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LUCY

BERHENDS
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DESTINADA AO
AMOR
O HERDEIRO
Copyright © Berhends, Lucy
Todos os direitos são reservados à
autora, sendo esta uma produção
independente. É uma obra de ficção
e qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
1ª Edição. Formato digital
Junho de 2015
Capa: Magic Capas Design
Editorial
Revisão: Lucy Berhends

luberhends@bol.com.br
https://www.facebook.com/auto
lucyberhends.blogspot.com.br
Agradecimentos

Novamente preciso derramar o


meu coração para leitores tão
generosos que conheceram e
tiveram a oportunidade de se
apaixonar pelos personagens da
Série Destinados.
A cada livro eu tento dar o
máximo de mim e me superar para
que possa disponibilizar um
trabalho de qualidade para cada
viciado em livros como eu.
O livro 1 dessa série rendeu
mais de 65.000 visualizações e
mais de 6.000 votos na plataforma
Wattpad, o que me deixou muito
orgulhosa por ser minha primeira
publicação.
Brisa e Alfonso foi o nosso
casal doce que lutou contra o
destino, mas o amor falou mais alto.
As críticas quanto ao livro 2
superaram as minhas expectativas,
pois a grande maioria foi positiva.
Os leitores tiveram a mente aberta
para aceitar a forma de amar
escolhida por Ben e Clara. ‘O livro
é muito hot’ – era o que eu mais lia.
Esse era o objetivo, além de criar
personagens com personalidades
próprias.
No livro 3, a relação entre
Marco e Tatiana é também muito
sexy. Há uma força poderosa que os
atraiu desde o início. Eles não
lutaram contra o destino, como os
demais personagens. Foi o destino
quem os maltratou por um tempo até
que conseguisse uni-los outra vez.
Espero que goste, curta, viaje
na história, ria e chore com esse
lindo romance. Marco e Tati
realmente foram destinados ao
amor.

Boa leitura, minhas rainhas!


Lucy Berhends
Sinopse

Tatiana se apaixonou
loucamente por Marco desde o
momento que o viu pela primeira
vez.
Ele correspondeu aos seus
sentimentos e a relação parecia
estar se aprofundando até que ela
descobre que está grávida.
Seu primeiro pensamento é o
de comunicá-lo que se tornará pai,
mas quando liga para o seu celular,
quem atende é uma mulher
afirmando ser sua namorada.
Seu desespero aumenta quando
ouve o Sr. Ribeiro dizer à sua
esposa que Marco era o único livre
para escolher com quem se
relacionava dos dois irmãos e que a
única forma de ele ser forçado a se
casar, seria caso engravidasse
alguma mulher.
O que Tatiana fará diante de
tanta informação? Ela deve tentar
lhe contar mesmo assim ou deve
livrá-lo de ter que assumir uma
relação apenas por obrigação?
PRÓLOGO

Ela

Ficar sentada aguardando na


sala de espera era a pior tortura que
já havia passado. Aquele ambiente
branco com fotos de bebês e
famílias sorrindo felizes estava me
dando nos nervos. Parecia que o
tempo não passava e a minha vez de
ser atendida não chegaria nunca.
Olhei para os lados e vi
algumas mulheres esperando por
atendimento também. Dava para
perceber que algumas estavam
grávidas e uma parte delas estava
acompanhada por companheiros e
familiares.
Outras não demonstravam
gravidez e poderiam estar
aguardando apenas para uma
consulta ou estavam vivendo o
mesmo drama que eu na tentativa de
descobrir se havia encomenda para
a cegonha.
Eu preferi ir sozinha com
medo de estar fazendo alarde
desnecessariamente. Meu ciclo
menstrual sempre foi inconstante e
eu sempre tomei anticoncepcional
desde que iniciei a minha vida
sexual, embora tenha parado por um
tempo por estar sentindo algumas
reações que poderiam ser
consequência dele.
Depois de alguns exames,
concluí que não era e voltei a
tomar, porém sempre exigi que
meus parceiros se protegessem ou
não faríamos sexo. Nunca abri mão.
A chuva caía forte lá fora e
parecia um indício de que o tempo
também iria fechar para o meu lado.
Fiquei olhando fixamente para a
janela como se pudesse contar cada
pingo que batia nela.
Uma voz interrompeu meu
turbilhão de pensamentos:
– Você não acha que o
atendimento está muito lento? Não
aguento mais esperar. – Uma mulher
que parecia estar na casa dos trinta
me perguntou, massageando sua
enorme barriga.
Eu não estava para muita
conversa, mas resolvi ser educada.
– Sim, está demorando
muito. Também estou muito ansiosa
para ser atendida. Não posso
passar a manhã inteira aqui. Preciso
voltar ao trabalho.
Eu havia justificado a minha
falta no escritório por ter que estar
presente a uma consulta médica.
Estou rezando para que seja apenas
de rotina e eu não tenha que voltar a
este lugar regularmente.
– O início da gravidez nos
deixa com os nervos a mil,
realmente. Eu lembro que só faltava
enforcar o médico quando
demorava de ser atendida. Graças a
Deus que meus hormônios se
estabilizaram. – Ela continuou
puxando assunto.
– Desculpe, mas não estou
grávida. É apenas um exame de
rotina. – Respondi, rapidamente.
Ela me examinou de cima a
baixo e com voz acusatória
afirmou:
– Eu jurava que você estava.
O corpo da mulher dá sinais de
gravidez e eu quase não me engano
com essas coisas. Se você diz que
não está...
Pânico me tomou. Não queria
continuar essa conversa fazendo
suposições por algo que mudaria a
minha vida drasticamente.
– Com licença, vou pedir
informações na recepção.
Fugi daquela criatura o mais
rápido que pude. Prefiro evitar
pessoas que ficam fazendo
previsões descabidas, ainda mais
neste momento. Caminhei em
direção a uma recepcionista que me
olhava sorridente.
– Por favor, gostaria de
saber se serei logo atendida, pois
estou em horário de trabalho. Ainda
há muitos pacientes antes de mim?
– Qual é o seu nome,
senhora?
– Tatiana Carvalho.
– Deixe-me checar... você
será a próxima a ser atendida,
Tatiana. A última paciente já tem
um tempo na sala e não demorará a
sair.
– Obrigada!
Sentei em outro lugar mais
próximo do consultório médico.
Queria evitar contato novamente
com aquela que se achava a
portadora de boas notícias.
Estava torcendo para que ela
estivesse errada.
Já não tinha mais unhas para
roer, quando a paciente saiu,
chamando pelo meu nome.
– Tatiana Carvalho, a
médica está te aguardando na sala.
– Obrigada!
A minha mente estava mais
que pronta para enfrentar o que
estivesse por vir, mas as minhas
pernas não queriam obedecer.
Fiquei em pé, parada na frente do
consultório receosa de dar o
próximo passo.
Olhei para a porta onde o
nome ‘Dra. Camargo’ estava escrito
e respirei fundo para tomar meu
controle de volta. ‘Seja o que Deus
quiser’, pensei.
A médica era morena e
deveria estar na casa dos quarenta.
Demonstrava muita simpatia e me
convidou para sentar.
– Tatiana, como vai?
– E-estou bem, doutora.
– Hum... pela sua aparência
assustada, não está tão bem quanto
diz. Vamos ver no que posso ajudá-
la. Qual a finalidade da sua
consulta, querida?
O meu desejo era de dar as
costas e sair correndo daquele
lugar. Ela poderia me dar respostas
que não gostaria de ouvir naquelas
circunstâncias.
– Estou desconfiada de uma
possível gravidez e resolvi
procurá-la apenas por desencargo
de consciência.
– Certo, como imaginei.
Quando foi seu último ciclo
menstrual?
– Minhas regras nunca foram
regulares mesmo tomando a pílula.
Deve ter um pouco mais de dois
meses que não menstruo.
– Bem, nesse estágio, se
você estiver grávida, será possível
confirmar apenas por um ultrassom.
Dirija-se àquela sala e vista um
roupão que está lá dentro. Quando
retornar, faremos o exame.
Caminhei lentamente,
pesando as consequências do
resultado que estava por vir. Um
bebê não mudaria apenas a minha
vida. Mudaria a de Marco também
e de todos à nossa volta.
Sempre tive medo de me
tornar mãe sem poder dar uma
estrutura familiar a meu filho.
Tenho o meu próprio apartamento
onde moram também a minha mãe e
minha irmã dois anos mais nova
que eu.
Ela é mais que irmã. É minha
melhor amiga.
Me troquei e voltei para a
sala onde a médica já preparava o
aparelho para me examinar.
– Deite-se aqui e levante um
pouco o roupão. É preferível uma
transvaginal para termos um
resultado preciso, algum problema?
Não. Eu queria um resultado
preciso. Precisava ter certeza do
que estava acontecendo comigo
ultimamente e algo me dizia que
essa resposta viria em seguida.
– Tudo bem, doutora. Faça
da forma que achar melhor.
Ela introduziu o aparelho em
minha vagina e começou a mexer
com ele lá dentro. Senti um pouco
de desconforto, mas sabia que era
parte do procedimento.
– Então, a senhora está
vendo algo diferente?
A ansiedade estava me
matando.
– Deixe-me ver... hum...
aqui, querida. Sim, consigo ver
algo diferente. Observe essa
pequena imagem no centro.
– Oh, meu Deus, será que
realmente estou vendo o que eu
acho que estou vendo?
A médica sorriu.
– Espero estar te dando uma
boa notícia. Eu posso te afirmar
sem sombras de dúvidas que você
está grávida, Tatiana. Esse pequeno
grão aqui é o seu bebê e ele está
muito saudável. Parabéns! Logo se
tornará mãe.
Um bebê.
Meu.
De Marco.
Grávida.
Como na galáxia isso foi
acontecer com tantos cuidados que
tomamos? Tinha que ser comigo. Eu
tinha que entrar na porra de uma
estatística mínima de não sei
quantos zeros porcentos e acabar
grávida sem sequer estar num
relacionamento sério.
A médica pediu para que me
trocasse e que depois voltasse para
conversarmos. Fiz conforme
solicitou e logo estava de volta.
– Sente-se, Tatiana. Já vi
muitas mulheres terem a mesma
reação de pânico que a sua, mas é
normal tomar esse susto na primeira
impressão. O que eu vejo depois é
sempre pais ansiosos por verem o
pequeno rosto de seu bebê e muito
felizes com a chegada dele. Tudo
acaba se resolvendo, querida.
– É complicado, doutora.
Estarei pensando o que fazer a
partir de agora e espero que tudo
seja resolvido de fato. Foi possível
ver de quanto tempo de gravidez
estou?
– Calculando pelo seu
último ciclo e o tamanho do bebê,
está com cerca de dez semanas.
– E os enjoos e tonturas
demoram muito a passar? Tenho
sentido constantemente.
– Logo sairá do primeiro
estágio da gravidez e
provavelmente as reações que
estiver sentindo passarão. Estarei te
medicando para minimizar as
sensações, mas te alerto que podem
permanecer por mais um tempo.
Ela receitou alguns remédios
e complementos alimentares que as
grávidas geralmente tomam, e pediu
para que marcasse nova consulta
dali a um mês.
Saí do consultório como se
tivesse sido arrasada por um
vendaval. A chuva ainda caía lá
fora e deixei que me molhasse
como se pudesse lavar a minha
agonia.
Me daria aquele dia apenas
para chorar e mais nada, mas no
outro, teria que tomar decisões
como descobrir uma forma de
contar a Marco que ele se tornaria
pai.
Cheguei em casa e liguei
para o escritório dizendo que não
estava passando bem e que não
retornaria naquele dia.
– É algo sério, Tatiana?
Percebi que estava pálida
ultimamente. Tire quantos dias
precisar de folga. Você trabalha
demais, menina.
– Não será necessário, Sr.
Ribeiro. Só preciso de repouso
hoje, mas amanhã estarei de volta
ao escritório. Obrigada por
entender.
– Desejo melhoras, menina.
Se cuide.
Essas foram as últimas
palavras que consegui pronunciar
antes que desabasse em lágrimas.
Me joguei na cama e passei a tarde
inteira embrulhada em meu próprio
drama.
Só hoje.
Amanhã é outro dia, Tatiana,
e você terá que reagir, pois não
pode pensar apenas em si mesma.
Agora tem mais alguém para se
preocupar. Não é como se eu fosse
uma adolescente com uma gravidez
precoce. Tenho vinte e cinco anos e
estabilidade financeira. Apenas não
tenho estrutura familiar para
oferecer ao meu filho. – Falei para
mim mesma.
A noite chegou e minha irmã,
Lana, entrou em meu quarto toda
animada pelos últimos
acontecimentos na faculdade. Ela
estava terminando enfermagem e
estava adorando cada vez mais.
Quando viu meu rosto
inchado de tanto chorar, parou de
tagarelar e veio ao meu encontro,
me abraçando.
– Sssrrr pronto, minha irmã.
O que seja que tenha acontecido,
estaremos sempre contigo. Tente se
acalmar.
Ela continuou abraçada a
mim por um tempo e em seguida
saiu para buscar água. Quando
voltou, bebi todo o líquido e
resolvi desabafar.
– Estou grávida, Lala. Estou
grávida e nem sequer estou
namorando.
Minha irmã tapou a boca,
demonstrando mais felicidade que
surpresa.
– Oh, Tati. Você será mãe?
Graças a Deus que a notícia é boa,
maninha. Fiquei achando que me
contaria uma tragédia. Um bebê vai
animar tanto a nossa casa.
– Você ainda não pesou as
consequências, Lana. Esse bebê tem
um pai que não faço ideia de como
irá reagir e eu tenho um trabalho
que amo, mas toma muito do meu
tempo. Como estarei nesse barco
sozinha?
– Você não estará sozinha,
querida. Temos eu e mamãe para te
ajudar e iremos descobrir juntas
como cuidar dele. Você ainda não
sabe como será a reação do pai,
como disse, e quem sabe não se
surpreenda positivamente? Marco
pareceu muito responsável quando
o conheci.
– Eu jamais pediria nada a
ele. Nos vemos às vezes e isso é só
o que temos. Acho que ficará tão
assustado quanto eu, pois não fazia
planos de se tornar pai tão cedo.
Espero apenas que assuma a
paternidade.
– Não sofra antes da hora.
Meu sobrinho será muito bem-
vindo a essa casa. Vou amá-lo e
mimá-lo tanto. Ei, pequeno, aqui é
titia. Não ligue para a reação de sua
mãe. Ela logo estará louca por
você. – Lana falou, tocando em
minha barriga lisa como se
estivesse conversando com o nené.
– Valeu, La, você sabe como
me levantar sempre. Preciso dormir
para acordar cedo. Pretendo contar
a Marco amanhã. Parece que meus
dias serão agitados a partir de
agora.
Não sei se por causa das
lágrimas ou do cansaço emocional,
mas assim que minha irmã saiu, caí
nos braços de Morfeu por longas
horas só despertando no outro dia.
Capítulo 1

Ela

Cheguei ao escritório um
pouco mais cedo do que chego
normalmente. Tentei atualizar a
agenda do Sr. Ribeiro e preparar
alguns documentos que estavam
pendentes.
– Tatiana, chegou cedo. Está
se sentindo melhor?
Meu chefe já adentrou o
lugar, perguntando. Eu amo
trabalhar na Construtora Carlos
Ribeiro. As pessoas aqui são como
uma segunda família para mim.
– Sim, Sr. Ribeiro. Obrigada
por perguntar. Sua agenda já está
pronta e daqui a uma hora
aproximadamente terá sua primeira
reunião do dia.
– Sempre tão eficiente, Tati.
O que faria sem você para me
ajudar agora que Brisa está tão
distante?
Brisa é a filha dele que se
casou por conta de um acordo, mas
que tinha encontrado a felicidade.
Vivia muito bem com seu esposo
com o qual tinha uma filha chamada
Luiza. Ela era a sensação da
empresa nas poucas vezes que
aparecia.
A menção dela me fez
lembrar que logo teria que contar a
seu cunhado que ele se tornaria pai.
Marco é irmão de seu marido,
Alfonso.
– O que é isso, senhor, não
faço mais que minha obrigação.
A manhã passou sem maiores
problemas, além do pequeno enjoo
que estava sentindo. Comprei os
remédios antes de chegar ao
trabalho e pareciam estar fazendo
efeito. As sensações estavam mais
brandas.
– Tati, já está na hora de
almoçar, vamos?
Minha amiga Lúcia me
chamou. Ela é a recepcionista da
empresa e sempre almoçávamos
juntas.
– Claro, vou pegar minha
bolsa.
Comemos em um restaurante
self service próximo do escritório
como de costume. Minha mente
estava em outro continente enquanto
Lúcia não parava de falar.
– Ele era enorme. Eu não sei
como aquele troço coube em mim.
Porra, aquele homem deveria ser
colocado em uma exposição para
mostrar a obra-prima criada pela
natureza e...
– Hein? O que? Desculpa,
Lu, hoje não estou muito bem. A
minha cabeça está cheia.
– Oh, querida, posso te
ajudar em alguma coisa? Senti sua
falta ontem, já está melhor?
– Infelizmente ninguém pode
me ajudar, mas não é nada com que
precise se preocupar. Você estava
falando sobre quem? Eu conheço o
cara?
Continuamos a conversa
sobre um homem com quem ela
estava saindo e tentei me concentrar
durante o maior tempo possível.
Tudo transcorreu bem
durante o dia no escritório e logo já
era hora de ir para casa. O enjoo
havia passado pela tarde e a única
coisa que estava me consumindo
era saber que tentaria falar com
Marco ao chegar.
Na entrada de casa, senti um
cheiro delicioso que vinha da
cozinha. Entrei e minha mãe me
recebeu com um grande sorriso,
dizendo que tinha preparado um
jantarzinho para nós.
– Ah, mãe, estou realmente
precisando de todo esse carinho.
Ela me puxou para o sofá e
encostou minha cabeça em seu
ombro.
– Eu sei, filha. Eu sei.
– Sabe?
– Você acha que não percebi
que algo estranho estava
acontecendo com você? Que tipo de
mãe seria se não tivesse percebido?
– Então você já
desconfiava? Por que não
comentou?
– Eu a via enjoando pela
manhã e tendo mudanças de humor.
Já tive duas gravidezes e sabia que
logo iria descobrir.
– Estou tão confusa, mãe. O
que você acha que devo fazer?
– O primeiro caminho é
contar para o pai, querida. Ele tem
o direito de saber.
– Eu não quero que ele se
sinta preso a mim por causa de um
bebê que nenhum de nós planejou.
– Não planejaram, mas está
sendo gerado dentro de você e
terão de conviver com esse fato.
Uma criança é um elo para a vida
toda independente de ficarem juntos
ou não.
– Ah, mãezinha, você tem
razão.
– Sabe que está realizando
um sonho meu não é, querida? Se
seu pai estivesse vivo, também
estaria muito feliz.
– Saber que tenho o apoio
da minha família é o combustível
que está me movendo desde que
recebi a notícia.
– Sempre, querida. Sempre.
Tomei um banho enquanto a
minha irmã chegava da faculdade.
Jantamos todas juntas e consegui
me desligar dos problemas por um
tempo.
As duas estavam mais que
animadas com a chegada de um
novo membro à família e já faziam
suas apostas para o possível sexo e
nomes de bebês.
Depois de jantar, fui para o
quarto. Deitei em minha cama,
buscando coragem para ligar para
Marco e lhe contar.
Se eu não fosse tão covarde,
pediria para que viesse ao Brasil
para conversarmos pessoalmente,
mas sei que não terei forças para
segurar esse segredo comigo por
tanto tempo. Terá que ser por
telefone mesmo.
Fiquei olhando para o teto e
senti que a minha visão estava
ficando nublada. Com o telefone na
mão, fui tomada pelo sono que veio
seguido de um sonho misturado a
lembranças.
Eu tinha acabado de sair da
renovação de votos entre Brisa e
Alfonso. Marco me arrastou para
um quarto do hotel mais próximo e
me encurralou de frente à parede.
Ele cheirava a minha nuca
enquanto arrepios tomavam o meu
corpo.
– O que está fazendo
comigo? Você tem um corpo que foi
feito para ser fodido. Quer que eu
te foda, Tati?
– Sim, Marco, por favor.
Ele esfregou sua ereção
dentro da calça em minha bunda,
enquanto seus lábios brincavam
desde a minha orelha até a base da
minha nuca.
Seus dedos esmagaram meus
mamilos, fazendo que com minha
vagina ficasse encharcada
implorando para que fosse fodida.
– Eu estava com saudades
do seu gosto.
Nesse momento, ele me
virou, capturando os meus lábios
em um beijo ambicioso. Eu sentia
que ele queria tudo de mim e eu
estava mais que disposta.
Seus dedos foram
substituídos por sua boca e Marco
passou a chupar os meus seios, me
levando à loucura. Arqueei o meu
corpo, pressionando o seu pau,
buscando algo que me trouxesse o
alívio que eu tanto precisava.
– Querida, eu quero que
aproveite muito comigo, pois
quando tiver terminado, sua
bocetinha apertada estará destruída
e cada movimento seu irá te
lembrar quem esteve aí dentro.
Ele se abaixou e eu já sabia
onde sua boca iria parar. Eu já me
contorcia em antecipação, sabendo
que a tortura valeria a pena.
Chupou o meu clitóris por
bastante tempo, me levando à borda
o tempo todo. Quando percebia que
estava prestes a gozar, ele parava.
– Marco, não faça isso. Eu
preciso...
– Calma, minha rainha,
quanto mais eu te provocar, melhor
será o gozo. Você vai alcançar
outro nível de prazer.
Mordiscava, lambia,
chupava e fazia mágica com os
dedos. Eu puxava sua cabeça ainda
mais para perto, como se isso fosse
possível. Rebolava em sua boca,
fazendo com que sua língua
deslizasse entre meu clitóris e
minhas dobras. Um gemido escapou
de meus lábios. Eu precisava me
liberar.
– Agora, querida, me dê seu
prazer. Quero senti-lo em minha
boca.
Meu corpo parecia explodir
em mil pedaços, quando fui tomada
por um gozo de abalar o universo.
Consegui alcançar um clímax
profundo e duradouro.
Apenas Marco havia
extraído tanto de mim. Eu estava
estragada para qualquer outro
depois dele.
Seu olhar estava fixo em
minha direção de forma predatória.
Meus lábios foram tomados com
paixão e voracidade. Suas mãos se
apressaram em empurrar as alças
do meu vestido e me deixar apenas
de lingerie.
Ele se afastou para me olhar,
seus olhos dilatados, mas não
demorou com o escrutínio.
Precisava me possuir e eu
precisava ser possuída.
– Que Deus me ajude, acho
que nunca terei o bastante de você.
Ele falou, tirando a minha
calcinha e se apressando para
baixar a calça e colocar um
preservativo. Adorava olhar o seu
pau cheio de veias sobressalentes
que me davam água na boca. Marco
era másculo da cabeça aos pés.
Ainda de pé, ele estreitou
nossa distância, puxando as minhas
pernas em volta de sua cintura.
– Diga que é minha, Tatiana.
Diga que me pertence.
– Sim, Marco, de corpo e
alma. Sou sua desde o dia que te vi
pela primeira vez.
Meu amante me penetrou sem
piedade, fazendo com que minha
boceta queimasse em um ardor
delicioso. O meu corpo logo o
reconheceu e se ajustou com
perfeição ao seu membro.
Suas investidas continuavam
como se ele estivesse em uma
missão. Seu pau me invadia de
forma áspera, arrancando de mim
sensações que nem eu mesma sabia
que poderia ter.
– Marco. – Falei em um
sussurro.
– Goze comigo, minha
rainha.
Meu corpo obedeceu ao seu
comando e imediatamente fui
tomada por um nirvana tão
alucinante que me fez acreditar que
deveria ser uma amostra do
paraíso. Ele me acompanhou e
derramou todo o seu prazer dentro
de mim.
Com a respiração ainda
irregular, fiquei admirando o
espetáculo de homem que tinha
acabado de me possuir. Eu queria
mais dele. Eu queria mais com ele.
Marco me olhou
possessivamente e com os lábios
quase encostados aos meus
declarou:
– Eu te...
Toc, toc, toc.
– Querida, está acordada?
O quê? Quem? Oh, meu
Deus, eu estava sonhando?
– Eu estava dormindo, mãe.
– Gritei.
– Está tudo bem, Tati?
Não, mãe. Não está nada
bem você me acordar no momento
que o pai do meu filho diria que
me amava. – Pensei.
– Está, dona Marlene. Boa
noite!
– Boa noite, filha. Qualquer
coisa me chama.
Meu coração batia acelerado
e eu estava toda molhada pelo
sonho delicioso. Esta noite eu teria
que me tocar ou explodiria.
Escorreguei a mão em
direção a minha entrada. Enfiei
dois dedos lá e os melei com os
meus próprios fluidos. Voltei para o
meu clitóris e passei a massageá-lo,
imaginado que aqueles dedos
pertenciam ao homem dos meus
sonhos.
– Marco. – Chamei por ele
em um gemido baixo.
Minha mente se encheu de
recordações de nós dois e, em
pouco tempo, fui invadida por um
clímax que me fez estremecer de
prazer.
Ainda ofegante, lembrei o
que tinha planejado fazer antes de
ser vencida pelo cansaço. Tinha
que ligar para ele e soltar a bomba.
A minha mãe estava certa, Marco
tinha o direito de saber.
Capítulo 2

Ela

Peguei o meu celular e


procurei por seu número na agenda.
Faria uma ligação internacional,
mas não podia pensar em dinheiro
naquele momento. Eu tinha que
compartilhar a notícia, uma vez que
a informação não pertencia só a
mim.
Disquei o seu número.
Chamou aproximadamente cinco
vezes antes que a ligação fosse
atendida.
– Hola! – Uma voz feminina
respondeu.
– Boa noite, esse telefone é
de Marco?
– Si, Marco está ocupado.
Quem gostaria?
– Sou apenas uma amiga do
Brasil e você, quem é?
– Eu sou a namorada dele,
chica.
Senti um gosto azedo em
minha boca e fui tomada por um
daqueles enjoos, mas dessa vez
com toda força. Namorada? Como
vou contar ao filho da puta que será
pai do filho de uma amante quando
ele já tinha se comprometido com
outra? Meu Deus, que confusão!
– Ah, tudo bem. Avisa a ele
que Tatiana ligou, por favor.
Desliguei o celular e saí
correndo para o banheiro na
tentativa de botar para fora tudo o
que tive de digerir nesta ligação.
O desgraçado só estava
brincando comigo. Eu era apenas
uma foda fácil que ele encontrou no
Brasil. Imagino quantas vezes riu
da minha cara por transparecer que
queria algo mais com ele.
Você é idiota, Tatiana. –
disse para mim mesma. – Só você
para acreditar que um homem lindo
e bem-sucedido como Marco te
daria alguma chance. Ainda pensou
em posar de família feliz com ele.
Patética!
Já vi que a noite será longa,
porém vou precisar dela para
decidir o que fazer a partir de
agora.

****************

No outro dia, acordei


bastante sonolenta, pois quase não
havia dormido. Quando consegui
cochilar, o dia já estava para
amanhecer e em pouco tempo, o
despertador tocou.
Pensei muito e decidi que ele
ainda tinha o direito de saber que
seria pai mesmo que já tivesse
assumido outro compromisso. Um
filho deve ser prioridade e se a
garota realmente gostar dele, saberá
lidar com a situação.
Tenho que ser madura e não
deixar que meus sentimentos
influenciem a minha opinião. Há
mais em jogo. Há um bebê que não
tem culpa das escolhas erradas que
fazemos na vida.
Meus planos para aquele dia
eram de tentar me concentrar no
trabalho e ligar para Marco
novamente à noite. Tinha esperança
de ter mais sorte dessa vez e que
ele mesmo atendesse ao telefone.
Depois de um tempo no
escritório, o telefone sobre a minha
mesa tocou. Era Sra. Laura Ribeiro
avisando que passaria no escritório
esta manhã. Informei-lhe qual seria
o melhor horário para que tivesse
mais tempo com seu marido e
anotei o recado.
Informei ao Sr. Ribeiro que
sua esposa viria ainda esta manhã à
empresa e ele pareceu bastante
contente por isso. O amor deles
depois de tanto tempo de casados
era de dar inveja.
A manhã no escritório estava
transcorrendo sem imprevistos, me
vi envolvida com os afazeres e
consegui até mesmo esquecer dos
meus problemas por um tempo.
Havia muito que demandava a
minha atenção.
Sra. Ribeiro chegou e
conversou um pouco comigo antes
de entrar na sala.
– Tati, como vai? Linda
como sempre. Carlos me falou que
não esteve muito bem esses dias.
Espero que esteja melhor.
– Estou sim, Sra. Ribeiro.
Foi apenas um pouco de cansaço,
mas descansei e estou melhor.
– Se cuide, querida. Carlos
pode me receber agora?
– Sim, senhora. Ele já a
aguarda.
Entrou sem ser anunciada. A
porta do escritório continuou aberta
e dava para ouvir que a conversa
entre eles era descontraída.
Não tinha como ver tamanho
companheirismo e não se imaginar
tendo algo parecido um dia. Eu
ainda acreditava que, no futuro,
encontraria alguém que me amasse
tanto quanto eu a ele.
Não seria aquele que meu
coração tinha escolhido, mas
haveria alguém no mundo que faria
os meus batimentos cardíacos
acelerarem tanto quanto Marco
consegue fazer atualmente.
A luz do telefone acendeu e
atendi já sabendo que era da sala
do Sr. Ribeiro.
– Tatiana, você poderia
solicitar que tragam uma xícara de
café para mim e um copo de suco
para Laura? Peça alguns biscoitos
também, por favor.
– Sim, senhor, eu mesma
providenciarei tudo.
– Obrigado, Tati.
Fui à copa e preparei uma
bandeja contendo tudo o que meu
chefe tinha me pedido e acrescentei
mais alguns aperitivos. Havia
pessoas que faziam esse tipo de
serviço na empresa, mas não me
custava fazer isso de vez em
quando.
Entrei na sala e mesmo
tentando ser discreta, não pude
evitar ouvir o assunto da conversa
entre eles.
– Brisa me ligou hoje
contando as novidades sobre Luiza.
Disse que os dentes dela estão
nascendo e que às vezes, fica um
pouco enjoada, mas que na maior
parte do dia, está traquina e
sorridente, tentando alcançar todos
os objetos e colocá-los na boca.
– Eu terei que ver isso
pessoalmente. Vamos programar
uma viagem para o fim de semana,
Laura.
– Estou morrendo de
saudades. Vamos, sim.
Eu estava saindo da sala,
quando Sra. Ribeiro me chamou de
volta.
– Tati, você ainda está
saindo com o irmão de Alfonso?
Como é mesmo o nome dele... Ah,
sim, Marco.
– Não, senhora, faz um
tempo que não o vejo. Somos
apenas amigos.
– Aquele menino não toma
jeito, não é? É tão lindo e as
garotas ficam loucas tentando levá-
lo ao altar. Alfonso já disse que ele
não pretende se casar tão cedo e a
única forma de fazê-lo mudar de
ideia seria caso uma dessas
aproveitadoras engravidassem dele.
Eu acho um absurdo esse tipo de
mulher que usa um bebê para
prender um homem.
Eu tinha que sair daquela
sala o mais rápido possível. Eu não
tinha controle emocional para ouvir
mais nenhuma palavra.
– Com licença, preciso
voltar à minha mesa.
Saí correndo para o banheiro
e nem o efeito dos remédios que
estava tomando conseguiu controlar
a minha ânsia de vômito. Coloquei
tudo para fora e percebi que alguém
entrava no banheiro.
– Tati, o que está
acontecendo? Você está passando
mal?
Ela segurou meus longos
cabelos enquanto a minha alma
descia pelo vaso sanitário. Quando
consegui me controlar, fechei a
tampa e sentei sobre ela, abaixei a
cabeça e as lágrimas começaram a
rolar livremente.
– Eu vou ficar bem, Lúcia.
– Tem certeza que não quer
ir a um hospital? Você está pálida,
minha amiga.
– Não, sem hospitais. Você
poderia me deixar um pouco
sozinha? Eu prometo que ficarei
melhor em instantes. Eu só preciso
desabafar e mais tarde converso
com você.
– Se é o que deseja..., mas
se demorar, volto para ver se está
bem.
A minha amiga saiu e me
deixou sozinha com meus
pensamentos. O que eu faria agora,
meu Deus? Eu não poderia prendê-
lo em uma cilada de casamento só
por uma questão de honra.
Não quero ser a única a amar
o meu marido. Quero ser amada na
mesma intensidade. E se ele achar
que engravidei de propósito, que fiz
um plano ardiloso para levá-lo ao
altar?
Eu seria sempre apontada
como aquela que deu o golpe da
barriga para prender o noivo. Não,
não e não.
Pelo meu bem e pelo bem do
meu filho, não posso deixar que ele
saiba. Marco faria a coisa certa
pelos motivos errados, nenhum de
nós seria feliz com isso e meu filho
não teria um lar.
Lavei meu rosto e respirei
fundo, tentando fazer com que meu
corpo parasse de tremer. Eu
precisava ser forte para tomar as
melhores decisões e em nenhuma
delas estava a minha felicidade. Ao
menos eu não tornaria alguém mais
infeliz.
Fui até a minha mesa buscar
meu nécessaire, escovei os dentes e
refiz minha maquiagem. Me olhei
no espelho e o que vi lá foi uma
mulher completamente diferente
daquela sonhadora de antes.
A mulher que me olhava
havia amadurecido do dia para a
noite e teria responsabilidades para
cuidar a partir de agora. Os sonhos
teriam que ficar na gaveta por um
tempo. Quem sabe não viriam à
tona um dia novamente?
Voltei para o trabalho e nem
ao menos saí para almoçar apesar
da insistência de Lúcia. Fiz um
lanche lá mesmo e me entreguei aos
afazeres.
No final da tarde, aceitei o
convite para um happy hour com
minha amiga. Eu precisava
conversar com alguém que não
conhecesse Marco. Talvez uma
opinião de uma pessoa de fora
iluminasse a minha mente.
– Vai tomar o quê, Tati?
Vinho, cerveja...
– Não, apenas um suco de
laranja.
– Hoje é sexta-feira e você
vai tomar apenas um suco? Deixe-
me te lembrar que não
trabalharemos amanhã. – Minha
amiga tentou quebrar o clima.
– Se eu conseguir manter um
suco no organismo, já me dou por
satisfeita.
– Você tem me deixado
preocupada ultimamente. Não vai
me contar o que está acontecendo?
– Em resumo, estou grávida
de um homem que não tem qualquer
compromisso comigo, que não me
ama, tem pavor de casamento e que
tem princípios morais que o
forçaria a um matrimônio caso
descobrisse sobre a minha
gravidez.
– Porra! Era aquele cara
com quem estava saindo, que
inclusive a levou para a Espanha?
– Ele mesmo, o cunhado de
Brisa. Não sei que merda faço
agora. Se eu contar, ele e todos que
nos conhecem podem achar que
planejei um golpe, além do fato de
que nenhum de nós estaria feliz em
um casamento de conveniência. Se
eu não contar...
– Não, Tati. Você precisa
contar a ele. Independente do fim
que essa história tenha, ele precisa
saber que será pai. Um dia seu filho
também cobrará isso de você. No
século atual, ninguém se casa
porque está grávida. Você tem
direito a escolher, é livre.
– Ele tem dinheiro e poderia
tentar tirar a criança de mim, além
de tudo, tem namorada e não
gostaria que meu bebê fosse visto
como o fruto do casinho que seu pai
teve. A sociedade a qual Marco
pertence pode ser muito cruel.
– Oh, querida, sei que você
tem todos os motivos para tentar se
proteger, porém não tem o direito
de guardar essa informação para
você. Não é uma questão de
escolha, mas de decisão. Espero
que decida dar uma oportunidade a
ele.
– Ainda tenho bastante
tempo pela frente para descobrir
qual o melhor caminho. Não quero
agir precipidamente.
Fiquei mais um tempo com
Lúcia, ouvindo música ao vivo e
tomando suco, enquanto ela tomava
uma taça de vinho. A deixei em
casa, que não era muito distante da
minha e por volta das oito já estava
em meu quarto, me preparando para
um banho.
Entrei na banheira e passei a
alisar a minha barriga ainda sem
vestígios de gravidez. Dizem que os
bebês nos ouvem desde o ventre.
Resolvi conversar com ele.
– Meu grãozinho, não tenho
dúvidas de que será uma criança
muito forte, pois enfrentou tudo e a
todos para vir ao mundo. Você está
deixando a mamãe em apuros, mas
já o amo, pequenino. Por enquanto,
papai não pode saber sobre você,
mas vamos contar para ele no
futuro, está certo?
Fiquei bastante tempo lá,
jogando água em minha barriga e
conversando com o meu príncipe ou
minha princesa. Saí do banho e me
enrolei em um roupão. Deitei na
cama e liguei a televisão, porém a
minha mente não conseguia se
prender a nada que estava
passando.
Só conseguia lembrar de Sra.
Ribeiro dizendo: “Alfonso já disse
que ele não pretende se casar tão
cedo e a única forma de fazê-lo
mudar de ideia seria caso uma
dessas aproveitadoras
engravidassem dele.”
Aproveitadora. Era assim
que eu seria vista.
Minha cabeça estava em
turbilhão quando o meu celular
tocou. Olhei para o identificador e
vi que a ligação era de Marco. Oh,
meu Deus, o que eu faria gora?
Deixei que tocasse até cair
na caixa de mensagens e me senti
aliviada quando não voltou a tocar.
Meus olhos estavam grudados na
tela do visor por alguns minutos,
quando novamente percebi que a
luz acendia.
O que será que ele queria
comigo? Será que a namorada dele
havia lhe dado o recado? Deixei
que tocasse mais uma vez. Saí do
quarto, deixando o celular para
trás. Fui até a cozinha tomar um
copo de água e voltei determinada a
desligá-lo.
Não precisei entrar no quarto
para ouvir o toque me convidando a
atender. Aceitei ao convite desta
vez, sem saber o que lhe diria.
– Alô!
– Tati, por que demorou
tanto para atender? Já estava
começando a acreditar que me
evitava.
– Oi, Marco, como vai?
– Muito bem, minha rainha,
e com saudades. Estou planejando
ir ao Brasil para te encontrar, o que
acha?
– Vir ao Brasil? Você tem
negócios a tratar aqui?
– Não. Pretendo ir ao Brasil
só para te ver ou poderia mandar as
passagens para que viesse à
Espanha. Não está com saudades?
– Olha, Marco, eu posso ter
deixado essa impressão, mas quero
que saiba que não sou uma qualquer
que você apenas usa quando está
com vontade. Eu mereço respeito e
não sou a única. Você tem namorada
e não gostaria que fizesse comigo o
que está fazendo com ela. Acho que
o melhor é esquecer o meu número
de telefone.
– Do que está falando,
Tatiana? Por que está me tratando
assim? Quando foi que te faltei ao
respeito?
– Não se faça de
desentendido. Eu já sei de tudo.
Quero que esqueça que um dia me
conheceu e eu tratarei de fazer o
mesmo. Espero, de verdade, que
seja muito feliz, Marco.
– Então é assim, Tati? Você
vai terminar a nossa relação desse
jeito? Pensei que estávamos indo
por um bom caminho. Você
simplesmente vai me dar adeus,
passe bem?
– Oh, Deus, para que tanto
fingimento, porra? Eu não serei um
casinho extra seu. Entenda isso.
– Você quer um
relacionamento sério? Por que não
deixamos para ver no que vai dar?
Eu sorri para mim mesma.
Até aonde ele iria para tentar me
enganar?
– Chega, Marco. Até
qualquer dia.
Desliguei o telefone e me
enrolei em meu próprio corpo como
um bebê. Acabou. Eu tinha que
buscar um meio de convencer o
meu coração a aceitar esse fato.
Capítulo 3

Ele
1 ano depois...

– Onde está Luiza? Olha ela


aqui!
Eu brincava com minha
sobrinha de quase dois anos de me
esconder atrás do sofá. Com olhos
atento, ela me procurava e sempre
acabava encontrando. Seus risos
eram contagiantes e me faziam cair
na gargalhada também.
Acho que nasci para ser tio.
Não aguentava ficar muito tempo
sem ver minha princesinha.
Ouvi passos em nossa
direção e quando ela viu o pai, saiu
correndo para que ele a apanhasse
no colo. Alfonso assim o fez e ela
deitou sua pequena cabeça cheia de
cachos castanhos no ombro dele.
– Você leva tanto jeito com
crianças, cara. Deveria ter o seu
próprio filho.
– Porra, essa é uma ideia
que está começando a nascer na
minha mente, mas ainda preciso de
um pouco mais de tempo. A mãe do
meu filho será a minha esposa e não
pode ser qualquer uma.
– Não xingue na frente dela!
Por falar em esposa, já tem uns
meses que você namora Andréa,
não é? Não tem planos de casar
com ela?
– Ainda é muito recente,
vamos ver no que vai dar. Deve ter
o quê? Cinco ou seis meses que
namoramos. Ela é linda, porém não
tenho certeza se é a pessoa certa
para mim.
– Cara, quando eu vi Brisa
pela primeira vez, eu já sabia que
ela seria a minha esposa. Tive a
maior sorte do mundo do destino ter
interferido. Se você não tem essa
certeza, talvez deva rever seu
relacionamento.
Essa conversa me lembrou
uma certa morena de olhos
castanhos. Já tinha bastante tempo
que não via Tatiana, mas ainda não
havia conseguido me livrar de seu
fantasma.
Eu pensei que estávamos
caminhando para um
relacionamento. Pensei em ter
encontrado essa mulher que meu
irmão acabou de descrever,
entretanto, sem maiores
explicações, ela terminou tudo.
Comecei a namorar Andréa
alguns meses depois, já que ela
tinha se tornado uma grande amiga
quando eu mais precisei. Ela era
minha confidente e conhecia toda a
minha história com Tatiana.
Com o passar do tempo, o
meu coração não aquecia para mais
ninguém e resolvi dar espaço
apenas para a atração sexual como
sempre foi com as mulheres.
Eu ainda pensava em Tati e
tinha sonhos regulares com ela e um
pequeno menino andando de mãos
dadas em minha direção. Sei que
isso era delírio da minha cabeça,
pois sempre nos prevenimos e se
houvesse o risco de eu me tornar
pai, ela me contaria.
– Peça um primo para ele,
Lu. – Alfonso provocou.
– Dá piminho, titio.
– Um dia, minha
princesinha. Um dia você terá um
amiguinho para brincar.
– Um dia... está certo! Até
Clara e Benito já estão com um
herdeiro a caminho e você sequer
tem um compromisso sério. – Disse
meu irmão.
Clara é a melhor amiga de
Brisa que se casou com Benito,
produtor da banda brasileira No
Return. Depois de muitos conflitos
e até um sequestro no qual ajudei,
tudo ficou bem e já tinham um bebê
a caminho.
– Estou namorando, não é o
bastante?
Fui salvo pela minha
cunhada.
– Pare de apertar a mente de
seu irmão, Alfonso. Marco ainda é
muito jovem, logo pensará em
formar família.
Disse, entrando na sala e
tomando Luiza do colo do pai.
– Isso, cunhada, convença
esse chato de que tudo tem o seu
tempo. O meu ainda não chegou.
Ela sorriu para Alfonso que
parecia se derreter apenas em olhar
sua mulher. Eu vivi para ver isso.
Meu irmão mulherengo se
transformou em um homem fiel,
visivelmente apaixonado pela
esposa e pela filha.
– Vou deixá-lo apenas
porque está me pedindo, sereia. –
Falou, dando-lhe um abraço.
– Ei, tem criança e visita na
sala. Me dê Lu e vão para o quarto.
– Agora, não. Vou levar
Luiza para tomar um banho. – Brisa
disse, se afastando com a filha no
colo.
– Foi bom Bri levar minha
filha, pois preciso falar contigo,
irmão.
– Fale, então.
– Você sabe que com o
casamento, uma parte da
Construtora Carlos Ribeiro ficou
sob a minha responsabilidade e
embora seja gerida pelo meu sogro,
tenho receio de que alguém esteja
lhe passando para trás. Alguns
números não fecham e preciso ver
isso de perto.
– Certo, mas onde eu entro
nessa história?
– Eu estou muito atarefado
com a nossa matriz aqui da Espanha
e não posso me afastar agora. Você
é tão sagaz quanto eu e conseguirá
descobrir se estamos sendo
roubados.
– Porra, você consegue dar
conta da matriz e das filiais
sozinho?
– Se eu precisar de ajuda,
sempre tem o telefone ou avião
para você voltar. Papai e Brisa me
ajudarão também.
– Tudo bem, eu irei para o
Brasil. Você ainda tem o
apartamento lá, não é? Fazer
descobertas pode demandar tempo
e não vou morar em uma merda de
hotel.
– O apartamento é todo seu,
maninho. Vai levar Andréa com
você?
Ainda não tinha pesado esse
detalhe. Eu estaria de volta ao
Brasil depois de mais de um ano e
gostaria de levar a minha namorada
comigo? A resposta era não.
Teríamos de achar um jeito de
conviver com a distância e nos
encontrarmos em momentos
pontuais.
– Andréa tem compromissos
com suas lojas de roupas e não tem
disponibilidade para ficar muito
tempo fora. Vamos conversar e
viabilizar um meio de nos
encontrarmos.
– O motivo é esse mesmo ou
seria por causa daquela garota que
você conheceu no Carnaval de
Salvador? Tatiana o nome dela, não
é? Percebi que, na época, você
ficou bastante mexido, a trouxe
inclusive para a Espanha, mas
depois de um tempo não a vi mais e
nem te vi animado para voltar ao
Brasil.
– Você está esquecendo de
um detalhe: foi ela quem terminou o
lance que tínhamos. Eu não entendo
até hoje, mas já desisti de entender.
Não é esse o motivo pelo qual não
vou levar Andréa comigo.
– De qualquer modo, você
vai encontrar a garota brasileira,
pois ela trabalha na empresa Carlos
Ribeiro, lembra-se?
– E o que você quer dizer
com isso? Eu já segui em frente e a
essas alturas, ela também.
– Sei, certo. Converse
direito com Andréa. Não quero
causar problemas entre vocês.
Como se estivesse
adivinhando, meu celular tocou,
mostrando o nome dela no display.
Coloquei no viva-voz.
– Diga, Andréa.
– Baby, estou ligando para
saber onde vai almoçar. A loja não
está muito cheia e gostaria que
fôssemos juntos.
– Tudo bem, docinho.
Estarei aí em no máximo uma hora.
– Te aguardo, meu bebê.
– Argh! Que nojo, vocês
dois. ‘Docinho’, ‘meu bebê’,
depois fala de Brisa e eu. Pelo
menos não nos tratamos como duas
crianças.
– Vá se foder! Ela gosta de
ser tratada assim e por mim, tudo
bem. Vou almoçar com ela.
Fui ao quarto de Luiza me
despedir dela e de Brisa. Lu se
agarrou em meu pescoço e não
queria mais soltar por que eu estava
saindo. Quando viu que eu iria de
qualquer jeito, começou a chorar.
Meu coração se apertava
cada vez que tinha que deixar minha
princesinha, mas me confortava
saber que o amor que eu sentia por
ela era recíproco.
Fui ao shopping e logo vi
minha namorada. Andréa é tão loira
que às vezes parece que seus
cabelos são brancos. Ela é alta, de
corpo e rosto perfeitos e adora
falar de roupas e sapatos.
Meus amigos brincam que
namoro a Barbie. Não vou negar
que sua aparência me atrai, mas
ocasionalmente me sinto cansado
de tanta futilidade, porém, acima de
qualquer coisa, é uma grande
amiga.
– Baby, que bom que não
demorou. Vamos?
Logo chegamos ao
restaurante e enquanto eu pedi uma
massa bastante calórica, ela pediu
apenas uma salada. Eu me
exercitava, então não me
preocupava muito com o que comia,
mas Andréa contava cada caloria
como se precisasse. Já era muito
magra.
Ela comia tranquilamente,
lançando pequenos sorrisos em
minha direção quando toquei no
assunto:
– Docinho, eu terei que
passar um tempo no Brasil
cuidando dos negócios da família.
Há uma suspeita de que alguém
esteja nos roubando lá.
Vi minha namorada mudar de
cor.
– Você não pode ir para o
Brasil. Por que você não fica na
Espanha tomando conta da empresa
enquanto seu irmão viaja? Os
negócios lá não são da família de
Brisa? Então o interesse maior é
dele.
– Andréa, eu não estou
consultando você ou pedindo sua
permissão. Estou afirmando que na
próxima semana irei para o Brasil e
enquanto não conseguir resolver os
problemas lá, teremos que arrumar
um jeito de conviver com a
distância.
– Não, Marco. Eu vou com
você. Eu contrato um administrador
competente que pode lidar com
tudo na minha ausência.
A imagem de uma morena de
cabelos e olhos castanhos passou
por minha mente e o impulso de
impedir minha namorada se tornou
mais forte.
– Andréa, meu anjo, não
estou indo a passeio e talvez nem
tenha tempo para te dar atenção lá.
Tome conta de suas lojas e daremos
um jeito, certo?
Seus olhos se encheram de
lágrimas.
– Eu sinto que está se
distanciando, bebê. Aquela
brasileira vai fazer de tudo para
tirá-lo de mim.
– Chega de inseguranças,
querida. Talvez eu nem a veja lá e
caso aconteça, seremos adultos o
suficiente para lidar com a
situação. Não estou indo em busca
de um encontro amoroso.
Não sei se a finalidade das
minhas palavras era mais
convencer a minha namorada ou me
convencer.
Na verdade, eu não sei qual
seria a minha reação caso
reencontrasse Tatiana. Precisava
lembrar que foi ela quem me deu
um chute na bunda sem maiores
explicações.
Terminamos o almoço e
fomos para o apartamento de minha
namorada. Ficava situado em uma
região privilegiada de Madri e,
pelo tamanho, daria para comportar
uma grande família. Bem maior do
que ela precisava, pois morava só.
Ela ficou em silêncio durante
todo o trajeto e quando estávamos
no espaço privado, se jogou em
meus braços, me beijando e tirando
a minha roupa, parecendo
desesperada.
Segurei seus dois braços e
fixei meu olhar ao dela. Minha
namorada estava ofegante e havia
medo em seus olhos.
Medo da distância.
Medo de me perder.
E naquele momento, também
tive medo.
Eu tinha receio de fazer
promessas que eu não pudesse
cumprir, pois ainda que a minha
consciência dissesse que eu deveria
seguir em frente depois de tanto
tempo, havia algo mais forte que me
dominava quando eu lembrava que
estaria de volta à Salvador.
Fizemos amor como se não
houvesse amanhã, sem palavras e
sem promessas. Apenas a mistura
de sentimentos falava em cada
toque, em cada gesto, em cada
sensação.
Capítulo 4

Ela

Esta manhã, saí correndo


para o escritório com um aperto no
coração por ter que deixar um
pedaço de mim em casa. Amo o
meu trabalho, mas se pudesse
escolher, passaria mais tempo com
o meu pequeno.
Faz dois meses que a minha
licença maternidade acabou e ainda
não me acostumei a ficar longe
daquele cheirinho delicioso de
bebê e do sorriso mais lindo que já
vi na vida. Acho que nunca me
acostumarei.
Lorenzo é a doce lembrança
da linda e curta história de amor
que vivi com Marco, e suas feições
me lembram muito as de seu pai. É
uma pena que tivemos que trilhar
por caminhos diferentes.
Talvez um dia, eu possa lhe
apresentar seu filho. Talvez um dia,
ele entenda os meus motivos e me
perdoe.
Estava atarefada enviando
alguns e-mails quando percebi que
duas mãos masculinas se apoiavam
em minha mesa.
– Finalmente hoje você vai
aceitar almoçar comigo?
Olhei para cima, a fim de
reconhecer quem era o dono
daquelas mãos.
– Ai, Augusto, que susto
você me deu!
– Não foi a minha intenção,
juro que sou um bom garoto. E
então?
– Então, o quê?
– O meu repetitivo convite.
Hoje eu terei essa honra?
Augusto Haggi chegou à
empresa quando eu estava no
segundo trimestre de gravidez e
logo nos tornamos amigos. Ele
trabalhava em uma das filiais e
veio à Salvador para chefiar o
departamento de contabilidade.
Percebi seu interesse desde
que descobriu que eu seria mãe
solteira e até hoje tem insistido
para que saia com ele.
– Está bem. Se der tempo,
iremos almoçar juntos.
– Ufa! Até que enfim. Pensei
que esse dia nunca chegaria.
– Apenas não fique tão
empolgado. Será só um almoço.
– Claro, só um almoço. –
Ele falou, fazendo sinal de jura com
os dedos nos lábios.
Saiu, me deixando continuar
o meu trabalho. Ele até que é um
cara bonito e bastante simpático,
mas meu coração só tem espaço
para uma pessoa neste momento:
meu filho Lorenzo.
A minha sorte de trabalhar
em paz não durou por muito tempo,
pois Lúcia logo se aproximou,
querendo saber das novidades.
– Ei, nem tente escapar. Eu
vi que Augusto estava todo meloso
para o seu lado. E aí, resolveu dar
uma chance a ele?
– Que chance, Lu? Você está
vendo demais. Ele estava apenas
sendo gentil como sempre e me
convidou para almoçar mais uma
vez.
– Me diga que dessa vez
você aceitou. Por favor!
– Tudo bem. Ok. Dessa vez
aceitei lhe fazer companhia para o
almoço e nada mais, entendeu?
– Porra, aquele cara vai
acabar conseguindo o que quer.
Senti firmeza nele.
– Você sabe, melhor que
ninguém, que não tenho tempo para
relacionamentos. Qualquer minuto
de folga tem que ser dedicado ao
meu filhote e estou muito feliz por
isso. Nunca achei que fosse tão
bom ser mãe.
– Só não esqueça, querida,
além de mãe, você é mulher.
Consiga um tempo para si mesma.
– Vou tentar pensar nisso no
futuro.
– Ok. Dê um beijo em meu
sobrinho e depois quero saber de
cada detalhe desse almoço. –
Disse, colocando a última palavra
entre aspas com os dedos.
Finalmente consegui
trabalhar em paz e, por volta das
doze e meia, estava pronta para
almoçar. Entrei na sala do meu
chefe para avisá-lo que estava de
saída.
– Sr. Ribeiro, estou saindo
para o almoço. Precisa de algo
mais?
– Você pediu para o
departamento de contabilidade
separar os livros de contas? Um
representante da Espanha chegará
esta tarde e precisamos analisar os
números.
– Sim, senhor. Os livros já
estão à disposição. Fico feliz em
saber que terá mais alguém para
compartilhar tantas
responsabilidades. Com licença.
Ele me deu o seu melhor
sorriso envelhecido como resposta.
Seu genro, Alfonso, tinha algumas
ações na empresa e daria um apoio
mais que bem-vindo, pois o Sr.
Ribeiro estava sobrecarregado.
A chegada dele me lembrava
o seu irmão, mas estava
despreocupada, pois somente Lúcia
sabia quem era o pai do meu filho
na empresa e ela não diria a ele
nem a ninguém sem minha
autorização.
Saí do escritório e Augusto
já chegava para me buscar.
– Vamos?
– Claro, vamos!
Fomos a um restaurante de
comida oriental um pouco mais
distante do que eu costumava ir na
hora do almoço. Fomos muito bem-
recebidos e logo fizemos os
pedidos.
Augusto era muito agradável
e eclético nas conversas. Falamos
sobre a empresa, assuntos
cotidianos, meu filho e
relacionamentos.
Ele me contou que já foi
noivo, mas a relação ficou
desgastada e ambos concordaram
que era melhor terminar.
– E você, Tati, não deu certo
com o pai do seu filho?
Ninguém nunca havia me
perguntado tão diretamente, embora
sempre tivesse percebido a
curiosidade no olhar das pessoas.
– É isso, não deu certo, pois
tínhamos metas diferentes. Filho e
casamento não estavam nos planos
dele.
– Acho que viverei mil anos
e não vou conseguir entender como
alguém não teria planos de
construir uma vida com você.
– Infelizmente, nem sempre
fazemos as mesmas escolhas, não
é? Me perdoe, Augusto, mas
preferiria não continuar falando
sobre ele.
– Sem problemas. Acho
mais interessante falar sobre você.
Quais são os seus planos além de
ser mãe de um lindo bebê?
– Sem planos no momento,
apenas vivendo um dia após o
outro.
– Sei, espero que ao menos
encontre espaço para almoços com
amigos eventualmente.
Continuamos a conversa de
forma descontraída e ri muito com
as histórias hilárias que ele me
contava. Comemos, pedimos
sobremesa e tomamos um
cafezinho. Adorei o restaurante.
Vou chamar Lúcia para virmos
almoçar aqui qualquer dia.
Resolvemos voltar para o
escritório após uma hora e meia
fora. Ele me conduziu até a minha
mesa e ficou parado, me olhando.
– Obrigada, Augusto, pelo
almoço e pela companhia. Você tem
muito bom gosto, o restaurante é
maravilhoso.
– Sou eu quem agradece.
Estou à sua disposição para
voltarmos lá.
Augusto se inclinou, vindo
em direção a mim. A princípio,
fiquei nervosa, acreditando que me
roubaria um beijo, mas seus lábios
mudaram de direção e encontraram
a maçã do meu rosto.
Fomos interrompidos pelo
som de uma tossida rouca. Olhei
para trás dele, a fim de identificar
que mais estava naquele lugar e,
repentinamente, me senti como se
tivesse sido jogada em um abismo,
sem nada que me mantivesse a
salvo.
Marco estava parado,
correndo seus olhos de mim para o
meu amigo de forma acusadora. Oh,
meu Deus, o que ele fazia aqui?
Não era seu irmão quem viria?
Eu precisava me controlar. O
pior dos meus pesadelos estava
acontecendo, mas com sorte, não
seria por muito tempo. Continuava
lindo e meu coração logo
reconheceu seu dono como um
cachorrinho abanando o rabo.
– Eu não sabia que a
empresa já estava permitindo
namoro em suas dependências. –
Ele provocou.
Augusto virou em direção a
Marco como um animal felino que
se prepara para defender seu
território.
– Quem você pensa que é
para chegar aqui falando desse
jeito? – Meu amigo inquiriu.
Marco não moveu um
centímetro para lhe responder, pelo
contrário, o ignorou e fixou sua
atenção em mim, como se esperasse
uma resposta da minha boca.
– Você é o representante da
Espanha que o Sr. Ribeiro está
esperando? – Tentei amenizar o
clima, tentando tratá-lo de modo
profissional.
– Ah, então você é o cara
que o chefe está esperando para
olhar os livros, não é?
Independente de quem seja, deve
desculpas a Sra. Carvalho pelo
modo como falou.
Augusto continuou sendo
ignorado por Marco, que não
desviava os olhos de mim.
– Anuncie a minha chegada,
por favor, Tatiana. Carlos já deve
estar me esperando.
– Claro, farei isso
imediatamente.
Ainda assustada, informei ao
meu chefe que o irmão de seu genro
havia chegado e ele solicitou a sua
entrada.
Me senti encurralada entre
dois homens me olhando e medindo
forças sem dizer uma palavra.
Marco resolveu ir para a sala, mas
antes virou e me falou:
– Mais tarde preciso falar
com você, Tatiana.
Antes que eu respondesse,
repetiu:
– Mais tarde.
Seu tom de voz dava uma
ideia de que havia milhares de
promessas e por um momento me
deixei levar pela doce ilusão de um
recomeço, contudo um fio de razão
me chamou de volta e deixei com
que minha mente ganhasse essa
batalha.
Marco foi um fogo com o
qual me queimei.
Era um fogo com o qual não
me queimaria novamente.
Augusto permanecia em pé
me olhando como se medisse o meu
comportamento. Eu sou daquele
tipo que transparece tudo no rosto e
tenho dificuldades de esconder
reações.
Ele balançou a cabeça
ironicamente, como se tivesse
entendido tudo e me deu o beijo no
rosto que havia tentado
anteriormente.
– Obrigado mais uma vez
por ter aceitado o meu convite.
Espero mais almoços prazerosos
como este. Vou para a minha sala.
Falou comigo como se um
melodrama não tivesse acabado de
acontecer naquele espaço. Fiquei
sozinha em minha mesa, tentando
descobrir o que Marco queria
comigo e o que eu faria a partir de
agora.
Capítulo 5

Ele

Quem diabos era aquele


homem que estava quase a beijando
quando cheguei? Claro que
imaginei que ela já teria outro
namorado, já que tem mais de um
ano que não nos vemos. Só não
imaginava que estaria tão perto
dela.
Droga! Vou ter que conviver
com ela esfregando a porra de um
namoradinho na minha cara toda
hora. E se não for mais namorado?
Ele a chamou de senhora Carvalho.
Será que já está casada?
Que porra você tem a ver
com isso, Marco? Concentre-se!
Você veio ao Brasil a negócios e
não para reviver a ilusão de um
romance. Além de tudo, você tem
uma namorada linda e apaixonada
te esperando na Espanha.
Consegui fazer mil perguntas
a mim mesmo apenas segundos
depois de tê-la deixado em sua
mesa. Não esperava que um
reencontro fosse me abalar tanto.
Entrei na sala e Carlos
Ribeiro estava de cabeça baixa
folheando um livro. Percebeu a
minha entrada e se levantou para
me cumprimentar.
– Marco, é bom vê-lo.
Espero que tenha feito boa viagem.
– O prazer é recíproco. A
viagem foi tranquila como sempre.
Alfonso estava muito atarefado com
a companhia lá na Espanha e pediu
para que eu viesse. Entendo tanto
quanto ele dos negócios, então
espero ajudar.
– Antes de falarmos de
negócios, me conte como está a
minha neta. Estou pretendendo
visitá-la o mais breve possível. A
saudade está me corroendo.
– Luiza é a criança mais
perfeita que já vi e muito
inteligente. Provavelmente estarei
tão saudoso quanto você logo, pois
nunca passei mais de uma semana
sem visitá-la.
– Parece que você está
descrevendo Brisa quando era
pequena. Ela era muito inteligente e
engraçada, e não havia uma pessoa
sequer que não se encantasse por
ela.
– Acho que minha sobrinha
herdou muito de Bri, sobretudo a
beleza.
Conversamos um pouco mais
sobre a família e acabamos
entrando nos assuntos de negócios.
– Então, você desconfia que
alguém pode estar fraudando os
números de contabilidade. Por
quanto tempo está desconfiado e
teria alguém em mente?
– Eu desconfiava de um
funcionário que chefiava o setor e
depois que ele não conseguiu me
explicar alguns números, eu o
demiti e contratei uma pessoa de
minha confiança que trabalhava em
uma das filiais. Você
provavelmente não teve a
oportunidade de conhecer Augusto
ainda.
Ah, deve ser o merdinha que
tentou me enfrentar. Quer dizer que
ele não tinha tanto tempo assim aqui
na matriz e é o responsável pela
contabilidade. Terei contato com
ele mais do que gostaria.
– O conheci muito
rapidamente. Estava conversando
com Tatiana quando cheguei.
– Então é dele que você vai
cobrar explicações de tudo que
passa pelo setor de contabilidade.
Ele pode te ajudar muito e já está
na empreitada de encontrar quem
está nos sabotando, uma vez que
outros funcionários têm acesso às
finanças da empresa.
Uma ideia me veio à mente.
– Carlos, um dos motivos
que me trouxe aqui foi de ver como
está a saúde da empresa também.
Gostaria que alguém me mostrasse
os relatórios.
– Claro, então deixemos o
outro assunto para mais tarde e
posso chamar alguém da
administração para te mostrar os
dados.
Eu não queria que uma
pessoa aleatória me mostrasse
esses dados. Eu precisava de um
tempo com Tatiana e era ela quem
me mostraria.
– Você não precisa
incomodar uma pessoa da
administração para isso. Tenho
certeza que sua secretária tem essas
informações e poderia me explicar
tranquilamente.
– Sim, Tatiana é muito
competente e está sempre
atualizada sobre todas as
informações que compete à
empresa. Tem sido o meu braço
direito desde que Brisa casou e
apesar de estar mais concentrada
em sua vida familiar agora,
consegue conciliar muito bem com
o trabalho.
Aí está a confirmação.
Parece que ela realmente está
casada. Terei que descobrir o mais
rápido possível, quem sabe essa
informação me ajude a desfazer a
inquietação que sinto quando a
vejo.
Carlos interfonou para ela, a
chamando para vir à sala.
Em segundos ela entrou,
olhou para mim assustada e voltou
a atenção para seu chefe.
– Precisa de mim, senhor?
Porra, garota, não faz uma
pergunta dessas que eu fico
tentado a arrancá-la desta sala e
mostrar o quanto preciso.
– Sim, Tati. Marco quer
conhecer melhor como andam as
ações e a vida financeira da
empresa. Gostaria que se reunisse
com ele e lhe apresentasse.
– Faria com todo o prazer,
Sr. Ribeiro, mas acredito que tenha
funcionários mais competentes para
lhe dar as informações.
Não, merda, você não
percebe que eu quero que seja
você?
– Ninguém é mais capaz que
você de dar uma visão da nossa
empresa, além de mim, portanto,
não vemos necessidade de chamar
outra pessoa. Eu não precisarei de
você mais esta tarde, então dê total
atenção ao Sr. Javier.
O rosto dela estava vermelho
e sem muito esforço eu saberia
interpretar que havia uma mistura
de medo e desejo. Com um gesto,
ela me convidou a acompanhá-la e
fomos para uma sala de reuniões
um pouco distante do escritório.
Deixei que entrasse primeiro
e a segui, fechando a porta atrás de
nós. A sala era bastante moderna,
com uma grande mesa de vidro
rodeada de dezenas de cadeiras em
aço cromado.
Mais ao canto, havia duas
mesas de escritório com
computadores e todo arsenal
necessário para esse tipo de
trabalho. Algumas estantes com
livros decoravam o ambiente,
dando um ar de sofisticação.
O clima estava pesado com
apenas nós dois na sala e ela
resolveu quebrar o gelo:
– Como vão Brisa e Luiza?
Faz um tempo que não aparecem
aqui.
– Melhor impossível. Luiza
está cada vez mais esperta e
falando pelos cotovelos. Toda a
família está a cada dia mais
apaixonada.
Seus olhos brilharam ao ver
como eu falava de minha sobrinha.
– Imagino. Sr. e Sra. Ribeiro
não falam de outro assunto quando
estão juntos e todos ficaram
enlouquecidos quando elas vieram
aqui na empresa.
– Minha sobrinha tem esse
poder sobre os espanhóis também.
– Então, vamos aos
balancetes, não é?
Ela começou a me explicar,
contudo o único número que estava
me interessando naquele momento
era o do tempo que não a via. Mais
de um ano sem olhar naqueles
olhos, sem ver aquele rosto, sem
beijar aquela boca.
Fiz um escrutínio por todo o
seu corpo que parecia um pouco
mais cheio de curvas. Seus seios
estavam maiores e mais desejáveis,
perfeitos para serem acariciados e
adorados.
Seu rosto continuava o
mesmo, lindo com toda a sua
feminilidade definida, dentes
perfeitos e uma boca que convidava
ao prazer.
– ... Como você pode ver,
apesar de alguns problemas, a
empresa está muito consistente no
mercado e...
– Janta comigo esta noite?
– O quê?
– Repito o convite: janta
comigo esta noite?
Pareceu assustada a
princípio, mas logo vestiu a
máscara de executiva novamente.
– Olha, Marco, não estou
aqui para brincadeiras e se
realmente quiser conhecer os
números da empresa, estou mais
que disposta a te dizer o que sei,
porém se o objetivo for outro, me
deixe voltar ao trabalho.
– Para que tanta defensiva,
Tatiana? A impressão que me deu
logo que cheguei não foi tão
profissional quanto esta que está
tentando me vender.
– Peço desculpas se deixei
uma má impressão, mas o fato era
que estava apenas me despedindo
de um amigo com o qual almocei.
– E o que seu marido acha
desses almoços com amiguinhos do
trabalho?
– Marido? Do que está
falando? Embora não seja da sua
conta, eu não sou casada.
– Ah, então aquele contador
não é apenas amigo. Ele é seu
namorado, não é?
– Marco, aonde você quer
chegar? Saiu da Espanha apenas
para saber sobre a minha vida? Não
precisava ter se dado ao trabalho.
A sua namorada sabe o que está
fazendo aqui?
– Não coloque a minha
namorada nessa história. A
conversa é entre eu e você.
– Olha só, estou em meu
local de trabalho e aqui não é lugar
para esse tipo de conversa. Você
me chamou para te apresentar os
dados, então vamos a eles?
– Concordo. Aqui não é
lugar para conversarmos. Saia
comigo esta noite. Vamos jantar
fora.
– Você é louco? Acha que
pode aparecer depois de um ano e
num estalar de dedos quer que eu
vá jantar contigo como velhos
amigos?
– Por que não? Que eu
saiba, quem não quis mais papo
comigo há um ano foi você. Tem
algo que a impeça de ir?
Percebi que ela ficou
pensativa, porém tentou disfarçar.
– Não tenho nada que me
impeça além da falta de vontade de
jantar e de conversar com você.
– Não sei por que, mas sinto
que está me escondendo algo.
– Mesmo que quisesse, não
posso, tenho outros compromissos.
– Se não é com o contador,
então deve ser com outro. Quem é
ele, Tatiana?
– Oh, Deus, por que você
não me deixa em paz? Eu não tenho
marido nem namorado, mas tenho
uma vida fora do trabalho que
pertence unicamente a mim. O que
eu faço no meu tempo livre não é
problema de ninguém.
– Eu não acho que estou
pedindo muito do seu tempo. É
apenas um jantar entre amigos,
como aquele almoço com o
contador. Não estou a pedindo em
casamento.
Ela respirou fundo e com
olhar confuso, respondeu:
– Tudo bem. Eu vou jantar
com você.
– Finalmente! Podemos ir
direto do escritório, se quiser.
Fazemos um happy hour e depois
podemos jantar.
– NÃO! Eu preciso ir em
casa, tomar um banho e me arrumar.
Podemos nos encontrar mais tarde.
– Está certo. Eu vou te
buscar às oito da noite, pode ser?
– Marque o lugar que estarei
lá no horário. Vou com meu carro.
– Não há necessidade, eu a
deixarei em casa depois. Por que
tanto medo, querida?
– Eu insisto, não precisa se
dar ao trabalho. Não estou
bebendo, então não vejo problemas
em dirigir. Você ainda quer
informações sobre a empresa?
– Sim, claro. É para isso
que estamos aqui, não é?
Ela continuou explicando e
fixei o olhar em sua boca que
parecia falar em câmera lenta, me
convidando para ser tomada.
Nenhuma palavra dita fazia sentido
naquela hora, pois fui remetido a
um tempo que traria de volta, se
tivesse o poder.
Um imã me atraia em direção
ao seu rosto e me peguei sendo
levado a tomar seus lábios nos
meus em busca de saciar a sede que
sentia desde o momento que a vi
novamente.
Ela percebeu meu movimento
e deveria estar tão atraída quanto
eu, pois nada fez para me impedir.
Minha boca se aproximava da sua
quando fomos interrompidos por
batidas na porta.
Rapidamente nos
recompomos e Carlos logo entrou,
querendo saber em que ponto
estávamos. Se percebeu algo, não
demonstrou.
Com o rosto corado, Tatiana
continuou a explicação, sendo
interferida pelo seu chefe, que me
dava mais detalhes. Dessa vez, me
esforcei para controlar as emoções
e me concentrei no objetivo que me
levou ao Brasil.
O que eu tivesse para
conversar com Tatiana, ficaria para
mais tarde. Eu precisava preencher
algumas lacunas que ficaram no
passado e entender o que aconteceu
conosco na época, talvez assim eu
conseguisse seguir em frente.
Capítulo 6

Ela

Dois dedinhos estavam no


meu rosto enquanto amamentava
meu filhote. Lorenzo não tirava os
olhos de mim e movimentava suas
pequenas mãos como se quisesse
brincar.
– Oh, meu amorzinho, por
que tem que ser tão semelhante ao
papai?
Parou de mamar e ficou me
olhando parecendo que entendia o
que eu falava. Mexi em meu seio e
ele voltou a mamar.
– Quanta fome, hein,
pequeno? Sabia que vou jantar com
seu pai hoje? Estou curiosa para
saber o que tem a me dizer e queria
encontrar coragem para contar
sobre você. Será que ele te amaria
tanto quanto eu?
Toc, toc, toc.
Minha irmã bateu na porta e
colocou a cabeça para dentro,
entrando sem convite.
– Cadê o denguinho da tia?
Está jantando, amorzinho?
Lana já chegou brincando
com meu bebê, como sempre fazia,
e ele a reconheceu de imediato,
balançando os braços e as pernas.
Terminou de mamar e ela o tomou
dos meus braços para colocá-lo
para arrotar.
– Não tive tempo de te
contar os últimos acontecimentos,
La. Estou prevendo tempestades
pela frente.
– O que foi, Tati? Tem algo
a ver com aquele contador do
trabalho?
– Não, menina, segura meu
filho para que você não o derrube
com o susto. Marco apareceu na
empresa hoje.
– Não! Para o mundo que
quero descer. Verdade? O pai de
Lorenzo? O que ele queria?
– Veio a negócios, mas me
convidou para jantar hoje e depois
de muita insistência, acabei
cedendo.
– Nossa, quanta coisa ao
mesmo tempo! Você vai ter coragem
de contar a ele?
– Não sei. Acho que não
devo jogar essa notícia em seus
peitos sem prepará-lo antes, sem
sondar qual seria sua reação.
– Hum... vai logo tomar
banho. Vou ajudá-la a ficar linda e
fazer com que ele se arrependa de
tê-la deixado escorregar de suas
mãos. Hoje, o bebê é todo de titia,
não é, meu amor?
Minha irmã e minha mãe
estragam meu filho. Eu fico
despreocupada quando preciso sair
e ele fica sob suas
responsabilidades, pois amor é o
que não falta em minha casa.
Saí do banho e minha irmã já
havia escolhido a minha roupa.
Uma calça pantalona estava
estendida sobre a cama
acompanhada de uma blusa costa
nua. Até um sapato nude já estava
no pé da cama à minha espera.
– Quem precisa de personal
stylist quando se tem uma irmã
como você?
– Quero vê-la arrasando
esta noite, embora não precise de
muito para isso. Já é linda
naturalmente.
– Me ajuda na maquiagem
também.
Em alguns minutos estava
pronta para encontrar o homem que
detinha a chave do meu coração. Eu
estava nervosa e ansiosa para saber
o que ele teria a de me dizer depois
de tanto tempo.
Marcamos em um restaurante
italiano que amo na cidade e
quando cheguei, ele já estava na
porta, me esperando. O manobrista
pegou as chaves do meu Kia
Picanto e o levou para o
estacionamento.
– Você está linda, Tati.
Vamos entrar.
– Obrigada.
Já havia uma mesa reservada
e nos sentamos, já sendo atendidos
pelo garçom. Pedi um suco de uva e
Marco pediu uma taça de vinho.
– Disse que não estava
bebendo ultimamente. Algum
motivo especial?
As perguntas dele me
deixavam com a impressão de que
estava juntando peças para
descobrir alguma coisa.
– Não, apenas evitando
bebida alcóolica mesmo. Sem
maiores motivos.
– É uma pena, pois uma
massa italiana exige o
acompanhamento de um bom vinho.
– Na verdade, eu não
deveria sequer estar em um
restaurante italiano a uma hora
dessas, já que estou um pouco
acima do peso.
– É quase um pecado ouvi-
la falar isso. Percebi que ganhou
mais curvas, porém apenas ficou
ainda mais bela. Não há nada fora
do lugar aí.
– Se você diz. Então, sobre
o que queria conversar?
– Estava apenas com
saudades da minha amiga
brasileira.
– Deixa de conversa fiada,
Marco, nós nunca fomos amigos.
– Não, realmente. Achei que
éramos mais que amigos. Por que a
nossa história terminou tão
repentinamente, Tatiana?
– Não é possível que eu
esteja ouvindo essa pergunta. Como
você é cínico.
– Deus, já fui xingado antes,
mas ser chamado de cínico é
inédito. Cada vez mais estou
tentado a acreditar que houve algum
mal-entendido entre nós.
– Dessa vez sou obrigada a
concordar. Acho que entendeu que
me prestaria ao papel de amante e
você estava completamente
enganado.
– Eu nunca fiz essa ideia a
seu respeito. O que a levou a supor
isso? Algum acontecimento
específico?
– Eu te liguei, Marco, e sua
namorada atendeu. Imagine a minha
cara aqui no Brasil sabendo de uma
hora para a outra que fazia a função
de reserva na sua vida?
O garçom chegou na hora que
ele iria responder. Aproveitamos
para fazer o pedido do jantar. Pedi
nhoque e ele pediu ravióli de carne.
Percebi que estava disfarçando a
raiva que sentia.
Ele levantou e sentou na
cadeira mais próxima à minha, deu
um gole no vinho e segurou o meu
rosto em suas grandes mãos.
– Quero que entenda uma
coisa: você nunca ocupou um lugar
reserva em minha vida. Quando eu
estava com você não havia mais
ninguém. Essa porra toda é um
inferno de um mal-entendido que
vou compreender mais cedo ou
mais tarde.
– E quem era a mulher que
atendeu ao seu telefone, afirmando
ser sua namorada?
– Não faço ideia a quem
você está se referindo, mas nem que
eu mova o mundo, vou descobrir.
– De qualquer modo, não há
razões para estarmos discutindo o
passado agora. Você já deve estar
com alguém, não?
Ele respirou fundo e sondou
o meu rosto, antes de responder:
– Sim, eu estou namorando.
Virei o meu rosto para o lado
ao mesmo tempo em que um bolo se
formava em minha garganta. Para
que diabos perguntei algo que não
queria saber a resposta?
Encontrei forças e olhei para
ele novamente.
– Ela conhece o seu
passado? Quer dizer, ela sabe que
já teve alguém no Brasil?
– Antes de se tornar minha
namorada, Andréa era minha amiga
e confidente. Ela sabe tudo a nosso
respeito.
– Ah, imagino que tenha
ficado enciumada com a sua vinda
ao Brasil.
– Sim, bastante.
Tristeza me tomou nesse
momento, pois ainda que tentasse
controlar a minha mente, meu
coração nutria esperanças de que
haveria espaço na vida dele para
mim.
– Estou curioso para saber o
que faz em seu tempo livre. Que
tipo de compromissos a prende em
casa?
Não sou boba e percebi sua
estratégia de mudar de assunto.
Entrei no jogo.
– Simplesmente gosto de
ficar em casa com minha família.
Não abro mão de compartilhar
pequenos e grandes momentos com
eles. São o que eu tenho de mais
valioso na vida.
A comida chegou e estava
com aparência muito boa, contudo o
fervor da conversa nos impediu de
tocar nela.
– Eu sei que uma mulher
como você deve ser cortejada a
todo o momento, mas não posso
deixar de perguntar: teve outros
relacionamentos nos últimos
tempos, Tati?
Percebi sua apreensão como
se preparasse para uma resposta
que não gostaria de ouvir.
– Sim. Estive bastante
envolvida com alguém.
Ele fechou os olhos por um
segundo e quando abriu, continuou
a arguição:
– Esteve, não está mais?
– De certo modo, ainda
estou bastante envolvida.
– Entendo. E aquele cara da
empresa? Deve estar muito
interessado em você.
– Augusto é apenas meu
amigo. Ele sabe que não há espaço
para mais ninguém em minha vida.
Marco colocou as mãos
sobre a mesa, apertando-as forte.
Dava para sentir a tensão sobre ele
e por um instante, seu olhar ficou
perdido.
– Me responda uma coisa,
Tati: se nesse momento, ambos
fôssemos livres, teríamos alguma
chance?
Merda! Tudo o que eu mais
queria na vida era ter outra chance
com ele e quem sabe, formarmos
uma família no futuro, porém não
posso estacionar em um mundo
hipotético. A minha vida é bastante
real.
– Marco, eu prefiro não
ficar fazendo suposições. O fato é
que você e eu temos alguém e essa
é a nossa realidade no momento.
– Você me disse mais cedo
que não tinha namorado.
– Isso não muda nada. Se eu
tenho ou não é indiferente, já que
você tem.
– Droga! Eu tenho um
pedido a te fazer. Por favor, me
ouça.
– Pode falar.
– Apenas mais uma noite,
Tatiana.
– O quê? Você só pode ter
ficado louco.
Ele passou as mãos pelo
rosto e as cruzou sobre a mesa, se
aproximando mais de mim.
– Eu estou te pedindo só
mais uma noite para fechar esse
ciclo em nossas vidas. As coisas
entre nós ficaram mal-acabadas e
precisamos desse encerramento
para seguir em frente. Apenas uma
noite.
Sondei meus pensamentos
sobre essa possibilidade. Eu
também gostaria de ter não apenas
uma, mas mil outras noites ao lado
dele, porém havia mais em jogo.
Havia outras pessoas que
deveriam ser levadas em
consideração e meu coração que
sairia ainda mais machucado.
– Se eu soubesse que o
motivo que me trazia aqui era esse,
não teria vindo. O que tínhamos foi
encerrado há um ano quando
resolvemos trilhar por caminhos
distintos.
– Não, Tati. Você sabe que
não foi.
– Marco... – Fui
interrompida.
– Tudo bem. Por enquanto,
vou aceitar sua resposta, mas essa
conversa ainda não terminou aqui.
Vou descobrir primeiro quem se
passou por minha namorada antes
de voltarmos a conversar.
Ele voltou para o seu lugar e
decidimos tocar no jantar que já
deveria estar frio àquela altura.
Apesar do clima tenso,
conseguimos conversar um pouco
sobre a empresa e falamos da sua
sobrinha. Senti uma ponta de inveja
ao ver tanto amor dispensado a uma
criança que não era dele, embora
tivesse o seu sangue.
Como ele seria no papel de
pai? Amaria tanto quanto a sobrinha
que viu nascer? Talvez um dia eu
descobrisse.
Terminamos de jantar e ele
me levou até o estacionamento.
– Bem, obrigada pelo jantar.
Nos vemos na empresa.
Me aproximei para lhe dar
um beijo na bochecha, quando
selvagemente, ele pegou o meu
rosto em sua mão e tomou meus
lábios nos seus.
O beijo era ardente e
necessitado. Ele me encostou a uma
parede e se aproximou ainda mais,
esfregando o seu corpo no meu.
Senti sua ereção pulsante roçar em
minha vagina que já se prontificava
a ser possuída.
Naquele momento, esqueci
de qualquer pessoa que pudesse
estar entre nós, esqueci de
escrúpulos e quaisquer princípios
que tivesse. Éramos só eu e ele, e
sabia que não me negaria a nada
que me pedisse ou me tomasse sem
pedir.
Eu seria dele em um
estacionamento público se a
provocação continuasse.
Suas mãos serpentearam para
dentro da minha blusa e meu corpo
arqueou em convite. Nossas línguas
se misturavam, experimentando o
sabor doce e acre do proibido.
Suas mãos estavam
alcançando os meus seios que já
estavam inchados e prontos para
receberem atenção, quando
repentinamente ouvimos um toque
de celular.
Marco me olhou com pânico
nos olhos, implorando para que eu
não desistisse do que estávamos
prestes a fazer, entretanto a razão já
havia tomado o seu lugar de volta
em minha mente e me movi para
retirar suas mãos de cima de mim.
– Não vai atender? –
Perguntei.
Ele tirou o celular do bolso e
o nome ‘Andréa’ estampava o visor
do aparelho. Olhou e apertou um
botão vermelho na tela, colocando-
o no bolso novamente.
– Pode me acompanhar até o
carro? – Pedi.
– Desculpe pela interrupção.
Eu deveria ter desligado o celular.
– Não, foi melhor assim.
Vamos?
Ele me encarou por um
tempo e quando percebeu que já
andava em direção ao carro, me
acompanhou.
– Tenha uma boa noite,
Marco.
Ele deu um sorriso irônico.
– Juro que vou tentar.
Entrei em meu carro e parti
em direção ao lugar que eu sabia
que encontraria segurança e onde
estava o fruto do amor que um dia
compartilhamos.
Capítulo 7

Ele

Dias se passaram depois do


jantar com Tatiana e todos os dias a
via na empresa, porém
conversávamos apenas o
necessário.
Carlos Ribeiro pediu para
que providenciassem uma sala para
mim e agora tinha o meu próprio
escritório e um computador com
acesso a todos os dados da
empresa.
Além de tentar encontrar
quem poderia estar por trás dos
desvios de dinheiro, ajudei na
rotina da empresa, participei de
reuniões e tomei importantes
decisões.
Ainda não tinha me reunido
com o tal do Augusto, pois preferi
estudar os números com bastante
cuidado primeiro.
Já não estava mais
suportando ver aquele idiota dando
em cima de Tatiana na minha frente
todos os dias. Dava nojo observar a
obsessão dele para entrar em sua
calcinha.
Eu passava por ele rolando
os olhos e me perguntando como um
cara desses poderia ser da
confiança de Carlos Ribeiro, já que
parecia não ter tempo para
trabalhar.
Sempre pegava Tatiana
desconversando e tentando se livrar
dele. Era nítido. Só ele não
enxergava que ela não o queria.
Ainda estava intrigado com
aquela história que ela me contou
de uma garota que atendeu ao meu
telefone se passando por minha
namorada. Ainda não consegui
juntar os pontos, mas vou chegar lá.
Hoje é sexta-feira e depois
de um dia no escritório, resolvi
esticar a noite, já que não
trabalharia no outro dia. Fiquei
tentado a convidá-la para sair
novamente, porém pensei melhor e
decidi recuar por enquanto.
Estava dirigindo pelo Dique
do Tororó, quando duas garotas
fazendo caminhada me chamaram
atenção. Passei por elas e
reconheci que eram Tatiana e sua
irmã, a última empurrando um
carrinho de bebê.
Acelerei o carro, em busca
de um lugar onde pudesse
estacionar para ir ao seu encontro.
Demorei um pouco para
encontrar uma vaga e quando as
procurei, não encontrei mais. Como
elas conseguiram sumir tão rápido?
Resolvi caminhar um pouco mais
para ver se as encontrava.
Algumas pessoas passavam
por mim fazendo caminhada ou
correndo em malhas leves próprias
para atividade física. Eu me
distinguia delas, pois não estava
vestido apropriadamente para
aquele tipo de atividade.
Caminhei por alguns minutos,
procurando-as como um leão caça a
sua presa e percebi que minha
busca não daria em nada. Voltei
para o carro e segui em sentido a
uma casa noturna que estive
anteriormente com Alfonso.
Provavelmente esse seja o
motivo que a prenda em casa. –
pensei – Ela deve ajudar a tomar
conta do sobrinho quando a irmã
não pode e se ela realmente tem
alguém, deve encontrá-la em sua
casa.
Continuei com meus
devaneios e logo cheguei ao meu
destino. A casa era de muito bom
gosto e havia uma banda local
tocando músicas de diversos
gêneros, desde MPB a Pop Rock.
Sentei em um banquinho
próximo ao balcão e chamei o
garçom.
– Uma dose da melhor
marca de uísque que vocês tiverem,
por favor.
– Gelo e energético, senhor?
– Ele me perguntou.
– Apenas duas pedrinhas de
gelo e sem energético.
Sem demora, o meu pedido
chegou e eu o entornei, sentindo a
acidez queimar a minha garganta.
Pedi outro sem demora. Hoje eu
estava disposto a encher a cara e
anestesiar os sentimentos que
vieram à tona desde que voltei ao
Brasil.
Acho que não estava
funcionando muito, pois a imagem
da irmã dela empurrando um
carrinho de bebê me levou a
imaginar como ela ficaria caso
tivesse levado o nosso bebê no
ventre.
Nós sempre nos prevenimos,
porém eu seria o cara mais feliz do
mundo se a natureza tivesse
trabalhado a nosso favor e ela
tivesse engravidado naquela época.
Eu não estaria vivendo tantos
conflitos internos e seríamos uma
família agora.
A chegada de minha sobrinha
me fez rever o conceito de família e
filhos, e presenciar a felicidade
entre meu irmão e Brisa só reforçou
o quanto estava errado em
relacionar casamento a obrigações.
Acompanhei as canções que
a banda tocava e reconheci uma
delas por ser um sucesso da banda
que Benito Adams produzia,
embora não sabia a letra direito.
Pelo visto a banda fazia muito
sucesso no Brasil, pois todos
estavam acompanhando a letra
entusiasmados.
Já havia perdido as contas de
quantas doses tomei, quando o meu
celular tocou. Tirei do meu bolso e
identifiquei o nome no visor. Porra!
Tinha esquecido de ligar para
Andréa desde que o dia que cheguei
aqui. Dramática como é, já deve
estar desesperada.
Recusei a ligação e desliguei
o celular, guardando novamente.
Quando chegasse ao apartamento,
ligaria para ela.
Resolvi me movimentar um
pouco e passei a observar o tipo de
público que frequentava o lugar.
Havia muitas mulheres bonitas e
muitos homens flertando. A grande
maioria era de solteiros em busca
de conhecer novas pessoas.
Olhei para o lado e
repentinamente vi que uma garota
de cabelos e olhos castanhos
passava por mim com um convite
nos olhos. Ela me lembrava alguém
e imediatamente a segui.
Ela parou ao perceber que eu
a acompanhava e colocou o canudo
da sua bebida na boca
sensualmente. Porra, eu não estava
acreditando que Tatiana tinha vindo
para cá também.
Minha visão estava turva
devido ao excesso de bebida e a
encarei para me certificar de que
estava enxergando direito. Droga,
eu devo estar muito bêbado mesmo.
Essa garota não é ela.
– Tati, é você? – Perguntei,
me aproximando.
– Você quer que seja eu?
Então, sim, eu sou sua Tati.
Ah, caralho, diabo de mulher
me deixando ainda mais confuso!
– O que faz aqui? Está
sozinha?
– Sim, estou só e acho que
meu sexto sentido sabia que o
encontraria aqui, por isso eu vim.
Como devo chamá-lo?
Minha visão só pode estar
me pregando uma peça. Se fosse
ela, saberia o meu nome.
– Você não lembra?
– Não precisa me responder.
Não estamos aqui para nos
tornarmos amigos de infância, não
é? Só esta noite, sem amanhã. Topa
sair?
Eu já não tinha mais controle
dos meus pensamentos. Eu
precisava do alívio que só uma
pessoa poderia me dar e, se ela não
for Tatiana, eu não quero mais sair
do estado de embriaguez, pois é ela
que estou vendo em minha frente.
Tirei o canudo de sua boca e
a puxei para um beijo sôfrego, e
saudoso. Seu sabor não era tão
doce quanto me lembrava, mas
atribuí à bebida que estava
nublando meu discernimento.
– Vamos, minha rainha. Vou
levá-la para o meu apartamento.
Saímos da casa noturna e
ainda encontrei um fio de lucidez
que me advertiu a pegar um taxi em
vez de dirigir. Do jeito que estava,
não chegaria em casa vivo.
Subimos para o apartamento
e assim que destranquei a porta, ela
pulou em cima de mim, já tentando
abrir o botão da minha calça. Eu
estava muito tonto para reagir e a
deixei fazer o que quisesse.
– Hum... estou querendo te
chupar desde que te vi chegar na
boate. Já fazia um tempo que te
olhava, só que você demorou a me
perceber.
– Me chupa, sua putinha
feiticeira. Não sei que porra você
fez, mas não consigo te tirar da
cabeça.
Não sei como o meu pau
conseguiu ficar duro devido a
minha embriaguez. Talvez fosse o
desejo acumulado por mais de um
ano, desde que toquei em Tati pela
última vez.
Fechei os olhos e deixei que
ela fizesse todo o serviço. Minha
cabeça estava rodando e no meio
do redemoinho estava a imagem da
minha rainha, linda e nua me
pedindo para fodê-la.
Ela me chupava com gula,
saboreando e soltando pequenos
gemidos. Puxei seus cabelos,
empurrando a sua cabeça para
frente a fim de enfiar ainda mais o
meu pau em sua garganta.
– Está gostoso, querido?
Abri os meus olhos para
responder e encarei a mulher à
minha frente. Pude ver nitidamente
que a mulher que tinha a boca
enfiada em meu pau não era quem
eu achava que fosse.
A empurrei para frente e ela
cambaleou, conseguindo se segurar
antes de cair.
– O que foi, porra? Está
louco? Por que me empurrou desse
jeito?
– Desculpe-me pela atitude
intempestiva. Não foi por querer.
Olha, eu te confundi com outra
pessoa e agora que estou
enxergando melhor, gostaria que
você saísse. Não me leve a mal,
não é nada com você, mas eu
preciso que saia agora. Vou pedir à
recepção que chame um taxi e
coloque na conta do apart, não se
preocupe.
Ela ficou parada me olhando,
sem entender nada. Tentou se
aproximar de mim novamente, mas
fiz um gesto com a mão que a freou.
Ela pegou sua bolsa e saiu, me
deixando sozinho.
Liguei para a recepção e
depois de acertar tudo, me joguei
de costas na cama e fiquei olhando
para o teto. Mesmo ainda
embriagado, tentei fazer uma
retrospectiva mental das mulheres
que estiveram comigo dias antes da
minha conversa com Tati há um ano.
Lembrava que estive na casa
de Brisa para ver minha sobrinha
como de costume, porém apostaria
uma mão que minha cunhada não se
passaria por minha namorada.
Confiava muito nela.
Quem mais poderia ser,
então?
Estive na casa de meus pais
rapidamente também e conversei
um pouco com minha mãe. Além
dela, só havia a nossa funcionária,
Mercedes, que me considerava
como um filho.
Elas também não teriam essa
atitude e o meu celular não ficou
exposto lá em momento algum.
Tente lembrar, Marco, você
consegue!
Passei mais alguns minutos
lutando contra os efeitos do álcool
e tentando encontrar respostas.
Quando já pensava em levantar
para tomar um banho e deixar os
pensamentos para outro dia, me
lembrei de um episódio que deveria
ter mais ou menos esse tempo.
Uma noite, eu voltava da
empresa e encontrei Andréa sentada
me aguardando na recepção do
prédio. Ela não deveria ter muito
tempo esperando, pois sabia mais
ou menos o horário que eu chegava.
Naquela época, era apenas minha
amiga.
– Andréa, o que faz aqui? –
Havia lhe perguntado.
– Oh, Marco, estou
precisando tanto de conselhos.
Recebi uma proposta de uma nova
marca e gostaria da opinião de
alguém que entende do mercado.
– Vamos para o apartamento,
então. Aqui não é lugar para
conversarmos.
Ela me acompanhou e a
convidei para sentar. Retirei as
chaves e o celular do meu bolso e
deixei sobre a mesa da sala, como
sempre fazia.
– Antes de conversarmos,
preciso tomar um banho. O dia foi
cansativo e só um banho para me
deixar relaxado. Se quiser jantar
aqui, a minha funcionária deve ter
deixado algo pronto na geladeira.
Saí, a deixando na sala com
o meu celular. Nunca na galáxia
imaginaria que Andrea poderia se
passar por minha namorada para
alguém. Parecia uma amiga muito
sincera.
Quando voltei do banho,
esquentei a janta e conversamos
sobre as lojas. A instruí para tomar
as melhores decisões e depois a
nossa conversa começou a tomar
um rumo mais descontraído.
Em certo momento, ela me
impressionou com uma pergunta:
– Marco, você já me viu
como mulher alguma vez? Quer
dizer, já enxergou em mim algo
além de amizade?
Eu não sabia aonde ela
queria chegar com essa conversa.
– Você é uma mulher linda,
Andréa, e qualquer homem vivo na
terra a consideraria atraente, mas
sempre a vi apenas como minha
amiga. Você sabe que estou cada
vez mais envolvido por Tatiana.
– Ah, a brasileira de novo,
sei. Não seria melhor se relacionar
com alguém mais próximo? Você
aqui, ela distante, sabe-se lá o que
ela está fazendo agora?
– Uma das coisas que tenho
aprendido vendo a relação de
Alfonso e Brisa é que confiança é
indispensável. Tatiana trabalha
muito e é uma garota muito
responsável. Tenho certeza de que
não está fazendo nada demais.
Lembro que ela tentou
argumentar de todas as formas,
contudo não deixei que continuasse
interferindo desse modo na minha
relação.
Filha da puta! Foi ela quem
atendeu ao telefone e se passou por
minha namorada para afastar Tati
do meu caminho. Fingiu tão bem
que depois de alguns meses acabei
acreditando na possibilidade de um
relacionamento maduro com ela.
– Foda-se! Vou ligar para
essa vadia agora!
No momento em que
consegui lembrar, parecia que uma
parte da embriaguez havia ido
embora e lutei para tomar o
controle da minha mente, pois
aquela conversa não poderia ficar
para o outro dia.
Disquei seu número e no
segundo toque, ela atendeu.
– Bebê, eu já estava
preocupada. Por que demorou tanto
para me ligar? Te liguei várias
vezes e...
– Já descobri tudo, Andréa.
Você fingiu que era minha namorada
para afastar Tatiana da minha vida,
não foi?
– Do que você está falando,
querido? Aquela brasileira já está
enchendo sua cabeça contra mim,
não é? Ela te abandonou sem mais
nem menos e agora o quer de volta?
Não acredite nela, bebê.
– Ninguém está fazendo a
minha cabeça. Pare de continuar
fingindo, porra, você não vai
continuar me enganando.
– Calma, Marco. Olha,
pegarei o primeiro voo para o
Brasil amanhã e podemos
conversar pessoalmente. Esfrie a
cabeça e tudo será esclarecido.
– Eu não tenho mais o que
conversar com você. Não apareça
em minha frente, pois não sei como
irei reagir. Acabou, Andréa,
acabou.
Desliguei o telefone em sua
cara. Não queria ouvir choros e
lamentações fingidas. Eu não serei
usado como um troféu para ninguém
mais e vou lutar para recomeçar a
minha história com Tatiana.
Eu a quero na minha vida
mais do que nunca e dessa vez nada
me fará voltar atrás.
Capítulo 8

Ela

– Brrrrrrrr.
– Brrrrrrrr.
Estava fazendo o som de um
‘carrinho’ com a boca e Lorenzo me
imitava, caindo na gargalhada.
Como um bebê de apenas seis
meses poderia ser tão inteligente?
Acho que ele não vai demorar a
falar as primeiras palavrinhas e
estou torcendo para que a primeira
seja ‘mamãe’.
Encarei meu lindo filho e
uma ponta de tristeza me invadiu
em lembrar que Marco não estava
compartilhando esses momentos
comigo, mas eu estava cada vez
mais convicta que deveria lhe
contar, independente da forma que
reagiria.
Sei que não será fácil, mas
não posso privá-lo e nem a Lorenzo
do convívio de pai e filho. Mais
cedo ou mais tarde esse encontro
terá que acontecer e terei que estar
pronta para assumir as
consequências.
Hoje é o dia que mais amo
na semana, pois significa que terei
dois dias inteiros com meu filhote
antes de iniciar a semana de
trabalho.
Ontem, fomos caminhar um
pouco em volta de um dos parques
mais bonitos de Salvador, que é o
Dique do Tororó. Adoro olhar
aquela paisagem, ver as pessoas
indo e vindo, cuidando da saúde e
encontrar outras mães com
crianças.
Tive uma sensação rápida de
que estava sendo vigiada, porém
quando olhei para os lados e vi que
não havia qualquer conhecido, além
da minha irmã, logo fiquei
despreocupada.
Meus planos hoje eram de
ficar durante todo o dia em casa
com Lorenzo, fazer um almoço leve
e assistir a um filme infantil. Meu
filho adora olhar as cores dos
desenhos animados e fica tão preso
ao filme, que parece estar
entendendo algo.
– Brrrrrrrr. – Continuei
brincando com Lorenzo.
– Brrrrrrrr. – Lorenzo
responsivamente imitava.
A minha mãe chegou na porta
do meu quarto e ficou me olhando
brincar com o bebê.
– Tati, não vem tomar café?
Já está quase na hora do almoço.
– Daqui a pouco, mãe.
– Está amamentando, tem
que se alimentar.
Às vezes ela me trata como
criança ainda.
– Estou indo, é que está tão
gostosa a brincadeira, não é
Lorenzinho?
Ele soltou uma gargalhada
que mostrava seus dois dentinhos
da frente.
– Me dê meu neto e vá já
para a mesa. Você precisa se
cuidar. Trabalha demais e deixa de
se alimentar. Vai enfraquecer desse
jeito.
– Está bem, a senhora me
convenceu. Não precisa falar mais,
estou faminta de qualquer jeito.
Levantei, lhe entregando o
bebê e lhe dando um beijo de bom
dia.
Sentei à mesa e coloquei
café na xícara. Minha mãe se
aproximou com meu filho no colo e
começou a puxar conversa:
– Sua irmã me falou que
Marco está no Brasil. Já pensou em
contar sobre seu filho?
Parei de cortar o pão e
respirei fundo, antes de lhe
responder.
– É, Marco está por aqui. O
vejo diariamente na empresa, ainda
não tive coragem de contar, mas
não vou deixar que a covardia me
domine por muito tempo. Preciso
fazer o certo e não costumo fugir do
que é inevitável.
Ela nada me respondeu, me
deixando entender que seu silêncio
significava confiança. Ficou
brincando com meu filho enquanto
eu terminava de tomar café.
Mais tarde, eu estava
assistindo televisão com Lorenzo e
lhe mostrando as imagens coloridas
quando o meu celular tocou. Meu
coração quase saiu pela boca
quando vi que a ligação estava
partindo do telefone de Marco.
– Meu santo Jesus, o que
esse homem quer comigo desta vez?
– Perguntei a mim mesma.
Atendi à ligação com a mente
trabalhando a mil, tentando
adivinhar o possível motivo
daquele telefonema em pleno final
de semana. Ele tinha me ignorado
todos esses dias na empresa,
tratando comigo apenas sobre
assuntos indispensáveis ao trabalho
e agora me ligando em pleno
sábado?
– Alô!
– Tati, aqui é Marco. Tudo
bem? Estou precisando falar com
você. É urgente, está em casa?
– Precisa falar comigo?
Sim, estou em casa, mas não estou
entendendo.
– Me dê o endereço que irei
até aí e te explico.
– Não! Por que tanta
urgência? Aconteceu alguma coisa
na empresa?
– Não tem nada a ver com a
empresa. Preciso falar contigo
sobre outro assunto. Por favor, não
me faça mais perguntas por
enquanto.
– Estou ficando preocupada.
Esse assunto não pode esperar para
segunda-feira?
– Tati, acredite em mim
quando digo que tem que ser logo.
E então, como faço para chegar até
você?
Parei para pensar um pouco,
pois precisava escolher um lugar
neutro para conversarmos. De jeito
nenhum deixaria que ele viesse até
a minha casa.
– Sabe aquele shopping
próximo à empresa?
– Sim, sei.
– Me encontre na praça de
alimentação daqui a duas horas,
pode ser?
– Está perfeito. Você não se
arrependerá, querida. Até mais.
Desliguei o telefone com o
coração apertado e mais confusa do
que antes de atendê-lo. Não seria
possível que ele tivesse descoberto
sobre Lorenzo, pois não sei qual
seria sua reação, mas sei que não
seria tão pacífica.
Lá se foram meus planos de
passar o dia com o meu filho,
contudo se eu tiver coragem, quem
sabe ainda hoje Lorenzo não terá
apenas uma mãe. Terá também um
pai.
Expliquei a situação à minha
mãe e fui me arrumar para
encontrar o pai do meu filho e saber
o que de tão importante ele tinha
para me dizer. Talvez nesse dia eu
tivesse algo ainda mais importante
a lhe dizer e ele nem fazia ideia.
Eu já pesquisei sobre os
meus direitos e sei que Marco não
pode tirar o filho de mim sem um
motivo plausível, mas também sei
que ele terá os mesmos direitos que
eu e pode reivindicá-los se quiser.
Imagino como seria uma guarda
compartilhada com pais que vivem
em países diferentes.
Depois de deixar Lorenzo
alimentado, lhe dei um beijo e
entrei no meu carro rumo ao lugar
marcado.
O shopping estava cheio de
clientes em compras, comum em um
dia de sábado, e não me prolonguei
olhando as vitrines como gostava
de fazer. Meus pés me apressaram
direto para a área de alimentação.
Meus olhos logo o
encontraram, sentado em uma mesa
meio escondida e balançando as
pernas, parecendo nervoso.
Caminhei em sua direção e meus
movimentos chamaram a sua
atenção, fazendo com que se
levantasse.
Cheguei na mesa e ele puxou
uma cadeira para que eu sentasse.
– Oi, espero que não tenha
feito com que esperasse muito. –
Falei nervosamente.
– Não, timing perfeito.
Tomei a liberdade de pedir um suco
de laranja para dois, tudo bem?
– Sem problemas. Confesso
que estou curiosa para saber o
motivo de tanta urgência.
Ele não fez rodeios.
– Eu terminei tudo com ela.
– Ele soltou como se estivesse
desabafando.
– O quê? Do que você está
falando?
– Eu terminei meu namoro
com Andréa.
– E por que faria isso?
– Primeiro porque descobri
que foi ela quem atendeu ao
telefone se passando por minha
namorada há um ano.
– Oh! Mas ela não era sua
namorada?
– Eu já te disse que na
época eu não tinha ninguém. Andréa
foi apenas a amiga que me consolou
da merda que ela mesma provocou
e que, pela proximidade, acabou se
tornando a minha namorada.
– Como ela teve acesso ao
seu celular?
Ele me contou tudo o que
conseguiu lembrar e eu estava cada
vez mais surpresa com a
capacidade que certas pessoas
tinham de fingir para conseguirem o
que queriam.
– Então foi por isso que
quando você me ligou naquela
época, parecia tão confuso. Eu o
chamei de cínico e na verdade você
era tão vítima quanto eu desta
cobra.
– Sim. Eu te liguei naquele
dia para que eu viesse ao Brasil te
propor um relacionamento, algo que
a gente pudesse nomear, pois até
então a nossa relação era instável.
– E qual seria o outro
motivo para que você terminasse
sua relação com ela?
– O segundo motivo é que a
mulher que eu sempre quis que
estivesse preenchendo a minha
cama não era ela. A única mulher
que me fez pensar em levar a sério
essa coisa de relacionamento
também não era ela. Essa mulher
era você. Sempre foi você. Eu só
preciso que me diga que aquela
história de relacionamento era pura
invenção.
– Eu não estou em um
relacionamento, porém preciso te
contar uma coisa que talvez, a
princípio, você vá me odiar por ter
escondido, mas creio que logo
entenderá meus motivos. É que...
– Não! Não há nada que eu
precise saber agora que possa
estragar esse momento. Porra, eu
bendigo a hora que meu irmão me
pediu para voltar ao Brasil. Só
agora eu terei de volta a paz que
havia me abandonado há um ano.
– Mas, Marco, é importante.
– Depois, minha rainha, eu
quero saber agora o que você fará
de posse dessa informação.
– Você acha que ela vai te
deixar em paz assim, sem brigar
pelo que quer a qualquer preço
como já fez uma vez? O que você
acha que devo fazer com essa
informação? Que me jogue em seus
braços?
– É exatamente isso o que eu
quero. Não precisa se preocupar
com o que ela possa fazer, pois não
vou deixar mais ninguém se
intrometer em nossas vidas.
Ele tomou meu rosto em suas
mãos e olhou no fundo dos meus
olhos.
– Tatiana, eu te amei desde o
primeiro dia que a vi, te amei por
todo esse ano que ficamos
separados e te amo hoje. Me faça o
homem mais feliz do mundo se
tornando minha namorada.
Oh, meu Deus, será que
morri e fui para o céu? As palavras
que eu sempre quis ouvir dos lábios
de Marco acabaram de ser
pronunciadas?
Eu – te – amo.
Foi tudo o que sempre
sonhei.
Era o que tinha acabado de
ser proferido.
Abri meu melhor sorriso
para ele e em seu rosto havia um
misto de felicidade e ansiedade.
– Querido, não vou negar
que ainda estou sendo tomada pelo
medo de que algo ou alguém possa
ter mais força que o sentimento que
temos um pelo outro, porém não
poderia deixar de dar a única
resposta que sairia dos meus lábios
nesse momento: eu também estou
me tornando a mulher mais feliz
desse mundo em me tornar sua
namorada. Sim, eu aceito.
Ele soltou a respiração que
deveria estar prendendo por todo o
tempo que demorei para responder.
Não se importou se havia dezenas
de pessoas no mesmo espaço,
puxou meu rosto mais para perto e
tomou meus lábios em um beijo
ofegante e guloso.
– Vamos sair daqui. Eu não
me responsabilizo pelos meus atos
se eu ficar mais um minuto no meio
dessas pessoas. Preciso que seja
apenas você e eu.
Falou, puxando a minha mão
como se daquilo dependesse a sua
vida.
Toda a coragem de lhe contar
sobre Lorenzo havia se esvaído
naquele momento, pois tinha medo
de que o sonho que estava vivendo
pudesse acabar. Sempre ouvi dizer
que havia uma linha tênue entre
amor e ódio e tinha receio de
despertar o segundo sentimento em
Marco.
Eu apenas queria ser amada.
Insisti para ir no meu carro
dando a desculpa de que não
confiava em deixá-lo no shopping
sem ter certeza da hora que votaria
para buscá-lo. Na verdade, ainda
não estava preparada para que ele
me deixasse em casa e corresse o
risco de ver seu filho.
Ainda não.
Chegamos ao apartamento
que eu já conhecia por outras vezes
que estive anteriormente. Tratava-
se de um apart hotel que pertencia a
seu irmão Alfonso.
Ele abriu a porta, nos dando
acesso ao lugar, porém a fechou
com o meu próprio corpo, pois fui
empurrada contra ela.
Seu olhar estava sobre mim
como duas esferas de bronze cheias
de desejo e luxúria. Seus dedos
sequer alcançaram o meu corpo e
eu já estava pronta para ser tomada.
Repentinamente, me carregou
em seu colo e nos levou até uma
enorme cama redonda, já conhecida
por mim. Eu amava aquele lugar,
pois me trazia lembranças
inesquecíveis.
Me deixou de pé na beira da
cama, iniciando a tortura de tirar a
minha roupa. Baixou as alças da
minha blusa, depositando um beijo
em cada ombro, acompanhou o
movimento dela, descendo pelo
meu corpo e foi beijando todo o
caminho transitado pela peça de
roupa.
– Marco, assim eu não
aguento.
– Sssrrr. Logo, logo terá o
que quer. O que nós queremos.
Tirou o meu short em apenas
um puxão, me deixando apenas de
lingerie. Deu um beijo provocante
em minha virilha e se levantou para
voltar a possuir a minha boca.
Nos beijamos com
possessão, enquanto ele puxava a
minha cabeça com força para
intensificar ainda mais o beijo.
Estava sentindo um pouco de dor,
mas eu gostava. Só aumentava o
meu tesão.
Soltou os meus lábios e
esticou os meus cabelos, para que
tivesse melhor acesso ao meu
pescoço.
Encostou seus lábios na
minha orelha, fazendo com que me
derretesse em seus braços,
quebrando qualquer armadura que
eu ainda mantivesse.
Oscilou entre falar e me
beijar. A cada palavra proferida,
uma parte do meu corpo recebia a
sua atenção.
– Não sabe o quanto senti a
sua falta. – Ele dizia pausadamente.
Eu quase não conseguia
responder, pois o meu corpo estava
pegando fogo. Eu precisava de
liberação.
– Marco, já faz um tempo...
não me pirrace mais.
– Bom saber disso. Eu
preciso de calma, querida. Quero
memorizar cada centímetro do seu
corpo novamente.
O sonho que tive outro dia
estava se materializando nesse
momento. Ele baixou a minha
calcinha e me fez sentar na beira da
cama, abrindo as minhas pernas.
Cheirou minha lingerie, antes
de jogá-la de lado e levou um
tempo admirando a minha boceta.
Eu só havia depilado a virilha,
deixando um rastro de pelos apenas
no centro.
Ele escancarou ainda mais as
minhas pernas, levando o seu nariz
a sentir o aroma liberado pelo meu
centro. Eu já estava encharcada.
Sua boca tomou o lugar antes
ocupado por suas narinas e
finalmente senti a quentura do seu
hálito sobre o meu sexo. Sempre
adorei fazer e receber sexo oral,
mas com Marco era inigualável.
Sua língua habilidosa
passeou desde o meu baixo-ventre
até o meu apertado cuzinho. Em
alguns pontos, ele parava para
brincar um pouco mais, fazendo
com que contorcesse, implorando
sua invasão.
Sua concentração maior
estava em meu clitóris, pois ele
sabia que era onde estava a minha
sensibilidade. Senti um dedo na
entrada do meu ânus fazendo
pequenos movimentos.
Ele gemia, demonstrando que
sentia tanto prazer quanto eu.
Parou um instante de me
chupar e seus olhos estudaram a
minha reação. Continuou mexendo
em meu cuzinho.
– Você já foi fodida aqui,
minha rainha?
Gemi, arrebitando ainda
mais a minha bunda para fazer o
que quisesse.
– Não. Sempre ouvi dizer
que doía.
– O nosso corpo se adapta
fácil a diferentes necessidades. Um
dia vou te mostrar o quanto pode
ser prazeroso.
– Voltou a dar atenção ao
meu faminto grelo, ousando um
pouco mais com o seu dedo na
parte de trás. Eu já estava chegando
à beira do precipício a um passo de
me deixar ser levada.
Senti um orgasmo poderoso
ondular sobre o meu corpo,
misturando a luxúria, que apenas
Marco tinha o poder de despertar
em mim, e o amor que nunca havia
morrido em meu peito.
– Marco...
Gritei por seu nome e uma
lágrima teimosa desceu pelo meu
olho, denotando a dor da nostalgia
que sentia desses lindos momentos
ao seu lado.
Naquela noite, fizemos amor
uma e outra vez com desejo, fervor
e ânsia. O meu corpo sentia uma
fome dele tão vigorosa que, por
mais que tentássemos, nunca estava
completamente satisfeita.
Seria necessária uma vida
para que alcançasse esse objetivo.
Deitei nos braços do homem
que rondou os meus pensamentos
por tanto tempo e tive medo de
fechar os olhos para dormir. Tinha
receio de que pudesse acordar e
descobrir que era tudo um sonho.

****************
– Bom dia, dorminhoca.
Dormiu bem?
– Hum... você sabe que
quase não dormi, mas não estou
reclamando. Uma das melhores
noites da minha vida.
– Sabia que suas palavras
estão me dando ideias?
Ultimamente ando insatisfeito de ter
que dormir nessa cama tão grande.
Adoraria tê-la dividindo a cama
comigo.
– É algo para se pensar. Não
sei se estou disposta a passar a
maioria das minhas noites acordada
e ainda tem outro agravante: você
ronca. – Brinquei.
Ele jogou um travesseiro em
cima de mim, caindo na gargalhada.
– Mentirosa! Eu não ronco,
porém quanto a mantê-la acordada,
de fato há uma grande possibilidade
de acontecer. Quando estou ao seu
lado, é impossível manter minhas
mãos longes.
– É uma pena que eu não
possa aproveitar um pouco mais da
sua cama. Eu preciso ir. – Falei, já
me levantando.
Ele me empurrou de costas
na cama e sentou-se entre minhas
pernas.
– O que tiver para fazer, em
pleno domingo, terá que esperar.
Demorou demais para que estivesse
de volta aos meus braços e ainda
não tive o suficiente de você.
Embora meu corpo estivesse
um pouco dolorido, por ter ficado
mais de um ano sem sexo e pela
maratona da noite anterior, eu ainda
queria senti-lo como se fosse a
primeira vez.
Meu corpo ansiava por tudo
o que pudesse ou quisesse oferecer.
Necessitava do prazer que poderia
me dar. Me rendi naquele momento
do mesmo modo que me renderia
todas as vezes que me tocasse.
Eu já não tinha mais controle
sobre mim mesma. Estava
completamente entregue a ele.
Depois de nos amarmos
naquela manhã, tomamos um banho
juntos e me arrumei para ir.
– Você realmente precisa ir
para casa? Por que não passa o dia
comigo?
– Tenho assuntos urgentes
que necessitam da minha atenção,
Marco. Eu realmente tenho que ir.
Nos vemos amanhã na empresa.
– Ei, por falar nisso, não
fique pensando que vou tolerar
aquele cara dando em cima de você
na minha cara. Se você não afastá-
lo, eu mesmo deixarei bem claro
que você é minha. Apenas minha.
– Já te disse que Augusto é
apenas meu amigo.
Ele balançou a cabeça,
assentindo, mas demonstrando que
não engolia essa história de
amizade. Rolei os olhos e lhe dei
um beijo de despedida, entrando em
meu carro.
Dessa semana não passaria.
Eu teria de contar sobre Lorenzo e
estava rezando para que essa
informação não o afastasse de mim.
Capítulo 9

Ele

Esses dias, eu tenho vivido


os momentos mais intensos dos
últimos tempos. Depois do horário
de trabalho, eu e Tatiana sempre
nos encontramos em meu
apartamento e fazemos declarações
e promessas usando apenas nossos
corpos.
Estou cada vez mais
apaixonado e sei que o sentimento é
recíproco. Ela nunca dorme
comigo, sempre dando uma
desculpa qualquer, mas acredito
que o motivo seja o seu sobrinho.
Como ela ainda não tocou no
assunto, preferi não falar nada, pois
poderia parecer perseguidor caso
contasse que a vi com sua irmã e
um bebê.
Percebi que ela estava
apreensiva por algo, mas sempre
que tentava me dizer, eu a
interrompia com medo de que
alguma coisa pudesse estragar o
que estávamos vivendo.
Hoje é sexta e eu terei uma
reunião com o representante do
setor de contabilidade, o tal de
Augusto Haggi, que precisa me dar
algumas satisfações. Os números
não batem e é lógico que houve
alterações no livro da empresa,
porém ainda não posso acusar
ninguém.
Eu o vi se oferecendo para
Tati novamente e a convidando para
almoçar quase todos os dias. Ela
tem me pedido para não interferir
na relação de amizade deles e eu
tenho respeitado por perceber que
as investidas são unilaterais.
Mas nesta reunião, não
perderei a oportunidade de deixar
claro quem manda no terreiro. Ele
precisava entender que Tatiana já
não estava mais disponível.
Interfonei para ela:
– Minha rainha, como está
sendo seu dia?
– Tudo dentro da
normalidade, tirando o fato de que
meu namorado tem me deixado
bastante cansada essa semana e a
noite não tem sido suficiente para
repor as energias, está indo tudo
bem.
– Seu namorado é um cara
de sorte. Tenho certeza de que ele
pode te dar uma massagem
relaxante quando sair do trabalho.
– Não tenho dúvidas de que
ele é especialista nisso. Está
precisando de alguma coisa, Sr.
Javier?
– Provocadora! Você sabe
como fico quando faz esse tipo de
pergunta. Vou ter que passar o dia
inteiro de pau duro por sua causa.
Mais tarde você me paga.
– Já espero ansiosa.
Sorri, adorando sua ousadia.
– Linda, estou ligando para
avisar que Augusto deve entrar
imediatamente quando chegar. Não
precisa anunciá-lo. Quando estiver
aqui, não permita que sejamos
incomodados por ninguém, além de
Carlos Ribeiro, entendeu?
– Tudo bem. Na verdade,
ele acabou de chegar e já estarei
dando o recado.
Cerca de cinco minutos
depois, o contador entrou em minha
sala e me cumprimentou com ar
altivo, tentando demonstrar
seriedade e profissionalismo. Eu
não ia com a cara desse idiota, mas
não estava ali buscando um amigo,
eu queria respostas que talvez ele
pudesse me dar.
– O senhor teve tempo
suficiente para analisar os
balancetes da empresa?
– Sim, o período desde que
cheguei foi importante para rever o
que não ia bem.
– E chegou a alguma
conclusão?
– Ainda não posso provar e
ainda não posso apontar nomes,
porém não há dúvidas de que está
havendo alteração no livro
contábil, ou seja, estamos sendo
roubados.
Sua expressão não se alterou
com a notícia.
– Quero que saiba que estou
à disposição para ajudar a
encontrar essa laranja podre que
está infiltrada na empresa.
– Não esperava menos.
– Na verdade, eu e Sr.
Ribeiro já estávamos analisando os
dados para encontrar respostas e
apenas levantamos suspeitas, porém
não é saudável que a empresa
demita todos os cargos de
confiança por causa de um ou dois
que está nos lesando, então
decidimos investigar para punir as
pessoas certas.
Resolvi sondá-lo lhe
colocando contra a parede.
– Por que essa pessoa não
seria você? É quem mais tem
acesso aos dados e livros da
empresa e, se fosse muito
inteligente, poderia fraudar sem
deixar pistas.
A minha pergunta não o
abalou e ele permaneceu com o
perfil profissional de antes.
– Não tenho prova concreta
para me defender. O que tenho a
meu favor é o meu histórico como
funcionário que batalhou para estar
no cargo que ocupo. Nunca tive
qualquer conduta que me
condenasse durante todos os anos
que trabalhei nas filiais da empresa
e não seria hoje, quando cheguei
aonde queria, que me submeteria a
cometer esses delitos.
– Por que deveria acreditar
em você?
– Não peço que acredite.
Você tem toda a liberdade para
investigar o meu passado e as
minhas contas bancárias, mas tenho
certeza de que estará
desperdiçando um tempo precioso
que deveria ser gasto para
encontrar quem de fato está nos
lesando.
– Não será necessário. Se eu
te chamei na minha sala é porque
toda a investigação a seu respeito
já foi feita, embora não o esteja
isentando de estar envolvido nos
desvios. Enquanto não acharmos os
culpados, todos serão suspeitos.
– Claro, concordo. Eu
sempre consigo o que quero e o
cargo que ocupo é fruto de muita
força de vontade e muito trabalho.
Farei o possível para achar os
criminosos e acabar com as
suspeitas.
– Então, já que você falou
em sempre conseguir o que quer,
vou direto a um outro assunto: você
quer Tatiana?
– Sr. Javier, me perdoe, mas
isso só diz respeito a mim.
– Aí é onde você se engana.
Esse assunto também diz respeito a
mim, uma vez que sou o namorado
dela.
Dessa vez, consegui tirar
uma reação dele. Seus olhos se
arregalaram como se tivesse lhe
dado a pior das notícias.
– Namorado? Tatiana nunca
me disse que estava namorando. Eu
não entendo.
– Eu e ela já tivemos uma
relação há algum tempo e
decidimos reatar recentemente.
Espero que fique bem claro a você
e a todos aqui que não há espaço
para mais ninguém. Ela é minha.
– Não vou negar que nutri
esperanças de me relacionar com
ela quando estava disponível,
contudo se essa é a sua escolha, só
me resta respeitar.
– Ótimo. Vejo que estamos
conversados sobre esse assunto.
Agora vamos voltar ao motivo que
nos trouxe aqui.
Augusto assentiu e começou
a me explicar todas as entradas e
saídas financeiras da empresa. Ele
parecia um pouco triste, mas
conseguiu se manter firme durante
horas de conversa.
Depois de uma tarde
exaustiva em que a única conclusão
que chegamos foi que o ladrão entre
nós era mais astuto que poderíamos
supor, demos por encerrada a
reunião.
Embora não gostasse dele, o
contador tinha razão. Tínhamos que
direcionar nossos esforços em
outros departamentos da empresa
para tentar encontrar onde havia
falha e identificar os culpados.
Saí do escritório e Tatiana
não estava mais em sua mesa.
Resolvi mandar um Whatsapp.
M: Onde está, linda?
T: Fiz uma pausa para o
lanche. Já estou voltando.
M: Estou te aguardando.
Vamos sair um pouco mais cedo
hoje.
T: Tudo bem, estarei aí em
cinco minutos.
M: Os cinco minutos para
demorados de todos.
T: Hum... Para que tanta
pressa?
M: Você não faz ideia do que
tenho em mente. Não posso falar,
tenho que te mostrar.
T: Se eu tiver que parar toda
hora para te responder, vou
demorar mais que cinco minutos.
M: Então, sem mais
conversas virtuais. Corra!!!
T: kkkkkkk.
Cerca de dez minutos depois,
Tatiana chegou com um jeito
debochado de quem estava sem
pressa. Me olhou com um sorriso
lascivo nos lábios e se abaixou
para pegar sua bolsa na cadeira,
empinando sua bunda em minha
direção.
Eu apenas a observava, já
sentindo a reação do meu corpo que
pedia para tomá-la ali mesmo onde
estávamos.
– Vou na frente. Estarei a
esperando em meu apartamento,
mesmo não vendo motivos para
sairmos em carros diferentes
quando eu poderia te pegar e te
levar em casa. Isso logo vai mudar,
entendeu, Tati?
– Pode ir. Daqui a pouco
estarei lá e podemos conversar
sobre o que quiser. Aqui não.
Dei-lhe um beijo breve e saí
em direção ao meu carro.
Entrei no apart, deixei os
objetos do meu bolso sobre a mesa
da sala e fui direto para o chuveiro.
Precisava de um bom banho para
lavar toda a tensão do escritório
que estava apenas iniciando. Ainda
teria um grande percurso até
encontrar as respostas que vim
procurar.
Deixei que a água me lavasse
e depois de longos minutos, saí do
banho, vestindo apenas uma boxer.
A campainha tocou e não me
preocupei em perguntar quem era,
pois já sabia quem poderia ser. Por
mais um dia, eu teria a minha rainha
em meus braços e estava disposto a
fazer o possível para que ela
ficasse durante todo o fim de
semana.
Desta vez não aceitaria uma
resposta negativa.
Abri a porta e dei as costas,
indo em direção à cozinha para
preparar duas taças de champanhe.
Enchi as taças, enquanto ouvia seus
passos atrás de mim.
Voltei para lhe entregar uma
taça, quando percebi que quem
estava diante de mim não era
Tatiana. Quem estava diante de mim
era uma mulher com o rosto
inchado de tanto chorar e com a
aparência caída.
Andréa estava no
apartamento em pé, parecendo
assustada como um bicho acuado.
Eu nunca havia a visto desse modo
e confesso que fui tomado por um
sentimento de pena.
– Andréa, o que faz aqui?
– Eu precisava te ver,
Marco. Como você pode terminar
tudo comigo por telefone?
– Depois que eu descobri o
que você fez? Foi muito fácil. Você
é muito corajosa de estar diante de
mim neste momento.
– Eu tinha que falar com
você pessoalmente.
– Pensei que havia deixado
claro que não tínhamos mais o que
falar um com o outro.
– Você pode não ter, mas eu
tenho.
– Andréa, nada do que diga
vai me fazer voltar atrás em minha
decisão. Eu não quero mais você.
Junte o resto do seu orgulho e vá
embora daqui, vá em busca de
alguém que te queira.
– Bebê, não é possível que
essa mulherzinha te enfeitiçou desse
jeito. Ela está inventando um monte
de mentiras e você está cego,
acreditando em suas histórias.
Estávamos tão bem, vamos voltar
para a Espanha e continuarmos do
ponto que paramos.
Ela veio ao meu encontro e
me abraçou. Tentei me livrar dos
seus braços em torno de mim,
porém ela usava toda a sua força
para se manter onde estava.
– Me larga, porra, fique
longe de mim. Quero que saia agora
do meu apartamento.
– Você não pode me jogar na
rua desse jeito.
– Já estou perdendo a
paciência. Saia agora!
Ela continuou em pé no
mesmo lugar e abriu um sorriso
debochado.
– Eu não vou sair, querido,
nem agora nem nunca. Finalmente
seremos uma família. Seus pais já
sabem de tudo e ficaram muito
animados com a notícia. Estou tão
feliz, amor, nós seremos pais, estou
grávida, Marco.
Eu não podia acreditar no
que essa louca estava me dizendo.
Grávida? Ouvi um barulho e para
piorar a situação, quando olhei para
a porta, avistei Tatiana petrificada,
olhando para Andréa de forma
assustada.
Merda, estou fodido! Ela
ouviu tudo o que essa maluca
acabou de dizer. Preciso fazê-la
entender que todo esse inferno é
invenção da mente dessa louca.
– Tati, querida, não acredite
em uma só palavra do que ela falou.
Só pode estar delirando. Não tem a
menor chance de estar esperando
um filho meu.
Ela não pronunciou uma
palavra ou fez qualquer movimento.
Continuou imóvel como estava
antes.
– Tatiana, por favor, me
ouça...
Andréa começou a chorar e
virou em direção a ela.
– Querida, não precisa
acreditar em mim como Marco está
dizendo. Acredite nesse exame que
comprova as minhas palavras. – ela
estendeu um papel e entregou à
minha namorada. – Você vai ter
coragem de ficar no meio de uma
família que está começando a ser
construída? Eu serei a mãe do filho
dele e nada mudará isso.
Tati leu o que estava escrito
como se procurasse uma
informação que pudesse desmentir
o que Andréa dizia. Quando
terminou, me encarou por um
tempo, antes de proferir as palavras
que eu menos queria ouvir na vida:
– Não venha atrás de mim,
Marco, ela está dizendo a verdade.
Eu não quero ser uma pedra na vida
de ninguém e você terá um motivo
maior para se preocupar agora.
Adeus!
Ela jogou o papel no chão e
saiu correndo. Cheguei até a porta
para tentar alcançá-la, porém não
havia mais nem vulto no corredor.
Peguei o papel do chão e comecei a
ler, prendendo minha visão na
palavra ‘positivo’ escrita em caixa
alta.
Eu não podia acreditar no
que estava vendo. Eu estava preso a
uma mulher que só sentia asco por
conta do único motivo que me
levaria a uma relação forçada: ela
estava grávida.
Como isso foi acontecer
depois de tantos cuidados? Eu
nunca tive relações com mulher
alguma sem proteção e ela sempre
me garantiu que tomava a pílula.
Filha da puta! Deve ter me
enganado esse tempo todo.
Voltei a minha atenção para
ela tomado pelo ódio. Estava
cabisbaixa, deixando as lágrimas
rolarem livremente pelo seu rosto.
– Você conseguiu o que
queria, Andréa. Agora que há um
bebê envolvido, nós vamos nos
casar. Não espere de mim nada
além do respeito que preciso ter
pela mãe do meu filho. Eu não a
amo. Nunca amei e nunca vou amar.
Vai aprender a viver uma vida sem
esse sentimento envolvido.
– Tenho certeza que o meu
sentimento é suficiente para nós
dois. Eu o quero do jeito que
estiver disposto a estar comigo. Eu
o amo demais, Marco, e saber que
estou carregando o seu filho em
meu ventre, me faz amá-lo ainda
mais. Ligue para os seus pais. Eles
estão loucos para te parabenizar.
É claro que ela trataria de
envolver o máximo de pessoas
possíveis neste plano mirabolante
para me prender através de uma
gravidez. É claro que levaria a
minha família cheia de princípios
para o seu lado. Como se isso fosse
necessário.
Eu já tenho os meus próprios
princípios inquebráveis.
– Tem um quarto ao lado do
meu, se aloje lá e tente dormir.
Amanhã mesmo voltaremos para a
Espanha e vamos resolver como
ficará a nossa vida daqui para a
frente.
Saí, lhe dando as costas e
entrei no meu quarto, me jogando na
cama. Eu sabia que essa seria uma
longa noite, pois não conseguiria
dormir.
Peguei o meu celular na
esperança de que tivesse uma
ligação ou ao menos uma mensagem
de Tatiana, mas não havia nada.
Como eu aprenderia a viver sem
ela agora que havia reacendido a
chama que me dava um motivo
maior para acordar todos os dias?
Mandei-lhe uma última
mensagem, um adeus que desejava
jamais ter que dar:
“ Eu não a terei mais em
minha vida, porém preciso deixar
claro que você sempre foi e sempre
será o meu grande amor.
Por você, estava disposto a
me tornar um homem melhor. Só
você me fez pensar em pertencer a
apenas uma mulher e fazer com que
essa mulher fosse apenas minha.
Só você.
Me perdoe. Eu te amo.”
Fiquei parado olhando para
o celular, em busca de uma resposta
que veio minutos depois em apenas
duas frases avassaladoras:
“ Eu também te peço perdão.
Eu te amo.”
Para me deixar ainda com
mais remorso, ela me pediu perdão.
Do que poderia perdoá-la se ela
era a minha própria redenção?
Amanhã seria o primeiro dia
da minha vida sem o maior dos
sentimentos envolvido. Eu não teria
mais Tatiana presente nela. Eu não
teria mais amor.
Capítulo 10

Ela

Já faz dois meses que não


tenho notícias de Marco. Ele não
tentou entrar em contato comigo e
nem eu o procurei mais. Talvez seja
melhor assim, pois vi sua cara de
decepção ao descobrir que se
tornaria pai. Acho que fiz a melhor
escolha em não lhe contar.
A forma que ele reagiu à
notícia era exatamente a que eu
temia quando descobri que estava
grávida. Ele deve estar nesse
momento se preparando para entrar
em um matrimônio sem amor
apenas para honrar o nome de sua
família.
Eu não queria isso para mim.
Os últimos dias têm sido
difíceis, mas a minha rotina no
trabalho acaba me distraindo a
maior parte do tempo, contudo as
noites são quando a tristeza me
invade, já que sou tomada pelas
lembranças dos poucos dias
maravilhosos que pude estar em
seus braços.
Olhar diariamente o rostinho
do meu filho não ajuda. Ele é a
lembrança viva da minha história
de amor com Marco.
Imagino que ele esteja
sofrendo também, pois não deixou
dúvidas do amor que sentia por
mim. Sinto que fomos injustiçados
pelo destino, que sempre nos deu
uma rasteira quando pensávamos
que as coisas iam dar certo.
Estava em meu quarto em
mais uma noite de angústia, quando
ouvi o sinal de que havia chegado
uma mensagem de Whatsapp. Era
Brisa falando comigo depois de
alguns meses.
Nós éramos amigas quando
ela morava no Brasil e continuamos
em contato enquanto me
relacionava com Marco. No último
ano, nos falamos poucas vezes. Ela
sabe que tive um filho, mas não
sabe que é de seu cunhado.
O pai dela lhe contou sobre a
gravidez, mas Brisa não me
questionou sobre a paternidade e
achei melhor não dizer nada. Não
queria que ela fosse cúmplice do
meu segredo.
B: Tati, como vai? Só tenho
novidades suas quando meu pai
comenta algo.
T: Oi, Bri, que saudades.
Estou muito bem e espero que você
também esteja. Como vai Luiza?
B: Cada dia mais esperta.
Essa menina está colocando todos
no bolso.
T: Rsrs. Imagino.
B: Mas as regalias dela irão
acabar. Está sabendo que Marco se
tornará pai? Em breve, não terá
todas as atenções mais voltadas
apenas para ela.
Oh, Deus, saber que toda a
família está envolvida com a
chegada de uma criança que não é
minha e de Marco só aumenta a
tristeza em meu peito.
T: Sua filha sempre será a
princesa da casa, Bri. Ninguém
nunca vai tirar seu trono.
B: kkkk. Verdade, mas me
conte: como vai o seu pequeno
príncipe?
T: Lorenzo está lindo demais
e já quer fazer coisas que um bebê
de sua idade ainda não faz.
Acredita que já está segurando nas
grades do berço para ficar de pé?
B: Sério? Já vi que será um
garoto muito corajoso.
Ficamos conversando
virtualmente por mais algum tempo.
T: Quando pretende vir ao
Brasil, Brisa?
B: Provavelmente na
próxima semana. Alfonso vai
retomar o trabalho que Marco
estava fazendo aí e teremos que
passar um tempo no Brasil enquanto
meu cunhado dirige a empresa na
Espanha e se prepara para o
casamento. Vamos marcar de nos
encontrarmos quando chegar aí.
T: Vamos sim.
B: Argh! Eu nem acredito
que meu cunhado vai se casar com
aquela mulher artificial e de nariz
em pé. Ela deu o perfeito golpe da
barriga e ele caiu como um patinho.
Tenho pena dele.
T: Cada um colhe o que
planta, não é? Então, estarei
esperando seu contato, Bjs.
B: Está certo, nos falamos
depois. Bjs!
Você não pediu por notícias,
porém elas chegaram de qualquer
maneira, Tatiana. Mais uma vez, a
vida está suplicando que levante a
cabeça e dê a volta por cima.
Lembre-se que tem um filho
que deve estar acima de todos, até
de você mesma. Reaja e siga em
frente, pois é isso que todos estão
fazendo.
Fui dormir com meu bebê do
lado, decretando que esse era o
último dia que deixaria com que a
tristeza fosse a minha melhor
amiga. Não adiantaria nada viver
chorando por algo que não poderia
mudar.
O destino já estava traçado e
eu precisava aceitá-lo e tentar
construir uma nova estrada para
caminhar. Era o que faria a partir
do momento que o sol nascesse
sobre a minha cabeça.

****************
Estava na empresa, digitando
alguns documentos, quando Augusto
se aproximou como sempre fazia
antes de descobrir sobre eu e
Marco. Provavelmente sabia que o
relacionamento não vingou, já que
estava se achegando novamente.
– Hoje você me dará a honra
de mais uma vez compartilharmos o
almoço?
Fiquei olhando para ele por
alguns segundos. Eu ia negar seu
pedido como das outras vezes, mas
pensei melhor e resolvi lhe fazer
outra proposta.
– Eu não sei a que horas irei
almoçar, tenho muito trabalho a
fazer, portanto não gostaria de
deixá-lo me esperando, porém
estaria mais que disposta a sair
hoje à noite.
Ele arregalou os olhos sem
acreditar no que estava dizendo.
– Jura? Você vai sair comigo
esta noite?
– Se você quiser. Haverá um
show da banda No Return no
Parque de Exposições e gostaria
muito de assistir. Não sei se ainda
tem ingressos, mas se tiver, você
bem que poderia me levar, não é?
– Princesa, eu posso te
garantir que você vai a esse show e
que ainda estará no camarote.
Como poderia medir esforços para
satisfazer a sua vontade na primeira
oportunidade que me dá para
sairmos juntos?
– Então, estamos
combinados. Me pegue às nove em
casa. Depois mando uma mensagem
com endereço.
Me despedi dele, que
parecia uma criança que havia
acabado de ganhar seu brinquedo
favorito, e voltei ao trabalho. Era
isso. Eu tomaria o controle da
minha vida de volta e tentaria ser
feliz da forma que pudesse.
A única coisa que não
poderia oferecer a ninguém era o
meu coração, pois não podia dar
algo que não me pertencia. Marco
se trancou dentro dele e é o único
que possui a chave.
Liguei para casa e avisei a
minha mãe que sairia esta noite
para confirmar se não teria
problemas dela ficar com Lorenzo.
Sua reação foi super animada, pois
já não aguentava mais me ver triste,
trancada no quarto.
No final da tarde, saí do
escritório e fui direto para casa. Já
havia mandado a mensagem com o
endereço para Augusto e queria
passar um tempo com meu filho
antes de sair.
O levei para passear no
parquinho do próprio condomínio e
passei algumas horas conversando
com outras mães e babás que
também estavam no local.
As crianças pareciam ter
uma linguagem própria, pois
sorriam umas para as outras e
conversavam de uma forma que só
eles mesmos entendiam.
Lana ficou muito animada
para ir também, mas seu namorado
estava trabalhando esta noite e não
poderia.
A convidei ainda assim,
porém disse que, embora não fosse
com a cara de Augusto, não queria
estragar o meu encontro.
Dei de ombros e fui para o
quarto me arrumar. Hoje estava
disposta a arrasar no visual, mas
não para impressionar alguém.
Hoje era um daqueles dias que
queria me arrumar para mim
mesma.
Escolhi um short de couro
preto e uma blusa caída nude, com
um sobretudo curto também preto
por cima.
Calcei um sapato preto de
salto médio que me proporcionou
uma aparência elegante, mas ao
mesmo tempo confortável. Estava
disposta a pular muito ao som da
banda.
Minha mãe estava no quarto,
cuidando de Lorenzo, dei um beijo
neles, peguei minha bolsa e fui para
a sala. Augusto já esperava sentado
no sofá, conversando com a minha
irmã. Estava entretido, mas quando
me viu, levantou-se admirado.
– Tati, você está linda!
– Obrigada.
– Já vi que hoje terei
bastante trabalho em manter os
homens afastados de você. Duvido
que qualquer mulher na festa esteja
mais bonita.
– O que é isso, Augusto,
todo o mundo adora essa banda e
tenho certeza de que haverá
mulheres e homens para todos os
gostos.
– Vamos? – Ele estendeu a
mão.
– Claro, vamos.
Estendi a minha também,
alcançando a dele. Quando estava
saindo, ouvi de longe Lana dizer:
– Divirtam-se!
Era isso mesmo o que faria
hoje. Esqueceria que tenho um
coração e tentaria me divertir.
Chegamos ao local do show
e logo entramos, pois o acesso ao
camarote era separado. Havia
muitas adolescentes com faixas e
cartazes já aguardando o início do
evento.
O camarote não estava muito
cheio ainda e dava acesso à frente
do palco onde assistiria a banda de
um lugar privilegiado. Eles já
tinham vindo à Bahia em anos
anteriores, mas sempre acontecia
algo que me impedia de vê-los.
– Foi muito difícil conseguir
ingressos, Augusto?
– Para qualquer outra
pessoa, seria, mas digamos que eu
tenho os meus contatos.
Dei-lhe um sorriso em
agradecimento e ele aproveitou a
abertura para se aproximar um
pouco mais, me abraçando por trás.
Eu sentia sua respiração em
meu pescoço, porém não conseguia
sentir qualquer atração, qualquer
desejo de levar a nossa amizade
para outro nível.
Ele afastou meus cabelos do
pescoço e passou seu nariz,
respirando fundo para sentir meu
cheiro.
– Eu sempre quis estar
assim com você, sabia? – Ele
sussurrou.
– Olha, Augusto, eu não
quero que confunda as...
Fui interrompida.
– Sssrrrr... não precisa se
justificar. Se deixe levar, Tati, só
hoje. Você precisa abrir a guarda
um pouco, precisa relaxar.
– Poderia pegar uma bebida,
então? Acho que você está certo e
preciso de uma ajudinha para ficar
mais à vontade.
Ele pegou uma caipirinha
para mim e uma cerveja para ele.
Tomei um gole de coragem líquida
e senti o doce da mistura descendo
em minha garganta.
Teria que ir devagar, pois
não estava acostumada a beber
muito. Já tinha um mês que Lorenzo
deixou de mamar e não havia
problemas em consumir um pouco
de bebida alcoólica.
Uma banda começou a tocar,
fazendo a abertura da festa e
comecei a me soltar.
– Vamos dançar, Augusto,
vem.
Ele atendeu ao meu pedido e
passamos a nos divertir muito.
Terminei meu copo de bebida e lhe
pedi outro. Prontamente trouxe mais
e continuamos no embalo de
músicas nacionalmente conhecidas.
Já estava ficando tonta,
quando avistei uma garota
visivelmente grávida vindo em
minha direção. Limpei os olhos
com as mãos e pude ver nitidamente
que se tratava de Clara.
Ela era casada com o
produtor da banda principal desta
noite e estava esperando um bebê.
Com seu jeito extrovertido, veio ao
meu encontro, estendendo os braços
para um abraço.
– Tati, nunca mais a vi.
– Verdade, Clara. Acho que
a última vez foi na Espanha há mais
de um ano. Então, grávida, hein?
Meus parabéns!
– Aquele homem
enlouqueceria se não me
engravidasse logo. Não falava em
outra coisa. Eu também queria
muito depois da convivência com
minha afilhada Luiza. Não vejo a
hora de ver o rostinho do meu bebê.
– Sei como é. Posso te
garantir que a maternidade é um dos
maiores presentes que a vida pode
nos dar.
– Por falar nisso, como está
seu bebê?
– Lindo e muito esperto.
Estou cada dia mais apaixonada.
– Sabe, não é da minha
conta, mas acho que você deveria
contar ao pai. Talvez evitasse o
casamento dele com aquela mulher
antipática.
– Clara, Marco não é … –
Ela me interrompeu.
– Ei, não precisa mentir
para mim. Eu nunca contaria para
ele nem para ninguém. Isso é função
sua. Você pode enganar a qualquer
um, Tati, mas só quem não te
conhecesse e não soubesse fazer
uma conta simples não chegaria à
conclusão de que Marco é o pai do
seu filho.
Ela é muito esperta, não
adiantaria insistir em esconder a
paternidade de Lorenzo.
– É complicado, Clara. Eu
já tentei contar, mas sempre
acontece algo que me impede. Acho
que ele me odiaria por isso.
– Faça quando achar melhor.
A decisão é unicamente sua. E
então, está gostando da festa?
Assim como Brisa, sei que
Clara é confiável e não contaria a
ninguém, contudo me pergunto se
outras pessoas chegaram à mesma
conclusão que ela. Será que se
Marco descobrisse que tenho um
filho, somaria dois mais dois?
– Estou gostando muito.
Deixe-me te apresentar Augusto, um
grande amigo.
– Prazer, Augusto. – ela
disse, estendendo a mão – Uau,
Tati, você está bem de amigo, hein?
Deixe-me voltar para onde estava.
Daqui a pouco Ben manda o
serviço de busca me procurar.
– Tudo bem, foi bom revê-
la.
Eu não queria pensar nas
palavras de Clara. Não hoje.
A banda de abertura se
despediu e eu já estava no terceiro
copo quando os componentes da No
Return tomaram seu lugar no palco.
O vocalista cumprimentou o
público, que foi ao delírio, gritando
em um só coral: 'Zeus, Zeus, Zeus'.
Além de ser talentoso, ele
era lindo, e os demais integrantes
não ficavam para trás nos quesitos
talento e beleza. Talvez tenha sido
essa mistura que deu tanta
notoriedade à banda adicionada a
muito esforço do produtor, Benito
Adams.
– Eu quero ir lá para a
frente. – Puxei Augusto, que me
acompanhou sem reclamar.
Eles começaram tocando o
seu maior sucesso ‘Nunca mais
serei o mesmo’ e o público sabia
toda a letra de cor. Eu também
sabia e acompanhei do início ao
fim.
Uma música romântica se
iniciou e Augusto me puxou para
mais perto, me abraçando para
dançarmos juntos. Eu havia bebido
mais do que devia e me deixei
levar pela canção.
Falava de perdão e
arrependimento, e a relação que fiz
entre ela e a minha história com
Marco foi imediata. A alegria que
estava sentindo me abandonou e a
amargura tomou o seu lugar.
Lágrimas invadiam os meus
olhos, nublando a minha visão, e
Augusto passou sua mão por meu
rosto, levando com ele uma gota
que caía.
– Deixe-me ajudá-la a
esquecer, Tati. Você sabe que
sempre quis ser mais que seu
amigo. Se abra para um recomeço,
querida. Estou aqui para você e não
pretendo fugir na primeira
dificuldade.
Eu o abracei mais forte e
comecei a soluçar discretamente.
– Eu não sei, Augusto. Não
sei se sou capaz de me tornar quem
você espera que eu seja.
Ele me afastou um pouco
para olhar nos meus olhos.
– Você não precisa se tornar
nada. Você já é a pessoa que eu
espero. Me dê uma chance.
Ele não esperou minha
resposta. Me puxou para um beijo
doce, suave e respeitoso. Eu me
deixei levar e correspondi, mas
busquei qualquer reação do meu
corpo e nada encontrei. Ele não
despertava qualquer sentimento em
mim.
A comparação com o que eu
sentia ao beijar Marco foi
instantânea e a conclusão a que eu
cheguei foi que ninguém mexeria
tanto comigo como ele fazia.
Ainda assim, eu tinha que
achar forças para continuar vivendo
e ser feliz, mesmo que não fosse
com ele.
Passamos o resto da noite
aproveitando ao show e trocando
tímidas carícias. Augusto havia
ganhado ponto comigo por ter
respeitado o meu tempo e meus
sentimentos.
Estava tentada a pensar em
lhe dar uma chance.
Capítulo 11

Ele

– Maldición! É uma merda


ver o que está fazendo com sua vida
por falta de opção, meu irmão.
– Eu não vou ficar mais
remoendo um fato que não posso
mudar, Alfonso. Amor, felicidade e
tudo o que vejo na sua relação com
Brisa não são para mim. Você teve
mais sorte do que eu.
– Sempre soube que eu seria
aquele que se sacrificaria em um
casamento e você o que teria
liberdade para escolher, no entanto,
tudo se inverteu e estou agora
diante de um homem que parece
estar sendo levado para a forca.
Dei-lhe um meio sorriso e
continuei seguindo as instruções do
estilista que estava fazendo ajustes
em meu terno de casamento.
Era um fato. Eu iria me casar
com Andréa por estar esperando um
filho meu e seria dedicado à minha
família. A minha vida não estava
seguindo o rumo que planejei, mas
teria que me conformar com os
acontecimentos.
Só não prometeria retribuir
qualquer sentimento e nem mesmo
ser fiel à minha esposa, pois ódio
era tudo o que conseguia sentir por
ela. Viveríamos um relacionamento
de fachada e de conveniência.
Eu teria que fazer o possível
para dar certo pelo menos a
convivência debaixo do mesmo
teto, pelo bem da criança, mas não
permitiria que me cobrasse mais do
que respeito, que era tudo o que
tinha a oferecer.
O famoso estilista italiano
fez um último ajuste e perguntou:
– O que acha, senhor?
Gostou do caimento da roupa?
– Está perfeito, embora não
esteja muito preocupado com
caimento de nada. Se me dessem
um pano de saco para vestir no dia
do casamento, daria no mesmo.
– Calma, Marco, o estilista
não tem culpa das circunstâncias do
seu casamento. Desculpa, senhor,
ele apenas está nervoso.
– Sem problemas, estou
acostumado com noivos nervosos
antes do casamento. – Ele
respondeu.
Tirei o terno e deixei no
ateliê para que os ajustes fossem
feitos, em seguida, eu e Alfonso
fomos para um bar próximo à casa
dele. Pedimos duas bebidas e
retomamos a conversa.
– Sabe, Marco, eu gostaria
que olhasse o lado bom de tudo o
que está acontecendo. Você será
pai, cara, e um bebê traz muitas
alegrias à nossa vida. Você tem um
imã para crianças, vejo como se
relaciona bem com Luiza e o quanto
ela é louca por você.
– Não é qualquer criança.
Luiza é um bebê muito especial.
– Sei disso e o seu também
será. Quando nascer, você saberá o
que estou dizendo. Dará a sua vida
por ele, se necessário.
– Eu já daria a minha por
minha sobrinha, então já tenho ideia
do que está falando.
– Sei que darei a minha pelo
seu filho também. Apesar de tudo,
estou muito animado para me tornar
tio.
– Não acha que está na hora
de aumentar a família? Luiza já vai
fazer dois anos e dizem que não é
bom dar muita distância entre um
filho e outro.
– Temos pensado nisso e já
não estamos mais evitando, se vier,
será muito bem-vindo. Já imaginou
termos bebês com a mesma idade?
– Seria bom, pois se
tornariam mais que primos. Seriam
amigos. Intensifique a sua tentativa,
cara. Me dê outro sobrinho.
Ficamos em um clima
amistoso, bebendo e conversando
sobre outros assuntos, além do meu
casamento iminente. Ultimamente,
tinha evitado ficar sozinho o
máximo possível, pois tinha medo
de ser tomado pela depressão.
No meu íntimo, ainda rezava
para que algo acontecesse que
impedisse esse casamento. Rezava
para que uma informação nova
surgisse que fosse mais forte até
mesmo que meus princípios.
Eu não compartilhava esses
pensamentos nem mesmo com meu
irmão. Eram só meus.
Havia tomado alguns drinks
a mais, quando uma garota
nitidamente siliconada encostou no
balcão, pedindo uma bebida. Ela
me avaliou de cima a baixo e deu
um pequeno sorriso. Essa era a
deixa para me aproximar.
Sorri de volta e quando ela
iria pagar, eu a freei e pedi para
que o garçom colocasse em minha
conta. Prontamente, ela aproveitou
para se apresentar.
– Obrigada pela bebida.
Meu nome é Yasmim e o seu?
– Eu sou Marco, linda. Está
sozinha?
Nesse momento, Alfonso
interrompeu, me chamando para
irmos.
– Pode ir, cara. Eu estou
muito bem acompanhado por
Yasmin, não é, princesa? –
Respondi, olhando para ela.
– Claro. Pode deixar que
cuido dele.
– Não acha que bebeu
demais, Marco? Como vai dirigir
desse jeito?
– Para de bancar o irmão
mais velho, Alfonso, eu me viro.
Volte para a sua família que merece
sua atenção. Vou me divertir essa
noite.
Ele foi embora, me deixando
lá com a garota. Essa já estava no
papo. Acho que era isso que eu
precisava: uma boceta diferente que
me fizesse esquecer dos problemas
por uma noite.
– Quer mais uma bebida,
linda?
Ela assentiu e passamos
grande parte da noite bebendo,
dançando e trocando carícias.
Depois de algum tempo, a convidei
para ir ao meu apartamento e como
já esperava, ela não se fez de
rogada. Aceitou sem pestanejar.
Peguei um taxi, pois não
tinha condições nenhuma de dirigir
e não demorei a avistar o meu
prédio. Paguei ao taxista mais que o
suficiente pela corrida e conduzi a
garota para dentro do elevador.
Sabia que poderia estar
sendo filmado, mas não me
preocupei. A empurrei contra o
espelho e levantei sua saia,
ultrapassando a barreira da
calcinha.
Enfiei dois dedos sem dó em
sua entrada úmida e pude sentir o
quanto era apertada. Essa garota me
daria muito prazer esta noite. Levei
os dedos à minha boca e os chupei,
retirando de lá todo o mel que
estava lambuzado.
– Delícia!
Ela fechou os olhos e
contraiu seus quadris me
oferecendo ainda mais. Eu a beijei
calorosamente, misturando os
nossos sabores.
A porta do elevador abriu e
sem demora, a levei ao meu
apartamento. Entramos nos
beijando e assim continuamos até
chegar ao sofá. A empurrei e,
sofregamente, comecei a me despir,
em seguida fazendo o mesmo com
ela.
Sua respiração estava
ofegante e não haveria muito
espaço para preliminares. Eu
queria foder essa puta sem sentido,
queria me perder dentro dela e
esquecer todos os meus problemas
por um momento.
Retirei um preservativo do
bolso e o deixei ao alcance, pois
não demoraria a usá-lo.
– Venha aqui, Yasmim. Você
gostaria de sentir um pau grosso em
sua boca? – ela balançou a cabeça,
assentindo. – Então me chupe.
Quero que me sinta em sua
garganta.
Prontamente, ela ficou de
joelhos e tomou alguns segundos
para admirar o meu membro.
Passou a brincar, lambendo em
volta da cabeça e depois de uma
ponta a outra, sentindo todo o
comprimento do meu pau em sua
língua.
– Gostoso, querida, mas
quero que sinta tudo agora.
Centímetro a centímetro, vi
meu pau sumir dentro de sua boca,
sendo quase todo engolido. Senti a
delícia de estar envolto em uma
boquinha quente e experiente. Ela
era gulosa e sabia o que estava
fazendo.
Sempre adorei sexo oral
como todos os homens, mas já tinha
transado com algumas garotas que
não gostavam muito. Essa
definitivamente não era uma delas.
Essa putinha gostava de chupar um
pau.
– Isso, linda. Leve-o até o
fundo de sua garganta.
Ela engolia o máximo que
podia e retornava para a ponta,
voltando a repetir o movimento de
fricção. Eu já tinha um bom tempo
que não transava, desde a última
vez que estive com Tatiana e sabia
que não seguraria por muito tempo.
– Abra a boca, putinha. Vou
derramar meu leite nela e você vai
engolir tudo, entendeu?
Segurei sua boca na direção
do meu pau e ela se mostrou mais
que disposta a fazer o que pedi. Me
masturbei e, sem demora, fui
tomado por um gozo profundo e
duradouro.
– Tatiaaaaanaaa. – Foi a
única palavra que consegui lembrar
enquanto estava liberando o meu
sêmen.
Yasmin engoliu tudo e ainda
lambeu meu pau para se certificar
que não havia perdido sequer uma
gota. Não fez qualquer comentário
sobre eu ter chamado o nome de
outra e nem pareceu se incomodar.
Era disso que eu precisava e
sabia que depois de casado, teria
que encontrar algumas 'Yasmins'
pelo caminho para me satisfazer.
Não encontraria satisfação com
Andréa.
Nós fodemos por toda a noite
e não fui um amante egoísta, lhe dei
prazer também. Havia uma mistura
de saliva, suor e fluidos.
No outro dia, chamei um taxi
para que ela fosse embora e deixei
claro que não pretendia mais vê-la.
Ainda assim, ela insistiu para
deixar seu telefone e eu anotei em
meu aparelho. Quem sabe algum dia
eu sentisse interesse em procurá-la
novamente.
Dormi até o meio-dia de
sábado e acordei com o toque do
meu celular. A música “I won´t see
you tonight” da banda Avenged
Sevenfold foi escolhida por mim
para identificar que a ligação partia
de Andréa.
Ainda sonolento, resolvi
atender.
– Diga, Andréa.
– Bebê, ando tão enjoada
hoje. Você poderia trazer o remédio
para diminuir as náuseas que o
médico passou?
– Você não está no
shopping? Por que não pede a uma
funcionária para comprar?
Eu sabia que essa história
era manha só para que eu fosse
encontrá-la.
– Ah, bebê, estou tão
carente. O médico disse que é
normal se sentir assim na gravidez
e que a mulher precisa de afeto do
companheiro. Traga o remédio e
venha me fazer um pouco de
companhia.
Droga! A sua arma agora
seria a gravidez para justificar
tudo. Estava fodido com essa
mulher.
– Estou indo, Andréa.
Manda o nome do remédio pelo
Whatsapp que eu compro no
caminho.
– Obrigada, querido. Eu e
seu filho estamos muito felizes que
está vindo.
Minha cabeça estava
explodindo pela quantidade de
bebidas ingeridas ontem. Tomei um
banho e pedi um taxi para que
pudesse pegar meu carro no
estacionamento do bar.
Fui em direção ao shopping e
parei para comprar seu remédio
que era natural e, por isso, não
pediram receita.
Cheguei na loja de Andréa e
perguntei por ela a uma funcionária.
– Dona Andréa pediu para
que a encontrasse em sua sala
quando chegasse. Acho que ela
pensava que demoraria, pois nos
informou que só chegaria mais
tarde.
– Eu tentei me apressar, já
que ela estava sentindo enjoo.
A funcionária me deu um
olhar questionador, como se não
soubesse do que eu estava falando,
mas nada disse.
– Ela está com uma amiga,
mas pode ficar à vontade para ir até
lá. O senhor sabe onde é a sala, não
é?
– Sei, sim. Obrigado.
Caminhei por um corredor
que daria acesso ao escritório dela.
Quando estava próximo ouvi a voz
de sua amiga dizendo algo que
levou as duas à gargalhada.
A próxima a falar foi Andréa
e antes que as interrompesse, parei
para ouvir um pouco do que
conversavam.
– Daqui um mês eu serei a
mais nova Sra. Javier e finalmente
vou conseguir o que queria.
– Menina, me conte como
conseguiu levar aquele homem ao
altar. Já vi muita mulher se
desmanchando por ele, e nenhuma
nunca conseguiu.
– Que fique entre nós, mas o
meu segredo é o truque mais antigo
já inventado pelas mulheres para
prender um homem, contudo até
hoje funciona.
– Não me diga que está
grávida.
– Ah, querida, o meu truque
foi aperfeiçoado. Você acha que
estragaria o meu corpinho
carregando um bebê chorão e que
acabaria com minhas noites de
sono? De jeito nenhum!
– E como irá convencê-lo,
então?
– Depois de casada, eu vou
dizer que senti uma dor no ventre e
vou fingir que perdi o bebê. Já
tenho até um médico que irá me
ajudar no dia.
– Nossa, Andréa, como você
é ardilosa! Não precisou
comprovar a gravidez?
– Eu paguei a uma mulher
grávida para fazer o exame em meu
lugar. Não há falhas, querida. Meu
plano é perfeito.
Senti uma mistura de ódio e
ao mesmo tempo uma alegria
dominar todo o meu corpo.
Ódio porque essa vagabunda
quase conseguiu me enlaçar em seu
plano, sabendo que eu nunca teria
um filho bastardo. Alegria por ter
descoberto antes que fizesse a
maior merda da minha vida e agora
estaria livre para retomar minha
relação com Tatiana.
Entrei na sala, empurrando a
porta com toda a força. Ela
levantou imediatamente,
arregalando os olhos.
– Não há falhas, hein? Seu
plano seria perfeito se você não
tivesse esquecido que havia me
chamado até aqui ou se não tivesse
dado com a língua nos dentes para a
sua amiguinha. De fato, o idiota
aqui teria ido até o fim nos seus
planos e acreditado em qualquer
história que me contasse em nome
dos meus princípios, mas a casa
caiu, docinho. Não há mais
casamento e muito menos um ‘nós’.
Como ousou brincar com a minha
família desse jeito?
Ela se aproximou, agarrando
o meu braço desesperada.
– Entendeu tudo errado,
bebê. Eu estava brincando com a
minha amiga. O seu filho está em
meu ventre, eu não menti para você.
Empurrei as suas mãos para
largar o meu braço.
– Se está realmente
esperando o meu filho, vamos agora
a um consultório médico fazer um
exame de ultrassom.
Ela continuou fazendo cena.
– Ai, acho que estou
passando mal. Me leve para casa,
Marco, eu preciso descansar.
– Chega, sua louca! Vou
tomar a minha vida de volta. Não se
preocupe que tratarei de avisar a
todos que não haverá mais
casamento.
– Você não pode fazer isso
comigo. Estou esperando o seu
bebê.
Eu lhe dei um sorriso fraco.
– Sabe para onde vou
agora? Voltar para o Brasil e
reencontrar o amor da minha vida.
Vou atrás da única mulher capaz de
me fazer feliz. Você nunca seria ela.
Um sorriso malicioso se
formou em seus lábios.
– Tem certeza que ela é tão
diferente de mim? Talvez eu saiba
de uma informação que você não
sabe sobre a mulher que considera
tão merecedora do seu amor.
– Você perdeu, Andréa, não
vai conseguir me envenenar contra
ela.
Eu já estava saindo, quando
suas palavras me fizeram parar.
– Ela tem um filho seu,
queridinho. Ela tem um bebê de
oito meses que escondeu de você
esse tempo todo. É um menino e se
achar que é mentira minha, pode
conferir com seus próprios olhos.
Então, ainda a considera uma santa
incapaz de armar contra você?
Capítulo 12

Ela

Tenho saído com Augusto


nos últimos dias e ele tem sido uma
excelente companhia na meta que
estabeleci de esquecer Marco de
vez e tentar ser feliz mesmo sem
ele.
Seu casamento não deve
demorar a acontecer e, em breve,
terá a família que não pude oferecer
a Lorenzo. Outra criança terá o
privilégio que meu filho não terá de
crescer e conviver com o pai
presente.
Tenho pensado em dar uma
chance à minha relação com
Augusto para que se torne mais que
amizade. Embora não sinta meu
coração palpitar forte, acredito que
o carinho que tenho por ele seja um
bom ponto de partida para se tornar
algo maior.
Hoje marcamos de fazer um
passeio no Parque da Cidade.
Muitas famílias visitam o lugar,
onde as crianças podem brincar à
vontade e, ocasionalmente, há
eventos que atraem toda espécie de
público.
Pela primeira vez, Lorenzo
vai sair conosco a pedido de
Augusto e percebi que seu interesse
em se aproximar do meu filho está
cada vez maior.
Dizem que bebês não
entendem muito do que acontece ao
seu redor, mas o meu não
demonstrou muita simpatia quando
meu amigo tentou pegá-lo no colo
uma noite dessas.
Espero que hoje ele esteja
mais amigável, pois é provável que
as nossas saídas juntos se tornem
mais frequentes.
Estava arrumando Lorenzo,
quando Lana entrou no quarto, com
seu jeito intempestivo, já me
enchendo de perguntas.
– Você não vai se arrumar?
Daqui a pouco o contador chega.
– Ele tem nome, Lala, e
ainda está cedo, não preciso me
apressar.
– Você sabe que eu não sou
a única que não vai muito com a
cara dele. Pelo visto, meu sobrinho
também não. Você lembra daquele
dia que nada o convencia a ficar no
colo dele?
– Lembro, Lana. Estranho,
não? Lorenzo é um bebê que se dá
bem com todo o mundo, adora
andar de mão em mão, mas agiu
diferente com Augusto.
– Pois é. Apenas mamãe fica
na torcida para que você finalmente
ceda e engate um namoro com esse
cara.
– Coisas de mãe. Elas
sempre pensam que podem escolher
com quem nos relacionamos.
Muitas vezes se enganam, mas no
fundo querem o melhor para nós.
Por falar nisso, por onde anda seu
namorado? Não vão sair hoje?
Otávio é o mais novo affair
de minha irmã. Ela não tem muita
sorte com homens, porém este
parece que está levando a relação a
sério.
Sempre achei que as
mulheres da minha família tinham
um dedo podre para escolher
homens, inclusive eu.
Talvez agora as escolhas
estejam melhores.
– Disse que vem me buscar
à noite. Ontem foi a mesma coisa e
ele não apareceu. Já estou com mau
pressentimento.
Retiro o que eu disse. Pelo
visto esse será mais um a enrolar a
minha irmã.
– Calma, pode ser que ele
tenha motivos justificáveis para não
ter aparecido ontem. Não o julgue
pelas suas experiências anteriores.
Ele demonstra que gosta muito de
você.
Ela ficou olhando para o
nada por um tempo, como se
estivesse refletindo com as minhas
palavras.
– Verdade, só que gato
escaldado tem medo de água fria e
seu comportamento não está muito
diferente dos outros com quem me
relacionei. Eu já vi esse filme...
Sabia que a conversa não ia
a lugar algum, ainda mais sabendo
que ela poderia ter razão. Otávio
poderia ser mais um a lhe enganar.
Eu não continuaria o defendendo.
– Tome. – lhe entreguei
Lorenzo já arrumado. – Cuide desse
homenzinho, pois preciso me
arrumar.
Ela o pegou de meus braços
e dei as costas para ir tomar um
banho. Antes de fechar a porta, a
ouvir dizer a meu filho:
– Vou te ensinar como tratar
as mulheres, meu amor. Você será o
homem dos sonhos de toda garota.
Titia vai te explicar como.
Aguarde!
Eu só podia rir das coisas de
Lana. Só ela para falar com uma
criança de oito meses como se
fosse um menino crescido.
Às vezes, o banho é um
excelente momento para pensar
sobre os últimos acontecimentos de
nossas vidas. Aquele era para ser
um dia alegre onde estaria
aproveitando com meu filho e um
grande amigo que em breve poderia
se tornar um pouco mais.
Por que eu não estava feliz?
Será que nunca mais provaria desse
sentimento ao lado de alguém?
Eu não conseguia me
enxergar sentindo algo parecido do
que sinto por Marco. Dizem que o
tempo cura todas as dores, mas
como vou ficar curada de tantas
lembranças lindas dos momentos
que compartilhamos?
Para de ficar se torturando,
Tatiana. – Disse para mim mesma.
Saí da minha suíte e minha
irmã já não estava mais lá.
Decidi por um vestido longo
floral e uma sandália rasteira bege.
Meu estilo estava bastante leve
como o clima quente de Salvador
requer e para ficar ainda mais
confortável, prendi meus longos
cabelos em um rabo de cavalo.
Fiz uma maquiagem leve e
estava pronta. Hoje eu escreveria
uma nova página no livro da minha
vida onde o mocinho deixaria de
ser Marco. Neste momento, eu
estava mais tentada a deixá-lo
como vilão. Quem sabe assim meu
coração se convenceria?
Fui para a sala e encontrei
Lorenzo brincando de jogar a bola
para que Lana pegasse. Eu acho que
meu filho vê sua tia como um
cachorrinho que corre atrás de uma
bola e a traz de volta.
Ela, pacientemente, buscava
e lhe entregava para que repetisse o
que havia feito antes. Parecia ser a
brincadeira mais divertida de
todas, pois ele caia na gargalhada
cada vez que jogava o brinquedo.
– Está brincando com titia
Lala, queridinho? Deixa mamãe
brincar também?
Quando me viu, abriu os
braços para que o carregasse. Eu
devia ter ficado apenas olhando e
deixar com que brincassem um
pouco mais.
– Ah, Tati, você acabou com
nossa brincadeira. Não sabe que
esse garoto não aguenta te ver?
– Desculpe, irmãzinha,
esqueci que sou o amor da vida
dele, não é meu bebê?
Falei, fazendo cócegas com o
nariz em sua barriga, enquanto ele
dava mais gargalhadas. Daria o
mundo por esse pequeno homem. Se
tornou todo o meu universo e nada
nem ninguém seria mais importante
do que ele. Nunca!
A campainha tocou e me
apressei a ajeitar a roupa do meu
filho que já estava um pouco
amassada com a brincadeira. Eu
esperava que quando voltasse para
casa, estivesse ainda mais
amassada e suja, pois estava
disposta a brincar muito com ele.
A minha mãe estava na
cozinha e fui até lá me despedir.
– Mãe, estou indo, Augusto
já chegou.
Ela limpou suas mãos
molhadas no pano de prato e veio
dar um beijo em Lorenzo.
– Divirta-se, querida. Pense
em dar uma chance ao rapaz, você
merece ser feliz.
– Tudo bem, mãe, acho que
você tem razão.
Fui em direção à porta e
busquei qualquer pontada de
alegria em meu íntimo, mas não
encontrei.
Os únicos motivos que
estavam fazendo com que minhas
pernas caminhassem era saber que
Lorenzo iria se divertir e que eu
estava determinada a sair do luto
que tenho vivido nos últimos
tempos.
Ouvi novamente o barulho da
campainha e apressei meus passos
para não fazer Augusto esperar
ainda mais.
Olhei rapidamente para a
janela e vi que o céu mostrava a
plenitude do azul típico de um dia
alegre e que o sol brilhava,
convidando a aproveitar sua
luminosidade.
Por que em meu peito
parecia que era uma noite fria e
chuvosa? Por que estava sentindo
esse aperto que me implorava a
voltar para a segurança do meu
quarto com meu filho e esquecer
qualquer compromisso marcado
para esse dia?
Respirei fundo e virei a
maçaneta da porta que não me daria
apenas acesso à rua. Essa porta me
daria acesso a novas escolhas que
estava prestes a fazer.
Deixei-a aberta e me abaixei
para pegar a bolsa de Lorenzo que
havia deixado no chão, ao lado
dela. Meu filho chamou a minha
atenção, dando pequenos tapas em
meu rosto.
Olhei para ele e lhe dei um
sorriso que foi retribuído
imediatamente. Fechei a porta atrás
de mim.
Parecia que eu estava
adiando o momento de olhar para o
rosto do homem que representava o
ponto de partida na minha decisão
de seguir em frente e esquecer o pai
de meu filho.
– Tatiana.
Oh, meu Deus, eu devo estar
ficando louca. Fechei os olhos,
disposta a abrir em seguida e me
dar conta de que não fui tomada
pela loucura. Seria Augusto quem
estaria em minha frente quando os
abrisse, era nisso que deveria
acreditar.
– Não está ouvindo? Estou
falando com você, Tatiana.
Não era possível que os
meus olhos veriam o rosto que
aquela voz reproduzia em minha
mente. Temerosamente, abri minhas
pálpebras devagar e, aos poucos, a
imagem que se formava diante de
mim era a que eu mais receava
enxergar naquele momento.
– Ma-Marco?
Cambaleei um pouco,
tentando me manter firme para não
derrubar Lorenzo que continuava
em meu colo. Senti que braços
fortes me seguravam, impedindo a
minha queda, até que consegui
alcançar a parede.
Parecia que estava vendo um
fantasma e tenho certeza de que
meus olhos estavam arregalados do
susto de reencontrar a última
pessoa que poderia estar em minha
porta.
Ele não deveria estar se
preparando para casar?
– Olá, Marco, o que faz
aqui? Como encontrou a minha
casa?
Com voz arrogante, ele
respondeu:
– Eu sempre soube onde era
a sua casa. Eu sempre sei tudo o
que me interessa, e quanto ao
assunto que me traz aqui, você já
deve saber qual poderia ser.
Segurei Lorenzo mais perto
de mim.
– Como eu poderia saber,
não tenho habilidades para
adivinha. Diz logo o que faz aqui,
Marco, você não deveria estar se
preparando para casar e construir a
família dos sonhos ao lado de sua
mulher e de seu filho?
Se um olhar pudesse matar,
certamente eu seria apenas cinzas
agora.
– Eu não vou continuar uma
conversa tão importante na porta de
seu apartamento. Tem algum lugar
discreto aí dentro onde podemos
conversar? Podemos ir ao
apartamento de Alfonso, se preferir.
Essa conversa estava indo
numa direção que não estava
gostando. Como ele poderia ter
descoberto sobre seu filho? Quem
teria interesse em lhe contar,
sabendo que estava prestes a ter
outro.
– Nós não temos mais o que
conversar, Marco. Você deixou isso
bem claro da última vez.
– Tem certeza, Tatiana? Pelo
visto, você quer compartilhar a
nossa vida com seus vizinhos, não
é? Então, vamos começar...
– Não! Tudo bem, vamos até
o seu apartamento. Não quero
deixar a minha família preocupada.
Nesse momento, seus olhos
saíram dos meus e foram em
direção ao rosto de Lorenzo. Seus
traços suavizaram e consegui achar
uma ponta de ternura neles.
Meu filho também o encarou
como se houvesse um imã atraindo
pai e filho a reconhecerem os laços
de sangue que os uniam.
Repentinamente, Lorenzo abriu um
grande sorriso, que mostrava suas
covinhas, e se debruçou, abrindo o
braços para pedir colo ao pai.
Eu não estava acreditando na
reação daquele bebê. Senti um
arrepio tomar a minha espinha e a
vontade de chorar se formando
como um bolo em minha garganta.
Eu não era a única a ficar
emocionada. Meus olhos estavam
cheios de lágrimas, mas os de
Marco também estavam. O
momento era mágico e ia além do
que poderia ter imaginado um dia.
– Venha, meu filho. – Marco
falou, acabando com qualquer
dúvida que poderia ter sobre o
assunto que o havia trazido até ali.
Lorenzo se jogou em seus
braços e quando já se sentia seguro,
encostou sua cabeça quase sem
cabelos nos ombros dele, fechando
seus pequenos olhos. Marco a
alisou e depositou nela um beijo
rápido, porém cheio de ternura.
Eu não conseguiria segurar.
As lágrimas tomaram vida própria
e passaram a rolar livremente pelo
meu rosto. Se por um lado estava
feliz por finalmente não precisar
guardar mais esse segredo a sete
chaves, por outro, sentia o grande
peso da culpa me dominar.
Enquanto estava assistindo
aquele primeiro encontro entre pai
e filho, percebi que outra imagem
se formava atrás de Marco. Augusto
estava parado, com um buquê de
rosas amarelas na mão, observando
toda a cena.
Fiquei olhando para ele, sem
saber como reagir ou o que dizer
para justificar aquele turbilhão de
acontecimentos que ele havia
acabado de presenciar. Marco
percebeu que o meu olhar estava
fixo em algum lugar e virou para
descobrir o que roubava a minha
atenção.
Quando percebeu que era
Augusto quem estava prestes a vir
ao meu encontro, trouxe de volta ao
rosto a mesma armadura raivosa
que demonstrava quando chegou.
– Ah, então estava
esperando visitas. Planejava sair,
Tatiana?
– Sim, planejava, e Augusto
não é mais visita. Ele tem sido um
grande amigo e tem me ajudado
muito a superar os problemas.
– Imagino como. Olha, dê
um jeito de se livrar desse cara,
pois a nossa conversa é inadiável.
Estarei te esperando no carro.
Ele me deu as costas,
carregando o meu bebê.
Fui tomada pelo medo de
perder o meu bem mais precioso,
tive medo de que Marco estivesse
tomado pela raiva a ponto de levar
nosso filho para longe de mim.
– Marco, espere.
Parti em seu rastro, tentando
alcançá-lo mesmo sabendo que não
conseguiria. Seus passos eram mais
longos e mais rápidos.
Passei por meu amigo, que
segurou meus braços, fazendo com
que eu parasse.
– Ele é o pai do seu filho,
não é? – Atirou a pergunta à
queima-roupa.
– Augusto, infelizmente ele
chegou no pior momento e eu
preciso ter essa conversa. Por
favor, não me faça mais perguntas,
quando eu puder, vou te procurar e
te dar as explicações que merece.
Ele ainda segurava o meu
braço.
– Eu estava sentindo que
trilhávamos por um bom caminho,
Tati. Não deixe com que ele te
convença a investir em uma relação
sem futuro, onde não haverá
fidelidade e respeito. Ele já te
provou isso mais de uma vez.
Agora não era momento para
ciúmes, porra. Eu precisava ir atrás
de Marco.
– Ele vai se casar, meu
amigo, eu só preciso saber o que
quer de mim agora. Tudo vai ficar
bem em breve. Manterei contato.
Tentei caminhar, mas ele
ainda me retinha.
– Tati, apenas uma última
palavra: você sabe do que sinto por
você e estou mais que disposto a
formar uma família no futuro, eu,
você e seu filho. Eu acho que
Lorenzo precisa de um pai presente
e estou pronto para ser esse cara.
Pense bem antes de se deixar levar
por palavras bonitas e vazias.
Estarei aqui te esperando.
Seus olhos estavam
envolvidos em lágrimas e podia ver
o medo de perder algo que nem lhe
pertencia ainda. Senti compaixão e
ternura por ele, especialmente
quando me entregou o buquê de
flores, receoso que eu não fosse
aceitar.
– Obrigada, Augusto, eu
realmente preciso ir.
Me despedi, dando-lhe um
beijo no rosto. Corri para ir ao
encontro de Marco, rezando aos
céus para que ele não tenha levado
meu filho embora.
Cheguei à frente do meu
prédio e uma Jaguar XKR branca
estava parada, com o motor ligado.
Só podia ser o carro dele. Baixei a
cabeça para olhar pelo vidro e o
flagrei brincando de sacudir
Lorenzo, enquanto este se acabava
na gargalhada.
Nem lembrava que tinha
mãe. Naquele momento, o amor do
seu pai era o suficiente.
Entrei no banco de trás e
sentei ao seu lado. Ele me ignorou e
continuou o que estava fazendo
antes, apenas parando para ordenar
ao motorista que partisse em
direção ao apartamento de seu
irmão.
A hora havia chegado. Teria
uma conversa tensa, mas definitiva,
onde o meu futuro e o do meu filho
estariam em jogo. Me restava
apenas rezar para que tudo
ocorresse da melhor forma possível
e todos saíssem ganhando,
especialmente Lorenzo.
Como? Eu ainda não sabia.
Capítulo 13

Ele

Embora o apartamento de
meu irmão não fosse tão distante de
onde Tatiana morava, o movimento
do carro fez com que o bebê em
meus braços logo adormecesse.
Apesar de querer passar
mais tempo com meu filho, esse era
o momento para conversar com sua
mãe, então melhor que estivesse
dormindo.
Quando cheguei à casa dela,
estava disposto a fazer ameaças e
derramar toda a minha ira, mas fui
surpreendido pelo olhar mais doce
que já havia visto e pelo sorriso
mais bonito que já tive o prazer de
pôr os olhos.
Lorenzo me desarmou.
Eu não consegui me mover
contra a sua mãe e todos os meus
planos foram por água abaixo. A
relação entre pai e filho estava
estabelecida ali, na porta de seu
apartamento como um passe de
mágica e nesse momento podia
afirmar que mataria pelo meu filho
se preciso fosse.
Como um ser tão pequeno
poderia se tornar tão importante na
sua vida em fração de segundos?
Foi imediato. Eu fui tomado pela
sensação do que era se tornar pai e
ele reconheceu imediatamente
aquele que teve a honra de
contribuir para que estivesse no
mundo.
Agora, mais do que nunca,
era fato.
Eu era pai.
Quando Andréa jogou em
minha cara que não era a única a
mentir para mim e que eu tinha um
filho de oito meses, a minha
primeira reação foi de não
acreditar.
Achei que seria mais uma de
suas mentiras e que Tatiana jamais
esconderia esse segredo de mim.
Estava enganado.
Depois de ficar com essa
história martelando por dias em
minha cabeça, resolvi contratar um
detetive brasileiro para que
desfizesse a dúvida que já
começava a me corroer.
Eu já sabia seu endereço,
pois havia conseguido na empresa.
Nunca tinha ido a sua casa
anteriormente porque sempre
respeitei o seu desejo de manter a
distância. Esse também foi um dos
motivos que me deixou ainda mais
intrigado.
Não demorou muito para que
tivesse a resposta que tanto temia.
A vadia da Andréa não havia
mentido desta vez. Tatiana
realmente era mãe de um bebê de
oito meses que não tinha a
paternidade reconhecida.
Bingo!
Eu não precisava ser um
especialista em cálculos para saber
que aquela criança era meu filho.
Raiva e dor me consumiram
imediatamente quando recebi a
notícia.
Como ela pôde me afastar do
convívio com meu filho durante
oito meses?
Eu precisava de respostas, e
ainda que nada do que falasse
poderia mudar tudo o que perdi,
continuava buscando motivos que
levassem uma mãe a esconder a
paternidade de um cara tão
responsável quanto eu.
Coloquei meu filho na cama,
o rodeando de travesseiros para
que não caísse, como já vi Brisa
fazendo com minha sobrinha Luiza.
Voltei para a sala e encontrei
Tatiana sentada no sofá, de cabeça
baixa e as mãos cruzadas. Ela
levantou o rosto quando percebeu
minha presença e pude ver que seus
olhos estavam mergulhados em
lágrimas.
Quase me deixei levar pelo
sentimento de compaixão, mas
aquele não era o momento. Além de
respostas, eu precisava tomar
decisões inadiáveis e teria que
deixar a razão falar mais alto. Meu
coração teria que ser trancado a
sete chaves.
– Eu vou direto ao ponto,
Tatiana. O que passou por sua
cabeça para achar que tinha o
direito de me esconder que seria
pai? Ainda mais: por que escondeu
de mim que eu tinha um filho,
mesmo tendo tanta oportunidade de
me contar?
Naquela hora, quem estava
falando era o empresário sério que
costumava ser e que não dava
espaço para negociações em que eu
saísse perdendo.
Apenas a vitória me
interessava.
Diante dela, estava um
homem frio que usaria qualquer
arma para conseguir o que queria,
principalmente quando havia
família em jogo.
Ela voltou a olhar para o
chão, como se estivesse formulando
uma resposta.
– E então, Tatiana, estou
esperando. Acho que é o mínimo
que me deve depois de tantas
mentiras.
Agora consegui tirar uma
reação dela.
– Eu nunca menti para você,
Marco. – Não deixei que
prosseguisse.
– Mas omitiu, o que dá no
mesmo. Você sabe como fiquei
sabendo que tinha um filho? A
vagabunda da minha ex-noiva foi
quem contou. Aliás, contou, não.
Ela esfregou na minha cara que não
tinha sido a única a me enganar
quando fingiu estar grávida. Fez
questão de passar em minha cara
que você era tão fingida quanto ela.
Você tem como se defender? Tem
alguma justificativa para a escolha
absurda que fez?
– Oh, meu Deus, ela fingiu
que estava grávida apenas para
empurrá-lo a um casamento
forçado?
– Sim, ela fez isso, mas não
entendo por que você está tão
assustada. Você se considera
diferente dela, querida?
Neste momento, vi surgir
uma mulher cheia de coragem e
ousadia. Ela se levantou, ficando
cara a cara comigo, e com voz
altiva, respondeu:
– Eu sou, Marco. Eu sou
muito diferente dela e vou te
explicar por quê. Os motivos que
me fizeram esconder a gravidez de
você são justamente o contrário dos
motivos dela.
– Estou ansioso para
conhecê-los.
– Eu não queria te prender
em um casamento sem amor, apenas
porque eu havia engravidado. Sei
que é um homem de princípios e
faria o que considera certo
imediatamente, como aconteceu
quando soube da gravidez daquela
lá. Eu não queria ser um peso que
tivesse que carregar nas costas
apenas por conta das ciladas do
destino. Não planejamos uma
gravidez e não achei justo que não
tivesse direito a escolhas, assim
como seu irmão.
– Não inclua Alfonso nessa
história. Ele escolheu Brisa desde o
momento que a viu pela primeira
vez. Você é testemunha disso, pois
estava comigo quando se
conheceram. Eles se amam muito e
não se envolveram em um jogo sujo
de fingimento como eu estou
envolvido. Você acha que a questão
de casar ou não é motivo suficiente
para esconder uma gravidez?
– Eu não pretendia citar
Brisa e Alfonso, apenas usar como
exemplo a situação que os uniu.
Ainda tenho contato com ela e sei o
quanto foram destinados um ao
outro. Eu não pensei apenas em
você, Marco, pensei em mim
também. Não queria ficar presa a
um homem que não me ama. Sempre
quis me casar por amor.
– É claro que pensou em
você. Aliás, estou tentado a
acreditar que só pensou em você.
Não havia um pai e nem um filho
nessa história. Apenas você.
– Isso não é verdade. Está
sendo injusto. Eu contei que havia
te ligado e outra mulher atendeu,
afirmando que era sua namorada.
Eu pesei todas essas informações e
somei ao fato de que a sociedade a
qual você pertence me veria como
uma oportunista que deu o golpe da
barriga para te levar ao altar. Não
queria esse estigma nem para mim
nem para Lorenzo.
– Eu sei o quanto as pessoas
podem ser maldosas e julgadoras
da vida alheia no meio em que
vivo, e talvez você fosse apontada
como uma aproveitadora, que
estava me dando um golpe. Ainda
teve a puta da Andréa em nosso
caminho quando se passou por
minha namorada exatamente quando
havia lhe contado que estava
pensando em assumir um
compromisso contigo.
– Fico mais tranquila em
saber que compreende.
– Não fique. A nossa
conversa está apenas no começo.
Apesar de saber que teve seus
motivos, você também teve
oportunidade de me contar quando
estive de volta ao Brasil e ainda
mais quando terminei tudo com ela
e decidimos recomeçar. Como
pensou em um recomeço, mantendo
um segredo tão grande escondido
de mim?
– Eu tentei te contar
inúmeras vezes. Sempre que
juntava coragem, você me impedia,
afirmando que não queria ouvir
qualquer coisa que estragasse o que
estávamos vivendo. Daí a coragem
ia embora e me deixava levar pelo
momento. Me perdoe, querido.
Nunca quis afastá-lo de seu filho.
– Sei.
– É serio, Marco, não sabe a
inveja que senti daquela mulher
quando te contou que estava
grávida. Eu sabia que você não
abriria mão de suas
responsabilidades e ela teria a
família que eu nunca poderia ter.
– Porque jogou fora, não é?
Ela teria a família que você se
recusou a ter. O mais irônico é que
talvez se Andréa não tivesse me
contado, eu viveria sem saber que
tenho um filho com você. Será que
devo ser grato a ela?
– Talvez. Ela foi mais
corajosa do que eu, embora tenha
sido levada por motivos
inescrupulosos. Eu tinha planos de
te contar, acredite em mim, só não
saberia quando seria o momento
certo.
Passei a mão pelo meu rosto,
tentando juntar toda a paciência que
nem eu mesmo sabia que possuía.
Não me conformava em saber que
nada do ela dissesse justificaria o
fato de ter me tomado oito meses de
convivência com Lorenzo.
– Olha, Tatiana, eu
precisava de respostas e você as
deu, apesar de não terem sido
convincentes. Na verdade, nada do
que dissesse me convenceria de que
tinha feito a melhor escolha para
todos os envolvidos, especialmente
meu filho.
– Sei que não fiz as escolhas
certas. Não estou me eximindo da
culpa.
– O fato é que precisamos
tomar decisões a partir de agora e
eu acho que sou o único nesta sala
quem tem o direito à palavra final,
por ter sido tão prejudicado.
Ela me olhou assustada.
– O que está planejando,
Marco? Eu sei que tem dinheiro,
mas não pode afastar Lorenzo de
mim.
– Era o que merecia, mas
não é o que pretendo fazer. O meu
bebê tem direito a ter um pai e uma
mãe, e tem direito a desfrutar de
toda riqueza material e carinho que
eu a minha família temos a oferecer.
– O que você quer dizer com
isso? Seja mais direto.
– Serei. Trocando em
miúdos, você estava certa sobre os
meus princípios. Eu jamais
permitiria que um filho fosse criado
sem a proteção do meu nome e
nunca permitiria que fosse educado
por outro homem.
– Eu nunca deixaria que ele
chamasse outro homem de pai. Em
breve, você saberia e teria a
oportunidade de conviver com ele.
– E terei. A partir de agora,
meu filho estará sob a minha
proteção e terá meu nome em seu
registro.
– Concordo. Pode marcar
que te acompanharei até o cartório
para adicionar seu nome.
Dei uma gargalhada e ela me
olhou, parecendo confusa.
– Acho que você não está
entendendo o que quero dizer. O
meu filho terá o meu nome não
apenas porque eu sou seu pai. Ele
terá o meu nome porque a sua mãe
também o terá, ou seja, nós vamos
nos casar no tempo mais curto que
for necessário para preparar uma
cerimônia, legitimando a nossa
relação e o nosso filho. Bem-vinda
à família Javier, querida.
Seus olhos estavam quase
saindo do globo ocular.
– Marco, ouça bem, você
não precisa se casar apenas por
questão de honra. Pode assumir o
seu filho e podemos buscar um
meio de fazer a convivência dar
certo.
Balancei minha cabeça de
um lado para o outro, negando
todas as suas palavras.
– Acho que preciso ser mais
claro: você tirou de mim oito meses
da vida do meu filho. Eu não o vi
mexer em sua barriga, não senti a
emoção de vê-lo nascer, não o vi
mamando, não acompanhei seus
primeiros sorrisos, não vibrei
quando seu primeiro dentinho
nascia e nem me entristeci quando
adoeceu por conta das vacinas.
Vivenciei tudo isso com a minha
sobrinha, mas não tive a
oportunidade com o meu próprio
filho. Você ainda quer negociar
comigo? Não, Tatiana. Lorenzo é
um Javier e tem direito a conhecer
suas origens. Ele vai para a
Espanha com ou sem você. Decida-
se.
Ela permaneceu parada,
fixando seus olhos em mim por um
longo tempo, parecendo estar
buscando uma saída para a
situação. Depois de minutos, suas
vistas baixaram, demonstrando que
estava rendida.
Eu havia ganhado aquela
batalha.
Deixei que ela se
manifestasse e ela o fez, me
surpreendendo mais uma vez.
– Eu te peço um tempo,
então. Preciso conversar com a
minha família e tranquilizar a minha
mãe quanto ao nosso casamento
iminente. Você deve imaginar que
ela não é muito sua fã e não quero
que fique preocupada. Sei que não
estou em condições de te pedir
qualquer coisa, mas gostaria que
me ouvisse. Não sei se conversou
com a sua família, mas essa pode
ser uma oportunidade para fazê-lo.
Fiquei pesando até que ponto
essa ideia poderia ser um golpe. Eu
não lhe daria muito espaço para
voltar atrás. Na verdade, não havia
volta. Eu queria meu filho ao meu
lado, queria essa família que estava
se formando e queria mais. Eu a
queria. Sempre a quis.
– Um mês. É todo o tempo
que posso te dar para resolver o
que for necessário. Enquanto isso,
ficarei no Brasil e quero ter acesso
ao meu filho todos os dias. Não
tente armar nada contra mim e nem
me impedir de estar com Lorenzo
na hora que eu quiser. É direito
meu.
– Será que algum dia você
compreenderá os meus motivos?
Está me tratando como se fosse uma
criminosa. Eu nunca pretendi
afastá-lo de você e não seria agora
quando não preciso mais carregar o
peso de guardar esse segredo.
– Está certo. Só mais uma
coisa, Tati.
– O que mais você quer
exigir, Marco?
– Você. Eu quero você em
minha cama. Lorenzo pode passar o
dia com sua família, mas eu quero
ambos aqui durante a noite. Eu vou
providenciar os mobiliários que um
quarto de bebê precisa e vocês
terão tudo ao alcance sem
necessitar ficar andando com
malas.
Ela nada respondeu, apenas
me observava. Dessa vez, não
deixei que pensasse muito, me
aproximei, tomando-a pelos braços,
roubando-lhe um beijo que
expressava todo o sentimento e
todo o desejo que transbordava em
mim, apenas por tocá-la.
Nossas línguas faziam sua
dança sensual onde um
complementava o outro a ponto de
não encontramos início ou fim.
Minhas mãos avançaram pelo
caminho que já estavam
familiarizadas, explorando as
curvas que mais amavam sentir e
meu pau ganhava vida, tentando
matar a sede na única fonte que
poderia saciá-la.
Tatiana se derretia em meus
braços, aprofundando o beijo. Acho
que sentia tanto a minha falta quanto
eu a dela, pois estava arqueando o
seu corpo, pedindo por mais.
Eu precisava tê-la ou iria
explodir a qualquer momento. O
desejo de tomá-la era mais forte do
que a raiva e o rancor de ter sido
enganado.
Eu queria foder pela
primeira vez a mãe do meu filho,
aquela que havia colocado a pessoa
mais importante da minha vida no
mundo. A quem, apesar dos
pesares, eu deveria ser grato por
perpetuar o nome da minha família.
As minhas mãos estavam
indo em busca das alças de seu
vestido para deixá-la nua, pronta
para ser minha, quando fui
interrompido por um choro
estrondoso que ecoou pelo
ambiente.
Eu tinha esquecido dessa
parte. Quando se tem um bebê em
casa, tudo fica em segundo plano,
inclusive o sexo.
Porra, esse menino já
demonstra que seria determinado,
pois o tom da sua voz mostrava que
precisava de atenção imediata.
Soltei os lábios de Tatiana, me
sentindo abandonado, e fui em
direção ao quarto.
Ela me acompanhou,
pegando uma pequena mala infantil,
retirando dela a mamadeira que
estava dentro de uma térmica.
– Tome, ele precisa ser
alimentado.
Ela estendeu o alimento e eu
a olhei como se fosse um monstro
de sete cabeças, me orientando a
fazer algo que nunca havia feito
antes, nem mesmo com Luiza.
O bebê não parava de chorar
em meu colo.
– Eu não sei fazer isso. É
melhor que você o alimente.
Tentei transferir essa
responsabilidade para ela, mas com
um sorriso sarcástico nos lábios,
me entregou o mingau e deu as
costas.
– Você é o pai dele e estava
dissertando sobre os seus direitos
paternos até pouco tempo, portanto
exerça também seus deveres. Não é
difícil, você vai conseguir. O
alimente e converse com ele. Eu
estarei na sala o aguardando para
as próximas lições.
Ficamos eu e um Lorenzo
choroso, querendo comer.
Seja o que Deus quiser. –
Disse para mim mesmo.
Coloquei a mamadeira em
sua boca e ele logo passou a sugá-
la com bastante vigor. É, até que
não parecia tão difícil.
– Isso, filho, coma tudo,
pois papai quer vê-lo muito forte.
Vovó vai adorar conhecer esse bebê
lindo.
Ele parou de mamar por um
tempo e deu um pequeno sorriso,
voltando a tomar o bico da
mamadeira em seguida.
Como não me apaixonar?
Sim, eu dedicaria a minha vida para
me tornar um grande pai assim
como o meu é. Estava disposto a
aprender o que fosse necessário
para que sorrisos lindos como este
estivessem estampados em seu
pequeno rosto a todo o momento.
Faria disso a minha maior
missão.
Capítulo 14

Ela

Conversar com Marco foi


uma das coisas mais difíceis que já
fiz na vida. Ele estava muito
chateado e eu reconhecia que tinha
suas razões. Tive receio de que
agisse movido pela raiva e tirasse
Lorenzo de mim, mas fui
apresentada a um lado seu que
ainda não conhecia, frio e racional
demais.
Eu tinha consciência que não
estava em condições de barganhar,
porém era a minha vida que estava
em jogo e eu tinha direito a me
expressar, opinar e me defender. Ou
não?
Eu não esperava um pedido
de casamento romântico ou uma
declaração de amor. Quando o vi na
minha porta, me preparei para uma
explosão por excesso de raiva.
Ela não veio. Pelo menos
não com a intensidade que
esperava. Lorenzo derrubou suas
armas com apenas um sorriso.
Qualquer pessoa que presenciasse
aquela cena, veria a conexão
imediata entre eles.
Acho que devo essa ao meu
bebê.
Deixei de ser a mulher
amada e me tornei apenas a mãe do
filho de Marco, um homem que
precisava se manter no controle e
que não mais expressava
sentimentos.
Eu desconhecia esse novo
homem.
Aquele não era meu Marco.
Aquele não era o homem que
amo.
Sinto-me culpada por fazer
essa outra faceta surgir e espero
ainda ter tempo de consertar todos
os erros cometidos, ou, ao menos,
amenizá-los.
Eu ainda queria um
casamento por amor e eu
continuava querendo, mais do que
nunca, que esse sentimento fosse
compartilhado com o pai de meu
filho. Nenhum outro teria o poder
de aflorar tal desejo em mim,
apenas ele.
Cheguei em casa no fim da
tarde do dia mais difícil pelo qual
já passei. Eu tinha que conversar
com a minha mãe e lhe explicar a
situação, pois a partir do próximo
dia, estaria dormindo com Marco.
Ele usou a desculpa de estar
mais perto do filho e que ainda me
desejava, porém não posso
acreditar que os sentimentos que
nutria por mim foram embora.
Sei que por trás de toda a
armadura tinha um homem
apaixonado e amoroso, eu só
precisava descobrir como restaurar
sua confiança. Por isso não
questionei as suas exigências.
Abri a porta do apartamento
e olhei em volta para me certificar
de que havia alguém em casa.
– Mãe, está aí?
Ouvi um barulho de talheres
batendo nos pratos e fui em direção
a ele. A minha mãe estava
terminando de preparar uma
sobremesa que amo, colocando-a
em pequenas vasilhas de vidro.
– Filha, já chegou? Olha só
o que fiz para você.
Ela estava muito animada,
estendendo uma vasilha cheia de
arroz doce em minha direção.
Ajeitei Lorenzo em meu colo e,
com a outra mão, peguei a
sobremesa, depositando-a sobre a
mesa.
– Parece muito bom. Vou
esperar esfriar um pouco mais e
depois acrescentar canela.
Ela balançou a cabeça,
assentindo e pegou uma vasilha
para si também, puxando uma
cadeira para sentar à mesa de frente
a mim.
– Então, como foi o passeio
com Augusto? Estou ansiosa para
ouvir as boas notícias.
Ah, se ela tivesse ideia de
que não acharia as notícias nada
boas.
– É.... o meu encontro com
Augusto acabou não acontecendo,
mãe.
– Como assim, Tati? Eu vi a
hora que a campainha tocou e você
saiu para encontrá-lo. Até se
despediu de mim.
– Bem, eu pensava que era
ele quem estava na porta, mas me
enganei.
– Para de rodeios, Tatiana.
Se não estava com Augusto, onde e
com quem estava até uma hora
dessas?
Resolvi fazer o que pediu,
fui direto ao assunto.
– Com Marco, mãe. Foi ele
quem tocou a sirene e era com ele
que eu estava durante todo o dia.
Minha mãe se levantou da
mesa com o rosto vermelho de
raiva.
– Quer dizer que estava com
o homem que te usou e te
abandonou grávida? Deixou de sair
com Augusto para passar o dia com
um cara que nunca quis um
compromisso com você? Não tem
vergonha, Tatiana?
Oh, meu Deus,
definitivamente aquele não era o
meu dia.
– Será que a senhora pode
me ouvir, dona Marlene?
Ela percebeu que eu havia
endurecido e estava determinada a
ser escutada. Sentou novamente à
mesa, mas não tocou no alimento,
parecendo pensativa.
– Filha, eu não quero ser
uma mãe intrometida, que vive te
controlando. Sei que é adulta,
ajuizada e saberá tomar as
melhores decisões. Além de tudo,
estou em seu apartamento, tirando a
sua privacidade.
Lorenzo se esticava em meu
colo, tentando alcançar a vasilha
com arroz doce. Afastei-a do seu
alcance e voltei a minha atenção
para a conversa.
– O que é isso, mãezinha, eu
ficaria muito só com todo esse
espaço, e não conseguiria cuidar de
um bebê sem a sua ajuda e a de
Lana.
– Desculpe a minha reação,
querida. Estou aqui para você,
conte-me o que o rapaz queria.
Respirei fundo, pedindo aos
céus que ela permanecesse com
essa calma depois de lhe contar
tudo. Sei que sou adulta e
autossuficiente, mas respeito muito
a opinião de minha mãe.
– Ele ficou sabendo sobre
Lorenzo não sei de que forma e,
como era de se esperar, ficou irado
por perder os primeiros meses de
vida dele. Além disso, quer assumir
a paternidade o mais rápido
possível.
– Não pediu um exame de
DNA?
– Não. Acho que não viu
necessidade devido a semelhança
entre os dois. Precisava ver como
se apaixonaram instantaneamente.
Me sinto tão culpada de ter-lhe
escondido a gravidez.
– Você teve seus motivos. E
agora, como ficará a guarda de meu
neto? Ficará uma semana com você
e outra com ele?
Eu havia omitido o pequeno
detalhe do casamento, mas já era
hora dela saber. Não queria mais
manter qualquer segredo comigo e
esse não era o tipo de assunto que
dava para esconder por muito
tempo.
– Não. Lorenzo ficará todo o
tempo com os dois. Marco exigiu
casamento e ameaçou levar o bebê
caso eu não concordasse.
Minha mãe bateu na mesa,
assustando meu filho, que começou
a chorar. Eu levantei e o balancei
um pouco no colo, fazendo com que
se acalmasse.
Com voz alta, ela reagiu.
– Quem ele pensa que é para
fazer ameaças desse tipo? Nenhum
juiz jamais tiraria um filho de sua
mãe, a não ser que houvesse
motivos verdadeiros para fazê-lo.
– Eu não quis contar com o
benefício da dúvida. Marco tem
dinheiro e pode alegar que agi de
má fé, lhe privando do convívio
com Lorenzo. Sua justificativa
poderia convencer um juiz. Não sei
até que ponto estava dizendo a
verdade ou blefando em sua
ameaça, porém achei melhor não
arriscar.
– Então, você vai dizer
amém a tudo o que ele impuser,
filha? Não vai discordar ou retrucar
a ameaça? Tem um homem tão bom,
visivelmente apaixonado, que
poderia fazê-la feliz, porém prefere
ceder às exigências de um
casamento por conveniência,
apenas para dar um nome a
Lorenzo? Reaja, Tati, eu eduquei
você e sua irmã para serem
mulheres de fibra.
– Chega, dona Marlene. É
exatamente o que estou fazendo, eu
estou reagindo. Não estou entrando
nessa por submissão. Estou
buscando a luz que há muito não
vejo no fim do túnel. Não há mais
empecilhos, mãe, e eu vou agarrar a
oportunidade de ser feliz com o
homem que amo independente da
opinião de qualquer um, inclusive a
sua.
– Faz soar que estou contra
você. Não estou, Tati, só quero o
seu bem. Como posso ficar quieta
vendo você se jogar em um
casamento já fadado a fracassar?
– Eu sei que só quer o
melhor para mim, mãe, mas já é o
momento de cometer os meus
próprios erros. Já é hora de acertar
ou de nunca se arrepender de pelo
menos ter tentado. É a minha vida,
são as minhas experiências e se as
minhas escolhas estiverem erradas,
se me decepcionar mais uma vez,
eu vou cair, contudo vou buscar
forças para me reerguer uma vez
mais.
Com lágrimas nos olhos, ela
veio ao meu encontro, abrindo os
braços para um abraço que
transmitia seu respeito à minha
opinião, mas deixava claro, em seu
gesto, que não cedia em seu ponto
de vista.
– Oh, querida, eu não vou
fingir que concordo com as suas
escolhas, mas independente do que
eu diga, a palavra final deve ser
sempre sua. É uma mulher tão forte!
Retribuí o abraço,
imprensando meu filho entre nós
duas. Senti uma energia emanar, me
remetendo a momentos da infância,
quando amor e carinho eram pilares
de sustentação para a nossa família.
Sempre foi.
– Aprendi com você,
mãezinha. Se eu conseguir ser
metade da grande mãe que a
senhora foi para mim, meu filho
será a criança mais feliz desse
mundo.
Permanecemos abraçadas e
em silêncio por alguns minutos.
Não havia mais o que dizer. A
linguagem verbal foi substituída
pela linguagem do corpo, pela
linguagem da alma.
O silêncio foi interrompido
pela chegada de Lana, que não
conseguia chegar a qualquer lugar
sem ser percebida pelo seu jeito
descontraído e extravagante.
– Cadê o bebê da titia? –
Ela já chegou gritando.
Veio até a cozinha e me viu
abraçada com a nossa mãe.
Demonstrou que estava confusa
com aquela cena, porém sua
atenção logo foi direcionada ao
bebê que estava em meu colo.
Ela interrompeu a
demonstração de afeto, retirando
Lorenzo dos meus braços, levando
aos seus.
Eu adorava saber que meu
filho era tão amado pela tia e pela
avó. Agora, ele conheceria os
familiares por parte de pai e tenho
certeza de que os conquistaria
também, pois é uma criança muito
carismática.
Marco já está totalmente
rendido.
Voltei a sentar à mesa,
tomando a minha sobremesa que já
deveria estar gelada àquela altura.
Minha mãe acompanhou o meu
gesto, enxugando uma lágrima que
teimava em cair de um de seus
olhos.
Ainda brincando com meu
filho, Lana arguiu:
– Que diabos estava
acontecendo aqui antes de eu
chegar?
– Olha essa boca, mocinha.
– minha mãe a reprimiu. – Sua irmã
estava me contando que vai se
casar e eu estava dando o meu
apoio, embora não concorde com o
caminho que está trilhando.
– Mãe... – Eu precisava
freá-la.
– Casar? Porra! – dona
Marlene balançou a cabeça,
desistindo de repreender sua filha.
– Bem, se a senhora não está
concordando, é sinal de que o
casamento não será com o contador
chato. O noivo poderia ser quem eu
estou imaginando?
Dessa vez, a pergunta foi
voltada para mim. Ela permaneceu
com seus grandes olhos castanhos
fixos, esperando uma resposta que
viria em seguida.
Ela também é minha família
e tinha o direito de saber.
– Sim, Lana, eu irei me
casar com Marco. Quando a
campainha tocou ontem, não era
Augusto quem estava na minha
porta, era ele.
– Caralh... – ela tapou a
boca para reprimir o xingamento –
Desculpe, mas será que eu dormi e
acordei alguns dias depois? O que
foi que eu perdi em menos de 24
horas? Abre a boca, Tatiana, eu
quero saber tudo.
E lá fui eu contar a mesma
história novamente, sabendo que
iria repeti-la para Brisa, Lúcia e
Augusto, mas para este, sem tantos
detalhes.
Depois de narrar tudo o que
aconteceu naquele dia, eu tinha uma
irmã mais que animada para ajudar
nos preparativos do evento e tinha
uma mãe de cara fechava, sempre
discordando do entusiasmo de
Lana.
– Vocês já têm previsão para
a data do casamento, Tati? – Minha
irmã perguntou.
– Ainda não. Pedi a ele ao
menos um mês para comunicar à
minha família, lhe dando a
oportunidade de fazer o mesmo.
Além disso, preciso resolver alguns
detalhes, como informar ao Sr.
Riberiro que, possivelmente,
deixarei a empresa em breve e já
tenho que treinar uma nova
secretária.
– Ele aceitou esse tempo
longe de Lorenzo com
tranquilidade?
– Não. Ele permanecerá no
Brasil e quer que a gente durma em
seu apartamento todos os dias, já a
partir de amanhã.
Nesse momento, a minha mãe
se levantou e foi em direção a pia.
Continuou o que fazia antes de eu
chegar, sem olhar novamente para
trás.
Sabia que estava magoada
por ter aceitado tão rápido tudo que
a mim era imposto, só que aquela
era a minha vida e não deixaria
qualquer um decidi-la por mim.
Nem mesmo ela.
– Porra, isso é que é homem.
Sabe o que quer. Meu sobrinho será
do mesmo jeito, não é, queridinho?
Já conseguiu até seduzir o pai e...
Lana prosseguiu discorrendo
sobre as qualidades de Marco,
enquanto a minha mente ganhava
rumo próprio, me conduzindo ao
momento que quase tinha me
tornado sua novamente.
“ Você. Eu quero você em
minha cama.”
Eram as palavras que não
paravam de martelar em minha
cabeça. “Sim, Marco, na sua cama
e em seu coração. Não há outros
lugares no mundo onde eu queira
mais estar”.

****************

Cheguei à empresa um pouco


mais cedo e percebi que a maioria
dos funcionários ainda não havia
chegado. Me abaixei para guardar
meus pertences na gaveta da minha
mesa e quando levantei as vistas,
Augusto estava parado diante de
mim, com olhos vidrados que me
deixaram assustada.
– Oi, fico feliz que chegou
mais cedo. Temos um pouco de
tempo antes do início do expediente
e gostaria de conversar com você. –
Lhe disse.
Tentei demonstrar calma e
falar em um tom amistoso, mas algo
nele estava fazendo suscitar em
mim o sentimento de medo.
Embora aquele não fosse o
lugar ideal para que essa conversa
fosse iniciada, ainda assim o fez.
– Pelo visto, ele conseguiu
te enrolar mais uma vez, não é,
Tatiana? Tanto investimento de
tempo e de sentimentos para nada.
O cara apenas chega e num estalar
de dedos a rouba de mim,
exatamente quando percebia que
estava começando a nos dar uma
chance.
Eu não esperava essa reação
dele. Sempre foi tão discreto e
nesse momento me mostrava um
outro lado que não estava gostando
de conhecer. Eu teria que tirá-lo
dali antes que alguém chegasse.
– Vamos até a sala de
reunião, Augusto? A gente não
precisa expor nossas vidas para os
outros funcionários.
Peguei minha bolsa e
comecei a caminhar em direção a
uma das salas. Ele me acompanhou
em silêncio, entrando e fechando a
porta atrás dele.
– Augusto, eu...
– Não, Tatiana. Eu não
posso ficar de braços cruzados
vendo você voltar para um cara que
não acompanhou sua gravidez como
eu, que não estava presente nos
primeiros meses de vida de seu
filho e que não voltou a te procurar
por mais de um ano. Eu vi tudo isso
acontecer. Devo me calar e assistir
de camarote ele te arrastar para
uma relação forçada, só porque
descobriu que é o pai de seu filho?
– Olha, eu estimo muito a
sua amizade, porém isso não lhe dá
o direito de opinar o que eu devo
fazer ou não da minha vida. Há toda
uma história anterior que você não
conhece e não tenho interesse algum
em contar. Eu posso quebrar a
cara? Sim, mas pelo menos terei a
consciência limpa de que ao menos
tentei. É o que eu quero, Augusto.
Não tente me impedir.
Ele se aproximou mais de
mim, quase me encurralando na
borda da mesa.
– Tati, querida, não diga
isso. Ele não sente nem metade do
amor que sinto por você. Eu tenho o
mundo a te oferecer, não precisa
ceder a qualquer exigência que ele
tenha feito. Vamos enfrentar os
problemas que vierem juntos. Eu te
amo tanto.
Deus, como lidar com uma
situação dessas? Será que eu devo
carregar mais essa cruz de ter
alimentado sentimentos que não
pretendia corresponder?
– Você é um cara legal,
Augusto, tenho certeza de que
encontrará alguém que mereça o seu
amor. Esse alguém não sou eu, uma
mulher com a vida toda
complicada. Sou muito grata por ter
sido um grande amigo quando mais
precisei, porém preciso seguir com
minha vida.
– Você ainda vai se dar
conta de que está fazendo a escolha
errada, querida, e quando isso
acontecer, lembre-se de que estou
aqui de braços abertos te
esperando. Sempre será você, Tati.
Suas palavras me deixaram
ainda mais amedrontada e
pensativa, pois sempre tive receio
de pessoas que faziam esse tipo de
declaração extrema, especialmente
quando não eram correspondidas.
Aproximou o seu rosto do
meu, em busca de um beijo que
quase conseguiu se eu não tivesse
saído do transe que estava naquele
momento. Eu o empurrei para
longe, fazendo com que
cambaleasse e saí da sala o mais
rápido que minhas pernas
permitiram.
Na saída, ainda consegui
ouvir um eco de sua voz:
– Sempre, Tatiana. Sempre.
Capítulo 15

Ele

Fui buscar Alfonso no


aeroporto. Ele apenas sabia que eu
estava no Brasil, mas não lhe contei
o que havia me trazido aqui. Esse
tipo de conversa tinha que ser cara
a cara.
Ele devia estar desconfiado
de que tinha algo a ver com Tatiana,
não era bobo, mas não me
perguntou qualquer coisa. Quando
avistei a minha sobrinha no colo de
Brisa, corri para tomá-la de seus
braços.
– Como vai minha
princesinha? Gostou de andar de
avião, meu amor?
– “ Vião” Beeem alto.
– Hum... você viu as nuvens
de pertinho?
– “ Nuve, titio. Eu quer
nuve”.
– Nem me fale em nuvens.
Essa menina queria abrir a janela
do avião para pegá-las, acredita? –
Brisa disse, revirando os olhos.
– Titio vai te dar nuvens de
algodão-doce, está certo?
Ela sacudiu a cabeça,
assentindo, se mostrando mais
animada.
Deixamos Brisa no
apartamento, que já estava com
mobília nova em um quarto para
dois bebês. Sabia que quando o
visse, ela ligaria os pontos e eu
teria uma enxurrada de perguntas
quando retornasse.
Talvez nem fosse necessário,
pois Tatiana estaria comigo quando
eu voltasse para casa.
Eu e Alfonso fomos para a
empresa, pois ainda tentávamos
descobrir quem estava por trás dos
desvios de dinheiro. Eu precisava
me empenhar ainda mais para
resolver esse assunto, pois tinha
que focar em meu filho e nos
preparativos para meu casamento
com Tatiana.
Chegamos à Construtora
Carlos Ribeiro e, ao passar em
direção à sala, avistei minha noiva
concentrada no trabalho. Quando
me viu, abriu um pequeno sorriso,
tentando disfarçar ao perceber a
presença do meu irmão.
– Como vai, Sr. Javier? –
Ela perguntou, se dirigindo a ele.
– Muito bem, Tatiana. Como
estão as coisas por aqui?
– Tenho certeza de que
estará melhor em breve, quando a
saúde da empresa não estiver mais
em risco.
– Concordo, e é por isso que
estou aqui.
– Brisa e sua filha vieram
também?
– Sim, elas estão no
apartamento. Marque algo com ela,
ficará contente em te ver.
– Claro, farei isso,
obrigada.
Percebi que a menção do
apartamento fez com que se sentisse
envergonhada. Isso me fez pensar
na possibilidade de comprar um
imóvel onde tivéssemos
privacidade quando viermos a
Salvador depois de casados.
– Tatiana, estaremos em
minha sala e gostaria que me
avisasse quando Carlos chegar, está
certo? – Pedi.
– Sim, senhor.
Entramos no escritório e ao
perceber que tínhamos privacidade,
Alfonso logo me encheu de
perguntas.
– Me diga que tem alguma
novidade, por favor. Não aguento
mais essa situação de estar sendo
lesado e ter que ficar de braços
cruzados sem poder fazer nada. Eu
quero nomes, Marco, nem que eu
tenha que demitir um por um nessa
empresa.
– Calma, Alfonso, eu quero
isso tanto quanto você. Vamos unir
forças e tentar descobrir esse mau
elemento de uma vez por todas.
– Mas me conte, percebi um
clima entre você e Tatiana na
chegada. Estão tendo algum lance
novamente?
– Cara, você não queria
novidades? Não tenho as que
esperava, mas tenho outras que só
poderia te contar pessoalmente.
Sente-se para não cair. Você está
olhando para um homem que está se
despedindo da vida de solteiro. Vou
me casar, mano, e dessa vez não
será porque alguma vadia fingiu
que estava grávida.
– Porra, isso é que é
novidade. Pensei que tinha voltado
ao Brasil para me ajudar com a
empresa, pelo visto fez um pouco
mais. Preciso perguntar se tem
algum motivo e o nome da noiva?
Até outro dia casamento parecia
sinônimo de velório para você.
– É lógico que a única noiva
que me faria celebrar a
possibilidade de um casamento
seria Tati. O motivo? Além do amor
que nunca deixei de sentir por ela,
há outro que é a principal razão da
minha felicidade.
– Maldición, fala logo!
– Eu sou pai, Alfonso. Eu e
Tati temos um bebê de oito meses
que é o menino mais bonito e
carinhoso que já vi na vida. Eu
tenho um herdeiro, meu irmão. O
nome da família Javier não irá
acabar conosco, meu filho o levará
para as próximas gerações.
Ele se levantou para me dar
um abraço. Eu sabia que
compartilharia da minha felicidade,
pois família é tudo para ele. Eu
comungava da mesma opinião.
– Então quer dizer que sou
tio? Onde o bebê está? Eu quero
conhecer o meu sobrinho. Como é o
seu nome?
Era incrível observar como
os laços de sangue falavam mais
alto. Ele nem conhecia meu filho e
já estava todo animado. Imagine
quando o conhecesse. Não tinha
dúvidas de que se apaixonaria.
– Seu nome é Lorenzo e está
na casa da avó. A mãe e a tia dele
se reversam em seus horários livres
e não concordaram quando Tatiana
queria contratar uma babá. À noite,
eles estarão conosco.
– Nossos pais vão
enlouquecer com essa história.
Quando pretende lhes contar?
– Assim que for possível.
Não quero demorar, pois dona
Esperanza não me perdoaria por
ficar ainda mais tempo sem
conhecer seu neto.
– Conhecendo bem a nossa
mãe, posso te garantir que está
certo. Estou bastante curioso para
saber como descobriu e todo o
resto da história. Depois,
precisamos estabelecer metas para
encontrar o gatuno que está nos
roubando.
Passamos toda a manhã
conversando em minha sala e
fazendo planos para alcançarmos os
objetivos que primeiramente nos
trouxeram ao Brasil.
No final da manhã, meu
interfone tocou. Era Tatiana
anunciando que Carlos havia
chegado.
Eu e Alfonso saímos do
escritório e fomos encontrá-lo a fim
de compartilhar a ideia que tivemos
para desvendar todo o mistério que
rondava a empresa.
Ao sair, vi que Carlos falava
com Tatiana e ela assentia,
balançando a cabeça.
– Você poderia ir, Tati? Eles
já te conhecem e Augusto estará lá
para ajudar. Eu quero passar essa
tarde com minha filha e neta e sei
que tem competência para resolver
qualquer problema que surgir.
O quê? Ele estava pedindo
para que minha noiva fosse a algum
lugar com aquele contador de
merda? Só por cima do meu
cadáver. Entrei na conversa.
– Eu a acompanharei,
Carlos. Tenho certeza que posso
substituí-lo por hoje nos negócios
da empresa. Vá curtir a sua neta que
está cada vez mais linda e
inteligente.
– Que bom, Marco. Fico
feliz em poder contar com mais uma
pessoa, embora não questione a
competência de minha secretária.
Algum problema de Marco
acompanhar você e Augusto, Tati?
Ela me encarou com um
olhar feroz, percebendo que minha
atitude foi movida por ciúmes.
– Nenhum, Sr. Ribeiro.
Acho que ele pode ser muito útil
nesta reunião.
– Ótimo, então está
decidido. Alfonso, pode me
acompanhar até a minha sala?
Ambos saíram me deixando a
sós com minha noiva.
– Já conversou com Carlos?
Em pouco tempo deixará a empresa
e é bom que ele saiba logo para que
tome as devidas providências.
– Ainda não. Não precisa se
preocupar, deixe que eu resolva
esse assunto do meu jeito. Ele logo
será informado.
– Como preferir.
Sem que esperasse, puxei-a
pela cintura, lhe roubando um beijo
apaixonado. Ela se deixou levar
por alguns segundos, mas quando se
deu conta de onde estava, me
empurrou, abrindo distância entre
nós.
– Aqui, não, Marco. Alguém
pode ver.
– Que veja. Não tenho nada
a esconder de ninguém.
– Também não, mas não
gosto da minha vida pessoal
exposta desse jeito.
– Você está certa. Venha
comigo.
Eu não queria esperar mais e
não deixaria que nada me
impedisse. Nem o local onde
estávamos. Puxei-a para a minha
sala, trancando a porta atrás de
mim.
– Marco, e se alguém vier
aqui e te procurar?
– Ninguém vem, querida.
Está no horário de almoço e todos
vão pensar que já saímos para a
reunião.
Conduzi Tatiana para a borda
da mesa, virando-a de costas para
mim. Levantei sua saia ‘risco de
giz’ até a cintura, deixando à mostra
sua calcinha fio-dental, e me afastei
para admirar a bela vista à minha
frente.
– Você tem uma bunda linda.
Perfeita para ser fodida.
Ela se inclinou ainda mais,
deixando o seu tronco quase
deitado sobre a mesa.
– Isso, arrebite sua bunda
para mim.
Ela percebeu a minha
excitação e passou a me pirraçar,
rebolando seus quadris com
sensualidade. Eu não resistiria ficar
olhando por muito tempo aquele
delicioso traseiro em forma de
coração, que engolia a lingerie.
Me aproximei novamente,
dessa vez rasgando o pedaço de
tecido que impedia o meu livre
acesso ao paraíso. Levei ao meu
nariz, cheirei e o coloquei no meu
bolso.
Levantei seu corpo, afastei
seus cabelos do pescoço e
esfreguei minhas narinas
suavemente em sua nuca.
Deus, como ela cheirava
bem! Estava inebriado pelo seu
cheiro como um viciado fica pela
droga que poderia lhe saciar.
Minhas mãos encaixaram em
seus quadris, se movimentando para
sentir a carne macia de seus
glúteos. Os apertei em minhas
mãos, puxando para roçar sobre a
calça que aprisionava a minha
ereção.
Capturei seus lábios para
extrair dali o sabor que eu tanto
amava sentir. O beijo iniciou terno,
suave, mas foi se aprofundando, se
tornando mais intenso.
Quanto mais nos beijávamos,
mais a chama do meu corpo
aumentava. Eu precisava de alívio
ou acabaria me queimando.
Puxei um preservativo do
bolso, abri o cós da calça e baixei-
a sobre as minhas pernas, dando
vida a um pau teso e pesado.
Tatiana o avistou e vi que tinha
tanto desejo quanto eu em seus
olhos.
Ela baixou sua mão para
senti-lo, deslizando um dedo pela
glande, retirando dali uma gota de
pré-sêmen. Sem tirar os olhos de
mim, levou o seu dedo até a boca e
o chupou, lambendo qualquer
resíduo que ainda estivesse nele.
Chega! Já era hora de acabar
com aquela tortura.
Abri o preservativo e,
rapidamente, o vesti, penetrando em
sua bocetinha molhada e pronta
para receber o meu pau. Ela gemeu,
pedindo por mais, querendo sentir
todo o meu comprimento enfiado
dentro dela.
Eu o fiz. Centímetro a
centímetro até se certificar de que
minha ereção invadia
completamente o interior de sua
boceta. Me mantive lá por um
tempo para que se acostumasse ao
meu tamanho.
Ela fez um movimento para a
frente e depois para trás, iniciando
um doce vai e vem, soltando
gemidos de prazer.
Sussurrando no seu ouvido
palavras em espanhol, serpenteei
com minhas mãos, até encontrar o
bico rígido dos seus seios.
Belisquei seus mamilos, fazendo
com que lançasse sua cabeça para
trás, revirando os olhos de prazer.
Bombeei em seu núcleo,
penetrando-a com mais força e
avidez. Mexia sua deliciosa bunda,
fazendo com que as estocadas
fossem cada vez mais
aprofundadas.
Ela soltou um gemido mais
alto, me levando a liberar um seio
para tapar a sua boca em um
impulso. Os meus lábios
substituíram a minha mão, voltando
a sentir o adorável mel que
emanava dela.
Nos mantivemos nesse ritual
por um longo tempo, sem que
lembrássemos onde estávamos ou
sequer nossos nomes.
Segurei seus pulsos,
restringindo os movimentos e tive
que parar um pouco o ritmo ou
acabaria gozando.
– Está me matando, linda. Eu
preciso saber se já está perto. Sua
boceta gostosa está acabando com a
minha resistência.
Ela arrebitou ainda mais seu
quadril provocativamente, fazendo
o meu pau sentir o fundo de sua
entrada.
– Estou pronta, amor. Me
leve com você.
Ela não precisou pedir duas
vezes. Eu voltei a foder sua boceta,
acelerando o ritmo, sentindo que
seus músculos vaginais se
apertavam.
Senti minha liberação se
formando e, enquanto uma mão
segurava seus pulsos, a outra
alcançava o seu grelo para
estimulá-lo.
Encharquei o dedo médio em
seus fluidos e passei a brincar com
seu pequeno e rígido gomo,
levando-a a se contrair. Meu corpo
estava em chamas e logo senti que
ela estava chegando.
– Maaaaaarco.
Minha rainha gozou, soltando
espasmos que apertaram o meu pau,
me levando ao precipício.
Desmoronei em um orgasmo
cataclísmico que só tinha essa
intensidade quando o sexo era com
Tatiana.
Não era apenas sexo.
Era sexo com amor.
Era fazer amor na essência
da palavra.
Me mantive dentro dela por
um tempo, até que a nossa
respiração estivesse regulada. Saí
do meu lugar preferido no mundo,
peguei um lenço e o umedeci para
deixá-la limpa.
– Como está se sentindo,
minha rainha?
– Você me deu uma canseira
danada, mas estou bem.
– Bom. Você é deliciosa,
sabia? – Lhe dei um beijo suave.
Ela sorriu e olhou para o
relógio.
– Temos que adiantar,
Marco, a reunião será daqui a
poucas horas.
Baixei sua saia, ajeitando em
seu corpo.
– Vamos almoçar? De lá
podemos ir direto.
Ela assentiu, pegando a sua
bolsa.
– Eu vou assim sem
calcinha?
Sorri em ver a reação tímida
de uma mulher que estava fodendo
sem qualquer pudor há alguns
minutos.
– Vai, querida. Será um
segredinho apenas nosso.
Fomos a um restaurante
próximo à empresa onde
aconteceria a reunião. Estava
localizado em um lugar fantástico,
pois de lá era possível ver a Bahia
de Todos os Santos, um dos mais
belos cartões-postais de Salvador.
Na Espanha também tem
lugares fenomenais e já viajei por
boa parte do mundo, mas essa
paisagem tem algo que a torna
única e diferente de qualquer outro
lugar.
Única e linda como a outra
paisagem que estava na minha
frente. Minha noiva, minha futura
esposa. Minha.
Terminamos o almoço e
fomos para a reunião marcada na
Companhia Silva & Silva. Fomos
conduzidos por uma bonita
secretária até a sala de reuniões
onde alguns sócios já aguardavam
para dar início.
O contador filho da puta já
estava lá e quando me viu chegar ao
lado de Tatiana, demonstrou
surpresa. Cumprimentamos a todos
e nos posicionamos à mesa. Fiz
questão de sentar ao lado dele e
puxei a cadeira para que ela
sentasse do lado oposto.
Ambos medimos um ao
outro, como se estivéssemos nos
preparando para um concurso de
testosterona. Fixei o meu olhar no
seu e o atraí para que percebesse o
movimento da minha mão sob a
mesa, cobrindo a mão de Tatiana,
que me olhou, dando um pequeno
sorriso.
Não foi necessária uma
palavra sequer, marquei meu
território como um leão na floresta,
deixando claro a quem aquela
fêmea pertencia. Nunca havia
entendido tão bem o reino animal
como fazia naquele momento.
Ele desviou as vistas e fingiu
que estava concentrado em alguns
papéis sobre a mesa.
Sr. Silva, o sócio
majoritário, adentrou a sala e todos
ficaram de pé para recepcioná-lo.
– Obrigado a todos por
terem vindo. Como sabem, estamos
fechando um contrato com a
Construtora Carlos Ribeiro e a
assinatura final depende do aval da
representante, Srta. Tatiana
Carvalho.
O chefe fez as apresentações
e eu percebi que a simpatia em
relação à minha noiva aumentou,
pois todos sabiam que o sucesso
daquela transação dependia dela.
Ela levantou, saudou a todos
e apontou para eu e Augusto.
– Gostaria que conhecessem
mais dois representantes que
estarão me auxiliando no processo
de decisão. Estes são Sr. Javier e
Sr. Haggi.
Levantei, cumprimentando a
todos e falei:
– Sim, estamos muito
satisfeitos em poder contribuir com
essa finalização de contrato e além
de representar a empresa, sou
também noivo dessa linda e
competente funcionária.
Pelos olhares mal-
intencionados na direção de
Tatiana, me senti na obrigação de
alertar a todos sobre o seu futuro
estado civil.
Minha noiva estava com o
rosto vermelho, provavelmente
envergonhada por eu estar
marcando território.
– Bem, todos foram
apresentados, então vamos iniciar.
Eu gosto de comparar a nossa
empresa, em relação ao mercado,
com alguns elementos da natureza.
Hum... já estava gostando. Eu
também me comparo sempre.
– Eu diria que somos como
coelhos, enquanto as outras são
semelhantes a tartarugas. Sempre
estamos à frente em inovação e
qualidade.
Augusto se pronunciou.
– Uma das características do
coelho é a reprodução. Fico me
perguntando se esta é uma forma
dele prender a fêmea ao seu lado. –
todos riram, mas Sr. Silva pareceu
confuso. – Falando em reprodução,
a sua empresa tem filiais?
Filho da puta! Se é guerra
que ele quer, é guerra que terá.
Olhei para ele antes de responder:
– Não entendo muito de
coelhos, mas se ele investe para
manter a mãe de seus filhotes, é um
bom sinal de que não é um
cafajeste, pelo contrário, é um
cavalheiro. – me voltei para o Sr.
Silva – Vejo o coelho como a
matriz e seus filhotes como as
filiais que devem ser cuidadas e
protegidas a qualquer preço.
O contador estava com o
rosto roxo de raiva. Eu não deixaria
essa conversa barata.
– Concordo com os
senhores. Temos filiais e elas são
muito bem cuidadas, pois delas
também depende a saúde de todo o
complexo empresarial. Continuando
a minha fala, dessa vez gostaria de
comparar os nossos produtos à
agua. Ela deve ser limpa, potável,
pois é necessária à sobrevivência
humana. Vemos os nossos materiais
como insubstituíveis em sua
qualidade.
O interrompi.
– Assim como o amor. Nem
amizade nem respeito ou qualquer
outro sentimento pode substituí-lo,
não é verdade?
Tatiana deu um beliscão em
minha mão e tentou se comunicar
com os olhos, porém fingi que não
havia percebido. É claro que o
viadinho não deixaria por menos.
– Acredito que a água de
qualidade a que o Sr. Silva se
refere não pode ser aquela que já
foi usada uma vez e quase foi
jogada fora. Deve ser limpa,
inodora e as pessoas não devem ser
obrigadas a tomá-las. O seu uso
deve ser espontâneo, assim como o
verdadeiro amor.
Antes que eu retrucasse sua
resposta, Tatiana levantou e sugeriu
que o líder da reunião fosse direto
aos números, deixando de lado as
comparações. Assustado pela forma
que as coisas estavam caminhando,
atendeu mais que satisfeito.
A partir daí, tudo seguiu
conforme previsto, com
intervenções apenas necessárias.
Eu fui àquele lugar para ajudar e
não atrapalhar e me policiei para
cumprir o propósito.
Augusto deu uma trégua
também e no final o contrato foi
assinado, restando apenas a
assinatura posterior de Carlos
Ribeiro.
Depois das formais
despedidas, levei minha noiva para
a sua casa, começando assim a
rotina que traçaríamos esse mês de
buscar Lorenzo todas as noites e
levar para o apartamento onde eu
estava hospedado.
Capítulo 16

Ela

Cheguei em meu apartamento


e entrei, convidando Marco a me
acompanhar. O meu lar não era de
luxo como ele estava acostumado,
mas era tudo muito limpinho e eu
sempre estava trocando de móveis.
Gostava de que ele tivesse uma
aparência moderna.
A minha mãe veio até a sala
e o cumprimentou, sem oferecer
sequer um sorriso. Me entregou
Lorenzo, dando-lhe um beijo na
testa e saiu, nos deixando a sós.
Minha irmã provavelmente estava
na faculdade.
Quando meu filho o viu,
abriu um grande sorriso e Marco
estendeu os braços para convidá-lo
ao seu colo, sendo atendido
instantaneamente. Meu noivo olhou
para a direção que a minha mãe
caminhou e balançou a cabeça
negativamente.
– Eu não preciso ser um
gênio para perceber que sua mãe
não gosta de mim. Ela tem
consciência que eu não sabia sobre
Lorenzo, não é, Tati? Não quero
que tenha uma má impressão, pois
faremos parte da mesma família.
– Não ligue para ela. Sabe
de toda a nossa história e não negou
apoio, embora não concorde com
um casamento de conveniência.
– Casamento de
conveniência? Você sabe que eu
jamais teria um filho bastardo e me
casaria com a mãe dele,
independente de quem fosse, mas
no nosso caso, não há nada de
conveniência. O nosso casamento
será bem real.
– Ela entenderá isso. Tenha
um pouco de paciência.
– Sonde o melhor momento
para que eu possa conversar com
ela antes da cerimônia.
– Está certo.
Fomos para o apartamento de
Alfonso onde teria minha primeira
noite lá como noiva de Marco.
Estava um pouco inibida, pois
ainda não tinha conversado com
Brisa sobre o pai de Lorenzo e a
última vez que conversamos, ele
estava comprometido com outra
pessoa.
Como eu sou uma daquelas
pessoas que tudo transparece no
rosto, Marco deve ter percebido a
minha preocupação e tentou me
tranquilizar.
– Não há motivos para
vergonha, querida, você sabe que
Brisa tem a mente muito aberta e
nunca iria te julgar. A essa altura,
ela já deve saber de tudo, pois
expliquei toda a história ao meu
irmão.
– Alfonso já sabe? Como
reagiu?
– Está ansioso para
conhecer seu sobrinho. Se
dependesse dele, teria ido buscá-lo
no momento que soube, mas
consegui freá-lo.
– Oh, Deus, fico tão feliz
que toda essa loucura esteja
findando e que não preciso mais
guardar segredos de ninguém.
Quando superarmos a próxima
etapa, aí sim vou respirar aliviada.
Ele sorriu.
– Qual será a próxima
etapa?
– Enfrentar os seus pais que
com certeza não ficarão nada
felizes em saber que escondi seu
neto por oito meses. Tenho receio
de que achem que estou dando o
golpe da barriga em você, assim
como Andréa pretendia fazer.
Ele parou de brincar com os
braços de Lorenzo e fixou os olhos
em mim.
– Nunca mais se compare
àquela mulher sem caráter. Não
posso dizer que não errou ao
esconder o meu bebê, mas ninguém
poderá acusá-la de ser fingida ou
de golpista. O meu bebê é bastante
real.
– Obrigada por me
tranquilizar. Fico mais sossegada
em saber que não precisarei me
defender sozinha, que tenho o seu
apoio.
Chegamos ao apartamento e,
ainda que não tivesse motivos para
tanto, senti que meu coração
disparava. Marco abriu a porta
devagar, todo orgulhoso por estar
carregando o seu filho no colo e dei
dois passos à frente, quando fui
surpreendida por gritos e palmas.
Brisa, Alfonso, Luiza e
minha irmã estavam na sala
celebrando a nossa chegada. Eu não
podia acreditar no que meus olhos
estavam vendo. Lorenzo se
assustou, agarrando o pescoço de
seu pai e eu alisei sua pequena
cabeça para que o susto passasse.
Havia uma mesa posta com
um jantar e, em cima do sofá, uma
montanha de brinquedos. Acho que
meu filho teria que viver duas vidas
para brincar com todos eles.
Brisa e Lana vieram ao meu
encontro, enquanto Alfonso partiu
em direção ao seu sobrinho com
Luiza no colo.
– Oh, queridas, obrigada por
tanto carinho. Eu estava tão
amedrontada com a reação de
vocês e o que encontrei aqui está
muito além do que eu poderia
imaginar. Ter a aceitação da família
de Marco é tudo o que posso querer
nesse momento.
Brisa me olhou com uma
expressão que dizia 'você nunca me
enganou' e me deu um abraço.
– Eu não vou negar a você
que já desconfiava, Tati, mas sabia
que deveria respeitar o seu tempo e
os motivos que provavelmente teria
para não contar.
– Sério? E mesmo assim
nunca comentou comigo.
– Não. Eu meio que tentei
incentivá-la a contar quando
conversamos sobre o suposto
casamento de Marco. Tinha
esperanças de que chutasse o pau
da barraca e não permitisse que a
cerimônia fosse realizada, mas
quando vi que não reagiu, fiquei de
mãos atadas.
– Oh, Bri, devia ter me dito.
Talvez um conselho de alguém tão
próximo a ele me fizesse mudar de
ideia.
– Tive receio de estar
invadindo um espaço que só cabia a
você compartilhar ou não. O mais
importante é que estamos aqui e que
tudo acabou se encaixando.
– Verdade, graças a Deus,
tudo está tomando o seu rumo.
– Estou tão contente por
mais um casamento na família, vou
te dar essa noite, mas amanhã já
temos que fazer planos para a
cerimônia e você vai me ajudar nos
preparativos finais para o
aniversário de Luiza.
Sorri e voltei minha atenção
para a irmã mais doce que alguém
poderia ter, abrindo os braços em
convite para um abraço.
– Obrigada, Lala. O que
seria de mim sem você?
– Ah, com certeza, sua vida
seria muuuuuuito chata. – Ela
brincou, mas logo virou seu rosto
para disfarçar uma lágrima que caía
de seus olhos.
– Irmãzinha, não chore, o
momento é de felicidade.
– Desculpe, eu não queria,
só que eu presenciei o quanto
sofreu por amor e o quanto teve que
abrir mão pelo mesmo motivo. Você
merece tanto ser feliz. As minhas
lágrimas são de alegria por ter
finalmente alcançado o seu 'happy
end', Tati.
Meu abraço foi ainda mais
intensificado e só foi interrompido
pela aproximação do meu futuro
cunhado.
– Obrigado por ter trazido
alegria e honra à nossa família. Não
tem ideia do quanto seu filho
representa para nós.
Marco veio para o meu lado,
abraçando a minha cintura.
– Eu me sinto a mulher mais
sortuda do mundo. Primeiro, por
ser mãe de um bebê tão especial, e
depois por estar entrando em uma
família maravilhosa. Espero estar à
altura de tantas responsabilidades.
Os bebês foram colocados
no tapete um de frente para o outro.
Não eram muito parecidos porque
Luiza era a cara da mãe e Lorenzo
parecia mais com o pai. Ficaram se
olhando por um tempo, até que a
pequena garota se pronunciou.
– Bebê, mama.
Brisa respondeu:
– É, meu amor, seu
priminho.
– “ Dá piminho, titio”. – Ela
falou, apontando para Marcos.
– Você lembrou, princesa?
Aí o priminho que você me pediu
outro dia.
Ela apontou um dedinho para
Lorenzo que só a observava,
sorrindo a cada vez que ouvia a sua
voz.
– “ Piminho”.
Ela levantou para sentar-se
ao lado de meu filho e lhe deu um
lindo beijinho no rosto. Todos se
derreteram na sala. Agora não tinha
mais como negar: Lorenzo era um
conquistador nato.

****************

Chegamos ao aeroporto de
Madri uma semana depois da
recepção que tive no apartamento
de Alfonso. Os pais de Marco
sabiam que eu viria com ele, mas
desconheciam o resto da história.
Eu já os conhecia por tê-lo
acompanhado em alguns eventos na
Espanha, mas as apresentações e
reencontros sempre foram
superficiais. Sequer fui apresentada
como namorada, apenas Srta.
Carvalho e nada mais. Sem rótulos.
Chegamos a uma imponente
mansão e a minha vontade era de
sair correndo e ir embora. Nunca
fui covarde, mas acho que essa
característica estava me
assombrando mais do que nunca
nos últimos tempos.
Os portões foram abertos por
uma espécie de sensor que
reconhecia a placa do carro, nos
dando acesso a um enorme
estacionamento.
Ao entrar, tentei encontrar
algum rosto familiar, mas só havia
empregados limpando e circulando
pelo local. Uma senhora magra e
baixa veio cumprimentar Marco e
vi o momento que foi tomada pela
emoção ao perceber que era seu
filho quem estava em seus braços.
– Meu Deus, Marco, eu
pensei que me considerava como
uma segunda mãe, mas estou vendo
que me enganei. Por que só agora
estamos conhecendo essa coisa
fofa?
– É uma longa história,
Mercedes. Logo você ficará
sabendo e me perdoará e a Tatiana
também. Lembra dela?
– Claro que sim, querido.
Nunca vi seus olhos brilharem para
outra mulher como acontecia com
ela. Seja bem vinda, Tatiana.
– Obrigada. Sr. e Sra. Javier
não estão em casa?
– Não. O teimoso disse que
deveria ficar na empresa na
ausência dos dois filhos e a sua
mãe precisou sair. Logo estarão de
volta.
–Tudo bem. – disse Marco –
Vamos descansar da viagem e
quando eles chegarem, peça para
que alguém nos avise, por favor.
Subimos as escadas e
alcançamos um corredor com
diversas portas. Aquela casa deve
ter sido projetada para uma família
enorme.
Meu noivo me levou ao seu
quarto de infância, que ainda era
mantido. O cômodo era tipicamente
masculino, predominando o preto e
branco nos mobiliários e na
decoração.
Havia uma cama King Size,
bastante convidativa para dormir e
fazer umas coisinhas mais.
Lorenzo começou a
choramingar e eu sabia que era por
causa do cansaço da viagem.
Peguei sua mamadeira já preparada
e o alimentei, colocando para
dormir em seguida.
Marco passou alguns minutos
admirando a inocência e
vulnerabilidade de sua pequena
prole dormindo. Depois fixou seu
olhar em mim, abrindo um sorriso
malicioso.
– Você sabe que nunca trouxe
uma mulher nesse quarto? Você é a
primeira a entrar aqui além de
minha mãe e Mercedes. – ele se
aproximou de mim, agarrando a
minha cintura. – Eu adoraria que
também fosse a primeira vez que
faço amor aqui. A primeira de
muitas.
– Hum... eu acho uma boa
ideia.
Dessa vez, eu podia afirmar
que não fizemos sexo. Era amor.
Fizemos amor devagar, demorado,
buscando lentamente matar o desejo
insaciável que nutríamos um pelo
outro.
Nos pertencemos durante boa
parte da tarde e depois desabamos
sobre a cama a fim de
recuperarmos energia para o
encontro com os seus pais mais
tarde.
****************

Abri os olhos e procurei o


meu celular para conferir as horas.
Já havia passado das dezoito, o que
confirmou a minha impressão de
que dormi demais. Olhei à minha
volta e não vi qualquer sinal de
meu filho ou de Marco, é possível
que esteja com o pai.
Tomei um banho e me
arrumei para o momento que
nomeei de 'última etapa'. Não devo
ser a única a ter receios quando vai
conhecer a família do noivo.
Desci as escadas e já
conseguia ouvir alguns sussurros. À
medida que caminhava, algumas
vozes iam tomando forma, umas
mais altas que outras. Parei antes
que me vissem, pois percebi que
estavam falando de mim.
A declaração que ouvi em
seguida da boca de seu pai
materializava os meus principais
medos.
– Que essa criança é sua,
ninguém tem dúvidas, Marco. Até
nisso ela teve sorte, o menino
parece com você. Não vai precisar
de exame de DNA, mas quem te
garante que não foi justamente por
isso que ela escondeu? Talvez não
tivesse certeza da paternidade.
– O senhor é meu pai e te
devo respeito, mas não vou admitir
que fale assim dela. Qualquer
pessoa que a conhece melhor pode
atestar que não se trata de uma
aproveitadora.
– Você está cego pela
paixão, filho. Tem experiência
suficiente para saber que dinheiro
muda o caráter de qualquer pessoa.
Não estou dizendo que deve fugir
do casamento, pois a nossa família
tem princípios. Estou apenas
pedindo que fique de olho aberto,
que não se permita ser uma
marionete nas mãos dela.
Mais do que nunca, eu queria
tapar os meus ouvidos e sair
correndo daquele lugar. O que me
manteve ali foi a resposta que ouvi
em seguida:
– Eu posso confiar em seu
senso de julgamento, pai? Namorei
uma vigarista durante meses e você
nunca percebeu que era uma
aproveitadora. Tatiana não é boa o
suficiente porque não é rica? Quero
que saibam que acredito em cada
palavra que ela me diz e brigarei
com quem for preciso para tê-la ao
meu lado. Eu a amo como nunca
amei ninguém. Sempre foi ela.
Nessa altura, eu já estava
soluçando contra a parede escura
que me separava do escritório onde
estavam. Dona Esperanza entrou na
conversa, tentando amenizar o
clima.
– Javier, deixe de ser um
velho teimoso e se desculpe com
seu filho. Ele tem razão. Nós fomos
fruto de um casamento arranjado,
Alfonso também e não temos
qualquer referência que nos permita
julgar as escolhas de Marco. Temos
que ser agradecida a essa garota
por ter nos presenteado com esse
lindo bebê. Vá chamá-la, filho,
prometo que ela será bem tratada.
Rapidamente, tentei achar um
lugar que me permitisse lavar o
rosto. Não havia volta. Eu passaria
por mais aquela etapa de cabeça
erguida e no futuro provaria que ele
estava errado a meu respeito.
Não precisei andar muito
para encontrar um banheiro, onde
entrei, trancando a porta. Deixei
que algumas lágrimas ainda
rolassem e respirei fundo, juntando
forças para me refazer. Eu não
daria o gostinho de demonstrar
fraqueza.
Lavei meu rosto e fiz alguns
movimentos de respiração que
aprendi na faculdade para amenizar
o nervoso. Abri a porta renovada e
disposta a enfrentar o que viesse
pela frente. Eu tinha o amor de
Marco e isso era tudo o que
importava.
Me aproximei do escritório e
meu noivo logo me avistou.
– Estava te procurando.
Onde estava?
– Fui até a cozinha tomar um
copo de água. – voltei minha
atenção aos seus pais, estendendo a
mão para cumprimentá-los – Boa
noite Sr. E Sra. Javier.
– Olá, querida, estava
realmente falando no quanto
devemos ser gratos por ter nos
dado mais um neto. Ele é tão lindo
quanto o nosso Marco. Obrigada!
– É realmente um privilégio
ser mãe dele e, de fato, parece
muito com o pai. Gostaria de
agradecer também por ter me
recebido em sua casa. Parabéns,
tem muito bom gosto, ela é linda.
Dona Esperanza parecia
encantada e se virou para falar com
o marido.
– Ela não é um amor, Javier?
Será mais uma grande adição à
nossa família.
O velho me olhou de cima a
baixo e, muito a contragosto,
esboçou um sorriso em seus lábios.
Retribuí, sabendo que a
minha atitude não representava que
eu era falsa. Demonstrava que eu
era educada.
Conversamos por mais um
tempo e dona Esperanza não se
separou de Lorenzo por um segundo
sequer. Uma coisa eu não podia
negar: todos eles estavam
apaixonados por meu filho.
Sr. Javier tentava disfarçar
seus sentimentos, mas
ocasionalmente, eu o flagrava
encarando o bebê com um brilho
nos olhos.
O nervoso inicial se dissipou
e consegui conduzir uma conversa
pacífica, harmoniosa e
descontraída, sempre girando em
torno dos primeiros meses de vida
de Lorenzo.
Relatei acontecimentos,
mostrei fotos e lhes entreguei um
vídeo que continha cenas desde o
nascimento até a idade atual de
Lorenzo. Eu sempre me preparei
para a possibilidade desse dia e
registrava tudo. Eles tinham o
direito de participar, ainda que de
outra forma.
A noite transcorreu sem
maiores problemas e Marco nunca
deixou de segurar as minhas mãos.
A segurança que me passava era
essencial para que eu não
desmoronasse e o seu amor reluzia
naquele ambiente.
Nos amávamos e não
tentamos esconder isso de ninguém,
pelo contrário, estava claro para
quem quisesse ver.
Capítulo 17

Ela

– Por que vocês têm que ir?


Acabaram de chegar. Não podem
me afastar tão cedo assim do meu
neto, é muito injusto com uma avó
que acabou de se apaixonar.
Dona Esperanza estava
jogando pesado para nos convencer
a ficar mais dias em sua casa.
– Mãe, precisamos ir. Tati
precisa se alojar em sua futura casa
e eu preciso ir à empresa. Papai
não pode dar conta de tudo sozinho.
Prometo que voltaremos à noite.
Sr. Javier não havia descido
para se despedir e sabia que aquilo
demonstrava que não seria
facilmente convencido das minhas
intenções.
– Não estou feliz com essa
atitude, mas assim que a noite
chegar, venham aqui para casa e
tragam o meu neto. Se demorarem
demais, vou buscá-lo.
Com muita relutância, minha
futura sogra nos permitiu sair de
sua casa. Ela queria ficar o máximo
de tempo possível ao lado de
Lorenzo e eu lhe prometi que
voltaria assim que possível.
Passaria o resto da minha
estadia no apartamento de Marco e
só voltaria para o Brasil depois do
aniversário de dois anos de Luiza.
Seria uma grande
oportunidade para rever alguns
amigos, como Clara, e de conversar
com o Sr. Ribeiro sobre a minha
futura situação na empresa.
Eu havia lhe contado apenas
que estava me relacionando com
Marco e que precisava de uma
licença para conhecer a sua família.
Não entrei em detalhes, pois não
achava justo que ele tivesse
qualquer informação antes dos pais
do meu noivo.
O irmão dele ainda estava no
Brasil e, como eu sou desse meio,
entendia sua necessidade de estar
na empresa. Um empreendimento
tão gigante não podia permanecer
sem um administrador por muito
tempo.
Uma ponta de dor alcançou o
meu peito, quando imaginei quantas
outras mulheres haviam entrado
naquele lugar. Me policiei para que
pensamentos desse tipo não
martelassem a minha mente e
tentassem estragar o que estávamos
começando a construir.
Paramos em frente ao prédio
e Marco estendeu um chaveiro onde
havia quatro chaves e um cartão
pendurados.
– Estou um pouco atrasado.
Teria algum problema se você
subisse com Lorenzo? A recepção
já está avisada sobre a sua chegada
e vou pedir para que levem as
malas lá para cima.
– Não. Sem problemas. Já
conheço o caminho.
– Ótimo. Se precisar, pode
me ligar a qualquer hora. Vocês
agora são a minha prioridade e
nunca vão incomodar. Ligue, se
necessário.
Assenti, abrindo a porta para
sair do carro e ele me puxou de
volta, tomando os meus lábios em
um beijo intenso. Segundos depois,
me soltou, tomando algum tempo
para apenas me observar.
Fiquei sem graça com seu
escrutínio, mas igualmente muito
feliz, pois seu olhar dizia mais do
que palavras poderiam fazer.
Ele desceu do carro, abrindo
a porta e me ajudou a levar uma
pequena mala até o elevador. Me
deu mais um rápido beijo e beijou a
pequena cabeça de Lorenzo.
– Não esqueça. Me ligue a
qualquer momento.
Sorri com sua insistência.
– Certo, Marco, já entendi.
Apertei o botão do elevador
que me levaria à cobertura. Como
aquele logo seria o meu lar, passei
a memorizar cada detalhe, algo que
eu nunca havia feito anteriormente,
já que o meu lugar na vida de
Marco sempre foi temporário.
Agora eu podia sentir que
era definitivo.
Cheguei à cobertura e usei o
cartão para me dar acesso à sala.
Nunca fui supersticiosa, porém
resolvi dar lugar a uma crença que
se não fizesse bem, mal não faria.
Olhei para os meus pés e
respirei fundo, antes de entrar,
estendendo o pé direito. Sim,
entraria com o pé direito no espaço
que representava o início de uma
vida a dois, tentando chamar todos
os bons fluidos que pudessem me
ajudar.
Deixei a mala na sala e fui
em direção ao quarto para trocar
Lorenzo. A ordem era deixá-lo
limpo e depois alimentá-lo, pois
logo iria chegar o momento de
dormir, como já era de costume.
Não havia qualquer barulho
no apartamento e só era possível
ouvir a zoada de carros transitando
em frente ao prédio e de alguns
pássaros que faziam a sua orquestra
matutina.
Fiquei descalça e, brincando
com o meu filho, me dirigi ao
quarto. Coloquei Lorenzo sobre a
cama e troquei a sua fralda. O
tempo estava muito quente e decidi
deixá-lo apenas com uma camiseta.
Estava me levantando com
ele no colo, quando ouvi um
barulho estranho. Virei para ver de
onde vinha e uma loira apenas de
lingerie vermelha estava
materializada na minha frente.
Era Andréa.
– Olha só quem eu encontro
aqui. Fiquei sabendo que Marco
estava de volta e pensei que o
encontraria sozinho, mas quem deu
o ar da graça? A pequena golpista.
Pelo menos a minha viagem não
será perdida.
Apertei meu filho ainda mais
contra mim, tentando defendê-lo de
qualquer investida daquela louca.
– O que faz aqui? Como
conseguiu entrar? – Perguntei.
– Não está obvio? Queria
surpreender, mas pelo visto eu que
fui surpreendida. Você acha que eu
não teria as chaves do apartamento
do meu noivo?
– Olha, não interessa o que
veio fazer aqui, porém gostaria que
saísse. O que tiver a dizer, fale
diretamente a Marco e deixe a mim
e ao meu filho fora de qualquer
história.
– Não posso fazer o que me
pede, querida. Você está
diretamente ligada a tudo. Sabia
que quando ele descobriu que eu
não podia lhe dar um herdeiro e
contei que já tinha um, prometeu
que o criaríamos juntos? Olha como
eu sou boazinha em te contar os
nossos planos: ele se casaria, daria
um nome ao bebê, buscaria as leis
espanholas que, sem dúvidas, o
beneficiariam e tomaria o seu filho
ao mesmo tempo que o divórcio
estaria em processo. Ah, meu noivo
é tão perspicaz, não é, mesmo?
Senti um gosto amargo em
minha boca, não porque acreditasse
em qualquer palavra que ela estava
dizendo, mas porque me perguntava
até que ponto alguém com um perfil
psicopata poderia chegar para
alcançar seus objetivos.
Abri a boca para lhe dar uma
resposta, tentando entrar em seu
jogo, quando ouvi um outro
barulho, vindo da sala.
– Saia da minha casa, sua
puta, saia daqui agora!
Marco havia entrado no
quarto e já a puxava pelo braço em
direção à porta de saída. Lorenzo
começou a chorar e eu tentava
tranquilizá-lo, enquanto
acompanhava toda a cena.
– Conte a verdade para ela,
amor. Vamos acabar com os nossos
planos e ir embora daqui. Pegue o
bebê e vamos partir, prometo que
ninguém nos encontrará.
A vadia continuava com seus
devaneios, tentando me convencer
que todo o sonho que estava
vivendo fazia parte de uma ideia
premeditada para levar o meu filho.
Marco tomou a penca de
chaves de sua mão e a jogou no
elevador, sem dar qualquer espaço
para que pelo menos se vestisse.
Foi jogada de lingerie e antes que a
porta se fechasse, ela ainda
conseguiu ameaçar:
– Vocês não serão felizes.
Enquanto eu tiver forças, farei o
possível para destruir essa relação.
Me aguardem!
Ele fechou a porta da sala e
veio em minha direção, tomando
Lorenzo do meu colo para acalmá-
lo.
– Não acredite em qualquer
palavra dela, querida. Nada nem
ninguém poderá estragar o que
sentimos um pelo outro. Sorte que
vim pegar o notebook onde tem
informações importantes para o
meu trabalho hoje, senão não sei o
que aquela maluca poderia ter feito.
Assenti, me aproximando
para um abraço. Queria muito
acreditar que o nosso amor bastava
e que poderia me sentir segura,
contudo, no meu íntimo, havia um
medo começando a brotar e
tentando tirar a minha paz.
Tinha medo por nós.
Sobretudo, tinha medo pelo
que pudesse fazer ao meu filho.
Capítulo 18

Ele

Decidimos que iriamos


marcar a nossa data de casamento
para dali a um mês. Não havia mais
motivos para esperar e eu ansiava
para tornar Tatiana oficialmente
minha.
A princípio, ficou
preocupada com o curto espaço de
tempo para os preparativos e
precisei da ajuda de Brisa e minha
mãe para tranquilizá-la de que era
possível que tudo ficasse pronto.
A única exigência que fez foi
que o casamento se realizasse em
Salvador e concordei sem
discursão, pois já estava
apaixonado pela cidade e o cenário
barroco das igrejas é bastante
propício para lindas cerimônias.
Hoje é o aniversário de
minha sobrinha e estamos
envolvidos nos últimos ajustes.
Embora tenha contratado um buffet,
Brisa fez questão que todos
colaborassem em detalhes de
última hora. Aquela mulher sabia
fazer chantagem emocional.
– Desse lado, não, Marco. A
mesa deve ficar de frente para
aquele painel. Vamos, meninos,
coloquem-na lá, pois temos mais
trabalho a fazer.
Estava perdido com essa
mulher mandona.
Minha mãe se aproximou
com seu neto no colo e a alegria
que se via em seu rosto era
entusiasmante. Podia ler em seus
olhos o quanto estava satisfeita com
o rumo que sua família tomava e me
peguei querendo algo parecido no
futuro.
– A festa está ficando tão
linda. Luiza está numa idade que
entende melhor as coisas e acho
que vai aproveitar mais esse ano
que aproveitou ano passado.
– Verdade, mãe. Minha
sobrinha vai se divertir muito. –
Meu filho olhava fixo a decoração.
– Olha só a carinha de Lorenzo
vendo tantas cores juntas. É uma
pena que não entenda muito, mas
ainda assim irá se divertir também.
Continuamos o trabalho
pesado com minha cunhada em
nossos pés para que nada desse
errado. Acho que descobriu outro
talento. Além de administradora,
estava se tornando uma excelente
produtora de eventos.
O final da tarde havia
chegado e tudo já estava pronto
para o início da festa. Subi para o
meu quarto a fim de tomar um
banho e me arrumar, porém meus
planos mudaram assim que alcancei
o cômodo.
Tatiana estava apenas de
calcinha e sutiã, com uma perna
apoiada na cama, passando
hidratante. Quando me viu, abriu
um sorriso lascivo que interpretei
como um convite, o qual aceitei
mais que satisfeito.
Descemos para a festa um
pouco atrasados, pois não
conseguimos deixar nossas mãos
longes um do outro.
O aniversário já estava
acontecendo no enorme jardim da
casa de meus pais e muitas crianças
passavam por nós correndo,
enquanto outras aproveitavam os
brinquedos próprios de festas
infantis.
Tatiana me puxou para uma
barraquinha de algodão doce,
pegando um e me estendendo outro.
Olhei para ela confuso e minha
noiva apenas deu de ombros,
mordendo o seu doce e melando
toda a boca.
Não resisti e limpei o canto
de seus lábios com a minha língua,
voltando para entrar na brincadeira.
Dei uma mordida em meu doce e
passei a língua nos lábios, retirando
o excesso.
Ela seguiu todo o meu
movimento com os olhos e me
aproximei, sussurrando em seu
ouvido:
– Se continuar me olhando
assim, teremos que voltar lá para
cima.
Ela respirou fundo, antes de
responder:
– Se eu estivesse em outro
lugar, não pensaria duas vezes.
Você tem que dar atenção aos
convidados porque é da família,
mas pare de ficar me tentando desse
jeito.
Eu soltei uma gargalhada e
peguei na mão de Tatiana para
circularmos pelo local. Avistamos
minha mãe, que estava tentando
convencer uma convidada a lhe
devolver Lorenzo.
Aquela mulher vai estragar o
meu filho.
Nos aproximamos e
reconheci a convidada como uma
socialite conhecida de minha mãe.
– Sra. Velasquez, como vai?
Deixe-me apresentá-la Tatiana, mãe
do meu filho.
– Muito prazer, querida. Não
sabia que tinha se casado, Marco.
Não era você que namorava Andréa
até pouco tempo?
Merda! Odeio esse tipo de
pessoas que não têm filtro na língua
e aproveita qualquer oportunidade
para fazer fofocas.
– Não é preciso estar
casados para fazer um filho, não é
mesmo, Sra. Velasquez? Não
estamos casados ainda, porém logo
estaremos corrigindo isso. Preciso
cumprimentar outros convidados.
Divirta-se!
Não deixei sequer que
Tatiana lhe desse qualquer reposta,
pois ela faz parte do tipo de
pessoas que não valem a pena. A
cada dia que passa lhe dou razão
quanto ao receio que tinha de sofrer
preconceito, pois a alta sociedade
realmente pode ser cruel em seu
julgamento.
Dei um beijo no rosto de meu
filho que parecia tão confortável no
colo da avó que nem me deu
importância.
Circulamos um pouco mais
pelo local até que Tatiana encontrou
alguém conhecido. Era Clara que
estava caminhando de mãos dadas
com Luiza, ostentando uma enorme
barriga de grávida.
– Clara, que bom encontrar
uma pessoa conhecida no meio de
tanta gente. – Minha noiva falou.
– Digo o mesmo, Tati. Brisa
tem que dar atenção a esse povo de
nariz empinado e precisava
encontrar um rosto conhecido para
jogar conversa fora. – Seus olhos
passearam de mim para meu noivo.
– Que bom saber que estão juntos
novamente. Brisa me contou o
quanto Marco estava apaixonado
pelo filho. Ando tão sensível que
me emocionei com a notícia.
Meu noivo me abraçou por
trás, entrando na conversa.
– Você logo receberá o
convite de casamento. Estava
pensando em contratar a banda No
Return para cantar na festa. O que
acha, Tatiana?
– Você está perguntando a
minha opinião sobre a banda do
momento cantar em nossa festa?
Qualquer pessoa em sã consciência
adoraria.
– Então está decidido. Onde
está Benito, Clara?
Mal havia fechado a boca,
ele se juntou a nós.
– Ouvi o meu nome por aqui?
Marco, Tatiana, como estão?
– Sim. Estávamos
conversando sobre a possibilidade
da No Return tocar em nossa festa
de casamento.
– Parabéns! Fico feliz em ver
que se acertaram. A agenda da
banda anda lotada, mas a gente
sempre dá um jeito para amigos.
– Obrigado. Para quando é o
bebê?
Ele abraço Clara, alisando
sua barriga.
– Ela está de sete meses e
logo, logo verei o rosto da minha
filha. Estou muito ansioso.
– Ah, você vai ter a
oportunidade de saber o que é amar
incondicionalmente, então. Dará a
sua vida por ela, se for preciso.
Conversamos um pouco mais
e depois de algum tempo chegou o
momento dos parabéns.
Há dois anos, se alguém me
dissesse que seria o homem mais
feliz do mundo por estar em uma
festa infantil ao lado do meu filho e
da minha futura esposa, eu diria que
estava ficando louco.
No entanto, essa é a minha
realidade e estou muito satisfeito
com ela. Não preciso mais de
mulheres, farras e uma vida sem
compromissos. O que quero agora é
colocar uma aliança no dedo de
Tatiana.
É tudo o que preciso.
Capítulo 19

Ela

Aproveitei o aniversário de
Luiza para conversar com o Sr.
Ribeiro. Já era hora dele saber que
eu não poderia permanecer na
empresa, pois iria morar na
Espanha.
Quando a maioria dos
convidados estava indo embora, o
encontrei caminhando para pegar
uma bebida e decidi que aquela era
a hora certa.
– Sr. Ribeiro, gostaria de
conversar um pouco contigo,
poderia me dar um minuto da sua
atenção?
– Claro, Tati. Ouvi alguns
comentários sobre você e Marco,
mas esperei ouvir de sua boca. O
assunto tem a ver com isso?
– Sim, senhor. Eu sempre fui
reservada quanto a minha vida
pessoal, por isso nunca comentei
que Marco é o pai do meu filho.
Nós pretendemos nos casar daqui a
um mês e estarei me mudando para
cá.
– Já desconfiava, mas
sempre respeitei a sua privacidade
e jamais te perguntaria sobre um
assunto que só dizia respeito a
você.
– Sei disso. Obrigada.
– Quanto a sua saída da
empresa, será uma grande perda,
pois sempre foi mais que
secretária. Você tem mais
habilidades em diversas funções
que funcionários formados na área.
Não existe a possibilidade de
morarem no Brasil?
– Marco precisa estar à
frente das empresas aqui,
especialmente agora que Alfonso
tem que ajudar o senhor na
administração da construtora.
– Entendo. Vou solicitar que
o RH disponibilize a vaga e
gostaria que você selecionasse e
treinasse uma pessoa, tudo bem?
– Farei isso. Obrigada por
confiar em mim para assumir tantas
responsabilidades e por entender a
minha situação.
Ele se aproximou, dando um
beijo em minha testa.
– Só tenho uma exigência:
seja feliz. Nunca se permita menos,
menina. Você merece.
– Se o senhor realmente acha
que mereço, poderia me deixar um
pouco mais feliz, entrando comigo
na igreja?
– Oh, Tati, será uma honra,
para mim, estar ao seu lado em um
momento tão precioso. É claro que
aceito. Eu a considero como uma
filha.
Ousei um pouco mais e
aproveitei sua aproximação para
lhe dar um abraço. Meu pai morreu
há muitos anos, mas se eu tivesse
um, gostaria que fosse carinhoso e
zeloso como Carlos Ribeiro.
Um mês se passou num
piscar de olhos, e nesse meio tempo
eu tinha conseguido uma secretária
que parecia muito esforçada e
aprendia rápido.
Vou ficar um pouco mais
despreocupada em deixar a
empresa.
Estou no spa ‘Bela noiva’,
me preparando para subir ao altar
na noite desse dia. O espaço foi
fechado para mim e para as
mulheres das duas famílias.
Estava sendo paparicada por
todos e tendo um dia como eu
sempre sonhei. Já fiz uma limpeza
de pele e depilação. Agora estou
tomando um banho de pétalas na
banheira e mais tarde, vou fazer
unhas, maquiagem e arrumar os
cabelos.
Lorenzo ficou com
Mercedes, mas de hora em hora
ligo para saber como vai. Estou
com muitas saudades do meu bebê.
Minha mãe está adorando
tantos cuidados com ela, mas não
dá o braço a torcer em relação ao
passo que estou dando. Eu estava
com os olhos fechados, tentando
relaxar um pouco, quando dona
Marlene entrou na minha cabine.
– E então, querida, está mais
calma?
Continuei de olhos fechados
e respondi:
– Sim, mãe, acho que tudo o
que precisava era de um momento
só para mim hoje.
Ouvi o seu suspiro.
– Me lembro do dia do meu
casamento. Não tinha essa
preparação toda que se tem
atualmente, mas a tensão era a
mesma. É uma das decisões mais
importantes na vida de uma mulher
e a gente sempre se pergunta se é a
certa.
Já ouvi realmente
comentários a respeito dessa
indecisão pré-matrimônio, mas eu
não. Estou bastante decidida.
– Não há nada que queira
mais na vida, portanto não tenho
sombra de dúvidas que estou
fazendo a escolha certa. É o que
meu coração pede.
– Tem certeza, Tati? Eu acho
tão injusto você desperdiçar o amor
de um homem tão bom quanto
Augusto.
Haja paciência!
– Ainda essa história bem no
dia do meu casamento? Por favor,
dona Marlene, aceite de uma vez
por todas que não há volta. Esta
noite me tornarei a mais nova Sra.
Javier e o amor do meu marido é o
único que me interessa.
– Desculpe, querida. Não
quero estragar o seu dia.
Ela saiu, me deixando a sós
com meus pensamentos. Na minha
mente só piscava em luz neon a
palavra futuro. Naquele dia, ele
estava se tornando o meu presente e
faria de tudo para que nada
estragasse.
A nossa relação se iniciava
com algo que muitos
relacionamentos duradouros não
tiveram: amor. De posse desse
sentimento, eu sabia que nada nem
ninguém poderia nos atrapalhar.
Finalmente, eu iria colocar
um ponto final em todo o sofrimento
que passei desde o início da
gravidez.
‘Sim, Tatiana, você merece
ser feliz’.
****************
– Ele já chegou, Lana? Estou
com um pressentimento tão ruim.
Eu estava em uma espécie de
camarim que era disponibilizado
para que os noivos aguardassem o
momento da entrada. Embora tenha
desfrutado de um dia maravilhoso,
no final da tarde, estava começando
a sentir um aperto no peito.
Será que era essa a sensação
tão comentada pelas noivas?
– Fique calma, Tatiana. Seu
noivo já chegou e está se
preparando para subir ao altar. Eu
não sei quem está mais nervoso,
você ou ele. Toda hora aquele
homem me liga para confirmar se
você não desistiu. Deu até vontade
de brincar, mas fiquei com medo de
que você ficasse viúva antes de
casar.
– Haha, engraçadinha. Como
você consegue ter bom humor
sabendo que sua irmã está tão
preocupada?
– Alguém tem que quebrar o
clima, não é? Brincadeiras à parte,
eu já te disse o quanto está linda?
– Ainda não. Obrigada,
querida. Eu sonho em vê-la assim
vestida de noiva também. Fiquei
tão envolvida em meus problemas
que não te perguntei: onde está
Otávio?
– Aquele lá? Já dançou. Me
enrolou um dia, dois, no terceiro
mandei passear. Um dia eu vou
encontrar alguém que me olhe como
eu vejo Marcos te olhando.
– Vai sim, minha irmã. Você
é linda, não tenha dúvidas disso.
O celular de Lana tocou em
seguida, e pelo seu tom de voz,
percebi que falava com Marco.
– Ela está aqui, cunhado, não
vai fugir. Já está indo para o altar?
Pronto, então fique lá esperando
porque a noiva precisa se atrasar. O
quê? Um cara cheio de princípios
como você não pode querer quebrar
essa tradição. Ok. Daqui a uma
hora, mais ou menos. Tchau.
Dessa vez, minha irmã iria
me fazer sorrir. Ela não ajudava em
nada com o nervoso do meu noivo.
– Coitado, Lana. Deve estar
tão desesperado quanto eu para
acabar logo com isso. Eu não vou
fazê-lo esperar mais.
Brisa entrou na sala,
provavelmente a pedido de Marco,
respondendo no lugar de minha
irmã.
– Vai esperar, sim. Estou me
divertindo tanto em vê-lo agoniado
naquele altar. Seus olhos não saem
da porta e os convidados já estão
começando a se perguntar como
você conseguiu amansar um homem
tão escorregadio.
– Os convidados já estão
fazendo o seu próprio julgamento,
Bri.
– Pelo contrário, querida.
Todos estão vendo e comentando
sobre o amor que está
resplandecente no rosto de Marco.
Se alguém tinha dúvidas de que
esse casamento é por amor, elas
foram dissipadas hoje.
– Obrigada, Brisa, está tudo
tão perfeito que tenho medo de que
algo ruim aconteça.
– Nada irá acontecer, Tati.
Vai dar tudo certo.
Permaneci cerca de 20
minutos aguardando enquanto
recebia a visita de Sra. Esperanza
com meu filho no colo e de dona
Laura. Minha mãe também veio me
ver e fiquei agradecida quando não
voltou a comentar sobre Augusto.
– A Marcha Nupcial já
começou a tocar, querida. Vamos? –
Minha mãe chamou.
Chegou o momento. Em
instantes, a minha felicidade estaria
completa.
Fomos para a frente da igreja
e percebi que as pessoas estavam
começando a se posicionar.
Primeiro entraram os pais de
Marco, seguidos da minha mãe e
minha irmã, que estava com
Lorenzo nos braços. Depois foi a
vez de Alfonso e Brisa.
Duas damas de honra
entraram, jogando pétalas por toda
a igreja. Tudo estava tão lindo que
parecia estar vivendo um sonho.
Por fim, foi a vez da pequena
Luiza. Que menina esperta! Ela
caminhou, com suas pequenas
pernas, segurando uma linda
almofada de coração onde estavam
as duas alianças.
– Oooooohhhh. – Os
convidados suspiraram.
Era possível ouvir sussurros
entre eles que estavam
emocionados e apaixonados pela
filhinha de Brisa e Alfonso. Quem
não ficaria?
Agora era a minha vez. Sr.
Ribeiro segurou o meu braço e nos
conduziu para o tapete vermelho.
Quando alcancei a entrada, todos se
levantaram para ver a noiva.
Meus olhos só buscavam
uma direção que logo foi
encontrada. O homem mais lindo
que essa terra já produziu estava no
altar esperando a minha chegada.
A minha chegada.
Eu havia encontrado o meu
príncipe encantado, o meu
cavaleiro de armadura brilhante.
Ele também não parava de
me olhar e parecia que iria sair do
altar a qualquer momento para vir
me buscar.
Comecei a caminhar com um
lindo buquê de rosas vermelhas nas
mãos. Olhei para os lados e
consegui reconhecer alguns
convidados como Clara e Benito,
Lúcia e seu mais novo namorado,
alguns colegas da empresa e alguns
parentes que não via há algum
tempo.
A cada passo que dava,
rostos conhecidos iam se formando
e os olhares e sorrisos de
felicidades demonstravam que
todos estavam torcendo por mim.
O altar estava se
aproximando e Marco já tinha dado
dois passos à frente para encurtar
ainda mais o caminho. O padre já
se prontificava para iniciar e
cerimônia e, rapidamente, repassei
os votos em minha mente.
Sr. Ribeiro estendeu a minha
mão para que Marco viesse me
buscar. Antes de me entregar, deu
um beijo em meu rosto e me
desejou boa sorte. Eu sorri para ele
e agradeci.
Meu noivo veio prontamente
e segurou a minha mão, me
conduzindo ao altar. Parou por um
segundo, apenas para sussurrar uma
declaração:
– Linda, minha rainha. Eu te
amo.
Uma lágrima solitária desceu
pelo meu rosto, depois de tanto
tempo tentando segurá-la.
– Eu também te amo.
Nos posicionamos na frente
do padre e ele deu início à
cerimônia.
– Amigos e amigas, parentes
do noivo e da noiva, estamos todos
reunidos nesse momento para
celebrar a consumação do amor
entre o Sr. Marco Javier e Srta.
Tatiana Carvalho. Podemos ilustrar
Marco com uma corda e Tatiana
como outra. Se cada corda for
puxada separadamente, a
probabilidade de quebrar é maior,
porém se estiverem juntas, as
chances de quebrar serão quase
reduzidas a zero. Assim é o amor
de vocês. A partir de agora será
apenas uma corda de duas dobras.
Sim, era assim que eu estava
me sentindo naquele momento.
Forte com uma corda de duas
dobras. Ninguém poderia atrapalhar
o nosso amor.
Olhei para o lado e minha
mãe estava chorando. Observei ao
redor e a maior parte da igreja
estava emocionada com as palavras
ditas. Eu também já não conseguia
me conter e as lágrimas rolavam
livremente.
O padre continuou a falar e
eu estava cada vez mais envolvida
com tantas frases que enalteciam o
amor. Marco apertava a minha mão
como se fosse quebrá-la de tão
nervoso e emocionado que estava.
Sabia que os medos sentidos
há pouco eram todos infundados.
Tudo estava melhor do que poderia
imaginar um dia.
O sermão estava quase
terminando e em seguida viria o
momento dos votos que faríamos
um para o outro, quando ouvi um
estrondo que vinha da porta.
– Pare esse casamento! –
Alguém gritou.
Olhei para trás e vi um
senhor desconhecido, vestido de
terno e gravata e mais quatro
policiais lhe dando suporte.
– O que está acontecendo,
Marco? – Perguntei, assustada.
– Eu não sei. – ele caminhou
em direção ao homem – Quem você
pensa que é para invadir o meu
casamento desse jeito?
– Eu sou o delegado Martins
e vim cumprir um mandado de
prisão. – os policiais se
aproximaram de mim, segurando o
meu braço. – Srta. Tatiana
Carvalho, você está presa!
– Oooooohhhh! – Os
murmúrios dessa vez foram por
outro motivo.
Eu estava buscando palavras
para perguntar alguma coisa, mas a
minha voz estava embargada pelo
bolo formado em minha garganta.
Estava me afogando em lágrimas,
sem conseguir sequer me defender.
– Soltem a minha noiva,
agora. Que porra de acusação foi
feita? Ela é a pessoa mais honesta
que já conheci nessa vida.
Lorenzo começou a chorar e
só conseguia observá-lo de longe.
Eu estava petrificada, sem reação,
sendo segurada por dois homens
como uma bandida.
Sr. Javier se aproximou de
Marco.
– Calma, filho, olha o que
vai dizer. Nervoso não resolve
nada. Se a garota está sendo presa,
provavelmente há motivos, e logo
você saberá.
Oh, Deus, se meu futuro
sogro já não confiava em mim,
agora é que ele terá todas as razões
para desconfiar.
– Eu tenho direito a saber,
porra. Do que ela está sendo
acusada?
O delegado resolveu abrir a
boca, me deixando muda de vez
com o que declarou.
– Uma denúncia foi feita e há
provas de que a Srta. Tatiana está
por trás dos desvios de dinheiro
que estavam ocorrendo na
Construtora Carlos Ribeiro.
Maiores esclarecimentos só
poderão ser dados na delegacia.
Nos desculpe, mas estamos apenas
cumprindo a lei.
A igreja se transformou na
Torre de Babel. A minha mãe
gritava que não podia confiar em
Marco, pois ele deixaria que me
levassem, o Sr. Javier a repreendia,
Lorenzo chorava, os convidados
sussurravam uns com os outros e eu
estava sendo arrastada do local
como uma ladra.
Marco tentou me defender,
mas os outros policiais o
impediram e só me restava o olhar,
implorando para que não reagisse e
acabasse preso também.
Estava me aproximando da
saída, quando um rosto conhecido
me chamou a atenção. Um não,
dois. A ex-noiva de Marco, Andréa,
estava de pé, com um sorriso cínico
nos lábios me olhando e ao seu
lado estava Augusto com o rosto
sério, olhando para o chão.
Essa foi a última imagem que
meus olhos conseguiram identificar
naquela hora. O silêncio me
alcançou e uma neblina escura
tomou o lugar de tudo que estava à
minha frente.
Capítulo 20

Andréa

– Você não precisava fazer


as coisas desse jeito. Poderia ter
denunciado antes para que ela não
passasse por esse constrangimento.
Eu tenho mesmo que pedir
paciência aos céus para aguentar
essa criatura. Odeio homens fracos.
Estou com ele enquanto não alcanço
meus objetivos, mas logo, logo me
livrarei dessa pedra em meu sapato.
– Se a denúncia fosse mais
cedo, talvez conseguissem liberá-la
antes do casamento. Aí, o seu
amorzinho seria uma mulher casada
agora.
– Droga! A gente tinha que
ter arrumado outra forma. Você não
quis ouvir a ideia de sequestrá-la
ou de chantageá-la com o bebê.
Que mente fraca! Sem minha
ajuda estaria agora chorando pela
mulher perdida.
– Todos os seus planos eram
falhos, Augusto. Eu sei o que estou
fazendo. A família de Marco irá
pressioná-lo tanto que não terá
forças para lutar contra princípios
bem-construídos. Eles não admitem
escândalos envolvendo seu nome.
Ele vai acabar abrindo mão dela e
quem poderá consolar a noivinha?
Você, claro.
– Não sei. Acho que nos
arriscamos demais.
– Chega! Eu sei o que estou
fazendo. Já cometi erros antes, mas
não irei repeti-los. Você tem mais
chances do que eu e nem por isso
estou choramingando. Reconquistar
a confiança de Marco será mais
difícil, porém, vou fazer o possível
para provar que sou uma nova
mulher.
– Você não pode julgar o que
estou sentindo agora. Imagine se
fosse o amor da sua vida que
estivesse preso e você soubesse
que é responsável por isso, como
se sentiria?
– Se tivesse alguma chance
dele voltar para mim depois,
estaria soltando fogos. Deixe de
falar besteiras e vamos comemorar.
Os nossos planos estão dando certo
e logo seremos dois casais
apaixonados.
Peguei uma garrafa de vinho
e lhe entreguei. Ele abriu e encheu
duas taças, me entregando uma.
– Sabe, Augusto, eu deixaria
aquele pirralho com você e aquela
sonsa. Não gosto de crianças e não
queria ninguém entre eu e Marco,
porém sei que ele não abandonará o
filho em hipótese alguma e, olhando
pelo lado bom, me poupa de
cobranças para ter um bebê. Você
terá que dar um jeito de procriar
com aquela lá para que não encha o
saco atrás do pequeno herdeiro.
– Eu teria quantos filhos
Tatiana quisesse. Nada me faria
mais feliz nessa vida.
– Você os terá. Não se
preocupe.
– Qual é o próximo passo
agora, Andréa?
– Primeiro, fazer com que
toda a mídia saiba sobre esse
escândalo. Eu tenho vídeos e
imagens do momento que a polícia
chegou. Enquanto isso, estou
mantendo um juiz para cassar
qualquer alvará de soltura que
emitirem para ela. Não fique triste,
você irá me agradecer no futuro.
– Eu vou confiar em você. Se
algo der errado, acabo com sua
raça.
– Hum... Adoro o seu lado
valentão. Venha me mostrar como
pode começar a acabar com a
minha raça na cama, venha.
Cão que ladra, não morde.
Eu ainda não podia ter Marco ao
meu lado, então me contentaria em
usar esse brinquedinho por
enquanto. Não era lá essas coisas
na cama, mas era muito útil para o
sucesso dos meus planos.
Tatiana não sabe com quem
mexeu quando resolveu se meter
novamente em meu caminho.
Capítulo 21

Ele

Estava na delegacia, andando


de um lado para o outro, enquanto
Alfonso conversava com o
delegado. Eu estava de cabeça
quente e ele me pediu para
intermediar, pois eu poderia falar
algo que piorasse a situação.
A minha rainha, minha doce
noiva, a mãe do meu filho estava
jogada em uma sela de prisão,
respondendo por um crime que não
cometeu. Isso era tudo culpa minha.
Se eu tivesse intensificado a
busca do criminoso, não estaríamos
nessa situação agora.
Achar esse filho da puta que
estava roubando a empresa se
tornou a minha missão de vida. Eu
começaria descobrindo quem fez a
denúncia ou não me chamo Marco
Javier.
Alfonso estava de volta, de
cara fechada.
– O delegado me mostrou as
provas. Há extratos de uma conta
bancária em nome de Tatiana,
contendo o mesmo valor que foi
desviado da empresa.
– Ele disse quem denunciou?
– Não. Apenas disse que se
tratava de denúncia anônima. Não
vamos nos concentrar em quem fez
isso, Marco. Temos que tirá-la
daqui.
– Sim, esse será o primeiro
passo. O segundo será descobrir
quem tem interesse em prejudicá-la,
pois isso vai nos levar ao
verdadeiro ladrão.
– Sr. Ribeiro já acionou sua
equipe de advogados e ela deve ser
liberada a qualquer momento. Se
tiver que responder, que seja em
liberdade.
– Eu não acredito nesse
pesadelo. Quando penso que tudo
vai entrar nos eixos, outra coisa
acontece.
– Marco, você sabe que a
mídia vai cair matando na família
Javier e na Ribeiro, não é? Pelo
bem da saúde de nossas empresas,
você terá que ficar um pouco
distante de Tatiana por um tempo.
Deixe a poeira baixar, ela
entenderá.
– Foda-se tudo. Eu não vou
ficar nem mais um minuto longe
dela. Já pensou no perigo que está
correndo? Tem um psicopata
querendo foder com as nossas vidas
e quem sabe a que ponto pode
chegar?
– Tem razão. Mudando de
assunto, você viu Andréa na
cerimônia?
– Quem?
– Achei estranho. Será que
ela queria se certificar de que não
tinha mais chances com você? Ela
estava conversando com aquele
contador da empresa e parecia
bastante animada com os
acontecimentos. Eles já se
conheciam?
Caralho, o que será que
aquela vadia queria em meu
casamento? Ela poderia ter algo a
ver com o que aconteceu?
– Não sei se eles já se
conheciam, mas saberei em breve.
Eu nunca confiei naquele cara.
Além de ser o tipo certinho demais,
que não comete erros, queria a
mesma pessoa que eu. Fiz
investigações sobre ele e não havia
qualquer atitude que o condenasse e
sempre foi da mais alta confiança
do Sr. Ribeiro.
– O encontro deles na igreja
pode ser apenas coincidência.
– Ou não. Colocarei um
detetive no pé dos dois. Algo me
diz que agora estarei no caminho
certo.

****************

– O pedido de soltura foi


negado mais uma vez. O juiz alegou
que ela representa risco à
sociedade e que deve responder na
prisão. – Carlos Ribeiro falou,
parecendo triste.
– Droga! Que merdas de
advogados são esses? Eu quero os
melhores deste país, porra! Já tem
dois dias que ela está pagando por
um crime que não cometeu.
– Eu sei disso, Marco.
Tatiana seria incapaz de tirar
qualquer centavo que não lhe
pertencesse dessa empresa. Tentei
retirar a denúncia, mas as provas
foram consideradas suficientes para
que permanecesse presa.
– Tudo bem, Carlos.
Obrigado pelo apoio.
Saí de sua sala e fui em
direção à minha. Não comentei com
ele sobre a minha desconfiança,
pois talvez não acreditasse, já que
não tenho provas. Resolvi beber um
pouco de água e fui até a copa.
Augusto estava lá.
– Marco, eu gostaria de
prestar a minha solidariedade com
o que aconteceu. Gosto muito de
Tatiana e estou disposto a ajudar no
que for possível.
Tentei ler qualquer gesto em
seu rosto que o denunciasse, mas
ele sabia esconder bem suas
reações. Resolvi fingir que
acreditava. Esse era o momento de
me aliar para depois destruir.
– Obrigado, Augusto.
Provavelmente vou precisar de sua
ajuda para entrar em arquivos
pessoais agora que sabemos quem
era a ladra que estava nos
roubando. Como ela conseguiu nos
enganar, hein?
Ele pareceu assustado.
– Você acredita mesmo que
era Tatiana quem estava fraudando
os números?
– Claro. Quem mais poderia
ser? Ela era a única acima de
qualquer suspeita e conhecia todos
os departamentos. Felizmente, a
verdade sempre prevalece.
Dessa vez, ele gaguejou,
antes de responder.
– Eu... Eu não consigo
acreditar que ela seja culpada, mas
ainda assim estarei aqui para o que
for preciso.
– Está certo. É bom saber. –
Respondi.
Peguei um copo com água e
fui para a minha sala. Sem demora,
liguei para Benito.
– Pronto.
– Benito, me consiga o
contato que usou para encontrar
Clara quando foi sequestrada, por
favor.
– Claro. Mandarei por
Whatsapp. O meu padrasto está
tentando intervir para tirar Tatiana
de lá. Quero que saiba que não
estamos de braços cruzados.
– Eu só posso agradecer.
Toda ajuda nesse momento é
importante.
Desliguei o celular e
segundos depois, ouvi um barulho,
avisando que havia chegado
mensagem. Visualizei e disquei o
número na hora.
– Lucas Spy falando.
– Como vai, sou Marco
Javier e fui indicado por Benito
Adams, produtor da banda No
Return.
– Sei, o amigo de Zeus
Melino. Você deve ser o cara que
está nos principais jornais
sensacionalistas. Precisa dos meus
serviços?
– Sim. Eu quero os seus
melhores funcionários no rastro de
duas pessoas. Pago bem e se me
trouxer as respostas que preciso,
posso te garantir que ficará muito
feliz com a gratificação.
– Nós sempre oferecemos o
melhor serviço. Fale-me sobre
essas pessoas.
Dei-lhe todos os detalhes
que eu poderia fornecer sobre os
dois. Eu tinha pesquisado o
endereço de Augusto e o informei
também. Afirmou que viria do Rio
para a Bahia e estaria iniciando a
investigação imediatamente.
Alfonso adentrou a sala,
parecendo cansado.
– Os advogados entraram
com outro pedido de habeas-
corpus. Vamos ver se conseguimos
soltá-la dessa vez.
– Eu não vou suportar saber
que minha rainha passará mais uma
noite naquele lugar imundo. Eu a
quero aqui ao meu lado.
– Nós vamos conseguir tirá-
la de lá, meu irmão. Tenha
confiança.
Assenti, sem ter outra opção
no momento a não ser esperar.
– Estou indo para a
delegacia agora. Daqui a pouco
começará o horário de visitas e não
quero perder sequer um minuto.
Preciso ver como está.
– Vá, mas tome cuidado com
a imprensa. Quase não me deixaram
entrar aqui. Ah, já ia esquecendo:
papai pediu para avisar que tinha
que voltar por causa da empresa e
mamãe ficou, pois está revezando
nos cuidados com Lorenzo.
– Tudo bem. Ele não ajudaria
muito aqui. Nunca confiou em
Tatiana.
Peguei a chave do carro e saí
em direção à delegacia. Tinha
contratado dois guarda-costas para
tomar conta da minha família e
outro para me acompanhar. Eu não
daria conta da imprensa sozinho.
Cheguei à delegacia e todos
já sabiam quem eu era, liberando a
minha passagem, após ser
revistado.
Entrei em uma sala vazia, de
paredes sujas, iluminada por duas
lâmpadas fracas, fazendo com que o
ambiente estivesse meio escuro.
Sentei em uma cadeira e
aguardei por cerca de cinco
minutos antes de Tatiana entrar no
local.
Ela parecia desidratada, com
o rosto pálido e fraca. Levantei
para ir ao seu encontro, mas tive
medo de abraçá-la forte, pois a
impressão que tinha era que
poderia quebrar.
– Minha rainha, estou
fazendo o possível para te tirar
desse lugar. Aguente firme, meu
amor.
Com olhar triste, logo
perguntou:
– Meu filho. Onde está
Lorenzo?
– Querida, eu não podia
trazê-lo aqui, mas ele está muito
bem. Nossas mães estão cuidando
dele. Está conseguindo comer
alguma coisa?
– Quase nada.
– Eu trouxe algumas frutas e
outros alimentos. Preciso que se
esforce para se manter saudável.
Promete?
– Vou tentar, Marco. Já
descobriu quem inventou tudo isso
contra mim?
– Ainda não, mas tenho
desconfianças. Acho que estamos
no caminho certo dessa vez.
– E Sr. Ribeiro? Ele está
acreditando que realmente fui eu
quem roubou o dinheiro?
– Não. Ele sabe que alguém
planejou tudo isso. Estamos juntos
nas investigações.
– Sua família deve estar me
odiando. Me perdoe, querido, não
queria manchar o seu nome.
– Pare com isso agora,
Tatiana. Você não tem culpa de nada
e vamos conseguir provar a todos a
sua inocência.
Ela me deu um abraço fraco
que mostrava a sua fragilidade.
– Obrigada por acreditar em
mim. Eu te amo tanto.
– Eu também te amo muito,
minha rainha. Tudo vai ficar bem,
eu prometo.
Capítulo 22

Ele

– Alô, é Marco Javier?


– Sim, Sr. Spy, tem notícias?
– Acho que vai gostar do que
conseguimos. Podemos nos
encontrar em algum lugar?
– Tem um café a duas
quadras do apartamento onde estou.
Poderia ir até lá?
– Sim. Chegarei em uma
hora.
– Perfeito.
Fiquei andando de um lado
para o outro na sala, tentando
imaginar o que ele teria visto. Eu
sabia que aqueles dois estavam
aprontando alguma desde o
momento que Alfonso me falou que
os viu juntos.
Andréa sempre deixava
pistas das merdas que fazia.
Quando eu tiver provas contra ela,
e eu as terei, farei com que pague
por tudo o que fez a mim e a
Tatiana. Ela não perde por esperar.
Saí do meu quarto e entrei na
sala, onde minha mãe estava
alimentando Lorenzo. Tomei a
colher da mão dela e comecei a
fazer ‘aviãozinho’ do prato até sua
boca. Ele se acabava na gargalhada
e, como era muito bom de garfo,
aceitava tudo o que lhe oferecia.
O sorriso daquela criança
era o principal combustível que me
impulsionava a prosseguir. Eu tinha
que colocar uma pedra em cima
desse vulcão em erupção que a
nossa vida se tornou.
Por mim, por Tati e,
principalmente, por ele.
Devolvi o prato à dona
Esperanza e fui me servir com uma
dose de uísque. Precisava relaxar
um pouco para o que viria em
seguida.
– Seu pai disse que a
impressa não está lhe deixando em
paz na Espanha. A notícia já vazou
por lá e há ameaças de que a
empresa perca alguns contratos
importantes.
Droga! Mais essa agora.
– Vou ver o que Alfonso
pode fazer a esse respeito. Eu vou
me concentrar em achar o
verdadeiro culpado e então
poderemos limpar a nossa imagem
diante da mídia e da sociedade.
– Faça isso, querido. Seu pai
não tem mais idade para segurar as
pontas sozinho.
– Mãe, vou precisar sair.
Não sei que horas devo voltar, mas
me ligue, se necessário. Não saia
sem os seguranças, entendeu?
– Tudo bem, filho.
Fui para o café esperar por
Lucas Spy. Para minha sorte, ele
não demorou a chegar. Sentou-se à
minha frente na mesa e colocou um
envelope pardo sobre ela.
– Então, conte-me o que
descobriu.
Ele abriu o envelope,
espalhando algumas fotos que me
deixaram boquiaberto.
– A sua sogra está se
encontrando com Augusto e, pelo
visto, pretende ajudá-lo a
conquistar sua filha. Um dos meus
homens conseguiu ouvir uma
conversa entre eles. Parece que está
enchendo a cabeça dela contra você
e a usando para tentar uma
aproximação.
– Filho da puta! E Andréa?
Conseguiu achar alguma relação
entre os dois?
– Aí é onde está a bomba.
Eles mantêm uma casa em uma área
pouco habitada da cidade.
Conseguimos segui-lo sem sermos
percebidos e chegamos até ela. Seu
carro estava parado na porta, então
aguardamos até que saíssem. Cada
um saiu em um horário e em um
carro diferente. A estratégia deles é
a mais primitiva que já vi depois de
anos de serviço. Pelo que percebi,
não são profissionais e não será
difícil pegá-los.
– Ótimo. É exatamente o que
preciso.
Conversamos por boa parte
da tarde e armamos um plano para
pegarmos aqueles dois. Eles se
achavam espertos, mas eu faria com
que morressem com sua própria
picada. A nossa ideia era tão
primitiva quanto a deles, mas
estava muito confiante que a nossa
alcançaria o alvo.

****************

Eu havia pedido para que


Lucas colocasse escuta e câmera na
casa e nas roupas lá guardadas. Eu
tinha lhe dado um prazo de vinte e
quatro horas para que conseguisse
alguma gravação.
Eu não daria mais um minuto
sequer. Era insuportável saber que
Tatiana permanecia trancada
naquele lugar.
O tempo havia findado e não
conseguimos nada que os
incriminassem.
Teríamos que passar para a
próxima ideia. O padrasto de
Benito, Sr. Paulo Redfort, estava
nos ajudando com um delegado e
mais dois policiais em serviço. Eu
tentaria marcar um encontro com
Andréa em um lugar reservado e
tirar as confissões dela.
Eu sabia que ela cairia como
um patinho, pois estava agindo
movida por seus sentimentos. Era
essa a arma que usaria.
Eu liguei para Augusto,
marcando com ele no mesmo lugar,
alegando que teríamos uma reunião
fora da empresa para acertarmos
alguns pontos restantes no contrato
que estávamos fechando.
Pedi sigilo profissional, pois
a concorrência estava de olho e ele
concordou, confirmando que
apareceria. Se eu desse sorte,
tiraria uma confissão dele também.
Peguei o meu celular e
disquei o número da vadia.
– Marco, querido, é você
mesmo quem está me ligando?
– Claro, Andréa, estou com
saudades. Você ficou sabendo do
que aconteceu no meu casamento?
– Fiquei, sim. Não posso
dizer que lamento, pois sabe o
quanto gostaria que fosse eu a estar
naquele altar com você.
– Sei disso e depois que
descobri que quase me caso com
uma ladra, repensei e considerei
melhor reavaliar os meus
relacionamentos. É melhor que eu
esteja com alguém que pertença ao
meu meio.
– Concordo plenamente,
Marco. Tenho consciência que
errei, querido, mas me arrependo
tanto. Estou disposta a ser a melhor
mãe do mundo para o seu filho, se
quiser. Basta dizer a palavra.
Fingida do caralho. Eu ainda
piso nela como se pisa em um
inseto nojento.
– Eu não tenho como sair do
Brasil agora. Teria como pegar um
avião e vir para cá?
Ela ficou em silêncio por um
tempo, antes de responder:
– Por coincidência, já estou
no Brasil. Estava negociando com
algumas marcas daqui e resolvi
estender a estadia. País lindo, não?
Entrei no jogo.
– Sem dúvidas. Lugar
perfeito para passar uma lua-de-
mel com a mulher certa.
– Quando eu poderia
encontrá-lo?
– Hoje ainda se quiser. No
final da tarde, estaria perfeito para
mim. Vou mandar uma mensagem
com o endereço, mas gostaria de
salientar que ninguém deve saber
do nosso encontro, por enquanto. A
imprensa não está me deixando em
paz.
– Claro, querido. Segredinho
só nosso.
Marquei para encontrá-la em
um restaurante que tinha espaços
reservados. Já tinha minha cota de
mídia no pé e não gostaria de
chamar a atenção de mais ninguém.
Escolhi um lugar público,
pois era a única forma de Augusto
acreditar que se tratava de fato de
uma reunião.
Paulo Redfort e o delegado
de plantão foram conversar com o
dono do restaurante e lhe explicar a
situação. A princípio ficou
preocupado, mas ambos o
tranquilizaram, fazendo com que
concordasse com a instalação de
câmeras e escuta.
Tudo já estava pronto e eu já
aguardava a chegada de Andréa.
Augusto só chegaria meia hora
depois quando eu estivesse
tentando extrair as informações
dela.
A área ficava nos fundos do
restaurante, permitindo privacidade
em relação aos demais ambientes.
Sentei, pedindo uma dose de uísque
e solicitei que trouxessem o melhor
champanhe da casa e deixasse no
balde de gelo sobre a mesa.
A intenção era que ele
encontrasse uma atmosfera de
romance fosse o mais real possível.
Como era de se esperar, ela
foi pontual. Estava linda como
sempre em seus cabelos loiros
fazendo contraste com um justo
vestido preto e saltos altíssimos.
Contudo, toda essa beleza
não enchia os meus olhos. Menos
ainda alcançava o meu coração.
Levantei para recebê-la e lhe
dei um beijo no canto da boca. Ela
passou um dedo no local do beijo
como se não acreditasse no meu
gesto.
– Querido, não sabe o quanto
estou feliz pelo convite. Eu sabia
que em algum momento iria cair na
real e perceber que eu sou a pessoa
certa para você.
– Que sorte eu tenho, hein? O
mundo conspirou a meu favor a
tempo de descobrir que me
envolvia com uma ladra.
– Verdade, amor. Eu sempre
desconfiei daquela mulher. Esse
povo de classe média é assim,
Marco, não aguenta ver dinheiro,
mesmo que não lhe pertença.
– Eu não sei onde estava com
a cabeça quando decidi me
envolver com ela. – sentei ainda
mais próximo de Andréa. – Quando
tudo aconteceu só pensei na
besteira que fiz abandonando a
mulher perfeita que estava ao meu
lado.
– Oh, bebê, como sonhei em
ouvir isso.
Puxei seu rosto em minha
mão e tomei os seus lábios em um
beijo molhado, provocante e
amargo. Muito amargo.
O meu desejo era de vomitar
naquele mesmo lugar, de
preferência em cima dela, porém
tinha que permanecer firme em
meus planos. Tatiana dependia
disso.
Prolonguei o beijo, tentando
parecer excitado e ela retribuía
como se sua vida dependesse disso.
Soltei seus lábios, deixando-
os manchados de batom e inchados.
Limpei os meus com a língua e ela
acompanhou todo o movimento com
os olhos, respirando fundo,
demonstrando que estava excitada.
– Linda! Você é tão linda,
Andréa.
– Não mais que você, amor.
Vamos embora desse país, Marco,
não há mais o que fazer aqui. Leve
seu filho e peça a guarda dele. A
mãe está presa mesmo e ele só tem
a nós para cuidar.
– É tudo o que eu quero,
querida, mas sabemos que Tatiana
não é a única responsável pelos
desvios. Ela não faria isso sozinha.
Assim que eu achar seu cúmplice,
voltarei no primeiro voo para a
Espanha, e assim, poderemos
começar a nossa família.
Ela arregalou os olhos e
permaneceu me olhando por mais
de um minuto. Respeitei seu tempo,
sabendo que morderia a isca.
– Mar-Marco, se você
conseguir as respostas que precisa,
promete que volta para a Espanha
assim que puder? – Perguntou,
nervosa.
Bingo!
– Claro. O que mais eu faria
nesse país que só me trouxe
problemas?
Ela pensou um pouco mais e
resolveu abrir a boca.
– Querido, você sabe o
quanto o amo, não é? Em nome
desse amor, fiz algumas
investigações quando voltou ao
Brasil, pois queria que resolvesse
logo e retornasse. Com os
acontecimentos, fiquei chateada e
resolvi manter as informações.
Mentirosa do caralho. Vamos
ver até que ponto ela chega para
sustentar suas mentiras.
– Você tem informações que
possam nos ajudar, amor?
– Sim. Eu sei quem era o
aliado da secretária nos desvios de
dinheiro.
Filha da puta! É claro que
não iria isentar Tatiana do crime.
– Me dê logo os nomes. Eu
preciso saber e acabar com esse
inferno que me prende aqui.
– O chefe de contabilidade
da empresa. Seu nome é Augusto
Haggi. Foi ele quem desviou tanto
dinheiro e estava depositando na
conta de Tatiana. Acho que
planejavam fugir.
Ela me contou a história com
tanta tranquilidade que quem não a
conhecesse acreditaria em cada
palavra. Fingi surpresa em tudo o
que falava, até que uma voz
masculina a interrompeu,
quebrando a sequência de mentiras
que saia de sua boca.
‘Timing’ perfeito!
– Não, sua vadia! O que está
fazendo? – Augusto olhou para
mim. – Então era tudo um plano?
Não havia qualquer reunião? Vou
embora daqui.
Ele estava se virando para
deixar o lugar quando ouviu a
próxima fala dela, fazendo com que
reagisse.
– Pode contar a verdade para
ele, Augusto. Não se preocupe que
Marco não quer mais nada com
Tatiana. Vocês podem ficar juntos
se ela conseguir sair daquela
prisão. Diga-lhe como a ajudou nos
desvios de dinheiro.
– Você é louca, sua puta?
Sabe tão bem quanto eu que Tatiana
não tem nada a ver com essa
história. Apenas me aproveitei de
uma procuração assinada por ela na
empresa, que me deu a chance de
passar o dinheiro para a sua conta e
depois retirar. A única cúmplice
que tive foi você.
– Oh, meu Deus, eu nem te
conheço. Não acredite nele, Marco.
Tudo o que sei a seu respeito é o
que investiguei.
– Você mexeu com fogo,
Andréa, eu não vou me foder
sozinho. Se a casa cair, você cai
junto com ela.
– Como pode inventar tantas
mentiras sem provas? Quer
inocentar aquela ladra às minhas
custas? Vocês dois se merecem. –
Ela se mantinha fingindo.
Hora das máscaras caírem.
Peguei o envelope pardo de
minha pasta e o sacudi sobre a
mesa, espalhando diversas fotos
dos dois juntos na casa escondida,
em restaurantes e outras mais
íntimas que mostravam beijos e
carícias entre eles.
– O que? O que é isso,
Marco? Como conseguiu essas
montagens? Por que está fazendo
isso com a gente, amor?
Ela veio ao meu encontro em
busca de um abraço, se derramando
em lágrimas. Eu a empurrei para
longe de mim, fazendo com que
ficasse congelada, com olhos
assustados e lacrimosos, e com a
mão sobre sua boca aberta.
Antes que eu lhe desse uma
resposta, fui interrompido por
Augusto.
– Chega de fingimento, sua
putinha. Você fodeu tudo com o seu
egoísmo. O plano era que você
reconquistasse esse idiota aos
poucos e eu tomasse o seu lugar na
vida da minha Tati. Se fosse menos
burra, chegaríamos ao alvo. Até a
minha futura sogra já tinha
convencido a me ajudar.
– Então você admite que é o
responsável pelos desvios de
dinheiro da Construtora Carlos
Ribeiro, não é? Além de Andréa,
alguém mais te ajudou? – Joguei o
verde.
– Sim, imbecil, levei tudo o
que merecia e um pouco mais por
anos de dedicação àquela empresa.
Eu não precisava da ajuda de mais
ninguém lá dentro, pois sempre fui
autossuficiente. Meu único erro foi
ter me juntado com essa vadia,
pensando que tínhamos o mesmo
objetivo. Não adianta correr para
os pés de Sr. Ribeiro e fazer fofoca.
Você nunca vai conseguir provar e
ele nunca vai acreditar sem provas.
Sempre fui da sua mais alta
confiança.
– Tem razão. Provavelmente
ele nunca acreditaria sem provas,
mas ele terá todas que precisa.
Paulo Redfort e os policiais
que estavam escondidos entraram
na área reservada, algemando os
dois desgraçados. O delegado os
acompanhou, dando voz de prisão.
– Sr. Augusto Haggi, você
está preso em flagrante delito, pelo
crime de gestão fraudulenta,
apropriação e desvio de valores, e
Srta. Andréa Gomez está presa pela
cumplicidade na prática dos crimes
outrora citados. Serão conduzidos a
uma delegacia, tendo o direito de
ficar calados, pois tudo o que for
dito poderá ser usado contra vocês
no tribunal e têm direito a um
advogado que, caso não consigam
pagar, será disponibilizado pelo
Estado. Nos acompanhem, por
favor.
Andréa esperneou, gritou e
se debateu, mas nada do que fazia
podia impedir os policiais de levá-
la.
– Sabem quem sou eu? Tenho
dinheiro. Posso acabar com a raça
de todos aqui. – Ela gritava.
– Você será autuada também
por desacato à autoridade e crime
de ameaça. Só está se complicando.
É melhor permanecer calada,
mocinha. – A informou um dos
policiais.
Augusto baixou a cabeça e se
deixou se levado sem protestar.
Não disse uma palavra sequer nem
fez qualquer movimento que
tentasse impedir a ação policial.
Os acompanhei até a viatura
da polícia, registrando toda a cena
em minha mente, a fim de me
convencer que finalmente teria um
pouco de paz.
Cerca de dois fotógrafos
estavam esperando a minha saída e,
pelo visto, conseguiram um furo de
reportagem. Dispararam inúmeras
fotos do momento que os dois
presos entraram na viatura.
Andréa logo estaria na
mídia.
Agora tinha que juntar as
provas para soltar Tatiana daquele
inferno o mais rápido possível.
Apertei a mão do delegado e
do padrasto de Benito.
– Obrigado pela ajuda. São
pessoas como vocês que ainda nos
fazem acreditar que a justiça existe
e funciona. Obrigado por terem
confiado em mim e em meus planos.
Tenho uma dívida pessoal com cada
um de vocês.
– Não precisa agradecer,
Marco. Estamos aqui para isso.
Você nos mostrou as fotos deles
juntos e apenas ligamos os pontos.
Percebemos que sua história tinha
um fundo de verdade e que essa
poderia ser a chance de
descobrirmos. A polícia também
tinha interesse no caso.
– Mais uma vez, obrigado.
Preciso ir. Tenho que levar as
provas para os advogados. Quero
que minha rainha seja logo liberada
e possa dormir ao lado de sua
família ainda esta noite.
– Claro, se apresse.
Foi o que fiz. Dei longos
passos em busca da minha
felicidade definitiva. Agora não
havia dúvidas de que a encontraria.
Capítulo 23

Ela

A janta fornecida pelo


sistema penitenciário tinha acabado
de chegar e eu estava tentando
beliscar alguma coisa. Lembrei do
pedido que Marco fez para que me
alimentasse e tivesse forças que
logo me tiraria dali.
Eu sabia que não estava de
braços cruzados esperando que um
milagre acontecesse. Ele deveria
estar fazendo todo o possível para
me ver fora desse lugar.
Engoli apenas três colheres
do alimento e o pus de lado, sem
conseguir colocar nem mais um
grão para dentro.
Não aguentava mais aquela
comida, não aguentava mais ficar
naquele lugar e, sobretudo, não
aguentava mais ficar longe do meu
filho.
Estava sozinha na cela, pois
tinha curso superior e tive a ajuda
do padrasto de Benito para que não
precisasse compartilhar com outras
detentas e, assim, me manter em
segurança.
Sentei no chão e me encostei
nas grades, sem ter nada para fazer,
a não ser esperar.
Um burburinho começou a se
formar no início do corredor e não
tive qualquer curiosidade para ver
quem era. Pelo menos uma vez ao
dia, chegava uma nova presidiária e
com menos frequência, saía outra.
As outras celas estavam
cheias e eu evitava sair da minha,
pois poderia haver protestos.
O barulho começou a
aumentar, mas só voltei minha
atenção para o que estava
acontecendo porque as outras
presidiárias começaram a gritar
também.
– Chegou mais uma boneca
para a gente brincar. – Dizia uma.
– Tire o olho que essa aí será
minha. – Dizia outra.
Tentei identificar o motivo
de tanta gritaria quando a chegada
de novatas era tão comum.
Pressionei meu rosto entre as
grades para buscar uma visão
melhor, qual não foi a minha
surpresa.
A garota que estava sendo
escoltada para dentro da prisão era
ninguém menos que Andréa.
– Eu vou mandar tocar fogo
nesse presídio. Vocês não me
conhecem. Todos vão pagar por
cada fio de cabelo meu que for
tocado. – Ela gritava.
Não era possível que ela
estivesse envolvida nos crimes da
empresa. Será que sua prisão era
por outro motivo?
Eu queria muito acreditar
que fosse o primeiro, pois seria um
sinal de que descobriram a minha
inocência.
O barulho ia se
intensificando a cada passo que
davam. Quando chegou à frente da
minha cela, os policias a pararam.
Apesar do escândalo, ela conseguiu
um segundo de lucidez para me
reconhecer.
– Ah, sua putinha, então é
aqui que está morando agora, não
é? Sabe que você combina muito
atrás dessas grades?
– Por que você foi presa,
Andréa? Foi acusada de que crime?
– Eu tenho cara de
criminosa? Sou inocente e querem
me acusar de uma merda que foi
você quem cometeu, sua ladra. O
meu único erro foi amar Marco
demais, sentimento que você nunca
terá igual.
Então era isso. Ela estava
envolvida com alguém da empresa
nos desvios com o intuito de me
prejudicar.
– Alguém mais foi preso? –
Ousei perguntar.
– Ah, agora virou minha
amiga de infância? Quer conversar
como pessoas civilizadas? Me
conheceria se eu tivesse a
oportunidade de estar frente a frente
com você. Eu a destruiria.
Resolvi lhe dar as costas e
acabar com aquela conversa
quando finalmente me respondeu.
– O contador idiota também
caiu na grade, querida. Era isso o
que gostaria de saber? Assim como
eu, foi movido por amor. Tudo o
que queria era sumir com você no
mundo e viver um conto de fadas.
Patético! Como pode observar,
você também tem sua parcela de
culpa.
Então era Augusto quem
estava desviando o dinheiro da
empresa. Meu Deus, jamais
desconfiei dele. Parecia tão honesto
e sincero. Eu e Sr. Ribeiro sempre
estivemos errados em nosso senso
de julgamento.
Eu lhe dei acesso à minha
casa. Apresentei à minha mãe e meu
filho, colocando toda a minha
família em risco. Eu devia ter
confiado um pouco mais no sexto
sentido de Lana. Ela nunca confiou
nele.
Outro policial, acompanhado
de um homem trajando terno, se
aproximou dos que estavam
conduzindo Andréa.
– Vocês podem abrir as
grades dessa cela. Ela vai ficar
aqui por um tempo, até que a
acusação seja formalizada.
Oh, meu Deus, eles a
deixariam na mesma cela que eu?
Se ficarmos juntas no mesmo
espaço, é bem provável que apenas
uma saia viva daqui.
Ela me deu um sorriso
malicioso, fazendo ameaças
silenciosas.
– Vocês não podem me
deixar na mesma cela que essa
maluca. Estou presa por acusação
do crime que ela ajudou a cometer.
Por favor, me transfira para
qualquer outro lugar, mas não me
deixe aqui com ela.
– A senhora não ficará aqui
ou em qualquer outra cela. Está
livre. A acusação foi retirada e não
há mais processo algum em seu
nome. Pedimos desculpas em nome
do Estado e logo faremos um
pronunciamento público,
inocentando-a de qualquer culpa.
Pode sair, seu noivo a aguarda lá na
frente.
Está livre. Foi a única frase
que consegui escutar de todo o
discurso pronunciado. Liberdade.
Não havia qualquer palavra que eu
gostaria mais de escutar.
Eu estava livre.
Livre de tantas injustiças.
Livre de tantos sofrimentos.
Livre para ter uma família.
Livre para amar.
Eu saí correndo da cela sem
pegar qualquer pertence meu.
Andréa começou a fazer escândalo
novamente, mas os meus ouvidos e
minha mente não registraram uma
palavra sequer.
Minhas pernas tinham pressa
para sair da escuridão. Elas tinham
pressa para encontrar a luz. A
minha luz estava do outro lado
daquela porta.
Marco.
Lorenzo.
Minha família.
Alcancei a porta e a
escancarei. Fui recebida pelos
braços fortes de onde jamais queria
sair. Enfim, tinha a minha vida e
volta. Enfim, estava de volta ao
lugar onde pertencia.
Epílogo

Ele

Havíamos comprado um
apart no mesmo complexo de
condomínios que Alfonso mantinha
o seu. Embora estivéssemos
morando na Espanha, fazíamos
visitas constantes ao Brasil.
Tatiana era muito apegada à
família e era uma das marcas que
mais amava em seu caráter.
Eu e minha esposa estávamos
em nossa cama, assistindo aos
noticiários e Lorenzo estava entre
nós, brincando com um cachorrinho
de pelúcia e imitando o seu latido.
Estava em uma fase linda,
com um ano de idade, e nos
divertíamos muito com ele. Eu fazia
de tudo para aproveitar o máximo
possível de sua infância. Meu
pequeno me fez perceber que nasci
para ser pai.
Estar com a minha família
era o que mais amava no mundo.
Enquanto conversávamos,
percebi que o jornal foi
interrompido para o anúncio de
uma notícia de última hora. Deixei
de brincar com o meu filho e me
concentrei no que iria passar na TV.
‘Interrompemos a nossa
programação para anunciar a
morte de Augusto Haggi. Ele foi
acusado e condenado por ter
desviado milhões da Construtora
Carlos Ribeiro, enviando o
dinheiro para uma conta
particular no exterior. A sua morte
foi devido à sua participação
como tesoureiro do crime
organizado no sistema prisional.
Descobriu-se que ele estava
desviando valores da facção e
acabou pagando com a pior das
penas. Todos sabem que essas
organizações não perdoam erros e
como se pode ver: o crime não
compensa.’
Tatiana estava de boca aberta
e olhos arregalados. Eu também não
conseguia acreditar que ele
chegaria a esse ponto.
Essa informação provava
que nunca agiu movido por
qualquer sentimento que afirmava
sentir. Augusto era um mau-caráter
em sua essência.
Abracei Tatiana, tentando
confortá-la. Sabia que lamentava a
perda da amizade que pensava ter e
que essa notícia trazia à tona dias
de sofrimentos que gostaríamos de
esquecer definitivamente.
Era impossível falar de
Augusto e não lembrar de sua
cúmplice.
Andréa havia sido
transferida para a Espanha apenas
um mês após a sua prisão no Brasil.
O serviço de amparo ao turista
entrou em contato com a
embaixada, que solicitou sua
remoção. Menos uma nas celas
superlotadas.
Ouvi boatos de que sofreu
tentativas de estupro por parte de
outras mulheres na prisão. Não sei
se o ato foi consumado.
Alfonso me contou que a sua
família não lhe deu qualquer apoio.
Pelo contrário, a renegou
publicamente. A extradição dela
permaneceu na mídia por um bom
tempo e sua família não queria ter a
imagem manchada.
Seus pais a repudiavam a
cada vez que eram pressionados
pelos repórteres. Seus irmãos
sequer respondiam qualquer
pergunta feita e suas lojas deixaram
de ter clientes.
Uma a uma foram fechando.
Ela continuava presa e
alguém comentou, outro dia, que
estava trabalhando como costureira
na cadeia para juntar algum
dinheiro quando saísse e diminuir
sua pena.
Foi condenada a dois anos
em regime fechado e teria que
enfrentar a vida real, que tanto
odiava, quando saísse de lá.
Já não era mais uma mulher
rica e, através de uma foto na
internet que Tati me mostrou, vi que
perdeu também sua beleza. Era uma
mulher sofrida e acabada.
Enquanto a vida estava lhes
fazendo pagar por seus erros,
estava sendo muito generosa
conosco. Na verdade, estava nos
recompensando depois de tanto
sofrimento.
Assim que Tatiana saiu da
prisão, marcamos a nossa data de
casamento. Antes da cerimônia, a
minha sogra pediu um minuto da
minha atenção.
– Marco, eu vim te pedir
perdão. Sei que o julguei mal e não
te tratei como merecia. Eu sinto
muito, mas quero que saiba que
sempre agi pensando que estava
fazendo o melhor por minha filha.
Nunca imaginei que estaria tão
enganada. Espero que um dia me
perdoe.
Eu lhe dei um abraço
sincero, a surpreendendo tanto, que
demorou um pouco a retribuir.
– Dona Marlene, hoje é dia
de zerar as mágoas e tristezas que
tivemos no passado. Hoje é dia de
renovação. Eu amo a sua filha e a
senhora será parte da minha
família. É claro que a perdoo.
Ela virou seu rosto para o
lado, limpando uma lágrima que
caiu de um dos seus olhos.
– Vá para o altar, querido.
Faça da minha família a mulher
mais feliz desse mundo. Ela
também te ama muito.
Fiz como me pediu, dessa
vez com o coração mais leve por
saber que tinha o apoio
incondicional das duas famílias ali
representadas, além da família
Ribeiro.
Meu pai havia implorado o
meu perdão e o de Tatiana com
tanta intensidade, que tive medo
que passasse mal. Poucas vezes o
vi chorar antes, mas naquele dia,
ele não poupou lágrimas.
Dessa vez, a cerimônia foi
mais simples em uma pequena
capela, mas não menos
significativa. Quanto à recepção,
não abri mão da festa em grande
estilo.
Conseguimos contratar a
banda No Return, que fez da nossa
celebração, a mais inesquecível de
todas.
Se eu não soubesse que tinha
uma esposa tão apaixonada, ficaria
com ciúmes de Zeus Melino. O cara
manda muito bem no vocal, além de
ter boa aparência.
Não sei se é muito bom com
as mulheres, já que parecia ter
problemas com uma delas. A garota
nos foi apresentada como Jéssica e
Tatiana disse que já a conhecia,
embora não tinha intimidade.
Em um dos momentos que
circulamos entre os convidados,
não pude deixar de ouvir uma
discussão entre os dois.
– Está pensando o quê? Que
vou ficar correndo atrás de você?
Está muito enganado. Pode ser um
astro pop, pode ser o presidente
dos Estados Unidos ou até o Papa.
Eu não vou abanar o meu rabo em
sua direção a cada vez que estalar
os dedos. – Ela praticamente estava
cuspindo cada palavra.
– Você está entendendo tudo
errado, Jéssica. Eu preciso que dê
um tempo de toda essa merda que
está pensando e me ouça.
– Por que está tentando me
explicar qualquer coisa, Zeus? Não
temos nada um com o outro, temos
vidas diferentes, moramos em
cidades opostas e nunca houve
promessas. Não estou entendendo
aonde quer chegar.
– Merda, garota. Estou vendo
que não vai facilitar as coisas para
mim. – ele tomou o rosto dela em
suas duas mãos e mirou em seus
olhos – Eu quero você, porra. Será
que consegue entender? Vou
soletrar: Eu – quero - você.
Me afastei de onde estavam
porque já tinha ouvido o suficiente.
Mais um que estava rendido à
sedução de uma mulher. Logo seria
capturado pelo amor e aí não teria
mais volta.
Em outro canto, avistei Lana
conversando com um dos
componentes da banda. O papo
parecia bastante animado e o clima
estava favorável para encontros.
Torcia para que minha
cunhada encontrasse alguém legal.
Ela merecia.
Tatiana disse que iria ao
banheiro e eu fiquei conversando
com Benito Adams. Sua esposa,
Clara, estava com a barriga enorme
e teria bebê a qualquer momento.
Continuei conversando e
percebi que minha esposa
demorava. Olhei para os lados para
ver se a encontrava e nem sinal
dela.
Havia uma música ambiente
tocando no intervalo que a banda
deu e alguns casais dançavam
juntinhos, enquanto eles não
retornavam ao palco.
Repentinamente, ouvi um
estouro como se fosse uma bomba.
O céu ficou todo iluminado por
fogos de artifício sendo lançados
um a um.
Cada pipoco materializava
um formato. Alguns em forma de
coração, outros de flores e mais
outros que lembravam estrelas.
Procurei novamente para ver
se encontrava Tatiana. Queria que
estivesse ao meu lado vendo tanta
beleza.
– Boa noite aos convidados,
obrigada por terem vindo. Eu
gostaria da atenção de todos.
O que a minha esposa estava
fazendo naquele palco? Esses fogos
e seu sumiço eram sinais de que
estava aprontando alguma. Ela
continuou:
– Faz um pouco mais de dois
anos que olhei nos olhos do homem
que reconheci imediatamente como
o meu grande amor. Quando o vi, no
Carnaval, tive a certeza de que se
me olhasse duas vezes, eu estaria
perdida, pois era um rosto que
jamais sairia da minha mente. E ele
olhou.
Todos sorriram.
– Nesses dois anos, vivemos
momentos muito intensos onde o
amor sempre tentava falar mais
alto, porém sempre foi silenciado
por problemas, dificuldades e
outras pedras que estiveram em
nosso caminho. O que sentíamos um
pelo outro sempre foi tão forte que
sabíamos não haver opções. Não
seríamos completos um sem o
outro. Não havia escolhas.
Comecei a andar em direção
ao palco para me posicionar ao seu
lado. Ela viu a minha aproximação
e estendeu sua mão, alcançando a
minha.
Olhando em meus olhos,
prosseguiu:
– Você é um grande presente
e só me resta te agradecer. Quero te
agradecer, meu marido, por me
sentir única sempre que estávamos
juntos, por ter lutado por nosso
amor, por me dar esse filho lindo e
por estar realizando o meu sonho de
ter uma família com você. Eu te
amo, Marco, e para sempre, sempre
vou te amar.
Muitos balões em forma de
coração foram soltos, passando por
nós e pelos convidados indo em
direção aos céus. De mãos dadas,
olhamos para cima, admirando toda
aquela beleza e nossos olhos
voltaram a se encontrar em seguida.
Permaneci a fitando,
agradecendo internamente por
aquela mulher ser minha, apenas
minha.
– Eu também te amo, minha
rainha. Amo ser o pai do seu filho e
amo a nova família que estamos
formando. Sempre foi você,
ninguém mais. Prometo que sempre
e infinitamente será apenas você.
Trocamos o beijo mais
intenso de nossas vidas, sem nos
importar com quem estava olhando.
Todos aplaudiam, fazendo uma
trilha sonora para a declaração de
amor maior que fazíamos naquele
momento.
Fomos destinados ao amor e,
mais do que nunca, sabia que
jamais iria fugir do meu destino.
Meu coração pertencia apenas à
minha rainha.

FIM
Próximo lançamento:
“Destinada a seduzir: a rendição”.
Livro 4 da Série Destinados que
apresentará uma história cheia de
conflitos, desejo e amor entre o
astro do Rock Pop Zeus e a intensa
Jéssica. Mais novidades em:
facebook/autoralucyberhends
lucyberhends.blogspot.com.br

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