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Como 2 milhões de israelitas atravessaram o mar

Vermelho numa única noite?

Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e


as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua
esquerda (Êx 14:21, 22).

As questões em torno dessa passagem são as seguintes:


(1) Como grande número de israelitas com os seus
rebanhos conseguiram se organizar para atravessar o mar
de forma tão rápida? (2) Não seria o tempo necessário
para essa travessia muito maior do que as poucas horas
de uma noite descritas no texto? (3) Não poderiam os
carros egípcios ter alcançado os israelitas em seu lento
deslocamento a pé?

O número de israelitas – Números 1:46; 26:51 e Êxodo


12:37 concordam que o número de israelitas que saíram
do Egito era de aproximadamente 600 mil homens. Se
acrescentarmos mulheres e crianças, esse número pode
subir para cerca de 2 milhões de pessoas. É verdade que o
termo hebraico ‘elef (“mil”, em Nm 1:21, 23, 25, 27, etc.)
pode significar clã ou família em alguns contextos (Jz
6:15; 1Sm 10:19), mas esse não parece ser o caso em
Números 1 e 26. Em primeiro lugar, ‘elef, “mil”, não é a
única designação usada; os números adicionais de
“centenas” e “meias centenas” são empregados com ‘elef
(por exemplo, a tribo de Gade perfazia 45.650 homens,
Nm 1:25). Em segundo lugar, em cada caso, os números
de todas as tribos são totalizados e somam mais de 600
mil. Por último, solicita-se uma oferta de meio siclo de
todos os indivíduos do sexo masculino e o total perfaz
exatamente metade do número encontrado em Números
1.1

Considerações

Há outras hipóteses que demandam mais atenção. Para


começar, muitos podem supor que os israelitas eram um
grupo desorganizado de homens, mulheres e crianças que
emigravam do Egito de forma irregular com seus
rebanhos de ovelha e gado. Ao perceberem a ameaça do
exército egípcio, a desorganização teria ficado ainda mais
intensa. Já para outras pessoas, a passagem pelo mar era
muito estreita e teria exigido uma marcha em fila única
que teria demorado vários dias. Essas suposições, porém,
não recebem o apoio do relato bíblico.

A travessia foi um milagre – Em primeiro lugar, convém


lembrar que todo o Antigo Testamento reconhece essa
travessia como um milagre que só se tornou possível
graças à intervenção divina. À medida que o exército
egípcio se aproximava, os israelitas “temeram muito” e
“clamaram ao Senhor” (Êx 14:10). O Senhor renovou a
confiança de Moisés; e a coluna de fogo, ou o “Anjo do
Senhor”, passou para detrás deles, interpondo-se entre
Israel e os egípcios durante toda a noite enquanto o mar
era dividido e preparado para que os israelitas o
atravessassem. Mesmo que os egípcios estivessem
equipados para uma ação rápida, a nuvem impediu tal
ação contra Israel. A intervenção divina deu aos israelitas
o tempo necessário para começarem a travessia. Quando
o último dos filhos de Israel entrou no meio do mar em
seco, a nuvem posicionada atrás de Israel os seguiu para
o mar, para que os egípcios também entrassem. Foi pela
manhã que, “o Senhor, na coluna de fogo e de nuvem, viu
o acampamento dos egípcios e alvorotou o acampamento
dos egípcios” (Êx 14:24).

O local da travessia – É improvável que Israel tenha


passado através do golfo de Ácaba para a Arábia Saudita.
Estudos recentes revelam que os israelitas devem ter
atravessado pela região do Sinai.2 “Os hebreus”, escreve
Ellen White, “estavam acampados ao lado do mar, cujas
águas apresentavam uma barreira aparentemente
intransponível diante deles, enquanto, ao sul, uma áspera
montanha lhes obstruía o caminho” (PP, p. 283, 284).
Alguns interpretaram o hebraico yam sufe como mar dos
Juncos, em vez de mar Vermelho. Com base em
argumentos lexicográficos e pesquisa geográfica recente,
os arqueólogos situaram o lugar da travessia num
conjunto de lagos conhecido como Lagos Amargos, no
istmo de Suez. Os níveis da água nesses lagos e no mar
Vermelho eram muito maiores nos tempos antigos do
que hoje. No entanto, não existem montanhas em parte
alguma dessa área. A única localização possível, que se
coaduna tanto com a descrição bíblica quanto com a
declaração de Ellen G. White, coloca a travessia na
extremidade norte do golfo de Suez, onde a montanha
Jebel ‘Ataqa desce para o golfo.

A maneira da travessia – Êxodo 13:18 afirma que Deus fez


os israelitas “rodear pelo caminho do deserto perto do
mar Vermelho; e, arregimentados, subiram os filhos de
Israel do Egito”. A palavra “arregimentados” mostra que
esse êxodo foi uma marcha organizada em formação
militar. O verbo hebraico para “arregimentar” deriva do
número cinco e poderia ser traduzido como “e os filhos
de Israel subiram de cinco em cinco” isto é, o povo foi
dividido em cinco grandes divisões. A Bíblia não menciona
o tamanho dessas divisões nem a forma como foram
organizadas, mas é importante lembrar que Moisés, que
fora príncipe do Egito e candidato a rei, havia sido
treinado e sabia como organizar um grande grupo em
formação militar. É interessante que Josué 1:14 e 4:12
empregam o mesmo termo para descrever a organização
pouco antes de Israel atravessar o rio Jordão rumo à terra
prometida. Essa organização significava que Israel não
saiu do Egito nem atravessou o mar em fila única ou de
forma desorganizada.

A Bíblia também não menciona qual a largura da área de


terra seca. Dois milhões de israelitas divididos em cinco
divisões podem ter se posicionado em grupos de 600
pessoas lado a lado, o que daria menos de 800 metros de
largura. Sendo assim, cada uma das cinco divisões com
aproximadamente 400 mil pessoas (com 600 pessoas lado
a lado e 670 uma atrás da outra) poderia ter ocupado
menos de 6,5 Km de comprimento, mais 1,6 km de
acréscimo para os rebanhos de ovelha e gado. Se a
abertura no mar fosse de 1,6 km de largura, a marcha
teria sido muito mais rápida. Ainda assim, se levarmos em
conta que o ritmo da caminhada seria no máximo trinta
minutos para cada 1,6 km e que a largura do mar naquele
local era de aproximadamente 16 km, a travessia poderia
ter sido feita dentro de 5 ou 6 horas ou numa única noite.

Michael G. Hasel

1 Para uma discussão mais detalhada, ver John J. Davis,


Biblical Numerology (Grand Rapids, MI: Baker, 1968), p.
58-91; ver também PP 281.
2 James K. Hoffmeier, Israel in Egypt: The Evidence for the
Authenticity of the Exodus Tradition (Nova York: Oxford
University Press, 1997), p. 208, 209.

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