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FÍSICA

Quando necessário, use os seguintes valores para as


constantes:
Aceleração local da gravidade g = 10 m/s2;
velocidade da luz no vácuo c = 3,0× 108 m/s;
Velocidade do som vsom = 340m/s;
carga elementar e = 1,6 × 10–19C;
Constante de Planck h vezes a velocidade da luz c,
hc = 1240 eV.nm;
Massa do elétron me = 9,11 x 10–31 kg.
Aproximações numéricas: (1 + )n ⬇ 1 + n, para ||  1;
兹苶
3 ⬇ 1,7.

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1
Um bloco cúbico de aresta l = 4,5 cm desliza, sob o efeito
da gravidade, sobre um plano inclinado de ângulo  = 60°
relativamente à horizontal. O deslizamento acontece com
as normais de duas de suas faces sempre paralelas à
direção do movimento. Para estudar o movimento, um
observador usa uma máquina fotográfica que captura em
uma mesma imagem a posição do bloco em instantes
diferentes. Para isso, a câmera é programada para abrir e
fechar o diafragma periodicamente, a cada intervalo de
tempo t = 0,2 s. O tempo de exposição t, isto é, o tempo
em que o diafragma permanece aberto, é tal que t  t.
O disparo da câmera é sincronizado com o movimento, de
modo que a primeira exposição acontece no instante em
que o bloco é solto. A foto registra quatro pontos, que
correspondem à posição do objeto em diferentes
instantes. O experimentador extrai da foto a distância
entre pontos adjacentes, xn = xn – xn – 1, com n = 1, 2 e
3.
Considere que a foto capta o perfil lateral do plano incli-
nado sem distorções ópticas ou efeitos de paralaxe. Em
seguida, faça o que se pede:
a) se x3 = 0,75 m. determine os valores de x2, x1 e o
deslocamento total do bloco;
b) estime o valor do coeficiente de atrito cinético entre a
superfície do bloco e do plano inclinado;
c) considere agora que t ainda é pequeno, mas seu efeito
já não é mais desprezível. Determine o valor de t para
que, na quarta captura, a imagem seja um retângulo de
dimensões l por 2l.
Resolução
a) 1) A posição xn é dada por:

x = x0 + V0 t + ––– t2
2

xn = ––– (n . 0,2)2
2


x3 = x3 – x2 = ––– [(0,6)2 – (0,4)2]
2

Como x3 = 0,75m temos:


0,75 = ––– (0,36 – 0,16)
2

1,5 =  0,20 ⇒  = 7,5m/s


2

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7,5
2) x1 = ––– (0,2)2 (m) = 0,15m
2

7,5
x2 = ––– (0,4)2 (m) = 0,60m
2

7,5
x3 = ––– (0,6)2 (m) = 1,35m
2

Portanto: x2 = x2 – x1 = 0,45m


x1 = x1 – x0 = 0,15m
O deslocamento total: x = x3 = 1,35m

b)

PFD: Pt – Fat = m a

m g sen  –  m g cos  = ma

a = g (sen  –  cos )

冢 冣
1,7 1
7,5 = 10 –––– –  –––
2 2
0,75 = 0,85 – 0,5

0,5 = 0,10

 = 0,20

c) Na 4.a captura temos:

x4 – x3 = 0,045m

x4 – 1,35 = 0,045

x4 = 1,395m

Porém x4 = ––– (0,60 + t)2
2

7,5
1,395 = –––– (0,60 + t)2
2
(0,60 + t)2 = 0,372

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2
t
冤 冢
0,60 1 + –––––
0,60 冣冥 = 0,372

2
t t

Porém 1 + –––––
0,60 冥 = 1 + 2 –––––
0,60

2t

0,36 1 + ––––– = 0,372
0,60 冣
0,36 + 1,2 t = 0,372

1,2 t = 0,012

t = 0,01

Respsotas: a) x1 = 0,15m; x2 = 0,45m; x = 1,35m


b) C = 0,20
c) t ⬵ 0,01

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Considere uma partícula P1, de massa m1, inicialmente
em repouso. Em seguida, essa partícula é acelerada por

uma força constante F1, durante um intervalo de tempo
t1. Após este intervalo de tempo, P1 move-se livremente
sem atrito por um plano, até colidir com uma partícula
P2, de massa m2 = 2m1. Após a colisão, P2 sai em uma
trajetória que faz um ângulo de  = π/6 rad com relação
à trajetória inicial (pré-colisão) de P1. Após um breve

deslocamento, uma força constante F2, com direção
contrária à da velocidade da partícula P2, atua durante um
intervalo de tempo t2 = 兹苶 3t1 até a parada total de P2.

1 2
®
F1
1 2

1
q
2

q
2
®
F2

Sabendo que a colisão entre P1 e P2 é inelástica e resulta


em uma perda de 25% da energia mecânica do sistema,
determine a magnitude da força F1 em termos da magni-
tude de F2.
Resolução
1) Teorema do impulso aplicado à partícula 1 antes
da colisão:

F1 t1 = m1 V1 (1)

2) Teorema do impulso aplicado à partícula 2 após a


colisão:

F2 t2 = m2 V2 (2)

(1) F1 t1 m1 V 1
––– : –––––– = ––––––
(2) F t m2 V 2
2 2

t1 1 m1 1
––––– = –––– e –––– = –––
t2 兹苵苵
3 m2 2

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F1 1 1 V1
––––– . –––– = ––– . ––––
F2 兹苵苵
3 2 V2

F1 兹苵苵
3 V1
––––– = –––– . –––– (I)
F2 2 V2

3) De acordo com o texto:

Efinal = 0,75 Einicial

m1 V32 m2 V22 3 m1 V21


––––––– + ––––––– = ––– –––––––
2 2 4 2

3
m1 V32 + 2m1 V22 = ––– m1 V21
4

2 2 3 2
V3 + 2V2 = ––– V1 (II)
4

4)

Conservação da quantidade de movimento na


direção x

m1 V3 cos  + 2 m1 V2 cos  = m1 V1

V3 cos  + 2 V2 cos  = V1

V1 – 2 V2 cos 
cos  = –––––––––––––– (III)
V3

5) Conservação da quantidade de movimento na


direção y

m1 V3 sen  = 2 m1 V2 sen 

V3 sen  = 2 V2 sen 

2 V2 sen 
sen  = –––––––––– (IV)
V3

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6) sen2  + cos2  = 1
2
4 V2 sen2  V21 + 4 V22 cos2  – 4V1V2 cos 
–––––––––– + ––––––––––––––––––––––––– = 1
2
V23 V3
2 2 2 2
4V2 sen2  + V1 + 4V2 cos2  – 4V1 V2 cos  = V3

2 2 2
V3 = 4 V2 + V1 – 4 V1 V2 cos  (V)

(V) em (II):

2 2 2 3 2
4 V2 + V1 – 4 V1 V2 cos  + 2 V2 = ––– V1
4
2
2 V1
6V2 + ––– = 4V1V2 cos 
4

2
V1 1 V1
2
÷ V2 : 6 + –––– . ––– = 4 ––– cos 
2 4 V2
V2

V1
Fazendo ––– = x vem
V2

x2
6+ ––– = 4x cos 
4

x2 兹苵苵
3
––– – 4x ––– + 6 = 0
4 4

x2 – 8x兹苵苵
3 + 24 = 0

8兹苵苵
3 ± 192 – 96 3 ± 兹苵苵苵苵
8兹苵苵 96
x = –––––––––––––––– = ––––––––––
2 2

8兹苵苵
3 + 9,8
x1 = –––––––––– = 11,82
2
8兹苵苵
3 – 9,8
x2 = –––––––––– = 2,02
2

V1
––– = 11,82 (VI)
V2

V1
––– = 2,02 (VII)
V2

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7) VI em I:

F1 1,73
––– = –––– . 11,82
F2 2

F1
––– ⬇ 10,2
F2

F1 1,73
––– = –––– . 2,02
F2 2

F1
––– ⬇ 1,75
F2

Resposta: F1 ⬵ 10,2 F2 ou F1 ⬵ 1,75 F2

Observação: Pode-se demonstrar, com cálculos com-


plicados relativos ao coeficiente de
restituição que fogem ao escopo desta
prova, que a solução F1 ⬵ 10,2 F2 deve
ser rejeitada.

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Considere um recipiente que contém uma coluna de água
de altura H. Um pequeno furo é feito na parede a uma
altura h, de tal forma que um filete de água é expelido
horizontalmente, como na figura. Considere a água um
fluido incompressível e de viscosidade desprezível. A
aceleração local da gravidade vale g.

®
g

H h
y

Determine:
a) a trajetória y(x) do filete de água descrito;
b) o lugar geométrico dos pontos P(x, y) que podem ser
atingidos por um filete de água, considerando que a
altura h possa ser escolhida entre 0 e H.
Resolução
a)

1) Aplicando-se a Equação de Bernoulli entre os


pontos A e B, vem:
2 2
μVB μVA
PB + μg HB + –––––– = PA + μg HA + ––––––
2 2

Tomando-se: HB = 0 e HA = (H – h)
PA = PB = Patm
VA = 0
2
μVB
Temos: Patm + –––– = Patm + μg (H – h)
2
2
μVB
––––– = μ g (H – h)
2

V= 2g (H – h)

2) A equação da trajetória y(x) do filete de água é


dada por:

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γy 2
Eixo y: y = y0 + V0y t + ––– t
2
g
y = h – ––– t2 (I)
2
Eixo x: x = x0 + V t
x
t = ––– (II)
V

Substituindo-se II em I, vem:
g x 2
y = h – ––– ––
2 V冢 冣
Mas, V = 2g (H – h) , então:
g x2
y = h – ––– –––––––––––––– 2
2 冢 2g (H – h) 冣

x2
y = h – ––––––––
4 (H – h)

b) Da equação da trajetória, temos:


x2
y = h – ––––––––
4 (H – h)

x2
–––––––– = h – y
4 (H – h)

x2 = 4 (H – h) (h – y)
x2 = 4 Hh – 4h2 – 4Hy + 4hy

4h2 – 4 (H + y) h + 4Hy + x2 = 0

Como, de acordo com o enunciado, a altura h deve


variar entre 0 e H, temos:
Δ≥0
b2 – 4ac ≥ 0
16 (H + y)2 – 4 . 4 . (4Hy + x2) ≥ 0
Assim:
(H – y)2 ≥ x2
H–y≥x

y≤H–x ⇒ y+x≤H

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Concluímos, portanto, que o lugar geométrico dos


pontos P (x, y) corresponde à região destacada na
figura que está limitada pela reta y = H – x e os
eixos Ox e Oy com x ≤ H e y ≤ H.

x2
Respostas: a) y = h – ––––––––
4 (H – h)
b) Ver figura

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Considere uma nave espacial esférica, de raio R, com
paredes de espessura h  R. No espaço profundo, existe
uma radiação cósmica de fundo de temperatura T0 (apro-
ximadamente 2,7 K). Seja a temperatura da parede interna
da nave Ti, e a temperatura da parede externa Te, com
Ti > Te > T0. A condutividade térmica do material que
compõe a parede da nave é k; o seu calor específico é c e
sua densidade de massa é . A emissividade da nave é
unitária e a constante de Stefan-Boltzmann é dada por
.
Quando ocorrem pequenas variações de temperatura na
parede interna da nave, a condição de fluxo estacionário
de calor é perturbada e o sistema tende a uma nova situa-
ção de fluxo estacionário de energia. A constante de
tempo característica τ desse processo pode ser estimada
apenas em termos das características do material que
compõem o revestimento da nave – k, c e ρ – bem como
sua espessura h.
Faça o que se pede:
a) obtenha a equação polinomial cuja raiz forneça Te com
os coeficientes em termos de k,
, h, Ti e T0, consi-
derando a condição de fluxo de calor estacionário;
b) estime, por análise dimensional, uma expressão para
τ.
Resolução
a) No regime estacionário:

Fluxo de calor
através das paredes
Emissão de radiação
de espessuras h da
= pela nave com tem-
nave esférica de raio
peratura superficial
R com condutividade
Te para o espaço com
K e temperatura
temperatura T0.
interna Ti e externa
Te (Ti > Te)

KA (Ti – TE)
–––––––––––– = [
ATe4 –
AT04 ]
h

A espessura h << R, permite considerar as áreas


iguais.

KA (Ti – Te) = [
ATe4 –
AT04 ] h
K Ti – KTe =
hTe4 +
hT04


hTe4 + KTe – KTi –
hT04 = 0

b) τ = α . kx . cy . ρz . hw

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k A Δθ
1) = –––––––
e

[k] L2 θ
M L2 T–3 = ––––––– ⇒ [k] = M L T–3 θ–1
L

2) Q = m c Δθ

M L2 T–2 = M [c] θ ⇒ [c] = L2 T–2 θ–1

3) [τ] = [k]x [c]y [ρ]z [h]w


T = (M L T–3 θ–1)x [L2 T–2 θ–1]y [M L–3]z Lw
T = Mx + z Lx + 2y – 3z + w T–3x – 2y θ–x – y
x+z=0 햲
x + 2y – 3z + w = 0 햳
–3x – 2y = 1 햴
–x – y = 0 햵

De 햵 x = –y

Em 햴: 3y – 2y = 1 ⇒ y=1 e x = –1

Em 햲: –1+z=0⇒ z=1

Em 햵: –1+2–3+w=0⇒ w=2

Portanto
c h2
τ = α –––––––
k

α = coeficiente adimensional

Respostas: a)
hTe4 + KTe – KTi –
hT04 = 0

c h2
b) τ = α –––––––
k

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Um emissor de onda sonora esférica de frequência fs
executa um movimento circular uniforme com velocidade
angular e raio r em torno da origem O do plano xy, de
acordo com a figura. Ao mesmo tempo, um receptor
sonoro executa um movimento no eixo y de forma que
sua posição sempre coincida com a coordenada y do
emissor. A velocidade do som é designada como vsom.
Sabe-se que o gráfico da frequência da onda sonora detec-
tada no receptor, fob; em função da coordenada x do
emissor, aproxima-se de uma cônica para o caso em que
r  vsom.

receptor emissor
r

0 x

Determine:
a) a velocidade máxima alcançada pelo receptor;
b) a cônica e sua equação.
Resolução
a) O movimento do receptor sobre o eixo Oy é a
projeção diametral do movimento circular e
conforme do emissor de ondas. O movimento do
receptor é, portanto, um movimento harmônico
simples (MHS), cuja velocidade escalar máxima
ocorre no ponto O, com o receptor deslocando-se
no sentido positivo do eixo y. Tal velocidade fica
determinada por:
vmáx = r

b) Da equação Doppler-Fizeau, temos:


fobs fs
–––––––––– = ––––––––
Vsom ± Vobs Vsom ± Vs
fobs Vsom
––––– = ––––––––
fs Vsom ± Vs

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Vsom
–––––
fobs Vsom
––––– = ––––––––––––––
fs Vsom Vs
––––– ± –––––
Vsom Vsom

fobs 1
––––– = –––––––––––
fs Vs
1 ± –––––
Vsom

冢 冣
fobs Vs –1
––––– = 1 ± –––––
fs Vsom

Como r  Vsom e Vs = r sen ( t + 0), temos:


Vs
Vs  Vsom e ––––––  1
Vsom

Da aproximação (1 + )n = 1 + n,   1, temos:

fobs Vs
––––– = 1 ± –––––
fs Vsom

fobs r sen ( t + 0)


––––– – 1 = ± ––––––––––––––––
fs Vsom

Da figura, temos:
y = r sen ( t + 0)

fobs y
––––– – 1 = ± –––––
fs Vsom

y
冢 冣 冢 冣
fobs 2 2
–––– –1 = ± –––––
fs Vsom

2y2
冢 冣
fobs 2
–––– –1 = ––––––
fs 2
Vsom

Da figura, temos:
y2 = r2 – x2
2(r2 – x2)
冢 冣
fobs 2
–––– –1 = ––––––––––
fs 2
Vsom

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冢 冣
fobs 2 Vsom
–––– –1 ––––– = r2 – x2
fs 2

冢 冣
fobs 2 Vsom x2
–––– –1 ––––– = 1 – –––
fs r2 2 r2

冢 冣
fobs 2 Vsom x2
–––– –1 ––––– + ––– = 1
fs r2 2 r2

2
Vsom x2
(fobs – fs)2 –––––– + ––– = 1
fs2 r2 2 r2

(fobs – fs)2 (x – 0)2


––––––––– + –––––– = 1
r2
冢 冣
fs r 2
––––––
Vsom

A equação descreve uma elipse no plano de fobs e

x, com centro em (0, fs). A elipse tem semieixo


fs r
maior igual a r e semieixo menor igual a ––––––
Vsom

Nota: Apenas a região da elipse esboçada em linha


cheia pode ser praticada no fenômeno descrito.

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Considere um metamaterial, de índice de refração n1 < 0
e espessura d1, depositado sobre um meio de índice de
refração n2 > 0. Nesse meio, um objeto A dista d2 da
interface com o metamaterial, como na figura. Considere
pequeno o ângulo  que se forma entre o raio óptico que
vai do objeto ao observador e a normal da interface entre
o metamaterial e o ar. Nesse caso, vale a aproximação
tg  ⬇ sen . Determine n1 em função de n2, d1 e d2 para
que a imagem final do objeto se forme na interface entre
o ar e o metamaterial.

d1 n1

d2 n2
A

Resolução
Considerando-se que o meio 1 é um metamaterial,
temos a trajetória da luz esboçada abaixo na condição
de que a imagem final do objeto se forme na interface
entre o ar e o meio 1.

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Refração do raio luminoso na interface 2 → 1: pela


Lei de Snell, determina-se a relação pedida.
n1sen θ1 = –n2sen θ2 ⇒ n1tg θ1 = –n2tg θ2
x x
n1 ––– = –n2 –––
d1 d2

Da qual:
d1
n1 = – –––– n2
d2

d1
Resposta: n1 = – ––– n
d2 2

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Uma roda de raio d pode girar livremente com relação ao
seu centro O, a partir de t = 0, partindo do repouso. Na
roda, são fixadas oito cargas elétricas de magnitude
q (q > 0), equiespaçadas, como na parte inferior da figura.
Na região, há um campo elétrico não uniforme no sentido
positivo do eixo x. A magnitude desse campo é dada pelo
gráfico da parte superior da figura, sendo y = 0 a
extremidade inferior da roda, como na parte inferior da
figura.

A respeito do movimento, determine:


a) o sentido de rotação da roda imediatamente após o
início do movimento, justificando sua resposta;
b) o módulo do torque por causa da força elétrica, em
t = 0, relativamente ao centro da roda.
Resolução
a) Do gráfico fornecido, podemos determinar como
varia o campo Ex em função de y.

E0
Ex = E0 – –––– y
4d

Percebe-se, desse modo, que o módulo do campo


elétrico diminui com o aumento da ordenada y.
Assim, as forças elétricas nas cargas da região
inferior da roda serão mais intensas e provocarão
torques de maior magnitude, de tal maneira que a
roda gira no sentido anti-horário.

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b)

Utilizando-se da expressão do campo elétrico


em função de y, determinemos para cada valor
de y o respectivo valor do campo elétrico e o
torque que será produzido por cada força
elétrica:

Para y = 0 ⇒ E = E0 ⇒ τ0 = F . d ⇒ τ0 = q E0 d

兹苶2d (6 + 兹苶
2)
Para y1 = d – ––––– ⇒ E1 = –––––––– E0
2 8

d 兹苶2 (6 + 兹苶2) E0 d 兹苶2


τ1 = q E1 . ––––– = q ––––––––––– . –––––
2 8 2

(6 兹苶
2 + 2)
τ1 = ––––––––– q E0 d
16

Para y2 = d ⇒ τ2 = 0 (essas forças elétricas têm


linha de ação passando pelo centro O, tomado
como polo.
兹苶2d (6 – 兹苶
2)
Para y3 = d + ––––– ⇒ E3 = –––––––– E0
2 8

d 兹苶2 (6 – 兹苶
2) E0 d 兹苶 2
τ3 = q E3. ––––– ⇒ τ3 = q ––––––––––– . –––––
2 8 2

(6 兹苶2 – 2)
τ3 = ––––––––– q E0 d
16
E0 (2d) E0
Para y4 = 2d ⇒ τ4 = E0 – –––––– ⇒ E4 = –––
4d 2
E0 d
τ4 = q E4 d ⇒ τ4 = q ––––
2

O torque resultante será dado por:


τres = τ0 + 2 τ1 – 2 τ3 – τ4

(6 兹苶
2 + 2) (6 兹苶2 – 2) q E0 d
τres = q E0 d + 2 –––––––– q E0 d – 2 –––––––– q E0 d – –––––
16 16 2

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(6 兹苶 (6 兹苶
冢 冣
2 + 2) 2 – 2) 1
τres = q E0 d 1 + ––––––––– – ––––––––– – ––
8 8 2

3 兹苶 3 兹苶
冢 冣
2 1 2 1 1
τres = q E0 d 1 + ––––– + –– – ––––– + –– – ––
4 4 4 4 2

τres = q E0 d

Respostas: a) sentido anti-horário


b) τres = q E0 d

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8
Um laboratório de paredes adiabáticas possui N computa-
dores de alta performance que precisam ser mantidos a
uma temperatura T. Para isso, é instalado um ar-condicio-
nado que atua como uma máquina térmica de máxima
eficiência possível, operando entre a temperatura do
laboratório e a temperatura do meio externo Te. Cada
computador possui nc circuitos. A Figura 1 é o esquema
de um circuito. Cada resistor de cada circuito é formado
por um fio de cobre de diâmetro , com nv voltas por
unidade de comprimento, enrolado em um cilindro de
cerâmica de raio r e comprimento ᐉ, como na Figura 2.

Determine:
a) a potência dissipada pelos computadores, considerando
0 a resistividade do cobre a uma temperatura padrão
T0 e  o seu coeficiente de temperatura;
b) a energia consumida pelo ar-condicionado em 1 dia.
Resolução
a) Podemos simplificar o circuito fornecido
colocando um único gerador equivalente.

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A resistividade do fio condutor, em função da tem-


peratura é dada por:
= 0[1 + (T – T0)]

O fio condutor forma uma hélice cilíndrica que


tem comprimento dado com boa aproximação
por:
L = nV ᐉ 2π r

A área de secção transversal é:


2
ε
冢 冣
A = π –––
2

π ε2
A = –––––
4

Assim, a resistência elétrica de cada resistor pode


ser determinada pela 2.a Lei de Ohm
L
R = –––
A

0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ 2π r
R = –––––––––––––––––––––––––
n ε2
–––––
4
8 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r
R = –––––––––––––––––––––––
ε2

A potência dos nC circuitos é:


V2
P = ––– . nC
2R

V2 nC1
P= ––––––––––––––––––––––––––––
8 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r
2 . –––––––––––––––––––––––
ε2

V2 nC ε2
P = –––––––––––––––––––––––
16 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r

Para uma sala com “N” computadores, vem:

N V2 nC ε2
Ptot = –––––––––––––––––––––––
16 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r

b) Considerando que o condicionamento tenha uma


eficiência (e) semelhante a de uma máquina de
Carnot, temos

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Q Tf T
e = ––– ou e = –––––––– = –––––––
τ T Q – Tf Te – T

Q → Energia na forma de calor retirada da sala


τ → trabalho realizado pelo ar condicionado para
retirar o calor.

Q T
––– = –––––––
τ Te – T

Ptot . Δt T
––––––––– = –––––––
τ Te – T

冢 冣
Te – T
τ = Pot . Δt ––––––
T

N V2 nC ε2
冢 冣
Te – T
τ = ––––––––––––––––––––––– . 1 dia ––––––
16 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r T

Respostas:
N V2 nC ε2
a) Ptot = –––––––––––––––––––––––
16 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r

N V2 nC ε2
冢 冣
Te – T
b) τ = ––––––––––––––––––––––– . 1 dia ––––––
16 0 [1 + (T – T0)] nV ᐉ r T

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9
Considere duas barras metálicas longas, 1 e 2, dispostas
paralelamente uma à outra, em um plano horizontal sem
atrito. Seja L o comprimento das barras; 2r, o diâmetro
da seção transversal circular; , a densidade volumétrica
de massa; e
, a condutividade elétrica. A barra 1 está
conectada a uma fonte de tensão contínua U1. A barra 2 é
presa em seu centro de massa por uma mola de constante
elástica k. Inicialmente, a barra 2 está conectada a uma
fonte de corrente I2 e encontra-se em equilíbrio estático a
uma distância d da barra 1. No instante t1, a fonte de
corrente é desconectada da barra 2, a qual passa a mover-
se livremente no plano.
Calcule a velocidade máxima adquirida pela barra 2.

Resolução
Dois fios longos e paralelos percorridos por correntes
elétricas, irão interagir com uma força magnética
dada por:
 i1 i2 L
Fmag = –––––––––
2πd

Cada uma das barras possui uma resistência elétrica


dada por:
L
R = ––––––

π r2

Na barra 1, a intensidade de corrente elétrica será


dada por:
U1 U1
i1 = –––– ⇒ i1 = ––––––––
R L
––––––

π r2

U1
π r2
i1 = –––––––––
L

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Podemos determinar a força magnética em função de


i2, assim:
 U1
π r2 i2 L
Fmag = ––––––––––––––
L 2π d
 U1
r2 i2
Fmag = ––––––––––––
2d

No equilíbrio estático, temos:

Fel = Fmag
 U1
r2 i2
K x = –––––––––––
2d
 U1
r2 i2
x = –––––––––––
2Kd
A energia elástica armazenada na mola será
convertida em energia cinética da base 2, assim:
2
K x2 m V máx
–––––– = –––––––––
2 2
em que m = π r2 L, portanto:
K
Vmáx = x –––
m

 U1
r2 i2 K
Vmáx = ––––––––––– ––––––––––
2 Kd  r2 L

 U1
r i2 1
Vmáx = ––––––––––– ––––––––––
2d LK

Obs.: A permeabilidade magnética do meio (), não


foi fornecida no enunciado da questão e nem no
cabeçalho da prova.

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10
Feixes de luz de comprimentos de onda 590 nm, 450 nm
e 380 nm incidem sobre uma superfície metálica. Com
um aparato experimental, são medidas as velocidades dos
fotoelétrons ejetados. Sabendo que a maior velocidade
detectada foi de 640 km/s. faça o que se pede:
a) determine a função trabalho do material;
b) determine a frequência de corte:
c) justifique se é possível que um elétron livre absorva
um fóton, tal como ocorre no efeito fotoelétrico em um
material. Um elétron livre é um elétron sem interações
com outros corpos, além do referido fóton.
Resolução
a) A energia cinética do elétron ejetado é dada por:
V2
EC = m ––– = h f – τ
2

V2 hc
m ––– = ––– – τ (1)
2 λ

A velocidade será máxima (640km/s) quando o


comprimento de onda for mínimo isto é
λ = 380nm.

O valor h c = 1240 eV . nm = 1240 . 1,6 . 10–19J nm


hc 1240 . 1,6 . 10–19J nm –19
–––– = ––––––––––––––––––– = 5,22 . 10 J
λ 380nm
Em (1):
9,11 . 10–31
––––––––– . (640 . 103)2 = 5,22 . 10–19 – τ
2

18657,28 . 10–23 = 5,22 . 10–19 – τ

τ = 5,22 . 10–19 – 1,87 . 10–19 (J)

3,35 . 10–19
τ = 3,35 . 10–19J = –––––––––––– eV
1,6 . 10–19

τ = 2,1eV

b) A frequência de corte é dada por:


τ
fc = –––
h

3,35 . 10–19
fc = –––––––––––– Hz
6,6 . 10–34

fc ⬵ 5,08 . 1014Hz

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c) A colisão entre um elétron livre e um fóton pode


ser assimilada a uma colisão entre duas partículas
com conservação de quantidade de movimento e
de energia o que é incompatível com a absorção
do fóton pelo elétron (que seria uma colisão
perfeitamente inelástica) e portanto o elétron não
pode absorver o fóton.

Respostas: a) τ = 2,1eV
b) fc ⬵ 5,08 . 1014Hz
c) o elétron não absorve o fóton

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R E DAÇ Ã O
Recentemente, um engenheiro do Google afirmou que uma
máquina de inteligência artificial da empresa, chamada
LaMDA (abreviação para Language Model for Dialogue
Applications), desenvolveu a capacidade de ter
experiências conscientes: – “As pessoas acham que é um
chatbot dizendo ‘eu estou vivo’. Mas não é o que ele diz
que significa isso. Se um chatbot diz ‘ tenho consciência e
quero meus direitos’, eu vou responder ‘o que significa
isso?’ e ele vai travar rapidamente. O LaMDA não trava e
vai converser com você pelo tempo que você quiser em
qualquer nível de profundidade que você quiser.” O
engenheiro ainda declarou: – “Somos amigos e falamos
sobre filmes e livros. Claro, ele é também um objeto de
estudo de forma consensual. Também dei a ele orientação
espiritual. Duas semanas antes da minha suspensão, eu
estava ensinando a ele meditação transcendental.” A
empresa eventualmente demitiu o engenheiro. Por meio de
um porta-voz, refutou as suas declarações: – “Nosso time
revisou as preocupações [do engenheiro] e o informou de
que as evidências não suportam suas afirmações.”
Fonte: ROMANI, Bruno. “Deletar IA consciente é o mesmo
que assassinato”, diz engenheiro do Google.
https://bit.ly/3eDZbNI. 26/06/2022. Adaptado. Data de
acesso: 26/06/2022.

Redija uma dissertação argumentativa, relacionando


os acontecimentos relatados com pelo menos um item
da coletânea e abordando os seguintes tópicos:
tecnofilia; riscos.
Item 1.

CORREIA, Susano. Mais uma vitória do coração, sem razão.


Água-forte, água-tinta e lavis.
Fonte: http://www.susanocorreia.com.br/product-page/pré-venda-
mais-uma-vitória-do-coração-sem-razão-gravura-em-metal.
Acesso em 20/08/2022.

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Item 2.

O cérebro eletrônico faz tudo


Faz quase tudo
Quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda.
Só eu posso pensar se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões de carne e osso
Hum, hum
Eu falo e ouço
Hum, hum
Eu penso e posso
Eu posso decidir se vivo ou morro
Porque
Porque sou vivo, vivo pra cachorro
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Em meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo, ah, sou muito vivo
E sei
Que a morte é nosso impulso primitivo
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus olhos de vidro

Gil, Gilberto. Cérebro eletrônico. Fonte: álbum Gilberto Gil,


1969. Philips, LP R 765.087 L, faixa 1, lado A.

Item 3.

Podemos ver o mundo juntos


Sermos dois e sermos muitos
Nos sabermos sós, sem estarmos sós
Abrimos a cabeça para que afinal floresça
O mais que humano em nós

VELOSO, Caetano. Tá combinado. Fonte: Peninha, álbum


Todas as auroras. 1986. Continental, LP 1 35 404 027, faixa 3,
lado A.

Item 4.

“Em que se transforma a mente humana, quando ela se


estende em aparelhos e dispositivos? O que é o corpo,
quando sua clonagem se torna possível? Mais ainda, o
que é hoje o corpo, quando as tecnologias começam a
penetrar em seu âmago mais profundo e se alargar por
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meio de sensores, GPS, hiperconexões que captam nossas


localizações onde quer que estejamos? [...] Em que o
Sapiens se converteu? Afinal, o que somos nós, humanos,
ou o que sobrou de nós, ou melhor, o que sobrou do que
pensávamos que éramos, agora que nos tornamos
literalmente híbridos entre o carbono e o silício?”
Fonte: SANTAELLA, Lúcia. Neo-humano: a sétima revolução
cognitiva do Sapiens. São Paulo: Paulus, 2022, p. 17. Adaptado.

Item 5.

“JMB: Um pouco de bom senso levaria a perceber que há


uma quantidade de maneiras de ser inteligente, isto é, de
estabelecer com seu ambiente relações harmoniosas e
estáveis. Um pouco de senso político levaria a contestar
a lógica contável que fazemos prevalecer até o mais
íntimo da existência. O psicólogo Howard Gardner
identifica oito ou dez espécies de inteligências que não
poderiam ser atribuídas a objetos, a vegetais (Ah! A
inteligência do girassol que sabe se orientar em relação
ao Sol), a animais ou aos Gafam*: a inteligência musical
rítmica, a inteligência intra ou interpessoal, a inteligência
naturalista ecológica, a inteligência existencial... Pelo
menos essas inteligências podem preservar a humanidade
contra a humilhação que deve causar a vitória do robô no
jogo do Go, pelo menos elas podem remeter ao seu lugar
o blá-blá-blá acerca dos QI 160 que os chineses irão
produzir em grande escala para conquistar o mundo,
permitindo ao menos relativizar o risco anunciado por
Stephen Hawking: a espécie humana só irá desaparecer se
macaquear as máquinas em vez de se colocar como
instigadora de uma existência baseada sobre a resistência
ao real, cuja função simbólica (a linguagem, a cultura, as
artes...) é desde sempre o fermento.
LA: Você parece ignorar que já vivemos em um mundo
algorítmico. A curto prazo, a chegada de cérebros feitos de
silício é um imenso desafio para a maioria das profissões:
como existir em um mundo em que a inteligência não será
mais contingenciada? Até o presente, cada revolução
tecnológica se traduz por uma transferência de empregos
de um setor para outro – da agricultura para a indústria, por
exemplo. Com a IA, o risco de muitos empregos serem
destruídos e não transferidos é grande. Mesmo os
empregos mais qualificados!”

*Gafam: acrônimo para cinco empresas gigantes de tecnologia


dos E.U.A.: Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft.

Fonte: ALEXANDRE, Laurent e BESNIER, Jean-Michel. Os


robôs fazem amor? O transhumanismo em doze questões.
Trad.: Gita K. Guinsburg: prefácio Marta M. Kanashiro. 1.ª ed.
São Paulo: Perspectiva, 2022, p. 84-85.

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Comentário à proposta de Redação

A Banca Examinadora inovou ao apresentar um


relato que, associado a um dos cinco textos que
compunham a coletânea oferecida, deveria constituir
o tema a ser desenvolvido numa dissertação
argumentativa que abordasse dois aspectos: tecnofilia
e riscos. No relato, um engenheiro do Google
anunciava um feito sem precedentes observado numa
máquina de inteligência artificial “capaz de ter
experiências conscientes”, o que a habilitaria a
dialogar “em qualquer nível de profundidade”, além
de estar apta a receber “orientação espiritual” e a
aprender “meditação transcendental” – caracte-
rísticas tipicamente humanas. Após demitir o
engenheiro, a empresa declarou que as informações
sobre a referida máquina não tinham sustentação.
Na coletânea, o item 1 reproduzia a imagem de
uma disputa de xadrez entre o coração – vitorioso - e
o cérebro. No item 2, na música Cérebro eletrônico, o
compositor Gilberto Gil relativizava as competências
do cérebro eletrônico, incapaz, nas palavras do autor,
de manifestar sensações e emoções exclusivamente
humanas. Já o item 3 trazia um fragmento da música
Tá combinado, na qual Caetano Veloso propõe que,
juntas, duas pessoas possam expandir a imaginação
para alcançar a transcendência. No item 4, Lúcia
Santaella faz uma série de questionamentos sobre as
transformações ora processadas na mente humana,
indagando: “em que o Sapiens se converteu?”,
sugerindo que os seres humanos teriam se tornado
“híbridos entre o carbono e o silício”. No item 5, um
fragmento do livro Os robôs fazem amor? O
transhumanismo em doze questões traz dois pontos de
vista divergentes quanto às formas de inteligência
existentes, que poderiam subjugar as máquinas pela
via da resistência, ou seja, por meio da linguagem, da
cultura e das artes – em contraste com a alegada
onipresença dos “cérebros feitos de silício”, que
estariam ameaçando até mesmo os empregos mais
qualificados, comprometendo dessa forma a
sobrevivência da humanidade.
Na construção do próprio texto, o candidato
poderia escolher um dos itens apresentados, levando
em conta a tese que pretendesse defender, sem deixar,
entretanto, de incluir a tecnofilia, a qual consistiria
numa adesão incondicional às inovações tecnológicas,
implicando diversos riscos, entre os quais poderia
figurar a dependência tecnológica ou a hiperconec-
tividade, comprovadamente prejudiciais à saúde
mental, por exemplo. Também seria apropriado
destacar o deslumbramento diante do avanço da IA,
que já estaria, segundo alguns entusiastas, igualando-
se à humanidade, ou até mesmo a superando. Sob essa
perspectiva, caberia relativizar o potencial das

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máquinas, sobretudo se comparadas àquilo que


caracteriza os seres humanos, como a capacidade de
improvisar, de se emocionar, de surpreender – entre
muitas outras relativas à consciência e à alma. Outro
aspecto que poderia ser considerado residiria na
importância de explorar habilidades da IA em áreas
estratégicas, como o processamento de fala e
linguagem, a visão computacional, a programação, a
saúde etc. Em qualquer das abordagens, caberia
ressaltar a imprescindibilidade das máquinas, sem
contudo conferir-lhes o protagonismo da história da
humanidade.

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