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Gerência de Administração e Suporte
Car mo
Juarez Solino

Coordenação de Produção
Diogo Car valho
Cirino Refosco

BRANDÃO, Fernando.

Igreja multiplicadora – 5 princípios bíblicos para crescimento/


organização de Fernando Brandão. - Rio de Janeiro: Convicção, 2014.

208p. ; 16 x 23 cm

ISBN: 978856101652-4
1. Igreja 2. Evangelização discipuladora 3.Formação de Líderes I.
Título II. Brandão, Fernando, org.

Capa e Projeto Gráfico


Eduardo Mano / Oliverartelucas

Diagramação
Andréa Menezes / Oliverartelucas

Revisor
Adalberto Sousa

Todas as citações bíblicas foram retiradas da versão Almeida Século 21, salvo
quando identificada outra versão.

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BRASILEIRA
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2107-1818 – www.missoesnacionais.org.br
“Existe algo melhor, quando se lê um livro, do que constatar que ele
cumpre o que o título promete? Pois essa é a experiência do leitor de
Igreja Multiplicadora. À luz de Atos 16.5, que encima a capa, o livro
procura desenvolver cinco princípios apresentados no Novo
Testamento. A abordagem prática, como se vê, por exemplo, pela
inserção do capítulo “Colocando em Prática a Visão Multiplicadora”,
poupa à leitura o risco de tornar-se um exercício frustrante diante da
ausência do “e agora?”. Parabéns, Missões Nacionais e Pastor
Fernando M. Brandão! Deus abençoe e confirme o impacto deste
livro!”
Fausto A. Vasconcelos – Pastor, diretor da Divisão de
Missão, Evangelização e Reflexão Teológica da Aliança
Batista Mundial

“A importância de igrejas com a visão multiplicadora é vital para um


continente que deseja uma profunda transformação. Uma ação é
possível quando as comunidades de Fé se dispõem a compartilhar,
anunciando e demonstrando o Evangelho de Jesus. Estes são os
princípios que estão sendo resgatados em “Igreja Multiplicadora”, que
permitirão dar enfoque (focar) e aprofundar o trabalho de todas as
nossas congregações.”
Parrish Jacome – Pastor, diretor executivo da UBLA União
Batista Latino Americana

“É com grande alegria que vejo este material nas mãos do povo de
Deus. Particularmente os batistas brasileiros serão muito abençoados
pelos livros Igreja Multiplicadora – 5 princípios para o Crescimento e o
livro do Pequeno Grupo Multiplicador. Obedecer à Grande Comissão
está no DNA do povo batista, faz parte da nossa identidade. É por isto
que ser uma igreja que se multiplica plantando outras igrejas é natural e
precisa ser experimentado pelas grandes e pequenas igrejas da nossa
nação. A proposta de pequenos grupos é a união das estratégias do
ponto de pregação e dos Núcleos de Estudos Bíblicos (NEBs) com a
proposta de multiplicar estes grupos para plantar igrejas formadas por
muitos grupos que continuam se multiplicando para multiplicar o
número de casas abertas que se transformam em novos pontos de
pregação da salvação eterna que existe em Cristo Jesus. Pela fé aceite o
desafio de multiplicar a sua igreja usando a estratégia de pequenos
grupos multiplicadores. Tenho certeza de que a sua igreja e a sua vida
serão muito abençoadas. Juntos transformaremos o nosso querido
Brasil com o poder do Evangelho!”
L. Roberto Silvado – Pastor, presidente da Convenção
Batista Brasileira

“Este livro é uma resposta a uma necessidade urgente das igrejas e


dos crentes no Brasil, de investir cada vez mais nossa vida e os dons
que Deus nos concedeu para que todos os nossos compatriotas e todo
o mundo possam vir a ser parte do corpo de Cristo, por intermédio da
igreja. Ao ler este livro você vai entender como o Evangelho chegou
até nós, porque os crentes na igreja primitiva compreenderam, se
comprometeram e atuaram como Igreja Multiplicadora. Agora é a
nossa hora de sermos IGREJA MULTIPLICADORA, para que o
Evangelho chegue ao mundo todo.”
Sócrates Oliveira – Pastor, diretor executivo da Convenção
Batista Brasileira

“Se o livro de Atos fosse escrito hoje estaria na internet como o


melhor “site”, o mais visitado, o mais confiável e totalmente protegido
contra hakkers, nas orientações sobre como fazer nascer e multiplicar
a igreja de Cristo em toda a história da humanidade após a vinda de
Jesus Cristo. Missões Nacionais está de parabéns por, baseada nesse
maravilhoso “site”, apresentar este material aos batistas brasileiros
como um guia para o desenvolvimento da igreja no Brasil. Os cinco
princípios apresentados com detalhes não deixa ninguém em dúvida
sobre os procedimentos para a criação e caminhada de Igrejas
Multiplicadoras. Em suas mãos um manual de detalhes para que a sua
igreja cresça, sem chantagens. Não perca a oportunidade de ler e
praticar as instruções que este livro oferece. Faça a sua igreja crescer.
Então, mãos à obra.”
Nancy G. Dusilek – Escritora e líder Batista

“Estes são dias incríveis no Brasil. Deus está agindo. A Palavra de


Deus está se espalhando. Agora é hora da igreja multiplicar. Como eu
agradeço a Deus por este estudo, que mostra o caminho para uma
igreja tornar-se multiplicadora. Eu encorajo todos os seguidores de
Jesus a buscar Deus como nunca antes. Ore! Peça a Deus para agir de
tal maneira que você e sua igreja se tornem multiplicadores. Deus é
capaz de efetuar mais do que nós podemos imaginar. A oração é
fundamental para que isso aconteça. Espero receber notícias de como
Deus tem usado este livro para transformar sua vida e sua igreja.”
Sammy Tippit – Pastor

“Finalmente temos o conteúdo que aborda os diversos ministérios


necessários em igrejas para que elas sejam tanto missionárias como
diaconais. Além disso, o leitor observará que a Igreja Multiplicadora
não apenas usa alguns versículos bíblicos, mas as Escrituras compõem
o alicerce para tudo que ela apresenta, sendo um critério
imprescindível particularmente para o povo denominado batista.
Antecipo que IM vá longe na motivação, capacitação, norteamento da
igreja brasileira.”
David Bledsoe – Pastor, Doutor em Ministério e Teologia,
missionário da IMB, coordenador do Programa de
Mestrado do Southeastern Baptist Theological Seminary
no Brasil e autor do livro Evangelização Via
Relacionamentos
“Christian A. Schwarz escreveu em 1996 o seu ‘Desenvolvimento
Natural da Comunidade. Pelos Princípios que Deus mesmo colocou
em sua Criação’, a partir de pesquisas em mais de 1.000 comunidades
(igrejas locais) em 32 países e 5 continentes e 18 línguas, chamando a
atenção sobre o perigo da mera imitação de ‘modelos’, e propondo o
foco em oito qualidades que favorecem o crescimento natural da igreja
local; aplicáveis em todo o mundo! Temos visto com preocupação que
no Brasil há por vezes a mera imitação de modelos importados. Saúdo
com alegria a elaboração nativa do ‘Igreja Multiplicadora’ com foco em
cinco princípios estratégicos neotestamentários para o desenvolvimento
natural da igreja. Penso ser fundamental voltarmos a dois componentes
estratégicos da ‘tradição batista’ hoje esquecidos e pulverizados: A
função da igreja é adorar a Deus e a missão da igreja é fazer discípulos.
O mais é subproduto... Estou esperançoso que o ‘Igreja Multiplicadora’
trará de volta esses focos multiplicadores neotestamentários!”
Josué Mello Salgado – Pastor da Igreja Memorial Batista
em Brasília – DF, Doutor em Teologia

“A causa de Cristo será enriquecida pela instrumentalidade deste


livro. Os capítulos desta obra foram didaticamente elaborados com
objetivos a serem alcançados, definições de conceitos, ilustrações e
figuras, guias para discussões em grupo, e estudos de casos. Como
praxe batista, abundante material bíblico norteia cada passo aqui
apresentado. Missões Nacionais está de parabéns pela excelência deste
volume, e nós, batistas, estamos supridos com um material confiável e
extremamente prático para multiplicação de discípulos e igrejas!”
D. B. Riker – Pastor, Ph.D., reitor e professor de Teologia
Sistemática da Faculdade Teológica Batista Equatorial
(Belém, PA)

“Eis o resgate da história. Retornamos ao jeito batista de realizar a


obra da evangelização e do discipulado. Para plantar igrejas e realizar o
trabalho do discipulado, cumprindo assim a nossa vocação como povo
que sabe pôr em prática o ide de Jesus e o fazer discípulos, agora
podemos dispor de um manual. Não mais precisaremos seguir
sugestões alheias aos nossos princípios nem dar ouvidos aos métodos
que tantas vezes perdem de vista a essência do ensino bíblico. Chega
em boa hora o livro Igreja Multiplicadora. Parabéns pela obra”.
Valdo Romão – Pastor, diretor executivo da Convenção
Batista do Estado de São Paulo

“Li e apreciei muito o Livro da Igreja Multiplicadora produzido por


Missões Nacionais e recomendo a leitura e a utilização prática na vida
e no ministério, pois o conteúdo elaborado parte do princípio
fundamental para o desenvolvimento da igreja e sua expansão, que é a
oração. Partindo da vida de oração, tanto o crente como a igreja na sua
totalidade poderão se tornar multiplicadores de discípulos na terra. O
livro é rico em conteúdo bíblico que fundamenta uma proposta
revolucionaria para o crescimento da igreja, cujos princípios
norteadores: Principio da Oração, princípio da evangelização
discipuladora, princípio da plantação de igrejas, da formação de
liderança e da compaixão e graça, se colocados em prática, atenderão
ao grande desejo tanto de obreiros como da denominação de
experimentar o crescimento e a expansão da igreja no Brasil.”
Isaias Querino – Pastor, diretor-geral da Convenção Batista
Paranaense

“É com grande alegria e imensa expectativa que recebemos esta


obra produzida por nossa Junta de Missões Nacionais. O alcance da
pátria para Cristo jamais poderá prescindir da visão, dos princípios e da
ação; e são estes os elementos reunidos e bem distribuídos nesta obra.
Instrumento de despertamento, mecanismo de mobilização e
ferramenta de trabalho, este material pode servir muito bem, tanto a
igrejas nascentes, que devem trazer consigo este DNA multiplicador;
como a igrejas atuantes na obra missionária, como elemento motivador
e instruidor; e ainda a igrejas pouco atuantes, que precisam ser
incomodadas com a desafiadora proposta do Senhor da Igreja.”
Ney Ladeia – Pastor da Igreja Batista da Capunga (Recife,
PE) e presidente da Convenção Batista de Pernambuco

“Somos conscientes de que temos uma lacuna no que se refere a um


material apropriado ao trabalho de expansão de nossas igrejas,
especialmente adequado às novas demandas de estratégia. Creio que o
esforço de Missões Nacionais com este novo material de Igreja
Multiplicadora pode preencher essa lacuna e dar nova dinâmica a
nosso esforço de plantar igrejas por todo este grande país”.
Josué Moura Santana – Pastor, diretor-geral da Convenção
Batista do Tocantins

“Igreja Multiplicadora 5 Princípios para o Crescimento” é excelente


conteúdo para que a igreja baseie sua ação nos princípios bíblicos do
crescimento pelo relacionamento: relacionamento com Deus por
intermédio da oração, relacionamento com o próximo para torná-lo
discípulo de Cristo, relacionamento com outros irmãos nos Pequenos
Grupos Multiplicadores para agregá-los à igreja, relacionamento com
outros líderes para multiplicar os capacitadores, tudo visando
multiplicar igrejas, e igrejas para glória de Deus.”
Vanias Batista de Mendonça – Diácono da PIB Manaus e
membro do Conselho da CBB

“Igreja Multiplicadora é sem dúvida um livro inspirado pela igreja


relatada no Novo Testamento. Um manual prático para apoiar e
capacitar a igreja para a desafiadora obra de evangelismo e discipulado.
Eu creio que o Brasil vai provar um avivamento, há anos temos orado
por isso e quando imagino como isso vai acontecer tudo que me vem à
mente é a igreja de Cristo rompendo todas as fronteiras e com ousadia
discipulando esta nação, promovendo santidade e assim multiplicando o
amor de Deus em todas as dimensões. Que Deus nos proporcione um
crescimento quantitativo e qualitativo produzido pelo Espirito Santo e
que o nome de Jesus Cristo seja exaltado e glorificado.”
Márcio Tunala – Pastor e coordenador do Ministério de
Pequenos Grupos Multiplicadores da Igreja Batista do
Bacacheri em Curitiba e escritor do Livro PGM –
Compartilhando o Amor de Deus por meio dos
Relacionamentos

“Terminar de ler o material de Igreja Multiplicadora é como acionar


ignição à esperança e determinação de que é possível viver um
evangelho dinâmico, ativo e genuinamente bíblico sem deixar as
convicções batistas. Nos últimos 15 anos, a obra mais ampla e
profunda a respeito do cumprimento da Grande Comissão e do
Grande Mandamento disponibilizada ao povo batista. E o melhor de
tudo, genuinamente batista. Eu apoio e adoto.”
Alexandre Pascoal Aló da Silva – Pastor da IB Missionária
do Maracanã – Rio de Janeiro, RJ

“Aqui na 1ª IB de Araçatuba estamos experimentando um


crescimento muito lindo da parte de Deus, e tudo começou quando
começamos a colocar em prática os mesmos princípios compartilhados
e explicados neste livro. Poderia escrever muitas experiências
extraordinárias que estamos vivendo em cada uma destas áreas, o
resultado tem sido surpreendente! São princípios bíblicos, que
enxergamos na vida e ministério do Senhor Jesus. Uma ferramenta
preciosa que vem para abençoar a vida não só dos pastores e
missionários, mas de toda a igreja!”
Marcelo Toschi – Pastor da PIB de Araçatuba, SP
Sumário
Apresentação
Agradecimentos
Introdução à visão de Igreja Multiplicadora
Princípios de Igreja Multiplicadora
PRIMEIRO PRINCÍPIO - ORAÇÃO
1 A Oração como Essencial
2 Oração – Definição e Fundamentos:
3 A Importância da Oração para a Igreja Multiplicadora:
4 Por Onde Começar: A Vida de Oração do Líder Multiplicador
5 O Desafio: Ser uma Igreja que Ora e não apenas que Fala sobre
Oração
5.1 Cartão Alvo de Oração
5.2 Famílias que oram e grupos de oração
5.3 Cultos de oração e vigílias
5.4 Minuto que Impacta e transforma – MIt
5.5 Campanhas de Oração
5.6 Mobilizações de Oração nas Redes Sociais
5.7 Rede de Intercessores
5.8 Dez Minutos de Oração
5.9 Caminhadas de Oração
6 Orando por Missões
7 Discussão Em Grupo
7.1 Questões Para Revisão
7.2 Estudo de Caso
7.3 Questões Para Reflexão
SEGUNDO PRINCÍPIO - EVANGELIZAÇÃO DISCIPULADORA
1 A Evangelização à luz da Grande Comissão
1.1 A Essência da Evangelização
1.2 O Propósito da Evangelização
1.3 A Motivação para a Evangelização
1.4 A Fonte de Poder para a Evangelização
1.5 O Alvo da Evangelização
1.6 Definição de Evangelização
2 O Discipulado à Luz da Grande Comissão
2.1 O Discípulo e o Discipulado
2.2 O “Fazer Discípulos” e o Discipulado: As três Dimensões
2.3 O Discipulado Multiplicador e o Envio dos Discípulos
2.4 Definição de Discipulado
3 Definição de Evangelização Discipuladora
4 O Que Evangelização Discipuladora Implica
4.1 Evangelização Discipuladora Implica Orar
4.2 Evangelização Discipuladora Implica Ir
4.3 Evangelização Discipuladora Implica Anunciar
4.4 Evangelização Discipuladora Implica Criar e Aprofundar
Relacionamentos Discipuladores
5 O Relacionamento Discipulador (RD): Chamar, Agregar e
Aperfeiçoar Discípulos
5.1 Relacionamento Discipulador para Chamar Discípulos
5.2 Relacionamento Discipulador para Agregar Discípulos
5.3 Relacionamento Discipulador para Aperfeiçoar Discípulos
5.4 Elementos do Relacionamento Discipulador
6 Cadeia de Relacionamentos Discipuladores
7 O Pequeno Grupo Multiplicador (PGM)
8 Discussão em Grupo
8.1 Questões Para Revisão
8.2 Estudo de Caso:
8.3 Questões Para Reflexão:
TERCEIRO PRINCÍPIO - PLANTAÇÃO DE IGREJA
1 O que é uma Igreja?
2 O Processo da Plantação de Igrejas
2.1 Oração
2.2 Escolha de um Grupo-Alvo
2.3 Assimilação e Adequação à Cultura
2.4 Relacionamento Relevante com o Grupo-Alvo
2.5 Evangelização Discipuladora
2.6 treinamento de Líderes
3 O Plantador de Igrejas
3.1 O Perfil do Plantador de Igrejas
3.2 O Plantador Autóctone
3.3 O Plantador e a Visão Multiplicadora
4 Discussão em Grupo
4.1 Questões para Revisão
4.2 Estudo de Caso
4.3 Questões para Reflexão
QUARTO PRINCÍPIO - FORMAÇÃO DE LIDERES
1 A Vida do Líder e o Exemplo de Cristo: Palavra, Oração e Amor
2 De Liderados a Líderes: A Armadura de Deus
3 A importância do Líder Multiplicador
4 Relacionamento Discipulador: O Ponto de Partida para a
Formação de Líderes Multiplicadores
5 Identificando e treinando Novos Líderes Multiplicadores
6 O Processo de Formação de Novas Lideranças Multiplicadoras
7 O Programa Discipular de Liderança PDL
8 O Pequeno Grupo Multiplicador: Apoio à Formação de Líderes
Multiplicadores
9 O Compromisso da Formação de Líderes Multiplicadores
10 Discussão em Grupo:
10.1 Questões Para Revisão:
10.2 Estudo de Caso:
10.3 Questões Para Reflexão:
QUINTO PRINCÍPIO - COMPAIXÃO E GRAÇA
1. A Compaixão e Graça nas Igrejas do Primeiro Século
2. Compaixão e Graça Hoje
3. Como ser uma Igreja Relevante na Comunidade
3.1 Interesse pela Comunidade
3.2 Oração pela Comunidade
3.3 Compaixão pela Comunidade
3.4 Envolvimento com a Comunidade
3.5 Projetos e Iniciativas de Impacto na Comunidade
4 Discussão em Grupo
4.1 Questões para Revisão
4.2 Estudo de Caso:
4.3 Questões para Reflexão
COLOCANDO EM PRÁTICA - A VISÃO MULTIPLICADORA
1 Como Implantar a Visão de Igreja Multiplicadora
1.1 Primeira Dimensão: Chamar Discípulos
1.2 Segunda Dimensão: Agregar Discípulos
1.3 terceira Dimensão: Aperfeiçoar Discípulos
2 De pastor para Pastor
2.1 Orar
2.2 Mobilizar
2.3 Compartilhar
2.4 Treinar
2.5 Promover o Cartão Alvo
2.6. Iniciar o Pequeno Grupo Multiplicador
2.7 Começar a Cadeia de Relacionamentos Discipuladores
2.8 Formar a Base
2.9 Priorizar a Grande Comissão
VISÃO MISSIONÁRIA E COOPERAÇÃO
1 A Igreja e a Obra Missionária
2 O que é Missões
3 Quem faz Missões
4 A Responsabilidade e o Privilégio Missionários da Igreja
5 Líderes com Visão Missionária
6 Igreja com visão Missionária
6.1 Envolvimento com a missão
6.2 Compromisso com a oração
6.3 Investimento na expansão do Reino
6.4. Envio de Missionários
Apresentação
A missão que os discípulos receberam do Senhor Jesus foi clara e
objetiva: fazer o maior número de discípulos de todas as nações,
de Jerusalém até os confins da terra, enquanto Ele não
retornasse para buscar a sua igreja no grande dia da sua volta
triunfal.

Em Atos 1.8, o Senhor Jesus explicita de forma contundente o que


o Espírito Santo iria fazer e o que Ele esperava de cada discípulo. O
Espírito Santo daria poder e os discípulos testemunhariam. O
testemunho do crente seria uma consequência natural do poder do
Espírito Santo em sua vida. Nenhuma oposição humana ou diabólica
poderia impedir o avanço desse movimento de multiplicação de
discípulos em todo o planeta Terra, pois o Espírito de Deus é quem
estaria no controle de tudo. Essa combinação do poder de Deus e do
testemunho dos cristãos mudaria para sempre a história da
humanidade. Esse rastilho de pólvora aceso em Jerusalém incendiaria o
mundo e chegaria até nós.

Do início da igreja em Jerusalém até os nossos dias muitas coisas


mudaram. Estamos em um contexto inimaginável para uma pessoa que
viveu há dois mil anos. Os tempos são outros. Os cenários e as culturas
sofreram mudanças profundas. Mas será que os princípios estratégicos
usados pelo Espírito Santo para o crescimento e expansão da igreja
naqueles dias foram superados? Creio que não!

Então, qual era a chave dessa estratégia poderosa que impactou e


transformou tantas vidas em tão pouco tempo e proporcionou um
crescimento exponencial à igreja? Se investigarmos bem o Novo
Testamento, veremos no dia a dia dos discípulos que tudo girava em
torno de cinco princípios estratégicos: oração sem cessar,
evangelização discipuladora, plantação de igrejas, formação de
líderes multiplicadores e compaixão e graça.

Com base nestes cinco princípios, Missões Nacionais desenvolveu


um conjunto de estratégias que resultou no livro que você tem em
mãos. Foram anos de trabalho, envolvendo muitos missionários e suas
experiências de campo, igrejas, pastores e parceiros que contribuíram
direta e indiretamente na estruturação de todo o material. Algumas
estratégias usadas no passado por Missões

Nacionais foram contextualizadas, mas os princípios continuaram os


mesmos. Uma delas foi a dos Núcleos de Estudos Bíblicos – NEBs,
que na década de 80, dentro do Plano Nacional de Evangelização –
PNE, foram uma importante ferramenta para o crescimento da igreja.
Agora, eles se transformaram em Pequenos Grupos Multiplicadores, como
você verá no Capítulo de Evangelização Discipuladora.

“Não há nada novo debaixo do sol” (Eclesiastes 1.9b). Isso é pura


verdade. A questão é colocar em prática os princípios multiplicadores
de forma perseverante e determinada. Às vezes, queremos que a igreja
cresça sem trabalho árduo, disciplina e perseverança. Muitas são as
estratégias disponíveis em nossos dias, mas colocá-las em prática é a
grande dificuldade para muitos lideres. Multiplicar o número de
discípulos e igrejas, orar sem cessar, formar e capacitar novos líderes e
ser relevante para a comunidade agindo com compaixão são
prioridades no cumprimento da missão da igreja local que precisam
estar no planejamento dos líderes da igreja do Senhor Jesus.
Obviamente isso tudo dá muito trabalho, mas como diz o apóstolo
Paulo em 1 Coríntios 15.58, “Portanto, meus amados irmãos, sede
firmes e constantes, sempre atuantes na obra do Senhor, sabendo que
nele o vosso trabalho não é inútil”.
A Visão de Igreja Multiplicadora não é um modelo de igreja, mas
uma visão de multiplicação intencional baseada em cinco princípios da
igreja no Novo Testamento e que busca fazer o maior número de
discípulos até a volta do Senhor Jesus, servindo tanto para igrejas
estabelecidas quanto para o início de um novo trabalho.

Estamos numa guerra intensa contra aquele que veio para matar,
roubar e destruir. O diabo não quer que a igreja se multiplique. Por
isso, o trabalho nunca será fácil. Muitos líderes desistem no meio da
jornada e se conformam com as “justificativas” para o não
crescimento e a não multiplicação da igreja local. Alguns buscam
desculpas, como a falta de recursos financeiros e apoio, “a igreja é
difícil”, “as pessoas da comunidade não querem nada com Deus”, falha
de alguém ou de alguma instituição para tentar explicar a estagnação do
rebanho que lhe foi confiado pelo Senhor Jesus.

Eu não tenho dúvida que, se aplicarmos os princípios e as estratégias


da Visão de Igreja Multiplicadora na total dependência do Espírito
Santo, evangelizaremos o nosso país ainda nesta geração e haverá uma
multiplicação exponencial de discípulos e igrejas. Conquistaremos a
Pátria para Cristo. Mas, para isso, é preciso muita determinação,
perseverança, trabalho e oração. Como disse o Senhor a Josué: “Tão
somente esforça-te e tem mui bom ânimo” (Josué 1.7a).

Enquanto o Senhor não volta, devemos manter o foco na missão.

Avançar, sempre! Recuar jamais!


Fernando Brandão
Organizador
Agradecimentos
É impossível organizar uma obra desta natureza, principalmente pela
sua praticidade e amplitude, sem o envolvimento de muitas pessoas.
Por isso, queremos expressar nossa gratidão a todos que direta e
indiretamente contribuíram para que o trabalho fosse concluído;
pessoas que dedicaram e dedicam suas vidas no cumprimento da
missão em solo brasileiro; gente que ora, luta e canta: “Minha pátria
para Cristo” (CC 439).
• Nossos familiares;
• Toda a equipe de Missões Nacionais, que contribuiu na
elaboração do conteúdo;
• Aos que nos antecederam ao longo dos mais de 100 anos de
história da JMN;
• Às igrejas batistas da CBB que amam e vivem missões;
• À Diretoria da Convenção Batista Brasileira;
• Aos pastores e líderes batistas que contribuíram com suas
experiências da igreja local e com sugestões preciosas na
elaboração das estratégias;
• Aos missionários da International Mission Board da Convenção
Batista do Sul dos Estados Unidos;
• Aos evangelistas e plantadores de igreja que levaram a semente
do Evangelho e plantaram muitas igrejas no interior do nosso
Brasil em meio a muitas adversidades. Alguns deram a própria
vida, morrendo em combate;
• Aos voluntários dos projetos missionários da JMN que,
anualmente, dedicam dias preciosos de sua vida para saírem
aos campos para semear;

Ao Deus Soberano e Eterno, que nos amou de tal maneira que


enviou o seu único Filho para nos salvar. A Ele toda a honra e glória
eternamente. Amém.
Introdução à visão de
Igreja Multiplicadora
O Brasil está pronto para a colheita. Existem áreas de semeadura e
de colheita em todas as regiões do país. Não podemos perder as
inúmeras oportunidades que temos neste momento da história de
avançarmos na proclamação do Evangelho para multiplicar o número
de discípulos e de igrejas locais. “Ele morreu por todos” (2 Coríntios
5.15). Essa é a visão da cruz do Calvário. Portanto, todos devem ser
alcançados. Essa tarefa é minha e sua; é da igreja do Senhor Jesus.
Obviamente, temos que desenvolver estratégias diferenciadas para
alcançar cada grupo, pois as pessoas vivem em contextos sociais os
mais diversos. Entretanto, não podemos deixar de pagar o preço de
proclamar o Evangelho para cada pessoa no Brasil e até os confins da
terra, independentemente das circunstâncias.

A Visão de Igreja Multiplicadora é a visão de


multiplicação intencional baseada em cinco
princípios bíblicos de crescimento para a
igreja local, com o objetivo de cumprir a
Grande Comissão.

A Visão de Igreja Multiplicadora é a visão de multiplicação


intencional baseada em cinco princípios bíblicos de
crescimento para a igreja local, com o objetivo de cumprir a
Grande Comissão.
O mais importante da visão é a sua fundamentação bíblica e a sua
aplicabilidade em qualquer contexto ou modelo de igreja hoje. Esses
cincos princípios são: Oração, Evangelização Discipuladora, Plantação
de Igrejas, Formação de Líderes e Compaixão e Graça.
Princípios de Igreja
Multiplicadora
1) Oração A oração não era eventual para os momentos de crise,
nem casual no dia a dia da igreja no Novo Testamento. Ela fazia
parte do estilo de vida da igreja. Eles oravam em todo o tempo
sem cessar. Hoje ora-se pouco em comparação com a igreja do
Novo Testamento. Preocupa-nos quando passamos por tantas
igrejas em nosso país e percebemos que, embora haja exceções,
os cultos e reuniões de oração geralmente são os menos
frequentados. A visão de Igreja Multiplicadora busca
desenvolver a prática da oração de forma mais intensa e
contínua na vida de cada crente, na família, na vida dos líderes e
na igreja local. Muitas vezes o povo de Deus parece que não
tem motivação para orar e buscar a face do Senhor. Sem oração
nada acontece.
2) Evangelização Discipuladora Os discípulos compartilhavam
as Boas-Novas em tempo e fora de tempo, estabelecendo
relacionamentos discipuladores e usando várias estratégias de
acordo com o contexto social. O processo de evangelização
estará incompleto se não andarmos algumas milhas com as
pessoas, compartilhando-lhes verdade e vida. A Evangelização
Discipuladora consiste na comunicação do Evangelho aliada ao
relacionamento discipulador, que é o relacionamento intencional
de um discípulo com outra pessoa visando torná-la outro
discípulo, vivenciando as três dimensões do discipulado: chamar,
agregar e aperfeiçoar discípulos multiplicadores.

3) Plantação de Igrejas – A multiplicação de igrejas foi uma


ação estratégica coordenada pelo Espírito Santo logo no início
da expansão da igreja no Oriente Médio, na Ásia e na Europa. A
chamada missionária de Paulo e Barnabé, quando eles
congregavam e lideravam a igreja em Antioquia, estava
diretamente ligada a esse princípio estratégico: plantar igrejas
multiplicadoras. Quando o Espírito Santo levou Paulo e sua
equipe para a Europa, na segunda viagem missionária,
começando por Filipos, a intenção era plantar igrejas naquela
região (Atos 15.22 e seguintes). E foi exatamente isso que
aconteceu em Tessalônica, Bereia e Corinto. Em todo lugar que
os discípulos chegavam, eles buscavam, intencionalmente,
plantar uma igreja. Esse princípio traduz uma estratégia
necessária também para nossos dias, a fim de que, assim como
foi no primeiro século, multipliquemos o número de igrejas pelo
Brasil e pelo mundo.

4) Formação de Líderes A formação de líderes multiplicadores


é chave dentro dos planos do Senhor Jesus de chegar até os
confins da terra com as Boas-Novas de salvação. A igreja com
líderes sem visão e que não invistam na formação de novos
líderes dificilmente passará de uma geração. Com a multiplicação
de igrejas, inevitavelmente vai surgindo a necessidade de formar
novos líderes. Durante suas viagens missionárias, o apóstolo
Paulo sempre focava a formação e capacitação de novos líderes
para que a igreja continuasse no seu crescente desenvolvimento
e multiplicação.

5) Compaixão e Graça O Senhor Jesus sempre se compadeceu


dos sofrimentos das pessoas. Ele, em vários momentos, encheu-
se de compaixão diante da multidão que perecia como ovelhas
sem pastor (Mateus 9.36). A igreja, noiva de Cristo, não pode
fechar os olhos para as necessidades das pessoas dentro do seu
raio de alcance, e até mesmo em lugares mais distantes. Percebe-
se que estas igrejas, ainda na tenra idade, sabiam que o
ministério a desenvolver deveria ser abrangente. E seu cuidado
com as pessoas fez com que caíssem na graça de todo o povo e
se tornassem relevantes, impactando as pessoas com o
Evangelho. São inúmeras as oportunidades para demonstramos
compaixão, ministrando graça, aos que sofrem. A igreja local não
pode ficar alheia e ausente diante dos desafios sociais ao nosso
redor. A igreja do Senhor Jesus tem compromisso com a
dignidade humana à luz dos valores cristãos.

O objetivo, portanto, da Visão de Igreja Multiplicadora é multiplicar


discípulos e igrejas. Para isso, ela estrutura e organiza ações
interrelacionadas, tendo por base estes cinco princípios: Oração,
Evangelização Discipuladora, Plantação de Igrejas, Formação de
Líderes e Compaixão e Graça. Na verdade, não é uma visão de um
líder específico ou de uma organização, mas as bases sobre as quais a
igreja foi plantada, cresceu e se desenvolveu no período do Novo
Testamento e chegou aos nossos dias. Nos próximos capítulos vamos
apresentar o desenvolvimento dessas estratégias.
OBJETIVOS

Depois de ler este capítulo você deve ser capaz de:


• Definir a oração e seus fundamentos;
• Avaliar a importância da vida de oração do líder
multiplicador e da igreja para a multiplicação de discípulos
e o avanço missionário;
• Identificar estratégias eficazes para engajar a igreja local
na oração;
• Implantar um plano de oração para sua vida, família e
igreja.

1 A Oração como Essencial

A Bíblia está recheada de orações e recomendações para que


oremos de forma constante. Os personagens bíblicos mais lembrados
foram homens e mulheres de oração. Jesus teve uma vida intensa de
oração! Ele é o nosso maior exemplo.

Orar foi o primeiro movimento dos discípulos


após o recebimento da Grande Comissão.

A igreja de Atos entendeu a importância da oração e desde o seu


início a teve como estilo de vida. Ao seguirem a orientação de Jesus de
retornarem a Jerusalém e aguardarem a promessa do Pai, os discípulos
perseveravam em oração. Orar foi o primeiro movimento dos
discípulos após o recebimento da Grande Comissão. Em Atos 1.14, nós
encontramos a igreja buscando intensamente a presença do Senhor:
“E, unidos, todos se dedicavam à oração, juntamente com as mulheres, com
Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”. O resultado foi uma poderosa
proclamação do Evangelho. Em Atos 2.42, Lucas relata sobre os
nossos irmãos que “(...) eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na
comunhão, no partir do pão e nas orações”. Os resultados foram fantásticos!
Sem oração nada acontece.

Basta olharmos ao nosso redor para percebermos o quanto a oração


é essencial. Nós vivemos um tempo de grave deterioração espiritual.
Só o agir de Deus em resposta à oração de Seu povo pode mudar essa
realidade (2 Crônicas 7.14). Apesar desse cenário, Sammy Tippit, em
seu livro O Fator Oração1, traz à tona uma preciosa e animadora
lembrança:

“Através da história da Igreja, os maiores reavivamentos têm


acontecido após períodos de trevas espirituais. Durante estes períodos,
pequenos grupos de pessoas desejavam desesperadamente um
despertamento espiritual. A oração era vista como uma necessidade e
não como uma opção”.

Nós poderemos experimentar em nossa nação um avivamento


espiritual que resulte em uma grande colheita de vidas e uma intensa
multiplicação de igrejas se a igreja atual, a exemplo das igrejas de Atos,
fizer da oração um estilo de vida. Por isso, a Igreja Multiplicadora
apresenta o princípio Oração, com dois objetivos: demonstrar que a
oração é essencial para que tudo isso aconteça e fornecer os meios
para fazer da igreja local uma igreja multiplicadora através da oração.
Teremos uma grande colheita e uma intensa
multiplicação de igrejas se fizermos da oração
um estilo de vida.

2 Oração – Definição e Fundamentos:

Vamos meditar um pouco sobre o que é a oração e quais são os seus


fundamentos.

Das inúmeras definições que podemos encontrar sobre a oração, a


mais simples tende a ser a mais correta: “Orar é conversar com Deus”.
A oração é um diálogo, não um monólogo. Essa ideia pode ser vista em
Êxodo 33.11: “E o SENHOR falava com Moisés face a face, como quem fala
com seu amigo”. Diálogo requer interação, intimidade. A vida de oração
de Moisés proporcionava um relacionamento intenso de comunhão e
amizade com Deus, que se refletia em sua vida e ministério. Na
realidade, a manutenção de uma vida de oração sem cessar é a
plenitude do relacionamento entre homem e Deus. Como diz Gregory
Frizzell: “Se sua vida de oração é inconsistente e fraca, assim será o seu
relacionamento com Deus”2. Orar é muito mais que pedir; é um hábito que
se torna mais precioso a cada instante de nossa vida. Para uma vida de
oração são necessários alguns fundamentos:
• Reconhecimento – É a partir do reconhecimento de que
Deus é Deus e da nossa condição humana de pecadores que
nos prostramos diante do Senhor, carentes da sua graça e
misericórdia (Lucas 5.8).
• Intimidade – Embora Deus conheça tudo a nosso respeito,
ainda precisamos investir o melhor do nosso tempo
diariamente em conversa com Ele, orando e lendo a Palavra
com devoção e disposição. Ter intimidade com Deus é poder
chamá-lo de “Pai”, e amar estar na presença d’Ele em qualquer
circunstância. Como disse o salmista: “A minha alma tem sede de
Deus” (Salmo 42.2). Fomos criados para viver em comunhão
permanente com o Senhor.
• Santidade – “Não podemos esperar viver em defeito e orar com
efeito” (J. Blanchard)3. Nossos pecados nos impedem de orar.
Por isso, o arrependimento deve ser parte da oração: “Senhor,
tem misericórdia de mim, pecador” é o que realmente nos
coloca na presença de Deus. Só após o anjo ter tocado nos
lábios do profeta Isaías é que o chamado aconteceu. No Salmo
139, Davi pede que Deus sonde seu coração. Devemos fazer o
mesmo em oração.
• Humildade – Infelizmente, a disposição de servir a Deus
tem diminuído. Neste tempo que vivemos, muitas pessoas
preferem dar ordens a Deus na mais arrogante das disposições
do que se apresentar para servi-lo. Falta humildade. Um dos
termos bíblicos usados para “oração” é gonypeteó, que quer
dizer “ajoelhar-se diante de”. Ou seja, orar é se prostrar diante
de Deus em total submissão e reverência, literalmente como
faz um escravo diante do seu senhor (Lucas 5.8, Filipenses
2.10). No próprio ato de humildade encontramos a referência
à submissão e ao arrependimento.
• Fé – Pequena palavra, grande desafio. “Pouca fé bastará para
levar-nos ao céu, mas uma grande fé trará o céu até nós” (Charles H.
Spurgeon)4. Essa é a compreensão de Marcos 11.24: “Por isso
vos digo que tudo o que pedirdes em oração, crede que já o recebestes, e o
tereis”.
• Submissão à vontade de Deus – Jesus, nosso exemplo de
oração, submeteu-se à vontade de Deus. “Pai, se queres, afasta de
mim este cálice; todavia, não seja feita a minha vontade, mas a tua”
(Lucas 22.42). Esse é o modelo de uma oração submissa, que
posiciona Deus como soberano sobre nossos desejos.

Portanto, podemos ver a Bíblia como um livro de oração, mais


ainda, como um manual, um guia, uma bússola que indica o caminho
correto da vida de oração. Porém, só há um jeito de aprender a orar:
orando. Só há um Mestre capaz de nos ensinar tudo sobre oração: o
Espírito Santo. Só há um tempo definido para orar: sem cessar. Só há
um momento para começar: agora!

3 A Importância da Oração para a Igreja Multiplicadora:

Uma igreja multiplicadora é uma igreja em


avivamento.

É impossível exagerar quando falamos da oração como fator


determinante para a multiplicação de discípulos e de igrejas. Somente
através da oração é que podemos receber o necessário enchimento do
Espírito Santo para essa multiplicação. É por meio da oração que
podemos experimentar um avivamento bíblico. Na verdade, uma igreja
multiplicadora é uma igreja em avivamento. E a maior expressão de
avivamento em uma igreja será um testemunho poderoso do
Evangelho no cumprimento da Grande Comissão (Mateus 28.18-20).
E aí, sob o poder e a dependência dele, multiplicar discípulos e igrejas
fluirá naturalmente. Esse é o nosso desejo para as igrejas em todo o
Brasil e no mundo.

Mas, para que isso aconteça, antes de qualquer coisa, precisamos


orar muito. A Bíblia está cheia de experiências de homens e mulheres
de Deus que investiram tempo na oração, e o resultado que isso trouxe
foi extraordinário, sobrenatural. Por intermédio da oração recebemos
capacitação, motivação, ousadia e orientação. Quando os apóstolos
foram revestidos de poder, nada (perseguição, timidez, medo ou falta
de preparo) foi empecilho para a pregação ousada e perseverante. O
resultado foi a multiplicação de discípulos e igrejas começando em
Jerusalém, Judeia e Samaria e até os confins da terra (cf. Atos 1.8).

Por mais que estratégias e metodologias sejam importantes,


multiplicar discípulos e igrejas é uma questão de experimentar um
avivamento por meio da oração. Jesus não só deixou uma ordem a sua
igreja (Mateus 28.18-20), como também a equipou com tudo que
precisava para cumprir essa ordem: o poder do Espírito Santo (Atos
1.8). Precisamos orar para que vivamos, de fato, a plenitude do
Espírito para um testemunho poderoso e frutífero, como o das igrejas
no Novo Testamento.

Ao falar sobre a importância da oração, não poderíamos deixar de


mencionar, ainda, sua relevância estratégica para a obra missionária:
• A oração é essencial na evangelização Devemos regar
abundantemente o nosso grupo-alvo com a oração. Às vezes,
pagar o preço de oração pelos perdidos é mais custoso do que
realizar ações evangelísticas, cultos ou estudos bíblicos.
Precisamos estar dispostos a investir tempo em oração por
conversões, pois só o Espírito Santo pode convencer as
pessoas de seus pecados. Pregar o evangelho sem uma
estratégia de oração é como lançar a semente em terra sem o
devido preparo. Precisamos, pois, priorizar o que é mais
importante no processo: a oração.
• Deus liberta os cativos em resposta à intercessão do Seu povo Através da
oração, nós assumimos o papel essencial de parceria com Deus.
Paulo disse: “(...) o deus desse século cegou a mente dos incrédulos, para
que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem
de Deus” (2 Coríntios 4.4). Não há dúvidas sobre o trabalho
ininterrupto de Satanás no sentido de cegar o entendimento
das pessoas, deixando-as insensíveis à voz do Espírito Santo. Se
quisermos que as pessoas sejam salvas, precisamos ter um
programa intenso de intercessão.
• Todo crente pode participar da obra missionária por meio da intercessão –
Paulo afirmou em Efésios 6.18,19: “Com toda oração e súplica,
orando em todo tempo no Espírito e, para isso mesmo, vigiando em toda
perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim, para que a
palavra me seja dada quando eu abrir a boca, para que possa, com
ousadia, tornar conhecido o mistério do evangelho”. Envolver toda a
igreja na obra missionária em oração é uma questão estratégica.
Nem todo cristão pode sair às ruas para evangelizar ou plantar
igrejas, mas todo cristão pode causar um significativo impacto
evangelístico por intermédio da oração. Muitos irmãos com
limitações físicas para ações evangelísticas podem, através da
intercessão, se envolver diretamente na salvação de pessoas.
Como o reino de Deus está perdendo por falta de uma
compreensão bíblica sobre a importância da oração e a
necessidade de intercessores!
• Obreiros serão enviados aos campos como fruto da oração – Jesus nos
ensinou a orar por vocacionados: “E dizia-lhes: Na verdade, a
seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor
da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Lucas 10.2).
Um grande desafio para o avanço da obra missionária no
Brasil e em qualquer parte do mundo é a falta de obreiros.
Não podemos pensar na multiplicação de igrejas sem a
multiplicação de líderes dispostos a entregar a vida para ser
gasta no reino de Deus. Precisamos diariamente levantar um
clamor para que Deus envie obreiros para sua seara. O
trabalho de intercessão é, portanto, parte fundamental na vida
dos líderes das igrejas existentes, que têm a responsabilidade de
ensinar isso para toda a igreja.
• A oração é uma poderosa arma para a batalha espiritual Há situações
em que só a união do povo de Deus em oração trará a vitória.
Aliás, como cristãos vivemos uma intensa guerra! Contra os
principados e potestades das trevas, mas também guerra contra
nós mesmos, nossa natureza carnal, nossos desejos e vontades,
nossos pensamentos e dúvidas. Na verdade, a vida cristã é uma
grande batalha espiritual. A recomendação bíblica é que
usemos a armadura de Deus: “Sede fortalecidos no Senhor e na força
de Seu poder” (Efésios 6.10). Fortalecidos em Deus, temos o
poder necessário para vencer. A nossa grande luta não é contra
carne e sangue, isto é, não é contra pessoas, mas contra os
principados e potestades, contra as hostes espirituais da
iniquidade (Efésios 6.12). Portanto, devemos tomar toda a
armadura de Deus, como recomenda o apóstolo, para
podermos resistir ao dia mau e ficarmos firmes na presença de
nosso Deus. A conclusão da armadura de Deus é justamente a
oração: “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no
Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os
santos” (Efésios 6.18).

A grande questão agora é: como tornar a minha igreja local uma


igreja que ora? A primeira parte da resposta é que uma igreja
dificilmente terá uma vida de oração mais efetiva do que a de seu líder.
Por isso, o primeiro passo é que o líder tenha uma vida poderosa de
oração, que então contagiará toda a igreja.

4 Por Onde Começar: A Vida de Oração do Líder


Multiplicador

Poderíamos falar sobre coisas relacionadas à teologia da oração.


Mas, para isso já há livros excelentes. Na Livraria de Missões
Nacionais (www.livrariamissoesnacionais.org.br) você poderá encontrar
vários títulos interessantes. O nosso maior desejo aqui é motivar cada
líder a desenvolver uma vida prática de oração de modo a refletir em
sua comunidade.
Na liderança de igrejas multiplicadoras é essencial que os obreiros
tenham uma vida de íntima comunhão com Deus e que os novos
crentes sejam ensinados sobre a necessidade de orar sempre e não
desanimar. O líder no reino de Deus precisa ser exemplo em sua vida
de oração. E. M Bounds, em seu livro Poder Através da Oração, nos diz:

“O pregador que ministra vida é um homem de Deus, cujo coração


tem sempre sede de Deus, cuja alma está buscando a Deus constante e
intensamente, cujos olhos estão postos só em Deus e em quem, pelo
poder do Espírito de Deus, a carne e o mundo foram crucificados e seu
ministério é como corrente abundante de um rio que dá vida” 5.

É impossível um homem realizar a obra de Deus sem buscar o


Deus da obra. A oração dará vida ao líder na realização do seu
ministério. Quando colocamos este relacionamento em segundo plano
não conseguimos ter êxito de maneira completa. Precisamos buscar
constantemente a presença do Senhor para que possamos conhecer a
vontade de Deus e colocá-la em prática no nosso dia a dia,
individualmente, em família e comunidade.

Uma igreja dificilmente terá uma vida de


oração mais efetiva do que a de seu líder

Para orar existe uma simples orientação: entre no seu quarto e fale
com Deus (Mateus 6.6). É certo que isso deve guiar nossa vida
devocional. Não devemos complicar o que nos foi dado por Deus de
forma absolutamente simples, gratuita e intensa. Porém, listaremos
algumas ferramentas úteis que nos favorecem a um ambiente
devocional diário para que sejamos líderes que vivenciam um
aprofundamento em sua relação com Deus e que colocam em prática
os princípios de Igreja Multiplicadora:
• Tenha um tempo agendado para orar – Na correria do dia a dia é
muito comum não encontrarmos tempo para a oração. Por
isso, marque na sua agenda do dia um tempo de compromisso
inegociável de oração. Medir quanto tempo oramos num dia
ajuda algumas pessoas a querer estar mais tempo com Deus e,
quando fica claro quão pouco tempo dedicamos à oração, nos
tornamos mais desejosos de orar. Não devemos nos tornar
escravos do tempo, mas podemos usar este instrumento para
nos apoiar. A maneira com que você administra seu tempo
revela quais são as suas prioridades. A oração deve ocupar a
primeira linha dos compromissos de nossa agenda diária.
• Use a Bíblia na Oração – A Bíblia ao nosso lado no momento de
oração pode nos ajudar a ter:

a) Um Guia de Oração: Começando pelos Salmos e passando


pelas belíssimas orações registradas na Bíblia, podemos fazer
algumas destas passagens as nossas orações, inspirando-nos com
modelos;

b) Uma Bússola na Jornada Devocional: Cada dia de oração


regado a um trecho da Bíblia torna nosso momento mais íntimo
quando buscamos em cada palavra lida as orientações divinas.
• Faça um Registro Diário de Oração – Pode ser em um pequeno
caderno de forma a torná-lo portátil, ou no computador, tablet
ou qualquer mídia, em que se vá anotando cada pedido de
oração, as datas, os nomes e outros dados, servindo como um
registro de fé e de respostas de oração.
• Escreva a sua Oração – Muitos têm uma grande dificuldade de
orar, mesmo de se concentrar. Uma boa ajuda pode ser
escrever as suas orações do início ao fim e, ao terminar, lê-la
em voz alta. Podemos expressar com nossas palavras de forma
atenta e nos derramar diante de Deus, de breves petições a
longas conversas com o Pai. Isso serve também como registro
da sua vida devocional.
• Faça uma Lista de Pedidos Em alguns momentos podemos ficar
sem palavras. Para auxiliar nesse tempo, fazemos uso de listas
de pedidos fornecidas pela igreja ou por sites missionários, ou
podemos criar a nossa própria lista.
• Use Obras Devocionais – De fácil compreensão e úteis, são livros
com passagens bíblicas diárias e com reflexões ou pensamentos
cristãos. Já há alguns disponíveis na internet. Como boas
recomendações, podemos citar o Manancial, da União Feminina
Missionária Batista do Brasil ou os Guias das Campanhas dos
100 Dias de Oração.
• Faça um Calendário de Oração – Sua igreja ou mesmo você
poderá produzir temas mensais de oração, com datas e
pedidos, que servem de um passo a passo devocional, muito
usado por agências missionárias.
• Tenha Lembretes Pessoais – Relógios, pulseiras, cordões, ou
qualquer outro objeto que ao olhar para ele possamos nos
lembrar de que é tempo de orar. Use também o alarme do
celular ou relógio.
• Ore em família – O primeiro lugar em que o líder deve conduzir
seus liderados à oração é dentro de sua própria casa. Separe
um tempo para orar em família e edifique o altar do culto
doméstico.
• Tenha um companheiro de oração – Convide um colega de
ministério ou líder da igreja para ser um parceiro
comprometido de oração. Compartilhe lutas e vitórias, apoie
seu companheiro e seja apoiado por ele.

Como você pode notar, existem muitas maneiras de colocar em


prática a nossa vida devocional. Vamos ver agora como fazer de sua
igreja uma igreja que ora.

5 O Desafio: Ser uma Igreja que Ora e não apenas que


Fala sobre Oração

Segundo Charles Lawles, existe uma enorme diferença entre igrejas


que falam muito sobre a importância da oração e igrejas que oram. Há,
ainda, igrejas que nem sequer falam sobre a oração. Nosso alvo não é
apenas que a igreja entenda a importância da oração, mas efetivamente
seja uma igreja de oração.

O grande problema não é a falta de tempo, é a


falta de fé e priorização da oração.

No entanto, esse não é um caminho de um dia, mas uma longa


jornada. O tempo pertence a Deus, e embora a responsabilidade de
buscar o avivamento seja nossa, Ele o dará no momento próprio.
Outra observação importante é que chegar a ser uma Igreja que Ora
exige amor, paciência e perseverança. Sammy Tippit, em seu livro
Avivamento e Evangelismo, nos lembra que uma das características dos
avivamentos históricos é que eles começam com alguns poucos
indivíduos que se tornam fiéis na oração6. Essa é uma excelente forma
de começar o processo. Porém, esse grupo deve ser instruído desde
cedo a não adotar uma postura de superioridade, julgamento ou crítica
com relação aos demais irmãos da igreja. O caminho do avivamento
na oração é pavimentado com muito amor, paciência e constância, pois
Deus quer que toda a igreja, em unidade, seja envolvida nessa
atmosfera de intimidade com Ele, e é maravilhoso quando isso
acontece!

Para isso, vamos compartilhar agora algumas sugestões sobre como


podemos colocar em prática os princípios apresentados para uma
Igreja Multiplicadora no que se refere à Oração.
5.1 Cartão Alvo de Oração

Muitas são as estratégias de oração, mas esta tem se destacado no


objetivo de multiplicar discípulos. Consiste no seguinte: cada membro
da igreja recebe um Cartão Alvo de Oração, no qual escreverá os
nomes de cinco ou mais pessoas por cuja salvação se compromete a
orar durante certo período. Ao mesmo tempo, os membros são
estimulados a orar também por outras pessoas de seu círculo de
relacionamentos e até desconhecidos com quem se encontrem no
cotidiano. Mas a ênfase estará sobre os nomes das cinco pessoas
escritas no Cartão.
Além de orar, os membros são incentivados a anunciar o Evangelho
a tais pessoas e estabelecer relacionamentos discipuladores com elas, de
acordo com os seguintes passos:
• 1º Passo: Escreva o nome das pessoas no Cartão. Ore por elas
todos os dias, pedindo que o Espírito Santo vá preparando o
coração delas para receber a Palavra de Deus, conceda a você
oportunidades e poder para compartilhar o Evangelho e as
convença da necessidade de arrependimento e fé em Jesus
Cristo.
• 2º Passo: Assim que começar a orar, diga a cada uma delas
(pode ser até por mensagem eletrônica) que você está orando
por elas. A mensagem pode ser assim: “Quero que saiba que
você é uma pessoa especial e que estou orando para que Deus
abençoe sua vida, sua família, seu lar e seu trabalho”. Se as
pessoas estiverem acessíveis ao anúncio do Evangelho,
aproveite as oportunidades para compartilhar Cristo com elas.
• 3º Passo: Depois de alguns dias de oração, pergunte às pessoas
de sua lista se há algum pedido especial de oração. É
importante que elas saibam que você se interessa por suas
necessidades e problemas pessoais. Se a pessoa lhe pedir algo,
recomenda-se que você faça uma breve oração naquele
mesmo momento e lugar.
• 4º Passo: Convide as pessoas para irem a sua casa a fim de
compartilhar uma refeição e ter um momento de convívio com
elas. Faça com que elas se sintam bem-vindas e apreciadas.
Durante o encontro, compartilhe o seu testemunho pessoal e
apresente o Evangelho de forma clara e fiel. Pergunte às
pessoas se elas têm interesse em conhecer mais sobre Jesus e
se ofereça para conversar sobre esse assunto mais vezes. Se a
pessoa disser “sim”, glória a Deus! Você acabou de criar um
relacionamento discipulador, que deverá ser aprofundado nos
elementos do acróstico RAÍZES (que você verá à frente no
capítulo de Evangelização Discipuladora, p.78).
• 5º Passo: Convide as pessoas para a reunião do seu Pequeno
Grupo Multiplicador ou para o culto da igreja. Elas dificilmente
recusarão o seu convite. Procure relacionar essas pessoas com
outros crentes, fazendo com que se sintam acolhidas e amadas.
Envolva mais irmãos na oração, na compaixão e no zelo por
essas pessoas.
• 6º Passo: Se a pessoa mostrar desinteresse, desistir ou
simplesmente recusar o seu convite, não desista dela nem
desanime. Continue orando e buscando oportunidades para
evangelizá-la através de outras abordagens, especialmente por
meio do serviço e amor prático. Diga a ela que você, o seu
Pequeno Grupo Multiplicador e a sua igreja estarão sempre à
disposição e que você continuará orando por ela.
Adaptados e ampliados do Plano de Oração Operação André desenvolvido pela
Associação Evangelística Billy Graham e Cruzadas Internacionais.

Que Deus abençoe e use você para ganhar essas pessoas para
Cristo! Depois, recomece o Alvo de Oração com outras pessoas e
também estimule as primeiras pessoas a fazerem o mesmo com outras.
Muitos discípulos serão feitos, para a glória de Deus!

5.2 Famílias que oram e grupos de oração

Esta é uma excelente estratégia para envolver a igreja em oração e


pode ser executada pelas famílias da igreja, que terão um horário para
interceder em favor de seus parentes, amigos e vizinhos. A sugestão é
de trinta minutos, com a leitura de um pequeno texto bíblico e apenas
um cântico, gastando no máximo dez minutos, e os outros vinte, que
devem ser gastos em oração. [E muito importante que as famílias orem
juntas.

Esse trabalho pode ser realizado por pequenos grupos, ou em


reunião de alguns cristãos que residam na mesma rua, ou próximos uns
dos outros e assim poderão ter um encontro regular para oração. Isso
depende do que for combinado entre os participantes desse trabalho.
Quando a cidade é menor, o trabalho pode ser realizado no templo,
uma ou mais vezes por dia, dependendo da disponibilidade das pessoas.
A princípio, pode-se iniciar em um horário e depois com a demanda
incluir outros horários para atender a grupos diferentes de irmãos.

5.3 Cultos de oração e vigílias

Essas atividades estão entre as mais comuns nas igrejas. Algumas


realizam cultos de oração diariamente (matutinos ou ao meio-dia),
outras no meio da semana e, ainda, vigílias de oração. Algumas igrejas
têm se despertado para a oração, realizando programas com a
participação de muitos irmãos, o que tem sido um diferencial nesses
ministérios. Independentemente do número de pessoas, esse trabalho
precisa acontecer em nosso meio, porque à medida que as pessoas vão
crendo e tendo experiências nessa área arranjam mais tempo para orar.
O grande problema não é a falta de tempo, é a falta de fé e priorização
da oração.

5.4 Minuto que Impacta e transforma – MIt

Este é um trabalho iniciado em nível nacional com milhares de


irmãos participando todos os dias ao meio-dia. Agora, está sendo
adotado por igrejas locais, onde os membros poderão marcar um
horário diariamente, ou três vezes por semana, para orar em favor de
pedidos apresentados pelo ministério, e assim todos estarão diariamente
participando de uma atividade de oração. Para facilitar, os irmãos
poderão colocar o relógio ou o celular para despertar em um horário
definido pela igreja ou pelo grupo de participantes.

Quando o horário não é ideal para todos os membros da igreja,


podem-se criar grupos para orar em outros horários e cada membro
da igreja escolhe o que for mais conveniente e assim diariamente todos
estarão envolvidos em uma corrente de oração.

5.5 Campanhas de Oração

A igreja escolhe um tema e um período para que todos orem


especificamente sobre esse tema. Geralmente pensamos em alguma
realidade na qual queremos que Deus intervenha, como, por exemplo,
o momento de trevas espirituais que o país inteiro está vivendo, a
deterioração generalizada da família ou a falta de salvação de parentes
e amigos. Durante aquele período, as famílias e os membros da igreja
podem se cadastrar diante do compromisso de orar em uma fração do
período proposto, construindo uma muralha de oração, de modo que
ao longo da Campanha haja sempre alguém orando pelo motivo
escolhido. A igreja pode ser criativa para desenvolver outros modelos
de Campanha de Oração, envolvendo todos os membros.

5.6 Mobilizações de Oração nas Redes Sociais

Mobilizações na internet ou em outra rede social para oração por


assuntos específicos (crianças, indígenas, etc.), buscando reunir os
crentes em torno de um mesmo motivo de oração em determinado
período. A internet é uma ferramenta poderosa de comunicação e pode
envolver muitas pessoas numa larga rede multiplicadora de oração.

5.7 Rede de Intercessores

Essa é uma estratégia para plantadores de igreja que iniciam o


trabalho com poucas pessoas, e muitas vezes só com a família
missionária. É necessário que o missionário tenha um grupo de
intercessores comprometidos com o povo-alvo e que ore
insistentemente para que Deus salve esse povo. Deve-se fazer uma
ficha para cadastrar cristãos que se comprometam a orar diariamente,
e o obreiro deve alimentar esta rede com informações sobre as
necessidades e transformações que ocorrem no campo. Essa rede pode
chegar a milhares de intercessores, de todos os lugares do Brasil e
mundo. Essa rede de intercessores pode ser mantida através das redes
sociais e outros meios de comunicação. Na igreja local, o trabalho pode
ser realizado por seus membros, e também pessoas de outras regiões
que desejem ajudar nesse ministério.

5.8 Dez Minutos de Oração

Mobilizar a igreja para ter pelo menos dez minutos de oração diária.
Nesse tempo, com o uso do relógio de oração, deve-se ler a Bíblia,
agradecer, interceder, louvar, confessar pecados e suplicar ao Senhor.
Dez Minutos que podem mudar a sua vida, sua família, sua igreja e o
mundo. Dos 1.440 minutos do dia, estamos pedindo dez, ou seja,
menos de 1% do seu dia. Nesses dez minutos, louve a Deus, confesse
pecados, agradeça as bênçãos recebidas, medite em um versículo,
interceda pela igreja, pelo pastor e por outras pessoas. Você verá que
dez minutos é muito pouco tempo!

5.9 Caminhadas de Oração

A igreja local sai pelas ruas do bairro ou cidade intercedendo em


favor das pessoas e famílias que ali residem para que Deus as liberte
de suas superstições e venham a crer em Jesus. A caminhada da oração
também ajuda a igreja a perceber a realidade de seu bairro e a clamar a
Deus por uma intervenção graciosa.

Neemias fez uma espécie de caminhada de oração:


“Assim, cheguei a Jerusalém e, depois de três dias, levantei-me de
noite e saí com alguns dos meus homens. Eu não disse a ninguém o
que o meu Deus havia colocado em meu coração para que eu fizesse por
Jerusalém. Não levei animal algum, a não ser aquele em que eu
montava. Desse modo, saí de noite pela porta do Vale, e fui até a
fonte do Dragão, e até a porta do Esterco, e examinei os muros de
Jerusalém, que tinham sido derrubados, e as suas portas, que haviam
sido queimadas pelo fogo. E fui mais adiante, até a porta da Fonte, e
até o tanque do rei. Mas ali não havia espaço por onde pudesse passar
o animal que eu montava. Ainda de noite, subi pelo vale e examinei o
muro; depois voltei novamente e entrei pela porta do Vale. Os oficiais
não souberam aonde eu tinha ido nem o que havia feito, pois até então
eu nada dissera aos judeus, aos sacerdotes, aos nobres, aos oficiais e aos
demais que fariam a obra. Eu lhes disse então: Vede a triste situação
em que estamos, como Jerusalém está devastada, e as suas portas
destruídas pelo fogo. Vinde! Vamos reconstruir os muros de Jerusalém,
para que não passemos mais vergonha” (Neemias 2.11-17).

Enquanto caminhamos nas ruas devemos orar por toda a


comunidade, e também por lugares como tribunais, faculdades,
delegacias de polícia e escolas. Devemos orar pedindo a Deus que traga
salvação às autoridades. Devemos orar pelas escolas, pois com
frequência, as instituições educacionais se tornam lugares onde as
crianças e os jovens aprendem ideologias contrárias à verdade de Deus
– ateísmo, comunismo e falsas religiões. Precisamos orar para que essas
instituições se tornem lugares em que a verdade de Deus possa se
manifestar.

Devemos orar para que as pessoas tenham os seus olhos abertos


para ver que só Jesus Cristo salva; orar para que toda idolatria seja
desmascarada, para que as pessoas entendam que o ídolo é uma forma
de desviar as pessoas de Deus. Orar para que Deus tenha misericórdia
das pessoas e perdoe sua ignorância espiritual.
Para melhor aproveitamento desse trabalho, pode ser bom dividir o
grupo em duplas ou trios. Precisamos ter consciência de que
caminhadas de oração é batalha espiritual e, portanto, será bom evitar
qualquer tipo de distração. Na igreja pode haver pessoas que não
tenham condições físicas para caminhar longas distâncias, então podem
permanecer no templo ou em casa orando enquanto os demais estão
nas ruas fazendo a caminhada de oração, para que sejam usados por
Deus e ao mesmo tempo protegidos de ciladas do inimigo e até mesmo
de assaltos ou acidentes.

É bom ter cuidado para não chamar a atenção para você ou para o
restante da equipe. Por isso, não ore em voz alta, não grite, apenas ore
na tonalidade de voz que seu parceiro de oração ouça ou no mesmo
volume de voz de uma conversa a dois. Quando estiver em frente a
um edifício ou lugar de adoração religiosa, mantenha-se tranquilo e
pronuncie suavemente a sua oração diante de Deus.

Fale com as pessoas quando surgir oportunidade. Deus pode colocar


em sua vida pessoas receptivas durante a caminhada de oração (veja
Lucas 10.1-7). Esteja preparado também para falar da razão da
esperança que há em você. Deus pode transformar a caminhada de
oração em uma oportunidade para que o Evangelho comece a ser
semeado no coração das pessoas.

Após a caminhada, reúna a equipe para uma avaliação do trabalho e


para ouvir as experiências. Fatos marcantes devem ser anotados, pois
servirão de inspiração para o futuro quando aquela comunidade terá
experimentado o poder transformador de Deus. Registre os nomes de
pessoas que foram contatadas durante a caminhada. Você deve estar
preparado para criar relacionamentos discipuladores com as pessoas
que se interessarão por Cristo.
6 Orando por Missões

“Finalmente, Irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e
seja glorificada, como também o é entre vós” (2 Tessalonicenses 3.1).

Como as demais atividades da igreja, o trabalho de missões é


movido pela oração. A Bíblia é bem clara ao ressaltar a importância da
oração para o desenvolvimento da obra missionária. Seja um
missionário intercessor! Através da oração, você pode estar lado a lado
com os missionários e sua família, colaborando com seu sustento e seu
trabalho de levar pessoas aos pés de Cristo por meio da pregação do
Evangelho. Ore para que Jesus encontre lugar em cada coração. “A
oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5.16). Algumas
orientações importantes:
• Ore especificamente Será difícil orar por todos os missionários do
nosso país e do mundo. Mas, gostaríamos de desafiá-lo a
interceder por alguns missionários e, ainda, manter contato
regular com os missionários e sua família através dos sites
www.missoesnacionais.org.br e www.jmm.org.br. Nesse site há
uma lista de projetos e famílias missionárias pelos quais se pode
e deve orar. Siga a orientação do Espírito Santo e elabore uma
Agenda de Oração com a lista de pedidos. Provavelmente, será
difícil memorizar todos os motivos de oração. Mesmo assim,
não deixe de orar. Ore diariamente por um ponto ou motivo.
• Ore pela região, pelo estado e pelo país onde os missionários atuam
Conheça algo sobre o clima, história e religiões. Peça aos
missionários informações sobre o campo onde eles estão
trabalhando. Ore pelos seus governantes, pela continuidade de
podermos propagar livremente o Evangelho no Brasil e no
mundo, pela aceitação das autoridades locais ao trabalho
missionário, e por fortalecimento em meio às perseguições.
• Ore regularmente Em Lucas 18.1 está escrito: “Contou-lhe também
uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer”. Uma
ideia é escolher um momento do dia. Pode ser antes do almoço
ou do jantar, antes de começar o dia, ou antes de dormir.
Qualquer momento é tempo para intercessão missionária.
• Ore pelo ministério – Ore pelo ensino e pregação da Palavra; por
mais ousadia no testemunhar; para que cada missionário tenha
coragem para superar o medo de um constrangimento ou
fracasso; pelo aproveitamento das oportunidades de
testemunhar do Evangelho; para que o Senhor abra mentes e
corações para o entendimento da mensagem; pelo bom
relacionamento com os habitantes da cidade ou país; pela
formação de uma liderança local; pelos projetos evangelísticos
que serão realizados; para que o Senhor abra outras portas
para a propagação do Evangelho no local onde estão;
• Ore pelo relacionamento dos missionários com Deus Para que tenham
sempre a alimentação espiritual da Palavra; para que tenham
uma vida de oração; para que tenham maturidade espiritual;
para que cresçam na graça; para que tenham a vitória sobre a
carne; para que estejam protegidos das ciladas do inimigo; para
que tenham poder e autoridade concedidos pelo Espírito Santo
de Deus.
• Ore pelo relacionamento do missionário com sua família Pelo
relacionamento de marido e esposa; pelo relacionamento entre
pais e filhos; pelo relacionamento entre os irmãos; pelo
relacionamento com as demais pessoas; por uma vida familiar
exemplar para as famílias locais; pelas amizades que surgirão
através da convivência.
• Ore pela vida física, emocional e social da família missionária Pela
adaptação ao clima e à cultura do local; pela conservação da
saúde dos missionários e familiares; pela segurança completa
nos perigos que possam surgir; por vitória nas lutas e conforto
de Deus na solidão; pela administração eficaz dos recursos
financeiros.
7 Discussão Em Grupo

7.1 Questões Para Revisão

1) Apresente uma definição de oração:


_____________________________________________________________

2) Quais são os fundamentos para uma vida de oração?


a)___________________________________________________________

b)___________________________________________________________

c)___________________________________________________________

d)___________________________________________________________

e)___________________________________________________________

f)___________________________________________________________

3) Explique a importância da oração para uma Igreja Multiplicadora:


_____________________________________________________________

4) Qual a relevância estratégica da oração para a obra missionária?


_____________________________________________________________

5) Por onde o líder da igreja deve começar ao querer que sua igreja
eleve o seu nível de oração?
_____________________________________________________________

6) Liste algumas ferramentas úteis que n os levam ao


aprofundamento do nosso relacionamento com Deus.
a)___________________________________________________________

b)___________________________________________________________

c)___________________________________________________________

7) Exemplifique cinco estratégias de oração para uma Igreja


Multiplicadora:
a)___________________________________________________________

b)___________________________________________________________

c)___________________________________________________________

d)___________________________________________________________

e)___________________________________________________________

7.2 Estudo de Caso

Em 2012, realizamos em todo o Brasil a campanha dos 100 Dias


Impactando a Nação. Além disso, tivemos vários congressos “Orando
Por Sua Família”, com o Pr. Sammy Tippit, em vários estados do país e
também no Distrito Federal, em que os crentes foram despertados
para orar e trabalhar pela conversão de seus familiares e amigos mais
próximos.

Unindo os dois temas, a Convenção Batista do Planalto Central


mobilizou e treinou mais de 2 mil crentes para, durante os 100 dias,
evangelizar pessoas do seu círculo de relacionamentos. A base inicial do
projeto foi a oração. Cada crente recebeu um cartão similar ao Cartão
Alvo de Oração e se comprometeu a orar por 5 pessoas em busca de
conquistá-las para Cristo naquele período.

Uma determinada irmã decidiu orar por 5 pessoas amigas. Essa


irmã participou de toda essa mobilização de oração e evangelização e
também do congresso “Orando por Sua Família”. Ao final de uma das
noites do congresso, os participantes foram motivados a enviar uma
mensagem através do celular para essas 5 pessoas dizendo que estavam
em oração por elas. Ela aceitou o desafio e enviou a mensagem,
dizendo que aquelas pessoas eram especiais e que estava orando por
elas. No dia seguinte, essa irmã recebeu um telefonema de uma dessas
suas amigas, que disse que por algum tempo estava muito triste e
desanimada, pedindo que Deus falasse ao seu coração, e que, na noite
em que recebeu a mensagem e soube que alguém estava orando por
ela, ela viu o quanto Deus a amava. Com isso, ela foi quebrantada pelo
poder do Espírito Santo. Durante a semana, a irmã visitou aquela sua
amiga, compartilhou com ela o Evangelho, e ela recebeu a Cristo.

Como fruto dessa estratégia de oração e evangelização adotada pela


Convenção, houve durante os 100 dias 749 decisões por Cristo, e
dezenas dessas pessoas já foram batizadas. Essa experiência nos mostra
a importância e o poder da oração para a evangelização, e que cada
cristão é chamado a fazer discípulos não apenas lá fora, mas também
dentro de seu círculo de relacionamentos. Grandes experiências do agir
de Deus para a conversão de vidas estão à espera de igrejas cujos
membros se comprometam a orar e trabalhar na evangelização de seus
familiares e amigos.

7.3 Questões Para Reflexão

1) Dificilmente algum de nós discordará que a oração é importante.


Mas será que a nossa prática de vida condiz com o que falamos sobre
a oração?
2) Qual é a relação entre oração, avivamento e evangelismo?

3) De quem é a responsabilidade de orar por missões, por


vocacionados e pelos missionários no campo?

4) Em termos gerais, como a sua igreja seria classificada com


relação à oração: como uma igreja que não ora (ou ora pouco), uma igreja
que fala sobre a oração ou uma igreja que ora? Se a sua igreja não está no
lugar ideal sobre a oração, o que você pode fazer para mudar essa
realidade?

1 TIPPIT, Sammy. O Fator Oração. Rio de Janeiro: Ed. Sabre, 2006. p. 23.
2 Como Desenvolver Uma Vida Poderosa de Oração. São Paulo: Imprensa da Fé, 2008.
p. 8.
3 BLANCHARD, John. Pérolas para a Vida. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1993. p. 276.
4 Apud COWMAN, Lettie. Mananciais no Deserto. Venda Nova: Ed. Betânia, 1980. p. 59.
5 BOUNDS. E. M. Poder através da Oração. 11. ed. São Paulo: Ed. Batista Regular, 1997. p.
13.
6 TIPPIT, Sammy. WRIGHT, Amy. Avivamento e Evangelismo. Rio de Janeiro: Convicção,
2014. p. 76.
OBJETIVOS

Ao chegar a este ponto, você deve estar se perguntando


por que Missões Nacionais tem considerado Evangelismo e
Discipulado juntos em um mesmo princípio de Igreja
Multiplicadora. Nossa expectativa é que, depois de ler este
capítulo, você seja capaz não só de compreender isso, mas
também de:
• Definir os conceitos de Evangelização e Discipulado à luz
da Grande Comissão;
• Explicar o que é Evangelização Discipuladora e
Relacionamento Discipulador;
• Avaliar que a proclamação do Evangelho deve estar
aliada a um Relacionamento Discipulador;
• Identificar as implicações e os benefícios da
Evangelização Discipuladora para a dinâmica da igreja local;
• Avaliar como a estratégia de Pequenos Grupos
Multiplicadores potencializa a Evangelização Discipuladora na
igreja local.
• Para isso, vamos antes rever algumas definições bíblicas
importantes.

1 A Evangelização à luz da Grande Comissão

Para construirmos uma definição de Evangelização Discipuladora,


precisamos entender primeiro o que é Evangelização. Faremos isso
através do exame do que são a essência, o propósito, as motivações, a fonte de
poder e o alvo da Evangelização.

1.1 A Essência da Evangelização

Evangelizar é, por essência, anunciar o Evangelho, torná-lo conhecido.


Para que alguém se converta e se torne um discípulo de Jesus, é
necessário que ouça o Evangelho pelo menos uma vez e o
compreenda, recebendo-o em seu coração pela fé. Quase sempre que a
palavra Evangelho ocorre no Novo Testamento associada a algum
verbo, trata-se de “anunciar”, “pregar”, “fazer notório”, “comunicar”,
“proclamar”, “testemunhar” e “falar”. Paulo chamou a atenção para
essa essência da Evangelização em vários textos, entre eles 1 Coríntios
1.21:“(...) foi do agrado de Deus salvar os que creem por meio do absurdo da
pregação”. Ainda, Romanos 10.14-17:

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão


naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não há quem
pregue?
E como pregarão, se não forem enviados? Assim como está escrito:
Como são belos os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos
deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem deu crédito
à nossa mensagem? Portanto, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela
palavra de Cristo”.

1.2 O Propósito da Evangelização

Quanto ao propósito, evangelizar é oferecer às pessoas uma


oportunidade válida de crer em Jesus Cristo. Por válida, queremos dizer
uma oportunidade em que o Evangelho seja proclamado de maneira
clara e fiel de modo que a pessoa possa vir a compreendê-lo e
responder positivamente. A clareza está relacionada à forma
(linguagem) com que o Evangelho é proclamado e a fidelidade se refere
à concordância com a Bíblia e a teologia do Evangelho. As duas coisas
são igualmente importantes na Evangelização.

1.3 A Motivação para a Evangelização

A Bíblia nos orienta a fazer tudo para a glória de Deus (1 Coríntios


10.31). O apóstolo Paulo parece considerar a evangelização, antes de
tudo, como um ato de adoração, como explica em 1 Tessalonicenses
2.4: Assim como fomos aprovados por Deus para que o evangelho nos fosse
confiado, assim falamos, não para agradar a homens, mas a Deus, que testa nosso
coração”.

Desta forma, a motivação última para a Evangelização é glorificar a Deus.


Essa motivação se desmembra em duas expressões: o nosso amor a
Cristo por meio da obediência e a compaixão pelas vidas perdidas. Jesus
disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e a eles obedece, esse é o que me
ama” (João 14.21). Isso significa que a maior expressão de amor a
Cristo é a obediência a Ele. Para Paulo, o amor de Cristo trazia um
grande senso de responsabilidade na pregação do Evangelho: “Pois o que nos
motiva é o amor de Cristo” (2 Coríntios 5.14a). E, ainda: “Mas, se anuncio o
evangelho, não tenho de que me gloriar, pois tal obrigação me é imposta. E ai de
mim, se não anunciar o evangelho!” (1 Coríntios 9.16).

Por causa desse senso de responsabilidade, devemos evangelizar “toda


criatura” (Marcos 16.15) “a tempo e fora de tempo” (2 Timóteo 4.2). Isso
implica a proclamação constante do Evangelho a todas as pessoas ao
nosso alcance, competindo a nós tanto aproveitar as oportunidades
quanto criá-las. Esse senso de responsabilidade não deve significar,
entretanto, que devamos ficar indiferentes quanto à salvação das
pessoas depois de evangelizadas uma vez. Devemos insistir na
pregação, até porque uma pessoa só deixa de ser um alvo evangelístico
quando se converte a Cristo.

A isso se conecta a segunda expressão da motivação para a


Evangelização, que é glorificar a Deus através da compaixão que devemos
ter pelas almas perdidas, ilustrada, entre outros textos, no exemplo do
Senhor Jesus: “Vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam
atribuladas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9.36).

1.4 A Fonte de Poder para a Evangelização

A fonte de poder para a Evangelização é o Espírito Santo. Quando os


apóstolos foram revestidos do poder do Espírito Santo, nada – nem
perseguição, timidez, medo ou falta de preparo – foi empecilho para a
pregação ousada e perseverante. Jesus não só nos deixou uma ordem
(“ide”) como também nos municiou de tudo que precisamos para
cumpri-la: o pleno e suficiente revestimento do Espírito Santo e a
nossa total dependência d’Ele (Atos 1.8).

1.5 O Alvo da Evangelização

Por fim, o alvo da Evangelização é persuadir as pessoas a crerem em


Jesus Cristo como Senhor e Salvador, de modo a serem acrescidas à
igreja mediante a profissão de fé e o batismo, iniciando o seu
amadurecimento em santidade. Esse alvo fica claro quando nos
voltamos para a Grande Comissão, que é a ordem dada pelo Senhor
Jesus a sua igreja para que ela vá (“ide”) ao mundo perdido (“todas as
nações”) e de lá suscite discípulos para Jesus (“fazei discípulos”),
batizando-os e ensinando-os a obedecer. Interessante notarmos que o
Senhor Jesus enfatiza o “fazer discípulos”, que representa a ordem
principal da Grande Comissão. Isso pode ser representado pelo
seguinte diagrama:
A ênfase da Grande Comissão: “Fazer Discípulos”

Isso não significa, porém, que “ir”, “batizar” e “ensinar a obedecer”


devam ficar em segundo plano, pois, se olharmos a Grande Comissão
sob a ótica daquilo que Jesus deseja que aconteça, fica claro que ela
deve promover a geração de discípulos, a sua inclusão na igreja e a sua
iniciação no processo de aperfeiçoamento cristão.

É certo que a Evangelização muitas vezes envolve o “lançar a


semente” e que nossa ocupação inicial deve ser a quantidade e a
qualidade da semeadura, confiando os resultados nas mãos de Deus.
Também é fato que a conversão é uma obra sobrenatural do Espírito
Santo e a regeneração um milagre que não depende de nós e, ainda,
que é Ele que acrescenta à igreja os salvos (Atos 2.47). Mas cabe a nós
o interesse pela conversão de vidas e não a Evangelização como um fim
em si mesma, desconectada da Grande Comissão. Por isso, toda ação
de Evangelização deve visar fazer discípulos, ainda que os resultados em
termos de conversões não dependam exclusivamente dos nossos
esforços. Seja como for, o alvo da Evangelização, que é fazer discípulos,
deve ser buscado intensamente. Por exemplo, Paulo diz que ele
“procurava convencer os homens” (2 Coríntios 5.11), o que deve ser imitado
por todos nós.

Quando pregamos o Evangelho de forma clara e fiel buscando


conversões, e tais conversões não acontecem por alguma circunstância,
isso não quer dizer que não houve Evangelização. O que determina se a
Evangelização ocorreu é se, além da clareza e fidelidade da mensagem,
esteve presente o alvo de persuadir a pessoa à fé em Jesus. Assim, por
exemplo, podemos dizer que Filipe evangelizou o eunuco (Atos 8), ainda
que, em face da situação de afastamento geográfico, não tenha tido
condições de, após batizá-lo, prosseguir com ele no processo de
amadurecimento cristão. Veja que o evangelista foi até onde as
circunstâncias permitiram. De toda sorte, a intencionalidade de
cumprimento da Grande Comissão foi visível naquela iniciativa
evangelística.

1.6 Definição de Evangelização

Portanto, podemos definir a Evangelização como:

A comunicação clara e fiel do Evangelho visando,


sob o poder e a dependência do Espírito Santo, levar
pessoas ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo
como Senhor e Salvador, tornando-se seus discípulos.

Acabamos de chegar à definição de Evangelização. Vamos, agora,


entender os contornos bíblicos do outro braço da Evangelização
Discipuladora, que é o Discipulado, para, em seguida, aprender como
ambos devem trabalhar juntos para o cumprimento da Grande
Comissão, tanto para crescimento da igreja local quanto para a
plantação de novas igrejas.

2 O Discipulado à Luz da Grande Comissão


Geralmente, associa-se o Discipulado à última parte da Grande
Comissão, isto é, ao “ensinar a obedecer a todas as coisas que [Jesus
ordenou]” para novos convertidos. Mas, será que o “fazer discípulos”
deve acontecer somente após a conversão? Afinal, o que é Discipulado à
luz da Bíblia?

2.1 O Discípulo e o Discipulado

Em primeiro lugar, devemos notar que a palavra “discipulado” não


ocorre na Bíblia, mas apenas o termo “discípulo” e a expressão
imperativa “fazei discípulos” (Mateus 28.19). Desta forma, antes de
construirmos um conceito de Discipulado, é importante entendermos o
que é um discípulo e o que é “fazer discípulos”.

“Discípulo” (“mathetes”, no grego) quer dizer aluno, aprendiz, aquele


que aprende, que segue e se entrega ao ensino de alguém, aquele que
se assenta aos pés de um mestre para aprender com ele. “Discípulo”
era uma palavra usual nos tempos do Novo Testamento. Tanto que o
termo não foi usado apenas para designar os seguidores de Jesus.
Antes, há menção aos discípulos de João Batista (Mateus 9.14), de
Moisés (João 9.28) e também dos fariseus (Marcos 2.18). Jesus,
também, começou seu ministério chamando discípulos para si, que o
seguiram, tendo-o como mestre. Desde que “discípulo” era uma
palavra de uso comum na cultura judaica, até Judas Iscariotes foi
inicialmente contado entre os discípulos (Mateus 10.2-4, Marcos 3.16-
19 e Lucas 6.13-16).

No entanto, a palavra “discípulo” evoluiu em significado teológico e


passou a ser empregada no Novo Testamento, especialmente no Livro
de Atos, com uma conotação mais própria, para designar todos aqueles
que se convertiam ao Evangelho. De fato, todos os crentes, todos os
irmãos, passaram a compor a “multidão dos discípulos” (Atos 6.2),
cujo número ia aumentando cada vez mais, como se lê em Atos 6.7:
“E a palavra de Deus era divulgada, de modo que o número dos discípulos em
Jerusalém se multiplicava muito, e vários sacerdotes obedeciam à fé”.

Outros textos de Atos retratam como a palavra “discípulo”


significava, na igreja primitiva, todo aquele que cria em Jesus e era
salvo, integrando-se no Corpo de Cristo: “Ao chegar em Jerusalém, Saulo
procurou juntar-se aos discípulos; mas todos tinham medo dele e não acreditavam
que ele fosse um discípulo” (Atos 9.26). E, ainda:“Tendo-o achado, levou-o para
Antioquia. E, durante um ano inteiro, reuniram-se naquela igreja e instruíram
muita gente. Em Antioquia, os discípulos foram chamados de cristãos pela
primeira vez” (Atos 11.26).

Portanto, o discípulo de Cristo pode ser assim definido:

Toda pessoa que, sendo salva por meio da fé em


Jesus Cristo, passa a segui-lo como seu Senhor.

Agora, vamos examinar a expressão “fazer discípulos” encontrada na


Grande Comissão.

2.2 O “Fazer Discípulos” e o Discipulado: As três Dimensões

No original, em grego, a palavra em Mateus 28.19 é matheteusate.


Presente na forma imperativa, literalmente significa discipulai, ação essa
que compreende tanto admitir (alistar ou angariar) discípulos, alunos,
quanto passar a ensiná-los e treiná-los.

Podemos perceber desde já que “fazer discípulos” – tradução mais


comum em Português – deve ser entendida não apenas como sinônimo
de aperfeiçoar uma pessoa que já é considerada um discípulo, mas
também de fazer com que alguém que não é um discípulo se torne um.
A primeira atitude do Discipulado praticado por Jesus foi, na maioria
absoluta dos casos, chamar pessoas para segui-lo (Mateus 4.18-22,
Marcos 1.14-20 e Lucas 5.1-11). Desta forma, se entendemos
Discipulado à luz do discipulai exposto na Grande Comissão e da prática
de Jesus, então as pessoas perdidas são o seu público-alvo primário.

O Livro de Atos também aponta para isso: “E, depois de anunciar o


evangelho naquela cidade e de fazer muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio
e Antioquia” (Atos 14.21).

A primeira ação no sentido de fazer discípulos


é chamar pessoas para seguir a Jesus

O texto indica que Paulo e Barnabé anunciaram o Evangelho com


um alvo muito bem definido: fazer discípulos, isto é, alistar novos
discípulos para Jesus Cristo. Certamente eles dedicaram tempo
suficiente para desenvolver um relacionamento com aquelas pessoas
até que elas efetivamente se converteram e passaram a seguir a Jesus
como Senhor e Salvador, tornando-se, enfim, seus discípulos. De igual
forma hoje, a primeira ação no sentido de fazer discípulos é chamar
pessoas para seguir a Jesus, sendo essa a primeira dimensão do
Discipulado.

Só que a Grande Comissão não para nesse ponto: ela nos ordena
também a batizar os discípulos, agregando-os à comunhão na igreja de
Cristo. Nisso se traduz a segunda dimensão do Discipulado:
agregar discípulos. Esse era o procedimento dos apóstolos (Atos
2.38,41, 8.12,13,38, 9.18 e 16.15,33), como descrito em Atos 2.41: “De
sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele
dia agregaram-se quase três mil almas” (Almeida Corrigida e Fiel).

Naturalmente, a expressão “agregaram-se” traz implícita a integração


das pessoas na comunidade dos crentes, o que deve acontecer com
todo convertido. Um exemplo disso é o próprio apóstolo Paulo, que,
depois de batizado, foi imediatamente introduzido ao convívio dos
discípulos que estavam em Damasco (Atos 9.18,19). Assim também
Lídia e o carcereiro de Filipos (Atos 16.15,33,34).

Depois de agregar discípulos, a Grande Comissão nos manda a


ensiná-los a obedecer todas as coisas que o Senhor Jesus Cristo nos
tem ordenado; ou seja, “aperfeiçoar discípulos”, que é, enfim, a
terceira dimensão do Discipulado.

Após terem chamado e agregado discípulos em uma nova comunidade


de crentes, os missionários em Atos 14 também se preocuparam em
retornar às outras cidades para confirmar o ânimo dos discípulos e
exortá-los a perseverar na fé:

“E, depois de anunciar o evangelho naquela cidade e de fazer muitos discípulos,


voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, renovando o ânimo dos discípulos,
exortando-os a perseverar na fé, dizendo que em meio a muitas tribulações nos é
necessário entrar no reino de Deus” (vv. 14.21,22).

Esse conceito está bem retratado em Colossenses 1.28,29, em que o


apóstolo Paulo esclarece que, além de anunciar, buscava admoestar e
ensinar os convertidos: “A ele anunciamos, aconselhando e ensinando todo
homem com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo. Para isso eu trabalho, lutando de acordo com a sua eficácia, que atua
poderosamente em mim”.

Assim, essa terceira dimensão do Discipulado (aperfeiçoar discípulos),


tem em vista “apresentar todo o homem perfeito em Cristo”, como
podemos ler também em Efésios 4.12,13:

“Tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para a obra do


ministério e para a edificação do corpo de Cristo; até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus,
ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de
Cristo”.

Atos 28.30,31 relata que “Paulo morou durante dois anos inteiros na casa
que havia alugado e recebia todos que o visitavam, pregando o reino de Deus e
ensinando as coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade, sem
impedimento algum”. Esse texto traz a noção clara de que Paulo investiu
tempo no aperfeiçoamento cristão de todas as pessoas interessadas. Mais à
frente veremos outros exemplos como esse.

Percebemos, então, que o Discipulado à luz da Grande


Comissão começa com o “chamar discípulos”, passa pelo
“agregar” – isto é, pelo integrar o novo convertido na igreja
local mediante o batismo – e compreende também o “ensinar a
obedecer” – que é o “aperfeiçoar”.

Veja isso neste gráfico:

As três dimensões do Discipulado

Todas essas ações devem ser permeadas por um “criar e


aprofundar” de relacionamentos intencionais, conforme esta ilustração:
Ações da Grande Comissão

2.3 O Discipulado Multiplicador e o Envio dos Discípulos

O Discipulado (“fazer discípulos”) é a estratégia criada por Jesus para


alcançar o mundo, pois por meio dele é possível multiplicar discípulos
para o avanço do Evangelho geograficamente e através das gerações.

A partir do momento em que uma pessoa se torna discípulo de Jesus


mediante a sua conversão, passando a segui-lo como seu Senhor, torna-
se apta a fazer novos discípulos. Os exemplos bíblicos são vários, entre
eles:
• A mulher samaritana, que, imediatamente depois do encontro
com Jesus, “foi à cidade e disse ao povo: Vinde, vede um homem que
me disse tudo o que tenho feito; será ele o Cristo?” (João 4.28,29). Em
resposta, o povo saiu da cidade para ter com Jesus (v. 30).
• O ex-endemoninhado gadareno, que, tão logo foi liberto por Jesus,
foi por Ele comissionado: “Vai para casa, para a tua família, e
anuncia-lhes quanto o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti”
(Marcos 5.19). Em seguida, “ele se retirou e começou a divulgar em
Decápolis tudo quanto Jesus lhe havia feito; e todos se admiravam” (v.
20).
• André, a partir do instante em que encontrou Jesus, foi em
busca de seu irmão Simão Pedro, para quem anunciou:
“Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). E levou-o a Jesus”
(João 1.41,42).

Por isso, o envio do novo discípulo com a missão de fazer novos


discípulos não é uma etapa do Discipulado e muito menos uma ação que
tenha lugar somente depois do “agregar” ou do “aperfeiçoar”, mas
uma consequência do próprio chamado para ser um discípulo, pois todo
discípulo de Jesus é comissionado a ser um multiplicador: “Vinde após
mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Mateus 4.19 e Marcos 1.17).

2.4 Definição de Discipulado

O Discipulado, como encontrado no chamado primordial de cada


cristão, é mais do que ministrar estudos bíblicos ou ter classe de
doutrina para um novo convertido, pois começa com o relacionamento
intencional que deve ser gerado desde a primeira ação evangelística que
objetiva “chamar discípulos multiplicadores”, prossegue pelo “agregar
discípulos” e continua no “aperfeiçoar discípulos”.

Diante disso, podemos definir o Discipulado como:

O processo de fazer discípulos multiplicadores por


meio do relacionamento intencional de um discípulo
com uma pessoa visando torná-la outro discípulo.

Isso é o que a partir de agora chamaremos de Relacionamento


Discipulador RD, que é o relacionamento intencional de um discípulo
com uma pessoa visando torná-la outro discípulo, cujos elementos
vamos estudar mais à frente. O RD pode acontecer entre um discípulo
e uma pessoa não convertida visando torná-la um discípulo ou entre
um discípulo e outro visando aperfeiçoá-lo. Observem que o
Discipulado está relacionado com o processo de “fazer discípulos”
encontrado na Grande Comissão, enquanto o Relacionamento Discipulador
é o meio pelo qual esse processo se desenvolve. Observe, então, a
definição de Evangelização Discipuladora a seguir.

3 Definição de Evangelização Discipuladora

Evangelização e Discipulado precisam ser unidos debaixo da autoridade


da Grande Comissão. Primeiro, porque é somente à luz dela que esses
dois conceitos podem ser entendidos de forma completa. Segundo,
porque só quando eles são plenamente compreendidos é que a igreja
está apta a cumprir a Grande Comissão em toda a sua abrangência. A
Grande Comissão é, portanto, o ponto de partida e o de chegada da
Evangelização Discipuladora.

O cumprimento da Grande Comissão exige a aplicação conjunta


dessas duas forças: a transmissão de verdades por intermédio da
comunicação do Evangelho e seus desdobramentos, o que compreende
a sua proclamação, exposição e ensino, inclusive quanto a suas
implicações para a vida cristã, e a transmissão de vida por meio de um
relacionamento.

Essas duas linhas paralelas acompanham toda a dinâmica de


cumprimento da Grande Comissão, nas suas três dimensões, podem
ser facilmente observadas na descrição feita pelo apóstolo Paulo sobre
a forma como foi realizado o seu esforço missionário entre os efésios
e os tessalonicenses:

“Quando chegaram, Paulo disse-lhes: Bem sabeis de que modo tenho


vivido entre vós o tempo todo, desde o primeiro dia em que entrei na
Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e
provações, as quais me sobrevieram pelas ciladas dos judeus. Não me
esquivei de vos anunciar nada que fosse benéfico, ensinando-vos
publicamente e de casa em casa, testemunhando, tanto a judeus
como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso
Senhor Jesus. (...) Mas em nada considero a vida preciosa para mim
mesmo, contanto que eu complete a minha carreira e o ministério que
recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da
graça de Deus. E agora sei que nenhum de vós, por entre os quais
passei pregando o reino de Deus, jamais tornará a ver o meu
rosto. Portanto, no dia de hoje, eu vos afirmo que estou limpo do
sangue de todos. Porque não deixei de vos anunciar todo o propósito
de Deus. (...) Estai atentos, lembrando-vos de que durante três anos
não cessei, dia e noite e com lágrimas, de aconselhar cada
um de vós. (...) Em tudo vos dei o exemplo de que deveis
trabalhar assim, a fim de socorrerdes os doentes, recordando as
palavras do próprio Senhor Jesus: Dar é mais bem-aventurado que
receber” (Atos 20.18-21,24,26,27,31,35, grifos nossos).
“Assim, devido ao grande afeto por vós, estávamos preparados a dar-
vos de boa vontade não somente o evangelho de Deus,
mas também a própria vida, visto que vos tornastes muito
amados para nós. Irmãos, sem dúvida vos lembrais do nosso
trabalho e fadiga; trabalhamos dia e noite para não ser um peso a
nenhum de vós, enquanto vos pregamos o evangelho de
Deus. Vós e Deus sois testemunhas de como nos portamos de
modo santo, justo e irrepreensível para convosco, os que
credes; assim como sabeis que tratávamos a cada um de vós da mesma
forma como um pai trata seus filhos, exortando-vos,
consolando-vos e insistindo em que vivêsseis de modo digno de
Deus, que vos chamou para o seu reino e glória” (1 Tessalonicenses
2.8-11, grifos nossos).
O ministério de Paulo compreendia transmissão de verdades e de vida,
ensino e relacionamento, comunicação e convívio, evangelização e relacionamento.
Veja isso no gráfico a seguir:

Evangelização Discipuladora

Por fim, a Evangelização Discipuladora pode ser assim definida:

A comunicação do Evangelho aliada ao


relacionamento discipulador com o objetivo de
chamar, agregar e aperfeiçoar discípulos
multiplicadores.

Vamos ver, agora, como a Evangelização Discipuladora se expressa em


termos mais práticos.

4 O Que Evangelização Discipuladora Implica

Para ser aplicada, a Evangelização Discipuladora exige de cada cristão e


da igreja como um todo as seguintes ações:

4.1 Evangelização Discipuladora Implica Orar

Como já tratado no capítulo de Oração, antes de qualquer coisa,


precisamos orar, orar e orar: de forma geral por pessoas desconhecidas
e de modo específico por pessoas conhecidas (familiares e amigos),
pela salvação dos perdidos, por corações abertos, por oportunidades de
evangelização e pela criação de vínculos com não crentes.

4.2 Evangelização Discipuladora Implica Ir

Evangelizar exige um movimento intencional na direção do perdido


a fim de lhe proclamar a mensagem do Evangelho. Essa foi, por
exemplo, a ordem dada pelo anjo a Filipe em Atos 8.26: “Levanta-te e
vai!”. E depois: “Aproxima-te e acompanha essa carruagem” (v. 29). O
resultado foi a conversão e o batismo do eunuco. Outro exemplo foi a
direção dada por Jesus ao ex-endemoninhado de Gadara: “Vai para
casa, para a tua família, e anuncia-lhes quanto o Senhor fez por ti e como teve
misericórdia de ti” (Marcos 5.19).

Nós é que temos que criar as oportunidades, ir intencionalmente na


direção do perdido, e não ficar esperando até que as circunstâncias
estejam perfeitas. Do contrário, nunca agiremos: “Quem observa o vento
não semeará, e o que olha para as nuvens não colherá” (Eclesiastes 11.4).
Ficamos impressionados ao ler em Atos que aqueles irmãos buscavam
testemunhar de Jesus a todas as pessoas, onde quer que fossem.

Quando pensamos em pessoas de nosso relacionamento, isto é,


nossos familiares, amigos e conhecidos, o “ir” significa vencer as
barreiras do medo e da timidez para comunicar o Evangelho. Com
relação às pessoas desconhecidas, o “ir” se traduz em abordar essas
pessoas onde elas estão, nas ruas, nos locais públicos e nas casas e até
aos “confins da terra” (Atos 1.8), e então lhes anunciar o Evangelho. O
importante é fazermos o máximo para comunicar o Evangelho a todas
as pessoas. Esse é o princípio de Semeadura Abundante. Era assim que
Paulo procedia, como vemos nestes textos: “Aproveitando bem cada
oportunidade, porque os dias são maus” (Efésios 5.16). E
também:“Comportai-vos com sabedoria para com os de fora, aproveitando bem
cada oportunidade” (Colossenses 4.5).

4.3 Evangelização Discipuladora Implica Anunciar

A ação de Anunciar pode ser ilustrada com uma flecha atingindo um


alvo, em que a flecha é a mensagem do Evangelho e o alvo é o
coração da pessoa perdida. Para que essa flecha chegue ao seu
objetivo, é necessário pensarmos em alguns fatores: Público-alvo,
Mensagem, Abordagem, Linguagem, Vínculo e Oração, que podem ser assim
visualizados:

O ALVO para Anunciar

• O Público-alvo deve ser Amplo – As expressões “toda criatura”


(Marcos 16.15) e “todas as nações” (Mateus 28.19) deixam
claro que o público-alvo da Grande Comissão inclui todas as
pessoas, desde os nossos familiares, amigos, colegas e
conhecidos, pessoas com quem cruzamos casualmente todos
os dias até aquelas que residem nos pontos mais remotos do
planeta. Isso também compreende pessoas ricas ou pobres,
moradoras de comunidades de risco ou de condomínios
fechados, adultos e crianças, além de grupos específicos, tais
como surdos, etnias, tribos urbanas e pessoas marginalizadas
pela sociedade. A Grande Comissão impõe à igreja de Cristo
chegar até cada uma dessas pessoas. Antes disso, a missão ainda
estará pendente de ser cumprida. Uma Igreja Multiplicadora,
por estar empenhada em cumprir a Grande Comissão,
observará constantemente quem são as pessoas e os grupos de
pessoas ao seu redor que ainda não foram alcançados e
investigará quais as melhores estratégias para “fazer discípulos”
entre eles, tudo isso sem perder de vista a sua responsabilidade
pelas pessoas perdidas em nível regional, nacional e mundial.
• A Mensagem deve ser Desafiadora – Como já vimos, a essência da
Evangelização é a proclamação da mensagem do Evangelho,
ou seja, a mensagem do amor de Deus revelado na morte de
cruz e na ressurreição de Jesus Cristo para que todas as
pessoas que creem n’Ele como Salvador e Senhor não sofram
a justa retribuição dos seus pecados, que é a perdição eterna,
mas recebam de graça e mediante a fé a salvação, ou seja, a
vida eterna. Ocorre que há níveis diversos de ignorância com
relação a Deus, ao próprio estado como ser humano e ao
Evangelho. Em alguns casos, as pessoas nem sequer acreditam
em Deus, seja porque optaram por isso, seja por não terem
tido a oportunidade de ouvir sobre Ele “Como crerão naquele de
que não ouviram?” (Romanos 10.14). Em outros, estão
conscientes de que existe um só Deus, mas, por não
conhecerem os Seus atributos à luz da Bíblia, ainda estão
apegados aos ídolos. Ou, então, por não entenderem a
santidade de Deus e as consequências disso com relação ao
pecado, pensam que já estão em paz com Deus, quando, na
realidade, estão apenas de acordo com o “deus” que idealizam.
Outras pessoas têm noção da santidade divina em contraste
com a sua pecaminosidade e percebem que algo não está certo
entre elas e Deus; porém, por ignorarem o caminho da
salvação, buscam consertar isso na base de rituais religiosos e
boas obras. Todos esses diferentes níveis de compreensão nos
mostram que, para uma comunicação do Evangelho persuasiva
e relevante, precisamos considerar a situação da pessoa em sua
jornada até Cristo de modo a desafiá-la a dar um passo adiante.
Ou seja, precisamos discernir para desafiar.
• A A Abordagem deve ser Conforme a Receptividade – Abordagem é a
forma de aproximação de uma pessoa ou de um grupo de
pessoas com o objetivo de lhes comunicar a mensagem do
Evangelho. Quanto maior a receptividade das pessoas, mais
direta pode ser a abordagem. Quanto menor a receptividade,
maior a necessidade de utilização de estratégias de acesso. A
receptividade também é medida com relação à simpatia pela
pessoa ou grupo que está evangelizando. Muitas pessoas
aceitam ouvir de coração aberto a pregação de um evangelista
que acabaram de conhecer; outras só estarão acessíveis à
pregação do Evangelho se for anunciado por um amigo ou
conhecido ou, ainda, se o pregador estiver respaldado por uma
igreja ou projeto com credibilidade. Então, podemos dizer que
nenhum método de abordagem evangelística é bom ou ruim
em si mesmo, mas adequado ou não ao contexto e à
receptividade das pessoas. Nenhuma abordagem deve ser
direta demais a ponto de não cativar a atenção das pessoas
nem indireta demais a ponto de dar rodeios desnecessários.
• L A Linguagem deve ser Contextualizada – O conteúdo da
mensagem deve ser mantido fiel, mas, a bem da clareza na
comunicação, a forma com que é transmitida é adaptável ao
público-alvo (ex.: crianças, adultos, grupos específicos, surdos,
etc.). Quanto maior for a distância cultural e etária entre o
mensageiro e o destinatário da mensagem, mais será preciso
dar atenção à questão da contextualização da linguagem.
Evangelizar em linguagem contextualizada inclui a utilização
apropriada de folhetos e demais materiais. Como vimos, o
propósito da Evangelização é dar às pessoas uma oportunidade
válida de crerem em Jesus Cristo. A eventual falta de clareza na
exposição do Evangelho pode comprometer a validade de uma
ação de Evangelização.
• V O Vínculo deve ser Planejado desde o Início – Na Evangelização
Discipuladora, todas as ações de Evangelização já devem ser vistas
como parte de uma dinâmica de “fazer discípulos”, e não
como iniciativas isoladas. Para isso, a Evangelização deve
envolver um planejamento de como se poderá estabelecer um
vínculo com as pessoas receptivas ao anúncio do Evangelho. O
vínculo é a conexão que se busca estabelecer entre o evangelista
e o evangelizado, que é o primeiro estágio do Relacionamento
Discipulador. Esse vínculo será mais ou menos forte de acordo
com a receptividade e o interesse da pessoa e o investimento
que puder ser feito em sua vida. No mínimo, pode significar a
abertura de um canal de comunicação, como a simples
anotação de um telefone ou e-mail para contato. Melhor ainda
se o anúncio do Evangelho puder oportunizar o agendamento
desde logo de uma vista evangelística ou a introdução da
pessoa evangelizada no convívio cristão. O importante é que o
vínculo seja um tópico a se considerar no planejamento
evangelístico.
• • O A Oração é a Base de Tudo – Como já visto no capítulo
anterior, todos os crentes devem ser estimulados a orar em
favor da salvação das pessoas que estão evangelizando. A
oração é o combustível da Evangelização.

4.4 Evangelização Discipuladora Implica Criar e Aprofundar


Relacionamentos Discipuladores

É impossível cumprir plenamente a Grande


Comissão sem relacionamentos.

É impossível cumprir plenamente a Grande Comissão sem


relacionamentos. Deus, que é um Ser Pessoal, veio a nós em forma de
pessoa para se relacionar conosco. Jesus Cristo, nosso modelo de
discipulador, não apenas convidou os seus discípulos para segui-lo,
como também os acompanhou de perto até que estivessem preparados
para dar continuidade a Sua missão.

Não se trata aqui de defender uma metodologia de Evangelização por


meio de relacionamentos como antagônica a uma Evangelização “sem
relacionamentos”. O que queremos demonstrar é que há uma
complementaridade, pois é impossível implementar plenamente a
Grande Comissão sem relacionamentos e sem a proclamação da
Palavra. Um sem o outro por si só não cumpre a Grande Comissão
em sua inteireza. Para saber mais sobre como os relacionamentos são
uma providência de Deus para a evangelização, confira o livro
Evangelização Via Relacionamentos, de David Bledsoe, disponível na
Livraria de Missões Nacionais (www.livrariamissoesnacionais.org.br).

É bem verdade que nem sempre será possível criar e aprofundar


relacionamentos discipuladores com as pessoas que evangelizamos em
função de múltiplas circunstâncias limitadoras, a exemplo de
afastamento geográfico – como foi o caso já citado do encontro de
Filipe e o eunuco (Atos 8) – ou a própria recusa por parte da pessoa
evangelizada – como no caso do jovem rico (Mateus 19.16). Contudo,
o evangelista discipulador deve querer sempre criar e desenvolver um
relacionamento discipulador.

A proposta da Evangelização Discipuladora é que testemunhemos a


todas as pessoas e nos ofereçamos a andar perto daquelas que
percebemos que estão abertas a um relacionamento discipulador. Os
únicos limites são o máximo que podemos fazer – de acordo com a
disponibilidade de tempo e recursos – e o máximo que as pessoas nos
permitirem fazer, visto que as evangelizamos e continuamos a
evangelizar conforme a sua receptividade ao Evangelho.

Por isso, o que caracteriza a Evangelização Discipuladora é que todo


processo de comunicação do Evangelho deve estar aliado a uma
intencionalidade de criação e aprofunda mento de relacionamentos
discipuladores, a fim de que efetivamente possamos evangelizar as
pessoas com vistas a que se tornem discípulas de Jesus e a que sejam
agregadas à igreja e iniciadas no aperfeiçoamento cristão. Confira ao
final deste livro a ferramenta do Caminho do Discipulado, que lhe
ajudará passo a passo em como colocar em prática a Evangelização
Discipuladora.

O que caracteriza a Evangelização


Discipuladora é que todo processo de
comunicação do Evangelho deve estar aliado
a uma intencionalidade de criação e
aprofundamento de relacionamentos
discipuladores

Pensando assim, o cumprimento da Grande Comissão em toda sua


plenitude passa a ser entendido não apenas como um ato (só Anunciar),
mas como um processo (Criar e Aprofundar Relacionamentos Discipuladores).
Tudo bem que a Evangelização, em si, é uma ação no sentido de que o
verbo mais próprio para sintetizar a atividade de pregar as Boas-Novas
é mesmo Evangelizar, e não há como fugir disso. No entanto, se
considerarmos que o que Jesus espera da Sua igreja é que ela “faça
discípulos” e que essa ordem envolve expor as pessoas o máximo de
tempo ao poder transformador do Evangelho, a Evangelização
Discipuladora é mais bem identificada como um processo, no sentido de
que exige o estabelecimento de um relacionamento discipulador com
vistas à efetiva conversão do indivíduo e a sua inclusão na igreja pelo
batismo, tornando-se um discípulo multiplicador. Até porque, a maioria
das pessoas precisa ser exposta ao Evangelho durante algum tempo
até que finalmente se converta. A proposta aqui é eliminar a dualidade
entre o que é função do evangelista e do discipulador, e também
acabar com o entendimento de que “evangelizar” é uma atividade que
pode ser realizada à parte do “fazer discípulos”.

Observe como a Evangelização Discipuladora contrasta com as noções


habituais sobre a relação entre Evangelização e Discipulado, que podem
ser classificadas de duas formas: Evangelização Versus Discipulado e
Evangelização mais Acompanhamento Evangelístico Versus Discipulado.

Vejamos o sistema de Evangelização Versus Discipulado. No passado,


em nossas campanhas evangelísticas, era costume aqueles que se
incumbiam da Evangelização – e geralmente apenas dela –, uma vez
encerrada a “fase de evangelização”, entregarem nomes e fichas de
pessoas decididas ao pastor ou missionário local para que ele iniciasse
com elas o processo de “discipulado”. Esse evangelista se sentia quite
com sua obrigação perante a Grande Comissão no momento em que
obtinha tantas decisões e deixava com o responsável pelo “discipulado”
as fichas das pessoas ditas como “convertidas”. Por esse sistema,
quando os “frutos” não eram “conservados”, a culpa era atribuída ao
obreiro local, que não teria sido diligente na etapa do discipulado. Não
há como argumentar contra o fato de que esse sistema tem gerado
uma grande perda dos “resultados” de muitas de nossas ações
evangelísticas. Um ano depois, costuma-se visualizar poucos resultados
em termos de batismos.
Evangelização Versus Discipulado

Observemos agora o sistema chamado de Evangelização mais


Acompanhamento Evangelístico Versus Discipulado. Devido àquela realidade
incômoda e na tentativa de responder à questão mencionada, passou-se
a entender que “decisão” não é necessariamente o mesmo que
“conversão”. Em geral, uma “decisão” ou, para outros, uma
“manifestação ao lado de Cristo”, passou a ser encarada como um
“interesse por Jesus”, ou seja, um desejo sincero de conhecer mais
sobre Cristo ou até mesmo de participar de um estudo bíblico. Nesse
sistema, o que se segue à Evangelização são estudos bíblicos em que se
pode apresentar o Evangelho de forma mais completa e continuada às
pessoas interessadas em conhecer mais sobre Jesus, encerrando-se com
a sua efetiva conversão. Esse Acompanhamento Evangelístico, como o nome
sugere, ainda deve ser encarado como parte da Evangelização. Nessa
forma de pensar, o “discipulado”, como tradicionalmente entendido, é
o que acontece depois da conversão dessa pessoa, quando ela então
será “ensinada acerca de todas as coisas que Jesus Cristo tem nos ordenado”
(Mateus 28.20). O problema é que, de modo geral, o Acompanhamento
Evangelístico acabou preso em uma lacuna que não se sabe quem deve
preencher: se o evangelista ou o discipulador. Além disso, esse conceito
identifica o Discipulado apenas como sinônimo do cumprimento do
“ensinar acerca de todas as coisas”, quando já vimos que é muito mais
do que isso.

Evangelização + Acompanhamento Evangelístico Versus Discipulado

“Fazer discípulos” é um processo que começa no primeiro anúncio


do Evangelho a uma pessoa, pois ali já se pretende transformá-la em
um seguidor de Cristo, um discípulo. Assim, nós evoluímos para um
novo entendimento: a Evangelização Discipuladora, que une Evangelização
e Discipulado à luz da Grande Comissão.

O tópico a seguir trata do relacionamento discipulador. O destaque é


que o relacionamento discipulador não serve apenas ao “chamar”
discípulos, que, como visto, é apenas a primeira dimensão do Discipulado,
mas também ao “agregar” e ao “aperfeiçoar” discípulos, como
passamos a expor.

5 O Relacionamento Discipulador (RD): Chamar,


Agregar e Aperfeiçoar Discípulos

Como vimos, o Relacionamento Discipulador é o relacionamento


intencional de um discípulo com uma pessoa visando torná-la outro
discípulo. Vejamos agora como o Relacionamento Discipulador se
desenvolve nas três dimensões do Discipulado.

5.1 Relacionamento Discipulador para Chamar Discípulos

Todas as vezes que, tendo sido anunciado o Evangelho a uma


pessoa perdida, esta se mostra interessada em continuar ouvindo sobre
o assunto, a Grande Comissão nos ordena a estabelecer com ela um
Relacionamento Discipulador. Como já visto, chamar alguém para ser um
discípulo é a primeira dimensão do Discipulado. Portanto, não devemos
ver o Discipulado como apenas o ato de ajudar uma pessoa que já é
crente a crescer na fé, mas como ações no sentido de fazer de alguém
um discípulo completo de Jesus, incorporado na igreja por meio do
batismo e em processo contínuo de amadurecimento espiritual. Por
isso, o Relacionamento Discipulador é algo a ser buscado desde a primeira
abordagem e que será concretizado dependendo do interesse da pessoa
pelo Evangelho. As condições iniciais para o estabelecimento de um
Relacionamento Discipulador são, pois, anúncio do Evangelho e interesse
da pessoa evangelizada.

Condições para o Relacionamento Discipulador: Anúncio e Interesse

Se repararmos bem, essa era a metodologia dos apóstolos: em


primeiro lugar, buscavam anunciar o Evangelho para o máximo de
pessoas; depois, dedicavam atenção àquelas que se mostravam
interessadas. Observem alguns exemplos no Livro de Atos:
• Em 2.40-42, depois do célebre sermão no dia de Pentecostes,
Pedro “com muitas outras palavras (...) deu testemunho e exortava as
pessoas”. Os que aceitaram de bom grado o Evangelho foram
batizados e começaram a perseverar no ensino dos apóstolos,
na comunhão e nas orações. Isso denota uma dedicação
integral dos apóstolos às pessoas receptivas à pregação. No v.
42, os apóstolos “todos os dias, no templo e nas casas, não
cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo”. Ora, para
os apóstolos terem estado nas casas, isso dependeu de os seus
moradores estarem interessados em conhecer mais sobre o
Evangelho, depois de o terem ouvido pelo menos uma vez.
• Em Antioquia da Pisídia (13.4ss.), Paulo começou pregando o
Evangelho publicamente na sinagoga. Tendo muitos dos judeus
e prosélitos crido, estes seguiram Paulo e Barnabé. Os dois,
então, dedicaram atenção imediata a esses, falando-lhes e
exortando-os (v. 43). Na semana seguinte, “ajuntou-se quase toda
a cidade a ouvir a palavra de Deus” (v. 44). Alguns rejeitaram a
mensagem (v. 46), outros creram (v. 48). Fica claro que os
apóstolos não encararam como uma surpresa o fato de que
alguns recusaram a mensagem (vv. 46 e 51). Ao invés, se
dispuseram a dedicar tempo e energia com os interessados.
• Em Icônio, Paulo e Barnabé falaram na sinagoga e muitos
creram; outros permaneceram incrédulos (14.1,2). Em seguida,
os missionários investiram “muito tempo” ali, “falando ousadamente
do Senhor” (v. 3). Fácil perceber que houve da parte dos
missionários a preocupação de investir no Relacionamento
Discipulador dos interessados.
• Em Filipos, por não haver sinagoga, Paulo e Silas anunciaram
Jesus a umas mulheres à beira do rio (16.13). Lídia, depois de
crer e ser batizada, rogou que os missionários ficassem em sua
casa, no que foi atendida por eles (v. 14). Mais tarde, na
evangelização do carcereiro, uma vez que ele creu, Paulo e
Silas foram até a sua casa. O modelo aqui, mais uma vez, é
pregar a todos e andar perto daqueles que se interessarem por
saber mais do Evangelho, inclusive indo até a sua casa.
• Em Corinto, Paulo “todos os sábados disputava na sinagoga, e
convencia a judeus e gregos”, “testificando (...) que Jesus era o Cristo”
(18.4, 5). Quanto aos que resistiram, entendeu que não teria
tempo a perder com eles (v. 6). Contudo, para o bem de todos
que demonstraram receptividade à mensagem, Paulo ficou ali
por um ano e seis meses ensinando a Palavra de Deus, os
quais, ouvindo-o, creram e foram batizados (vv. 7-11).
• Em Éfeso, Paulo, “entrando na sinagoga, falou ousadamente e por
espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus.
Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal
do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos,
disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. E durou isso por
espaço de dois anos (...)” (19.8-10). Ou seja, o apóstolo, após
anunciar ao máximo de pessoas, fez uma triagem com base no
interesse delas, passando a relacionar-se com prioridade com
aqueles que se interessaram pelo Evangelho. Mais à frente
(20.20), Paulo relata que, enquanto esteve em Éfeso, ensinava
publicamente e pelas casas. A comoção da despedida nos
versículos 36 e 37 retrata a profundidade do Relacionamento
Discipulador desenvolvido por Paulo com aqueles líderes nesse
período.
• Paulo seguiu o mesmo padrão até o fim: anunciava ao máximo,
como quando convocou os judeus de Roma para lhes pregar o
Evangelho (At 28.17, 20 e 23). O texto relata que “alguns criam
no que se dizia, mas outros não criam” (v. 24). A postura do
apóstolo foi categórica: para os que se desinteressaram pela
pregação, deixou-os ir para sua própria condenação (vv. 25-29);
para os que se interessaram, Paulo dedicou dois anos inteiros
para os receber em sua casa (uma vez que estava em prisão
domiciliar e, por isso, não poderia ir à casa de ninguém) “todos
quantos vinham vê-lo”, a quem “ensinava com toda a liberdade as
coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo” (vv. 30 e 31).

Não devemos desanimar se uma pessoa não estiver disposta a


conhecer mais sobre o Evangelho – ela continua sendo um alvo
evangelístico –, mas prosseguir tentando evangelizá-la com o uso de
novas abordagens, sempre de acordo com a sua receptividade.
Devemos perceber, de toda forma, que muitas vezes o desinteresse ou
a hostilidade da pessoa não é contra o Evangelho em si, mas contra o
que ela pensa que é o Evangelho. Por isso, devemos nos esforçar para
fazer uma abordagem adequada à sua receptividade, pela qual o
Evangelho possa ser anunciado de forma clara e fiel, e de modo
desafiador (reveja a Mensagem na figura do ALVO na pág. 65).
Somente se uma pessoa ouviu o Evangelho de forma clara e fiel terá,
de fato, tido uma oportunidade válida de crer em Cristo (releia o
conceito de evangelização na pág. 55).

Uma vez que a pessoa evangelizada demonstre interesse no


Evangelho, deve-se criar e aprofundar o Relacionamento Discipulador, que
contribuirá para a sua conversão e integração à igreja local. Para o caso de
a pessoa evangelizada ser do círculo de relacionamentos do evangelista,
o interesse no Evangelho despertado pela pregação deve ocasionar a
transformação de um relacionamento “normal” em um Relacionamento
Discipulador. O Relacionamento Discipulador se difere de um
relacionamento “normal” pela intencionalidade no “fazer discípulos”.

5.2 Relacionamento Discipulador para Agregar Discípulos

O objetivo principal do Relacionamento Discipulador é levar a pessoa ao


conhecimento de Deus, mas o evangelista discipulador também deve
procurar relacionar a pessoa discipulada com o Corpo de Cristo.
Muitas pessoas estão abertas a um relacionamento com Deus, mas são
resistentes quanto a pertencer a uma igreja. Por isso, o evangelista-
discipulador deve buscar apresentar a pessoa discipulada a outros
crentes e à igreja como um todo, com vistas a sua agregação à
comunidade de crentes pelo batismo.

Do ponto de vista da igreja local, esta deve estar preparada para


receber bem as pessoas que estão sendo discipuladas pelos seus
membros e até mesmo os visitantes sem qualquer vínculo com a
membresia, criando um ambiente de reconhecimento dessas pessoas,
interação e receptividade. Uma das maneiras mais eficientes de agregar
pessoas à comunhão da igreja é inserindo-as em um Pequeno Grupo
Multiplicador – PGM (confira adiante na pág. 83).

5.3 Relacionamento Discipulador para Aperfeiçoar Discípulos

O Discipulado também diz respeito a “aperfeiçoar discípulos”. O


princípio é que o Relacionamento Discipulador seja algo que nunca
termine, uma vez que todos os crentes precisam ser discipulados por
alguém até o fim de sua vida com vistas ao seu contínuo
amadurecimento.

Para entendermos como essas dimensões do Discipulado se aplicam


no Relacionamento Discipulador, precisamos rever um fato que é o divisor
de águas na vida de uma pessoa que está sendo discipulada. Esse fato é
a conversão. Para isso, recorremos a alguns dos valiosos princípios
teológicos defendidos pelos batistas e cristalizados na Declaração
Doutrinária da nossa Convenção Batista Brasileira, a qual dispõe o
seguinte em sua Seção V sobre Salvação:

A salvação é outorgada por Deus pela sua graça, mediante


arrependimento do pecador e da sua fé em Jesus Cristo como único
Salvador e Senhor. O preço da redenção eterna do crente foi pago de
uma vez por Jesus Cristo, pelo derramamento do seu sangue na cruz.
A salvação é individual e significa a redenção do homem na
inteireza do seu ser. É um dom gratuito que Deus oferece a
todos os homens e que compreende a regeneração, a justificação, a
santificação e a glorificação.

A regeneração é o ato inicial da salvação em que Deus faz nascer


de novo o pecador perdido, dele fazendo uma nova criatura
em Cristo. É obra do Espírito Santo em que o pecador recebe o
perdão, a justificação, a adoção como filho de Deus, a vida eterna e o
dom do Espírito Santo. Nesse ato o novo crente é batizado no
Espírito Santo, é por ele selado para o dia da redenção final e é liberto
do castigo eterno dos seus pecados. Há duas condições para o pecador
ser regenerado: arrependimento e fé. O arrependimento implica
mudança radical do homem interior, por força do que ele se
afasta do pecado e se volta para Deus. A fé é a confiança
e aceitação de Jesus Cristo como Salvador e a total
entrega da personalidade a ele por parte do pecador. Nessa
experiência de conversão o homem perdido é reconciliado com Deus, que
lhe concede perdão, justiça e paz.

A justificação, que ocorre simultaneamente com a regeneração, é o


ato pelo qual Deus, considerando os méritos do sacrifício de Cristo,
absorve, no perdão, o homem de seus pecados e o declara justo,
capacitando-o para uma vida de retidão diante de
Deus e de correção diante dos homens. Essa graça é
concedida não por causa de quaisquer obras meritórias praticadas pelo
homem mas por meio de sua fé em Cristo.

A santificação é o processo que, principiando na regeneração, leva


o homem à realização dos propósitos de Deus para sua
vida e o habilita a progredir em busca da perfeição
moral e espiritual de Jesus Cristo, mediante a presença e o
poder do Espírito Santo que nele habita. Ela ocorre na
medida da dedicação do crente e se manifesta através de um caráter
marcado pela presença e pelo fruto do Espírito, bem
como por uma vida de testemunho fiel e serviço
consagrado a Deus e ao próximo” (grifos nossos).

Com base nessas afirmações, podemos dizer que quando uma


pessoa é verdadeiramente convertida, ou seja, salva, ela experimenta uma
transformação tão radical que é impossível de não ser percebida.
Observem bem o que a salvação proporciona, pelos destaques feitos
antes:
• “Redenção do homem na inteireza do seu ser”, “dele fazendo uma nova
criatura em Cristo”, “mudança radical do homem interior” – Essas três
frases estão relacionadas a uma transformação em todos os
sentidos, de modo que nada escapa de ter sido resgatado por
Cristo. O “tornar-se uma nova criatura” não tem apenas valor
declaratório, mas um efeito prático, pois é muito difícil haver
uma “mudança radical do homem interior” sem que isso
transborde para o exterior.
• “Se afasta do pecado”, “capacitando-o para uma vida de retidão diante
de Deus”, “habilita a progredir em busca da perfeição moral e espiritual”,
“presença e o poder do Espírito Santo que nele habita”, “caráter
marcado pela presença e pelo fruto do Espírito” – Uma vez salva, a
pessoa começa a sentir repulsa pelo mal, passando a se
incomodar com pecados que antes eram tolerados em sua vida,
e até amados. A santificação, embora seja gradativa, é algo que
já começa a acontecer no momento da conversão, como
resultado da ação do Espírito Santo, que passou a habitar na
vida do novo convertido, levando-o a uma evolução de caráter
marcado cada vez mais pelo fruto do Espírito.
• “Se volta para Deus”, “total entrega da personalidade a ele”, “leva o
homem à realização dos propósitos de Deus para sua vida” – Uma
pessoa salva, que antes vivia apenas para si, começa a pensar
sobre o modo como poderá servir ao Senhor, preocupando-se
em fazer a vontade de Deus acima da sua própria. O novo
convertido, sedento de Deus, costuma se interessar como
nunca pela leitura da Bíblia e pela oração, buscando estar
presente em todas as oportunidades em que possa de alguma
maneira ouvir a voz de Deus.
• “Confiança e aceitação de Jesus Cristo como Salvador”, “perdão, justiça e
paz” – Uma alma cansada e sobrecarregada na busca pela
salvação terá descanso assim que a encontrar em Cristo. Ela
passará a experimentar alegria, perdão e paz. Embora continue
pecadora, não viverá mais em desespero, pois sabe que a razão
da salvação não é o seu mérito pessoal, mas a obra de seu
Salvador, Jesus.
• “Correção diante dos homens”, “vida de testemunho fiel”, “serviço
consagrado a Deus e ao próximo” – A mudança na vida de um
convertido será perceptível para as pessoas ao seu redor. Suas
palavras e atitudes serão diferentes a partir da regeneração
conferida pelo Espírito Santo. Ele buscará servir mais as
pessoas, inclusive testemunhando com sua voz e vida a
transformação por que passou. A pessoa salva é invadida por
uma vontade grande de compartilhar com outros o que acabou
de experimentar.

Tudo isso não significa que uma pessoa convertida se tornará


perfeita da noite para o dia, mas que, no mínimo, apresentará sinais
nítidos e crescentes dessa transformação. Como é marcante ver isso
acontecendo, quando há, de fato, alguém nascido de novo! Depois da
conversão, o Relacionamento Discipulador prossegue, agora com o intuito
de aperfeiçoar o discípulo, lembrando que desde o seu encontro com
Jesus ele já está apto à multiplicação.

Uma igreja, para ser considerada multiplicadora, deve procurar


envolver seus membros na multiplicação de discípulos nas três
dimensões do Discipulado. Vamos ver, então, como o Relacionamento
Discipulador se desenvolve, para tanto analisando os seus elementos.

5.4 Elementos do Relacionamento Discipulador

Como vimos, o Relacionamento Discipulador é o relacionamento


intencional de um discípulo com uma pessoa visando torná-la outro
discípulo. Esse relacionamento possui seis elementos, que formam um
acróstico com a palavra RAÍZES, como se pode ver a seguir:
Elementos do Relacionamento Discipulador

• R Relacionar-se Pessoalmente – O evangelista discipulador deve


investir tempo para estar com a pessoa discipulada, não apenas
para conversar sobre o Evangelho e suas implicações, mas
também para aprofundar o convívio e a relação de confiança.
Esse relacionamento é essencial para a transmissão de vida,
que se dá não apenas por palavras, mas através de um bom
testemunho cristão que produz imitação (1 Coríntios 11.1,
4.16, Filipenses 3.17, 2 Timóteo 2.2).
• A Agregar à Igreja – O evangelista discipulador deve buscar
aproximar a pessoa discipulada ao Corpo de Cristo, procurando
envolvê-la com outros crentes e com a igreja. Após a sua
conversão, o discipulador deve trabalhar para o
desenvolvimento dos dons da pessoa discipulada dentro do
Corpo de Cristo e a liberação de seus sonhos ministeriais. O
discipulador deve incentivar a participação do novo discípulo
em um Pequeno Grupo Multiplicador (PGM) e a membresia ativa
na igreja local.
• I Interceder – O evangelista discipulador, que já deve orar pela
pessoa discipulada antes mesmo de lhe anunciar o Evangelho,
precisa a cada dia intensificar sua intercessão, para que
experimente uma verdadeira transformação e, uma vez
convertida, cresça no conhecimento de Deus e de Sua vontade.
Tão logo seja possível, o evangelista discipulador deve também
incentivar a pessoa discipulada a orar por outras pessoas que
precisam conhecer Jesus.
• Z Zelar Pela Pessoa – O evangelista discipulador deve procurar
exercer compaixão pela pessoa discipulada, zelando por sua
saúde espiritual, física, emocional, familiar e até financeira,
dentro do possível. Isso não significa que o discipulador será
um provedor de tudo, mas que pequenos gestos de compaixão
podem falar mais alto que palavras, produzindo grande
impacto para a compreensão do Evangelho. O Pequeno Grupo
discipulador (PGM) pode ser muito valioso para auxiliar o
discipulador no cumprimento desse aspecto do Relacionamento
Discipulador.
• E Ensinar o Evangelho e suas implicações – Esse tópico é o cerne
do Relacionamento Discipulador. A pessoa discipulada precisa ser
exposta ao máximo ao Evangelho, pois é o poder de Deus para
a salvação (Romanos 1.16), sabendo também que a fé vem
pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10.17). Por isso, até
que se converta, a pessoa interessada continua sendo um alvo
evangelístico, razão por que necessita ter contato com o
Evangelho uma, duas, três, vinte vezes, até que o compreenda
a ponto de se arrepender de seus pecados, depositar toda a sua
confiança em Jesus Cristo e passar pela obra de regeneração
espiritual. A maneira mais concentrada de fazer isso é por meio
da ministração de Estudos Bíblicos Evangelísticos. Mas também
devemos buscar ocasiões em que a pessoa discipulada tenha
contato com a mensagem do Evangelho por outras vias (ex.:
culto ou cruzada evangelística e vídeos de pregação do
Evangelho). Não se deve confundir o ensino do Evangelho
(releia o conceito de Evangelho no item Mensagem, figura do
ALVO, pág. 65) com a aculturação da pessoa ao “jeito de ser”
evangélico. Por mais que isso possa somar, não é o encontro
com a igreja ou seu contexto que pode promover uma
conversão genuína, mas um encontro com Jesus. Mesmo
depois da conversão da pessoa esse tópico se mantém. Paulo
diz em Colossenses 1.28 e 29 que ele anunciava a Cristo,
“admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a
sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”,
sabendo que o poder que operava era o do Espírito Santo. O
Evangelho jamais se torna matéria ultrapassada para um
cristão. Todos os aspectos da nossa vida são cobertos pelos
desdobramentos do Evangelho. Em Cristo encontramos “tudo o
que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos
chamou por sua glória e virtude” (2 Pedro 1.3). Por isso, o
Relacionamento Discipulador implica o exercício permanente de
exortação e ensino bíblico aplicado do evangelista discipulador para
a pessoa discipulada, assim como aconselhamento bíblico, podendo
se adicionar a isso outros materiais de apoio no Relacionamento
Discipulador.
• S Solicitar Contas – Tendo em vista que o Relacionamento
Discipulador se estabeleceu sobre a condição do interesse da
pessoa discipulada no Evangelho, o discipulador deve
constantemente impulsioná-la a avançar em seu conhecimento
de Deus, que é o alvo principal, solicitando contas sobre a sua
prática de oração e leitura bíblica e o cumprimento de
pequenas tarefas estabelecidas de comum acordo. Quando
convertida, o evangelista discipulador deve procurar saber
regularmente da pessoa discipulada como anda o seu
relacionamento com Deus, sua vida devocional, sua
santificação pessoal, seu serviço prestado ao Corpo de Cristo e
às demais pessoas, e o progresso com relação às pessoas com
quem mantém Relacionamento Discipulador.

6 Cadeia de Relacionamentos Discipuladores

“Fazer discípulos” é o chamado primordial de cada cristão. Toda


pessoa salva deve se envolver na Evangelização Discipuladora. Quando
todos os crentes estão discipulando alguém, forma-se uma cadeia de
Relacionamentos Discipuladores, que proporcionará a multiplicação
exponencial de discípulos.

“Fazer discípulos” é o chamado primordial de


cada cristão.

Fazer estudos bíblicos com novos convertidos imediatamente após a


sua decisão de seguir a Cristo e depois deixá-los por si mesmos é
relativamente fácil. O desafio é ingressar todos os membros de igrejas
estabelecidas na vida discipular. Nós temos que fazer da Evangelização
Discipuladora um programa em que todos os cristãos estejam envolvidos
para toda a vida. Um cristão sozinho, seja ele o pastor ou líder da
igreja, não terá condições de discipular todas as pessoas ao mesmo
tempo. Sem uma cadeia de Relacionamentos Discipuladores, a multiplicação
ficará comprometida.

Nós temos que fazer da Evangelização


Discipuladora um programa em que todos os
cristãos estejam envolvidos para toda a vida.

Iniciar com o pastor ou líder da igreja fará com que a visão de


multiplicação tenha valor para as demais pessoas. Muitos cristãos, por
não terem sido discipulados, não entendem como funciona esse
processo e não têm condições de fazer discípulos multiplicadores. A
melhor forma de quebrar esse andamento e estabelecer essa cadeia
dinâmica de Relacionamentos Discipuladores é começar com o pastor ou
líder e a sua liderança estratégica. A sugestão é que o pastor ou líder
inicie o processo com no máximo dez pessoas. Mais do que isso, o
processo pode se tornar inviável, pois “fazer discípulos” exige muito
tempo e dedicação. Esses líderes deverão iniciar o discipulado com
outras pessoas e estas, por sua, vez iniciarão com outras pessoas e,
assim, forma-se a cadeia de Relacionamentos Discipuladores.

Cada discípulo precisará ajustar a sua agenda para que encontre


tempo para desenvolver os seus Relacionamentos Discipuladores, para
conviver, ministrar e ser ministrado, tanto junto com o seu discipulador
quanto com os seus discípulos. Se a estrutura da igreja estiver muito
voltada para eventos, reuniões e atividades secundárias, dificilmente
haverá tempo para o discipulado. Mas, desde que “fazer discípulos” é o
nosso chamado primordial, tudo será uma questão de estabelecermos
qual é a nossa prioridade. Na realidade, todas as organizações podem e
devem trabalhar a cadeia de Relacionamentos Discipuladores. Se quisermos
multiplicar discípulos precisamos pagar o preço no que diz respeito ao
tempo que investimos nessa causa tão nobre, a começar da liderança
da igreja e envolvendo todos os membros e organizações.

Portanto, gerar uma cadeia de Relacionamentos


Discipuladores, partindo do pastor ou líder e de sua liderança
estratégica, é a chave para a multiplicação exponencial de
discípulos.

Na seção seguinte, vamos conferir um resumo da ferramenta dos


Pequenos Grupos Multiplicadores, que é tratada com detalhes em um livro
auxiliar também produzido por Missões Nacionais.

7 O Pequeno Grupo Multiplicador (PGM)

Pequenos Grupos não são uma novidade para os batistas brasileiros.


Em 1988, o Plano Nacional de Evangelização (PNE) promovido por
Missões Nacionais disseminou com grande aceitação a estratégia de
pequenos grupos então chamados Núcleos de Estudos Bíblicos, os
quais tinham a seguinte justificativa:

“Por que Núcleos de Estudos Bíblicos? O Programa NEBs


constitui-se um dos mais urgentes métodos para o desenvolvimento das
nossas igrejas. Não por ser um método novo, visto que foi amplamente
usado pela Igreja Primitiva, como podemos perceber em passagens
bíblicas como Atos 5:42, 8:3, 10:24; Romanos 16:15; I Coríntios
16:19; Colossenses 4:15 e Filemon 2. Trata-se, pois, não tanto de
uma inovação, mas da recuperação de um programa muito bem
sucedido no passado e que, uma vez adaptado ao contexto da
sociedade moderna, satisfaz plenamente as necessidades do presente”7.

Agora, com a Igreja Multiplicadora, Missões Nacionais retoma a


estratégia de pequenos grupos, ora chamados de Pequenos Grupos
Multiplicadores (PGMs), como ferramentas do cumprimento da Grande
Comissão em nível local e uma importante estrutura de apoio à Igreja
Multiplicadora. Observe como o PGM coopera com os cinco princípios,
em especial a Evangelização Discipuladora, tema deste capítulo.

1) Oração: O PGM ajuda a fomentar a oração entre seus


participantes, principalmente com respeito à intercessão pelas vidas não
salvas e pelas pessoas evangelizadas e discipuladas;

2) Compaixão e Graça: O PGM proporciona um ambiente para o


exercício de compaixão e graça, tanto entre os seus participantes, que
experimentam o amor de Deus por meio dos relacionamentos, quanto
para a comunidade e as pessoas evangelizadas e discipuladas.

O PGM é um celeiro de lideranças, por permitir


o vasto exercício dos dons e ministérios e a
identificação de novos líderes, levando-os à
multiplicação.

3) Formação de Líderes: O PGM é um celeiro de lideranças, por


permitir o vasto exercício dos dons e ministérios e a identificação de
novos líderes, levando-os à multiplicação;

4) Plantação de Igreja: O PGM é fundamental na formação de


novas igrejas, pois é o protótipo da futura comunidade cristã em
termos de edificação na palavra, relacionamentos, cuidado e serviço
mútuos. No capítulo de Plantação de Igrejas você aprenderá como
começar uma nova igreja através do PGM.

5) Evangelização Discipuladora: O PGM potencializa o anúncio


do Evangelho e a criação e o aprofundamento de
Relacionamentos Discipuladores.

No PGM, os crentes apoiarão uns aos outros na oração por salvação


(Cartão Alvo) e pelo aperfeiçoamento das pessoas evangelizadas e
discipuladas.

Com relação ao anúncio do Evangelho, convidar uma pessoa não


convertida para o PGM serve de abordagem indireta para pessoas
menos receptivas a uma conversa espiritual, especialmente por
preconceito contra o Evangelho, mas que talvez se interessem através
do convívio, podendo, inclusive, ser este o primeiro vínculo formado.

Pensando na agregação de pessoas em processo de Relacionamento


Discipulador, o PGM auxilia na aproximação que elas devem ter com
outros cristãos e com o Corpo de Cristo, objetivando a sua conversão e
o seu batismo e, quando se convertem, o desenvolvimento de dons e
ministérios para aperfeiçoamento dos santos. Também no que se refere
ao Relacionamento Discipulador, os membros do PGM podem ajudar o
evangelista discipulador no zelo que deve ter pelas pessoas que estiver
discipulando.

O PGM existe para desenvolver de forma


potencializada todos os elementos do
Relacionamento Discipulador.

Por fim, o PGM colabora no ensino do Evangelho e de seus


desdobramentos, com o detalhe de que essa pessoa estará sendo
evangelizada de forma mais concentrada dentro do próprio
Relacionamento Discipulador, individualmente.

Desta forma, o PGM existe para desenvolver de forma


potencializada todos os elementos do Relacionamento Discipulador, tudo
isso culminando para a manifestação da glória de Deus por meio da
Evangelização Discipuladora, como podemos ver na ilustração a seguir:
Propósitos do PGM

Portanto, podemos definir o Pequeno Grupo Multiplicador como:

Um pequeno grupo de pessoas que se reúne regularmente


para glorificar a Deus por meio do fortalecimento de
Relacionamentos Discipuladores e da multiplicação de
discípulos.

Um tópico importante em matéria de PGM é que os grupos sejam


configurados desde o início para a multiplicação. PGM saudável é
aquele que cresce e se multiplica. Esse crescimento deve se dar
principalmente pela chegada de novas pessoas não crentes, que, através
do ensino do Evangelho e do convívio proporcionados pelo PGM – em
apoio ao Relacionamento Discipulador individual que se desenvolve em
paralelo -, experimentam a conversão e podem ser agregados à igreja
mediante o batismo.

A multiplicação é a criação de um novo PGM, ocasionada pelo


surgimento e a afirmação de novos líderes multiplicadores. Para mais
informações, confira o livro: Pequeno Grupo Multiplicador na Livraria
de Missões Nacionais: www.livrariamissoesnacionais.org.br

8 Discussão em Grupo

8.1 Questões Para Revisão

1) O que é Evangelização à luz da Grande Comissão?


_____________________________________________________________

2) O que é um discípulo?
_____________________________________________________________
3) O que é Discipulado?
_____________________________________________________________

4) O que é Evangelização Discipuladora?


_____________________________________________________________

5) “Fazer discípulos” implica que ações?


a)___________________________________________________________

b)___________________________________________________________

c)___________________________________________________________

d)___________________________________________________________

6) Preencha as lacunas a seguir, em se tratando de Anunciar o


Evangelho:
a) O público-alvo deve ser________________________________.

b) A mensagem deve ser________________________________.

c) A abordagem deve ser conforme


a________________________________.

d) A linguagem deve ser________________________________.

e) O vínculo deve ser ________________________________ desde o


início.

f) A oração é________________________________.

7) O que é Relacionamento Discipulador?


_____________________________________________________________

8) Quais os elementos do Relacionamento Discipulador?


a)___________________________________________________________

b)___________________________________________________________

c)___________________________________________________________

d)___________________________________________________________

e)___________________________________________________________

f)___________________________________________________________

9) O que é Pequeno Grupo Multiplicador e para que serve?


_____________________________________________________________

8.2 Estudo de Caso:

Vamos exemplificar duas formas de abordagem evangelística bem


diferentes quanto à sua complexidade, mas apropriadas à sua maneira
para os seus respectivos contextos.

Abordagem Direta

Uma pesquisa feita por Missões Nacionais por ocasião da


MEGATRANS 2012 com mais de 215 mil pessoas em todo o Brasil
constatou que 88% delas aceitam ouvir sobre a Palavra de Deus se
perguntadas se fariam isso. Dentre essas, o percentual das que
tomaram uma decisão ao lado de Jesus e/ou externaram interesse em
conhecer sobre o Evangelho foi de 12%. Isso demonstra que muitas
vezes podemos estar demasiadamente preocupados com estratégias
complexas de acesso para um público-alvo que já está disponível à
comunicação do Evangelho.

MEGATRANS 2012 Percentual de Receptividade dos Brasileiros a uma


Abordagem Direta

Evangelização com Motociclistas

Um missionário de Missões Nacionais enviado para uma cidade


turística de Pernambuco começou um projeto de Evangelização
Discipuladora com motociclistas. Como abordagem inicial, ele idealizou
um evento relacionado com o Dia da Criança, promovendo também
uma festa de recepção para os motociclistas que chegavam à cidade
para a programação, com fogos de artifício, música e comida,
terminando com a distribuição de bíblias e uma oração pela proteção
de Deus para sua viagem de retorno. Impactados pelo tratamento,
alguns aproveitaram para compartilhar seus dilemas pessoais com o
missionário. Um “motoculto” foi programado para uma vez por mês,
ocasião em que os motociclistas passaram a ouvir o Evangelho. O local
ficou pequeno e a programação foi transferida para uma igreja batista
da capital do estado, onde acontece um “motoculto” mensal, que
cresce cada vez mais com a presença de dezenas de motociclistas,
dentre os quais alguns já se converteram e estão se preparando para o
batismo. Esse é um exemplo de uma abordagem indireta adequada
para um público-alvo com menor receptividade, gerando grandes
resultados.

8.3 Questões Para Reflexão:

1) Evangelização e Discipulado são conceitos que temos interpretado


corretamente à luz da Grande Comissão?

2) A proclamação do Evangelho e o desenvolvimento de


relacionamentos intencionais com vistas a “fazer discípulos” são duas
coisas antagônicas, ou estão, na verdade, unidas na Grande Comissão?

3) Nossa semeadura tem sido realmente abundante? Temos buscado


evangelizar pessoas desconhecidas, ou isso tem sido um entrave? As
pessoas com quem já travamos relacionamentos (parentes e amigos)
têm sido alvo de nossa evangelização discipuladora?

4) Temos dado a devida atenção a todas as pessoas que têm se


mostrado interessadas no Evangelho quando o anunciamos?

5) Será que todos os membros de nossas igrejas têm sido, de fato,


discipulados? Se não, o que podemos fazer para mudar essa realidade?

6) Quando pensamos em Discipulado, qual a primeira coisa que vem


a nossa mente: ministração de estudos bíblicos ou Relacionamento
Discipulador? Em outras palavras, na nossa prática de Discipulado, temos
estado mais preocupados com o material a ser estudado, ou com as
pessoas?

7 NOVAES, Carlos César Peff. PEREIRA, Odilon Santos. RIOS, Billy Wesley Larrubia.
Núcleos de Estuds Bíblicos. Rio de Janeiro: JUERP, 1988. pp. 10-11.
OBJETIVOS

Depois de ler este capítulo, você será capaz de:


• Entender os fundamentos bíblicos da plantação de
igrejas;
• Compreender a importância da plantação de igrejas;
• Identificar as fases do processo de plantação de igrejas;
• Definir o perfil de um plantador de igrejas.

A plantação de igrejas é uma marca significativa na história e


expansão dos batistas no Brasil. Desde que os pioneiros americanos
iniciaram as primeiras igrejas em solo brasileiro (e lá se vão mais de
140 anos), o foco na plantação tem solidificado o avanço da obra
missionária e o crescimento das igrejas.

Uma Igreja Multiplicadora é uma igreja que


planta novas igrejas!

Uma vez que este livro trata do crescimento, fortalecimento e


multiplicação de discípulos e igrejas, não poderíamos esquecer a
plantação de novas igrejas como uma marca indispensável de uma
igreja saudável e crescente. Uma Igreja Multiplicadora é uma igreja que
planta novas igrejas!

Nosso objetivo neste capítulo é apresentar alguns fundamentos


bíblicos da plantação de igrejas, bem como alguns elementos
estratégicos que a viabilizem dentro da mesma perspectiva de
Evangelização Discipuladora vista anteriormente, além de alimentar a
chama da plantação de igrejas nesta geração.

1 O que é uma Igreja?

Antes de qualquer coisa, precisamos refletir sobre que tipo de igreja


queremos multiplicar e plantar. Naturalmente, não sendo esta obra um
manual de eclesiologia, não vamos nos deter em uma definição
profunda e teológica sobre a natureza da igreja. Mas algumas
considerações devem ser pontuadas.

O termo “igreja” (do grego ekklesia) é composto pela preposição ek


(para fora) e a raiz kaleo (chamar), o que forma o significado literal de
“chamados para fora”. Com isso, temos primeiramente a ideia de um
agrupamento de pessoas com um determinado propósito comum e,
ainda, de que este agrupamento se torna uma comunidade dinâmica,
local e crescente. No decorrer do Novo Testamento o termo toma o
sentido mais específico de uma comunidade dos santos ou de um
agrupamento de discípulos.

A Grande Comissão nos ordena fazer discípulos. E o que tem isto a


ver com a plantação de igrejas? A resposta é simples: a igreja é uma
comunidade de discípulos, ou seja, uma comunidade em que os
discípulos devem ser agregados e levados ao aperfeiçoamento cristão,
fazendo novos discípulos.

Vimos que a Evangelização Discipuladora apresenta três dimensões do


Discipulado na Grande Comissão: chamar, agregar e aperfeiçoar discípulos.
Também aprendemos que tudo isto ocorre por meio da comunicação
do Evangelho e do Relacionamento Discipulador – RD, que é o
relacionamento intencional para fazer discípulos.
Mas, aonde agregar discípulos? A resposta é óbvia: à igreja, ao corpo
de Cristo! Dessa forma, o pleno cumprimento da Grande Comissão
em cidades ou bairros onde não há igreja ou há poucas, ou entre povos
sem igreja, implica a plantação de novas igrejas.

Alguém poderia argumentar que não precisamos necessariamente


plantar igrejas em bairros e cidades sem igreja, pois os discípulos
podem ser agregados em igrejas de cidades e bairros vizinhos. Sim, isto
é verdade se estivermos pensando em apenas uma pessoa ou família.
Mas se o nosso alvo é ganhar a população de uma cidade ou bairro,
isto é, se queremos que o Evangelho esteja permanentemente
enraizado naquela cidade ou bairro, então precisamos não só de alguns
poucos discípulos ali, mas de uma igreja local capaz de se multiplicar.

Esta foi a estratégia da igreja primitiva para cumprir a Grande


Comissão, conforme se depreende facilmente no livro de Atos e nas
epístolas. Note-se a ligação entre a Grande Comissão e o plantio de
igrejas com base em Atos 14.21-23:

“E, depois de anunciar o evangelho naquela cidade e de fazer


muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia,
renovando o ânimo dos discípulos, exortando-os a perseverar na fé,
dizendo que em meio a muitas tribulações nos é necessário entrar no
reino de Deus. E, nomeando-lhes presbíteros em cada igreja e orando
com jejuns, consagraram-nos ao Senhor em quem haviam crido”.

Richard Hibbert8 nota que o termo usado no contexto da plantação


da igreja de Derbe no verso 21 é matheteo (fazer discípulos), o mesmo
termo usado em Mateus 28.19 na Grande Comissão. Esses são os
únicos dois lugares em que esse verbo é usado no Novo Testamento, o
que para Ronaldo Lidório, “expressa o desejo de Cristo para seus
discípulos na Grande Comissão e a partir dela Seu desejo de ver este
grupo de discípulos gerando novos grupos que amam e seguem e
Jesus, ou seja, plantando igrejas”9. Hibbert conclui o seu pensamento
afirmando que:

“Tenho argumentado que o plantio de igrejas é peça fundamental


na Missio Dei. Sem o plantio de novas igrejas o propósito de Deus não
é realizado na terra. A transformação da sociedade na direção de
Deus ocorre através da sua agência, a Igreja, e assim comunidades
locais de convertidos são a maior expressão de sua presença e seu desejo
transformador”.10

É fartamente defendido pelos missiólogos que o plantio de igrejas, e


não apenas o evangelismo individual, é um ensino contido na Grande
Comissão. Autores como Hesselgrave, Johnstone e Bosch expõem de
forma marcante que o “fazer discípulos” da Grande Comissão é uma
ordem que desembocaria no agrupamento dos crentes e
consequentemente na formação de igrejas locais, para expansão do
Reino de Deus.

Tudo indica que já no final do primeiro século a igreja percebeu a


necessidade da ekklesia – igreja local – para o enraizamento do
Evangelho nas cidades, províncias e regiões mais distantes entre os
gentios. Isso significa, uma vez mais, que o ato de evangelizar alcança
uma pessoa, mas o processo de plantar igrejas faz com que o
Evangelho permaneça para as futuras gerações.

Michael Green11 também destaca a mudança de percepção da igreja


no que diz respeito à sua missão evangelística logo no fim do primeiro
século, quando ela percebeu que Jerusalém deveria ser o berço do
Evangelho e não o centro dele. Esta compreensão permitiu àqueles
primeiros cristãos o sentimento de que o Evangelho deveria se espalhar
por todo o mundo por meio de igrejas locais.
O apóstolo Paulo foi quem observou, ao que parece mais do que
qualquer outro, a necessidade de não apenas evangelizar as cidades e
áreas distantes, mas de estabelecer ali igrejas locais que perpetuassem o
Evangelho. Para ele, fazer discípulos não significava apenas a pregação
inicial ou mesmo a colheita de alguns frutos, mas o amadurecimento e
fortalecimento dos novos convertidos com o intuito de agregá-los e
estabelecê-los em igrejas locais.

Lidório afirma que “não há forma mais duradoura de se estabelecer


o evangelho em um bairro, cidade, clã ou tribo do que plantando uma
igreja local, bíblica, viva, contextualizada e missionária”12.

Como já dissemos anteriormente, o início do trabalho batista no


Brasil também foi marcado pelo crescimento do número de igrejas,
líderes, pastores e crentes comprometidos com a fé. O pioneirismo dos
missionários norte-americanos, bem como dos pastores, evangelistas e
missionários nacionais, cuja visão estava focada na plantação de igrejas
em cidades estratégicas, impulsionou exponencialmente o avanço do
reino de Deus em solo brasileiro. Precisamos resgatar em nossa
geração este sentimento de urgência quanto ao cumprimento da
missão, encorajando-a e capacitando-a para a plantação de novas
igrejas. É nosso desafio e desejo incendiar os corações dos líderes,
pastores e igrejas para um grande movimento de plantação de igrejas
no Brasil.

Ainda definindo o que é igreja, para termos a clareza do que vamos


plantar, destacamos:
• Igreja não é um prédio feito de pedras, tijolos ou madeira, mas
é composta de pessoas, de discípulos.
• Estamos falando de igrejas não como uma organização ou
instituição, mas como um organismo vivo, dirigido pelo Espírito
Santo, obediente a Jesus, o Mestre, e por isso multiplicador.
• Não podemos pensar na igreja como um grupo de pessoas que
apenas se reúne dominicalmente no templo e que nos outros
dias da semana se esquece da missão. A igreja deve ser igreja
todos os dias da semana e onde quer que esteja deve exercer
seu papel, como sal dando sabor, como luz iluminando as
pessoas, como fermento levedando a massa, influenciando o
povo com o testemunho de Cristo, levando-o à salvação
(Mateus 5.13,14 e 13.33).
• Plantar igrejas, portanto, não é apenas comprar terrenos,
construir templos, bancadas, instalar piano e equipamento de
som e multimídia. Plantar igrejas é investir em pessoas, fazer
discípulos multiplicadores e agregá-los.

Plantar igrejas é investir em pessoas, fazer


discípulos multiplicadores e agregá-los.

Portanto, vamos definir a plantação de igrejas como:

O processo intencional de estabelecer uma


comunidade local e autônoma de discípulos de Jesus
Cristo.

Dizemos “processo” porque não é um evento estanque, mas algo


continuado e gradual, que envolve ao menos seis passos, os quais serão
estudados mais adiante:

1. Oração

2. Escolha de um grupo-alvo

3. Assimilação e adequação à cultura

4. Relacionamento relevante com a comunidade-alvo


5. Evangelização Discipuladora

6. Treinamento de líderes locais

Dizemos “intencional” porque não se trata de plantar igrejas por


motivação de rixas ou divisões, mas para a expansão do reino de Deus,
o alcance de novas vidas e o estabelecimento duradouro do Evangelho
numa determinada comunidade.

Também dizemos uma “comunidade local”, pois a intenção não é


estabelecer um pequeno grupo apenas, ligado à igreja-mãe. Nesse
pequeno grupo já se vislumbra uma comunidade autônoma, isto é,
autossustentável (que independe de recursos externos), autogovernada (que
toma suas próprias decisões), autopropagadora (que tem condições de
por si mesma fazer novos discípulos e se multiplicar)13.

2 O Processo da Plantação de Igrejas

2.1 Oração

É impossível plantar uma igreja sem oração. Por várias vezes vemos
o Senhor Jesus orando antes de iniciar uma nova etapa de seu
ministério ou tomar uma decisão importante (Lucas 6.12,13). Ele
ensinou os seus discípulos a orar com uma visão de compaixão pelo
povo, que sofria com as consequências do pecado.

Muitas vezes nós oramos por nossos próprios interesses e assuntos:


família, saúde, finanças e outros. O cristão pode ser egoísta em suas
orações e se tornar insensível às necessidades das pessoas que estão a
sua volta, ao seu sofrimento físico e espiritual. Elas estão perdidas,
desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor. Quem terá
compaixão? Quem há de interceder por elas? Quem há de cuidar
delas? Quem as conduzirá aos pastos verdejantes do Evangelho? Essas
são perguntas que precisam de respostas.

Quando o plantador de igrejas ora compassivamente pelas pessoas


perdidas da comunidade, amando-as verdadeiramente e sentindo pesar
por sua triste realidade (Mateus 23.37), Deus ouvirá as suas orações e
o usará como instrumento de bênção e como respostas às suas
próprias orações em favor do mundo.

A oração não é apenas a primeira etapa desse processo, mas uma


atividade estratégica constante durante todo o processo de plantação e
até de expansão e multiplicação da igreja. Como notou Piper14, a
oração é o instrumento de comunicação entre os soldados que estão na
linha de frente do campo de batalha e a sala do general. É, portanto,
um instrumento de guerra necessário e estratégico para a plantação de
igrejas.

Paulo nos dá o exemplo de oração no seu processo de plantação de


igrejas. Ele orava por oportunidades, por discernimento de novos
campos, pelos que ouviam a palavra, pelos novos irmãos, pelas igrejas
plantadas, pelos líderes e especialmente por aqueles gentios e judeus
ainda sem Cristo. Ele orava insistentemente, escrevia suas orações,
pedia orações, ensinava e incentivava as pessoas e igrejas a orar sem
cessar (Atos 14.21-26, 20.35 e 36, 21.4-7; Efésios 6.18,19). Depois,
releia no Capítulo de Oração diversas estratégias de oração que podem
ser úteis no processo de plantação de igrejas.

2.2 Escolha de um Grupo-Alvo

O passo seguinte no processo de plantação de igrejas é definir uma


determinada área da sociedade (cidade, bairro ou grupo étnico) onde a
igreja será estabelecida. Isso pressupõe, além da oração e direção do
Espírito Santo, uma boa pesquisa e mapeamento de informações.
Ainda que a igreja esteja aberta para todas as pessoas e com a visão
nos confins da terra, é útil no início do projeto focar um determinado
grupo (étnico, social, geográfico, ou cujas afinidades tragam vínculos),
definindo-o como público-alvo primário daquela igreja.

O plantador de igrejas precisa conhecer o campo onde atua mais do


que qualquer outra pessoa. Isso será ponto positivo na conquista de
parcerias e também no conhecimento do povo que deseja alcançar.
Mas, o que é preciso saber sobre a comunidade-alvo? Dados
demográficos (inclusive faixas etárias), sociais, econômicos,
educacionais, se é uma comunidade urbana, suburbana, rural, seus
costumes, valores, cultura, perfil religioso, enfim, quanto mais
detalhada a pesquisa, melhor o planejamento das ações e melhores os
resultados. Também é importante identificar onde estão as igrejas ou
instituições evangélicas que pregam a Jesus Cristo como único e
suficiente Salvador e Senhor e creiam na Palavra de Deus como
inerrante e infalível regra de fé e prática. Num campo pioneiro, além
de ser um dado importante a considerar na hora de definir um bairro
ou cidade-alvo, essas igrejas poderão ser aliadas e parceiras em algumas
atividades e eventos de cunho social, impactos evangelísticos, mídias ou
mesmo para encontro de compartilhamento e oração.

Igualmente importante é identificar quais as maneiras que o inimigo


tem utilizado para aprisionar as pessoas pelo vício, prostituição,
feitiçaria, idolatria, consumismo e outros pecados, a fim de orar
especificamente pela libertação do povo, bem como trabalhar a
abordagem evangelística de modo que a mensagem alcance a mente e
o coração das pessoas.

A igreja precisa aproveitar todas as


oportunidades para plantar uma nova igreja.
Será útil ao plantador de igrejas ter bem acessível um mapa do local
onde habita seu grupo-alvo, para estudá-lo e desenvolver o
planejamento de ação naquela localidade, traçando estratégias
específicas para iniciar Pequenos Grupos Multiplicadores (PGMs) e
estabelecer novas igrejas.

Podemos iniciar a plantação de novas igrejas com Pequenos Grupos


Multiplicadores (PGMs) em casas de famílias de crentes que já residam
nesses locais – cidades ou bairros, ou mesmo de lares de pessoas não
cristãs que desejem conhecer o Evangelho e estejam dispostas a abrir
seus lares para abençoar seus amigos e vizinhos. A igreja precisa
aproveitar todas as oportunidades para plantar uma nova igreja.

Os bairros antigos, estabelecidos há muitas décadas, são mais


difíceis, porque as famílias têm raízes profundas naqueles lugares e a
religião está bem definida. Infelizmente, estamos correndo atrás do
prejuízo, porque a maioria de nossas igrejas não plantou igrejas nos
novos bairros que surgiram próximos a sua sede. Hoje há milhares de
bairros que não têm a presença de uma igreja batista. Já nos bairros em
formação as pessoas geralmente estão mais abertas e receptivas para o
novo, incluindo a mensagem do Evangelho, pois estão chegando de
outros lugares e passando por adaptações. A sugestão é que façamos
estas duas coisas ao mesmo tempo: aproveitar as oportunidades dos
bairros que estão surgindo e trabalhar nos bairros tradicionais da
cidade.

Para conhecer a realidade da carência de igrejas em nosso país,


acesse www.visaobrasil2020.com.br e veja o mapeamento das igrejas
batistas existentes no Brasil e as oportunidades para plantação de
igrejas.
2.3 Assimilação e Adequação à Cultura

Quando a plantação de igrejas acontece num contexto transcultural,


como entre os indígenas, grupos étnicos e em outros países,
acertadamente se dá atenção às questões que envolvem a cultura e a
cosmovisão do grupo-alvo, além do aprendizado da língua do povo.
Porém, também em se tratando do contexto brasileiro, este assunto tão
importante não pode ser deixado de lado. Talvez a questão da língua,
quando não se trata de plantar igrejas em contexto indígena ou étnico,
seja uma barreira já vencida. Mas não podemos negligenciar as
enormes diferenças culturais e de cosmovisão que há entre as regiões
do Brasil. Mesmo entre estados de uma mesma região ou municípios
de um mesmo estado há diferenças culturais e de cosmovisão. Até
dentro de uma mesma cidade, especialmente as grandes cidades, pode
haver grandes diferenças culturais.

A plantação de uma igreja pressupõe a comunicação do Evangelho e


isso só se dá quando o plantador de igrejas consegue falar na linguagem
do povo de maneira a conseguir transmitir a mensagem de salvação,
permitindo às pessoas uma oportunidade válida de responderem
positivamente. O fato de se pregar um sermão não significa que se está
comunicando o Evangelho. Muitas vezes se pode utilizar um
vocabulário conhecido apenas no meio evangélico, e não conseguir
comunicar a mensagem aos ouvintes.

Os cânticos e os ritmos precisam ser contextualizados, pois cada


povo, cada região tem os ritmos do coração, que fazem parte da
cultura. O ensino precisa ser contextualizado. O vocabulário, a versão
da Bíblia, o estilo de culto, o jeito de abordar as pessoas e interagir com
elas e até a forma de pregar um sermão ou ensinar uma lição, tudo
deve acontecer de forma que todas as pessoas de todas as idades
entendam.
O plantador de igrejas que deseja alcançar o coração das pessoas de
sua comunidade precisará mergulhar na sua cultura. Alguns aspectos da
nossa cultura brasileira que têm raízes na idolatria e na feitiçaria devem
ser transformados pelo Evangelho. Mas outras coisas são meramente
culturais, e não contradizem as Escrituras, sendo pontes lícitas para a
comunicação do Evangelho. Portanto, o plantador deve ter este
discernimento. Por exemplo, as reuniões dos Pequenos Grupos
Multiplicadores no Rio Grande do Sul podem ser muito mais atraentes
ao público não crente quando há uma roda de chimarrão.

2.4 Relacionamento Relevante com o Grupo-Alvo

Muitas vezes as igrejas se fecham dentro dos templos, sem qualquer


envolvimento com a comunidade onde estão inseridas, e não sentem as
necessidades sociais e espirituais do povo nem a urgência em alcançá-
lo. Jesus deixou o exemplo de relacionamento com a comunidade, pois
sempre andava entre o povo (Lucas 8.1), anunciando o reino de Deus,
curando os enfermos, alimentando famintos e libertando aqueles que
se encontravam aprisionados por Satanás. Jesus sempre agiu com
grande compaixão ao ver as pessoas atribuladas e sem rumo, como
ovelhas sem pastor (Mateus 9.36). Rapidamente Ele se tornou
conhecido de todas as pessoas de sua época, e em todas as classes
sociais, pois seu ministério era relevante e notório, focado em pessoas.

A visão da igreja local que deseja plantar novas igrejas, bem como
do plantador de igrejas que deseja alcançar um bairro ou cidade, deve
contemplar o envolvimento e o relacionamento com a comunidade-
alvo. Isso significa ter interesse pela comunidade.

Todo interesse nasce quando nos deparamos com a realidade e


interagimos com ela. É impossível fazermos algo por alguém que não
conhecemos ou por uma causa de que nunca ouvimos. Só há
mobilização quando vemos as necessidades e as oportunidades para
servir. Jesus sentiu compaixão das multidões porque Ele percorria
todas as cidades e povoados (Mateus 9.35).

Ao iniciar o processo de plantação de uma nova igreja devemos ter


o cuidado de não chegar à comunidade nos considerando superiores às
pessoas do local, como se soubéssemos tudo ou pudéssemos resolver
todos os problemas. Quando isso acontece, os obreiros são rejeitados e
as portas para a pregação se fecham. O plantador de igrejas deve se
envolver com a comunidade o tempo todo, tratando-a com igualdade e
humildade, assumindo junto com ela a busca de soluções para os
problemas dela. Ele não pode viver isolado dentro de casa ou no
escritório. Como Jesus, o plantador deve estar no meio do povo. Deve
ter cheiro de gente. A comunidade precisa reconhecê-lo como alguém
interessado em seu bem estar, e não como um aventureiro ou
explorador da fé. Ele será bem-sucedido à medida que servir à sua
comunidade com amor, atuando nas escolas, universidades, em
momentos de funeral, formaturas, visitas hospitalares, em momentos
de calamidade e desastres, enchentes, tempestades ou secas, entre
outras maneiras criativas de se tornar relevante ao povo a quem ama e
quer alcançar.

As pessoas enfrentam muitos sofrimentos na atualidade.


Dificuldades estão presentes em quase todas as famílias, como a
dependência química, enfermidades, desemprego, mortes, acidentes de
trânsito, violência urbana, criminalidade e insegurança. Não podemos
fechar os olhos diante do caos em que as pessoas vivem. Oferecer-se
para ajudar nessas situações pode colocar o missionário plantador em
contato direto com muitas pessoas e lhe dar oportunidades para
testemunhar de Cristo. Esses são detalhes simples, mas que fazem toda
a diferença na prática da plantação de igrejas.
2.5 Evangelização Discipuladora

A principal estratégia de Igreja Multiplicadora para plantação de


igrejas é o Pequeno Grupo Multiplicador (PGM), que se forma por meio de
Relacionamentos Discipuladores, dentro do que já foi exposto no capítulo
de Evangelização Discipuladora.

A evangelização precisa ser abundante. Sua falta tem sido a maior


barreira para a multiplicação de discípulos e, consequentemente, para a
plantação de igrejas. Parece tão óbvio, e de fato é. Mas isso precisa ser
repetido e reprisado a cada dia. Paulo afirma aos romanos que o
Evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê
(Romanos 1.16). O primeiro e grande desafio é anunciar
abundantemente as Boas-Novas. Não conseguiremos grandes
resultados se a semeadura não for grande (2 Coríntios 9.6).

Conforme já definimos, o que difere o trabalho de plantação de


uma nova igreja do trabalho de “fazer discípulos” de uma igreja local é
apenas a intencionalidade de estabelecer uma nova comunidade de
discípulos em um determinado bairro ou cidade. Neste desígnio, o
plantador de igrejas não perderá nenhuma oportunidade de anunciar o
Evangelho a pessoas desconhecidas nas ruas, praças, de casa em casa,
hospitais e escolas, buscando principalmente desenvolver
relacionamentos com vizinhos e outras pessoas acessíveis.

A oração e a semeadura abundante lhe


indicarão por onde começar a fazer amizades
e encontrar pessoas receptivas.

A oração e a semeadura abundante lhe indicarão por onde começar


a fazer amizades e encontrar pessoas receptivas. Sempre que tiver
oportunidades, o plantador deve compartilhar o seu testemunho
pessoal, apresentar o plano de salvação, entregar folhetos, oferecer
estudos bíblicos, realizar palestras nas escolas, empresas, e onde mais
for possível, verificar se há oportunidade para anunciar o Evangelho
no rádio, jornal ou outras mídias, enfim, ele deve estar atento para
compartilhar o Evangelho com o máximo de pessoas.

Entre todos que ouvirão, muitos não demonstrarão interesse no


primeiro momento ou mesmo não permitirão que se continue a
conversa evangelística, mas outros estarão abertos e o plantador deve,
ao ganhar o coração e a confiança dessas pessoas, aprofundar esses
contatos, desenvolvendo intencionalmente Relacionamentos Discipuladores.
Nessa fase do trabalho o plantador deve fazer estudos bíblicos
evangelísticos nos lares das pessoas, bem como demonstrar amor e
compaixão através de gestos claros. A oração por essas pessoas é
fundamental. Aliás, elas devem saber que o plantador está orando por
ela, inclusive por algum pedido específico.

Sabemos que alguns desistirão dos estudos bíblicos e não entregarão


a vida a Jesus nesse momento. Mas outros o farão e o plantador deve
agregá-los imediatamente a um Pequeno Grupo Multiplicador – PGM. Se
não houver um PGM onde aquela pessoa possa ser agregada, o
plantador deve começar estudos bíblicos naquela casa e, com o tempo,
buscar transformar essas reuniões em Pequenos Grupos Multiplicadores. O
objetivo do plantador deve ser o início de dois, três ou quatro PGMs
com a intencionalidade de reuni-los em igreja. Perceba que o agregar
desses PGMs para formar a igreja não deve atrapalhar ou impedir a
continuidade dos encontros e atividades dos PGMs, que continuarão a
agregar pessoas e a se multiplicar em outros PGMs.

A partir das primeiras conversões a Cristo, os novos crentes devem


ser convocados para sair com os plantadores ou equipes para anunciar
aos seus parentes, amigos e vizinhos a boa-nova do Evangelho, na
tentativa de estabelecer RDs e agregá-los em PGMs. No primeiro
momento, eles vão juntos com o plantador ou seus discipuladores para
abrir as portas dos relacionamentos. No segundo momento, o novo
crente já compartilha seu testemunho pessoal e pode dirigir os estudos
bíblicos, sendo acompanhado pelo plantador ou discipulador. Depois,
esse novo crente já pode fazer esses estudos sem a presença do
plantador ou discipulador, mas já terá consigo outro novo convertido
para treiná-lo em serviço, como ele foi treinado (Atos 8.4 e 5; 9.19 e
20). Exatamente como o discipulador fizer, eles farão com seus
discípulos, iniciando PGMs, nos quais todos os discípulos trabalhem.
Daí surgirão também novas igrejas!

Vejamos no esquema a seguir como isso pode ser ilustrado:

O Processo de Plantação de Igrejas com Pequenos Grupos Multiplicadores

Em bairros e cidades sem igreja é importante e útil, além da


metodologia já exposta, realizar eventos ou atividades específicas que
objetivam impactar a comunidade, tais como atendimentos à
comunidade nas áreas de assistência social: cortes de cabelo,
atendimentos médicos e odontológicos ou jurídicos, distribuição de
roupas e cestas básicas, e outras ações.

Cultos públicos em locais estratégicos também são muito eficazes na


anunciação do Evangelho e para abrir portas e fazer a igreja conhecida.
Estamos falando de plantação de igrejas que geralmente ainda não
possuem templos. E muitos dirão que cultos públicos não funcionam,
principalmente quando realizados nas ruas ou praças. Isso pode ser
verdade para alguns contextos, mas em outros lugares é uma excelente
estratégia. Podemos realizar cultos bem elaborados e devidamente
contextualizados em universidades, canteiros de obras, empresas,
quartéis, capelas de hospitais ou aeroportos, eventos públicos, cantatas
e teatros nos shopping centers por ocasião da Páscoa ou Natal, nas
quadras de esportes das escolas, nos cemitérios no Dia de Finados, ou
em ocasiões de formatura e dias comemorativos. Há muitas maneiras
de semearmos o Evangelho de Jesus Cristo. Devemos aproveitar todas
as oportunidades. Ao mesmo tempo, a igreja se torna conhecida,
relevante e referência para a comunidade. O plantador de igrejas
precisa ser ousado, criativo e dinâmico em seu trabalho (Atos 16.25,
20.20-24).

O plantador de igrejas precisa ser ousado,


criativo e dinâmico em seu trabalho.

Outra atividade são os cultos nos lares dos cristãos, os quais dão
oportunidade para que os vizinhos ouçam o Evangelho. Com essa
atividade até pessoas não cristãs abrem seus lares para que o
Evangelho seja proclamado. O culto deve ser bem informal, atraente e
atender às necessidades das pessoas presentes. Nesses cultos devemos
gastar um tempo de oração em favor das pessoas, dando oportunidade
para que apresentem suas necessidades. Se a pessoa receber bem o
culto e a experiência for agradável para ela, mesmo que ainda não
tenha se convertido poderá concordar em ter um PGM funcionando
regularmente em sua casa.

Também devemos utilizar literatura e mídia para anunciarmos o


Evangelho. Isso favorece muito no início da plantação de uma igreja.
Precisamos valorizar a distribuição de literatura, mas lembrando a
necessidade de fazê-lo acompanhado do testemunho pessoal. O rádio
também é um instrumento eficaz para a semeadura abundante. Em
muitas cidades encontramos rádios comunitárias e facilidade para
programas que podem ser patrocinados. Se queremos que os resultados
apareçam, temos que impregnar a comunidade com a Palavra de Deus.

2.6 treinamento de Líderes

Não é suficiente ser um plantador de igrejas. É necessário ser um


multiplicador. O líder com visão multiplicadora forma novos líderes.
Esse é um dos segredos para a multiplicação de igrejas. Há plantadores
que ficam décadas trabalhando em um campo missionário, conseguem
batizar um grupo de pessoas, organizam oficialmente a igreja e
constroem o templo, mas quando saem não deixam uma liderança
capaz, não formam líderes para dar continuidade ao trabalho e em
pouco tempo aquela igreja começa perder membros e, se não for
socorrida, fecha as portas. O trabalho principal do plantador de igrejas
deve ser a formação e capacitação de novos líderes para que tenha a
garantia de sucesso naquele trabalho.

Jesus investiu muito na formação de lideres para dar sequência à


proclamação das Boas-Novas. Da mesma forma, os apóstolos
investiram na formação de líderes. O apóstolo Paulo, por onde passava
pregando o Evangelho, constituía líderes para pastorear as igrejas
plantadas (Atos 18.24-
Não é suficiente ser um plantador de igrejas. É
necessário ser um multiplicador.

28). A Bíblia é muito clara quando descreve que o papel do líder é a


capacitação dos santos para a edificação do corpo de Cristo, conforme
Efésios 4.11-16:

E ele designou uns como apóstolos, outros como profetas, outros


como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres, tendo em
vista o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para a
edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé
e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à
medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não sejamos mais
inconstantes como crianças, levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astúcia na invenção do
erro; pelo contrário, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo. Nele o corpo inteiro, bem ajustado e
ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a correta atuação de
cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo no
amor.

O líder com visão multiplicadora trabalha para formar novos líderes,


esforçando-se para não centralizar em si todas as ações e decisões. Ele
precisa formar uma equipe para o trabalho. No início de uma igreja há
carência de crentes maduros e o plantador é levado a querer fazer
tudo sozinho. Para ele, é mais fácil fazer do que ensinar alguém a
fazer, ainda mais correndo o risco de que não fique tão bem feito. Mas
treinar pessoas é o seu papel!

A liderança compartilhada vai gerar líderes capazes, eficazes e


seguros, ao mesmo tempo em que libera o plantador de igrejas para
outras tarefas, como treinar outros líderes e iniciar novas igrejas.
Novos crentes já podem tomar parte nessa liderança compartilhada. O
bom senso e a maturidade do plantador vão permitir que o novo
crente assuma papéis de liderança compatíveis com a sua idade
espiritual. Isso fará dele um líder em pouco tempo.

Esse modelo de treinamento em serviço é bíblico e eficaz. Os novos


líderes precisam andar com alguém que pratique o que está ensinando,
que mostre como aquela teoria funciona no cotidiano. Nesse andar
junto, eles passam a ajudar no trabalho, depois assumem
responsabilidades cada vez maiores, enquanto aprendem a forma
correta de fazer as coisas.

Para isso, é importante lembrar que o envolvimento de todos os


crentes no trabalho deve acontecer imediatamente após a sua
conversão. Os discípulos devem estar comprometidos em gerar novos
discípulos, os líderes comprometidos em treinar novos líderes, as igrejas
comprometidas em plantar novas igrejas. Essa é a visão multiplicadora.

O resultado imediato do envolvimento de cada crente com a


Grande Comissão é que eles buscarão fazer discípulos entre seus
conhecidos, familiares e amigos, e com pessoas desconhecidas
acessíveis ao Evangelho. Haverá despertamento de muitos líderes e
vocações para o trabalho missionário. Quando o plantador trabalha
sozinho, colhe os frutos do seu trabalho. Mas, quando envolve a igreja,
colhe os frutos do trabalho da igreja. Esse é o diferencial da visão
multiplicadora (Atos 4.4 e 5.14). Quando chegar o momento de o
plantador deixar aquela igreja, ela seguirá se multiplicando, pois isto faz
parte de seu jeito de ser.

3 O Plantador de Igrejas

Jesus nos ensinou a orar pedindo trabalhadores, pois a seara é


grande e poucos são os ceifeiros (Mateus 9.37,38). No início da igreja
em Atos, bem como no começo do trabalho batista no Brasil,
valorizou-se muito a figura do evangelista, o que impulsionou o avanço
na plantação de igrejas. Depois, criou-se a ideia de que para plantar
uma igreja era preciso alguém com o curso teológico, um pastor
ordenado e remunerado por uma igreja ou agência missionária, com
dedicação integral àquele ministério. Isso atrasou o avanço do trabalho
missionário. Precisamos resgatar a figura do evangelista: o líder
autóctone, isto é, da terra, que tem sua profissão e sua fonte de renda
e que pode ser encorajado, capacitado e mentoriado no plantio de
igrejas.

O pastor da igreja local e o missionário plantador de igrejas devem


estar atentos para identificar, entre as pessoas que estão sendo
discipuladas, esses líderes em potencial para a plantação de novas
igrejas. Antes que alguém se torne um plantador de igrejas
multiplicadoras deve ser um discípulo que faça outros discípulos no
âmbito da igreja local, ou seja, alguém que tenha o estilo de vida
comprometido com a evangelização discipuladora e que
preferencialmente esteja participando de um PGM.

Algumas vezes o pastor não quer abrir mão desse líder, pois é
precioso e útil no ministério da igreja local. Mas devemos lembrar que
a igreja de Antioquia cedeu os seus melhores líderes, Paulo e Barnabé,
para a plantação de igrejas em outros lugares (Atos 13.1-3).

3.1 O Perfil do Plantador de Igrejas

Todo crente comprometido com Jesus pode ser um plantador de


igrejas, independentemente de seu nível cultural ou social. Mas é
preciso observar algumas características indispensáveis:

a. Forte convicção de seu chamado para esse ministério – O plantador


precisa ter certeza de que está ali porque o Senhor assim deseja
e o chamou para esse serviço.

b. Vida com Deus O plantador de igrejas deve ser alguém


comprometido com Deus, com a oração, a Palavra, o bom
testemunho diante da comunidade, vida íntegra e honesta,
estabilidade na família e nas atividades seculares.

c. Integridade A vida do plantador de igreja deve mostrar


integridade diante de Deus, da igreja e do povo que deseja
alcançar.

d. Espírito ensinável O plantador de igrejas deve ter disposição e


humildade para ouvir, ponderar, aprender, aperfeiçoar e
também para ensinar outros.

e. Paixão pelos perdidos O plantador de igrejas deve gostar de


pessoas, envolver-se com gente, e aproveitar cada oportunidade
para compartilhar o Evangelho e gerar Relacionamentos
Discipuladores. Deve sentir-se responsável pelas pessoas perdidas
e fazer todo o esforço possível para alcançá-las (1 Coríntios
9.16).

f. Disposição para o trabalho O plantador de igrejas não deve medir


esforços para cumprir a sua missão. Quanto mais semear, mais
vai colher (2 Coríntios 9.6).

g. Visão Multiplicadora – O plantador de igrejas deve entender que


uma de suas principais funções é formar líderes autóctones
capazes de levar adiante aquela igreja ou mesmo a plantação de
novas igrejas.

3.2 O Plantador Autóctone


Não podemos pensar no plantio de igrejas multiplicadoras sem
investimento na liderança autóctone. É claro que Deus movimenta
pessoas de um lugar para o outro conforme Ele quer. Mas precisamos
aprender também a treinar as pessoas em seu lugar de origem para que
elas assumam a liderança entre o seu próprio povo. Isso minimiza o
choque cultural, os custos de sustento de obreiros e o prazo para a
igreja alcançar autonomia financeira. O plantador de igrejas deve
identificar potenciais líderes autóctones, investir na sua capacitação
priorizando o treinamento em serviço, acompanhando-os enquanto
realizam a obra (Atos 11.25-27 e 16.1-5).

3.3 O Plantador e a Visão Multiplicadora

O líder que deseja ver sua igreja se


multiplicando precisa ele mesmo ser um
agente de multiplicação.

Para plantarmos igrejas com visão multiplicadora, precisamos ter


certeza que os plantadores já tenham essa visão antes de iniciarem suas
atividades. Sem a visão multiplicadora, o missionário plantará igrejas
com as características de sua igreja de origem, que em muitos casos
não é multiplicadora. A capacitação deve priorizar a visão
multiplicadora, pois uma visão equivocada tende a produzir resultados
equivocados.

O líder que deseja ver sua igreja se multiplicando precisa ele mesmo
ser um agente de multiplicação (Atos 4.1, 16.5 e 17.34). Isso significa
que tudo o que um plantador de igreja fizer deve ser reproduzível por
um novo convertido. Por exemplo, se ele faz uma oração muito
complexa, os novos crentes não estarão encorajados a orar, pois não
sabem orar daquela forma. Se o estudo bíblico ou o testemunho
pessoal for muito complicado, não poderá ser imitado por um novo
convertido. Enfim, tudo deve ser reproduzível.

Charles Brock, em seu livro Plantando Igrejas Contextualizadas (pp. 66


e 67), apresenta estes gráficos comparativos da visão tradicional e a
visão bíblica de ministério:

O plantador de igrejas precisa ter uma visão bíblica de ministério,


que não é apenas do pastor, mas de toda a igreja. Todos devem
praticar a oração, a Evangelização Discipuladora e as ações de compaixão.
A consequência desse trabalho será a multiplicação de discípulos e de
igrejas.
O desafio inicial para os plantadores é plantar uma nova igreja a
cada ano. É compreensível que o plantador que inicia uma igreja em
local pioneiro encontre dificuldades para a multiplicação pela falta de
novos líderes. Mas com o investimento na formação de líderes, a
multiplicação poderá acontecer como algo natural na vida das igrejas a
partir do segundo ou terceiro ano.

O plantador deverá compartilhar a visão com o grupo. Isso deve ser


recordado periodicamente para que todo o grupo assuma como sua a
visão multiplicadora. Uma das grandes dificuldades para o avanço da
obra missionária é a ausência da visão multiplicadora. Há igrejas que
estão felizes porque têm um local para reuniões, mesmo que durante o
ano não tenha havido batismos. Muitos se justificam dizendo que o que
interessa é a qualidade, e não conseguem entender que qualidade
deveria produzir quantidade.

A igreja que planta igrejas precisa transmitir a visão multiplicadora


para que a nova igreja já nasça com essa visão. O plantio de novas
igrejas deve fazer parte do jeito de ser das igrejas que estão sendo
plantadas. Com a visão de multiplicação, o grupo sempre estará à
procura de um novo campo para novas igrejas. A prova que a igreja
tem visão multiplicadora é que isso acontece espontaneamente. É
gratificante para o pastor ouvir de suas ovelhas que o local “x” precisa
de igrejas. Isso mostra que eles absorveram a visão multiplicadora.

4 Discussão em Grupo

4.1 Questões para Revisão

1) O que a plantação de igrejas tem a ver com a Grande Comissão?


_____________________________________________________________
2) Explique o que NÃO é “plantação de igrejas”:
_____________________________________________________________

3) Como você define a plantação de uma igreja?


_____________________________________________________________

4) Quais as etapas do processo de plantação de igrejas?


_____________________________________________________________

5) Por que é importante atentar para as questões culturais e


contextuais na plantação de igrejas?
_____________________________________________________________

6) Como as etapas do processo de plantação de igrejas se relacionam


e interagem entre si?
_____________________________________________________________

7) Como identificar e desenvolver um plantador de igrejas?


_____________________________________________________________

4.2 Estudo de Caso

Plantação de Igrejas no Vale do Açu-RN

Em 2002, uma família missionária foi enviada para plantar uma


igreja num bairro do município de Assu-RN, tendo como desafio
expandir para todas as cidades do Vale do Açu.

O processo de plantação de igrejas começou com oração:


caminhadas de oração; busca da direção de Deus quanto às cidades e
bairros a serem alcançados; cultos e vigílias de oração em favor da
salvação do povo. O desafio inicial era a plantação de 12 igrejas em 10
anos, algo que parecia quase inatingível. Mas a dependência de Deus
conduziu cada ação em bom êxito, apesar da escassez de recursos
humanos e financeiros.

Os missionários mapearam todas as cidades, bairros e vilarejos do


Vale do Açu, definindo um planejamento para plantação de igrejas de
modo a alcançar cada pessoa. Passaram a conhecer a cultura do povo,
sua cosmovisão, costumes e hábitos, de maneira a poderem se
relacionar com eles e comunicar com eficácia a mensagem do
Evangelho.

O foco do trabalho sempre esteve na semeadura abundante do


Evangelho. A Evangelização Discipuladora foi aplicada por meio de
Relacionamentos Discipuladores e Pequenos Grupos Multiplicadores de maneira
contextualizada àquela realidade do sertão: músicas com ritmo regional,
narrativas bíblicas, impactos sociais e evangelísticos.

Os missionários passaram a treinar e acompanhar os novos


discípulos, em todas as áreas da vida cristã, levando o Relacionamento
Discipulador em suas três dimensões: chamar, agregar e aperfeiçoar
discípulos. Muitos desses irmãos se tornaram líderes nos PGMs e nas
igrejas que foram sendo plantadas. Os líderes surgiram no meio do
próprio povo, e os missionários estavam atentos a reconhecê-los,
valorizá-los, despertá-los e capacitá-los para a liderança. Como esses
novos líderes eram gente da terra, não tinham barreiras culturais, o que
facilitava a pregação do Evangelho e a expansão do trabalho. É lindo
ver meninos e meninas de 10 e 12 anos evangelizando e até exercendo
liderança multiplicadora na plantação de novas igrejas.

As igrejas plantadas sempre interagiram com a comunidade por meio


de ações relevantes tais como esporte entre os jovens, palestras e ações
nas escolas e nas empresas, o que tornou as igrejas conhecidas e
respeitadas na comunidade.

Como resultado desse trabalho, há hoje 25 igrejas plantadas no Vale


do Açu, todas permanecendo firmes na oração e na visão de
multiplicação de discípulos, formação de líderes e plantação de novas
igrejas, com relevância social.

Multiplicação de Igrejas no Vale do Açu-RN

Plantação de igrejas no Amapá

No fim do ano de 2008, Missões Nacionais enviou ao estado do


Amapá um casal missionário, para trabalhar na revitalização da igreja
em Laranjal do Jari e a partir dela plantar novas igrejas na região. É
importante ressaltar a intencionalidade do casal ao se mudar para
aquela região com o objetivo claro de plantar igrejas. O Evangelho
precisava ser enraizado naquela região e a maneira de fazê-lo era
através do plantio de igrejas em cada bairro e cidades vizinhas. Essa
intencionalidade na plantação de igrejas, aliada à visão de multiplicação,
fizeram com que o trabalho se expandisse rapidamente.
O processo de plantação de igrejas se iniciou com oração. O
pequeno grupo de irmãos da igreja orava mesmo antes da chegada dos
missionários e, quando estes chegaram, foram recebidos como resposta
de Deus. Seguiram-se vigílias, oração nos lares, cultos de oração em
que todos estavam envolvidos, clamando a Deus pela salvação do
povo, por oportunidades de testemunhar, por capacitação e direção do
Senhor quanto às estratégias a serem aplicadas. Então, os missionários
mapearam a cidade e focaram a definição de grupos-alvos (bairros e
vilarejos) que deveriam alcançar. Realizaram um estudo das
características do povo, sua cultura e cosmovisão, conheceram os
dados econômicos, educacionais, demográficos e sociais, e a partir daí
passaram a interagir com aquele povo por meio dos pontos de contato
com a cultura que permitiam relacionamentos relevantes e
oportunidades para a comunicação do Evangelho e multiplicação de
discípulos e igrejas. Por exemplo, logo que passaram a degustar as
iguarias da gastronomia local, viam sorrisos em resposta a essa atitude.
O linguajar e a forma simples de se vestir também fizeram parte desse
processo juntamente com palavras de elogio à cultura local. Logo
foram aceitos como parte do povo. Passaram a amar intensamente
aquele povo, sentindo-se parte dele. O amor foi correspondido pelo
povo, que os acolheu calorosamente.

Em 2009, houve uma grande enchente, que assolou a cidade, e a


igreja se dispôs a abrigar 80 pessoas da comunidade no seu templo. Os
irmãos entenderam que ficar sem o templo para os cultos e EBD para
que as crianças, mulheres e idosos pudessem ter um abrigo, era
demonstrar na prática o amor de Deus àquelas pessoas. Essa ação
impactou a cidade e muitas autoridades se admiraram dessa atitude por
parte da igreja. Foram dois meses até que as águas baixassem.
Enquanto os desabrigados permaneceram no templo, a igreja lhes
falava de Cristo e se criaram vínculos de relacionamentos que se
tornaram Relacionamentos Discipuladores, resultando em muitas
conversões e aperfeiçoamento dos convertidos.

Tão logo esses novos discípulos retornaram para os seus bairros,


abriram as portas de seus lares para Pequenos Grupos Multiplicadores. Eles
testemunhavam aos seus vizinhos e iniciaram RDs. Os missionários
investiram no despertamento desses irmãos para a liderança dos PGMs,
treinando-os como futuros líderes das igrejas. Reuniam-se
semanalmente para compartilhamento e mentoria, oração e
treinamento em serviço.

Vidas estavam sendo salvas. Os PGMs crescendo e se multiplicando.


Líderes sendo despertados e treinados na visão multiplicadora. Foi
então que, intencionalmente, alguns dos PGMs passaram a se reunir
como uma nova igreja num bairro da cidade, depois outros PGMs em
outros bairros, e a plantação de igrejas se expandiu rapidamente.

Vieram os milagres: bares se tornaram templos das novas igrejas,


seguidores de seitas se converteram, famílias foram reestruturadas e
vítimas de abuso curadas. As novas igrejas que foram surgindo já se
fortaleciam e iniciavam novos PGMs para plantação de novas igrejas.

Os missionários iniciaram a formação de líderes autóctones no Vale


do Jari em parceria com a Convenção do Estado para continuarem a
visão de multiplicação de novas igrejas na região. Ao se mudarem
daquele campo após 5 anos, o casal deixou aquela igreja forte e
autônoma, quatro novas igrejas plantadas, duas unidades do PEPE
referências no município, o início da Missão na Linguagem Brasileira
de Sinais LIBRAS e o surgimento de mais líderes na igreja. Hoje essas
igrejas continuam o seu trabalho na região com seus líderes locais
batizando vidas e trabalhando para a abertura de nossas igrejas e
participando do sustento da obra missionária em todo o Brasil e no
mundo.
4.3 Questões para Reflexão

1) Por que a igreja do primeiro século estava tão focada na


plantação de novas igrejas? Por que Paulo e os demais apóstolos
investiram tanto na plantação de novas igrejas?

2) A tarefa da plantação de igrejas é uma responsabilidade das


igrejas ainda hoje?

3) Quando se constrói um templo em uma cidade, isto significa


que uma nova igreja já está plantada?

4) Uma igreja que não planta outras igrejas está cumprindo


plenamente a Grande Comissão?

5) Por que a estratégia de Pequenas Grupos Multiplicadores é eficaz na


plantação de igrejas?

8 Apud LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando Igrejas: Teologia Bíblica, Princípios e Estratégias de Plantio
de Igrejas. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2007. pp. 43-44.
9 LIDÓRIO, Ronaldo. Op. Cit. p. 44.
10 Idem nota 8.
11 Apud LIDÓRIO, Ronaldo. Op. Cit. p. 11.
12 LIDÓRIO, Ronaldo. Op. Cit. p. 12.
13 A respeito de como organizar uma igreja, recomendamos SOUZA, Sócrates Oliveira
de [organizador]. Organização de Igrejas. Rio de Janeiro: Convicção, 2010.
14 PIPER, John. Alegrem-se os Povos!: A Supremacia de Deus em Missões. 2. ed. São Paulo:
Cultura, 2012. p. 60.
OBJETIVOS

Depois de ler este capítulo você deve ser capaz de:


• Avaliar a importância da visão de multiplicação do líder
para o crescimento, o fortalecimento e a plantação de
novas igrejas;
• Estabelecer as relações entre a Formação de Líderes, o
Relacionamento Discipulador e o Pequeno Grupo Multiplicador;
• Verificar as etapas do processo de identificação e
treinamento de novos líderes multiplicadores.

O presente capítulo pretende destacar a importância da formação de


líderes no contexto da igreja de forma a compreendermos sua ligação
com o avanço do ministério e com o cumprimento da Grande
Comissão. Objetiva ainda relacionar a formação de líderes à visão de
Igreja Multiplicadora, mais especificamente à proposta de
Relacionamento Discipulador e ao Pequeno Grupo Multiplicador. O texto está
estruturado de forma a compreendermos a importância de tomarmos
o exemplo de Cristo como modelo para a nossa liderança, assim como
destaca a importância do desenvolvimento de um projeto de formação
de líderes que tenha como ponto de partida o Relacionamento
Discipulador. Apresenta, com o intuito de oferecer uma proposta prática
de formação, o Programa Discipular de Liderança PDL, que é base para o
processo de uma liderança forte e preparada para a multiplicação.
Sigamos então com essa proposta.

A perspectiva sobre a qual iremos falar inclui três pontos principais.


O primeiro está centrado no fato de que o tema será tratado na
perspectiva bíblica. O segundo remete ao cerne do desenvolvimento da
visão a respeito de liderança, que é a possibilidade de, como fez Jesus,
transformar homens em pescadores de outros homens (Mateus 4.19,
Marcos 1.17, Lucas 5.10), ou seja, preparar pessoas para que possam
influenciar outras a seguirem a Jesus, tornando-se seus discípulos. E o
terceiro busca destacar que o propósito é de multiplicação, isto é,
precisa ser vivenciado na intenção de transmitir a visão para outros, de
forma continuada, persistente e constante, até que o Senhor venha.

Dessa forma, iremos analisar no próximo tópico a importância da


preparação e fortalecimento da vida cristã para o exercício da
liderança, que deve estar centrada no exemplo de Cristo, por meio do
conhecimento da Palavra, da vida de oração e da prática do amor.

1 A Vida do Líder e o Exemplo de Cristo: Palavra,


Oração e Amor

O maior exemplo de liderança multiplicadora é o nosso Senhor


Jesus. O cerne do Seu trabalho com seus líderes em formação foi
caminhar com eles, de forma que o seu interior fosse transformado e
os valores do reino de Deus lhes fossem inculcados, passando a fazer
parte da prática da vida deles. Ainda hoje Jesus deseja nos liderar dessa
maneira para que, como líderes em formação, avancemos para mais
próximo d’Ele, de forma que possamos amadurecer em nossa jornada
e prepararmos outros para o ministério, edificando, assim, o corpo de
Cristo.

Efésios 4.11-13 destaca o fato de que recebemos dons de Deus e


fomos designados para um propósito:

E ele designou uns como apóstolos, outros como profetas, outros


como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres, tendo em
vista o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para a
edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé
e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à
medida da estatura da plenitude de Cristo.

O verso 12 deixa claro que a designação que recebemos cumpre um


objetivo claro, que é o de preparar outros para obra do ministério e,
assim, edificarmos o corpo de Cristo. O texto esclarece, também, que o
propósito do chamamento de Deus não está calcado somente no que
devemos realizar para a edificação de outros, mas também na nossa
própria edificação e maturidade, pois Ele tem como objetivo que
atinjamos a estatura de Cristo.

Nesse sentido, é importante compreender que o cumprimento do


chamado de Deus para que exerçamos liderança no desenvolvimento
do nosso ministério é também, essencialmente, um chamado para o
aperfeiçoamento de nossa vida cristã. E esse aperfeiçoamento somente
é possível à luz do exemplo de Cristo, conforme apresentado nas
Escrituras Sagradas.

É importante que compreendamos que a liderança deve ser trilhada


a partir de uma necessidade constante de fortalecimento da vida cristã.
O líder não é forte o suficiente em si mesmo e, dessa forma, precisa
buscar forças no Senhor para seguir na caminhada. Podemos destacar
três aspectos básicos da busca pela capacidade necessária para liderar
centrados no exemplo de Cristo: (a) o conhecimento da Palavra, (b) a
vida de oração e (c) a prática do amor.

O desenvolvimento desses aspectos, no entanto, constitui uma


trajetória de vida, e não deve ser entendido como uma plenitude cuja
falta limita o exercício do ministério pessoal. Mesmo no final da vida
ainda não teremos atingido essa plenitude. Porém, devemos ser
encorajados a exercer o nosso chamado mesmo durante a caminhada,
compreendendo que é no serviço que somos aperfeiçoados.
O conhecimento da Palavra é uma recomendação direta do Senhor
Jesus. Em Mateus 22.29, Jesus afirma que erramos por não
conhecermos as Escrituras nem o poder de Deus. Nesse sentido, o
conhecimento da Palavra vincula em si mesmo o poder do próprio
Deus. Mesmo Jesus, quando tentado diretamente pelo diabo no
deserto, usou a Palavra para combatê-lo, denotando que ela tem em si
poder para enfrentar as adversidades. O apóstolo João, no primeiro
verso de seu Evangelho, nos ensina que a Palavra é o próprio Jesus
(João 1.1) e Paulo mostra que Ele é o detentor de o todo poder e
autoridade (Colossenses 2.9,10). Portanto, podemos dizer que conhecer
a Palavra é conhecer o próprio Senhor Jesus e comungar de Seu poder.
Ler, meditar e praticar sistematicamente a Palavra, enchendo o nosso
entendimento do conhecimento de Deus, nos capacita a liderar por
meio de um repertório construído a partir de Sua Palavra.

A vida de oração, também é uma recomendação direta do Senhor


Jesus, seja dada como exemplo (Lucas 6.12; 9.28 e 22.41), seja por
orientação verbal (Lucas 18.1). Em Romanos 8.26 Paulo nos esclarece
que o Espírito nos ajuda na nossa fraqueza, nos auxilia na nossa
ignorância quanto ao que orar, intercedendo por nós e,
consequentemente, nos fortalecendo para a caminhada. Vários homens
de Deus, no passado e ainda hoje, têm indicado que a vida devocional,
o que inclui orar todos os dias, tem sido uma fonte de força e
capacitação para o sustento de sua vida ministerial e de sua liderança.

Por outro lado, o conhecimento da Palavra e a vida de oração


desassociados da prática do amor não cumprem o objetivo de Cristo (1
Coríntios 13.1). Amar a Deus e ao próximo é o que o Senhor Jesus nos
constrange a fazer. A vida cristã se aperfeiçoa no trabalho que fazemos
com o Senhor. Em Efésios 3.19 somos instados a conhecer o amor de
Cristo e sermos cheios de toda a plenitude de Deus.

Para sermos líderes, precisamos primeiramente nos deixar


liderar por Jesus. Antes de sermos líderes, precisamos ser
servos.

A liderança traz em si inúmeros desafios que precisam ser


enfrentados e superados em Cristo. O líder precisa ser, em cada
experiência, preparado. A leitura do próximo item nos poderá permitir
compreender a importância de estarmos revestidos do poder de Deus
e capacitados a utilizar as armas espirituais que precisaremos manejar
em nossa trajetória de liderança.

2 De Liderados a Líderes: A Armadura de Deus

O chamado de Deus para liderar é uma proposta de serviço. Esse


serviço implica influenciar outros e multiplicar a visão que nos foi dada
por Deus. Isso não nos dará necessariamente uma posição de destaque
ou privilégios. O chamamento divino é para a transformação de vida,
que será moldada, sobretudo para o benefício de outros. Para isso,
precisaremos estar preparados, experimentados, próximos de Deus e
revestidos do Seu poder.

Tomando o texto de Efésios 6.10, podemos compreender que o


poder de Deus do qual devemos nos revestir não é qualquer poder: é
“forte” e vem exclusivamente d’Ele. Em Lucas 9.1 é o Senhor Jesus
quem dá o poder aos enviados. Esse poder tem sua fonte em Deus,
por Ele é dado e é o mesmo que levantou o Senhor Jesus dentre os
mortos (1 Coríntios 6.14). Uma vida de devoção à Palavra, à oração e
ao amor nos reveste do poder que ressuscitou Cristo. Com esse poder,
nada poderá prevalecer sobre a igreja do Senhor Jesus (Mateus 16.18)
que se pretende edificar e muito menos ao exercício de uma liderança
multiplicadora. Lembre-se de que recebemos poder para sermos
testemunhas (Atos 1.8), o que implica fundamentalmente a transmissão
da visão a outros.
Efésios 6.11 nos faz outra recomendação: que vistamos o que
chamou de a “armadura de Deus”. O ato de nos vestirmos remete à
apropriação de algo que é nosso. Como no caso de Davi, o vestir a
armadura do outro não nos ajudará na batalha (1 Samuel 17). A
armadura precisa ser nossa de fato, estar na medida de Deus para nós.
A armadura precisa ser moldada a partir de um conhecimento pessoal
e profundo da Palavra. A proposta de Paulo é que aquele que exerce
liderança vista a sua própria armadura e, dessa forma, não procure o
escudo de outro para se valer.

Ainda na parte “b” do verso 11, é apresentado o motivo de nos


vestirmos com a armadura: podermos ficar firmes contra as ciladas do
diabo. “Estar firme” nos indica um estado que não é apenas
momentâneo. Esse é o lugar do líder, um lugar de firmeza. O melhor
solo para que edifiquemos uma casa que permaneça firme, é o solo
rochoso. Um solo arenoso e desestruturado não promove a resistência
necessária para uma edificação duradoura (Mateus 7.2427). É na rocha
que devemos firmar nossa liderança. Vestidos da armadura, devemos
nos firmar no Senhor Jesus, que é a rocha eterna (1 Coríntios 10.4).
Dessa forma, se estamos firmados em Cristo, as ciladas e dificuldades
que possam vir contra nós não terão êxito. Aqui também o vestir e o
estar firmado poderiam ser considerados consequências de uma vida
dedicada à Palavra, à oração e à prática do amor.

É importante destacar também que as ciladas mencionadas no verso


11 não são comuns, mas de natureza diabólica. Uma estratégia de
guerra bem-sucedida precisa ser definida sobre um sólido
conhecimento do inimigo e de suas armas. Precisamos entender que
vivemos uma guerra espiritual, contra seres espirituais. Precisamos
utilizar as armas adequadas. Em muitos momentos, o cristão pode
utilizar armas inadequadas para o combate espiritual. Entre vários
exemplos, algumas ciladas são resistidas por meio de conflitos pessoais,
irmãos se digladiando contra irmão, igreja contra igreja. É de muita
relevância que o líder saiba discernir entre comportamentos e pessoas.
No verso 12, Paulo deixa isso mais claro – “nossa luta não é contra
pessoas”, mas contra o poder das trevas nas regiões espirituais. Assim,
necessitamos de armas espirituais, ou mesmo de armas construídas a
partir de uma espiritualidade centrada na Palavra de Deus e no
exemplo de Cristo. A despeito do fato de que o Senhor Jesus já venceu
o poder das trevas, o inimigo ainda está ativo. Os crentes em Cristo
têm responsabilidade e papel atuante nessa batalha. Não podemos
esperar que os incrédulos se enfileirem pelo bem. Essa
responsabilidade é nossa. “Revistamo-nos, pois, da armadura”, assevera
novamente o apóstolo no verso 13, para que possamos ocupar nosso
lugar de liderança e atender ao chamamento de Cristo.

Dado que temos participação direta como filhos da luz nessa


batalha, estejamos nós com a armadura completa. Paulo reforça isso e
adiciona a expressão “toda”, denotando que não podemos deixar nada
descoberto ou vulnerável. Temos aqui uma base que não pode estar
descompensada: estudo e prática da Palavra, oração e vida em amor
devem se harmonizar como um tripé que sustenta firme o líder
multiplicador. O verso em sua parte “b” nos adverte que nem todos os
dias serão bons. Haverá os maus dias. Neles precisaremos permanecer
firmes. Aqui vemos uma advertência que visa à prevenção. Não
podemos esperar o dia mal chegar para nos prepararmos. Quando ele
chegar, já precisaremos estar com a armadura “toda”. Para isso,
precisamos vesti-la e prová-la antes para nos habituarmos com ela. Se
assim é, surge a pergunta como estamos utilizando o nosso tempo, com
que estamos enchendo a nossa “mente”? O dia mau não manda aviso.
Ele simplesmente chega. O líder precisa estar preparado,
experimentado em Deus e em Sua Palavra.

Uma das principais qualidades de um líder na Bíblia é a


perseverança. A proposta do autor de Hebreus é que corramos a
carreira que nos está proposta com perseverança, olhando firmemente
para Jesus, que é o autor e consumador da nossa fé (Hebreus 12.1,2).
O desejo de Cristo é que sejamos inabaláveis, mesmo depois de termos
feito tudo (Efésios 6.13). Por meio do seu apóstolo, o Senhor nos
adverte, ensina e indica as ferramentas para que cheguemos firmes ao
fim. Esse é o Seu desejo. Nesse fim, ainda vestidos da armadura, nos
encontraremos de forma definitiva com Ele. Inabaláveis devido a Seu
ensino e amor, O veremos face a face (1 Coríntios 13.12) juntamente
com aqueles que influenciamos ao longo de nossa jornada.

Influenciar outros e transferir a visão de Deus para que haja


continuidade na expansão do Evangelho é algo central para o líder. É
disso que falaremos no próximo tópico.

3 A importância do Líder Multiplicador

Uma das funções mais importantes da liderança é equipar os santos


para que se tornem participantes da obra missionária, usando seus dons
e talentos para glória de Deus. Se o líder não preparar seus discípulos
para andar, para prosseguir no cumprimento de sua missão, está claro
que não terá sido um bom líder. Aliás, o papel principal do líder é
formar outros líderes para que o Evangelho chegue até os confins da
terra.

Não apenas isso, a formação de líderes é uma necessidade do


próprio crescimento da igreja. Relembremos o conselho de Jetro para
Moisés. Enquanto Moisés julgava o povo, o seu sogro, Jetro, observava
e deu o seu parecer. Moisés trabalhava à exaustão, desde a alva até o
pôr do Sol, no que foi interrogado pelo seu sogro: “Que é isso que estás
fazendo com o povo? Por que fazes isso sozinho, deixando todo o povo em pé
diante de ti, desde a manhã até à tarde?” (Êxodo 18.14). Moisés tentou se
justificar: “É porque o povo vem a mim para consultar a Deus. Quando têm
alguma questão, eles vêm a mim; e julgo entre eles e lhes declaro os estatutos de
Deus e as suas leis.” (Êxodo 18.15,16). Jetro respondeu: “O que estás
fazendo não é bom. Com certeza, tu e este povo que está contigo desfalecereis, pois
a tarefa é pesada demais; não podes fazer isso sozinho” (Êxodo 18.17,18).
Jetro, então, deu conselhos a Moisés:

Aliás, o papel principal do líder é formar outros


líderes para que o Evangelho chegue até os
confins da terra.

Deves representar o povo diante de Deus, a quem deves levar as


causas do povo; ensina-lhes os estatutos e as leis, mostra-lhes o caminho
em que devem andar e as obras que devem praticar. Além disso,
procura dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, homens
confiáveis e que repudiem a desonestidade; e coloca-os como chefes de
mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez; para que eles
julguem o povo todo o tempo. Que levem a ti toda causa difícil, mas
que eles mesmos julguem toda causa simples. Assim aliviarás o teu
fardo, pois te ajudarão a levá-lo. Se procederes assim, e se Deus desse
modo te ordenar, poderás suportar; e todo este povo também voltará
para casa tranquilo (Êxodo 18.19-23).

Vemos que o bom líder não é aquele que faz tudo sozinho, mas
aquele que divide as tarefas com outros líderes por ele preparados. Isso
é excelente, é bíblico. Deus falou por intermédio de Jetro. Moisés
dificilmente teria chegado aonde chegou se não tivesse dividido o
trabalho com seus auxiliares e se não tivesse preparado seus sucessores.
Moisés preparou Josué; assim como Elias preparou Eliseu; Jesus
preparou seus apóstolos; Barnabé preparou Paulo, que preparou Silas,
Timóteo, Tito, e assim por diante. Precisamos, da mesma forma,
preparar líderes para que nossas igrejas não sofram no processo de
crescimento e não deixem de se multiplicar.
Quando falamos em treinamento de liderança, tocamos em um dos
assuntos mais sérios e urgentes da igreja na atualidade. É uma fórmula
para alcançar nosso país e o mundo com a mensagem salvadora de
Jesus Cristo. Precisamos orar, pedindo a Deus mais trabalhadores para
a seara. E muitas vezes esses trabalhadores já estão entre nós e
precisam apenas de despertamento, incentivo e treinamento para a
realização da obra missionária e, assim, a igreja alcançará o mundo.

O objetivo de todo o processo de formação de liderança é a


preparação de líderes que possam preparar outros e manter o
processo de multiplicação e crescimento. É essa a visão que
queremos comunicar.

Podemos avançar diante dos desafios do dia a dia, com fé,


perseverança e esperança. Deus quer que olhemos para Ele, e
prossigamos em direção ao alvo. Se nos falta visão, devemos pedi-la a
Deus. Não podemos ser úteis no Reino sem a visão de Deus, pois
seremos pessoas sem rumo. Jesus trabalhou três anos com um grupo
de discípulos, dando-lhes a visão necessária para que pudessem
prosseguir na caminhada. Ele lhes deu visão de si mesmos, de Deus, do
Reino e da missão; e os capacitou para o trabalho. Se queremos nos
comprometer com os mesmos resultados, precisamos percorrer o
mesmo caminho, o caminho do Relacionamento Discipulador com foco na
formação de líderes. Esse é o tema do próximo tópico.

4 Relacionamento Discipulador: O Ponto de Partida


para a Formação de Líderes Multiplicadores

Já vimos no Capítulo de Evangelização Discipuladora que a Grande


Comissão (Mateus 28.18-20), ao dizer “ide, fazei discípulos”, nos ordena
não apenas a chamar discípulos e agregá-los à igreja, mas também a
aperfeiçoá-los, “ensinando-os a obedecer todas as coisas” que Jesus nos tem
mandado. Nesse processo de aperfeiçoamento, o discipulador deve
transferir para o seu discípulo muito além de verdades, mas a sua
própria vida, como Paulo fez com relação aos Tessalonicenses: “Assim,
devido ao grande afeto por vós, estávamos preparados a dar-vos de boa vontade
não somente o evangelho de Deus, mas também a própria vida, visto que vos
tornastes muito amados para nós” (1 Tessalonicenses 2.8).

Em um Relacionamento Discipulador, o exemplo de vida faz toda a


diferença, pois o discípulo tende a copiar os exemplos do discipulador,
pois não há como desvincular a vida de uma pessoa daquilo que ela
ensina. Como vimos anteriormente, o discipulador precisa ser uma
pessoa comprometida com Deus, pois discipular é uma grande
responsabilidade. Porém, mais que uma responsabilidade, discipular é
uma oportunidade, ou mesmo uma ordem! De fato, o Discipulado é a
estratégia criada por Jesus para alcançar o mundo, pois por meio dele é
possível multiplicar discípulos para o avanço do Evangelho através das
gerações. Se cada discipulador puder ajuntar algumas pessoas fiéis em
torno de si mesmo, incutir sua vida na vida deles, e ensiná-los a
reproduzir esse estilo de vida, então o reino de Deus se expandirá com
grande velocidade.

Em um Relacionamento Discipulador, o
exemplo de vida faz toda a diferença.

O legado que deixamos em nossos ministérios não é apenas a obra


que fazemos, mas a obra que os discípulos que formamos realizam. Se
multiplicarmos um pequeno grupo de discípulos fiéis e os
capacitarmos, eles plantarão mais igrejas do que jamais poderíamos
plantar e farão um trabalho muito maior do que o nosso. Por isso, o
Discipulado Multiplicador que objetiva a formação de líderes é uma das
tarefas mais importantes que realizamos durante nossa vida. Nossa
tarefa é prepará-los para que possam levar o trabalho avante,
expandindo, assim, o seu alcance!

O Relacionamento Discipulador, portanto, é o ponto de


partida para a formação de líderes.

Vejamos se não foi assim no exemplo de Jesus e de Paulo. Jesus


convidou homens e mulheres para segui-lo; essas pessoas viveram,
viajaram e comeram com Ele e ao longo do caminho lhes ensinou a
Palavra de Deus, compartilhou exemplos da vida diária; exemplificou
para eles o tipo de vida que deveriam viver – em oração, perdão, amor,
compaixão, perseverança, zelo e obediência à vontade do Pai.

Assim também fez o apóstolo Paulo, especialmente com relação a


Timóteo e Tito, considerados por ele como seus verdadeiros filhos na
fé (1 Timóteo 1.2,18; 2 Timóteo 1.2 e 2.1, Tito 1.4). Paulo investiu em
seu discipulado, transferindo para eles vida e verdade enquanto viajava
em missões, até o ponto de enviá-los posteriormente como
representantes do Evangelho e líderes, recomendando-lhes o
discipulado de outros (Atos 16.1-3, 17.14-15, 18.5, 19.22 e 20.4; 1
Coríntios 4.17 e 16.10; 2 Coríntios 1.19; Filipenses 2.19-23; Gálatas
2.1; 1 Tessalonicenses 1.3; 1 Timóteo 1.3; e Tito 1.5).

Paulo orientou Timóteo – e podemos pressupor que também o fez


com relação a Tito, conforme Tito 1.5 – para que formasse uma
espécie de cadeia de discípulos multiplicadores, como se pode ver em 2
Timóteo 2.2: “O que ouviste de mim, diante de muitas testemunhas, transmite a
homens fiéis e aptos para também ensinarem a outros”. Aqui o claro intuito de
Paulo era a multiplicação de discípulos e de líderes. E o interessante
dessa orientação é que não havia segredos sobre o modo como
Timóteo deveria atuar para multiplicar esses líderes. O exemplo já
havia sido dado no processo de formação que Paulo desenvolveu com
ele (“O que de mim ouvistes, transmite...”).
E como nós poderíamos aplicar em nosso contexto o processo de
multiplicação conforme o ensino paulino? Simples: transferindo
verdade e vida, oportunizando à pessoa que está sendo discipulada
observar e imitar o nosso procedimento. Além de encontros regulares
para ministração do Evangelho e de suas implicações, o discipulador
deve andar com o discípulo, mostrando a vida cristã na prática.

No ministério e na liderança, o discipulador deverá levar o discípulo


consigo enquanto estiver fazendo outros discípulos ou realizando
outras tarefas, como visitas e orações por enfermos. O discípulo
precisa ver como o discipulador faz as coisas, como se comporta em
público, no lar, nos negócios e no trabalho. O processo de formação de
discípulos e líderes compreende as seguintes ações:
• Transmitir verdade e vida, por meio de ministração bíblica e
exemplo;
• Permitir que o discípulo auxilie o líder nas suas ações;
• Observar o discípulo atuando, verificando se está indo bem;
• Sair e acompanhar o discípulo de longe ou ter encontros
menos frequentes.

Em outras palavras, os passos para discipular alguém e torná-lo líder


são: 1) Eu faço e o líder em treinamento observa; 2) Eu faço e o líder
em treinamento ajuda; 3) O líder em treinamento faz e eu observo
(ajudo se necessário); e 4) O líder treinado faz e eu me coloco à
disposição quando for necessário. Esse andar juntos, lado a lado, é o
que chamamos de treinamento em serviço.

É importante ficar claro que a formação de líderes precisa se basear


em uma proposta de Relacionamento Discipulador específica e intencional.
Se quisermos multiplicar discípulos e formar líderes em nossas igrejas
precisamos pagar o preço de um discipulado bíblico, principalmente no
que diz respeito ao tempo que precisamos investir nessa causa tão
especial, a começar pela liderança da igreja e envolvendo todos os
membros.

A formação de líderes precisa se basear em


uma proposta de Relacionamento
Discipulador específica e intencional.

Portanto, gerar a cadeia de Relacionamentos Discipuladores,


partindo do pastor e de sua liderança, como já visto no Capítulo
de Evangelização Discipuladora, é a chave para a multiplicação
natural e exponencial de discípulos e líderes na igreja local.

Como líderes, precisamos nos lançar ao trabalho de multiplicação de


forma a preparar outros para que preparem outros e assim possamos
avançar. Na sequência do texto iremos relacionar como identificar e
treinar novos líderes.

5 Identificando e treinando Novos Líderes


Multiplicadores

Um dos maiores erros que uma igreja pode cometer na área de


liderança é ficar à espera de líderes que venham de fora para fazer o
trabalho. Por isso, o conselho de Jetro continua válido para nossos dias:
“procura dentre o povo”! Os líderes que Deus quer levantar geralmente já
estão no meio da própria igreja! Quando uma pessoa se destaca na
liderança da igreja não podemos vê-la como um adversário, como
alguém que vai competir conosco, mas como alguém que pode ser
treinado. Devemos investir o máximo que pudermos nessas pessoas
para que se tornem grandes líderes e até melhores do que nós.

Vejamos agora as qualidades que Jetro indicou como requisitos para


a liderança. Ele disse: “(...) homens capazes, tementes a Deus, homens
confiáveis e que repudiem a desonestidade” (Êxodo 18.21). Cada líder deve
trabalhar, olhando para as pessoas que estão diante de si, e ver suas
características.
• Quando Jetro falou em pessoas CAPAZES, assinalou que
alguém que vai exercer liderança precisa ser física, moral,
intelectual e espiritualmente capaz. Se uma pessoa não for
capaz, não poderá exercer um grau importante de liderança.
• Que sejam homens TEMENTES A DEUS, que levem a
sério sua própria comunhão com Ele, que tenham vida
devocional e zelo espiritual pessoal e familiar. Nem todas as
pessoas têm condições de assumir posições destacadas de
liderança na igreja do Senhor Jesus. Precisamos de pessoas
tementes a Deus e caracterizadas pela fé. Ser temente a Deus
como credencial para a liderança deve ter prioridade com
relação ao possuir talentos e diplomas.
• Que sejam homens CONFIÁVEIS, pessoas que não tenham
sua honestidade comprometida, que tenham seus negócios
limpos, seus pagamentos em dia, que não devam nada a
ninguém a não ser o amor, que sejam leais e submissos aos
seus líderes.
• Que sejam homens que REPUDIEM A
DESONESTIDADE, que rejeitem toda forma de lucro fácil
e de vantagens indevidas e que sejam sinceros e transparentes,
pois na igreja somos convocados a dar nossa vida e tudo que
temos.

Um dos maiores erros que uma igreja pode


cometer na área de liderança é ficar à espera
de líderes que venham de fora para fazer o
trabalho.
O conselho de Jetro resume as qualidades de um líder: integridade,
humildade, espiritualidade, coragem e dinamismo. Precisamos observar
pessoas com estas qualidades e investir nelas sem medo, pois têm tudo
para serem grandes líderes, sabendo também, por outro lado, que não
estaremos livres de decepções.

O conselho de Jetro prossegue: depois de identificadas as pessoas


que julgamos capazes para a obra, “ensina-lhes os estatutos e as leis, mostra-
lhes o caminho em que devem andar e as obras que devem praticar” (Êxodo
18.20). Os dois verbos que chamam a atenção no texto são “ensinar” e
“mostrar”. Mais uma vez somos levados ao ambiente do Relacionamento
Discipulador, em que o discipulador buscará transferir para o discípulo
verdades e vida, ensino e exemplo. Esse é o modelo, e não há segredos. A
formação de líderes está intimamente ligada ao aperfeiçoamento de
discípulos.

De modo específico para a liderança, o discipulador deve


compartilhar aos poucos tudo que sabe e o que está ao seu alcance.
Uma das coisas mais importantes a ser transmitida é a visão de Deus
voltada para a multiplicação. O treinamento de líderes exige tempo e
coragem, mas é o trabalho mais compensador que existe. Olhar para
trás e ver as pessoas que treinamos desenvolvendo ministérios
frutíferos é o maior prêmio que poderíamos receber como pastores e
missionários. Isso nos dá uma enorme satisfação e sentimento de
realização pessoal e ministerial.

Um bom líder anda lado a lado com os seus


liderados, compartilha com eles seus planos e
objetivos, de forma a se comprometerem com
a visão.
Um bom líder anda lado a lado com os seus liderados, compartilha
com eles seus planos e objetivos, de forma a se comprometerem com
a visão. É importante que líder e liderados façam planos comuns,
compreendendo como grupo as implicações, limites e dificuldades na
realização desses planos. Alguns desses planos poderão ser
desenvolvidos de acordo com o processo que a seguir apresentaremos.

6 O Processo de Formação de Novas Lideranças


Multiplicadoras

É comum encontrarmos em compêndios sobre liderança a


recomendação de que um bom líder deve: (a) possuir uma visão clara
de seus objetivos, (b) saber comunicar bem essa visão e, dessa forma,
(c) influenciar outros para que apoiem em sua trajetória rumo ao
atingimento dos objetivos que cumprem a sua visão.

Queremos ir além. Nossa recomendação é que o líder multiplicador


leve em consideração na preparação de seu plano de multiplicação os
seguintes princípios: (a) buscar a visão de Deus para o seu ministério,
considerando sempre que a sua visão é parcial e incompleta, mas que
na dependência do Espírito Santo pode se realizar de forma completa
e plena; (b) considerar que somente por meio de uma vida devocional,
que o leve cada dia para mais perto de Deus, poderá obter a visão
clara do que é preciso realizar; (c) compreender que está em missão e
que essa missão não é sua, mas de Deus; (d) compreender, ainda, que
o sentido de sua trajetória não tem um fim em si mesmo, mas se
constrói a partir da colaboração que fornece a Deus no cumprimento
da missão d’Ele; (e) que seu trabalho não está circunscrito em si
mesmo, mas busca influenciar outros a cumprir a visão de Deus para a
vida deles, de forma que estejam próximos d’Ele e sejam dirigidos por
Ele; (f) que o seu trabalho de multiplicação deve ser contínuo, até que
o Senhor venha.
Tomando por base esses princípios, apresentaremos uma proposta
de processo de formação de novas lideranças. A vantagem de
visualizarmos a formação de liderança como um processo é que ele
poderá ser multiplicado. Essa multiplicação deve levar em consideração
o contexto no qual está sendo praticada. O líder multiplicador deve,
antes de qualquer coisa, conhecer bem: o contexto, a visão de
multiplicação, os objetivos que deseja atingir, os recursos dos quais
dispõe, as estratégias que utilizará e, fundamentalmente, as pessoas
com as quais irá trabalhar, bem como a sua cultura. Somente depois
disso deve utilizar o processo, fazendo as adaptações necessárias para
que seja desenvolvido da forma mais apropriada.

Se voltarmos ao exemplo de Jesus, veremos que Ele geralmente


buscava as nuances do contexto da pessoa para construir uma melhor
comunicação e compreensão de sua mensagem. Da mesma forma,
cada pessoa em treinamento de liderança deve ser considerada em sua
individualidade para que seja incentivada ao aperfeiçoamento e à
multiplicação.

Em linhas gerais o processo de formação e desenvolvimento de


liderança deve considerar o seguinte conjunto de ações básicas: (1)
orar, observar e identificar pessoas com potencial para liderar; (2)
convidar, esclarecer e comprometer a pessoa com a proposta de
formação; (3) desenvolver um plano de ações concretas para o
desenvolvimento da liderança; (4) acompanhar, avaliar e solicitar
contas das ações planejadas; e (5) incentivar que ele multiplique o
processo com outras pessoas com as quais se quer desenvolver o perfil
de liderança. Segue-se o esquema que busca representar o que
propusemos.
Processo de Formação e Desenvolvimento de Liderança

Vamos agora descrever melhor cada um dos passos. O Primeiro Passo:


orar, observar e identificar pessoas com potencial para liderar. Ao observarmos
líderes em potencial precisamos fazê-lo com atenção, dando
oportunidade para que manifestem suas aptidões e dons. É nesse
contexto de oportunidades que teremos condição de identificar,
mediante oração, com quais pessoas devemos trabalhar o
desenvolvimento de liderança. Observe que, sem relacionamento e
envolvimento pessoal, é impossível que esse processo ocorra. O Pequeno
Grupo Multiplicar – PGM é um ambiente muito fértil para a condução
desse processo. Lembre-se, ainda, do que discutimos a respeito do
conselho de Jetro.

Tendo identificado as pessoas com quem trabalharemos o


desenvolvimento de liderança, devemos criar uma oportunidade para
que possamos expor nossa proposta de trabalho e visão de
multiplicação. É neste ponto que entramos no Segundo Passo: convidar,
esclarecer e comprometer a pessoa com a proposta de formação. Aqui, é muito
importante que destaquemos a intencionalidade de nossas ações e
deixemos claro o compromisso que precisa ser feito pelo líder em
formação. Nesse momento, é preciso tomar muito cuidado para que a
proposta não seja vista como algo que trará algum tipo de status ou
privilégio sobre os demais. Deve-se deixar claro, já no início, que a
principal característica do líder bíblico é a do serviço. A liderança
bíblica sempre aponta nessa direção, a do líder servo. Dessa forma,
peça que a pessoa indicada ore antes de decidir.

Tendo esclarecido a proposta de caminhada é preciso fazer um


“termo de compromisso” que possa evidenciar para o líder em
formação que seu compromisso requer investimento pessoal na vida
com Deus, consigo e com os outros, o que inclui diretamente sua
família. Não é possível conceber um programa de liderança sem incluir
diretamente a família e os cuidados necessários para que ela esteja
saudável. Esse é um ponto de extrema atenção. Nosso ministério de
liderança precisa começar em nossa casa, pois ali é o nosso primeiro
ambiente de atuação. Dessa forma, aquele que busca discípulos para
investir em liderança deve considerar o comportamento do novo líder
em diferentes contextos. Em regra, as pessoas são modeladas a se
comportarem adequadamente em ambientes mais formais e não o
fazem da mesma maneira em outros mais informais, como o familiar.
É preciso estar atentos.

Estamos falando de formação, de


desenvolvimento, o que não seria necessário
se estivéssemos buscando pessoas prontas.

Precisamos destacar mais uma vez que o líder multiplicador não


deve procurar homens e mulheres perfeitos, já preparados, mas
pessoas que desejam se aperfeiçoar em Deus e cumprir o Seu
chamado para o serviço. Estamos falando de formação, de
desenvolvimento, o que não seria necessário se estivéssemos buscando
pessoas prontas. Lembrem-se: o ministério se aperfeiçoa no serviço, e a
liderança da mesma forma.

A formação de líderes requer um relacionamento intenso, que


demanda momentos de prestação de contas e correção de
rumos.

Acordo feito e o desafio aceito pelo líder em formação, é importante


gastarmos tempo com ele no plano de desenvolvimento de suas
competências para liderar. Chegamos então no Terceiro Passo: desenvolver
um plano de ações concretas para o desenvolvimento da liderança. Proporemos
aqui um exemplo simples, mas que poderá dar sentido ao trabalho e
potencializar os resultados. Chamaremos esse exemplo de Programa
Discipular de Liderança – PDL.

7 O Programa Discipular de Liderança PDL

O que é um PDL? É simplesmente um roteiro de desenvolvimento


pessoal que visa permitir o estabelecimento de um compromisso entre
o líder discipulador e o líder em formação; estabelece bases para o
crescimento da pessoa nas diversas dimensões nas quais o líder precisa
se desenvolver (revejam o que falamos sobre a necessidade de
estarmos vestidos com a armadura de Efésios 6 na pág. 124); permite
também que se torne mais perceptível o crescimento do líder em
formação no serviço para o qual foi comissionado. O PDL facilita o
trabalho do mentor, na medida em que apresenta objetivos claros a
serem alcançados no processo de desenvolvimento do líder. Podemos
dizer que o PDL propõe ações concretas na busca do aperfeiçoamento
pessoal.

O Programa Discipular Liderança busca basicamente, a


partir de uma análise compartilhada, responder às seguintes
perguntas: “onde estamos?”, “onde o Senhor quer que
estejamos?” e “como chegaremos lá?”.

A elaboração do PDL deve ser viabilizada da seguinte forma:


inicialmente precisamos identificar os requisitos ou as competências
pessoais que são necessárias para que o líder em formação esteja
preparado para o trabalho, a exemplo de competências espirituais e
morais, competências comportamentais e competências técnicas.
Competência, no contexto da nossa proposta, deve ser compreendida
como o conjunto de conhecimentos e habilidades que o líder precisa
para agir em determinada situação (o saber-fazer), sem conotação de
excelência.

Perceba que para identificarmos essas competências precisamos


compreender claramente aonde desejamos chegar e em quanto tempo.
De acordo com essa proposta, precisamos ter em mente que queremos
discípulos de Cristo que lideram outros discípulos na edificação da
igreja por meio do cumprimento da Grande Comissão. Precisamos ter
clareza de que a melhor estratégia, conforme apresentada no livro de
Atos, é o relacionamento discipulador no contexto do pequeno grupo,
formando líderes e multiplicando a visão. Seguem alguns exemplos de
competências que o líder precisa desenvolver: dependência de Deus,
visão missionária (Grande Comissão), convicção da chamada
ministerial, vida devocional, relacionamento familiar, honestidade,
humildade, mansidão, fidelidade, coragem, dinamismo, organização,
proatividade, conhecimento bíblico, Visão de Igreja Multiplicadora,
conhecimento a respeito da proposta de Evangelização Discipuladora,
conhecimento do modelo de PGM, entre outros.

Esses exemplos não visam criar uma lista infindável de qualidades


que o líder deve possuir para ser uma espécie de super-homem
altamente capacitado e pronto. Pelo contrário, a proposta de Jesus era
chamar homens imperfeitos e trabalhar intensamente para transformá-
los em líderes multiplicadores. Queremos considerar que esse trabalho
de aperfeiçoamento ainda continua em nossos dias, pois o nosso
Senhor trabalha incansavelmente e com amor para que sejamos feitos
à Sua semelhança. Dessa forma, confiaremos que o trabalho de levar o
nosso discípulo a se tornar um discípulo de Cristo irá transformá-lo de
forma a adquirir as competências necessárias para o exercício da
liderança multiplicadora. O que propomos é apenas que isso seja
intencional.

Depois de listarmos os requisitos ou competências desejáveis,


devemos analisar a situação ou condição atual do líder em
desenvolvimento. Essa construção deverá ser realizada por meio de
um consenso obtido pela avaliação do discípulo feita por seu líder e
por outra avaliação feita por ele mesmo (autoavaliação). Esse duplo
ângulo de avaliação é o que chamamos de avaliação 180° (cento e
oitenta graus). O consenso nessa forma de avaliação buscará identificar
os pontos fortes e os que precisam ser mais bem desenvolvidos, de
forma a permitir a elaboração de um plano de desenvolvimento. Vejam
o esquema:

Esquema do Programa Discipular de Liderança


Identificada uma área da vida que precisa de investimento, líder
multiplicador e líder em desenvolvimento deverão projetar ações
concretas para o crescimento. Veja um exemplo de planilha que pode
ser utilizada para a elaboração do PDL:

Com o PDL elaborado, o que finaliza o terceiro passo do processo,


devemos executá-lo com tenacidade e avaliar o seu desenvolvimento.

Devemos, agora, avançar para o Quarto Passo: acompanhar, avaliar e


solicitar contas das ações planejadas. Essa avaliação deverá ser promovida
por meio de um encontro de prestação de contas periódico. É
fundamental destacar que a avaliação precisa ser desenvolvida a partir
de uma postura de amor e cumplicidade. O líder multiplicador deve
cuidar para que o líder em desenvolvimento sinta que o processo está
sendo desenvolvido com o objetivo de apoiá-lo em seu crescimento
pessoal. Ademais, o líder também é um aprendiz durante todo o
processo de acompanhamento e apoio. Ele também cresce à medida
que apoia. Não há espaço para uma postura de superioridade ou de
inferioridade, ambos estão aprendendo com Deus. Dessa forma, o
momento de prestação de contas deve ser também um momento de
oração e realizado em particular. Muitas das coisas que trataremos
nesses momentos precisam de sigilo, de forma a viabilizar um ambiente
de confiança mútua. A solicitação e prestação de contas deve ser
realizada com cuidado e amor. Destacar e comemorar os avanços é
muito importante. Devem-se tratar os pontos ainda a serem
desenvolvidos com uma perspectiva positiva, sem deixar, é claro, de
admoestar quando necessário. A Palavra de Deus deverá sempre ser a
bússola de todo o processo.

A solicitação de contas deve ser realizada


com cuidado e amor.

O líder multiplicador deve estar também em processo de


acompanhamento e de desenvolvimento do seu próprio PDL,
formando, assim, uma cadeia de aprendizado e multiplicação
da visão.

O Quinto Passo: incentivar o líder em formação a multiplicar o processo com


outras pessoas deve ser desenvolvido já durante o acompanhamento e
avaliação do PDL. Para que isso seja possível, é preciso ensinar que o
líder em formação precisa multiplicar a visão e cuidar de outros,
mesmo durante o seu processo de crescimento. Em resumo, o
aperfeiçoamento do líder multiplicador inclui supervisioná-lo enquanto
ele apoia outros no cumprimento da missão.
Aperfeiçoamento do Líder Multiplicador

Em todo o processo de formação de liderança devemos incluir o


conhecimento mais amplo possível do contexto onde estamos
desenvolvendo o ministério e, a partir desse conhecimento, identificar
as competências necessárias para uma liderança efetiva. Devemos
avaliar o outro e a nós mesmos, não buscando formar julgamento
particular, mas para identificarmos áreas nas quais é necessário crescer
e se desenvolver. Devemos, também, buscar, de forma perseverante e
por meio de ações concretas e planejadas, o desenvolvimento do
ministério e da liderança, e avaliar sempre o avanço obtido, de forma a
corrigir rumos e comemorar as vitórias, que são acrescentadas por
Deus.

De forma a fazermos uma ligação com o que já foi apresentado no


livro, queremos destacar que o ambiente do Pequeno Grupo Multiplicador
– PGM é extremamente adequado para que possamos desenvolver o
nosso processo de formação de novos líderes. PGM e formação de
liderança estão intimamente ligados. É disso que falaremos no próximo
item.
PGM e formação de liderança estão
intimamente ligados.

8 O Pequeno Grupo Multiplicador: Apoio à Formação de


Líderes Multiplicadores

Como já estudamos no Capítulo de Evangelização Discipuladora, a


estratégia de Pequenos Grupos Multiplicadores PGMs tem sido usada com
sucesso pela igreja em todos os seus dias.

O ambiente do Pequeno Grupo Multiplicador é altamente


adequado para que o processo de formação de liderança se
desenvolva.

O PGM é um celeiro de lideranças, por permitir o exercício dos


dons e ministérios por parte de todos os seus integrantes, o que leva à
identificação e à multiplicação de novos líderes, que muitas vezes
ficariam invisíveis nos bancos das reuniões de celebração. Muitas
dessas pessoas nem sabem o potencial que possuem e precisam ser
estimuladas a crescer, competindo ao líder de PGM dar espaço ao
surgimento e o aprimoramento de novas lideranças. A respeito disso e
com detalhes, confira o material específico publicado por Missões
Nacionais.

9 O Compromisso da Formação de Líderes


Multiplicadores

Assumir a responsabilidade como líder, de formar outros líderes,


requer alguns cuidados. Primeiramente, é preciso compreender e
acreditar que a capacidade de liderar pode ser desenvolvida nas
pessoas em quem se pretende investir. Também é necessário
sensibilidade para identificar a direção de Deus em relação a este
investimento pessoal. Segundo o exemplo do próprio Jesus, antes de
definir os doze que seriam chamados de apóstolos, Ele orou
intensamente: “Naqueles dias, Jesus se retirou para um monte a fim de orar; e
passou a noite toda orando a Deus. Depois do amanhecer, chamou seus discípulos e
escolheu doze dentre eles, aos quais também chamou de apóstolos” (Lucas
6.12,13).

São também necessários a aprovação e o compromisso da pessoa


com quem se pretende desenvolver um relacionamento discipulador
com vistas ao desenvolvimento de liderança. Se ela não quiser, não há
como prosseguir com o processo. Vejam que o processo de
desenvolvimento de liderança aqui tratado é intencional e deve ser
realizado sob a orientação divina e visar, como objetivo primordial,
levar o líder em desenvolvimento na direção de um relacionamento
cada vez mais próximo de Deus.

Tanto o líder quanto o líder em desenvolvimento precisam estar


comprometidos com Deus, consigo e um com outro para que possam
investir tempo nesse preparo dirigido. Observemos aqui que, apesar de
utilizarmos o mesmo processo da Evangelização Discipuladora, devemos
adicionar algumas especificidades que vão dar a intencionalidade
necessária ao desenvolvimento do novo líder. Aqui temos o mesmo
processo utilizado por Jesus: havia a multidão que o seguia, os setenta
que estavam mais próximos e os doze, que por Ele foram escolhidos e
em quem Ele investiu mais tempo e atenção. Para esses últimos, havia
um investimento mais amplo, pois estavam sendo treinados para, como
líderes de seu tempo, dar continuidade à edificação da igreja do Senhor
Jesus.

10 Discussão em Grupo:
10.1 Questões Para Revisão:

1) Qual a importância da visão de um líder para a multiplicação? Em


que deve estar baseada essa visão?
_____________________________________________________________

2) Qual é o ponto de partida para a formação de líderes e por quê?


_____________________________________________________________

3) Por que a formação de líderes é uma ação necessária para a igreja


e para o sucesso do ministério?
_____________________________________________________________

4) Como podemos identificar novos líderes e formá-los para


funções importantes na igreja?
_____________________________________________________________

5) Por que dizemos que o Pequeno Grupo Multiplicador é uma


importante estratégia para a formação de líderes?
_____________________________________________________________

6) O que é Programa Discipular de Liderança PDL?


_____________________________________________________________

10.2 Estudo de Caso:

Em fevereiro de 1985, Missões Nacionais enviou um casal de


missionários para o Vale do Piancó, no sertão paraibano, para plantação
de igrejas batistas na região. O ponto de partida foi a revitalização da
Igreja Batista de Piancó, iniciada em 1958 e organizada oficialmente
em 1965. Quando os missionários ali chegaram, a igreja tinha apenas
oito membros e só abria o templo quando alguém ia de outra cidade
para ministrar ou dirigir o culto. A igreja não tinha condições de
sustentar um pastor e estava prestes a morrer ou literalmente
desaparecer.

O Vale do Piancó era conhecido como a terra da idolatria. Todo mês


aconteciam procissões em homenagem a Padre Cícero e Frei Damião.
Os evangélicos eram discriminados e perseguidos. Saúde e educação
eram precárias. Nenhuma faculdade existia no Vale do Piancó. Muitos
chefes de famílias haviam migrado para o sudeste do Brasil em busca
de emprego por causa da enorme seca que assolava a região. A
violência e a pistolagem imperavam na região. Não havia indústrias e o
desemprego era grande. Os jovens não tinham perspectivas, e se
quisessem estudar tinham que ir para cidades maiores, e dificilmente
voltavam após o término de seus estudos. A criminalidade era
assustadora. No entanto, a maior necessidade desse povo estava na
área espiritual. Havia uma gritante necessidade de Deus e do
conhecimento do Evangelho.

O casal missionário começou a colocar em prática os princípios que


sustentaram as igrejas de Atos: a Oração, a Evangelização Discipuladora, a
Plantação de Igrejas, a Formação de Líderes e Compaixão e Graça.

Observe o cenário desfavorável à Formação de Líderes. Nas dezoito


cidades do Vale, havia na época apenas três igrejas batistas: a de
Piancó, a Primeira de Itaporanga, com 28 membros, e a de Conceição,
com 18 membros. Elas eram pequenas e sem recursos humanos –
porque toda a liderança era de fora – e financeiros – pela pobreza
extrema do povo.

Partindo de uma Evangelização Discipuladora abundante, sob muita


Oração e acompanhada de atos de Compaixão e Graça, o casal
missionário obteve muitas conversões e as pessoas eram imediatamente
envolvidas em Relacionamentos Discipuladores, andando juntos, lado a lado.
Estes novos crentes recebiam a orientação por meio de estudos da
Palavra de Deus e saíam com os missionários para aprender a
evangelizar e discipular outras pessoas. Assim descobriram o “segredo”
para a multiplicação de discípulos. Todos os dias, os missionários
tinham um grupo de irmãos, a maioria jovens e adolescentes, mas
também alguns adultos, que viajavam com eles para outras cidades e ali
faziam evangelização pessoal, estudos bíblicos nos lares, cultos nas
feiras livres (muito frequentadas no Nordeste), cultos à noite nas casas
e nas praças, e depois voltavam para a cidade-sede. As estradas eram
muito precárias. Na época da seca havia muita poeira e no período das
chuvas ficavam quase intransitáveis por causa da lama. Mas essa foi a
maior escola para aqueles novos discípulos, que aprenderam muito
cedo o que é responsabilidade no compartilhar de sua fé com seu
semelhante e ensinar-lhe o caminho que deve seguir. O Discipulado foi
feito através da transmissão de verdade – na ministração da Palavra e
vida andando com as pessoas e mostrando como o Evangelho deve se
parecer no dia a dia do cristão.

No início de 1988, antes de o casal de missionários completar três


anos de trabalho, o cenário já estava bem diferente: a igreja de Piancó
tinha mais de cem membros, todos ativos e envolvidos na
evangelização discipuladora e na plantação de igrejas; foram plantadas
quatro novas igrejas alcançando as cidades de Boa Ventura, Coremas,
Aguiar, Igaraci; a liderança destas igrejas era suscitada do meio do
próprio povo e por isso um grupo de 10 jovens vocacionados se dispôs
a colocar a vida no trabalho do Senhor para a evangelização dos
sertanejos. Com esta liderança autóctone o trabalho tomou uma nova
forma, e as igrejas passaram a crescer e se multiplicar ainda mais.

Surgiu, então, uma nova questão. Como preparar esses vocacionados


para o ministério? As igrejas não possuíam recursos para enviá-los aos
seminários em outros estados. Também temiam que, se fossem,
poderiam não voltar para trabalhar entre seu próprio povo. Orientados
pelo Espírito Santo de Deus, os missionários fizeram o possível para
levar esses novos crentes para as clínicas de treinamento que
aconteceram na Convenção ou Associação. Muitas vezes tiveram que
pagar as inscrições destas pessoas, além de levá-las até o local das
reuniões. Depois conseguiram levar cursos para a região onde residiam,
e assim foram sendo preparados para o trabalho. Iniciaram o primeiro
curso para treinamento de cristãos sertanejos em parceria com o
Seminário de Educação Cristã em Recife. Depois, trouxeram o curso
médio de Teologia em parceria com o Instituto Bíblico Brasileiro e, a
seguir, Licenciatura em Teologia, em parceria com a Associação
Brasileira de Ensino, Cultura, Assistência e Religião de Mogi das
Cruzes-SP. E, finalmente, iniciaram o curso de Bacharel em

Teologia em parceria com o Instituto Teológico Batista de Ensino


Superior da Paraíba, extensão em Itaporanga-PB. Com isso, todos
aqueles líderes de igrejas foram treinados por aquele centro de
formação, que funciona até hoje em Itaporanga/PB.

Como resultado da ação de Deus, a multiplicação aconteceu.


Centenas de pessoas foram transformadas pelo poder do Evangelho de
Cristo. Pessoas em quem ninguém acreditava se tornaram grandes
líderes, para a glória de Deus. Com a participação desses líderes
autóctones, foram plantadas e revitalizadas 30 igrejas na Paraíba (Vale
do Piancó, Alto Sertão e João Pessoa), a maioria delas conduzidas por
pastores e missionários nativos. O trabalho iniciado pelos missionários
continua com aqueles que foram discipulados e capacitados por eles e
a visão de plantação de novas igrejas continua rendendo frutos em
outras localidades do estado da Paraíba e até em outros estados como
o Pará, São Paulo e Goiás. Depois o casal passou a atuar na
coordenação de missionários em todo o Nordeste, capacitando-os e
mentoriando-os na plantação de igrejas e multiplicação de líderes,
sendo impossível mensurar os resultados deste ministério.

Os missionários tiveram a alegria de batizar mais de 800 novos


cristãos no período de 1985 a 2009, quando encerraram ministério na
Paraíba, dos quais mais de 40 são pastores e missionários, além de
outros que estão sendo preparados para assumir novos trabalhos. Esses
líderes autóctones batizaram centenas de irmãos. Hoje, essas igrejas são
fortes, dinâmicas e responsáveis no cumprimento da missão. Daquela
região, Deus está salvando homens e mulheres e levantando líderes
capazes para o trabalho.

Mas, além das bênçãos espirituais, outros milagres têm acontecido


naquela região: nunca mais houve períodos de grandes estiagens, pois
tem chovido com mais regularidade; aquela violência terrível de
constantes assassinatos, praticamente, acabou (houve um ano inteiro
sem se ouvir falar de assassinatos no Vale do Piancó); a idolatria está
definhando e as procissões mensais praticamente acabaram pois o
povo está entendendo a mensagem do evangelho; a economia
melhorou e hoje há, só em Itaporanga, aproximadamente cinquenta
pequenas indústrias; e há pelo menos sete cursos superiores/faculdades
na região e as estradas de todas as cidades estão sendo pavimentadas.
Isso é milagre! É a transformação que só o Evangelho pode operar. E
não há dúvidas de que tudo está acontecendo como respostas às
orações do povo de Deus, bem como pela influência dos líderes
cristãos que ali atuam. Uma liderança forte e comprometida com os
valores da Palavra de Deus marca a história de um povo e de uma
região.

Isso mostra que é possível treinar os membros da igreja local em


qualquer região do Brasil. Deus mudou a realidade do Vale do Piancó.
Mas o ponto principal foi ter acreditado naquelas pessoas. Os
missionários diziam repetidamente: “Vocês podem! Vamos em frente!”.
“Foi muito bom! Que bênção!”. O treinamento de líderes exige tempo
e coragem, mas é o trabalho mais compensador que existe. Olhar para
trás e ver as pessoas que treinamos desenvolvendo ministérios
frutíferos é o maior prêmio que poderemos receber em nosso
ministério.

Multiplicação de Igrejas com Líderes Autóctones no Vale do Piancó

10.3 Questões Para Reflexão:

1) Como líderes de igreja, a nossa visão está alinhada com a Grande


Comissão em termos da multiplicação de discípulos, líderes e igrejas?

2) Como líderes de igreja, temos preparado outros líderes para a


nossa ausência ou será que o trabalho sofreria solução de
continuidade?

3) Na escolha de líderes na igreja, a qualidade de vida com Deus


tem sido mais valorizada do que talentos, diplomas e credenciais
humanos?
OBJETIVOS

Depois de ler este capitulo você deve ser capaz de:


• Avaliar a importância de a igreja praticar a compaixão e
a graça na comunidade como forma de se tornar
relevante e impactar as pessoas ao seu redor;
• Identificar as necessidades legítimas da comunidade
como oportunidades para servir, influenciar e
testemunhar o Evangelho.

1. A Compaixão e Graça nas Igrejas do Primeiro Século

As igrejas do primeiro século da era cristã se tornaram relevantes na


sua comunidade através de suas ações de compaixão e graça. Além de
orar e testemunhar de Jesus às pessoas, aquelas igrejas tinham um
coração compassivo e buscavam atender às necessidades espirituais,
físicas e emocionais das pessoas à sua volta. As igrejas não se isolavam
nem se fechavam dentro de si mesmas, mas eram percebidas pela
comunidade, chamavam a atenção, influenciavam por meio de suas
ações. Encontramos várias narrativas de ações de compaixão praticadas
pelos cristãos naquele período, algumas das quais citamos a seguir:

As igrejas do primeiro século da era cristã se


tornaram relevantes na sua comunidade
através de suas ações de compaixão e graça.
E eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações. Em cada um havia temor, e muitos
sinais e feitos extraordinários eram realizados pelos apóstolos. Todos os
que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
Vendiam suas propriedades e bens, e os repartiam com todos,
segundo a necessidade de cada um. E perseverando de comum acordo
todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com
alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e contando com
o favor de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava a cada dia
os que iam sendo salvos” (Atos 2:42-47, grifos nossos).

Nesse texto, vemos que a intensidade com que a igreja vivia o


Cristianismo e exercia o cuidado recíproco entre os irmãos era tão
explícita que não passava despercebida da comunidade ao redor. Ao
contrário, a igreja caiu na graça de todo o povo! O resultado disso é
que muitos foram acrescentados à comunidade de fé. Também em
nossos dias, o amor entre os irmãos da igreja deve ser tão evidente,
manifestando-se através do zelo e cuidado mútuo, que seja percebido
pelos de fora, que desejarão, por isso, fazer parte da mesma família.
Jesus disse: “Nisto todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns
aos outros” (João 13.35).

Com razão, não podemos falar em compaixão pelas pessoas da


comunidade se, antes, não existir um amor verdadeiro entre os irmãos.
Daí por que o zelo por pessoas é um elemento tão importante não apenas
em termos individuais no Relacionamento Discipulador, mas também
coletivamente, pois, no somatório das relações de cuidado recíproco
entre os discípulos, a igreja como um todo causará impacto na
comunidade, fazendo prosperar o Evangelho.

Observe o que acontecia mais com as igrejas em Atos:

A multidão dos que criam estava unida de coração e de


propósito; ninguém afirmava ser sua alguma coisa que possuísse,
mas tudo era compartilhado por todos. E com grande poder
os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em
todos havia imensa graça. Pois não existia nenhum
necessitado entre eles; porque todos os que possuíam terras ou
casas, vendendo-as, traziam o valor do que vendiam e o depositavam
aos pés dos apóstolos. E se repartia a qualquer um que tivesse
necessidade. Então José, a quem os apóstolos chamavam Barnabé (que
significa filho de consolação), levita, natural de Chipre, possuindo um
terreno, vendeu-o, trouxe o dinheiro e colocou-o aos pés dos apóstolos”
(Atos 4.32-37, grifos nossos).

O amor e a comunhão da igreja eram notórios


não apenas a todos os irmãos, mas também
aos de fora.

O amor e a comunhão da igreja eram notórios não apenas a todos


os irmãos, mas também aos de fora, à comunidade, que percebia que
eles tinham um só coração e um só propósito. Isso causou um grande
impacto, resultando na multiplicação de discípulos.

Muitos sinais e feitos extraordinários eram realizados entre o povo


por meio dos apóstolos. E eles permaneciam juntos no pórtico de
Salomão. E, embora o povo os admirasse muito, ninguém mais
tinha coragem de juntar-se a eles. Cada vez mais agregava-se
ao Senhor grande número de crentes, tanto homens como
mulheres; a ponto de os doentes serem levados para as ruas e colocados
em leitos e macas, para que, quando Pedro passasse, ao menos sua
sombra se projetasse sobre alguns deles. Também das cidades ao
redor ia muita gente para Jerusalém, levando doentes e atormentados
por espíritos impuros, e todos eram curados (Atos 5.12-16, grifos
nossos).

A operação de milagres acontecia no meio do povo, referendando a


obra dos apóstolos e trazendo visibilidade à igreja que nascia, tornando-
a relevante, como se percebe da expressão “o povo os admirava
muito”. Isso contribuiu para que o povo fosse agregado à igreja,
fazendo crescer o número de discípulos em Jerusalém e nas cidades
vizinhas, tal era o impacto daquela igreja na comunidade.

Observe outro texto sobre a relevância social da igreja:

Naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve reclamação


dos judeus de cultura grega contra os demais judeus, pois as viúvas
daqueles estavam sendo deixadas de lado na distribuição diária de
mantimentos. Em razão disso, os Doze convocaram a multidão dos
discípulos e disseram: Não faz sentido que deixemos a palavra de
Deus e sirvamos às mesas. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete
homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos
quais encarreguemos deste serviço” (Atos 6.1-3).

No texto transcrito percebemos que o trabalho de cuidado com as


viúvas cresceu tanto a ponto de tornar necessária a nomeação de
homens – com critério altamente exigente – que fossem encarregados
desse serviço. Isso demonstra a importância que a igreja dava àquela
tarefa e o impacto que causava na comunidade.

Também vemos no livro de Atos que a igreja era relevante na


comunidade porque seus membros eram relevantes, como foi o caso
de Tabita:

“Havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que,


traduzido, quer dizer Dorcas; ela fazia muitas boas obras e dava
esmolas. (...) Pedro levantou-se e foi com eles. Quando chegou, levaram-
no ao quarto de cima; e todas as viúvas o cercaram, chorando e
mostrando-lhe as roupas e vestidos que Dorcas fizera enquanto estava
com elas” (Atos 9.36 e 39, grifo nosso).

É interessante notar que Lucas chama Tabita de “discípula” no


contexto em que ressalta o zelo que ela tinha pelos irmãos e pelos de
fora (o fato foi notório a toda Jope, conforme o v. 43). Conforme o
texto demonstra claramente pela lamentação por sua morte e pela
alegria de sua ressuscitação, a vida daquela discípula era muito querida
por aquela comunidade. Assim também devem ser todos os discípulos:
pessoas que amam, cuidam e zelam pela vida do próximo por meio dos
relacionamentos com os de dentro e os de fora, fazendo com que a
igreja seja socialmente relevante.

Observe outro exemplo: “Um homem piedoso segundo a lei, chamado


Ananias, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam” (Atos
22.12). O testemunho de Ananias, sendo piedoso, era perceptível a
todos os judeus que moravam em Damasco. É interessante como o
zelo, o cuidado e o amor de um discípulo se tornam notórios para toda
a comunidade.

Outra forma de a igreja agir com compaixão e graça e se tornar


relevante é apoiar irmãos de outros lugares em suas necessidades, de
acordo com o que vemos no texto a seguir:

“Naqueles dias, profetas desceram de Jerusalém para Antioquia.


Levantando-se um deles, chamado Ágabo, indicou pelo Espírito que
haveria uma grande fome em todo o mundo, que ocorreu no tempo de
Cláudio. E os discípulos, cada um conforme suas posses, resolveram
enviar ajuda aos irmãos que habitavam na Judeia. E assim fizeram,
enviando-a aos presbíteros pelas mãos de Barnabé e Saulo” (Atos
11.27-30).

Essa atitude de compaixão e serviço se repete várias vezes nas


epístolas. A igreja se faz relevante quando demonstra este cuidado e
zelo pelos de perto e os de longe.

Vejamos mais um caso, agora na vida de Paulo: “Em tudo vos dei o
exemplo de que deveis trabalhar assim, a fim de socorrerdes os doentes, recordando
as palavras do próprio Senhor Jesus: Dar é mais bem-aventurado que
receber” (Atos 20.35, grifo nosso). Paulo abre ainda mais o leque para
o zelo e o cuidado dos que sofrem, sejam irmãos ou não, apontando
para o princípio da generosidade, absolutamente altruísta e desprovido
de segundas intenções: “melhor é dar do que receber”.

No texto de Atos 3.3-8, um homem com deficiência física rogou,


clamou por ajuda. Pedro e João atentaram para aquele pedido de
socorro, olhando para as necessidades daquele homem. Quem pede
algum tipo de ajuda espera recebê-la e com aquele homem não foi
diferente: ao chamar a atenção daqueles apóstolos, esperava receber
alguma coisa deles. Mas ele não ganhou exatamente o que havia
pedido; ganhou mais, isto é, a cura, servindo isso de testemunho a sua
família e a todos que frequentavam aquele templo.

Percebe-se que essas igrejas, ainda na tenra idade, sabiam que o seu
ministério deveria compreender iniciativas de compaixão pela
comunidade e serviço a ela, fazendo com que caíssem na graça de
todo o povo e impactassem o mundo ao seu redor com o Evangelho.

2. Compaixão e Graça Hoje

Vivemos em época e cultura muito diferentes comparados com


aquelas em que viviam as igrejas em Atos, mas o princípio da
compaixão e graça permanece igual e atual. Como corpo de Cristo na
terra, a igreja deve estender as mãos, abrir os olhos e o coração para as
necessidades dos que estão ao seu redor, demonstrando a fé n’Ele
através de suas ações. Com isso, ela atrairá a simpatia e a atenção das
pessoas, devendo aproveitar todas as oportunidades para testemunhar
o Evangelho.

Uma igreja pode estar tão voltada para si mesma, indiferente à


realidade social à sua volta, que não produza nenhum impacto ou
influência em sua comunidade. Infelizmente, se algumas igrejas
fechassem as portas de seus templos, ninguém sentiria falta, nem
mudaria coisa alguma. Não deve ser assim. Ao contrário, a igreja deve
estar atenta a todas estas oportunidades para interagir com as pessoas
ao seu redor, atuando em favor de uma transformação gradual da
realidade à medida que alcança vidas com o Evangelho.

Assim, por definição, relevância na comunidade é:

A sensibilidade às necessidades de uma


comunidade e o serviço gracioso da igreja para lhes
atender de modo que a igreja se torne relevante,
resultando na multiplicação de discípulos, para a
glória de Deus.

Para que isso aconteça, alguns aspectos são essenciais. Vejamos quais
são eles:

3. Como ser uma Igreja Relevante na Comunidade

A igreja não pode se deter em programações voltadas apenas para


seu próprio bem-estar, mas deve estar atenta às pessoas de fora,
exercendo influência no mundo ao seu redor. Obviamente que a igreja
não terá, em si mesma, a solução para todas as questões. Contudo,
deve ter uma escuta atenta, zelar pelas pessoas e, se for o caso,
encaminhar à rede pública de serviços socioassistenciais para a
resolução do problema. Vejamos o caminho que deve ser percorrido
para que essas ações de compaixão e graça repercutam na
multiplicação de discípulos.

3.1 Interesse pela Comunidade

A igreja é composta de gente da comunidade, onde visa atuar e


salvar pessoas. Portanto, ela precisa conhecê-la e apresentar respostas
às suas necessidades. Salovi Bernardo escreveu que

“Conhecer a comunidade é abrir caminho para ser aceito por ela,


para criar condições e desenvolver simpatia e empatia. É tornar a
igreja parte da comunidade, deixando de ser um corpo estranho. A
igreja não está na comunidade só para cuidar dos seus fiéis. Ela está
ali para trabalhar com toda a comunidade, para fazer com que todos
ouçam, vejam, sintam e sejam alcançados pelo evangelho15”.

A igreja precisa se identificar com a comunidade onde está inserida,


conhecê-la, saber quem são seus moradores e quais são as reais
necessidades, se interessar por eles, saber como se relacionar com eles,
ter empatia pela comunidade e não assumir uma atitude crítica, hostil e
de rejeição porque ela vive no pecado. O pastor, os líderes e os
membros da igreja devem sentir real interesse por sua comunidade,
conhecendo suas características e necessidades, envolvendo-se nos seus
desafios e aproveitando todas as oportunidades para servir ao seu
povo. Ninguém deveria ter maior conhecimento e interesse por seu
bairro e sua cidade do que a igreja e seus líderes.

3.2 Oração pela Comunidade

Como resultado do conhecimento e interesse pela comunidade,


surgirá necessariamente o desejo de orar por ela, por seus conflitos,
flagelos, carências, desafios e oportunidades. A igreja passa a orar
compassivamente pelas pessoas a quem conhece, com quem interage e
por quem se interessa, pois quem ama, ora; e quem ora, faz. E o
inverso também é verdade: quem não ama, não ora; e quem não ora,
nada pode fazer pela comunidade.

Ninguém deveria ter maior conhecimento e


interesse por seu bairro e sua cidade do que a
igreja e seus líderes.

Muitas vezes a igreja está fechada em si mesma até no que diz


respeito à oração. Os motivos de oração se limitam apenas aos
interesses pessoais de seus membros e não alcançam as necessidades da
comunidade e das pessoas de fora. A igreja precisa ter um programa de
oração em favor das pessoas da comunidade que estão enfermas,
enlutadas, depressivas, aprisionadas aos vícios, em famílias
desestruturadas e destruídas, vítimas da violência, desempregadas,
encarceradas, pelas crianças e adolescentes, pelos estudantes e outros
grupos. A oração cheia de compaixão por essas pessoas que estão
perdidas nas trevas é o primeiro passo para alcançá-las com compaixão
e graça. A oração pela comunidade culminará com o clamor pela
salvação eterna de vidas preciosas.

3.3 Compaixão pela Comunidade

Jesus é nosso maior exemplo de compaixão e graça. Após um dia


inteiro no meio povo, pregando e ensinando, Jesus depara-se com uma
multidão que não tinha pão para comer, nem onde comprá-lo. Os
discípulos queriam despedir a multidão como estava, mas o Senhor
reagiu com compaixão ocupando-se com a multidão, ensinando-lhes
muitas coisas acerca do reino de Deus e também alimentando a
multidão de modo que todos comeram e ficaram satisfeitos (Marcos
6.34-44). Ele demonstrou compaixão ao cego Bartimeu, que estava
assentado à beira do caminho, restaurando-lhe a visão, a dignidade e a
esperança eterna (Marcos 10.46-52). Jesus, depois de ter atravessado o
mar da Galileia sob grande tempestade, cuidou de dois
endemoninhados gadarenos (Mateus 8.28-34), restaurando-lhes tanto o
juízo quanto a saúde, a dignidade e a esperança eterna.

É impossível sentirmos compaixão por alguém ou por uma situação


que não conhecemos, sem ver as pessoas ou as circunstâncias em que
vivem. A igreja de Cristo precisa sensibilizar-se com a situação das
pessoas à sua volta; precisa chorar mais; precisa sentir mais; precisa se
envolver mais. O púlpito precisa demonstrar mais compaixão. Os
pregadores precisam sentir a dor do povo, chorar por seu povo de
forma a engajar a congregação com seu exemplo e atitude, em projetos
de relevância na comunidade, abrindo os olhos e as portas do templo
para a cidade.

As atividades da igreja, sua agenda e programas devem ser


impregnadas de compaixão. O dia a dia dos discípulos deve estar
transbordando de compaixão demonstrada na prática. Uma igreja que
não sente compaixão pelo povo pouco poderá fazer em seu favor.
Faça uma breve pausa e reflita: você e sua igreja estão movidos por
compaixão pela comunidade em que estão inseridos?

3.4 Envolvimento com a Comunidade

O primeiro e mais valioso recurso para que a igreja se torne


relevante na comunidade é a atuação dos seus próprios membros no
dia a dia da comunidade. Estes precisam ser chamados e capacitados
para servir e testemunhar, comunicando a ética do Reino em sua vida
cotidiana. A consequência disto será a penetração da igreja na
sociedade por meio de seu modo de vida, em termos de relações
familiares, negócios, cidadania e por todos os setores da vida cotidiana.

Além disto, a igreja como um todo, enquanto organismo vivo, deve


envolver-se formalmente na discussão e busca de soluções para as
demandas da comunidade. Hélcio Lessa, citado por Salovi Bernardo
comentando a segunda multiplicação dos pães16, encontra no texto seis
princípios de ação da igreja no mundo que ajudam a formar critérios
sólidos para governar suas ações na comunidade onde atua.
Consideremo-los:
• Princípio da Presença Estar no cenário onde as coisas acontecem.
O Mestre não teria notado a necessidade da multidão se não
fosse parte dela.
• Princípio do Engajamento A visão da necessidade gerou o senso
de responsabilidade pessoal pela multidão.
• Princípio da Universalidade O Mestre não manifestou
preocupação apenas com os domésticos da fé.
• Princípio da Suficiência Bastaram os poucos peixes e pães para
alimentar a multidão, assim como foi suficiente o bastão que
estava nas mãos de Moisés para fender o mar Vermelho, por
exemplo.
• Princípio da Oportunidade A necessidade das pessoas determina o
conteúdo e a ocasião da ação cristã.
• Princípio da Cooperação A cooperação dos discípulos é outro fator
imperativo: recolhendo os peixes, ajuntando os cestos,
organizando o povo, distribuindo o pão, armazenando as
sobras.

Os membros de sua igreja estão envolvidos e interagem na


comunidade? Quais as necessidades prementes em sua comunidade
ainda sem respostas por parte da igreja?

Não podemos conceber um crescimento do número de evangélicos


em nosso país sem que isto traga consigo uma transformação na ética
de nosso povo, bem como uma resposta a tantas questões sociais em
nosso país.

É importante atentar para o fato de que a relevância social da igreja


não deve estar condicionada com a aceitação do povo à mensagem do
Evangelho. Devemos fazer o bem independentemente de as pessoas
crerem ou não em Jesus, tornarem-se ou não membros da igreja.
Contudo, é importante também lembrar que o maior bem que
podemos fazer a alguém é apresentar a Jesus como Salvador e Senhor,
de modo que fazer todo o bem físico, por meio de projetos e ações
sociais, e negligenciar a apresentação do Evangelho é a maior
demonstração de desamor que alguém poderia fazer. O Evangelho não
é apenas o meio de alguém chegar ao céu no fim de sua vida: é o meio,
único, por sinal, pelo qual as pessoas podem se achegar a Deus hoje
para gozar da vida plena que só Ele oferece. Assim, compaixão e graça
e evangelização caminham juntas.

Não podemos esquecer que, em tudo, inclusive na relevância na


comunidade, a igreja deve glorificar a Deus e cumprir a Grande
Comissão, chamando, agregando e aperfeiçoando discípulos de Cristo.
Agindo dessa forma, a igreja cumpre a ordem de Jesus: “Assim
resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai, que está no céu” (Mateus 5.16).

3.5 Projetos e Iniciativas de Impacto na Comunidade

A seguir, queremos trazer algumas ideias práticas sobre relevância


social, que podem ser contextualizadas na realidade de sua igreja, ou
ainda despertar sua criatividade para outros projetos que respondam às
necessidades de sua comunidade.

Educação
• Cursos pré-vestibular e preparatório para concursos: A igreja
oferecerá cursos preparatórios para vestibular e concursos,
com a cobrança de um valor simbólico de mensalidade, ou
mesmo gratuitos, com professores voluntários e membros da
igreja.
• Curso de línguas: oferta de aulas gratuitas de diversos idiomas.
• Aulas de música para crianças, jovens e adultos, com variedade
de instrumentos musicais.
• Educação de Jovens e Adultos (EJA): é uma modalidade da
educação básica destinada aos jovens e adultos que não
tiveram acesso ou não concluíram os estudos no ensino
fundamental e no ensino médio. A igreja pode formalizar a
parceria com a Secretaria de Educação para formação das
turmas.
• PEPE: É um programa missionário para as igrejas locais que
desejem compartilhar o Evangelho através do desenvolvimento
social, educacional e espiritual de crianças pré-escolares em
áreas carentes.
• Reforço escolar: oferecer apoio aos estudantes nas diversas
disciplinas escolares, fora do turno escolar visando à integração
igreja-comunidade e, assim, ampliar as possibilidades de
propagação do evangelho.

Saúde
• Palestras sobre saúde: em parceria com a rede SUS ou através
de profissionais de saúde da igreja, deve-se escolher temas,
agendar e divulgar as palestras para a comunidade. Sugerem-se
temas como: prevenção a diabetes e hipertensão, saúde da
mulher, saúde do homem, cuidados na gravidez, hábitos
alimentares saudáveis, entre outras temáticas de acordo com as
necessidades locais.
• Consultório médico/psicológico/nutricionista/odontológico: a
igreja pode oferecer um “Espaço Saúde” com ambulatório
médico, consultório odontológico e espaço para terapia
psicológica para atendimentos agendados. Os profissionais
também podem utilizar seus próprios consultórios para realizar
os atendimentos, disponibilizando horários para consulta social
de pessoas encaminhadas pela igreja.
• Dia de Ação Solidária: a fim de impactar a comunidade e levar
serviços úteis, pode-se programar ações sociais ofertando os
mais diversos serviços, tais como aferição de pressão arterial e
medição de glicose, corte de cabelo, bazar, aplicação de flúor,
orientação jurídica e social. Pode-se fazer contato com as
secretarias de Saúde e Assistência Social firmando parcerias
para ampliar a oferta de serviços, incluindo regularização
documental, palestras e outros.

Esporte
• Esportes coletivos (Escola de futsal/vôlei/basquete/futebol
entre outros): na iniciativa de estimular hábitos saudáveis,
aproximar crianças, jovens e adolescentes da igreja, além de
abordar conceitos como: trabalho em equipe, disciplina,
autoestima e como lidar com perdas e vitórias, são propostos
para tais esportes.
• Ginástica para idosos: para garantir a saúde e bem-estar dos
idosos, visando à melhora da qualidade de vida e do estado
mental e psicológico dos idosos, sugere-se atividades físicas em
grupo que promovam a interação e a melhora da resistência e
força muscular, contribuindo para a resistência contra a queda
e outros acidentes domésticos.
• Lutas e Artes marciais: estes esportes são benéficos para a
transmissão de conceitos de disciplina, concentração, respeito,
autocontrole, paciência e equilíbrio, além destes ganhos, é uma
forma de impactar a comunidade.
• Ação Esportiva: Com aplicação da metodologia Kid’s Games, a
igreja programará esta atividade durante um dia inteiro, visando
à pregação do Evangelho através do esporte.

Profissionalização
• Parceria com Sistema S (SESC, SESI, SENAC e SENAI): são
alternativas para realização de cursos, na iniciativa de
recolocação no mercado de trabalho ou melhora do
desempenho profissional dos moradores da comunidade.
• Podem ser realizadas com empresas privadas, profissionais
autônomos e instituições de ensino que ofereçam cursos
profissionalizantes.

Assistência Social
• Grupo de convivência para idosos: viabilizar meios para
promoção da assistência à saúde integral da pessoa da terceira
idade reassegurando as possibilidades de integração entre si,
com a família e a sociedade, resgatando sua autoestima e
restabelecendo o prazer em viver em Jesus. Isto se dará através
de palestras, atividades de integração e socialização, passeios de
lazer e culturais, oficina de artesanato, canto coral, atividade
física, consulta médica, atendimento psicoterápico, consulta
nutricional e fisioterapia.

Dependência Química
• Palestras nas escolas: A escola precisa ser um local que ofereça
um espaço para os alunos adquiram conhecimentos
extracurriculares como a prevenção ao uso de drogas. Neste
espaço a comunicação é focada nas faixas etárias, pois há uma
concentração de alunos por turma, facilitando a transmissão do
conteúdo para um grande grupo, sensibilizando-os em conjunto
sobre os danos e prejuízo relacionados ao uso e abuso de
drogas. A igreja será relevante ao transmitir este conhecimento.
• Grupos de apoio: A igreja oferecerá uma equipe especializada
na abordagem e tratamento da dependência química aos que
apresentem transtorno leve, ou seja, aos casos em que ainda
não é indicada a internação.
• Grupo de apoio à família do dependente químico: a igreja
oferecerá uma equipe especializada em abordagem à família do
dependente químico, tratando questões referentes à
codependência, promovendo encontros e aconselhamentos
individuais e grupais.

Ações de compaixão envolvem a criação de projetos que atendam


necessidades específicas das pessoas, tornando os discípulos e a igreja
relevantes à sua comunidade, o que ajuda a criar relacionamentos
essenciais que permitam o testemunho do Evangelho. Alguns exemplos
seriam: cursos, educação, esportes e assistência social. Atualmente
usamos projetos esportivos, educacionais e de ajuda humanitária
quando surgem catástrofes. Também podemos ter um programa de
oração em favor dos enfermos em nosso grupo-alvo e ajudar aqueles
que se encontram atribulados; isso deve fazer parte do trabalho ou
ministério de cada pessoa que um dia foi salva por Jesus.

A igreja precisa ser contagiante, conhecida e


respeitada pela comunidade onde está
inserida.

A igreja precisa ser contagiante, conhecida e respeitada pela


comunidade onde está inserida. Todos precisam reconhecer em sua
prática (mais do que em sua teoria) o amor e a comunhão entre os
irmãos, bem como o interesse, serviço, compaixão, socorro e
envolvimento com a comunidade.

A igreja precisa enxergar a excelente oportunidade de fazer


discípulos entre os excluídos e esquecidos socialmente, restaurando sua
comunhão com Deus, com a sociedade e consigo. Sem dúvida, a
maneira mais eficaz de influenciar e transformar uma vida, e
consequentemente toda uma realidade social, se dá pelo cumprimento
da Grande Comissão: fazer discípulos.

4 Discussão em Grupo

4.1 Questões para Revisão

Quais as características de uma igreja relevante em sua comunidade?


_____________________________________________________________

O que tem a ver a relevância social da igreja com a Grande


Comissão?
_____________________________________________________________

Como ser uma igreja relevante?


_____________________________________________________________

4.2 Estudo de Caso:

Marituba é um município de 108 mil habitantes da mesorregião


Metropolitana de Belém. Um casal de missionários de Missões
Nacionais foi enviado para lá. Em Marituba há uma ex-colônia de
Hansenianos, desativada desde a década de 1980, ano de implantação
do Tabernáculo Batista no mesmo local. O preconceito e a falta de
conhecimento sobre a hanseníase imputava um estigma que excluía
socialmente os moradores da colônia, que eram isolados e restritos
àquele espaço. A igreja só alcançaria esse público se plantada dentro da
colônia. Assim foi feito.
A princípio, a igreja era composta apenas por hansenianos. As
primeiras iniciativas de aproximação visavam trabalhar a autoestima
dos enfermos. Os missionários ofereceram projetos de ortopedia, com
voluntários da área de saúde, ambulatório e farmácia. A igreja era o
centro de mobilização da cidade. Por meio de sua influência, uma
escola pública foi construída, assim como uma praça. O governo do
estado mandava remédios para que a igreja distribuísse para a
comunidade.

Ainda hoje, quando alguém falece na comunidade, a família recorre


à igreja, que está sempre aberta, cedendo o espaço físico para o culto
fúnebre. Tem articulação com a Secretaria de Saúde, o Centro de
Referência da Assistência Social e a Câmara dos Vereadores, de forma
que as pessoas atendidas na igreja são encaminhadas aos órgãos
públicos para a resolução de suas questões.

Marituba ocupa a décima quarta posição na lista dos 100 municípios


com as maiores taxas de homicídios de crianças e adolescentes,
considerando só os que contam com mais de 20 mil crianças e
adolescentes. Diante dessa realidade, no Tabernáculo Batista e nas
outras nove igrejas plantadas pelos missionários, são desenvolvidos
trabalhos com crianças. Um deles, denominado “Clubinho Missionário”
tem como público-alvo filhos de presidiários e promove encontros em
que o Evangelho é pregado. Outro projeto oferece atividades
esportivas para os netos e bisnetos dos hansenianos que ainda residem
nos bairros da antiga colônia. Ainda em outro projeto, são oferecidas
aulas de música.

O mesmo casal de missionários atua nas comunidades ribeirinhas da


Ilha de Marajó, onde são desenvolvidos projetos de geração de renda e
autossustento, como confecção de artesanato. Além de levar uma
proposta de salvação através do Evangelho e de melhoria das
condições de vida, procuram atender os ribeirinhos sanando suas
necessidades básicas, com doação de roupas, alimentos, brinquedos e
água potável.

Uma igreja que antes atendia a um público excluído, hoje é


instrumento de inclusão social: no Tabernáculo Batista, todos são
alcançados pelo Evangelho, não somente os hansenianos. Esse é o
trabalho de uma igreja relevante!

4.3 Questões para Reflexão

1) Apenas abrir o templo aos domingos responde à demanda da


comunidade onde a sua igreja está inserida?

2) Se a sua igreja encerrasse as suas atividades hoje, a comunidade


do entorno sentiria falta e reclamaria a sua reabertura, ou seria
indiferente ao fato?

3) Quais têm sido as estratégias de relevância social de sua igreja?

15 BERNARDO, Salovi. MORAES. Luis Paulo de Lira [organização]. Ação Social da Igreja
de Cristo. Rio de Janeiro: JUERP, 1998. p. 37.
16 Idem nota 15. p. 41.
OBJETIVOS

Depois de ler este capítulo, você será capaz de:


• Praticar os princípios da Visão de Igreja Multiplicadora;
• Implementar a Visão de Igreja Multiplicadora na igreja
local.

1 Como Implantar a Visão de Igreja Multiplicadora

Queremos neste capítulo ajudá-lo a colocar em prática os cinco


princípios de Igreja Multiplicadora. Temos aqui apenas um resumo dos
Módulos de Implementação da Visão de Igreja Multiplicadora. Estes
módulos serão ministrados em encontros para aprofundamento da
visão, em que você poderá conhecer mais sobre o tema e
principalmente sobre a sua prática e implementação na igreja local.
Você já é nosso convidado. Esteja atento às datas e locais dos Módulos
de Implementação no site de Missões Nacionais –
www.missoesnacionais.org.br. Sobre o funcionamento e a implantação
do Pequeno Grupo Multiplicador, você pode saber mais através do Livro
Pequeno Grupo Multiplicador, da Editora Convicção e de Missões
Nacionais.

Além de participar dos Módulos de Implementação, você e sua


igreja poderão fazer parte da Rede Multiplicadora. A Rede Multiplicadora é
uma aliança estratégica que existe para servir às igrejas, com os
seguintes objetivos: (a) treinar líderes multiplicadores, (b) prover
ferramentas bíblicas para a prática dos princípios de Igreja
Multiplicadora, (c) manter uma rede de mentoria, (d) motivar a
unidade na diversidade e (e) inspirar outros a se multiplicarem de
maneira saudável.

Para colocarmos em prática os princípios multiplicadores é


importante lembrar que o “fazer discípulos” de Mateus 28.19 tem três
dimensões: chamar (que compreende anunciar e aprofundar Relacionamentos
Discipuladores), agregar e aperfeiçoar discípulos.

Evangelização Discipuladora

Todas essas ações estão vinculadas aos cinco princípios de Igreja


Multiplicadora, como veremos a seguir. A ideia aqui é dar uma visão
panorâmica de como implantar a Igreja Multiplicadora de forma
sistematizada a partir das três dimensões do fazer discípulos.

1.1 Primeira Dimensão: Chamar Discípulos

Como vimos anteriormente no capítulo de Evangelização


Discipuladora o “chamar discípulos” compreende duas ações: anunciar o
evangelho e aprofundar Relacionamentos Discipuladores. Veja os
desdobramentos de cada uma destas ações abaixo:

Anunciar o Evangelho

A primeira ação do Anunciar é a Oração. Você pode usar várias


estratégias de oração apresentadas no capítulo de Oração, mas
destacamos aqui o Cartão Alvo como uma estratégia importante para
ativar a Evangelização Discipuladora na igreja. (Veja como usá-lo na
página nº 36).

Depois de orar, precisamos anunciar o Evangelho com vistas a


criarmos Relacionamentos Discipuladores. Dê atenção ao estudo do Alvo
no Capítulo de Evangelização Discipuladora na pág. 65. Verifique as
formas de abordagem mais adequadas a sua realidade. Avalie como a
igreja poderá alcançar o máximo possível de pessoas de seu bairro e de
sua cidade. O Anunciar é também, depois da oração, a ação primária
para a Plantação de Igrejas. Ainda no Anunciar, estabeleça segundo o
contexto áreas em que sua igreja poderá exercer compaixão e graça na
comunidade e, com isso, abrir portas para um testemunho ainda mais
poderoso do Evangelho.

Estas são algumas das ferramentas que você pode usar para que o
máximo de pessoas sejam alcançadas pelo Evangelho:
• Cartão Alvo
• Folhetos Evangelísticos
• Abordagem Direta
• Felicidade (método de abordagem evangelística)
• Pulseira Evangelística
• Evangelizando com as Cores
• Evangelização através do Esporte
• Kits Crianças para Jesus
• Trans Local
• Ações de Compaixão e Graça

Todas essas iniciativas devem visar à criação de Relacionamentos


Discipuladores, a depender do interesse das pessoas. Agora, é hora de
aprofundar os Relacionamentos Discipuladores.
Criar e Aprofundar Relacionamentos Discipuladores

A segunda ação do “chamar discípulos” é envolver os membros da


igreja em criar e aprofundar Relacionamentos Discipuladores (RDs) que é a
grande chave de todo o processo. A igreja deve ser instruída a colocar
em prática de maneira simultânea os seis elementos do RD, como na
página 78. Abaixo seguem algumas ferramentas que você pode usar
para que o Relacionamento Discipulador tenha o máximo de
aproveitamento possível:
• Cartão de Solicitação e Prestação de Contas no RD – Chamar
Discípulos
• Estudos Bíblicos Evangelísticos

Uma iniciativa essencial para envolver toda a igreja em


Relacionamentos Discipuladores é implantar a Cadeia de Relacionamentos
Discipuladores, começando com o pastor e sua liderança. A próxima
dimensão também será importantíssima para o sucesso da Visão de
Igreja Multiplicadora.

1.2 Segunda Dimensão: Agregar Discípulos

Podemos convidar a pessoa que queremos evangelizar ou a que


estamos evangelizando para o Pequeno Grupo Multiplicador (PGM), que
será um instrumento de evangelização e também um meio em que os
novos convertidos podem ser agregados à igreja. O PGM é uma grande
ferramenta de integração. Lembre-se que o PGM é um lugar onde os
elementos do RD devem estar presentes. Desta forma, a grande
iniciativa do “agregar discípulos” é implantar uma rede de PGM na
igreja local, o que vai potencializar a prática do Relacionamento
Discipulador.

Não podemos esquecer também que esse é um tempo muito


precioso em que o novo convertido deve ser motivado constantemente
a se multiplicar, orando e alcançando outras vidas. Agora, o
Relacionamento Discipulador continua, mas o Cartão de Solicitação e
Prestação de Contas deve ser trocado, pois tem outras conotações.

A seguir, ferramentas que você pode usar para que os novos crentes
sejam agregados ao PGM e à igreja e o Relacionamento Discipulador seja
desenvolvido ainda em nível mais profundo:
• Cartão de Solicitação e Prestação de Contas em Relacionamento
Discipulador
• Roteiros de Encontros para o PGM – Pequeno Grupo
Multiplicador
• Estudos Bíblicos para integração de Novos Crentes

Depois de agregado à igreja mediante o batismo, o novo discípulo


precisa prosseguir no aperfeiçoamento cristão, que é a terceira
dimensão do discipulado.

1.3 terceira Dimensão: Aperfeiçoar Discípulos

Quando falamos em aperfeiçoar discípulos, pensamos no


crescimento e na maturidade deste novo cristão. Ele precisa ser um
discípulo multiplicador com a vida centrada em Cristo. Ele deve ser
motivado a continuar crescendo e se multiplicando e a se tornar um
líder. O Relacionamento Discipulador deve continuar, pois ele é o
ponto de partida da Formação de Líderes. O PGM também contribui
para formação de líderes à medida que ele desperta dons, permitindo a
identificação e aprimoramento de novos líderes. Neste ponto, pode-se
aplicar a ferramenta do Programa Discipular de Liderança – PDL
conforme mencionado no capítulo de formação de líderes na página
137. Também nesta terceira dimensão entra a Escola Bíblica
Discipuladora EBD como mais uma ferramenta de crescimento
espiritual e formação de novos líderes. Com um currículo modular,
respondendo às demandas do PDL, visa levar todos os crentes a se
tornarem líderes multiplicadores cada vez mais maduros. Veja abaixo o
currículo sugerido para aperfeiçoar os cristãos através da EBD, além
de outras ferramentas úteis para o Aperfeiçoar Discípulos
• Cartão de Solicitação e Prestação de Contas em Relacionamento
Discipulador
• Roteiros de Encontros para o Pequeno Grupo Multiplicador –
PGM
• Módulos da Escola Bíblica Discipuladora (sugestão)
• Serie Discípulos em Crescimento
• O chamado
• Permaneça em Cristo
• Vivendo na Palavra
• Orando com Fé
• Comunhão com Outros Discípulos
• Testemunhando ao Mundo
• Ministrando uns aos outros
• A Liderança de Jesus
• Evangelismo e Avivamento
• Como liderar um PGM
• Igreja Multiplicadora – Compreendendo e Multiplicando a
Visão (este livro)
• O Fator Oração, entre outros.
Como mencionamos inicialmente, este capítulo é apenas um resumo
dos Módulos de Implementação da Visão de Igreja Multiplicadora.
Não perca a oportunidade de participar.

2 De pastor para Pastor

Após compreendermos a prática da Visão Multiplicadora, queremos


finalizar este livro compartilhando com você algo sobre o modo como
aplicar esses princípios em sua igreja. Para isso, vamos utilizar algumas
perguntas sugeridas por Greg L. Hawkins e Cally Parkinson17, as quais
nos ajudam a refletir antes de colocar qualquer coisa em prática:
• Onde estamos?
• O que vemos?
• Como vamos chegar lá?

A primeira coisa é perguntarmos a nós mesmos: “Onde estamos?”.


A ideia é olhar a nossa posição sob perspectiva e perguntar a nós
mesmos qual a nossa situação como igreja dentro da comunidade. Esta
pergunta deve ser respondida fundamentalmente pelo pastor ou líder
juntamente com sua equipe. Estamos de fato cumprindo nossa missão
como igreja em nosso contexto? Quais são nossos pontos fortes e
fracos? Quais são as necessidades prioritárias da nossa comunidade à
luz da Grande Comissão?
Com as respostas a essas perguntas poderemos facilmente definir a
nossa realidade. Se você está plantando uma nova igreja e deseja que
esta igreja nasça dentro dos princípios multiplicadores, esse projeto será
ainda mais fácil. Agora, se a sua igreja já está inserida há algum tempo
na comunidade será ainda mais importante fazer essas avaliações. É
preciso saber de onde você está partindo, de onde você está
começando a sua caminhada e qual a sua realidade.

“O que vemos?” Como estamos vendo o futuro? O que podemos


afirmar que Deus deseja fazer por nosso intermédio e de nossa igreja
nos próximos cinco anos? O que está diante de nós mexe com o nosso
coração? Precisamos como igreja saber de forma clara qual a nossa
visão de futuro, aonde queremos chegar em determinado espaço de
tempo.

Por fim, o que devemos responder quando perguntamos: “Como


chegar lá?” O que você pretende fazer para que a sua igreja
multiplique o maior número possível de discípulos? A Visão de Igreja
Multiplicadora convida a você a viver essa jornada de fé: fazer
discípulos multiplicadores e plantar igrejas saudáveis.

Depois de entender onde estamos e o que está diante de nós,


estamos prontos para pensar sobre o nosso plano de ação. Queremos
nas próximas páginas apresentar para você uma pequena sugestão de
como envolver a sua igreja nos princípios bíblicos da multiplicação.
Tudo isso em alguns passos importantes nesse processo de
implementação da Visão da Igreja Multiplicadora. Vamos a eles:

2.1 Orar

É preciso orar pessoalmente para que Deus mostre ao coração de


toda a liderança a importância da multiplicação e principalmente o
cumprimento da Grande Comissão. Quando falamos de oração,
também é muito importante recordar que:
• O pastor e a liderança têm que ter oração como prioridade de
vida e ministério;
• A liderança deve ser o modelo para a igreja em relação à
oração;
• Devemos priorizar a oração em todos os encontros da igreja e
mobilizar grupos de oração em prol do desenvolvimento da
igreja;
• É bom realizar caminhadas de oração mostrando à liderança e
posteriormente a toda a igreja a importância de se alcançar a
cidade;
• Devemos promover grandes ajuntamentos para oração e
quebrantamento na presença de Deus, com a sugestão de 30
dias de oração com a igreja para que Deus direcione todo o
processo de implementação da Visão de Igreja Multiplicadora.

2.2 Mobilizar

O pastor ou líder que já compreendeu os princípios bíblicos de


multiplicação e participou do Módulo de Implementação da Visão de
Igreja Multiplicadora, agora começa a pregar e ensinar a cada domingo
sobre esses princípios. É tempo de mobilizar e compartilhar os
princípios mais de perto com sua liderança. Nesse momento de
mobilização, é muito importante notar:
• Líderes na igreja começam a entender os princípios;
• Homens e mulheres com coração aberto e desejosos de fazer
discípulos querem conhecer mais sobre isso;
• A liderança está unida com o mesmo objetivo;
• Os princípios Multiplicadores se tornam claros para a liderança
e para a igreja;
• Com o formato já de um PGM inicial, os líderes se reúnem
semanalmente para compreender os princípios multiplicadores
por meio de um estudo dirigido;
• Paulatinamente os princípios vão se tornando comuns para o
pastor e para sua liderança.

2.3 Compartilhar

Esse é um tempo muito precioso, quando o pastor junto com sua


liderança já se envolveu com a Visão de Igreja Multiplicadora. É hora,
então, de compartilhar essa Visão com outras pessoas dentro da
comunidade de fé.
• A Visão de Igreja Multiplicadora deve estar clara para todos da
comunidade de fé;
• Os princípios multiplicadores não vêm para mudar a estrutura
da igreja, mas, sim, colocar o foco na Grande Comissão;
• Líderes que já entenderam todo o processo estão envolvidos e
compartilham com mais pessoas;
• A vida da igreja começa a ser tomada pelo desejo de fazer
discípulos, de multiplicar;
• A igreja começa a entender o papel e a importância do Pequeno
Grupo Multiplicador;
• É muito importante estar claro que estes princípios são para
toda a igreja;
• Todo cristão deve ser um discípulo multiplicador.

2.4 Treinar

Nesse momento, devemos treinar mais pessoas para juntos


avançarmos com os Pequenos Grupos Multiplicadores.
• É hora de treinar a sua liderança com o material dos Pequenos
Grupos Multiplicadores;
• Busque capacitar os seus líderes, transmitindo-lhes
conhecimento e paixão;
• Desenvolva o Plano Discipular de Liderança (PDL) com cada
um deles;
• É muito importante treinar um líder que vai dirigir o PGM e
seu auxiliar. O ideal é que cada grupo inicie já com um líder e
um auxiliar;
• Busque mostrar aos que estão sendo treinados a importância
do Relacionamento Discipulador e dos Pequenos Grupos
Multiplicadores no cumprimento da Grande Comissão.

2.5 Promover o Cartão Alvo

• Desafie e treine os membros da igreja na campanha do Cartão


Alvo;
• É importante treinar os membros sobre a maneira como criar
e aprofundar Relacionamentos Discipuladores com os resultados da
campanha.

2.6. Iniciar o Pequeno Grupo Multiplicador

• É hora de colocar em prática o que aprendeu no treinamento


dos Pequenos Grupos Multiplicadores;
• É importante deixar claro que os PGMs não mudam em nada a
estrutura nem o governo da igreja, sendo apenas uma
estratégia para multiplição;
• Comece com um PGM em que o pastor ou líder da igreja seja
o líder do grupo. Se este não estiver engajado em um PGM,
sua igreja dificilmente estará.
2.7 Começar a Cadeia de Relacionamentos Discipuladores

• O pastor ou líder escolhe no máximo 10 pessoas de sua


liderança estratégica para desenvolver com elas Relacionamentos
Discipuladores mediante encontros semanais ou quinzenais, e
esses líderes fazem o mesmo; e cada um dos líderes escolhidos,
em tempo oportuno, escolhe mais 10 pessoas estratégicas para
desenvolverem RDs;
• Busque desenvolver um sistema de solicitação e prestação de
contas com estes irmãos. Use os cartões de RD sugeridos
como ferramenta da Visão de Igreja Multiplicadora, muito
úteis no início deste processo;
• Cada membro da igreja deve ser estimulado a formar seu
grupo de discípulos, ciente de que terá que sacrificar tempo
para tudo isso acontecer;
• Todas as pessoas interessadas e decididas devem ser
discipuladas por um membro da igreja, fazendo com que a
Cadeia de RDs seja dinâmica e multiplicadora.

2.8 Formar a Base

Quando falamos de formar a base, é muito importante lembrar que


todo este caminho vai levar os novos irmãos para a Prática do
Programa Discipular de Liderança e para Escola Bíblica Discipuladora – EBD,
que serão ferramentas importantes para a formação de líderes e o
apoio destes no cumprimento da missão, criando um ambiente de
compartilhamento de experiência e de formação. A formação de novos
líderes é a base para a multiplicação dos novos Pequenos Grupos
Multiplicadores.
• É tempo de termos um trilho de treinamento ajustado (segue
exemplo de currículo no Aperfeiçoar discípulos);
• Este sistema de treinamento deve refletir a Visão de Igreja
Multiplicadora na formação de novos líderes;
• A liderança da igreja deve ser a primeira a completar o
currículo-base da
• Escola Bíblica Discipuladora e estar vivendo o PDL;
• Você pode incluir congressos para formação de líderes de
PGMs;
• Este currículo deve ser avaliado constantemente para que não
perca o foco da Visão de Igreja Multiplicadora e a
multiplicação usando os PGMs como ferramenta estratégica;
• A EBD – Escola Bíblica Discipuladora torna-se uma grande escola
de líderes.

2.9 Priorizar a Grande Comissão

Pode ser que a essa altura surjam sobreposições de horários e


programações, momento em que a igreja terá que escolher priorizar
aquilo que é realmente mais importante: o seu chamado primordial de
multiplicar discípulos.

É bom lembrar que tudo deve ser feito com bom senso e muito
amor, considerando as opiniões dos irmãos e sem dar lugar a
escândalos nem rixas contra aqueles que persistirem em não priorizar a
Grande Comissão. 1 Coríntios 1.3 nos ensina que “E mesmo que eu
distribuísse todos os meus bens para o sustento dos pobres, e entregasse meu corpo
para ser queimado, mas não tivesse amor, nada disso me traria benefício algum”.
Isso significa que nem mesmo defender uma causa tão nobre como a
implantação da Igreja Multiplicadora justifica agir com falta de amor
ou consideração pelo irmão mais fraco na fé. A igreja deve orar muito
para que o Espírito Santo de Deus promova a unidade do corpo em
torno do “fazer discípulos”. Mas não se deve esperar que a
unanimidade aconteça da noite para o dia. Siga o processo de
implantação, sempre respeitando os irmãos que não quiserem aderir;

Lembre-se que o maior objetivo da Igreja é glorificar a Deus através


do cumprimento da Grande Comissão, proclamando o evangelho aos
perdidos e ministrando os mandamentos mútuos – uns aos outros,
como nos ensina a Palavra de Deus.

O nosso maior desejo é que o Livro Igreja Multiplicadora: 5 Princípios


Bíblicos para o Crescimento tenha sido uma grande bênção em sua vida.
Queremos mais uma vez convidá-lo a conhecer mais sobre os
princípios multiplicadores se unindo à Rede Multiplicadora.

Louvamos a Deus por sua vida e por sua igreja fazer parte desta
grande visão de multiplicação. Enquanto o Senhor não volta devemos
manter o foco na missão.

Avançar, sempre! Recuar jamais!

17 HAWKINS. Greg L. PARKINSON, Cally. ARNSON. Eric. Descubra: Onde Você Está. São
Paulo: Ed. Vida, 2008. p. 21.
OBJETIVOS DO CAPÍTULO

Depois de ler este capitulo você deve ser capaz de:


• Ter uma visão bíblica clara de missões;
• Identificar o papel da igreja local no cumprimento da
Grande Comissão;
• Reconhecer o risco de se perder a visão missionária;
• Compreender a importância da cooperação na expansão
do Reino de Deus.

1 A Igreja e a Obra Missionária

A visão missionária da igreja deve estar alinhada com a visão


missionária do Seu Senhor e dono absoluto. A igreja deve corresponder
à vontade daquele que por ela morreu e ressuscitou. Tanto Mateus
28.18-20 quanto Atos 1.8 demonstram a amplitude da visão do Senhor
Jesus para sua igreja: alcançar todos os povos com as Boas-Novas. De
Jerusalém até os confins da terra, a missão é fazer discípulos.

“Ele morreu por todos” (2 Coríntios 5.15). Isso implica que todos
precisam ser alcançados. Não importa que as pessoas vivam em lugares
e contextos os mais diversos. A igreja tem a missão de levar o
Evangelho a todos os lugares e contextos. Com certeza, as estratégias
vão variar, mas o objetivo da missão continua o mesmo: fazer
discípulos.

Por isso, a igreja não pode recuar nem se omitir. Ser igreja é ser
missionária. Essa visão de missão vem desde os tempos de Abraão.
Nós somos filhos de Abraão em Cristo Jesus. Portanto, somos de uma
linhagem missionária, que tem proclamado a glória de Deus através de
gerações. A igreja foi estabelecida para que se constituísse em uma
agência missionária disponível a todos e que produzisse muitos frutos.
Existem grandes desafios para vencer e muitas atividades em que a
igreja pode desenvolver, mas se ela não se ocupar com a expansão do
reino de Deus, de acordo com Atos 1.8, estará falhando em sua
missão.

O maior risco que a igreja corre é perder a visão missionária.


Promover campanhas missionárias é importante, pois por meio delas
os princípios missionários são relembrados e a visão missionária é
renovada de geração em geração. Basta uma geração para perdermos
todo o ardor missionário, se negligenciarmos a transmissão da visão.
Muito mais do que um levantamento de ofertas, a campanha visa
manter acesa a chama missionária.

Basta uma geração para perdermos todo o


ardor missionário, se negligenciarmos a
transmissão da visão.

Essas campanhas não devem ser isoladas, mas, sim, oportunidades


para consolidar o que vem sendo feito durante o ano inteiro. Para isso,
a visão missionária do pastor e líderes é fundamental. A igreja refletirá
a visão do seu líder na administração, na espiritualidade e na visão
missionária. Ele não deve ser elemento de contenção do espírito
missionário de sua igreja.

Uma vez revestida de poder do alto, a igreja de Jerusalém teve uma


explosão de crescimento. Era algo avassalador, como as ondas de um
tsunami, cobrindo a superfície e arrastando tudo ao seu redor. O
Espírito Santo outorgou à igreja primitiva condições de realizar a
Grande Comissão. Homens e mulheres eram revestidos de poder do
alto pregavam o evangelho. O impulso de testemunhar foi irresistível.
É esse mesmo Espírito Santo que hoje nos impulsiona como igreja a
nos envolver na proclamação do evangelho.

Para isso, precisamos primeiro entender as bases bíblicas e o alicerce


da obra missionária. É pelo estudo de missões na Bíblia que
formaremos uma consciência missionária. A igreja multiplicadora é
uma igreja obediente e sintonizada com a vontade de Deus e, por isso,
deve se preocupar em ensinar esses princípios a seus membros para
que obedeçam a eles.

2 O que é Missões

Ao conhecermos o nosso Deus, por meio de Jesus Cristo, e


estudarmos a sua Palavra, descobrimos que é d’Ele a iniciativa
missionária. Quando pensamos em missões, duas passagens do Novo
Testamento vêm a nossa mente: Mateus 28.18-20 e Atos 1.8. Porém, a
obra missionária não é algo restrito ao Novo Testamento, mas vai
desde Gênesis 1.1 até Apocalipse 22.21, visto que a Bíblia toda foi
inspirada pelo Deus missionário.

A criação é a base de missões, pois antes de ser o Deus da igreja, Ele


é o Senhor de tudo e de todos. O mundo criado é por direito de Deus,
razão por que Jesus disse a seus discípulos que fossem a todas as
nações, a toda criatura e a todos os lugares do mundo a fim de resgatar
e restaurar pessoas que vivam para a glória de Deus.

Desde que o homem caiu em pecado (Gênesis 3), Deus está em


busca dele. As consequências da desobediência foram desastrosas: o
pecado separou o homem de Deus, deixando-o morto (Gênesis 2.17;
Efésios 2.1). É desejo de Deus resgatar o pecador. Para isso, Deus
chamou Abraão para ser uma bênção para todas as famílias da terra.
Abraão foi escolhido para ser o pai de uma nação missionária,
mensageira de Deus para todas as nações e que seria o canal por meio
do qual Deus alcançaria o mundo (Gênesis 18.18, 22.18; Êxodo 19.4-
6).

Carriker18 diz que os milagres e toda a história de Israel “não


objetivavam algo para Israel, mas eram uma forma de conduzir as
nações à salvação”. Por exemplo, os Salmos nos inspiram a convidar
todos os povos para louvarem a Deus, a declarar sua glória e salvação
a todos, a fazer conhecidos os atos poderosos de Deus entre as nações.
Uma das mais importantes mensagens dos Salmos é a de que tudo o
que tem fôlego deve conhecer e adorar o único Deus (Salmos 2.8,
67.1,2, 86.9,10). O centro das mensagens dos profetas é a noção de
que a justiça, o amor e a misericórdia de Deus se estendem por
intermédio do servo Israel a todas as nações e que a missão de Israel
era a de ser sacerdócio real e servo para os povos da terra. Isaías,
Habacuque, Miqueias, Joel, Sofonias, Obadias, todos enfatizam a
mensagem missionária e a responsabilidade do povo de Deus em ser
uma nação em missão. Como afirma George Peters, “o Antigo
Testamento não contém missões, mas há missão em ação! Podemos
ver desde Gênesis até Malaquias que o propósito de Deus é anunciar
seu amor e sua mensagem de salvação a todos os povos”19.

Chegando ao Novo Testamento, Jesus transfere essa


responsabilidade para a sua igreja, a nova nação santa (1 Pedro 2.9,
compare com Êxodo 19.4-6). Ressurreto, Jesus exortou seus discípulos
a darem continuidade a essa missão universal, mas não sem esperar o
revestimento de poder do Espírito Santo. Esse poder capacita os
discípulos a cumprir a Grande Comissão e a lutar contra forças
espirituais do mal, que não querem que o mundo glorifique a Deus. O
Espírito Santo também promove todos os acontecimentos que
envolvem missões. Ele derrama o seu poder sobre as pessoas e as
dirige de forma estratégica.

Vejamos, ainda, as palavras de Cristo nas referências que chamamos


a Grande Comissão, as últimas palavras de Jesus dirigidas aos seus
discípulos:

Mateus 28.18 – Aqui Jesus se apresenta como aquele a quem foi


dado todo o poder. Ele, como Rei, manda seus discípulos irem fazer
discípulos de todas as nações. Note que o imperativo está no sentido
contínuo: devemos sempre ir, devemos continuar fazendo discípulos.
Toda obra redentora de Jesus se centraliza agora no envio da sua igreja
ao mundo para proclamar as Boas-Novas. Perceba também que a obra
é de Jesus, o poder é d’Ele, e a garantia está na presença d’Ele conosco
até a consumação dos séculos.

Marcos 16.14-18 – Enquanto em Mateus a ênfase está nas nações,


em Marcos, Jesus nos manda pregar o evangelho a toda criatura.

Lucas 24.44-48 – Em Lucas é apresentado o conteúdo da


mensagem, isto é, o que deve ser pregado, enfatizando Jesus, sua morte
e ressurreição. Ele demonstra que o arrependimento e a remissão dos
pecados são essenciais, e o são para todas as nações. Diz Jesus: “Vós
sois testemunhas destas coisas”.

João 20.21-23 – Jesus identifica os discípulos com os propósitos


eternos do Pai: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a
vós”. Aqui também a palavra “envio” está no sentido contínuo – Jesus
está sempre enviando. Aqui, como em outros lugares, Ele enfatiza a
necessidade de dependência do poder do Espírito Santo, sem o qual a
obra missionária não pode ser feita.

Portanto, podemos dizer que fazer missões é estar alinhado com o


coração de Deus e com seu movimento no mundo. É obedecer à
ordem de Jesus, levando a mensagem do evangelho a todos os povos e
nações, fazendo discípulos e plantando igrejas, agindo no poder e
orientação do Espírito Santo.

3 Quem faz Missões

No Novo Testamento vemos que Jesus entregou a obra missionária


à sua igreja. Portanto, missões é a tarefa da família de Deus, do seu
povo. A tarefa é tão grande e desafiadora que implica a inclusão de
todos os crentes. Nenhuma igreja pode omitir-se. Nenhum crente pode
negar sua responsabilidade.

Missões é tarefa de todas as igrejas. Qualquer igreja que não esteja


com esta visão e objetivo não está cumprindo a ordem de Jesus e não
pode esperar as bênçãos de Deus. Lembramos que em Mateus 28.19 e
20 Jesus prometeu estar com sua igreja. Ele disse: “Ide, fazei (...) eu
estou convosco (...)”. Jesus prometeu estar presente na igreja que lhe
obedece e cumpre a Grande Comissão. A igreja que não se envolve
nesta tarefa não pode esperar a evidência do poder de Cristo no seu
meio.

Jesus prometeu estar presente na igreja que


lhe obedece e cumpre a Grande Comissão.

4 A Responsabilidade e o Privilégio Missionários da


Igreja

As igrejas variam em número de membros, poder financeiro, nível


intelectual e outros, ainda que todas elas tenham a mesma
responsabilidade e o mesmo privilégio em missões. Jesus não
condicionou a Grande Comissão ao tamanho da igreja ou ao seu poder
financeiro ou intelectual. Igrejas missionárias são igrejas engajadas na
Grande Comissão. A igreja de Jesus só pode achar a sua mais plena
expressão para o mundo dentro do reino de Deus se viver sua
natureza missionária.

Fazer missões é responsabilidade e privilégio não apenas de cada


igreja, mas também de cada crente. Cada membro da igreja recebe, por
ser crente em Jesus, a incumbência de envolver-se na obra missionária.
Ninguém pode desculpar-se por não estar participando. Alguns dizem
que missões é tarefa das agências missionárias ou dos missionários.
Mas Cristo deu a ordem missionária à igreja. Notamos no Novo
Testamento que todos os crentes evangelizavam e anunciavam as
Boas-Novas (Atos 8.4).

Jesus estabeleceu a visão da igreja quando disse o que fazer: “... fazei
discípulos...”. Em Atos 1.8, Jesus esclareceu a abrangência da missão da
igreja: “... tanto em”, “como em”, “e até aos”. Alguns discutem se
missões se realiza no bairro da igreja ou se é apenas nas regiões além
fronteiras. Quando olhamos essas expressões de Jesus, percebemos
uma simultaneidade e um mesmo nível de importância entre a rua
onde a igreja está instalada e os povos ao redor do mundo.

Até que ponto a igreja corresponde ao seu nome: igreja de Cristo?


Até que ponto ela existe como uma manifestação prática de sua
essência? Até que ponto ela é de fato o que aparenta? Até que ponto
ela cumpre o que afirma e atende às expectativas que suscita?

A igreja primitiva foi fiel à sua razão de existir quando se fez


relevante em Jerusalém (Atos 2.47; 6.7), ultrapassando as fronteiras da
Judeia, chegando a Samaria (Atos 8.5-24) e avançando além das
fronteiras da Palestina (Atos 9.31; Atos 11.19-21).
A autoridade para o envio é da igreja local. O apoio de base é da
igreja local. A manutenção do trabalho passa pelo crivo da igreja local.
Quando a igreja local se omite nisso, ela perde sua essência maior e se
atrofia.

5 Líderes com Visão Missionária

É preciso envolver a igreja com missões, mas isso só é possível


através da conscientização da sua liderança. Os líderes sãos as molas
propulsoras que Deus tem usado para mobilizar as igrejas com relação
a missões. Igrejas missionárias se alimentam e se retroalimentam com a
visão proporcionada por seu líder.

É preciso envolver a igreja com missões, mas


isso só é possível através da conscientização
da sua liderança.

Quanto mais espaço abrirmos para missões, mais espaço para


missões nossa igreja fará. A igreja em Jerusalém era um reflexo da
postura dos apóstolos (líderes). Era uma igreja cheia da Palavra de
Deus (Atos 2.42). O envolvimento com missões passa por um púlpito
que revela os ensinos da Palavra a esse respeito (Atos 6.7).

Igrejas missionárias exigem líderes dinâmicos, vigorosos, otimistas,


que possam dirigir as aptidões e os recursos potenciais dos membros.
Os líderes são catalisadores para a mobilização do povo de Deus em
missão no mundo. Por isso, não podemos levar a igreja a pensar que ela
serve apenas para contribuir. Missões é muito mais do que isso.
Quando informamos sobre as necessidades, os projetos e os êxitos da
obra missionária no Brasil e no mundo, provocamos as mais variadas
reações por parte da igreja.

A liderança das igrejas tem a obrigação de abrir a visão do povo


para sua consciência de missão e mobilizá-lo em torno disso, porque se
a liderança não promover missões constantemente na igreja ninguém o
fará!

A pessoa-chave no envolvimento da igreja local na obra missionária


é o pastor. Na maioria dos casos, a igreja reflete o que o seu pastor
transmite. O pastor é convidado pela igreja para liderá-la. Ela tem
confiança em seus conselhos e adota prioridades conforme a sua
instrução. Se o pastor tiver uma vida consagrada, a igreja vai refletir
esta consagração. Se o pastor tiver amor por missões, a igreja vai
adquirir este amor. O perigo é que o pastor pode matar o amor que a
igreja tiver por missões se ele não amar missões de todo o seu coração.
Por isso também é importante que missões faça parte da formação
teológica de todos os que estejam se preparando para o ministério de
Deus.

O pastor deve amar missões. Parece desnecessário dizer isso, mas,


por incrível que pareça, existem obreiros que não amam missões como
deveriam e, em consequência, suas igrejas não aumentam o seu
potencial missionário. Devemos orar, e muito, para que Deus toque no
coração desses obreiros e levante outros apaixonados pela obra
missionária, pela prioridade de levar o evangelho até aos confins da
terra. Devemos nos preocupar ao saber que ainda há brasileiros e
metade do mundo que esperam ouvir o Evangelho pela primeira vez.

Por outro lado, os pastores precisam ser apoiados, encorajados e


animados. Em geral, os pastores são homens incansáveis,
sobrecarregados, que sofrem com a falta de colaboração, apoio e
reconhecimento. Muitas igrejas requerem de seus pastores práticas e
cuidados que, biblicamente, não lhe cabem. Com uma visão correta de
quem é o pastor e qual a sua verdadeira função na Igreja, precisamos
apoiar nossos pastores, compartilhar de sua visão ministerial. Com essa
relação afinada as atividades missionárias farão parte de um projeto
eclesiástico para toda a igreja local.

6 Igreja com visão Missionária

A igreja local, independentemente de seu tamanho e sua estrutura,


seja como um todo ou através de seus pequenos grupos, pode
participar ativamente na obra missionária. Veja como:

6.1 Envolvimento com a missão

Em primeiro lugar, cada igreja deve procurar se informar sobre as


necessidades das pessoas e do mundo e o que está sendo feito para
levar as Boas-Novas.

A igreja local precisa saber que mais da metade das nações do


mundo ainda não foi evangeliza e que no Brasil, por exemplo, cerca de
30 mil das 35 mil comunidades ribeirinhas ainda não foram alcançadas.
Se nós cremos que Jesus é o único caminho e que ninguém vai ao Pai
senão por intermédio d’Ele, então estamos dizendo que hoje a metade
do mundo não tem como chegar ao Pai porque nunca ouviu falar de
Jesus.

É lamentável o número de crentes que não


têm condições de mencionar o nome de
sequer um missionário.

É lamentável o número de crentes que não têm condições de


mencionar o nome de sequer um missionário. As igrejas têm que ser
informadas, a literatura disponível precisa ser utilizada. Quem são os
missionários que estão nos campos? Quais os campos a serem
alcançados ainda? Quais as condições em que os obreiros se
encontram? Onde estão as portas que Deus está abrindo hoje?

Uma das maiores razões para a falta de visão missionária nas igrejas
locais é a falta de informação, falta de notícias, portanto, falta de
desafio. A liderança tem a responsabilidade de manter a igreja
informada e desafiada. Uma igreja informada e desafiada é uma igreja
que vai querer atuar e fazer algo para participar na obra missionária.

Nesse sentido, a promoção de campanhas missionárias ajuda, pois


seu desenvolvimento mantém a visão, desperta o interesse, motiva,
sensibiliza. Mas vai além: precisamos buscar o envolvimento do crente
com a obra missionária, em suas mais diversas formas, não apenas na
participação em campanhas missionárias, mas na formação de uma
consciência missionária, fazendo com que missões passe a ser um estilo
de vida.

A igreja obediente e sintonizada com a vontade de Deus deve se


preocupar em ensinar os princípios de missões a seus membros para
que obedeçam a eles. A informação, a consciência e a educação
missionária passam, por exemplo, pelas organizações como Amigo de
Missões, Embaixadores do Rei e Mensageiras do Rei. Ao longo dos
anos, essas organizações têm se preocupado em informar e formar
pré-adolescentes e adolescentes para missões. O conhecimento da visão
bíblica de missões, a história de missões e o contato com as biografias
missionárias geram a consciência missionária, o amor por missões e o
dinamismo para futuras lideranças.

6.2 Compromisso com a oração


Não podemos deixar de valorizar o ministério de oração a favor de
missões. Quanto mais informada estiver a igreja, mais poderá orar com
pedidos específicos e com agradecimentos pelas vitórias alcançadas. A
batalha espiritual é uma realidade nos campos missionários onde os
servos do Senhor estão trabalhando, verdadeiros campos de guerra.
Satanás levantará toda oposição que puder para evitar o avanço do
reino de Deus. Por meio da oração, a igreja local se coloca ao lado dos
obreiros.

Por meio da oração, a igreja local se coloca ao


lado dos obreiros.

Deus opera poderosamente respondendo às orações do seu povo,


especialmente nos campos missionários, porque em oração estamos
obedecendo à ordem d’Ele. Cada igreja deve ter pelo menos um
missionário no coração, sustentando-o em oração, informando-se
especialmente sobre o ministério e a vida dele, de sua família, suas
dificuldades e vitórias. Como uma igreja é estimulada a orar quando ela
tem um missionário adotado para oração! Não precisa ser
originalmente de sua igreja, mas pode se tornar seu através da oração.

A intercessão missionária é um fator de envolvimento significativo


com missões. Há pessoas que assumem um sério compromisso com
missões, mas não são chamadas por Deus para irem aos campos. Mas
certamente o Senhor tem um propósito para a vida delas. Estas pessoas
podem se envolver no compromisso de intercessão em favor de
missões. Esse envolvimento abençoará a obra, os missionários, a igreja
e os próprios intercessores. Trará uma grande alegria interior e as fará
perceber que são participantes efetivos do avanço do reino de Deus no
mundo.
Para que este envolvimento do intercessor com a obra pela qual
intercede seja significativo, é importante que se fortaleça o vínculo de
relacionamento e comunicação entre o missionário e a igreja. Os
intercessores precisam ter permanentemente informações atualizadas
dos campos. A intercessão precisa ser alguma coisa ágil, quase
instantânea.

Romanos 16.1 chama atenção pelo tipo de saudação que o apóstolo


faz à igreja de Roma. É interessante ver como Paulo tinha um
relacionamento pessoal com a igreja, e a igreja com ele. Um dos
grandes problemas da obra missionária hoje em dia é a falta dessa
identificação! Quando a igreja conhece o missionário, sabe onde ele
está, sabe o que está fazendo, acompanha-o pessoalmente há muito
mais consagração, há muito mais ofertas, há muito mais compromisso!

Para a completa identificação e aproximação dos parceiros com os


obreiros, é preciso manter sempre um canal aberto de diálogo e
comunhão. Para isso, os missionários devem se comunicar, escrever,
mandar notícias, compartilhar suas vitórias, problemas e dificuldades,
levando o campo para a igreja local. Quando a igreja está próxima do
missionário e ciente do cotidiano do campo, o trabalho não sofre
desmotivação nem esfriamento. A igreja ora, contribui e apoia com
muito mais intensidade quando está em contato com o missionário.
Igreja local e missionário devem trabalhar juntos sem deixar a chama
missionária diminuir ou apagar.

Atualmente, as redes sociais desenvolvem um poderoso meio de


comunicação, gerando um vínculo forte entre o missionário e a igreja
que poderá resultar numa grande mobilização para intercessão
missionária. Com o envio sistemático de motivos de oração para uma
rede de intercessores em pouco tempo eles podem ser bombardeados
por milhares de orações.
Outra prática que já se vai espalhando é criar uma sala de oração na
igreja ou no lar. Um ambiente tranquilo, agradável e aconchegante,
reservado apenas para a oração. Entre a mobília simples, mas
adequada, um mural com mapas, informações sobre os campos e
fotografias dos missionários e de seu trabalho.

Além do suporte espiritual que confere à obra realizada nos campos,


a intercessão missionária tem a virtude de comprometer o intercessor
com a obra de missões. É impossível limitar-se a orar por missões. O
aprofundamento no ministério de intercessão impele irresistivelmente o
intercessor à ação concreta, a contribuir financeiramente para o
sustento dos missionários e, não raro, o impele a ir para o campo
missionário também.

A intercessão missionária é uma arma eficaz na guerra espiritual de


missões e uma expressão de inconformação com a perdição e a
desgraça da humanidade. A oração deve ser considerada a arma
principal para destruir toda oposição do mal, abrindo portas para o
avanço triunfal da igreja do Senhor. Deus enviou seu Filho Jesus Cristo
ao mundo para libertar, resgatar e restaurar os seres humanos (Lucas
4.18 e seguintes). Sua morte na cruz do Calvário e sua ressurreição
consolidaram a eficácia de sua missão. A obra missionária é, portanto,
uma batalha. O inimigo não se conforma com o avanço missionário e
isso torna a batalha ainda mais cruel.

A igreja avança por ordem do grande general Jesus Cristo, com a


garantia de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mateus 16.18). Nesta batalha, os mísseis da oração intercessória
constituem-se em arma indispensável no arsenal do exército de Deus.
Alguns soldados são convocados para lutar na vanguarda, na linha de
frente. Outros participam da batalha nas trincheiras da oração.
O aprofundamento no ministério de
intercessão impele irresistivelmente o
intercessor à ação concreta.

A igreja local, mediante a oração, alcança campos e povos, derruba


barreiras, derrota o inimigo, leva a mensagem, tudo pelo poder e
ministério da oração. Nossos missionários precisam ser sustentados por
nossas intercessões permanentes. As hostes inimigas não subsistirão
diante do bombardeio de nossas orações e serão forçadas a recuar.

O pecado tem imposto à humanidade uma vida de limitações,


infelicidade e desgraça. Como Neemias, em sua visita às ruínas da
cidade de Jerusalém, podemos afirmar: “Bem vedes vós o triste estado
em que estamos” (Neemias 2.17). Ao passarmos pelo mundo,
constatamos o lamentável estado em que se encontra a humanidade.
Vemos vidas destruídas, lares destroçados, almas e nações inteiras
caminhando para a perdição eterna. Como cristãos, não temos o direito
de nos acomodarmos a esta realidade. Não podemos simplesmente
cruzar os braços. Nós nos negamos a aceitar esta situação de derrota.
A mais imediata expressão de nossa indignação e inconformismo é a
oração. Por meio dela nos solidarizamos com o propósito de Deus no
sentido de mudar as coisas. A Palavra de Deus é enfática: “Para isto o
Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo” (1 João 3.8).

O pressuposto da pregação e da obra missionária em si é que as


coisas precisam e podem mudar. Por mais adversas que sejam as
condições, por mais hostis que sejam as pessoas ou não receptivas as
culturas às quais ministram os missionários, cremos que o evangelho “é
o poder de Deus” que tem condições de transformá-las. Este é o
sentido da intercessão missionária: reafirmar nossa inconformação
com a desgraça dos povos e intensificar os combates contra as hostes
que os escravizam, no propósito de derrotá-las, em nome do Senhor
Jesus Cristo.

A igreja local pode ser um gigante no


ministério da oração.

A igreja local pode ser um gigante no ministério da oração. E as


nossas orações terão feito parte da história de missões. No capítulo de
Oração (pág. 27), apontamos diversas ferramentas úteis para a igreja se
envolver com missões através da intercessão.

6.3 Investimento na expansão do Reino

A oração deve ser acompanhada da disposição de ser parte da


resposta de Deus. Nada adianta rogarmos ao Senhor que mande
trabalhadores para a colheita se não nos dispusermos a sustentar esses
trabalhadores. Vimos em Atos que a igreja de Antioquia glorificou a
Deus dando o que tinha de melhor para a obra de missões.

Quando se fala em contribuir e sustentar missões, o que mais se


ouve como desculpa é “Temos poucos recursos. Não conseguimos
manter direito o trabalho da igreja local, como vamos enviar recursos
para outros campos?”. Essa desculpa não tem fundamento. Quanto
mais a igreja investe em missões, mais ela cresce. A igreja primitiva era
uma igreja bastante pobre. Eram tão desprezíveis que, quando o
Império foi se dar conta da existência dos cristãos, eles já estavam em
toda parte e existiam aos milhares. Contudo, em Filipenses1.3-5, fica
claro que as igrejas do primeiro século investiam na obra missionária,
como vemos nas palavras de gratidão de Paulo:

“Dou graças ao meus Deus todas as vezes que me lembro de vós,


fazendo sempre súplicas por todos vós, em todas as minhas orações,
com alegria, em razão da vossa cooperação na causa do Evangelho,
desde o primeiro dia até agora”.

À medida que o Evangelho se expandia, tornava-se cada vez mais


necessário o desenvolvimento de um grupo de líderes que pudessem se
dedicar com mais tempo ao ensino e à administração das igrejas,
especialmente das novas igrejas que iam surgindo nos campos
missionários. Como fazer isso com poucos recursos? Se eles fossem
esperar as igrejas ficarem fortes, com mais membros para só então
começar a pensar em missões, até hoje estariam esperando a hora certa
para enviar seus missionários.

Como consequência do ministério da oração e das informações


adquiridas sobre a obra missionária, a igreja local terá prazer em
contribuir financeiramente para sustentar missões.

Existem três maneiras principais pelas quais uma igreja participa


financeiramente da obra missionária. Em primeiro lugar, o Plano
Cooperativo, que arrecada as contribuições regulares das igrejas batistas
brasileiras e de onde se extrai um percentual para missões. Para saber
mais sobre o Plano Cooperativo, indicamos a interessante e recente
obra Cooperação e Conexão Missionária dos Batistas Brasileiros, de
David Allen Bledsoe, Convicção, 2014.

Em segundo lugar, através de uma oferta especial, geralmente após


uma campanha informativa. As agências missionárias são sustentadas,
em grande parte, pelas ofertas especiais. O que vemos nessas ocasiões
é a fidelidade do povo de Deus respondendo aos clamores do mundo
apresentados pelas agências. Por muito tempo, a oferta levantada uma
vez por ano pelas igrejas era a única fonte de recursos financeiros de
que as agências missionárias dispunham para realizar a obra. Ainda
hoje as igrejas vibram durante as campanhas para alcançar seus alvos.
Todas as igrejas devem participar. Apelos e ofertas do Dia Especial
sempre foram verdadeiras celebrações ao Senhor de Missões e
continuam sendo o meio pelo qual muitas participam da evangelização
do Brasil e dos povos da terra.

Nos últimos anos, com o crescimento da obra missionária, houve


também a necessidade de se aumentar os meios para o seu sustento.
Foi então que surgiu o Programa de Adoção Missionária – PAM. O PAM é
o meio pelo qual igrejas, empresas e crentes participam
financeiramente de forma sistemática, durante todo o ano. O PAM e a
Campanha do Dia Especial não são simplesmente duas ofertas, mas
uma oferta missionária que vai permitir que continuemos realizando
missões no Brasil e no mundo. A oferta do Dia Especial continua
sendo imprescindível para o sustento missionário. Mas, também,
igrejas, empresários e irmãos individualmente podem participar através
do PAM, de maneira sistemática, dessa obra que o Senhor colocou
diante de nós. O PAM e a Campanha são como dois remos que
impulsionam a obra missionária.

Ao considerarmos estas questões, é importante haver uma confiança


absoluta entre a igreja, o obreiro e a agência missionária. Lembramos
que Jesus ordenou que a igreja fizesse missões. A agência missionária,
na realidade, é simplesmente uma serva das igrejas, um órgão criado
pelas igrejas para ajudá-las no cumprimento da Grande Comissão. São
as igrejas que sustentam a obra, por meio de suas ofertas. São as igrejas
que oram em favor da obra. É das igrejas que o Espírito Santo chama
os vocacionados para seguirem para os campos, como o exemplo de
Paulo e Barnabé em Atos 13.1-3. É para as igrejas que os convertidos
se dirigem após serem alcançados para graça de Deus.

A obra missionária, enfatizamos, é responsabilidade da igreja e não


de uma agência missionária. As igrejas não podem delegar a uma
agência a tarefa que é sua, mas elas podem e devem procurar fazer seu
trabalho missionário em parceria e com apoio da agência e, por
intermédio dela, de mãos dadas, canalizar e somar seus esforços,
podendo fazer, unidas, o que não conseguem fazer individualmente. O
Brasil e o mundo esperam ouvir a mensagem da graça de Deus. Isso é
possível, porque Ele está conosco. Mas, para tal desafio, somente um
esforço em conjunto de todas as igrejas será suficiente. Nenhuma igreja
deve ficar de fora!

6.4. Envio de Missionários

As igrejas são responsáveis pelo envio de obreiros para os campos.


O livro de Atos é um excelente guia nesse processo. O Espírito Santo
separou a Barnabé e a Saulo (Atos 13.4), que não eram de segunda
categoria nem profissionais em crise, mas os homens mais capazes da
igreja, espiritual e intelectualmente. O segundo passo coube à igreja de
Antioquia, que era interceder pelos obreiros que se preparavam para a
viagem. Quando tudo estava pronto, a igreja impôs as mãos sobre eles
e os despediu. Assim foram enviados os primeiros missionários aos
gentios. Mas o processo não termina aqui. No final do capítulo 14 de
Atos, encontramos a igreja novamente reunida com os dois
missionários, que “relataram quão grandes coisas Deus fizera por eles e, como
abrira aos gentios a porta da fé” (v. 27).

À semelhança da igreja de Antioquia, algumas igrejas têm tomado a


iniciativa de enviar seus próprios obreiros, responsabilizando-se pela
administração dos recursos que geram e coordenando as atividades do
seu missionário. Louvamos a Deus por essas igrejas e os obreiros que
enviam e sustentam, pois muitas almas chegam aos pés de Cristo
através deles. No entanto, o administrar esses recursos, o envio do
sustento, a coordenação das atividades, o pastoreio dos obreiros, tudo
isto é um processo complexo, desgastante, que muitas vezes acaba
deixando a desejar. Por isso, as agências missionárias foram criadas para
viabilizar as atividades missionárias das igrejas pelo Brasil e em outras
terras.

Nos dois últimos séculos, as agências missionárias têm sido


instrumentos eficazes na propagação do Evangelho e no
estabelecimento de igrejas em todo o mundo. Qualquer exame objetivo
de seu papel terá que admitir sua importância estratégica e
motivacional na providência divina.

A agência missionária é um recurso dado por Deus às igrejas e aos


missionários. Oferece um sistema de apoio ao campo em planejamento,
cuidados pastorais e encorajamento. Proporciona treinamento em
estratégias, idioma e cultura. Presta atendimento às necessidades de
natureza médica, psicológica e sociais. Fornece uma estrutura in loco de
controle, responsabilidade e solidariedade. Tudo isso sem mencionar
detalhes pessoais de plano de saúde, aposentadoria, custo de vida no
Brasil e no exterior, continuidade na educação, relações familiares,
tributos, questões políticas, relações de governos e embaixadas, fundos
de emergência, instruções e exames de orientação.

Tanto as agências missionárias quanto as


igrejas devem se lembrar de que nossa
responsabilidade final é perante Cristo e que
prestaremos contas daqueles que Ele coloca
sob os nossos cuidados.

A igreja local que possua o conhecimento necessário em todos esses


assuntos estará, involuntariamente, assumindo para si tremenda
responsabilidade e mesmo colocando “seus” missionários em possíveis
graves dificuldades. Tanto as agências missionárias quanto as igrejas
devem se lembrar de que nossa responsabilidade final é perante Cristo
e que prestaremos contas daqueles que Ele coloca sob os nossos
cuidados.

Quando Barnabé e Saulo são comissionados pela igreja de Antioquia,


a cena descrita em Atos 13 é de relacionamento devocional, sincero e
maduro. Sob a perspectiva humana, sua partida seria uma perda para a
igreja. Todavia, quando Deus falou, ninguém discutiu. Um espírito de
“fraternidade no Evangelho” impregnou o ambiente. “O que é dos
outros” (Filipenses 2.3,4) tomou precedência sobre o que era próprio.
Tão essencial é que a igreja e as agências missionárias tenham
interesses recíprocos!

Uma igreja local tem, naturalmente, interesse nos missionárias que


sustenta. De que modo esse interesse pode ser expresso de maneira
construtiva? Uma igreja local que sustente missões pode:
• Reconhecer e confirmar o chamado dos candidatos a missionários. Em
nível humano, é a igreja a autoridade quanto a enviar, e
nenhum vocacionado deverá partir para o campo missionário
sem o seu criterioso e entusiástico apoio.
• Examinar e avaliar as agências missionárias. Não raro, os
candidatos são muito jovens e precisam de orientação em sua
seleção, o que é responsabilidade da agência missionária. Por
outro lado, a igreja deverá estar atenta a situações no campo
que afetem pessoalmente o missionário, intervindo no sentido
de apoiá-lo.
• Amor e cuidados para com o missionário. Sustentar os vínculos tanto
na região de origem quanto no campo de trabalho. Isso poderá
ser manifesto de diversos modos: comunicação, apoio
financeiro, acomodações e transporte para gozo de férias,
aniversários, comemorações, integração na vida da igreja, e
outros.
• Manter o interesse devocional. O missionário sabe que irá fracassar
quando a igreja deixar de lhe prestar apoio em oração. E isso
deve ser mais do que “Senhor, abençoe esse missionário.
Amém”. Deve-se procurar conhecer suas necessidades, indagar.
• Prestar ajuda espiritual. Nem todas as tensões do missionário têm
natureza ministerial. Muitos problemas possuem razões lá
atrás, de onde ele procede. Tais carências são como bagagem:
vão junto com ele para o campo. A igreja de origem está quase
sempre a par desses problemas e pode ser de grande ajuda na
busca de uma solução. Problemas familiares são geralmente
ampliados nas condições do campo e podem requerer um
aconselhamento sem desconfianças ou condenação.

As agências missionárias também devem considerar os interesses da


igreja, deste modo:
• Buscar informar-se em profundidade com a igreja que enviará o
candidato, a fim de averiguar aptidão do candidato para serviço no
campo missionário. A agência deverá estar preparada a esperar, no
entanto, sinceridade total por parte da igreja e a afirmação de
que ela própria confia nessa pessoa, que ela endossa.
• Comunicar à igreja quanto às diretrizes de ministérios da agência e estar
pronta a reunir-se com a liderança da igreja para prestar informações e
responder a quaisquer questões que sejam levantadas. Isso pode ser
feito através de um representante local da agência missionária,
ou de preferência, da gerência responsável pelo missionário.
• Cooperar com a igreja em todo programa de estágio ou treinamento. O
trabalho em conjunto poderá resultar numa avaliação
apropriada dos dons, capacidades, necessidades e aptidões do
candidato para o serviço.
• Informar à igreja sobre qualquer mudança significativa no serviço no
campo que a igreja possa considerar como modificação da sua
função de missionários (por exemplo, do ministério no campo
para a administração local).
• Notificar a liderança da igreja de qualquer mudança de função devido a
motivo de saúde, disciplina ou financeiro.
Com expressões como “missionários de missões nacionais”, “alvo de
missões nacionais” e declarações semelhantes feitas ao longo dos anos,
a prática da administração e até mesmo a visão dos missionários e das
igrejas podem ter contribuído para um distanciamento entre as igrejas e
os campos missionários. Mas esta relação tem melhorado nos últimos
anos, e pode crescer ainda mais.

Em vez daquilo, diremos “missionários das igrejas”, “campos


missionários das igrejas”, “alvos das igrejas”, pois as agências não são
organizações paraeclesiásticas: seus recursos vêm das igrejas e a elas são
submissas. Elas administram os recursos e coordenam as atividades,
viabilizando a participação das igrejas no cumprimento da sua missão
de enviar obreiros. Mas cada igreja pode ter o seu missionário,
assumindo a responsabilidade de levantar recursos para a manutenção
dele e acompanhar seu trabalho através de cartas e orações. O
missionário, por sua vez, deve à igreja uma informação pessoal sobre
seu trabalho. Se houver oportunidade, a igreja deve fazer um culto
especial na sua despedida e também apoiá-lo através de visitas. Estes
passos contribuirão para estreitar o vínculo e aumentar a
responsabilidade da igreja.

“Assim como o Pai me enviou...” – disse Jesus – “... também eu vos


envio a vós” (João 20.21). “Disse o Espírito Santo: Separai-me a
Barnabé e a Saulo...” (Atos 13.2). A igreja e a agência missionária se
encontram sob o Seu Senhorio para realizarem juntas o envio de
missionários, respeitando as suas chamadas específicas. Que coisa
terrível se, em meio a uma disputa quanto ao controle, o missionário
deixar de ser enviado! Ou, se mal enviado, fracassar tremendamente no
seu ministério!

Portanto, trabalhemos juntos, até que a tarefa seja findada e o nosso


Senhor volte, quando, então, prestaremos contas Àquele que nos
comissiona a missões.
18 CARRIKER. Timóteo. Missões na Bíblia: Princípios Gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992. p.
21.
19 PETERS, George. A Teologia Bíblica de Missões. Chicago: Moody Press, 1964. p. 129.
Pequeno Grupo
Multiplicador
“O PGM é um celeiro de lideranças, por permitir o vasto exercício
dos dons e ministérios e a identificação de novos líderes,levando-os
à multiplicação”

O PGM é uma poderosa ferramenta de integração para os que estão


chegando, cooperando com o fortalecimento dos cinco princípios da
Igreja Multiplicadora. Ele nos possibilita reunir de casa em casa para
estudar a Palavra de Deus, cuidar uns dos ou outros, prestar comas,
conhecer novas pessoas e, principalmente, p. cumprirmos a Grande
Comissão, fazendo novos discípulos.
IGREJA
multiplicadora
S PRINCÍPIOS B(BUCOS PARA CRESCIMENTO
A missão que os discípulos receberam do Senhor Jesus foi clara e
objetiva: fazer o ma ior n úmero de discípulos de todas as
nações, de Jerusalém até os confins da terra, enquanto Ele não
retornasse para buscar a sua igreja no grande dia da sua volta
triunfal.

Em Atos 1.8, o Senhor Jesus explicita de forma contundente o que o


Espírito Santo iria fazer e o que Ele esperava de cada discípulo. O
Espírito Santo daria poder e os discípulos testemunhariam. O
testemunho do crente seria uma consequência natural do poder do
Espírito Santo em sua vida. Nenhuma oposição humana ou diabólica
poderia impedir o avanço desse movimento de multiplicação de
discípulos em todo o planeta Terra, pois o Espírito de Deus estaria no
controle de tudo. Essa combinação do poder de Deus e do
testemunho dos cristãos mudaria para sempre a história da
humanidade. Esse rastilho de pólvora aceso em Jerusalém incendiaria o
mundo e chegaria até nós. Qual era a chave dessa estratégia poderosa
que impactou e transformou tantas vidas em tão pouco tempo e
proporcionou um crescimento exponencial à igreja? Se investigarmos
bem o Novo Testamento,veremos no dia a dia dos discípulos que tudo
girava em torno de cinco princípios:oração sem cessar,
evangelização discipuladora, plantação de igrejas, formação de
líderes multiplicadores e compaixão e graça .

Queremos convidar você para um passeio pelos cinco princípios


bíblicos para o crescimento da igreja. Esta é uma grande oportunidade
de juntos cumprirmos a Grande Comissão, multiplicando discípulos,
formando novos líderes e plantando igrejas multiplicadoras.

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