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Quem são os 144 mil e a grande multidão?

Então, ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas
as tribos dos filhos de Israel (Ap 7:4).

Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as
nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos (Ap 7:9).

Um dos números enigmáticos do Apocalipse que têm gerado muita especulação é o número
dos 144 mil. Que tipo de grupo são os 144 mil? Quando é que aparecem? Qual é sua relação
com a grande multidão e o remanescente? 144 mil é um número literal ou simbólico? Na
Bíblia, os 144 mil aparecem sob essa designação apenas duas vezes, a saber, em Apocalipse
7:1-8 e 14:1-5.

Entre os adventistas do sétimo dia prevalecem dois pontos de vista sobre a identidade dos 144
mil. Alguns acreditam que os 144 mil e a grande multidão sejam os mesmos. Essa é a posição
descrita neste capítulo. Outros acreditam que a grande multidão é constituída pelos remidos
de todos os séculos, e não apenas pelos 144 mil.1 Ambas as interpretações concordam, porém,
que os 144 mil são os santos que estarão vivos na volta de Jesus.

A visão dos sete selos – Apocalipse 7:1-8 é parte da visão do sexto selo. O sexto selo contém os
sinais celestes da segunda vinda de Jesus (6:12-14) e do dia do Senhor, que é o segundo
advento (v. 14-16). O sexto capítulo termina com a pergunta: “Quem é que pode suster-se?”
no dia do Senhor (v. 17). Os versículos anteriores (v. 15, 16) descrevem os que são incapazes
de sobreviver naquele dia. Por outro lado, Apocalipse 7 aponta para os que são capazes de
suster-se. Apocalipse 7 responde, portanto, à pergunta feita em 6:17 quando nos diz que os
144 mil serão capazes de suster-se (v. 1-8). Depois dos 144 mil, a grande multidão (v. 9-17) é
descrita como servindo a Deus no santuário celestial diante do trono (v. 15). Os 144 mil de
Apocalipse 7 constituem o povo de Deus do tempo do fim, aparentemente aqueles que
estiverem vivos quando Jesus voltar para levar Seus filhos para o lar.

A grande multidão e os 144 mil – Qual é a relação entre a grande multidão e os 144 mil? São
dois grupos diferentes de pessoas ou o mesmo grupo com nomes diferentes?2 Os argumentos
a favor da última opção parecem ser mais convincentes:

1. Em Apocalipse 5:5, João ouve falar que Jesus é o Leão, mas quando, em 5:6, se vira para
olhar, vê um cordeiro. Jesus, o Leão, é, o Cordeiro. Esse fenômeno repete-se na mesma visão.
Em 7:4, João ouve o número dos selados como sendo 144 mil, mas o que ele vê em 7:9 é uma
grande multidão. Os 144 mil e a grande multidão compõem o mesmo grupo visto de
perspectivas diferentes.

2. A resposta à pergunta: Quem é que pode suster-se? (6:17) é dada em todo o sétimo
capítulo. Tanto os 144 mil como a grande multidão são capazes de suster-se. Os 144 mil são
apresentados como uma resposta imediata para a pergunta de 6:17. Eles não estão descritos
aqui nem é mencionado seu destino final. No entanto, a grande multidão recebe uma
descrição mais detalhada e é representada como estando diante de Deus. Emprega-se o
mesmo termo “susterse” tanto em 6:17 como em 7:9.

3. Os 144 mil, bem como a grande multidão, têm que passar por tempos difíceis. Os 144 mil
são selados antes de soprarem os ventos e têm de suportar as dificuldades que vêm a seguir. A
grande multidão vem da grande tribulação.

4. Os 144 mil são a igreja de Deus no tempo do fim na Terra, enquanto a grande multidão é a
igreja do tempo do fim no Céu. Os 144 mil são a plenitude da igreja militante de Deus no
tempo do fim: 12x12x1000. Esse número nos faz lembrar as 12 tribos de Israel e os 12
apóstolos do Cordeiro (Ap 21:12, 14). O número mil pode apontar para uma unidade militar no
antigo Israel (Nm 31:4-6). Os 144 mil representam, portanto, a igreja militante do tempo do
fim.3 A grande multidão é a igreja do tempo do fim depois da grande tribulação. As
informações sobre a grande multidão complementam o que estava faltando nos 144 mil. O
selamento dos 144 mil seria incompleto, se não levasse a perfazer o número da grande
multidão.

5. Os 144 mil são “servos [gr. doulos] do nosso Deus” (Ap 7:3). A grande multidão “serve” [gr.
latreuo] a Deus (7:15). Ambas as palavras gregas são usadas para todos os salvos em
Apocalipse 22:3, em que os remidos são descritos como “servos” [doulos] que “servirão”
[latreuo] a Deus.

Parece melhor compreender os 144 mil e a grande multidão como sendo o mesmo grupo.
Embora a grande multidão não abranja os redimidos de todos os séculos – eles não são o foco
de Apocalipse 7 –, isso não nega que haja salvos de todos os séculos. Na verdade, isso está
implícito em 14:4, que chama os 144 mil de primícias de uma colheita muito maior e universal.

A visão da trindade satânica – Apocalipse 14:1-5, a segunda passagem que fala dos 144 mil, faz
parte da visão central do Apocalipse. Enfoca de modo especial a igreja e suas lutas contra os
poderes malignos. Apocalipse 12 inicia com a igreja apostólica, descreve a perseguição da
igreja durante o período medieval e, no v. 17, introduz o remanescente do tempo do fim. Os
dois capítulos seguintes focalizam o povo de Deus no tempo do fim e seu destino.
Apocalipse 12:17 descreve um remanescente; Apocalipse 13:1-10 menciona os santos que não
se envolverão na futura e falsa adoração universal; e em 13:11-18 encontramos um grupo que
não aceita a marca da besta nem adora a besta ou sua imagem. Apesar das restrições
econômicas (eles não podem comprar nem vender) e de um decreto de morte dirigido contra
o fiel remanescente de Deus, há um grupo que sobrevive: os 144 mil de Apocalipse 14.
Obviamente, o remanescente (isto é, os santos que não recebem a marca da besta nem
adoram a besta e a sua imagem) e os 144 mil pertencem ao mesmo grupo. A diferença é que
os 144 mil já estão retratados de pé com o Cordeiro no monte Sião, enquanto o remanescente
ainda se encontra na Terra.

A frase “pelejar contra” ocorre em Apocalipse 12:17 e 13:7. Em 12:17 a guerra é travada com o
remanescente, enquanto em 13:7 a guerra é contra os santos. Aparentemente, “os restantes”
de 12:17 e os “santos” de 13:7 descrevem o mesmo grupo. Apocalipse 12:17; 13:10 e 14:12
descrevem as principais características do remanescente de formas diferentes.

Ap 12:17

Ap 13:10

Ap 14:12

Guardam os mandamentos

Guardam os mandamentos

Têm o testemunho de Jesus

Paciência

Paciência

Fé de Jesus
De acordo com o Apocalipse, os 144 mil aceitaram as três mensagens angélicas e as
proclamaram (Ap 14:6-13), mensagens que devem ser pregadas pouco antes da segunda vinda
de Jesus (14:14-20).

Literal ou simbólico? – De acordo com Apocalipse 7, os 144 mil são servos de Deus que vão ser
selados (v. 3). O selo de Deus na fronte deles aponta para o fato de serem propriedade de
Deus e estarem protegidos da apostasia nas horas finais da história do mundo (ver Ez 9:4).

Nosso estudo já mostrou que os 144 mil devem ser entendidos mais de uma forma simbólica
do que literal. Eis algumas considerações adicionais: O início da passagem é claramente
simbólico (7:1-3): menciona os quatro cantos da Terra, os quatro ventos da Terra, o mar, o
solo, as árvores e o selo de Deus. Também o contexto (Ap 6) é em grande parte simbólico. Fica
evidente, por exemplo, que os cavaleiros apocalípticos e os mártires debaixo do altar são de
natureza simbólica. A passagem paralela em 14:1-5 também é simbólica. Ela diz que os 144 mil
“não se macularam com mulheres” (v. 4). Eles são “castos” e seguem o “Cordeiro”. O grupo
não consiste apenas de homens solteiros. No Apocalipse, tanto “mulher” como “Cordeiro” são
termos simbólicos. É de se esperar, portanto, que 7:4-8 também contenha linguagem
simbólica.

Assim, o número 144 mil é simbólico e aponta para a totalidade do povo de Deus. Nas listas do
Antigo Testamento, encontramos 12 tribos, além da tribo de Levi, que foi escolhida para
ministrar no santuário e não era contada entre as 12. Chegou-se ao número 12, dividindose a
tribo de José em duas: Efraim e Manassés. No entanto, a enumeração das tribos em
Apocalipse 7 é bastante incomum. Falta a tribo de Dã. Além disso, menciona Manassés, mas
não o outro filho de José: Efraim; Levi é contado. Judá ocupa o primeiro lugar e Benjamin, o
último, formando um parêntese, que engloba as tribos do antigo reino do norte. Essa lista não
é encontrada em nenhum outro texto na Escritura, portanto, pode apontar para um número
simbólico. Sem contar, que a maioria das 12 tribos já não existe mais, tampouco existiam na
época em que o Apocalipse foi escrito. Portanto, seria quase impossível encontrar 144 mil
israelitas literais de acordo com suas tribos, conforme a lista de Apocalipse 7, para formar o
povo de Deus. Além disso, no Novo Testamento, os filhos de Abraão não se restringem a seus
descendentes literais, mas incluem todos os verdadeiros crentes (Rm 4:11, 12). Os “judeus”
espirituais são o povo cujo coração foi circuncidado pelo Espírito Santo (Rm 2:28, 29). Os 144
mil são essas pessoas.

Ekkehardt Mueller

1 F. D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: CPB, 2014), 7: 868.

2 Ver, por exemplo, o grande número de nomes, títulos e descrições simbólicas usadas para
Deus Pai, Jesus e a igreja em Apocalipse.
3 Seu homólogo se encontra na sexta trombeta (9:16), o exército demoníaco de 200 milhões. A
frase “Eu ouvi o [seu] número” aparece apenas duas vezes no Apocalipse (7:4; 9:16) e
contrasta o exército de Deus com o exército de Satanás na Terra.

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