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Compilaçom de textos marxistas

sobre o fascismo

Monografias de divulgaçom política e formaçom ideológica nº 2


Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo
Monografias de divulgaçom política e formaçom ideológica nº 2

Coordena: Carlos Morais.


Traduçom normativa AGAL: José Dias Cadaveira, Carlos Morais e Íria Moreiras.
Textos em português extraídos do Marxism Internet Archive [MIA]
https://www.marxists.org/portugues/biblioteca.htm
Digitalizaçom: DLM.

Rebeliom Popular Ediçons


Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao, 15.703 Compostela – Galiza
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twitter: @agoragaliza
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Ilustraçom da capa: debuxo de Luís Seoane publicado no álbum “Treze estampas da traiçom”, Buenos Aires, julho de 1937.
Primeira ediçom: dezembro de 2020.
Contenido
Introduçom 7

Os dois fascismos 11

Fascismo 13

Teses 15, 16 e 17 das Resoluçons do III Congresso do Partido Comunista Italiano -PCI, que analisam o fenómeno do fascismo 17

Sobre as medidas de luta contra o fascismo e os sindicatos amarelos 19

Programa da Internacional Comunista adotado no VI Congresso 23

O perigo fascista paira sobre a Alemanha 47

Bonapartismo e fascismo 49

Fragmentos da entrevista realizada polo escritor inglés Herbert George Wells 53

O fascismo é a guerra 83

Bonapartismo, fascismo e guerra 87

À volta da Frente Única Internacional Antifascista 91

Sobre o fascismo 93

Introdução: A teoria do fascismo segundo 109

Leão Trotski 109

O Estado de contrainsurgência 113

Vem aí o fascismo? 119

10 medidas políticas antifascistas 121


Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Introduçom

A ameça fascista é umha realidade tangível em boa parte do planeta. For- Este segunda “Monografia de divulgaçom política e formaçom ideológica”
ças políticas inspiradas no nazifascismo tenhem presença considerável em de Rebeliom Popular Ediçons, é umha seleçom de textos elaborados desde
praticamente todas as instituiçons das democracias burguesas, e mesmo as variados prismas do campo marxista. Som 17 documentos escritos com
governam regions e países. mais de um século de distância.

Sob diversas formas e etiquetas, disfarçadas com diferentes modalidades Na “Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo”, encontarmos ma-
de populismo e regeneracionismo, perante o cada vez maior estado de pu- teriais que transitam desde 1921, “Os dois fascismos”, artigo de Antonio
trefaçom do sistema liberal burguês, partidos e movimentos de extrema Gramsci -fundador do PCI-, publicado em Ordine Nuovo, passando pola

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direita tentam seduzir os setores mais atrasados politicamente do povo tra- intervençom de Ruy Mauro Marini no debate “A questom do fascismo na
balhador e empobrecido com discursos demagógicos, xenófobos, racistas e América Latina”, realizada no Seminário Permanente sobre América Latina
anticomunistas. (SEPLA, no México em 20 de julho de 1978, ou as mais recentes “10 me-
didas políticas antifascistas” de 2018, elaboradas por Agora Galiza-Unidade
O fascismo do século XXI, a diferença do período das entreguerras do século Popular.
XX, maioritariamente vai ser um movimento que utilizará o parlamentaris-
mo e o pluripartidarismo burguês para impor a agenda política ditada polo Som trabalhos diversos que compilam artigos de opiniom, ensaios,
capitalismo monopolista. reso-luçons, delaraçons e documentos políticos, incluíndo os
fragmentos da entrevista a Stalin feita polo escritor inglês H. G. Wells,
É altamente funcional para disciplinar ainda mais a classe obreira. Facilitar realizada no verao de 1934; ou a breve circular interna do Partido
o endurecimento da exploraçom capitalista e a dominaçom dos povos tra- Comunista da China redigida por Mao Tsé-tung.
balhadores, é o objetivo que persegue um fenómeno que deve ser combati-
do sem trégua polo movimento obreiro. Além dos autores e dirigentes comunistas já citados, o caderno
publica trabalhos de Clara Zetkin, Giorgi Dimitrov, Leon Trotski, Ernest
Um setor cada vez mais destacado das burguesias manifesta umha maior Mandel e Francisco Martins Rodrigues.
inclinaçom sem complexos face o fascismo. Esta tendência nom só deriva
da crise, é inerente ao próprio imperialismo, ao período de apodrecimento Textos relevantes nom fôrom incorporados por questons de espaço, ou bem
do capitalismo crepuscular. O fascismo é a ideologia do imperialismo. porque já estam publicados no nosso idioma. Concretamente destacamos
o livro de Francisco Martins Rodrigues, “Anti-Dimitrov. 1935/1985 - meio
Com o intuito de fundamentar teoricamente a linha antifascista da século de derrotas da revolução”, publicado pola Dinossauro Edições e a
esquerda revolucionária galega, afastada da defesa da democracia Abrente Editora em 2008. Atualmente também pode ser lido na rede https://
burguesa “amea-çada”, consubstancial ao relato das forças www.marxists.org/portugues/rodr
www.marxists.org/portugues/rodrigues/1985/anti-dimitrov/Anti-Dimitrov
igues/1985/anti-dimitrov/Anti-Dimitrov..
“progressistas” e oportunistas, apresentamos umha primeira compilaçom pdf..
pdf
de textos marxistas sobre este fenómeno.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Sim consideramos oportuno e necessário publicar o Relatório do 7º Con- A deriva reacionária do Estado postfranquista promovida pola oligarquia, fai
gresso Mundial da Internacional Comunista [Moscovo, 2 de agosto de parte da contraofensiva chauvinista perante as reclamaçons autodetermi-
1935] da autoria de Giorgi Dimitrov. nistas das naçons oprimidas.

Surpreendentemente é a primeira vez que se traduz ao nosso idioma “A É a resposta frente à profunda multicrise de legitimidade do regime da
ofensiva do fascismo e as tarefas da Internacional na luita pola unidade da III restauraçom bourbónica. Nada melhor que jacobinismo e “patriotismo”
classe obreira contra o fascismo”. Este documento político representa um para desviar a atençom da classe trabalhadora e das camadas populares
dos mais destacados focos de deformaçom da genuína linha marxista-leni- dos verdadeiros problemas.
nista no movimiento obreiro e popular, mas segue sendo a folha de rota da
maioria das forças políticas e sociais operárias. Ocultar assim a identidade dos responsáveis pola situaçom de
depauperaçom, pola corruçom geralizada da elite de bandidos e criminais
Os textos estám publicados por ordem cronológica, empregando duas nor- que nos “governam”, do saqueio dos fundos das pensons, do
mativas ortográficas do galego. Umha parte estám em português padrom, incremento das desigualdades sociais, das políticas económicas
extraídos fundamentalmente de https://www.marxists.org/portugues/ diktadas polo Ibex 35, a CEOE, a UE e o FMI.
biblioteca.htm, e outra parte fôrom traduzidos à normativa AGAL.
A atmósfera reacionária do presente, antesala do fascismo, está sendo pro-
O novo fascismo movida pola prática totalidade dos meios de [des]informaçom burgueses,
mas também polo aparelho judicial -um dos núcleos duros do franquismo,
Consideramos que a caraterizaçom do fascismo -realizada no VII Congres- como as forças armadas e policiais-, que nom foi depurado.
so da Komintern [1935]-, como a “ditadura abertamente terrorista dos
elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do A “normalidade democrática” que carateriza a prática diária das forças da
capital financieiro”, segue sendo umha definiçom acertada. "esquerdinha" institucional, só contribui para reforçar o regime e 78. Nem
no velho nem o novo reformismo pretendem tombar o postfranquismo.
Porém, estamos conscientes que o novo fascismo com o que confrontamos
o Tam só, no melhor dos casos, realizar reformas democraticistas para
na Galiza, nas suas diversas expressons políticas [PP, Vox, C´s, diversas Fa-
situar e alargar a presença das suas elites, nas ilegítimas instituiçons
langes], mas também o das fundaçons, entidades militares como a Uniom
emanadas do Transiçom, que a esquerda revolucionária galega nunca
Militar Espanhola [UME], ou mui presente nas entidades gremiais policiais,
legitimou nem legitimará.
tem caraterísticas, formas e métodos de intervençom nom plenamente
coincidentes com o fascismo de entreguerras, nem como o franquismo. Bloco Popular Antifascista
A deriva autoritária do postfranquismo é consequência direta do pacto da Tal como manifestamos nas resoluçons da II Assembleia Nacional de Agora
Transiçom entre as forças que sustentárom a ditadura, os partidos social- Galiza-Unidade Popular, estamos “numha conjuntura em que o fascismo
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democratas espanhóis [PCE e PSOE] e a burguesia nacionalista catalana e mostra sem rubor as suas gadoupas”.
basca.
O programa de massas plasmado nas 10 medidas políticas antifascis-
A reforma política implementada entre 1975 e 1982, dirigida e tutelada pola tas que também publicamos neste caderno, embora nom é viável de
Casa Branca e as principais potências europeias, procurava basicamente implementar no seu conjunto no atual regime burguês e de dependência
blindar e perpetuar a acumulaçom de capital atingida no saqueio dos “40 nacional, condensa o cerne do combate pola desfascistizaçom do Estado
anos de paz”, assim como manter intata a unidade e integridade territorial espanhol, e portanto facilita orientar qual é o caminho da sua rutura.
do Estado espanhol, o mercado de expansom e acumulaçom do bloco de
classes oligárquico. Para podermos constituir e desenvolver um Bloco Popular Antifascista
[BPA] é necessário nom só agitar nas ruas, empresas e centros de ensino, é
A aprovaçom da lei de ponto final, denominada eufemisticamente “lei de fundamental assentar teoricamente a iniciativa.
amnistia” [outubro de 1977], procurava garantir a imunidade e impunidade
de todos os responsáveis polas quatro décadas de franquismo, dos seus Estudar o fascismo e as diversas inciativas e alternativas unitárias do mo-
crimes e delitos: roubo e incautaçom ilegal de propriedades individuais e vimento operário, som tarefas ineludíveis para umha força revolucionária.
coletivas, assassinatos, desapariçons, torturas, violaçom sistemática dos
direitos humanos, etc. A fórmula da unidade de açom da Frente Única, que o leninismo defendeu
no III Congresso [Moscovo, verao de 1921] e IV Congresso [Moscovo, outono
A monarquia bourbónica foi, e segue sendo, a pedra angular do novo regi- de 1922] da Internacional Comunista, e que se pode condensar na palavra
me emanado do ignominioso pacto, que só maquilhou de “democrático” de ordem “marchar separados, golpear juntos”, recobra máxima atualidade.
o quadro jurídico político do totalitarismo franquista, perpetuando asssim
a legitmidade da “legalidade” imposta pola vitória militar de abril de 1939.
Este caderno pretende contribuir para dotar de teoria revolucionária a luita
contra o fascismo, para edificarmos um movimento antifascista de inequí-

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

voco componente anticapitalista e socialista. Nom para defender a “demo-


cracia burguesa” ameaçada, e sim para vertebrarmos umha alternativa re-
volucionária frente a ditadura da burguesia espanhola em deriva autoritára.

O fascismo só se pode derrotar e esmagar luitando com coragem, decisom


e contundência. O dilema nom é “democracia” versus fascismo, o dilema é
revoluçom socialista versus fascismo.

Na Pátria, 9 de maio de 2020

[75 aniversário da vitória sobre o nazismo]

AGORA GALIZA-UNIDADE POPULAR

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Os dois fascismos
[publicado em Ordine Nuovo, 25 de agosto de 1921]
ANTONIO GRAMSCI

A crise do fascismo, cujas causas e origens tanto vem sendo escritas agora, Nas regiões agrícolas [Emilia, Toscana, Vêneto e Umbria] o fascismo atingiu
pode facilmente ser explicada através de um exame sério da evolução do o maior nível de seu desenvolvimento. Ali, com o suporte financeiro dos
movimento fascista a partir dele mesmo. capitalistas e proteção das autoridades civis e militares, alcançou um poder
sem limites.
O Fasci di combattimento nasceu no pós guerra. Eles foram imbuídos com
o caráter pequeno-burguês das várias associações de veteranos que aflo- A cruel ofensiva contra os órgãos do proletariado serviu bem aos capitalis-
raram naquele momento. tas. Ao longo de um ano, eles viram os aparatos dos sindicatos socialistas
esmagados e tornados impotentes.
Devido a sua incisiva oposição ao movimento socialista, eles obtiveram
apoio dos capitalistas e das autoridades. Esse aspecto do Fasci foi herdado, Entretanto, essa ofensiva teve também outro resultado. É claro que a vio-
em parte, pelo conflito entre o Partido Socialista e as associações ‘inter- lência progressiva provocou violência generalizada contra o  fascismo entre
vencionistas’ durante o período de guerra. as classes média e trabalhadora.

Eles surgiram no mesmo período em que os latifundiários sentiam a ne- Os episódios em Sarzana, Treviso, Viterbo e Roccastrada impactaram pro-
cessidade de criar uma Guarda Branca para frear as organizações de fundamente o grupo fascista na cidade -na figura de Mussolini, que come-
trabalhadores em crescimento. Os bandos que já estavam organizados e çou a ver perigo nas táticas exclusivamente ofensivas do  Fasci  na zona
armados pelos grandes latifundiários logo adotaram o rótulo de Fasci para rural.
ANTONIO GRAMSCI

si mesmos também. Com seu desenvolvimento posterior, esses bandos po-


deriam adquirir o seu próprio caráter diferenciador - como a Guarda Branca Contudo, é também verdade que essas táticas renderam excelentes frutos
do capitalismo contra os órgãos de classe do proletariado. — arrastaram o Partido Socialista para um terreno de compromisso e o
tornando favorável para colaboração no País e no parlamento.
O fascismo ainda conserva esses traços em sua origem. Mas até recente-
mente, o fervor de uma armada ofensiva deixou a panos quentes as tensões Por esse ponto, as tensões latentes [entre os grupos fascistas urbano e
entre o grupo urbano - sendo este predominantemente pequeno-burgue- rural] começou a manifestar com força total.
ses, norteados no parlamento e ‘colaboracionistas’, e o grupo rural que
O grupo urbano colaboracionista acreditou que tinha alcançado seu objeti-
consiste em grandes e médios latifundiários e fazendeiros. vo. Eles sentiram que o Partido Socialista havia abandonado a ‘intransigên-
cia de classe’, e agora esse grupo se apressou em oficializar sua vitória com
Esses grupos rurais estavam comprometidos em uma luta contra os cam- o pacto de pacificação.
poneses pobres e suas organizações. Eles são extremamente anti-sindicais
e reacionários. E eles tem muito mais fé na ação armada direta do que na Mas os capitalistas agrários não poderiam renunciar à sua única tática que
autoridade do Estado e eficácia do parlamento. os assegurava a ‘livre exploração” da classe camponesa - a tática que os
livrou das inconveniências dos trabalhadores organizados e de suas greves.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Todos argumentos que estavam em curso no campo fascista, entre aqueles A ‘crise’ irá apenas sinalizar a saída de uma fração da pequena-burguesia
que eram a favor e aqueles que eram contra o pacto de pacificação, vem que tentou em vão justificar o fascismo com um programa político geral
com força a este racha fundamental. Suas origens estão baseadas nas pró- do ‘partido’. Mas o  fascismo -o artigo genuíno que os camponeses e os
prias origens do fascismo . trabalhadores da Emília, Vêneto e Toscana conhecem através de suas pró-
prias experiências dolorosas dos últimos dois anos do terror branco-, vai
As alegações de que os socialistas italianos teriam provocado a divisão en- continuar, mas talvez usando um nome diferente.
tre os fascistas com sua hábil política de compromisso serviu meramente
para confirmar a demagogia dos socialistas. Agora há uma pausa nas hostilidades, por conta da discórdia dentro do
campo fascista. A tarefa dos trabalhadores e camponeses revolucionários
Na realidade, a ‘crise’ do fascismo não é nova. Ela sempre existiu. Uma é aproveitar essa pausa para incutir nas massas oprimidas e indefesas um
vez que as razões contingentes que mantinham a unidade desses grupos claro entendimento do verdadeiro estado da luta de classes — e os meios
anti-proletários cessaram, era inevitável que seus desacordos latentes en- necessários para derrotar a arrogante reação capitalista.
trariam rapidamente em combustão. A crise, deste modo, nada mais é que
um esclarecimento das tendências pré existentes.

Essa crise irá provocar uma divisão entre os fascistas. A fração parlamentar,
liderada por Mussolini, e baseada na classe média [trabalhadores de escri-
tório, lojistas e pequenos manufatureiros] tentarão organizar politicamente
esses ambientes sociais. E, necessariamente, avançarão a uma colabora-
ção entre os socialistas e o ‘populares’.

A fração [rural] intransigente, que expressa uma necessidade por uma defe-
sa direta e armada dos interesses capitalistas agrários, irá levar adiante sua
característica anti ação proletária. Para esta fração (a mais importante no
que diz respeito à classe trabalhadora), a ‘trégua’ reconhecida como vitória
pelos socialistas será inútil.
ANTONIO GRAMSCI

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Fascismo
[publicado em Labour Monthly, agosto de 1923]
CLARA ZETKIN

No fascismo, o proletariado é confrontado por um inimigo extraordinaria- iniciada pelo proletariado. Para os reformistas, a Revolução Russa equivale
mente perigoso. O fascismo é a expressão concentrada da ofensiva geral à Mãe Eva mordendo a maçã no Jardim do Éden. Os reformistas rastreiam
empreendida pela burguesia mundial contra o proletariado. Sua derrubada o fascismo de volta à Revolução Russa e suas consequências. Nada além
é, portanto, uma necessidade absoluta, ou melhor, é mesmo uma questão dito foi afirmado por Otto Bauer no Congresso da Unidade em Hamburgo,
da existência cotidiana e do pão com manteiga de todo trabalhador comum. quando declarou que uma grande parte da culpa pelo fascismo recai so-
Por estes motivos, todo o proletariado deve concentrar-se na luta contra o bre os comunistas, que enfraqueceram a força do proletariado por divisões
fascismo. Será muito mais fácil derrotar o fascismo se estudarmos clara e contínuas. Ao dizer isso, ele ignorou inteiramente o fato de que os [Social-
distintamente sua natureza. -Democratas] Independentes alemães haviam se separado muito antes que
este “exemplo desmoralizante” fosse dado pela Revolução Russa.

Até aqui tem havido ideias extremamente vagas sobre esse assunto, não
apenas entre as grandes massas de trabalhadores, mas também no interior Ao contrário de seus próprios pontos de vista, Bauer, em Hamburgo, teve de
da vanguarda revolucionária do proletariado e dos comunistas. Até agora, concluir que a violência organizada do fascismo deve ser enfrentada pela
o fascismo foi colocado em um nível com o Terror Branco de Horthy na formação de organizações de defesa do proletariado, porque nenhum apelo
Hungria. Embora os métodos de ambos sejam semelhantes, em essência à democracia pode recorrer contra a violência direta. De qualquer forma,
eles são diferentes. O Terror Horthy foi estabelecido depois que a vitoriosa, ele prosseguiu explicando que não se referia a armas como insurreição ou
embora de curta duração, revolução do proletariado havia sido suprimida, greve geral, que nem sempre levavam ao sucesso. O que ele quis dizer foi a
e era a expressão da vingança da burguesia. Os líderes do Terror Branco coordenação da ação parlamentar com ação de massa. Qual seria a natu-
eram um grupo muito pequeno de ex-oficiais. O fascismo, ao contrário, visto reza dessas ações que Otto Bauer não disse, mas esse é o ponto exato da
CLARA ZETKIN

objetivamente, não é a vingança da burguesia em retaliação à agressão questão. A única arma recomendada por Bauer para a luta contra o fascis-
proletária contra a burguesia, mas é uma punição do proletariado por não mo foi o estabelecimento de um Bureau Internacional de Informações sobre
conseguir levar adiante a revolução iniciada na Rússia. Os líderes fascistas a reação mundial.
não são uma casta pequena e exclusiva; eles se estendem profundamente
em amplos elementos da população.
A característica distintiva dessa nova e antiga [2ª] Internacional é sua fé no
poder e permanência da dominação burguesa, e sua desconfiança e covar-
Temos que superar o fascismo não apenas militarmente, mas também dia em relação ao proletariado como o fator mais forte da revolução mun-
política e ideologicamente. Os reformistas até hoje consideram o fascis- dial. Eles são da opinião de que, contra a força invulnerável da burguesia, o
mo como nada mais que uma violência nua, a reação contra a violência proletariado não pode fazer nada além de agir com moderação e abster-se

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

de provocar o tigre da burguesia. O fascismo, com todo ímpeto na execução O fascismo tem características diversas em diferentes países. No entanto,
de seus atos violentos, não é mais do que a expressão da desintegração e tem duas características distintivas em todos os países, a saber, a preten-
decadência da economia capitalista e o sintoma da dissolução do Estado são de um programa revolucionário, que é habilmente adaptado aos inte-
burguês. Esta é uma das suas raízes. Os sintomas dessa decadência do resses e demandas das grandes massas, e, por outro lado, a aplicação da
capitalismo foram observados mesmo antes da guerra. violência mais brutal.

A guerra abalou a economia capitalista até a sua fundação, resultando não O exemplo clássico é o fascismo italiano. O capital industrial na Itália não
apenas no empobrecimento colossal do proletariado, mas também na mi- era forte o suficiente para reconstruir a economia arruinada. Não se espera-
séria profunda da pequena burguesia, do pequeno campesinato e dos inte- va que o Estado interviesse para aumentar o poder e as possibilidades ma-
lectuais. Havia sido prometido a todos esses elementos que a guerra traria teriais da capital industrial do norte da Itália. O Estado estava dando toda a
uma melhoria de suas condições materiais. Mas o oposto aconteceu. Um sua atenção ao capital agrário e ao pequeno capital financeiro. As indústrias
grande número de ex-classes médias tornaram-se proletárias, perdendo pesadas, que haviam sido artificialmente impulsionadas durante a guerra,
inteiramente sua segurança econômica. Essas fileiras foram integradas por entraram em colapso quando a guerra acabou, e uma onda de desemprego
grandes massas de ex-oficiais, que agora estão desempregados. Foi entre sem precedentes se instalou. As promessas feitas aos soldados não pude-
esses elementos que o fascismo recrutou um contingente considerável. O ram ser resgatadas. Todas essas circunstâncias criaram uma situação ex-
seu modo de composição é também a razão pela qual o fascismo em al- tremamente revolucionária. Esta situação revolucionária resultou, no verão
guns países é de caráter francamente monarquista. de 1920, na ocupação das fábricas. Naquela ocasião ficou demonstrado que
as maduras condições revolucionárias faziam sua primeira aparição apenas
A segunda raiz do fascismo está no retardamento da revolução mundial para uma pequena minoria do proletariado. A ocupação das fábricas estava,
pela atitude traiçoeira dos líderes reformistas. Grande parte da pequena portanto, fadada a terminar em uma tremenda derrota, em vez de se tornar
burguesia, incluindo até as classes médias, havia descartado sua psico- o ponto de partida para o desenvolvimento revolucionário. Os líderes refor-
logia dos tempos da guerra em nome de uma certa simpatia pelo socia- mistas dos sindicatos agiram como traidores ignominiosos, mas ao mesmo
lismo reformista, esperando que este provocasse uma reforma social por tempo foi demonstrado que o proletariado não possuía nem a vontade nem
vias democráticas. Eles ficaram desapontados em suas esperanças. Eles o poder de marchar em direção à revolução.
podem agora ver que os líderes reformistas estão em acordo benevolente
com a burguesia, e o pior de tudo é que essas massas perderam a fé não Não obstante a influência reformista, havia forças em ação entre o prole-
apenas nos líderes reformistas, mas no socialismo como um todo. Essas tariado que poderiam se tornar inconvenientes para a burguesia. As elei-
massas de simpatizantes socialistas decepcionados são acompanhadas ções municipais, nas quais os social-democratas conquistaram um terço
por grandes círculos do proletariado, de trabalhadores que desistiram de de todos os conselhos, foram um sinal de alarme para a burguesia, que
sua fé não apenas no socialismo, mas também em sua própria classe. O imediatamente começou a procurar uma força que pudesse combater o
fascismo se tornou uma espécie de refúgio para os politicamente sem abri- proletariado revolucionário. Foi nessa época que Mussolini ganhou alguma
go. Para ser justo, deve-se dizer que os comunistas também – exceto os importância com o fascismo. Após a derrota do proletariado na ocupação
russos – levam parte da culpa pela deserção desses elementos para as das fábricas, o número de fascistas era superior a mil, e grandes massas
fileiras fascistas, porque nossas ações, por vezes, não conseguiram agitar do proletariado juntaram-se à organização Mussolini. Por outro lado, gran-
as massas profundamente o suficiente. O objetivo óbvio dos fascistas, ao des massas do proletariado haviam caído em um estado de indiferença. A
ganhar apoio entre os vários elementos da sociedade, seria, naturalmen- causa do primeiro sucesso do fascismo foi que ele começou com um gesto
te, tentar superar o antagonismo de classe nas próprias fileiras de seus revolucionário. Seu pretenso objetivo era lutar para manter as conquistas
adeptos, e o chamado Estado autoritário deveria servir como um meio para revolucionárias da guerra revolucionária e, por isso, exigiam um Estado
esse fim. O fascismo agora abrange elementos que podem se tornar muito forte, capaz de proteger esses frutos revolucionários da vitória contra os
perigosos para a ordem burguesa. No entanto, até agora esses elementos interesses hostis das várias classes sociais representadas pelo “antigo Es-
foram invariavelmente superados pelos elementos reacionários. tado”. Suas palavras de ordem eram dirigidas contra todos os exploradores
e, portanto, também contra a burguesia. O fascismo naquela época era tão
A burguesia tinha visto claramente a situação desde o início. A burguesia
CLARA ZETKIN

radical que até exigiu a execução de Giolitti e o destronamento da dinastia


quer reconstruir a economia capitalista. Nas atuais circunstâncias, a re- italiana. Mas Giolitti absteve-se cuidadosamente de usar a violência contra
construção da dominação de classe burguesa só pode ser conseguida às o fascismo, que lhe parecia ser o mal menor. Para satisfazer esses clamo-
custas da crescente exploração do proletariado pela burguesia. A burguesia res fascistas, ele dissolveu o Parlamento. Naquela época, Mussolini ainda
tem plena consciência de que os socialistas reformistas de fala mansa es- fingia ser um republicano, e em uma entrevista, ele declarou que a facção
tão rapidamente perdendo seu controle sobre o proletariado, e que não ha- fascista não poderia participar na abertura do parlamento italiano por causa
verá nada para a burguesia, mas recorrer à violência contra o proletariado. da cerimônia monárquica que o acompanhava.
Mas os meios de violência dos Estados burgueses estão começando a fa-
lhar. Eles precisam, portanto, de uma nova organização de violência, e isso Essas declarações provocaram uma crise no Movimento Fascista, que ha-
é oferecido a eles pelo confuso conglomerado do fascismo. Por essa razão, via sido estabelecido como um partido por uma fusão dos seguidores de
a burguesia oferece toda as forças sob seu comando a serviço do fascismo. Mussolini e dos representantes da organização monarquista, e a [direção]
executiva do novo partido era formada por um número par de membros

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

de ambos as facções. O Partido Fascista criou uma arma de dois gumes apresentasse um relatório a ele, e quem publicasse qualquer coisa que
para a corrupção e a aterrorização da classe trabalhadora. Para a corrupção acontecesse naquela comissão seria punido com seis meses de prisão.
da classe trabalhadora foram criados os sindicatos fascistas, as chamadas
corporações nas quais trabalhadores e empregadores estavam unidos. Para
aterrorizar a classe trabalhadora, o Partido Fascista criou os esquadrões
Também em questões militares, o fascismo não cumpriu suas promessas.
militantes que surgiram das expedições punitivas.
Foi prometido que a atuação do exército seria restringida à defesa territo-
Aqui deve ser enfatizado novamente que a tremenda traição dos reformistas rial. Na realidade, o período de serviço militar permanente foi aumentada de
italianos durante a greve geral, que foi a causa da terrível derrota do prole- oito para dezoito meses, o que significou o aumento das forças armadas
tariado italiano, havia dado um incentivo direto aos fascistas para capturar de 250.000 para 350.000. As Guardas Reais foram abolidas porque eram
o Estado. Por outro lado, os erros do Partido Comunista consistiam em con- democráticas demais para se adequarem a Mussolini! Por outro lado, os
siderar o fascismo apenas como um movimento militarista e terrorista sem carabineiros foram aumentados de 65.000 para 90.000 e todas as tropas
qualquer base social profunda. policiais foram duplicadas. As organizações fascistas foram transformadas
em uma espécie de milícia nacional, que pelas últimas contas já atingiu o
Vamos agora examinar o que o fascismo fez desde a conquista do poder número de 500.000. Mas as diferenças sociais introduziram um elemento
para o cumprimento de seu programa revolucionário pretendido, para a de contraste político na milícia, que deve levar ao colapso final do fascismo.
realização de sua promessa de criar um Estado sem classes. O fascismo
ergueu a promessa de uma nova e melhor lei eleitoral e de igual sufrágio Quando comparamos o programa fascista com o seu cumprimento, pode-
para as mulheres. A nova lei do sufrágio de Mussolini é, na realidade, a pior mos antever hoje o completo colapso ideológico do fascismo na Itália. A
restrição da lei do sufrágio em favor do Movimento Fascista. De acordo com bancarrota política deve inevitavelmente se seguir à falência ideológica. O
essa lei, dois terços de todos os assentos devem ser entregues ao partido fascismo é incapaz de manter juntas as forças que o ajudaram a entrar no
mais forte, e todos os outros partidos juntos devem ter apenas um terço poder. Um choque de interesses em muitas formas já está se fazendo sentir.
das cadeiras. O sufrágio feminino foi quase totalmente eliminado. O direito O fascismo ainda não conseguiu tornar a antiga burocracia subserviente a
de voto é dado apenas a um pequeno grupo de mulheres proprietárias e ela. No exército também há atrito entre os velhos oficiais e os novos líderes
às chamadas “viúvas dos generais”. Não há mais nenhuma menção à pro- fascistas. As diferenças entre os vários partidos políticos estão crescendo.
messa de um parlamento econômico e da Assembleia Nacional, nem da A resistência contra o fascismo está aumentando em todo o país. O anta-
abolição do Senado, prometida tão solenemente pelos fascistas. gonismo de classes começa a permear até mesmo as fileiras dos fascistas.
Os fascistas não conseguem cumprir as promessas que fizeram aos traba-
O mesmo pode ser dito sobre as promessas feitas na esfera social. Os fas- lhadores e aos sindicatos fascistas. Reduções salariais e demissões de tra-
cistas haviam inscrito em seu programa a jornada de oito horas, mas o balhadores estão na ordem do dia. Assim acontece que o primeiro protesto
projeto de lei apresentado por eles fornece tantas exceções que não deve contra o movimento sindical fascista veio das fileiras dos próprios fascistas.
haver uma só pessoa que trabalhe oito horas na Itália. Nada veio também Os trabalhadores logo voltarão ao seu interesse de classe e dever de classe.
da prometida garantia dos salários. A destruição dos sindicatos permitiu Não devemos encarar o fascismo como uma força unificada capaz de repelir
aos empregadores efetuar reduções salariais de 20% a 30% e, em alguns nosso ataque. É antes uma formação, que compreende muitos elementos
casos, de 50% a 60%. O fascismo prometera a previdência para a velhice e a antagônicos, e será desintegrada de dentro. Mas seria perigoso supor que
invalidez. Na prática, o governo fascista, em nome da economia, cortou aos a desintegração ideológica e política do fascismo na Itália seria seguida
miserável 50.000.000 de liras que haviam sido reservadas para esse fim no imediatamente pela desintegração militar. Pelo contrário, devemos estar
orçamento. Aos trabalhadores foi prometido o direito de participação téc- preparados para o fascismo se esforçar para se manter vivo por métodos
nica na administração das fábricas. Hoje existe uma lei na Itália que proíbe terroristas. Portanto, os revolucionários trabalhadores italianos devem es-
completamente os conselhos de fábrica. As empresas estatais estão pas- tar preparados para as mais sérias lutas. Seria uma grande calamidade se
sando para as mãos do capital privado. O programa fascista continha uma estivéssemos satisfeitos com o papel dos espectadores desse processo de
provisão para um imposto de renda progressivo sobre o capital, que era, até desintegração. É nosso dever acelerar este processo com todos os meios à
certo ponto, agir como uma forma de expropriação. Na verdade, o oposto foi nossa disposição. Este não é apenas o dever do proletariado italiano, mas
CLARA ZETKIN

feito. Vários impostos sobre o luxo foram abolidos, como o imposto sobre também o dever do proletariado alemão em face do fascismo alemão.
automóveis, pela pretensa razão de que restringiria a produção nacional.
Os impostos indiretos foram aumentados porque isso reduziria o consumo Depois da Itália, o fascismo é mais forte na Alemanha. Como consequência
doméstico e, assim, melhoraria as possibilidades de exportação. O gover- do resultado da guerra e do fracasso da revolução, a economia capitalista
no fascista também revogou a lei para o registro compulsório de transfe- da Alemanha é fraca, e em nenhum outro país o contraste entre a maturida-
rências de títulos, reintroduzindo assim o sistema de títulos ao portador e de objetiva para a revolução e o despreparo subjetivo da classe trabalhadora
abrindo a porta para o sonegador de impostos. As escolas foram entregues é tão grande quanto agora mesmo na Alemanha. Em nenhum outro país
ao clero. Antes de capturar o Estado, Mussolini exigiu uma comissão para os reformistas falharam tão ignominiosamente como na Alemanha. O seu
investigar os lucros da guerra, dos quais 85% deviam ser restituídos ao fracasso é mais criminoso do que o fracasso de qualquer outro partido na
Estado. Quando esta comissão se tornou incômoda para seus patrocina- velha Internacional, porque são eles que deveriam ter conduzido a luta pela
dores financeiros, os industriais pesados, ele ordenou que a comissão só emancipação do proletariado por meios absolutamente diferentes especial-

15
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

mente no país onde as organizações da classe trabalhadora eram melhor uma nova filosofia a todos aqueles elementos que perderam o rumo duran-
organizadas e mais antigas do que em qualquer outro lugar. te o desenvolvimento histórico dos últimos tempos. O pré-requisito neces-
sário para isso é que, ao nos aproximarmos dessas massas, também nos
Estou firmemente convencida de que nem os Tratados de Paz nem a ocu- tornemos organizacionalmente, como Partido, uma unidade firmemente
pação do Ruhr deram tanto impulso ao fascismo na Alemanha quanto a soldada. Se não for assim, corremos o risco de cair em direção ao oportu-
tomada do poder por Mussolini. Isso encorajou os fascistas alemães. O nismo e à falência. Devemos adaptar nossos métodos de trabalho às novas
colapso do fascismo na Itália desencorajaria grandemente os fascistas na tarefas. Precisamos falar às massas em uma linguagem que elas possam
Alemanha. Não devemos esquecer uma coisa: o pré-requisito para a derru- entender, sem prejudicar nossas ideias. Assim, a luta contra o fascismo traz
bada do fascismo no exterior é a derrubada do fascismo em todos os países uma série de novas tarefas.
pelo proletariado desses países. Cabe a nós superar o fascismo ideológica
e politicamente. Isso nos impõe enormes tarefas. Cabe a todos os partidos realizar esta tarefa energicamente e em confor-
midade com a situação em seus respectivos países. No entanto, devemos
Devemos perceber que o fascismo é um movimento dos desapontados e ter em mente que não é suficiente superar o fascismo ideológica e politica-
daqueles cuja existência está arruinada. Portanto, devemos nos esforçar mente. A posição do proletariado em relação ao fascismo é, atualmente, de
para conquistar ou neutralizar aquelas massas que ainda estão no cam- autodefesa. Esta autodefesa do proletariado deve assumir a forma de uma
po fascista. Desejo enfatizar a importância de percebermos que devemos luta pela sua existência e organização.
lutar ideologicamente pelos corações e mentes dessas massas. Devemos
perceber que eles não estão apenas tentando escapar de suas tribulações O proletariado deve ter um aparato bem organizado de autodefesa. Sempre
atuais, mas que estão ansiando por uma nova filosofia. Devemos sair dos que o fascismo usa a violência, deve ser enfrentado com a violência pro-
limites estreitos de nossa atividade atual. A Terceira Internacional é, em letária. Não me refiro a esses atos terroristas individuais, mas à violência
contraste com a antiga [2ª] Internacional, uma Internacional de todas as da luta de classes revolucionária organizada do proletariado. A Alemanha
raças sem quaisquer distinções. Os partidos comunistas não devem ser deu um primeiro passo com a criação de “centúrias” de fábricas. Essa luta
apenas a vanguarda dos proletários do trabalho manual, mas também os só pode ser bem-sucedida se houver uma frente proletária unida. Os tra-
enérgicos defensores dos interesses dos trabalhadores do cérebro. Deve- balhadores devem se unir para essa luta, independentemente de a qual
mos liderar todos os setores da sociedade que sejam levados a se opor à partido pertençam. A autodefesa do proletariado é um dos maiores incenti-
dominação burguesa por causa de seus interesses e suas expectativas de vos para o estabelecimento da frente única proletária. Somente instilando a
futuro. Alegro-me, portanto, com a proposta do camarada Zinoviev [falando consciência de classe na alma de todo trabalhador conseguiremos preparar
em uma sessão do Comitê Executivo Ampliado da Internacional Comunista também a derrubada militar do fascismo, que, no atual estágio, é absolu-
em junho deste ano] de assumir a luta pelo governo dos trabalhadores e tamente necessária. Se obtivermos sucesso nisso, podemos ter a certeza
camponeses. Eu estava muito me alegrei quando li sobre isso. Esta nova de que em breve chegará a hora do sistema capitalista e do poder burguês,
palavra de ordem tem um grande significado para todos os países. Não independentemente de qualquer êxito da ofensiva geral da burguesia contra
podemos dispensá-lo na luta pela derrubada do fascismo. Significa que o proletariado. Os sinais de desintegração, tão palpáveis diante de nossos
a salvação das grandes massas do pequeno campesinato será alcançada olhos, nos dão a convicção de que o gigante proletário voltará a participar
através do comunismo. Não devemos nos limitar a continuar lutando pelo da luta revolucionária, e que seu grito ao mundo burguês será: eu sou a
nosso programa político e econômico. força, eu sou a vontade, em mim você vê o futuro!

Devemos, ao mesmo tempo, familiarizar as massas com os ideais do co-


munismo como filosofia. Se fizermos isso, mostraremos o caminho para
CLARA ZETKIN

16
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Teses 15, 16 e 17 das Resoluçons do III Congresso


do Partido Comunista Italiano -PCI, que analisam o
fenómeno do fascismo
[Congresso celebrado no exílio na cidade francesa de Lyon em janeiro de 1926]
ANTONIO GRAMSCI

O fascismo e a sua política orgánica de todas as forças da burguesia num só organismo político sob
controlo dumha única central que deveria dirigir conjuntamente o partido, o
15. O fascismo, como movimento da reaçom armada que se propom o governo e o Estado. Este propósito corresponde-se com a vontade de resis-
objetivo de disgregar e desorganizar a classe trabalhadora para imobilizá-la, tir a fundo todo ataque revolucionário, o que permite ao fascismo recolher
entra no quadro da política tradicional das classes dirigentes italianas, e na as adesons da parte mais decisivamente reacionária da burguesia industrial
luita do capitalismo contra a classe operária. Por este motivo, aquele ve-se e dos agrários.
favorecido nas suas origens, na sua organizaçom e nos seus caminhos, in-
distintamente por todos os velhos grupos dirigentes, de preferência porém, 16. O método fascista de defesa da ordem, da propriedade e do Estado é,
polos agrários, quem se sentem mais ameaçados pola pressom da plebe ainda mais que o sistema tradicional dos compromissos e da política de es-
rural. Embora, socialmente o fascismo acha a sua base social na pequena querda, disgregador da travaçom social e da sua superestrutura política. As
burguesia urbana e numha nova burguesia agrária surdida dumha transfor- reaçons que provoca devem examinar-se em relaçom com a sua aplicaçom
maçom da propriedade rural nalgumhas regions [fenómenos do capitalismo tanto no campo económico como no político.
agrário na Emilia, origem dumha categoria de intermediários do campo, “sa-
cas da terra”, novos repartos dos terrenos]. No campo político, por cima de todo, a unidade orgánica da burguesia no
fascismo nom se realiza imediatamente depois da conquista do poder. Fora
Isto e o feito de ter encontrado umha unidade ideológica e organizativa do fascismo ficam os centros dumha oposiçom burguesa ao regime. Por
ANTONIO GRAMSCI
nas formaçons militares nas que revive a tradiçom da guerra [heroísmo] umha parte, nom fica absorvido o grupo que tem fé na soluçom giolittiana
e que servem na guerrilha contra os trabalhadores, permitem ao fascismo do Estado. Este grupo vincula-se a umha secçom da burguesia industrial
conceber e executar um plano de conquista do Estado em oposiçom aos e, com um programa de reformismo «laborista», exerce influência sobre
velhos estamentos dirigentes. Absurdo falar da revoluçom. As novas cate- estratos operários e da pequena burguesia. Por outra parte, o programa de
gorias que se reagrupam à volta do fascismo, polo contrário, trazem da sua fundar o Estado sobre umha democracia rural do Sul e por cima da parte
origem umha homogeneidade e umha mentalidade comum do “capitalismo “sá” da industria setentrional [Corriere della sera, liberalismo, Natti] tende
nascente”. Isto explica como é possível a luita contra os homens políticos a transformar no programa dumha organizaçom política de oposiçom ao
do passado e como aquelas podem justificar-se com umha construçom fascismo com base de massas no Mezzogiorno [Uniom Nacional].
ideológica em contraste com a teoria tradicional do Estado e as suas rela-
çons com os cidadaos. O fascismo ve-se obrigado a luitar contra estes grupos superviventes e
a luitar com vivacidade ainda maior contra a maçonaria, à que considera
Em essência, o fascismo modifica o programa da conservaçom e reaçom justamente como centro de organizaçom de todas as tradicionais forças
de sustento do Estado. Esta luita, que é, quera-se ou nom, o indício dumha
que sempre tem dominado a política italiana só com um jeito distinto de fissura no bloco das forças conservadoras e antiproletárias, pode em de-
conceber o processo da unificaçom da força reacionária. À tática dos acor- terminadas circunstâncias favorecer o desenvolvimento e a afirmaçom do
dos e dos compromissos, substitui o propósito de realizar umha unidade proletariado como terceiro e decisivo fator dumha situaçom política.

17
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

No campo económico, o fascismo atua como instrumento dumha oligar- çom da crise da sociedade italiana. Nela contenhem-se os germes dumha
quia industrial e agrária para concentrar nas maos do capitalismo o con- guerra que se verá contrarestada, em aparência, pola expansom italiana,
trolo de todas as riquezas do país. Isto nom se pode fazer sem provocar mas na qual em realidade a Itália fascista será um instrumento nas maos
o descontentamento na pequena burguesia, que, com o advenimento do dum dos grupos imperialistas que se disputam o domínio do mundo.
fascismo, acreditava chegado o tempo do seu domínio.
17. Como consequência da política do fascismo, determinam-se profundas
O fascismo acaba de adotar toda umha série de medidas para favorescer reaçons das massas. O fenómeno mais grave é a separaçom cada vez mais
umha nova concentraçom industrial [aboliçom do imposto de sucessom, decisiva das populaçons agrárias do Mezzogiorno e das Ilhas do sistema de
política financeira e fiscal, reforçamento do protecionismo], e a estas cor- forças que regem o Estado. A velha classe dirigente local [Orlando, Di Ce-
respondem outras medidas a favor dos agrários e contra os pequenos e saró, De Incola, etc.] nom exerce já de jeito sistemático com a sua funçom
meios cultivadores [impostos, arbítrios sobre o trigo, “batalha do trigo”]. A de bom elo de enlace com o Estado. A pequena burguesia tende, pois, a
acumulaçom que estas medidas determinam nom constitui um crescimen- aproximar-se aos camponeses. O sistema de exploraçom e de opressom
to da riqueza nacional, se nom que é a expoliaçom dumha classe em favor das massas meridionais ve-se levado polo fascismo ao extremo; isto faci-
doutra, isto é, das classes trabalhadoras e meias a favor da plutocracia. lita a radicalizaçom também das categorias intermédias e eleva a questiom
meridional nos seus verdadeiros termos, como questiom que ficará resolta
O desígnio de favorescer a plutocracia aparesce descaradamente no projeto somente com a insurreiçom dos camponeses aliados com o proletariado na
de legalizar no novo código de comércio o regime das açons privilegiadas; luita contra os capitalistas e contra os agrários.
um pequeno grupo de financeiros ve-se colocado, deste jeito, em condiçons
de poder dispor sem controlo das enormes massas de aforro procedentes Também os camponeses médios e pobres das outras regions da Itália cum-
da média e pequena burguesia, e estas categorias vem-se privadas do de- prem umha funçom revolucionária, embora de jeito mais lento. O Vaticano
reito a dispor da su riqueza. No mesmo plano, mas com consequências po- -cuja funçom reacionária tem sido assumida polo fascismo- já nom con-
líticas mais amplas, entra o projeto de reunificaçom da banca de emissom, trola a populaçom rural de jeito completo através dos curas, a “Açom Cató-
que equivale, na prática, à supressom dos dous grandes bancos meridio- lica” e o Partido Popular. Esta é umha parte dos camponeses que tem sido
nais. Estes dous bancos cumprem hoje a funçom de absorver os aforros do acordada à luita pola defesa dos seus interesses nas mesmas organizaçons
Mezzogiorno e as remessas dos emigrantes [600 milhons], isto é, a funçom autorizadas e dirigidas pola autoridade eclesiástica, e agora, sob a pressom
que no passado cumpria o Estado com a emissom de bónus do tesouro e a económica e política do fascismo, acentua a sua própria orientaçom de
Banca de desconto, no interesse dumha parte da industria pesada do Norte. classe e começa a sentir que a sua sorte nom pode separar-se da que corre
Os bancos meridionais tenhem sido controlados até agora polas mesmas a classe operária. Indício desta tendência é o fenómeno Miglioli.
classes dirigentes do Mezzogiorno, que achárom neste controlo umha base
real do seu domínio político. A supressom dos bancos meridionais como Um sintoma bastante interessante disso é também o feito de que as organi-
a banca de emissom fará passar esta funçom à grande indústria do Norte zaçons brancas, que fazendo umha parte da “Açom Católica”, enfrentam-se
que controla, através da banca comercial a Banca da Itália e verá deste diretamente com o Vaticano, e tenhem entrado nos comités intersindicais
jeito acentuada a exploraçom económica “colonial” e o empobrecimento do com a Liga Vermelha, expressom daquele período proletário que os cató-
Mezzogiorno, assim como se verá acelerado o lento processo de distancia- licos indicavam, cara finais de 1870, como iminente na sociedade italiana.
mento da pequena burguesia meridional respeito ao Estado.
No referente ao proletariado, a atividade disgregadora da sua força encontra
A política económica do fascismo completa-se com as medidas encami- um limite na resistência ativa da vanguarda revolucionária e numha resis-
nhadas a elevar a quotizaçom da moeda, a sanear o orçamento do Estado, a tência passiva da grande massa, que se mantem fundamentalmente clas-
pagar as dívidas de guerra e a favorescer a intervençom do capital anglo-a- sista e dá sinais de pôr-se em movimento em quanto diminui a pressom
ANTONIO GRAMSCI

mericano na Itália. Em todos estes campos, o fascismo executa o programa física do fascismo e se fam mais fortes os estímulos dos interesses de
da plutocracia [Nitti] e da minoria industrial-agrária com prejuízo da grande classe. A tentativa dos sindicatos fascistas de dividí-la pode-se considerar
maioria da populaçom cujas condiçons de vida empioran progressivamente. fracassada. Os sindicatos fascistas, mudando o seu programa, transfor-
mam-se agora no instrumento direto da opressom reacionária ao serviço
Coroaçom de toda a propaganda ideológica, da açom económica e política do Estado.
do fascismo é a tendência deste ao “imperialismo”. Esta tendência é a ex-
pressom da necessidade sentida polas classes dirigentes industrial-agrária
italianas por encontrar fora do campo nacional os elementos para a resolu-

18
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Sobre as medidas de luta contra o fascismo e os


sindicatos amarelos
[Intervenção no IV Congresso da Internacional Sindical Vermelha, Moscovo, 1928]
GIORGI DIMITROV

Devemos saber de maneira bastante clara que o fascismo não é um fe- Tudo isto é ainda mais verdadeiro quando se refere à Europa de sueste [paí-
nómeno  local, passageiro  ou  transitório. Ele representa um  sistema  de ses balcânicos, a Hungria, etc.], onde toda uma série de razões históricas,
domínio de classe da burguesia capitalista e da sua ditadura na época do económicas e políticas particulares empurram inevitavelmente a burguesia
imperialismo e da revolução social. Depois da guerra imperialista, depois para a via do fascismo. As razões principais são as seguintes:
da vitoriosa Revolução de Outubro, depois da existência decenal da União
Soviética e da enorme influência revolucionária destes factores sobre o 1. Ainda não houve revolução democrática burguesa realizada nos Balcãs
proletariado, as massas camponesas, as nacionalidades oprimidas e os e na Hungria. A burguesia não realizou as tarefas revolucionárias que te-
povos coloniais, a burguesia não pode conter por muito tempo as mas- riam podido determiná-la como dirigente das massas populares contra o
sas populares sob a sua hegemonia de classe e fazer face aos problemas feudalismo e o absolutismo do passado e a teriam unido fortemente às
da estabilidade e da racionalização capitalistas com a ajuda dos antigos massas, do ponto de vista ideológico e político. Os camponeses não rece-
métodos e fórmulas da democracia parlamentar. Sob este aspecto, a única beram terras a seguir a qualquer revolução democrática da burguesia. Bem
saída para a burguesia consiste na submissão das massas por intermédio pelo contrário, eles foram apenas objecto da mais hedionda exploração e da
do fascismo. O fascismo é a última fase do domínio de classe da burgue- espoliação mais vergonhosa, duma espoliação com vista à acumulação pri-
sia. Todos os países burgueses passam sucessivamente ao fascismo, mais mitiva de capitais. O feudalismo não foi definitivamente destruído. A ques-
cedo ou mais tarde -duma ou doutra forma, por golpe de Estado ou por via tão nacional não foi resolvida. Na maior parte destes países, o proletariado
«pacífica» mais brutal ou «mais delicada»- os métodos de transição não provém directamente do meio das massas camponesas; está ligado a elas
são essenciais e dependem das particularidades do ambiente, da estrutura e desde a sua formação está penetrado do seu espírito de oposição e dos
GIORGI DIMITROV

social e da relação das forças políticas e de classe num dado país. seus sentimentos anticapitalistas.

O perigo do fascismo para o proletariado e para o movimento sindical de Os países balcânicos e a Hungria encontram-se no estado de semi-colónias
classe é simultaneamente permanente e crescente. A eliminação definitiva do imperialismo. São essencialmente países agrícolas e com uma indústria
desse perigo só é possível pela eliminação do próprio domínio da burguesia, relativamente fraca, atacada pela rude concorrência do capitalismo po-
substituindo a ditadura burguesa pela ditadura do proletariado aliado aos derosamente desenvolvido dos Estados imperialistas. Encontram-se num
camponeses trabalhadores. Considerar o fascismo como um fenómeno estado de guerra intestina económica embrionária, de conflitos territoriais
passageiro e transitório que, no quadro do capitalismo, poderia ser subs- e nacionais incessantes, atiçados e utilizados pelos Estados imperialistas.
tituído pela restauração do antigo regime democrático burguês, e negar o O seu mercado interno está muito limitado devido à capacidade de compra
perigo da instauração do fascismo nos grandes países capitalistas, consti-
extremamente baixa das largas massas populares, e os mercados externos
tuem apenas vãs ilusões que podem enfraquecer a vigilância e a resistência
do proletariado, servir o fascismo e contribuir para o reforço passageiro da estão-lhe, na maioria das vezes, fechados. As suas próprias possibilidades
ditadura fascista. Estas ilusões devem ser rejeitadas da maneira mais de- de estabilização do capitalismo e racionalização da produção são muito li-
cisiva; os adeptos da Internacional Sindical Vermelha são obrigados a lutar mitadas. Os prejuízos da guerra imperialista, o fardo das reparações para
contra elas por todos os meios. alguns de entre eles e o pesado encargo das dívidas de guerra para todos

19
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

agravam ainda mais a sua situação económica, acentuando também a sua ça-se por penetrar nas massas e de criar aí um suporte ideológico, político
crise económica. e de organização. Na Bulgária, isso teve lugar depois do golpe de Estado
militar e fascista de 9 de Junho. Na Jugoslávia é o bloco do monarquis-
A guerra imperialista e as suas consequências comprometeram bastante mo, do militarismo e do capital bancário que é o inspirador e o organizador
a burguesia aos olhos das massas. O abismo entre a burguesia dominante do fascismo. Com algumas pequenas excepçõos, passa-se o mesmo na
e as massas exploradas que lhe estavam subordinadas tornou-se ainda Roménia e na Grécia. A Hungria, com Horthy e Bethlen à cabeça, não faz
mais profundo. Protegendo-se contra a concorrência estrangeira, a bur- excepção à regra. Na Áustria, e de uma maneira um pouco dissimulada na
guesia explorava continuamente e sem limites o proletariado nestes paí- Checoslováquia, o fascismo organiza-se, arma-se e prepara-se activamen-
ses, espoliando impudentemente as massas camponesas. Depois da guerra te com vista a um ataque decisivo sob os auspícios e o concurso máximo
imperialista tudo isto se pratica a uma escala ainda maior. Os operários só dos próprios governos «republicanos».
se asseguram das suas conquistas, mesmo as mais ínfimas, ao preço de
lutas penosas e prolongadas, Daqui provém a intransigência do proletariado Neste movimento do fascismo de cima (com os meios do aparelho de Es-
para com a burguesia, o espírito revolucionário relativamente elevado das tado) para baixo, na direcção das massas, os seus promotores mais pre-
massas. É daqui que decorre também a fraqueza da aristocracia operária ciosos são os reformistas que, destruindo todos os restos da luta de classe,
e do reformismo, comparados aos dos países imperialistas, onde a bur- proclamando e aplicando a política de «paz industrial» e de arbítrio obriga-
guesia, graças aos lucros provenientes das colónias, pôde criar camadas tório, lutando sem descanso contra o movimento operário revolucionário,
privilegiadas do proletariado para as depravar, concedendo-lhes esmolas alinham abertamente em posições fascistas.
e transformando-as em seus servidores, directos ou indirectos. Na Europa
do sudoeste a burguesia não está, sobretudo agora, a ponto de fazer sérias Apoderar-se dos sindicatos, destruir o movimento sindical de classe -tudo
concessões económicas de qualquer natureza que seja aos operários e às isto constitui para o fascismo ascendente uma necessidade essencial. Tal
massas trabalhadoras, a fim de lançar uma ponte sobre o profundo abismo como a ditadura do proletariado é impensável sem os sindicatos de classe,
aberto que deles a separa. a existência durável da ditadura fascista da burguesia é impossível, também
ela, sem a subordinação do proletariado e dos camponeses [sob uma forma
Devido à grande semelhança entre a estrutura social da antiga Rússia e a ou outra] e, antes de tudo, sem o aniquilamento do movimento sindical de
estrutura social da Europa de sudoeste, a influência da Revolução de Outu- classe.
bro foi, precisamente lá, muito grande; é-o ainda no presente, bem como a
ligação das massas à União Soviética. Sem de modo nenhum renunciar às palavras de ordem demagógicas, aos
meios de demagogia e de corrupção, o fascismo balcânico e do sueste está
Portanto, é inteiramente evidente que a ditadura da burguesia não podia constrangido a contar sobretudo com a violência e o terror mais feroz con-
ser assegurada pelos meios da democracia parlamentar, com maior ra- tra o proletariado consciente da sua classe, chegando mesmo a massacres
zão presentemente, quando se tornou inevitável e necessário à burguesia de massas de centenas e de milhares de operários revolucionários, como é
recorrer a medidas exclusivas a fim de manter o capitalismo à custa da o caso de Bulgária e da Hungria.
classe operária e das massas camponesas.
Os principais esforços do fascismo visam apoderar-se do movimento
Não é senão com a ajuda da ditadura fascista que a burguesia pode ali- dos  ferroviários,  dos  mineiros  e dos  operários dos outros ramos mais
mentar a esperança de manter passageiramente o seu domínio, quebrar a importantes da indústria, bem como do movimento dos empregados que
resistência das massas e realizar uma permanência e uma racionalização directamente asseguram o serviço do aparelho de Estado. Criando toda a
máximas à custa dessas massas. espécie de obstáculos à existência e à consolidação das organizações de
classe dos ferroviários, correios, empregados do Estado, mineiros, etc., o
A burguesia dos Balcãs e a burguesia de toda a Europa de sueste segui- fascismo deita mão das organizações amarelas e reformistas nestes domí-
rá inevitavelmente esta via em consequência da pressão do imperialismo, nios, beneficiando do concurso activo dos próprios reformistas e dirigentes
GIORGI DIMITROV

sobretudo relativamente à participação dos Balcãs e dos outros países amarelos. Em todos os países balcânicos, o fascismo tem, além de tudo,
do sueste na preparação de uma guerra imperialista e antisoviética, cuja uma influência preponderante nas direcções das organizações actuais dos
condição decisiva seria abafar, desorganizar e enfraquecer o movimento ferroviários, correios e empregados do Estado, e paralisa entre os mineiros
revolucionário do proletariado, das massas camponesas e das nacionali- qualquer tentativa de organização legal. O fascismo dispende igualmen-
dades oprimidas. te grandes esforços com vista a consolidar a sua influência no seio dos
operários agrícolas, aproveitando-se do estado atrasado da sua cultura, tal
Mas as condições específicas dos países da Europa de sueste conferem ao
como no meio das massas de desempregados, reduzidos à fome. 0 fas-
fascismo características particulares. Esta originalidade consiste, antes do
cismo dispensa igualmente uma grande atenção à juventude trabalhadora
mais, no facto de que nesses países, diferentemente do fascismo em Itália,
camponesa, que se esforça por colocar nas suas filas, através de diferentes
o fascismo provém sobretudo não de baixo, como consequência dum movi-
organizações desportivas e de altas organizações «culturais», contando
mento de massas, mas do alto, até se estabelecer como forma de governo
com o facto de uma parte dessa juventude, que não viveu directamente os
de Estado. Apoiando-se no poder de Estado usurpado, nas forças armadas
horrores da guerra imperialista, ser manejável.
da burguesia e no poder financeiro do capital bancário, o fascismo esfor-

20
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Do ponto de vista ideológico, o fascismo utiliza sobretudo as ideias do na- O fascismo aproveita as escolas técnicas profissionais para preparar  um
cionalismo e do chauvinismo, esforçando-se por opor os operários indíge- novo pessoal técnico qualificado, que se encontre sob a influência fascis-
nas aos que vêm de outros países, de enganar sobretudo os desempre- ta e que possa substituir os quadros qualificados proletários revolucioná-
gados e desviar a atenção das massas dos  problemas internos para os rios nos transportes e nos domínios mais importantes da indústria.
problemas externos -incitando as massas contra os outros povos, atiçando
as paixões nacionalistas-chauvinistas e fazendo aparecer perspoctivas de A política do fascismo para com o movimento sindical pode resumir-se à
melhoramento da situação da classe operária pela conquista de regiões e palavra de ordem: «Divide, para reinar». O fascismo propõe-se dividir e opor
territórios limítrofes. umas às outras as diversas categorias do proletariado, os desempregados
contra os trabalhadores, os operários indígenas contra os operários estran-
O fascismo faz aparecer em primeiro plano a teoria da colaboração entre os geiros, semear a cisão no seio das organizações sindicais, para poder erigir
capitalistas e os operários no domínio da estabilização do capitalismo o da organizações fascistas sobre as ruínas da organização do movimento sin-
racionalização da produção; a teoria da harmonia entre as classes, da co- dical de classe. O fascismo é um adversário encarniçado da restauração da
munidade dos seus interesses, da liquidação de qualquer luta de classes e unidade do movimento sindical e onde as organizações sindicais não estão
da substituição duma arbitragem obrigatória das greves, da transformação ainda desunidas, como por exemplo na Grécia e na Hungria, ele trabalha
dos sindicatos em órgãos do poder do Estado burguês. obstinadamente, de convivência com os reformistas, para a sua cisão. O do-
mínio do fascismo no movimento sindical significa desunião do movimento
Também aqui a direcção reformista das organizações sindicais se encontra sindica!, destruição dos sindicatos de classe, aniquilamento do movimento
numa inteira unidade ideológica e política com o fascismo. Na sua impren- sindical independente do proletariado.
sa, elas fazem propaganda a favor dessas mesmas ideias, dessa mesma
política. Os dirigentes reformistas dos ferroviários e dos empregados dos O fascismo é o inimigo mortal do proletariado e dos sindicatos de classe. É
P. T. T. na Bulgária são mesmo membros directos da organização fascis- necessário lutar contra o fascismo até ao fim, de maneira irredutível e sem
ta «Koubrate» e colaboram na revista fascista «Zvéno», cujo objectivo é complacência. Não pode haver nisso nenhuma trégua, entre o movimento
influenciar ideologicamente o proletariado e a pequena burguesia e so- sindical de classe e o fascismo. É necessário que não haja um único caso,
bretudo o movimento sindical. Eles fazem também causa comum com o um único local em que os partidários da Internacional Sindical Vermelha se
fascismo para perseguir os sindicatos de classe; os seus adeptos nas ad- aliem em comum ou paralelamente com o fascismo. E aí, onde os fascistas
ministrações e empresas são apenas espiões que denunciam os elementos ainda não tiverem chegado a um acordo definitivo e a uma mútua com-
revolucionários, etc. Tudo isso é já um fenómeno comum a todos os países preensão com os dirigentes reformistas dos sindicatos [como por exemplo
balcânicos e à Hungria. a União dos Professores na Bulgária] e continuarem em concorrência, os
partidários da Internacional Sindical Vermelha, em luta com os reformistas,
Ao mesmo tempo, utilizando os dirigentes de certas profissões, os fascistas
não podem ter nada em comum com os fascistas. Os erros cometidos sob
fazem extraordinários esforços para criar os seus próprios agrupamentos
este aspecto pelos partidários da Internacional Sindical Vermelha  na Bul-
sindicais, que lhes poderiam servir, aquando da destruição forçosa dos sin-
gária, no que respeita às organizações dos ferroviários e dos professores
dicatos de classe, como apoio de organização, com vista à subordinação de
devem ser cuidadosamente evitados no futuro. A luta contra o reformismo
todo o movimento sindical.
deve ser sempre uma luta contra o fascismo e vice-versa.
Em qualquer empresa de maior importância são nomeados oficiais de
Contra o fascismo no movimento sindical e sobretudo contra os sindicatos
reserva fascistas e toda a espécie de elementos desclassificados que, a
fascistas, é necessário empreender uma luta sistemática, obstinada, im-
coberto de funções como vigilantes, guardas, etc., encabeçam grupos ar-
placável e contínua -sobre todas as linhas e em toda a parte. O fascismo
mados que aterrorizam os operários e os empregados e se esforçam por
deve ser batido a cada passo, onde quer que se manifeste -nas empresas,
desorganizá-los e desmoralizá-los, depurando as empresas dos melhores
nas administrações, nas organizações, entre os desempregados, etc.- de
elementos proletários revolucionários e decapitando assim as massas nas
GIORGI DIMITROV

maneira concreta e activa, do ponto de vista da luta de classes libertado-


suas empresas.
ra do proletariado e em estreita relação com os interesses imediatos dos
Sem admitir por princípio as organizações .sindicais legais de classe dos operários e dos empregados e com as tarefas específicas das próprias or-
mineiros, ferroviários, estivadores e operários de outros ramos importantes ganizações sindicais.
da indústria, assim como das empresas do Estado, o fascismo esforça-se
Esta luta contra o fascismo deve ser prosseguida simultaneamente no pla-
por limitar o quadro e os apoios do organização do movimento sindical de
no ideológico, político o do organização do movimento sindical, nas seguin-
classe à pequena produção artesanal e aos outros ramos da indústria, que
tes direcções principais:
não têm uma importância decisiva para a luta de classes.
Em primeiro lugar. Opor resolutamente a ideologia revolucionária de classe
Ao mesmo tempo, o fascismo concentra todas as suas forças para entravar
do proletariado à ideologia fascista. Desmascarar e estigmatizar o naciona-
a centralização dos sindicatos de classe em uniões nacionais gerais, es-
lismo o o chauvinismo, bem como as ideias de «paz industrial» e de «har-
forçando-se por fragmentá-las em sociedades sindicais locais, a fim de as
monia de classes» e as ideias de liquidação da luta de classes; desmascarar
tornar inaptas para qualquer luta.
todas as formas de reformismo. Desmascarar o fascismo como destruidor e

21
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

coveiro do movimento sindical. Desmascarar o fascismo como ideologia do industriais [indústria do tabaco, do açúcar, etc.] e pequenos produtores de
capital bancário e do imperialismo. Desmascarar o fascismo como portador matérias-primas para as empresas [cultivadores de tabaco, de beterraba,
do perigo da guerra, e mais especialmente da guerra contra a grande União etc.] na sua luta comum contra o respectivo capital industrial, a fim de as-
das Repúblicas Soviéticas. Popularizar infatigavelmente entre as massas o sim isolar o fascismo das camadas trabalhadoras no decurso da própria
programa e a táctica da Internacional Sindical Vermelha -Internacional do luta.
movimento sindical de classe.
Em quinto lugar.  Organizar a autodefesa contra os agressores fascistas
Em segundo lugar. Consolidação da organização dos sindicatos de classe nas empresas [protecção das organizações, das reuniões, das greves, dos
e apelo às massas de operários não organizados a entrarem para as suas militantes sindicais, etc.]. Campanhas para a expulsão das empresas dos
fileiras. Onde quer que a existência de sindicatos de classe legais se tenha agentes fascistas: vigilantes, espiões, provocadores, etc.
tornado impossível [entre os mineiros e outros], é necessário proceder à
criação de grupos sindicais ilegais, encarregados de manter o contacto com Em sexto lugar. Contra a política dissidente do fascismo [e do reformismo]
as largas massas trabalhadoras e de dirigir a sua luta. Consolidação da ala reforçar as campanhas de baixo no seio das massas, no decurso da própria
de classe dos sindicatos reformistas, nacionalistas, autónomos e outros, e luta pela unidade de classe do movimento sindical, sem admitir nenhuma
das suas relações com os sindicatos de classe com vista a uma acção e a concessão à Internacional de Amesterdão e aos sindicatos fascistas, con-
uma luta em comum. Desenvolver o reforçar a rede de comités gerais de duzindo uma luta intransigente contra eles.
operários nas empresas e administrações, como órgãos locais das próprias
A luta contra o fascismo no movimento sindical e contra os sindicatos fas-
massas e ligar o seu trabalho ao movimento sindical de classe. Organizar o
cistas deve ser prosseguida a uma escala internacional -com os esforços
movimento dos desempregados e coordená-lo com as campanhas das or-
conjugados do proletariado consciente da sua classe de todos os países. As
ganizações sindicais de classe. Organizar o proletariado agrícola. Atrair para
campanhas à escala internacional pela defesa dos sindicatos de classe nos
as fileiras dos sindicatos de classe a enorme massa da juventude operária
países em que já está instaurada uma ditadura fascista [Itália, Bulgária, etc.]
e mulheres trabalhadoras. Organizar e defender sob todos os aspectos os
são particularmente indispensáveis. O enfraquecimento das posições do
operários estrangeiros.
fascismo nos países em que este ocupa uma posição dominante facilitará
Em terceiro lugar. As campanhas e greves de massas por aumento dos sa- sem dúvida alguma a luta contra a ofensiva do fascismo no movimento
lários, a diminuição do dia de trabalho, a segurança no trabalho, a liberdade sindical dos países em que ainda não há uma ditadura fascista.
de organização e o direito à greve, são particularmente importantes. Opor
Não é necessário sublinhar que o sucesso de qualquer luta contra o fascis-
desta maneira [ao longo da própria luta pelos interesses e reivindicações
mo no movimento sindical dependerá antes de tudo do trabalho activo dos
imediatas dos operários] as massas ao fascismo (e não ao seu principal
partidários da Internacional Sindical Vermelha, da aplicação de uma judi-
auxiliar — o reformismo) e desmascarar de uma maneira evidente a sua
ciosa linha de conduta da sua parte, da confiança das massas que saberão
natureza burguesa e traidora. Isolar, desta maneira, o fascismo e os sindi-
conquistar e da direcção de facto da luta das massas contra a ofensiva do
catos fascistas das massas proletárias.
capital e o perigo de guerra.
Em quarto lugar.  Assegurar aos operários em luta [aquando das greves,
É impossível conservar sem isso o movimento sindical de classe.
etc.] o apoio moral e material activo das outras massas de trabalhadores
urbanos e rurais: instauração de uma frente única dos operários e cam-
poneses trabalhadores, cooperação estreita entre operários das empresas
GIORGI DIMITROV

22
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Programa da Internacional Comunista adotado


no VI Congresso
[Moscovo, 1 de setembro de 1928]

A época do imperialismo é a do capitalismo em agonia. A guerra mundial Por outro lado, o imperialismo separa das grandes massas a parte mais
de 1914-1918 e a crise geral do capitalismo que desencadeou foram re- abastada da classe operária. Esta «aristocracia» operária, corrompida pelo
sultado de uma profunda contradição entre o desenvolvimento das forças imperialismo, que constitui os quadros dirigentes dos partidos sociais-de-
produtivas da economia mundial e as fronteiras dos estados. Mostraram e mocratas, interessada na pilhagem imperialista das colónias, devotada à
provaram que as condições materiais do socialismo no seio da sociedade «sua» burguesia e ao «seu» Estado imperialista, encontra-se, na hora das
capitalista já se encontram amadurecidas e que, tendo-se o invólucro da batalhas decisivas, ao lado do inimigo de classe do proletariado. A cisão
sociedade tornado um obstáculo intolerável para o desenvolvimento ulterior do movimento socialista provocada pela traição de 1914 e pelas traições
da humanidade, a história colocou na ordem do dia o derrubamento do jugo ulteriores dos partidos sociais-democratas, tornados de facto em partidos

INTERNACIONAL COMUNISTA
capitalista pela revolução. operários burgueses, provaram que o proletariado mundial não pode cum-
prir a sua missão histórica – quebrar o jugo do imperialismo e conquistar
O imperialismo sujeita as inumeráveis massas proletárias de todos os paí- a ditadura do proletariado -senão através de uma luta implacável contra a
ses -tanto nas metrópoles do poder capitalista como nos mais recônditos social-democracia. A organização das forças da revolução internacional não
lugares do mundo colonial- à ditadura de uma plutocracia capitalista fi- é, portanto, possível senão na base do comunismo. À II Internacional opor-
nanceira. O imperialismo põe a nu e aprofunda com uma força cega todas tunista da social-democracia, opõe-se inelutavelmente a III, a Internacional
as contradições da sociedade capitalista, leva ao extremo a opressão das Comunista, organização universal da classe operária, encarnando a unidade
classes, agudiza ao mais alto grau a luta entre os estados capitalistas, autêntica dos operários revolucionários de todos os países.
engendra a inevitabilidade das guerras imperialistas mundiais que abalam
todo o sistema das relações de dominação e encaminha a sociedade, com A guerra de 1914-1918 provocou as primeiras tentativas de criar uma nova
uma necessidade irresistível, para a revolução proletária mundial. Internacional revolucionária, como contraposição à II Internacional social-
-chauvinista e como instrumento de resistência ao imperialismo militarista
Amarrando o mundo inteiro nos laços do capital financeiro, unindo pelo san- [Zimmerwald, Kienthal]. A vitória da revolução proletária na Rússia impul-
gue, pelo ferro e pela fome os proletários de todos os países, de todas as na-
sionou a constituição de partidos comunistas nas metrópoles capitalistas
cionalidades e de todas as raças sob o seu jugo, agravando formidavelmen-
te a exploração, a opressão e a sujeição do proletariado que coloca diante e nas colónias. Em 1919 foi fundada a Internacional Comunista que, pela
da tarefa imediata de conquistar o poder, o imperialismo cria a necessidade primeira vez na história, uniu efectivamente na luta revolucionária os ele-
de uma estreita coesão dos operários num exército internacional único dos mentos avançados do proletariado da Europa e da América aos proletários
proletários de todos os países, formado independentemente das fronteiras da China e das Índias, aos trabalhadores negros da África e da América.
dos estados, das diferenças de nacionalidade, de cultura, de língua, de raça,
de sexo e de profissão. O imperialismo, desenvolvendo e criando assim as Partido internacional único e centralizado do proletariado, a Internacional
condições materiais do socialismo, coloca o proletariado frente à necessi- Comunista é a única continuadora dos princípios da Primeira Internacional,
dade de organizar-se numa associação operária internacional de combate aplicados sobre a nova base de um movimento proletário revolucionário de
e assegura desse modo a coesão do exército dos seus próprios coveiros. massas. A experiência da primeira guerra imperialista, da crise revolucioná-

23
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

ria do capitalismo que lhe sucedeu e das revoluções da Europa e dos países I. O sistema mundial do capitalismo, o seu desenvolvimento e
coloniais, a experiência da ditadura do proletariado e da edificação do so- a sua inevitável ruína
cialismo na URSS, a experiência do trabalho de todas as secções da Inter-
nacional Comunista, fixada nas decisões dos seus congressos, e, por fim, a 1. As leis gerais do desenvolvimento do capitalismo e a época
internacionalização cada vez maior da luta entre a burguesia imperialista e do capital industrial
o proletariado tornam indispensável a elaboração de um programa da Inter-
A sociedade capitalista, fundada sobre o desenvolvimento da produção de
nacional Comunista, único e comum a todas as suas secções. O programa
mercadorias, é caracterizada pelo monopólio da classe dos capitalistas e
da IC realiza assim a mais alta síntese crítica da experiência do movimento
dos grandes proprietários de terras sobre os mais importantes e decisivos
revolucionário do proletariado, um programa de luta pela ditadura mundial
meios de produção, pela exploração da mãode-obra assalariada da classe
do proletariado, um programa de luta pelo comunismo mundial.
dos proletários, privados dos meios de produção e obrigados a vender a
A Internacional Comunista, que une os operários revolucionários e mobiliza sua força de trabalho, pela produção de mercadorias com o objectivo da
milhões de oprimidos e explorados contra a burguesia e os seus agentes obtenção de lucro, pela ausência de planificação e pela anarquia que resulta
«socialistas», considera-se como a continuadora histórica da Liga dos Co- destas diversas causas no conjunto do processo de produção. As relações
munistas e da Primeira Internacional que estiveram sob a direcção imediata sociais de exploração e a dominação económica da burguesia encontram
de Karl Marx, e como herdeira das melhores tradições de antes da guerra a sua expressão política na organização do Estado capitalista, aparelho de
da II Internacional. A Primeira Internacional fundou as bases doutrinais da coerção contra o proletariado.
luta internacional do proletariado pelo socialismo. A II Internacional, na sua
A história do capitalismo confirma inteiramente a doutrina de Marx sobre as
melhor época, preparou o terreno para uma larga expansão do movimento
leis do desenvolvimento da sociedade capitalista e sobre as contradições
operário entre as massas. A III Internacional Comunista, prosseguindo a
inerentes a esse desenvolvimento que levam o sistema capitalista à sua
obra da Primeira Internacional e recolhendo os frutos do trabalho da Se-
inelutável perda.
gunda, rejeitou-lhe o oportunismo, o social-chauvinismo, a deformação
burguesa do socialismo, e começou a realizar a ditadura do proletariado. Na sua corrida ao lucro, a burguesia foi obrigada a desenvolver, em propor-
A Internacional Comunista prossegue assim as tradições heróicas e glo- ções sempre crescentes, as forças produtivas, a reforçar e alargar o domínio
riosas do movimento operário internacional: as dos cartistas ingleses e dos das relações capitalistas de produção. O desenvolvimento do capitalismo,
insurrectos franceses de 1830; as dos operários revolucionários franceses por esse motivo, reproduziu constantemente, numa base alargada, todas as
e alemães de 1848; as dos combatentes imortais e dos mártires da Co- contradições internas do sistema, antes do mais a contradição decisiva en-
muna de Paris; as dos valorosos soldados das revoluções alemã, húngara tre o carácter social do trabalho e o carácter privado da apropriação, entre
e finlandesa; as dos operários outrora curvados sob o despotismo tsarista o crescimento das forças produtivas e as relações capitalistas de proprie-
e concretizadores vitoriosos da ditadura do proletariado; as dos proletários dade. A propriedade dos meios de produção e o funcionamento espontâneo
chineses, heróis de Cantão e de Xangai.
INTERNACIONAL COMUNISTA

e anárquico da própria produção provocaram a ruptura do equilíbrio eco-


nómico entre os diferentes ramos da produção devido ao desenvolvimento
Inspirando-se na experiência histórica do movimento revolucionário de
da contradição entre o alargamento ilimitado da produção e o consumo
todos os continentes e de todos os povos, a Internacional Comunista co-
limitado das massas proletárias [sobreprodução geral], o que arrastou a
loca-se inteiramente e sem reservas na sua actividade teórica e prática
crises periódicas devastadoras e levou ao desemprego massas de prole-
no terreno do marxismo revolucionário, do qual o leninismo – que é o
tários. O domínio da propriedade privada traduziu-se por uma concorrência
marxismo da época do imperialismo e das revoluções proletárias – é o
incessantemente crescente, tanto no interior de cada país capitalista como
desenvolvimento ulterior.
no mercado mundial. Esta última forma de rivalidade 3 entre capitalistas
Defendendo e propagando o materialismo dialéctico de Marx e de Engels, teve como consequência as guerras que acompanham inevitavelmente o
aplicando-o como método revolucionário de conhecimento da realidade desenvolvimento capitalista.
visando a sua transformação revolucionária, a Internacional Comunista
As vantagens técnicas e económicas da grande produção provocaram, por
combate activamente todas as variedades do pensamento burguês e o
outro lado, através do jogo da concorrência, a eliminação e a destruição
oportunismo teórico e prático. Mantendo-se no terreno da luta de classe
das formas pré-capitalistas da economia e uma concentração e uma cen-
proletária consequente, subordinando os interesses conjunturais, parciais,
tralização crescente do capital. Na indústria, esta lei de concentração e
corporativos e nacionais do proletariado aos seus interesses permanentes,
de centralização manifestou-se antes de tudo através do definhamento da
gerais e internacionais, a Internacional Comunista desmascara impiedosa-
pequena produção ou pela sua redução a um papel de auxiliar subordinado
mente, em todas as suas formas, a doutrina da «paz social» tomada pelos
às grandes empresas. Na agricultura, cujo desenvolvimento é necessaria-
reformistas à burguesia. Exprimindo a necessidade histórica da organização
mente atrasado em consequência do monopólio da propriedade do solo e
internacional dos proletários revolucionários, coveiros do sistema capitalis-
da renda absoluta, esta lei exprimiuse não apenas pela diferenciação do
ta, a Internacional Comunista é a única força internacional que tem como
campesinato e pela proletarização de largas camadas de camponeses,
programa a ditadura do proletariado e o comunismo e que age abertamente
mas também e sobretudo por formas visíveis ou veladas da dominação do
como organizadora da revolução proletária mundial.
grande capital sobre a pequena economia rural que, neste caso, não pode

24
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

conservar uma aparência de independência senão ao preço de uma extre- partes da economia capitalista mundial e uma modificação das relações
ma intensidade do trabalho e de um subconsumo sistemático. entre as classes fundamentais da sociedade capitalista.

A utilização crescente das máquinas, o aperfeiçoamento constante da téc- Este novo período histórico resulta da acção das leis essenciais do desen-
nica e, nesta base, o crescimento incessante da composição orgânica do volvimento da sociedade capitalista. Amadurece com o desenvolvimento do
capital, acompanhadas da crescente divisão do trabalho, do aumento da capitalismo industrial e é a sua continuação histórica. Acentua a manifes-
sua produtividade e a sua intensificação, significaram igualmente o em- tação das tendências fundamentais e das leis do movimento da sociedade
prego mais amplo da mão-de-obra feminina e infantil e a formação de capitalista, das suas contradições e antagonismos fundamentais. A lei da
enormes exércitos industriais de reserva, engrossados sem cessar pelos concentração e da centralização do capital conduz à formação de poderosos
camponeses proletarizados, expulsos dos campos, e pela pequena e média grupos monopolistas [cartéis, sindicatos, trusts], a uma nova forma de em-
burguesia arruinada das cidades. Num dos pólos das relações sociais, a presas gigantes combinadas. Ligadas num só feixe pelos bancos. A fusão
formação de massas consideráveis de proletários, intensificação contínua do capital industrial e do capital bancário, a entrada da grande propriedade
da exploração da classe operária, reprodução numa base alargada das fundiária no sistema geral do capitalismo, caracterizado a partir de então
contradições profundas do capitalismo e das suas consequências [crises, pelos monopólios, transformaram o período do capital industrial no do ca-
guerras, etc.], aumento constante da desigualdade social, crescimento da pital financeiro. A «livre concorrência» do capitalismo industrial, que tinha
indignação do proletariado, concentrado e educado pelo próprio mecanismo outrora substituído o monopólio feudal e o monopólio do capital comercial,
da produção capitalista, tudo isto mina infalivelmente as bases do capitalis- transformou-se ela própria em monopólio do capital financeiro. Os mono-
mo e aproxima o momento da sua derrocada. pólios capitalistas, saídos da livre concorrência, embora não a suprimam,
dominam-na ou coexistem com ela, provocando assim contradições, con-
Uma profunda convulsão produziu-se simultaneamente em toda a ordem frontos e conflitos de uma acuidade e gravidade particulares.
moral e cultural da sociedade capitalista: decomposição parasitária dos
grupos rentistas da burguesia, dissolução da família, exprimindo a contra- O emprego crescente de máquinas complexas, de processos químicos e
dição crescente entre a participação em massas das mulheres na produção de energia eléctrica, o aumento da composição orgânica do capital nesta
social e as formas da família e da vida doméstica herdadas em larga me- base e a queda da taxa de lucro que daqui decorre -que só parcialmente é
dida das épocas económicas anteriores; desenvolvimento monstruoso das travada em favor das maiores associações monopolistas pela política de
grandes cidades e mediocridade da vida rural em consequência da divisão e altos preços dos cartéis- provocam a continuação da corrida aos super-
da especialização do trabalho; empobrecimento e degenerescência da vida lucros coloniais e a luta por uma nova partilha do mundo. A produção em
intelectual e da cultura geral; incapacidade da burguesia de criar, a des- massa, standardizada, exige novos mercados externos de escoamento. A
peito dos grandes progressos das ciências naturais, uma síntese filosófica procura crescente de matérias-primas e de combustíveis provoca ásperas
científica do mundo; desenvolvimento das superstições idealistas, místicas rivalidades pelo controlo das suas fontes. Por fim, o alto proteccionismo,
e religiosas, todos estes fenómenos assinalam a aproximação do fim histó- impedindo a exportação de mercadorias e assegurando um superlucro ao

INTERNACIONAL COMUNISTA
rico do sistema capitalista. capital exportado, cria estímulos complementares à exportação de capitais
que se torna na forma decisiva e específica da conexão económica entre as
2. A época do capital financeiro [imperialismo] diferentes partes da economia capitalista mundial. Em resultado, o controlo
monopolista dos mercados coloniais de escoamento, das fontes de maté-
O período do capitalismo industrial foi, em geral, um período de «livre con-
rias primas e das esferas de investimentos de capitais acentua fortemente
corrência» durante o qual o capitalismo evoluiu com uma relativa regulari-
a desigualdade do desenvolvimento capitalista e agrava os conflitos entre
dade e se expandiu por todo o globo através da repartição das colónias ainda
as «grandes potências» do capital financeiro por uma nova partilha das co-
livres, conquistadas pela força das armas, recaindo o peso das contradições
lónias e das esferas de influência.
internas do capitalismo, em crescimento incessante, principalmente sobre
a periferia colonial oprimida, aterrorizada e sistematicamente espoliada. O crescimento das forças produtivas da economia mundial conduz portanto
a uma maior internacionalização da vida económica e, ao mesmo tempo, à
Este período deu lugar, por volta do princípio do século XX, ao do imperialis-
luta por uma nova partilha do mundo, já repartido entre os grandes estados
mo, caracterizado pelo desenvolvimento do capitalismo por saltos bruscos
do capital financeiro; provoca igualmente uma alteração e um agravamento
e por conflitos, num momento em que a livre concorrência cedeu o seu
das formas desta luta: a substituição cada vez mais frequente da concor-
lugar ao monopólio, em que as terras coloniais antes «livres» se encon-
rência mediante o abaixamento dos preços pelo apelo directo à
travam repartidas e em que a luta por uma nova partilha das colónias e
força [boicote, alto proteccionismo, guerras alfandegárias, guerras no
das esferas de influência começou a tomar, inevitavelmente e em primeiro
sentido próprio da palavra, etc.]. O capitalismo, sob a sua forma monopolis-
lugar, a forma da luta armada.
ta, é, por consequência, acompanhado de 5 guerras imperialistas inevitáveis
Deste modo, as contradições do capitalismo adquiriram em toda a sua di- que, pela sua amplitude e poder destrutivo da técnica usada, não têm pre-
mensão e à escala mundial a sua expressão mais nítida na época cedente na história do mundo.
do imperialismo [capitalismo financeiro], que representa uma nova
forma histórica do próprio capitalismo, uma nova relação entre as diferentes

25
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

3. As forças do imperialismo e as forças da revolução despertando-lhes assim o interesse pelo desenvolvimento do capitalismo
da sua 6 «pátria», pela pilhagem das colónias e pela fidelidade para com o
A forma imperialista do capitalismo, que exprime a tendência para a coe- Estado imperialista. Esta corrupção sistemática manifestou-se e manifes-
são das diversas facções da classe dominante, opõe as grandes massas do ta-se particularmente ainda em larga escala nos países imperialistas mais
proletariado não a um patrão isolado, mas, cada vez mais, a toda a classe poderosos; encontra a sua expressão mais relevante na ideologia e na ac-
dos capitalistas e ao seu Estado. Por outro lado, esta forma de capitalismo ção da aristocracia operária e nas camadas burocráticas da classe operária,
desfaz as fronteiras dos estados nacionais tornadas demasiado estreitas e quer dizer nos quadros dirigentes da social-democracia e dos sindicatos
alarga o quadro do poder capitalista das grandes potências, opondo a esse que se revelaram como agentes directos da influência burguesa no seio do
poder os milhões de homens das nacionalidades oprimidas, das «peque- proletariado e os melhores apoios do regime capitalista.
nas» nações e dos povos coloniais. Enfim, esta forma de capitalismo opõe
com mais agudeza os estados imperialistas uns aos outros. Mas após ter desenvolvido a aristocracia corrompida da classe operária, o
imperialismo acaba por destruir a sua influência sobre o proletariado, na
Neste estado de coisas, o poder político adquire para a burguesia uma im- medida em que se acentuam as contradições do regime, o agravamento
portância particular, torna-se na ditadura de uma oligarquia financeira e ca- das condições de vida e o desemprego de grandes massas operárias, as
pitalista, a expressão do seu poderio concentrado. As funções desse Estado despesas e os enormes custos provocados pelos conflitos armados, a per-
imperialista, que compreende numerosas nacionalidades, desenvolvem-se da de certas posições que os monopólios detinham no mercado mundial,
em todos os sentidos. O desenvolvimento das formas do capitalismo de a separação das colónias, etc., abalam a base do social-imperialismo nas
Estado facilita ao mesmo tempo a luta nos mercados externos [mobilização massas. Do mesmo modo, a corrupção sistemática de diversas camadas
militar da economia] e a luta contra a classe operária. O desenvolvimen- da burguesia das colónias e das semicolónias, a sua traição ao movimen-
to monstruoso ao extremo do militarismo [exército, frotas aérea e naval, to nacional-revolucionário e aproximação às potências imperialistas não
armas químicas e biológicas], a pressão crescente do Estado imperialista paralisam senão temporariamente o desenvolvimento da crise revolucio-
sobre a classe operária [exploração acrescida e repressão directa, por um nária. Este processo leva, por fim, ao reforço da opressão imperialista, ao
lado, corrupção sistemática da burocracia reformista dirigente, por outro], enfraquecimento da influência da burguesia nacional sobre as massas
exprimem o enorme crescimento do papel do Estado. Nestas condições populares, ao agravamento da crise revolucionária, ao desencadear da re-
qualquer acção mais ou menos importante do proletariado se transforma volução agrária de grandes massas camponesas e à criação de condições
numa acção contra o Estado, quer dizer, numa acção política. favoráveis à hegemonia do proletariado dos países coloniais e dependentes
na luta das massas populares, pela independência e por uma completa li-
Assim, o desenvolvimento do capitalismo e, mais particularmente, a épo-
bertação nacional.
ca imperialista reproduzem as condições fundamentais do capitalismo a
uma escala cada vez mais considerável. A concorrência entre pequenos 4. O imperialismo e a queda do capitalismo
capitalistas não cessa senão para dar lugar à concorrência entre grandes
INTERNACIONAL COMUNISTA

capitalistas; quando esta se acalma, desencadeia-se a concorrência entre O imperialismo elevou as forças produtivas do capitalismo mundial a um
as formidáveis coligações dos magnatas do Capital e dos seus estados; alto grau de desenvolvimento. Concluiu a preparação das premissas ma-
as crises locais e nacionais estendem-se a diversos países e acabam por teriais para a organização socialista da sociedade. Demonstra, pelas suas
abraçar o mundo inteiro; as guerras locais dão lugar às guerras de coliga- guerras, que as forças produtivas da economia mundial ultrapassaram o
ções e às guerras mundiais; a luta de classes passa da acção isolada de quadro restrito dos estados imperialistas e exigem a organização da eco-
certos grupos de operários às lutas nacionais, depois à luta internacional nomia a uma escala internacional mundial. O imperialismo esforça-se por
do proletariado mundial contra a burguesia mundial. Enfim, levantam-se e resolver esta contradição, rompendo a ferro e fogo a via para um trust ca-
organizam-se contra as forças do capital financeiro poderosamente orga- pitalista de Estado mundial e único que organizaria a economia mundial.
nizado, duas grandes forças revolucionárias: de um lado, os operários dos Esta sangrenta utopia é glorificada pelos ideólogos sociais-democratas
estados capitalistas e, do outro lado, as massas populares das colónias que vêem nela o método pacífico do novo capitalismo «organizado». Na
curvadas sob o jugo do capital estrangeiro, mas lutando sob a direcção e realidade, ela confronta-se com obstáculos insuperáveis objectivos de uma
hegemonia do movimento revolucionário proletário internacional. tal dimensão que o capitalismo sucumbirá inevitavelmente sob o peso das
suas próprias contradições. A lei da desigualdade do desenvolvimento ca-
Esta tendência revolucionária fundamental é no entanto temporariamente pitalista, acentuada na época imperialista, torna possíveis agrupamentos
paralisada pela corrupção de certos elementos do proletariado europeu, estáveis e duradouros de potências imperialistas. Por outro lado, as guerras
norte-americano e japonês vendidos à burguesia imperialista e pela traição imperialistas, que se transformam em guerras mundiais pelas quais a lei
da burguesia nacional dos países coloniais e semicoloniais assustados pelo de concentração do capital se esforça por atingir o seu limite extremo -o
movimento revolucionário das massas. A burguesia das grandes potências trust mundial único-, são acompanhadas de tais devastações, impõem à
imperialistas, arrecadando um lucro suplementar, tanto em razão da sua classe operária e aos milhões de proletários e de camponeses das colónias
posição no mercado mundial em geral [técnica mais desen- tais agravos, que o capitalismo perecerá inevitavelmente sob os golpes da
volvida, exportação de capitais para países onde a taxa de lucro é mais alta, revolução proletária, bem antes de ter atingido essa finalidade.
etc.] como em razão da pilhagem das colónias e das semicolónias, pôde
aumentar, graças a esses superlucros, os salários dos «seus» operários,

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Fase suprema do desenvolvimento capitalista, levando as forças produti- O profundo abalo do capitalismo mundial, o agravamento da luta de classes
vas da economia mundial a um desenvolvimento de amplitude formidá- e a influência imediata da revolução proletária de Outubro determinaram
vel, recriando o mundo inteiro à sua imagem, o imperialismo arrasta para as revoluções e os movimentos revolucionários, tanto na Europa como nos
o campo da exploração do capital financeiro todas as colónias, todas as países coloniais e semicoloniais: Janeiro de 1918, revolução operária na
raças e todos os povos. Mas a forma monopolista do capital desenvolve Finlândia; Agosto de 1918, «revoltas do arroz» no Japão; Novembro de 1918,
7 simultaneamente num grau crescente os elementos de degenerescên- revoluções na Áustria e na Alemanha, derrubando monarquias semifeudais;
cia parasitária, de apodrecimento e declínio do capitalismo. Destruindo em Março de 1919, revolução proletária na Hungria e sublevação na Coreia; Abril
certa medida essa força motriz que é a concorrência, levando a cabo uma 8 de 1919, República dos Sovietes na Baviera; Janeiro de 1920, revolução
política de altos preços fixados pelos cartéis, dispondo sem restrições do nacional burguesa na Turquia; Setembro de 1920, ocupação das fábricas
mercado, o capital monopolista tende a travar o desenvolvimento ulterior pelos operários na Itália; Março de 1921, sublevação da vanguarda operária
das forças produtivas. Arrancando a milhões de operários e de camponeses na Alemanha; Setembro de 1923, insurreição na Bulgária; Outono de 1923,
coloniais superlucros fabulosos e acumulando enormes proventos dessa crise revolucionária na Alemanha; Dezembro de 1924, insurreição na Estó-
exploração, o imperialismo cria um tipo de Estado dependente da renda, nia; Abril de 1925, sublevação em Marrocos; Agosto de 1925, sublevação na
em degeneração parasitária e apodrecimento, e camadas inteiras parasi- Síria; Maio de 1926, greve geral em Inglaterra; Julho de 1927, insurreição
tas que vivem de cupões de renda. Concluindo o processo da criação das operária em Viena. Estes factos e acontecimentos tais como a insurreição
premissas materiais do socialismo [concentração dos meios de produção, da Indonésia, a profunda efervescência na Índia, a grande revolução chinesa
imensa socialização do trabalho, crescimento das organizações operárias], que abalou todo o continente asiático, formam os elos da cadeia da acção
a época imperialista agrava as contradições existentes entre as «grandes revolucionária internacional e são os elementos constitutivos da grave crise
potências» e engendra guerras que culminam na desagregação da unidade geral do capitalismo. O processo da revolução mundial compreende a luta
da economia mundial. O imperialismo é, por esse motivo, o capitalismo em imediata pela ditadura do proletariado, as guerras de libertação nacional e
decomposição e agonizante e, em geral, a última etapa da evolução capita- as sublevações coloniais contra o imperialismo, indissoluvelmente ligadas
lista, o prelúdio da revolução socialista mundial. ao movimento agrário das grandes massas camponesas. Uma massa incal-
culável de homens achou-se assim arrastada pela torrente revolucionária. A
A revolução proletária internacional decorre assim das condições do desen- história do mundo entrou numa nova fase, a fase da crise geral e duradoura
volvimento do capitalismo em geral e da sua fase imperialista em particular. do sistema capitalista. A unidade da economia mundial exprime-se pelo
O sistema capitalista conduz no seu conjunto a uma falência definitiva. A di- carácter internacional da revolução; e a desigualdade de desenvolvimento
tadura do capital financeiro perece, dando lugar à ditadura do proletariado. das diversas partes da economia mundial no facto de que as revoluções não
eclodem simultaneamente em diferentes países.

As primeiras tentativas de revolução, nascidas da crise aguda do capitalis-


II. A crise geral do capitalismo e a primeira fase da revolução
mo [1918- 1921], terminaram com a vitória e consolidação da ditadura do

INTERNACIONAL COMUNISTA
mundial
proletariado na URSS e com a derrota do proletariado em diversos outros
1-A guerra mundial e o desenvolvimento da crise revolucio- países. Estas derrotas são devidas, antes de mais, à táctica de traição dos
nária chefes sociais-democratas e dos líderes reformistas do movimento sindi-
cal; ao facto de que os comunistas não tinham ainda atrás de si a maioria
A luta entre os principais estados capitalistas por uma nova partilha do da classe operária e que em muitos países importantes ainda não existiam
mundo provocou a primeira guerra imperialista mundial [1914-1918]. Esta partidos comunistas. Na sequência destas derrotas, que tornaram possível
guerra abalou o sistema capitalista mundial e inaugurou o período da sua a exploração acrescida das massas proletárias e dos povos coloniais e uma
crise geral. Colocou ao seu serviço toda a economia nacional dos países be- brusca redução do seu nível de vida, a burguesia alcançou uma estabiliza-
ligerantes, criando assim o punho de ferro do capitalismo de Estado; obrigou ção parcial do regime capitalista.
a fabulosas despesas improdutivas, destruiu uma enorme quantidade de
meios de produção e de mão-de-obra, arruinou amplas massas populares, 2. A crise revolucionária da social-democracia contra-revo-
colocou cargas incalculáveis sobre os operários industriais, os campone- lucionária
ses e os povos coloniais. Agravou inevitavelmente a luta de classes, que
Os quadros dirigentes dos partidos sociais-democratas e dos sindicatos
se transformou em acção revolucionária de massas e em guerra civil. A
reformistas e as organizações capitalistas de choque de tipo fascista ad-
frente imperialista foi rompida no seu sector mais fraco, a Rússia tsarista.
quiriram, no decurso da revolução internacional, a maior importância como
A revolução russa de Fevereiro de 1917 estilhaçou o poder, a autocracia
força contra-revolucionária que combate activamente a revolução e apoia
dos grandes latifundiários. A revolução de Outubro derrubou o poder da
ao mesmo tempo a estabilização parcial do capital. A guerra de 1914-1918
burguesia. Esta revolução proletária vitoriosa expropriou os expropriadores,
foi acompanhada pela vergonhosa falência da II Internacional social-de-
retirou à burguesia e aos latifundiários os meios de produção, estabeleceu
mocrata.
e consolidou, pela primeira vez na história da humanidade, a ditadura do
proletariado num grande país, realizou um novo tipo de Estado, o Estado Em contradição absoluta com a tese do Manifesto do Partido Comunista
soviético, e inaugurou a revolução proletária internacional. de Marx e Engels, que afirma que os proletários não têm pátria em regime

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

capitalista, em contradição absoluta com as resoluções adoptadas contra operária os interesses da burguesia e colocando-se inteiramente no terreno
a guerra pelos congressos socialistas internacionais de Estugarda e de Ba- da colaboração de classes e da coligação com a burguesia, a social-demo-
sileia, os chefes dos partidos sociais-democratas nacionais, com algumas cracia é, em certos momentos, constrangida a passar à oposição e mesmo
excepções, votaram os créditos de guerra, pronunciaram-se resolutamente a simular a defesa dos interesses da classe do proletariado na sua luta
pela «defesa nacional» das suas «pátrias» imperialistas [quer dizer, dos es- económica; fá-lo com a única finalidade de adquirir a confiança de uma
tados da burguesia imperialista] e, em lugar de opor-se à guerra imperia-
parte da classe operária e de trair os seus interesses permanentes, tanto
lista, tornaram-se seus fiéis soldados, seus propagandistas, seus incensa-
dores [o social-patrotismo transformou-se assim em social-imperialismo]. mais vergonhosamente na hora das batalhas decisivas.
No período seguinte, a social-democracia defendeu os tratados espoliado-
O papel essencial da social-democracia é agora o de minar a indispensável
res [Brest-Litovsk, Versalhes]; interveio activamente ao lado dos generais
na repressão sangrenta das sublevações proletárias [Noske]1; combateu unidade de combate do proletariado em luta contra o imperialismo. Cindin-
com armas nas mãos a primeira República proletária [a Rússia dos Sovie- do e dividindo a frente vermelha única da luta proletária contra o capital, a
tes]; traiu vergonhosamente o proletariado no poder (Hungria); aderiu à So- social-democracia é o principal apoio do imperialismo na classe operária.
ciedade das Nações imperialista [A. Thomas2, Paul-Boncour3, Vandervelde4]; A social-democracia internacional de todos os matizes, a II Internacional e
colocou-se abertamente ao lado dos esclavagistas imperialistas contra os a sua filial sindical, a Federação Sindical Internacional de Amsterdão, tor-
escravos coloniais [o Labour Party inglês]; apoiou activamente os carrascos naram-se deste modo nas reservas da sociedade burguesa, na sua mais
mais reaccionários da classe operária [Bulgária, Polónia]; promoveu as «leis segura trincheira.
militares» imperialistas (França); traiu a grande greve geral do proletariado
inglês; ajudou a estrangular a greve dos mineiros ingleses; ajudou e ajuda 3. A crise do capitalismo e o fascismo
ainda a oprimir a China e a Índia [governo Mac Donald5]; assume o papel de
propagandista da Sociedade das Nações imperialista, de arauto do capital Ao lado da social-democracia, com a ajuda da qual a burguesia reprime o
e de força organizadora da luta contra a ditadura do proletariado na URSS movimento operário ou adormece a sua vigilância de classe, ergue-se o
[Kautsky6, Hilferding7]. fascismo.
Prosseguindo sistematicamente esta política contra-revolucionária, a so- Na época do imperialismo, o agravamento da luta de classes e o desenvol-
cial-democracia opera alternadamente por meio das suas duas alas: a ala vimento, sobretudo após a guerra imperialista mundial, dos elementos da
direita, abertamente contrarevolucionária, indispensável às negociações e guerra civil, conduziram a uma crise do parlamentarismo. Daí os «novos»
à ligação directa com a burguesia, e a ala esquerda, destinada a enganar métodos e as novas formas de governo [o sistema de «pequenos gabine-
os operários com uma subtileza particular. A «esquerda» social-demo- tes», a formação de oligarquias agindo nos bastidores, a degradação e a
crata, usando de bom grado a frase pacifista e por vezes mesmo a frase falsificação da «representação popular», as restrições às «liberdades de-
revolucionária, age na realidade contra os operários, sobretudo nas horas mocráticas», que por vezes são abolidas, etc.]. Esta ofensiva da reacção
mais críticas [os «independentes» ingleses e a «esquerda» do Conselho burguesa imperialista, toma, em certas condições históricas, a forma do
Geral das Trade-Unions durante a greve geral de 1926; Otto Bauer8 e C.ª
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fascismo. Essas condições são: a instabilidade das relações capitalistas,


durante a insurreição vienense, etc.] e constitui por essa razão a fracção a existência de importantes elementos sociais desclassificados, o empo-
mais perigosa dos partidos sociais-democratas. Servindo no seio da classe
1 Noske, Gustav (1868-1946), social-democrata alemão da ala direita, ministro da Defesa da Alemanha( 1919-1920), comandou a repressão dos comunistas e sociais-democratas de
esquerda e o assassínio de Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht , tendo declarado a propósito que «È preciso que alguém faça o papel de cão sangrento. Não temo as responsabilidades».
Demitido em 1933 pelos nazis do cargo de governado de Nanover, que ocupava desde 1920, é preso em 1937 e internado em campos de concentração até ser libertado pelos soviéticos em
Maio de 1945. (N. Ed.)
2 Thomas, Albert [1878-1932], político francês, socialista de direita. social-chauvinista durante a I Guerra Mundial, membro do governo burguês francês. Em 1917, após a revolução de
Fevereiro, deslocou-se à Rússia para agitar em defesa da continuação da guerra . Em 1919, foi um dos organizadores da Internacional de Berna, constituída por partidos reformistas. (N. Ed.)
3 Paul-Boncour, Joseph [1873-1972], advogado próximo dos socialistas franceses, é eleito deputado em 1909, entrando para o governo como ministro do Trabalho em 1911. Ingressa na
SFIO em 1916, partido com o qual rompe em 1931, regressando ao Partido Republicano-Socialista que se funde em 1935 na União Socialista Republicana. Senador [1931-1940], ministro
da Guerra [1932], torna-se presidente do Conselho de Ministros entre Dezembro de 1932 e 1933. Após a queda do seu governo, permanece como ministro dos Negócios Estrangeiros até
1934, ministro de Estado até 1936 e de novo dos Negócios Estrangeiros entre Março e Abril de 1938. Perseguido pela Gestapo adere em Junho de 1944 à Resistência. Após a libertação volta
a aderir à SFIO. [N. Ed.]
4 Vandervelde Émile, [1866-1938], professor universitário da cadeira de sociologia, foi um dos principais dirigentes do Partido Socialista Belga desde a sua fundação em 1885. Foi presidente
do Bureau Socialista Internacional, destacando-se pelas suas posições de direita no panorama da época do socialismo europeu. Em 1900 pronunciou-se contra o reconhecimento imediato
do direito de voto das mulheres, apesar tal reivindicação constar no programa do seu partido. Em 1914 aceita participar no governo como ministro dos Negócios Estrangeiros, de 1918 a 1921
é ministro da Justiça e volta aos Negócios Estrangeiros entre 1925 e 1927. (N. Ed.]
5 Mac Donald, James Ramsay [1866-1937], fundador e dirigente do Partido Trabalhista Independente e do Partido Trabalhista, pregou a teoria da conciliação de classes e da gradual transfor-
mação do capitalismo em socialismo. Apoiou a burguesia na I Guerra Mundial. Em 1924 torna-se primeiro-ministro da Grã-Bretanha, com o apoio dos liberais, aliança que se desfaz ao fim
de nove meses. Regressa à chefia do governo em 1929, formando, em 1931, um governo de unidade nacional, constituído maioritariamente por conservadores, que provocou a sua expulsão
do Partido Trabalhista.
6 Kautski, Karl [1854-1938], dirigente do Partido Social-Democrata Alemão e da II Internacional. Inicialmente marxista, mais tarde renegado da teoria revolucionária, torna-se ideólogo do
centrismo. Depois da Revolução de Outubro na Rússia, manifesta-se contra a ditadura do proletariado, o Partido Comunista e o Estado Soviético. (N. Ed.)
7 Hilferding, Rudolf (1877-1941), dirigente e teórico da social-democracia alemã e da II Internacional. Jornalista, participou na revolução de Novembro de 1918, tornando-se ministro das
Finanças, em 1923 e entre 1928 e 1929. Exila-se em França na sequência da ascensão do fascismo em 1933, onde é assassinado Gestapo em 1941. (N. Ed.)
8 Bauer, Otto, verdadeiro nome Heinrich Weber [1882-1932], social-democrata austríaco, dirigente da II Internacional, ideólogo do oportunismo, elaborou a teoria da «autonomia-nacio-
nal-cultural. Ministro dos Negócios Estrangeiros da Áustria, combateu o movimentou revolucionário da classe operária da Áustria. Em 1934 exila-se em França onde vem a falecer. [N. Ed.]

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

brecimento de grandes camadas da pequena burguesia dos campos e, por reverso é o fecho e a liquidação de empresas, a limitação da produção, a
fim, a constante ameaça da acção de massas do proletariado. Para garantir exploração impiedosa e rapace da mão-de-obra levam a um desemprego
uma estabilidade, uma firmeza e uma continuidade maiores do seu poder, crónico de uma amplitude sem precedentes. O agravamento absoluto das
a burguesia vê-se cada vez mais na necessidade de passar do sistema condições de vida da classe operária, mesmo nos países capitalistas muito
parlamentar ao método fascista, independentemente das relações e das desenvolvidos, torna-se um facto evidente. A concorrência crescente entre
composições de partidos. Este método da ditadura directa, ideologicamente os países imperialistas, a ameaça constante de guerras criam as condições
camuflada com a ajuda da «ideia nacional» e da representação «corpora- de uma fase nova e superior do desenvolvimento da crise geral do capitalis-
tiva» [que é na realidade a dos diversos grupos das classes dominantes], mo e da revolução proletária mundial.
explora o descontentamento das massas pequeno-burguesas, dos intelec-
tuais e doutros meios sociais através de uma demagogia social bastante No seguimento do primeiro ciclo destas guerras imperialistas (guerra
particular [anti-semitismo, ataques parciais contra o capital usurário, in- mundial de 1914- 1918) e da vitória conquistada em Outubro de 1917 pela
dignação contra a «palração parlamentar»] e mediante a corrupção através classe operária no antigo império dos tsares, a economia mundial cindiu-se
da criação de uma hierarquia sólida e remunerada das milícias fascistas, em duas partes irredutivelmente opostas: os 12 estados imperialistas e a
de um aparelho partidário e de um corpo de funcionários. Além disso, o ditadura do proletariado na URSS. As diferenças da estrutura de classes,
fascismo esforça-se por penetrar nos meios operários, onde recruta os da natureza de classe do poder, as diferenças de princípio dos objectivos
elementos mais atrasados, aproveitando o descontentamento causado prosseguidos na política interna e externa, na política económica e cultu-
pela passividade da social-democracia, etc. O fascismo atribui-se como ral, a diferente orientação de princípio de todo o desenvolvimento dos dois
tarefa principal a destruição da vanguarda operária revolucionária, isto é, os sistemas opõem violentamente o mundo capitalista ao Estado do prole-
sectores comunistas do proletariado e os seus quadros. A combinação da tariado vitorioso. Dois sistemas antagónicos confrontam-se no quadro da
demagogia social com a corrupção e o terror branco a par de uma política economia mundial anteriormente único: capitalismo e socialismo. A luta de
externa imperialista muito agressiva constituem os traços característicos classes, que até agora era conduzida sem que o proletariado tivesse poder
do fascismo. Recorrendo nos períodos mais críticos para a burguesia a uma de Estado próprio, reproduz-se agora numa escala imensa, verdadeiramen-
fraseologia anticapitalista, o fascismo perde pelo caminho os seus adornos te universal, tendo já a classe operária o seu Estado, a sua única pátria.
anticapitalistas e revela-se cada vez mais, a partir do momento em que se A existência da União soviética e a influência mundial que exerce sobre
consolida no poder, como ditadura terrorista do grande capital. as massas laboriosas e oprimidas são a manifestação mais clara da crise
profunda do sistema capitalista mundial, do alargamento e agudização sem
Adaptando-se às mudanças da conjuntura política, a burguesia utiliza à vez precedentes da luta de classes.
os métodos do fascismo e os da coligação com a social-democracia, sendo
que esta última, nas horas mais críticas para o capitalismo, desempenha O mundo capitalista, incapaz de ultrapassar as suas contradições internas,
frequentemente um papel fascista. Manifestando no seu desenvolvimento tenta criar associações internacionais [Sociedade das Nações] cujo objec-
tendências fascistas, isto não a impede, noutras conjunturas políticas, de tivo principal é o de travar o desenvolvimento irresistível da crise revolu-

INTERNACIONAL COMUNISTA
censurar o governo burguês, na qualidade de partido de oposição. A bur- cionária e de estrangular pelo bloqueio ou a guerra a União das Repúblicas
guesia serve-se dos métodos fascistas e da coligação com a social-demo- proletárias. Simultaneamente todas as forças do proletariado revolucionário
cracia, enquanto métodos inabituais do capitalismo «normal» que atestam e das massas coloniais oprimidas concentram-se em redor da URSS: face à
a crise geral do regime, para atrasar a marcha ascendente da revolução. coligação mundial do capital, precário e roído no seu interior, mas armado
até aos dentes, ergue-se a coligação mundial, única, do trabalho. Deste
4. As contradições da estabilização capitalista e a inelutabili- modo, no seguimento do primeiro ciclo das guerras imperialistas surgiu
dade da queda revolucionária do capitalismo uma nova contradição fundamental de uma envergadura e de um significa-
do históricos mundiais: a contradição entre a URSS e o mundo capitalista.
A experiência de todo o período histórico do pós-guerra demonstra que a
estabilização do capitalismo, realizada mediante a impiedosa repressão da Os antagonismos também se agravaram no sector capitalista da econo-
classe operária e o agravamento sistemático das suas condições de vida, mia mundial. A deslocação do centro económico mundial para os Estados
não pode ser senão parcial, temporária e precária. Unidos da América, a transformação da «república do dólar» em explorador
mundial agravaram as relações entre os Estados Unidos e o capitalismo
O desenvolvimento febril e brusco da técnica, correspondendo em alguns europeu, em primeiro lugar com a Grã-Bretanha. O conflito entre o mais
países a uma nova revolução técnica, a aceleração do processo de con- poderoso dos velhos países imperialistas e conservadores, a GrãBretanha,
centração e centralização do capital, a criação de trusts gigantescos, de e o maior país do jovem imperialismo, que já conseguiu conquistar a hege-
monopólios «nacionais» e «internacionais», a interpenetração dos trusts e monia mundial, os Estados Unidos, torna-se no eixo dos conflitos mundiais
do Estado, o crescimento da economia capitalista mundial não podem no entre os Estados do capital financeiro. A Alemanha, despojada pelo tratado
entanto remediar à crise geral do sistema capitalista. A divisão da economia de Versalhes, restabeleceu-se economicamente e envereda mais uma vez
mundial em sectores capitalista e socialista, a contracção dos mercados, pela via da política imperialista, apresentandose novamente como um sério
o movimento antiimperialista das colónias agravam ao extremo todas as concorrente no mercado mundial. Em torno do Pacífico tecese uma trama
contradições do capitalismo que se desenvolve sobre a sua nova base do de contradições, onde o conflito americano-japonês é a base principal. A par
pós-guerra. O próprio progresso técnico e a racionalização da indústria, cujo destes antagonismos fundamentais, desenvolvem-se conflitos de interes-

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

ses entre agrupamentos de potências instáveis e em constante alteração, O imperialismo junta as suas forças contra ela. Expedições coloniais, nova
encontrando-se os estados de segunda ordem reduzidos a um papel auxi- guerra mundial, campanha contra a URSS estão na ordem do dia. Isto levará
liar nas mãos dos gigantes imperialistas e das suas coligações. ao desencadear de todas as forças da revolução mundial e à queda inevi-
tável do capitalismo.
O crescimento da capacidade de produção do aparelho industrial do capita-
lismo mundial, num quadro de redução dos mercados internos da Europa,
na sequência da guerra e da saída da União Soviética da esfera das trocas
puramente capitalistas, e de extrema monopolização das principais fontes III. O comunismo mundial, objectivo final da Internacional
de matérias-primas e de combustíveis, tem como consequência o desen- Comunista
volvimento de conflitos entre estados capitalistas. A luta «pacífica» pelo
O objectivo final a que aspira a Internacional Comunista é a substituição da
petróleo, a borracha, o algodão, a hulha, os metais, por uma nova partilha
economia capitalista mundial pelo sistema do comunismo mundial. Pre-
dos mercados e das zonas de exportação de capitais conduz inevitavelmen-
parada por todo o desenvolvimento histórico, a sociedade comunista é a
te a uma nova guerra mundial, que será tanto mais devastadora quanto a
única saída para a humanidade. Só ela destruirá as contradições do sistema
técnica militar progride a uma velocidade louca.
capitalista que ameaçam a humanidade de degenerescência e a levam à
Paralelamente aumentam as contradições entre as metrópoles e os países sua destruição.
coloniais e semicoloniais. O enfraquecimento, em certa medida, do impe-
A sociedade comunista abolirá a divisão da sociedade em classes, isto é,
rialismo europeu como 13 consequência da guerra, o desenvolvimento do
suprimirá a anarquia da produção e ao mesmo tempo todos os aspectos e
capitalismo nas colónias, a influência da revolução soviética, as tendên-
todas as formas de exploração do homem pelo homem. Não haverá mais
cias centrífugas no seio da maior potência naval e colonial, a Grã-Bretanha
classes em luta, mas membros de uma só e da mesma associação mundial
[Canadá, Austrália, África do Sul] facilitaram as sublevações nas colónias
de trabalho. Pela primeira vez na história, a humanidade tomará o destino
e semicolónias. A grande revolução chinesa, que envolveu um povo de
nas suas próprias mãos. Em lugar de destruir um número incalculável de
centenas de milhões de pessoas, abre uma enorme brecha no sistema do
14 vidas humanas e de imensas riquezas nas lutas de classes e de povos,
imperialismo. A constante agitação revolucionária de centenas de milhões
a humanidade usará toda a sua energia na luta pelo domínio das forças da
de operários e de camponeses das Índias ameaça quebrar o domínio da
natureza, para desenvolver e aumentar o seu próprio poder colectivo.
Grã-Bretanha, cidadela do imperialismo mundial. O crescimento das ten-
dências hostis ao poderoso imperialismo dos Estados Unidos nos países Abolida a propriedade privada dos meios de produção e transformada
da América Latina constitui aí uma força contrária à expansão do capital em propriedade colectiva, o sistema comunista mundial substitui as leis
norte-americano. O movimento revolucionário das colónias, que arrasta elementares do mercado mundial e da concorrência, o processo cego da
para a luta contra o imperialismo a imensa maioria da população do globo produção social, pela organização consciente e concertada -num plano de
submetida pela oligarquia financeira e capitalista de algumas «grande po- conjunto- tendente a satisfazer as necessidades rapidamente crescentes
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tências» imperialistas, demonstra por seu lado a profunda crise geral do da sociedade. As crises devastadoras e as guerras ainda mais devastadoras
sistema capitalista. Mas também na Europa, onde o imperialismo esmaga desaparecerão ao mesmo tempo que a anarquia da produção e da con-
as pequenas nações sob o seu talão de ferro, a questão nacional é um factor corrência. Ao colossal esbanjamento das forças produtivas, ao desenvolvi-
de agravamento das contradições internas do capitalismo. mento convulsivo da sociedade, o comunismo opõe o uso sistemático de
todas as fontes materiais da sociedade e uma evolução económica indolor,
Enfim, a crise revolucionária amadurece irresistivelmente nos próprios
baseados no desenvolvimento ilimitado, harmonioso e rápido das forças
centros do imperialismo: a ofensiva da burguesia contra a classe operária,
produtivas.
contra o seu nível de vida, contra as suas organizações e direitos políticos, e
a extensão do terror branco provocam a resistência crescente das grandes A abolição das classes e da propriedade privada suprime a exploração do
massas proletárias e o agravamento da luta de classes entre o proletariado homem pelo homem. O trabalho deixa de ser feito em proveito do inimigo
e o capital dos trusts. As grandiosas batalhas entre o trabalho e o capital, a de classe: de meio de existência, transforma-se numa necessidade primor-
radicalização crescente das massas, a influência e autoridade crescentes dial e vital; a pobreza, a desigualdade económica, a miséria das classes
dos partidos comunistas, o imenso movimento de simpatia das massas dominadas, o nível miserável da vida material, em geral, desaparecem; a
operárias pelo país da ditadura do proletariado, tudo isto assinala clara- hierarquia dos homens na divisão do trabalho e a contradição entre o tra-
mente um novo impulso revolucionário nas metrópoles do imperialismo. balho intelectual e o trabalho físico desaparecem, assim como todos os
traços de desigualdade social dos sexos. Os organismos de dominação de
O sistema do imperialismo mundial e a estabilização parcial do capitalis-
classe, o poder do Estado em primeiro lugar, desaparecem ao mesmo tem-
mo são portanto minadas por diversos lados: contradições e conflitos entre
po. Incarnação da dominação de classe, o Estado vai perecendo ao mesmo
as potências imperialistas; profusão dos povos coloniais erguidos para a
tempo que desaparecem as classes e todas as formas de constrangimento.
luta; proletariado revolucionário das metrópoles; ditadura do proletariado
na URSS e a hegemonia do movimento revolucionário mundial. A revolução O desaparecimento das classes é acompanhado da abolição do monopólio
internacional está em marcha. da instrução. A cultura torna-se património de todos e as antigas ideologias
de classes cedem lugar a uma concepção materialista científica do mundo.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Toda a dominação do homem pelo homem se torna a partir de então impos- na rapidamente as forças da natureza, se reeduca no espírito do comunismo
sível: abre-se um campo ilimitado à selecção social, ao desenvolvimento e passa do socialismo ao comunismo integral.
harmonioso de todas as faculdades da humanidade.

O crescimento das forças produtivas não se depara com nenhuma limitação


social. A propriedade privada dos meios de produção, o ganância do lucro, a IV. O período de transição do capitalismo ao socialismo e a
ignorância artificialmente mantida nas massas, a sua pobreza, obstáculo ao ditadura do proletariado
progresso técnico da sociedade capitalista, as enormes despesas impro-
1. O período de transição e a conquista do poder pelo prole-
dutivas, tudo isso deixa de existir na sociedade comunista. A utilização tão
tariado
racional quanto possível das forças da natureza e das condições naturais
da produção nas diversas partes do mundo, a abolição da contradição en- Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista estende-se um pe-
tre a cidade e o campo [contradição que se deve ao sistemático atraso da ríodo de transformação revolucionária, a que corresponde um período de
agricultura e ao baixo nível da sua técnica], a união íntima da ciência e da transição política, no decurso do qual o Estado não pode ser senão uma
técnica, a investigação científica e as suas aplicações práticas na mais lar- ditadura revolucionária do proletariado. A transição da ditadura mundial do
ga medida social, a organização racional do trabalho científico, o emprego imperialismo à ditadura mundial do proletariado preenche um longo período
dos métodos mais aperfeiçoados de estatística e de regulação planificada de lutas, de derrotas e de vitórias do proletariado, um período de crise con-
da economia, o crescimento rápido das necessidades sociais – poderoso tínua do sistema capitalista e de desenvolvimento das revoluções socialis-
motor que anima todo o sistema – tudo isso assegura o máximo rendimen- tas, isto é, de guerras civis do proletariado contra a burguesia; período de
to no trabalho colectivo e liberta, por seu lado, a energia humana para um guerras nacionais e de sublevações coloniais que, não sendo propriamente
vigoroso surto da ciência e das artes. movimentos socialistas do proletariado revolucionário, se tornam objecti-
vamente, porque socavam a dominação imperialista, partes integrantes da
O desenvolvimento das forças produtivas da sociedade comunista mundial
revolução proletária mundial; período que compreende a coexistência, no
permite elevar o bem-estar de toda a humanidade, reduzir ao mínimo o
seio da economia mundial, dos sistemas sociais e económicos capitalista e
tempo consagrado à produção material, determinando assim uma expan-
socialista com as suas relações «pacíficas» e as suas lutas armadas; perío-
são da cultura desconhecida pela história. Esta nova cultura da humanida-
do de formação de uniões de estados soviéticos socialistas e de guerras dos
de, pela primeira vez unificada -tendo abolido todas as fronteiras de Estado
estados imperialistas contra elas; período de ligação cada vez mais estreita
–, assentará, contrariamente à cultura capitalista, sobre relações serenas e
entre os estados soviéticos e os povos coloniais, etc.
transparentes entre os homens. Enterrará também para sempre toda a 15
mística, toda a religião, todo o preconceito, toda a superstição e dará um A desigualdade do desenvolvimento económico e político é uma lei abso-
poderoso impulso ao desenvolvimento do conhecimento científico que não luta do capitalismo. Essa desigualdade acentua-se e agrava-se na época
conhecerá obstáculo algum. imperialista. Daí resulta que a revolução proletária internacional não pode

INTERNACIONAL COMUNISTA
ser considerada como uma acção única, 16 simultânea e universal. A vitória
Esta fase superior do comunismo, na qual a sociedade comunista se de-
do socialismo é portanto possível, primeiro em alguns países capitalistas,
senvolverá sobre a sua própria base, em que o desenvolvimento harmonioso
mesmo num só isoladamente. Mas cada vitória do proletariado alarga a
dos homens será acompanhado de um conhecimento prodigioso das forças
base da revolução mundial e, por consequência, a crise geral do capitalis-
produtivas, no qual a sociedade terá inscrito na sua bandeira: «De cada um
mo. O conjunto do sistema capitalista encaminha-se deste modo para a sua
segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades!»
falência definitiva. A ditadura do capital financeiro sucumbe, dando lugar à
supõe, como condição histórica prévia, uma fase inferior da sua evolução, o
ditadura do proletariado. As revoluções burguesas consistiam na libertação
socialismo. Aí, a sociedade comunista não faz senão sair da sociedade ca-
política de um sistema de relações de produção já dominante na economia
pitalista; sai dela coberta, em todos os sentidos da vida económica, moral,
e na passagem do poder de uma classe de exploradores para uma outra. A
intelectual, pelas taras da velha sociedade de que nasceu. As forças pro-
revolução proletária significa, pelo contrário, a intervenção violenta do pro-
dutivas do socialismo não estão ainda suficientemente desenvolvidas para
letariado no regime de propriedade da sociedade burguesa, na expropriação
assegurar a repartição dos produtos do trabalho segundo as necessidades;
das classes exploradoras e na passagem do poder para uma classe que
estes são repartidos segundo o trabalho. A divisão do trabalho, isto é, a
coloca como tarefa fundamental a reconstrução total da base económica
atribuição de certas funções especiais a determinados grupos de pessoas,
da sociedade e a destruição de toda a exploração do homem pelo homem.
ainda subsiste; a oposição entre o trabalho intelectual e o trabalho físico
Mas, se as revoluções burguesas demoraram séculos a abolir a dominação
em particular, não foi ainda radicalmente suprimido. Apesar da abolição das
política da nobreza feudal no mundo inteiro, quebrando esta dominação por
classes, os vestígios da antiga divisão da sociedade subsistem e, a partir daí,
revoluções sucessivas, a revolução proletária internacional, embora não
os vestígios do poder, da coacção, do direito. Existem ainda sobrevivências
seja um acto único e se estenda por toda uma época, poderá, graças à
retardadas da desigualdade. A contradição entre a cidade e o campo não foi
ligação mais estreita entre os países, cumprir mais rapidamente a sua ta-
eliminada e ainda não desapareceu inteiramente. Mas nenhuma força social
refa. Só após a vitória completa do proletariado no mundo e a consolidação
apoia ou defende esses vestígios da antiga sociedade. Relacionados a um
do seu poder mundial se abrirá uma longa época de intensa edificação da
determinado nível das forças produtivas, eles desaparecem gradualmente à
economia socialista mundial.
medida que a humanidade, liberta das cadeias do regime capitalista, domi-

31
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

A conquista do poder pelo proletariado é a condição preliminar do O Estado do tipo soviético, que realiza a forma superior da democracia
crescimento das forças socialistas da economia e do desenvolvimento proletária, opõese claramente à democracia burguesa, forma velada da
cultural do proletariado que, transformando-se conscientemente a si ditadura da burguesia. O Estado soviético é a ditadura do proletariado, a
próprio, se torna no dirigente da sociedade em todos os domínios da vida, classe operária detendo o monopólio do poder. Ao contrário da democracia
arrasta no processo de mudança as outras classes e cria assim um terreno burguesa, ele proclama bem alto o seu carácter de classe e coloca aber-
favorável ao desaparecimento das classes. tamente como sua tarefa a repressão da resistência dos exploradores no
interesse da imensa maioria da população. Priva de direitos políticos os
Na luta pela ditadura do proletariado e pela subsequente transformação do seus inimigos de classe e pode, em condições históricas particulares, dar
regime social, a união dos operários e camponeses, base da ditadura do ao proletariado privilégios temporários, a fim de o consolidar no seu papel
proletariado realizada sob a hegemonia ideológica e política dos proletários, dirigente em relação ao campesinato pequeno-burguês infinitamente dis-
organiza-se face ao bloco dos latifundiários e dos capitalistas. seminado. Desarmando os inimigos de classe e quebrando a sua resistên-
cia, considera a supressão dos seus direitos políticos e uma certa limitação
O período de transição é, no seu conjunto, caracterizado pela implacável
da sua liberdade como medidas temporárias destinadas a combater as
repressão da resistência dos exploradores, pela organização da edificação
tentativas dos exploradores para defender ou restabelecer os seus privi-
socialista, pela reeducação em massa dos homens no espírito do socialis-
légios. Na sua bandeira tem inscrito que o proletariado detém o poder não
mo e pela superação progressiva das classes sociais. Só cumprindo estas
para o perpetuar, não para usá-lo para os seus interesses estreitamente
grandes tarefas históricas a sociedade do período de transição começa a
corporativos e profissionais, mas para agrupar cada vez mais as massas
transformar-se em sociedade comunista.
atrasadas e disseminadas do proletariado e do semi-proletariado dos cam-
Assim, a ditadura do proletariado mundial é a condição prévia e necessária pos e unir os camponeses trabalhadores aos operários mais avançados,
da passagem da economia capitalista mundial à economia socialista. Esta eliminando progressiva e sistematicamente todas as divisões da sociedade
ditadura não pode instituir-se senão pela vitória do socialismo em dife- em classes.
rentes países ou grupos de países, novas repúblicas proletárias unindo-se
Forma de unificação e de organização universal das massas sob a direcção
por laços federativos às suas antecessoras e alargando-se a rede destas
do proletariado, os sovietes envolvem as grandes massas dos operários,
uniões federativas incluindo as colónias libertas do jugo do imperialismo,
dos camponeses e de todos os trabalhadores na luta, na edificação do so-
para constituir finalmente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas do
cialismo e na administração do Estado. No seu trabalho apoiam-se sobre as
Mundo e realizar a unificação da humanidade sob a hegemonia internacio-
organizações de massas da classe operária e realizam uma ampla demo-
nal do proletariado organizado em Estado.
cracia entre os trabalhadores; estão mais perto das massas que qualquer
A conquista do poder pelo proletariado não é uma «conquista» pacífica outra forma de poder. O direito de reeleger delegados e de revogar os seus
da máquina já pronta do Estado burguês por uma maioria parlamentar. mandatos, a união do poder executivo e do poder legislativo, as eleições
com base nas empresas [fábricas, oficinas, etc.] e não em circunscrições
INTERNACIONAL COMUNISTA

A burguesia usa todos os meios de coacção e de terror para defender e


consolidar a sua propriedade conquistada pela pilhagem e a sua dominação territoriais são outros tantos factores que asseguram ao proletariado e às
política. Como antes a nobreza feudal, não pode ceder o seu lugar histórico restantes massas de trabalhadores sob a sua influência uma participação
a uma nova classe sem lhe opor uma resistência encarniçada e deses- sistemática constante e activa em todos os assuntos públicos económicos,
perada. A violência da burguesia não pode ser vencida senão através da políticos, militares e culturais. Estabelecem por isso uma profunda linha de
violência implacável do proletariado. A conquista do poder pelo proletariado demarcação entre a república parlamentar burguesa e a ditadura soviética
é a abolição violenta do poder da burguesia, a destruição do aparelho de do proletariado.
Estado capitalista [exército burguês, polícia, hierarquia burocrática, tribu-
A democracia burguesa repousa, com a sua igualdade puramente formal
nais, parlamento, etc.] substituída pelos novos órgãos do poder proletário
dos cidadãos perante a lei, sobre uma desigualdade flagrante das classes
que são, antes de tudo, os instrumentos de repressão destinados a quebrar
no domínio material e económico. Mantendo como intocável e consolidan-
a resistência dos exploradores.
do a posse exclusiva dos meios de produção essenciais pela classe capi-
2. A ditadura do proletariado e a sua forma soviética talista e dos grandes latifundiários, a democracia burguesa transforma por
isso mesmo a igualdade puramente formal perante a lei, os 18 direitos e
Como demonstrou a experiência da revolução russa de 1917 e da revolução as liberdades democráticas, aliás sistematicamente limitados na prática,
húngara, que alargaram infinitamente a experiência da Comuna de Paris de numa ficção jurídica para as classes exploradas, e em primeiro lugar para o
1871, a forma de poder proletário que melhor corresponde ao objectivo é o proletariado, e, por consequência, num instrumento de logro e de submis-
novo tipo de Estado: o Estado soviético, diferente no seu princípio do Estado são das massas. A pretensa democracia exprime a dominação política da
burguês, não apenas pela sua essência de classe, mas também pela sua burguesia e é por isso mesmo uma democracia capitalista. O Estado sovié-
estrutura interna. Este tipo de Estado, que surgiu directamente do grande tico, privando a classe exploradora dos meios de produção que monopoliza
movimento das massas, assegura-lhes o máximo de actividade e oferece, nas mãos do proletariado, classe dirigente, garante antes do mais e além do
por consequência, as maiores garantias de uma vitória definitiva. mais as condições materiais de realização dos direitos da classe operária
e dos trabalhadores em geral, assegurando habitações, edifícios públicos,
tipografias, meios de transporte, etc.

32
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

No domínio dos direitos políticos e gerais, o Estado soviético, privando des- assegurado um papel correspondente aos comités de empresa, etc.;
ses direitos os inimigos do povo e os exploradores, destrói completamente
pela primeira vez a desigualdade dos cidadãos, fundada, nos regimes de ex- e) Adaptação da actividade industrial às necessidades das grandes massas
ploração, sobre as diferenças de sexo, de religião, de nacionalidade; estabe- de trabalhadores. Reorganização dos ramos da indústria que produziam
lece neste domínio uma igualdade que não existe em nenhum país burguês; para o consumo das classes dirigentes [artigos de luxo, etc.]. Reforço dos
a ditadura do proletariado constrói inexoravelmente a base material que ramos da indústria que favorecem o desenvolvimento da agricultura, a fim
permite realizar esta igualdade: é este o sentido das medidas de emancipa- de consolidar a ligação com a economia rural, de assegurar o progresso dos
ção da mulher, da industrialização das antigas colónias, etc. A democracia domínios agrícolas do Estado e de acelerar o desenvolvimento da economia
soviética é assim uma democracia proletária, uma democracia das mas- nacional em geral.
sas trabalhadoras, uma democracia dirigida contra os exploradores.
B. Agricultura
O Estado soviético pressupõe o desarmamento completo da burguesia e a
a) Confiscação e nacionalização proletária da grande propriedade fundiária
concentração de todas as armas nas mãos do proletariado: é o Estado do
nas cidades e nos campos [propriedades privadas, propriedades da Igreja,
proletariado armado. A organização das forças armadas efectua-se com
conventos, etc.]; transferência para os sovietes das propriedades fundiárias
base no princípio de classe, que é conforme a todo o regime da ditadura do
do Estado e dos municípios, compreendendo as florestas, o subsolo, a água,
proletariado e assegura o papel dirigente do proletariado industrial. Esta or-
etc.; nacionalização ulterior de todo o solo;
ganização ancorada na disciplina revolucionária, garante ao mesmo tempo
a ligação estreita e permanente dos soldados do Exército Vermelho e da b) Confiscação de todos os bens constituindo os utensílios dos grandes
Armada Vermelha às massas laboriosas e a sua participação na adminis- latifúndios [edifícios, alfaias e material diverso, gado, empresas de trans-
tração do país e na edificação do socialismo. formação dos produtos agrícolas, grandes moagens, queijarias, leitarias,
secagens, etc.];
3. A ditadura do proletariado e a expropriação dos expropria-
dores c) Transferência dos grandes latifúndios e mais particularmente daqueles
que têm grande importância económica ou podem servir de empresas
O proletariado vitorioso usa o poder conquistado como uma alavanca da
modelo para os organismos da ditadura do proletariado; organização de
revolução económica, ou seja, da transformação revolucionária do regime
explorações agrícolas soviéticas;
de propriedade capitalista num regime de produção socialista. O ponto de
partida desta profunda revolução económica encontra-se na expropriação d) Entrega em usufruto de uma parte dos antigos latifúndios e de outras
dos grandes latifundiários e dos capitalistas, isto é, na transformação da terras confiscadas aos camponeses [aos camponeses pobres e médios]
grande propriedade monopolista da burguesia em propriedade do Estado -nomeadamente daquelas que estavam arrendadas a camponeses e ser-
proletário. viam para subjugá-los economicamente. A parte das terras transmitidas

INTERNACIONAL COMUNISTA
aos camponeses é determinada pelas necessidades económicas e pela ne-
A Internacional Comunista consigna neste domínio à ditadura do proletaria-
cessidade de neutralizar os camponeses e de os aliar ao proletariado; varia
do as seguintes tarefas fundamentais:
portanto segundo as condições;
A. Indústria, transportes, telecomunicações
e) Interdição da venda e da compra das terras, a fim de conservar a terra nas
a) Confiscação e nacionalização proletária de todas as grandes empresas mãos dos camponeses e de impedir que passe para as mãos dos capita-
[empresas industriais, minas, centrais eléctricas] pertencentes ao capital listas, especuladores, etc; repressão enérgica de toda a infracção a esta lei;
privado; transferência para os sovietes de todas as empresas estatais e
f) Luta contra a usura. Anulação dos contratos iníquos. Anulação das dívidas
municipais;
dos camponeses explorados. Isenção de impostos aos camponeses mais
b) Confiscação e nacionalização proletária dos transportes ferroviários, ro- pobres, etc.;
doviários e fluviais pertencentes do capital privado, bem como transportes
g) Amplas medidas de conjunto, por parte do Estado, para elevar as forças
aéreos [frota aérea de comércio e de passageiros]; transferência para os
produtivas da agricultura; desenvolvimento da electrificação dos campos,
sovietes de todos os meios de transporte pertencentes ao Estado e aos
da fabricação de tractores, da produção de adubos químicos e de sementes
municípios;
seleccionadas, criação de gado de raça nas explorações soviéticas, ampla
c) Confiscação e nacionalização proletária dos serviços de telecomunica- organização do crédito agrícola para melhoramento do solo, etc.;
ções pertencentes ao capital privado [telégrafo, telefone, rádio]; transferên-
h) Apoio geral e financeiro à cooperação agrícola e a todas as formas de
cia para os sovietes de todos estes serviços pertencentes ao Estado, aos
produção colectiva nos campos [associações, comunas, etc.]. Propaganda
municípios, etc.;
sistemática da cooperação camponesa (cooperativas de venda, de apro-
d) Organização da gestão operária da indústria. Criação de organismos visionamento, de crédito), na base da iniciativa das massas camponesas:
governamentais de gestão com participação directa dos sindicatos, sendo propaganda a favor da passagem à grande produção agrícola que, pela sua

33
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

incontestável superioridade técnica e económica e pelas suas grandes van- [restaurantes e lavandarias públicas], luta sistemática, no domínio da cultu-
tagens económicas imediatas, constitui o meio de transição para o socia- ra geral, contra a ideologia e as tradições que sujeitam a mulher.
lismo mais acessível às grandes massas de trabalhadores camponeses.
E. Habitação
C. Comércio e crédito
a) Confiscação da grande propriedade imobiliária;
a) Nacionalização proletária dos bancos privados [entrega ao Estado prole-
tário de todas as reservas de ouro, valores, depósitos, etc.] e transferência b) Transferência dos imóveis confiscados para os sovietes locais que asse-
para o Estado proletário dos bancos nacionalizados, municipais, etc.; gurarão a sua gestão;

b) Centralização de todas as operações bancárias e subordinação de todos c) Instalação dos operários nos bairros burgueses;
os grandes bancos nacionalizados ao Banco Central do Estado;
d) Colocação à disposição das organizações operárias dos palácios e dos
c) Nacionalização e transferência para os organismos do Estado soviético edifícios privados mais importantes;
do comércio grossista e das grandes empresas comerciais de distribuição
e) Realização de um vasto programa de construção de habitações.
[entrepostos, silos, armazéns, stocks de mercadorias, etc.];
F. Questões nacional e colonial
d) Encorajamento por todos os meios da cooperação de consumo consi-
derada como uma parte integrante extremamente importante do aparelho a) Reconhecimento do direito de todas as nacionalidades, sem distinção de
de repartição; unificação do sistema de trabalho da cooperação e da par- raça, disporem livremente de si próprias, incluindo a formação de estados
ticipação activa das massas na sua edificação; e) Monopólio do comércio independentes;
externo;
b) Unificação e centralização voluntárias das forças militares e económicas
f) Anulação das dívidas do Estado aos capitalistas estrangeiros e nacionais. de todos os povos libertos do capitalismo para a luta contra o imperialismo
e a edificação da economia socialista; c) Luta enérgica, por todos os meios,
D. Protecção do trabalho, condições de vida dos trabalhadores,
contra qualquer restrição ou limitação dos direitos de um povo, de uma
etc.
nacionalidade ou de uma raça, quaisquer que sejam. Igualdade completa
a) Redução da jornada de trabalho para sete horas -seis nas indústrias in- das nações e das raças;
salubres. Redução ulterior da jornada de trabalho e passagem à semana
d) Garantia de desenvolvimento e apoio por todas as forças e todos os meios
de cinco dias nos países de produção desenvolvida. Jornada de trabalho
do Estado soviético, da cultura nacional das nações libertas do capitalismo,
correspondente ao aumento da produtividade do trabalho;
prossecução de uma política proletária perseverante no desenvolvimento
INTERNACIONAL COMUNISTA

b) Interdição, como regra geral, do trabalho nocturno das mulheres e nas do conteúdo destas culturas;
indústrias insalubres. Interdição do trabalho infantil. Interdição das horas
e) Ampla assistência ao desenvolvimento económico, político e cultural das
extraordinárias;
«regiões» e das «colónias» antes oprimidas, a fim de constituir aí bases
c) Redução da jornada de trabalho dos jovens [jornada de seis horas no sólidas de uma igualdade nacional efectiva e completa;
máximo para os adolescentes até aos 18 anos]. Reorganização socialista
f) Luta contra todas as sobrevivências do chauvinismo, dos ódios nacionais,
do trabalho dos jovens, combinando a produção material com a instrução
dos preconceitos de raça e de todos os outros produtos da barbárie feudal
geral e política;
e capitalista.
d) Seguros sociais de todos os tipos [invalidez, velhice, acidentes, desem-
G. Meios de influência ideológica
prego, etc.] financiados pelo Estado [financiados pelo patronato na medida
em que subsistam empresas privadas) e geridos de modo completamente a) Nacionalização das tipografias;
autónomo pelos segurados;
b) Monopolização dos jornais e das edições;
e) Amplas medidas de sanidade social, assistência médica gratuita, luta
contra as doenças sociais [alcoolismo, doenças venéreas, tuberculose]; c) Nacionalização das grandes empresas de cinema, teatros, etc.;

f) Igualdade social dos sexos perante a lei e nos costumes, transforma- d) Utilização dos meios nacionalizados de «produção intelectual» para fins
ção radical da legislação do casamento e da família, reconhecimento da de larga instrução política e geral dos trabalhadores e da edificação de uma
maternidade como função social, protecção da maternidade e da infância. nova cultura socialista sobre uma base proletária de classe.
Primeiras medidas tendentes ao cuidado e à educação das crianças e da
juventude pela sociedade [creches, jardins e casas de infância, etc.]. Criação
de instituições permitindo reduzir progressivamente o trabalho doméstico

34
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

4. As bases da política económica da ditadura do proletariado nal, maior é o papel do mercado, menor é a importância da gestão directa
segundo um plano estabelecido, maior é a dependência do planeamento
No cumprimento das diversas tarefas da ditadura do proletariado é preciso geral da economia da previsão das relações económicas espontâneas. In-
tomar em consideração as seguintes regras: versamente, quanto menor for o peso da pequena economia na economia
nacional, mais importante será a parte do trabalho socializado, mais pode-
1. A abolição completa da propriedade privada do solo e a sua nacionali-
rosa a massa dos meios de produção concentrados e socializados e menor
zação não podem ter lugar de forma imediata nos países capitalistas mais
será a extensão do mercado, maior a importância do plano geral em relação
avançados, nos quais o princípio da propriedade privada está profundamen-
ao jogo espontâneo das leis de troca e mais importantes e universalmente
te enraizado nas grandes massas camponesas. A nacionalização do solo
aplicáveis serão os métodos da gestão directa da produção e da repartição
não pode ser realizada nestes países senão progressivamente, através de
conforme a um plano estabelecido.
diversas medidas transitórias.
As vantagens técnicas e económicas da grande indústria socializada, a cen-
2. A nacionalização da produção não deve estender-se, regra geral, às pe-
tralização por parte do Estado proletário de todas as alavancas de comando
quenas e médias empresas [de camponeses, de artesãos, de pequenos
da economia (indústria, transportes, grandes explorações agrícolas, bancos,
e médios comerciantes, etc.]. Primeiro, porque o proletariado deve esta-
etc.), a gestão planificada da economia, o poder do Estado no seu conjunto
belecer uma distinção rigorosa entre a propriedade do simples produtor
[orçamento, impostos, legislação administrativa e legislação geral] condu-
de mercadorias, fundada sobre o seu próprio trabalho, e que é possível
zem, com a condição de que a ditadura do proletariado siga uma política
fazê-lo entrar na via da edificação socialista, e a propriedade do capita-
justa -por outras palavras, que compreenda exactamente as relações das
lista, explorador de outrem, cuja liquidação é condição indispensável de
forças sociais-, à eliminação constante e sistemática dos vestígios do ca-
toda a edificação do socialismo. Segundo, porque o proletariado, chegado
pital privado e dos novos elementos capitalistas que, nas cidades como
ao poder, não possui forças organizadoras suficientes, sobretudo durante
nos campos (camponeses ricos, kulaques), nascem do desenvolvimento da
as primeiras fases da ditadura, para destruir o capitalismo e organizar ao
simples produção mercantil, nas condições criadas por uma liberdade de
mesmo tempo a ligação das unidades individuais de produção -pequenas
comércio mais ou menos ampla e pelo mercado. A massa principal das
e médias- sobre uma nova base socialista; estas pequenas explorações
explorações camponesas [isto é, de pequenas e médias explorações] é,
individuais [sobretudo as explorações camponesas] só pouco a pouco serão
por outro lado, sistematicamente incorporada pela cooperação e extensão
integradas na via da organização socialista geral da produção, graças ao
das formas colectivas da agricultura no sistema geral do socialismo em via
apoio sistemático e poderoso que o Estado proletário dará a todas as forças
de desenvolvimento. As formas e os métodos de actividade económica, de
da sua colectivização. Toda a tentativa de transformação do seu regime
aparência capitalista, ligadas às relações económicas do mercado [cálcu-
económico pela coacção, toda a colectivização forçada só dará resultados
lo do valor, retribuição do trabalho em dinheiro, compra e venda, créditos
negativos.
e bancos, etc.] têm um papel de alavancas do socialismo, uma vez que
servem em maior medida as empresas de tipo socialista consequente, ou

INTERNACIONAL COMUNISTA
3. A existência de um grande número de pequenas unidades de produção
[em primeiro lugar de explorações camponesas, de quintas, de oficinas de seja, o sector socialista da economia.
artesãos, de fundos do pequeno comércio, etc.], não apenas nas colónias,
Assim, as relações económicas de mercado, nas condições da ditadura do
semicolónias e países economicamente atrasados, em que as massas
proletariado e com uma política justa por parte do Estado soviético, contêm
pequeno-burguesas formam a esmagadora maioria da população, mas
no seu desenvolvimento os germes da sua própria destruição: contribuindo
também nos centros da economia capitalista mundial [Estados Unidos,
para a eliminação do capital privado, para a transformação da economia
Alemanha e, até certo ponto, Inglaterra], tornam em certa medida neces-
rural, para a centralização e a concentração dos meios de produção nas
sário, num primeiro grau de desenvolvimento, a manutenção do mercado
mãos do Estado proletário, facilitam a eliminação das relações económicas
como forma da ligação económica, a manutenção do sistema monetário,
do mercado.
etc. A diversidade dos tipos económicos (desde a grande indústria sociali-
zada à pequena produção artesanal e camponesa), que não pode deixar de No caso provável de uma intervenção militar dos capitalistas e de uma
ser acompanhada pela sua luta, a diversidade das classes e agrupamentos guerra contrarevolucionária de longa duração contra a ditadura do prole-
de classes que lhe correspondem, que têm estímulos económicos diversos tariado, a direcção económica deverá inspirar-se, antes de mais, nos inte-
na sua actividade e que lutam pelos seus interesses económicos, enfim, resses da defesa da ditadura do proletariado; pode impor-se a necessidade
a existência, em todos os domínios da vida económica, de costumes e de de uma política comunista económica de guerra [comunismo de guerra],
tradições herdadas da sociedade burguesa, que não podem desaparecer que não é senão a organização racional do consumo com vista à defesa,
num ápice – exigem que a direcção económica do proletariado combine acompanhada de uma pressão acrescida sobre os elementos capitalistas
em justas proporções, na base do mercado, a grande indústria socialista e a [confiscações, requisições, etc.], de uma revogação mais ou menos com-
pequena exploração de simples produtores de mercadorias, realize, noutros pleta das relações do mercado e de uma alteração profunda dos estímulos
termos, uma combinação susceptível de assegurar simultaneamente o pa- individuais da pequena produção, num quadro de quebra das forças pro-
pel dirigente da indústria socialista e o máximo impulso da massa principal dutivas do país. Esta política de «comunismo de guerra», minando a base
das explorações camponesas. Quanto maior for a importância do trabalho material dos inimigos da classe operária no interior do país, assegurando
dos pequenos camponeses disseminados no conjunto da economia nacio- a repartição racional dos stocks existentes, apoiando a defesa armada da

35
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

ditadura do proletariado e encontrando aí a sua justificação histórica, não a edificação socialista, deve passar de uma política de neutralização da
pode ser considerada como um sistema «normal» de política económica da massa dos camponeses médios a uma política de aliança duradoura com
ditadura do proletariado. esta, sem nunca admitir alguma partilha do poder. Isto porque a ditadura do
proletariado exprime o facto de que apenas os operários industriais estão
5. A ditadura do proletariado e as classes sociais capacitados para dirigir o conjunto dos trabalhadores; monopólio proletário
do poder, ela é, por outro lado, uma forma particular da aliança do proleta-
A ditadura do proletariado continua a luta de classes em novas condições.
riado, vanguarda dos trabalhadores, contra o capital para consumar o seu
É uma luta tenaz, sangrenta e sem efusão de sangue, violenta e pacífica,
derrubamento irreversível, para reprimir a fundo a resistência e as tentati-
militar e económica, pedagógica e administrativa, contra as forças e as
vas de restauração da burguesia e para instaurar e consolidar o socialismo.
tradições da antiga sociedade, contra os capitalistas externos, contra os
restos das classes exploradoras no interior do país, contra os rebentos de 4. A pequena burguesia das cidades, oscilando sempre entre a reacção
uma nova burguesia que nasce da produção mercantil ainda não eliminada. mais negra e a simpatia pelo proletariado, deve igualmente ser neutrali-
zada e, tanto quanto possível, conquistada pelo proletariado. Atinge-se tal
No período de liquidação da guerra civil, a luta de classes obstinada conti-
finalidade, conservando a sua pequena propriedade e uma certa liberdade
nua sob novas formas e, antes de mais, sob a forma da luta entre os ves-
de transacções económicas, libertando-a do jugo do crédito usurário, asse-
tígios e os novos rebentos dos velhos sistemas económicos, por um lado,
gurando-lhe o apoio múltiplo do proletariado na luta contra todas as formas
e as formas socialistas da economia, por outro. As próprias formas dessa
da opressão capitalista.
luta modificam-se nas diferentes etapas do desenvolvimento socialista, em
cujo início podem revestir uma certa aspereza. 6. As organizações de massas no sistema da ditadura do pro-
letariado
No início da ditadura do proletariado, a política do proletariado em relação
às outras classes e grupos sociais do país é determinada pelos seguintes Os objectivos e as funções das organizações de massas -e em primeiro
princípios: lugar das organizações operárias- mudam radicalmente no cumprimento
de todas estas tarefas da ditadura proletária. Os sindicatos, organizações
1. A grande burguesia e os grandes latifundiários, os oficiais de carreira
operárias de massas nas quais se organizam e se educam pela primeira
devotados a essas classes, os generais e a alta burocracia são inimigos
vez as camadas mais amplas do proletariado, são, em regime capitalista, o
irredutíveis da classe operária; contra eles a luta é mais implacável. A uti-
principal instrumento da luta através da greve, depois pela acção de massas
lização das capacidades de organização de uma determinada parte deles
contra o capital dos trusts e do seu Estado. Transformam-se sob a ditadura
não é possível, regra geral, senão depois da consolidação da ditadura do
proletária em alavanca essencial da ditadura, numa escola do comunismo
proletariado e da repressão decisiva de todas as conspirações e subleva-
que arrasta as grandes massas do proletariado na obra de gestão socialis-
ções dos exploradores.
ta da indústria, em organizações directamente ligadas a todos os órgãos
INTERNACIONAL COMUNISTA

2. No que respeita aos intelectuais-técnicos educados nas tradições bur- do Estado, agindo em todos os ramos da sua actividade, defendendo ao
guesas, cujas camadas superiores se encontram estreitamente ligadas aos mesmo tempo os interesses permanentes e imediatos da classe operária e
postos de comando do capital, 24 o proletariado, ao mesmo tempo que combatendo as deformações burocráticas dos órgãos do Estado soviético.
reprime com toda a energia qualquer veleidade de movimento contra-re- Os sindicatos fornecem quadros dirigentes da edificação, trazem para esse
volucionário dos intelectuais hostis, deve ter em conta a necessidade de trabalho as grandes camadas do proletariado e lutam contra as deforma-
utilizar esta força social qualificada na obra da edificação socialista e enco- ções burocráticas que nascem inevitavelmente da influência das classes
rajar por todos os meios os neutros e mais ainda aqueles que simpatizam estranhas ao proletariado e da insuficiente cultura de massas, e formam
com a revolução operária. O proletariado, desenvolvendo as perspectivas assim a estrutura das organizações económicas e sociais do proletariado.
da edificação económica, técnica e cultural do socialismo em toda a sua
As cooperativas operárias, a despeito das utopias reformistas, são conde-
amplitude, esforça-se sistematicamente por conquistar os intelectuais-
nadas no regime capitalista a um papel relativamente modesto. Subjuga-
-técnicos, por submetê-los à sua influência ideológica e assegurar a sua
das pelas condições gerais do sistema capitalista e da política reformista
estreita colaboração na obra de transformação social.
dos seus dirigentes, elas degeneram frequentemente em apêndice do regi-
3. A tarefa do Partido Comunista relativamente aos camponeses consiste me; sob a ditadura do proletariado podem tornar-se e tornar-se-ão partes
em ganhar para a sua causa, apoiando-se no proletariado rural, todas as constitutivas essenciais do aparelho de repartição.
populações exploradas e laboriosas dos campos. Estabelecendo uma dis-
Por fim, a cooperação agrícola dos camponeses [cooperativas de venda,
tinção entre as diversas camadas camponesas e tendo em conta a sua im-
de compra, de crédito, de produção] pode e deve -se for bem dirigida, se
portância respectiva, o proletariado vitorioso deve apoiar por todos os meios
combater sistematicamente os elementos capitalistas e assegurar a par-
os camponeses pobres e os semi-proletários dos campos, entregar-lhes
ticipação efectiva da grande massa dos camponeses trabalhadores que
uma parte das terras dos grandes latifundiários, facilitar a sua luta contra o
apoiam o proletariado- tornar-se uma das formas de organização funda-
capital usurário, etc. O proletariado deve ainda neutralizar os camponeses
mentais ligando a cidade ao campo. As associações cooperativas formadas
médios e reprimir toda a resistência da burguesia rural aliada aos latifun-
pelos camponeses e que nas condições do capitalismo -na medida em que
diários. O proletariado, à medida que consolida a sua ditadura e desenvolve

36
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

forem viáveis- se transformam, na sua maioria, em empresas capitalistas velha sociedade e tornar-se capaz de criar a nova sociedade senão pela
[colocadas sob a dependência da indústria capitalista, dos bancos capita- revolução.
listas, do meio económico capitalista em geral, e dirigidas por reformistas,
pela burguesia rural e por vezes mesmo por latifundiários], em regime de A classe operária, abolindo o monopólio dos meios de produção, deve
ditadura proletária transformam-se num sentido completamente diverso; igualmente abolir o monopólio burguês da instrução, isto é, apoderar-se
elas dependem da indústria proletária, dos bancos proletários, etc. Se o de todas as escolas, mesmo das escolas superiores. A preparação, no seio
proletariado seguir uma política justa, se os elementos capitalistas forem da classe operária de especialistas da produção [engenheiros, técnicos,
sistematicamente combatidos na cooperação como fora dela, se a indús- organizadores, etc.,], de especialistas militares, de cientistas, de artistas,
tria socialista exercer o seu papel dirigente, a cooperação agrícola torna-se etc., é tarefa de particular importância para a causa do proletariado, à qual
uma das principais alavancas da transformação socialista dos campos e da é necessário juntar o desenvolvimento geral da cultura das massas prole-
colectivização da agricultura. As cooperativas de consumo, e mais particu- tárias, da sua instrução política, do aumento dos seus conhecimentos e da
larmente as cooperativas agrícolas dirigidas pela burguesia e pelos seus sua qualificação técnica, da criação entre elas de hábitos de trabalho social
agentes sociais-democratas, podem ser, pelo menos ao princípio, em cer- e administrativo, da luta contra os vestígios dos preconceitos burgueses e
tos países, focos de actividade contra-revolucionária e de sabotagem da pequeno-burgueses, etc.
edificação económica e da revolução operária.
Só na medida em que o proletariado forme as suas próprias forças de van-
O proletariado assegura a união da vontade e da acção em todo o trabalho guarda para colocá-las em todos os «postos de comando» da cultura e da
da luta e da edificação dos seus mais diversos organismos, chamados a edificação socialista, só na medida em que as suas forças crescerem arras-
constituir as alavancas do Estado soviético e a ligá-lo às grandes massas tando consigo novos elementos da classe operária no processo de trans-
de todas as camadas da classe operária através do papel dirigente do Par- formação revolucionária da cultura, e suprimirem assim, pouco a pouco,
tido Comunista no sistema da ditadura do proletariado. no seio da própria classe operária a divisão entre elementos «avançados»
e atrasados» é que o sucesso da edificação vitoriosa do socialismo será
O partido do proletariado apoia-se directamente nos sindicatos e nas ou- assegurado e garantido contra a gangrena burocrática e a degenerescência
tras organizações que englobam as massas operárias e, por seu intermédio, da classe operária.
os camponeses [sovietes, cooperativas, juventudes comunistas, etc.]. Com
estas alavancas, ele dirige o conjunto do sistema. O proletariado não poderá Mas o proletariado transforma também, no decurso da revolução, as outras
cumprir o seu papel de organizador da nova sociedade senão graças ao classes, os numerosos elementos da pequena burguesia das cidades e dos
apoio abnegado e absoluto ao poder dos sovietes por parte de todas as campos, em primeiro lugar e muito especialmente os trabalhadores cam-
organizações de massas animadas de uma vontade de classe inteiramente poneses. Fazendo acorrer as grandes massas à revolução cultural, condu-
unânime dirigida pelo partido. zindo-as para a edificação socialista, unindo-as e educando-as no espírito
comunista por todos os meios à sua disposição, lutando energicamente

INTERNACIONAL COMUNISTA
7. A ditadura do proletariado e a revolução cultural contra todas as ideologias antiproletárias e corporativas, combatendo obs-
tinadamente e sistematicamente o obscurantismo dos campos, a classe
Este papel de organizador da nova sociedade supõe, no domínio da cultura operária prepara [na base do desenvolvimento das formas colectivas da
geral, o amadurecimento cultural do próprio proletariado, uma transfor- economia] a eliminação da divisão da sociedade em classes.
mação da sua própria natureza pelos seus próprios esforços, a formação
incessante nas suas fileiras de novos quadros de militantes susceptíveis de Entre os objectivos da revolução cultural que interessam às mais amplas
assimilar todos os recursos da ciência, da técnica e da administração e de massas, a luta contra a religião, esse ópio dos povos, ocupa um lugar
os pôr ao serviço da edificação do socialismo e da nova cultura socialista. especial; esta luta deve prosseguir inflexível e sistematicamente. O poder
proletário deve suprimir todo o apoio do Estado à Igreja, agente das classes
Se a revolução burguesa, consumada contra o feudalismo, pressupunha a dominantes, pôr termo a qualquer intervenção da Igreja na educação e no
existência no próprio seio do antigo regime de uma nova classe superior, ensino organizados pelo Estado e reprimir sem piedade a actividade con-
pela sua maturidade cultural, à classe dominante e exercendo já a hegemo- trarevolucionária das organizações eclesiásticas. O poder proletário, admi-
nia na vida económica, a revolução proletária desenvolve-se noutras condi- tindo a liberdade religiosa e abolindo os privilégios da religião anteriormente
ções. Explorada no plano económico, oprimida no plano político, esmagada dominante, pratica ao mesmo tempo por todos os meios ao seu alcance,
no domínio da cultura no regime capitalista, a classe operária não se trans- uma activa propaganda anti-religiosa e reconstrói todo o ensino e toda a
forma ela própria senão no período de transição, depois de ter conquistado o educação na base da concepção científica materialista do mundo.
poder, destruindo o monopólio burguês da instrução, assimilando a ciência,
aproveitando as lições da mais vasta obra edificadora. A formação de uma 8. A luta pela ditadura mundial do proletariado e os principais
consciência comunista de massas e a realização do socialismo exige uma tipos de revoluções
transformação das massas humanas só possível pela acção prática, pela
revolução; a revolução é portanto necessária não apenas porque a classe A revolução proletária internacional resulta de processos diversos e não
dominante não pode ser derrubada por nenhum outro meio, mas também simultâneos: revoluções proletárias propriamente ditas; revoluções de tipo
porque a classe que a derruba não pode sair das margens lamacentas da democrático-burguês que se transformam em revoluções proletárias; guer-

37
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

ras de emancipação nacional, revoluções coloniais. Só em última instância mesmo uma indústria desenvolvida, insuficiente embora, na maioria dos
é que o processo revolucionário termina na ditadura mundial do proleta- casos, para a edificação independente do socialismo; países em que pre-
riado. dominam as relações sociais da Idade Média feudal ou o «modo asiático de
produção», tanto na vida económica como na sua superestrutura política;
A desigualdade do desenvolvimento capitalista, acentuada no período im- países, enfim, em que as principais empresas industriais, comerciais, ban-
perialista, gerou a diversidade dos tipos de capitalismo de amadurecimento cárias, os principais meios de transporte, os maiores latifúndios, as maiores
desigual nos diversos países e as condições diversas e específicas do pro- plantações, etc., se encontram nas mãos de grupos imperialistas estrangei-
cesso revolucionário. As circunstâncias tornam historicamente inevitável a ros. Aqui têm uma importância primordial, por um lado, a luta contra o feu-
diversidade das vias e do ritmo da conquista do poder pelo proletariado; dalismo, contra as formas pré-capitalistas de exploração e a consequente
elas tornam necessárias em diversos países certas etapas transitórias para revolução agrária e, por outro lado, a luta contra o imperialismo estrangeiro,
a ditadura do proletariado, bem como a diversidade das formas do socialis- pela independência nacional. A passagem à ditadura do proletariado só é
mo em via de construção. possível nestes países, regra geral, depois de uma série de etapas prepara-
tórias, esgotado todo um período de transformação da revolução burguesa-
A diversidade das condições e das vias que conduzem à ditadura do prole-
-democrática em revolução socialista, sendo que o sucesso da edificação
tariado nos diferentes países pode ser esquematicamente reduzida a três
socialista é, na maior parte dos casos, condicionado pelo apoio directo dos
tipos principais.
países de ditadura proletária.
Países do capitalismo altamente desenvolvido (Estados Unidos, Alemanha,
Nos países ainda mais atrasados [em determinadas partes de África, por
Inglaterra, etc.) possuindo poderosas forças produtivas, uma produção for-
exemplo], em que quase não existem operários assalariados, em que a
temente centralizada em que a pequena economia tem uma importância
maioria das populações vive em tribos, ou ainda subsistem formas primi-
relativamente pequena, gozando de um regime político de democracia
tivas de organização social, onde quase não há burguesia nacional, onde o
burguesa há muito tempo formado. Nestes países, a passagem directa à
imperialismo estrangeiro tem, antes de mais, um papel de ocupação militar
ditadura do proletariado é a principal reivindicação política do programa.
para se apoderar das terras, a luta pela emancipação nacional encontra-se
No domínio económico, os pontos essenciais são: a expropriação de toda a
em primeiro plano. A insurreição nacional e a sua vitória podem aqui abrir
grande produção, a organização de um grande número de empresas agrí-
a via para uma evolução no sentido do socialismo sem passar pelo estado
colas soviéticas de Estado e, inversamente, a entrega de uma parte relati-
do capitalismo se uma ajuda efectiva e poderosa for prestada pelos países
vamente pequena de terras aos camponeses; uma dimensão relativamente
de ditadura proletária.
reduzida das relações económicas espontâneas de mercado; um ritmo
elevado da evolução socialista em geral e da colectivização da economia
camponesa em particular. Assim, a época em que a conquista do poder pelo proletariado está na or-
dem do dia nos países capitalistas avançados, em que a ditadura do prole-
INTERNACIONAL COMUNISTA

Países de desenvolvimento capitalista médio [Espanha, Portugal, Polónia,


tariado já existe na URSS e constitui um factor de importância mundial, os
Hungria, Balcãs, etc.] que conservam vestígios bastante importantes do
movimentos de libertação dos países coloniais e semicoloniais, suscitados
regime semi-feudal na agricultura, possuem no entanto um certo mínimo
pela penetração do capital mundial, podem chegar, apesar da insuficiente
de condições materiais indispensáveis à edificação socialista, mas não têm
maturidade das relações sociais destes países, considerados isoladamente,
ainda concluída a sua transformação democráticaburguesa. Em alguns
ao desenvolvimento socialista graças à ajuda e apoio da ditadura do pro-
destes países, uma transformação mais ou menos rápida da revolução de-
letariado e do movimento proletário internacional em geral.
mocrático-burguesa em revolução socialista é possível; noutros, são pos-
síveis diversos tipos de revoluções proletárias, tendo no entanto que levar a 9. A luta pela ditadura mundial do proletariado e a revolução
cabo tarefas de carácter burguês-democrático de grande amplitude. Aqui, colonial
a ditadura do proletariado pode portanto não se estabelecer de imediato;
institui-se no decurso da transformação da ditadura democrática do prole- As condições particulares da luta revolucionária nos países coloniais e se-
tariado e dos camponeses em ditadura socialista do proletariado; quando micoloniais, a inevitabilidade de um longo período de lutas pela ditadura de-
a revolução reveste imediatamente um carácter proletário, pressupõe a mocrática do proletariado e finalmente a importância decisiva dos factores
direcção pelo proletariado de um amplo movimento camponês-agrário; a nacionais impõem aos partidos comunistas destes países tarefas particu-
revolução agrária tem aí, em geral, um grande papel, por vezes decisivo; lares que constituem o degrau preparatório para a ditadura do proletariado.
no decurso da expropriação da grande propriedade fundiária, uma grande Entre estas a Internacional Comunista designa como principais tarefas as
parte das terras confiscadas são colocadas à disposição dos camponeses; seguintes:
as relações económicas do mercado conservam uma grande importância a
seguir à vitória do proletariado; trazer os camponeses à cooperação, depois 1. Derrubamento da dominação do imperialismo estrangeiro, dos feudais e
agrupá-los em associações de produção é uma das tarefas mais importan- da burocracia agrária.
tes da edificação socialista. O ritmo desta edificação é relativamente lento.
2. Estabelecimento de uma ditadura democrática do proletariado e dos
Países coloniais e semicoloniais [China, Índia, etc.] e países dependentes
camponeses na base dos sovietes.
[Argentina, Brasil e outros] possuindo um embrião de indústria, por vezes

38
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

3. Completa dependência nacional e formação do Estado nacional. V. A ditadura do proletariado na URSS e a revolução socialista
mundial
4. Anulação das dívidas do Estado.
1. A edificação do socialismo na URSS e a luta de classes
5. Nacionalização das grandes empresas [indústrias, transportes, bancos,
etc.] pertença dos imperialistas. A divisão da economia mundial entre países do capitalismo e países que
constróem o socialismo é a principal manifestação da profunda crise do
6. Confiscação dos domínios pertencentes aos grandes latifundiários, às sistema capitalista. A consolidação interna da ditadura do proletariado na
igrejas e aos mosteiros. Nacionalização do solo. URSS, os sucessos da edificação socialista, a influência e a autoridade
crescente da URSS entre as massas proletárias e os povos oprimidos das
7. Jornada de 8 horas de trabalho.
colónias significam por consequência a continuação, o reforço e o desen-
8. Organização de um exército revolucionário operário e camponês. volvimento da revolução socialista mundial.

No decurso do alargamento e da intensificação da luta nas colónias e se- Dispondo no próprio país as premissas materiais necessárias e suficientes,
micolónias onde o proletariado tem um papel dirigente e predominante [a não somente ao derrubamento dos latifundiários e da burguesia mas tam-
sabotagem por parte da burguesia implicará a confiscação das empresas bém à edificação do socialismo integral, os operários das repúblicas sovié-
dos elementos sabotares, levando inevitavelmente à nacionalização da ticas, ajudados pelo proletariado internacional, repeliram heroicamente as
grande indústria], a revolução democrática-burguesa transformar-se-á em agressões das forças armadas da contra-revolução interna e externa, con-
revolução proletária. Nos países onde não existe proletariado, o derruba- solidaram a sua aliança com as grandes massas camponesas e obtiveram
mento do poder dos imperialistas deve significar a organização do poder consideráveis sucessos no domínio da edificação socialista.
dos sovietes populares (de camponeses) e a confiscação a favor do Estado
O correcto relacionamento da indústria socialista proletária com a pequena
das empresas e das terras na posse dos estrangeiros.
economia rural, garantindo tanto o crescimento das forças produtivas da
Do ponto de vista da luta contra o imperialismo e da conquista do poder agricultura como o papel dirigente da indústria socialista; a articulação des-
pela classe operária, as revoluções coloniais e os movimentos de libertação ta indústria com a agricultura, em detrimento da produção capitalista para
têm um enorme papel. A importância das colónias e das semicolónias no o consumo improdutivo das classes parasitárias; a produção visando não o
período de transição resulta igualmente do facto de elas serem, de cer- lucro capitalista mas a satisfação das necessidades em rápido crescimento
to modo, a região rural do mundo em contraponto aos países industriais das massas, o que constitui no final de contas um poderoso estímulo à pro-
que representam o papel da cidade mundial; a organização da economia dução; enfim, a grande concentração das principais alavancas de comando
socialista mundial e a coordenação nacional da indústria e da agricultura económico nas mãos do Estado proletário, a importância crescente da di-
dependem em larga medida da atitude para com as antigas colónias do recção planificada, de que resulta uma economia e uma melhor repartição

INTERNACIONAL COMUNISTA
imperialismo. A realização de uma aliança fraterna e combativa com as dos meios de produção, são outros tantos factores que dão ao proletariado
massas trabalhadoras das colónias é portanto um dos objectivos principais a possibilidade de avançar rapidamente na via da edificação socialista.
do proletariado industrial do mundo que exerce a hegemonia da direcção
Elevando as forças produtivas de toda a economia, prosseguindo inflexi-
na luta contra o imperialismo.
velmente uma política de industrialização da URSS, cujo ritmo acelerado é
O curso da revolução mundial, que arrasta os operários das metrópoles na ditado por toda a situação internacional e interna, o proletariado da URSS,
luta pela ditadura do proletariado, levanta igualmente centenas de milhões apesar das tentativas reiteradas de boicote financeiro e económico de que
de operários e de camponeses coloniais contra o imperialismo estrangeiro. é objecto por parte das potências capitalistas, aumenta sistematicamen-
Dada a existência de centros do socialismo organizado nas repúblicas so- te a importância do sector socializado [socialista] da economia nacional,
viéticas e o crescimento do seu poder económico, as colónias desligadas do tanto no domínio dos meios de produção como nos da produção global
imperialismo aproximam-se e juntam-se gradualmente aos focos econó- e da circulação das mercadorias. A indústria, os transportes e o sistema
micos industriais do socialismo mundial, são levadas no leito da edificação bancário estatal socialista arrastam assim, sem cessar, cada vez mais, na
socialista, evitando a fase do desenvolvimento capitalista como sistema sua esteira a pequena economia rural sobre a qual agem através das ala-
dominante, e obtêm a possibilidade de um progresso económico e cultu- vancas do comércio do Estado e da cooperação em rápido crescimento,
ral rápido. Agrupando-se politicamente em redor dos centros da ditadura nas condições determinadas pela nacionalização do solo e pelo impulso da
do proletariado, os sovietes operários e camponeses das antigas colónias industrialização.
mais desenvolvidas integram-se no sistema em alargamento da federação
Na agricultura, em particular, o crescimento das forças produtivas decorre
das repúblicas soviéticas e, pelo mesmo caminho, no sistema mundial da
em condições que limitam a diferenciação social dos camponeses [nacio-
ditadura do proletariado.
nalização do solo e, por consequência, interdição de comprar e de vender
O socialismo, como novo modo de produção, adquire assim no seu desen- terras, impostos fortemente progressivos, crédito à cooperação dos cam-
volvimento uma envergadura mundial. poneses pobres e às suas associações de produção, legislação reguladora
do emprego de mão-de-obra assalariada, supressão de certos direitos po-

39
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

líticos e sociais aos camponeses ricos -kulaques- organização de campo- ditadura do proletariado, a Juventude Comunista, todos os tipos de coope-
neses pobres, etc.]. Mas não se encontrando ainda suficientemente desen- ração, as organizações de mulheres, operárias e camponesas, as diversas
volvidas as forças produtivas da indústria socialista para dotar amplamente associações de voluntários, as organizações de correspondentes operários
a agricultura de uma nova técnica e reunir rapidamente as explorações e camponeses da imprensa, as organizações desportivas, científicas, de
camponesas em grandes explorações agrícolas colectivas, os kulaques instrução e cultura], o alargamento por todos os meios da iniciativa das
aumentam em determinado número e estabelecem uma ligação, primeiro massas, a promoção de operários para postos de responsabilidade em to-
económica, depois política, com os elementos da «nova burguesia». dos os órgãos económicos e administrativos. O envolvimento incessante e
crescente das massas na edificação do socialismo, a renovação constante
Tendo nas suas mãos as posições estratégicas dominantes da vida eco- do aparelho de Estado, dos órgãos económicos, dos sindicatos e do parti-
nómica; desalojando sistematicamente os vestígios do capital privado do com novos quadros proletários, a formação sistemática de operários e
urbano, cuja importância foi sensivelmente reduzida no decurso do último mais particularmente de jovens operários em estabelecimentos de ensino
período da «nova política económica»; limitando por todos os meios a ac- superior, em cursos especiais, etc., tornando-os em novos quadros técnicos
ção dos exploradores da população rural, que brotam do desenvolvimento socialistas em todos os ramos da edificação -tais são as principais garan-
das relações mercantis e monetárias; apoiando as propriedades do Estado tias contra a burocratização e contra a degenerescência social dos quadros
e encorajando a sua criação; envolvendo as restantes massas dos sim- proletários dirigentes.
ples produtores mercantis camponeses no sistema geral da organização
económica soviética e, por consequência, na obra da edificação 2. A importância da URSS. As suas obrigações revolucionárias
socialista por meio da cooperação, cujos progressos rápidos, em regime internacionais
de ditadura do proletariado e sob a direcção económica da indústria socia-
lista, se identificam com o impulso do socialismo; passando do período de Esmagado o imperialismo russo, emancipadas as antigas colónias e as
reconstrução ao da reprodução alargada de toda a base técnico-produtiva nacionalidades oprimidas pelo império tsarista, a ditadura do proletariado
do país, o proletariado da URSS coloca perante si a tarefa -e iniciou já a assegura a igualdade não apenas formal mas também efectiva das diversas
sua realização- da construção de um vasto programa de obras públicas nacionalidades da União, lançando uma base sólida para o seu desenvol-
[produção de meios de produção em geral, indústria pesada e, muito em vimento cultural e político mediante a industrialização dos seus territórios,
particular, electrificação] e, paralelamente ao desenvolvimento contínuo da consagrando na Constituição da União os direitos das regiões e das repú-
cooperação na venda, compra e crédito, a tarefa da organização cada vez blicas federadas e realizando integralmente o direito das nações a dispor
mais ampla dos camponeses em cooperativas de produção, concebidas de si próprias.
numa base colectivista com o apoio material por parte do Estado proletário.
País da ditadura do proletariado e da edificação do socialismo, país das
O socialismo, que é já o factor decisivo do desenvolvimento da economia imensas conquistas da classe operária, da aliança dos operários e dos
da URSS, regista assim grandes progressos e ultrapassa, por um esforço camponeses e de uma nova cultura em desenvolvimento sob a bandeira do
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sistemático, as dificuldades suscitadas pelo carácter pequeno-burguês do marxismo, a URSS torna-se necessariamente na base do movimento mun-
país e ligadas ao agravamento momentâneo dos antagonismos de classes. dial das classes oprimidas, no foco da revolução internacional e no maior
factor da história do mundo.
A necessidade do reequipamento da indústria e da realização de grandes
obras de construção coloca sérias dificuldades ao desenvolvimento do so- O proletariado de todos os países encontra pela primeira vez na URSS uma
cialismo, que se explicam, em última instância, pelo estado atrasado da verdadeira pátria, e os movimentos nas colónias um poderoso centro de
tecnologia e da economia do país e pelas devastações de anos de guerra atracção.
imperialista e de guerra civil. No entanto, apesar disso, o nível de vida da
A URSS é assim, no meio da crise geral do capitalismo, um factor dos mais
classe operária e das grandes massas laboriosas eleva-se constantemente
importantes, não somente porque, desligada do sistema capitalista mun-
e, a par da racionalização socialista e da organização científica da indústria,
dial, colocou os fundamentos de um novo sistema económico socialista,
a jornada de 7 horas é gradualmente introduzida. Estão assim criadas novas
mas também porque tem um papel revolucionário, de uma importância
perspectivas de melhoria das condições de trabalho e de vida da classe
excepcionalmente grande: o papel de motor internacional da revolução
operária.
proletária, que incita os proletários de todos os países à conquista do poder;
Unida sob a direcção de um Partido Comunista temperado pelas lutas re- o papel de exemplo vivo de que a classe operária é capaz não só de destruir
volucionárias, apoiada nos campos pelos camponeses pobres, solidamente o capitalismo, mas também de edificar o socialismo; o papel de protótipo
aliada às massas de camponeses médios e combatendo sem desfaleci- das relações fraternas de todas as nacionalidades no seio da União Mun-
mento os kulaques, a classe operária arrasta massas cada vez mais am- dial das Repúblicas Socialistas Soviéticas e da união dos trabalhadores de
plas de dezenas de milhões de trabalhadores para a obra de edificação do todos os países no sistema económico mundial único do socialismo que o
socialismo, na base do crescimento económico da URSS e da importância proletariado estabelecerá depois da conquista do poder.
crescente do sector socialista da sua economia. Os principais meios para
A existência simultânea de dois sistemas económicos, o sistema socialista
atingir esse objectivo são: o desenvolvimento de grandes organizações de
da URSS e o sistema capitalista dos outros países, impõe ao Estado prole-
massas [o partido como força dirigente, os sindicatos, alicerce do regime da

40
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

tário o dever de repelir os ataques do mundo capitalista [boicote, bloqueio, da URSS, é necessário utilizar a dispersão das forças armadas do imperialis-
etc.], de manobrar no domínio económico e de utilizar as relações económi- mo para desenvolver ao mais alto grau a luta anti-imperialista e organizar
cas com os países capitalistas [através do monopólio do comércio externo, acções revolucionárias com vista ao derrubamento do jugo do imperialismo
que constitui uma das condições essenciais de uma edificação socialista e à conquista da completa independência.
eficaz, através dos créditos, empréstimos, concessões, etc.]. Trata-se em
primeiro lugar e principalmente de estabelecer relações mais amplas quan- O desenvolvimento do socialismo na URSS e o crescimento da sua influên-
to possível com o estrangeiro, na condição de que sejam vantajosas para a cia internacional mobilizam contra ela o ódio das potências capitalistas e
URSS, sobretudo para a consolidação da sua indústria, para o lançamento dos seus agentes da social-democrata, mas suscitam, por outro lado, as
das bases de uma indústria pesada própria e da electrificação e, finalmente, mais vivas simpatias das grandes massas de trabalhadores do mundo in-
para a criação de uma indústria socialista de construção de máquinas. Só teiro e fazem nascer nas classes oprimidas a firme vontade de combater
na medida em que esta independência económica da URSS for assegurada por todos os meios, em caso de agressão imperialista, pelo país da ditadura
nas condições do cerco capitalista, se criará uma sólida garantia contra a do proletariado.
ameaça de destruição da obra de edificação socialista e contra a sua sub-
Assim, o desenvolvimento das contradições da economia mundial, o desen-
missão ao sistema capitalista mundial.
volvimento da crise geral do capitalismo e a agressão imperialista contra
Os estados capitalistas, apesar de estarem interessados no mercado da a URSS conduzirão infalivelmente a uma poderosa explosão revolucionária
URSS, oscilam constantemente entre os interesses comerciais e o temor do que enterrará o capitalismo nos países «civilizados», desencadeará a revo-
crescimento da URSS, o qual significa também o crescimento da revolução lução vitoriosa nas colónias, alargará imensamente a base da ditadura do
mundial. A tendência para o cerco à URSS e para a guerra contra-revolu- proletariado e constituirá desta forma um grande passo no sentido da vitória
cionária com vista a restaurar um regime universal de terrorismo burguês definitiva do socialismo no mundo.
constitui a tendência principal e fundamental da política das potências ca-
VI. A estratégia e a táctica da Internacional Comunista na luta
pitalistas.
pela ditadura do proletariado
Todavia, as tentativas sistemáticas de cerco político da URSS e o perigo
1. As ideologias hostis ao comunismo no seio da classe ope-
crescente de uma agressão não impedirão o PC da URSS(b), secção da In-
rária
ternacional Comunista, 33 dirigente da ditadura do proletariado na URSS,
de cumprir os seus deveres internacionais e de apoiar todos os oprimidos: O comunismo revolucionário defronta-se, na luta contra o capitalismo pela
o movimento operário dos países capitalistas, o movimento dos povos co- ditadura do proletariado, com numerosas tendências no seio da classe ope-
loniais contra o imperialismo, a luta contra todas as formas de opressão rária, expressando em grau mais ou menos elevado a subordinação ideoló-
nacional. gica à burguesia imperialista ou à pressão ideológica sobre o proletariado,
da pequena e média burguesia que se insurge de tempos a tempos contra

INTERNACIONAL COMUNISTA
3. As obrigações do proletariado internacional em relação à
o duro regime do capital financeiro, mas é incapaz de seguir uma estratégia
URSS
e uma táctica firmes, fundadas num pensamento científico e de travar a
O proletariado internacional, do qual a URSS é a única pátria, trincheira luta com a organização e estrita disciplina que são próprias ao proletariado.
das suas conquistas, factor essencial da sua libertação internacional, tem
O formidável poder social do Estado imperialista e de todas as suas institui-
como dever contribuir para o sucesso da edificação do socialismo na URSS
ções auxiliares -escola, imprensa, teatro, igreja- traduz-se antes de mais
e de defendê-la por todos os meios contra os ataques das potências ca-
na classe operária pela existência de tendências confessionais e reformis-
pitalistas. «A situação política mundial colocou agora na ordem do dia a
tas, obstáculo principal à revolução socialista do proletariado.
ditadura do proletariado e todos os acontecimentos da política mundial
se concentram inevitavelmente em torno de um ponto central, a saber: a As tendências confessionais da classe operária, tingidas de religião, encon-
luta da burguesia mundial contra a República dos Sovietes na Rússia, que tram a sua expressão nos sindicatos confessionais, muitas vezes ligados às
agrupa necessariamente em torno de si, por um lado, os movimentos so- organizações políticas correspondentes da burguesia e colados a uma ou
viéticos dos operários avançados de todos os países e, por outro, todos outra organização clerical da classe dominante [sindicatos católicos, juven-
os movimentos de libertação nacional das colónias e das nacionalidades tudes cristãs, organizações sionistas e outras]. Todas estas tendências, que
oprimidas». [Lénine9] manifestam com clareza a sujeição ideológica de certos meios proletários,
têm muitas vezes um aspecto romântico feudal. Sancionando em nome da
No caso de agressão dos estados imperialistas e de guerra contra a URSS, o
religião todas as infâmias do regime capitalista e aterrorizando os seus fiéis
proletariado internacional deve responder com as mais audaciosas e mais
pela ameaça dos castigos de além-túmulo, os dirigentes dessas organiza-
resolutas acções de massas e a luta pelo derrubamento dos governos im-
ções formam no seio do proletariado a ala dos agentes mais reaccionários
perialistas sob a palavra de ordem da ditadura do proletariado e da aliança
da classe inimiga.
com a URSS.

Nas colónias, e mais particularmente naquelas do país imperialista agressor


9 «Teses para o II Congresso da Internacional Comunista», Junho de 1920, V.I. Lénine, Obras Escolhidas em três tomos, Edições «Avante!», Lisboa, 1979, Tomo III, pág. 352. [N. Ed.]

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

O reformismo «socialista» contemporâneo constitui o aspecto comercial, guerras em regime capitalista contrapôs o logro e a predicação mentirosa
cínico, laico e imperialista da submissão ideológica do proletariado à in- do super-imperialismo; trocou a teoria da queda revolucionária do capita-
fluência da burguesia. Tomando os seus mandamentos das tábuas da lei lismo pela moeda falsa do capitalismo «são» transformando-se pacifica-
imperialista, o reformismo «socialista» tem, nos nossos dias, o seu modelo mente em socialismo, substituiu a revolução pela evolução; a destruição
acabado, conscienciosamente anti-socialista e francamente contra-revo- do Estado burguês pela participação activa na sua edificação; a doutrina da
lucionário, na Federação Americana do Trabalho. A ditadura «ideológica» ditadura do proletariado pela teoria da aliança com a burguesia; a doutrina
da burocracia sindical americana perfeitamente domesticada, exprimindo da solidariedade proletária internacional pela da defesa nacional imperia-
ela própria a ditadura «ideológica» do dólar, tornou-se, por intermédio do lista; o materialismo dialéctico de Marx por uma filosofia idealista tricotada
reformismo inglês e dos socialistas monárquicos do Labour Party, parte com os desperdícios religiosos da burguesia.
integrante essencial da teoria e da prática da social-democracia interna-
cional e dos dirigentes da Internacional de Amsterdão. Os chefes da social- No seio deste reformismo social-democrata distinguem-se várias corren-
-democracia alemã e austríaca limitam-se a embrulhar as mesmas teorias tes que fazem sobressair particularmente a degenerescência burguesa da
numa fraseologia marxista servindo para dissimular a sua traição completa social-democracia.
ao marxismo.
O «socialismo-construtivo» [Mac Donald e Cia.], que leva até no nome a
O reformismo «socialista», inimigo principal do comunismo revolucionário ideia da luta contra a revolução proletária e a aprovação do regime capita-
no movimento operário, que possui uma larga base de organização nos par- lista, continua as tradições burguesas, liberais, filantrópicas e anti-revolu-
tidos sociaisdemocratas e, por seu intermédio, nos sindicatos reformistas, cionárias do fabianismo [Webb, Bernard Shaw, lorde Olivier e outros]. Re-
manifesta-se em toda a sua política e toda a sua teoria como uma força pudiando no seu princípio a ditadura do proletariado e o recurso à violência
dirigida contra a revolução proletária. contra a burguesia, o «socialismo construtivo» concorre para a violência
exercida contra o proletariado e os povos coloniais. Apologista do Estado
Em política externa, os partidos sociais-democratas participaram na guerra capitalista, preconizando o capitalismo de Estado sob a máscara do so-
imperialista sob a bandeira da «defesa nacional». A expansão do Estado cialismo, proclamando como «pré-científica» a teoria da luta das classes
imperialista e a «política colonial» têm o seu apoio em todos os momentos; -em uníssono com os mais vulgares ideólogos do imperialismo dos dois
a orientação para a «santa aliança» contra-revolucionária das potências hemisférios-, o «socialismo construtivo» preconiza em palavras um pro-
imperialistas [Sociedade das Nações], a predicação do «super-imperialis- grama moderado de nacionalização com indemnizações, de impostos sobre
mo», a mobilização das massas sob palavras de ordem pseudo-pacifistas, a renda da propriedade, de impostos sobre as heranças e sobre o superlu-
o apoio activo aos manejos e preparativos de guerra do imperialismo contra cros, como meio de destruir o capitalismo. Adversário decidido da ditadura
a URSS, tais são os traços característicos da política externa do reformismo. do proletariado na URSS, o «socialismo construtivo», estreitamente ligado à
Em política interna, a social-democracia atribui-se como tarefa apoiar o burguesia, é inimigo activo do movimento comunista do proletariado e das
regime capitalista e colaborar com ele. Apoio sem reservas à racionalização revoluções coloniais.
INTERNACIONAL COMUNISTA

e à estabilidade do capitalismo, paz de classes, «paz industrial», política


de integração das organizações operárias nas organizações patronais e no O cooperativismo ou socialismo cooperador [Charles Gide, Totomiantz e
Estado imperialista espoliador, aplicação da «democracia económica», que Cia.], repele com a mesma energia a luta de classes e preconiza a coopera-
na realidade é apenas a subordinação completa ao capital dos trusts, culto ção de consumo como o meio de vencer pacificamente o capitalismo, con-
do Estado imperialista e particularmente dos seus símbolos pseudodemo- tribuindo na realidade por todos os meios para a sua consolidação. É uma
cráticos, participação na formação dos órgãos do Estado (polícia, exército, variedade do «socialismo construtivo». O «cooperativismo», que 36 dispõe
guarda, justiça de classe), defesa desse Estado contra qualquer ataque do do vasto aparelho de propaganda das organizações de massas da coope-
proletariado comunista revolucionário, papel de carrasco nas crises revolu- ração de consumo exerce na vida quotidiana uma influência sistemática
cionárias, tal é a política interna do reformismo. Simulando a luta sindical, o sobre as grandes massas, combate encarniçadamente o movimento ope-
reformismo atribui-se como tarefa, também neste domínio, evitar qualquer rário revolucionário e entrava a realização dos seus objectivos; representa
abalo à classe capitalista e assegurar em qualquer caso a inviolabilidade da actualmente um dos factores mais activos da contra-revolução reformista.
propriedade capitalista.
O «Guild Socialism» [Penty, Orage, Hobson, etc.] esforça-se com eclectismo
No domínio da teoria, a social-democracia, passando do revisionismo a de reunir o sindicalismo «revolucionário» e o fabianismo liberal burguês, a
um reformismo liberal-burguês acabado e ao social-imperialismo provado, descentralização anarquista [guildas10 industriais nacionais] e a centraliza-
renegou completamente o marxismo: substituiu a doutrina marxista das ção de Estado, o corporativismo artesanal, limitado, medieval, e o capitalis-
contradições do capitalismo pela doutrina burguesa do desenvolvimento mo moderno. Procedendo da reivindicação verbal da «abolição do salaria-
harmonioso do regime; relegou para os arquivos a doutrina das crises e da do», considerado como «imoral» e que deveria ser substituído pelo controlo
pauperização do proletariado; transformou a ardente e ameaçadora teoria operário da indústria, o Guild Socialism ilude completamente a questão se-
da luta de classes na exortação banal da paz das classes; transformou a guinte: a do poder. Aplicando-se em reunir os operários, os intelectuais e os
doutrina do agravamento dos antagonismos de classe na fábula pequeno- técnicos numa federação nacional industrial de «guildas», e a transformá-
-burguesa da «democratização» do capital; à teoria da inevitabilidade das -las pacificamente em órgãos de administração da indústria no quadro do
10 Associações que remontam à Idade Média agrupando artesãos, comerciantes, artistas outros indivíduos com interesses comuns visando a sua protecção e assistência [N. Ed.]

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Estado burguês [«controlo interno»], o Guild Socialism defende na realidade centralizadas e disciplinadas do proletariado e deixa assim este último im-
esse Estado, dissimula o seu carácter de classe, imperialista, antiproletário, potente face às organizações poderosas do capital. A sua propaganda do
atribui-lhe um papel «acima das classes» de representantes dos interesses terrorismo individual desvia o proletariado dos métodos de organização e
comuns dos «consumidores» em contraposição aos «produtores» organi- de luta de massas. Repudiando a ditadura do proletariado em nome de uma
zados nas guildas. Pela sua propaganda de «democracia funcional», isto é, «liberdade» abstracta, o anarquismo priva o proletariado da sua arma mais
de uma representação das classes da sociedade capitalista sob a forma de importante e mais eficaz contra a burguesia, contra os seus exércitos e os
profissões e das suas funções sociais na produção, o Guild Socialism abre seus órgãos de repressão. Afastado de todo o movimento de massas nos
a via ao «Estado corporativo» do fascismo. Repudiando o parlamentarismo centros mais importantes da luta proletária, o anarquismo reduz-se cada
e a «acção directa», a maior parte dos adeptos deste movimento votam a vez mais a uma seita que, pela sua táctica e manifestações, nomeadamente
classe operária à completa inacção e à submissão passiva à burguesia. Este contra a ditadura da classe operária na URSS, se integra objectivamente na
socialismo é uma variedade utopista e trade-unionista do oportunismo e frente das forças anti-revolucionárias
não pode, por consequência, deixar de ter um papel contra-revolucionário.
Tal como o anarquismo, o «sindicalismo revolucionário» cujos numerosos
O austro-marxismo é uma outra forma particular do reformismo social-de- ideólogos passaram, nas horas mais críticas da guerra, para a contra-re-
mocrata. Parte integrante da «esquerda» social-democrata, representa a volução «antiparlamentar» de tipo fascista ou tornaram-se pacíficos refor-
forma mais subtil de enganar as massas populares. Prostituindo a termino- mistas de tipo social-democrata, constitui, em toda a parte onde exerça
logia marxista e rompendo ao mesmo tempo com os princípios fundamen- qualquer influência, um entrave à radicalização das massas operárias pela
tais do marxismo-revolucionário [os austro-marxistas declaram-se, em sua negação da luta política [particularmente do parlamentarismo revolu-
filosofia, adeptos de Kant, de Mach, etc.], namorando a religião, tomando de cionário] e da ditadura revolucionária do proletariado, pela sua propaganda
empréstimo aos reformistas ingleses a teoria da «democracia funcional», de uma descentralização corporativa do movimento operário em geral e
colocando-se no terreno da edificação da república, isto é, da construção do movimento sindical em particular, pela sua negação da necessidade da
do Estado burguês, o austromarxismo recomenda a cooperação das classes insurreição e, enfim, pela sua sobrestimação da greve geral [«táctica
nos períodos ditos de «equilíbrio das forças sociais», ou seja, precisamente dos braços cruzados»]. Os seus ataques contra a URSS, ligados à
quando amadurece a crise revolucionária. Esta teoria não é senão a jus- negação da ditadura do proletariado, colocam-no, neste âmbito, no mesmo
tificação da aliança com a burguesia para o derrubamento da revolução plano que a social-democracia.
proletária sob a máscara da defesa da «democracia» contra os ataques da
reacção. A violência admitida pelo austro-marxismo em caso de ataques da Todas estas tendências, todos estes cambiantes se unem à social-de-
reacção transforma-se objectivamente na prática em violência da reacção mocracia, o principal inimigo da revolução proletária na questão política
contra a revolução proletária. O «papel funcional» do austro-marxismo con- fundamental da ditadura do proletariado. É por isso que, mais ou menos
siste em enganar os operários que avançam para o comunismo; o austro- decididamente, elas fazem frente única com a social-democracia contra
-marxismo é assim um inimigo particularmente temível, mais temível ainda a URSS. A social-democracia, tendo renegado completamente o marxis-

INTERNACIONAL COMUNISTA
que os partidários declarados do social-imperialismo sem escrúpulos. mo, apoia-se, por um lado, cada vez mais, na ideologia dos «fabianos», do
socialismo construtivo e do guild socialism. Assim se forma uma ideologia
Se todas as tendências, partes integrantes do reformismo «socialista», liberal-reformista oficial do «socialismo» burguês da II Internacional.
constituem uma espécie de agência da burguesia imperialista no seio da
classe operária, o comunismo defronta-se, por outro lado, com diversas Nos países coloniais e entre os povos e as raças oprimidas, o comunismo
correntes pequeno-burguesas reflectindo e exprimindo as flutuações das defronta-se, no seio do movimento operário, com a influência de tendências
camadas sociais instáveis [pequena burguesia urbana, média burguesia particulares que tiveram em determinada época um certo papel positivo,
em vias de dissolução, lupem-proletariado, boémia intelectual desclassi- mas que se tornaram, numa nova etapa, em forças reaccionárias.
ficada, artesãos caídos na miséria, alguns grupos de camponeses e muitos
O sun-yat-senismo foi, na China, a ideologia de um «socialismo» peque-
outros elementos]. Estas correntes, que se distinguem por uma extrema
no-burguês e popular. A noção de povo velava e dissimulava na doutrina
instabilidade política, dissimulam muitas vezes, sob uma fraseologia de
dos «três princípios» [nacionalismo, democratismo, socialismo] a noção
esquerda uma política de direita ou caem no aventureirismo, substituem o
das classes sociais; o socialismo já não era um modo específico de
conhecimento objectivo das forças em presença por uma ruidosa gesticu-
produção, mas tornava-se num estado indeterminado de bemestar geral;
lação política, passam frequentemente das profissões de fé revolucionárias
a luta contra o imperialismo não se juntava ao desenvolvimento da luta de
mais insolentes ao mais profundo pessimismo e a verdadeiras capitulações
classes no país. Por isso, o sun-yat-senismo, que teve na primeira fase da
face ao inimigo. Estas correntes podem, em certas condições, sobretudo
revolução chinesa 38 um grande papel positivo, tornou-se, na sequência
no momento de bruscas mudanças na situação política e na necessidade
da diferenciação social ulterior e da marcha da revolução chinesa, num
de recuos momentâneos, ter nas fileiras do proletariado um papel desorga-
obstáculo a esta revolução. Os epígonos do sun-yatsenismo, exagerando
nizador dos mais perigosos e entravar assim o movimento revolucionário.
precisamente os aspectos desta doutrina tornados objectivamente
O anarquismo, cujos representantes mais destacados [Kropótkine, Jean reaccionários, fizeram dela a ideologia oficial do Kuomitang que se tornou
Grave e outros] traíram e passaram durante a guerra de 1914-1918 para abertamente contra-revolucionário. A formação ideológica das massas
a burguesia imperialista, nega a necessidade de grandes organizações do proletariado e dos trabalhadores camponeses da China deve, por

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

consequência, ser acompanhada de uma luta enérgica contra o logro do Ganhar para a sua influência a maioria da sua própria classe – os operários
Kuomitang e ultrapassar os vestígios do sun-yat-senismo. e a juventude operária. Para o efeito é necessário assegurar a influência
decisiva do Partido Comunista sobre as amplas organizações de massas
As tendências tais como o gandhismo hindu, profundamente penetradas do proletariado [sovietes, sindicatos, comissões de empresa, cooperativas,
por ideias religiosas, idealizando as formas mais reaccionárias e mais atra- organizações desportivas, culturais, etc.]. Importa sobretudo, para ganhar a
sadas da economia social, não vendo outra saída senão a do retorno a essas maioria do proletariado, conquistar os sindicatos, verdadeiras organizações
formas atrasadas e não a do socialismo proletário, tornaram-se, no decurso de massas da classe operária, ligados à sua luta quotidiana. O trabalho nos
do desenvolvimento da revolução, em forças francamente reaccionárias. O sindicatos reaccionários, que é preciso saber habilmente ganhar, a con-
gandhismo é cada vez mais uma ideologia oposta à revolução das massas quista da confiança das largas massas de sindicalizados, a substituição dos
populares. O comunismo deve combatê-la com energia. dirigentes reformistas destes sindicatos, constitui uma das tarefas mais
importantes do período preparatório.
O garveísmo, que foi a ideologia dos pequenos proprietários e dos operários
negros da América e que guardou uma certa influência sobre as massas A conquista da ditadura do proletariado supõe igualmente a hegemonia
negras tornou-se também num obstáculo à entrada dessas massas na via do proletariado sobre grandes camadas das massas laboriosas. Nesse
revolucionária. Depois de ter reivindicado para os negros uma completa sentido, o Partido Comunista deve ganhar para a sua influência as massas
igualdade social, transformou-se numa espécie de «sionismo» negro que, da população pobre das cidades e dos campos, as camadas inferiores dos
em lugar de preconizar a luta contra o imperialismo americano, lança a intelectuais, a «arraia-miúda», numa palavra, ou seja, a população peque-
palavra de ordem «do retorno a África». Esta ideologia perigosa, que nada no-burguesa em geral. A acção tendente a assegurar a influência do parti-
tem de autenticamente democrático e se contenta em agitar os atributos do sobre os camponeses tem particular importância. O Partido Comunista
aristocráticos de um «reino negro» inexistente, deve ser confrontada com deve assegurar-se do apoio completo dos elementos mais próximos do
uma resistência enérgica porque, longe de contribuir para a luta emanci- proletariado nos campos: operários agrícolas e camponeses pobres. Impõe-
padora das massas negras contra o imperialismo americano, a obstaculiza. -se portanto a necessidade de organizar como tal os operários agrícolas,
de os apoiar por todos os meios na sua luta contra a burguesia rural e de
A todas estas tendências se opõe o comunismo proletário. Grande ideolo-
prosseguir uma acção enérgica entre os pequenos camponeses e os cam-
gia da classe operária revolucionária internacional, distingue-se de todas,
poneses parcelares11. A política do Partido Comunista deve esforçar-se por
e em primeiro lugar da socialdemocracia, pela luta revolucionária, teórica
neutralizar os camponeses médios (nos países capitalistas desenvolvidos).
e prática que trava, em pleno acordo com a doutrina de Marx e Engels
pela ditadura proletária utilizando todas as formas de acção de massas O cumprimento destas diversas tarefas pelo proletariado, tornado repre-
do proletariado. sentante dos interesses do povo inteiro e no guia das grandes massas
populares contra a opressão do capital financeiro, é a condição prévia ne-
2. As tarefas essenciais da estratégia e da táctica comunistas
cessária de uma revolução comunista vitoriosa.
INTERNACIONAL COMUNISTA

A luta vitoriosa da Internacional Comunista pela ditadura do proletariado


A luta revolucionária nas colónias, semicolónias e países dependen-
supõe a existência, em todos os países, de um partido comunista tem-
tes constitui, do ponto de vista da luta mundial do proletariado, uma das
perado nos combates, disciplinado, centralizado, estreitamente ligado às
mais importantes tarefas estratégicas da Internacional Comunista. Esta
massas.
luta pressupõe a conquista, sob a bandeira da revolução, das mais am-
O partido é a vanguarda da classe operária, vanguarda formada pelos seus plas massas da classe operária e dos camponeses das colónias, conquista
melhores membros, os mais conscientes, os mais activos, os mais corajo- impossível sem uma estreita colaboração entre o proletariado das nações
sos. Incarna a experiência de toda a luta proletária. Ancorado na teoria revo- opressoras e das massas laboriosas das nações oprimidas.
lucionária marxista, representando os interesses gerais e permanentes do
Organizando, sob a bandeira da ditadura do proletariado, a revolução contra
conjunto da classe, o partido incarna a unidade dos princípios, da vontade e
o imperialismo nas potências ditas «civilizadas», a Internacional Comunista
da acção revolucionárias do proletariado. Constitui uma organização revolu-
apoia toda a resistência à violência imperialista nas colónias, nas semico-
cionária cimentada por uma disciplina de ferro e pela ordem revolucionária
lónias e nos países dependentes [exemplo: a América Latina]; combate pela
mais estrita do centralismo democrático; estes resultados são obtidos pela
propaganda todas as variedades do chauvinismo, todos os procedimentos
consciência de vanguarda proletária, pela sua dedicação à revolução, pelo
imperialistas usados contra as raças e os povos subjugados, grandes e
seu contacto permanente com as massas proletárias, pela justeza da sua
pequenos [em relação aos negros, à «mão-de-obra amarela», ao antise-
direcção política que a própria experiência das massas ilumina e controla.
mitismo, etc.]; apoia a luta destas raças e destes povos contra a burguesia
O Partido Comunista deve, para cumprir a sua tarefa histórica, conquistar a das nações opressoras. A Internacional Comunista combate sobretudo com
ditadura proletária -perseguir e atingir primeiro os objectivos estratégicos energia, o chauvinismo das grandes potências pregado tanto pela burgue-
seguintes: sia imperialista como pela sua agência socialdemocrata, a II Internacional;
à prática da burguesia imperialista opõe incessantemente a da União So-
11 O termo camponeses parcelares designa uma camada do campesinato que dispõe de um ou vários pedaços de terra, próprios ou arrendados, e se baseia exclusiva ou predominantemente
na força de trabalho familiar. [N. Ed.]

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

viética, que soube estabelecer relações fraternas entre os povos iguais em vez mais agudizadas [sovietes, controlo operário da produção, desarma-
direitos. mento da burguesia, armamento do proletariado, etc.] e da organização
de acções das massas, às quais devem subordinar-se todas as formas
Nos países do imperialismo, os partidos comunistas devem acorrer sis- de agitação e de propaganda do partido, incluindo a agitação parlamentar.
tematicamente em ajuda aos movimentos revolucionários emancipadores Estas acções de massas são: as greves, greves articuladas com as mani-
das colónias e de um modo geral aos movimentos das nacionalidades festações, manifestações armadas articuladas com greves, por fim, a greve
oprimidas. O dever de prestar a esses movimentos o apoio mais activo in- geral juntamente com a insurreição armada contra o poder do Estado da
cumbe em primeiro lugar aos operários do país do qual a nação oprimida burguesia. Esta última forma superior da luta está sujeita às regras da arte
depende politicamente, economicamente ou financeiramente. Os partidos militar, pressupõe um plano militar, operações militares de carácter ofensi-
comunistas devem um alto reconhecimento ao direito de separação das vo, a fidelidade incondicional e o heroísmo do proletariado. As acções desta
colónias e preconizar esta separação, isto é, a independência das colónias espécie devem ter como premissas a organização de amplas massas em
em relação ao Estado imperialista. Devem reconhecer o direito à defesa unidades de combate, cuja própria forma arrasta e põe em movimento o
armada das colónias contra o imperialismo [direito à insurreição e à guerra maior número possível de trabalhadores (sovietes de deputados operários
revolucionária] e preconizar e apoiar energicamente esta luta por todos os e camponeses, sovietes de soldados, etc.), e a intensificação do trabalho
meios. Os partidos comunistas têm o mesmo dever em relação a todas as revolucionário no exército e na armada.
nações oprimidas.
No cumprimento destas tarefas e na passagem a novas palavras de ordem
Nas colónias e semicolónias, os partidos comunistas devem combater vi- mais agudizadas, é necessário ter presente a regra fundamental da táctica
gorosamente o imperialismo estrangeiro, preconizando ao mesmo tempo a política do leninismo, que exige habilidade para conduzir as massas para
aproximação e a aliança com o proletariado dos países imperialistas; lan- posições revolucionárias de forma a que elas se convençam com base na
çar, difundir e aplicar abertamente a palavra de ordem da revolução agrária, experiência própria da justeza da linha do partido. A não observação desta
sublevando as grandes massas de camponeses para o derrubamento dos regra leva inevitavelmente à ruptura com as massas, ao «putchismo», à de-
latifundiários e combatendo a influência reaccionária e medieval do clero, generescência ideológica do comunismo num sectarismo de «esquerda» e
das missões e de outros elementos análogos. num aventureirismo «revolucionário» pequeno-burguês. Mas não é menos
perigoso não aproveitar o apogeu de uma situação revolucionária, quando
Aqui, a tarefa fundamental é a de formar organizações independentes de
é dever do partido atacar o inimigo com audácia e determinação. Deixar
operários e de camponeses [partido comunista como partido de classe
passar esta ocasião, não desencadear a insurreição é deixar a iniciativa ao
do proletariado, sindicatos, ligas e comités de camponeses, sovietes nas
adversário e votar a revolução a uma derrota.
situações revolucionárias, etc.] e de as subtrair à influência da burguesia
nacional com a qual não são admissíveis acordos temporários senão na Na ausência de um afluxo revolucionário, os partidos comunistas, partindo
medida em que esta não entrave a organização revolucionária dos operários das necessidades quotidianas dos trabalhadores devem formular palavras

INTERNACIONAL COMUNISTA
e dos camponeses e combata efectivamente o imperialismo. de ordem e reivindicações parciais, desenvolvendo-as e encadeando-as
com objectivos fundamentais da Internacional Comunista. Devem no en-
Na definição da sua táctica, o partido comunista deve ter em conta a situa-
tanto abster-se de palavras de ordem transitórias, especialmente apropria-
ção concreta, interna e externa, da relação das forças sociais, do grau de
das a uma situação revolucionária, e, na ausência desta, transformá-las em
estabilidade e de solidez da burguesia, do grau de preparação do proletaria-
palavras de ordem de integração no sistema das organizações capitalistas
do, da posição das camadas intermédias, etc. Em função destas condições
(exemplo: o controlo operário, etc.). Das palavras de ordem e reivindicações
gerais, o partido formula as suas palavras de ordem e os seus métodos de
parciais depende em absoluta, e em geral, uma boa táctica; as palavras de
luta. Lançando palavras de ordem transitórias no começo de uma situação
ordem transitórias são inseparáveis de uma situação revolucionária. Por ou-
revolucionária e formulando reivindicações parciais determinadas pela si-
tro lado, é incompatível com os princípios tácticos do comunismo renunciar
tuação concreta, o partido deve subordinar essas reivindicações e essas
«por princípio» às reivindicações parciais e às palavras de ordem transitó-
palavras de ordem ao seu objectivo revolucionário de tomada do poder e
rias, uma vez que, na prática, isso seria condenar o partido à passividade
derrubamento da sociedade capitalista-burguesa. Seria igualmente inad-
e isolá-lo das massas. A táctica da frente única, meio mais eficaz de luta
missível que o partido se abstraísse das necessidades e da luta quotidiana
contra o capital e de mobilização das massas num espírito de classe, de
da classe operária ou se se confinasse aos limites destas necessidades e
desmascarar e isolar os chefes reformistas, é um dos elementos da táctica
desta luta. Partindo destas necessidades quotidianas, a tarefa do partido é
dos partidos comunistas durante todo o período pré-revolucionário.
conduzir a classe operária à luta revolucionária pelo poder.
A aplicação correcta da táctica da frente única, e mais em geral a solu-
Num momento de afluxo revolucionário, quando as classes dirigentes es-
ção do problema da conquista das massas, supõe por seu lado uma acção
tão desorganizadas, as massas em estado de efervescência revolucionária,
sistemática e perseverante nos sindicatos e nas outras organizações de
as camadas intermédias inclinadas para o lado do proletariado, as massas
massas do proletariado. Desde que se trate de uma organização de massas,
prontas a agir e a sacrificarse, perante o partido do proletariado coloca-se
a filiação no sindicato, seja ele o mais reaccionário, é o dever imediato de
a tarefa de conduzi-las directamente ao assalto do Estado burguês. Isto
todo o comunista.
alcança-se por via da propaganda, com palavras de ordem transitórias cada

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Só mediante uma acção constante e continuada nos sindicatos e nas imperialismo têm o dever de apoiar esta luta das colónias, de reclamar te-
empresas de defesa enérgica e firme dos interesses dos operários -com- nazmente o retorno das tropas imperialistas, de defender pela propaganda
batendo paralelamente sem piedade a burocracia reformista- é possível no exército e na armada os países oprimidos lutando pela sua emancipa-
colocar-se à cabeça de uma luta operária e ligar o partido à massa dos ção, de mobilizar as massas para o boicote do transporte das tropas e das
sindicalizados. armas, de organizar, em relação com estas acções, greves e outras formas
de protesto de massas, etc.
Ao contrário da política divisionista dos reformistas, os comunistas defen-
dem a unidade sindical na base da luta de classes, quer em cada país quer A Internacional Comunista deve dar particular atenção à preparação sis-
à escala internacional, apoiando e consolidando com todas as suas forças a temática da luta contra os perigos de guerra imperialista. Desmascarar
acção da Internacional Sindical Vermelha. impiedosamente o socialchauvinismo, o social-imperialismo, as frases pa-
cifistas que dissimulam os desígnios imperialistas da burguesia; difundir as
Tomando em toda a parte a defesa dos interesses imediatos, quotidianos, palavras de ordem essenciais da Internacional Comunista; prosseguir todos
da massa operária e dos trabalhadores em geral, explorando para fins de os dias um trabalho de organização neste sentido e combinar obrigatoria-
agitação e propaganda revolucionária a tribuna parlamentar burguesa, su- mente as suas formas legais e ilegais; prosseguir um trabalho organizado
bordinando todos os objectivos parciais à luta pela ditadura do proletariado, no exército e na armada, tal deve ser a actividade dos partidos comunistas.
os partidos da Internacional Comunista formulam reivindicações parciais e As palavras de ordem fundamentais da Internacional Comunista devem ser
avançam palavras de ordem nos seguintes domínios principais: as seguintes: transformação da guerra imperialista em guerra civil, derrota
do «seu próprio» governo imperialista, defesa por todos os meios da URSS e
Questão operária -no sentido estrito da palavra: questões relacionadas das colónias em caso de guerra imperialista contra elas. A propaganda des-
com a luta económica [luta contra a ofensiva do capital dos trusts, salários, tas palavras de ordem, a denúncia dos sofismas «socialistas» e da camu-
jornadas de trabalho arbitragem obrigatória, desemprego], que se tornam flagem «socialista» da Sociedade das Nações, a recordação constante da
questões de luta política geral [grandes conflitos industriais, direitos de co- experiência da guerra de 1914-1918 são deveres imperativos que incum-
ligação e de greve, etc.]; questões nitidamente políticas (impostos, carestia bem a todas as secções e a todos os membros da Internacional Comunista.
da vida, fascismo, repressão contra os partidos revolucionários, terror bran-
co, política geral do governo); questões de política mundial [atitude para A coordenação do trabalho e das acções revolucionárias e a sua boa direc-
com a URSS e as revoluções coloniais, luta pela unidade do movimento ção impõem ao proletariado internacional uma disciplina internacional de
sindical internacional, luta contra o imperialismo e ameaças de guerra, pre- classe, da qual a rigorosa disciplina internacional nas fileiras dos partidos
paração sistemática para a luta contra a guerra imperialista]. comunistas é a condição essencial. Esta disciplina comunista internacional
deve traduzir-se pela subordinação dos interesses parciais e locais do mo-
Na questão camponesa, o problema dos impostos, das hipotecas, da luta vimento aos seus interesses gerais e permanentes e pela estrita aplicação
contra o capital usurário, da penúria das terras de que sofrem os campo- de todas as decisões dos órgãos dirigentes da Internacional Comunista por
neses pobres, das rendas e foros, etc., suscitam reivindicações parciais da todos os comunistas.
mesma ordem. O Partido Comunista, partindo daí, deve acentuar e gene-
ralizar as suas palavras de ordem até à reclamação da confiscação dos Ao contrário da II Internacional social-democrata, em que cada partido se
INTERNACIONAL COMUNISTA

domínios pertencentes aos latifundiários e o governo operário e camponês submete à disciplina da «sua própria» burguesia nacional e da sua «pá-
[sinónimo da ditadura do proletariado nos países capitalistas desenvolvidos tria», as secções da Internacional Comunista não conhecem senão uma
e sinónimo de ditadura democrática do proletariado nos países atrasados e disciplina, a do proletariado internacional que assegura a luta vitoriosa dos
em diversas colónias]. operários de todos os países pela ditadura mundial do proletariado. Ao invés
da II Internacional, que divide os sindicatos, combate os povos coloniais e
É necessário, igualmente, prosseguir uma acção sistemática no seio da se une à burguesia, a Internacional Comunista é a organização que defende
juventude operária e camponesa [principalmente através da ICJ e das a unidade dos proletários de todos os países, dos trabalhadores de todas as
suas secções], assim como entre as mulheres operárias e camponesas, raças e de todos os povos em luta contra o jugo imperialista.
inspirando-se nas suas condições de vida, nas suas lutas, ligando as suas
reivindicações às reivindicações gerais e às palavras de ordem de combate Qualquer que seja o terror sangrento da burguesia, os comunistas travam
do proletariado. este combate com abnegação e coragem em todos os sectores da frente
internacional da luta de classes, firmemente convictos da inevitabilidade e
Na luta contra a opressão dos povos coloniais, os partidos comunistas for- da inelutabilidade da vitória do proletariado.
mulam nas próprias colónias as reivindicações parciais ditadas pela situa-
ção particular de cada país: igualdade completa das nacionalidades e das «Os comunistas desdenham ocultar as suas opiniões e os seus propósitos.
raças; abolição dos privilégios dos estrangeiros; liberdade de associação Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pela
para os operários e camponeses; diminuição da jornada de trabalho; inter- transformação violenta de toda a ordem social até hoje existente. Podem
dição do trabalho infantil; abolição dos contratos espoliadores e usurários; as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os
redução e supressão das rendas; diminuição dos impostos; recusa do pa- proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a
gamento dos impostos, etc. Todas estas palavras de ordem parciais devem ganhar. «Proletários de todos os países, uni-vos!» 12
ser subordinadas às reivindicações essenciais dos partidos comunistas: in-
dependência completa do país, expulsão dos imperialistas, governo operário
e camponês, a terra para o povo, jornada das oito horas, etc. Nos países do
12 Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels, Obras Escolhidas em três tomos, Edições «Avante!», Lisboa, 1982, pág. 136. [N. Ed.]

46
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

O perigo fascista paira sobre a Alemanha


[Setembro de 1930]

LEON TROTSKI

A imprensa oficial da Komintern interpreta agora os resultados das eleiçons funcionamento interno da Komintern, revela-se mais claramente se com-
da Alemanha [Setembro de 1930] como umha prodigiosa vitória do comu- pararmos o peso social actual do Partido Comunista com estas concretas
nismo, que situaria na ordem do dia a palavra-de-ordem da “Alemanha e inadiáveis tarefas que as actuais circunstáncias históricas colocárom na
soviética”. Os burocratas optimistas recusam refletir sobre o significado da sua frente.
relaçom de forças revelada polas estatísticas eleitorais. Examinam o in-
cremento de votos comunistas independentemente das tarefas revolucio- É certo que o Partido Comunista nom contava com ganho semelhante de
nárias criadas pola situaçom e os obstáculos estabelecidos. O partido co- votos. Mas isso prova que ante a desfeita dos seus erros e defeitos, a dire-
munista recebeu por volta de 4.600.000 votos, face aos 3.300.000 em 1928. çom do Partido Comunista deixou de ter grandes objetivos e perspetivas. Se
Do ponto de vista dos mecanismos “normais” do palamentarismo, o ganho ontem subestimava as suas possibilidades, hoje ainda subestima mais as
de 1.300.000 votos é considerável, mesmo levando em conta o aumento dificuldades. Por esta via, um perigo vê-se multiplicado polo outro.
no número total de votantes. Mas o ganho do partido fica ensombrado
Para além do mais, a primeira qualidade de um autêntico partido revolucio-
completamente se comparado com o progresso do fascismo, que passa de
nário é a de ser capaz de olhar a realidade cara a cara.
800.000 a 6.400.000 votos. De nom menor importáncia para a avaliaçom das
eleiçons é o facto de a social democracia, apesar das perdas substanciais, Para que a crise social poda ser conduzida para a revoluçom proletária,
reter os seus quadros principais e ainda receber um maior número de votos cumpre que, ao lado de outras condiçons, se dê um decisivo movimento
operários [8.600.000] do que o Partido Comunista. das classes pequeno burguesas na direçom do proletariado. Isto daria ao
proletariado a ocasiom de pôr-se à frente da naçom e liderá-la. As últimas
No entanto, se nos perguntarmos que combinaçom de circunstáncias in-
eleiçons revelam -e isto é o seu principal valor sintomático- umha ten-
ternas e externas poderiam fazer virar a classe operária do lado do comu-
dência no sentido contrário. Sob a desfeita da crise, a pequena burguesia
nismo com maior velocidade, nom acharíamos um exemplo de melhores
LEON TROTSKI

tem-se decantado nom pola revoluçom proletária, mas pola mais radical
circunstáncias para um giro tal do que a actual situaçom na Alemanha: A
reaçom imperialista, empurrando nessa direçom um considerável setor do
soga do Young1, a crise económica, a decadência dos dirigentes, a crise do
próprio proletariado.
parlamentarismo, o incrível auto-desmascaramento da social democracia
no poder. Do ponto de vista destas cirscunstáncias históricas concretas, a O crescimento gigantesco do nacional socialismo é expressom de dous fac-
influência do Partido Comunista na vida social do país, apesar do ganho de tores: umha profunda crise social, que desestabiliza o equilíbrio das massas
1.300.000 votos, devém proporcionalmente pequena. pequeno burguesas, e a carência de um partido revolucionário que apareça
ante as massas populares como reconhecido dirigente revolucionário. Se o
A fraqueza da posiçom do comunismo, totalmente ligada à política e
Partido Comunista é o partido da esperança revolucionária, o fascismo é,
1 “A soga do Young” di respeito ao Plano Young. Após Owen D. Young, poderoso homem de negócios norte-americano, que foi Agente-geral para a reparaçom da Alemanha durante a década
de 20. No verao de 1929, foi presidente da conferência que adoptou o seu plano, que substituiu o mal sucedido Plano Dawes, para “facilitar” que a Alemanha pagasse as reparaçons acordadas
no Tratado de Versalhes.

47
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

como movimento de massas, o partido da desesperança contra-revolucio- fascismo real, polo contrário, ameaça agora essa estrutura, nom já com
nária. Quando a esperança revolucionária abraça as massas proletárias ao fórmulas verbais de um falso radicalismo, mas com as fórmulas químicas
completo, isso empurra inevitavelmente no caminho da revoluçom consi- dos explosivos. Por mais que seja certo que a social-democracia prepa-
deráveis e crescentes camadas pequeno-burguesas. Precisamente nesse rou com a sua política o florescimento do fascismo, nom é menos certo
plano, as eleiçons oferecem a imagem oposta: a desesperança contra-re- que o fascismo supom umha ameaça mortal primeiramente para a própria
volucionária abraça as massas pequeno burguesas com tanta força que que social-democracia, cuja força está indissoluvelmente ligada com formas e
empurra importantes setores do proletariado... métodos democrático-parlamentares e pacifistas de governo...

O fascismo na Alemanha tem-se convertido num perigo real, como umha A política de frente unida de trabalhadores contra o fascismo nasce des-
aguda expressom da posiçom de indefensom em que se acha o regime ta situaçom. Abre grandes possibilidades para o Partido Comunista. Umha
burguês, o papel conservador da social democracia nesse regime, e a im- condiçom para o êxito, porém, é o rechaço da teoria e prática do “social fas-
potência acumulada polo Partido Comunista para derrubá-lo. Quem negar cismo”, cujo dano pode ser quantificado sob as presentes circunstáncias.
isto, é cego ou um fanfarrom.
A crise social produzirá inevitavelmente umha profunda cissom no seio da
O perigo atinge particular gravidade ligado com a questom do ritmo de de- social-democracia. A radicalizaçom das massas afectará os social-demo-
senvolvimento, que nom depende apenas de nós. O estado febril detetado cratas. Nós teremos que chegar a acordos, inevitavelmente, com diversas
na curva política com motivo das eleiçons mostra que o ritmo de desenvol- organizaçons e façons social-democratas contra o fascismo, colocando
vimento da crise nacional pode decorrer com rapidez. Por outras palavras, o condiçons precisas aos seus líderes, à vista das massas... Devemos aban-
curso dos acontecimentos num muito próximo futuro pode fazer ressurgir donar declaraçons vácuas sobre a frente unida e voltar à política de frente
na Alemanha, num novo plano histórico, a velha trágica contradiçom entre a única consoante com a formulaçom de Lenine  e a sua aplicaçom constante
madureza de umha situaçom revolucionária, de umha parte, e a fraqueza e por parte dos bolcheviques em 1917.
impotência estratégica do partido revolucionário, de outra. Isto deve ser dito
com clareza, abertamente e, sobretodo, a tempo.

Pode ser calculada com antecedência a força da resistência conservadora


dos trabalhadores social-democratas? Nom tal. À luz dos acontecimentos
do passado ano, essa força semelha ser gigantesca. Mas na verdade o que
mais ajudou à coesom da social democracia foi a política errada do partido
Comunista, que achou a sua mais alta expressom na absurda teoria do so-
cial fascismo. Para medirmos a resistência real da social democracia, cum-
pre um diferente instrumento de medida, quer dizer, umha correta táctica
comunista. E nessa condiçom -e nom é condiçom pequena- o grau de uni-
dade interna real da social democracia pode revelar-se em pouco tempo.

Embora de modo diferente, o que foi dito anteriormente também tem a sua
aplicaçom no fascismo: Desenvolveu-se, de umha parte, a partir da instabi-
lidade das condiçons criadas pola estratégia Zinoviev-Stalin2. Qual é a sua
força ofensiva? Qual a sua estabilidade? Tem atingido o seu ponto álgido,
como nos asseguram os optimistas profissionais [Komintern  e partidos
comunistas oficiais], ou está apenas no primeiro degrau da escada? Isto
nom pode ser predito mecanicamente. Pode determinar-se só através da
açom. Precisamente em funçom do fascismo, que vem sendo umha lámina
de barbear em maos do inimigo de classe, a errada política da Komintern 
LEON TROTSKI

pode produzir resultados fatais em pouco tempo. De outra parte, umha cor-
reta política –-nom em tam breve período de tempo, é certo- pode socavar
as posiçons do fascismo.

Se o Partido Comunista, apesar das circunstáncias excepcionalmente


favoráveis, provou a sua impotência para abalar seriamente a estrutura
da social-democracia com ajuda da sua fórmula do “social fascismo”, o
2 Gregory Y. Zinoviev [1883-1936], presidente da Komintern  desde a sua fundaçom em 1919 até a sua substituiçom por Stalin em 1926. Após a morte de Lenine, Zinoviev e  Kamenev figérom
um bloco com Stalin [a Troika] contra Trotski. No período de dominaçom da Komintern  por parte de Zinoviev-Stalin, umha linha oportunista conduziu-no a umha série de erros e oportuni-
dades perdidas, a mais notável das quais foi a revoluçom alemá de 1923. Após a ruptura com Stalin, Zinoviev aderiu à Oposiçom de Esquerda. Mas em 1928, após a expulsom do partido da
Oposiçom Unida, Zinoviev capitulou ante Stalin. Readmitido no partido, foi expulso de novo em 1932. Após a negaçom de toda perspetiva crítica, foi readmitido mais umha vez, mas em 1934
foi expulso e encarcerado. “Confessou” no começo dos grandes julgamentos de Moscovo em 1936 e foi executado.

48
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Bonapartismo e fascismo
[publicado em The New Internacional, agosto de 1934]

LEON TROTSKI

A grande importáncia prática de umha orientaçom política correta mani- Esqueceram: a) que também no passado o capitalismo nunca se adequou
festa-se com mais evidência nas épocas de conflitos sociais agudos, de à democracia “pura”, complementando-a algumhas vezes com um regime
rápidas viragens políticas ou de mudanças repentinas na situaçom. Nestas de repressom aberta e, outras vezes, substituindo-a diretamente por este
épocas, as concepçons e generalizaçons políticas som rapidamente supe- tipo de regime; b) que o capitalismo financeiro “puro” nom existe em par-
radas e exigem a sua substituiçom por completo -o que é mais fácil- ou a te algumha; c) que, ainda que ocupe umha posiçom dominante, o capital
sua concretizaçom, precisom ou retificaçom parcial -o que é mais difícil-. financeiro nom atua no vazio, e vê-se obrigado a reconhecer a existência
Precisamente nestes períodos surgem necessariamente todo tipo de com- de outros setores da burguesia e a resistência das classe oprimidas; d) fi-
binaçons e situaçons  transitórias, intermédias,  que superam os padrons nalmente, que é inevitável que entre a democracia parlamentar e o regime
habituais e exigem atençom teórica contínua e redobrada. Numha palavra, fascista se interponham, umha depois de outra, seja “pacificamente” ou
se na época pacífica e “orgánica” [antes da guerra] até poderia-se viver às através de uma guerra civil, umha série de formas transitórias. Se queremos
custas de algumas abstraçons pré-concebidas, na nossa época cada novo permanecer na vanguarda e nom ficarmos para trás, devemos levar em
acontecimento forçosamente exige a lei mais importante da dialética:  a conta que cada uma destas formas transitórias exige caraterizaçom teórica
verdade é sempre concreta. correta e uma correspondente política do proletariado.

A teoria stalinista sobre o fascismo representa indubitavelmente um dos Baseando-nos na experiência alemá -apesar de que já pudéssemos e de-
mais trágicos exemplos das consequências práticas prejudiciais que es- vêssemos ter usado o exemplo da Itália-, nós, bolcheviques leninistas,
tám implicadas ao ter substituído, por categorias abstratas formuladas em analisamos pola primeira vez a forma transitória de governo que chamamos
base a umha parcial e insuficiente experiência histórica [ou umha estreita de bonapartista [os governos de Bruening, Papen e Schleicher]. De maneira
e insuficiente visom de conjunto], a análise dialética da realidade em cada mais precisa e desenvolvida, estudamos em seguida o regime bonapartista
umha das suas fases concretas, em todas as suas etapas transitórias, tanto da Áustria. Ficou demonstrado de maneira patente o determinismo desta
LEON TROTSKI

nas suas mudanças graduais quanto nos seus saltos revolucionários [ou forma transitória, naturalmente nom no sentido fatalista e sim no sentido
contra-revolucionários]. Os stalinistas adotárom a ideia de que na época dialético, isto é para os países e períodos em que o fascismo ataca com
contemporánea o capital financeiro nom pode se adequar à democracia êxito cada vez maior as posiçons da democracia burguesa parlamentar,
parlamentar e está obrigado a recorrer ao fascismo. Desta ideia, absolu- sem se chocar com a resistência vitoriosa do proletariado, com o objetivo
tamente correta dentro de certos limites, extraem de maneira puramente de estrangulá-lo em seguida.
dedutiva e lógico-formalista as mesmas conclusons para todos países e
para todas etapas do desenvolvimento destes. Para eles, Primo de Rivera, Durante o período Bruening-Schleicher, Manuilsky e Kuusine proclamarom:
Mussolini, Chiang Kai-shek, Masarik, Bruening, Dollfuss, Pilsudski, o rei da “o fascismo já está aqui”; declararam que a teoria da etapa intermediá-
Sérvia Alexandre, MacDonald, etc, eram representantes do fascismo. ria, bonapartista, era uma tentativa de disfarçar o fascismo para facilitar
a política de “mal menor” da social-democracia. E por fim, chamavam de
social-fascistas os social-democratas, e os social-democratas de “esquer-

49
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

da” do tipo Ziromsky-Marceau Pivert-Just eram considerados, depois dos cessário, o juiz-árbitro mais adequado, com o consentimento obrigado do
“trotskistas”, como os mais perigosos dos social-fascistas. Agora todo mu- quase parlamento. É evidente que o governo Doumergue nom representa
dou. No que concerne a França, os stalinistas nom se animam a repetir: “O o ideal de “governo forte”. Estám reservados melhores candidatos a Bo-
fascismo está já está aqui”; polo contrário, para evitar a vitória do fascismo naparte. Som possíveis novas experiências e combinaçons neste terreno
neste país aceitárom a política da frente única, que até ontem rechaça- se o curso futuro da luita classes lhes der tempo suficiente para tentar
vam. Viram-se obrigados a diferenciar o regime de Doumergue e o regime aplicá-las.
fascista. Mas nom chegárom nesta conclusom por causa do marxismo, e
sim polo empirismo. Nem sequer tentaram dar uma definiçom científica do Ao fazer estes prognósticos, vemo-nos obrigados a repetir o que já dixérom
regime de Doumergue. Aquele que se move no terreno da teoria em base umha vez os bolcheviques leninistas a respeito da Alemanha: as possibi-
a categorias abstratas está condenado a capitular cegamente diante dos lidades políticas do atual bonapartismo francês nom som muitas; a sua
acontecimentos. estabilidade está determinada polo momentáneo e, em última instáncia,
instável equilíbrio entre o proletariado e o fascismo. A relaçom de forças
Porém, precisamente na França o passo do parlamentarismo ao bonapar- entre estes bandos tem que mudar rapidamente, em parte por influência
tismo –ou mais exatamente a primeira etapa deste passo- deu-se de da conjuntura económica, mas fundamentalmente segundo a política que
maneira particularmente notória e exemplar. Basta lembrar que o governo venha assumir a vanguarda proletária. O processo medirá-se em meses,
Doumergue apareceu em cena entre o ensaio da guerra civil dos fascistas nom em anos. Só depois do choque, e de acordo com os seus resultados,
[6 de fevereiro] e a greve geral do proletariado [12 de fevereiro]. poderá ser implantado um regime estável.

Assim que os lados irreconciliáveis assumírom suas posiçons de luita nos O fascismo no poder, igual ao bonapartismo, só pode ser o governo do
pólos da sociedade capitalista, ficou claro que o aparelho relacionado ao capital financeiro. Neste sentido social, o primeiro nom se diferencia do
parlamentarismo perdia importáncia. É certo que o gabinete Doumergue, bonapartismo e nem sequer da democracia parlamentar. Os stalinistas
igual ao de Bruening-Schleicher no seu momento, parece, à primeira vista, venhem redescobrindo isto a cada nova oportunidade, esquecendo que
governar com o consenso do Parlamento. Mas trata-se de um Parlamento os problemas sociais se resolvem no terreno político. A força do capital
que abdicou, que sabe que em caso de resistência o governo se desfaria financeiro nom reside na sua capacidade de estabelecer qualquer tipo de
dele. Devido ao relativo equilíbrio entre o campo da contra-revoluçom que governo em qualquer momento de acordo com seus desejos; nom possui
ataca e o da revoluçom que se defende, devido a sua temporária neutrali- este poder. A sua força reside no facto de que todo governo nom proletário
zaçom mútua, o eixo do poder elevou-se por cima das classes e de sua se vé obrigado a servir o capital financeiro; ou melhor dizendo, que o ca-
representaçom parlamentar. Foi necessário buscar umha cabeça de gover- pital financeiro conta com a possibilidade de substituí-lo, a cada sistema
no fora do Parlamento e “fora dos partidos”. Este chefe de governo pediu a de governo que decai, por outro que se adeque melhor às condiçons em
ajuda dos generais. Esta trindade apoiou-se simetricamente nos vassalos mudança.
parlamentares tanto pola direita quanto pola esquerda. O governo nom apa-
rece como um organismo executivo da maioria parlamentar, senom como Porém, a mudança de um sistema para outro implica em umha crise polí-
um juiz-árbitro entre dous bandos em luita. tica que, por consequência da atividade do proletariado revolucionário, se
pode transformar num perigo social para a burguesia. Na França, a pas-
Porém, um governo que se eleva por cima da naçom nom está suspenso no sagem da democracia parlamentar ao bonapartismo estivo acompanhada
ar. O verdadeiro eixo do governo atual passa pola polícia, pola burocracia e pola efervescência da guerra civil. A perspetiva de mudança do
a camarilha militar. Estamos confrontados por uma ditadura militar-policial bonapartismo ao fascismo está carregada de conturbaçons infinitamente
apenas dissimulada por trás do cenário do parlamentarismo. Um governo do mais formidáveis, e, como consequência, também de possibilidades revo-
sabre como juiz-árbitro da naçom: precisamente isso se chama bonapar- lucionárias.
tismo.
Até ontem, os stalinistas consideravam que nosso “erro principal” consistia
O sabre nom dá a si próprio um programa independente. É o instrumen- em ver no fascismo o pequeno burguês e nom o capital financeiro. Neste
to da “ordem”. Está chamado a salvaguardar o existente. O bonapartismo, caso eles colocam novamente as categorias abstratas no lugar da dialéti-
LEON TROTSKI

ao elevar-se politicamente por cima das classes como seu predecessor, ca das classes. O fascismo é um meio específico de mobilizar e organizar
o cesarismo, representa no sentido social, sempre e em todas as épocas, a pequena burguesia em defesa do interesse social do capital financeiro.
o governo do setor mais forte e mais firme dos exploradores. Em conse- Durante o regime democrático, o capital inevitavelmente trata de incutir
quência, o atual bonapartismo nom pode ser outra cousa que o governo do nos trabalhadores a confiança na pequena burguesia reformista e pacifista.
capital financeiro, que dirige, inspira e corrompe os setores mais altos da Ao contrário, a mudança para o fascismo é inconcebível sem que previa-
burocracia, a polícia, a casta de oficiais militares e a imprensa. mente a pequena burguesia se encha de ódio contra o proletariado. Nestes
dous sistemas, a dominaçom da mesma super-classe, o capital financeiro,
O único objetivo da “reforma constitucional”, sobre a que tanto se fala no apoia-se em relaçons diretamente opostas entre as classes oprimidas.
transcurso dos últimos meses, é a adaptaçom das instituiçons estatais às
exigências e conveniências do governo bonapartista. O capital financeiro
busca os recursos legais que lhe permitam impor, cada vez que seja ne-

50
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Porém, a mobilizaçom política da pequena burguesia contra o proletariado Como consequência desta oscilaçom, Pilsudski oscila muito mais que Mus-
é inconcebível sem esta demagogia, que, para a burguesia implica brincar solini e Hitler, nos mesmos períodos, entre as classes e os setores nacionais
com o fogo. Os recentes acontecimentos da Alemanha confirmam como a da classe, e recorre muito menos ao terror massivo do que os outros dous:
reaçom desenfreada da pequena burguesia coloca em perigo a “ordem”. este é o elemento bonapartista do regime de Pilsudski. No entanto, seria
Por isso, apesar de apoiar e financiar a bandidagem reacionária de umha evidentemente falso comparar Pilsudski com Giolitti ou Schleicher e supor
de suas alas, a burguesia francesa nom quer levar as cousas até a vitória que será substituído por um novo Mussolini ou Hitler polaco. É metodolo-
política do fascismo, mas apenas até estabelecer um poder “forte”, o que gicamente falso formar a imagem de um regime fascista “ideal” e opó-la
em última instância significa disciplinar a ambos lados extremos. a este regime fascista real que surgiu, com todas as suas peculiaridades
e contradiçons, da relaçom entre as classes e as nacionalidades tal como
O que dixemos demonstra suficientemente a importância de distinguir se dá no estado polaco. Poderá Pilsudski, levar até as suas últimas conse-
entre a forma bonapartista e a forma fascista de poder. No entanto, seria quências a destruiçom das organizaçons proletárias? A lógica da situaçom
imperdoável cair no extremo oposto, converter o bonapartismo e o fascismo leva-o inevitavelmente por este caminho, mas a resposta nom depende da
em duas categorias logicamente incompatíveis. Assim como o bonapartis- definiçom formal de “fascismo” como tal, e sim da relaçom de forças real,
mo começa combinando o regime parlamentar com o fascismo, o fascismo da dinámica do processo político que vivem as massas, da estratégia da
triunfante vê-se obrigado a constituir um bloco com os bonapartistas, e, o vanguarda proletária, e, finalmente, do curso dos acontecimentos na Europa
que é mais importante, a se aproximar cada vez mais, por suas caraterísti- ocidental, sobretodo na França.
cas internas, de um sistema bonapartista. A dominaçom prolongada do ca-
pital financeiro através da demagogia social reacionária e do terror pequeno Pode-se dar o facto histórico de que o fascismo polaco seja derrotado e
burguês é impossível. Umha vez chegando ao poder, os dirigentes fascistas reduzido à pó antes de conseguir expressar-se de maneira “totalitária”.
vem-se forçados a amordaçar as massas que os seguem, usando para isso
o aparelho estatal. O mesmo instrumento fai-lhes perder apoio de amplas Já dixemos que o bonapartismo de origem fascista é incomparavelmen-
massas da pequena burguesia. Destas, o aparelho burocrático assimila um te mais estável que os experimentos bonapartistas preventivos aos quais
setor reduzido. Outro cai na indiferença. Um terceiro setor passa para a opo- apela a grande burguesia com a esperança de evitar o derramamento de
siçom, aderindo a diferentes bandeiras. Mas, enquanto for perdendo a sua sangue implicado no fascismo. Porém, é ainda mais importante -desde o
base social massiva ao apoiar-se no aparelho burocrático e oscilar entre as ponto de vista teórico e prático- enfatizar que o fato mesmo da conversom
classes, o fascismo converte-se em bonapartismo. Também aqui, episódios do fascismo em bonapartismo implica no começo do seu fim. Quanto tem-
violentos e sanguinários interrompem a evoluçom gradual. Diferentemente po levará a liquidaçom do fascismo e em que momento a sua enfermidade
do bonapartismo pré-fascista ou preventivo [Giolitti, Bruening-Schleicher, se transformará em agonia depende de muitos fatores externos e inter-
Doumergue, etc], que reflete o equilíbrio extremamente instável e breve en- nos. Mas o facto de que a pequena burguesia terá reduzido a sua atividade
tre os lados em luta, o bonapartismo de origem fascista [Mussolini, Hitler, contra-revolucionária, de que estará desiludida, desintegrando-se, e terá
etc], que surge da destruiçom, desilusom e desmoralizaçom de ambos se- debilitado os seus ataques contra o proletariado, abre novas possibilidades
tores das massas, carateriza-se por uma estabilidade muito maior. revolucionárias. A história demonstra que é impossível manter o proleta-
riado acorrentado valendo-se apenas do aparato policial para esta tarefa.
O problema “bonapartismo ou fascismo” provocou, entre os nossos cama- É certo que a experiência da Itália ensina que a classe trabalhadora con-
radas polacos, algumhas diferenças sobre o regime de Pilsudski. A possibi- serva a herança psicológica da enorme catástrofe sofrida durante muito
lidade mesma de tais diferenças é o melhor atestado de que nom estamos mais tempo do que a duraçom da correlaçom de formas que originou esta
lidando com categorias lógicas inflexíveis, senom com formaçons sociais mesma catástrofe. Mas a inércia psicológica da derrota é um apoio muito
vivas, que apresentam peculiaridades extremamente pronunciadas nos fraco. Pode ser derrubado de umha vez só sob o impacto de umha forte
distintos países e etapas. convulsom. Para Itália, Alemanha, Áustria e outros países essa convulsom
poderia ser o êxito da luita do proletariado francês.

A chave revolucionária da situaçom da Europa e de todo o mundo reside,


Pilsudki chegou ao poder depois de uma insurreiçom baseada num movi- fundamentalmente, na França!
LEON TROTSKI

mento de massas da burguesia que tendia diretamente à dominaçom dos


partidos burgueses tradicionais em nome do “estado forte”; este é um traço
fascista caraterístico do movimento e do regime. Mas o elemento que mais
pesava politicamente, a massa do fascismo polaco, era muito mais fraco
que a do fascismo alemám; Pilsudski teve que apelar em maior medida
aos métodos da conspiraçom militar e encarar com muito mais cuidado o
problema das organizaçons operárias. Basta lembrar que o golpe de estado
de Pisudski contou com a simpatia e o apoio do partido stalinista polaco.
Por sua vez, a crescente hostilidade da pequena burguesia judia e ucraniana
dificultou que este regime conseguisse lançar um ataque geral contra a
classe operária.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo
LEON TROTSKI

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Fragmentos da entrevista realizada polo escritor


inglés Herbert George Wells
[publicada em Bolchevik, nº 17, 1934]
JOSIF STALIN

Wells. Ao observar a propaganda comunista no oeste, tenho a impressom, Tomepor exemplo o fascismo. O fascismo é umha força reacionária que,
que essa propaganda, à vista da situaçom atual, soa mui atrasada, pois utilizando a violência, tenta conservar o velho mundo. Que quer fazer com
é propaganda para a insurreiçom. Propaganda a favor do derrocamento os fascistas? Discutir com eles? Tratar de convencé-los? Mas assim, com
do sistema social pola violência, foi boa e justa, quando ia dirigida contra eles, nom se logra nem o mais mínimo. Os comunistas nom glorificam, de
umha tirania. Mas nas condiçons atuais, derrubando-se só o sistema de nengumha maneira, a aplicaçom da violência. Mas eles, os comunistas,
todos modos, deveria-se de atribuir importáncia ao rendimento, à eficácia, nom tehnem a intençom de deixar-se surpreender, nom se podem fiar de
à produtividade, e nom à sublevaçom. Eu penso, que o tom de sublevaçom que o velho mundo sairá do cenário voluntariamente, olham, que o velho
é um tom falso. A propaganda comunista no oeste é umha contrariedade sistema se defende pola violência e, por isso mesmo, os comunistas dizem
para os homens de mentalidade construtiva. à classe obreira: Respondede à violência com a violência, fazede todo o que
esteja nas vossas forças para impedir que os esmague a velha ordem mo-
Stalin. Naturalmente, o velho sistema derruba-se e apodrece. Correto. Mas ribunda, nom deixedes que vos atem as maos, aquelas maos, com as que
também é correto, que se estám fazendo novos esforços, para, com outros derrubaredes o velho sistema! Você olha, por tanto, que os comunistas nom
métodos, com todos os meios, proteger este sistema moribundo, e salvá-lo. consideram a substituiçom de um sistema social por outro simplesmen-
Você saca umha conclusom errónea de umha premissa correta. Con razom te como um processo espontáneo e pacífico, senom como um processo
afirma, que o velho mundo derruva-se. Mas erram, se acreditam, que se complicado, longo e violento. Os comunistas nom podem fechar os olhos
derruva por si só. perante os feitos.
Nom, a substituiçom de um sistema social por outro é um processo revo- Wells. Mas olhe o que está sucedendo no mundo capitalista. Isto nom
lucionário, longo e penoso. Nom é um processo espontáneo simplesmente, é, simplesmente, um colapso, é um estalido de violência reacionária, que
senom umha luita: é um processo que se leva a cabo no choque das clas- finaliza no bandoleirismo. E ao meu parecer, os socialistas podem, quando
ses. O capitalismo apodrece, mas nom se lhe pode comparar singelamente
JOSIF STALIN

se dá um conflito com a violência reacionária e inepta, acudir à lei, e em


com umha árvore, que esteja tam corrompido, que tem que cair a terra vez de considerar a polícia como o seu inimigo, deveriam apoiá-la na sua
por si só. Nom, a revoluçom, o relevo de um sistema por outro, tem sido luita contra os reacionários. Creio que carece de sentido operar com os
sempre umha luita, umha luita penosa e cruel, umha luita de vida ou morte. métodos do velho e rígido socialismo de insurreiçons.
E cada vez que os homens do mundo novo chegárom ao poder, tivérom
que defender-se das tentativas do mundo velho de restaurar a velha ordem Stalin. Os comunistas baseiam-se em ricas experiências históricas; essas
pola violência; estes homens do mundo novo sempre tivérom que estar em experiências ensinam, que umha classe esgotada nom abandona o cenário
guarda, sempre dispostos a rejeitar os ataques do mundo velho ao novo voluntariamente. Pense na história de Inglaterra no século XVII. Nom diziam
sistema. Sim, tem razom ao dizer que se derruba o velho sistema social; naquele momento muitos que o velho sistema social estava podre? Mas, a
mas nom se derruba por sim mesmo. pesar de isso, nom foi necessário um Cromwell para anonadá-lo pola força?

53
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Wells. Cromwell operava sobre a base da constituiçom, e em nome da necessidade de desorganizar o sistema velho, já que este, tal como estám
ordem constitucional. as cousas, vai-se desorganizando por si só. Por isso, a sublevaçom contra
a velha ordem, contra a lei, parece-me anticuada e superada polo desen-
Stalin. Em nome da constituiçom exerceu violência, fijo executar o rei, dis- volvimento. Estou, dito seja de passo, exagerando conscientemente, para
solveu e espargiu o parlamento, fijo encarcerar ou decapitar gente! Ou tome que a verdade se faga vissível de modo mais claro. Podo formular o meu
um exemplo da história do meu país. Nom estava claro há muito, que apo- ponto de vista da seguinte maneira: primeiro, estou a favor da ordem; se-
drecia, desabava o sistema zarista? Mas quanto sangue tivo que ser derra- gundo, ataco o sistema existente em tanto que nom pode garantir a ordem;
mado ainda, para abaté-lo? E a Revoluçom de Outubro? Nom houvo muitos terceiro, temo que a propaganda a favor da guerra de classes vai afastar
que viam com toda claridom que só nós, os bolcheviques, assinalávamos do socialismo justamente aquelas pessoas cultas, que o socialismo ne-
umha saída? Nom estava claro que o capitalismo russo estava podre? Mas cessita.
você sabe que forte foi a resistência, quanto sangue tivo que ser derramado
para defender a Revoluçom de Outubro contra todos os seus inimigos, no Stalin. Se se quer lograr um grande objetivo, um objetivo social importan-
interior e no estrangeiro. Ou tome a França a fins do século XVIII. Muito te, é preciso umha força central, um baluarte, umha classe revolucionária.
tempo antes de 1789 já estava claro, que podre estava o poder do rei, que Como próximo passo, é necessário organizar o apoio desta força central
podre estava o sistema feudal. Porém, aquilo nom pudo levar-se a cabo por parte de forças auxiliares; neste caso, dita força auxiliar é o Partido,
sem um levantamento popular, um choque de classes. Por que? Porque ao qual estám filiadas também as melhores forças da inteligência. Você
aquelas classes que tenhem que abandonar o cenário da história, som as acaba de falar de “pessoas cultas”. Mas en que pessoas cultas pensava?
últimas em acreditar que o seu jogo tem acabado. É impossível conven- Na Inglaterra durante o século XVII, na França a finais do século XVIII, e na
cé-las disso. Consideram, que as fendas na putrefacta estrutura da velha Rússia durante a época da Revoluçom de Outubro, nom estavam muitas
ordem poderiam ser remendadas, que a estrutura tambaleante da velha pessoas do lado da velha ordem? A velha ordem tinha ao seu serviço muitas
ordem poderia ser arranjada e salvada. Por isso mesmo, as classes que pessoas sumamente cultas, que defendiam a velha ordem, que combatiam
estám fundindo-se, acodem às armas e valem-se de qualquer meio, para a nova ordem. A cultura é umha arma, cujo efeito depende de que mao a te-
manter-se como classe dominante. nha forjado, que mao a dirija. Por suposto, o proletariado necessita pessoas
sumamente cultas. Certamente; os ingénuos nom podem ser de nengumha
Wells. Mas acaso a Grande Revoluçom francesa nom foi encabeçada por ajuda para o proletariado na sua luita polo socialismo, na edificaçom dumha
alguns advogados? nova sociedade. Nom subestimo o rol da inteligência; o contrário, subli-
nho-o. Mas a pergunta é a seguinte: de que inteligência estamos falando?
Stalin. Estou longe de querer menoscabar o papel da inteligência nos
Porque há diferentes tipos de inteligência.
movimentos revolucionários: Mas foi a Grande Revoluçom francesa umha
revoluçom de advogados, ou umha revoluçom do povo, que logrou a vitória
movimentando amplas massas populares para a luita contra o feudalismo,
e defendendo os interesses do Terceiro Estado? E agírom os advogados en-
tre os dirigentes da Grande Revoluçom francesa de acordo as leis da velha
ordem? Nom introducírom um direito novo, burgués-revolucionário? Ricas
experiências históricas ensinam que até hoje nengumha classe se tem re-
tirado para fazer-lhe lugar a outra voluntariamente. Isto, na história nom
tem precedente. Os comunistas tenhem apreendido esta leiçom histórica.
Os comunistas celebrariam que a burguesia se retirasse voluntariamente.
Mas tal viragem das cousas é, como sabemos por experiência, improvavél.
Por isso, os comunistas estám prevenidos para o pior, e dirigem-se à classe
obreira con o chamamento de estar alerta e preparada para a luita. De que
vale um dirigente que adormece a vigiláncia do seu exército, um dirigente
que nom compreende que o inimigo nom vai a capitular, que tem, que ser
JOSIF STALIN

destruído? Quem, como dirigente, atua de tal maneira, engana, trai a classe
obreira. Esta é a razom pola qual opino, que aquilo a que você lhe parece
atrasado, para a classe obreira é, em realidade, umha norma para a ativi-
dade revolucionária.

Wells. Nom nego que seja necessário fazer uso da violência, mas sim é
a minha opiniom, que as formas de luita deveriam ser concertadas como
melhor se poda, com as possibilidades que oferecem as leis existentes
dignas de ser defendidas contra ataques reacionários. Nom há nengumha

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

A ofensiva do fascismo e as tarefas da


Internacional na luita pola unidade da
classe obreira contra o fascismo
[Relatório do 7º Congresso Mundial da Internacional Comunista, Moscovo, 2 de agosto de 1935]
GIORGI DIMITROV

I Numha série de países -particularmente na Alemanha- estes círculos im-


perialistas lográrom, antes da viragem decisiva das massas face a revo-
O fascismo e a classe operária luçom, infligir ao proletariado una derrota e instaurar a ditadura fascista.
Camaradas! Já o VI Congresso da Internacional Comunista preveu o prole- Mas caraterística da vitória do fascismo é precisamente a circunstância de
tariado internacional sobre o amadurecimento de umha nova ofensiva fas- que esta vitória atestemunha por umha parte a debilidade do proletariado,
cista, apelando à luita contra ela. O Congresso sinalou que “quase por toda desorganizado e paralisado pola política cisionista social-democrata de co-
a parte existem tendências fascistas e germes de um moviminto fascista laboraçom de classe com a burguesia e, por outra parte, revela a debilidade
em forma mais ou menos desenvolvida”. da própria burguesia que tem medo a que se realize a unidade de luita da
classe obreira, que teme à revoluçom e nom está já em condiçons de man-
Sob as condiçons da profunda crise económica desencadeada, da violenta
ter a sua ditadura sobre as massas com os velhos métodos da democracia
agudizaçom da crise geral do capitalismo, da revolucionarizaçom das mas-
sas trabalhadoras, o fascismo tem passado a umha ampla ofensiva. A bur- burguesa e do parlamentarismo.
guesia dominante busca cada vez mais a sua salvaçom no fascismo para
levar a cabo medidas excepcionais de expoliaçom contra os trabalhadores, O caráter de classe do fascismo
para preparar umha guerra imperialista de rapina, o assalto contra a Uniom
O fascismo no poder, camaradas, é, como acertadamente o tem carateriza-
Soviética, para preparar a escravizaçom e o reparto da China e impedir, por
do o XIII Plenário do Comité Executivo da Internacional Comunista, a dita-
meio de todo isto, a revoluçom.
GIORGI DIMITROV

dura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas


Os círculos imperialistas tentam descarregar todo o peso da crise sobre as e mais imperialistas do capital financieiro.
costas dos trabalhadores. Para isto, necessitam o fascismo.
A variedade mais reacionária do fascismo é a de tipo alemám. Tem a ousa-
Tratam de resolver o problema dos mercados mediante a escravizaçom dia de chamar-se nacional-socialismo, apesar de nom ter nada de comum
dos povos fracos, mediante o aumento da pressom colonial e um novo com o socialismo. O fascismo alemám nom é somente um nacionalismo
reparto do mundo pola via da guerra.  Para isto, necessitam o fascismo. burguês, é um chauvinismo bestial. É o sistema de governo da bandidagem
Tentan  adiantar-se  ao crescimento das forças da revoluçom mediante o política, um sistema de provocaçons e torturas contra a classe obreira e os
esmagamento do movimento revolucionário dos obreiros e camponeses e elementos revolucionários do campesinhado, da pequena-burguesia e dos
o ataque militar contra a Uniom Soviética, baluarte do proletariado mun- inteletuais. É a crueldade e a barbárie medievais, a agressividade desen-
dial. Para isto, necessitam o fascismo. freada contra os demais povos e países.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

O fascismo alemám atua como destacamento de choque da contrarrevolu- dos trabalhadores, restringem e falseiam os direitos do parlamento e agra-
çom internacional, como incendiário principal da guerra imperialista, como vam as medidas de repressom contra o movimento revolucionário.
instigador da cruzada contra a Uniom Soviética, a grande Pátria dos traba-
lhadores de todo o mundo. Camaradas, nom há que representar o ascenso do fascismo ao poder de
umha forma tam simplista e básica, como se um comité qualquer do capital
O fascismo nom é umha forma de Poder Estatal, que esté, como se preten- financieiro tomasse o acordo de implantar em tal ou qual dia a ditadura fas-
de, “por cima de ambas classes, do proletariado e da burguesia”, como tem cista. Na realidade, o fascismo chega geralmente ao poder na luita, a vezes
afirmado, por exemplo, Otto Bauer. Nom é “a pequena-burguesia subleva- enconada, com os velhos partidos burgueses ou com determinada parte de
da que se tem apoderado do aparelho de Estado”, como declara o socialista estes, na luita inclusive no seio do próprio campo fascista, que muitas vezes
inglês Brailsford. Nom, o fascismo nom é um poder situado por cima das conduz a choques armados, como temos visto na Alemanha, Austria e ou-
classes, nem o poder da pequena-burguesia ou do lumpemproletariado so- tros países. Todo isto, sem embargo, nom disminui a significaçom do facto
bre o capital financieiro. O fascismo é o poder do próprio capital financieiro. de que, antes da instauraçom da ditadura fascista, os governos burgueses
É a organizaçom do ajustamento de contas terrorista com a classe obreira passen habitualmente por umha série de etapas preparatórias e realizem
e o setor revolucionário dos campesinhos e dos inteletuais. O fascismo, na umha série de medidas reacionárias, que facilitam diretamente o ascenso
política exterior, é o chouvinismo na sua forma mais brutal que cultiva um do fascismo ao poder. Todo o que nom luite nestas etapas preparatórias
ódio bestial contra os demais povos. contra as medidas reacionárias da burguesia e contra o crescente fascis-
mo, nom está em condiçons de impedir a vitória do fascismo, senom que,
Há que recalcar de um modo especial este caráter verdadeiro do fascismo, polo contrário, a facilitará.
porque o disfarce da demagogia social dado ao fascismo, numha série de
países, a possibilidade de arrastar consigo as massas da pequena-burgue- Os chefes da social-democracia encubrírom e ocultárom perante as mas-
sia, exasperadas pola crise, e mesmo alguns setores das camadas mais sas o verdadeiro caráter de classe do fascismo e nom chamárom à luita
atrasadas do proletariado, que jamais tinham seguido o fascismo se tives- contra as medidas reacionárias cada vez mais graves da burguesia. Sobre
sem compreendido o seu verdadeiro carater de classe, a sua verdadeira eles pesa umha grande responsabilidade histórica polo facto de que, nos
natureza. momentos decisivos da ofensiva fascista, umha parte considerável das
massas trabalhadoras da Alemanha e de outra série de países fascistas
O desenvolvimento do fascismo e a própria ditadura fascista revistem nos nom reconhecesse no fascismo a fera sedenta de sangue do capital finan-
distintos países  formas diferentes, segundo as condiçons históricas, so- cieiro, o seu pior inimigo e que estas massas nom estivessem preparadas
ciais e económicas, as particularidades nacionais e a posiçom internacional para fazer-lhe frente.
de cada país. Nuns países, principalmente ali, onde o fascismo nom conta
com umha ampla base de massas e onde a luita entre os distintos grupos De onde emana a influência do fascismo sobre as massas? O fascismo
no campo da própria burguesia fascista é bastante dura, o fascismo nom logra atrair-se as massas porque especula de forma demagógica com
se decide imediatamente a acabar con o parlamento e permite os demais as  suas necessidades e exigências mais candentes. O fascismo nom só
partidos burgueses, assim como à social-democracia, certa legalidade. atiça os prejuizos fundamente arraigados nas massas, senom que especula
Noutros países, onde a burguesia dominante teme o próximo estalido da também com os melhores sentimentos destas, com o seu sentimento de
revoluçom, o fascismo estabelece o monopólio político ilimitado, bem do justiça e, a vezes, inclusive com as suas tradiçons revolucionárias. Porque
nada, bem intensificando cada vez mais o terror e o acerto de contas com os fascistas alemans, esses lacaios da grande burguesia e inimigos mor-
todos os partidos e agrupaçons rivais, o qual nom exclui que o fascismo, tais do socialismo, fam-se passar perante as massas por «socialistas» e
no momento em que se agudizar de um modo especial a sua situaçom, apresentam o seu ascenso ao poder como umha «revoluçom»? Porque
tente extender a sua base para  combinar  -sem alterar o seu caráter de se esforçam por explorar a fé na revoluçom e a atraçom do socialismo que
classe- a ditadura terrorista aberta com umha burda falsificaçom do par- vivem no coraçom das amplas massas trabalhadoras da Alemanha.
lamentarismo.
GIORGI DIMITROV

O fascismo age ao serviço dos interesses dos imperialistas mais agressi-


O ascenso do fascismo ao poder nom é  umha simples mudança  de um vos, mas perante as massas apresentam-se sob a máscara de defensor
governo burguês por outro, senom a  substituiçom  de umha forma esta- da naçom aldrajada e apela ao sentimento nacional ferido, como fijo, por
tal da dominaçom de classe da burguesia -a democracia burguesa- por exemplo, o fascismo alemám que arrastou consigo as massas pequeno-
outra, pola ditadura terrorista aberta. Passar por alto esta diferença seria -burguesas com a palavra de ordem de “Contra Versalles!”.
um erro grave, que impediria ao proletariado revolucionário movimentar as
mais amplas camadas dos trabalhadores da cidade e do campo para luitar O fascismo aspira à mais desenfreada exploraçom das massas, mas
contra a ameaça da tomada do poder polos fascistas, assim como apro- aproxima-se a elas com umha demagogia anticapitalista, muito hábil,
veitar as contradiçons existentes no campo da própria burguesia. Porém, explorando o profundo ódio dos trabalhadores contra a burguesia rapaz,
nom menos grave e perigoso é o erro de nom apreciar suficientemente o contra os bancos, os trusts e os magnates financieiros e lançando as pa-
significado que tenhem para a instauraçom da ditadura fascista as medidas lavras de ordem mais sedutoras para o momento dado, para as masas que
reacionárias da burguesia que se intensificam atualmente nos países de nom tenhem atingido umha madurez política; na Alemanha: “O nosso Esta-
democracia burguesa, medidas que reprimem as liberdades democráticas do nom é um Estado capitalista, senom um Estado corporativo”; no Japom:

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

“por um Japom sem exploradores”; nos Estados Unidos: “pola distribuiçom tares incessantes com vistas a umha guerra de conquista.
das riquezas”, etc...
O fascismo prometeu aos empregados, aos pequenos funcionários, aos
O fascismo entrega à povo a voracidade dos elementos mais corrompidos inteletuais, assegurar-lhes a existência, acabar com a omnipotência dos
e venais, mas apresenta-se perante ele com a reivindicaçom de um “gover- trusts e com a especulaçom do capital bancário. Na realidade, lançou-nos
no honrado e insubornável”. Especulando com a profunda desilussom das a umha maior desesperaçom e insegurança no dia de amanhá, submete-os
massas sobre os governos de democracia burguesa, o fascismo indigna- a umha nova burocracia formada polos seus partidários mais obedientes,
-se hipocritamente perante a corruçom [ver, por exemplo, o caso Barmat e cria umha ditadura insuportável dos trusts, sementa em proporçons nunca
Sklarek na Alemanha, o caso Staviski na França e outros]. vistas a corruçom e a descomposiçom.

O fascismo capta, em interesse dos setores mais reacionários da burgue- O fascismo prometeu aos campesinhos arruinados e depauperados acabar
sia, as massas dececionadas que abandonam os velhos partidos burgueses. com a vassalagem das dívidas, suprimir o pagamento das rendas e inclu-
Mas impressiona estas massas pola violência dos seus ataques contra os sive expropriar sem indenizaçom a terra dos terratenentes em favor dos
governos burgueses, pola sua atitude irreconciliável frente aos velhos par- camponeses sem terra e arruinados. Na realidade, entrega o campesinhado
tidos da burguesia. trabalhador a umha escravidom sem precedentes dos trusts e do apare-
lho de Estado fascista e aumenta até o indizível a exploraçom das
Deixando atrás todas as demais formas da reaçom burguesa, polo seu ci- massas fundamentais do campesinhado polos grandes terratenentes, os
nismo e as suas mentiras, o fascismo adata a  sua demagogia às particula- bancos e os usureiros.
ridades nacionais de cada país e inclusive às particularidades das diferentes
camadas sociais dentro de um mesmo país. E as massas da pequena-bur- “Alemanha será um país campesinho, ou nom perdurará”, declarou sole-
guesia, inclusive umha parte dos obreiros, levados à desesperaçom pola nemente Hitler. Mas que tenhem obtido os campesinhos da Alemanha sob
miséria, o desemprego forçado e a insegurança da sua existência, conver- Hitler? Umha moratória que já está derogada? Ou a lei que, regulando o
tem-se em vítimas da demagogia social e chauvinista do fascismo. regime hereditario das fazendas campesinhas, expulsa do campo milhons
de filhos e filhas de camponeses e os convirte em mendigos? Os braceiros
O fascismo chega ao poder como o partido do assalto contra o movimento do campo vem-se convertidos en semiservos, aos que se tem arrebatado
revolucionário do proletariado, contra as massas populares em eferves- inclusive o direito elemental de livre deslocamento. Ao campesinhado tra-
cência, mas apresenta o seu ascenso ao poder como um movimento “re- balhador tem-se despojado da possibilidade de vender os produtos da sua
volucionário”, dirigido contra a burguesia em nome de “toda a naçom” e fazenda no mercado.
para “salvar” a naçom. [Lembremos a “marcha” de Mussolini sobre Roma, a
“marcha” de Pilsudski sobre Varsóvia, a “revoluçom” nacional-socialista de E na Polónia?
Hitler na Alemanha, etc.].
«O campesinhado polaco -escreve o jornal  Chas- emprega métodos e
Mas qualquer que for a careta com que se disfarce o fascismo, qualquer que meios que só se aplicáron seguramente nos tempos da Idade Média: con-
for a forma na que se apresente, qualquer que for o caminho polo que suba serva o fogo na estufa e empresta-lhe-lo aos seus vizinhos, divide em vá-
ao Poder, o fascismo é a mais feroz ofensiva do capital contra as massas rias partes os fósforos. Os campesinhos dam-se uns a outros os restos do
trabalhadoras; o fascismo é o chauvinismo mais desenfreado e a guerra de sabom negro. Fervem os barris de arenques para obter água salgada. Isto
rapina; o fascismo é a reaçom feroz e a contrarrevoluçom; o fascismo é o nom é nengum conto, senom a verdadeira situaçom reinante no campo, da
pior inimigo da classe obreira e de todos os trabalhadores. que qualqer pode convencer-se por si mesmo».

Que oferece às massas o fascismo vitorioso? E isto, camaradas, nom o escreve nengum comunista, senom um jornal
reacionário polaco!
GIORGI DIMITROV

O fascismo prometeu aos obreiros um «salário justo», na realidade colo-


cou-nos a um nível de vida ainda mais baixo, mais miserável. Prometeu Mas nom é todo, nem muito menos. Dia após dia, nos campos de concen-
trabalho aos desempregados; na realidade proporcionou-lhes maiores traçom da Alemanha fascista, nas caves da Gestapo [polícia secreta], nas
torturas de fame e trabalho forçado de escravos. Na realidade, o fascismo masmorras polacas, nos calabouços da polícia secreta búlgara e finlandesa,
converte os obreiros e os desempregados em párias da sociedade capita- na «Glawniatsch» de Belgrado, na «Siguranta» romena, nas ilhas italianas,
lista, desprovistos de todo direito, destrói os seus sindicatos, arrebata-lhes os melhores filhos da classe obreira, os camponeses revolucionários, os
o direito à greve e de imprensa obreira, enrola-os pola força nas organi- que luitam por um porvir mais belo da humanidade som submetidos a tra-
zaçons fascistas, rouba-lhes os fundos dos seguros sociais, converte as tos violentos e escárnios tam repugnantes que perante eles palidecem os
fábricas e os talheres em quartéis, onde reina o despotismo desenfreado crimes mais abomináveis da polícia secreta zarista. O criminal fascismo
dos capitalistas. alemám converte os maridos, em presença das suas mulheres, em mas-
sas de carne sanguinolenta, envia às maes em pacotes postais as cinzas
O fascismo prometeu à juventude trabalhadora abrir-lhe um caminho largo dos seus filhos assassinados. A esterilizaçom tem-se convertido num meio
face um porvir esplendoroso. Na realidade, trouxo à juventude despedimen- político de luita. Aos presos antifascistas recluídos nas cámaras de tortura
tos em massa das empresas, acampamentos de trabalho e exercícios mili- inoculam-lhe pola força substáncias venenosas, rompem-lhes as maos,

57
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

arrancam-lhes os olhos, penduram-nos polos pés, injetam-lhe água com cede como todas as classes condenadas pola história ao afundimiento. Os
bomba, recortam cruzes gamadas na sua carne. comunistas devem saber que, seja o que for, o porvir pertence-lhes. Por
isto, podemos e devemos combinar na grande luita revolucionária o maior
Tenho diante um resumo estatístico de Socorro Vermelho Internacional so- apaixonamento com a mais serena e sobria apreciaçom das convulsons da
bre os assassinados, feridos, presos, mutilados e torturados na Alemaha, burguesia».
Polónia, Itália, Austria, Bulgária e Jugoslávia. Somente na Alemanha, sob
o governo dos nacional-socialistas, fôrom assassinadas mais de 4.200 Sim, se nós e o proletariado do mundo inteiro marchamos com firmeza
pessoas; detidas 317.800; e 218.600 obreiros, campesinhos, empregados polo vieiro que nos tem traçado Lenine, a burguesia afundirá-se a pesar de
e inteletuais antifascistas, comunistas, social-democratas e membros das todo. [Aplausos].
organizaçons cristiás de oposiçom fôrom feridos e submetidos a torturas
crueis. Na Austria, desde os combates de fevereiro do ano passado fôrom É inevitável a vitória do fascismo?
assassinadas 1.900 pessoas; 10.000 feridas e mutiladas; e 40.000 obreiros
Porqué e de que modo tem podido triunfar o fascismo? O fascismo é o pior
revolucionários detidos polo governo fascista “cristiao”. E este resumo, ca-
inimigo da classe obreira e dos trabalhadores. O fascismo é o inimigo das
maradas, dista muito de ser completo.
nove dézimas partes do povo alemám, das nove dézimas partes do povo
Custa-me trabalho encontrar palavras com que exprimir toda a indignaçom austríaco, das nove dézimas partes dos outros povos dos países fascistas.
que nos embarga o pensar nas torturas que hoje sofrem os trabalhadores Como e de que modo tem podido triunfar este inimigo encarnizado?
numha série de países fascistas. As cifras e factos que nós sinalamos nom
O fascismo logrou chegar ao poder, ante todo, porque a classe obreira, gra-
reflitem nem a centéssima parte do quadro verdadeiro da exploraçom e as
ças à política de colaboraçom de classe com a burguesia, praticada polos
torturas, do terror dos guardas brancos que enchem a vida quotidiana da
chefes da social-democracia, achava-se cindida, política e organicamente
classe obreira nos distintos países capitalistas. Nengum livro, por volumi-
desarmada frente a burguesía que desprega a sua ofensiva, e os partidos
noso que for, poderia dar umha ideia clara das incontáveis bestialidades do
comunistas nom eram o suficientemente fortes para pôr em pé as massas
fascismo contra os trabalhadores.
e conduzí-las à luita decisiva contra o fascismo, sem a social-democra-
Com funda emoçom e ódio contra os verdugos fascistas, inclinamos as cia e contra ela.
bandeiras da Internacional Comunista perante a memória inolvidável de
Assim é! Que os milhons de obreiros social-democratas, que agora sofrem
John Scheer, Fiede Schulze, Lütgens, na Alemanha, de Koloman Walish e
com os seus irmaos comunistas os horrores da barbárie fascista, medi-
Munichreiter, na Austria; de Sallai e Füsrts, na Hungria; de Kofardshiev, Lu-
tem seriamente sobre isto: se no ano 1918, quando estalou a revoluçom na
tibrodski e Voikov, na Bulgária, perante a memória dos milhares e milhares
Alemanha e na Austria, o proletariado alemám e austríaco nom tivesse se-
de obreiros, campesinhos, representantes dos inteletuais progressistas,
guido a direçom social-democrata, de Otto Bauer, Friedrich Adler e Renner
comunistas, social-democratas e sem partido, que tenhem dado a sua vida
na Austria, a Ebert e Scheidemann na Alemaha e tivessem marchado pola
luitando contra o fascismo.
senda dos bolcheviques russos, pola senda de Lenine, hoje nom haveria
Desde esta tribuna saudamos o chefe do proletariado alemám e Presidente fascismo nem na Austria, nem na Alemanha, nem na Itália, nem na Hungria,
de honra do nosso Congresso, o camarada Thaelmann [fortes aplausos, to- nem na Polónia, nem nos Balcans. Nom seria a burguesia, senom a classe
dos na sala ponhem-se em pé], saudamos os camaradas Rakosi, Gramsci, obreira a dona da situaçom na Europa desde há muito tempo. [Aplausos].
[fortes aplausos, todos na sala ponhem-e em pé], Anticainen. Saudamos
Reparemos, por exemplo, na social-democracia  austríaca. A revoluçom
Tom Mooney, que vem sofrendo 18 anos de cárcere e os milhares de prisio-
de 1918 elevou-na a enorme altura. Tinha o poder nas suas maos; tinha
neiros do capital e do fascismo [fortes aplausos] e dizemos-lhe: “Irmaos de
fortes posiçons dentro do exército, dentro do aparelho de Estado. Apoian-
luita! Companheiros de armas! Nom vos temos esquecido! Estamos con-
do-se nestas posiçons, pudo ter matado em germen o nascente fascismo,
vosco. Entregamos todas as horas da nossa vida, até a última gota do nosso
GIORGI DIMITROV

mas foi cedendo, sem resistência, umha após outra, as posiçons da classe
sangue, por arrincar-vos e arrancar todos os trabalhadores do ignominioso
obreira. Permitiu à burguesia afortalar o seu poder, anular a Constituiçom,
regime fascista”. [Fortes aplausos, todos na sala ponhem-se em pé].
depurar o aparelho de Estado, o exército e a polícia de funcionários social-
Camaradas! Já Lenine nos tinha advertido que a burguesia pode conse- -democratas, arrebatar aos obreiros o seu arsenal. Permitia aos bandidos
guir, caindo sobre os trabalhadores com o terror mais feroz, rejeitar durante fascistas assassinar impunemente obreiros social-democratas, aceitou as
períodos curtos de tempo as forças crescentes da revoluçom, mas que, a condiçons do pacto de Hüttenberg, que abriu as portas das empresas aos
pesar de isso, nom poderia salvar-se do afundimiento. elementos fascistas. Ao mesmo tempo, os chefes da social-democracia
enganavam os obreiros com o programa de Linz, no que se previa a alter-
«A vida -escrevia Lenine- seguirá o seu curso. Já pode a burguesia nativa do emprego da força armada contra a burguesia e a instauraçom da
arrebatar-se, enfurecer-se até o paroxismo, exceder-se, cometer estupi- ditadura do proletariado, assegurando-lhes que se as classes governantes
deces, vengar-se por anticipado dos bolcheviques e tratar de exterminar apelassen à violencia contra a classe obreira, o partido responderia com o
[na Índia, na Hungria, na Alemanha, etc] centenares de milhares de bol- apelo à greve geral e a luita armada. Como se toda a política de preparaçom
cheviques do amanhá ou de ontem; ao proceder assim, a burguesia pro- do ataque fascista contra a classe obreira nom fosse umha cadeia de atos

58
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

de violência encubertos por meio de formas constitucionais! Inclusive nas mentos populares, tam odiada polo povo? Assestárom algum golpe contra
vésperas dos combates de fevereiro e no transcurso destes, a direçom da o partido fascista de Gil Robles, contra o poder do clero católico? Nom, nom
social-democracia austríaca abandonou o heroico «Schutzbund» na luita, figérom nada de isto. Rejeitárom as reiteradas proposiçons dos comunistas
isolado das amplas massas, e condenou o proletariado austríaco à derrota. sobre a unidade de açom contra a ofensiva da reaçom dos burgueses e dos
terratenentes e do fascismo. Promulgárom umha lei eleitoral que permitiu
Era inevitável a vitória do fascismo na Alemanha? à reaçom conquistar a maioria nas Cortes e umha série de leis que decre-
tavam duras penas contra os movimentos populares, leis que servem agora
Nom, a classe obreira alemá pudo te-la impedido.
para julgar os heroicos mineiros de Astúrias. Fusilárom por mao da guarda
Mas, para isso, tinha que ter conseguido estabelecer a frente única proletá- civil os campesinhos que luitavam pola terra, etc.
ria antifascista, obrigar os chefes da social-democracia a por fim à sua cru-
Assim desbroçou a social-democracia o caminho ao poder ao fascismo, o
zada contra os comunistas e aceitar as reiteradas proposiçons do Partido
mesmo na Alemanha que na Austria e que em Espanha, desorganizando e
Comunista sobre a unidade de açom contra o fascismo.
levando a cisom às fileiras da classe obreira.
Nom tinha que ter-se dado por satisfeito perante a ofensiva do fascismo e a
Camaradas, o fascismo triunfou também porque o proletariado se encon-
gradual liquidaçom das liberdades democratico-burguesas pola burguesia,
trou isolado dos seus aliados naturais. O fascismo poido triunfar porque
com as fermosas resoluçons da social-democracia, senom que deveu res-
logrou arrastar consigo as grandes massas campesinhas, graças a que a
ponder com umha verdadeira luita de massas que estorvasse a realizaçom
social-democracia, em nome da classe obreira, levou a cabo umha políti-
dos planos fascistas da burguesa alemá.
ca que era no fundo anticampesinha. O campesinho via desfilar polo poder
Nom deveu permitir a proibiçom da Liga dos Luitadores da Frente Vermelha umha série de governos social-democratas, que personificavam aos seus
[Roter Frontkämpferbund], polo governo Braun-Severing, senom estabele- olhos o poder da classe obreira, mas nengum de eles satisfazia as necessi-
cer um contato de luita entre a Roter Frontkämpferbund e a Reichsbanner, dades dos campesinhos, nengum deles lhes entregou a terra. A social-de-
que enrrolava quase um milhom de filiados, e obrigar Braun e Severing a mocracia alemá nom tocou para nada os terratenentes, contrarrestou as
armar a ambas organizaçons para rejeitar e destruir as bandas fascistas. greves dos obreiros agrícolas e isto tivo por consequência que os obreiros
agrícolas da Alemanha, já muito antes do ascenso de Hitler ao poder, aban-
Tinha que ter obrigado os chefes da social-democracia, que estavam à fren- donassem os sindicatos reformistas, passando-se na maioria dos casos
te do governo de Prússia, a tomar medidas de defesa contra o fascismo, aos Capacetes de Aceiro e os nacional-socialistas.
deter os chefes fascistas, suprimir a sua imprensa, confiscar os seus recur-
sos materiais e os recursos dos capitalistas que subsidiam o movimiento O fascismo pudo triunfar também porque logrou penetrar nas fileiras da ju-
fascista, dissolver as organizaçons fascistas, desarmá-las, etc. ventude, enquanto que a social-democracia desviava a juventude obreira da
luita de classes, o proletariado revolucionário tampouco despregou entre a
Além disto, tinha que ter conseguido que se estabelecesse e ampliasse a juventude a necessária labor de educaçom e nom emprestou a suficiente
assistência social sob todas as suas formas, que se concedessem umha atençom à luita polos seus interesses e aspiraçons específicas. O fascis-
moratória e subsídios para os campesinhos afetados pola crise, a custa de mo captou a ánsia de atividade combativa agudizada entre a juventude e
recargos nos impostos dos bancos e os trusts, para assegurar-se por este atraiu umha parte considerável desta aos seus destacamentos de comba-
meio o apoio do campesinhado trabalhador. Nom se fijo, por culpa da social- te. A nova geraçom da juventude masculina e feminina nom tem passado
-democracia alemá, e, graças a isto, poido triunfar o fascismo. polos horrores da guerra. Sofre sobre as suas costas todo o peso da crise
económica, do desemprego forçado e da descomposiçom da democracia
Tinham que triunfar a burguesia e a nobreza em Espanha, país onde as for- burguesa. Nom vendo perspetiva algumha para o porvir, setores considerá-
ças da insurreiçom proletária se cominam tam ventajosamente com a veis da juventude mostrárom-se especialmente influenciáveis à demagogia
guerra campesinha? fascista, que lhes pintava um porvir sedutor se o fascismo triunfava.
GIORGI DIMITROV

Os socialistas espanhóis estivérom representados no governo desde os pri- Em relaçom com isto, tampouco devemos passar por alto a série de er-
meros dias da revoluçom. Estabelecérom acaso um contato de luita entre ros cometidos polos partidos comunistas, erros que freavam a nossa luita
as organizaçons obreiras de todas as tendências políticas, incluindo comu- contra o fascismo. Nas nossas fileiras existia um imperdoável menospreço
nistas e anarquistas? Fundírom a classe obreira numha só organizaçom do perigo fascista que ainda nom se tem liquidado em todas partes. Seme-
sindical? Exigírom acaso a confiscaçom de todas as terras dos terratenen- lhantes concepçons, como as que antes podiamos encontrar nos nossos
tes, da Igreja e conventos a favor dos campesinhos para conquistar estes partidos, como aquela de que “Alemanha nom é Itália”, no sentido de que o
para a revoluçom? fascismo pudo triunfar na Itália, mas a sua vitória estava excluída na Alema-
nha, por ser um país industrialmente mui desenvolvido, um país com umha
Tentárom luitar pola autodeterminaçom nacional dos catalans, dos bascos,
cultura mui elevada, com umha tradiçom de quarenta anos de movimento
pola libertaçom de Marrocos? Limpárom o exército de elementos monár-
obreiro, um país, no que é impossível o fascismo, ou a concepçom, que se
quicos e fascistas, preparando o passo das tropas para o lado dos obreiros
mantem hoje, de que nos países da democracia burguesa “clássica” nom há
e dos campesinhos? Dissolvérom a guarda civil, verdugo de todos os movi-
base para o fascismo, semelhantes concepçons podiam e podem contribuir

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

para amortecer a atençom vigilante frente o perigo fascista e dificultar a Em segundo lugar, isso depende da existência de um forte partido revolu-
mobilizaçom do proletariado para a luita contra o fascismo. cionário que saiba dirigir acertadamente a luita dos trabalhadores contra o
fascismo. Um partido que exorte sistematicamente os obreiros a retroce-
Poderiamos citar também nom poucos casos, no que os comunistas se ví- der perante o fascismo e permite à burguesia fascista consolidar as suas
rom surpreendidos inopinadamente por um golpe fascista. Acordade-vos da posiçons, é um partido que conduz os obreiros inevitavelmente à derrota.
Bulgária, onde a direçom do nosso Partido adotou umha posiçom “neutral”,
oportunista no fundo, respeito do golpe de Estado do 9 de junho de 1923; En terceiro lugar, isso depende da justa política da classe obreira respeito
da Polónia, onde em maio de 1926 a direçom do Partido Comunista, que o campesinhado e as massas pequeno burguesas da cidade. Há que tomar
apreciou dumha maneira errónea as forças motrizes da revoluçom polaca, estas massas tal e como som e nom como nós quigéssemos que fossem.
nom soubo distinguir o caráter fascista do golpe de Estado de Pilsudski e Só no transcurso da luita superarám as suas dúvidas e vacilaçons, se sabe-
marchou a reboque dos acontecimentos; da Finlândia, onde o nosso Partido, mos tratar com paciência as suas inevitáveis vacilaçons e, se o proletariado
basando-se numha falsa ideia da fascistizaçom lenta, gradual, deixou triun- as ajuda, elevarám-se políticamente a um grau superior de consciência e
far o golpe de Estado fascista, preparado por um grupo dirigente da burgue- de atividade revolucionária.
sia, golpe de Estado que apanhou de improvisto o Partido e a classe obreira.
Em quarto lugar, isso depende da atençom vigilante e da atuaçom oportuna
Quando o nacional-socialismo tinha chegado a ser um movimento amea- do proletariado revolucionário. Nom há que deixar-se surpreender inopina-
çador de massas na Alemanha, havia camaradas, para quem o governo de damente polo fascismo; nom deixar-lhe a iniciativa; há que assestar-lhe
Brüning era já o da ditadura fascista e que declaravam carrancudos: “Se o golpes decisivos, quando ainda no tenha logrado concentrar as suas forças;
terceiro Reich de Hitler chega um dia, será só um metro e meio baixo tierra nom permitir-lhe afiançar-se; fazer frente a cada passo no que se mani-
e com o poder obreiro vencedor por cima de ele”. feste; nom permitir-lhe conquistar novas posiçons; como se esforça, com
êxito, por conseguí-lo o proletariado francês.
Os nossos camaradas da Alemanha tenhem subestimado durante muito
tempo o sentimento nacional ferido e a indiginaçom das massas contra Tais som as condiçons mais importantes para impedir que o fascismo cres-
o Tratado de Versalhes, observavam umha atitude desdenhosa respei- ça e suba ao poder.
to às vacilaçons dos campesinhos e a pequena burguesia, tardárom em
estabelecer um programa de emancipaçom social e nacional e, quando o O fascismo, um poder cruel, mas precário
formulárom, nom soubérom adatá-lo às necessidades concretas e ao nível
A ditadura fascista da burguesía é um poder cruel, mas precário.
das massas. E nem sequer soubérom popularizá-lo amplamente entre elas.
Em que consistem as causas principais da precariedade da ditadura fas-
A necessidade de despregar a luita de massas contra o fascismo tem sido
cista?
substituída em vários países por razoamentos estéreis sobre o caráter do
fascismo “em geral” e por umha estreiteza setária respeito à posiçom e O fascismo, que pretende superar as divergências e as contradiçons exis-
soluçom das tarefas políticas atuais do Partido. tentes no campo da burguesia, vem agudizar ainda mais estas contradiçons.
Camaradas, se falamos das causas da vitória do fascismo, se assinalamos O fascismo tenta estabelecer o seu monopólio político, destruíndo pola vio-
a responsabilidade histórica da social-democracia na derrota da classe lência os demais partidos políticos. Mas a existência do sistema capitalista,
obreira, se anotamos também os nossos próprios erros na luita contra o a existência de diferentes classes, a agudizaçom das contradiçons de clas-
fascismo, nom é simplesmente polo gosto de remover o passado. Nós nom ses conduzem inevitávelmente a sacudir e derruvar o monopólio político
somos historiadores, situados à margem da vida, somos militantes com- do fascismo. Nom é o país soviético no que a ditadura do proletariado é
bativos da classe obreira e estamos obrigados a dar umha resposta à per- exercida também por um partido único, mas onde este monopólio político
gunta que atormenta milhons de obreiros: «Cabe impedir, e por que meios, responde aos interesses de milhons de trabalhadores e se apoia cada vez
GIORGI DIMITROV

a vitória do fascismo?» E nós respondemos a esses milhons de obreiros: mais sobre a construçom da sociedade sem classes; num país fascista, o
partido dos fascistas nom pode manter por muito tempo o seu monopó-
sim, camaradas, pode fechar-se o passo ao fascismo. É absolutamente
lio, porque nom está em condiçons de propor-se a missom de suprimir as
possível. Isso depende de nós mesmos, dos obreiros, dos campesinhos, de classes e as contradiçons de classe. Suprime a existência legal dos parti-
todos os trabalhadores! dos burgueses, mas alguns deles seguem vivindo ilegalmente e o Partido
Comunista avança, incluso dentro da ilegalidade, templa-se e dirige a luita
Impedir a vitória do fascismo depende ante todo da atitude combativa da do proletariado contra a ditadura fascista. Deste modo, o monopólio político
própria classe obreira, da coesom das suas forças num exército combaten- do fascismo tem necessariamente que derrumbar-se baixo os golpes das
te que luite unido contra a ofensiva do capital e do fascismo. O proletariado, contradiçons de classe.
ao estabelecer a sua unidade de luita, paralisaria a influência do fascismo
sobre os campesinhos, sobre a pequena burguesia urbana, sobre a juven- Outra das causas da precariedade da ditadura fascista estriba em que o
tude e os inteletuais, conseguiria neutralizar umha parte e fazer passar ao contraste entre a demagogia anticapitalista do fascismo e a política de en-
seu lado a outra. riquecimento mais rapaz da burguesia monopolista permite desmascarar o
fundo de classe do fascismo, quebrantar e reduzir a sua base de massas.

60
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Além, a vitória do fascismo provoca o ódio profundo e a indignaçom das dos escravos atuais o ódio, que os escravos atemorizados, torpes e igno-
massas, contribui para revolucioná-las e imprime um poderoso impulso ao rantes levam eternamente dentro e que conduz os escravos já conscientes
frente do proletariado contra o fascismo. do opróvio da sua escravidom às fazanhas históricas mais grandiosas».

Levando a cabo a política do nacionalismo económico [autarquía] e apro- A vitória do fascismo na Alemania provocou, como é sabido, umha nova
priando-se a maior parte dos ingressos da naçom para a preparaçom da vaga de ofensiva fascista, que conduziu na Austria à provocaçom de
guerra, o fascismo socava toda a economia do país e agudiza a guerra eco- Dollfuss, em Espanha a novas agressons da contrarrevoluçom contra as
nómica entre os Estados capitalistas. Imprime aos conflitos, que surgem conquistas revolucionárias das massas, na Polónia à reforma fascista da
no seio da burguesia, um caráter violento e nom poucas vezes sanguento, Constituçom e na França incitou os destacamentos armados dos fascistas
minando assim a estabilidade do poder estatal fascista aos olhos do povo. a umha tentativa de golpe de Estado em fevereiro de 1934. Mas esta vitória
Um poder, que assassina os seus próprios partidários, como aconteceu na e a fúria da ditadura fascista tenhem provocado sobre o plano internacional
Alemanha 30 de junho do ano passado, um poder como o fascista, contra o um contramovimento de frente única proletária contra o fascismo. O incên-
qual luita com as armas na mao outra parte da burguesia fascista [putsch dio do Reichstag, que era o sinal para a ofensiva geral do fascismo contra a
nacional-socialista da Austria, as luitas violentas de distintos grupos fas- classe obreira, o atraco e a expoliaçom contra os sindicatos e outras organi-
cistas contra os governos fascistas da Polónia, Bulgária, Finlândia e outros zaçons obreiras, os gritos dos antifascistas torturados nas masmorras dos
países], este poder nom poderá manter durante muito tempo a sua autori- quartéis e nos campos de concentraçom fascistas, revelam palpavelmente
dade aos olhos das extensas massas pequeno burguesas. às massas onde tem conduzido o jogo cisionista e reacionário dos chefes
da social-democracia alemá, que rejeitárom as propostas dos comunistas
A classe obreira tem que saber aproveitar as contradiçons e conflitos exis- para luitar unidos contra o fascismo agressor, e as convencem da neces-
tentes no campo da burguesia, mas nom deve fazer-se ilusons de que o sidade de unificar todas as forças da classe obreira para o derrocamento
fascismo pode asfixiar-se por si só. O fascismo nom se derrubará automa- do fascismo.
ticamente. Só a atividade revolucionaria da classe obreira fará que os con-
flitos, que surgem inevitavelmente no campo da burguesia, se aproveitem Na França, a vitória de Hitler deu também um impulso decissivo à criaçom
para minar a ditadura fascista e derrubá-la. da frente única da classe obreira contra o fascismo. A vitória de Hitler nom
tem engendrado nos obreiros só o temor pola sorte dos obreiros alemans,
Ao liquidar os restos da democracia burguesa e elevar a violência aberta nom só tem encendido o ódio contra os verdugos dos seus irmaos de classe
a sistema de governo, o fascismo socava as ilusons democráticas e a au- alemans, senom que, ademais, tem afortalado a sua decisom de nom per-
toridade da lei aos olhos das massas trabalhadoras. Há que acrescentar mitir de nengum modo que suceda no seu país o que tem sucedido com a
que isto sucede em países como, por exemplo, Austria e Espanha, onde classe obreira na Alemanha. A poderosa gravitaçom face a frente única em
os obreiros tenhem luitado com as armas na mao contra o fascismo. Na todos os países capitalistas pom de manifesto que nom tenhem sido em
Austria, a luita heroica do Schutzbund e dos comunistas fijo tremer, a pesar vao as ensinanças da derrota. A classe obreira começa a atuar de um modo
da derrota, desde um princípio a firmeza da ditadura fascista. novo. A iniciativa dos partidos comunistas na organizaçom da frente única
e a abnegaçom sem limites dos comunistas, dos obreiros revolucionários,
Em Espanha, a burguesia nom logrou amordaçar os trabalhadores. As lui- na luita contra o fascismo, acrescentárom, em proporçons nunca vistas, a
tas armadas de Austria e Espanha tenhem feito que massas cada vez mais autoridade da Internacional Comunista. Ao mesmo tempo, desenvolve-se
extensas da classe obreira adquiram consciência da necessidade da luita umha funda crise no seio da Segunda Internacional, crise que se manifesta
revolucionária de classes. e sublinha com umha claridom especial após a bancarrota da social-de-
mocracia alemá. Os obreiros social-democratas podem convencer-se cada
Só filisteus inverosímeis, lacaios da burguesia, como o mais velho teórico
vez mais palpavelmente de que a Alemanha fascista, com todos os seus
da Segunda Internacional, Carlos Kautsky, podem reprochar aos obreiros
horrores e barbárie, é, em última instância, umha consequência da política
de Austria e Espanha o ter empunhado as armas. Que aspeto apresentaria
social-democrata da colaboraçom de classe com a burguesia. Estas mas-
GIORGI DIMITROV

hoje o movimento obreiro da Austria e Espanha, se a classe obreira destes


sas vem cada vez mais claro que o caminho, polo qual levárom o proletaria-
países se tivesse deixado guiar polos traidores conselhos dos Kautsky? A do os chefes da social-democracia alemá, nom deve repetir-se. Jamais se
classe obreira destes países atravessaria umha profunda desmoralizaçom tem dado no campo da Segunda Internacional um desconcerto ideológico
nas suas fileiras. tam grande. No seio de todos os partidos social-democratas, opera-se um
«Os povos -afirmou Lenine- nom passam em vao pola escola da guerra processo de diferenciaçom. Nas suas fileiras destacam-se  dous campos
civil. Esta é umha escola dura e no seu programa, se é completo, entram básicos: junto ao campo existente dos elementos reacionários, que tentam
por todos os meios manter em pé o bloco da social-democracia com a bur-
também inevitavelmente os triunfos da contrarrevoluçom, o desenfreio dos
guesia e rejeitam raivosamente a frente única com os comunistas, começa
reacionários enfurecidos, o acerto de contas feroz do velho poder com os
a formar-se o campo dos elementos revolucionários, que abrigam dúvidas
rebeldes, etc. Mas só os pedantes declarados e as mómias sem juizo po-
acerca da justeza da política de colaboraçom de classe com a burguesia,
dem choromiquear, lamentando-se de que os povos passem por essa es-
que avogam pola criaçom de umha frente única com os comunistas e co-
cola cheia de tormentos; esta escola ensina às classes oprimidas a livrar a
meçam a passar-se cada vez em maior grau às posiçons da luita revolu-
guerra civil e ensina-lhes como triunfa a revoluçom, acumula nas massas
cionária de classes.

61
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Assim o fascismo, que tem surgido como resultado da decadência do equivale a converter as colónias e semicolónias numha das reservas prin-
sistema capitalista, atua a fim de contas como um factor da sua ulterior cipais do proletariado.
descomposiçom. Assim, o fascismo, que tem assumido a tarefa de enter-
rar o marxismo, o movimento revolucionário da classe obreira, o mesmo Finalmente, se temos em conta que a unidade de açom internacional do
leva, como resultado da dialética da vida e da luita de classes, ao desen- proletariado se apoia na força, sem cessar crescente, do Estado proletário,
volvimento das forças  chamadas a ser enterradoras, as enterradoras do do país do socialismo, da Uniom Soviética, vemos que vastas perspetivas
capitalismo. abre a realizaçom da unidade de açom do proletariado sobre o plano nacio-
nal e internacional.

A implantaçom da unidade de açom de todos os setores da classe obreira,


II qualquer que for o Partido ou organizaçom à que pertençam, é necessá-
ria ainda antes de que a maioria da classe obreira se unifique para luitar
A frente única da classe obreira contra o fascismo polo derrocamento do capitalismo e polo triunfo da revoluçom proletária.
Camaradas! Milhons de obreiros e trabalhadores dos países capitalistas É possível realizar esta unidade de açom do proletariado nos distintos
perguntam: Como pode impedir-se que o fascismo chegue ao poder e países e o mundo inteiro? Se, é possível, e é-o imediatamente. A Inter-
como derrocá-lo, ali onde já tem triunfado? nacional Comunista nom pom para a unidade de açom nengumha classe
de condiçons, com excepçom de umha elemental, aceitável para todos os
A Internacional Comunista responde: o primeiro, que há que fazer, é criar
obreiros, a saber: que a unidade de açom vaia encaminhada contra o fas-
a frente única, estabelecer a unidade dos obreiros em cada empresa, em
cismo, contra a ofensiva do capital, contra a ameaça de guerra, contra o
cada bairro, em cada regiom, em cada país, no mundo inteiro. A unidade
inimigo de classe. É ai a nossa condiçom.
de açom do proletariado no plano nacional e internacional, é aqui a arma
poderosa que capacita a classe obreira nom só para umha defesa, senom Sobre os principais argumentos dos adversarios da frente úni-
também para umha contraofensiva vitoriosa contra o fascismo, contra o ca
inimigo de classe.
Que podem objetar e que objetam os adversários da frente única?
Significado da frente única
“Para os comunistas, a palavra de ordem de frente único nom é mais que
Nom é evidente que as açons conjuntas dos filiados dos partidos e organi- umha manobra” -dim uns. Mas, embora fosse umha manobra, -responde-
zaçons das duas Internacionais -a Internacional Comunista e a Segunda In- mos nós- porque nom desmascarades esta “manobra comunista”, partici-
ternacional- permitiriam às massas rejeitar o empuxe fascista e elevariam pando honradamente na frente única? Dizemo-lo francamente: queremos
o peso político da classe obreira? a unidade de açom da classe obreira para que o proletariado se afortale na
sua luita contra a burguesia, para que, defendendo hoje os seus interesses
Mas as açons conjuntas dos partidos de ambas Internacionais contra o fas-
quotidianos contra os ataques do capital, contra o fascismo, esteja amanhá
cismo nom se limitariam a exercer umha influência sobre os seus filiados
em condiçons de criar as premissas para a sua definitiva emancipaçom.
atuais, sobre os comunistas e os social-democratas, exerceriam também
umha influência poderosa nas fileiras dos obreiros católicos, anarquistas “Os comunistas atacam-nos” -dim outros. Pois escuitade. Já temos de-
e nom organizados, inclusive sobre aqueles que momentaneamente som clarado repetidas vezes que nom atacaremos ninguém: pessoas, organiza-
vítimas da demagogia fascista. çons, nem partidos, que avoguem pola frente única da classe obreira contra
o inimigo de classe. Mas, ao mesmo tempo, em interesse do proletariado e
Mais ainda, a potente frente única do proletariado exerceria umha enorme
da sua causa, temos o dever de criticar as pessoas, organizaçons e partidos
influência sobre todas as demais camadas do povo trabalhador, sobre os
GIORGI DIMITROV

que entorpecem a unidade de açom dos obreiros.


campesinhos, sobre a pequena burguesia urbana, sobre os inteletuais. A
frente única infundiria aos setores vacilantes fé na força da classe obreira. “Nom podemos formar a frente única com os comunistas porque o seu
programa é diferente” -dim os de mais alá. Mas vós afirmades também
Porém, tampouco isto é todo. O proletariado dos países imperialistas tem
que o vosso programa difere do dos partidos burgueses e isto nom vos
os seus aliados potenciais nom só nos trabalhadores do próprio país, se-
tem impedido, nem vos impossibilita selar coaligaçons com estes partidos.
nom também nas naçons oprimidas das colónias e semicolonias. O facto
de que o proletariado se ache cindido sobre um plano nacional e interna- “Os partidos democrático-burgueses som melhores aliados contra o fas-
cional e de que umha parte dele apoie a política de colaboraçom com cismo que os comunistas” -dim os adversarios da frente única e defensores
a burguesia e, sobre todo, o seu regime de opresssom nas colónias da coaligaçom com a burguesia.
e semicolonias, afasta os povos oprimidos das colónias e semicolonias da
classe obreira e debilita a frente anti-imperialista mundial. Cada passo que Mas que nos ensina a experiência da Alemanha? Aqui os social-democra-
dé o proletariado das metrópoles imperialistas pola senda da unidade de tas formárom um bloco com estes aliados “melhores”. E quais fôrom os
açom, encaminhado a apoiar a luita de libertaçom dos povos coloniais, resultados?

62
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

verno a social-democracia austríaca? Também fijo parte! Nom estivérom


os socialistas espanhóis num governo coaligados com a burguesia? Sim,
“Se estabelecermos a frente única com os comunistas, os pequenos bur- estivérom! E acaso a participaçom da social-democracia nos governos bur-
gueses assustariam-se do “perigo vermelho” e passariam-se os fascistas” gueses de coaligaçom tem impedido nestes países o assalto do fascismo
-ouvimos dizer habitualmente. Acaso a frente única ameaça os campesi- contra o proletariado? Nom, nom o impede. É, por tanto, claro como a luz
nhos, os pequenos comerciantes, os artesaos, os trabalhadores inteletuais? do dia que a participaçom de ministros social-democratas nos governos
Nom. A frente única ameaça a grande burguesia, os magnates financieiros, burgueses nom constitui umha barreira contra o fascismo.
os terratenentes e resto de exploradores, cujo regime acarrea a ruína com-
pleta de todos aqueles setores. “Os comunistas obram ditatorialmente, querem impor e ditá-lo todo” -di-
zem eles. Nom, nós nom impomos, nem ditamos nada. Limitamo-nos a
“A social-democracia é partidária da democracia e os comunistas, da dita- formular as nossas proposiçons, cuja realizaçom estamos convencidos de
dura, por isto nom podemos estabelecer a frente única com os comunistas” que responde aos interesses do povo trabalhador. E isto nom é só um di-
-dizem umha série de chefes social-democratas. Mas, é que nós propo- reito, senom um dever de quantos atuam em nome dos obreiros. Tendes
mos-vos agora umha frente única para proclamar a ditadura do proletaria- medo à “ditadura” dos comunistas? Pois apresentemos conjuntamente aos
do? De momento, nom vós propomos semelhante cousa. obreiros todas as proposiçons, as vossas e as nossas, discutamo-las con-
juntamente, com todos os obreiros, e escolhamos aquelas que forem mais
“Que os comunistas recoheçam a democracia e atuem na defesa dela e
ventajosas para a causa da classe obreira.
entom estaremos dispostos a participar na frente única”. A estes respon-
demos-lhes: nós somos partidarios da democracia soviética, a democracia Como se ve, esses argumentos contra a frente única nom resistem a mais
dos trabalhadores, a democracia mais consequente do mundo. Mas defen- leve crítica. Som, mais que outra cosa, tergiversaçons dos chefes reacioná-
demos e seguiremos defendendo nos países capitalistas, palmo a palmo, as rios da social-democracia que prefirem a sua frente única com a burguesia,
liberdades democrático-burguesas, contra as quais atentam o fascismo e à frente única do proletariado.
a reaçom burguesa, pois assim o exigem os interesses da luita de classes
do proletariado. Nom, estas tergiversaçons nom prevalecerám! O proletariado internacional
tem pago demasiado caras as consequências da cissom do movimento
“Mas é que os pequenos partidos comunistas nom achegariam nada com a obreiro e está cada vez mais convencido de que a frente única, a unidade de
sua participaçom na frente única que realize o partido laborista” -dizem, por açom do proletariado, tanto sobre o plano nacional, como no plano interna-
exemplo, os chefes laboristas da Inglaterra. Porém, lembrai que o mesmo cional, som necessários e perfeitamente possíveis.
afirmavam os chefes social-democratas austríacos respeito do pequeno
Partido Comunista da Austria. E que tenhem demonstrado os acontecimen- Conteúdo e forma da frente única
tos? Nom era a social-democracia austríaca com Otto Bauer e Renner à
cabeça, quem tinha razom, senom o pequeno Partido Comunista Austría- Qual é e qual deve ser o conteúdo principal da frente única na etapa atual?
co, que assinalou oportunamente o perigo fascista na Austria e chamou
A defesa dos interesses económicos e políticos imediatos da classe obreira,
os obreiros a luitar contra ele. E toda a experiência do movimento obreiro
a sua defesa contra o fascismo há de ser o ponto de partida e o conteúdo
ensina que os comunistas, embora numericamente sejam poucos, som o
principal da frente única em todos os países capitalisas.
motor da atividade combativa do proletariado. Além, nom deve esquecer-se
que os Partidos Comunistas da Austria e da Inglaterra nom som unicamente Nom devemos limitar-nos a lançar meros apelos à luita pola ditadura pro-
as dúzias de milhares de obreiros filiados a estes Partidos, senom partes do letária, senom que temos que encontrar e preconizar as palavras de ordem
movimento comunista mundial,  seçons da Internacional Comunista, cujo e formas de luita, que se despreendem das necessidades vitais das massas,
partido dirigente é o Partido de um proletariado, que tem triunfado já e que do nível da sua capacidade de luita em cada etapa de desenvolvimento.
governa numha sexta parte do planeta.
GIORGI DIMITROV

Devemos indicar às massas o que tenhem de fazer hoje para defender-se


“Mas a frente única nom impediu a vitória do fascismo na Sarre” -objetam da expoliaçom capitalista e da barbárie fascista.
os adversarios da frente única. Curiosa lógica a de estes senhores! Primeiro,
fam todo o que está da sua parte para assegurar a vitória do fascismo, e Devemos conseguir que se estabeleça a frente única mais ampla por meio
depois, alegram-se malignamente de que a frente única, ao que se tenhem de açons conjuntas das organizaçons obreiras das distintas tendências para
deixado arrastar nos últimos momentos, nom tenha conduzido ao triunfo defender os interesses vitais das massas trabalhadores.
dos obreiros.
Isto significa,  em primeiro lugar, a luita conjunta por descarregar de um
“Se formamos a frente única com os comunistas, teríamos que saír dos modo efetivo as consequências da crise sobre as costas das classes domi-
governos de coaligaçom e entraríam a governar os partidos reacionários nantes, sobre as costas dos capitalistas, dos terratenentes, numha palavra,
fascistas” -dizem os chefes social-democratas, que estám nos governos sobre as costas dos ricos.
dos distintos países. Mui bem, acaso nom participou a social-democracia
alemá num governo de coaligaçom? Sim, participou! Nom fijo parte do go-

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Significa, em segundo lugar, a luita conjunta contra todas as formas da çons enroladas na frente única, que é, por exemplo, o que sucede na França.
ofensiva fascista, pola defesa das conquistas e direitos dos trabalhadores, Isto nom é mais que o primeiro passo. Os pactos som meios auxiliares para
contra a liquidaçom das liberdades democrático-burguesas. a realizaçom de açons conjuntas, mas nom som ainda, de por si, a frente
única. Os comités de ligaçom entre as direçons dos partidos comunistas e
Significa, em terceiro lugar, a luita conjunta contra o perigo cada vez mais socialistas som necessários para facilitar a realizaçom de açons conjuntas,
iminente da guerra imperialista, luita que dificultaria a preparaçom desta mas estám mui longe de bastar por si sós, para o despregamento efetivo da
guerra. frente única, para conduzir as extensas massas à luita contra o fascismo.
Devemos preparar sem descanso a classe obreira para as mudanças rápi- Os comunistas e todos os obreiros revolucionários devem esforçar-se
das de formas de luita, ao variar as circunstáncias. A medida que aumenta por criar órgaos de classe da frente única à margem dos partidos eleitos
o movimiento e se fortaleça a unidade da classe obreira, teremos que ir [nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas mais presti-
mais longe e preparar o passo da defensiva à ofensiva contra o capital, giosas no movimento de frente única] nas empresas, entre os desocupa-
pondo proa à organizaçom da greve política de massas. Condiçom obrigada dos, nos bairros obreiros, entre a gente modesta da cidade  e do campo.
dumha greve semelhante é que os sindicatos fundamentais de cada país Só estes órgaos podem abarcar mediante o movimento de frente única até
sejam envolvidos nela. as enormes massas nom organizadas dos trabalhadores, podem contribuir
para desenvolver a iniciativa das massas na luita contra a ofensiva do capi-
Naturalmente, os comunistas nom podem, nem devem renunciar, nem por
tal, contra o fascismo e a reaçom, a criar sobre esta base o extenso corpo
um só minuto, a sua labor própria e independente de educaçom comunis-
de ativistas obreiros da frente única, que é indispensável, e a formar nos
ta, de organizaçom e mobilizaçom das massas. Porém, para assegurar aos
países capitalistas centos e milhares de bolcheviques sem partido.
obreiros o caminho face a unidade de açom, há que conseguir
selar ao mesmo tempo acordos a curto e a longo prazo  sobre açons As açons conjuntas dos obreiros organizados  som o início, som a base.
comuns com os partidos social-democratas, os sindicatos reformistas e Mas nom podemos perder de vista que a esmagadora maioria dos obrei-
as demais organizaçons dos trabalhadores  contra os inimigos de classe ros, é constituída polas massas nom organizadas. Assim, na França, o total
do proletariado. Nestes pactos, a atençom principal deve encaminhar-se a de obreiros organizados, comunistas, socialistas e filiados aos sindicatos
desencadear açons de massas nos distintos lugares, que deveriam ser le- de distintas tendências, é em total aproximadamente de um milhom e o
vadas a cabo polas organizaçons de base mediante acordos locais. À par censo total de obreiros ascende a onze milhons. Na Inglaterra, pertencem
que cumprimos lealmente as condiçons de todos os acordos pactados com aos sindicatos e aos partidos de todas as tendências, uns cinco milhons;
eles, desmascararemos implacavelmente qualquer sabotagem, cometido mas o censo total de obreiros é de catorze milhons. Nos Estados Unidos da
contra as açons conjuntas por pessoas ou organizaçons, que formem parte América, há aproximadamente cinco milhons de obreiros organizados, mas
na frente única. A quantas tentativas se fagam por frustrar os acordos pac- o censo total dos obreiros em Norte-América é de trinta e oito milhons. E a
tuados, e estas tentativas possivelmente farám-se, contestaremos apelan- mesma relaçom existe mais ou menos noutra série de países. Em tempos
do às massas e continuando infatigavelmente a luita por restabelecer a “normais”, esta massa permanece substancialmente à margem da vida po-
unidade de açom violada. lítica. Mas na atualidade, esta massa gigantesca pom-se cada vez mais em
movimento, incorpora-se à vida política, sai à palestra política.
Nom precisa dizer que a realizaçom concreta da frente única nos distintos
países efetuará-se de diversos modos e revestirá formas, segundo o esta- A criaçom de órgaos de classe à margem dos partidos é  a melhor for-
do e o caráter das organizaçons obreiras, o seu nível político, a situaçom ma para realizar, alargar e afortalar a frente única na mesma base das mais
concreta do país de que se trata, segundo as mudanças operadas no movi- amplas massas. Estes órgaos serám também o melhor baluarte contra to-
mento obreiro internacional, etc. das as tentativas dos adversários da frente única para quebrar a unidade de
açom lograda pola classe obreira.
Estas formas podem ser, por exemplo: açons conjuntas dos obreiros coor-
GIORGI DIMITROV

denadas para casos determinados e por motivos concretos, por reivindi- Sobre a frente popular antifascista
caçons isoladas ou também sobre a base dumha plataforma geral, açons
coordenadas em determinadas empresas ou ramas industriais; açons coor- Na mobilizaçom das massas trabalhadoras para a luita contra o fascismo,
denadas sobre um plano local, regional, nacional ou internacional; açons temos como tarefa espacialmente importante  a criación de um extenso
coordenadas para a organizaçom de luitas económicas dos obreiros, para a frente popular antifascista sobre a base do frente único proletário. O êxito
realizaçom de açons políticas de massas, para a organizaçom da autodefe- de toda a luita do proletariado vai intimamente unido à criaçom da aliança
sa comum contra os assaltos fascistas; açons coordenadas para ajudar os de luita do proletariado com o campesinhado trabalhador e com as massas
presos e as suas famílias, no terreno da luita contra a reaçom social; açons mais importantes da pequena burguesia urbana, que formam a maioria da
conjuntas para a defesa dos interesses da juventude  e das mulheres, na populaçom inclusive nos países industrialmente desenvolvidos.
esfera das cooperativas, da cultura, dos desportos, etc.
O fascismo, nas suas campanhas de agitaçom encaminhadas a conquistar
Porém, seria insuficiente dar-se por satisfeitos com selar um pacto sobre essas massas, tenta contrapor as massas trabalhadoras da cidade e do
açons conjuntas e com criar comités de ligaçom dos partidos e as organiza- campo ao proletariado revolucionário e assustar os pequeno burgueses

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

com o fantasma do “perigo vermelho”. Nós temos que voltar as lanças e Problemas cardinais do frente único nos diversos países
assinalar aos campesinhos trabalhadores, aos artesaos e aos trabalhadores
inteletuais, de onde lhes ameaça o verdadeiro perigo, temos que fazer-lhes Em todos os países há  problemas cardinais  que numha etapa dada co-
ver concretamente quem lança sobre os campesinhos a carga das contri- movem as mais extensas massas e à volta dos quais deve despregar-se
buiçons e impostos, quem os espreme mediante juros usurários, quem, a a luita por estabelecer a frente única. Captar acertadamente estes pontos
pesar de possuir as melhores terras e todas as suas riquezas, expulsa da fundamentais, estes problemas cardinais, significa assegurar e acelerar a
sua terra o campesinho e a sua família e os condena ao desemprego e à formaçom da frente única.
mendicidade. Temos que por em claro concretamente, explicar paciente e
a) Estados Unidos de América
tenazmente, quem arruína os artesaos a força de impostos e gabelas de
todo género, rendas gravosas e de umha competência insuportável para Tomemos, por exemplo, um país tam importante do mundo capitalista
eles, quem lança à rua e priva de trabalho as amplas massas dos trabalha- como os Estados Unidos de América. Ali a crisie pujo em movimento mi-
dores inteletuais. lhons de homens. O programa de saneamento do capitalismo foi a pique.
Imensas massas começam a afastar-se dos partidos burgueses e acham-
Mas isto nom basta.
-se atualmente na encruzilhada.
O fundamental, o mais decisivo, para estabelecer a frente popular antifas-
O fascismo norteamericano incipiente tenta canalizar o descontentamento
cista é a açom decidida do proletariado revolucionário na defesa das reivin-
e o desengano destas massas face cauces reacionário-fascistas. A pecu-
dicaçons destes setores e, em particular, do campesinhado trabalhador, de
liaridade do desenvolvimento do fascismo norteamericano consiste em que,
reivindicaçons que correspondem os interesses cardinais do proletariado,
na presente fase, age predominantemente em forma de oposiçom contra
combinando no transcurso da luita as aspiraçons da classe obreira com
o fascismo, considerando-o umha corrente “nom americana”, importada
estas reivindicaçons.
do estrangeiro. A diferença do fascismo alemám, que entrou em
Para a criaçom da frente popular antifascista tem umha grande importáncia cena com palavras de ordem contrárias à constituiçom, o fascis-
o saber abordar de umha maneira acertada todos aqueles partidos e orga- mo norteamericano tenta presentar-se como paladim da Constituiçom e
nizaçons que enrolam umha parte considerável do campesinhado trabalha- da “democracia americana”. Nom é ainda umha força que constitui umha
dor e as massas principais da pequena burguesia urbana. ameaça imediata. Mas se logra penetrar nas extensas massas dececiona-
das dos velhos partidos burgueses, pode chegar a converter-se mui pronto
Nos países capitalistas, a maioria destes partidos e organizaçons -tanto num sério perigo.
políticas, como económicas- acham-se ainda sob a influência da burgue-
sia e seguem esta. A composiçom social destes partidos e organizaçons E que significaria o triunfo do fascismo nos Estados Unidos? Para as massas
nom é homogénea. Nela aparecem, ao lado dos campesinhos sem terra, trabalhadoras significaria, naturalmente, umha acentuaçom desenfreada do
campesinhos mui ricos, ao lado dos pequenos tendeiros, grandes homens regime de exploraçom e a destruçom do movimento obreiro. E qual seria a
de negócios, mas a direçom levam-na estes últimos, os agentes do grande significaçom internacional desta vitória do fascismo? Os Estados Unidos
capital. Isto obriga-nos a dar a estas organizaçons um trato diferenciado, nom som -como é sabido- Hungria, nem a Finlândia, nem a Bulgaria, nem
tendo em conta que, a miúdo, a massa dos seus filiados nom conhece a Letónia. A vitória do fascismo nos Estados Unidos faria mudar essencial-
verdadeira faz política da sua própria direçom. Em determinadas circuns- mente toda a situaçom internacional.
táncias, podemos e devemos encaminhar os nossos esforços para ganhar
Nestas circunstâncias, pode dar-se o proletariado norteamericano por sa-
estes partidos e organizaçons ou setores desligados deles para a frente
tisfeito simplesmente com organizar a sua vanguarda consciente de classe,
popular antifascista, pese a sua direçom burguesa. Assim, por exemplo,
que está disposta a marchar pola senda da revoluçom? Nom.
acontece atualmente na França com o partido radical, nos Estados Unidos
com as diferentes organizaçons de granjeiros [farmers], na Polónia com o
GIORGI DIMITROV

É de todo ponto evidente que os interesses do proletariado americano


«Stronictwo Ludowe», na Jugoeslávia com o partido campesinho croata, exigem que as suas forças se deslindem sem demora dos partidos ca-
na Bulgária com a Uniom Agrária, na Grécia com os “agraristas”, etc. Mas, pitalistas. Tem que encontrar os caminhos e as formas apropriadas para
independentemente disto se existam ou nom probabilidades de atrair estes impedir a tempo que o fascismo arraste consigo as massas dos tra-
partidos e outras organizaçons à frente popular, a nossa tática tem que ir balhadores descontentos. E aqui temos de dizer que a forma apropriada
dirigida, baixo todas as condiçons, a incorporar à frente popular antifascista às condiçons de Norte América poderia ser a criaçom de um partido de
os pequenos campesinhos, artesaos, etc., enrolados nelas. massas dos trabalhadores, um “partido de obreiros e granjeiros [farmers]”.
Este partido seria umha forma específica de frente popular de massas em
Assim, pois, como vedes, aqui temos que acabar em toda a linha com o me-
Norte América, umha frente que há que opor aos partidos dos trusts
nosprezo e a atitude despetiva que se dam com farta frequência na nossa
e dos bancos, e o fascismo em desenvolvimento. Este partido nom seria,
atuaçom respeito os diferentes partidos e organizaçons de campesinhos,
naturalmente, nem socialista, nem comunista. Mas teria que ser um par-
artesaos e de massas da pequena burguesia urbana.
tido antifascista e nom deveria ser um partido anticomunista. O programa
deste partido deveria ir dirigido contra os bancos, os trusts e os monopólios,
contra os inimigos principais do povo que especulam com as suas desgra-

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

ças. Este partido pode cumprir a sua missom, se defende as reivindicaçons luita pola formaçom de um novo governo trabalhista, a pesar de que os dous
mais vitais da classe obreira, se luita por umha autêntica legislaçom social, governos trabalhistas anteriores nom cumprirom as promessas feitas por o
polo seguro do desemprego, por que obtenham terra e sejam libertados do Partido Trabalhista à classe obreira. Nom esperamos deste governo que se
fardo das dívidas os aparceiros brancos e negros, se luita pola anulaçom realizem medidas socialistas.
das dívidas dos granjeiros [farmers], se luita pola igualdade de direitos dos
negros, por defender os interesses dos membros das profissons liberais, Mas, em nome de milhons de obreiros, formulamos-lhe a exigência de que
dos pequenos comerciantes e dos artesaos. E assim sucessivamente. defenda os interesses económicos e políticos mais apremiantes da classe
obreira e de todos os trabalhadores. Vamos discutir um programa comum
Facilmente comprende-se que um partido deste tipo terá de luitar por de tais reivindicaçons e por em prática a unidade de açom que necessita o
enviar os seus representantes às administraçons autónomas locais e os proletariado para fazer frente à ofensiva reacionária do “governo nacional”,
órgaos representativos dos distintos Estados da Uniom, assim como o Con- à ofensiva do capital e do fascismo e à preparaçom da nova guerra. Os ca-
gresso e o Senado. maradas ingleses estám dispostos a agir sobre estas bases, conjuntamente
com as organizaçons do Partido Trabalhista, nas próximas eleiçons parla-
Os nossos camaradas dos Estados Unidos procedérom acertadamente, mentares, contra o “governo nacional” e também contra Lloyd George que
ao tomar a iniciativa de criar semelhante partido. Mas terám que adotar ao seu modo tenta arrastar consigo as massas contra a causa da classe
medidas ainda mais eficazes, para que a criaçom de tal partido chegue a obreira em interesse da burguesia inglesa.
ganhar as simpatias das massas. O problema da organizaçom de um “par-
tido de obreiros e granjeiros” e o seu programa devem ser discutidos em Esta posiçom dos comunistas ingleses é justa. Ela ajuda-lhes a estabe-
assembleias populares de massas. É necessário despregar um lecer a frente única de luita com as massas de milhons de homens das
movimento amplíssimo para a criaçom deste partido e por-se à cabeça tradeunions inglesas e do Partido Trabalhista. Permanecendo sempre nas
deste movimento. Nom deve em modo algum permitir-se que a iniciativa primeiras línhas do proletariado combatente, assinalando às massas o
da organizaçom deste partido passe a maos de aqueles elementos que único caminho justo -o caminho da luita por abater revolucionariamente
querem explorar o descontentamento das massas de milhons de homens a dominaçom da burguesia e por instaurar o Poder Soviético- os comunis-
desenganados dos partidos burgueses -o democrático e o republicano- tas nom devem, ao fixar as suas tarefas políticas atuais, empenhar-se em
para criar nos Estados Unidos um “terceiro” partido como partido antico- saltar as etapas necessárias do movimento de massas, ao longo do qual as
munista, como um partido orientado contra o movimento revolucionário. massas obreiras superam, a base da própria experiência, as suas ilusons e
passan ao lado do comunismo.
b) Inglaterra
c) França
Na Inglaterra, a organizaçom fascista de Mosley tem passado, provisoria-
mente, a segundo plano, como resultado das açons de massas dos obreiros França é, como se sabe, o país cuja classe obreira dá a todo o proletaria-
ingleses. Mas nom devemos fechar os olhos perante o facto de que o cha- do internacional um exemplo de como há que luitar contra o fascismo. O
mado “governo nacional” leva a cabo umha série de medidas reacionárias Partido Comunista Francês pode servir de exemplo a todas as seçons da
contra a classe obreira mediante as quais se criam também na Inglaterra Internacional Comunista como se deve levar a cabo a tática da frente única
condiçons que, chegado o caso, facilitariam à burguesia o passo ao regime e os obreiros socialistas podem servir de exemplo do que devem fazer hoje
fascista. os obreiros social-demócratas do resto de países capitalistas na luita con-
tra o fascismo. [Aplausos].
Luitar contra o perigo fascista na Inglaterra, na etapa atual, significa, ante
todo, luitar contra o “governo nacional”, contra as suas medidas reacioná- A significaçom da manifestaçom antifascista, celebrada em Paris 14 de ju-
rias, contra a ofensiva do capital, pola defesa das reivindicaçons dos de- lho deste ano, na que tomárom parte meio milhom de homens, assim como
sempregados, contra as rebaixas de salários, pola derrogaçom de todas as as grandes manifestaçons efetuadas em outras cidades da França, é enor-
GIORGI DIMITROV

leis mediante as quais a burguesia inglesa piora o nível de vida das massas. me. Isto já nom é simplesmente um movimento de frente única obreira, é
o início de umha ampla frente de todo o povo contra o fascismo na França.
Mas o ódio crescente da classe obreira contra o “governo nacional” con-
grega massas cada vez mais extensas sob a palavra de ordem de um novo Este movimento de frente única acrescenta a fé da classe obreira nas suas
governo trabalhista na Inglaterra. forças, afortala nela a consciência do seu papel de guia respeito o campe-
sinhado, pequena burguesia urbana, os inteletuais. Alarga a influência do
Podem os comunistas passar por alto este estado de ánimo das amplas Partido Comunista sobre as massas obreiras, e com isto, afortala o prole-
massas, que ainda conservam fé num governo trabalhista? Nom cama- tariado na sua luita contra o fascismo. Este movimento desperta ao tempo
radas! Temos que encontrar o caminho face estas massas. Dizemos-lhe a atençom vigilante das massas frente o perigo fascista. Será um exemplo
francamente, como fijo o XIII Congresso do Partido Comunista de Gram contagioso para o despregamento da luita antifascista no resto dos países
Bretanha: os comunistas somos partidários do poder soviético, único poder capitalistas e exercerá umha influência alentadora sobre os proletários da
capaz de emancipar os obreiros do jugo do capital. Mas, quereis um governo Alemanha, aferrolhados pola ditadura fascista.
trabalhista? Perfeitamente. Nós temos luitado e luitamos mao a mao con-
vosco por derrotar o “governo nacional”. Estamos dispostos a apoiar a vossa

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Isto é, sem dúvida algumha, umha grande vitória, mas nom decide ainda o tado anticonstitucional, nom permitir que as forças reacionárias de França
resultado da luita antifascista. A maioria esmagadora do povo francês é in- fagam fracassar o pacto franco-soviético que defende a causa da paz con-
duvitavelmente contra do fascismo. Mas a burguesia sabe forçar, acudindo tra a agressom do fascismo alemám.
à força armada, a vontade dos povos. O movimento fascista segue desen-
volvendo com total liberdade, com o apoio ativo do capital monopolista, do E se o movimento antifascista da França conduzisse à formaçom de um
aparelho estatal da burguesia, do Estado Maior do exército francês e dos governo, que luitasse contra o fascismo francês de um modo efetivo, nom
dirigentes reacionários do clero católico, baluarte de toda a reaçom. A or- só com palavras senom com factos, que pugesse em prática o programa de
ganizaçom fascista mais forte, «As Cruzes de Fogo», dispom atualmente de reivindicaçons da frente popular antifascista, os comunistas, sem deixar de
mais de 300.000 homens armados, cujo núcleo principal som 60.000 oficiais ser inimigos irreconciliáveis de todo governo burguês e partidários do Poder
reservistas. Possui fortes posiçons na polícía, a gendarmeria, o exército, a Soviético, estariam dispostos, a pesar de todo, perante o crescente perigo
aviaçom e dentro de todo o aparelho de Estado. As últimas eleiçons muni- fascista, a apoiar a um tal governo. [Aplausos]
cipais ponhem de manifesto que na França nom crescem só as forças revo-
A frente única e as organizaçons fascistas de massas
lucionárias, senom também as forças do fascismo. Se o fascismo lograsse
penetrar de um modo extenso no campesinato e assegurar-se o apoio de Camaradas! A luita por estabelecer a frente única nos países, onde os fas-
umha parte do exército com a neutralidade da outra, as massas trabalha- cistas estám no poder, é tal vez o problema mais importante que temos
doras da França nom poderiam impedir a suba dos fascistas ao poder. Nom formulado. Ali esta luita desenvolve-se naturalmente numhas condiçons
esqueçades, camaradas, a debilidade do movimento obreiro francês em muito mais difícis que nos países de movimento obreiro legal. Porém, exis-
matéria de organizaçom, debilidade que facilita o êxito da ofensiva fascista! tem nos países fascistas todas as premissas para o despregamento de um
Nom há nengumha razom para que a classe obreira e todos os antifascistas verdadeiro frente popular antifascista na luita contra a ditadura fascista,
da França se dem por satisfeitos com os resultados já atingidos. pois os obreiros social-democratas, católicos e de outras tendências, na
Alemanha, por exemplo, podem convencer-se de um modo imediato da
Quais som as tarefas que se formulam à classe obreira da França?
necessidade de luitar unidos junto com os comunistas contra a ditadura
Primeiro: Conseguir estabelecer a frente única nom só no terreno político, fascista. As amplas camadas da pequena burguesia e do campesinhado,
senom também no económico, para organizar a luita contra a ofensiva do que já tenhem saboreado os amargos frutos da dominaçom fascista, sen-
capital; quebrar com o seu empuxo a resistência que oponhem à frente tem-se cada vez mais descontentas e desilusionadas, o que facilita a tarefa
única os “capitostes” da Confederaçom Geral do Trabalho reformista. de incorporá-las o movimento popular antifascista.

Segundo: Lograr a realizaçom da unidade sindical na França -sindicatos Nos países fascistas, especialmente na Alemanha e na Itália, onde o fascis-
únicos sobre a base da luita de classes. mo tem sabido criar-se umha base de massas, filiando brutalmente às suas
organizaçons os obreiros e resto de trabalhadores, a tarefa principal con-
Terceiro: Incorporar o movimento antifascista às extensas massas campe- siste em saber combinar a luita contra o fascismo desde fora, com a labor
sinhas, às massas da pequena burguesia, reservando um lugar especial no de zapa desde dentro, nos órgaos e organizaçons fascistas de massas. É
programa da frente popular antifascista às suas reivindicaçons vitais. necessário estudar, assimilar e aplicar métodos e procedimentos especiais,
apropriados às condiçons concretas destes países, que contribuam para
Quarto: Afiançar organicamente e seguir alargando o movimento antifascis- rápida descomposiçom da base de massas do fascismo e prepa-
ta, despregado mediante a criaçom em massa de órgaos da frente popular rem o derrocamento da ditadura fascista. Há que estudá-los, assimilá-los e
antifascista eleitos à margem dos partidos, de órgaos que pola sua influên- aplicá-los e nom limitar-se a gritar: “Morra Hitler!”, “Morra Mussolini!”. Sim!
cia abarquem massas muito mais extensas que os partidos e organizaçons Estudar, assimilar e aplicar.
dos trabalhadores, que atualmente existem na França.
Esta é umha tarefa difícil e complicada. Tanto mais difícil, quanto que as
GIORGI DIMITROV

Quinto: Conseguir, pola sua pressom, a dissoluçom e o desarmamento das nossas experiências de luita eficaz contra a ditadura fascista som extraor-
organizaçons fascistas como organizaçons de conspiradores contra a Re- dinariamente limitadas. Os nossos camaradas italianos, por exemplo, levam
pública e como agentes de Hitler na França. já aproximadamente treze anos luitando sob as condiçons da ditadura fas-
cista. Mas nom tenhem logrado ainda despregar umha verdadeira luita de
Sexto: Conseguir que se limpe o aparelho de Estado, do exército e da polícia
massas contra o fascismo e por isto nom tenhem podido desgraçadamente
dos conspiradores que preparam um golpe fascista.
ajudar muito, neste sentido, com experiências positivas, o resto dos parti-
Sétimo: Despregar a luita contra os chefes das camarilhas reacionárias dos comunistas dos países fascistas. Os comunistas alemans e italianos
do clero católico como um dos baluartes mais importantes do fascismo e os comunistas de outros países fascistas, ao igual que os membros das
francês. juventudes comunistas, tenhem feito milagres de heroísmo.

Oitavo: Ligar o exército com o movimento antifascista mediante a criaçom Tenhem feito e fam diariamente sacrifícios enormes. Perante este heroísmo
dentro do exército de comités de defesa da República e da Constituiçom, e estes sacrifícios todos nós inclinamo-nos. Mas o heroísmo nom basta.
contra aqueles que querem servir-se do exército para dar um golpe de Es- [Aplausos]. É necessário combinar este heroísmo com a labor diária entre

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

as massas, com a luita concreta contra o fascismo para lograr resultados e buscam a ocasiom para expressar o seu descontentamento. Em geral,
mais tangíveis neste terreno. Na nossa luita contra a ditadura fascista é temos que dar-nos conta de que toda a nossa tática, nos países da ditadura
particularmente perigoso confundir os desejos com as realidades, há que fascista, há de ter um caráter tal, que nom repela os partidários de fileiras
partir dos factos, da situaçom real, concreta. do fascismo, senom que afunde o abismo entre os hierarcas fascistas e
as massas dos desenganados partidários singelos do fascismo entre as
E qual é hoje a realidade, por exemplo, na Alemanha? camadas trabalhadoras.
Entre as massas cresce o descontentamento e a decepçom pola política da Nom há que desconcertar-se, camaradas, se a gente movimentada a volta
ditadura fascista, revistindo mesmo a forma de greves parciais e de outras destes interesses quotidianos se tem por indiferente na política e inclusive
açons. A pesar de todos os seus esforços, o fascismo nom tem logrado por partidária do fascismo. O importante para nós é atraí-los ao movimento,
conquistar políticamente as massas fundamentais dos obreiros, perde e que quiçás nos seus inícios nom se desenvolverá ainda abertamente, sob
perderá cada vez em maior medida inclusive os seus antigos partidários. as palavras de ordem da luita contra o fascismo, mas que objetivamente
Mas temos que dar-nos conta de que os obreiros que estám convencidos é já um movimento antifascista, porque confronta a estas massas com a
da possibilidade de derrubar a ditadura fascista e dispostos a luitar desde ditadura fascista.
hoje mesmo por isso, de um modo ativo, som ainda, de momento, umha
minoria. Somos nós, os comunistas, e é o setor revolucionário dos obrei- A experiência ensina-nos que acreditar que nos países da ditadura fascista
ros social-democratas. A maioria dos trabalhadores ainda nom tenhem a é absolutamente impossível agir de um modo legal ou semilegal é perju-
consciência das possibilidades reais e concretas e dos caminhos polos que dicial e falso. Aferrar-se a este ponto de vista, significa cair na passividade,
pode derrubar-se esta ditadura e está, de momento, à expetativa. Isto deve renunciar por completo a um verdadeiro trabalho de massas em geral. Em
ser tido em conta ao fixar os nossos objetivos na luita contra o fascismo na efeito, encontrar formas e métodos de atuaçom legal ou semilegal, sob as
Alemanha e quando procuremos, estudemos e apliquemos procedimentos condiçons da ditadura fascista, é um problema difícil e complicado. Mas,
para derrocar e sacudir a ditadura fascista na Alemanha. como em tantas outras questons, também aqui, encarregarám-se de indi-
car-nos o caminho a vida mesma e a iniciativa das próprias massas, quem
Para assestar um golpe sensível à ditadura fascista, temos que conhecer os nos tenhem brindado já umha série de exemplos que devemos geralizar e
seus pontos mais vulneráveis. Onde está o calcanhar de Aquiles da ditadura aplicar de forma organizada e oportuna.
fascista? Na sua base social. Esta base é extremadamente heterogénea.
Abarca diferentes classes e diferentes setores da sociedade. O fascismo Há que acabar decididamente com o menosprezo da labor dentro das orga-
proclama-se representante exclusivo de todas as classes e camadas da nizaçons fascistas de massas. O mesmo na Itália que na Alemanha, e nou-
populaçom, do fabricante e do obreiro, do milionário e do desempregado, tra série de países fascistas, os nossos camaradas tenhem encuberto a sua
do terratenente e do pequeno campesinho, do grande capitalista e do arte- passividade e, com frequência, inclusive a negativa direta de trabalhar nas
sao. Finge defender os interesses de todos estes setores, os interesses da organizaçons fascistas de massas, contrapondo o seu trabalho nas empre-
naçom. Mas como o fascismo é a ditadura da grande burguesia, tem que sas à labor dentro das organizaçons fascistas de massas. Na realidade, esta
chocar inevitavelmente com a sua base social de massas, e tanto mais, contraposiçom esquemática tem feito precisamente que tanto o trabalho
quanto que precisamente sob a ditadura fascista se destacam com maior dentro das organizaçons fascistas de massas, como o desenvolvimento nas
relevo as contradiçons de classe entre a matilha dos magnates financieiros empresas fosse extraordinariamente frouxo e, inclusive, inexistente.
e a esmagadora maioria do povo.
Para os comunistas dos países fascistas é, por tanto, de especial importán-
Só poderemos levar as massas a luitas decisivas polo derrocamento da cia estar em toda parte onde estejam as massas. O fascismo tem arreba-
ditadura fascista, se enrolamos os obreiros, que se virom forçados a ingres- tado aos obreiros as suas próprias organizaçons legais. Impujo-lhes pola
sar nas organizaçons fascistas ou que o tenhem feito por falta de consciên- violência as organizaçons fascistas e nestas acham-se as massas, for pola
cia, nos movimentos mais elementares para a defesa dos seus interesses força ou parcialmente do seu agrado. Estas organizaçons de massas do
GIORGI DIMITROV

económicos, políticos e culturais. Precisamente por isto, os comunistas fascismo podem e devem ser o nosso campo legal ou semilegal de opera-
devem trabalhar dentro destas organizaçons como os melhores defenso- çons desde o qual entraremos em contato com as massas. Podem e devem
res dos interesses quotidianos das massas de filiados, tendo presente que ser para nós um ponto de partida legal ou semilegal para a defesa dos
na medida que os obreiros enquadrados nestas organizaçons exijam com interesses quotidianos das massas. Para aproveitar estas possibilidades, os
maior frequência os seus direitos e defendam os seus interesses, chocarám comunistas deverám luitar por conseguir postos eletivos nas organizaçons
irremediavelmente com a ditadura fascista. fascistas de massas, para manter contato com as massas, e tenhem que
libertar-se, dumha vez para sempre, do prejuízo de que esta labor é inapro-
Basando-se na defesa dos seus interesses mais vitais -embora nos pri- priada e indigna de um obreiro revolucionário.
meiros tempos sejam os mais elementares- das massas trabalhadoras
da cidade e do campo, será relativamente fácil encontrar unha linguagem Na Alemanha existe, por exemplo, o sistema dos chamados “delegados de
comum, que nos una nom só aos antifascistas conscientes, senom tam- fábrica”. Onde está escrito que devemos ceder o monopólio nestas orga-
bém a aqueles trabalhadores que som ainda partidários do fascismo, mas nizaçons aos fascistas? Nom podemos acaso tentar unir os comunistas,
que estám desenganados e descontentos da sua política, que se queixam social-democratas, católicos e outros obreiros antifascistas dentro das

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

empresas para que, ao votar as listas dos “delegados de fábrica”, risquem É bem conhecida a nossa atitude absolutamente negativa perante os
os agentes declarados do patronato e incluam nelas outros candidatos que governos social-democratas, que som governos de colaboraçom com a
gozem da confiança dos obreiros? A prática tem demonstrado já que isto burguesia. Mas, a pesar de isso, nom consideramos a existência de um go-
é possível. verno social-democrata e de umha coaligaçom governamental do Partido
Social-democrata com os partidos burgueses como um obstáculo  insu-
E nom nos ensina também a prática que podemos exigir dos “delegados de perável  para estabelecer a frente única com os social-democratas em
fábrica”, em uniom com os obreiros social-democratas e outros obreiros determinadas questons. Consideramos que também nestes casos é abso-
descontentos, umha verdadeira defesa dos interesses obreiros? lutamente possível e necessário a frente única para a defesa dos interesses
vitais do povo trabalhador, na luita contra o fascismo. Comprende-se que
Reparai na “Frente do Trabalho” da Alemanha ou nos sindicatos fascistas da
nos países, nos que participam no governo representantes dos partidos
Itália. Acaso nom se pode exigir que os funcionários da “Frente do Trabalho”
social-democratas, a direçom social-democrata oponha a mais enérgica
sejam eleitos em vez de designados desde cima? Nom pode insistir-se em
resistência a frente única proletária. Compreende-se perfeitamente que
que os órgaos dirigentes das organizaçons locais dem conta da sua atua-
seja assim.
çom às assembleias de filiados das mesmas? Nom se podem elevar estas
reclamaçons por acordo do grupo, ao patrom, ao “protetor de trabalho”, aos Querem fazer ver à burguesia que som eles quem sabem, melhor e mais
órgaos superiores da “Frente do Trabalho”? Pode fazer-se, a condiçom de hábilmente que ninguém, refrear o descontentamento das massas obreiras
que os obreiros revolucionários trabalhem efetivamente dentro da “Frente e preservá-las da influência do comunismo. Mas o só feito, de que os mi-
do Trabalho” e luitem por conquistar postos no mesmo. nistros social-democratas adotem umha atitude negativa perante a frente
única proletária, nom justifica no mais mínimo, o facto de que os comunis-
Métodos de trabalho parecidos som também possíveis e necessários nou-
tas nom fagam nada para a criaçom da frente única do proletariado.
tras organizaçons fascistas de massas: na Uniom de Juventudes Hitleria-
nas, nas organizaçons desportivas, na organizaçom “Kraft durch Freude”, no Os nossos camaradas dos países escandinavos seguem com farta fre-
“Dopo Lavoro”, nas cooperativas, etc. quência o caminho da menor resistência, ao limitar-se a desmascarar pola
propaganda o governo social-democrata. Isto é um erro. Na Dinamarca, por
Lembraredes, camaradas, a antiga lenda da toma de Troia. A cidade de Troia
exemplo, os chefes social-democratas levam já dez anos no governo e
tinhasse feito forte contra o exército sitiador por meio dumha muralla in-
os comunistas tenhem vindo repetindo, dia após dia, durante dez anos, que
franqueável e os sitiadores, que tinham sofrido já nom poucas baixas, nom
este é um governo burguês capitalista. Há que supor que esta propaganda
lográrom a vitória até que conseguírom penetrar no interior, no coraçom
é conhecida já dos obreiros daneses. O facto de que, a pesar disso, umha
mesmo do inimigo, com a ajuda do famoso cavalo de Troia.
maioria considerável vote no partido social-democrata governamental indi-
A mim parece-me que nós, obreiros revolucionários, nom devemos sentir ca somente que o desmascaramento propagandístico do governo polos co-
nengum escrúpulo em empregar a mesma tática contra os nossos inimigos munistas nom basta, mas nom demonstra que estes centos de milhares de
fascistas, que se defendem contra o povo mediante a muralha viva dos seus obreiros estejam satisfeitos com todas as iniciativas governamentais dos
assassinos a soldo. [Aplausos]. ministros social-democratas. Nom, a eles nom lhes agrada que o governo
social-democrata, mediante os chamados “convénios de crise”, ajude os
Quem nom compreenda a necessidade de empregar umha tática seme- grandes capitalistas e terratenentes, e nom os obreiros e campesinhos po-
lhante respeito o fascismo, quem considere tal atuaçom “humilhante”, bres; que tenha arrebatado aos obreiros polo decreto promulgado em janei-
poderá ser um excelente camarada, mas, se me permitis que o diga, é um ro de 1933 o direito de greve. Nom lhes agrada que a direçom social-demo-
charlatám e nom um revolucionário: esse nom saberá conduzir as massas crata projete umha perigosa reforma eleitoral antidemocrática [restringindo
para o derrocamento da ditadura facsista. (Aplausos). consideravelmente o número de deputados]. Nom creio equivocar-me, se
afirmo que 99% dos obreiros daneses nom aprova estas medidas políticas
GIORGI DIMITROV

O movimento de massas de frente única, que vai germinando fora e dentro dos chefes e ministros social-demócratas.
das organizaçons fascistas da Alemanha, Itália e outros países, nos que o
fascismo conta com umha base de massas, partindo da defesa das neces- Acaso os comunistas nom podem chamar os sindicatos e organizaçons
sidades mais elementares, mudando de formas e palavras de ordem de luita social-democratas de Dinamarca a discutir tal ou qual questom atual desta
conforme o crescimento e alargamento desta luita, será o ariete que des- índole, emitir a sua opinim sobre elas e agir em comum pola frente única
trua a fortaleza da ditadura fascista, que hoje parece a muitos inexpugnável. proletária, para a realizaçom das reivindicaçons obreiras? O ano passado,
em outubro, quando os nossos camaradas daneses se dirigírom aos sindi-
A frente única nos países no que os social-democratas estám catos com o apelo da atuar contra a reduçom do subsídio de desemprego
no governo e polos direitos democráticos dos sindicatos, aderírom à frente única
umhas cem organizaçons sindicais locais.
A luita por estabelecer a frente única formula outro problema mui impor-
tante: o problema da frente única nos países, nos que existem governos Na Suécia, está no poder, por terceira vez, um governo social-democrata,
social-democratas ou de coaligaçom com a participaçom dos socialistas,
mas os comunistas suecos renunciárom práticamente, durante muito tem-
como acontece, por exemplo, na Dinamarca, Noruega, Suécia, Checoslová-
quia e Bélgica. po, a empregar a tática da frente única. Por que? Eram contrários a frente

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

única? Naturalmente que nom. Eram em princípio partidários da frente úni- dos social-democratas as suas próprias reivindicaçons, duas vezes mais
ca, da frente única em geral, mas nom acertavam a ver sobre que motivos, radicais. Isto era um erro ingénuo. Se, por exemplo, os social-democra-
em que problemas, na defesa de que reivindicaçons, se poderia estabelecer tas reclamam a dissoluçom das organizaçons fascistas, nós nom temos
com êxito a frente única proletária; e como e onde havia que apoiar-se. porque acrescentar: “e a dissoluçom da polícia do Estado também” [pois
Poucos meses antes de constituir-se o governo social-democrata, duran- será oportuno formular esta reivindicaçom noutras circunstancias], senom
te a luita eleitoral, o partido social-democrata tinha-se apresentado com que devemos dizer aos obreiros social-democratas: estamos dispostos a
umha plataforma na que continham umha série de reivindicaçons que aceitar esta reivindicaçom do vosso Partido, como reivindicaçom de frente
poderiam ter-se incluído precisamente numha plataforma de frente única única do proletariado, e luitar até o fim pola sua consecuçom. Emprenda-
proletária, como, por exemplo, estas palavras de ordem: “Contra as tarifas mos juntos a luita!
aduaneiras!”, “Contra a militarizaçom!”, “Há que acabar com a lentiom de
tramitaçom no seguro do desemprego!”, “Assegurar aos velhos pensons Também na Checoslováquia, se podem e se devem aproveitar certas reivin-
suficientes para viver!”, “Nom admitir a existência de organizaçons como o dicaçons formuladas pola social-democracia checa e alemá, assim como
«Munch-Corps»!” [organizaçom fascista], “Abaixo a legislaçom antisindical polos sindicatos reformistas, para estabelecer a frente única da classe
de classe, exigida polos partidos burgueses!”. obreira. Quando a social-democracia exige, por exemplo, proporcionar tra-
balho aos desempregados ou -como já o venhem exigindo desde 1927- a
Mais de um milhom de trabalhadores da Suécia votárom em 1932 por estas derrogaçom das leis que restringem a autonomia dos municípios, há que
reivindicaçons formuladas pola social-democracia e saudárom em 1933 a concretizar estas reivindicaçons em cada localidade e em cada distrito e
formaçom de um governo social-democrata, com a esperança de que agora luitar mao a mao com as organizaçons social-democratas pola sua con-
se convertiriam em realidade estas reivindicaçons. Nada teria sido mais ló- secuçom efetiva. Ou se os partidos social-democratas nos seus discursos
gico naquela situaçom, nem podia corresponder em maior grau os desejos fulminam os agentes do fascismo dentro do aparelho do Estado “em ter-
das massas obreiras, que o Partido se tivesse dirigido a todas as organiza- mos gerais”, há que sacar à luz do dia em cada sítio os heraldos fascis-
çons social-democratas e sindicais com a proposta de empreender açons tas  concretos  e agir conjuntamente com os obreiros social-democratas
conjuntas para levar à prática estas reivindicaçons lançadas polo Partido por eliminá-los das instituiçons do Estado.
social-democrata.
Na Bélgica, os chefes do Partido Social-democrata, com Emilio Vandervelde
Se realmente se tivesse logrado movimentar as extensas massas para à cabeça, entrárom no governo de coaligaçom. Lográrom este “êxito” me-
a consecuçom de tais reivindicaçons, formuladas polos mesmos social- diante umha longa e ampla campanha por duas reivindicaçons principais:
-democratas, agrupar estreitamente num frente as organizaçons obreiras, 1) Derrogaçom dos decretos-leis especiais e 2) Realizaçom do plano de
social-democratas e comunistas, nom cabe dúvida de que a classe obreira Man. A primeira questom é de grande importáncia. O governo anterior tinha
sueca teria saído ganhando. Aos ministros social-democratas da Suêcia, promulgado em total 150 «decretos-leis» reacionários, que arrojabam car-
isto nom lhes teria produzido umha grande alegria naturalmente, pois gas extremadamente pesadas sobre as costas do povo trabalhador. Formu-
neste caso o governo teriasse visto obrigado a satisfazer quando menos lava-se o problema de derrogá-las imediatamente. Assim o exigia o Partido
algumhas reivindicaçons. Em todo caso, nom teria acontecido o que agora Social-democrata. Acaso o novo governo tem derrogado muitos destes
acontece: que o governo em vez de suprimir as tarifas aduaneiras, tem ele- «decretos-leis»? Nem um só. Tem-se limitado a atenuar um pouco alguns
vado algumhas, que em vez de restringir o militarismo, tem aumentado o com objeto de subministrar umha espécie de indenizaçom “simbólica” para
orçamento de guerra, e em vez de rejeitar toda a legislaçom dirigida contra as promessas de grande envergadura, feitas polos chefes socialistas da
os sindicatos, tenha apresentado ele mesmo ao parlamento um projeto de Bélgica [algo parecido ao “dólar simbólico”, que algunhas potências euro-
lei deste género. É certo que o Partido Comunista da Suécia tem desprega- peias oferecérom a Norte América em pagamento dos milhons de dólares
do umha boa campanha de massas, no sentido de frente única proletária, das suas dívidas de guerra].
respeito a este último problema, conseguindo por fim que até a mesma
No que respeita à realizaçom do pomposo plano de Man, a cousa tomou
GIORGI DIMITROV

fraçom parlamentar social-democrata se visse obrigada a votar contra o


para as massas social-democratas um cariz inesperado. Os ministros so-
projeto do Governo e que polo momento o projeto tenha fracassado.
cial-democratas declarárom que, antes de nada, havia que superar a crise
Os comunistas  noruegueses  tenhem procedido acertadamente a convi- económica e realizar tam só aquelas partes do plano de Man, que melho-
rassem a situaçom dos capitalistas industriais e dos bancos, e que só en-
dar para o Primeiro de Maio as organizaçons do Partido Obreiro a celebrar
tom se poderia passar a por em prática medidas encaminhadas a melhorar
manifestaçons conjuntas e apresentar umha série de reivindicaçons, que a situaçom dos obreiros; mas cuanto tempo terám que esperar os obrei-
coincidiam no essencial com as reivindicaçons da plataforma eleitoral do ros a parte de “benestar” que lhes promete o plano? Sobre os banqueiros
Partido Obreiro Norueguês. Embora este passo a favor da frente única se belgas tem caído já umha verdadeira chuva de ouro. Foi implantada umha
preparasse de um modo frouxo e a direçom do Partido Obreiro Noruaguês desvalorizaçom do franco belga em 28% e, mediante esta manipulaçom,
era contrária a ele,  celebrarom-se, a pesar de todo, manifestaçons de fren- os banqueiros tenhem podido apropriar-se como troféus 4.500 milhons de
te única em trinta localidades. francos, a custa dos que vivem de um salário e dos aforros de gente mo-
desta. Como se compagina isto com o conteúdo do plano de Man? Se se
Antes, muitos comunistas temiam que fosse umha manifestaçom de quer conceder crédito à letra do plano, este promete “perseguir os abusos
oportunismo pola sua parte nom contrapor a toda reivinidicaçom parcial monopolistas e as manobras dos especuladores”.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

A base do plano de Man, o governo nomeou umha comissom de controlo Quanto mais difícil e complicada se fazia a situaçom do capitalismo, mais
sobre os bancos; mas umha comisssom conformada de banqueiros que se reacionária era a política dos chefes dos sindicatos aderidos à Internacional
controlam a si mesmos alegre e despreocupadamente! de Amsterdam e mais agressivas eram as suas medidas contra todos os
elementos oposicionistas dentro dos sindicatos. Nem a mesma instauara-
O plano de Man promete também muitas outras cousas boas: “reduçom çom da ditadura fascista na Alemanha, nem a ofensiva redobrada do capital,
da jornada de trabalho”, “normalizaçom dos salários”, “salário mínimo”, or- em todos os países capitalistas, diminuírom esta agressividade. Nom é ca-
ganizaçom de um sistema completo de “seguros sociais, “extensom das raterístico que somente num ano, em 1933, na Inglaterra, Holanda, Bélgica
comodidades mediante a construçom de novas vivendas”, etc. Som todas e Suécia se lançassem as mais ignominiosas circulares encaminhadas a
elas reivindicaçons que nós, os comunistas, podemos apoiar. expulsar dos sindicatos os comunistas e obreiros revolucionários? Na In-
glaterra apareceu, em 1933, umha circular proibindo às seçons sindicais
Devemos dirigir-nos às organizaçons obreiras da Bélgica e dizer-lhes: os
locais aderir às organizaçons contra a guerra e a outras organizaçons revo-
capitalistas já obtivérom bastante e mesmo demasiado. Exijamos dos mi-
lucionárias. Isto foi o prelúdio da célebre “Circular negra” do Conselho Geral
nistros social-democratas que cumpram as promessas que tenhem feito
das Tradeunions, pola qual todo conselho sindical, que admita no seu seio
aos obreiros! Fundamo-nos na frente única para a defesa eficaz dos nossos
delegados que “estejam relacionados, baixo umha ou outra forma, com or-
interesses! Senhor ministro Vandervelde: nós apoiamos as reivindicaçons
ganizaçons comunistas”, é declarado fora da lei. E que dizer da direçom dos
contidas na sua plataforma para os obreiros; mas declaramos abertamente:
sindicatos alemans, que aplicou repressálias inauditas contra os elementos
tomamos em sério estas reivindicaçons; queremos factos e nom palavras
revolucionários dentro dos sindicatos?
ocas, e por esta razom agrupamos centos de milhares de obreiros para lui-
tar por estas reivindicaçons! Mas a nossa tática nom deve tomar como ponto de partida a conduta de
alguns chefes dos sindicatos aderidos a Amsterdam, por mui grandes que
Deste modo, os comunistas nos países, onde existem governos social-de-
fossem as dificuldades que esta conduta oponha à luita de classes, senom
mocratas, ao aproveitar as reivindicaçons concretas correspondentes, to-
que tem que partir, sobre todo, deste facto: onde se encontram as massas
madas das plataformas dos próprios partidos social-democratas e as pro-
obreiras? e aqui temos que declarar abertamente: a labor dos sindicatos
messas eleitorais dos ministros social-democratas, como ponto de partida
é a questom mais candente dos partidos comunistas. Devemos conseguir
para açons conjuntas com os partidos e organizaçons social-democratas,
que se dé umha verdadeira viragem na labor sindical e colocar num lugar
poderám despois despregar com maior facilidade umha campanha para
central a questom da luita pola unidade sindical.
estabelecer a frente única, basando-se já noutra série de reivindicaçons
das massas, que luitam contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a Muitos dos nossos camaradas, passando por alto a gravitaçom dos obreiros
ameaça de guerra. face os sindicatos e perante as dificuldades que oferecia o trabalho dos sin-
dicatos aderidos a Amsterdam, nom se detinham nesta complicada tarefa.
Além, há que ter presente que, se as açons conjuntas com os partidos e
Falavam invariavelmente da crise orgánica dos sindicatos de Amsterdam,
organizaçons social-democratas exigem dos comunistas, em geral, umha
de que os obreiros abandonavam os sindicatos e perdiam de vista como es-
crítica séria, razoada, do social-democratismo como ideologia e prática da
tes, após unm certo descenso ao início da crise económica mundial, come-
colaboraçom de classes com a burguesia, assim como esclarecer infatiga-
çárom a crescer de novo. A particularidade do movimento sindical consiste
velmente e com espírito de camaradagem aos obreros social-democratas
precisamente em que a ofensiva da burguesia contra os direitos sindicais,
o programa e as palavras de ordem do comunismo, esta tarefa é de singu-
as tentativas numha série de países [Polónia, Hungria, etc.) de “uniformar”
lar importáncia para a luita do frente único, precisamente nos países onde
os sindicatos, a reduçom dos seguros sociais, o roubo dos salários, obri-
existem governos social-democratas.
gavam os obreiros, a pesar de que nom havia umha resistência por parte
A luita pola unidade sindical dos chefes sindicais reformistas contra todo isto, a estreitar ainda mais as
suas fileiras à volta dos sindicatos, pois os obreiros queriam e querem ver
GIORGI DIMITROV

Camaradas! A realizaçom da unidade sindical, tanto no plano nacional, no sindicato o defensor mais combativo dos seus interesses vitais de clas-
como internacional, deve ser umha das etapas mais importantes para o se. Assim se explica o facto de que nestes últimos anos tenha aumentado
afiançamento da frente única. -na França, Checoslováquia, Bélgica, Suécia, Holanda, Suiça, etc.- o número
de filiados na maioria dos sindicatos aderidos a Amsterdam. A Federaçom
Como é sabido, a tática cisionista dos chefes reformistas foi levada a cabo Americana do Trabalho tem aumentado também consideravelmente nos
com a maior exacerbaçom nos sindicatos. É explicável; a sua política de últimos dous anos o número dos seus filiados.
colaboraçom de classes com a burguesia encontrava aqui o seu remate
prático, diretamente nas empresas, a custa dos interesses vitais da mas- Se os camaradas alemans tivessem compreendido melhor a tarefa da labor
sa obreira. Isto provocava, naturalmente, umha crítica dura e encontrava a sindical, da que tam reiteradamente lhes falava o camarada Thaelmann,-
resistência dos obreiros revolucionários, dirigidos polos comunistas, contra teriam tido induvitavelmente dentro dos sindicatos umha posiçom melhor
este modo de agir. É aqui por que a mais enconada luita entre o comunismo que a tida na realidade, no momento de implantar-se a ditadura fascista. A
e o reformismo desenvolveu-se sobre o terreno sindical. finais de 1932, só estavam nos sindicatos livres 10% dos filiados ao Partido.

71
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

E isto, a pesar de que os comunistas, após VI Congresso Mundial da Inter- Avogamos por sindicatos de classe únicos como um dos baluartes mais
nacional Comunista, pugérom-se à cabeça de toda umha série de greves. importantes da classe obreira contra a ofensiva do capital e do fascismo.
Os nossos camaradas escreviam na imprensa acerca da necessidade de Ao fazé-lo assim, pomos como única condiçom para a unificaçom dos sin-
consagrar 90% das nossas forças o trabalho dentro dos sindicatos. Mas, dicatos luitar contra o capital, luitar contra o fascismo e pola democracia
na prática, todo se concentrava na oposiçom sindical revolucionária, que de sindical interna.
facto se esforzava por suplantar os sindicatos. E que aconteceu depois da
tomada do poder por Hitler? No curso de dous anos, muitos dos nossos ca- O tempo nom espera. Para nós, o problema da unidade do movimento sin-
maradas opugérom-se tenaz e sistematicamente à justa palavra de ordem dical, tanto no plano nacional, como internacional, é o problema da grande
da luita polo restabelecimento dos sindicatos livres. causa da unificaçom da nossa classe em potentes organizaçons sindicais
únicas contra o inimigo de classe. Saudamos a proposta dirigida en vés-
Poderia achegar exemplos parecidos de quase todos os demais países ca- peras do Primeiro de Maio deste ano pola Internacional Sindical Vermelha
pitalistas. à Internacional de Amsterdam para discutir conjuntamente as condiçons,
métodos e formas para a unificaçom do movimento
Porém, na luita pola unidade do movimento sindical nos países europeus, sindical mundial. Os chefes da Internacional de Amsterdam rejeitárom esta
temos logrado as primeiras conquistas sérias. Ao dizer isto, refiro-me à proposta com o manuseado argumento de que a unidade do movimento
pequena Austria, onde, por iniciativa do Partido Comunista, tenhem-se sen- sindical só pode realizar-se dentro das fileiras da Internacional de Ams-
tado as bases para um movimento sindical ilegal. Despois dos combates terdam, que agrupa quase exclusivamente organizaçons sindicais dumha
de fevereiro, os social-democratas com Otto Bauer à cabeça, lançárom parte de países europeus.
esta palavra de ordem: “Os sindicatos livres só poderám restabelecer-se
depois da queda do fascismo”. Os comunistas emprendérom  a labor de Mas os comunistas, na sua labor dentro dos sindicatos, devem proseguir
restabelecer os sindicatos. Cada fase de esta labor era um fragmento da infatigavelmente a luita pola unidade do movimento sindical. A missom dos
frente única viva do proletariado austríaco. O restabelecimento eficaz dos Sindicatos Vermelhos e da Internacional Sindical Vermelha é fazer quan-
sindicatos livres na realidade foi umha derrota seria para o fascismo. Os to dependa deles para que chegue o mais pronto possível a hora da luita
social-democratas achavam-se numha encruzilhada. Umha parte deles conjunta de todos os sindicatos contra a ofensiva do capital e do fascismo,
tratava de encetar negociaçons com o governo. Outra parte, em vista dos para criar a unidade do movimento sindical, pese à tenaz resistência dos
nossos êxitos, criou paralelamente alguns sindicatos ilegais próprios. Mas chefes reacionários da Internacional Sindical de Amsterdam. Os Sindicatos
só podia haver um caminho: ou capitular perante o fascismo, ou marchar Vermelhos e a Internacional Sindical Vermelha devem receber de nós, nesta
luitando conjuntamente contra o fascismo face a unidade sindical. Sob a ordem, toda classe de apoios.
pressom das massas, a direçom vacilante dos sindicatos paralelos, cria-
dos polos antigos chefes sindicais, decidiu-se por umha unificaçom. A base Nos países, onde existem pequenos sindicatos vermelhos, recomendamos-
desta unificaçom é a luita irreconciliável contra a ofensiva do capital e do -lhes que procurem ingressar nos grandes sindicatos reformistas, exigindo
fascismo e a salvaguarda da democracia dentro dos sindicatos. Saudamos a liberdade para soster as suas opinions próprias, o ingresso dos membros
esta unificaçom dos sindicatos, que é o primeiro passo deste género depois expulsos; e nos países, onde existem paralelamente grandes sindicatos
da cisom formal do movimento sindical depois da guerra e que encerra, por vermelhos e reformistas, recomendamos que exijam a convocatória de um
tanto, umha significaçom internacional. Congresso de unificaçom sobre a plataforma da luita contra a ofensiva do
capital e a salvaguarda da democracia sindical.
A frente única, na França, serviu induvitavelmente de impulso gigantesco
para a realizaçom da unidade sindical. Os dirigentes da Confederaçom Geral Há que afirmar, do modo mais categórico, que o obreiro comunista, o obrei-
do Trabalho freavam e seguem freando, por todos os meios, a realizaçom ro revolucionário, que nom pertence ao sindicato de massas do seu ofício,
da unidade, ao contrapor ao problema fundamental, a questom da política que nom luita por converter este sindicato reformista numha verdadeira
de classe dos sindicatos, questons de importáncia secundária, subalterna organizaçom sindical de classe, que nom luita pola unidade do movimento
GIORGI DIMITROV

ou meramente formal. Um êxito induvitável da luita pola unidade sindical foi sindical sobre a base da luita de classes, nom cumpre com o seu dever
a criaçom de sindicatos únicos, sobre um plano local, sindicatos que, por proletário primordial.
exemplo, no ramo dos ferroviários abraçam quase três quartas partes da
A frente única e a juventude
massa de membros dos sindicatos.
Camaradas! Já tenho asinalado o papel que tem desempenhado na vitória
Nós avogamos decididamente polo restabelecimento da unidade sindical
do fascismo a incorporaçom da juventude às organizaçons fascistas. Ao fa-
dentro de cada país e no plano internacional.
lar da juventude, havemos de declarar francamente que temos desdenhado
Avogamos por um sindicato único em cada rama de produçom. a nossa missom de conduzir as massas da juventude trabalhadora à luita
contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra,
Avogamos por Centrais internacionais únicas por indústrias. temos desdenhado esta missom numha série de países.
Nom temos apreciado devidamente a enorme importáncia que tem a ju-
Avogamos por umha Internacional sindical única sobre a base da luita de ventude na luita contra o fascismo. Nom temos valorizado corretamente
classes.

72
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

os interesses particulares económicos, políticos e culturais da juventude. Estes passos, que se tenhem dado com êxito no movimento da frente única
Tampouco temos emprestado atençom necessária à educaçom revolucio- juvenil nos últimos tempos, pom de manifesto também que as formas de
nária da juventude. frente única da juventude nom podem estar sujeitas a patrons, nom tenhem
por que ser forçosamente as mesmas que se dam na prática dos Partidos
Todo isto tem sido explorado mui habilmente polo fascismo nalguns países, Comunistas. As Juventudes Comunistas devem esforçar-se, por todos os
particularmente na Alemanha, para desviar grandes setores da juventude do meios, por unificar as forças de todas as organizaçons nom fascistas de
caminho do proletariado. massas da juventude, até chegar à formaçom de diferentes organizaçons
conjuntas para a luita contra o fascismo, contra a inaudita privaçom de di-
Há que ter mui presente que o fascismo nom envolve na suas redes a ju-
reitos e a militarizaçom da juventude, polos direitos económicos e culturais
ventude somente com o romantismo militarista. A uns da-lhes comida e
das jovens geraçons, por ganhar para a frente antifascista esta juventude,
roupa, enrolando-os nos seus destacamentos, a outros da-lhes trabalho,
onde quer que se ache: nos acampamentos de trabalho forçado, nas Bolsas
funda inclusive locais, chamados culturais, para a juventude, e deste modo
de Trabalho, nos quartéis e na marinha, nas escolas ou nas diferentes orga-
esforça-se por inculcar nos jovens a consciência de que o fascismo quer
nizaçons desportivas, culturais e de outro género.
e pode realmente dar à juventude trabalhadora alimento, vestido, cultura
e trabalho. Os nossos jovens comunistas, à par que desenvolvem e afortalam as Juven-
tudes Comunistas, devem esforçar-se por criar associaçons antifascistas
As nossas Juventudes Comunistas seguem sendo, numha série de paí-
das juventudes comunistas e socialistas, sobre a plataforma da luita de
ses capitalistas, organizaçons predominantemente
classes.
setárias, desligadas das massas. A sua debilidade principal radica
em que ainda se esforçam em copiar as formas e métodos de trabalho dos A frente única e a mulher
Partidos Comunistas e esquecem que as Juventudes Comunistas nom som
o Partido Comunista da juventude. Nom tenhem suficientemente em conta Nom menor é, camaradas, a insuficiente apreciaçom que se manifesta
que é umha organizaçom com tarefas específicas. Os seus métodos e for- respeito o labor entre as mulheres trabalhadoras, as obreiras, as mulheres
mas de trabalho, de educaçom, de luita, devem adatar-se ao nível concreto desempregadas, as campesinhas e as mulheres do fogar. E se o fascismo
e às exigências da juventude. despoja na maior medida a juventude, à mulher escraviza-a de um modo
especialmente implacável e cínico, jugando com os sentimentos profun-
Os nossos jovens camaradas tenhem dado exemplos inesquecíveis de he- damente arraigados da mae, da mulher da sua casa, da obreira sem apoio,
roísmo na luita contra os desaforos fascistas e a reaçom burguesa. Mas inseguras do amanhá. O fascismo, que se apresenta como filántropo, ar-
ainda carecem de capacidade para arrancar concreta e perseverantemente roja às familias famentas umha mísera esmola e tenta con isso afogar os
as massas da juventude da influência inimiga. Isto revela-se na resistência, amargos sentimentos, provocados especialmente nas mulheres trabalha-
nom vencida ainda até hoje, contra a labor dentro das organizaçons fascis- doras pola inaudita escravizaçom, que lhes acarreia o fascismo. Expulsa as
tas e no modo, nom sempre acertado, de abordar a juventude socialista e obreiras da produçom. Envía ao campo, pola força, moças necessitadas e
outras juventudes nom comunistas. De todo isto incumbe também umha condena-as a converter-se em criadas gratuítas dos campesinhos ricos e
grande responsabilidade, naturalmente, aos Partidos Comunistas, que de- dos terratenentes. À par que promete à mulher um fogar
vem dirigir e apoiar as Juventudes Comunistas no seu trabalho. feliz, empurra-a, como nengumha outra forma capitalista, pola senda
da prostituiçom.
Pois, o problema da juventude nom é somente um problema das Juven-
tudes Comunistas, é um problema do movimento comunista na sua to- Os comunistas e, sobre todo, as nossas camaradas, devem ter continua-
talidade. No campo da luita pola juventude, os Partidos Comunistas e as mente presente que nom pode haver luita eficaz contra o fascismo, nem
organizaçons juvenis devem dar umha viragem verdadeira e resolta. contra a guerra, se nom movimentam para esta luita as extensas massas
femininas. E isto nom se logra somente com a agitaçom. Temos que encon-
GIORGI DIMITROV

A missom principal do movimento juvenil comunista, nos países capitalis-


trar, de acordo com cada situaçom concreta, a possibilidade de movimentar
tas, consiste em marchar valentemente pola senda da realizaçom da frente
as massas das mulheres trabalhadoras, a favor dos seus interesses e rei-
única, pola senda da organizaçom e unidade da jovem geraçom trabalha-
vindicaçons vitais: contra a carestía da vida, polo aumento dos salários, se-
dora. Que enorme influência exercem sobre o movimento juvenil revolu-
gundo o princípio «a igual trabalho, igual salário», contra os despedimentos
cionário os primeiros passos dados ultimamente nesta direçom, na França
em massa, contra todo o que signifique desigualdade de direitos e contra a
e os Estados Unidos! Bastou com que se emprendesse nestes países a
escravidom fascista da mulher.
realizaçom da frente única, para que imediatamente se conseguissem êxi-
tos consideráveis. Também é digna de atençom, no campo da frente única Nos nossos esforços por incorporar a mulher trabalhadora ao movimen-
internacional, a eficaz iniciativa do Comité contra a Guerra e o Fascismo de to revolucionário, nom devemos assustar-nos tampouco da criaçom de
Paris de chegar a umha colaboraçom internacional de todas as organiza- organizaçons especiais de mulheres ali onde for necessário fazé-lo. O
çons juvenis nom fascistas. prejuízo de que há que liquidar nos países capitalistas as organizaçons
femininas, que se acham sob a direçom dos Partidos Comunistas, por
exigí-lo assim a luita contra o “separatismo feminino” no movimento
obreiro, é um prejuízo que acarreia frequentemente grandes danos.

73
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Há que buscar as formas mais singelas e flexíveis para estabelecer o Estou certo de que expresso os sentimentos e ideias de todo o nosso
contato e a luita comum com as organizaçons femininas revolucionárias, Congresso ao declarar que enviamos o nosso saúdo fraternal mais ca-
social-democratas e progressistas, antifascistas e antiguerreristas. Temos luroso, em nome do proletariado revolucionário do mundo inteiro, a todos
que lograr, custe o que custar, que as obreiras e as mulheres trabalhadoras os Sovietes da China, ao povo revolucionário chinês. Enviamos o nosso
militem na frente única da classe obreira e na frente popular antifascista, caloroso saúdo fraternal ao heroico Exército Vermelho da China, provado
pau a pau com os seus irmaos de classe. em mil combates. E asseguramos ao povo chinês que estamos firmemente
decididos a apoiar a sua luita por libertar-se completamente de todos os
A frente única anti-imperialista rapazes imperialistas e dos seus agentes chineses. [Impetuosos aplausos,
todos os delegados ponhem-se em pé. Ovaçons prolongadas. Vítores por
Umha importáncia extraordinária adquire, em relaçom com as mudanças
parte dos delegados].
operadas na situaçom internacional e interior de todos os países coloniais e
semicoloniais, o problema da frente única anti-imperialista. Sobre o governo da frente única
Respeito à criaçom de umha ampla frente única anti-imperialista nas co- Camaradas! Temos adotado um rumo resolto e audaz face a frente única
lónias e semicolónias, há que ter em conta, ante todo, a diversidade das da classe obreira e estamos dispostos a seguí-lo com a máxima conse-
condiçons, sob as quais se desenvolve a luita anti-imperialista das massas, quência.
o distinto grau de madurez do movimento de libertaçom nacional, o papel
do proletariado neste movimento e a influência do Partido Comunista sobre Se se nos pergunta, se nós, os comunistas, luitamos sobre o terreno da
as extensas massas. frente única  somente  por reivindicaçons parciais ou estamos dispostos
a compartilhar a responsabilidade, se se chegasse à formaçom de um
o Brasil o problema formula-se de maneira diferente que na Índia, na China, governo sobre a base da frente única, diremos com plena consciência da
etc. No Brasil, o Partido Comunista, que com a criaçom da Aliança Nacional nossa responsabilidade: sim!, temos em conta que pode produzir-se umha
Libertadora tem sentado um princípio acertado para o desenvolvimento da situaçom na que a criaçom de um governo de frente única proletária, ou
frente única anti-imperialista, tem que fazer todos os esforços para se- de frente popular antifascista seja nom soamente possível, senom indis-
guir extendendo no sucessivo esta frente e mediante a incorporaçom em pensável no interesse do proletariado [aplausos]; aceitamos, em efeito esta
primeiro termo, das massas de milhons de campesinhos, por rumo face a eventualidade. E neste caso, sem nengumha vacilaçom, declararemo-nos a
criaçom de destacamentos de um exército nacional revolucionário entre- favor da criaçom deste governo.
gado sem reserva à revoluçom, e combater pola instauraçom do poder da
Aliança Nacional Libertadora. Nom me refiro aqui ao governo que pode ser formado após a vitória da
revoluçom proletária. Evidentemente, nom está excluída a possibilidade de
Na  Índia, os comunistas devem apoiar, alargar e participar em todas as que num país qualquer, imediatamente após derrubamento revolucionário
açons anti-imperialistas de massas, sem excetuar aquelas, a cuja cabeça da burguesia, se poda formar um governo soviético sobre a base do blo-
marcham os nacional-reformistas. Conservando a sua independência po- co governamental do Partido Comunista com outro partido [ou a sua ala
lítica e de organizaçom, devem empreender um trabalho ativo no seio das esquerda] que participe na revoluçom. É sabido que depois da
organizaçons aderidas ao Partido do Congresso da Índia e contribuir à cris- Revoluçom de Outubro, o Partido dos Bolcheviques russos vencedor
talizaçom de umha ala nacional revolucionária, dentro destas organizaçons, fijo entrar na composiçom do governo soviético os representantes dos so-
para seguir despregando no sucessivo o movimento de libertaçom nacional cialistas revolucionários de esquerda. Esta foi a particularidade do governo
dos povos da Índia contra o imperialismo británico. soviético, após a vitória da Revoluçom de Outubro.
Na China, onde o movimento popular já tem conduzido à criaçom de di- Nom se trata de um caso deste género, senom da possível formaçom de
versos sovietes em importantes territórios do país e à organizaçom de um um governo de frente única em vésperas e antes da vitória da revoluçom
GIORGI DIMITROV

potente Exército Vermelho, a ofensiva rapaz do imperialismo japonés e a soviética.


traiçom do governo de Nanking tem posto em perigo a existência nacional
do grande povo chinês. Só os Sovietes chineses podem agir como centro de Que seria este governo? E em que situaçom pudesse ser possível?
unificaçom na luita contra a escravidom e o reparto da China polos impe-
rialistas, como centro de unificaçom, que agrupe todas as forças anti-im- É, ante todo, um governo de luita contra o fascismo e a reaçom. Deve ser
um governo conformado como consequência do movimento de frente única
perialistas para a luita nacional do povo chinês.
e que nom limite de nengumha maneira a atividade do Partido Comunista
Aprovamos, portanto, a iniciativa do nosso valente Partido Comunista irmao e das organizaçons de massas da classe obreira, senom, ao contrário, que
tome enérgicas disposiçons dirigidas contra os magnates financieiros con-
da China de criar a frente única anti-imperialista mais extensa contra o im-
trarrevolucionários e os seus agentes fascistas.
perialismo japonés e os seus agentes chineses, com todas as forças orga-
nizadas existentes no território da China, que estejam dispostas a despregar No momento oportuno, apoiando-se sobre o movimento crescente da
umha luita efetiva pola salvaçom do seu país e do seu povo. frente única, o Partido Comunista do país em questom manifestará-se pola
criaçom de semelhante governo, sobre a base dumha plataforma antifas-
cista concreta.

74
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Sob que condiçons objetivas será possível a formaçom de um tal governo? A primeira  série de erros obedeceu precisamente a que o problema do
A esta pergunta pode responder-se de um modo mui geral: sob as condi- governo obreiro nom se enlaçou clara e firmemente à presença de umha
çons dumha crise política, na que as classes dominantes já nom estám en crise política. Graças a isto, os oportunistas de direita pudérom interpretar
condiçons de acabar com o potente ascenso do movimento antifascista a cousa no sentido de que havia que aspirar à formaçom de um governo
de massas. Mas isto é só umha perspetiva geral, sem a qual apenas será obreiro, apoiado polo Partido Comunista, em qualquer situaçom, por dizé-lo
possível, na prática, a formaçom de um governo de frente única. Somente assim, “normal”. Polo contrário, os ultresquerdistas só admitem um gover-
em presença de determinadas premissas especiais, pode por-se a ordem no obreiro que se formasse única e exclusivamente mediante a insurreiçom
do dia o problema da formaçom deste governo como tarefa politicamente armada, depois do derrocamento da burguesia. Ambas cousas eram falsas
necessária. Parece-me que neste sentido merecem a maior atençom as e por isso, agora, para evitar a repetiçom de semelhantes erros, recalcamos
seguentes premissas: com tanto cuidado a necessidade de ter em conta exatamente as condi-
çons concretas e particulares da crise política e do ascenso do movimento
Primeiro: Quando o aparelho estatal da burguesia esteja já o bastante de- de massas, sob as quais pode ser possível e políticamente necessária a
sorganizado e paralisado para que a burguesia nom poda impedir a forma- formaçom de um governo de frente única.
çom de um governo de luita contra a reaçom e o fascismo.
A segunda série de erros obedeceu ao facto de que o problema do governo
Segundo: Quando as mais extensas massas trabalhadoras e em particular obreiro nom se enlaçou com o desenvolvimento do movimento combativo
os sindicatos de massas se levantem impetuosamente contra o fascismo de massas da frente única proletária. Isto deu aos oportunistas de direita a
e a reaçom, mas nom estejam ainda preparados para lançar-se à insurrei- possibilidade de tergiversar o problema e reduzí-lo à tática sem princípios
çom com o fim de luitar sob a direçom do Partido Comunista pola conquista da formaçom de um bloco com os partidos social-democratas, a base de
do Poder soviético. combinaçons puramente parlamentares. Os ultraesquerdistas, polo contrá-
rio, gritavam: “Nada de coaligaçons com a social-democracia contrarrevo-
Terceiro: Quando o processo de diferenciaçom e radicalizaçom nas fileiras
lucionária!”. Considerando como contrarrevolucionários, no fundo, todos os
da social-democracia e dos demais partidos que participam na frente única
social-democratas.
tenha conduzido ou bem que umha parte considerável dentro de elas exija
medidas implacáveis contra os fascistas e demais reacionários, luite de Ambas cousas eram falsas e nós recalcamos agora, por umha parte, que
braço dos comunistas contra o fascismo e se manifeste abertamente con- nom queremos em modo algum um “governo obreiro”, que seja singela-
tra o setor reacionário e hostil ao comunismo do seu próprio partido. mente um governo social-democrata alargado. Preferimos, inclusive, re-
nunciar ao nome de “governo obreiro” e falar de um governo de frente única
Quando e em que países surgirá de facto umha situaçom semelhante, na
que, polo seu caráter político, é algo completamente distinto, fundamental-
que se dem, em grau suficiente, estas premissas, é cousa que nom pode
mente distinto de todos os governos social-democratas, que acostumavam
dizer-se previamente, mas como esta perspetiva nom está descartada em
chamar-se “governos obreiros”. Enquanto os governos social-democratas
nengum país capitalista, devemos te-la em conta e nom só orientar-nos e
representam um instrumento da colaboraçom de classes com a burguesia,
preparar-nos nós mesmos, senom orientarmos também a classe obreira
em interesse da conservaçom do sistema capitalista, o governo de frente
na forma adequada.
única é um órgao da colaboraçom da vanguarda revolucionária do pro-
O mero facto, de que ponhamos hoje a discusom este problema, está letariado com outros partidos antifascistas, em interesse de todo o povo
relacionado, naturalmente, com o nosso modo de apreciar a situaçom trabalhador, um governo de luita contra o fascismo e a reaçom. É evidente
e as perspetivas mais próximas de desenvolvimento, assim como com que son duas cousas radicalmente distinas.
o ascenso efetivo do movimento de frente única numha série de países,
Por outra parte, sublinhamos que é necessário ver  a diferença existente
nestes últimos tempos. Durante mais de dez anos, a situaçom que se for-
entre os diversos campos da social-democracia. Como já tenho assinalado,
mulava nos países capitalistas era tal que a Internacional Comunista nom
existe na social-democracia um campo reacionário, mas, ao mesmo tempo,
GIORGI DIMITROV

tinha porque discutir um problema desta índole.


existe e cresce o campo dos social-democratas de esquerda [sem aspas],
Lembraredes, camaradas, que no nosso IV Congresso, celebrado em 1922, dos obreiros que se revolucionarizam. A diferença decisiva entre ambos
e também no V Congresso, em 1924, discutiu-se o problema da palavra campos consiste, praticamente, na sua atitude perante a frente única da
de ordem de governo obreiro ou obreiro e campesinho. Aqui, inicialmente, classe obreira. Os social-democratas reacionários som contrários à frente
tratava-se, em substáncia, de um problema quase análogo ao que hoje se única, caluniam o movimento da frente única, sabotam e descomponhem-
nos formula. Os debates a volta desta questom promoverom-se por aquele -na, já que este fai fracassar a sua política de conciliaçom com a burguesia.
entom na Internacional Comunista e especialmente os erros políticos que Os social-democratas de esquerda som partidários da frente única, defen-
se cometérom aqui tenhem ainda hoje a sua importáncia para acentuar a dem, desenvolvem e afortalam o movimento da frente única, posto que ele
nossa atençom vigilante perante o perigo de desviar-se a direita e a “es- é um movimento de luita contra o fascismo e a reaçom e será sempre a
querda” a linha bolchevique nesta questom. Por isso quero asssinalar em força que empurre o governo da frente única a luitar contra a burguesia
poucas palavras alguns destes erros, com o intuito de sacar deles as ensi- reacionária. Quanto com maior vigor se desencadee este movimento de
nanças necessárias para a política atual dos nossos Partidos. massas, tanto maior será a força que poda brindar ao governo para luitar
contra os reacionários. E quanto melhor organizado, desde baixo, esteja o

75
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

movimento de massas e maior for a rede dos órgaos de classe de frente Por que atribuia Lenine umha significaçom tam extraordinariamente gran-
única, situados à margem do partido nas empresas, entre os desocupados, de à forma que revestisse o passo à revoluçom proletária? Porque tinha
nos bairros obreiros, entre a gente modesta da cidade e do campo, tanto presente “a lei fundamental de todas as grandes revoluçons”, a lei de que
maiores serám as garantias que se tenham contra umha possível degene- a propaganda e a agitaçom por si sós nom podem suplir nas massas a
raçom da política de governo de frente única. sua própria experiência política, quando se trata de atrair as massas verda-
deiramente extensas dos trabalhadores ao lado da vanguarda revolucioná-
A terceira série de conceitos erróneos, que se manifestárom nos anteriores ria, sem o qual é impossível a luita vitoriosa polo poder. O erro habitual deste
debates, referiam-se precisamente à política prática do “governo obreiro”. tipo esquerdista é a creença, que, tam pronto como surge a crise política
Os oportunistas de direita opinavam que o “governo obreiro” devia manter- [ou revolucionária], basta com que a direçom comunista lance a palavra
-se dentro do “quadro da democracia burguesa” e, por conseguinte, nom de ordem da insurreiçom revolucionária, para que as grandes massas a
deveria dar nengum passo que se saísse deste quadro. Polo contrário, os sigam. Nom; até em presença de tais crises, as massas distam muito de
ultraesquerdistas renunciavam de facto a toda tentativa de formaçom de estar sempre preparadas para isso. Temos visto isto no exemplo de Espa-
um governo de frente única. nha. Para ajudar as massas de milhons a apreender o mais pronto possível,
por meio da sua própria experiência, o que tem que fazer, onde encontrar
Em 1923, poido ver-se,  na Sajónia e Turingia, um quadro eloquente da
a saída decisiva e compreender que partido merece a sua confiança; para
prática oportunista direitista de um “governo obreiro”. A entrada dos co-
isto fam falta, entre outras cousas, junto com as palavras de ordem tran-
munistas no governo da Sajónia, com os social-democratas de esquerda
sitórias, também “as formas especiais de transiçom ou de achegamento à
[grupo Zeigner], nom era de por si um erro. Polo contrário, este passo estava
revoluçom proletária”. Sem isto, as extensas massas do povo que estám
completamente justificado pola situaçom revolucionária da Alemanha. Mas
cautivas nas ilusons e tradiçons democráticas pequeno-burguesas, pode-
os comunistas, o participar no governo, tinham que ter-se aproveitado das
rám inclusive, perante umha situaçom revolucionária, vacilar, perder tempo,
suas posiçons, ante todo para armar ao proletariado, e nom o figérom. Nem
vagar, sem encontrar o caminho da revoluçom e até cair sob os golpes dos
sequer confiscárom umha só das casas dos ricos, a pesar de que a falta
verdugos fascistas.
de vivendas obreiras era tam grande, que muitos obreiros, com mulher e
filhos, nom tinham onde refugiar-se. Tampouco empreendérom nada para Por isto assinalamos a possibilidade de formar, sob as condiçons da crise
organizar o movimento revolucionário de massas dos obreiros. política, um governo de frente única antifascista. Na medida em que este
governo despregue umha luita real e verdadeira contra os inimigos do povo,
Procedérom em todo momento como os habituais ministros parlamenta-
conceda liberdade de açom à classe obreira e ao Partido Comunista, nós,
res dentro do “quadro da democracia burguesa”. Como é sabido, este foi o
os comunistas, apoiaremo-lo por todos os meios e luitaremos na primeira
resultado da política oportunista de Brandler e dos seus sequaces. O re-
línha de fogo, como soldados da revoluçom. Pero dizemos-lhe francamente
sultado de todo isto foi umha tal bancarrota que, inclusive hoje, nos vemos
às massas: Este governo nom traerá a salvaçom definitiva. Este governo
obrigados a referir-nos ao governo da Sajónia, como exemplo clássico de
nom está en condiçons de derrocar a dominaçom de classe dos explora-
como nom devem agir os revolucionários no governo.
dores e, por esta razom, nom pode tampouco eliminar definitivamente o
Camaradas! Nós exigimos de todo governo de frente única umha política perigo da contrarrevoluçom fascista. Por conseguinte, há que preparar-se
completamente distinta. Exigimos-lhe que leve a cabo determinadas rei- para a revoluçom socialista! Só e exclusivamente o Poder soviético traerá
vindicaçons cardinais revolucionárias, congruentes com a situaçom, como, a salvaçom.
por exemplo, o controlo da produçom, o controlo sobre os bancos, a disso-
Se analisamos o desenvolvimento atual da situaçom internacional, vemos
luçom da polícia, a sua substituiçom por umha milícia obreira armada, etc.
que a crise política vai madurecendo em toda umha série de países. Isto
Há quinze anos, Lenine convidava-nos a que concentrássemos toda a aten- condiciona a grande importáncia e atualidade de umha decisom do nosso
çom “em buscar as formas de transiçom ou de acercamento à revoluçom Congresso sobre o problema do governo de frente única.
GIORGI DIMITROV

proletária”. Pode ocontecer que o governo da frente única for, numha série


Se os nossos Partidos sabem aproveitar, para a preparaçom revolucionária
de países, umha das formas transitórias mais importantes. Os doutrinários
das massas, de um modo bolchevique, a possibilidade de formar um go-
“de esquerda” sempre passárom por alto esta indicaçom de Lenine, fa-
verno de frente única, a luita à volta da formaçom e permanência no poder
lando somente da “meta”, como propagandistas limitados, sem preocupar-
deste governo, esta será a melhor justificaçom política do nosso rumo face
-se jamais das “formas de transiçom”. E os oportunistas de direita tentavam
a criaçom de um governo de frente única.
estabelecer umha “fase democrática intermédia”, especial, entre a ditadura
da burguesia e a ditadura do proletariado, para sugerir à classe obreira a ilu- A luita ideológica contra o fascismo
som de um pacífico passo parlamentar dumha ditadura a outra. Esta “fase
intermédia” fitícia chamavam-na também “forma de transiçom” e invoca- Um dos aspectos mais fracos da luita antifascista dos nossos Partidos con-
vam mesmo o nome de Lenine! Mas nom foi difícil descubrir a fraude, pois siste em que nom reacionam suficientemente, nem ao seu devido tempo
Lenine falava dumha forma de transiçom e de achegamento à “revoluçom contra a demagogia do fascismo  e seguem tratando despetivamente os
proletária”, isto é, o derrocamento da ditadura burguesa e nom de umha problemas da luita contra a ideologia fascista. Muitos camaradas nom
forma transitória qualquer entre a ditadura burguesa e a proletária. acreditavam que umha variedade tam reacionária da ideologia burguesa,

76
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

como é a ideologia do fascismo, que no seu absurdo chega com farta fre- a humanidade dos tormentos do sistema capitalista, que já tem abatido o
quência até o desvario, fosse em geral capaz de conquistar influência sobre jugo do capitalismo e é a classe governante numha sexta parte do planeta.
as massas. Isto foi um grande erro. A avançada putrefaçom do capitalismo Nós defendemos os interesses vitais de todos os setores trabalhadores ex-
chega até a mesma médula da sua ideologia e a sua cultura, e a situaçom plorados, é dizer, da maioria do povo de todos os países capitalistas.
desesperada das extensas massas do povo predispom certos setores ao
contágio com os detritos ideológicos deste processo de putrefaçom. Nós, os comunistas, somos,  por princípio, inimigos irreconciliáveis  do
nacionalismo burguês, em todas as suas formas e variedades. Mas  nom
Nom devemos menosprezar, em modo algum, esta força do contágio ideo- somos partidários do niilismo nacional, nem podemos agir jamais como
lógico do fascismo. Ao contrário, devemos livrar pola nossa parte umha am- tais. A missom de educar os obreiros e os trabalhadores no espírito do in-
pla luita ideológica, basada numha argumentaçom clara e popular e num ternacionalismo proletário é umha das tarefas fundamentais de todos os
método certeiro à hora de abordar o peculiar na psicologia nacional das Partidos Comunistas. Mas, o que pense, que isto lhe permite, e inclusive,
massas do povo. lhe obriga a cuspir na cara a todos os sentimentos nacionais das amplas
massas trabalhadoras, está mui longe do verdadeiro bolchevismo e nom
Os fascistas resolvem a história de cada povo, para apresentar-se como tem compreendido nada das ensinanças de Lenine sobre a questom na-
herdeiros e continuadores de todo o que há de elevado e heroico no seu cional. [Aplausos].
passado, e exploram todo o que humilha e ofende os sentimentos nacionais
do povo, como arma contra os inimigos do fascismo. Na Alemanha publi- Lenine que luitou sempre decidida e consecuentemente contra o nacio-
cam-se centenares de livros que nom perseguem outro fim que o de falsear nalismo burguês, no seu artigo  “Sobre o orgulho nacional dos grandes
a história do povo alemám sobre umha pauta fascista. russos”, escrito no ano 1914, deu-nos um exemplo de como deve focar-se
acertadamente o problema dos sentimentos nacionais.
Os flamantes historiadores nacional-socialistas esforçam-se em apresen-
tar a história da Alemanha, como se, sob o imperativo dumha “lei histórica”, Escreve o seguinte:
um fio condutor marcasse, ao longo de 2.000 anos, a trajetória do desenvol-
vimento que tem determinado a apariçom na cena da história do “salvador «É alheio a nós, proletários conscientes grandes russos, o sentimento de
nacional”, do “Messias” do povo alemám, o célebre cabo de progénie aus- orgulho nacional? Claro que nom! Amamos a nossa língua e a nossa Pá-
tríaca. Todos os grandes homens do povo alemám em épocas passadas tria, trabalhamos mais que todo por elevar as suas massas trabalhadoras
apresentam-se nestes livros como fascistas, e todos os grandes movimen- [é dizer as nove dézimas partes da sua populaçom] à vida consciente de
tos campesinhos, como precursores diretos do movimento fascista. democratas e socialistas. O mais duro para nós é ver e sentir a que violên-
cias, opressom e burlas submetem a nossa magnífica Pátria os verdugos
Mussolini esforça-se obstinadamente em sacar partido da figura heroica de zaristas, os pacegos e os capitalistas. Sentimo-nos orgulhosos de que es-
Garibaldi. Os fascistas franceses tremolam Joana de Arco como a sua he- tas violências provocassem a resistência dos nossos meios, no seio dos
roína. Os fascistas norteamericanos apelam às tradiçons da guerra da inde- grandes russos, que estes meios dessem a Rashev, os dezembristas, os
pendência americana, às tradiçons de Washington e de Lincoln. Os fascistas revolucionários-raznochintzi da década de 70, que a classe obreira grande
búlgaros exploram o movimento de libertaçom nacional da década de 70 russa criasse em 1905 um poderoso partido revolucionário das massas.
do século passado e os heróis populares, tam queridos, deste movimento,
como Vasil Levski, Stefan Karadsha, etc. De nós apodera-se um sentimento de orgulho nacional, já que a naçom
grande russa tem criado também umha classe obreira, demonstrou tam-
Os comunistas, que acreditam que todo isto nom tem nada a ver com a bém  que é capaz de dar à humanidade grandes exemplos de luita pola
causa obreira e nom fam nada, nem o mais mínimo, para esclarecer perante liberdade e o socialismo e que nom só sabe organizar pogromos, elevar
as massas trabalhadoras o passado do seu próprio povo com toda fidelidade forcas, encher os cárceres, causar grandes fames e engendrar servilismo
histórica e o verdadeiro sentido marxista, marxista-leninista, para entron- perante curas, zares, terratenentes e capitalistas.
GIORGI DIMITROV

car a luita atual com as tadiçons revolucionárias do seu passado, esses


comunistas entregam voluntariamente aos falsificadores fascistas todo o De nós apodera-se um sentimento de orgulho nacional e por isso precisa-
que há de valioso no passado histórico da naçom, para que enganem as mente aborrecemos ante todo o nosso passado de escravos... e o nosso
massas do povo. presente de escravos, quando estes mesmos terratenentes, ajudados polos
capitalistas, levam-nos à guerra, para escravizar Polónia e Ucrania: para
Nom, camaradas! A nós afetam-nos todos os problemas importantes, nom esmagar o movimento democrático na Pérsia e na China, para reforçar
só do presente e do futuro, senom também os que fam parte do passado a camarilha dos Romanov, Bobrinski, Purishkevich que é umha vergonha
do nosso próprio povo, pois nós, os comunistas, nom praticamos a política para a nossa dignidade nacional grande russa!»
mesquinha dos interesses gremiais dos obreiros.
Eis o que escreve Lenine sobre o orgulho nacional.
Nós nom somos os funcionários limitados das tradeunions, nem tampouco
os dirigentes dos grémios medievais de artesaos e oficiais. Somos os repre- Eu creio, camaradas, nom ter procedido erroneamente quando, no proces-
sentates dos interesses de classe da mais importante e grande das classes so de Leipzig, perante a tentativa dos fascistas de caluniar o povo búlgaro
da sociedade moderna, da classe obreira, que tem por missom emancipar como um povo bárbaro, defendi a honra nacional das massas trabalhadoras,

77
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

do povo búlgaro, que luita abnegadamente contra os usurpadores fascis- Os comunistas, que fam parte dumha naçom oprimida ou dependente, nom
tas, que som os verdadeiros bárbaros e selvagens, [aplausos impetuosos e poderám luitar com êxito contra o chauvinismo, no seio da sua própria na-
prolongados] e quando declarei que no tenho nengum motivo para avergo- çom, se ao mesmo tempo nom ponhem de manifesto, na prática do movi-
nhar-me de ser búlgaro e que, longe disso, estou orgulhoso de ser filho da mento de massas, que luitam realmente por redimir a sua naçom do jugo
heroica classe obreira búlgara [Aplausos]. estrangeiro. Por outra parte, os comunistas da naçom opressora tampouco
poderám fazer o que é necessário para educar as masas trabalhadoras da
Camaradas! O internacionalismo proletário deve “aclimatar-se”, por dizé-lo sua naçom no espírito do internacionalismo, senom livram umha luita de-
assim, em cada país e botar raízes profundas no solo natal. As formas na- cidida contra a política de opressom da sua “própria” burguesia, polo direito
cionais, que reveste a luita proletária de classes, o movimento obreiro em à completa autodeterminaçom das naçons escravizadas por ela. Se nom o
cada país nom estám em contradiçom com o internacionalismo proletário, fam, tampouco ajudarám os trabalhadores das naçons oprimidas a sobre-
senom que, ao contrário, é precisamente sob estas formas como se podem por-se aos seus prejuizos nacionalistas.
defender também com êxito os interesses internacionais do proletariado.
Só agindo neste sentido, demonstrando de um modo convincente em toda a
É evidente que há que por bem de relevo,  em todas partes e em todas nossa labor de massas que estamos tam livres do niilismo nacional, como
as ocasions, perante as massas e demonstrar de um modo concreto que do nacionalismo burguês, só entom poderemos livrar umha luita verdadei-
a burguesia fascista, com o pretexto de defender os interesses de toda a ramente eficaz contra a demagogia chauvinista do fascismo.
naçom, pratica a política egoista de opressom e exploraçom do seu próprio
povo e a expoliaçom e a escravidom dos demais povos. Mas nom pode- Por isso, tem umha importáncia tam enorme a aplicaçom justa e concreta
mos  limitar-nos  a isto. Ao mesmo tempo, temos que pôr de manifesto, da política nacional leninista. É esta umha premissa absolutamente indis-
através das próprias luitas da classe obreira e mediante as açons do Partido pensável, para luitar eficazmente contra o chauvinismo, principal instru-
Comunista, que o proletariado, ao rebelar-se contra toda vasalagem e con- mento da influência ideológica dos fascistas sobre as massas.
tra toda opressom nacional, é o único e autêntico campeom da liberdade
nacional e da independência do povo.

Os interesses da luita de classes do proletariado contra os exploradores e III


opressores pátrios nom estám em pugna com os interesses de um porvir
O fortalecimento dos Partidos Comunistas e a luita pola uni-
livre e feliz da naçom. Ao contrário: a revoluçom socialista será a salvaçom
dade política do proletariado
da naçom e abrirá-lhe o caminho para um auge mais esplendoroso. Por
isto, porque a classe obreira, ao construir hoje as suas organizaçons de Camaradas! Na luita por estabelecer a frente única aumenta de um modo
classe e afiançar as suas posiçons, ao defender contra o fascismo os direi- extraordinário o papel dirigente dos Partidos Comunistas. Só o Partido Co-
tos e liberdades democráticas, ao luitar polo derrocamento do capitalismo, munista é na realidade o iniciador, o organizador, a força motriz da frente
luita já através de todo isto por esse porvir da naçom. única da classe obreira.
O proletariado revolucionário luita por salvar a cultura do povo, por redimí-la Os Partidos Comunistas só podem assegurar a mobilizaçom das amplas
das cadeias do capital monopolista em putrefaçom, do fascismo bárba- massas trabalhadoras para luitar unidas contra o fascismo e a ofensiva do
ro que a violenta. Só a revoluçom proletária pode impedir o naufrágio da capital, se afortalam as suas próprias fileiras em todos os aspetos, se des-
cultura, elevá-la ao mais alto esplendor como vedadeira cultura popular,  pregam a sua iniciativa, se levam a cabo umha política marxista-leninista
dessa cultura, nacional pola sua forma e socialista polo seu conteúdo, que e umha tática justa e flexível, que tenha em conta a situaçom concreta e a
se está realizando perante os nossos olhos na Uniom de Repúblicas Socia- distribuçom das forças de classe.
listas Soviéticas.
O fortalecimento dos partidos comunistas
GIORGI DIMITROV

O internacionalismo proletário nom só nom está contra a luita dos tra-


balhadores de cada país pola liberdade nacional, social e cultural, senom No período entre o VI e o VII Congresso, os nossos Partidos dos países ca-
que ademais garante, graças à solidariedade proletária internacional e à pitalistas tenhem crescido sem dúvida algumha e tenhem-se templado
unidade de luita, o apoio necessário para triunfar nela. Só na mais estrei- consideravelmente. Mas seria um erro sumamente perigoso dar-se por
ta aliança  com o proletariado vitorioso da grande Uniom Soviética, pode satisfeito com isto. Quanto mais se extenda a frente única da classe obrei-
triunfar a classe obreira dos países capitalistas. Só luitando pau com pau ra, mais tarefas novas e complicadas se nos formularám, mais teremos
com o proletariado dos países imperialistas, podem os povos coloniais e as que trabalhar polo fortalecimento político e orgánico dos nossos Partidos.
minorias oprimidas lograr a sua libertaçom. A frente única do proletariado fai agromar um exército de obreiros,
que só pode cumprir a sua missom, se tem à sua cabeça um guia que lhe
A aliança revolucionária da classe obreira dos países imperialistas com os assinale os seus objetivos e os seus caminhos. Só um forte partido revolu-
movimentos de libertaçom nacional das colónias e países dependentes é
cionário pode ser este guia.
um quadro, absolutamente indispensável, na senda do triunfo da revoluçom
proletária nos países imperialistas, pois como ensinava Marx, “o povo que
oprime outros povos jamais pode ser livre”.

78
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Quando nós, os comunistas, fazemos todos os esforços por estabelecer na nossa labor política temos seriamente em conta o verdadeiro nível de
a frente única, nom o fazemos do ponto de vista mesquinho de recruta- consciência de classe das massas, o seu grao de revolucionarizaçom, se
mento de novos filiados para os Partidos Comunistas. Mas, precisamente apreciamos serenamente a situaçom concreta, nom através dos nossos
porque queremos fortalecer seriamente a frente única, devemos fortalecer desejos, senom através da realidade. Temos que facilitar às extensas mas-
também em todos os aspetos os Partidos Comunistas e aumentar os seus sas, pacientemente, passo a passo, o tránsito às posiçons do comunismo.
efetivos. O fortalecimento dos Partidos Comunistas nom representa um in- Nom devemos esquecer jamais as palavras de Lenine, quem nos advirtiu
teressse fechado do partido, senom um interesse de toda a classe obreira. com toda energia que:

A unidade, a coesom revolucionária e a presteza combativa dos Partidos «...trata-se precisamante de nom considerar superado, para as massas, o
Comunistas som o mais precioso capital, que nom nos pertence somen- que está superado para nós».
te a nós, senom a toda a classe obreira. Temos associado e seguiremos
associando a presteza para lanzar-nos à luita contra o fascismo, conjun- Acaso agora, camaradas, há ainda nas nossas fileiras poucos doutrinários
tamente com os partidos e organizaçons social-democratas, com a luita que na política da frente única só percebem, sempre e em todas partes, os
irreconciliável contra o social-democratismo, como ideologa e como prática perigos? Para esses camaradas, toda a frente única constitui um perigo
da conciliaçom com a burguesia, e também, por conseguinte, contra toda rotundo. Mas esta “firmeza de princípios” setária nom é outra cousa que
penetraçom desta ideologia nas nossas próprias fileiras. o desamparo político perante as dificuldades da direçom imediata da luita
de massas.
Na realizaçom decidida e audaz da política da frente única, encontramos
nas nossas próprias fileiras obstáculos, que temos que vencer, custar o que O setarismo manifiesta-se  especialmente  na apreciaçom exagerada da
custar, no menor espaço possível de tempo. revolucionizaçom das massas, na apreciaçom exagerada do ritmo, com que
se afastam das posiçons do reformismo, na tentativa de saltar as etapas di-
Após VI Congresso da Internacional Comunista, levou-se a cabo, em todos fíceis e os problemas complicados do movimento. Os métodos de direçom
os Partidos Comunistas dos países capitalistas, umha luita vitoriosa contra das massas substituiam-se frequentemente na prática polos métodos de
a tendência à adataçom oportunista às condiçons da estabilizaçom capita- direçom de um grupo fechado de partido. Nom se apreciava devidamente a
lista e contra o contágio com as ilusons reformistas e legalistas. Os nossos força dos laços tradicionais entre as massas e as suas organizaçons e di-
Partidos limpárom as suas fileiras de toda classe de oportunistas de direita reçons e, quando as massas nom rompam estes laços do nada, adotava-se
e com isso afiançárom a sua unidade bolchevique e a sua capacidade com- frente a elas umha atitude tam brusca, como frente aos seus dirigentes
bativa. Com menos êxito livrou-se, a vezes, nom se livrou de nengum modo reacionários. A tática e as palavras de ordem convertiam-se num “patrom”,
a luita contra o setarismo. O setarismo nom se manifestava já em formas válido para todos os países, e nom se tinha em conta as particularidades
primitivas e descaradas, como nos primeiros anos de existência da Inter- da situaçom concreta em cada país dado. Passava-se por alto a neces-
nacional Comunista, senom que, disfarçando-se com o reconhecimento sidade de despregar, no seio das próprias massas, umha luita tenaz para
formal das teses bolcheviques, freava o despregamento da política ganhar a sua confiança, descuidava-se a luita polas reivindicaçons parciais
dos obreiros e a labor dentro dos sindicatos reformistas e das organizaçons
como o qualificou Lenine, senom um vício mui arraigado, e sem curar-nos fascistas de massas. A política de frente única suplantava-se frequente-
dele, nom poderemos resolver o problema de criar umha frente única prole- mente por meros apelos e pola propaganda abstrata.
tária e levar as massas das posiçons reformistas face a revoluçom.
As atitudes setárias dificultávam em nom menor grao a seleçom acertada
Na situaçom atual, o setarismo, esse setarismo arrogante, como o quali- dos homens, a educaçom e formaçom de  quadros relacionados  com as
ficamos no nosso projeto de resoluçom, entorpece ante todo a nossa luita massas, que gozem da confiança destas, de quadros com coerência revo-
pola realizaçom da frente única, eese setarismo, satisfeito da sua estrei- lucionária e provados nas luitas de classes, que saibam associar à expe-
teza doutrinaria e do seu afastamento da vida real das massas, satisfeito riência prática do trabalho de massas a firmeza de princípios bolchevique.
GIORGI DIMITROV

dos  seus métodos simplistas, para resolver os problemas mais compli-


cados do movimento obreiro sobre a base de esquemas cortados por um Deste modo, o setarismo retrasou consideravelmente o crescimento dos
patrom; esse setarismo, que pretende sabé-lo todo e nom acredita neces- Partidos Comunistas, dificultou o alargamento dumha autêntica política de
sário apreender das massas, das ensinanças do movimento obreiro, numha massas, atrapalhou a exploraçom das dificuldades do inimigo de classe,
palavra, o setarismo, para o qual todo é umha pequenez. para fortificar as posicions do movimento revolucionário, impediu a con-
quista das extensas massas proletárias para os Partidos Comunistas.
Este setarismo arrogante nom quer, nem pode  compreender que situar
a classe obreira sob a direçom do Partido Comunista, nom se consegue Luitando do modo mais resolto por extirpar e superar os últimos ressaibos
espontaneamente. O papel dirigente do Partido Comunista nas luitas da do setarismo arrogante, temos que fortalecer por todos os meios a nossa
classe obreira há que conquistá-lo. Para isto, nom fai falta declamar acerca atençom vigilante e a nossa luita contra o oportunismo de direita y con-
do papel dirigente dos comunistas, senom que  há que merecer, ganhar, tra todas as suas manifestaçons concretas, tendo em conta que o perigo
conquistar a confiança das massas obreiras  com umha labor quotidiana deste oportunismo crescerá, a medida que se vaia despregando umha
de massas e umha política justa. Isto só se logrará se nós, os comunistas, ampla frente única. Já existem tendências a rebaixar o papel do Partido

79
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Comunista nas fileiras da frente única e a reconciliar-se com a ideologia Quarto, a condiçom de que se renuncie apoiar a própria burguesia
social-democrata. Nom se deve perder de vista que a tática da frente numha guerra imperialista;
única é um método para persuadir palpavelmente os obrei-
ros social-democratas da justeza da política comunista da falsedade da Quinto, a condiçom de que se erija o Partido sobre a base de centralismo
política reformista, e nom umha reconciliaçom com a ideologia e a prática democrático, que assegura a unidade de vontade e de açom e que tem sido
social-democratas. A luita eficaz por estabelecer a frente única exige de constatado já pola experiência dos bolcheviques russos.
nós ineludivelmente umha luita constante, dentro das nossas próprias fi-
Temos que esclarecer os obreiros social-democratas, com paciência e ca-
leiras, contra a tendência a rebaixar o papel do Partido, contra as ilusons
maradagem, porque a unidade política da classe obreira é irrealizável sem
legalistas, contra a orientaçom face a espontaneidade  e o automatismo,
estas condiçons. Com isto devemos enjuiciar o sentido e a importáncia
assim no que respeita à liquidaçom do fascismo, como no que se refere à
destas condiçons.
consecuçom da frente única, contra as mais mínimas vacilaçons, chegado
o momento da atuaçom decisiva. Porque, para a realizaçom da unidade política do proletariado, é necessário
independizar-se da burguesia e romper o bloco da social-democracia com
A unidade política da classe obreira
a burguesia?
Camaradas! O desenvolvimento da frente única da luita conjunta dos obrei-
Porque toda a experiência do movimento obreiro e, em particular, a expe-
ros comunistas y social-democratas contra o fascismo e a ofensiva do
riência dos quinze anos de política de coaligaçom na Alemanha tenhem
capital formula também o problema da unidade política, do partido político
posto de relevo que a política da colaboraçom de classes, a política de
único de massas da classe obreira. Os obreiros social-democratas vam-
dependência da burguesia leva à derrota da classe obreira e à vitória do
-se convencendo cada vez mais, por experiência, de que a luita contra o
fascismo. E a senda da luita irreconciliável de classes contra a burguesia, a
inimigo de classe exige umha direçom política única, pois a dualidade de
senda dos bolcheviques é a única senda segura face o triunfo.
direçom dificulta o seguir desenvolvendo e fortalecendo a luita em comum
da classe obreira. Por que o estabelecer previamente a unidade de açom ha de ser premissa
da unidade política?
Os interesses da luita de classe do proletariado e o êxito da revoluçom
proletária imponhem a necessidade de que exista em cada país um par- Porque a unidade de açom para rejeitar a ofensiva do capital e do fascismo
tido único do proletariado. O conseguí-lo nom é naturalmente tam fácil e pode e deve lograr-se ainda antes de que a maioria dos obreiros se unifi-
singelo. Exige umha labor e umha luita tenazes e será necessariamente um quem sobre a plataforma política comum do derrocamento do capitalismo;
processo mais ou menos longo. Os Partidos Comunistas, apoiando-se na para chegar à unidade de ideias acerca dos caminhos e os objetivos fun-
crescente gravitaçom dos obrerios face a unificaçom dos partidos social- damentais da luita do proletariado, sem a qual nom se poderia unificar os
-democratas e de algumhas das suas organizaços com os Partidos Comu- partidos, fai falta, por outro lado, um prazo de tempo mais ou menos longo.
nistas, devem tomar na suas maos com segurança e firmeza a iniciativa E o melhor para chegar à unidade de ideias, é criá-las já hoje mesmo, na
desta unificaçom. A causa da unificaçom das forças da classe obreira num luita conjunta contra o inimigo comum. Propor, em vez da frente única, a
partido proletário revolucionário único, nestes momentos, no que o movi- imediata unificaçom, equivale a colocar o carro diante dos bóis e a acreditar
mento obreiro internacional entra no período de liquidar a cisom, é a nossa que deste modo o carro andará. Precisamente porque o problema da uni-
causa, é a causa da Internacional Comunista. dade política nom é para nós umha manobra, como o é para muitos chefes
social-democratas, insistimos em que se realice a unidade de açom, como
Mas, se para estabelecer a frente única dos Partidos Comunista e Social-
umha das etapas mais importantes na luita pola unidade política.
-democrata basta com chegar a um acordo sobre a luita contra o fascismo,
contra a ofensiva do capital e contra a guerra, a criaçom da unidade política Por que é necessário reconhecer o derrocamento revolucionário da bur-
só é possível sobre a base dumha série de condiçons concretas que tenhem
GIORGI DIMITROV

guesia e a instauraçom da ditadura do proletariado sob a forma do Poder


um caráter de princípio. soviético?
Esta unificaçom só será possível: Porque a experiência do triunfo da grande Revoluçom Socialista de Outubro,
dumha parte, e da outra, as amargas ensinanças da Alemania, Austria e
Primeiro, a condiçom de independizar-se completamente da burguesia e
Espanha, durante todo o período de postguerra, tenhem corroborado mais
romper completamente o bloco da social-democracia com a burguesia;
umha vez que o triunfo do proletariado só é possível mediante o derro-
Segundo, a condiçom de que se realize previamente a unidade de açom; camento revolucionário da burguesia, e que a burguesia, antes de permi-
tir que o proletariado instaure o socialismo pola via pacífica, afogará o
Terceiro, a condiçom de que se reconheça a necessidade do derrocamento movimento obreiro num mar de sangue. A experiência da Revoluçom de
revolucionário da dominaçom da burguesia e da instauraçom da ditadura Outubro tem demonstrado, com toda evidência, que o conteúdo básico da
do proletariado em forma de soviets; revoluçom proletária é o problema da ditadura do proletariado, cuja missom
é esmagar a resistência dos exploradores derrubados, armar a revoluçom
para a luita contra o imperialismo e levar a revoluçom até o triunfo comple-

80
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

to do socialismo. Para levar a cabo a ditadura do proletariado, como ditadura política do proletariado, declaramos que  a Internacional Comunista e as
da esmagadora maioria sobre umha minoria insignificante, sobre os explo- suas Seçons estám dispostas a entrar em negociaçons com a Segunda
radores -e unicamente assim pode ser levada a cabo- som necessários os Internacional e as suas Seçons respetivas para a criaçom da unidade da
Sovietes que  abarquem todas as camadas da classe obriera, as massas classe obreira na luita contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e
principais do campesinhado e demais trabalhadores, sem despertar os contra a ameaça dumha guerra imperialista. [Aplausos]
quais, sem incorporá-los à frente da luita revolucionária, será impossível
afiançar o triunfo do proletariado. Conclusom

Por que o negar-se apoiar a burguesia numha guerra imperialista é condi- Camaradas!
çom para estabelecer a unidade política?
Vou finalizar o meu relatório. Como vedes, tendo em conta as mudanças
Porque a burguesia fai a guerra imperialista para atingir os seus objeti- operadas na situaçom desde VI Congresso e as ensinanças da nossa luita
vos rapaces em contra dos interesses da maiora esmagadora dos povos, e basando-nos no nível já atingido de consolidaçom dos nossos Partidos,
qualquer que for o disfarce, sob o qual se faga a guerra. Porque todos os propomos agora, de um modo novo, umha série de problemas, ante todo, da
imperialistas, ao mesmo tempo que se armam febrilmente para a guerra, frente única e do achegamento à social-democracia aos sindicatos refor-
reforçam até o último limite a exploraçom e a opressom dos trabalhadores mistas e demais organizaçons de massas.
dentro do próprio país. Apoiar a burguesia em semelhante guerra, significa-
Há sabichons, a quem todo isto se lhes antolha um retrocesso das nossas
ria atraiçoar os interesses do país e da classe obreira internacional.
posiçons de princípio, umha viragem da linha do bolchevismo face a direita.
Finalmente, por que o erigir o Partido sobre a base do centralismo democrá- Bom! A galinha famenta, dizemos na Bulgária, sonha sempre com milho.
tico é condiçom para a unidade? [Risas e aplausos impetuosos].

Porque somente um partido erigido sobre a base do centralismo democráti- Que pensem assim estas galinhas políticas! [Risas e aplausos impetuosos].
co pode assegurar a unidade de vontade e de açom, pode levar o proletaria-
A nós, isto interessa-nos pouco. O importante para nós é que os nossos
do ao triunfo sobre a burguesia, que dispom dumha arma tam potente como
próprios partidos e as extensas massas de todo o mundo compreendam
o aparelho centralizado de Estado. A aplicaçom do princípio do centralismo
acertadamente por que luitamos.
democrático tem passado umha brilhante prova histórica com a experiência
do Partido bolchevique russo, o Partido de Lenine. Nom seríamos marxistas revolucionários, leninistas, dignos discípulos de
Marx, Engels, Lenine, se nom mudássemos de um modo congruente a nos-
Sim, nós, camaradas, somos partidários de um partido político único de
sa política e a nossa tática, de acordo com as mudanças operadas na
massas da classe obreria. De ai deriva a necessidade, como di o camarada
situaçom e no movimento obreiro mundial.
Staline, «de um partido combativo, de um partido revolucionário, o sufi-
cientemente intrépido, para conduzir o proletariado na luita polo poder, o Nom seríamos verdadeiros revolucionários, se nom apreendéssemos da
suficientemente experimentado, para orientar-se inclusive nas condiçons nossa própria experiência e da experiência das massas.
mais complexas dumha situaçom revolucionária e o suficientemente flexí-
vel para evitar todos os entraves na sua marcha face a meta». Queremos que os nossos Partidos dos países capitalistas atuem e proce-
dam como verdadeiros partidos políticos da classe obreira, que desempe-
Eis aqui por que é necessário esforçar-se para conseguir a unidade política nhem na realidade o papel de um factor político na vida do seu país, que
sobre a base das condiçons apontadas. leven a cabo em todo momento umha ativa política bolchevique de massas
e nom se limiten só à propaganda e à crítica, a lançar meros apelos à luita
Somos partidários da unidade política da classe obreira! Por isso, estamos
pola ditadura proletária.
GIORGI DIMITROV

dispostos a colaborar do modo mais estreito com todos os social-demo-


cratas que sejam partidários da frente única e que apoiam sinceramente a Somos inimigos de todo esquematismo. Queremos que se tenha em conta
unificaçom de acordo com os princípios mencionados. Mas precisamente a situaçom concreta de cada momento e de cada sítio dados e que nom
por isso, porque somos partidários da unificaçom, luitaremos decidida- se obre sempre e em todas partes com arranjo a um patrom determina-
mente contra todos os demagogos de “esquerda”, que tentem explotar o do, nom queremos esquecer que a posiçom dos comunistas nom pode ser
desengano dos obreiros social-democratas, para criar novos partidos ou igual em todas as condiçons.
internacionais socialistas, dirigidos contra eo movimento comunista e que
afundam por tanto a cisom da classe obreira. Queremos ter em conta serenamente todas as etapas do desenvolvimento
da luita de classes e do incremento da consciência de classe das massas,
Saudamos a tendência crescente dos obreiros social-democratas face a saber encontrar e resolver em cada etapa as tarefas concretas do movi-
frente única com os comunistas. Vemos neste feito o incremento da sua mento revolucionário que correspondem a ela.
consciência revolucionária e um signo de que se começa a superar a cisom
da classe obreira. Considerando que a unidade de açom é umha necessida-
de urgente e também o caminho mais seguro face a criaçom da unidade

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Queremos encontrar umha  linguagem comum  com as mais extensas Queremos que os comunistas de cada país saquem e aproveitem todas as
massas, para luitar contra o inimigo de classe, encontrar os caminhos, ensinanças da sua própria experiência, como vanguarda revolucionária do
polos quais a vanguarda revolucionária se sobreponha definitivamente ao proletariado. Queremos que apreendam o antes possível a nadar nas águas
seu isolamento das massas do proletariado e de todos os trabalhadores e tempestuosas da luita de classes e que nom se fiquem na beira como ob-
para que a própria classe obreira se sobreponha ao fatal isolamento dos servadores e registradores das ondas que se aproximam, esperando o bom
seus aliados naturais na luita contra a burguesia, contra o fascismo. tempo. [Aplausos].

Queremos incorporar as massas cada vez mais extensas à luita revolucio- Eis aí o que nós queremos!
nária de classes e atraé-las à revoluçom proletária, partindo dos seus inte-
resses e necessidades candentes e sobre a base da sua própria experiência. E queremos todo isto, porque por este caminho a classe obreira, à cabeça
de todos os trabalhadores, estreitando as suas fileiras num exército revolu-
Queremos, sobre o exemplo dos nossos gloriosos bolcheviques russos, cionário de milhons de homens, dirigido pola Internacional Comunista, po-
sobre o exemplo do Partido guia da Internacional Comunista, do Partido Co- derá cumprir com toda a certeza a sua missom histórica: barrer o fascismo
munista da Uniom Soviética, associar-nos ao heroísmo revolucionário dos e, con ele, o capitalismo da faz da terra.
comunistas alemans, espanhóis, austríacos e de outros países, o autêntico
realismo revolucionário, e acabar com os últimos restos de flirteos esco- [Todos de pé ovacionam com entusiasmo o camarada Dimitrov.
lásticos à volta de problemas políticos sérios.
Por todas partes e em diferentes idiomas, os delegados gritam: “Hurra! Viva
o camarada Dimitrov!”

Queremos apetrechar os nossos Partidos em todos os aspetos, para que Entoam com vigor a “Internacional” em todos os idiomas. Nova tempestade
podam resolver os problemas políticos mais complicados que se lhes apre- de aplausos.
sentem. Para isto, há que elevar cada vez mais o seu nível teórico, educá-los
As delegaçons entoam diferentes cançons revolucionárias: a italiana “Ban-
no espírito do marxismo-leninismo vivo e nom de um doutrinarismo morto.
dera Rossa”, a polaca “Às barricadas!”, a francesa “La Carmagnole”, a alemá
Queremos extirpar das nossas fileiras o setarismo satisfeito de si mesmo, “O vermelho Wedding”, a a chinesa “O hino do Exército Vermelho Chinês”].
que fecha, ante todo, o caminho face as massas e impede a realizaçom
dumha verdadeira política bolchevique de massas. Queremos reforçar, por
todos os meios, a luita contra todas as manifestaçons concretas do opor-
tunismo de direita, tendo presente que o perigo, que aponta deste lado,
crescerá precisamente ao levar à prática a nossa política e a nossa luita
de massas.
GIORGI DIMITROV

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

O fascismo é a guerra
[18 de julho de 1937]

GIORGI DIMITROV

Quando há dous anos, em agosto de 1935 o VII Congresso da Internacional fam a guerra ao povo espanhol , à vista do mundo inteiro. E, depois de ter
Comunista analisava a situaçom internacional, procurando os caminhos anexado a Manchúria, as tropas fascistas japonesas voltam a atacar o povo
e os meios para a luita da classe obreira contra a ofensiva do fascismo, chinês e sostenhem já no Norte de China umha nova guerra.
assinalou o nexo indisolúvel que existe entre a luita contra o fascismo e
a luita pola paz. O fascismo é a guerra, declarou o Congresso. O fascismo, Manchuria, Abisínia, Espanha, o Norte de China som outras tantas etapas
depois de subir ao poder, contra a vontade e os interesses do seu próprio cara à nova guerra de rapina do fascismo. Nom se trata de casos isolados.
povo, busca umha saída às dificuldades internas, cada vez maiores, que o Os agressores fascistas e os incendiários da guerra formam um bloco: Ber-
acossam, na agressom contra outros países e povos, num novo reparto do lim-Roma-Tokio. O tratado “anti-Komitern” germano-japonês -que é, como
mundo, mediante a precipitaçom da guerra mundial. é sabido, de facto, um tratado de caráter militar, ao que se tem aderido
também Mussolini- aplica-se já na prática. Sob a bandeira da luita contra o
A paz é, para o fascismo, o afundimento certo. O mantimento da paz inter- Komitern, contra o “perigo vermelho”, os conquistadores alemans, italianos
nacional dá às massas escravizadas dos países fascistas a possibilidade e japoneses esforçam-se por ocupar, mediante guerras parciais, posiçons
de acumular forças e preparar-se para derruvar a odiada ditadura fascista militares estratégicas, nós de comunicaçons terrestres e marítimas e fon-
e permite ao proletariado internacional ganhar tempo para lograr a unidade tes de materias primas para a indústria de armamentos que lhes permitam
das suas fileiras, para estabelecer a frente comum dos partidários da paz e precipitar a nova guerra imperialista. Nom há que se enganar, esperando
para levantar umha barreira infranqueável contra a precipitaçom da guerra. a declaraçom formal de guerra, sem ver que a guerra está já aí. Na sua
entrevista com Roy Howard, em março de 1936, dizia o camarada Stalin.
Quando o VII Congresso caraterizou o fascismo como promotor da guerra, “A guerra pode estourar em qualquer momento. Hoje, as guerras nom se
GIORGI DIMITROV

assinalando o perigo crescente dumha nova guerra imperialista e a neces- declaram. Começam, simplesmente”.
sidade de criar umha potente frente única de luita contra o fascismo, houvo
nom pouca gente, mesmo dentro do movimento operário, que nom se re- Os acontecimentos destes últimos anos confirmam de jeito palpável a ver-
catou em dizer que nós, os comunistas, assignavamos ao fascismo esse dade desta tese. O Japom rompeu as hostilidades contra a China e anexou
papel e exageravamos o perigo dumha guerra, simplesmente, porque assim a Manchúria sem umha declaraçom oficial de guerra; Itália nom declarou a
convinha aos nossos designios de propaganda. Uns faziam-no consciente- guerra ao povo abisínio para atacá-lo e anexar o seu território. A Alemanha e
mente em interessse das classes dominantes, outros, porque a sua miopia Itália pelejam contra a República Espanhola, sem ter-lhe declarado a guerra.
política nom lhes permitía ver mais além. Mas os dous anos decorridos
desde entom tenhem demostrado com suficiente eloquência quanto de ab- Sabido é que os povos nom querem a guerra e que umha série de Estados
surdas eram esas imputaçons. Hoje, tanto os amigos, como os inimigos da nom fascistas estám interessados, dentro das condiçons atuais, no man-
paz falam já abertamente do perigo iminente dumha nova guerra mundial. E timento da paz. Em que baseiam, entom, os seus cálculos os promotores
ninguém, que esteja no seu juízo, duvida também nom que os promotores fascistas da guerra? Todas as experiências, que hoje possuimos, depois da
da guerra som precisamente os governos fascistas. Nalguns países, a gue- campanha de conquista da pandilha militar japonesa contra a Manchúria e
rra é umha realidade. Há já um ano que os invasores italianos e alemáns do fascismo italiano contra Etiopia, indicam inequivocamente que o bloco

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

dos bandoleiros, formado polos usurpadores do poder na Alemanha, o Ja- nom podemos dizer o mesmo no que aos países de democracia burguesa
pom e Itália, aspira, para levar a cabo os seus planos de guerra, ao seguinte; se refire. Aqui, encontramo -como o demostra claramente o exemplo de
Espanha e China-, com que os elementos dirigentes dos Estados ocidentais
Primeiro, impedir umha atuaçom conjunta dos Estados interessados no nom fascistas mais importantes favorecem, direta ou indiretamente, as
mantimento da paz. intençons do bloco fascista.
Segundo, evitar que se estabeleça a unidade de açom do movimento ope- Acaso nom foi favorecer os incendiários fascistas da guerra o tolerar que
rário internacional, que se forme umha potente frente única mundial contra os militaristas japoneses anexassem Manchúria? Acaso nom foi esporear
o fascismo e a guerra. o agressor fascista o facto de nom opor umha resistência decidida à san-
grenta campanha de Mussolini contra o povo abisínio? Acaso toda essa
Terceiro, fomentar o trabalho de sapa dos espions e agentes sabotadores na farsa da “nom intervençom” nos asuntos de Espanha, que se está a re-
Uniom Soviética, que é o baluarte mais importante da paz. presentar desde há já um ano, sob a direçom do governo inglês, acaso as
E nisto baseiam os seus cálculos, fundamentalmente, os fascistas. negociaçons que se estám a levar a cabo para o reconhecimento de Franco
como “potência beligerante” nom som, de facto, atos que alentam a guerra
E, com efeito, os agressores fascistas e incendiários da guerra trabalham dos Estados fascistas contra a República espanhola? Acaso essa atitude
com insistência e de mútuo acordo nestas três direçons. Pressionam os benevolente para com os cínicos conquistadores do Norte da China nom é o
Estados do Ocidente de Europa, ameaçando os seus interesses territoriais. estímulo mais indignante para a desenfreada pandilha militar japonesa, que
Preparam umha agressom contra a Uniom Soviética. Especulam largamen- pretende escravizar o grande povo chinês? Como os povos da Inglaterra,
te com a prudência dos elementos governantes de Inglaterra, França e os da França, dos Estados Unidos, os povos dos demais países nom fascis-
Estados Unidos. Com a proposta de chegar a um acordo entre si respeito do tas podem contemplar tranquilamente estes factos? Como podem tolerar
saqueio dos pequenos Estados, da Espanha e da China, tentam por todos que se siga esta conduta sistemática de condescendência e alento cara a
os meios de ganhar os favores dos conservadores ingleses e dumha série agressom fascista, que aplana aos incendiários fascistas dumha nova gue-
de personagens liberais e do Partido Laborista, para desligar a Inglaterra da rra mundial o caminho para os seus crimes monstruosos?
França e dos demais países democráticos
À luz destes factos, vê-se ainda mais claramente o enorme que é a res-
Apresentando perspetivas tentadoras do mesmo género, fam esforços ponsabilidade histórica que recai sobre os círculos e os dirigentes da In-
increíveis por chegar a um acordo com os reacionários franceses, sobre ternacional Operária Socialista e da Internacional Sindical de Amsterdam
a base de que a França renúncie ao pacto franco-soviético, com o qual que entorpecem obstinadamente o estabelecimento da unidade de açom
a Uniom Soviética se veria isolada. Os Estados fascistas abandonárom a do proletariado internacional, a aplicaçom dumha política internacional
Sociedade de Naçons com objeto de ter as maos livres para as suas agres- conjunta e coordenada contra os incendiários fascistas da guerra por parte
sons. das organizaçons do proletariado internacional e a formaçom dum podero-
so frente internacional da paz.
Intimidam os Estados fracos com ameaças dum ataque de fora e com a
organizaçom de conspiraçons e distúrbios dentro. Os incendiários fascistas Quando a pandilha militar japonesa anexou Manchúria, algumha gente,
da guerra utilizam os traidores e especialmente, os trotskistas, para umha que pretende desempenhar um papel no movimento operário, assegurou
labor de sapa e de desorganizaçom nas fileiras do movimento operário, para aos operários das suas organizaçons que a Manchúria ficava longe, que
fazer fracassar a Frente Popular na Espanha e na França. A recente tenta- aquela invasom nom afetava os interesses do movimento operário inter-
tiva de Barcelona tem demostrado bem claramente como os fascistas, que nacional. Quando as hordas militares fascistas de Mussolini esmagárom o
manejam os fios das organizaçons trotskistas, as utilizam para apunhalar povo abisínio, estas personalidades assegurárom que os acontecimentos
a Frente Popular polas costas. E os atos dos adversários da unidade do de Abisínia nom eram mais do que um conflito colonial de tipo local e que o
proletariado internacional nas fileiras da Segunda Internacional e da Uniom proletariado internacional nom tinha que meter-se no assunto.
Sindical Internacional som aproveitados também magnificamente polos
GIORGI DIMITROV

incendiários fascistas da guerra, que laboram diligentemente e recrutam E quando os agressores fascistas, envalentonados, atacárom a República
agentes por toda a parte. espanhola e acendérom a guerra na mesma Europa, os dirigentes da Se-
gunda Internacional, após longos meses de penosas vacilaçons, acedérom
A Uniom Soviética tem-se cruzado mais dumha vez no caminho dos planos a realizar umha reuniom conjunta com a delegaçom da Internacional Co-
bélicos dos agressores fascistas, com a sua política consequente e deci- munista em Annemasse. Mas nom para estabelecer praticamente a unida-
dida de paz. E pode-se afirmar, sem incorrer em nengumha exageraçom, de de açom das organizaçons obreiras internacionais, senom simplesmen-
que há já muito tempo que a humanidade se teria visto empurrada à mais te para reconhecer a conveniência de organizar açons conjuntas, “sempre
terrível das guerras, se a Uniom Soviética nom tivesse seguido a sua política que for possível”.
tenaz e inflexível de paz e se nom tivesse existido o seu glorioso Exército
Vermelho. Desde entom, a intervençom fascista em Espanha tem-se agravado con-
sideravelmente. E agora, a nova agressom da pandilha militar japonesa no
Mas, se os agressores fascistas tropeçam com a devida resistência por Norte da China pretende, segundo os desígnios do Japom, criar um segun-
parte da Uniom Soviética, que ao proceder assim, nom obra só em interesse do Machúkuo e a base para seguir desenvolvendo os planos de conquista
do povo soviético, senom no interesse de toda a humanidade trabalhadora, contra a China.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Nom é evidente que, nestes momentos, em que o povo espanhol concentra A correlaçom entre as forças da guerra e as forças da paz no ano 1937 nom
todas as suas forças para rejeitar a agressom dos invasores fascistas e em é a mesma que no ano 1914. Desde entom, tenhem-se operado mudanças
que o povo chinês se levanta contra a pandilha militar japonesa, que invade históricas muito grandes, de alcance mundial. Em 1914, os imperialistas
o seu país, as organizaçons operárias internacionais deveriam unir, por fim, lográrom empurrar milhons de homes ao inferno da matança mundial, en
os seus esforços e atuar decididamente e com toda energia e decisom em circunstáncias, em que nom existia um potente Estado proletário com o seu
defesa da paz internacional? Exército Vermelho, em que nom havia umha Frente Popular na França e em
Espanha, em que o povo chinês nom estava em condiçonsde defender a sua
Hoje, a situaçom está definida assim: manter a paz internacional significa, independência nacional, em que as massas populares nom tinham a expe-
ante todo, conseguir a derrota dos conquistadores fascistas em Espanha e riência da guerra imperialista e da Grande Revoluçom Proletária, em que a
na China. Há que lhes dar umha boa liçom, há que lhes fazer perceber que classe operária internacional nom contava ainda com umha organizaçom
o proletariado internacional e toda a humanidade progressista e civilizada mundial como a Internacional Comunista.
nom tolerarám as suas usurpaçons e estám dispostos a fazer quanto seja
necessário para que nom prosperem os seus planos criminais de desenca- O movimento operário internacional dispom de forças e meios suficientes
denar umha nova guerra mundial. para lograr que cesse a intervençom do fascismo alemám e italiano em Es-
panha, que se ponha fim à campanha de rapina da pandilha militar japonesa
É que a Internacional Operária Socialista e a Uniom Sindical Internacional na China e se assegure a paz internacional.
vam continuar, apesar de todo o que ocorre, contentando-se com fazer de-
claraçons e protestas verbais em favor da paz, mas evitando de facto as Mas, para isto, é necessário que os meios e forças formidáveis do movi-
tam necessárias açons conjuntas de todas as organizaçons do movimento mento operário internacional se unam e se encaucem cara a luita eficaz e
operário internacional? Estas açons conjuntas das organizaçons operárias inquebrantável contra o fascismo e a guerra.
internacionais, dentro de cada país e no plano internacional, som as únicas,
que podem movilizar as forças da humanidade progressista na luita contra
a guerra, fechar o passo aos incendiários e influir assim mesmo na política
oficial dos Estados nom fascistas mais importantes, para pôr um freio aos
agressores fascistas desbocados.

Nom se pode advogar seriamente polo mantimento da paz internacional,


sem adoptar, ante todo, quantas medidas sejam necessárias para estabele-
cer a frente única da classe operária em cada país e a unidade de açom das
organizaçons operárias internacionais. Nom se pode luitar seriamente pola
paz, sem mobilizar todas as forças do movimento operário e das grandes
massas populares, para lograr que os invasores fascistas sejam expulsos
quanto antes do solo de Espanha e de China.

GIORGI DIMITROV

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Bonapartismo, fascismo e guerra


[publicado em Fourth International nº 5, outubro de 1940]

LEON TROTSKI

No seu mui pretencioso, confuso e estúpido artigo [“Defensa Nacional: o A agudeza da crise social surge de facto de que com a concentraçom dos
caso do socialismo”, Partisan Review, julho-agosto de 1940], Dwight Mac- meios de produçom, é dizer, o monopólio dos trusts, a ley do valor, o mer-
donald trata de atribuir-nos a opiniom de que o fascismo é, simplesmente, cado já nom é capaz de regular as relaçons económicas. A intervençom
umha repetiçom do bonapartismo. Teria resultado difícil inventar maior estatal converte-se numha necessidade absoluta [...]
disparate. Temos analisado o fascismo no seu desenvolvimento, a través
das suas distintas etapas, e pugemos no primeiro plano um ou outro dos A guerra atual, como o manifestamos em mais dumha ocasiom, é umha
seus aspetos. Há um elemento de bonapartismo no fascismo. Sem este continuaçom da última guerra. Mas umha continuaçom nom significa umha
elemento, a saber, sem a elevaçom do poder estatal por cima da sociedade repetiçom. Como regra geral, umha continuaçom significa um desenvolvi-
devido a umha extrema agudizaçom da lucita de classes, o fascismo teria mento, umha aprofundizaçom, umha agudizaçom.
sido impossível. Mas assinalamos desde o início mesmo que se tratava
A nossa política, a política do proletariado revolucionário, face a segunda
fundamentalmente do bonapartismo da época da declinaçom imperialista,
guerra imperialista é umha continuaçom da política elaborada durante a
que é qualitativamente diferente do da época de auge da burguesia. Pos-
guerra imperialista anterior, fundamentalmente sob a conduçom de Leni-
teriormente diferenciamos o bonapartismo puro como prólogo de um regi-
ne. Mas umha continuaçom nom significa umha repetiçom. Tambén neste
me fascista. Porque no caso do bonapartismo puro o governo do monarca
caso, umha continuaçom significa um desenvolvimento, umha aprofundiza-
aproxima-se [...]
çom e umha agudizaçom.
Os ministros de Brüening, Schleicher, a presidência de Hindenburg na
Durante a guerra passada nom só o proletariado no seu conjunto senom
Alemanha1, o governo de Petain na França, resultárom, ou devem resultar,
também a sua vanguarda e, em certo sentido, a vanguarda da vanguardia,
inestáveis. Na época do declínio do imperialismo um bonapartismo pura-
fôrom apanhados desprevenidos. A elaboraçom dos princípios da política
mente bonapartista é completamente inadequado; ao imperialismo fai-se-
LEÓN TROTSKI

revolucionária face a guerra iniciou quando já tinha estalado plenamente e a


-lhe indispensável movilizar a pequena burguesia e esmagar o proletariado
maquinária militar exercia um domínio ilimitado. Un ano depois do estalido
com o seu peso. O imperialismo é capaz de cumprir esta tarefa só em caso
da guerra, a pequena minoria revolucionária estivo ainda obrigada a acomo-
de que o próprio proletariado revele a sua incapacidade para conquistar o
dar-se a umha maioria centrista na conferência de Zimmerwald2. Antes da
poder, enquanto a crise social levou ao paroxismo a pequena burguesia.
Revoluçom de Feveriero, e inclusive depois, os elementos revolucionários
1Heinrich Brüening [1885-1970] foi chanceler da Alemanha de 1930 a 1932. Carecia de maioria no Reichstag e governava por decreto. 
Kurt von Schleicher [1882-1934] foi um burocrata militar alemám que ocupou a responsabilidade de chanceler desde dezembro de 1932 até janeiro de 1933, quando foi reempraçado por
Hitler. Foi umha das vítimas da sangrenta purga nazi de junho de 1934. 
Paul von Hindenburg [1874-1934] foi presidente da Alemanha desde 1925 até 1934. Embora se apresentou como adversário dos nazis quando derrotou Hitler nas eleiçons de 1932, nomeou-
-no em 1933.
2 Zimmerwald, Suiça, foi o lugar onde reuniu, em setembro de 1915, umha conferência para reagrupar as correntes internacionalistas e antibelicistas que tinham sobrevivido à debacle da
Segunda Internacional. Embora a maioria dos participantes fossem centristas, foi um passo adiante na direçom para a nova Internacional. O manifesto de Zimmerwald contra a guerra, escrito
por Trotski, aparece em Leon Trotsky speaks, Pathfinder Press, 1972.

87
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

nom se sentírom competentes para aspirar ao poder, salvo a oposiçom te: a crise mais grave da sociedade capitalista; o aumento da radicalizaçom
de extrema izquierda. Até Lenine relegou a revoluçom socialista para um da classe obreira; o aumento da simpatia face a classe trabalhadora e um
futuro mais ou menos distante...3  Se assim olhava Lenine a situaçom no anelo de mudança de parte da pequena burguesia urbana e rural; a extrema
pensamos que haja necessidade de falar dos outros. confusom da grande burguesia; as suas covardes e traiçoeiras manobras
tendentes a evitar o clímax revolucionário; o esgotamento do proletaria-
Esta posiçom política da ala de extrema esquerda exprimia-se graficamen- do; confusom e indiferença crescentes; o agravamento da crise social; a
te na questom da defesa da pátria. desesperaçom da pequena burguesia, o seu anelo de mudança; a neurose
coletiva da pequena burguesia, a sua rapidez para acreditar em milagres; a
Em 1915 Lenine referiu-se nos seus escritos às guerras revolucionárias
sua disposiçom para as medidas violentas; o aumento da hostilidade face
que teria que empreender o proletariado vitorioso. Mas tratava-se dumha
o proletariado que tem defraudado as suas expetativas. Estas som as pre-
perspetiva histórica indefinida e nom dumha tarefa para amanhá. A aten-
missas para a formaçom de um partido fascista e a sua vitória.
çom da ala revolucionária estava centrada na questom da defesa da pátria
capitalista. Os revolucionários replicavam naturalmente de forma negativa É evidente que a radicalizaçom da classe obreira nos Estados
a esta pergunta. Era completamente correto. Mas enquanto esta resposta Unidos passou só polas suas fases iniciais, quase exclusivamente na esfera
puramente negativa servia de base para a propaganda e o adestramento do movimento sindical [a CIO]. O período de preguerra, e depois a própria
dos quadros, nom podia ganhar as massas, que nom desejavam um con- guerra, pode interrumpir temporariamente este processo de radicalizaçom,
quistador estrangeiro. especialmente se um número considerável de trabalhadores é absorbido
pola indústria bélica. Mas esta interruçom do processo de radicalizaçom
Na Rússia, antes da guerra, os bolcheviques constituiam as quatro quintas
nom pode ser de longa duraçom. A segunda etapa da radicalizaçom assu-
partes da vanguarda proletária, isto é, dos obreiros que participavam na
mirá um caráter expressivo muito mais marcado. O problema de formar um
vida política [jornais, eleiçons, etcétera].
partido obreiro independente passará à ordem do dia.
Após a Revoluçom de Fevereiro o controlo ilimitado passou a maos dos
As nossas demandas transicionais ganharám grande popularidade. Por ou-
defensistas, os mencheviques e os eseristas4.  Certo é que os bolcheviques,
tra parte, as tendências fascistas, reacionárias, repregaram-se, ficarám à
no lapso de oito meses, conquistárom a abrumadora maioria dos obreiros.
defensiva, aguardando um momento mais favorável. Esta é a perspetiva
Mas o papel decisivo nesta conquista nom o jogou a negativa a defender a
mais próxima. Nada é mais indigno que especular em se teremos êxito ou
pátria burguesa senom a palavra de ordem “Todo o poder aos sovietes!” E
nom em criar um poderoso partido revolucionário líder. Há umha perspetiva
só esta palavra de ordem revolucionária! A crítica ao imperialismo, ao mi-
favorável à vista, que justifica o ativismo revolucionário. É necessário utili-
litarismo, o repúdio à defesa da democracia burguesa, etcétera, pudo nom
zar as oportunidades que se oferecem e construir o partido revolucionário.
ter levado jamais a maioria abrumadora do povo ao lado dos bolcheviques...
A Segunda Guerra Mundial formula o problema da mudança de regime mais
Na medida em que o proletariado se mostre incapaz, num momento deter-
imperiosamente, mais urgentemente que na primeira guerra. Trata-se ante
minado, de conquistar o poder, o imperialismo começa a regular a vida eco-
todo do regime político. Os trabalhadores estám enteirados de que a demo-
nómica com os seus próprios métodos; é o mecanismo político, o partido
cracia naufraga em todas partes e que o fascismo ameaça-os inclusive na-
fascista que se converte no poder estatal. As forças produtivas acham-se
queles países onde ainda nom existe. A burguesia dos países democráticos
em irreconciliável contradiçom nom só com a propriedade privada senom
utilizará naturalmente este temor polo fascismo que sentem os obreiros,
também com os limites estatais nacionais. O imperialismo é a expressom
mas, por outra parte, a bancarrota das democracias, o seu colapso, a sua
desta contradiçom. O capitalismo imperialista busca solucionar esta con-
indolora transformaçom em ditaduras reacionárias, obriga os trabalhadores
tradiçom através da extensom das fronteiras, a conquista de novos territó-
a formular o problema do poder e a fazer-se sensíveis à formulaçom da
rios, etcétera. O estado totalitário, subordinando todos os aspetos da vida
questom.
económica, política e cultural ao capital financieiro, é o instrumento para
criar um estado supranacionalista, um impêrio imperialista, o domínio dos A reaçom emprega hoje em dia um poder tal como quiçais jamais tivo antes
continentes, o domínío do mundo inteiro. na história moderna da humanidade. Mas seria um desatino inexcusável ver
LEON TROTSKI

só a reaçom. O processo histórico é contraditório. Sob a envoltura da rea-


Temos analisado todos estes rasgos do fascismo, cada um por si mesmo e
çom oficial están acontecendo profundos processos entre as massas, que
todos eles na sua totalidade, na medida en que se manifestárom ou apare-
acumulam experiência e fam-se recetivas a novas perspetivas políticas. A
cérom em primeiro plano.
velha tradiçom conservadora do estado democrático, que foi tam poderosa
Tanto a análise teórica como a rica experiência histórica do último quartel inclusive durante a era da última guerra imperialista, existe na atualidade
de século demostrárom com igual força que o fascismo é em cada oportu- só como umha supervivência extremadamente inestável. Na véspera da
nidade o elo final de um ciclo político específico que se compom do seguin- última guerra os trabalhadores europeus tinham partidos numericamente
3 Várias citas de Lenine durante esse período ajustam-se a esta descriçom. Escolhemos duas: “É possível, porém, que passem cinco, dez, e inclusive mais anos antes do início da revoluçom
socialista’ [Artigo de março de 1916, Lenine, Obras Completas, Vol. XIX, pág. 45, terceira ediçom russa). “Nós, os velhos, nom viviremos quiçais o suficiente para ver as batalhas decisivas da
revolución inminente” (informe sobre a revoluçom de 1905 entregado aos estudantes suiços, janeiro de 1917, íbidem, pág. 357].
4 O Partido Socialista Revolucionário foi fundado na Rússia no ano 1900, emergendo nos anos 1901-1902 como expressom política de todas as correntes populistas anteriores; tinha a
maior influência de todas as forças políticas entre o campesinhado antes da revoluçom de 1917. A sua ala direita foi conduzida por Kerenski com posterioridade à revoluçom desse ano.

88
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

poderosos. Mas o que estava na ordem do dia eram reformas e conquistas Além, o conselho de redaçom de  New Republic  descarta o exemplo da
parciais, nom a conquista do poder. democracia de Kerenski na Rússia soviética e por que nom pudo resistir
a prova das contradiçons de classe cedendo o passo a umha perspetiva
A classe obreira norteamericana ainda hoje em dia nom conta com um revolucionária. O jornal escreve sabiamente:
partido obreiro de massas. Mas a situaçom objetiva e a experiência acu-
mulada polos obreiros norteamericanos pode formular em mui breve prazo “A debilidade de Kerenski foi um acidente histórico, que Trotski nom pode
a questom da conquista do poder. Esta perspetiva deve ser a base da nossa admitir porque nom há lugar no seu esquema mecanicista para tal cousa”.
agitaçom. Nom se trata só dumha posiçom sobre o militarismo capitalista e
de renunciar à defesa do estado burgués, senom de preparar-se diretamen- O mesmo que Dwight Macdonald, New Republic acusa os marxistas de ser
te para a conquista do poder e a defesa da pátria proletária. incapaces de entender a história em forma realista por mor na sua focagem
mecanicista e ortodoxa dos feitos políticos. New Republic era da opiniom
Nom podem aparecer os stalinistas à cabeça de um novo ascenso revolu- de que o fascismo é o produto do atraso do capitalismo e nom da sua ex-
cionário e arruinar a revoluçom como figérom em Espanha e previamente cessiva madurez. Em opiniom desse jornal [opiniom que, repito, foi a da
na China? Nom corresponde, por suposto, descartar tal possibilidade, por abrumadora maioria dos filisteus democráticos], o fascismo é o destino que
exemplo na França. A primeira onda da revoluçom, a miúdo, ou mais cor- espera a países burgueses atrasados.
retamente sempre, levou à cima os partidos de “esquerda” que se enge-
nhárom para nom desacreditar-se completamente no período precedente O sábio conselho de redaçom nom se tomou sequer a moléstia de pensar
e que tenhem umha tremenda tradiçom política detrás deles. Assim, a Re- por que era conviçom universal no século XIX que as democracias atrasadas
voluçom de Fevereiro elevou ao poder os mencheviques e os eseristas, que devem desenvolver-se polo caminho da democracia. Em todo caso, nos ve-
até a véspera eram adversários da revoluçom. Assim, a revoluçom alemá lhos países capitalistas a democracia sentou os seus reais num momento
de novembro de 1918 levou o poder aos social-democratas, que eran os em que o nível do seu desenvolvimento económico nom estava por cima
adversários irreconciliáveis dos alçamentos revolucionários. senom por baixo da Itália moderna. E o que é mais, nesse entom a demo-
cracia representava o principal caminho do desenvolvimento histórico que
Doze anos atrás Trotski escreveu num artigo publicado por New Republic: tinham tomado todos os países, um após outro, os atrasados seguindo os
mais avançados e a vezes precedendo-os.
“Nengumha outra época da história do homem estivo tam cheia de antago-
nismos como a nossa. Pola tensom de classe demasiado alta e os antago- A nossa era, polo contrário, é a era do colapso da democracia. Além, o colap-
nismos internacionais, as chaves de segurança da democracia fundem-se so inícia com os elos mais fracos mas gradualmente extende-se a aqueles
ou se rompem. Esta é a essência do cortocircuito da ditadura. Os primeiros que pareciam fortes e inexpugnáveis. Deste modo a ortodoxia ou o mecani-
em ceder som, por suposto, os interrutores mais fracos. Os antagonismos cismo, é dizer, a focagem marxista dos factos, possibilitava-nos pronosticar
internos e mundiais, porém, nom diminuírom senom que aumentam. É o curso dos processos com muitos anos de antecipaçom. Polo contrário, a
duvidoso que se vaiam apaciguar, dado que até agora o processo só se focagem realista do New Republic era o de um gatinho cego. New Repu-
tem apoderado da periferia do mundo capitalista. A gota começa no dedo blic continuou com a sua atitude crítica perante o marxismo caindo sob a
polegar, mas umha vez que tem começado chega ao coraçom”. [“Por onde influência da mais repugnante caricatura do marxismo, é dizer, o stalinismo
Rússia?”, New Republic, 22 de maio de 1929.]
Muitos dos filisteus da nova colheita basam os seus ataques ao marxismo
Isto escreveu no momento no que a democracia burguesa de cada país no facto de que, contra o pronóstico de Marx, veu o fascismo na vez do
pensava que o fascismo só era possível nos países atrasados que ainda socialismo.
nom se tinham graduado na escola da democracia. O conselho de redaçom
de New Republic, que por entom nom tinha sido favorecido com as bençons
da GPU, acompanhou o artigo de Trotski com um próprio, tam caraterístico
Nada é mais vulgar e estúpido que esta crítica. Marx demonstrou e provou
do filisteu norteamericano promédio que citaremos as sus passagens mais
que quando o capitalismo chega a um certo nível a única saída para a socie-
interessantes.
dade reside na socializaçom dos meios de produçom, é dizer, o socialismo.
LEON TROTSKI

“Em vista das suas desventuras pessoais, o exilado dirigente russo mostra Também demonstrou que a vista da estrutura de classe da sociedade só o
um notável poder de análise detalhista; mas este detalhismo é próprio do proletariado é capaz de solucionar esta tarefa numha irreconciliável luita
marxista rígido, e parece-nos que carece dumha visom realista da histó- revolucionária contra a burguesia. Também demostrou que para o cum-
ria, precisamente aquele do que mais se enorgulhece. O seu conceito de primento desta tarefa o proletariado necessita um partido revolucionário.
que a democracia é umha forma de governo para os bons tempos, incapaz
Marx durante toda a sua vida, e Engels junto com ele e depois de ele, e
de resistir as trevoadas da controversia doméstica ou internacional, pode
depois Lenine, empreendérom umha batalha irreconciliável contra esses
apoiar-se [como mesmo admite em parte] só tomando como exemplos
rasgos dos partidos proletários que obstruiam a soluçom da tarefa revolu-
países onde a democracia nom está mais que nos seus fracos inícios, e
cionária histórica. A luita sem quartel levada a cabo por Marx, Engels e Leni-
países, além, nos que apenas começou a revoluçom industrial”.
ne contra o oportunismo por um lado, e o anarquismo polo outro, demostra
que eles nom subestimavam em absoluto este perigo. Em que consistia?

89
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Em que o oportunismo das cúpulas da classe obreira, sujeitas à influência democracias e da segurança coletiva, depois da súbita passagem de Stalin
burguesa, pudesse obstruir, frear, fazer mais difícil, pospor o cumprimento ao bando de Hitler, a classe obreira francesa foi apanhada desprevenida.
da tarefa revolucionária do proletariado. A guerra provocou umha terrível desorientaçom e o estado de derrotismo
passivo, ou para dizé-lo mais corretamente, a indiferença de um impasse.
É precisamente esta condiçom da sociedade que estamos observando ago- Desta maranha de circunstáncias surgiu a catástrofe militar sem preceden-
ra. O fascismo nom veu em absoluto “na vez” de socialismo. O fascismo é a tes e logo o despreciável regime de Petain.
continuaçom do capitalismo, umha tentativa de perpetuar a sua existência
utilizando as medidas mais bestiais e monstruosas. O capitalismo tivo a Precisamente porque o regime de Petain é bonapartismo senil nom contem
oportunidade de recorrer ao fascismo só porque o proletariado nom levou nengum elemento de estabilidade e pode ser derrubado muito mais antes
a cabo no seu momento a revoluçom socialista. O proletariado paralisou- que um regime fascista por um levantamento revolucionário maciço.
-se no cumprimento desta tarefa pola atitude dos partidos oportunistas. O
único que se pode dizer é que resultou que havia mais obstáculos, Em toda discusom sobre tópicos políticos aparecem invariavelmente as
mais dificuldades, mais etapas no caminho do processo revolucionário do perguntas: poderemos criar um forte partido para o momento em que che-
proletariado que o que previam os fundadores do socialismo científico. O gue a crise? Nom poderia o fascismo anticipar-se a nós? É inevitável umha
fascismo e a série de guerras imperialistas constituem a terrível escola na etapa fascista no processo? Os êxitos do fascismo fam perder facilmente
que o proletariado tem que libertar-se das tradiçons e superstiçons peque- toda perspetiva, conduzem a esquecer as verdadeiras condiçons que figé-
no-burguesas, dos partidos oportunistas, democráticos e aventureiros, tem rom posíveis o seu fortalecimento e triunfo. Porém, umha clara compreen-
que trabalhar com afinco e adestrar a vanguarda revolucionária, e desta som destas condiçons é de especial importáncia para os trabalhadores dos
maneira preparar-se para cumprir a tarefa sem a qual nom há nem pode Estados Unidos. Podemos anunciá-lo como umha lei histórica: o fascismo
haver salvaçom para a humanidade. pudo triunfar só naqueles países onde os partidos obreiros conservadores
impedírom ao proletariado utilizar a situaçom revolucionária para tomar o
Eastman chegou à conclusom de que a concentraçom dos meios de pro- poder. Na Alemanha houvo duas situaçons revolucionárias: 1918-1919 e
duçom nas maos do estado pom em perigo a sua “liberdade”, e decidiu, por 1923-19246. Inclusive em 1929 ainda era possível umha luita direta polo
isso, renunciar ao socialismo5.  poder por parte do proletariado. Nos três casos a social-democracia e a
Komintern desbarátarom criminalmente a conquista do poder e colocáron
Esta anedota merece ser incluida num volume sobre história da ideologia. portanto a sociedade num impasse. Só nestas condiçons e nesta situaçom
A socializaçom dos meios de produçom é a única soluçom ao problema resultárom posíveis o tormentoso ascenso do fascismo e a sua conquista
económico numha etapa determinada do desenvolvimento da humanidade. do poder.
A demora em solucionar este problema conduz à barbárie fascista. Todas as
soluçons intermédias empreendidas pola burguesia com ajuda da pequena Nota de Rebeliom Popular Ediçons: este texto foi redigido, pronunciado e gravado
burguesia sofrérom um fracaso miserável e vergonhento. Todo isto é se- via ditafono, por León Trotski 20 de agosto de 1940, o mesmo dia no que foi as-
cundário para Eastman. Ele dá-se conta que a sua “liberdade” [liberdade de sassinado.
confundir, liberdade de permanecer indiferente, liberdade de ser passivo, de
diletantismo literário] estava sendo ameaçada desde vários flancos, e de-
cidiu imediatamente aplicar a sua própria medida: renunciar ao socialismo.
Surpreendentemente esta decisom nom exerceu nengumha influência em  
Wall Street nem nos sindicatos. A vida seguiu o seu próprio caminho como
se Max Eastman seguisse sendo socialista [...]

Na França nom há fascismo no sentido real do termo. O regime do senil


marechal Petain representa umha forma senil de bonapartismo da época de
declinaçom imperialista. Mas este regime também se demonstrou possível
só após que a prolongada radicalizaçom da classe obreira francesa, que
LEON TROTSKI

conduziu à explossom de junho de 1936, falhou em encontrar umha saída


revolucionária. A Segunda Internacional e a Terceira, a reacionária char-
lataneria das “frentes populares”, enganárom e desmoralizárom a classe
obreira. Despois de cinco anos de propaganda a favor dumha aliança das
5 Max Eastman [1883-1969] foi um dos primeiros simpatizantes da Oposiçom de Esquerda e tradutor de vários dos livros de Trotski. Ao seu rejeitamento do materialismo dialético na década
de 20 seguiu-lhe o rejeitamento do socialismo a finais da década de 30. Transformou-se em anticomunista e diretor do Reader’s Digest.
6 Quando se fijo evidente a derrota da Alemanha na primeira guerra mundial, um amotinamento naval nesse país converteu-se num movimento revolucionário. 8 de novembro de 1918 procla-
mou-se em Munique a República Socialista de Bavária. Em Berlim, obreiros e soldados organizárom sovietes e umha delegaçom de social-democratas solicitou que o chanceler entregasse
o governo aos obreiros. O império germano caiu o dia seguinte. Hindenburg e o káiser Guilherme II fugírom a Holanda, e Ebert converteu-se em chefe de um governo provisório em Berlim,
que se compunha de três social-democratas e três membros do Partido Social Democrata Independente. Novamente em 1923 desenvolveu-se umha situaçom revolucionária na Alemanha
por mor da severa crise económica e a invasom francesa do Ruhr. A maioria da classe obreira alemá passou a apoiar o Partido Comunista. Mas a direçom do PC vacilou, perdeu umha opor-
tunidade excecionalmente favorável para conduzir a luita polo poder e permitiu aos capitalistas alemáns recobrar as suas posiçons antes de que finalizasse esse ano. A responsabilidade do
Kremlin por esta oportunidade desperdiciada foi um de los factores que conducírom à formaçom da Oposiçom de Esquerda russa a finais de 1923.

90
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

À volta da Frente Única Internacional Antifascista


[Instruçons internas do Partido Comunista da China,
redigidas em nome do Comité Central, 23 de junho de 1941]
MAO TSÉ-TUNG

22 de junho, os governantes fascistas da Alemanha atacárom a Uniom So- 2. Combater resoltamente toda atividade antisoviética e anticomunista dos
viética. Este pérfido e criminal ato de agressom está dirigido tanto contra elementos reacionários da grande burguesia.
a Uniom Soviética como contra a liberdade e independência de todas as
naçons. Com a sua sagrada guerra de resistência contra a agressom fascis- 3. Nas relaçons exteriores, unir-se contra o inimigo comum com todos
ta, a Uniom Soviética nom só se defende a si mesma, se nom que defende aqueles que na Inglaterra, nos Estados Unidos e outros países se oponham
também todas as naçons que luitam por libertar-se da escravidom fascista. aos governantes fascistas da Alemanha, Itália e o Japom. 

A tarefa atual dos comunistas, no mundo inteiro, é mobilizar os povos dos


diversos países a fim de organizar umha frente única internacional para
luitar contra o fascismo e em defesa da Uniom Soviética, da China e da
liberdade e indepêndencia de todas as naçons.

No presente período, todas as forças devem concentrar-se em combater a


escravidom fascista.

As tarefas do Partido Comunista da China, no país inteiro, som as seguintes:

Perseverar a frente única nacional antijaponesa, persistir na cooperaçom


entre o Kuomintang e o Partido Comunista e expulsar da China os imperia-
listas japoneses, ajudando assim a Uniom Soviética.
MAO TSÉ-TUNG

91
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Sobre o fascismo
[30 de janeiro de 1969]

ERNEST MANDEL

I mastered past] tenha diminuído um pouco nestes últimos anos, a teoria


do fascismo permanece um tema obcecante das ciências políticas e da
A história do fascismo é ao mesmo tempo a historia da análise teórica do sociologia política.
fascismo. A simultaneidade da aparição dum fenómeno social novo e das
tentativas feitas para compreendê-lo é mais evidente no caso do fascismo Para quem sabe quanto as pretensas ciências da história são determinadas
do que em qualquer outro exemplo da história moderna. socialmente, não é admirável comprovar que as tentativas de interpretação
da maior tragédia da história européia contemporânea contenham por ve-
Esta simultaneidade acha as suas origens no facto do aparecimento súbito zes muito mais de ideologia partidária do que de ciência2. Os factos dados,
deste novo fenómeno parecer vir a desviar o curso da história para o «pro- indiscutíveis, da própria realidade histórica contemporânea constituem ma-
gresso». O choque que os observadores atentos ressentiram foi ainda maior teriais a tratar cientificamente. Cada geração de investigadores em ciências
por esta modificação da história ser acompanhada polo exercício da violên- políticas e sociais herda a maior parte dos seus conceitos operatórios, por
cia física directa sobre os indivíduos. Destino histórico e destino individual meio dos quais organiza e reorganiza este material. Estes conceitos par-
tornaram-se, bruscamente, numa única e mesma cousa para milhares e, cialmente só são renovados e podem considerar-se, eles também, como
mais tarde, milhões de seres humanos. Não só os partidos políticos su- adquiridos. Mas os conceitos operatórios e o material não determinam
cumbiram, como a própria existência, a sobrevivência física, de importantes de modo nenhum a maneira pola qual estes instrumentos analíticos são
grupos humanos se tornou bruscamente problemática. aplicados ao material, nem os resultados a que conduz a sua aplicação.
Objectivamente, por exemplo, poder-se-ia caminhar em múltiplas direc-
Pode-se assim compreender porque é que aqueles que eram directamente
ções a partir do conceito de partido burocrático criado por Robert Michels
ERNEST MANDEL

atingidos se empenharam quase imediatamente em conseguir compreen-


ou do de «intelligentsia fluctuante» [floating intelligentsia] inventado por
der a situação em que se encontravam. A questão «o que é o fascismo?»
Mannheim. Mas o tratamento científico não caminha em todas estas di-
surgiu inevitavelmente das chamas da primeira Casa do Povo que os ban-
recções possíveis ao mesmo tempo, mas apenas numa ou algumas dentre
dos fascistas incendiaram na Itália. Durante quarenta anos [até ao período
elas. Além disso, a principal orientação da investigação sustenta geralmen-
do imediato após-guerra], esta questão tem fascinado tanto os principais
te concepções políticas particulares que reforçam a confiança de certas
teóricos do movimento obreiro como a intelligentsia burguesa. Ainda que
classes sociais em si próprias, reduzindo largamente, ao mesmo tempo, a
a pressão dos acontecimentos históricos e do «passado indómito»1  [un-
sua vulnerabilidade política e moral face aos ataques das classes sociais
1 O «passado indómito» está sem dúvida ligado ao facto de na Alemanha as relações sociais que tornaram possível a tomada do poder polos fascistas continuarem a existir. É impossível ir
às origens da barbárie fascista sem pôr a nu esta ligadura causal. Na medida em que a dominação do capital oeste-alemão, que foi restabelecida, é uma dominação de classe, não se pode
esperar da instituição escolar e universitária a exposição da suas raízes. Enquanto o passado não puder ser [ou não for] explicado de maneira exaustiva, não pode ser «domado».
2 As publicações mais recentes neste domínio são: o livro de Ernest NOLTE com mais de 500 páginas, Theorien ueber den Fascismus, Kiepenheuer und Witsch, Köln-Berlin, 1967; Wolfgang
ABENDROTH, Fascismus und Capitalismus, Europaeische Verlagsanstalt, Frankfurt, 1967; alguns textos de August Thalheimer, Otto Bauer, Herbert Marcuse, Arthur Rosenberg e Angelo Tasca
sobre a natureza do fascismo; Walter Z. LAQUEUR e George L. MOSSE, International Fascism - 1920-1945, Harper and Row publishers, New York, 1966.

93
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

que lhes são hostis. Assim, dificilmente podemos duvidar de que estamos as conseqüências objectivas da vitória do fascismo [especialmente na Ale-
em presença dum caminhar funcional, isto é, que a interpretação dominan- manha] manifestam-se, ainda hoje, em mais dum domínio4.
te dum dado acontecimento histórico assegura uma função específica nos
conflitos sociais em curso3.

Parece-nos ser, portanto, evidente, que dificilmente se pode explicar a apa- Não obstante, nada se produz em vão na história; todos os factos histó-
rição simultânea do fascismo e da análise teórica do fascismo apenas polo ricos têm resultados positivos em longo prazo. Apesar da teoria científica
facto de a realidade empírica ser duma urgência tão premente. Os teóricos do fascismo não ter tido nas massas uma influência suficiente para bar-
tentaram compreender a essência do fascismo não só por gostarem da rar a marcha triunfal dos bandos fascistas nos anos trinta e princípio dos
sociologia ou do saber científico em geral, mas também porque partiram da anos quarenta, ela é pertinente ainda hoje. Se os seus ensinamentos forem
hipótese, perfeitamente razoável e fácil de compreender, que quanto melhor assimilados, poderá esclarecer e explicar os novos fenómenos sociais do
compreendessem a natureza do fascismo, melhor o poderiam combater. após-guerra, preparar novos combates e evitar novas derrotas.

Assim, o crescimento paralelo do fascismo e da análise teórica do fascis-


mo implica necessariamente uma certa inconseqüência. O fascismo não
Não é, portanto, por acaso que o renascimento do marxismo criador na
deve o seu rápido crescimento durante vinte anos mais que ao facto da sua
Alemanha Ocidental [um renascimento, sobretudo, estimulado pola radica-
natureza real não ter sido correctamente compreendida, ao facto de faltar
lização massiva dos estudantes] tenha despertado o interesse pola teoria
aos seus adversários uma teoria científica do fascismo, ao facto da teoria
do fascismo. É por isso lógico que o primeiro volume das obras completas
dominante na época ser falsa ou incompleta.
de Leão Trotski a ser publicado na Alemanha Federal seja consagrado aos
Falamos em inconseqüência porque não pensamos que a vitória temporária seus escritos sobre o fascismo. Porque, dentre o pequeno número de teó-
do fascismo na Itália, na Alemanha e em Espanha foi o resultado de forças ricos que correctamente compreenderam a essência e a função do fascis-
cegas do destino, inacessíveis à acção dos homens e das classes sociais, mo, Trotski ocupa, indiscutivelmente, o primeiro lugar.
mas sobretudo o produto das relações económicas, políticas e ideológicas
entre as classes sociais do neo-capitalismo [late capitalism] que podem
ser compreendidas, medidas com precisão e dominadas. Partindo da hipó- Seria muito interessante, por exemplo, comparar as fases ascendentes e
tese que a vitória temporária do fascismo não era inevitável nem predes- de descendentes da popularidade da «teoria do totalitarismo» no Ocidente,
tinada, conlui-se que uma teoria correcta, esclarecedora deste fenómeno, com o fluxo e refluxo da guerra fria. Surpreenderia aí ver uma clara cor-
teria tornado a luita contra o fascismo muito mais fácil. relação, não só em longo prazo, mas também em muito curtas
conjunturas [como, por exemplo, o período de intensificação con-
A história do fascismo é, portanto, ao mesmo tempo, a história da inade-
juntural da guerra fria, que se estendeu desde a construção do muro de
quação da teoria dominante sobre o fascismo. Isto não significa, falando
Berlim até à crise de Cuba em 1962]. Podem-se submeter a uma análise
em geral, que a teoria inadequada sobre o fascismo fosse a única. Na
semelhante as teorias contrárias de «conciliação» [convergence theories].
periferia das forças políticas organizadas com uma audiência de massas,
encontrava-se uma intelligentsia cuja precisão na análise inspira espan-
to e admiração hoje. Estes teóricos compreenderam este fenómeno novo.
Bastante cedo, compreenderam o perigo que representava. Alertaram os II
seus contemporâneos e indicaram como vencer o monstro ameaçador.
Fizeram tudo o que era possível fazer no domínio da teoria. Mas a teoria
sozinha não pode fazer a história; para obter resultados deve apossar-se
A teoria do fascismo de Trotski é o produto do método marxista de aná-
nas massas. As burocracias que dirigiam as organizações de massas da
ERNEST MANDEL

lise da sociedade. Exprime duma maneira surpreendente a superioridade


classe obreira mantiveram as massas afastadas da teoria adequada do
deste método e dos resultados da sua aplicação em relação à pletora de
fascismo, da estratégia e da táctica eficazes para combatê-lo. O preço que
teorias históricas e sociais burguesas. Esta superioridade, principalmente
estes burocratas pagaram foi uma derrota histórica e, frequentemente, o
polo carácter «totalizante» do método marxista, comporta dous aspectos:
extermínio físico. O preço que a humanidade pagou foi incomparavelmente
primeiro, a tentativa de englobar todos os aspectos da actividade social tal
maior. Mesmo os sessenta milhões de mortos da Segunda Guerra Mundial
como estão ligados e coordenados estruturalmente uns com os outros. Em
apenas constituem uma parte do tributo pago pola humanidade, visto que
segundo lugar, o esforço em identificar, no interior deste todo composto
3 Seria muito interessante, por exemplo, comparar as fases ascendentes e de descendentes da popularidade da «teoria do totalitarismo» no Ocidente, com o fluxo e refluxo da guerra fria.
Surpreenderia aí ver uma clara correlação, não só em longo prazo, mas também em muito curtas conjunturas [como, por exemplo, o período de intensificação conjuntural da guerra fria, que se
estendeu desde a construção do muro de Berlim até à crise de Cuba em 1962]. Podem-se submeter a uma análise semelhante as teorias contrárias de «conciliação» [convergence theories].

4 As conseqüências para além de outras que se devem ter em conta para estabelecer este balanço são, por exemplo, os efeitos que teve a tomada do poder por Hitler na estabilização da
dominação estalinista na União Soviética e sobre os aspectos mais extremos da deformação burocrática que afectava a estrutura do Estado Soviético; ou os efeitos em longo prazo que
teve a iteracção do fascismo e do estalinismo sobre o desenvolvimento do movimento obreiro oeste-alemão e sobre as condições em que a construção do socialismo na Europa Oriental
se iniciou, e assim de seguido.

94
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

de relações em constante transformação, os elementos que o determinam, priedade privada dos meios de produção, a submissão dos trabalhadores,
isto é, distinguir as transformações que só se podem realizar por uma ex- obrigados a vender a sua força de trabalho sob a dominação do capital. A
plosão violenta da estrutura social existente. este respeito o balanço histórico parece-nos claro. Voltaremos mais tarde
a este assunto.

É chocante constatar a fraqueza de argumentos com que a maior parte


dos especialistas burgueses se debruçam sobre a questão de saber quanto Parece-nos também igualmente fraco o método que separa directamente
entre o político ou econômico tem a prioridade, questão que desempenha diferentes períodos de dominação hitleriana e opõe o «fascismo parcial»,
um papel importante no debate sobre a teoria do fascismo. Com um cuja característica principal reside no facto de o grande capital exercer di-
pedantismo laborioso, tentam interpretar tal ou tal outra acção do regime rectamente o seu poder sobre um importante domínio, ao «fascismo total»6.
hitleriano, pondo questões como: «Seria isso de interesse do grande Um método tal pressupõe não somente uma autonomia total da direcção
capital?», «Seria isto contrário aos desejos explícitos dos capitalistas?» política, como ainda e sobretudo a autonomia da economia de guerra em
Mas não põem a questão fundamental: as leis imanentes que regem o relação aos interesses das classes sociais. Com efeito, cada intervenção do
desenvolvimento do modo de produção capitalista eram realizadas ou governo de Hitler nas esferas económicas, nas quais o poder pertencia às
negadas por este regime?5 grandes sociedades, pode, em última análise, reduzir-se à lógica interna da
economia de guerra7.

A grande maioria da burguesia americana bradou à morte quando do New


Ninguém pôde demonstrar Nunca esta completa «autonomia» por parte
Deal de Roosevelt; e mesmo o Fair Deal de Truman provocou protestos
das camadas políticas dirigentes, o que é, aliás, impossível de demonstrar.
indignados contra o «socialismo crescente». Mas nenhum observador ob-
A guerra e a economia de guerra não caíram do céu, nem foram conseqü-
jectivo do desenvolvimento económico e social da América durante estes
ências naturais da ideologia fascista. Têm as suas raízes no mecanismo
trinta e cinco últimos anos negará hoje que a acumulação de capital pegou
preciso e específico das contradições económicas, dos conflitos imperia-
um pulo mais do que um recuo durante este período, que as grandes so-
listas e das tendências expansionistas que correspondem aos interesses
ciedades americanas se tornaram incomparavelmente mais ricas e mais
dos grupos capitalistas-monopolistas dominantes na sociedade burguesa
poderosas do que o eram nos anos vinte, que a vontade, da parte de outras
alemã. Além disso, a Primeira Guerra Mundial teve lugar, apesar de tudo,
classes sociais [especialmente da classe operária da indústria], em pôr fim
antes de Hitler e, após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da
no imediato, política e socialmente, à dominação destas sociedades é mais
América vivem num estado de armamento permanente8.
fraca hoje do que durante e imediatamente após a Grande Depressão. Da-
qui se conclui inevitavelmente que  Roosevelt  e  Truman  consolidaram a As raízes da economia de guerra alemã estão profundamente enterradas
dominação de classe da burguesia americana. Perante esta verdade, cha- no período pré-hitleriano9. Por conseguinte, não se deve considerar a eco-
mar Truman e Roosevelt «homens de Estado anti-capitalistas» não reflec- nomia de guerra e as suas leis de ferro como qualquer cousa oposta ao
te o resultado real, final das suas acções; polo contrário, isso revela uma capitalismo monopolista, mas antes como o próprio produto deste capi-
incapacidade certa para julgar os partidos e os governos segundo o que talismo monopolista. E, quando a economia de guerra, nos seus últimos
realmente fazem e não segundo o que dizem ou o que outros dizem deles. desenvolvimentos, começou a tomar formas que, tanto do ponto de vista da
classe capitalista no seu conjunto como do ponto de vista dos capitalistas
individuais, se revelaram extremamente irracionais, tais formas não eram
unicamente imputáveis ao regime nazi. Apenas exprimem, sob um aspecto
Deve aplicar-se um método semelhante na apreciação do fascismo. mais agudo, a irracionalidade inerente ao próprio modo de produção capi-
Que  Krupp  ou Thyssen considerem um ou outro aspecto da dominação talista, a combinação levada ao extremo, entre, a anarquia por um lado e a
planificação por outro e entre a socialização objectiva e apropriação privada
ERNEST MANDEL

hitleriana com entusiasmo, reserva ou antipatia não nos parece essencial.


Mas é essencial determinar se a ditadura de Hitler tendia a manter ou a -e a intensificação levada ao absurdo das relações sociais. Têm, finalmente,
destruir, se consolidava ou sapava as instituições sociais baseadas na pro- um núcleo muito real e racional10.
5 Ver, por exemplo, a discussão entre Tim MASON e Eberhard CZICHON em Das Argument, n.º 41 e n.º 47, Dezembro de 1966 e Julho de 1968. Infelizmente os marxistas mecanicistas cometem
erros semelhantes. Voltaremos mais tarde a este assunto de forma detalhada.
6 Ver Arthur SCHWEITZER, Big Business in the Third Reich, Indiana University Press, Bloomington, 1964. Tim Mason utiliza o mesmo conceito, energicamente rejeitado por Eberhard Czichon,
Dietrich Eicgholz, Kurt Gossweiler entre outros. Em Hitler´s Social Revolution, de David SCHEONBAUM, Weindenfeld and Nicholson, London, 1966, tem-se um exemplo típico duma tentativa
burguesa para explicar o Estado nazi como uma simples estrutura do poder político na qual a economia «tornada impotente», estaria completamente subordinada.
7 Ver a este respeito, Franz NEUMANN, Behemoth - The Structure and Practice of Nacional-Socialism, 1933-1944, Farrar, Straus e Giroux Inc., New York, 1963.
8 O último capítulo de The Accumulation of Capital de Rosa LUXEMBURG, Monthly Revue Press, New York, 1964, fornece o exemplo típico dum estudo preliminar das raízes económicas do
militarismo na época imperialista. Para estudos mais recentes, especialmente do imperialismo alemão e americano, ver, entre outros, Fred J. COOK, «Juggernant, The Warfare State», The
Nation, 20 de Outubro de 1961; Paul BARAN e Paul SWEEZY, Monopoly Capital, Monthly Revue Press, New York, 1966, cap. 7; Georges F. W. HALLGARTEN, Hitler, Reichswehr und Industrie,
Europaeische Verlagsanstalt, Frankfurt, 1955; também Harry MAGDOFF, The Age of Imperialism, Monthly Revue Press, New York, 1969.
9 Ver, entre outros, Wolfang BIRKENFELD, Geschichte der deutschen Wehr-und Ruestungswirtschaft, H. Bolot, Boppard a/R, 1966, em particular uma circular do general Thomas.
10 Temos utilizado o conceito de «reprodução reduzida» (contracted reproduction) para descrever a desacumulação crescente (destruição do capital) a que conduz uma economia de guerra,
uma vez que ultrapasse certo limite. Ver Ernest MANDEL, Marxist Economic Theory, Monthly Revue Press, New York, 1968, cap. 10.

95
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Assim como é incapaz de compreender a essência do fascismo isolando A tentativa de explicar o fascismo como produto de características particu-
um elemento particular -a autonomia da direcção política ou a «primazia lares de certos povos ou de certas raças ou, ainda, dum passado histórico
política»-, a ideologia burguesa mostra toda a sua fraqueza na sua inca- particular também não é válida metodologicamente. Passa-se da psico-
pacidade de integrar certas particularidades históricas do fascismo numa logia individual à psicologia nacional sem explicar os factores que, num
concepção total da sociedade. Para compreender a aparição do fascismo, sentido muito geral, permitiram a eclosão do fascismo.
Ernest Nolte atribui um grande valor ao conceito de «não-simultaneidade»
[unsimultaneity] da história que foi primeiro desenvolvido por Ernst Bloch, Nem o atraso histórico da Itália, nem a tradição militar prussiana da Ale-
isto é, a sobrevivência de velhas formas históricas na sociedade contempo- manha, nem a «necessidade de disciplina» ou o «temor da liberdade» po-
rânea. (Este conceito foi desenvolvido, polo menos duma forma rudimentar, dem explicar adequadamente a ascensão e a queda brusca do fascismo
por Labriola e Trotski antes ou independentemente de Bloch]11. É certo que entre 1920 e 1945. Estes argumentos são, além disso, frequentemente
as ideologias de períodos históricos anteriores, pré-capitalistas, corpora- contraditórios: enquanto que a Itália era relativamente retardatária, a
tivos (guild) e semi-feudais, desempenham um papel não desprezível na Alemanha era a nação mais industrializada do continente europeu. Se a
ideologia do fascismo e na psicologia de massas da pequena burguesia «tendência para a disciplina» era um dos traços dominantes do «carác-
desclasada, a qual constitui a base social dos movimentos de massas ter nacional alemão» (a sua origem pode-se encontrar na abolição tardia
fascista. Mas é claro que Nolte perpetua uma interpretação falsa quando da servidão na Prússia), quer dizer então da Itália que se contava entre
escreve: «Se [o fascismo] é uma expressão de “tendências militaristas e as nações mais «indisciplinadas» da Europa, e que não tinha quaisquer
arcaicas”, ele mergulha as suas raízes em qualquer cousa de único e irre- tradições militares? Enquanto causas e factores secundários, estes
dutível, na natureza humana. Não é um fruto do sistema capitalista, apesar elementos desempenharam, sem dúvida nenhuma, um determinado papel
de, nesta época, só poder surgir dos fundamentos do sistema capitalista, e conferiram ao fascismo em cada caso particular um carácter nacional
particularmente nos momentos em que este sistema está em perigo»12. específico que correspondia às particularidades históricas do capitalismo
monopolista e da pequena burguesia de cada país. Mas, na medida em que
A única conclusão que se pode tirar da primeira frase está resumida no se compreenda o fascismo como um fenômeno universal que não conhece
lugar comum que, se não houvesse «tendências agressivas» na natureza nenhuma fronteira geográfica e que tem enterrado as suas raízes em to-
humana, não haveria acções agressivas: sem agressividade, não há agres- dos os países imperialistas -onde pode reaparecer amanhã- as tentativas
sões ou, como o imortal Molière tem exprimido: «O ópio adormece os ho- para explicar, sublinhando uma ou outra particularidade nacional, são total-
mens porque tem virtudes dormitivas». Nolte não parece compreender que mente inadequadas13.
desta maneira de modo nenhum provou a segunda frase. Era preciso que
demonstrasse que nos «bons e velhos tempos», as tendências «militaristas A publicação das transcrições e dos dossiers do processo de Nurenberg
e arcaicas» teriam podido produzir formas de governo fascista ou fascizante veio dar uma importância extraordinária aos estudos detalhados em que
[fascist-like]. Infelizmente, nessa época, estas «tendências» conduziram às se consideram os diferentes grupos de interesses e os sectores do grande
guerras pola conquista dos mercados de escravos, às razias dos «povos capital que se combatem mutuamente como «pilares» muito particulares
pastores» (pastoral peoples) nas terras dos cultivadores, às guerras de cru- do fascismo. As maiorias destes documentos vieram confirmar o que já se
zadas, tudo cousas que têm tanto a ver com as características principais sabia por intuição ou por dedução teórica, ou seja, que a indústria pesada
do fascismo como uma casa de campo romana ou um lugarejo medieval estava muito mais interessada na tomada do poder por Hitler e no rearma-
tem a ver com uma fábrica moderna. Por conseguinte, o carácter específico mento do que a indústria ligeira, que «a organização» do capital judaico não
do fascismo não reside no facto de exprimir a «a agressividade enraizada desempenhou nenhum papel importante na economia alemã14, que o truste
na natureza humana» -pois isso foi já expresso em inumeráveis movimen- I. G. Farben desempenhou um papel particularmente agressivo e influente
tos históricos diferentes-, mas antes no facto de, sobre esta agressividade numa série de decisões econômicas e financeiras do regime hitleriano, e
aplicar uma forma particular, social, política e militar que nunca existiu an- assim por diante15.
teriormente. Em conseqüência, o fascismo é um produto do capitalismo
Mas não é propriamente necessárrabalhar com ardor numa rima de docu-
ERNEST MANDEL

monopolista e imperialista. Todas as outras tentativas para interpretar o


fascismo em termos puramente psicológicos estão enfermas da mesma mentos para ver que, na situação particular do capitalismo alemão de 1934,
fraqueza fundamental. os comerciantes de canhões, tanques e explosivos tiravam mais lucros do
Os exemplos fornecidos pola Grã-Bretanha e, sobretudo, polo Japão mostram que este fenômeno não existe, de modo nenhum, apenas nos Estados fascistas. O núcleo «racional» desta
irracionalidade encontra-se no facto de que as guerras imperialistas -como todas as outras- são conduzidas com a intenção de serem ganhas e, em certa medida, é compreensível que as
perdas de capital sejam mais que compensadas à custa do vencido.
11 E. NOLTE, op. cit., pp. 38, 54, etc.; Léon TROTSKY, What is Nacional Socialism?, P. 339.
12 E. NOLTE, op. cit., p. 21.
13 Ver os ensaios de René REMOND, La Droite em France de 1815 à nos jours, Aubier, Paris, 1963 e Jean PLUMÈNE e Raymond LASIERRA, Les Fascismes Français, 1923-1963, Le Seuil, Paris,
1963, que defendem este ponto de vista para França, Eugen WEBER, op. cit., defende uma tese semelhante, pág. 105, 123, etc. Desde 1928, que Daniel GUÉRIN evidenciou as características
fundamentais que partilham o fascismo alemão e italiano, apesar das particularidades nacionais, Fascism and Big Bussinnes, Pionner Publishers, New York, 1939.
14 As poucas modificações nas relações de propriedade durante o III.º Reich depois da tomada de poder e da introdução gradual de medidas anti-semitas, provam amplamente que o «grande
capital judeu» não passava duma legenda. Passa-se a mesma cousa hoje nos E.U.A. Ver, entre outros, Ferdinand LUNDBERG, The Rich and the Super Rich, Lyle Stuart, New York, 1968, pág.
297-306.
15 A este respeito as primeiras teorias marxistas são as de Otto BAUER, Zwischen zwei Weltkriegen?, Eugen Prager Verlag, Bratislava, 1936, pág. 136 e Daniel GUÉRIN, op. cit., pág. 27-53.
A obra de Guérin foi publicada em francês em 1938.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

rearmamento do que os fabricantes de roupas interiores, brinquedos ou na- contraditórios da realidade do fascismo e de identificar os factores que de-
valhas. No entanto, Nolte comete um erro típico quando declara: «[...], mas terminam ao mesmo tempo a integração e a desintegração (a ascensão e a
quando ele [Otto Bauer] distingue diferentes sectores da classe capitalista queda) destes elementos numa totalidade coerente.
com interesses essencialmente [?] antagônicos [isto é, a indústria dos bens
de consumo dependente das exportações, onde se insere a classe pacifista A superioridade metodológica do marxismo reside na sua capacidade em
dos rendeiros, oposta à da indústria pesada que se interessa nos benefícios integrar com sucesso os elementos analíticos contraditórios que reflectem
tirados do armamento], a distinção tradicional e vulgar entre classe diri- uma realidade social contraditória. A adesão ao marxismo não oferece ne-
gente e casta governante deixa de ter sentido e, em conseqüência, tudo o nhuma garantia dum tal sucesso na análise e veremos, infelizmente, mais
que se possa dizer do fascismo como órgão executivo do capital «enquanto do que um exemplo neste livro. Mas a contribuição de Trotski à teoria do
tal» não tem fundamento. A unidade económica assim construída em teo- fascismo mostra claramente que o marxismo torna possível tal análise.
ria dissolve-se na multiplicidade dos seus elementos históricos, e a única
II18
questão pertinente que resta é saber quais são os pressupostos a partir
dos quais esta multiplicidade aparece como uma unidade e precisamente A teoria do fascismo de Trotski apresenta-se como um todo de seis ele-
em que medida esta unidade pode perder a posição dominante que foi, sob mentos; cada elemento possui certa autonomia e experimenta uma evolu-
muitos aspectos, manifesta em muitos Estados da Europa durante cento e ção determinada em virtude das suas contradições internas; mas só podem
cinqüenta anos, mas não foi nunca ilimitada16». ser compreendidas como totalidade fechada e dinâmica, e só a sua conexão
recíproca pode explicar o ascenso, a vitória e a queda da ditadura fascista.
Toda a discussão gira em torno da palavra «essencialmente», e isso só pode
ser esclarecido por uma análise das principais características do modo de a) O ascenso do fascismo é a expressão da grave crise social do capitalismo
produção capitalista. Nem a maneira como é conduzida a política estran- na sua idade madura, duma crise estrutural que, como nos anos 1929-1933,
geira, nem a possibilidade de falar e escrever livremente cobre questões pode coincidir com uma crise econômica clássica de sobreprodução, mas
políticas ou de confiar o governo a representantes escolhidos directamente que ultrapassa amplamente uma simples flutuação de conjuntura. É funda-
pola classe dominante, são «essenciais» a este modo de produção ou à sua mentalmente uma crise de reprodução do capital, isto é, a impossibilidade
classe dominante. Tudo isso existiu em certas épocas da história da classe de continuar uma acumulação «natural» do capital dadas as condições de
burguesa, e não noutras — ou polo menos não à mesma escala. O que é concorrência no mercado mundial [nível dado de salários reais e de produti-
realmente essencial é a propriedade privada e a possibilidade de acumular vidade do trabalho, acesso às matérias-primas e aos mercados de produtos
o capital e de extrair a mais-valia. transformados]. A função histórica da tomada do poder polo fascismo é a
alteração pola força e a violência das condições de reprodução do capital, a
A este respeito as estatísticas falam por elas. O lucro de todas as empresas
favor dos grupos decisivos do capital monopolista.
industriais e comerciais passou de 6,6 milhares de marcos em 1933 para
15 milhares de marcos em 1938. Mas enquanto que as vendas das fábricas b) Nas condições do imperialismo e do movimento obreiro contemporâneo,
têxteis de Bremen estagnaram e as A.E.G. [Allgemeine Elektrizität Ges- historicamente desenvolvido, o domínio político da burguesia se exerce
sellschaft] só progrediram 55%, as da Siemens duplicaram, as das fábricas do modo mais vantajoso -isto é, com os custos mais reduzidos -através
de tubos Krupp e Mannesmann triplicaram, as da Phillipp Hollzmann e C.ª da democracia parlamentar burguesa que oferece, entre outras, a dupla
viram as suas vendas multiplicadas por 6 e as da Fábrica alemã de armas vantagem de tornar suaves periodicamente as contradições explosivas da
e munições por 1017. O interesse económico colectivo da classe capitalista sociedade mediante algumas reformas sociais e fazer participar, directa ou
[que está longe de ser um puro conceito intelectual] mostra-se claramente indirectamente, no exercício do poder político, a um sector importante da
nestes números. Ao mesmo tempo, no interior deste quadro de interesse classe burguesa [através dos partidos burgueses, jornais, universidades,
colectivo, os interesses específicos surgem e afirmam-se com insistên- organizações patronais, administrações municipais e regionais, cúpulas do
cia. E a lei segundo a qual a propriedade privada capitalista provém e se aparelho de Estado, do sistema bancário central]. Tal forma de domínio da
ERNEST MANDEL

desenvolve a partir da expropriação de numerosos pequenos e de alguns grande burguesia -de forma alguma a única, desde o ponto de vista histó-
grandes proprietários não foi escrita no tempo de Hitler, mas está enraizada rico19- está muitas vezes determinado por um equilíbrio muito instável de
na própria história deste modo de produção. forças económicas e sociais. Sempre que este equilíbrio for destruído polo
desenvolvimento objectivo, não tem outra saída: instaurar, mesmo com o
As fraquezas metodológicas de todas estas aproximações [approaches]
risco de renunciar ao exercício directo do poder político, uma forma supe-
utilizadas polas teorias burguesas do fascismo são evidentes. Por não com-
rior de centralização do poder executivo, para realizar os seus interesses
preenderem as estruturas sociais e os modos de produção, os ideólogos
históricos. Historicamente, o fascismo é, portanto ao mesmo tempo a rea-
burgueses são incapazes de capturar a unidade dialéctica dos elementos
16 E. NOLTE, op. Cit., pág. 54.
17 Charles BETTELHEIM, L´Economie allemande sous le nazismo, Rivière, Paris, 1946, pág. 212. Reeditado nas Edições Maspero.
18 Esta terceira parte foi publicada como prefacio ao livro de Leão Trotski, Comment vaincre le fascisme, das Edições Buchet-Chastel.
19 A amnésia total dos ideólogos burgueses em relação à história recente da sociedade burguesa é particularmente surpreendente. Nos dous séculos que seguiram à primeira revolução
industrial, as formas dos Estados na Europa ocidental tem mudado entre monarquia aristocrática, cesarismo plebiscitário, parlamentarismo conservador liberal [com 10%- e por vezes com
menos do 5%- da população com direito ao sufrágio], autocracia declarada, e isto qualquer que seja o país cuja história política se estuda. À parte num breve período durante a Revolução
Francesa, a democracia parlamentar baseada no sufrágio universal tem sido, quase em todo lugar, um produto não da burguesia liberal, mas das lutas do movimento obreiro.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

lização e a negação das tendências inerentes ao capitalismo monopolista, quena-burguesia é atingida duramente pola crise estrutural do capitalis-
que  Rudolf Hilferding  foi o primeiro em enunciar, para «organizar» dum mo maduro, de modo a cair no desespero [inflação, falência das pequenas
modo «totalitário» a vida de toda a sociedade no seu interesse20: realização, empresas, desemprego maciço de diplomados, técnicos e empregados das
pois que, em última análise, desempenhou essa função; negação, pois que, categorias superiores, etc.], surgirá, polo menos numa parte desta classe,
contrariamente às idéias de Hilferding, só pode exercer tal função expro- um movimento tipicamente pequeno-burguês mistura de reminiscências
priando politicamente em larga medida a burguesia21. ideológicas e rancor psicológico, que alia a um nacionalismo extremo e a
uma demagogia anticapitalista23  violenta, polo menos em palavras, uma
c) Nas condições do capitalismo industrial monopolista contemporâneo, profunda hostilidade em relação ao movimento obreiro organizado («nem
uma tão grande centralização do poder de Estado, que implica, além disso, marxismo, nem comunismo»). Desde que este movimento, que se recrutou
a destruição da maior parte das conquistas do movimento operário con- essencialmente entre os elementos desclasados da pequena-burguesia,
temporâneo [em particular de todos «os germens de democracia proletária recorre à violência física contra os assalariados, e as suas ações as suas
no quadro da democracia burguesa», segundo a correcta definição de Tro- organizações, um movimento fascista tem nascido. Após uma fase de de-
tski  que são as organizações do movimento operário], é practicamente senvolvimento independente, necessário para conseguir uma influência de
irrealizável por meios puramente técnicos, dada a imensa desproporção massa e começar ações de massa, torna-se em seguida indispensável o
numérica entre os assalariados e os grandes capitalistas. Uma ditadura mi- apoio financeiro e político de sectores importantes do capital monopolista
litar ou um Estado policial puro -para não falar duma monarquia absoluta- para chegar à tomada do poder.
não têm meios suficiente para atomizar, desanimar e desmoralizar, por um
longo período, uma classe social consciente, com milhões de indivíduos e, e) A dizimação e o esmagamento prévios do movimento obreiro, indispen-
desse modo, impedir o reaparecimento dos mais elementares episódios da sáveis para a ditadura fascista cumprir a sua função histórica, só é possível
luita de classes, episódios esses que são produzidos polo simples jogo das se antes da tomada do poder, o prato da balança se deslocar decisivamente
leis do mercado periodicamente. Para atingir isso, tem necessidade dum a favor dos bandos fascistas e em detrimento dos obreiros24.
movimento de massas que mobilize um grande número de indivíduos. Só
um movimento tal pode dizimar e desmoralizar a franja mais consciente do O ascenso dum movimento fascista de massas é de certa maneira
proletariado com o uso do terror de massas sistemático, por uma guerra uma institucionalização da guerra civil, na qual, no entanto, cada uma
de fustigação e de combates de rua, e após a tomada do poder, deixando das duas partes tem objectivamente possibilidade de vencer [esta é a razão
assim o proletariado não só atomizado ao destruir completamente as pola qual, a grande burguesia só apóia e financia semelhantes experiências
organizações das massas do proletariado, como também desmoralizado em circunstâncias muito especiais, «anormais», pois com esta política de
e resignado. Tal movimento de massas pode, com o uso de métodos tudo ou nada corre desde o início um risco bem determinado]. Se os fascis-
adequados adaptados às exigências da psicologia de massas obterem, tas conseguem desmoralizar e esmagar o inimigo, isto é, a classe obreira
não só, por meio dum imenso aparelho de vigilantes de prédios, polícias, organizada, paralisando-a, desalentando-a e desmoralizando-a, a vitória
células do N.S.B.O22. e simples espiões de polícia, submeter os assalariados está-lhes assegurada. Mas se, polo contrário, o movimento operário con-
conscientes politicamente a uma vigilância permanente, mas também in- segue contra-atacar com sucesso e tomar ele próprio a iniciativa, infligirá
fluenciar ideologicamente e reintegrar parcialmente numa colaboração de uma derrota decisiva não só ao fascismo, como também ao capitalismo
classes efectiva à parte menos consciente dos obreiros e, particularmente, que o engendrou. Isto acontece por motivos técnico-políticos, sócio-políti-
os empregados. cos e sócio-psicológicos. No início os bandos fascistas organizam apenas
a fracção mais resoluta e mais desesperada da pequena-burguesia [a sua
d) Tal movimento de massas apenas poder ser construído na base da pe- fracção «enfurecida»]. As massas pequeno-burguesas, tal como o sector
quena-burguesia, a terceira classe social da sociedade, que, na sociedade não consciente e não organizado dos assalariados, em particular os jovens
capitalista, se encontra cabo do proletariado e da burguesia. Se esta pe- operários e empregados, oscilarão geralmente entre os dous campos. Ten-
ERNEST MANDEL

20 «Poder económico significa ao mesmo tempo poder político. A dominação sobre a economia fornece as rédeas do instrumento do poder de Estado. Quanto maior for o grau de
concentração na esfera econômica, menos será limitada a dominação do Estado. Esta integração sistemática de todos os instrumentos do poder de Estado aparece como a forma suprema
do poder de Estado, o Estado enquanto instrumento inabalável da manutenção da dominação econômica... Na sua forma mais acabada, o capital financeiro é a forma suprema do poder
econômico e político detido pola oligarquia capitalista, acaba a dictadura dos magnates capitalistas. Rudolf HILFERDING, Das Finanzkapital, 1909, Verlag der Weiner Volksbuchhandlung,
Viena, 1923, p. 476.
21 Por isso Hilferding nas vésperas da sua morte trágica, chegou à conclusão de que a Alemanha nazi já não era uma sociedade capitalista e que o poder se encontrava nas mãos duma
burocracia totalitária. Este erro é contemporâneo da tese de Burnham, L´Ere des managers (The Managerial Era).
22 N.S.B.O.: Nationalsozialistische Betrieebsorganisation: organização do partido nazi (N.S.D.A.P.) nas fábricas.
23 Em todo o caso trata-se duma forma particular de demagogia que atacar tão só as formas particulares de capitalismo [«a sujeição aos usurários», os grandes armazéns, etc.]. A proprie-
dade privada enquanto tal e o domínio do patrão da fábrica nunca são postos em causa.
24 Se isso não é o caso e os trabalhadores mantiverem a sua capacidade e vontade de luitar, a tomada do poder polos fascistas pode então tornar-se o prelúdio duma sublevação revolucio-
nária poderosa. Em Espanha o putsch militar fascista de 1936 foi respondido com uma sublevação revolucionária da classe obreira que, ao cabo de poucos dias, impôs uma derrota militar
esmagadora aos fascistas em todas as grandes cidades e nas áreas industriais e que os obrigou a refugiarem-se nas áreas agrícolas, subdesenvolvidas do país. O facto de os fascistas, após
uma árdua guerra civil que durou quase três anos, terem conseguido tomar finalmente o poder foi devido, quer a factores internacionais, quer ao papel funesto que a direcção de esquerda
desempenhou nos partidos e no Estado. Esta direcção impediu à classe operária levar a uma rápida consecução a revolução socialista que tinha começado com sucesso em Julho de 1936.
Em particular esta direcção não foi capaz de minar a última base de poder de Franco entre os camponeses atrasados e os mercenários do Norte de África, recusando-se a efectivizar uma

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

derão a unir-se à parte que demonstrar maior audácia e espírito de iniciati- teoria da luita de classes bem como no seu desenrolar concreto.
va; eles pretendem jogar no cavalo vencedor. É isto que permite afirmar que,
do ponto de vista histórico, a vitória do fascismo exprime a incapacidade do IV
movimento operário em resolver a crise estrutural do capitalismo da matu-
Como esta teoria trotskista do fascismo suporta o confronto com as teo-
ridade de acordo com os seus próprios interesses e objectivos. De facto, tal
rias provenientes de outras correntes do movimento obreiro? Quais são os
crise oferece, em geral, de início ao movimento obreiro uma possibilidade
traços específicos que aparecem quando se compara a teoria de Trotski om
de se impor. Só quando este deixou escapar tal possibilidade e se encon-
outros estudos sobre o fascismo baseados também no método marxista?
tra seduzido, dividido e desmoralizado, o conflito pode levar ao triunfo do
fascismo. O mais chocante nos autores social-democratas é o pragmatismo, o tom de
desculpa que utilizam nas suas análises: a teoria deve vir em ajuda duma
f) Se o fascismo conseguir «esmagar o movimento obreiro sob as suas
prática arqui-oportunista e explicar o seu fracasso pola «culpa dos nos-
investidas» terá cumprido o seu dever do ponto de vista dos representantes
sos opositores». Nessa época, este  oportunismo não tinha ainda cortado
do capitalismo monopolista. O seu movimento de massas burocratizar-se-
o cordão umbilical que o ligava ao marxismo vulgar, fatalista e objectivista
-á e será absorvido polo aparelho de Estado burguês; isto é possível apenas
de Kautsky. Quando não se invoca «culpa dos nossos opositores», é o peso
na medida em que as formas extremas de demagogia plebéia pequeno-
das contradições objectivas que se deplora: a «relação de forças» não per-
-burguesa, presentes nos «objectivos do movimento», tenham desapare-
mitia melhores resultados. O facto de, pola acção, se poder modificar esta
cido e acabem por ser apagadas pola ideologia oficia25.  Isto não está de
relação de forças -em particular, o facto de, pola própria passividade, se
forma alguma em contradição com a tendência em tornar autónomo um
fazer pender a relação de forças em favor do inimigo de classe- nunca foi
aparelho de Estado fortemente centralizado. Se o movimento operário tem
assimilado por esta escola. O conteúdo essencial destas teorias aparece
sido vencido e as condições de reprodução do capital internamente no país
claramente na tese segundo a qual a agitação radical dos «bolcheviques»
tiverem sido modificadas de modo fundamentalmente decisivo a favor da
forneceu a ocasião, ou, polo menos, uma desculpa ao fascismo para mobilizar
grande burguesia, o seu interesse político centrar-se-á na necessidade
as camadas amedrontadas e conservadoras da população: o fascismo é
duma modificação análoga no mercado mundial. A falência ameaçante do
o castigo que inflige a grande burguesia ao proletariado pola sua agitação
Estado impele na mesma direcção. A política do tudo ou nada do fascismo
comunista. «Se não quiserem assustar a pequena burguesia e aborrecer os
acaba por ser transportada para a esfera financeira, estimula uma inflação
grandes capitalistas, mantenham-se moderados». A cordura muito liberal
permanente e por fim, não deixa outra alternativa a não ser a aventura mili-
da «via dourada»27 esquece com efeito que é precisamente a falência do
tar no estrangeiro. Tal evolução não favorece de maneira nenhuma o reforço
parlamentarismo burguês «moderado», rotineiro, confrontado com a in-
do papel da pequena-burguesia na economia e política interior; ao contrário,
tensificação da crise estrutural do neo-capitalismo que lança a pequena
traz consigo a deterioração das suas posições [com excepção daquela parte
burguesia desesperada nos braços dos fascistas. O meio para impedir isto
que pode ser mantida à custa do aparelho de Estado tornado cada vez mais
é propor uma alternativa eficaz, surgida da actividade militante quotidiana.
autónomo]. Não se trata do fim da «sujeição ao capital usurário» mas, polo
Se esta alternativa não for avançada, e se a pequena burguesia, pauperiza-
contrário, da aceleração da concentração do capital. Mostra-se aqui o ca-
da e em vias de perder os seus privilégios de classe, se encontrar perante
rácter de classe da ditadura fascista, que não corresponde ao movimento
a escolha entre um parlamentarismo impotente e um fascismo em plena
fascista de massas. Ela não defende os interesses históricos da pequena-
força, optará, sem qualquer dúvida, polo fascismo. E é precisamente a «mo-
-burguesia, mas sim os do capital monopolista. Logo que esta tendência
deração», a reserva e o temor da classe obreira que reforçam nas massas o
se torna predominante, a base de massas activa e consciente do fascismo
sentimento de que o fascismo será o vencedor.
decresce necessariamente. A ditadura fascista tende de por si a desfazer e
reduzir a sua base de massas. As bandas fascistas tornam-se apêndices A fraqueza da teoria social-democrata do fascismo é particularmente reve-
da polícia. Na fase do seu declínio, o fascismo converte-se de novo numa lada na tese «agarrai-vos à legalidade a qualquer preço». Esta tese decorre
forma particular de bonapartismo26. da falsa convicção segundo a qual, enquanto que os fascistas abandonam
ERNEST MANDEL

a esfera da legalidade, as organizações dos trabalhadores assalariados de-


Estes são os elementos constitutivos da teoria sobre o fascismo de Trotski.
vem contentar-se estritamente em agir nesta esfera. Este ponto de vista
Baseia-se numa análise das condições particulares em que se desenvolve
particular esquece o facto que a legalidade e o Estado não são reificações
a luita de classes nos países altamente industrializados no período da crise
de conceitos abastractos, mas sim a expressão de classes e de interesses
estrutural do capitalismo maduro [Trotski  fala da «época de decadência
sociais concretos. A «legalidade» e o «Estado» eram, em última análise, os
do capitalismo») e sobre uma combinação particular -característica do
juízes, os coronéis e os comandantes cujas ligações com os seus «cama-
marxismo de Trotski- de relacionar os factores objectivos e subjectivos na
reforma agrária radical e a proclamar a independência de Marrocos.
25 Ver, entre outros, GUÉRIN, op. cit., p. 141-168.
26 A distinção entre fascismo e bonapartismo será discutida mais tarde. 
27 No Manifesto Comunista, MARX e ENGELS ridiculizavam já o argumento liberal segundo o qual os comunistas faziam o jogo da reacção conservadora. Durante a revolução de 1848,
repetia-se incansavelmente que, se os maliciosos «socialistas» não tivessem lá estado, os regimes constitucionais liberais se tivessem podido consolidar por toda a parte, mas os socialistas
tinham atemorizado à burguesia e tinham-na lançado nos braços de reacção. Depois da Revolução Francesa, os conservadores, por seu lado utilizaram um argumento semelhante contra
os liberais; se não tivessem havido os excessos da Convenção e da Constituição «radical de esquerda» do ano II, a monarquia nunca teria sido restaurada. Manifestamente, não há hoje nada
de novo sob o sol.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

radas» do Stahlhelm e dos S.S. era múltiplas e que odiavam e combatiam o crescimento do fascismo na Bélgica a partir desse ano. Só León Blum foi
movimento organizado dos trabalhadores tanto como os bandos fascistas, assaz perspicaz para declarar, depois da tomada do poder por Hitler, que,
mesmo quando o faziam duma maneira mais «civilizada». Querer utilizá- se tinham alcançado a vitória os nazis, isso era o castigo pago pola social-
-los como defesa contra estes bandos significa na realidade enfrentá-los -democracia alemã por ter esmagado os gérmenes da revolução proletá-
de mãos vazias. ria depois do desmoronamento do Império alemão e ter assim libertado e
consolidado todos estes elementos (do exército aos Freikorps) que os iriam
O isolamento na análise [hipostatização] dos factores «crise econômica» agora exterminar selvaticamente31.(5) Mas, o mesmo León Blum, quando se
e «desemprego de massa» constitui um elemento importante na teoria do viu em face duma greve de massas, alguns anos mais tarde, limitou-se a
fascismo dos social-democratas: se não houvesse crise econômica, o pe- reiterar a política de apaziguamento dos Ebert e Scheidemann, o que levou
rigo do fascismo desapareceria. Assim esquece-se que a crise estrutural é ao afundamento da III República e à tomada do poder polo bonapartismo
mais importante que a crise conjuntural, e que, enquanto uma persistir, as senil do regime de Vichy.
melhorias experimentadas pola outra não podem de modo nenhum cam-
biar fundamentalmente a situação. Isto aprenderam os social-democratas A teoria do fascismo da III Internacional Comunista depois de Lenine  pas-
belgas Spaak e de Mann à sua custa, quando concentraram todas as suas sou a prova sem maior sucesso que a social-democracia. Sem dúvida que
forças para reduzir o desemprego -sacrificando mesmo posições de força, nela se podem encontrar os princípios duma compreensão mais profunda
e ainda mais, a capacidade de luita dos assalariados- e, apesar de todos os do perigo que ameaçava o movimento operário internacional. Podem en-
seus esforços, viram aumentar a vaga fascista e não o contrário. contrar-se elementos duma teoria marxista do fascismo nas obras d Clara
Zetkin, Radek, Ignácio Silone e mesmo, às vezes, nas de Zinoviev  . Mas,
Todos estes elementos da teoria social-democrata do fascismo se encon- muito rapidamente, as luitas de fracções do Partido Comunista da U.R.S.S.
travam já nos primeiros livros que os social-democratas italianos consa- abafaram a obra teórica da Komintern. O alvo já não era a de adquirir uma
graram à catástrofe que se abatia sobre as suas cabeças. Assim, Giova- compreensão científica dos processos objectivos em curso, mas sim a de
ni Zibordi escrevia já em 1922: «[...] são os excessos dos extremistas os dar a direcção do K.P.D. [Partido Comunista Alemão] a uma fracção total-
responsáveis por este clima, é também o movimento obreiro e social no mente devotada e obediente a Estaline . Tudo o que dizia respeito à análise
seu conjunto que tem responsabilidade por estes excessos empurrarem as marxista e à luita revolucionária de classes estava subordinado a esta ob-
camadas pequeno-burguesas e intelectuais, que todavia não tinham qual- jectivo.
quer razão econômica séria para temer e odiar o socialismo, para os braços
dos fascistas»28. Turati dirá a mesma cousa alguns anos mais tarde: «Os O resultado é bem conhecido: a teoria que considera o fascismo como
excessos pró-bolcheviques [philobolshevik], que eram tão inacreditáveis e expressão directa dos interesses dos «sectores mais agressivos do ca-
tão infantis, tiveram como conseqüência que o temor das classes domi- pitalismo dos monopólios» esquece completamente o carácter de mas-
nantes de perder os seus privilégios fosse, em certos momentos, muito sas, autónomo do movimento fascista. Desta concepção resultou a teoria
real e muito intenso [...]. Pode-se logicamente concluir que, se não tivesse segundo a qual o fascismo seria o «irmão gémeo» da social-democracia
sido esta atitude, a cooperação entre a plutocracia e os fascistas teria sido ao serviço do capital monopolista, assim a teoria da «fascização gradual»
impossível»29. É lamentável constatar que Angelo Tasca, outrora um comu- da república de Weimar, que dissimularam aos olhos dos trabalhadores a
nista e um marxista, no livro que escrevera antes da Segunda Guerra Mun- natureza catastrófica da tomada do poder polos fascistas, impedindo-os
dial, tenha chegado à conclusão que era impossível combater ao mesmo assim de combater este perigo iminente. Tudo isto foi coroado pola teo-
tempo o aparelho de Estado e o fascismo, e que, portanto, era necessário ria do «social-fascismo» que conduziu, sob a sua forma extrema, à tese
estabelecer uma aliança com um para combater o outro30. segundo a qual seria necessário derrotar primeiro a social-democracia
para que fosse depois possível vencer ao fascismo32 Por fim apareceram
A social-democracia alemã serviu uma dose [rehsh] vulgar e superficial as adições [addenda] tipicamente social-democratas e fatalistas: «A má
de teses semelhantes. O seu maior teórico dos anos vinte, o antimarxista gestão de  Hitler  fá-lo-á afundar-se a si próprio» [pola sua incapacidade
belga Hendrik de Mann, tentou soldar a psicologia da pequena burguesia e
ERNEST MANDEL

para resolver a crise económica, entre outras razões] e «Depois de Hitler ,


as suas relações com o fascismo e chegou à conclusão, mesmo depois da será a nossa vez». Na prática pode ver-se como, através desta última frase,
catástrofe na Alemanha, que era necessário não «alarmar» a pequena bur- era considerada a tomada do poder por Hitler como inevitável e como se
guesia. Mais concretamente, tão bem trabalhou que a vaga de entusiasmo subestimavam incrivelmente as conseqüências desta tomada do poder no
e de vontade dos trabalhadores para luitar por uma greve geral em 1935, se extermínio do movimento obreiro. Todas estas análises só podiam paralisar
dissipou bruscamente; ele criara, assim, condições favoráveis a um enorme e embrulhar a resistência contra o ascenso do nazismo.
28 Der Fascismos als antisozialistische Koalition, NOLTE, op. cit., pp. 79-87.
29 Filippo TURATI, Fascismos, Sozialismus und Demokratie, NOLTE, op. cit., pp. 143-155.
30 Angelo TASCA, Nascita e Avvento del Fascismo, La Nuova Italia, Firenze, 1950; publicado em inglês sob o título, The Rise of Italian Fascism, 1918-1922, Mithuen, London, 1938.
31 Ver, entre outros, Hendrick DE MANN,  Sozialismus und National-Fascismus, A. Prosse Verlag, Postdam, 1931; as memórias de SEVERING,  Mein Le-
bensweg, cap. II: «In, auf und ab der Politik», Greven Verlag, Köln, 1950; as memórias de Otto BRAUN,  Von Weimar zu Hitler, Europa Verlag, New York, 1940, etc.
Otto Braun desculpa a sua miserável capitulação quando do golpe de Papen a 20 de Juho de 1932 dizendo que, devido à crise econômica e aos milhões de desempregados, uma greve geral
como a que tinha derrotado o putsch de Kapp doze anos antes era impossível. Esquece que na altura deste putsch a economia alemã atravessava igualmente uma crise profunda.
32 Ver a documentação exaustiva in Theo PIRKER, Komintern und Fascismus 1920-1940, Deutsche Verlagsanstalt, München, 1965. O estudo da imprensa oficial do Komintern e do K.P.D.
entre 1930 e 1933 fornece, no entanto os ensinamentos mais preciosos.

100
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Foram necessários vinte e cinco anos de má consciência para que o mo- tomada do poder polos fascistas, esta foi, por seu lado, o dobre de finados
vimento comunista «oficial» iniciasse uma discussão crítica sobre a falsa da social-democracia. As massas social-democratas, assim como mais
teoria estalinista do fascismo. A rotura prática com esta teoria teve lugar, dum dos seus dirigentes, tornavam-se cada vez mais conscientes disso à
com efeito, muito rapidamente quando já era tarde demais. A virada para medida que o desastre se aproximava e projectava a sua sombra através
a táctica de Frente Popular teve lugar em 1935 e implicou uma revisão de numerosos incidentes sangrentos. E esta tomada de consciência, que
completa da teoria do «social-fascismo» e uma orientação para um erro exprime todas as contradições da social-democracia, podia ter-se tornado,
direitista paralelo, depois das conseqüências desastrosas do erro esquer- se uma táctica correcta de frente única tivesse sido aplicada, o ponto de
dista33.  Mas como os escritos e as proclamações de Estaline foram sa- partida para uma unidade real na acção e para a modificação real e súbita
crossantos até 1956, a revisão prudente da teoria do «social-fascismo» só da relação de forças social e política, que podia conduzir não só à vitória
começou depois da pretensa destalinização34. Togliatti, dirigente do Partido sobre o fascismo, mas também sobre o capitalismo e, até, à vitória sobre a
Comunista Italiano, dizia em voz alta o que a maioria dos quadros comu- política de colaboração e de conciliação de classes da social-democracia.
nista pensava em voz baixa e a muito oficial História do movimento obreiro
alemão, publicada na Alemanha do Leste, submetia a teoria e a prática do Encontra-se a mesma incapacidade em compreender o carácter especí-
K.P.D. dos anos 1930 a 1933 a uma crítica prudente mas metódica sem, no fico do fascismo num grupo de teóricos dos que se poderia dizer que es-
entanto, evitar novos erros na definição da natureza e função do fascismo35. tão a meio-caminho entre o marxismo e o reformismo vulgar. Assim, Max
Horkheimer vê no fascismo «a forma mais moderna da sociedade capita-
As teorias da «fascização gradual» e do «social-fascismo» contêm não só lista de monopólio», Paul Sering [Richard Lowwenthal] tem uma percepção
uma apreciação errada da conjuntura política e erros tácticos sobre a forma bastante semelhante quando diz que o nacional-fascismo é «o imperialis-
de conduzir a luita contra o ascenso do fascismo, como ignoram também mo planificado»36 A origem destes dous pontos de vista encontra-se na
completamente a principal característica do fascismo que Trotski soube tese sustentada por  Hilferding segundo a qual a centralização política do
revelar correctamente e à qual a história deu uma confirmação trágica. poder no Estado burguês e a «forma suprema da concentração de capital»,
que ele via materializada no capital financeiro, se unem para formar um
O fascismo não é simplesmente uma nova etapa do processo polo qual o único todo. A predição que Hilferding fez em 1907, por mais brilhante e pre-
executivo do Estado burguês se torna cada vez mais forte e independente. cisa historicamente [apesar de certas simplificações] que fosse, revelou-se
Não é simplesmente a «ditadura aberta do capital monopolista». É uma for- imperfeita durante os anos que precederam e seguiram imediatamente a
ma especial do «executivo forte» e da «ditadura aberta», caracterizada pola tomada do poder por Hitler. Não se pode compreender o fascismo se se
destruição completa de  todas  as organizações da classe obreira -mes- afastarem os dous elementos seguintes da análise: o estado supremo de
mo as mais moderadas e, sem nenhuma dúvida, da social-democracia. O centralização do Estado burguês só pode ser atingido se a burguesia ab-
fascismo tenta impedir fisicamente toda a forma de autodefesa da parte dicar do seu poder político37, e, este novo fenômeno não é a «forma mais
dos trabalhadores organizados, atomizando completamente estes últimos. moderna da sociedade capitalista de monopólio», mas, ao contrário, a forma
Argumentar com o facto de que a social-democracia prepara o terreno ao mais aguda da crise desta sociedade38.
fascismo para manifestar que a social-democracia e o fascismo são aliados
e banir toda a unidade com um para combater o outro, é cometer um erro. No seu livro, O Fascismo - As suas origens e o seu desenvolvimento, Ignazio
Silone tenta, não sem sucesso, apresentar o fascismo como resultando da
É justamente o contrário que é verdadeiro. Se a social-democracia, ao crise estrutural profunda da sociedade burguesa italiana e da incapacidade
praticar a colaboração de classes e ao identificar-se com a democracia simultânea, por parte do movimento obreiro italiano, em resolver esta crise
parlamentar falida, minou a luita de classe dos trabalhadores e preparou a através duma transformação socialista39.  Faz correctamente a distinção
33 Na teoria do «social-fascismo», o papel objectivo da direcção social-democrata (que é certamente um factor tendente a estabilizar o statu quo da sociedade burguesa em declínio) é
arbitrariamente isolado da sua base de massas e da forma específica que tinha; na teoria da Frente Popular, por outro lado, a vontade antifascista das massas e a pressão que elas exerciam
sobre a direcção social-democrata para a autodefesa contra o perigo de extermínio polo fascismo, são também arbitrariamente isolados do contexto social geral caracterizado pola crise
ERNEST MANDEL

estrutural do neocapitalismo. No primeiro caso, as massas são paralisadas pola divisão; no segundo caso são brutalmente frenadas por respeito para com o parceiro burguês «liberal» da
política de Frente Popular. O pêndulo passou dum desvio oportunista de esquerda a um desvio oportunista de direita, sem no entanto passar pola posição correcta, que é a da unidade de
acção dos trabalhadores [dotada duma dinâmica clara, objectivamente anticapitalista].
34 Mesmo no fim dos anos cinqüenta, tentava-se desesperadamente justificar a política do K.P.D. dos anos 1930 a 1933. Ver, entre outros, a brochura Les Origines du fascisme, publicada na
série «Recherches internationales à la lumière du marxisme», Editions La Nouvelle Critique, n.º 1, Paris, 1957
35 Geschichte der deutschen Arbeiterbewegung, Dietz Verlag, Berlin, 1966, cap. IV, pp. 168, 171, 206, 239, 288, 303-310, 312, etc. Esta crítica tardia reconhece, sobre praticamente todos os
pontos, que Trostki tinha razão... sem mesmo citar o seu nome uma única vez!
36 E. NOLTE, op. cit., pp. 55, 66, etc.; Harold LASKI, Reflections on the Revolution of our Time, Allen and Unwin, London, 1943.
37 Seria interesante procurar as causas profundas desta necessidade que se encontram, segundo nós, não só na dificuldade de atomizar a classe operária polo terror -tarefa que um aparelho
repressivo «normal» é incapaz de levar a cabo-, mas também na natureza própria dum modo de produção baseado na propriedade privada dos meios de produção. Porque, num tal modo de
produção, há sempre um elemento de competição que faz com que os representantes directos das diversas empresas só podam progredir para o interesse comum da classe [ou melhor, da
camada decisiva desta classe] negociando e reconciliando os interesses particulares e contraditórios.
Para que o interesse comum se exprima duma forma imediata e centralizada, isto é, sem longas, difíceis discussões e negociações, a instituição que representa o interesse comum não pode
simultaneamente defender os interesses particulares, isto é, que a unidade do grande capital e a direcção política tem de ser eliminada. Compreende-se assim mais claramente a tendência
da sociedade burguesa para a abdicação política em período de crise.
38 Robert A. BRADY comete um erro semelhante no seu livro The Spirit and Structure of German Fascism, Viking Press Inc., New York, 1937.
39 Ignazio SILONE, Der Fascismus - Seine Entstehung und seine Entwicklung, Europa Verlag, Zürich,1934, pp. 32, 46, 52, etc.

101
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

entre o fascismo e uma ditadura militar «clássica» ou um bonapartismo40. nal da «autonomia crescente» do aparelho de Estado sob o fascismo, que
Mas a definição que dá da «imaturidade política» do movimento obreiro tem precisamente por finalidade transformar radicalmente as condições de
acaba precisamente no ponto onde começa o problema. Qual foi o factor produção e de extração da mais-valia em favor da grande burguesia, elimi-
que impediu o movimento obreiro de se tornar o representante de todas as nando toda a resistência de classe organizada por parte do proletariado. A
camadas exploradas da nação, de ganhar ou neutralizar as largas camadas crise estrutural é assim temporariamente resolvida até a próxima explosão.
da pequena burguesia e de colocar a luita pola tomada do poder na ordem
do dia? Não é por acaso que o conceito de «revolução socialista» quase Otto Bauer, na sua teoria, vê o fascismo como da unidade de três elemen-
não aparece no livro de Silone e também não é por acaso que este autor tos: o desclassamento de alguns sectores da pequena burguesia, devido à
não compreendeu que, para realizar as tarefas complexas que ele próprio guerra; a pauperização de outros sectores devida à crise econômica, que
descreveu, um plano estratégico é necessário, um plano que só pode ser os empurra a romper com a democracia burguesa; e o interesse que tem
elaborado e realizado por um partido revolucionário, criado com esta finali- o grande capital em elevar a taxa de exploração dos trabalhadores, o que
dade. Apesar das suas críticas aos reformistas e aos maximalistas italianos, exige a eliminação da oposição da classe obreira e das suas organiza-
assim como às tendências fatalistas e ultra-esquerdistas do jovem Partido ções43. Reconhece correctamente que «o fascismo não ganhou no momen-
Comunista Italiano, serem correctas, não conduzem a nenhuma alternativa, to em que a burguesia estava ameaçada pola revolução proletária, mas
e dão a impressão de que a «imaturidade política» e a capacidade para sim quando o proletariado já tinha sido enfraquecido e reduzido à defensiva
assumir a direcção política são ora acidentes biológicos [«na Rússia muito tempo antes, num momento em que o ascenso revolucionário estava
havia Lenine »], ora resultados de algum destino místico. Compreende-se já em refluxo. A classe capitalista e os grandes proprietários não confiaram
facilmente que Silone não podia permanecer por muito tempo nesta posi- o poder de Estado aos grupos fascistas para se protegerem duma revolu-
ção típica de transição; virou ràpidamente para o reformismo. ção proletária ameaçadora, mas sim para reduzir os salários, destruir as
conquistas da classe obreira e eliminar os sindicatos e as posições de força
Além da de Trotski, as duas contribuições mais importantes à teoria do fas- política ocupadas pola classe operária; não para suprimir um socialismo
cismo dum ponto de vista marxista no decurso dos anos vinte e trinta, são revolucionário [revolutionary socialism], mas para destruir as conquistas do
as de August Thalheimer e de Otto Bauer  41. A análise de August Thalhei- socialismo reformista»44.
mer  aproxima-se mais da de Trotski . Mas, apegando-se demais à análise
que Marx  fez no século XIX do bonapartismo  e exagerando a «fascização Ainda que esta análise seja superior às dos reformistas vulgares, que ar-
gradual», A. Thalheimer sub-estima a diferença qualitativa entre bonapar- remedam a própria tese dos fascistas dizendo que o fascismo foi tão só
tismo e fascismo: no primeiro, há uma autonomia crescente do aparelho de uma resposta ao «perigo bolchevique», subestima fatalmente a crise es-
Estado acompanhada por uma repressão «tradicional» sobre o movimento trutural profunda que sacudiu o capitalismo em Itália de 1918 a 1927 e na
revolucionário; no segundo, há uma autonomia crescente do aparelho de Alemanha de 1929 a 1933. Esta crise não consolidou, mas polo contrário
Estado, acompanhada pola destruição de todas as organizações da classe enfraqueceu a ordem social, e assim aumentou as condições objectivas
obreira e pola tentativa de atomizar completamente os trabalhadores atra- que tornavam possível a existência duma estratégia orientada para a to-
vés dum movimento pequeno-burguês. Além disso, a análise de Thalheimer mada do poder pola classe obreira. Bauer, como, Thalheimer, vê na vitória
reduz o problema do fascismo ao problema da relação de forças sócio-po- do fascismo o resultado lógico da contra-revolução que se propagou pro-
líticas [a classe obreira não é ainda capaz de exercer o poder político, a gressivamente depois da derrota das iniciativas revolucionárias dos anos
grande burguesia já não é capaz de o exercer] sem pôr em relevo a ligação de 1918 a 1923. Não discerne o facto que os quinze anos que vão de 1918 a
desta relação de forças com a crise estrutural do neo-capitalismo42. 1923 foram marcados por um fluxo e um refluxo periódicos das possibilida-
des revolucionárias, e de nenhum modo por um declínio linear. A distinção
A teoria de Trotski sobre o fascismo reúne os elementos contraditórios mecânica entre «ofensiva» e «defensiva» só obscurece as relações que as
numa unidade dialéctica. Por um lado, mostra as forças motrizes que, na ligam.
época da crise estrutural do capitalismo, tornavam possível a conquista e o
E esta análise inadequada conduziu a graves erros tácticos. Acreditando es-
ERNEST MANDEL

exercício do poder político pola classe obreira. Evita fazer a confusão, parti-
cularmente grave, entre a imaturidade histórica objectiva da classe operária tar numa « fase defensiva», Otto Bauer, o «socialista revolucionário», pen-
francesa entre 1848 e 1850 e a imaturidade puramente subjectiva da classe sava que a única cousa a fazer era permanecer nos seus postos na espera
obreira alemã entre 1918 e 1933 que se encontrava em contradição directa do ataque da reacção clerical-fascista contra as organizações da classe
com as possibilidades objectivas. obreira. Nesse momento, e só nesse momento, tinham-se de se defender
por todos os meios, incluindo as armas. É assim que se assistiu à luita
heróica do Schtuzbund [Liga de defesa] em Viena, em Fevereiro de 1934
que, sem dúvida, dominou a capitulação sem combate do S.P.D. [Partido
Por outro lado, a teoria do fascismo de Trotski centra-se no carácter funcio- social-democrata alemão) e do K.P.D. perante o regime nazi, mas que, no
40 Ibid. p. 276.
41 August THALHEIMER Ueber dem Fascismus, ABENDROTH, op. cit., pp. 19, 38; BAUER, op. cit., pp. 113-141.
42 Este aspecto foi sublinhado por Ruediger GRIEPENBURG e K.H. TJADEN, «Fascismus und Bonapartismus», Das Argument, n.º 41, Dezembro de 1966, pp. 461-472.
(17) O.BAUER, op. cit., p. 113.
43 Ibid., p. 126.
44 Arthur ROSENBERG, Geschichte der Weimarer Republik, Europaeische Verlag, 1961, p. 211.

102
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

entanto estava votada ao fracasso. Porque só quando o movimento obreiro zembro de 1941 e 81 pfennings em Outubro de 194347. Mas estes números
reconhece a amplitude da crise estrutural e declara explicitamente que tem confirmam igualmente que os salários permaneceram muito abaixo dos
a intenção de resolver esta crise exclusivamente polos seus próprios mé- que se registravam antes da crise — um sucesso «magnífico» a contar no
todos, e assim define a luita polo poder como um objectivo imediato, pode activo do regime nazi confrontado com uma falta crítica de mão-de-obra.
ganhar as camadas médias e os outros sectores vacilantes da população Em resumo, Neumann confirmou que a distribuição do rendimento nacional
alemão se deslocou largamente em favor do capital entre 1932 e 1938. A
que o  statu quo, incluindo a estrita «defesa» das organizações obreiras,
parte do capital (juros, benefícios comerciais e industriais, benefícios in-
não atrai. dustriais não redistribuídos) passou de 17,4% do rendimento nacional em
1932 [21% em 1929] para 25,2% em 1937 e 26,6% em 193848. Perante tais
Um historiador clarividente como Arthur Rosenberg fez coincidir o fim da
números, teria de ser inútil discutir a natureza de classe do Estado fascista.
República de Weimar com o ano de 1930. Escreveu: «Em 1930, a república
burguesa caiu na Alemanha porque a sua sorte se encontrava nas mãos
da burguesia e porque a classe obreira já não era bastante forte para sal-
vá-la»45. A historiografia fatalista de Rosenberg esquece que dispunha de Dispomos também agora dum material factual exaustivo respeitante aos
três anos a classe obreira, se a direcção não tivesse falhado a sua tarefa, efeitos que o fascismo teve sobre a acumulação e a concentração do capi-
tal, que confirma completamente a tese marxista. O capital total de todas as
para salvar, não a democracia burguesa, mas os elementos democráticos
sociedades alemãs passou de 18,75 bilhões de Reichsmarks [RM] em 1938
que valiam a pena extirpando-os à democracia burguesa para confiá-los [20,6 bilhões de RM em 1933] a mais de 29 bilhões de RM no fim de 1942;
ao socialismo. durante este mesmo período, o número de sociedades baixou de 5518 para
5404; este número reduziu-se a metade em 1938 [10437 em 1931 e 9148
V em 1933]. Neste capital total, a parte pertencente às grandes empresas
Temos comparado a teoria trotskista do fascismo com outras tentativas de -aquelas que tinham um capital de mais de 20 milhões de RM- passou de
explicação e verificamos a sua superioridade inegável. Esta superioridade 52,4% em 1933 para 53,6% em 1939 e para 63,9% em 194249.
provem, em parte, da sua capacidade em integrar uma multitude de as-
pectos parciais numa unidade dialéctica. Hoje, nós dispomos dum material
empírico importante que era desconhecido por Trotski e de outros sectores O Estado prosseguiu esta concentração de capital polos meios mais va-
marxistas do período precedente e seguinte imediato à tomada do poder riados. A cartelização forçada, as fusões sob controle dos «dirigentes da
polos nazis. Que nos ensina este material sobre alguns pontos decisivos e economia de defesa» [leaders for defense economy], a organização de
controversos desta teoria? «associações nacionais» (Reichsvereinigungen) e de câmaras econômicas
regionais [Gauwirtschaftkammern] conduziram à forma suprema de fusão
O testemunho mais claro diz respeito à função econômica e política da dita- entre o capital monopolista e o Estado fascista. A Sociedade Nacional de
dura fascista. Destruindo o movimento obreiro organizado, Hitler conseguiu ferro e aceiro [Reichsvereinigung Eisen und Stahl] era dirigida polo industrial
impor um congelamento de salários tido pouco tempo antes como um mi- do Sarre, Dr. Hermann Roechling; a Sociedade Nacional de fibras sintéticas
lagre polo patronato alemão. Os salários horários foram fixados ao nível dos era dirigida polo Dr. H. Vits, das Indústrias Associadas das fibras, que dirigia
da crise econômica; o desaparecimento do desemprego massivo não con- também os «grupos nacionais» [Reichsgruppen] e os «comitês principais»
duziu a nenhum aumento importante de salários. O capital, em toda a sua [Hauptausschuesse]. Oito destes quinze comitês tinham à sua cabeça re-
história, nunca tinha conseguido impor os mesmos salários quer não hou- presentantes directos do grande capital: Mannesmann, August Thyssen
vesse um só desempregado ou quer houvesse cinco milhões. O salário ho- Huette [Fundições August Thyssen], Deutsche Waffen und Munitions Fa-
rário do obreiro qualificado passou de 95,5 phennings em 1928 para 70,5 em briken [Indústria alemã de armas e munições), Henschel-Flugzeugwerke
1933, depois a 78,3 phennings em 1936, 79 em 1940 e 80,8 phennings em [Construções aeronáuticas Henschel], Auto-Union, Siemens, Weis e Freytag,
Outubro de 194246. Estes números referem-se ao salário médio de dezas- Hommelwerke50.
sete sectores da indústria. Outras fontes fornecem números uma migalha
mais elevados para o salário médio dos operários qualificados da economia Perante estes factos indesmentíveis, que entravam em contradição não
do III Reich no conjunto. Segundo estes números, os salários passaram de só com o programa demagógico dos nazis, mas também com o seu «in-
ERNEST MANDEL

79,2 pfennings para 78,5 entre Janeiro de 1933 e 1937 depois aumentaram
teresse político particular» [a manutenção duma base larga, de massas,
lentamente até atingirem 79,2 pfennings em 1939, 80 pfennings em De-
45 Arthur ROSENBERG, Geschichte der Weimarer Republik, Europaeische Verlag, 1961, p. 211.
46 C. BETTELHEIM, op. cit., p. 210.
47 Juergen KUCZINSKY, Die Geschichte der Lage der Arbeiter in Deutschland, cap II: 1933 a 1946, Verlag die freie Gewerkschaft, Berlin, 1947, pp. 199, 154.
48 F. NEUMANN, op. cit., p. 435. Perante estes factos e números, torna-se ridículo tentar provar como Tim Mason o «primado do político» depois de 1936, argumentando que durante dous anos
-entre o Outono de 1936 e o Verão de 1938- o governo de Hitler não «pôde» acabar com a liberdade dos trabalhadores de mudar de emprego e não «pôde» estabelecer um salário máximo...
«A direcção política recusava aplicar quer uma quer outra destas medidas, porque um passo tão radical contra os interesses materiais da classe obreira teria sido incompatível com a tarefa
política que consistia em educar os trabalhadores no nacional-socialismo.» MASON, «Das Primat der Politik», Das Argument, n.º 41, Dezembro de 1966, p. 485.
Quem quer provar demasiado prova que é ele quem está em erro. Aparentemente Tim Mason não vê que o elemento determinante aqui, não é o facto destas medidas terem sido adiadas
durante dous anos, mas que um regime devotado, demagogicamente polo menos, à «comunidade nacional» tenha decidido pôr em prática um encadeamento parcial e deliberado da sua
própria classe obreira, abolindo a liberdade de deslocação, e ter permitido que enormes «superlucros nos armamentos» acrescentassem as vantagens do grande capital. Isto Não prova que
os interesses da «direcção política» tiveram de recuar perante os do capitalismo de monopólio?; que não havia portanto um «primado do político», mas antes um «primado do capitalismo
de monopólio»?
49 F. NEUMANN, op. cit., p. 613; C. BETTELHEIM, op. cit., p. 63.
50 F. NEUMANN, op. cit., p. 591, 601.

103
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

composta pola pequena burguesia das camadas médias e pola pequena fundamental não é a nacionalização mas a reprivatização52, não é o primado
empresa (small business)], pode-se dificilmente compreender como Tim de alguma «direcção política», mas o primado dos superlucros das grandes
Mason pode chegar à conclusão que os blocos de influência da indústria se empresas53.
«desagregaram» depois de 1936, que o poder da indústria, em termos de
política econômica, «se desfez em pedaços», e que «só se mantinham os Em plena guerra, quando se poderia ter esperado dos partidários da «guerra
interesses mais primários [!], os mais imediatos de cada firma», e que «en- a todo o custo» que se mostrassem intransigentes face de todos os interes-
ses privados, passaram-se dous acontecimentos respeitantes às empresas
tre 1936 e 1939, o interesse colectivo do sistema econômico capitalista se
Flick, que ilustram com a maior clareza as relações de produção existentes.
tem transformado a pouco e pouco numa soma de interesses particulares
Em 4 de Maio de 1940, uma destas empresas negociou um contrato com
de cada companhia»51.
altos funcionários do Estado respeitante ao fabrico de obuses para bazucas.
Mason defende o ponto de vista ingênuo, formalista, segundo o qual o «in- Os funcionários do governo tinham calculado que, para ter um lucro razoá-
teresse colectivo do sistema capitalista» está representado em primeiro vel, Flick devia receber 25 RM por obus. Mas a companhia exigiu 39,25 RM
lugar nas associações patronais. Enquanto que na realidade, e isto é um por obus. Chegaram a acordo finalmente em 37 RM, um lucro suplemen-
facto muito conhecido na época do capitalismo monopolista e, mais parti- tar de 13 RM por obus, isto é, mais do 35%, ou seja, mais dum milhão de
cularmente do neo-capitalismo, estas associações apenas tentam recon- marcos suplementares por todos os obuses fabricados até ao fim de 1943.
ciliar os interesses da maioria dos pequenos e médios produtores com os Abstracção feita da ditadura nazi, a diferença entre a Primeira e a Segunda
das grandes companhias, ou defender, duma forma ou de outra, uns contra Guerra mundiais não é assim tão importante, apesar de tudo. Nos dous ca-
os outros. O capitalismo monopolista engendra sempre uma identificação sos, os simples soldados acreditavam morrer pola pátria e, nos dous casos,
crescente do sistema e os interesses particulares de algumas dezenas de morriam polos lucros suplementares dos donos da indústria.
grandes companhias, em detrimento das pequenas e médias empresas e
O segundo exemplo é ainda mais «precioso». O exército tinha construído as
não a «transformação» do sistema numa «simples adição dos interesses
suas próprias fábricas (com capitais provenientes dos fundos públicos, ob-
próprios das empresas». E isso foi exactamente o que se passou na Alema-
viamente). Estas fábricas eram geralmente alugadas a empresas privadas
nha fascista, numa proporção desigual antes e após este período. em troca duma participação do Estado nos lucros, da ordem de 30-35%.
Em 1942, a companhia Flick fez todo o possível para tomar a direcção do
A fixação dos preços e das margens de lucro na indústria de armamento e
Machinenfabrik Donauwoerth G. M. B. H. [Sociedade de construção de má-
as relações entre os sectores privado e estatizado da economia fornecem
quinas Donauwoerth]. A 31 de Março, o montante do activo da Donauwoerth
indicações excelentes sobre a relação de forças real que existe entre o ca-
elevava-se a 9,8 milhões de RM no mercado, enquanto que a cota oficial
pitalismo de monopólio e as burocracias do partido e do Estado. A tendência era apenas de 3,6 milhões de RM. Flick comprou a fábrica [equipada com o
51 T. MASON, op. cit., pp. 482, 484, 487.
52 Acerca do regresso da iniciativa privada, ver entre outros, C. BETTELHEIM, op. cit., p. 112; F. NEUMANN, op. cit., 287; acerca do processo Gelsenkirchen e da importância determinante que
exerceu atraindo grandes sectores da indústria pesada para o campo de Hitler e sobre a reprivatização de Vereinigten Stahlwerke em 1966, ver G. F. W. HALLGARTEN, op. cit., pp. 108-113; Kurt
GOSSWEILER, «Die vereinigten Stahlwerke und die Grassbanken», Jahrbuch fur Wirtschaftgeschichte, Akademie Verlag, Berlin, 1965, 4.ª parte, pp. 11-53.
53 A este respeito, gostaríamos de voltar mais uma vez ao problema levantado por Tim Mason quando diz que é a «formação da vontade política» que é decisiva e que «a política
interna e externa da direcção do Estado nacional-socialista escapava mais cada vez às decisões da classe económica dominante». A palavra determinante aqui é «decisões». De
facto, não há nada de contrário aqui à interpretação marxista do Estado e da sociedade; mas trata-se antes duma aplicação vulgar e mecanicista desta última. O marxismo impli-
ca não existir uma identidade absoluta entre a superestrutura e a base, que estas duas instâncias tenham a sua lógica interna própria em virtude da divisão do trabalho, e portan-
to que, nas sociedades de classes, exista um certo  grau  de independência não somente da religião e da filosofia, mas igualmente do Estado e do exército. O importante não é sa-
ber se um grupo de banqueiros ou de grandes industriais directamente ditou as decisões dos chefes do governo ou do exército, mas antes se essas decisões correspondiam
aos interesses de classe da alta finança e do grande capital e se elas só podiam ser apreendidas em relação com a lógica imanente da defesa do modo de produção existente.
Tim Mason não vê que o militarismo e a guerra tinham já em grande parte realizado esta autonomia no capitalismo de monopólio bem antes do Partido nazi ter aparecido. De facto, o
ERNEST MANDEL

conceito do «primado do político» tem vindo directamente das circunstâncias da Primeira Guerra mundial. Tim Mason escreve: «Pode-se ver, por vários indícios, que os ataques à Polônia
em 1939 e à França em 1940 não eram aspectos inevitáveis da concepção global da classe dominante.» [«Primat der Industrie? Eine Erwiderung», Das
Argument, n.º 47, Julho de 1968, p. 206.] Não poderíamos dizer o mesmo -com, retrospectivamente, polo menos tanta convicção- da aventura tentada por Churchill nos Dardanelos durante
a Primeira Guerra mundial, de Verdun e de outras batalhas onde importantes perdas materiais foram registradas e, de facto, do desencadeamento da própria Primeira Guerra mundial?
Não teria sido «no interesse» do grande capital ter chegado a um acordo entre a Sérvia e a Bósnia a propósito da exportação de porcos, e entre a Alemanha e Grã-Bretanha a respeito da
penetração no Médio-Oriente, em vez de se ter registrado as perdas imensas da guerra e de se ter provocado uma revolução socialista?
Não foram os diplomatas, a clique imperialista e sobretudo os membros do Estado-Maior quem tomou as decisoes a propósito de Sarajevo e da Bélgica, mais do que as associações
patronais ou o comitê dos directores do Deutsche Bank? Mas, é que o militarismo, os conflitos imperialistas, a ideologia militaro-nacionalista, a corrida aos armamentos, a falta de
matérias-primas da Alemanha, etc., não eram os resultados inevitáveis duma estrutura econômica e social muito particular, e não foi esta última, no fundo, a causa da guerra? Não esti-
veram na sua origem os esforços espansionistas do Deutsche Bank? Os objectivos da guerra não estavam estreitamente ligados a esta causa fundamental da corrida aos armamentos?
É neste sentido que se deve compreender a tese marxista da natureza imperialista, capitalista monopolista do regime nazi, e não no sentido estreito, mecanicista segundo o qual os grandes ban-
queiros, ao que parece, teriam tido uma grande influência na condução da guerra do que os quartéis generais do exército, o que também não foi de forma nenhuma o caso na Primeira Guerra mundial.
Dietrich Eichholz e Kurt Gossweiler citam, a este respeito, os dizeres dum certo Karl Krauch, director e membro do comitê executivo do I. G. Farben. A 28 de Abril de 1939, Krauch declarou:
«Hoje, como em 1914, a situação política e económica da Alemanha -uma fortaleza assediada polo mundo- parece necessitar duma declaração de guerra rápida acompanhada
do aniquilamento do inimigo logo do início das hostilidades.» [Das Argument, n.º 47, Julho de 1968, p. 226.] Tal era o estado de espírito dominante nos círculos decisivos do capitalismo de
monopólio. Que este estado de espírito tenha aparecido, depois, tão «irracional» como o da grande burguesia sob Guilherme (e o de outras potências imperialistas) prova que as guerras
imperialistas em geral e o capitalismo do monopólio próprio intensificam ao extremo a «irracionalidade racionalizada» [rationalized irrationality] inerente à sociedade burguesa.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

material mais moderno] ao preço indicado pola cotação oficial [book value]. Resta esclarecer um último ponto, não desprezível. Quais eram as possibili-
Klaus Drobisch avalia os seus lucros em mais de 8 milhões de RM neste dades, para a classe obreira, de parar o avanço nazi pola unidade de acção?
caso preciso54. E quais as potencialidades duma tal unidade de acção? Apesar do material
disponível sobre estes problemas ser naturalmente mais fragmentado do
Quando se retira a casca política, descobre-se o verdadeiro caroço, a domi- que o que diz respeito às relações económicas ou à atitude dum pequeno
nação de classe. Se o Estado nazi tivesse sistematicamente nacionalizado grupo de senhores da indústria, abundam os testemunhos que provam que
todas as fábricas de armamento, se tivesse implacavelmente reduzido as havia um desejo profundo, tanto entre os trabalhadores e os funcionários
margens de lucro a 5 ou 6%, se tivesse exigido, por exemplo, que polo me- comunistas como entre os social-democratas de combater Hitler conjun-
nos metade dos directores das fábricas participantes no esforço da guerra tamente. Dos volumes de memórias surgem recordações fragmentares:
fossem representantes directos do Estado e das forças armadas [porque, o Reichsbanner [organização de defesa do S.P.D.] enviou mensageiros à
sem nenhuma dúvida, tais são as necessidades duma guerra bem levada], «direcção» (nunca esta palavra foi usada, quiçá, de maneira tão reificada
então, poder-se-iam justificar em parte certas dúvidas sobre o carácter e alienante] para exigir o combate; o sangue dos trabalhadores não devia
de classe desse Estado. Mas os factos mostram claramente o contrário: a ser vertido, tal foi a resposta absurda que receberam [como se a vitória
subordinação brutal de todos os interesses aos das grandes companhias. de Hitler não fosse significar que o sangue dos trabalhadores ia correr a
E a subordinação impiedosa de todas as exigências sectoriais a uma guerra jorros, como Trotski predissera]. As iniciativas locais para definir uma linha
«total» conduzida no interesse destas grandes companhias, cessa quando, comum entre social-democratas e comunistas aumentaram em número
precisamente, se atinge o Alfa e o Omega: a acumulação de capital polas até o último momento, enquanto a direcção levava os golpes, desde a to-
grandes companhias. mada do poder por Hitler até ao incêndio do Reichstag, e desta provocação
aos plenos poderes [a abdicação do Reichstag a favor do governo de Hitler],
Os dados empíricos dão indicações preciosas sobre as diferentes etapas
sem avançar sequer o mais modesto plano estratégico para a protecção e
que marcam a ascensão do movimento nazi desde as eleições para o Rei-
autodefesa do movimento obreiro57.(12) Os escritores fantasmagóricos e sa-
chstag em 1930 até a tomada do poder em 30 de Janeiro de 1933. Nós
turados de má consciência de que dispomos, apesar de redigidos sob o sig-
sabemos como certos círculos do grande capital, primeiro relativamente
no da autojustificação, constituem uma condenação amarga das direcções
limitados, começaram a financiar os nazis. Sabemos as hesitações e di-
do S.P.D., do K.P.D., e do A.D.G.B. [Allgemeiner deutscher Gewerkschaftsbund
vergências de opinião que surgiram entre os grandes capitalistas e grandes
- Confederação geral dos sindicatos alemães] da época. Nunca
proprietários quanto à atitude a adoptar face a Hitler e ao seu Partido nazi
na história moderna, tantos homens pagaram tão caro os erros de alguns.
[N.S.D.A.P.]. Sabemos que estas hesitações foram exacerbadas, entre outras
cousas, polo «jogo do tudo ou nada» a que se entregava o candidato-ditador, VI
mas também sabemos que a passividade e a perplexidade do movimento
obreiro fizeram diminuir essas hesitações. Sabemos como o grande capital Mas a teoria do fascismo de Trotski não é apenas a condenação impiedosa
começou a identificar o seu programa [formulado em 1931] -e cujo fim era do passado. Também é uma visão do presente e do futuro, uma advertência
um Estado autoritário, uma redução massiva dos salários e uma revisão contra novos erros teóricos e contra novos perigos.
do tratado de Versalhes sem importar o preço55- com o de Hitler, ao passo
que ascendia ao poder, depois deste ter afastado a ala esquerda plebéia O carácter específico do fascismo não pode ser compreendido senão no
da sua base social e ter dado aos senhores da indústria todas as garantias quadro do capitalismo imperialista de monopólio. É absurdo caracterizar os
necessárias respeitantes à defesa da propriedade privada e à aplicação do movimentos autoritários do mundo semi-colonial como «fascistas» sim-
«princípio do chefe» nas fábricas, como fez, por exemplo, em 27 de Janeiro plesmente por jurarem fidelidade a um chefe ou porem os seus membros
de 1932 num discurso perante o Clube Industrial [Industrial Club]. Sabemos em uniforme. Num país onde a parte mais importante do capital está nas
por que crises teve de passar esta aproximação entre o grande capital e o mãos de estrangeiros e onde a sorte da nação é determinada pola domi-
N.S.D.A.P. [entre outras, a dificuldade constituída pola derrota eleitoral do nação do imperialismo estrangeiro, é um contra-senso caracterizar como
N.S.D.A.P. em Novembro de 1932 e os embaraços financeiros que fascista um movimento da burguesia nacional que procura, no seu pró-
ERNEST MANDEL

se seguiram]. Enfim, sabemos como o encontro com o barão von prio interesse, libertar-se dessa dominação. Tal movimento pode partilhar
Schoreder em Colônia, em 4 de Janeiro de 1933, justamente após o escân- alguns traços superficiais com o fascismo: um nacionalismo extremo, o
dalo dos subsídios concedidos aos grandes proprietários da Prússia oriental, culto do «chefe» mesmo, por vezes, o anti-semitismo. Como o fascismo,
lacrou o destino da república de Weimar56. pode encontrar a sua base de massas na pequena burguesia desenraizada
e pauperizada. Mas a diferença decisiva, em termos de política econômica
A informação de que dispomos hoje confirma, sob todos os pontos de vista, e social, entre tal movimento e o fascismo, é evidente se se consideram as
a análise detalhada que fez Trotski desses acontecimentos dramáticos dos posições do movimento para com as duas classes fundamentais da socie-
anos de 1933 a 1933. dade moderna: o grande capital e a classe obreira.
54 Klaus DROBISCH, «Flick-Konzern und Faschistischer Staat, 1933-1939», Monopole und Staat in Deutschland, 1917-1945, Akademie Verlg, Berlin, 1966, p. 169.
55 As fontes são numerosas a esse respeito. Uma exposiçao impresionante encontra-se em G. F. W. HALLGARTEN, op. cit., p. 104.
56 Aqui também as fontes são numerosas. Ver, entre outros, H.S. HEGNER, Die Reichskanzlei von 1933-1945, Verlag Frankfurter Buecher, Frankfurt, 1959, p. 33 e Allan BULLOCK, Hitler: a
Study in Tyranny, Penguin Books, London, 1962, pp. 196, 243. William L. SCHIRER apresenta um resumo dos testemunhos mais importantes, especialmente o de Meissner, bem como uma
bibliografia importante em The Rise and Fall of the Third Reich, Simon and Schuster Inc., New York, 1960, p. 175, p. 181.
57 De todas as memórias que são disponíveis, citaremos apenas a de Heine BRANT, Ein Traum der nicht entfuchrbar war, Paul List Verlag, Manchen, p. 83.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

O fascismo consolida a dominação do primeiro e oferece-lhe o maior lucro e nos grupos revolucionários, mas revela-se incapaz de aniquilar as organi-
econômico, atomiza a classe obreira e extermina as suas organizações. zações operárias e de atomizar a classe obreira. Mesmo uma comparação
Polo contrário, os movimentos nacionalistas da burguesia nacional nos paí- superficial entre a Alemanha depois de 1933 e a França depois de 1958,
ses semi-coloniais, às vezes falsa e abusivamente chamados «fascistas», após a instalação do «Estado forte», faz realçar melhor ainda esta diferen-
assestam geralmente baques sérios e duráveis no grande capital, sobretu- ça. Tira-se igualmente a mesma conclusão quando se compara a ditadura
do no capital estrangeiro, criando ao mesmo tempo novas possibilidades fascista em Espanha entre 1939 e 1945 ao «Estado forte» decadente de
organizacionais para os trabalhadores. O melhor exemplo é o movimento hoje em dia que, apesar da repressão severa desencadeada ocasionalmen-
peronista na Argentina que, longe de atomizar a classe operária, permitiu, te pola polícia e o aparelho militar, se encontra na impossibilidade total de
pola primeira vez, a organização profunda dos trabalhadores nos sindicatos suprimir um movimento de massas em ascenso.
que, até hoje, exercem uma influência importante no país.
Far-se-ia necessário que a situação económica mudasse duma forma de-
É verdade que o pretenso poder desta burguesia nacional de manobrar entre cisiva para que o perigo imediato do fascismo reaparecesse nos Estados
o imperialismo estrangeiro e o movimento de massas indígena é limitado capitalistas ocidentais. Que tal mudança sobrevenha no futuro, não está
histórica e socialmente, e que oscilará continuamente entre estes dous de forma nenhuma excluído; mais, é uma eventualidade muito provável.
pólos principais. De seguro, o seu interesse de classe levá-la-á finalmente Mas, antes que isso aconteça mais vale evitar ser fascinado pola ameaça
a contrair uma aliança com o imperialismo ao qual tentará extorquir, graças inexistente do fascismo, falar menos do neo-fascismo e trabalhar mais na
ao empurrão do movimento de massas, uma grande parte da mais-valia luita sistemática contra a tendência muito real e muito concreta da burgue-
total. Por outro lado, um ascenso demasiado poderoso do movimento sia para o «Estado forte», é dizer, para a redução sistemática dos direitos
de massas ameaçaria a sua própria dominação de classe. De certo, tal democráticos dos salariados [através de leis de excepção, leis antigreves,
ataque contra as massas pode tomar a forma duma repressão sangrenta multas e penas de prisão polas greves selvagens, restrições ao direito de
assemelhada ao fascismo, como o dos generais indonésios após Outubro manifestação, manipulação capitalista e estatal das mass média, reinstau-
de 1965. No entanto, a diferença fundamental entre os dous processos ração da prisão preventiva, etc.]. O núcleo de verdade na teoria do «fascismo
-o fascismo nas metrópoles imperialistas, e o que, no pior dos casos, é rasteiro», é que ela sublinha o perigo duma aceitação passiva e não política
uma ditadura militar dura nos países coloniais do  terceiro mundo- deve de tais ataques contra os direitos democráticos elementares que só podem
ser claramente compreendida, de forma a evitar a confusão nos conceitos. aguçar o apetite da classe dominante e incitá-la a novos ataques mais du-
ros. Se o movimento obreiro se deixar conduzir sem resistência e se deixar
É igualmente muito importante evitar a confusão entre a tendência desapossar a pouco e pouco da sua potência, então, à primeira mudança
contemporânea, que se afirma cada dia mais claramente, para o «Estado importante da situação econômica, qualquer aventureiro inteligente bem
forte» e a tendência para a fascização «rasteiro» ou mesmo «aberta». pode ser inspirado a tentar exterminá-lo completamente. Se a resistência
Como foi sublinhado muitas e muitas vezes, o ponto de partida do fascismo não tiver sido preparada teimosamente nas batalhas quotidianas durante
encontra-se na pequena burguesia desesperada e empobrecida. Após vinte anos, não cairá miraculosamente do céu no último minuto.
anos de «ascensão no longo ciclo» [upward swing of the long cycle], prati-
camente nenhum país imperialista ocidental possui tal pequena burguesia. E é justamente porque a tarefa principal hoje em dia não é a luita contra
Quanto muito, algumas camadas marginais do campesinato e das camadas o neo-fascismo impotente, mas sim contra a ameaça real dum «Estado
médias urbanas são afectadas por uma tendência ao empobrecimento. Mas forte», que é importante evitar a confusão nas idéias. Anunciar que as pri-
estas camadas, das quais nenhuma tem um peso importante na população meiras escaramuças são o início duma luita decisiva e dar a impressão que
total, puderam até agora, encontrar trabalho de forma relativamente fácil o fascismo [«aberto» ou «rastejante»] se identifica com os C.R.S. de Paris
no comércio, nos serviços ou na indústria. É um processo oposto ao dos ou à polícia de Berlim-Oeste [que são ambas bem ineficazes], é embotar a
anos de 1918 a 1933 o que se desenrola sob os nossos olhos. Nessa altura, consciência das massas, desviá-la do perigo real, terrível, que representa-
as camadas médias encontravam-se empobrecidas sem terem sido, no ria um fascismo dotado de armas tecnológicas muito mais avançadas. É
ERNEST MANDEL

entanto, proletarizadas. cometer o mesmo erro fatal que os dirigentes do K.P.D. entre 1930 e 1933,
quando apresentavam  Bruening,  Papen, Schleicher e Hugenberg como a
Com uma pequena burguesia conservadora e no conjunto próspera, o neo- encarnação do fascismo, o que levou os trabalhadores à conclusão que o
-fascismo não tem qualquer possibilidade objectiva de ganhar uma larga monstro não era tão terrível como o apresentavam.
base de massas. Os ricos proprietários não se lançam em combates de
rua com os trabalhadores revolucionários ou os estudantes de extrema- Os germens dum renascimento potencial do fascismo estão contidos na
-esquerda [radical students]. Preferem chamar à polícia e fornecer-lhe praga, conscientemente espalhada em alguns países imperialistas, consti-
melhores armas para que esta «se ocupe das desordens». Aqui se encontra tuída pola mentalidade racista e xenófoba [contra os negros, os não-bran-
a diferença total entre o fascismo que organiza os elementos desesperados cos, os trabalhadores imigrados, os árabes, etc.], na indiferença crescente
da pequena burguesia, utiliza-os para aterrorizar as grandes cidades e as para com os assassinatos políticos num país como os Estados Unidos58,no
regiões obreiras e o «Estado forte» autoritário que, certamente, utiliza a vio- ressentimento irracional para com os «acontecimentos desagradáveis» que
lência e a repressão, pode administrar duros golpes no movimento obreiro são cada vez mais freqüentes na arena mundial, e no ódio, igualmente ir-
58 A lista dos líderes políticos assassinados estes últimos anos nos Estados Unidos parece-se sinistramente com a do período de Weimar: Malcom X, Martin Luther King, John F. Kennedy e
numerosos líderes do Black Panthers Party.

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

racional, polas minorias revolucionárias e não conformistas [«a câmara de A próxima vaga na Europa será para a esquerda e a extrema-esquerda:
gás é o que vos faz falta», «o campo de concentração é o vosso lugar!», eis isto vê-se nitidamente pola leitura do sismógrafo da juventude que possui
o gênero de imprecações lançadas à cara dos manifestantes do S.D.S. em sempre vários anos de avanço sobre o movimento de massas. E os aconte-
Berlim Ocidental, na Alemanha Federal e nos Estados Unidos polos defen- cimentos de Maio de 68 na França são só um prelúdio. Mas se esta vaga for
sores da «lei e da ordem»]. quebrada por um fracasso, e se a decepção da jovem geração coincidir com
um transtorno da economia, então, o fascismo terá as suas oportunidades
Isto torna-se uma trágica cegueira quando um universitário como o pro- de sucesso.
fessor Habermas, homem liberal e inteligente sob outros aspectos, se dei-
xa levar a ponto de chamar aos estudantes revolucionários «fascistas de Nos Estados Unidos, também a evolução poderia adoptar o mesmo ritmo
esquerda», eles que, justamente, seriam as primeiras vítimas dum terror dialéctico que se encontra por todo o lado depois de 1918. Quando a so-
fascista. Hoje em dia como nos anos vinte ou trinta, não é que se deve ver a ciedade neo-capitalista é profundamente abalada, a balança oscila sempre
fervura dos fascistas nas minorias não conformistas, mas sim nos filisteus primeiro para a esquerda e é só depois do movimento operário ter sido
que clamam: «Respeito, Honra, Lealdade!» malogrado que a direita tem a sua oportunidade. Mas a grande burguesia
americana tem menos experiência e age, portanto, mais cruamente que a
Não é de todo excluir que, no caso da economia capitalista mundial ser de- da Europa Ocidental, porque praticamente nunca teve de sofrer as conse-
sordenada -não obrigatoriamente sob a forma duma grande crise económi- qüências dos riscos em que incorreu. Por conseqüência, possui um instinto
ca mundial da amplitude da dos anos de 1929 a 1933, que parece bastante muito menos desenvolvido quanto aos limites naturais da política do «tudo
improvável tendo em conta o montante dos orçamentos e da inflação hoje ou nada»; além disso, dispõe, a par da tradição não política de sectores
em dia- estes germens presentes por toda a Europa Ocidental pudessem
importantes da população americana, dum reservatório de conservantismo
florescer e dar livre curso a uma nova epidemia fascista. Mas a probabilida-
de extrema-direita que, na eventualidade duma modificação na situação
de do aparecimento de tal perigo é muito maior nos Estados Unidos que na
económica e em ocasiões não aproveitadas pola ala revolucionária [radical
Europa. A grande burguesia européia já queimou gravemente os dedos com
side] para transformar o país em bases socialistas, poderia oferecer muito
uma experiência do fascismo. Em certas partes do continente o resultado
mais oportunidades de sucesso a um aventureiro fascista do que na Europa.
foi ter perdido tudo o que aí possuía, noutras, só salvou a sua dominação
A violência que medra muito, o carácter explosivo da questão racial e a
de classe no último minuto. Ela está ainda menos inclinada a repetir esta
audácia de certos círculos imperialistas torna muito mais provável o de-
aventura por esta experiência ter deixado traços profundos nas massas po-
senvolvimento duma tendência fascizante do lado americano do Atlântico59.
pulares e porque o renascimento súbito duma ameaça fascista provocaria
sem dúvida violentas reacções. É inútil insistir no terrível perigo que tal fascismo representaria não só para
a existência da cultura humana, mas também para a própria existência
A este respeito, a evolução dos estudantes na Europa Ocidental é de bom
agoiro. No princípio do século, os grupos estudantis constituíam a fervura física da raça humana. Imagina-se facilmente o que se teria passado em
intelectual do fascismo. Os primeiros quadros dos grupos fascistas foram 1944 se Hitler tivesse tido em seu poder um arsenal de armas nucleares
recrutados entre eles. Foram eles que forneceram os fura-greves organi- como o que a América possui hoje. Os extremistas de direita da John Birch
zados nos anos vinte, não só na Alemanha, mas também na Grã-Bretanha, Society e os Minutemen dizem já «antes morto que vermelho» [better dead
durante a greve geral de 1926. Bem antes de ter Hitler ocupado o posto than red]. Depois da destruição da sociedade capitalista no resto do mundo,
de chanceler, tinha já conquistado os universitários. E depois da vitória da quando dos últimos sobressaltos do combate de morte para preservar a
Frente Popular nas eleições de 1936 na França, os Camelots do Rei, grupo «sua» sociedade capitalista de monopólio, se o grande capital americano
semifascista, continuava a reinar no Bairro Latino. decide entregar o poder político a homens completamente irracionais, isso
seria um golpe fatal para a humanidade. No fim dos anos vinte e no princípio
Hoje a situação mudou completamente. Em todo os países da Europa Oci- dos anos trinta, os marxistas revolucionários diziam que o combate contra
dental, a tendência geral nos estudantes é para a esquerda e a extrema- o fascismo e por uma solução socialista da crise européia era uma batalha
ERNEST MANDEL

-esquerda e não para a extrema-direita. São os piquetes de greve, não os contra a barbárie que progredia nesta parte do mundo. Nos decênios pró-
fura-greves que são recrutados entre os estudantes, e estes vão para as ximos, a luita por uma América socialista pode tornar-se um combate à
fábricas não para ajudar os patrões a «restabelecer a lei e a ordem», mas morte para toda a humanidade.
para encorajar os trabalhadores a pôr em causa a «ordem» neo-capitalista
duma forma bem mais radical do que a fazem as organizações obreiras Por esta razão, as análises afinadas e os clamores proféticos de Cassandra
tradicionais. É muito improvável que esta tendência seja modificada nos de Trotski são duma pertinência imediata. Porque, enquanto existir o capi-
próximos anos. Enquanto que depois da Primeira Guerra Mundial o fascis- talismo de monopólio, o mesmo perigo, talvez sob uma forma ainda mais
mo era antes de tudo um levantamento da juventude, existem hoje muito terrível e com uma barbárie ainda mais inumana, pode ressurgir.
poucos elementos que nos permitam afirmar que a juventude, em qualquer
parte da Europa, poda ser atraída em grande número pola extrema-direita.
59 É necessário lembrar que neste processo de polarização - que já começou nos últimos anos — o activismo da direita declinou. Também nos Estados Unidos a parte politi-
camente activa da juventude tende irresistivelmente para a esquerda. Como na Europa Ocidental, as confrontações tem lugar não entre activistas de direita e de esquerda, mas sim entre
os activistas de esquerda e a política. A prosperidade relativa das camadas médias da população americana e o seu conservatismo correspondente não são certamente estranhos a este
estado de cousas.

107
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Dixemos no princípio deste texto que a superioridade das análises de Tro-


tski  forçaria a admiração do leitor. Mas o estudo dos seus escritos pro-
voca muito mais a cólera e o desprezo do que a admiração. Como teria
sido doado tomar em conta as advertências de  Trotski  e evitar assim o
desastre. Esta tem de ser a moral da história: reconhecer o mal de forma a
combatê-lo a tempo e com sucesso. A catástrofe alemã não se deve repetir.
Ela não se repetirá!
ERNEST MANDEL

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Introdução: A teoria do fascismo segundo


Leão Trotski
[publicado como prefácio ao livro de Trotski “Com o vencer o fascismo”,
de Buchet-Chastel ediçons, 1974]

ERNEST MANDEL

A teoria do fascismo de Trotski apresenta-se como um conjunto de seis vantagem de neutralizar periodicamente as contradições explosivas da
elementos; cada elemento é provido de uma certa autonomia e conhece sociedade por algumas reformas sociais, e de fazer participar, diretamente
uma evolução determinada sobre a base das suas contradições internas; ou indiretamente, no exercício do poder político, um setor importante da
mas elas só podem ser entendidas como totalidade fechada e dinâmica, e classe burguesa [através dos partidos burgueses, dos jornais, das univer-
só a sua interdependência pode explicar a ascensão, a vitória e o declínio sidades, das organizações patronais, das administrações municipais e re-
gionais, das cimeiras do aparelho de Estado, do sistema do Banco Central).
da ditadura fascista.
Esta forma de dominação da grande burguesia – de modo algúm a única,
a) O ascenso do fascismo é a expressão da grave crise social do capitalismo do ponto de vista histórico1- é, no entanto, determinada por um equilíbrio
de idade madura, de uma crise estrutural, que, como nos anos 1929-1933, muito instável das relações de poder económicas e sociais. Se esse equi-
pode coincidir com uma crise económica clássica de superprodução, mas líbrio vem a ser destruido polo desenvolvimento objetivo, apenas restará
vai muito além de uma oscilação da conjuntura. Trata-se fundamentalmen- à grande burguesia uma saída: tentar, ao preço da renúncia ao exercício
te de uma crise de reprodução do capital, ou seja, da incapacidade de pros- direto do poder político, estabelecer uma forma superior de centraliza-
seguir uma acumulação “natural” do capital, dada a concorrência ao nível ção do poder executivo para a realização dos seus interesses históricos.
do mercado mundial [nível existente dos salários reais e da produtividade do Historicamente, o fascismo é portanto ao mesmo tempo a realização e a
trabalho, acesso às matérias-primas e aos mercados]. A função histórica da negação das tendências inerentes ao capital monopolista que Hilferding,
tomada do poder polos fascistas consiste em alterar pola força e a violência o primeiro, tem revelado, “organizar” de forma “totalitária” a vida de toda
as condições de reprodução do capital em favor dos grupos decisivos do a sociedade no seu interesse2(2): realização, porque o fascismo afinal de
capitalismo monopolista. contas preencheu essa função; negação, porque, ao contrário das ideias de
Hilferding , não podia preencher essa função senão por uma expropriação
ERNEST MANDEL

b) Nas condições do imperialismo e do movimento obreiro contemporâneo, política profunda da burguesia3.


historicamente desenvolvido, a dominação política da burguesia exerce-se
o mais vantajosamente -é dizer, com os custos mais reduzidos- através c)  Nas condições do capitalismo industrial monopolista contemporâneo,
da democracia parlamentar burguesa que oferece, entre outros, a dupla uma tão forte centralização do poder do Estado, que implica além do mais
1 Somos sempre surpreendidos pola curiosa amnésia que ataca os ideólogos burgueses a propósito da história recente da sociedade burguesa. Nos dous séculos que seguiram a primeira
revolução industrial, o Estado na Europa Ocidental tomou o sucessivamente a forma da monarquia aristocrática, do cesarismo plebiscitário, do parlamentarismo liberal-conservador (com o
direito de voto limitado a 10% ou mesmo às vezes a 5% da população), da autocracia caracterizada, e isso independentemente do país estudado. A democracia de tipo parlamentar, baseada
no sufrágio universal, é praticamente em todo o lado – exceto por um breve período durante a Grande Revolução Francesa – uma conquista da luita do movimento obreiro e não da burguesia
liberal.
2 Poder económico significa ao mesmo tempo poder político. Quem domina a economia dispõe igualmente de todos os poderes do Estado. Quanto maior a concentração na esfera económica,
mais a dominação sobre o Estado torna-se ilimitada. Esta concentração rígida de todos os poderes do Estado aparece como o cimo da potência, o Estado apresenta-se como o instrumento
insubstituível da manutenção da dominação económica... O capital financeiro sob a sua forma acabada é o grau superior da perfeição do poder econômico e político nas mãos da oligarquia
capitalista. Conclui a ditadura dos magnatas do capital. Rudolf Hilferding, Le Capital financier [escrito em 1909], citado pola edição de Viena [edição La librairie du Peuple], pp. 476 e seguintes.
3 Isso explica que Hilferding no final da sua vida, na véspera da sua morte, tenha chegado à conclusão errônea de que a Alemanha nazi não era já uma sociedade capitalista, porque o poder
pertencia a uma burocracia totalitária; esta conclusão errada é contemporânea da tese de Burnham  sobre “a era dos gestores”.

109
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

a destruição da maior parte das conquistas do movimento obreiro con- massas e iniciar ações de massa, ele precisa do apoio financeiro e político
temporâneo [especialmente, de todos os “germes de democracia proletária de frações importantes do capital monopolista para subir ao poder.
no quadro da democracia burguesa” como Trotski designa com razão as
organizações do movimento operário] é praticamente inatingível por meios e)  A dizimação e esmagamento prévio do movimento obreiro, quando a
puramente técnicos, dada o enorme desequilíbrio numérico entre os as- ditadura fascista quer cumprir o seu papel histórico, são essenciais, só são
possíveis, no entanto, se, no período anteiror à tomada do poder, o fiel da
salariados e os detentores do grande capital. Uma ditadura militar ou um
balança pende decisivamente em favor dos bandos fascistas e contra os
Estado puramente policial -para não falar da monarquia absoluta- não dis-
operários6.
põe de meios suficientes para atomizar, desencorajar e desmoralizar, du-
rante um longo período, uma classe social consciente, com vários milhões O ascenso de um movimento fascista de massa é uma espécie de ins-
de indivíduos, e para evitar assim qualquer foco da luita de classes mais titucionalização da guerra civil, onde, no entanto, ambas as partes têm
elementar, foco que só o jogo das leis do mercado desencadeia periodica- objetivamente uma oportunidade de ganhar [por isso a grande burguesia
mente. Para isso, é necessário um movimento de massas que mobilize um não apoia nem financia tais experimentos a não ser em condições muito
grande número de indivíduos. Somente um tal movimento pode dizimar e particulares, “anormais”, porque esta política de tudo por tudo apresenta
desmoralizar a franja mais consciente do proletariado polo terror de massa inegavelmente um risco à partida]. Se os fascistas conseguem varrer o
sistemático, por uma guerra de assédio e de combates de rua, e, depois de inimigo, isto é, a classe operária organizada, paralisá-la, desencorajá-la e
tomar o poder, deixar o proletariado não apenas atomizado no seguimento desmoralizá-la, a vitória está-lhe garantida. Se, ao contrário, o movimento
da destruição total das suas organizações de massa, mas também desen- obreiro consegue repelir o assalto e tomar a iniciativa, infligirá uma derro-
corajado e resignado. Este movimento de massas pode, polos seus próprios ta decisiva não somente ao fascismo mas também ao capitalismo que o
engendrou. Isso é devido a razões de ordem técnico-políticas e socio-psi-
métodos adaptados às exigências da psicologia das massas, conseguir não
cológicas. Inicialmente, os bandos fascistas não organizam senão a fração
somente que um aparelho gigantesco de porteiros, polícias, de células do
mais decidida e a mais desesperada da pequena burguesia [a sua fração
NSBO4(4) e simples bufos, submeta os assalariados politicamente conscien-
“raivosa”].
tes politicamente a uma vigilância permanente, mas também a que a parte
menos consciente dos operários e, sobretudo, dos empregados, seja in- A massa dos pequenos burgueses, assim como a parte pouco conscien-
fluenciada ideologicamente e parcialmente reintegrada numa colaboração te e desorganizada dos assalariados, especialmente os jovens operários e
de classes eficiente. empregados, oscilará normalmente entre os dous campos. Terão tendência
a se alinharem do lado daquele que manifestará mais audácia e espírito
d) Tal movimento de massas só pode surgir no seio da terceira classe da de iniciativa; apostam com boa vontade sobre o cavalo vencedor. Isso nos
sociedade, a pequena burguesia, que, na sociedade capitalista, coexiste permite dizer que a vitória do fascismo traduz a incapacidade do movimento
com proletariado e a burguesia. Quando a pequena burguesia é atingida tão operário em resolver a crise do capitalismo maduro de acordo com os seus
severamente pola crise estrutural do capitalismo de idade madura, ela afun- próprios interesses e objetivos. De fato, tal crise não faz, em geral, senão
de na desesperança [inflação, falência dos pequenos empresários, desem- dar ao movimento operário uma oportunidade de se impor. Só quando ele
prego massivo dos diplomados, dos técnicos e dos empregados superiores, deixou escapar esta oportunidade e que a classe é seduzida, dividida e des-
etc.], é quando, polo menos em parte desta classe, surge um movimento moralizada, que o conflito pode conduzir ao triunfo do fascismo.
tipicamente pequeno burguês, mistura de reminiscências ideológicas e de
f) Se o fascismo não duvidou “esmagar o movimento operário sob os seus
ressentimento psicológico, que combina um nacionalismo extremo e uma golpes”, cumpriu a sua missão aos olhos dos representantes do capitalismo
demagogia anticapitalista5, violenta polo menos em palavras, uma profunda monopolista. O seu movimento de massa burocratiza-se e se funde com o
hostilidade para com o movimento operário organizado [“nem marxismo”, aparelho de Estado burguês, o que não pode produzir-se até o momento
“nem comunismo”]. Desde que este movimento, que recruta principalmen- que as formas mais extremas da demagogia plebeia pequena burguesa,
ERNEST MANDEL

te entre os elementos sem referência de classe da pequena burguesia, usa que faziam parte dos “objetivos do movimento”, desapareçam da superfície
a violência física abertamente contra os assalariados, as suas ações e as e da ideologia oficial. Isso não é incompatível com a perpetuação de um
suas organizações, um movimento fascista nasce. Após um período de de- aparelho de Estado altamente centralizado. Se o movimento operário é der-
senvolvimento independente, permetindo-lhe tornar-se um movimento de rotado e se as condições de reprodução do capital dentro do país mudaram
4 Nationalsozialistiche Betriebsorganisation: organização do partido nazi (NSDAP) nas empresas.
5 No entanto, trata-se sempre de uma forma bem específica de demagogia, que ataca apenas algumas formas específicas do capitalismo [“a escravatura aos credores”, as grandes lojas, o
capital “açambarcador” em oposição ao capital “criador”, etc.]; a propriedade privada como tal e o poder do patrão na empresa nunca são questionados.
6 Se esse não for o caso, se os trabalhadores conservam o seu espírito de luita e a sua energia combatente, a tentativa de um movimento fascista de massa de tomar o poder pode desen-
cadear um gigantesco desenvolvimento revolucionário. Em Espanha, a resposta ao golpe militar fascista de julho 1936 foi o levantamento revolucionário da classe obreira, que, em poucos
dias, infligiu aos fascistas uma esmagadora derrota militar nas grandes cidades e bairros operários, e forçou-os a recuarem para as zonas rurais do país. O fato de que os fascistas, após uma
guerra civil renhida durante mais de três anos, tenham finalmente conseguido tomar o poder, explica-se tanto pola intervenção de fatores externos como polo papel desastroso da direção
do partido e do governo de esquerda, que impediram os trabalhadores concluir rapidamente a revolução iniciada com êxito; em particular, uma reforma agrária radical e a proclamação da
independência de Marrocos teriam eliminado o último bastião do poder de Franco entre os camponeses atrasados e os mercenários do Norte de África.

110
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

de tal maneira que é fundamentalmente favorável à grande burguesia, o Tais são os elementos constitutivos da teoria do fascismo de Trotski  . É
seu interesse político confunde-se com a necessidade de uma mudança baseado numa análise das condições particulares nas quais a luita das
no mesmo nível do mercado mundial. A falência ameaçadora do Estado classes nos países altamente industrializados, se desenvolve durante a
desenvolve-se igualmente. A política do tudo por tudo do fascismo é levada crise estrutural do capitalismo de idade madura [Trotski fala da “época do
ao nível da esfera financeira, inflama uma inflação permanente, e, por fim, declínio do capitalismo”] e sobre uma combinação particular -característica
não deixa outra saída que a aventura militar no exterior. Essa evolução não do marxismo de Trotski- dos fatores objetivos e subjetivos na teoria da luita
favorece de forma nenhuma um reforçamento do papel da pequena bur- de classes assim como na tentativa de influir na prática sobre ela.
guesia na economia e na política interna, mas ao contrário, provoca uma
deterioração das suas posições [com a exceção da franja que pode ser ali-
mentada com as prebendas do aparelho de Estado tornado autonónomo].
Não é o fim da “escravatura aos credores”, mas polo contrário, a aceleração
da concentração do capital.

É aqui que se revela o carácter de classe da ditadura fascista, que não


corresponde ao movimento fascista de massa. Ela defende não os
interesses históricos da pequena burguesia, mas os do capital monopolista.
Uma vez concluída esta tendência, a base de massa ativa e consciente do
fascismo retrai-se necessariamente. A ditadura fascista tende a se destruir
e reduzir a sua base de massa. Os bandos fascistas tornam-se apêndices
da polícia. Na sua fase de declínio, o fascismo transforma-se de novo numa
forma particular de bonapartismo.

ERNEST MANDEL

111
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

O Estado de contrainsurgência
[Intervençom no debate sobre “A questom do fascismo na América Latina”,
México D.F, 20 de Julho de 1978]
RUY MAURI MARINO

Começarei a partir da observação de que estamos passando por um período Vejamos, portanto, que fatores provocaram a abertura do processo contrar-
contrarrevolucionário na América Latina, de modo que, uma vez que esse revolucionário na América Latina. Vamos examinar a sua influência sobre a
período se caracterize, podemos investigar em que medida afeta o Estado. estrutura e funcionamento do Estado, para em seguida, refletir se as mu-
De fato, sendo o Estado como é, a força concentrada da sociedade, a síntese danças que ele tem experimentado representam um fenômeno transitório e
das estruturas e relações de dominação que ali existem, a vigência de um como elas afetam a estratégia revolucionária.
processo contrarrevolucionário afeta-o necessariamente, afetando-o na
estrutura e no funcionamento. É a consciência dessa situação que levou
os intelectuais e as forças políticas do continente a considerar a análise
Três aspectos da contrarrevolução latino-americana
da contrarrevolução, gerando discussões sobre o caráter fascista ou não
fascista desse processo. Em minha opinião, as ditaduras militares latino-americanas são o resultado
de um processo que tem três aspectos. Como veremos mais adiante, esse
Agora, parece-me válido, de certo ponto de vista, recorrer ao fascismo como
processo não só gerou ditaduras militares, mas também afetou Estados
termo de referência. Na medida em que o fascismo europeu também repre-
que não assumiram essa forma. Nesse sentido, o primeiro efeito da ação
sentou um período contrarrevolucionário, proporciona um ponto de compa-
desses fatores não é tanto o golpe brasileiro de 1964, como se sustenta,
ração para analisar a situação latino-americana. No entanto, acredito que
mas as modificações que o Estado venezuelano apresenta a partir de 1959,
RUY MAURI MARINO
-mais do que procurar semelhanças e diferenças entre o processo contrar-
sob o governo Betancourt.
revolucionário latino-americano e o fascismo  europeu- é preferível partir
do pressuposto de que ambos constituem formas particulares da contrar- O primeiro aspecto da contrarrevolução latino-americana é a mudança da
revolução burguesa e tentar, portanto, verificar em que consiste a especi- estratégia global norte-americana, que começa no final dos anos cinquenta
ficidade que a contrarrevolução latino-americana assume, especialmente e início dos anos sessenta e que é decididamente implementada pelo go-
do ponto de vista do Estado. Estaremos seguindo assim os ensinamentos verno Kennedy. Sua principal motivação é o fato de que os Estados Unidos,
dos marxistas europeus, que usaram, para a análise do fascismo, o ponto como cabeça incontestável do campo capitalista, se vê enfrentando uma
de referência que tinham então em relação à contrarrevolução burguesa: série de processos revolucionários em diferentes partes do mundo, como
o  bonapartismo, sem assumir que fossem fenômenos idênticos, em vez Argélia, Congo, Cuba, Vietnã, que produzem resultados diferentes, mas que
disso, eles se preocuparam em estabelecer a especificidade do processo agitam a estrutura mundial da dominação imperialista. Isso é acompanhado
fascista e das formas de dominação e de Estado a que esse dava lugar. Se pela modificação do equilíbrio de poder entre os Estados Unidos e a União
eles não tivessem feito isso, se eles tivessem confundido as formas parti- Soviética, o que implica um maior equilíbrio entre os dois. Tudo isso conduz
culares com o processo geral que as produz, não contaríamos hoje com os à mudança da abordagem estratégica norte-americana que passa da con-
estudos sobre o fascismo , que enriqueceram a teoria política marxista e templação de uma resposta maciça e global, em um confronto direto com
nos permitiram abordar com mais certeza a análise da contrarrevolução a URSS, a uma resposta flexível, capaz de enfrentar o desafio revolucionário
latino-americana.

113
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

[o que, na perspectiva dos Estados Unidos, é sempre um desafio soviético] anos sessenta, ao desenvolvimento de uma burguesia monopolista, inti-
onde quer que ele surgisse. mamente ligada à burguesia imperialista, especialmente norte-americana.

A integração imperialista corresponde, juntamente com a superexploração


do trabalho, à acentuação da centralização do capital e à proletarização da
A nova estratégia norte-americana tem várias consequências. Entre elas, pequena burguesia. Para isso, afunila a luta de classes e pretende quebrar
modificações no nível militar, com ênfase, por exemplo, em meios de trans- o esquema de alianças adotado até então pela burguesia, tanto por causa
porte de massa e em forças convencionais; a criação de corpos especiais das contradições existentes entre suas facções monopolistas e não mono-
treinados em contraguerrilha, como os Boinas Verdes; e o reforço dos exér- polistas, quanto por causa da luta que está sendo travada entre a burguesia
citos nacionais, que McNamara em seu livro The Essence of Security cha- em seu conjunto e a pequena burguesia, que acaba empurrando-a para a
mou de “indígenas em uniforme”; mediante programas de capacitação e de busca de alianças com o proletariado e o campesinato.
armamento”. Mas o que é mais significativo, para o que nos interessa aqui,
é a formulação da doutrina da contrainsurgência, que estabelece uma linha O resultado desse processo é a ruptura, o abandono, do que havia sido até
de confronto aos movimentos revolucionários a ser desenvolver em três então a norma na América Latina: o estado populista, isto é, o “Estado de
níveis: aniquilação, conquista de bases sociais e institucionalização. toda a burguesia”,que favoreceu o processo de acumulação de todas as
suas frações [embora essas aproveitem desigualmente os benefícios pos-
Vale ressaltar três aspectos da doutrina de contrainsurgência. Em primeiro tos a seu alcance]. Em vez disso, é criado um novo Estado, que se preocupa
lugar, é a sua própria concepção da política: a contrainsurgência é a apli- principalmente com os interesses das frações monopolistas, nacionais e
cação à luta política com um enfoque militar. Normalmente, na sociedade estrangeiras, e estabelece, portanto, mecanismos seletivos para favorecer
burguesa, a luta política tem o objetivo de derrotar o oponente, mas esse sua acumulação; as outras frações burguesas devem se subordinar à bur-
segue existindo como um elemento derrotado e pode até atuar como uma guesia monopolista, sendo o seu desenvolvimento estritamente dependen-
força de oposição. A contrainsurgência, em uma perspectiva semelhante à te do dinamismo alcançado pelo capital monopolista, enquanto a pequena
do fascismo , vê o adversário como o inimigo que não só deve ser derro- burguesia, ainda que sem deixar de ser privilegiada na aliança de classe em
tado, mas aniquilado, isto é, destruído, o que implica ver a luta de classes que repousa o novo poder burguês, é forçada a aceitar uma redefinição da
como uma guerra e implica, então, a adoção de táticas militares e métodos sua  posição, ela perde importância política e permanece também total-
de luta. mente subordinada, com suas condições de vida vinculadas às iniciativas e
ao dinamismo da burguesia monopolista.
Em segundo lugar, a contrainsurgência considera o movimento revolucio-
nário como algo estranho à sociedade em que se desenvolve. Consequente- O terceiro aspecto da contrarrevolução latino-americana é o surgimento
mente, ele vê o processo revolucionário como subversão causada por uma do movimento de massas que a burguesia deve enfrentar no decurso dos
infiltração do inimigo. O movimento revolucionário é, então, algo como um anos 1960. Esse movimento havia se desenvolvido, desde a década ante-
vírus, o agente infiltrado de fora que causa no organismo social um tumor, rior: a revolução boliviana de 1952, guatemalteca do período 1944-1954,
um câncer, que deve ser extirpado, isto é, eliminado, suprimido, aniquilado. a radicalização dos movimentos populistas em diferentes países, e teve
Aqui, também, ele se aproxima da doutrina fascista. seu primeiro clímax com a revolução cubana. Isso afeta particularmente os
estratos intelectuais pequeno-burgueses, que passaram, como vimos, por
Em terceiro lugar, a contrainsurgência, na tentativa de restabelecer a saú-
um período de reajuste em suas relações com a burguesia, acentuando seu
de do organismo social infectado, isto é, da sociedade burguesa sob sua
deslocamento para o campo popular. O movimento camponês ganha cada
organização política parlamentar e liberal, propõe explicitamente a restau-
vez mais importância, enquanto se desenvolve um novo movimento operá-
ração da democracia burguesa, após o período de exceção representado
RUY MAURI MARINO

rio, produto do novo proletariado criado pela industrialização das décadas


pelo período de guerra. Ao contrário do fascismo , a contrainsurgência não
anteriores. É, em suma, esse amplo movimento de massas que irrompe
questiona, em nenhum momento, a validade da democracia burguesa, ela
nas brechas do sistema de dominação criadas pela fratura do bloqueio no
apenas levanta sua limitação ou suspensão durante a campanha de ani-
poder e que incide no sentido de agravar as contradições ali existentes,
quilação. Através da reconquista das bases sociais, devemos, portanto, ir
o que explica a reação violenta da burguesia e do imperialismo, isto é, a
à fase de institucionalização, que é vista como a restauração completa da
contrarrevolução que se desencadeia no continente.
democracia burguesa.
Os processos contrarrevolucionários
O segundo aspecto da contrarrevolução latino-americana é a transforma-
ção estrutural das burguesias crioulas, que tende a se traduzir em modi- [Examinaremos brevemente como se realiza e aonde se conduz essa con-
ficações do bloco político dominante. A base objetiva deste fenômeno é a trarrevolução]. Veremos que ela não pode ser identificada mecanicamente
integração imperialista dos sistemas de produção que ocorre na América com o fascismo  europeu, mesmo que seja, como ele, uma forma específica
Latina, ou mais precisamente, a integração dos sistemas de produção la- de contrarrevolução burguesa e adote sua característica geral: o recurso
tino-americanos no sistema imperialista, através de investimentos diretos do terrorismo de Estado pela fração vitoriosa para subjugar seus oponen-
de capital estrangeiro, subordinação tecnológica e penetração financeira. tes, desde as frações rivais até, e sobretudo, a classe trabalhadora. Gros-
Isso leva ao surgimento no decurso dos anos cinquenta e até mais dos so modo, a contrarrevolução latino-americana começa com um período

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

de desestabilização, durante o qual as forças reacionárias tentam agrupar São essas condições específicas que levam a contrarrevolução latino-a-
a burguesia como um todo e semear no movimento popular a divisão, a mericana a se expressar, de maneira ideológica e estratégica, na doutrina
desconfiança das suas forças e seus líderes; continua através de um golpe da contrainsurgência. Ao privilegiar as Forças Armadas como o elemento
de Estado, realizado pelas Forças Armadas, e é resolvido com o estabeleci- central da sua estratégia, a burguesia monopolista está conferindo a esse
mento de uma ditadura militar. As sociedades concretas latino-americanas aparelho especial do Estado a missão de resolver o problema. Está, então,
impõem suas particularidades a cada um desses momentos. passando do terreno da política ao da guerra. Na medida em que se en-
contra com Forças Armadas já preparadas ideologicamente, pela doutrina
Na fase de preparação do golpe, ou da desestabilização, observam-se ca- da contrainsurgência, para o cumprimento dessa tarefa e para aplicar uma
racterísticas fascistas, mas essas são secundárias. Através da propagan- abordagem militar à luta política, a vontade contrarrevolucionária da bur-
da, da intimidação verbal e até mesmo física, que pode envolver o uso de guesia e a vontade de poder desenvolvida nas Forças Armadas são resol-
milícias armadas, a burguesia contrarrevolucionária procura desmoralizar vidas em um único processo. Essas vão, assim, além do golpe de Estado,
o movimento popular e ganhar força, agregando aliados e setores neutra- e procedem ao estabelecimento da ditadura militar. Se, do ponto de vista
lizantes. No entanto, porque são sociedades baseadas na superexploração da doutrina burguesa clássica, eles são o corpo do Estado, eles agora se
do trabalho, em nenhum caso tem condições de reunir força suficiente tornaram sua cabeça.
para derrotar politicamente o movimento popular, nem sequer alcança a
estrutura de um partido político. É interessante notar que, onde os métodos Mas a dualidade original, expressada pela burguesia monopolista e pelas
fascistas de luta foram usados ​​mais abundantemente, isto é, na Argentina, Forças Armadas, embora encontre uma primeira resolução no golpe, se
os setores da esquerda negam que tenha ocorrido uma contrarrevolução reproduz a um nível superior, uma vez que o Estado de contrainsurgência
fascista. Em qualquer caso, as forças contrarrevolucionárias nunca alcan- tenha sido  estabelecido. A forma de ditadura militar que isso pressupõe
çam um claro triunfo político, mas precisam usar a força para assumir o apenas indica que as Forças Armadas assumiram seu controle e exercitam
Estado e usá-lo para seu benefício. O terrorismo de Estado, como método o poder político como uma instituição. Ela não nos revela a essência desse
de confrontação do movimento popular, é intensificado precisamente por- Estado, do ponto de vista da sua estrutura e funcionamento, nem mostra o
que este movimento está intacto e muitas vezes aparentemente forte, no fato de que as Forças Armadas compartilham ali o poder com a burguesia
momento em que as frações contrarrevolucionárias conseguem subordinar monopolista. Para entender isso, é necessário ir além da mera expressão
completamente o aparelho estatal, não tendo sofrido um processo prévio formal do Estado, uma vez que, sempre que encontrarmos certas estru-
de derrotas que no fascismo pode chegar a se expressar, como na Alema- turas, funcionamento e coparticipação entre as Forças Armadas e capital
nha, no plano eleitoral. monopolista, estaremos enfrentando um Estado de contrainsurgência, quer
tenha ou não a forma de uma ditadura militar.
Essa característica da contrarrevolução latino-americana deriva da  im-
possibilidade da burguesia monopolista de atrair setores significativos do A natureza do Estado contrainsurgente
movimento popular para o seu campo. Ao contrário do  fascismo europeu,
que foi capaz de arrastar as grandes massas pequeno-burguesas e morder O Estado contrainsurgente, produto da contrarrevolução latino-americana,
mesmo o proletariado, ganhando certo grau de apoio entre trabalhadores apresenta uma hipertrofia do Poder Executivo, através [dos] seus vários ór-
desempregados e até trabalhadores ativos, a burguesia monopolista na gãos, em relação aos demais. Não é, no entanto, uma característica que a
América Latina não pode reivindicar a força verdadeira da massa, que lhe caracteriza em relação ao Estado capitalista moderno. Em vez disso, essa
permite enfrentar politicamente, nas vozes e nas ruas, o movimento popu- distinção deve ser buscada na existência de dois ramos centrais de decisão
lar. Portanto, o objetivo é restaurar as condições de operação do aparelho de dentro do Poder Executivo. Por um lado, o  ramo militar, constituído pelo
Estado, mesmo temporariamente, para poder atuar em seu nome. Estado-Maior das Forças Armadas, que expressa a instituição militar no
RUY MAURI MARINO
nível da tomada de decisão e que se baseia na estrutura vertical própria
Isso implica em resolver a unidade burguesa, remanescer o bloco no po- das Forças Armadas; o Conselho Nacional de Segurança, órgão supremo
der como antes da sua fratura e restaurar, mesmo que apenas de forma deliberativo, no qual os representantes do ramo militar estão interligados
limitada (isto é, dividi-lo) suas relações de aliança com a pequena burgue- com os representantes diretos do capital; e os órgãos do serviço de in-
sia. Sobre esta base, o Estado pode entrar para resolver a luta de classes, teligência, que informam, orientam e preparam o processo de tomada de
através da intervenção aberta do último instrumento de defesa do poder decisão. Por outro lado, o ramo econômico, representado pelos ministérios
burguês: as Forças Armadas. Este é, então, o verdadeiro objetivo da política econômicos, bem como pelas empresas estatais de crédito, produção e
de desestabilização praticada pela burguesia e não, como no fascismo, a serviços, cujos cargos-chave são ocupados por tecnocratas civis e milita-
conquista de uma força política superior à do movimento revolucionário. E res. Assim, o Conselho de Segurança Nacional é a área em que ambos os
é por isso que encontramos na contrarrevolução latino-americana outra ca- ramos convergem, entrelaçando-se, e se constitui no pico, o órgão chave
racterística peculiar em relação ao fascismo : o discurso ideológico da de- do Estado contrainsurgente.
fesa da democracia burguesa, isto é, do Estado burguês, contrariamente à
sua negação, como os movimentos fascistas o colocaram. Essa é a estrutura real do Estado contrainsurgente, que estabelece a alian-
ça entre as Forças Armadas e o capital monopolista, e onde o processo
de tomada de decisão ocorre fora da influência das outras instituições que
compõem o clássico Estado burguês, como o poder legislativo e o poder

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

judiciário. Esses podem perfeitamente ser mantidos no âmbito da ditadu- se analisarmos os fatores que determinam essa situação. Continuaremos,
ra militar, como no Brasil, ou  mesmo configurar um regime civil, como nesta análise, os mesmos passos tomados para examinar a origem e a
na Venezuela, sem afetar a estrutura e o funcionamento efetivo do Estado cristalização do processo contrarrevolucionário na América Latina.
contrainsurgente. Lembremos, neste sentido, de como a Venezuela -onde
o primeiro teste de contrainsurgência foi conduzido na América Latina no Se partirmos do primeiro fator considerado: imperialismo dos EUA, con-
início dos anos sessenta- evoluiu no sentido de criar seu Conselho Nacio- firmaremos imediatamente que sua situação é diferente do que era nos
nal de Segurança e até mesmo a estruturação de um Sistema Nacional de anos sessenta. Após o boom econômico desse período, ocorreu uma crise
Empresas Públicas, que governa o capitalismo do Estado venezuelano fora econômica, sem perspectivas de uma solução à vista. Nesse contexto, a
de todo controle pelo Congresso e outros órgãos estatais. hegemonia norte-americana no campo capitalista não é mais incontestá-
vel, como era até então, mas é confrontada com as pretensões que, no pla-
Em suma, o Estado de contrainsurgência é o Estado corporativo da burgue- no econômico e político, são criadas pelas outras potências imperialistas,
sia monopolista e das Forças Armadas, independente da forma assumida particularmente a Alemanha Federal e o Japão. A crise também se refletiu
por esse Estado, isto é, independentemente do atual regime político. Esse no próprio interior da sociedade americana, causando uma crise ideológica
Estado tem semelhanças formais com o Estado fascista, bem como com e política que, através de eventos como Watergate, movimento hippie e
outros tipos de estado capitalista, mas sua especificidade é em sua pecu- outros, afetou a legitimidade do sistema de dominação.
liar essência corporativa e na estrutura e funcionamento que são gerados
lá. Chamá-lo de fascista não nos avança um passo para entender o seu Em outro plano, juntamente com um reforço constante da União Soviética,
significado. que conseguiu manter o equilíbrio militar com os Estados Unidos, houve um
notável avanço das forças revolucionárias em diferentes partes do mundo. O
Essa análise não deve levar a mal-entendidos. Os tecnocratas civis e mi- ponto crítico da crise econômica, em meados desta década, coincidiu com
litares, que lidam com a gestão do Estado, não são nada mais do que a as grandes vitórias do movimento revolucionário na África, particularmente
representação política do capital e, como tal, não há especulações sobre Moçambique e Angola e na Ásia, com a espetacular derrota dos Estados
sua autonomia, além do que pode ser feito com qualquer representação Unidos no Vietnã, ao mesmo tempo que na própria Europa, as forças popu-
política diante da classe que representa. Em outras palavras, é profunda- lares conseguiram progressos significativos em Portugal, Espanha, Itália e
mente  errôneo descrever essa tecnocracia como burguesia estatal, no Grécia, e mesmo em fortalezas imperialistas como a França.
mesmo plano que a própria classe burguesa. Da mesma forma, a fusão dos
interesses corporativos das Forças Armadas e da burguesia monopolista Neste contexto, o imperialismo norte-americano teve que fazer ajustes na
não deve obscurecer o fato de que essa última representa uma fração es- sua estratégia, expressa na política de Carter. Esse assumiu o governo com
tritamente capitalista da burguesia, enquanto as Forças Armadas [ou, mais o propósito explícito de restabelecer a legitimidade do sistema de domina-
precisamente, o oficialato] é apenas um corpo de funcionários cuja vontade ção dentro da sociedade norteamericana, lançando mão de velhos mitos
econômica e política são rigorosamente a da classe que serve. Finalmente, que são caros para a ideologia burguesa nesse país, como o dos Direitos
é necessário ter em mente que, embora o Estado de contrainsurgência seja Humanos, e medidas que tentam tornar a crise menos pesada para os dife-
o Estado do capital monopolista, cujas frações constituem hoje o bloqueio rentes grupos sociais do país. Da mesma forma, tem tido a tarefa de evitar
no poder, não se exclui a participação das demais frações burguesas, assim a crise econômica, reafirmando a hegemonia norte-americana no campo
como em sua reprodução econômica, o capital monopolista cria constan- capitalista; mesmo que admita que esta hegemonia deve ser compartilha-
temente para os outros setores capitalistas condições de reprodução [e da, de acordo com o que foi proposto pela Comissão Trilateral, os Estados
também de destruição], o que torna incorreto supor que as camadas bur- Unidos pretendem permanecer o eixo governante da relação de forças a se
guesas não monopolísticas possam estar interessadas na supressão de estabelecer entre as potências imperialistas.
RUY MAURI MARINO

um Estado que constitui a síntese das relações de exploração e dominação


Finalmente, o imperialismo dos EUA pretende modificar sua estratégia glo-
em que baseiam sua existência. Não reside em outra causa o fracasso das
bal, para compensar e evitar a repetição das falhas da primeira metade da
frentes antifascistas que se tentou por em marcha na América Latina e
década, uma modificação que segue duas linhas principais. A primeira é
que têm se chocado sempre com a rejeição da burguesia não monopolista,
a polarização das relações com o campo socialista, centralizando-as na
independentemente das tensões que esta mantém com o bloco dominante.
Europa; a segunda , a desconflagração ou o resfriamento das zonas perifé-
A revisão da estratégia norte-americana ricas “quentes”. Por essa razão, Carter sustentou que a Europa é a espada
do Ocidente e se esforçou para tornar tensas as relações entre a OTAN e o
Tentei estabelecer, até este ponto, as causas e a natureza da contrarrevo- Pacto de Varsóvia. Embora possa eventualmente levar à guerra, a política
lução latino-americana, bem como o caráter do Estado a que deu origem. agressiva e belicista do imperialismo dos EUA em relação à União Soviética
Agora vou me preocupar com a situação atual da contrarrevolução, corres- realmente procura um novo equilíbrio, com base no que o ex-presidente
pondente a uma fase de institucionalização e, até certo ponto, a uma demo- Ford chamou de “paz com força” para o que privilegia a Europa, consideran-
cratização limitada, que aponta para o que os teóricos do Departamento de do que o avanço da revolução mundial em outras áreas estava deteriorando
Estado dos Estados Unidos chamaram de “democracia viável” e, ainda mais a correlação das forças em detrimento dela. Consequentemente, propõe
precisamente, “governable democracy”. Indubitavelmente, essa fase traz uma política de resfriamento das zonas periféricas, a partir de medidas que
modificações ao Estado contrarrevolucionário, o que entenderemos melhor tentam resolver problemas particularmente agudos, como os que foram

116
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

levados no Oriente Médio, no Panamá, etc., até a revisão da doutrina da nascido de divisões surgidas dentro do grande capital, a própria burguesia
contrainsurgência, que visa suavizar seus aspectos mais severos e adaptá- monopolista.
-lo às novas condições da luta de classes.
Assim, é possível ver como no Brasil -uma vez que, em 1974,
Isso ocorre porque a contrainsurgência, apesar da capacidade que demons- o padrão de reprodução econômica baseada na indústria de bens de con-
trou para parar o movimento revolucionário em muitas áreas, sofreu con- sumo suntuário entrou em crise- as lutas intraburguesas ocorrem entre as
tratempos severos, particularmente no Vietnã, e provou ser incapaz, mesmo frações nacionais e estrangeiras [norte-americanas, fundamentalmente],
quando foi efetivo para parar o movimento revolucionário, de assegurar as ligadas a essa indústria, e frações nacionais e estrangeiras [essencialmen-
condições de uma dominação política estável, como é o caso da América te, euro-japonesas], que se assentam na indústria básica e bens de capital.
Latina. Também se deve ao fato de que as potências imperialistas euro- Hoje, é uma questão de decidir a direção da economia do país, o padrão
peias, na medida em que são levadas a assumir maiores responsabilidades de reprodução que deve seguir, e isso implica a realocação de recursos,
globais no âmbito da hegemonia compartilhada, são obrigadas a considerar impostos, crédito e outras vantagens, estimula a rivalidade entre esses
a força do movimento operário em seus países, o que se opõe à violên- dois setores do grande capital, que polariza os outros grupos capitalistas
cia bruta e aberta que a doutrina de contrainsurgência utilizava. O uso de que estão ligados a um setor ou outro. Deve-se ter em mente que, nestas
métodos contrarrevolucionários mais sutis, impulsionados principalmente circunstâncias, não é mais possível esconder as lutas intraburguesas por
pela Alemanha Federal, produziu resultados positivos nos países da Europa trás das justificativas nacionalistas ou tentar canalizá-las para fórmulas
mediterrânea. Deixemos notar, de passagem, que a abordagem política, es- antifascistas, já que elas dividem por igual os setores burgueses nacionais
treitamente nacional, feita atualmente por partidos europeus, denominados e estrangeiros que operam no país e enfrentam frações do grande capital.
eurocomunistas, diminui a capacidade do movimento operário nesses paí-
ses de pesar a correlação de forças do mundo e propiciar o equilíbrio para Em qualquer caso, as contradições intraburguesas, quando exacerbadas,
o campo da revolução, como evidenciado pela recente ofensiva reacionária exigem espaço político para poder se estabelecer. A rígida centralização do
que o governo francês conseguiu desenvolver em África, com base na der- poder político, nas mãos da elite tecnocrático-militar, deve ser mais flexível,
rota eleitoral da esquerda na França. devolver certa vigência ao Parlamento como âmbito de discussão, permitir
que as partes e a imprensa atuem, para que as diferentes frações burgue-
No entanto, pode ser que o ponto principal da doutrina da contrainsurgência, sas possam desenvolver sua luta. Isso não entra em conflito, além disso,
que agora está em análise, é aquele que se refere à origem dos movimen- com a exigência de que o Estado continue a ter capacidade suficiente para
tos revolucionários. Abandonando a noção simplista de infiltração externa, manter o movimento de massa em seu lugar, uma vez que, quanto mais
os novos teóricos do imperialismo dos EUA, que emergem da Comissão está ausente da cena política, as frações burguesas têm maior liberdade de
Trilateral, como Huntington, veem o problema como resultado da descom- ação para levar a cabo seus confrontos e negociações. Esta é a razão pela
pensação, dos desequilíbrios que afetam o Estado na sociedade capitalista qual o projeto burguês de institucionalização não se afasta da fórmula da
moderna, como resultado de pressões das massas, em seus esforços para democracia “viável”, “governável” ou restrita, proposta pelos teóricos impe-
melhores condições de vida. Isso é válido não só para os países dependen- rialistas norte-americanos. Da mesma forma, quando a contrarrevolução
tes, mas para os próprios países capitalistas avançados, o que os leva a foi desencadeada, o projeto de grande capital convergiu para o centralismo
considerar o problema da “governabilidade da democracia”, o que necessa- autoritário, em direção às formas ditatoriais propostas por esses teóricos.
riamente aponta para a limitação, para a restrição do próprio jogo político
democrático, para mantê-lo sob controle. Se trata, então, agora, de levar a cabo uma “abertura” política que preserve
o essencial do Estado contrainsurgente. Em que isso consiste? Na institu-
Para a América Latina, a reformulação da estratégia norte-americana se cionalização da participação direta do grande capital na gestão econômica
RUY MAURI MARINO
traduziu na busca de uma nova política, ainda não totalmente definida, que, e na subordinação dos poderes do Estado às Forças Armadas, através dos
além da eliminação de pontos de tensão, como o referente ao Canal do Pa- órgãos estatais que foram criados, em particular o Conselho Nacional de
namá, aponta para uma institucionalização política, capaz de se expressar Segurança. O primeiro ponto não está, evidentemente, em discussão para a
em uma democracia “viável”, isto é, restrita. Mas isso não resulta apenas burguesia. No máximo, leva a choques entre suas frações para garantir uma
das abordagens estratégicas dos Estados Unidos, mas também deriva, e fatia maior na distribuição da pilhagem que representa o ramo econômico
principalmente, das novas condições da luta de classes que prevalecem do Estado contrainsurgente. O segundo é, hoje, objeto de discussão: em
na América Latina. muitos países se fala de um Conselho de Estado, como órgão de controle
dos outros aparelhos do Estado, em que as Forças Armadas teriam um peso
Rumo a um Estado com quatro poderes? importante; no Brasil, até a antiga fórmula do Estado monárquico foi tentada
a reviver, consagrada, além dos três poderes clássicos do Estado, ao poder
Papel importante desempenha, nesse sentido, a diversificação do bloqueio
moderador exercido pelo Imperador e que os ideólogos da grande burguesia
no poder, pelas mudanças intervidas no seio da burguesia monopolista. Nos
atribuem hoje às Forças Armadas.
países onde esse fenômeno é mais avançado, como o Brasil, podemos ver
como as contradições intraburguesas já não são guiadas, como no pas- Seja qual for a fórmula adotada - e é mais provável que ela apresente va-
sado, por interesses divergentes da burguesia industrial e agrária, ou dos riantes nos diferentes países do continente -é, no entanto, para um Estado
estratos inferiores da burguesia em relação a seu setor monopolista, mas de quatro poderes, ou mais precisamente, para o Estado do quarto poder,

117
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

em que as Forças Armadas exercerão um papel de vigilância, controle e suscita o medo da burguesia e do imperialismo, obrigando-os a se ape-
direção em todo o aparelho estatal. Esta característica estrutural e opera- gar ainda mais às garantias oferecidas pelo Estado de contrainsurgência.
cional do Estado não será, é claro, o resultado da subjugação do aparelho de Consequentemente, o processo de institucionalização se desenvolve de
Estado pelas Forças Armadas [além das estruturas próprias da democracia maneira extremamente complexa sob o ataque de pressões das massas e
parlamentar que esse detém] e da ordem jurídica de origem militar impos- dos esforços da classe dominante para mantê-lo sob controle, o que impõe
tas  a vida política, em particular as leis de segurança nacional. Deve-se idas e vindas e permite prever que o limite é dado pela defesa que fará do
notar que, no âmbito desta democracia restrita, mas democracia de qual- seu aparelho estatal, como em essência é hoje estruturado.
quer maneira, a palavra  fascismo perderá mesmo o caráter agitador que
tem hoje e terá que ser abandonado; mas esse abandono representará a Consequentemente, não há nenhuma razão para supor que a luta demo-
rejeição de uma análise incorreta da situação atual, e não a sua superação crática travada hoje pelas massas latino-americanas pode ser estendida
por uma análise superior e mais adequada às novas condições políticas que indefinidamente, permitindo que, em algum momento, se produza de forma
surgiram, o que deixará a esquerda e o movimento popular desarmados natural e pacífica o socialismo. Tudo indica que a luta democrática e a luta
para enfrentá-las. socialista serão entrelaçadas para os trabalhadores em um único proces-
so, um processo de confronto difícil e determinado com a burguesia e o
Democracia e socialismo imperialismo.

No entanto, o projeto burguês-imperialista de institucionalização também


é o resultado de um terceiro fator: o movimento de massas, frente ao qual
se coloca com o propósito de levar ao engano e à confusão, mas que se
torna problemático, imprevisível e o ameaça inclusive com o fracasso1(1). Na
verdade, é indiscutível que, lentamente, ziguezagueando, o movimento de
massa latino-americano, após um período de refluxo, entrou desde o final
de 1976 em um processo de recuperação. Mais do que isso, ele apresenta,
ao contrário do que aconteceu até a década de 1960, uma nova caracte-
rística, que até então era exclusiva para os países mais desenvolvidos da
região, como Argentina, Chile e Uruguai: uma clara predominância da classe
trabalhadora no seu seio. Basta olhar para a América Central, Peru, Colôm-
bia, para perceber que a classe trabalhadora se tornou, em toda a região,
o eixo orientador das massas trabalhadoras da América Latina, que estão
gradualmente dobrando sua liderança e adotando suas formas de organiza-
ção e luta. Ao mesmo tempo, embora sua influência continue a ser grande
em alguns países, o campesinato está cedendo lugar a um proletariado
agrícola numeroso e combativo, geralmente agrupado em centros urbanos,
o que cria condições objetivas para realizar a aliança trabalhador-campo-
nesa, enquanto a pequena burguesia urbana é cada vez mais composta de
camadas proletárias e, na maioria dos casos, empobrecidas, que mantêm
e acentuam a tendência, já observada no início dos anos sessenta, para
mudar suas alianças de classe para o campo popular.
RUY MAURI MARINO

A ação dessas grandes massas, ao mesmo tempo em que torna mais


necessária a implementação de novas fórmulas de dominação, que não
podem mais ser baseadas em violência pura e simples, complica a imple-
mentação do projeto burguês-imperialista, na medida em que eles tendem
a abordar o último com crescente autonomia, pressionando por concessões
imprevistas, bem como expandindo e aprofundando as reformas propostas.
Ainda de pé no plano da luta econômica e democrática, as massas ainda
não perderam a memória, em particular nos seus setores mais avançados,
da mensagem socialista que, através da ação, a esquerda latino-america-
na os levou ao longo dos anos 60, bem como na presente década, o que

1 Esse trecho gera muita confusão, mesmo no texto original. Ainda assim, este tradutor optou por inserir aqui -nessa pequena nota- sua versão original, na tentativa de que o leitor possa
comparar com a tradução, e assim tirar suas próprias conclusões: “el movimiento de masas, ante el cual se plantea con el propósito de mover a engaño y confusión, pero que lo vuelve
problemático, errático y lo amenaza incluso con el fracaso”. 

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Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Vem aí o fascismo?
[publicado na Política Operária nº 85, Maio-Junho 2002]

FRANCISCO MARTINS RODRIGUES

Há quem monte vigilância para não deixar entrar o fascismo pela porta e nacionais; reformados, sensíveis à intoxicação sobre a insegurança; jovens
não o veja entrar pela janela… totalmente despolitizados, que julgam assim exprimir a sua rebeldia contra
o trabalho precário; assalariados, saturados das trampolinices dos parti-
Áustria, Itália, França, Dinamarca, Holanda… No meio de interrogações e dos do sistema, operários de regiões industriais sinistradas, triturados pela

FRANCISCO MARTINS RODRIGUES


protestos, a extrema direita europeia vai abrindo caminho como uma for- engrenagem das “reestruturações” e pelos despedimentos em massa, que
ça política que já não pode ser ignorada. Os adeptos da teoria de que a chegaram ao ponto de ver uma última esperança em demagogos reles. Por
normal rodagem do sistema democrático é o melhor modo de afastar o duro que pareça, quem recolheu mais votos operários nas últimas eleições
perigo fascista ficam embaraçados perante o apoio popular crescente aos presidenciais francesas foi Le Pen.
Le Pen e Haider. Tem que se pôr a pergunta: corre a Europa o risco de ver os
neofascistas no poder? E assim como os antigos fascistas cresceram ao canalizar as frustrações
dos sectores populares desorientados para um alvo preciso [a “conspira-
Há quem alegue que esta nova extrema direita inserida nas instituições ção judaico-plutocrática-bolchevista”], também o fascismo actual cresce
nada tem de comum com o fascismo clássico, e é de facto difícil ver dita- apoiado no novo bode expiatório – os imigrantes africanos e árabes, que
dores em potência nos Le Pen ou Haider. “trazem consigo a miséria, a insegurança e, quem sabe, os atentados terro-
ristas”… A divisão da classe operária entre nacionais e imigrantes, concor-
Mas também é ingenuidade demasiada esperar que eles digam agora tudo
rendo entre si e ignorando-se mutuamente, é hoje, sem dúvida, um imenso
o que pretendem. Para já, precisam de conquistar força eleitoral afastando
factor de risco que a campanha “antiterrorista” veio acentuar.
receios. O seu verdadeiro rosto e os seus verdadeiros líderes só noutras
condições surgirão. Não tenhamos dúvida de que começam a reunir-se na Europa os ingre-
dientes propícios para um ascenso fascista. Na sua esmagadora maioria os
Asseguram outros que não há razões para alarme porque o voto nessas for-
votantes nos Fortuyn, Haider, Le Pen e Cia. não são adeptos conscientes do
ças seria apenas um voto de protesto, sinal de saudável inconformismo de
regime fascista. Tal como não o eram os milhões que há 70 anos elegeram
certas franjas da população. Mas isto é esquecer que o descontentamento
Hitler. Aspiram a um Estado que os proteja da crise e lhes dê ordem e sos-
desses eleitores tem um sinal muito especial: eles querem um Estado forte
sego – e isso conduz ao fascismo.
e uma polícia “musculada” que meta na ordem a juventude dissidente e
feche os imigrantes em guetos ou os expulse. Uma boa parte do eleitorado Mas isto não quer dizer que o perigo fascista se esteja a materializar pela
europeu defende uma política reaccionária. sua face mais visível, pelos Le Pen e Cia. Ele tem outra face menos es-
palhafatosa mas muito mais poderosa. Como acaba de se ver em França:
Naturalmente, esses votantes na extrema direita são pessoas comuns. São
em “defesa” contra o fascismo, eleger políticos “democratas” cada vez mais
pequenos comerciantes e artesãos enraivecidos contra os regulamentos
reaccionários, que em nome do “Estado de direito” vão tranquilamente to-
de Bruxelas e contra os “vadios” que vivem à custa do rendimento mínimo;
mando as mesmas medidas propostas pelos fascistas. Para Aznar, Chirac,
camponeses em desespero devido à concorrência demolidora das multi-

119
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

Schroder, a extrema direita é útil porque cria o ambiente de pânico securi- Mas não haja dúvida. Se amanhã, em situação de crise e de convulsão,
tário e de desorientação propício às medidas que eles próprios têm que os grupos financeiros que governam a Europa resolverem apostar em go-
adoptar. Como dizia há dois anos o fascista austríaco Haider: “Comparem vernos “fortes”, os tarados folclóricos de cabeça rapada e braço estendido
o meu programa com o de Tony Blair e vejam como são semelhantes”. Os voltarão a ser uma ameaça mortal. A burguesia chamará ao activo as suas
neofascistas abrem caminho, os “democratas” levam à prática. forças políticas de reserva. Os partidos fascistas de combate surgirão. O
terrorismo na Itália dos anos 70 foi uma boa indicação a esse respeito.
Porque a realidade é que as classes políticas dirigentes europeias, hoje,
seja qual for a sua tendência ou o seu emblema – liberais, socialistas, cris- Os apelos à frente comum com os grandes partidos do sistema para “barrar
tãos, verdes, ecologistas, “comunistas” -, sempre que passam pelo governo, o caminho ao fascismo” levam-nos directamente para a boca do lobo. En-
cumprem o programa fascizante que lhes cabe como comissários da gran- tre os grandes partidos “democráticos” e os neofascistas há uma corrente
de Europa do Capital: poder irrestrito das multinacionais, corte nos gastos contínua. A luta directa contra os neofascistas tem que ser inscrita como
sociais, desorganização do movimento operário, repressão dos imigrantes, parte da luta geral contra a “democracia” fascizante do grande capital, pela
montagem de um monstruoso sistema de vigilância, bombardeamento expropriação da burguesia, pela democracia dos trabalhadores.
mediático, criminalização dos movimentos dissidentes, participação em
expedições imperialistas. ‍

Nesta época de agonia do sistema, a democracia burguesa também ago-


niza, o fascismo brota por todos os poros do regime político. A burguesia
não pode dispensar uma sociedade sem entraves à caça ao lucro, “bem
ordenada”, de pensamento único, embrutecida pela alienação e pelo medo
– e isto é fascismo. Um fascismo diferente do antigo, claro, com armas
nucleares, vigilância electrónica, uma máquina mediática avassaladora, a
corrupção universal – e que por isso mesmo precisa de ser administrado
por aparelhos altamente profissionais.

A grande desvantagem dos Le Pen, Haider, Bossi, Fortuyn, etc., em compa-


ração com os seus antecessores é pois essa: os homens do grande capital
FRANCISCO MARTINS RODRIGUES

não estão ainda a apostar neles como forças de governo porque confiam
as tarefas essenciais da fascização da sociedade aos partidos e aos meios
“democráticos”. Aos fascistas é atribuído o papel auxiliar de catalisadores
de correntes reaccionárias. Por isso mesmo não recebem meios financeiros
e apoio policial e mediático para criar milícias armadas e partidos de massa.

120
Compilaçom de textos marxistas sobre o fascismo

10 medidas políticas antifascistas


[2018]

AGORA GALIZA - UNIDADE POPULAR

1- Desfascistizar a Galiza 8- Criaçom de um Instituto Nacional de Recuperaçom da Me-


mória Histórica
Eliminaçom dos espaços públicos até o último vestígio simbólico e icono-
gráfico da ditadura. Dotado de recursos económicos necessários, centrado no estudo da opres-
som do Povo Galego ao longo da história, visado para reabilitar e dignificar
2- Nacionalizaçom de todo o património da família Franco todas as vítimas dessa repressom, começando polas vítimas da guerra de
classes de 1936-39 e o franquismo.
Resultado do acumulado no saqueio e incautaçom praticada na ditadura.
9- Exigência à Igreja católica de condena pública pola
Devoluçom a entidades, associaçons e particulares. participaçom no golpe fascista e posterior legitimaçom do
franquismo

AGORA GALIZA-UNIDADE POPULAR


3- Ilegalizaçom de todas os partidos e organizaçons franquis- 10- Derrogaçom de todas as leis que perseguem e limitam a
tas liberdade de expressom
De todas as entidades que nom condenam o franquismo e reivindicam a Assim como aqueles artigos do Código Penal que colidem frontalmente
ditadura: PP, C´s, Vox, as diversas Falanges, as fundaçons Francisco Franco, com os princípios democráticos básicos, concretamente o de humilha-
José Antonio Primo de Rivera, Yagüe, Pro-Infancia Queipo de Llano, Blas çom [artigo 578] reformado pola LO 2/2015, e o de ódio (artigo 510), apro-
Piñar, Serrano Súñer, Ramiro Ledesma Ramos, Millán Astray, a UME [Uniom vado pola LO 1/2015, ambas de 30 de março.
Militar Espanhola], etc.
4- Proibiçom da exibiçom de qualquer simbologia fascista
5- Clausura de todas as publicaçons, editoras e meios de “co-
municaçom” [emissoras de rádio e TV] que realizam apologia
do franquismo
6- Anulaçom da amnistia de 1977
Lei de ponto final que garante a impunidade a todos aqueles que
participárom ativamente na repressom franquista.
Depuraçom integral da administraçom, exército e corpos repressivos.
7- Anulaçom das condenas e juízos realizados durante o
período 1936-1977
Reparaçom das vítimas e familiares.

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