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Alterações da Caliemia

O potássio (K+) é o principal catião no interior da célula. Desempenha, entre outros,


um papel fundamental na transmissão do influxo nervoso e da excitação cardíaca. A
concentração normal do potássio no sangue situa se entre os 3,5 e os 5,5 mmol/l.

1. Hipocaliémia
A hipocaliémia (défice de potássio) é uma situa frequente na prática quotidiana do
hospital. Geralmente, é provocada pelos diuréticos ou laxantes com aumento da
eliminação. Também os vómitos, diarreias ou certas alterações hormonais (p. ex. o
hiperaldosteronismo) podem ser responsáveis por uma depleção de potássio.

A hipocaliémia manifesta-se clinicamente por:


 fraqueza muscular
 hipotonia intestinal (o que acentua a obstipação e conduz à toma de
laxantes)
 alterações do ritmo cardíaco – fibrilhação ventricular letal e paragem
cardíacas
 Depressão respiratória
 alterações do estado de consciência.

O diagnóstico é confirmado através da determinação dos níveis de potássio no


sangue (sempre acompanhada de gasimetria, uma vez que a concentração do potássio no
sangue depende do pH), e da realização de um ECG. Para identificação da etiologia, pode
ser necessário determina os valores do potássio na urina.

Muitas vezes é possível corrigir a hipocaliémia através do consumo de alimentos


ricos em potássio (por ex. bananas, fruta seca), ou pela administração oral de preparações
farmacêuticas à base de potássio (por ex. Bio-strath®). Deve-se ter em atenção que estes
medicamentos são agressivos: para a mucosa digestiva, pelo que devem ser toma dos com
grandes quantidades de líquidos. Por vezes é necessário adaptar a forma do produto.

Apenas nas formas severas se deve administrar potássio por via endovenosa lenta,
para evitam alterações do ritmo cardíaco que podem ser fatais.

Cuidado! O potássio danifica a parede das veias – Dado que o potássio deteriora a
parede das veias, as concentrações superiores a 40 mmol/l só podem ser profundidas
através de um CVC:

Hipercaliémia
A hipercaliémia (excesso de potássio) surge geralmente devido a insuficiência
renal, ou a administração de certos medica mentos, principalmente os diuréticos
poupadores de potássio e/ou IECA. Pode ocorrer por deficiência insulínica, acidose.

A hipercaliémia manifesta-se por:


 formigueiro na pele
 fraqueza muscular e até paralisias,
 alterações do ritmo cardíaco que podem chegar à paragem cardíaca
Nos casos ligeiros, basta interromper a administração dos medicamentos
responsáveis pela hipercaliémia, e evitar os alimentos ricos em potássio (por ex. frutas
frescas ou em sumos, e legumes).
Nos outros casos administram-se resinas permutadores de iões, com uma
quantidade de líquidos suficiente (de preferência por via oral, ou eventualmente por via
rectal).
Nas hipercaliémias graves com alteração do ritmo cardíaco, o doente deve ser
tratado na unidade de cuidados intensivos com diuréticos de ansa, perfusões (por ex.
glicose com suplemento de insulina, uma vez que a insulina favorece a passagem do
potássio para o interior das células), administração de eletrólitos e evitar mutadores de iões.
Nos casos extremos, torna-se necessária uma diálise imediata.

Alteração da Calcémia
O cálcio (Ca2+) participa na formação dos ossos e dos dentes, sendo importante na
transmissão dos influxos nervosos para as células musculares e na contração muscular. O
equilíbrio do cálcio é regulado pela vitamina D e pelas hormonas paratormona e calcitonina.
Os valores normais da calcémia situam-se entre 2,3 e 2,6 mmol/l.

Hipocalcemia
A etiologia da hipocalcémia (défice em cálcio) está geralmente relacionada com
alterações hormonais (alterações do metabolismo da vitamina, deficiência de paratormona,
ou tumores produtores de calcitonina).

As causas iatrogénicas mais frequentes são a administração de diuréticos de ansa.


Na puberdade, durante a gravidez e aleitamento, as necessidades de cálcio estão
aumentadas e geralmente não são cobertas pela alimentação.
Hipocalcemia aguda – Um défice agudo em cálcio provoca:
1. Tetania, ou seja, uma hiperexcitabilidade dos nervos e músculos. Na tetania
provocada por hiperventilação ou espasmo filia não existe uma verdadeira deficiência
em cálcio, mas apenas uma carência (sem de cálcio ionizado no sangue provocada
pela alcalose, em consequência da hiperventilação)
2. Sensação de formigueiros e parestesias cutâneas (geralmente à volta da boca),
3. Contracturas musculares (espasmos das mãos e pé equino).
4. Crises convulsivas.

A hipocalcémia crónica manifesta-se por alterações tróficas da pele (pele seca,


gretada), queda de cabelo, estrias nas unhas, bem como alterações do tecido ósseo. A
osteomalácia, em que há desmineralização do tecido ósseo, é uma alteração típica no
adulto e ocorre devido a uma carência de cálcio ou vitamina D. O osso torna-se mole e
deformável, surgindo deformações ósseas patológicas, especial mente dos ossos sujeitos
a sobrecarga estática, particularmente na região do tórax, coluna vertebral e bacia, o que
provoca dores e alterações da marcha.
Na criança, o quadro clínico correspondente é o raquitismo, que, graças à
administração profilática de vitamina D, hoje em dia raramente se observa.
O tratamento das formas crónicas assenta na administração oral de cálcio (leite e
derivados, comprimidos de cálcio) e, eventual mente, na administração de vitamina D

Nas formas agudas, por vezes, é necessário proceder à administração endovenosa


do cálcio (cuidado: administração lenta devido ao perigo de alteração do ritmo cardíaco, e
nunca a doentes digitalizados). Eventualmente, pode ser necessário o um suplemento de
magnésio.

Hipercalcemia
A hipercalcémia (cálcio sanguíneo aumentado) verifica-se no hiperparatiroidismo e
nos tumores malignos (metástases ósseas), assim como nas intoxicações por vitamina D
ou administração de diuréticos tiazídicos. Muitas vezes, a hipercalcémia é diagnosticada por
acaso.
Os doentes com sintomatologia apresentam:
1. fraqueza (muscular)
2. alterações gastrointestinais (falta de apetite, náuseas, vómitos e obstipação)
3. alterações do ritmo cardíaco
4. poliúria com desidratação e, nas fases mais avançadas
5. alterações do estado de consciência que podem chegar ao coma.
O tratamento consiste numa dieta pobre em cálcio (sem leite ou produtos à base de
leite), administração abundante de líquidos e, eventualmente, na diurese forçada. Se a
hipercalcémia tiver origem tumoral, frequentemente é necessária a administração de
corticóides ou bifosfonato

Alteração da magnesémia
O magnésio (Mg2+) é um co-factor de numerosas enzimas e participa na
transmissão do influxo neuromuscular. A sua concentração normal no plasma é de
aproximadamente 0,9 mmol/l

A alteração mais importante é a hipomagnesémia (défice de magnésio) com uma


magnesémia inferior a 0,7 mmol/l. Muitas vezes, existe uma hipocalcémia associada.
A etiologia é frequentemente atribuída a uma alimentação deficiente (por ex. no caso
do alcoolismo crónico), necessidades acrescidas (por ex. durante a gravidez), diminuição da
absorção (ex., quando há vómitos e diarreia), ou aumento significativo da eliminação
(administração de diuréticos ou certas alterações hormonais). Em consequência da
hiperexcitabilidade neuro muscular, os doentes apresentam crises de tetania, espasmos
intestinais, alterações do ritmo cardíaco e, nos casos graves, alterações do estado de
consciência como crises convulsivas.

A hipomagnesémia ligeira manifesta-se frequentemente por dores nas pernas


(particularmente na barriga das pernas) e fadiga.
O diagnóstico é realizado através das análises sanguíneas. A alimentação rica em
magnésio (fruta, legumes, te, oc nozes) e/ou a medicação com sais de magnésio, muitas
vezes são suficientes como tratamento. Nos casos graves, torna-se necessário proceder à
administração endovenosa lenta de magnésio, com observação permanente do doente

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