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ue buscamos. Finalmente, apresentarei algumas as minhas definigbes e argumentos preferidos A IMPORTANCIA Da CRITICA A codificagio de métodos ou de conbecimentos (instituindo-os, por exemplo, nos cumrculos formais ‘0u nos cursos de “metodologia”) vai contra algu- ‘mas das principais caracteristicas dos Estudos Cul- turais: sua abertura ¢ versatilidade teédrica, seu espirto reflexivo ¢, especialmente, a importincia da critica, Utllizo “critica”, aqui, no seu sentido mais amplo: nio a critica no sentido negativo, mas a crt «a como 0 conjunto dos procedimentos pelos quais ‘outras tradigdes sto abordadas tanto pelo que elas podem contribuir quanto pelo que elas podem ini- bir. A critica apropria-se dos elementos mais itis, rgjeitando o resto, Deste ponto de vista, os Estudos (Culturais sto um processo, uma espécie de alquimia para produzir conhecimento dei: qualquer tentati- va de codificé-los pode paralisar suas reacties. Na historia dos Estudos Culturais, 0s primeiros encontros foram com a critica literiria. Raymond Williams ¢ Richard Hoggart, de modos diferentes, desenvolveram a énfive Jeavisiana na avaliasio litero- social, mas deslocaram-na da literatura para a vida eee cotidiana* Ocorrew um processo similar de apro- priago relativamente & disciplina de Histéria. © mo- ‘mento mais importante, aqui, foi o desenvolvimento das tradigdes de Historta Social, no pés-guerra, com sea foco na cultura popular ou na cultura do povo, especialmente sob suas formas politicas. Foi funda- mental, neste aso, o grupo de historiadores do Par- tido Comunista, com seu projeto — dos anos 40 inicio dos anos 50 — de historicizar 0 velho macs ‘mo, adaptando-o, 20 mesmo tempo, &situagio brit nica, Essa infuéncia foi, de certa forma, paradoxal, pois os historiadores estavam menos preocupados com a cultura contemporinea ou mesmo com o sé: culo XX, colocando suas cnergias,em ver disso, numa compreensio da longa transigio bhriténica do feuda- lismo para o capitalismo, bem como nas Iutas popu- lares © nas tradigbes de dissidéncia associadas com Foi este trabalho que se tomou a se- gunda matriz, dos Estudos Cultaras. A critica ao velho marxismo era central tanto nas vertentes literirias quanto nas vertentes his- téricas. A recuperacio dos “valores” — feita con- tra 0 estalinismo — foi um impulso importante na primeira “Nova Esquerda”, mas a critica do eco- nomicismo fol o tema continuo que acompanhou toda a “arse do marssmo” que se segnia. Os Estudos a 2 altonis foram, cenamente, formacios no lado de ci dlaguilo que podemes chamar, paradoalmente, de “re- val manssta modemo”, € nos empréstimos intemacio- ais que foram, de forma note, ua marca ds anos 70. £ importante observar que, em diferentes pases, 2s ‘mesma fans ocuparam lugares dienes Smplesmente Porgue as rots nacionas eram difents, A adogiio do althussesanismo, por exemplo, éincompreensiel fora do pano de fimdo do empircsmo dominant das tradi es intelectas britnias, Esta carcectica ajuda a ex plcara ata pela Hlosofa nfo como uma busca tevrica, ‘mas como um radonaismo generalzado © uma aragio por dias abstatas* De forma similar, é importante ob- sear 0 modi como Gramsci, elivado como uma cxto- dosia ma Ita, £6 aproprado por nés como uma figura catia, hetcrodoxa, Ele representou um importante re- forgo para um projet de Esmidos Cultura que, nos anos 70, jesava parcalmente fomado.* HS longas discussdes sobre quem — no émbito dos Estudos Culturais — continua ou n30 marxis- ta. E mais interesante, entretanto, analisar quais Sio, especificamente, as influéncias de Marx sobre 0 Estudos Culturais. Cada um de nés sem sua pr pia lista de influéneias. A minha, que no preten- de estabelecer uma ortodoxia, inciui trés premissas principais. A primeira é que os processos cultrais cstio intimamente vinculados com as relagdes soci- ais, especialmente com as relagdes ¢ as formacdcs de classe, com as divisdes semuais, com a estrurura- fo racial das relagdes sociais € com as opressbes de idade. A segunda € que cultura envolve poder, con- tribuindo para produzir assimetrias nas capacida- ddes dos individuos ¢ dos grupos sociais para definir ¢ satisfazer suas necessidades. E a terccira, que se deduz das outras duas, é que a cultura ndo € um ‘campo autnomo nem externamente determinado, ‘mas um local de diferengas e de lutas socias, Isto, de forma alguma, esgota os elementos do marxis- ‘mo que, nas circunstincias existentes, continuam ativos, vivos e valiosos, sob a condigio, apenas, de que também cles sejam criticados ¢ trabalhados em estudos detalhados, Oucras criticas tém sido distintamente filos6fi- cas. Os Estudos Culturais tm se destacado, no con- texto brivinico, por sua preocupagao coma “teori2”, mas o grau de conexio coma Filosofia no tem sido

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