a sua responsabilidade. __ Boa noite! Me chamo Branca. Sou
a enfermeira do plantão de hoje. Quero saber como o senhor estar? Tem alguma queixa?
__ diz ela ao entrar em um dos apartamentos a qual estar responsável.
Ela se aproxima do leito, bota a prancheta com o prontuário sob a bancada e
explica o que irá fazer. Após, ela posiciona o termômetro para verificar a temperatura do
paciente, que é um idoso de mais ou menos 70 anos que estar internado devido a
hipertensão e diabetes descompensada. __ Ele está melhor hoje. __ responde o
acompanhante do paciente. __ Mas ainda tá muito teimoso. Acabou de me dizer que quer
comer doce de leite. __ completa o acompanhante.
Ela se aproxima do leito. __ Seu Lourenço, vou furar seu dedo para medir a sua
glicemia. __ diz ela se posicionando para fazer o exame (Glicemia: exame para medir os
níveis de glicose no sangue). Após o exame ela verifica que o resultado está alterado. __
Então seu Lourenço, como o senhor quer comer doce de leite se a sua glicemia está 350?
Não pode comer nada que tenha açúcar. Sei que é difícil, que a vontade é grande, mas o
senhor tem que se ajudar e sei que a partir de agora o senhor vai fazer a dieta certinha
porque tenho certeza que o senhor prefere dormir lá na sua casa, na sua cama do que aqui
no hospital, não é? E se fizer a dieta certinha e tomar os remédios direitinho, o senhor vai
ter uma qualidade de vida melhor. __ explica ela. __ Tá bom, minha filha. Não vou mais
comer besteira escondido. Não gosto de hospital. __ responde seu Lourenço.
Ela também verifica a pressão arterial. __ Sua pressão está ótima. Agora só falta
controlar a diabetes pro senhor poder ir embora pra sua casa. Mas tem que me prometer
que vai fazer a dieta certinha, do jeito que a nutricionista lhe orientar, tá bom? __ diz ela
se voltando para o prontuário e fazendo as anotações necessárias. __ Tá bom, minha filha.
Lhe prometo. Eu quero viver muitos anos ainda pra ver moça bonita igual você. __
responde seu Lourenço galanteando ela. __ Obrigada, seu Lourenço. O senhor tem que
viver muitos anos mesmo é para brincar com os seus netinhos que lhe amam e estão nesse
momento lhe esperando em casa morrendo de saudades. __ responde ela já se
posicionando na frente do acompanhante e fazendo as devidas orientações.
Durante o plantão, ela conhece em um dos apartamentos, uma senhora de
aproximadamente 65 anos, a dona Laura, que é uma empresária bem sucedida e influente
na cidade. Ela está internada devido a uma cirurgia que fez para a retirada de um tumor
de mama.
Branca como sempre, é muito atenciosa com os pacientes e passa muita segurança
e firmeza durante as orientações. Logo ela conquista a admiração de dona Laura e as duas
acabam tendo uma certa afinidade e passam a madrugada conversando. __ Minha querida,
você tem uma história de vida muito forte. Deus vai lhe abençoar muito e você será muito
feliz. Escreva o que estou lhe dizendo. __ diz dona Laura deitada e com uma leve
expressão de desconforto devido a cirurgia. __ Obrigada dona Laura. Deus irá lhe
abençoar também e a senhora irá vencer essa batalha e verá seus netinhos crescerem
porque a senhora é uma pessoa muito humana, muito boa e humilde. __ responde Branca.
__ Amem, minha querida! __ responde de volta dona Laura. __ A senhora é o contrário
de muitos pacientes que passam pelos plantões e esquecem a enfermidade que estão
passando, esquecem que somos todos iguais e que dinheiro não compra a vida. Muitos
acham que por terem muito dinheiro podem humilhar a todos. __ desabafa Branca
segurando as duas mãos de dona Laura.
As duas interagem e Branca sentada em uma cadeira há mais de uma hora, conta
toda a sua história de vida para a paciente que acabou de conhecer. Isso nunca tinha
acontecido. Ela nunca misturou coisas pessoais com profissional, mas sem saber porque,
ela gostou muito de dona Laura e sentiu necessidade de desabafar sobre a vida pessoal.
Dona Laura e Branca trocam telefones e prometem uma visitar a outra. __
Precisando de alguma coisa a senhora pode me ligar, viu. A qualquer hora. __ diz Branca.
__ Sim, minha querida. Se eu precisar com certeza irie ligar para você e se você também
precisar de alguma coisa, pode me ligar e não tenha vergonha. Vai ser um prazer ajudar
você. __ completa dona Laura.
Logo que amanhece, Branca retorna para casa. Já é domingo e ela ainda tem mais
um plantão noturno pela frente. __ Cheguei, meu amor. Qual vai ser a programação de
hoje? __ pergunta ela para o filho que ainda está deitado muito sonolento. __ Dormir
mamãe. A programação é dormir. Tô com muito sono e você também. __ responde
Alecsander. Ele e Julia passaram a noite quase toda acordados assistindo filmes. __ Já vi
que teve muita farra nessa casa ontem. Vou tomar um banho e já venho pra dormir
agarradinha com você. __ diz ela. O sono é tanto que ela dormiria por 24 horas, a final,
foram duas noites seguidas de plantões e ela ainda vai para a terceira noite hoje.
Branca seca os longos cabelos e depois se deita ao lado do filho. Eles dormem até
às 13 horas. Ela realmente estava precisando dormir assim, e ao lado do filho, ela dorme
mais relaxada, caso ele acorde ou precise de alguma coisa, ela já estar ali pertinho pronta
para ajudar.
A noite chega novamente. Branca está no posto de enfermagem fazendo as
anotações nos prontuários dos pacientes quando chega o doutor Samuel. Como sempre,
ela está com os cabelos preso tipo rabo de cavalo, calça branca colada e regata também
branca bem justa marcando a silhueta. O jaleco ela tirou e botou sob uma cadeira. __ Oi
gata! Tava com saudades de você. __ diz ele se aproximando dela. __ Oi doutor! Tudo
bem com o senhor? __ responde ela, que se assusta ao vê-lo ali. Ela não estava esperando
vê-lo neste plantão de hoje. Não é plantão dele. __ Vou ficar melhor se você não me
chamar mais de senhor e nem de doutor. Só Samuel tá bom. __ diz ele sorrindo. __ Você
me chamando de senhor faz me sentir um velho que anda atrás de uma novinha. __
completa ele, sorrindo.
Ele está vestindo calça social na cor preta que fica um charme nele, camisa de
botão manga longa na cor azul claro e jaleco por cima. Um verdadeiro lorde como diz a
amiga Gleyce para expressar a elegância e educação dele. __ Desculpe. É mais forte que
eu. Mas estou me esforçando pra perder essa mania. E você está de plantão hoje? Não é
seu plantão hoje. A cardiologia está vazia. __ diz ela, envergonhada e a esta altura com
as bochechas totalmente vermelhas. __ Marcos pediu pra fazer o plantão pra ele. Teve
que viajar às pressas. Eu só aceitei porque você estaria no plantão hoje. __ responde ele,
se aproximando e levando a mão até o rosto dela. Ela fica totalmente sem graça. Não sabe
como sair da saia justa. __ Tua namorada não deve tá nada contente em ter que dormir
sozinha no domingo à noite. __ diz ela jogando verde, mas rezando para que ele responda
que não há ninguém esperando por ele em casa.
Sempre que pode, ela joga essas indiretas com a finalidade de saber se ele ainda
está solteiro. É lógico que ela não é boba o suficiente de apenas acreditar no que ele
responde, mas escutar que está solteiro e que namoraria apenas ela, é muito bom para o
ego. Ela não entende como um homem lindo, rico e elegante ainda não está em um
relacionamento sério. __ Não tenho namorada, e eu só ficaria domingo à noite em casa
se você estivesse lá para dormir comigo. __ responde ele se aproximando bem do rosto
dela. __ Dormir não... Porque eu passaria a noite toda acordado. Sabe por que? __ sussurra
ele no ouvido dela. O clima esquenta e ela engasga com a própria saliva. Ela olha para
baixo, para cima e fica sem palavras. __ Porque eu tenho medo do bicho papão. E me
disseram que você não tem medo de nada. __ completa ele sussurrando e aproximando o
rosto para beijá-la. Ela se vira levemente e o beijo chega à bochecha.
Ela fica tão vermelha que ele sente o calor que vem do rosto dela. __ Doutor, digo,
Samuel, eu nunca me comportei errado no local de serviço. E hoje não vai ser a primeira
vez.__ diz ela com a voz mansa e suave. __ Então a gente termina essa conversa depois
e bem longe daqui, pode ser? __ sussurra ele sedutoramente sério e encarando ela
fixamente com os lábios entreabertos. Ela fica levemente ofegante e morde levemente o
lábio inferior. __ A gente conversa depois sim. Prometo. __ responde ela encerrando a
conversa. Ela está cheia de tesão, mas se afasta dele. A ética e o profissionalismo falam
mais alto.
Ele agora estampa um sorriso de quem estar quase conseguindo o que quer e se
aproxima novamente. Ele toma a prancheta que ela porta na mão e segura firme a mão
dela. __ Eu sei que você também quer, só não sei porque foge tanto. Mas eu adoro desafios
e minha maior qualidade é a paciência, gata. Sei fazer as coisas sem pressa e bem devagar.
__ sussurra ele no ouvido dela. Ela fica sem reação. Ele solta a mão dela, entrega a
prancheta e sai pelo corredor sem olhar para traz. Ela fica ofegante e vermelha. O coração
acelerado e o corpo treme ao mesmo tempo que esquenta, principalmente no meio das
coxas onde ela sente pulsar (latejar).
Ela corre até o banheiro e lava o rosto. __ Meu Deus! Tô pegando fogo. Não sei
quanto tempo mais ainda vou resistir. __ diz ela sozinha no banheiro enquanto seca o
rosto e cruza as pernas para acalmar “as coisas” ali em baixo. __ Sei que ele não quer
nada sério comigo. É só uma aventura, mas eu tô muito a fim. Muito mesmo. __ diz ela
para si.
Já tem um tempo que ela sente muita atração por ele, mas decidiu viver em função
do filho e da escala de trabalho que é bastante exaustiva e não quer ter nenhum tipo de
problemas, principalmente problemas amorosos.
CAPÍTULO 2:
A grande proposta
Passam-se três semanas. É uma manhã ensolarada. O plantão está tranquilo. A
equipe de saúde da UPA finalmente está quase completa e Branca aproveita para adiantar
as evoluções dos pacientes. Ela está dentro de um consultório sentada bem à vontade e
totalmente desengonçada com a coluna tão curvada que mais parece uma corcunda. Ela
sabe que não é correto sentar dessa forma e que mais cedo ou mais tarde ela vai se
arrepender, mas essa posição a deixa bem relaxada. Uma das mãos está posicionada para
apoiar a cabeça e a outra ela faz as anotações. De repente o telefone celular toca: é dona
Laura, a senhora que ela cuidou quando fez plantão extra em outro hospital. __ Alô! Dona
Laura bom dia! Tudo bom com a senhora? __ diz ela. __ Bom dia minha querida!__
responde dona Laura. __ Estou muito bem graças a Deus. Comecei as seções de
quimioterapia, e até agora não estou sentindo nada. Já comprei até as perucas, mas nada
do cabelo começar a cair. __ completa dona Laura, bem humorada.
Dona Laura, apesar de tudo que vem passando, não perde a alegria e o bom humor.
Ela descobriu um tumor de mama ainda em estágio inicial. Ela fez uma mastectomia da
mama direita (retirada da mama) e agora segue com a quimioterapia. Como ela sempre
faz exames de rotina anual, o câncer foi descoberto em estágio 1, ou seja, bem precoce.
Dona Laura é uma mulher positiva e de muita fé. __ Que bom, dona Laura. Fico
muito feliz de saber que a senhora está muito bem e com toda essa alegria. Isso ajuda
muito no tratamento, viu. E precisando de alguma coisa, a senhora já sabe que pode contar
comigo. __ diz Branca. Nesse momento a porta do consultório onde ela está se abre e
entra um colega do plantão. Ele puxa uma cadeira, senta bem na frente dela e aguarda ela
terminar a ligação.
__ Sim minha filha. Estou te ligando porque preciso da sua ajuda. Tenho uma
amiga que está precisando de um favor muito grande. E pensei em você. __ diz dona
Laura.
Enquanto dona Laura explica sobre o motivo da ligação, Branca faz sinal com a
mão para o colega esperar que ela já fala com ele. __ pode terminar a sua ligação tranquila.
Não tenho pressa. __ sussurra o colega. Ele pega o telefone celular e começa a mexer
enquanto espera ela terminar a ligação.
__ Oxe, dona Laura! O que eu puder fazer para ajudar, irei fazer com todo prazer.
__ diz Branca, com o telefone entre a orelha e o ombro para deixar livre as mãos enquanto
faz as evoluções nos prontuários. __ Minha amiga está à procura de uma boa enfermeira
para cuidar da sua netinha que está muito doente. E você é muito competente. Eles pagam
muito bem, minha filha. Sei que você precisa muito. Anote aí o telefone e ligue para ela
ainda hoje. __ explica dona Laura. __ Sim, dona Laura. Vou ligar sim. Me passe o
número. __ responde ela, mostrando interesse no serviço e já se despedindo de dona
Laura. __ Fique com Deus a senha também! Um beijo e melhoras. __ diz ela, encerrando
a ligação e se voltando para o colega que aguarda por ela.
Luciano é o nome do colega de plantão. Ele é médico intensivista. __ Oi doutor
Luciano. O senhor está precisando de mim pra alguma coisa? Alguma intercorrência? __
pergunta ela. __ Oi Branca! Tá tudo tranquilo. Só vim jogar conversa fora mesmo. __ diz
ele, com um sorriso meio safado estampado no rosto. Ela não sabe se presta atenção no
colega ou se sai correndo para fazer a tal ligação e saber mais da proposta de emprego.
__ Jogar conversa fora? E eu tenho tempo pra ficar jogando alguma coisa fora. Aliás, tô
tão dura que não tô jogando é nada fora, nem conversa. __ diz ela, em pensamentos. __
Entendi. Que bom que tá tudo tranquilo, assim consigo adiantar minhas coisas aqui. __
diz ela baixando a cabeça para continuar as anotações. __ Bem que ele podia ir jogar
conversa fora em outro lugar e com outra pessoa. __ diz novamente ela, em pensamentos.
__ É porque senti sua falta na reanimação e me disseram que você estava aqui. __ diz ele,
com uma cara de quem está querendo alguma coisa.
Branca sem dúvida é uma mulher muito bonita e que chama muito a atenção por
onde passa. Ela já se acostumou com as cantadas dos colegas de serviço, desde que não
faltem com o respeito.
Para tentar despachar doutor Luciano, ela continua com a cabeça abaixada fazendo
as anotações na tentativa de que ele se toque e vá embora. __ Vim me esconder aqui pra
adiantar o serviço, mas agorinha volto pra lá. __ diz ela, ao mesmo tempo que se mostra
apressada para terminar o que está fazendo. __ Então vou deixar você quieta pra terminar
suas coisas. Se precisar de ajuda é só chamar. __ diz ele, se levantando para se retirar do
consultório, mas na esperança que ela peça para ele ficar. Mas com certeza isso não vai
acontecer, não hoje e talvez nem neste século. Ela realmente não quer a companhia dele
ali. Ela sempre foge dele quando estão juntos nos plantões. Ele nunca lhe faltou com o
respeito, mas sempre que se cruzam ele não esconde o interesse que sente por ela.
__ Tudo bem. Desculpe não poder te dar atenção direito, mas daqui a pouco tô lá
na reanimação. Qualquer intercorrência as meninas sabem onde me encontrar. __ diz ela,
levantando a cabeça para olhar ele. Ela dá um sorrisinho meio sem graça e abaixa a cabeça
novamente. Ela sabe que se der muito assunto ele não sai mais daí.
Doutor Luciano parece se tocar e a deixa terminar as anotações. Ele sai do
consultório e ela aproveita para correr até a sala da direção para ver se consegue suas
férias, que por sinal já está vencida. Ela recebe um não da diretora, mas não desanima.
Ela é muito confiante e tem uma intuição muito boa.
Bastante eufórica, ela retorna para o consultório e liga no número que dona Laura
passou. __ Alô, bom dia! Aqui quem fala é Branca, a enfermeira. Dona Laura quem pediu
pra ligar. __ diz ela. Do outro lado, uma voz muito educada atende. __ Bom dia! Me
chamo Beatriz. Laura me falou muito bem de você. Quero te conhecer e quero que
conheça a minha netinha Rafaela. __ responde dona Beatriz.
Branca escuta atentamente o que dona Beatriz fala: __ Já entrevistei várias
enfermeiras, mas não consegui gostar de nenhuma. Laura me falou que você é muito boa
com crianças. __ diz dona Beatriz. __ Dona Laura é um amor mesmo. Me passe o
endereço que hoje à tarde dou um jeito de ir até ai. __ diz Branca.
Ela fica tão ansiosa e eufórica que começa a procurar coisas para fazer, já que hoje
o plantão está muito tranquilo e a manhã parece demorar para passar.
Na sala de reanimação, ela organiza as coisas enquanto também presta
atendimento aos pacientes que chegam ali. __ Branca, esse fim de semana estamos
organizando com a galera aqui da UPA pra gente sair. Vem com a gente? __ diz doutor
Luciano. Ambos estão na sala de reanimação. __ Que legal! Muito obrigada pelo convite.
Vou ver certinho e te falo. __ responde ela enquanto prepara uma medicação. É lógico
que não vai sair com eles. Ela sempre dá a mesma resposta para todos os convites que
recebe para sair. É a forma mais sutil e educada que tem para dispensar os convites e
principalmente os convites com segundas intenções. Ela nunca aceita sair com colegas
homens do serviço. Nem com o doutor Samuel por quem ela tem uma quedinha, ela nunca
aceitou um convite para sair.
No momento ela usa máscara de proteção, touca, e veste uma calça jeans azul
marinho, veste também uma regata branca e jaleco por cima e calça um tênis bem
confortável. Ela sempre usa tênis quando está na UPA. Os plantões são bem agitados e
ela não duraria nem 30 minutos em cima de um salto alto.
Doutor Luciano insiste no convite: __ Então vou te ligar. Pode, né? Ou o
namorado vai achar ruim? __ pergunta ele, com um sorriso discreto no rosto e fazendo
uma carinha de pidão.
Ele aparenta ter uns 30 anos de idade, tem mais ou menos 1,75 metros de altura,
pesa em torno de 80 kg. É muito educado, porém um tanto safado. É solteiro e adora uma
farra. Branca vive fugindo dos plantões com ele para tentar diminuir o desconforto que é
dar um fora nele todas as vezes que se cruzam. Ele já saiu com várias moças da UPA,
porém ele é fissurado em Branca. Ele fala para os colegas que com ela ele teria coragem
de se casar.
__ Se der certo pra ir eu te ligo. __ responde ela, saindo de perto dele. Mas é óbvio
que ela não vai ligar e também é óbvio que ele vai insistir: __ Branca, você nunca sai ou
é comigo que você não quer sair? __ pergunta ele, indo direto ao assunto. Ela se assusta.
Ele nunca ousou fazer uma pergunta desse tipo para ela. E agora? Como ela vai sair dessa
saia justa? Ela fica em silêncio por alguns instantes procurando uma resposta que não seja
nem agressiva e nem idiota. Ela é sempre muito cuidadosa com o que fala. Ela jamais
seria capaz de magoar alguém. __ Não é isso, doutor. Todos aqui na UPA sabem que
tenho outro emprego e também faço muitas horas extras. E quando vocês combinam pra
sair sempre coincide com algum plantão meu. __ explica ela, com um sorriso meio sem
graça e terminando de fazer uma medicação em um paciente. __ Tudo bem então. Eu sei
como é. Sempre que quero sair com a galera tenho que fazer muitas trocas de plantões,
se não nunca me divirto. __ diz ele, se aproximando dela. Nesse momento entra uma
técnica de enfermagem na sala e chama ela para resolver um problema na recepção. Ela
se sente aliviada e aproveita a oportunidade para sumir dali.
Finalmente chega o período vespertino e Branca consegue uma folguinha do
plantão para ir até a residência de dona Beatriz. Pelo banco de horas, a unidade deve
algumas horas para ela, então rapidamente ela chama um motorista de aplicativo. Dentro
do carro, ela não sabe do que se trata ao certo, mas já faz planos com o possível dinheiro.
__ Será um serviço temporário e o dinheiro irei guardar pra levar Alecsander pra ver os
avós. __ diz ela, em pensamentos.
Chegando ao endereço informado, ela se assusta ao ver o local. __ Será aqui
mesmo? Será que não estamos no endereço errado? __ pergunta ela ao motorista. __
Senhora, eu vim no endereço que foi informado. A senhora deseja informar outro destino?
__ responde o motorista. __ Não. Deve ser aqui mesmo. Pelo menos é o endereço que me
passaram. Muito obrigada. __ diz ela se preparando para descer do carro.
Ela para na frente de um luxuoso condomínio fechado, vai até a portaria e para
seu espanto, é o endereço correto e o nome dela já está autorizado para entrar. Um carro
da administração do condomínio a leva até a residência. Ela é recebida por uma
funcionária que a conduz até dona Beatriz, que estar no andar de cima da mansão. __
Caramba! Que casa grande! Dá pra se perder aqui dentro. Deve caber a minha rua inteira
aqui e ainda sobra espaço. __ diz ela, em pensamentos e espantada com o tamanho da
casa e o luxo também.
Chegando ao andar de cima, ela se depara com um quarto de hospital montado ali
e com uma garotinha de mais ou menos 5 anos de idade deitada e uma senhora sentada
ao lado. __ Boa tarde! Sou a Branca. __ diz ela. __ Oi minha querida! Seja muito bem
vinda! Sou Beatriz e essa é a minha netinha Rafaela. __ diz dona Beatriz se levantando
para cumprimenta-la.
Antes de chegar à residência, Branca passou em uma lojinha de brinquedos e
comprou um kit de primeiros socorros de brinquedo para presentear Rafaela. __ Oi
Rafaela! Me chamo Branca. Sou enfermeira, e eu trouxe uma lembrancinha pra você. __
diz ela estendendo uma das mãos para entregar o presente à garotinha. __ É uma boneca?
Eu não quero. Não gosto mais de bonecas. __ responde a garotinha. __ Não é uma boneca.
__ diz Branca, se aproxima de Rafaela e desembrulha o presente. __ É um kit de primeiros
socorros. A gente sempre tem que ter um desses por perto. Ele salva vidas. __ completa
ela.
A garotinha segura o brinquedo e começa a mexer para ver melhor. __ Se tivesse
um desses no carro da minha mamãe, ela não teria ido pro céu, vovó? __ pergunta Rafaela.
Branca fica sem entender a colocação da garotinha. Ela olha para dona Beatriz e faz uma
cara de surpresa. __ Rafaela agradeça o presente, minha querida. A Branca trouxe com
muito carinho pra você. __ diz dona Beatriz, chamando a atenção da netinha. __
Obrigada! Mas você não respondeu? __ Insiste Rafaela. Dona Beatriz interrompe
novamente e pede para a babá ficar um pouco com a netinha enquanto se retira do quarto
para conversar com Branca.
Dona Beatriz e Branca caminham pela casa em direção ao jardim. __ Dona
Beatriz, me desculpe se fiz alguma besteira, mas eu não entendi nada. A mãe da Rafaela
não está bem? __ pergunta Branca. __ Ela não está mais entre nós, minha querida. Tem
mais ou menos três semanas que minha nora faleceu. É uma triste história. Vou lhe contar
e necessito do seu sigilo e sua discrição. __ informa dona Beatriz, com tristeza estampada
no rosto e na voz. __ Sim, dona Beatriz. Tenho muita discrição e muita ética. A senhora
não precisa se preocupar. Pode confiar em mim. __ afirma Branca.
Dona Beatriz explica que Rafaela passou mal, a mãe a levou para a emergência,
onde fizeram vários exames e algumas medicações. No dia seguinte a mãe de Rafaela
recebeu uma ligação para que comparecesse ao consultório do pediatra e lá recebeu a
notícia que Rafaela estava com suspeita de Leucemia e tinha que fazer uma nova série de
exames e iniciar um tratamento urgente. __ Então, no retorno pra casa, minha nora perdeu
o controle do carro e ela sofreu um grave acidente. Ela foi socorrida e morreu durante a
cirurgia. __ explica dona Beatriz. Branca se assusta e se comove. __ Meu Deus! Que
tragédia! __ diz ela, espantada e emocionada com a trágica história. __ Pois é, minha
querida. E infelizmente se confirmou o diagnóstico de Leucemia da minha netinha. Meu
filho não quer que ela fique dentro de um hospital, por isso montou toda essa estrutura
aqui. E exigiu os melhores profissionais. Semana que vem ela começa a quimioterapia,
por isso estamos contratando as enfermeiras. Laura me falou muito bem de você. __
completa dona Beatriz, segurando as mãos de Branca. __ Dona Beatriz, eu não tenho
muita experiência com pacientes oncológicos. __ explica Branca, mostrando
preocupação. __ Mas Laura me disse que você tem muita experiência com crianças, e isso
já me basta por enquanto. Só queremos que ela seja bem acolhida neste momento tão
doloroso. __ reafirma dona Beatriz.
Branca pensa. Faz uns minutos de silêncio e decide aceitar a proposta, mesmo sem
saber se irá conseguir as férias ou o afastamento do outro serviço. __ Com certeza eu
darei o melhor de mim para ajudar a sua netinha. A senhora pode ter certeza. __ responde
ela.
Dona Laura já havia contado toda a história de Branca para dona Beatriz e isso foi
o que mais a motivou na escolha e também o fato de ser uma indicação da amiga. __
Laura me falou da sua história, da sua perda e do seu filho. Por isso sei que você vai
ajudar muito a minha netinha. __ completa dona Beatriz.
As duas conversam por mais alguns minutos. Branca necessita voltar para o
plantão. Ela se despede de todos e dona Beatriz pede para o motorista leva-la de volta ao
serviço.
Branca retorna triste para o plantão. Ela não esquece a história que ouviu e o
rostinho de Rafaela ali sentada naquele leito de hospital dentro da própria casa.
O valor que foi oferecido por dona Beatriz é três vezes mais do que o que Branca
ganha nos dois empregos. A única preocupação agora é como ela vai fazer para conseguir
a liberação do serviço diurno, sendo servidora pública.
Branca liga para a amiga Gleyce. Tudo de diferente que acontece, ela conta para
a melhor amiga: __ Alô, Gleyce! __ diz ela. __ Oi amiga! Eu já ia te ligar. Hoje eu tô de
folga. Vamos tomar uma cerveja? tô precisando muito. Briguei com Davi e não quero
ficar em casa sem fazer nada. __ diz Gleyce, super elétrica e sem dar chance da amiga
falar qualquer coisa. Gleyce parece ter hiperatividade. Ela é sempre muito elétrica e fala
muito. __ Ai amiga, de novo? Toda semana é uma briga. Vamos combinar lá em casa,
então. Preciso mesmo conversar. Beijos! __ diz Branca. __ Eu levo as cervejas e sorvete
pro Alecsander e você prepara seus petiscos deliciosos. Beijos! ___ Apressadamente fala
Gleyce antes de encerrar a ligação.
À noite na casa de Branca, ela conta da proposta de emprego para a amiga. Até
então, Branca não sabe que se trata da família de Renato Dias, o famoso cantor sertanejo.
__ Amiga do céu, que oportunidade maravilhosa! Você não pode perder. O salário é ótimo
e vai resolver todos os seus problemas. __ diz Gleyce, toda empolgada e vibrando
muito.__ Menos, né amiga. Todos os problemas também não, mas boa parte sim. __diz
Branca, bebendo a cerveja. __ E agora amiga, como você vai fazer pra conseguir a licença
do seu concurso? Você tem alguma ideia? __ pergunta Gleyce, preocupada com a amiga.
As duas estão sentadas no chão da pequena varanda da casa de Branca. Em uma
pequena mesinha tem uma badeja com alguns aperitivos e as garrafas de cervejas dentro
de um balde com gelo. Alecsander está na sala assistindo filme e tomando sorvete.
Branca pensa e não consegue achar um meio de conseguir a dispensa do serviço
sem ter que pedir a exoneração (demissão definitiva do concurso público). __ Não sei o
que fazer. Já fiz mil ligações. Já pedi ajuda a todo mundo que conheço e ninguém
consegue me ajudar. Tem que ter um jeito, um QI, um peixe... __ diz Branca. Gleyce que
está muito eufórica e parece ter tido uma ideia, não deixa Branca concluir a frase. ___
Um tubarão ou também pode ser chamado de super gato, ou super gostosão... __ diz ela.
Branca interrompe a amiga. __ Como assim maluca? Você já tá bêbada ou você teve uma
ideia de verdade? __ pergunta ela que aproveita e vira o restante da cerveja que ainda
tinha na garrafa long neck.
Gleyce se levanta e vibra de alegria. __ Amiga eu acabei de lembrar de alguém
que eu tenho certeza que vai te ajudar. __ diz Gleyce, cantarolando em ritmo de funk e
fazendo a dancinha do quadradinho. __ Fala logo, maluca. Anda, tô curiosa. __ insiste
Branca, sacudindo a amiga. __ O doutor Bonitão. __ responde Gleyce. Branca para e
pensa por alguns instantes. __ Você tá falando do doutor Samuel? __ pergunta ela,
franzindo a testa. __ E tem outro bonitão apaixonada por você e que tem muitos
contatinhos? __ responde Gleyce, no nível máximo de euforia. __ Amiga, menos né.
Apaixonado também não. Ele só quer me pegar mesmo. Você sabe muito bem disso. __
diz ela, já com a voz lenta e arrastada devido a bebida.
Até o momento, cada uma bebeu 3 garrafas long neck de cerveja. O grau de
alcoolismo de Branca já está no máximo, como ela sempre bebe muito pouco, qualquer
tanto já a deixa meio lerda e mais sorridente que o normal. __ Eu acho que apaixonado
sim senhora. __ Insiste Gleyce, que está menos alcoolizada que a amiga, a final, ela é
muito mais acostumada a beber.
Gleyce tem apenas 29 anos, mas sabe viver a vida como ninguém. Não pelo fato
de beber mais, mas pelo fato de não se importar com o que os outros pensam ou falam. E
assim ela vive intensamente todos os dias.
Branca não acredita que doutor Samuel esteja apaixonado por ela. __ Amiga, o
doutor Samuel é o maior pegador que eu já conheci. O cara não dispensa ninguém. Aliás...
__diz ela, olhando para a amiga. __ Ele já te pegou, amiga ? __ pergunta ela. Gleyce se
cala por alguns instantes e vira uma garrafa inteira de cerveja. __ Ah bem que eu
desconfiava. Já sim, não é? __ insiste Branca. __ Amiga, eu ia te contar. Juro que ia. __
responde Gleyce.
Branca fica surpresa e sem palavras. Não pelo fato da amiga ter saído com o cara
que ela também está afim, mas pelo fato de não ter contado nada para ela. __ Não tem
muito tempo, eu e Davi brigamos, ai eu descobri que Davi ficou com uma menina. Então,
eu fiquei com o doutor Samuel pra me vingar. Porque você sabe, né: mulher não trai.
Mulher se vinga. __ completa Gleyce. Branca sorrir.
As duas já estão um tanto bêbadas. Os risos ficam mais frequentes e mais altos, e
a cerveja começa a acabar. __ Amiga eu tô bege. Não acredito. Me conta ai: ele é tudo
isso que parece ser ou é só propaganda enganosa mesmo? __ pergunta Branca, curiosa.
Gleyce suspira antes de responder. __ Amiga... é... bem... __ gagueja Gleyce. __ Como
eu posso falar... ele é tudo isso sim e mais um pouco. Você tem que provar. Ele deixa a
gente completamente louca apaixonada. Meu Deus, que homem gostoso! Só de lembrar
eu fico daquele jeito. __ completa Gleyce, suspirando. __ Só amiga, que ele tem um
defeito muito grande. No dia seguinte, ele passa pela gente e finge que nem conhece. __
diz Gleyce, com um ar de decepção. __ Ai, que filha da puta! Eu já não queria, agora que
não quero mesmo. __ completa Branca, também com um ar de decepção. __ Mas vale a
pena. Só não pode se apaixonar. __ diz Gleyce, levando as mãos ao queixo. __ O que
também é difícil, viu... Não se apaixonar por ele. __ completa Gleyce que suspira. Ela se
encosta em Branca e continua contando a história. Ela conta que três dias depois ele ligou
e chamou ela para sair novamente. Eles foram a um barzinho junto com um grupo de
amigos dele e depois eles foram para um motel chiquérrimo. E no dia seguinte quando se
cruzaram no plantão ele a cumprimentou bem friamente. __ É amiga, e assim acabou a
nossa história de amor. __ completa ela. __ De amor não, de sexo né, amiga. __ diz
Branca, sorrindo e consolando a amiga. __ Amiga, eu tô bêbada, mas acho que com você
seria diferente. Porque ele fala muito de você. E nos plantões ele sempre vai te ver. Acho
que tá rolando sentimento ai. __ diz Gleyce. __ É porque eu nunca quis “dá” pra ele. É só
por isso. A hora que ele conseguir o que quer, no outro dia nem vai olhar na minha cara.
__ responde Branca com a voz já um tanto arrastada. __ Sei não, viu amiga. Mas uma
coisa é certa: ele pode te ajudar. __ completa Gleyce, se virando e pegando a última
cerveja. __ Vou falar com ele amanhã. Sei que vai custar caro, mas vou tentar, não posso
perder essa oportunidade. __ diz Branca. As duas se olham, batem as mãos uma da outra
e começam a sorrir.
O dia amanhece, Branca que acaba de acordar ainda está um pouco tonta da
bebedeira da noite passada. Ela liga para doutor Samuel que atende prontamente com
aquela voz sedutora: __ Oi gata! Tudo bom? Que milagre me ligar. Aconteceu alguma
coisa? __ diz ele surpreso. Ela nunca liga para ele. Em mais de três anos que trabalham
juntos ela não deve ter ligado nem cinco vezes para ele. __ Não doutor, digo, não Samuel.
__ diz ela, ainda deitada na cama. __ Agora tô muito preocupado. Me chamando pelo
nome. Só falta dizer que me ama. __ diz ele sorrindo. __ Oxe! não é hora pra gracinhas.
Eu preciso muito falar contigo. Preciso de um favor muito grande e você é minha última
esperança. __ diz ela que está deitada de barriga para baixo com as pernas flexionadas e
levantada. Ela veste apenas uma calcinha de algodão na cor branca e uma blusa bem
soltinha. Os cabelos estão bagunçados. __ Gata, pode falar. Se tiver ao meu alcance, com
certeza vou te ajudar. E a propósito, adoro esse sotaque nordestino seu. __ diz ele que
nunca perde a oportunidade de atentá-la.
Quando ela fica zangada, o sotaque nordestino fica mais acentuado. __ Vi a tua
escala, vi que você tá de plantão hoje à noite. A gente conversa lá no hospital. Tá bom?
__ diz ela, se virando na cama. __ Com certeza a gente conversa lá. Na verdade eu queria
está aí com você agora. Sei que deve tá bem à vontade porque deve ter acabado de acordar
e não deve tá vestindo quase nada. __ diz ele, com uma voz sedutora quase sussurrando.
Nesse momento ela sente o corpo esquentar. __ Mas que safado. Olha o assunto logo
cedo. __ diz ela, mostrado estar irritada, mas na verdade ela está adorando. __ Gata, você
tá vestindo o que agora? Ou não tá vestindo nada. Fico doido só de imaginar. __ diz ele,
cada vez mais atrevido. __ Então a gente conversa hoje à noite, tá bom? __ responde ela,
mudando de assunto. __ Ah não gata! Não desliga. Adoro conversar com você. Era
melhor se fosse ao vivo, mas você me despreza. __ diz ele, insistindo no assunto. __ Que
dramático. Nunca desprezei você. Mas hoje você tá muito atrevido ultimamente. __
completa ela.
No fundo ela gosta de provocá-lo, gosta de ouvir as besteiras que ele fala, mas só
ele. De outros colegas ela não permite nenhum tipo de gracinhas. __ Gata diz aí, você tá
vestindo o que? __ insiste ele. __ Mas você quer saber porque? __ pergunta ela, com um
sorriso meio safadinho no rosto. __ Pra imaginar você aqui ou eu aí... nós dois, sabe? Só
nós dois. __ diz ele. __ Essa conversa tá ficando complicada. Melhor a gente parar por
aqui. A gente se ver a noite. Beijos. __ diz ela. __ Não gata. Não desliga. __ insiste ele
__ Beijos Samuel. Até a noite. __ insiste ela, encerrando a ligação.
Ela deixa o telefone de lado. O corpo está quente, ardendo e latejando. __ Acho
que não quero mais resistir. __ diz ela, falando sozinha. __ É melhor resistir. Ele quer só
brincar mesmo e vou me machucar. É dona Branca, vamos tomar um banho pra baixar
esse fogo e vida que segue. __ diz ela se levantando da cama.
O dia passa e ela curte o filho. Eles vão ao cinema em um shopping próximo dali.
Como sempre, há pessoas indelicadas e indiscretas com todos os tipos de comentários.
Todas as vezes que ela sai com o filho, sempre tem aqueles curiosos que olham para o
garoto e comentam alguma indelicadeza. Alecsander já está acostumado, mas também
ainda é criança e não tem muita noção da maldade, mas Branca fica valente com as
perguntas e os olhares de pena. __ Mas tão pequeno e já na cadeira de rodas. O que foi
que aconteceu com ele? Nasceu assim? __ pergunta uma mulher que aparenta ter uns
quarenta e poucos anos e que está na fila para também comprar ingressos para o cinema.
__ Foi um acidente de trânsito. __ responde Branca. __ Coitadinho! __ insiste a mulher.
Branca se irrita. __ Coitadinho não. Agradeço a Deus pela vida do meu filho. __ diz ela,
irritada. __ Acho uma pena esse garotinho lindo nunca mais poder andar. Ele tá fazendo
acompanhamento com a psicóloga? Porque precisa. __ insiste a mulher. __ Sim. Ele está.
__ ela responde já bem irritada.
Alecsander nem presta atenção na conversa. Ele apenas observa o movimento do
shopping e brinca com um bonequinho que Branca comprou para ele.
Ao retornar para casa, o motorista de aplicativo também especula o que aconteceu
com o garoto. Branca não se incomoda de falar do assunto, desde que seja assunto
pertinente e não apenas curiosidades maldosas.
A noite durante o plantão, ela encontra com a amiga Gleyce. __ Amiga, o Samuel
tá em cirurgia. Vou esperar terminar e vou lá no repouso conversar com ele. Tomara que
ele possa me ajudar. A senhorinha me ligou hoje perguntando se posso começar na
segunda. Falei que dou a resposta amanhã. __ diz ela, bastante ansiosa. __ Vai dar certo
amiga. O gato do Samuel vai te ajudar, você vai ver. Ele é doido pra tirar uma casquinha
sua, e não vai perder essa oportunidade. __ diz a amiga, sorrindo. __ Será que ele vai me
ajudar só se poder tirar proveito disso? __ pergunta Branca, pensativa. __ Amiga, lógico
que não. Você me conhece, eu só falo besteira mesmo. Não leve em consideração o que
eu falei. O doutor Samuel é gente boa. Sei que vai dá um jeito de te ajudar. __ completa
Gleyce.
Gleyce tem razão em uma coisa: com certeza ele não vai perder essa oportunidade
de se aproximar ainda mais de Branca.
As duas amigas conversam por mais alguns minutos e depois Gleyce vai para o
setor de lotação dela.
Por volta das 23:30 horas, Branca vai até o repouso dos médicos. Ela bate na
porta, abre e entra. Doutor Samuel estar sozinho assistindo televisão deitado em uma das
três camas que tem no quarto. __ Boa noite! __ diz ela que logo se senta em uma das
camas. __ Oi gata! Que surpresa você aqui. Veio dormir comigo? __ responde ele se
levantando e se sentando na cama ao lado dela. Ela olha bem para ele e ver que hoje ele
está irresistivelmente mais gato e atraente do que nos dias anteriores.
Ele está vestindo uma camisa social manga longa na cor preta que marca bem o
peitoral malhado dele, calça jeans azul marinho e justa que marca o quadril deixando bem
volumosa a região da braguilha. __ Ai ai! E eu tenho tempo pra dormir? Não sei o que é
isso não. E você não tem jeito mesmo. __ diz ela. __ Você pode dar um jeito em mim. É
só você querer. __ responde ele, com um sorriso bem safado no rosto. __ Samuel deixa
de graça. Preciso mesmo da tua ajuda. __ insiste ela, mudando de assunto.
Ela está muito ansiosa e eufórica por causa da proposta de emprego que recebeu,
mas mesmo assim ela lança olhares para o corpo dele como se quisesse devorá-lo bem ali
mesmo naquele quarto. Ela se sente muito atraída por ele e o tesão parece que a cada dia
acumula mais.
__ Em que eu posso te ajudar, gata? Me fala? Se tiver ao meu alcance com certeza
eu farei. Ainda mais sendo pra você: a gata da minha vida. __ diz ele todo faceiro.
Branca explica a proposta de emprego que recebeu. Doutor Samuel escuta
atentamente ao mesmo tempo que lança olhares para o colo dela. Ele a devora com os
olhos. __ Tenho um grande amigo na secretaria de saúde. Amanhã cedo ligo pra ele. __
diz ele. __ Olha, eu tenho férias vencida e tenho uma licença de 6 também vencida. Se
puderem liberar, vai me ajudar muito porque assim eu continuo com o meu salário da
prefeitura e também é um direito meu gozar da minha licença, né. __ diz ela, apreensiva.
Doutor Samuel é a última esperança dela de conseguir a liberação do serviço. __
Gata, se depender de mim você não goza só sua licença não. __ diz ele, com um sorriso
safado e levando a mão até o rosto dela. __ Mas hoje você tá bem safado, em. __ Você
me deixa assim. __ responde ele __ Sei. Eu e toda a torcida feminina do Flamengo, né?
__ retruca ela. __ Que isso gata! Eu gosto de você de verdade. Me dá uma chance que eu
provo pra você que não quero só uma diversão. __ Insiste ele. Branca fica em silêncio. __
Amanhã vou resolver essa questão sua. E depois você vai aceitar meu convite pra jantar?
__ pergunta ele. __ Você está pedindo um preço em troca do favor? __ pergunta ela,
irritada. __ Lógico que não, gata. Te chamo pra sair tem três anos e você nunca aceitou.
Só quero jantar com você, e não jantar você. Entendeu? __ diz ele, com um tom de voz
um pouco mais alto que o normal. Ele sempre fala com um tom de voz baixo e devagar.
__ Nós vamos a um restaurante que eu gosto muito. Eu te busco em casa, a gente janta e
eu te deixo em casa novamente. A não ser que você queira ir conhecer o meu apartamento
depois... __ diz ele levando a mão até o colo dela. Ela segura a mão dele antes que encoste
nela e interrompe a fala dele. __ Tava indo tudo certinho ai você estraga tudo. __ diz ela,
segurando a mão dele. __ Deixa eu terminar de falar, moça estressada. __ completa ele.
__ A não ser que você queira ir para o meu apartamento tomar um vinho, somente isso.
Eu te prometo. __ Sei __ responde ela.
Ela se levanta e se senta na outra cama bem a frente dele. __ Então vamos fazer
diferente... Vamos fazer uma aposta, já que você acha que eu quero só sexo. __ diz ele,
ao mesmo tempo que se levanta e estende a mão para ela. __ Vamos gata, aposta comigo?
__ completa ele. __ Sei não. __ diz ela também se levantando. __ Vou levar você pra
jantar, depois pra conhecer o meu apartamento e minha filha linda, a Lola. E mesmo que
você fique bêbada e implore pra eu te beijar, pra te abraçar, pra te levar pro meu quarto,
eu vou resistir e não vou ceder as suas vontades. __ diz ele, sorrindo.
Lola é uma cadelinha que doutor Samuel adotou quando acidentalmente atropelou
ao retornar de um plantão noturno.
__ Tô falando sério gata. Aposta comigo? __ insiste ele, estendendo a mão
novamente. __ E se você não se comportar e perder? O que acontece? __ pergunta ela. __
Eu nunca mais te encho o saco. __ responde ele sério. ___E se você ganhar? __ pergunta
ela, com um ar de preocupação. __ Eu ganho um jantar com você. __ responde ele. Branca
então estende a mão e se aproxima dele. __ Aposta aceita, senhor Samuel. Eu topo. Você
trate de fazer as tuas ligações amanhã. __ diz ela, apertando a mão dele. Ele aproveita e
puxa ela pela mão. Ela tropeça e cai nos braços dele. Ele olha bem nos olhos dela e
devagar vai aproximando seus lábios dos lábios dela. Ela fica com as bochechas
completamente vermelha e a temperatura do corpo aumenta como se estivesse com febre.
Ela faz um movimento na tentativa de sair dos braços dele, mas ela não usa força porque
ela não quer sair daqueles braços fortes. __ Para de fugir de mim. Eu sei que você também
quer. __ diz ele, com um tom de voz baixo quase como um sussurro enquanto segura ela
nos braços. Branca permanece em silêncio, taquicárdica e taquipnéica (coração e
respiração acelerada). Doutor Samuel sente as pulsações do coração dela, que cada vez
bate mais rápido e mais forte. __ Você precisa de um cardiologista urgente pra examinar
esse coraçãozinho seu. Tá muito acelerado. __ diz ele, sorrindo. Ela olha bem nos olhos
dele e quando ele se aproxima para beijá-la, eles escutam um barulho vindo do corredor
e apressadamente ela sai dos abraços dele. __ Me solta, Samuel. Alguém pode entrar e
ver a gente assim desse jeito. E o que irão pensar? __ diz ela, com uma voz mansa e quase
rouca ao mesmo tempo que o empurra. __ Não me importo com o que os outros falam ou
pensam. __ responde ele. __ Estamos trabalhando. Aqui não é lugar e nem hora pra isso.
Vou voltar pro meu setor. Faça suas ligações amanhã. __ diz ela, caminhando até a porta
de saída. __ Gata, pode ligar amanhã e aceitar o emprego. Beijos. Também te amo. __ diz
ele, sorrindo. __ Até breve Samuel. Bom descanso pra você. __ responde ela ironizando
o fato dele ir descansar enquanto ela vai trabalhar. Ele mais uma vez fica ali parado,
excitado, vermelho e ofegante. __ Essa mulher tá me deixando doido. __ diz ele falando
sozinho enquanto arruma “as coisas” dentro da calça.
Branca sai do quarto e vai até o setor de Gleyce. __ Amiga, falei com o Samuel.
__ diz ela sacodindo as mãos, toda empolgada. __ E aí amiga? Ele vai te ajudar? Ah! É
lógico que vai, né? A pergunta é diferente. O que ele pediu em troca? __ pergunta Gleyce,
sorrindo. __ Amiga, ele pediu pra jantar com ele. __ responde Branca. Ela se senta na
cadeira e leva uma das mãos ao queixo. __ Sei...jantar com você ou jantar você, amiga?
__ pergunta Gleyce. __ Ai amiga, vou te explicar tudinho. __ responde Branca, ao mesmo
tempo que dá um tapinha no braço da amiga.
Ela explica tudo o que aconteceu e a amiga fica super empolgada. __ Amiga e se
você perder essa aposta? Se bem que se fosse eu, iria fazer questão de perder a aposta
mesmo.__ diz Gleyce. Branca sorrir. __ Eu não vou perder. Vou provocar bastante até
ele perder. Você vai ver, eu vou ganhar. __ responde ela com firmeza na voz e balançando
a cabeça com gesto de afirmação. __ É amiga, do jeito que ele é doido pra te pegar, digo,
doido por você, ele vai perder mesmo. __ diz Gleyce. As duas sorriem.
O dia amanhece. Branca termina de preparar o setor para a passagem de plantão
e segue para o banheiro para passar o protetor solar e retocar a maquiagem e depois ela
vai registrar o ponto de saída. __ Amiga boa sorte e não deixe de me dar notícias. __ diz
Gleyce, na pequena fila para registrar o ponto. __ Dou sim amiga. Te ligo assim que tiver
alguma resposta. Beijos. Bom descanso. __ se despede ela.
Finalmente Branca chega em casa. Ela passa direto para o banheiro, toma um
banho e deita um pouco até a hora de ir buscar o filho que a esta hora já está na escola.
Hoje o resto do dia será para acompanhar ele nas terapias com o fisioterapeuta e a
psicóloga.
Chega o final da manhã. Branca já está na escola aguardando para falar com a
coordenadora enquanto o filho ainda está na sala de aula. __ Oi, Boa tarde Branca! Pode
entrar. __ diz a coordenadora abrindo a porta. Branca entra e se acomoda numa cadeira
__ Oi Samanta! Vim saber como está o meu garotinho. Ele tá dando muito trabalho pra
vocês? __ pergunta ela. __ Ele não dar trabalho de jeito nenhum. É um anjo. __ responde
Samanta, a coordenadora da escola onde Alecsander estuda.
Samanta é uma mulher de aproximadamente 45 anos, alta, magra, cabelos curto e
preto. É muito séria. __Todos na escola são apaixonados pelo Alecsander. __ diz
Samanta. Branca fica mais aliviada. __ Graças a Deus! __ responde ela. __ Você sabe
que aqui trabalhamos bastante a inclusão social. Somos totalmente contra qualquer tipo
de discriminação, preconceito, bullings ou qualquer outra coisa que venha a afetar
emocionalmente, psicologicamente ou fisicamente nossos alunos, por isso somos uma
escola com poucos alunos justamente para podermos fazer um bom trabalho. __ completa
Samanta, que está sentada bem ao lado de Branca. __ É por isso que escolhi vocês aqui,
pra juntos cuidarmos do meu filho. Depois do acidente, meu maior medo era justamente
como ele seria tratado na escola. Eu morria de medo de bullings. E graças a Deus, vocês
aqui são todos ótimos. Sou imensamente agradecida. Sei que meu Alecsander está em
boas mãos. __ diz Branca, cheia de elogios à escola. __ Aqui todos se respeitam. E quando
percebemos alguma coisa de anormal, e que não se encaixa com os nossos princípios,
logo tratamos de corrigir. E a interação com a família tem sido a nossa maior aliada. __
completa Samanta.
A escola que Alecsander estuda é bem conceituada na cidade. E como quase tudo
que é bom tem o seu devido valor, Branca sofre todo mês para pagar a mensalidade, não
porque ache caro, ela não acha caro o que é bom, mas é pelo fato de ter muitas despesas
e o que ganha mal dá para pagar todas as contas. Ela sempre chega ao final do mês sem
ter nenhum dinheiro sobrando no bolso e muitas vezes até falta. Mas com certeza vale a
pena o sacrifício que ela faz. Branca tinha pavor do filho ter que passar por
constrangimentos com brincadeirinhas de mal gosto na escola e isso acabar causando
alguma revolta no garoto. Já basta o fato dele não poder andar, que já é muito para a
cabeça dele.
Da escola, ela e o filho seguem para a clínica de psicologia. __ Então Branca,
Alecsander está ótimo. Daqui a pouco vou ter que dar alta pra ele. __ diz a psicóloga. __
Eu gostei do joguinho de hoje, mamãe. __ diz Alecsander, se referindo a dinâmica da
terapia. __ É verdade. Hoje ele me ganhou por duas vezes. __ reafirma a psicóloga. __
Que bom, meu amor. Depois você me ensina esse joguinho, quero ver se vai me ganhar
também. __ diz Branca, passando a mão na cabeça do filho. __ Com certeza eu vou
ganhar, mamãe. __ completa Alecsander, todo empolgado. __ Muito obrigada por cuidar
tão bem do meu filho. __ diz ela, preparando para sair do consultório. __ Fique com Deus!
Até semana que vem. __ completa a psicóloga.
No meio da tarde, Branca e Alecsander estão no ponto de ônibus quando o telefone
dela toca. É uma ligação dos Recursos Humanos da prefeitura solicitando que ela
compareça até lá. __ Meu amor, se for o que eu tô pensando, a sua mamãe acabou de
arrumar outro serviço e vamos ter um pouquinho mais de dinheiro. __ diz ela vibrando
muito.
Chegando ao Recursos Humanos da prefeitura, ela recebe a notícia que tanto
esperava: que o processo que deu entrada solicitando os seis meses de Licença por
assiduidade foi deferido (concedido) e também foi autorizado as férias que estão vencidas.
A alegria é tanta que chama a atenção de todos ali. __ É senhor Alecsander, nós vamos
sair um pouquinho do aperto. E sabe o que nós vamos fazer agora? __ diz ela, empurrando
a cadeira de rodas até o ponto de ônibus. __ O que mamãe? __ pergunta o filho. __ Nós
vamos tomar um sorvete num lugar bem legal, porque nós merecemos. __ responde ela,
com um sorrisão estampado no rosto. __ Oba! Eu quero dois sorvetes bem grandão... Dois
não eu quero três. Pode né mamãe? __ diz o garotinho, vibrando. __ Claro que pode. Hoje
pode tudo. Opa! Quase tudo, né filhão. __ responde ela.
Ao chegar à sorveteria, Branca liga para Gleyce e conta sobre o ocorrido. __ Pois
é amiga, o filho da mãe do Samuel conseguiu. Tô encantada com ele. Vou ligar agora pra
agradecer e marcar o tal jantar. Beijos. __ Branca finaliza a conversa e liga para o doutor
Samuel.
Ela e o filho estão em uma sorveteria num bairro nobre de São Paulo. Sentados
ela toma um gigante sorvete e Alecsander um banana Split, ambos estão de frente para a
rua. Ela liga para doutor Samuel e enquanto a ligação chama ela olha para a rua e ver ele
saindo de um pet shop segurando uma cadelinha e de mãos dadas com uma linda moça.
Ela fica em choque, de boca aberta e espantada olhando para ele passando bem na frente
da sorveteria. Ele pega o telefone no bolso, olha a ligação e deixa tocar até ser
encaminhada para a caixa postal. Branca fica arrasada. O semblante muda e a alegria que
estampava o rosto dar lugar a uma expressão de tristeza. Ela esfria, muda de cor, fica
pálida e decepcionada com a cena que está vendo. __ Mas que filho da puta! __ diz ela,
em pensamentos. __ É um cretino mesmo. Me enrolando dizendo que tava solteiro. __
completa ela, em pensamentos. Alecsander percebe o silêncio da mãe. ___ Mamãe, o que
foi? Você tá com essa cara por que? __ pergunta ele, preocupado. __ Nada não, meu amor.
Achei que tinha visto uma pessoa conhecida, mas me enganei, eu realmente e
decididamente não o conheço. __ diz ela, decepcionada. __ Não conhece quem, mamãe?
__ insiste Alecsander. __ Não é ninguém, meu amor. Ninguém. __ diz ela, olhando doutor
Samuel entrando num belo carrão junto com a moça que mais parece uma modelo de
passarelas.
Branca perde totalmente à vontade e o prazer de tomar o sorvete e deixa de lado
derretendo. O pensamento vai no marido, que para ela sempre foi um amor e ela nunca
teve se quer uma decepção com ele. __ Quantas saudades eu sinto de você, meu amor.
__ diz ela, em pensamentos e com os olhos cheios de lágrimas. Mas ela se mantém firme
por causa do filho. Desde o acidente, ela nunca chora na frente dele. __ Vida que segue.
__ diz ela.
A noite chega. Em casa lavando a louça do jantar, Branca não esquece a cena que
viu mais cedo de doutor Samuel de mãos dadas com uma linda moça. __ Deixa ele vir
com aquela conversa mole dele: “gata, você tá muito linda hoje”, “gata, também te amo”.
Filho da mãe...filho da mãe não, a mãe não tem culpa de nada. __ diz ela, falando sozinha
na cozinha enquanto lava a louça. __ Mamãe! Mamãe! Seu telefone tá tocando. __ grita
Alecsander, da sala. __ Já estou indo meu amor. __ responde ela, secando as mãos com
um pano de prato. Ela chega até a sala e se assusta ao ver que a ligação é de doutor
Samuel. __ Mas é um safado mesmo. __ diz ela, falando baixinho, mas Alecsander
escuta. __ O que você falou mamãe? __ pergunta Alecsander. Ela disfarça a cara de raiva.
__ Nada não, meu amor. __ responde ela, retornando para a cozinha com o celular na
mão.
Ela não atende e deixa tocar até a ligação ser encaminhada para a caixa postal.
Mas doutor Samuel insiste e ela se irrita com o barulho do celular. __ Mas que merda! Eu
não vou atender. Será que esse cara não se toca? __ diz ela, irritadíssima. __ Vai ligar até
cansar. __ completa ela, voltando a cabeça para o telefone como se estivesse conversando
com o aparelho.
Pela quarta vez, doutor Samuel insiste na ligação e ela decide atender: __ Oi,
Samuel! __ diz ela, em alto tom. __ Oi gata! Aconteceu alguma coisa? __ pergunta ele.
Branca respira fundo e faz alguns segundos de silêncio. __ Alô! Tem alguém aí? __ insiste
ele. __ Oi, doutor Samuel! Tudo bom? __ pergunta ela, com um tom de voz mais calmo.
__ Estou melhor agora que tô falando com você. __ responde ele. __ Te liguei hoje à tarde
pra te agradecer. Deu certo lá na prefeitura. Muito obrigada! __ diz ela, com uma voz
triste. __ Pois é, eu estava na academia quando você ligou e deixei o telefone em casa.
Que bom que deu tudo certo. __ diz ele. Branca faz aquela cara de raiva misturada com
decepção ao ouvir ele falar que estava na academia. __ Sei qual é a academia que você
estava. __ diz ela, em pensamentos. __ Pois é. Então muito obrigada! __ diz ela, apressada
para encerrar a conversa.
Ele percebe que algo está errado. Ela nunca o tratou assim friamente. Ela briga
bastante com ele, mas são brigas calorosas que mais parecem brincadeiras e ele já está
acostumado. __ Essa notícia é tão boa pra você, mas sinto que você não está muito
entusiasmada. E voltou a me chamar de doutor. Aconteceu alguma coisa, gata? Eu fiz ou
falei alguma coisa que te magoou? __ pergunta ele, preocupado. Ela respira fundo e pensa
bem no que vai falar: __Não. Pelo contrário, você me ajudou e muito. Sou muito grata. É
que meu dia hoje foi cansativo, mas tô muito feliz e devo muito a ti. __ diz ela, agora
mais calma. __ Não fiz mais do que a minha obrigação, gata. Se é pra te ajudar, eu movo
montanhas. __ diz ele, super empolgado. __ Sei! __ responde ela. __ Você não tem
obrigação nenhuma comigo. Fez porque é uma pessoa boa e sou muito agradecida mesmo.
__ completa ela.
Ainda na cozinha, ela para o que está fazendo, se senta numa cadeira e se debruça
sob a mesa. Ela leva uma das mãos para apoiar a cabeça e faz aquela cara de “paisagem”.
__Fiz porque gosto de você, gata. E sei que você precisa muito. Agora sou seu protetor.
__ diz ele enquanto ela imita ele falar. __ Fico lisonjeada com toda essa proteção, mas
não quero te incomodar mais não. Muito obrigada e Fique com Deus! __ diz ela, tentando
despachá-lo. Ela dessa vez realmente não quer falar com ele. __ Já estou com saudades.
Essa semana não tenho plantão no hospital, mas eu queria muito te ver. __ diz ele,
mudando o assunto. __ Tô muito atarefada essa semana, mas a gente vai se falando, tá
bom? E eu não esqueci da aposta que fizemos. __ diz ela. __ Gata, não tô cobrando nada.
Só tô dizendo que estou com saudades. __ insiste ele, intrigado. Realmente ele se
preocupa com ela. __ Eu tô muito ocupada mesmo. Preciso desligar. __ responde ela, mas
ele interrompe. __Você tá me despachando, não é? Tudo bem. __ diz ele. __ Não é isso.
Me desculpe se te passei essa impressão. __ diz ela. __ Gosto mesmo de você, mas você
não gosta de mim, não é? __ insiste ele __ Você é um cara legal, muito bacana. Gosto de
você, mas não do jeito que você quer. Gosto como amigo. __ responde ela. É lógico que
ela está mentindo só para si, porque a ele, ela não engana. Ela está chateada com a mentira
que ele falou. Por que ele não disse a verdade? Por que ele não disse que tem namorada
e estava com ela na hora em que ela ligou?
__ Você tem certeza que não gosta de mim do jeito que eu quero? __ pergunta ele,
insistindo no assunto. __ Samuel, essa conversa tá ficando sem graça. Vamos desligar.
Amanhã meu dia tá cheio. Beijos. Fique com Deus. __ responde ela que ainda está
arrasada pela cena que viu e pela mentira.
__ Não desliga gata. Conversa comigo. Tô tão carente e sozinho aqui nesse
apartamento. __ diz ele com aquela voz sedutora que só ele tem. __ Que cafajeste
mentiroso. __ diz ela em pensamentos. __ Ai menino chorão e solitário, coitadinho. __
responde ela com ironia. __ Ele podia chamar a moça que estava com ele hoje à tarde pra
suprir a carência dele. __ diz ela em pensamentos, mas morrendo de ciúmes. __ Você
podia vir ficar comigo aqui. Eu prometo me comportar. __ responde ele. Nesse momento
a campainha do apartamento dele toca. Ele se levanta, vai até a porta e pelo olho mágico
ele ver uma linda moça. __ Um beijão gata. Sonha comigo viu. Que eu vou sonhar com
você a noite toda. __ diz ele, apressado para encerrar a ligação. Ela fica sem entender: ora
ele não quer desligar e ora ele se despede apressadamente. __ Então tá. Fique com Deus!
Até breve. __ responde ela. __ Não entendi foi nada. __ diz ela, falando sozinha olhando
para o telefone.
Doutor Samuel abre a porta e a linda mulher entra. Não é a mesma que estava com
ele hoje à tarde quando Branca estava na sorveteria.
A moça o cumprimenta com um beijão na boca. Ele a abraça e continua o beijo
enquanto caminham para dentro do apartamento.
Na casa de Branca, ela termina de lavar a louça e vai ajudar o filho com as tarefas
da escola. __ Ai Branca, você deve tá muito carente mesmo, viu. O cara tava com a
namorada, você viu e ainda tá pensando nele? Larga de ser besta, mulher. __ diz ela em
pensamentos.
CAPÍTULO 3:
Tudo novo, de novo.
Chega a tão segunda feira esperada por Branca para começar no novo emprego.
Ela chega à mansão e vai direto para o quarto de Rafaela para receber o plantão de sua
colega que fica durante as noites, a enfermeira Letícia. Rafaela ainda dorme. Hoje é o dia
da primeira sessão de quimioterapia da garotinha.
No quarto, ela se senta em uma poltrona para esperar a garotinha acordar. Ela abre
um livro sobre oncologia pediátrica e começa a ler.
Branca não tem nenhuma experiência em oncologia e nem com pediatria, mas ela
tem muita vontade de aprender, coragem para estudar mesmo estando muito cansada e
ela também tem muita dedicação e amor à profissão.
Passam-se mais ou menos trinta minutos e entra no quarto nada mais nada menos
que o famoso cantor sertanejo Renato Dias: o cantor sensação do momento no Brasil. Ele
tem 36 anos, 1.87 metros de altura, cavanhaque cheio, pele clara, corpo malhado, olhos
verdes, cabelo claro. Simplesmente um deus grego, como diria a maluquinha da Gleyce,
se estivesse ali.
Renato caminha pelo quarto até o leito de Rafaela e cumprimenta Branca: ___
Bom dia! __ diz ele. Branca olha para ele e fica totalmente sem ação, espantada e sem
palavras com o queixo totalmente caído. Decididamente ela não sabe se o cumprimenta,
se chora ou se sai correndo. __ Bom...bom dia! __ responde ela, gaguejando. __ Você é
a nova enfermeira que vai cuidar da minha princesinha? __ pergunta ele, olhando para a
filha e fazendo carinho no rostinho da garotinha que ainda dorme. __ É sim, senhor. Meu
nome é Branca. Muitíssimo prazer. __ diz ela, muito nervosa e estendendo a mão para
cumprimenta-lo. __ O prazer é todo meu em saber que você vai cuidar muito bem da
minha pequena. __ responde ele, apertando a mão dela.
Ela fica extremamente nervosa e as mãos parecem uma pedra de gelo. __ Mas
você é o Renato Dias!!!???? __ diz ela, ainda de queixo caído. __ Sim. Sou eu mesmo.
__ responde ele, com um sorriso discreto e o semblante abatido. Nesse momento, dona
Beatriz entra no quarto e interrompe a conversa: __ Bom dia crianças! Branca minha
querida, Letícia lhe passou tudo o que você precisa saber para a quimioterapia de hoje?
__ pergunta ela, se aproximando de Branca e cumprimentando ela com um abraço e um
beijo no rosto. __ Sim, dona Beatriz. Ela me explicou tudinho. Tô só esperando dar o
horário pra ligar para o médico e ver se vai precisar de mais alguma coisa. __ responde
ela, sem conseguir parar de olhar Renato. __ Minha mãe, a senhora conversou com essa
moça sobre sigilo? Não quero que ninguém saiba o que tá acontecendo com a minha filha.
Ainda não é a hora de expor a Rafaela. __ diz ele, se voltando para a mãe. Branca responde
antes que dona Beatriz fale qualquer coisa: __ Quanto a minha pessoa, vocês podem ficar
totalmente despreocupados. Eu sou muito discreta. E como falei para a senhora, dona
Beatriz... __ diz Branca, se virando para olhar dona Beatriz. __ Tenho muita ética. Por
mim ninguém vai ficar sabendo de nada. E vou fazer o que estiver ao meu alcance para
dar conforto a sua filha, seu Renato. __ completa ela, se voltando novamente para olhar
ele.
Dona Beatriz tranquiliza o filho informando que foi uma indicação da amiga Laura
e que também o curriculum de Branca é muito bom. __ Rafaela está em boas mãos. __
informa dona Beatriz. __ Essa semana eu volto a fazer shows e vou ficar uns dias longe
da Rafa. Quero que ela fique bem. __ diz Renato, preocupado. __ Eu entendo a sua
preocupação perfeitamente. O que depender de mim, sua filha será muito bem cuidada.
__ responde Branca tranquilizando a todos.
A equipe de saúde responsável pelo tratamento de Rafaela, que é composta por
dois médicos, sendo um oncologista e um intensivista e dois técnicos de enfermagem
chega à mansão. Renato faz questão de estar presente na primeira sessão de quimioterapia
da filha.
O procedimento começa e Renato se mantém o tempo todo com uma expressão
triste ao ver a filha chorosa, triste, desolada e sem a mãe ali para dar colo.
Ele observa todo o cuidado e carinho da equipe com filha. Branca quem punciona
a veia de Rafaela para receber a medicação e a garotinha chora muito pedindo pela mãe.
__ Eu quero a minha mamãe. Papai vai chamar a minha mamãe. Eu quero a minha mamãe.
__ diz a garotinha chorando bastante. Renato segura a mãozinha dela e faz carinho. A
equipe observa o desespero da garotinha, que parece estar sofrendo muito mais pela
ausência da mãe do que pelo procedimento que está sendo feito.
Branca fica perdida no meio do desespero da criança implorando pela companhia
da mãe. Renato se emociona. __ Meu amor, papai já conversou com você. A mamãe não
está mais aqui. Ela foi morar no céu. __ diz ele tentando consolar a filha. Branca não
gosta que usem esse termo para explicar o falecimento de alguém. __ Papai, pede pro
papai do céu devolver a minha mamãe. __ pede a garotinha, chorosa. __ Porque ela foi
embora e me deixou? Eu quero ir pro céu com a minha mamãe. Pede pra ela vir me buscar
papai, pede? __ diz a garotinha, desesperada.
Branca se emociona. As lágrimas começam a escorrer pelo rosto dela. Dona
Beatriz também chora. O restante da equipe de saúde fica em silêncio. Renato não aguenta
o sofrimento da filha e sai emocionado do quarto ___ Eu não aguento ver a minha filha
desse jeito, minha mãe. Não consigo ficar aqui. __ diz ele, se levantando da cadeira e
saindo do quarto.
Todos ali estão emocionados, parados e em silêncio. De repente Branca tem uma
ideia: __ Rafaela, posso te contar uma historinha? Eu sempre conto pro meu filho dormir,
mas agora ele se acha grande e não gosta mais das minhas historinhas. __ diz ela, olhando
para a garotinha. __ Não. Eu não quero. Eu quero a minha mamãe. __ interrompe a
garotinha, sem deixar Branca terminar de falar. __ Rafaela eu sinto muita falta de contar
histórias pro meu filho. Me permite matar essa saudade lhe contando uma historinha? Por
favor, diz que sim? __ insiste Branca, fazendo gestos com a mão implorando. A garotinha
não aceita e continua chorando.
Rafaela tem 4 anos de idade. Ela é loirinha do cabelo longo e com uma franjinha
que deixa rostinho dela bem delicado e infantil. Ela se parece muito com o pai. Os olhos
são verdes e a pele clarinha. Ela nunca foi uma garotinha mimada, mas desde a perda da
mãe ela ficou um tanto revoltada. E as terapias com a psicóloga que ela vem fazendo três
vezes por semana tem dado um resultado muito bom.
Branca não desiste e insiste: __ E se eu te disser que essa historinha é sobre a sua
mamãe, você acredita em mim? __ diz ela, sussurrando no ouvido da garotinha.
De repente a garotinha para de chorar e olha para Branca. __ Você sabe aonde tá
a minha mamãe? __ pergunta Rafaela, com os olhinhos brilhando cheios de lágrimas. __
Sim. Eu sei. Só que tem que ser um segredo só de nós duas. __ informa Branca
sussurrando e secando as lágrimas que escorrem pelo rostinho da garotinha. __ Sua
mamãe está no mesmo lugar onde está o meu o marido, o pai do meu filho. E eu vou pedir
pra ele dar um recado pra sua mamãe, tá bom? __ completa ela, ainda sussurrando para
que os demais presentes no quarto não escutem. E realmente ninguém escuta o que elas
estão conversando, mas todos ficam bem aliviados em ver que a garotinha parou de
chorar. __ Tá bom. __ responde Rafaela, balançando com a cabeça sinalizando que sim.
Branca pede que todos se retirem do quarto porque ela e Rafaela têm uma missão.
Dona Beatriz então conduz todos para fora do quarto. Recebendo a medicação, Rafaela
escuta atentamente a historinha que Branca conta. É uma história da Mulher Maravilha,
inventada por ela e do mesmo jeito que ela contava para o filho Alecsander. __ “...e é
mais um dia de aventura para a Mulher Maravilha. Mais uma vez ela é chamada para
resolver os problemas de uma cidade bem distante daqui. Uma cidade onde uma garotinha
bem legal sofre nas mãos da madrasta malvada...” __ fala Branca, contando a historinha.
Rafaela interrompe: __ Mas e a minha mamãe, cadê ela? __ pergunta Rafaela. __ Calma
minha gatinha. Tenha paciência que na hora certa você vai saber todo o segredo. Mas
você tem que confiar em mim e ter muita paciência. __ explica Branca, sentada em uma
poltrona bem ao lada da garotinha. Rafaela se acalma novamente e Branca continua
contando a historinha.
Renato abre a porta do quarto e se espanta ao vê as duas conversando e sorrindo.
Ele para bem na entrada, se encosta na porta , cruza os braços e fica observando as duas.
Ele estampa no rosto um sorriso discreto e uma expressão de alívio.
Ao término da história, sem notar que Renato está parado ali olhando, Branca se
levanta e faz uma medicação na garotinha. Ela ver que Rafaela já está quase dormindo e
quando se vira em direção a porta, vê Renato parado na entrada. __ Ela já está melhor,
seu Renato. Não se preocupe, ela vai ficar bem. __ diz ela. Renato se aproxima do leito,
pega nas mãozinhas da filha e fica em silêncio a observando por alguns minutos. Branca
vai até a equipe de saúde, que aguarda na sala, e avisa que a garotinha já está dormindo.
Ela retorna e ver Renato na mesma posição e emocionado com lágrimas escorrendo pelo
rosto. __ Ela é tudo o que eu tenho hoje na minha vida. Dinheiro, fama, nada disso tem
nenhum valor. O meu maior bem é a minha filha. __ diz ele. Branca encosta na parece,
cruza os braços e observa. __ Eu sei bem o que o senhor está sentindo nesse momento,
seu Renato. __ Acho que você não sabe. __ afirma ele prontamente, quase interrompendo
a fala dela. __ Sei sim. Passei por situação parecida há quatro anos. Não gosto de lembrar,
mas às vezes é preciso. __ afirma ela. __ A dor que eu sinto é insuportável. Às vezes acho
que não vou aguentar. __ diz ele, fazendo carinho nas mãos da filha que está dormindo.
__ Sei muito bem a intensidade dessa dor. __ insiste ela. Renato fica calado.
Dona Beatriz entra no quarto e abre um sorriso de alívio ao ver a netinha bem e
dormindo. __ Que benção. Muito obrigada, Branca. Vi que você contornou a situação e
conseguiu acalmar a minha netinha. Eu sabia que você era boa com crianças. Eu nunca
me engano com as pessoas. __ diz dona Beatriz, com uma expressão de alívio no rosto.
__ Meu filho, vamos ali comigo. Quero conversar com você um assunto. __ diz dona
Beatriz, pegando na mão do filho. Os dois saem do quarto e vão em direção ao jardim.
Branca, da janela observa os dois caminhando. __ Tanto dinheiro, mas não podem
comprar a saúde da filha...nem a vida da esposa e nem a felicidade também. Minha vida
pobre e cheia de contas pra pagar, creio que esteja bem melhor. __ diz ela, falando
sozinha.
Ao final do dia, ela se despede de Rafaela e vai embora. Em casa, ela dá um abraça
bem forte no filho e conta como foi o dia. __ Pois é meu amor, pobre garotinha essa. Meu
coração tá apertado de ter deixado ela lá. __ Mamãe, e ela vai ficar bem? __ pergunta
Alecsander. __ Não sei, meu amor. Espero que sim. Fico pensando nela lá naquela casa
enorme, sem a mãe por perto. __ diz Branca. __ Mamãe, eu empresto você pra ela, mas
só por uns dias, tá bom? __ diz Alecsander. Branca sorrir. __ Mas que menino mais
caridoso. Tá querendo alguma coisa, não é seu Alecsander? __ diz ela, sorrindo. __ Acho
que não vou querer nada dessa vez. Eu empresto você de verdade pra ela. __ responde
ele. __ É, meu amor, ter uma mãe é muito bom. Quem tem a sua tem que aproveitar
enquanto pode. Vamos pra cama que hoje vamos dormir juntinhos no meu quarto e vou
te contar uma historinha da super Mulher Maravilha. __ diz Branca, conduzindo a cadeira
de rodas do filho até o banheiro para ele escovar os dentes. __ Ta bom, mãe. Eu deixo
você contar a historinha, mas só se você se vestir de Mulher Maravilha de novo. __ diz
ele. Ela sempre se vestia de Mulher Maravilha quando contava histórias pro filho. __ Tem
tanto tempo que não visto aquela roupa. Acho que nem cabe mais. Deve até ter encolhido.
__ responde ela sorrindo. E juntos eles vão para o quarto. Branca se deita agarrada ao
filho e mais uma vez ela inventa uma de suas histórias da Mulher Maravilha.
Ela tenta compensar ao máximo o tempo que passa longe do filho. E agora com
esse novo emprego, ela passa a trabalhar todos os dias, de segunda a sexta-feira das 7 às
19 horas na mansão de Renato Dias, e ainda tem os plantões noturnos ao longo da semana,
com uma escala de 12 por 36 horas, ou seja, ela trabalha uma noite e folga outra. A
vantagem agora é que tem todos os sábados e todos os domingos em casa com o filho e o
salário melhorou muito. Ela não vai mais precisar ficar correndo atrás de plantões extras
para completar a renda mensal.
Os dias passam e cada dia Branca conquista mais a confiança e o carinho de
Rafaela e de toda a família da garotinha. Ela estuda cada vez mais sobre oncologia
pediátrica para poder ajudar melhor a garotinha, que faz tratamento para Leucemia e ainda
perdeu a mãe em um acidente recente. O pai, o famoso cantor, para compensar a perda
inesperada da esposa e a doença da filha, passa a fazer uso de bebida alcoólica todos os
dias, e também aumenta o número de shows, como uma forma de tentar compensar a dor
que está sentindo.
Branca foi contratada como enfermeira para ajudar a garotinha nos cuidados à
saúde durante o tratamento do câncer. Na mansão, foi montado um quarto de hospital
para que o tratamento seja todo no domicílio. Mas Branca, por vontade própria, acaba
fazendo de tudo um pouco. Ela tenta todas as alternativas para minimizar o sofrimento da
garotinha, tanto em relação à doença quanto em relação à perda da mãe e a ausência do
pai. Ela faz bolos, lanches, elas brincam, passeiam pelo jardim, tudo isso para que o dia
passe sem que a garotinha sofra tanto.
É sexta-feira, Branca chega até dona Beatriz e informa que o cabelo de Rafaela
começou a cair. __ Dona Beatriz, isso já era esperado. E a Rafa já percebeu também. Já
conversei muito com ela sobre isso, a Letícia e a psicóloga tem falando muito sobre o
assunto também, mas estamos com medo do impacto que vai ser a hora que ela estiver
careca.__ diz ela, mostrando preocupação. __ E o que você sugere, minha querida? __
pergunta dona Beatriz. __ Acho que temos que fazer alguma coisa antes que o cabelo dela
comece a cair muito e ela fique assustada. Aliás, assustada ela vai ficar, mas a gente pode
tornar esse momento menos doloroso. __ completa ela. __ E você pensou em alguma
coisa? __ pergunta dona Beatriz.
Na sala de estar, dona Beatriz faz crochê enquanto Branca explica toda ideia: __
Sim. Pensei. Se a senhora concordar, a gente bota em prática esse final de semana. Quero
trazer o meu filho pra Rafa conhecer, se a senhora permitir, é claro. Aí todos nós fazemos
um lanche e depois a gente corta o cabelo da Rafa. A gente corta o cabelo dela bem
curtinho, e depois em outro dia a gente raspa. __ completa ela, mostrando empolgação.
__ Acho uma ótima ideia. Ainda mais que minha netinha está há alguns dias sem ver o
pai. E é lógico que você pode trazer o seu filho quantas vezes você quiser. Estou ansiosa
para conhecê-lo __ responde dona Beatriz.
Chega o Sábado. Branca e Alecsander chegam à mansão. __ Mamãe, que casa
grande. Deve morar um monte de gente aqui. __ diz Alecsander olhando para todos os
lados. __ Só moram três pessoas, meu amor... __responde Branca, que imediatamente
pensa e corrige a afirmação que fez. ___ Na verdade querido, moram muita gente mesmo:
tem a Letícia que é a outra enfermeira que fica a noite, tem a enfermeira do final de
semana que vamos conhecer hoje, também tem a Luíza que ajuda a cuidar da Rafaela e
tem a Maria, a Zélia e o Pedro que ajudam com a limpeza e as outras coisas. __ responde
ela enquanto empurra a cadeira de rodas do filho. __ E tem você, não é mamãe? __ diz
Alecsander. __ Sim. Tem eu que moro de segunda a sexta-feira aqui. Então, a casa tem
que ser grande mesmo pra caber esse tanto de gente. __ completa ela.
Dona Beatriz chega à sala e cumprimenta Alecsander: __ Oi, meu querido! Muito
prazer! Você é o famoso Alecsander, não é? Sua mãe fala muito em você. __ diz ela. __
E a senhora é a vozinha da Rafaela. __ responde Alecsander. __ Sim. Sou eu. __ responde
dona Beatriz. __ Minha mãe fala muito da Rafaela, aí eu pedi pra conhecer ela. __
completa Alecsander. __ Que garoto adorável Branca. Você está de parabéns. __ diz dona
Beatriz. __ Você é muito bem vindo aqui, Alecsander. Pode vir quando quiser e quantas
vezes quiser. Minha netinha vai adorar conhecer você. __ completa ela, se abaixando para
dar um beijo na testa de Alecsander.
Branca vai até a cozinha e chama Pedro, o motorista, para ajudar a levar
Alecsander até o andar de cima, pois a casa não é adaptada para deficientes físicos. Ela
passa constantemente por este tipo de situação. Muitos locais privados e públicos não são
adaptados para cadeirantes.
Chegando ao quarto, Rafaela assusta ao ver Alecsander na cadeira de rodas.
Branca nunca contou para ela que o filho é cadeirante e nem contou do acidente, apenas
disse que o pai dele também foi morar no mesmo lugar que a mãe dela.
Branca empurra a cadeira de Alecsander até a entrada do quarto, daí em diante ele
sozinho conduz a cadeira. Rafaela está brincando no chão com Luiza.
Luíza é a babá de Rafaela desde quando nasceu. Ela é uma moça de mais ou menos
30 anos, muito simpática e educada.
Branca entra no quarto e apresenta o filho: __Oi Rafa, lembra que eu falei que
você ia conhecer o meu filho? Então, esse aqui é o meu Alecsander. __ diz ela.
Tatiane, a enfermeira do final de semana não pode comparecer ao plantão. Ela
teve um imprevisto e como Branca ia passar o dia todo na mansão, dona Beatriz decidiu
dar folga para a moça.
Rafaela não para de olhar Alecsander na cadeira de rodas. __ Porque ele tá nessa
cadeira? Ele não anda? __ pergunta a garotinha. __ Ele precisa da cadeira pra andar. As
pernas dele são fracas. __ responde Branca. ___ Às vezes é chato, mas às vezes é legal.
__ diz Alecsander. __ Eu posso andar na sua cadeira? __ pergunta Rafaela, se levantando.
__ Pode sim. Vem aqui que eu ajeito você. __ diz Branca. Ela pega Rafaela e senta ela
nas pernas de Alecsanader e juntos eles passeiam pelo andar de cima da mansão.
O tempo passa e o dia é bastante divertido. No andar de baixo, eles revezam as
brincadeiras entre o jardim e a sala. Às 14:00 horas chega Beto, o cabeleireiro. O mesmo
que sempre cuidou dos cabelos de Deborah, a mãe de Rafa.
Branca já deixou tudo esquematizado com ele. __ E cadê a garotinha que vai
mudar o visual radicalmente e vai ficar mais gatinha do que já é? __ diz Beto super
empolgado como sempre.
Ele sempre cuidou dos cabelos de todos ali mesmo na mansão. A mãe de Rafaela
não gostava muito de frequentar o salão por causas de alguns curiosos inconvenientes,
então ela preferia fazer tudo em casa mesmo. __ Oi tio Beto! __ diz Rafaela. __ Oi
princesinha linda. __ responde ele, com um sorrisão e se abaixando para receber o abraço
da garotinha.
Beto e Branca decidem junto com Rafaela que o corte de cabelo será um
chaneuzinho. __ Vai ficar lindíssima mesmo. Vamos então começar os trabalhos. __ diz
ele.
Beto ajeita as coisas e em 10 minutos tudo está pronto para começar. Além de
Branca, Rafa, Alecsander e Beto, na sala também estão dona Beatriz, Luiza, Maria, Zélia
e Pedro. Branca encomendou um lanche bem reforçado, colorido e saudável com muitas
frutas, sucos, café, chás, biscoitos, salgados e tortas para todos. Um verdadeiro banquete.
Entre o lanche e muitas conversas, a tarde vai passando e Rafaela fica na maior
animação. __ O Alecsander também tá precisando cortar o cabelo, além dele mais alguém
quer cortar? __ pergunta Branca, levantado as mãos. E todos levantam também.
Ela combinou com todos ali da casa como seria a dinâmica, menos com a Rafaela.
__ Eu quero ser o primeiro. __ diz Alecsander, super eufórico. __ Eu escutei que a Luíza
também quer cortar o cabelo? __ diz Branca, sinalizando com a mão no ouvido. __ Sim.
Eu quero cortar bem curtinho. Não aguento mais esse rabo de cavalo. __ responde Luiza.
Ela tem o cabelo volumoso e abaixo do ombro, na cor castanho claro. __ E quem mais
vai cortar além de mim que também vou aproveitar a carona da Rafa? __ pergunta Branca,
sempre muito alegre e sorridente. Todos levantam as mãos novamente. __ Então vamos
organizar aqui a fila pra ninguém passar na frente do outro. É feio furar a fila. __ completa
ela, brincando e organizando uma fila. __ O Alecsander vai ser o primeiro, a Luiza a
segunda, a Rafa a terceira, depois a Maria, a Zélia e o Pedro, eu vou ser a última. __
explica Branca anotando em uma folha de papel a ordem de todos para o corte de cabelo.
__ Acho que vou aproveitar e dá uma melhoradinha nesse cabelo também, o que você
acha Rafa? __ pergunta dona Beatriz, bem feliz por ver a alegria de todos ali e
principalmente a alegria da sua netinha. __ Corta só um pouquinho vovó. __ diz Rafa,
sinalizando com os dedos o tanto que a vó deve cortar.
Branca faz tudo virar uma diversão. Dona Beatriz achou que cortar o cabelo de
Rafaela seria um momento doloroso, mas Branca organizou de uma forma que a garotinha
curtiu bastante o momento e brincou muito.
Ao final do dia, ela se despede de todos. Luíza, a babá de Rafaela, entrega para
ela duas cortesias para uma festa que acontecerá hoje em uma boate muito famosa. __
Pega aqui Branca. São cortesias pra uma festa hoje à noite, como terminei com o meu
namorado e tô desanimada, não quero sair. __ explica Luíza. __ Dona Beatriz sempre me
dá essas cortesias que chegam aqui. __ Oh Luíza muito obrigada, mas também nem sei
se vou poder ir. Tô muito cansada. __ responde Branca. __ Dê pra alguma amiga sua.
Essas festas são muito boas. Só gente bonita e famosa que frequentam lá. __ diz Luiza.
Branca pega as cortesias e já pensa em oferecer para a amiga Gleyce que gosta muito de
baladas.
Já em casa, ela liga para Gleyce e oferece as cortesias. Gleyce insiste para que
Branca vá com ela. __ Vamos Branca? Uma festa dessa a gente não pode perder. Vamos?
Eu e Davi não estamos bem. Não quero sair com ele. Vamos por favor, eu te imploro. __
insiste a amiga. __ Ai Gleyce tô tão cansada. Trabalhei ontem à noite, hoje passei o dia
com a Rafaela. Tô quebrada mesmo. __ responde ela. __ Amanhã é domingo. Você
descansa, e a noite eu te ajudo no plantão se o hospital tiver muito lotado. Vamos?__
insiste Gleyce.
Branca é vencida pela insistência da amiga. Ela quase nunca consegue dizer não
para Gleyce. Aliás, ela sempre diz não na maioria das vezes, mas Gleyce insistente do
jeito que é sempre ganha. __ Tá bom. Você me convenceu. Eu vou com você e sei que
vou me arrepender disso depois. __ responde Branca.
Ela deixa Alecsander na casa da vizinha e vai para a boate com a amiga Gleyce.
A última vez que saiu para uma festa, o marido ainda era vivo, desde então, nem festas
de confraternização do serviço ela não frequenta.
As duas amigas chegam à boate. As cortesias são para o camarote com direito a
comida e bebida. __ Amiga do céu, só gente bonita e rica. Nunca que a gente conseguiria
vir num lugar desse com o salário que a gente ganha. Eu vou beber todas hoje só pra
comemorar essas cortesias. __ diz Gleyce, empolgadíssima. __ Vou logo te avisar que
não vou te carregar. Você maneira na bebida. __ diz Branca. Gleyce nem escuta direito o
que a amiga fala, não só por causa do barulho, mas porque ela acha a amiga muito
certinha. __ Amiga relaxa. Bebida de rico não deixa ninguém bêbado. __ informa Gleyce
já com um copo de bebida na mão. __ Como você sabe disso? Já andou bebendo por aí é
em alguma festinha de rico, foi? __ pergunta Branca, intrigada. ___Lógico que não,
amiga. Uma bebida cara tem que ter alguma vantagem né. Então deve ser isso. Você já
viu rico bêbado? Eu nunca vi e para de ser chata e vamos aproveitar a noite, a festa, as
pessoas, a bebida que é todinha de graça. __ completa a amiga.
Branca está usando calça legging na cor preta, camiseta de tecido nula manga bem
soltinha na cor vermelha e ela calça bota cano curto. O cabelo ainda está um pouco úmido
e ela usa ele solto jogado na lateral. A maquiagem é bem leve. Branca não é e nunca foi
uma mulher ousada em relação a roupas e maquiagem.
As duas aproveitam bem a noite. Branca vai ao banheiro e no retorno ela tropeça
em uma pessoa, e para a sua surpresa é o doutor Samuel. __ Doutor, digo, Samuel o que
você faz aqui? __ pergunta ela. Ele se assusta ao vê-la ali. ___ Oi gata! Que delícia ver
você por aqui. __ diz ele, se aproximando para cumprimenta-la. Ele dá um beijo bem
molhado no rosto dela e um abraço bem apertado e demorado. __ Eu não sabia que você
gostava de festas assim. Você parece sempre tão cansada. __ completa ele, ainda surpreso.
__ Eu gosto. Só não tenho tempo e nem condições financeiras de frequentar esses lugares.
__ responde ela que jamais imaginaria encontra-lo ali. E hoje ele está muito gato sem
aquele jaleco branco. Até o olhar dele está diferente. Essa é a primeira vez que eles se
encontram fora do ambiente de trabalho e esse é o motivo desse momento ela estampar
um sorrisão em seu rosto.
De longe Gleyce observa os dois parados e conversando.__ É bom saber que você
gosta de festas assim, gata. Agora não te chamo mais pra jantar, vou te chamar só pra
balada. __ diz ele. Quando Branca vai responder, surge uma linda moça que segura na
mão dele e a olha de cima em baixo. __ Vamos Samuel. Já vão cantar os parabéns pro
aniversariante. __ diz a moça, puxando ele e ignorando Branca. __ Branca, depois a gente
se fala. __ diz ele, com pressa, mas com um olhar fixo nela. __ Ele nunca me chama pelo
nome. E essa moça não é a moça que vi com ele no outro dia. Safado. Deve ter um monte
de namoradas. __ diz ela, falando sozinha parada no meio da boate.
Branca retorna para junta da amiga Gleyce e conta o ocorrido. __ Amiga ele é um
safado. Cada vez que eu o vejo fora do ambiente de serviço, ele tá com uma mulher
diferente. __ diz ela. O sorrisão que estampava o rosto dela, agora dar lugar a uma
expressão de raiva. __ Amiga, é impressão minha ou você está com ciúmes? __ pergunta
Gleyce. __ Ciúmes desse safado? Nunquinha! Quer saber? Vamos é beber. Como você
disse, a bebida é muito cara e já que não vamos ficar bêbadas mesmo, então bora beber.
__ diz ela, puxando a amiga para buscar mais bebidas. __ Vai por mim amiga, pode beber
todas viu. Não vamos ficar nem tontas. E se a gente ficar, eu peço o dinheiro de volta. __
diz Gleyce, super humorada. ___ Que dinheiro, maluca? É cortesia. __ diz Branca
sorrindo. ___ Então, eu peço as cortesias de volta. __ completa Gleyce. As duas dão
gargalhadas.
Elas dançam e bebem. Doutor Samuel na rodada de amigos, de longe observa as
duas e não só ele, mas vários rapazes que estão ali também as observam. E no meio desses,
o doutor Luciano, que trabalha na UPA com Branca, a ver ali se divertindo e
imediatamente ele vai até ela. __ Oi Branca! Que bom ver você por aqui. __ diz ele, se
aproximando para dá um beijo e um abraço nela. Ela abre um sorriso para ele, mas por
dentro ela chora. Ela não acredita que isso está acontecendo. E agora, que desculpa ela
vai dar para fugir dele? __ Oi doutor Luciano, o senhor por aqui? __ responde ela, já
querendo fugir dali. __ Essa é minha amiga Gleyce. __ completa ela __ Oi! muito prazer!
__ diz ele que se aproxima de Gleyce para cumprimenta-la com um beijo no rosto. __ O
prazer é todo meu. __ diz Gleyce, com um sorrisão. __ Branca, por favor me chame só
de Luciano. __ diz ele se aproximando dela novamente. __ Me desculpe, é força do hábito.
__ responde ela, que já está bebendo muito mais do que é acostumada. Ela já está com a
voz um tanto arrastada por causa da bebida. __ Eu sempre falo pra ela que doutor é quem
faz doutorado, mas ela insiste em chamar todo médico de doutor. __ explica Gleyce. __
Olha quem fala. Você também chama, sua maluca. __ diz Branca. __ Mas só no ambiente
de trabalho, porque todo mundo chama e eu não quero ser diferente de todo mundo, né
__ insiste Gleyce, sempre bem humorada. __ Mas eu concordo com você. __ diz doutor
Luciano, se referindo à fala de Gleyce. __ Eu não sou doutor, ainda. Mas um dia quero
ser.__ diz ele, também muito bem humorado.
Doutor Luciano deixa o grupo de amigos de lado e se junta a Branca e Gleyce. De
longe doutor Samuel observa toda a situação e ver que o cara não tira os olhos de Branca.
Ele observa também que Branca está exagerando na bebida alcoólica e até onde ele sabe,
ela não é de beber desse jeito.
Doutor Luciano passa o braço pela cintura de Branca. Ela, que já está tonta, não
se importa. De longe doutor Samuel observa e se irrita. Ele deixa o grupo de amigos e vai
até ela. E ele já chega chegando: __ A moça já está acompanhada, meu caro. Acho melhor
você voltar lá pro seu grupinho. __ diz ele, irritado e tirando o braço de doutor Luciano
da cintura de Branca. Doutor samuel está morrendo de ciúmes. __ Engraçado que não vi
ninguém com a moça a não ser a amiga dela. __ responde de volta doutor Luciano. __
Samuel o que você está fazendo aqui? Volta lá pra sua namorada. __ interrompe Branca
com a voz já bem arrastada e fazendo sinal para ele voltar para o grupinho dele. __ Minha
namorada é você e estou vendo que a bebida tá em excesso por aqui. __ responde ele
bastante irritado. Doutor Samuel e doutor Luciano se encaram. Gleyce que retorna do
banheiro, observa toda a situação. __ Amiga o que tá acontecendo? __pergunta ela. __ O
Samuel veio até aqui encher meu saco. Manda ele voltar lá pro grupinho dele, amiga. __
diz Branca. __ Eita, será que vai dá briga? Ele tá com ciúmes, amiga. Ai que tudo! Dois
homens brigando por você. __ diz Gleyce, achando o máximo a situação.
__ Na boa cara, volta lá pro seu grupinho. A gata já tem namorado e eu não quero
confusão com você. __ insiste doutor Samuel. __ Eu não tenho namorado. __ diz Branca
interrompendo a discursão. __ Cara, cai fora. A moça tá pedindo. __ insiste doutor
Luciano já se irritando. __ Meu querido, a gata está comigo e nós vamos embora agora.
Você está se aproveitando do fato dela está bêbada. __ diz doutor Samuel que puxa
Branca pela mão e sai levando ela pela boate. Doutor Luciano tenta ir atrás, mas Gleyce
não deixa. Ela sabe que doutor Samuel não vai fazer nenhum mal à amiga. __ Não vá.
Pode acabar em mais confusão. __ diz Gleyce, segurando doutor Luciano pelo braço. __
Eu não sabia que ela tinha namorado. __ indaga doutor Luciano. __ E não tem, mas o rolo
deles só eles entendem, vai por mim. Deixa eles. __ responde Gleyce.
Saindo da Boate, doutor Samuel continua puxando Branca pela mão. __ Vamos
que vou te levar para a sua casa agora. Você está bêbada e vai acabar fazendo besteira.
__ diz ele, nervoso. ___ Me solta, Samuel. Deixa eu me divertir. Volta lá para sua
namorada. __ diz ela, quase gritando. __ Ela não é minha namorada. E você vai comigo
sim. Você já bebeu muito por hoje. __ responde ele, botando ela dentro do carro dele.
Ele dirige rumo a casa dela, que fica bastante longe dali. Durante a viagem, eles
brigam bastante: __ Branca você não pode beber desse tanto. Tem caras por aí que fazem
muito mal. __ diz ele. __ Eu sei me cuidar, gato. Não preciso de ninguém me dando
sermão. Nem preciso de um mentiroso me enchendo a paciência. __ diz ela, ironizando a
forma como ele a chama. __ Mas porque você me chama de mentiroso? O que foi que eu
fiz? Só estou cuidando de você. Aquele cara lá só quer se divertir. __ insiste ele,
irritadíssimo. __ Ele é meu colega de plantão. E você também não quer só se divertir,
senhor Samuel? Eu sei que sou só uma diversão pra você e no outro dia você ainda vai
fingir que nem me conhece. __ diz ela. Doutor Samuel fica intrigado. __ De onde você
tirou essas coisas? Não tô te entendendo. __ responde ele.
Depois da briga, os dois fazem alguns instantes de silêncio. Ele vira levemente o
rosto e ver que ela adormeceu. Ele balança a cabeça negativamente e segue rumo a casa
dela. Ele já deu carona pra ela por duas vezes, por isso ele sabe o caminho.
Ele passa a mão nos cabelos dela e abre um sorriso. __ Mas é uma maluquinha
estressada mesmo. Como pode me deixar assim todo preocupado? __ fala ele, enquanto
dirige e ela dorme. __ E como pode ser tão linda assim... Até dormindo? __ completa ele.
Eles chegam na frente da casa de Branca. Doutor Samuel procura a chave da porta
na bolsa dela. Ele abre a porta, carrega ela no colo e leva até o quarto. Ele a deita na cama,
tira os sapatos dela e a cobre com um cobertor. Ele se senta na cama, passa a mão nos
cabelos dela e fica ali por alguns minutos olhando ela dormindo. __ Como pode ser linda
e teimosa desse jeito? __ diz ele, olhando para ela. Ele se aproxima do rosto dela, dá um
beijo e vai embora.
No caminho de volta para casa, ele liga para uma moça e a convidando para ir ao
seu apartamento. Ele quase nunca dorme sozinho. Fora do expediente, ele sempre está
acompanhado de belas mulheres.
O dia amanhece. Branca que já é acostumada a acorda cedo, fica espantada por
acordar e ver que está em casa. A última lembrança que tem é de estar na boate com a
amiga Gleyce e doutor Luciano. __ Meu Deus, como eu vim parar aqui? __ diz ela,
sozinha se levantando rapidamente. Ela olha o celular e ver as mensagens de Gleyce:
“Amiga quando você acordar me liga. Quero saber tudinho o que aconteceu. Mas Samuel
tava um gato”. __ Meu Deus! Será que eu fiquei com Samuel e nem me lembro? __ diz
ela, falando sozinha e assustada por não conseguir lembrar. Ela não é acostumada a beber
e na noite anterior ela bebeu muita vodka e parece que está com amnésia alcoólica.
Branca liga para Gleyce, que conta o que aconteceu. __ Mas amiga, eu não lembro
de nada. Só lembro de ver Samuel com uma moça muito linda e lembro do doutor Luciano
lá com a gente. Você disse que a gente não ia ficar bêbadas. __ diz ela. __ Pois é amiga.
Eu me enganei. Mas também agora a gente já sabe né. Não vamos mais exagerar. __
responde Gleyce, meio sem graça. __ Sua maluca, eu não me lembro de nada. Que perigo.
E se Samuel não estivesse lá? __ diz Branca, preocupada. ___ Não pensa nisso, amiga. Já
passou e o super gato estava lá pra te salvar. E eu não tava muito bêbada. Lembro de tudo.
Inclusive que o doutor Luciano beija muito bem, mas na hora “H”, ele faz muito mal as
coisas. __ diz Gleyce sorrindo. Branca se assusta e não acredita que Gleyce transou com
doutor Luciano. __ Maluca você transou com o doutor Luciano? __ pergunta Branca,
espantada. __ Então, amiga. Eu quase nunca me arrependo do que eu faço, mas dessa vez
tô bem arrependida. __ diz Gleyce, se lamentando. __ Não vou te contar os detalhes pra
você não rir quando estiver no plantão com ele. __ completa Gleyce. __ Amiga, só não
vou insistir no assunto agora porque minha cabeça não tá legal e enquanto eu não
descobrir o que aconteceu ontem, não vou conseguir pensar em mais nada, mas a noite
no plantão você vai me contar tudinho. __ diz Branca, enquanto prepara o café da manhã.
Gleyce se despede e encerra a ligação.
Ansiosa, Branca se queima preparando o café e ainda quebra sem querer um copo.
__ Caramba! Não tô legal hoje. __ diz ela, falando sozinha. Ela está esperando chegar às
10 horas para finalmente ligar para o doutor Samuel. A manhã parece que ficou mais
comprida.
São 9:50 horas, ansiosa ela faz a tão esperada ligação. __ Oi gata, Bom dia!
Acordou com dor de cabeça? Quer que te receite um remedinho? __ atende ele, com uma
voz de sono. Ele ainda está deitado na sua enorme cama. A moça que dormiu com ele foi
embora logo que amanheceu. __ Samuel, o que foi que aconteceu ontem? Gleyce disse
que saímos juntos da boate. Não me lembro de nada. __ pergunta ela, indo direto ao
assunto. Ela nem ao menos o cumprimenta.
Ela está no quarto deitada. __ Blackout alcoólico, gata? Então fiz bem em ter
levado você embora. Vi que você estava bebendo muito e muito rápido. __ diz ele. __ Te
agradeço pelo nobre gesto, mas e aí? O que aconteceu depois que viemos embora? __
pergunta ela. A ansiedade toma conta. O medo é em saber se eles transaram. __ Como
assim, gata? Não entendendo sua pergunta. Eu deixei você em casa e fui embora, só isso.
__ diz ele. E realmente foi o que aconteceu. __ Que vergonha. __ diz ela, com uma voz
triste.
Branca não tem nenhuma dúvida de que foi realmente isso o que aconteceu.
Apesar dela nunca ter saído com doutor Samuel ela sabe perfeitamente, pelo tempo que
o conhece, que ele não seria capaz de fazer uma coisa dessa sabendo que ela não estava
em plena consciência. __ Não fique assim, gata. Da próxima vez tome mais cuidado e
não aceite bebida de estranhos ou você pode sair só comigo que prometo cuidar de você
sempre. __ diz ele.
Ela escuta atentamente os conselhos dele. Agora que está mais calma, ela relaxa.
Até o tom de voz muda, fica mais calmo. __ Você ainda está ai, gata? __ pergunta ele.
Ela responde prontamente: __ Tô sim. To curtindo a ressaca física e moral.__ responde
ela. Ele sorrir. __ Você tá rindo de mim? __ completa ela, toda dengosa. __ Não, gata.
Só tô achando engraçado tudo isso. Você tava linda bebinha. Linda e indefesa. Me
promete que não vai mais fazer isso? Quando quiser sair, me chama. Eu cuido de você.
__ diz ele, todo preocupado. __ Se eu sobreviver dessa dor de cabeça, prometo nunca
mais sair e nunca mais beber. __ responde ela. __ Todos fazem essa mesma promessa
depois de uma ressaca. __ completa ele. __ E por falar nisso, eu ainda não estava com
amnésia quando vi você com a sua namorada. Linda ela. Parabéns! __ diz ela, morrendo
de ciúmes. Ele sorrir. __ Não tenho namorada, gata. Tô esperando pra namorar você. É
só uma amiga, que por sinal, acabei esquecendo lá na boate. __ diz ele. __ Coitada. Que
feiura, doutor Samuel. __ diz ela.
Eles conversam por mais um tempo. Ele sempre com as indiretas e ela fingindo
que não gosta, mas no fundo ela quem provoca.
Na mansão de Renato, ele chega de viagem e ver todos de visual novo. __ Mas o
que aconteceu por aqui? Perdi alguma coisa? __ diz ele, andando em direção à filha. __
Papai, eu cortei o meu cabelo. Você gostou? __ informa Rafaela, alegre e indo na direção
do pai. Ele se abaixa e abre os braços para ela. __ O papai amou. __ responde ele
recebendo a filha nos braços. __ A Branca disse que o remedinho que eu tô tomando faz
cair o cabelo. É verdade, papai? __ pergunta a garotinha. __ É isso mesmo, meu amor. __
afirma ele. __ Papai! Até o Alecsander cortou o cabelo e a Branca também e a vovó e
todo mundo. __ explica Rafaela, toda empolgada. Renato fica muito feliz em ver a alegria
da filha. __ Alecsander?? Quem é esse cara que eu não conheço? __ pergunta ele, fazendo
cócegas na filha e fingindo estar com ciúmes. __ É o filho da Branca. Você sabia que ele
anda numa cadeira de rodas, papai? __ diz Rafaela. __ É mesmo, meu amor. Eu não sabia.
__ responde Renato, inclinando a cabeça para olhar para dona Beatriz. __ Como assim,
minha mãe. Me conte essa história direito. __ completa ele.
Dona Beatriz explica sobre o acidente do marido e do filho de Branca. Renato fica
sensibilizado com a história e agora fica claro para ele as palavras dela quando disse que
entendia o tamanho da dor dele. Dona Beatriz também explica sobre a queda do cabelo
de Rafaela, sobre a ideia que Branca teve para cortar o cabelo da garotinha e conta sobre
a festa que virou no dia do corte de cabelo. Ela também adianta que logo terão que raspar
a cabeça da neta. Renato fica lisonjeado com a atitude de Branca e ao mesmo tempo triste
pela situação da filha. __ Quero estar nesse dia, minha mãe. Me avisem para me
programar certinho.
Ele organiza a agenda de shows de um jeito que durante a semana que a filha tem
quimioterapia ele esteja sempre presente.
Renato é um homem de poucas palavras, mas é muito observador. Ele não é
tímido, é apenas um cara mais reservado e discreto. Ele ajuda muitas pessoas em projetos
sociais e ele não gosta muito de aparições. Apenas nos shows que ele se transforma e
interage bastante com o público porque ele ama cantar. No palco ele é um sedutor. Tem
firmeza nas palavras, tem carisma, é muito humilde e com isso ele conquistou uma legião
de fãs por todo o país.
CAPÍTULO 4:
Uma nova chance para o amor.
Mais uma semana se inicia. Branca em mais um plantão noturno se prepara para
passar a visita aos pacientes quando recebe uma ligação de Letícia, a enfermeira que cuida
de Rafaela durante as noites. __ Oi Letícia, está tudo bem? __ pergunta ela. __ Branca
boa noite! Espero não está te atrapalhando, mas estou preocupada com Rafaela. Ela está
febril e muito quieta. __ explica Letícia. __ Será que ela está com alguma infecção? O
que a enfermeira do final de semana falou? __ pergunta Branca. __ Falei com ela a pouco.
Ela disse que não observou nada de diferente, mas você sabe né Branca, ela é recém
formada e não tem nenhuma experiência com crianças. __ responde Letícia. __ Você
ligou pro médico? O que ele falou? __ pergunta Branca, já super preocupada. ___ Liguei,
mas chama até cair na caixa postal. Não sei se levo ela pro hospital. O seu Renato não
está, só chega amanhã. O que você acha? Espera até amanhã? __ pergunta Letícia. __ É
uma situação bem delicada. Fique de olho nela. Se após a medicação a temperatura não
diminuir, comunique dona Beatriz e a leve numa emergência. Eu faria isso. __ responde
Branca, parada em frente ao posto de enfermagem com os prontuários dos pacientes na
mão. __ Então tá bom, Branca. Vou seguir seu conselho. __ responde Letícia.
Branca e Letícia, mesmo com pouco tempo de convivência tiveram uma afinidade
muito grande e rápida e acabaram ficando bem amigas. Profissionalmente o jeito delas de
trabalhar é bem parecido.
Letícia ainda aproveita a ligação para pedir um favor à Branca __ Ah! Outra coisa,
tem tempo que não vejo minha família e é aniversário da minha mãe na sexta-feira. Quero
ver se tem como você me ajudar. Sei que sua rotina é puxada. __ explica ela que trabalha
em dois empregos assim como Branca. De dia ela é servidora pública estadual e trabalha
em um grande hospital regional. __ Pode comprar sua passagem tranquilamente que eu
dou um jeito. Eu faço quinta e sexta pra ti. __ Informa Branca. __ Tem outro problema:
a enfermeira desse final de semana sou eu. A Tati me pediu pra fazer pra ela o plantão.
__ completa Letícia, sem graça de estar incomodando a amiga. __ Dou um jeito. Pode ir
tranquilamente. Vá aproveitar sua família. __ completa Branca.
Letícia vibra de felicidade. Ela é uma moça de mais ou menos trinta anos. Tem a
pele morena, cabelos lisos e longos. Ela tem 1,65 metros de altura. É uma jovem muito
bonita e atraente.
Ainda durante a noite, Branca se mobiliza para conseguir fazer algumas trocas de
plantões para poder cobrir a escala de Letícia na mansão.
Com a agitação que tá no hospital, Branca tem a sensação que o tempo voou e já
são1 hora da manhã. Ela está quase cochilando sentada numa cadeira e recostada numa
bancada no posto de enfermagem fazendo as anotações nos prontuários dos pacientes
quando doutor Samuel se aproxima por traz dela. Ele lhe dá abraça e um beijo na
bochecha. Ela se assusta e ao virar para ver quem é, ele rouba um beijo dela. __ Oi gata
mais linda desse hospital!__ diz ele com um sorrisão estampado no rosto. __ Samuel o
que você faz aqui? __ pergunta ela assustada. __ Vim auxiliar uma cirurgia de emergência
e já estou indo embora, mas não antes de passar aqui pra te ver. __ responde ele, se
sentando em uma cadeira bem ao lado dela. __ Que bom que você vai dormir em casa, na
tua confortável cama. __ diz ela. Ele sorrir e se aproxima do ouvido dela. __ Bom mesmo
seria se você estivesse lá na minha cama me esperando agora neste momento. __ diz ele.
Ela fecha os olhos, se arrepia e o coração dispara. __ Ai Samuel para com isso. Alguém
pode ver a gente aqui assim desse jeito. __ diz ela, olhando para os lados para ver se
alguém está os observando. __ Você sabe que não me importo, gata. Eu quero você. Não
foge de mim, não. Você tá me deixando louco. __ diz ele sussurrando no ouvido dela. Ela
fica toda vermelha e o corpo esquenta, então ela muda o assunto. __ Eu tô te devendo um
jantar. __ diz ela. __ Não tô falando de jantar. Tô falando que eu quero você. __ diz ele,
novamente insistido e sentindo o calor que vem de dela. __ Mas tô te devendo mesmo um
jantar e vou arrumar um tempo e cumprir com a minha palavra. __ insiste ela. Ele se
afasta. __ Você tá falando da aposta não é? Já me arrependi dessa aposta. Vou perder. __
diz ele, sorrindo. __ Agora é tarde pra desistir. Esse fim de semana estarei ocupada, mas
semana que vem a gente combina. __ responde ela.
Ele se aproxima novamente dela e antes de falar qualquer coisa, ele rouba mais
um beijo. __ Você me mata mulher. Tô explodindo aqui. __ diz ele que se levanta e vai
saindo para ir embora. Ela fica o observando indo pelo corredor. __ Também te amo,
doutor Samuel. __ diz ela, sorrindo. Ele escuta e se vira para olhá-la e ainda caminhando
ele joga um beijo para ela. __ Essa frase é minha. __ diz ele. Ela sorrir e fica cheia de
suspiros, tremendo e o corpo quente. Ela não sabe se o que senti por ele é paixão ou só
tesão por causa do tempo que está sem ficar com alguém.
Chegando à mansão, ela recebe o plantão de Letícia, e logo em seguida vai
conversar com dona Beatriz sobre a intensa escala que irá fazer. Ela pede permissão para
levar o filho para que ele não fique muito tempo longe dela. __ Será um prazer, minha
querida. Pode trazer seu filho quando e quantas vezes quiser. __ responde dona Beatriz.
Dona Beatriz é uma senhora de aproximadamente 60 anos de idade. Tem mais ou
menos a mesma altura de Branca. Ela tem a pele clarinha, olhos castanhos e cabelo curto
com luzes louro acinzentado.
Rafaela amanhece melhor, sem febre e super esperta, mas Branca fica atenta para
qualquer intercorrência e também já deixa o médico de sobre aviso.
Sentada numa poltrona, ela conta mais uma historinha da Mulher Maravilha para
Rafaela, que está sentada na cama. __ Branca você disse que ia me contar o segredo da
minha mamãe. Você esqueceu? __ pergunta Rafaela. __ Não, minha linda. Não esqueci.
Só tô esperando a hora certa. __ responde Branca. __ E quando vai ser a hora certa? __
insiste Rafaela. Branca respira fundo e abraça a garotinha. __ o segredo é o seguinte: sua
mamãe tem uma missão muito importante, por isso ela teve que partir. Ela não abandonou
você e nem seu pai. Ela não podia levar vocês. __ responde ela, com o tom de voz baixo
quase sussurrando. __ Mas por que ela não podia me levar? __ Insiste a garotinha. __
Porque a missão dela é muito delicada e você poderia se machucar. Ela preferiu te deixar
aqui pra você cuidar do seu papai. Ele precisa muito de você. E as pessoas do mundo
inteiro precisam da sua mamãe. __ responde Branca. __ As pessoas do mundo inteiro
precisam da minha mamãe? __ pergunta a garotinha, sorrindo discretamente e admirada.
__ Sim, meu amor. Sabe as histórias que eu te conto todos os dias da Mulher Maravilha?
Então, essa Mulher Maravilha é a sua mamãe. Ela teve que partir porque foi chamada por
Deus pra cuidar de todas as crianças do mundo. Como ela é uma super mamãe, todas as
crianças que estão sofrendo precisam dela. __ responde Branca, empolgada e com um
sorriso no rosto.
Rafaela fica em pé na cama e com um sorrisão no rosto, ela fica muito orgulhosa
em saber que a mamãe dela é uma heroína e que ajuda todas as crianças do mundo. ___
Minha mamãe é a Mulher Maravilha? __ pergunta novamente, a garotinha __ Sim, meu
amor. Ela é a Mulher Maravilha. Ela nunca te abandonou. Ela está te protegendo também.
__ responde Branca. __ Uau! Minha mamãe é a Mulher Maravilha. Que legal. __ diz
Rafaela pulando de alegria. __ Mas esse é o nosso segredo, tá bom? Não pode contar pra
ninguém. __ diz Branca, fazendo carinho na cabeça da garotinha. __ Como que você sabe
disso, Branca? __ pergunta a garotinha.
Branca respira fundo, faz silêncio por alguns instantes e quando as lágrimas
começam a se formar nos olhos, logo ela trata de se recompor. __ Porque o meu marido
me contou. Ele também está ajudando a sua mamãe nessa missão. Eles dois estão lá junto
do papai do céu. E sempre que uma criança precisa, eles vão ajudar. __ responde ela,
emocionada. __ O Alecsander sabe disso? __ pergunta a garotinha. __ Sim, meu amor.
Ele sabe. E tem muito orgulho do papai dele. __ responde Branca. __ Uau! Que legal. __
diz Rafaela, super empolgada e com alegria estampada no rosto.
Renato chega ao quarto e se surpreende ao ver a filha toda feliz e eufórica. Ele dá
bom dia e se senta numa poltrona ao lado da cama da filha. __ Fiquei sabendo que tem
uma garotinha triste e com febre, mas pelo jeito essa garotinha não é a Rafa. __ diz ele,
dando um beijo nas mãos da filha. __ Eu não estou mais triste, papai. __ informa a
garotinha, toda cheia de sorrisos. Branca, que também está sentada em uma poltrona do
outro lado da cama se levanta para sair do quarto. Quando ela passa ao lado de Renato,
ele segura a mão dela e não a deixa ir. __ Não saia. Gosto de ver vocês duas brincando.
Vi que vocês estão se divertindo muito. __ diz ele olhando nos olhos dela. __ A Branca
está me contando uma história da Mulher Maravilha, papai. Ela salva muitas crianças. __
diz Rafaela. __ E ela tem um segredo. __ completa ela sussurrando no ouvido do pai. __
Mas eu não posso te contar o segredo dela. Só eu, a Branca e o Alecsander que sabemos.
__ completa a garotinha, com os olhos brilhando. __ Já que eu não posso saber esse
segredo, posso pelo menos ouvir uma historinha dessa tal Mulher Maravilha? __ pergunta
Renato sorrindo e olhando para Branca. __ Pode sim, papai. A Branca vai contar pra nós.
__ responde Rafaela, virando o rostinho para olhar Branca e se sentando de volta na cama.
Renato com uma expressão facial de alívio, insiste para Branca contar a tal
historinha que tanto a filha gosta. Branca fica meio sem graça e tenta sair da “saia justa”.
__ Então! Acho que já está bom de historinhas por hoje, não é?__ diz ela __ Não, Branca.
Conta uma história da Mulher Maravilha pro meu papai. Ele vai gostar. __ pede Rafaela,
quase implorando. Branca fica com as bochechas vermelha. Rafaela e Renato insistem
até que ela decide contar mais uma historinha. Renato escuta atentamente enquanto faz
carinho na cabeça da filha. Rafaela fica de olhos vidrados olhando para Branca e Renato
percebe o tanto que a filha fica entusiasmada.
Ao longo do dia, como Rafaela está bem e alegre, dona Beatriz conversa com
Branca sobre a possibilidade dela acompanhar a garotinha a uma reunião na casa de um
amigo de Renato. É aniversário de carreira do cantor, e os amigos e colaboradores da
banda irão fazer uma festinha bem discreta e reservada para ele. Dona Beatriz queria
muito que a netinha estivesse presente nesse momento, mesmo que fosse somente por
uma horinha. __ Eu já falei com o médico. Ele liberou desde que ela não se exponha
muito. __ explica dona Beatriz. __ Se o médico liberou, então ela pode ir. __ responde
Branca. Dona Beatriz insiste para Branca ir também. __ Não posso dona Beatriz. Até eu
ir em casa e me arrumar, vai ficar muito tarde. __ explica ela. __ Se esse é o problema,
então vamos já resolver. Vem comigo. __ diz dona Beatriz.
Ela leva Branca até um quarto no andar de baixo da mansão. Branca fica
impressionada com o tamanho do closet que tem no quarto. Um closet todo dourado com
muitos espelhos e muitas divisões. Pelo quarto há também vários puffs redondos
espalhados e tem uma penteadeira grande e dourada. Com certeza era neste quarto que a
esposa de Renato se arrumava e se maquiava. Nele também são guardadas as coisas que
Renato juntamente com a esposa ganhavam dos fãs e patrocinadores.
Dona Beatriz abre todas as portas do closet e pede para Branca escolher um look.
Branca fica de queixo caído. __ Dona Beatriz, eu não posso aceitar. São os presentes da
sua nora. __ responde ela, admirada com tantas roupas, sapatos e objetos ali guardados.
__ Por favor, eu insisto. Essas coisas são para serem usadas, então aceite e estará fazendo
uma boa ação. __ insiste dona Beatriz.
Branca então decide aceitar o convite e começa a provar as roupas. Da porta do
quarto, Rafaela sinaliza qual roupa está bonita ou não. Branca prova calças, saias e
vestidos. Rafaela não gosta de nenhum.
Após provar inúmeras roupas, Branca surge com um vestido longuete vermelho
justo no quadril, bem cinturado e com um decote delicado no colo. __ Gostei desse,
Branca. É esse. __ diz Rafaela, super empolgada. A garotinha ainda escolhe o sapato que
Branca irá usar.
Rafaela sempre ajudava a mãe a se arrumar por isso ela quis ajudar Branca. __
Agora, dona Rafa, é a sua vez. E eu quem vou escolher o seu look. __ diz Branca,
conduzindo Rafaela de volta ao andar de cima da casa.
No quarto, Rafaela prova algumas roupas e Branca sinaliza para um vestidinho
bem soltinho, delicado, na cor lilás e branco. __ Esse ficou perfeito. __ diz ela.
Às 18 horas dona Beatriz, Branca e Rafaela chegam à residência onde será a
comemoração. Renato já espera por elas. Um cantinho é reservado para que elas fiquem
bem à vontade e longe dos outros convidados porque Rafaela não pode se expor muito
por causa do tratamento.
Renato vai até elas, cumprimenta e depois começa o pequeno show. Rafaela adora
ver o pai cantar. Branca fica maravilhada, pois nunca teve oportunidade de ir a um show
de Renato Dias e de repente ela está ali, em um show bem reservado, com vista
privilegiada e na companhia da família do próprio Renato. __ Parece um sonho. __ diz
ela, em pensamentos.
Na residência estão presentes em torno de 50 pessoas. Somente os amigos mais
próximos de Renato, colaboradores e familiares tanto de Renato quanto da equipe da
banda.
Ele, ao mesmo tempo que canta, também bebe bastante. Ele começa a ficar mais
alegre e extrovertido do que o normal. Dona Beatriz fica preocupada, mas ela sabe que é
somente uma fase e logo vai passar.
Ao final do show, que durou apenas 1 hora, os amigos e a equipe da banda fazem
uma homenagem a Renato, e neste momento um dos amigos apresenta uma moça muito
bonita para ele. A moça é bem atrevida e logo se entrosa com ele. No meio do salão os
dois conversam e sorriem bastante. De longe Rafaela observa e fica com ciúmes. __ Vovó,
chama o meu papai. Eu não quero que ele converse com aquela mulher. __ diz a garotinha.
__ Minha querida, deixe o seu pai se divertir. __ responde dona Beatriz, não levando
muito a sério o que a neta fala. __ Branca vai chamar o meu papai. __ insiste Rafaela. __
Pode chamar ele, minha querida. Rafaela não vai sossegar. __ diz dona Beatriz, se
referindo a Branca. Ela se levanta e vai. Ao passar pelo salão, a beleza dela chama a
atenção dos amigos de Renato. Ela fica sem graça pelos olhares e abaixa a cabeça. Ao
chegar onde Renato estar, no meio do salão, ela pede licença e fala que Rafaela está
chamando por ele. Renato pega na mão da moça que está conversando com ele e juntos
vão ao encontro de Rafaela. No caminho de volta, um dos amigos de Renato puxa Branca
pelo braço. Ela hesita, mas o rapaz insiste e ela cede. Os dois ficam conversando no meio
do salão.
Renato chega até a filha e ela pede para ir embora. __ Daqui a pouco nós vamos,
meu amor. __ responde ele, se abaixando para dar um beijinho na testa dela. __ Eu quero
ir embora agora. Eu, você, a vovó e a Branca. __ insiste a garotinha __Minha querida,
deixe seu pai. Vamos então eu, você e Branca, está bom? __ diz dona Beatriz, tentando
contornar a situação. __ Meu pai vai também. Eu não quero que ele fique aqui. __ insiste
a garotinha.
A moça que acompanha Renato observa e também tenta contornar a situação. __
Renato, você deixa elas em casa e depois você volta para cá. Fico te esperando. __ diz ela
__ Não. Meu papai não vai voltar. Ele vai ficar em casa comigo. __ responde Rafaela,
bem zangada e começando a ficar chorosa. __ Acho que a Branca consegue contornar
essa situação, mas onde ela está? __ diz ele olhando para o salão a procura de Branca. Ele
a ver conversando com um amigo e logo vai buscá-la. __ Venha cá Mulher Maravilha.
Tem uma garotinha muito nervosinha e birrenta precisando dos seus super poderes. __
diz ele, interrompendo a conversa dela com o amigo dele.
Renato conduz Branca pelo salão segurando ela pela mão, o que chama a atenção
de todos ali presentes. O amigo que estava conversando com ela fica sem reação e no
vácuo.
__ Ela só está com ciúmes de você com a moça. É só isso. __ diz Branca, ao
mesmo tempo que é conduzida por Renato. __ Mas com você por perto, ela fica mais
tranquila. __ insiste Renato.
Outro amigo dele observa os dois. __ Alguém sabe quem é a linda moça misteriosa
que está agora neste momento de mãos dadas com o Renato? __ pergunta ele, em um
grupo de pessoas. __ Nunca a vi em nenhuma ocasião, mas chegou junto com a mãe e a
filha. E chegou chegando. Pediu pra ser gata e passou na fila cinquenta vezes. __ responde
outro amigo que está no grupo.
Branca consegue contornar a situação com Rafaela. Ela explica para a moça que
a garotinha está com ciúmes do pai e aconselha a moça se distanciar um pouco de Renato,
pelo menos até elas irem embora. A moça concorda e se afasta. Quinze minutos se passam
e dona Beatriz chama para irem embora. Renato decide permanecer na festa.
Chegando à mansão, Rafaela faz birra porque o pai ficou na festa. Branca decide
permanecer na residência até a garotinha dormir. Luíza e Letícia também interagem com
a menininha na tentativa de distrai-la.
Finalmente a garotinha adormece. São 22:00 h Branca troca de roupa e se prepara
para ir embora. Na sala de estar, ela cruza com Renato chegando bêbado em casa sem
camisa e com uma garrafa de vodka na mão. __ Cadê a bela moça de vestido vermelho
que devastou os corações dos meus amigos? __ diz ele, olhando para ela que neste
momento está totalmente sem graça.
Ela está usando o seu uniforme Branco e os cabelos presos tipo coque. __ Oi seu
Renato. O senhor está bem? Precisa de alguma coisa? __ pergunta ela __ Sim. Preciso
dormir... __ responde ele, sorrindo __ E de preferência com uma bela mulher. __ completa
ele, se aproximando dela.
Ela não leva em consideração o comentário, pois viu que ele bebeu demais e ela
sabe que no dia-a-dia ele não é assim. __ Seu Renato, o senhor precisa se hidratar, beber
água... __ diz ela. Ele interrompe __Você também acha que eu bebi demais não é? __
pergunta ele, cada vez mais próximo dela. Ela tenta sair da saia justa. __ Nada que um
pouco de água não resolva. Vou até a cozinha buscar um copo com água pro senhor. __
insiste ela, saindo às pressas em direção à cozinha.
Ela não percebe, mas Renato vai atrás. Na cozinha, enquanto ela pega a água, ele
encosta na parede e fica observando ela. __ É incrível como você conquistou tão rápido
a minha filha, a minha mãe e os meus amigos. Qual é o segredo, em Mulher Maravilha?
__ pergunta ele, parado ali. Ela se vira e se assusta. Por muito pouco ela não deixa a jarra
com água cair. __ Me desculpe, não vi o senhor aqui. E respondendo a sua pergunta:
crianças gostam de atenção, de carinho e de amor. Tudo isso na dose certa, a gente
conquista qualquer criança. __ responde ela. Renato insiste na pergunta. __ E os meus
amigos? __ Pergunta ele. Ela caminha na direção dele para entregar o copo com água. __
Tome aqui, beba essa água que logo o senhor vai melhorar. __ diz ela, ignorando a
pergunta dele. __ Você não me respondeu. E os meus amigos, você conquistou com a sua
beleza ou com o poder da Mulher Maravilha? __ pergunta ele, levando uma das mãos ao
cabelo dela e com a outra ele pega o copo com água. Ela se afasta. Ele bebe a água e
quando vai tentar andar para deixar o copo na mesa, ele tropeça e ela o segura. Com os
rostos quase colados, ela fica com as bochechas totalmente vermelha. Encarando ela, ele
se aproxima para beijá-la. Ela vira o rosto e o beijo vai na bochecha. __ Vá dormir seu
Renato. Vou levar uma jarra com água e deixar lá no quarto. Amanhã a Rafa tem
quimioterapia e precisa do senhor do ladinho dela. __ diz ela, se afastando dele para
preparar a jarra com água. __ É isso mesmo que eu vou fazer. __ responde ele,
caminhando para fora da cozinha.
Ela prepara uma jarra com água e leva até o quarto. Chegando lá, ela bate na porta
e ele pede para que entre. Ela entra e o vê sentado na cama. __ Me desculpe. Vou deixar
aqui a sua água. Tenha uma boa noite! __ diz ela, deixando a jarra e o copo em cima do
criado mudo ao lado da cama. __Boa noite, Mulher Maravilha! __ responde ele __ Boa
noite, seu Renato __ responde de volta ela sorrindo.
Ela chega em casa e ver que Alecsander ainda está acordado. Ela dispensa a Julia
e vai dar atenção ao filho. __ Eu tava te esperando, mas quase não aguentei. Tô morrendo
de sono. __ diz ele, acomodado na cama. Ela dá um abraço bem apertado e um beijo nele.
__ Boa noite, meu amor! Mamãe te ama muito. Vamos dormir que temos um longo dia
amanhã. __ diz ela, dando um beijo na testa dele.
Deitada no quarto, ela tenta esvaziar a mente para dormir, mas não consegue. Na
cama, ela vira para um lado, vira para o outro e o sono não vem. Um filme sobre o dia
que passou volta à sua cabeça o tempo todo, e principalmente cenas do show de Renato,
que para ela, foi um sonho. __ Meu Deus! O que foi que aconteceu hoje? Não entendi
nada. Que dia! E a semana só está começando. __ diz ela, sozinha no quarto.
O dia amanhece e ela, que não dormiu quase nada durante à noite, chega para
trabalhar cedo na mansão e logo vai para o quarto de Rafaela. Renato ainda dorme. Ela
percebe que Rafaela está febril e imediatamente ela ligar para o médico. Ele pede que
leve Rafaela o mais rápido ao hospital para examiná-la e realizar alguns exames. Ela
comunica dona Beatriz, que decide não acordar o filho. As três vão para o hospital.
Rafaela é submetida há alguns exames. Por volta das 11 horas, Renato, super
ansioso, chega ao hospital. __ Porque não me avisaram? __ pergunta ele. __ Para não te
preocupar, meu filho. __ responde dona Beatriz, que está sentada em uma poltrona. Elas
esperam pelo médico em uma pequena sala de espera. __ Estamos aguardando os
resultados dos exames. __ informa Branca. __ Será que foi a festa de ontem que fez mal
pra ela? __ pergunta ele, se sentando ao lado de Branca que está com Rafaela em seu colo.
__ Você está bem minha princesa? __ pergunta ele, pegando a filha para seu colo. __ Sim,
papai. Só tô com um pouquinho de sono. __ responde a garotinha. __ Aparentemente ela
está bem, seu Renato. Está febril, e achamos melhor trazê-la pro médico avaliar. __
explica Branca. __ Entendi. Vocês fizeram certo em trazê-la. __ diz ele. __ A propósito,
me desculpe por ontem à noite. __ completa ele, olhando para Branca. __ Sem problemas.
__ responde Branca de cabeça baixa com vergonha. __ E o que foi que aconteceu ontem
à noite? __ pergunta dona Beatriz. __ Nada não, minha mãe. Eu bebi um pouco demais e
falei umas besteiras. Só isso. __ responde ele.
O médico aparece na sala de espera e chama todos para uma conversa. Ele explica
que Rafaela está com infecção. Ele suspende a sessão de quimioterapia da semana,
prescreve uma receita com alguns medicamentos, e dispensa Rafaela para tratar em casa.
__ Não há necessidade de internação aqui no hospital. Podem tratar ela em casa mesmo.
Qualquer coisa, me liguem. __ diz o médico, que se chama Rodrigo Fonseca.
Eles saem do consultório todos em silêncio. Renato leva Rafaela no colo. No
corredor do hospital eles cruzam com o doutor Samuel saindo de um consultório. Ele se
espanta ao ver Branca com o famoso cantor. __ Olá, dona Branca! __ diz ele,
cumprimentando Branca com um beijo no rosto. Ele se dirige aos demais e os
cumprimenta. __ Oi Samuel! O que você faz por aqui? __ pergunta Branca. __ Eu atendo
aqui uma vez por semana. E você, o que faz aqui? __ pergunta ele olhando para Renato
que está com a filha no colo.
Branca se dirige a dona Beatriz e explica que foi doutor Samuel quem a ajudou a
conseguir a licença da prefeitura e que se não fosse por ele, ela não estaria hoje cuidando
de Rafaela.
Dona Beatriz o cumprimenta e agradece. Ela também aproveita para elogiar
Branca. Neste momento, começa a gerar uma certa aglomeração de pessoas no corredor
por causa de Renato. Ele tira algumas fotos com fãs e dar alguns autógrafos.
Dona Beatriz o chama para esperar por Branca no carro antes que gere mais
tumulto e aglomeração dentro do hospital. __ Fique à vontade, minha querida. Estaremos
lhe esperando no carro. __ diz dona Beatriz, que aproveita para se despedir de doutor
Samuel. __ Foi um prazer lhe conhecer doutor Samuel. __ completa ela. Doutor Samuel
beija a mão dela e também se despede.
Branca fica por mais alguns instantes conversando com doutor Samuel. __ Não
posso demorar. A Rafaela não está muito bem. Depois a gente se fala. __ diz ela. __ Gata,
tô morrendo de saudades. Posso te ligar mais tarde? __ pergunta ele. __ Eu te ligo a noite.
Tenho que ir agora. __ diz ela. Ele se aproxima e dar um beijo na bochecha dela. __ Gata,
não esquece que você é minha. __ diz ele, sorrindo. ___ Até breve, doutor Samuel! E
outra coisa: eu não sou de ninguém. Eu sou uma mulher livre. __ responde ela, sorrindo.
__ Também te amo, gata __ completa ele.
À noite em casa e deitada na sua cama, ela liga para doutor Samuel. Neste
momento ele está no quarto dele acompanhado de uma bela moça e não vê o telefone
tocar. A ligação chama até ser direcionada para a caixa postal. __ Se conforma dona
Branca. Um homem desse vai querer o que com você? Só sexo, né. Se é só isso que você
também quer, então vai fundo, se não for, caia fora. __ diz ela, falando sozinha no quarto.
Ela não consegue parar de pensar nele: no beijo roubado, no abraço, nas palavras que ele
sussurra no ouvido dela e na “pegada” dele também. O corpo dela esquenta. Ela sente um
calor que começa na cabeça e vai descendo. A mão vai escorregando acariciando o corpo,
até chegar ao meio das coxas. Ela fica ofegante pensando em como seria passar a noite
com ele. Ela pensa nos dois juntos na cama, num beijo molhado, num abraço bem
apertado, ele por cima dela fazendo ela sentir o prazer que há mais de quatro anos ela não
sente.
Chega a quinta-feira. São 7 horas e Branca já está na porta da mansão com uma
mala pequena e empurrando a cadeira de rodas de Alecsader. Como é feriado, o garoto
não tem aula. Dona Beatriz os recebe e os instala em um quarto no andar de baixo da
mansão. Durante a semana que passou, dona Beatriz mandou adaptar o quarto e o
banheiro para recebe-los.
Branca administra as medicações em Rafaela e como a garotinha já estar bem
melhor, ela decide fazer um piquenique no jardim da mansão com as crianças.
No jardim, ela e Luiza abrem dois lençóis debaixo de uma árvore e junto com as
duas crianças sentam no chão. Enquanto Luiza brinca com os pequenos, Branca deita a
cabeça num travesseiro e continua a leitura do livro de oncologia pediátrica, para entender
melhor a doença de Rafaela e com isso poder cuidar melhor da garotinha.
Renato chega de uma pequena viagem e vai até o jardim. Rafaela apresenta
Alecsander para o pai. Ele está vestindo calça jeans rasgada justa no quadril e nas pernas,
camisa de botão que está aberta expondo o abdômen sarado dele, o cabelo está bagunçado
e ele está irresistivelmente gato de óculos escuro. Ela sem querer lança olhares para o
abdome dele e logo tenta disfarçar. __ Bom dia Mulher Maravilha! __ diz ele. __ Bom
dia, seu Renato! __ cumprimenta ela de volta que se senta e abaixa a cabeça com vergonha
dele ter percebido os olhares dela. __ E esse livro, fala alguma coisa de como curar a
minha filha? __ pergunta ele, se sentando na frente dela.__ É um livro que fala sobre a
doença e os cuidados com o paciente. Fala do tratamento também. __ explica ela. __ E
você acha que a minha filha vai ficar boa? __ pergunta ele, preocupado. __ Tenho fé em
Deus que sim. A equipe que estar acompanhando ela é muito boa. Agora é só termos fé e
esperar as coisas acontecerem. __ responde ela, fechando o livro. Neste momento Luíza
chega empurrando a cadeira de rodas de Alecsander e o garotinho pede para tirar umas
fotos com Renato. Por alguns minutos, todos fazem uma sessão de fotos.
Ainda no jardim, Renato lembra que à noite ele fará um show bem reservado em
comemoração ao aniversário de um grande empresário da cidade, e chama Alecsander,
Branca e Luíza para curtirem o show. __ Não tem como ir, seu Renato. Estou responsável
pela Rafa hoje à noite. __ informa Branca. __ Pode ir Branca. Leve o Alecsander pra se
divertir um pouco. Eu fico com a Rafa e qualquer coisa eu te ligo. __ diz Luíza. __ Vamos,
mamãe. Por favor? __ implora Alecsander. Renato também insiste para ela aceitar o
convite.
Branca faz tudo para ver o filho feliz e por causa dele, ela decide aceitar o convite.
Alecsander é muito fã de Renato e talvez não tenha outra oportunidade do garoto ir a um
show do cantor.
Atualmente Branca tem convivido bastante com Renato e tem conhecido o outro
lado da pessoa que ele é: humilde, educado, carinhoso, caridoso e um excelente patrão.
Ele era totalmente indiferente com ela, porém com o tempo ele foi observando o quanto
a filha se adaptou e se apegou a ela. Até o comportamento revoltado em relação à perda
da mãe, melhorou. E com isso, ele passou a admirá-la tanto profissionalmente quanto
pessoalmente.
Ele ainda está muito revoltado com a perda da esposa e com a doença da filha. Ele
bebe praticamente todos os dias. E durante às noites ele sai para baladas com grupo de
amigos, mesmo quando estando ou não fazendo shows. Ele tem ficado com diversas
mulheres também, fato esse que vem sendo assunto em noticiários e também ele vem
sendo muito criticado pelos fãs.
Branca a cada dia que passa, vem se interessando mais por doutor Samuel. Mas
todas as vezes que ela o ver na companhia de outras mulheres, ela recua. No entanto,
durante as últimas noites, doutor Samuel tem sido o motivo da insônia dela.
Dona Beatriz mais uma vez presenteia Branca com diversas roupas e sapatos para
que ela vá ao show bem arrumada, já que ela só levou na mala roupas de trabalho.
Dona Beatriz é boa conselheira e sempre que pode, aconselha bastante Branca. E
enquanto elas escolhem o look que Branca irá usar no show, dona Beatriz aproveita para
conversar com ela: __ Minha querida, seja mais ousada. Você é uma jovem tão linda.
Ouse mais. Não se sacrifique só pelo seu filho, faça algo por você também. __ diz dona
Beatriz, ajudando Branca na escolha das roupas. __ Dona Beatriz, depois que meu marido
morreu, eu perdi a graça pra muitas coisas. Não tenho vontade de sair. Minha rotina é
muito exaustiva, não me sobra tempo e nem dinheiro pra gastar com essas coisas. __
explica ela. __ Não são coisas, minha querida. São necessidades que todo ser humano
precisa. Hoje você é como se fosse uma filha pra mim. Então, eu quero ver a minha filha
linda e feliz. A Laura tinha razão: você é um encanto de pessoa. __ diz dona Beatriz. __
Muito obrigada dona Beatriz! Eu também me apeguei a todos aqui. __ responde Branca.
__ O motorista vai levar e buscar vocês no show. Vou pedir ao cabeleireiro e o maquiador
que arrumava a minha nora para vir até aqui. Não quero você com essa carinha triste e
cansada. __ diz dona Beatriz __ Mas dona Beatriz, não precisa. __ interrompe Branca. __
Precisa sim e já agendei. __ completa dona Beatriz.
Finalmente ela e Alecsander chegam ao show. Ela veste um vestido tubinho curto
na cor preto com um decote no colo. Ela usa uma sandália alta de amarração na perna. O
cabelo ela solto escovado bem lisinho partido ao meio. A maquiagem é bem carregada.
Dona Beatriz pediu para o maquiador caprichar e foi ela também quem escolheu todo o
look.
Branca e Alecsander chegam ao show e se acomodam em um camarote já
reservado a família e aos amigos de Renato. Sentada e servindo um copo com suco ao
filho, ela avista doutor Samuel em outro camarote com um grupo de amigos e também
algumas lindas mulheres. Ela dá um sorriso e acena com a mão para ele, mas ele não a
reconhece. Como doutor Samuel nunca perde a oportunidade de cumprimentar uma bela
moça, ele sai do camarote onde está e vai até o encontro dela, sem saber de quem se trata.
Ele se aproxima e quase não a reconhece. Ela está elegantemente vestida e
realmente irreconhecível. Ele fica totalmente estarrecido ao vê-la ali, linda e sedutora. __
Meeeeeu Deeeeeus do céu! __ diz ele, indo ao encontro dela. __ Que mulher é essa? __
completa ele boquiaberto. Ela fica sem graça e permanece em silêncio. __ Gata, você tá
linda. Muito linda. Nem reconheci. __ diz ele, ainda espantado. Ela se levanta para
cumprimenta-lo com um abraço e um beijo no rosto. __ A mulher mais gata da festa. __
completa ele. __ Que isso, Samuel. Aos teus olhos toda mulher é gata. __ responde ela.
__ Mas você é a mais gata mesmo. __ insiste ele. __ Menos né, Samuel __ diz ela. Ainda
de queixo caído, ele a olha de cima em baixo.
Com certeza neste momento ela está com as bochechas vermelha por debaixo da
maquiagem. __ E por acaso a gata está acompanhada? __ pergunta ele, olhando para os
lados e percebendo os olhares para ela dos homens em volta. O camarote não é muito
grande, deve ter no máximo umas vinte pessoas ali contando com ela e Alecsander. Nele
tem algumas mesas com cadeiras bem confortáveis e um garçom exclusivo só para
atendê-los. __ Claro que sim. Estou acompanhada deste belo príncipe. __ responde
prontamente ela. Ele se abaixa levemente e cumprimenta Alecsander. __ Oi garotinho!
Tudo bom com você? Sua mãe fala muito de você, sabia? __ diz ele. __ Sim. Eu sabia.
__ responde Alecsander estendendo a mão para cumprimenta-lo. ___ Você também sabia
que tem a mãe mais gata desse mundo? __ diz ele olhando para ela. __ Sim. Eu também
já sabia. Minha mãe é a mãe mais linda do mundo. __ responde o garotinho. __ Gata,
você me permite acompanhar vocês? __ pergunta doutor Samuel. __ Você vai deixar sua
namorada lá sozinha? __ responde prontamente ela, olhando para o camarote onde ele
estava. Ele sorrir. __ Minha namorada hoje é você, e não vou te deixar aqui com esses
vampiros sangue suga. __ responde ele, olhando em volta. __ Eu protejo a minha mãe. __
diz Alecsander, prestando atenção na conversa dos dois. __ Olha só! Tá vendo, tenho um
protetor. __ diz ela, sorrindo.
O show começa e doutor Samuel gruda em Branca. Ele não arreda o pé do
camarote onde ela está. E como sempre, ele também não perde a oportunidade de falar
besteiras para ela. __ Gata, você tá incrível. Vamos pro meu apartamento depois do show?
__ pergunta ele, sussurrando no ouvido dela. __ Não posso. Eu nem podia estar aqui
também. __ responde ela que explica também que está de plantão a noite toda na mansão
de Renato e só está no show por insistência do filho. __ A não Gata! Não consigo parar
de imaginar você na minha cama sem esse vestido deitadinha do meu ladinho... __ insiste
ele sussurrando no ouvido dela. __ Samuel você trate de se comportar. Meu filho está
aqui. __ interrompe ela. __ Não consigo. Você tá muito gostosa. Me dá uma chance, gata?
Vamos pro meu apartamento hoje? __ insiste ele, portando um copo de whisky em uma
das mãos. __ Chega de falar besteiras. __ diz ela, se afastando. __ Tá bom gata, parei. __
responde ele. __ Você deve tá achando que sou puritana, não é? Mas não sou.
Ultimamente é a falta de tempo mesmo. Eu também quero sair com você, mas nossos
horários não estão batendo. __ explica ela. __ Tudo bem, gata. Mas arruma um tempinho
pra mim. __ insiste ele. Ela dá um abraço nele e um beijo no rosto. __ Eu quero muito
sair com você, mas ultimamente é a falta de tempo mesmo. Vou organizar minha escala
e a gente combina pra jantar. __ diz ela, abraçada a ele.
A noite é longa e o show acontece. Renato faz a festa de cima do palco. Ele canta
e encanta a todos. Depois que a esposa morreu, em todos os shows ele escolhe uma moça
da plateia para subir ao palco, dançar com ele e ao final da música ele lhe dá um abraço
e um beijo na testa. Só que nesse show acontece diferente, uma moça sobe ao palco,
agarra ele e não soltou mais. Ele canta e dança três músicas com ela agarrada pela cintura
dele e ao final da terceira música a moça dá um beijão na boca dele, e ele, como já está
um tanto bêbado, corresponde ao beijo. Branca, do camarote observa a cena. __ Mas que
mulher mais safada. __ diz ela. __ Ela pode até ser safada, mas que o Renato Dias tá
aproveitando, tá. Bebendo desse jeito ele não vai nem lembrar que agarrou essa mulher
no palco. __ completa doutor Samuel, sorrindo
Do palco, Renato acena para o camarote onde Branca está. __ Um grande abraço
ao meu mais novo amiguinho Alecsander. Deus lhe abençoe, meu querido. Essa próxima
música que irei cantar é para você. __ diz ele de cima do palco e acenando para o garoto.
Alecsande vibra de alegria.
No mesmo camarote que Branca está, também estão vários amigos de Renato.
Durante todo o show, eles tentam se aproximar dela, mas doutor Samuel não dá espaço.
Renato termina o show e segue para o camarote onde estão os amigos enquanto
um Dj continua a festa. Ele cumprimenta a todos inclusive o doutor Samuel. __ Tio
Renato, o show foi muito top. __ diz Alecsander, levantando a mão para tocar a mão de
Renato. __ Que bom que você gostou. __ responde Renato, se abaixando e passando a
mão na cabeça de Alecsander. Logo em seguida ele segue para cumprimentar os amigos.
__ Vei, que gata é essa que você mandou aqui pro camarote com a gente? __ pergunta
um dos amigos de Renato. __ Quem? A Mulher Maravilha? Ela é a enfermeira da minha
filha, e é muito gata mesmo. __ responde Renato, virando a cabeça no rumo de Branca.
__ Nós tentamos chegar junto, mas o babaca que tá com ela é muito nervosinho. __
Completa o amigo. Renato sorrir. __ Não me digam que vocês não arrumaram confusão
com o namorado dela? __ pergunta Renato. __ Mais ou menos. __ responde o amigo. __
Cara, dá próxima vez você chama só ela. Deixa o babaca de fora. __ diz outro amigo de
Renato. __ Vei, fala aí, você já tirou uma casquinha dessa mulher, não já? __ insiste o
amigo. Renato olha novamente no rumo de Branca. Ela está toda empolgada conversando
com doutor Samuel. __ De verdade, nunca. Tenho que respeitar ou minha filha fica sem
a enfermeira, que por sinal é uma ótima profissional. __ diz Renato, bebendo e olhando
no rumo de Branca. __ Ótima e gostosa também. __ completa o amigo, também olhando
no rumo dela. __ Não vão arrumar confusão com o namorado da moça. Se comportem.
__ pede Renato. Logo em seguida ele sai e vai até os outros camarotes cumprimentar os
outros amigos.
Branca fica na festa por mais 20 minutos e depois vai embora. Ela e Alecsander
retornam para a mansão. Doutor Samuel permanece na festa e fica aos beijos com uma
bela moça. Renato observa e fica sem entender.
Por volta das 3:00 horas na mansão, Branca retorna do quarto de Rafaela para o
quarto que ela estar alojada no andar de baixo, na sala ela cruza com Renato chegando da
festa alcoolizado e tropeçando em tudo. Ela corre até o encontro dele e o ajuda a subir a
escada.
Ele quando bebe fica mais extrovertido. __ Seu Renato está tudo bem? Vamos que
lhe ajudo a chegar até o quarto. __ diz ela o segurando e conduzindo para o quarto. __ Oi
Mulher Maravilha! Você veio pra me salvar? __ pergunta ele, sorrindo. __ Hoje acho que
sim. Vamos que vou lhe ajudar a chegar até o quarto e vou buscar uma água. O senhor
precisa se hidratar. __ responde ela ajudando ele a subir as escadas.
Desde que Renato escutou Branca contando as historinhas da Mulher Maravilha
para Rafaela que ele só a chama assim. __ Sabia que mais uma vez você deixou todos os
meus amigos apaixonados? __ diz ele. __ Não, seu Renato. Eu não sabia. __ responde
ela, sem dar muita atenção para o assunto. __ E você sabia que eu tenho a enfermeira
mais linda do mundo? __ insiste ele. __ Eu também não sabia, seu Renato. __ responde
ela.
No quarto, ele se senta na cama e ela rapidamente vai até a cozinha buscar uma
jarra com água. Ao chegar de volta, ela se depara com ele chorando. Ela se ajoelha bem
na frente dele para entregar a água. __ Porque essas coisas acontecem comigo? Porque
ela teve que me deixar assim? Por que? Você sabe me responder? __ pergunta ele, levando
as mãos à cabeça. Branca fica sem palavras, afinal, ela também passou por essa mesma
situação.
Ela se emociona e tenta de alguma forma o consolar. __ A vida é assim, seu
Renato. A gente faz planos e quando menos se espera, as coisas mudam e os planos ficam
para trás. Mas o senhor vai superar tudo isso. Ainda tá muito recente. E logo logo estará
fazendo planos novamente. __ diz ela, ali ajoelhada na frente dele. As lagrimas também
escorrem pelo rosto dela. __ Acho que não. __ diz ele, com as mãos no rosto. __ Vai sim.
Eu tenho certeza. __ insiste ela. __ Tá muito difícil. Dói demais. Tem dia que eu não
aguento olhar pra minha filha e ver o sofrimento dela e ainda saber que ela não tem mais
a mãe pra cuidar dela. __ completa ele. __ Seu Renato, a vida é feita de momentos, que
ora podem ser bons ou ruins. E nós temos que passar esses momentos de cabeça erguida
e seguir adiante, mesmo que a dor pareça insuportável e eu sei que muitas vezes a dor é
insuportável, mas a gente dribla essa dor. Eu tô conseguindo superar e tenho certeza que
o senhor também vai conseguir e ainda vai ter muitos momentos felizes. __ diz ela, com
lágrimas escorrendo pelo rosto. __ Você já conseguiu superar? __ pergunta ele. __ Tô
conseguindo. Cada dia um pouco mais. __ responde ela.
Renato se emociona e chora. Branca ali parada se emocionada também. __ Você
já conseguiu esquecer seu marido? __ pergunta ele, bebendo a água que ela trouxe. __
Esquecer acho que nunca vou, mas a dor vem diminuindo com o tempo. A saudade que
tem dias que aperta, mas eu logo trato de fazer alguma coisa e me distraio. Pelo meu filho
e por todas as pessoas que me amam, eu tenho que ser forte e seguir em frente. __
responde ela, enxugando as lágrimas do rosto. __ Eu não entendo. Eu não aceito. Porque
Deus levou justamente ela? Tão jovem, tão alegre, tão saudável, tão companheira, tão
boa. __ se pergunta ele. __ Eu também um dia já me fiz essas mesmas perguntas. Mas
Deus tem planos pra cada um de nós. Não adianta a gente questionar. Temos que aceitar,
temos que seguir adiante e entender que essa dor não é pra sempre. Nada é pra sempre,
nem o sofrimento. __ diz ela, olhando para ele. __ Tô tentando seguir em frente, mas tá
difícil. Não sei se vou conseguir. __ insiste ele. __ Vai conseguir sim. Tenho certeza que
vai. E essa dor que o senhor está sentindo vai dar lugar à saudade. __ diz ela, ainda
ajoelhada no chão.
Branca fala, Renato escuta, se emociona e de pouco a pouco ela consegue fazer
ele beber a água e se acalmar. Ele fala sobre a esposa, das coisas que ela gostava, das
viagens que fizeram e Branca também viaja no tempo lembrando do marido. De repente,
Renato se levanta, segura a mão dela e faz um convite: __ Você vem comigo a um lugar?
__ pergunta ele. __ Depende, seu Renato. __ responde ela. __ Me chame só de Renato,
por favor. E não me trate mais de senhor. __ Tudo bem seu Renato...digo, tudo bem
Renato. __ responde ela, gaguejando. __ Vem comigo. Você vai gostar. __ diz ele,
puxando ela pela mão.
Eles vão em direção a um quartinho ali mesmo no andar de cima da mansão. O
quarto realmente é pequeno e serve como um pequeno depósito. Nele tem uma escada
que leva até o terraço. Renato pega dois colchonetes que já estavam ali em cima de uma
bancada, e eles sobem.
O terraço não é muito grande, tem uma mureta todo em volta, tem algumas plantas
decorando o local e alguns puffs espalhados. Renato mandou construir esse espaço há
dois anos a pedido da esposa que adorava espaços ao ar livre. __ Jesus! Que vista linda!
__ diz Branca, deslumbrada olhando para o céu e olhando as belas mansões em volta.
Como o condomínio que estão fica longe do grande centro da cidade, não há por perto
prédios ou qualquer outra construção que atrapalhe a vista do céu. E realmente a vista é
muito linda. Branca fica de boca aberta e vidrada na paisagem.
Renato organiza os colchonetes no chão e se deita. Ele estende a mão para Branca
que ainda está de pé admirando a vista se deitar também. __ Ei Mulher Maravilha,
experimenta olhar o céu deitada e veja como é mais bonito. __ diz ele. __ Que lugar
incrível. Que céu lindo. __ diz ela, se abaixando para se deitar no colchonete ao lado dele.
__ Quando eu e minha esposa brigávamos, eu sempre vinha pra cá. Aí depois de mais ou
menos uma hora, ela chegava e se deitava aqui e nós ficávamos olhando as estrelas até
amanhecer. __ diz ele, deitado com os braços atrás da cabeça e as pernas flexionadas. __
Eu e meu marido também tínhamos um cantinho especial na casa. Lógico que nem
chegava aos pés desse aqui, mas também era bem aconchegante. Depois que ele morreu,
mudei de casa. Não consegui olhar mais pra nenhum cômodo e não lembrar dele. __ diz
ela. __ Você é a primeira pessoa que eu trago aqui, além da minha esposa. E depois que
ela morreu, essa é a primeira vez que volto aqui. __ completa ele. __ Me sinto muito
honrada e especial. Muito obrigada pelo convite pra assistir essa vista linda. __ responde
ela, olhando para o céu que está totalmente estrelado. __ Mas você é especial. E sabe
porque eu sei disso? __ diz ele. Ela olha para ele e gesticulando com a cabeça responde
que não sabe. __ Porque eu vejo a alegria estampado no rosto da minha filha quando ela
está com você. Hoje, você é a única pessoa que consegue arrancar um sorriso dela nos
momentos mais difíceis, e isso faz de você uma pessoa muito especial pra Rafa, pra minha
mãe e pra mim. __ responde ele. __ Eu sinto um carinho muito grande pela tua filha.
Cuido dela do mesmo jeito que cuido do meu filho. Eu sempre falo pra a equipe de
enfermagem: temos que cuidar dos pacientes do mesmo jeito que cuidamos dos nossos
entes queridos. __ diz ela. __ Graças a Deus que minha mãe achou você. __ completa ele.
__ Eu que agradeço a oportunidade de poder cuidar da Rafa, não só pelo salário que está
me ajudando muito é claro, mas pela própria Rafa que é um amor de criança e precisa de
muito carinho e muito amor pra vencer a leucemia. __ diz ela, olhando para o céu.
Por alguns instantes Renato faz silêncio e se emociona novamente. __ Minha Rafa
é um amor mesmo. __ completa ele. __ Ela e toda a família são um amor. Agradeço a
Deus e a minha profissão pela oportunidade de te conhecer pessoalmente. Sempre fui tua
fã. __ completa ela mudando o assunto para que Renato se recomponha. __ Então você
foi minha fã e não é mais? __ pergunta ele sorrindo discretamente. __ Eu conjuguei o
verbo no tempo errado. Eu sou tua fã, mas nunca tinha ido a um show teu. __ completa
ela. __ Que isso! Então você não é minha fã. Fã que é fã não perde meus shows. __ diz
ele. Ela sorrir. __ Pois é, sou tua fã e nunca imaginei que poderia pelo menos chegar perto
pra tirar uma foto. E hoje estou aqui olhando o céu de cima do telhado da tua casa e com
você. Quem diria... __ diz ela. Ele pega o telefone celular e posiciona para tirar uma self.
__ Se é por falta de foto, esse problema já está resolvido. __ diz ele, tirando várias selfs
dos dois.
Renato novamente pergunta sobre a filha: se ela pode morrer ou se tem chance de
cura. Branca responde falando da doença: o que é, como é, das alternativas de
tratamentos, dos riscos e do prognóstico. Como sempre, ela é bem sincera e realista. Ela
fala que Rafaela pode sim morrer durante o tratamento, mas que também tem chance de
cura e que todos têm que se agarrar nessa chance.
O dia está quase amanhecendo quando eles se levantam e retornam para dentro da
casa. Renato acompanha ela até o quarto de Rafaela e ao se despedir, ele pergunta quem
era o cara que esteve com ela durante todo o show. Ela explica que é somente um amigo
do serviço. __ Só amigo mesmo? Porque areciam namorados. Meus amigos queriam
jogar ele lá de cima do camarote porque ficaram doidos em você. __ diz ele, sorrindo. __
Nossa! Mas você estava cantando ou prestando atenção nos outros? __ pergunta ela,
também sorrindo. __ De cima do palco eu presto atenção em tudo e em todos. Vejo tudo
lá de cima. E vi que o seu amigo está muito afim de você. No começo achei que fosse
realmente seu namorado, por isso mandei um alô só pro seu filho, vai que o cara é
ciumento, né. __ completa ele. __ Eu não tenho namorado. Depois que meu marido
morreu, eu nunca fiquei com ninguém. __ diz ela, encostada na porta do quarto. Ele fica
espantado com a resposta. __ Sério? Tem quatro anos que você não fica com ninguém?
Linda desse tanto é difícil de acreditar. __ diz ele surpreso. __ Muito obrigada pelo linda,
mas é verdade. Nunca fiquei com ninguém. Além da falta de tempo, nunca me interessei
também. __ responde ela. __ Mas seu amigo e todos os meus amigos estão querendo uma
chance. __ completa ele. __ Mas não sei se devo dá uma chance ao meu amigo ou aos
teus amigos. Meu amigo é muito safado e os teus amigos eu já não sei. Tenho muito medo
de me machucar, sabe. __ responde ela. __ Então vou incorporar a minha mãe, dona
Beatriz, e vou te dar um conselho. __ diz ele. Ela sorrir. __ Tome cuidado com os homens.
Observe bastante e escute o seu coração. Nessas horas, o coração é quem fala mais alto.
__ completa ele, também encostado na porta, de frente para ela. __ Tem uma música que
eu gosto muito de cantar nos shows. Com certeza você conhece, a música é “Duas
metades” de Jorge e Matheus, meus amigos.__ diz ele que aproveita e se aproxima do
ouvido dela e canta o refrão da música:
__ “...O que de um grande amor se espera...
É que tenha fogo...
Que domine o pensamento...
E traga sentido novo...
Que tenha paixão, desejo....
Que tenha abraço e beijo...
E seja a melhor sensação...
Que preencha a vida vazia...
Manda embora a agonia....
E que traga paz pro coração...” __ canta Renato no ouvido de Branca. Ela se
arrepia toda. __ Entendeu? Se você sentir tudo isso que a música diz, seja por quem for,
dê uma chance porque vale a pena. __ completa ele. Ela fica maravilhada pela canção e
fica pensativa e em silêncio por alguns segundos. ___ Eu amo essa música, mas nunca
tinha prestado atenção na letra dessa forma. Você tem razão. __ diz ela, com um sorrisão
no rosto. __ Eu não. A música tem razão. __ responde ele que se aproxima e dá um beijo
no rosto dela. __ Bom dia Mulher Maravilha! __ diz ele __ Bom dia! __ responde ela. __
De Mulher Maravilha não tenho é nada __ completa ela, em pensamentos enquanto olha
Renato que entrar no quarto dele. __ É dona Branca, você deve dar uma chance ao amor.
Não fuja mais. __ diz ela falando sozinha ali encostada na porta e olhando para o nada.
Ela continua pensativa na porta do quarto por alguns minutos e entra para ver
Rafaela. Ela verifica a temperatura da garotinha, depois se deita numa poltrona bem
espaçosa e começa a pensar em doutor Samuel. Um filme da noite maravilhosa que passou
com ele no show vem à cabeça. __ Seja o que Deus quiser. __ diz ela falando sozinha.
Rafaela acorda um pouco indisposta. Fica o dia todo no quarto brincando com
Alecsander enquanto Branca continua suas leituras. Renato tem um show ao longo do dia
e a noite também.
Na madrugada, passando pela sala de estar, Branca encontra ele chegando de mais
um show. Ele está alcoolizado e tropeçando em tudo. Ela o conduz até o quarto, leva água
para ele e o bota para dormir. Este episódio se repete por todo o final de semana que que
ela passa na mansão.
Mais uma semana se inicia. Branca e a amiga Gleyce estão no plantão do hospital.
Durante a madrugada quando o plantão está calmo, elas aproveitam para conversar: __
Amiga, decidi dar uma chance pro Samuel e seja o que Deus quiser. __ diz Branca,
suspirando.
Ela está sentada numa cadeira e Gleyce de pé encostada numa bancada. __ Eu já
falei pra você aproveitar mais a vida. Daqui a pouco tá velha, feia, e sem tesão também,
porque você sabe né amiga, com o tempo os hormônios vão embora. __ diz Gleyce,
sempre sorridente. __ Credo amiga. Vai demorar ainda, eu em. __ responde Branca. __
Credo nada. Tá perdendo tempo e as oportunidades também. Se eu fosse gata do tanto
que você é, eu pegava era todo mundo mesmo. Botava a fila toda pra andar. __ completa
Gleyce. __As duas sorriem. __ Você é maluquinha mesmo. Mas mudando de assunto, o
que você acha? Devo dar uma chance pro Samuel? __ pergunta Branca. __ Amiga se você
sente tesão nele, vai fundo. Se você está apaixonada, vá com calma. Mas não dê uma
chance para ele. Dê uma chance para você de ser feliz, de se apaixonar de novo, de se
entregar de novo, de viver a vida a dois novamente. __ diz Gleyce, toda empolgada. __
Nossa! Quem diria, em maluquinha. Tá bem inspirada hoje. __ diz Branca. __ Amiga,
você sabe que sou maluquinha, mas as vezes eu penso viu. E eu quero muito o seu bem.
Vai lá com Samuel. Ele tá no repouso. Vai lá dar um oi pra ele e ver se seu coração acelera
e se você sente um frio na barriga. __ completa Gleyce, puxando a amiga pelas mãos.
Branca vai até o repouso dos médicos. Ela bate na porta e entra. Doutor Samuel
está junto a outro médico. Ela pede licença e pede para falar com ele fora do quarto. Eles
caminham juntos até um terraço que tem no hospital. __ Tá tudo bem gata? Tá tão séria,
tão calada. __ pergunta ele, caminhando bem ao lado dela. __ Tô só cansada mesmo. Mas
tá tudo bem sim. __ responde ela. __ Você tá diferente hoje. Normalmente à essa hora
você já teria brigado comigo pelo menos umas dez vezes. __ diz ele, sorrindo. __ Então
quer dizer que eu sou a chata que vive brigando? É bom saber disso. __ responde ela,
dando um tapinha no braço dele. Ele sorrir. __ Não, gata. Não é isso. Só tô brincando com
você. Mas você é a chata mais linda que eu conheço. __ completa ele.
O terraço do hospital tem uma vista linda da cidade. Como é noite, a cidade tá
toda iluminada e o céu estrelado. Eles chegam e apreciam a vista por alguns instantes. __
Samuel, o que de verdade você quer de mim? Mas seja bem sincero. Se for só uma
aventura, por favor, me deixe em paz. __ diz ela, séria. Ele se aproxima e segura as mãos
dela. __ Linda, você me conhece já tem algum tempo e sabe do meu jeito... __ diz ele.
Ela interrompe. __ Safado. __ diz ela. __ Que isso, gata. __ responde ele. __ Mas é
verdade. __ completa Branca. Ele dá um sorriso meio sem graça e encara ela. __ Não vou
mentir pra você. No começo eu até queria só uma aventura, mas de um tempo pra cá eu
tenho pensado bastante em você. __ diz ele. Ela escuta atentamente. __ Sei lá, você é
diferente das mulheres com que eu saio. E não é da minha vontade brincar com você. __
completa ele. __ Fico feliz em ouvir isso. __ diz ela. __ A gente nunca ficou. Nem um
beijo você nunca me permitiu te dar. Então, eu não sei como seria. Só acho que a gente
tem que tentar se conhecer pra saber como vai ser. __ diz ele olhando fixamente para ela
e segurando as mãos dela também. __ Eu também ultimamente tenho pensado muito em
você, mas eu sou medrosa. Sofri muito com a morte do meu marido e tenho medo de me
machucar e machucar o meu filho. __ explica ela. __ Entendo e nunca forcei a barra com
você, quer dizer, só um pouco, né. __diz ele, sorrindo. __ Não sou uma mulher de ficar
fugindo das coisas e nem tô fazendo “doce”, mas não posso sair me aventurando por aí.
__ explica ela. __ Gata, eu tenho muita paciência porque sei que você me quer do jeito
que eu te quero. Eu não te prometo nada além de te dizer que se a gente não tentar, nunca
iremos saber. __ diz ele abraçando ela. __ Vamos sair amanhã à noite pra fazer o que
você quiser. Você escolhe: cinema, jantar ou caminhar na chuva, caso esteja chovendo, é
claro. __ diz ele, sorrindo. Branca também sorrir. __ Eu te ligo. Vamos voltar que já estou
muito tempo longe do meu setor. __ responde ela. Ele se aproxima para beijá-la, mas ela
não permite. __ Eu já te falei que nunca me comportei errado no local de serviço. Não é
certo. __ diz ela virando o rosto para evitar o beijo. __ Tudo bem, gata. E você tem razão.
__ diz ele. Eles retornam de mãos dadas para dentro do hospital.
CAPÍTULO 4
Do anonimato a fama
Branca chega à mansão de Renato e ao receber o plantão ela é informada que
Rafaela não está muito bem. Ela e Renato levam a garotinha para o hospital. Doutor
Rodrigo Fonseca, o médico responsável pelo tratamento, decide pela internação
hospitalar para a realização de exames e avaliação com outros especialistas. A notícia
deixa Renato muito ansioso e apreensivo. Branca como enfermeira da garotinha, decide
ficar com ela no hospital.
Já se especulam em redes sociais que a filha do cantor Renato Dias esteja doente
e alguns repórteres vão para a frente do hospital atrás de notícias.
A garotinha realiza diversos exames e Renato fica bastante apreensivo. __ O que
você acha que estar acontecendo com a minha filha? Tô muito preocupado. Não sei mais
o que fazer. __ diz ele, no ouvido dela para Rafaela, que está prostrada no colo dele, não
escutar. __ Provavelmente deve ser só mais uma infecção. Mas temos que ter calma e
aguardar os exames. Não vamos sofrer por antecipação. Rafaela não pode ver você triste
assim. __ responde ela, também no ouvido dele. __ Papai, eu quero ir pra casa. __ diz
Rafaela. __ Temos que esperar o médico vir conversar com a gente, meu amor. __
responde Renato, apreensivo e angustiado. __ Branca você vai ficar comigo? __ Pergunta
a garotinha. __ Lógico que vou, meu amor. Não vou te deixar por nada. __ responde
Branca. __ Você pede pra minha mamãe vir me ajudar? agora eu tô precisando dela. __
diz a garotinha. Branca olha para Renato, que não está entendendo a conversa, depois
olha para a garotinha, respira fundo e engole saliva. __ Peço sim, meu amor. __ responde
ela. __ Não tô entendo essa conversa de vocês. Alguém pode me explicar? __ diz Renato,
olhando para as duas enquanto elas se olham. __ É um segredo meu e da Branca, papai.
Você não pode saber. __ responde Rafaela, olhando para o pai e sussurrando fazendo
gesto com o dedo. Renato olha para Branca e faz um gesto com a mão informando que
não estar entendo nada. __ Depois te conto. __ sussurra Branca no ouvido dele.
O médico entra no quarto e explica que Rafaela está tendo algumas complicações
e que é melhor ficar alguns dias em observação no hospital e também ela irá precisará
receber uma transfusão de sangue. Renato se assusta. Branca o acalma. __ Eu quero a
minha mamãe. Chama ela Branca. __ diz a garotinha, chorosa.
Branca ali parada olhando para Rafaela de repente tem uma ideia. Ela fala para
Renato que precisa sair e que vai demorar um pouco, pois precisa resolver um assunto
muito importante fora do hospital. __ Meu amor, eu vou dar uma saidinha e volto logo.
__ diz Branca, olhando para Rafaela. __ Vou mandar um recado para a sua mamãe. __
completa ela, no ouvido da garotinha que abre um sorriso.
Enquanto Branca sai, Renato fica com a filha já instalada em uma suíte do
hospital.
Branca vai até o centro da cidade, que não fica muito longe dali. Em uma loja de
fantasias, ela compra uma fantasia de mulher maravilha, e em uma loja infantil ela compra
muitos brinquedos e rapidamente retorna ao hospital.
Ela mobiliza a equipe de saúde do hospital e juntos eles organizam uma surpresa
para Rafaela e as demais crianças da pediatria oncológica. Um enfermeiro, que também
é músico, se oferece para tocar violão. Ele sempre leva o violão para os plantões e sempre
que tem uma folguinha ele toca para as crianças na brinquedoteca.
Branca envia uma mensagem via telefone para que Renato leva Rafaela até a
brinquedoteca. Todas as crianças não muito debilitadas que estão internadas também são
convidadas.
Na brinquedoteca, Rafaela fica o tempo todo no colo do pai e não interage com as
outras crianças. Alguns pais aproveitam para assediar discretamente Renato. Ele como
sempre muito simpático e educado, mesmo com o sofrimento de estar com a filha
internada, atende a todos os pedidos para autógrafos e fotografias.
De repente a porta da brinquedoteca se abre e entra um enfermeiro todo de branco
tocando violão. Logo atrás dele entram também alguns profissionais usando chapéus de
duendes e distribuindo brinquedos. Após cinco minutos, surge Branca vestida de mulher
maravilha e com um sorriso de orelha a orelha. __ Boa tarde crianças! __ diz ela. __ Boa
tarde! __ responde as crianças junto com os pais. __ Vocês sabem quem eu sou? __
pergunta ela, parada no meio da brinquedoteca. Um silêncio toma conta do local. Rafaela
se espanta, leva a mão à boca e fica olhando para Branca fantasiada. Ela não sabe que se
trata de Branca vestida de mulher maravilha. Ela pensa que é a mãe dela ali.
Nenhuma criança responde a pergunta de Branca. Renato olha novamente e a
reconhece. Branca mais uma vez pergunta se alguém sabe quem é ela e Renato responde.
__ É a Mulher Maravilha. __ diz ele, olhando para ela com admiração. Algumas crianças
vão até ela. Ela dá um abraço coletivo e distribui alguns brinquedos. Rafaela, no colo do
pai, finalmente sorrir. Renato observa toda a dinâmica e fica admirado com a atitude de
Branca. Na verdade ele não para de olhar para ela.
Branca interage, sorrir e dança com as crianças. Rafaela, do colo do pai, observa
atentamente com um sorriso de orelha a orelha. Após dez minutos de dinâmica, Branca,
com um sorrisão, se aproxima de Rafaela. __ Oi princesinha mais linda desse mundo! __
diz ela usando a mesma expressão que a mãe de Rafaela usava. __ Que saudades eu estava
de você. __ completa ela. Rafaela sorrir e sai do colo do pai para abraçar Branca. Renato
fica de queixo caído e sem entender o que está acontecendo. Ele observa atentamente a
reação da filha. Ele tenta, mas não entende como Branca consegue sempre arrancar um
sorriso da garotinha mesmo nos momentos mais difíceis.
Rafaela no colo de Branca interage com as outras crianças. Renato se afasta e
encosta em um canto da brinquedoteca. Ele, que já está mais aliviado, observa
atentamente toda a movimentação e fica encantado com tudo o que está acontecendo ali.
Branca deixa Rafaela em um canto da brinquedoteca brincando com algumas
crianças e vai até onde Renato estar. Ela o chama para uma sessão de fotografias e
autógrafos.
As crianças pedem que ele cante uma música. Ele fica meio tímido com toda a
situação e tenta recusar, mas Branca e Rafaella insistem. __ Vamos lá, canta pra nós. A
Mulher Maravilha está pedindo. __ diz Branca. __ Canta papai. __ insiste também
Rafaela. Então, Renato canta a música escolhida por Branca. É uma música da banda Jota
Quest “O Sol”. Uma música que para Branca, retrata um pouco o que todos ali estão
vivendo:
__ “ Ei, dor...
Eu não te escuto mais
Você, não me leva a nada.
Ei, medo
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha sol
É pra lá que eu vou...” __ canta Renato. Branca se emociona.
Renato faz um mine show acústico na brinquedoteca da pediatria oncológica do
hospital. Ele toca violão, canta e encanta a todos. Depois, ele posa para fotos e assina
muitos autógrafos. Branca, fantasiada de Mulher Maravilha, também é assediada por
todos, inclusive pelo próprio Renato. __ Ei, Mulher Maravilha... __ diz ele, chamando
ela. Rafaela nesse momento interage com as outras crianças. __ Me chamou? __ pergunta
ela, sorrindo e caminhando na direção dele. __ A Mulher Maravilha me dá a honra de
tirar uma foto com ela? __ pergunta ele, se aproximando dela. Ela passa o braço em volta
do pescoço dele e ele tira várias selfies. __ Rafa, vem aqui tirar uma foto com a gente. __
diz Branca, chamando a garotinha. Rafaella, que está muito feliz e bem disposta, se
aproxima e juntos tiram muitas fotos. Algumas pessoas ali também registram a foto dos
três. Rafaela logo volta a brincar com as crianças deixando Renato e Branca ali num
cantinho da brinquedoteca.
__ Quem é você de verdade? __ pergunta Renato, olhando fixamente para Branca
__ Ué! Sou a Mulher Maravilha, não está vendo? __ responde ela, prontamente e com um
sorriso estampado no rosto. Ele sorri. __ Sabe o que você fez hoje aqui com essas
crianças? __ pergunta ele. __ Eu brinquei com elas. Adoro crianças e viro uma quando
estou perto delas. __ responde ela. __ Você fez muito mais do que brincar com elas. Você
devolveu o sorriso pro rosto de cada um aqui. Você aliviou a dor de todos. A dor física
das crianças, e a dor emocional de todos os pais que estão aqui. Você transformou a minha
dor, em esperança. __ completa ele. Branca fica em silêncio olhando enquanto ele fala.
__ Eu não tenho palavras pra dizer o que tô sentindo agora. Mas uma coisa eu preciso
falar: Agradeço imensamente você ter aparecido nas nossas vidas. __ diz ele. __ Eu que
agradeço os elogios e a oportunidade de estar com vocês. __ reafirma Branca. __ Mamãe,
vem brincar com a gente. __ grita Rafaela, do outro lado da brinquedoteca. __ Já estou
indo, princesa. __ responde Branca. __ A Rafaela te chamou de mamãe? __ pergunta
Renato. __ Não. Ela não me chamou de mamãe. Ela chamou a Mulher Maravilha de
mamãe. __ responde Branca. Ela se vira e vai brincar com as crianças. Renato permanece
ali no cantinho, parado, encostado na parede, de braços cruzados e observando Branca
junto com as crianças. __ Essa mulher não existe. E tem o sorriso mais lindo e mais puro
que eu já vi no rosto de uma mulher. __ diz ele, em pensamentos.
Branca pega Rafaela no colo, se despede e dá um abraça bem forte na garotinha
___ Minha princesinha, eu tenho que ir. Tem outras crianças precisando de mim. Você
promete ficar bem? __ pergunta ela, no ouvido da garotinha __ Sim, mamãe. Vou ficar
bem. Eu te amo. __ responde de volta a garotinha. Branca se emociona e as lágrimas
escorrem pelo rosto. __ Eu também te amo, princesa. __ diz ela, abraçando a garotinha.
Renato se aproxima e ver as lágrimas no rosto de Branca. Ele abraça as duas e assim
ficam por alguns segundos até que Branca entrega Rafaela para ele. __ Tenho que ir. __
diz ela. __ Muito obrigado, Mulher Maravilha. __ diz ele. Branca sorrir de um jeito
diferente. Uma mistura de sorriso com choro e vai embora.
De volta a suíte do hospital, Renato e Rafaela conversam sobre a diversão da
brinquedoteca quando Branca chega. A garotinha está sentada no leito recebendo
medicação através de um soro que está puncionado na veia dela e Renato está sentado
numa poltrona. Na suíte tem um sofá de três lugares, duas poltronas e uma mesa com
quatro cadeiras. Rafaela grita ao ver Branca entrando: ___ Branca! Branca! A Mulher
Maravilha veio me ver. Ela veio. Você disse que ela viria e ela veio. __ diz a garotinha,
bastante eufórica. Renato não entende muito bem do que se trata toda essa euforia da
filha, mas ele fica aliviado ao ver o sorriso no rosto dela. __ Pois é, você perdeu. A Mulher
Maravilha veio e encantou a todos, principalmente a mim. __ diz ele, olhando fixamente
para ela e com um sorriso no rosto. __ E a Rafa também __ completa ele, depois de uma
pequena pausa. __ Não acredito que eu perdi isso. Poxa! Porque vocês não me avisaram?
Eu queria tanto tirar uma foto com a Mulher Maravilha. __ diz ela se sentando em uma
poltrona que ela arrasta para perto do leito de Rafaela. __ Da próxima vez eu peço pra ela
esperar por você, tá bom? __ diz a garotinha, com uma carinha inocente. __ Combinado.
__ responde Branca, fazendo carinho na cabeça da garotinha. __ Muito obrigado por fazer
minha filha tão feliz. __ diz Renato com admiração. __ Eu faria tudo de novo e faria
qualquer coisa pra não ver a Rafa chorando. __ responde Branca, olhando para a
garotinha.
Renato lança um olhar para Branca de admiração, de encanto e ele também não
para de agradecer tudo que ela tem feito pela filha. __ Você é incrível. __ diz ele. __ Que
isso. Incrível é essa pequenina aqui. __ responde ela, passando a mão na cabeça da
garotinha.
Já é noite e finalmente Rafaela dorme. __ Parece um anjinho. __ diz Branca, que
continua sentada na poltrona ao lado do leito. __ Meu coração dói de ver a minha filha
assim, doente. __ diz Renato. __ Eu sei que dói, mas graças a Deus ela já está melhor.
Sinto um carinho tão grande por ela e sofro quando a vejo chorando. __ completa Branca.
__ A Rafa sente o mesmo por você, e não só ela, mas todos da família dela também. __
diz Renato. O silêncio que tomava conta do quarto é quebrado pelo toque do telefone de
Branca. Ela se levanta e atende. __ Oi Samuel! Tudo bom? __ diz ela atendendo a ligação.
__ Oi gata! Não aguentei e te liguei. __ responde ele. __ Tô no hospital. Minha
pacientezinha não estava muito bem e teve que internar. __ completa ela.
Renato escuta atentamente a conversa e o semblante dele muda completamente de
sorridente para sério. __ Creio que ficarei muito ocupada nos próximos dias. Eu te ligo
assim que tudo se resolver, tá bom? __ diz ela, em pé caminhando pelo quarto. __ Tudo
bem, gata. Fico aguardando. Se cuida. Um beijo bem gostoso na sua boca linda. __ diz
ele. __ Beijo!__ responde ela, antes de encerrar a ligação. __ É o cara do show? __
pergunta Renato. __ Sim. É ele mesmo. __ responde ela. __ Decidiu dar uma chance a
ele? __ pergunta ele. __ Não. Como diz minha amiga Gleyce: decidi dar uma chance pra
mim. E também estou seguindo o teu conselho. __ responde ela, se sentando de volta na
poltrona. __ Que bom pra ele. Vão sair hoje? __ pergunta Renato curioso. __ Hoje não.
Minha concentração está voltada somente pra uma garotinha. __ responde ela, olhando
em direção ao leito de Rafaela. __ Não queremos atrapalhar você. __ insiste Renato. __
Com certeza vocês não me atrapalham. __ responde de volta ela.
Parece que Renato está começando a nutrir sentimentos por Branca que não é seja
soemente admiração. Ele já vinha olhando ela com “outros olhos” há dias e depois do
episódio de hoje a admiração que ele já sentia por ela parece aumentar e também parece
que outros sentimentos estão fluindo. Sentimentos que ele ainda não sabe bem ao certo,
mas que já é o suficiente para sentir ciúmes dela com o tal amigo médico.
A conversar continua por mais alguns minutos até que Renato observa nas redes
sociais dele que a notícias da doença da filha já se espalhou. Muitos especulam que a
garotinha esteja com câncer e algumas fake news também se espalham. Tudo o que ele
não queria era a vida da filha exposta dessa forma, com notícias mentirosas. Mas Renato
também recebe muitas mensagens de apoio. __ Agora o assunto nas redes sociais é a
doença da minha filha. Eu não me importaria se não tivessem tantas notícias mentirosas.
__ diz ele, enquanto olha as notícias no celular. __ Dê uma entrevista. Explique o que
está acontecendo. __ aconselha Branca. __ Sim. Vou fazer isso, mas para aqueles que
ganham em cima da tragédia e da desgraça dos outros, entrevista nenhuma vai fazer eles
noticiarem o que é real de fato. Mas em consideração a imprensa séria e aos meus fãs, eu
vou explicar tudo. __ completa ele.
Enquanto Rafaela estava sendo assistida na residência, eles conseguiram evitar as
especulações, mas com a internação, a notícia logo se espalhou. Alguns repórteres na
frente do hospital e do condomínio onde Renato mora insistem por notícias sobre o estado
de saúde da garotinha.
Rafaela fica internada por cinco dias e durante esse tempo muitas notícias se
espalham e as fake news irritam Renato. __ Mesmo a minha assessoria respondendo às
perguntas que são feitas diariamente, esses mercenários insistem em falar mentiras pra
ganharem com isso. __ diz ele, irritadíssimo. Branca que está ao lado do leito de Rafaela
escuta atentamente sem opinar.
Finalmente Rafaela recebe alta. Na saída do hospital, Renato chama os repórteres
e esclarece tudo o que está acontecendo com a filha. Enquanto ele fala com a imprensa,
Branca carregando Rafaela no colo e vai para o estacionamento esperar por ele sentro do
carro. No estacionamento, um fotógrafo faz algumas fotos de Rafaela e Branca.
Instantaneamente as fotos caem nas redes sociais e ganham milhares de visualizações. É
o assunto do momento. Branca também vira notícia. Ela acaba sendo titulada como: “A
enfermeira misteriosa de Renato Dias” e também como “A Mulher Maravilha de Renato
Dias”, por causa de uma foto que vazou dela fantasiada de Mulher Maravilha juntinha de
Renato na brinquedoteca do hospital. Essas fotos rapidamente viralizam. Todos querem
saber quem é a bela misteriosa.
Ao chegar à mansão, Branca recebe a notícia que Leticia não está muito bem e até
ela retornar, Branca aceita fazer alguns plantões noturno na mansão. Ela se organiza e vai
até a casa buscar o filho para que ele fique mais perto dela. O motorista de Renato quem
a leva. Um paparazzo, que passou o dia na frente do condomínio, decide seguir o carro.
Na frente da casa de Branca, o paparazzo faz muitas fotos tanto dela quanto do filho. Ele
insistentemente faz muitas perguntas e ela já orientada pela família de Renato, fica em
silêncio. __ Enfermeira, a filha do Renato Dias está muito grave? Ela vai morrer? Me
responda? __ pergunta insistentemente o rapaz. __ É verdade que você e Renato estão
tendo um caso? __ Insiste o rapaz. Em silêncio ela e o filho seguem para a mansão. No
caminho, ela pede ajuda da amiga Gleyce com os plantões noturno do hospital.
De repente a vida de Branca está exposta em todos os noticiários, principalmente
em redes sociais. “ Quem é a enfermeira misteriosa que cuida da filhinha de Renato
Dias?” “Quem é a Mulher Maravilha que foi fotografada juntinha de Renato Dias”.
Rapidamente a vida pessoal de Branca também começa a ser exposta: o acidente do
marido e do filho, seus locais de serviço, até sua família que mora no nordeste.
Na mansão, enquanto se acomoda no quarto, dona Beatriz conversa com ela. __
Olha dona Beatriz, eu até achava legal esse mundo dos famosos, mas agora não gosto
mais tanto assim não. __ diz ela, enquanto organiza suas coisas. Renato chega e escuta a
conversa. __ Bem vindo ao meu mundo. __ diz ele. __ Mas não é todos que usam o
noticiário para prejudicar as pessoas, minha querida. Nesse meio tem muita gente boa e
bem intencionada. __ diz dona Beatriz. Renato interrompe. __ Mas infelizmente, também
tem muitos bem mal intencionados que querem ganhar dinheiro inventando histórias e
mentiras. __ completa ele. __ Quando eu era adolescente eu queria ser modelo e sonhava
em desfilar nas passarelas, em viajar por todo o mundo. Ai eu cresci e vi que o jeito era
estudar e ralar muito mesmo pra pagar as contas. Mas eu não sabia que esse mundo era
assim desse jeito. Até do meu marido estão falando. __ completa ela. __ Por isso eu não
queria que soubessem da doença da Rafa. Mas existe jornalismo, imprensa e noticiários
sérios também. Esses são a maioria e são comprometidos com o trabalho. Só divulgam o
que realmente é. Sempre nos procuram antes de divulgar qualquer coisa. Tenho muito
respeito por estes profissionais. __ completa Renato.
Devido aos últimos acontecimentos, Branca tem conversado com doutor Samuel
somente por telefone e durante as noites. Ela fez muitas trocas de plantões, e com isso
quase não tem encontrado ele nos dias que vai trabalhar no hospital. Já ele está muito
tranquilo e paciente. Ele sabe que ela gosta dele e também sabe que ela está
exaustivamente trabalhando. E também carente ele nunca fica, sempre tem uma ou outra
moça muito linda para dormir com ele. Doutor Samuel gosta de Branca, mas segue a vida
normalmente. Ele sempre foi homem de muitas mulheres. Nunca se apaixonou por
nenhuma, e afirma para si que não está apaixonado por Branca. Já ela está ansiosa para
sair com ele, para beijar e namorar também, porém ultimamente a falta de tempo não
permite.
É madrugada. Branca administra mais uma medicação em Rafaela. A porta do
quarto abre, é Renato que entra. __ Mulher Maravilha, quando você terminar aí vem
comigo. __ diz ele, que entra e observa ela prestar os cuidados à filha. __ Se não for
demorar muito, tudo bem. __ responde ela, terminando de administrar a medicação. __
Então vou te esperar lá você sabe aonde. __ diz ele, sorrindo e se retirando do quarto.
Com certeza ela sabe para aonde ele vai: pro cantinho preferido de Renato.
Branca chega até o terraço. A lua está cheia iluminando a noite, que por sinal está
com a temperatura bem agradável: nem calor e nem frio. As casas em volta estão lindas
todas iluminadas com belas fitas de led. O perfume das plantas exala pelo ar um aroma
agradável e gostoso. Renato está lindamente sério sentado e olhando para o céu. Do lado
dele tem uma garrafa de vinho e duas taças, e do celular toca uma música dele bem
romântica e gostosa de escutar. Branca se senta, observa tudo em volta e suspira, mas um
suspiro de alívio e satisfação. __ Eu descobri através das redes sociais que você gosta de
vinhos, e que o seu preferido é tinto suave espumante. __ diz ele. Ela olha para o vinho e
sorrir. __ Eu também descobrir isso hoje olhando as minhas redes sociais. Que coisa né?
Nem eu sabia desse gosto meu por vinhos. O bom das redes sociais é isso, que a gente
acaba descobrindo até o que a gente mesmo não sabe sobre a gente. __ completa ela,
sorrindo e ele sorrir junto. __ Eu sempre digo: não acreditem em tudo que falam por aí
porque toda história tem três versões: a minha, a sua e a verdadeira. __ completa ele,
sorrindo. __ Isso é verdade. __ reafirma ela. __ E você bebe o que? __ pergunta ele. Ela
sorrir antes de responder: __ Eu quase não bebo, mas quando bebo, eu bebo é cerveja
mesmo. É mais barato... __ responde ela. __ Raramente eu bebo vinho. E quando bebo
sempre me dá dor de cabeça. __ completa ela. __ Então é porque a senhorita está bebendo
o vinho errado. Se esse aqui lhe der dor de cabeça, da próxima vez eu bebo cerveja com
você. E a propósito, eu também gosto muito de cerveja. __ diz ele, servindo o vinho nas
taças. __ Mas eu não posso aceitar. Estou de plantão. __ diz ela. __ Estou te liberando do
plantão agora. __ completa ele enchendo as taças.
Um silêncio toma conta por alguns instantes. __ Como é a saudada depois de
quatro anos? __ pergunta ele se referindo à perda do marido de Branca. __ Não é tão
doída quanto a que você está sentindo agora. Mas ainda dói. Principalmente à noite
quando todos dormem e eu fico sozinha no meu quarto. Eu sinto saudades até dos defeitos
dele. __ responde ela, com uma voz triste. __ Eu também sinto muita falta da minha
esposa nessas horas aqui quando tô em casa e todos dormem. Sinto falta até das brigas
que tínhamos. __ diz ele. __ Porque você nunca quis ficar com ninguém durante esse
período? Me desculpe se eu tiver sendo inconveniente e responda só se você quiser. __
pergunta ele. __ Não tá sendo inconveniente não. Todos me fazem essa pergunta e a
resposta é sempre a mesma: nunca me interessei por ninguém. __ responde ela, mas
Renato não se convence. Ele não entende porque uma mulher linda e tão bacana como
ela ainda está solteira por tanto tempo. __ É difícil de acredito que nenhum homem nessa
cidade tenha te chamado pra sair. __ insiste ele. __ Quando meu marido morreu, eu não
tive tempo nem de sofrer porque minhas contas estavam vencendo e meu filho estava
hospitalizado na UTI em estado gravíssimo. Então, tive que viver somente em função do
serviço e do meu filho. __ responde ela, com os olhos brilhando por causa das lágrimas
que começam a se formar. __ Nós dois não estamos muito diferentes não. Minha esposa
se foi, minha filha tem uma doença grave e cada dia vejo que ela está pior. __ diz ele,
com tristeza no olhar. __ Mas a vida segue e temos que cumpri nossa missão aqui na terra.
Tem pessoas que dependem de nós, que nos amam e se não conseguimos nos fortalecer
por nós mesmos, temos que nos fortalecer por essas pessoas. __ diz ela, olhando para ele.
__ Você tem razão. É difícil, mas quando penso em desistir eu lembro da Rafa. Ela precisa
de mim. __ diz ele. __ Sabe, durante esses quatro anos que passaram eu me afastei de
muitas pessoas. Eu estava me tornando uma pessoa fechada, chata, sem prazer de viver.
Vivia somente pro meu filho. Só que de um tempo pra cá eu voltei a sonhar. Hoje tenho
desejos e vou correr atrás de realizar os meus sonhos. __ diz ela. __ Eu queria ter forças
pra pensar assim, pra agir assim, mas ainda não consigo. __ diz ele, abaixando a cabeça.
__ Eu demorei tempo demais pra enxergar isso. Você tem a chance de não cometer os
erros que eu cometi. Você tem a chance de viver em função de você agora. Não faça como
eu. Não perca quatro anos sofrendo. Aproveite o que a vida lhe proporciona agora e se dê
a chance de ser feliz novamente, seja sozinho ou com alguém, mas não perca essa chance.
__ diz ela, com empolgação na voz. __ Sei que você tem razão, mas eu não tenho força
ainda, mas tô tentando. __ responde ele.
Eles conversam por um bom tempo. Ela bebe duas taças de vinho e logo começa
a ficar tonta. __O vinho acabou. Vou buscar mais. __ diz ele, se levantando. __ Acho
melhor não. Já tô ficando tonta. Eu nunca tinha bebido em serviço. A culpa é tua, e você
não vai poder me demitir por isso. __ diz ela, bastante sorridente já sob o efeito do álcool.
__ Toda vez que você bebe você fica assim, mais sorridente? __ pergunta ele, também
sorrindo. __ É meu alarme. Quando começo a ficar assim, já sei que tenho que parar. __
responde ela. __ Você tem um sorriso lindo. __ diz ele em pé, encarando ela que está
sentada. __ Você também já deve tá sob o efeito do álcool. __ responde ela. __ Me espera
um minutinho que já volto. __ diz ele se posicionando para descer para buscar mais vinho.
__ Já te aviso que não vou beber, mas te acompanho pra continuar apreciando essa vista
linda. __ diz ela.
Renato retorna da cozinha e ver que Branca está adormecida deitada ali no
colchonete. Ele se senta ao lado dela, abre a garrafa de vinho, enche a taça dele e bebe.
Ele olha para a lua, olha para ela e assim vai bebendo todo o vinho da garrafa.
Passam-se uns vinte minutos e ela acorda. Ele está deitado ao lado dela
observando a lua. Ela imediatamente se senta. __ Ai que vergonha! Não acredito que eu
dormi. __ diz ela, passando as mãos pelo cabelo para arrumar a bagunça que ela acha que
deve estar. __ Relaxa! Eu também quase dormi aqui. __ diz ele. __ Já tá tarde. Eu ficaria
a noite toda aqui observando a lua, mas a responsabilidade é maior. __ diz ela, se
preparando para se levantar. Renato não deixa e segura ela pelo braço. __ Fica. Só mais
dez minutos. Gosto de conversar com você. __ diz ele. Ela deita novamente. Ele se vira
de lado, olha para ela e puxa para que ela se vire também e fique de frente para ele. __
Minha esposa foi o meu primeiro amor. Eu prometi pra ela que jamais iria existir outra
mulher na minha vida. __ diz ele. __ Eu também prometi a mesma coisa para o meu
marido, mas ele não estar mais aqui. Nem eu e nem ele temos culpa. Eu percebi que viver
em função do serviço, viver em função do que os outros vão pensar ou vão dizer, não leva
a lugar nenhum. A gente fica parado no tempo enquanto a vida tá passando lá fora. Não
quero mais isso. __ diz ela. Renato escuta atentamente. __ Não faça como eu, não deixe
passar muito tempo pra um dia você descobrir que está errado. Faça o que me disse
naquela noite, lembra? __ diz ela. __ O que eu disse? __ pergunta ele. Ela então canta o
mesmo refrão da música que ele cantou para ela.
Ele escuta atentamente enquanto ela canta e quando ela termina ele se aproxima
para beijá-la, mas ela vira o rosto levemente e o beijo chega na bochecha. __ Você cantou
um dia pra mim e me deu um grande conselho: se eu sentir tudo isso que a letra da música
diz, vá fundo porque vale a pena. Nunca mais eu esqueci disso. __ diz ela. Ele abaixa a
cabeça e pede desculpas. __ Não precisa pedir desculpas. Apenas reflita você também a
letra da música e siga o seu conselho. __ aconselha ela. Ele fica com vergonha e ela
percebe. __ Nós bebemos um pouco demais. Não vamos fazer nada que possamos nos
arrepender depois. E outra coisa, eu nunca me comportei errado no meu local de serviço.
Hoje estou de plantão aqui na tua casa. Já estou arrependida por ter bebido duas taças de
vinho. __ diz ela, sorrindo. __ Você tem razão. Eu tô muito carente e não quero fazer
nada por carência e também não quero que façam algo por mim por dó. Que bom que
tenho você aqui com toda essa sinceridade e franqueza. Muito obrigado pelo carinho e
amizade. __ diz ele ao mesmo tempo que abraça ela. __ Vamos descer? __ diz ela. __
Sim. Já tá tarde. __ completa ele.
Ele a ajuda com as coisas até a cozinha, depois conduz ela até o quarto de Rafaela
e antes de se despedir, ele dar um beijo no rosto dela. __ Boa noite, Mulher Maravilha!
__ diz ele, segurando as mão dela. __ Boa noite, super-homem! __ responde ela, sorrindo.
Amanhece. Branca com ajuda de Luiza, montam um piquenique no jardim com
muitas opções de lanches para o café da manhã na tentativa de fazer Rafaela comer, já
que a garotinha vem a cada dia com menos apetite.
No jardim, Renato se despede da filha. Ele segue para uma viagem a trabalho. Ele
dar um abraço e um beijo na filha, que brinca com Alecsander. __ Tchau, minha princesa.
Papai te ama. __ Tchau papai. Não demora muito. __ responde a garotinha. __ Sim
senhora. Tchau Alecsander. __ diz ele. Branca está sentada lendo um livro. Ele se abaixa
e dá um beijo no rosto dela. __ Tchau, Mulher Maravilha! Qualquer coisa, me avise que
largo tudo e volto voando igual ao super-homem. __ diz ele bem humorado. __ Tudo
bem, super-homem. Deixe comigo. E outra coisa, nunca diga tchau. Sempre diga: Até
breve. __ diz ela, sorrindo __ Até breve, Mulher Maravilha!
Enquanto Renato viaja para mais uma turnê de shows, nas redes sociais o assunto
mais comentado é sobre o suposto caso amoroso dele com a enfermeira que cuida de sua
filha, a Mulher Maravilha de Renato Dias. Mas uma vez as fotos de Branca vestida de
Mulher Maravilha no hospital quando Rafaella esteve internada, voltam a circular com
força. Vários fãs já estão adorando o suposto novo casal. Os paparazzo passam a seguir
Branca até o hospital onde ela trabalha e fazem plantão na frente da casa dela e na frente
da escola do filho também. A vida dela fica um pouco conturbada. A todo momento
alguém para ela na rua, seja para tirar fotografias ou para especular sobre a vida dela, de
Renato ou simplesmente para um elogio carinhoso.
Ela chega ao hospital para mais um plantão noturno, um repórter já a aguarda na
recepção. __ Mulher Maravilha, por favor, tire uma dúvida. __ diz o repórter. Ela então
decide esclarecer algumas informações erradas que vem circulando em redes sociais a seu
respeito. __ Boa noite! Por favor pode me chamar de Branca, que é o meu nome. __ diz
ela corrigindo o profissional. __ Mulher Maravilha, é verdade que você e o cantor Renato
Dias estão namorando? __ pergunta o repórter, ignorando o pedido de chamá-la pelo
nome. __ Não estamos namorando. Sou uma das três enfermeiras contratadas para cuidar
da filha dele. Não sei de onde tiraram essa informação. __ responde ela. __ Porque a única
que é vista com ele e a filha é sempre você? __ pergunta o repórter. __ Inclusive, tem
fotos de vocês juntinhos numa brinquedoteca de um hospital. __ completa ele. __ Eu fico
durante o dia, por isso que acabam me vendo mais. Não tem romance nenhum. Não tem
namoro. Seu Renato e a dona Beatriz são pessoas muito boas e humildes. __ esclarece
ela. __ Porque o Renato Dias chama você de Mulher Maravilha? Tem várias pessoas que
afirmam que ele está apaixonado por você. E você, também está apaixonada por ele? __
Pergunta insistentemente o repórter sobre o mesmo assunto. __ Me desculpe, mas estou
atrasada. Tenho que entrar pra receber o plantão. Eu dependo do meu emprego pra me
sustentar. Fiquem com Deus! __ responde ela, educadamente se despedindo. Ela deixa o
reporte e vai receber o plantão.
No corredor do hospital as colegas de serviço também a assediam com pedidos de
autógrafos e fotografias de Renato. Branca fica sem graça e desconversa.
Mesmo sendo muito amiga de Gleyce, ela não contou que estava trabalhando para
o cantor Renato Dias. __ Amiga, porque você nunca me falou que era pro Renato Dias
que estava trabalhando? Poxa, magoei. __ diz Gleyce. __ Amiga, a mãe dele me pediu
sigilo absoluto. E você sabe como eu sou, né. __ informa Branca.
Gleyce é bem tranquila e quase nunca se estressa ou fica com raiva por coisas que
ela julga ser besteiras e brigar por isso ela acha besteira. __ Tudo bem. Mas só te perdoo
se você deixar eu ser sua assessora ou sua empresária. Vou cuidar bem da sua imagem,
prometo. __ diz ela, sempre muito bem humorada e empolgada. __ Amiga para com isso.
Não tem sido fácil esses dias. Minha vida tá toda exposta. E o pior é que a maioria das
coisas que estão falando sobre mim, é tudo mentira. __ explica ela, que está sentada numa
cadeira fazendo as anotações nos prontuários dos pacientes e Gleyce de pé encostada na
bancada e com os braços cruzados. __ Amiga, é assim mesmo. Você vai se acostumar. __
diz Gleyce, sorrindo. __ Acostumar? Como que acostuma com mentiras? Quero minha
vidinha de volta. Era chatinha, mas pelo menos ninguém ficava me parando na rua e me
perguntando absurdos. Amiga, você acredita que me perguntaram que cor foi a lingerie
que eu usei na minha primeira vez com Renato.. Aff!! Falta de respeito. __ diz ela,
indignada. __ Nossa, amiga! E me responde aí, você usou qual mesmo? __ pergunta
Gleyce tirando sarro da cara da amiga. __ Ai, mais você tá insuportável hoje. __ responde
Branca. __ Tô brincando, amiga. Tem gente que não tem noção mesmo. Mas fala aí, você
não tá se divertindo nenhum pouquinho com tudo isso? __ pergunta a amiga. __ Ai amiga,
eu até achei que seria divertido, mas não tá.
Quase todos os dias Branca chega atrasada nos serviços porque tem que mudar a
rota para despistar alguns paparazzo. O que mais a deixa irritada com tudo isso são as
mentiras que estão inventado da vida pessoal dela. __ Agora eu tenho uma amiga famosa.
__ diz Gleyce se aproximando para abraçar a amiga. __ Amiga, parece que eu tô só
reclamando, mas não é isso não. Também tem a parte boa. __ diz Branca. __ E qual é,
amiga? Porque se fosse eu, estaria achando tudo maravilhoso. Esse monte de paparazzo
atrás de mim, e sem falar que todos os dias eu estaria pertinho do meu ídolo. Meu deus!
Ai que sonho todos os dias na companhia do Renato Dias. __ diz Gleyce, suspirando. __
São várias as vantagens, por exemplo agora todos os dias eu recebo várias propostas de
emprego tanto em hospitais, clínicas quanto de agências de moda. Amiga, você acredita
que até pra posar nua eu recebi convite? __ diz Branca espantada. __ Não acredito! __
responde Gleyce. As duas sorriem. __ Opa! Olha quem estar vindo ali? O doutor bonitão.
Tô vazando. Depois volto pra gente fofocar mais um pouco. Tchau! __ diz Gleyce saindo
às pressas pelo corredor.
Doutor Samuel se aproxima de Branca e dá um beijo no rosto dela. __ A gata tá
famosa. Agora mesmo que não sai mais comigo. __ diz ele. Ela sorrir. __ Que famosa
que nada. Não dou três dias pra me esquecerem, você vai ver. __ Pois eu tava achando
que já tinha perdido você pro seu chefinho lá. __ diz ele, puxando uma cadeira e se
sentando. __ Que isso Samuel. Deixa de falar besteiras. Graças a ele eu consegui sair do
aperto. __ Tô brincando, gata. Que bom que financeiramente você está conseguindo
resolver sua vida. E com a fama que tem agora, pode melhorar ainda mais. __ diz ele,
segurando as mãos dela. __ Como assim? Aceitar o convite pra posar nua? __ diz ela,
sorrindo. __ Você tá de brincadeira. Te chamaram pra posar nua? __ pergunta ele soltando
as mãos dela. __ Sim. E eu tô pensando em aceitar. A grana é muito boa. __ responde ela,
tirando sarro com a cara dele. Ela adora irritá-lo e ver a reação depois. __ Eu te proíbo.
Você está ficando doida. Eu pago o valor que te ofereceram __ diz ele, se levantando. De
pé ele a puxa pelas mãos e passa uma das mãos em volta da cintura dela. __ Você é minha.
Ninguém vai te ver nua além de mim. __ diz ele, no ouvido dela. Ela tira as mãos dele da
cintura dela, se afasta e olha para os lados para ver se tem alguém vindo __ Para com isso.
Saiba você que eu sou livre pra fazer o que eu bem entender. Ser humano nenhum tem
dono. E também já te falei várias vezes que não gostos dessa agarração no local de serviço.
Vamos voltar ao trabalho. __ diz ela, voltando a se sentar. Ela pega os prontuários dos
pacientes e começa a fazer as anotações. __ Amanhã você estará livre? Ou terei que
marcar horário na sua agenda agora? __Ironicamente pergunta ele. __ É mesmo. Tô te
devendo um jantar. Lembrei da nossa aposta. __ diz ela, sorrindo. __ Pois é. Vou cobrar
logo porque a gata tá famosa e daqui a pouco eu nem consigo chegar perto mais. __ diz
ele. Então eles combinam de finalmente jantar no outro dia.
CAPÍTULO 5
Tudo vai bem, quando você é do bem.
Branca está administrando uma medicação oral em Rafaela quando Renato chega
de mais uma viagem. Ele dá um beijo na filha, pega ela no colo e chama Branca para fazer
um passeio até o jardim. Na entrada da mansão, Branca ver um carro com um enorme
laço vermelho. __ É para você, minha querida. Por tudo que tem feito de bom em nossas
vidas. __ diz dona Beatriz, se aproximando de Branca para entregar as chaves do carro
novo. Ela não acredita. A surpresa é tanta que ela fica uma estátua olhando em direção ao
carro. Renato já havia combinado tudo com a mãe e com a filha. Todos concordam que
ela além de ser uma excelente profissional, ela também tem feito muito bem a todos ali e
principalmente a Rafaela. E todos concordam também que ela necessita muito de um
carro.
Branca, de frente para o carro, continua estátua e tremendo. __ Como assim gente?
Não tô entendendo. __ diz ela, ainda espantada e levando as mãos à cabeça. __ Você
merece. E também você precisa fugir dos paparazzo agora. De metrô fica difícil. __
Responde Renato. __ Eu não tô acreditando. Eu não posso aceitar. __ diz ela, perplexa.
__ Somos muito agradecidos por tudo que você tem feito pela nossa Rafa. É o mínimo
que podemos fazer para retribuir. __ diz Renato. __ Faço porque amo minha profissão e
amo essa pequenina. __ responde ela, emocionada e sem conseguir parar de olhar o carro.
Os olhos brilham com as lágrimas que começam a se formar. __ Você merece, minha
querida, e merece muito mais. __ completa dona Beatriz. __ Nem sei como agradecer.
Fico até sem palavras. __ diz ela, enquanto enxuga os olhos com as mãos e caminha para
dar um abraço em dona Beatriz.
Ela se aproxima do carro, anda em volta dele, toca no laço e se emociona. __
Branca, vamos passear no seu carro novo? __ pergunta Rafaela, que está no colo do pai.
__ Vamos sim, mas só se for agora. __ responde ela. Todos entram no carro. Renato no
banco do carona, dona Beatriz e Rafaela no banco de trás. Branca se senta e trêmula mal
consegue dar partida no carro. Renato não tira os olhos dela. Eles dão uma volta pelo
condomínio. Ela muito feliz e emocionada mal dá conta de dirigir. __ Gente, desculpem
aí pelas barbeiragens, mas tem muito tempo que eu não dirijo. __ diz ela.
Ao final do plantão, ainda na mansão, Branca procura por Renato pela sala,
cozinha, jardim e não o encontra. Ela vai até a suíte dele e dá três batidas leve na porta.
Sem saber quem é, ele que está deitado na cama mexendo no telefone celular, pede para
que entre. Ela não escuta. __ Renato, você está aí? __ pergunta ela batendo novamente na
porta. Ele reconhece a voz e imediatamente deixa o telefone de lado, abre um sorrisão, se
levanta e corre para abrir a porta, mas ele disfarça o sorriso de alegria que estava
estampado no rosto. __ Oi, Mulher Maravilha! Entre, por favor. Agora oficialmente você
é a Mulher Maravilha mesmo. As redes sociais só falam em você. __ diz ele. Ela dá uns
três passos para dentro do quarto e para. __ Sabe que agora eu já tô é me divertindo com
tudo isso. Mas eu vim até aqui mesmo foi pra te agradecer novamente. Tua família é
incrível. Não tenho palavras pra expressar tudo o que tô sentindo hoje. __ diz ela,
segurando a bolsa com as duas mãos. __ Se alguém tem que agradecer alguma coisa aqui,
sou eu. __ responde ele se segurando para não abrir o sorriso de satisfação de estar com
ela em seu quarto. __ É por essa e por outras que admiro você e toda a tua família. E sabe,
tem uma coisa que me fascina muito em você. __ diz ela, ainda emocionada. ___ Minhas
músicas? __ responde prontamente ele, com um sorriso faceiro. ___ Isso eu já admirava
antes de te conhecer. __ responde ela. __ Minha capacidade de fazer filhos bonitos. __
responde novamente ele. __ Também não, seu bobo. Você é lindo e por mais feia que seja
a mulher, seus filhos sempre vão sair lindos. __ responde ela, sorrindo. __ Admiro a tua
humildade. __ diz ela. __ Você merece. Vejo sua luta, sua rotina com o seu filho. E vejo
também todo o bem que você faz pra Rafa e pra todos nós aqui. Cada dia que passa,
gostamos mais de você. Não vejo mais essa casa, essa família sem você.__ responde ele.
Já tem algum tempo que Renato vê e também trata Branca como membro da
família e já tem um tempinho também que ele vem nutrindo um certo interesse por ela.
__ Não sei o que seria dessa casa sem a sua energia, a sua alegria. __ diz ele se
aproximando para segurar as mãos dela. __ Não sei o que seria de mim sem você. Como
diz a imprensa: a minha Mulher Maravilha. __ completa ele, com um sorriso discreto.
Ela fica com as bochechas totalmente vermelha. Ela olha para os lados, na tentativa de
evitar os olhares dele. A respiração fica mais rápida e o coração acelera. __ Porque você
só me chama de Mulher Maravilha? __ pergunta ela, mudando o assunto para sair da saia
justa e puxando de volta as mãos. ___ Acho que por causa das histórias que você conta
pra Rafa... não, eu tô mentindo. É porque você é uma mulher maravilha. __ diz ele,
encarando ela. __ As historinhas são inventadas. Quando meu filho era pequeno, eu
contava pra ele dormir, e às vezes eu me fantasiava também. __ responde ela caminhando
em direção a enorme sacada do quarto que tem uma bela vista para a piscina. As belas
cortinas brancas estão abertas deixando a vista a mostra. __ Achei o máximo você
fantasiada naquele hospital. Que alegria você proporcionou a todas aquelas crianças. Não
sei o que é, mas você tem um poder de fazer todos a sua volta se encantarem por você. __
diz ele caminhando também em direção a sacada. __ Que isso! Deve ser só gratidão
mesmo. __ responde ela. Ele interrompe. __ Com certeza não é só gratidão. Tem algo
mais, sim. Você é especial, é diferente, é carismática. Você tem algo que fascina as
pessoas. __ insiste ele, se aproximando novamente dela. Ela olha para o céu e depois para
a piscina. __ Você ainda está muito sensível e também tem o fato da Rafa ter se apegado
a mim. Deve ser só isso mesmo. __ diz ela se voltando para olhá-lo. Ele balança a cabeça
negativamente. __ Com certeza não é só isso. __ Tem muitas pessoas que não gostam de
mim. Então, eu não tenho esse poder de encantar assim não. __ responde ela. __ Sempre
vão existir pessoas que vão nos amar e outras que vão nos odiar pelo mesmo motivo. __
esclarece ele. __ Isso que você falou é verdade. E o nome disso se chama inveja. __
completa ela. __ Você fica hoje pra jantar com a gente? Fazemos questão. __ diz ele. Ela
abaixa a cabeça e novamente olha para a piscina na tentativa de mais uma vez evitar os
olhares dele e pensar na resposta.
Branca começa a perceber que Renato vem olhando diferente para ela e isso a
assusta, mas ela acha que seja apenas carência afetiva e também pelo fato da filha dele
ter se apegado tanto a ela que ele pode está confundindo gratidão com algum outro
sentimento. E ela está decidida a dar uma chance ao doutor Samuel, por quem ela sente
atração e já o conhece há algum tempo. __ Não posso. Tenho um compromisso hoje e por
sinal, já estou bem atrasada. __ informa ela. __ É com o seu filho, é claro? __ pergunta
Renato, meio cabisbaixo e temendo pela resposta. É lógico que ele perguntou
propositalmente para saber com quem é o compromisso. __ Não. Eu tô seguindo teus
conselhos. __responde ela. __ Pois é. Já tô arrependido de ter dado esses conselhos. __
diz ele, quase sussurrando. Ele sabe muito bem de quais conselhos ela está falando. __
Não fique sem graça. Só tô brincando com você. __ diz ele, percebendo que ela está com
as bochechas vermelha. __ Esse cara aí é um cara de sorte. Tomara que ele não seja burro
e saiba dar valor em você. __ completa ele, pegando na mão dela. __ Vamos que te
acompanho até o carro. __ diz ele. Eles vão caminhando em direção à sala de estar. Ela
em silêncio. __ Você merece ser feliz. Já sofreu demais. __ completa ele. __ Você
também. Logo logo vai se apaixonar novamente e vai ter muitos motivos pra sorrir. __
responde ela. __ Não sei mais de nada. __ informa ele, cabisbaixa.
Renato realmente não sabe se é gratidão ou se é algo mais o que está sentindo por
Branca, mas o fato é que a cada dia ele vem pensando nela de uma forma diferente, não
só como a excelente enfermeira que cuida da filha, mas como mulher, com desejo, com
tesão, com vontade em tê-la nos braços e na cama dele. Pode sim ser só tesão pelo fato
dela ser uma mulher linda e atraente e ele estar muito carente, mas também pode ser
paixão escondida por traz da enorme gratidão que tem por ela. Ele ainda está muito
confuso. A perda da esposa é muito recente, mas a cada dia que passa ele sente um desejo
por Branca que vem aumentando e o sufocando.
Chegando à sala de estar, dona Beatriz, Letícia, Rafaela e uma moça linda estão
aguardando o jantar ser servido. __ Boa noite! __ diz Branca olhando para todos e fixando
o olhar na moça. __ Boa noite! __ responde a moça que logo em seguida vai até Renato
e o cumprimenta com um abraço e um beijo no rosto. __ Oi Renato! Vim saber como
estar a Rafaela. Mas vejo que ela está muito bem graças a Deus e você também. __ diz a
moça olhando para Branca, dos pés à cabeça. __ Rafaela está bem melhor, graças a Deus.
As enfermeiras estão cuidando muito bem dela. __ responde ele. __ Achei que você fosse
morar nos Estados Unidos. Dessa vez demorou bastante por lá. __ completa ele. __ Pois
é. Até pensei em ficar lá mesmo, mas senti saudades do Brasil e de todos vocês aqui. __
responde a moça.
Renato apresenta Branca para a moça: __ Branca essa é a Camila, uma amiga
nossa. __ diz ele, em pé no meio da sala de estar. __ Muito Prazer, Branca! Eu estava
doida pra te conhecer. Tem duas semanas que todas as vezes que ligo pro Renato, ele só
fala em você. __ diz Camila, caminhando para cumprimentar Branca. Ela dá um beijo e
um abraço nela. __ Muito obrigada por cuidar tão bem da nossa pequena Rafaela. __
completa ela. __ O prazer é meu em conhecê-la. Letícia e eu também gostamos muito da
Rafa e não medimos esforços pra vê-la bem. __ responde Branca, olhando para Camila e
depois para Letícia. __ É verdade. A nossa prioridade é o bem estar da Rafinha. __
completa Letícia, sentada no sofá com Rafaela em seu colo. __ Que bom meninas! Bom
saber que existem profissionais assim como vocês... Que se dedicam ao máximo para
cuidar do paciente. A Rafa é o xodó dessa casa. Tem que ser muito bem cuidada mesmo.
__ Completa Camila sorrindo e olhando para a garotinha. __ Essas meninas são de ouro,
Camila. Deus que às trouxe para essa casa. Rafaela está em boas mãos. __ completa dona
Beatriz. Renato olha para Branca, ela olha de volta para ele e abaixa a cabeça. Camila
percebe os olhares.
Camila sempre frequentou a residência de Renato e sempre foi muito amiga de
Déborah. Ela é filha de um importante empresário local e conheceu Renato há alguns
anos quando o pai dela contratou o show dele para a festa de aniversário dela. E desde
então, ela se aproximou dele e de toda a família. Ela alimenta um amor platônico por
Renato desde a primeira vez que o viu pessoalmente, mas sempre soube que não tinha
nenhuma chance. Ele sempre deixou claro para todos que a família dele é a prioridade.
Camila viajou para os Estados Unidos (EUA) antes do acidente de Deborah.
Desde o acidente ela liga para Renato todos os dias. A intenção, segundo ela, é ajudar ele
a superar a perda precoce da esposa.
Camila é uma bela moça. Tem vinte e oito anos, é um pouco mais alta que Branca,
é magra, loira, cabelos lisos compridos e pele clara. Parece uma Barbie, como dizem suas
amigas. Ela chama muito a atenção por onde passa por causa da beleza. Até então, Renato
a ver somente como uma grande amiga.
Ainda na sala de estar, Camila continua olhando Branca dos pés à cabeça e Branca,
que não é nada boba, percebe um certo olhar de desdenho da moça. __ Então gente, eu
vou embora porque ainda vou atravessar a cidade toda pra chegar em casa. __ diz Branca,
caminhando em direção a Rafaela. __ Até amanhã, minha linda. __ diz ela dando um
abraça e um beijo na garotinha. Ela caminha em direção a Camila, que está com um dos
braços passado à cintura de Renato. __ Foi um prazer, Camila. __ completa ela
estendendo a mão. __ Vá com Deus, querida e boa viagem de volta pra sua casa. __
responde Camila com um certo tom de ironia e estendendo a mão para apertar a mão de
Branca. Renato pede licença a ela e acompanha Branca até o carro. Camila observa os
dois e Letícia observa Camila.
Na varanda, Renato se despede de Branca: __ Boa noite! Dirija com cuidado. __
diz ele. __ Fique com Deus e eu vou dirigir com muito cuidado. Vou cuidar muito bem
do meu presente. __ responde ela, se referindo ao carro que ganhou dele. __ Bom jantar
pra você hoje à noite. E diga a esse moço que se ele não cuidar bem de você eu vou ter
que quebrar ele. __ completa ele sorrindo. Eles se despedem e ela entra no carro novo.
Ao sair da garagem, ela abre o vidro do carro e acena para ele, __ Você teria mesmo
coragem de fazer isso com o Samuel? __ pergunta ela. Sorrindo. __ Se ele experimentar
fazer mal a você, com certeza ele vai lembrar de mim. __ responde ele, também sorrindo
__ Eita! Bom saber disso. __ responde ela.
De volta à sala de estar, dona Beatriz pede para servir o jantar. Todos se
acomodam à mesa. Uma extensa mesa de dez lugares. Dona Beatriz se acomoda à
cabeceira da mesa, Renato logo a esquerda dela e Camila senta ao lado dele. À direita de
dona Beatriz senta Letícia com Rafaela no colo.
Durante a última semana, Rafaela só come se estiver no colo de Branca ou de
Letícia. __ Renato, essa é a tal enfermeira que ficou famosa? __ pergunta Camila,
especulando sobre Branca. __ Sim. É ela mesma. Rafaela é apaixonada por ela, não é
Rafa? __ responde ele, olhando para a filha. __ A Branca é a minha melhor amiga. __
responde a garotinha. __ Ah é? E eu não sou não? É bom saber disso, dona Rafa. __ diz
Letícia, fingindo estar com ciúmes. Rafaela se vira e dar um abraço nela. __ Você também
é minha amiga, Letícia. Você e a Branca. __ responde a garotinha. __ Olha o ciúme. __
diz dona Beatriz. Camila observa toda a conversa e brincadeiras da família. Pela primeira
vez, ela não consegue interagir. Ela apenas come enquanto observa todos.
Após o jantar, Letícia leva Rafaela para o quarto, dona Beatriz também se recolhe
para assistir suas novelas e Renato fica na sala fazendo companhia para Camila. Ele senta
no sofá e ela senta ao lado dele. __ Gostei de ver a alegria de todos no jantar. __ diz ela,
puxando assunto ao perceber que Renato está muito calado. __ Minha filha está melhor,
então todos estamos alegres. __ responde ele. __ A tal enfermeira que foi embora... __
diz ela. Renato imediatamente interrompe sem deixa-la concluir o que ia falar. __ Ela se
chama Branca. __ diz ele. __ Sim. Ela mesma. É uma moça muito bonita, podia até ser
modelo ou qualquer outra coisa no ramo da moda. Ela não tem cara de enfermeira. __
conclui ela. __ Eu não sabia que pra ser enfermeira tinha que ter cara de enfermeira. __
responde ele, com um sorriso amarelo estampado no rosto. __ Mas graças a Deus ela é
enfermeira e tem feito muito bem à minha filha. __ completa ele.
Renato parece não estar gostando muito da conversa e nem da companhia, mas
Camila não tem “desconfiômetro”. __ Parece que ela tá fazendo bem não só pra Rafa,
mas pra você também. __ insiste Camila, intrigada. __ E pra minha mãe também. Na
verdade ela tem feito muito bem pra todos nós. __ insiste ele. __ Que bom. Quando eu
precisar de uma enfermeira, já sei a quem procurar. __ completa ela com ironia. __ E
você não vai se arrepender. Ela é ótima e as outras duas enfermeiras também são. __ diz
ele. Neste momento o telefone dele toca. É Branca. Os olhos dele brilham. Antes dele se
levantar para atender, Camila consegue ler o nome “Mulher Maravilha” na tela do celular
e ela também percebe a empolgação dele para atender a ligação. __ Só um minuto Camila.
__ diz ele, se levantando. __ Alô! __ atende ele, caminhando para um canto da sala. __
Oi Renato! É Branca. __ diz ela. __ Oi, Mulher Maravilha! __ responde ele, ansioso e
com um sorriso meio tímido. __ Me desculpe se te atrapalho, mas acabei de chegar em
casa e lembrei de uma coisa... Acho que sábado teremos que raspar a cabeça da Rafa. Os
cabelos dela estão caindo muito. __ diz ela. __ Eu já percebi e já imaginava que esse
momento tava chegando. __ responde ele. O sorriso dar lugar à uma expressão séria e
triste. __ A gente combina então pra sábado. Tô com umas ideias e acho que vai dar certo.
Fique com Deus. __ diz ela. __ Combinado. Fique com Deus também. Beijos. __ se
despede ele.
Ele retorna para o sofá, com uma carinha triste. __ O que foi Renato? Essa ligação
não te fez bem. __ pergunta Camila, mostrando preocupação. __ Não é a ligação, mas o
motivo dela. Vamos ter que raspar a cabeça da Rafa. O cabelo está caindo muito. __
responde ele. Camila se aproxima bem dele e aproveita a oportunidade para consolá-lo.
Ela passa uma das mãos na cabeça dele para fazer carinho e com a outra mão ela segura
uma das mãos dele. __ Vai dar tudo certo Renato, você vai ver. __ diz ela. __ Fico tão
angustiado. A Rafa não merece tá passando por tudo isso. __ desabafa ele. __ Não merece
mesmo. Mas temos que confiar em Deus. Olha, eu posso levar ela no meu cabeleireiro.
Ele é ótimo e vai saber lidar com essa situação. __ diz ela. __ Muito obrigada Camila,
mas a Rafa não vai querer. Tem que ser a Branca. Ultimamente só ela sabe lhe dar com a
Rafa. __ responde ele, já meio sem graça. Ele não está curtindo os carinhos que ela está
fazendo. Na verdade ele está bem desconfortável, carinho mesmo era só da esposa que
ele permitia e atualmente só o da mãe e da filha. Ele sempre se sentiu desconfortável com
muita agarração. __ Eu insisto. Eu e Rafa sempre nos demos bem. Tenho certeza que ela
vai curtir o passeio e o cabeleireiro. __ insiste ela. __ Te agradeço novamente Camila.
Não tenho dúvida que você quer ajudar, mas eu conheço a Rafa e também a Branca já
planejou tudo pra sábado. Ela disse que tem umas ideias e eu confio muito nela. __
completa ele. Camila não gosta muito do que escuta, mas também não insiste no assunto.
Ainda na sala de estar, eles estão conversando quando Letícia chega e chama
Renato para ir até o quarto de Rafaela. __ Camila já estar tarde, vou pedir pro motorista
te levar em casa. __ diz Renato, já aproveitando a deixa de Letícia para despachar Camila.
__ Não precisa Renato. Vim no meu carro. Mais tarde te ligo. __ responde ela se
levantando. Renato a leva até o carro. Ela dá um abraça e um beijo nele e vai embora.
Renato chega todo preocupado no quarto da filha. __ Oi minha princesa! Você
chamou o papai? Tá sentindo alguma coisa? Alguma dor? __ pergunta ele, se
aproximando da cama da garotinha. __ Te chamei pra me dar um beijo de boa noite papai,
você esqueceu? __ diz a garotinha. __ Eu não esqueci, meu amor. Papai estava ocupado,
mas agora vou ficar aqui até você dormir. __ diz ele, se sentando numa poltrona e fazendo
cafuné na garotinha. __ Papai, conta uma historinha da Mulher Maravilha pra mim. __
pede ela. Renato coça a cabeça, olha para a Letícia, que sorrir e faz gestos com as mãos
informando que não passe a bola para ela. __ Agora você me pegou, meu amor. O papai
não sabe nenhuma historinha da Mulher Maravilha. __ responde ele. __ É verdade papai.
É só a Branca que sabe. Vamos ligar pra ela e ela conta pra nós. __ diz a garotinha, toda
empolgada. Renato fica meio sem jeito. __ Meu amor, a Branca está no horário de
descanso dela, e justamente hoje ela vai sair pra jantar com o namorado. __ diz ele. __
Ela tem namorado? __ pergunta Rafaela, curiosa. __ Acho que sim, meu amor. __
responde ele. __ Não. Ela não tem namorado. É apenas um amigo. __ diz Letícia, entrando
na conversa.
Rafaela não gosta de saber que Branca possa ter um namorado. __ Eu não quero
que ela tenha um namorado. __ diz a garotinha. Renato e Letícia sorriem. __ Como assim
meu amor? Não tô entendendo você. __ diz Renato, sorrindo. __ Papai, se a Branca tiver
um namorado, ele pode proibir ela de cuidar de mim e eu vou ficar muito triste. __ explica
a garotinha. Renato e Letícia sorriem novamente. __ De onde você tirou isso Rafa? É
lógico que a Branca não vai deixar de cuidar de você. Com namorado ou sem namorado,
ela sempre vai cuidar de você, minha linda. __ explica Letícia, enquanto Renato faz
carinho na cabeça da filha.
Enquanto isso, na casa de Branca, Alecsander não para de admirar o carro que eles
ganharam de Renato. Na cozinha Branca prepara um lanche para ele. Ela conta como foi
o dia dela e ele conta o dia dele também.
Branca pede permissão ao filho para sair com o doutor Samuel. __ É o moço que
tava com a gente no show do tio Renato, mamãe? __ pergunta Alecsander, enquanto
come. __ Sim, meu amor. É ele mesmo. __ responde Branca. Ela está sentada à mesa bem
ao lado do filho. __ Mas ele tem que vir pedir pra mim pra poder sair com minha mãe. __
diz ele. __ Está bem, senhor Alecsander. Espere aí que vou ligar pra ele. __ diz Branca,
pegando o telefone para ligar para o doutor Samuel.
__ Alô! __ diz Alecsander. Enquanto isso Branca vai para o banho. __ Oi
garotinho! Tudo bem com você? __ diz doutor Samuel. __ Eu tô bem. __ responde
Alecsander. __ Então Alecsander, eu quero pedir a sua permissão para sair com a sua
mamãe hoje. __ diz doutor Samuel. __ Você vai cuidar da minha mãe e não vai fazer
nenhum mal pra ela? __ pergunta o garoto. __ É lógico que vou cuidar muito bem da sua
mãe. Ela é uma mulher muito especial e não vou deixar ninguém fazer mal pra ela. __
responde doutor Samuel. __ Então eu deixo ela sair com você. __ responde o garotinho.
Os dois conversam por mais alguns minutos enquanto Branca toma banho e se arruma
Ela usa uma das roupas que ganhou de dona Beatriz: um vestido curto tubinho,
nula manga na cor azul escuro e ela usa sapatos scarpin preto. O traje é um tanto ousado.
Como não teve tempo de arrumar os cabelos, ela então usa ele solto lateral. A maquiagem
é bem leve feita por ela mesmo, mas o batom é bem vermelho. Branca está seguindo os
conselhos de dona Beatriz: ser mais ousada.
Doutor Samuel escolhe um restaurante bem reservado em uma zona nobre de São
Paulo. Ele chega bem antes do horário combinado.
Branca vem sendo bastante assediada por repórteres e paparazzo e como ela não
quer dar motivos para mais fofocas, ela não aceita o convite de doutor Samuel de ir buscá-
la em casa. Ela vai com o Luiz, o vizinho que é o motorista de aplicativo.
Ela chega ao restaurante e é conduzida até a mesa onde doutor Samuel está.
Quando ela surge no salão, ele nem acredita no que ver. Ele se levanta e de queixo caído
olha fixamente para ela, que se aproxima da mesa. __ Meu Deus do céu! Que gata é essa?
__ diz ele. Ela sorrir meio sem graça e sem jeito. __ Que isso Samuel. Nem é pra tanto.
__ diz ela. Ele beija as mãos e o rosto dela. Ele puxa a cadeira para que ela se sente. Por
alguns instantes doutor somente a observando.
Do outro lado da cidade, na mansão de Renato, Rafaela já dorme e Renato
aproveita para ir ao cantinho dele. Ele leva o colchonete, uma garrafa de vinho e duas
taças. Ele se acomoda, deitado olhando o céu, e o pensamento vai em Branca. Aliás, desde
o dia em que ele a viu fantasiada de Mulher Maravilha, ele passou a admirá-la ainda mais
e a pensar nela também.
Renato é um cara romântico e ao contrário de muitos de seus amigos, ele sempre
foi centrado mais na família. Após a morte da esposa, ele começou a exagerar um pouco
no consumo de álcool e a sair com algumas mulheres, mas depois da última internação
da filha, ele decidiu ficar mais em casa. Ele sai apenas para fazer os shows e logo retorna
para junto da filha e da mãe. Ele tem bebido apenas em casa e não tem mais exagerado
na quantidade de álcool. Quando não está fazendo shows, ele está em casa. Durante o dia,
ele passa o tempo todo com a filha no quarto ou pela casa, e noite ele costuma ir para o
cantinho especial dele na casa para beber vinho e ficar vendo o céu. Gradativamente ele
foi perdendo o interesse nas festas e nas noitadas. Ele prefere estar mais junto da família
e com certeza, de Branca também.
Renato não tem certeza do que sente por Branca, mas é fato que ele quer estar
cada vez mais perto dela. Ele acha as conversas com ela muito produtivas e que o fazem
se sentir bem, talvez pelo fato dele estar passando pela mesma situação que ela passou e
também porque ela é uma mulher agradável, inteligente, meiga e espontânea.
Ele as vezes se sente um pouco mal por se sentir bem e feliz quando está na
companhia dela. Ele acha que como está recente a perda da esposa, ele não poderia estar
se sentindo assim, feliz. Falta coragem para ele chegar nela e expor o que vem sentindo,
ele acha que ela está apaixonada pelo colega de serviço e ele não quer forçar a barra e
também ele não sabe se é paixão ou se é apenas admiração e gratidão o que está sentindo.
Na verdade ele está é muito confuso mesmo.
De volta ao restaurante, Branca e doutor Samuel aguardam o jantar, que foi
escolhido por ela: peito de frango recheado com mostarda e mel e salada crua para
acompanhar. Eles bebem um vinho tinto francês Pinot Noir escolhido por doutor Samuel.
__ Gata, você está estupidamente linda. Tô sem palavras. __ diz ele. Ela sorrir meio tímida
e fica sem graça. Doutor Samuel adora vê-la assim. __ Você também está um gato, doutor
Samuel __ responde ela.
Com o passar das horas, Branca vai relaxando. A noite é bem agradável. Ela bebe
apenas uma taça de vinho. Eles jantam e a conversa é boa. De repente, uma pessoa se
aproxima e tira algumas fotos dela e de doutor Samuel também. Como ela não está
acostumada com este tipo de assédio, ela fica desconfortável. Doutor Samuel percebe e a
chama para ir ao apartamento dele. Ela foi decidida a ir até o fim com ele, então ela aceita
o convite. Doutor Samuel pede a conta e logo eles vão embora.
Ele mora em apartamento num bairro nobre de São Paulo. Chegando, ele apresenta
ela para a Lola, a cadelinha que ele adotou. __ Olha, quem diria! Doutor Samuel fazendo
uma boa ação. Tô orgulhosa. __ diz ela se acomodando no sofá. __ Mas eu sou um bom
moço. Não sou esse lobo mal que você pensa não. __ diz ele, sorrindo. __ Você era sim
um lobo mal quando te conheci. Agora não é mais. Parece mais um príncipe agora. E cadê
o vinho que o príncipe me prometeu? __ diz ela. Ele se levanta, pega a garrafa de vinho,
duas taças, abre e serve ela primeiro.
Branca fala praticamente sozinha porque doutor Samuel não para de olhá-la,
afinal, tem mais de três anos que ele espera por esse momento. __ Samuel, você está me
deixando muito sem graça assim. Para de ficar me olhando desse jeito. Já tô com
vergonha. __ diz ela. __ Não consigo. __ responde ele.
Ela bebe uma, duas e três taças de vinho e começa a ficar alegre além do normal.
Doutor Samuel percebe que ela já passou do limite. __ Gata, é melhor parar com o vinho.
Tô vendo que você não tem costume e já está alegrinha demais. __ diz ele.
O apartamento de doutor Samuel fica no décimo segundo andar. É bem espaçoso.
A decoração é moderna e simples para um solteirão que praticamente chega em casa
quase sempre ao anoitecer. A sala é ampla com um belo e espaçoso sofá canto de quatro
lugares na cor bege, ao lado tem uma adega não muito grande, combinando com o painel
da TV. Também tem uma mesa de jantar de seis lugares. A sacada é grande e tem uma
área gourmet. O apartamento tem três quartos, sendo o dele uma suíte máster.
Branca se levanta e vai até a sacada. __ Nossa! Que vista linda. __diz ela olhando
tudo em volta. Ela fica encantada com a vista iluminada da cidade. Ele vai até ela e lhe
abraça por trás. __ Linda é você. Linda e especial. __ diz ele, no ouvido dela e
aproveitando para beijar o pescoço dela também. Ela curte as carícias por alguns instantes
e logo muda o assunto. __ Você não me apresentou o seu apartamento. __ diz ela. __
Então, vou lhe apresentar agora. __ responde ele puxando ela pela mão. Ele começa
apresentando a cozinha. Ela carrega uma taça de vinho na mão.
No quarto principal, os dois param na porta. __ E aqui é o meu cantinho preferido
da casa. __ diz ele. __ Nossa que quarto lindo. __ responde ela, encantada e olhando para
todos os lados. Como já está tonta por causa do vinho e está mais desinibida do que de
costume, ela logo entra e se senta na cama. __ Com certeza você nunca vai ter insônia ou
dores na coluna numa cama dessa aqui. __ diz ela, sorrindo. Doutor Samuel também
sorrir. Ela olha para a cama e depois encara ele. __ Eu adoro vermelho. __ completa ela,
se referindo ao cobre-leito. Ele se aproxima e senta ao lado dela. A cama é king, que está
coberta com um luxuoso cobre-leito na cor vermelho, que foi arrumado assim
propositalmente para recebe-la.
Ela vira na boca de uma só vez o restante do vinho e doutor Samuel pega a taça
da mão dela. __ A cor do amor, meu amor. __ diz ele, se referindo a cor do cobre-leito.
Ela já estar com dificuldades para falar. __ Esse vinho que você me deu é tão bom. Eu
quero mais uma taça. __ diz ela. __ Não, gata. Tá bom de vinho por hoje. Vou buscar
água pra você. __ diz ele. Ela tenta se levantar e cai levemente nos braços dele. Eles se
olham e a respiração ofegante. Ele aproxima os lábios para beijá-la. __ Não sei se vou
resistir a você hoje. __ sussurra ele. Ela fica cada vez mais ofegante. __ E porque você
quer resistir? Eu não quero. __ responde ela, se aconchegando nos braços forte dele. Ele
leva uma mão na cabeça dela, agarra os cabelos e ela toma a iniciativa de beijá-lo. Ele
aperta ela com força contra si. Eles se levantam e aos beijos ele a conduz até a parede do
quarto. O beijo é demorado e muito quente. Ela sente o corpo esquentar e o coração
acelera. __ Você me deixa doido diaba. __ diz ele, entre um beijo e outro. A mão dele
“boba” escorrega pelo corpo dela. Com pressa ela começa a desabotoar a camisa dele. O
peitoral malhado fica exposto e ela passa as mãos levemente. De repente ele lembra da
aposta que fizeram e tenta se afastar, mas ela o agarra com força e não deixa ele sair do
abraço. __ Não para. __diz ela. Ele se afasta, e começa a sorrir. __ Gata, isso tudo é um
plano seu não é? Você quer que eu perca a aposta. Você é muito espertinha. __ diz ele, se
afastando dela. __ Eu não tô nem lembrando de aposta. Você ficou doido? __ diz ela, se
aproximando dele e ele se afastando dela. E realmente ela não está nem aí para a aposta
que fizeram. __ Não gata, eu não vou perder essa aposta. Você me disse que eu só queria
sexo com você, e você estar errada. Eu não quero só sexo. Quero sexo também é claro,
mas não só isso. E se a gente transar hoje, você vai me cobrar muito caro depois. E
também você bebeu além do seu limite. Você não é assim. Essa não é a gata que eu
conheço. __ diz ele, se aproximando dela. Ele abraça ela e a puxa pela mão até a sala. __
Vem comigo. Vamos pra a sala. __ diz ele. Os dois se sentam e ele acomoda ela deitada
com cabeça nas pernas dele. Os dois conversam bastante. Conversam sobre as histórias
engraçadas dos plantões, sobre as suas profissões e sobre a fama repentina dela. __ Então
a Mulher Maravilha existe e está aqui no meu apartamento e no meu colo agora? __ diz
ele, fazendo cafuné nela. __ Virei a Mulher Maravilha, mas de maravilha não tenho é
nada. __ responde ela, já meio sonolenta. __ Gata, você é toda maravilhosa. __ diz ele,
virando o pescoço para olhar nos olhá-la, mas ela já está dormindo. __ É... dormiu mais
uma vez. __ diz ele, se referindo ao fato de que pela segunda vez ela bebe um pouco a
mais e simplesmente adormece e nada acontece entre eles.
Ele carrega ela nos braços até o quarto dele. Ela fala três a quatro palavras que não
dão para entender e dorme novamente. Ele sorrir e a deita na cama, ele tira os sapatos
dela, tira o vestido e veste uma camisa dele para que ela fique mais confortável. Ele vai
até o banheiro, lava o rosto, tira a roupa e veste uma bermuda de pijama. Ele deita ao lado
dela e fica por um longo período só observando ela dormir e fazendo carinho na cabeça
dela até que ele também adormece.
O dia amanhece, Branca acorda e se assusta ao ver doutor Samuel dormindo ao
lado dela. Ela dá um pulo da cama e ele acorda. Ela olha para a roupa que está vestida e
imediatamente pensa que eles transaram. __ Samuel o que aconteceu? Não lembro de
nada. __ diz ela, assustada. Ele imediatamente se levanta e vai acalmá-la __ Calma, gata.
Não aconteceu nada. __ diz ele, se aproximando dela. __ Bom dia pra você. Foi uma
honra em tê-la na minha cama, mas não fizemos nada. Você dormiu antes de qualquer
coisa. __ diz ele, sorrindo e abraçando ela. __ E o que eu tô fazendo com a tua roupa? __
pergunta ela, abraçada a ele. __ Eu tirei somente o seu vestido e sapatos pra você ficar
mais à vontade pra dormir. Gata, acredita em mim, não aconteceu nada. __ insiste ele.
Ela começa a se recordar de algumas coisas. __ Tudo bem, Samuel. Eu sei que você não
seria capaz de fazer isso. E agora eu tô me lembrando de algumas coisas. Eu bebi um
pouquinho a mais e adormeci. Te peço desculpas, de novo. A noite era pra ser
maravilhosa, mas infelizmente... __ diz ela. Ele interrompe e não a deixa concluir o que
começou a falar. __ Mas ontem não ia rolar nada, gata. Porque eu jamais iria perder a
aposta que fizemos. __ diz ele, sorrindo. Branca fica admirada com a atitude dele. Ela vai
até o banheiro, se veste e vai até a cozinha preparar um café da manhã para os dois. Ele
também se veste e vai ajuda-la.
A cozinha é americana, espaçosa, com quatro banquetas altas onde ele se senta
em uma e observa enquanto ela coa o café. __ Você não quer ajuda? Não sei fazer café,
mas sei ligar o fogão, a cafeteira... __ diz ele, sorrindo. __ Não acredito que você não sabe
fazer café. Como que você sobrevive sem café aqui? __ pergunta ela, ironizando. __ Gata,
eu chego só pra dormir, e quando preciso de alguma coisa eu peço ajuda... ajuda dos
restaurantes e padarias. __ completa ele, sorrindo. __ Então quantos anos tem esse pó de
café aqui? Tá vencido? __ pergunta ela. Realmente ele não prepara nenhuma refeição no
apartamento, mas pó de café ele nunca deixa faltar. Todas as belas moças que dormem
com ele sabem fazer café. __ Gata, agora você está me devendo um jantar de verdade.
Sem aposta e sem vinho. __ diz ele, mudando o assunto. __ Combinado. __ responde ela.
Depois de pronto, ela serve o café em um belo jogo de xícaras de porcelanas que
ele trouxe de uma viagem que fez a Ásia. Ele bebe café preto e sem açúcar, já ela, bebe
café com leite e bem doce. __ E não me enrole mais três anos pra sair comigo de novo.
__ diz ele. Ela sorrir. São 5:30 horas. Branca acelera com o café para ir embora. A viagem
até a casa dela é longa e ainda tem que deixar o filho na escola e seguir para o plantão na
mansão de Renato.
Ela termina de lavar a louça rapidamente, e vai em direção a sala para pegar a
bolsa. Doutor Samuel vai atrás. Na sala, ele a abraça e a beija. A mão “boba” dele passeia
pelo corpo dela. Ela curte as carícias. Ele tenta tirar o vestido dela, mas ela não deixa. __
Samuel, realmente eu tô atrasada. Ainda tenho muita coisa pra fazer. __ diz ela. __
Certeza gata que não dá pra ficar mais um pouquinho? __ pergunta ele, com uma das
mãos escorregando pelo corpo dela. __ Não dá Samuel, tenho que ir. Tenho
responsabilidades. __ diz ela, se afastando. __ Tá bom, gata. Hoje à noite posso te esperar
aqui? __ pergunta ele a conduzindo até a porta. __ Hoje à noite tenho plantão no hospital.
__ responde ela. __ Tenho que ir, se não vou me atrasar. __ completa ela. Ele mais uma
vez dá um abraço e um beijão bem demorado nela e por alguns instantes ela quase que
desiste de ir embora, mas como sempre, a responsabilidade fala mais alto. __ Chega
Samuel. Tenho que ir. __ diz ela sussurrando com os olhos fechados e com vontade de
ficar. __ Fica gata. Por favor. Fica __ sussurra ele. Ela resiste e vai rumo ao elevador. __
Até breve, gato. __ responde ela.
CAPÍTULO 6
Um é pouco, dois é bom, três é demais e quatro é exagero.
Branca chega à mansão e Letícia passa o plantão para ela. __ Então fica
combinado pra sábado né? __ pergunta Letícia, se referindo ao corte de cabelo de Rafaela
__ Sim Letícia. Vou combinar tudo com dona Beatriz: o lanche e o cabeleireiro. Te aviso
do horário certinho. __ diz ela. As duas estão no corredor do lado de fora do quarto de
Rafaela. __ E a tal Camila, demorou muito ainda pra ir embora? __ pergunta Branca,
mudando de assunto. __ Ficou pro jantar e depois ficou na sala com o seu Renato. __
informa Letícia. __ Será que eles estão namorando, Letícia? __ Pergunta Branca. __
Acredito que não. Ela é uma oferecida. __ responde Letícia. __ Isso eu percebi mesmo.
É uma oferecida e entrona também. __ diz Branca. __ Mas olha, eu e a Rafa não deixamos
barato não. __ informa Letícia com um sorriso malicioso no rosto. __ Como assim? __
pergunta Branca, abrindo um sorriso. __ Tava na cara que o seu Renato tava doido pra se
livrar dela ontem. Então eu e a Rafa demos uma forcinha. __ responde Letícia. __ O que
vocês fizeram? __ pergunta Branca, sorrindo. __ Rafa mandou chamar o pai pra contar
uma historinha pra ela e ele teve que despachar a patricinha. __ responde Letícia. Branca
sorrir. As duas conversam por mais uns 5 minutos e Letícia vai embora.
Branca está organizando a lista das coisas que vai precisar para o sábado, ela tem
uma ideia e nesse momento Renato entra no quarto. __ Oi Mulher Maravilha! E a minha
princesa tá boazinha hoje? __ diz ele. Rafaela está no chão brincando com Luiza. __ Oi
papai. Eu já tomei o café da manhã. __ responde a garotinha, se levantando e indo ao
encontro do pai. __ Então minha princesinha está ótima. __ diz ele pegando a garotinha
no colo. Ele dá um abraço e um beijo nela. __ Hoje ela está melhor. __ responde Branca,
que está sentada numa poltrona. Luíza se levanta e sai do quarto. __ Renato, eu preciso
da tarde livre hoje e amanhã o dia todo. Tenho que organizar umas coisas pro sábado.
Tive uma ideia, e acho que a Rafa vai gostar. __ informa Branca. __ O que é que eu vou
gostar, Branca? __ pergunta Rafaela, do colo do pai. __ É uma surpresa, meu amor. Você
vai saber na hora certa. __ responde Branca. Rafaela faz uma carinha de surpresa e sorri.
Renato fica feliz por ver a filha disposta e alegre. Branca pede permissão para deixar
Gleyce cuidando de Rafaela enquanto estiver ausente. Ela explica que por se tratar de
uma amiga, ele pode confiar. Renato prontamente permite. __ Minha amiga é competente.
Ela terá muita discrição. Eu prometo. __ diz Branca, olhando para ele. __ Mato ela se não
se comportar. __ diz ela, em pensamentos se referindo a Gleyce. __ Sem problemas.
Tenho dois shows hoje e mais dois amanhã, vou viajar daqui a pouco. Eu confio em você.
Pode pedir pra a sua amiga vir. E no Sábado estarei aqui. __ responde ele.
Luíza retorna para o quarto. __ Rafaela sua vó está lhe chamando. __ diz Luíza,
se aproximando de Renato para pegar Rafaela. __ Vai lá com a vovó, meu amor. __ diz
ele, entregando a garotinha para Luiza. Branca continua fazendo sua lista. __ Tô achando
Rafaela meio tristinha esses dias. __ diz Renato. __ É por causa da quimioterapia. Toda
semana que ela faz a químio, ela fica assim. Mas o oncologista pediu pra agendar alguns
exames semana que vem, aí a gente ver se é só isso mesmo. __ explica Branca. __ Tomara
que não seja nada grave e não precise ficar internada no hospital novamente. __ diz ele,
com uma expressão de preocupação estampada no rosto. __ Eu aprendi uma coisa com a
vida: a gente tem que aproveitar cada momento que estamos vivos e não sofrer por
antecipação. Eu vivi um pesadelo na minha vida, que foi sepultar meu marido e ainda
saber que meu único filho estava em estado grave numa UTI. __ diz ela. __ Deve ter sido
horrível ainda mais você sendo da área da saúde. __ diz ele. __ Com certeza. A gente sabe
e tem consciência do que exatamente está acontecendo e temos noção de como pode ser
o prognóstico. __ completa ela. __ Alecsander ficou bastante tempo internado, e com isso,
eu aprendi a viver um dia de cada vez, aprendi a não sofrer por antecipação e
principalmente aprendi a comemorar todos os dias a vida do meu filho, a minha vida, a
vida da minha família e a vida dos meus amigos. Aprendi a não viver em função do futuro.
Hoje, eu só vivo o presente, o amanhã eu deixo para amanhã, entendeu? __ completa ela.
Renato escuta atentamente faz sinal com a cabeça que está entendendo e concordando
com o que ela está falando. __ Então, não sofra, não se culpe, não fique angustiado.
Apenas viva o hoje. Curta a sua filha, brinque com ela hoje sem pensar no amanhã. __
diz Branca. Renato permanece em silêncio escutando tudo o que ela fala. __ Isso não
significa que você não vá fazer planos. Faça planos sempre, porque é necessário, mas não
viva só em função desses planos, porque se não derem certo, você irá se frustrar, se
decepcionar. Se der certo deu, se não der, planeje de novo e de novo e quantas vezes for
necessário. __ completa ela. __ Você tem toda razão. __ diz ele. __ Sabe Renato, quando
meu filho estava em coma, eu chegava pertinho pra sentir a respiração dele, pra ver a
mãozinha dele tentando mexer e eu vibrava de felicidade. Eu não me preocupava com o
amanhã, eu apenas queria viver aqueles poucos minutos de visita da UTI e curtir o meu
filho, que apesar de tudo, estava ali, vivo, respirando. Se no outro dia ele não estivesse
mais ali naquele leito, se ele tivesse partido pra junto de Deus, pelo menos eu vivi o dia
anterior. Eu vivi aquele momento de senti-lo respirando, de tocar a mãozinha quente dele,
e me alegrei com isso e aproveitei esse dia. __ completa Branca, emocionada. Renato
escuta tudo e com muita atenção. Branca se emociona. As lágrimas se formam nos olhos
dela, que brilham olhando para ele. __ Você tem razão. Eu tô sendo um bobo de ficar só
pensando o pior. Tô deixando de curtir a minha filha... __ diz ele. Ela interrompe. __ Que
está viva aqui e agora. Amanhã eu não sei nem de mim, nem de você e nem da Rafa. __
completa ela. __Você é muito sábia. Sabe dizer as palavras certa na hora certa. __ diz ele.
__ É porque já passei por muitas coisas. Já vivi muitas angústias, e olha que ainda sou
bem nova, mas a vida me testa desde cedo. __ responde ela. __ Você tem razão, e não só
razão como vejo que está bem animada e inspirada hoje. Parece que a noite ontem passada
foi boa. __ diz ele, meio sem graça. Ele muda o tema da conversa pra aliviar a tensão ao
ver que Branca está muito emocionada e ele aproveita pra especular sobre o encontro de
dela com o médico. __ Foi mais ou menos. Eu bebi vinho um pouquinho demais e
apaguei. Dormi a noite toda. Essa Mulher Maravilha aqui não tem nada de maravilha. __
diz ela, sorrindo. Renato sorrir aliviado. __ Eu sei bem como é. Conheço uma Mulher
Maravilha que a fraqueza dela é uma taça de vinho. __ diz ele sorrindo. __ Pois é. A partir
de hoje, só bebo água de coco. Nunca mais passo vexames assim, porque essa já foi a
terceira vez. Já tô com vergonha. __ completa ela também sorrindo.
O interesse que Renato vem nutrindo por Branca não é por causa da beleza física
dela, ele conhece milhares de mulheres tão lindas quanto ela, mas o interesse é pelo jeito
dela, o profissionalismo, o carinho com que ela cuida da filha dele, o carisma e com a
história dela que é bem parecida com a dele. __ Acho que quero um autógrafo, porque a
cada dia eu viro mais seu fã. __ diz ele. __ Olha quem fala... O rei da fama. __ diz ela
sorrindo. Ele volta a encará-la e ela fica sem graça e muda o assunto: __ Então, sábado é
certeza que você vai estar aqui não é? __ pergunta ela. Ele se levanta. __ Com certeza.
Tô agendando poucos shows e tô deixando a maioria dos finais de semana pra Rafa. __
responde ele. Branca também se levanta. __ Então Mulher Maravilha, tô meio atrasado
pra uma viagem, mas qualquer coisa com a Rafa, por favor me ligue que eu volto
imediatamente. __ diz ele.
Os dois vão caminhando em direção a porta do quarto. __ Não se preocupe que
aviso sim. Pode viajar tranquilo. __ diz ela. Eles param na porta do quarto e ele segura as
mão dela. __ Por favor, cuide da minha filha. Ela é a minha vida que deixo nas suas mãos.
Ela é tudo o que me resta. __ diz ele. __ Pode confiar em mim que ela será muito bem
cuidada. __ responde ela. Ele se inclina um pouco e dá um beijo no rosto dela. __ Tchau!
__ diz ele. __ Não diga tchau. Diga: volto em breve. __ completa ela. __ algum motivo
especial? __ pergunta ele. __ Sim. Depois te conto.__ responde ela. __ Então... volto em
breve. __ diz ele, dando um beijo nas mãos dela.
Branca quase nunca diz tchau. A última vez que ela viu o marido vivo, ele se
despediu com um “tchau”, deu um selinho na boca dela e saiu com o filho. Depois de
mais ou menos uma hora ela recebeu a notícia do acidente e desde então ela nunca mais
se despediu de ninguém com “tchau”.
__ Estaremos te esperando. __ responde ela, se despedindo de Renato. Os dois
caminham até a sala de estar. Rafaela está no colo de dona Beatriz, Renato se aproxima e
dá um beijo e um abraço bem apertado nela. __ O papai vai viajar, mas volta logo. __ diz
ele. __ Eu sei papai. __ responde a garotinha. __ Deus lhe acompanhe meu filho. __ diz
dona Beatriz.
Branca pede para Luíza levar Rafaela para o quarto. As duas vão, enquanto ela
fica um pouco mais na sala com dona Beatriz para conversar sobre o período que irá ficar
fora da mansão. __ Então dona Beatriz, minha amiga é muito competente e a Rafa vai
gostar muito dela. Gleyce é muito divertida. __ diz ela. __ Sem problemas, minha querida.
Pode ir tranquila. Ah! Você já organizou com o Beto? Ele é muito ocupado. Se não, ele
não consegue tempo pra vir. __diz dona Beatriz. __ Sim. Já combinei tudo com ele. Tá
tudo certo pra sábado, e já organizei o lanche também. Vai dar tudo certo. __ responde
Branca.
Branca administra a medicação em Rafaela e depois liga para Gleyce para
combinar tudo e marcar para se encontrarem após o almoço na frente do condomínio.
Durante o almoço, ela explica para Rafaela que irá se ausentar e só retornará no
sábado. A garotinha não gosta muito da ideia, mas Branca sempre tem um jeitinho de
deixar a garotinha feliz e satisfeita.
São 13:00 horas, Gleyce chega à mansão. __ Mas que casa maneira. Amiga eu
vou me perder aqui dentro. __ diz ela, olhando para todos os lados. __ Quem precisa de
uma casa desse tamanho? Ah é obvio! Os famosos né? __ completa ela, admirada com o
tamanho e o luxo da casa. __ Pois é amiga! Uns com tantos e outros com quase nada ou
com nada. __ diz Branca. __ Mas pelo menos alguns fazem por merecer. Ralam pra
caramba, correm atrás dos seus sonhos, igual o Renato, mas tem outros que o dinheiro
vem fácil né. __ completa ela. __ Eu queria ter essa riqueza toda sem ter que sair da cama
pra trabalhar. __ diz Gleyce. Branca não acredita que está escutando isso da amiga. __ Eu
não entendi. Repete o que você falou. __ diz ela franzino a testa. __ Eu falei que queria
ter uma riqueza dessa saindo todos os dias de casa pra trabalhar. __ repete Gleyce só que
corrigindo a frase para não levar bronca da amiga. __ A tá. Achei que tinha escutado outra
coisa. __ completa Branca. __ É amiga, o ditado é mentiroso que “o dinheiro não traz
felicidade”. Com certeza eu seria muito feliz rica __ diz Gleyce sorrindo. __ Mas o
dinheiro não compra a saúde, nem a vida e nem a alegria, né amiga. Olha aí o Renato é
um belo exemplo disso: tanta grana, mas não comprou a vida da esposa e a saúde da filha
está nas mãos de Deus. __ responde Branca. __ Ai amiga eu prefiro chorar em Paris do
que chorar aqui. __ completa Gleyce sorrindo e Branca sorrir junto.
As duas sobem as escadas que dá acesso ao andar de cima. Branca apresenta
Gleyce para dona Beatriz, para Rafaela, para Luíza e depois para todos os outros
funcionários.
Dona Beatriz e Renato são muito humildes. A relação deles com todos os
funcionários/colaboradores é bem tranquila, harmoniosa, calorosa e amigável. Dona
Beatriz sempre gosta de almoçar e jantar com todos à mesa. É um hábito dela e de Renato,
assim como também era da esposa de Renato. Branca ficou impressionada a primeira vez
que viu todos à mesa almoçando e interagindo. Ela fez questão de elogiar informando que
nem no “hall de amigos” dela que são todos pobres, ela nunca viu isso.
Branca apresenta toda a casa para Gleyce e orienta quanta aos cuidados e
medicações de Rafaela. __ Então fica combinado desse jeito. __ diz ela. As duas
caminham até a porta de saída. __ Maluquinha, se comporte e não apronte nada. Falei pra
dona Beatriz que você é uma excelente profissional, e tem muita discrição e ética. Ética
eu sei que tem, mas discrição já tenho minhas dúvida. __ completa ela. __ Amiga, você
sabe que pode confiar em mim. Não vou te decepcionar. __ informa Gleyce super
empolgada. __ Nem tô acreditando que estou na casa do Renato Dias... Ai meu Deus! __
completa Gleyce, maravilhada com tudo. __Pois é. Esse é meu medo. __ diz Branca, com
um ar de preocupação. __ Certeza que não vou me arrepender, não é amiga? __ pergunta
Branca. __ relaxa amiga. Vai lá resolver suas coisas. __ completa Gleyce.
Branca vai embora deixando Rafaela aos cuidados de Gleyce. Ela vai ao estúdio
de beleza do Beto. __ Branca minha querida, vamos entrar. Se acomode aqui que já venho
lhe atender. __ diz Beto. Ele a cumprimenta com um beijo e abraço. __ Beto, você acha
que dá tempo de fazer tudo? __ pergunta ela se sentando numa confortável poltrona. __
Se não der, a gente faz dar. Não se preocupe que no final vai dar tudo certo. __ responde
ele.
Branca fica bem confortável na sala de espera enquanto Beto vai terminar de
atender uma cliente. O estúdio de Beto fica no mesmo bairro onde ele começou há anos.
Ele cresceu profissionalmente e financeiramente, mas nunca quis sair das suas raízes. Da
região, é o salão mais bem conceituado e o mais disputado também. Branca olha para os
lados e fica admirada com a elegância do local: a sala de recepção onde ela está é bem
ampla e conta com um jogo de sofá de dois e três lugares e mais três poltronas bem
confortáveis sob um tapete personalizado, na parede à esquerda tem dois quadros grandes
de desenho de rostos femininos e na parede principal tem um painel bem grande
personalizado com a logomarca do estúdio. Enquanto aguarda ser atendida, Branca recebe
uma ligação de uma agência de modas com uma proposta para fazer um ensaio fotográfico
para uma marca de lingerie.
Na mansão de Renato, Gleyce já está toda entrosada com todos da residência. __
Então dona Rafaela, como eu estava falando, sou muito fã do seu pai. Ele canta muito e
é muito gato também. Pena que ele não tá aqui pra eu conhece-lo pessoalmente. __ diz
ela toda empolgada. Rafaela sempre dorme após o almoço, mas hoje pelo jeito não vai
conseguir, pois Gleyce está mais elétrica do que do que o normal. __ Você gosta muito
do meu papai? __ pergunta a garotinha. __ Gosto não... Eu amo. E você Luíza, já tirou
muitas fotos com ele? __ diz Gleyce. __ Tenho bastante fotos com o seu Renato. __
responde Luiza sorrindo. __ Poxa! Eu dei azar de vir justo no dia que ele não está. __ diz
Gleyce. __ Quando o meu papai chegar eu peço pra ele tirar uma foto com você. __ diz
Rafaela. __ Eu vou cobrar viu dona Rafaela. __ diz Gleyce. __ Preciso ir até a cozinha,
você fica de olho nessa garotinha pra mim Luíza, por favor Luiza? __ completa Gleyce
__ Pode ir que eu me entendo com a Rafa. __ responde Luiza.
Gleyce caminha pela casa olhando tudo. Ela vê na sala de estar próximo à escada
um super pôster de Renato. Ela se aproxima para tirar uma self. Enquanto ela tira as fotos,
dona Beatriz aparece. __ Oi dona Beatriz! É...eu só estava aqui tirando umas fotos. Sou
muito fã do seu filho, mas não se preocupe, eu não ia postar não viu? __ diz ela toda sem
gracinha. Dona Beatriz sorrir. __ Sem problemas, minha querida. Pode tirar sua foto. Vou
visitar uma amiga e final da tarde estou de volta. Qualquer coisa, me avise. __ responde
dona Beatriz. __ Tá bom. Não se preocupe... E só mais uma coisa... Se eu fosse postar
essa foto aqui que acabei de tirar, teria problemas? __ pergunta Gleyce. Dona Beatriz
sorrir. __ Não. Pode postar suas fotos. Só não escreva bobagens. Tchau! Fique com Deus!
__ responde dona Beatriz, indo em direção à porta de saída. Gleyce comemora e retorna
para perto do pôster. Ela tira mais algumas fotos e logo posta em suas redes sociais com
a frase “...e hoje o meu dia é na casa do Renato Dias... Morram de inveja”.
Gleyce faz um tour pela residência. De volta ao andar de cima, ela para na frente
da suíte de Renato e ver que a porta está entreaberta, ela olha para os lados para ver se
tem alguém lhe olhando e em seguida ela entra. __ É o quarto do Renato. __ diz ela, já
dentro do quarto. __ Branca vai me matar. __ completa ela em pensamentos. __ Nem
acredito que tô no quarto do Renato. Ai meu Deus! __ diz ela, olhando para tudo. Ela olha
desde o banheiro até o closet. Ela abre todas as gavetas inclusive às de cuecas e começa
a tirar fotos. Nesse instante, Branca faz uma chamada de vídeo para ela. __ ô! ô! É a fera.
__ diz ela. __ Vou fingir que não tô vendo essa ligação. __ diz ela, mas Branca insiste.
Ela atende à ligação, mas não deixa a mostra o local onde ela estar. __ Oi amiga. Tá tudo
sob controle viu. __ diz ela num cantinho do quarto onde dá para ver somente a parede.
__ Que foto foi essa que você acabou de postar? Gleyce se você não morrer até sábado,
eu vou te matar. __ diz Branca, super nervosa. __ Branca, a dona Beatriz deixou eu postar.
Eu pedi pra ela. Pode perguntar. __ diz Gleyce, agitada. __ E onde a senhorita estar agora
que não estar no quarto com a Rafa? Eu já liguei pra ela e ela disse que você saiu do
quarto para ir à cozinha e não voltou. __ pergunta Branca, irritadíssima. __ Já tô voltando
pro quarto. __ responde Gleyce, meio assustada.
Gleyce é uma excelente profissional. É uma moça sincera, amiga, de bom caráter,
só tem um defeito que é ser maluquinha e inconsequente. Ela não mede as palavras e nem
as consequências dos atos praticados, por isso vive se metendo em confusões.
Ainda no quarto de Renato, Gleyce acaba saindo do cantinho que estar e Branca
vê que ela está na suíte de Renato. __ Você está no quarto do Renato, sua maluca. Sai daí
agora. __ diz Branca. __Já tô saindo. __ responde Gleyce, correndo para a porta do quarto.
Ela finge que a ligação está falhando. __ Branca, não tô te escutando e nem te vendo. Oi
Branca, você está me ouvindo? __ diz Gleyce encerrando a ligação. Ela retorna e olha
todo o quarto, tira algumas fotos deitada na cama de Renato e ela também pega uma cueca
dele. __ Meu Jesuizinho me perdoa. Não estou roubando não, só estou pegando uma
lembrança do meu ídolo. Me perdoa viu. Não me manda pro inferno por isso não ta bom?
Então tá, fizemos um combinado. __ diz ela antes de retornar para o quarto de Rafaela.
No estúdio de Beto, Branca está muito nervosa e tenta insistentemente ligar para
a amiga, mas sem êxito. Gleyce desligou o telefone. __ Vou matar essa maluca. __ diz
ela falando sozinha. Beto se aproxima e a ver eufórica. __ Branca, está tudo bem? __
pergunta ele. __ Sim Beto. Tá tudo bem. Só tô pensando aqui como será o funeral de uma
amiga. __ diz ela, se levantando. __ O minha querida, meus sentimentos. __ diz Beto
comovido. __ Ela ainda não morreu. Eu que vou mata-la. __ diz ela. Beto sorrir. __ Vamos
Branca. Vem comigo. __ diz Beto, conduzindo ela até o espaço para cabelos. Um luxuoso
espaço todo espelhado e com muitas fitas de led distribuídas pelas pareces e teto. Branca
se senta e olha para o enorme espelho. Beto solta o cabelo dela, que vive preso tipo rabo
de cavalo. __ Você tem certeza que quer fazer isso mesmo, querida? Seu cabelo é tão
lindo. __ pergunta ele, enquanto mexe no cabelo dela. __ Eu gosto dele grande. Já me
acostumei com ele assim, mas é por uma boa causa. __ responde ela. __ É verdade. E
você está de parabéns pelo seu nobre gesto. Estou encantado com você, minha querida.
__ diz Beto, com admiração estampada no rosto. __ E cabelo cresce o tempo todo, não
devemos nos apegar a coisas. Devemos nos apegar somente às pessoas, e nas pessoas que
merecem, pessoas boas. __ completa ela.
Beto corta o cabelo de Branca a altura do ombro e o restante do cabelo é para fazer
uma peruca para Rafaela. Ela e Beto se mobilizam para conseguir que a peruca fique
pronta até o sábado.
De volta à mansão de Renato, já são quase 19 horas, final de plantão para Gleyce,
que está comportada no quarto com Rafaela. A garotinha brinca na cama junto com Luíza
e Gleyce está sentada numa poltrona lendo um arquivo em seu telefone. A leitura é sobre
leucemia.
A porta do quarto se abre e Camila entra. __ Oi Rafaela, minha flor! Como você
está hoje? __ pergunta ela entrando no quarto e indo em direção à cama de Rafaela. __
Oi tia Camila! Meu papai tá viajando. __ responde Rafaela. __ Eu sei que ele está
viajando. Eu vim ver você, minha flor. __ diz Camila, que se aproxima da garotinha e dá
um beijo e um abraço nela. __ Oi moça! Não te conheço, mas tenho que te orientar. Sei
que você quer o bem da Rafinha igual a todos nós, mas você não pode ficar dando beijos
nem abraços nela. Quanto menos visita ela receber, melhor pra ela que está com o sistema
imunológico debilitado por causa das quimioterapias e da Leucemia. __ explica Gleyce,
sendo franca e direta.
Ela sempre fala o que pensa, e em se tratando da área da saúde, ela é bem direta.
Camila não gosta do que escuta. __ Quem é você? Nunca te vi por aqui. Demitiram a
outra lá? A tal de Branca? __ pergunta ela, que está em pé ao lado da cama de Rafaela.
__ Não demitiram não. Eu estou fazendo o plantão pra ela e preciso orientar o que é certo.
__ responde Gleyce. __ Minha querida, eu vou vir visitar a Rafaela quantas vezes eu
quiser e não acredito que carinho e amor possa fazer mal. __ diz Camila __ Me desculpe
se estou sendo atrevida, mas só tô fazendo a minha função. E carinho e amor faz muito
bem, mas tem outras maneiras de se demonstrar. __ informa Gleyce. Camila a ignora e
volta a fazer carinho em Rafaela. __ Minha florzinha, fiquei sabendo que seu cabelo está
caindo muito. Então, vim saber se você quer ir ao cabeleireiro comigo? Meu cabeleireiro
é ótimo. __ diz Camila. Gleyce observa a conversa das duas. __ Eu tenho que perguntar
pra Branca. __ responde a garaotinha. __ Você não precisa perguntar nada pra nenhuma
enfermeira. Se você quiser ir é só me falar que eu te levo. Eu falo com seu pai. __ insiste
Camila, que está em pé ao lado da cama de Rafaela. Gleyce e Luíza se olham.
Camila parece uma boneca Barbie, tanto a aparência quanto o jeito de se vestir.
No momento, ela usa calça jeans boca de sino na cor azul claro e camisete manga longa
estampada na cor rosa e sapato salto 15 combinando com a grande bolsa de grife famosa
e cara. __ Eu vou chamar a Branca pra ir com a gente. __ diz Rafaela. __ Não precisa
chamar ninguém, minha flor. Vamos só nós duas. Prometo pra você que vai ser bem
divertido. __ Insiste Camila. Rafaela faz uma carinha triste e insiste em chamar Branca
__ Mas eu quero ir com a Branca. __ insiste a garotinha. __ Está ok. Eu converso com a
Branca pra ela ir com a gente. __ diz Camila, já meio impaciente. __ Oba! A Branca vai.
__ vibra a garotinha. Gleyce observa e não gosta do que ver. __ Essa deve ser a maior
fura olho do mundo. __ diz Gleyce, no ouvido de Luiza.
Letícia chega para o plantão toda animada como sempre. Ela cumprimenta todos
e vai direto para o banheiro para trocar de roupas e lavar as mãos. Camila continua
conversando com Rafaela.
Camila combina com Rafaela que no sábado vai passar para buscar ela e Branca
e levar ao estúdio de beleza que ela frequenta. Letícia e Gleyce observam a conversa.
Branca já havia combinado com Letícia, Luíza e todos da residência para sábado
fazerem uma reunião com um lanche e aproveitar para raspar a cabeça da garotinha. __
Camila me desculpe entrar na conversa de vocês, mas sábado já está agendado uma
reunião aqui pra resolver esse assunto. __ informa Letícia. __ Pode pedir pra desmarcar
essa reunião de sábado porque eu vou passar o dia com a Rafaela. __ diz Camila, um tanto
estressada. __ E a Branca também e a Letícia também e a Luíza também. __ diz a
garotinha, olhando para Camila. A patricinha não gosta muito da ideia, mas acaba
concordando, temporariamente. __ Sim, minha flor. Vamos levar todos da casa. Letícia,
Gleyce e Luíza se olham.
Enquanto isso na casa de Branca, ela chega com o visual novo. Alecsander não
gosta. Ele, assim como o pai quando era vivo, prefere ela de cabelos compridos. __ Não
acredito que você cortou o cabelo, mamãe. __ diz ele, olhando para ela. Na sala, Branca
explica tudo para o filho. Ele entende e acaba gostando muito da ideia.
Ela vai para o banho e depois vai preparar o jantar. Quando ela está terminando a
refeição junto com o filho, o telefone toca. Ela olha e ver que o número é desconhecido.
Ela atende achando que é mais uma proposta de emprego de alguma agência de modas.
__ Alô! __ diz ela. __ Oi Branca, aqui é Camila. __ informa Camila. Branca não identifica
a pessoa. __ Me desculpe, mas te conheço de onde? __ pergunta ela. __ É Camila, a amiga
do Renato. Quero falar com você sobre a Rafaela. __ informa Camila. __ Ah! Lembrei.
Pois não, dona Camila, em que posso ajudar? __ pergunta Branca. __ Nó sábado eu vou
levar a Rafaela para raspar a cabeça com o meu cabeleireiro. Já combinei tudo com a
Rafa. Então tô te ligando pra te informar e pra te pedir também sua discrição sobre um
assunto: a Rafa quer que também vá você e as outras enfermeiras, mas não tem
necessidade. Então, já quero deixar combinado que vocês não vão e vocês vão dizer pra
ela que não querem ir. Digam que tem um compromisso ou qualquer outra coisa. __ diz
Camila. Branca não gosta da conversa. Ela se irrita, mas mantem o controle, pois ela
necessita do emprego. __ Dona Camila, não vai ter jeito. Sábado já estar combinado com
o seu Renato e com a dona Beatriz que vamos fazer uma dinâmica pra Rafa... __ diz
Branca. Camila interrompe. ___ Vai ter jeito sim. Deixa que com o Renato e a Beatriz eu
me entendo. Então ficamos combinadas assim. __ insiste Camila. __ Dona Camila, tenho
que lhe explicar uma coisa... __ Branca tenta falar, mas Camila não permite. __ Não tem
mais nada o que falarmos. Já está resolvido. Fique com Deus. E não comente nada nem
com Renato nem com Beatriz. Fique com Deus. __ diz Camila ao encerrar a ligação.
Branca fica muito irritada.
Ela liga para a Letícia e conta o ocorrido e Letícia também conta sobre a visita de
Camila à mansão. __ E ela ainda tá aqui Branca. Ela ficou pro jantar e está lá em baixo
conversando com a dona Beatriz. __ informa Letícia. __ É uma escrota essa mulher. __
diz Branca, irritadíssima. __ É melhor deixar do jeito que está Branca, porque ela não
parece ser uma boa pessoa e nós precisamos dos nossos empregos. Ela e o pai dela são
muito amigos do seu Renato. __ informa Letícia. Branca não se conforma, mas
temporariamente aceita.
Na mansão, Camila que tinha saído da sala de estar para ir ao banheiro, retorna e
se senta ao lado de dona Beatriz. __ Beatriz, eu acabei de receber uma ligação da
enfermeira Branca. E nem sei como ela conseguiu o meu número, mas tomara que não
saia espalhando por ai. __ diz Camila com muita malícia. __ Com certeza ela não vai
fazer isso, minha querida. Branca é uma pessoa maravilhosa e muito ética. Não se
preocupe. __ explica dona Beatriz. __ Tomara mesmo. Mas continuando... Ela acabou de
me ligar me pedindo pra levar a Rafa pra raspar a cabeça no sábado, porque não vai ter
jeito de vir pra reunião que está marcada. __ diz ela. Dona Beatriz se assusta. __ Que
estranho Branca fazer isso. Ela já organizou tudo e de última hora ela desmarca... __ diz
dona Beatriz. __ Pra senhora ver que ela não leva a sério as coisas da Rafinha. __ diz
Camila, balançando a cabeça negativamente. __ Mas ela não é assim. Rafaela sempre foi
prioridade pra ela. Não estou entendendo. Deve ter acontecido alguma coisa, vou ligar
pra ela. __ diz dona Beatriz, que tenta se levantar para pegar o telefone, mas Camila a
segura pelo braço impedindo que se levante. __ Não precisa Beatriz. Eu vou organizar
tudo. Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Ela deve ter tido algum problema __ insiste
Camila.
Dona Beatriz e Camila conversam por um longo tempo. Camila sempre tentando
mostrar para dona Beatriz que Branca não é a pessoa que eles pensam que é, que ela não
é tão boazinha assim. Dona Beatriz fica triste e um tanto decepcionada, mas não insiste,
pois acha que Branca deve ter algum motivo como explicação.
Camila vai embora e no caminho de casa, ela liga para Renato e explica toda a
situação da mesma forma que explicou para dona Beatriz. Renato fica preocupado com
Branca por achar que ela deva estar com algum problema muito sério. Ele não insiste com
Camila porque está a poucos minutos de subir ao palco para mais um show. Camila
finaliza a ligação com Renato e liga mais uma vez para Branca e informa que ela não
precisa ir no sábado para a mansão. __ Já está tudo combinado com Renato e Beatriz. Tire
uma folga, vá descansar. __ diz ela. Branca escuta atentamente sem dar uma palavra. __
E não comente nada com Rafaela. Ela não precisa de mais um problema na cabecinha
dela, já basta tudo o que ela vem passando. __ completa Camila fazendo pressão
psicológica na cabeça de Branca que acaba concordando com o plano para não gerar atrito
e não deixar Rafaela mais triste.
Na sexta à noite, Branca consegue trocar seu plantão para ficar com o filho. Eles
juntinhos na sala de estar assistem a um filme quando o telefone dela toca. É dona Beatriz
informando que Rafaela não está muito bem. Branca imediatamente liga para Letícia que
informa que a garotinha está prostrada e queixando de dor abdominal. Branca
imediatamente pega Alecsander e vão para a mansão, enquanto Letícia telefona para o
médico oncologista.
O médico receita alguns medicamentos e pede que alguém vá até o hospital para
buscar os injetáveis para ser administrado na garotinha. Letícia vai com o motorista de
Renato até o hospital e Branca junto com o filho chegam à mansão. No quarto, encontra-
se dona Beatriz, sentada numa poltrona segurando a mãozinha da neta que está bem
chorosa, e Luíza que também está sentada em outra poltrona segurando uns brinquedos e
tentando consolar a garotinha. Branca entra no quarto empurrando a cadeira de rodas do
filho. __ Oi Rafaela! __ diz Alecsander, junto da mãe e se aproximando da cama da
garotinha. Rafaela olha para ele e não responde nada, apenas continua chorando. __ Não
chora Rafaela. Eu trouxe a minha mãe pra cuidar de você. __ diz ele. Branca se aproxima
da cama. __ O que foi, meu amor? __ pergunta ela. Rafaela olha para Branca e percebe
que ela cortou o cabelo. __ Você cortou o seu cabelo? __ pergunta a garotinha, com os
olhinhos cheios de lágrimas. __ Você gostou? __ pergunta Branca, mexendo nos cabelos
e mostrando para todos o seu novo visual. __ Eu não gostei. Eu gostava do seu cabelo
grande. __ diz a garotinha. Branca se aproxima e segura a mãozinha dela. __ Me desculpe
então. Eu não sabia que você e Alecsander não iam gostar. __ diz ela, olhando para o
filho. __ Eu também não gostei, mas já fiz as pazes com ela. __ diz o garotinho, sorrindo.
Rafaela dar um sorriso meio triste. __ Da próxima vez eu aviso e peço permissão pros
dois pra poder cortar os meus cabelos, tá bom? __ diz Branca. Dona Beatriz respira mais
aliviada ao ver que a netinha já está sorrindo. __ Só você mesmo Branca, que consegue
arrancar um sorriso da minha netinha nos momentos mais delicados. Muito obrigada por
ter vindo. Sei que você está com problemas e nem deveria estar aqui, mas eu só lembrei
de você quando vi minha netinha chorando com dor. __ informa ela, enquanto Alecsander
conversa e brinca com Rafaela. __ Mas eu não estou com problema nenhum, dona Beatriz.
__ diz Branca. __ Mas achei que você estivesse com algum problema, por isso que
desmarcou a reunião de amanhã. __ insiste dona Beatriz. Branca pensa por alguns
instantes, olha para Rafaela, olha para o filho e quando vai responder, Letícia chega no
quarto. __ Oi gente, cheguei. Que bom que você está aqui Branca. __ diz Letícia.
Ela entra e vai direto para o banheiro para lavar as mãos e logo em seguida vai
preparar a medicação. Branca ajuda ela. Em pouco tempo a garotinha se esperta e a dor
passa totalmente. Dona Beatriz decide não avisar Renato, primeiro porque a netinha já
está melhor e segundo porque nesse exato momento ele está em cima do palco em mais
um show.
Como já está tarde, dona Beatriz pede para que Branca fique para dormir. Ela não
aceita, mas dona Beatriz insiste e informa que não irá permitir que ela pegue estrada de
volta para casa a essa hora. Branca é vencida pelo cansaço e acaba ficando para dormir
na mansão.
No Sábado, Branca acorda cedo e ver que Rafaela já está bem melhor. Após o
café, Branca decide ir embora, mas dona Beatriz insiste que fique mais um pouco. A
enfermeira do final de semana chega e Letícia se despede e vai embora. Por volta das 8
horas, Beto liga no telefone de dona Beatriz para tentar falar com Branca. __ Beatriz a
Branca não atende, por acaso ela já estar por aí? Tenho que finalizar com ela tudo pra
hoje à tarde. __ diz Beto. __ Mas Beto, eu achei que ela já tinha conversado com você.
Não vai mais ter a reunião. Branca deve ter esquecido de avisar você. __ diz ela, subindo
as escadas e indo até o quarto de Rafaela. __ Ela não me falou nada. Deve ter esquecido
mesmo. __ informa Beto. Dona Beatriz chega ao quarto falando ao telefone e Branca
escuta a conversa. __ Branca decidiu cancelar a reunião de hoje e pediu para Camila Prado
levar a Rafa ao cabeleireiro. Eu também não entendi. Vou passar o telefome pra ela e ela
te explica melhor. __ diz dona Beatriz entregando o telefone para Branca. __ Oi Beto,
bom dia! __diz ela que conversa com Beto sem dar muitas explicações. Ela apenas
informa que irá passar no estúdio dele por volta das 10 hora e explicar tudo. Dona Beatriz
novamente toca no assunto da reunião. Branca conduz dona Beatriz até o corredor para
que Rafaela não escute a conversa. __ Minha querida, até agora não entendi porque você
desmarcou a reunião. Camila disse que você ligou para ela pedindo que ela leve Rafaela
no salão. Aconteceu alguma coisa? Eu posso lhe ajudar? __ pergunta dona Beatriz. Branca
fica espantada com o que acaba de escutar de dona Beatriz. __ Mas que mulher vagabunda
e mentirosa. __ diz Branca, em pensamentos. __ Dona Beatriz, eu preciso resolver um
assunto. Prometo que vou lhe dar uma explicação, mas primeiro preciso resolver essa
pendência. __ informa ela. __ Mas claro, minha querida. Vá resolver suas coisas. __ diz
dona Beatriz.
Branca junto com o filho vão até o estúdio de Beto. Ela chega e ele já está
esperando por ela. __ Oi querida, tudo bom? __ diz ele, cumprimentando ela com um
beijinho e depois Alecsander. __ E esse garotão... está bem? __ pergunta ele,
cumprimentando Alecsander. Como o salão está cheio e Branca agora também está na
mídia, para evitar algum tipo de assédio ou especulação, Beto os leva para uma salinha
reservada que serve de refeitório para a equipe do salão. __ Beto me perdoe. Eu acabei
esquecendo de desmarcar com você. Mas foram tantas coisas na minha cabeça, passei
tanta raiva esses dois últimos dias que esqueci de ligar pra você. __ diz ela com tristeza
no olhar. __ Não se preocupe minha querida, eu te entendo. Muitas vezes eu também
esqueço de compromissos importantes. __ diz ele.
Na salinha, que não é tão grande e tem apenas uma mesa com quatro cadeiras, um
microondas e um pequeno armário, eles se sentam em volta da mesa e Beto dá uns
biscoitos para Alecsander e oferece um café para a Branca. __ Eu fiz questão de vir
pessoalmente aqui pra te pedir desculpas. Eu nunca passei um constrangimento desse. Tô
com tanta vergonha. __ diz ela. __ Não fique assim, querida. Se for por minha causa, pode
esquecer e fique logo alegre. Seu rosto lindo não combina com essa tristeza e esse cabelo
maravilhoso menos ainda. __ diz ele. Branca fica cabisbaixa e em silêncio por alguns
instantes. Beto observa e logo percebe que tem algo a mais por traz dessa tristeza. __
Querida, eu te conheço muito pouco, mas sua alegria me contagiou desde o primeiro dia
que te vi. E você também me passou muita confiança. Vejo aqui hoje que algo te
incomoda. Você quer conversar? __ diz ele, passando a mão nos cabelos dela. Branca se
emociona, mas logo se recompõe. Ela nunca mostra fraqueza na frente do filho. Ele está
ao dela comendo biscoitos e mexendo no celular. __ Eu quero sim conversar. Vou te
contar o que aconteceu.
Branca explica para Beto tudo o que aconteceu nos últimos dois dias. Desde a
conversa de Camila com Rafaela que as colegas escutaram até as ligações que Camila fez
para ela. __ Minha querida, conheço bem o tipinho daquela cobrinha. Ela deve estar
morrendo de ciúmes porque lá na casa todos gostam de você e as redes sociais só falam
de você também. Ela nunca conseguiu esconder de mim que tem uma queda pelo Renato.
A Deborah, esposa do Renato e minha grande amiga, era muito amiga dessa Camila. Eu
sempre avisei a minha amiga pra ficar de olhos bem aberto, mas Deborah era uma pessoa
muito boa e muito ingênua também. __ explica Beto.
Beto consegue acalmar Branca. Ele conta para ela como conheceu a esposa de
Renato e como era a amizade deles. Ele explica que sempre foi muito humilde
financeiramente e Deborah foi quem mais o ajudou. Quando ela foi morar em São Paulo,
ainda na época que Renato cantava em barzinhos para ganhar a vida, o primeiro salão que
Deborah frequentou foi o dele. Na época o salão era apenas uma salinha bem humilde, e
foi ela a responsável por tudo o que ele conquistou até hoje. E ela, mesmo depois da fama
do marido, ainda continuou frequentando o salão dele, e através dela e da fama do marido
que ele conquistou os clientes que tem hoje. Deborah indicava ele para todas as novas
amigas que ganhava e também fazia muita propaganda do salão nas redes sociais dela e
do marido.
Beto é muito grato a Deborah e toda a família dela. __ Por isso Branca, que vou
te ajudar. Devo isso a minha amiga. Não vou deixar a pequena Rafaela passar por esse
momento delicado assim dessa forma. Não sei quem é o cabeleireiro da Camila Prado,
imagino que deva ser muito bom, mas o problema é a forma como ela está conduzindo
tudo isso. Eu adorei a sua ideia e a Rafa vai amar. Vou te ajudar, minha querida. __
informa ele, consolando Branca. __ Mas como você vai me ajudar, Beto? A conversa dela
eu entendi como ameaça. __ diz ela. Alecsander escuta e interrompe. __ Mamãe, quem é
essa Camila. Eu vou na polícia pra eles prenderem ela. __ diz ele. Branca e Beto sorriem.
Branca passa a mão na cabeça dele e ele olha sério para ela. __ Meu amor, quem deras se
a gente conseguisse resolver as coisas assim. A vida não é tão fácil desse jeito. __ diz ela.
__ Mas mamãe, ela te ameaçou. Ela é mal. __ insiste ele, mostrando preocupação com a
mãe. __ Alecsander, eu já sei o que nós vamos fazer. E vai ser melhor do que ir na polícia.
__ diz Beto, olhando para o garotinho. __ Branca, tive uma ideia. __ Completa ele. Branca
fica preocupada. Tudo o que ela não quer é ter que chegar em dona Beatriz e falar que
Camila está mentindo. Ela tem medo que isso tudo possa prejudicar Rafaela de alguma
forma. __ Mas eu tenho medo que dê alguma confusão e acabe deixando a Rafa triste. __
diz ela, preocupada. Beto segura as mão dela e olha bem dentro dos seus olhos. __ Deixe
comigo. Vai dá tudo certo e ainda vamos fazer uma garotinha muito feliz. Vou te explicar
o que vamos fazer. Confie em mim. __ diz ele.
Beto explica para Branca toda a ideia que acabou de ter. Ela fica meio receosa,
com medo de dar alguma confusão que deixe a pequena Rafaela tristinha, mas ela anima
e combina tudo com ele.
De volta à mansão, Branca e Alecsander chegam bem na hora que vão servir o
almoço. Rafaela fica toda animada. __ Alecsander, vem almoçar. __ diz ela sentada no
colo de Tati, a enfermeira do final de semana. __ Se acomode minha querida, vamos
almoça? __ diz dona Beatriz. Branca dispensa. __ Muito obrigada! Nós já almoçamos,
mas a sobremesa nós vamos aceitar. __ diz Branca. Ela e Alecsander se acomodam à
mesa. Neste momento Renato chega. __ Papai! __ grita Rafaela. __ Que saudades da
minha princesinha. Mas o papai não pode abraçar você antes de tomar um banho. __ diz
ele que também cumprimenta a todos da mesa e se senta ao lado de Branca. Ele se
aproxima e dá um beijo no rosto dela. __ Tô vendo que tem gente de visual novo por aqui.
__ diz ele. __ Eu já falei pra ela que eu não gostei, papai. __ diz Rafaela. __ Ai minha
gente, é bom mudar o visual de vez em quando. __ responde Branca. __ Eu também
prefiro ela de cabelos longos. __ diz Renato, olhando para a filha que está bem à frente
dele e depois encarando Branca. __ Mas vocês fizeram um complô contra mim? Eu não
mando nem no meu cabelo mais? __ diz ela, bem humorada e passando as mãos nos
cabelos.
Todos almoçam e depois vão para a sala de estar, menos Renato que vai para o
quarto tomar banho. __ Branca você falou com Beto? Desmarcou com ele? __ pergunta
dona Beatriz. __ Sim. E já me desculpei com ele também. E que horas a Camila vai vir
buscar a Rafa? __ pergunta Branca. __ Ela marcou às 15:00 horas. __ responde Luiza.
Branca pega o telefone e envia uma mensagem para Beto informando o horário.
Alecsander brinca com Rafaela no chão encima de um lençol que Luíza arrumou
para eles. Renato volta para a sala e todos reunidos interagem. Branca vai até a cozinha e
combina com Maria, a colaboradora responsável pela cozinha para pedir o lanche e
organizar os sucos e frutas no salão.
São14:00 horas e Beto chega à mansão com uma ajudante e todo o material
necessários para o trabalho que irá fazer ali. Dona Beatriz se assusta. __ Beto, você aqui?
Mas Branca disse que desmarcou com você. __ diz dona Beatriz. Beto entra e logo vai
acomodando as coisas. __ Sim. Ela desmarcou mesmo, mas Camila Prado me ligou a
pouco informando que o cabeleireiro dela não vai poder atender a nossa princesinha. Ele
está resfriado e a Rafa não pode ter contado com ninguém resfriado. __ Então, remarquei
meus clientes e vim, porque essa princesa aqui é prioridade pra mim. __ Informa ele se
abaixando para passar a mão no cabelo da garotinha. __ Mas que contra tempos. Primeiro
foi a Branca, depois Camila. __ diz dona Beatriz. __ O mais importante é que tudo vai
dar certo, não é? __ diz Beto. Branca fica um tanto sem graça.
Ela está sentada no sofá, Renato está ao lado dela e dona Beatriz numa poltrona à
frente deles. __ É verdade. Que bom que você conseguiu um tempo pra vir. __ diz dona
Beatriz. Beto entrega uma sacola para Branca. __ Está aqui sua encomenda. Ficou
perfeita, você vai amar o resultado. __ diz Beto. Branca abre o sorriso e segura a sacola.
__ Eu sei o que tem dentro da sacola... __ diz Alecsander. __ Mas não vou contar. __
completa ele. Branca sorrir.
Beto começa a organizar as coisas antes que Camila chegue. Renato fica
apreensivo. Rafaela não gosta da ideia de ter que raspar a cabeça, mas Branca com o seu
poder de convencimento, acaba deixando a pequena mais tranquila.
Todos estão interagindo quando Camila chega. Ela olha para todos ali, sem
entender o que está acontecendo. Beto vai até o encontro dela e dá o mais falso abraço e
beijo no rosto. __ Oi Camila, minha querida. Eu dei o recado para Beatriz que seu
cabeleireiro está resfriado, e segundo orientações médicas, Rafaela não pode ter contato
com ninguém doente. __ diz Beto abraçando ela. __ Achei tão nobre o seu gesto querida
em querer ajudar a nossa pequena Rafa. __ completa ele. Camila não entende muito bem
o que está acontecendo. __ Camila minha querida, você é um amor. Só tenho a te
agradecer. __ diz Beatriz. Branca fica meio de lado e sem graça. Ela não encara ninguém.
__ Muito obrigada Camila. Você é um anjo. __ diz Renato. Camila então começa a
entender o que está acontecendo, mas para evitar confusões, porque ela também mentiu
para dona Beatriz e Renato, ela finge que tudo está bem. Ela vai até Renato que a
cumprimenta com um beijo no rosto. __ Meus amores é o seguinte, eu vim aqui pra gente
renovar o visual de todo mundo. Como eu sempre fiz esse serviço aqui, hoje não seria
diferente. Então, além da Rafaela, tem mais alguém que vai mudar o visual hoje? __
pergunta Beto. Alecsander levanta a mão. __ Eu. Eu quero. __ diz o garotinho, super
eufórico. Branca já havia combinado com ele e com o Beto para raspar a cabeça de
Alecsander. Ela pega o filho no colo, Renato imediatamente sai do lado de Camila e vai
ajudar a levar o garoto até a cadeira para Beto iniciar o corte de cabelo. __ Meu
principezinho, que corte você vai querer? __ pergunta Beto. __ Eu quero ficar careca. __
informa Alecsander, que dá aquela olhada para a mãe. __ Ok! Garotão corajoso e vai ficar
muito bonito. __ diz Beto.
Beto começa a cortar o cabelo de Alecsander. Branca fica ao lado do filho e
Renato também. De longe Camila observa tudo com muita raiva. Branca interage com o
filho o tempo todo. Rafaela se levanta e vai até o pai, que pega ela no colo. Camila se
aproxima de Renato e fica bem colada a ele. De repente Letícia chega. __ Boa tarde! Vi
que cheguei atrasada. __ diz ela. Ela atravessa o salão e se posiciona ao lado de Tati. Beto
termina de raspar o cabelo de Alecsander e o garotinho não para de olhar para o espelho.
__ Pronto. Visual novinho. __ diz Beto, olhando para o espelho. Alecsander passa a mão
na cabeça e sorrir. __ Eu gostei. Vou cortar só assim agora. __ diz o garotinho sorrindo.
Branca vai até sua bolsa e tira um pacote embrulhado para presente e entrega para o filho.
__ Olha aqui, mamãe comprou pra você. __ diz ela, entregando o presente para o filho.
Ele pega, abre e se depara com um lindo boné personalizado. Logo ele trata de botar na
cabeça. __ Oba! __ diz ele. Todos vibram. Beto pergunta quem quer ser o próximo e
Letícia levanta a mão. Branca também havia combinado com ela. __ Eu quero. __ diz
Letícia. Beto a chama, ela se senta na cadeira e pede que corte o cabelo igual o de Branca.
__ Quero ficar a cara da Branca pra ver se Rafaela gosta mais de mim. __ diz ela, sorrindo.
__ Mas eu gosto de você. __ responde a garotinha do colo do pai. __ Mas eu adorei o
corte de cabelo da Branca. Quero ficar igualzinha pra ver se eu arrumo um namorado bem
bonito. __ diz Letícia sempre muito sorridente. __ Então vamos deixar você a cara da
Branca. __ diz Beto, também muito bem humorado. Ele corta o cabelo de Letícia cutinho
Chanel igual ao corte que fez em Branca, depois ele corta o cabelo de Tati e depois de
Luíza. Todas pedem para cortar chanel igual ao de Branca. Beto olha para Camila e faz
aquela maliciosa. __ Só falta você Camila, vai mudar o visual também? Quer ficar
parecida com a Branca? Um chanelzinho vai ficar muito bem em você porque o seu
rostinho é lindo. __ diz ele, com ironia. Letícia olha para Branca e as duas seguram a
risada. __ Hoje não, obrigada Beto. Tô deixando crescer. __ responde ela que tenta
disfarçar a raiva que está sentindo, mas somente dona Beatriz e Renato que não percebem
o quanto ela está uma fera com tudo isso. __ Mas é pra uma boa ação querida, ou você
não confia no poder das minhas mãos? __ insiste Beto. Dona Beatriz percebe o
desconforto e logo trata de mudar o assunto. __ Então, se ninguém mais vai cortar o
cabelo, acho que vou aparar as pontas do meu. __ diz ela. Beto apara as pontas do cabelo
de dona Beatriz, que já é curtinho. Por fim Renato também decide cortar o cabelo, aliás,
raspar a cabeça. Branca segura Rafaela e as duas bem pertinho dele observam tudo.
Camila também se aproxima. __ O papai tá ficando bonito, Rafinha? __ pergunta Camila.
__ Tá sim. Meu papai é muito muito. __ responde a garotinha. __ Mas o papai tá um
gato. Não é meu amor? __ pergunta Renato. __ Tá sim papai. __ responde a garotinha.
Ainda sentado, Renato pega Rafaela no colo e Beto se aproxima para dar início
ao corte de cabelo da garotinha. __ Papai eu tenho que cortar mesmo o cabelo? __
pergunta a garotinha, começando a chorar. __ Meu amor, papai já conversou com você e
já lhe explicou tudo. __ diz Renato. Camila se aproxima de Rafaela e passa a mão na
cabeça da garotinha. __ Minha flor, você vai ficar linda carequinha. __ diz Camila. Letícia
e Tati que estão juntas encostadas na parede, faz caras e bocas para Branca como um sinal
para ela interromper a “megera”. __ Eu não quero ficar careca. __ insiste Rafaela já
ficando chorosa. __ Mas não tem outro jeito, minha flor. __ Insiste Camila. Branca pega
a sacola que Beto lhe entregou e ela vai até Rafaela, que está no colo do pai. Ela entrega
a sacola nas mãos da garotinha. __ É um presente meu para você. __ diz Branca. Renato
ajuda a filha a abrir a embalagem e se deparam com uma peruca de cabelos pretos. A
peruca tem o corte Chanel com uma franjinha. __ Então meu amor, eu estou doando os
meus cabelos para você. Se você não se sentir à vontade com sua cabeça carequinha, você
pode usar os meus cabelos. __ diz Branca muito emocionada. Rafaela pega a peruca, faz
uma carinha de espanto, olha para o pai e para a vô. __ Você cortou o seu cabelo pra me
dar? __ pergunta a garotinha. Branca pega a peruca, que está com os cabelos bagunçados
e penteia para deixar arrumadinha. __ Só ganha os meus cabelos se raspar a cabeça, se
não, me dê aqui que vou colar de volta. __ diz ela, emocionada. Rafaela pega a peruca
das mãos dela. __ Você me deu. É minha agora. __ diz Rafaela. Branca muito emociona
e com os olhos brilhando com as lágrimas que se formam, dá um abraço na garotinha e
depois bota a peruca na cabeça dela. __ Mas ficou linda. __ diz Beto. Renato observa em
silêncio toda a conversa e fica ainda mais admirado com a atitude de Branca. __ Então
dona Rafa, vai ou não vai cortar esses cabelos? __ pergunta Branca. __Eu vou. __ informa
a garotinha que finalmente deixa raspar a cabeça.
Do colo do pai, Rafaela fica quietinha enquanto Beto inicia os trabalhos. Todos
atentamente olham para ela. Branca não aguenta a emoção e tenta disfarçar o choro para
que nem a garotinha e nem o filho a vejam daquele jeito. Alecsander fica do lado da
garotinha segurando a mãozinha dela. Dona Beatriz, que está sentada em uma poltrona,
também se emociona. O procedimento dura em torno de vinte minutos. Os minutos mais
demorados e mais dolorosos para todos ali presente. Camila fica indiferente, tenta se
aproximar e interagir, mas não consegue. Ela finge se emocionar, mas os olhos estão tão
secos que mesmo tentando muito, nenhuma lágrima se forma.
Beto corta o cabelo de Rafaela e depois raspa a cabecinha dela. Branca ver que a
garotinha está começando a chorar novamente e segura a mãozinha dela para que Beto
termine o trabalho. __ Pronto. Está aqui a garotinha careca mais linda que já vi na vida.
__ diz ele. Rafaela olha para o espelho e quando vai abrir a boca para chorar, Branca bota
a peruca na cabeça dela. Letícia se aproxima com um batom cor de rosa na mão e passa
nos lábios dela. __ Pronto! Tá gata. __ diz Letícia. __ Eu tô parecida com a Branca? __
pergunta a garotinha. Todos sorriem, menos Camila que está estressadíssima. __ Todas
nós estamos parecidas com a Branca. __ responde Letícia.
Renato não para de olhar para Branca, mas é um olhar de admiração e alivio por
ver a filha alegre e sorridente, mesmo depois de tudo. Rafaela já nem lembra que está
careca. Ela fica toda exibida desfilando com os cabelos novos. __ Espera um pouco. __
diz Renato se levantando. Ele vai até Alecsander e conduz a cadeira de rodas para perto
deles. __ Venha Mulher Maravilha, Letícia, venham todos. Vocês já fazem parte dessa
família e hoje minha admiração por vocês é total. Vamos tirar uma foto todos juntos. __
diz ele chamando todos para posar para uma foto. Ele pede que Beto tire uma selfie. Ao
se posicionarem para a fotografia, Camila fica ao lado dele que está com a filha no colo.
Antes que Beto tire a primeira foto, ele percebe que Branca está na ponta, então ele sai de
onde está e vai ficar ao lado dela. Ele passa o braço pela cintura dela e dá um beijo no
rosto também. Camila não acredita no que está vendo. Ela dá o sorriso mais forçado e
mais falso para disfarçar a raiva que está sentindo. Beto tira a foto e todos comemoram,
mas logo Letícia informa que Rafaela não pode ficar nessa aglomeração e Tati a leva para
o quarto junto com o Alecsander para brincarem lá.
As crianças vão para o quarto junto com Tati e Luíza e o restante vão para a sala
de estar. Camila sempre em volta de Renato e ele de Branca. Camila percebe que Renato,
além de admiração, também parece estar sentindo algo a mais por Branca. __ Não vou
perder o Renato pra essa enfermeirazinha __ diz ela, em pensamento.
A noite chega e eles jantam todos juntos. Camila não dá espaço para Renato se
aproximar de Branca. Ela senta ao lado dele à mesa de jantar. Letícia e Beto vão embora
e Branca aproveita a deixa para também se despedir. __ Então, nós também já vamos. Já
estar ficando tarde. __ diz ela. __ É verdade, e você deve morar muito longe, então é
melhor ir cedo mesmo, ainda mais que tem esse garotinho alej... __diz Camila. Branca
interrompe imediatamente quando percebe que Camila vai chamar o filho de aleijado: __
Opa! Acho que você quer dizer deficiente físico não é? E você tem razão, é perigoso
mesmo uma mulher e um deficiente físico tarde da noite nas ruas de qualquer cidade. __
responde ela, irritada com o comentário que Camila ia fazer. Renato também não gosta
da atitude de Camila. __ Que isso Camila, não tô te reconhecendo.__ diz ele. Dona Beatriz
também chama a atenção da moça. Camila é descarada e não sente vergonha e muito
menos se importa com as críticas. __ Dona Beatriz vou embora. __ diz Branca. __ Não.
Se está tarde, eu deixo você e Alecsander em casa, mas não agora, quero conversar com
você primeiro. Vamos lá em cima. __ diz Renato, se levantando do sofá e puxando Branca
pela mão. __ Camila vou pedir pro Pedro deixar você em casa. Tá tarde pra você voltar
sozinha também. __ completa ele. __ Ainda tá cedo. __ responde ela bem acomodada no
sofá. __ Quando quiser ir, avise ao Pedro. Vem comigo Mulher Maravilha, precisamos
conversar. __ diz ele puxando Branca.
Renato e Branca vão para o andar de cima da mansão e Camila fica na sala com
dona Beatriz. Camila não consegue mais disfarçar a raiva que sente de Branca. Ela olha
para os dois de mãos dadas subindo as escadas, Branca com um sorrisão no rosto e Renato
com um ar de felicidade. __ Essa enfermeira é bem abusada. __ diz ela. __ Não, querida.
Ela não é abusada. Ela é sincera e autêntica. Já estamos acostumados com o jeitinho dela.
__ diz dona Beatriz. __ Tem que tomar cuidado Beatriz. Essas moças assim com essas
carinhas ingênuas são as mais perigosas. __ insiste Camila em continuar jogando dona
Beatriz contra Branca. __ Querida eu entendo perfeitamente a sua preocupação. Você
quer o bem da Rafaela e do meu filho pela amizade que você tinha com a Deborah. Fico
muito feliz por esse cuidado todo, mas eu sei que a Branca é uma boa moça. Não se
preocupe. __ insiste dona Beatriz. Camila tenta, mas dona Beatriz não aceita as
colocações dela sobre o que pensa de Branca.
Renato e Branca chegam ao terraço. A noite está linda e a lua, que está
deslumbrantemente cheia mais uma vez encanta. Eles amam a lua de qualquer jeito, mas
hoje ela está um espetáculo. Branca vai até a mureta e apoia os braços para olhar em volta
do condomínio e por fim para a lua. __ Eu já te falei que sou fascinada pela lua cheia? __
diz ela. __ Sim. Já sim. Eu também sou fascinado por ela... Pelas estrelas... Pelo céu e
hoje por você. __ diz ele se aproximado dela ao ponto de ficarem quase colados lado a
lado. Ele olha para ela e ela, sem graça, olha para a lua. Ela fica uma estátua, sem reação.
Ela engole saliva e não consegue dizer absolutamente nada. __ Eu não sei o que tá
acontecendo comigo. Minha cabeça tá bem confusa, mas eu não consigo parar de pensar
em você. Penso em você o tempo todo. À noite quando vou dormir penso em você,
durante os shows eu canto pra você. __ diz ele. Branca tenta fugir do olhar fixo dele. Ela
olha para o céu, depois para as casas em volta, mas ela não olha para ele. __ Antes eu não
tinha vontade de ficar na minha casa, hoje eu já não quero mais sair de dentro dela,
principalmente nos dias que eu sei que você estar aqui. __ continua ele. Ela, que está
estarrecida, continua escutando sem dar uma palavra. __ Hoje você se superou. Não vou
esquecer nunca o que você fez e está fazendo pela minha filha. Você cortou o próprio
cabelo pra doar a minha filha. __ completa ele levando a mão até os cabelos dela. __
Renato, eu não sei o que te dizer. __ diz ela. Ele se aproxima mais e segura às duas mãos
dela. __ Então não diga nada. Não hoje, nem amanhã. Não tenho pressa. Só pense com
carinho e quando quiser conversar eu estarei esperando, e independente do que você
disser eu vou entender. Sei que você estar apaixonada pelo seu colega... __diz ele. Ela
finalmente olha ele nos olhos e interrompe o que ele estava dizendo. __ Eu não estou
apaixonada por ele.... __ diz ela que abaixa a cabeça para mais uma vez evitar o olhar
dele. __ Quer dizer... eu não sei se estou apaixonada por ele. Minha cabeça também tá
confusa. O Samuel foi o primeiro cara que saí depois que meu marido morreu. __ continua
ela que puxa as mãos e se volta para apoiar os braços na mureta novamente. __ Mas
também não rolou nada. __ completa ela. Nesse momento Renato abaixa a cabeça. __ Eu
bebi mais do que devia e ele foi muito legal comigo. Não sei se estou apaixonada por ele,
só decidi dar uma chance pra mim de conhecer alguém legal que me trate bem, que me
respeite e respeite meu filho. __ completa ela. __ E você merece muito respeito e muito
amor também. __ diz ele também apoiando os braços na mureta. Ela se vira para olhar
para ele. __ Eu e você juntos nunca passou pela minha cabeça. Você é famoso, rico... É
meu patrão. É um mundo totalmente diferente do meu, entende? __ diz ela. Ele balança a
cabeça negativamente e se vira para encará-la. __ Não. Eu não entendo. Não são mundos
tão diferentes assim. Não pense dessa forma. Eu tenho o maior respeito por você, minha
filha te ama e somos muito gratos por tudo o que você vem fazendo por todos nós. __ diz
ele. Ela interrompe novamente. __ Será que você não está confundindo o sentimento de
gratidão com paixão? __ pergunta ela. Ele abaixa a cabeça. __ Não sei mais o que se passa
na minha cabeça. __ diz ele. __ Às vezes eu sinto vergonha de estar me sentindo bem e
feliz quando tou com você. Mas às vezes acho que você tem razão: eu tenho que seguir
adiante e mereço ser feliz novamente. __ completa ele. Ela interrompe novamente. __
Com certeza você merece. A vida segue e temos que seguir junto com ela, se não a gente
se perde. __ diz ela. __ Eu saí com várias mulheres depois que minha esposa se foi, mas
eu não senti nada além de prazer... Na verdade, nem sei se prazer eu senti, porque na
maioria das vezes eu tava bêbado e nem me recordo direito. __ completa ele. __
Realmente eu não sei o que dizer. Você é um cara muito legal, um homem muito atraente,
muito lindo por dentro e por fora e qualquer mulher adoraria sair contigo, aliás, tem
milhares de mulheres querendo sair contigo. Não que eu seja melhor do que todas elas,
mas a minha vida não me dar tempo pra pensar em nada além do meu filho. __ explica
ela. Ele interrompe. __ E você está certa de pensar muito no seu filho, mas não só nele.
__ conclui ele. __ Eu sei disso e já decidi mudar. Decidi seguir meus próprios conselhos
e é que estou fazendo ultimamente: pensando em mim também, me dando prioridade. __
completa ela. __ Minha cabeça estar confusa, mas uma coisa eu tenho certeza: eu tô
gostando de você mesmo. Me imagino saindo de mãos dadas com você, indo ao cinema.
Imagino você nos meus shows me esperando no camarim, assistindo ao show no palco...
__ diz ele. Nesse momento o telefone de dela toca. Ela olha e ver que é doutor Samuel e
Renato também ver. Ela decide não atender e deixa tocar. Renato fica sem graça. __ Você
não vai atender? __ pergunta ele. __ Não. Falo com ele depois. __ responde prontamente
ela. __ Sabe Renato, um dia você cantou no meu ouvido uma música que gosto muito e
me aconselhou que se eu sentisse tudo aquilo por alguém, era pra ir fundo porque valeria
a pena. E estou fazendo isso, não quero agir por impulso. Qualquer mulher desse mundo
adoraria ficar contigo. Não somente pelo fato de ser rico, bonito e famoso, mas pelo fato
de você ser uma pessoa incrível. Não sou melhor do que ninguém, mas minha maturidade
me ensinou a ter os pés no chão. __ diz ela. Renato escuta atentamente. __ Então, siga
também os teus conselhos. Não haja por impulso, escute a música. __ completa ela.
Os dois continuam a conversa por mais quinze minutos. Renato realmente tem a
certeza que Branca é uma mulher diferente, a mulher maravilha como ele chama, e se
encanta ainda mais. Ele sabe que a maioria das mulheres que se aproximam dele, é pelo
fato de ser rico e famoso, e para Branca, isso já não faz diferença.
Eles retornam para a sala de estar. Camila está conversando com dona Beatriz,
mas está muito ansiosa e nervosa. __ Renato vocês demoraram. __ diz ela. __ Vou buscar
Alecsander e vou embora. __ informa Branca. __ Eu deixo vocês. __ diz Renato. __ Não
precisa, pode ficar e dar atenção pra a sua amiga. __ diz Branca. Renato insiste e Camila
interrompe e o convence de deixar Branca ir embora sozinha com o filho.
Branca busca o filho no quarto e vão embora. Renato fica na sala com Camila.
Dona Beatriz vai para o quarto assistir suas novelas. Renato não consegue parar de pensar
em Branca. Camila ao lado dele conversa, mas parece que ele não estar ali na sala com
ela. Na verdade ele está viajando em pensamentos. Ele pensa em Branca e no nobre gesto
que ele teve hoje.
Branca chega em casa. Ela bota o filho para dormir, mas antes ela conta uma
historinha para ele. __ Já dormiu. Nem vai saber o final da história. __ diz ela dando um
beijo no rosto do filho.
Sentada no sofá com um copo de chá, ela pensa no dia agitado que teve e pensa
principalmente nas coisas que Renato lhe disse. __ Isso não estar acontecendo comigo.
__ diz ela falando sozinha. __ Meu Deus é muita areia pro meu caminhãozinho. __
continua ela. __ Não Branca. Esse homem não é pra você. Fique quieta. Controle teus
hormônios e teus pensamentos e fique na tua. Deixa ele pra chata da Camila. __ diz ela
conversando sozinha na pequena sala de estar da casa dela. Ela fica até tarde pensando e
conversando sozinha até que adormece ali mesmo no sofá.
CAPÍTULO 7:
Vivendo intensamente
Em mais um plantão noturno no hospital, Branca chama atenção de Gleyce sobre
o que ela aprontou na mansão de Renato. Gleyce se arrepende e se desculpa, e ainda
aproveita para falar sobre Camila. Gleyce deixa claro que não gostou da “patricinha”,
como ela mesmo fala. __ Amiga, vai por mim, essa patricinha é uma fura olho. __ diz
Gleyce se referindo a Camila.
Branca conta para Gleyce tudo o que aconteceu, desde as ligações de Camila para
ela até a hora que ela ia chamar Alecsander de aleijado. __ Se eu tivesse lá, eu tinha feito
ela engolir todos os dentes. Porque ela ia apanhar muito. __ diz Gleyce nervosa. __
Violência só traz mais violência, amiga. __ diz Branca. __ Mas eu ia quebrar a cara dela
mesmo assim. Eu ia gerar muita violência mesmo. __ completa Gleyce. __ Até parece.
Quem te ver falar assim, pensa até que você tem toda essa coragem. __ completa Branca,
sorrindo __ Amiga você não me conhece. Deixa ela pisar no meu calo pra ela ver. __ diz
Gleyce.
Após Branca ficar famosa e todos descobrirem que ela trabalha na residência do
famoso cantor Renato Dias, em todos os plantões as colegas do hospital pedem sempre
alguma coisa de Renato tipo autógrafos, fotografias, etc e ela sempre tenta fugir das
conversas, não por arrogância, ela nunca mudou seu jeito de ser, mas para dispersar as
conversas e os grupinhos e tentar fazer o serviço dela tranquila.
São 22:00 horas. Renato resolve fazer uma visita para Branca no hospital. Ele
chega à recepção e mesmo estando de boné e óculos, as recepcionistas logo o reconhecem.
__ Boa noite! A enfermeira Branca trabalha aqui? __ pergunta ele. As três recepcionistas
que estão no plantão, ficam eufóricas. __ Mas é o Renato Dias. __ diz uma das
recepcionistas com um sorrisão no rosto. __ É ele mesmo. Nem acredito. __ diz Janaína,
a outra recepcionista e amiga de Branca. __ Sim. A Branca trabalha aqui sim. __ responde
Janaína.
Rapidamente se forma uma aglomeração de funcionários na recepção. Gleyce
aparece e ver Renato ali parado e as colegas super eufóricas. Ela fica toda empolgada e
logo se apresenta e se oferece para leva-lo até o setor onde Branca trabalha.
Gleyce que já é bastante elétrica em seu normal, fica mais tagarela ainda e quase
não deixa Renato falar. __ Meu Deus! É um sonho conhecer você pessoalmente. Já fui
em vários shows seu, mas nunca consegui tirar uma foto com você. Até na sua casa eu já
fui, você sabia? E ajudei a cuidar da sua filha, mas você não estava... __ diz ela que não
para de falar. Ela não deixa Renato nem ao menos dizer um oi para ela. __ E agora você
está aqui, no meu serviço. Nem tô acreditando. Ai eu to sonhando, me belisca? __ diz ela
esticando o braço para Renato a beliscar. Ele sorrir. Eles caminham por um longo corredor
que dá acesso ao setor dos apartamentos onde Branca fica. __ Quero aproveitar para lhe
agradecer por ter cuidado da minha filha. Ela te achou muito engraçada. __ diz Renato
finalmente. __ Sua filha é uma criança adorável, e você também, é claro. Aliás, eu gostei
de todos na sua casa. A sua mãe é um amor. __ diz ela. __ Obrigado Gleyce, por ter
cuidado muito bem da minha filha. __ diz ele. __ Você sabe o meu nome? Ai meu Deus!
Você sabe meu nome. Nem tô acreditando que você me chamou pelo nome. __ diz ela
saltitante e super eufórica. Renato não para de sorrir. __ Claro que sei, primeiro porque
você cuidou da minha filha, sou muito atento com a segurança dela, então tenho que
conhecer todos que passam pela minha casa. E em segundo, você é amiga de uma pessoa
que gosto muito e se é amiga dela, é minha amiga também. __ informa ele. __ Você está
falando da Branca, não é? Ela realmente é uma pessoa muito especial. Conquista todo
mundo. Conquistou até você, o Renato Dias. Ai, essa minha amiga é show mesmo. __
completa ela.
Gleyce e Renato chegam até o setor de lotação de Branca. Ela não acredita quando
ver ele ali no hospital e com Gleyce do lado. Ela olha para a amiga e balança a cabeça
negativamente. __ Renato, o que está fazendo aqui? Tá tudo bem com a Rafa? __ pergunta
ela espantada. Renato se aproxima e dá um beijo na bochecha dela. __ Sim. A Rafa está
bem. Vim te visitar. Desculpe não ter avisado. __ responde ele. __ Não precisa pedir
desculpas não. Pode vir sempre que quiser, viu. __ diz Gleyce, interrompendo a conversa.
Ela está de braços cruzados e encostada na parede. Branca sorrir. __ Gleyce tem razão.
Não precisa se desculpar. __ diz ela. __ Amiga, apresenta o hospital pra ele. Eu fico aqui
no seu setor. O meu tá tranquilo. Eu cuido aqui pra você. Ai na volta a gente aproveita e
tira muitas fotos. Pode ser? __ diz Gleyce. __ Ai ai! Trate de se comportar viu. __
responde Branca.
Ela leva Renato para conhecer as alas do hospital que não são tão restritas. Ele
aproveita e entrega para ela uma caixa de chocolate. __ Adoro chocolate. Muito obrigada.
Sou uma verdadeira chocólatra. __ diz ela. __ Sim. Eu sei. Alguém me contou. __ diz
Renato. Os dois vão caminhando até o terraço do hospital, que tem uma vista panorâmica
linda da cidade. __ Deixa eu adivinhar quem te falou: foi uma garotinha bem pequena,
não foi? __ pergunta ela, se referindo a Rafaela. Renato sorrir e confirma com a cabeça.
__ Eu achei que não fosse conseguir entrar nesse hospital novamente. Não tenho muitas
lembranças boas daqui. __ diz ele abaixando a cabeça. Renato se refere ao dia do acidente
da esposa. Ela foi removida para este hospital e foi nele que ela veio a falecer também.
__ Eu imagino. Se você quiser a gente pode ir até o estacionamento. __ diz ela. __ Não
precisa. Não vou ficar lembrando daquele dia horrível. Vamos mudar o assunto. __ diz
ele.
No terraço, Renato aprecia a vista da cidade e do céu. A vista dá para os prédios
e casas, que nesse momento estão brilhando com as luzes acesa. A mureta é bem mais
alta do que a do terraço da casa dele. __ Que vista bacana. __ diz ele, olhando para todos
os lados. __ A vista do seu cantinho lá da sua casa é mais bonita. __ afirma Branca. Renato
sorrir e concorda com ela. __ Você não sabe o tamanho do presente que deu pra essas
meninas aqui do hospital. E vai deixar elas mais felizes ainda se você puder tirar algumas
fotos com elas. __ diz ela. __ Sem problemas. Tiro sim. __ responde ele. __ Mas você
não liga pras besteiras que vai escutar, viu. __ diz ela sorrindo. Ele também sorrir. __ E
você não tinha show hoje? __ pergunta ela. __Não. E a Rafa dormiu cedo. Fiquei atoa e
decidir vir te visitar. Ah! Já vou adiantando: eu tava chegando na frente do hospital e vi
muitos flash e só uma pessoa me procurou pra especular alguma coisa, ou seja, o restante
vão postar fake news. Amanhã pode esperar seu nome na mídia. __ informa ele. __ Você
acredita que já não me importo mais com comentários errados a meu respeito? É como
você disse: com o tempo a gente acostuma e passa a não ligar mais pra isso. E também,
eu tenho recebido muitas ligações e tenho esclarecidos muitas coisas e parece que as
fofocas amenizaram mais. __ diz ela. __ Eu falei que logo logo você ia se acostumar ou
ia ser vencida pelo cansaço ou pela insistência. __ diz ele, sorrindo. __ Mas na verdade,
eu vim te fazer um convite. Este fim de semana quero levar a Rafa à praia. Tenho uma
casa no litoral e faz tempo que não vou lá. Você acha que a Rafa pode ir? __ pergunta
ele. __ A Rafa anda meio tristinha esses dias, creio que essa viagem iria fazer muito bem
pra ela, mas acho que o doutor Fonseca não vai liberar. Amanhã ligo pra ele e vejo o que
ele acha e se autoriza, pode ser? __ responde ela. __ Gostaria que você e seu filho fossem
também. Vai ser bom pra Rafa ter a companhia de mais uma criança. __ diz ele, olhando
para ela. __ Eu não sei se consigo ir. Tenho plantão no sábado. __ diz ela, mas ele insiste.
Branca tem vontade de ir à praia. Ela sente falta do mar. Apesar de ter nascido em
cidade praiana, desde que foi morar em São Paulo foram poucas as vezes que ela viu o
mar.
Ela não conhece as praias do litoral paulista. Nunca teve a oportunidade de ir. __
Eu insisto. A Rafa não vai querer ir se você não for. Venham com a gente? __ insiste ele.
__ Realmente eu quero muito ir, mas tenho que ver algumas coisas. Vou ver certinho e te
falo. Tenho que voltar pro trabalho se não perco meu emprego. __ diz ela mostrando
ansiedade. Eles então retornam. No meio do caminho, eles cruzam com doutor Samuel.
__ Oi Samuel! __ diz ela. Doutor Samuel se aproxima, dá um abraço bem apertado e um
beijo no rosto dela. __ Oi gata! Tudo bom? Seu chefe famoso está passando mal? __
ironicamente pergunta ele. __ Não. Quero até te apresentar ele. Na verdade você já
conhece, né? Vive nos shows dele. __ diz ela. Renato estende a mão para cumprimenta-
lo. __ Já nos conhecemos lá no outro hospital e no show também. É um prazer revê-lo.
__ diz Renato. Doutor Samuel também o cumprimenta. Renato percebe o ciúme de doutor
Samuel. ___ Tô vendo que você está muito bem acompanhado, gata. __ diz doutor Samuel
apertando a mão de Renato e encarando ele. __ E sua filha, como está? Branca gosta
muito dela. __ diz doutor Samuel. __ Minha filha está bem, e também gosta muito dessa
moça aqui. Aliás, todos na casa gostamos muito dela, além de linda, meiga e educada, ela
é uma excelente profissional. __ diz Renato alfinetando intencionalmente doutor Samuel
que percebe um tom de deboche. __ Pois é, que bom pra vocês não é. Branca é uma
mulher fascinante e ótima em tudo que faz. __ diz doutor Samuel, olhando para Branca.
O clima começa a ficar desconfortável. __ Isso eu concordo com você. Ela é ótima. __
responde Renato. Branca interrompe a conversa antes que a situação fique mais
desagradável. __ Então vamos deixar de falar de mim, pois eu ainda estou aqui. Samuel,
depois eu vou lá no repouso falar com você. Vou levar Renato pra tirar umas fotos com
as meninas e daqui a pouco vou lá, pode ser? __ diz ela, tentando sair da “saia justa”. __
Você vai demorar? Ainda tenho que ver uns pacientes em outro hospital. Passei aqui
rapidinho só pra ver uns pacientes e te ver, é claro. __ responde doutor Samuel, olhando
para Renato. __ Não vou demorar muito não. Se puder me esperar... __ diz ela.
Branca conduz Renato até a recepção. __ Esse cara tá muito a fim de você e tá na
cara que também tá morrendo de ciúmes. __ diz Renato, enquanto caminha junto com
Branca pelo corredor do hospital. Branca fica em silêncio. Ela não sabe o que falar, então
prefere ficar calada.
Na recepção, ela apresenta Renato para as colegas de trabalho. Todas ficam muito
eufóricas. Renato, como sempre muito carismático e educado, posa para fotografias com
todas e dar autógrafos também. Branca fica de longe só observando e organizando para
não causar tumultos e nem aglomeração. __ Eu sou a fotógrafa oficial do Renato e lógico
que vou sair em todas as fotos. __ diz Gleyce que tira muitas selfies.
Branca adora o jeito de Renato, principalmente a humildade e o jeito com o ele
trata as pessoas. Ela se encanta por ele a cada dia que passa, mas ela nunca tinha pensado
nele como homem, com tesão, com desejo, com vontade, ela o via como um ídolo e
atualmente como um amigo, mas a ultima conversa que tiveram a deixou bastante confusa
em relação aos seus sentimento. Por outro lado, ela e doutor Samuel tem uma química
muito forte, ela não sabe explicar o porquê, mas ela sente um tesão muito louco por ele.
A vontade é de cair nos braços musculosos dele todas as vezes que se cruzam no hospital.
Após quinze minutos de euforia das colegas de serviço, Branca encerra a sessão
“fotográfica”. __ Meninas chega. Renato tem que ir embora e também temos que voltar
ao serviço, se não seremos todas demitidas amanhã. Vamos meninas, deixem o Renato ir.
__ diz ela se aproximando do grupinho e tentando puxar Renato pela mão. Ela sabe que
um hospital não é ambiente para esse tipo de aglomeração e os diretores podem não
gostar. __ A não Branca, larga de ser chata. __ diz Gleyce. __ Amanhã estaremos todas
demitidas. É só os diretores olharem as câmeras. __ diz ela sorrindo. __ Que nada Branca.
Hoje vamos produzir mais e melhor. Não vamos nem dormir de tanta felicidade. Vai ser
ótimo pro hospital. __ diz Janaína. Todos sorriem. __ Renato fica mais um pouco. A
Branca tá exagerando. Ela é muito certinha, corretinha. __ insiste Gleyce. __ Não quero
ser o responsável por problemas aqui pra vocês. Outra coisa... vai chegar umas pizzas
aqui pra vocês. Bom apetite pra todas. __ diz ele. __ Pronto meninas. Todas satisfeitas,
agora o Renato vai para casa. __ diz Branca puxando ele pelo braço.
Renato se despede do grupo, que não é tão grande, umas dez pessoas mais ou
menos entre serviços gerais, recepcionistas e enfermagem. Os demais colaboradores
(funcionários), quando ela mostrou o hospital para ele, ela apresentou as equipes também.
Branca sai puxando Renato até o estacionamento. __ Vamos Renato. __ diz ela.
__ Você está me mandando embora? __ pergunta ele, olhando para ela e fazendo uma
carinha triste. __ Não é bem isso. Eu jamais te mandaria embora se não fosse preciso, mas
tenho que voltar ao serviço. __ explica ela. Ele sorrir. __ Achei que estivesse me
mandando embora por causa do seu namorado ciumento. __ diz ele com tom de ironia.
__ Ele não é meu namorado. __ responde ela. __ E você já falou isso pra ele? __ insiste
Renato. Ela dá uma olhada meio de lado para ele e balança a cabeça negativamente.
Branca está muito ansiosa porque ali no hospital não é local para esse tipo de visita
e também porque o doutor Samuel está esperando por ela, além também do fato dela está
há algum tempo longe do setor de trabalho. Mesmo estando bem tranquilo com poucos
pacientes, ela é bem correta com o serviço.
Eles chegam ao estacionamento. Renato encosta no carro e Branca fica à frente
dele. __ Dê um beijo em Rafaela por mim. __ diz ela. __ Pode deixar que vou dá sim. __
responde ele. __ Tenho que voltar ao serviço. Dirija com cuidado. __ diz ela. Renato dá
um beijo no rosto dela, ele entra no carro e abre os vidros. __ Tchau! Opa! Tchau não. Te
vejo em breve, Mulher Maravilha! __ diz ele, dando partida no carro e saindo devagar.
Branca cruza os braços e sorrir. __ Adoro o seu sorriso. __ diz ele, acelerando o carro.
Ela retorna para dentro do hospital. Ela passa no seu setor de lotação e Gleyce
informa que está tudo tranquilo. Ela aproveita para ir até o repouso médico. Doutor
Samuel está impaciente esperando por ela. __ Qual é a desse cara? Não entendi o que ele
veio fazer aqui. __ diz ele, logo que Branca abre a porta do repouso. __ Oi e calma. Ele
está triste com o que vem acontecendo com a filha. Veio conversar. Não acredito que está
com ciúmes, doutor Samuel. __ diz ela sorrindo. __ Na verdade sei bem o que ele veio
fazer aqui, gata. Conheço muito bem homens safados. __ responde ele. Branca entra no
quarto e fecha a porta. __ Eita! Não tô entendendo é mais nada. Então quer dizer que ele
é um safado? E como é que você sabe disso? __ pergunta ela. __ Sou um homem vivido,
minha linda. Conheço bem quando um homem está atrás de uma mulher pra se divertir.
__ diz ele nervoso e franzino a testa. Ele nunca tinha ficado nervoso assim desse jeito. Na
verdade ele está morrendo é de ciúmes. E ele fica tão mais sexy quando está bravinho. __
Um safado deve conhecer outro safado, mesmo. __ diz ela. __ Não vou discutir com você,
gata. Gosto muito de você e estou morrendo de saudades. Vamos sair este fim de semana?
Aliás, a gente podia fazer uma viagem, o que você acha? Vamos? __ diz ele abraçando
ela. __ Ai meu Deus, só falta ele me chamar pra ir à praia, também. __ diz ela, em
pensamentos. Ele dá um beijo no rosto dela. __ Tenho um flat no litoral, vamos descer
pra lá? Tenho certeza que seu filho vai gostar da praia. __ diz ele. Ela não acredita no que
escuta e fica por alguns instantes em silêncio. __ Não acredito que isso está acontecendo
comigo. __ diz ela, em pensamentos. __ Vamos gata? Prometo me comportar. Vamos?
Estamos precisando relaxar um pouco. Estamos trabalhando muito. __ insiste ele. __
Realmente, isso não está acontecendo. __ completa ela, ainda em pensamentos. __ Vou
ver e te falo. __ responde ela, sem graça e se afastando dele. __ Gata, você vai continuar
fugindo de mim? __ pergunta ele. __ Olha, quem fugiu da última vez não fui eu? __ diz
ela. Ele sorrir. __ Vou te ligar pra gente combinar da viagem. __ diz ele se aproximando
dela novamente. Os dois parecem gato e rato: quando um se aproxima, o outro se afasta,
mas no fundo mesmo Branca queria era cair nos braços dele. __ Não esqueço de você na
minha cama. __ diz ele se aproximando dela e a envolvendo nos braços dele. __ O
apostazinha infeliz essa que fizemos. __ sussurra ele. Ela sorrir __ Digo nada. __ diz ela.
__ Tenho que voltar pro serviço. Fique com Deus. __ completa ela que dá um beijo no
rosto dele e sai.
2:00 horas e tudo vai tranquilo, Branca encontra com Gleyce e elas conversam
sobre tudo o que aconteceu. Ela conta para a amiga sobre o convite para passar o fim de
semana na praia. __ Amiga do céu. Não tô acreditando. Me belisca pra eu acordar. Minha
melhor amiga dividida entre dois gatos, ricos e um ainda é famoso, ai meu Deus, que
sonho! __ diz Gleyce, super eufórica e saltitante. __ Amiga, isso não é tão bom assim
como você tá achando não, viu. __ diz Branca.
As duas estão no setor de trabalho de Gleyce. Branca está em pé de braços
cruzados e Gleyce ao lado dela. __ Amiga e agora o que você vai fazer? E quem você vai
escolher? Quer um conselho? Mas se não quiser eu te dou mesmo assim. __ pergunta
Gleyce. __ Eu não sei mais de nada. Não sei se quero conselhos. Não sei se quero sair,
com quem quero sair, não sei mais de nada. __ responde Branca.
Muitas mulheres gostariam de ser a Branca nesse momento, mas ela é uma mulher
bem realista e muito centrada. Ela não se ilude com fama e nem com dinheiro. Sua
preocupação e prioridade é o filho, o bem estar dele e o tratamento que ele faz. __ Amiga,
é uma escolha difícil pra você não é? Porque se fosse eu, eu sairia com os dois, digo, não
ao mesmo tempo, é claro. Você entendeu né amiga? __ diz Gleyce. As duas sorriem da
situação, mas logo Branca fica séria novamente.
Branca não estava dividida sentimentalmente entre doutor Samuel e Renato até o
último plantão que fez na mansão. A conversa entre ela e Renato a deixou bastante
pensativa.
__ Entendi sim amiga. Tô aqui pensando que tipo de conselhos você me daria. __
diz ela levando a mão direita ao queixo. Gleyce vai com as mãos no ombro dela. __
Simples. Sai com os dois. Nesse fim de semana sai com um e no outro fim de semana sai
com o outro. Problema resolvido. Agora caso você não queira, eu quero. __ diz Gleyce.
Branca vai com a mão ao rosto e balança a cabeça negativamente. __ Maluquinha! __ diz
Branca. Gleyce passa a mão pelo ombro da amiga. __ Só estou brincando. Mas olha, vou
te dar um conselho de verdade. É um conselho que eu não seguiria, mas eu te conheço
muito bem... __ diz Gleyce. __ Olha, to doidinha pra escutar esse conselho. Vou até me
sentar. __ diz Branca, se sentando numa cadeira de ferro na cor branca. Gleyce também
se senta. __ Tire um tempo pra você. Não saia com nenhum dos dois. __ diz Gleyce.
Branca olha para a amiga com um ar de alívio e curiosidade ao mesmo tempo. __ Eu faço
o seu plantão no sábado. O hospital tá me devendo alguns plantões. Vou pedir folga do
meu plantão e faço o seu e você poderá viajar tranquilamente. __ completa ela. Branca
fica de boca aberta. __ Maluquinha, até que de vez em quando você é cabeção viu. Adorei
a ideia. __ diz Branca aliviada. __ E você aproveita pra descansar e pensar na vida. E
amiga, fala sério, você tá precisando descansar. Nem sei mais a última vez que você tirou
um tempo pra você. __ completa Gleyce.
Branca além de amar a ideia, ela pede sugestões de cidades próximas que ela possa
ir, como Gleyce é paulistana, deve saber de algum lugar legal perto de São Paulo. __ Tem
um hotel fazenda numa cidadezinha perto daqui. Eu gosto muito de lá. De vez em quando
vou com o Davi. Sei que você vai gostar. Não tem praia, mas dá para descansar. __ diz
Gleyce. __ Perfeito amiga. Amanhã falo com a Letícia e vejo se ela faz a sexta feira pra
mim lá na mansão. Muito obrigada pelos conselhos, pela amizade e pelo carinho que tem
comigo. __ diz Branca se levantando para abraçar a amiga. __ Que isso amiga. Eu tenho
você como uma irmã, você sabe disso... A irmã que eu nunca tive. __ completa Gleyce.
Gleyce é filha única. A mãe dela teve complicação no parto e os médicos tiveram
que fazer uma histerectomia (cirurgia para retirada do útero). Gleyce ainda mora com os
pais. Ela fala sempre que só deixa a casa dos pais quando casar, porém, ela vive fugindo
de casamento. Quando está num relacionamento que está indo bem e ficando sério, ela
sempre dá um jeito de arrumar umas confusões e terminar. Ela gosta mesmo é de se
divertir, de sair e não dar satisfação para ninguém.
Branca chega à mansão para mais um plantão. Renato já espera por ela no quarto
de Rafaela. Ainda na entrada do quarto Letícia passa o plantão e vai embora. Rafaela está
parecendo um anjinho dormindo e Renato fazendo carinho na mãozinha dela.
__ Bom dia Mulher Maravilha! Você deve estar com muito sono, não é mesmo?
__ pergunta ele que está sentado numa cadeira próximo à cama da filha. Pela primeira
vez Branca olha para ele com um olhar diferente e ainda mais hoje que ele decidiu malhar
bem cedo e está ali na frente dela todo suado vestindo apenas uma bermuda de academia,
tênis bem esportivo e boné na cor branco que cobre a cabeça careca dele. O peitoral suado
está exposto, a barriga que é bem sequinha e divida brilha. Ela tenta, mas não consegue
evitar olhar para ele. __ Bom dia! Caiu da cama hoje foi? __ diz ela, toda desconcertada
evitando olhar para ele, mas é impossível não olhar. Ela vai direto para o sofá. __ Hoje
meu dia começou bem cedo. Tenho pressa de viver. __ responde ele.
Sempre que chega à mansão, Branca vai direto para o banheiro tomar banho e
trocar de roupas, mas hoje ela realmente está muito cansada. No plantão anterior ela e as
amiga Gleyce passaram a noite toda conversando. __ E você decidiu o que vai fazer no
final de semana? __ pergunta ele indo direto ao assunto. __ Ainda não. Tenho que ver
como vão ficar meus plantões. __ responde ela, porém ela já sabe sim o que vai fazer no
fim de semana: ela vai fugi de qualquer compromisso que a deixe ainda mais confusa.
Decididamente este fim de semana ela quer fugir de encrencas e principalmente encrencas
sentimentais.
Renato se levanta e leva a cadeira até próximo do sofá onde ela está e leva a mão
até os cabelos dela, que estão bagunçados. Ele ajeita e ela fica apreensiva e vermelha. Ela
tem a pele bem clarinha e toda vez que fica com vergonha ou sem graça, ela fica com as
bochechas bem vermelhas. Ele escorrega a mão pelo cabelo curto dela. __ Olho pro seu
cabelo e lembro da Rafa. Nunca vou esquecer o que você fez? __ diz ele. __ Fiz por amor
a Rafa e a minha profissão. __ responde ela apreensiva. __ Quero muito passar esse final
de semana com você e com as crianças. Tô cansado dessa rotina. Já tem mais de três
meses que a Rafa tá nessa luta. Quero esquecer um pouco que ela tá doente. Quero que
ela esqueça também, que se divirta, brinque, que saia desse mundo aqui nem que seja só
por um ou dois dias. __ diz ele. Branca curte o carinho que ele faz nela e se sensibiliza
com a situação de Rafaela. Por alguns instantes ela até pensa em aceitar o convite, mas aí
ela se lembra também do convite do doutor Samuel e a cabeça dela bagunça novamente.
__ É! A rotina tá bem pesada pra Rafa. Tenho achado ela muito tristinha esses últimos
dias. Daqui a pouco ligo pro médico pra ver o que ele acha da viagem. __ responde ela.
Rafaela acorda e ver Renato e Branca no sofá. __ Bom dia papai! Bom dia Branca!
__ diz ela, se sentando na cama. Renato se levanta e Branca também. __ Bom dia, minha
princesa! __ responde ele. __ Bom dia, meu amor! __ responde Branca. __ Vocês estão
namorando? __ pergunta a garotinha. Renato olha para Branca e sorrir discretamente. __
Não, meu amor. Só estamos conversando um pouco. __ responde Branca. __ O meu papai
era namorado da minha mamãe e ele também ficava mexendo no cabelo dela. __ diz a
garotinha. Branca fica em silêncio. Ela vai até uma cômoda, pega a peruca da garotinha
e ajeita na cabeça dela. __ Então você ficava nos vigiando, é? __ pergunta Renato,
sorrindo. __ Vou tomar um banho rápido ai vou buscar nosso café, tá bom dona Rafa?
Vamos tomar o café aqui no quarto. __ diz Branca fugindo da saia justa.
Renato, Branca e Rafaela tomam o café da manhã no quarto e logo em seguida
eles descem para o jardim. Branca abre um lençol na grama debaixo de uma árvore e os
três se sentam. Branca conta mais uma historinha da Mulher Maravilha.
Letícia responde a mensagem que Branca havia encaminhado a ela logo cedo. Ela
aceita fazer o plantão de sexta-feira e assim Branca poderá viajar tranquilamente no final
de semana.
No jardim, Renato não para de olhar para Branca. __ Eu não tenho mais dúvidas,
eu estou apaixonado por essa mulher. __ diz ele em pensamentos. __ Meu Deus, que
homem perfeito é esse? __ diz ela também em pensamentos e fugindo dos olhares dele.
__ Hoje nós três vamos passar o dia grudados. __ diz ele fazendo cócegas em Rafaela. __
Oba! __ diz a garotinha. __ E esse grude todo vai ter alguma programação especial ou
vamos ficar grudados o dia todo sem fazer nada? __ diz Branca sorrindo. __ Já programei
tudo aqui na minha cabeça... __ diz ele apontando para a cabeça. Rafaela interrompe. __
Cabeça careca né papai? __ fala a garotinha. Ele sorrir. __ Depois daqui nós vamos para
a sala de televisão ficarmos bem grudados assistindo um filme bem legal... __ responde
ele. Branca interrompe. __ Comédia por favor. Quero rir hoje. E deixa a pipoca comigo.
Vocês vão amar a pipoca gourmet que eu sei fazer. __ diz ela. __ depois do filme nós
vamos montar um quebra-cabeça de cinco mil peças que eu comprei ontem. __ completa
ele. __ Eita, eu sou tão burra pra montar quebra-cabeças. Literalmente quebro mesmo a
cabeça. __ diz ela franzino a testa. __ Oba! Eu vou ajudar também, papai. __ diz a
garotinha toda empolgada. Nesse momento chega Camila. __ Bom dia meus amores. __
diz ela olhando para Renato e Rafaela. __ Bom dia Camila! Vejo que você também
acordou cedo hoje. __ diz Renato. Branca a cumprimenta e logo volta a brincar com
Rafaela. __ Posso me sentar aqui com vocês? __ pergunta Camila já se sentando. __ É
claro que pode. Senta e venha escutar as historinhas junto com a gente. __ responde
Renato. __ A é, historinha de que? Não tô vendo nenhum livro aqui. __ diz Camela. __
Não precisa de livro. A Branca inventa as historinhas e eu adoro. __ responde Rafaela.
__ Hoje eu vim cedo porque quero passar o dia todo com vocês. Eu trouxe até uns
brinquedos pra você Rafa. Estão lá na sala. __ diz Camila. Rafaela se levanta e fica
eufórica. __ Eu quero ver, eu quero. __ diz a garotinha. __ Enfermeira leve ela pra ver os
brinquedos. __ diz Camila olhando para Branca. __ Meu nome é Branca. Por favor me
chame pelo meu nome. __ diz Branca já um tanto irritada. Renato fica desconfortável e
chama a atenção de Camila. Branca se levanta, pega Rafaela no colo e vai rumo a sala
para a garotinha ver os brinquedos. Camila e Renato ficam no jardim. Os planos de Renato
para passar o dia todo grudado à filha e a Branca não vão dar certo. __ Eu não esperava
você aqui hoje. __ diz ele. __ Pois é, hoje eu tirei o dia pra vocês. A Rafa precisa de mais
companhia, tadinha. Já não vai à escola, não pode receber visita dos amiguinhos, então
eu vou fazer companhia pra ela. __ responde Camila. Renato até tensa, mas não consegue
dispensar ela. Hoje pelo visto é Camila quem vai passar o dia grudado a ele.
Chega à quinta-feira à noite. Branca liga para doutor Samuel e dispensa o convite
para a viagem com ele, mesmo ele insistindo repetidamente, ela resiste e dispensa. Ela
inventa que terá que fazer uma viagem para visitar uma prima que está doente. Ele
entende. O mesmo ela faz com Renato. Como ele está em viagem para realização de mais
um show, ela liga para ele e explica o motivo. Ele insiste, mas Branca também resiste.
Chega à sexta-feira. São 5:00 horas, Branca arruma as malas no carro, ajeita
Alecsander, desliga o telefone e vai rumo ao hotel fazenda recomendado por Gleyce.
Renato desiste de ir para a praia. Ele fica em casa fazendo companhia para a filha.
Camila chega à mansão logo cedo. __ Oi família! __ diz ela, entrando no quarto de
Rafaela.
No quarto está Renato sentado numa poltrona lendo uma historinha para a filha,
Letícia que está deitada em um sofá escutando a historinha e Luiza sentada numa cadeira
ao lado de Rafaela. __ Bom dia, dona Camila! __ diz Letícia, se sentando. Luiza
rapidamente se levanta. __ Oi Camila! Tudo bom? __ diz Renato. Camila vai até ele e dá
um beijo no rosto. Depois ela se abaixa para dar um beijo em Rafaela quando se lembra
que já foi chamada a atenção por isso. E ali, na frente de Renato, ela não vai cometer esse
erro novamente. __ Opa! Não posso te dá um beijinho, minha flor. É pro seu bem. Tô
seguindo as orientações das enfermeiras. __ diz ela fazendo “média” para Renato. __
Muito bem Camila, você aprendeu direitinho. Fico feliz de ver que você também está
cuidando da minha princesinha. __ diz ele. Camila puxa uma cadeira e se senta ao lado
dele.
No meio da tarde Rafaela passa mal. Letícia avisa a família que precisam ir ao
hospital. Renato liga para o médico e ele pede para que leve a garotinha imediatamente
para o hospital indicado.
No hospital, o médico que acompanha a garotinha já espera por eles. Dentro do
consultório, ele explica sobre a situação de saúde de Rafaela e solicita a internação
hospitalar imediata. Rafaela fica inconsolável. Camila, que também está junto, tenta
acalmar a garotinha, que não para de chorar. Renato fica arrasado quando escuta o médico
falar que Rafaela pode estar com algumas complicações e que o estado de saúde dela é
bem delicado.
Ele liga para Branca, mas a ligação é direcionada para a caixa postal. __ Letícia,
por acaso você tem algum outro número que eu possa falar com a Branca? __ pergunta
ele. __ Não seu Renato. Só tenho esse ai que o senhor tem. Que eu saiba ela tem só esse
número mesmo. __ informa Letícia.
Todos estão numa sala de espera aguardando a liberação da suíte para a internação
de Rafaela. __ Renato, deixe a enfermeira Branca em paz. Ela tá no período de descanso.
__ diz Camila. __ A Rafa só acalma com ela. __ completa ele que está com a filha no
colo. Ele fica apreensivo e insistentemente ligando para Branca, mas sem êxito. Camila
não disfarça a implicância que tem de Branca. __ Gente deixa essa moça em paz. __
repete ela. __ Eu fico com a Rafa aqui no hospital, seu Renato. Vou cuidar dela direitinho
e vou tentando falar com a Branca também. __ diz Letícia. __ Eu sei que você cuida
certinho da minha filha, mas a Branca tem um poder sobre a Rafa que eu não sei explicar.
__ completa ele. __ Isso é verdade. A Rafa fica bem mais calma quando a Branca está
por perto. __ confirma Letícia.
Rafaela está inconsolável, irritada e chorosa, como se estivesse com muitas dores.
Ela não aceita nada, nem a comida e nem carinho. Nada consola a garotinha. Renato se
desespera. __ Eu não sei o que posso fazer pra ver minha filha bem. __ diz ele. __ Logo
ela vai melhorar, seu Renato. Vamos ter calma e paciência. __ diz Letícia. Camila se
aproxima de Rafaela para tentar fazê-la parar de chorar, mas a garotinha cai no choro. __
Minha florzinha, diga pra nós o que podemos fazer pra lhe ajudar? __ diz Camila. __ Eu
quero a Branca. Chama ela. Eu quero a Branca. __ diz Rafaela chorando e chamando
insistentemente por Branca. __ Minha flor, deixe disso. Aqui todos querem te ajudar. A
Branca não é melhor do que nenhum de nós aqui. __ insiste Camila. Rafaela chora muito.
Renato fica apreensivo por não conseguir falar com Branca.
Letícia pega Rafaela no colo e sai pelo corredor do hospital cantando para ela. No
quarto permanecem Renato e Camila. __ Eu tenho que encontrar a Mulher Maravilha
urgente. Só ela vai conseguir acalmara a minha filha. __ diz ele. __ Que isso Renato. Se
essa moça realmente se importasse com a Rafinha, ela já teria sido localizada. __ diz
Camila maliciosamente. __ E para de chamar ela de mulher maravilha. Que brega! __
completa ela. __ Ela deve gostar mesmo é só do dinheiro que você paga pra ela. __ insiste
Camila. __ Você está equivocada, Camila. Deve ter acontecido alguma coisa com ela. Se
ela imaginar por algum momento que a Rafa está no hospital, ela vem correndo. Ela ama
a minha filha, tenho certeza disso. __ diz ele. __ Ela ama é o salário dela, Renato. Você
é muito ingênuo. __ alfineta Camila.
Letícia volta para o quarto com Rafaela dormindo nos braços dela. __ Ela dormiu.
Quando acordar, vai estar melhor. __ diz ela botando Rafaela no leito. __ Graças a Deus.
__ diz Renato.
Renato se ajoelha ao lado do leito da filha e começa a rezar. Ele pede a Deus que
cure a filha. Que tire esse sofrimento e essa angústia. Renato pede a Deus conforto e
sabedoria para conduzir toda essa situação e ele pede também que Deus localize Branca
e traga ela para o hospital.
Letícia de longe observa apreensiva e ansiosa, pois ela sabe bem do prognóstico
da garotinha e sabe que uma complicação dessa pode levar Rafaela a óbito. __ Ai que
ambiente tenso, pesado. Eu vou é cair fora. Não sou obrigada a ficar aqui. Não sou mãe
dessa praguinha. __ diz Camila, em pensamentos. Ela se despede de todos e vai embora.
A noite chega. Rafaela demora para acordar, Letícia estranha e logo aciona o
médico. Ele avalia Rafaela e encaminha a pequena para a UTI. Renato e dona Beatriz
ficam inconsoláveis. Rafela passa a noite na UTI e ao amanhecer o médico da UTI chama
os familiares e fala que o estado de saúde é grave e que está sendo realizado neste
momento mais uma transfusão de sangue. Na porta que dá acesso a UTI, Renato que está
abraçado à mãe, fica em silêncio. __ Meu filho, vamos rezar. Deus vai restaurar a saúde
da nossa pequena. Não perca a sua fé. __ diz dona Beatriz, consolando o filho. As lágrimas
escorrem pelo rosto dele.
Branca nem imagina o que está acontecendo com Rafaela. A notícia corre em
todos os noticiários e redes sociais. Gleyce fica sabendo através de colegas de serviço que
Rafaela está grave na UTI. Ela tenta falar com Branca, mas não consegue. Gleyce decide
então ir até o hospital onde a garotinha está internada. __ Dona Beatriz, seu Renato eu
vim saber notícias da Rafaela. Estou muito preocupada. __ diz ela.
Renato e dona Beatriz estão numa salinha reservada aguardando por notícias. __
Minha filha não está bem. Tô desesperado. Não sei mais o que fazer. Não consigo falar
com a Branca. Ela é a Mulher Maravilha que tem o poder de resolver tudo. Por acaso
você sabe onde mora essa prima que ela foi visitar? __ pergunta ele. Gleyce até que foi
decidida a dizer o paradeiro de Branca, mas ela percebeu que revelar a verdade pode ser
pior do que a própria mentira, então ela achou melhor deixar quieto. ___ Eu não sei, seu
Renato. Já liguei pra ela e a ligação só cai na caixa postal. Vou continuar tentando, viu.
__ responde ela.
Gleyce sabe que Branca não deve ter nenhuma ideia do que esteja acontecendo
com Rafaela. Todos sabem do carinho e amor que ela sente pela garotinha e com certeza,
sabendo da situação, ela já estaria ali no hospital junto de todos.
Gleyce tem a ideia de ligar no hotel fazenda para tentar falar com Branca. Ela liga,
mas a ligação é direcionada à caixa postal. __ Ela deve ter seguido o meu conselho e
desligado o celular. Meu Deus, eu só dou conselho errado. Eu sou uma merda de amiga
mesmo. __ diz Gleyce, em pensamentos. __ Eu não acerto uma. __ completa ela, falando
sozinha.
O sábado passa. Renato permanece no hospital o tempo todo. Ele recebe milhares
de mensagens de apoio, muitos fãs vão para a frente do hospital e fazem uma corrente de
orações. O carinho dos fãs é intenso e ele se emociona.
Ele decide dá uma entrevista coletiva para explicar a situação de saúde da filha,
em consideração ao carinho dos fãs e aos profissionais da imprensa que trabalham com
seriedade e noticiam assuntos verdadeiros e com fundamentos.
Camila chega ao hospital e vibra por não ver Branca ali. Ela não gosta de hospitais
e está indo mesmo só para fazer média para o Renato, porque na verdade ela só se importa
mesmo é com ela. __Passei só pra saber notícias da Rafinha e ver como você estar,
Renato. __ diz ela. __ A Rafa ainda tá na UTI. Ela tá do mesmo jeito. __ responde ele. __
Coitadinha! Mas vamos continuar rezando pra ela sair dessa. __ diz ela. __ Muito
obrigado pelo carinho, Camila. __ diz Renato. __ Não precisa agradecer. Eu gosto da
Rafinha e me preocupo com ela. E falando em se preocupar... Você conseguiu falar com
a outra enfermeira, aquela do nome estranho? __ pergunta ela. __ O nome dela é Branca.
Ainda não consegui falar com ela. Deve ter acontecido alguma coisa. Eu já tô preocupado
com ela também. Ela não é de ficar sem dar notícias desse jeito. __ explica ele. __ Se
preocupe só com a sua filha. A Branca deve estar bem. Deve tá com algum namoradinho.
É final de semana e ela tá de folga. Tem mais é que aproveitar a folguinha pra namorar
mesmo. Não se preocupe com ela. Deixe de ser bobo. __ maliciosamente diz ela. Como
Renato está com a mente muito cansada por causa de todo o problema da filha, ele não
assimila o que Camila acabou de falar.
Camila faz companhia para Renato até a noite. __ Muito obrigada por ter vindo e
por se importar comigo e com a minha filha. Sou muito grato pela sua amizade. __ diz
ele. Ela dá um beijo e um abraço nele. __ Renato, se precisar de alguma coisa, me ligue
que chego aqui rapidinho. Eu vou embora porque já está tarde. __ diz ela. __ Pode ir,
minha querida. Eu vou ficar aqui com o meu filho. Ele disse que só vai sair daqui com a
Rafa no colo. __ diz dona Beatriz, que acabou de chegar ao hospital. Eles permanecem
no quarto aguardando Rafaela sair da UTI.
No domingo cedo, Rafaela tem uma melhora e retorna para o quarto. Renato
respira mais aliviado. __ Oi papai! __ diz a garotinha, logo que chega. __ Oi, meu amor!
Papai estava com saudades da princesinha dele. __ diz ele com os olhos brilhando cheios
de lágrimas. __ Oi, meu anjo! A vovó também estava com saudades da netinha. __ diz
dona Beatriz também emocionada. __ Oi vovó! Cadê a Branca? __ pergunta a garotinha.
Renato e dona Beatriz se olham, sem saber o que falar.
Depois de Branca, Rafaela gosta muito de Letícia. Renato liga para Letícia para
saber se ela tem possibilidade de ir até o hospital. __ Vou sim, seu Renato. Daqui uma
hora no máximo já estou aí. __ diz Letícia.
A noite de domingo chega. Branca retorna para casa toda alegre e feliz. Ela deixa
a mala no quarto e aproveita para ligar o telefone, que ela deixou desligado todo o final
de semana. Ela assusta a hora que começam a chegar as mensagens. Ela se desespera ao
saber que Rafaela está internada e que até para a UTI a garotinha foi.
Rapidamente ela vai até o hospital e se depara com Renato e Letícia no quarto.
Ela corre até o leito da garotinha. Renato se levanta e vai até ela. __ Oi Mulher Maravilha!
Tô feliz em ver você. __ diz ele, levando uma das mãos ao ombro dela que se vira para
ele e dá um abraço bem apertado. __ Ficamos desesperados atrás de você. Eu não sabia
mais o que fazer. Achei que fosse perder a minha filha. __diz ele. Ela se emociona. __
Me desculpe. Por favor me desculpe mesmo. Eu não sabia que a Rafaela não estava bem.
Eu queria descansar um pouco, por isso deliguei o telefone. Nunca mais faço isso, eu
prometo. __ diz ela ainda abraçada a ele e com os olhos cheios de lágrimas. __ Não
desapareça mais desse jeito. Rafaela te ama e só chamava pelo seu nome. __ diz ele.
Branca chora e Letícia também respira mais aliviada. __ Não querendo interrompe, mas
eu também tô muito feliz em ver você, Branca. __ diz ela. Branca vai até ela e lhe dá um
abraço. __ Ainda bem que a Rafaela também tem você. __ diz Branca.
Com as conversas no quarto, Rafaela acorda, Branca enxuga as lágrimas que
escorrem pelo rosto e abre o sorriso. __ Oi meu amor! __ diz ela passando a mão na
cabeça da garotinha que está nesse momento sem a peruca. __ Branca você veio. Achei
que você também tinha virado Mulher Maravilha igual a minha mamãe. __ diz a garotinha
com uma voz fraquinha. __ Como assim meu amor? Do que você está falando? __
pergunta Renato, com uma expressão no rosto de quem não está entendendo nada do
diálogo. __ Será que ela está delirando? __completa ele, olhando para Branca que sorrir
e chora ao mesmo tempo. ___ Não. Ela não está delirando. Pelo contrário, ela está muito
consciente. __ responde Branca, olhando para a garotinha. __ Branca, promete que você
nunca vai me deixar? Eu não quero que você vire Mulher Maravilha. __ diz a garotinha.
Os olhos de Branca brilham por causa das lágrimas que se formam, mas ela se mantém
firme e segura o choro para não mostrar fraqueza na frente da garotinha. Ela passa a mão
no rostinho de Rafaela e abre um sorriso. __ Meu amor, se Deus permitir, eu nunca vou
te deixar. Você vai ter que me aturar muito tempo viu. __ diz ela. Renato finalmente dá
um suspiro de alívio.
Leticia se despede e vai embora. Branca e Renato permanecem no hospital.
Durante a madrugada, enquanto Rafaela dorme, eles conversam. Branca está
sentada em uma poltrona bem confortável e Renato está bem à vontade em um sofá de
três lugares. __ Você vai me passar o endereço dessa sua prima e de todos os parentes
que você tem por aqui. Nunca mais vou deixar você sumir desse jeito. __ diz ele sorrindo
aliviado. __ Não se preocupe, depois desse susto, nunca mais vou pra canto nenhum sem
avisar e levar pelo menos uns três telefones. __ responde ela. __ Você não tem noção do
tanto que a Rafaela te ama. __ diz ele. Branca fica em silêncio por alguns instantes. __
Eu também amo muito a sua filha. Me apeguei demais a ela e sofro muito por vê-la desse
jeito. __ diz ela olhando para a garotinha dormindo parecendo um anjinho. __ Amanhã
eu vou falar com o oncologista. Creio que a Rafa já possa continuar o tratamento em casa.
__ completa ela. __ Muito obrigado por você ter aparecido nas nossas vidas. __ diz
Renato. __Eu que agradeço. Tudo o que vocês têm feito por mim, não tem preço. __ diz
ela __ Vou ligar pro Alecsander pra avisar que vou ficar por aqui. Só um minuto. __
completa ela que se levanta e vai até um canto do quarto. Ela liga para o filho, eles
conversam por alguns instantes, ela desliga e se senta no mesmo sofá que Renato está
sentado.
Branca segura as mãos dele, o olha bem dentro dos olhos e se explica: __ Renato,
vocês estão fazendo muito mais por mim do que eu por vocês. E sem falar na nova família
que eu ganhei. A Rafa é um amor de criança. Eu sinto um carinho tão grande por ela que
chega a doer meu peito só de pensar que alguma coisa possa acontecer. Eu cuido dela
como se estivesse cuidando do Alecsander. É muito amor envolvido. __ diz ela,
segurando às mão dele. __ Você apareceu na minha vida na hora certa. Não sei o que
seria de mim sem você. Não sei o que seria da Rafa sem você. A Rafa não iria aguentar
passar por tudo isso sem o carinho e amor que você tem por ela e sem a sua competência
como profissional também. __ diz ele. __ Eu não vivo mais sem essa pequenina. Ela faz
parte da minha vida agora. __ diz ela. __ E você faz parte das nossa vida também. __
completa ele. Branca solta as mãos dele, se afasta um pouco e senta bem no canto do sofá,
o mesmo sofá que ele está sentado. __ A noite vai ser comprida. __ diz ela, mudando de
assunto.
Ela encosta a cabeça na parede e pensa. Ela pensa na vida dela como mudou nos
últimos meses. Ela pensa no filho que ficou em casa com a Júlia. __ Pensando em alguma
coisa muito séria? __ pergunta Renato. __ Não. Só na vida mesmo. Como ela é
imprevisível e cheia de surpresas. __ responde ela. __ Isso é verdade. Nós dois somos
exemplos disso. __ diz ele. __ Somos tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais, com
história de vida semelhante. __ completa ela. __ Vai entender o destino. __ completa
Renato.
Ela, por alguns instantes, fecha os olhos e cochila, Renato percebe, se aproxima e
quando vai acomodá-la no sofá, ela desperta. Ele puxa ela levemente e a acomoda deitada
com a cabeça no colo dele. __ Pode deitar aqui, eu não mordo e nem tiro pedaço. __ diz
ele. Ela fica sem graça, se vira de lado e deita com a cabeça no colo dele. Ele começa a
passar a mão nos cabelos dela fazendo cafuné. __ Assim eu durmo com gosto. __ diz ela
sorrindo. __ Pode dormir. Prometo não te morder. __ diz ele também sorrindo. __ Graças
a Deus a Rafa está melhor. __ diz ela. __ Foi só você chegar e ela já melhorou muito
mesmo. Me diz que poder é esse que você tem? __ pergunta ele. __ Ora, o poder da
mulher maravilha. __ prontamente responde ela sorrindo. __ Eu já tô acreditando de
verdade que você tem um poder mesmo. __ insiste ele. Ela sorrir. __ Você é muito
engraçadinho. __ completa ela.
Amanhece. Renato e Branca dormem no sofá. Branca com a cabeça no colo dele.
O oncologista entra no quarto e os acorda: __ Bom dia crianças! __ diz doutor Fonseca.
Branca se assusta e se levanta arrumando os cabelos. __ Bom dia doutor! __ responder
ela. __ Vocês podem ir pra casa. Podem descansar, dormir, e o melhor: podem levar a
pequena Rafaela com vocês. Ela vai continuar o tratamento em casa. __ diz doutor
Fonseca. Renato abre um sorrisão e Branca prontamente dá um abraço nele e em seguida
vai até o leito de Rafaela e acorda a pequenina: __ Acorda meu amor. Nós vamos para
casa. O café da manhã vai ser com a sua vovó hoje.
Na residência, dona Beatriz respira mais aliviada ao ver a netinha chegando. __
Como eu orei pra Deus restabelecer a saúde da minha netinha. __ diz ela, ao ver a netinha
chegado no colo do pai. __ Deus sempre escuta as orações quando vem do coração, dona
Beatriz. Rafaela está de volta em casa. __ responde Branca.
11:00 horas, Branca vai buscar o filho na escola e leva para a mansão. De volta
ela se depara com Camila no quarto de Rafaela. Camila está sentada numa poltrona
segurando um livro e contando uma historinha para a garotinha. Renato está sentado num
sofá de três lugares com um notebook no colo. Ele está organizando a agenda de shows.
Alecsande se aproxima da cama da garotinha e entrega um presente para ela. __ É pra
você, Rafa. __ diz ele. Rafaela abre um sorrisão. __ Oba! __ diz a garotinha. __ Agradeça
ao Alecsander, meu amor. __ diz Renato. __ Obrigada, Alecsander! __ responde a
garotinha que logo abre o presente e se depara com uma boneca de pano. Ela sorrir e
abraça a boneca.
Branca se senta no mesmo sofá que Renato está. Camila olha e não gosta. Ela se
levanta e vai até o sofá. __ Branca termine de ler o livro para Rafaela. __ diz ela,
estendendo a mão para entregar o livro para Branca. __ Termino sim. Mas não preciso de
livros. __ responde Branca se levantando. Renato que está mexendo no notebook não
percebe a situação desconfortável. Branca vai para perto da cama de Rafaela e começa a
contar suas historinhas. A garotinha fica vidrada e Alecsander que está ao lado dela
também presta atenção. Camila se senta no sofá ao lado de Renato e fica observando
Branca com as crianças. __ Mas é muito atrevida essa enfermeirinha. __ diz ela, em
pensamentos. __ Esse atrevimento dela logo logo vai acabar. __ completa ela, também
em pensamentos.
Luíza aparece e chama todos para almoçar. Dona Beatriz gosta que almocem
juntos à mesa, mas quando Rafaela não está muito bem, ela faz as refeições no quarto. __
Eu não quero comer. __ diz Rafaela. __ Mas vai ter que comer um pouquinho dona Rafa.
Eu vou buscar e vou dar tudinho na sua boquinha. __diz Branca se levantando. Renato se
levanta também e vai em direção a Alecsander. __ Eu levo o Alecsander para baixo. Ele
almoça com a gente lá. __ diz ele empurrando a cadeira de rodas do garotinho. __ Eu
almoço com a Rafa aqui no quarto. __ completa Branca.
A semana passa e Renato desmarca todos os shows, menos um que irá acontecer
na capital paulista no final de semana.
Doutor Samuel passou a semana toda ligando para Branca e chamando para jantar.
Ele está maluco para sair com ela, mas os contra tempos não permitem. Ele vem
alimentando uma tara muito grande por ela desde a última vez que se viram e não vai
sossegar enquanto não a levar para a cama, mas isso também não o impede de seguir sua
vida noturna agitada com belas moças.
Renato convida Branca para um show dele no final de semana e ele também
estende o convite às colegas de serviço do hospital. O convite é para curtir o show do
palco. __ E ai, vai rolar? Será que suas colegas do hospital aceitam o convite? __ pergunta
ele. Branca que está com a Rafaela sentada em seu colo vibra muito. __ Se aceitam? Elas
vão amar. Vai ser a maior alegria da vida delas. Não vou aguentar a ansiedade até a noite
e já vou é logo mandar mensagem aqui no grupo. __ diz ela ansiosíssima. Ela manda
mensagem no grupo de amigas do hospital convidando a todas para o show de sábado à
noite e logo o assunto vira um alvoroço no grupo. Todas querendo ir. As que estarão de
plantão no dia do show se lamentam. A notícia se espalha e chega aos ouvidos de doutor
Samuel. __ Você tá sabendo Samuel, que a sua namoradinha arrumou ingressos pra todos
aqui do hospital pro show de sábado do Renato Dias? Com direito a assistir o show do
palco e tudo. __ diz um médico, colega de plantão. Os dois estão no repouso médico
sentados assistindo televisão. __ Eu recebi uma mensagem aqui, mas achei que fosse fake
News. __ responde ele. __ Essa sua namoradinha tá famosa e tá com um moralzão
também. Se você não assumir logo esse namoro você vai rodar. __ completa o colega.
Doutor Samuel não gosta do comentário. __ Cada um com os seus interesses. __ responde
ele que encerra o assunto.
Já são 21:00 horas, Branca está no plantão do hospital, em pé recostada sob uma
bancada conferindo todos os prontuários dos pacientes internados. Doutor Samuel chega
de surpresa por trás dela e dá um abraço. Ela se assusta, se levanta rapidamente e se afasta
dele. __ Samuel, já falei que não gosto dessas gracinhas no ambiente de trabalho. __ diz
ela. __ Não consigo resistir, gata. É mais forte que eu. Mas sempre te respeitei, você sabe
disso. __ diz ele, se aproximando dela novamente. __ O que você tá fazendo aqui? Não é
seu plantão. __ pergunta ela. __ Vim olhar dois pacientes e aproveitei pra visitar a minha
mulher maravilha. __ diz ele. __ A fala sério! Até você vai começar a me chamar assim?
__ diz ela. Ele sorrir. Na verdade, Branca gosta apenas que Renato a chame assim, o
restante, ela acha que estão sendo irônicos e doutor Samuel está sendo irônico. __ Mas
você é uma mulher maravilha. Muito linda e muito gostosa também. __ responde ele. Aos
olhos dela, hoje ele está incrivelmente lindo e muito sedutor. Ela olha para ele de cima
em baixo. __ Muito obrigada, mas creio que todas as mulheres são lindas e gostosas, pra
você. __ diz ela. __ Claro que não, gata. Você é a minha rainha. A mais linda de todas.
__ completa ele. __ Sei. __ indaga ela. __ Gata, que show é esse que você vai levar o
povo aqui do hospital? É verdade ou é fake News? __ pergunta ele cruzando os braços e
se encostando na parede. __ Pois é, meu chefe vai presentear a turma aqui do hospital.
Quem quiser ir tá liberado. Ele é muito generoso, sabe. __ diz ela. __ E você... vai? __
pergunta ele. __ Claro que eu vou e você vai comigo, não vai? __ pergunta ela. __ Não.
Eu não vou poder ir. E eu não gosto das músicas desse seu chefe. __ responde ele. __ O
mentira! Você não sai dos shows dele que eu sei. __ diz ela sorrindo. __ Não gosto mais.
Perdeu a graça. __ insiste ele. Branca sorrir. __ Tá bom. Vou acreditar, mas o convite tá
feito, querendo ir curtir o show do palco o convite tá feito. __ completa ela. __
Combinado. Você me acompanha até ao estacionamento, dona Branca? __diz ele,
posicionando o braço para ela o acompanhar. __ Claro, doutor Samuel. __ responde ela.
No estacionamento, doutor Samuel agarra Branca pela cintura. __ Pronto. Aqui
não é ambiente de serviço e não acredito que você vai me negar um beijo. __ diz ele.
Quando ela vai abrir a boca para falar, ele cala ela com um intenso e calorosamente beijo.
Ele aperta ela forte contra ele. Ela se entrega ao beijo e esquece do tempo. Após alguns
minutos de um beijo muito quente, ela se assusta e se afasta. __ Meu Deus! Tenho que
voltar. Vou acabar perdendo o meu emprego por tua causa. __ diz ela. Ele puxa ela
novamente para ele. __ Fica mais um pouco, gata. __ diz ele, beijando ela novamente.
Ela tenta se afastar e sair do abraço forte dele, mas não consegue. __ Tenho que voltar.
Tô falando sério. __ insiste ela, tentando sair dos braços dele, só que não, ela não quer
sair desses braços fortes e que abraça ela tão gostoso. __ Vamos combinar assim: no
sábado você sai com a gelara do hospital pra esse tal show e no domingo você sai comigo,
pode ser? __ diz ele entre os beijos. __ Levamos o Alecsander ao cinema e depois a gente
faz alguma coisa, bem juntinhos. __ completa ele beijando ela a cada palavra que fala. __
Gostei da ideia. Mas só topo se você me deixar ir agora. __ diz ela. Ele a solta
imediatamente. __ Gata, você tá me deixando doido. Eu não sei até quando vou aguentar
você me enrolando desse jeito. Não me enrola mais não. Eu quero você. __ insiste ele.
Branca se aproxima dele novamente, dá um selinho e se afasta. __ Eu também te quero.
__ diz ela que sai andando sem olhar para traz. Ele abre um sorrisão e fica olhando ela
caminhando para dentro do hospital. Ele arruma o cabelo, ajeita a alça, entra no carro e
vai embora.
Finamente chega o tão sonhado sábado à noite. Um grupo de mais ou menos 20
colaboradores do hospital, sendo a maioria mulheres, já esperam no palco. Branca é uma
das últimas a chegar junto com a amiga Gleyce e Letícia.
Camila chega com duas amigas, mas elas ficam afastadas do grupo do hospital.
Renato não demora muito e sobe ao palco. A noite está estrelada. O ginásio está lotado.
Renato está mais animado do que o normal. Parece até que bebeu bastante antes
de subir ao palco, mas ele bebeu apenas água de coco. A animação dele tem nome e se
chama Branca, ou melhor, Mulher Maravilha como ele mesmo chama. __ Boa noite a
todos. É um imenso prazer estar aqui hoje junto com vocês. Os últimos dias não tem sido
fácil, mas vocês são a minha força... a minha fortaleza. Hoje o show é dedicado a todos
os trabalhadores da saúde, a todos os profissionais de saúde: médicos, enfermeiros,
técnicos, assistentes, recepcionistas, serviços gerais, enfim, a todos que atuam na batalha
salvando vidas diretamente ou indiretamente de pessoas que muitas vezes são as pessoas
que amamos, são da nossa família. Um abraço bem especial a todos que estão nessa
batalha. Hoje aqui no palco, tenho a honra de receber vários desses trabalhadores. Uma
salva de palmas para todos. __ diz Renato em seu breve discurso.
O público aplaude bastante. Branca e toda a turma do hospital se emocionam.
Renato vai até o grupo do hospital e todos dão um abraço coletivo.
Em um dos camarotes está doutor Samuel com uma turma de amigos também
médicos. Ele disse para Branca que não iria ao show, mas decidiu ir por curiosidade, ela
nem desconfia que ele está no show.
O show acontece. Renato faz várias homenagens aos trabalhadores da saúde. A
turma do hospital vibra muito. Do outro lado do palco, Camila com suas amigas também
se divertem.
Falta pouco para o show terminar, Renato vai até os músicos da banda, sussurra
alguma coisa com eles e depois retorna para o centro do palco. __ É o seguinte: a moça
que vai dançar comigo hoje não está na plateia, ela já está no palco. É uma moça muito
especial pra mim e vai dançar comigo uma música também muito especial pra nós. __ diz
ele olhando para o público. Camila fica toda animada. Ela se ajeita e sussurra com as
amigas que é ela quem vai dançar com ele. No grupo do hospital, Letícia e Gleyce olham
para Branca. __ Que isso meninas. Deve ser a chata da Camila quem vai dançar com ele.
__ diz Branca. __ Eu acho que será você a escolhida da vez. __ diz Letícia. __ Com
certeza é você. __ afirma Gleyce.
Branca está lindamente vestida com um macacão preto decotado no colo e usando
um sapato salto 15 que a deixa mais alta e elegante. O cabelo, que ainda está curto, ela
usa lisinho partido ao meio. A maquiagem é nude que destaca bem os cabelos negro da
pele clarinha dela.
Renato se dirige ao grupo do hospital, vai até Branca que está no meio da galera.
Ele segura a mão dela e a convida para ir até o centro do palco. __ Você tá doido, Renato?
__ diz ela. Ele puxa ela levemente até o meio do palco. Ela fica com muita vergonha. __
Renato você ficou maluco. __ diz ela olhando discretamente para o público enquanto
caminha. __ Que vergonha. __ completa ela. Renato apenas sorri. Na lateral está Camila
que não consegue esconder a cara de surpresa e ódio ao ver a cena. Ela tinha certeza que
seria a escolhida. __ Eu não acredito nisso. O Renato não pode fazer isso comigo. __ diz
ela, falando sozinha. As amigas dela nem prestam atenção no que ela diz, pelo contrário,
elas ficam tão eufóricas que acabam aplaudindo junto com o público.
No meio do palco, Branca não consegue esconder a cara de vergonha. Ela olha
para ele e balança a cabeça negativamente. __ O que você tá fazendo? __ pergunta ela
com um sorrisinho amarelo no rosto, mas um sorrisinho de vergonha mesmo. Renato
abraça firma ela e começa a cantar a música de Jorge e Matheus “Duas Metades”. Ele
dança com ela. A plateia observa atentamente e canta junto com ele.
Do camarote, Doutor Samuel observa a cena e fica de queixo caído. Os amigos
começam a zoar com ele, mas ele está tão entretido observando os dois no palco que nem
escuta o que dizem os amigos.
Renato antes de cantar o refrão da música, se posiciona na frente de Branca e
segura firme a mão dela. Ele olha fixamente nos olhos dela enquanto ela fica toda
vermelha e o coração acelera, então ele canta: __ “...O que de um grande amor se espera...
É que tenha fogo...
Que domine o pensamento...
E traga sentido novo...
Que tenha paixão, desejo....
Que tenha abraço e beijo...
E seja a melhor sensação...
Que preencha a vida vazia...
Manda embora a agonia....
E que traga paz pro coração...
É vocêêêê”...
Nesse momento Renato afasta o microfone, vai até o ouvido dela e sussurra: ___
É você que eu amo. Sinto um frio na barriga toda vez que te vejo. __ completa ele
enquanto a música continua apenas no instrumental. Branca fica estátua com o semblante
apreensivo. Renato então a beija intensamente. Os braços dele envolvem a cintura fina
dela e ela corresponde ao beijo. A plateia vibra. A equipe do hospital aplaude e doutor
Samuel dar as costas para o palco e vai embora. Camila enfurecida leva as mãos à cabeça
e grita: __ Nãooooo. Isso não está acontecendo. __ diz ela. As amigas também vibram
com o beijo. Branca começa a curtir o beijo até que cai na real e se afasta.__ Eu te amo.
__ diz ele sorrindo e somente mexendo os lábios para ela fazer a leitura labial. Sem reação,
ela volta para o grupo, que a recebe com muitos aplausos e gritos. Renato continua
cantando a música.
__ O Renato não podia ter feito isso. O que eu vou falar pro Samuel? __ diz ela.
__ Ai amiga esquece o Samuel e pensa só no beijaço que você acabou de ganhar. Eu sabia
que o Renato estava afim de você. Eu sabia não, eu tinha certeza. Eu quero ser a dama de
honra desse casamento. __ diz Gleyce bastante empolgada. __ Eu também já desconfiava
pelo jeito que ele olha pra ela lá na mansão e pelo jeito que ele fala dela também. __
completa Letícia. Branca fica totalmente apática. __ Amiga ele te ama. Ele disse pra todo
mundo ouvir que ele te ama. __ continua Gleyce pulando em volta de Branca.
Branca passa o restante do show sem graça e Gleyce falando no ouvido dela.
Renato termina o show fazendo mais uma homenagem aos profissionais da saúde. Camila
se despede das amigas e se retira do palco antes do show acabar e ela vai direto para o
camarim esperar por Renato.
Renato sai do palco e vai até o grupo do hospital, ele chega até Branca e dá um
beijo no rosto dela. __ Te espero no camarim. __ diz ele. __ E quem quiser conhecer o
camarim estão todos convidado. __ completa ele se referindo ao restante do grupo. Ele
sai e vai direto para o camarim. __ Amiga, é óbvio que nós vamos, né? __ pergunta
Gleyce. __ Amiga eu vou embora. Vão vocês. Pra mim chega de emoções por hoje. __
responde Branca. __ Amiga larga de ser chata. Você vai fazer essa desfeita pro Renato?
__ insiste Gleyce. __ Deixa ela ir, Gleyce. Branca tá com a cabeça confusa e eu entendo
ela perfeitamente. __ diz Letícia. __ O cara mais gato do Brasil deu um beijaço na minha
amiga e agora a tonta vai embora e vai deixar o gato chupando dedo esperando por ela lá
no camarim? Não acredito nisso. __ insiste Gleyce. __ Eu tô indo. Vão vocês pro
camarim. Fui! __ diz Branca, se despedindo.
No camarim, Renato ver o grupo do hospital chegar, mas não ver Branca. Camila,
que está muito nervosa aguarda ele terminar a sessão de fotografias. Renato vai até
GLeyce e Letícia e pergunta por Branca e elas informam que ela já foi embora. __ Ela
deve está chateada, não é? __ pergunta ele. __ Não. Ela é assim mesmo. Minha amiga
gosta das coisas certinhas e ela é muito tímida. Deve tá só com vergonha mesmo. __
esclarece Gleyce.
Renato pega o telefone e liga para ela. __ Cadê você? To te procurando. Não
acredito que foi embora. __ diz ele. Branca já está dentro do carro a caminho de casa. __
A gente conversa depois, pode ser? Tô muito confusa. Preciso de um tempo. __ responde
ela. __ Tudo bem. Achei que você viria aqui no camarim, mas eu te entendo. Vá com
cuidado e me avise quando chegar em casa. Beijos. Te amo. __ diz ele. Ela escuta e
encerra a ligação sem dar uma palavra. Ele retorna para a sessão de fotografias e
autógrafos. De pouco a pouco o camarim vai esvaziando.
Gleyce, que não para de olhar para Camila, vai até ela para cumprimenta-la. Na
verdade ela vai mesmo para debochar __ Oi! Você é a amiga do Renato, não é? Nos vimos
na casa dele. Lembra de mim? __ diz ela estendendo a mão para cumprimentar Camila.
__ Não. Eu não me lembro de você, querida. __ responde Camila. É lógico que ela lembra
de Gleyce, pois tudo o que se refere ao Renato e à Branca Camila faz questão de lembrar,
mas ela não dá o braço a torcer. __ Então você não deve ser amiga do Renato não. Devo
estar confundindo com outra pessoa. Você deve ser só mais uma fã que deve tá esperando
pra tirar foto com ele e pegar um autógrafo. Tchau! Fique com Deus!__ diz Gleyce, que
termina de falar e sai rapidamente deixando Camila sem resposta. Gleyce não está se
confundindo, ela lembra muito bem de Camila, como poderia esquecer da chata que
desdenhou dela na casa de Renato. E Gleyce adora um deboche quando ela julga que a
pessoa não é legal.
Camila se levanta e vai até Renato, que está conversando com um grupo de
amigos. __ Renato você me deixa em casa? __ pergunta ela. __ Deixo sim. Me espera uns
dez minutinhos. __ responde ele.
Camila fica ao lado de Renato e interage com o grupo de amigos dele também.
Ela é uma moça bem extrovertidas, porém é ambiciosa, maliciosa, invejosa, esnobe,
mesquinha e muito mimada.
No caminho de volta para casa, Renato vai no carro dele e leva Camila. __ Renato,
e aquele beijo que você deu na enfermeira, o que foi aquilo? __ pergunta ela, com um ar
de curiosidade, mas na verdade ela quer é saber mesmo se ele sente alguma coisa por
Branca. __ Pois é Camila. Eu tô gostando dela de verdade. __ responde ele, dirigindo e
olhando atentamente para a estrada. Camila se assusta. Ela não esperava ouvir essa
resposta. Ele poderia simplesmente falar que era só mais uma aventura, ou apenas que
estava carente, mas dizer que está gostando dela já é fim. Camila não aceita. __ Mas
Renato, você tem certeza? Às vezes é só carência e você está confundindo com outra
coisa. __ insiste ela. __ Não, Camila. Não é de hoje que sinto admiração por ela. Não é
de hoje que eu penso nela. __ insiste ele. __ Olha amigo, eu acho que você está se
precipitando demais viu. __ diz ela. __ Você acha? __ pergunta ele.
Renato confia em Camila e mesmo percebendo que ela pode ter algum sentimento
por ele além de amizade, ele não deixa de conversar sobre suas coisas com ela. __ Renato,
essa moça deve está se aproveitando do fato de você está carente. __ diz ela. __ Não creio.
Ela é uma pessoa muito segura de si. Não creio que seja interesse. Eu que tô correndo
atrás dela e não ela de mim. __ insiste ele. __ Mas pode ser uma jogada dela pra te
conquistar. Abra seus olhos. __ insiste Camila maliciosamente. __ Eu vou observar. Não
se preocupe, sei me cuidar. __ responde ele que muda de assunto. Camila tenta insistir,
mas ele novamente muda o assunto até que ela percebe que ele não quer mais falar sobre
Branca.
Enquanto isso, doutor Samuel chega na rua onde Branca mora. Institivamente ele
dirigiu até lá. No momento cai uma chuva muito forte no bairro. Ele se recusa a acreditar
que viu Branca e Renato se beijando no palco. __ Não acredito que tô aqui parado na
frente da casa dela. Não posso correr atrás dessa mulher assim desse jeito. A mulher que
eu quero, eu tenho. Mas porque eu não consigo ter essa? Porque eu quero exatamente
essa? Porque que tô aqui parada nessa chuva esperando sei lá o que? O que ela tem de tão
especial? __ diz ele incansavelmente, sozinho dentro do carro que está parado do outro
lado da rua na frente da casa de Branca.
Ele permanece ali, dentro do carro parado debaixo de muita chuva. Ele fica se
lamentando e lembrando dos amigos que zoavam dele dizendo que ele ainda ia perde-la
para outro. De repente ele ver um carro parar bem na frente da casa dela. Ela desce e
rapidamente entra na casa. Prontamente ele estaciona o carro e vai em direção a casa. Ele
toca a campainha, ela olha pela janela e o vê ali debaixo de chuva. Rapidamente ela abre
o portão no controle remoto, depois a porta e ele entra. Ela está molhada com uma toalha
nas mãos secando os cabelos. Ela fica surpresa ao vê-lo ali. __ Samuel, o que você está
fazendo aqui à essa hora e debaixo de toda essa chuva? Ficou maluco?__ pergunta ela.
__ Eu não acredito que você está ficando com aquele cara. Você mentiu pra mim? Por
que? Por que você fez isso comigo? __ pergunta ele, eufórico e nervoso. Branca,
imediatamente antes de responder qualquer coisa, vai até um dos quartos e pega uma
toalha para ele. __ Do que você está falando? __ pergunta ela, sem entender o
questionamento dele. __ Eu vi você beijando aquele cara lá em cima do palco... e e e toda
aquela gente vibrando, achando o máximo. E você pagando de santinha pra mim. Tá
explicado porque toda vez você foge de mim. __ diz ele, muito nervoso.
Ela fica surpresa ao ouvir ele falando essas coisas. __ Será que a notícia já se
espalhou? Ou será que ele também estava no show? __ se questiona ela, em pensamentos.
__ Como assim? Do que você está falando? __ pergunta ela.
No meio da sala da casa dela, ele perde toda a elegância e a educação ao questiona-
la sobre a atitude dela no show. Mas na verdade a atitude foi de Renato. Branca não
esperava por aquele beijo no palco. Dessa vez Renato extrapolou. Mas no fundo ela
gostou. Ela ficou surpresa, mas gostou muito do beijo.
Doutor Samuel está todo molhado e a água escorre pelo chão. __ Você não
precisava mentir pra mim e nem me enrolar tanto desse jeito. Era só ter falado que não
estava afim e pronto. Agora ficar pagando de santinha foi demais pra mim. __ completa
ele. __ Eu não paguei de santinha como você está falando e também não sou esse tipo de
mulher que você deve estar pensando, viu. __ diz ela. __ Santinha sim. Você vive pagando
de santinha pra todo mundo. Mas de santinha, você não tem nada. __ insiste ele. __ Você
vai me ofender mesmo e dentro da minha casa? __ diz ela, já ficando nervosa. __ Você
quer saber de uma coisa? Você não precisa mais se preocupar e nem falar mais comigo,
se você não quiser. Nunca mais vou te encher o saco. Te prometo. Você pode ir ficar com
o seu chefinho famoso. Aliás, nem sei o que você está fazendo aqui, porque deve ser regra
né, depois do show as minas irem esperar o cantorzinho no camarim. __ diz ele,
mostrando ciúmes, estresse e arrogância.
Branca se assusta com a forma que ele a trata. Ela nunca o viu desse jeito: tão
nervoso e estressado. __ Você me respeite. Eu não beijei ele. Foi ele quem me beijou. Eu
não sabia que ele ia fazer aquilo. Eu não sou obrigada a escutar essas merdas e muito
menos dentro da minha casa. __ diz ela indo em direção a porta da sala. Ela abre a porta
para que ele se retire. __ Papo furado. Eu não acredito mais em você. E você não precisa
mais fugir de mim porque eu não vou mais atrás de você.__ diz ele. __ Eu fugia de você
porque eu não queria me apaixonar. Eu não queria me machucar. Eu nunca fiquei com
homem nenhum desde que meu marido morreu. Se você não acredita em mim, o problema
é todo teu. Não tenho que provar nada nem pra você e nem pra ninguém. __ completa ela,
também nervosa.
Doutor Samuel leva uma das mãos à cabeça. Ele anda pela sala e joga a toalha em
cima do sofá. __ Difícil de acreditar minha cara colega de plantão. Eu via o jeito que o
seu chefinho te olhava. __ diz ele. __ Nunca fiquei com ele e nem com ninguém. Eu
escolhi você, mas você não me quis. E se tem um mentiroso aqui nessa sala, é você. Você
mentiu pra mim várias vezes. Eu te vi saindo de um pet shop com uma moça bem na hora
que eu estava te ligando e você rejeitou a minha ligação e depois veio me dizer que estava
na academia. Que merda. E mesmo depois de tudo isso eu ainda quis ficar contigo. Eu
sou muito burra mesmo. __ diz ela, muito nervosa. __ Mas pelo menos eu nunca paguei
de santo pra ninguém. Todo mundo me conhece e sabe o jeito que eu sou. Agora você,
minha colega...você que é uma das moças mais meiga, doce e descente daquele hospital.
Todos os homens de lá te desejam. É fila e apostas pra ver quem vai ficar com você, e eu
sou o besta que se encantou pela jovem meiga... __ diz ele. Branca interrompe. __ Você
também está apostando pra ficar comigo, doutor Samuel? __ pergunta ela, com um tom
de voz mais alto. Ele se irrita. __ É claro que não. Você tá doida. Não preciso e nunca
precisei disso. O seu jeito me encantou. Não foi só a sua bunda ou os seus peitos, foi o
seu jeito que me encantou. __ responde ele, irritadíssimo. Branca baixa o tom de voz e se
aproxima dele. ___E eu me acostumei com teu jeito também. O jeito que me olha, o jeito
que me toca. __ diz ela já mais calma. __ No fundo você nunca quis nada comigo, não é?
Só estava se divertindo mesmo. Não sou famoso, não tô na mídia todos os dias. __ diz
ele. Os dois estão em pé um encarando o outro. __ Eu nunca quis me divertir contigo.
Realmente passei a te admirar e a te querer também do mesmo jeito que você me queria.
Mas, estamos aqui, molhados, brigando por algo que não aconteceu. __ diz ela, se
aproximando dele e ele dela. __ Quem disse que eu te queria? __ pergunta ele. Branca se
assusta. __ Eu não te queria. Eu te quero. __ diz ele.
Doutor Samuel pega ela pelo braço, puxa e a beija intensamente e ela corresponde
com a mesma força. O beijo é caloroso e demorado que a deixa sem fôlego. Ela toma a
iniciativa e começa a desabotoar a camisa dele. Aos beijos eles vão andando para o quarto.
Ele joga ela na cama, tira a camisa dele e joga para cima. Ela se acomoda na cama
e com um “carão” bem sexy ela olha fixamente para ele, que se aproxima dela, rasga o
macacão que ela veste e depois envolve ela com o corpo quente dele. Ele a beija inteira e
ela corresponde as carícias com o mesmo tesão. A respiração fica ofegante, o coração
acelera e ela geme. Doutor Samuel fica doido. __ Gostosa demais. Você é muito gostosa.
__ diz ele, baixinho no ouvido dela. __ Ai Samuel, cala a boca e me beija. __ diz ela,
puxando ele para beijá-la.
Finalmente eles transam, uma, duas, três vezes. Parece que estavam numa ilha
deserta sem água e sem comida e de repente chegam à cidade parecendo dois animais
com sede e fome famintos e devorando tudo o que veem pela frente.
Enquanto isso, Renato chega em casa e vai direto para o cantinho especial dele na
casa: o terraço. Ele leva uma garrafa de vinho e duas taças como sempre faz desde que
conheceu Branca. Ele se senta, enche as duas taças e brinda. __ Ao amor. __ diz ele
falando sozinho. Renato tem no rosto uma expressão de alegria, de felicidade. A sensação
é que agora a vida dele vai mudar e ele vai voltar a sorrir novamente.
Enquanto isso na casa de Branca, ela adormece nos braços de doutor Samuel e ele
sem sono, fica acariciando o corpo nu dela. __ Eu tinha certeza que você seria minha,
gata. __ diz ele, falando sozinho.
Amanhece e Branca acorda toda desconcertada. Ela olha para doutor Samuel, que
ainda dorme. Por alguns instantes ela fica só observando ele. Ela abre um sorriso e leva
uma das mãos à cabeça dele para fazer carinho. __ Que noite maravilhosa. Se eu soubesse
que seria assim eu não teria perdido tanto tempo. A maluquinha da Gleyce tinha razão. É
impossível não se apaixonar. __ diz ela, em pensamentos. De repente ele desperta e ela
sorrir para ele. __ Bom dia minha Mulher Maravilha! Dormiu bem? __ diz ele. __ Você
não me deixou dormir quase nada. __ responde ela, com um sorriso tímido. __ Eu? Não.
Você que sugou todas as minhas forças. __ diz ele acariciando ela. Ela se prepara para se
levantar, toda enrolada na coberta, ele puxa a coberta deixando ela completamente nua.
Ela fica com vergonha e tenta se esconder. __ Não faz isso. Tô morrendo de vergonha de
você. __ diz ela, tentando se enrolar de volta na coberta. __ Vergonha de mim, gata? Que
isso. __ responde ele que devora com os olhos o corpo nu dela. Também nu, ele se levanta,
puxa ela pela mão e dá um abraço bem apertado nela e os dois voltam para cama aos
beijos. Eles transam novamente.
Branca se levanta e vai rumo ao banheiro. __ Meu filho tá dormindo na casa da
vizinha e daqui a pouco chega aqui. Ele não pode ver a gente assim desse jeito. __ diz
ela. __ Ok! Vou tomar um banho e vou embora. Já que você está me expulsando. __ diz
ele. __ Nossa, que dramático. Vou fazer um café pra nós. Tem toalha no armário, senhor
dramático. __ diz ela saindo do banheiro e indo para a cozinha preparar o café. Doutor
Samuel entra no Banheiro. De repente ele percebe que algo está vibrando, ele volta para
o quarto, procura e encontra o telefone de Branca vibrando. Ele olha e ver que é Renato
Dias quem está ligando. Ele fecha a porta do quarto devagar e atende a ligação. __ Bom
dia Mulher Maravilha! Dormiu bem? __ diz Renato, que está bem à vontade deitado na
cama no quarto dele. __ Bom dia meu querido! Aqui não é a Mulher Maravilha, mas é o
super homem dela. Não tá um tanto cedo pra ligar pra alguém no domingo, não? __ diz
ele. Renato fica sem reação, sem palavras e automaticamente ele encerra a ligação. Doutor
Samuel fica pensativo por alguns minutos e depois volta para o banheiro.
Na mansão, Renato está no quarto sentado na cama e com uma expressão facial
de surpresa misturada com decepção e tristeza. Ele não acredita no que aconteceu. Ele
olha várias vezes para o telefone para ter a certeza que ligou para o número certo. __ Não
acredito que ela tá com esse cara. Isso não tá acontecendo. Vou ligar de novo. Não, não
vou ligar. Vou esperar. Ela vai me ligar. Tenho certeza que ela vai me ligar e vai me
explicar. __ diz ele, falando sozinho.
Hoje Renato não tem dúvida do sentimento dele por Branca e a cada dia esse
sentimento cresce mais. Ele também sabe que ela sente alguma coisa pelo colega de
trabalho, o doutor Samuel, mas ele acha que o colega não a merece e ele tem esperança
de conquista-la.
De volta à casa de Branca, doutor Samuel e ela tomam café juntinhos. __ Agora
senhor Samuel, se o senhor passar por mim naquele corredor do hospital e fingir que não
me conhece, eu te mato lá mesmo e não deixo nenhum colega te reanimar. Você não terá
direito a ressuscitação cardiopulmonar. __ diz ela, sorrindo. Branca é sempre muito
sorridente, aliás, o sorriso dela é marcante. Por algum tempo ela perdeu um pouco esse
sorrisão, sua alto estima baixou, mas aos poucos ela vem se soltando e tendo muitos
motivos para sorrir novamente. __ Eu não conhecia esse lado malvado seu. E não sei de
onde você tirou essa história. Tá maluca, gata? Como vou fingir que não te conheço se a
graça de ir para aquele hospital é saber que você vai estar lá. __ responde ele. Os dois
estão sentados à mesa. __ Um passarinho me contou que você faz isso com todas as
mulheres que você fica. __ responde ela, sempre muito sorridente. __ Esse passarinho aí
que anda te falando essas coisas tá mentindo. __ completa ele.
Após tomar o café, doutor Samuel se despede de Branca com um beijo bem
demorado e vai embora. Ela toma banho e logo em seguida vai buscar Alecsander na casa
da vizinha. Ela decide passar o dia inteiro somente com o filho. Como ainda é cedo, eles
se deitam juntinhos abraçados num colchonete posicionado na frente da televisão na sala
e juntinhos assistem a um filme. Na verdade, Alecsander assiste ao filme, porque Branca
não consegue prestar atenção em nada. Ela fica confusa enquanto pensa na noite “quente”
que passou com doutor Samuel e ao mesmo tempo ela também pensa no beijo delicado e
carinhoso que ganhou de Renato durante o show e principalmente ela pensa na música
que ele cantou para ela e o “Eu te amo” que ele sussurrou no ouvido dela. __ Meu Deus,
o que foi que aconteceu ontem? Que bagunça que tá virando a minha vida. __ diz ela, em
pensamentos.
Branca gosta de doutor Samuel já há algum tempo e recentemente ela também
passou a pensar bastante em Renato.
Ela gosta do jeito levado, sedutor, garanhão e brincalhão de doutor Samuel e ela
também gosta do jeito delicado, carinhoso, amoroso e sério de Renato. São dois homens
completamente diferentes com mundos diferentes e que souberam, cada um do seu jeito,
conquistar o coração dela. Mas doutor Samuel chegou primeiro. Ele chegou bem no
momento em que ela estava fragilizada com a perda do marido e o filho internado em
estado grave numa UTI. Ele chegou chegando, sem pedir licença e decidido a conquista-
la, porque ele se interessou por ela desde a primeira vez que a viu no primeiro dia dela de
plantão no hospital. Já Renato chegou discretamente, sem interesse algum e com uma
história de vida recente igual a dela. Ele chegou, sem pedir, mas querendo colo, querendo
um ombro para chorar, uma mão amiga para puxar ele de volta à vida. E foi exatamente
o que Branca fez: tirou Renato do “fundo do poço”. Ela devolveu o sorriso e a alegria ao
rosto dele, mesmo ele estando com a filha doente, ela soube, com jeitinho, levar esperança
a ele.
Branca se levanta e vai até o quarto ligar para a amiga Gleyce para contar o
ocorrido. __ Então amiga! Aconteceu desse jeito. E Samuel foi embora agora cedo. __
diz ela. __ Amiga do céu, como assim? Não tô entendendo é mais nada. Você beija um e
transa com o outro e tudo no mesmo dia, e eu é que sou a maluquinha? __ diz Gleyce,
toda eufórica. __ Não sei o que vou fazer agora. Me ajuda. Como vou olhar pro Renato
amanhã? E o Samuel, o que será que vai acontecer? Amiga me ajuda. O que eu faço?
__diz Branca angustiada. __ Amiga, eu sou maluquinha, só me meto em confusão, mas
essa confusão que você arrumou aí na sua vida tá complicado viu. __ diz Gleyce. __ Eu
sei. __ responde Branca. __ E é lógico que eu ficaria com os dois, mas um de cada vez,
né. __ diz Gleyce, sorrindo muito. __ Amiga, desse jeito você não tá me ajudando. __ diz
Branca. __ Amiga, é porque eu realmente não sei o que te falar. Mas uma coisa é certa,
você tem que se decidir né? Mas afinal de contas, você gosta de quem? Do Samuel ou do
Renato? Eu nem acredito que o Renato Dias está apaixonado por você... o Renato Dias.
Todas as mulheres são apaixonadas por ele. __ diz Gleyce __ Amiga desse jeito você não
tá me ajudando mesmo. Fica com Deus. Beijos. __ diz Branca que se despede e encerra
a ligação.
Branca passa o dia todo com o filho. Ela nem imagina que Renato ligou para ela
e muito menos imagina que doutor Samuel atendeu a ligação. Ela anseia por receber uma
ligação de Renato, mas isso não acontece e doutor Samuel também não liga. Ela fica
frustrada, mas não importa muito porque quando ela está com o filho é somente ele a sua
prioridade.
CAPÍTULO 8:
A vingança é um prato que se come cru
A segunda-feira chega e mais uma semana de trabalho pela frente. Branca chega
para mais um plantão na mansão de Renato. No quarto ela presta os cuidados a garotinha.
Renato entra e vai até a cama da filha. Ele dá um beijo na testa da garotinha, dar um bom
dia bem “frio” para Branca e sai do quarto. Ela o acha estranho, mas está ocupada demais
para pensar no assunto. A atenção dela está voltada para a Rafaela que está um pouco
febril.
Ela liga para o médico oncologista. Eles conversam por um longo tempo e ele
informa que Rafaela não está respondendo muito bem ao tratamento e que a situação é
preocupante. Branca se sensibiliza, fica triste e redobra a atenção a garotinha.
Ao final do plantão quando já está indo embora, ela procura Renato pela casa e
não encontra. Ela vai até o cantinho dele no terraço e encontra ele deitado sob no
colchonete olhando para o céu, fumando e bebendo vinho. Ela chega discretamente se
senta e olha para o céu. __ Noite linda não é, sumido? __ diz ela, olhando para o céu que
está totalmente estrelado. __ Pois é! __ responde ele, friamente. Ela acha estranho o jeito
que ele responde e insiste na conversa. __ Quase não te vi hoje. __ diz ela, olhando para
ele, e ele olhando para o céu. __ Passei o dia muito ocupado escrevendo umas músicas.
__ responde ele. __ Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Tô achando você estranho
desde cedo. É alguma coisa comigo? __ pergunta ela. Renato continua olhando para o céu
e fumando. __Comigo tá tudo bem. __ responde ele, sem muito assunto. __ Eu não sabia
que você fumava. __ diz ela. __ Essa é a minha outra metade, a que é cheia de defeito. __
responde ele. Ela faz uma cara de espanto e surpresa. __ Você está estranho. __ insiste
ela. __ Não tô não. É impressão sua. __ responde ele novamente. Branca fica em silêncio
por alguns instantes e retruca: __ Tá acontecendo alguma coisa. Se é comigo, me fale. __
insiste ela. __ Já falei que está tudo bem comigo. Estou preocupado é com minha filha.
__ responde ele calmamente.
Renato fica em silêncio. Branca se levanta, se despede e se prepara para ir embora.
Quando já está de costas para sair, ela se vira, passa as pernas sobre ele, que está deitado,
e se posiciona meio agachada bem na frente dele. ___ Eu não sabia que você fumava. Eu
não sabia que você tinha uma metade com defeito. __ diz ela, olhando fixamente para ele
__ Fumo só de vez em quando. Quando tô muito ansioso. E defeito, todos nós temos.
Ninguém é perfeito. __ responde ele, fazendo questão de não olhar para ela. __ Você não
quer conversar comigo, mas eu quero conversar contigo. Olha, se fiz ou falei alguma coisa
que te magoou, me desculpe. Não foi a minha intenção. Sobre o show, eu amei tudo.
Amei o show, amei o beijo, amei a música, a dança e principalmente eu amei o que você
me disse... __ diz ela. Ele se senta, segura ela pelos braços e coloca ela sentada bem a
frente dele. Ele olha bem nos olhos dela e dá um sorriso irônico. __ Você tem certeza do
que tá me falando? __ pergunta ele. __ Sim. Tenho certeza. Não fiquei até o final porque
fiquei confusa e preferi ir embora. __ responde ela, sem entender porque ele está tratando
ela assim desse jeito, friamente e com ironia. __ Foi embora com o seu namorado, não é?
__ pergunta ele. __ Como assim? Fui embora sozinha e não tenho namorado. Não tô te
entendendo. Me explica porque está agindo assim comigo hoje? Ontem peguei o telefone
várias vezes pra te ligar, mas desisti porque ainda estou confusa. __ diz ela. Renato sorrir.
Ela ver claramente que é um sorriso irônico. __ Mas eu te liguei. __ diz ele. __ Não. Não
ligou. Fiquei com o telefone o dia inteiro. __ responde ela. __ Não ficou mesmo. Te liguei
cedo, porque sei que independente de qualquer coisa você acorda cedo, mas seu namorado
foi quem atendeu. __ diz ele. Ela se espanta, muda de cor, fica sem palavras. __ Sabe o
que ele me falou? Que era muito cedo pra ligar pra alguém. Eu passei o dia pensando
numa explicação pra tudo isso. Tive certeza que você iria me ligar e me explicar, mas a
explicação é simplesmente... que eu sou um otário. __ diz ele. Ela fica trêmula, como se
tivesse sido pega em flagrante, mas flagrante de que? Ela não tem nenhum compromisso
com ele. Mas Branca sempre tenta ser muito correta e mesmo não tendo nenhum tipo de
compromisso com Renato, ela se sente mal e com vergonha __ Renato, eu nunca te dei
esperança de nada e você sabia o tempo todo que eu e Samuel estávamos nos
aproximando. Eu não sabia que ele estava no show. Ele viu tudo, mas também nem
precisava ir no show pra ver. Está em todos os noticiários. E o Samuel... __ diz ela. Ele
interrompe e não deixa ela concluir a fala. __ Você não precisa me explicar nada. Não tô
te cobrando nada. Realmente você nunca me deu esperança. Eu que forcei a barra. Pronto.
Tá tudo resolvido. Você já pode seguir sua viagem de volta pra sua casa. __ diz ele.
__Você está me mandando embora? __ pergunta ela. Renato diminui o tom de voz. __
Não estou te mandando embora. Me desculpe se me expressei mal. Só quero dizer que
você não me deve explicações da sua vida. Não se preocupe. Se quiser ir embora pode ir
e não se preocupe comigo. Estou bem. Só não estou melhor porque tenho preocupações
com minha filha. __ explica ele. Ela segura a mão dele. __ Me desculpe se te magoei.
Não foi minha intenção. E eu realmente gostei de tudo o que aconteceu no show. Nunca
vou esquecer. Foi o melhor show da minha vida. Quero que saiba que gosto muito de
você. __ diz ela que se levanta e logo se vira para ir embora. Ele se levanta e puxa ela
pela mão. __ Não precisa pedir desculpas de nada. Você foi a melhor coisa que aconteceu
na vida da minha filha. Eu é que te peço desculpas e te agradeço. __ diz ele, com um tom
de voz mais suave. Ela chora. __ Eu realmente gosto de você... __ diz ela. Ele interrompe
novamente. __ Não chore. __ diz ele, se aproximando para beijá-la. Ela vira o rosto e o
beijo vai na bochecha. Ele solta a mão dela e volta a se sentar. Ela se vira para ir embora
e devagarzinho vai saindo. __ Me perdoe, mas eu não posso. Tenho que organizar as
coisas aqui dentro da minha cabeça. Não quero mais magoar ninguém. __ diz ela, em tom
de voz triste.
Ela vai embora chorando a viagem toda até em casa. Renato continua no terraço
fumando, bebendo, olhando as estrelas e escutando música.
Em casa, Branca entra chorando. Julia e Alcsander se assustam. __ Dona Branca
o que aconteceu? Está tudo bem com a senhora? __ pergunta Júlia indo ao encontro dela.
__ Sim Júlia. Tá tudo bem sim. Pode ir pra sua casa, vá descansar. Não se preocupe
comigo. __ responde ela. __ Tá bom dona Branca, mas se precisar de alguma coisa é só
chamar. __ diz Júlia que logo vai embora. Alecsander chega até a mãe. Ele tenta abraça-
la, mas a cadeira de rodas não permite. Branca se abaixa e abraça o filho. __ Mamãe
porque você tá chorando? As mães nunca choram. Só os filhos que choram. Você é a mãe,
não pode chorar. __ diz ele assustado. Ela chora ainda mais escutando o filho falar assim.
__ Meu amor, todas as mães choram, mas elas choram em silêncio porque querem parecer
fortes pra não assustarem seus filhos. __ responde ela, se sentando no sofá e segurando
as mãozinhas dele. __ Mãe eu nunca te vi chorar. Você é a Mulher Maravilha. Você é
forte. __ completa o garotinho.
Quando o marido de Branca morreu, Alecsander ficou meses internado no
hospital, com passagens tanto pelo centro cirúrgico quanto pela UTI, e todas as vezes que
Branca chorou a perda do marido e a internação do filho, ele não viu. E quando ele saiu
do hospital cinco meses depois, isso foi motivo de alegria para ela, então, realmente
Alecsander não tem lembranças de ver a mãe chorar.
Branca enxuga as lágrimas que escorrem pelo rosto e olha fixamente para o filho.
__ Meu filho sabe de uma coisa... você tem toda razão. Eu não vou mais chorar. Sabe por
que? __ diz ela. Alecsander fica mais aliviado. ___ Por que mamãe? __ pergunta ele. Ela
abra um sorrisão um tanto forçado, mas como ela é muito sorridente qualquer esforço que
ela faça para sorrir, o sorriso sempre sai impecável. __Porque a minha maior alegria está
aqui comigo: que é você, o amor da minha vida. O único e maior amor e o mais puro
também. Então, eu não tenho motivos pra chorar. __ responde ela abraçando o filho. __
Eu vou te apertar muito hoje de tanto abraço. __ completa ela. Alecsander sorrir. E
cantarolando, ela arruma o jantar.
Logo que acorda Branca se depara mais uma vez com muitas mensagens em seu
telefone, mas dessa vez as mensagens são sobre um possível triângulo amoroso entre ela,
o cantor Renato Dias e um médico colega de serviço. Um repórter que seguiu ela do show
até sua casa, fez muitas fotos de doutor Samuel entrando na casa dela debaixo de chuva
e saindo na manhã seguinte. E o repórter foi mais além: ele foi até o hospital onde ela
trabalha para investigar sobre o médico, e algumas colegas do serviço inocentemente
acabaram falando demais.
Branca fica muito irritada com as notícias. Ela deixa o filho na escola e segue para
a mansão de Renato. Ela chega um tanto ansiosa e encontra dona Beatriz no quarto com
a Netinha. __ Bom dia dona Beatriz! __ cumprimenta ela. __ Bom dia minha querida!
Tem uma garotinha aqui resmungando que você estava demorando. __diz dona Beatriz.
Branca se aproxima da cama de Rafaela e dá um beijinho na testa dela. ___ Oi dona
Rafaela. Eu estava deixando o Alecsander na escola. Ele mandou muitos beijinhos pra
você. Disse que qualquer dia vem aqui brincar com você. __ diz ela. __ Eu também queria
ir pra escola, mas o meu papai não deixa. __ diz a garotinha, que está sentada na cama.
Branca se emociona. __ Oh minha querida, mas é pro o seu bem. Mas vamos fazer o
seguinte: eu vou dar aulas pra você, pode ser? Vou ligar na sua escola e pedir todos os
deveres de casa e nós vamos estudar juntinhas. Pronto vou já providenciar as coisas. __
completa ela. __ Ótima ideia Branca, mas antes venha comigo até o jardim, preciso
conversar com você. __ diz dona Beatriz, se levantando e conduzindo Branca para fora
do quarto.
Branca e dona Beatriz caminham em direção ao jardim. __ Minha querida, todos
nessa casa gostamos muito de você. Nos últimos meses você tem sido a alma dessa casa,
a alegria, e a felicidade de todos aqui. E somos muito agradecidos, mas uma coisa vem
me preocupando muito. __ diz dona Beatriz. As duas caminham pelo jardim. Branca
escuta atentamente. __ Eu até imagino o que a senhora vai me falar, dona Beatriz. É sobre
o seu filho, não é? __ pergunta ela. __ Sim, minha filha. Venho observando vocês dois e
creio que tenha mais do que sentimento de amizade e gratidão envolvido. Você é uma
moça linda e chama a atenção de qualquer homem. __ responde dona Beatriz. Branca
abaixa a cabeça. __ Percebi o meu filho muito infeliz esses últimos dias. Depois que
minha nora faleceu, eu achei que o Renato não fosse ter forças pra superar a perda dela,
aí veio outra lapada da vida que é a doença da Rafa, mas depois que você chegou nessa
casa, tudo foi mudando e a alegria principalmente da Rafa e do meu filho foi voltando.
__ completa dona Beatriz. __ Eu gosto muito de todos vocês e me esforço muito pra
deixar a Rafa feliz. __ diz Branca. __ Eu sei, minha filha. E sou muito agradecida por
isso. __ diz dona Beatriz. __ Quanto ao Renato, eu não sei o que dizer. __ diz Branca. __
Então me escute. A alegria estava voltando ao rosto do meu filho e agora ele está triste
novamente. __ explica dona Beatriz. Branca escuta calada e atenta. __ Percebo que
Renato gosta muito de você, muito mesmo. Eu vi meu filho sorrir novamente, vi meu
filho parar de beber, ele tá mais caseiro e sei que isso tudo tem a ver com você. __ diz
dona Beatriz. Branca levanta a cabeça e morde os lábios. __ O que você sente pelo meu
filho? Me responda se quiser. __ completa dona Beatriz. Branca para a caminhada e
segura as mãos de dona Beatriz. __ Dona Beatriz, eu gosto muito do seu filho, muito
mesmo, mas acabei me metendo numa confusão muito grande e agora não tô sabendo
resolver. Minha cabeça tá muito confusa. __ responde ela. __ Eu entendo, minha filha e
não lhe culpo. __ Antes de conhecer o seu filho, eu já gostava de um colega de serviço.
Eu achava que esse meu colega só queria se divertir comigo por isso que nunca me envolvi
com ele, com medo de me machucar, sabe. Mas o tempo foi passando e o sentimento foi
amadurecendo. Aí veio o seu filho e agora eu tô aqui, nessa confusão terrível e sem saber
o que fazer. __ completa ela com a voz trêmula como se quisesse chorar. __ Não se culpe
e não sofra com isso. Faz parte dessa vida. __ diz dona Beatriz. __ Eu não quero enganar
ninguém, não quero machucar ninguém. Eu jamais faria com alguém aquilo que eu não
gostaria que fizessem comigo. __ completa Branca levando as mão à cabeça. __ Então o
que estão dizendo na mídia é verdade: que há um triângulo amorosa. __ diz dona Beatriz.
__ Não tem triângulo nenhum porque eu nunca tive nada com o seu filho. __ diz Branca.
__ Entendo. E por acaso esse colega seu é aquele médico que você nos apresentou no
hospital? __ pergunta dona Beatriz. __ Sim. É ele mesmo. Tem mais de três anos que a
gente se conhece e vem se aproximando. Aí de repente chegou o Renato na minha vida e
eu não sei mais o que fazer. Mas uma coisa a senhora pode ter certeza: eu não vou enganar
ninguém. __ diz Branca. __ Eu confio em você e sei que você jamais faria algo para
machucar alguém, minha querida. __ diz dona Beatriz. Novamente Branca segura às mão
de dona Beatriz e olha bem nos olhos dela. __ Dona Beatriz, se a senhora não quiser mais
que eu venha trabalhar aqui, vou entender perfeitamente. Sou muito agradecida a todos
vocês e não quero causar problemas pra ninguém. __ diz ela. __ Minha querida, eu jamais
faria isso. Você hoje é o remédio que mantem essa casa viva. Me permita lhe dar um
conselho? __ diz dona Beatriz. __ Claro, dona Beatriz. Eu adoro ouvir seus conselhos. __
responde Branca. __ Escute o seu coração e faça o que seja melhor para você e não para
os outros. Não sofra, não se magoe. E também não desista do amor. Se ame primeiro e
deixe ser amada. Se entregue profundamente ao amor porque sendo amor, sempre vai
valer a pena. __ completa dona Beatriz, que sempre é muito sábia e tem as palavras certas
para todas as ocasiões.
As duas conversam por mais algum tempo e depois Branca retorna para o quarto
de Rafaela. Ela encontra Renato com a filha. __ Bom dia! __ diz ela cumprimentando ele.
___ Bom dia Branca! Vou fazer uma viagem e retorno em três dias, mas qualquer coisa
por favor me avise que volto correndo. Cuide bem da minha princesinha. __ diz ele,
olhando para a filha. Branca concorda com tudo. Renato se vira e vai embora levando
uma mala pequena. __ Bom dia Branca? Ele nunca me chama pelo nome. __ diz ela
falando sozinha.
Ela fica pensativa. Renato sempre a chama de mulher maravilha. Desde que se
conheceram ele quase nunca a chamou pelo nome, não que ela tenha lembrança. No início
ela achava engraçado, mas hoje ela já se acostumou e se senta a mulher maravilha mesmo
quando está com ele. E agora escutando ele chama-la de “Branca” soou muito estranho
aos ouvidos dela. __ Meu Deus, me dê uma luz. O que eu faço da minha vida? Me ajude.
__ completa ela, em pensamentos.
Branca prepara uma medicação para administrar em Rafaela. Camila chega ao
quarto e vai direto para a beira da cama da garotinha. __ Bom dia minha florzinha! __ diz
ela. Rafaela cumprimenta e continua brincando com a boneca de pano que ganhou de
Alecsander. Camila não cumprimenta Branca, mas Branca com toda a educação que tem,
a cumprimenta. __ Bom dia dona Camila! __ diz ela. Camila não responde, ela ignora e
continua conversando com Rafaela. Branca também não se importa e volta a fazer o seu
serviço. Ela está tão angustiada e pensativa com tudo o que aconteceu entre ela e Renato
que mal percebe que Camila está ali no quarto. De repente Camila se aproxima da bancada
em que ela está fazendo algumas anotações. __ Você pode enganar a todos nessa casa
menos a mim. __ diz ela baixinho quase sussurrando. Branca se assusta e se vira para
encará-la. __ Não tô te entendendo. Você tá ficando doida? __ diz Branca. __ Não tô
doida não. Eu sei muito bem qual é o seu plano, minha querida. __ insiste Camila. __ Eu
não sei do que você está falando e por favor me deixe trabalhar em paz. __ responde
Branca, se virando de volta para a bancada e voltando a escrever. __ Você está se
aproveitando da fragilidade do Renato pra poder dar um golpe, mas eu não vou deixar.
Meu amigo está carente e não vai cair na sua armadilha. __ insiste Camila. Branca ignora.
Ela fica em silêncio fazendo suas anotações. Camila se despede de Rafaela e vai embora.
__ Meus Deus, que mulher louca, eu em. __ diz Branca.
De dentro do carro, Camila liga para a secretária do pai e ordena que agende uma
consulta com o cardiologista doutor Samuel Leite no hospital onde Branca trabalha.
Camila já investigou toda a vida de Branca e passou a nutrir uma raiva muito grande por
ela.
A secretária do pai de Camila consegue com muito custo uma consulta por encaixe
para o final da tarde com o doutor Samuel. Camila então vai para o salão arrumar os
cabelos e fazer a maquiagem. Ela se produz toda para ir à consulta.
São 17:00 horas. No hospital, Camila que aguarda para ser atendida, é chamada e
entra no consultório. Doutor Samuel se espanta com a beleza dela, mas ele é muito
profissional, discreto e tem muita ética. __ Boa tarde! Me chamo Samuel. Muito prazer!
__ diz ele, se levantando e estendendo a mão para cumprimenta-la. Camila abre um
sorrisão. __ Mas que homem gato __ diz ela, em pensamentos.
Camila veste um vestido longuete na cor preto bem justo no corpo e com uma
fenda na parte de traz e ela usa sapatos scarpin bico fino bem alto. Os cabelos estão preso
tipo rabo de cavalo e a maquiagem bem sedutora.
Camila acha doutor Samuel irresistivelmente lindo e sedutor. __ Boa tarde doutor
Samuel! __ responde ela também estendendo a mão para cumprimenta-lo. Ele pede que
ela se sente. __ Em que posso lhe ser útil? __ pergunta ele fixamente olhando para ela. __
Doutor, tem mais ou menos uns três dias que estou sentindo umas dores no peito. Não sei
se é o meu coração querendo parar ou se é outra coisa. __ responde ela. Doutor Samuel
sorrir, se levanta e pega um estetoscópio (instrumento para ausculta de ruídos). Ele se
aproxima dela, pede licença para examiná-la. Ele também verifica a pressão arterial dela.
__ Camila, aparentemente você está ótima. __ diz ele retornando para a cadeira. __ Mas
vou solicitar alguns exames que você pode fazer aqui mesmo no hospital, inclusive um
deles eu mesmo que faço. Você pode agendar com a secretária os exames e o retorno. __
diz ele. __ Você tem certeza doutor que não tem perigo do meu coração parar? __
pergunta ela. Ele sorrir novamente. __ Não observei nada de errado com o seu coração,
pelo contrário, me parece ótimo. Os exames que estou solicitando é só mesmo por
desencargo de consciência, mas creio que estarão todos normais. __ explica ele. __ Eu
fico com medo. É uma dorzinha chata, sabe, e de noite eu fico até com medo de dormir
sozinha e passar mal. __ insiste ela. __ Vou receitar aqui um remédio para ansiedade, vejo
que você está muito ansiosa. E quando os resultados dos exames ficarem prontos a gente
ver certinho. __ completa ele.
Enquanto ele escreve, Camila o observa atentamente. __ Mas o que será que essa
Branca tem que só atrai homens interessantes? __ diz ela em pensamentos.
Doutor Samuel entrega uma receita para Camila, se despede e ela vai embora. __
Mas que mulher gata. __ diz ele, em pensamentos.
Camila vai até a direção do hospital e pede para falar com o diretor geral. Depois
de alguns minutos o diretor, que também é médico, pede para ela entrar na sala dele. Eles
conversam por uns vinte minutos e ela vai embora. No corredor ela cruza com Gleyce. __
Eita, mas o que essa mulher tá fazendo aqui? __ se pergunta Gleyce falando sozinha.
Camila é tão arrogante e tão metida que ela passou do lado de Gleyce e não a reconheceu,
porque ela mal olha para as pessoas que ela julga não ser interessante.
Em casa Camila conversa com o pai, que é um poderoso empresário na cidade.
Ela pede que ele peça ao diretor do hospital que demita Branca. O Pai não concorda, mas
como sempre acaba cedendo aos caprichos da filha.
Camila toma banho, troca de roupas e sai novamente. Mais cedo ela mandou
investigar a vida de doutor Samuel e descobriu que ele janta quase todas as noites no
mesmo restaurante, e é para lá que ela vai.
Ela chega e doutor Samuel já está bem acomodado junto com três amigos. Ela
escolhe uma mesa próxima a que ele está, mas ele não a ver chegando.
Camila se acomoda e finge que está esperando por alguém, que nunca chega. Ela
finge fazer algumas ligações e pede vinho para beber. Ela bebe uma, duas, três taças de
vinho. Doutor Samuel, da mesa que estar, observa tudo. É lógico que ele nunca iria perder
a oportunidade de olhar uma bela moça. __ Mas aquela moça ali é uma paciente que eu
atendi hoje no consultório. __ diz ele se recordando dela. __ É muito gata. E parece que
levou um bolo de alguém. __ diz um dos amigos. Doutor Samuel se levanta e vai até a
mesa onde ela estar. __ Oi! É Camila não é o seu nome? __ pergunta ele. Camila olha
para ele e finge ficar espantada. __ Oi! Eu te conheço? __ diz ela, fingindo não lembrar
dele, que abre um sorriso e se aproxima um pouco mais dela. __ Sou médico cardiologista.
Atendi você hoje à tarde no meu consultório. Samuel meu nome. Muito prazer,
novamente. __ diz ele, estendendo a mão para cumprimenta-la. __ É mesmo! Nossa que
memória fraca eu tenho. __ diz ela, estendendo a mão para cumprimenta-lo. __ Me
desculpe pela falta de educação. Você é o doutor Samuel. __ diz ela. Lógico que Camila
sabe muito bem quem ele é.
Doutor Samuel, que permanece em pé ao lado da mesa, sorrir. __ Sim. Sou eu
mesmo. A senhorita está acompanhada? __ pergunta ele. __ Era para estar, mas pelo jeito
vou ter que jantar sozinha. __ responde Camila. __ Só vai janta sozinha se você quiser.
Pra mim, será um imenso prazer acompanhar uma bela moça como você, com todo
respeito, é claro. __ diz ele. Camila, que está com uma expressão facial de tristeza
misturada com decepção, abre um sorriso e pede que ele se sente. Doutor Samuel puxa a
cadeira e se senta de frente para ela. __ Muito obrigado pelo sorriso mais lindo que eu já
vi hoje, pela segunda vez. __ diz ele, se referindo ao sorriso estampado no rosto dela. Ela
abaixa a cabeça e finge timidez. __ Que isso. Um cavalheiro elegante e lindo como você
deve atender moças lindas todos os dias e deve ver muitos sorrisos lindos também. __
responde ela. __ Mas não igual ao seu, com todo o respeito. __ insiste ele. __ Você vem
sempre aqui? __ pergunta ele. __ Não. É a primeira vez. Meu namorado que combinou
de me encontrar aqui, mas pelo jeito e pela hora, ele não vai vir, de novo. __ responde
ela. __ Me desculpe a indelicadeza, mas tem que ser muito otário pra deixar uma moça
linda e princesa como você esperando. __ diz ele. __ Eu não tenho sorte no amor. Não sei
o que tenho de errado. Acho que deve ser por isso que meu peito doe tanto, sabe? __ diz
ela pagando de boa moça. __ Você não tem nada de errado. Pelo contrário, você é perfeita.
O cara que te deu o bolo é que tá errado e é muito otário também. __ responde ele com
toda franqueza. Camila abre discretamente um sorriso meio tímido. __ Não é a primeira
vez que ele me dá um bolo. Mas eu já até me acostumei a passar por isso. __ diz ela, de
cabeça meio baixa e mexendo com os olhos de um lado para o outro a fim de fugir dos
olhares dele. Doutor Samuel vai com a mão direita até o queixo dela e levemente ele ergue
a cabeça dela. __ Nunca abaixe a cabeça pra situações assim. Esse cara é um babaca e
não te merece. Levante a cabeça e sorria. Você tem um sorriso lindo. Não esconda ele por
nada e por ninguém. __ diz ele. Camila ergue a cabeça e abre um sorrisão. __ Nossa!
Você é um sonho. Sua esposa ou namorada deve ter muito orgulho. __ diz ela. Ele sorrir.
__ Eu não tenho nenhuma das duas: nem namorada e nem esposa, ainda. __ completa ele.
__ Não acredito que um homem cavalheiro, educado, elegante, lindo igual você não tenha
uma namorada. __ diz ela. __ Igual a você, eu também não tenho sorte no amor. __
completa ele.
Camila e doutor Samuel conversam bem à vontade. Ela bebe mais duas taças de
vinho e o tempo passa. Camila finge estar ficando tonta por causa do vinho e doutor
Samuel se oferece para deixa-la em casa. __ Não quero te incomodar. __ diz ela. __ Não
é incômodo nenhum. Não vou deixar você ir assim pra casa sozinha. Eu te deixo lá. __
insiste ele. O garçom chega com a conta, Camila se oferece para pagar, ele não permite.
Ele se levanta, vai até ela e a ajuda a se levantar. De mãos dadas eles vão para o
estacionamento. Antes de entrar no carro, Camila começa a chorar. __ Nada dar certo na
minha vida. Tudo dá errado. __ diz ela em prantos. Doutor Samuel passa o braço em volta
dela e dá um abraço bem apertado. __ Não chore. Me doe o coração ver uma moça linda
igual a você chorando. __ diz ele. Abraçados, ela para de chorar, olha dentro dos olhos
dele e de repente ela o beija, e é lógico que ele corresponde. Os dois ficam por alguns
minutos se beijando ali mesmo em pé no estacionamento. __ Você precisa mesmo ir pra
sua casa? __ pergunta ele sussurrando no ouvido dela. __ Eu preciso mesmo é de carinho
e amor hoje, seja lá aonde for. __ responde ela. Ele fica excitado com a resposta. __ Então
vamos para o meu apartamento? Vou cuidar muito bem do seu coraçãozinho, prometo.
__ diz ele. Ela o beija novamente.
No apartamento eles chegam aos beijos e um arrancando a roupa do outro. Eles
transam e ela fica para dormir juntinha dele.
CAPÍTULO 9:
Eu não plantei o que eu estou colhendo