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A saúde mental das mulheres é um tema que, apesar de cada vez mais

debatido, continua percorrendo diversas dificuldades. A questão ganha


complexidade pelos determinantes sociais que a atravessam como o acesso à
educação, moradia, alimentação e trabalho. As desigualdades sociais têm
influência direta em tal problema e foram ainda mais agravadas durante a
pandemia da Covid 19, trazendo ainda mais problemas para esse grupo
socialmente vulnerável que sofre com questões como sobrecarga (duplas
jornadas entre casa e trabalho), violências domésticas, desvantagem
socioeconômica, educacional e de oportunidades no mercado de trabalho,
entre outros. Uma medida tomada por diversas nações foi a determinação do
Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da
Mortalidade Materna em 28 de maio. A ação foi definida no IV Encontro
Internacional Mulher e Saúde, ocorrido em 1984, na Holanda. A partir dessa
data, o tema ganhou maior interesse e em 1987, a Rede de Saúde das
Mulheres Latino-Americanas e do Caribe – RSMLAC, propôs que, a cada ano,
no dia 28 de maio, uma temática nortearia ações políticas que visassem
prevenir mortes maternas evitáveis. O principal objetivo dessas datas
comemorativas é chamar a atenção e conscientizar a sociedade sobre diversos
problemas de saúde comuns na vida das mulheres, como câncer de mama,
endometriose, infecção urinária, câncer no colo do útero, fibromialgia,
depressão e obesidade. A conscientização obtida através dessas ações
permitiram que o mundo visse com mais ênfase tais problemas que afetam
essa comunidade, o que desencadeou em diversas campanhas de saúde como
o Outubro Rosa, data celebrada anualmente, com o objetivo de compartilhar
informações e promover a conscientização sobre a doença, proporcionar maior
acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução
da mortalidade, através de eventos técnicos, debates, apresentações e a
disseminação de informação. Progressivamente, surgem campanhas trazendo
à tona um leque cada vez maior de doenças combatidas, como o
enfrentamento de cânceres, depressão e outras diversas. No nível nacional,
um projeto que visa a promoção do bem-estar e da saúde mental da mulher é o
Mulheres Auroras, desenvolvido pelo Centro Universitário IESB, por meio da
sua Clínica de Psicologia e com a participação de alunos e professores. O
projeto funciona como uma rede de apoio entre mulheres, dando auxílio em
questões pessoais e profissionais, oferecendo atendimento psicossocial
gratuito individual ou em grupo, além de motivar o autoconhecimento e o
autocuidado e atendendo vítimas de violência doméstica. O atendimento pode
ocorrer de forma presencial, porém a opção de ser online permite que o projeto
atinja mulheres por todo o país. Em São Paulo, há diversos projetos que
contribuem para o desenvolvimento do ODS 3, dando ênfase à promoção da
saúde mental e do bem-estar. Um deles é desenvolvido pelo Instituto Cactus
em parceria com a Casa de Marias, oferecendo acolhimento emergencial para
mulheres negras, indígenas e periféricas em situação de vulnerabilidade. A
ação conta com uma equipe qualificada de psicoterapeutas para receber
mulheres que precisam de um espaço de escuta e acolhimento, onde recebem
cuidados psicológicos. Um desafio que o projeto enfrentou para ser efetivado
foi o preconceito e vieses subjetivos não combatidos e desmitificados em
relação ao atendimento à saúde mental feminina, vindo da sociedade civil e
lideranças. Além de contribuir para a democratização do acesso aos cuidados
em saúde mental ao proporcionar cuidado para mulheres em situação
emergencial, o projeto gerou aprendizados sobre as modalidades de
acolhimento psicológico para institucionalizá-las. Foi possível analisar o quanto
este tipo de escuta emergencial, especialmente a modalidade em grupos de
apoio, pode ser institucionalizada e replicada em outros contextos de urgência,
pois além de possibilitar que um número maior de mulheres serem atendidas,
permite também à paciente uma potente escuta e identificação com outras
mulheres, assim como a tomada de consciência sobre o caráter estrutural de
sofrimentos psicológicos. Além desses projetos já existentes, uma ação que
pode ser tomada para a melhoria do bem-estar das mulheres é um auxílio
financeiro para os grupos mais vulneráveis, principalmente para as mulheres
mais atingidas pela pandemia, de acordo com um critério socioeconômico e
pela quantidade de filhos, além da contratação de psicólogos e psicoterapeutas
para atuarem em unidades básicas de saúde, atendendo a esses grupos. Essa
estratégia deve ser transformada em uma política pública através das
lideranças regionais, chegando até os órgãos representantes. Tais ações
dariam um maior suporte a essas mulheres, possibilitando maior qualidade de
vida e contribuindo para a promoção da saúde mental e do bem-estar,
compromissos presentes nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
agenda 2030.

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