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Titulo pagiinas
Folha de rosto
Para Elly, que me ajudou na
criação da personagem
Sumário:
Um sono asfixiante [9]
A mente humana é o mundo
das maravilhas mais complexas
CAPITULO 1
UM SONO ASFIXIANTE
Ele estava andando de um lado para o outro, suas
mãos estavam suando, suas pernas, apesar de
estarem em movimento, estavam tremendo, em
certos momentos ele sentia elas fraquejarem, e
quando isso acontecia ele voltava a sentar, mas
seu corpo estava inquieto, mesmo sentado ele
mexia suas pernas, e os dedos de suas mãos, e
em certos momentos beliscava seus braços,
beliscava de forma leve, mas era o suficiente para
sua mente voltar a si, e então depois de três
minutos sentado ele se levantava e voltava a
caminhar de um lado para o outro, cantando: “When
I'm gone don't forget about me, I will be an angel
and I will never leave you alone”, (quando eu me for
não se esqueça de mim, eu serei um anjo e nunca
te deixarei sozinha), esse era o trecho da música
que fizera para conquistar o coração de sua amada,
e segundo ela mesma, era o seu trecho preferido.
Ele a conhecera com seus dezesseis anos - mas
ela era um ano mais velha -, e apesar de ter a
conhecido com dezesseis, ele só teve coragem de
pedir ela em namoro quando completara seus
dezoito anos, foram dois anos de relacionamento,
eles se amavam, mas nenhum dos dois pensavam
em casamento até o momento, mas mesmo eles
não estando casados, ela estava em uma sala
naquele momento dando a luz ao fruto do amor que
fora correspondido por ambos, e isso iria fazer ela
se tornar a vergonha da família, pela gravidez não
planejada, e pelo fato de se tornar mãe e não estar
casada, e ele sabia disso, por isso combinara com
ela de se casarem assim que ela estivesse pronta
para isso. Ele sentia que já estava pronto para
começar uma vida ao lado dela, e essa ideia trazia
a mesma sensação que ele sentira quando ela
aceitou o seu pedido em namoro.
Luís Bennet se lembrava de uma forma clara,
em seus pensamentos, quando o assunto era “o dia
da vitória para o derrotado”, - esse era o apelido que
ele deu ao dia em que Analisa Cooper aceitou o seu
pedido em namoro -, não havia nenhuma dúvida
sobre suas lembranças, nem mesmo uma imagem
ofuscada. Ele a pediu em namoro no dia 18 de
março do ano 2000, ele havia feito o pedido numa
tarde de sábado, o sol transmitia um brilho que o
fazia se lembrar da primeira vez que fora tomar
banho de piscina e voltou para casa todo queimado
por não usar protetor solar. Nesse sábado – em que
ele havia pedido Analisa em namoro – ele estava
completando seus dezoitos anos. Luís não tinha
muitos amigos, então pedira para que Analisa
comemorasse com ele, ela não estava muito
ocupada naquele dia, então decidiu aceitar. Luís
marcou de encontra-la na praça as três horas da
tarde, como a cidade era pequena, não havia
muitas opções de lugares para um “encontro”, a
maior diversão que os jovens encontravam era
subindo a maior lomba que encontrassem – e essas
também não eram tão grandes, mas as vezes eles
davam sorte de encontrar duas ou mais lombas
juntas –, para então descer pedalando com suas
bicicletas, ou em cima de seus skates, e quando
não estavam fazendo isso, eles estavam apenas
andando pelas ruas com seus amigos. Diferente de
Analisa, Luís não sabia andar de bicicleta ou skate,
e em questão de amigos, ele não era o garoto
popular que todos querem por perto, então ele
concluiu que a melhor opção seria leva-la para a
praça, a menos que ele quisesse deixa-la vê-lo cair
vários tombos, ou vê-lo se borrando de medo de
descer alguma lomba muito grande, talvez eles
apenas comessem um sorvete sentados um do
lado do outro em algum banco, enquanto jogavam
conversa fora e assistiam os senhores de idade
jogando sementes aos pombos, e as crianças
brincando no parquinho, e quem passasse por eles,
talvez até pensasse que os dois eram um casal,- e
que estavam apenas dando um de seus passeios
de casal -, talvez eles pensassem “olha só dois
jovens namorando na praça”, ou “esses jovens de
hoje em dia só pensam nisso”, a ideia era louca,
mas em vista ao que ele começara a sentir por ela
durante esses dois anos de amizade, essa ideia o
fazia rir com a felicidade mais genuína possível.
Já estava perto das três, então Luís saiu para
encontra-la, ele estava vestindo uma calça jeans,
com uma cor cinza um pouco desbotada, e que era
duas vezes maior que seu tamanho, Luís não
gostava de usar cinto, então pegou um cadarço da
cor preta de um de seus tênis velhos e passou por
volta da calça para que ela não caísse, ele usava
uma camiseta preta sem estampa tamanho G e
com gola V, o clima quente da cidade o
incomodava, mas aquela era sua melhor camiseta
– apenas em sua própria opinião, pois já estava
velha, e estava rasgando na manga direita pela
segunda vez, (a primeira vez ele havia costurado,
mas os pontos já estavam se abrindo) -, e seu tênis
era um todo preto empoeirado, - que ele não achou
necessidade de limpar -, e a sola fora colada por
Luís, pois já estava caindo. Ele nunca se importou
muito com estilo, mas naquele dia ele estava se
esforçando, talvez até de mais, para causar uma
boa impressão a Analisa, talvez ela até pensasse
“olha só talvez ele não seja – como os jovens
dizem? – Só mais um mané que sofre bullying na
escola”. Um pouco antes de sair, Luís passou seu
desodorante, e um pouco do perfume, que ele
evitava ao máximo passar – mais por preguiça do
que por não gostar de verdade –, passou, pois
mesmo depois de ter tomado seu banho, ele ficou
com receio de começar a suar ao lado dela, e por
consequência, subir o cheiro ruim dele mesmo, e
também, tinha que manter o “universo das
fragrâncias desconhecidas”,- segundo Analisa,
Luís tinha esse cheiro, (ele nunca entendeu o que
isso significava, ele apenas sabia que era algo bom
pela forma que Analisa falava isso).
Ao sair pelo portão de sua casa, Luís pode sentir
o calor quase que insuportável que o sol transmitia,
a camiseta preta que ele usava fazia o calor
aumentar de forma inexplicável, e seu tênis preto,
quando tocado ao chão quente da calçada, fazia
seus pés queimarem, era a mesma sensação de
estar andando com os pés descalços no fogo, e
suas calças largas não ajudavam, a cada passo
que ele dava ele sentia suas pernas suarem, ele já
estava pensando em voltar para dentro de casa e
trocar de roupa, mas ele não fez isso, pois segundo
ele mesmo – e somente ele e a mais ninguém –
aquela era a sua melhor roupa, embora estivesse
toda surrada. Ele tinha apenas passado pelo portão
de sua casa, não havia dado nem dois minutos que
ele ficara lá, mas já começara a sentir os seus
lábios ressecarem, a sua garganta completamente
seca, ele tentava, mesmo sabendo que seria em
vão, engolir algum pouco de saliva que sua boca
criaria de forma natural para hidratar a sua
garganta, mas quando fazia, ele sentia que estava
engolindo apenas o seco, a sua sede era
incontrolável, lhe trazia a sensação que ele estava
comendo a refeição mais temperada de toda a sua
vida por uma semana, e durante esse processo
todo, ele havia sido privado de qualquer gota de
água, para então ter aquela sede, naquele
momento, ele tinha vontade beber qualquer liquido,
que fosse digerível, para então saciar-se. Olhando
para o outro lado da rua, ele podia ver o pequeno
bar da cor verde desbotada que ficava na frente de
sua casa, e ao lado do bar, ele podia ver o bazar
marrom, feito todo de madeira,- o dono do bar era
o mesmo dono do bazar, mas Luís nunca viu o
mesmo, apenas via as mesmas cinco pessoas
sentadas na frente do bar bebendo suas cervejas,
e as vezes algumas crianças bebendo refrigerante
(como estava vendo naquele dia). Luís conhecia
aquelas crianças, ele estava vendo dois garotos e
uma garota, os dois garotos eram morenos e
magros, ambos usavam uma bermuda que
ultrapassava os seus joelhos, e não usavam
camisetas, e estavam com seus pés descalços e
seus cabelos eram lisos, curtos, e da cor escura, e
aparentavam ter onze anos (Luís não sabia a idade
deles, embora os conhecesse), já a garota era um
pouco mais clara, mas também era magra, usava
uma camiseta verde com um ursinho marrom
segurando uma flor amarela, usava um short azul,
e também estava com os pés descalços, seu cabelo
chegava até seu ombro, também era liso, mas era
de uma cor mais clara (como um amarelo
queimado), e aparentava ter a mesma idade que os
garotos – talvez fosse até mais jovem. Haviam três
crianças, porém, eram quatro copos, Luís cogitou a
ideia de atravessar a rua sem asfalto – que naquele
momento estava deserta – e pedir um gole do
refrigerante, mas se conteve, pois pensou em quão
estranho seria para as crianças aquela situação.
Luís começou a subir a pequena lomba que
tinha em frente a sua casa, chegando ao topo ele
conseguiu sentir o seu pescoço húmido, e duas
pequenas gotas de água salgada descendo pelo
canto direito de sua testa – a primeira começou a
escorrer, e então quando já estava alinhada com
seus olhos castanhos escuros a segunda gota
começou a seguir o percurso da passada. Luís
pensou em parar na sombra do ponto de ônibus –
que era usado como banheiro por bêbados – que
havia ali, mas ele logo desistiu e começou a andar
depressa, pois aquele cheiro era insuportável, ele
invadia as narinas de Luís, aquele cheiro conseguia
ser pior que o odor que havia nos banheiros da
praça no dia que teve aquela festa de
comemoração da prefeitura, Luís sentia pena das
crianças que deveriam esperar o ônibus naquele
lugar.

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