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Indice
Dedicaçã o
Prefá cio
Linha do tempo: pessoas e eventos papais, eclesiá sticos e seculares
Introduçã o
I. VIDAS DOS PAPAS
PARTE I: De Pedro ao Inı́cio de um Papado Universal
PARTE II: De Leã o, o Grande, ao alvorecer do Impé rio Carolı́ngio
PARTE III: Do Impé rio Carolı́ngio ao Inı́cio do Papado Moná rquico
PARTE IV: Da Reforma Gregoriana à Reforma Protestante
PARTE V: Da Contra-Reforma ao Inı́cio do Papado Moderno
PARTE VI: Papas modernos de Pio IX a Pio XII
PARTE VII: Papas modernos de Joã o XXIII a Bento XVI
II. EPILOGO: O FUTURO DA PAPACIA
III. ANEXOS
A. Como os papas sã o eleitos
B. Como os papas sã o removidos do cargo
C. Avaliando os papas
INSERÇAO DE FOTO
4. TABELAS
1. Lista cronoló gica de papas
2. Ponti icados mais longos e mais curtos
3. “Primeiros” e “Ultimos” papais
4. Principais encı́clicas papais
5. Lista de antipapas
V. GLOSSARIO
VI. SELECIONE A BIBLIOGRAFIA
INDICE
1. Papas
2. Nomes pessoais
3. Assuntos
CREDITOS DE FOTOGRAFIA
Sobre o autor
També m por Richard P. McBrien
Cré ditos
direito autoral
Sobre a Editora
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DEDICAÇÃO

Em grata memória de

J OHN XXIII (1958–1963),

o papa mais amado da história


CONTEÚDO
Dedicaçã o
Prefá cio
Linha do tempo: pessoas e eventos papais, eclesiá sticos e seculares
Introduçã o

I. VIDAS DOS PAPAS


PARTE I: De Pedro ao Inı́cio de um Papado Universal
PARTE II: De Leã o, o Grande, ao alvorecer do Impé rio Carolı́ngio
PARTE III: Do Impé rio Carolı́ngio ao Inı́cio do Papado Moná rquico
PARTE IV: Da Reforma Gregoriana à Reforma Protestante
PARTE V: Da Contra-Reforma ao Inı́cio do Papado Moderno
PARTE VI: Papas modernos de Pio IX a Pio XII
PARTE VII: Papas modernos de Joã o XXIII a Bento XVI

II. EPÍLOGO: O FUTURO DA PAPÁCIA

III. ANEXOS
A. Como os papas sã o eleitos
B. Como os papas sã o removidos do cargo
C. Avaliando os papas

INSERÇÃO DE FOTO

4. TABELAS
1. Lista cronoló gica de papas
2. Ponti icados mais longos e mais curtos
3. “Primeiros” e “Ultimos” papais
4. Principais encı́clicas papais
5. Lista de antipapas

V. GLOSSÁRIO

VI. SELECIONE A BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE
1. Papas
2. Nomes pessoais
3. Assuntos

CRÉDITOS DE FOTOGRAFIA

Sobre o autor
També m por Richard P. McBrien
Cré ditos
direito autoral
Sobre a Editora
PREFÁCIO
ESTE LIVRO TEM A NATUREZA DE UM SPIN-OFF FROM ONE - o volume HarperCollins Encyclopedia of Catholicism , publicado em
1995, para o qual servi como editor geral. Um dos muitos recursos populares dessa enciclopé dia é sua lista de vinte
pá ginas de papas, contendo nã o apenas seus nomes e anos de mandato (a ú nica informaçã o contida nas listas usuais
de lista telefô nica), mas també m um breve esboço de cada ponti icado. Muitos leitores acharam fascinante, até
mesmo divertido, digitalizar esses resumos altamente compactados nã o apenas porque fornecem uma visã o geral
conveniente da histó ria da igreja, mas també m porque abrem uma janela para a grande variedade de homens que
realmente ocuparam a Cá tedra de Pedro sobre o durante quase vinte sé culos, guerreiros e paci icadores, santos e
canalhas, polı́ticos e pastores, reformadores e nepotistas.
Este livro nã o apenas expande muito os esboços de cada ponti icado, mas també m inclui recursos que fornecem
um contexto histó rico e teoló gico mais amplo: uma linha do tempo de importantes personalidades e eventos papais e
eclesiá sticos, por um lado, e de personalidades seculares igualmente importantes e eventos, por outro; uma
explicaçã o introdutó ria do papado e dos dois principais dogmas papais (primado e infalibilidade); introduçõ es a
cada um dos sete perı́o dos histó ricos em que as vidas dos papas estã o agrupadas; uma histó ria dos conclaves papais
e um resumo das ú ltimas regras para as eleiçõ es papais, promulgadas pelo Papa Joã o Paulo II em 1996; uma
explicaçã o de como os papas podem, ou foram, destituı́dos do cargo sem ser por morte; uma classi icaçã o dos papas,
de “excelente” a “pior”; uma re lexã o, por meio de um epı́logo, sobre o futuro do papado; uma sé rie de tabelas,
incluindo uma lista cronoló gica de papas, cá lculos dos ponti icados mais longos e mais curtos, uma lista de
"primeiros" e "ú ltimos" papais, uma lista das principais encı́clicas papais e uma lista de antipapas; um glossá rio de
termos; uma bibliogra ia selecionada de recursos populares e acadê micos; uma seçã o de dezesseis pá ginas de fotos
de papas e outras pessoas, eventos e monumentos relacionados ao papado; e um ı́ndice de papas junto com os
ı́ndices usuais de nomes pessoais e assuntos.
Nenhum leitor deve ter a ilusã o de que esta é uma obra de estudo histó rico fundamental. Nesse caso, apresso-me
a emitir uma declaraçã o em contrá rio. Na verdade, nã o consigo imaginar nenhum historiador individual hoje
escrevendo uma histó ria verdadeiramente completa e abrangente de cada um dos mais de 260 ponti icados
espalhados ao longo de quase dois mil anos. Seria o trabalho de mais de uma vida, e provavelmente de vá rias. Por
exemplo, os quarenta volumes do grande Ludwig von Pastor, History of the Papacy (em traduçã o inglesa), cobre
apenas os papas do inal da Idade Mé dia. O livro de Horace K. Mann, de 18 volumes, Lives of the Popes, cobre apenas
o inı́cio da Idade Mé dia. Por que, entã o, esta revisã o de um volume das vidas e ponti icados de todos os papas? Este
tipo de resumo já nã o foi feito? Sim e nã o. Sim, existem vá rios compê ndios recentes que servem muito bem como
dicioná rios enciclopé dicos ou simplesmente dicioná rios dos papas. Pensamos imediatamente em The Oxford
Dictionary of Popes , de JND Kelly , publicado em 1986. E sem dú vida a melhor obra de um volume desse tipo na
lı́ngua inglesa. O leitor cuidadoso deste livro saberá que con iei em Kelly o tempo todo, assim como ele con iou em
cinco volumes de Franz Xaver Seppelt, Geschichte der Päpste ( 1954-1959 ). Mas este livro difere do de Kelly por
oferecer mais do que resumos da vida e do ponti icado de cada papa. Ele fornece ao leitor um contexto teoló gico no
qual localizar e interpretar esses resumos. Como um estudioso anglicano que tem estado ativo no diá logo ecumê nico
com a Igreja Cató lica Romana (ele acompanhou o arcebispo de Canterbury, Robert Runcie, em sua visita ao Papa
Paulo VI em 1966), o cô nego Kelly pode ter estado sob maior restriçã o do que um romano titular. Teó logo cató lico,
para que ele nã o cruze a linha da propriedade ecumê nica ao levantar questõ es embaraçosas sobre as reivindicaçõ es
papais ou as implicaçõ es das açõ es tomadas por papas individuais, concı́lios ecumê nicos e outras agê ncias
autorizadas da Igreja. Em qualquer caso, as caracterı́sticas acima mencionadas deste livro - alé m dos resumos da
vida de cada papa e de seus ponti icados - nã o fazem parte do volume esplê ndido e ú til do Cô nego Kelly.
Existem també m dicioná rios enciclopé dicos (ou simplesmente dicioná rios) do papado em outras lı́nguas. Em
italiano, há uma excelente Storia dei Papi , ricamente ilustrada, em dois volumes , de Francesco Gligora e Biagia
Catanzaro (1989) e um Dizionario Enciclopedico dei Papi , mais compacto, mas substantivo, em um volume , de
Battista Mondin (1995). Em alemã o existe um Die Päpste in Lebensbildern , de um volume , de Josef Gelmi (1989), que,
ao contrá rio dos outros, situa os papas em vá rios perı́o dos histó ricos (por exemplo, o inı́cio da Idade Mé dia, o
Renascimento, da Revoluçã o Francesa à a Primeira Guerra Mundial) e apresenta cada seçã o com um breve
comentá rio histó rico. Mas algumas das entradas desse volume sã o extraordinariamente breves. Finalmente, em
francê s, há um Dictionnaire historique de la papauté de um volume impressionantemente amplo , um esforço coletivo
de mais de duzentos estudiosos sob a direçã o de Philippe Levillain (1994). Inclui muitas entradas sobre tó picos
listados no glossá rio deste livro e conté m uma rica variedade de atraentes fotos coloridas e mapas. Uma
desvantagem é que, ao contrá rio dos outros volumes mencionados acima, o material sobre os papas teve que ser
organizado em ordem alfabé tica em vez de cronologicamente. Perde-se, portanto, o sentido do desenvolvimento
histó rico. Em vez disso, torna-se uma obra de referê ncia por si só , em vez de um livro que se possa ler de capa a
capa. Alé m disso, as entradas sã o escritas por um grupo grande e muito diverso de autores. O que se ganha em
termos de profundidade e especializaçã o mais concentradas pode ser perdido em termos de coerê ncia e
consistê ncia de estilo e conteú do. Mas para quem lê francê s, é uma obra de referê ncia excelente e extremamente
valiosa. Na verdade, ao escrever meu pró prio livro, con iei em todas essas obras, em um grau ou outro, e també m
nas entradas individuais de cada um dos papas na monumental New Catholic Encyclopedia (quatorze volumes, mais
um volume de ı́ndice e quatro volumes suplementares), originalmente publicado sob copyright da The Catholic
University of America em 1967. Este ú ltimo recurso, entretanto, re lete em mais do que algumas das entradas sobre
os papas um retrato pré -Vaticano II, quase triunfalista do papado. Há uma tendê ncia a explicar os crimes papais e as
polı́ticas e iniciativas papais desastrosas, e evitar abordar suas implicaçõ es teoló gicas de importâ ncia crucial. Mas
algumas das entradas sã o excelentes e a enciclopé dia como um todo é uma conquista maravilhosa.
Duas outras fontes també m merecem mençã o especial. Tenho grande interesse no primeiro, como seu editor geral.
Essa é a já mencionada HarperCollins Encyclopedia of Catholicism , que se provou repetidas vezes como uma obra de
referê ncia extraordinariamente valiosa, nã o apenas para o material relativo ao papado, mas també m para muitos
outros tó picos teoló gicos e histó ricos relacionados. Sem esse recurso - produto de tantos estudiosos e alunos
excelentes com os quais tive orgulho de trabalhar - nã o poderia ter concluı́do este livro dentro do tempo que a
editora me reservou. A outra fonte a que iz referê ncia constante é o clá ssico virtual The Oxford Dictionary ofthe
Christian Church , editado por FL Cross e EA Livingstone (segunda ediçã o, 1974). També m aproveitei a terceira
ediçã o, que surgiu no inı́cio de 1997.
No entanto, o que um nã o-historiador como eu icou surpreso ao descobrir enquanto vasculhava seu caminho por
meio dessas diversas fontes secundá rias é o grande nú mero de discrepâ ncias, inconsistê ncias e erros absolutos em
relaçã o a datas e nomes e à s vezes até mesmo em relaçã o aos detalhes de eventos histó ricos signi icativos, como
eleiçõ es papais. Apreciamos mais plenamente como o pecado original é transmitido de geraçã o em geraçã o.
Analogamente, a transmissã o do erro factual acontece nos estudos histó ricos o tempo todo. Um autor con ia em
outro, que con ia, por sua vez, em outro, e este con ia em outro - e assim por diante.
Dado o imenso territó rio histó rico aqui coberto, o leitor pode estar moralmente certo de que també m existem
erros factuais neste livro, apesar dos esforços feitos para detectá -los e eliminá -los. Espera-se, entretanto, que
nenhum dos erros distorça ou invalide o per il bá sico de um papa ou ponti icado individual, ou especialmente as
aná lises teoló gicas do livro e a perspectiva eclesioló gica abrangente. O magistral Oxford Dictionary da Christian
Church , por exemplo, passou por vá rias ediçõ es, cada vez corrigindo erros detectados em versõ es anteriores. E, sem
dú vida, JND Kelly descobriu, ou tomou conhecimento de, uma sé rie de erros em seu pró prio livro excelente. Até o
melhor de nó s é humano e pode cometer um ou dois erros.
A originalidade deste livro consiste, em primeiro lugar, no material selecionado do vasto corpo da literatura
secundá ria como teoló gica e historicamente pertinente, bem como potencialmente interessante para um leitor nã o
especializado; segundo, na organizaçã o do material em perı́o dos histó ricos particulares, com introduçõ es
apropriadas; terceiro, e especialmente, nas interpretaçõ es teoló gicas e pastorais fornecidas ao longo; e quarto, nas
vá rias caracterı́sticas destinadas a expandir e complementar a compreensã o e apreciaçã o do leitor pela instituiçã o
do papado e seus muitos e diversos ocupantes.
O livro é uma obra de referê ncia para ser usada à medida que surgem perguntas ou é um livro para ser lido como
qualquer outro, do inı́cio ao im? E ambos. Mas pretende-se, em primeira instâ ncia, como um livro a ser lido como
qualquer outro, de capa a capa. Depois disso, pode servir de referê ncia, para ser consultado sempre que algué m
tiver dú vidas sobre o papado ou papas individuais.
Talvez a parte mais controversa do livro (alé m de sua visã o crı́tica predominante de vá rias suposiçõ es bı́blica e
historicamente ingê nuas sobre a estrutura da Igreja em geral e a natureza e autoridade do ofı́cio papal em
particular) serã o as avaliaçõ es dos papas como "excelente", "bom" (ou "acima da mé dia"), "pior" e "historicamente
importante". Os cató licos, em particular, nã o estã o acostumados a ler julgamentos francos e comparativos sobre o
cará ter e o desempenho dos vá rios sucessores de Sã o Pedro. Alguns deles até acham irreverente ou ı́mpio fazer isso.
Alé m disso, estudiosos e nã o-acadê micos sem dú vida discutirã o com a colocaçã o de papas individuais em categorias
especı́ icas e a ausê ncia de outros de uma ou outra categoria. Mas a adiçã o desse recurso terá servido bem ao seu
propó sito se estimular um interesse mais vivo nos papas e no papado, e especialmente se ajudar as pessoas a
perceber que os papas nã o surgem de um cortador de biscoitos celestial, que frequentemente diferem nitidamente
de um de outro (em personalidade, estilo de liderança, espiritualidade, teologia e até moralidade), que muitas vezes
há mais polı́tica do que piedade envolvida na seleçã o de um novo papa, e que nossas pró prias visõ es pessoais dos
vá rios papas sã o na verdade re lexos de nossos visõ es nã o apenas do papado, mas també m da Igreja e da pró pria
religiã o. Aqueles, por exemplo, que consideram Bonifá cio VIII como um dos melhores papas da Igreja, e nã o um dos
seus piores, como este livro a irma, estã o evidentemente trabalhando com uma eclesiologia diferente daqueles que
concordam com o julgamento do livro de que o Papa Joã o XXIII é o o papa mais notá vel de toda a histó ria. Mas
vamos começar as discussõ es!
Resta apenas a tarefa sempre agradá vel de agradecer à queles que contribuı́ram de forma signi icativa para a
conclusã o deste livro. Thomas Grady, ex-vice-presidente e editor executivo da Harper San Francisco, propô s
originalmente o livro e ofereceu orientaçã o e incentivo importantes ao longo do caminho. Trabalhei em estreita
colaboraçã o com John B. Shopp, ex-Editor Sê nior da Harper San Francisco durante os está gios iniciais deste projeto
e anteriormente na revisã o e atualizaçã o do Catolicismo (1994), bem como da HarperCollins Encyclopedia of
Catholicism (1995). A fase inal de produçã o estava nas mã os competentes de Terri K. Leonard, editora
administrativa, e Karen Levine, editora assistente. Judith Kleppe foi responsá vel pela seçã o de fotos do livro. Minha
pró pria assistente por doze anos, Donna J. Shearer, prestou uma assistê ncia inestimá vel ao coletar e compilar
materiais de pesquisa pertinentes, auxiliando na produçã o das listas de papas e antipapas e, especialmente,
mantendo todos os meus outros compromissos em ordem para que eu pudesse preservar tempo su iciente para
este. Beverly M. Brazauskas, uma educadora religiosa de muitos anos, preparou o ı́ndice de assuntos e leu o
manuscrito para ajudar a garantir que o conteú do e o estilo atraı́ssem o interesse do leitor em geral. Minha
assistente de pó s-graduaçã o, Sally M. Vance-Trembath, uma estudante de doutorado em teologia sistemá tica em
Notre Dame, executou uma sé rie de tarefas ú teis de e para a biblioteca da universidade, garantindo que eu tivesse
todas as referê ncias de que precisava e no momento precisava deles. També m sou muito grato a Robert J. Wister,
padre da arquidiocese de Newark e professor associado de Histó ria da Igreja na Escola de Teologia da Universidade
Seton Hall, por ler todo o manuscrito e por ajudar a reduzir o nú mero de erros e inconsistê ncias que escapou para a
versã o inal deste livro. Nem é preciso dizer que nem ele nem ningué m, exceto o autor, é responsá vel pelas opiniõ es
e julgamentos aqui expressos. Ao contrá rio da HarperCollins Encyclopedia of Catholicism , este tem sido, na maior
parte, um projeto solo - o que signi ica que, se eu icar tentado a receber quase todo o cré dito, també m terei que
assumir quase toda a culpa por tudo o que de iciê ncias permanecem. Só espero que o leitor goste de usar este livro
tanto quanto gostei de escrevê -lo.
Richard P. McBrien
Universidade de Notre Dame
Março de 1997
Linha do tempo

PESSOAS E EVENTOS PAPAIS, ECLESIÁSTICOS E SECULARES

HISTORIA PAPAL E ECLESIASTICA HISTORIA SECULAR

1- Cristianismo estabelecido em Roma (cerca de 40 anos) 1- Imperadores romanos: Tibé rio (14–37), Calı́gula (37–41), Clá udio 41–
100 100 54), Nero (54–68), Domiciano (ca. 81-ca. 96)
Pedro vem a Roma (ca. inı́cio dos anos 60)

Pedro martirizado em Roma (ca. 64)

Perseguiçõ es por Nero (ca. 64), Domiciano (ca. 81 – ca. 96) e Trajano
(ca. 98–117)
100 Pio I (ca. 142 – ca. 155): o monoepiscopado começa em Roma 100 Imperadores romanos: Trajano (ca. 98–117), Antonino Pio (138–61),
Marco Auré lio (161–80), Sé timo Severo (193–211)
Victor I (189-98): o primeiro papa a tentar impor os padrõ es romanos
em outros lugares (em relaçã o à data da Pá scoa)

As primeiras heresias negam a humanidade de Cristo (gnosticismo,


docetismo)

Desenvolvimento de sı́nodos e conselhos


200 Hipó lito (217-35): o primeiro antipapa 200 Queda da dinastia Han na China (220)

Pontian (230-35): o primeiro papa a abdicar Imperadores romanos: Decius (249–51), Gallus (251–53), Valerian

Stephen I (254–57): entrou em confronto com Cipriano de Cartago por (253–60), Gallienus (260–68), Diocleciano (284–305)

causa de rebatismos Divisã o do Impé rio Romano em Oriente e Ocidente (285)


Perseguiçõ es por Dé cio (249-51) e Valeriano (257-58)

Perı́odo de tolerâ ncia imperial (258 – ca. 300)

300 Perseguiçã o iniciada por Diocleciano (303-13) 300 Inı́cio do perı́odo clá ssico das civilizaçõ es mesoamericanas (300-800)

Edito de Constantino (313) Constantino, o Grande (306–37): ú nico imperador

Constantino apresenta a Melquı́ades (311-14) o Palá cio de Latrã o Inı́cio da dinastia Gupta na India (ca. 320)
Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325) Sede do Impé rio Romano mudou-se para Constantinopla (331)

Primeira Bası́lica de Sã o Pedro construı́da (ca. 330) O Impé rio se divide novamente em Ocidente e Oriente (340)

Primeiro Concı́lio de Constantinopla (381): Credo Niceno- Começam as migraçõ es bá rbaras (ca. 375 – ca. 568)
Constantinopolitano Teodó sio, o Grande (392-95): ú ltimo governante do impé rio unido
Siricius (384-99): primeiro papa a emitir decretos

Donatismo (heresia norte-africana)

400 Inocê ncio I (401-17): alegou autoridade suprema de ensino; sucedeu 400 As migraçõ es bá rbaras continuam
seu pai como papa
Visigodos invadem Itá lia (401)
Agostinho de Hipona (354–430) Alaric captura e saqueia Roma (410)
Concı́lio de Efeso (431) Vâ ndalos saqueiam Roma (455)
Patrick (ca. 390-ca. 461): missã o à Irlanda (ca. 431)
Fim dos imperadores romanos ocidentais (476)
Papa Leã o, o Grande (440-61): alegou autoridade suprema e universal Teodorico funda o reino ostrogodo da Itá lia (493)
para o papa
Clovis, rei dos francos, se converte ao cristianismo (496)
Conselho de Calcedô nia (451)
Acacian Schism (482-519)

Gelá sio I (492-96): primeiro papa a ser chamado Vigá rio de Cristo

500 Symmachus (498-514): primeiro papa a conceder o pá lio a um bispo 500 Justiniano, o Grande (527-65)
fora da Itá lia
Fim da dinastia Gupta na India (ca. 550)
Bento de Nursia (ca. 480 – ca. 547) funda Monte Cassino (ca. 525) Roma e Ná poles anexadas ao Impé rio Oriental (Bizantino) (553)
Joã o II (533-35): primeiro papa a mudar seu nome de nascimento Os lombardos expulsam os bizantinos do norte da Itá lia (565)
como papa

Vigilius (537–55): primeiro papa a ser excomungado (por um sı́nodo de


bispos africanos)

Os imperadores bizantinos rati icam as eleiçõ es papais (537-731)


Igreja de Santa (Hagia) So ia, Constantinopla, consagrada (538)

Segundo Concı́lio de Constantinopla (553)

Gregó rio, o Grande (590-604): primeiro monge a se tornar papa;


governante civil virtual de Roma

Agostinho de Canterbury (falecido por volta de 605): missã o à Grã -


Bretanha (596)

600 Honó rio I (625-38): condenado postumamente por Constantinopla III 600 Muhammad (570-632)
por monotelismo
As migraçõ es bá rbaras terminam na Europa Ocidental (ca. 600)
Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680-81) Arabes conquistam Jerusalé m (637) e destroem Cartago (697)
Contrové rsia monotelita
A aprovaçã o exigida pelos imperadores bizantinos das consagraçõ es
papais continua

700 Bonifá cio (ca. 675-754): missã o aos alemã es (719) 700 Cristianismo no Norte da Africa exterminado por muçulmanos (por
700)
Contrové rsia da iconoclastia (ca. 726-843)

Estê vã o II (III) (752-57): forma os Estados Papais (dados por Pepin III, Carlos Magno torna-se o ú nico governante do reino franco (771)
756)

Consagraçã o de Pepino III (falecido em 768) como rei dos francos e


protetor de Roma

Segundo Concı́lio de Nicé ia (787)

800 Leã o III (795-816): Coroou Carlos Magno como imperador (800) 800 Carlos Magno coroado como primeiro imperador carolı́ngio (800)

Cirilo (826-69) e Metó dio (cerca de 815-85): missã o aos eslavos Arabes saqueiam Roma (846) e conquistam a Sicı́lia (878)

Bası́lica de Sã o Pedro saqueada por piratas muçulmanos (846) O imperador Bası́lio recaptura a Itá lia dos á rabes (880)

Nicolau I (858-67): excomungado patriarca Photius de Constantinopla


(863)

Quarto Concı́lio de Constantinopla (869-70)


Joã o VIII (872-82): primeiro papa a ser assassinado

Marinus I (882-84): primeiro bispo de outra diocese eleito bispo de


Roma

Formosus (891-96): “Cadaver Synod” (897)

900 O papado afunda nas profundezas morais; dominado por famı́lias 900 Arabes expulsos da Itá lia central (916)
romanas
Otto I coroado Sacro Imperador Romano (962)
Mosteiro de Cluny fundado (909) Otto II coroado Sacro Imperador Romano (967)
Hungria é cristianizada (ca. 942) Otto III coroado Sacro Imperador Romano (996)
Joã o XII (955–64): eleito aos dezoito anos; um dos papas mais corruptos
da histó ria

Leã o VIII (963-65): primeiro leigo eleito papa

A Polô nia é cristianizada (966)

Bento VII (974-83): visitas ad limina a Roma tornam-se comuns

A Rú ssia é cristianizada (ca. 988)


Primeira canonizaçã o papal (993)

Gregó rio V (996-99): primeiro papa alemã o


Silvestre II (999-1003): primeiro papa francê s

1000 Clemente II (1046–47): primeiro papa a permanecer bispo de sua ex- 1000 Muçulmanos saqueiam a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalé m (1009)
diocese
Batalha de Hastings (1066)
Começa o cisma leste-oeste (1054) Henrique IV excomungado por Gregó rio VII (1076)
Nicolau II (1058–61): eleiçõ es papais limitadas aos cardeais Henrique IV aprisiona Gregó rio VII (1084)
Gregó rio VII (1073–85): papa reformador; reivindicou autoridade
Cruzados capturam Jerusalé m (1099)
sobre toda a Igreja

Cartuxos fundados (1084)

Criada a Cú ria Romana (1089)

Primeira Cruzada (1096–99)

Cistercienses fundados (1098)

1100 Primeiro Concı́lio de Latrã o (1123) 1100 Henrique V é coroado pelo Sacro Imperador Romano (1111)

Segundo Conselho de Latrã o (1139) Lothair III é coroado pelo Sacro Imperador Romano (1133)

Eugenius III (1145–53): primeiro papa cisterciense Frederico Barbarossa coroado imperador do Sacro Impé rio Romano

Segunda Cruzada (1146-48) (1155)

Thomas Becket assassinado na Catedral de Canterbury (1170)


Adriano IV (1154-59): primeiro e ú nico papa inglê s

Carmelitas fundadas (ca. 1154)

Alexandre III (1159–81): decretou a maioria de dois terços necessá ria


para a eleiçã o papal

Terceiro Conselho de Latrã o (1179)

Lú cio III (1181-85): procedimentos estabelecidos para a Inquisiçã o

Catedral de Notre Dame, Paris, consagrada (1182)

Terceira Cruzada (1189-92)

1200 Inocê ncio III (1198-1216): alegou autoridade sobre todo o mundo 1200 Os cruzados capturam Constantinopla, estabelecem o impé rio latino
cristã o (1204)

Quarta à Sé tima Cruzadas (1202–54) Inglaterra e Irlanda tornam-se feudos papais (1213)

Franciscanos fundados (1209) Magna Carta (1215)

Dominicanos fundados (1215) Marco Polo para a China (1271–95)

Quarto Conselho de Latrã o (1215) Dinastia Sung derrubada por Kublai Khan (1279)
Gregó rio IX (1227–41): Inquisiçã o papal estabelecida (1231) As cruzadas terminam formalmente (1291)

Primeiro Concı́lio de Lyon (1245)

Eremitas agostinianos fundados (1256)

Segundo Concı́lio de Lyon (1274)

Inocê ncio V (1276): primeiro papa dominicano

Joã o XXI (1276-77): primeiro e ú nico papa portuguê s

Nicolau III (1277-80): primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua
residê ncia

Nicolau IV (1288-1292): o primeiro papa franciscano; Catolicismo


estabelecido na China (1294-1368)

Celestino V (1294): primeiro eremita a se tornar papa; renunciou apó s


cinco meses

Bonifá cio VIII (1295-1303): declarou que toda criatura está sujeita ao
papa

1300 Primeiro Ano Santo (1300) 1300 Peste Negra na Europa (1347-49)

Papado de Avignon (1309-77) Os bizantinos perdem a ú ltima posse na Asia Menor para os turcos

Conselho de Vienne (1311–1312) (1390)


Urbano VI (1378-89): ú ltimo papa eleito nã o cardinal

Great Western Schism (1378-1417)


1400 Concı́lio de Constança (1414-18) 1400 Constantino XI Paleó logo, ú ltimo imperador bizantino (1449-53)

Martin V (1417-31): sua eleiçã o encerrou o Grande Cisma Ocidental Queda de Constantinopla para os turcos (1453)

Conselho de Basel-Ferrara-Florence-Rome (1431-45) Bı́b lia de Gutenberg (1456)

Nicolau V (1447-55): o primeiro dos papas da Renascença Lorenzo de 'Medici governa Florença (1469-1492)

Sisto IV (1471-84): construiu a Capela Sistina Começa o comé rcio de escravos africanos (ca. 1482)

Estabelecida a Inquisiçã o Espanhola (1479) Fim do reino mouro na Espanha (1492)

Alexandre VI (1492-1503): o papa mais infame da histó ria Judeus expulsos da Espanha (1492)

Cristó vã o Colombo descobre a Amé rica (1492)

Alexandre VI divide o Novo Mundo entre Espanha e Portugal (1493)


1500 Jú lio II (1503–13): papa guerreiro; encomendou a reconstruçã o da 1500 Exploradores: Vasco da Gama (1469–1524), Ferdinand Magellan
Bası́lica de Sã o Pedro (1480–1521), Francis Drake (1540–96)

Quinto Conselho de Latrã o (1512-1517) Michelangelo (1475–1564)

Leã o X (1513–21): excomungado Martinho Lutero (1521) Teoria copernicana (1512)

Reforma começa (1517) Assassinato do imperador asteca Montezuma (1520)

Adriano VI (1522-1523): o ú nico papa holandê s; ú ltimo nã o italiano até Inı́cio do impé rio Mogol na India (1526)
Joã o Paulo II (1978) Thomas More executado (1535)
A Reforma Inglesa começa (1534) Maria sucede a Eduardo VI (1553)
Fundaçã o da Sociedade de Jesus (Jesuı́tas) (1534)
Isabel I sucede Maria (1558)
Paulo III (1534-1549): estabeleceu o Santo Ofı́cio; convocou o Concı́lio Catacumbas romanas descobertas (1578)
de Trento
Adotado o calendá rio gregoriano (1582)
Missã o jesuı́ta na India (1542–45, 1548–49)
Derrota da Armada Espanhola (1588)
Concı́lio de Trento (1545–63)

Missã o jesuı́ta ao Japã o (1549)

Indice de livros proibidos estabelecido por Paulo IV (1557)

Pio V (1566-1572): reformou a liturgia; excomungada Rainha Elizabeth


I (1570)

Gregó rio XIII (1572–85): calendá rio gregoriano

Missã o jesuı́ta na China (1582)


Sisto V (1585-1590): Cú ria Romana reorganizada na forma atual

Inaugurada a Biblioteca do Vaticano (1588)

1600 Catolicismo barroco (ca. 1600 – ca. 1750) 1600 Inı́cio do shogunato Tokugawa no Japã o (1600)

O missioná rio jesuı́ta Matteo Ricci admitido em Pequim (1601) Primeiros escravos africanos trazidos para a Amé rica do Norte (1619)

Paulo V (1605-21): censurado Galileu Peter Minuit compra a ilha de Manhattan por $ 24 (1626)

Gregó rio XV (1621-23): decretou eleiçõ es papais por voto secreto Harvard College é fundada (1636)

Urbano VIII (1623-44): consagrada Bası́lica de Sã o Pedro (1626); Isaac Newton (1642–1727)
Castel Gandolfo como residê ncia de verã o Dinastia Ming substituı́da por Ch'ing (Manchu) na China (1644)
Galileu preso (1633) Paz de Westfá lia (1648)
Jansenismo (ca. 1640-ca. 1800)

A contrové rsia dos ritos chineses começa formalmente (1645)

Trapistas fundados (1664)

Galicanismo (1682-1789)

1700 Clemente XI (1700-21): proibiu o uso de ritos chineses 1700 Declaraçã o Americana de Independê ncia (1776)

Clemente XIV (1769-74): suprimiu os jesuı́tas (1773) Constituiçã o dos EUA (1788)

George Washington, primeiro presidente dos EUA (1789-1797)


Pio VI (1775-99): terceiro ponti icado mais longo; morreu prisioneiro Revoluçã o Francesa (1789)
de Napoleã o Pedra de Roseta encontrada no Egito (1799)
John Carroll, primeiro bispo dos EUA consagrado (1790)
1800 Romantismo Cató lico 1800 Napoleã o é coroado rei da Itá lia (1805), anexa os Estados papais
(1809), derrotado em Waterloo (1815)
Pio VII (1800–23): preso por Napoleã o; reintegrou os jesuı́tas (1814)

Gregó rio XVI (1831-46): ú ltimo nã o-bispo eleito papa Fim do Sacro Impé rio Romano (1806)

Pio IX (1846-1878): o ponti icado mais longo Guerras de independê ncia hispano-americanas (1808-1829)

Charles Darwin (1809-82)


Dogma da Imaculada Conceiçã o (1854)

Perda de quase todos os Estados Papais (1860-61) Karl Marx (1818-83)

“Syllabus of Errors” (1864) Manifesto Comunista (1848)

A Itá lia proclamou um reino (1861)


Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70)

Perda de Roma e arredores, ú ltimo dos territó rios papais (1870) Guerra Civil Americana (1861-65)

Leã o XIII (1878–1903): Rerum novarum (1891); segundo ponti icado Proclamaçã o de Emancipaçã o dos EUA (1863)

mais longo Domı́nio do Canadá estabelecido (1867)

Brasil abole a escravidã o (1888)

Kulturkampf na Prú ssia (1871)

1900 Pio X (1903–14): juramento contra o modernismo (1910) 1900 Sigmund Freud (1856–1939)

Bento XV (1914–22): campanha antimodernista interrompida Estabelecida a Comunidade da Austrá lia (1901)

Có digo de Direito Canô nico (1917) Nova Zelâ ndia atinge o status de Domı́nio (1907)

Pio XI (1922–39): primeiro papa a usar o rá dio; nazismo condenado Repú blica chinesa estabelecida (1911)

Tratado de Latrã o (1929) Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Pio XII (1939–58): primeiro papa a usar a televisã o Revoluçã o Russa (1917–18)
Dogma da Assunçã o (1950) Estabelecido Estado Livre da Irlanda (1922)

Joã o XXIII (1958–63): o papa mais amado da histó ria Frank D. Roosevelt eleito presidente dos EUA (1932)

Concı́lio Vaticano II (1962-65) Adolf Hitler, chanceler alemã o (1933)

Paulo VI (1963-78): primeiro papa a viajar de aviã o Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

Joã o Paulo I (1978): primeiro papa a nã o ser coroado em um sé culo ou Segunda Guerra Mundial (1939–45)
mais Carta das Naçõ es Unidas (1945)
Joã o Paulo II (1978–2005): primeiro papa eslavo; o papa mais viajado Guerra Fria (1945–89)
da histó ria
Repú blica da Irlanda estabelecida (1949)
Có digo de Direito Canô nico Revisto (1983)
Repú blica Popular da China estabelecida (1949)
Catecismo da Igreja Católica (1992)
John F. Kennedy assassinado (1963)
Bento XVI (2005–): o homem mais velho eleito para o papado desde
Guerra do Vietnã (1965–73)
1730; sexto papa nascido na Alemanha
Colapso do comunismo (1989)

Apartheid termina na Africa do Sul (1993)


INTRODUÇÃO
A PAPACIA E O ESCRITORIO E A JURISDIÇAO EXERCIDA peloBispo de Roma, conhecido mais popularmente como o Papa. O papado
també m é conhecido como ministé rio petrino porque a Igreja Cató lica considera o papa como o Vigá rio de Pedro,
isto é , aquele que sucede pessoalmente ao ministé rio distinto de Sã o Pedro para o bem da unidade da Igreja
universal.
O tı́tulo de “papa”, que signi ica “pai” (It., Papa ), foi nos sé culos anteriores da histó ria da igreja aplicado a todos os
bispos do Ocidente, enquanto no Oriente parece ter sido usado de sacerdotes, bem como foi um tı́tulo especial do
patriarca de Alexandria. Em 1073, no entanto, o Papa Gregó rio VII proibiu formalmente o uso do tı́tulo para todos,
exceto para o Bispo de Roma.
Alé m do Bispo de Roma, que é seu tı́tulo principal, o papa tem vá rios outros tı́tulos: Vigá rio de Jesus Cristo,
Sucessor do Chefe dos Apó stolos (Vigá rio de Pedro), Sumo Pontı́ ice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente ,
Primaz da Itá lia, Arcebispo e Metropolita da Provı́ncia Romana, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano e Servo
dos Servos de Deus.
De acordo com a crença cató lica tradicional, o papado foi estabelecido pelo pró prio Jesus Cristo quando ele
conferiu suas responsabilidades e poderes ao apó stolo Pedro em Cesaré ia de Filipe: “E entã o eu te digo, tu é s Pedro,
e sobre esta pedra edi icarei minha igreja , e as portas do mundo inferior nã o prevalecerã o contra ele. Eu darei a
você as chaves do reino dos cé us. Tudo o que você ligar na terra será ligado no cé u; e tudo o que desligardes na
terra será desligado no cé u ”(Mateus 16: 18–19). E por causa da antiga tradiçã o que os dois principais lı́deres da
igreja apostó lica, os Santos. Pedro e Paulo, foram martirizados e sepultados em Roma que o papado, desde os seus
primó rdios, esteve ligado a esta antiga cidade imperial.
Primado papal: o reconhecimento do papado ou do ministé rio petrino exercido pelo bispo de Roma nã o é
caracterı́stico apenas da tradiçã o cató lica. Outras tradiçõ es cristã s reconhecem o Bispo de Roma como o Patriarca do
Ocidente ou como o “primeiro [bispo] entre iguais” (lat., Primus inter pares ), mas apenas a Igreja Cató lica o aceita
como o cabeça terrestre da Igreja mundial. Isso també m é conhecido como a doutrina do primado papal, que está
ligada, por sua vez, ao primado da pró pria Sé Romana. Santo Iná cio de Antioquia (falecido por volta de 107) é
tradicionalmente considerado a primeira testemunha importante do primado de Roma. Em sua famosa carta à igreja
de Roma, nã o muito antes de ele mesmo ser martirizado ali, ele se dirigiu “à igreja que ocupa o lugar principal nos
territó rios do distrito de Roma - digna de Deus, digna de honra, bê nçã o, louvor e sucesso; digno també m na
santidade, principalmente no amor . . . ” (enfase adicionada). Notavelmente, no entanto, é a ú nica das cartas clá ssicas
de Iná cio à s sete igrejas do antigo mundo mediterrâ neo que nã o faz nenhuma mençã o a um bispo local. Isso dá
cré dito à suposiçã o de historiadores e teó logos de que a estrutura monoepiscopal de governo da igreja (ou seja,
uma diocese com um bispo como chefe pastoral) nã o veio a Roma até meados do sé culo II, com o ponti icado de Pio
I (ca. 142 - ca 155).
Teria sido extraordiná rio, entretanto, se Roma não tivesse sido escolhida para um papel especial e posiçã o de
autoridade na Igreja primitiva. Nã o foi apenas o local tradicionalmente considerado como o local dos martı́rios e
sepultamentos de Pedro e Paulo; foi també m o centro do Impé rio Romano. Aos poucos, Roma emergiu como um
tribunal eclesiá stico de ú ltimo recurso, a igreja local à qual outras igrejas locais e seus bispos apelariam quando as
disputas e con litos nã o pudessem ser resolvidos entre eles. Por exemplo, nas contrové rsias com o gnosticismo, uma
heresia cristã primitiva particularmente virulenta que negava a humanidade plena de Jesus Cristo, os defensores da
ortodoxia apelaram para a fé das sedes episcopais fundadas pelos apó stolos, e especialmente para a fé da igreja
romana por causa de sua estreita associaçã o com Peter e Paul. Roma posteriormente interveio na vida de igrejas
distantes, tomou partido em contrové rsias teoló gicas, foi consultada por outros bispos sobre questõ es doutriná rias e
morais e enviou delegados a concı́lios distantes.
A correlaçã o entre Pedro e o bispo de Roma, no entanto, nã o se tornou totalmente explı́cita até o ponti icado de
Leã o I (també m conhecido como Leã o, o Grande) em meados do sé culo V (440-61). Leã o insistiu que Pedro
continuasse a falar a toda a Igreja por meio do bispo de Roma. Foi Leã o quem interveio decisivamente nas grandes
contrové rsias cristoló gicas e cuja carta, ou tomo , a Flaviano, patriarca de Constantinopla, em 449, forneceu a base
para a formulaçã o de initiva da fé dois anos depois, no Concı́lio de Calcedô nia.
Com o Cisma Leste-Oeste em 1054, a forma do papado mudou ainda mais signi icativamente. Antes da divisã o, o
bispo de Roma era visto principalmente como patriarca de Roma, ao lado dos patriarcas de Constantinopla,
Antioquia, Alexandria e Jerusalé m. Apó s a divisã o, no entanto, o ofı́cio patriarcal romano e o ofı́cio papal se
fundiram. O ofı́cio patriarcal foi completamente absorvido pelo poder do papado. Aos olhos de muitos cristã os
orientais, o cristianismo ocidental tornou-se assim uma igreja papal, isto é , uma igreja que se relaciona tã o
predominantemente com a sé de Roma que a autonomia pastoral das igrejas locais e de seus bispos está quase
perdida. O bispo de Roma passou a considerar-se e ser considerado o primaz universal da Igreja universal. Era como
se ele fosse o bispo de cada igreja local e os bispos locais fossem simplesmente seus vigá rios ou delegados.
Seguindo esta longa e complexa histó ria, o Segundo Concı́lio Ecumê nico de Lyon em 1274 reivindicou para a Igreja
Romana "a suprema e plena primazia e autoridade sobre a Igreja Cató lica universal." Essa declaraçã o formal lançou
as bases, por sua vez, para a de iniçã o dogmá tica do Concı́lio Vaticano I em 1870, de que “na disposiçã o de Deus, a
Igreja Romana deté m a preeminê ncia do poder ordiná rio sobre todas as outras igrejas. . . . ”
Isso nã o quer dizer, entretanto, que a evoluçã o da doutrina do primado papal tenha ocorrido em uma linha direta
e ininterrupta desde a é poca do Novo Testamento até os dias atuais. Pelo contrá rio, há uma grande diferença na
forma como o papado foi percebido e exercido por toda a Igreja - Oriente e Ocidente - durante os primeiros mil anos
de histó ria cristã , e a maneira como foi percebido e exercido - no Ocidente - durante o segundo milê nio cristã o.
Antes do inı́cio do segundo milê nio e do ponti icado de Gregó rio VII em particular (1073–85), os papas
funcionavam em grande parte no papel de mediadores. Eles nã o reivindicaram para si o tı́tulo de “Vigá rio de Cristo”.
Eles nã o nomearam bispos. Eles nã o governaram a Igreja universal atravé s da Cú ria Romana. Eles nã o impuseram ou
obrigaram o celibato clerical. Eles nã o escreveram encı́clicas nem autorizaram catecismos para toda a Igreja. Eles nã o
retiveram apenas para si o poder de canonizaçã o. Eles nem mesmo convocaram concı́lios ecumê nicos, como regra - e
certamente nã o os principais concı́lios doutriná rios de Nicé ia (325), Constantinopla (381), Efeso (431) e Calcedô nia
(451).
O Concı́lio Vaticano II (1962-65) trouxe a compreensã o da Igreja do papado, e do primado papal em particular,
mais uma vez em linha com a do primeiro milê nio, em contraste com a do segundo milê nio. O conselho viu o papado
em termos cada vez mais comunais e colegiais. Em outras palavras, o papa nã o deve mais ser concebido como um
monarca absoluto - uma impressã o claramente deixada pelo ensinamento parcial, porque inacabado, do Concı́lio
Vaticano I. (O Vaticano I teve que suspender as operaçõ es por causa da turbulê ncia polı́tica na Itá lia.) De acordo com
o Concı́lio Vaticano II, o papa exerce autoridade suprema sobre toda a Igreja, mas os outros bispos també m
compartilham dessa autoridade. Certamente, a autoridade suprema conferida ao colé gio dos bispos nã o pode ser
exercida sem o consentimento do papa. “Este colé gio, na medida em que é composto por muitos, expressa a
variedade e a universalidade do Povo de Deus, mas na medida em que é reunido sob uma mesma cabeça, expressa a
unidade do rebanho de Cristo” (Constituiçã o Dogmá tica sobre a Igreja, nº 22). Embora o papa retenha “poder total,
supremo e universal sobre a Igreja”, os outros bispos nã o sã o mais vistos simplesmente como seus substitutos ou
delegados. Eles també m recebem de Cristo “a missã o de ensinar todas as naçõ es e de pregar o evangelho a todas as
criaturas” (nº 24). Eles governam suas pró prias dioceses nã o como “vigá rios do Romano Pontı́ ice, pois exercem
uma autoridade que lhes é pró pria. . . ” (nº 27). Qualquer que seja a autoridade de que gozem o papa e os outros
bispos, ela sempre deve ser exercida em uma comunhã o de igrejas locais por meio da pregaçã o iel do evangelho, da
administraçã o dos sacramentos e do serviço pastoral.
A Igreja Cató lica nã o é uma monarquia absoluta. Sua estrutura governamental é comunitá ria e colegiada, nã o
moná rquica. Na medida em que a Igreja universal é uma comunhão de igrejas locais, o ofı́cio papal serve à unidade
de toda a Igreja como "a fonte perpé tua e visı́vel e fundamento da unidade dos bispos e da multidã o de ié is"
(Constituiçã o Dogmá tica sobre o Igreja, nº 23). O primado papal, portanto, é um primado do serviço - a serviço da
unidade. Na medida em que a Igreja universal é uma comunhã o de igrejas locais , o ofı́cio papal deve respeitar a
diversidade legı́tima dessas igrejas e praticar um modo de decisã o colegial (n. 23). Os bispos, portanto, colaboram
verdadeiramente com o papa na obra do Espı́rito Santo, que é a obra da unidade. Eles o fazem na con issã o colegial
de uma só fé , na celebraçã o comum do culto divino, especialmente a Eucaristia, e na promoçã o da harmonia
amorosa da famı́lia de Deus (Decreto sobre o Ecumenismo, n. 2).
Infalibilidade papal: O segundo maior dogma papal de inido pelo Concı́lio Vaticano I no sé culo XIX é o da
infalibilidade papal. Infalibilidade signi ica, literalmente, imunidade ao erro. Teologicamente, refere-se a um carisma,
ou dom, do Espı́rito Santo, pelo qual a Igreja é protegida do erro fundamental quando de ine solenemente uma
questã o de fé ou moral. Os teó logos cató licos tê m o cuidado de apontar, poré m, que o carisma é um carisma
negativo, ou seja, apenas garante que um determinado ensino nã o está errado. O carisma da infalibilidade nã o
garante que um determinado ensinamento seja uma expressã o adequada, apropriada ou oportuna da fé ou da
moral. Alé m disso, a infalibilidade papal é uma dimensã o da infalibilidade da Igreja , e nã o vice-versa. A infalibilidade
do Papa é a mesma infalibilidade “com a qual o divino Redentor quis que sua Igreja fosse dotada” (Constituiçã o
dogmá tica sobre a Igreja, n. 25).
Ao contrá rio da doutrina do primado papal, nã o há base explı́cita para a doutrina da infalibilidade papal no Novo
Testamento. Nã o foi até meados do sé culo III que uma importâ ncia especial começou a ser atribuı́da à fé da Igreja de
Roma. Alguns imperadores romanos incluı́ram a fé do bispo de Roma na norma o icial da ortodoxia, e a imagem
bı́blica da Igreja “sem mancha nem ruga” (Efé sios 5:27) começou a ser aplicada à igreja de Roma. Roma se tornou a
sé apostó lica. Segundo a Fórmula do Papa Hormisdas , escrita no ano 515, “a religiã o cató lica sempre foi preservada
imaculada” em Roma. Essa convicçã o foi expressa de diferentes maneiras por diferentes fontes até a Idade Mé dia.
Mas també m houve desa ios para tais reivindicaçõ es, nã o apenas no Oriente, mas també m no Ocidente. Os cristã os
orientais consideravam Roma como apenas uma das vá rias sedes apostó licas à s quais foi con iada a proteçã o da fé . E
nem todos os bispos de Roma cumpriram e icazmente este importante ministé rio. Marcelino (296-304) cumpriu as
ordens imperiais de entregar có pias da Sagrada Escritura e oferecer incenso aos deuses, pelo que provavelmente foi
deposto. Libé rio (352-66) foi um papa fraco que a princı́pio se opô s à excomunhã o de Santo Ataná sio (m. 373), o
grande inimigo do arianismo, mas depois cedeu sob pressã o. Vigilius (537-55) vacilou sobre os ensinamentos do
Concı́lio de Calcedô nia (451) e foi até excomungado por um sı́nodo de bispos africanos. Honó rio I (625-38) tornou-
se um adepto involuntá rio do Monotelitismo, uma heresia que a irmava que há apenas uma vontade (divina) em
Cristo, e apó s sua morte foi formalmente condenado pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680). Certos
metropolitas ocidentais (arcebispos com alguma forma de jurisdiçã o sobre dioceses sufragâ neas na mesma á rea
geográ ica), mesmo no inı́cio da Idade Mé dia, à s vezes contradiziam as decisõ es papais. Vozes profé ticas, incluindo as
de santos como Bernardo de Clairvaux (falecido em 1153) e Catarina de Siena (falecido em 1380), també m se
levantaram contra o estilo e a prá tica do ministé rio papal sé culos antes da Reforma. Teó logos e canonistas medievais
admitiram que papas individuais haviam errado em questõ es de doutrina e até admitiram que um papa poderia se
desviar da fé .
No entanto, a fó rmula "Roma nunca errou" sobreviveu e com o passar do tempo passou a ser entendida como
"Roma não pode errar". A má xima legal “A primeira vista nã o é julgada por ningué m” apareceu inicialmente no sé culo
VI e mais tarde foi interpretada como signi icando que a autoridade de ensino do papa é suprema. Santo Tomá s de
Aquino (falecido em 1274) mais tarde argumentaria que os ensinamentos do papa devem ser sempre seguidos
porque ele representa a Igreja universal que "nã o pode errar".
O conceito formal de infalibilidade, entretanto, nã o foi aplicado ao papado até o sé culo XIV, durante uma
contrové rsia sobre a pobreza na ordem franciscana. Os defensores de uma posiçã o rigorista (de que os franciscanos
devem se desfazer de todas as propriedades, independentemente da necessidade prá tica) empregaram o termo
“infalibilidade” para defender a autoridade obrigató ria das declaraçõ es de papas anteriores contra as decisõ es mais
liberais de seus sucessores. Sob o impacto da Reforma, o conceito ganhou maior aceitaçã o entre os teó logos da
Contra-Reforma (Sã o Roberto Belarmino [falecido em 1621] e outros). També m houve apelos à infalibilidade nas
condenaçõ es do jansenismo e do galicanismo (dois movimentos dissidentes em grande parte franceses) nos sé culos
XVII e XVIII. Sob forte pressã o pessoal de um papa Pio IX (1846-78), o Primeiro Concı́lio Vaticano de iniu
formalmente o dogma da infalibilidade em 1870.
As palavras-chave do texto do Vaticano I colocam certas restriçõ es ao exercı́cio da infalibilidade papal: “. . . quando
o Romano Pontı́ ice fala ex cathedra [lat., “da cadeira”], isto é , quando. . . como pastor e mestre de todos os cristã os
em virtude de sua mais alta autoridade apostó lica ele de ine uma doutrina de fé e moral que deve ser sustentada
pela Igreja Universal, ele é capacitado, por meio da assistê ncia divina que lhe foi prometida no beato Pedro, com
aquela infalibilidade com que o Divino Redentor desejou investir sua Igreja ”. Assim: (1) Ele deve estar falando
formalmente como o chefe terreno da Igreja ( ex cathedra ). (2) Ele deve estar falando sobre uma questã o de fé ou
moral (nã o governança ou disciplina). (3) Ele deve claramente ter a intençã o de vincular toda a Igreja. De fato, o
Có digo de Direito Canô nico revisado (1983) estipula que “Nenhuma doutrina é entendida como infalivelmente
de inida, a menos que seja claramente estabelecida como tal” (câ n. 749.3).
A infalibilidade, portanto, nã o é uma prerrogativa pessoal do papa. Seria incorreto dizer sem ressalvas que “o
papa é infalı́vel”. Um papa só é infalı́vel, de acordo com o Vaticano I, quando está no ato de de inir um dogma de fé ou
moral nas condiçõ es especi icadas.
Nem o dogma da infalibilidade signi ica que o papa está de alguma forma acima da Igreja. A declaraçã o do
Vaticano I de que as de iniçõ es de papas sã o "irreformá veis por si mesmas ( ex sese ) e nã o por causa do acordo da
Igreja ( non autem ex consensu ecclesiae )" foi adicionada à de iniçã o para se opor ao galicanismo, uma atitude
prevalente em França, que manteve que as de iniçõ es papais e outras decisõ es nã o entraram em vigor a menos e até
que fossem posteriormente rati icadas pela Igreja. Por outro lado, o apresentador o icial do dogma da infalibilidade
papal no Vaticano I, o bispo Vincenz Gasser (falecido em 1879), deixou claro durante o debate que o consentimento
da Igreja nunca pode faltar a um pronunciamento infalı́vel.
Nem o Vaticano I pretendeu dizer, ao usar a palavra “irreformá vel”, que os ensinamentos infalı́veis nunca podem
mudar. Eles sã o formulados em linguagem humana e expressam conceitos humanos. Como tais, eles sã o
historicamente condicionados ( Mysterium Ecclesiae , Congregaçã o para a Doutrina da Fé , 1973).
Como o dogma do primado papal, o dogma da infalibilidade papal foi colocado em um contexto mais amplo pelo
Concı́lio Vaticano II. O carisma da infalibilidade, insistia o concı́lio, pode ser exercido por todo o colé gio episcopal, em
comunhã o com o papa, seja quando reunido em concı́lio ecumê nico, seja quando espalhado pelo mundo. Em
princı́pio, toda a Igreja, nã o apenas o papa e os demais bispos, é infalı́vel (Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja, n.
25).
Assim como é todo o Povo de Deus, e nã o apenas o Papa e os outros bispos, que constituem a Igreja.
Parte I

DE PETER AO COMEÇO DE UMA PAPACIA UNIVERSAL

UMA PESSOA TRADIÇAO CATOLICA, COMEÇANDO NO inal do segundo e inı́cio do terceiro sé culo, considera Sã o Pedro como o
primeiro bispo de Roma e, portanto, como o primeiro papa, nã o há evidê ncias de que Pedro esteve envolvido no
estabelecimento inicial da comunidade cristã em Roma (na verdade, as evidê ncias que existem parecem apontar na
direçã o oposta) ou que ele serviu como o primeiro bispo de Roma. Somente no ponti icado de Sã o Pio I em meados
do sé culo II (c. 142 – c. 155) a igreja romana teve uma estrutura de governo monoepiscopal (um bispo como lı́der
pastoral de uma diocese). Aqueles que a tradiçã o cató lica listou como sucessores imediatos de Pedro (Linus,
Anacletus, Clement, et al.) Nã o funcionaram como o ú nico bispo de Roma. (As listas de sucessã o foram transmitidas
por Santo Irineu de Lyon [m. Ca. 200] e pelo historiador Sã o Hegesipo [m. Ca. 180], e foram atestadas por Eusé bio
de Cesaré ia [m. Ca. 339], muitas vezes chamado de “Pai da Histó ria da Igreja”.) A comunidade romana parece ter tido
uma forma corporativa ou colegiada de liderança pastoral. Aqueles contados entre os primeiros papas, portanto,
podem muito bem ter sido simplesmente os indivı́duos que presidiram o conselho local de anciã os ou presbı́teros-
bispos. Ou podem ter sido os lı́deres pastorais mais proeminentes da comunidade. Em qualquer caso, os papas dos
primeiros quatro sé culos - isto é , até o papado divisor de á guas de Leã o I em meados do sé culo V - funcionaram com
autoridade relativamente limitada alé m de Roma e seus arredores imediatos.
Por exemplo, o Papa Silvestre I (314-35) parece nã o ter exercido nenhuma in luê ncia discernı́vel sobre o primeiro
concı́lio ecumê nico realizado em Nicé ia em 325. Ele nã o o convocou nem compareceu. O mesmo pode ser dito do
Papa Dâ maso I (366-84) com respeito ao segundo concı́lio ecumê nico realizado em Constantinopla em 381, e do
Papa Celestino I (422-32) com respeito ao terceiro concı́lio ecumê nico realizado em Efeso em 431. E quando os
cismá ticos donatistas no norte da Africa apelaram ao imperador Constantino para anular uma decisã o do Papa
Melquı́ades, o imperador convocou um conselho de representantes de todas as provı́ncias ocidentais para se reunir
em Arles em 1 de agosto de 314. Melquı́ades morreu vá rios meses antes do conselho. realmente se reuniram, mas é
signi icativo que o imperador, ao convocar o concı́lio, nã o tenha considerado a decisã o do papa como inal e que nem
Melquı́ades nem seu sucessor izeram objeçõ es à açã o do imperador.
Tampouco há qualquer evidê ncia de que os bispos de Roma realmente governaram outras igrejas locais,
legislaram para elas ou nomearam seus bispos. No má ximo, os bispos de Roma durante esses primeiros quatro
sé culos podem ter exercido uma espé cie de autoridade metropolitana sobre as vizinhas sedes italianas, que vieram a
ser conhecidas como sedes suburbicá rias. Mas há menos evidê ncia até mesmo para isso do que há para a autoridade
claramente “soberana” exercida pela sé de Alexandria sobre todas as igrejas do Egito e da Cirenaica. De fato, quando
o Papa Jú lio I agiu em apoio a Santo Ataná sio apó s sua segunda expulsã o de Alexandria em 339, é signi icativo que
Jú lio justi icou sua intervençã o nã o com base no primado petrino, ao qual papas posteriores apelariam, mas com
base do costume eclesiá stico e da colegialidade do episcopado. E quando Celestino I (422-32) reabilitou um
presbı́tero excomungado pelos bispos africanos e que mais tarde admitiu sua culpa, os bispos africanos castigaram o
papa por nã o respeitar sua autonomia e por entrar em comunhã o com pessoas que haviam excomungado, uma
prá tica, lembraram-lhe que isso era expressamente proibido pelo Concı́lio de Nicé ia (325). Somente no ponti icado
de Leã o, o Grande (440-61) a reivindicaçã o da jurisdiçã o papal universal (ou seja, sobre toda a Igreja, tanto no
Oriente como no Ocidente) foi articulada e começou a ser exercida de uma maneira realmente decisiva.
Pouco se sabe sobre esses primeiros papas. Há razã o para acreditar, entretanto, que, como Pedro, muitos, senã o
todos, eram casados. Pelo menos quatro desses primeiros papas eram ilhos de sacerdotes: Sisto I (ca. 116 – ca.
125), Dâ maso I (366–84), Bonifá cio I (418–22) e Inocê ncio I (401–17), cujo meu pai nã o era apenas um sacerdote,
mas també m um papa, Anastá cio I (399–401). Se o Papa Anastá cio I nã o fosse casado, seu ilho seria ilegı́timo e,
portanto, inelegı́vel para a ordenaçã o sacerdotal, muito menos para a eleiçã o para o papado.
O primeiro papa que estendeu a mã o para a irmar sua autoridade alé m das fronteiras de sua pró pria comunidade
eclesiá stica e de suas sedes subú rbios foi Victor I (189-98), um africano. Foi Victor quem ordenou que outras igrejas
se conformem com a prá tica romana de celebrar a Pá scoa no domingo seguinte ao dé cimo quarto dia do mê s judaico
de Nisan (o dia da Pá scoa). Por sua insistê ncia, sı́nodos foram realizados em vá rias partes do mundo cristã o antigo,
da Gá lia (atual França) à Mesopotâ mia (atual Iraque), onde se tornou gradualmente claro que a maioria estava de
acordo com o Papa Victor. Mas quando Victor presumiu excomungar aqueles que discordassem de sua decisã o, ele
foi repreendido por nã o menos igura proeminente da Igreja primitiva do que Santo Irineu de Lyon, que claramente
lembrou ao papa que todos os seus predecessores foram indulgentes com a diversidade de prá ticas e nã o ousou
recorrer à arma de initiva da excomunhã o.
Quando os papas começaram a se envolver em disputas teoló gicas com os lı́deres pastorais de outras igrejas, eles
à s vezes eram rejeitados como intrusos ou, pior, por terem pontos de vista errô neos. Por exemplo, o Papa Estê vã o I
(254-57) e Sã o Cipriano (m. 258), bispo de Cartago, entraram em con lito sobre a questã o da validade do batismo
administrado por hereges e cismá ticos. Cipriano seguia a crença e prá tica da maioria das igrejas do Norte da Africa,
Sı́ria e Asia Menor, a saber, que aqueles batizados por hereges e cismá ticos deveriam ser rebatizados se quisessem
entrar ou se reconciliar com a Igreja Cató lica. Estevã o representou a tradiçã o de Roma, Alexandria e Palestina, que
sustentava que os batismos por hereges e cismá ticos sã o vá lidos e que a ú nica condiçã o exigida para aqueles que
buscam entrar ou se reconciliar com a Igreja Cató lica era a absolviçã o de seus pecados pela imposiçã o de mã os.
Quando Estê vã o ameaçou quebrar a comunhã o com todas as igrejas que praticavam o rebatismo, ele foi implorado
pelo Bispo Dionı́sio de Alexandria (m. 264/5), ele mesmo um defensor da posiçã o romana, para nã o seguir uma
linha tã o dura. A situaçã o certamente teria piorado se Estê vã o nã o tivesse morrido no meio da contrové rsia.
Este incidente foi indicativo da tendê ncia emergente do papado de reivindicar autoridade pastoral sobre as igrejas
locais fora de Roma, mas també m da prontidã o de outros bispos para confrontar e desa iar o bispo de Roma quando
sentiram que ele estava indo longe demais na aplicaçã o da pastoral prá tica ou disciplina. Stephen I parece ter sido o
primeiro papa a apelar para o clá ssico “você é Pedro. . . ” texto do Evangelho de Mateus (16:18) como base do
primado romano. O papa Dâ maso I (366-84), que garantiu do imperador Graciano o direito dos bispos ocidentais de
apelar diretamente a Roma, costumava designar Roma como "a Sé Apostó lica" e refutava as reivindicaçõ es de
Constantinopla de igualar-se a Roma. Como Estevã o antes dele, Dâ maso també m aplicou o texto de Mateus ao
primado romano. Seu sucessor imediato, o Papa Siricius (384–99), determinou que nenhum bispo deveria ser
consagrado sem seu conhecimento (embora nã o necessariamente sua aprovaçã o ou autorizaçã o). Mais
vigorosamente do que qualquer papa anterior havia feito, o papa Inocê ncio I (401-17) reivindicou a suprema
autoridade do ensino e acolheu (e esperava) apelos de vá rias igrejas em questõ es de disputa doutriná ria. Como
Inocê ncio, o Papa Bonifá cio I (418-22) promoveu enfaticamente a autoridade do ofı́cio papal, uma vez escrevendo:
“Nunca foi legal que o que uma vez foi decidido pela Sé Apostó lica fosse reconsiderado.” E, no entanto, seu pró prio
sucessor imediato, o Papa Celestino I (422-32), desempenhou um pequeno papel no grande conselho cristoló gico
realizado em Efeso em 431 - um conselho preocupado com as naturezas humana e divina de Jesus Cristo e com a
questã o de se Maria poderia ser considerada a Mã e de Deus. Essa era a lacuna que frequentemente existia entre a
retó rica papal e a realidade pastoral no inı́cio da histó ria do papado - isto é , antes do ponti icado de Leã o, o Grande
(440-61).

1
1 Pedro, Apóstolo, São, Galileu, d. ca. 64
O apó stolo principal de Jesus, que a tradiçã o cató lica considera como o primeiro papa, Pedro nasceu na aldeia de
Betsaida, no mar da Galilé ia. (A primeira lista de sucessã o, no entanto, identi icou Linus, nã o Pedro, como o primeiro
papa. Pedro nã o foi considerado o primeiro bispo de Roma até o inal do segundo ou inı́cio do terceiro sé culo.) O
nome hebraico original de Pedro era šim'ôn , traduzido em Grego como Simon ( 00028). També m foi traduzido como
Simeã o ( 00030) duas vezes no Novo Testamento: Atos 15:14 e 2 Pedro 1: 1. Jesus deu-lhe um novo nome, a palavra
aramaica para rocha, kêp 0' , mais tarde transliterada para o grego como 00047( Kephas ). Mas o nome Kephas
aparece apenas nove vezes no Novo Testamento, uma vez em Joã o e oito vezes nas Cartas de Paulo. O nome Pedro é
uma traduçã o grega da palavra aramaica, kêp 0' , e é usado mais de 150 vezes nos Evangelhos e nos Atos dos
Apó stolos. Esse nome transmitia aos cristã os de lı́ngua grega muito mais sobre a funçã o de Pedro na Igreja do que o
evasivo Kephas . O nome duplo Simã o Pedro ocorre cerca de vinte vezes no Novo Testamento, principalmente em
Joã o.
Que Pedro era casado e permaneceu assim mesmo depois de se tornar um discı́pulo de Jesus é claro no relato da
cura de Jesus da sogra de Pedro (Marcos 1: 29-31) e na referê ncia de Paulo ao fato de que Pedro e o outro os
apó stolos levavam suas esposas em suas viagens apostó licas (1 Corı́ntios 9: 5). A crença piedosa de que os
apó stolos, incluindo Pedro, “repudiaram” suas esposas assim que receberam o chamado de Jesus nã o tem base
histó rica. Em vez disso, surge da suposiçã o equivocada e essencialmente anticristã de que o celibato é mais virtuoso
do que o casamento, porque a intimidade sexual de alguma forma compromete o compromisso total com Deus e
com as coisas do espı́rito.
O papel singular de Pedro no Novo Testamento: A tradiçã o cató lica considera Pedro como o primeiro papa por causa
da comissã o especial que ele recebeu de Jesus Cristo e por causa do status ú nico de que desfrutou e do papel central
que desempenhou no colé gio dos doze apó stolos. Ele foi o primeiro discı́pulo a ser chamado por Jesus (Mateus 4:
18–19). Ele serviu como porta-voz dos outros apó stolos (Marcos 8:29; Mateus 18:21; Lucas 12:41; Joã o 6: 67–69).
De acordo com a tradiçã o de Paulo e Lucas (1 Corı́ntios 15: 5; Lucas 24:34), ele foi o primeiro a quem o Senhor
apareceu apó s sua ressurreiçã o. (Maria Madalena é a principal testemunha da Ressurreiçã o na tradiçã o de Mateus,
Joã o e o apê ndice marcano, mas mesmo em Marcos o anjo na tumba instrui Maria Madalena e as outras mulheres a
"ir e contar a seus discı́pulos e a Pedro" [ 16: 7].) Pedro é , de fato, o mais freqü entemente comissionado dos Doze
apó s a ressurreiçã o. Ele també m é o discı́pulo mais freqü entemente mencionado em todos os quatro Evangelhos e é
regularmente listado como o primeiro entre os Doze (Marcos 3: 16–19; Mateus 10: 1–4; Lucas 6: 12–16). Este ú ltimo
ponto, ao lado de outros, é de particular importâ ncia porque, no mundo antigo, o respeito e a autoridade residiam
no primeiro de uma linha, no primogê nito ou no primeiro escolhido. Ele é , portanto, proeminente na comunidade
original de Jerusalé m - descrito por Paulo como um de seus “pilares” (Gá latas 2: 9) - e é bem conhecido por muitas
outras igrejas (Atos 1: 15–26; 2: 14–40; 3 : 1–26; 4: 8; 5: 1-11, 29; 8: 18–25; 9: 32–43; 10: 5; 12:17; 1 Pedro 2:11;
5:13). Foi Pedro quem deu o passo decisivo para ordenar o batismo do gentio Corné lio sem primeiro requerer a
circuncisã o (Atos 10). Embora Paulo tenha falado do ministé rio de Jesus como sendo dirigido aos circuncidados
(Gá latas 2: 7), a in luê ncia de Pedro nas á reas gentı́licas é ó bvia (1 Corı́ntios 1:12; 1 Pedro 1: 1).
Por outro lado, seu papel nem sempre foi tã o singular. Ele freqü entemente compartilhava sua posiçã o de destaque
com Tiago e Joã o, constituindo com eles uma espé cie de elite interna dentro dos Doze. Os trê s acompanharam Jesus
à ressurreiçã o da ilha de Jairo (Marcos 5:37), na Trans iguraçã o (9: 2), no Monte das Oliveiras para um discurso
especial de despedida (13: 3), e ao Jardim do Getsê mani (14 : 33).
As atividades de Pedro nã o sã o relatadas apó s o Concı́lio de Jerusalé m, onde ele exerceu um papel importante,
embora nã o necessariamente “papal”, na abertura da missã o da Igreja aos gentios (Atos 15: 7–12).
Signi icativamente, foi Tiago, nã o Pedro, quem presidiu o conselho e rati icou suas decisõ es. No entanto, há um
acordo crescente entre historiadores e estudiosos da Bı́blia de que Pedro foi a Roma e foi martirizado lá (por
cruci icaçã o, de acordo com o teó logo norte-africano Tertuliano [morto em cerca de 225]). O lı́der romano Clemente
(considerado o terceiro sucessor de Pedro, ca. 91 – ca. 101) descreve os julgamentos de Pedro em Roma ( 1
Clemente 5: 4), e Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339) relata uma histó ria antiga sobre a cruci icaçã o de Pedro lá (
História Eclesiástica 2.25.5, 8). Santo Irineu de Lyon (falecido por volta de 200) assume que Pedro e Paulo fundaram
em conjunto a igreja de Roma e inauguraram sua sucessã o de bispos ( Contra as heresias 3.1.2; 3.3.3). No entanto,
nã o há nenhuma evidê ncia de que antes de sua morte Pedro realmente serviu a igreja de Roma como seu primeiro
bispo, embora o "fato" seja regularmente considerado certo por um amplo espectro de cató licos e outros (por
exemplo, no estudo do estudioso jesuı́ta Thomas Reese caso contrá rio, ó timo livro Inside the Vatican [Cambridge, MA:
Harvard University Press, 1996, p. 11]). Na verdade, nã o há nenhuma evidê ncia de que Roma sequer teve uma forma
monoepiscopal de governo eclesiá stico até meados do segundo sé culo. Como foi apontado anteriormente, entre as
cartas de Santo Iná cio de Antioquia (m. Ca. 107) à s sete igrejas do mundo cristã o antigo, a carta de Iná cio a Roma foi
a ú nica em que ele nã o faz qualquer mençã o a seu bispo. O antigo texto conhecido como O Pastor , atribuı́do a
Hermas, um membro leigo da comunidade romana, conté m indı́cios de disputas sobre a posiçã o entre os lı́deres da
igreja ( Visões 2.2.6; 3.9.7), que à s vezes sã o referidos como “os anciã os que estã o encarregados da Igreja ”(2.4.3).
Signi icativamente, as referê ncias estã o todas no plural. Onde os bispos sã o mencionados (novamente no plural), eles
geralmente estã o ligados a outros bispos, mestres e diá conos (3.5.1), como se a Igreja fosse uma torre em
construçã o e esses lı́deres estivessem contados entre suas pedras. No inal do segundo ou inı́cio do terceiro sé culo,
entretanto, Pedro foi identi icado na tradiçã o como o primeiro bispo de Roma. Mas a tradiçã o nã o é uma fá brica de
fatos. Nã o pode tornar algo um fato histó rico quando nã o o é .
Pedro é creditado por escrever duas cartas que fazem parte do câ non do Novo Testamento: 1 e 2 Pedro. Embora
os estudiosos da Bı́blia geralmente aceitem sua autoria da primeira, eles consideram imprová vel a autoria da
segunda. No entanto, como um compê ndio de tradiçõ es altamente lisonjeiras sobre Pedro, a segunda Carta é uma
importante testemunha da estatura que ele gozava e do respeito que lhe era concedido na Igreja primitiva. Diz-se
que ele teve, por exemplo, o dom de inspiraçã o (2 Pedro 1: 20–21) e recebeu revelaçõ es sobre futuros falsos
profetas (2: 1-3), tradiçõ es especiais sobre a Parusia ou Segunda Vinda de Cristo (3: 8) e a regeneraçã o do mundo
(3: 11-12). Um corpo de literatura apó crifa associada ao nome de Pedro surgiu no sé culo II: o Apocalipse de São
Pedro , os Atos de São Pedro e o Evangelho de São Pedro. Mesmo que nã o seja autenticamente petrino em sua autoria,
esses escritos atestam o crescente prestı́gio de Pedro na Igreja primitiva. O relato da cruci icaçã o de Pedro de cabeça
para baixo é derivado dessa literatura.
Pedro e o Primado: Na tradiçã o cató lica, a base bı́blica para associar o primado a Pedro está incorporada em trê s
textos: Mateus 16: 13-19; Lucas 22: 31–32; e Joã o 21: 15-19. O fato de Jesus nomear Pedro como a “rocha” ocorre
em trê s contextos diferentes nesses trê s Evangelhos levanta uma questã o sobre o cená rio original do pró prio
incidente. Os estudiosos nã o tê m certeza se a nomeaçã o ocorreu durante o ministé rio terreno de Jesus ou apó s a
Ressurreiçã o, com o que é chamado de “retrojeçã o” subsequente nos relatos do ministé rio terreno de Jesus. A
atribuiçã o do poder das chaves do reino certamente sugere uma medida impositiva de autoridade, dado o
simbolismo das chaves, mas nã o há indicaçã o explı́cita de que a autoridade conferida deveria ser exercida sobre os
outros, muito menos que fosse absolutamente moná rquico em espé cie (como reivindicado e exercido por papas
posteriores, especialmente na Idade Mé dia e até mesmo no inal do sé culo XX). Em Atos, de fato, Pedro é mostrado
consultando os outros apó stolos e até mesmo sendo enviado por eles (8:14). Ele e Joã o sã o retratados agindo como
uma equipe (3: 1–11; 4: 1–22; 8:14). E Paulo confronta Pedro por sua inconsistê ncia e hipocrisia em abandonar a
comunhã o à mesa com cristã os gentios em Antioquia, sob pressã o de alguns cristã os judeus que chegaram mais
tarde de Jerusalé m. Paulo “se opô s a ele frontalmente, porque ele claramente estava errado” (Gá latas 2:11; ver
també m 12–14).
Os estudiosos, no entanto, apontam para uma trajetó ria signi icativa de imagens relacionadas a Pedro e seu
ministé rio como uma base independente para as reivindicaçõ es primaciais. Ele é chamado de pescador (Lucas 5:10;
Joã o 21: 1-14), uma ocupaçã o que, de fato, ele e seu irmã o André haviam exercido, como pastor das ovelhas de
Cristo (Joã o 21: 15-17) , como o má rtir cristã o (Joã o 13:36; 1 Pedro 5: 1), como um anciã o que se dirige a outros
anciã os (1 Pedro 5: 1), como um proclamador da fé em Jesus como o Filho de Deus (Mateus 16:16 –17), como o
receptor de uma revelaçã o especial (Marcos 9: 2–8; 2 Pedro 1: 16–18; Atos 1: 9–16; 5: 1–11; 10: 9–16; 12: 7– 9),
como o guardiã o da verdadeira fé contra falsos ensinos e mal-entendidos (2 Pedro 1: 20-21; 3: 15-16), e, claro, como
a rocha sobre a qual a Igreja deve ser construı́da (Mateus 16 : 18).
Essa trajetó ria de imagens bı́blicas continuou na vida da Igreja primitiva, pó s-bı́blica, e essas imagens foram
enriquecidas por outras: pregador missioná rio, grande visioná rio, destruidor de hereges, receptor da nova lei,
porteiro do cé u, timoneiro do navio do Igreja, co-professor e co-má rtir com Paulo. Isso nã o quer dizer, é claro, que
Pedro foi retratado sempre e apenas de maneira positiva. Ele també m é apresentado como um homem fraco e
pecador. Ele é reprovado por Paulo (Gá latas 2: 11-14), nã o entende Jesus (Marcos 9: 5-6; Joã o 13: 6-11; 18: 10-11),
enfraquece a fé apó s começar a andar sobre as á guas (Mateus 14 : 30-31), é repreendido por Jesus (Marcos 8:33;
Mateus 16:23), e, apesar de jactos anteriores em contrá rio (Marcos 14: 29,31; Joã o 13:37), ele negou a Cristo (
Marcos 14: 66–72). Mas ele está sempre arrependido e acabou sendo reabilitado. O Senhor Ressuscitado aparece a
Pedro e ele se torna mais uma vez uma fonte de força para a Igreja (Lc 22,32).
A importâ ncia ú nica de Pedro como primeiro e principal discı́pulo de Jesus e como lı́der do colé gio dos doze
apó stolos é bastante clara. Nenhum papa na histó ria alcançou seu status, e nã o é por acaso que nenhum dos mais de
260 indivı́duos que a tradiçã o cató lica considera como seus sucessores assumiram o nome de Pedro II, incluindo
dois cujos nomes de batismo eram Pedro (Joã o XIV, eleito em 983, e Sé rgio IV, eleito em 1009). O que pode ser dito,
entretanto, sobre o signi icado duradouro de Pedro para o papado e para a pró pria Igreja?
Sucessão petrina: a histó ria fornece uma longa lista de papas seguindo Pedro, começando com Lino (ca. 66-ca. 78)
e continuando no sé culo XXI e no inı́cio do terceiro milê nio cristã o com papas como Pio XII (1939- 58), Joã o XXIII
(1958–63), Paulo VI (1963–78), Joã o Paulo I (1978), Joã o Paulo II (1978–2005) e Bento XVI (2005–). A tradiçã o
cató lica considera todos esses papas como sucessores de Pedro. Em que sentido eles sã o seus sucessores e em que
sentido nã o sã o?
Em pelo menos dois de seus papé is apostó licos, Pedro não poderia ter tido sucessores: primeiro, como o
cofundador tradicional com Paulo da Sé Apostó lica de Roma; e, segundo, como um dos Doze que foram testemunhas
pessoais do Senhor Ressuscitado. Esses sã o aspectos ú nicos, nã o repetı́veis e nã o transmissı́veis do apostolado de
Pedro. Por outro lado, os bispos de Roma continuam o ministé rio de Pedro de evangelizar o mundo e de manter a
unidade de toda a Igreja. Eles també m continuam a exercer dentro do colé gio de bispos o mesmo tipo de autoridade
pastoral que Pedro exerceu dentro da companhia original dos Doze. A palavra “continuar” é importante. Os papas
nã o sucedem Pedro no sentido de substituí- lo, como um recé m-empossado presidente dos Estados Unidos, por
exemplo, substitui seu antecessor. Os papas dã o continuidade ao ministé rio de Pedro, mas Pedro como tal é
insubstituı́vel. Só ele é a rocha sobre a qual a Igreja está construı́da.
De fato, para Sã o Cipriano de Cartago (m. 258), cada bispo em sua pró pria sé episcopal, ou diocese, é em certo
sentido um sucessor de Pedro. Como sucessores dos apó stolos, todos os bispos sã o sinais de unidade e portadores
da tradiçã o apostó lica. Santo Hilá rio de Poitiers (falecido em 367) també m se referiu a todos os bispos como
"sucessores de Pedro e Paulo". Santo Agostinho de Hipona (m. 430) assinalou que em Pedro toda a Igreja, e nã o
apenas Pedro, recebeu as chaves do reino. Alé m disso, as igrejas ortodoxas a irmam que Roma nã o é a ú nica sé em
que Pedro exerceu seu primado apostó lico e em que ocorreu uma sucessã o episcopal. Eles citam Antioquia como
uma dessas outras sedes apostó licas.
No entanto, é uma questã o de doutrina cató lica que a sucessã o petrina, como a sucessã o apostó lica, é um
desenvolvimento guiado pelo Espı́rito Santo e, nesse sentido, é de instituiçã o divina.
Ministério petrino: De acordo com a tradiçã o cató lica, o ministé rio que o Bispo de Roma exerce na qualidade de
Vigá rio de Pedro (ver abaixo) é uma continuaçã o do pró prio ministé rio de Pedro em nome da Igreja universal. Como
tal, é chamado de ministé rio petrino, que se acredita que Jesus conferiu a Pedro na Ultima Ceia, quando declarou:
“Rezei para que a tua fé nã o desfaleça; e depois de voltares, deves fortalecer os teus irmã os ”(Lucas 22:32). O
ministé rio de liderança pastoral exercido por Pedro na primeira parte dos Atos é o modelo e a norma para o
ministé rio petrino exercido pelo papa. Envolve testemunhar a fé , supervisionando a maneira como as igrejas locais
preservam e transmitem esta fé , fornecendo assistê ncia e encorajamento aos outros bispos em seu pró prio
ministé rio local e universal de proclamaçã o e defesa da fé , falando em nome dos bispos e de seus igrejas locais
quando surge a necessidade, e articulando a fé da Igreja em nome de toda a comunhã o das igrejas locais que juntas
constituem a Igreja universal. Em suma, o ministé rio petrino é o de um “servo dos servos de Deus” (lat., Servus
servorum Dei ): um servo de seus irmã os bispos e um servo de todo o Povo de Deus.
Vigário de Pedro: O tı́tulo mais tradicional concedido ao papa (a partir do inal do sé culo IV) é o de Vigá rio de
Pedro. O bispo de Roma nã o ocupa o lugar de Pedro. Ao contrá rio de Pedro, o papa nã o é apó stolo nem testemunha
ocular do Senhor Ressuscitado. Essas sã o qualidades que nã o podem ser transmitidas a quem segue. Os papas só
podem continuar o ministé rio de Pedro mantendo viva a fé que foi transmitida a eles. A palavra em inglê s mais
pró xima de “vigá rio” é “substituto”. Como um professor substituto em uma sala de aula, o papa substitui Pedro, mas
nã o o substitui. Embora o tı́tulo Vigá rio de Cristo seja praticamente sinô nimo hoje da pessoa e do ofı́cio do papa, ele
nã o tem o mesmo valor histó rico na tradiçã o cató lica que o de Vigá rio de Pedro. Originalmente, todos os bispos eram
considerados vigá rios de Cristo. Somente no ponti icado de Eugê nio III (1145–53) o tı́tulo de Vigá rio de Cristo se
identi icou exclusivamente com o Bispo de Roma. Posteriormente, o papa Inocê ncio III (1198-1216) apelou ao tı́tulo
como base de seu poder universal, mesmo sobre as autoridades temporais. No entanto, em 1964, o Concı́lio Vaticano
II a irmou que “os bispos governam as igrejas particulares que lhes sã o con iadas como vigá rios de Cristo e seus
embaixadores” (Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja, n. 27). O papa é Vigá rio de Cristo na medida em que é bispo, e
nã o na medida em que é papa. O tı́tulo que captura suas distintas responsabilidades petrinas é o de Vigá rio de Pedro.
Dia da festa (com Sã o Paulo): 29 de junho.

2 Linus, St., ca. 66 – ca. 78 (67-76 na lista o icial do Vaticano).


Como foi somente no inal do segundo ou inı́cio do terceiro sé culo que a tradiçã o cató lica passou a considerar Pedro
como o primeiro bispo de Roma, foi Lino, e nã o Pedro, que foi considerado nas primeiras listas de sucessã o o
primeiro papa. Muito pouco se sabe sobre Linus. Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200) e o historiador Eusé bio de
Cesaré ia (m. Ca. 339) o identi icaram com o companheiro de Paulo que enviou saudaçõ es de Roma a Timó teo em
Efeso (2 Timó teo 4:21), mas Os estudiosos das Escrituras hoje geralmente hesitam em fazer isso. Fontes antigas,
incluindo Eusé bio, a irmam que Linus ocupou o cargo por cerca de doze anos, mas nã o sã o claras sobre as datas
exatas ou sobre seu papel pastoral e autoridade exatas. Deve ser lembrado - ao contrá rio da piedosa crença cató lica
- que a estrutura monoepiscopal de governo da igreja (també m conhecida como episcopado moná rquico, em que
cada diocese era che iada por um ú nico bispo) ainda nã o existia em Roma naquela é poca. E també m nã o havia um
Colé gio de Cardeais encarregado da eleiçã o de um novo papa. (O papel eleitoral do Colé gio dos Cardeais só começou
em 1059.) Durante quase todo o primeiro milê nio cristã o, o papa foi eleito pelo clero e pelo povo de Roma, já que
seu cargo pastoral imediato e principal era o de Bispo de Roma.
Nã o há nenhuma evidê ncia para apoiar a lenda de que Linus morreu como um má rtir e foi sepultado no Monte do
Vaticano perto de Sã o Pedro, nem para a tradiçã o de que ele decretou, de acordo com 1 Corı́ntios 11: 1-16, que as
mulheres deveriam manter seus cabeças cobertas na igreja. Seu nome ocorre apó s os de Pedro e Paulo no antigo
Câ non da Missa. Na Oraçã o Eucarı́stica I hoje seu nome segue o dos doze apó stolos (incluindo Paulo, mas nã o Matias,
que foi eleito para suceder ao traidor, Judas Iscariotes), mas seu nome e os nomes de outros papas e má rtires
antigos sã o geralmente dados entre colchetes e em letras pequenas para designar o cará ter opcional daquela porçã o
da Oraçã o Eucarı́stica. Dia da festa: 23 de setembro.

3 Anacletus [Cletus], St., grego (?), Ca. 79 – ca. 91 (76–88 na lista o icial do Vaticano).
O nome do segundo sucessor de Pedro, Anacletus, é na verdade Anencletus, um adjetivo grego que signi ica
“irrepreensı́vel”. Visto que també m era um nome comum para um escravo, pode ser um indicativo de suas origens
sociais. Cletus, o nome pelo qual ele é comemorado na Oraçã o Eucarı́stica I apó s o de Linus, é simplesmente uma
forma abreviada de Anacletus. Em algumas fontes antigas, os dois nomes foram assumidos incorretamente como
sendo os de dois papas diferentes.
Anacletus evidentemente exerceu uma posiçã o de liderança pastoral em Roma, mas a estrutura monoepiscopal
(també m conhecida como episcopado moná rquico) ainda nã o existia lá . Uma tradiçã o nã o con irmada é que, durante
seu ponti icado, ele dividiu Roma em vinte e cinco paró quias. O historiador da igreja Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca.
339) relata que ele morreu no dé cimo segundo ano do reinado do imperador Domiciano (81-96). A tradiçã o de que
ele morreu má rtir també m nã o foi atestada. Seu antigo dia de festa, 26 de abril, foi abandonado durante a reforma
do calendá rio litú rgico do Papa Paulo VI em 1969.

4 Clement I, St., ca. 91 – ca. 101 (88-97 na lista o icial do Vaticano).


També m conhecido como Clemente de Roma, ele é mais conhecido por sua prová vel autoria da carta referida como 1
Clemente , o documento cristã o mais importante do primeiro sé culo fora do Novo Testamento e tratado por alguns
na Igreja antiga como se fosse, em na verdade, parte do câ non do Novo Testamento. Uma segunda carta atribuı́da a
ele ( 2 Clemente ) nã o é autê ntica. A comunidade romana nessa é poca provavelmente estava dividida em vá rias
pequenas igrejas domé sticas espalhadas pela cidade e seus bairros vizinhos, cada uma presidida por um presbı́tero
(e possivelmente mais de um). Nã o teria havido liderança unida e coordenada dentro da comunidade cristã da
cidade como um todo, mas era o caso nas relaçõ es da comunidade com as comunidades cristã s de outras cidades.
Um presbı́tero (e Clemente foi especi icamente mencionado em O Pastor de Hermas) foi encarregado de se
corresponder com essas outras comunidades e provavelmente també m de dispensar ajuda aos necessitados. Como
tal, Clemente e outros em sua posiçã o teriam funcionado como uma espé cie de ministro das Relaçõ es Exteriores da
Igreja Romana, em vez de seu bispo moná rquico. Mas certamente os presbı́teros, como Clemente, que cumpriram
essa responsabilidade teriam se destacado.
Esta primeira carta de Clemente foi enviada ca. 96 da igreja em Roma para a igreja em Corinto, instruindo os
corı́ntios a reintegrar os presbı́teros (presbı́teros ou sacerdotes seniores) que haviam sido depostos indevidamente
e a exilar os mais jovens que instigaram a rebeliã o. Na opiniã o de Clemente (uma nã o fundamentada no Novo
Testamento, no entanto), os pró prios apó stolos estabeleceram bispos (um termo que ele usa de forma
intercambiá vel com presbı́teros) e diá conos em todos os lugares e estipularam que nem eles nem seus sucessores
deveriam ser privados do cargo . Signi icativamente, Clemente nã o ofereceu defesa por sua intervençã o nos assuntos
pastorais da igreja de Corinto (ele nã o havia sido convidado a fazê -lo pelos corı́ntios), mas també m nã o apelou para
qualquer privilé gio romano especial. O cará ter retó rico da carta pode indicar que Clemente sabia que nã o possuı́a a
autoridade que alegava e que, em vez disso, precisava con iar na persuasã o e na exortaçã o. O subjuntivo exortativo,
de fato, é usado com notá vel freqü ê ncia, enquanto o imperativo é usado apenas com moderaçã o.
A forma de intervençã o de Clemente parece ter sido modelada nas relaçõ es da capital imperial de Roma (seu
Senado e imperador) com suas provı́ncias perifé ricas. Seguindo a prá tica do governo imperial, Clemente enviou com
sua carta trê s testemunhas para observar e relatar a restauraçã o da paz. Sua recomendaçã o de exı́lio para as partes
ofensivas també m re letia a prá tica romana secular, em que o exı́lio era uma fuga do julgamento. Na verdade, a carta
é marcada por uma atitude laudató ria para com o Estado romano. Elogia os militares romanos como modelo de
obediê ncia e exorta os cristã os a serem igualmente “obedientes. . . aos nossos governantes e governadores na terra ”,
a quem Deus deu a soberania. Por trá s dessas palavras está a convicçã o de que o impé rio e seus governantes foram
estabelecidos por Deus como a contraparte terrena do reino celestial. Como tal, o sistema polı́tico romano - que é ao
mesmo tempo imperial e hierá rquico - é digno de ser imitado pela pró pria Igreja. A in luê ncia do sistema polı́tico
romano existente no sistema eclesiá stico romano em evoluçã o, portanto, nã o pode ser descartada. Quando alguns
teó logos e historiadores cató licos hoje sugerem que as estruturas hierá rquicas da Igreja, incluindo o papado, devem
mais ao Impé rio Romano do que a Jesus, eles nã o exageram.
Existe uma tradiçã o nã o veri icada, atestada, no entanto, por Tertuliano (m. Ca. 225) e Sã o Jerô nimo (m. Ca. 420),
de que Clemente foi consagrado pelo pró prio Sã o Pedro e como seu sucessor imediato. Se isso fosse verdade, Linus
(ca. 66-ca. 78) e Anacletus (ca. 79-ca. 91) teriam que ser de alguma forma deslocados ou reorganizados na lista de
papas. Escritores do terceiro e quarto sé culos, como Orı́genes (m. Ca. 254), Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339) e
Jerô nimo igualaram-no ao Clemente, a quem Sã o Paulo menciona como um colega de trabalho que "lutou contra [seu
] lado na promoçã o do evangelho ”e cujo nome está “ no livro da vida ”(Filipenses 4: 3), que é uma espé cie de
registro do povo escolhido de Deus (Exodo 32: 32-33; Salmos 69:28; 139: 16).
Nã o há evidê ncias histó ricas para apoiar a alegaçã o de que Clemente morreu como má rtir ou que foi banido para
a Crimeia, onde se diz que pregou o evangelho enquanto fazia trabalhos forçados nas minas e mais tarde foi afogado
no Mar Negro com uma â ncora ao redor O pescoço dele. Pode haver mais substâ ncia, no entanto, para a tradiçã o de
que a igreja de Sã o Clemente em Roma ica no local de sua casa. Clemente é mencionado na Oraçã o Eucarı́stica I
entre Cleto (Anacletus) e Sisto I (ca. 116-ca. 125). Dia da festa: 23 de novembro (no oeste); 24 ou 25 de novembro
(no Leste).

5 Evaristus, St., grego, ca. 100-ca. 109 (97–105 na lista o icial do Vaticano).
Evaristus é considerado pela tradiçã o cató lica como o quarto sucessor de Pedro. As primeiras listas de sucessã o, no
entanto, diferem quanto à duraçã o de seu ponti icado e até mesmo sobre seu lugar exato na lista. O historiador
Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339), por exemplo, indicou que Evaristo serviu por oito ou nove anos, enquanto o
Catá logo da Libé ria do sé culo IV (que o chamava de Aristo e o colocava depois de Anacletus em vez de Clemente)
calculava seu mandato como pouco menos de quatorze anos. Há pouca ou nenhuma informaçã o con iá vel sobre ele.
Especi icamente, nã o há base para a alegaçã o de que ele morreu como um má rtir e foi enterrado na colina do
Vaticano perto de Sã o Pedro. Duas cartas e dois fragmentos de decretais associados a ele nã o sã o autê nticos. O fato
de ele estar nas primeiras listas de sucessã o indica, no mı́nimo, que ele exerceu um papel proeminente de liderança
na igreja romana, embora nã o como seu ú nico bispo ou superintendente. A estrutura monoepiscopal (també m
conhecida como episcopado moná rquico) nã o chegou a Roma até meados do sé culo II, com o ponti icado de Sã o Pio
I (ca. 142 – ca. 155). Dia da festa: 26 de outubro.

6 Alexander I, St., ca. 109-ca. 116 (105-115 na lista o icial do Vaticano).


Alexandre é considerado pela tradiçã o cató lica como o quinto sucessor de Pedro. Como no caso de seus
predecessores, a duraçã o do ponti icado de Alexandre é uma questã o de adivinhaçã o. As estimativas das primeiras
fontes variam de sete a dez anos. Quando as informaçõ es sobre uma das primeiras iguras religiosas sã o esparsas ou
inexistentes, como neste caso, a lenda piedosa freqü entemente preenche o vá cuo. Assim, o Liber Ponti icalis , uma
coleçã o de biogra ias papais que começou a tomar forma no sé culo VI, atribui a Alexandre a inserçã o da narrativa da
instituiçã o eucarı́stica da Ultima Ceia no Câ non da Missa (uma tentativa de atribuir uma origem precoce à esta prá tica
litú rgica) e també m lhe atribui a inauguraçã o do costume de abençoar as casas com á gua benta e sal (que na
verdade provinha de uma prá tica pagã ). O Liber Ponti icalis també m repete uma tradiçã o romana de que Alexandre
foi decapitado na Via Nomentana, uma estrada que conduzia fora de Roma, mas a tradiçã o evidentemente o
confundiu com um má rtir real de mesmo nome cujo tú mulo foi descoberto ao longo daquela estrada em 1855. De
fato , Santo Irineu (m. Ca. 200) nã o identi ica nenhum má rtir entre esses primeiros lı́deres romanos até o Papa
Telesforo (ca. 125-ca. 136). Dia da festa: 3 de maio.

7 Sixtus [Xystus] I, St., ca. 116 – ca. 125 (115-125 na lista o icial do Vaticano).
Sisto I é considerado pela tradiçã o cató lica como o sexto sucessor de Pedro, daı́ o nome latino Sisto (que signi ica
“sexto”), embora seja mais corretamente conhecido como Xisto. As datas de seu ponti icado sã o tã o incertas quanto
as de seus predecessores imediatos. As primeiras fontes geralmente concordam que durou cerca de dez anos. Pouco
ou nada mais se sabe sobre ele. O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de biogra ias papais compiladas pela primeira vez
em meados do sé culo VI) indica que ele era ilho de um padre e atribui a ele, sem base histó rica, um decreto que os
vasos sagrados (por exemplo, cá lices, ciboria) deveriam apenas ser tocado pelo clero e outro decreto que as pessoas
deveriam cantar o Sanctus (o “Santo, Santo, Santo” no inı́cio da Oraçã o Eucarı́stica) com o sacerdote. També m nã o há
fundamento para a alegaçã o de que ele morreu como um má rtir e foi enterrado na Colina do Vaticano, perto de Sã o
Pedro. Dia da festa: 3 ou 6 de abril.

8 Telesphoros, St., grego, ca. 125 – ca. 136 (125–136 na lista o icial do Vaticano).
Telesphoros é o ú nico papa do sé culo II cujo martı́rio é historicamente veri icá vel. Embora as datas exatas de seu
ponti icado sejam incertas, as primeiras fontes concordam que durou onze anos. O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de
biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI) atribui erroneamente a ele a inauguraçã o
de um jejum de sete semanas antes da Pá scoa e o uso da Gloria na Missa da meia-noite de Natal. Ambas as prá ticas
nã o foram introduzidas até muito tarde. Santo Irineu (falecido por volta de 200) observa que Telesphoros sempre
observava a Pá scoa no domingo, e nã o em qualquer dia da semana em que a Pá scoa caı́sse (que era a prá tica
daqueles cristã os que eram conhecidos como Quartodecimans - a palavra latina para “ dé cimo quarto ”- porque eles
observavam a Pá scoa no dé cimo quarto dia do mê s judaico de Nisan). Dia da festa: 5 de janeiro (no oeste); 22 de
fevereiro (no Leste).

9 Hyginus, St., grego, ca. 138 – ca. 142 (136-140 na lista o icial do Vaticano).
Hyginus é considerado pela tradiçã o cató lica como o oitavo sucessor de Pedro. As estimativas da duraçã o desse
ponti icado variam de doze anos a quatro (o nú mero mais con iá vel). De acordo com o Liber Ponti icalis (uma
coleçã o de biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI), Hyginus era um grego de
Atenas com formaçã o em iloso ia. Seu contemporâ neo, Sã o Justino Má rtir (morto em cerca de 165), també m veio do
Oriente para Roma e foi, como Hyginus, um iló sofo e apologista (isto é , defensor da fé ). Santo Irineu (m. Ca. 200)
relata que durante o ponti icado de Hyginus os mestres gnó sticos Valentinus (m. Ca. 175) e Cerdo vieram para Roma
do Egito e da Sı́ria, respectivamente, indicando que Roma estava se tornando um importante centro cristã o. Marcion
(morto em cerca de 160), considerado pelos historiadores da Igreja como um dos hereges mais formidá veis já
confrontados pela Igreja, també m veio a Roma por volta de 140, onde caiu sob a in luê ncia de Cerdo. Quatro anos
depois, durante o pró ximo ponti icado, Marciã o foi excomungado pela igreja romana por heresia.
Hyginus foi considerado um má rtir (e foi incluı́do no Martiroló gio Romano), mas nã o há nenhuma evidê ncia
histó rica para substanciar essa crença ou a tradiçã o piedosa de que ele foi enterrado na Colina do Vaticano perto de
Sã o Pedro. Dia da festa: 11 de janeiro.

10 Pio I, St., ca. 142 – ca. 155 (140–155 na lista o icial do Vaticano).
Pio I foi o primeiro dos papas listados a ter funcionado como o ú nico, ou ú nico, bispo de Roma. Antes de seu
ponti icado, a igreja romana parece ter sido governada por um conselho ou grupo de presbı́teros ou presbı́teros-
bispos. Aqueles considerados papas pela tradiçã o cató lica antes do ponti icado de Pio I podem ter sido simplesmente
os membros mais proeminentes desses grupos governantes.
As primeiras fontes estã o confusas sobre as datas deste ponti icado. Em algum lugar Pio I apó s seu sucessor
Aniceto (ca. 155 – ca. 166). O Câ non Muratoriano do sé culo II (a lista mais antiga existente dos livros do Novo
Testamento) identi ica Pio como irmã o de Hermas, um ex-escravo e autor de uma obra visioná ria historicamente
signi icativa com temas fortemente penitenciais conhecidos como O Pastor . Nã o se sabe muito sobre o ponti icado de
Pio, exceto que os gnó sticos Valentinus (morto em cerca de 175), Cerdo e Marciã o (morto em cerca de 160) estavam
promovendo ativamente seus pontos de vista na cidade, especi icamente que o Antigo Testamento havia sido
completamente suplantado por o Novo Testamento para que o Cristianismo nã o seja em nenhum sentido um
cumprimento do Judaı́smo, mas sim sua substituiçã o. Os gnó sticos també m nutriam uma atitude negativa em relaçã o
ao mundo material e ao corpo, mesmo negando a realidade do corpo humano de Jesus. Acredita-se que Pio presidiu
um sı́nodo de presbı́teros que excomungou Marciã o em julho de 144.
Embora Pio seja mencionado em um martiroló gio pouco con iá vel do sé culo IX compilado por Santo Ado de
Vienne (falecido em 875), nã o há evidê ncias de que ele tenha sido martirizado ou que tenha sido enterrado na colina
do Vaticano perto de Sã o Pedro. Dia da festa: 11 de julho.

11 Anicetus, St., Syrian, ca. 155 – ca. 166 (155-166 na lista o icial do Vaticano).
Aniceto era bispo de Roma numa é poca em que a cidade estava se tornando um pró spero centro de atividade cristã ,
atraindo algumas das principais iguras da Igreja antiga, incluindo o grande erudito anti-gnó stico sı́rio Santo
Hegesipo (m. Ca. 180) e Sã o Justino Má rtir (falecido por volta de 165). Embora o Liber Ponti icalis (uma coleçã o de
biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI) relate que Anicetus proibia os clé rigos de
usar cabelos longos, ele talvez seja mais lembrado por suas discussõ es sé rias, mas amigá veis, com uma das iguras
mais reverenciadas no inı́cio igreja, Sã o Policarpo (m. ca. 155/6), bispo de Esmirna (na atual Turquia), que tinha sido
um discı́pulo de Sã o Joã o Evangelista.
Já na casa dos 80 anos, Policarpo tinha vindo a Roma para exortar o papa a adotar a prá tica litú rgica comum na
Asia Menor de observar a festa da Pá scoa, considerada a Pá scoa cristã , no dé cimo quarto dia do mê s judaico de
Nisan (o dia de a Pá scoa judaica), independentemente do dia da semana em que caı́sse. Como esses cristã os
preferiam o dé cimo quarto dia de nisã , eles eram conhecidos pela palavra latina para “dé cimo quarto”, ou seja,
quartodecimanos. E importante notar que, até este momento, a pró pria Roma nã o observava nenhuma festa especial
da Pá scoa. A igreja romana considerava todo domingo uma celebraçã o da Ressurreiçã o. Aniceto negou o pedido de
Policarpo de que Roma conformasse sua prá tica com a das igrejas da Asia Menor, insistindo que se sentia limitado
pelo costume de seus predecessores de celebrar a Ressurreiçã o todos os domingos. A discussã o continuou amigá vel
e Anicetus convidou Policarpo para presidir a Eucaristia. Eles partiram em paz, mas Roma e o Oriente continuaram
suas prá ticas separadas. Desde o primeiro concı́lio ecumê nico em Nicé ia em 325, os cató licos romanos celebraram a
Pá scoa no domingo seguinte à lua cheia apó s o equinó cio vernal (ou seja, entre 22 de março e 25 de abril). No
entanto, muitos cató licos de rito oriental, bem como ortodoxos e outros cristã os orientais nã o cató licos que seguem
o calendá rio juliano em vez do calendá rio gregoriano, celebram a Pá scoa em um domingo diferente.
Provavelmente foi Aniceto quem ergueu um santuá rio em memó ria de Sã o Pedro na Colina do Vaticano, familiar
aos visitantes na virada do sé culo (cerca de 200). Dia da festa: 17 de abril.

12 Soter, St., ca. 166 – ca. 174 (166–175 na lista o icial do Vaticano).
O desenvolvimento mais signi icativo no ponti icado de Soter foi a introduçã o da Pá scoa como uma festa litú rgica
anual em Roma. Até entã o, a igreja romana nã o tinha uma festa de Pá scoa separada, mas considerava cada domingo
como uma celebraçã o da Ressurreiçã o. A data combinada para a nova festa era o domingo seguinte ao dé cimo
quarto dia do mê s judaico de nisã (em outras palavras, o domingo seguinte ao dia da Pá scoa). Isso contrastava com
uma prá tica cristã comum na Asia Menor de celebrar a Pá scoa no pró prio dia da Pá scoa, nã o importando o dia da
semana em que caı́sse. Aqueles que seguiam essa prá tica eram chamados de Quartodecimans (do latim, "dé cimo
quarto", para o dé cimo quarto dia de nisã ).
O historiador Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339) preservou fragmentos de uma carta que Dionı́sio, bispo de Corinto,
escreveu a Soter em reconhecimento da carta do papa à comunidade de Corinto e prometendo que sua carta seria
lida regularmente nas reuniõ es do Igreja de Corinto. Os historiadores modernos especulam, com base em outras
cartas escritas por Dionı́sio, que Soter pode ter expressado sua desaprovaçã o de uma certa frouxidã o moral na
comunidade corı́ntia, especi icamente no que diz respeito à conduta sexual e uma restauraçã o muito tolerante dos
penitentes à comunhã o com a Igreja, independentemente de seus pecados. A resposta obsequiosa de Dionı́sio pode
ter sido planejada para acalmar as á guas entre Roma e Corinto.
O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de biogra ias papais compilada pela primeira vez em meados do sé culo VI) relata
que Soter ordenou que monges nã o ordenados nã o tocassem nos panos do altar ou oferecessem incenso na igreja -
uma indicaçã o de que a microgestã o pastoral nã o é um fenô meno exclusivamente moderno. Embora Soter tenha
sido posteriormente venerado como um má rtir, nã o há evidê ncias de que ele morreu como má rtir. Dia da festa: 22
de abril.

13 Eleutherius [Eleutherus], St., grego, ca. 174 – ca. 189 (175–189 na lista o icial do Vaticano).
Eleuté rio é considerado pela tradiçã o cató lica como o dé cimo segundo sucessor de Pedro, tendo servido como
diá cono (assistente) do Papa Aniceto (ca. 155-ca. 166) antes de ser eleito para o papado. Em 177 ou 178, ele recebeu
a visita de Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200), trazendo uma carta dos cristã os de Lyon (no sul da Gá lia, ou na França
dos dias modernos) que expô s suas visõ es altamente crı́ticas sobre Montanismo, um novo movimento religioso que
estava profetizando um im rá pido do mundo e pregando a necessidade de impor prá ticas ascé ticas severas à Igreja.
Embora o registro histó rico nã o seja completamente claro, parece que Eleuté rio nã o percebeu o perigo do
Montanismo e se recusou a julgar suas a irmaçõ es profé ticas. No entanto, Tertuliano (falecido por volta de 225), um
proeminente convertido ao montanismo, a irmou que o papa originalmente enviou cartas conciliató rias
reconhecendo a autenticidade das profecias e só mais tarde rejeitou o movimento.
O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI)
atribui duvidosamente a Eleuté rio a regra de que os cristã os nunca devem rejeitar qualquer alimento como
naturalmente impuro. Tal regulamento teria sido mais apropriado para a Roma do sé culo V, quando as proibiçõ es
maniqueı́stas de certos alimentos estavam na moda. També m havia uma crença popular, mas lendá ria, de que um rei
britâ nico pedira a esse papa que enviasse missioná rios à Grã -Bretanha. Eleuté rio é mencionado pela primeira vez
como um má rtir no martiroló gico um tanto pouco con iá vel do sé culo IX, compilado por Santo Ado de Viena
(falecido em 875). Dia da festa: 26 de maio.

14 Victor I, St., African, 189–198.


O primeiro papa africano, que Sã o Jerô nimo (falecido por volta de 420) identi icou como o primeiro escritor
eclesiá stico latino, Victor é mais conhecido por sua resoluçã o irme da contrové rsia sobre a celebraçã o da Pá scoa.
Com sua insistê ncia, sı́nodos foram realizados em Roma e em outros centros cristã os da Gá lia (atual França) à
Mesopotâ mia (atual Iraque). Embora a grande maioria esteja do lado do papa, as igrejas da Asia Menor mantiveram
sua prá tica de celebrar a Pá scoa no dé cimo quarto dia do mê s judaico de nisã (o dia da Pá scoa), quer caı́sse no
domingo ou nã o. Eles foram chamados de Quartodecimans, apó s a palavra latina para “dé cimo quarto”, devido à sua
preferê ncia pelo dé cimo quarto dia de nisã . Em contraste, a igreja romana, que originalmente nã o tinha uma festa de
Pá scoa separada porque considerava todos os domingos como uma celebraçã o da Ressurreiçã o, observava a Pá scoa
no domingo seguinte ao dia da Pá scoa.
Quando os Quartodecimanos, sob a liderança de Polı́crates, bispo de Efeso, se recusaram a se curvar à sua
vontade, Victor declarou-os fora da comunhã o (excomungados) nã o apenas com a Igreja Romana, mas també m com
a Igreja universal. Sua açã o dura provocou uma tempestade de protestos, até mesmo daqueles que aceitaram sua
decisã o na Pá scoa. Santo Irineu de Lyon (morto em cerca de 200) apontou para ele que todos os papas anteriores
até Soter (cerca de 166 a 174) haviam tolerado a prá tica quartodecimana e que a questã o nã o tocava a essê ncia do
Fé cristã . O fato de que as igrejas da Asia Menor permaneceram em comunhã o com Roma indica que o papa pode ter
ouvido o conselho severo de Irineu e outros e retirado a sentença de excomunhã o. Mas o pró prio incidente mostra a
crença crescente dos papas naquela é poca de que a Igreja Romana gozava de algum tipo de status primacial na
Igreja universal.
Victor també m excomungou Teó doto de Bizâ ncio, o lı́der de um grupo adotivo que ensinava que Jesus nã o era o
verdadeiro Filho de Deus, mas apenas o ilho “adotado” de Deus, e depô s Florinus do sacerdó cio por defender as
doutrinas gnó sticas. Ele també m é o primeiro papa conhecido por ter negociado com a casa imperial, fornecendo à
amante do imperador, ela pró pria uma cristã , uma lista de cristã os condenados à s minas da Sardenha, garantindo
assim sua libertaçã o. Embora mais tarde venerado como má rtir, nã o há evidê ncias de que Victor tenha sofrido a
morte de um má rtir ou de que ele tenha sido enterrado na Colina do Vaticano, perto de Sã o Pedro. Dia da festa: 28
de julho.

15 Zephrynus, St., 198 / 9–217 (199–217 na lista o icial do Vaticano).


Embora seu ponti icado tenha durado mais de dezessete anos, relativamente pouco se sabe sobre Zephrynus, exceto
pelas duras crı́ticas que recebeu, especialmente de Santo Hipó lito (m. Ca. 236), um importante e erudito presbı́tero
romano. Hipó lito descreveu o papa como um homem simples, sem educaçã o e o fantoche de seu poderoso diá cono
Calisto (que mais tarde sucedeu Zephrynus como papa). Hipó lito e outros, incluindo o teó logo norte-africano
Tertuliano (falecido por volta de 225), icaram frustrados com o papa por causa de sua aparente fraqueza e
vacilaçã o diante dos novos desa ios à fé histó rica do montanismo (um movimento religioso que profetizava um im
rá pido do mundo e pregaçã o da necessidade de impor prá ticas ascé ticas severas à Igreja), Adopionismo (uma teoria
cristoló gica de que Jesus era um ser humano comum que se tornou o Filho “adotado” de Deus em seu batismo) e
Sabelianismo (també m conhecido como Modalismo e Monarquianismo, uma teoria que sustenta que em Deus há , de
fato, apenas uma Pessoa divina com trê s modos ou manifestaçõ es diferentes de atividade divina). A luz da ê nfase
moderna no ofı́cio papal como guardiã o e defensor da ortodoxia, tais crı́ticas sã o verdadeiramente notá veis. Os
primeiros papas como Zephrynus e Eleutherius foram acusados de realmente serem muito fá ceis com os dissidentes
doutriná rios, em vez de censuradores. Zephrynus publicou uma fó rmula de credo que enfatizou a divindade de Jesus
Cristo, bem como a distinçã o pessoal do Filho do Pai, mas o papa, como quase todo mundo nessa é poca, carecia de
terminologia teoló gica para dizer isso claramente.
Orı́genes (m. Ca. 254), um dos primeiros grandes teó logos da histó ria da Igreja, visitou Roma durante este
ponti icado - outra indicaçã o da importâ ncia crescente “daquela antiquı́ssima Igreja” (palavras do pró prio Orı́genes).
Nã o há evidê ncias, no entanto, para apoiar a tradiçã o de que Zephrynus morreu como má rtir, mas há alguma base
para a crença de que ele foi enterrado em seu pró prio cemité rio pró ximo ao de Callistus na Via Apia. Dia da festa: 26
de agosto.

16 Callistus [Calixtus] I, St., 217-222.


Calisto é o primeiro papa, depois de Pedro, cujo nome é comemorado como má rtir no mais antigo martiroló gio da
igreja romana, o Depositio Martyrum (ca. 354). Muitas das informaçõ es que sobrevivem sobre Callistus vê m iltradas
atravé s dos escritos altamente depreciativos de Santo Hipó lito (m. Ca. 236), um importante e erudito presbı́tero
romano que també m foi um crı́tico persistente do predecessor de Calisto, Zephrynus.
Em sua juventude, Callistus havia sido escravo de um cristã o que o instalou em um banco. Quando, para o
desespero de seus muitos clientes cristã os, o negó cio faliu (talvez por causa de alguma atividade desagradá vel dele),
Callistus fugiu. Apó s seu retorno, ele foi acusado de lutar em uma sinagoga no sá bado e condenado a trabalhos
forçados nas minas da Sardenha. Ele foi libertado ao mesmo tempo que vá rios outros escravos cristã os foram
libertados por meio dos bons ofı́cios da amante cristã do imperador, Má rcia, e do papa Victor I (189–98). Victor
deliberadamente excluiu Callistus da lista que ele apresentou a Marcia, mas Callistus prevaleceu sobre o governador
para libertá -lo també m. Apó s o retorno de Callistus a Roma, o papa o enviou para viver em Anzio com uma pensã o
mensal, mas o sucessor de Victor, Zephrynus, o chamou de volta e nomeou seu diá cono, com autoridade supervisora
sobre o clero de Roma e sobre o cemité rio o icial da igreja na Appia Way (agora conhecidas como as catacumbas de
San Callisto). Por causa das pró prias limitaçõ es intelectuais e administrativas de Zephrynus, Callistus exerceu enorme
in luê ncia como diá cono do papa e foi eleito para sucedê -lo. Hipó lito, no entanto, recusou-se a aceitar a eleiçã o e
parece ter buscado e recebido a eleiçã o como bispo por um grupo cismá tico, tornando-se assim o primeiro dos
trinta e nove antipapas da Igreja Cató lica (o ú ltimo foi Fé lix V [1439-1449]).
O ponti icado de cinco anos de Calisto foi de inido em grande parte por suas constantes batalhas com Hipó lito e
sua facçã o, que acusou o papa de desvios doutriná rios (modalismo, em particular, a visã o de que em Deus há apenas
uma Pessoa divina com trê s modos de atividade) e frouxidã o na disciplina (por exemplo, ordenar homens que foram
casados mais de uma vez, reconhecer casamentos entre parceiros de diferentes classes sociais e readmitir hereges e
cismá ticos na Igreja sem penitê ncias anteriores adequadas). Ambas as acusaçõ es foram injustas. Calisto claramente
nã o era um modalista, mas també m nã o apoiou o ensino de Hipó lito de que a Palavra (Logos) é uma pessoa distinta,
uma visã o que o papa considerava diteı́sta (postulando dois deuses). E a abordagem de Callistus aos pecadores era
na verdade mais pró xima daquela de Jesus do que dos novos rigoristas na Igreja. A Igreja, ele acreditava, é um lugar
onde o joio e o trigo crescem juntos. Como Jesus lembrou a seus discı́pulos, a separaçã o dos santos dos pecadores
deve ser deixada para o Deus misericordioso. A Igreja, insistiu o papa, deve oferecer reconciliaçã o a quem busca
perdã o pelos pecados cometidos apó s o batismo.
Diz-se que Callistus lançou as bases para os Dias Ember (dias de jejum e abstinê ncia ocorrendo em sé ries de trê s,
quatro vezes por ano), que nã o sã o mais observados na Igreja Cató lica.
Embora seu nome apareça no mais antigo martiroló gio romano, é questioná vel se ele foi, de fato, um má rtir. Como
apontam os historiadores, nã o houve perseguiçã o durante seu ponti icado. Seu tú mulo no cemité rio de Calepodius
na Via Aurelia (e nã o no cemité rio que leva seu nome na Via Apia) foi descoberto em 1960 nas ruı́nas de um
orató rio erguido pelo Papa Jú lio I (337–52) no sé culo IV. A cripta é decorada com afrescos representando seu
martı́rio. Dia da festa: 14 de outubro.

17 Urban I, St., 222–230.


Urbano teve um ponti icado geralmente pacı́ ico, porque caiu durante o reinado imperial de Alexandre Severo (222-
35), no qual nã o houve perseguiçõ es aos cristã os. O cisma na igreja romana provocado pela oposiçã o amarga de
Santo Hipó lito (m. Ca. 236) aos dois predecessores imediatos de Urbano, Zephrynus (198 / 9–217) e Calisto (217-
22), continuou durante o ponti icado de Urbano, embora na forma menos aguda. No entanto, nã o há registro
histó rico das relaçõ es entre Urbano e Hipó lito. Ao contrá rio da crença piedosa, Urbano nã o morreu como má rtir. De
acordo com o martiroló gio do sé culo V de Sã o Jerô nimo, ele foi enterrado no cemité rio de Calisto na Via Apia. Uma
laje de tumba com seu nome em letras gregas foi descoberta lá . Dia da festa: 25 de maio.

18 Pontian [Pontianus], St., d. Outubro de 235, papa de 21 de julho de 230 a 28 de setembro de 235.
Pontian foi o primeiro papa a abdicar do cargo papal. (Houve trê s, e talvez cinco, outros que o izeram depois dele:
Silverius em 537, Celestino V em 1294, Gregó rio XII em 1415 e provavelmente Joã o XVIII em 1009. Durante o
ponti icado canonicamente confuso de Bento IX, ele abdicou em 1045 a favor de seu padrinho, mas foi reintegrado
em 1047.) Ele fez isso apenas porque foi deportado pelo novo imperador anticristã o Maximinus Thrax para
trabalhar nas minas na ilha da Sardenha, conhecida como a "ilha da morte", do qual poucos voltaram vivos. Pontian
nã o queria que houvesse um vá cuo de liderança na igreja romana.
Todos, exceto os ú ltimos meses de seu ponti icado, foram pacı́ icos porque o tolerante imperador Severo ainda
reinava. Depois de suceder Severus em março de 235, no entanto, Maximinus Thrax abandonou a polı́tica de
tolerâ ncia de seu predecessor e iniciou uma violenta campanha contra os lı́deres cristã os. Ele prendeu Pô ncio e o
antipapa Hipó lito (m. Ca. 236), um forte crı́tico dos papas Zefrino (198/9-217) e Calisto (217-22) e o aparente lı́der
de um cisma na igreja romana. Ambos foram presos em Roma e depois exilados na Sardenha. De acordo com o
Catá logo da Libé ria do sé culo IV, Pontian abdicou em 28 de setembro de 235, a primeira data registrada com
precisã o na histó ria papal.
Nem Pô ncio nem Hipó lito sobreviveram ao duro tratamento e à s condiçõ es na Sardenha. Pontian morreu menos
de um mê s apó s sua renú ncia. Foi sugerido que Pô ncio e Hipó lito se reconciliaram enquanto estavam na prisã o ou
no exı́lio. Seus corpos, em qualquer caso, foram trazidos de volta a Roma pelo Papa Fabiano em 236 ou 237 e foram
enterrados na cripta papal recé m-concluı́da nas catacumbas de Calisto na Via Apia. Fragmentos da laje do tú mulo de
Pontian foram descobertos lá no inı́cio do sé culo XX, com seu nome e tı́tulo episcopal inscritos em grego.
O ú nico outro assunto pelo qual o ponti icado de Pô ncio era conhecido foi a aprovaçã o formal pela igreja romana
da condenaçã o de Orı́genes (m. Ca. 254), um dos primeiros grandes teó logos da Igreja primitiva, por Demé trio, bispo
de Alexandria, em 230 ou 231. Presume-se que, como Bispo de Roma, Pô ncio deve ter presidido o Sı́nodo Romano
que aprovou a expulsã o de Orı́genes do Egito, do seu cargo de professor e do pró prio sacerdó cio.
Um martiroló gio do sé culo IV lista Pô ncio como o primeiro bispo-má rtir romano (depois de Pedro). Dia da festa:
13 de agosto (com Santo Hipó lito).

19 Anterus, St., Greek, 21 de novembro de 235 - 3 de janeiro de 236.


Como seu ponti icado durou menos de dois meses (ele morreu de morte natural), nã o há nada a ser dito sobre
Anterus, exceto que ele foi o primeiro papa a ser enterrado na cripta papal recé m-concluı́da no cemité rio de Callistus
na Via Apia . Grandes fragmentos da inscriçã o sobre seu tú mulo foram encontrados lá . O antecessor de Anterus,
Pontian, també m foi enterrado na cripta papal alguns meses depois, depois que seu corpo foi devolvido da ilha da
Sardenha, onde morreu no exı́lio. Dia da festa: 3 de janeiro.

20 Fabian, St., 10 de janeiro de 236 - 20 de janeiro de 250.


Fabian foi um dos papas mais respeitados e realizados dos primeiros sé culos cristã os. Sã o Cipriano de Cartago
(falecido em 258), um dos principais bispos da Igreja contemporâ nea, descreveu-o como honrado e elogiou a
integridade de sua administraçã o. Há uma histó ria lendá ria, contada pelo historiador Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca.
339), que quando o clero romano estava considerando um sucessor de Pô ncio, uma pomba pousou na cabeça de
Fabiano. O clero nã o pensava em Fabian como um possı́vel sucessor na é poca, mas o acontecimento pareceu-lhes um
sinal da escolha do Espı́rito Santo, por isso ele foi eleito.
Com habilidade administrativa incomum, ele reorganizou o clero local, dividindo a crescente igreja romana em sete
distritos eclesiá sticos com um diá cono, assistido por um subdiá cono e seis assistentes juniores, responsá veis por
cada distrito. Ele també m supervisionou vá rios projetos de construçã o nos cemité rios e providenciou para que os
corpos do Papa Pô ncio (falecido em 235) e do antipapa Hipó lito (falecido em 236) fossem devolvidos de seu exı́lio
na Sardenha e enterrados adequadamente em Roma. Fabian deve ter exercido in luê ncia na corte imperial porque os
corpos dos condenados à deportaçã o nã o podiam ser trazidos para casa ou enterrados sem o consentimento
explı́cito e raramente concedido pelo imperador.
Quase todo o ponti icado de quatorze anos de Fabian foi pacı́ ico (dois imperadores, Gó rdio III e Filipe, o á rabe,
foram geralmente tolerantes com a Igreja), mas depois que Dé cio ascendeu ao poder (249), uma nova e cruel
perseguiçã o foi iniciada. Fabian foi preso e foi um dos primeiros a morrer, provavelmente como resultado do
tratamento brutal na prisã o. Ele foi enterrado na cripta papal do cemité rio de Calisto na Via Apia, onde a laje de sua
tumba, com seu nome, tı́tulo e a palavra abreviada para má rtir em letras gregas, foi descoberta no sé culo XIX. Seu
corpo foi posteriormente removido para a igreja de San Sebastiano, onde um sarcó fago com a inscriçã o de seu nome
foi identi icado no inı́cio do sé culo XX. Dia de festa: 20 de janeiro (com Sã o Sebastiã o).

21 Cornelius, St., março de 251 a junho de 253.


O ponti icado de Corné lio foi marcado por suas constantes e muitas vezes amargas batalhas sobre a questã o da
validade do batismo por hereges e cismá ticos. A prá tica romana, mantida e reforçada por Corné lio, reconhecia a
validade de tais batismos e nã o exigia o rebatismo daqueles que desejassem entrar ou se reconciliar com a Igreja
Cató lica.
Demorou mais de um ano para eleger Cornelius como sucessor de Fabian. O clero romano adiou a eleiçã o por
causa da violenta perseguiçã o sob o imperador Dé cio e porque vá rios membros do clero, incluindo um candidato
proeminente ao papado, estavam na prisã o. Durante o interregno de quatorze meses, a igreja romana foi governada
como fora durante o primeiro sé culo de sua existê ncia, isto é , colegialmente, com o presbı́tero Novaciano atuando
como porta-voz.
Na primavera seguinte, o imperador deixou Roma para lutar contra os godos. Durante sua ausê ncia, a perseguiçã o
cedeu e a eleiçã o foi realizada. A essa altura, entretanto, o candidato principal, um presbı́tero chamado Moisé s, havia
morrido na prisã o. Novaciano esperava plenamente que seria eleito, mas o clero votou em Cornelius, a quem
Cipriano (falecido em 258), bispo de Cartago, descreveu como um padre pouco ambicioso que havia subido na
hierarquia. Novaciano reagiu amargamente aos resultados da eleiçã o e ordenou-se bispo, colocando-se como rival
(antipapa) de Corné lio. O que estava claramente na base da oposiçã o de Novaciano foi a prontidã o de Corné lio em
readmitir à comunhã o, embora apó s uma penitê ncia adequada, aqueles cristã os que haviam falhado durante a
perseguiçã o. Novaciano se opô s categoricamente à reconciliaçã o sob quaisquer condiçõ es. Na verdade, essa també m
pode ter sido a questã o central na pró pria eleiçã o papal.
Novaciano tentou persuadir os bispos de outros centros cristã os a aceitar seu pró prio tı́tulo para a Sé Romana, e
na pró pria Roma uma facçã o do clero e leigos rigoristas recusou-se a reconhecer a autoridade de Corné lio. No
entanto, a eleiçã o de Corné lio foi apoiada por Cipriano, que tinha alguma in luê ncia sobre o clero africano em Roma,
e por Dionı́sio (falecido em 264/5), bispo de Alexandria. Cipriano també m apoiou Corné lio quando, em outubro de
251, ele excomungou Novaciano e seus seguidores em um sı́nodo em Roma com a participaçã o de 60 bispos e
muitos presbı́teros e diá conos. O sı́nodo a irmou a polı́tica do papa (e de um sı́nodo cartaginê s) de readmitir, apó s a
contriçã o apropriada e “os remé dios do arrependimento”, os cristã os que haviam morrido durante a perseguiçã o
deciana. Corné lio enviou có pias das decisõ es do Sı́nodo Romano e da carta de apoio de Cipriano a Fá bio, o rigorista
bispo pró -Novaciano de Antioquia. O papa queria que Fá bio suspendesse seu apoio a Novaciano e aceitasse o curso
moderado adotado pela maioria das igrejas.
Apesar do apoio de Cipriano ao papa, alguma desavença se desenvolveu entre esses dois principais bispos da
Igreja primitiva. Quando Corné lio buscou apoio para sua eleiçã o ao papado contra o desa io de Novaciano, Cipriano
demorou um pouco antes de inalmente dar esse apoio. Mais de um ano depois, o papa recebeu representantes de
Fortunatus, que, como Novaciano, era um bispo cismá tico em oposiçã o a Cipriano. Embora Corné lio rejeitasse sua
defesa em nome de Fortunato, Cipriano icou chateado porque o papa havia recebido esses enviados em primeiro
lugar e enviou a Corné lio uma severa repreensã o. Seguiu-se uma enxurrada de correspondê ncia entre o papa e
Cipriano e també m entre o papa e outros bispos. Corné lio deu a conhecer sua posiçã o sobre o cisma e també m
defendeu fortemente sua postura moderada em relaçã o aos decaı́dos.
Embora tenha sido notado que Corné lio escreveu muito asperamente, até mesmo falsamente, sobre Novaciano, as
cartas (particularmente aquela para Fá bio, bispo de Antioquia) fornecem aos historiadores estatı́sticas detalhadas
sobre a igreja romana da é poca. Incluı́a quarenta e seis padres, sete diá conos, sete subdiá conos, quarenta e dois
acó litos, cinquenta e dois exorcistas, leitores e porteiros e mais as mil e quinhentas viú vas (que també m eram
consideradas o iciais da igreja). Com base nesses nú meros, estimou-se que o nú mero de membros da Igreja Romana
em meados do sé culo III pode ter chegado a cinquenta mil membros.
Quando o novo imperador, Gallus, retomou as perseguiçõ es em junho de 252, Cornelius foi preso e deportado
para Centumcellae (atual Civitavecchia, o porto de Roma). Antes de morrer ali no mê s de junho seguinte, Cornelius
recebeu uma calorosa carta de apoio de Cipriano. Seu corpo foi posteriormente levado de volta a Roma e enterrado
no cemité rio de Callistus na Via Apia. A inscriçã o em seu tú mulo é o primeiro epitá io papal escrito em latim (todos
os outros foram em grego). Tanto o seu nome como o de Cipriano estã o incluı́dos na Oraçã o Eucarı́stica I (Câ non da
Missa), imediatamente apó s os nomes dos Papas Lino, Cleto (Anacletus), Clemente e Sisto. Dia da festa: 16 de
setembro (com Sã o Cipriano).

22 Lucius I, St., 25 de junho de 253 - 5 de março de 254.


Quase imediatamente apó s sua eleiçã o, Lú cio foi banido de Roma pelo imperador Galo. Seu local de exı́lio, como o de
seu antecessor, pode ter sido Centumcellae (atual Civitavecchia, o porto de Roma). Apó s a morte de Galo e a
ascensã o de Valeriano, que a princı́pio parecia favorá vel aos cristã os, Lú cio conseguiu voltar para Roma com outros
cristã os exilados. Apó s seu retorno, ele recebeu uma carta de congratulaçõ es de Cipriano (m. 258), bispo de Cartago.
Outra das cartas de Cipriano a ele sugere que Lú cio manteve a polı́tica moderada de seu predecessor, Corné lio, em
relaçã o aos que haviam decaı́do no tempo de perseguiçã o e que buscavam a reconciliaçã o com a Igreja. O bispo de
Roma evidentemente nã o fez concessõ es ao antipapa Novaciano e seus seguidores, que se opuseram fortemente à
reconciliaçã o dos cristã os falecidos sob quaisquer condiçõ es.
Por ter sofrido pela fé no exı́lio, Lú cio pode ser considerado um confessor (nome té cnico para quem sofre pela fé ,
exceto pela morte). Nã o há evidê ncias, entretanto, de que ele morreu como um má rtir. Lú cio está enterrado na cripta
papal do cemité rio de Calisto na Via Apia, onde uma parte de seu epitá io, escrito em grego, foi encontrada. Dia da
festa: 4 de março.

23 Stephen I, St., 12 de maio de 254 - 2 de agosto de 257.


Estevã o é mais conhecido por sua disputa teologicamente importante com Sã o Cipriano (m. 258), bispo de Cartago,
sobre a questã o de se aqueles que foram batizados por hereges e cismá ticos tiveram que ser rebatizados ao entrar
ou retornar à Igreja Cató lica. Cipriano sustentou que eles deveriam ser rebatizados; Stephen insistiu que nã o. Essa
disputa, entretanto, havia sido precedida por duas outras.
O primeiro confronto com Cipriano ocorreu depois que um bispo espanhol, que havia decaı́do sob perseguiçã o
junto com outro bispo (ao aceitar certi icados indicando que eles haviam oferecido sacrifı́cios aos deuses), foi a
Roma e persuadiu Estê vã o a devolvê -lo e a seu colega bispo ao Igreja e seus bispados. As igrejas espanholas
apelaram da decisã o do papa a Cipriano, que convocou um conselho de bispos norte-africanos. O concı́lio con irmou
a deposiçã o dos dois bispos de suas sedes, mas isentou Estê vã o de qualquer culpa por sua açã o porque ele
obviamente nã o tinha todos os fatos.
Um segundo confronto entre Estê vã o e Cipriano ocorreu por causa do bispo Marciano de Arles, que havia adotado
as visõ es rigoristas do antipapa Novaciano e recusava até mesmo a reconciliaçã o no leito de morte para os cristã os
que haviam decaı́do no tempo de perseguiçã o. Os bispos locais da Gá lia (França dos dias modernos) escreveram a
Estê vã o, instando-o a depor Marciano. Quando o papa nã o tomou nenhuma atitude, os bispos apelaram a Cipriano,
que instou o papa a depor Marciano e providenciar a eleiçã o de um novo bispo.
O terceiro confronto foi sobre o rebatismo daqueles que já haviam sido batizados por hereges e cismá ticos.
Cipriano, junto com a maioria das igrejas do Norte da Africa, Sı́ria e Asia Menor, geralmente sustentava que o
primeiro batismo era invá lido, pois o batismo só poderia ser administrado validamente dentro da Igreja. Estevã o
representou a tradiçã o de Roma, Alexandria e Palestina, que sustentava que o primeiro batismo era vá lido e que um
segundo batismo seria ilı́cito (isto é , pecaminoso). A ú nica açã o apropriada para aqueles que vieram de uma seita
heré tica ou cismá tica para a Igreja Cató lica foi a absolviçã o pela imposiçã o das mã os. Cipriano realizou um sı́nodo
em Cartago em 255, que apoiou sua posiçã o, mas alguns bispos norte-africanos se opuseram e apoiaram Roma.
Cipriano entã o convocou um segundo sı́nodo, consistindo de setenta e um bispos, no ano seguinte. O segundo
sı́nodo chegou à mesma conclusã o do primeiro. Estê vã o, nesse ı́nterim, havia escrito à s igrejas da Asia Menor
avisando que nã o poderia mais permanecer em comunhã o com elas se persistissem na prá tica do rebatismo.
Quando Cipriano enviou enviados para noti icar o papa sobre as decisõ es dos dois sı́nodos do Norte da Africa,
Estê vã o se recusou a receber os enviados ou a oferecer-lhes hospitalidade. Em 1º de setembro de 256, um terceiro
conselho de cerca de oitenta e sete bispos norte-africanos novamente apoiou Cipriano. A carta subsequente de
Cipriano a Firmiliano de Cesaré ia na Capadó cia nã o existe mais, mas a resposta de Firmiliano sim. Nele, há um
ataque violento ao papa e aos ensinamentos romanos sobre o batismo por hereges e cismá ticos. Com o perigo de
uma grande cisã o na Igreja universal se aproximando, Dionı́sio (falecido em 264/5), bispo de Alexandria, ele pró prio
um oponente do rebatismo, escreveu a Estê vã o, implorando-lhe que adotasse uma abordagem mais conciliató ria. Só
podemos especular como a situaçã o poderia ter se deteriorado ainda mais se Estê vã o nã o tivesse morrido no meio
da contrové rsia e se o pró prio Cipriano nã o tivesse sido martirizado um ano depois.
Esses eventos, no entanto, ressaltam o crescente reconhecimento da igreja romana como um tribunal de apelaçã o,
certamente para as igrejas da Gá lia e da Espanha, e como uma igreja com a qual outras igrejas desejam estar em
comunhã o. Stephen, no entanto, emerge dessas contrové rsias como “um prelado imperioso e intransigente” (JND
Kelly). Apesar de seu cargo e de sua autoridade crescente na Igreja primitiva, Estê vã o, como Sã o Pedro antes dele, é
confrontado pessoalmente, por assim dizer, por outros bispos e diretamente culpado por colocar em perigo a
unidade da Igreja. A acusaçã o nã o é apenas profundamente sé ria, mas també m irô nica, porque se o papado teve
alguma funçã o distinta na histó ria, é para preservar e fortalecer a unidade da Igreja, nã o dividi-la. Quando os papas
usam os poderes de seu alto cargo para apoiar uma facçã o contra outras dentro da Igreja, sua alegaçã o de serem
construtores de pontes (a palavra “pontı́ ice” é derivada da palavra latina para ponte, pons ) soa vazia para muitos.
Estevã o parece ter sido o primeiro papa a apelar para Mateus 16:18 (“... você é Pedro ...”) como base da primazia
da igreja romana e seu bispo. Ele morreu de morte natural e foi enterrado na cripta papal no cemité rio de Callistus
na Via Apia. Dia da festa: 2 de agosto.

24 Sixtus [Xystus] II, St., grego, 30 de agosto de 257 - 6 de agosto de 258.


Mais corretamente conhecido como Xystus, ele é um dos má rtires mais venerados da Igreja. Ele foi eleito assim que o
imperador Valeriano abandonou sua polı́tica de tolerâ ncia para com os cristã os, ordenando-lhes que participassem
de cerimô nias religiosas patrocinadas pelo Estado e proibindo-os de se reunirem em cemité rios. Sisto II conseguiu
evitar problemas pessoais com as autoridades até que Valeriano emitiu um segundo edito mais severo ordenando a
execuçã o de bispos, padres e diá conos e impondo penalidades variadas aos leigos. Em 6 de agosto de 258, enquanto
o papa estava sentado em sua cadeira episcopal discursando para a congregaçã o em um serviço litú rgico no
cemité rio privado (e presumivelmente seguro) de Praetextatus, as forças imperiais invadiram, apreenderam e
decapitaram o papa e quatro diá conos. Dois outros diá conos foram executados mais tarde no mesmo dia, e o sé timo,
Sã o Lourenço, foi condenado à morte quatro dias depois.
Antes de sua morte, no entanto, Sisto II devotou com sucesso suas energias para curar a brecha entre Roma e as
igrejas do Norte da Africa e da Asia Menor criada pela questã o do rebatismo de hereges e cismá ticos que desejavam
entrar na Igreja e, em particular, por a abordagem intransigente adotada por seu antecessor, Estê vã o I. Embora ele,
també m, sustentasse a polı́tica romana de aceitar a validade dos batismos administrados por hereges e cismá ticos,
ele restaurou relaçõ es amigá veis com Sã o Cipriano (m. 258), bispo de Cartago, e as igrejas distantes da Asia Menor,
provavelmente por tolerar a coexistê ncia das duas prá ticas. Muito cré dito pela reconciliaçã o foi dado a Dionı́sio
(falecido em 264/5), bispo de Alexandria, que tentou em vã o persuadir Estê vã o I a adotar uma abordagem menos
con lituosa. O bió grafo de Cipriano, no entanto, també m dá cré dito ao pró prio Sisto II, descrevendo-o como "um
padre bom e amante da paz".
Apó s seu martı́rio, o corpo do papa foi transferido para a cripta papal no cemité rio de Calisto na Via Apia. A
cadeira manchada de sangue em que ele estava sentado quando foi morto foi colocada atrá s do altar na capela da
cripta. Um sé culo depois, o Papa Dâ maso (366-84) escreveu um epitá io que descreve a execuçã o que foi colocada
sobre o tú mulo. O nome de Sisto II foi incluı́do na Oraçã o Eucarı́stica, ou Câ non da Missa, situado entre os dos Papas
Clemente e Corné lio. Dia da festa: 6 de agosto.

25 Dionysius, St., 22 de julho de 260 - 26 de dezembro de 268.


Dionı́sio foi um dos papas mais importantes do sé culo III por causa de suas atividades organizacionais e de caridade
e de seu esclarecimento da doutrina da Trindade da Igreja. Sua eleiçã o para o papado foi adiada por quase dois anos
inteiros por causa da severa perseguiçã o aos cristã os pelo imperador Valeriano, que incluiu a execuçã o de muitos
presbı́teros. Durante esse perı́o do, a igreja romana era governada pelos presbı́teros restantes (todos os sete
diá conos foram martirizados junto com Sisto II). Só depois de receber a notı́cia de que Valerian morrera em cativeiro
em Edessa (na atual Turquia) os presbı́teros consideraram seguro realizar uma eleiçã o. Dionı́sio foi imediatamente
confrontado com o desa io de restaurar a ordem em uma igreja que havia sido jogada no caos virtual pela
perseguiçã o cruel do imperador Valeriano. Galieno, ilho de Valeriano, reverteu as polı́ticas de seu pai e devolveu as
propriedades con iscadas da igreja romana, incluindo seus cemité rios. Dionı́sio atribuiu o cuidado das comunidades
de culto e cemité rios a vá rios presbı́teros e paró quias e estabeleceu novas unidades administrativas episcopais na
á rea metropolitana romana. Ele també m enviou cartas de incentivo à igreja em Cesaré ia, que estava sofrendo os
efeitos de uma invasã o estrangeira, e forneceu fundos para o resgate de prisioneiros cristã os na Capadó cia em geral
(na atual Turquia central).
Dionı́sio (també m conhecido como Dionı́sio de Roma, talvez para distingui-lo de Dionı́sio [m. 264/5], bispo de
Alexandria) é pelo menos uma nota de rodapé importante na histó ria da doutrina da Trindade. Alguns cristã os em
Alexandria escreveram ao papa para reclamar das opiniõ es de seu bispo sobre a Trindade, acusando-o de separar o
Filho do Pai ao falar do Filho como uma criatura e ao se recusar a a irmar que o Filho é da mesma essê ncia divina
como o Pai (aberraçõ es doutriná rias que eram conhecidas como Sabelianismo e Subordinacionismo). O Papa
Dionı́sio convocou um sı́nodo em Roma em 260 que condenou tais pontos de vista e expô s os ensinamentos
cristoló gicos tradicionais da Igreja; a saber, que o Filho nã o é uma criatura, mas que está unido ao Deus de todos de
tal forma que "a Trindade divina e a sagrada doutrina da Unidade (gr., monarchia ) serã o preservadas em sua
integridade". O sı́nodo e o papa, portanto, encontraram um bom equilı́brio entre a necessidade de preservar a
distinçã o entre as trê s Pessoas divinas, de um lado, e a necessidade de preservar sua unidade e igualdade, de outro.
O papa també m escreveu em particular a Dionı́sio de Alexandria para solicitar uma explicaçã o de sua posiçã o. A
resposta fundamentada do Alexandrino, que empregou a fó rmula agora clá ssica de que o Filho é do mesmo ser, ou
substâ ncia ( homoousios ), que o Pai, satisfez o papa e a questã o foi resolvida. Em 340, o Papa Jú lio I (337-52) referiu-
se a essa troca como um precedente para a supervisã o romana sobre a doutrina alexandrina.
Ao contrá rio de uma tradiçã o, Dionı́sio nã o foi um má rtir. Ele está enterrado na cripta papal no cemité rio de
Callistus na Via Apia. Dia da festa: 26 de dezembro.

26 Felix I, St., 5 de janeiro de 269 - 30 de dezembro de 274.


Felix I é um dos menos conhecidos papas. O ú nico assunto para o qual ele recebeu atençã o dos historiadores diz
respeito a uma carta que ele recebeu de um sı́nodo em Antioquia anunciando sua decisã o de depor o bispo Paulo de
Samosata por seus ensinamentos heré ticos sobre a Trindade. Mas mesmo esta carta oferece a Fé lix apenas a mais
fraca das bases para a durabilidade histó rica, porque foi endereçada originalmente ao predecessor de Fé lix,
Dionı́sio, que morreu antes de chegar a Roma. Em sua resposta à carta, Fé lix parece ter aceitado a decisã o do sı́nodo
e reconhecido o novo bispo. Quando o deposto Paulo se recusou a desocupar as instalaçõ es, os lı́deres da igreja
local apelaram ao imperador Aureliano (e nã o ao papa), que ordenou que as instalaçõ es fossem entregues "à queles
com quem os bispos da Itá lia e de Roma estavam em comunicaçã o . ”
Ao contrá rio de uma tradiçã o, Fé lix nã o morreu má rtir. Ele está enterrado na cripta papal no cemité rio de Callistus
na Via Apia. Dia da festa: 30 de maio.

27 Eutychian, St., 4 de janeiro de 275 - 7 de dezembro de 283.


Nenhuma informaçã o con iá vel sobre Eutychian ou seu ponti icado (que ocorreu inteiramente dentro de um perı́o do
de paz) sobreviveu à devastaçã o causada pela perseguiçã o do imperador Diocleciano à Igreja a partir de 284, logo
apó s a morte de Eutychian. Conjetura-se que a igreja romana pode ter lorescido sob ele por causa das expansõ es de
seus cemité rios o iciais realizadas na é poca. Sabemos que Eutychian é o ú ltimo papa a ser enterrado na cripta papal
no cemité rio de Callistus na Via Apia, onde fragmentos de seu epitá io, em letras gregas malformadas, foram
descobertos. A tradiçã o de que ele morreu como má rtir nã o tem fundamento, entretanto. Dia da festa: 7 de
dezembro.

28 Caius [Gaius], St., 17 de dezembro de 283 - 22 de abril de 296.


O ponti icado de Caio, mais precisamente conhecido como Caio, ocorreu durante um perı́o do continuado de paz,
quando a igreja romana parece ter consolidado sua posiçã o. Embora ele tenha estado no cargo por mais de 12 anos,
nã o há informaçõ es especı́ icas con iá veis sobre seu ponti icado. No momento de sua morte, a cripta papal no
cemité rio de Callistus devia estar cheia porque ele foi enterrado em uma seçã o pró xima. Fragmentos de seu epitá io,
em letras gregas, foram descobertos lá no sé culo XIX. A primeira letra de seu nome era claramente um gama (“G”). O
Papa Urbano VIII transportou seu corpo para a igreja de Sã o Caio (San Caio) em Roma em 1631. Apó s a destruiçã o
da igreja em 1880, os restos mortais do papa foram colocados em uma capela particular dos prı́ncipes Barberini. Dia
da festa: 22 de abril.

29 Marcellinus, St., 30 de junho de 296 - 25 de outubro de 304.


Durante a perseguiçã o de Diocleciano iniciada em 303, Marcelino cumpriu as ordens imperiais de entregar
exemplares da Sagrada Escritura e outros livros sagrados e de oferecer incenso aos deuses. Alguns historiadores
pensam que ele foi deposto ou abdicado antes de sua morte. Por um tempo, seu nome foi realmente omitido da lista
o icial de papas.
Existem poucas informaçõ es con iá veis sobre ele. A ú nica açã o episcopal registrada de seu ponti icado foi a
autorizaçã o de um de seus diá conos, Severo, para realizar algumas modi icaçõ es estruturais no cemité rio de Calisto,
na Via Apia. Em 23 de fevereiro de 303, o imperador Diocleciano emitiu seu primeiro decreto contra os cristã os,
ordenando a destruiçã o de igrejas, a entrega de livros sagrados e a oferta de sacrifı́cios aos deuses por aqueles que
compareciam aos tribunais. Por volta de maio do mesmo ano, Marcelino parece ter cumprido o segundo e o terceiro
itens. Vá rios de seus clé rigos, incluindo trê s futuros papas (Marcelo [306-8], Melquı́ades [311-14] e Silvestre [314-
35]), foram posteriormente acusados pelos hereges donatistas de terem agido com ele. Mas é altamente imprová vel
que qualquer um dos trê s o tenha feito. Na verdade, quando Marcelo sucedeu ao papado, ele foi impiedoso em suas
relaçõ es com aqueles que haviam falhado durante a perseguiçã o e retirou o nome de Marcelino da lista o icial de
papas. As acusaçõ es contra Melquı́ades só foram feitas depois que ele se tornou papa e proferiu uma importante
decisã o contra Donato, o lı́der dos donatistas e um pretendente à sé de Cartago. Quanto a Silvestre, desenvolveu-se
uma tradiçã o contrá ria de que ele, de fato, sofreu “de maneira mais gloriosa” durante a perseguiçã o de Diocleciano.
No entanto, os donatistas izeram essas acusaçõ es em suas contrové rsias com Santo Agostinho (falecido em 430),
que apenas as negou sem muita convicçã o com referê ncia a Marcelino. E o papa Dâ maso I (366-84) ignorou
completamente Marcelino ao compor seus tributos poé ticos (epitá ios) aos papas anteriores.
Nã o está claro quando e se Marcelino abdicou voluntariamente de seu cargo ou foi formalmente deposto. O
Annuario Ponti icio , uma publicaçã o o icial do Vaticano, identi ica a data de sua rescisã o com a data de sua morte (25
de outubro de 304). Suas açõ es, entretanto, o teriam desquali icado automaticamente do sacerdó cio e, portanto,
també m do papado, por volta de maio de 303. Se ele foi deposto ou abdicou voluntariamente, nã o temos data para
nenhum dos dois eventos.
Marcelino foi sepultado no cemité rio particular de Santa Priscila, na Via Salaria, porque os cemité rios da pró pria
igreja foram con iscados. Por causa de vá rios relatos de sua execuçã o pelo imperador apó s alegadamente se
arrepender de suas açõ es, ele passou a ser venerado como um má rtir e seu nome foi incluı́do no antigo Câ non
Romano da Missa. No entanto, ele nã o é mencionado no martiroló gio de Sã o Jerô nimo ou no sacramentá rio Gelasian.
Dia da festa: 2 de junho (com Sã o Pedro, exorcista e má rtir).

30 Marcellus I, St., novembro / dezembro 306 - 16 de janeiro de 308 (27 de maio ou 26 de junho de 308 - 16 de janeiro
de 309, na lista o icial do Vaticano).
Marcelo é mais conhecido por sua atitude severa para com os cristã os que haviam decaı́do em tempos de
perseguiçã o - tã o severa, na verdade, que o novo imperador, Maxê ncio, acabou banindo-o da cidade como um
perturbador da paz. No entanto, há alguma confusã o sobre sua identidade real e sobre as datas de seu ponti icado.
Alguns o confundiram com seu predecessor, Marcelino (Marcelo nã o é mencionado, por exemplo, na histó ria da
Igreja de Eusé bio de Cesaré ia), e o Annuario Ponti icio , uma publicaçã o o icial do Vaticano, dá suas datas de maio /
junho 308 a 16 de janeiro, 309. (A confusã o sobre as datas de seu ponti icado també m afeta a data dos ponti icados
de seus dois sucessores imediatos, Eusé bio e Melquı́ades.) Seja como for, ele parece ter governado a igreja romana
durante o perı́o do entre a morte de Marcelino em 304 e pouco antes de Eusé bio (nã o Eusé bio de Cesaré ia) ser eleito
em 310.
Por causa das perdas sofridas durante a perseguiçã o de Diocleciano e das divisõ es internas que criou dentro da
pró pria Igreja, a eleiçã o de um sucessor de Marcelino foi adiada por mais de trê s anos e meio. Marcelo, um dos
principais presbı́teros durante o ponti icado de Marcelino e aquele que provavelmente manteve a Igreja Romana
unida durante o perı́o do intermediá rio, foi eleito. Talvez o principal problema pastoral que ele enfrentou como bispo
de Roma foi a disposiçã o daqueles cristã os que comprometeram sua fé sob Diocleciano. Nã o havia dú vida em sua
mente como deveria proceder: vigorosa e impiedosamente. No entanto, as severas penitê ncias que ele impô s
provocaram uma reaçã o na igreja. Houve desordem pú blica e até mesmo derramamento de sangue. A situaçã o se
tornou tã o sé ria que o imperador Maxê ncio o baniu da cidade em nome da paz pú blica. Marcellus morreu logo em
seguida. Seu corpo foi posteriormente trazido de volta a Roma e enterrado no cemité rio particular de Santa Priscila.
Dia da festa: 16 de janeiro.

31 Eusébio, Santo, grego, 18 de abril a 21 de outubro de 310 (18 de abril de 309 a 17 de agosto, 309 ou 310, na lista
o icial do Vaticano).
O ponti icado extremamente breve de Eusé bio foi completamente dominado pela questã o da reconciliaçã o daqueles
que haviam comprometido sua fé durante a perseguiçã o de Diocleciano (eles eram conhecidos como lapsi , “os
decaı́dos”). Como seus predecessores, Eusé bio adotou uma abordagem pastoral, oferecendo reconciliaçã o total para
aqueles que se arrependeram de seus pecados e realizaram uma penitê ncia apropriada. E como seus predecessores,
ele foi condenado por uma facçã o, desta vez sob a liderança de Herá clio, por nã o ser severo o su iciente. Seus
oponentes eram contra a readmissã o em quaisquer condiçõ es. A discó rdia interna dentro da comunidade cristã era
tã o amarga e perturbadora que o imperador Maxentius mais uma vez interveio e deportou o papa e Herá clio para a
Sicı́lia. Eusé bio morreu logo depois disso. Seu corpo foi levado de volta a Roma e sepultado no cemité rio de Callistus
na Via Apia. Dia da festa: 17 de agosto.

32 Melchiades [Miltiades], St., Africano (?), 2 de julho de 311 - 11 de janeiro de 314.


També m conhecido como Miltı́ades, Melchı́ades era bispo de Roma quando o imperador Constantino concedeu o
status de favorecido à Igreja por meio do Edito de Milã o (313). Embora o Liber Ponti icalis , uma coleçã o de
biogra ias papais que começou a tomar forma no sé culo VI, o identi ique como um africano, é mais prová vel que ele
fosse um romano.
Mesmo antes do Edito de Milã o (també m conhecido como o Edito de Constantino), o imperador Maxê ncio
promulgou um Edito de tolerâ ncia em Nicomé dia em 30 de abril de 311, e mais tarde ordenou a devoluçã o de terras
e edifı́cios da igreja que haviam sido con iscados durante o Diocleciano perseguiçã o. Em 28 de outubro de 312, o
imperador Constantino derrotou seu cunhado Maxentius na Ponte Mı́lvia e conquistou a pró pria Roma. No ano
seguinte, ele e seu co-imperador no Oriente, Licı́nio, concederam tolerâ ncia religiosa a todos e restauraram todas as
propriedades con iscadas restantes aos cristã os. Ele també m presenteou Melquı́ades com o palá cio da imperatriz
Fausta (o Latrã o) no Monte Cé lio, que depois se tornou a residê ncia papal.
Um incidente no Norte da Africa de iniu de outra forma o ponti icado de Melquı́ades. Cecilian foi consagrado bispo
de Cartago em 311. Ele foi imediatamente rejeitado pelo partido rigorista, que se opô s à readmissã o daqueles que
haviam comprometido sua fé durante a perseguiçã o. Cecilian havia apoiado a abordagem mais tolerante do bispo
anterior de Cartago. Os rigoristas també m levantaram objeçõ es contra o consagrador de Cecilian, alegando que ele
havia entregado livros sagrados durante a perseguiçã o. Os rigoristas entã o consagraram um bispo rival, Majorinus,
que logo foi sucedido por Donato. Os rigoristas apelaram ao imperador Constantino para mediar a disputa e ele, por
sua vez, pediu a Melquı́ades que ouvisse o caso e lhe apresentasse um relató rio. Melquı́ades acrescentou quinze
bispos italianos à comissã o imperial (que era originalmente composta por Melquı́ades e trê s bispos gauleses
nomeados por Constantino) e a transformou em um sı́nodo, reunido no Palá cio de Latrã o. Em 3 de outubro de 313,
o sı́nodo deu um veredicto a favor de Cecilian, e excomungou Donato por ter exigido o rebatismo de leigos e a
reordenaçã o do clero que havia comprometido sua fé durante a perseguiçã o de Diocleciano. Ao mesmo tempo,
Melchiades ofereceu a comunhã o plena a outros bispos do Norte da Africa, permitindo-lhes manter suas sedes
episcopais. Os donatistas icaram amargamente ressentidos com o veredicto e começaram a espalhar boatos sobre o
pró prio comportamento de Melquı́ades durante a perseguiçã o. Eles apelaram mais uma vez a Constantino, que
convocou um conselho de representantes de todas as provı́ncias ocidentais para se reunir em Arles em 1º de agosto
de 314. Melquı́ades morreu vá rios meses antes de o conselho realmente se reunir, mas é signi icativo que o
imperador, ao convocar o conselho , nã o considerou a decisã o do papa como inal e que nem Melquı́ades nem seu
sucessor izeram objeçõ es à açã o do imperador.
Melchiades foi enterrado em algum lugar do cemité rio de Callistus na Via Apia. Dia da festa: 10 de dezembro.

33 Sylvester [Silvester] I, St., 31 de janeiro de 314 - 31 de dezembro de 335.


O ponti icado de Silvestre I durou quase vinte e dois anos, durante os quais Constantino foi imperador. Apesar da
duraçã o de seu ponti icado e da importâ ncia do perı́o do Constantiniano em que serviu, o papa parece ter causado
pouco ou nenhum impacto duradouro na Igreja ou no pró prio papado. Na verdade, é o que ele não fez como papa
que é mais signi icativo do que o que ele fez.
Constantino, que ocasionalmente assumia o tı́tulo de “bispo de assuntos externos”, convocou um conselho especial
de cerca de 130 bispos em Arles em agosto de 314 para ouvir outro apelo dos donatistas, que contestavam a
consagraçã o de Cecilian como bispo de Cartago. (Os donatistas eram oponentes rigorosos de readmitir na Igreja
aqueles que haviam comprometido sua fé durante a perseguiçã o de Diocleciano.) Signi icativamente, o imperador
nã o convocou o conselho em Roma, nem nomeou o bispo de Roma para presidi-lo, mas designou essa
responsabilidade, em vez disso, a Marinus, o bispo de Arles, e con iou a conduta geral do conselho a Chrestus, bispo
de Siracusa. Sylvester enviou dois presbı́teros e dois diá conos para representá -lo. Quando o concı́lio terminou, no
entanto, transmitiu suas decisõ es a ele em uma carta que reconhecia sua primazia sobre o Ocidente (embora nã o
sobre toda a Igreja) e pedia-lhe que divulgasse as decisõ es para as outras igrejas.
També m durante o ponti icado de Silvestre, o primeiro concı́lio ecumê nico, consistindo de cerca de 250 bispos, foi
realizado em Nicé ia, a residê ncia de verã o do imperador (no atual noroeste da Turquia), em julho de 325. Este foi o
concı́lio que primeiro de iniu a divindade de Jesus Cristo, ensinando que ele é do mesmo ser, ou substâ ncia (
homoousios ), de Deus Pai (contra os arianos que sustentavam que Jesus Cristo era a maior das criaturas, mas nã o
igual a Deus). E ainda, signi icativamente, o papa nã o desempenhou nenhum papel nos procedimentos deste concı́lio
ecumê nico. Ele nã o convocou o conselho (o imperador o fez) nem o presidiu (Ossius [ou Hosius], bispo de Có rdoba,
o fez). Como outros bispos do impé rio, Sylvester foi convidado a participar do concı́lio, mas recusou-se a fazê -lo,
alegando velhice. Ele enviou dois presbı́teros para representá -lo, mas eles nã o receberam nenhum status especial na
assemblé ia, a nã o ser na assinatura dos atos do conselho depois que o bispo presidente o fez e antes que os outros
bispos os assinassem.
Apesar do ponti icado sem brilho de Silvestre, a igreja romana se bene iciou imensamente da generosidade de
Constantino, que incluiu a construçã o de grandes igrejas, como a Bası́lica de Sã o Pedro original na Via Ostiensis e a
Bası́lica Constantiniana e seu batisté rio (mais tarde conhecido como San Giovanni in Laterano [Sã o Joã o de Latrã o],
que ainda hoje serve como a igreja catedral do papa). Talvez por causa do ponti icado inexpressivo do papa, no
entanto, vá rias lendas surgiram sobre ele muito tempo depois de sua morte. Uma “biogra ia” de meados do sé culo V
atribuiu a ele a conversã o de Constantino e até a cura do imperador da lepra. Relatos piedosos circularam nos
sé culos V e VI de que o Concı́lio de Nicé ia foi realmente convocado em conjunto pelo papa e o imperador, nã o
apenas pelo imperador, e que Ossius presidiu o concı́lio porque o papa o designou para tal. També m havia uma
crença crescente na autenticidade da "Doaçã o de Constantino", um documento fabricado do sé culo VIII ou IX no qual
o imperador supostamente conferiu a Silvestre e seus sucessores a primazia sobre os grandes patriarcados, sobre a
cidade de Roma, sobre a Itá lia e sobre todas as provı́ncias e estados do Ocidente. A "Doaçã o de Constantino" foi
incluı́da nos Decretais Falsos (falsi icaçõ es do sé culo IX que buscavam reforçar a independê ncia episcopal do controle
leigo) e nos Decretais de Graciano (uma coleçã o nã o o icial do sé culo XII de leis canô nicas e fontes canô nicas
compiladas pelo monge John Gratian) . Em meados do sé culo XV, a autenticidade do documento foi questionada por
Ené ias Sylvius Piccolomini (mais tarde Papa Pio II) e outros, mas nesse ı́nterim esse documento e outras fontes
espú rias exerceram enorme in luê ncia no pensamento medieval. Silvestre foi enterrado no cemité rio particular de
Santa Priscila na Via Salaria, mas seus restos mortais (talvez apenas sua cabeça) parecem ter sido transferidos pelo
Papa Paulo I em 762 para a igreja de San Silvestro in Capite dentro das muralhas da cidade. Dia da festa: 31 de
dezembro.

34 Mark [Marcus], St., 18 de janeiro a 7 de outubro de 336.


Durante seu ponti icado extremamente breve, Marcos viu a maré virar fortemente contra o ensino ortodoxo do
Concı́lio de Nicé ia (325) sobre a divindade de Jesus Cristo. Embora o imperador Constantino tenha sido um defensor
vigoroso dos ensinamentos do conselho contra o arianismo (que a irmava que Jesus Cristo era apenas a maior das
criaturas, mas nã o igual a Deus), ele vacilou sob a in luê ncia de sua meia-irmã ariana, Constantia. Poucos meses antes
da eleiçã o de Marcos, Santo Ataná sio (falecido em 373), bispo de Alexandria, foi deposto pelo Concı́lio de Tiro e
forçado ao exı́lio na cidade de Trier. Outros bispos ortodoxos també m foram depostos ao mesmo tempo. O pró prio
Arius teria sido reabilitado se nã o tivesse morrido de repente. Nã o há evidê ncias, no entanto, de que o papa Marcos
tenha desempenhado qualquer papel nesses desenvolvimentos ou em suas consequê ncias imediatas.
Diz-se que ele estabeleceu duas igrejas na cidade de Roma e decretou que o bispo de Ostia (uma diocese italiana
pró xima) deveria ser o primeiro dos trê s consagradores do Bispo de Roma. (Hoje o reitor do Colé gio dos Cardeais
possui o tı́tulo honorá rio de bispo de Ostia.) Marcos foi sepultado no cemité rio de Balbina na Via Ardeatina, em uma
bası́lica que provavelmente foi construı́da sob sua direçã o. Dia da festa: 7 de outubro.

35 Julius I, St., 6 de fevereiro de 337 - 12 de abril de 352.


Jú lio I é mais conhecido por sua vigorosa defesa do ensinamento do Concı́lio de Nicé ia sobre a divindade de Jesus
Cristo (325) e dos bispos orientais, incluindo especialmente Santo Ataná sio de Alexandria (m. 373), que permaneceu
iel a esse ensinamento em o rosto de oposiçã o determinada, até o ponto de deposiçã o do cargo e exı́lio. Quando o
imperador Constantino morreu em 337, os bispos ortodoxos foram autorizados a retornar à s suas dioceses. Os
bispos arianos, no entanto, apelaram a Jú lio para impedir isso e reconhecer a substituiçã o de Ataná sio em
Alexandria. Jú lio rejeitou o pedido, já tendo oferecido apoio e proteçã o aos bispos ortodoxos, incluindo Marcelo de
Ancira, apó s sua condenaçã o em 336 por um concı́lio realizado em Constantinopla. Apó s a segunda expulsã o de
Ataná sio de Alexandria em 339, Jú lio convocou um sı́nodo em Roma, em junho de 341, que exonerou os bispos
ortodoxos de erros doutriná rios atribuı́dos a eles pelos arianos. Apó s o sı́nodo, Jú lio enviou uma carta aos bispos
orientais, censurando-os por nã o aceitarem seu convite para o sı́nodo, por terem condenado os bispos das sedes
apostó licas sem referê ncia ao episcopado como um todo, e por ignorar, em sua condenaçã o de Ataná sio, as
prerrogativas histó ricas do Bispo de Roma em relaçã o à Sé de Alexandria. E signi icativo que Jú lio tenha justi icado
sua intervençã o nã o com base no primado petrino, ao qual os papas posteriores apelariam, mas com base no
costume eclesiá stico e na colegialidade do episcopado. ("Você deveria ter escrito para todos nó s, para que a justiça
pudesse ser determinada por todos.") No verã o seguinte, os bispos arianos se reuniram em Antioquia, com o
imperador oriental a presidir Constâ ncio, e con irmaram sua condenaçã o de Ataná sio, reconheceu o atual
pretendente a o Alexandrino vê , e adotou um credo que ostensivamente omitiu a linguagem de Nicé ia de que o Filho
é "um em ser com o Pai".
Jú lio entã o pediu aos dois imperadores que convocassem um conselho geral do Oriente e do Ocidente em Sardica
(atual So ia, Bulgá ria) em 343. (O pró prio Jú lio nã o compareceu ao concı́lio.) Os orientais, poré m, retiraram-se
quando os bispos ocidentais insistiram em acomodar Ataná sio e outros bispos que foram depostos no Oriente. Sob a
presidê ncia de Ossius (Hosius), o concı́lio prosseguiu sem eles, rea irmando a validade da reivindicaçã o de Ataná sio
à sé de Alexandria e rati icando o ensino do Concı́lio de Nicé ia ao proibir o uso da lı́ngua ariana. O conselho també m
tomou providê ncias para que os bispos condenados ou depostos pelos sı́nodos provinciais apelassem a Roma, “a im
de honrar a memó ria do bem-aventurado Pedro”.
Sabemos pouco sobre o restante do ponti icado de Jú lio. Ele recebeu Ataná sio em 346 em seu caminho de volta
para Alexandria, dando-lhe uma carta para a comunidade cristã de lá , e fundou vá rias igrejas em Roma, incluindo a
bası́lica Juliana (agora a Igreja dos Santos Apó stolos [Santi Apostoli]) e Santa Maria em Trastevere. Ele foi enterrado
no cemité rio de Calepodius na Via Aurelia. Dia da festa: 12 de abril.
36 Liberius, 17 de maio de 352 - 24 de setembro de 366.
Libé rio é o primeiro papa a nã o ser listado entre os santos e geralmente é considerado um papa fraco. Ele
inicialmente se opô s à condenaçã o de Santo Ataná sio de Alexandria (m. 373) pelos arianos, pelo que foi deposto do
cargo pelo imperador ariano Constâ ncio e enviado para o exı́lio severo na Trá cia. Ele inalmente se submeteu e foi
readmitido em sua sé romana, que naquela é poca e com a insistê ncia do imperador havia elegido um segundo bispo,
Fé lix II (falecido em 365), tecnicamente um antipapa. (E interessante notar que Dâ maso, o sucessor de Libé rio no
papado, esteve por um tempo ao serviço de Fé lix como diá cono - desa iando o juramento feito pelo clero romano de
nã o reconhecer ningué m como papa enquanto Libé rio ainda estava vivo.) Só depois da morte de Constâ ncio em 361
é que Libé rio voltou à ortodoxia e fez um esforço para restaurar a fé niceno para a Igreja universal.
Libé rio foi eleito para o papado em um momento em que bispos pró -arianos gozavam de uma posiçã o dominante
no Oriente e quando o imperador pró -ariano Constâ ncio II, agora o ú nico imperador, pressionava cada vez mais os
bispos ocidentais para que se unissem à condenaçã o de Ataná sio pelo Concı́lio de Tiro em 335. Ataná sio se tornou o
principal sı́mbolo da ortodoxia de Nicé ia, isto é , de apoio ao ensino do Concı́lio de Nicé ia (325) de que Jesus Cristo é
"um em ser com o Pai" e nã o simplesmente a maior das criaturas, como a irmavam os arianos.
Sob pressã o dos bispos pró -arianos e sem a força de cará ter de seu antecessor, Libé rio pediu a Constâ ncio II que
convocasse um concı́lio em Aquilé ia para resolver a disputa a respeito de Ataná sio e a sé de Alexandria. O imperador
realizou um sı́nodo ali mesmo em Arles, onde ele residia na é poca. Em resposta à vontade imperial, ambas as
assembleias rea irmaram a condenaçã o de Ataná sio. Os legados papais també m concordaram com a decisã o. O papa
icou horrorizado com a fraqueza de seus pró prios enviados e exigiu um concı́lio geral para apoiar nã o apenas
Ataná sio, mas o pró prio Concı́lio de Nicé ia. Mas quando o conselho se reuniu em Milã o em outubro de 355, a
vontade do imperador novamente prevaleceu. Nã o houve discussã o sobre o Credo Niceno, e a condenaçã o de
Ataná sio foi rea irmada. Trê s bispos que resistiram foram imediatamente exilados. Libé rio continuou a resistir, foi
levado à força para Milã o e, entã o, recusando-se a concordar com suas açõ es, foi deportado para Beré ia, na Trá cia.
Com o passar do tempo no exı́lio, Libé rio enfraqueceu. Ele aceitou a condenaçã o de Ataná sio, bem como a ambı́gua
primeira Fó rmula de Sirmium (351), que omitiu a lı́ngua nicena “um em estar com o Pai”, mas nã o a rejeitou
explicitamente. Ele també m se submeteu pessoalmente ao imperador. Suas quatro cartas aos bispos pró -arianos em
357, pedindo-lhes que intercedessem por ele junto ao imperador, indicavam que ele estava preparado para fazer
qualquer coisa para voltar para casa. Levado a Sirmium em 358, ele se recusou a assinar uma segunda fó rmula, que
era particularmente Subordinacionista (subordinando o Filho ao Pai), mas assinou uma fó rmula mais moderada que
rejeitou a lı́ngua nicena, mas també m declarou que o Filho é “como” o Pai em existência ( homoiousios , em vez do
homoousios Nicene ).
Com o pú blico romano clamando pelo retorno de Libé rio, o imperador entã o permitiu que ele voltasse a Roma,
mas com a condiçã o de que governasse conjuntamente com o antipapa Fé lix, que fora eleito bispo rival durante a
ausê ncia de Libé rio. Fé lix, no entanto, era considerado um usurpador e extremamente impopular. A maioria dos
leigos e do clero preferia Libé rio sozinho, cantando: "Um Deus, um Cristo, um bispo." Diante de um possı́vel motim,
Fé lix retirou-se para os subú rbios. Liberius, entretanto, já havia perdido grande parte de seu prestı́gio internacional.
Com dois bispos em Roma, ele nã o foi convidado a, nem enviou, legados ao Sı́nodo de Rimini em 359, no qual os
bispos ocidentais foram forçados a aceitar um credo ariano. Só com a morte do imperador em 361 Libé rio retomou
seu papel de defensor da ortodoxia niceno. Ele publicou um decreto anulando as decisõ es do Sı́nodo de Rimini. Em
362, no entanto, ele també m exortou seus colegas bispos italianos a restabelecer a comunhã o com aqueles bispos
que haviam aprovado as decisõ es de Rimini, com a condiçã o de que agora aceitassem o Credo Niceno. Ele fez o
mesmo pelos bispos orientais em 366. Assim, ele tentou restaurar a unidade da Igreja - o ministé rio principal do
bispo de Roma.
Ele construiu a enorme Bası́lica da Libé ria, que foi transformada no sé culo V em Santa Maria Maggiore (Santa
Maria Maior). Ele foi homenageado em 23 de setembro no martiroló gio de Sã o Jerô nimo do sé culo V, mas seu nome
nã o aparece nos calendá rios litú rgicos subsequentes. A tradiçã o posterior o lembrava como um traidor da fé , e seu
nome foi invocado por oponentes da infalibilidade papal no Concı́lio Vaticano I (1870). Ironicamente, o antipapa
Fé lix II chegou por um tempo a ser incluı́do na lista o icial de papas e, por alguma confusã o com outra pessoa, foi
venerado como um má rtir que defendeu a fé niceno com sua vida. Dia da festa: 29 de julho.

37 Damasus I, St., ca. 304–84, papa de 1º de outubro de 366 a 11 de dezembro de 384.


Um dos defensores mais agressivos da primazia de Roma na Igreja primitiva, Dâ maso promoveu o culto aos má rtires
restaurando e decorando seus tú mulos com suas pró prias inscriçõ es de má rmore (epitá ios) e autorizou seu
secretá rio, Sã o Jerô nimo (m. Ca. 420 ), para compor uma nova traduçã o latina do Novo Testamento (mais tarde
conhecida como Vulgata) baseada no original grego.
Nascido em Roma, ilho de um sacerdote, Dâ maso foi ordenado diá cono e acompanhou o Papa Libé rio ao exı́lio
em 355. Ele logo retornou a Roma, poré m, e esteve a serviço do antipapa Fé lix II por um tempo, desa iando o
juramento feito pelo clero romano de nã o reconhecer ningué m como bispo de Roma enquanto Libé rio ainda
estivesse vivo. Este foi um lapso notavelmente signi icativo para algué m que, mais tarde como papa, argumentaria
vigorosamente em nome da supremacia do papado. E um lapso que aqueles que citam Dâ maso em apoio ao primado
papal nã o mencionam.
Depois que Libé rio foi autorizado a retornar do exı́lio (tendo ele mesmo feito alguns compromissos substanciais),
Dâ maso reconciliou-se com ele. Quando Liberius morreu, uma contrové rsia amarga e violenta irrompeu sobre a
escolha de um sucessor. No entanto, há uma discrepâ ncia curiosa em dois relatos sobre a eleiçã o. De acordo com o
relato mais con iá vel, uma facçã o que tinha sido consistentemente leal a Libé rio se reuniu imediatamente na bası́lica
Juliana de Santa Maria in Trastevere, elegeu o diá cono Ursinus e fez com que fosse consagrado bispo de Roma pelo
bispo de Tibur (Tivoli). (Um segundo relato identi ica estranhamente esta facçã o com partidá rios de Fé lix, nã o de
Libé rio, talvez por preocupaçã o em estabelecer as credenciais papais do indivı́duo que a Igreja Cató lica reconhece
o icialmente como o sucessor legı́timo de Libé rio.) Outra facçã o maior leal a Fé lix se reuniu no igreja de San Lorenzo
em Lucina e elegeu o diá cono Dâ maso, que contratou uma gangue de bandidos para invadir a bası́lica Juliana,
derrotando os ursinianos em um massacre de trê s dias. Dâ maso foi consagrado pelo bispo de Ostia na Bası́lica de
Latrã o em 1º de outubro, depois que seus partidá rios tomaram a igreja. Apó s sua consagraçã o, no entanto,
combates sangrentos continuaram nas ruas de Roma. Em um ato totalmente sem precedentes, Dâ maso pediu ajuda
ao prefeito da cidade, que enviou Ursinus e dois de seus diá conos para o exı́lio. Mas a violê ncia continuou, e Dâ maso
despachou suas pró prias forças para atacar os partidá rios de Ursino, que se refugiaram na Bası́lica da Libé ria (hoje
Santa Maria Maior). Um historiador contemporâ neo relatou que cerca de 137 morreram na batalha. Os bispos da
Itá lia icaram consternados com o uso da violê ncia pelo papa. Quando eles se reuniram em um sı́nodo em
homenagem ao aniversá rio de Dâ maso em 368, o papa pediu que aprovassem o que ele havia feito e condenassem
Ursinus. A resposta deles foi curta: “ Nos ad natale convenimus, non ut inauditum damnemus ” (lat., “Nó s nos reunimos
para comemorar um aniversá rio, nã o para condenar algué m sem uma audiê ncia”). O con lito entre Dâ maso e os
partidá rios de Ursino continuou durante todo o seu ponti icado.
Embora Dâ maso tivesse manchado seu caderno eclesiá stico, ele gozava de muitos favores da corte e da
aristocracia, especialmente das mulheres ricas. Os mexericos romanos o apelidaram de "o provocador de orelhas
das matronas". Seu grande estilo de vida e generosa hospitalidade o tornaram querido pelas famı́lias pagã s da classe
alta.
Ao mesmo tempo, ele foi implacá vel na oposiçã o à s heresias e outros movimentos dissidentes na Igreja. Ele foi
severo em sua repressã o ao arianismo e condenou o apolinarismo (que negava que Jesus tivesse alma humana) e o
macedonismo (que negava a divindade do Espı́rito Santo) em sucessivos sı́nodos romanos. No entanto, seu
relacionamento com as igrejas orientais foi inepto. Como a maioria de seus colegas bispos ocidentais, ele falhou em
compreender o signi icado dos acontecimentos no Oriente. Assim, quando havia dois rivais pela Sé de Antioquia,
Dâ maso lançou seu apoio a Paulino, descrito como "um lı́der nã o representativo de um grupo reacioná rio" (JND
Kelly), em vez de Melé cio, em quem repousava a maior esperança de unidade no Oriente , incluindo os de Sã o Bası́lio,
o Grande (falecido em 379), bispo de Cesaré ia, que descreveu o papa como impossivelmente arrogante. Quando
Melé cio morreu em 381, Dâ maso recusou-se a entrar em comunhã o com seu sucessor, Flaviano.
Signi icativamente, embora poucos papas na histó ria tenham feito reivindicaçõ es tã o vigorosas e intransigentes em
nome do primado papal, o pró prio Dâ maso nã o participou do concı́lio ecumê nico realizado em Constantinopla em
381, que de iniu a divindade do Espı́rito Santo e cujo terceiro câ non colocou o bispo de Constantinopla, “a nova
Roma”, perdendo apenas para o bispo de Roma.
De fato, Dâ maso foi incansá vel na promoçã o do primado de Roma, referindo-se a ela freqü entemente como “a Sé
Apostó lica” e insistindo que o teste da ortodoxia de um credo é a aprovaçã o papal. Enquanto as reivindicaçõ es de
Constantinopla foram baseadas em decisõ es sinodais e consideraçõ es polı́ticas ("a nova Roma"), as reivindicaçõ es de
Dâ maso para o primado romano baseavam-se exclusivamente em ele ser o sucessor direto de Pedro e o herdeiro
legı́timo das promessas de Cristo dadas em Mateus 16: 18 (“... você é Pedro...”). Ele con irmou isso no Sı́nodo Romano
de 381. Ele també m tinha providenciado para que a Sé Romana, com a aprovaçã o do estado, fosse estabelecida como
o tribunal de apelaçã o para todo o episcopado Ocidental (mas, novamente, nã o para todo o Cató lico Igreja).
Ele organizou os arquivos papais, estabeleceu o latim como a principal lı́ngua litú rgica em Roma e encarregou seu
secretá rio, Sã o Jerô nimo, de revisar as traduçõ es existentes do Novo Testamento com base no grego original. Ele
també m compô s epigramas em homenagem aos má rtires e papas e os inscreveu em placas de má rmore. Ele pró prio
foi enterrado numa igreja que construiu na Via Ardeatina, mas o seu corpo foi posteriormente transferido para
outra das suas igrejas, a de San Lorenzo in Damaso. Dia da festa: 4 de dezembro.

38 Siricius, St., dezembro 384 – 26 de novembro de 399 (15 ou 22 de dezembro ou 29, 384, na lista o icial do Vaticano).
Siricius foi o primeiro papa a emitir decretos, isto é , diretivas legalmente vinculativas formuladas no estilo de é ditos
imperiais. O decretal mais antigo, datado de 11 de fevereiro de 385, foi dirigido a Himerius, bispo de Tarragona, em
resposta a quinze perguntas sobre questõ es de disciplina eclesiá stica. Começa com a a irmaçã o de que o apó stolo
Pedro está presente no bispo de Roma e, em seguida, passa a oferecer diretrizes sobre itens como a readmissã o de
hereges à Igreja (eles nã o deveriam ser rebatizados), a idade e as quali icaçõ es dos candidatos à ordenaçã o , a
exigê ncia do celibato para padres e diá conos e a disciplina penitencial. Siricius pediu que esses decretos fossem
distribuı́dos à s igrejas nas provı́ncias vizinhas da Africa, Espanha e Gá lia (a França atual). Em janeiro de 386, ele
enviou nove câ nones aprovados por um sı́nodo romano a vá rias igrejas na Africa e em outros lugares estipulando
que nenhum bispo deveria ser consagrado sem o conhecimento da “Sé Apostó lica” ou apenas por um ú nico
consagrador.
Siricius foi eleito por unanimidade, apesar da candidatura do antipapa Ursinus. O imperador Valentiniano II icou
encantado com a demonstraçã o de apoio a Siricius e con irmou o icialmente sua eleiçã o, talvez para afastar qualquer
oposiçã o residual dos partidá rios de Ursinus. Embora Siricius se opusesse a heresias e outros movimentos
dissidentes tanto quanto seu predecessor, Dâ maso, ele pediu um tratamento leniente para aqueles que se
arrependeram. Ele repreendeu e quebrou a comunhã o com os bispos responsá veis pela condenaçã o à morte do
herege rigorista Prisciliano em 386, a primeira pessoa a ser executada por desvio doutriná rio. Por outro lado, ele
també m excomungou Joviniano, um monge, por criticar o valor do jejum e do celibato e por negar a virgindade
perpé tua de Maria. A pedido de Santo Ambró sio (falecido em 397), bispo de Milã o, ele interveio com sucesso em um
cisma em Antioquia e o encerrou instando o conselho de Cesaré ia (na Palestina) a reconhecer Flaviano em vez de
Evagrio como bispo.
Embora homenageado como santo nos sé culos anteriores, seu nome foi omitido da primeira ediçã o do
Martiroló gio Romano (1584) por causa de seus con litos pessoais com Sã o Jerô nimo, em cuja expulsã o da cidade de
Roma tinha concordado, e com Sã o Paulinus de Nola (falecido em 431), que se queixou da arrogâ ncia do papa. Seu
nome foi acrescentado ao martiroló gio em 1748 pelo Papa Bento XIV. Ele foi enterrado na bası́lica de San Silvestro
perto do cemité rio particular de Priscila. Dia da festa: 26 de novembro.

39 Anastasius I, St., 27 de novembro de 399 - 19 de dezembro de 401.


Mais conhecido por sua condenaçã o do grande teó logo do sé culo III Orı́genes (m. Ca. 254), com cujos escritos ele
nem mesmo estava familiarizado, Anastá cio també m era o pai de seu pró prio sucessor, Inocê ncio I. Aqueles que nã o
gostavam de seu predecessor, Sirı́cio , aprovado por ele; a saber, Sã o Jerô nimo (m. ca. 420), que ainda tinha um
cı́rculo de amigos in luentes em Roma, e Sã o Paulino de Nola (m. 431), ambos os quais pensavam que Anastá cio era
mais simpá tico do que Sirı́cio à prá tica estrita ascetismo na Igreja. Quando os bispos africanos, por exemplo, pediram
ao papa que relaxasse a proibiçã o de retorno do clero donatista à Igreja por causa da escassez de padres, Anastá cio
escreveu ao Concı́lio de Cartago (401) e exortou os bispos a continuarem sua luta contra a heresia (que a irmava
que aqueles batizados por hereges e cismá ticos deveriam ser rebatizados ao entrar na Igreja Cató lica). Sã o Jerô nimo
até sugeriu que o ponti icado de Anastá cio havia sido interrompido porque Roma nã o merecia um bispo tã o bom.
Anastá cio foi enterrado no cemité rio de Pontian na Via Portuensis. Dia de festa: 19 de dezembro.

40 Innocent I, St., 22 de dezembro de 401 - 12 de março de 417.


Um dos mais ferrenhos defensores da Igreja primitiva das prerrogativas da Sé Apostó lica em questõ es de doutrina e
disciplina eclesiá stica, Inocê ncio I era na verdade ilho de Anastá cio I. Este é o primeiro caso de um ilho sucedendo
seu pai ao papado.
Enquanto o impé rio ocidental estava sofrendo com os ataques implacá veis das tribos germâ nicas em migraçã o (as
migraçõ es tê m sido convencionalmente chamadas de invasõ es bá rbaras), Inocê ncio a irmou as reivindicaçõ es papais
com frequê ncia e ê nfase cada vez maiores. Ele levou adiante a nova prá tica do papa Siricius (384-99) de emitir
decretos no estilo imperial. Ele estabeleceu leis para as igrejas (todas no Ocidente, no entanto) a respeito do Câ non
da Missa, ou Oraçã o Eucarı́stica (insistindo no costume romano como norma), os sacramentos da Penitê ncia
(també m conhecido como Reconciliaçã o) e Extrema Unçã o (agora chamada de Unçã o dos Doentes), Con irmaçã o
(apenas bispos deveriam administrá -la), e o câ non da Sagrada Escritura (ele excluiu vá rios livros apó crifos). Ele
també m apontou que os bispos deveriam reconhecer Roma como seu tribunal de apelaçã o, ao qual todas as “causas
mais importantes” deveriam ser encaminhadas.
Mas Innocent també m fez reivindicaçõ es indiretas sobre o Oriente. Quando Sã o Joã o Crisó stomo (falecido em 407)
foi deposto como bispo de Constantinopla e exilado em 404, o papa enviou-lhe cartas de apoio e encorajamento,
recusou-se a reconhecer seu substituto, convocou um concı́lio imparcial e organizou um protesto ao Oriente
imperador. Quando os legados papais foram insultados e expulsos e Joã o morreu no exı́lio, Inocê ncio rompeu a
comunhã o com os bispos orientais que se opunham a Joã o. (Somente apó s a morte de Inocê ncio a comunhã o plena
foi restaurada.) Quando ele foi informado em 416 que os mosteiros de Sã o Jerô nimo em Jerusalé m haviam sido
destruı́dos por bandidos e seus residentes atacados, ele escreveu imediatamente a Jerô nimo prometendo aplicar
toda a autoridade da Sé Apostó lica contra os ofensores e ele escreveu ao bispo Joã o de Jerusalé m para castigá -lo por
permitir o ultraje. Em geral, ele estava decidido a resistir aos esforços da sé de Constantinopla, com incentivo
imperial, para estender sua jurisdiçã o sobre as igrejas no Ilı́rico oriental (na penı́nsula balcâ nica).
Inocê ncio també m exerceu sua autoridade nos esforços das igrejas do Norte da Africa contra o Pelagianismo, um
movimento heré tico que defendia que algué m pode ser salvo apenas pelo esforço humano, sem a ajuda da graça
divina. Dois conselhos africanos (em Cartago e Milevis) rea irmaram a condenaçã o de Pelá gio (originalmente emitida
em 411), apó s um esforço no sı́nodo palestino em Diapolis (415) para perdoá -lo. Os bispos, em deferê ncia ao papa,
pediram-lhe, em 416, que acrescentasse sua pró pria condenaçã o à deles. Cinco bispos, incluindo Santo Agostinho
(falecido em 430), també m enviaram um dossiê Pelagiano ao papa, solicitando que Pelá gio fosse convocado a Roma
e seus erros condenados. Em uma das trê s cartas escritas em resposta (27 de janeiro de 417), o papa elogiou os
bispos africanos por encaminharem o assunto a ele (quando, na verdade, nã o o izeram). Ele apelou para uma
tradiçã o antiga (mas di icilmente inequı́voca ou consistente) de que os bispos em todos os lugares deveriam
submeter as disputas questõ es de fé a Pedro e seus sucessores. Ao contrá rio da crença piedosa, no entanto, de que
Cristo conferiu autoridade suprema de ensino a Pedro e que todo sucessor de Pedro entendia que possuı́a essa
mesma autoridade suprema de ensino, Inocê ncio I foi realmente o primeiro papa a fazer essa a irmaçã o tã o
claramente. O bispo de Roma, declarou ele, é “a cabeça e o á pice do episcopado”.
Durante o meio de seu ponti icado, Inocê ncio enfrentou outro tipo de desa io pastoral: o cerco de Roma por
Alarico, o visigodo, com fome e desespero em toda a cidade. Em 410, ele liderou uma delegaçã o para ver o
imperador Honó rio em Ravena, a im de estabelecer uma tré gua. As negociaçõ es fracassaram, e Alaric invadiu e
saqueou Roma em 24 de agosto de 410, enquanto Innocent estava fora. Só voltou à cidade em 412. Apó s sua morte,
cinco anos depois, foi sepultado no mesmo cemité rio de seu pai, Anastá cio I, na Via Portuensis. Dia da festa: 28 de
julho.

41 Zosimus, St., Greek, 18 de março de 417 - 26 de dezembro de 418.


Temperamentalmente impulsivo, politicamente inepto e culturalmente despreparado para o cargo, Zó simo revogou a
condenaçã o de Pelá gio por Inocê ncio I e readmitiu ele e seu colega Celestius à comunhã o com a Igreja. Mais tarde,
poré m, sob pressã o dos bispos africanos, ele se reverteu.
Zó simo era um presbı́tero recomendado a Inocê ncio I por Sã o Joã o Crisó stomo (falecido em 407), o bispo deposto
e exilado de Constantinopla. Nã o familiarizado com os costumes ocidentais, Zó simo nomeou um bispo independente,
Pá troclo de Arles, um indivı́duo que pode ter desempenhado um papel na manipulaçã o da eleiçã o papal, como
metropolita de Arles, com plena autoridade para consagrar todos os bispos das provı́ncias de Viena e as duas
Narbonne e para decidir todos os casos nã o sujeitos à revisã o romana (tornando-o, de fato, vigá rio papal da Gá lia).
O clero da Gá lia em visita a Roma era obrigado a apresentar uma carta de testemunho assinada por Patroclus. O
papa ignorou os protestos subsequentes dos bispos e do clero, sempre seguindo a deixa do pró prio Pá troclo.
A maneira como Zó simo lidava com os assuntos no Norte da Africa era ainda pior. Ele reabriu a questã o da
condenaçã o de Pelá gio e seu discı́pulo Celestius. Depois de ler a pro issã o de fé de Pelá gio enviada originalmente a
Inocê ncio I (mas chegando apó s a morte de Inocê ncio) e depois de um encontro pessoal com Celestius em Roma, ele
escreveu aos bispos africanos para informá -los de que os dois homens haviam se inocentado e para reprovar os
bispos por terem agiu com pressa contra eles. Os bispos africanos, incluindo Santo Agostinho (falecido em 430),
icaram indignados. Eles informaram irmemente ao papa que a decisã o de seu predecessor deveria permanecer.
Zosimus recuou. Depois de um lembrete super icial sobre o primado romano, ele assegurou aos bispos africanos
que a situaçã o permanecia como era sob Inocê ncio. Nesse ı́nterim, os bispos també m apelaram ao imperador
Honó rio, que os apoiou plenamente, rea irmou a condenaçã o de Pelá gio e Celestio e, em seguida, baniu os dois como
perturbadores da paz. O papa nã o teve escolha a nã o ser fazer uma retirada completa. Depois de outro concı́lio em
Cartago em 418 e por insistê ncia de Agostinho, Zó simo dirigiu um extenso documento (conhecido como Epistola
Tractoria ) aos bispos do Oriente e do Ocidente, no qual condenava os pelagianos e seus ensinamentos.
Mas ele cometeu mais um erro na Africa ao interferir no caso de um padre (Apiarius) que havia sido
excomungado por seu bispo e que entã o apelou ao papa. O papa tentou justi icar sua intervençã o citando dois
câ nones do Concı́lio Ecumê nico de Nicé ia (325), que na verdade eram câ nones do Concı́lio local de Sardica (342/3),
nã o reconhecidos na Africa. Nos ú ltimos meses da vida de Zó simo, vá rios clé rigos insatisfeitos izeram lobby contra
ele na corte imperial em Ravena. O papa estava se preparando para excomungá -los (e pode, de fato, ter feito isso)
quando ele adoeceu e acabou morrendo.
Zó simo foi sepultado na bası́lica de San Lorenzo, fora dos muros, na estrada para Tivoli. O martiroló gio de Ado do
sé culo IX foi o primeiro a listá -lo como santo, um tı́tulo que nos primeiros sé culos parecia ser atribuı́do
automaticamente a quase todos os papas, sem levar em conta as evidê ncias da santidade especial de suas vidas. Dia
da festa: 26 de dezembro.

42 Bonifácio I, St., 28 de dezembro de 418 – 4 de setembro de 422 (28 ou 29 de dezembro de 418, na lista o icial do
Vaticano).
Um oponente dedicado do Pelagianismo (que sustentava que a salvaçã o só pode ser alcançada pelo esforço humano,
sem a ajuda da graça) e um defensor vigoroso da autoridade papal, Bonifá cio I é o autor do axioma: “Nunca foi lı́cito
para o que foi uma vez decidido pela Sé Apostó lica para ser reconsiderado. ” Em sua forma latina mais familiar, lê -se:
Roma locuta est; causa inita est (“Roma falou; a causa acabou”).
Quase imediatamente apó s o sepultamento de Zó simo, os diá conos da igreja romana junto com alguns presbı́teros
se barricaram na Bası́lica de Latrã o e elegeram Eulá lio, o diá cono chefe de Zó simo, que provavelmente també m era
grego. No dia seguinte, a grande maioria dos presbı́teros, com muitos leigos, reuniu-se na Bası́lica de Teodora e
elegeu o idoso e frá gil presbı́tero Bonifá cio, ele pró prio ilho de um sacerdote. No dia seguinte, ambos foram
consagrados separadamente. Eulalius foi consagrado na Bası́lica de Latrã o pelo bispo de Ostia, que costumava
ordenar o Bispo de Roma, e Bonifá cio foi consagrado na igreja de San Marcello na presença de nove bispos.
Bonifá cio foi instalado na Bası́lica de Sã o Pedro porque o Latrã o estava sob o controle da facçã o que apoiava Eulá lio.
O prefeito pagã o da cidade deu seu pró prio apoio a Eulá lio e entã o relatou sua decisã o ao imperador em Ravena.
Bonifá cio recebeu ordens de deixar Roma, o que fez sob protesto. Mas Bonifá cio tinha muitos amigos e apoiadores
em Roma e na corte, incluindo a irmã do imperador. Quando a maioria dos presbı́teros romanos fez uma petiçã o ao
imperador em nome de Bonifá cio, o imperador convocou os dois bispos para um sı́nodo em Ravena. Quando
nenhuma decisã o foi alcançada lá , um concı́lio foi realizado em Spoleto em 13 de junho de 419, no qual bispos da
Gá lia e da Africa estavam presentes. O imperador exigiu que Bonifá cio e Eulá lio deixassem Roma nesse meio tempo.
Bonifá cio concordou, mas Eulá lio recusou. Isso causou desordem civil em Roma e enfureceu o imperador, que
ordenou que Eulá lio fosse banido da cidade e declarou Bonifá cio o bispo legı́timo.
Bonifá cio começou a desfazer o dano causado por seu antecessor, Zó simo, ao estabelecer um vicariato papal em
Arles. Ele restaurou os direitos metropolitanos de Marselha, Vienne e Narbonne. Com a ajuda do imperador
ocidental, ele també m manteve a prefeitura de Illyricum (na penı́nsula balcâ nica) sob a jurisdiçã o romana, apesar
dos esforços contı́nuos do imperador oriental para transferi-la para o patriarcado de Constantinopla. Na luta
contı́nua contra o Pelagianismo, ele foi irme em sua defesa da ortodoxia e persuadiu o imperador a publicar um
é dito exigindo que todos os bispos assinassem o Tractoria de Zó simo, condenando a heresia.
Quando Bonifá cio morreu, o antipapa Eulalius nã o fez nenhum esforço para reivindicar a sé . Bonifá cio foi
sepultado em uma capela que mandou construir no cemité rio de Santa Felicidade, na Via Salaria, pró ximo ao tú mulo
do santo. Dia da festa: 4 de setembro.

43 Celestine I, St., 10 de setembro de 422 - 27 de julho de 432.


Entre os eventos que ocorreram durante o ponti icado de Celestino estava o terceiro concı́lio ecumê nico da Igreja,
realizado em Efeso em 431. Signi icativamente, o imperador Teodó sio II, nã o o papa, convocou o concı́lio, e o pró prio
papa nã o compareceu. Ele enviou trê s legados para representar os interesses da igreja romana. Os atos do conselho
nã o foram submetidos à aprovaçã o do papa, mas em cartas subsequentes ele expressou sua satisfaçã o com suas
realizaçõ es.
Apó s sua eleiçã o unâ nime como bispo de Roma apó s seu mandato como diá cono chefe (arquidiá cono) da igreja,
Celestino con iscou as igrejas da grande comunidade Novacianista em Roma (aqueles que favoreciam o rebatismo de
indivı́duos que foram originalmente batizados por hereges ou cismá ticos) e iniciou a restauraçã o da Bası́lica Juliana
(Santa Maria in Trastevere), que havia sido severamente dani icada no saque da cidade pelo visigodo Alarico em 410.
Como seu predecessor, Zó simo (417-18), ele teve di iculdades com os bispos da Africa do Norte por se intrometerem
em seus assuntos. Ele ordenou a segunda reabilitaçã o do padre Apiarius, que havia sido excomungado pelo seu
bispo (o Papa Zó simo o reabilitou da primeira vez, mas o padre caiu mais uma vez). No entanto, em um concı́lio em
Cartago (cerca de 426), o padre inalmente admitiu sua culpa e o legado papal que acompanhou o padre de volta à
Africa vindo de Roma foi forçado a repudiá -lo. Isso deu aos bispos africanos a oportunidade de punir o papa por
nã o respeitar sua autonomia e por entrar em comunhã o com pessoas que haviam excomungado, uma prá tica, eles o
lembraram, que foi expressamente proibida pelo Concı́lio de Nicé ia (325). E signi icativo que, mesmo apó s as
grandes reivindicaçõ es do Papa Dâ maso (366-84) sobre o primado, um grande corpo de bispos se sentiram livres
para repreender o papa por se intrometer em seus assuntos e por entrar em comunhã o com aqueles com quem
haviam rompido comunhã o.
No entanto, Celestino continuou a insistir no fato de que, como bispo de Roma e sucessor de Pedro, tinha
autoridade pastoral alé m da Igreja Romana e, de fato, sobre a Igreja universal, tanto no Oriente como no Ocidente.
Ele lembrou aos bispos do sul da Gá lia que eles estavam sob sua supervisã o, objetou a vá rias prá ticas em sua regiã o,
incluindo o uso de trajes episcopais distintos, e os advertiu contra o ensino semipelagiano do monge Joã o Cassiano
(m. 435), a saber, que o primeiro voltar-se para Deus é uma questã o de esforço humano, mas depois a graça de Deus
é necessá ria para a salvaçã o. Celestino expulsou os lı́deres do Pelagianismo do Ocidente (o Pelagianismo sustentava
que é possı́vel ser salvo apenas pelo esforço humano, sem a ajuda da graça), enviou uma missã o à Grã -Bretanha
para lidar com o Pelagianismo ali, e em 431 consagrou o primeiro bispo da Irlanda (Palladius).
Perto do im de seu ponti icado, ele mergulhou no debate entre Nestó rio de Constantinopla (m. Ca. 451) e Sã o
Cirilo de Alexandria (m. 444) sobre a relaçã o entre a divindade e a humanidade de Jesus Cristo. Nestó rio a irmava
que havia duas pessoas distintas em Cristo e que Maria era a mã e da pessoa humana, Jesus de Nazaré , e nã o da
Pessoa divina, o Filho de Deus. Cirilo sustentava, ao contrá rio, que há uma unidade pessoal fundamental em Cristo,
de tal forma que Maria pode ser chamada de Mã e de Deus (gr., Theotokos ). Quando os dois indivı́duos submeteram
suas opiniõ es a Celestino, ele as recebeu como um apelo do Oriente a Roma. Com o incentivo de Cirilo, o papa
condenou a posiçã o de Nestó rio em um sı́nodo romano em 430, exigindo que Nestó rio se retratasse dentro de dez
dias ou fosse excomungado. Enquanto isso, o imperador bizantino Teodó sio II - nã o o papa Celestino - decidiu
convocar um concı́lio geral (ecumê nico) em Efeso para resolver a questã o. O concı́lio foi aberto em 22 de junho,
antes mesmo que os legados papais ou os bispos antioquenos (geralmente apoiadores de Nestó rio) tivessem
chegado. Nestó rio foi excomungado. Quando os legados papais chegaram em 10 de julho, eles endossaram a decisã o,
tendo sido instruı́dos pelo papa a serem guiados pelo julgamento de Cirilo em questõ es apresentadas ao concı́lio. O
conselho també m excomungou Joã o de Antioquia (falecido 441), lı́der da ala moderada da escola de Antioquia e
aquele a quem o imperador pretendia presidir o conselho, mas Celestino recusou-se a aprovar a decisã o, esperando
que Joã o acabasse repudiar Nestó rio, aceitar o ensinamento do concı́lio e retornar à comunhã o com a Igreja.
Celestine foi sepultado no cemité rio particular de Priscilla na Via Salaria. Seu mausolé u foi decorado com pinturas
que lembram o concı́lio ecumê nico de Efeso, ao qual ele nã o convocou nem compareceu. Dia da festa: 6 de abril.

44 Sixtus [Xystus] III, St., 31 de julho de 432 - 19 de agosto de 440.


També m conhecido como Xisto e ele pró prio ilho de um padre, Sisto III agiu como paci icador apó s o Concı́lio de
Efeso (431) e, com a ajuda de fundos da famı́lia imperial, dirigiu um grande programa de reconstruçã o em Roma
apó s o invasã o pelos visigodos sob Alaric em 410.
Fiel ao seu ministé rio petrino de manter a unidade da Igreja, curando as feridas da divisã o e construindo pontes
entre grupos alienados (a palavra latina pontifex signi ica “construtor de pontes”), Sisto estendeu a mã o a Joã o de
Antioquia (falecido em 441), a quem o Concı́lio Ecumê nico de Efeso (431) havia deposto e excomungado. Sisto pediu
apenas que Joã o aceitasse o ensino de Efeso e repudiasse Nestó rio (que sustentava que há duas pessoas em Jesus
Cristo, uma humana e uma divina, e que Maria é apenas a mã e da pessoa humana, nã o a Mã e de Deus). Sisto sabia
pessoalmente o que era estar do outro lado da ortodoxia em um debate doutriná rio. Antes de sua eleiçã o, ele tinha
sido um simpatizante de Pelá gio, um monge britâ nico que a irmava que se pode alcançar a salvaçã o apenas pelo
esforço humano, sem a ajuda da graça divina. Mas uma vez que o Papa Zó simo (417-18) o condenou, Sisto, com o
incentivo de Santo Agostinho (falecido em 430), aceitou totalmente o ensinamento papal. A esperança de Sisto de
reconciliaçã o entre os antioquenos (aqueles que consideravam a humanidade de Jesus sob maior ameaça de erro
teoló gico do que sua divindade) e os alexandrinos (aqueles que consideravam a divindade de Cristo mais ameaçada
pelo erro teoló gico do que sua humanidade) era realizada na primavera de 433, quando os antioquenos e Sã o Cirilo
de Alexandria (falecido em 444), o lı́der dos alexandrinos, chegaram a um acordo sobre as duas naturezas em Cristo
por meio de um documento conhecido como a Fó rmula da Uniã o.
Embora Sisto estivesse justi icadamente orgulhoso das boas relaçõ es que agora existiam entre a Sé Romana e o
Oriente, houve um revé s no ano seguinte (434) quando Proclo, o novo bispo de Constantinopla, tentou separar o
vicariato papal em Ilı́rico (no a sudeste da penı́nsula balcâ nica) de Roma e colocá -la sob jurisdiçã o oriental. Sisto
ordenou que seus bispos ignorassem a iniciativa de Proclo e continuassem a reconhecer o bispo de Tessalô nica
como vigá rio papal naquela regiã o. Ele també m pediu a Proclo que nã o tolerasse apelos dos bispos da Ilı́ria a
Constantinopla. Como demonstraçã o de boa fé da parte do pró prio papa, quando o bispo de Esmirna apelou a Roma
contra uma sentença proferida por Proclo como bispo metropolitano da Asia Menor, Sisto se recusou a interferir.
Como parte de seu programa para reparar os danos causados pela invasã o visigó tica de 410, Sixtus reconstruiu o
batisté rio de Latrã o em sua forma octogonal atual e reconstruiu completamente a Bası́lica Liberiana de Santa Maria
Maggiore (Santa Maria Maior). As inscriçõ es no batisté rio destacavam a natureza do batismo e a necessidade da
graça (contra os pelagianos agora derrotados, que sustentavam que algué m poderia ser salvo somente pelo esforço
humano), enquanto os mosaicos em Santa Maria Maior expressavam o triunfo da Igreja sobre o Nestorianismo em o
Concı́lio de Efeso. O papa també m convenceu o imperador Valentiniano a contribuir com ornamentos de prata e
ouro para as bası́licas de Sã o Pedro, Sã o Paulo Fora dos Muros e de Latrã o, para substituir o que havia sido
saqueado pelos visigodos. Ele també m fundou o primeiro mosteiro em Roma, Sã o Sebastiã o na Via Apia.
Sisto III foi enterrado em algum lugar do cemité rio de Sã o Lourenço. Quatro sé culos se passaram antes que um
culto se desenvolvesse em sua homenagem. O nome de Sisto III apareceu pela primeira vez no martiroló gio de Ado,
no sé culo IX. Dia da festa: 28 de março.
parte II

DE LEO, O GRANDE AO AMANHECER DO IMPERIO CAROLINGIANO

T seu segundo perı́odo na histó ria DA papado, a partir de meados do sé culo V até o im do oitavo, inclui os ú nicos dois papas
que foram chamados “o Grande”: Leo I (440-61) e Gregory I ( 590–604). Leã o foi particularmente forte em
reivindicar autoridade suprema e universal para o papado, alegando que o papa é o herdeiro de Pedro, interveio
ativamente para ajudar a moldar o ensino de initivo da Igreja sobre a humanidade e divindade de Jesus Cristo no
Concı́lio de Calcedô nia (451). e pessoalmente persuadiu Atila, o Huno, a se retirar de seu avanço ameaçador em
direçã o a Roma em 452. Com o colapso completo da ordem civil em Roma um sé culo e meio depois, Gregó rio se
tornou seu governante virtual virtual. Ele tinha experiê ncia polı́tica anterior, no entanto, serviu como prefeito da
cidade de Roma por dois ou trê s anos antes de se desfazer de seus bens pessoais e se tornar um monge. Gregory foi
um escritor prodigioso; seu trabalho mais duradouro, Pastoral Care , serviu de livro-texto para bispos medievais. Ao
mesmo tempo, Gregory tinha uma compreensã o realista dos limites de seu cargo. Ele repreendeu o patriarca de
Constantinopla por usar o tı́tulo de “patriarca ecumê nico”, insistindo que nenhum bispo pode reivindicar ser um
patriarca universal, incluindo até mesmo o papa! Nenhum outro papa deste perı́o do exerceu tanta in luê ncia quanto
Leã o I e Gregó rio I, seja na Igreja contemporâ nea ou no desenvolvimento subsequente do pró prio papado.
Houve vá rios “primeiros” durante este perı́o do da histó ria papal. Gelá sio I (492-96), como Leã o, o Grande, um
vigoroso defensor da supremacia papal, foi o primeiro papa a assumir o tı́tulo de "Vigá rio de Cristo", embora nã o se
tornasse exclusivamente atribuı́do ao bispo de Roma até o ponti icado de Eugê nio III (1145–53). Foi també m Gelá sio
quem avançou a teoria dos “dois poderes” ou das “duas espadas” (referindo-se à autoridade do papa nas esferas
sagrada e temporal) - uma teoria que seria tã o in luente na Idade Mé dia. Symmachus (498-514) foi o primeiro papa
a conceder o pá lio (uma vestimenta de lã usada em volta do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral) a um
bispo fora da Itá lia. Bonifá cio II (530–32) foi o primeiro papa de origem germâ nica. Seu sucessor, Joã o II (533-35),
foi o primeiro papa a assumir um nome diferente ao ser eleito para o papado, mas apenas porque seu pró prio nome
de nascimento, Mercú rio, era de um deus pagã o. Silverius (536-37) foi o primeiro e ú nico subdiá cono eleito papa e o
segundo papa a seguir os passos de seu pai (Hormisdas [514-23]) como papa. Gregó rio, o Grande (590-604) foi o
primeiro papa a usar o tı́tulo de "servo dos servos de Deus". Paulo I (757-67) foi o primeiro a suceder seu irmã o
como papa (Estê vã o II [III]). Joã o IV (640-42) foi o primeiro e ú nico papa dá lmata.
També m houve mudanças na forma como os papas foram eleitos. Originalmente determinadas apenas pelo clero e
leigos de Roma (visto que o papa é , antes de tudo, bispo de Roma), as eleiçõ es papais nessa é poca estavam sob a
in luê ncia decisiva do imperador. Na verdade, o sucessor de Vigı́lio, Pelá gio I (556-61), foi elevado ao papado sem o
benefı́cio de qualquer eleiçã o formal, sua nomeaçã o tendo sido assegurada diretamente pelo imperador Justiniano.
Como regra, entretanto, as eleiçõ es nã o eram consideradas vá lidas a menos e até que o imperador as aprovasse
formalmente. Bento II (684-85) ganhou uma pequena concessã o do imperador ao permitir que o vice-rei imperial
(exarca) em Ravena rati icasse as eleiçõ es papais, eliminando assim o atraso em receber a aprovaçã o de
Constantinopla para que o papa recé m-eleito fosse consagrado como bispo de Roma. Todo o arranjo terminou, no
entanto, apó s a morte de Gregó rio III (731-41), o ú ltimo papa a buscar a aprovaçã o imperial para sua consagraçã o.
Logo depois disso, Estê vã o II [III] (752-57), que sucedeu o ú ltimo dos papas gregos, Zacarias (741-52), inalmente
estabeleceu a independê ncia do papado do Impé rio Bizantino, colocando-o sob a proteçã o do Reino franco. Foi
també m Estê vã o II (III) que formou os Estados Papais, assumindo o controle jurı́dico e administrativo dos territó rios
na Itá lia central sobre os quais o papado havia reivindicado a soberania temporal desde o sé culo IV. Talvez para
trazer alguma integridade moral interna ao processo eleitoral, Bonifá cio III (607) decretou que a pena de
excomunhã o seria imposta a qualquer um que discutisse um sucessor de um papa durante a vida do papa e até trê s
dias apó s sua morte. Estê vã o III (IV) decretou em 769, apó s a eleiçã o do antipapa Constantino, que era leigo na
é poca em que foi escolhido, que doravante apenas diá conos e cardeais-sacerdotes (isto é , os presbı́teros romanos
que eram pastores das paró quias-chave de Roma) deve ser elegı́vel para a eleiçã o como papa e que os leigos nã o
devem mais ter qualquer voto nessas eleiçõ es.
Este perı́o do també m foi marcado por casos de desvio papal da ortodoxia doutriná ria, ou pelo menos fac-sı́miles
desconcertantes disso. Joã o II, sob pressã o do imperador oriental, contradisse o ensino de um papa anterior,
Hormisdas (514-23), sobre as duas naturezas de Jesus Cristo. Honó rio I (625-38) tornou-se um adepto involuntá rio
do monotelismo, que a irmava que existe apenas uma vontade (divina) em Jesus Cristo. Apó s sua morte, Honó rio foi
formalmente condenado pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680) - uma açã o posteriormente rati icada pelo
Papa Leã o II (682-83). Quando a contrové rsia monotelita continuou a dividir Roma e Constantinopla, Eugê nio I (654-
57) tentou bravamente reconciliar os dois lados. Ao fazer isso, no entanto, ele aceitou prematuramente um
compromisso que parecia apresentar trê s vontades em Cristo. Isso provocou uma tempestade de protestos entre o
clero e os leigos de Roma. O papa foi impedido de continuar com a missa na bası́lica de Santa Maria Maior até que
ele prometeu rejeitar o acordo. Esses sã o os caprichos da histó ria papal.

45 Leão I, “o Grande”, Santo, 29 de setembro de 440 - 10 de novembro de 461.


Eleito para o papado quando ainda era apenas um diá cono e enquanto estava fora de Roma em uma missã o
diplomá tica na Gá lia (França moderna) em nome da corte imperial, Leã o é um dos ú nicos dois papas em toda a
histó ria da Igreja a ter sido chamado de “ o Grande ”(o outro foi Gregó rio I [590–604]). Ele foi um forte defensor da
autoridade papal e dos ensinamentos do Concı́lio de Calcedô nia (451) sobre a humanidade e a divindade de Jesus
Cristo. Tã o vigorosamente articuladas foram as reivindicaçõ es de Leã o pela autoridade universal e suprema do papa
sobre a Igreja, de fato, que seu pró prio ponti icado constitui uma importante virada na histó ria do papado. Ele foi o
primeiro papa a reivindicar ser o herdeiro de Pedro, o que, de acordo com a lei romana, signi icava que todos os
direitos e deveres associados a Pedro permaneceram vivos em Leã o. Papas anteriores haviam falado sobre sua
sucessã o à cadeira de Pedro ou apelado para seu martı́rio e sepultamento em Roma como base de sua autoridade.
Em seu sermã o proferido no quinto aniversá rio de sua eleiçã o para o papado, Leã o insistiu que “a estabilidade que o
pró prio 'a Rocha' [Pedro] recebeu daquela rocha que é Cristo, ele transmite també m aos seus herdeiros. . . . ” Depois
disso, os papas cada vez mais se consideravam como ocupando o lugar de Pedro, exercendo autoridade nã o apenas
sobre todos os ié is, mas també m sobre todos os outros bispos.
Na verdade, o pró prio Leã o exerceu irme controle sobre os bispos da Itá lia, incluindo os de Milã o e da regiã o
norte, reforçando a uniformidade da prá tica pastoral, corrigindo abusos e resolvendo disputas. Em resposta aos
apelos dos bispos da Espanha para ajudar na luta contra o Priscilianismo, uma heresia que considerava o corpo
humano como mau, ele deu instruçõ es precisas para a açã o. Embora a Africa eclesiá stica tradicionalmente tivesse
ciú mes de sua autonomia pastoral, especialmente contra qualquer invasã o de Roma, as decisõ es de Leã o sobre
irregularidades nas eleiçõ es africanas e outros con litos regionais foram avidamente procuradas e adotadas. Quando
Hilá rio de Arles (falecido em 449) começou a agir como se sua diocese no sul da Gá lia ainda possuı́sse autoridade
especial sobre outras igrejas locais na regiã o concedida a ela pelo Papa Zó simo (417–18), mas revogada por seu
sucessor, Bonifá cio I ( 418–22), Leo ordenou que Hilary con inasse suas atividades pastorais à sua pró pria diocese.
Especi icamente, ele deveria parar de interferir na nomeaçã o de bispos de outras dioceses. Os bispos deveriam ser
eleitos pelo clero local e leigos dirigentes, e a eleiçã o deveria ser rati icada pelo povo em geral. O princı́pio eleitoral
de Leã o ainda é citado, mas infelizmente nã o vigora há sé culos: “Aquele que manda em tudo deve ser escolhido por
todos” ( Carta 10). Quatro dias apó s a instruçã o de Leã o a Hilá rio, o imperador do Ocidente, Valentiniano III,
ordenou a seu comandante militar na Gá lia que cumprisse as ordens de Leã o. Leã o, no entanto, nã o icou satisfeito
com o fato de o imperador ter dado como uma das razõ es para a autoridade do papa "a importâ ncia da cidade de
Roma". A importâ ncia polı́tica de Roma já havia diminuı́do drasticamente, e as autoridades eclesiá sticas e polı́ticas do
Oriente estavam usando esse declı́nio para justi icar uma mudança no equilı́brio do poder eclesiá stico de Roma para
Constantinopla.
O Oriente, portanto, estava muito menos disposto do que o Ocidente a aceitar as reivindicaçõ es papais de Leã o. Em
junho de 449, por exemplo, ele enviou uma importante carta ( Carta 28), ou Tomo , ao Bispo Flaviano de
Constantinopla, condenando o ensinamento mono isista de que em Cristo só existe uma natureza divina, a natureza
humana de Cristo tendo sido absorvida pela divina . O imperador Teodó sio II convocou um concı́lio em Efeso em
agosto (nã o confundir com o Concı́lio Ecumê nico de Efeso, realizado em 431). O Papa Leã o foi representado por trê s
delegados que traziam consigo uma có pia do Tomo , que Leã o esperava ser lido e aprovado. Mas o conselho o
desconsiderou, condenou o bispo Flaviano e reabilitou o monge Eutiques, que havia sido censurado por Flaviano
por suas opiniõ es mono isistas. Leo se recusou a reconhecer o conselho, referindo-se a ele como um latrocínio , ou
"conselho de ladrõ es". Dois anos depois, outro concı́lio ecumê nico foi convocado - a pedido do imperador, nã o do
papa! - em Calcedô nia, na costa oriental do estreito de Bó sforo, que separa a Turquia moderna da Europa e da Asia.
Esse conselho reverteu as decisõ es tomadas no “conselho ladrã o” de Efeso e endossou o ensino cristoló gico de Leã o
e outros; a saber, que em Jesus Cristo existem duas naturezas, uma divina e uma humana, hipostaticamente unidas
em uma Pessoa divina. O Tomo de Leã o foi respeitosamente recebido e aprovado como um padrã o de ortodoxia e
como uma expressã o da "voz de Pedro". “Pedro falou por meio de Leã o” foi uma das dezessete aclamaçõ es
a irmativas registradas nas atas do conselho.
Por uma questã o de perspectiva histó rica e teoló gica, no entanto, deve-se notar que Leã o queria que o conselho
fosse realizado na Itá lia, com seus pró prios representantes presidindo-o. Mas mesmo um papa tã o poderoso e
assertivo como Leã o, o Grande, nã o conseguiu o que queria em um assunto de tã o alta importâ ncia eclesiá stica. Alé m
disso, ele també m se opô s em vã o ao câ non 28 do concı́lio, garantindo a Constantinopla as mesmas “prerrogativas” e
dignidade eclesiá stica no Oriente que Roma desfrutava no Ocidente, alegando que ambas eram cidades imperiais.
Leã o, de fato, se opô s tanto a esta iniciativa pela qual Constantinopla seria considerada a segunda sé da cristandade
(suplantando Alexandria e Antioquia, respectivamente) que reteve seu endosso dos procedimentos do concı́lio até
21 de março de 453, dois e um meio anos depois. (Ele nunca aprovou o câ non 28.) Esses pontos servem como
lembretes adicionais de como a autoridade papal era percebida e exercida de maneira diferente nos sé culos
anteriores, em contraste com os tempos modernos e as suposiçõ es populares atuais.
Alé m de seu envolvimento com essas importantes questõ es doutriná rias e canô nicas e sua autoria de uma sé rie de
homilias e cartas claras e teologicamente substantivas, Leã o també m é celebrado por seu corajoso confronto pessoal
com Atila, o Huno perto de Mâ ntua em 452, quando o guerreiro estava devastando para o norte da Itá lia e se
preparando para ir para o sul em direçã o a Roma. A frente de uma delegaçã o do Senado romano, Leo convenceu
Atila a retirar-se para alé m do Danú bio. Em 455 ele també m conheceu o rei vâ ndalo Gaiseric (ou Genseric) fora das
muralhas de Roma. Embora Leã o nã o tenha conseguido persuadir Gaiseric a se retirar, ele conseguiu pelo menos
evitar o incê ndio da cidade e o massacre de seu povo.
Apó s sua morte, Leo foi sepultado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro. Seu corpo foi transferido
para o interior da bası́lica em 688. Foi nomeado Doutor da Igreja em 1754. Festa: 10 de novembro (no Ocidente); 18
de fevereiro (no Leste).

46 Hilarus [Hilary], St., 19 de novembro de 461 - 29 de fevereiro de 468.


O ponti icado de Hilarus foi geralmente tranquilo. Tendo servido como arquidiá cono de Leã o, o Grande e um de seus
representantes no "conselho ladrã o" de Efeso em 449, do qual ele escapou ileso por causa de seu apoio a Flaviano, o
patriarca de Constantinopla, Hilarus tentou seguir os passos de seu predecessor, mas sem nunca se aproximar de
sua estatura. Ao contrá rio de Leã o, ele quase nã o tinha relaçõ es com a Igreja no Oriente, exceto por um decreto que
ele pode ter distribuı́do aos bispos orientais con irmando os concı́lios ecumê nicos de Nicé ia (325), Efeso (431) e
Calcedô nia (451), e Tomo de Leã o , ao mesmo tempo que condena vá rias heresias e rea irma o primado romano. Na
Itá lia, ele se opô s à propagaçã o do arianismo (uma heresia que considerava Jesus Cristo a maior das criaturas, mas
nã o o Filho de Deus) e obrigou o novo imperador, Antê mio, a jurar que nunca permitiria locais de encontro para
hereges na cidade de Roma. Hilarus també m freqü entemente interveio nos assuntos eclesiá sticos da Espanha e da
Gá lia. Vá rias de suas cartas indicam quã o dependentes os bispos espanhó is se tornaram de Roma e como o papa
parecia nã o ter hesitado em exercer sua autoridade sobre eles. Em 465, Hilarus convocou um conselho em Roma, na
bası́lica de Santa Maria Maior, que decretou que um bispo moribundo nã o poderia nomear seu pró prio sucessor.
Por ter atribuı́do sua fuga bem-sucedida de Efeso à intervençã o de Sã o Joã o Evangelista (o futuro papa havia se
escondido nas câ maras mortuá rias do santo fora dos muros da cidade), ele construiu trê s capelas adjacentes à
Bası́lica de Latrã o, uma das que ele dedicou ao Evangelista. Hilarus també m concedeu presentes à s igrejas romanas
para substituir os metais preciosos saqueados pelos vâ ndalos em 455 e fundou um mosteiro em San Lorenzo fuori
le Mura (Sã o Lourenço Fora dos Muros), onde foi enterrado. Dia da festa: 28 de fevereiro.

47 Simplicius, St., 3 de março de 468 - 10 de março de 483.


O ponti icado de Simplı́cio viu o ú ltimo dos imperadores ocidentais, Rô mulo Augusto, ser sucedido por um general
alemã o como rei da Itá lia e o estabelecimento de reinos bá rbaros no resto do impé rio ocidental. E irô nico que seu
ponti icado, vindo logo depois de Leã o, o Grande, també m tenha sido marcado por uma erosã o ainda maior do
prestı́gio e da in luê ncia papal no Oriente. Fiel à irme oposiçã o de Leã o ao câ non 28 do Concı́lio de Calcedô nia,
concedendo a Constantinopla status eclesiá stico aproximadamente equivalente ao de Roma, Simplı́cio resistiu ao
esforço do patriarca Acá cio (falecido em 489) para honrar o câ none. Ele també m se opô s veementemente à s novas
concessõ es feitas conjuntamente pelo imperador e patriarca ao mono isismo, a heresia, condenada pelo Concı́lio de
Calcedô nia (451), que negava que Cristo tivesse uma natureza humana e també m divina. Sem a vantagem de telefone,
aparelho de fax ou correio eletrô nico, as informaçõ es do papa icaram constantemente aqué m dos pró prios eventos.
Até 479, suas cartas o mostram lutando sem sucesso para in luenciar os acontecimentos. Depois de 479, poré m,
Acá cio deliberadamente manteve o papa no escuro, e sua in luê ncia já mı́nima diminuiu ainda mais. Na maior parte
do tempo, ele foi mais um espectador do que um ator importante na luta contı́nua entre a ortodoxia calcedô nica e a
heresia mono isista no Oriente.
O Papa Simplicius é creditado, no entanto, com uma sé rie de projetos de construçã o em Roma, incluindo a
primeira instâ ncia de adaptaçã o de um edifı́cio pú blico para uso como uma igreja, neste caso a igreja de San Andrea
em Catabarbara. Ele també m estendeu a polı́tica de delegar autoridade papal na Espanha, onde o bispo Zeno de
Sevilha foi nomeado vigá rio papal para aquele paı́s e recebeu a responsabilidade pela observâ ncia dos decretos
papais. Simplı́cio morreu apó s uma longa doença e foi sepultado perto de Leã o, o Grande, no pó rtico, ou alpendre,
de Sã o Pedro. Dia da festa: 10 de março.

48 Felix III (II), St., 13 de março de 483 - 1º de março de 492.


Fé lix III (assim identi icado porque, na é poca de sua eleiçã o, o antipapa Fé lix II [355-65] ainda nã o havia sido
removido de uma das primeiras listas o iciais de papas) é famoso por sua rejeiçã o ao Henoticon e por sua
excomunhã o de Acá cio , o patriarca de Constantinopla que o apoiou. O Cisma Acácio que se seguiu durou até 519. O
Henoticon foi uma declaraçã o desenvolvida conjuntamente em 482 pelo imperador Zenã o e o patriarca Acá cio para
reconciliar a ortodoxia calcedô nica (que ensinava que em Cristo há duas naturezas, uma humana e uma divina,
unidas em uma Pessoa divina) e Mono isismo (que negava que Cristo tivesse uma natureza humana e també m
divina).
Filho de um padre, Fé lix III era viú vo com pelo menos dois ilhos, de um dos quais o Papa Gregó rio, o Grande
(590-604) descendia. Imediatamente apó s sua eleiçã o (que foi in luenciada pelo prefeito pretoriano do rei), Fé lix
exigiu a deposiçã o do novo bispo mono isita de Alexandria e a observâ ncia dos ensinamentos do Concı́lio de
Calcedô nia (451) sobre as duas naturezas de Cristo. Ele repreendeu Acá cio, o patriarca de Constantinopla, por
apoiar o novo bispo de Alexandria e Henoticon e chamou-o a Roma para se defender das acusaçõ es do bispo
ortodoxo que o mono isista substituı́ra. Mas os legados do papa izeram seu trabalho mal, deixando de protestar
quando o nome do bispo mono isista foi incluı́do no Câ non, ou Oraçã o Eucarı́stica, da Missa, dando assim a
impressã o de que Roma realmente o aprovava e també m do Henoticon . Apó s o retorno dos legados a Roma, o papa
os excomungou, bem como a Acá cio, em um sı́nodo realizado em 484 e despachou sua sentença de excomunhã o de
Acá cio a Constantinopla por um mensageiro especial. Diz-se que alguns monges ortodoxos excessivamente zelosos
pregaram o aviso nas vestes de Acá cio enquanto ele presidia a missa. O ú nico efeito imediato que a excomunhã o teve
foi sobre o pró prio papa. Seu nome foi retirado das oraçõ es da missa em Constantinopla. (Os nomes pelos quais
orar eram inscritos em dois painé is de madeira ou metal, dentro de uma pasta com dobradiças, que eram
conhecidos como dı́pticos [gr .: “dobrados juntos”]). O efeito de longo prazo na Igreja foi mais sé rio. Ele precipitou o
Cisma Acaciano, que durou trinta e cinco anos (484-519) e foi a primeira violaçã o sé ria da unidade entre o Oriente e
o Ocidente. Quando Acá cio morreu em 489 e um novo imperador ascendeu ao trono dois anos depois, havia grandes
esperanças de uma soluçã o para a disputa, mas o papa recusou qualquer gesto de reconciliaçã o enquanto o bispo
mono isita ainda estivesse em Alexandria e seu nome e o de Acá cio ainda era comemorado na missa. Mesmo apó s a
morte do bispo mono isista e a eleiçã o de um bispo ortodoxo em Alexandria, no entanto, o papa recusou-se a fazer
qualquer movimento em direçã o à reuniã o até que o nome de Acá cio fosse removido da missa. carta beligerante ao
imperador, ele o advertia "para aprender as coisas divinas daqueles que estã o no comando deles, e nã o desejar
ensiná -los." Alguns historiadores consideram isso o primeiro tiro disparado no que seria uma longa luta entre o
papado e o impé rio.
Ao lidar com os problemas pastorais do Ocidente, Fé lix III nã o foi menos severo e intransigente. Quando
questionado sobre o que deveria ser feito com os muitos cató licos no Norte da Africa que se submeteram à força ao
rebatismo ariano, ele decretou em 487 que aqueles nas Ordens Sagradas deveriam ter a reconciliaçã o negada até
que estivessem em seu leito de morte e outros só pudessem ser reconciliados depois de muitos anos de penitê ncias
rigorosas. Fé lix foi enterrado na cripta de uma famı́lia na Bası́lica de Sã o Paulo, perto de seu pai, sua esposa e seus
ilhos. Dia da festa: 1º de março.

49 Gelasius I, St., Africano, 1 de março de 492 - 21 de novembro de 496.


Gelá sio foi o primeiro papa a ser chamado de “Vigá rio de Cristo”, embora o tı́tulo nã o fosse exclusivamente atribuı́do
aos papas até o ponti icado de Eugê nio III (1145-1153). Depois de Leã o, o Grande (440-61), Gelá sio foi o papa
notá vel do sé culo V. Africano de nascimento, ele é lembrado por sua forte posiçã o contra o imperador e o patriarca
de Constantinopla no Cisma Acaciano (484-519) e por sua defesa da primazia papal apelando para a teoria dos "dois
poderes" ou "dois espadas ”(o espiritual e o temporal) - uma teoria que se tornaria tã o in luente na Idade Mé dia. Diz-
se que, se Leã o, o Grande, lançou as bases jurı́dicas da autoridade papal, foi Gelá sio quem aplicou esses princı́pios à
Igreja e ao Estado em uma sé rie de cartas que mais parecem resumos jurı́dicos do que pronunciamentos pastorais.
Depois de servir como arquidiá cono sob seu predecessor, Fé lix III, Gelá sio enfrentou uma situaçã o muito difı́cil ao
ser eleito papado. Os chamados reis bá rbaros, todos arianos (aqueles que sustentavam que Cristo era a maior das
criaturas, nã o o Filho de Deus), agora governavam o que restava do impé rio ocidental. Os ostrogodos de Teodorico,
també m ariano, controlavam a maior parte da Itá lia. Abundavam os refugiados e a escassez, tanto de clero como de
suprimentos. O Cisma Acaciano continuou sem resoluçã o. Mas Gelá sio fez amizade com Teodorico, encorajando-o a
icar fora dos assuntos eclesiá sticos. O papa usou sua pró pria fortuna particular para ajudar os pobres, enviou
suprimentos das propriedades papais e alguns que foram doados pelo pró prio Teodorico para aliviar a fome, e
baixou temporariamente os padrõ es de ordenaçã o para aumentar o nú mero de clé rigos. Mas ao lidar com o Cisma
Acaciano, ele se mostrou mais intransigente - por mais difı́cil que isso possa parecer - do que o pró prio Fé lix III. Ele
recusou até as sú plicas do patriarca ortodoxo de Constantinopla para suspender as sançõ es postumamente de
Acá cio (falecido em 489), o ex-patriarca de Constantinopla. Gelá sio insistiu que nenhuma reconciliaçã o era possı́vel
até que o nome de Acá cio e os de outros associados à tentativa de reconciliar a ortodoxia e o mono isismo fossem
removidos das oraçõ es da missa, e ele continuou a defender a excomunhã o de Acá cio contra os protestos dos bispos
orientais que consideravam como nã o canô nico. O imperador Anastá cio I tornou-se cada vez mais alienado do papa,
e os bispos orientais culparam Gelá sio por colocar toda a Igreja em risco. Alguns grupos in luentes em Roma
começaram a murmurar contra o papa e pressionaram por uma abordagem mais razoá vel ao cisma. No sı́nodo
romano de 494, em um gesto de boa vontade, Gelá sio revogou a excomunhã o de Fé lix III de um dos legados que ele
(Fé lix) havia culpado por maltratar uma missã o em Constantinopla. Foi em um sı́nodo no ano seguinte que Gelá sio
foi referido pela primeira vez como o “Vigá rio de Cristo”.
Em uma famosa carta ao imperador e em outros documentos, Gelá sio apresentou uma teoria que teria profunda
in luê ncia na Idade Mé dia; a saber, que dois poderes governam o mundo: um espiritual (a “autoridade consagrada
dos bispos”), centrado no papa, e o outro temporal (o “poder real”), centralizado no imperador. Cada poder tem sua
fonte em Deus e cada um é independente em sua pró pria esfera. Mas o poder espiritual é intrinsecamente superior
ao temporal porque medeia a salvaçã o no temporal. Dada esta visã o de sua pró pria autoridade de Deus, Gelá sio nã o
tinha simpatia pela reivindicaçã o de Constantinopla, baseada no ensinamento do Concı́lio de Calcedô nia (451), que
era equivalente em status e dignidade a Roma e perdia apenas para Roma em todos da cristandade. E dada a
persistê ncia do Cisma Acá cio ao longo de seu ponti icado relativamente breve, Gelá sio foi consumido pela tarefa de
defender as prerrogativas papais contra aqueles que favoreciam uma abordagem romana menos rı́gida. O apoio
geral ao papado continuou, entretanto, no Ocidente e na Itá lia em particular.
Um prolı́ ico escritor de cartas e tratados teoló gicos, Gelá sio també m deixou dezoito formulá rios da missa que
foram preservados no Sacramentá rio Leonino (sé culo VI). Embora a sua atuaçã o pú blica no cargo fosse a de um
lı́der pastoral autoritá rio e severo, os contemporâ neos a irmavam que ele era, no ı́ntimo, uma pessoa humilde,
entregue à morti icaçã o e ao serviço dos pobres. Ele foi enterrado em algum lugar da Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da
festa: 21 de novembro.

50 Anastácio II, 24 de novembro de 496 - 19 de novembro de 498.


Seguindo um padrã o que se vê repetido vá rias vezes na histó ria das eleiçõ es papais, Anastá cio II foi eleito para o
papado por causa da insatisfaçã o com as polı́ticas dos dois papas anteriores, Fé lix III (483-92) e Gelá sio I (492-96 )
Ambos foram in lexı́veis em sua abordagem em relaçã o ao Cisma Acaciano (484-519), o precursor do principal
Cisma Leste-Oeste que ocorreria no sé culo XI. Fé lix III excomungou Acá cio, o patriarca de Constantinopla, por apoiar
um bispo mono isita em Alexandria (ao contrá rio do Concı́lio de Calcedô nia de 451, os mono isitas sustentavam que
Jesus Cristo tinha apenas uma natureza divina), e Acá cio mais tarde removeu o nome do papa do lista de pessoas
oradas no câ non, ou oraçã o eucarı́stica, da missa.
Ele mesmo ilho de um padre, Anastá cio II imediatamente enviou dois legados a Constantinopla carregando uma
carta conciliató ria para o imperador, na qual o papa anunciava sua eleiçã o para o papado e expressava seu desejo de
restaurar a unidade da Igreja. O papa estava até preparado para reconhecer a validade dos batismos e ordenaçõ es
realizados por Acá cio, mas insistiu que o nome de Acá cio fosse removido da lista daqueles a serem orados na Missa.
O imperador (que també m se chamava Anastá cio) sugeriu um compromisso: ele reconheceria Teodorico, o
ostrogodo, como rei da Itá lia se o papa aceitasse o Henoticon , uma fó rmula doutrinariamente ambı́gua de uniã o
entre cató licos ortodoxos e mono isitas elaborada em 482 por iniciativa do imperador Zenã o. Festo (ou Fausto), o
senador romano sê nior que estava em Constantinopla na mesma é poca que os legados papais, persuadiu o papa a
aceitá -lo. Sem consultar seu pró prio clero, o papa Anastá cio II entã o recebeu e entrou em comunhã o com Photinus,
o diá cono do bispo André de Tessalô nica, a quem o papa Gelá sio I havia denunciado como partidá rio de Acá cio.
Vá rios clé rigos romanos se sentiram traı́dos e, por sua vez, romperam a comunhã o com seu pró prio bispo, o papa.
No auge da crise, o papa morreu repentinamente (um ato de retribuiçã o divina, a irmam seus crı́ticos), e com sua
morte talvez a ú ltima esperança de restaurar a unidade entre o Oriente e o Ocidente també m morreu.
O nome de Anastá cio II nã o foi encontrado em nenhum dos antigos martiroló gios e nã o há evidê ncias de qualquer
culto ou devoçã o a ele apó s sua morte. A tradiçã o medieval que o considerava um traidor da Santa Sé por causa de
seus esforços de reconciliaçã o Leste-Oeste é manifestamente injusta. Dante, por exemplo, colocou-o entre os hereges
no sexto cı́rculo do inferno ( Divina Comédia, Inferno 11.6-9). Ele foi enterrado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de
Sã o Pedro. Ele foi apenas o segundo papa dos primeiros cinquenta a nã o ser reconhecido como santo. Liberius (352-
66) foi o primeiro.

51 Symmachus, St., 22 de novembro de 498 - 19 de julho de 514.


Eleito ainda diá cono pela maioria do clero romano que estava insatisfeito com a atitude conciliató ria de seu
predecessor, Anastá cio II, para com o Oriente, Symmachus enfrentou um cisma em Roma desde o inı́cio de seu
ponti icado. Mas um nú mero menor de clé rigos que apoiavam a abordagem de Anastá cio se reuniu no mesmo dia na
bası́lica de Santa Maria Maior e, com o apoio da maioria do Senado Romano e da aristocracia romana, elegeu o
arcipreste Lawrence. Ambos os lados apelaram para Teodorico, o rei ostrogodo da Itá lia, embora ele pró prio fosse
um ariano (um herege que acreditava que Jesus Cristo era a maior das criaturas, mas nã o o Filho de Deus).
Teodorico decidiu a favor daquele que foi ordenado primeiro e teve o maior apoio. Isso foi Symmachus.
Logo apó s retornar de Ravena, onde se encontrou com o rei, o recé m-eleito papa Symmachus convocou um
sı́nodo em Roma, que proibiu toda discussã o sobre um sucessor durante a vida de um papa, mas que permitiu ao
pró prio papa designar seu sucessor se assim fosse desejou. Se ele morresse antes de fazer isso, o clero de Roma
deveria escolher o pró ximo papa, mas os leigos seriam depois excluı́dos do processo. Lawrence, o antipapa, assinou
o estatuto e foi nomeado bispo de Nuceria (ou Nocera) na Campâ nia.
Mas a paz durou pouco tempo. Os aristocratas, liderados pelo senador Festus (ou Fausto), denunciaram o papa a
Teodorico por ter celebrado a Pá scoa de acordo com o antigo calendá rio romano, em vez do calendá rio alexandrino.
O rei convocou Symmachus para sua residê ncia em Ravena, mas depois que o papa chegou a Rimini e soube que
també m estava sendo acusado de falta de castidade e uso indevido de propriedade da Igreja, ele voltou
imediatamente a Roma. O rei nã o gostou da atitude do papa, e muitos de seus clé rigos declararam nã o estar mais em
comunhã o com ele. A pedido dos crı́ticos do papa, o rei nomeou Pedro, o bispo de Altinum, para celebrar a Pá scoa e
administrar a sé romana enquanto se aguardava a resoluçã o das acusaçõ es contra o papa. O rei entã o convocou um
sı́nodo de bispos italianos (conhecido como Sı́nodo Palmary) para julgar a questã o em 501 (alguns colocam a data
em 502). O papa a princı́pio recusou-se a comparecer, mas depois, quando tentou fazê -lo, ele e seu partido foram
violentamente atacados no caminho. Alguns foram mortos, outros feridos. O sı́nodo decidiu que nenhum tribunal
humano poderia julgar o papa, que somente Deus poderia fazer isso. O papa, portanto, foi absolvido de todas as
acusaçõ es, e seu clero descontente foi instado a se reconciliar com ele. (Um dos subprodutos dessa disputa foram as
chamadas falsi icaçõ es Symmachan, uma coleçã o de documentos que pretendiam oferecer precedentes em apoio ao
princı́pio de que nenhum poder terreno pode julgar um papa. Embora tenham sido amplamente divulgados em anos
posteriores, os documentos nã o tê m base histó rica.)
Descontente com o veredicto, o rei imediatamente convidou Lawrence de volta a Roma, onde atuou como bispo de
Roma (do ponto de vista cató lico o icial como antipapa) por quatro anos. Lawrence assumiu o controle das igrejas
da cidade e de todas as propriedades papais, e seu retrato foi colocado entre os de papas anteriores. Symmachus,
entretanto, permaneceu con inado à Bası́lica de Sã o Pedro (entã o fora dos muros), rodeado por uma grande
violê ncia de rua. No entanto, ele parece ter tido o apoio da maioria do povo, bem como dos arcebispos de Milã o e
Ravena. No ano 506, Teodorico se alienou politicamente de Bizâ ncio e de seus aliados em Roma. Com o incentivo do
diá cono Alexandrino Dió scoro (um antipapa posterior), o rei con irmou o veredicto sinodal de 501 que exonerou
Symmachus e ordenou que o senador Festus devolvesse as igrejas da cidade e propriedades papais a Symmachus
para que houvesse "apenas um pontı́ ice em Roma." Lawrence retirou-se mais uma vez da cidade, estabelecendo-se
em uma fazenda de propriedade de seu patrono Festus.
Mas a verdadeira paz nã o foi restaurada. Muitos permaneceram alienados de Symmachus. No entanto, ele
retomou seu reinado com todo o vigor. Ele expulsou os hereges maniqueus de Roma, resgatou prisioneiros
capturados nas guerras no norte da Itá lia, defendeu os cató licos africanos contra as perseguiçõ es aos governantes
arianos, restaurou os direitos primordiais da diocese de Arles sobre a Gá lia (França moderna) e os estendeu
també m à Espanha , conferiu o pá lio (uma vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sı́mbolo da
autoridade de um arcebispo) pela primeira vez a um bispo fora da Itá lia (Cesarius de Arles), introduziu a Gló ria
cantada na liturgia dominical e construiu e restaurou um nú mero de igrejas em Roma, especialmente a de Sã o Pedro,
que ele usou como sua residê ncia e sede administrativa. Cheio de autocon iança por causa de seu triunfo sobre seus
oponentes pró -bizantinos em casa, o papa adotou uma postura linha-dura em relaçã o a Constantinopla e ao Cisma
Acaciano, intensi icando o mal-estar entre ele e o imperador Anastá cio I. Em 514, entretanto, motins em
Constantinopla e Antioquia e uma revolta na Trá cia induziram o imperador a buscar algum tipo de reconciliaçã o com
o papa. Ele convidou Symmachus para presidir um conselho geral em Heraclea, na Trá cia, a im de resolver as
questõ es doutriná rias por trá s do cisma. Mas o papa já estava morto antes que o convite chegasse a Roma. Ele foi
enterrado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 19 de julho.

52 Hormisdas, St., 20 de julho de 514 - 6 de agosto de 523.


Casado antes da ordenaçã o, Hormisdas teve um ilho, Silverius, que mais tarde o sucedeu como papa. Um paci icador
de coraçã o, vindo de uma famı́lia rica e aristocrá tica, ele mudou-se imediatamente para restaurar a harmonia na
Igreja. No front domé stico, ele restabeleceu a comunhã o com os apoiadores romanos do antipapa Lawrence e, no
front estrangeiro, pô s im ao Cisma Acaciano (484-519) que havia dividido o Leste do Oeste por causa de uma
diferença de abordagem do Mono isismo (um heresia que negava que Jesus Cristo tivesse uma natureza humana).
Quando o papa recebeu um convite do imperador Anastá cio I (um convite originalmente destinado ao
predecessor de Hormisdas, Symmachus) para presidir um conselho geral em Heraclea na Trá cia, Hormisdas
consultou Teodorico, o rei da Itá lia, e entã o enviou legados a Constantinopla em dois ocasiõ es, em 515 e 517,
levando suas condiçõ es de reuniã o; a saber, a aceitaçã o pú blica do ensino anti-mono isita do Concı́lio de Calcedô nia
(451) e do Tomo do Papa Leã o I sobre as duas naturezas de Cristo, a condenaçã o de Acá cio, o falecido patriarca de
Constantinopla, e de outros que foram considerados "brandos ”Sobre o mono isismo e o novo julgamento por Roma
de todos os bispos depostos ou exilados, estabelecendo assim a primazia jurisdicional do papa no Oriente. Mas
agora politicamente mais forte do que na é poca em que estendeu o convite ao papa para presidir um conselho geral,
o imperador se recusou a ceder.
Em um ano, poré m, o imperador estava morto. Ele foi sucedido por Justin I, um cató lico ortodoxo que abraçou
totalmente os ensinamentos de Calcedô nia e os tornou a fé o icial do impé rio. Em resposta ao convite do novo
imperador, o papa enviou outra delegaçã o a Constantinopla com as mesmas exigê ncias. Em 28 de março de 519, um
acordo, conhecido como a Fórmula de Hormisdas , foi relutantemente assinado no palá cio imperial por Joã o II,
patriarca de Constantinopla, e por todos os bispos (cerca de 250) e chefes de mosteiros presentes. Mais de treze
sé culos e meio depois, o Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70) incorporaria essa Fó rmula em sua constituiçã o
dogmá tica sobre o primado papal, o Pastor aeternus .
Alguns historiadores notaram uma sombra nas realizaçõ es do Papa Hormisdas no Oriente. Primeiro, o papa nã o
poderia ter realizado nada sem o apoio de Justino I e de seu sucessor, Justiniano, seu sobrinho. Ambos viram a
reuniã o com Roma como uma pré -condiçã o necessá ria para recuperar a Itá lia para o impé rio. Em segundo lugar, ao
devolver os bispos ortodoxos exilados à s suas sedes por sua pró pria autoridade imperial, antes de qualquer
negociaçã o com Roma, eles estavam a irmando que o papa nã o tinha primazia jurisdicional no Oriente. Terceiro,
quando o patriarca Joã o assinou a Fó rmula, ele acrescentou uma glosa expressando alegria pelo fato de a velha
Roma e a nova Roma (Constantinopla) serem agora uma, isto é , uma em honra. Quarto, embora o papa insistisse no
cumprimento total do acordo, o imperador e o patriarca seguiram uma abordagem mais pragmá tica em sua
aplicaçã o. Quinto e, inalmente, quando o papa autorizou o novo patriarca, Epifâ nio, "a se revestir de nossa pessoa" e
a remover os vestı́gios inais do cisma no Oriente, o papa estava reconhecendo implicitamente o câ non 28 do
Concı́lio de Calcedô nia em relaçã o aos co-iguais status de Constantinopla com Roma.
Hormisdas foi enterrado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 6 de agosto.

53 John I, St., 13 de agosto de 523 a 18 de maio de 526.


Já idoso e doente ao ser eleito, Joã o I foi o primeiro papa a viajar para o Oriente, embora sob pressã o do rei da Itá lia.
(Foi també m sob Joã o I que começou a prá tica de numerar os anos desde o nascimento de Cristo, em vez do pesado
costume de listá -los de acordo com a era de Diocleciano.) Pouco antes da eleiçã o de Joã o, o imperador Justino I, com
sede em Constantinopla, reviveu uma sé rie de leis dirigidas contra os arianos (hereges que a irmavam que Jesus
Cristo era a maior das criaturas, mas nã o o Filho de Deus). Suas igrejas foram tomadas; foram expulsos de cargos
pú blicos; e eles foram obrigados a desistir de sua fé ariana. A campanha do imperador contra os arianos, muitos dos
quais eram godos, enfureceu Teodorico, o rei da Itá lia, porque ele era gó tico e també m ariano. Portanto, ele
convocou o papa à residê ncia real em Ravena e o despachou em uma missã o a Constantinopla junto com uma
delegaçã o de bispos e senadores romanos. A acusaçã o deles era clara: reverter as açõ es imperiais contra os arianos,
incluindo a exigê ncia de que renunciassem à fé ariana.
Embora sua missã o fosse humilhante, Joã o I foi recebido em Constantinopla com extraordiná rio entusiasmo e
respeito em outubro ou novembro de 525. O imperador até se prostrou diante dele, “como se fosse Pedro em
pessoa”. Poucos meses depois, na liturgia da Pá scoa na igreja de Hagia Sophia, o papa recebeu um trono mais alto
que o do patriarca, celebrou a missa de acordo com o rito latino e colocou a coroa da Pá scoa na cabeça do
imperador, uma honra habitualmente reservada para o patriarca. Em discussõ es subsequentes, o imperador
concordou com as duas primeiras exigê ncias de Teodorico, mas nã o com a terceira (que os arianos nã o deveriam
renunciar à sua fé ariana). Acreditando que nã o poderiam fazer mais do que isso, o papa e o resto da delegaçã o
voltaram a Ravena, apenas para enfrentar a fú ria do rei. Teodorico nã o apenas se irritou com a recusa do imperador
em conceder tolerâ ncia mú tua, mas també m se ressentiu da magnı́ ica recepçã o do papa em Constantinopla e sua
ó bvia satisfaçã o com isso. Suspeitando da lealdade de Joã o I, Teodorico forçou o papa a permanecer em Ravena até
que decidisse o que fazer com ele. Já exausto por sua longa jornada e apavorado com a perspectiva de puniçã o
severa nas mã os do rei, o papa idoso desmaiou e morreu (alguns disseram por causa de maus-tratos e fome). Seu
corpo foi levado de volta a Roma, onde foi venerado como o de um má rtir e como possuidor de poderes milagrosos.
Joã o I foi sepultado na nave da Bası́lica de Sã o Pedro. Seu epitá io o honra como "uma vı́tima de Cristo". Dia da festa:
18 de maio.
54 Felix IV (III), St., 12 de julho de 526 - 22 de setembro de 530.
Porque houve um antipapa que assumiu o nome de Fé lix II em 355 e cujo nome foi incluı́do por algum tempo na lista
o icial dos papas, Fé lix IV é realmente o terceiro Papa Fé lix na linha o icial de sucessores de Sã o Pedro. Seu
ponti icado é mais conhecido por seu apoio a Cesá rio, bispo de Arles, contra os semipelagianos, um grupo heré tico
que defendia que, embora a graça seja necessá ria para a salvaçã o, o primeiro movimento em direçã o à salvaçã o é um
ato de liberdade humana sem graça. Só depois disso a graça entra no progresso da pessoa em direçã o à salvaçã o. O
ensinamento do papa, extraı́do principalmente de Santo Agostinho (falecido em 430), foi adotado pelo Segundo
Concı́lio de Orange em julho de 529.
Fé lix IV també m é lembrado pela maneira como deixou o papado. A medida que a morte se aproximava, ele reuniu
seus partidá rios clericais e polı́ticos ao redor de seu leito de doente e deu-lhes a ordem de eleger seu arquidiá cono
Bonifá cio como seu sucessor. (Diz-se que ele fez isso porque temia que uma luta feroz entre as facçõ es irrompesse
entre o clero apó s sua morte.) Ele deu a Bonifá cio seu pá lio (uma veste de lã usada ao redor do pescoço como um
sı́mbolo de autoridade pastoral) com a condiçã o de que fosse voltou para ele se ele se recuperasse. O papa teve sua
ordem publicada em Roma e uma có pia enviada à corte real em Ravena. A maioria do Senado, no entanto, rejeitou a
açã o do papa e publicou um é dito proibindo a discussã o de um sucessor papal durante a vida do papa e a aceitaçã o
de uma nomeaçã o como sucessor.
Foi Fé lix IV quem, com o apoio da rainha-regente da Itá lia, converteu dois templos pagã os em uma igreja dedicada
aos Santos. Cosmas e Damian. Um retrato em mosaico do papa na abside é a primeira imagem papal contemporâ nea
a ter sobrevivido, embora em um estado altamente alterado. Ele foi enterrado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de
Sã o Pedro. Dia da festa: 22 de setembro.

55 Boniface II, 22 de setembro de 530 - 17 de outubro de 532.


Embora nascido em Roma, Bonifá cio II foi o primeiro papa de origem germâ nica. Arquidiá cono sob seu predecessor,
Joã o I, ele foi convocado junto com vá rios clé rigos e senadores ao leito do papa e recebeu o pá lio do papa (uma
veste de lã usada ao redor do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral) junto com uma ordem nomeando-o
como o pró ximo papa. Essa açã o precipitou uma reaçã o no Senado Romano, que proibiu qualquer discussã o sobre
um sucessor durante a vida de um papa em exercı́cio ou a aceitaçã o de uma indicaçã o como sucessor. A maior parte
do clero romano concordou com a açã o do Senado. Quando se encontraram na Bası́lica de Latrã o para eleger um
novo papa, eles elegeram o diá cono Dió scoro de Alexandria, que havia sido um con idente pró ximo e colaborador de
dois papas anteriores, Symmachus (498–514) e Hormisdas (514–23). A minoria derrotada retirou-se para um salã o
adjacente e elegeu Bonifá cio. Ambos foram consagrados no mesmo dia, 22 de setembro de 530. Dió scoro, no
entanto, morreu vinte e dois dias depois e seus apoiadores, privados de seu lı́der, reconheceram Bonifá cio como
papa. Embora Dió scoro nã o seja o icialmente reconhecido como um papa legı́timo, há pouca ou nenhuma dú vida de
que, de acordo com a lei da igreja da é poca, ele, e nã o Bonifá cio, foi o papa eleito corretamente. Infelizmente,
Bonifá cio foi vingativo na vitó ria. Ele forçou os sessenta padres que se opuseram à sua eleiçã o a assinar uma
declaraçã o admitindo sua culpa, prometendo nunca mais fazer nada parecido, e condenando a memó ria de Dió scoro.
Como seu antecessor, Fé lix IV, Bonifá cio II queria assegurar a eleiçã o de um sucessor pró -gó tico. Em um sı́nodo
romano em 531, ele propô s formalmente Vigilius como o pró ximo papa e obrigou o clero a subscrever sua ordem
com um juramento. Mas sua açã o provocou forte oposiçã o, e ele teve que retirar sua nomeaçã o de Vigilius e queimar
o documento que determinava a nomeaçã o em um sı́nodo subsequente e na presença do Senado.
Em 531 Bonifá cio con irmou os atos do Segundo Concı́lio de Orange (529) que ensinava, contra os
semipelagianos, que a graça é sempre necessá ria para a salvaçã o, desde o primeiro momento em que a liberdade
humana pode ser exercida. Ele també m praticou grande caridade durante uma fome em Roma. Embora esteja
enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro, nã o há evidê ncias de qualquer culto dedicado a ele.

56 João II, 2 de janeiro de 533 - 8 de maio de 535.


Porque seu nome desde o nascimento era o de um deus pagã o, Mercú rio, Joã o II foi o primeiro papa a assumir um
nome diferente ao ser eleito papado. Ele també m era famoso por contradizer, sob pressã o do imperador oriental, os
ensinamentos de um papa anterior (Hormisdas) sobre uma questã o de doutrina.
Os eventos que antecederam sua eleiçã o, dois meses e meio apó s a morte de seu antecessor, Bonifá cio II, sã o uma
lembrança da natureza demasiadamente humana do papado. Foi, de acordo com historiadores, “um perı́o do de
intriga e corrupçã o, com os aspirantes ao trono papal e seus partidá rios recorrendo à campanha e suborno; até
mesmo placas de igreja e fundos coletados para ajuda aos pobres foram desperdiçados para obter votos ”(JND Kelly,
p. 57). Posteriormente, o rei da Itá lia con irmou um decreto do Senado proibindo, sob pena de severas penalidades,
vá rias prá ticas impró prias nas eleiçõ es papais e ordenou que o decreto fosse inscrito em má rmore e a ixado na
Bası́lica de Sã o Pedro para que todos pudessem ver.
Padre idoso, Joã o II foi uma escolha de compromisso, em boas relaçõ es tanto com o rei ostrogodo da Itá lia,
Atalarico, quanto com o imperador oriental, Justiniano I. Apó s um sı́nodo, o novo papa aceitou formalmente um
decreto dogmá tico que o imperador havia publicado em março. 523. O decreto reconhecia o ensino dos quatro
primeiros concı́lios ecumê nicos, mas també m incluı́a a chamada fó rmula teopasquita (“Algué m da Trindade sofreu na
carne”), que o Papa Hormisdas rejeitou como desnecessá ria e aberta a mal-entendidos. O imperador favoreceu
porque, embora fosse ortodoxa, a fó rmula apelava aos mono isitas sob sua jurisdiçã o (os mono isitas eram hereges
que sustentavam que Jesus Cristo tinha apenas uma natureza divina) por causa de seu tom anti-Nestoriano (os
Nestorianos eram hereges que defendiam que em Jesus Cristo havia duas pessoas, uma divina e uma humana, em
vez de uma Pessoa divina). Quando os monges Acoemetae ("insones") de Constantinopla, conhecidos por sua
idelidade aos ensinamentos do Concı́lio de Calcedô nia (451), protestaram contra a aceitaçã o da fó rmula pelo papa,
o papa tentou persuadi-los a retirarem sua oposiçã o. Mas eles se recusaram, e o papa os excomungou como
Nestorianos porque eles pareciam ter ido tã o longe a ponto de negar o tı́tulo de Theotokos (Mã e de Deus) a Maria. O
papa escreveu ao imperador para informá -lo de que seu decreto era ortodoxo. O imperador, por sua vez, incorporou
a carta do papa e a sua pró pria (na qual reconhecia a Sé Apostó lica como “a cabeça de todas as Igrejas”) em seu
famoso Có digo de Justiniano. Todo o episó dio, entretanto, é lembrado principalmente como um exemplo de como um
papa contradiz outro em uma questã o de doutrina.
Joã o II morreu em 8 de maio de 535 e foi sepultado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro.

57 Agapitus I, St., 13 de maio de 535 - 22 de abril de 536.


Filho de um padre morto por partidá rios do antipapa Lawrence em 502, Agapitus I se opô s fortemente à prá tica de
um papa designar seu sucessor e, portanto, começou seu ponti icado recebendo a condenaçã o do papa Bonifá cio II
(530–32) do antipapa Dió scoro de Alexandria queimado publicamente (ver Bonifá cio II, nú mero 55, acima).
Como papa, Agapitus també m assumiu uma postura ené rgica contra os ex-arianos (hereges que sustentavam que
Jesus Cristo nã o era o Filho de Deus, mas apenas a maior das criaturas) no Norte da Africa e no Oriente. Proibiu-os
de exercer o cargo de clé rigo, apesar do apelo do imperador Justiniano. Ao mesmo tempo, o papa foi forçado a
penhorar vasos sagrados para pagar sua viagem a Constantinopla, sob ameaças explı́citas do ú ltimo rei ostrogodo
da Itá lia, Theodahad. O rei soube dos planos do imperador de invadir a Itá lia a im de reincorporá -la ao impé rio
depois de quase sessenta anos como reino germâ nico. Embora tenha recebido uma recepçã o triunfal em
Constantinopla, a missã o do papa falhou. O imperador explicou que seus planos para a invasã o nã o poderiam ser
cancelados.
Enquanto em Constantinopla, no entanto, Agapitus I persuadiu o imperador a remover Antimus, o patriarca de
Constantinopla, com o fundamento de que ele era um mono isita (um herege que sustentava que em Jesus Cristo
existe apenas uma natureza divina, e nã o uma natureza humana també m). O papa consagrou o novo patriarca,
Mennas. Ele també m acedeu ao pedido do imperador de que con irmasse a ortodoxia da fó rmula teopasquita, que o
Papa Hormisdas (514-23) desaprovou, mas que o Papa Joã o II (533-35) aceitou. O papa morreu em Constantinopla
em 22 de abril de 536, e seu corpo foi levado de volta a Roma em um caixã o de chumbo e enterrado no pó rtico, ou
alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 20 de setembro (no oeste); 17 de abril (no Leste).

58 Silverius, St., d. 2 de dezembro de 537, papa de 1º ou 8 de junho de 536 a 11 de novembro de 537.


Filho do Papa Hormisdas (514–23), Silverius foi o primeiro (e ú nico) subdiá cono a ser eleito papa e um dos apenas
trê s (ou talvez cinco papas) a renunciar ao cargo: Pô ncio em 235, Celestino V em 1294, Gregó rio XII em 1415, e
provavelmente Joã o XVIII em 1009. (Durante o ponti icado canonicamente confuso de Bento IX, ele abdicou em favor
de seu padrinho em 1045, mas foi reintegrado em 1047.) A eleiçã o de Silverius, no entanto, ocorreu sob ameaça de
violê ncia contra o clero romano pelo ú ltimo rei ostrogodo da Itá lia, Theodahad, que queria um papa pró -gó tico
numa é poca em que o imperador oriental estava prestes a invadir seu reino.
A imperatriz mono isita Teodora, chateada com a deposiçã o do patriarca mono isita Antimo de Constantinopla
pelo papa anterior, exortou o Papa Silverius a renunciar em favor do diá cono romano Vigı́lio, o nú ncio papal em
Constantinopla, com quem ela havia feito um pacto para restaurar Antimo Constantinopla. Quando Silverius recusou,
ele foi convocado para a sede do general do imperador, Belisá rio, e acusado de conspirar com os godos, que estavam
entã o sitiando a cidade. O papa foi despojado de seu pá lio (a vestimenta de lã usada em volta do pescoço como um
sı́mbolo de sua autoridade pastoral), rebaixado à condiçã o de monge e deposto em 11 de março de 537. (Por
implicaçã o, até mesmo a lista o icial do Vaticano de papas no Anuário Ponti icio reconhecem a validade de seu
depoimento pelo imperador, porque começa o ponti icado de seu sucessor no mesmo mê s, embora Silverius nã o
tenha abdicado formalmente até novembro seguinte.) Ele foi deportado para Patara, uma cidade portuá ria na Lı́cia ,
cujo bispo local intercedeu diretamente em seu nome junto ao pró prio imperador Justiniano. O imperador ordenou
que o papa voltasse a Roma para enfrentar o julgamento. Se fosse declarado inocente, ele seria restaurado ao trono
papal.
A essa altura, entretanto, Vigilius já havia sido eleito o novo papa. Quando Silverius chegou a Roma, Vigilius
providenciou para que ele fosse levado para Palmaria, uma ilha no Golfo de Gaeta, onde ele renunciou ao papado
sob ameaça em 11 de novembro. Silverius morreu menos de um mê s depois, em 2 de dezembro, provavelmente de
abuso fı́sico e fome destinada a evitar um julgamento potencialmente embaraçoso. Ele foi enterrado na ilha e seu
tú mulo tornou-se uma atraçã o para aqueles que buscavam curas e milagres. A partir do sé culo XI, ele foi venerado
como má rtir, mas só no sé culo XIV foi venerado na pró pria Roma. Dia da festa: 20 de junho.

59 Vigilius, 29 de março de 537 - 7 de junho de 555 (a lista o icial do Vaticano também reconhece Vigilius como papa de
29 de março de 537, embora seu predecessor, Silverius, ainda não tivesse abdicado formalmente até 11 de novembro
do mesmo ano).
Vigilius foi claramente um dos papas mais corruptos da histó ria da Igreja. Como nú ncio papal em Constantinopla, ele
celebrou um pacto secreto com a imperatriz mono isita Teodora para devolver o patriarca mono isita Antimo à sé de
Constantinopla e repudiar o Concı́lio de Calcedô nia (451). (O Concı́lio de Calcedô nia condenou o mono isismo como
uma heresia porque negava que Jesus Cristo tivesse uma natureza humana e també m divina.) Em troca de sua
cooperaçã o, ela o cobriu de presentes e garantiu sua eleiçã o para o papado apó s a morte de Agapitus I (535–36).
(Vigilius já havia sido nomeado pelo Papa Bonifá cio II [530–32] como seu sucessor, mas a nomeaçã o foi anulada
como nã o canô nica.) Na é poca em que Vigilius retornou a Roma, Silverius já havia sido eleito sucessor de Agapitus.
Sob as ordens da imperatriz, o general imperial em Roma, Belisarius, providenciou para que Agapitus fosse deposto
e exilado e Vigilius “eleito” para sucedê -lo. Vigilius entã o bloqueou o julgamento justo que o imperador Justiniano
ordenou para Agapitus e sequestrou o papa e o levou para a ilha de Palmaria no Golfo de Gaeta, onde foi forçado a
abdicar e provavelmente morreu de fome para evitar o julgamento potencialmente embaraçoso. O clero romano
parece ter validado retroativamente a “eleiçã o” de Vigilius apó s a renú ncia de Silverius em novembro de 537.
Vigilius fez um jogo dú bio com o Oriente. Em particular, ele garantiu a Antimo e outros mono isitas que
concordava com eles, mas també m escreveu para assegurar ao imperador Justiniano que endossava totalmente os
ensinamentos de Calcedô nia e que apoiava a deposiçã o de Antimus e outros mono isitas pelo imperador. Quando
Justiniano publicou um é dito condenando os "Trê s Capı́tulos", isto é , os escritos de trê s teó logos (o mais famoso dos
quais foi Teodoro de Mopsué stia), cujo trabalho o Concı́lio de Calcedô nia nã o questionou, ele exigiu que o papa o
assinasse junto com os outros patriarcas. Quando Vigı́lio resistiu, o imperador mandou prendê -lo enquanto
celebrava a missa em 22 de novembro de 545 e mandou-o para a Sicı́lia. Depois de uma longa estada lá , o papa foi
levado a Constantinopla em janeiro de 547. Enquanto estava lá , ele e Mennas, o patriarca de Constantinopla,
excomungaram um ao outro. Mas em junho, Vigilius cedeu. Ele retomou a comunhã o com Mennas e prometeu ao
imperador e à imperatriz que condenaria os “Trê s Capı́tulos”. Quando ele fez isso, no entanto, seu Iudicatum
(“decisã o” ou “julgamento”) foi interpretado em todo o Ocidente como uma traiçã o à Calcedô nia.
Um sı́nodo de bispos africanos em Cartago excomungou o papa em 550. Até o sobrinho do papa, o diá cono
Rusticus, repudiou publicamente o Iudicatum no dia de Natal de 549 e foi posteriormente excomungado por seu tio
no inı́cio de 550. A crise tornou-se tã o grave que O papa e o imperador concordaram que um conselho seria
necessá rio para resolvê -lo. Vigilius foi autorizado a retirar seu é dito condenando os “Trê s Capı́tulos”, mas logo
depois disso o imperador emitiu um novo é dito de condenaçã o. O papa excomungou o conselheiro teoló gico do
imperador e refugiou-se com seu clero na bası́lica dos Santos. Peter e Paul. Depois de ser isicamente agredido pela
polı́cia imperial enquanto estava no altar e depois tratado como um prisioneiro, o papa fugiu pelo Bó sforo em
dezembro de 551 e se refugiou, ironicamente, na bası́lica de Santa Eufê mia em Calcedô nia, onde o concı́lio havia
ocorrido .
Apó s novas ameaças e con litos entre o papa e as forças imperiais, houve, em junho de 552, uma reconciliaçã o
iniciada pelo pró prio imperador Justiniano. O papa voltou a Constantinopla e os planos para o concı́lio avançaram
mais uma vez. Embora o papa quisesse que o concı́lio fosse realizado na Sicı́lia ou Itá lia (ou pelo menos precedido
por um sı́nodo lá ), o imperador decidiu que seria realizado em Constantinopla em 5 de maio de 553, no grande salã o
anexo à igreja de Santa So ia. O papa se recusou a comparecer por causa da pequena representaçã o de bispos
ocidentais. Em 14 de maio, ele emitiu sua Primeira Constituiçã o, assinada por dezesseis outros bispos, que
condenava os ensinamentos, mas nã o a pessoa, de apenas um dos trê s teó logos (Teodoro de Mopsué stia) incluı́dos
nos “Trê s Capı́tulos”. O imperador rejeitou e depois humilhou o papa, revelando a correspondê ncia secreta que ele e
o papa tinham sobre toda a questã o. Ele també m removeu o nome do papa da lista dos que deveriam ser rezados na
missa, deixando claro que ele estava apenas quebrando a comunhã o com Vigı́lio pessoalmente, mas nã o com a
pró pria Santa Sé .
O imperador fez o concı́lio condenar os “Trê s Capı́tulos” e entã o jogou o diá cono do papa na prisã o, deposto e
exilou bispos latinos que nã o cooperavam e colocou o pró prio papa em prisã o domiciliar. Depois de seis meses, o
papa doente e isolado cedeu e, em 8 de dezembro de 553, escreveu ao novo patriarca, revogando sua defesa
anterior dos “Trê s Capı́tulos” e admitindo que eles precisavam ser condenados. Mas o imperador ainda nã o estava
satisfeito. Em 23 de fevereiro de 554, Vigilius emitiu sua Segunda Constituiçã o, que endossava completamente a açã o
do conselho em condenar os “Trê s Capı́tulos”. (Os oponentes da infalibilidade papal no Concı́lio Vaticano I em 1869-
70 citaram o caso do Papa Vigı́lio em seus argumentos contra o dogma proposto, embora a infalibilidade nã o
estivesse em questã o em todo esse lamentá vel episó dio.) Vigı́lio foi libertado e autorizado a retornar a Roma, se ele
desejasse. Embora sua presença ali fosse exigida, o papa permaneceu em Constantinopla por mais um ano, onde
obteve de Justiniano, em troca de seu comportamento cooperativo, a chamada Sançã o Pragmá tica (13 de agosto de
554), garantindo à Igreja importantes direitos e privilé gios no Itá lia.
Quando Vigilius inalmente partiu para Roma na primavera, ele sofreu outro de muitos ataques de cá lculos biliares
e morreu em Siracusa, na Sicı́lia. Quando seu corpo foi levado de volta a Roma, nã o foi enterrado na Bası́lica de Sã o
Pedro por causa de sua impopularidade. Em vez disso, foi enterrado em San Marcello na Via Salaria.

60 Pelágio I, 16 de abril de 556 - 4 de março de 561.


Por causa das circunstâ ncias que cercaram sua eleiçã o para o papado, o ponti icado de Pelá gio I foi prejudicado
desde o inı́cio. Apó s a morte do Papa Vigilius, o diá cono Pelá gio, o nú ncio papal em Constantinopla, voltou a Roma
como a escolha pessoal do imperador Justiniano para ser o novo papa. O clero romano icou muito infeliz por ter de
aceitar Pelá gio sem sequer uma eleiçã o. Nã o surpreendentemente, ele encontrou uma recepçã o muito hostil quando
chegou a Roma. Muitos religiosos e nobres romperam a comunhã o com Pelá gio, e sua consagraçã o teve de ser
adiada por vá rios meses porque nenhum bispo concordou em o iciar. Mais tarde, apenas dois bispos o consagraram
na presença de um presbı́tero que representava o bispo de Ostia, que normalmente era um consagrador papal.
Circulavam rumores de que ele estava de alguma forma envolvido na morte do Papa Vigilius, e ele estava sendo
amplamente criticado no Ocidente por sua cambalhota nos "Trê s Capı́tulos" (ver Papa Vigilius, nú mero 59, acima),
tendo primeiro se oposto a condenaçã o dos trê s teó logos antimono isitas (Teodoro de Mopsué stia, Teodoreto de
Cyrrhus e Ibas de Edessa) e entã o, sob pressã o do imperador (que queria apaziguar os mono isitas do impé rio),
concordando com sua condenaçã o. Apó s sua ordenaçã o e consagraçã o, Pelá gio tomou a açã o sem precedentes de
a irmar solenemente sua lealdade aos primeiros quatro concı́lios gerais da Igreja (Nicé ia, Efeso, especialmente
Calcedô nia e Constantinopla) e jurou na cruz e no livro dos Evangelhos que ele nã o izera mal a Vigilius.
Como papa, Pelá gio agiu com determinaçã o para restaurar a lei e a ordem em Roma e na Itá lia em geral apó s as
guerras. Ele se dedicou especialmente ao alı́vio da pobreza e da fome e ao resgate de prisioneiros de guerra. Ele
reformou as inanças papais e reorganizou as propriedades papais na Itá lia, na Gá lia, na Dalmá cia e no norte da
Africa, desviando sua renda para os pobres. Ele també m se posicionou irmemente contra a simonia (a compra e
venda de benefı́cios espirituais e ofı́cios da igreja) e contra a corrupçã o clerical. Mas seus esforços nesta e em outras
frentes foram de pouco proveito para obter a aceitaçã o de sua autoridade papal fora da pró pria cidade de Roma. O
ressentimento e a hostilidade em relaçã o a ele estavam profundamente enraizados e amplamente dispersos. Por
causa da posiçã o que assumiu sobre os “Trê s Capı́tulos”, os bispos das grandes dioceses de Milã o e Aquilé ia, por
exemplo, recusaram a comunhã o com ele. Pela mesma razã o, ele continuou a ser descon iado e desprezado na Gá lia
(a França dos dias modernos). Já idoso ao ser consagrado como papa, Pelá gio morreu apó s cinco anos no cargo e foi
sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

61 João III, 17 de julho de 561 - 13 de julho de 574.


Pouco se sabe sobre o ponti icado de treze anos de Joã o III. Conhecido como pró -oriental, foi eleito com o apoio do
imperador Justiniano e de Narses, o exarca (vice-rei) imperial da Itá lia. Ele foi o segundo papa a mudar seu nome de
nascimento (Catelinus) apó s a eleiçã o para o papado. (O primeiro foi Joã o II [533-35], cujo nome de nascimento era
Mercú rio.) Sete anos apó s o reinado de Joã o III, os lombardos invadiram grandes á reas da Itá lia. Essa crise ajudou a
amenizar o cisma que existia entre Roma e as grandes igrejas do Ocidente durante o ponti icado de Pelá gio I. As
relaçõ es com o Norte da Africa já haviam melhorado apó s a morte de Justiniano em 565. O novo bispo de Milã o,
agora sua cidade nas mã os dos lombardos, decidiu que era politicamente prudente renovar a comunhã o com Roma
em 573, mas a diocese de Aquileia continuou a se conter.
Enquanto os lombardos se moviam para o sul, Joã o III correu para Ná poles para persuadir o impopular vice-rei
imperial, Narses, a retornar a Roma e assumir o controle da crise. Mas o povo romano nã o gostou, e a
impopularidade de Narses começou a contaminar o papa també m. Para evitar ser arrastado para o con lito entre
Romanos e Narses, Joã o retirou-se da cidade, ixando residê ncia e sede na igreja dos Santos. Tiburtius e Valerian,
duas milhas fora de Roma na Via Appia, até que Narses morreu. Mas logo depois disso o pró prio papa morreu e foi
sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

62 Bento I, 2 de junho de 575 - 30 de julho de 579.


Muito pouco se sabe sobre o ponti icado de Bento I. Devido ao colapso nas linhas de comunicaçã o entre Roma e
Constantinopla, ele teve que esperar onze meses antes de receber a con irmaçã o imperial de sua eleiçã o para o
papado. Durante seu reinado, os lombardos continuaram sua investida para o sul, inalmente sitiando Roma no
verã o de 579. Os apelos ao imperador por ajuda foram de pouca utilidade. As tropas que ele enviou eram muito
poucas. Conforme o cerco se intensi icou e a fome se espalhou, Bento XVI morreu. Ele foi sepultado na sacristia de
Sã o Pedro.

63 Pelágio II, agosto de 579 - 7 de fevereiro de 590 (a lista o icial do Vaticano dá o início de seu ponti icado como 26 de
novembro, data de sua con irmação imperial, mas teologicamente ele se tornou papa assim que foi ordenado bispo de
Roma, em agosto )
Eleito quando o cerco lombardo a Roma estava no auge, Pelá gio II, o segundo papa de origem germâ nica, foi
ordenado bispo de Roma imediatamente (provavelmente em agosto), sem esperar pela aprovaçã o formal do
imperador. O novo papa imediatamente enviou seu diá cono (o futuro Gregó rio, o Grande) a Constantinopla como
seu representante (apocrisarius) para explicar o afastamento do precedente e implorar por ajuda militar. Mas o
imperador nã o tinha as forças necessá rias para despachar. Os apelos aos Franks també m falharam. Em 585, poré m,
o exarca imperial (vice-rei) em Ravena conseguiu uma tré gua com os lombardos, que durou quatro anos. O papa
tentou aproveitar essa pausa nas hostilidades para consertar as cercas eclesiá sticas com as igrejas do norte da Itá lia,
mas esses esforços geralmente també m falharam, exceto no caso de Aquilé ia, com a qual a comunhã o foi restaurada.
Durante o ponti icado de Pelá gio II, os visigodos foram convertidos ao cristianismo na Espanha, e ainda outra
contrové rsia com Constantinopla eclodiu sobre o uso do patriarca do tı́tulo de “patriarca ecumê nico”, um costume
que data do sé culo anterior. Quando o patriarca Joã o IV assumiu o tı́tulo em um sı́nodo em 588, o papa se recusou a
endossar os atos do sı́nodo por causa de sua convicçã o de que o tı́tulo infringia a supremacia papal. Pelá gio ordenou
que Gregó rio, seu nú ncio, quebrasse a comunhã o com Joã o até que este repudiasse o tı́tulo.
Em Roma, o papa foi um construtor ativo. Ele reconstruiu a igreja de San Lorenzo fuori le Mura (Sã o Lourenço
Fora dos Muros), onde seu retrato aparece em um mosaico contemporâ neo no arco triunfal. Quando uma praga
eclodiu apó s uma enchente causada pelo transbordamento do rio Tibre, Pelá gio II foi uma das primeiras vı́timas. Ele
foi enterrado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro.

64 Gregório I, “o Grande”, St., ca. 540–604, papa de 3 de setembro de 590 a 12 de março de 604.
Apenas o segundo papa em toda a histó ria da igreja a ser chamado de “o Grande” (Leã o I [440–61] foi o primeiro),
Gregó rio I foi o primeiro papa a ter sido monge e foi um dos escritores mais in luentes do papado. Seu cuidado
pastoral , que de inia o ministé rio episcopal como pastor de almas, tornou-se o livro-texto para bispos medievais.
Embora apenas um diá cono jú nior na é poca da morte de Pelá gio II, ele foi eleito por unanimidade para o papado.
Mas Gregó rio escreveu imediatamente ao imperador pedindo-lhe que retirasse seu consentimento da eleiçã o, que
ele nã o havia buscado nem desejado. Nesse ı́nterim, Gregó rio se envolveu em intenso trabalho pastoral entre os
habitantes de Roma atingidos pela peste. Depois que o mandato imperial chegou, no entanto, ele aceitou a
consagraçã o como bispo de Roma sob protesto.
Suas primeiras cartas revelam sua infelicidade por ter sido forçado a deixar a vida contemplativa para assumir as
pesadas responsabilidades do papado. Na verdade, essas responsabilidades eram muito mais pesadas do que o
normal por causa do colapso geral da ordem civil na é poca. Gregó rio viu-se profundamente envolvido nas questõ es
temporais e polı́ticas, bem como nas questõ es espirituais e eclesiá sticas. (Ele havia sido prefeito da cidade antes de
vender todos os seus bens, dar os rendimentos aos pobres e converter sua casa em um mosteiro.) Ele
imediatamente organizou a distribuiçã o de alimentos aos famintos, e, a im de expandir o reservató rio de recursos,
ele reorganizou os territó rios papais na Itá lia, Sicı́lia, Dalmá cia, Gá lia e Norte da Africa. Ele admoestou cada reitor das
propriedades papais “a cuidar dos pobres” e “promover nã o tanto os interesses mundanos da Igreja, mas o alı́vio
dos necessitados em sua a liçã o”. Ele insistiu que nã o estava dispensando seus pró prios bens, mas bens que
pertenciam por direito aos pobres, dados originalmente por Sã o Pedro, que continuou a cuidar de seu rebanho
atravé s de Gregó rio.
Quando o exarca imperial (vice-rei) em Ravena se mostrou incapaz de fazer qualquer coisa a respeito da ameaça
lombarda, o papa assumiu a liderança e formou uma tré gua com o duque de Spoleto. Quando o exarca quebrou a
tré gua e os lombardos se moveram contra Roma, Gregó rio salvou a cidade subornando o rei lombardo e
prometendo tributos anuais. Como resultado de todos esses esforços, Gregó rio se tornou virtualmente o governante
civil e espiritual de Roma. Ele negociou tratados, pagou as tropas e nomeou generais e governadores. Ao mesmo
tempo, ele atendeu cuidadosamente à necessidade de reforma també m no governo da Igreja. Ele impô s um có digo
detalhado, por exemplo, para a eleiçã o e conduta dos bispos na Itá lia e impô s o celibato clerical. Ele també m garantiu
melhores relacionamentos com as igrejas da Espanha e da Gá lia (a França dos dias modernos). Quando ele
descobriu que os invasores anglo-saxõ es nã o haviam sido evangelizados pelo clero nativo da Grã -Bretanha, ele
despachou Agostinho (mais tarde de Canterbury), com quarenta outros monges, para a Inglaterra em 596 e mais
tarde conferiu o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral) em
Agostinho como arcebispo dos ingleses.
Suas relaçõ es com o Oriente foram complicadas pela presença do imperador, a quem ele, como papa, estava
sujeito. Gregó rio freqü entemente teve que submeter-se ao imperador, mesmo em questõ es de governo eclesiá stico.
Mas o papa continuou a insistir no primado papal e no papel da visã o romana como tribunal de apelaçõ es, mesmo
para o Oriente. O con lito com o uso do patriarca do tı́tulo de “patriarca ecumê nico” continuou durante o ponti icado
de Gregó rio. Gregó rio insistiu que nã o existe um patriarca universal na Igreja (incluindo o papa!) E que sua pró pria
reivindicaçã o primacial exigia humildade. Na verdade, ele se referia a si mesmo constantemente como o "servo dos
servos de Deus".
Dada a sua pró pria formaçã o moná stica, Gregó rio foi um promotor vigoroso do monaquismo e da liturgia,
particularmente da mú sica litú rgica. Na verdade, seu nome foi tã o intimamente identi icado com a cançã o da planı́cie
que veio a ser conhecido como canto gregoriano. Muitas das oraçõ es recitadas na Eucaristia sã o atribuı́das a
Gregó rio, por exemplo, o Prefá cio do Natal e os Prefá cios da Pá scoa e da Ascensã o. Ele també m é creditado com a
colocaçã o do "Pai Nosso" na missa. Seu apoio ao monaquismo e aos monges, no entanto, criou divisõ es dentro das
ileiras do clero romano que durariam muitos anos e afetariam vá rias eleiçõ es papais subsequentes , com os
eleitores divididos entre forças pró -gregorianas e anti-gregorianas, isto é , entre clero pró -moná stico e clero pró -
diocesano.
Seus escritos eram mais prá ticos do que teó ricos e mais derivados do que originais. Mas ele foi um sintetizador
tã o e icaz, especialmente da obra de Santo Agostinho de Hipona (falecido em 430), que acabou sendo incluı́do com
Ambró sio, Agostinho e Jerô nimo como Doutor da Igreja. Mesmo em sua pró pria vida, sua pastoral foi traduzida para
o grego e anglo-saxã o. Nela expô s uma visã o de pastoral adaptada à s necessidades do povo e enraizada no exemplo
pessoal e na pregaçã o, com um equilı́brio delicado entre os aspectos contemplativos e ativos de todo ministé rio. Em
quatro livros, ele tratou do tipo de pessoa e motivos necessá rios para o ministé rio pastoral, as virtudes exigidas em
um pastor, a maneira de pregar para muitos tipos diferentes de pessoas e a necessidade dos pastores examinarem
suas pró prias consciê ncias. Os Diálogos descrevem os milagres e feitos dos santos italianos, especialmente Sã o Bento
de Nú rsia (morto em cerca de 547). Uma de suas metas era incentivar as pessoas a suportar as provaçõ es da vida
terrena como preparaçã o para a vida eterna que viria. Suas Quarenta Homilias sobre os Evangelhos sã o exemplos de
sua pregaçã o popular, misturando histó rias com doutrina e textos bı́blicos, e as Homilias sobre Ezequiel sã o exemplos
de discurso mais erudito dirigido a clé rigos e monges. Sua Moralia , uma exposiçã o mı́stica e alegó rica do livro de Jó ,
foi um texto espiritual in luente sé culos depois. Santo Tomá s de Aquino (falecido em 1274), por exemplo, o cita 374
vezes na segunda parte da Summa Theologiae . A espiritualidade de Gregó rio foi marcada por um sentimento vı́vido
do im iminente do mundo, intensi icado talvez pelos problemas de saú de que o prejudicaram ao longo de seu
ponti icado. Ele estava tã o atormentado pela gota que, na hora de sua morte, nã o conseguia mais andar. Infelizmente,
Roma, sob mais um cerco, estava mais uma vez nas garras da fome. Em seu desespero, os romanos se voltaram
contra o papa que tanto havia feito por eles. Ele morreu em 12 de março de 604 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro com o epitá io "cô nsul de Deus". Dia da festa: 3 de setembro.

65 Sabinian, 13 de setembro de 604 - 22 de fevereiro de 606.


Sabiniano foi um dos papas mais impopulares da histó ria. Na verdade, seu cortejo fú nebre teve que fazer um desvio
fora dos muros da cidade para evitar as manifestaçõ es hostis. Como esse papa chegou a esse im? Tendo caı́do em
desgraça com Gregó rio, o Grande por seu desempenho insatisfató rio como nú ncio em Constantinopla (ele era
considerado muito conciliador com o imperador e o patriarca), Sabiniano foi eleito para o papado como uma reaçã o
a Gregó rio, que se tornou impopular com o Populaçã o romana na é poca de sua morte. (Ao contrá rio das suposiçõ es
historicamente desinformadas que ainda existem hoje, os eleitores papais muitas vezes escolhem um novo papa
decididamente diferente em estilo e até em polı́tica do papa anterior, mesmo quando esse papa era algué m tã o
distinto como Gregó rio, o Grande!)
Sabiniano reverteu a polı́tica de Gregó rio de favorecer os monges e, em vez disso, promoveu o clero diocesano ou
secular. Mas ele reverteu outra polı́tica gregoriana també m. Com a retomada das hostilidades com os lombardos e o
retorno da fome, Sabiniano manteve rı́gido controle sobre os suprimentos de alimentos e, ao contrá rio de Gregó rio,
os vendeu ao povo em vez de doá -los gratuitamente. Acusado de lucrar, ele era tã o desprezado na morte quanto na
vida. Assim, o cortejo fú nebre desviado. Ele foi enterrado em um local secreto no Latrã o.

66 Boniface III, 19 de fevereiro a 12 de novembro de 607.


Foi Bonifá cio III que, apó s um sı́nodo romano, proibiu, sob pena de excomunhã o, toda discussã o sobre um sucessor
de um papa ou de qualquer outro bispo durante a vida do papa ou do bispo e até trê s dias apó s sua morte. Sua açã o
pode ter sido motivada pelas rivalidades (entre facçõ es pró e anti-gregorianas) que precederam sua pró pria eleiçã o.
Na verdade, um ano inteiro se passou antes que a vaga criada pela morte de Sabiniano fosse preenchida. Um
segundo ponto interessante sobre o breve ponti icado de Bonifá cio III foi a declaraçã o do novo imperador Focas (na
verdade, uma repetiçã o de uma declaraçã o do imperador Justiniano) de que a sé de Sã o Pedro era a cabeça de todas
as igrejas, colocando assim um im temporá rio o patriarca de Constantinopla usa o tı́tulo de "patriarca ecumê nico".
Enquanto nú ncio papal em Constantinopla sob o papa Gregó rio, o Grande, Bonifá cio III forjou uma relaçã o
particularmente amigá vel com o novo imperador. A declaraçã o imperial sobre a Sé Romana foi um resultado ló gico
dessa relaçã o. Ele morreu em 12 de novembro de 607 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

67 Boniface IV, St., 25 de agosto de 608 - 8 de maio de 615.


Discı́pulo e imitador do Papa Gregó rio, o Grande (590-604), Bonifá cio IV converteu sua casa em Roma em um
mosteiro apó s sua eleiçã o para o papado e, como Gregó rio, favoreceu os monges e promoveu o monaquismo. A
vacâ ncia de dez meses no cargo papal foi causada por um atraso em receber a aprovaçã o imperial de Constantinopla
para sua consagraçã o como bispo de Roma. O novo papa realizou um sı́nodo (no qual o primeiro bispo de Londres
estava presente) em 610 para regulamentar a vida e a disciplina moná stica. O papa tinha boas relaçõ es com o
imperador Focas e seu sucessor, Herá clio (o primeiro permitiu que ele transformasse o Panteã o Romano em uma
igreja dedicada à Santı́ssima Virgem Maria e todos os má rtires), mas seu ponti icado era constantemente perturbado
pela fome, pragas e desastres naturais. Como Gregory, ele era especialmente dedicado aos pobres. Ele foi enterrado
na Bası́lica de Sã o Pedro; seu culto aparentemente nã o começou até a Idade Mé dia, durante o ponti icado de
Bonifá cio VIII (1295-1303). Dia da festa: 25 de maio.

68 Deusdedit [Adeodatus I], St., 19 de outubro de 615 - 8 de novembro de 618.


Deusdedit (posteriormente Adeodato I) foi o primeiro sacerdote a ser eleito papa desde Joã o II em 533. Todos os
papas intervenientes eram diá conos quando eleitos (exceto Silverius em 536, que foi o primeiro subdiá cono eleito
para o papado). Já idoso quando eleito, Deusdedit foi a escolha da facçã o clerical oposta à s polı́ticas pró -moná sticas
de Gregó rio o Grande e Bonifá cio IV. Como padre diocesano, ele promoveu o clero diocesano aos religiosos para
cargos. Ele ordenou quatorze padres - os primeiros a serem ordenados desde a morte de Gregó rio, o Grande, em
604. Quase nada se sabe sobre seu ponti icado, exceto que Roma foi atingida por um terremoto e outra praga. Seu
epitá io descreve Deusdedit como simples, devoto, sá bio e astuto. Em seu leito de morte, ele deu o primeiro legado
registrado por um papa a seu clero, o equivalente a um ano de salá rio para cada um. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.
Dia da festa: 8 de novembro.

69 Boniface V, 23 de dezembro de 619 - 25 de outubro de 625.


Como seu antecessor, Deusdedit, Bonifá cio V foi eleito pela facçã o clerical que se opõ e à s polı́ticas pró -moná sticas de
Gregó rio o Grande e Bonifá cio IV. E como Deusdedit, ele teve que esperar quase um ano pela con irmaçã o imperial
de sua eleiçã o e aprovaçã o de sua consagraçã o como bispo de Roma. Ele promoveu polı́ticas favorá veis ao clero
diocesano, decretando, por exemplo, que somente padres poderiam transferir as relı́quias dos má rtires, e ele teve
um interesse especial pela igreja inglesa, conferindo o pá lio (uma veste de lã usada ao redor do pescoço de um
arcebispo como um sı́mbolo de autoridade pastoral) em Justus quando ele se tornou arcebispo de Canterbury em
624. Ele escreveu diretamente ao rei Edwin da Nortú mbria, instando-o a estudar a fé cató lica, e à rainha Ethelburga,
que já era cristã , para incentivá -la a obter a conversã o de Edwin e seus sú ditos. (Edwin foi batizado algum tempo
depois da morte de Bonifá cio V.) O papa també m estabeleceu o princı́pio de asilo nas igrejas.
Bonifá cio V era conhecido por sua compaixã o e generosidade, tendo distribuı́do toda sua fortuna pessoal aos
pobres. E, como seu antecessor, ele deixou generosos legados a seu clero. Enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro, ele é
descrito em seu epitá io como "generoso, sá bio, puro, sincero e justo". Só nos perguntamos por que ele acabou nã o
sendo reconhecido como santo, já que o tı́tulo havia sido conferido a muitos papas menos merecedores no passado.

70 Honório I, 27 de outubro de 625 - 12 de outubro de 638.


Honó rio é um dos poucos papas na histó ria a ter sido condenado por um concı́lio ecumê nico (o Terceiro Concı́lio de
Constantinopla em 680-81) por desvio doutriná rio. Uma fonte indica que Honó rio, eleito em 27 de outubro de 625,
apenas dois dias apó s a morte de Bonifá cio V, nã o esperou a aprovaçã o imperial de sua consagraçã o, que foi
ordenado bispo de Roma em 3 de novembro. Se fosse esse o caso, o o inı́cio de seu ponti icado seria em 3 de
novembro, em vez de 27 de outubro. Mas o Annuario Ponti icio , que conté m a lista o icial de papas do Vaticano,
indica o inı́cio de seu ponti icado em 27 de outubro. O Anuário obviamente aceita o julgamento de outras fontes que
Honó rio realmente tinha recebeu a con irmaçã o imperial de sua eleiçã o do exarca Isaac, que estava em Roma na
é poca, e a consagraçã o imediata como Bispo de Roma. O assunto nã o é pequeno. Teologicamente, uma pessoa nã o se
torna papa até que seja bispo de Roma. Canonicamente, houve perı́o dos na histó ria da Igreja em que a eleiçã o, nã o a
consagraçã o, era su iciente para a validade. O presente direito canô nico da Igreja (câ n. 332.1) está em conformidade
com sua teologia, a saber, que uma pessoa que é eleita papa sem ser bispo nã o é papa até que seja ordenado bispo. E
preciso ter em mente que a esmagadora maioria dos papas do primeiro milê nio eram padres (presbı́teros) ou
diá conos (em um caso, um subdiá cono) quando eleitos. A primeira pessoa eleita papa que já era bispo foi Marinus I
(882-84), que era bispo de Caere (hoje Cerveteri) na é poca. Durante quase todo o primeiro milê nio cristã o, os
bispos foram proibidos pelo câ non 15 do Concı́lio de Nicé ia (325) de se mudarem de uma diocese para outra.
Em 634 Honó rio recebi uma carta de Sé rgio I, o patriarca de Constantinopla, propondo que a segunda Pessoa da
Trindade, a Palavra de Deus, era o sujeito de toda “operaçã o”, humana e divina, no Deus-homem, Jesus Cristo. Sé rgio
apontou que a fó rmula “duas naturezas distintas, mas uma operaçã o” foi considerada ú til no Oriente para conquistar
os mono isitas (hereges que sustentavam que em Cristo nã o havia natureza humana, apenas uma natureza divina).
Sophronius, o novo bispo de Jerusalé m, e outros rotularam a fó rmula como Mono isismo disfarçado. Mesmo assim,
Honó rio nã o apenas aceitou a fó rmula, mas a deu um passo adiante. Visto que a Palavra de Deus agia por meio de
ambas as naturezas (humana e divina), ele tinha apenas uma vontade. Em uma segunda carta, o papa rejeitou a
fó rmula “duas vontades”, embora tenha defendido fortemente o ensino do Concı́lio de Calcedô nia (451) de que em
Cristo há duas naturezas, uma humana e uma divina. A posiçã o de Honó rio e Sé rgio icou conhecida como a heresia
do monotelismo e foi condenada pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla (681), que leu em voz alta e condenou
suas duas cartas a Sé rgio por ter "con irmado seus dogmas perversos [de Sé rgio]".
Como a fó rmula de Honó rio da "vontade ú nica" foi incorporada ao decreto do imperador Herá clio sobre o
assunto, chamado Ectese (638), que passou a ser considerada a expressã o clá ssica do monotelismo, o conselho
censurou o Papa Honó rio (junto com outros) pelo nome : “Mas, uma vez que, desde o inı́cio, o criador do mal nã o
descansou, encontrando um cú mplice na serpente e atravé s dela trazendo sobre a natureza humana o dardo
envenenado da morte, entã o també m agora ele encontrou instrumentos adequados para seu pró prio propó sito - a
saber . . . Honorius, que foi papa da Roma Antiga. . . - e nã o tem sido ocioso em levantar atravé s deles obstá culos de
erro contra todo o corpo da igreja, semeando com novas palavras entre o povo ortodoxo a heresia de uma ú nica
vontade e um ú nico princı́pio de açã o nas duas naturezas de um membro da a Santa Trindade. . . . ” A condenaçã o, ou
aná tema, foi explicitamente rati icada pelo Papa Leã o II em 683, quando ele aprovou os atos do conselho em uma
carta ao imperador Constantino IV. Honó rio foi assim juntado ao Papa Vigı́lio (537-55), que tinha sido excomungado
por um sı́nodo de bispos africanos em 550 e colocado sob uma nuvem doutriná ria pelo Segundo Concı́lio de
Constantinopla em 553 por sua vacilaçã o sobre um assunto semelhante da doutrina cristoló gica ( ver Vigilius,
nú mero 59, acima).
O registro de ambos os papas (Honó rio e Vigı́lio) foi citado por oponentes da infalibilidade papal no Concı́lio
Vaticano I (1869-1870). A condenaçã o de Honó rio foi especi icamente discutida nas negociaçõ es no sé culo XV sobre
a possı́vel reuniã o entre as igrejas Cató lica e Ortodoxa, e novamente nos sé culos XVII e XVIII durante as
contrové rsias sobre o galicanismo (um movimento baseado na França para a irmar maior autonomia local para a
igreja em França contra Roma). Os argumentos posteriormente empregados em defesa do papa foram que ele era
culpado apenas de expressã o imprudente, nã o de heresia, e que ele nã o estava ensinando de maneira solene ou
de initiva para a Igreja universal.
Fora isso, Honorius foi um papa razoavelmente bem-sucedido. Ele acabou com um cisma local na Itá lia. Como
Gregó rio, o Grande (590-604), ele transformou a residê ncia papal em um mosteiro, apoiou ativamente a jovem igreja
na Grã -Bretanha, conferindo o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço de um arcebispo como um
sı́mbolo de autoridade pastoral) no arcebispos de Canterbury e York e enviando parabé ns ao rei Eduı́no da
Nortú mbria por ocasiã o de seu batismo, reformou a educaçã o do clero e assumiu responsabilidades temporais que
as autoridades civis nã o podiam mais administrar. Ele restaurou os aquedutos romanos, manteve o suprimento de
milho e atuou como tesoureiro para as tropas imperiais. Ele foi um administrador tã o e iciente das propriedades
papais que nunca faltou dinheiro para a construçã o, manutençã o e melhoria das igrejas de Roma, incluindo a
restauraçã o completa da Bası́lica de Sã o Pedro, onde foi enterrado com o epitá io “lı́der de as pessoas comuns. ”

71 Severinus, 28 de maio a 2 de agosto de 640.


Já idoso na é poca de sua eleiçã o, Severino teve que esperar quase vinte meses antes de receber a aprovaçã o
imperial para sua consagraçã o, porque se recusou a aceitar a ectese do imperador (638), a expressã o clá ssica do
monotelismo (uma heresia que a irmava que em Cristo há apenas um, nã o dois). Nesse ı́nterim, o papa eleito foi
sujeito a um tratamento brutal. As tropas imperiais cercaram a residê ncia papal no Palá cio de Latrã o por trê s dias,
exigindo pagamento. O tesouro papal foi posteriormente saqueado e o conteú do dividido entre os soldados e
funcioná rios civis. Severinus morreu dois meses apó s sua consagraçã o, antes de ter que se posicionar
de initivamente sobre a ectese .
Eleito pela facçã o clerical anti-gregoriana e pró -diocesana, Severino aumentou o salá rio de seu clero diocesano e
concedeu-lhes um ano de salá rio completo apó s sua morte. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

72 João IV, Dálmata, 24 de dezembro de 640 - 12 de outubro de 642.


Embora fosse ilho do conselheiro legal do exarca imperial em Ravena, Joã o IV se recusou a endossar a linha
imperial sobre o monotelismo (a heresia que a irmava que em Cristo há apenas uma vontade divina, e nã o uma
vontade humana també m). Em janeiro de 641, ele realizou um sı́nodo em Roma para condenar o monotelismo como
heré tico. Quando o novo patriarca de Constantinopla, Pirro I, recorreu ao aval do Imperador Herá clio do Papa
Honó rio Ecthesis (a expressã o clá ssica de Monotelismo, que o pró prio imperador mais tarde repudiou antes de sua
morte), John IV escreveu para o novo imperador, Constantino III, para expressar sua repulsa pela tentativa do
patriarca de vincular seu predecessor a visõ es heré ticas e exigir que as có pias da Ectese fossem retiradas de seus
postos pú blicos em Constantinopla.
Preocupado com a situaçã o de sua terra natal, ele enviou um abade para a Dalmá cia (atual Croá cia) com somas
substanciais de dinheiro para resgatar cativos levados como escravos pelos invasores á varos e eslavos e mais tarde
doou uma capela ao lado do batisté rio de Latrã o para as relı́quias de má rtires dá lmatas que o abade trouxe de volta
a Roma.
Há um desenvolvimento interessante relacionado com sua eleiçã o para o papado. Enquanto esperava a
con irmaçã o o icial do imperador (neste caso, um perı́o do de cinco meses), a igreja romana enviou uma carta o icial
a certos bispos e abades irlandeses censurando seu costume de observar a Pá scoa no dia da Pá scoa judaica, em vez
de no domingo seguinte e també m advertindo-os contra o pelagianismo (uma heresia que a irmava que algué m pode
ser salvo apenas pelo esforço humano, sem a ajuda da graça). O que é surpreendente sobre este documento é que o
papa eleito foi o segundo signatá rio, nã o o primeiro, e que o primeiro signatá rio, o arcipreste Hilarus, e o secretá rio-
chefe (també m chamado de Joã o) se descreveram como “vice-regentes da Sé Apostó lica. ” Por um longo perı́o do da
histó ria da igreja, a eleiçã o para o papado foi su iciente para a validade. Se fosse esse o caso neste perı́o do de tempo,
Joã o IV já teria sido papa e teria funcionado como tal. Mas aparentemente nã o foi: visto que o papa é bispo de Roma,
Joã o nã o poderia ser papa a menos e até que fosse ordenado bispo. Este é mais uma vez o requisito canô nico
presente: eleiçã o e ordenaçã o como bispo, se o eleito ainda nã o for bispo (câ n. 332.1).
Joã o IV morreu em 12 de outubro de 642 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

73 Theodore I, grego, 24 de novembro de 642 - 14 de maio de 649.


Teodoro I era um inimigo implacá vel do monotelitismo (a heresia que sustentava que em Cristo há apenas uma
vontade divina, nã o duas: divina e humana). Grego, nascido em Jerusalé m e ilho de um bispo, Teodoro
provavelmente veio a Roma como refugiado das invasõ es á rabes da Cidade Santa. A escolha de um oriental com
laços estreitos com oponentes do monotelitismo indicou o desejo dos eleitores de resistir à pressã o imperial em
apoio a essa heresia. Um dos primeiros atos do novo papa foi escrever ao menino-imperador Constante II para
perguntar por que a Ectese (o decreto imperial em apoio ao monotelismo) ainda estava em vigor, apesar de seu
repú dio pelo Papa Joã o IV e até mesmo por seu autor, o imperador Herá clio, antes de sua morte em 11 de fevereiro
de 641. O papa també m escreveu a Paulo II, o novo patriarca de Constantinopla, exigindo que ele repudiasse a Ectese
e a removesse dos lugares pú blicos da cidade. Quando o patriarca exilado Pirro I renunciou à Ectese depois de ser
derrotado em um debate pú blico com Má ximo, o Confessor em Cartago, ele foi a Roma, fez uma pro issã o pú blica de
fé em Sã o Pedro e foi recebido pelo papa com grandes honras e foi reconhecido novamente como o bispo legı́timo
de Constantinopla. O papa excomungou e depô s o patriarca em exercı́cio, Paulo II, que se manifestou em apoio à
Ectese . Mas, quando Pirro I nã o conseguiu recuperar seu trono patriarcal, ele foi a Ravena, renunciou à retrataçã o e
fez as pazes com a corte imperial. O Papa Teodoro entã o convocou um sı́nodo e excomungou Pirro. Diz-se que ele
assinou o decreto sobre o tú mulo de Sã o Pedro em vinho eucarı́stico consagrado.
Em 648, o jovem imperador Constante II chegou à conclusã o de que a Ectese falhou em reconciliar os Mono isitas
(hereges que sustentavam que em Cristo há apenas uma natureza divina, e nã o uma natureza humana també m) no
Oriente e era tã o impopular no Ocidente, que ameaçava a estabilidade polı́tica. Portanto, ele promulgou um decreto
conhecido como Typos ("Regra"), que revogou a Êtese , proibiu qualquer discussã o posterior sobre o nú mero de
testamentos em Cristo e ordenou que o ensino o icial da igreja fosse limitado ao que havia sido de inido pelo
primeiro cinco concı́lios ecumê nicos (excluindo assim o Terceiro Concı́lio de Constantinopla, que havia condenado o
monotelismo como heré tico). Quando o nú ncio papal em Constantinopla se recusou a assiná -lo, ele foi preso e
exilado. A capela latina do Palá cio da Placı́dia, residê ncia o icial dos nú ncios papais, foi fechada e seu altar demolido.
O Papa Teodoro morreu em 14 de maio de 649, antes de emitir uma resposta o icial aos erros tipográ icos , que
certamente teria sido fortemente negativa. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.
Texto original
74 Martin I, St., d. 16 de setembro de 655, papa de 5 de julho de 649 a 10 de agosto de 654 (a lista o
It is said that if Leo the Great laid the juridical foundations of papal icial do Vaticano dá
como o im de seu ponti icado em 16 de setembro de 655, o dia de sua morte no exílio, em vez de 10 de agosto de 654, o
authority, it was Gelasius who applied those principles to Church
dia um sucessor, Eugênio I, foi eleito).
and state alike in a series of letters that read more like legal briefs
than pastoral pronouncements.
Martin I foi o ú ltimo papa a ser reconhecido como um má rtir. Ele també m foi o primeiro papa em dé cadas a ser
consagrado sem esperar
Sugerir pela aprovaçã
uma tradução melhor o imperial, um ato que enfureceu o imperador, Constante II, que se recusou a
reconhecê -lo como um papa legı́timo. Um oponente forte e decidido do monotelitismo (a heresia que sustentava que
em Cristo há apenas uma vontade divina, nã o duas: humana e divina), Martin I pagou um alto preço pessoal por sua
defesa da ortodoxia cató lica.
Trê s meses apó s sua eleiçã o, o novo papa realizou um sı́nodo, com a presença de 105 bispos ocidentais e vá rios
clé rigos gregos exilados, que a irmou a doutrina dos dois testamentos em Cristo e condenou tanto o monotelismo
quanto os erros tipográ icos do imperador (o decreto proibindo futuras discussõ es do nú mero de vontades em
Cristo). Martin entã o excomungou o Bispo Paulo de Tessalô nica por se recusar a subscrever as decisõ es do Sı́nodo e
nomeou um vigá rio apostó lico ortodoxo para a Palestina, o centro intelectual do Monotelitismo. Ele també m enviou
uma có pia das decisõ es sinodais ao imperador, convidando-o a repudiar a heresia, enquanto diplomaticamente
atribuı́a a culpa pela heresia a certos patriarcas, e nã o ao pró prio imperador. O imperador, por sua vez, enviou
Olı́mpio como exarca para a Itá lia com ordens de prender o papa e trazê -lo a Constantinopla (outros dizem que foi
para assassinar o papa). Mas Olympius logo descobriu que tal movimento era impossı́vel por causa do amplo apoio
ao papa (uma versã o piedosa é que Olympius icou cego e se converteu). Ele posteriormente se juntou ao papa
contra o imperador.
No verã o de 653, um novo exarca, Teodoro Calliopas, prendeu o papa, acamado por causa da gota, na Bası́lica de
Latrã o, onde ele havia se refugiado. O exarca entregou ao clero um decreto imperial declarando que Martin nã o era
o papa legal e, portanto, foi deposto. O exarca contrabandeou o papa doente para fora de Roma e o forçou a um
navio para Constantinopla em 17 de junho de 653. O navio chegou em setembro de 653 e, apó s trê s meses de
con inamento solitá rio, o papa foi julgado por traiçã o, supostamente por ter apoiado Olı́mpio em suas tentativas de
ganhar o trono. Durante o julgamento, Martin foi tratado nã o como um papa, mas como um diá cono rebelde e ex-
nú ncio papal. Ele foi despojado publicamente de suas vestes episcopais, sua tú nica foi rasgada de cima a baixo e ele
foi acorrentado. Ele foi considerado culpado, condenado à morte e açoitado publicamente. No entanto, o patriarca
moribundo de Constantinopla, Paulo II, implorou pela vida de Martin e a sentença foi comutada para o exı́lio. Depois
de mais trê s meses na prisã o em condiçõ es terrı́veis, o papa foi levado de navio para Chersonesus, na Crimeia, onde
morreu em 16 de setembro de 655, devido aos efeitos da fome e das condiçõ es e tratamentos adversos. Ele foi
enterrado lá em uma igreja dedicada à Santı́ssima Virgem Maria.
A situaçã o de Martin no exı́lio foi exacerbada pela falta de apoio que ele recebeu da igreja em Roma. Nã o só nã o
veio em seu auxı́lio, mas até elegeu um sucessor enquanto ele ainda estava vivo. Foi seu sucessor, Eugê nio I, um papa
legı́timo? A Igreja pode ter dois papas ao mesmo tempo? Esses sã o os tipos de perguntas que desa iam muitas das
crenças populares errô neas sobre o papado, mesmo hoje.
A data inal de seu ponti icado dada acima, portanto, é uma dú vida. Alguns (até mesmo JND Kelly) colocam-no no
dia em que foi deportado para Constantinopla e, portanto, nã o estava mais em posiçã o de liderar a igreja romana.
Outros colocam no dia em que um sucessor foi eleito. Outros colocam no dia de sua morte no exı́lio. Seu sucessor,
Eugê nio I, aceitou a eleiçã o enquanto Martinho I ainda estava vivo, mas somente depois que o clero romano esperou
mais de um ano, o tempo todo resistindo à pressã o do imperador Constante II para substituir Martinho. Eugenius e o
outro clero romano provavelmente concluı́ram que Martin nunca voltaria a Roma e que se esperassem mais, o
imperador imporia um papa monotelita à Igreja. Pode ter sido uma questã o de escolher o menor dos dois males. No
entanto, cerca de um mê s antes de Eugê nio ser eleito, Martin enviou uma carta a um amigo em Constantinopla na
qual mencionou trê s o iciais eclesiá sticos que atuavam como seus representantes no governo da Igreja Romana. E
pouco antes de sua morte em 16 de setembro de 655, ele enviou outra carta a seu amigo, mencionando que ele orou
especialmente “por aquele que agora governa a Igreja”. Isso foi uma aquiescê ncia tá cita ou aprovaçã o da eleiçã o de
Eugenius? Nó s nã o sabemos. Conseqü entemente, embora o Annuario Ponti icio o icial comece o ponti icado de
Eugenius em 654, ele nã o pode ser considerado incontestavelmente papa até depois da morte de Martin, um ano
depois. (Idealmente, Martinho deveria ter renunciado a im de remover toda ambigü idade sobre a eleiçã o de Eugê nio
durante sua prisã o no exı́lio.) Pode-se perguntar, entretanto, por que o Annuario Ponti icio lista o im do ponti icado
de Martinho como 16 de setembro de 655, e o inı́cio de Eugê nio I em 10 de agosto de 654. O Vaticano deseja a irmar
que a Igreja Cató lica em uma é poca teve dois papas legitimamente eleitos e consagrados servindo simultaneamente?
Essa seria uma a irmaçã o extraordiná ria, de fato. Mas é exatamente isso que implica a lista o icial de papas do
Vaticano.
Embora o Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680-81) nã o pudesse reabilitar Martinho I cerca de vinte e cinco
anos depois porque estava sob o controle do ilho de Constante II, Constantino IV, nã o demorou muito depois desse
conselho que a Igreja Romana veio para venerar Martin Eu como um má rtir, e ele é realmente mencionado pelo
nome na missa no Missal de Bobbio (uma coleçã o de textos litú rgicos do sé culo VIII). Dia da festa: 13 de abril
(anteriormente 12 de novembro).

75 Eugenius [Eugene] I, St., 10 de agosto de 654 - 2 de junho de 657.


Eugenius I é mais conhecido pelas circunstâ ncias duvidosas em que foi eleito para o papado. Seu antecessor, Martin
I, ainda estava vivo no exı́lio. Eugenius foi eleito e consagrado em 10 de agosto de 654, mas Martin I nã o morreu até
16 de setembro do ano seguinte. Nã o há nenhuma evidê ncia de que Martin renunciou ao papado, embora soubesse
que algué m havia sido eleito para sucedê -lo e, em uma carta a um amigo em Constantinopla, reconheceu que estava
orando por aquele colocado na igreja romana. A lista o icial de papas do Vaticano, apresentada no Annuario
Ponti icio , indica o im do ponti icado de Martinho I em 16 de setembro de 655 e o inı́cio do de Eugê nio I em 10 de
agosto de 654. De acordo com o Anuário , portanto, houve dois papas legı́timos ocupando a cadeira de Pedro
simultaneamente! Parece teologicamente apropriado caracterizar o longo exı́lio de Martinho I como equivalente a
uma renú ncia (bem como um indivı́duo que é declarado legalmente morto apó s um certo perı́o do de tempo) e a
eleiçã o de Eugê nio I, portanto, como pastoralmente prudente e canonicamente vá lida, embora Martin ainda estava
vivo em um exı́lio distante.
Na verdade, parecia claro para o clero romano que Martin I nunca voltaria do exı́lio e que se esperassem mais (já
haviam parado por um ano, apesar da pressã o do imperador para eleger um sucessor), o imperador pode impor um
papa monotelita (isto é , algué m que concordou com a visã o heré tica de que em Cristo há apenas uma vontade divina,
nã o duas: humana e divina). Um padre (presbı́tero) idoso e moderado na é poca de sua eleiçã o, o novo papa
imediatamente enviou emissá rios a Constantinopla para restaurar as relaçõ es amigá veis entre Roma e o imperador.
O imperador insistiu que eles reconhecessem Pedro, o novo patriarca de Constantinopla, que lhes propô s uma
fó rmula de compromisso a irmando que, embora cada uma das duas naturezas de Cristo tivesse sua pró pria
vontade, a Pessoa divina possuı́a apenas uma vontade. Embora isso parecesse sugerir que Cristo realmente tinha
trê s vontades (uma para cada natureza e uma para a Pessoa divina), os representantes papais aceitaram a fó rmula e
entraram em comunhã o com o novo patriarca. O patriarca deu-lhes sua pro issã o de fé para serem devolvidos ao
papa. Quando foi lido na bası́lica de Santa Maria Maior, entretanto, o clero e os leigos icaram tã o indignados que
impediram o papa de continuar com a missa até que ele prometeu rejeitar a fó rmula. Eugenius I cedeu e um cisma
foi reiniciado entre Roma e Constantinopla. O imperador ameaçou fazer com Eugê nio o que já havia feito com Martin
I, mas na é poca ele estava distraı́do com a guerra em outra frente. Antes que qualquer açã o pudesse ser tomada
contra o papa, Eugenius I estava morto (2 de junho de 657). Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro, mas seu
nome nã o foi incluı́do nos martiroló gios até ser inserido no Martiroló gio Romano pelo historiador da igreja Cé sar
Baronius (falecido em 1607). Dia da festa: 2 de junho.

76 Vitalian, St., 30 de julho de 657 - 27 de janeiro de 672.


Ao contrá rio de alguns de seus predecessores imediatos, o papa Vitalian adotou uma atitude conciliató ria para com a
Constantinopla imperial e eclesiá stica sobre a questã o do monotelismo (a heresia que postulava apenas uma
vontade, nã o duas, em Jesus Cristo). Em troca, o imperador Constante II enviou ao papa presentes elaborados e
con irmou o icialmente vá rios privilé gios para a igreja romana, enquanto o patriarca Pedro incluiu o nome do papa
entre os que deveriam ser orados na missa, o primeiro papa a ser incluı́do desde Honó rio I ( 625–38). Quando o
imperador fez uma visita o icial a Roma em 663, o papa e o clero romano o saudaram com pompa e circunstâ ncia,
ignorando o tratamento brutal que ele in ligiu ao Papa Martin I (649-54) e a publicaçã o dos Typos (um decreto que
proibiu uma discussã o mais aprofundada das vontades de Jesus Cristo e que foi formalmente condenado como
blasfemo pelo Sı́nodo de Latrã o de 649). No entanto, o imperador nã o fez tudo ao gosto do papa. Por exemplo,
contra as objeçõ es do papa, ele transformou Ravenna em uma sé independente que tinha o direito de eleger seu
pró prio bispo, sujeito apenas à con irmaçã o imperial.
Quando o imperador foi assassinado em 668, o papa Vitaliano deu seu forte apoio ao ilho do imperador,
Constantino IV, contra a escolha preferencial de um sucessor pelo exé rcito. Em agradecimento, o novo imperador
nã o cumpriu o decreto de seu pai (os Typos ), deixando o papa livre para ensinar a doutrina ortodoxa de que em
Cristo existem duas vontades (divina e humana), nã o uma (divina). O imperador até se recusou a aceitar os
documentos o iciais do novo patriarca, Joã o IV, por considerá -los pouco ortodoxos. Quando o pró ximo patriarca,
Teodoro, tentou em retaliaçã o apagar o nome do papa da lista daqueles que deveriam ser orados na missa,
Constantino IV resistiu ao movimento.
O papa Vitalian tinha uma profunda preocupaçã o com a igreja na Grã -Bretanha e apoiou os esforços do rei da
Nortú mbria, apó s o Sı́nodo de Whitby (664), para estabelecer na Inglaterra a data da Pá scoa romana, em oposiçã o à
celta (isto é , o domingo apó s a Pá scoa judaica, ao invé s do pró prio dia da Pá scoa) e outras prá ticas romanas també m.
O papa consagrou Teodoro de Tarso, um monge grego que vivia em Roma, como o novo arcebispo de Cantuá ria em
668, mas cuidou para que o novo arcebispo nã o impusesse idé ias ou costumes gregos em sua sé . Em Roma, Vitalian
apoiou a escola de mú sica de Latrã o, a im de treinar cantores para os ritos de estilo bizantino mais elaborados. Os
cantores eram chamados de “Vitaliani”. Vitalian morreu em 27 de janeiro de 672 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. Dia da festa: 27 de janeiro.

77 Adeodatus II, 11 de abril de 672 - 17 de junho de 676.


Muito pouco se sabe sobre o ponti icado de Adeodato II. Um monge idoso quando eleito, ele rejeitou as cartas
sinó dicas e a pro issã o de fé enviadas a ele por Constantino I, o novo patriarca de Constantinopla, que como vá rios
de seus predecessores era um monotelita (um herege que sustentava que em Jesus Cristo há apenas um vontade
divina, e nã o uma vontade humana també m). O papa tinha uma reputaçã o de bondade e generosidade para com os
pobres, os peregrinos e seu clero. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

78 Donus, 2 de novembro de 676 a 11 de abril de 678.


Como muitos outros ponti icados anteriores, incluindo o de seu antecessor imediato, o ponti icado de Donus foi
geralmente envolto na obscuridade. Já idoso quando eleito em agosto (ele teve que esperar cerca de trê s meses para
a aprovaçã o imperial de sua consagraçã o), ele chegou a um entendimento com o arcebispo de Ravenna segundo o
qual este ú ltimo abandonou sua reivindicaçã o de ser completamente independente de Roma em termos de governo
e a nomeaçã o de bispos, privilé gio concedido pelo imperador em 666 (ver Vitalian, nú mero 76, acima). Donus
també m descobriu que os monges sı́rios que ocupavam um conhecido mosteiro romano eram na verdade
nestorianos (hereges que a irmavam que em Jesus Cristo havia duas pessoas, uma divina e uma humana, em vez de
uma pessoa divina). Ele substituiu os monges por monges ortodoxos e dispersou os nestorianos em vá rios outros
mosteiros. Diz-se que Donus foi um construtor e restaurador ativo de igrejas e que instalou um pavimento de
má rmore no á trio de Sã o Pedro. Ele morreu em 11 de abril de 678 e foi sepultado quatro dias depois na Bası́lica de
Sã o Pedro.

79 Agatho, St., 27 de junho de 678 - 10 de janeiro de 681.


O ponti icado de Agatho foi marcado pelo im do apoio imperial ao monotelitismo (a heresia que sustentava que em
Jesus Cristo há apenas uma vontade divina em vez de duas vontades, uma divina e uma humana) e pela restauraçã o
das relaçõ es amigá veis entre Roma e Constantinopla. Foi logo apó s sua eleiçã o (data desconhecida) e consagraçã o
que Agatho recebeu uma carta do imperador Constantino IV (uma carta originalmente endereçada ao predecessor
de Agatho, Donus) propondo uma conferê ncia na qual toda a questã o dos testamentos de Cristo poderia ser
discutida e pelo qual a unidade entre Roma e Constantinopla pode ser restaurada. O imperador percebeu que o
apoio ao monotelismo nã o era mais uma estraté gia viá vel para reconciliar os mono isitas (hereges que sustentavam
que em Jesus Cristo existe apenas uma natureza divina em vez de duas, humana e divina) no Oriente.
Agatho acolheu a ideia e o convite do imperador, mas decidiu realizar alguns sı́nodos preparató rios no Ocidente (o
maior e mais importante foi realizado em Roma em 680; outros foram realizados em Milã o, Inglaterra e Gá lia), a im
de formular uma posiçã o unida sobre o monotelismo para levar ao conselho. A delegaçã o papal a Constantinopla
incluiu dois futuros papas (Joã o V e Constantino) e trouxe consigo dois longos documentos: uma carta do papa ao
imperador condenando o monotelismo e enfatizando o papel de Roma na preservaçã o da verdadeira fé e do decreto
do sı́nodo romano, assinado por 150 bispos, condenando o monotelismo.
O imperador decidiu elevar a conferê ncia a um conselho geral (o Terceiro Conselho de Constantinopla), para se
reunir no palá cio imperial (7 de novembro de 680 a 16 de setembro de 681) e ser presidida pelo pró prio imperador.
Antes disso, ele substituiu o patriarca monotelita de Constantinopla por um patriarca ortodoxo e o instruiu a
ordenar que todos os bispos sob sua jurisdiçã o participassem do conselho. Na dé cima terceira sessã o do concı́lio, ele
condenou (anatematizou) os lı́deres monotelitas, incluindo o papa Honó rio I (625-38) por sua aprovaçã o da fó rmula
monotelita, "duas naturezas distintas, mas uma operaçã o", mas apenas apó s superar as objeçõ es dos
compreensivelmente relutantes delegados papais. (O imperador negou a aprovaçã o da eleiçã o do sucessor de
Agatho até que os delegados retirassem suas objeçõ es.) A condenaçã o dizia: “Mas, uma vez que, desde o inı́cio, o
criador do mal nã o descansou, encontrando um cú mplice na serpente e por meio dele trazendo sobre a natureza
humana o dardo envenenado da morte, entã o també m agora ele encontrou instrumentos adequados para seu
pró prio propó sito - a saber. . . Honorius, que foi papa da Roma Antiga. . . - e nã o tem sido ocioso em levantar atravé s
deles obstá culos de erro contra todo o corpo da igreja, semeando com novas palavras entre o povo ortodoxo a
heresia de uma ú nica vontade e um ú nico princı́pio de açã o nas duas naturezas de um membro da a Santa Trindade. .
. . ” A condenaçã o, ou aná tema, foi explicitamente rati icada pelo Papa Leã o II em 683, quando ele aprovou os atos do
conselho em uma carta ao imperador Constantino IV. O papa Agatho morrera oito meses antes do im do concı́lio,
mas sua contribuiçã o foi reconhecida no discurso de congratulaçõ es do concı́lio ao imperador, que reconheceu que
Pedro havia falado por meio de Agatho.
Agatho inalizou os termos do acordo com o arcebispo de Ravenna (iniciado por seu predecessor Donus) pelo
qual os futuros arcebispos de Ravenna seriam consagrados pelo papa e receberiam o pá lio (a vestimenta de lã usada
ao redor do pescoço como um sinal de autoridade pastoral) de dele. Dada uma aguda escassez de fundos na igreja
romana, Agatho conseguiu que o imperador abolisse o imposto cobrado por ocasiã o das eleiçõ es papais. Em troca
dessa concessã o, no entanto, o imperador restaurou a prá tica anterior e demorada de buscar a aprovaçã o imperial
para as consagraçõ es papais de Constantinopla, em vez do exarca de Ravena. Agatho també m apoiou o apelo do
bispo de York a Roma contra a divisã o inesperada de York em trê s dioceses separadas pelo arcebispo de Canterbury
e també m promoveu a difusã o da liturgia romana na Grã -Bretanha. Considerado uma pessoa amá vel e alegre, ele
morreu durante uma epidemia em 10 de janeiro de 681 (uma fonte diz que ele tinha 107 anos) e foi enterrado na
Bası́lica de Sã o Pedro. Ele veio a ser venerado no Oriente e no Ocidente. Dia da festa: 10 de janeiro.

80 Leo II, St., 17 de agosto de 682 - 3 de julho de 683.


Um siciliano, Leã o II foi o papa que aprovou formalmente os atos do Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680-81),
que condenava o monotelismo (uma heresia que a irmava que em Jesus Cristo há apenas uma vontade divina em vez
de uma humana e divina vontade) e que també m incluiu uma condenaçã o explı́cita de um papa anterior, Honó rio I
(625-38), por desvio doutriná rio. Honorius deu sua aprovaçã o em 638 a um documento imperial conhecido como
Ecthesis , que apoiava o monotelismo. No texto latino de sua carta de 7 de maio de 683, ao imperador Constantino IV,
Leã o II falou de Honó rio como tendo "tentado minar a fé pura por meio de sua traiçã o profana". No texto grego,
entretanto, as palavras foram suavizadas para: “por sua traiçã o, ele permitiu que o ensino puro fosse contaminado”.
Em cartas aos espanhó is e talvez a outros bispos ocidentais, Leã o II apenas acusou Honó rio de ser negligente em
extinguir a chama da heresia.
Eleito em janeiro de 681, o novo papa teve que esperar dezoito meses antes de receber a aprovaçã o imperial para
sua consagraçã o. As cartas dos guardiõ es da Santa Sé (os responsá veis por seu governo durante uma vacâ ncia) a
Constantinopla anunciando a morte do Papa Agatho e a eleiçã o de Leã o II chegaram lá em 10 de março, enquanto o
concı́lio estava em andamento. No entanto, o imperador atrasou deliberadamente sua rati icaçã o da eleiçã o até que o
concı́lio condenasse formalmente o papa Honó rio I e outros importantes defensores do monotelismo e até que a
aprovaçã o de Roma das condenaçõ es do concı́lio fosse assegurada. Os legados romanos no concı́lio estavam
extremamente relutantes em concordar com a condenaçã o de um papa anterior e foram necessá rias longas
negociaçõ es, mesmo depois do encerramento do concı́lio em setembro, para obter sua aquiescê ncia. O fato de o
imperador recusar a aprovaçã o da consagraçã o de Leã o II provou ser um poderoso incentivo. Só em julho seguinte
(682) os enviados voltaram a Roma com os atos do conselho e o mandato imperial para a consagraçã o de Leã o II.
Excepcionalmente, o Liber Ponti icalis (uma coleçã o das primeiras biogra ias papais) anotava os nomes dos
consagradores de Leã o II: Andrea, bispo de Ostia; Giovanni, bispo do Porto; e Piacentino, bispo de Velletri. Essas
eram trê s dioceses vizinhas (ou subú rbios) de Roma.
O imperador Constantino IV mostrou sua aprovaçã o à cooperaçã o do papa recé m-eleito, convidando-o a enviar
um nú ncio papal residente à corte imperial em Constantinopla e reduzindo os impostos sobre os patrimô nios papais
na Sicı́lia e na Calá bria, bem como a requisiçã o de milho para o exé rcito . O imperador també m revogou o decreto de
seu predecessor, Constante II (666), concedendo à arquidiocese de Ravenna a independê ncia de Roma na nomeaçã o
de seus arcebispos. Depois disso, eles seriam consagrados pelo papa e receberiam o pá lio (a veste de lã usada ao
redor do pescoço como um sinal de autoridade pastoral) por ele també m. Leã o II, por sua vez, mandou traduzir para
o latim as atas do conselho e distribuı́-las a todos os lı́deres eclesiá sticos e polı́ticos do Ocidente, com o mandato de
que fossem aceitas. Dado o novo entendimento com a sé de Ravena, o papa a isentou das taxas tradicionalmente
cobradas na é poca da consagraçã o de seu arcebispo e també m o dispensou da obrigaçã o de comparecer
pessoalmente ao sı́nodo romano anual.
Um cantor bem treinado na escola do coro papal antes de sua eleiçã o para o papado, Leã o II estava
profundamente preocupado com a promoçã o da mú sica sacra. Ele també m foi celebrado por sua devoçã o aos
pobres e seus esforços para melhorar sua condiçã o. Ele morreu em 3 de julho de 683 e foi sepultado na Bası́lica de
Sã o Pedro. Em 1607, Paulo V transferiu os restos mortais para um lugar sob o altar da capela da Madonna della
Colonna da bası́lica, onde trê s outros papas estã o sepultados: Leã o III, Leã o IV e Leã o XII. Dia da festa: 3 de julho.

81 Benedict II, St., 26 de junho de 684 - 8 de maio de 685.


Servindo menos de um ano como papa, Bento II era conhecido principalmente por sua humildade, gentileza e amor
pelos pobres. Ele teve que esperar quase um ano desde a é poca de sua eleiçã o pelo clero romano no inı́cio de julho
de 683 até que o imperador mandasse a aprovaçã o formal de sua consagraçã o. O imperador també m atendeu ao
pedido do novo papa de que o exarca imperial em Ravena tivesse permissã o, como antes, de conceder tais
aprovaçõ es para consagraçõ es papais, reduzindo assim o tempo entre a eleiçã o papal e a consagraçã o.
Bento II con irmou o apoio de seu predecessor ao Terceiro Conselho de Constantinopla (680-81) e enviou um
delegado à Espanha com có pias dos atos do conselho e das cartas de Leã o II. Mas a igreja visigó tica da Espanha,
fortemente independente, nã o aprovou os atos do concı́lio sem submetê -los primeiro a um exame exaustivamente
analı́tico no Dé cimo Quarto Concı́lio de Toledo (684). Quando o arcebispo de Toledo soube que o papa havia
criticado verbalmente algumas passagens de uma pro issã o de fé que enviara a Bento II apó s o concı́lio, ele enviou
ao papa um protesto contundente. O papa també m nã o teve sucesso em persuadir Macá rio I, o patriarca monotelita
deposto de Antioquia que agora residia em um mosteiro romano, a abandonar suas visõ es heré ticas. Ele realizou
restauraçõ es de vá rias igrejas romanas, incluindo a de Sã o Pedro, onde foi sepultado apó s sua morte em 8 de maio
de 685. Dia da festa: 7 de maio.

82 João V, Sírio, 23 de julho de 685 - 2 de agosto de 686.


Como seu curto ponti icado foi marcado pela doença, Joã o V praticamente nã o estabeleceu nenhum registro. Como
Leã o II (682-83), ele foi consagrado pelos bispos de Ostia, Porto e Velletri, trê s das dioceses vizinhas (ou subú rbios)
de Roma. Joã o V suspendeu um bispo na Sardenha por ter consagrado outro bispo em sua provı́ncia sem permissã o
de Roma, e també m foi generoso em sua vontade para com seu clero, os mosteiros de caridade de Roma e os
sacristã os leigos das igrejas.
Sua vida antes de se tornar papa era mais interessante. Sı́rio de Antioquia (provavelmente refugiado das invasõ es
á rabes), como diá cono foi um dos trê s representantes enviados pelo Papa Agatho ao Terceiro Concı́lio de
Constantinopla (680-81); ele assumiu um papel de liderança nas discussõ es e trouxe pessoalmente a Roma có pias
dos atos do conselho e da carta do imperador aprovando a eleiçã o de Leã o II. Ele foi arquidiá cono quando foi eleito
por unanimidade para o papado. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

83 Conon, Trácio, 21 de outubro de 686 - 21 de setembro de 687.


Candidato de compromisso eleito na velhice, Conon teve um ponti icado curto, mas infeliz. Ele nomeou um diá cono
da igreja de Siracusa como reitor do patrimô nio papal na Sicı́lia, um cargo lucrativo tradicionalmente reservado para
um membro do clero romano, e permitiu-lhe o uso de selas cerimoniais que també m eram reservadas para
membros do clero romano. Alé m disso, seu nomeado provou ser um extorsioná rio. Os inquilinos papais se
revoltaram e o reitor foi preso e deportado pelo governador da Sicı́lia.
Conon foi uma escolha de compromisso entre o arcipreste Pedro, favorecido pelo clero, e o padre Teodoro,
favorecido pela milı́cia local, o que impedia o clero de entrar na Bası́lica de Latrã o para a eleiçã o. Quando as
negociaçõ es entre os dois lados fracassaram, o clero apresentou o idoso e descomprometido Conon que, por seu pai
ter sido general do exé rcito, també m era aceito pela milı́cia. JN D Kelly descreve este papa como “[nã o] mundano e
de aparê ncia santa,. . . simpló rio e continuamente doente. ” Sua eleiçã o e desempenho no cargo deixaram a igreja
romana profundamente dividida. Conon foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro.

84 Sergius I, St., Syrian, 15 de dezembro de 687 - 8 de setembro de 701.


Um papa forte, Sé rgio I a irmou a autoridade do bispo de Roma no Ocidente e resistiu aos esforços do imperador
Justiniano II no Oriente para fazer o papa se curvar à sua vontade. Assim, ele consagrou Damian como o novo
arcebispo de Ravenna em Roma (a primeira consagraçã o papal desde 666, quando Ravenna foi declarada
autô noma), batizou Caedwalla, o jovem rei dos saxõ es ocidentais, concedido o pá lio (a vestimenta de lã usada ao
redor do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral) para Beorhtweald, o novo arcebispo de Canterbury,
ordenou que Wilfrid fosse restaurado à sé de York, autorizou a missã o de Willibrord à Frı́sia e o consagrou mais
tarde como arcebispo dos Frı́sios, e recebeu a sé de Aquileia de volta em comunhã o com Roma, pondo im a um
cisma iniciado em 553. E quando o imperador exigiu que o papa aprovasse os atos de um concı́lio, ele convocou em
692, ostensivamente para concluir o trabalho do Segundo e Terceiro Concı́lios de Constantinopla (553 e 680-81 ,
respectivamente), Sergius I recusei.
O conselho (conhecido como Conselho de Trullan porque se reunia na sala abobadada ["trullus"] do palá cio
imperial) nã o incluiu nenhum bispo ocidental, ignorou a lei canô nica ocidental, proibiu certas prá ticas observadas no
Ocidente (como o celibato clerical e o jejum de sá bado na Quaresma), e expressamente renovou o vigé simo oitavo
câ none do Concı́lio de Calcedô nia (451), concedendo a Constantinopla status equivalente a Roma. Quando o
imperador soube da resposta do papa, ele enviou o comandante da guarda-costas imperial para forçar o papa a
assiná -lo ou prendê -lo e trazê -lo para Constantinopla. Mas as tropas imperiais em Ravenna e em outros lugares
reuniram-se em apoio do papa, forçaram o caminho para Roma e perseguiram o comandante imperial. Somente os
apelos do papa salvaram a vida do homem. O humilhado imperador foi deposto e exilado em 695.
A eleiçã o de Sé rgio I foi marcada por grande divisã o em Roma. Com a morte de seu predecessor, Conon, uma
facçã o do clero romano elegeu o arquidiá cono Pascal (que prometeu suborno ao exarca imperial em Ravena em
troca de seu apoio) e a outra elegeu o arcipreste Teodoro. Por causa do impasse, funcioná rios pú blicos importantes,
o iciais do exé rcito e a maioria do clero romano se reuniram no Palá cio Palatino e escolheram Sé rgio por
unanimidade. Sé rgio foi instalado no Latrã o somente depois que seus portõ es foram invadidos, por ter sido ocupado
pelas facçõ es rivais e seus candidatos. Teodoro entã o retirou sua reivindicaçã o ao trono papal e endossou a eleiçã o
de Sé rgio, mas Pascal resistiu até que o exarca viesse a Roma com a intençã o de anular a eleiçã o de Sé rgio. Apó s sua
chegada, no entanto, o exarca viu o apoio popular a Sé rgio, lançou seu pró prio apoio a ele també m e emitiu o
mandato imperial necessá rio para sua consagraçã o (mas só depois de obrigar Sé rgio a entregar as cem libras de
ouro que aquele pascal tinha originalmente prometido a ele).
Sé rgio I restaurou muitas igrejas romanas, incluindo as bası́licas de Sã o Pedro e de Sã o Paulo. Ele també m
removeu os restos mortais do Papa Leã o, o Grande (440-61) de seu local de descanso discreto para uma tumba
ornamentada em um lugar proeminente na Bası́lica de Sã o Pedro. Ele pró prio um cantor talentoso, ele introduziu o
canto do Agnus Dei (“Cordeiro de Deus”) na Missa e nas procissõ es das quatro festas principais da Bem-Aventurada
Virgem Maria. Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro e há alguns indı́cios de que um culto se desenvolveu logo
apó s sua morte. Dia da festa: 8 de setembro.

85 João VI, grego, 30 de outubro de 701 - 11 de janeiro de 705.


Muito pouco de importâ ncia ou interesse duradouro parece ter ocorrido durante o ponti icado de Joã o VI. Eleito e
consagrado no mesmo dia, ele gastou grandes somas de dinheiro resgatando prisioneiros tomados durante as
batalhas em defesa dos territó rios papais sob ataque do duque de Benevento. Ele també m foi fundamental para
salvar a vida do exarca imperial Teo ilato quando ele foi ameaçado por membros amotinados da milı́cia italiana. Em
703, Wilfrid de York voltou a Roma depois de ter sido expulso de sua diocese pela terceira vez. O papa realizou um
sı́nodo de quatro meses em 704 que apoiou Wilfrid. Na ú nica carta remanescente do ponti icado de Joã o VI, o papa
pediu aos reis da Nortú mbria e da Mé rcia que instruı́ssem o arcebispo de Cantuá ria a chegar a um acordo sobre a
questã o em um sı́nodo. Caso contrá rio, todas as partes deveriam vir a Roma para trabalhar em busca de uma
soluçã o em um concı́lio mais pleno. Ele morreu em 11 de janeiro de 705 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

86 João VII, grego, 1 de março de 705 a 18 de outubro de 707.


Joã o VII foi o primeiro papa ilho de um o icial imperial, indivı́duo responsá vel pela manutençã o do palá cio imperial
no Palatino. Eleito e consagrado no mesmo dia, o novo papa desfrutou de boas relaçõ es com os lombardos, cujo rei
devolveu valiosas propriedades nos Alpes Có cios que haviam sido tiradas do papado em açõ es militares anteriores.
Em 706, entretanto, o impiedoso imperador Justiniano II, que havia sido derrubado em 695, voltou ao poder e
enviou dois bispos a Roma com có pias dos câ nones do Concı́lio de Trullan (692). O Papa Sé rgio I recusou-se
irmemente a assinar esses documentos. Joã o VII foi menos direto. Ele simplesmente devolveu os documentos nã o
assinados, sem expressar assentimento ou dissidê ncia. Em outros assuntos, ele mostrou disposiçã o para submeter-
se à polı́tica bizantina, por exemplo, no que se refere à decoraçã o da igreja. Patrono das artes e construtor, ele
construiu uma nova residê ncia papal no sopé do Palatino e restaurou vá rias igrejas, adornando-as com mosaicos e
afrescos, alguns dos quais incluindo representaçõ es de si mesmo. Um desses mosaicos ainda existe na cripta de Sã o
Pedro. Joã o VII morreu em 18 de outubro de 707 e foi sepultado na Capela da Bem-Aventurada Virgem Maria, que
ele havia acrescentado à Bası́lica de Sã o Pedro.

87 Sisinnius, Síria, 15 de janeiro a 4 de fevereiro de 708.


Embora muito respeitado por seu alto cará ter moral e sensibilidade pastoral, o idoso Sisinnius estava tã o aleijado de
gota na é poca de sua eleiçã o e consagraçã o em 15 de janeiro de 708, que nã o conseguia nem usar as mã os para se
alimentar. Seu ú nico ato eclesiá stico registrado foi a consagraçã o do bispo da Có rsega. Ele també m ordenou que os
muros de Roma fossem reforçados, mas morreu antes que o trabalho pudesse ser realizado - apenas vinte dias apó s
sua eleiçã o. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

88 Constantino, Síria, 25 de março de 708 a 9 de abril de 715.


O evento-chave no ponti icado de Constantino foi sua viagem de um ano a Constantinopla a pedido do imperador
Justiniano II e na esperança de normalizar as relaçõ es entre Roma e Constantinopla. O papa foi recebido com
entusiasmo em todos os lugares ao longo da viagem e, ao chegar em Constantinopla, foi saudado pelo pró prio
imperador, que beijou os pé s do papa e recebeu dele també m a absolviçã o e a sagrada comunhã o. Negociaçõ es bem-
sucedidas foram realizadas entre os lados papal e imperial em Nicomé dia. O diá cono Gregó rio (o futuro Papa
Gregó rio II, o sucessor imediato de Constantino) foi convincente em sua explicaçã o das objeçõ es do papa a uma
sé rie de câ nones aprovados pelo Concı́lio de Trullan de 692 (por causa de seu conteú do e tom antiocidental), e o O
pró prio papa parece ter dado pelo menos aprovaçã o verbal a outros câ nones. O imperador icou tã o satisfeito com
os resultados que publicou um decreto con irmando os privilé gios da Igreja Romana.
O Papa Constantino voltou a Roma em 24 de outubro de 711, apó s uma longa viagem marcada pela doença. Menos
de duas semanas depois, o imperador foi assassinado por tropas amotinadas e foi sucedido por Filipe Bardanes, um
monotelita faná tico (um herege que sustentava que em Jesus Cristo existe apenas uma vontade divina, em vez de
uma vontade divina e humana). O novo imperador enviou ao papa sua pró pria pro issã o de fé monotelita e exigiu
que o papa a aceitasse. O Papa Constantino recusou. O nome do imperador foi retirado da lista dos que deveriam ser
orados na missa e sua imagem foi removida das igrejas. Quando o exarca imperial, com sede em Ravenna, tentou
fazer cumprir a exigê ncia do imperador, os cidadã os romanos se rebelaram e ocorreram batalhas sangrentas nas
ruas. O papa e seu clero imploraram por calma. Felizmente, o imperador foi deposto e seu sucessor prontamente
assegurou ao papa sua pró pria ortodoxia e sua aceitaçã o dos ensinamentos do Terceiro Concı́lio de Constantinopla
sobre as duas vontades de Cristo (680-81). O Papa Constantino morreu em 9 de abril de 715 e foi sepultado na
Bası́lica de Sã o Pedro.

89 Gregório II, St., ca. 669–731, papa de 19 de maio de 715 a 11 de fevereiro de 731.
O primeiro romano a ser eleito papa depois de sete papas consecutivos de origem grega, sı́ria ou trá cio, Gregó rio II
foi talvez o papa notá vel do sé culo VIII. Ele persuadiu o rei lombardo a devolver valiosas propriedades papais,
liderou a resistê ncia do povo italiano aos novos e pesados impostos impostos pelo imperador Leã o III e salvou a
cidade de Roma de um cerco armado pelo rei lombardo e o exarca imperial. Ele també m resistiu irmemente aos
esforços do imperador para proibir o uso e veneraçã o de imagens sagradas (conhecidas como iconoclastia) por
preocupaçã o, o imperador insistiu, que tais prá ticas eram um obstá culo à conversã o de judeus e muçulmanos. O
papa repreendeu formalmente o imperador em um sı́nodo romano em 727.
No entanto, a nova polı́tica de iconoclastia foi o icialmente promulgada em um edito assinado pelo patriarca de
Constantinopla em 730. Gregó rio II se recusou veementemente a apoiá -la, até mesmo classi icando a iconoclastia
como heresia, e advertiu o imperador de que ele estava excedendo sua autoridade temporal. A populaçã o italiana se
ressentiu do ultimato do imperador ao papa, e houve revoltas no norte. Na verdade, o imperador havia pensado em
assassinar o papa, mas pensou melhor a respeito por causa do forte apoio do papa entre o povo.
Gregó rio II també m foi celebrado por seu apoio à missã o na Alemanha na pessoa de Bonifá cio (falecido em 754),
nome dado a Wynfrith pelo pró prio papa. Bonifá cio viera da Inglaterra para Roma em 718 e partira no ano seguinte,
sob comissã o direta de Gregó rio II, para evangelizar o povo da Frı́sia. Em suas instruçõ es aos missioná rios, o papa
aconselhou leniê ncia ao lidar com o casamento entre os alemã es recé m-convertidos, autorizando a separaçã o em
certos casos e outras exceçõ es à s leis de casamento. Dado o sucesso de Bonifá cio, o papa o consagrou bispo em 722
e deu-lhe uma carta de recomendaçã o a Carlos Martel, governante dos francos (morto em 741), que forneceria
proteçã o para o trabalho missioná rio de Bonifá cio. Por causa da estreita relaçã o de trabalho entre Bonifá cio e
Gregó rio II, a prá tica litú rgica romana foi adotada em todos os lugares na emergente igreja alemã .
Em casa, o papa consertou as paredes da cidade devastada pela guerra, iniciou os reparos necessá rios pela
enchente do rio Tibre, restaurou extensivamente muitas igrejas e promoveu o monaquismo, especialmente os
beneditinos, reconstruindo e repovoando mosteiros desertos e decadentes, incluindo o famoso Monte Cassino,
reduzido a ruı́nas pelos lombardos. Ele també m foi liturgicamente ativo, apresentando uma missa para as quintas-
feiras da Quaresma. A evidê ncia de seu culto apareceu pela primeira vez no martiroló gio de Ado, no sé culo IX.
Gregó rio II morreu em 11 de fevereiro de 731 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 11 de fevereiro.

90 Gregório III, São, Sírio, 18 de março de 731 - 28 de novembro de 741 (a lista o icial do Vaticano dá apenas o mês de
novembro como o im de seu ponti icado).
Gregó rio III, sı́rio de nascimento, foi capturado por uma multidã o animada no funeral de Gregó rio II, levado ao
Latrã o e eleito papa por aclamaçã o popular. Ele foi consagrado cinco semanas depois, apó s obter a aprovaçã o o icial
do exarca imperial em Ravenna. Ele foi o ú ltimo papa a buscar tal aprovaçã o. Seu ponti icado foi marcado por
crescentes tensõ es sobre a iconoclastia (a polı́tica do imperador de proibir a exibiçã o e o uso de imagens sagradas).
O novo papa exortou o imperador Leã o III a se afastar da polı́tica, mas como nã o recebeu resposta, convocou um
sı́nodo que condenou a iconoclastia e declarou excomungado qualquer pessoa que destruı́sse imagens sagradas.
Isso teria incluı́do o pró prio imperador e o patriarca de Constantinopla. No entanto, os enviados papais que levavam
esses decretos ao Oriente foram interceptados por funcioná rios imperiais na Sicı́lia e presos. Depois que um enviado
conseguiu terminar com os documentos, o imperador decidiu usar a força contra o papa. Ele primeiro despachou
uma frota armada para a Itá lia, que se perdeu em um naufrá gio, con iscou propriedades papais na Calá bria e na
Sicı́lia e declarou que as provı́ncias eclesiá sticas do Ilı́rico e da Sicı́lia estavam sob a jurisdiçã o do patriarca de
Constantinopla, e nã o do papa. No entanto, Gregó rio III permaneceu leal ao impé rio, vendo-o como a ú nica
autoridade polı́tica legı́tima. Na verdade, o apoio do papa ao impé rio foi crucial para a recaptura de Ravena dos
lombardos em 733. Tanto o imperador quanto o exarca mostraram sua gratidã o, respectivamente, fazendo uma
tré gua com o papa e doando seis colunas de ô nix colocadas em frente do tú mulo de Sã o Pedro na bası́lica.
Gregó rio III, no entanto, percebeu que Roma agora estava vulnerá vel ao ataque dos lombardos. Ele reconstruiu as
muralhas da cidade e restaurou as de Civitavecchia. Ele també m fez alianças defensivas com os duques de Spoleto e
Benevento. O rei dos lombardos icou furioso. Depois de capturar Spoleto, ele marchou sobre a pró pria Roma. Dado
o estado enfraquecido do impé rio, Gregó rio III pediu ajuda aos francos na pessoa de seu governante, Carlos Martel
(falecido em 741). Mas Carlos recusou, dada sua aliança anterior com o rei lombardo em sua luta contra os
invasores á rabes da Provença. O papa entã o fez uma aliança politicamente desastrosa com o desprezado duque de
Spoleto, aumentando assim a distâ ncia entre Roma e o rei lombardo.
Em questõ es eclesiais, o papa deu todo o seu apoio, como seu antecessor, aos esforços missioná rios de Bonifá cio
(falecido em 754) na Alemanha, promovendo-o a arcebispo em 732, com autoridade para estabelecer dioceses. O
papa també m fortaleceu as relaçõ es com a Igreja inglesa, conferindo o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do
pescoço como um sinal de autoridade pastoral) a Egbert de York e Tatwine de Canterbury e nomeando este ú ltimo
vigá rio papal para toda a Inglaterra. Ao mesmo tempo, ele dedicou suas energias ao embelezamento de Roma e suas
igrejas, fazendo questã o de erguer inú meras imagens coloridas em desa io à iconoclastia. Promoveu o monaquismo,
fez as melhorias necessá rias nos cemité rios e construiu um orató rio em Sã o Pedro, dedicado a Cristo Salvador e à
Bem-aventurada Virgem Maria, para a recepçã o das relı́quias dos santos. Gregó rio III morreu em 28 de novembro de
741 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro no orató rio que ele havia construı́do. A primeira evidê ncia de seu culto,
como a de seu predecessor, aparece no martiroló gio de Ado, no sé culo IX. Dia da festa: 28 de novembro.

91 Zacharias [Zachary], St., grego, 10 de dezembro de 741 - 22 de março de 752.


Zacarias foi o ú ltimo dos papas gregos e també m o ú ltimo papa a enviar uma noti icaçã o o icial de sua eleiçã o à corte
imperial e patriarca em Constantinopla. Por meio da diplomacia pessoal, ele restabeleceu relaçõ es pacı́ icas com os
lombardos no norte da Itá lia, embora oito anos depois um novo rei lombardo reviveu a velha polı́tica expansionista,
capturando Ravenna em 751 e voltando sua atençã o para a pró pria Roma. As relaçõ es com Constantinopla també m
melhoraram. Tanto o papa quanto o imperador minimizaram suas diferenças na contrové rsia iconoclasta (o Oriente
se opô s ao uso e veneraçã o de imagens sagradas; o Ocidente aprovou a prá tica). De fato, o imperador concedeu
duas grandes propriedades no sul da Itá lia à Santa Sé , talvez porque tivesse apreciado a recusa de Zacarias em
reconhecer um usurpador temporá rio do trono imperial e os esforços anteriores do papa para persuadir os
lombardos a desistir de seu planejado ataque ao imperialismo exarquia em Ravenna.
Como seus dois predecessores, Gregó rio II e Gregó rio III, Zacarias deu todo o seu apoio aos esforços missioná rios
de Bonifá cio na Alemanha e, por meio de Bonifá cio, forjou relaçõ es ainda mais estreitas entre Roma e a igreja e reino
francos. Quando Pepino III, ilho do falecido Carlos Martel (m. 741), buscou uma decisã o do papa sobre a situaçã o de
seu tı́tulo real, o papa decretou que era melhor que o tı́tulo pertencesse à quele que exercia autoridade efetiva do
que para aquele que nã o tinha nenhum. Posteriormente, o ú ltimo rei da linha merovı́ngia foi deposto (com a
aprovaçã o papal) e Pepin, da linha carolı́ngia, foi eleito em Soissons em novembro de 751. Bonifá cio o ungiu rei. O
apoio do papa à transferê ncia de poder das linhas merovı́ngios para as carolı́ngias teria um signi icado
extraordiná rio mais tarde nas relaçõ es entre o papa e o imperador.
Zacarias nã o construiu novas igrejas, mas continuou o trabalho decorativo do Papa Joã o VII em Santa Maria
Antiqua, onde um fresco contemporâ neo dele ainda pode ser visto. Ele també m mudou a residê ncia papal de volta
para o Latrã o (Joã o VII a havia transferido antes para o Palatino). Homem culto e culto, Zacarias traduziu para o
grego os Diálogos do Papa Gregó rio, o Grande , tornando possı́vel que a obra fosse amplamente lida no Oriente.
Zacarias morreu em 22 de março de 752 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 15 de março (no
oeste); 5 de setembro (no Leste).

92 Stephen II (III), 26 de março de 752 - 26 de abril de 757.


Estê vã o II (III) estabeleceu a independê ncia do papado do Impé rio Bizantino e o colocou sob a proteçã o do reino
franco, mudando assim a esfera de in luê ncia sobre o papado do Leste para a Europa Ocidental. Estê vã o II (III)
també m formou os Estados Papais.
A confusã o sobre se ele era o segundo ou terceiro Estê vã o na linha papal deriva do fato de que um padre romano
idoso, que teria sido Estê vã o II, foi eleito papa em 22 ou 23 de março de 752, e foi devidamente instalado no Latrã o ,
mas teve um derrame trê s dias depois e morreu antes de ser consagrado. Naqueles anos (como també m hoje), a
consagraçã o como bispo, bem como a aceitaçã o de uma eleiçã o vá lida, era o requisito canô nico essencial, porque o
papa é o bispo de Roma. O Annuario Ponti icio (o diretó rio o icial do Vaticano) incluı́a o original Estevã o II em sua
lista o icial de papas até 1960, mas suprimiu seu nome em 1961, dando a todos os papas subsequentes chamados
Estevã o uma numeraçã o dupla. Este Stephen era um padre romano eleito por unanimidade papa na Bası́lica Maior
de Santa Maria imediatamente apó s a morte do padre idoso de mesmo nome que acabara de ser eleito para suceder
Zacarias.
Logo apó s a consagraçã o de Estê vã o II (III), Roma enfrentou uma nova ameaça do rei lombardo Aistulfo, recé m-
saı́do de sua conquista de Ravena. O rei obviamente agora considerava o ducado de Roma como seu feudo e impô s
um imposto anual a todos os seus habitantes. Ele també m rejeitou todos os esforços para alcançar uma soluçã o justa
e pacı́ ica das disputas sobre os territó rios imperiais expropriados, apesar dos apelos do papa. Quando o apelo do
papa ao imperador Constantino V por ajuda militar icou sem resposta, Estê vã o II (III) voltou-se para Pepino III, rei
dos francos, assim como o papa Gregó rio III se voltou para Carlos Martel em busca de ajuda em 739. Ciente do
inestimá vel apoio ele havia recebido do antecessor de Estê vã o, Zacarias, Pepin concordou com o pedido do papa
para uma reuniã o. Ele enviou o bispo Chrodegang de Metz e seu pró prio cunhado, Autcar, como escoltas. A viagem
do papa, que começou em 14 de outubro de 753, o levou atravé s dos Alpes (ele foi o primeiro papa a fazer essa
viagem) e ele foi recebido por Pepin em 6 de janeiro de 754, em Ponthion. No dia seguinte, o papa e alguns de seus
clé rigos que o acompanhavam foram até o rei em trajes de penitê ncia e se jogaram a seus pé s, implorando-lhe em
nome de Sã o Pedro que salvasse o povo romano dos lombardos. Pepin nã o apenas concordou em ajudar, mas
també m fez uma promessa por escrito (conhecida como a "Doaçã o de Pepin" ou a "doaçã o de Quierzy [Quiercy]",
onde a questã o foi inalmente resolvida) para garantir que os bens legı́timos do papa ducado de Roma, Ravenna e
outras cidades detidas pelos lombardos e talvez també m extensos territó rios no norte e centro da Itá lia. Embora
Stephen tenha passado o inverno gravemente doente na abadia de St.-Denis perto de Paris, ele foi capaz em 28 de
julho de 754, solenemente ungir Pepin, sua esposa e ilhos (con irmando assim a legitimidade da dinastia carolı́ngia)
e conceda a Pepino e seus ilhos o tı́tulo de "patrı́cio dos romanos".
Pepin tentou meios pacı́ icos no inı́cio com os lombardos, mas quando eles falharam, ele os atacou e derrotou
rapidamente em agosto de 754, forçando-os a entregar territó rios expropriados ao papa. Estê vã o recebeu uma
recepçã o tumultuada ao retornar a Roma. Assim que os francos cruzaram os Alpes novamente, o rei lombardo
Aistulf quebrou a paz e sitiou Roma e seus territó rios vizinhos. Em resposta aos repetidos apelos de Estê vã o em
nome de Sã o Pedro, Pepino mais uma vez invadiu a Itá lia, esmagou o rei lombardo e forçou-o a termos de paz ainda
mais duros em junho de 756. Quando o imperador bizantino protestou contra a transferê ncia de antigas posses
imperiais para o papa, Pepino respondeu que ele havia pegado em armas apenas por amor a Sã o Pedro e pelo
perdã o de seus pecados e, portanto, nã o poderia entregar suas conquistas a ningué m alé m do papa. Fulrado, o
abade de St.-Denis, depositou as chaves das vá rias cidades e o decreto de doaçã o sobre o tú mulo de Sã o Pedro.
Assim foram criados os Estados Papais e assim começou o papel do papa como soberano temporal - uma bê nçã o
mista, de fato.
Quando Aistulf morreu sem herdeiro, o papa conseguiu manobrar para que um toscano fosse colocado no trono
da Lombardia, em troca do qual o papa recebeu cidades adicionais, incluindo Bolonha. O papa també m persuadiu os
duques de Spoleto e Benevento a mudar sua lealdade dos lombardos para Pepin e a Santa Sé . Por in luê ncia do papa,
Pepin providenciou que a liturgia romana substituı́sse a liturgia galicana em todo o seu reino. Estê vã o II (III) morreu
em 26 de abril de 757 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

93 Paul I, St., 29 de maio de 757 - 28 de junho de 767.


Paulo I é o ú nico exemplo de um papa sucedendo seu irmã o mais velho ao papado. Ele foi ordenado diá cono pelo
Papa Zacarias (741-52) e serviu a seu irmã o Estê vã o II (III) como um conselheiro pró ximo e negociador.
Embora ele tenha sido eleito por unanimidade no inal de abril, a consagraçã o de Paulo I teve de ser adiada por
um mê s porque uma facçã o minoritá ria que se opô s à aliança franca preferia o arquidiá cono Teo ilato. Seu
ponti icado foi marcado por esforços persistentes para consolidar o controle do papado sobre os Estados papais
recentemente concedidos, que foram ameaçados por um novo rei lombardo, Desidé rio, que repudiou o tratado de
paz que havia sido cuidadosamente irmado entre Pepino, rei dos francos, e os Rei lombardo Aistulf. Pepin optou por
nã o intervir militarmente novamente, para nã o levar os lombardos a uma aliança profana com o imperador
bizantino, em um esforço para recuperar as terras tomadas de ambos. Em vez disso, ele seguiu um curso
diplomá tico, forjando um compromisso entre Desidé rio e o papa Paulo I no qual o papa teria que reduzir sua visã o
grandiosa dos Estados papais.
Nesse ı́nterim, a polê mica iconoclasta (a respeito do uso e veneraçã o de imagens sacras) voltou a esquentar. O
imperador Constantino V realizou um conselho em Hiereia (754) que denunciou as imagens e sua veneraçã o. Paulo I
acolheu refugiados do Oriente que fugiam da perseguiçã o por sua devoçã o à s imagens sagradas. Felizmente para o
papa, Pepino rejeitou os esforços do imperador para ganhar seu apoio para a polı́tica iconoclasta. Em um sı́nodo
realizado em Gentilly em 767, no qual Franks e gregos debateram a iconoclastia e a doutrina trinitá ria, a visã o papal
prevaleceu. Paulo I morreu pouco depois, em 28 de junho de 767, na Bası́lica de Sã o Paulo, tendo buscado ali alı́vio
do calor excessivo de Roma. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.
Quanto à sua vida pessoal e pastoral, as opiniõ es estã o divididas. Alguns ressaltam sua compaixã o e devoçã o aos
pobres e aos prisioneiros, mas outros observam seu estilo severo de administraçã o em que con iava em
subordinados tirâ nicos para executar suas polı́ticas. No processo, ele alienou a aristocracia leiga de Roma e lançou
as bases nã o apenas para um breve cisma apó s sua morte, mas també m para o im do envolvimento leigo nas
eleiçõ es papais. Seu ponti icado també m foi notado, no entanto, pela transferê ncia de muitos corpos (ou relı́quias
deles) das catacumbas para igrejas e capelas em Roma. Nã o há evidê ncias de seu culto antes do sé culo XV. Dia da
festa: 28 de junho.

94 Stephen III (IV), 7 de agosto de 768 - 24 de janeiro de 772.


(Para uma explicaçã o da dupla numeraçã o, veja Estê vã o II (III), nú mero 92, acima.) O infeliz ponti icado de Estê vã o III
(IV), um siciliano criado em Roma, começou sob uma nuvem e terminou em desastre. Por causa do estilo
administrativo severo do predecessor de Estê vã o, Paulo I, a aristocracia leiga de Roma havia se tornado tã o alienada
que chegou a pensar no assassinato do papa. Eles decidiram contra esse curso de açã o, no entanto, e colocaram suas
esperanças na eleiçã o de um sucessor que simpatizasse com seus interesses. No inal das contas, um deles violou o
juramento de nã o contornar os procedimentos canô nicos normais e fez com que seu irmã o Constantino, um leigo,
fosse aclamado papa por uma multidã o de soldados. Ele foi instalado no Latrã o, ordenado subdiá cono e diá cono, e
entã o consagrado papa por trê s bispos na Bası́lica de Sã o Pedro em 5 de julho de 767. Constantino escreveu a
Pepino III informando-o de sua “eleiçã o”, mas nã o recebeu resposta. Nesse ı́nterim, intrigas polı́ticas complexas em
Roma mudaram as alianças que haviam preparado o caminho para a escolha de Constantino como papa. Seu irmã o e
principal apoiador foi morto em combates de rua com tropas lombardas, e Constantino fugiu para o orató rio de
Latrã o, onde logo foi preso. Tirando vantagem da situaçã o caó tica, os lombardos instalaram brevemente um papa,
Filipe, capelã o de um mosteiro local, mas ele foi quase imediatamente rejeitado e expulso do Latrã o. O poderoso
notá rio-chefe da Santa Sé , Cristó vã o, providenciou para que Estê vã o fosse canonicamente eleito para substituir
Constantino no ano seguinte, em 1º de agosto de 768. Ele foi consagrado Bispo de Roma em 7 de agosto.
O antipapa Constantino foi arrastado de seu esconderijo, des ilou pela cidade e, em um sı́nodo, foi despojado da
insı́gnia do cargo, deposto e encarcerado em um mosteiro. Enquanto estava no mosteiro, ele foi atacado por uma
gangue e seus olhos foram arrancados. Em um sı́nodo subsequente (769), os atos da eleiçã o de Constantino e de sua
breve administraçã o foram queimados (deve-se ter em mente, no entanto, que o Papa Estê vã o III (IV) havia
originalmente assinado esses atos, junto com todo o clero romano), seu ordenaçõ es foram declaradas invá lidas (o
que o sı́nodo nã o poderia realmente fazer, já que Constantino tinha sido validamente, embora ilicitamente, ordenado
bispo), e o pró prio Constantino foi sentenciado à penitê ncia vitalı́cia em um mosteiro. O sı́nodo també m decretou
que, doravante, apenas diá conos e cardeais-sacerdotes (isto é , os presbı́teros romanos que eram pastores das
principais paró quias de Roma) deveriam ser elegı́veis para a eleiçã o como papa e que os leigos nã o deveriam mais
ter qualquer voto nessas eleiçõ es.
Apó s sua pró pria eleiçã o, Estê vã o III (IV) enviou um enviado para informar o rei franco, Pepino III, de sua
ascensã o ao trono papal e para convidar alguns dos bispos francos para comparecer ao sı́nodo que resolveria os
problemas canô nicos criados por A “eleiçã o” de Constantino. Participaram treze bispos francos. Dominado desde o
inı́cio por Christopher, aquele que arquitetou sua eleiçã o, o ponti icado de Estê vã o foi marcado por vacilaçã o, intriga
e erros estupendos. Quando o papa inalmente tentou se livrar da in luê ncia de Cristó vã o, ele fez uma aliança
desastrosa com Desidé rio, rei dos lombardos, que organizou os assassinatos de Cristó vã o e de seu ilho Sé rgio. O
papa escreveu ao novo rei franco, Carlos (Carlos Magno), e mentiu sobre as circunstâ ncias de suas mortes, insistindo
que eles haviam tramado contra sua vida e que Desidé rio o salvara. Desidé rio, no entanto, quebrou todas as suas
promessas ao papa e, para todos os efeitos prá ticos, o reduziu a um estado de completa subserviê ncia. Em 771,
Carlos, agora ú nico governante dos francos, repudiou seu casamento com a ilha de Desidé rio e se tornou inimigo
mortal do rei lombardo. A posiçã o de Estê vã o se deteriorou ainda mais e seu ponti icado terminou em fracasso total.
Estê vã o III (IV) morreu em 24 de janeiro de 772 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

95 Hadrian [Adrian] I, 9 de fevereiro de 772 a 25 de dezembro de 795.


Durante o longo ponti icado de Adriano I (o quarto mais longo da histó ria, depois de Pio IX [1846–78], Leã o XIII
[1878–1903] e Pio VI [1775–99]), Carlos Magno, rei dos francos, conquistou os lombardos ( 774), depondo o rei
antipapal Desidé rio, e con irmou a transferê ncia para a Santa Sé dos territó rios que juntos constituı́am os Estados
Papais (por isso Adriano I é à s vezes chamado de segundo fundador dos Estados Papais, depois do Papa Estê vã o II
[III]) . Ordenado diá cono por Estê vã o III (IV), Adriano foi eleito por unanimidade em 1º de fevereiro e foi
consagrado bispo de Roma em 9 de fevereiro.
Foram necessá rias trê s visitas separadas de Carlos Magno a Roma (em 774, 781 e 787) antes que as fronteiras
dos Estados Papais fossem inalmente ixadas. Eles deveriam permanecer naquela forma essencial até sua dissoluçã o
inal em 1870. O Segundo Concı́lio de Nicé ia també m foi realizado durante seu ponti icado (787). O papa, é claro, deu
ao conselho todo o seu apoio ao ensino contra a iconoclastia (a proibiçã o oriental contra o uso e veneraçã o de
imagens sagradas). Carlos Magno, por outro lado, estava descontente com o concı́lio (talvez por nã o ter sido
convidado) e teve uma refutaçã o detalhada de suas decisõ es preparada por teó logos com base em uma traduçã o
falha de seus atos (eles pensaram, por exemplo, que o conselho aprovou a “adoraçã o” de imagens, o que claramente
nã o foi feito). Em 794 Carlos Magno realizou um grande sı́nodo em Frankfurt, que condenou a adoraçã o de imagens
e també m o Adopcionismo (que sustentava que havia uma dupla iliaçã o em Cristo, uma natural e outra adotada),
uma heresia que foi especialmente forte na Espanha.
Em Roma, o papa aproveitou as condiçõ es pacı́ icas possibilitadas por Carlos Magno e construiu e restaurou
muitas igrejas, reforçou as paredes da cidade e as margens do rio Tibre (apó s inundaçõ es devastadoras em
dezembro de 791) e reconstruiu completamente quatro grandes aquedutos . Ele també m se dedicava ao cuidado dos
pobres e à promoçã o do monaquismo e de fazendas administradas pela Igreja que geravam renda para projetos de
caridade. Diz-se que Carlos Magno lamentou a morte do papa no Natal de 795, "como se tivesse perdido um irmã o
ou ilho", e tinha uma magnı́ ica laje de má rmore inscrita com versos memoriais que podem ser vistos no pó rtico ou
pó rtico de Sã o Pedro. Adriano I foi enterrado na cripta da bası́lica.
Parte III

DO IMPERIO CAROLINGIANO AO INICIO DA PAPACIA MONARQUICA

A mbora tenha havido perı́odos de baixa MUITAS na histó ria do Papado, o perı́odo entre o inı́cio do Impé rio Carolı́ngio (800) e
no inal do ponti icado de Dâ maso II (1048) foi, sem dú vida, seus mais baixos, algumas exceçõ es felizes à regra a
despeito de. O perı́o do foi marcado pela corrupçã o papal (incluindo simonia, isto é , a compra e venda de escritó rios
da igreja, nepotismo, estilos de vida pró digos, concubinato, brutalidade e até assassinato) e a dominaçã o do papado
por reis alemã es e por poderosas famı́lias aristocrá ticas romanas. Durante este perı́o do, pelo menos cinco papas, e
possivelmente um sexto, foram assassinados. Um papa, Sé rgio III (904-11), era ele pró prio um assassino, tendo
ordenado os assassinatos de seu antecessor, Leã o V, e do antipapa Cristó vã o. Dois papas foram presos e mutilados
ou morreram de fome (Estê vã o VIII [IX] [939-42] e Joã o XIV [983-84], respectivamente), e o corpo de um papa
(Formosus [891-96]) foi igualado exumado de seu lugar de descanso, por ordem de um de seus sucessores, e
submetido a julgamento pú blico no chamado Sı́nodo do Cadá ver.
Os eventos que se seguiram à eleiçã o do primeiro papa deste perı́o do, Leã o III (795-816), alertaram sobre o caos
que viria nos pró ximos dois sé culos e meio. Embora eleito por unanimidade, Leã o tinha muitos inimigos entre a
nobreza romana, liderada por Paschalis, um parente de seu predecessor, Adriano I, e outros. Certo dia, enquanto
cavalgava em procissã o para a missa, uma gangue atacou o papa e tentou, sem sucesso, arrancar seus olhos e cortar
sua lı́ngua. Apó s uma cerimô nia formal de depoimento, o papa foi colocado em prisã o domiciliar em um mosteiro.
Com a ajuda de amigos, ele escapou para a corte real de Carlos Magno em Paderborn, mas seus oponentes logo o
seguiram, carregando com eles acusaçõ es de perjú rio e adulté rio, que os francos consideravam bem fundadas. Foi
só em dezembro do ano seguinte, entretanto, que, com a ajuda aberta do pró prio Carlos Magno, o papa se puri icou
cerimonialmente das acusaçõ es. Mas uma nuvem moral pairaria sobre o restante de seu ponti icado.
Por que a Igreja mundial nã o sofreu maiores danos do que durante esse perı́o do de duzentos anos de degradaçã o
e declı́nio papal (embora nem todos os papas dessa é poca fossem “maus papas”)? Por que as igrejas fora da Itá lia
nã o foram tã o seriamente afetadas por esse deplorá vel estado de coisas? Como explicar o fato, por exemplo, de que
a Igreja Anglo-Saxô nica experimentou um perı́o do de vigoroso reavivamento e reforma? Embora seja verdade que o
poder da igreja de Roma sobre outras igrejas locais tenha se expandido continuamente nos anos anteriores, o
exercı́cio desse poder era apenas ocasional e intermitente. Mesmo sob papas fortes como Leã o, o Grande (440-61),
Gregó rio, o Grande (590-604) e Nicolau I (858-67), nã o existia um governo central da Igreja. Ao contrá rio de hoje,
nã o havia sistemas de comunicaçã o para tornar isso possı́vel. A Igreja era menos como uma monarquia ou impé rio
centralizado do que uma federaçã o livre de igrejas locais, que eram federaçõ es sinodais de sé s moná rquicas. Uma
vez que o papado moná rquico foi claramente estabelecido no ponti icado de Gregó rio VII (1073-1085), no entanto, a
corrupçã o poderia se espalhar mais facilmente a partir do centro de uma instituiçã o agora excessivamente
centralizada.
També m houve muitos “primeiros” durante este perı́o do. Felizmente, alguns dos “primeiros”, como o julgamento
do Formosus exumado, nunca se repetiram. Assim, Leã o III (795-816) foi o primeiro - e ú nico - papa a oferecer
reverê ncia a um imperador ocidental. Estê vã o IV (V) (816–17) foi o primeiro papa a ungir um imperador. Joã o VIII
(872-82) tem a duvidosa distinçã o de ser o primeiro papa a ser assassinado, tendo sido envenenado e espancado até
a morte. Marinus I (882-84) foi o primeiro bispo de outra diocese a ser eleito Bispo de Roma, em violaçã o do câ non
15 do Concı́lio de Nicé ia (325). Portanto, ele foi també m o primeiro bispo a ser eleito Bispo de Roma! A prá tica de
eleger bispos de outras dioceses como Bispo de Roma logo se tornou comum, no entanto, e permanece até hoje.
Bonifá cio VI (896) foi o primeiro e ú nico papa a ser eleito depois de ter sido destituı́do por duas vezes por conduta
imoral, uma vez como subdiá cono e depois como sacerdote. Joã o XI (931-35 / 6) foi o primeiro e ú nico ilho
ilegı́timo de um papa que se tornou papa. Joã o XV (985-96) foi o primeiro papa a canonizar formalmente um santo,
Ulric de Augsburg, em 993. Gregó rio V (996-99) foi o primeiro papa nascido na Alemanha. (Bonifá cio II [530-32] foi
o primeiro papa de origem germâ nica.) Silvestre II (999-1003) foi o primeiro papa francê s. Leã o VIII (963-65) foi o
primeiro leigo eleito papa, embora a legitimidade canô nica de sua eleiçã o tenha sido questionada devido à maneira
como seu predecessor foi deposto. O antipapa Constantino, també m um leigo, havia sido eleito e consagrado em 767,
mas ambos os atos foram posteriormente declarados nulos e sem efeito por um Sı́nodo de Latrã o. Uma sé rie de trê s
leigos foram eleitos para o papado no sé culo XI: Bento VIII (1012-24), o irmã o mais novo de Bento, Joã o XIX (1024-
32) e Bento IX, que també m foi o ú nico papa na histó ria a ter realizado o ofı́cio papal em trê s momentos diferentes
(1032–44, 1045 e 1047–48). Joã o XII (955-64) foi o primeiro e ú nico adolescente eleito para o papado (ele tinha
dezoito anos). No entanto, ele nã o teve um longo ponti icado, morrendo de um derrame sofrido menos de nove anos
depois, supostamente enquanto estava na cama com uma mulher casada. Clemente II (1046–47) foi o primeiro papa
a permanecer bispo de sua diocese anterior (Bamberg, Alemanha) enquanto servia como bispo de Roma. Seus
sucessores imediatos, Dâ maso II (1048), Leã o IX (1049–1054) e Victor II (1055–57) izeram o mesmo, mantendo as
dioceses de Brixen, Toul e Eichstä tt, respectivamente. Estê vã o IX (X) (1057–1058) permaneceu como abade de Monte
Cassino durante seu ponti icado, e Nicolau II (1058–1061) permaneceu como bispo de Florença durante o seu.
Os leigos participaram das eleiçõ es papais durante a maior parte do primeiro milê nio cristã o - à s vezes
diretamente junto com o clero romano e à s vezes representativamente por meio da nobreza romana. Durante
grande parte do perı́o do coberto por esta seçã o, os imperadores també m estiveram diretamente envolvidos nas
eleiçõ es papais, seja por meio de aprovaçã o subsequente ou por indicaçã o direta de candidatos. Nicolau II (1058-
1061) foi o primeiro papa a tentar restringir tais eleiçõ es aos cardeais-bispos, com o consentimento subsequente do
clero e leigos. Em qualquer caso, muitos dos papas eleitos durante esse perı́o do cumpriram mandatos
extraordinariamente curtos. Assim, houve vinte papas eleitos no sé culo IX e vinte e trê s no sé culo X, em comparaçã o
com apenas seis papas eleitos no sé culo XIX e oito papas no sé culo XX (e isso inclui o ponti icado de trinta e trê s dias
de Joã o Paulo I em 1978).
Este perı́o do també m testemunhou sé rias rupturas entre as igrejas do Oriente e do Ocidente, levando
eventualmente ao Cisma Leste-Oeste que continua até hoje. A medida que esse perı́o do chegava ao im em meados
do sé culo XI, a necessidade de reforma tornava-se cada vez mais evidente. Os cinco papas pouco antes do
crucialmente importante Gregó rio VII (1073–85), cujo ponti icado marcou o inı́cio de mais um perı́o do importante
na histó ria papal, foram todos reformadores com vá rios graus de sucesso. Mas nã o há emblema mais vı́vido deste
perı́o do do que o chamado Sı́nodo do Cadá ver, no qual o falecido Papa Formoso foi exumado de sua sepultura,
colocado em julgamento pú blico, sacramentalmente degradado e entã o mutilado - tudo sob a direçã o de um de seus
sucessores, Stephen VI (VII). Stephen, entretanto, pagaria por seu pecado. Ele pró prio foi deposto, despojado de sua
insı́gnia papal, preso e estrangulado até a morte. Essas foram as palhaçadas de mais do que alguns dos sucessores
do apó stolo Pedro nos sé culos IX, X e XI.

96 Leão III, Santo, 27 de dezembro de 795 - 12 de junho de 816 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia
de sua eleição, 26 de dezembro, e não no dia de sua consagração como Bispo de Roma, 27 de dezembro).
Leã o III é mais conhecido por sua coroaçã o de Carlos Magno, rei dos francos, como o primeiro imperador carolı́ngio
(e o precursor do Sacro Impé rio Romano) em Sã o Pedro no dia de Natal de 800. Ele també m é o primeiro e ú nico
papa a ofereça reverê ncia a um imperador ocidental.
Como mencionado acima, sua eleiçã o para o papado em 26 de dezembro de 795, embora unâ nime, nã o foi sem
oposiçã o real, particularmente de membros da aristocracia que eram parentes do predecessor de Leã o, Adriano I.
(Ele foi consagrado no dia seguinte.) Em 25 de abril de 799, ele foi violentamente atacado durante a procissã o para a
missa e uma tentativa malsucedida foi feita para cortar sua lı́ngua e cegá -lo. Ele foi entã o formalmente deposto e
enviado para um mosteiro, de onde mais tarde escapou com a ajuda de amigos. Ele foi até a corte de Carlos Magno
em Paderborn e foi recebido com a devida pompa.
O rei franco se recusou a reconhecer o depoimento do papa. Logo depois disso, entretanto, representantes da
facçã o anti-Leonina chegaram carregando acusaçõ es de perjú rio e adulté rio contra o papa. Embora muitos francos
considerassem as acusaçõ es crı́veis, eles foram impedidos de fazer um julgamento sobre elas por causa do princı́pio
comumente aceito de que nenhum poder poderia julgar a Sé Apostó lica. Carlos mandou escoltar o papa de volta a
Roma, mas os problemas na cidade persistiram. Um ano depois, o pró prio Carlos chegou a Roma e foi recebido de
maneira apropriada para um imperador visitante. Em 1 ° de dezembro de 800, o rei realizou um concı́lio em Sã o
Pedro e explicou que seu objetivo era examinar as acusaçõ es contra o papa. Mas a assemblé ia disse que nã o
desejava fazê -lo porque nã o poderia julgar o papa. Em 23 de dezembro, Leo declarou-se pronto para ser expurgado
dessas “falsas acusaçõ es” e entã o fez um juramento de purgaçã o, jurando inocê ncia. Seus oponentes foram
condenados à morte, mas o papa teve suas sentenças comutadas para o exı́lio. Dois dias depois, quando a missa de
Natal estava começando, Carlos levantou-se de suas oraçõ es em frente ao tú mulo de Sã o Pedro e o papa colocou
uma coroa imperial em sua cabeça. A congregaçã o o saudou como “Imperador dos Romanos” e Leo se ajoelhou em
homenagem a ele.
A coroaçã o foi de grande benefı́cio para ambos os lados. Carlos Magno agora gozava de pelo menos status igual ao
de seu homó logo imperial em Constantinopla e de uma posiçã o legal mais clara em relaçã o a Roma e aos Estados
Pontifı́cios. Para Leã o III, a coroaçã o estabeleceu um poder secular em Roma para manter a ordem, pô s im à
dependê ncia do papado dos imperadores bizantinos e acrescentou prestı́gio ao pró prio ofı́cio papal, já que foi o
papa quem concedeu a coroa ao imperador. A coroaçã o, no entanto, també m plantou as sementes de um eventual
con lito entre as duas potê ncias - um con lito que perduraria durante grande parte da Idade Mé dia.
Embora agora reabilitado e contando com o total apoio do novo imperador, Leã o III viu-se ofuscado por Carlos
Magno, que, por sua vez, fez o que quis, nã o apenas no domı́nio temporal, mas també m em questõ es eclesiá sticas. Ele
interferiu nos negó cios da Igreja Romana e na gestã o dos Estados Pontifı́cios, e induziu Leã o em 798 a elevar
Salzburgo a uma arquidiocese com status metropolitano e a convocar um sı́nodo em Roma para condenar o
Adopcionismo Espanhol (uma heresia que sustentava que Jesus Cristo é o ilho natural e adotado de Deus). E
signi icativo, portanto, que Leã o III resistiu ao esforço de Carlos Magno de adicionar a frase “e do Filho” (lat., Filioque
) ao Credo Niceno. (Já estava em uso na Igreja franca.) Leo nã o teve problemas com a doutrina implı́cita na frase,
mas ele se opô s a qualquer alteraçã o do credo histó rico. Ele nã o queria alienar os gregos, que se opunham
fortemente à mudança por motivos doutriná rios. Quando Charles morreu (28 de janeiro de 814), Leo começou a
agir com mais independê ncia, mas infelizmente nã o com mais sabedoria. Quando outra conspiraçã o contra ele veio à
tona, ele pessoalmente julgou os conspiradores sob a acusaçã o de traiçã o e condenou muitos deles à morte (815).
Fora isso, Leã o III era um administrador e iciente dos Estados Papais e do vasto sistema de bem-estar da Igreja.
Ele també m deu continuidade ao programa de seu predecessor de construir, restaurar e embelezar as igrejas de
Roma. Em assuntos estrangeiros, ele manteve um grande interesse nos assuntos da Igreja Inglesa, ajudando a
restaurar o rei da Nortú mbria ao trono, resolvendo uma disputa entre os arcebispos de Cantuá ria e York e retirando
o pá lio (a vestimenta de lã usada em torno do pescoço como sinal de autoridade pastoral) do bispo de Lich ield.
Apesar de seu ponti icado severo, divisivo e moralmente duvidoso, ele foi incluı́do em um catá logo de santos em
1673, por causa do presumido “milagre” da restauraçã o de seus olhos e lı́ngua no ataque a ele em 799. Ele morreu
em 12 de junho de 816 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 12 de junho.

97 Stephen IV (V), 22 de junho de 816 a 24 de janeiro de 817.


(Para uma explicaçã o da dupla numeraçã o, veja Estê vã o II (III), nú mero 92, na Parte II.) Estê vã o IV (V) foi o primeiro
papa a ungir um imperador (Luı́s, o Piedoso), sugerindo assim que a aprovaçã o papal era necessá ria para o
exercı́cio da autoridade imperial plena - uma reversã o notá vel da prá tica secular pela qual a aprovaçã o do
imperador bizantino era necessá ria para a validade de uma eleiçã o papal. Conciliató rio por natureza, Estê vã o foi
uma escolha amplamente popular para o papa. Ele provavelmente foi eleito (em 22 de junho de 816) para curar as
divisõ es criadas por seu antecessor, Leã o III. (Ele foi consagrado como Bispo de Roma no mesmo dia.)
Stephen imediatamente procurou um encontro com o sucessor de Carlos Magno, Luı́s, o Piedoso. Aconteceu em
Rheims em outubro de 816. Apó s uma elaborada recepçã o pelo imperador, Estê vã o ungiu e coroou Luı́s e sua
consorte, Irmengard, na catedral, usando uma suposta “coroa de Constantino” que trouxera de Roma. Seguiram-se
extensas discussõ es privadas entre o papa e o novo imperador, presumivelmente para rea irmar os termos do pacto
entre a coroa franca e o papado, incluindo a autonomia dos Estados papais e a liberdade das eleiçõ es papais. Em
nome da paz em casa, o papa ganhou uma concessã o de Luı́s, o Piedoso, para conceder perdõ es aos conspiradores
aristocrá ticos que Carlos Magno exilou para a Gá lia em 800 por causa de sua participaçã o na rebeliã o contra o Papa
Leã o III. Estevã o voltou a Roma com os perdõ es e muitos presentes. Mas ele morreu trê s meses depois, em 24 de
janeiro de 817, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

98 Pascal I, St., 25 de janeiro de 817 - 11 de fevereiro de 824.


Durante o ponti icado de Pascal I, a prá tica de coroar o imperador em Roma foi estabelecida. No entanto, esse papa
foi tã o detestado pelo povo romano por causa de sua maneira severa de governo que seu corpo nã o pô de ser
enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro como quase todos os outros papas haviam sido. Abade do mosteiro de Santo
Estê vã o quando eleito para o papado em 24 de janeiro de 817, Pascal foi consagrado bispo de Roma no dia seguinte,
aparentemente por temer que o imperador pudesse interferir. Mas o novo papa anunciou imediatamente sua eleiçã o
para o imperador Luı́s, o Piedoso, enfatizando que o cargo havia sido con iado a ele e que ele nã o o havia buscado.
Logo depois disso, o imperador con irmou os acordos que havia alcançado com o predecessor de Pascal, Estê vã o
IV (V), em Rheims, con irmando a autoridade papal sobre os Estados papais e prometendo nã o interferê ncia nas
eleiçõ es papais e outros assuntos eclesiá sticos internos, a menos que explicitamente convidado a fazê -lo. (O
documento o icial é conhecido como Pactum Ludovicianum .) O relacionamento harmonioso com o imperador
continuou durante o ponti icado de Pascal. Havia contatos o iciais frequentes entre Roma e a corte imperial. Quando
o papa escolheu o arcebispo Ebbo de Rheims para evangelizar os dinamarqueses, Luı́s o enviou a Roma em 822. O
papa o encomendou e o designou como legado papal para as regiõ es do norte. Quando Lothair, ilho de Luı́s, já
tendo sido coroado co-imperador em 817, com a aprovaçã o do papa, veio à Itá lia em 823, Pascal o convidou para ir
a Roma e o ungiu solenemente no domingo de Pá scoa. O papa també m o presenteou com uma espada como sı́mbolo
de sua autoridade temporal (um gesto teologicamente duvidoso para um papa, cuja autoridade primacial é espiritual,
nã o temporal).
Lothair, no entanto, provou ser mais independente do que seu pai. Exercendo seus direitos reais, ele abriu um
tribunal e proferiu uma sentença pela qual a abadia de Farfa, ao norte de Roma, icaria isenta de impostos pela Santa
Sé . Os partidá rios do papa em Roma icaram irritados, mas seus oponentes aristocrá ticos nã o. Eles se voltaram para
o jovem imperador em busca de apoio contra o partido clerical. Depois que Lothair deixou Roma, entretanto,
membros da casa papal cegaram e decapitaram dois lı́deres do grupo pró -franco no Latrã o por causa de sua
lealdade ao imperador. Pascal negou qualquer envolvimento pessoal, mas o imperador enviou uma equipe de
investigaçã o a Roma. Seguindo o exemplo de seu antecessor, Leã o III, Pascal fez um juramento de purgaçã o perante
um sı́nodo de 34 bispos, acrescentando que os homens assassinados foram legalmente executados como traidores. O
evento convenceu a corte franca a exercer uma supervisã o mais estreita sobre Roma, mas Pascal morreu antes que
qualquer mudança ocorresse.
Durante seu ponti icado, a iconoclastia (o movimento contra o uso e veneraçã o de imagens sacras) irrompeu
novamente no Oriente. Pascal apelou ao imperador bizantino Leã o V, mas sem sucesso. Nesse ı́nterim, ele se dedicou
à construçã o e restauraçã o de igrejas em Roma. Trê s das novas igrejas contê m mosaicos com retratos realistas de
Pascal, incluindo Santa Prassede no Equilino, onde ele teve que ser enterrado porque, como mencionado acima, as
pessoas nã o permitiram que seu corpo fosse enterrado em Sã o Pedro apó s sua morte em 11 de fevereiro de 824. O
nome de Pascal foi incluı́do no catá logo dos santos no inal do sé culo XVI, mas sua festa (14 de maio) foi suprimida
em 1963.

99 Eugenius [Eugene] II, 11 de maio (?), 824 - 27 de agosto (?), 827 (maio de 824 - agosto de 827 na lista o icial do
Vaticano).
Durante o ponti icado de Eugê nio II, o papado icou sob o controle mais direto do imperador. A mudança foi
provocada pelo partidarismo em Roma entre a nobreza pró -franca e o clero romano e pela preocupaçã o do
imperador com a cadeia de eventos no ponti icado anterior, de Pascal I, que levou ao assassinato e exı́lio dos
principais o iciais pró -franco. A eleiçã o de Eugê nio se seguiu a vá rios meses de distú rbios em Roma, com o clero e a
aristocracia fazendo indicaçõ es rivais. O clero e os leigos comuns favoreciam o presbı́tero Sisı́nio, enquanto a
nobreza favorecia Eugê nio, arcipreste de Santa Sabina no Aventino. Apó s prolongadas discussõ es, o monge Wala, da
abadia beneditina de Corbi, que també m era um conselheiro de con iança dos dois co-imperadores, Luı́s, o Piedoso e
seu ilho Lotá rio, arquitetou a eleiçã o de Eugê nio, provavelmente no inı́cio de maio de 824. Ele foi consagrado Bispo
de Roma em 11 de maio ou por aı́.
Eugê nio nã o apenas informou a corte imperial de sua eleiçã o, mas també m reconheceu sua soberania nos Estados
papais e fez um juramento de lealdade a Luı́s. Depois de uma reuniã o entre o novo papa e o co-imperador Lothair
em Roma, uma “Constituiçã o Romana” foi publicada (1 de novembro de 824), fortalecendo o controle franco sobre
Roma e o papado. Entre os termos estava a restauraçã o da prá tica antiga, suspensa desde o sı́nodo do Papa Estê vã o
III (IV) de 769, do povo de Roma, bem como da participaçã o do clero nas eleiçõ es papais. No entanto, antes de ser
consagrado, o papa eleito era obrigado a fazer um juramento de lealdade ao imperador perante o legado imperial.
Todos os cidadã os dos Estados Papais també m deveriam fazer um juramento de lealdade ao imperador. Em um
sı́nodo de Latrã o convocado por Eugê nio II em novembro de 826, os termos da constituiçã o foram rati icados.
No entanto, o sı́nodo també m mostrou sua independê ncia da corte franca em questõ es eclesiá sticas. Aplicou-se à
Igreja franca uma coleçã o de câ nones disciplinares que tratam da simonia (a compra e venda de ofı́cios da igreja), as
quali icaçõ es e deveres dos bispos, educaçã o clerical, vida moná stica, observâ ncia do domingo, casamento e outros
assuntos. E quando Luı́s enviou um enviado para instar o papa a aceitar um acordo na contrové rsia iconoclasta com
o Oriente, o papa insistiu que a questã o havia sido resolvida pelo Segundo Concı́lio de Nicé ia (787). Em 1º de
novembro de 825, Luı́s convocou uma comissã o de teó logos francos em Paris, com o conhecimento e a aprovaçã o do
papa, para examinar toda a questã o. Seu relató rio rejeitou Nicé ia II e censurou o papa por proteger o erro e a
superstiçã o. Mas o papa nã o cedeu e Luı́s nã o insistiu no assunto. Nesse ı́nterim, o papa manteve correspondê ncia
com Theodore of Studios (falecido em 826), o lı́der da facçã o pró -imagem no Oriente. Entre outras atividades do
ponti icado de Eugê nio II estava a bê nçã o de Ansgar e a missã o de seus companheiros aos dinamarqueses no
outono de 826. Ele morreu no inal de agosto de 827 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

100 Valentine, agosto-setembro de 827.


Apó s a morte de Eugê nio II, Valentim foi eleito por unanimidade pelo clero, nobreza e povo de Roma, de acordo com
os termos da nova constituiçã o promulgada pelo imperador em 824. Valentim foi devidamente consagrado,
provavelmente no dia seguinte, mas ele morreu um mê s a quarenta dias depois. Nã o há registro de nenhuma
atividade o icial durante seu breve ponti icado. Ele provavelmente foi enterrado em Sã o Pedro.

101 Gregório IV, 29 de março de 828 – 25 de janeiro de 844 (827 – janeiro de 844 na lista o icial do Vaticano).
Embora o ponti icado de Gregó rio IV tenha durado cerca de dezesseis anos, em geral nã o foi distinguido. Ele vinha
de uma famı́lia romana aristocrá tica e foi eleito com o apoio da nobreza leiga, cujos direitos de voto nas eleiçõ es
papais foram restaurados pela “Constituiçã o Romana” do imperador franco Lotá rio, promulgada durante o
ponti icado de Eugê nio II (824). Parece que ele tentou escapar de sua eleiçã o refugiando-se na bası́lica de Santi
Cosma e Damiano, mas a multidã o o seguiu até lá , o aclamou com alegria como papa e o conduziu ao palá cio de
Latrã o. De acordo com os termos da constituiçã o, no entanto, a consagraçã o de Gregó rio foi adiada até que ele
recebeu a aprovaçã o formal de um legado imperial e jurou lealdade ao imperador. Ele foi consagrado Bispo de Roma
em 29 de março de 828.
Quando uma disputa diná stica surgiu entre o imperador Luı́s, o Piedoso, e seus ilhos Lotá rio, Pepino e Luı́s, o
Alemã o, Gregó rio IV apoiou Lotá rio. Os bispos francos icaram irritados com a demonstraçã o de partidarismo,
lembraram ao papa seu juramento de lealdade a Luı́s e ameaçaram excomungá -lo. O papa manteve sua posiçã o,
a irmando que a autoridade do sucessor de Sã o Pedro era maior do que a autoridade imperial. Quando os exé rcitos
dos ilhos se reuniram contra o exé rcito de seu pai perto de Colmar, no verã o de 833, os irmã os persuadiram o papa
a ir ao acampamento de Luı́s para negociar. Quando ele voltou com o que julgou ser um acordo razoá vel, o papa
descobriu que Lothair o havia enganado. Na noite em que o papa voltou, a maioria dos partidá rios de Luı́s o
abandonou e o imperador foi forçado a se render incondicionalmente, sendo posteriormente deposto. Gregó rio IV
voltou a Roma abatido. Luı́s foi mais tarde restaurado ao poder, mas apó s sua morte um con lito sangrento se
desenvolveu entre os ilhos. O papa mais uma vez tentou mediar um acordo, mas sem sucesso.
Pouco mais se sabe sobre o ponti icado de Gregó rio IV. Ele construiu uma fortaleza em Ostia, que chamou de
Gregorió polis, para defender contra os sarracenos, que haviam se estabelecido na Sicı́lia. Em 831 ou 832, ele
també m recebeu Ansgar, que havia sido enviado em uma missã o entre os dinamarqueses, e deu-lhe o pá lio (a veste
de lã usada ao redor do pescoço de um arcebispo como um sinal de sua autoridade pastoral) e nomeou-o legado
papal para a Escandiná via e as missõ es eslavas. Por volta da mesma é poca, ele recebeu Amalarius de Metz (m. Ca.
850), um famoso erudito litú rgico, e designou um arquidiá cono para ensinar as prá ticas litú rgicas romanas de
Amaralius. O papa gastou grandes somas de dinheiro construindo e decorando igrejas. Ele encomendou um retrato
de si mesmo em mosaico que pode ser visto na abside de Sã o Marcos, a igreja onde havia sido cardeal-sacerdote na
é poca de sua eleiçã o para o papado. Ele morreu em 25 de janeiro de 844 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

102 Sergius II, janeiro de 844 - 27 de janeiro de 847.


O ponti icado de Sé rgio II foi um dos mais corruptos da histó ria do papado. O cardeal-sacerdote da igreja de Santi
Martino e Silvestro ai Monti, ele era idoso e com problemas de gota quando eleito no inal de janeiro de 844 por
seus companheiros aristocratas romanos em sua igreja titular. O povo romano havia anteriormente elegido Joã o, um
diá cono, e o entronizado no Palá cio de Latrã o, do qual ele foi rapidamente expulso. Dada a situaçã o instá vel, a
consagraçã o de Sé rgio como bispo de Roma ocorreu sem esperar a aprovaçã o formal da corte franca, conforme
exigido na Constituiçã o Romana de 824. O imperador Lothair reagiu com raiva a essa quebra de protocolo. Ele
enviou seu ilho Luı́s, o novo vice-rei da Itá lia, a Roma com um exé rcito. Ao longo do caminho, saqueou os territó rios
papais como um ato de retribuiçã o. Quando chegou a Roma, Luı́s ordenou um sı́nodo, realizado na Bası́lica de Sã o
Pedro, para investigar as circunstâ ncias da eleiçã o e consagraçã o de Sé rgio. Vinte bispos italianos compareceram.
Embora a eleiçã o de Sé rgio II tenha sido rati icada, ele e os cidadã os romanos tiveram que jurar lealdade a Lotá rio e
aceitar o princı́pio de que um papa eleito nã o poderia ser consagrado sem a aprovaçã o imperial e na presença do
representante do imperador. Sé rgio entã o coroou e ungiu o jovem Luı́s como rei dos lombardos.
Sé rgio (ou, talvez mais precisamente, seu irmã o Bento) provou ser um construtor ambicioso, incluindo entre suas
realizaçõ es a ampliaçã o da bası́lica de Latrã o. Mas ele (e Bento XVI) se engajou em mé todos duvidosos de
arrecadaçã o de fundos para realizar esses projetos de construçã o, incluindo a simonia. Os bispados e outros
escritó rios da igreja foram vendidos pelo lance mais alto. Em agosto de 846, apesar do aviso pré vio, os piratas
sarracenos saquearam com sucesso e por completo Sã o Pedro e Sã o Paulo (ambos fora das muralhas aurelianas da
cidade) - atos que muitos contemporâ neos viam como retribuiçã o divina pela corrupçã o papal. Sé rgio II morreu
menos de seis meses depois, em 27 de janeiro de 847, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

103 Leão IV, Santo, 10 de abril de 847 - 17 de julho de 855 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em janeiro,
mês de sua eleição, mas ele não foi consagrado Bispo de Roma até 10 de abril).
Leã o IV fez muito para consertar a cidade de Roma apó s os ataques sarracenos de 846, incluindo a construçã o de
um muro de 12 metros ao redor da Bası́lica de Sã o Pedro e grande parte do Monte do Vaticano, criando o que veio a
ser chamado de “Cidade Leonina”. Ele foi eleito papa por unanimidade no dia em que seu antecessor, Sé rgio II,
morreu (27 de janeiro de 847), e foi consagrado bispo de Roma seis semanas depois, em 10 de abril. Ele nã o
esperou o consentimento imperial exigido pela Constituiçã o Romana de 824, sob o argumento de que os recentes
ataques sarracenos à cidade impossibilitaram o atraso.
Alé m de dar atençã o à s muralhas de Roma, Leã o organizou uma aliança entre vá rias cidades gregas na Itá lia e em
849 lançou um ataque marı́timo bem-sucedido contra os sarracenos nos arredores de Ostia, quando se preparavam
para atacar Roma novamente. Em 854 ele reconstruiu Centumcellae (agora Civitavecchia), chamando-a de Leó polis.
O prestı́gio do papa crescia a cada nova iniciativa e sucesso. No entanto, suas relaçõ es com o imperador franco eram
tensas. Externamente, ele permaneceu respeitoso, mas agiu independentemente da corte imperial na maior parte do
tempo. Assim, embora ele tenha concordado em coroar e ungir o ilho do imperador Lothair, Luı́s II, em Roma, na
Pá scoa de 850, ele també m executou trê s agentes imperiais pelo assassinato de um legado papal.
O estilo autoritá rio de Leã o també m se re letiu em sua denú ncia de poderosos prelados francos como Hincmar,
arcebispo de Rheims, e Joã o, arcebispo de Ravena, pelo uso excessivo da autoridade episcopal, sua excomunhã o de
Anastá cio, cardeal-sacerdote de San Marcello (e um posterior antipapa), e sua recusa ao pedido de Lothair de
nomear Hincmar vigá rio apostó lico e conceder o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de
autoridade pastoral) ao bispo de Autun. Ele també m anulou o Sı́nodo de Soissons (853), que havia invalidado as
ordenaçõ es do bispo deposto temporariamente de Rheims, e exigiu que outro conselho fosse realizado, presidido
por representantes papais. Ele adotou uma abordagem arrogante para com o patriarca de Constantinopla,
castigando o patriarca por ter deposto o bispo de Siracusa (na Sicı́lia) sem primeiro consultar o papa, e convocando
ambas as partes a Roma.
Leã o IV era geralmente um disciplinador estrito em assuntos internos da igreja, como prá ticas penitenciais. Ele
també m promoveu a mú sica sacra e dizem que acrescentou asperges (borrifar á gua benta) à missa. Como muitos de
seus predecessores, Leã o IV reconstruiu ou restaurou vá rias igrejas em Roma, e seu retrato em fresco ainda pode
ser visto em a bası́lica inferior de Sã o Clemente. Ele morreu em 17 de julho de 855 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. Seu dia de festa, agora suprimido, era 17 de julho.

104 Bento III, 29 de setembro de 855 a 17 de abril de 858.


Pouco se sabe sobre o breve ponti icado de Bento III. Quando Leã o IV morreu, a primeira escolha do clero e dos
leigos romanos foi Adriano, cardeal-sacerdote de San Marco. Quando Adriano recusou a eleiçã o, Bento XVI, o
piedoso e erudito cardeal-sacerdote de San Calisto, foi escolhido. Mas ele també m resistiu e se refugiou em sua igreja
titular de San Callisto. As multidõ es o seguiram e o conduziram diretamente ao Palá cio de Latrã o, onde foi instalado
em 20 de julho de 855. No entanto, alguns indivı́duos pró -imperialistas in luentes preferiram Anastá cio (conhecido
como Anastá cio Bibliothecarius), o cardeal-sacerdote que Leã o IV excomungou porque ele havia buscado refú gio
com o imperador, residindo principalmente na diocese de Aquileia, e se recusou a retornar a Roma quando o papa o
ordenou de volta. Como Bento XVI nã o poderia ser consagrado sem a aprovaçã o imperial, o partido pró -imperial
aproveitou a situaçã o, trouxe Anastá cio para Roma e instalou-o no Palá cio de Latrã o, depois de arrastar Bento XVI
do trono e prendê -lo. Mas depois de trê s dias de anarquia, icou claro que Bento XVI tinha amplo apoio popular,
enquanto Anastá cio foi insultado. O grupo pró -imperialista cedeu e permitiu que a consagraçã o de Bento XVI
prosseguisse em 29 de setembro de 855. Anastá cio foi despojado de sua insı́gnia papal e expulso do Latrã o. Ele foi
reduzido ao status de leigo e con inado a um mosteiro. No entanto, ele ressurgiria nos pró ximos trê s ponti icados
como um importante conselheiro dos papas e seria nomeado bibliotecá rio da igreja romana (daı́ seu nome:
Anastasius Bibliothecarius, Anastasius o Bibliotecá rio).
Muito pouco mais sobreviveu do ponti icado de Bento III. Ele interveio em vá rias disputas eclesiá sticas, mas sem
um padrã o claro de realizaçã o. Ele permaneceu irme em a irmar a jurisdiçã o primacial de Roma sobre
Constantinopla e, como seu predecessor, Leã o IV, recusou-se a rati icar a deposiçã o do patriarca do bispo de
Siracusa (na Sicı́lia) até que ambas as partes viessem a Roma e ele (o papa) tivesse a oportunidade de examinar o
caso. O papa també m restaurou vá rias igrejas em Roma, incluindo a de Sã o Paulo.
Uma nota lateral interessante para o ponti icado de Bento XVI diz respeito ao lendá rio Papa Joana. Em uma versã o
medieval da lenda, Leã o IV foi sucedido nã o por Bento III, mas por um Joã o Anglicus, que dizem ter reinado por dois
anos, sete meses e quatro dias e que era de fato uma mulher. Segundo a histó ria, ela era natural de Mainz. Apó s uma
brilhante carreira como estudante em Atenas, ela veio para Roma, onde surpreendeu as pessoas com suas eruditas
palestras e vida edi icante. Apó s a morte de Leã o IV, ela foi eleita papa por unanimidade. Seu segredo, entretanto, foi
revelado quando ela deu à luz uma criança enquanto cavalgava em procissã o de Sã o Pedro para Latrã o. Em outra
versã o da lenda, ela sucedeu ao papa Victor III em 1087, mas simplesmente nã o há evidê ncias contemporâ neas de
nenhuma das versõ es.
Bento III morreu em 17 de abril de 858 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

105 Nicholas I, St., ca. 820-67, papa de 24 de abril de 858 a 13 de novembro de 867.
Como Leã o, o Grande (440-61), Gelá sio I (492-96) e Gregó rio, o Grande (590-604) antes dele, Nicolau I concebeu o
papa como o representante de Deus na terra, com autoridade sobre toda a Igreja, Oriente e Ocidente, incluindo todos
os seus bispos, e com o direito de zelar e in luenciar o estado e de receber proteçã o dele. Apó s a morte de Bento III,
uma parte do clero romano voltou-se mais uma vez para Adriano, o cardeal-sacerdote de San Marco, que havia
recusado a eleiçã o trê s anos antes. E mais uma vez ele retirou seu nome de consideraçã o. Nicolau, conselheiro e
amigo do papa anterior, foi eleito na presença e com a aprovaçã o do imperador Luı́s II, que correu para Roma assim
que soube da morte de Bento III. Nicolau I foi consagrado Bispo de Roma em 24 de abril de 858.
A visã o exaltada de Nicolau do papado moldou todo o seu ponti icado. Ele excomungou e depô s o arcebispo de
Ravenna e o reintegrou somente depois que ele prometeu se submeter a Roma no futuro. O papa també m entrou em
confronto com o arcebispo Hincmar de Rheims, o metropolita mais poderoso do impé rio, sobre a destituiçã o de
alguns de seus clé rigos e do bispo de Soissons pelo arcebispo. Ao anular as açõ es de Hincmar, Nicolau I apelou para
documentos falsos, conhecidos como Falsos Decretais (atribuı́dos a Isidoro de Sevilha), que a irmavam a autoridade
superior dos papas sobre sı́nodos e metropolitas. Quando a esposa do rei Lothair de Lorraine apelou ao papa
depois de ser abandonada por seu marido por outra mulher, e depois de um sı́nodo em Aachen e outro em Metz
rati icar o divó rcio e aprovar o segundo casamento de Lothair, o papa depô s e excomungou os dois arcebispos (de
Colô nia e Trier) quando entregaram os decretos sinodais a ele em Roma. O imperador Luı́s II enviou tropas a Roma
e Nicolau refugiou-se na Bası́lica de Sã o Pedro. Mas eventualmente o imperador recuou, e Lothair voltou para sua
esposa, pelo menos temporariamente.
Nicolau I foi igualmente assertivo em suas relaçõ es com o Oriente. Ele reviveu as reivindicaçõ es jurisdicionais há
muito adormecidas de Roma sobre o Ilı́rico, e quando o patriarca de Constantinopla, Iná cio, foi forçado a abdicar em
favor de Photius, o papa recusou-se a reconhecer Photius e o depô s e excomungou em um sı́nodo realizado em
Latrã o em 863 Quando o imperador bizantino Miguel III protestou, o papa o repreendeu, apontando que ele agiu em
conformidade com os direitos da Sé Apostó lica. As relaçõ es com o Oriente pioraram quando o papa enviou bispos
missioná rios à Bulgá ria em resposta a um apelo de seu rei, Bó ris I. O conselho da delegaçã o papal sobre questõ es
morais e canô nicas tinha um tom anti-bizantino, e Photius icou indignado com isso. Visto que a Bulgá ria havia sido
evangelizada originalmente por missioná rios bizantinos, ele sentiu que estava sob sua pró pria jurisdiçã o espiritual.
Depois de denunciar a interferê ncia latina aos outros patriarcas do Oriente, Photius convocou um sı́nodo em
Constantinopla (867) que excomungou e depô s Nicolau. O papa havia morrido (em 13 de novembro de 867) antes
que a palavra da açã o do Sı́nodo chegasse a Roma, mas as excomunhõ es mú tuas estabeleceram claramente as bases
para o Cisma Leste-Oeste de 1054 - um cisma que perdura até hoje. Embora o sucessor de Nicolau I, Adriano II,
recomendasse que seu nome fosse incluı́do nas oraçõ es da missa, o nome de Nicolau I nã o foi listado entre os santos
até 1630. Ele foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 13 de novembro.

106 Adriano [Adrian] II, 792-867, papa de 14 de dezembro de 867 a 14 de dezembro de 872.
Casado antes da ordenaçã o, Adriano II, cardeal-sacerdote de San Marco, era tã o amplamente respeitado que recusou
duas vezes a eleiçã o para o papado (em 855 e 858) antes de inalmente aceitar a eleiçã o em 867, e apenas porque os
partidá rios e oponentes de Nicolau I o estilo linha-dura nã o chegava a acordo sobre um sucessor. Embora nã o
saibamos a data da sua eleiçã o, foi consagrado Bispo de Roma na Bası́lica de Sã o Pedro a 14 de dezembro de 867,
pelos bispos Donato de Ostia, Formosus do Porto (que seria eleito Papa em 891, apenas para ter seu cadá ver
exumado e julgado em 897), Pietro da Caverna e Leone da Silva Câ ndida.
O ponti icado de Adriano II foi prejudicado desde o inı́cio, quando o duque de Spoleto atacou e saqueou Roma.
Entã o sua pró pria ilha foi estuprada e assassinada junto com sua mã e, a esposa do papa, por um irmã o do ex-
antipapa Anastá cio, que Adriano II havia nomeado arquivista papal. Adriano demitiu e excomungou Anastá cio, mas
menos de um ano depois deu-lhe outro cargo na chancelaria. O papa idoso també m mostrou fraqueza em outras
á reas. Ele devolveu a comunhã o ao rei Lothair de Lorena, embora o papa nã o tivesse nenhuma evidê ncia irme de
que o rei havia cumprido a ordem de Nicolau I de retomar sua esposa divorciada. Ele també m suspendeu a
excomunhã o da amante de Lothair. Alé m disso, ele falhou em suas tentativas de in luenciar a linha de sucessã o em
Lorraine apó s a morte de Lothair e de trazer disputas civis e eclesiá sticas nos reinos carolı́ngios perante a corte
papal. Por este ú ltimo, ele recebeu uma repreensã o mordaz do arcebispo Hincmar de Rheims. Ao contrá rio de
Nicolau I, no entanto, Adriano II recuou imediatamente.
Quando soube da excomunhã o e deposiçã o de seu predecessor pelo patriarca Photius, Adriano convocou um
sı́nodo em 869 que condenou Photius e seus associados. Ao mesmo tempo, ele enviou dois (e talvez trê s)
representantes pessoais ao Quarto Concı́lio de Constantinopla (869-70), embora eles nã o tivessem permissã o para
presidir como o papa solicitou. O concı́lio manteve a condenaçã o do sı́nodo romano de Photius, mas també m listou
os patriarcados na ordem de precedê ncia seguida no Oriente: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e
Jerusalé m. Roma sempre se opô s à colocaçã o de Constantinopla à frente de Alexandria, mas cedeu neste caso,
restaurando temporariamente a paz entre o Oriente e o Ocidente. No entanto, trê s dias apó s o encerramento do
conselho, o imperador Bası́lio decidiu que a Bulgá ria icaria sob a jurisdiçã o de Constantinopla, nã o de Roma. Um
metropolita bizantino foi consagrado para ela e o clero latino recebeu ordem de partir. Adriano reteve o controle
romano sobre a Morá via ao aprovar o uso da liturgia eslava antiga e consagrar Metó dio como arcebispo de Sirmium
e legado papal aos eslavos. O ú ltimo ato registrado de Adriano II foi o recrutamento de Luı́s II na Bası́lica de Sã o
Pedro no dia de Pentecostes (18 de maio) de 872. O papa morreu em 14 de dezembro de 872 e foi sepultado na
Bası́lica de Sã o Pedro.

107 João VIII, 14 de dezembro de 872 - 16 de dezembro de 882.


Joã o VIII foi o primeiro papa (mas nã o o ú ltimo) a ser assassinado. Colaborador pró ximo do papa Nicolau I (858-67)
e por vinte anos arquidiá cono, foi eleito papa por unanimidade e consagrado bispo de Roma no mesmo dia em que
seu predecessor, Adriano II, morreu. Eram tempos violentos e caó ticos, e o ponti icado de Joã o VIII enfrentou um
grande problema apó s o outro. Embora idoso quando eleito, ele tinha grande energia e determinaçã o. Na verdade,
ele estava determinado a reinar na maneira de Gregó rio, o Grande (590-604) e seu mentor, Nicolau I. Ele
pessoalmente assumiu o comando dos esforços defensivos contra os ataques dos sarracenos do sul, trabalhando
diligentemente para forjar um exé rcito aliança entre os estados do sul da Itá lia. Ele construiu um muro de defesa em
torno da Bası́lica de Sã o Paulo e comandou pessoalmente uma frota papal. Mas a aliança logo se desfez quando
alguns dos estados izeram sua pró pria “paz” separada com os invasores. O pró prio papa foi reduzido a suborná -los
també m.
Apó s a morte do imperador Luı́s II em 875, o papa mergulhou de cabeça na polı́tica imperial e reuniu o clero e o
Senado de Roma em apoio ao tio de Luı́s, Carlos, o Calvo, coroando-o imperador no Natal. Em gratidã o, Carlos
estendeu as fronteiras dos Estados papais e renunciou ao direito imperial de ter enviados em Roma e de qualquer
in luê ncia direta nas eleiçõ es papais. Mas o senso polı́tico de John revelou-se desastroso. Carlos, o Calvo, nã o foi de
nenhuma ajuda real para o papado e morreu logo depois que Carlomano, ilho de Luı́s, o alemã o (a quem o papa
havia rejeitado em favor de Carlos), marchou para a Itá lia para fazer valer suas reivindicaçõ es ao trono. Apó s uma
sé rie de eventos bizarros e complicados (Carlomano adoeceu e se retirou; os duques de Spoleto e Tuscia ocuparam
Roma e prenderam o papa; o papa foi libertado e viajou para a Provença, onde se inseriu mais uma vez em questõ es
de sucessã o temporal) , Joã o VIII voltou-se para o leste em busca de ajuda contra os sarracenos. Photius já havia
sido reintegrado como patriarca de Constantinopla e ainda havia muito rixa entre ele e Roma. Mas o papa estava
disposto a se comprometer para garantir ajuda militar. Com a presidê ncia de Photius, um concı́lio foi realizado na
Hagia Sophia em Constantinopla em novembro de 879, no qual o Segundo Concı́lio de Nicé ia (787) foi reconhecido,
embora tivesse condenado a iconoclastia (a visã o oriental de que o uso e veneraçã o de imagens sagradas é idó latra).
O conselho també m anulou os sı́nodos que anatematizaram Photius e proibiu qualquer acré scimo ao credo de
Constantinopla (381). Joã o VIII rati icou as decisõ es do conselho, contanto que nã o contradissessem nenhuma das
instruçõ es que ele havia dado a seus legados, e ele reconheceu Photius como patriarca.
Embora fosse em grande parte um papa polı́tico, Joã o VIII promoveu a santidade e a indissolubilidade do
casamento e a liberdade das eleiçõ es episcopais. Ele apoiou Metó dio, o apó stolo da Morá via, em seu con lito com o
clero alemã o e hú ngaro e aprovou o uso do eslavo antigo na liturgia em 880 (apó s tê -lo proibido a princı́pio). Ele foi
o primeiro papa a ser assassinado, tendo sido envenenado por alguns de seus associados, talvez até por seus
pró prios parentes, e depois espancado até a morte em 16 de dezembro de 882. Nenhuma das fontes indica uma
razã o para seu assassinato. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

108 Marinus I, 16 de dezembro de 882 - 15 de maio de 884.


Marinus I foi o primeiro bispo de outra diocese (Caere, agora Cerveteri) a ser eleito Bispo de Roma, em violaçã o do
câ non 15 do Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325). Filho de um padre, ele entrou para o serviço da igreja romana com a
idade de doze anos, foi ordenado diá cono por Nicolau I (858-67) e serviu como um dos trê s legados papais do
Quarto Concı́lio de Constantinopla (869- 70). Mais tarde, ele serviu como arquidiá cono e tesoureiro da igreja romana
e depois bispo de Caere na Etrú ria. As vezes erroneamente listado como Martinho II, ele foi eleito e consagrado
bispo de Roma em 16 de dezembro de 882, sem consultar o imperador Carlos III. No entanto, quando Carlos III
visitou a Itá lia, ele reconheceu o novo papa e teve discussõ es construtivas com ele. Marinus fez o possı́vel para
manter boas relaçõ es com Photius, o patriarca de Constantinopla. Embora Joã o VIII tivesse excomungado Fó cio em
869 (mais tarde reconhecendo-o em 879), Marinus manteve um amigo do patriarca como bibliotecá rio papal (uma
posiçã o importante naquela é poca). O papa també m manteve excelentes relaçõ es com o rei Alfredo, o Grande, da
Inglaterra e, a pedido do rei, isentou de impostos o bairro inglê s em Roma. Marinus I morreu em 15 de maio de 884
e foi sepultado no pó rtico, ou pó rtico, da Bası́lica de Sã o Pedro entre a Porta Argentea e a Porta Romana. (Como
muitos dos papas deste perı́o do que foram sepultados no pó rtico, seu corpo foi posteriormente transferido para a
cripta.)
109 Hadrian [Adrian] III, St., 17 de maio de 884 - setembro de 885.
Quase nada se sabe sobre o breve ponti icado de Adriano III, mas ele pode ter sido um dos poucos papas na histó ria
a ter sido assassinado. Sua eleiçã o para o papado, dois dias apó s a morte de Marinus I, está envolta na obscuridade.
Ele foi consagrado no mesmo dia, 17 de maio de 884. Ele parece ter sido um defensor das polı́ticas do Papa Joã o VIII
(872-82), em vez de seu predecessor imediato, Marinus I, enfatizando assim o ponto de que os papas geralmente
nã o sã o sucedidos por có pias de carbono deles mesmos. Um de seus poucos atos registrados foi a cegueira de um
alto funcioná rio do Palá cio de Latrã o, inimigo do papa Joã o VIII, a quem o papa Marino permitiu que retornasse do
exı́lio. Há també m um relato de que Adriano III mandou chicotear uma nobre nas ruas de Roma. Esses atos sugerem
que as vendetas sangrentas que eclodiram apó s o assassinato do Papa Joã o VIII em 882 continuavam.
Adriano III manteve a abordagem conciliató ria de seu predecessor para o Oriente, enviando uma noti icaçã o de
sua eleiçã o ao patriarca de Constantinopla, Photius, a quem Joã o VIII excomungou em 869 (embora ele
posteriormente o tenha reconhecido em 879). A pedido do imperador Carlos III, o papa partiu de Roma no verã o de
885 para participar da Dieta imperial de Worms (na Alemanha). Na falta de um herdeiro legı́timo, o imperador
esperava que o papa aprovasse o direito de sucessã o ao trono de seu ilho ilegı́timo. Em troca de sua cooperaçã o, o
papa aparentemente esperava que o imperador desse seu apoio à dura luta do papa com seus inimigos em Roma. No
entanto, o papa parece ter sofrido um crime durante sua jornada perto de Modena (na Itá lia). Seu corpo foi
enterrado na abadia de Nonantola. Apesar de ordenar a cegueira de um funcioná rio do palá cio e da puniçã o rude da
nobre, Adriano III era considerado um santo em Roma, e seu nome foi o icialmente adicionado à lista de santos em
1891. Ele també m teria escreveu a histó ria de Carlos Magno em quatro volumes. Dia da festa: 8 de julho (ou 9).

110 Stephen V (VI), setembro de 885 - 14 de setembro de 891.


(Para uma explicaçã o da numeraçã o dupla, veja Estê vã o II [III], nú mero 92, na Parte II.) Estevã o V (VI) é o grande
responsá vel por empurrar os eslavos para longe de Roma e eventualmente para os braços da Ortodoxia quando,
apó s o morte de Sã o Metó dio (885), um dos apó stolos dos eslavos, proibiu a liturgia eslava antiga. Sacerdote da
igreja de Santi Quattro Coronati, Estê vã o foi eleito por unanimidade no inal de setembro de 885 e foi consagrado
bispo de Roma pelo bispo Formoso do Porto (que se tornou papa em 891) em uma cerimô nia testemunhada pelo
bispo Giovanni de Pavia em sua qualidade de legado imperial. No entanto, por ter sido eleito sem a consulta do
imperador, Estê vã o foi ameaçado de depoimento. No entanto, o novo papa conseguiu dissuadir o chanceler imperial
de tomar tal atitude ao apontar que tinha sido a escolha unâ nime de todos os eleitores (clero romano e leigos
dirigentes) e que o embaixador imperial residente o ajudara a tomar posse do palá cio papal (o de Latrã o).
Estê vã o enfrentou problemas em duas frentes: con lito contı́nuo entre facçõ es em Roma e aumento dos ataques
sarracenos. O imperador Carlos III nã o pô de ajudar o papa porque tinha seus pró prios problemas na França; em
887 ele pró prio foi deposto. O Impé rio Carolı́ngio havia terminado. Quando ningué m interveio para preencher o
vá cuo de poder, o papa se voltou desesperado para Guido III, o duque de Spoleto, que havia tomado o trono da
Itá lia. O papa o coroou imperador na Bası́lica de Sã o Pedro em 891. O duque entã o a irmou sua pró pria supremacia
sobre os Estados Papais.
Estê vã o V (VI) manteve relaçõ es amigá veis com Constantinopla, com a esperança de que o imperador bizantino
pudesse fornecer ajuda militar contra os sarracenos. Quando Metó dio morreu em 6 de abril de 885, o papa escolheu
o discı́pulo de Metó dio Godarz como seu sucessor. No entanto, instigado pelo clero alemã o, o papa convocou Godarz
a Roma, informou-o de que nã o poderia usar a liturgia eslava antiga e nomeou um dos bispos sufragâ neos de
Metó dio como administrador da sé metropolitana. Quando icou claro para os discı́pulos de Metó dio que a Morá via
seria organizada de acordo com os desejos da hierarquia alemã , eles fugiram para a Bulgá ria, onde voltaram ao rito
bizantino na lı́ngua eslava. Com o tempo, essa igreja de lı́ngua eslava se espalhou para outros paı́ses, incluindo
especialmente a Rú ssia. Estê vã o V (VI) morreu em 14 de setembro de 891 e foi sepultado no pó rtico, ou pó rtico, da
Bası́lica de Sã o Pedro.

111 Formosus, ca. 815–96, papa de 6 de outubro de 891 a 4 de abril de 896.


Formosus é mais famoso (ou infame) pelo que aconteceu com ele apó s sua morte. Seu corpo foi exumado, apoiado
em um trono com as vestes pontifı́cias completas e submetido a um julgamento simulado (o chamado Sı́nodo do
Cadá ver) no qual o papa morto foi considerado culpado de perjú rio, de cobiça do papado e de ter violado o câ nones
que proı́bem a transferê ncia de um bispo de uma diocese para outra (tinha sido bispo do Porto antes de ser eleito
bispo de Roma). Os atos e ordenaçõ es papais o iciais de Formosus foram declarados nulos e sem efeito, e trê s dedos
de sua mã o direita (pelos quais ele fez juramentos e deu bê nçã os) foram cortados. Ele foi enterrado novamente em
uma vala comum e entã o exumado uma segunda vez e lançado no rio Tibre. Um eremita recuperou o corpo e deu-lhe
um terceiro enterro. O Papa Teodoro II (897) exumou o corpo pela terceira vez e deu-lhe um quarto e ú ltimo
sepultamento com honras na Bası́lica de Sã o Pedro.
Já com cerca de setenta e seis anos de idade quando foi eleito papa, Formosus havia desfrutado de uma carreira
extraordinariamente animada. Foi consagrado bispo do Porto em 864 e mais tarde enviado como missioná rio à
Bulgá ria em 866-67, onde teve um desempenho tã o brilhante que o rei Boris I exortou os papas Nicolau I e Adriano
II a nomear Formoso metropolitano do paı́s. Mas os dois papas recusaram por causa da proibiçã o canô nica de
transferir um bispo de uma diocese para outra. Formosus també m serviu como embaixador papal na França e na
Alemanha e desempenhou um papel de liderança no sı́nodo romano que excomungou o patriarca de Constantinopla,
Photius, em 869. Infelizmente, ele entrou em con lito com o Papa Joã o VIII, que temia uma rivalidade polı́tica, e em
876 foi excomungado e deposto sob a acusaçã o de traiçã o, por desertar sua diocese e por cobiçar o papado. Depois
que Formosus admitiu sua culpa e prometeu nã o retornar do exı́lio ou tentar recuperar sua diocese, ele foi
readmitido para a comunhã o leiga. Mas o sucessor de Joã o VIII, Marino I, chamou Formoso do exı́lio, reabilitou-o
canonicamente e restaurou-o bispo do Porto. Como bispo do Porto, Formoso consagrou o Papa Estê vã o V (VI) em
885 e foi eleito por unanimidade para suceder Estê vã o em 19 de setembro de 891. O facto de Formoso já ser bispo
de outra diocese nã o foi, por alguma razã o inexplicada, acusado - até depois de sua morte. Formosus foi consagrado
Bispo de Roma em 6 de outubro.
Como papa, ele fortaleceu e promoveu o cristianismo na Inglaterra e no norte da Alemanha. Ele també m manteve
relaçõ es amigá veis com Constantinopla, embora tenha falhado em suas tentativas de mediar uma disputa entre os
seguidores do antigo patriarca, Iná cio, e o novo patriarca, Estê vã o I, a quem os inacianos se opuseram porque ele
havia sido ordenado por Photius. Infelizmente, seu ponti icado foi colocado sob grande pressã o polı́tica por causa do
comportamento agressivo do duque de Spoleto (que o antecessor de Formoso, o papa Estê vã o V (VI), havia coroado
imperador). Formosus procurou a ajuda de Arnulf, rei dos francos, que acabou invadindo a Itá lia. O duque de
Spoleto morreu nesse ı́nterim e Arnulfo foi coroado imperador na Bası́lica de Sã o Pedro em meados de fevereiro de
896. Mas Arnulf foi paralisado e teve que abandonar qualquer açã o militar contra a casa de Spoleto.
Embora Formosus fosse um homem de inteligê ncia excepcional, habilidade e até santidade, ele fez alguns inimigos
polı́ticos ferrenhos, incluindo um de seus pró prios sucessores, Estê vã o VI (VII). Na verdade, foi Estê vã o VI (VII) que,
sob pressã o do co-imperador Lamberto e sua mã e (que se ressentia de Formoso por ter coroado imperador
Arnulfo), ordenou que o corpo de Formoso fosse exumado nove meses apó s sua morte, aos oitenta anos, e levado a
julgamento, sobre o qual o pró prio Stephen presidiu. Um diá cono atuou como advogado de defesa. Obviamente, a
defesa foi insu iciente. O falecido papa foi considerado culpado e seu corpo foi mutilado antes de ser jogado no rio
Tibre. O “Sı́nodo do Cadá ver” dividiu a igreja italiana em duas e foi um fator importante em vá rias eleiçõ es papais
subsequentes nas quais pró -formamos e anti-formamosanos foram colocados uns contra os outros. Talvez nã o seja
de admirar que nunca tenha existido um Papa Formoso II, embora o Cardeal Pietro Barbo tenha sido dissuadido de
adotar o nome em 1464. Em vez disso, ele adotou o nome de Paulo II.

112 Boniface VI, abril de 896.


Bonifá cio VI foi o ú nico homem eleito para o papado depois de ter sido destituı́do duas vezes (pelo Papa Joã o VIII,
nada menos) por imoralidade, uma vez do subdiaconato e a outra do sacerdó cio ordenado, ou presbité rio. Seu foi
provavelmente o segundo ponti icado mais curto da histó ria, depois de Urbano VII (doze dias em 1590). (E possı́vel
que tenha sido o mais curto ou o terceiro mais curto ponti icado, mas nã o sabemos o dia exato de sua consagraçã o
como Bispo de Roma ou o dia exato de sua morte.) Ele morreu depois de apenas cerca de quinze dias no cargo, o
vı́tima de um caso grave de gota. Filho de um bispo, Bonifá cio foi eleito quase imediatamente apó s a morte de
Formoso, provavelmente em 4 ou 11 de abril, sob pressã o de turbas rebeldes. Ele foi consagrado Bispo de Roma no
domingo seguinte à sua eleiçã o. A açã o do povo romano pode ter re letido sua hostilidade para com o ausente
imperador alemã o, Arnulf, e seu governador residente. Um sı́nodo romano convocado pelo Papa Joã o IX em 898
deplorou a eleiçã o de Bonifá cio VI, uma vez que ele havia sido duas vezes destituı́do por conduta indigna e nunca
havia sido reintegrado canonicamente. O sı́nodo ordenou que isso nunca mais acontecesse. Bonifá cio VI foi
sepultado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro.

113 Estêvão VI (VII), maio de 896 a agosto de 897.


(Para uma explicaçã o da numeraçã o dupla, ver Estê vã o II (III), nú mero 92, na Parte II.) O nome de Estê vã o VI (VII)
pertence aos infames papas por ter ordenado a exumaçã o do corpo do Papa Formoso e, em seguida, por presidir
durante um julgamento simulado (o chamado Sı́nodo do Cadá ver) do papa falecido em janeiro de 897, nove meses
apó s a morte do papa idoso. Por sua açã o vergonhosa, o pró prio Estê vã o foi mais tarde deposto, despojado de sua
insı́gnia papal, preso e estrangulado até a morte.
O julgamento de Formosus (ver Formosus, nú mero 111, acima) foi certamente inspirado por ó dio faná tico, mas
talvez també m por cá lculos canô nicos. A inal, Formosus havia nomeado Estê vã o bispo de Anagni. Se os atos e
ordenaçõ es papais de Formoso fossem declarados invá lidos (o que o Sı́nodo do Cadá ver fez), entã o a nomeaçã o e
ordenaçã o de Estê vã o como bispo de Anagni seriam invá lidas. Nesse caso, sua pró pria eleiçã o como bispo de Roma
nã o poderia ser contestada canonicamente com o fundamento de que ele já era bispo de outra diocese. O Primeiro
Concı́lio de Nicé ia (325) decidiu que nenhum bispo poderia ser transferido de uma diocese para outra. Na verdade,
essa foi uma das pró prias acusaçõ es contra o pró prio Formoso, a saber, que ele tinha sido bispo do Porto quando
eleito Papa.
Apó s o julgamento simulado, Estê vã o VI (VII) exigiu que o clero ordenado por Formosus apresentasse cartas
renunciando à s suas ordenaçõ es como invá lidas. Poucos meses depois, no entanto, uma populaçã o indignada,
incluindo muitos dos apoiadores de Formosus, se rebelou. Stephen foi deposto, preso e estrangulado até a morte.
Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

114 Romano, data de falecimento desconhecida, papa de agosto a novembro de 897.


Pouco ou nada se sabe sobre o ponti icado de Romano. Apó s a deposiçã o, prisã o e assassinato de Estê vã o VI (VII),
Romano foi eleito e consagrado bispo de Roma em uma data incerta, em agosto de 897. Ele já havia sido criado
cardeal por Estevã o VI (VII) no tı́tulo da Igreja de San Pietro in Vincoli (Sã o Pedro Cadeia). No entanto, sabemos que
Romanus era membro da facçã o pró -Formosana, o que mostra mais uma vez com que frequê ncia os papas sã o
sucedidos por homens diferentes deles em perspectiva e lealdade. Ele parece ter se tornado um monge apó s seu
breve perı́o do no trono papal. Nesse caso, ele provavelmente foi deposto pela mesma facçã o pró -Formoso que o
elegeu na esperança de substituı́-lo por um defensor mais vigoroso e e icaz da memó ria de seu heró i. Em qualquer
caso, a data precisa de sua morte é desconhecida. Nem sabemos onde ele foi enterrado.

115 Teodoro II, novembro / dezembro de 897 (dezembro de 897 na lista o icial do Vaticano).
Embora ele estivesse no cargo apenas vinte dias (as datas exatas sã o desconhecidas), Teodoro II realizou um sı́nodo
invalidando o chamado Sı́nodo do Cadá ver de 897, que havia colocado o cadá ver do Papa Formoso em julgamento
(ver Formosus, nú mero 111, acima) . Teodoro II reabilitou Formoso, reconheceu a validade de suas ordenaçõ es e
atos papais e ordenou que fossem queimadas todas as cartas solicitadas pelo Papa Estê vã o VI (VII) ao clero - cartas
nas quais eles foram forçados a renunciar à validade de suas ordenaçõ es por Formoso . Teodoro entã o ordenou que
o corpo de Formoso fosse exumado da sepultura particular em que fora colocado depois de ter sido lançado no rio
Tibre, vestido com as vestes pontifı́cias e reenterrado com honras em sua sepultura original na Bası́lica de Sã o
Pedro. As circunstâ ncias da morte de Teodoro II sã o desconhecidas, mas um historiador acredita que os atos
corajosos do papa lhe custaram a vida. Dada a atmosfera altamente carregada da é poca, essa especulaçã o
provavelmente nã o é sem fundamento. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

116 João IX, janeiro de 898 a janeiro de 900.


Joã o IX també m convocou um sı́nodo romano anulando o chamado Sı́nodo do Cadá ver de 897, que colocou o
falecido Papa Formoso em julgamento (ver Formosus, nú mero 111, acima). As circunstâ ncias da eleiçã o de Joã o para
o papado re letiam a situaçã o caó tica em Roma na é poca. Os inimigos do falecido Papa Formoso tomaram a iniciativa
e elegeram Sé rgio, bispo de Caere (agora Cerveteri), como papa. Depois que Sé rgio tomou posse da residê ncia papal
em Latrã o, o partido pró -Formoso apelou para Lamberto, rei da Itá lia, que Formoso coroou imperador em 892. Com
a ajuda de Lamberto, Sé rgio foi expulso do palá cio e Joã o, um beneditino abade, foi eleito papa e consagrado bispo
de Roma no inı́cio de janeiro de 898.
Joã o agiu rapidamente para completar os esforços de seu predecessor na reabilitaçã o do Papa Formoso. Ele
convocou um sı́nodo em Roma, com a presença de vá rios bispos do norte da Itá lia, que queimou os atos do Sı́nodo
do Cadá ver, perdoou alguns dos participantes (que alegaram ter agido sob compulsã o) e depô s outros, incluindo
Sé rgio, o bispo eleito pela primeira vez para suceder Teodoro II. As ordenaçõ es de Formosus foram reconhecidas
como vá lidas, assim como sua coroaçã o de Lambert como imperador (mas nã o sua coroaçã o do rival de Lambert,
Arnulf, rei dos Francos Orientais). O sı́nodo rea irmou a proibiçã o canô nica contra a transferê ncia de bispos de uma
diocese para outra, mas estipulou que o caso de Formosus era uma exceçã o à regra. O sı́nodo també m proibiu o
julgamento de pessoas falecidas e decretou que, embora o papa devesse ser eleito pelos bispos e pelo clero a pedido
do senado e do povo de Roma, sua consagraçã o deveria ocorrer na presença de representantes imperiais. Este foi
um renascimento dos termos da Constituiçã o Romana de 824, decretada pelo imperador Lotá rio I. Pouco depois
deste sı́nodo, o papa realizou um segundo sı́nodo maior em Ravena, que con irmou nã o apenas os atos do Sı́nodo
Romano, mas també m o antigos privilé gios da Santa Sé e suas possessõ es territoriais. No entanto, a morte do jovem
imperador em um acidente de caça e a irregularidade da sucessã o imperial impediram que a questã o das eleiçõ es
papais fosse cumprida. O caos total seguiria o ponti icado de John.
Em outras frentes, Joã o IX fez o possı́vel para manter boas relaçõ es com Constantinopla, enviou representantes
para lidar com problemas na Igreja da Morá via (mas foi repreendido pelos bispos da Baviera por interferir) e
devolveu o bispo de Langres (França) ao seu diocese depois de ter sido deposto pelo Papa Estê vã o VI (VII). Joã o IX
també m con irmou os privilé gios da abadia de Monte Cassino. Ele morreu em janeiro de 900 e foi enterrado na
Bası́lica de Sã o Pedro. No entanto, nenhum monumento homenageia sua memó ria.

117 Bento IV, fevereiro de 900 a julho de 903.


Muito pouco se sabe sobre o ponti icado de Bento IV, exceto que Roma continuou a ser dilacerada pelo con lito
partidá rio entre os defensores e inimigos do falecido Papa Formoso (891-96). Por causa do caos polı́tico e social,
poucos registros con iá veis permanecem desse perı́o do - o que explica por que as circunstâ ncias e a data da eleiçã o
e consagraçã o de Bento IV como bispo de Roma sã o incertas. Sabemos que ele realizou um sı́nodo no Latrã o (o
palá cio papal) em 31 de agosto de 900, que con irmou Arginus como bispo de Langres (França) e rati icou a
concessã o do pá lio pelo Papa Formoso (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade
pastoral) a ele. (Arginus havia sido deposto pelo Papa Estê vã o VI [VII], mas posteriormente restaurado pelo Papa
Joã o IX.) O papa també m excomungou formalmente aqueles que haviam assassinado o arcebispo de Rheims e instou
os bispos franceses a promulgar o decreto em todo o paı́s. Signi icativamente (em vista da proibiçã o canô nica contra
a transferê ncia de um bispo de uma diocese para outra), ele aprovou a eleiçã o de Estê vã o, ex-bispo de Sorrento,
como arcebispo de Ná poles. Ele també m apoiou Malcenus (també m Maclacenus), um bispo da Capadó cia (atual
Turquia), que havia sido expulso de sua diocese pelos sarracenos. O papa forneceu ao bispo cartas recomendando-o
aos cuidados e proteçã o de todos os cristã os.
Com a morte acidental do jovem Lamberto de Spoleto, que nã o deixou nenhum herdeiro homem, a Itá lia foi
lançada no caos polı́tico. Berengá rio de Friuli, rei da Itá lia desde 888, pode ter preenchido o vazio, mas foi derrotado
pelos magiares em 899 e sua supremacia na Itá lia foi posteriormente contestada pelo jovem rei Luı́s "o Cego" da
Provença, neto do imperador Luı́s II. O papa coroou Luı́s como imperador em fevereiro de 901, mas logo depois
disso Berengá rio recuperou sua força polı́tica e militar e derrotou Luı́s em agosto de 902, expulsando-o
de initivamente da Itá lia. Sem um protetor imperial, Roma mais uma vez caiu na anarquia polı́tica e social.
Lembrado como um papa que foi generoso com os pobres e os necessitados, alguns acreditam que Bento IV foi
assassinado por agentes de Berengar, provavelmente em julho de 903. Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro.

118 Leo V, d. início de 904 ou outubro de 905, papa de julho / agosto a setembro de 903.
Depois de menos de dois meses no cargo, Leã o V foi derrubado por um antipapa, Christopher, preso e assassinado.
Na é poca de sua eleiçã o, Leo era padre em uma cidade a cerca de 32 quilô metros a sudoeste de Roma. Os
historiadores nã o sabem como um homem que nã o era membro do clero romano poderia ter sido eleito papa neste
perı́o do. Possivelmente era um candidato de compromisso, escolhido por causa de sua boa reputaçã o. Mas talvez
por ser um estranho, ele foi derrubado em uma revoluçã o no palá cio por Christopher, cardeal-sacerdote de San
Damaso, que se declarou papa e mandou lançar Leã o na prisã o. Mas Christopher foi, por sua vez, deposto por Sé rgio
(mais tarde Papa Sé rgio III) e enviado para a prisã o com Leã o. Depois de suportar vá rias semanas de misé ria, ambos
foram assassinados. (Outra versã o diz que Christopher ordenou que Leo fosse assassinado, e entã o ele pró prio foi
assassinado por ordem de Sergius.) Uma lenda do sé culo XI confunde Leã o V com Tugdual (també m Tutwal e Tual),
um santo bretã o que se pensava ter sido milagrosamente eleito papa durante uma peregrinaçã o a Roma. Tugdual, no
entanto, realmente viveu no sé culo VI, nã o no dé cimo. (O Dictionnaire historique de la papauté de Levillain insiste que
Leã o V morreu " sans doute " [Fr., "sem dú vida"] em outubro de 905. JND Kelly coloca sua morte no inı́cio de 904.)
Leã o V pode ter sido sepultado em Sã o Pedro ou no Latrã o.

119 Sergius III, 29 de janeiro de 904 - 14 de abril de 911.


Embora a sabedoria convencional torne Alexandre VI (1492-1503) o sı́mbolo histó rico da corrupçã o papal, poucos
outros papas na histó ria podem competir com o assassino Sé rgio III, que foi responsá vel pela morte de seu
predecessor e rival de seu predecessor, o antipapa Cristó vã o. Posteriormente, ele realizou um sı́nodo que rea irmou
o infame Sı́nodo do Cadá ver de 897, que havia colocado o cadá ver do Papa Formoso em julgamento. Mais uma vez,
todas as ordenaçõ es de Formoso foram declaradas invá lidas e a Igreja foi lançada mais uma vez em um estado de
confusã o total. Diz-se també m que Sé rgio III teve um ilho ilegı́timo que se tornou um futuro papa (Joã o XI).
O pró prio Sé rgio tinha sido consagrado bispo de Caere (agora Cerveteri) pelo Papa Formoso e participou do
Sı́nodo do Cadá ver. Quando o sı́nodo invalidou as ordenaçõ es de Formoso, Sé rgio considerou-se reduzido ao
diaconado e foi reordenado pelo Papa Estê vã o VI (VII). Mesmo assim, Sé rgio ambicionava o papado e nã o queria que
o fato de ter sido bispo de outra diocese fosse acusado dele, por causa da proibiçã o canô nica de transferê ncia de um
bispo de uma diocese para outra. (A origem da proibiçã o foi o câ none 15 do Concı́lio de Nicé ia, em 325.) Dominado
pelo ó dio a Formoso, Sé rgio foi originalmente eleito papa para suceder Teodoro II em 897 e foi até instalado no
Palá cio de Latrã o, mas foi rapidamente ejetado em favor do pró -Formosano Joã o IX, que teve o apoio do imperador
Lamberto de Spoleto. Sé rgio foi deposto e exilado, mas se viu com uma segunda chance quando, sete anos depois, o
antipapa Cristó vã o derrubou Leã o V. Sergius marchou sobre Roma com uma força armada, jogou Cristó vã o na
prisã o, foi aclamado papa e foi consagrado em 29 de janeiro de 904. Pouco depois, ele estrangulou Leo e
Christopher até a morte na prisã o.
Sé rgio datou seu pró prio reinado de dezembro de 897, quando foi “eleito” pela primeira vez, e considerou todos
os papas subsequentes como intrusos. Ele forçou seu clero, sob ameaça de violê ncia, a participar de um sı́nodo que
anulou os dois sı́nodos de Joã o IX (898), um em Roma, o outro em Ravena, e rea irmou os atos do Sı́nodo do
Cadá ver de 897, incluindo a invalidaçã o do sı́nodo do papal do Papa Formoso atos e ordenaçõ es. Visto que
Formosus havia criado muitos bispos e eles, por sua vez, ordenado muitos padres, havia uma confusã o completa na
Igreja. Sergius ordenou, novamente sob ameaça, que todas aquelas ordenaçõ es fossem repetidas. Houve alguma
oposiçã o dispersa fora de Roma (o padre franco Auxilius escreveu defesas muito e icazes das ordenaçõ es de
Formoso, e o bispo Estê vã o de Ná poles també m in luenciou o papa falecido), mas a oposiçã o pú blica era impossı́vel
na pró pria cidade. Sé rgio tinha o apoio das famı́lias nobres, principalmente de Teo ilato, um poderoso o icial que
comandava a milı́cia local. Sé rgio era tã o pró ximo de sua famı́lia, na verdade, que se dizia que teve um ilho (o futuro
Papa Joã o XI) com a ilha de quinze anos da esposa de Teo ilato, Teodora. Tã o corrompidos foram Sé rgio e seus
sucessores imediatos pela famı́lia Teo ilato, que as dé cadas subsequentes foram chamadas de “pornocracia” do
papado.
Agindo de acordo com a forma, Sé rgio també m confundiu a Igreja Oriental quando, em oposiçã o à lei canô nica
oriental, aprovou o quarto casamento do imperador bizantino Leã o VI, em busca de um herdeiro homem. O
patriarca de Constantinopla, que se opô s ao casamento, foi deposto e exilado.
Sé rgio III concluiu a restauraçã o da Bası́lica de Latrã o, que havia sido gravemente dani icada durante um
terremoto durante o Sı́nodo do Cadá ver. Os partidá rios do Papa Formoso viram o terremoto como um sinal de
descontentamento divino com o Sı́nodo. Muitos cató licos podem se perguntar hoje por que aquele
descontentamento divino nã o pousou diretamente na cabeça de Sé rgio na forma de pedras caindo e vigas de
madeira. Ele morreu em 15 de abril de 911 e foi sepultado na Bası́lica de Latrã o. Seu tú mulo nã o foi preservado.

120 Anastasius III, ca. Junho de 911-ca. Agosto de 913 (abril de 911 a junho de 913 na lista o icial do Vaticano; o
Dictionnaire historique de la papauté de Levillain começa seu ponti icado em setembro de 911 e termina em
outubro de 913).
O ponti icado de Anastá cio III foi completamente dominado pela famı́lia Teo ilata, especi icamente por seu poderoso
chefe de famı́lia (cô nsul, senador, diretor inanceiro da Santa Sé ) e sua ambiciosa esposa, Teodora. Nenhum registro
sobreviveu da eleiçã o e consagraçã o de Anastá cio como bispo de Roma, e pouco de seu ponti icado. Existe apenas
um documento, um touro concedendo o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade
pastoral) ao bispo de Vercelli. Ele recebeu uma longa carta de Nicolau, o patriarca reintegrado de Constantinopla,
que deplorava a aprovaçã o do Papa Sé rgio III do quarto casamento do imperador Leã o VI em 906 e o
comportamento dos legados papais. Nã o há registro da resposta do papa, mas provavelmente foi insatisfató ria
porque Nicolau removeu o nome do papa da lista daqueles que deveriam ser orados na missa e mais uma vez as
relaçõ es entre Roma e Constantinopla azedaram. Apó s um ponti icado de pouco mais de dois anos, Anastá cio III
morreu e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

121 Lando [Landus], ca. Agosto 913-ca. Março de 914 (julho de 913 a fevereiro de 914 na lista o icial do Vaticano;
Dictionnaire historique de la papauté de Levillain começa seu ponti icado em novembro de 913 e termina em
março de 914).
Os historiadores nã o concordam com a data da eleiçã o e consagraçã o de Lando como bispo de Roma. E prová vel que
sua candidatura tenha sido aprovada pela poderosa famı́lia Teo ilato em Roma. Seu breve ponti icado de cerca de
seis meses foi indistinto. Na verdade, nada é registrado sobre seu reinado, exceto uma doaçã o, dada em memó ria de
seu pai, à igreja catedral em seu territó rio natal, Sabina. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

122 João X, março / abril de 914 a maio de 928 (março de 914 a maio de 928 na lista o icial do Vaticano; Dictionnaire
historique de la papauté de Levillain diz que seu ponti icado começou no início de abril e situa sua morte em 929).
Por tentar se distanciar das poderosas famı́lias nobres de Roma, Joã o X foi deposto, preso e sufocado até a morte
apó s um ponti icado de cerca de quatorze anos. Ele havia sido arcebispo de Ravenna por nove anos quando, por
instigaçã o da nobreza romana e especialmente da famı́lia Teo ilacta, foi eleito para o papado. A ironia nã o foi perdida
por aqueles que eram leais à memó ria do Papa Formoso (891-96), um papa cujo corpo foi exumado de sua
sepultura e colocado em julgamento pú blico, entre outras coisas por ter se mudado de uma diocese (Porto) para
outro (Roma) ao aceitar a eleiçã o para o papado. No entanto, com a crescente proeminê ncia da Sé Romana, as
objeçõ es canô nicas de longa data à eleiçã o de bispos de outras dioceses para o papado estavam começando a
enfraquecer.
Talvez o verdadeiro motivo da nobreza romana para convocar Joã o X de Ravena a Roma fosse sua reputaçã o de
liderança, numa é poca em que suas grandes propriedades eram ameaçadas pelos contı́nuos ataques sarracenos na
Itá lia central. Joã o X organizou imediatamente uma coalizã o de prı́ncipes italianos e convenceu o imperador
bizantino, Constantino VII, a fornecer ajuda naval. Apó s um cerco de trê s meses do qual o pró prio papa participou, a
aliança derrotou os sarracenos de forma decisiva em agosto de 915. No mê s seguinte, ele coroou Berengar I como
imperador na Bası́lica de Sã o Pedro, arrancando dele o juramento tradicional de garantir os direitos e posses da
Santa Sé .
Na frente eclesiá stica, Joã o X aprovou a regra moná stica estrita da recé m-fundada abadia de Cluny (910),
promoveu a conversã o dos normandos, resolveu disputas sobre a sucessã o episcopal nas dioceses de Narbonne e
Lovaina, respectivamente, e trabalhou (sem sucesso) trazer a Croá cia e a Dalmá cia de volta à comunhã o com Roma e
suprimir o uso litú rgico da lı́ngua eslava. No inal de 923, ele restaurou a unidade com a Igreja Oriental, uma unidade
que foi quebrada mais uma vez em 912 porque os papas Sé rgio III (904-11) e Anastá cio III (911-13) aprovaram o
quarto casamento do imperador, em violaçã o do Direito canô nico oriental. Na pró pria Roma, Joã o X reconstruiu e
decorou completamente o Latrã o. Mas ele també m tomou algumas açõ es bizarras, como con irmar a eleiçã o do ilho
de cinco anos do conde Heribert, Hugo, como arcebispo de Reims, em troca da qual garantiu a libertaçã o do rei
Carlos, o Simples, que Heribert havia aprisionado.
O que levou à queda do papa, no entanto, foram seus esforços deliberados para marcar um curso
independentemente das poderosas famı́lias nobres de Roma. Dois anos apó s o assassinato do imperador Berengar
em 924, Joã o X fez um pacto com o novo rei da Itá lia, Hugo da Provença. Isso alarmou Marozia, a ilha poderosa de
Teo ilato, que morrera cerca de seis anos antes. Ela e seu marido, Guido, o marquê s da Toscana, organizaram uma
revolta contra Joã o X e seu irmã o Pedro, em quem o papa cada vez mais con iava. Pedro foi morto no Latrã o, diante
dos olhos de Joã o X, e meio ano depois o pró prio papa foi deposto e preso no Castelo de Santo Angelo. Ele morreu
depois de vá rios meses (provavelmente no inı́cio de 929), quase certamente por as ixia por ordem de Marozia. Ele
foi enterrado na Bası́lica de Latrã o.

123 Leo VI, maio-dezembro 928.


O breve ponti icado de Leã o VI, um homem idoso (um padre no tı́tulo de Santa Susanna) quando eleito para manter
o trono papal aquecido por um ilho da poderosa famı́lia Teo ilato, nã o deixou nenhum traço histó rico signi icativo. E
canonicamente signi icativo, no entanto, que ele foi eleito e consagrado bispo de Roma enquanto seu antecessor,
Joã o X, ainda estava vivo e na prisã o. O depoimento de John fora canonicamente vá lido? Caso contrá rio, a eleiçã o de
Leã o VI foi invá lida e ele nã o pertence à lista o icial de papas. A ú nica carta sobrevivente do ponti icado de Leã o foi
escrita aos bispos da Dalmá cia e da Croá cia, pedindo-lhes que fossem obedientes ao seu arcebispo a quem o papa
havia concedido o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade pastoral) e a
contentar-se com suas fronteiras territoriais. Leã o VI morreu antes de seu antecessor, Joã o X, ser assassinado na
prisã o. Leã o VI foi sepultado em Sã o Pedro.

124 Estêvão VII (VIII), dezembro de 928 a fevereiro de 931.


(Para uma explicaçã o da dupla numeraçã o, veja Estê vã o II (III), nú mero 92, na Parte II.) Estê vã o VII (VIII) foi eleito
para suceder Leã o VI, enquanto o predecessor de Leã o, Joã o X, ainda estava vivo e na prisã o. A mesma questã o
canô nica que pode ser levantada sobre a validade da eleiçã o de Leã o VI ao papado pode ser levantada sobre a de
Estevã o. O depoimento de John fora canonicamente vá lido? Do contrá rio, a eleiçã o de Estê vã o foi invá lida e ele, como
Leã o VI, nã o pertence à lista o icial de papas. Como Leã o VI, Estê vã o VII (VIII) foi uma nomeaçã o provisó ria,
manipulada pela poderosa famı́lia Teo ilato e particularmente por Marozia, que queria garantir que seu ilho Joã o
um dia seria papa. Por causa da ausê ncia de registros escritos desse perı́o do turbulento e caó tico da histó ria papal,
as ú nicas açõ es registradas de Estê vã o dizem respeito à con irmaçã o ou extensã o de privilé gios concedidos a certos
mosteiros e casas religiosas na Itá lia e na França. Ele foi enterrado na cripta de Sã o Pedro.

125 João XI, março de 931 a dezembro de 935 ou janeiro de 936 (março de 931 a dezembro de 935 na lista o icial do
Vaticano).
Eleito e consagrado bispo de Roma quando ainda tinha vinte e poucos anos, o papa Joã o XI era ilho ilegı́timo do
papa Sé rgio III (904-11) e de Marozia, chefe da poderosa famı́lia Teo ilato. Este é o ú nico caso registrado de um ilho
ilegı́timo de um papa anterior que sucedeu ao papado.
Um dos primeiros atos o iciais de Joã o XI foi con irmar que a nova abadia reformista de Cluny (fundada em 909)
estava sob a proteçã o da Santa Sé e que seus abades deveriam ser eleitos livremente. Quando o imperador bizantino
Romano I pediu ao papa no inı́cio de 932 que aprovasse a nomeaçã o de seu ilho de 16 anos, Teo ilato, como
patriarca de Constantinopla, o papa o fez e no ano seguinte enviou dois bispos como seus representantes para
consagrar e entronizar os jovens homem - uma açã o que chocou muitos na Igreja Oriental. Nesse mesmo verã o, Joã o
XI o iciou o casamento da viú va Marozia e Hugo da Provença, rei da Itá lia. O casamento e a participaçã o do papa nele
foram altamente controversos porque Hugo era cunhado de Marozia. O casamento era contrá rio à s leis canô nicas da
é poca. També m era impopular entre o povo romano por causa de suas suspeitas de domı́nio estrangeiro. Uma
revolta foi incitada por Alberico II, ilho de Marozia de seu primeiro casamento, a quem Hugo havia insultado no
banquete de casamento. Em dezembro, uma multidã o armada invadiu o Castel Sant'Angelo, onde o casal residia.
Hugh escapou, mas Alberic prendeu sua mã e e seu meio-irmã o, o papa, e se proclamou prı́ncipe de Roma, senador
de todos os romanos, conde e patrı́cio. Nada mais se ouviu falar de Marozia, mas Joã o XI foi mais tarde libertado da
prisã o e colocado em prisã o domiciliar em Latrã o, onde Alberico o tratou como seu escravo pessoal. Um historiador
posterior do sé culo descreveu o papa como "impotente, sem qualquer distinçã o, administrando apenas
sacramentos". Ele foi sepultado na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.

126 Leão VII, 3 de janeiro de 936 - 13 de julho de 939.


Eleito por in luê ncia direta de Alberico II, o governante absoluto de Roma nessa é poca, Leã o VII foi consagrado
bispo de Roma em 3 de janeiro de 936, e depois restrito a funçõ es puramente eclesiá sticas durante seu ponti icado.
Provavelmente ele pró prio de origem beneditina, Leã o VII promoveu o renascimento do monaquismo. Ele convidou
o abade reformista Odo de Cluny a uma visita a Roma e con iou-lhe a tarefa de reformar as casas religiosas de Roma
e seus arredores. Ao mesmo tempo, o papa renovou os privilé gios da abadia restaurada em Subiaco, oitenta
quilô metros a leste de Roma, e també m de Cluny, na Borgonha. Uma sé ria mancha moral em seu histó rico ocorreu
em 937 ou por aı́, quando ele encorajou seu recé m-nomeado arcebispo de Mainz a expulsar os judeus que se
recusassem a ser batizados. Ele morreu em 13 de julho de 939, de causas desconhecidas e foi sepultado na Bası́lica
de Sã o Pedro.

127 Estêvão VIII (IX), 14 de julho de 939 a outubro de 942.


(Para uma explicaçã o da dupla numeraçã o, consulte Estê vã o II (III), nú mero 92, na Parte II.) Como seu predecessor,
Leã o VII, Estê vã o VIII (IX) foi eleito (no mesmo dia em que Leã o VII morreu) por meio do direto in luê ncia de
Alberico II, o governante absoluto de Roma na é poca. Foi consagrado bispo de Roma no dia seguinte, 14 de julho. E,
como Leã o VII, foi restringido por Alberico a assuntos puramente eclesiá sticos. Ele apoiou o novo mosteiro
reformista em Cluny e a reforma dos mosteiros em Roma e na Itá lia central (mas també m o fez Alberico por causa de
seu profundo interesse pessoal pelo monaquismo). Estê vã o apoiou Luı́s IV como rei da França e ordenou que o
povo e os nobres da França e da Borgonha o izessem sob pena de excomunhã o. Mais tarde naquele ano (942), ele
devolveu o arcebispo de Rheims à sua diocese, apó s ter estado deslocado por vá rios anos. O gesto conciliador desse
papa també m ajudou a suavizar a oposiçã o a Luı́s. Nos ú ltimos meses de sua vida, Estê vã o VIII (IX) caiu em desgraça
com Alberico, talvez porque se envolveu em uma conspiraçã o contra ele. O papa foi preso, mutilado e morreu de
seus ferimentos em algum momento no inal de outubro de 942. Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro.

128 Marinus II, 30 de outubro de 942 a maio de 946.


Como seus dois predecessores imediatos, Marinus II foi a criatura de Alberico II, o governante absoluto de Roma, e
foi autorizado a fazer pouco durante seu ponti icado. Eleito e consagrado Bispo de Roma poucos dias apó s a morte
de Estê vã o VIII (IX), Marinus II deixou pouco ou nenhum vestı́gio histó rico. Entre seus atos registrados estavam sua
defesa dos privilé gios e propriedades da abadia de Monte Cassino contra o avarento bispo de Cá pua e sua nomeaçã o
como chefe do mosteiro anexo à bası́lica romana de Sã o Paulo Fora dos Muros. Ele també m con irmou a nomeaçã o
de Frederico, arcebispo de Mainz, como vigá rio papal e enviado à Alemanha com autoridade para convocar sı́nodos
e lidar com abusos entre o clero e monges - o mesmo cargo conferido dois sé culos antes a Sã o Bonifá cio (d. 754),
apó stolo para a Alemanha. Marinus II à s vezes é erroneamente listado como Martin III (assim como o primeiro Papa
Marinus [882-84] foi erroneamente listado como Martin II). Ele morreu em algum momento durante o mê s de maio
de 946 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

129 Agapitus II, 10 de maio de 946 - dezembro de 955.


Agapitus II foi forçado por Alberico II, o governante absoluto moribundo de Roma, a jurar, em violaçã o direta do
decreto do Papa Symmachus em 499, que o pró ximo papa seria o ilho de Alberico, Otaviano. Como seus trê s
predecessores imediatos, Agapitus II fora eleito por in luê ncia direta de Alberico. Ele foi consagrado Bispo de Roma
em 10 de maio de 946.
Agapitus II con irmou o status especial da abadia reformista de Cluny na Borgonha e providenciou para que
monges alemã es da abadia de Gorze viessem a Roma para restaurar a disciplina na abadia ligada à bası́lica de Sã o
Paulo Fora dos Muros. Com o rei Otto I da Alemanha e o rei Luı́s IV da França, o delegado papal presidiu um sı́nodo
em Ingelheim, que resolveu a disputa sobre a sucessã o episcopal na diocese de Rheims e ordenou que o rival de Luı́s
na França se submetesse a Luı́s sob pena de excomunhã o. O papa rati icou essas decisõ es em um sı́nodo romano em
949. Ele també m deu amplo apoio a Otto, concedendo-lhe jurisdiçã o sobre os mosteiros, permitindo que seu irmã o
Bruno, arcebispo de Colô nia, usasse o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sı́mbolo da
autoridade pastoral), e indiretamente estendendo a jurisdiçã o de Otto sobre a Dinamarca por meio de poderes
concedidos ao metropolita de Hamburgo. Quando Otto pediu ao papa que transformasse o mosteiro que havia
fundado em Magdeburg em uma sé metropolitana, com autoridade supervisora sobre a missã o aos eslavos e com o
direito de estabelecer bispados e arcebispados e de inir limites eclesiá sticos, o papa concordou, muito com os
consternaçã o do arcebispo de Mainz.
Enquanto Alberico estava morrendo, ele convocou o clero e a nobreza à Bası́lica de Sã o Pedro, onde os obrigou,
na presença do papa, a fazer um juramento nã o canô nico de que seu ilho ilegı́timo Otaviano seria eleito para
suceder Agapitus II. O papa morreu um ano depois e foi sepultado na abside da bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.

130 João XII, 16 de dezembro de 955 a 14 de maio de 964.


Eleito (aos dezoito anos) por causa do juramento exigido ilegalmente do clero e da nobreza por seu pai moribundo,
Alberico II, governante absoluto de Roma, Joã o XII foi o terceiro papa na histó ria a mudar seu nome (Otaviano) apó s
a eleiçã o (o primeiro para fazer isso foi Joã o II em 533, cujo nome de nascimento era Mercú rio, e o segundo foi Joã o
III em 561, cujo nome era Catelinus). Ele estabeleceu o Sacro Impé rio Romano, coroando Otto I em 962, e permitiu
que o imperador rea irmasse a in luê ncia imperial nas eleiçõ es papais. A vida privada do papa foi marcada por
imoralidade grosseira (alguns o acusaram de converter o Palá cio de Latrã o em um bordel), e ele foi deposto por um
sı́nodo romano em dezembro de 963 a pedido do imperador, mas ele retomou o papado dois meses depois, apó s
depor seu sucessor, Leã o VIII. Joã o XII morreu aos vinte e oito anos - de um acidente vascular cerebral
supostamente sofrido enquanto estava na cama de uma mulher casada.
Apesar desse histó rico deplorá vel, ele conseguiu de alguma forma se envolver em atividades eclesiá sticas normais
de vez em quando. A Igreja espanhola, sob pressã o de ataques muçulmanos, buscou seu conselho. Ele apresentou o
pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade pastoral) aos arcebispos visitantes
de York e Canterbury em 957 e 960, respectivamente, e compartilhou o interesse de seu pai na reforma moná stica,
indo até mesmo em peregrinaçã o à abadia de Subiaco, cinquenta milhas a leste de Roma. Por outro lado, ele se
envolveu em uma tentativa desastrosa de ampliar os Estados Papais pela força militar contra Cá pua e Benevento,
enquanto as regiõ es do norte dos territó rios papais estavam sendo saqueadas pelo rei da Itá lia. O papa enviou dois
emissá rios ao rei da Alemanha, Otto I, para pedir sua ajuda e oferecer a coroa imperial em troca. Otto aceitou o
convite e os termos. Ele restaurou a soberania papal no norte da Itá lia e entrou em Roma em 31 de janeiro de 962.
Em 2 de fevereiro, o papa o ungiu e coroou imperador, junto com sua rainha, Adelaide, em Sã o Pedro. Este ato
estabeleceu o Sacro Impé rio Romano, que duraria até 1806.
Um sı́nodo romano convocou o papa a corrigir seus há bitos pessoais e decidiu certas questõ es que afetavam a
Igreja na Alemanha. Em 13 de fevereiro, Otto publicou o "Privilé gio Otoniano" ( Privilegium Ottanianum ), que
con irmava solenemente as doaçõ es de Pepino e Carlos Magno, mas que acrescentou novos territó rios substanciais
aos Estados Pontifı́cios compreendendo entre dois terços e trê s quartos da Itá lia. O decreto obrigava o imperador a
defender os direitos e bens da Igreja e restaurava as regras para as eleiçõ es papais, submetendo-as mais uma vez à
aprovaçã o imperial. Os papas deveriam jurar lealdade ao imperador e reconhecê -lo como o senhor dos Estados
papais, conforme estipulado pela constituiçã o de Lotá rio I em 824.
Joã o XII icou ressentido com o acordo. Assim que o imperador deixou Roma para travar batalhas em outros
lugares, o papa começou a intrigar contra ele com o odiado inimigo do imperador, Berengá rio II, rei da Itá lia. Em
novembro de 963, o imperador voltou a Roma, e Joã o XII fugiu com o tesouro papal para Tivoli. Otto presidiu um
sı́nodo em Sã o Pedro no qual, apó s ouvir acusaçõ es do clero sobre o comportamento indigno do papa, ele acusou o
papa de perfı́dia e traiçã o. O sı́nodo escreveu trê s vezes ao papa pedindo-lhe que comparecesse ao sı́nodo. Ele
recusou e ameaçou excomunhã o. Em sua ausê ncia, foi deposto em 4 de dezembro de 963. A pedido do sı́nodo, Otto
propô s o nome de Leã o, um leigo, como digno sucessor, e Leã o foi eleito em 4 de dezembro de 963, e consagrado
bispo de Roma dois dias depois, depois de receber todas as ordens sagradas necessá rias em sequê ncia. Há uma
sé ria questã o canô nica, é claro, se o sı́nodo tinha o direito de julgar o papa e depoı́-lo - o que, por sua vez, levanta
uma questã o sobre a validade da eleiçã o e consagraçã o de Leã o VIII.
O pró prio comportamento de Leã o no cargo perturbou o povo romano, que se reuniu em apoio a Joã o depois que
o imperador deixou a cidade mais uma vez. Leã o VIII fugiu e Joã o XII exigiu severas represá lias contra os
guerrilheiros imperiais. Em um sı́nodo em 26 de fevereiro de 964, o sı́nodo imperial anterior foi anulado, Leã o VIII
foi deposto e suas ordenaçõ es foram declaradas invá lidas. Mas logo depois disso, Otto marchou de volta para Roma
e Joã o se retirou da cidade mais uma vez. No inı́cio de maio, ele sofreu um derrame (dizem que quando estava na
cama com uma mulher casada) e morreu uma semana depois, ainda na casa dos vinte. Ele foi enterrado na Bası́lica
de Latrã o.

131 Leo VIII, 6 de dezembro de 963 - 1º de março de 965.


O ponti icado de Leã o VIII coincidiu com dois outros: o de Joã o XII (entre 4 de dezembro de 963 e a morte de Joã o
em 14 de maio de 964) e o de Bento V (entre 22 de maio e 23 de junho de 964). A legitimidade da pró pria eleiçã o de
Leã o em 963 tem sido uma questã o de debate canô nico por causa da natureza questioná vel da deposiçã o de Joã o XII
por um sı́nodo romano presidido pelo imperador alemã o em 4 de dezembro de 863. Signi icativamente, a lista o icial
de papas no Vaticano O Annuario Ponti icio aceita a sobreposiçã o sem resolver a questã o canô nica.
Leã o VIII havia sido um habilidoso o icial de Latrã o de boa reputaçã o. Ainda um leigo quando eleito por
aclamaçã o em 4 de dezembro de 963, apó s a deposiçã o de Joã o XII e com a aprovaçã o do imperador Oto I, ele teve
que ser levado à s pressas pelas vá rias Ordens menores e maiores antes de ser consagrado Bispo de Roma dois dias
depois por os bispos de Ostia, Porto e Albano. A eleiçã o de Leã o, entretanto, se mostrou impopular entre o povo
romano. Eles foram encorajados em sua insatisfaçã o pelo deposto Joã o XII de seu refú gio em Tivoli. Assim que o
imperador e suas tropas deixaram Roma em meados de janeiro, distú rbios generalizados irromperam na cidade e
Leã o VIII foi forçado a buscar asilo na corte imperial, permitindo assim que Joã o XII recuperasse o trono papal. Um
sı́nodo convocado por Joã o em Sã o Pedro em 26 de fevereiro depô s Leã o como usurpador e declarou sua
ordenaçã o e consagraçã o invá lida, bem como as Ordens sagradas daqueles que o pró prio Leã o havia ordenado.
Quando Joã o XII morreu apó s sofrer um derrame, supostamente enquanto estava na cama com uma mulher
casada, os romanos ignoraram Leã o VIII e instaram o imperador a eleger o cardeal-diá cono Bento XVI. O imperador
recusou porque ele havia organizado pessoalmente a eleiçã o de Leã o apó s a deposiçã o de Joã o XII. Mas os romanos
ignoraram os desejos do imperador e procederam à eleiçã o e entronizaçã o de Bento XVI como Bento V em 22 de
maio. O imperador reentrou na cidade em 23 de junho e reintegrou Leã o VIII como papa. Poucos dias depois, Leã o
convocou outro sı́nodo que depô s e degradou eclesiasticamente Bento V, que mais tarde foi deportado para
Hamburgo em 865. Nada mais se sabe do breve e canonicamente duvidoso ponti icado de Leã o VIII. Ele foi
enterrado em Sã o Pedro.

132 Benedict V, d. 4 de julho de 966, papa de 22 de maio a 23 de junho de 964.


O ponti icado de um mê s de Bento V foi canonicamente duvidoso porque outro pretendente ao papado, Leã o VIII,
ainda estava vivo. Quando o licencioso Joã o XII morreu em 14 de maio de 964, o povo romano e muitos clé rigos
ignoraram os desejos do imperador Oto I de reinstalar Leã o VIII (a quem Joã o XII havia deposto como usurpador).
Em vez disso, em 22 de maio, eles aclamaram Bento XVI, um erudito cardeal-diá cono reformista, como papa,
consagrou-o como bispo de Roma e o entronizou no Palá cio de Latrã o.
O imperador sitiou a cidade de Roma, ameaçando submeter o povo à fome. O povo logo cedeu e entregou Bento
XVI ao imperador em 23 de junho. Um sı́nodo foi imediatamente realizado em Latrã o, presidido conjuntamente por
Leã o VIII e o imperador Otto I. Bento XVI foi condenado como usurpador (o que era apenas se Leã o VIII fosse sua
duvidosa eleiçã o e consagraçã o em dezembro de 963 foram canonicamente vá lidas), foi despojado de suas vestes e
insı́gnias pontifı́cias, e teve sua equipe pastoral, ou bá culo, quebrada sobre sua cabeça pelo pró prio Leã o enquanto
Bento XVI estava prostrado.
O imperador permitiu que Bento XVI mantivesse o posto de diá cono, mas o deportou para Hamburgo, onde o
bispo local o tratou com cortesia e dignidade. Quando Leã o VIII morreu em 1º de março de 965, alguns pediram a
restauraçã o de Bento V ao trono papal, mas nã o houve interesse geral nele. No entanto, Bento XVI ainda era
amplamente admirado e respeitado pela santidade de sua vida (em nı́tido contraste com o libertino Joã o XII). Pouco
mais de vinte anos apó s sua morte em Hamburgo (4 de julho de 966), o corpo de Bento XVI, que inicialmente havia
sido enterrado na catedral de Hamburgo, foi devolvido a Roma pelo imperador Oto III. Seu local de sepultamento em
Roma, no entanto, é desconhecido.

133 João XIII, 1 de outubro de 965 - 6 de setembro de 972.


O ponti icado de Joã o XIII foi amplamente a serviço da agenda eclesiá stica e polı́tica do imperador alemã o Otto I, que
in luenciou diretamente a eleiçã o de Joã o. Mais uma vez, a antiga proibiçã o canô nica contra a transferê ncia de bispos
de uma diocese para outra foi ignorada. Joã o havia sido bispo de Ná rnia, na Umbria, quando eleito e consagrado
bispo de Roma.
Seu ponti icado começou com uma nota negativa. O povo romano se ressentia de sua dependê ncia de um
soberano estrangeiro e o odiava por seu estilo autoritá rio de governo. No meio de uma revolta popular, menos de
trê s meses apó s sua eleiçã o, Joã o foi atacado, preso e exilado na Campagna. Ele escapou e fez contato com o
imperador. Os romanos inalmente se arrependeram de suas açõ es e, em 14 de novembro do ano seguinte,
receberam Joã o XIII de volta à cidade. O pró prio imperador voltou a Roma no Natal, puniu severamente os lı́deres da
revolta e permaneceu na Itá lia até o verã o de 972, o tempo todo dando proteçã o ao papa.
Um sı́nodo em Ravenna em 967, presidido pelo papa e pelo imperador, aprovou uma legislaçã o contra os
casamentos clericais e restaurou grandes territó rios aos Estados papais. Joã o XIII, por sua vez, atendeu ao desejo do
imperador, contra a oposiçã o da hierarquia alemã , de que Magdeburg fosse elevado a arquidiocese, e no ano
seguinte o papa consagrou Adalberto como seu primeiro e mais importante arcebispo. No Natal de 967, Joã o coroou
o ilho de 12 anos de Otto, Otto II, como co-imperador. Menos de cinco anos depois, na esperança de que as relaçõ es
entre o Oriente e o Ocidente pudessem ser melhoradas, Joã o XIII o icializou o casamento de Otto II com uma princesa
grega, sobrinha do imperador bizantino Joã o I, e a coroou imperatriz. Mas as tensõ es se aprofundaram,
especialmente quando o papa elevou Cá pua e Benevento a arquidioceses metropolitanas, embora caı́ssem em
provı́ncias sob controle bizantino. A im de limitar a in luê ncia de Roma nas provı́ncias bizantinas de Apú lia e
Calá bria, o patriarca de Constantinopla retaliou fazendo do bispo de Otranto um arcebispo com cinco bispos
sufragâ neos sob ele.
Apó s sua morte em 6 de setembro de 972, Joã o XIII foi sepultado na bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros.

134 Bento VI, 19 de janeiro de 973 a julho de 974 (19 de janeiro de 973 a junho de 974 na lista o icial do Vaticano).
Quando seu protetor, o imperador Otto I, morreu, Bento VI foi capturado, preso e estrangulado até a morte por
ordem do antipapa Bonifá cio, um instrumento da nova poderosa famı́lia Crescentii em Roma. As circunstâ ncias da
eleiçã o de Bento XVI (em setembro ou outubro de 973) permanecem obscuras. Ele parece ter tido o apoio tanto do
partido pró -imperial quanto dos reformadores, que se opuseram a outro papa polı́tico. Ele nã o teve o apoio da
aristocracia romana. A consagraçã o de Bento XVI como bispo de Roma foi adiada até 19 de janeiro de 973, porque,
sob as regras restauradas, a aprovaçã o imperial formal era exigida e o imperador estava de volta à Alemanha na
é poca.
As primeiras decisõ es de Bento VI foram consistentes com os interesses do imperador e també m dos
reformadores. Ele con irmou a posiçã o de premier de Trier, a diocese mais antiga da Alemanha, promoveu a reforma
dos mosteiros e proibiu os bispos de cobrar taxas por ordenaçõ es e consagraçõ es. Mas quando Otto morreu em 7
de maio, o papa perdeu seu pilar de sustentaçã o. O novo imperador, Otto II, preocupado com seus pró prios
problemas na Alemanha, nã o pô de ajudar quando uma facçã o nacionalista, liderada pelo chefe da famı́lia Crescentii,
montou uma revolta contra Bento VI. Em junho de 974, o papa foi apreendido e encarcerado no Castelo de Santo
Angelo.
Um cardeal-diá cono chamado Franco, que era o candidato originalmente escolhido pela famı́lia Crescentii para
suceder Joã o XIII, foi rapidamente eleito e consagrado papa, recebendo o nome de Bonifá cio VII. O representante
imperial correu para Roma no mê s seguinte para exigir a libertaçã o de Bento XVI, mas Bonifá cio, o antipapa,
mandou estrangulá -lo até a morte por um padre chamado Estevã o, a im de fortalecer sua pró pria reivindicaçã o
sobre o papado. O representante imperial liderou uma força que invadiu o castelo, mas Bonifá cio escapou, levando
uma parte do tesouro papal com ele. Outro papa foi eleito (Bento VII) e Bonifá cio foi excomungado. No entanto,
Bonifá cio voltou a Roma seis anos depois, apó s a morte do imperador Otto II, para reclamar o papado do impopular
Bento VII (que foi posteriormente preso, deposto e assassinado).
Notavelmente, o antipapa Bonifá cio VII permaneceu no cargo por cerca de onze meses sem protesto imperial ou
popular signi icativo. Ele morreu repentinamente em 20 de julho de 985, levantando suspeitas de que ele havia sido
assassinado. Seu corpo foi despojado de suas vestes, arrastado nu pelas ruas e deixado aos pé s da está tua de Marco
Auré lio (entã o em frente ao palá cio papal de Latrã o), onde foi pisoteado e esfaqueado repetidamente com lanças. Ele
foi referido agora como “Malefatius” (“malfeitor”) ao invé s de “Bonifá cio” (“fazedor do bem”). Até 1904 Bonifá cio VII
foi classi icado como um papa legı́timo, e o pró ximo papa a assumir o nome Bonifá cio assumiu o nú mero VIII. Alguns
argumentaram que Bonifá cio VII era um papa legı́timo desde a morte de Joã o XIV em agosto de 984. O papa legı́timo,
Bento VI, morreu por estrangulamento em junho de 974 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

135 Bento VII, outubro de 974 a 10 de julho de 983.


Durante o ponti icado de Bento VII, as visitas o iciais de bispos e leigos (conhecidas como visitas ad limina , ou seja,
"aos limiares", ou tú mulos, dos apó stolos Pedro e Paulo) tornaram-se mais frequentes, assim como a prá tica de
encaminhar questõ es controversas para o papa. Depois que Bento VI foi assassinado pelo antipapa Bonifá cio VII,
Bento VII, entã o bispo de Sutri, perto de Viterbo, foi eleito papa com o apoio do imperador Oto II e do partido pró -
imperial e famı́lias aristocrá ticas de Roma. Ele foi consagrado bispo de Roma em outubro de 974. O novo papa
imediatamente convocou um sı́nodo no qual o antipapa Bonifá cio VII foi excomungado. No entanto, Bonifá cio
montou uma revolta contra Bento VII no verã o de 980, forçando o papa a deixar a cidade. O papa apelou ao
imperador, mas demorou até março seguinte para ser restaurado.
Bento VII foi principalmente um papa espiritual, em vez de polı́tico. Ele promoveu o monasticismo e a reforma
moná stica na França, Alemanha e Itá lia, e em um sı́nodo na Bası́lica de Sã o Pedro em março de 981, ele proibiu a
simonia (a compra e venda de ofı́cios da igreja e benefı́cios espirituais). Mas em outros assuntos eclesiá sticos, ele era
pouco mais do que uma ferramenta do imperador. Por exemplo, ele suprimiu e dividiu a diocese de Merseburg na
Alemanha para que seu bispo, um favorito do imperador, pudesse ser promovido à diocese de maior prestı́gio de
Magdeburg. Alguns consideram este ato de repressã o um retrocesso nos esforços para converter a Europa Central.
Bento XVI també m promoveu a agenda anti-bizantina do imperador ao concordar em elevar Salerno a arquidiocese
e estabelecer Trani como uma diocese latina independente da diocese de Bari, controlada pelos bizantinos.
Apó s sua morte em 10 de julho de 983, Bento VII foi sepultado em Santa Croce in Gerusalemme, uma das sete
antigas bası́licas de Roma, talvez por causa do relato de que uma vez ele tinha ido a Jerusalé m como peregrino (antes
de ser eleito papa) e trouxe de volta um fragmento, ou relı́quia, da Verdadeira Cruz.

136 João XIV, dezembro de 983 - 20 de agosto de 984.


Joã o XIV nã o foi o primeiro papa a mudar seu nome ao ser eleito papado (Joã o II o fez em 533, Joã o III em 561 e
Joã o XII em 955), mas foi o primeiro a fazê -lo por causa de seu batismo nome era Peter. Ele nã o queria tomar o
nome papal do pró prio Abençoado Apó stolo. (O ú nico outro papa a renunciar ao nome de Pedro foi Sé rgio IV em
1009.) Apó s a morte de Bento VII em 10 de julho de 983, o imperador Otto II ofereceu o papado a Maiolos, o
conceituado abade de Cluny na Borgonha, quem recusou. Sem consultar o clero e o povo de Roma, o imperador
escolheu Pedro Canepanova, seu ex-arqui-reitor da Itá lia e agora bispo de Pavia. Evidentemente, as negociaçõ es com
Peter demoraram, porque só em dezembro ele aceitou a nomeaçã o. Na verdade, parece que nã o houve eleiçã o
alguma. Consequentemente, o novo papa assumiu o cargo sem aliados na cidade e o imperador como seu ú nico
constituinte.
Assim que Joã o XIV foi empossado, Otto II foi acometido de malá ria e morreu nos braços do papa. A imperatriz
Teó fano imediatamente deixou Roma e foi para a Alemanha para defender a reivindicaçã o de seu ilho Otto III, de
trê s anos. Joã o XIV estava agora completamente indefeso contra seus inimigos. O antipapa Bonifá cio VII retornou do
exı́lio em Constantinopla em abril de 984. Joã o foi preso, espancado, deposto do cargo e encarcerado no Castelo de
Santo Angelo. Ele morreu quatro meses depois de fome. Alguns relatos indicam que ele foi envenenado. O ú nico
documento sobrevivente de seu ponti icado é um decreto que concede o pá lio (a vestimenta de lã usada ao pescoço
como um sinal de autoridade pastoral) ao arcebispo de Benevento, um ato com conotaçõ es polı́ticas devido aos
interesses do imperador no sul da Itá lia. Joã o XIV foi sepultado em Sã o Pedro.

137 João XV, agosto 985 - março 996.


Joã o XV foi o primeiro papa a canonizar formalmente um santo: Ulric, bispo de Augsburg, em 993. O cardeal-
sacerdote da igreja de San Vitale quando eleito com o apoio da poderosa famı́lia Crescentii, Joã o XV, deve-se notar,
foi considerado o sucessor do antipapa Bonifá cio VII, que morreu em 20 de julho de 985, ao invé s do Papa Joã o XIV,
que morreu de fome ou envenenamento em 20 de agosto de 984, apó s ter sido deposto e preso por Bonifá cio. Na
verdade, Bonifá cio VII só foi considerado um antipapa desde 1904. Antes disso, ele foi incluı́do nas antigas listas de
papas, embora geralmente descrito como um intruso. Alé m disso, o pró ximo papa a receber o nome de Bonifá cio
recebeu o nú mero VIII, nã o VII. Assim, o Espı́rito Santo pode cruzar os ios canô nicos!
Imediatamente apó s sua eleiçã o, Joã o XV aliou-se à nobreza romana e alienou seu clero no processo. Sua ganâ ncia
també m alimentou seu desprezo por ele. No entanto, o novo papa atendeu (principalmente) aos negó cios polı́ticos.
Ele mediou uma disputa entre o rei da Inglaterra e o duque da Normandia em 991. No ano seguinte, ele aceitou a
Polô nia do duque Mieszko como feudo papal, com a responsabilidade de proteger a Polô nia da Alemanha e da
Boê mia. Mesmo sua canonizaçã o histó rica de Ulric de Augsburg em 993 promoveu os interesses imperiais. Em outra
frente, e instigado pela hierarquia alemã , ele interveio em 992 na disputa sobre a deposiçã o de Arnulf (també m
Arnoul) como arcebispo de Rheims, instigado pelo rei da França e aprovado pelo sı́nodo de Santa Basilé ia , Verzy, em
991. O novo arcebispo escolhido pelo rei foi Gerberto de Aurillac (futuro Papa Silvestre II). Os bispos franceses
agiram independentemente de Roma e insistiram que estavam dentro de seus direitos canô nicos para fazê -lo. Eles
rejeitaram os esforços do papa para chamá -los de “no tapete” por suas açõ es. Um sı́nodo realizado em Mouzon, nas
Ardenas, posteriormente condenou e suspendeu Gerbert (995), mas deve-se notar que apenas bispos alemã es
estavam presentes. (Apó s a morte do rei, Arnulf foi restaurado em Rheims.)
O chefe da poderosa famı́lia Crescentii morreu em 988 e foi sucedido por seu irmã o tirâ nico, que tomou o poder
nos Estados Papais e os governou de maneira ditatorial. Depois que a imperatriz Teó fano morreu em junho de 991, a
posiçã o do papa se deteriorou vertiginosamente. Em março de 995, enfrentando o desprezo de seu pró prio clero
por sua avareza, nepotismo e sofrimento sob o domı́nio severo da famı́lia Crescentii, Joã o XV foi forçado a buscar
asilo em Sutri, de onde enviou emissá rios ao jovem imperador Otto III para procure ajuda contra seus inimigos.
Quando começou a circular a notı́cia do contato de Joã o com o imperador e da decisã o do imperador de vir a Roma,
a nobreza romana convidou o papa de volta à cidade e reinstalou-o no Palá cio de Latrã o com todas as honras
apropriadas. Otto III partiu de Regensburg em fevereiro de 996, mas o papa morreu de febre antes que o imperador
chegasse a Roma. Joã o XV foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

138 Gregório V, Saxão, 972-99, papa de 3 de maio de 996 a 18 de fevereiro de 999.


Gregó rio V foi o primeiro papa alemã o. Ele tinha apenas 24 anos quando foi escolhido pelo primo de seu pai, o
imperador Otto III, a quem serviu como capelã o. O papa designado, Bruno de nome e bisneto do imperador Otto I, foi
acompanhado a Roma por dois bispos alemã es e foi formalmente eleito e consagrado em 3 de maio de 996, tomando
o nome de Gregó rio V em respeito ao Papa Gregó rio o Grande (590-604). Ele é o primeiro papa, portanto, a assumir
um novo nome ao ser eleito papa, exceto pelo motivo de seu nome de nascimento ser pagã o (Mercú rio, Catelino ou
Otaviano) ou do Abençoado Apó stolo Pedro.
Na festa da Ascensã o, pouco mais de duas semanas depois, Gregó rio V coroou Otto imperador e patrı́cio na
Bası́lica de Sã o Pedro e o nomeou protetor da Igreja. Em um esforço para restaurar relaçõ es harmoniosas entre o
papado e os centros de poder romanos na aristocracia e na Cú ria, ele começou a traçar um curso independente do
imperador. O imperador, por sua vez, recusou-se a renovar o pacto de Otto I com a Santa Sé ou a devolver certos
territó rios aos Estados papais, como Gregó rio exigia. Gregó rio V també m declarou o amigo do imperador Gerberto
(o futuro Papa Silvestre II) um intruso na arquidiocese de Rheims (ver Joã o XV, nú mero 137, acima) e Arnulf
(també m Arnoul) como seu bispo legı́timo.
Depois que o imperador deixou Roma em junho de 996 para o clima mais frio da Alemanha, o ressentimento local
em relaçã o ao papa estrangeiro transbordou e o papa foi expulso de Roma por um grupo liderado pelo lı́der da
poderosa famı́lia Crescentii - um homem que o recé m O papa eleito exortou o imperador a perdoar, em vez de
mandá -lo para o exı́lio, como puniçã o por seu tratamento ao Papa Joã o XV. Gregó rio V se refugiou em Spoleto, de
onde fez duas tentativas armadas para recuperar Roma. Ambas as tentativas falharam. Ele se mudou para a
Lombardia em janeiro de 997 e no inı́cio do mê s seguinte realizou um sı́nodo em Pavia, que excomungou o chefe da
famı́lia Crescentii e restaurou o antigo governo do Papa Symmachus (499) de que nenhum acordo sobre a sucessã o
papal poderia ser feito enquanto o papa em exercı́cio ainda estava vivo.
Mais tarde naquele mê s, o agora excomungado chefe da famı́lia Crescentii declarou vago o ofı́cio papal e, com a
conivê ncia do enviado bizantino, fez com que Joã o Filagato, arcebispo de Piacenza, fosse eleito e consagrado Joã o
XVI. O novo antipapa logo foi excomungado pelos bispos ocidentais e Gregó rio V voltou a Roma na companhia do
imperador, onde presidiu um sı́nodo que depô s o antipapa Joã o XVI, já cego e gravemente mutilado, e o encarcerou
em um mosteiro. (Mais tarde, ele foi formalmente julgado, deposto, destituı́do e despido de suas vestes pontifı́cias.)
Crescentius, o chefe da famı́lia Crescentii, foi decapitado no Castelo Sant'Angelo.
Durante o restante de seu ponti icado, Gregó rio manteve uma relaçã o difı́cil com o imperador. Embora ele tenha
suspendido os bispos franceses que haviam participado da deposiçã o de Arnulf (Arnoul) de Rheims e restaurado
Arnulf para sua arquidiocese, ele teve que aceitar a nomeaçã o do imperador de Gerberto como arcebispo de
Ravenna e em 998 enviar-lhe o pá lio (o de lã vestimenta ao pescoço como sinal de autoridade pastoral). Por outro
lado, contra a vontade do imperador, ele iniciou o processo de restauraçã o da sé de Merseburg, que havia sido
suprimida e dividida por ordem do imperador em 981.
Gregó rio V morreu de malá ria em fevereiro de 999, com menos de trinta anos de idade. Se ele nutriu alguma
esperança de estar no trono papal na virada do milê nio no ano seguinte, essas esperanças foram frustradas pela
Providê ncia Divina. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.

139 Sylvester [Silvester] II, Francês, ca. 945–1003, papa de 2 de abril de 999 a 12 de maio de 1003.
Silvestre II foi o primeiro papa francê s. Sua escolha do nome Silvestre representou uma decisã o consciente de se
associar ao Papa Silvestre I (314-35), que há muito era considerado um modelo de cooperaçã o papal com o
imperador. Antes de sua escolha como papa por seu amigo e conselheiro, o imperador Otto III, ele era Gerberto de
Aurillac, arcebispo de Ravenna e anteriormente arcebispo de Rheims, embora sua reivindicaçã o a essa sé fosse
contestada pelos papas Joã o XV e Gregó rio V (ver Joã o XV, nú mero 137 e Gregó rio V, nú mero 138, acima).
Bem educado em literatura, mú sica, matemá tica, iloso ia, ló gica e astronomia, Sylvester deu uma guinada apó s sua
eleiçã o para o papado. Um forte defensor dos direitos dos bispos franceses e um crı́tico igualmente forte do papado
em meio à disputa pela arquidiocese de Rheims (991-95), ele se tornou um tenaz defensor dos direitos papais. Ele
reintegrou seu ex-rival Arnulf (també m Arnoul) como arcebispo de Rheims, alegando que seu depoimento original
nã o havia sido autorizado pelo papa, e agiu de maneira autoritá ria em relaçã o a vá rios bispos que incorreram em
seu descontentamento. Por outro lado, ele foi um reformador dedicado, denunciando a simonia (a compra e venda
de bens espirituais e ofı́cios da igreja), o nepotismo e as violaçõ es do celibato clerical. Ele també m insistiu na livre
eleiçã o de abades pelos monges.
O imperador estava tã o determinado a manter uma relaçã o de cooperaçã o com o papado que acrescentou oito
condados da Pentá polis aos Estados papais, que antes havia se recusado a dar ao Papa Gregó rio V. Juntos, eles
organizaram as igrejas da Polô nia (o papa deu o nome de primeiro arcebispo em 1000) e na Hungria, e em 1001 o
papa enviou uma coroa real ao rei Estê vã o I da Hungria em reconhecimento de seu direito ao trono. Mas em
fevereiro de 1001, os romanos se revoltaram mais uma vez contra o domı́nio estrangeiro. O imperador e o papa
foram forçados a deixar a cidade. Otto morreu no ano seguinte, antes que pudesse restabelecer sua autoridade em
Roma. O novo chefe da famı́lia Crescentii, Joã o II Crescentius, permitiu que o papa voltasse, mas com a condiçã o de
que se limitasse à s funçõ es espirituais. O papa morreu menos de um ano depois, em 12 de maio de 1003, e foi
sepultado na Bası́lica de Latrã o.

140 João XVII, 16 de maio a 6 de novembro de 1003 (junho-dezembro de 1003 na lista o icial do Vaticano; mas JND Kelly
e o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain fornecem as datas de maio a novembro).
O curto ponti icado de Joã o XVII deixou pouco ou nenhum vestı́gio na histó ria do papado. Ele pegou o nú mero XVII
porque havia um antipapa chamado Joã o XVI, entre ele e Joã o XV. Joã o XVII era provavelmente um parente da famı́lia
Crescentii dominante em Roma e sua eleiçã o foi, sem dú vida, planejada pelo lı́der da famı́lia, Joã o II Crescentius.
Nascido John Sicco, era casado antes da ordenaçã o e pai de trê s ilhos. O ú nico ato papal notá vel do papa foi a
autorizaçã o de missioná rios poloneses para trabalhar entre os eslavos. Nã o se sabe como ele morreu ou quantos
anos ele tinha quando morreu. Ele provavelmente foi enterrado na Bası́lica de Latrã o.

141 João XVIII, 25 de dezembro de 1003 - junho / julho de 1009 (janeiro de 1004 - julho de 1009 na lista o icial do
Vaticano; JND Kelly e Levillain’s Dictionnaire historique de la papauté discordam apenas no inal deste ponti icado:
Kelly dá junho / julho, Levillain dá inal de junho).
Pouco se sabe sobre o ponti icado de Joã o XVIII, mas ele pode ter abdicado pouco antes de sua morte e se tornar um
monge na bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros, onde está enterrado. Ele foi cardeal-sacerdote de Sã o Pedro quando
eleito para o papado pela in luê ncia decisiva do chefe da poderosa famı́lia Crescentii, que governou Roma de 1003 a
1012. Em 1004 ele restaurou a diocese de Merseburg, que o Papa Bento VII tinha suprimida e dividida em 981 a
pedido do imperador Otto II, e també m aprovou em 1007 o estabelecimento da diocese de Bamberg na Baviera. No
inal de 1007, ele convocou os bispos de Sens e Orleans a Roma, sob pena de excomunhã o, para confrontá -los sobre
suas ameaças aos privilé gios papais concedidos à abadia de Fleury, també m conhecida como Saint-Benoı̂t-sur-Loire.
Há evidê ncias de que as relaçõ es entre Roma e Constantinopla melhoraram durante este ponti icado, talvez por
causa das simpatias pró -bizantinas do chefe da famı́lia Crescentii. Em qualquer caso, o nome do papa foi restaurado
à lista dos que deveriam ser orados na missa em Constantinopla. Joã o XVIII seguiu o precedente estabelecido por
Joã o XV em 993 e canonizou solenemente cinco má rtires poloneses em 1004. Ele també m enviou o pá lio (a veste de
lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade pastoral) aos arcebispos de Trier e Canterbury. Se Joã o
XVIII abdicou antes de sua morte no inal de junho ou inı́cio de julho de 1009, é prová vel que tenha sido forçado a
fazê -lo. Como mencionado acima, ele foi enterrado na bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros.

142 Sergius IV, 31 de julho de 1009 - 12 de maio de 1012.


Sé rgio IV foi o segundo papa a mudar seu nome ao ser eleito papado porque seu nome de batismo era Pedro. Ele
nã o queria levar o nome do Abençoado Apó stolo Pedro (o primeiro papa a fazer a mesma mudança de nome, pelo
mesmo motivo, foi Joã o XIV em 983). Como a de seus predecessores imediatos, sua elevaçã o ao papado foi produto
da poderosa famı́lia Crescentii de Roma. Ele era bispo de Albano quando eleito, o que é outra indicaçã o de que a
antiga e duradoura proibiçã o de transferê ncia de bispos de uma diocese para outra nã o era mais respeitada. Muito
pouco se sabe sobre este ponti icado.
Sé rgio IV enviou representantes para a consagraçã o da catedral de Bamberg e rati icou os privilé gios concedidos
a ela pelo Papa Joã o XVIII. Ele també m con irmou as propriedades da recé m-restaurada diocese de Merseburg. Em
maio de 1012, houve uma violenta revolta em Roma. Tanto o papa quanto o chefe da famı́lia Crescentii, Joã o II
Crescentius, desapareceram com uma semana de diferença, e um novo papa foi eleito sob a in luê ncia da famı́lia rival
Tusculan. Essas circunstâ ncias deram origem à crença nã o imprová vel de que tanto o Papa Sé rgio IV quanto Joã o II
Crescentius foram assassinados. O papa foi sepultado na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.

143 Bento VIII, ca. 980–1024, papa de 18 de maio de 1012 a 9 de abril de 1024 (JND Kelly começa o ponti icado em 17
de maio, e o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain identi ica a data de consagração como 21 de maio).
O primeiro de uma sé rie de trê s leigos eleitos consecutivamente para o papado, Bento VIII (nascido Teo ilato)
estabeleceu-se desde o inı́cio como um papa polı́tico e até militar. Eleito em 17 de maio de 1012, recebeu ordens
sacramentais menores e maiores e consagrado bispo de Roma em 18 de maio (ou possivelmente em 21 de maio).
Um produto da famı́lia recé m-ascendente Tusculan, ele usou a força armada para esmagar a famı́lia Crescentii rival
(que elegeu outro papa, chamado Gregó rio) enquanto seu irmã o Romanus (mais tarde Papa Joã o XIX) assumiu as
ré deas do governo civil em Roma. Bento VIII restaurou as boas relaçõ es com o imperador alemã o, convidando
Henrique II a Roma e coroando-o na Bası́lica de Sã o Pedro em fevereiro de 1014. Em um sı́nodo apó s a coroaçã o, o
papa consagrou o meio-irmã o do imperador, Arnaldo, como arcebispo de Ravena. Entã o as partes se mudaram para
a pró pria Ravenna para outro sı́nodo, que estabeleceu idades mı́nimas para as Ordens Sagradas e aprovou leis
contra a simonia (a compra e venda de bens espirituais) e outros abusos.
O papa passou a maior parte dos seis anos seguintes em campanhas militares destinadas a solidi icar o poder
polı́tico de Roma em toda a Itá lia central. Ele liderou pessoalmente uma aliança naval contra invasores sarracenos no
norte da Itá lia e libertou a Sardenha em 1016. Ele també m apoiou revoltas anti-bizantinas no sul da Itá lia a im de
proteger os interesses materiais e as reivindicaçõ es do papado na regiã o. Quando as forças bizantinas esmagaram a
revolta e avançaram para o norte, o papa partiu para a Alemanha em busca da ajuda do imperador. Os alemã es
icaram tã o impressionados com a apariçã o do papa em seu paı́s que o imperador restaurou verbalmente o
Privilé gio Otoniano (962), que havia con irmado solenemente as doaçõ es de Pepino e Carlos Magno, mas que
també m acrescentou novos territó rios substanciais aos Estados Papais compreendendo entre dois- terços e trê s
quartos da Itá lia. O imperador també m prometeu ajuda militar, mas seus exé rcitos foram incapazes de fazer mais do
que lutar contra os bizantinos até um empate. Seu avanço para o norte foi pelo menos interrompido.
Mais tarde, em um sı́nodo em Pavia (1022), o imperador e o papa juntos aprovaram uma legislaçã o que proı́be o
casamento clerical, incluindo aqueles na categoria de subdiá cono (uma ordem que foi suprimida apó s o Concı́lio
Vaticano II [1962-65]), e reduzindo à servidã o os ilhos das uniõ es clericais. O imperador estava principalmente por
trá s das reformas e imediatamente as incorporou ao có digo imperial. O papa, por outro lado, estava mais
preocupado com a perda das propriedades da igreja para os ilhos das uniõ es clericais. Na verdade, Bento VIII
sempre teve ciú me do poder canô nico e dos direitos da Santa Sé . Assim, quando o arcebispo de Mainz proibiu todos
os apelos a Roma em questõ es disciplinares (insistindo que tais apelos deveriam ser dirigidos apenas aos arcebispos
metropolitanos apropriados), o papa o repreendeu severamente. Alguns se referiram a este papa como mais
poderoso do que todos os seus predecessores imediatos, mas ele exerceu um poder - polı́tico e militar
especialmente - que está muito distante do signi icado e propó sito originais do ministé rio petrino. Ele morreu em 9
de abril de 1024 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

144 João XIX, 19 de abril de 1024 a 20 de outubro de 1032 (maio de 1024 a 1032 na lista o icial do Vaticano; JND Kelly e
o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain concordam com nossas datas, e não com as do Annuario
Ponti icio).
Joã o XIX foi o primeiro e ú nico papa a suceder seu irmã o mais velho ao papado. Como seu irmã o mais velho, ele
ainda era um leigo (nascido Romanus) quando “eleito” (uma palavra que precisa estar entre aspas porque na
verdade ele comprou a eleiçã o por meio de suborno). O suborno de Joã o e sua passagem canonicamente ilı́cita da
condiçã o de leigo para o papado em um ú nico dia chocaram e enfureceram muitos dos romanos, embora certamente
nã o a nova e poderosa famı́lia Tusculana que foi responsá vel por sua escolha.
No inı́cio de 1027, Joã o XIX coroou Conrado II imperador na Bası́lica de Sã o Pedro, mas Conrado nã o renovou os
privilé gios imperiais tradicionais concedidos à Santa Sé , nem prometeu ser seu protetor, como izeram os
imperadores anteriores. Na verdade, o imperador tratou o papa com pouco respeito e deu-lhe ordens à vontade.
Assim, ele obrigou o papa a fazer um favor a um amigo leal, o patriarca alemã o de Aquilé ia, decretando que outro
patriarcado, Grado, estava sujeito a Aquilé ia e que Aquilé ia era a sede metropolitana de todas as dioceses da Itá lia. E
quando o bispo de Constança reclamou ao imperador que o papa havia concedido ao abade de Reichenau o direito
de usar paramentos pontifı́cios na missa, o imperador ordenou que o abade entregasse ao bispo o decreto papal e a
insı́gnia e mandou queimar publicamente .
Em outras frentes eclesiá sticas, o papa deu seu total apoio à abadia reformista de Cluny na Borgonha, rea irmando
seus privilé gios e defendendo-a das crı́ticas do bispo de Mâ con, mas as relaçõ es com o Oriente azedaram mais uma
vez e o nome do papa foi retirado da lista daqueles a serem rezados na Missa em Constantinopla. Talvez por causa
da maneira inadequada como ele ascendeu ao papado, uma nuvem moral pairou sobre a cabeça de Joã o XIX ao
longo de seu ponti icado. Houve acusaçõ es, por exemplo, de que ele exigia dinheiro em troca de nomeaçõ es para a
hierarquia. Ele morreu em 20 de outubro de 1032 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

145 Bento IX, d. ca. Novembro / dezembro de 1055, papa de 21 de outubro de 1032 a setembro de 1044; 10 de março a 1
de maio de 1045; 8 de novembro de 1047 a 16 de julho de 1048 (a lista o icial de papas do Vaticano fornece os três
conjuntos de datas como 1032–1044; 10 de abril a 1º de maio de 1045; e 8 de novembro de 1047 a 17 de julho de
1048; JND Kelly e O Dictionnaire historique de la papauté de Levillain concorda mais com nossas datas do que com
as do Annuario Ponti icio).
Bento IX (nascido Teo ilato) foi o terceiro leigo consecutivo a assumir o cargo papal e o ú nico papa na histó ria a
ocupar o cargo por trê s perı́o dos separados de tempo (embora a contabilidade dependa de como se avalia a
legalidade de seus dois depoimentos do cargo e sua abdicaçã o). Em qualquer caso, ele foi um dos ponti icados mais
canonicamente confusos de toda a histó ria papal.
Apó s a morte de Joã o XIX, Alberico III, o novo chefe da famı́lia governante de Tusculan em Roma e irmã o de Joã o
XIX, arranjou atravé s de suborno para ter seu pró prio ilho Teo ilato, sobrinho dos dois papas anteriores, eleito e
entronizado como Bento IX. De modo geral, o novo papa colocou os interesses de si mesmo e de sua famı́lia à frente
das preocupaçõ es espirituais da Igreja. No entanto, ele conseguiu ter um ponti icado relativamente ativo. Ele colocou
a abadia de Monte Cassino sob proteçã o papal direta em 1038 e, em um sı́nodo romano em abril de 1044, restaurou
o status patriarcal de Grado, que Joã o XIX havia removido em deferê ncia ao imperador Conrado II. Em setembro
daquele mesmo ano, entretanto, houve outra revolta em Roma, principalmente em reaçã o à vida imoral do papa e ao
domı́nio da famı́lia Tusculan sobre a Igreja e o estado. Bento IX fugiu da cidade.
No mê s de janeiro seguinte (1045), embora Bento XVI nunca tivesse sido deposto formalmente, um ramo da
famı́lia rival Crescentii nomeou Joã o, bispo de Sabina, como papa. Ele assumiu o nome de Sylvester III. Bento XVI
prontamente o excomungou e em 10 de março conseguiu expulsá -lo de Roma e reivindicar o trono papal. Dois
meses depois, poré m, por motivos que nã o sã o claros (talvez fosse o dinheiro que ganharia com a venda de seu
cargo), ele abdicou em favor de seu padrinho, Joã o Graciano, que adotou o nome de Gregó rio VI. No outono de
1046, o imperador Henrique III veio para a Itá lia com o desejo de ser formalmente coroado pelo papa. Ele convocou
os trê s requerentes - Bento IX (que se retirou para a propriedade de sua famı́lia fora de Roma), Silvestre III e
Gregó rio VI - para um sı́nodo em Sutri, perto de Roma, em 20 de dezembro, onde Silvestre e Gregó rio foram
depostos. Bento XVI foi formalmente deposto quatro dias depois em um sı́nodo romano na vé spera de Natal. O
imperador entã o nomeou Suidger de Bamberg como papa, que adotou o nome de Clemente II. Clemente morreu
repentinamente oito meses depois, e o povo, talvez encorajado por subornos, exigiu que Bento IX fosse restaurado
no cargo.
Bento IX foi reintegrado em 8 de novembro de 1047 e permaneceu no cargo até 16 de julho de 1048, quando foi
destituı́do do trono papal por ordem do imperador. Poppo de Brixen foi instalado como Damasus II. Bento 16
retirou-se para sua terra natal em Tusculan, continuando a se considerar o papa legı́timo contra o intruso Dâ maso e,
mais tarde, contra o sucessor de Dâ maso, Leã o IX. Um sı́nodo de Latrã o em abril de 1049 convocou Bento XVI para
enfrentar a acusaçã o de simonia (a compra e venda de bens espirituais e ofı́cios da igreja) e, quando ele se recusou a
comparecer, excomungou-o. Bento IX viveu pelo menos mais sete anos e meio, morreu em algum momento entre
meados de setembro de 1055 e o inı́cio de janeiro de 1056 e foi sepultado na igreja da abadia de Grottaferrata nas
colinas de Alban.

146 Sylvester [Silvester] III, d. 1063, papa (ou antipapa?) De 20 de janeiro a 10 de março de 1045 (20 de janeiro a 10 de
fevereiro de 1045 na lista o icial do Vaticano; JND Kelly dá nossas datas e Levillain’s Dictionnaire historique de la
papauté dá 13 ou 20 de janeiro para o início e março de 1046 como o inal).
A legitimidade do ponti icado de Silvestre III é questioná vel. Se sua eleiçã o nã o foi vá lida, ele pertence à lista dos
antipapas. Depois que Bento IX foi expulso de Roma, Silvestre foi eleito candidato da famı́lia Crescentii, que havia
dominado a polı́tica romana até ser desalojada pela nova poderosa famı́lia Tusculana. Assim que Bento IX soube da
eleiçã o de Silvestre, ele o excomungou. Dois meses depois, Bento 16 voltou a Roma e removeu Sylvester do trono
papal. Sylvester entã o retomou seus deveres como bispo de Sabina, um posto que nunca havia renunciado. Dezoito
meses depois, em 20 de dezembro de 1046, Henrique III, rei da Alemanha, fez com que Silvestre III fosse condenado
no sı́nodo de Sutri, con inado a um mosteiro e destituı́do de suas ordens sagradas. A pena deve ter sido suspensa,
entretanto, porque Silvestre continuou a funcionar em Sabina até 1062, quando um sucessor foi nomeado. Ele
provavelmente está enterrado em Sabina.

147 Gregório VI, d. inal de 1047, papa de 5 de maio de 1045 a 20 de dezembro de 1046.
Dadas as circunstâ ncias de sua eleiçã o, apó s a abdicaçã o de Bento IX, Gregó rio VI foi acusado de simonia (compra e
venda de bens espirituais e ofı́cios eclesiá sticos) pelo imperador e sı́nodo de Sutri e deposto. Nascido John Gratian,
ele era arcipreste de San Giovanni a Porta Latina (Sã o Joã o no Portã o Latino) quando seu a ilhado Bento IX abdicou
em seu favor em 1º de maio de 1045 - e por uma grande quantia em dinheiro. Embora a designaçã o de seu pró prio
sucessor por Bento XVI fosse explicitamente proibida pela lei da igreja, é dito (com base em que, nã o sabemos) que
o processo eleitoral adequado foi observado. Muitos reformadores da Igreja saudaram sua eleiçã o com entusiasmo
(eles ainda nã o estavam cientes dos arranjos inanceiros). Henrique III veio da Alemanha com a esperança de ser
coroado imperador pelo papa, mas havia pelo menos trê s possibilidades de escolha: Bento IX, Silvestre III e Gregó rio
VI. Em um sı́nodo em Sutri (cerca de vinte e cinco milhas ao norte de Roma) em 20 de dezembro de 1046, o rei e o
sı́nodo declararam Gregó rio culpado de simonia e o depuseram do cargo. Gregó rio VI foi levado de volta à
Alemanha, acompanhado de seu capelã o e amigo, o futuro Papa Gregó rio VII, e colocado sob a supervisã o do bispo
de Colô nia. Ele morreu no inal do mesmo ano. Seu local de sepultamento é desconhecido.

148 Clemente II, Saxon, 25 de dezembro de 1046 - 9 de outubro de 1047.


Clemente II (Suidger) foi o primeiro papa a permanecer bispo de outra diocese (Bamberg) enquanto servia como
bispo de Roma. Ele també m foi o primeiro de quatro papas alemã es impostos à Igreja pelo rei Henrique III da
Alemanha, nã o apenas para resgatar o papado do poder das famı́lias romanas em con lito, mas també m para
garantir o controle alemã o sobre ele. Na verdade, Clemente II coroou Henrique e sua esposa como imperador e
imperatriz no mesmo dia (Natal) em que ele mesmo foi entronizado como papa.
Na é poca da seleçã o de Clemente por Henrique, havia trê s possı́veis pretendentes ao trono papal: Bento IX, que
abdicou em favor de seu padrinho, Gregó rio VI, e Silvestre III, que foi eleito depois que Bento foi expulso de Roma
em janeiro de 1045 Em dois sı́nodos sucessivos (em Sutri e Roma), os trê s foram formalmente depostos e o
imperador nomeado Suidger, bispo de Bamberg. A escolha de Suidger do nome Clemente (tradicionalmente
considerado como o terceiro sucessor do Apó stolo Pedro) ressaltou sua intençã o de retornar ao Cristianismo
primitivo para sua inspiraçã o pastoral. Quanto a Henrique, ele se autoproclamou patrı́cio, com o poder de aprovar a
eleiçã o de um papa. Dentro de alguns dias (5 de janeiro), o novo papa presidiu um sı́nodo que condenou a simonia
(a compra e venda de bens espirituais e ofı́cios da igreja) e declarou uma penitê ncia de quarenta dias para qualquer
um ordenado conscientemente por um bispo simoniacal. Em seguida, o papa acompanhou Henrique ao sul da Itá lia,
onde con irmou a nomeaçã o do arcebispo de Paestum e condenou Benevento por se recusar a abrir seus portõ es ao
imperador. Mais tarde, ele a irmou seu apoio à abadia reformista de Cluny na Borgonha e con irmou os privilé gios
de sua outra diocese, Bamberg. Como ele adoeceu repentinamente e morreu em uma abadia perto de Pesaro no
inı́cio de outubro, circularam rumores de que ele havia sido envenenado por Bento IX. Um exame exaustivo de seus
restos mortais em 1942 revelou que Clemente II provavelmente morrera de envenenamento por chumbo. Ele foi
enterrado na catedral de Bamberg.

149 Damasus II, Bavarian, 17 de julho a 9 de agosto de 1048.


O ponti icado de Dâ maso II, o segundo dos quatro papas alemã es imposto pelo rei Henrique III, foi breve e sem
intercorrê ncias. Como seu predecessor, ele manteve sua diocese de Brixen apó s a eleiçã o e consagraçã o como bispo
de Roma e foi apenas o segundo papa na histó ria a fazê -lo. Apó s a morte repentina de Clemente II em outubro de
1047, o imperador, na qualidade de patrı́cio (com autoridade para nomear o papa), nomeou Poppo, bispo de Brixen,
no dia de Natal. Nesse ı́nterim, no entanto, o deposto Bento IX retornou a Roma para recuperar o trono papal com o
apoio do poderoso conde da Toscana, que impediu Poppo de chegar a Roma. Quando Poppo voltou à Alemanha e
informou ao imperador, Henrique III ameaçou o conde que, a menos que ele obedecesse à s suas ordens, ele pró prio
iria a Roma e colocaria um novo papa no trono. O conde cedeu e Bento IX foi expulso de Roma em 16 de julho de
1048. No dia seguinte Poppo foi consagrado e entronizado. Como seu predecessor, ele adotou o nome de um antigo
papa, Dâ maso, para mostrar seu respeito pelo cristianismo primitivo. Vinte e trê s dias depois, no entanto, ele morreu
em Palestrina, onde se retirou para escapar do calor romano. Embora alguns acusem que ele foi envenenado, a
malá ria é a causa prová vel de sua morte. Ele foi sepultado na bası́lica de San Lorenzo fuori le Mura (Sã o Lourenço
Fora dos Muros).

150 Leo IX, St., Alsacian, 1002-54, papa de 12 de fevereiro de 1049 a 19 de abril de 1054.
O terceiro e melhor dos papas alemã es impostos à Igreja pelo imperador Henrique III, Leã o IX (Bruno de Egisheim),
como seus dois predecessores imediatos, manteve sua diocese de Toul (até 1051) enquanto servia como bispo de
Roma. Diz-se, entretanto, que ele aceitou a nomeaçã o do imperador apenas com a condiçã o de que fosse
posteriormente aprovada pelo clero e pelo povo de Roma. Ao chegar a Roma, vestido com o traje simples de
peregrino, foi saudado com aclamaçã o e coroado no dia 12 de fevereiro, tomando o nome de Leã o para recordar a
Igreja antiga e ainda nã o corrompida.
Dois meses depois, ele convocou um sı́nodo em Roma que denunciou a simonia (a compra e venda de bens
espirituais, incluindo ofı́cios da igreja) e as violaçõ es da castidade clerical. Vá rios bispos simonı́acos foram depostos
e a penitê ncia imposta por seu predecessor Clemente II aos padres ordenados conscientemente por tais bispos foi
rea irmada. Ele reuniu um “armá rio de cozinha” de personalidades da Lorena para ajudar na reorganizaçã o da
Cú ria. Estes incluı́am Hildebrand (mais tarde Papa Gregó rio VII) e Humbert de Moyenmoutier (mais tarde cardeal-
bispo de Silva Câ ndida). Ele també m procurou o conselho do abade da abadia reformista de Cluny na Borgonha e
Peter Damian (falecido em 1072). Chamado de “Peregrino Apostó lico”, Leã o promoveu suas reformas viajando
extensivamente pela Europa - na Itá lia, Alemanha, França e até na Hungria - realizando uma dú zia de sı́nodos em
Roma, Bari, Mainz, Pavia, Rheims e Roma. Em Rheims, por exemplo, ele insistiu que bispos e abades devem ser eleitos
pelo clero e leigos.
Infelizmente, os ú ltimos anos de Leã o IX no cargo foram marcados pelo fracasso. Em 1053, ele liderou uma
desastrosa expediçã o militar contra os normandos no sul da Itá lia em defesa dos Estados Papais, e ele pró prio foi
capturado e mantido preso por nove meses. Ele só foi libertado depois de fazer concessõ es humilhantes. Enquanto
isso, o patriarca anti-latino de Constantinopla, Michael Cerularius (falecido em 1058), irritado com a interferê ncia do
papa nas á reas do sul da Itá lia reivindicadas por Bizâ ncio e por ter nomeado Humbert arcebispo da Sicı́lia, fechou as
igrejas latinas em Constantinopla em 1053 e atacou veementemente vá rias prá ticas latinas, incluindo o uso de pã o
sem fermento na Eucaristia. Em janeiro de 1054, ainda prisioneiro, Leã o IX enviou uma delegaçã o a Constantinopla
liderada por Humbert. A missã o foi um fracasso espetacular devido à intransigê ncia de ambos os lados. Em 16 de
julho de 1054, na presença de toda a congregaçã o na Hagia Sophia, Humbert colocou no altar uma bula
excomungando o patriarca e seus partidá rios. Cerularius respondeu com suas pró prias condenaçõ es em 24 de julho.
O Cisma Leste-Oeste, que dura até hoje, é convencionalmente datado desta trá gica sé rie de eventos no verã o de
1054. Embora Leã o IX tivesse morrido alguns meses antes, o a brecha está na porta de seu ponti icado, já que os
enviados agiram em seu nome. Seus ú ltimos dias foram marcados por doenças e profundo pesar, mas logo depois
ele passou a ser considerado um santo. Ele está enterrado em Sã o Pedro. Dia da festa: 19 de abril.

151 Victor II, Suábia, ca. 1018–57, papa de 13 de abril de 1055 a 28 de julho de 1057 (16 de abril na lista o icial do
Vaticano, mas JND Kelly e o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain concordam sobre o ponto de partida
de 13 de abril para este ponti icado).
O quarto e ú ltimo dos papas alemã es nomeados pelo rei alemã o Henrique III, o papa Victor II (Gebhard), como seus
trê s predecessores, continuou como bispo de sua diocese (Eichstä tt) depois de ser eleito para o papado. Apó s a
morte de Leã o IX em abril de 1054, houve extensas discussõ es sobre a sucessã o papal em Mainz entre a delegaçã o
romana che iada pelo diá cono Hildebrand (mais tarde Gregó rio VII) e o imperador e seus representantes. Nã o foi
até novembro que Henrique III nomeou Gebhard como papa. Mas Gebhard resistiu por cerca de quatro meses até
receber garantias de que certas propriedades e tesouros retirados da Santa Sé seriam devolvidos e que ele poderia
manter a diocese de Eichstä tt. Ele nã o foi entronizado até quase um ano apó s a morte de Leo. Canô nica e
teologicamente, ele deveria ter sido considerado papa e bispo de Roma assim que aceitou a eleiçã o, visto que já era
bispo. A entronizaçã o é puramente cerimonial e nã o adiciona nada de essencial. No entanto, se Victor II reteve seu
assentimento até o dia de sua entronizaçã o, 13 de abril de 1055, esse seria o dia em que seu ponti icado começou
o icialmente.
O novo papa e o imperador convocaram um sı́nodo em Florença em junho, que condenou a simonia (compra e
venda e bens espirituais, incluindo ofı́cios da igreja), casamento clerical, violaçõ es da castidade clerical e a alienaçã o
de propriedade da igreja (venda de propriedade da igreja por ganho privado). Vá rios bispos foram depostos de suas
sedes. Decisõ es semelhantes foram tomadas em sı́nodos no sul da França (Lyon e Toulouse) presididos por bispos
locais como representantes do papa e por Hildebrand como seu delegado especial. Como expressã o de con iança em
Victor II, o imperador o nomeou duque de Spoleto e conde de Fermo, tornando o papa um o icial imperial. Apó s uma
breve doença em outubro de 1056, Henrique III morreu, tendo con iado pessoalmente os cuidados do impé rio e de
seu ilho de cinco anos ao papa, que estava na Alemanha na é poca em busca de ajuda militar contra os normandos
no sul da Itá lia. Victor II habilmente assegurou a sucessã o do menino (Henrique IV), coroando-o em Aachen, com
sua mã e, Agnes, como regente, e mais tarde negociou uma reconciliaçã o entre a casa imperial e dois de seus
adversá rios mais poderosos (Lorena e Flandres).
O papa voltou à Itá lia em meados de fevereiro de 1057 e realizou um sı́nodo no Latrã o em abril. Para agradar a
um de seus novos aliados, Godfrey de Lorraine, o papa nomeou Frederico, irmã o de Godfrey, como abade de Monte
Cassino e o nomeou cardeal-sacerdote de San Crisogono. Mas seis dias depois de realizar um sı́nodo local em
Arezzo, em 23 de julho, o papa morreu de febre. Sua equipe alemã queria levar seu corpo de volta para Eichstä tt,
mas o povo de Ravenna apreendeu o corpo e foi enterrado em Santa Maria Rotonda (o mausolé u de Teodorico, o
Grande [d. 526]), fora dos muros da cidade. Com a morte do papa Victor II e do imperador Henrique III, o perı́o do
de dez anos de reforma papal-imperial chegou a um im abrupto.

152 Stephen IX (X), francês, ca. 1000–1058, papa de 2 de agosto de 1057 a 29 de março de 1058 (a lista o icial do
Vaticano marca o início de seu ponti icado em 3 de agosto, o dia de sua entronização, em vez de 2 de agosto, o dia de
sua eleição e consagração) .
(Para uma explicaçã o da dupla numeraçã o, veja Estê vã o II (III), nú mero 92, na Parte II.) Outro em uma longa sé rie de
ponti icados muito breves do sé culo XI, Estê vã o IX (X) promoveu a agenda reformista, mas sem a colaboraçã o direta
da corte imperial alemã que dominou os quatro ponti icados anteriores. Nascido Frederico (da Lorena), Estê vã o era
abade de Monte Cassino quando eleito e consagrado no mesmo dia, 2 de agosto de 1057. Ele adotou o nome de
Estevã o porque 2 de agosto era a festa de Santo Estê vã o I. Nenhum esforço foi feito para contatar a corte imperial na
Alemanha antes de proceder à s eleiçõ es. Os romanos, sem dú vida, estavam se aproveitando do fato de que o novo
imperador, Henrique IV, era uma criança muito jovem. Outra possı́vel razã o para nã o consultar a corte imperial e
para proceder rapidamente à s eleiçõ es era o medo de que as famı́lias aristocrá ticas de Roma tentassem rea irmar
sua in luê ncia nas eleiçõ es papais. Quatro meses depois, uma delegaçã o à corte imperial liderada por Hildebrand (o
futuro Papa Gregó rio VII) parece ter recebido aprovaçã o retroativa para a eleiçã o de Estê vã o.
Stephen IX (X) permaneceu abade de Monte Cassino, onde tentou restaurar a regra da pobreza. Ele promoveu as
atividades reformistas de Peter Damian (falecido em 1072) nomeando-o cardeal-bispo de Ostia, e os reformadores
Humbert de Silva Câ ndida e Hildebrand estavam entre os conselheiros mais pró ximos do papa. O papa morreu em
Florença em 29 de março de 1058, enquanto tentava organizar uma aliança contra os normandos no sul da Itá lia e
foi sepultado em San Reparata. Antes de partir de Roma para Florença, Estê vã o havia obrigado solenemente o clero
e os leigos, no caso de sua morte, a nã o eleger um sucessor até que Hildebrand voltasse de sua missã o na corte
imperial na Alemanha.

153 Nicolau II, francês, ca. 1010–61, papa de 6 de dezembro de 1058 a 27 de julho de 1061 (a lista o icial do Vaticano
começa este ponti icado em 24 de janeiro de 1059, o dia da entronização, em vez do dia de sua aceitação da eleição).
Durante o ponti icado de Nicolau II, a eleiçã o de um papa foi restrita aos cardeais-bispos, com o clero romano e o
povo dando seu consentimento subsequente. Bispo de Florença quando eleito bispo de Roma em 6 de dezembro de
1058, em Siena, Nicolau continuou a servir em ambas as funçõ es apó s sua eleiçã o para o papado. Ele també m pode
ter sido o primeiro papa coroado com o camelaucum , a forma original da tiara papal.
Apó s a morte de Estê vã o IX (X) em 29 de março de 1058, os cardeais reformistas honraram o mandato solene do
falecido papa de que deveriam esperar até que o lı́der reformador Hildebrand (o futuro Papa Gregó rio VII)
retornasse de sua missã o à corte imperial na Alemanha antes de proceder à eleiçã o de um sucessor. Uma facçã o anti-
reformista dentro da aristocracia romana, no entanto, aproveitou o atraso e em 5 de abril elegeu Joã o, bispo de
Velletri, que assumiu o nome de Bento X. Ele teve que ser consagrado irregularmente porque Pedro Damian, o bispo
de Ostia, o faria nã o participar. Os cardeais reformistas recusaram-se a reconhecer Bento XVI, deixaram Roma e
elegeram Gé rard, bispo de Florença, em Siena em dezembro. O novo papa, que assumiu o nome de Nicolau II,
convocou um sı́nodo em Sutri, vinte e cinco milhas ao norte de Roma, no inı́cio de janeiro de 1059 e na presença do
chanceler imperial condenou o antipapa Bento X. Nicolau II foi entã o a Roma em a companhia das tropas do duque
de Lorena, onde foi recebido com entusiasmo (Bento já tinha fugido da cidade). O novo papa foi instalado em Latrã o
em 24 de janeiro de 1059.
Como seu predecessor, Estê vã o IX (X), Nicolau II foi muito in luenciado pelos principais reformadores da é poca:
Humbert de Silva Câ ndida (m. 1061), Hildebrand (m. 1085) e Pedro Damiã o (m. 1072). Em um sı́nodo de Latrã o em
13 de abril, que declarou a eleiçã o de Bento X nã o canô nica, o papa promulgou um decreto histó rico determinando
que, a im de evitar o risco de simonia (a compra e venda de cargos religiosos), as eleiçõ es papais deveriam ser
conduzidas pelo cardeal -bispos, com o consentimento subsequente do clero romano e leigos. (Houve grande
oposiçã o a essa mudança, e ela teve que ser emendada apó s a morte de Nicolau.) O sı́nodo també m permitiu a
eleiçã o de um clé rigo nã o romano e a realizaçã o da eleiçã o fora de Roma. Essa prá tica já existia, é claro, na eleiçã o
do pró prio Nicolau II. Ele era francê s e sua eleiçã o foi realizada em Siena, nã o em Roma. E ele certamente nã o foi o
primeiro clé rigo nã o romano a se tornar papa. O sı́nodo deixou a possibilidade de envolvimento imperial nas
eleiçõ es, mas a direita imperial nã o era incondicional e poderia ser con iscada por abuso. Alé m disso, o sı́nodo
legislou contra o casamento clerical e o concubinato, exigia que o clero da igreja catedral compartilhasse uma vida
comum e emitiu a primeira proibiçã o formal de investidura leiga, ou seja, o recebimento de cargos eclesiá sticos de
leigos. Outros sı́nodos foram realizados em 1060 e 1061, tratando mais uma vez com simonia e ordenaçõ es
simonô nicas. O arcebispo Guido de Milã o compareceu ao sı́nodo de 1060 e, ao aceitar seu anel do papa, reconheceu
tacitamente que sua investidura anterior pelo imperador havia sido simoniacal (isto é , dada por um preço).
Politicamente, Nicolau II reverteu a polı́tica de seus predecessores imediatos em relaçã o aos normandos no sul da
Itá lia. Em vez de combatê -los, ele fez uma aliança com eles e, assim, garantiu uma base polı́tica e econô mica para o
papado na maior parte do sul. No entanto, a nova aliança (bem como as severas medidas disciplinares) gerou
ressentimento na corte imperial e na hierarquia alemã , liderada pelo arcebispo de Colô nia. Um cardeal-delegado do
papa enviado em 1061 para explicar as polı́ticas do papa à corte imperial nã o foi recebido. Alé m disso, um sı́nodo de
bispos alemã es declarou os atos de Nicolau II nulos e sem efeito e rompeu a comunhã o com ele. Antes que houvesse
qualquer repercussã o na Santa Sé , o papa morreu em Florença, sua segunda diocese, em 27 de julho de 1061. Como
o papa Estê vã o IX (X), també m falecido em Florença, foi sepultado em San Reparata.

154 Alexandre II, 30 de setembro de 1061 - 21 de abril de 1073 (a lista o icial do Vaticano dá 1º de outubro como o
ponto de partida deste ponti icado; é o dia da entronização, e não da eleição).
Um papa reformador como seus predecessores imediatos, Alexandre II (nascido Anselmo) apoiou a libertaçã o de
terras cristã s dos muçulmanos, bem como o vitorioso duque Guilherme da Normandia contra Haroldo da Inglaterra
na batalha de Hastings em 1066. Ele era bispo de Lucca quando eleito bispo de Roma em 30 de setembro de 1061,
com o apoio do lı́der reformista Hildebrand (o futuro papa Gregó rio VII) e apoiado pelas tropas normandas em face
dos distú rbios em Roma.
No entanto, os cardeais eleitores nã o consultaram a corte imperial alemã , de acordo com o decreto do sı́nodo de
Latrã o de 1059 sobre as eleiçõ es papais. A corte, por sua vez, nomeou um papa rival, Honó rio II (Cadalus, o rico, anti
-bispo reformista de Parma), em uma assemblé ia na Basilé ia e com o apoio dos membros da aristocracia romana. O
antipapa Honó rio II derrotou as forças armadas de Alexandre em abril de 1062 e instalou-se em Roma. Mas o
poderoso duque de Lorena chegou no mê s seguinte com forças superiores e convenceu os dois pretendentes ao
trono papal a se retirarem para suas dioceses originais (Lucca e Parma) até que a corte alemã resolvesse o con lito.
Apó s audiê ncias em Augsburg em outubro e em Roma em dezembro, foi proferida uma sentença a favor de
Alexandre II. Em maio seguinte (1063), Honó rio anatematizou Alexandre e atacou Roma, tomando posse do Castelo
de Santo Angelo por vá rios meses. Enquanto isso, Alexandre II avançou com sua agenda reformista. Num sı́nodo de
Latrã o naquele mesmo ano, renovou o decreto de seu antecessor, Nicolau II, contra a simonia (compra e venda de
ofı́cios da igreja), proibiu a participaçã o na missa celebrada por padres casados, proibiu a investidura leiga sem a
permissã o da diocese, e recomendou a vida comum ao clero da catedral. Houve també m uma enxurrada de
atividades sinodais, com a participaçã o de legados papais, na Lombardia, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha,
Boê mia, Croá cia-Dalmá cia e Escandiná via.
O papa també m enviou faixas e concedeu indulgê ncias a soldados normandos e cavaleiros franceses que lutavam
contra os muçulmanos na Sicı́lia e na Espanha, respectivamente. Na verdade, a reconquista de terras anteriormente
tomadas pelos muçulmanos foi um importante prelú dio para as Cruzadas. Mas em 1063 o papa també m interveio no
sul da França e na Espanha para defender os judeus que haviam sofrido nessas campanhas militares. Ele renovou a
proibiçã o do Papa Gregó rio, o Grande (590-604) contra os maus-tratos aos judeus.
A medida que o cisma entre os seguidores de Alexandre II e de Honó rio II se arrastava, Pedro Damiã o persuadiu o
arcebispo de Colô nia a convocar um sı́nodo de bispos alemã es e italianos em Mâ ntua em maio de 1064, para o qual
seriam convidados os dois pretendentes ao trono papal. Honorius recusou-se a comparecer porque lhe foi negado o
direito de presidir. Alexandre compareceu, presidiu e fez um juramento de purgaçã o, jurando que nunca havia sido
culpado de simonia. Como consequê ncia, Alexandre II foi reconhecido como papa e Honó rio II foi formalmente
condenado, apó s o que ele retornou à sua diocese de Parma, nunca abandonando suas reivindicaçõ es ao papado.
Em 1068, o rei de Aragã o colocou seu paı́s sob a proteçã o feudal do papa e em 1071 substituiu a liturgia
moçá rabe pela liturgia romana. Em 1070, Alexandre II atacou duramente os bispos alemã es que suspeitava de
praticarem simonia e forçou a renú ncia do bispo de Constança. Até o rei Henrique IV recuou de sua intençã o de se
divorciar de sua esposa, dada a irme oposiçã o do papa à s violaçõ es do vı́nculo matrimonial. Mas uma sé ria cisã o se
desenvolveu entre o papa e o imperador quando, em 1071, Henrique IV tentou impor sua indicaçã o como o novo
arcebispo de Milã o, enquanto o papa apoiava outro candidato na tradiçã o reformista. Por causa do teimoso apoio do
imperador a seu pró prio candidato, o papa excomungou cinco de seus conselheiros por simonia. També m em 1071,
o papa enviou um representante ao imperador bizantino, o primeiro contato desse tipo desde as excomunhõ es
mú tuas do papa e do patriarca em 1054. Esse contato nada aconteceu antes da morte de Alexandre II em abril de
1073. Mas o cená rio agora estava montado para o verdadeiro ponti icado fundamental de Gregó rio VII, que
marcaria o inı́cio efetivo do papado moná rquico que muitos cató licos e outros supõ em ser um produto da vontade
de Jesus Cristo e nã o das vicissitudes da histó ria humana. Alexandre II foi enterrado na Bası́lica de Latrã o.
Parte IV

DA REFORMA GREGORIANA A REFORMA PROTESTANTE

O NE DOS MAIORES TEOLOGOS DO sé culo XX, o Cardeal Yves Congar, OP (falecido em 1995), argumentou que “o grande
ponto de in lexã o na eclesiologia [a teologia da Igreja] é o sé culo XI. Esse ponto de viragem está , é claro,
corpori icado na pessoa de Gregó rio VII. ” Congar reconheceu que Gregó rio VII enfrentou problemas internos e
externos avassaladores quando foi eleito em 1073: simonia (a compra e venda de bens espirituais e ofı́cios da
igreja), nepotismo, violaçõ es do celibato clerical e a interferê ncia de prı́ncipes leigos na nomeaçã o e instalaçã o de
bispos e abades (“investidura leiga”). Gregó rio VII fez com que seus canonistas vasculhassem os arquivos em busca
de cada traço ou fragmento de apoio para o tipo de exercı́cio do poder papal que ele considerava necessá rio para
enfrentar esses desa ios. Alguns dos materiais que eles descobriram eram autê nticos; outros eram espú rios -
falsi icaçõ es.
O cardeal Congar destacou que, ao buscar basear-se em precedentes legais para o exercı́cio do que deveria ser
apenas autoridade espiritual, Gregó rio VII “acabou por fazer da pró pria Igreja uma instituiçã o legal”. Assim, quando
a Igreja se opô s ao poder temporal, “foi levada a adotar atitudes muito semelhantes à s do pró prio poder temporal, a
se conceber como uma sociedade, como um poder, quando na realidade é uma comunhã o, com os ministros,
funcioná rios." O que levou a Igreja a se tornar uma instituiçã o legal, argumentou Congar, foi “a a irmaçã o do poder
papal como a base de tudo” ( Fifty Years of Catholic Theology: Conversations with Yves Congar , ed. Bernard Lauret
[Philadelphia: Fortress Press, 1988] , pp. 40, 42). Gregó rio VII, em outras palavras, lançou o papado do segundo
milê nio como um cargo legalista e moná rquico - um conceito estranho à Igreja do primeiro milê nio e a todo o
Oriente, tanto no passado quanto no presente. Foi també m Gregó rio VII que decretou em 1073 que o tı́tulo de
“papa” deveria, a partir de entã o, ser restrito ao bispo de Roma. Anteriormente, o tı́tulo se aplicava a todos os bispos
no Ocidente, enquanto no Oriente parece ter sido usado també m para padres e era um tı́tulo especial do patriarca de
Alexandria. Ainda é usado pelo patriarca copta de Alexandria.
Alguns cató licos consideram este perı́o do de Gregó rio VII à Reforma Protestante como o á pice do papado, cuja
gló ria, grandeza e poder só foram restaurados recentemente pelo Papa Joã o Paulo II (1978-2005). Outros,
entretanto, consideram os desenvolvimentos desse perı́o do uma aberraçã o, embora de muitos sé culos de duraçã o.
Qualquer que seja o ponto de vista de cada um, o perı́o do sem dú vida rendeu homens de talento e habilidade
incomuns, a começar pelo pró prio Gregó rio VII. Alguns dos papas mais importantes de toda a histó ria reinaram
durante esses quatro sé culos e meio - e alguns dos piores. Inocê ncio III (1198–1216), um dos papas mais poderosos
de todos os tempos, reivindicou autoridade nã o apenas sobre toda a Igreja, como Gregó rio VII, mas també m sobre o
mundo inteiro. Bonifá cio VIII (1295-1303), como Inocê ncio III, també m reivindicou a supremacia papal sobre os
reinos temporal e espiritual. Pelo menos trê s outros papas desse perı́o do sã o bem conhecidos por diferentes razõ es.
Celestino V (1294) é sempre citado pela mı́dia e suas fontes “especialistas” na Igreja Cató lica como o ú nico papa que
renunciou ao cargo. Isso nã o é verdade. Houve pelo menos dois, e provavelmente quatro, outros papas antes dele
que renunciaram ao papado por uma razã o ou outra: Pontian (230-35), que foi preso e deportado no ano 235 pelo
imperador anticristã o Maximinus Thrax; Silverius (536-37), que foi forçado a renunciar por seu sucessor, Vigilius
(537-55); Joã o XVIII (1003-9), que provavelmente renunciou e entrou para um mosteiro; e Bento IX, que, durante
seu ponti icado canonicamente confuso, abdicou em 1045 em favor de seu padrinho, mas foi reintegrado em 1047.
Apó s Celestino V, Gregó rio XII renunciou em 1415 para ajudar a resolver o Cisma do Grande Oeste (1378-1417).
Outro papa conhecido desse perı́o do é o infame e espetacularmente corrupto Alexandre VI (1492-1503), que está
no topo da lista de quase todos os chamados maus papas. Menos conhecido, mas nã o menos importante, é Leã o X
(1513-1521), que ajudou a lançar a Reforma Protestante com sua "venda" de indulgê ncias e ofı́cios da Igreja e sua
excomunhã o de Martinho Lutero em 1521. Leã o X foi, por sua vez, precedido por uma sé rie de alguns dos piores
papas de toda a histó ria, incluindo seu antecessor imediato, Jú lio II (1503-13), que passou quase tanto tempo no
campo de batalha militar quanto cuidando de suas responsabilidades pastorais.
Entre os menos cé lebres e, em alguns casos, notó rios papas desse perı́o do estã o os seguintes. Urbano II (1088-99)
estabeleceu a Cú ria Romana e lançou a Primeira Cruzada (1096-99) em uma tentativa mal concebida e totalmente
contraproducente (repetida pelo menos mais trê s vezes pelos papas subsequentes) para recapturar os lugares
sagrados na Palestina do Muçulmanos. Eugenius III (1145-53), um cisterciense, manteve o há bito e estilo de vida de
um monge durante todo o seu ponti icado (Urbano V, um beneditino, fez o mesmo, 1362-70). A eleiçã o de Alexandre
III (1159-1181) provocou um cisma de vinte anos, cobrindo quase todo o seu ponti icado de vinte e dois anos. Lú cio
III (1181-85), por causa da hostilidade do povo romano em relaçã o a ele, teve que passar a maior parte de seu
ponti icado vivendo fora da cidade (o mesmo foi necessá rio para Urbano IV, 1261-64, Clemente IV, 1265-68, e Martin
IV, 1281-1285); Lú cio III també m lançou as bases para a infame Inquisiçã o ao de inir procedimentos pelos quais
supostos hereges poderiam ser suprimidos e punidos. Celestino III (1191–98), embora já tivesse oitenta e cinco anos
de idade quando eleito, conseguiu servir por quase sete anos. Inocê ncio III, mencionado acima, també m chamado de
Quarto Conselho de Latrã o (1215), que exigia a con issã o anual de todos os cató licos e o uso de uma vestimenta
distinta por judeus e muçulmanos - este ú ltimo um precursor perturbador da exigê ncia na Alemanha nazista do
sé culo XX de que Os judeus usam a estrela de Davi para serem facilmente identi icá veis. Gregó rio X (1272-76) foi
eleito no famoso conclave de Viterbo, no qual as autoridades civis trancaram os cardeais dentro do palá cio papal e,
em seguida, devido ao longo atraso na eleiçã o de um novo papa, removeram o telhado e os ameaçaram de fome.
Joã o XXI (1276–77) emitiu a bula papal que o bispo de Paris con iou para condenar dezenove proposiçõ es de Sã o
Tomá s de Aquino. Durante o ponti icado de Nicolau IV (1288 a 1292), o catolicismo foi estabelecido pela primeira
vez na China. Clemente V (1305-14) foi o primeiro de uma linhagem de setenta anos de papas franceses que fez sua
residê ncia o icial em Avignon, em vez de Roma. Clemente VI (1342-52) lançou as bases para a doutrina das
indulgê ncias, cujo abuso se tornaria uma das causas imediatas da Reforma Protestante quase duzentos anos depois
(de acordo com o ensino cató lico, as indulgê ncias sã o mé ritos espirituais conquistados por nó s por Cristo e os
santos, a serem atraı́dos pelos ié is por meio de suas oraçõ es e boas obras). Inocê ncio VI (1352–1362) foi
denunciado por Santa Brı́gida da Sué cia como perseguidor do rebanho de Cristo. Gregó rio XI (1371-1378), a pedido
de Santa Catarina de Sena, devolveu o papado de Avinhã o a Roma em 1377. Urbano VI (1378-89) era tã o instá vel e
abusivo que um antipapa foi eleito para substituı́-lo. o lançamento do Great Western Schism de 1378-1417, durante o
qual havia pelo menos dois e à s vezes trê s pretendentes ao papado ao mesmo tempo. Durante o ponti icado de
Nicolau V (1447-55), Constantinopla, o centro do cristianismo oriental por quase toda a histó ria da Igreja, caiu nas
mã os dos turcos em 1453. Sisto IV (1471-1484) superou todos os outros no campo do nepotismo , tendo nomeado
seis de seus sobrinhos cardeais (ele també m transformou Roma de uma cidade medieval em uma cidade
renascentista, construiu a Capela Sistina e estabeleceu os arquivos do Vaticano). Jú lio II (1503-13) foi o patrono de
dois dos maiores artistas da histó ria, Michelangelo e Rafael, e quem encomendou os planos para a nova Bası́lica de
Sã o Pedro, a ser inanciada pela venda de indulgê ncias. E Leã o X (1513-1521) continuou o projeto de construçã o de
seu predecessor e seus mé todos de arrecadar os fundos necessá rios - e excomungou Martinho Lutero també m.
També m houve muitos “primeiros” durante este perı́o do. Victor III (1087) foi o primeiro papa a ser beati icado
sem posteriormente ser canonizado santo. Eugenius III (1145-1153) foi o primeiro papa cisterciense. Adriano
(Adrian) IV (1154-1159) foi o primeiro e ú nico papa inglê s. Calisto III (1455–1458) foi o primeiro de dois papas
espanhó is (o segundo foi o infame Alexandre VI, 1492–1503). Alexandre III (1159-1181) foi o primeiro de muitos
advogados a ser eleito papa. Em 1276, pela primeira vez, havia quatro papas canonicamente reconhecidos no mesmo
ano: Gregó rio X (1272-76), Inocê ncio V (1276), Adriano V (1276) e Joã o XXI (1276-77), embora por presentes os
padrõ es canô nicos e os padrõ es da boa teologia, Adriano V nã o foi papa, isto é , o bispo de Roma, porque nã o era
bispo quando eleito e morreu antes de ser consagrado. Inocê ncio V (1276) foi o primeiro papa dominicano. Como
ele continuou a usar sua batina branca dominicana enquanto papa, os papas subsequentes a adotaram como seu
traje papal comum, embora o costume pareça nã o ter sido inalmente estabelecido até o ponti icado de outro
dominicano, Pio V (1566-1572). Joã o XXI (1276-1277) foi o primeiro e ú nico papa portuguê s e també m o ú nico
mé dico a ocupar a cá tedra de Pedro. Nicolau III (1277-80) foi o primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua
residê ncia o icial. Nicolau IV (1288 a 1292) foi o primeiro papa franciscano. Bonifá cio VIII (1295-1303) foi o
primeiro papa a proclamar um Ano Santo (em 1300). Nicolau V (1447-55) foi o primeiro dos papas da Renascença,
atuando como patrono da literatura, das artes e da arquitetura, bem como o fundador da Biblioteca do Vaticano. E,
mais uma vez, Celestino V (1294) não foi o primeiro e ú nico papa a renunciar ao papado. Houve pelo menos dois, e
possivelmente quatro, antes dele (Pô ncio em 235, Silverius em 537, Joã o XVIII em 1009 e Bento IX em 1045), e um
desde entã o (Gregó rio XII em 1415).
Pelo menos trê s papas desse perı́o do foram atribuı́dos aos seus destinos por Dante Alighieri (m. 1321) em sua
Divina Comédia: Adriano V (1276) foi colocado no Purgató rio pelo pecado da avareza; Joã o XXI (1276–77), no
Paraı́so; e Nicolau III (1277–80), no Inferno para o nepotismo e avareza.
Quase metade dos vinte e um concı́lios ecumê nicos da Igreja Cató lica foram realizados durante esse perı́o do
també m: Latrã o I (1123), que encerrou a contrové rsia sobre a investidura leiga (a prá tica de governantes leigos
determinando nomeaçõ es de bispos e abades); Lateran II (1139), que anulou todos os atos papais e ordenaçõ es do
antipapa Anacletus II; Lateran III (1179), que decretou que doravante uma maioria de dois terços dos cardeais era
necessá ria para a eleiçã o de um papa; Latrã o IV (1215), que decretou que os cató licos devem fazer uma con issã o
anual de pecados; Lyon I (1245), que excomungou e depô s o imperador; Lyon II (1274), que forjou uma uniã o de
curta duraçã o entre Roma e a Igreja Grega; Vienne (1311–1312), que condenou os Cavaleiros Templá rios e apoiou a
observâ ncia franciscana mais estrita da pobreza; Constança (1414-17), que encerrou o Cisma do Grande Oeste ao
depor dois pretendentes ao papado e obrigar o terceiro a abdicar, antes de conduzir um conclave no qual Martinho
V (1417-31) foi eleito; Basel-Ferrara-Florence-Rome (1431-45), que foi realizada em quatro cidades diferentes e que
tentou, sem sucesso, reunir as Igrejas latina e grega do Ocidente e do Oriente; e Latrã o V (1512-1517), que invalidou
o conselho de Pisa-Milã o (1511-1512), que, por sua vez, declarou Jú lio II suspenso. Latrã o V també m rea irmou a
Pragmá tica Sançã o de Bourges (1438), que havia a irmado a independê ncia da Igreja francesa do controle papal.
Em resumo, este foi um perı́o do da histó ria papal em que o papado se tornou essencialmente um ofı́cio ocidental e
a Igreja Cató lica Romana essencialmente uma igreja papal. Nenhum dos desenvolvimentos foi teologicamente ou
pastoralmente feliz. Na verdade, os maus papas desse perı́o do (e havia muitos no sé culo XV e no inı́cio do sé culo
XVI) causaram muito mais danos à Igreja do que os maus papas dos sé culos IX, X e XI, porque a forma recentemente
centralizada de o governo eclesiá stico tornou possı́vel que a corrupçã o se espalhasse rapidamente por muitas outras
partes da Igreja. Nos sé culos IX, X e XI - antes que a centralizaçã o papal realmente criasse raı́zes - a corrupçã o teve
efeitos relativamente limitados alé m de Roma e Itá lia. No inal desse perı́o do, a Igreja Ocidental foi dilacerada por
uma Reforma, cujos efeitos ainda estã o conosco quase cinco sé culos depois.

155 Gregório VII, St., ca. 1020-85, papa de 30 de junho de 1073 a 25 de maio de 1085 (a lista o icial do Vaticano dá
como o início de seu ponti icado em 22 de abril de 1073, dia em que foi eleito por aclamação popular; um diácono na
época de sua eleição, ele não foi consagrado como bispo de Roma até 30 de junho).
O ponti icado de Gregó rio VII, um dos papas mais importantes e in luentes em toda a histó ria da Igreja, marca um
verdadeiro divisor de á guas na histó ria do papado, do primeiro ao segundo milê nio cristã o. No primeiro milê nio
cristã o, o papado funcionou em grande medida como mediador de disputas, tanto eclesiá sticas quanto polı́ticas. O
bispo de Roma era apenas um dos vá rios patriarcas ocidentais (embora hoje haja patriarcas honorá rios em Lisboa,
Veneza e nas Indias Orientais e Ocidentais, e um patriarca de rito latino em Jerusalé m, o papa a irma implicitamente
ser o patriarca universal da Igreja, em contradiçã o com a insistê ncia do Papa Gregó rio, o Grande [590-604] de que a
Igreja nã o tem um patriarca universal). Para ter certeza, papas individuais do primeiro milê nio, como Leã o, o Grande
(440-61) prontamente vestiram o manto do Apó stolo Pedro e reivindicaram a primazia da jurisdiçã o pastoral - mas
na maior parte apenas sobre o Ocidente, e mesmo assim apenas nas principais regiõ es do Ocidente. Ao mesmo
tempo, houve constantes cabos de guerra entre Roma e Constantinopla (envolvendo tanto o imperador bizantino
quanto o patriarca), mas o Oriente nunca aceitou totalmente o primado papal no sentido em que passou a ser
compreendido desde Gregó rio VII . Gregó rio foi o primeiro papa a reivindicar jurisdiçã o universal sobre toda a
Igreja - leigos, religiosos e clé rigos, prı́ncipes e indigentes - e o fez com base em precedentes canô nicos e legais aos
quais nenhum outro papa antes dele havia apelado. Ele també m é o papa que restringiu o uso do tı́tulo de “papa” ao
bispo de Roma. Antes disso, o tı́tulo era usado por todos os bispos do Ocidente.
Nascido Hildebrand, ele serviu sob vá rios papas antes de ser ele mesmo eleito para o papado: Gregó rio VI (1045–
46), como capelã o; Leã o IX (1049–54), como tesoureiro da Igreja Romana (ou administrador do Patrimô nio de Sã o
Pedro); e Nicolau II (1058 a 1061) e Alexandre II (1061 a 1073), como arquidiá cono, chanceler e principal
conselheiro. Apó s a morte de Alexandre II, ele foi eleito papa por aclamaçã o (ao contrá rio dos procedimentos
detalhados estabelecidos por Nicolau II em 1059) e tomou o nome de Gregó rio, em homenagem a seu patrono,
Gregó rio VI, e Gregó rio, o Grande (590-604). Ele adiou sua consagraçã o até depois da festa dos Santos. Pedro e
Paulo em 29 de junho em respeito aos dois apó stolos. Ele nã o informou ou pediu a aprovaçã o do rei alemã o,
Henrique IV.
Gregó rio fez da reforma a peça central de seu ponti icado. Mas, para realizar suas reformas, ele in lou as
reivindicaçõ es papais tradicionais tanto nas esferas espirituais quanto nas temporais. Em março de 1075, ele
publicou seu Dictatus papae (“Pronunciamentos do Papa”), contendo vinte e sete proposiçõ es sobre os poderes do
papa, incluindo a irmaçõ es como: “Que só ele pode usar insı́gnias imperiais”; “Que apenas os pé s do papa devem ser
beijados por todos os prı́ncipes”; “Que lhe é lı́cito depor imperadores”; “Que lhe é lı́cito transferir bispos, sob
pressã o da necessidade, de ver para ver”; “Que nenhum sı́nodo deve ser chamado de 'geral' sem o seu comando”; e
"Que ele nã o deve ser julgado por ningué m." (O documento é geralmente considerado como uma coleçã o de tı́tulos
de capı́tulos de uma compilaçã o inacabada do direito canô nico.) A norma da idelidade cató lica era obediê ncia
inquestioná vel ao bispo de Roma, que exercia um governo universal sobre toda a cristandade, incluindo reis e
imperadores.
Nos sı́nodos da Quaresma de 1074 e 1075, Gregó rio VII rea irmou os decretos de seus predecessores contra o
casamento clerical e a simonia (a compra e venda de bens espirituais, incluindo ofı́cios da igreja) e, apesar da forte
oposiçã o, os aplicou por meio da agê ncia papal legados na França, Alemanha e Inglaterra. Até o poderoso arcebispo
de Rheims foi deposto com sucesso. Desse ponto em diante, os legados papais (hoje conhecidos como nú ncios e
delegados apostó licos) tornaram-se um importante braço administrativo do papado. O Sı́nodo de Latrã o de 1078
ameaçou os bispos com a suspensã o se eles permitissem que seu clero se casasse e permanecesse no cargo. O papa
també m exigiu que os bispos recé m-eleitos izessem um juramento de obediê ncia e que todos os bispos visitassem a
Santa Sé . Dada a composiçã o e o conteú do dos sı́nodos de Latrã o sob Gregó rio, era quase natural que eles tivessem
evoluı́do para concı́lios gerais ou ecumê nicos (dos quais havia cinco no perı́o do medieval).
A proibiçã o de Gregó rio de investidura leiga, ou seja, a interferê ncia de prı́ncipes leigos e outros governantes
temporais na nomeaçã o e posse de bispos e abades, provocou oposiçã o ainda mais forte, desta vez do pró prio rei da
Alemanha, Henrique IV. Depois de derrotar os saxõ es em 1075, Henrique nomeou seus pró prios homens como
arcebispo de Milã o e como bispos (e abades) na Alemanha e em outras partes da Itá lia, incluindo Spoleto e Fermo.
Quando o papa repreendeu o rei, Henrique IV convocou um sı́nodo de 26 bispos alemã es em Worms (24 de janeiro
de 1076), que depô s o papa, referindo-se a ele como o "monge Hildebrando". O pró prio Henrique pediu que
Gregó rio renunciasse. Em Piacenza, os bispos lombardos seguiram o exemplo. Entã o, no sı́nodo quaresmal de 1076,
Gregó rio excomungou Henrique, suspendeu-o do exercı́cio de seus poderes reais e liberou os sú ditos do rei de toda
idelidade a ele. Os bispos que apoiaram Henrique foram excomungados ou suspensos. Como manobra polı́tica,
Henrique IV pediu perdã o e buscou a absolviçã o, usando traje de penitê ncia e ajoelhando-se na neve em Canossa,
perto de Reggio, no norte da Itá lia, em janeiro de 1077. Gregó rio perdoou e absolveu o rei. Poré m, trê s anos depois,
ele novamente excomungou e depô s Henrique devido a uma disputa persistente que Henrique estava tendo com
Rodolfo da Suá bia, que os prı́ncipes alemã es elegeram como rei rival. Depois de uma violenta guerra civil na
Alemanha e do fracasso do papa em unir os dois lados, Gregó rio VII reconheceu a reivindicaçã o de Rodolfo ao trono.
Henrique entã o convocou um conselho de bispos imperiais em Brixen em 25 de junho de 1080. O conselho depô s
Gregó rio (seu segundo depoimento!) E elegeu Guibert, arcebispo de Ravenna, como Clemente III para substituir
Gregó rio. (Guibert foi suspenso por Gregó rio por nã o comparecer ao sı́nodo de 1075 e depois foi excomungado por
participar da reuniã o dos bispos lombardos em Piacenza, que apoiou o primeiro depoimento do sı́nodo de Worms
como papa.)
Henrique ainda estava aberto a concessõ es porque queria ser coroado imperador, mas Gregó rio foi in lexı́vel,
tanto que perdeu muitos de seus apoiadores, incluindo treze cardeais. Depois que Henrique tomou Roma em março
de 1084, apó s um cerco de dois anos, o clero romano e os leigos elegeram Guibert (Clemente III) papa e ele foi
entronizado na Bası́lica de Latrã o em 24 de março de 1084. Uma semana depois, em 31 de março, enquanto
Gregó rio VII ainda estava no Castel Sant'Angelo, o antipapa Clemente III coroou o imperador Henrique na Bası́lica de
Sã o Pedro. Mas Henrique e Clemente deixaram Roma quando Robert Guiscard, duque de Apú lia, marchou sobre
Roma com tropas normandas e resgatou Gregó rio. (Clemente voltou para Ravenna, onde permaneceu como
arcebispo enquanto travava uma feroz guerra de pan letos contra Gregó rio e os reformadores gregorianos. Mais
tarde, ele voltaria a Roma para exercer seu papel como presumı́vel papa mais uma vez durante os ponti icados de
Victor III, 1087, e Urbano II, 1088–99.) O comportamento violento das tropas de Robert enfureceu o povo romano e
eles se voltaram contra o papa que os havia convidado a entrar. Gregó rio VII deixou Roma, indo primeiro para
Monte Cassino e depois para Salerno, onde morreu em maio 25, 1085. Ele foi enterrado na catedral de Salerno.
Muitas cartas sobreviveram do ponti icado de Gregó rio VII. Eles mostram seu profundo interesse mesmo nas
igrejas distantes da Dinamarca, Espanha, Polô nia, Hungria, Rú ssia, França e Inglaterra. Ele sempre enfatizou a virtude
da justiça, insistindo que o dever do rei cató lico era ser um amante da justiça. Ele insistiu que os arcebispos
deveriam vir a Roma para receber o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade
pastoral). Sob ele, a liturgia romana, já em uso em Aragã o, substituiu os ritos moçá rabes nas regiõ es da Espanha
controladas pelo rei de Castela. Ele també m ixou os Dias do Ember (uma sé rie de dias penitenciais de jejum e
abstinê ncia parcial observada quatro vezes por ano) na Igreja latina. Ele esperava libertar o Santo Sepulcro em
Jerusalé m dos turcos e restaurar a uniã o com a Igreja Oriental, mas as muitas contrové rsias perto de casa
frustraram esses planos.
Embora um dos grandes papas reformadores da histó ria, sua obstinaçã o, à s vezes se aproximando do fanatismo,
minou muito de sua agenda reformista. Os conclaves papais subsequentes foram frequentemente marcados pela
divisã o entre cardeais eleitores gregorianos e anti-gregorianos. No entanto, ele é o papa que, mais do que qualquer
outro, moldou o desenvolvimento do papado no Ocidente ao longo do segundo milê nio cristã o - para o bem ou para
o mal. Foi beati icado em 1584 e canonizado pelo Papa Paulo V em 1606. Dia da festa: 25 de maio.

156 Victor III, Bl., Ca. 1027-87, papa de 9 de maio a 16 de setembro de 1087 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado em 24 de maio de 1086, a data de sua primeira eleição - uma eleição que ele não aceitou formalmente - e
quase um ano antes de sua consagração como Bispo de Roma em 9 de maio de 1087).
Victor III foi o primeiro papa a ser beati icado sem ser posteriormente canonizado um santo.
Quando o grande papa reformador Gregó rio VII morreu no exı́lio em Salerno, o partido reformista estava em um
estado de confusã o e desordem. Alguns de seus principais cardeais mudaram seu apoio ao antipapa Clemente III,
eleito em 1084, enquanto Gregó rio ainda estava em Roma, no Castelo de Santo Angelo. Demorou quase um ano - e
com muita pressã o do prı́ncipe normando Jordan de Cá pua - até que os cardeais elegeram Desidé rio (nascido
Daufer ou Daufari), abade de Monte Cassino desde 1058 e talvez o abade mais in luente da Igreja nessa é poca. Um
ano depois de ser eleito abade, foi nomeado pelo Papa Nicolau II como cardeal-sacerdote de Santa Cecı́lia e vigá rio
papal dos mosteiros do sul da Itá lia. (Ele també m deu refú gio a Gregó rio VII quando fugiu de Roma em 1084 e
esteve presente na morte de Gregó rio em Salerno.) Os eleitores concluı́ram que Desidé rio poderia trazer uma
reconciliaçã o com o imperador Henrique IV. Entã o, em 24 de maio de 1086, eles o elegeram papa na igreja diaconal
de Santa Lú cia em Roma. Desidé rio resistiu à eleiçã o, insistindo que os cardeais deveriam selecionar o cardeal
Oddone di Châ tillon (que seria eleito na pró xima vez, como Urbano II). O abade entã o fugiu de Roma para Terracina.
Depois de um longo perı́o do de indecisã o, a resistê ncia de Desidé rio inalmente acabou. O lı́der normando Jordan de
Cá pua interveio e instou Desidé rio a convocar um sı́nodo em Cá pua, nã o como papa, mas como vigá rio papal para os
mosteiros do sul da Itá lia. O sı́nodo o convenceu a aceitar sua eleiçã o como papa, apesar da oposiçã o intensa e
residual de uma minoria liderada pelo arcebispo de Lyon. O abade Desiderius foi canonicamente eleito em Cá pua no
Domingo de Ramos, 21 de março de 1087, assumindo o nome de Victor III, em homenagem ao Papa Victor II, que
havia sido nomeado pelo pai de Henrique para o papado e servira como guardiã o de Henrique IV quando ele era um
menino muito jovem. (Antes de sua morte, Gregó rio VII havia recomendado trê s possı́veis sucessores. Desidé rio nã o
era um deles.)
Quatro dias apó s sua eleiçã o canô nica, o papa eleito foi forçado a fugir de Roma por causa dos distú rbios na
cidade. Desanimado com os distú rbios civis e as amargas disputas faccionais entre os gregorianos e os anti-
gregorianos que sua eleiçã o havia exacerbado, Victor III deixou de lado sua insı́gnia papal e voltou para seu
mosteiro em Monte Cassino, onde reassumiu suas funçõ es como abade. Em 9 de maio de 1087, entretanto, ele foi
conduzido com segurança a Roma e consagrado como bispo de Roma na Bası́lica de Sã o Pedro, enquanto o antipapa
Clemente III, tendo sido desalojado pelas tropas normandas, refugiou-se no Panteã o.
O resto da cidade, entretanto, ainda estava sob o controle dos partidá rios do antipapa. Desanimado, Victor III
voltou mais uma vez a Monte Cassino. Ele voltou a Roma por mar no inı́cio de junho em resposta aos apelos da
condessa Matilda, da Toscana. Em 1o de julho, aqueles que lhe eram leais conseguiram retomar a cidade inteira.
Entã o, apenas algumas semanas depois, com rumores circulando sobre a chegada iminente do imperador Henrique
IV à Itá lia, o papa voltou mais uma vez a Monte Cassino, onde permaneceu como abade até trê s dias antes de sua
morte em 16 de setembro de 1087. No inal Em agosto, ele realizou um conselho local em Benevento que rea irmou
a proibiçã o de Gregó rio VII de investidura leiga (a nomeaçã o e instalaçã o de bispos e abades por governantes
leigos), invalidou ordenaçõ es simonô nicas (aquelas conduzidas por bispos que obtiveram seus cargos por meio de
suborno), e excomungou o antipapa Clemente III e o lı́der dos extremistas gregorianos, o arcebispo de Lyon, que se
opô s à sua tomada do trono papal. Durante o conselho, entretanto, a saú de de Victor III piorou. Ele voltou
imediatamente para Monte Cassino, onde morreu e foi enterrado. Victor III foi beati icado pelo Papa Leã o XIII em
1887, mas nunca foi canonizado santo. Dia da festa: 16 de setembro.

157 Urban II, Bl., Francês, ca. 1042–99, papa de 12 de março de 1088 a 29 de julho de 1099.
Durante o ponti icado de Urbano II, a Cú ria Romana foi estabelecida e a Primeira Cruzada (para libertar Jerusalé m
dos muçulmanos) foi lançada (1096-99). Ele també m foi o primeiro de oito papas consecutivos que tiveram o
nú mero “II” apó s seus nomes papais.
Batizado de Oddone (di Châ tillon), ele era ex-prior da abadia reformista de Cluny na Borgonha e atual cardeal-
bispo de Ostia quando Victor III morreu em Monte Cassino em 16 de setembro de 1087. Roma estava mais uma vez
sob o controle de forças leais à o antipapa Clemente III e seus partidá rios. Conseqü entemente, a eleiçã o de um
sucessor de Victor III teve que ser conduzida no Duomo di San Pietro (Catedral de Sã o Pedro) em Terracina, ao sul
de Roma perto de Gaeta. Estavam presentes cerca de quarenta cardeais, bispos e abades, bem como representantes
da corte alemã . O cardeal-bispo do Porto representava o clero romano. O abade de Monte Cassino representou os
cardeais-diá conos. O cardeal de Sã o Clemente representou os impedidos de vir de Roma. O prefeito de Roma
representou o povo romano. Depois de observar trê s dias de oraçã o, os cardeais elegeram o cardeal Oddone por
unanimidade em 12 de março de 1088, e ele foi consagrado no mesmo dia, no mesmo lugar, pelos cardeais-bispos
do Porto, Tuscolo e Albano. Ele adotou o nome de Urbano ao ser eleito papa, por qual motivo nã o sabemos; Urbano
I (222-30) deixou poucos vestı́gios histó ricos na histó ria papal a nã o ser, como Urbano II, ele teve que lutar com um
antipapa (Hipó lito) durante seu reinado.
Urbano II tentou desde o inı́cio marcar um curso mais moderado na reforma da igreja. Embora ele tenha
rea irmado a legislaçã o de Gregó rio VII contra o casamento clerical, simonia (a compra e venda de cargos da igreja)
e investidura leiga (a nomeaçã o e posse de bispos e abades por governantes leigos) em um conselho em Mel i
(1089), ele adotou um mais abordagem benigna aos bispos que haviam sido investidos por seus soberanos, mas
canonicamente eleitos, e à validade das missas celebradas por padres que foram devidamente ordenados, mas que
se entregaram ao cisma. Embora seus esforços conciliató rios tenham conquistado alguns pontos na Alemanha e em
outros lugares, eles nã o apaziguaram o imperador, Henrique IV, que forçou o papa em 1090 a render Roma (o papa
havia entrado na cidade no ano anterior) ao antipapa Clemente III e a pede asilo com seus aliados normandos no sul
da Itá lia.
Apó s a deserçã o de Conrado, ilho de Henrique, para o lado do papa, no entanto, Urbano II conseguiu retornar a
Roma no inal de 1093 e, por meio de suborno, recuperar o Palá cio de Latrã o em 1094 e o Castelo de Santo Angelo
em 1098. Em 1095, embora o O cisma imperialmente apoiado pelo antipapa Clemente III continuou, a posiçã o de
Urbano II agora era segura o su iciente para ele convocar vá rios sı́nodos. Em março de 1095, o sı́nodo de Placê ncia
anulou as ordenaçõ es do antipapa e seus seguidores, condenou o ensino eucarı́stico de Berengá rio de Tours (que
havia negado a presença real de Cristo) e encorajou os cristã os a se unirem ao apoio militar da Igreja oriental sitiada
pelos muçulmanos. Um sı́nodo em Clermont em novembro de 1095 proibiu bispos e clé rigos de se tornarem
vassalos de governantes leigos ou de qualquer leigo, decretou que a chamada Tré gua de Deus (a suspensã o de todas
as hostilidades militares em um determinado dia da semana) deveria ser observada, e emitiu uma convocaçã o para a
Primeira Cruzada (1096–1099) para libertar Jerusalé m dos muçulmanos. Um sı́nodo em Bari em 1098 buscou uma
reconciliaçã o com os bispos gregos do sul da Itá lia. Anselm de Canterbury (falecido em 1109) estava presente no
sı́nodo para tentar persuadir os gregos a aceitarem como um acré scimo ao credo a chamada clá usula Filioque (lat.,
"E do Filho"), que postulava uma dupla procissã o do Espı́rito Santo do Pai e do Filho, ao invé s do Pai atravé s do Filho
( per Filium ). Mas as tentativas gerais do papa de reconciliaçã o com o Oriente nã o tiveram sucesso.
Sua “polı́tica externa” europeia pode ter sido um pouco mais bem-sucedida, ganhando algum apoio para suas
reformas na França e reorganizando a Igreja na Espanha, incluindo o estabelecimento do arcebispo de Toledo como
primaz do paı́s. Mas, devido à s distraçõ es do papa com o cisma interno, os soberanos da Inglaterra, França, Espanha
e Sicı́lia (para nã o mencionar a pró pria Alemanha) foram capazes de ignorar à vontade os regulamentos reformistas
do papado. Urbano II morreu em 29 de julho de 1099, no Palazzo dei Pierleone, pró ximo à igreja de San Nicolò in
Carcere. Duas semanas antes de sua morte, os cruzados haviam reconquistado Jerusalé m, mas a notı́cia da vitó ria
nã o chegou ao papa a tempo. Ele foi enterrado em Sã o Pedro. Pessoa de piedade e humildade moná stica, foi
beati icado pelo Papa Leã o XIII em 1881. Festa: 29 de julho.

158 Pascal II, 14 de agosto de 1099 - 21 de janeiro de 1118.


Sob pressã o do imperador Henrique V, Pascoal II reverteu muitas das reformas iniciadas pelo Papa Gregó rio VII
(1073–85). Consequentemente, o papado sofreu um declı́nio de prestı́gio durante o ponti icado de Pascal.
Nascido Raniero (Rainerius), serviu como abade de Sã o Paulo Fora dos Muros (era a abadia de Sã o Lourenço, de
acordo com uma fonte) e como cardeal-sacerdote da igreja de Sã o Clemente. Dezesseis dias apó s a morte de Urbano
II, Raniero foi eleito papa em 13 de agosto de 1099 e adotou o nome de Pascal. Por que ele fez isso é desconhecido.
O primeiro Papa Pascal foi tã o detestado pelo povo de Roma que, apó s sua morte, seu corpo nã o pô de ser enterrado
na Bası́lica de Sã o Pedro. Pascoal II foi consagrado Bispo de Roma no dia seguinte. Por ainda nã o ser bispo quando
eleito, nã o poderia teologicamente ser bispo de Roma (e, portanto, papa) até sua consagraçã o, apesar das normas
canô nicas em contrá rio.
A personalidade de Pascoal II (tı́mido e fraco, mas també m teimoso e in lexı́vel) nã o o convinha para enfrentar os
problemas herdados de seu predecessor: a contrové rsia da investidura leiga (a nomeaçã o e posse de bispos e
abades por governantes leigos) na Alemanha, França, e Inglaterra; um imperador hostil (Henrique IV); e um
antipapa determinado e durá vel (Clement III). De fato, haveria quatro antipapas durante o ponti icado de Pascal II:
alé m de Clemente III, havia Teodorico, que foi cardeal-bispo de Albano; Albert (ou Adalberto), que foi cardeal-bispo
de Silva Câ ndida; e Silvestre IV, que era arcipreste da igreja de San Angelo. Com a ajuda do apoio inanceiro dos
normandos, Pascoal II mandou remover o antipapa Clemente III de Roma. Mas o problema da investidura piorou,
nã o melhorou. Embora Henrique IV nã o tivesse interesse em apoiar nenhum dos trê s antipapas apó s a morte de
Clemente III em setembro de 1100, ele queria continuar a investir os bispos e abades com ané is e bá culo. Mas Pascal
II renovou a proibiçã o de investidura leiga em um sı́nodo em Roma em 1102. Depois que Henrique V derrubou seu
pai com sucesso, logo icou ó bvio que ele també m queria continuar a prá tica de investidura leiga. O papa
providenciou, entretanto, que a investidura leiga fosse condenada e proibida pelos sı́nodos de Guastalla (1106),
Troyes (1107), que depô s os bispos que haviam sido investidos por leigos, Benevento (1108) e o Latrã o (1110).
Apesar de tudo isso, Henrique V ainda queria ser coroado imperador em Roma. Um acordo de curta duraçã o foi
acertado em Sutri em 9 de fevereiro de 1111. Henrique renunciaria à investidura e permitiria a livre eleiçã o de
bispos e abades e, em troca, as igrejas alemã s renunciariam a todas as propriedades, direitos e privilé gios
concedidos pelo impé rio, exceto para receitas estritamente eclesiá sticas, como dı́zimos. Quando o acordo, ou
concordata, foi lido na cerimô nia de coroaçã o na Bası́lica de Sã o Pedro, trê s dias depois (12 de fevereiro), houve
gritos de protesto e o serviço teve que ser encerrado abruptamente. Henrique retirou sua aceitaçã o do acordo e
mandou prender o papa e os cardeais (incluindo o cardeal Giovanni, que sucederia Pascoal II como Gelá sio II). Apó s
dois meses de prisã o severa, o papa concordou com os termos do imperador (conhecido como o Privilé gio da Ponte
Mammolo) em 12 de abril. O rei manteria o direito de investir bispos e abades com anel e bá culo apó s sua eleiçã o
canô nica, com consentimento real para a eleiçã o a ser dada antes da consagraçã o. Paschal també m teve que jurar
que nunca excomungaria Henrique. No dia seguinte, ele coroou Henrique V como imperador na Bası́lica de Sã o
Pedro.
A abjeta rendiçã o de Pascoal II à s exigê ncias do imperador provocou uma tempestade de protestos e
recriminaçõ es contra o papa pelos reformadores. Pascal icou tã o perturbado que pensou em renunciar ao papado.
Ele concordou com a anulaçã o do privilé gio da Ponte Mammolo em um sı́nodo de Latrã o em 1112 e pessoalmente
condenou e retirou o privilé gio em 1116, enquanto renovava a proibiçã o de investidura leiga. Enquanto isso, a
questã o da investidura leiga estava sendo negociada paci icamente em outro lugar, com o envolvimento do papa. Na
Inglaterra, o rei renunciou ao direito de investidura, mas manteve o direito de receber homenagem dos bispos antes
de sua consagraçã o, e na França o rei també m renunciou à investidura em favor de um juramento de lealdade.
As relaçõ es de Pascal II com o Oriente eram infelizes. Ele deu sua bê nçã o a uma expediçã o militar contra o impé rio
oriental em 1105, pensando ser uma cruzada contra os muçulmanos. A Igreja Grega reagiu com hostilidade aguda.
Em 1112, o imperador oriental tentou se reunir com o papa, mas o esforço fracassou sob o peso da insistê ncia do
papa de que o Oriente reconhecesse o primado de Roma como uma pré -condiçã o.
Os ú ltimos anos do longo ponti icado de Pascal II foram ainda menos felizes. Em 1116, revoltas na cidade
obrigaram-no a fugir para Benevento. Ele fez isso novamente no ano seguinte, quando Henrique V chegou a Roma
para uma estadia de alguns meses. De Benevento, excomungou o arcebispo Maurı́cio de Braga (que mais tarde se
tornou o antipapa Gregó rio VIII) por coroar solenemente Henrique e també m sua esposa, Matilda, na Pá scoa.
Poucos dias depois de retornar à cidade no inı́cio de 1118, o papa morreu no Castel Sant'Angelo em 21 de janeiro e
foi enterrado quase secretamente na Bası́lica de Latrã o porque a Bası́lica de Sã o Pedro estava sob o controle das
forças do imperador.

159 Gelásio II, 10 de março de 1118 - 28 de janeiro de 1119 (24 de janeiro de 1118 - 28 de janeiro de 1119, na lista
o icial do Vaticano; 24 de janeiro é a data da eleição; a consagração como Bispo de Roma não ocorreu até 10 de
março) .
Já idoso quando eleito, Gelá sio II foi atacado e preso imediatamente apó s sua eleiçã o pelo chefe de uma famı́lia
patrı́cia em Roma que detestava seu predecessor, Pascoal II. O papa acabou fugindo para a França e morreu no
mosteiro de Cluny.
Batizado de Giovanni (Joã o) e educado em Monte Cassino, onde se tornou monge, foi cardeal-diá cono com o tı́tulo
de Santa Maria in Cosmedin e chanceler da Santa Igreja Romana por cerca de trê s dé cadas sob Urbano II e Pascal II,
que també m o nomeou arquidiá cono e bibliotecá rio. Apó s sua eleiçã o em 24 de janeiro de 1118, nã o em Latrã o, mas
secretamente no mosteiro de Santa Maria em Pallara, no Monte Palatino, devido à perigosa situaçã o polı́tica e militar
em Roma, ele foi violentamente agredido e preso por Cencius Frangipani, chefe do uma famı́lia patrı́cia que detestava
Pascal II, a quem o novo papa fora intensamente leal. A pedido de outras famı́lias aristocrá ticas e do povo romano,
Gelá sio II foi libertado, mas ele e os cardeais tiveram que fugir de Roma quase imediatamente porque o imperador
Henrique V estava a caminho da cidade. Em sua terra natal, Gaeta, Gelá sio II foi ordenado sacerdote (ele ainda era
apenas diá cono na é poca de sua eleiçã o em janeiro) e consagrado Bispo de Roma em 10 de março.
Henrique V exigiu que o papa voltasse a Roma para que eles pudessem resolver juntos suas diferenças sobre a
contrové rsia da investidura (a nomeaçã o e posse de bispos e abades por governantes leigos). Quando o papa se
recusou a retornar, o imperador fez com que o arcebispo de Braga fosse proclamado papa; ele assumiu o nome de
Gregó rio VIII. Gelá sio excomungou o imperador e o antipapa um mê s depois em Cá pua (9 de abril) e enviou cartas
denunciando o antipapa a todos os principais centros cristã os. Quando Henrique deixou Roma devido à
aproximaçã o do exé rcito de Roberto de Cá pua, Gelá sio II retornou apenas para encontrar a cidade sob o controle do
antipapa Gregó rio VIII e outras forças hostis. Ele nã o pô de ser formalmente instalado no Palá cio de Latrã o ou na
Bası́lica de Sã o Pedro, e em 21 de julho foi novamente atacado pelos agentes de Frangipani durante a celebraçã o da
Missa em Santa Prassede. Embora o papa tenha conseguido escapar, ele decidiu fugir para a França, junto com vá rios
de seus cardeais. Gelá sio II realizou um sı́nodo em Vienne, no sul da França, no inı́cio de janeiro de 1119, mas depois
de adoecer, retirou-se para a abadia de Cluny, onde, algumas semanas depois (28 de janeiro, possivelmente 29),
morreu e foi sepultado perto do altar principal da igreja da abadia.

160 Callistus [Calixtus] II, francês, 1050–1124, papa de 2 de fevereiro de 1119 a 13 de dezembro de 1124.
Callistus II foi o papa que concordou com a Concordata de Worms em 1122, que inalmente resolveu a contrové rsia
da investidura. A Igreja reteria todos os direitos espirituais na nomeaçã o e posse de bispos e abades, enquanto o
papel do imperador seria em grande parte limitado à Alemanha. A concordata foi formalmente rati icada no
Primeiro Concı́lio de Latrã o em 1123.
Em 2 de fevereiro de 1119, em Cluny, o punhado de cardeais que acompanharam Gelá sio II à França (ver Gelá sio
II, nú mero 159, acima) elegeu por unanimidade Guido, o arcebispo reformista de Vienne, como papa; ele foi coroado
uma semana depois na catedral de Vienne. (Como Guido já era bispo, sua aceitaçã o da eleiçã o foi su iciente para se
tornar bispo de Roma.) A maioria dos cardeais, ainda em Roma, junto com o clero e os leigos rati icaram a eleiçã o
em 1º de março.
Apó s o fracasso de uma tentativa inicial de reconciliaçã o com o imperador Henrique V sobre a questã o da
investidura leiga (a nomeaçã o e posse de bispos e abades por governantes leigos), o novo papa rea irmou a
proibiçã o da investidura leiga e a excomunhã o de Henrique em um conselho em Rheims (29 a 30 de outubro de
1119), com a presença de cerca de quatrocentos prelados e o rei da França, Luı́s VI. O papa entã o marcou um
caminho triunfal pela Lombardia e Toscana e foi recebido com entusiasmo em Roma em 3 de junho de 1120. O
antipapa Gregó rio VIII já havia fugido para Sutri, de onde foi entregue a Calisto II, publicamente humilhado e entã o
con inado a um mosteiro. As ordenaçõ es do antipapa foram posteriormente declaradas invá lidas no Primeiro
Concı́lio de Latrã o em 1123.
Nesse ı́nterim, os prı́ncipes alemã es instaram Henrique V a reconhecer o novo papa e a entrar em negociaçõ es
com ele sobre o assunto de investidura leiga, sem prejudicar os interesses do impé rio. Apó s trê s semanas de duras
negociaçõ es, a histó rica Concordata de Worms foi aprovada em 23 de setembro de 1122. Sob o acordo, o imperador
renunciou ao seu suposto direito de investir bispos e abades com anel e bá culo (sı́mbolos de autoridade espiritual),
e as eleiçõ es livres e consagraçõ es de bispos e abades foram garantidas. Em troca, o papa concedeu a Henrique a
garantia de que as eleiçõ es de bispos e abades na Alemanha seriam realizadas em sua presença e que Henrique
investiria os eleitos com o sı́mbolo da autoridade temporal (o cetro). Em eleiçõ es disputadas, o imperador faria a
seleçã o. Fora da Alemanha, a presença do imperador nã o seria exigida nas eleiçõ es, e a investidura dos sı́mbolos da
autoridade temporal ocorreria seis meses apó s a consagraçã o. A longa luta entre a Igreja e o estado sobre a
investidura leiga inalmente acabou. Em março de 1123, o papa convocou um concı́lio geral, ou ecumê nico, no
Latrã o, que rati icou solenemente a Concordata de Worms. O conselho també m rea irmou uma sé rie de leis
anteriores sobre simonia (compra e venda de ofı́cios da igreja), casamento clerical, falsi icaçã o de documentos
eclesiá sticos e outros assuntos. Calisto II morreu em 13 de dezembro de 1124, em Latrã o, e foi sepultado ali ao lado
do tú mulo de Pascoal II (1099-1118).

161 Honorius II, 21 de dezembro de 1124 - 13 de fevereiro de 1130.


O aspecto mais memorá vel deste ponti icado é a forma como Honó rio II assumiu o cargo. Apó s a morte de Callistus
II, a maioria dos cardeais, aliada à famı́lia Pierleoni de Roma, inicialmente apoiou o cardeal Saxo da igreja de San
Stephano. Em seguida, eles rapidamente o abandonaram em favor do idoso cardeal-sacerdote Teobaldo, eleito em 15
de dezembro de 1124, como Celestino II. Lamberto, cardeal-bispo de Ostia, foi eleito no mesmo dia pelos cardeais
favorá veis à famı́lia Frangipani. Enquanto a posse de Celestino II estava em andamento em 21 de dezembro, a famı́lia
Frangipani, com o apoio secreto de Aimeric, o chanceler da Santa Igreja Romana, irrompeu na cerimô nia e, sob a
ponta da espada, teve seu indicado, Lamberto, aclamado papa. Celestine, que sofreu graves ferimentos no ataque,
entã o renunciou. (Como Celestino II nã o foi formalmente consagrado ou entronizado, ele nã o está incluı́do na lista
o icial de papas, mas é classi icado como um antipapa.) O prefeito da cidade e a famı́lia Pierleoni foram comprados
com subornos substanciais, e Lamberto foi formalmente “ reeleito ”pelos cardeais reunidos e entronizado como
Honó rio II. (Por que ele adotou o nome de Honó rio é intrigante, porque o primeiro Papa Honó rio foi formalmente
condenado apó s sua morte pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla em 680 por apoiar involuntariamente o
monotelismo, uma heresia que a irmava que Jesus Cristo tinha apenas uma vontade divina em vez de divina e uma
vontade humana.)
E importante notar que as divisõ es reveladas na eleiçã o papal nã o se limitaram à s famı́lias romanas. Os pró prios
cardeais estavam divididos entre os gregorianos mais velhos, que ainda pensavam em termos da luta entre a Igreja e
o impé rio, e um grupo mais jovem de reformadores, menos ixados nas questõ es que Gregó rio VII (1073–85) havia
enfrentado e mais preocupada com a reforma moral e espiritual da pró pria Igreja.
Por causa da paz com o imperador garantida pela Concordata de Worms (1122) e a morte de Henrique V em
1125, Honó rio II foi capaz de levar adiante sua agenda reformista. Ele promoveu a renovaçã o moral e espiritual da
Igreja, mostrando especial favor para as novas ordens religiosas que combinavam a vida contemplativa com a vida
ativa, como os Premonstratenses (Norbertinos), cujo estabelecimento ele aprovou em 1126, e os Cavaleiros
Templá rios, protetores de Peregrinos da Terra Santa, cujo governo ele aprovou em 1128. Ele també m apoiou o
conde Lothair III como o novo rei alemã o, que, por sua vez, pediu ao papa que con irmasse sua eleiçã o. Ele
persuadiu o rei da França, Luı́s VI, a resolver suas diferenças com a hierarquia francesa e garantiu a admissã o de
legados papais na Inglaterra. Ele teve menos sucesso no controle dos normandos no sul da Itá lia.
Quando o papa adoeceu em janeiro de 1130, seu poderoso chanceler Aimeric o levou para o mosteiro de San
Gregorio no Monte Cé lio, protegido pela famı́lia Frangipani. E depois que o papa morreu vá rias semanas depois,
durante a noite de 13/14 de fevereiro, Aimeric o enterrou temporariamente no mosteiro para que uma eleiçã o
pudesse ser realizada imediatamente. Assim que seu sucessor, Inocê ncio II, foi eleito, o corpo de Honó rio II foi
levado ao Latrã o para o enterro inal.

162 Inocêncio II, 23 de fevereiro de 1130 - 24 de setembro de 1143 (a lista o icial do Vaticano indica a data de início de
seu ponti icado como 14 de fevereiro, dia de sua eleição; no entanto, ele ainda não era bispo de Roma até 23 de
fevereiro )
Inocê ncio II convocou o Segundo Conselho de Latrã o em 1139, que anulou todos os atos do antipapa Anacletus e
rea irmou a legislaçã o de reforma do passado.
Nascido Gregorio Papareschi, ele era cardeal-diá cono da igreja de San Angelo quando eleito para o papado na
noite da morte de seu predecessor em um encontro clandestino de uma minoria de cardeais (mais jovens) no
convento forti icado de San Andrea. Na verdade, a eleiçã o consistiu em cinco membros do comitê eleitoral de
cardeais que havia sido originalmente formado para evitar cismas. Embora a maioria geral dos cardeais fosse mais
velha, os cardeais mais jovens tinham maioria no comitê por causa do sistema pelo qual os cardeais-bispos, cardeais-
sacerdotes e cardeais-diá conos votavam separadamente. O resto dos cardeais mais jovens imediatamente o
aclamaram papa. Ele adotou o nome de Inocê ncio II. (O primeiro Inocê ncio [401-17] havia feito a reivindicaçã o mais
forte até o momento da autoridade suprema de ensino da Sé Apostó lica.) Quando a notı́cia da eleiçã o chegou a cerca
de vinte e quatro outros cardeais mais velhos, a maioria gregorianos da velha guarda (que ou seja, leais à memó ria e
ao estilo administrativo do Papa Gregó rio VII [1073–85]), eles se recusaram a aceitar o resultado e se encontraram
mais tarde naquela mesma manhã na igreja de San Marco, onde elegeram o Cardeal Pietro Pierleoni, que assumiu o
nome de Anacletus II. Ambas as eleiçõ es foram canonicamente irregulares.
Como Inocê ncio II e seus partidá rios nã o puderam usar a Bası́lica de Sã o Pedro nem a de Latrã o para sua
consagraçã o como Bispo de Roma, uma vez que ambos estavam nas mã os da famı́lia Pierleoni, eles conduziram o
papa recé m-eleito em 23 de fevereiro ao encontro do chanceler romano Aimeric igreja titular de Santa Maria Nuova
em Campo Vincino, onde foi consagrado pelo cardeal-bispo de Ostia. O antipapa Anacletus II també m foi consagrado
no mesmo dia - na Bası́lica de Sã o Pedro. Se um cató lico moderno fosse milagrosamente transportado de volta no
tempo até 23 de fevereiro de 1130, qual dos dois cardeais consagrados esse cató lico reconheceria como o
verdadeiro papa: o consagrado em Santa Maria Nuova ou o consagrado em Sã o Pedro? O Annuario Ponti icio
reconhece o primeiro como o papa legı́timo e o segundo como um antipapa. Mas nã o teria sido tã o evidente para
uma testemunha ocular desses eventos.
O resultado foi um cisma de oito anos. A posiçã o de Anacletus era a princı́pio mais segura do que a de Inocê ncio,
talvez porque ele tivesse melhores conexõ es polı́ticas em Roma e o apoio do rei normando, Roger II. Inocê ncio II
fugiu para a França, onde gradualmente conquistou o reconhecimento como papa de todos os lugares, exceto da
Escó cia, Aquitâ nia e sul da Itá lia, talvez porque a maioria dos membros ativos da Igreja preferia a ê nfase espiritual
em sua agenda de reforma. Seus apoiadores mais e icazes foram Bernardo de Clairvaux (falecido em 1153), que
conquistou o rei Luı́s VI da França e o rei Henrique I da Inglaterra, e o arcebispo Norbert de Magdeburg, fundador
dos Norbertinos (Premonstratenses), que derrotou os bispos alemã es e os rei, Lothair III, para o lado de Inocente.
Inocê ncio encontrou Lothair III em Liè ge e ganhou seu apoio em sua luta contra Anacletus II (que a Igreja Cató lica
hoje considera um antipapa). Em troca, Inocê ncio II prometeu a Lothair a coroa imperial, mas nã o a restauraçã o dos
direitos de investidura perdidos na Concordata de Worms (1122). Posteriormente, Inocê ncio condenou Anacletus
em um sı́nodo em Rheims. Lothair marchou sobre Roma na primavera de 1133, mas os partidá rios de Anacletus II
mantiveram-se irmes em Sã o Pedro e na velha cidade Leonina (uma á rea murada ao redor de Sã o Pedro criada pelo
Papa Leã o IV em 852). Portanto, Lothair III teve que ser coroado na Bası́lica de Latrã o, em 3 de junho. Depois que
Lothair retornou à Alemanha, a posiçã o de Inocê ncio II em Roma se tornou insustentá vel, forçando-o a se retirar
para Pisa, onde realizou outro sı́nodo excomungando Anacletus e seu apoiador normando, Roger II. A contenda
entre Inocê ncio II e Anacletus II, no entanto, nunca terminou até a morte de Anacletus em 25 de janeiro de 1138. (O
antipapa Victor IV foi eleito para suceder Anacletus, mas ele rapidamente renunciou e seus apoiadores transferiram
sua lealdade para Inocente.)
Em abril de 1139, Inocê ncio II convocou o Segundo Conselho de Latrã o, que anulou todos os atos o iciais
(incluindo ordenaçõ es) de Anacleto e seus aliados e rea irmou a legislaçã o de reforma das dé cadas anteriores. Em
julho do mesmo ano, entretanto, Inocê ncio foi capturado durante uma expediçã o militar contra Roger II e foi forçado
a reconhecer o tı́tulo de Roger como rei da Sicı́lia. Por sua vez, Roger aceitou a reivindicaçã o de Inocê ncio II ao trono
papal. Em 1141, ele e o rei da França, Luı́s VII, tornaram-se adversá rios por causa de uma nomeaçã o para a diocese
de Bourges. O papa impô s uma proibiçã o sobre qualquer regiã o que desse abrigo ao rei. Dois anos depois, ele teve
mais problemas em seu pró prio terreno. Apó s um perı́o do de violê ncia e tumultos, os cidadã os romanos
estabeleceram uma comuna com um senado independente. Inocê ncio II morreu em 24 de setembro de 1143 e foi
sepultado na Bası́lica de Latrã o. Seus restos mortais foram transferidos para a igreja de Santa Maria Trastevere
depois que a Bası́lica de Latrã o foi destruı́da por um incê ndio em 1308.

163 Celestino II, 3 de outubro de 1143 - 8 de março de 1144 (a lista o icial do Vaticano marca o início de seu ponti icado
em 26 de setembro, o dia de sua eleição; mas ele não era bispo na época e não se tornou bispo de Roma até ser
consagrado como tal em 3 de outubro).
Como o Cardeal Teobaldo Boccapecci é considerado o icialmente, embora injustamente, como um antipapa, tendo
adotado o nome de Celestino II quando eleito para suceder Calisto II em 1124 (ver Honó rio II, nú mero 161, acima),
este Papa Celestino escolheu o nú mero II em vez de III quando eleito para suceder a Inocê ncio em 1143. (O primeiro
Papa Celestino [422-32] reivindicou supervisã o como o sucessor do Apó stolo Pedro sobre toda a Igreja, Oriente e
Ocidente.) Nascido Guido, ele era cardeal-sacerdote da Igreja San Marco quando eleito papa por unanimidade dois
dias apó s a morte de Inocê ncio II.
Os dois primeiros atos o iciais de Celestino II foram reversõ es de posiçõ es tomadas por seu predecessor,
Inocê ncio II. Primeiro, ele levantou o interdito em todos os lugares que abrigavam o rei Luı́s VII da França (que
originalmente se opô s a Inocê ncio II na nomeaçã o do arcebispo de Bourges devidamente eleito). Em segundo lugar,
ele se recusou a rati icar o tratado que Inocê ncio fora forçado a aceitar enquanto prisioneiro do rei Rogé rio II da
Sicı́lia. O tratado exigia que o papa reconhecesse a soberania de Roger sobre o sul da Itá lia, bem como sobre a Sicı́lia.
Mas Celestine acabou tendo que suavizar sua abordagem a Roger por causa da pressã o militar nas fronteiras dos
Estados Papais. Já idoso quando eleito, Celestino II serviu menos de seis meses como papa. Ele morreu em 8 de
março de 1144 e foi sepultado no Latrã o.

164 Lúcio II, 12 de março de 1144 - 15 de fevereiro de 1145.


O ponti icado de Lú cio II foi marcado por sé rias lutas polı́ticas em Roma, onde um novo senado, independente do
papado e crı́tico do clero, foi estabelecido sob a liderança do irmã o do falecido antipapa Anacletus II. (O primeiro
Papa Lú cio [253–54] foi banido de Roma pelo imperador Galo, mas foi restaurado pelo imperador Valeriano. Pouco
se sabe sobre Lú cio a partir de entã o.) Nascido Gherardo Caccianemici, ele era cardeal-sacerdote da igreja de Santa
Croce em Gerusalemme e chanceler e bibliotecá rio da Igreja Romana quando eleito papa em 12 de março de 1144.
Os detalhes de sua eleiçã o sã o desconhecidos. Ele foi imediatamente consagrado Bispo de Roma.
Embora tenha restaurado a jurisdiçã o metropolitana da arquidiocese de Tours sobre a Bretanha, con irmado o
primado da arquidiocese de Toledo sobre a Espanha e Portugal e aceito Portugal como feudo papal, seu ponti icado
se preocupou com os acontecimentos mais pró ximos de casa, na cidade de Roma , onde um senado independente
funcionava agora sob a liderança de Giordano Pierleoni, irmã o do falecido antipapa Anacletus II, e onde muitos dos
cidadã os exigiam que o clero se restringisse a funçõ es espirituais. O papa pediu ajuda primeiro a Rogé rio II da Sicı́lia
e depois ao novo rei alemã o, Conrado III. Ambos os esforços falharam. O papa decidiu, no inal, liderar sua pró pria
força militar contra os insurgentes. Ele foi ferido por pesadas pedras durante um ataque ao Capitó lio, onde o Senado
se reunia, e morreu pouco depois no mosteiro de San Gregorio em 15 de fevereiro de 1145. Ele foi sepultado no
Latrã o.

165 Eugenius [Eugene] III, Bl., 18 de fevereiro de 1145 - 8 de julho de 1153 (a lista o icial do Vaticano dá a data de sua
eleição, 15 de fevereiro, como o início de seu ponti icado, mas como ainda não era bispo, ele não poderia ser bispo de
Roma até que fosse consagrado em 18 de fevereiro).
Um cisterciense, Eugenius III manteve o há bito e estilo de vida de um monge enquanto servia como papa e
proclamou a Segunda Cruzada em 1145. Ele també m é considerado o ú ltimo dos papas reformadores deste perı́o do
histó rico especı́ ico.
Nascido Bernardo Paganelli (ou Pignatelli), foi abade da casa cisterciense da SS. Vincenzo e Anastasio fora de
Roma quando eleitos para o papado no mesmo dia (15 de fevereiro de 1145) em que seu predecessor, Lú cio II,
morreu devido aos ferimentos sofridos enquanto liderava uma expediçã o militar contra o Senado romano. A eleiçã o
foi realizada secretamente na igreja de San Caesareo (a igreja titular do Papa Joã o Paulo II como cardeal). O papa
eleito foi conduzido imediatamente ao Latrã o, onde foi instalado. Visto que Eugê nio III se recusou a reconhecer a
comuna popular que agora governava Roma, ele teve que ser consagrado trê s dias depois em Farfa, vinte e cinco
milhas ao norte da cidade, e ixar residê ncia em Viterbo. A comuna, entretanto, logo o aceitou como papa, bem como
sua soberania, e ele celebrou o Natal em Roma naquele ano. Mas o acordo fracassou e ele estava de volta a Viterbo
em janeiro de 1146; de lá , no ano seguinte, ele foi para a França.
Em 1 de dezembro de 1145, Eugê nio III proclamou a Segunda Cruzada depois de saber da captura pelos turcos do
posto avançado dos Cruzados em Edessa, e encarregou seu colega cisterciense, Bernardo de Clairvaux (falecido em
1153), de pregar em seu nome. A Segunda Cruzada, embora de alcance impressionante, foi um grande fracasso. Por
insistê ncia de Bernard, Eugenius III promoveu a reforma clerical e moná stica em sı́nodos importantes como Paris
(1147), Trier (1147-48) e Reims (1148). Em seu convite para o ú ltimo dos trê s sı́nodos, o papa a irmou que Cristo
conferiu ao papado, por meio de Sã o Pedro, autoridade suprema sobre assuntos temporais e espirituais. Ele també m
interveio nos assuntos da Igreja Inglesa, apoiando Theobald, arcebispo de Canterbury, contra o rei Stephen, e
depondo William Fitzherbert como arcebispo de York. Ele estabeleceu quatro arquidioceses metropolitanas na
Irlanda.
Eugê nio III retornou à Itá lia em junho de 1148 e, em Cremona, no mê s seguinte excomungou Arnaldo de Brescia,
que se aliara ao movimento da comuna antipapal em Roma, tornou-se o lı́der do senado e denunciou o papa como
um "homem de sangue". O papa, apó s um breve retorno a Roma em dezembro de 1149, chegou a um entendimento
com os cidadã os romanos com a ajuda do novo rei alemã o, Frederico I Barbarossa, o que permitiu a Eugê nio III
retornar mais uma vez em 1152. Em 23 de março de 1153, o papa concluiu um tratado com o rei em Constança no
qual o papa prometia a coroa imperial ao rei e o rei, por sua vez, prometia nã o fazer a paz com a comuna romana ou
os normandos sem o consentimento do papa. Cada lado també m concordou em nã o fazer concessõ es territoriais ao
impé rio oriental.
Eugenius III morreu de violenta febre em Tivoli em 8 de julho de 1153, muito antes de Frederick poder vir a Roma
para ser coroado. O corpo do papa foi transportado de volta para Roma e enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro ao
lado de Gregó rio VII (1073–85). Devido à austera simplicidade de sua vida, Eugenius III foi beati icado pelo Papa Pio
IX em 1872. Festa: 8 de julho.

166 Anastácio IV, 12 de julho de 1153 - 3 de dezembro de 1154.


Relaçõ es pacı́ icas foram estabelecidas entre o papado e a comuna romana durante o breve ponti icado de Anastá cio
IV. Nascido Corrado della Suburra, foi cardeal-bispo de Santa Sabina e vigá rio papal de Roma durante as ausê ncias
da cidade de Inocê ncio II e Eugê nio III. Muito idoso, foi eleito papa por unanimidade em 12 de julho de 1153, quatro
dias apó s a morte de seu predecessor, Eugê nio III, e foi imediatamente instalado no Latrã o. Parece ter gozado da
con iança do Senado romano, porque nã o só foi entronizado no Latrã o, mas depois foi autorizado a permanecer em
Roma sem qualquer resistê ncia. Ele també m era respeitado pelo povo romano, tendo-o ajudado durante um perı́o do
de fome. Ao contrá rio de seu antecessor, ele concordou em conceder o pá lio (a veste de lã usada ao redor do
pescoço de um arcebispo como um sı́mbolo de autoridade pastoral) ao novo arcebispo de Magdeburg, e reintegrou
o arcebispo deposto de York, William Fitzherbert, e o enviou o pá lio. Anastá cio IV morreu em 3 de dezembro de
1154 e foi sepultado no Latrã o.

167 Hadrian [Adrian] IV, Inglês, 4 de dezembro de 1154 - 1º de setembro de 1159.


Adriano IV foi o primeiro e ú nico papa inglê s. Nascido Nicholas Breakspear, ele deixou a Inglaterra ainda jovem para
estudar na França, onde ingressou em um mosteiro agostiniano e acabou se tornando abade. Quando a comunidade
reclamou que Nicolau era muito rı́gido, o papa Eugê nio III o removeu e o trouxe para a Itá lia como cardeal-bispo de
Albano. Ele també m serviu como legado papal de grande sucesso para a Escandiná via, reorganizando as igrejas da
Sué cia e da Noruega, e apó s seu retorno foi eleito papa por unanimidade apó s a morte de Anastá cio IV. Ele foi
coroado na Bası́lica de Sã o Pedro no dia seguinte. Durante seu ponti icado, o tı́tulo “Vigá rio de Cristo” tornou-se
comumente aplicado ao papa.
Adriano retomou a batalha domé stica do papado com a comuna romana, colocando a cidade sob interdiçã o até
expulsar seu lı́der, Arnaldo de Brescia. Com a cooperaçã o do rei alemã o Frederico, o papa mandou prender e
executar Arnaldo em 1155. A comuna posteriormente negociou separadamente com Frederico, oferecendo-lhe a
coroa imperial em troca de seu reconhecimento. Ele recusou. As relaçõ es pessoais do papa com o rei, entretanto,
nã o eram positivas. Eles tiveram uma reuniã o desagradá vel em Sutri em 8 de junho de 1155, durante a qual
Frederico apenas relutantemente prestou ao papa as cortesias adequadas. Quando Adriano inalmente coroou
Frederico na Bası́lica de Sã o Pedro em 18 de junho, ele alterou o serviço para enfatizar a subordinaçã o do
imperador ao papa. Frederico voltou para a Alemanha depois de reprimir uma breve revolta do povo romano, que
estava zangado com ele por recusar sua pró pria oferta da coroa.
O papa entã o celebrou um tratado muito impopular com Guilherme I da Sicı́lia, que o reconheceu como rei com
autoridade sobre a maior parte do sul da Itá lia e com direitos especiais sobre a Igreja na Sicı́lia. Em troca, William
reconheceu a soberania feudal do papa e concordou em pagar-lhe um tributo anual. Para Frederico, este Tratado de
Benevento (1156) parecia uma traiçã o ao Tratado de Constança, que ele havia irmado com o Papa Eugê nio III em
1153. As tensõ es entre o papa e o imperador pioraram ainda mais na Dieta de Besançon (1157), para a qual o papa
havia enviado emissá rios. Os enviados traziam uma carta papal referindo-se ao impé rio como bene icium do papado.
Os alemã es concluı́ram que o papa considerava o impé rio como seu feudo e o imperador como seu vassalo. Os
enviados papais foram convidados a partir. No ano seguinte, Adriano enviou ao imperador uma carta explicando que
ele nã o queria ofender o uso do termo " bene icium ". Apó s um breve perı́o do de paz entre as duas partes, a tensã o
aumentou mais uma vez quando Frederico, na Dieta de Roncaglia (1158), fez reivindicaçõ es sobre o norte da Itá lia e
a Có rsega que estavam em con lito com as prerrogativas papais naquele paı́s. Adriano, por sua vez, recusou-se a
aprovar o nomeado do imperador como arcebispo de Ravenna. Como as tensõ es continuaram a aumentar, o papa
retirou-se para Anagni para ins de segurança. Ele ameaçou excomungar Frederico a menos que ele anulasse os
decretos de Roncaglia dentro de quarenta dias. O papa morreu em 1º de setembro de 1159, antes que o prazo fosse
atingido. Ele foi enterrado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Seu tú mulo foi aberto para inspeçã o em 1607 e seu
corpo foi encontrado intacto, vestido com vestes pretas.

168 Alexander III, ca. 1105–81, papa de 20 de setembro de 1159 a 30 de agosto de 1181 (a lista o icial do Vaticano leva
a data de sua eleição, 7 de setembro, como o início de seu ponti icado, mas como ele ainda não era bispo, ele não
poderia tornar-se bispo de Roma até ser consagrado como tal em 20 de setembro).
Alexandre III foi o primeiro de muitos advogados a se tornar papa. Infelizmente, sua eleiçã o provocou um cisma de
vinte anos entre os leais a ele e os leais aos trê s antipapas apoiados pelo imperador alemã o Frederico Barbarossa.
Ele també m é o papa que impô s uma penitê ncia ao rei inglê s, Henrique II, pelo assassinato de Sã o Tomá s Becket
(1172) e que convocou o Terceiro Concı́lio de Latrã o em 1179, que decretou que uma maioria de dois terços dos
cardeais é necessá ria para a eleiçã o papal.
Nascido Orlando (ou Rolando) Bandinelli, ele serviu como chanceler e legado papal sob seu predecessor, Adriano
IV, e foi um cardeal-sacerdote na é poca de sua pró pria eleiçã o para o papado. Um punhado de cardeais pró -
imperiais (provavelmente sete em nú mero) tinha votado no cardeal Ottaviano de Monticelli, mas a grande maioria
(provavelmente vinte e dois) apoiava o cardeal Bandinelli. Como havia um acordo de que a eleiçã o deveria ser
unâ nime, uma violenta disputa eclodiu. Os partidá rios armados do cardeal Ottaviano invadiram a reuniã o e
arrancaram o manto papal vermelho dos ombros de Orlando, e o novo papa teve que buscar refú gio na fortaleza do
Vaticano ao lado de Sã o Pedro. Os partidá rios de Ottaviano conduziram-no em procissã o triunfal ao Latrã o.
Alexandre III foi consagrado bispo de Roma trê s semanas depois, em 20 de setembro, em Ninfa, a sudeste de Velletri,
pelo bispo de Ostia. Ottaviano foi consagrado como Victor IV na abadia imperial de Farfa, a nordeste de Roma, em 4
de outubro.
Em seguida, o imperador convocou um sı́nodo de cerca de cinquenta bispos alemã es e italianos em Pavia em
fevereiro de 1160, que endossou Victor IV e excomungou Alexandre III. O papa já havia excomungado Victor, e em
24 de março ele condenou o imperador Frederico. Em outubro, os bispos e chefes de ordens moná sticas da maioria
dos paı́ses ocidentais, reunidos em Toulouse na presença do rei Henrique II da Inglaterra e do rei Luı́s VII da França
(que já haviam se anunciado para Alexandre no conselho de Beauvais em julho), ouviram argumentos em nome de
ambos os pretendentes ao trono papal, declararam seu apoio a Alexandre III e condenaram Victor IV. Por causa da
oposiçã o imperial na Itá lia, o papa mudou-se para a França em abril de 1162, localizando-se eventualmente em Sens
(junto com sua Cú ria) de 1163 a 1665. Ele retornou a Roma a convite do povo em novembro de 1165, mas nã o pô de
evitar a recoronaçã o de Frederico e a coroaçã o de sua esposa como imperatriz em 1167 pelo antipapa Pascal III
(cuja eleiçã o, apó s a morte do antipapa Victor IV em 1164, foi conduzida por dois cardeais cismá ticos, dois bispos
alemã es e o prefeito de Roma). Um terceiro antipapa, Callistus III, foi eleito em 1168 e serviu até 1178, quando se
submeteu a Alexandre III.
Alexandre III acabou se mudando para Benevento. Enquanto estava lá , a posiçã o polı́tica do papa melhorou
gradualmente. Depois que a Liga Lombard das cidades do norte da Itá lia derrotou Frederico em Legnano em 1176
com o apoio do papa (e a Liga deu o nome dele à nova cidade de Alexandria), o imperador estava pronto para
negociar. Em Veneza, ele e o papa concordaram que a excomunhã o seria retirada de Frederico em troca de seu
reconhecimento de Alexandre como papa. Alexandre nã o apenas impô s sançõ es ao rei Henrique II da Inglaterra pelo
assassinato de Thomas Becket, mas també m con irmou o rei de Portugal em sua posiçã o e colocou o rei da Escó cia e
seu reino sob interdiçã o por interferir nas nomeaçõ es da igreja.
De 5 a 19 de março de 1179, Alexandre III presidiu o Terceiro Concı́lio de Latrã o, que encerrou de initivamente o
cisma. També m decretou que uma maioria de dois terços dos cardeais votantes é necessá ria para a eleiçã o ao
papado; encorajou universidades e escolas catedrais; e previa a puniçã o dos hereges (em particular os cá taros, ou
albigenses, no sul da França). Logo apó s o concı́lio, poré m, a comuna popular forçou o papa a deixar Roma e, em
setembro de 1179, um quarto antipapa, Inocê ncio III, foi instalado e rapidamente eliminado. Alexandre passou os
ú ltimos dois anos em vá rias partes dos Estados Papais e morreu em 30 de agosto de 1181, em Cività Castellana,
cerca de trinta e cinco milhas ao norte de Roma. Seu corpo foi levado de volta a Roma para sepultamento no Latrã o,
mas os cidadã os o profanaram de antemã o.

169 Lúcio III, 1 de setembro de 1181 - 25 de novembro de 1185 (a lista o icial do Vaticano indica sua morte como 25 de
agosto de 1185, mas a data de 25 de novembro aparece em JND Kelly, Dictionnaire historique de la papauté de
Levillain e The New Catholic Encyclopedia) .
Em conjunto com o imperador, Lú cio III estabeleceu procedimentos para a repressã o e puniçã o dos hereges. Nascido
Ubaldo Allucingoli, ele foi um monge cisterciense no inı́cio de sua vida e depois cardeal-bispo de Ostia e Velletri
quando eleito papa. Por causa da hostilidade do povo romano, no entanto, a coroaçã o do novo papa foi realizada em
Velletri em 6 de setembro de 1181.
Alé m do perı́o do entre novembro de 1181 e março de 1182, Lú cio III passou seu ponti icado fora de Roma,
principalmente em Velletri e Anagni. No inı́cio de seu ponti icado, houve tentativas de mediar as disputas entre o
imperador Frederico e o papado. Apó s algumas negociaçõ es malsucedidas, Frederico e Lú cio III se reuniram em
Verona em outubro e novembro de 1184, onde nã o chegaram a um acordo sobre trê s questõ es seculares: o pedido
do papa de assistê ncia militar contra os rebeldes romanos; uma disputa pelas terras papais herdadas pela condessa
Matilda da Toscana; e outra disputa sobre o pedido do imperador para que o papa coroasse seu ilho Henrique
(Henrique VI) e o noivado do ilho com a ilha de Rogé rio II da Sicı́lia e sobrinha do rei reinante da Sicı́lia (a Cú ria
temia uma aliança entre o impé rio e a Sicı́lia ser perigoso para a Santa Sé ).
Em algumas questõ es eclesiá sticas havia acordo: um programa para lidar com os hereges (eles deveriam ser
excomungados pela Igreja e depois entregues ao estado para puniçã o) e os preparativos para uma nova cruzada na
Terra Santa. Sobre outras questõ es eclesiá sticas nã o houve acordo, particularmente no que diz respeito à validade
das ordenaçõ es cismá ticas na Alemanha e na Itá lia. Lú cio morreu em 25 de novembro de 1185, antes que as
relaçõ es com o imperador se rompessem completamente. Ele está enterrado no Duomo (catedral) em Verona.

170 Urban III, 25 de novembro de 1185 - 20 de outubro de 1187.


Um oponente tã o dedicado do imperador alemã o foi Urbano III que permaneceu arcebispo de Milã o durante seu
ponti icado para que as receitas do ano habitual da arquidiocese nã o passassem para o imperador apó s sua
renú ncia da sé .
Nascido Umberto Crivelli, foi eleito por unanimidade para o papado em Verona no mesmo dia da morte de Lú cio
III. Ele foi coroado em 1º de dezembro de 1185. Os cardeais-eleitores procuravam um candidato menos em dı́vida
com o imperador do que Lú cio III, mas conseguiram um papa ainda mais independente do que esperavam. Urbano
III jurou nã o consagrar o candidato anti-imperial (de dois eleitos) para a arquidiocese de Trier e enviou
representantes ao casamento (contestado pela Cú ria por motivos polı́ticos) entre o ilho do imperador e Constança
da Sicı́lia. Mas o papa també m se recusou a coroar o ilho do imperador Henrique VI como co-imperador, suspendeu
o patriarca de Aquilé ia por coroar o ilho rei da Itá lia, se opô s à prá tica de conceder à coroa as receitas de uma
diocese ou abadia vaga e també m se opô s à direito de despojo, isto é , a apropriaçã o pela coroa dos bens mó veis de
um prelado falecido. A ruptura inal ocorreu, poré m, quando, contrariando seu juramento, o papa rejeitou o
candidato do imperador a Trier e consagrou seu rival como arcebispo.
O imperador Frederico ordenou imediatamente a seu ilho que invadisse e ocupasse os Estados papais e isolasse o
papa e a Cú ria em Verona, onde estavam virtualmente em prisã o domiciliar. Urbano III entã o apoiou uma revolta
malfadada contra o imperador em Cremona e uma rebeliã o dos bispos alemã es sob o comando do arcebispo de
Colô nia. Mas na Dieta de Gelmhausen em 1186, o imperador isolou o arcebispo de Colô nia e manteve o apoio dos
bispos alemã es. Nesse ponto, o papa capitulou, deixando de apoiar o candidato antiimperial da arquidiocese de Trier
e aprovando o plano do imperador para uma nova eleiçã o. No entanto, o papa logo voltou ao tipo e estava realmente
planejando excomungar Frederico, isto é , até que as autoridades civis pró -imperiais de Verona soubessem disso e
pedissem ao papa e seu partido que deixassem a cidade. Depois de partir a cavalo para Ferrara, Urbano III adoeceu
na estrada e morreu ao chegar à cidade em 20 de outubro de 1187. Ele foi sepultado no Duomo (catedral) de
Ferrara.

171 Gregório VIII, ca. 1100–1187, papa de 25 de outubro a 17 de dezembro de 1187 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado no dia de sua eleição, 21 de outubro, mas como ainda não era bispo, não poderia se tornar bispo de
Roma até que fosse consagrado como como em 25 de outubro).
Já com cerca de oitenta e sete anos de idade quando eleito papa em Ferrara, um dia apó s a morte de Urbano III
naquela cidade, Gregó rio VIII cumpriu pouco menos de dois meses. Nascido Alberto de Morra (ou Mora), serviu por
nove anos como chanceler da Santa Igreja Romana e foi, desde 1158, cardeal-diá cono no tı́tulo de San Lorenzo in
Lucina. Na eleiçã o realizada apó s a morte de Urbano III, os cardeais a princı́pio escolheram por unanimidade Enrico
di Castel Marsiaco, monge de Chiaravalle e bispo de Albano, mas ele recusou a eleiçã o e recomendou o cardeal
Alberto de Morra. Morra assumiu o nome de Gregó rio VIII e foi consagrado bispo de Roma em 25 de outubro de
1187. Em ambas as preferê ncias, os cardeais expressaram sua infelicidade com a virulentamente antiimperial polı́tica
de Urbano III, assim como já haviam elegido Urbano porque pensavam que era seu predecessor , Lucius III, tinha
sido muito complacente com o imperador. (Assim oscila o pê ndulo das eleiçõ es papais, ao contrá rio da suposiçã o
popular de hoje de que os papas geralmente sã o sucedidos por có pias de carbono deles mesmos.) Gregó rio VIII
imediatamente mudou para restaurar a harmonia nas relaçõ es papal-imperiais. Ele enviou cartas conciliató rias a
Frederico e seu ilho Henrique e repreendeu o candidato anti-imperial pela arquidiocese de Trier por sua severidade
para com os partidá rios de seu rival. O imperador suspendeu a virtual prisã o domiciliar sob a qual Urbano III e a
Cú ria haviam sido colocados e ordenou que Gregó rio VIII pudesse viajar para onde quisesse e com escolta militar.
Gregó rio, como seu famoso xará Gregó rio VII (1073–85), estava preocupado com a reforma do clero. Ele os
proibiu de pegar em armas e de usar roupas extravagantes. Mas ele estava principalmente preocupado com os
preparativos para outra cruzada, motivada pela notı́cia de uma vitó ria muçulmana em Hattin, na Galilé ia, e depois
pelo relato chocante da pró pria captura de Jerusalé m (2 de outubro de 1187). Ele enviou legados à Alemanha,
França, Dinamarca e até mesmo à Polô nia para pregar a cruzada. Gregó rio VIII viu as conquistas muçulmanas como
um sinal do descontentamento de Deus com os pecados dos cristã os e ordenou que todos os cruzados usassem
trajes penitenciais. Em meados de novembro, ele deixou Ferrara e mudou-se para o sul em direçã o a Roma. Ele
parou em Lucca, onde o antipapa Victor IV havia morrido e foi enterrado. Ele ordenou que seu tú mulo (em um
mosteiro fora das muralhas da cidade) fosse aberto e seus restos mortais fossem jogados para fora da igreja -
di icilmente um ato piedoso e penitencial por quaisquer padrõ es. Quando chegou a Pisa em 10 de dezembro,
adoeceu e morreu uma semana depois, em 17 de dezembro de 1187. Ele foi sepultado no Duomo (catedral) de Pisa,
mas seu tú mulo foi destruı́do em um incê ndio em 1595.

172 Clemente III, 19 de dezembro de 1187 - março de 1191.


O ponti icado de Clemente III foi dominado pelos preparativos para a Terceira Cruzada (1189-1192). Nascido Paolo
Scolari, foi a segunda escolha dos cardeais quando votaram em Pisa, dois dias apó s a morte de Gregó rio VIII naquela
cidade. (Sua primeira escolha, o cardeal Teobaldo de Ostia, recusou.) Clemente III havia sido cardeal-bispo de
Praeneste (agora Palestrina) na é poca de sua eleiçã o. Ele foi coroado no dia seguinte.
O novo papa providenciou o retorno do papado a Roma apó s um exı́lio de seis anos. Apó s discussõ es com os
lı́deres da comuna romana, ele foi recebido triunfantemente de volta à cidade em meados de fevereiro de 1188 e
ixou residê ncia em Latrã o. Os senadores reconheceram sua soberania e restauraram as receitas papais e o direito
de cunhar moedas. Em troca, Clemente III teve de fazer substanciais pagamentos anuais e em ocasiõ es especiais para
a comuna e deixar a administraçã o da cidade principalmente para eles. A paz també m foi restaurada com o impé rio.
Os candidatos rivais à arquidiocese de Trier retiraram seus nomes e uma nova eleiçã o foi preparada. Os Estados
Papais, ocupados pelo ilho do imperador Henrique desde 1186 em represá lia contra Urbano III, foram devolvidos à
Santa Sé , embora o impé rio reservasse alguns direitos de propriedade. O papa també m concordou em conferir a
coroa imperial a Henrique VI (mas o papa morreria antes de Henrique chegar a Roma).
Clemente III fez essas concessõ es por causa das di iculdades inanceiras em que o papado vivia naquela é poca e
també m porque queria dedicar seu tempo e energias à preparaçã o da Terceira Cruzada, que teria de ser coordenada
pelo imperador Frederico. Como seu antecessor, Gregó rio VIII, ele exortou os cruzados a adotarem um traje
penitencial e dieta (visto que considerava as vitó rias muçulmanas na Terra Santa como um sinal do castigo de Deus
pelos pecados dos cristã os) e enviou legados por toda a Europa nã o apenas para pregar a cruzada, mas també m
promover a harmonia entre as naçõ es cristã s. Como resultado, o papado aumentou seu papel como instrumento de
unidade. A data exata da morte do papa em meados ou inal de março de 1191 é desconhecida. Ele foi enterrado no
Latrã o, mas nenhum vestı́gio de sua tumba permanece.

173 Celestine III, ca. 1106–1198, papa de 14 de abril de 1191 a 8 de janeiro de 1198.
Já com oitenta e cinco anos de idade quando eleito por unanimidade, Celestino III teve um reinado
surpreendentemente longo, embora indistinto, de quase sete anos. Nascido Giacinto Bobo, era cardeal-diá cono de
Santa Maria in Cosmedin na altura da sua eleiçã o no inal de março, estando nesta posiçã o há quarenta e sete anos.
Ele teve que ser ordenado sacerdote e bispo em 13 e 14 de abril (Pá scoa), respectivamente, e adotou o nome de seu
velho amigo e patrono, Celestino II (1143–1444).
O ponti icado de Celestino III foi dominado por suas relaçõ es com o novo jovem rei da Alemanha, Henrique VI, que
esperava fora dos limites da cidade para receber a coroa imperial, prometida por Gregó rio VIII. Com alguma
relutâ ncia, o idoso papa coroou Henrique em 15 de abril. Apó s o retorno do imperador à Alemanha (depois de uma
campanha fracassada ao sul de Roma), ele começou a nomear arbitrariamente bispos para vá rias dioceses, rejeitou o
recé m-eleito e con irmado papalmente bispo de Liè ge e mandou matá -lo, e prendeu o rei inglê s Ricardo, o coraçã o
de Leã o, embora Ricardo estivesse sob proteçã o papal como um Cruzado que retornava. Mas o papa nã o tomou
nenhuma açã o direta contra o imperador, nem mesmo por esses dois ú ltimos ultrajes. Ele també m empregou tá ticas
retardadoras contra os esforços de Henrique para fazê -lo aprovar seus planos controversos de uma uniã o
permanente entre a Sicı́lia e o impé rio como uma monarquia hereditá ria. Henrique VI morreu na Sicı́lia em 28 de
setembro de 1197.
A essa altura, o papa já estava na casa dos noventa e, no Natal de 1197, manifestou seu desejo de renunciar, desde
que os cardeais elegessem seu colaborador pró ximo, o cardeal Giovanni de Santa Prisca. Eles rejeitaram sua
proposta e ele morreu algumas semanas depois, em 8 de janeiro de 1198. Ele foi sepultado no Latrã o.

174 Innocent III, ca. 1160 / 1–1216, papa de 22 de fevereiro de 1198 a 16 de julho de 1216 (de acordo com a lista o icial
do Vaticano, canonicamente ele foi papa assim que aceitou a eleição em 8 de janeiro; teologicamente ele não foi papa
até ser consagrado Bispo de Roma em 22 de fevereiro).
Inocê ncio III foi um dos papas mais importantes e poderosos de toda a histó ria da Igreja, e seu ponti icado é
considerado o á pice do papado medieval. De fato, como papa, ele reivindicou autoridade nã o apenas sobre toda a
Igreja, mas també m sobre todo o mundo. “Os prı́ncipes tê m poder na terra, os sacerdotes sobre a alma”, escreveu ele.
“Por mais que a alma valha mais do que o corpo, muito mais valioso é o sacerdó cio do que a monarquia”. Ele se
considerava, na verdade, como Melquisedeque, o rei-sacerdote bı́blico. Embora nã o tenha sido o primeiro papa a
usar o tı́tulo de Vigá rio de Cristo, ele foi um dos mais enfá ticos em seu uso. Ele se considerava um papa colocado em
algum lugar entre Deus e a humanidade - menos do que Deus, mas maior do que os humanos.
Nascido Lotario di Segni, ele foi feito cardeal-diá cono da SS. Sergio e Bacco em 1190 aos 29 anos por seu tio, o
papa Clemente III, e em 1198, no dia da morte de Celestino III, ele foi eleito papa por unanimidade (provavelmente
na segunda votaçã o) aos 37 anos. Foi ordenado sacerdote em 21 de fevereiro e consagrado e coroado Bispo de
Roma no dia seguinte pelos bispos de Ostia, Albano e Porto. Ele imediatamente estabeleceu sua autoridade na cidade
de Roma, substituindo funcioná rios do impé rio e da comuna romana por homens leais a ele. Ele rea irmou o
controle papal sobre os Estados papais e acrescentou outros territó rios a eles.
Quando dois candidatos rivais eleitos para suceder Henrique VI como rei da Alemanha se candidataram ao papa
pela coroa imperial, ele indicou que tinha o direito de intervir porque só ele poderia conceder a coroa e porque ele
tinha que escolher o homem mais adequado para o necessidades e interesses da Igreja. Alé m disso, argumentou ele,
a transferê ncia do impé rio dos gregos para os alemã es ocorreu por meio do papa. Ele escolheu Otto de Brunswick
quando Otto prometeu reconhecer os Estados papais ampliados e renunciar ao direito de despojos (o direito dos
governantes de se apropriarem de todos os bens mó veis de prelados falecidos) na Alemanha. Mas, quando Oto IV
posteriormente invadiu o sul da Itá lia e a Sicı́lia, Inocê ncio III o excomungou e depô s e transferiu seu apoio à coroa
para Frederico da Sicı́lia, que fez ao papa as mesmas promessas de Otto.
Inocê ncio interveio em outro lugar també m. Ele excomungou o rei Joã o da Inglaterra por se recusar a reconhecer
Stephen Langton como arcebispo de Canterbury. Quando o rei fez sua submissã o e entregou seus domı́nios anglo-
irlandeses como feudo papal, Inocê ncio III declarou a Carta Magna nula porque ela havia sido extorquida do rei
pelos barõ es sem o consentimento papal. Ele falhou em suas tentativas de trazer o rei da França, Filipe II, sob seu
domı́nio (o rei aceitou de volta sua esposa divorciada, mas provavelmente por razõ es polı́ticas, nã o espirituais), mas
o papa adquiriu como feudos papais reinos como Aragã o , Portugal, Sicı́lia e Polô nia e enviou a coroa real ao novo
monarca da Bulgá ria. Ele també m fez sentir sua autoridade na Escandiná via, Espanha, Balcã s, Chipre e Armê nia e
apoiou a evangelizaçã o cisterciense da Prú ssia.
Embora Inocê ncio III tenha sido um papa polı́tico magistral, ele també m tinha uma agenda eclesiá stica clara: a
Quarta Cruzada (1202-4), reforma da Igreja e combate à heresia. Quando a cruzada falhou (Constantinopla caiu em
1204), ele apelou em 1213 por outra e ixou a data no Quarto Concı́lio de Latrã o (1215) para 1217. O clero deveria
contribuir com um vigé simo de sua renda para seu sustento, enquanto o papa e os cardeais deveriam contribuir com
um dé cimo. Com relaçã o à reforma da igreja, ele insistiu na simplicidade de vida para os membros da Cú ria e
prá ticas comerciais honestas. (Seu ponti icado foi um dos poucos que nã o passou por di iculdades inanceiras.) Ele
limitou os apelos a Roma e encorajou os conselhos provinciais e nacionais, mas encorajou os bispos a encaminhar
assuntos mais sé rios a ele e a visitar Roma a cada quatro anos. (Os bispos locais nã o gostavam de sua visã o deles
como subordinados, meras emanaçõ es da plenitude de poder do papa dada diretamente por Cristo.) Ele trabalhou
para elevar a conduta moral dos padres e fazer cumprir a regra nas casas religiosas. Simpá tico aos crescentes apelos
à prá tica da pobreza evangé lica na Igreja, ele autorizou os primeiros franciscanos a pregar na estrada. Ele lutou
muito contra a heresia, especialmente o albigensianismo no sul da França, e encarregou Domingos Guzmá n (falecido
em 1221), mais conhecido hoje como Sã o Domingos, o fundador dos dominicanos, para disputar publicamente com
os hereges. O esforço falhou e, apó s o assassinato do legado papal em 1208, Inocê ncio III ordenou uma cruzada em
grande escala contra os hereges, resultando em muito derramamento de sangue e destruiçã o.
Mais de 1.200 prelados e muitos representantes de prı́ncipes leigos participaram do Quarto Concı́lio de Latrã o em
1215. Seus setenta decretos incluı́am uma de iniçã o da Eucaristia em termos de transubstanciaçã o (a mudança
sacramental do pã o e do vinho na Missa no Corpo e Sangue de Cristo ), a condenaçã o das heresias (e um apelo por
ajuda dos poderes seculares para suprimir as heresias), a proibiçã o da fundaçã o de novas ordens religiosas, os
requisitos de que todos os cató licos devem fazer uma con issã o anual e que judeus e muçulmanos devem usar
roupas distintas (um precursor da exigê ncia na Alemanha nazista do sé culo XX de que todos os judeus deveriam
usar a estrela de Davi amarela em suas roupas externas), e o mandato de que todos os governantes cristã os
observassem uma tré gua de quatro anos em preparaçã o para o lançamento da pró xima cruzada em 1217.
No verã o seguinte ao conselho, durante uma viagem ao norte para resolver pessoalmente as diferenças entre os
dois portos marı́timos de Pisa e Gê nova, ele morreu repentinamente de febre em 16 de julho de 1216, em Perugia.
Ele foi enterrado na catedral de San Lorenzo, em Perugia. Em 1891, o Papa Leã o XIII (1878–1903), ele pró prio um
ex-bispo de Perugia, transferiu os restos mortais de Inocê ncio III para a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o em Roma.

175 Honório III, 24 de julho de 1216 a 18 de março de 1227.


Velho e frá gil quando eleito papa, Honó rio III deu continuidade ao programa de reforma de Inocê ncio III e aprovou
as regras das ordens dominicana, franciscana e carmelita. Nascido Cencio Savelli, foi cardeal-sacerdote da SS. Joã o e
Paulo quando eleito papa em Perugia, dois dias depois que Inocê ncio III morreu lá . Os cardeais delegaram a escolha
a dois deles, e eles elegeram por unanimidade o cardeal Savelli em 18 de julho de 1216. Ele foi consagrado bispo de
Roma em Perugia em 24 de julho.
O ponti icado de Honó rio III preocupou-se principalmente com a nova cruzada proclamada por Inocê ncio III e o
Quarto Conselho de Latrã o (1215). Mas a Quinta Cruzada (1217–21) terminou, como a anterior, em fracasso.
Honó rio III havia coroado Frederico II, rei da Alemanha, como imperador em 1220 a im de facilitar sua participaçã o
na cruzada seguinte, mas Frederico deixou Roma para resolver problemas na Sicı́lia. O imperador só concordou em
embarcar na cruzada em 1225 por causa da ameaça do papa de excomungá -lo se ele nã o partisse até o verã o de
1227. Nesse ı́nterim, Frederico tentou controlar as nomeaçõ es da Igreja na Sicı́lia e recuperar os territó rios
entregues a os Estados Papais durante o ponti icado de Inocê ncio III. E quando o imperador també m tentou
reorganizar o norte da Itá lia, a Liga Lombard de cidades o bloqueou com sucesso - ponto em que o imperador
manipulou o papa para assumir o papel nada invejá vel de mediador entre o imperador e a Liga.
Honó rio III promoveu as missõ es nos estados bá lticos, lançou uma cruzada contra os mouros na Espanha e
intensi icou a campanha contra os hereges albigenses no sul da França sob a direçã o do rei da França, Luı́s VIII. Com
a aprovaçã o do papa, Luı́s e o imperador Frederico publicaram decretos que impunham penalidades severas aos
hereges e que foram os precursores da Inquisiçã o. Em 22 de dezembro de 1216, Honó rio III aprovou formalmente a
ordem dominicana; em 29 de dezembro de 1223, ele aprovou a regra da ordem franciscana, e em 30 de janeiro de
1226, a regra dos Carmelitas. Autorizou a recolha dos seus decretos (o Compilatio quinta ), considerado o primeiro
livro o icial do direito canô nico. Morreu em 18 de março de 1227 e foi sepultado na bası́lica de Santa Maria
Maggiore (Santa Maria Maior).

176 Gregório IX, ca. 1170–1241, papa de 19 de março de 1227 a 22 de agosto de 1241.
Gregó rio IX foi o papa que estabeleceu a Inquisiçã o papal sob a direçã o dos dominicanos. Ele també m foi um grande
apoiador dos franciscanos. Nascido Ugolino (ou Ugo) da Segni, era sobrinho de Inocê ncio III; ele foi cardeal-bispo de
Ostia e Velletri quando eleito papa um dia apó s a morte de seu predecessor, Honó rio III. Os cardeais haviam
delegado trê s deles para selecionar o novo papa. Ugolino foi a segunda escolha (depois do cardeal-bispo do Porto,
Conrad d'Urach, que recusou a eleiçã o). Ele foi coroado dois dias depois, em 21 de março.
Gregó rio IX provou ser um forte apoiador dos franciscanos (ele havia sido seu protetor antes de sua eleiçã o) e
dos dominicanos, canonizando seu amigo pessoal Francisco de Assis (falecido em 1226) em 1228, Antô nio de Pá dua
(falecido em 1231) em 1232 e Domingos (falecido em 1221) em 1234 e promovendo o crescimento das Clarissas.
Em 1234 publicou també m uma coleçã o de decretos papais ( Liber extra ), compilados a seu pedido por Raymond de
Peñ afort (falecido em 1275), que permaneceria como a fonte fundamental do direito canô nico até o inı́cio do sé culo
XX, quando um novo Có digo de O Direito Canô nico foi promulgado (1917). Em 1231, ele tornou os hereges passı́veis
de pena de morte nas mã os das autoridades civis e instituiu a Inquisiçã o papal sob a direçã o dos dominicanos que
agiriam com sua "autoridade apostó lica" direta. (De outubro de 1235 a maio de 1236, o pró prio papa esteve em
Viterbo emitindo veredictos contra os hereges em reuniõ es abertas a im de impressionar a populaçã o em geral.) Ele
reabriu a Universidade de Paris també m em 1231 (havia sido fechada por dois anos) e modi icou o proibiçã o dos
escritos ilosó icos de Aristó teles. Em 1233, ele fundou uma nova universidade em Toulouse com a mesma
constituiçã o bá sica da Universidade de Paris.
Infelizmente, a maior parte de seu ponti icado foi marcada pelas contı́nuas e profundas tensõ es entre Gregó rio IX
e o imperador Frederico II. O imperador, que adiou o embarque na cruzada durante o ponti icado anterior de
Honó rio III, foi avisado para partir para a Terra Santa no verã o de 1227 ou seria excomungado. Embora o
imperador tenha zarpado em agosto, ele adoeceu (ou pelo menos disse que sim) e voltou ao porto. Gregó rio nã o
aceitou a desculpa e excomungou-o em 29 de setembro. No mê s de junho seguinte, “recuperado” da doença, o
imperador voltou a zarpar e, apesar dos obstá culos colocados em seu caminho pelo papa (havia proclamado um
interdito sobre suas terras e sobre quaisquer terras onde ele pudesse residir, mesmo por um tempo), reconquistou
Jerusalé m. Como Gregó rio IX icou furioso por algué m que foi excomungado liderar a cruzada, ele deixou em vigor a
condenaçã o do imperador. O papa entã o tentou estabelecer um rei rival na Alemanha, libertou os sú ditos do
imperador na Sicı́lia de sua idelidade a ele e reuniu um exé rcito para se opor à s forças imperiais nos Estados papais
e para invadir a Sicı́lia. Assim que Frederico retornou em junho de 1230, ele esmagou as forças papais, respeitando
as fronteiras dos Estados papais. Apó s outra breve enxurrada de pronunciamentos recriminató rios, o papa e o
imperador alcançaram a paz em Ceprano em julho de 1230, por meio da qual o imperador fez concessõ es na Sicı́lia e
prometeu nã o violar os territó rios papais e o papa, por sua vez, suspendeu a excomunhã o. A tré gua desconfortá vel
durou, mais ou menos, vá rios anos.
O imperador ofereceu ajuda ao papa de vez em quando, quando ele encontrou novos problemas com os cidadã os
romanos e teve que fugir da cidade (1234), e o papa retribuiu ao tentar mediar entre o imperador e a Liga
Lombarda das cidades. No entanto, as relaçõ es com o imperador mais uma vez se deterioraram em 1236, quando o
imperador pediu ao papa que excomungasse seus inimigos na Liga Lombard. Em vez disso, Gregó rio IX lembrou o
imperador de suas transgressõ es contra a Igreja na Sicı́lia e de sua sujeiçã o ao sucessor do Apó stolo Pedro. Em
1238, depois que Frederico conquistou o exé rcito lombardo, icou evidente que ele pretendia dominar toda a Itá lia,
incluindo Roma. Em 1239, o papa mais uma vez excomungou o imperador por sua invasã o da Sardenha, um assunto
da Santa Sé . Frederico entã o convocou um conselho geral para julgar o papa, e o papa, por sua vez, chamou o
imperador de blasfemador e precursor do Anticristo. Em uma carta circular dirigida a todos os prı́ncipes, Frederico
a irmou que em Gregó rio IX “a maldade estava assentada no trono do Senhor”. Gregó rio, por sua vez, circulou sua
pró pria carta referindo-se ao imperador como o “monstro da calú nia”. Frederick nã o icaria atrá s. Gregó rio, ele
escreveu, era um “fariseu sentado na cadeira da pestilê ncia, ungido com o ó leo da maldade” - trazendo assim a
“crı́tica ao papa” a um novo nı́vel de eloqü ê ncia. Entã o a guerra de palavras se transformou em uma guerra real.
Frederico invadiu os Estados Papais e cercou Roma.
Gregó rio IX convocou um conselho geral para se reunir em Roma na Pá scoa de 1241. Mas o imperador
interceptou todos os bispos-delegados que viajavam para Roma de fora da Itá lia, tendo fechado todas as rotas
terrestres e assumido o controle das rotas marı́timas. Os navios imperiais capturaram os navios que transportavam
os bispos e cardeais franceses e prenderam todos a bordo. No calor sufocante de agosto, com as forças do
imperador ainda cercando a cidade, o papa morreu em 22 de agosto de 1241 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. O imperador retirou-se para a Sicı́lia para aguardar acontecimentos futuros.

177 Celestine IV, 25 de outubro a 10 de novembro de 1241.


Homem idoso e doente, Celestino IV foi eleito candidato de compromisso por oito outros cardeais que foram
con inados à força por sessenta dias. O novo papa morreu cerca de duas semanas (ou dezesseis dias) depois. Ele foi
o terceiro e possivelmente o segundo ponti icado mais curto da histó ria. Urbano VII esteve no cargo por doze dias
em 1590 e Bonifá cio VI por possivelmente quinze dias em 896. A duraçã o exata dos ponti icados de Bonifá cio VI e
Celestino IV é impossı́vel de determinar.
Nascido Goffredo Castiglioni, foi cardeal-bispo de Sabina quando eleito papa. Apó s a morte de Gregó rio IX, os
cardeais foram reduzidos a doze em nú mero, e dois deles foram mantidos prisioneiros pelo imperador Frederico II.
Os dez restantes foram divididos entre aqueles que apoiaram a atitude hostil do falecido papa em relaçã o ao
imperador e aqueles que a deploraram. Para obrigá -los a chegar a uma decisã o, um senador romano, Matteo Rosso
Orsini, que era efetivamente o governante absoluto de Roma, con inou-os a um palá cio miseravelmente dilapidado
conhecido como Settinozio, ou Settesoli. Goffredo, o candidato do aliado do imperador, o cardeal Giovanni Colonna,
tinha a maioria dos votos sobre o candidato anti-imperial, mas nã o os dois terços necessá rios exigidos pelo Terceiro
Conselho de Latrã o (1179). Quando decidiram eleger um nã o cardeal, o senador Orsini bloqueou a ideia com
ameaças de violê ncia. Com o passar dos dias, alguns cardeais adoeceram e um morreu. Em 25 de outubro, apó s dois
meses de prisã o domiciliar virtual, os cardeais elegeram o homem que liderou a primeira votaçã o, Goffredo, que
assumiu o nome de Celestino IV. Dois dias depois, o novo papa adoeceu e morreu em 10 de novembro,
provavelmente antes de ser coroado e realizar qualquer ato papal o icial. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.
Se Celestino IV já nã o fosse bispo quando eleito papa, teria sido um papa legı́timo se nã o fosse consagrado bispo
de Roma? O direito canô nico desse perı́o do marcava o inı́cio de um ponti icado como data de eleiçã o, fosse o
indivı́duo já bispo ou nã o. Ao longo da maior parte da histó ria da Igreja, inclusive hoje, a consagraçã o vá lida como
bispo é necessá ria junto com a eleiçã o vá lida porque o papa é , antes de tudo, o bispo de Roma. Ele nã o pode ser
bispo de Roma se nã o for bispo!

178 Innocent IV, ca. 1200–54, papa de 28 de junho de 1243 a 7 de dezembro de 1254 (a lista o icial do Vaticano marca o
início de seu ponti icado no dia de sua eleição, 25 de junho, mas ele ainda não era bispo até 28 de junho).
Inocê ncio IV foi o primeiro papa a aprovar o uso da tortura na Inquisiçã o para extrair con issõ es de heresia. Nascido
Sinibaldo Fieschi, foi cardeal-sacerdote com o tı́tulo de San Lorenzo in Lucina, vice-chanceler da Santa Sé e um
distinto canonista quando eleito papa em Anagni apó s uma vacâ ncia de dezoito meses. Foi consagrado bispo de
Roma e coroado papa trê s dias depois, em 28 de junho. O atraso na eleiçã o de mais de dezoito meses foi causado
pelo imperador Frederico II, que mantinha dois cardeais presos e que ainda sofria com a excomunhã o imposta a ele
por Gregó rio IX em 1239. O imperador queria ter certeza de que o novo papa seria simpá tico a ele.
Embora possuı́sse muitas das mesmas qualidades de liderança que Gregó rio IX tinha, Inocê ncio IV nã o tinha o
temperamento - ou virtude de Gregó rio. Ele seguiu o princı́pio, “o im justi ica os meios”. Ele elevou o nepotismo à
categoria de arte, colocando parentes em posiçõ es-chave a im de criar uma rede de apoiadores leais, e apagou a
distinçã o entre receitas da igreja e receitas pessoais. Ele acreditava, como seu homô nimo anterior, Inocê ncio III
(1198-1216), que, como Vigá rio de Cristo, o papa é supremo sobre tudo, mas reconheceu que era um de iure (lat.,
"Por direito"), nã o um supremacia de fato (“de fato”).
Enquanto o imperador planejava ter sua excomunhã o suspensa em troca de vá rias concessõ es à Santa Sé , o
descon iado papa fugiu secretamente no verã o de 1244 para Lyon, França, por meio de Gê nova (sua cidade natal).
Em Lyon, ele estava sob a proteçã o do rei Luı́s IX da França. Entre 26 de junho e 17 de julho de 1245, ele realizou o
Primeiro Concı́lio de Lyon, que incluiu representantes de todo o mundo cristã o, exceto aquelas regiõ es sob controle
imperial, com uma agenda que incluı́a questõ es em andamento de reforma da igreja, a libertaçã o dos lugares
sagrados em Palestina e di iculdades contı́nuas com o imperador, que foi considerado culpado à revelia de perjú rio,
sacrilé gio e heresia e depois deposto. O imperador desa iou o direito do papa de depô -lo, mas o papa argumentou
que Cristo havia dado a Pedro e seus sucessores autoridade absoluta tanto temporal quanto espiritual. A
excomunhã o contra ele foi renovada em abril de 1248, e o imperador morreu no inal de 1250.
Inocê ncio IV voltou triunfante a Roma no ano seguinte e imediatamente se envolveu com o ilho do imperador,
Conrado IV, na esperança de reconquistar a Sicı́lia como feudo papal. Depois da morte de Conrado (1254), o papa
anexou a Sicı́lia aos Estados papais e mudou sua residê ncia para Ná poles, onde morreu menos de dois meses depois,
em 7 de dezembro de 1254, exatamente quando uma rebeliã o estava sendo levantada contra o governo papal na
Sicı́lia. Seu tú mulo original estava na bası́lica de Santa Restituta em Ná poles, que foi incorporada à catedral no sé culo
XIII.

179 Alexandre IV, 12 de dezembro de 1254 a 25 de maio de 1261.


O ponti icado de Alexandre IV foi caracterizado por con lito constante com poderes polı́ticos, em que o papado
geralmente icou em segundo lugar. Nascido Rinaldo dei Conti di Segni, sobrinho de Gregó rio IX (1227-1241), ele foi
cardeal-bispo de Ostia quando eleito papa em Ná poles em 12 de dezembro de 1254, cinco dias apó s a morte de
Inocê ncio IV. Na verdade, os cardeais queriam voltar a Roma para as eleiçõ es, mas o prefeito de Ná poles trancou os
portõ es da cidade para mantê -los lá . O novo papa foi coroado em 20 de dezembro.
Desde o inı́cio de seu ponti icado, Alexandre IV enfrentou a nova revolta siciliana e excomungou seu lı́der,
Manfredo, ilho ilegı́timo do falecido imperador Frederico II. Um esforço militar para recapturar a Sicı́lia para o
papado falhou e a maioria dos Estados papais icou sob o controle de Manfredo. Alexandre IV també m lidou mal
com a maioria dos outros problemas polı́ticos que o pressionavam, incluindo a sucessã o real na Alemanha apó s a
morte de Conrado IV em 1254 (ele nã o conseguia decidir quem apoiar). Ele nem mesmo poderia residir em Roma
durante a maior parte de seu ponti icado, dadas as lutas pelo poder lá . Ele passou a maior parte do tempo em
Viterbo.
Alexandre IV canonizou Clara de Assis (falecida em 1253), fundadora das Clarissas, em 1255 e fundou os Eremitas
Agostinianos em 1256 (fundindo vá rias comunidades italianas de eremitas sob a Regra de Santo Agostinho). Ele
morreu em Viterbo em 24 de maio de 1261, na é poca em que seu arquiinimigo Manfred estava sendo eleito senador
por Roma. O papa foi sepultado na catedral de San Lorenzo de Viterbo.

180 Urban IV, francês, ca. 1200–1264, papa de 29 de agosto de 1261 a 2 de outubro de 1264.
O ponti icado de Urbano IV nã o deixou uma imagem duradoura na histó ria papal, tendo falhado em resolver (ou
mesmo melhorar) uma sé rie de problemas polı́ticos contı́nuos herdados de papas anteriores. Em uma nota menor,
ele foi o papa que estendeu a festa de Corpus Christi a toda a Igreja e que encarregou Sã o Tomá s de Aquino (falecido
em 1274) de preparar um ofı́cio (Liturgia das Horas) para ela.
Nascido Jacques Pantalé on, ilho de um sapateiro, era patriarca de Jerusalé m e estava em visita à Cú ria a negó cios
quando foi eleito em Viterbo, em 29 de agosto de 1261, para suceder Alexandre IV, falecido naquela cidade. Como
Alexandre IV nã o criou cardeais durante seu ponti icado de seis anos e meio, o nú mero de cardeais caiu para oito na
é poca da eleiçã o. O novo papa adotou o nome de Urbano IV, talvez em homenagem a Urbano II (1088 a 1099), que
també m era francê s. Ele foi coroado em 4 de setembro. Quase imediatamente, nomeou catorze novos cardeais, seis
deles franceses altamente quali icados.
O primeiro movimento de Urbano foi substituir o hostil Manfred como chefe do reino da Sicı́lia e eliminar o poder
da dinastia Hohenstaufen da Itá lia. Em poucos meses, ele recuperou a maioria dos Estados papais (perdidos por seu
predecessor) no sul e começou a reconstruir o prestı́gio papal no norte. Em junho de 1263, Urbano IV ofereceu o
reino da Sicı́lia e o sul da Itá lia ao irmã o do rei francê s, Carlos, em troca de uma grande quantia em dinheiro e um
tributo anual e garantias de liberdade para a Igreja nesses territó rios e de assistê ncia militar quando necessá rio.
Quando Manfred soube do acordo, retomou as operaçõ es militares na Toscana, Campagna e nos Estados Papais. O
papa teve que se refugiar em Orvieto, onde foi obrigado a modi icar o tratado com Carlos e a aceitar a eleiçã o de
Manfredo como senador romano. Quando o pró prio Orvieto foi ameaçado militarmente, o papa se retirou para
Perugia, onde morreu em 2 de outubro de 1264. Ele foi enterrado na catedral de San Lorenzo, em Perugia.

181 Clemente IV, Francês, 5 de fevereiro de 1265 - 29 de novembro de 1268.


Durante seu ponti icado, Clemente IV decretou que as nomeaçõ es para todos os benefı́cios no Ocidente eram
nomeaçõ es papais, preparando assim o caminho para o sistema atual e relativamente recente em que o papa faz
todas as nomeaçõ es episcopais.
Nascido Guy Foulques, ilho de um juiz francê s de sucesso, era viú vo com duas ilhas e cardeal-bispo de Sabina na
é poca de sua eleiçã o para papa em Perugia, cidade onde seu antecessor, Urbano IV, morrera. No entanto, houve um
intervalo de quatro meses entre a morte de Urbano e a eleiçã o de Clemente. Os cardeais foram fortemente divididos.
Eles inalmente recorreram ao cardeal Foulques, que nem mesmo esteve presente no conclave. Ele foi eleito em 5 de
fevereiro de 1265 e recebeu o nome de Clemente IV. Foi coroado, també m em Perugia, no dia 15 de fevereiro. Na
é poca, voltava para casa de uma missã o diplomá tica na Inglaterra, onde havia dado o apoio da Santa Sé ao rei
Henrique III contra os barõ es. Ele chegou a Perugia disfarçado de monge por causa da atmosfera polı́tica hostil no
norte da Itá lia. Como papa, ele residiria primeiro em Perugia e depois em Viterbo, mas nunca em Roma, devido à s
condiçõ es hostis ali.
Na frente polı́tica, ele completou a expulsã o de seu predecessor da dinastia Hohenstaufen da Itá lia e a instalaçã o
de Carlos de Anjou como rei da Sicı́lia e de Ná poles no lugar do inimigo papal Manfredo, ilho ilegı́timo do falecido
imperador Frederico II. (Carlos foi coroado na Bası́lica de Sã o Pedro em 1266 por cinco cardeais indicados pelo
papa.) O papa entã o emprestou grandes somas de dinheiro para inanciar uma campanha militar contra Manfredo.
Um forte exé rcito francê s derrotou e matou Manfred em Benevento em 1266. Mas dois anos depois, com grande
parte da populaçã o chateada com o regime de Carlos, o ú ltimo dos Hohenstaufens, Conradin, duque da Suá bia e rei
de Jerusalé m, marchou sobre a Itá lia. O papa excomungou a ele e a seus apoiadores e o depô s do trono de
Jerusalé m. Conradin foi inicialmente recebido triunfantemente pelos romanos em julho de 1268, mas foi derrotado
no mê s seguinte por Carlos em Tagliacozzo, capturado e, apó s um julgamento, decapitado. O papa nada fez para
impedir ou protestar contra essa açã o, embora em vá rias outras ocasiõ es castigasse Carlos por sua ganâ ncia e
crueldade para com seus novos sú ditos. Tecnicamente, Carlos tinha autoridade para impor a pena de morte porque
Clemente IV o nomeara vigá rio imperial na Toscana apenas alguns meses antes. Ironicamente, agora que o papa
havia se livrado da dinastia Hohenstaufen, ele se viu e o papado sob a ameaça de uma nova força agressiva na Itá lia,
a casa angevina na pessoa de Carlos de Anjou.
Como nos ponti icados anteriores desse perı́o do, os gestos em direçã o ao Oriente deram em nada, principalmente
porque Roma exigia a submissã o total da Igreja grega. Em sua bula Licet ecclesiarum (27 de agosto de 1265),
Clemente IV reservou à Santa Sé o direito de fazer nomeaçõ es para benefı́cios que icaram vagos durante a visita do
titular à Cú ria. O preâ mbulo da bula a irmava o princı́pio de que a nomeaçã o para todos os benefı́cios era uma
prerrogativa papal. Embora se possa dizer que o papa estava tentando restringir a in luê ncia dos nobres e
governantes locais em nomeaçõ es eclesiá sticas, este foi mais um exemplo, nos sé culos seguintes ao ponti icado
divisor de á guas de Gregó rio VII (1073-85), da crescente centralizaçã o de poder no escritó rio papal.
Clemente IV morreu em Viterbo em 29 de novembro de 1268 e foi sepultado no convento dominicano de Santa
Maria in Gradi, fora dos muros da cidade. Seus restos mortais foram transferidos em 1885 para a bası́lica de San
Francesco em Viterbo.

182 Gregório X, Beato, 1210–76, papa de 27 de março de 1272 a 10 de janeiro de 1276 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado em 1º de setembro de 1271, o dia de sua eleição, mas ele não foi consagrado Bispo de Roma
até 27 de março de 1272).
Gregó rio X é famoso pela maneira como foi eleito para o papado - no conclave extraordiná rio de Viterbo, no qual as
autoridades civis trancaram os cardeais no palá cio papal e, a conselho de Boaventura (falecido em 1274), o ministro
general dos franciscanos (e mais tarde canonizado como santo), removeu seu teto e os ameaçou de fome se nã o
procedessem rapidamente à eleiçã o de um sucessor de Clemente IV. (Já haviam levado quase trê s anos inteiros!) Os
cardeais entã o delegaram a escolha de um sucessor a um comitê de seis cardeais. Os cardeais eleitores haviam se
dividido em linhas polı́ticas: aqueles que queriam romper a aliança do papado com Carlos de Anjou e aqueles que
queriam manter a orientaçã o pró -francesa de Urbano IV e Clemente IV. O ponti icado de Gregó rio X també m foi
signi icativo para o decreto, formulado no Segundo Concı́lio de Lyon (1274), de que as eleiçõ es papais deveriam ser
realizadas dentro de dez dias apó s a morte de um papa, na cidade onde o papa morreu, e com o cardeal eleitores
sem contato com o mundo exterior.
Nascido Teobaldo (ou Tebaldo) Visconti, Gregó rio ainda nã o era sacerdote ou cardeal quando eleito para o
papado em 1 de setembro de 1271. Ele era arquidiá cono de Liè ge e estava ausente na é poca em Acre (Akko, na atual
Israel) em uma cruzada na Terra Santa com o futuro Rei Eduardo I da Inglaterra. Ele já havia servido por anos com o
cardeal James de Palestrina, foi um dos organizadores do Primeiro Concı́lio de Lyon em 1245, acompanhou o cardeal
Ottobono em uma missã o diplomá tica na Inglaterra em 1265 e era pró ximo à s famı́lias reais na França e na
Inglaterra. Teobaldo chegou a Viterbo em 10 de fevereiro de 1272, mais de cinco meses apó s sua eleiçã o, e depois foi
para Roma, onde nenhum de seus dois predecessores imediatos havia posto os pé s como papa. Foi ordenado
sacerdote em 19 de março e consagrado Bispo de Roma na Bası́lica de Sã o Pedro em 27 de março de 1272.
Por causa de sua formaçã o como um cruzado, Gregó rio X fez da libertaçã o dos lugares sagrados o tema central de
seu breve ponti icado. Em 13 de abril de 1272, ele começou a enviar convites para outro concı́lio geral, ou
ecumê nico, com uma agenda trı́plice: uma nova cruzada, a reuniã o com a Igreja grega e a reforma do clero. Para
ganhar apoio para a cruzada, Gregó rio X enviou emissá rios a Constantinopla em outubro de 1272 e, ao retornar,
convidou o imperador bizantino Miguel VIII Paleó logo a enviar delegados ao conselho. Ele també m se moveu para
unir as potê ncias europeias para a cruzada. Tendo persuadido Afonso de Castela a retirar sua reivindicaçã o ao trono
alemã o, Gregó rio aprovou a eleiçã o de Rodolfo, conde de Habsburgo, como rei da Alemanha e o coroou rei dos
romanos em Aachen em 1 ° de outubro de 1273. No Segundo Concı́lio de Lyon (que o papa manteve em Lyon para
evitar a pressã o de Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia e no controle de grande parte do centro e norte da Itá lia), Rudolf
renunciou a todos os direitos aos territó rios papais e reconheceu a separaçã o permanente da Sicı́lia do impé rio (um
ponto que a Cú ria favoreceu durante anos). Rudolf con irmou essas promessas em uma reuniã o com Gregó rio X em
Lausanne em outubro de 1275, a caminho de casa do papa depois do concı́lio.
O conselho foi aberto em 7 de maio de 1274, e os delegados gregos chegaram em 24 de junho. Eles consentiram
ao primado da Santa Sé e ao credo romano, incluindo o polê mico Filioque (lat., "E do Filho"), para que a Igreja Grega
tinha consistentemente objetado porque diminuı́a o status moná rquico de Deus o Pai dentro da Trindade (um ponto
que nem todos os leitores irã o apreciar imediatamente, embora nã o tenham culpa disso!). Na quarta sessã o do
concı́lio (6 de julho), o papa rati icou formalmente a (de curta duraçã o) uniã o das Igrejas latina e grega. Alé m de
estabelecer um sistema de inanciamento da cruzada (que nunca foi lançada), o conselho decretou na constituiçã o
Ubi periculum (7 de julho de 1274) que, havendo uma vaga na Santa Sé , os cardeais deveriam se reunir em dez dias
apó s a morte do papa na cidade ou vila onde ele morreu e proceder à eleiçã o de um sucessor sem qualquer contato
posterior com o mundo exterior. Quanto mais demora o processo eleitoral, mais austeras se tornam as condiçõ es de
vida dos cardeais. (O papa e o conselho foram obviamente in luenciados pelas circunstâ ncias da pró pria eleiçã o de
Gregó rio.) Outros decretos conciliares proibiam longas ausê ncias de benfeitorias ou outros cargos eclesiá sticos e
impunham restriçõ es severas à s ordens religiosas, com exceçã o dos franciscanos e dominicanos.
Depois de cruzar os Alpes, o papa visitou vá rias cidades do norte da Itá lia para resolver disputas locais, mas
contraiu uma forte febre e morreu em Arezzo em 10 de janeiro de 1276. Ele foi enterrado no Duomo (catedral) de
Arezzo. Um culto logo se desenvolveu lá , em Piacenza e em outros lugares que ele havia visitado. Foi aprovado por
Clemente XI em 1713. O nome de Gregó rio X foi adicionado posteriormente ao Martiroló gio Romano durante o
ponti icado de Bento XIV (1740-1758). Dia da festa: 9 de janeiro.

183 Innocent V, Bl., French, ca. 1224–1276, papa de 21 de janeiro a 22 de junho de 1276.
Inocê ncio V foi o primeiro papa dominicano, e o costume papal ainda atual de usar uma batina branca pode ter
começado com ele quando decidiu continuar usando seu há bito dominicano branco como papa. (Outros sugerem
que o costume nã o foi inalmente estabelecido até o ponti icado de outro dominicano, Pio V [1566-1572].) Inocê ncio
V foi o segundo de quatro indivı́duos listados como papas no ano de 1276. Nascido Pierre de Tarentaise, ele era um
Teó logo renomado e bem publicado e cardeal-bispo de Ostia quando eleito por unanimidade para o papado em 21
de janeiro de 1276, em Arezzo, onde Gregó rio X havia morrido. O novo papa foi o mais rá pido possı́vel a Roma,
chegando em 22 de fevereiro. Foi imediatamente entronizado no Latrã o e coroado em 25 de fevereiro.
Inocê ncio V tinha sido amigo de Sã o Boaventura e pregou em seu funeral em 1274. Ele també m foi um
participante ativo no Segundo Concı́lio de Lyon (1274); antes disso, ele havia sido duas vezes provincial dominicano
da França e arcebispo de Lyon. Sua eleiçã o sinalizou uma mudança de curso na polı́tica papal (que muitas eleiçõ es
papais izeram). A Cú ria queria se afastar do cultivo dos alemã es por Gregó rio X a im de contrabalançar o domı́nio
da Itá lia por Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia. Assim, em 2 de março, Inocê ncio V con irmou Carlos como senador
romano e vigá rio imperial na Toscana e pediu a Rodolfo, o rei da Alemanha, que adiasse sua viagem a Roma,
originalmente planejada para sua coroaçã o como imperador por Gregó rio X. Ele també m tentou ressuscitar os
planos de Gregó rio para uma nova cruzada e seus esforços para uni icar as potê ncias europeias para que pudessem
conduzir a cruzada com mais e icá cia.
Seu tratamento das relaçõ es com o Oriente era geralmente inepto. Ele quase se desculpou com o imperador
bizantino Miguel VIII Paleó logo pelos planos de Carlos de recapturar Constantinopla, alegando que ela havia sido
tirada à força dos latinos, e exigiu que o clero grego izesse juramento pessoal de aceitaçã o do Filioque (Lat., "E do
Filho ”) no credo e no primado do papa. Inocê ncio VI morreu em 22 de junho, apenas cinco meses apó s sua eleiçã o e
antes que seus enviados chegassem a Constantinopla. Foi sepultado na Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o e beati icado
pelo Papa Leã o XIII em 1898. Festa: 22 de junho.

184 Hadrian [Adrian] V, ca. 1205–76, papa de 11 de julho a 18 de agosto de 1276.


O “ponti icado” de Adriano V (veja abaixo) foi conhecido por sua brevidade (cinco semanas) e pelo fato de que ele
morreu antes de ser ordenado sacerdote (ele era diá cono na é poca da eleiçã o) e consagrado e coroado papa.
Canonicamente, ele pode ter sido um papa legı́timo - o diretó rio o icial do Vaticano, o Annuario Ponti icio , assim o
considera - porque durante esse perı́o do a aceitaçã o de uma eleiçã o vá lida era su iciente. Mas teologicamente ele
nã o poderia ter sido papa, porque o papa é , antes de tudo, o bispo de Roma e, uma vez que Adriano ainda nã o era
um bispo, ele nã o poderia ter se tornado bispo de Roma até que fosse consagrado como tal. O Có digo de Direito
Canô nico de 1983 torna a consagraçã o como bispo tã o essencial quanto a eleiçã o vá lida (câ n. 332.1). Adriano V foi o
terceiro de quatro papas canonicamente reconhecidos no ano de 1276.
Nascido Ottobono Fieschi, ele era sobrinho de Inocê ncio IV (1243 a 1254) e cardeal-diá cono da igreja de San
Adriano (o nome que ele tomaria como papa) na é poca de sua eleiçã o. Ele també m serviu como legado papal de
muito sucesso para a Inglaterra e voltou a Roma para se tornar um dos membros mais respeitados e in luentes do
Colé gio dos Cardeais. No dia seguinte à sua eleiçã o, ele reuniu os cardeais no Latrã o e suspendeu as regras para
uma eleiçã o papal estabelecidas por Gregó rio X (1272-76), prometendo desenvolver novas. Poucos dias depois, ele
deixou Roma para escapar do calor opressor do verã o e foi para Viterbo, ao norte de Roma, onde adoeceu
gravemente e morreu em 18 de agosto. Seu tú mulo na bası́lica de Sã o Francisco em Viterbo é considerado uma das
obras-primas de Arnolfo di Cambio, um escultor lorentino contemporâ neo. Adriano V é homenageado na Divina
Comédia de Dante como um habitante temporá rio do Purgató rio pelo pecado da avareza ( Purgatório , 19,88-145).

185 João XXI, português, ca. 1210 / 15–77, papa de 8 de setembro de 1276 a 20 de maio de 1277.
Joã o XXI foi o primeiro e ú nico Papa portuguê s, o primeiro e ú nico mé dico a ser papa (o seu pai també m era
mé dico), e o quarto indivı́duo canonicamente reconhecido a ocupar a Cá tedra de Pedro no ano de 1276. E numerado
como Joã o XXI, embora nenhum papa tenha tomado o nome de Joã o XX. Pode ter havido confusã o na é poca, criada
pelo fato de que dez papas haviam adotado o nome de Joã o nos sé culos X e XI.
Nascido Pedro Juliã o (mais conhecido como Pedro de Espanha, ou Petrus Hispanus), foi cardeal-bispo de
Tusculum quando eleito papa em Viterbo dez dias apó s a morte de Adriano V naquela cidade. Ele foi coroado em 15
de setembro. O novo papa ensinou medicina na nova Universidade de Siena e serviu como mé dico pessoal do Papa
Gregó rio X (1272-1276). Alé m disso, ele foi um estudioso e autor talentoso, tendo escrito um livro de ló gica
amplamente usado e in luente, um tratado sobre a alma e até mesmo um estudo de oftalmologia intitulado The Eye (
De oculis ). Mas foi com base na bula Relatio nimis implacida de Joã o XXI (18 de janeiro de 1277) que Stephen
Tempier, bispo de Paris, condenou 219 proposiçõ es ilosó icas e teoló gicas, incluindo dezenove de Santo Tomá s de
Aquino (falecido em 1274).
Como Joã o XXI era um estudioso sem interesse em administraçã o, ele deixou os detalhes da formulaçã o de
polı́ticas para o cardeal Giovanni Gaetano, da nobre famı́lia Orsini e do futuro papa Nicolau III (1277-80). Em uma
reversã o da abordagem anti-imperial de Inocê ncio V (21 de janeiro a 22 de junho de 1276), Joã o XXI se absteve de
con irmar Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia, como um senador romano e vigá rio imperial na Toscana e procurou
reconciliar Carlos com Rei Rodolfo I da Alemanha para preparar o caminho para a coroaçã o de Rodolfo como
imperador. Ele també m procurou reunir os governantes europeus para fornecer um esforço unido em outra cruzada
para libertar os lugares sagrados na Palestina, e fez esforços (sem sucesso) para sanar a brecha com a Igreja Grega.
A morte de Joã o XXI foi bizarra. Imediatamente apó s sua eleiçã o como papa, ele construiu um pequeno estú dio
para si mesmo nos fundos do palá cio papal em Viterbo. Por ter sido construı́do à s pressas, o teto caiu sobre ele e ele
morreu em 20 de maio de 1277, poucos dias depois de sofrer os ferimentos. Embora tenha sido criticado por alguns
de seus contemporâ neos por alegada instabilidade moral e antipatia pelas ordens religiosas, o grande poeta Dante
colocou o papa entre os santos do cé u na Divina Comédia ( Paraíso , 12.134). Ele foi enterrado no Duomo (catedral)
de Viterbo.

186 Nicolau III, 1210 / 20-80, papa de 26 de dezembro de 1277 a 22 de agosto de 1280 (a lista o icial do Vaticano indica
o início de seu ponti icado como o dia de sua eleição, 25 de novembro, mas ele ainda não era bispo quando eleito,
tornou-se bispo de Roma em 26 de dezembro).
Nicolau III foi o primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua residê ncia. Ele també m teve a infeliz distinçã o de
ter sido colocado no Inferno na Divina Comédia pelo poeta italiano Dante por nepotismo e avareza ( Inferno ,
19.61ss.).
Nascido Giovanni Gaetano, da nobre famı́lia Orsini, ele fora arcipreste de Sã o Pedro e cardeal-diá cono com o tı́tulo
de San Nicolò in Carcere por mais de trinta anos quando eleito papa no palá cio papal de Viterbo em 25 de novembro
de 1277, apó s um impasse de seis meses. Trê s cardeais o apoiaram e trê s outros se opuseram a ele por causa de sua
animosidade contra Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia. Quando o impasse foi quebrado, ele foi eleito e adotou o nome de
Nicolau III, o nome de sua igreja titular em Roma. O mais prová vel é que ele tenha adotado o nome em homenagem a
Nicolau I (858-67). Ele retornou imediatamente a Roma no dia seguinte à sua eleiçã o e no dia seguinte ao Natal de
1277, foi consagrado Bispo de Roma e coroado.
O ponti icado de Nicolau foi moldado em reaçã o a Inocê ncio V (1276) e em apoio a Gregó rio X (1272-76); a saber,
restaurar a independê ncia polı́tica da Santa Sé na Itá lia. Portanto, ele persuadiu Carlos de Anjou a renunciar ao
cargo de vigá rio imperial da Toscana e nã o buscar a renomeaçã o como senador romano quando seu mandato
expirasse, e decretou que no futuro nenhum prı́ncipe pode se tornar membro do senado sem a permissã o do papa
(o papa elegeu-se para o Senado vitalı́cio). Enquanto isso, ele negociou com o rei Rodolfo I uma renú ncia formal à s
reivindicaçõ es imperiais sobre os territó rios papais na Romagna, que teve o efeito de ampliar os Estados papais e
estabelecer limites que permaneceriam mais ou menos em vigor até a dissoluçã o dos Estados papais (exceto Roma)
em 1860. O papa també m arranjou um casamento entre a ilha de Rodolfo e o neto de Carlos para garantir a paz
entre as casas de Habsburgo e Anjou (e a supremacia papal na Itá lia).
Como Joã o XXI, Nicolau III tentou, sem sucesso, restaurar a unidade entre as Igrejas latina e grega, nos termos de
Roma. Ele fez algumas nomeaçõ es excelentes para o Colé gio de Cardeais e promoveu franciscanos (de quem tinha
sido protetor) e dominicanos a cargos diplomá ticos e episcopais. Com sua bula Exiit qui seminat (14 de agosto de
1279), ele resolveu pelo menos temporariamente a disputa dentro da ordem franciscana (entre os espirituais e os
conventuais) sobre a interpretaçã o do voto de pobreza. Adotando a abordagem de Sã o Boaventura (falecido em
1274), Nicolau III distinguia entre a total falta de bens, que ele considerava meritó ria, e o “uso moderado” das coisas
necessá rias para a vida e o cumprimento da pró pria vocaçã o e ministé rio. Ele també m realizou uma grande
restauraçã o da Bası́lica de Sã o Pedro (onde ele havia servido anteriormente como arcipreste) e fez do Palá cio do
Vaticano sua residê ncia. Ele ampliou e remodelou e comprou lotes para seus jardins. Ele morreu em 22 de agosto de
1280, de um derrame em sua nova residê ncia de verã o em Soriano, perto de Viterbo. De acordo com suas
instruçõ es, seu corpo foi levado de volta a Roma e sepultado na capela Orsini de Sã o Nicolau, cuja construçã o ele
havia comandado, na Bası́lica de Sã o Pedro.

187 Martin IV, francês, ca. 1210 / 20-85, papa de 23 de março de 1281 a 28 de março de 1285 (a lista o icial do Vaticano
começa este ponti icado no dia de sua eleição, 22 de fevereiro, mas como ainda não era bispo, não poderia se tornar
bispo de Roma até ser consagrado em 23 de março).
Martin IV, que na verdade foi o segundo Papa Martin (os Papas Marinus I e II foram incorretamente indicados como
Martin II e III nas listas o iciais do sé culo XIII), anulou a uniã o com a Igreja Grega forjada no Segundo Concı́lio de
Lyon (1274 ) quando excomungou o imperador bizantino Miguel VIII Paleó logo em 1281.
Nascido Simon de Brie, ele foi cardeal-sacerdote de Santa Cecı́lia quando eleito papa em Viterbo apó s seis meses
de animosidade e intriga entre as forças simpá ticas a Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia, e aqueles que lhe sã o hostis. O
impasse foi resolvido apenas depois que um novo prefeito favorá vel a Carlos prendeu dois cardeais da famı́lia Orsini
(o papa falecido, Nicolau III, era um Orsini) e impediu outro de participar da eleiçã o. Simon foi eleito por meio de
poderosa pressã o exercida por Charles. Os romanos, poré m, recusaram a entrada do novo papa na cidade, entã o ele
teve que ser coroado em Orvieto, onde passou a maior parte de seu ponti icado. Ele foi consagrado como bispo de
Roma e coroado e entronizado em Orvieto em 23 de março. Ele tomou o nome de Martin em homenagem ao santo
padroeiro da França, Martin de Tours (m. 397).
Mais uma vez, esta eleiçã o solapa a suposiçã o convencional de que os papas geralmente sã o sucedidos por
duplicatas de si mesmos. A eleiçã o de Martinho IV representou uma rejeiçã o completa das polı́ticas de seu
predecessor, e seu ponti icado, de fato, as reverteu. Assim, quando os romanos elegeram o novo papa senador
vitalı́cio (uma posiçã o que Nicolau III havia garantido para si mesmo ao forçar Carlos a renunciar à sua participaçã o
no senado), Martinho IV transferiu o cargo para Carlos e efetivamente entregou o controle dos Estados papais para
ele també m.
Ao contrá rio de seus predecessores, Martinho IV apoiou os esforços de Carlos para recuperar Constantinopla
para o Ocidente por meios militares e, em 1281, excomungou o imperador bizantino Miguel VIII Paleó logo como
cismá tico, embora o imperador tivesse feito tudo ao seu alcance para se acomodar à s exigê ncias da Santa Sé . Assim,
a fó rmula de uniã o das Igrejas latina e grega forjada no Segundo Concı́lio de Lyon em 1274 foi efetivamente anulada.
A "cruzada" para libertar Constantinopla, no entanto, foi prejudicada por uma revolta na Sicı́lia contra o controle
francê s - uma rebeliã o assinalada pelo repicar de sinos para as Vé speras em 30 de março de 1282 (as chamadas
Vé speras da Sicı́lia). Os rebeldes vitoriosos ofereceram a ilha ao papa como estado vassalo, mas Martinho IV rejeitou
a oferta e instou os rebeldes a se submeterem a Carlos. Mais tarde, ele excomungou e depô s o rei Pedro III, o
Grande, de Aragã o, ao aceitar a coroa da Sicı́lia.
Martin IV també m teve problemas dentro da Igreja. Amigo e protetor dos franciscanos, ele relaxou suas regras
sobre a pobreza e concedeu-lhes direitos espirituais ampliados de pregar e ouvir con issõ es e, no processo,
perturbou o clero diocesano e provocou debates nas universidades. (Sua iniciativa foi posteriormente modi icada
pelo papa Bonifá cio VIII em 1300.) Suas polı́ticas excessivamente pró -francesas alienaram muitos cató licos,
especialmente na Alemanha. Martinho IV morreu em Perugia em 28 de março de 1285, poucas semanas depois de
seu amigo e patrono Carlos I da Sicı́lia. Ele foi enterrado na catedral de San Lorenzo, em Perugia.

188 Honório IV, 1210-87, papa de 20 de maio de 1285 a 3 de abril de 1287 (a lista o icial do Vaticano começa este
ponti icado no dia de sua eleição, 2 de abril, mas como ele ainda não era bispo, ele não podia tornou-se bispo de
Roma até ser consagrado em 20 de maio).
O ponti icado de Honó rio IV, sobrinho-neto de Honó rio III (1216-1227), nã o teve forma ou distinçã o particular.
Nascido Giacomo Savelli, ele era o cardeal-diá cono idoso e artrı́tico de Santa Maria in Cosmedin quando eleito papa
por unanimidade em Perugia quatro dias apó s a morte de Martin IV. Sua eleiçã o foi recebida com entusiasmo em
Roma, e ele foi consagrado bispo de Roma e coroado na pró pria Roma em 20 de maio e mais tarde eleito senador
vitalı́cio. Ele residiu em Roma durante todo o seu ponti icado, primeiro no Vaticano e depois em um palá cio novo e
suntuoso que ele construiu no Monte Aventino.
Como a maioria dos cardeais era francesa, o novo papa atendeu aos seus desejos de recuperar a Sicı́lia para os
angevinos (a casa de Anjou). Mas os meios eram altamente complexos e, em ú ltima aná lise, malsucedidos. Uma
cruzada lançada contra o domı́nio espanhol da Sicı́lia pelo rei francê s, Filipe III, levou à morte de Filipe e do rei
reinante da Sicı́lia, Pedro III. Quando o ilho de Pedro, Tiago, se coroou rei da Sicı́lia, Honó rio IV o excomungou. Mas
entã o o herdeiro de Carlos de Anjou, Carlos II de Salerno, renunciou ao seu tı́tulo para a Sicı́lia em favor de Jaime, a
im de obter sua pró pria libertaçã o da prisã o. O papa se recusou a aprovar o acordo, mas a Sicı́lia estava perdida.
O papa retomou os contatos com o rei alemã o Rodolfo I e ixou a data de sua coroaçã o como imperador para 2 de
fevereiro de 1287. Mas Rodolfo nã o pô de fazer a viagem a Roma a tempo e a data teve de ser adiada. Em seguida, foi
adiado uma segunda vez quando o legado papal à Dieta de Wü rzburg (16 a 18 de março) foi rejeitado em seus
esforços para garantir contribuiçõ es inanceiras por ocasiã o da planejada coroaçã o. A coroaçã o nunca aconteceu.
Honó rio IV foi um forte apoiador dos dominicanos e franciscanos, con irmando e estendendo seus privilé gios e
nomeando vá rios deles para bispados. Ele també m promoveu o estudo das lı́nguas orientais em Paris na esperança
de reunir as Igrejas do Oriente e do Ocidente. Ele morreu em Roma em 3 de abril de 1287 e foi sepultado na Bası́lica
de Sã o Pedro, mas seus restos mortais foram posteriormente transferidos por Paulo III (1534-1549) para a Chiesa
dell 'Aracoeli, para ser colocado ao lado dos de sua mã e.

189 Nicolau IV, 1227–92, papa de 22 de fevereiro de 1288 a 4 de abril de 1292.


Nicolau IV foi o primeiro papa franciscano. Durante seu ponti icado, o catolicismo foi estabelecido pela primeira vez
na China. Nascido Girolamo Masci, ele era um frade franciscano (o sucessor de Sã o Boaventura [m. 1274] como geral
da ordem) e cardeal-bispo pastoralmente atento de Palestrina quando foi eleito por unanimidade (pela primeira vez)
no novo papal palá cio no Monte Aventino em 15 de fevereiro de 1288. Ele foi um candidato de compromisso apó s
um conclave de cerca de onze meses, no qual seis cardeais morreram devido ao intenso calor do verã o e outros
adoeceram antes que os procedimentos fossem suspensos por um tempo. No entanto, quando Girolamo recusou a
eleiçã o por humildade franciscana, os cardeais o elegeram novamente em 22 de fevereiro. Desta vez, ele aceitou. Ele
adotou o nome de Nicolau IV em homenagem a Nicolau III, que o fez cardeal. Ele foi coroado no mesmo dia.
Como seu antecessor, o novo papa foi eleito senador vitalı́cio, mas, ao contrá rio de seu antecessor, nã o pô de
residir sem interrupçã o em Roma durante seu ponti icado devido a distú rbios civis intermitentes que foram
provocados em parte por seu pró prio favoritismo lagrante para com a famı́lia Colonna, para o qual ele foi
amplamente zombado. Ele criou um membro da famı́lia Colonna como cardeal, providenciou para que outro fosse
eleito senador ú nico e nomeou outros para cargos administrativos nos Estados Papais.
Nicolau IV nã o teve mais sucesso em manipular os desenvolvimentos polı́ticos na Sicı́lia do que seu antecessor. Ele
propô s alianças, anulou um tratado e coroou um pretendente ao trono da Sicı́lia - tudo sem efeito positivo. Da
mesma forma, nada resultou de seus esforços para organizar outra cruzada para libertar os lugares sagrados da
Palestina dos muçulmanos. Ele é conhecido na histó ria, no entanto, como um papa missioná rio por ter enviado seu
colega frade franciscano Giovanni di Monte Corvino à corte do Grande Kubla Khan, uma iniciativa que levou ao
primeiro estabelecimento da Igreja Cató lica na China (Giovanni foi mais tarde nomeado arcebispo de Pequim pelo
Papa Clemente V em 1307). Nicolau IV també m enviou missioná rios, principalmente franciscanos, para os Bá lcã s, a
Pé rsia, a Etió pia e o Oriente Pró ximo. Em 1289, enfrentando crescente inquietaçã o nos Estados Pontifı́cios, ele emitiu
uma bula (Caelestis altitudo ) atribuindo metade das receitas da Santa Sé , bem como parte da administraçã o, ao
Colé gio de Cardeais e fez as nomeaçõ es de reitores e outros o iciais nos Estados Papais dependem da aprovaçã o do
colé gio.
Nicolau IV deu as boas-vindas a artistas famosos em Roma e utilizou seus talentos para remodelar e embelezar as
bası́licas de Sã o Joã o de Latrã o e Santa Maria Maior (Santa Maria Maggiore). Ele també m mandou construir um
palá cio perto deste ú ltimo e ali fez sua principal residê ncia romana. Ele morreu em 4 de abril de 1292 e foi sepultado
em Santa Maria Maggiore.

190 Celestino V, Santo, 1209/10 (ou 1215?) - 96, papa de 29 de agosto a 13 de dezembro de 1294 (a lista o icial do
Vaticano começa seu ponti icado em 5 de julho, dia de sua eleição; mas ele ainda não foi bispo até sua consagração
como bispo de Roma em 29 de agosto).
Celestino V é mais conhecido por ser constante, e erroneamente, identi icado como o ú nico papa a renunciar ao
papado. Houve dois outros papas antes dele (e possivelmente um terceiro e um quarto) que renunciaram ao papado
por um motivo ou outro, sendo o primeiro Pontian, que foi preso e deportado no ano 235 pelo imperador
anticristã o Maximinus Thrax, e o segundo sendo Silverius, que foi forçado a abdicar em 537. Um terceiro papa, Joã o
XVIII (1003-9), també m pode ter renunciado sob pressã o. Um quarto, Bento IX, abdicou em favor de seu padrinho
em 1045, mas foi reintegrado em 1047. Um quinto papa, Gregó rio XII, renunciou em 1415 para ajudar a pô r im ao
Cisma do Grande Oeste (1378-1417).
Nascido Pietro del Murrone (també m Morrone) na regiã o de Abruzzi, na Itá lia, o dé cimo primeiro ilho de pais
camponeses, ele era um simples eremita sob a Regra de Sã o Bento na é poca de sua eleiçã o como papa, por volta dos
oitenta anos. cinco, em Perugia, apó s uma vaga de 27 meses. Os doze cardeais eleitores, divididos pela lealdade
familiar entre os Orsinis e as Colonas, nã o conseguiram reunir os dois terços dos votos necessá rios para a eleiçã o
apó s a morte de Nicolau IV em 4 de abril de 1292. Duas vezes vá rios deles deixaram Roma para escapar do calor
sufocante, enquanto os cardeais da poderosa famı́lia Colonna icavam para trá s e tentavam realizar uma eleiçã o por
conta pró pria. Em outubro de 1293, o conclave se reuniu novamente em Perugia e a pressã o aumentou sobre os
cardeais para eleger algué m - pressã o de Carlos II, rei da Sicı́lia e de Ná poles, e dos distú rbios em Roma e na regiã o
de Orvieto. Em 5 de julho de 1294, o decano do Colé gio dos Cardeais citou uma profecia do renomado eremita Pietro
del Murrone de que os cardeais sofreriam a retribuiçã o divina se nã o elegessem um papa logo. O cardeal-reitor
també m anunciou que votaria em Pietro. Por etapas, a margem de Pietro atingiu dois terços e depois a unanimidade.
Ele foi saudado como o “papa anjo” com base no sonho do sé culo XIII de um papa que inauguraria a era do Espı́rito
Santo.
Montado em um burro, Pietro foi escoltado por Carlos II e seu ilho até L'Aquila (uma cidade no domı́nio de
Carlos), onde foi consagrado como bispo de Roma em sua pró pria igreja de Santa Maria di Collemaggio em 29 de
agosto. nome Celestine V. Charles providenciou para que o novo papa ixasse residê ncia em Ná poles, no Castel
Nuovo, em vez de em Roma, como exigia a Cú ria. De Ná poles, Celestino fez tudo o que Carlos lhe ordenou, colocando
seus homens em posiçõ es-chave na Cú ria e nos Estados Papais, criando doze cardeais que Carlos propô s, incluindo
sete franceses, e nomeando o ilho de Carlos, Luı́s de Toulouse, arcebispo de Lyon. Ele també m reintroduziu as
regras do conclave estabelecidas por Gregó rio X (1272-76), tornando o rei o guardiã o da pró xima eleiçã o papal. Sem
instruçã o (nã o falava latim) e geralmente confuso (à s vezes nomeava duas pessoas para o mesmo benefı́cio), ele se
revelou um administrador inepto. Com a aproximaçã o do Advento, ele propô s que trê s cardeais assumissem a
responsabilidade pelo governo da Igreja enquanto ele jejuava e orava. Quando o plano foi rejeitado, ele consultou o
cardeal Benedetto Caetani (que o sucederia como Bonifá cio VIII), um notá vel canonista, sobre a possibilidade de
renunciar. Caetani o incentivou a fazê -lo e preparou todos os documentos e procedimentos. No dia 13 de dezembro,
na ı́ntegra do consistó rio, Celestino V leu a fó rmula de abdicaçã o que Caetani preparara para ele. Ele retirou sua
insı́gnia papal e, em um apelo inal, exortou os cardeais a procederem imediatamente à eleiçã o de seu sucessor. A
renú ncia provocou uma guerra de tratados a favor e contra sua validade.
Quando o pró prio Caetani foi eleito, providenciou para que Pietro nã o voltasse ao seu eremité rio no Monte
Murrone, como desejava. O novo papa temia que Pietro pudesse se tornar um ponto de encontro para um cisma. Por
isso, colocou o ex-papa sob guarda (de onde escapou por alguns meses) e acabou con inando-o na torre de Castel
Fumone, a leste de Ferentino, onde parece nã o ter sido maltratado. Ele morreu de uma infecçã o causada por um
abscesso em 19 de maio de 1296. Seu corpo foi inicialmente enterrado em Ferentino, mas foi transferido em 1317
para Santa Maria di Collemaggio, em L'Aquila, onde foi coroado papa. Sob pressã o posterior do rei Filipe IV da
França, um inimigo dedicado de Bonifá cio VIII, o papa Clemente V canonizou Pietro em 5 de maio de 1313, como um
confessor (isto é , algué m que sofreu pela fé , antes da morte) e nã o como um má rtir, como Philip desejava. Dia da
festa: 19 de maio (nã o observado universalmente).

191 Boniface VIII, ca. 1235-1303, papa de 23 de janeiro de 1295 a 11 de outubro de 1303 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado em 24 de dezembro de 1294, o dia de sua eleição, mas como ainda não era bispo, não poderia
se tornar bispo de Roma até a consagração em 23 de janeiro de 1295).
Poucos papas na histó ria izeram maiores reivindicaçõ es dos poderes espirituais e temporais do papado do que
Bonifá cio VIII, que declarou que toda criatura está sujeita ao papa. Como tal, ele foi o ú ltimo dos papas medievais e
um dos trê s papas medievais mais poderosos, junto com Gregó rio VII (1073–85) e Inocê ncio III (1198–1216).
Nascido Benedetto Caetani, foi cardeal-sacerdote de San Martino e possuidor de muitos benefı́cios lucrativos na
é poca de sua eleiçã o como papa na vé spera de Natal em Ná poles, onze dias apó s a renú ncia de Celestino V. Um
renomado canonista, ele arranjou para o abdicaçã o de seu predecessor, pela qual foi duramente criticado pelos
franciscanos espirituais (aqueles que exigiam a observâ ncia literal e intransigente da regra de pobreza). Apó s a
eleiçã o, Bonifá cio anulou a maioria dos privilé gios concedidos por Celestino V, demitiu vá rios funcioná rios da Cú ria
impostos por Carlos II da Sicı́lia e transferiu a corte papal de Ná poles para Roma, onde foi consagrado bispo de
Roma e coroado em 23 de janeiro de 1295 Ele adotou o nome de Bonifá cio VIII (existiu um antipapa com o nome de
Bonifá cio VII em 974 e novamente em 984-85, mas nenhum papa o icialmente reconhecido com esse nú mero).
Segundo todos os relatos, ele era um homem de temperamento extremamente irascı́vel, dado a explosõ es de
impaciê ncia e raiva, e uma pessoa empenhada em adquirir riqueza e poder para si e sua famı́lia.
Bonifá cio deu uma contribuiçã o duradoura ao campo do direito canô nico com a publicaçã o em 1298 do Liber
sextus , que deu continuidade aos cinco livros do Liber extra do papa Gregó rio IX (1234) e que constitui o terceiro
volume do Corpus Iuris Canonici , o precursor de o Có digo de Direito Canô nico de 1917. Ele també m reorganizou os
arquivos da Cú ria e do Vaticano e catalogou a biblioteca papal. Para reduzir o atrito entre as ordens mendicantes
(franciscanos e dominicanos) e o clero diocesano, ele limitou severamente o direito das ordens mendicantes de
pregar e ouvir con issõ es. Em 1303 ele fundou uma universidade em Roma conhecida como Sapienza. Por outro
lado, ele encomendou ou permitiu tantas está tuas de si mesmo que foi acusado de encorajar a idolatria.
A maior parte do ponti icado de Bonifá cio VIII, poré m, foi ocupada com questõ es polı́ticas. Ele tentou, sem sucesso,
restaurar Carlos II de Ná poles ao trono da Sicı́lia (antes tomado pelos rebeldes e transferido para a casa de Aragã o).
Seus esforços para mediar uma disputa entre Veneza e Ná poles, para defender a independê ncia da Escó cia da
Inglaterra e para garantir a coroa hú ngara para o neto de Carlos II foram em vã o. Suas tentativas de encerrar as
hostilidades entre a França e a Inglaterra abriram um con lito mais sé rio entre ele e Filipe IV (Filipe, o Belo) da
França. Ambos os paı́ses estavam inanciando a guerra taxando seu clero, uma prá tica proibida pela lei canô nica sem
o consentimento do papa (Quarto Conselho de Latrã o, 1215). Em um esforço para impedir a prá tica, Bonifá cio VIII
emitiu uma das mais famosas bulas papais, Clericis laicos , em 25 de fevereiro de 1296, que começou com a
a irmaçã o de que “os leigos sempre foram hostis ao clero”. Filipe IV retaliou proibindo a exportaçã o de ouro, moeda
negociá vel e outros objetos de valor e expulsando mercadores estrangeiros, sabendo que o papa dependia das
receitas da França. O papa entã o recuou e em 1297 autorizou o rei a cobrar o imposto sobre o clero em caso de
necessidade e sem consultar a Santa Sé . A paz (por meio da capitulaçã o papal) foi selada pela canonizaçã o do avô de
Filipe, Luı́s IX (falecido em 1270) por Bonifá cio.
Enquanto isso, o papa estava tendo problemas em sua casa. A famı́lia Colonna, que apoiou a eleiçã o de Bonifá cio,
tornou-se sua crı́tica mais forte. Eles se ressentiam de seu estilo de governo autoritá rio e autocrá tico e se opunham à
sua polı́tica siciliana. Eles també m questionaram a validade da renú ncia de Celestino V e a subsequente eleiçã o de
Bonifá cio para sucedê -lo. Quando um parente dos Colonas roubou um comboio que carregava um tesouro papal em
1297, Bonifá cio ordenou que os dois cardeais Colonna entregassem a ele trê s castelos familiares estraté gicos.
Quando eles se recusaram e mais tarde declararam que Bonifá cio havia usurpado o papado por meio da abdicaçã o
ilegal de Celestino V, Bonifá cio VIII depô s e excomungou os dois, que entã o se refugiaram na corte de Filipe IV da
França. Bonifá cio proclamou 1300 um ano de Jubileu (o primeiro Ano Santo) e concedeu indulgê ncias plená rias (a
remissã o de todas as penas temporais no Purgató rio) à s dezenas de milhares de peregrinos a Roma e aos santuá rios
dos apó stolos. Ele começou a vestir-se ocasionalmente com trajes imperiais, declarando-se tanto um imperador
quanto um papa.
Mas no outono de 1301 o con lito com Filipe foi reacendido. O rei aprisionou o bispo de Parmiers e exigiu sua
degradaçã o (reduçã o ao estado laico). Bonifá cio VIII viu a açã o do rei como uma intrusã o em sua autoridade
espiritual. Sem examinar mais o caso, o papa condenou a açã o do rei, retirou certos privilé gios da Igreja francesa e
convocou sua liderança a Roma para um sı́nodo em novembro de 1302. Trinta e nove bispos franceses
compareceram, apesar da ordem do rei de nã o comparecer . Apó s o sı́nodo, Bonifá cio VIII publicou sua segunda
bula famosa, Unam sanctam , em 18 de novembro de 1302. Entre as a irmaçõ es nela contidas estã o: (1) que “fora
desta Igreja [cató lica] nã o há salvaçã o nem remissã o de pecados”; (2) que “desta ú nica Igreja há um corpo e uma
cabeça - nã o duas cabeças, como um monstro - a saber, Cristo, e o vigá rio de Cristo é Pedro, e o sucessor de Pedro. . .
”; (3) que “nesta Igreja e em seu poder estã o duas espadas, a espiritual e a temporal. . . . Ambos estã o no poder da
Igreja, o espiritual e o material. Mas o ú ltimo deve ser usado para a Igreja, o primeiro por ela; o primeiro pelo
sacerdote, o ú ltimo pelos reis e capitã es, mas por vontade e com a permissã o do sacerdote. Uma espada, entã o, deve
estar sob a outra, e a autoridade temporal sujeita à espiritual ”; (4) que “se. . . o poder terreno errar, será julgado
pelo poder espiritual. . . . Mas se o poder supremo errar, só pode ser julgado por Deus, nã o pelo homem ”; e (5) que
“é absolutamente necessá rio para a salvaçã o que toda criatura humana esteja sujeita ao Romano Pontı́ ice”.
Philip respondeu com um ataque pessoal mordaz ao papa, valendo-se de materiais fornecidos pela famı́lia
Colonna. As acusaçõ es incidiram sobre ilegitimidade, má conduta sexual, blasfê mia, simonia, usurpaçã o do cargo
papal e heresia. Filipe convocou um conselho geral para depor Bonifá cio VIII. Depois de preparar uma bula de
excomunhã o contra o rei, o papa mudou-se de Roma para o palá cio papal em Anagni, onde pretendia promulgar a
bula. O palá cio, no entanto, foi invadido por um bando de mercená rios che iados pela famı́lia Colonna. Quando o
papa se recusou a renunciar, ele foi preso enquanto vestia suas vestes pontifı́cias completas. Seus captores
planejaram levá -lo para a França para ser julgado por um conselho, mas os cidadã os de Anagni (a cidade de seu
nascimento) e a zona rural circundante o resgataram apó s trê s dias e expulsaram seus captores. Apó s um perı́o do
de descanso de sua provaçã o, Bonifá cio VIII retornou a Roma sob a proteçã o da famı́lia Orsini em 25 de setembro de
1303, mas morreu um homem quebrado menos de trê s semanas depois, em 12 de outubro, e foi enterrado na cripta
de Bası́lica de Sã o Pedro. Em 1605, seu tú mulo foi aberto para inspeçã o e seu corpo foi encontrado intacto.
Pelos padrõ es de alguns cató licos considerados para igualar um catolicismo saudá vel e vibrante a papas fortes e
militantes, o ponti icado de Bonifá cio VIII deve ser uma das maiores histó rias de sucesso da Igreja. Mas os padrõ es
estã o errados. Outros papas eram mais ineptos e corruptos, mas nenhum fez reivindicaçõ es para o papado que
fossem mais distantes do espı́rito do apó stolo Pedro, sem mencionar o pró prio Senhor.

192 Bento XI, Bl., 1240-1304, papa de 22 de outubro de 1303 a 7 de julho de 1304.
O ponti icado de Bento XI foi marcado por sua fraca aquiescê ncia à s exigê ncias do rei da França. Nascido Niccolò
Boccasini, de uma famı́lia comum da classe trabalhadora, ele era o cardeal-bispo de Ostia e um dominicano (ele tinha
sido Mestre da Ordem) quando eleito papa por unanimidade em Roma em 22 de outubro de 1303. Ele escolheu o
nome de Bento, apó s o nome de baptismo do seu antecessor, como demonstraçã o de apoio e solidariedade para com
o poderoso mas trá gico Bonifá cio VIII. O novo papa foi um dos dois cardeais que permaneceram ielmente ao lado
de Bonifá cio durante o ataque contra ele em Anagni. (Houve um antipapa que adotou o nome de Bento X em 1058. E
interessante aqui, como em alguns outros casos citados anteriormente, que aqueles que a Igreja Cató lica agora
claramente caracteriza como antipapas nem sempre foram considerados assim nos sé culos anteriores. senã o o
cardeal Boccasino teria adotado o nome de Bento XI em vez de Bento X?) Ele foi coroado em 27 de outubro de 1303,
em Roma.
Bento XI foi descrito por historiadores como um erudito, mas fraco, homem que se sentia à vontade apenas com
seus companheiros dominicanos. Na verdade, ele nomeou apenas trê s cardeais durante seu ponti icado, e todos os
trê s eram dominicanos. Ele també m revogou a bula de seu predecessor que restringia os direitos dos mendicantes
(dominicanos e franciscanos) de pregar e ouvir con issõ es. Um homem de paz, ele imediatamente levantou a
excomunhã o de Bonifá cio VIII das cabeças dos dois cardeais Colonna, mas sem restaurar suas propriedades ou sua
posiçã o cardinalı́cia. Embora o gesto do papa nã o tenha satisfeito completamente os partidá rios de Colonna, ele
exasperou os bonifacianos. O con lito de facçõ es que eclodiu depois forçou Bento XI a deixar Roma para Perugia em
abril de 1304.
Enquanto isso, o rei da França, Filipe IV (Filipe, o Belo), ainda exigia um conselho geral para denunciar a memó ria
de seu desprezado adversá rio Bonifá cio VIII. Em 25 de março de 1304, Bento XI publicou uma bula absolvendo
Filipe e sua famı́lia de todas as censuras e penas eclesiá sticas. Mas a insistê ncia do rei no conselho continuou. O papa
entã o revogou todas as outras penas impostas à França e à corte francesa por Bonifá cio VIII, e ele até ofereceu
garantias de perdã o à queles (exceto o lı́der da gangue) que haviam cometido o ultraje contra Bonifá cio VIII em
Anagni, pouco antes da morte de Bonifá cio . Alé m disso, a famosa bula de Bonifá cio, Clericis laicos (1296), proibindo
governantes temporais de taxar seu clero sem o consentimento do papa, foi quase totalmente retirada, e Filipe
recebeu dı́zimos por dois anos. O rei foi temporariamente apaziguado e a convocaçã o de um conselho geral
diminuiu. Em 7 de julho de 1304, o papa morreu de disenteria aguda em Perugia. Ele foi sepultado, de acordo com
sua vontade, na igreja de San Domenico em Perugia, onde houve relatos posteriores de curas milagrosas em seu
tú mulo. Foi beati icado pelo Papa Clemente XII em 1736. Dia da festa: 7 de julho.

193 Clemente V, francês, ca. 1264–1314, papa de 5 de junho de 1305 a 20 de abril de 1314.
Com o ponti icado de Clemente V começou o “cativeiro babilô nico” de setenta anos do papado em Avignon, França.
Nascido Bertrand de Got, ele foi arcebispo de Bordé us quando eleito papa em Perugia em 5 de junho de 1305, apó s
um impasse de onze meses entre cardeais pró -Bonifá cio VIII que se opunham ao rei Filipe IV da França e os cardeais
pró -franceses anti-Bonifá cio aliada à famı́lia Colonna. Bertrand acabou sendo escolhido apenas porque os
bonifacianos se permitiram eventualmente ser separados. Ele adotou o nome de Clemente V por respeito ao Papa
Clemente anterior (IV, 1265-1268), que també m era francê s. A princı́pio, ele pretendia ser coroado em Vienne, onde
esperava mediar a paz entre os reis ingleses e franceses, preparando assim o caminho para outra cruzada para
libertar os lugares sagrados na Palestina dos muçulmanos. Mas o rei Filipe IV tinha outras idé ias, e Clemente V foi
coroado na presença do rei em Lyon em 15 de novembro, cerca de cinco meses apó s sua eleiçã o. (Como já era bispo
quando eleito, seu ponti icado nã o começou com sua coroaçã o, mas com sua eleiçã o.) Como muitos outros papas,
Clemente V assumiu o cargo com uma saú de menos do que vigorosa. A ligido com câ ncer, ele teria que se afastar da
vista do pú blico por meses a io.
Um mê s depois de sua coroaçã o, o novo papa criou dez cardeais, um dos quais inglê s e nove franceses - e quatro
franceses eram seus sobrinhos! Os italianos agora estavam em minoria dentro do Colé gio Cardinalı́cio. Depois de
vagar pela Provença e Gasconha, especialmente em Poitiers (1307-8) durante os primeiros anos de seu ponti icado,
Clemente V inalmente estabeleceu-se com a Cú ria no priorado dominicano em Avignon, porque a cidade nã o
pertencia ao rei francê s, mas ao seu vassalos, os reis angevinos de Ná poles, e com fá cil acesso ao mar. Ele també m
viveu em Venaissin, que era territó rio papal. Enquanto isso, o rei renovou a pressã o por um conselho geral para
condenar seu velho inimigo Bonifá cio VIII. Depois de protelar por um longo perı́o do de tempo, o papa inalmente
cedeu e concordou em abrir o caso em 2 de fevereiro de 1309. Por causa de distraçõ es polı́ticas, o rei suspendeu os
procedimentos em abril de 1311. Mas ele cobrou um preço incrivelmente alto do papa. Os cardeais Colonna que
foram excomungados por Bonifá cio VIII foram completamente reabilitados e a famı́lia Colonna foi totalmente
compensada por suas perdas. Todos os atos o iciais de Bonifá cio contra os interesses franceses foram anulados, o
lı́der do ataque armado a Bonifá cio em Anagni foi absolvido e uma bula papal, Rex gloriae (27 de abril de 1311), foi
emitida elogiando Filipe por seu zelo em atacar o papa morto . Finalmente, Celestino V, o papa idoso que Bonifá cio
VIII havia tirado do cargo, foi canonizado santo em 5 de maio de 1313.
Mas havia mais. Porque Philip cobiçava a riqueza dos Cavaleiros Templá rios, uma ordem religiosa devotada à
libertaçã o dos lugares sagrados na Palestina do controle muçulmano, ele os prendeu ao retornar da Terra Santa em
outubro de 1307 e extraiu con issõ es sob tortura. Essas con issõ es foram entregues a Clemente V com a exigê ncia,
fortalecida por ameaças, de que condenasse a ordem. Apó s uma hesitaçã o inicial, o papa convocou um concı́lio geral
ou ecumê nico em Vienne (outubro de 1311 a maio de 1312), no qual os Cavaleiros Templá rios foram dissolvidos por
açã o papal unilateral. O papa també m determinou que todas as propriedades dos Cavaleiros Templá rios deveriam
ser transferidas para os Cavaleiros de Sã o Joã o de Jerusalé m (os Hospitalá rios, hoje conhecidos como Cavaleiros de
Malta). Com efeito, no entanto, o rei Filipe IV manteve sua propriedade considerá vel até sua pró pria morte em 1314.
De acordo com outros decretos do Concı́lio de Vienne, Clemente V formou um acordo de compromisso na disputa
entre os franciscanos conventuais e espirituais e, com o objetivo de promover o trabalho missioná rio no Extremo
Oriente, estabeleceu cá tedras de lı́nguas orientais em Paris, Oxford, Bolonha e Salamanca. Ele també m fundou
universidades em Orlé ans e Perugia e publicou os decretos do Conselho de Vienne junto com uma coleçã o de seus
decretos e os de seus dois predecessores em uma ú nica obra conhecida como as Clementinas (ou Constituiçõ es de
Clementina), que fazia parte de o Corpus Iuris Canonici , precursor do Có digo de Direito Canô nico de 1917. A
centralizaçã o do governo da Igreja també m aumentou durante este ponti icado. Novos tipos de benefı́cios (ofı́cios
eclesiá sticos que geram renda) foram reservados à nomeaçã o papal, e tanto o papado quanto a Cú ria lucraram.
Houve outros atos o iciais menos signi icativos durante este ponti icado. Em 1306, por exemplo, Clemente
suspendeu Roberto de Wilchelsea como arcebispo de Canterbury, a quem o rei inglê s, Eduardo I, acusou de traiçã o
por seu apoio a Bonifá cio VIII, e entã o, dois anos depois, o reintegrou a pedido de Eduardo II. També m em 1306 ele
excomungou Robert I, o Bruce da Escó cia, pelo assassinato de um velho inimigo, Red Comyn, e depô s dois bispos
escoceses por apoiarem os rebeldes. No ano seguinte, ele resolveu uma contrové rsia de longa data sobre o trono
hú ngaro. Depois que o imperador alemã o Henrique VII morreu em 1313, o papa publicou uma famosa bula,
Pastoralis cura , que ia alé m das reivindicaçõ es exageradas de Bonifá cio VIII pela autoridade papal. O papa, declarou
Clemente V, é superior ao imperador e, em tempos de vacâ ncia, tem o direito de nomear vigá rios imperiais. Ele entã o
nomeou Roberto de Ná poles como vigá rio imperial da Itá lia.
Clemente V morreu de câ ncer no estô mago em 20 de abril de 1314, em Roquemaure, perto de Carpentras,
enquanto viajava para sua cidade natal, Villandraut. Na é poca de sua morte, o tesouro papal estava esgotado devido
ao uso pessoal excessivo. Ele foi enterrado na igreja paroquial de Uzeste, a cerca de cinco quilô metros de seu local
de nascimento. Um monumento erguido em sua memó ria foi destruı́do pelos calvinistas dois sé culos depois.

194 João XXII, francês, ca. 1244–1334, papa de 7 de agosto de 1316 a 4 de dezembro de 1334.
Joã o XXII, o segundo dos papas de Avignon, foi um dos relativamente poucos papas a ser acusado de heresia, neste
caso por causa de sua crença declarada de que os santos nã o vê em Deus (a Visã o Beatı́ ica) até depois do
julgamento inal.
Nascido Jacques Duè se (de Cahors), era cardeal-bispo do Porto na altura da sua eleiçã o para o papado a 7 de
Agosto de 1316, em Lyon, mais de dois anos apó s a morte do seu antecessor, Clemente V. Evidentemente, o os
cardeais tiveram alguma di iculdade em decidir sobre um candidato, dadas as correntes polı́ticas con litantes. Eles se
encontraram primeiro no palá cio episcopal de Carpentras, de acordo com a lei canô nica que exige que uma eleiçã o
papal seja realizada no local onde o papa anterior havia morrido. Mas o conclave teve de ser transferido para Lyon
em março de 1316 por causa dos distú rbios locais. (Um bando armado invadiu os cardeais gritando: "Morte aos
italianos! Queremos um papa! Morte aos italianos!") O cardeal Duè se, de setenta e dois anos, foi obviamente uma
escolha de compromisso, mas apoiada por Filipe, conde de Poitiers (e o futuro rei Filipe V) e rei Roberto de Ná poles.
Ele foi coroado em Lyon em 5 de setembro pelo cardeal Napoleone Orsini. Seus eleitores obviamente o
consideravam um papa de transiçã o, dada sua idade. Seu ponti icado durou mais de dezoito anos!
Embora de baixa estatura e com saú de debilitada, esse papa idoso mergulhou em suas novas funçõ es com energia
e entusiasmo incomuns. Ele restaurou a e iciê ncia da Cú ria e a estabilidade inanceira da Igreja, ambos tendo sofrido
muito com Clemente V. Ele estendeu os poderes do papado sobre as nomeaçõ es para benefı́cios (cargos eclesiá sticos
que geram renda), proibiu qualquer pessoa de exercer mais de dois benefı́cios em um tempo, e removeu a eleiçã o
dos bispos dos capı́tulos das catedrais (corpos de padres diocesanos, conhecidos como cô negos, responsá veis pelo
bem-estar espiritual e temporal das catedrais diocesanas). Ele també m dividiu os territó rios de grandes dioceses e
redesenhou as fronteiras de outras. Para melhorar o luxo de receitas para a Santa Sé (que era Roma, nã o Avignon,
no entanto), ele criou um novo sistema pelo qual cada paı́s pagaria a receita do primeiro ano de um benefı́cio ao
papa. Esses pagamentos eram chamados de anates. Em 1319, Joã o XXII reservou para si todos os benefı́cios
menores por um perı́o do de trê s anos e impô s outros impostos papais. Ele també m compilou um novo livro de
impostos que estabeleceu uma tabela de taxas para documentos da igreja. Todas as suas nomeaçõ es para o Colé gio
dos Cardeais foram francesas, exceto um espanhol e quatro romanos. Seu pior defeito era seu nepotismo
desavergonhado, concedendo dinheiro, presentes e cargos religiosos a parentes e amigos.
Em 1318, ele interveio na disputa em curso entre os franciscanos conventuais e espirituais, icando ao lado dos
primeiros. Ele baniu o há bito simpli icado dos espirituais e ordenou que obedecessem a seus superiores e
aceitassem como legı́timo o armazenamento de provisõ es. Vinte e cinco recalcitrantes foram entregues à Inquisiçã o,
e quatro foram realmente queimados na fogueira em 1318. Mas o papa entrou em con lito total com a ordem
franciscana quando seu capı́tulo geral, reunido em Perugia em 1322, desa iou uma decisã o da Inquisiçã o e declarou
ser um ensino ortodoxo que Cristo e os apó stolos nada possuı́am como propriedade deles. Joã o XXII denunciou a
declaraçã o de Perugia como heresia (1323), enfurecendo assim os membros da ordem que, por sua vez,
denunciaram o papa como herege. A maioria dos franciscanos inalmente se submeteu ao papa no verã o de 1325,
mas uma minoria fugiu, incluindo o ministro geral da ordem, Miguel de Cesena, e o famoso iló sofo franciscano
Guilherme de Occam (falecido em 1347). Joã o XXII os excomungou em abril de 1329 e entã o emitiu uma bula mais
tarde naquele mesmo ano declarando que o direito de possuir propriedade era anterior à queda de Adã o e Eva e
que o Novo Testamento descreve Cristo e os apó stolos como possuidores de bens pessoais. Occam respondeu à bula,
item por item, no primeiro de muitos escritos dirigidos contra o papa.
Os dissidentes franciscanos tornaram-se aliados do inimigo do papa Luı́s IV, que derrotou seu rival pelo trono
alemã o, um homem a quem Joã o XXII havia apoiado. Por causa das açõ es agressivamente antipapais de Luı́s IV na
Itá lia, o papa o excomungou em 1324. Em seguida, Luı́s convocou um conselho geral para denunciar o papa por
heresia por causa de sua atitude para com a compreensã o dos franciscanos espirituais sobre a pobreza evangé lica.
Luı́s foi apoiado nã o apenas pelos franciscanos dissidentes, mas també m por Marsı́lio de Pá dua (m. 1342), cujo
Defensor pacis (1324), que promovia as noçõ es de um estado laico e a superioridade de um conselho geral sobre o
papa, havia sido condenado por Joã o XXII em 1327. Acompanhado por Marsilius, Louis entrou em Roma em janeiro
de 1328 e fez-se coroar imperador pelo senador Sciarra Colonna, o chamado capitã o do povo romano. Trê s meses
depois, Luı́s publicou um decreto declarando que “Jacques de Cahors” (o papa) foi deposto por heresia, e uma efı́gie
de palha dele em mantos pontifı́cios foi queimada solenemente. Luı́s entã o teve um franciscano espiritual, Pietro
Rainalducci, eleito papa por representantes do clero romano. O antipapa assumiu o nome de Nicolau V e se instalou!
Depois que Luı́s deixou Roma no inı́cio de 1329, no entanto, o antipapa perdeu seu apoio, escondeu-se e inalmente
foi para Avinhã o, onde se submeteu a Joã o XXII e foi perdoado e colocado em cativeiro confortá vel.
Entre os outros atos desse ponti icado notavelmente ativo foram o estabelecimento de dioceses na Armê nia, India
e Irã , o inı́cio de uma biblioteca papal em Avignon, a fundaçã o de uma universidade em Cahors e a condenaçã o de
vinte e oito sentenças de Meister Eckhart (falecido em 1327), o famoso mı́stico alemã o. Mas entre o Dia de Todos os
Santos (1º de novembro de 1331) e a festa da Anunciaçã o (25 de março de 1332), o papa proferiu quatro sermõ es
que o perseguiram pelos anos restantes de seu ponti icado. Ele disse que os santos nã o veriam Deus face a face até
depois do julgamento inal - em oposiçã o à doutrina tradicional de que os santos tê m a Visã o Beatı́ ica
imediatamente apó s a morte. Antes do julgamento inal, ele sugeriu, os santos só podiam contemplar a humanidade,
nã o a divindade de Cristo. Ele també m propô s que os demô nios e os condenados ainda nã o estavam no Inferno.
Essas opiniõ es foram condenadas na Universidade de Paris no outono de 1333, e os inimigos do papa, incluindo
Guilherme de Occam, tiraram proveito da contrové rsia. Luı́s IV conspirou com o cardeal Napoleone Orsini para a
condenaçã o e deposiçã o do papa em um conselho geral, mas o papa adoeceu. Em seu leito de morte e na presença
de seus cardeais, ele modi icou sua posiçã o. Antes do julgamento inal, disse ele, os santos veem Deus face a face tã o
claramente quanto sua condiçã o permite, e ele insistiu que nunca sustentou o ponto de vista contrá rio, exceto como
uma opiniã o pessoal que ele estava preparado para rejeitar se fosse contrá ria à fé da Igreja. E de se perguntar como
uma questã o tã o insigni icante pode ter criado tamanha turbulê ncia. Mas aconteceu.
Joã o XXII morreu em 4 de dezembro de 1334, aos oitenta e nove anos, e foi sepultado na catedral de Notre-Dame-
des-Doms em Avignon.

195 Bento XII, francês, 1285-1342, papa de 8 de janeiro de 1335 a 25 de abril de 1342 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado com sua eleição em 20 de dezembro de 1334, mas ele ainda não era bispo; não podia tornar-se bispo
de Roma até ser consagrado bispo em 8 de janeiro de 1335).
O terceiro dos papas de Avignon, Bento XII, resolveu uma questã o teoló gica disputada sobre se os santos vê em Deus
face a face antes do julgamento inal.
Nascido Jacques Fournier, de pais economicamente pobres, foi cisterciense, cardeal-sacerdote da igreja de Santa
Prisca e ex-conselheiro de seu antecessor, Joã o XXII, quando eleito papa em 20 de dezembro de 1334, em Avignon.
(Havia vinte e quatro cardeais presentes no conclave - a maioria franceses.) Diz-se que o candidato principal, o
cardeal John de Cominges, foi derrotado porque se recusou a prometer nã o transferir o papado de volta para Roma.
De qualquer forma, o cardeal Fournier foi eleito no sé timo dia do conclave e recebeu o nome de Bento XII. Foi
consagrado bispo de Roma e coroado pelo cardeal Napoleone Orsini em 8 de janeiro de 1335, na igreja dominicana
de Avignon. E de se perguntar se algum dos papas de Avignon viu a ironia de sua consagraçã o como bispo de Roma,
uma diocese a muitas centenas de quilô metros de distâ ncia que eles nunca visitariam.
Quase imediatamente apó s sua consagraçã o e coroaçã o, Bento XII foi pressionado por enviados de Roma a
devolver o papado lá . O novo papa pode ter pensado em fazer exatamente isso porque ele iniciou uma restauraçã o e
refazer a Bası́lica de Sã o Pedro naquele mesmo ano e em 1341 gastou grandes somas tanto na Bası́lica de Sã o Pedro
quanto no Latrã o. Mas a maioria dos cardeais e o pró prio rei francê s eram contra a medida, e a contı́nua agitaçã o
polı́tica em Roma e nos Estados papais deu muita força prá tica a seu argumento. Na verdade, logo icou claro que
Bento XII concordava com essa posiçã o. Ele transferiu os arquivos papais de Assis para Avignon e iniciou a
construçã o de um palá cio papal permanente (o Palais Vieux) para servir como residê ncia para ele e para a Cú ria e
també m como fortaleza militar. Ele també m se somou ao contingente francê s do Colé gio Cardinalı́cio, nomeando
cinco franceses e apenas um italiano.
Bento XII assumira o cargo com reputaçã o de teó logo culto e inquisidor incansá vel, há bil em extrair con issõ es de
supostos hereges, alguns dos quais foram queimados na fogueira. O papa anterior, Joã o XXII, em duas ocasiõ es o
felicitou por seus esforços para erradicar a heresia em sua diocese. Ao contrá rio de seu predecessor minú sculo e
fraco, Bento XII era alto, corpulento e forte na fala. Logo apó s sua coroaçã o, ele dispensou um grande nú mero de
clé rigos da corte papal de Avignon e os mandou de volta para seus benefı́cios (ofı́cios eclesiá sticos que geram
renda). Ele estava convencido de que o clero deveria permanecer residente em seus postos pastorais e que monges
errantes deveriam retornar aos seus mosteiros. Ele també m proibiu a transferê ncia de dinheiro quando os serviços
espirituais eram prestados, limitou as taxas que poderiam ser cobradas pelos documentos e proibiu a retirada de
receitas de benefı́cios vagos (exceto no caso de cardeais e patriarcas). Na verdade, ele estabeleceu crité rios tã o
rı́gidos para preencher benefı́cios que muitos permaneceram vagos por longos perı́o dos de tempo. Alé m disso, ele
regulamentou a autoridade temporal dos cistercienses, franciscanos e beneditinos, ordenou capı́tulos regulares
(reuniõ es formais em casas) e visitaçõ es a mosteiros, estabeleceu casas de estudo e reformou o programa de
treinamento para noviços. (Infelizmente, a maioria dessas medidas se mostraram ine icazes devido à relativa
brevidade de seu ponti icado e ao fracasso de seu sucessor em seguir com a aplicaçã o dessas iniciativas.) Ele
també m de iniu estritamente os direitos e deveres da Sagrada Penitenciá ria, que emitiu indulgê ncias e dispensas, e
as primeiras decisõ es registradas do tribunal conhecido como Rota ocorreram durante seu ponti icado.
Em 1336, Bento XII resolveu uma contrové rsia que agitou os ú ltimos anos do ponti icado de seu predecessor; a
saber, se os santos vê em Deus face a face imediatamente apó s a morte ou nã o antes do julgamento inal. Joã o XXII
havia especulado que os santos nã o viram a Deus até depois do julgamento inal. Bento XII determinou em
Benedictus Deus (1336) que as almas tê m uma visã o intuitiva e face a face da essê ncia divina, que os teó logos
chamam de Visã o Beatı́ ica, e que essa visã o de Deus ocorre imediatamente apó s a morte no caso dos que morrem
no estado de graça.
Bento XII encontrou vá rios problemas na frente polı́tica. Ele nã o pô de evitar a eclosã o da Guerra dos Cem Anos
(1337-1453) entre a Inglaterra e a França ou encerrar as hostilidades apó s o inı́cio, entã o suas esperanças foram
frustradas pelo lançamento de outra cruzada para libertar os lugares sagrados na Palestina do controle muçulmano.
Seu favoritismo aberto em relaçã o à polı́tica francesa, é claro, criou muito ressentimento na Inglaterra. Ele també m
nã o conseguiu defender a integridade dos territó rios papais na Itá lia, perdendo o controle sobre a Romagna, a
Marcha de Ancona e até mesmo Bolonha. As relaçõ es com o imperador Luı́s IV da Alemanha eram cheias de
hostilidade mú tua. A primeira Dieta de Frankfurt (1338) decretou que a autoridade imperial deriva diretamente de
Deus, nã o do papa. A segunda Dieta em 1338 declarou que a posiçã o e o poder imperiais pertencem por direito a
Luı́s IV e que a con irmaçã o ou consentimento do papa nã o é necessá ria.
Bento XII morreu em 25 de abril de 1342 e foi sepultado na catedral de Notre-Dame-des-Doms em Avignon.

196 Clemente VI, francês, 1290 / 91-1352, papa de 7 de maio de 1342 a 6 de dezembro de 1352.
O quarto - e mais partidá rio francê s - dos papas de Avignon, Clemente VI lançou as bases para a doutrina das
indulgê ncias que iguraria tã o amplamente na Reforma Protestante cerca de dois sé culos depois.
Nascido Pierre Roger, ele era um beneditino, arcebispo de Rouen, chanceler da França e cardeal-sacerdote da
igreja de Santi Nereo e Achilleo quando foi eleito papa por cerca de dezessete cardeais reunidos em Avignon em 7 de
maio de 1342. Ele escolheu o nomeou Clemente para deixar claro que o poder deve ser exercido com clemê ncia e foi
coroado no domingo de Pentecostes, 19 de maio, pelo cardeal Napoleone Orsini na igreja dominicana em Avignon.
Embora o rei da França, Filipe VI, tenha enviado seu ilho ao conclave para in luenciar a eleiçã o em favor do cardeal
Roger, o gesto se mostrou desnecessá rio. Ele foi eleito por unanimidade porque, como em tantos casos ao longo da
histó ria dos conclaves papais, os cardeais se cansaram do estilo do papa anterior e ansiavam por uma mudança.
Assim, eles escolheram substituir o austero e rı́gido Bento XII pelo mais descontraı́do e mundano Clemente VI.
Cerca de seis meses apó s sua eleiçã o, Clemente recebeu uma delegaçã o de Roma, conferindo-lhe o posto de
senador romano e implorando que voltasse à cidade. A delegaçã o també m pediu uma reduçã o no intervalo entre os
anos jubilares (seu motivo era mais econô mico do que espiritual, já que os anos jubilares atraı́am muitos peregrinos
a Roma). O novo papa atendeu ao pedido, e o ano do Jubileu de 1350 rendeu grandes benefı́cios econô micos para
uma Roma empobrecida. Mais importante do que o pró prio ano jubilar foi o touro, Unigenitus , que o anunciou. O
papa de iniu ali o tesouro de mé ritos, uma vasta reserva de mé ritos construı́da por Cristo e os santos que pode ser
aplicada a indivı́duos, mediante a recitaçã o de certas oraçõ es e a realizaçã o de certas obras espirituais, para
compensar o fardo do pecado. Os meios pelos quais esses mé ritos sã o aplicados acabaram sendo chamados de
indulgê ncias. Disputas sobre a venda de indulgê ncias foram um fator importante na provocaçã o da Reforma
Protestante cerca de dois sé culos depois.
O novo papa rejeitou o apelo da delegaçã o romana para seu retorno à cidade. Na verdade, ele comprou a cidade
de Avignon e o condado de Venaissin da rainha Joanna I de Ná poles em 1348, ampliou o palá cio papal e nomeou
principalmente franceses para o Colé gio dos Cardeais. Sua intrusã o nos assuntos polı́ticos foi marcada por um
fracasso consistente. Ele a princı́pio apoiou Cola di Rienzo como governante civil de Roma, mas depois o abandonou
e excomungou quando Cola a irmou a independê ncia do povo romano tanto do papa quanto do imperador.
Clemente VI, como seu antecessor, nã o foi capaz de parar a Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França e, em
todo caso, di icilmente poderia ingir ser um corretor honesto. O exé rcito papal nã o conseguiu reconquistar
Romagna para o papado, e o papa foi forçado a ceder o controle de Bolonha a seu adversá rio, o arcebispo de Milã o.
Seus esforços para se unir à Igreja Grega també m falharam. Por outro lado, a morte acidental do imperador Luı́s IV
da Alemanha em 1347 melhorou a sorte papal naquele paı́s. O papa já havia apoiado Carlos, rei da Boê mia, para
substituir Luı́s, e agora que Luı́s estava morto, o papa tinha um ocupante amigá vel do trono alemã o pela primeira
vez em muitos anos.
Infelizmente, o ponti icado de Clemente VI foi modelado menos no exemplo do apó stolo Pedro, cujo sucessor ele
a irmava ser, do que no de um prı́ncipe mundano. Sua corte era banhada por luxos e pontuada por suntuosos
banquetes e grandes festividades. Foram feitas acusaçõ es sobre sua pró pria vida sexual. Ele descaradamente
conferiu ofı́cios e presentes da igreja a parentes, amigos e conterrâ neos. A compra da cidade de Avignon e do
condado de Venaissin, a construçã o de um novo palá cio papal (Palais Neuf), empré stimos generosos à França e
despesas militares na Itá lia e na luta contra os turcos acabaram esgotando o tesouro papal que havia sido tã o
meticulosamente reabastecido por Joã o XXII (1316-34) e Bento XII (1335-42). Novos impostos tiveram que ser
impostos, e nomeaçõ es para um nú mero crescente de dioceses e benefı́cios geradores de receita foram reservados
ao papa. Essas iniciativas provocaram uma reaçã o fortemente negativa na Alemanha e, especialmente, na Inglaterra.
Em 1351, o rei Eduardo III da Inglaterra emitiu o Primeiro Estatuto dos Provisadores, reservando ao rei o direito de
apresentaçã o em todas as nomeaçõ es papais para benfeitores.
Em 1348-1349, quando a Peste Negra atingiu a pró pria Avinhã o, o papa defendeu os judeus contra a acusaçã o de
que eles eram os responsá veis por ela. Ele també m estendeu a mã o para ajudar os pobres e a litos durante a crise.
Clemente VI morreu em 6 de dezembro de 1352, apó s uma curta doença. A princı́pio foi enterrado na catedral, mas
seu corpo foi transferido em abril para a abadia beneditina de La Chaise-Dieu, onde havia estudado e desejava ser
sepultado. Seu tú mulo foi posteriormente profanado e seus restos mortais queimados pelos huguenotes em 1562.

197 Innocent VI, French, 1282–1362, papa de 18 de dezembro de 1352 a 12 de setembro de 1362.
O ponti icado de Inocê ncio VI, o quinto dos papas de Avignon, foi marcado por muita atividade, tanto eclesiá stica
quanto polı́tica, mas com poucos efeitos duradouros. Nascido Etienne Aubert, ele foi cardeal-bispo de Ostia quando
eleito papa em Avignon em 18 de dezembro de 1352. Como de costume, os cardeais nã o queriam uma có pia carbono
do antigo papa, mas sim um estilo e abordagem totalmente novos. O novo papa, já com setenta e dois anos de idade,
foi coroado na catedral de Avignon pelo cardeal Gaillard de la Mothe, o cardeal-diá cono sê nior, em 30 de dezembro.
Apesar de sua idade e saú de instá vel (os cardeais eleitores o consideravam um papa em transiçã o), ele
imediatamente reviveu o espı́rito reformista de Bento XII (1335-42). Ele invalidou um acordo alcançado pelos vinte e
cinco cardeais no conclave (incluindo ele mesmo) de que as receitas seriam depois divididas entre o papa e o Colé gio
de Cardeais e que as nomeaçõ es papais de novos cardeais estariam sujeitas à aprovaçã o do colé gio. Inocê ncio VI
també m reduziu o tamanho da casa papal e simpli icou o estilo de vida da corte papal, que estava inanceiramente e
moralmente exausta durante o ponti icado anterior. Mais uma vez, o clero era obrigado a residir em seus benefı́cios
(cargos eclesiá sticos que geravam renda), os candidatos a cargos tinham que estabelecer suas credenciais para o
cargo e ningué m podia ter mais de um benefı́cio por vez. O papa també m apoiou a agenda reformista do Mestre da
ordem dominicana e foi particularmente severo com os franciscanos espirituais (aqueles que insistiam que um
franciscano nã o deveria possuir absolutamente nada), entregando alguns deles à Inquisiçã o para serem presos ou
até mesmo queimado na fogueira. Algumas de suas medidas foram tã o extremas que Brı́gida da Sué cia (falecida em
1373), que estava em Roma na é poca e havia saudado a eleiçã o de Inocê ncio VI, denunciou-o como perseguidor do
rebanho de Cristo.
Como esperava retornar o papado a Roma em algum momento de seu ponti icado, Inocê ncio VI dedicou muito de
seu tempo e atençã o à paci icaçã o dos Estados papais e ao retorno deles à idelidade ao papa. (O esforço fracassado
levaria à falê ncia o tesouro papal.) Os principais instrumentos de Inocê ncio VI a esse respeito foram o cardeal
espanhol Gil de Albornoz, o legado papal na Itá lia, e Cola di Rienzo, cuja excomunhã o (por Clemente VI) o papa
suspendeu apó s um julgamento em Avignon. Cola morreu logo depois em um motim, e Carlos IV da Boê mia foi eleito
rei dos romanos, mais tarde coroado imperador, com a aprovaçã o do papa, pelo cardeal-bispo de Ostia (1355). No
ano seguinte, Carlos publicou sua chamada Bula de Ouro, na qual decretava que reis alemã es eleitos nã o precisavam
ser aprovados pelo papa. Signi icativamente, Innocent VI nã o se opô s.
A maioria das outras atividades polı́ticas do papa se mostraram igualmente infrutı́feras. Ele falhou em evitar o
recomeço da guerra entre a Inglaterra e a França em 1355 (embora tenha efetuado uma paz temporá ria em 1360),
para persuadir o imperador Carlos IV a libertar o rei Joã o II da França da captura, para montar uma nova cruzada
para libertar o lugares sagrados na Palestina do controle muçulmano, para mediar a paz entre Castela e Aragã o e
para reunir as Igrejas latina e grega (na verdade, os gregos perderam o interesse quando icou ó bvio que o papa nã o
poderia montar um exé rcito para lutar contra os turcos). Para aumentar seus fardos polı́ticos, Inocê ncio VI
enfrentou novos perigos na pró pria Avignon, agora cada vez mais sujeita a saques por bandos de saqueadores de
tropas mercená rias ociosas por tré guas temporá rias de guerra. A certa altura, no inal de dezembro de 1360, as
comunicaçõ es entre Avignon e o mundo exterior foram cortadas e Innocent teve que subornar os saqueadores para
que nã o causassem mais destruiçã o. Inocê ncio VI morreu dois anos depois, em 12 de setembro de 1362, e foi
sepultado na capela da Santı́ssima Trindade, na casa de aluguel de Villeneuve-lè s-Avignon, por ele construı́da.

198 Urban V, Bl., French, ca. 1310-70, papa de 6 de novembro de 1362 a 19 de dezembro de 1370 (a lista o icial do
Vaticano marca o início de seu ponti icado no dia de sua eleição, 28 de setembro, mas ele ainda não era bispo e não
poderia se tornar bispo de Roma até a consagração em 6 de novembro).
O sexto - e provavelmente o melhor - dos papas de Avignon, Urbano V restaurou o papado em Roma por trê s anos,
retornando a Avinhã o pouco antes de sua morte.
Nascido Guillaume de Grimoard, ele era um monge beneditino, canonista, abade de Saint-Victor em Marselha e
legado papal na Itá lia - mas nã o um cardeal - quando eleito papa em Avignon em 28 de setembro de 1362. Durante o
conclave, ele foi na verdade, em uma missã o diplomá tica em Ná poles. Os cardeais primeiro elegeram o irmã o do
Papa Clemente VI (1342-52), mas ele recusou. Quando eles nã o conseguiram chegar a um acordo sobre um deles,
eles se voltaram para o Abade Grimoard, profundamente espiritual, e o elegeram por unanimidade. Apó s seu
retorno à França, o papa eleito foi entronizado em 31 de outubro em Avignon e entã o consagrado como bispo de
Roma em 6 de novembro pelo cardeal Aldeimo Alberto, bispo de Ostia. Sua entronizaçã o e coroaçã o foram feitas sem
a pompa usual.
Mantendo seu há bito beneditino negro e regra de vida, Urbano V deu continuidade à agenda reformista de seu
predecessor. Ele reduziu ainda mais o luxo da corte papal e combateu a posse de mais de um benefı́cio (cargo
eclesiá stico de produçã o entrante) ao mesmo tempo, enquanto cortava a taxa de dı́zimos pela metade. Em 1363,
entretanto, ele reservou ao papa as nomeaçõ es para todas as sedes patriarcais e episcopais e para os principais
mosteiros. Ele també m exauriu o tesouro papal mais uma vez com seu apoio generoso a estudantes empobrecidos,
de faculdades e de artistas e arquitetos. Ele fundou novas universidades em Orange (sul da França), Cracó via e Viena.
Dois dos principais objetivos de seu ponti icado foram a reuniã o com o Oriente e a libertaçã o dos lugares
sagrados na Palestina do controle turco. Nenhum dos dois foi cumprido. Ele nã o conseguiu reunir as forças
necessá rias para a cruzada, chegando mesmo a irmar um humilhante acordo de paz com seu inimigo em Milã o,
Bernabò Visconti, na esperança de conseguir sua participaçã o. Ao mesmo tempo, ele esperava sinceramente
devolver o papado de uma vez por todas a Roma. Ele tinha boas razõ es para fazer isso, alé m de sua conexã o
histó rica com o apó stolo Pedro. Ele poderia organizar melhor (1) uma aliança contra os bandos de mercená rios
saqueadores que estavam causando estragos em todos os lugares, (2) uma cruzada e (3) esforços para se reunir
com o Oriente. Alé m disso, o imperador Carlos IV estava instando o papa a deixar Avignon e ir para Roma e se
ofereceu para ser sua escolta. Embora o habilidoso legado do papa, o cardeal espanhol Gil de Albornoz, tivesse
conseguido restaurar a lealdade dos Estados papais, a pró pria Roma estava um caos e o Vaticano estava inabitá vel.
No entanto, em 30 de abril de 1367, contra as fortes objeçõ es dos cardeais franceses e da Cú ria, Urbano V deixou
Avignon, desembarcando em Corneto (hoje Tarquinia) em 3 de junho. Apó s uma breve estada em Viterbo, ele entrou
em Roma com um impressionante exé rcito escolta em 16 de outubro. Como o Palá cio de Latrã o estava em desordem,
ele ixou residê ncia no Vaticano, que havia sido restaurado o su iciente antes de sua chegada. Ele permaneceu lá por
trê s anos, mas se mudou no verã o para Viterbo e Monte iascone para escapar do intenso calor romano. Enquanto
estava em Roma, o papa dirigiu os reparos e reforma de igrejas e outros edifı́cios e reconstruiu completamente a
bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, que havia incendiado em 1360. Em setembro de 1368, ele criou sete novos cardeais:
seis franceses e apenas um romano . No mê s seguinte, o imperador Carlos IV chegou à cidade para discutir com o
papa, que coroou sua rainha como imperatriz. No mê s de junho seguinte (1369), o imperador bizantino Joã o V
Paleó logo visitou Roma para obter ajuda ocidental contra a ameaça turca a Constantinopla. Para obter essa ajuda, o
imperador mudou sua lealdade da Ortodoxia Oriental para o Catolicismo Latino e se submeteu ao papa nos degraus
da Bası́lica de Sã o Pedro. Nenhum bizantino esteve presente na cerimô nia e nenhuma reuniã o ocorreu. Os bispos
orientais instaram o papa a convocar um concı́lio ecumê nico, mas ele recusou. Ele preferiu organizar uma Igreja
latina dentro do impé rio grego e enviar missioná rios ao Oriente.
No inal de seu ponti icado, Urbano V considerou seriamente voltar para Avignon. Os cardeais franceses o
pressionavam constantemente para que o izesse. A situaçã o na Itá lia estava instá vel. Na primavera de 1370, os
romanos uniram forças com os rebeldes em Perugia (agora sob interdiçã o papal), e o adversá rio do papa em Milã o,
Bernabò Visconti, estava concentrando suas tropas na Toscana. O papa fugiu de Roma para a cidade murada de
Viterbo e depois Monte iascone. Enquanto isso, a Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França estourou mais
uma vez. Apesar dos apelos dos romanos e da advertê ncia da santa Brı́gida da Sué cia (d. 1373) de que morreria
prematuramente se retornasse a Avignon, Urbano V deixou Monte iascone em 26 de agosto de 1370 e zarpou de
Corneto (Tarquinia) em 5 de setembro, chegando a Marselha em 16 de setembro e depois em Avignon em 27 de
setembro. Menos de dois meses depois, adoeceu gravemente e morreu em 19 de dezembro. Foi sepultado na
catedral de Avignon (Notre-Dame-des -Doms) a princı́pio, mas seu irmã o, o cardeal Angelico, transferiu seus restos
mortais em 5 de junho de 1372, para a abadia de Saint-Victor em Marselha, onde o papa serviu como abade na
é poca de sua eleiçã o para o papado. Seu tú mulo se tornou o centro de um culto. Urbano V foi beati icado pelo Papa
Pio IX em 1870. Dia da festa: 19 de dezembro.

199 Gregório XI, francês, 1329 / 30-78, papa de 4 de janeiro de 1371 a 27 de março de 1378 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 30 de dezembro de 1370, mas ele ainda não era um bispo e não poderia
se tornar bispo de Roma até que fosse consagrado em 4 de janeiro de 1371).
O ú ltimo dos papas de Avignon e o ú ltimo papa francê s, Gregó rio XI devolveu o papado a Roma sob pressã o de Santa
Catarina de Sena (falecido em 1380).
Nascido Pierre Roger de Beaufort, ele foi nomeado para o Colé gio dos Cardeais (como cardeal-diá cono da igreja
de Santa Maria Nuova) por seu tio, o Papa Clemente VI (1342-52), aos dezoito ou dezenove anos. (Na é poca, havia
apenas dezenove cardeais ainda vivos: trê s italianos, um inglê s e o resto franceses.) Embora ele tentasse recusar
repetidamente, o cardeal Pierre Roger foi eleito por unanimidade para o papado em Avignon em 30 de dezembro de
1370, em aos quarenta e dois anos, apó s um conclave de dois dias composto por dezessete cardeais. Por ser ainda
apenas diá cono, foi ordenado sacerdote e consagrado bispo no dia 4 de janeiro pelo cardeal Guido di Bologna, bispo
do Porto. No dia seguinte, ele foi entronizado e coroado. Ao contrá rio de seu antecessor, Urbano V, que recusou a
habitual pompa e circunstâ ncia apó s sua coroaçã o, o novo papa, Gregó rio XI, acedeu à tradicional procissã o triunfal
pelas ruas de Avignon, enquanto o duque de Angiò , irmã o do rei da França, Carlos V segurou o freio do cavalo do
papa.
A agenda pontifı́cia de Gregó rio XI era bastante direta: devolver o papado a Roma (para que ele pudesse exercer
mais efetivamente autoridade sobre os Estados papais), montar outra cruzada para libertar os lugares sagrados na
Palestina do controle muçulmano, para trazer o reencontro com os Igreja Oriental, e para reabastecer o tesouro
papal esgotado. Gregó rio formou uma liga de cidades contra o nê mesis papal, os Visconti de Milã o, em 1371 e
interditou a famı́lia no inı́cio de 1373. (Um interdito é uma pena eclesiá stica que proı́be as pessoas de participar no
culto pú blico e de receber o sacramentos). Na primavera de 1375, o papa estava pronto para partir para a Itá lia para
dar o golpe inal contra os visconti, mas teve de recuar quando a aliança começou a se dissolver e o dinheiro acabou.
Entã o, os reis da Inglaterra e da França pediram ao papa que mediasse o con lito. Isso signi icava que a partida de
Gregó rio XI para a Itá lia foi adiada mais uma vez. O atraso revelou-se caro. Como Florença, normalmente uma aliada
papal, icou irritada com o envio de agentes da Santa Sé para rea irmar o poder papal na Itá lia central e sua retençã o
de suprimentos de alimentos durante uma escassez em 1374-75, ela liderou uma revolta nos Estados Papais. O papa
impô s um interdito a Florença, seus aliados e à s cidades rebeldes, o que teve um impacto negativo até mesmo em sua
vida bancá ria e comercial. Ele també m enviou um exé rcito de mercená rios sob o comando do cardeal Robert de
Genebra (mais tarde o antipapa Clemente VII), que reconquistou os Estados Papais.
Enquanto isso, Catarina de Siena passou o verã o de 1376 em Avignon e inalmente convenceu Gregó rio XI a
devolver o papado a Roma. Apesar dos apelos de seus parentes, dos cardeais franceses e da Cú ria, o papa deixou a
cidade para sempre em 13 de setembro. Ele partiu de Marselha em 2 de outubro, mas nã o chegou a Corneto (atual
Tarquinia) até 6 de dezembro porque de mares tempestuosos. Foi somente em 17 de janeiro de 1377 que Gregó rio
XI entrou em Roma e ixou residê ncia no Vaticano.
Embora estivesse preocupado com a tarefa de governar os Estados papais e com a proteçã o dos interesses
econô micos e polı́ticos do papado na Itá lia em geral, o papa també m se dedicou à reforma das ordens religiosas e foi
particularmente ativo, infelizmente, na repressã o à heresia em Provença, Alemanha, Espanha e especialmente França.
Em 22 de maio de 1377, ele dirigiu cinco bulas papais ao rei Eduardo III da Inglaterra, ao arcebispo de Canterbury,
ao bispo de Londres e à Universidade de Oxford, condenando dezenove proposiçõ es dos escritos anteriores do
teó logo e reformador de Oxford John Wycliffe (d. 1384). Wycliffe rejeitou uma sé rie de ensinamentos cató licos
tradicionais sobre a Eucaristia (transubstanciaçã o), Purgató rio e indulgê ncias. O papa falhou em seus esforços para
montar uma nova cruzada e icou politicamente constrangido quando o imperador Carlos IV fez seu ilho de quinze
anos, Venceslau, ser eleito e coroado rei dos romanos no inı́cio do verã o de 1376, sem consulta pré via com o Papa.
Apó s o retorno de Gregó rio XI a Roma, entretanto, a situaçã o na Itá lia foi de mal a pior. As negociaçõ es de paz com
Florença foram interrompidas porque as exigê ncias do papa eram muito severas (pelo que Catarina de Siena o
repreendeu fortemente), e a hostilidade em relaçã o ao papa em Roma se intensi icou por causa do ataque
particularmente brutal do cardeal Robert de Genebra a Cesena em fevereiro anterior. Gregó rio XI retirou-se para
Anagni, onde morreu em 27 de março de 1378, antes que termos de paz mais realistas com Florença pudessem ser
acertados e na vé spera do Grande Cisma Ocidental (1378-1417). Ele foi sepultado na igreja de Santa Maria Nuova,
sua antiga igreja titular como cardeal, hoje conhecida como a igreja de Santa Francesca Romana (no Fó rum
Romano).

200 Urban VI, ca. 1318–1389, papa de 8 de abril de 1378 a 15 de outubro de 1389.
Urbano VI foi um dos papas mais instá veis da histó ria e o ú ltimo nã o cardeal a ser eleito papa; sua intransigê ncia e
irracionalidade levaram os cardeais franceses a eleger um antipapa, dando inı́cio ao Cisma do Grande Oeste de 1378-
1417.
Nascido Bartolomeo Prignano, foi arcebispo de Bari quando eleito papa em 8 de abril de 1378, no primeiro
conclave papal a ser realizado em Roma desde 1303. E foi um conclave tumultuoso. O povo romano se reuniu em
frente ao Palá cio do Vaticano exigindo um papa romano, ou pelo menos italiano. A certa altura, parte da multidã o
realmente conseguiu entrar no palá cio para pressionar diretamente os cardeais eleitores. Os chefes das regiõ es da
cidade també m visitaram o palá cio para alertar os dezesseis cardeais (seis cardeais ainda estavam em Avignon)
contra ignorar a vontade do povo. Na manhã seguinte, novos distú rbios estouraram e todos, exceto um dos cardeais,
votaram no arcebispo Prignano. Antes que pudessem contatá -lo para obter seu consentimento, uma turba entrou. Os
apavorados cardeais os aplacaram, ingindo que haviam elegido um idoso cardeal romano. No dia seguinte, poré m,
doze cardeais voltaram ao palá cio e con irmaram a eleiçã o de Bartolomeo Prignano. O ú ltimo nã o cardeal eleito para
o papado, ele fora considerado um administrador zeloso e e iciente, tendo servido por vinte anos como uma igura
importante na Cú ria em Avignon e depois como regente da chancelaria papal depois que Gregó rio IX voltou a Roma.
O outro lado, mais obstinado e irascı́vel de sua personalidade, ainda nã o havia sido revelado. Ele foi entronizado
como Urbano VI no domingo de Pá scoa, 18 de abril.
Naquele verã o, o novo papa alienou os pró prios cardeais que o elegeram, fazendo comentá rios abusivos e
ameaçando nomear cardeais italianos su icientes para inclinar a balança do colé gio em favor dos italianos. Quando
ele começou a manifestar um lado mais sombrio de sua personalidade, incluindo tiradas incontrolá veis, os cardeais
franceses retiraram-se para Anagni para considerar suas opçõ es. Depois de uma tentativa fracassada de chegar a um
acordo com o novo papa (por exemplo, um sistema de coadjutores ou um conselho de regê ncia), eles publicaram em
2 de agosto uma declaraçã o de que a eleiçã o de abril era invá lida porque nã o foi conduzida livremente, mas sob a
ameaça de violê ncia da turba. Os cardeais franceses convidaram Urbano VI a abdicar. Cinco dias depois (9 de
agosto), eles enviaram um aviso ao mundo cristã o que o papa havia sido deposto como incompetente e intruso. Eles
se mudaram entã o de Anagni para Fondi, onde, sob a proteçã o do conde Onorato Caetani, elegeram o primo do rei
francê s, o cardeal Robert de Genebra, como papa em 20 de setembro. Sua coroaçã o como Clemente VII em 31 de
outubro deu inı́cio ao Grande Cisma Ocidental ( 1378-1417), que nã o seria resolvido até que outro concı́lio
ecumê nico, o Concı́lio de Constança (1414-18), dispusesse de trê s pretendentes simultâ neos ao trono papal e
elegesse Martinho V (1417-31). No entanto, o conselho nunca resolveu a contrové rsia sobre as reivindicaçõ es de
Urbano e Clemente ao papado.
A lealdade da Europa foi dividida entre os dois requerentes concorrentes. França, Borgonha, Sabó ia, Ná poles e
Escó cia aceitaram Clemente VII, enquanto a Inglaterra, Alemanha, a maior parte da Itá lia, Escandiná via, Portugal e os
paı́ses da Europa central (Hungria, Polô nia) declararam Urbano VI. A Espanha permaneceu temporariamente neutra.
Catarina de Siena (d. 1380) apoiou fortemente Urbano. Quando a Cú ria original de Urbano desertou para Clemente,
ele organizou uma nova, nomeando vinte e nove novos cardeais de vá rias nacionalidades em 17 de setembro de
1378. Os dois rivais lutaram entre si em duas frentes: a espiritual e a temporal. Primeiro, eles se excomungaram e
depois enviaram forças mercená rias armadas uns contra os outros. As forças de Urbano venceram a batalha decisiva
perto de Marino em abril de 1379, capturaram o Castel Sant'Angelo e garantiram o controle da cidade de Roma.
Clemente retirou-se para o sul, para Ná poles e depois para Avignon em junho, onde estabeleceu uma corte papal
cheia de pompa e luxo. Os dois homens nã o tiveram contato direto depois disso. Clemente morreu de apoplexia em
16 de setembro de 1394.
Como Urbano VI nunca teve dú vidas sobre a legitimidade de sua reivindicaçã o ao papado, ele respondeu com
indiferença aos apelos de vá rias fontes acadê micas e polı́ticas para encontrar uma soluçã o para a crise. Ele estava
principalmente preocupado em garantir o reino de Ná poles para um de seus sobrinhos. Ele excomungou e depô s a
Rainha Joanna em 1380 por ter reconhecido e apoiado o antipapa Clemente e a substituiu por seu primo, Carlos de
Durazzo, a quem coroou em Roma em 1381, mas com quem brigou mais tarde. Charles conspirou com certos
cardeais para substituir Urbano por causa de sua aparente instabilidade mental. Quando soube da conspiraçã o, o
papa pregou uma cruzada contra Carlos, revogou seu tı́tulo real e colocou Ná poles sob interdiçã o (uma pena
eclesiá stica que privava o reino de benefı́cios espirituais e sacramentais). Ele també m liderou pessoalmente uma
força contra Carlos, mas foi sitiado em Nocera. Ele escapou e fugiu para Gê nova com os seis cardeais que
conspiraram contra ele. Uma vez lá , ele os jogou na prisã o e os torturou brutalmente. Cinco dos cardeais foram
executados. Depois que Carlos morreu na Hungria em fevereiro de 1386, Urbano VI mudou-se para Lucca em
dezembro de 1386 e depois para Pisa em outubro de 1387, onde recrutou mercená rios para uma campanha contra
Ná poles, agora nas mã os de partidá rios do antipapa Clemente VII. Mas Urbano nã o tinha os fundos necessá rios (o
tesouro papal estava vazio) e a campanha nunca começou. Em outubro de 1388, ele retornou a Roma, onde
rapidamente alienou o povo.
Com os Estados Papais em estado de anarquia, Urbano VI morreu no ano seguinte, em 15 de outubro de 1389,
provavelmente de envenenamento. Ele foi enterrado em Sã o Pedro. (O antipapa Clemente VII ainda estava vivo em
Avignon, mas nã o havia interesse em reconhecê -lo a im de encerrar o cisma.) Dado o cará ter errá tico e até brutal de
seu ponti icado, é pelo menos ligeiramente divertido que biogra ias convencionais se preocupem em apontar
destacou que foi Urbano VI quem decretou que se celebrasse um Ano Santo a cada trinta e trê s anos (em
homenagem à longevidade de Jesus) e que colocou a festa da Visitaçã o da Bem-Aventurada Virgem Maria no
calendá rio litú rgico do universal Igreja.

201 Boniface IX, ca. 1350-1404, papa de 9 de novembro de 1389 a 1 de outubro de 1404 (a lista o icial do Vaticano
marca o início de seu ponti icado no dia de sua eleição, 2 de novembro, mas como ainda não era bispo, não poderia se
tornar Bispo de Roma até a consagração em 9 de novembro).
O segundo dos papas na linha romana durante o Grande Cisma Ocidental (1378-1417), Bonifá cio IX governou como
um dé spota benevolente em um ponti icado marcado pelo nepotismo e simonia (a compra e venda de ofı́cios
eclesiá sticos e benefı́cios espirituais, como indulgê ncias ) Nascido Pietro Tomacelli, ele era cardeal-sacerdote da
igreja de Santa Anastasia quando foi eleito papa por quatorze cardeais romanos em 2 de novembro de 1389. Ele foi
consagrado bispo de Roma e coroado em 9 de novembro.
Como em muitos outros casos, Bonifá cio IX era completamente diferente de seu antecessor, Urbano VI, em estilo e
temperamento. Ele tinha uma personalidade agradá vel e era um lı́der habilidoso e prá tico. O novo papa foi
imediatamente excomungado pelo papa de Avignon (o antipapa Clemente VII) e ele, por sua vez, excomungou seu
rival na França. Bonifá cio IX també m rejeitou como pecaminoso o pedido de Clemente de um conselho geral para
resolver o cisma, bem como as exigê ncias dos franceses e alemã es de que ele abdicasse. Logo apó s sua eleiçã o, ele
recebeu de volta em comunhã o com Roma vá rios cardeais que haviam passado para Clemente principalmente por
causa de sua desilusã o com o instá vel Urbano VI.
Bonifá cio IX venceu sua primeira grande luta com Clemente VII no campo de batalha, reconquistando a aliança
com o reino de Ná poles. O papa també m recuperou o controle sobre os territó rios do norte da Itá lia perdidos
durante o ponti icado anterior. No inı́cio, as relaçõ es do papa com os romanos eram muito amigá veis, tã o aliviados
icaram por terem sido libertados do regime errá tico e dispé ptico de Urbano VI. Mas a atmosfera logo mudou e
Bonifá cio IX teve que se mudar para Perugia e depois para Assis. Mas quando os romanos começaram a temer que o
papa pudesse mais uma vez remover a sede do papado de Roma, eles cederam e o receberam de volta à cidade. No
verã o de 1398, poré m, ele descobriu uma conspiraçã o contra si mesmo e usou isso como desculpa para abolir o
governo republicano de Roma e se estabelecer como seu governante absoluto, com alguns senadores como seus
administradores designados. Ele reconstruiu as ruı́nas do Castel Sant'Angelo e reforti icou o Capitó lio.
Bonifá cio IX nada fez, por outro lado, para lidar com o cisma na Igreja. Ele cultivou seus laços com a Alemanha e a
Inglaterra, enquanto ignorava todos os apelos para uma resoluçã o da divisã o. Mas ele se ofereceu para tornar o
antipapa Clemente VII um legado para a França e a Espanha e permitir que ele e seus cardeais mantivessem seu
posto cardinalı́cio - em troca da abdicaçã o de Clemente. Clemente VII morreu em 1394 sem concordar com os
termos de Bonifá cio. O rei da França, Carlos VI, exortou os vinte e um cardeais de Avignon a nã o elegerem um
sucessor de Clemente VII, mas eles foram em frente e elegeram o cardeal Pedro de Luna antes de abrir a carta do
rei. O novo papa de Avignon, Bento XIII, profundamente convencido da legitimidade de sua pró pria reivindicaçã o ao
papado, ainda assim tentou abrir os canais de comunicaçã o com Roma, mas Bonifá cio recusou novamente. E por
boas razõ es polı́ticas: até o pró prio rei francê s retirou o reconhecimento do pretendente de Avignon ao papado de
1398 a 1403 porque Bento XVI se recusou a honrar o juramento que todos os cardeais de Avignon haviam feito no
conclave de abdicar se e quando a maioria julgasse apropriado para fazer isso.
Embora um administrador capaz, até mesmo notá vel, Bonifá cio IX era famoso por seu nepotismo lagrante e
trapaça inanceira. Por causa da necessidade desesperada de dinheiro do papado, ele vendeu abertamente os
escritó rios da igreja aos que ofereceram mais. Ele també m aumentou os impostos da igreja de forma exorbitante,
vendeu indulgê ncias (meios espirituais de recorrer e aplicar os mé ritos de Cristo e dos santos para compensar o
peso do pecado) durante os anos santos de 1390 e 1400 e autorizou Jubileus geradores de renda em cidades muito
alé m a cidade de Roma (por um preço, é claro).
Em 22 de setembro de 1404, recebeu um representante do antipapa Bento XIII em busca de uma reuniã o para
discutir a soluçã o do cisma, com a possibilidade de abdicaçã o mú tua na ordem do dia. Bonifá cio, no entanto, já
estava doente demais para tal encontro, mas nã o teria concordado de qualquer maneira. Uma segunda reuniã o em
29 de setembro foi marcada por violentas trocas. Bonifá cio IX morreu dois dias depois, em 1º de outubro, e foi
sepultado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Os romanos consideraram os representantes do antipapa responsá veis
pela sú bita deterioraçã o da saú de do papa e os jogaram na prisã o. Eles foram libertados somente depois que um
resgate substancial de 5.000 lorins de ouro (mais de $ 200.000) foi pago.

202 Inocêncio VII, ca. 1336-1406, papa de 17 de outubro de 1404 a 6 de novembro de 1406.
O terceiro papa na linha romana durante o Grande Cisma Ocidental (1378-1417), Inocê ncio VII rejeitou todos os
esforços para resolver a crise. Nascido Cosimo (ou Cosma) Gentile de 'Migliorati, ele foi por dez anos o cobrador de
impostos papal na Inglaterra, entã o cardeal-sacerdote de Santa Croce in Gerusalemme e arcebispo de Bolonha
quando eleito papa por oito cardeais em Roma em 17 de outubro de 1404, apesar dos apelos do papa de Avignon,
Bento XIII, que estava em Roma na é poca, para adiar a eleiçã o e també m apesar da oposiçã o de muitos romanos à
sua eleiçã o. Ele foi coroado em 11 de novembro.
Embora o novo papa e os outros cardeais tivessem feito um juramento no conclave de fazer tudo em seu poder, se
eleitos, para encerrar o cisma, Inocê ncio VII recusou o pedido de Bento XVI de um encontro cara a cara. No inal do
ano, entretanto, Inocê ncio cedeu à pressã o de Rupert, o recé m-eleito rei da Alemanha, para convocar um conselho
para se reunir em novembro seguinte. Por causa da agitaçã o civil em Roma, o conselho foi adiado duas vezes e, em
seguida, totalmente cancelado. Inocê ncio VII apelou a Ladislau, rei de Ná poles, para sufocar uma revolta, mas o papa
teve que jurar que nã o faria nenhum acordo com o papa de Avignon que nã o reconhecesse o tı́tulo de Ladislau para
Ná poles. Vá rios meses depois, os romanos se revoltaram novamente. Desta vez, o sobrinho corrupto do papa teve
onze cidadã os importantes assassinados, provocando uma multidã o para invadir o Vaticano. Inocê ncio VII e seus
cardeais tiveram a sorte de escapar ilesos para Viterbo. Mas depois de vá rios meses do governo de Ladislau em
Roma, o povo estava pronto para receber Inocê ncio de volta no inı́cio de março de 1406. O papa teve de impor a
pena de excomunhã o a Ladislau para fazê -lo desocupar Castel Sant'Angelo, mas depois de Ladislau e suas tropas à
esquerda, o papa o nomeou defensor e porta-estandarte da Igreja! Inocê ncio VII morreu dois meses depois e foi
sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

203 Gregório XII, ca. 1325–1417, papa de 19 de dezembro de 1406 a 4 de julho de 1415 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 30 de novembro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar
bispo de Roma até ser consagrado em 19 de dezembro).
O quarto e ú ltimo dos papas da linha romana durante o Cisma do Grande Oeste (1378-1417), Gregó rio XII
exacerbou a crise ao quebrar uma promessa pré -eleitoral de nã o nomear novos cardeais, provocando assim a
eleiçã o no concı́lio de Pisa (1409) de um terceiro pretendente ao trono papal. Gregó rio XII foi o ú ltimo papa a
renunciar ao papado.
Nascido Angelo Correr, foi cardeal-sacerdote de San Marco e secretá rio papal quando eleito papa, aos 81 anos,
por quatorze cardeais em 30 de novembro de 1406. Ele foi coroado em 19 de dezembro. Junto com os outros
cardeais, o novo papa havia jurado durante o conclave que, se eleito, (1) abdicaria - com a condiçã o de que o papa
de Avignon, Bento XIII, també m abdicasse; que (2) ele, em qualquer caso, nã o criaria quaisquer novos cardeais,
exceto para manter a paridade numé rica com os cardeais de Avignon; e que (3) dentro de trê s meses ele entraria em
negociaçõ es com seu rival de Avignon sobre o agendamento de uma reuniã o entre os dois.
A princı́pio parecia que o papa octogená rio, Gregó rio XII, cumpriria suas promessas. Foi marcado um encontro
com Bento XIII na cidade de Savona, a realizar-se o mais tardar no dia 1 de novembro seguinte. Mas entã o a pressã o
começou a ser aplicada ao papa idoso pelos reis de Ná poles, Hungria e Boê mia, bem como por seus sobrinhos, que
desfrutaram dos benefı́cios do parentesco com um papa reinante. As negociaçõ es se arrastaram por meses, e
tornou-se cada vez mais evidente para Gregó rio XII que Bento XIII nã o tinha intençã o de abdicar do trono de
Avignon. Mas quando os cardeais que apoiaram Gregó rio XII icaram impacientes, ele suspeitou de sua lealdade e
quebrou sua promessa pré -eleitoral de nã o nomear nenhum novo cardeal. Em 4 de maio de 1408, ele criou quatro,
dois dos quais eram seus sobrinhos. Todos os seus cardeais, exceto trê s, o abandonaram e fugiram para Pisa. Eles
izeram uma aliança com quatro dos cardeais de Bento XVI em Livorno e juntos, no inı́cio de julho, despacharam
uma convocaçã o para um conselho geral a ser realizado em Pisa em março de 1409. Ambos os pretendentes ao
papado foram convidados a participar do conselho, mas ambos recusaram, cada convocaçã o de conselhos pró prios.
O Conselho de Pisa se reuniu no Duomo (ou catedral) em 25 de março de 1409, e acusaçõ es de má -fé e até mesmo
de conluio foram imediatamente feitas contra os dois reclamantes. Em 5 de junho, na dé cima quinta sessã o, tanto
Gregó rio XII quanto Bento XIII foram formalmente depostos como cismá ticos, hereges intratá veis e perjuros. A Santa
Sé foi declarada vaga e, em 26 de junho, os cardeais reunidos em Pisa elegeram um novo papa, Alexandre V.
Enquanto isso, Gregó rio XII abriu seu pró prio conselho em Cividale, perto de Aquileia, em 6 de junho de 1409.
Muito poucos compareceram, mas antes de encerrá -lo em 6 de setembro, Gregó rio excomungou Bento XIII e
Alexandre V. Porque o arcebispo de Aquileia era hostil a ele, Gregó rio fugiu disfarçado para Gaeta com a proteçã o do
rei Ladislau de Ná poles (Gregó rio també m manteve o apoio dos governantes da Hungria, Baviera e Alemanha).
Quando Alexandre V morreu repentinamente em 3 de maio de 1410, o Conselho de Pisa elegeu o cardeal Baldassare
Cossa para sucedê -lo. Ele tomou o agora famoso nome de Joã o XXIII e inalmente negociou um tratado cı́nico com
Ladislau de Ná poles, que baniu Gregó rio XII de Ná poles em 31 de outubro de 1411. Gregó rio refugiou-se com Carlo
Malatesta, senhor de Rimini.
Depois que o Concı́lio de Constança (1414-18) depô s Joã o XXIII em 29 de maio de 1415, ele procurou abrir
negociaçõ es com Gregó rio XII com vistas a sua abdicaçã o. Ele concordou em considerá -lo com a condiçã o de ter
permissã o para convocar formalmente o conselho, uma vez que ele nã o reconheceu a autoridade de Joã o XXIII para
fazê -lo originalmente. O pedido foi aceito e, em 4 de julho de 1415, o cardeal de Gregó rio, John Dominici, leu em voz
alta a bula de Gregó rio convocando o concı́lio e renunciando ao cargo papal. Os dois colé gios de cardeais (Roma e
Avignon) foram unidos, os atos papais de Gregó rio foram rati icados e ele foi nomeado cardeal-bispo do Porto e
legado vitalı́cio da Marcha de Ancona. Ele també m foi declarado inelegı́vel para a eleiçã o como papa, mas seria o
pró ximo em precedê ncia ao novo papa. (O papa de Avignon, Bento XIII, ainda se recusou a abdicar, mas o conselho o
declarou herege e o privou de todos os direitos ao papado.) Trê s semanas antes da eleiçã o de Martinho V, que
encerrou o Cisma do Grande Oeste, Gregó rio XII, já com mais de noventa anos, morreu em Recanati, nã o muito longe
de Ancona, em 18 de outubro de 1417. Ele foi sepultado na catedral de Recanati. Em 1623, durante uma reforma da
catedral, o tú mulo de Gregó rio XII foi aberto. Seu corpo perfeitamente preservado foi vestido com vestes pontifı́cias.

204 Martinho V, 1368-1431, papa de 21 de novembro de 1417 a 20 de fevereiro de 1431 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado em 11 de novembro, o dia de sua eleição, mas ele não foi consagrado Bispo de Roma até 21
de novembro )
Com a eleiçã o de Martinho V para o papado, o Cisma do Grande Oeste (1378-1417) inalmente chegou ao im.
Nascido Oddo Colonna, ele foi cardeal-diá cono de San Giorgio in Velabro quando eleito papa por unanimidade em
11 de novembro de 1417 (festa de Sã o Martinho), apó s um conclave incomum de trê s dias no qual vinte e dois
cardeais e trinta representantes do cinco naçõ es presentes no conselho participaram e votaram (o primeiro - e
ú ltimo - conclave papal desde 1058 a incluir eleitores leigos). Ele foi imediatamente ordenado sacerdote, consagrado
Bispo de Roma e coroado em 21 de novembro na igreja catedral de Constança. Uma procissã o triunfal pelas ruas da
cidade seguiu a coroaçã o. Como um sinal de sua submissã o ao novo papa, o rei alemã o Sigismundo e Frederico de
Brandemburgo seguraram o freio do cavalo do papa.
O novo papa havia sido leal a Gregó rio XII, mas rompeu com ele no verã o de 1408 e foi ativo nos preparativos
para o Concı́lio de Pisa (1409), que elegeu o antipapa Joã o XXIII. Martinho V (entã o Cardeal Colonna) permaneceu
leal a Joã o XXIII sobre Gregó rio XII até que Joã o repentinamente fugiu de Pisa disfarçado quando o Concı́lio de
Constança (1414-18) pediu sua renú ncia, bem como a dos outros dois pretendentes ao trono papal.
A eleiçã o de Martinho V efetivamente encerrou o cisma, embora primeiro Bento XIII (o antipapa de Avignon) e
depois seu sucessor, Clemente VIII, resistiram até que seus seguidores diminuı́ssem até a insigni icâ ncia. Mas a
abdicaçã o de Gregó rio XII e a aceitaçã o, sob coaçã o, de Joã o XXIII de sua pró pria deposiçã o pelo concı́lio foram os
eventos decisivos que abriram caminho para o reconhecimento quase universal de Martinho V como o ú nico papa
legı́timo. (Clemente VIII renunciou ao papado e, junto com os poucos cardeais que ainda o apoiavam, submeteu-se a
Martinho V em 1429.)
Embora Martinho V estivesse publicamente comprometido com a realizaçã o das reformas do Concı́lio de
Constança, ele també m estava interessado em fortalecer a situaçã o canô nica e inanceira do papado. Ele trouxe
legalistas de Roma e Avignon para a Cú ria, mas nã o conseguiu remover os abusos e manteve os direitos papais sobre
os benefı́cios. Em 20 de março de 1418, ele promulgou sete reformas, entre as quais a renú ncia aos direitos papais
sobre as receitas das sedes vagas. Ele suspendeu formalmente o Concı́lio de Constança em 22 de abril de 1418 e, em
10 de maio, em uma constituiçã o nã o publicada, proibiu a apelaçã o de atos de um papa a um conselho geral.
Preocupado com o caos que se desenvolveu nos Estados Papais durante o curso do cisma (1378-1417), Martinho
V resistiu à s pressõ es para fazer sua residê ncia papal na Alemanha ou em Avignon e em 16 de maio de 1418, deixou
Constança para Roma (com paradas intermediá rias em Mâ ntua e Florença, esta ú ltima por mais de um ano). Ele
chegou a Roma em 28 de setembro de 1420. Ele rapidamente negociou um acordo com a rainha Joanna II de
Ná poles, e suas tropas foram retiradas da cidade. Em 1424, as tropas papais (um conceito teoló gica e pastoralmente
dissonante, com certeza) derrotaram Braccione di Montone, o governante dominante da Itá lia central, na batalha de
L'Aquila, e em 1429 eles esmagaram pela força das armas uma revolta de Bolonha. Agora livre para reorganizar os
Estados Papais com o apoio de suas tropas, Martinho V recuperou o tesouro papal perdido, enriquecendo nã o
apenas a Santa Sé , mas també m seus parentes Colonna.
Suas iniciativas diplomá ticas na Europa restauraram parte do prestı́gio do papado, mas ele falhou em suas
tentativas de fazer progressos rumo à reuniã o com a Igreja Grega e o imperador bizantino em Constantinopla ou de
montar uma cruzada contra os seguidores do reformador Joã o Hus (falecido em 1415 ) na Boê mia. Por outro lado,
ele demonstrou uma sensibilidade incomum para com os judeus. Ele denunciou a pregaçã o antijudaica e proibiu o
batismo obrigató rio de crianças judias com menos de 12 anos.
Em Roma, ele organizou um vasto programa de reconstruçã o de igrejas e edifı́cios pú blicos em ruı́nas. Suas
nomeaçõ es para o Colé gio Cardinalı́cio foram de alta qualidade, mas ele manteve todos os seus membros em seus
lugares. Embora nã o simpatizasse com o decreto do Concı́lio de Constança ( Frequens , 1417) de que os concı́lios
fossem realizados em intervalos regulares, ele convocou um para se reunir em Pavia em 1423. Por causa de um
surto de peste, seus legados transferiram o conselho para Siena ( o pró prio papa nã o compareceu). Mas quando
sentimentos antipapais foram expressos lá , como haviam sido anteriormente em Constança, Martin V usou a fraca
presença como uma desculpa para dissolver o conselho em março de 1424. Ao mesmo tempo, ele anunciou que o
pró ximo conselho seria realizado em Basel, em 1431. Martin V morreu de apoplexia em 20 de fevereiro de 1431,
antes do inı́cio do concı́lio. Ele foi sepultado na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.

205 Eugenius [Eugene] IV, ca. 1383-1447, papa de 11 de março de 1431 a 23 de fevereiro de 1447 (a lista o icial do
Vaticano começa seu ponti icado em 3 de março, mas como ele ainda não era bispo, não poderia se tornar bispo de
Roma até que fosse consagrado em 11 de março) .
Tendo falhado em dissolver o Concı́lio de Basileia em 1431, Eugê nio IV convocou o Concı́lio de Florença em 1439 em
uma tentativa louvá vel, mas vã , de restabelecer a comunhã o entre as Igrejas latina e grega.
Nascido Gabriele Condulmaro (també m Condulmer), ele era sobrinho do papa Gregó rio XII (1406-15), que o
nomeou cardeal-sacerdote de San Clemente em 1408. Na é poca de sua eleiçã o unâ nime para o papado em 3 de
março de 1431 , na bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, o Cardeal Condulmaro foi governador (por nomeaçã o do
Papa Martinho V) da Marcha de Ancona e de Bolonha. Como em tantos outros conclaves papais, os outros treze
cardeais eleitores (de um total de vinte e dois no pró prio colé gio) procuravam uma mudança, nã o uma continuaçã o,
das polı́ticas e do estilo do papa falecido, a quem consideravam como muito autoritá rio. Eles queriam um papa que
estivesse comprometido com a agenda de reforma do iminente Concı́lio de Basileia e que trabalhasse em
colaboraçã o com o Colé gio dos Cardeais na reforma da Igreja e na administraçã o dos Estados Papais. Apó s sua
eleiçã o como Eugê nio IV, ele publicou uma bula con irmando o pacto eleitoral, mas iria ignorá -la completamente
durante seu ponti icado de dezesseis anos. Ele foi consagrado como bispo de Roma e coroado na Bası́lica de Sã o
Pedro no domingo seguinte, 11 de março, e entã o conduzido em uma procissã o solene até a catedral do papa, a
Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.
O novo papa primeiro agiu contra a famı́lia de seu predecessor (os Colonnas), forçando-os a devolver os vastos
territó rios que Martin V havia dado a seus sobrinhos, mas sua principal preocupaçã o no inı́cio de seu ponti icado
era o conselho de reforma de Basel, que Martin havia chamado . O conselho foi inaugurado em 23 de julho de 1431,
e Eugenius IV o dissolveu em 18 de dezembro, usando a escassa presença como desculpa. Ele garantiu aos
delegados que convocaria um novo conselho dentro de dezoito meses e que ele pró prio o presidiria. Mas a açã o do
papa foi considerada precipitada e foi amplamente criticada. O conselho se recusou a se dispersar. Em 15 de
fevereiro de 1432, o Concı́lio de Basileia apelou ao ensinamento do Concı́lio de Constança (1414-18) de que um
concı́lio geral ou ecumê nico é superior em autoridade ao papa e em 18 de dezembro emitiu um ultimato a Eugê nio
IV. Apenas seis dos vinte e um cardeais icaram do lado do papa. Exigiu os esforços do rei alemã o Sigismundo para
evitar um cisma. No ano seguinte (15 de dezembro de 1433), o papa teve que retirar sua bula dissolvendo o concı́lio
e reconhecer sua legitimidade.
Enquanto isso, o papa enfrentava problemas terrı́veis em casa. Os Estados Papais foram ocupados por poderes
leigos hostis e uma revolta, instigada pela famı́lia Colonna, irrompeu em Roma em maio de 1434. Como outros papas
antes dele, Eugê nio IV teve que fugir da cidade disfarçado. Ele foi para Florença, onde residiria até 1443 (e onde
icaria sob a in luê ncia de sua extraordiná ria cultura artı́stica). Em 9 de junho de 1435, o Concı́lio de Basilé ia
decretou o im dos impostos papais anuais (conhecidos como anates) e exigiu uma limitaçã o dos poderes do papado
e da Cú ria. No mê s de junho seguinte (observe-se quanto tempo demorou para reagir aos acontecimentos daqueles
dias), o papa denunciou as açõ es do concı́lio em uma carta distribuı́da a vá rios governantes cristã os. Mas a ruptura
inal entre Eugê nio IV e o Concı́lio de Basilé ia veio em um assunto com o qual ambos estavam comprometidos, a
saber, a reuniã o das Igrejas latina e grega. A grande maioria dos delegados do conselho favoreceu a pró pria Basileia,
ou Avinhã o, ou Sabó ia para as negociaçõ es, enquanto os gregos favoreceram Constantinopla. O papa preferia uma
cidade italiana. Ele conquistou os gregos em seu ponto de vista e o conselho foi transferido para Ferrara em 18 de
setembro de 1437, inaugurando em 8 de janeiro de 1438.
O papa enviou uma frota para transportar o imperador, o patriarca e um sé quito de setecentos. Visto que nã o
chegaram até o inı́cio de março, o conselho foi solenemente inaugurado em 9 de abril. No entanto, em janeiro
seguinte, o conselho teve que se mudar mais uma vez, desta vez para Florença. (Vá rios delegados conciliares
permaneceram desa iadoramente na Basilé ia, no entanto.) O motivo dado para a mudança foi o surto de peste, mas o
motivo mais plausı́vel era inanceiro. O papa havia assumido total responsabilidade por toda a delegaçã o bizantina e
agora estava atrasado em seus pagamentos. Um ato de uniã o entre as igrejas latina e grega (intitulado Laetentur coeli
, 6 de julho de 1439) foi imposto ao imperador bizantino Joã o VIII Paleó logo por causa da iminê ncia de uma invasã o
turca. Os termos da uniã o incluı́am o reconhecimento do primado papal, a existê ncia do Purgató rio (um estado pó s-
morte de puri icaçã o dos efeitos dos pecados já perdoados), a legitimidade do uso de pã es á zimos na Eucaristia e a
legitimidade do uso do Filioque (Lat., "e do Filho") no credo. O Filioque foi acrescentado ao credo pelo Papa Bento
VIII em 1024 a pedido do imperador alemã o Henrique II e foi veementemente contestado pelo Oriente porque
minou o status ú nico de Deus Pai.
Posteriormente, o papa assinou acordos com os armê nios (1429), os coptas no Egito (1443), certos grupos
dissidentes nestorianos na Mesopotâ mia (1444) e os caldeus e maronitas de Chipre (1445). (Nestorians sustentou
que em Jesus Christ há duas pessoas, uma divina e outra humana, ao invé s de apenas uma pessoa divina, como
ensinado pelo Concı́lio de Efeso em 431.)
Os delegados conciliares que permaneceram em Basel apó s a transferê ncia do conselho para Ferrara e depois
para Florença primeiro suspenderam e depois depuseram Eugenius IV em 24 de janeiro de 1438 e 25 de junho de
1439, respectivamente. O papa respondeu em 4 de setembro de 1439, desa iando a ecumenicidade das fases
anteriores do Concı́lio de Constança e condenando o Concı́lio de Basilé ia. Em 5 de novembro de 1439, os que
permaneceram na Basilé ia elegeram um leigo, Amadeus VIII, o duque de Sabó ia, como antipapa (Fé lix V). A eleiçã o
foi conduzida por apenas um cardeal e trinta e dois outros eleitores nomeados por uma comissã o e nã o foi
geralmente reconhecida, exceto nos territó rios que o duque governou e em alguns estados menores. Por um tempo,
Fé lix V empregou um futuro papa como seu secretá rio e conselheiro mais há bil, Ené ia (també m Ené ias) Silvio
Piccolomini (mais tarde Pio II, 1458-64), que posteriormente fez as pazes com Eugê nio IV (1442). Piccolomini até
ajudou a organizar uma concordata entre o papa e o novo rei alemã o, Frederico III, e ganhou o apoio dos eleitores
alemã es e, por im, de toda a Alemanha para a autoridade de Eugê nio como papa. Dadas as pró prias relaçõ es difı́ceis
do antipapa com o conselho traseiro de Basel, seus escrú pulos pessoais e ameaças à famı́lia, Fé lix V abdicou em 7 de
abril de 1449 e foi nomeado pelo sucessor de Eugê nio IV, Nicolau V, como cardeal-bispo de Santa Sabina e como
vigá rio papal e legado em Sabó ia e dioceses adjacentes. Felix V foi o ú ltimo dos antipapas.
Na primavera de 1443, quando Eugê nio IV reconheceu as reivindicaçõ es de Afonso V de Aragã o ao trono do reino
de Ná poles, Alfonso ordenou que seus bispos retirassem seu apoio ao antipapa Fé lix V e tornou possı́vel o retorno
do papa de Florença a Roma em Setembro, apó s uma ausê ncia de cerca de nove anos. No ano seguinte, uma cruzada
que ele havia inanciado contra os turcos terminou em derrota em Varna, na Bulgá ria. E, embora as concessõ es
tenham sido feitas de ambos os lados nos acordos entre Eugê nio IV e a Alemanha sobre questõ es relativas à
administraçã o de propriedade temporal e nomeaçõ es para benefı́cios vagos, Eugê nio emitiu uma bula no leito de
morte na qual declarou que nã o pretendia com esses acordos para diminuir a autoridade ou privilé gios da Santa Sé .
Diz-se que, enquanto estava morrendo, ele lamentou ter deixado o mosteiro em que viveu durante sua juventude. Ele
foi inicialmente enterrado na cripta de Sã o Pedro ao lado do tú mulo de Eugenius III, mas seu corpo foi inalmente
transferido para a igreja de San Salvatore em Lauro, em Roma.

206 Nicholas V, 1397-1455, papa de 6 de março de 1447 a 24 de março de 1455.


Nicolau V foi o primeiro dos papas da Renascença, patrono da literatura, das artes e da arquitetura. Nascido
Tommaso Parentucelli, foi arcebispo de Bolonha (embora a cidade tenha recusado sua entrada), cardeal-sacerdote
de Santa Susanna e legado papal na Alemanha quando foi eleito papa em 6 de março de 1447, no convento
dominicano da bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, como opçã o de compromisso. Dezoito cardeais estiveram
presentes. Na primeira votaçã o, houve oito votos para o cardeal Domenico Pantagale (conhecido como “Capranica”)
e dez para o cardeal Prospero Colonna. Mas inalmente a votaçã o foi para o cardeal Parentucelli, cuja eleiçã o foi
anunciada por ningué m menos que o cardeal Colonna. Isso levou outro cardeal, Antonio Martino di Chaves, de
Portugal, a exclamar: “Deus elegeu o papa, nã o os cardeais”. O novo papa adotou o nome de Nicolau V como um sinal
de respeito e afeto por seu antigo santo patrono, o bispo (mais tarde cardeal) Niccolò Albergati de Bolonha, a quem
serviu por vinte anos. Foi coroado em 19 de março, també m pelo cardeal Colonna, com a tiara de Sã o Silvestre.
Nicolau V teve sucesso quase imediato em á reas onde seu predecessor, menos paciente e politicamente menos
há bil, Eugenius IV, falhou. Ele restaurou a ordem na cidade de Roma, livrou os Estados papais das tropas
mercená rias e ganhou (ou comprou) de volta a aliança de vá rias cidades. Ele rati icou o acordo que Eugenius havia
alcançado com a Igreja e a corte alemã s e, na Concordata de Viena (1448), o rei Frederico III reconheceu os direitos
papais aos impostos anuais (anates) e à s nomeaçõ es da Igreja na Alemanha. Nicolau V persuadiu o antipapa Fé lix V a
abdicar (7 de abril de 1449), em troca do que nomeou Fé lix cardeal-bispo e vigá rio e legado papal, com uma renda
substancial. Ele també m persuadiu o conselho traseiro de Basel (agora transferido para Lausanne) a se dissolver (24
de abril de 1449) depois de aceitar a abdicaçã o de Fé lix e, em seguida, "elegê -lo" como papa e admitiu vá rios
cardinalı́cios do antipapa nomeados no Colé gio de Cardeais. Em açã o de graças por essas conquistas em nome da
unidade da igreja, Nicolau V proclamou 1450 como o Ano do Jubileu e milhares de peregrinos acorreram a Roma,
aumentando seu prestı́gio como centro da cristandade e també m aumentando os cofres inanceiros da cidade e do
papado. O ano do Jubileu, poré m, foi marcado pela eclosã o da peste (durante a qual o papa deixou a cidade) e por
um desastre de trâ nsito na Ponte Sant'Angelo, no qual pelo menos 172 pessoas morreram pisoteadas. No mesmo
ano, ele ressaltou seu compromisso com a reforma canonizando o reformador franciscano Bernardino de Siena
(falecido em 1444) e enviando os cardeais Nicolau de Cusa e Capistrano ao norte e sul da Alemanha,
respectivamente, e o cardeal d'Estouteville à França para promover reforma nesses paı́ses.
Tendo servido como tutor em sua juventude para ricas famı́lias lorentinas enquanto estudante na Universidade de
Bolonha, ele se sentia em casa com estudiosos e artistas. Ele acumulou uma grande biblioteca pessoal de livros e
manuscritos (807 em latim e 353 em grego), que, apó s sua morte, se tornou a base da Biblioteca do Vaticano. Ele
providenciou a traduçã o para o latim de vá rios autores gregos, clá ssicos e patrı́sticos, e patrocinou a reconstruçã o
de vá rias igrejas, palá cios, pontes e estradas em Roma, bem como a renovaçã o da Cidade Leonina (uma seçã o
murada de Roma, incluindo Sã o Pedro e grande parte do Monte do Vaticano, criado por Leã o IV apó s os ataques
muçulmanos de 846). Para a decoraçã o desses edifı́cios, ele empregou vá rios artistas notá veis de muitas naçõ es,
incluindo o cé lebre Fra Angelico. Ele buscou em todos esses empreendimentos estabelecer a Igreja como um lı́der
cultural.
Em 19 de março de 1452, Nicolau V coroou o rei alemã o Frederico III como imperador na Bası́lica de Sã o Pedro, a
ú ltima coroaçã o imperial realizada em Roma. No inı́cio de janeiro de 1453, um complô republicano sobre a vida do
papa foi descoberto. Seu lı́der, Stefano Porcaro, foi executado junto com seus co-conspiradores. Em junho do mesmo
ano, a notı́cia do saque de Constantinopla pelos turcos (em 29 de maio) espalhou ondas de choque por toda a
Europa. Nicolau tentou montar uma cruzada em setembro, mas sem sucesso. Em 9 de abril de 1454, depois que o
pró prio papa fracassou em seus esforços para convocar uma conferê ncia de paz dos estados italianos em Roma,
Veneza e Milã o concordaram com a Paz de Lodi, e depois com Florença. Nicolau V e o rei de Ná poles e da Sicı́lia
també m concordaram posteriormente, formando assim a Liga Italiana.
Enfraquecido pela gota, Nicolau V morreu em 24 de março de 1455. Na Igreja primitiva, ele provavelmente teria
sido proclamado santo, dada sua vida moralmente correta em meio a muita corrupçã o e brutalidade
contemporâ neas. Ele foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, perto do tú mulo de seu antecessor, Eugê nio IV.

207 Callistus [Calixtus] III, espanhol, 1378-1458, papa de 8 de abril de 1455 a 6 de agosto de 1458.
O primeiro papa espanhol, Callistus III criou dois de seus sobrinhos cardeais, um dos quais se tornaria o segundo - e
ú ltimo - papa espanhol, o infame Alexandre VI (1492-1503). Ele també m foi um ex-apoiador de um antipapa, Bento
XIII (1394-1417), durante o Grande Cisma Ocidental (1378-1417), mas acabou persuadindo o sucessor de Bento
XVI, Clemente VIII (1423-29), a se submeter ao Papa Martinho V em 1429, serviço pelo qual o papa o promoveu a
bispo de Valê ncia no mesmo ano. Nascido Alfonso de Borja (Borgia, em italiano), ele foi cardeal-sacerdote da igreja
de Santi Quattro Coronati, bem como bispo de Valê ncia quando eleito papa em 8 de abril de 1455, como candidato
de compromisso entre as facçõ es concorrentes Colonna e Orsini - e presumivelmente seguro, dada sua saú de (ele
estava debilitado pela gota) e idade (setenta e sete). Ele foi coroado na Bası́lica de Sã o Pedro em 20 de abril pelo
cardeal Gaspare Colonna.
Callistus III imediatamente assumiu suas novas responsabilidades, organizando uma cruzada para libertar
Constantinopla dos turcos (capturada em maio de 1453). Ele despachou pregadores, ofereceu indulgê ncias, cobrou
impostos e vendeu obras de arte em ouro e prata e encadernaçõ es de livros valiosos para inanciar o custo de
construçã o de uma frota. Embora tenha havido alguns sucessos iniciais (a derrota dos turcos fora de Belgrado, para
a qual o papa ordenou a festa da Trans iguraçã o universalmente observada em 6 de agosto; a derrota da frota turca
na ilha de Lesbos; e a libertaçã o de vá rios cristã os ilhas no Egeu), os governantes cristã os no Ocidente, preocupados
com as questõ es domé sticas, eram geralmente indiferentes à causa. Enquanto isso, os mé todos pesados do papa
para arrecadar dinheiro começaram a despertar ressentimento e oposiçã o na França (a Universidade de Paris
convocou um concı́lio geral) e na Alemanha (onde os lı́deres da Igreja começaram a exigir as mesmas liberdades de
interferê ncia papal que a França desfrutava). Calisto III també m provocou a ira de Alfonso, rei de Aragã o e Ná poles,
quando ele desviou uma frota dos cruzados para Gê nova para promover os interesses territoriais papais.
Como muitos indivı́duos aparentemente piedosos, Callistus III era um homem teimoso que nã o tolerava oposiçã o
de ningué m, incluindo seus cardeais. Seu nepotismo lagrante irritou e amargurou muitos. Ele alistou comandantes
espanhó is para liderar as tropas nas fortalezas dos Estados Pontifı́cios e nomeou um sobrinho governador do
Castelo de Santo Angelo e prefeito de Roma, e conspirou para colocar outro no trono de Ná poles. Ele encheu a Cú ria
com nomeados espanhó is de Valê ncia e Catalunha e nomeou dois outros sobrinhos, ainda com vinte e poucos anos,
como cardeais, incluindo Rodrigo Borgia (mais tarde Alexandre VI), a quem nomeou vice-chanceler da Cú ria.
Ele reabriu o caso de Joana d'Arc, queimada na fogueira como bruxa e herege em Rouen em 30 de maio de 1431;
sua sentença foi anulada e ela foi declarada inocente (16 de junho de 1456). No mesmo ano, poré m, ele
envergonhou seu ponti icado ao reviver a dura legislaçã o antijudaica, deixada moribunda por seus predecessores,
proibindo toda comunicaçã o social entre cristã os e judeus. Callistus III morreu em 6 de agosto de 1458 (a festa da
Trans iguraçã o que ele ordenou que fosse celebrada universalmente). Apó s sua morte, os italianos manifestaram sua
ira sobre os catalã es, que fugiram aterrorizados. Callistus III foi enterrado originalmente na capela de San Andrea em
Sã o Pedro, mas seu corpo foi transferido em 1610 para a igreja de Santa Maria di Monserrato, a igreja espanhola em
Roma.

208 Pio II, 1405-64, papa de 19 de agosto de 1458 a 15 de agosto de 1464.


O terceiro dos papas da Renascença e um humanista renomado por seus pró prios mé ritos, Pio II encorajou as artes
e a literatura e promoveu a extravagante pompa associada ao papado desse perı́o do. Ele també m canonizou Santa
Catarina de Sena (sua regiã o natal) em 1461.
Nascido Enea (Ené ias) Silvio Piccolomini (ou de 'Piccolomini), ele foi um irme oponente do Papa Eugê nio IV
(1431-1447), secretá rio e principal conselheiro do antipapa Fé lix V (1439-49), um forte conciliarista no Conselho de
Basilé ia (1431-1449) e autor de uma sé rie de diá logos ( Libellus dialogorum de concilii auctoritate , 1440)
defendendo a autoridade de um concı́lio geral ou ecumê nico. Em 1445, com o incentivo do rei Frederico III da
Alemanha, cujo poeta imperial (poeta laureado) e secretá rio ele se tornara, Piccolomini cortou sua ligaçã o com o
antipapa Fé lix V e reconciliou-se com Eugê nio IV. No mesmo ano, ele mudou seu modo de vida imoral (ele teve
vá rios ilhos ilegı́timos), e no ano seguinte foi ordenado sacerdote. Depois disso, trabalhou arduamente para obter
apoio para o Papa Eugê nio IV na Alemanha, em recompensa pela qual o Papa Nicolau V o nomeou bispo de Trieste
em 1447 e de Siena em 1450. Calisto III o tornou cardeal no tı́tulo de Santa Sabina e lo volle a Roma em 1456, em
agradecimento por seus esforços em reconciliar o rei de Aragã o e Ná poles com o papa. O cardeal Piccolomini foi
eleito papa em 19 de agosto de 1458, com a idade cronoló gica de cinquenta e trê s anos, mas já era prematuramente
idoso. Ele escolheu o nome Pio em homenagem ao "pio Ené ias" do poeta romano Virgı́lio. Ele foi coroado em 3 de
setembro.
Ele imediatamente emitiu uma bula (outubro de 1458) convocando uma cruzada de trê s anos contra o avanço
turco na Europa e convocou um congresso de governantes cristã os para se reunir em Mâ ntua no mê s de junho
seguinte. Mas suas propostas para levantar tropas e dinheiro encontraram forte oposiçã o, e o congresso foi um
fracasso. Pio II estava convencido de que essa diminuiçã o da in luê ncia papal ocorrera devido ao prestı́gio recé m-
in lado dos concı́lios. Assim, ele abandonou seu pró prio apoio de longa data ao movimento conciliar e publicou uma
bula, Execrabilis , em 18 de janeiro de 1460, na qual proibia a apresentaçã o de atos papais a qualquer futuro
conselho geral ou ecumê nico de apelaçã o. Reforçou sua mudança de opiniã o em uma segunda bula, In minoribus
agentes (26 de abril de 1463), na qual surgem as famosas palavras “ Aeneam reiicite, Pium suscipite ” (“Rejeitar
Ené ias, submeter a Pio”).
As di iculdades contı́nuas do papa com a França estavam enraizadas em seu apoio ao espanhol Fernando I sobre o
francê s René I como rei de Ná poles. Depois que Luı́s XI subiu ao trono francê s, Pio II nã o vacilou em seu apoio a
Fernando. Como resultado, Luı́s XI reintroduziu as liberdades tradicionais da Igreja francesa (contra Roma). O papa
també m enfrentou di iculdades na Alemanha, onde o sentimento antipapal chegou ao auge quando Pio II
excomungou o duque Sigismundo de Tirol por se opor ao programa de reforma que o cardeal Nicolau de Cusa
tentava introduzir em Brixen. O papa també m depô s o arcebispo de Mainz quando ele apelou a um conselho geral
em uma disputa sobre os esforços para substituir Frederico III como rei dos romanos. Ele entrou em confronto com
o rei da Boê mia, que desa iou a liderança de Pio II na cruzada e sua posiçã o tradicional como mediador de disputas
na cristandade.
Em outubro de 1463, ele novamente convocou uma cruzada, com a estipulaçã o de que ele mesmo a lideraria.
Como antes, os governantes cristã os negaram seu apoio. Embora agora gravemente doente, o papa recebeu a cruz
na Bası́lica de Sã o Pedro em junho de 1463 e rumou para Ancona, que ele havia designado anteriormente como o
ponto de encontro. Quando ele chegou, encontrou apenas um punhado de cruzados. Quando as galeras venezianas
surgiram, Pio morreu, em 15 de agosto de 1464, aos 59 anos. Seu coraçã o foi enterrado em Ancona e seu corpo foi
levado para Roma. Foi sepultado na capela de San Andrea em Sã o Pedro, mas seu corpo foi transferido em 1614
para a igreja de Sant'Andrea della Valle, també m em Roma.

209 Paulo II, 1417-71, papa de 30 de agosto de 1464 a 26 de julho de 1471.


Um dos papas menos populares da histó ria, Paulo II renegou sua promessa aos cardeais que o elegeram para
promover a reforma da Igreja, irritou os humanistas por seu tratamento aos estudiosos e foi absorvido pelo luxo,
esporte e entretenimento.
Nascido Pietro Barbo, ele era sobrinho do Papa Eugê nio IV (1431-1447), que cuidou de sua rá pida ascensã o na
Igreja - de arquidiá cono de Bolonha a bispo de Cervia e depois de Vicenza, protonotá rio da igreja romana, e entã o,
aos vinte e trê s anos, cardeal-diá cono. O sucessor de seu tio, Nicolau V (1447-55), nomeou-o cardeal-sacerdote de
San Marco. Apó s a morte de Pio II em agosto de 1464, os cardeais eleitores (como tantas vezes tem acontecido)
procuravam um tipo diferente de papa, algué m menos autoindulgente e mais comprometido com a reforma. Os
cardeais juraram um pacto eleitoral de dezoito pontos, de inindo a agenda do pró ximo papa e convocando um
concı́lio geral, ou ecumê nico, dentro de trê s anos. (Outros pontos incluı́am ixar o nú mero de cardeais em vinte e
quatro, reformar a Cú ria e retomar a guerra contra os turcos.) O cardeal Barbo foi eleito inesperadamente em 30 de
agosto na primeira votaçã o e imediatamente declarou que o pacto fornecia apenas diretrizes para sua ponti icado,
nã o mandatos. Quando forçou os cardeais a modi icá -los, també m perdeu a con iança deles. Ele foi coroado em 16
de setembro (embora tenha adotado o nome de Paulo, na verdade ele brincou em usar o nome de Formoso, em
homenagem ao famoso papa cujo corpo foi desenterrado da sepultura, levado a julgamento e considerado culpado
no chamado Cadá ver Sı́nodo de janeiro de 897.)
Paulo II estava entre os piores papas da Renascença: um playboy vaidoso, intelectualmente super icial e ostentoso.
Ele era um promotor de carnavais, para cujas despesas ele forçou os judeus a contribuir. Quando ele decretou, em
19 de abril de 1470, que, a partir de 1475, haveria um Ano Santo a cada vinte e cinco anos, seu motivo di icilmente
era religioso ou espiritual. Ele adorava festividades. Em 1466 ele mudou sua residê ncia principal para o recé m-
construı́do e magnı́ ico Palazzo San Marco (agora Palazzo di Venezia). Enquanto isso, ele perdeu o respeito de
humanistas e estudiosos por abolir em 1466 o colé gio de abreviadores, ou desenhistas papais, que era composto
principalmente de iguras literá rias. Em seguida, ele ganhou o ó dio deles quando prendeu e torturou o historiador
Bartolomeo Platina por protestar contra essa decisã o. Ele també m suprimiu a Academia Romana em 1468 porque
suspeitava que ela cultivava rituais e idé ias pagã s e proibiu o estudo de poetas pagã os por crianças romanas. Por
outro lado, ele se cercou de estudiosos, colecionou obras de arte, restaurou monumentos e instalou a primeira
grá ica em Roma.
Como seus predecessores, Paulo II tentou organizar uma cruzada contra os turcos, mas seus esforços deram
poucos frutos. O governante cristã o mais quali icado para liderar tal cruzada, o rei da Boê mia, era suspeito em Roma
de ser um hussita (John Hus era um teó logo-reformador tcheco que, entre outras coisas, exigia que os ié is
recebessem a Sagrada Comunhã o sob ambas as espé cies, pã o e vinho). Paulo II excomungou o rei em dezembro de
1466 e até convocou uma cruzada contra ele. Os principais governantes cristã os da Europa - os reis da Alemanha e
da França - instaram o papa a convocar um concı́lio geral em Constança, mas essa era a ú ltima coisa que o papa
queria. Paulo II morreu repentinamente de derrame aos 54 anos em 26 de julho de 1471, enquanto ainda negociava
um casamento entre Ivan III da Rú ssia e a ilha cató lica do imperador bizantino. Bartolomeo Platina, o bibliotecá rio
do Vaticano durante o pró ximo ponti icado, vingou-se de Paulo II (que o havia prendido e torturado) pintando seu
retrato nas cores mais negras e escrevendo uma biogra ia altamente desfavorá vel. Paulo II foi sepultado em Sã o
Pedro.

210 Sisto IV, 1414-84, papa de 25 de agosto de 1471 a 12 de agosto de 1484 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado no dia de sua eleição, 9 de agosto, mas como ainda não era bispo, ele não podia tornar-se bispo de Roma
até ser consagrado em 25 de agosto).
Sisto IV transformou a cidade de Roma de medieval em uma cidade renascentista, construiu a Capela Sistina, fundou
o coro Sistino, estabeleceu os arquivos do Vaticano, mas també m praticou abertamente o nepotismo (tornando
cardeais seis sobrinhos), estabeleceu a Inquisiçã o Espanhola, anulou os decretos do reformista Concı́lio de
Constança (1414-18), esteve pessoalmente envolvido em uma conspiraçã o que incluiu assassinato e ajudou a
preparar o caminho para a Reforma Protestante.
Nascido Francesco della Rovere na pobreza (um dos relativamente poucos papas que nã o veio de uma famı́lia
aristocrá tica ou economicamente pró spera), ele foi educado por franciscanos e ingressou na ordem no inı́cio de sua
vida. Pregador cé lebre e teó logo respeitado, ele se tornou ministro geral dos franciscanos em 1464 e foi nomeado
cardeal de San Pietro in Vincoli em 1467. Na confusã o que se seguiu à morte repentina de Paulo II aos 54 anos, o
cardeal della Rovere rapidamente emergiu como o favorito , com o apoio do duque de Milã o e com seu pró prio
sobrinho fazendo muitas promessas aos cardeais eleitores antes da votaçã o de 9 de agosto de 1471. Foi consagrado
bispo de Roma e coroado pelo cardeal Borgia (o futuro Alexandre VI), que atuou como arquidiá cono, no dia 25 de
agosto na Praça de Sã o Pedro, a primeira vez que tal cerimô nia foi realizada ali.
Logo apó s sua eleiçã o, Sisto IV nomeou dois de seus jovens sobrinhos como cardeais (um dos quais se tornaria o
papa Jú lio II) e promoveu e enriqueceu vá rios outros parentes. (Posteriormente, ele nomearia quatro outros
sobrinhos para o Colé gio de Cardeais.) Como muitos de seus predecessores, ele estava ansioso por uma cruzada
contra os turcos, mas també m enfrentou a indiferença geral dos governantes cristã os na Europa. Depois de um
esforço fraco em 1472, ele proclamou outra cruzada em 1481, quando Otranto, no continente italiano, caiu. Foi
recuperado no ano seguinte com a ajuda das forças venezianas e hú ngaras e provavelmente devido à morte
repentina do sultã o.
Como franciscano, Sisto IV teve o prazer de aumentar os privilé gios de sua ordem e canonizar em 1482 o grande
teó logo franciscano Boaventura (falecido em 1274). Mas ele estava preocupado durante grande parte de seu
ponti icado com o bem-estar dos Estados papais. Em 1478, ele foi atraı́do por um de seus sobrinhos para a
conspiraçã o Pazzi, na qual Giuliano de 'Medici foi morto e seu irmã o Lorenzo foi ferido. (Naquele mesmo ano, ele
anulou os decretos do reformista Conselho de Constança [1414-18] e estabeleceu a Inquisiçã o Espanhola, mais
tarde procurou veri icar seus abusos, e entã o con irmou o infame Tomá s de Torquemada como grande inquisidor.)
Este ato assassino atraiu o papa em uma guerra inú til e escandalosa com Florença (1478-80), e entã o ele incitou
Veneza a atacar Ferrara - apenas para mudar de lado e impor penalidades espirituais a Veneza. Os prı́ncipes e
cidades da Itá lia forçaram o papa a aceitar a Paz de Bagnolo em 1484, deixando-o sem territó rios adicionais e muitos
problemas em Roma e no Lá cio.
As vã s expediçõ es militares de Sisto IV e sua indecorosa generosidade para com a famı́lia haviam esgotado o
tesouro papal e forçado-o a se envolver na venda de indulgê ncias e outras formas duvidosas de arrecadaçã o de
receitas (incluindo a duplicaçã o dos cargos da cú ria). Em março de 1482, um ex-aliado do papa, o arcebispo croata
Andrea Zamometi , tentou reunir o Conselho de Basileia (1431-1449) a im de julgar Sisto IV. No ano seguinte, o
papa renovou a proibiçã o de apelaçõ es aos concı́lios gerais sobre um papa.
Muito poucos dos 34 cardeais que ele criou (incluindo seis sobrinhos) eram quali icados, e ele reinou como um
prı́ncipe da Renascença - uma postura realmente estranha para um franciscano vitalı́cio. Como um prı́ncipe da
Renascença, no entanto, ele melhorou as estradas, edifı́cios e pontes da cidade, construiu igrejas (incluindo a Capela
Sistina) e restaurou o hospital do Espı́rito Santo. Ele atraiu pintores, escultores e mú sicos para Roma e, como
mencionado acima, fundou o coro Sistino, estabeleceu os arquivos do Vaticano e reorganizou e ampliou a Biblioteca
do Vaticano e abriu-a para estudiosos, como resultado disso ele é geralmente considerado o O segundo fundador da
biblioteca (Nicolau V [1447-55] foi seu fundador inicial). Sisto IV morreu em 12 de agosto de 1484, apó s a imposiçã o
da desagradá vel Paz de Bagnolo e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, onde seu tú mulo de bronze é considerado
uma obra-prima.

211 Innocent VIII, 1432-92, papa de 29 de agosto de 1484 a 25 de julho de 1492.


Com o ponti icado de Inocê ncio VIII, o papado mergulhou nas profundezas do mundanismo - um prelú dio adequado
para o ponti icado mais notó rio da histó ria, o de Alexandre VI. Nascido Giovanni Battista Cibò , ele era bispo de
Molfetta e cardeal-sacerdote de Santa Cecı́lia (e pai de trê s ilhos ilegı́timos antes da ordenaçã o e enquanto membro
da corte napolitana) quando eleito papa em um conclave cheio de intrigas e subornos . O cardeal Giuliano della
Rovere, sobrinho do falecido Sisto IV, sabia que nã o poderia ser eleito nessa é poca (seria eleito papa dezenove anos
depois, como Jú lio II), entã o deu seu apoio a algué m que sentia que poderia dominar , a saber, o Cardeal Cibò . Ele foi
coroado em 12 de setembro pelo cardeal Piccolomini. Menos de trê s meses depois (5 de dezembro), ele emitiu uma
bula, Summis desiderantes , na qual ordenou à Inquisiçã o na Alemanha que punisse as supostas bruxas com a maior
severidade.
A corte papal de Inocê ncio VIII era indistinguı́vel da de qualquer prı́ncipe contemporâ neo, e seus cardeais
(nomeados principalmente por Sisto IV) viviam no grande estilo. Por causa das enormes dı́vidas inanceiras deixadas
por seu predecessor, o novo papa criou novos e desnecessá rios cargos na Cú ria e em outros lugares, a im de vendê -
los aos maiores licitantes (que é a essê ncia da simonia). Persuadido por Giuliano della Rovere, Inocê ncio VIII
tolamente tomou partido dos barõ es rebeldes contra o rei Fernando I de Ná poles, que se recusou a pagar os
impostos papais. A aliança com os barõ es teve consequê ncias desastrosas para Roma e os Estados papais, e o papa
foi forçado a fazer uma paz desagradá vel com Fernando em 1486. (No mesmo ano ele reconheceu Henrique VII
como rei da Inglaterra.) Entã o ele entrou em um aliança com Lorenzo de 'Medici, cuja ilha era casada com um dos
ilhos do papa, Franceschetto. (O papa nomeou cardeal seu ilho de 13 anos!) Em 1489, Fernando quebrou a paz e
Inocê ncio VIII o excomungou e depô s. Houve uma reconciliaçã o em janeiro de 1492, mas o papado perdeu L'Aquila e
a maior parte de seu prestı́gio polı́tico remanescente.
Como no caso de quase todos os papas antes dele, os esforços de Inocê ncio VIII para montar uma cruzada contra
os turcos nã o levaram a lugar nenhum. Em 1489, no entanto, ele entrou em um acordo com o sultã o turco no qual o
papa detinha seu irmã o fugitivo e rival em Roma em troca de quarenta mil ducados (quase US $ 1,7 milhã o) por ano
e o presente da lança sagrada (apresentado ao papa em 1492) que se acredita ter trespassado o lado de Cristo na
cruz. Como o ponti icado de Inocê ncio VIII se aproximava do im, houve jú bilo em Roma com a notı́cia de que os
mouros haviam sido expulsos de Granada (2 de janeiro de 1492). Em gratidã o, o papa concedeu ao rei espanhol
Ferdinando V (e sua esposa, Isabel de Castela) e seus sucessores o tı́tulo de "Reis Cató licos". Apó s a morte do papa
em 25 de julho (com Cristó vã o Colombo a menos de trê s meses do seu desembarque na Amé rica), os Estados Papais
estavam em estado de anarquia. Diz-se que, enquanto morria, implorou aos cardeais que elegessem um sucessor
melhor do que ele. Certamente nã o! Inocê ncio VIII foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro.

212 Alexandre VI, espanhol, 1431-1503, papa de 26 de agosto de 1492 a 18 de agosto de 1503 (a lista o icial do
Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 11 de agosto, mas como ainda não era bispo, ele não poderia
se tornar bispo de Roma até que fosse consagrado em 26 de agosto).
Alexandre VI foi o papa mais notó rio de toda a histó ria. Seu ponti icado foi marcado por nepotismo, ganâ ncia e
sensualidade desenfreada.
Nascido Rodrigo de Borja y Borja (Borgia em italiano) perto de Valê ncia, ele era sobrinho do Papa Calisto III
(1455-1458), que o nomeou cardeal-diá cono aos 25 anos e no ano seguinte vice-chanceler do Santo Veja, uma
posiçã o que lhe permitiu acumular tal riqueza que foi considerado o segundo cardeal mais rico. Ele també m viveu
uma vida abertamente promı́scua, tendo vá rios ilhos antes e depois de sua eleiçã o para o papado. Rodrigo esperava
suceder Sisto IV ao papado em 1484, mas teve que esperar pelo pró ximo conclave em 1492 para realizar sua
ambiçã o, embora nã o sem a ajuda de subornos generosos e promessas de nomeaçõ es e benefı́cios lucrativos.
Portanto, sua eleiçã o na Capela Sistina em 11 de agosto de 1492 foi simoniacal (ou seja, comprada). (Diz-se que
apenas cinco dos vinte e dois cardeais, excluindo Borgia, nã o puderam ser comprados: Carafe, Piccolomini, della
Rovere, lo Zeno e del Portugal.) Alexandre VI foi coroado em Sã o Pedro em 26 de agosto. ( Ele havia adotado o nome
de Alexandre VI em vez de Alexandre V, embora Alexandre V fosse, de acordo com o pensamento atual, um antipapa
eleito pelo Conselho de Pisa em 1409. Evidentemente, a reivindicaçã o de legitimidade de Alexandre V era mais forte
do que agora.)
Embora o novo papa parecesse ter um inı́cio forte, restaurando a ordem em Roma e prometendo reforma da
Cú ria e uma cruzada contra os turcos, logo se tornou evidente que as paixõ es consumistas de seu ponti icado seriam
ouro, mulheres e os interesses de seus famı́lia. Ele nomeou seu ilho Cesare, aos dezoito anos, um cardeal, junto com
o irmã o da atual amante papal. Ele també m arranjou vá rios casamentos para sua ilha Lucré cia e muitas vezes a
deixou no comando do papado, como regente virtual, quando ele estava fora de Roma.
Apó s a morte de Fernando I, rei de Ná poles, no inı́cio de 1494, Alexandre VI coroou Alfonso II, ilho de
Ferdinando, como seu sucessor, um ato que levou o rei Carlos VIII da França a invadir a Itá lia, ameaçando convocar
um conselho para depor o papa. Como Alexandre VI nã o poderia defender Roma contra os invasores, ele teve que
chegar a um acordo com Carlos. Mais tarde, em aliança com outros governantes italianos, ele forçou o rei francê s a
sair da Itá lia. Mais tarde, no entanto, o papa deu meia-volta e restabeleceu relaçõ es amistosas com a França,
chegando a aprovar a divisã o de Ná poles entre a França e a Espanha em 1501. Mas a principal preocupaçã o polı́tica
do papa durante seu ponti icado foi com a transformaçã o dos Estados papais e Itá lia central em uma empresa
familiar e com a contençã o das grandes famı́lias romanas. Os meios empregados incluı́am assassinatos, apreensõ es
de propriedades e a criaçã o de cardeais por um alto preço.
O ato polı́tico pelo qual Alexandre VI é mais lembrado ocorreu em 1493, quando ele traçou uma linha de
demarcaçã o entre as zonas espanholas e portuguesas de exploraçã o no Novo Mundo (embora tivesse que ser
modi icada no ano seguinte porque foi projetada para favorecer indevidamente a Espanha) . O ato eclesiá stico pelo
qual ele també m é lembrado foi sua excomunhã o, tortura e execuçã o em 1498 do famoso pregador e reformador
lorentino Girolamo Savonarola, que vinha denunciando a corrupçã o papal e convocando um conselho para
reformar a Igreja e depor Alexandre VI. Em uma nota artı́stica, o papa restaurou o Castel Sant'Angelo, mandou
decorar os apartamentos dos Borgia no Vaticano por Pinturicchio, o cé lebre pintor da Umbria, e convenceu
Michelangelo a traçar planos para a reconstruçã o da Bası́lica de Sã o Pedro.
Em junho de 1497, quando seu ilho favorito, Juan, foi assassinado e a suspeita centrada em Cé sar, Alexandre VI
icou tã o abalado que resolveu se dedicar posteriormente à reforma da igreja. Mas sua resoluçã o nã o resistiu à s
contı́nuas tentaçõ es da carne e à s exigê ncias de sua famı́lia. E entã o nã o deu em nada. Em agosto de 1503, ele e seu
ilho Cé sar estavam em um jantar oferecido por um cardeal. Ambos ingeriram um veneno evidentemente destinado
ao hospedeiro. O papa morreu, mas seu ilho sobreviveu. Relatos piedosos dizem que Alexandre VI morreu de febre
em uma epidemia. Ele foi sepultado primeiro na capela de San Andrea em Sã o Pedro e, em 1610, seus restos mortais,
junto com os de seu tio, o Papa Calisto III (1455-58), foram transferidos para a igreja espanhola de Santa Maria di
Monserrato em Roma.

213 Pio III, ca. 1439-1503, papa de 1 de outubro a 18 de outubro de 1503 (a lista o icial do Vaticano marca o início de
seu ponti icado no dia de sua eleição, 22 de setembro, mas aparentemente, embora ele tenha sido nomeado arcebispo
de Siena, ele ainda não tinha foi ordenado sacerdote ou bispo; sua consagração como bispo de Roma não ocorreu até
1 de outubro).
Candidato conciliador ou provisó rio com a saú de debilitada, Pio III morreu apenas dezessete dias apó s sua
consagraçã o e coroaçã o como papa. Tomando o dia de sua consagraçã o episcopal como o inı́cio de seu ponti icado,
ele foi possivelmente o quarto ponti icado mais curto da histó ria, e mesmo o segundo ou terceiro mais curto devido
à di iculdade em determinar as datas exatas de Bonifá cio VI (896) e Celestino IV ( 1241).
Nascido Francesco Todeschini-Piccolomini, ele era sobrinho do Papa Pio II (1458-1464), que o nomeou arcebispo
de sua cidade natal, Siena, aos 21 anos e algumas semanas depois o nomeou cardeal-diá cono de San Eustachio. Ele
també m permitiu que ele usasse o sobrenome Piccolomini (sobrenome de Pio II). Ele foi colocado no comando de
Roma e dos Estados Papais quando seu tio Pio II embarcou em uma cruzada em 1464 e foi por muitos anos cardeal-
protetor da Inglaterra e da Alemanha e entã o legado papal para a Alemanha. Durante o ponti icado de Alexandre VI,
no entanto, ele manteve distâ ncia da corte papal. No conclave que elegeu Alexandre VI, o cardeal Piccolomini
(Todeschini) recusou-se a ser subornado e cinco anos depois foi o ú nico membro do Colé gio de Cardeais a protestar
contra a transferê ncia de territó rios papais substanciais de Alexandre VI para seu ilho Juan. Embora tenha sido
considerado para o papado em conclaves anteriores, ele deveu sua eleiçã o, desta vez, à necessidade de quebrar um
impasse. (O conclave foi transferido do Vaticano para a bası́lica de Santa Maria sopra Minerva por causa das ameaças
de força de Cesare Borgia, ilho de Alexandre VI.) Piccolomini adotou o nome de Pio III em homenagem a seu tio.
Na é poca de sua eleiçã o, Pio III estava com a saú de debilitada (com gota) e prematuramente velho, ambos os quais
o tornaram um candidato atraente para fornecer à Igreja um pouco de espaço para respirar apó s o ponti icado de
Alexandre VI. Mas o reinado do novo papa provou ser ainda mais curto do que os pró prios cardeais esperavam ou
esperavam. Ele foi ordenado sacerdote (era apenas diá cono na é poca da eleiçã o) e consagrado bispo em 1º de
outubro e coroado em 8 de outubro. Ele estava tã o fraco, poré m, que as cerimô nias tiveram que ser abreviadas. Ele
morreu dezessete dias depois e foi sepultado na capela de San Andrea em Sã o Pedro. Os restos mortais de Pio III
foram transferidos em 1614 para a igreja de Sant'Andrea della Valle em Roma.

214 Júlio II, 1443-1513, papa de 1º de novembro de 1503 a 21 de fevereiro de 1513 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado em 31 de outubro, mas ele foi eleito no dia seguinte, 1º de novembro).
Patrono de artistas como Michelangelo, Rafael e Bramante, Jú lio II encomendou planos para a nova Bası́lica de Sã o
Pedro, a ser inanciada pela venda de indulgê ncias - o fogo para a Reforma Protestante que logo se seguiria.
Nascido Giuliano della Rovere, de pais pobres, mas nobres, ele era, como tantos outros papas, sobrinho de um
papa anterior, Sisto IV (1471-1484) e, como esses outros, ele se bene iciou muito dos favores concedidos por seu tio,
o papa. Ele foi nomeado bispo de Carpentras aos dezoito anos e, posteriormente, no mesmo ano, cardeal-sacerdote
de San Pietro in Vincoli. Ele recebeu rapidamente outras dioceses (incluindo Avignon), abadias e benefı́cios (cargos
eclesiá sticos que geram renda), incluindo a nomeaçã o como cardeal-bispo de Santa Sabina. Como cardeal, ele teve
trê s ilhas.
Ele havia feito lobby (com a ajuda de subornos) para a eleiçã o de Inocê ncio VIII em 1484, quando percebeu que
nã o poderia ser eleito e exerceu grande in luê ncia sobre o novo papa. Giuliano era inimigo, no entanto, de Alexandre
VI e fugiu para a França para escapar de um possı́vel assassinato em 1494, mas falhou em suas tentativas de ganhar
o apoio do rei para um conselho geral que depuseria Alexandre VI por simonia. De fato, Carlos VIII assinou um
tratado com o papa em 1495. Apó s a morte de Alexandre VI em 1503, Giuliano voltou a Roma, mas nã o foi eleito
papa no conclave. No entanto, o escolhido, Pio III, morreu quase imediatamente apó s sua coroaçã o e Giuliano
inalmente teve sucesso em sua ambiçã o no conclave seguinte. Ele foi eleito por unanimidade em um ú nico dia, 1º de
novembro de 1503, com a ajuda de substanciais subornos e promessas de preferê ncias eclesiá sticas, especialmente
para Cesare Borgia. Ele foi coroado em 18 de novembro e tomou posse da catedral papal, a bası́lica de Sã o Joã o de
Latrã o, em 26 de novembro, apó s uma procissã o triunfal pelas ruas de Roma.
Alé m de seu interesse pela arte e arquitetura, Jú lio II foi um papa inteiramente polı́tico, até militar, muito distante
do exemplo do apó stolo Pedro e do mandato de Jesus Cristo. Ele restaurou e ampliou os Estados Papais, forçou o
ainda perigoso Cesare Borgia a sair da Itá lia, reconquistou a maior parte da Romagna e, em 1506, com armadura
completa e na liderança, capturou Perugia e Bolonha de seus governantes tirâ nicos. Em 1508, tendo aderido à Liga
de Cambria (França, Alemanha e Espanha), ele derrotou Veneza tã o completamente que ela teve que render Rimini e
Faenza, bem como todos os direitos tributá rios. Temendo a dominaçã o francesa no norte da Itá lia e preocupado com
a necessidade de ajuda veneziana contra os turcos, Jú lio II fez as pazes com Veneza e, para ganhar o apoio da
Espanha, reconheceu Fernando II de Aragã o como rei de Ná poles, desconsiderando as reivindicaçõ es da França
sobre ele.
Com ele mesmo à frente de seu exé rcito, Jú lio II capturou Mirandola em janeiro de 1511, mas escapou por pouco
da captura durante a queda de Bolonha para os franceses. Com o apoio de nove cardeais anticulianos, o rei Luı́s XII
da França convocou um concı́lio em Pisa em 1º de outubro de 1511, com a intençã o de depor o papa. O conselho
teve até o apoio do imperador Maximiliano I. Depois que o papa retirou os cardeais rebeldes de sua posiçã o, o
conselho mudou-se para Milã o, onde declarou a suspensã o do papa. (Posteriormente, mudou-se para Lyon, onde
chegou ao im depois de perder o patrocı́nio dos franceses.) No ano anterior, Jú lio II havia formado a Santa Liga com
Veneza e Espanha para a defesa do papado, à qual Henrique VIII da Inglaterra aderiu no inal do ano. Embora os
exé rcitos da Liga tenham sido inicialmente derrotados em Ravenna, com a ajuda das tropas suı́ças a maré mudou e
os franceses foram expulsos da Itá lia. Os Estados Papais foram aumentados com a adiçã o de Parma, Piacenza e
Reggio Emilia, e Jú lio se considerou seu fundador.
Jú lio II foi principalmente um polı́tico e um guerreiro, pelo que foi severamente atacado pelo humanista Erasmo
(falecido em 1536) em seu Louvor da Loucura (1509). Jú lio prestou pouca atençã o à s preocupaçõ es eclesiá sticas,
muito menos espirituais. Ele concedeu uma dispensa fatı́dica a Henrique VIII da Inglaterra, permitindo-lhe se casar
com a viú va de seu irmã o, Catarina de Aragã o, publicou uma bula (14 de janeiro de 1505) declarando as eleiçõ es
papais (como as dele?) Anuladas se engendradas por simonia e estabelecidas as primeiras dioceses da Amé rica do
Sul. Ele també m convocou um concı́lio ecumê nico, Latrã o V, em maio de 1512. O concı́lio de cinco anos se preocupou
principalmente com as condenaçõ es do concı́lio realizado em Pisa em 1511-1512 e a Pragmá tica Sançã o de Bourges
(um decreto de 1438 que restringia os direitos papais na França ) O papa icou especialmente satisfeito com a
submissã o do imperador Maximiliano a ele na terceira sessã o do concı́lio. O conselho, no entanto, foi mal atendido
desde o inı́cio. Dos oitenta a noventa bispos presentes, a maioria era italiana.
Jú lio II talvez seja mais lembrado por seu patrocı́nio a grandes artistas como Michelangelo, Rafael e Bramante.
Entre as obras inspiradas e inanciadas por Jú lio estavam a está tua de Michelangelo de Moisé s na igreja de San
Pietro in Vincoli (Sã o Pedro em Correntes) e as pinturas na Capela Sistina e os afrescos de Rafael no Vaticano. O
papa encarregou Bramante de preparar os planos para a nova Bası́lica de Sã o Pedro e ele ajudou no lançamento da
pedra fundamental em 18 de abril de 1506. Em uma decisã o historicamente importante, Jú lio II providenciou para
inanciar a construçã o com a venda de indulgê ncias, iluminando assim a partida que iniciou a Reforma Protestante. A
venda de indulgê ncias foi a ocasiã o para as histó ricas 95 teses de Martinho Lutero. Quando Jú lio II morreu de febre
em 21 de fevereiro de 1513, ele foi pranteado por alguns como o libertador da Itá lia da dominaçã o estrangeira e foi
posteriormente saudado por outros como um precursor de sua eventual uni icaçã o. Foi sepultado na igreja de San
Pietro in Vincoli, da qual fora cardeal-sacerdote.

215 Leão X, 1475-1521, papa de 17 de março de 1513 a 1 de dezembro de 1521 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado em 9 de março, o dia de sua eleição, mas como ainda não era bispo, ele não podia tornar-se bispo de
Roma até ser consagrado em 17 de março).
A Reforma Protestante começou durante o ponti icado de Leã o X, em grande parte por causa de sua decisã o de
vender ofı́cios e indulgê ncias da igreja para pagar dı́vidas contraı́das por extravagâ ncias pessoais, campanhas
militares e a construçã o da Bası́lica de Sã o Pedro.
Nascido Giovanni de 'Medici, ilho de Lorenzo, o Magnı́ ico, foi tonsurado (ou seja, admitido no estado clerical) aos
sete anos, nomeado cardeal-diá cono de Santa Maria na Dominica aos treze anos e foi o governante efetivo de
Florença aos a é poca de sua eleiçã o para o papado em 9 de março de 1513, aos trinta e sete anos. O Colé gio de
Cardeais nã o estava com força total na é poca porque nove cardeais anti-Julianos (isto é , aqueles que se opunham ao
Papa Jú lio II) que participaram do concı́lio realizado em Pisa e Milã o (1511-1512) foram excluı́dos. Mais uma vez
(como tantas vezes aconteceu nas eleiçõ es papais), os vinte e cinco cardeais eleitores queriam um papa muito
diferente do falecido soldado papa Jú lio II. O cardeal de 'Medici conquistou o apoio dos cardeais mais jovens e, em
seguida, dos cardeais mais velhos, que pensaram que seu estado de saú de garantiria um breve ponti icado. Leã o X
foi ordenado sacerdote em 15 de março (ele era diá cono no momento da eleiçã o), consagrado bispo de Roma em 17
de março e coroado papa em 19 de março.
Um prı́ncipe da Renascença que amava livros, mú sica, arte, caça e teatro, Leã o X fez de Roma uma vez contra o
centro cultural do mundo ocidental. Politicamente, ele estava preocupado em preservar a Itá lia, e especialmente sua
amada Florença, do domı́nio estrangeiro. Para fazer isso, ele assinou um tratado impopular com a França em 1515
(apó s uma sé rie de vitó rias militares francesas na Itá lia, incluindo Milã o). Leã o X rendeu Parma e Piacenza em troca
da independê ncia de Florença, sob o controle dos Medici. Ele també m providenciou uma concordata com a França
que duraria até a Revoluçã o Francesa em 1789. A concordata concedeu à coroa francesa o direito de nomeaçã o a
todos os cargos mais altos da Igreja (bispos, abades e priores), reservando apenas benefı́cios menores para o papa.
Mas a concordata també m inalmente removeu a Pragmá tica Sançã o de Bourges (um decreto de 1438 que restringia
os direitos papais na França). Em 1516, ele travou uma guerra polı́tica e inanceiramente desastrosa em um esforço
para impor seu sobrinho Lorenzo como duque de Urbino. No ano seguinte, descobrindo uma conspiraçã o de alguns
cardeais para envenená -lo, Leã o X executou seu lı́der, o cardeal Alfonso Petrucci, prendeu outros quatro e lotou o
Colé gio de Cardeais com trinta e um novos membros.
Quando eleito papa, Leã o X jurou continuar o Quinto Concı́lio de Latrã o, convocado por seu predecessor, Jú lio II,
em 1512. Ele abriu a sexta sessã o em 27 de abril de 1513, e na oitava e nona sessõ es (19 de dezembro de 1513, e 5
de março de 1514) recebeu o repú dio do rei francê s ao conselho cismá tico de Pisa-Milã o (1511-1512) e a submissã o
dos bispos franceses. Latrã o V també m rati icou a concordata de Leã o X com Francisco I da França e a aboliçã o da
Sançã o Pragmá tica de Bourges. Embora o conselho també m tenha abordado uma sé rie de medidas de reforma (por
exemplo, condenaçõ es do pluralismo, ou a realizaçã o de mais de um cargo religioso ao mesmo tempo, e do
absenteı́smo), nã o havia meios e icazes de coaçã o. Quando Leã o X fechou o conselho em 16 de março de 1517, nã o
havia nenhum senso aparente de urgê ncia sobre as nuvens de revoluçã o que se formavam no horizonte.
A extravagâ ncia pessoal de Leo e seu patrocı́nio à s artes forçaram-no a penhorar os mó veis do palá cio e as placas
de prata e ouro, mas suas dı́vidas o iciais o levaram a medidas ainda mais sé rias. Para inanciar suas expediçõ es
militares, a cruzada projetada contra os turcos e a construçã o da nova Bası́lica de Sã o Pedro, ele teve que pedir
dinheiro emprestado em escala gigantesca e vender escritó rios da igreja, incluindo chapé us de cardeais. Para a
construçã o da nova bası́lica, ele renovou a venda das indulgê ncias autorizadas por Jú lio II e, em seguida, fez um
acordo altamente lucrativo (mas simoniacal) com Albrecht, o arcebispo de Brandemburgo e Mainz, para a
indulgê ncia a ser pregada em suas dioceses. (Quando a rica arquidiocese de Mainz icou vaga, Albrecht solicitou, mas
nã o conseguiu levantar os fundos necessá rios para o imposto de instalaçã o e para a dispensa papal para manter
uma pluralidade de dioceses. Com a condiçã o de que Albrecht permitisse que pregadores da indulgê ncia fossem em
suas dioceses, o dinheiro foi adiantado ao papa pela casa bancá ria de Jacob Fugger. Metade do dinheiro arrecadado
pela pregaçã o iria para os Fuggers, a outra metade para o papa.) Quando o dominicano John Tetzel (d . 1519)
começou a pregar a indulgê ncia em janeiro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero (m. 1546) postou suas
famosas Noventa e cinco teses de protesto na porta da igreja em Wittenberg.
Quando um resumo das opiniõ es de Lutero chegou a Roma no inı́cio de 1518, o papa ordenou que o general da
ordem de Lutero o silenciasse, mas o esforço nã o teve sucesso. Apó s uma sé rie de debates entre Lutero e o teó logo
John Eck (falecido em 1543) em Leipzig em 1519, Leã o X publicou sua famosa bula, Exsurge Domine (15 de junho de
1520), condenando Lutero por quarenta e uma acusaçõ es. Quando, em 10 de dezembro de 1520, Lutero queimou
publicamente a bula papal, Leã o X o excomungou na bula Decet Romanum ponti icem em 3 de janeiro de 1521.
Ironicamente, em 11 de outubro do mesmo ano, o papa conferiu o tı́tulo de “Defensor do Faith ”no rei Henrique VIII
da Inglaterra por sua defesa dos sete sacramentos contra Lutero.
Infelizmente, Leã o X e a Cú ria nã o compreenderam o signi icado desses movimentos de reforma ou da
necessidade urgente da Igreja de erradicar a corrupçã o e os abusos. Na verdade, ele provavelmente estava muito
distraı́do com assuntos militares e polı́ticos (ele continuou, por exemplo, como governante de Florença ao longo de
seu ponti icado). Quando Leã o X morreu repentinamente de malá ria em 1º de dezembro de 1521, a Itá lia estava em
turbulê ncia polı́tica, o norte da Europa estava prestes a explodir em uma explosã o de con lito religioso, e o tesouro
papal estava vazio e o papado com grandes dı́vidas. Leã o X foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro, mas seus
restos mortais foram transferidos em 1536 para a bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, onde um grande
monumento a ele foi erguido.
Parte V

DA CONTRA-REFORMA AO INICIO DA PAPACIA MODERNA

P ERPOS OS QUATRO EVENTOS MAIS SIGNIFICATIVOS que afetam a Igreja Cató lica no segundo milê nio cristã o sã o o Cisma Leste-
Oeste de 1054, a Reforma Protestante do sé culo XVI, a Contra-Reforma Cató lica montada pelo Concı́lio de Trento
entre 1545 e 1563, e o Concı́lio Vaticano II de 1962-65. Embora seja verdade que a Igreja é “ao mesmo tempo santa
e sempre necessitada de puri icaçã o” e deve seguir constantemente “o caminho da penitê ncia e da renovaçã o”
(Vaticano II, Constituiçã o Dogmá tica sobre a Igreja, n. 8), a Reforma Protestante deve nã o foram necessá rios. Foi o
produto de uma sé rie de erros trá gicos e imperdoá veis e açõ es corruptas por parte da liderança da Igreja, o papado
em particular. Os sé culos XIV e XV estiveram entre os piores da Igreja Ocidental. O papado moná rquico, enraizado
especialmente no ponti icado de Gregó rio VII (1073-1085), que se desenvolveu nos sé culos XII e XIII, tornou-se uma
burocracia inchada chafurdando na sede de dinheiro e poder. O papado de Avignon (1305-78) e, em seguida, o
Grande Cisma Ocidental (1378-1417) diminuı́ram tanto a posiçã o do papado na Igreja e no mundo secular que os
concı́lios de Constança (1414-18) e Basel (1431-1449) buscaram substituir o papa como cabeça terrena da Igreja
por um concı́lio geral ou ecumê nico.
Durante esses mesmos anos, o clero tornou-se cada vez mais corrupto, os cargos da igreja estavam à venda e o
principal motivo de muitos detentores de cargos era riqueza, nã o serviço ministerial. Os carreiristas eclesiá sticos
acumulavam tantos benefı́cios (cargos geradores de renda) quanto possı́vel (prá tica conhecida como pluralismo),
sabendo que nunca poderiam atendê -los pessoalmente (situaçã o conhecida como absenteı́smo). Os substitutos mal
pagos nesses benefı́cios eram geralmente ignorantes e pastoralmente incompetentes. A necessidade de reforma foi
quase universalmente reconhecida. De fato, em muitos dos conclaves papais durante esses sé culos pré -Reforma, os
cardeais eleitores obrigaram os candidatos ao papado a se comprometerem sob juramento a realizar certas
reformas da Igreja, se eleitos. Infelizmente, muitos dos papas recé m-eleitos ignoraram suas promessas solenes. Alé m
disso, o interesse pró prio dos papas, bispos e governantes seculares mitigou um compromisso autê ntico com a
reforma, porque muitos deles lucraram pessoalmente com os abusos. A crescente insatisfaçã o popular e o
anticlericalismo criaram um barril de pó lvora que seria de lagrado por Martinho Lutero e outros reformadores no
inı́cio do sé culo XVI. O papado, como vimos na Parte IV, estava terrivelmente despreparado para o desa io. Pelo
contrá rio, era a maior parte do problema.
Lutero postou suas famosas Noventa e cinco teses na porta de uma igreja em Wittenberg em 1517. Só em 1545,
depois que a maior parte do dano foi feito à unidade da Igreja, o papado começou a montar uma resposta sé ria ao
incessante apela à renovaçã o e reforma. No entanto, a maioria das atividades do papado durante esses anos foram
reativas, em vez de proativas. A Reforma Protestante colocou a Igreja Cató lica na defensiva, e ela permaneceria lá até
meados do sé culo XX, combatendo ferozmente o Iluminismo, a Revoluçã o Francesa, o nacionalismo italiano, os
movimentos intelectuais modernos e, especialmente, os estudos teoló gicos e bı́blicos. Nenhum papa desse perı́o do
tipi icou melhor essa atitude defensiva negativa do que o ú ltimo, Gregó rio XVI (1831-46), o primeiro e ú nico monge
camaldulense a servir no papado. Gregó rio XVI foi um papa reacioná rio no sentido literal do mundo. Ele temia e
desprezava quase todos os desenvolvimentos modernos. Ele proibiu as ferrovias nos territó rios papais, se opô s ao
nacionalismo italiano, governou os Estados papais com mã o de ferro, até mesmo esmagando uma revolta com o uso
de tropas austrı́acas, e condenou a liberdade de consciê ncia, liberdade de imprensa e a separaçã o entre Igreja e
Estado. A ú nica exceçã o lagrante à sua agenda reacioná ria foi sua denú ncia da escravidã o e do comé rcio de
escravos.
Paulo III (1534-1549) convocou o Concı́lio de Trento em 1545 e, assim, lançou o que é conhecido como a Contra-
Reforma Cató lica. Que esta Contra-Reforma gerou as sementes de seus pró prios excessos tornou-se rapidamente
evidente durante o ponti icado de Paulo IV (1555-1559), que fortaleceu a Inquisiçã o, estabeleceu o Indice de Livros
Proibidos e con inou os judeus a um bairro especial em Roma e exigiu eles devem usar um capacete distinto. (Leã o
XII [1823-1829] també m con inou os judeus em guetos.) O sucessor de Paulo IV, Pio IV (1559-65), reuniu novamente
o Concı́lio de Trento apó s uma suspensã o de dez anos e comprometeu seu ponti icado com a reforma. Seu sucessor,
Pio V (1566-1572), o ú nico santo canonizado entre os 36 papas do perı́o do coberto na Parte V, fez cumprir os
decretos do Concı́lio de Trento, publicou o Catecismo Romano e reformou o Missal Romano e o Ofı́cio Divino (Liturgia
das Horas). Infelizmente, ele també m excomungou a rainha Elizabeth da Inglaterra, colocando assim os cató licos
daquele paı́s em uma situaçã o de risco de vida. Gregó rio XIII (1572-1585) també m foi um irme defensor das
reformas tridentinas. Ele reconstruiu e dotou o antigo Colé gio Romano, que foi renomeado em sua homenagem
como Universidade Gregoriana, e també m reformou o calendá rio juliano diminuindo dez dias e adicionando um ano
bissexto. O nome do calendá rio reformado també m homenageia sua memó ria. E conhecido como calendá rio
gregoriano.
Foi Sisto V (1585-1590) que estabeleceu o nú mero má ximo de cardeais em setenta - um nú mero nã o excedido até
o ponti icado de Joã o XXIII (1958-63) - e que reorganizou a Cú ria Romana de uma forma que permaneceria
essencialmente inalterada até o Concı́lio Vaticano II (1962-1965). Ele també m transformou Roma de uma cidade
renascentista em uma grande cidade barroca. Paulo V (1605-1621) sempre será lembrado como o papa que
censurou o astrô nomo Galileu - uma censura removida quase quatro sé culos depois no ponti icado de Joã o Paulo II
(1978-2005). Gregó rio XV (1621-23) decretou que as eleiçõ es papais deveriam, a partir de entã o, ser conduzidas
por voto secreto - uma prá tica ainda em vigor hoje. Urbano VIII (1623-44) consagrou a nova Bası́lica de Sã o Pedro
em 1626 (a maneira de inanciar sua construçã o no inı́cio do sé culo XVI foi uma das causas imediatas da Reforma
Protestante) e adotou Castel Gandolfo como residê ncia papal de verã o - ainda é usado hoje para esse im. Alexandre
VII (1655-67) permitiu que os missioná rios jesuı́tas na China usassem os ritos chineses na missa e nos sacramentos
e també m encarregou Bernini de cercar a Praça de Sã o Pedro com duas colunatas semicirculares. Clemente XI
(1700-1721) reverteu a aprovaçã o de Alexandre VII do uso dos ritos chineses - uma decisã o desastrosa que minou
completamente o esforço missioná rio cató lico na China. (A proibiçã o foi inalmente levantada por Pio XII em 1939.)
A memó ria de Clemente XIV (1769-74), um franciscano, é desonrada por sua repressã o aos jesuı́tas em 1773. A
Companhia de Jesus (o tı́tulo formal dos jesuı́tas) foi reintegrado por Pio VII (1800-1823) em 1814. Pio VI (1775-99)
denunciou a Revoluçã o Francesa e morreu prisioneiro de Napoleã o Bonaparte.
Nã o houve muitos “primeiros” durante esses trê s sé culos de histó ria papal. Adriano VI (1522-1523) foi o primeiro
e ú nico papa holandê s, e o ú ltimo nã o italiano até o ponti icado de Joã o Paulo II em 1978. Adriano (Adriano)
també m foi um dos dois ú nicos papas desde o sé culo XVI a manter seu batismo nome como papa. O outro foi
Marcelo II em 1555. O ú ltimo papa a manter sua ex-diocese enquanto servia como bispo de Roma foi Bento XIII
(1724–30). Ele permaneceu como arcebispo de Benevento. (A prá tica era conhecida como pluralismo e sempre foi
fortemente condenada pelos reformadores.) O primeiro papa a publicar uma encı́clica (ou carta circular a todos os
bispos cató licos do mundo) foi Bento XIV em 1740. Este perı́o do també m testemunhou o mais curto ponti icado da
histó ria, o de Urbano VII, eleito em 15 de setembro de 1590 e falecido em 27 de setembro, antes de ser coroado.

216 Adriano [Adrian] VI, holandês, 1459–1523, papa de 9 de janeiro de 1522 a 14 de setembro de 1523.
O primeiro papa da Contra-Reforma Cató lica, Adriano [Adrian] VI foi o ú nico holandê s a servir como papa e o ú ltimo
nã o italiano até Joã o Paulo II (1978–2005). Ele també m é um dos dois ú nicos papas no segundo milê nio cristã o a
reter seu nome de batismo como papa (Marcelo II fez o mesmo em 1555).
Nascido Adrian Florensz Dedal em Utrecht, ele era, como Jesus, ilho de um carpinteiro. Ele foi cardeal-arcebispo
de Utrecht quando eleito por unanimidade para o papado em 9 de janeiro de 1522, com o apoio do imperador
Carlos V. Ele havia sido anteriormente professor, reitor e chanceler na Universidade de Louvain; regente de Aragã o;
bispo de Tortosa; inquisidor de Aragã o, Navarra, Castela e Leã o; e vice-rei da Espanha pelo imperador Carlos.
Quando eleito papa em um conclave profundamente dividido (o chanceler da Inglaterra, Thomas Woolsey, era um
dos principais candidatos), o cardeal Dedal estava na Espanha. Ele veio a Roma por mar para ressaltar sua
independê ncia da França e do impé rio. Conseqü entemente, ele nã o foi coroado até 31 de agosto.
Desde o inı́cio de seu ponti icado, Adriano VI viu sua tarefa como a de conter a Reforma, atendendo à reforma da
administraçã o central da Igreja e de unir o Ocidente cristã o contra os turcos (pelos quais a maioria dos papas desse
perı́o do era obcecada) . Ambos terminariam em fracasso. Primeiro, ele foi mal recebido pelo povo romano, que o
considerava um "bá rbaro" do norte. Eles també m se ressentiam de suas economias apertadas (tornadas necessá rias
pela extravagâ ncia de seu predecessor, Leã o X) e seu desinteresse pela arte e cultura renascentistas. Como os
cardeais també m estavam infelizes, tendo esperado alguns “recompensas” generosas pela eleiçã o dele, eles se
recusaram a cooperar com suas tentativas de reformar a Cú ria.
O legado de Adriano VI na Dieta de Nuremberg (dezembro de 1522) foi instruı́do a reconhecer que a culpa pela
desordem na Igreja estava principalmente na pró pria Cú ria - uma admissã o que os historiadores descreveram como
o primeiro passo na Contra-Reforma Cató lica. O papa, poré m, foi irme em sua oposiçã o à s posiçõ es doutriná rias
tomadas por Martinho Lutero e seus seguidores - opiniõ es que ele havia anteriormente condenado como inquisidor
na Espanha. Adriano VI ordenou a aplicaçã o da proibiçã o dos ensinamentos de Lutero decretada no Edito de Worms
(8 de maio de 1521). Mas o papa (como muitos outros) realmente nã o apreciou a seriedade da revolta de Lutero.
As esperanças de Adriano VI de uma cruzada contra os turcos fracassaram diplomaticamente, apesar da queda de
Rodes para os turcos em dezembro de 1522 e da ameaça iminente à Hungria. O papa alienou Carlos V ao
permanecer neutro na luta de Carlos contra Francisco I da França. Entã o, ele alienou Francisco ao prender o cardeal
Soderini, um aliado do rei francê s. Francisco interrompeu o luxo de dinheiro da França para Roma e se preparou
para invadir a Lombardia. Isso forçou o papa a uma aliança defensiva com o impé rio, Inglaterra, Austria, Milã o e
outras cidades italianas. Pouco mais de um mê s depois, desgastado por esses acontecimentos e enfraquecido pelo
forte calor romano, Adriano adoeceu gravemente e morreu em 14 de setembro de 1523. Ele foi sepultado primeiro
na capela de San Andrea em Sã o Pedro, entre os tú mulos de Pio II e Pio III. Que a má vontade do povo romano para
com ele continuou mesmo depois de sua morte é revelado no graf ito latino escrito em seu tú mulo: “ Hic jacet impius
inter Pios ” (lat., “Aqui jaz um ı́mpio [papa] entre [dois] Pios ”). Seus restos mortais foram transferidos dez anos
depois para a igreja nacional alemã de Santa Maria dell'Anima, em Roma.

217 Clemente VII, 1478–1534, papa de 19 de novembro de 1523 a 25 de setembro de 1534.


Durante o ponti icado de Clemente VII, a Reforma Protestante continuou a se espalhar pelo norte da Europa e pela
Inglaterra, quando Clemente se recusou a conceder o divó rcio a Henrique VIII de Catarina de Aragã o. Nascido Giulio
de 'Medici, ilho ilegı́timo de Giuliano de' Medici, foi cardeal-arcebispo de Florença (nomeado por seu primo Leã o X,
que o dispensou da proibiçã o canô nica de ordenar nascidos ilegı́timos) e vice-chanceler de a Santa Sé foi eleita por
unanimidade (na verdade, proclamada) papa em 19 de novembro de 1523, apó s um conclave de seis semanas (8 de
outubro a 19 de novembro). Ele havia sido um forte candidato no conclave anterior em 1523, mas perdeu para
Adriano VI. Clemente VII foi coroado em 26 de novembro.
Politicamente, o novo papa estava preocupado principalmente em preservar o domı́nio de sua famı́lia sobre
Florença e o papado sobre os Estados papais. Ele vacilou em sua lealdade: primeiro, apoiando Francisco I da França
e, com isso, enfurecendo o imperador Carlos V; depois, apó s a derrota francesa em Pavia e a captura de Francisco I,
buscando a proteçã o do imperador; e entã o ingressando em uma liga militar (com França, Milã o, Florença e Veneza)
contra o imperador. Como resultado, o imperador invadiu a Itá lia e saqueou Roma em 6 de maio de 1527. O papa
fugiu para Castel Sant'-Angelo, mas foi forçado a se render e icou preso por mais de seis meses. Ele só foi libertado
depois de concordar com a ocupaçã o francesa das principais cidades dos Estados papais, prometendo neutralidade
e pagando uma indenizaçã o enorme. Clemente VII, poré m, deixou a agora devastada cidade de Roma para residir
primeiro em Orvieto e depois em Viterbo. Ele veio a reconhecer que seus interesses estavam com o imperador, tanto
para combater a heresia luterana na Alemanha quanto para montar uma cruzada unida contra os turcos, que
estavam avançando sobre Viena. A reconciliaçã o do papa e do imperador foi selada pela coroaçã o de Carlos V em
Bolonha em 24 de fevereiro de 1530, a ú ltima coroaçã o imperial por um papa, e pela restauraçã o do governo dos
Mé dici em Florença. Mas o relacionamento se apoiava em um junco ino. O papa reduziu suas apostas viajando
pessoalmente a Marselha para casar sua sobrinha-neta com o segundo ilho do rei francê s.
Durante o perı́o do de franca inimizade entre o papa e o imperador, a Dieta de Speyer (junho de 1526) rejeitou o
Edito de Worms (1521), que proibia os escritos de Martinho Lutero. Ao fazer isso, Speyer deu aos Reformadores um
espaço valioso para respirar. Clemente VII atrapalhou-se com outra oportunidade de enfrentar o novo desa io
luterano quando se recusou a atender ao chamado do imperador para um conselho geral para lidar com a crise. Ele
també m lidou mal com o divó rcio de Henrique VIII de Catarina de Aragã o, primeiro parecendo simpá tico ao pedido
de dispensa do rei inglê s, depois demorando e, entã o, sob pressã o do sobrinho de Catarina, Carlos V, transferindo o
caso para Roma, posteriormente pronunciando uma sentença adiada de excomunhã o de Henrique em 11 de julho de
1533 (mais tarde imposta por seu sucessor, Paulo III, em 1538), e anulaçã o de seu divó rcio e novo casamento. A
Igreja Inglesa entrou em cisma.
Clemente VII també m nã o conseguiu conter a propagaçã o da Reforma nos paı́ses escandinavos e na Suı́ça e nã o
mostrou nenhuma simpatia pelos movimentos de reforma já em açã o dentro da Igreja, por exemplo, o Orató rio do
Amor Divino (cujos membros incluı́am o futuro Papa Paulo IV ) e as atividades daqueles que fundariam ordens
religiosas importantes, como os jesuı́tas, os capuchinhos e as ursulinas. (O sucessor de Clemente, Paulo III, aprovaria
esses grupos e inauguraria o Conselho reformista de Trento em 1545.)
Fiel à tradiçã o dos Medici, Clemente VII foi patrono de grandes artistas como Michelangelo, Rafael e Cellini e de
teó ricos polı́ticos como Niccolò Macchiavelli. Ele encomendou a Michelangelo a pintura do Juízo Final na Capela
Sistina e a criaçã o de monumentos em memó ria de sua famı́lia na Sagrestia Nuova de San Lorenzo, em Florença.
Clemente VII morreu em 25 de setembro de 1534 e foi sepultado na bası́lica de Santa Maria sopra Minerva.

218 Paulo III, 1468-1549, papa de 13 de outubro de 1534 a 10 de novembro de 1549 (se ainda não foi ordenado bispo na
época de sua eleição, seu ponti icado começaria em 3 de novembro, supondo que fosse consagrado bispo bem como
coroado naquele dia; por outro lado, ele já era cardeal-bispo de Ostia quando eleito; veja abaixo o motivo da
confusão - ele tinha sido bispo de várias dioceses antes mesmo de ser ordenado sacerdote).
Um papa lı́der da Contra-Reforma, Paulo III convocou o Concı́lio de Trento em 1545.
Nascido Alessandro Farnese, ele tinha sessenta e sete anos de idade, era decano do Colé gio dos Cardeais e
cardeal-bispo de Ostia quando eleito papa por unanimidade em 13 de outubro de 1534, apó s um conclave de dois
dias. (Ele tinha sido um candidato sé rio nos conclaves de 1521 e 1523, mas teve a oposiçã o das famı́lias Colonna e
Mé dici.) Ele queria usar o nome de Honó rio IV, mas os cardeais se opuseram e ele escolheu o nome Paulo III em
homenagem ao homem que era papa quando Alessandro nasceu. A eleiçã o de Paulo III foi saudada com alegria e
entusiasmo delirantes porque ele foi o primeiro romano a ser eleito papa em 103 anos. Ele foi coroado em 3 de
novembro. Ele havia sido tesoureiro da Santa Sé e cardeal-diá cono sob a nomeaçã o de Alexandre VI (1439), bispo de
Corneto e Monte iascone, e depois bispo de Parma em 1509, tudo antes de sua ordenaçã o sacerdotal em 1519! Ele
havia adiado a ordenaçã o para continuar seu estilo de vida promı́scuo, sendo pai de quatro ilhos ilegı́timos com
uma nobre amante romana. Seu apelido era “Cardeal Petticoat” porque sua irmã Giulia fora amante de Alexandre VI.
Apó s sua ordenaçã o, ele se aliou aos reformadores da Cú ria.
Paulo III foi um papa da Renascença no sentido mais amplo da palavra. Ele adorava caçar, patrocinou artistas e
escritores, nomeou teó logos proeminentes para cá tedras na universidade romana, contribuiu com manuscritos
valiosos para a Biblioteca do Vaticano, encomendou a Michelangelo para completar o Juízo Final na Capela Sistina
(apó s Paulo censurar Michelangelo pela nudez de suas iguras , o artista retratou o papa entre os condenados com
uma orelha de burro e uma serpente em volta do corpo) e iniciou a construçã o do Palazzo Farnese como uma
homenagem à sua famı́lia. Ele també m organizou bailes de má scaras, organizou banquetes esplê ndidos e reviveu o
carnaval. Seu nepotismo també m estava na tradiçã o renascentista. Dois meses depois de sua eleiçã o, ele nomeou
dois de seus netos como cardeais, com quatorze e dezesseis anos, respectivamente, e entã o deu-lhes importantes
cargos na Igreja. Por outro lado, ele també m fez algumas nomeaçõ es excelentes para o Colé gio de Cardeais, incluindo
Gian (Giovanni) Pietro Carafa (mais tarde Paulo IV), Reginald Pole (arcebispo de Cantuá ria e legado papal na
Inglaterra), St. John Fisher (um lı́der defensor da fé cató lica na Inglaterra), Giovanni Morone (um importante bispo
reformista), Marcello Cervini (mais tarde Marcelo II) e Gasparo Contarini (um importante reformador leigo).
Paulo III está listado entre os papas da reforma cató lica por causa de seus esforços para a renovaçã o da Igreja,
culminando no Concı́lio de Trento em 1545. Esse concı́lio só se reuniu apó s vá rios falsos começos. Paulo III anunciou
originalmente o conselho de Mâ ntua em 1537 e depois de Vicenza em 1538, mas ambos tiveram de ser adiados por
causa das objeçõ es do imperador Carlos V e do rei Francisco I da França. Ele formou uma comissã o de cardeais em
1536 para examinar o estado da Igreja. Seu relató rio contundente tornou-se a base para o Concı́lio de Trento. Em 17
de dezembro de 1538, o papa excomungou Henrique VIII (a sentença anterior de Clemente VII foi suspensa) e
colocou a Inglaterra sob interdiçã o (uma pena eclesiá stica que proibia a administraçã o dos sacramentos). As
potê ncias europeias, no entanto, recusaram-se a ceder aos desejos do papa de impor suas pró prias sançõ es contra a
Inglaterra. A Inglaterra se afastou ainda mais de Roma. Ao mesmo tempo, poré m, o papa promoveu a reforma das
ordens religiosas e o desenvolvimento de novas, incluindo a Companhia de Jesus (ou Jesuı́tas), que ele aprovou
formalmente em 27 de setembro de 1540. Infelizmente, ele també m estabeleceu a Congregaçã o dos a Inquisiçã o
Romana (també m conhecida como Santo Ofı́cio e hoje como Congregaçã o para a Doutrina da Fé ) em 21 de julho de
1542, concedendo-lhe amplos e punitivos poderes de censura.
Somente depois da Paz de Cré py em 18 de setembro de 1544, encerrando a guerra entre a França e o impé rio, o
papa foi capaz de realizar o conselho geral que sempre quis. (O persistente estado de guerra entre as duas potê ncias
tornou impossı́vel para o papa organizar uma cruzada contra os turcos, que ameaçavam as costas da Itá lia e os
postos avançados cristã os no leste.) O concı́lio foi inaugurado em 13 de dezembro de 1545, em Trento , uma cidade
do norte da Itá lia recomendada pelo imperador. O papa foi representado por vá rios legados. O conselho nã o atendeu
à s expectativas dos Reformadores, que esperavam por um corpo mais representativo (incluindo alguns dos pró prios
Reformadores), ou do imperador, que pediu que limitasse sua agenda a questõ es de disciplina e reforma, para nã o
para perturbar os luteranos.
A missa de abertura do Espı́rito Santo na catedral de Trento contou com a presença de quatro cardeais, quatro
arcebispos, vinte e um bispos, cinco generais de ordens religiosas e cinquenta teó logos e canonistas. As primeiras
sete sessõ es trataram da relaçã o entre Escritura e tradiçã o, pecado original, justi icaçã o e os sete sacramentos.
Quando a tensã o renovada se desenvolveu entre o papa e o imperador, o papa usou um surto de tifo como desculpa
para mover o conselho para Bolonha, uma cidade dentro da esfera de in luê ncia papal, em 11 de março de 1547. No
entanto, o imperador objetou e proibiu os bispos alemã es e espanhó is participassem (ele també m era rei da
Espanha). Paulo III, portanto, nã o teve outra opçã o a nã o ser suspender a oitava sessã o em 1º de fevereiro de 1548
(a suspensã o nã o foi publicada formalmente até setembro do ano seguinte).
Seus ú ltimos anos foram marcados por di iculdades familiares. Em 1545, ele deu o controle de Parma e Piacenza
(entã o ducados dentro dos Estados Papais) a seu ilho indigno, Pierluigi, um inimigo do imperador. Quatro anos
depois, Pierluigi foi assassinado e o imperador Carlos V reivindicou os dois ducados para seu genro, Ottavio, que
també m era neto do papa. O papa em seu leito de morte perdoou Ottavio e ordenou que Parma fosse dado a ele.
Paulo III morreu de febre violenta em 10 de novembro de 1549, aos 81 anos, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. Seu tú mulo, do aluno de Michelangelo, Giacomo della Porta, é considerado um dos melhores da bası́lica.

219 Julius III, 1487–1555, papa de 8 de fevereiro de 1550 a 23 de março de 1555.


Durante o ponti icado de Jú lio III, o Concı́lio de Trento foi convocado por um ano (1551-1552). Nascido Giovanni
Maria de 'Ciocchi del Monte, foi eleito papa em 8 de fevereiro de 1550, em um conclave que durou dez semanas. O
cardeal inglê s Reginald Pole perdeu a eleiçã o por um ú nico voto (ele alcançou vinte e cinco votos, mas precisava de
vinte e seis para os dois terços exigidos para a vitó ria). Ciocchi del Monte foi eleito somente depois que um
compromisso foi irmado entre os cardeais franceses e farneses (os criados pelo papa Farnese, Paulo III), contra a
forte oposiçã o do imperador Carlos V (que se ressentiu do papel do cardeal na tentativa de mover o Conselho de
Trento a Bolonha em 1547). Antes da eleiçã o, o cardeal Ciocchi del Monte havia sido assistente (camareiro) de Jú lio
II, razã o pela qual escolheu seu nome. Ele també m havia sido bispo de Pavia, governador de Roma (duas vezes),
sucessor de seu tio como arcebispo de Siponto, cardeal-sacerdote no tı́tulo de Santi Vitalis, Gervase e Protase, e
entã o cardeal-bispo de Palestrina e co-residente de o Concı́lio de Trento (com os cardeais Cervini e Pole). Ele foi
coroado em 22 de fevereiro. Ele tomou posse da Bası́lica de Latrã o, a igreja catedral do papa, em 24 de junho.
Apesar de sua forte formaçã o canô nica, Jú lio III provou ser um papa tı́pico da Renascença, dado à caça, banquetes,
teatro, defendendo os interesses de sua famı́lia e uma variedade de outros prazeres sensuais. Ele criou um escâ ndalo
por causa de sua paixã o por um menino de quinze anos que ele pegou nas ruas de Parma, mandou seu irmã o adotar
e depois fez cardeal e chefe da Secretaria de Estado. (O menino acabou na prisã o por atividade criminosa.) Por causa
de um juramento pré -eleitoral que havia feito com outros cardeais no conclave, ele convocou novamente o Concı́lio
de Trento em 1º de maio de 1551, com a gratidã o e o apoio do imperador Carlos V. O rei Henrique II da França,
entretanto, proibiu a participaçã o francesa. Houve vá rias sessõ es (onze a dezesseis), algumas das quais com a
presença de protestantes alemã es. Mas o concı́lio teve de ser suspenso mais uma vez por causa da guerra franco-
alemã precipitada pelo esforço do papa para expulsar de Parma o pró -francê s Ottavio Farnese (neto de Paulo III).
Quando as forças papais e imperiais combinadas foram derrotadas pelos franceses, os prı́ncipes alemã es se
revoltaram contra Carlos V e o conselho perdeu seu principal apoio polı́tico.
O papa retirou-se para sua nova e luxuosa villa (Villa Giulia, no Porto del Popolo), onde passava a maior parte do
tempo em atividades ociosas, interrompidas por aventuras ocasionais nos negó cios da igreja. Por exemplo, ele
con irmou a constituiçã o da nova Sociedade de Jesus (Jesuı́tas) em 21 de julho de 1550 e, por insistê ncia de Santo
Iná cio de Loyola, estabeleceu o Colé gio Alemã o em Roma para treinar padres diocesanos alemã es para restaurar o
catolicismo em seu paı́s. Quando a cató lica rainha Maria sucedeu Eduardo VI ao trono inglê s em 6 de julho de 1553,
Jú lio III nomeou o cardeal Reginald Pole, um parente da rainha, como legado na Inglaterra. Em 30 de novembro, o
Pó lo solenemente absolveu a Inglaterra do interdito papal colocado sobre ela pelo predecessor de Jú lio III, Paulo III.
O papa també m nomeou Marcello Cervini (o futuro Marcelo II) como bibliotecá rio do Vaticano, Michelangelo como
arquiteto-chefe da nova Bası́lica de Sã o Pedro e o compositor Palestrina como mestre do coro da Cappella Giulia
(Capela Juliana) em Sã o Pedro. Ele morreu de gota (da qual sofria por anos) em 23 de março de 1555 e foi sepultado
na cripta de Sã o Pedro.

220 Marcellus II, 1501–55, papa de 10 de abril a 1 de maio de 1555 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado
no dia de sua eleição, 9 de abril, mas como ainda não era bispo, não poderia se tornar bispo de Roma até a
consagração no dia seguinte).
Um dos ú nicos dois papas nos tempos modernos a manter seu nome de batismo como papa (o outro foi Adriano VI
em 1522), Marcelo II morreu de derrame antes de poder implementar seu ambicioso programa de reformas.
Nascido Marcello Cervini, ele serviu como administrador de trê s dioceses italianas, cardeal-sacerdote de Santa Croce
in Gerusalemme, legado papal na corte imperial, um dos trê s co-presidentes do Concı́lio de Trento e chefe da
Biblioteca do Vaticano. Como chefe de uma comissã o de reforma estabelecida pela primeira vez por Paulo III, ele
criticou tanto o nepotismo e o estilo de vida de seu predecessor, Jú lio III, que teve de se retirar para sua diocese de
Gubbio. Poucas eleiçõ es papais foram tã o promissoras quanto à reforma. Eleito por unanimidade em 9 de abril de
1555, consagrou um bispo e foi coroado no dia seguinte (embora contra a oposiçã o do imperador), reduziu
drasticamente as despesas de sua coroaçã o e diminuiu o tamanho da Cú ria. Para evitar que o nepotismo infectasse
seu ponti icado, como fez com tantos outros antes dele, ele proibiu seus parentes de virem a Roma. Ele reuniu todos
os documentos de reforma preparados por Jú lio III com a intençã o de promulgá -los em uma ú nica bula papal.
Depois de apenas 21 dias como bispo de Roma, Marcelo morreu de um acidente vascular cerebral no dia 1º de maio
e foi enterrado simplesmente na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Ele é homenageado na Missa Papae Marcelli de
Palestrina .

221 Paulo IV, 1476–1559, papa de 23 de maio de 1555 a 18 de agosto de 1559.


A princı́pio aclamado como um reformador, Paulo IV logo se mostrou um papa no velho estilo medieval: autoritá rio,
triunfalista, censor e intolerante. Ele criou o Indice de Livros Proibidos.
Nascido Gian (Giovanni) Pietro Carafa, foi bispo modelo de Chiete (ou Theate), onde fundou uma ordem religiosa
conhecida como Theatinos, dedicada a uma vida de extrema pobreza e à reforma da Igreja. Ele també m foi legado
papal na Inglaterra, arcebispo de Brindisi e nú ncio em Flandres e na Espanha. Embora conhecido como reformador,
ele era hostil a todos os esforços de reconciliaçã o com os luteranos e, como chefe da Inquisiçã o reativada, exerceu
sua autoridade com severidade extraordinariamente brutal. Ele foi nomeado cardeal em 1536, arcebispo de Ná poles
em 1549 e decano do Colé gio dos Cardeais em 1553. O conclave de cerca de quarenta cardeais foi dividido entre
facçõ es pró -francesas e pró -imperiais. Nenhum dos dois pô de eleger seu pró prio candidato, entã o o conclave
inalmente voltou-se para seu reitor de 79 anos, o cardeal Carafa, e o elegeu por unanimidade papa em 23 de maio
de 1555, contra a oposiçã o do imperador Carlos V. Ele adotou o nome Paulo IV em homenagem à memó ria do papa
(Paulo III) que o nomeou cardeal. Trê s dias depois foi coroado na Praça de Sã o Pedro com grande solenidade e
esplendor. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a Bası́lica de Latrã o, em 28 de outubro.
As aventuras de Paulo IV na polı́tica foram geralmente marcadas pelo fracasso. Seu envolvimento em uma guerra
contra a Espanha terminou em derrota. Em questõ es polı́tico-eclesiá sticas, ele nã o se saiu melhor. Ele denunciou a
Paz de Augsburgo (1555), que reconhecia a coexistê ncia de cató licos e protestantes na Alemanha, e apó s a morte da
Rainha Maria I da Inglaterra em 1558, ele insistiu na restituiçã o de todas as propriedades da igreja e exigiu que a
Rainha Elizabeth I apresentasse todos de suas reivindicaçõ es para ele. A sorte do protestantismo na Inglaterra foi
imensamente ajudada pelo comportamento do papa.
Ele se opô s veementemente à convocaçã o do Concı́lio de Trento, porque sentia que poderia travar guerra contra
os protestantes de forma mais e icaz por conta pró pria. Ele tentou estabelecer uma espé cie de para-conselho
consistindo em uma comissã o de cerca de sessenta prelados, mas nunca cumpriu seu propó sito. Ele entã o voltou sua
atençã o para a Inquisiçã o Romana, aumentando sua autoridade e comparecendo regularmente à s suas sessõ es. Seu
senso de ortodoxia era tã o extremo que ele prendeu um homem inocente como o cardeal Giovanni Morone por
heresia no Castelo de Santo Angelo. Em 1557 ele instituiu o Indice de Livros Proibidos, restringindo severamente a
leitura e escrita de livros. Por suspeitar que os judeus ajudassem os protestantes, ele os restringiu a guetos em Roma
e nos Estados papais e obrigou-os a usar capacete distinto.
Do lado positivo, Paulo IV foi geralmente cuidadoso na escolha de cardeais (embora tenha tornado cardeal seu
indigno sobrinho Carlo e promovido outros parentes a benefı́cios lucrativos), e ele insistiu que os bispos residissem
em suas dioceses e os monges em seus mosteiros (até ordenando a prisã o daqueles que foram encontrados em
Roma fora de seus mosteiros). Por causa de sua aspereza e nepotismo, poré m, ele e sua famı́lia eram desprezados
em Roma. Apó s sua morte em 18 de agosto de 1559, multidõ es revoltas destruı́ram o quartel-general da odiada
Inquisiçã o e libertaram seus prisioneiros. A está tua do papa no Capitó lio foi derrubada e des igurada. Paulo IV foi
sepultado na bası́lica de Santa Maria sopra Minerva.

222 Pio IV, 1499–1565, 25 de dezembro de 1559 a 9 de dezembro de 1565.


Pio IV forneceu um contraste surpreendentemente positivo com seu predecessor, Paulo IV. Um papa reformista, ele
voltou a reunir o Concı́lio de Trento apó s uma suspensã o de dez anos.
Nascido Gian (Giovanni) Angelo de 'Medici (sem parentesco com a famosa famı́lia lorentina), ele ocupou vá rios
cargos diplomá ticos e polı́ticos sob Paulo III (1534-1549), incluindo governador de Parma nos Estados Papais, e,
enquanto ainda leigo, foi nomeado arcebispo de Ragusa (Sicı́lia) e, quatro anos depois (1549), criou um cardeal-
sacerdote com o tı́tulo de Santa Pudenziana (e posteriormente com o tı́tulo de Santa Prisca) por Paulo III. Ele ocupou
um cargo na Cú ria sob Jú lio III (1550-1555), cuja eleiçã o ele apoiou, mas foi em geral desagradado por Paulo IV, seu
pró prio predecessor, porque ele discordou da atitude anti-espanhola do papa. No conclave que se seguiu à morte de
Paulo IV, as facçõ es francesa e espanhola no Colé gio dos Cardeais chegaram a um impasse depois de quase quatro
meses. Em seguida, um terceiro grupo, liderado pelo cardeal Carlo Carafa (sobrinho de Paulo IV), apoiou o cardeal
de 'Medici e ele foi eleito papa por aclamaçã o na vé spera de Natal. A votaçã o foi canonicamente con irmada na
manhã de Natal, 25 de dezembro de 1559. O papa recé m-eleito adotou o nome de Pio, disse ele, porque queria ser
“piedoso” tanto no nome quanto na açã o. Mais uma vez, deve-se notar, um conclave papal elegeu um homem muito
diferente do papa falecido. Em contraste com o severo e autocrá tico Paulo IV, Pio IV era caloroso e amigá vel. Ele foi
coroado em 6 de janeiro de 1560. (Signi icativamente, ele nasceu na Pá scoa, foi eleito papa no Natal e coroado na
Epifania.)
Pio IV reabilitou imediatamente o cardeal Giovanni Morone, que havia sido preso por Paulo IV sob suspeita de
heresia, revogou os mandados de prisã o para monges vagabundos, refreados na Inquisiçã o, e começou a revisã o do
complicado Indice de Livros Proibidos. Ele també m restabeleceu relaçõ es amistosas com os Habsburgos, Filipe II da
Espanha e o imperador Fernando I, e preencheu as nunciaturas vagas em Viena, Veneza e Florença. No entanto, ele
també m levou a julgamento dois sobrinhos desprezados de Paulo IV, o cardeal Carlo Carafa e Giovanni, duque de
Palino. Eles foram considerados culpados de instigar a guerra contra a Espanha, de assassinato e de outros crimes e
foram executados. E um dos enigmas do reinado positivo de Pio IV que ele tenha tratado o cardeal Carafa com tanta
dureza depois de ter trabalhado tã o e icazmente para sua eleiçã o para o papado.
Embora Pio IV se entregasse a uma das prá ticas favoritas do nepotismo na Renascença, uma de suas escolhas
provou ser extremamente afortunada. Dentro de uma semana de sua coroaçã o, ele nomeou seu jovem sobrinho
leigo Carlo Borromeo (falecido em 1584) como cardeal-arcebispo de Milã o, onde provou ser um reformador capaz e
comprometido. Borromeo abriu seminá rios para a educaçã o dos futuros padres, desa iou seu clero a viver uma vida
mais moral, estabeleceu uma Confraria de Doutrina Cristã para crianças e, muitas vezes com seu pró prio dinheiro,
cuidou dos pobres e doentes, especialmente durante a peste de 1576 Ele també m serviu seu tio, Pio IV, como
secretá rio de Estado. Borromeo foi canonizado santo em 1610.
A iniciativa mais importante do ponti icado de Pio IV, no entanto, foi a sua reconvocaçã o, apó s uma suspensã o de
dez anos, do Concı́lio de Trento em 1562 (que ele havia se comprometido a fazer no conclave que o elegeu) e sua
orientaçã o ao conselho para um conclusã o bem-sucedida no ano seguinte. Um dos desenvolvimentos que
contribuı́ram para sua urgê ncia foi o avanço do Calvinismo na França. A ú nica questã o que o papa enfrentava era se
continuaria o antigo conselho, como o rei da Espanha, Filipe II, preferia, ou convocaria um novo conselho, como o
imperador alemã o Fernando I desejava, porque Fernando ainda tinha esperanças de forjar alguma reconciliaçã o
com os luteranos em seus territó rios. A bula de convocaçã o de Pio IV ( Ad ecclesiam regimen , 29 de novembro de
1560) evitou a questã o, mas quando o concı́lio se reuniu em Trento em 18 de janeiro de 1562, basicamente retomou
a agenda que havia sido deixada de lado dez anos antes. Nã o sem di iculdade, o papa manteve o controle sobre seus
procedimentos, com a ajuda inestimá vel de seu presidente, o cardeal Morone. O conselho foi encerrado em 4 de
dezembro de 1563, em sua vigé sima quinta sessã o, e Pio IV con irmou oralmente seus decretos em 26 de janeiro de
1564, e formalmente em sua bula Benedictus Deus em 30 de junho de 1564. Começou entã o a difı́cil tarefa de
implementar o decretos do conselho.
O papa estabeleceu uma congregaçã o de cardeais para supervisionar sua aplicaçã o, e ele mesmo ordenou aos
bispos presentes em Roma que retornassem à s suas dioceses e aı́ ixassem residê ncia. Em março de 1564, ele
publicou o Indice de Livros Proibidos do conselho. Uma vez que o conselho havia deixado a questã o da Comunhã o
em ambos os tipos (pã o consagrado e vinho consagrado) ao crité rio do papa, Pio IV permitiu a prá tica de oferecer o
cá lice aos leigos, a crité rio dos bispos na Alemanha, Austria, Hungria e outras regiõ es onde o protestantismo era
forte. No entanto, ele adiou a questã o dos padres casados. Em 13 de novembro de 1564, ele ordenou que bispos,
superiores e professores assinassem a nova “Pro issã o de Fé Tridentina”. Ele pô s em movimento a compilaçã o de um
novo catecismo e a reforma do Missal Romano e do Ofı́cio Divino.
Apesar de todos os seus esforços para a reforma, Pio IV foi incapaz de conter a maré protestante na Alemanha,
França e Inglaterra (ele se absteve de excomungar a rainha Elizabeth I na esperança de uma reconciliaçã o inal).
Como os Estados Papais estavam em pé ssimas condiçõ es inanceiras (seu tesouro foi esgotado com a guerra de
Paulo IV contra a Espanha), Pio IV teve que aumentar novos impostos, o que, por sua vez, provocou grande
insatisfaçã o com ele e até mesmo um atentado contra sua vida. .
Ao contrá rio de seu antecessor, Pio IV reviveu a tradiçã o renascentista de generosidade papal para com artistas,
arquitetos e estudiosos; reviveu a universidade romana, dotando-a de um corpo docente forte; estabeleceu uma
impressora para a publicaçã o de textos cristã os; e adornou a cidade, em colaboraçã o com Michelangelo, com novos
edifı́cios e igrejas, como a Porta Pia e Santa Maria degli Angeli dentro das Termas de Diocleciano, e partes da cú pula
e outras seçõ es da nova Sã o Pedro. Ele també m viu a conclusã o do Borgo Pio, uma seçã o da cidade entre o Castel
Sant'Angelo e o Vaticano, e a Villa Pia dentro dos Jardins do Vaticano. Depois de sofrer por um longo perı́o do de
gota, Pio IV morreu em 9 de dezembro de 1565. Ele foi enterrado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro, mas em janeiro
de 1583 seus restos mortais foram transferidos para a igreja de Santa Maria degli Angeli, que ele havia construı́do .

223 Pio V, St., 1504–72, papa de 7 de janeiro de 1566 a 1 de maio de 1572.


Pio V fez cumprir os decretos do Concı́lio de Trento, publicou o Catecismo Romano , reformou o Missal Romano e o
Breviá rio Romano (Ofı́cio Divino) e excomungou a Rainha Elizabeth I da Inglaterra. Embora mais tarde canonizado
como santo, ele foi um severo aplicador da ortodoxia e provavelmente um anti-semita.
Antonio (Michele) Ghislieri, ilho de pais pobres, foi pastor até se tornar dominicano aos quatorze anos, tomando
como religioso o nome de Michele. Apó s a ordenaçã o sacerdotal como dominicano (1528), foi inquisidor de Como e
Bé rgamo. Ele era tã o zeloso que chegou ao conhecimento do cardeal Gian (Giovanni) Pietro Carafa (mais tarde Paulo
IV), que o recomendou a Jú lio III para ser nomeado para a Inquisiçã o Romana em 1551. Quando Carafa se tornou
papa, ele nomeou seu protegido como bispo de Nepi e Sutri (1556), entã o cardeal da igreja titular de Santa Maria
sopra Minerva (1557), sede da ordem dominicana, e entã o grande inquisidor, ou comissá rio geral, da Inquisiçã o
Romana (1558). Por causa de sua proximidade com a famı́lia Carafa e sua severidade como inquisidor, ele nã o era
favorá vel a Pio IV, que o nomeou bispo de Mondovi em 1560. O Cardeal Alessandrino (como era entã o chamado, em
homenagem a sua cidade natal, Alexandria) era eleito papa em 7 de janeiro de 1566, apó s um conclave de dezenove
dias, com o forte apoio do cardeal (mais tarde Sã o) Charles Borromeo (falecido em 1584), que, para o bem da Igreja,
ignorou as grandes diferenças entre Alessandrino e seu falecido tio, Pio IV. Pio V foi coroado em 19 de janeiro. Ele
acabou com a pompa e as festas tradicionais, insistindo que eram anacrô nicas e ofensivas para os pobres.
A agenda do novo papa era simples e direta: implementar os decretos do Concı́lio de Trento, que haviam sido
suspensos dois anos antes. Primeiro, ele impô s padrõ es rı́gidos de estilo de vida a si mesmo, aos que estavam na
Cú ria e à pró pria cidade de Roma. Ele continuou a seguir um regime moná stico para si mesmo (incluindo a prá tica
de refeiçõ es simples e solitá rias, que permaneceu um costume papal até meados do sé culo XX), e alguns de seus
contemporâ neos até o acusaram de tentar impor o monaquismo a outros també m, incluindo toda a cidadania
romana. Ele continuou a usar seu há bito dominicano branco, que se tornou o vestido padrã o para os papas
subsequentes. Ele se opô s ao nepotismo (embora tenha feito seu sobrinho-neto e companheiro dominicano Michele
Bonelli cardeal e secretá rio de Estado), insistiu que os clé rigos residissem em suas atribuiçõ es pastorais e manteve
uma vigilâ ncia cuidadosa sobre as ordens religiosas (ele aboliu os Humiliati por completo). Fiel aos decretos de
Trento, ele publicou o Catecismo Romano em 1566, um Breviá rio Romano revisado em 1568 e um Missal Romano
revisado em 1570. Os dois ú ltimos trouxeram uniformidade pela primeira vez à celebraçã o da Missa e à recitaçã o do
Ofı́cio Divino . Ele restringiu o uso de indulgê ncias (cuja venda havia sido um fator importante para provocar a
Reforma Protestante) e dispensas ( lexibilizaçõ es das leis da igreja em casos individuais). Para promover as reformas
tridentinas em Roma e na Itá lia em geral, ele visitou pessoalmente as bası́licas romanas e enviou visitantes
apostó licos (papais) aos Estados papais e a Ná poles. Ele també m cuidou da circulaçã o dos decretos fora da Itá lia e
fora da Europa.
O intenso compromisso de Pio V em erradicar a heresia (um retrocesso aos seus primeiros anos como inquisidor,
incluindo o grande inquisidor, ou comissá rio geral, da Inquisiçã o Romana) levou-o a uma dependê ncia desordenada
da Inquisiçã o e seus mé todos frequentemente desumanos. Ele construiu um novo palá cio para ela (o antigo tendo
sido destruı́do por turbas romanas por desprezo pelo falecido Paulo IV), endureceu suas regras e prá ticas e
compareceu pessoalmente à s suas sessõ es. Muitos indivı́duos ilustres foram julgados e condenados sob Pio V, mas
ele ainda se culpava por ser muito tolerante! Ele també m foi excepcionalmente severo com os judeus. Ele permitiu
que alguns permanecessem nos guetos de Roma e em Ancona por razõ es comerciais, mas fora isso sua polı́tica era
expulsar os judeus dos Estados Papais. Em 1571, depois que ele estabeleceu a nova Congregaçã o do Indice, um
escritó rio da cú ria para supervisionar o Indice de Livros Proibidos, centenas de impressores fugiram para a
Alemanha e a Suı́ça. Por outro lado, em 1567 ele declarou seu companheiro dominicano Sã o Tomá s de Aquino
(falecido em 1274) um Doutor da Igreja e em 1570 patrocinou a publicaçã o de uma nova ediçã o de suas obras em
dezessete volumes.
As atividades polı́ticas de Pio V foram amplamente contraproducentes. Ele alienou os governantes cató licos, de
cujo apoio e boa vontade ele precisava, ao reabilitar a desgraçada famı́lia Carafa e por sua postura linha-dura contra
o controle estatal da Igreja, dado em uma bula que continha reivindicaçõ es in ladas de autoridade papal. Sua
excomunhã o e suposta deposiçã o da rainha Elizabeth I da Inglaterra - a ú ltima excomunhã o papal de um monarca
reinante - expô s os cató licos ingleses à perseguiçã o, prisã o, tortura e execuçã o. E també m antagonizou a Espanha, a
França e o impé rio. Na França, Pio V deu assistê ncia inanceira e militar à regente Catarina de Mé dicis para encorajar
sua oposiçã o aos Huguenotes (Calvinistas Franceses), apenas para vê -la conceder liberdade de religiã o aos
Huguenotes na Paz de Saint-Germain em 1570. O papa irritou o imperador Maximiliano II quando ele (o papa)
presumiu nomear um novo grã o-duque da Toscana. E ele estava em con lito constante com seu aliado mais natural, o
rei Filipe II da Espanha, a respeito do controle real sobre a Igreja. Sua ú nica conquista signi icativa na frente polı́tico-
militar foi a vitó ria de sua Santa Liga (com Espanha e Veneza) sobre a frota turca em Lepanto, no Golfo de Corinto,
em 7 de outubro de 1571. A vitó ria encerrou a superioridade turca no Mediterrâ neo. Porque Pio V atribuiu o seu
sucesso à Virgem Santı́ssima (a Confraria do Rosá rio de Roma se reuniu na bası́lica de Santa Maria sopra Minerva
para rezar pela vitó ria), declarou o dia 7 de outubro a festa de Nossa Senhora da Vitó ria (trocada por seu sucessor,
Gregó rio XIII, à festa do Santı́ssimo Rosá rio).
Pio V morreu em 1º de maio de 1572, aos 68 anos, e foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro; em 1588
seus restos mortais foram transferidos para um esplê ndido tú mulo na bası́lica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria
Maior). Foi beati icado em 1º de maio de 1672 por Clemente X e canonizado em 22 de maio de 1712 por Clemente
XI. Dia da festa: 30 de abril.

224 Gregório XIII, 1502–85, papa de 13 de maio de 1572 a 10 de abril de 1585.


Gregó rio XIII é mais conhecido pelo calendá rio gregoriano (1582), ainda em uso hoje, que reformou o calendá rio
juliano diminuindo dez dias e introduzindo um ano bissexto a cada quatro anos. Ele també m reconstruiu e dotou o
Colé gio Romano dos jesuı́tas, que mais tarde (e ainda é ) chamado de Universidade Gregoriana.
Nascido Ugo Buoncompagni, foi ordenado sacerdote por volta dos quarenta anos. Dada a sua forte experiê ncia
jurı́dica e administrativa, assumiu missõ es diplomá ticas para Paulo IV em 1556 e 1557 e foi nomeado bispo de Vieste
em 1558. Participou ativamente no Concı́lio de Trento de 1561 a 1563 e, em reconhecimento aos seus serviços ali, foi
criado cardeal-sacerdote de San Sisto em 1565 e legado papal para a Espanha. Sua missã o bem-sucedida na Espanha
ganhou a admiraçã o do rei Filipe II, que exerceu grande in luê ncia na eleiçã o do cardeal Buoncompagni como papa
em 13 de maio de 1572, apó s um conclave de menos de vinte e quatro horas. Ele tomou o nome de Gregó rio XIII por
respeito a Sã o Gregó rio, o Grande (590-604), a quem ele considerava seu protetor desde a infâ ncia. Ele foi coroado
em 20 de maio, a festa de Pentecostes. (A primeira escolha do conclave havia sido o cardeal Alessandro Farnese,
sobrinho de Paulo III, mas ele foi vetado pelo rei da Espanha, Filipe II. O veto foi entregue ao conclave pelo cardeal
Granvella. O direito de veto imperial foi inalmente eliminado por Pio X em 1904.)
O novo papa tinha uma personalidade mais complacente do que seu predecessor (mais uma vez, ao contrá rio das
suposiçõ es convencionais, um conclave papal escolheu algué m claramente diferente do papa anterior). Por outro
lado, Gregó rio XIII, in luenciado por Sã o Carlos Borromeu (m. 1584), també m estava determinado a promover os
decretos do Concı́lio de Trento e a reforma cató lica em geral. Ele deu alta prioridade à vida dos bispos em suas
dioceses e transformou as nunciaturas de cargos puramente diplomá ticos em instrumentos de reforma da Igreja.
Para assegurar um clero mais instruı́do, ele estabeleceu, com grandes despesas, faculdades em Roma e em outras
cidades e con iou-as principalmente aos jesuı́tas. Em Roma, ele reconstruiu e generosamente dotou o Colé gio
Romano (1572), que mais tarde foi denominado Universidade Gregoriana em sua homenagem, garantiu o futuro do
Colé gio Alemã o e estabeleceu o Colé gio Inglê s (1579). Ele també m fundou um colé gio grego, um maronita, um
armê nio e um hú ngaro (o ú ltimo foi posteriormente fundido com o colé gio alemã o).
Mas, como seu antecessor, Pio V, havia um lado difı́cil em Gregó rio XIII també m. Assim, quando a notı́cia do
massacre dos huguenotes (calvinistas) no Dia de Sã o Bartolomeu na França chegou a Roma no inal de agosto de
1572, ele celebrou o evento com um solene Te Deum (um hino de louvor do sé culo IV cantado em ocasiõ es especiais)
e outras açõ es de graças Serviços. Ele encorajou Filipe II da Espanha a considerar o lançamento de um ataque a
Elizabeth I da Inglaterra da Holanda ou Irlanda. Quando suas esperanças de uma invasã o da Irlanda foram
frustradas, ele apoiou ativamente os planos para assassinar a rainha. Ele perdeu a oportunidade de restaurar a
comunhã o da Sué cia com Roma quando rejeitou o pedido do rei sueco de que os padres fossem autorizados a se
casar, que a comunhã o fosse dada em ambos os tipos (pã o consagrado e vinho consagrado) e que a prá tica de
invocar os santos fosse suprimida . O paı́s permaneceu - e continua sendo - luterano.
Gregó rio XIII foi um grande apoiador dos Jesuı́tas. Ele apoiou suas missõ es na India, China, Japã o e Brasil, bem
como seu trabalho na Europa e completou o trabalho na Gesù , a igreja-mã e dos Jesuı́tas. Ele també m aprovou a
Congregaçã o do Orató rio de Filipe Neri (m. 1595) em 1575 e a reforma dos Carmelitas por Teresa de Avila (m. 1582)
em 1580 (os Carmelitas Descalços, no entanto, nã o se tornaram uma ordem separada até 1593 ) Ele providenciou a
produçã o de uma nova ediçã o do Corpus de Direito Canônico , conforme determinado pelo Concı́lio de Trento, e a
reforma do calendá rio Juliano em 1582. O novo calendá rio envolvia a reduçã o de dez dias (5 a 14 de outubro de
1582 ) e a adiçã o de um ano bissexto. O calendá rio, posteriormente nomeado em sua homenagem (portanto, o
calendá rio gregoriano), foi adotado por estados cató licos, mas os estados protestantes esperaram por mais de um
sé culo. Ele també m declarou um ano de Jubileu em 1575, que trouxe mais de trezentos mil peregrinos a Roma.
Seu apoio a escolas e missõ es, a vá rios empreendimentos militares contra a Inglaterra e os turcos e a vá rios
projetos de construçã o em Roma custou ao papado grandes somas de dinheiro. Nos ú ltimos anos de seu ponti icado,
ele enfrentou graves desordens e banditismo em Roma e nos Estados papais enquanto nobres, despojados de suas
terras por um papa que precisava de receita, revidou em desespero. Gregó rio XIII morreu em 10 de abril de 1585 e
foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

225 Sixtus V, 1520–1590, papa de 24 de abril de 1585 a 27 de agosto de 1590.


Sisto V estabeleceu o nú mero má ximo de cardeais em setenta, um total nã o excedido até o ponti icado de Joã o XXIII
(1958-63), reorganizou a Cú ria Romana de uma forma que permaneceu inalterada até o Concı́lio Vaticano II (1962-
65), e instituiu a prá tica de bispos visitarem a Santa Sé pelo menos uma vez a cada cinco anos para apresentar
relató rios sobre o estado de suas dioceses.
Nascido Felice Peretti, ilho de um agricultor, ele se juntou aos franciscanos aos 12 anos, foi ordenado sacerdote,
fez doutorado em teologia e logo conquistou a reputaçã o de grande pregador. Ele serviu como inquisidor de Veneza,
procurador geral e depois vigá rio geral da ordem franciscana e bispo de Sant'Agata dei Goti antes de sua nomeaçã o
por Pio V como cardeal em 1570. (Ele era o confessor do papa.) Cardeal Montalto (como ele era conhecido por ter
sido educado pelos franciscanos de Montalto) foi nomeado bispo de Fermo no ano seguinte, mas, como nã o era
favorecido pelo novo papa, Gregó rio XIII, passou a maior parte do tempo em semi-aposentadoria em sua villa em o
Esquilino. (Gregó rio XIII suspendeu sua pensã o, mas o grã o-duque da Toscana compensou a perda.) Como resultado,
ele era um desconhecido no conclave apó s a morte de Gregó rio - exceto para um pequeno mas poderoso cı́rculo de
amigos, que explorou a divisã o em o Colé gio de Cardeais entre as facçõ es Mé dici e Farnese, de um lado, e os
franceses e espanhó is, do outro, e garantiu sua eleiçã o unâ nime como papa em 24 de abril de 1585. Ele adotou o
nome de Sisto V em respeito a seu companheiro franciscano Sisto IV (1471-84). Ele foi coroado em 1º de maio.
O novo papa imediatamente abordou o problema da ilegalidade nos Estados papais. Empregando as mais duras
medidas de repressã o, incluindo execuçõ es pú blicas e exposiçã o de cabeças de bandidos na ponte de Sant'Angelo,
ele inalmente controlou a situaçã o por um perı́o do de dois anos. Ele també m reabasteceu o tesouro papal com
astutas polı́ticas econô micas e agrı́colas, cortando despesas, aumentando novos impostos, vendendo escritó rios da
igreja (o pecado da simonia) e empré stimos lutuantes. Ele se estabeleceu como um dos prı́ncipes mais ricos e
inanceiramente independentes de toda a Europa.
Seu lugar na histó ria papal e da igreja, no entanto, está relacionado com a reorganizaçã o da Cú ria Romana. Em
1586, ele ixou o nú mero má ximo de cardeais em setenta (nã o ultrapassado até o ponti icado de Joã o XXIII [1958-
63]). Suas pró prias nomeaçõ es para o Colé gio de Cardeais foram geralmente de alta qualidade, mas ele chocou seus
contemporâ neos quando nomeou seu sobrinho de quinze anos. Ele reorganizou a Secretaria de Estado em 1588,
com quinze congregaçõ es permanentes de cardeais, seis para supervisionar assuntos seculares e oito para assuntos
espirituais. Como resultado, o consistó rio de cardeais (um ó rgã o que à s vezes se considerava co-regente com o
papa) perdeu importâ ncia. Em 1585, ele reavivou a exigê ncia de que os bispos visitassem a Santa Sé pelo menos uma
vez a cada cinco anos para informar sobre o estado de suas dioceses. Essas visitas, ainda em vigor, sã o conhecidas
como visitas ad limina (lat., “Aos limiares [dos tú mulos dos apó stolos]”). Ele també m publicou apressadamente uma
versã o revisada da Bı́blia Vulgata, de acordo com o mandato do Concı́lio de Trento, mas estava tã o cheia de erros
que teve que ser retirada apó s sua morte. Ao contrá rio de seu antecessor, Gregó rio XIII, Sisto V era geralmente frio
com os jesuı́tas, embora parcial para com seus companheiros franciscanos. Ele fez de Sã o Boaventura (falecido em
1274) um Doutor da Igreja.
Nas frentes polı́tica e internacional, Sixtus teve menos sucesso. Ele nã o fez progressos contra os turcos (embora se
imaginasse criando um estado cristã o em torno do Santo Sepulcro em Jerusalé m), viu a Armada Espanhola (cuja
construçã o ele ajudou) derrotada pelos ingleses em 1588 e falhou em seus esforços para conter a maré do
protestantismo na França. Ele promoveu os esforços missioná rios no Japã o, China, Filipinas e Amé rica do Sul.
Sixtus V dedicou-se à transformaçã o da cidade de Roma de uma cidade renascentista para uma cidade barroca. Ele
mudou o layout de suas ruas principais, ligando as sete igrejas de peregrinaçã o e colocando quatro grandes
obeliscos em locais-chave (incluindo a Praça de Sã o Pedro), drenando pâ ntanos e construindo aquedutos de 32
quilô metros para um novo abastecimento de á gua. Ele reconstruiu o Palá cio de Latrã o, ampliou o Palá cio do
Quirinale (ou Quirinal) e completou a cú pula da Bası́lica de Sã o Pedro. Ele també m construiu um novo pré dio para a
Biblioteca do Vaticano e fundou a Imprensa do Vaticano. Ele morreu em 27 de agosto de 1590, aos 69 anos, apó s
vá rios ataques sucessivos de malá ria. Ao ouvir a notı́cia de sua morte, turbas romanas derrubaram sua está tua no
Capitó lio. Ele foi sepultado na bası́lica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior).

226 Urbano VII, 1521–1590, papa de 15 de setembro a 27 de setembro de 1590.


O ponti icado de Urbano VII foi um dos mais curtos da histó ria. Ele morreu antes de sua coroaçã o. Nascido Giovan
Battista Castagna, era sobrinho do cardeal Verallo. Ele serviu como legado papal na França, um o icial da Cú ria,
arcebispo de Rosanno (Rozzano), governador nos Estados Pontifı́cios, um participante ativo no Concı́lio de Trento
(1562-1563), nú ncio na Espanha, governador de Bolonha, consultor (mais tarde inquisidor geral) ao Santo Ofı́cio e
cardeal-sacerdote de San Marcello al Corso (1583). Quando foi eleito papa em 15 de setembro de 1590, muitos
tinham grandes esperanças de que seu ponti icado seria reformista, mas moderado. Embora estivesse com boa
saú de, o novo papa contraiu malá ria na noite apó s sua eleiçã o e morreu antes que sua coroaçã o pudesse ocorrer.
Urbano VII foi sepultado na bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, em Roma. Ele deixou uma grande quantia de
dinheiro para cuidar de meninas pobres.

227 Gregório XIV, 1535–91, papa de 5 de dezembro de 1590 a 16 de outubro de 1591.


O ponti icado de Gregó rio XIV foi um dos menos populares e menos bem-sucedidos da histó ria, marcado como foi
pela nomeaçã o de seu sobrinho incompetente como secretá rio-cardeal de Estado e pela peste, escassez de alimentos
e ilegalidade em Roma. Nascido Niccolò Sfondrati, era amigo de Sã o Carlos Borromeu (falecido em 1584), foi
nomeado bispo de Cremona aos 25 anos, atuou como participante ativo do lado da reforma no terceiro e ú ltimo
perı́o do do Concı́lio de Trento (1562-1563), e foi nomeado cardeal no tı́tulo de Santa Cecı́lia em 1583. Embora
tivesse pouca experiê ncia curial, foi eleito papa com o apoio dos cardeais pró -espanhó is de uma lista de sete
candidatos apó s uma facçã o -conclave montado por mais de dois meses. Ele adotou o nome do papa que o nomeou
cardeal, Gregó rio, e foi coroado em 8 de dezembro.
Embora tivesse apenas 55 anos de idade, ele estava isicamente fraco e freqü entemente com dores. O estado de
saú de e a pró pria insegurança quanto à falta de experiê ncia na Cú ria o levaram a nomear seu sobrinho de 29 anos,
Paolo Emilio Sfondrati, cardeal-secretá rio de Estado. Paolo, no entanto, estava mais interessado no seu pró prio bem-
estar e no de sua famı́lia do que no da Igreja. O ressentimento se desenvolveu rapidamente entre os outros cardeais.
Politicamente, Gregó rio XIV abandonou a abordagem equilibrada de seu predecessor, Sisto V, à rivalidade entre a
Espanha e a França e se posicionou fortemente ao lado da Espanha, que havia apoiado sua candidatura ao papado.
Ironicamente, sua posiçã o linha-dura contra o rei protestante Henrique IV trouxe cató licos moderados na França
para o lado de Henrique, e isso apressou sua conversã o ao catolicismo.
Os problemas na cidade de Roma - especialmente a escassez de alimentos - foram exacerbados pela administraçã o
incompetente de seu sobrinho. A medida que icava cada vez mais fraco, Gregó rio XIV continuou a cumprir suas
responsabilidades papais de um leito de doente. Ele pediu a aplicaçã o dos requisitos de residê ncia para bispos e
de iniu as quali icaçõ es dos candidatos à hierarquia, proibiu a missa de ser celebrada em casas particulares e
providenciou a revisã o da ediçã o defeituosa de Sisto V da Bı́blia Vulgata. Ele també m proibiu todos os jogos de azar
nas eleiçõ es papais, na duraçã o de um ponti icado ou na criaçã o de cardeais - prá ticas que eram evidentemente
populares na é poca. Gregó rio XIV morreu em 16 de outubro de 1591, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, na
capela gregoriana ao lado do tú mulo de Gregó rio XIII.

228 Innocent IX, 1519–91, papa de 29 de outubro a 30 de dezembro de 1591.


Terceiro papa eleito no espaço de treze meses, o idoso Inocê ncio IX serviu apenas dois meses. Nascido Giovanni
Antonio Facchinetti, foi bispo de Nicastro (de quem mais tarde renunciou por motivos de saú de), participou
ativamente da terceira e ú ltima fase do Concı́lio de Trento (1562-1563), foi nú ncio papal em Veneza, onde ajudou a
forjar a aliança anti-turca que derrotou os turcos na famosa batalha naval em Lepanto em 1571, serviu na Cú ria
Romana (incluindo a Inquisiçã o), foi nomeado patriarca titular de Jerusalé m e depois foi nomeado cardeal de Santi
Quattro Coronati em 1583. O cardeal Facchinetti fora um candidato sé rio em conclaves anteriores. Embora estivesse
na lista de candidatos aceitá veis da Espanha, até os cardeais anti-espanhó is aceitaram sua eleiçã o por causa de sua
idade e saú de frá gil. Ele foi eleito em 29 de outubro de 1591 e coroado em 3 de novembro.
O novo papa, como esperado, seguiu uma polı́tica pró -espanhola como seu antecessor, Gregó rio XIV.
Conseqü entemente, ele forneceu apoio inanceiro e militar para manter a pressã o sobre o ainda protestante
Henrique IV, rei da França. Ele també m tomou medidas para lidar com o problema persistente da ilegalidade em
Roma, regulamentou o curso do rio Tibre e concluiu as obras na cú pula da Bası́lica de Sã o Pedro. Dentro da Cú ria,
ele dividiu a Secretaria de Estado em trê s seçõ es: uma para a França e a Polô nia, uma para a Itá lia e Espanha e uma
terceira para a Alemanha. Honrando uma nova tradiçã o, ele nomeou seu sobrinho-neto Antonio Facchinetti para o
Colé gio dos Cardeais. Inocê ncio IX adoeceu em 18 de dezembro, mas insistiu em fazer uma peregrinaçã o à s sete
igrejas de peregrinaçã o de Roma. Ele morreu poucos dias depois, em 30 de dezembro, e foi sepultado em uma
tumba simples na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Talvez porque as pessoas religiosas muitas vezes confundem uma
personalidade melancó lica e retraı́da com santidade, o papa falecido foi venerado como um santo por muitos
romanos. Ele nunca foi beati icado ou canonizado, entretanto.

229 Clemente VIII, 1536-1605, papa de 3 de fevereiro de 1592 a 3 de março de 1605 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado no dia de sua eleição, 30 de janeiro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar bispo de
Roma até a consagração em 3 de fevereiro).
O quarto papa eleito no espaço de apenas um ano e quatro meses, Clemente VIII publicou uma ediçã o corrigida da
Bı́blia Vulgata, expandiu o Indice de Livros Proibidos e aumentou a severidade da Inquisiçã o.
Nascido Ippolito Aldobrandini, ele serviu em vá rios cargos na cú ria sob Pio V (1566-1572) e Sisto V (1585-1590),
que o tornou cardeal-sacerdote no tı́tulo de San Pancrazio em 1585. Legado papal para a Polô nia em 1588-1589, ele
foi um sé rio candidato ao papado nos trê s conclaves anteriores de 1590-1591. Embora nã o fosse um favorito do
partido pró -espanhol, ele teve o apoio su iciente para ser eleito em 30 de janeiro de 1592. (Os cardeais espanhó is
haviam tentado eleger o cardeal Sartorio por aclamaçã o, ou “adoraçã o”, mas foram bloqueados pelos cardeais
Altemps, Gesualdi e Colonna, que exigiam uma eleiçã o canô nica regular.) O papa eleito foi consagrado bispo de Roma
em 3 de fevereiro e coroado em 9 de fevereiro. Ele adotou o nome de Clemente porque seu amigo Philip Neri previu
que ele o faria se tornaria papa algum dia e levaria esse nome.
Uma pessoa ascé tica que sofre de gota, Clemente VIII viveu uma vida tradicionalmente piedosa e austera, viajando
a pé todos os meses para as sete igrejas de peregrinaçã o de Roma. Ele era um amigo pró ximo de Sã o Filipe Neri
(falecido em 1595), fundador dos Oratorianos, e o cé lebre historiador Cesare Baronius (falecido em 1607) foi seu
confessor. Entre os cardeais que ele nomeou estavam o pró prio Baronius e o famoso teó logo jesuı́ta Robert
Bellarmine (m. 1621), mais tarde canonizado um santo. Por outro lado, ele gostava de exibiçõ es e era indevidamente
generoso com sua famı́lia. Embora tivesse sido um forte crı́tico do nepotismo quando ele pró prio era cardeal, ele
nomeou seus sobrinhos Cinzio e Pietro Aldobrandini para o Colé gio de Cardeais e entregou os assuntos da Igreja a
eles quase inteiramente. Ele també m nomeou um sobrinho-neto de quatorze anos para a faculdade.
Clemente VIII pelo menos tentou levar avante o movimento de reforma lançado pelo Concı́lio de Trento (1545-
1563). Ele promoveu a reforma das casas religiosas, publicou uma versã o corrigida da Bı́blia Vulgata (que
permaneceu em vigor até as traduçõ es mais recentes e crı́ticas de meados do sé culo XX) e emitiu ediçõ es revisadas
de uma sé rie de livros litú rgicos, incluindo o Pontifı́cio , o Breviá rio, o Cerimonial e o Missal Romano. No entanto, ele
també m expandiu o Indice de Livros Proibidos, incluindo a proibiçã o de todos os livros judeus. Ele aumentou a
severidade da Inquisiçã o que, durante seu ponti icado, enviou mais de trinta pessoas à fogueira, incluindo o ex-
iló sofo dominicano Giordano Bruno (1600). Mas sua preocupaçã o com a ortodoxia foi acompanhada por uma
indecisã o enervante. Assim, ele observou cuidadosamente a acirrada disputa teoló gica entre os jesuı́tas e os
dominicanos sobre a presciê ncia de Deus e a relaçã o entre graça e livre arbı́trio (Deus sabe se seremos salvos ou
nã o? Em caso a irmativo, que papel Deus desempenha no resultado? Se for um papel decisivo, que tal o nosso livre
arbı́trio?), mas nã o chegou a nenhuma conclusã o sobre o debate, mesmo depois de presidir pessoalmente a
comissã o que designou para resolver a contrové rsia.
Na á rea polı́tica, ele veio a contragosto em 1595 para reconhecer o agora cató lico Henrique IV como rei da França
e absolvê -lo da excomunhã o imposta por Sisto V dez anos antes. Isso signi icou, no entanto, que Clemente VIII teve
que aceitar o Edito de Nantes (1598) que concedeu liberdade religiosa e igualdade civil aos huguenotes protestantes.
Ao mesmo tempo, esse ato de reconhecimento de Henrique IV també m libertou o papado do domı́nio espanhol.
Clemente VIII mediou a paz entre a Espanha e a França em 1598 (o Tratado de Vervins). Ele falhou, entretanto, em
organizar uma aliança efetiva de potê ncias cristã s contra os turcos, que entã o ameaçavam a Hungria e a Austria. Suas
esperanças de conversã o de Jaime I e o retorno da Inglaterra ao rebanho cató lico també m fracassaram, assim como
seu sonho de uma restauraçã o cató lica na Sué cia.
Em relaçã o a questõ es mais diretamente eclesiá sticas, Clemente VIII endossou em 1595 propostas que foram
posteriormente aceitas pelo Sı́nodo de Brest-Litovsk (1596), segundo as quais milhõ es de Cristã os Ortodoxos na
Polô nia se uniriam à Igreja Cató lica Romana, mantendo sua liturgia. Ele nomeou Sã o Francisco de Sales (falecido em
1622) como coadjutor, entã o bispo de Genebra, para fortalecer a Contra-Reforma na Suı́ça. O ano do Jubileu que ele
proclamou para 1600 trouxe milhõ es de peregrinos a Roma. Só oitenta mil testemunharam a abertura da Porta
Santa na Bası́lica de Sã o Pedro em 31 de dezembro de 1599. Clemente VIII morreu em 3 de março de 1605 e foi
sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Em 1646 seus restos mortais foram transferidos para um magnı́ ico tú mulo na
Capela Borghese (ou “Paolina”) na bası́lica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior).

230 Leo XI, 1535–1605, papa de 1 ° de abril a 27 de abril de 1605.


Sobrinho de Leã o X (1513-1521), Leã o XI estava velho e com problemas de saú de quando eleito e serviu por menos
de um mê s. Nascido Alessandro Ottaviano de 'Medici, foi um discı́pulo favorito de Sã o Filipe Neri (m. 1595), foi
nomeado bispo de Pistoia em 1573, arcebispo de Florença em 1574, cardeal em 1583, legado papal na França em
1596, cardeal- bispo de Albano em 1600, e depois cardeal-bispo de Palestrina em 1602. Ele foi eleito papa em 1º de
abril de 1605, com forte apoio da França e oposiçã o igualmente forte da Espanha. (Na primeira votaçã o, dez cardeais
votaram no teó logo jesuı́ta Robert Bellarmine, e vinte votaram no oratoriano Cesare Baronius. Depois que os votos
de Baronius subiram para 37 na segunda votaçã o, ele instou seus partidá rios a nã o votarem nele.) Cardeal de
'Medici adotou o nome de Leã o XI em respeito a seu tio, Leã o X, e foi coroado em 10 de abril. Ele adoeceu ao tomar
posse da Bası́lica de Latrã o (a catedral do papa como bispo de Roma) e morreu antes do inal do mê s, em 27 de
abril. Foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

231 Paulo V, 1552-1621, papa de 16 de maio de 1605 a 28 de janeiro de 1621.


Apesar de suas realizaçõ es positivas, Paulo V é mais lembrado como o papa que censurou o famoso astrô nomo
Galileu por ensinar que a Terra gira em torno do sol e por colocar o tratado de Copé rnico no Indice de Livros
Proibidos.
Nascido Camillo Borghese, serviu na Cú ria Romana, foi enviado em missã o diplomá tica à Espanha e foi nomeado
cardeal aos 44 anos no tı́tulo de Sant'Eusebio em 1596, bispo de Iesi em março de Ancona (1597 –99), e vigá rio (isto
é , o bispo efetivo) de Roma e inquisidor em 1603. Sua eleiçã o para o papado em 16 de maio de 1605, aos 53 anos
como o cardeal mais jovem, foi uma grande surpresa para a maioria das pessoas. O conclave de cerca de cinquenta e
nove cardeais presentes em Roma a princı́pio parecia pronto para eleger o cardeal Toschi di Modena, governador de
Roma e um eminente jurista, por aclamaçã o ("adoraçã o" era o termo canô nico), mas o cardeal Cesare Baronius
interveio e argumentou fortemente que Toschi era indigno. Entã o, os cardeais repentinamente desorientados
voltaram-se para o pró prio Barô nio, mas ele recusou (como izera no conclave anterior). O cardeal Borghese foi
visto como um compromisso aceitá vel entre as facçõ es rivais e foi eleito. Ele foi coroado em 29 de maio e tomou
posse da Bası́lica de Latrã o (a catedral do papa em Roma) em 6 de novembro.
O novo papa imediatamente teve problemas com os poderes polı́ticos contemporâ neos, tanto cató licos quanto
protestantes, por causa de sua visã o in lada da autoridade papal, particularmente na ordem temporal. Alguns
estados italianos cederam a ele no inı́cio (Sabó ia, Gê nova, Ná poles), mas Veneza resistiu. Proibiu a construçã o de
novas igrejas e a aquisiçã o de terras pela Igreja sem a permissã o do Senado. També m permitiu que dois clé rigos (um
bispo e um abade) fossem a julgamento nos tribunais seculares. Quando os protestos de Paulo V de dezembro de
1605 e março de 1606 foram ignorados, ele excomungou o Senado de Veneza e colocou a cidade sob interdiçã o
(uma pena canô nica que negava os sacramentos à queles dentro do territó rio coberto pelo interdito). Veneza,
entretanto, declarou o interdito invá lido, e a maioria do clero local o ignorou. Os jesuı́tas, teatinos e capuchinhos o
observaram e foram expulsos por isso. Outros clé rigos foram presos. Uma vigorosa guerra de pan letos se seguiu,
com os cardeais Robert Bellarmine (m. 1621) e Cesare Baronius (m. 1607) defendendo a posiçã o do papa, e Fra
Paolo Sarpi (m. 1623) defendendo o argumento da Repú blica de Veneza de que o papa nã o tinha tempo autoridade.
Somente a intervençã o do rei Henrique IV da França impediu a deserçã o de Veneza para o protestantismo. Em abril
de 1607, o interdito foi levantado. Embora o clero preso tenha sido libertado, Paulo V sofreu uma sé ria derrota
moral. Os jesuı́tas continuaram a ser excluı́dos da repú blica.
Paulo V també m enfrentou problemas polı́ticos na Inglaterra e na França. Quando o parlamento inglê s exigiu que
os cató licos izessem um juramento negando o direito do papa de depor prı́ncipes, Paulo V denunciou o juramento e,
com o apoio dos jesuı́tas (incluindo o cardeal Robert Bellarmine), proibiu os cató licos ingleses de fazê -lo. Mas isso só
dividiu os cató licos daquele paı́s porque seu arcipreste George Blackwell os aconselhou a jurar. Ele foi substituı́do
em 1608. Na França, a condenaçã o do papa ao galicanismo (a visã o de que a Igreja francesa é amplamente
autô noma de Roma) fez com que os Estados Gerais em 1614 declarassem que o rei francê s deriva sua autoridade
somente de Deus, nã o do papa . Os Estados Gerais també m proibiram a promulgaçã o dos decretos do Concı́lio de
Trento (1545-1563) na França. O clero francê s, no entanto, votou pela aprovaçã o de sua publicaçã o em 1615.
Em questõ es de reforma da igreja, Paulo V renovou a obrigaçã o de residê ncia episcopal (bispos vivendo em suas
dioceses), publicou o Ritual Romano revisado e reforçou a disciplina nas ordens religiosas. Ele aprovou o uso do
verná culo na liturgia na China em 1615 e adiou inde inidamente o debate entre os jesuı́tas e os dominicanos sobre a
graça, o livre arbı́trio e a presciê ncia de Deus que irrompeu durante o ponti icado de Clemente VIII (1592–1605). Ele
aprovou a Congregaçã o do Orató rio de Sã o Filipe Neri em 1612, e o Orató rio francê s de Pierre de Bé rulle em 1613.
Em 1º de novembro de 1610, ele canonizou o grande cardeal reformador Carlos Borromeo (m. 1584) e Francisco de
Roma ( d. 1440) e beati icou outros reformadores proeminentes, a saber, Iná cio de Loyola (m. 1556), Francisco
Xavier (m. 1552), Philip Neri (1595) e Teresa de Avila (m. 1582).
Na cidade de Roma, Paulo V completou a nave, fachada (onde colocou seu nome em letras gigantes) e pó rtico
(pó rtico) da Bası́lica de Sã o Pedro, ergueu vá rias fontes (incluindo uma na Praça de Sã o Pedro), e melhorou o
abastecimento de á gua a eles restaurando dois aquedutos, incluindo o aqueduto de Trajano (rebatizado de “Acqua
Paoli”). Ele ampliou a Biblioteca do Vaticano e estabeleceu uma coleçã o de arquivos secretos do Vaticano.
Infelizmente, ele també m estava vigilante em favor dos interesses inanceiros de sua pró pria famı́lia. No inal de seu
ponti icado, a famı́lia Borghese era tã o rica e poderosa quanto as famı́lias Orsini e Colonna. O sobrinho do papa, o
cardeal Scipioni Cafarrelli Borghese, que atuou como secretá rio de Estado papal, icou tã o rico que conseguiu
construir a famosa Villa Borghese em Roma.
Infelizmente por sua memó ria e lugar na histó ria, Paulo V é mais lembrado por ter censurado o famoso
astrô nomo Galileu Galilei (falecido em 1642) por defender uma teoria cientı́ ica (vá lida, mas nã o demonstrá vel até o
sé culo XIX) adotada pelo grande astrô nomo polonê s Nicolaus Copé rnico (falecido em 1543), ou seja, que a terra gira
em torno do sol, e nã o vice-versa. A Inquisiçã o declarou a teoria incompatı́vel com a Sagrada Escritura e ordenou
que Galileu nã o ensinasse ou tentasse provar a teoria. As obras de Copé rnico foram colocadas no Indice de Livros
Proibidos em 5 de março de 1616. (Galileu foi levado à Inquisiçã o novamente em 1633, forçado a renunciar à sua
posiçã o e colocado em prisã o domiciliar pelo resto de sua vida. Em 1979, Joã o Paulo II admitiu que a Igreja cometeu
um erro em seu julgamento contra Galileu e, em 1984, tornou pú blicos todos os documentos relevantes.)
Paulo V sofreu um derrame durante a procissã o durante um serviço religioso para comemorar a vitó ria militar
sobre o protestante Frederico V, rei de vida curta da Boê mia, na batalha da Montanha Branca perto de Praga e
morreu de um segundo derrame em 28 de janeiro de 1621. Foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro e depois
na magnı́ ica Capela Borghese (ou “Paolina”) da bası́lica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior).

232 Gregório XV, 1554-1623, papa de 9 de fevereiro de 1621 a 8 de julho de 1623.


O primeiro papa treinado pelos jesuı́tas, Gregó rio XV, decretou que as eleiçõ es papais deveriam ser conduzidas por
voto secreto (uma prá tica que continua em vigor até hoje), fundou a Sagrada Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé
e canonizou Teresa de Avila, Philip Neri, e os dois grandes jesuı́tas Iná cio de Loyola e Francisco Xavier.
Nascido Alessandro Ludovisi, ocupou vá rios cargos na Cú ria Romana, serviu em missõ es diplomá ticas, tornou-se
arcebispo de Bolonha em 1612 (onde iniciou uma sé rie de reformas, especialmente na á rea da formaçã o e
supervisã o do clero), e foi nomeado cardeal-sacerdote com o tı́tulo de Santa Maria in Trastevere em 1616 em
reconhecimento aos seus esforços bem-sucedidos na negociaçã o de uma paz entre Sabó ia e a Espanha. No conclave
que se seguiu à morte de Paulo V, os cardeais primeiro se voltaram para o cardeal Robert Bellarmine, que recusou a
eleiçã o. Em seguida, apoiaram o cardeal Frederico Borromeo, primo de Carlos (Carlo) Borromeo, mas ele també m
recusou decididamente. Por im, os cardeais recorreram ao cardeal Ludovisi, de 67 anos e de saú de frá gil. Ele
aceitou e foi eleito por aclamaçã o em 9 de fevereiro de 1621, em grande parte devido à politicagem do sobrinho de
Paulo V, o cardeal Borghese. Ele tomou o nome de Gregó rio XV em homenagem a Gregó rio XIII. Ele foi coroado em
14 de fevereiro.
O novo papa continuou a prá tica agora padrã o de nomear um sobrinho de con iança como cardeal-secretá rio de
Estado, Ludovico Ludovisi, de 25 anos, que se tornou extremamente rico no cargo. Ele també m decidiu reformar o
sistema de eleiçõ es papais, preocupado com as in luê ncias externas exercidas sobre eles. Em dois decretos
separados em 1621 e 1622, ele ordenou que, embora a eleiçã o por aclamaçã o nã o devesse ser excluı́da (ele pró prio
havia sido eleito dessa maneira), as eleiçõ es deveriam ocorrer normalmente apó s o conclave ter sido fechado ao
pú blico e que a votaçã o deveria ser conduzida por votaçã o secreta escrita. Nenhum candidato pode votar em si
mesmo; uma maioria de dois terços é necessá ria para a vitó ria; e cada cardeal deve fazer um juramento de que nã o
está votando em um candidato que julga nã o quali icado para o papado.
Para coordenar os amplos esforços missioná rios da Igreja, Gregó rio XV fundou a Congregaçã o para a Propagaçã o
da Fé em 1622 e designou treze cardeais a ela. A nova congregaçã o se tornou uma sede virtual da Contra-Reforma,
uma vez que os esforços missioná rios foram direcionados nã o apenas para terras nã o-cristã s, mas para aquelas
agora sob o controle do protestantismo. Gregó rio XV també m enviou o cardeal Carlo Carafa à corte imperial para
obter o apoio do imperador e dos prı́ncipes cató licos para a causa da restauraçã o cató lica. O catolicismo foi
reimposto na Boê mia e garantiu a maioria entre os cinco eleitores palatinos. O papa recompensou as polı́ticas anti-
calvinistas da coroa francesa elevando Paris à categoria de sede metropolitana (1622).
Em 12 de março de 1622, Gregó rio XV canonizou como santos quatro indivı́duos bem conhecidos beati icados por
seu predecessor, Paulo V, doze anos antes: Teresa de Avila (m. 1582), Filipe Neri (m. 1595) e os dois grandes Jesuı́tas
Iná cio de Loyola (falecido em 1556), fundador da Companhia de Jesus, e Francisco Xavier (falecido em 1552), um
dos maiores missioná rios da Igreja em todos os tempos.
Gregó rio XV morreu no Palá cio do Quirinale em 8 de julho de 1623 e foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o
Pedro, mas os restos deste papa treinado pelos jesuı́tas foram posteriormente transferidos (em 1634) para a recé m-
concluı́da igreja de Sant'Ignazio em Roma .

233 Urbano VIII, 1568-1644, papa de 6 de agosto de 1623 a 29 de julho de 1644.


Embora conhecido por consagrar a nova Bası́lica de Sã o Pedro em 1626 e por selecionar Castel Gandolfo como
residê ncia papal de verã o (ainda em uso hoje para esse im), Urbano VIII era um nepotista imprudente que muitas
vezes colocava os interesses de sua famı́lia acima dos da Igreja.
Nascido Maffeo Barberini, ilho de pais ricos, serviu na Cú ria Romana, entã o como nú ncio na França (duas vezes)
e arcebispo titular de Nazaré . Em 1606 foi nomeado cardeal com o tı́tulo de San Pietro in Montorio (trocado em
1610 por San Onofrio), entã o bispo de Spoleto (1608), legado papal de Bolonha (1611) e prefeito da Signatura de
Justiça, o mais alto tribunal no sistema judicial da Igreja (1617). Ele foi eleito papa em 6 de agosto de 1623, com
cinquenta dos cinquenta e cinco votos depois de um conclave literal e igurativamente acalorado, no qual doze dos
cardeais adoeceram gravemente com malá ria. Ele foi coroado em 29 de setembro.
O novo papa nomeou um irmã o e dois sobrinhos para o Colé gio dos Cardeais, promoveu outros irmã os a posiçõ es
lucrativas e geralmente enriqueceu todos os seus parentes de forma tã o extravagante que sofreu dores de
consciê ncia na velhice e consultou teó logos sobre o uso das receitas papais e se era legal para seus parentes reter
seus bens. (Ele sempre teve a garantia de que tudo estava legalmente correto.) Ele consagrou a nova Bası́lica de Sã o
Pedro em 18 de novembro de 1626 e encomendou ao famoso escultor e arquiteto Giovanni Lorenzo Bernini
(falecido em 1680) e a outros artistas para embelezar a bası́lica e as ruas e praças de Roma. Ele forti icou o porto de
Civitavecchia e o Castel Sant'Angelo e escolheu Castel Gandolfo, cerca de quinze milhas a sudeste de Roma, como
residê ncia de verã o.
O ponti icado de Urbano VIII coincidiu com a Guerra dos Trinta Anos (1618-48), travada principalmente na
Alemanha. De um lado estavam os prı́ncipes protestantes alemã es e potê ncias estrangeiras (França, Sué cia,
Dinamarca, Inglaterra) e, do outro, o Sacro Impé rio Romano, representado pelos Habsburgos e pelo impé rio
Habsburgo, que incluı́a Austria, Espanha, Boê mia, a maior parte Itá lia e parte sul da Holanda. Embora Urbano VIII se
esforçasse para manter a neutralidade no con lito entre a França e a Espanha, suas simpatias eram claramente com a
França, porque temia a dominaçã o dos Habsburgo na Itá lia. Assim, ele reteve o apoio inanceiro e polı́tico crucial do
imperador e se inclinou a favor da França e de seu astuto Cardeal Richelieu (falecido em 1642), embora Richelieu
estivesse se aliando aos prı́ncipes protestantes alemã es e suı́ços contra os Habsburgos cató licos para manter
Independê ncia francesa de Roma. Mas o papa e a Igreja Cató lica pagaram um alto preço por essa “neutralidade”
unilateral na Guerra dos Trinta Anos. A Contra-Reforma no impé rio acabou.
Urbano VIII teve um papel pessoal na revisã o do Breviá rio (Ofı́cio Divino), até mesmo reescrevendo alguns dos
hinos ele mesmo. (Suas reformas deveriam permanecer em vigor até a pró xima reforma, de Pio X em 1912.) Ele
també m revisou o Missal Romano e o Pontifı́cio e reduziu signi icativamente o nú mero de dias sagrados obrigató rios
(para trinta e quatro, sem incluir os domingos!) . Ele també m estabeleceu os procedimentos para canonizaçõ es e
beati icaçõ es (estas ú ltimas estavam agora reservadas para a Santa Sé , como as canonizaçõ es estavam desde 1234) e
especi icou os motivos para a excomunhã o. Para promover o trabalho missioná rio da Igreja, ele fundou o Colé gio
Urbano de Propaganda em Roma (1627) para treinar missioná rios, ampliou o trabalho da Congregaçã o para a
Propaganda da Fé , estabeleceu uma grá ica poliglota e enviou missioná rios, incluindo nã o jesuı́tas pela primeira vez,
para o Extremo Oriente. Em uma bula de 22 de abril de 1639, ele proibiu a escravidã o de qualquer tipo entre os
ı́ndios do Brasil, do Paraguai e de todas as Indias Ocidentais. Ele aprovou novas ordens religiosas, incluindo os
vicentinos (fundada por Sã o Vicente de Paulo) e a ordem da Visitaçã o (fundada por Sã o Francisco de Sales e Santa
Joana Francisca de Chantal). Em idelidade ao Concı́lio de Trento (1545–63), ele decretou que todos os bispos,
incluindo os cardeais, deveriam residir em suas dioceses. Foi també m sob Urbano VIII que Galileu Galilei (falecido
em 1642), embora amigo pessoal, foi condenado pela segunda vez e forçado a renunciar ao sistema copernicano sob
ameaça de tortura (1633).
Em 1642, o papa censurou as opiniõ es de Cornelius Jansen (falecido em 1638), conforme expresso em sua obra
Augustinus . (A obra, publicada dois anos apó s a morte de Jansen, era controversa porque sua compreensã o da
relaçã o entre graça e livre arbı́trio, com sua aparente depreciaçã o do livre arbı́trio, parecia mais pró xima do
protestantismo do que da tradiçã o cató lica.) A questã o do jansenismo, no entanto , continuaria a desorganizar e
dividir a Igreja por dé cadas e até mesmo por geraçõ es, especialmente na França e no norte da Europa.
A medida que o ponti icado de Urbano VIII chegava ao im, ele foi levado por seus sobrinhos gananciosos para
uma guerra desastrosa. Sob o pretexto de que o titular do feudo papal de Castro nã o pagou suas dı́vidas, o papa
reclamou o feudo para si mesmo. O titular, Odoardo Farnese, duque de Parma, conquistou o apoio para sua
reivindicaçã o na França e em uma liga formada por Veneza, Toscana e Modena. O papa sofreu uma derrota
humilhante, nã o apenas no campo de batalha, mas no tesouro dos Estados Pontifı́cios. O uso do papa das vigas de
bronze do Panteã o para a fabricaçã o de armas e outros armamentos levou ao epigrama: “O que os bá rbaros nã o
izeram, o Barberini fez”. Quando Urbano VIII morreu em 29 de julho de 1644, o povo romano, enojado com suas
extravagâ ncias e nepotismo desavergonhado, estava absolutamente jubiloso. Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o
Pedro e seu monumento foi feito pelo pró prio grande Bernini.

234 Innocent X, 1574–1655, papa de 15 de setembro de 1644 a 7 de janeiro de 1655.


Inocê ncio X condenou o Jansenismo, um movimento, baseado principalmente na França, que muitos consideravam
mais protestante do que cató lico por causa de sua aparente depreciaçã o do livre arbı́trio humano.
Nascido Giovanni Battista Pam ili (Pamphili ou Pamphilj), serviu por muito tempo como juiz da Rota Romana (a
segunda mais alta corte da Santa Sé , que trata principalmente de casos de casamento), nú ncio papal em Ná poles e
depois na Espanha, e patriarca titular de Antioquia e foi nomeado cardeal in pectore (lat., "no seio [do papa]", ou
secretamente) em 1627 (anunciado em 1629). Ele foi eleito papa em 15 de setembro de 1644, apó s um conclave que
durou 37 dias por causa do tó rrido calor romano e do surto de malá ria entre os cardeais. Mais uma vez, os cardeais
queriam eleger algué m muito diferente de seu antecessor. Nesse caso, eles queriam algué m menos pró -francê s do
que Urbano VIII. Embora a eleiçã o do cardeal Pam ili tenha sido contestada pela coroa francesa, o veto do cardeal
Jules Mazarin chegou tarde demais. Ele adotou o nome de Inocê ncio X em homenagem a seu tio, o cardeal Innocenzo
del Bufalo. O novo papa foi coroado em 4 de outubro.
Inocê ncio X, já com setenta anos, desabafou a ira e as frustraçõ es dos cardeais contra a famı́lia Barberini, tã o
descaradamente enriquecida durante o ponti icado de Urbano VIII. Ele nomeou uma comissã o para investigar suas
riquezas e posses, mas o cardeal Mazarin, o poderoso ministro francê s, tomou a famı́lia Barberini sob sua proteçã o
pessoal e induziu o papa a perdoá -los. Inocê ncio X nã o estava imune ao inseto do nepotismo, mas nã o nomeou
nenhum de seus parentes para preencher o papel agora tradicional de sobrinho cardeal (que papas de Paulo III
[1534-1549] até o inal do sé culo XVII empregavam como seu ilho mais ı́ntimo conselheiro). Uma in luê ncia muito
mais sinistra em sua corte papal foi sua ambiciosa e gananciosa cunhada viú va, Donna Olimpia Maidalchini. Inocente
X nã o fez nada sem consultá -la. Ela era conhecida em Roma como a “ papessa ” e maliciosamente referida como “
Olim pia ” (lat .: “anteriormente piedosa”). O papa, no entanto, nã o usou seu ilho e seu sobrinho, o cardeal Camillo
Pam ili, como seu secretá rio de Estado, mas deu esse cargo ao cardeal Panciroli e depois a Fabio Chigi
(posteriormente Alexandre VII), o primeiro secretá rio de Estado que exerceu como diplomata normal,
correspondendo-se diretamente com nú ncios e legados e assinando cartas e instruçõ es.
A Guerra dos Trinta Anos (1618-48) chegou ao im durante o ponti icado de Inocê ncio X, mas ele estava
insatisfeito com os termos da paz (a Paz de Westfá lia) porque pareciam fazer muitas concessõ es aos protestantes. O
papa denunciou formalmente os termos em um documento datado de 24 de outubro de 1648, mas adiou sua
publicaçã o até 20 de agosto de 1650, para evitar prejudicar a posiçã o dos cató licos na Alemanha. O protesto foi
ignorado em qualquer caso. A guerra entre a França e a Espanha continuou apesar da paz, e o papa tendeu a
favorecer a Espanha porque era um poder em declı́nio que representava menos ameaça para a Igreja na Itá lia.
Inocê ncio X continuou o apoio de seus predecessores à s missõ es. Ele aumentou a autoridade da Congregaçã o
para a Propagaçã o da Fé e elevou o Colé gio Dominicano em Manila ao status de universidade. No entanto, ele
també m aprovou um decreto da Propaganda de que os rituais chineses nã o deveriam ser usados na liturgia na
China. Por outro lado, ele estabeleceu uma comissã o em 1651 para examinar o Augustinus de Cornelius Jansen
(publicado em 1640, dois anos apó s a morte do autor). O pró prio papa participou de algumas das sessõ es da
comissã o. Em 31 de maio de 1563, ele publicou uma bula, Cum ocasional , que condenava incondicionalmente cinco
proposiçõ es extraı́das da obra. Os partidá rios de Jansen, liderados por Antoine Arnauld (falecido em 1694),
aceitaram a condenaçã o papal, mas insistiram que as proposiçõ es condenadas nã o se encontravam no Augustinus .
Durante o ponti icado de Inocê ncio X, a decoraçã o interior da recé m-consagrada Bası́lica de Sã o Pedro foi
concluı́da, a Piazza Navona foi restaurada e adornada com suas famosas fontes, e a Villa Doria Pam ili foi erguida na
Porta San Pancrazio. Ele també m tentou tornar as prisõ es nos Estados Papais mais humanas, instalando o sistema de
cé lulas para alojamentos separados. Ele proclamou um ano de Jubileu em 1650 que foi muito bem-sucedido. Morreu
no Palá cio Quirinale em 7 de janeiro de 1655, mas seu corpo permaneceu alguns dias na sacristia porque sua
cunhada se recusou a pagar as despesas do funeral. Ele foi enterrado em Sã o Pedro com cerimô nias simples, mas
seus restos mortais foram transferidos em 1730 por um sobrinho distante, o cardeal Camillo Pam ili, para a cripta da
famı́lia Pam ili na igreja de Sant'Agnese in Agone na Piazza Navona em Roma.

235 Alexandre VII, 1599–1667, papa de 7 de abril de 1655 a 22 de maio de 1667.


Alexandre VII permitiu que os missioná rios jesuı́tas na China usassem os ritos chineses e contratou o grande
escultor e arquiteto Bernini para encerrar a Praça de Sã o Pedro com duas colunas semicirculares.
Nascido Fabio Chigi, foi vice-legado em Ferrara, bispo de Nardò , inquisidor e delegado apostó lico em Malta e,
durante treze anos, nú ncio papal em Colô nia, onde participou das negociaçõ es que culminaram na Paz de Vestfá lia,
que terminou. a Guerra dos Trinta Anos em 1648. (Ele protestou vigorosamente contra as disposiçõ es que
considerava anticató licas.) Chigi foi nomeado secretá rio de Estado por Inocê ncio X em 1651 e, no ano seguinte,
cardeal e bispo de Imola. Quando Inocê ncio X morreu, o Colé gio dos Cardeais estava, pela primeira vez, em seu
quadro completo de setenta membros. Mas depois do funeral do papa, havia apenas 62 cardeais em Roma prontos
para entrar no conclave. Havia pelo menos quatro facçõ es diferentes, nenhuma das quais concordava com as demais.
O cardeal Chigi foi eleito papa em 7 de abril de 1655, apó s um conclave que durou cerca de oitenta dias e contra a
forte oposiçã o inicial da França. Ele assumiu o nome de Alexandre VII em homenagem ao grande papa Alexandre III
do sé culo XII (1159-81) e foi coroado pelo cardeal Trivulsi em 18 de abril. Ele tomou posse de sua catedral, a Bası́lica
de Latrã o, em 9 de maio. suas primeiras ações como papa foram ordenar que a “ papessa ” de Inocê ncio X , Donna
Olimpia, voltasse para Orvieto, onde morreu em 1657.
Embora o novo papa tenha começado seu ponti icado proibindo seus pró prios parentes de visitar Roma, no ano
seguinte ele cedeu, com o incentivo da Cú ria, e derramou favores de todos os tipos sobre sua famı́lia: escritó rios da
igreja, palá cios, propriedades e dinheiro. Suas relaçõ es com a França foram amargas desde o inı́cio. Como Roma deu
refú gio ao cardeal de Retz, o rival desprezado do ministro francê s, cardeal Jules Mazarin, a França apoiou as
reivindicaçõ es das famı́lias Farnese e Este nos territó rios papais. Mazarin també m excluiu o papa da participaçã o na
Paz dos Pirineus (1659) entre a França e a Espanha. Apó s a morte de Mazarin, o rei Luı́s XIV acusou a Santa Sé de
violar a imunidade diplomá tica francesa em Roma e de ameaçar a vida de seu embaixador por tropas da Có rsega em
serviço papal. O rei entã o retirou seu embaixador em Roma, expulsou o nú ncio papal em Paris, ocupou os enclaves
papais de Avignon e Venaissin e ameaçou uma invasã o dos Estados papais. Como Alexandre VII nã o tinha aliados, ele
foi forçado a se desculpar e aceitar os termos do Tratado de Pisa (1664), que incluı́a a construçã o de uma pirâ mide
em Roma como uma admissã o da culpa de seus soldados. O papa també m era obrigado a se submeter aos desejos
do rei nas nomeaçõ es episcopais. Alé m disso, o rei francê s se recusou a cooperar com o apelo do papa para uma
cruzada contra os turcos porque Luı́s XIV estava mais interessado em enfraquecer seus rivais alemã es, os
Habsburgos.
As relaçõ es do papa com outras potê ncias estrangeiras eram mistas. Por exemplo, as relaçõ es com a Repú blica de
Veneza melhoraram o su iciente para que os jesuı́tas retornassem (eles haviam sido expulsos durante o con lito de
Paulo V com Veneza em 1606). A Espanha, poré m, recusou-se a receber o nú ncio papal. Quando o papa nã o aceitou
os nomeados do rei para vá rias dioceses, o rei os deixou sem preencher e se apropriou de sua renda.
A conquista mais importante do ponti icado de Alexandre VII, no entanto, foi no domı́nio das missõ es, nã o na
polı́tica. Ele decretou em 23 de março de 1656, que os missioná rios jesuı́tas na China teriam permissã o para usar os
ritos chineses e, mais de trê s anos depois, dispensou o clero chinê s nativo de ter que rezar o Ofı́cio Divino em latim.
No mesmo ano, ele també m con irmou a condenaçã o de Inocê ncio X em 1653 das cinco proposiçõ es do Augustinus
de Cornelius Jansen , insistindo contra os defensores de Jansen (particularmente Antoine Arnauld) que as cinco
proposiçõ es estavam, de fato, no Augustinus . (Seguindo as visõ es mais rı́gidas de Santo Agostinho sobre a relaçã o
entre graça e livre arbı́trio, os jansenistas sustentaram que o papel do livre arbı́trio na salvaçã o é , para todos os ins
prá ticos, negado pelo poder predominante da graça de Deus.) Em 1665, no A pedido do rei Luı́s XIV, ele emitiu uma
constituiçã o exigindo que todo o clero francê s aceitasse as decisõ es do papa e rejeitasse as cinco proposiçõ es de
Jansen sem reservas. Ele nã o condenou o probabilismo (um sistema moral favorecido pelos jesuı́tas, a saber, que um
cató lico pode seguir com segurança uma opiniã o moral apoiada por pelo menos um teó logo respeitá vel, mesmo se
houver outras opiniõ es mais numerosas e aparentemente mais fortes do outro lado ), mas condenou (em 1665 e
1666) quarenta e cinco proposiçõ es morais que considerou laxistas (uma forma extrema de probabilismo, em que
sempre se pode seguir o curso moral mais fá cil, desde que haja pelo menos alguma razã o para fazê -lo).
Alexandre VII tinha uma devoçã o especial aos escritos de Francisco de Sales (falecido em 1622), a quem beati icou
em 1661 e canonizou em 1665. Amigo de estudiosos e patrono de artistas, encomendou ao incompará vel Giovanni
Lorenzo Bernini (falecido em 1680 ) para encerrar a Praça de Sã o Pedro em duas grandes colunatas semicirculares.
Alexandre VII morreu em 22 de maio de 1667 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro em uma tumba projetada
pelo pró prio Bernini.

236 Clemente IX, 1600-1669, papa de 20 de junho de 1667 a 9 de dezembro de 1669.


O breve e indistinto ponti icado de Clemente IX preocupou-se com a polı́tica, mas ele tem a distinçã o de ter criado a
ó pera cô mica como uma forma dramá tica. Ele escreveu poesia e drama religioso, alguns dos quais foram encenados
publicamente.
Nascido Giulio Rospigliosi, ele passou seus primeiros anos na Cú ria Romana e depois foi nomeado arcebispo
titular de Tarso e nú ncio papal na Espanha. Em 1653 foi nomeado governador de Roma e depois secretá rio de
Estado e cardeal-sacerdote de San Sisto sob Alexandre VII (1657). Apesar da hostilidade do governo francê s a
Alexandre VII, o cardeal Rospigliosi manteve uma relaçã o de respeito mú tuo com a corte francesa. Assim, apó s a
morte de Alexandre VII, ele esperava nã o apenas o apoio da Espanha, mas també m da França. Como os cardeais
queriam algué m capaz de mediar entre as duas naçõ es, eles se voltaram alegremente para Rospiglioni, eleito em 20
de junho de 1667. Ele assumiu o nome de Clemente IX e foi coroado em 26 de junho. Ele tomou posse de sua igreja
catedral, a Bası́lica de Latrã o, em 3 de julho.
Ao contrá rio de muitos de seus predecessores, o novo papa deu muito pouco a seus parentes. Essa foi
provavelmente a ú nica conquista real de seu ponti icado: ter libertado o papado, mesmo que por pouco tempo, das
garras corruptas do nepotismo. Caso contrá rio, seu ponti icado estava atolado em manobras polı́ticas que tiveram
pouco ou nenhum resultado positivo. Assim, Clemente IX foi forçado a permitir que a coroa francesa fosse livre nas
nomeaçõ es eclesiá sticas. O envolvimento do papa nas negociaçõ es de paz entre a França e a Espanha mostrou que
ele nã o era pá reo para o astuto Hugues de Lionne, sucessor do cardeal Mazarin como ministro das Relaçõ es
Exteriores da França. A chamada Paz Clementina (1669) també m foi obra de Lionne. Ele providenciou para que o
papa aceitasse a assinatura (nã o inteiramente convincente) de quatro bispos jansenistas à condenaçã o de Alexandre
VII em 1665 das cinco proposiçõ es do Augustinus de Cornelius Jansen . Os quatro bispos haviam escrito cartas
pastorais desa iadoras e o rei, temendo um cisma, persuadiu os bispos a assinarem sua aceitaçã o do touro de
Alexandre, mantendo suas reservas privadas. Por permitir que os bispos o izessem sem qualquer retrataçã o de seus
pontos de vista, Clemente foi dito ter sido "mais generoso do que o pai do ilho pró digo". De qualquer forma, a “paz”
foi interpretada como um sinal de fraqueza papal diante da pressã o francesa. Finalmente, os esforços de Clemente IX
para montar uma campanha para libertar a ilha de Creta da ocupaçã o turca terminaram em derrota, com os
venezianos sendo forçados a render seu ú ltimo reduto na ilha, a capital, Candia, em 6 de setembro de 1669. Santa Sé
icou com dı́vidas inanceiras avassaladoras a Veneza e aos outros participantes (Espanha e o impé rio).
Diz-se que a morte do papa em 9 de dezembro de 1669, apó s um derrame no Palá cio do Quirinale, foi acelerada
pelas notı́cias de Creta. Ele foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro, mas seus restos mortais foram
transferidos em 1680 para a bası́lica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior).

237 Clemente X, 1590-1676, papa de 29 de abril de 1670 a 22 de julho de 1676.


Eleito aos 79 anos, Clemente X canonizou um nú mero extraordinariamente grande de santos, incluindo Rosa de
Lima, a primeira santa canonizada da Amé rica do Sul.
Nascido Emilio Altieri, serviu na nunciatura na Polô nia, depois como bispo de Camerino e nú ncio em Ná poles. Ele
foi chamado de volta de Ná poles, no entanto, por Inocê ncio X em 1652 apó s oito anos. O pró ximo papa, Alexandre
VII, reabilitou o bispo Altieri e o nomeou secretá rio da Congregaçã o dos Bispos e Regulares (membros das ordens
religiosas) e como consultor do Santo Ofı́cio (antiga Inquisiçã o). Um mê s antes de sua morte, Clemente IX nomeou
Altieri cardeal-sacerdote sem tı́tulo. Apó s um conclave repleto de facçõ es de quase cinco meses, com a França e a
Espanha exercendo vetos de certos candidatos (o veto real foi abolido por Pio X em 1904), o cardeal Altieri, aos 79
anos, foi eleito candidato de compromisso em abril 29, 1670. Ele adotou o nome de seu patrono, Clemente IX, e foi
coroado em 11 de maio.
O novo papa atribuiu o papel de sobrinho cardeal (uma tradiçã o infeliz que se desenvolveu por meio da qual os
papas selecionavam um parente para cuidar dos assuntos eclesiá sticos de Estado) ao cardeal Paluzzi degli Albertoni,
cujo sobrinho se casou com a sobrinha de Clemente X. Infelizmente, Paluzzi tirou proveito de sua posiçã o,
efetivamente anulando a autoridade da Secretaria de Estado e enriquecendo a si e sua famı́lia. Ele gastou tanto
dinheiro, por exemplo, no Palazzo Altieri que o papa, em deferê ncia à opiniã o pú blica extremamente negativa, nunca
o visitou.
Profundamente preocupados com a ameaça turca à Polô nia, Clemente X e o cardeal Odescalchi (mais tarde
Inocê ncio XI) deram assistê ncia inanceira a John Sobieski (falecido em 1696), que derrotou os turcos no Dniester
(11 de novembro de 1673) e foi eleito rei no seguinte Maio. As relaçõ es com o rei Luı́s XIV da França nã o foram
melhores no ponti icado de Clemente X do que no de seu predecessor. O rei con iscou propriedades da igreja e
desviou a renda de casas religiosas para apoiar seus preparativos militares contra a Holanda. Os protestos de
Clemente foram ignorados. Quando Luı́s XIV mais tarde reivindicou um direito irrestrito de fazer nomeaçõ es para
cargos da Igreja e receber a renda de dioceses e abadias vagas, o papa nada disse - deixando o problema para seu
sucessor lidar com ele.
O idoso papa també m estava sob forte e constante pressã o das potê ncias cató licas para indicar seus compatriotas
para o Colé gio de Cardeais. O embaixador francê s, por exemplo, chegou a ameaçar com violê ncia o papa quando
solicitado a se retirar de uma audiê ncia particularmente desagradá vel. Quando o governo francê s decretou que os
membros de ordens religiosas isentas estavam sujeitos aos bispos locais, o papa determinou que os religiosos
deveriam ter permissã o do bispo local para pregar ou ouvir con issõ es fora de suas pró prias igrejas e casas
religiosas. Clemente X canonizou um nú mero invulgarmente grande de santos, incluindo Cajetan (m. 1547), o
fundador dos Teatinos, o jesuı́ta Francis Borgia (m. 1572) e Rosa de Lima (m. 1617), o primeiro santo canonizado da
Amé rica do Sul. Ele també m beati icou o Papa Pio V (falecido em 1572) e o mı́stico espanhol Joã o da Cruz (falecido
em 1591). Morreu em 22 de julho de 1676, aos oitenta e seis anos, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, onde se
encontra sua está tua de Ercole Ferrata (falecido em 1685).

238 Innocent XI, Bl., 1611-89, papa de 21 de setembro de 1676 a 12 de agosto de 1689.
Embora considerado o papa notá vel do sé culo XVII, Inocê ncio XI manifestou inclinaçõ es jansenistas e anti-jesuı́tas.
Nascido Benedetto Odescalchi, ocupou uma sé rie de nomeaçõ es no serviço papal antes de ser nomeado cardeal-
diá cono com o tı́tulo de Santi Cosma e Damiano em 1645, legado de Ferrara em 1648 e bispo de Novara em 1650.
Generoso com os pobres (ele foi chamado de “pai dos pobres”), renunciou à diocese em 1654 por causa de
problemas de saú de e viveu tranquilamente em Roma enquanto trabalhava na Cú ria. Ele icou surpreso, portanto,
quando os cardeais o elegeram depois de outro conclave dominado por facçõ es de dois meses de duraçã o. (Sua
candidatura havia sido bloqueada no conclave anterior em 1670 por causa da oposiçã o do rei Luı́s XIV da França.) O
cardeal Odescalchi aceitou a eleiçã o em 21 de setembro de 1676, somente depois que os cardeais subscreveram o
programa de reforma que ele havia proposto durante o pró prio conclave (incluindo a conclusã o do trabalho do
Concı́lio de Trento, a defesa da liberdade e dos direitos da Igreja e a defesa da Europa cristã contra os turcos
islâ micos). Ele adotou o nome de Inocê ncio XI em respeito ao papa que o criou cardeal (Inocê ncio X) e foi coroado
em 4 de outubro.
O novo papa impô s severas reduçõ es no orçamento papal e apelou para a pregaçã o evangé lica e catequese, a
estrita observâ ncia dos votos moná sticos, seleçã o cuidadosa de padres e bispos, e o recebimento frequente da
Sagrada Comunhã o. Suas tentativas de persuadir os cardeais a proibir o nepotismo terminaram em fracasso, e sua
proibiçã o dos carnavais foi ridicularizada e ignorada pelo povo. Ele era tã o ascé tico em sua vida pessoal que muitos
suspeitavam de suas inclinaçõ es jansenistas (isto é , uma abordagem rı́gida da vida moral). Nã o foi surpresa,
portanto, que ele condenou sessenta e cinco proposiçõ es laxistas em 1679 (qualquer condenaçã o do laxismo era
considerada um ataque aos jesuı́tas, os mais ferozes oponentes do jansenismo). Ele també m icou impressionado
quando um teó logo jesuı́ta, Tirso Gonzá lez de Santalla, em Salamanca (Espanha) se voltou contra o probabilismo (o
sistema moral, promovido pelos jesuı́tas, que a irmava que um cató lico poderia seguir qualquer opiniã o “prová vel”
que tivesse pelo menos uma respeitá vel teó logo em seu apoio). Em 1687, ele conseguiu a eleiçã o de Gonzá lez como
superior geral da Companhia de Jesus. Por outro lado, Inocê ncio XI recuou do apoio a Miguel de Molinos (falecido
em 1697), o quietista espanhol cujo trabalho, Guia Espiritual , promovia uma atitude de total passividade (ou
“quietude”), isto é , de deixar tudo até Deus. O Santo Ofı́cio dominado pelos jesuı́tas (anteriormente a Inquisiçã o)
persuadiu o papa a permitir que Molinos fosse preso em 1685. Inocê ncio XI entã o denunciou suas opiniõ es na bula
pastor Coelestis (1687).
Na frente polı́tica, Inocê ncio XI estava em con lito constante com o rei Luı́s XIV da França. Uma vez que o
predecessor de Inocê ncio, Clemente X, nada disse em resposta à reivindicaçã o do rei do direito de fazer nomeaçõ es
para cargos religiosos e para a renda de dioceses e abadias vagas, o clero francê s tomou o silê ncio do papa como
consentimento e se submeteu ao desejos. Quando dois bispos franceses protestaram, no entanto, Inocê ncio XI
rejeitou uma extensã o do acordo. Luı́s XIV entã o ordenou que a assemblé ia do clero se reunisse e adotasse os
quatro chamados Artigos Galicanos em 19 de março de 1682. Os Artigos negavam autoridade papal em assuntos
temporais ou sobre reis, a irmavam a superioridade dos concı́lios gerais ou ecumê nicos sobre o papa , e rea irmou
as antigas liberdades da Igreja Francesa (Galicana). Inocê ncio XI rejeitou os Artigos em 11 de abril do mesmo ano e
se recusou a rati icar a nomeaçã o dos bispos que subscreveram os Artigos. O rei pensou que o papa poderia ser
mais cooperativo por causa de sua campanha brutal (de Louis) contra os huguenotes (calvinistas) e sua revogaçã o
do Edito de Nantes em 1685. (O Edito de Nantes foi uma concessã o de tolerâ ncia aos protestantes franceses em
1598 por Rei Henrique IV.) Mas o papa, horrorizado com a desumanidade da perseguiçã o do rei aos huguenotes,
nã o se tornou mais cooperativo. Em 1687, o papa recusou-se a receber o novo embaixador francê s em Roma e, no
ano seguinte, ele rejeitou o nomeado do rei como arcebispo de Colô nia e nomeou o nomeado do imperador. Em
janeiro de 1688, havia trinta e cinco dioceses vagas na França. Naquele mesmo mê s, Inocê ncio XI informou
secretamente a Luı́s XIV que ele e seus ministros foram excomungados. Em setembro seguinte, o rei ocupou os
territó rios papais de Avignon e Venaissin e encarcerou o nú ncio papal. O cisma aberto foi evitado apenas pela
intervençã o de François Fé nelon (falecido em 1715), mais tarde arcebispo de Cambrai, e a ascensã o de Guilherme de
Orange ao trono inglê s.
Ao contrá rio da maioria dos papas antes dele, Inocê ncio XI teve maior sucesso na campanha contra os turcos. Uma
aliança organizada papal e patrocinada inanceiramente entre o imperador Leopoldo I e Joã o III Sobieski da Polô nia
libertou Viena do cerco turco (1683), e a libertaçã o da Hungria (1686) e a recuperaçã o de Belgrado (1688) se
seguiram, desta vez atravé s do esforços da Santa Liga do impé rio, que incluı́a Polô nia, Veneza e Rú ssia.
Embora os romanos se ressentissem das medidas de austeridade do papa durante sua vida, muitos o
reverenciaram apó s sua morte em 12 de agosto de 1689. Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro sob o altar de
San Sebastiano. Os esforços para beati icá -lo no sé culo XVIII foram suspensos por causa de objeçõ es da corte
francesa. No entanto, Inocê ncio XI foi beati icado por Pio XII em 1956. Dia da festa: 12 de agosto.

239 Alexandre VIII, 1610-91, papa de 6 de outubro de 1689 a 1 de fevereiro de 1691.


Eleito aos setenta e nove anos, o mundano Alexandre VIII foi saudado pelos romanos como um contraste bem-vindo
ao austero Inocê ncio XI. Nascido Pietro Ottoboni, serviu na Cú ria Romana, como governador nos Estados Pontifı́cios
e como juiz na Rota Romana (o segundo tribunal mais alto da Cú ria, que trata principalmente de casos de
casamento) antes de ser nomeado cardeal em 1652. Foi nomeado bispo de Brescia em 1654, mas voltou à Cú ria dez
anos depois, onde desempenhou um papel de liderança como conselheiro de con iança de Inocê ncio XI, que o
nomeou grande inquisidor de Roma e secretá rio do Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o). No conclave de 1689,
apó s a morte de Inocê ncio XI, embaixadores especiais da França e do impé rio estavam presentes. Mas os cardeais já
haviam decidido que a experiê ncia e o cará ter do idoso Cardeal Ottoboni o tornavam a escolha ló gica. Ele foi eleito
papa em 6 de outubro e escolheu o nome de Alexandre VIII em deferê ncia ao sobrinho de Alexandre VII (1655-
1667), o cardeal Flavio Chigi, que liderou o apoio à eleiçã o de Ottoboni. Alexandre VIII foi coroado em 16 de
outubro.
O estilo pessoal pró digo do novo papa estava em total contraste com o de seu predecessor ascé tico, Inocê ncio XI -
mais uma indicaçã o da tendê ncia dos conclaves papais de não eleger uma có pia carbono de um papa falecido.
Alexandre VIII també m reviveu a prá tica papal do nepotismo que havia entrado em eclipse durante os dois
ponti icados anteriores. Ele nomeou seu sobrinho-neto Pietro, aos 20 anos, como sobrinho-cardeal e nomeou seu
sobrinho Giambattista como secretá rio de Estado, concedendo benefı́cios lucrativos (escritó rios da igreja que geram
renda) a ambos. Ele reduziu os impostos nos Estados Papais e baixou os preços dos alimentos, o que o tornou muito
popular nesses territó rios. Sua decisã o de convocar tropas para ajudar a Repú blica de Veneza (sua terra natal)
contra os turcos, no entanto, provocou uma resistê ncia furiosa.
Com sua formaçã o no Santo Ofı́cio e como grande inquisidor de Roma, Alexandre VIII fez da defesa da ortodoxia
uma alta prioridade em seu breve ponti icado. Em 1690, ele condenou duas proposiçõ es laxistas que eram
atualmente apresentadas pelos jesuı́tas: uma que negava a necessidade de um ato explı́cito de amor a Deus apó s a
obtençã o do uso da razã o e outra que sustentava que os pecados cometidos sem conhecimento ou pensamento de
Deus nã o eram. pecados reais, mas apenas "pecados ilosó icos". Mais tarde, no mesmo ano, poré m, ele també m
condenou 31 proposiçõ es jansenistas (os jansenistas moralmente rı́gidos se opunham diretamente aos e pelos
jesuı́tas) que diziam respeito a questõ es como penitê ncia, batismo e autoridade da Igreja. Ele també m impô s uma
sentença de prisã o perpé tua aos seguidores do quietista espanhol Miguel de Molinos (falecido em 1697), que
defendia que alcançamos a salvaçã o sem nenhum esforço humano, mas sim “calmamente” e aceitando passivamente
a graça de Deus.
Alexandre VIII fez alguns esforços para se reconciliar com o rei Luı́s XIV da França (pelo que atraiu a hostilidade
do imperador Leopoldo I). Em troca da retirada de Luı́s de suas forças de ocupaçã o nos territó rios papais de
Avignon e Venaissin e outras concessõ es, o papa nomeou o bispo de Beauvais para o Colé gio de Cardeais, embora
ele tivesse participado da assemblé ia galicana antipapal de 1682. O papa també m aceitou o embaixador francê s em
Roma, rejeitado por Inocê ncio XI. No entanto, o papa e o rei continuaram a discordar sobre a questã o do poder de
nomeaçã o dos bispos. Como seu antecessor, Alexandre VIII recusou-se a rati icar as nomeaçõ es de bispos nomeados
pela realeza, a menos que eles repudiassem os quatro artigos galicanos antipapais de 1682. O papa publicou em seu
leito de morte um decreto anulando os artigos galicanos e condenando os esforços do rei para fazer cumprir essas e
outras iniciativas antipapais em todo o seu reino. Alexandre VIII morreu em 1º de fevereiro de 1691 e foi sepultado
na Bası́lica de Sã o Pedro sob um suntuoso monumento de Arrigo di San Martino.

240 Innocent XII, 1615–1700, papa de 12 de julho de 1691 a 27 de setembro de 1700.


Inocê ncio XII foi um papa reformista no estilo de seu heró i, Inocê ncio XI, atacando especialmente no nepotismo.
Nascido Antonio Pignatelli, ele serviu na Cú ria Romana, como governador de Viterbo e como nú ncio na Toscana,
Polô nia e Viena, antes de cair em desgraça com Clemente X, que o enviou a Lecce como bispo. Ele foi chamado de
volta a Roma, no entanto, em 1673 para se tornar secretá rio da Congregaçã o dos Bispos e Regulares (membros das
ordens religiosas), e foi nomeado cardeal por Inocê ncio XI em 1681, entã o bispo de Faenza, legado de Bolonha e
arcebispo de Ná poles (1687). O conclave apó s a morte de Alexandre VIII durou cinco meses devido à s divisõ es entre
as facçõ es pró -francesas e pró -imperiais. Sob a pressã o do insuportá vel calor do verã o e da impaciê ncia do povo
romano, o cardeal Pignatelli foi eleito candidato de compromisso (com cinquenta e um dos sessenta e um votos) em
12 de julho de 1691, tomando o nome de Inocê ncio XII em respeito aos papa que o nomeou cardeal e cujo estilo ele
esperava imitar como papa. Ele foi coroado em 15 de julho.
O novo papa introduziu economias na administraçã o de Roma e dos Estados papais, reformou o sistema judicial,
insistindo na justiça imparcial para todos, reduziu (mas nã o eliminou) a venda de escritó rios da igreja, estabeleceu o
Hospital de San Michele para jovens pobres, abriu o Palá cio de Latrã o como refú gio para de icientes fı́sicos
impossibilitados de trabalhar, e declarou que todos os pobres e necessitados eram seus “sobrinhos”. Ele estabeleceu
a Congregaçã o para a Disciplina e Reforma dos Regulares (membros das ordens religiosas) e proibiu a prá tica
comum na Alemanha de nomear bispos e abades por capı́tulos eleitorais. Mas sua iniciativa mais signi icativa foi o
decreto Romanum decet ponti icem (22 de junho de 1692), que determinava que os papas nunca concedessem
propriedades, cargos ou receitas a parentes e que, se esses parentes fossem pobres, deveriam ser tratados como
outros necessitados. Alé m disso, apenas um parente pode ser nomeado para o Colé gio Cardinalı́cio, se quali icado, e
sua renda deve ser limitada. Inocê ncio XII encontrou alguma resistê ncia ao decreto de vá rios cardeais, mas todos
inalmente o assinaram.
Inocê ncio XII també m teve algum sucesso na frente polı́tica. Ele quebrou um impasse de cinquenta anos entre a
França e a Santa Sé . Por um lado, o papa rati icou a nomeaçã o dos bispos nomeados pelo rei desde 1682 que nã o
haviam participado da assemblé ia galicana antipapal naquele ano. Inocê ncio XII també m teve que aceitar a extensã o
de Luı́s XIV a todo o seu reino do direito de regalia (isto é , da administraçã o real de dioceses e abadias vagas). Por
outro lado, o rei prometeu revogar a declaraçã o do clero francê s que exigia que os bispos franceses subscrevessem
os quatro Artigos Galicanos antipapais. Os bispos que participaram da assemblé ia de 1682 també m retiraram suas
assinaturas dos artigos. (Os pró prios artigos, no entanto, permaneceram intactos.) No inal de 1693, a hierarquia
francesa foi restaurada à s boas graças da Santa Sé , mas o galicanismo (a insistê ncia da Igreja francesa na autonomia
prá tica de Roma) continuou a afetar as relaçõ es entre a França e o papado até a Revoluçã o Francesa no inal do
sé culo seguinte. Por causa dessas acomodaçõ es alcançadas entre a França e a Santa Sé , as tensõ es aumentaram
entre o imperador Leopoldo I e Inocê ncio XII.
Perto do inal de seu ponti icado, o papa foi pressionado por Luı́s XIV a fazer um julgamento negativo sobre os
escritos de Madame de Guyon (m. 1717), que in luenciaram o pensamento e a escrita do arcebispo François Fé nelon
(m. 1715) de Cambrai. Em 12 de março de 1699, e a pedido do bispo Jacques Bossuet (falecido em 1704), que foi um
dos juı́zes no caso de Guyon, Inocê ncio XII publicou Cum alias , denunciando como perigoso o trabalho de Fé nelon
sobre as má ximas dos santos. No entanto, o papa se recusou a categorizar o livro como heré tico.
Inocê ncio XII morreu em 27 de setembro de 1700 e foi sepultado em uma tumba simples na Bası́lica de Sã o Pedro.
Um monumento, no entanto, projetado por Ferdinando Fuga com uma escultura de Filippo della Valle, foi erguido
posteriormente em 1746.

241 Clemente XI, 1649-1721, papa de 30 de novembro de 1700 a 19 de março de 1721 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 23 de novembro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar
bispo de Roma até a consagração em 30 de novembro).
O longo e ine icaz ponti icado de Clemente XI foi prejudicado por sua decisã o infeliz e contraproducente de proibir
os missioná rios na China de usar os ritos chineses, uma proibiçã o que nã o foi revogada até 1939, por Pio XII.
Nascido Giovanni Francesco Albani, ele serviu na Cú ria Romana e como governador em vá rias partes dos Estados
Papais, foi secretá rio das instruçõ es papais e foi nomeado cardeal-diá cono com o tı́tulo de Santa Maria in Portico em
1690 (ele nã o foi ordenado sacerdote por mais dez anos, pouco antes de sua elevaçã o ao papado). Foi o cardeal
Albani quem redigiu a importante bula de Inocê ncio XII, proibindo o nepotismo papal. O conclave que se seguiu à
morte de Inocê ncio XII durou quarenta e seis dias, dividido mais uma vez entre facçõ es pró -francesas e pró -
imperiais. Albani foi eleito por unanimidade em 23 de novembro de 1700, aos 51 anos, como um candidato de
compromisso com o apoio de cardeais independentes que estavam comprometidos com um papa apolı́tico. Por se
sentir inadequado para o cargo, ele nã o aceitou a eleiçã o imediatamente. Foi consagrado bispo de Roma em 30 de
novembro e coroado em 8 de dezembro. Ele adotou o nome de Clemente XI porque o dia em que aceitou a eleiçã o
era a festa de Sã o Clemente, papa e má rtir. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a Bası́lica de Latrã o, em 10 de
abril.
Por instigaçã o do rei Luı́s XIV, o novo papa desempenharia um papel fundamental na repressã o do jansenismo
(um movimento moralmente rı́gido que enfatizava o funcionamento da graça divina com a exclusã o prá tica do livre
arbı́trio humano) na França. Em 1705, ele condenou a visã o, aprovada na Sorbonne, de que era possı́vel rejeitar as
cinco proposiçõ es jansenistas censuradas por Inocê ncio X, mas permanecer em silê ncio sobre se essas proposiçõ es
estavam ou nã o realmente presentes no Augustinus de Cornelius Jansen (publicado em 1640, dois anos depois morte
do autor). Em 1708, o papa condenou um livro de re lexõ es morais de Pasquier Quesnel, um lı́der jansenista, e em 8
de setembro de 1713, em uma famosa bula intitulada Unigenitus Dei Filius , ele condenou 101 proposiçõ es
supostamente jansenistas extraı́das do livro de Quesnel. Depois que Luı́s XIV morreu em 1715, os lı́deres jansenistas
convocaram um conselho geral para lidar com a questã o de sua ortodoxia. O papa recusou o apelo e em 1718
excomungou aqueles que o apelaram. Os lı́deres jansenistas, no entanto, ignoraram a excomunhã o.
Clemente XI també m estava comprometido com o empreendimento missioná rio da Igreja. Ele promoveu missõ es
no norte da Alemanha (agora sob controle protestante), India, China e Filipinas e o estabelecimento de novos
colé gios missioná rios em Roma. Um problema especı́ ico infeccionou na missã o chinesa, no entanto. Em seu
ministé rio pastoral, os missioná rios jesuı́tas usavam ritos chineses, como o culto a Confú cio e aos ancestrais
(justi icando-os com o fundamento de que eram de natureza cı́vica), enquanto os dominicanos se opunham à prá tica.
(Alexandre VII havia aprovado o uso de ritos chineses em 1656.) Em 20 de novembro de 1704, Clemente XI aceitou
o julgamento do Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o) de que os missioná rios na China estavam proibidos de
usar ritos chineses e repetiu o julgamento em 1715 A açã o de Clemente foi desastrosa para o alcance missioná rio da
Igreja na China. Os cató licos chineses foram perseguidos e muitas missõ es foram fechadas. A açã o de Clemente nã o
foi revertida até 1939, por Pio XII.
Clemente XI nomeou setenta cardeais durante seu ponti icado, foi um patrono generoso das artes e da bolsa de
estudos, especialmente da arqueologia, e um benfeitor generoso da Biblioteca do Vaticano. Ele també m fez da festa
da Imaculada Conceiçã o (8 de dezembro) um dia sagrado universal de obrigaçã o em 1708. Embora eleito como um
papa apolı́tico, ele foi inevitavelmente arrastado para o atoleiro polı́tico, particularmente em relaçã o à complicada
questã o da sucessã o à coroa espanhola. Ele foi pego em um fogo cruzado entre aqueles que apoiavam o Bourbon,
Felipe V de Anjou, e aqueles que apoiavam os Habsburgo, o arquiduque Carlos. O papa, que inicialmente favoreceu
Filipe e depois tentou permanecer neutro, foi forçado a dar seu apoio a Carlos quando as tropas imperiais invadiram
os Estados Papais, conquistaram Ná poles e ameaçaram Roma em janeiro de 1709. A açã o do papa precipitou uma
ruptura nas relaçõ es diplomá ticas com a Espanha, e ele foi sistematicamente excluı́do de qualquer envolvimento em
decisõ es polı́ticas importantes que afetassem os interesses papais na Sardenha, Sicı́lia, Parma e Piacenza. Quando o
papa emitiu uma bula protestando contra o estabelecimento de uma monarquia siciliana, ele foi completamente
ignorado. Em 1717, ele experimentou uma humilhaçã o particularmente aguda quando uma frota espanhola que ele
havia equipado para lutar contra os turcos foi desviada para conquistar a Sardenha do impé rio.
Clemente XI faleceu em 19 de março de 1721, e foi sepultado, conforme sua vontade expressa, sob o pavimento da
Capela do Coro, na Bası́lica de Sã o Pedro. Seu coraçã o, poré m, está preservado na igreja de Santi Vincenzo e
Anastasio em Roma (junto com as entranhas de dezenas de outros papas cujos nomes estã o listados na parede do
santuá rio), enquanto outras partes de seu corpo sã o preservadas na igreja de San Francesco em sua Urbino natal.
242 Inocêncio XIII, 1655-1724, papa de 8 de maio de 1721 a 7 de março de 1724.
O curto e improdutivo ponti icado de Inocê ncio XIII foi marcado por doenças constantes e aversã o pessoal aos
jesuı́tas. Nascido Michelangelo de 'Conti (també m dei Conti ou simplesmente Conti), serviu na Cú ria Romana, ocupou
trê s governadores nos Estados Pontifı́cios, foi nú ncio na Suı́ça (e arcebispo titular de Tarso) e depois em Portugal, e
foi nomeado cardeal. sacerdote de Santi Quirico e Giulitta em 1706. Depois foi nomeado bispo de Osimo e depois de
Viterbo, renunciando a este ú ltimo por problemas de saú de. Ele foi eleito papa por unanimidade em 8 de maio de
1721, apó s um longo conclave no qual o imperador, por meio de seu delegado, o cardeal Althan, vetou o candidato
favorito, o cardeal Fabrizio Paolucci, que havia sido secretá rio de Estado de Clemente XI. (Os vetos imperiais foram
proibidos por Pio X em 1904.) O cardeal Conti adotou o nome de Inocê ncio XIII por respeito a Inocê ncio III (1198-
1216), de cuja famı́lia ele descendia. Inocê ncio XIII foi coroado pelo cardeal Pam ili (Pamphili), cardeal-diá cono
sê nior, em 18 de maio e tomou posse de sua igreja catedral, a Bası́lica de Latrã o, em 16 de novembro.
Embora educado pelos jesuı́tas em Roma, o novo papa desenvolveu uma forte aversã o à Companhia de Jesus
enquanto servia como nú ncio em Portugal. Ele até pensou em suprimir a ordem por causa da falta de conformidade
com a proibiçã o de Clemente XI (em 1704 e 1715) contra o uso de rituais chineses. Ele proibiu os jesuı́tas de aceitar
noviços, a menos que, dentro de trê s anos, tivesse provas satisfató rias de que eles estavam cumprindo a proibiçã o
papal. Mas ele també m rea irmou a condenaçã o de Clemente XI aos jansenistas, ferozes adversá rios dos jesuı́tas. De
fato, quando sete bispos franceses lhe pediram para retirar a bula Unigenitus de Clemente , Inocê ncio XIII fez com
que o Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o) censurasse sua petiçã o e pediu ao rei francê s que tomasse medidas
contra os bispos.
Na frente polı́tica, Inocê ncio XIII apaziguou o imperador Carlos VI investindo-o nos reinos de Ná poles e Sicı́lia (o
que Clemente XI se recusou a fazer) e aplacou o regente francê s nomeando seu ministro para o Colé gio dos
Cardeais. Por outro lado, ele nã o conseguiu dissuadir Carlos VI de reivindicar autoridade suprema sobre a Igreja na
Sicı́lia e de investir o prı́ncipe espanhol Don Carlos nos ducados de Parma e Piacenza, dois feudos tradicionalmente
papais.
Inocê ncio XIII morreu em 7 de março de 1724 e foi sepultado em uma tumba simples na Bası́lica de Sã o Pedro.
Nenhum monumento marca seu local de descanso.

243 Bento XIII, 1649–1730, papa de 29 de maio de 1724 a 21 de fevereiro de 1730.


Bento XIII, um dominicano, foi o ú ltimo papa a ter duas dioceses simultaneamente, Roma e Benevento. Sua decisã o
de manter Benevento teve consequê ncias desastrosas para seu ponti icado porque seus associados de Benevento
formaram um cı́rculo corrupto em torno do papa.
Nascido Pietro Francesco Orsini, ele renunciou à herança quando jovem e se juntou aos dominicanos. Contra sua
vontade, mas por meio das maquinaçõ es de sua in luente famı́lia, Vincenzo Maria (o nome que adotou quando
entrou para os dominicanos) foi nomeado cardeal em 1672 aos 23 anos por Clemente X, cuja sobrinha se casou com
o irmã o de Pietro. Embora continuasse a viver a vida de um frade, foi nomeado arcebispo de Manfredô nia em 1675,
bispo de Cesena em 1680 e arcebispo de Benevento em 1686. Ele foi eleito papa por unanimidade em 29 de maio de
1724, como candidato de compromisso apó s o As facçõ es pró -francesas, pró -espanholas e pró -Habsburgo
fracassaram em nove semanas para eleger seus pró prios candidatos favoritos. O cardeal Orsini inicialmente recusou
a eleiçã o. Ele aceitou apenas porque foi, com efeito, instado a fazê -lo pelo mestre da ordem dominicana, a quem ele
ainda considerava seu superior. No inı́cio, ele assumiu o nome de Bento XIV, em homenagem a outro papa
dominicano, o beato Bento XI (1303-4), mas mudou para Bento XIII porque o portador anterior do nome Bento
tinha sido um antipapa (1394-1417) durante o Great Western Schism. Bento XIII foi coroado em 4 de junho e tomou
posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 24 de setembro.
Na mais fatı́dica - e infeliz - decisã o de seu ponti icado, o novo papa manteve sua arquidiocese de Benevento
depois de aceitar a eleiçã o como bispo de Roma. (Tal prá tica era considerada um abuso na é poca da Reforma
Protestante. Era conhecida como pluralismo, isto é , ocupar mais de um cargo religioso ao mesmo tempo.) Embora
ele izesse visitas de uma semana a Benevento em 1727 e 1729 , Bento XIII se dedicou també m à pastoral de Roma.
Apesar da idade (tinha setenta e cinco anos quando foi eleito), consagrou igrejas, visitou os enfermos, administrou
os sacramentos e até deu instruçã o religiosa. Ele criticou o estilo de vida e a aparê ncia meticulosa dos cardeais (o
uso de perucas, por exemplo) e proibiu a lucrativa loteria nos Estados Papais. Ele pessoalmente presidiu um sı́nodo
provincial em Latrã o na primavera de 1725, no qual pediu a aceitaçã o incondicional da bula de Clemente XI contra o
jansenismo, Unigenitus (1713), e mandou imprimir e circular imediatamente as decisõ es do sı́nodo para que
pudessem servir como um exemplo para outros bispos. No entanto, o papa minou seus pró prios esforços de
reforma ao abrir seu ponti icado a in luê ncias desagradá veis de Benevento.
Bento XIII manteve o cardeal Paolucci como secretá rio de Estado (Paolucci foi o principal candidato à eleiçã o para
o papado em 1721, mas foi vetado pelo imperador), mas també m trouxe Niccolò Coscia, seu chanceler e secretá rio
em Benevento, e o fez um cardeal em 1725, contra os protestos de muitos cardeais. Có scia, por sua vez, nomeou
comparsas de Benevento para posiçõ es in luentes e, com a morte do cardeal Paolucci, fez com que um de seus
subordinados fosse nomeado secretá rio de Estado. Có scia isolou com sucesso o papa dos cardeais enquanto ele
enriquecia a si mesmo e a seus amigos vendendo os escritó rios da igreja e aceitando subornos. Como resultado do
comportamento inescrupuloso de Có scia, os interesses papais na Sicı́lia e na Sardenha foram minados e as inanças
dos Estados papais entraram em colapso.
Alguns jansenistas (cató licos moralmente rı́gidos, baseados principalmente na França, que tendiam a exagerar os
efeitos da graça divina em detrimento do livre arbı́trio humano) esperavam que, com a eleiçã o de um papa
dominicano, eles teriam um ouvido mais simpá tico no trono papal . Mas Bento XIII os desapontou. Ele nã o só
rea irmou a bula anti-jansenista de Clemente XI, Unigenitus , mas també m instruiu os dominicanos a permanecerem
ié is aos ensinamentos de Santo Agostinho (m. 430) e de Sã o Tomá s de Aquino (m. 1274). Em 1727 ele declarou que
o ensino de Tomá s de Aquino e da escola tomista nada tinha a ver com os erros jansenistas ou com o quietismo (a
visã o de que a salvaçã o será dada à queles que a aguardam “calmamente” e passivamente, sem nenhum esforço
humano. )
Bento XIII canonizou muitos santos, incluindo Joã o da Cruz (m. 1591) e Aloysius Gonzaga (m. 1591). Ao estender a
festa de Sã o Gregó rio VII à Igreja universal, ele provocou uma crise internacional. Vá rios governos icaram tã o
ofendidos com a referê ncia nos textos litú rgicos da festa ao depoimento do imperador Henrique IV por Gregó rio
que proibiram seu uso.
Apesar de sua sinceridade pessoal e pastoral, Bento XIII era profundamente impopular junto ao povo romano,
especialmente por seu ó dio por Có scia e seus comparsas. Quando o papa morreu, aos oitenta e um anos, em 21 de
fevereiro de 1730, os romanos explodiram em uma ira contra os beneventenses, que escaparam por pouco com
vida. Bento XIII foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro, mas seus restos mortais foram transferidos em
1738 para a bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, há muito associada à ordem dominicana.

244 Clemente XII, 1652-1740, papa de 12 de julho de 1730 a 6 de fevereiro de 1740.


O ponti icado de Clemente XII, eleito aos setenta e oito anos e cego desde o segundo ano de seu reinado, foi um
fracasso, mas ele é lembrado por ter erguido a famosa Fonte de Trevi em Roma.
Nascido Lorenzo Corsini, renunciou à herança apó s a morte do pai em 1685 e, com a ajuda de parentes in luentes,
entrou ao serviço da Cú ria Romana. Em 1690 foi nomeado bispo titular de Nicomé dia e nú ncio em Viena no ano
seguinte. O imperador, poré m, recusou-se a recebê -lo porque seus indicados ao Colé gio dos Cardeais nã o haviam
sido aceitos por Alexandre VIII. Lorenzo permaneceu em Roma como tesoureiro da câ mara apostó lica e em 1706 foi
nomeado cardeal-diá cono com o tı́tulo de Santa Susanna (posteriormente cardeal-sacerdote de San Pietro in Vincoli
e cardeal-bispo de Frascati) por Clemente XI. Nos conclaves de 1721 e 1724 ele foi considerado um sé rio candidato
ao papado, e inalmente foi eleito em 12 de julho de 1730, aos 78 anos, apó s um conclave de quatro meses que foi
mais contencioso do que o normal (e houve muitos conclaves contenciosos durante este perı́o do). Metade dos
cardeais presentes foram propostos em um ponto ou outro durante as deliberaçõ es. O cardeal Corsini acabou sendo
escolhido por unanimidade e foi coroado em 16 de julho. Ele adotou o nome de Clemente XII por respeito a
Clemente XI, que o nomeou cardeal. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 19
de novembro.
O novo papa frequentemente icava acamado com gota e icou cego no segundo ano de seu ponti icado, forçando-
o a con iar excessivamente em seu sobrinho cardeal Neri Corsini. Ele levou o cardeal Niccolò Coscia (o “gê nio do
mal” de Bento XIII) a julgamento. Coscia foi condenada a uma grande multa e dez anos de prisã o no Castel
Sant'Angelo. Clemente XII reviveu as loterias papais para levantar a receita tã o necessá ria para os Estados papais,
colocou novos impostos sobre as importaçõ es, restringiu a exportaçã o de objetos de valor e emitiu papel-moeda.
Para estimular o comé rcio, ele criou um porto franco em Ancona. Mas os problemas inanceiros do papado eram
muito maiores do que qualquer um desses esforços poderia resolver, e as dı́vidas ainda estavam aumentando
quando o papa morreu.
Na frente polı́tica, a sorte do papa foi de mal a pior. Os poderes cató licos continuaram a ignorar o papado, como
izeram sob Clemente XI. O imperador Carlos VI declarou sua pró pria soberania sobre Parma e Piacenza (feudos
papais tradicionais). Os Estados Papais foram invadidos pelos exé rcitos espanhó is, que entã o recrutaram tropas de
Roma, inspirando uma revolta entre o povo. Em 1736, a Espanha e Ná poles romperam relaçõ es diplomá ticas com a
Santa Sé . Para restaurar essas relaçõ es, o papa teve que reconhecer Don Carlos da Espanha como rei das Duas
Sicı́lias.
Por causa de seus problemas em nı́vel internacional, Clemente XII a princı́pio nã o criou cardeais fora da Itá lia,
apesar das pressõ es de vá rios governos. Mais tarde, ele cedeu. Nesse ı́nterim, ele limitou por decretos em 1731 e
1732 os direitos dos cardeais na administraçã o inanceira da Santa Sé durante uma vacâ ncia papal. Ele també m
publicou em 1738 a primeira condenaçã o papal da Maçonaria, proibindo os cató licos de pertencer à s lojas
maçô nicas sob pena de excomunhã o, por causa de seus juramentos secretos, indiferentismo religioso e moralidade
naturalista.
Infelizmente, ele també m renovou em 1735 a proibiçã o de Clemente XI do uso de ritos chineses por missioná rios
jesuı́tas na China e iniciou uma nova investigaçã o sobre o assunto. Para ajudar os maronitas, ele enviou um ilustre
orientalista e bibliotecá rio do Vaticano, Joseph Assemani, como legado papal ao Lı́bano para presidir um sı́nodo em
1736 que reformou a vida litú rgica e canô nica maronita. Em 1737 ele canonizou Vincent de Paul (falecido em 1660),
aclamando-o como um adversá rio determinado do Jansenismo.
Com a ajuda da riqueza de sua famı́lia, Clemente XII embelezou Roma, incluindo a fachada da bası́lica de Sã o Joã o
de Latrã o, a capela Andrea Corsini dentro da bası́lica, a Piazza di Trevi e a pró pria Fonte de Trevi, uma das mais
populares da cidade atraçõ es turı́sticas hoje. Ele ampliou a Biblioteca do Vaticano e acrescentou muitos itens valiosos
à s suas coleçõ es. Clemente XII morreu em 6 de fevereiro de 1740, pouco antes de completar oitenta e oito anos.
Depois de uma grande procissã o militar iluminada por lanternas e tochas (um escritor francê s relatou que era como
se o papa fosse um general que havia caı́do na batalha por seu paı́s), Clemente XII foi sepultado na magnı́ ica capela
Corsini (que ele encomendou) na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.

245 Bento XIV, 1675-1758, papa de 17 de agosto de 1740 a 3 de maio de 1758.


Eleito depois do conclave mais longo dos tempos modernos (seis meses), Bento XIV foi o autor da primeira encı́clica
papal, Ubi primum (1740), sobre os deveres dos bispos.
Nascido Pró spero Lorenzo Lambertini de pais nobres, mas pobres, ele foi secretá rio da Congregaçã o do Conselho
(1708-1727), Promotor da Fé (responsá vel pelas canonizaçõ es) e arcebispo de Ancona (1727) e foi nomeado
cardeal em 1728 (ele havia sido nomeado cardeal in pectore [“no seio (do papa)”], ou seja, secretamente, em 1726).
Em 1731 ele se tornou arcebispo de Bolonha, sua cidade natal, onde provou ser um pastor bem-sucedido e muito
admirado. Ele foi eleito papa em 17 de agosto de 1740, tendo surgido como candidato apenas no inal e para
surpresa de todos. Durante os primeiros quarenta dias, o cardeal Aldovrandi recebeu trinta e um votos em todas as
cé dulas, e o cardeal Lanfredini recebeu vinte, ambos menos do que os dois terços necessá rios para a eleiçã o. Os
cardeais entã o dirigiram-se ao general dos capuchinhos, padre Barberini, mas muitos se opuseram porque ele nã o
era cardeal. Mais semanas se passaram e logo o terrı́vel calor do verã o de Roma os dominou. A certa altura do
processo, o espirituoso e bem-humorado Cardeal Lambertini observou: “Você deseja ter um santo? Veja Gatti. Um
polı́tico? Veja o Aldovrandi. Mas se você deseja um bom homem, leve-me! ” Embora estivesse claro pelo tom de sua
voz e seu comportamento geral que ele realmente estava apenas brincando, os cardeais inalmente decidiram elegê -
lo, por unanimidade, depois que o cardeal Aldovrandi pediu a seus apoiadores que nã o votassem mais nele. (Houve
254 cé dulas, ou escrutı́nios, nos quais o cardeal Lambertini nã o recebeu um ú nico voto!) Ele adotou o nome de
Bento XIV em memó ria do papa, Bento XIII, que o nomeou cardeal. Ele foi coroado pelo cardeal Marini, cardeal-
diá cono sê nior, em 22 de agosto na Bası́lica de Sã o Pedro. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o
Joã o de Latrã o, em 30 de agosto.
O novo papa era conciliador por natureza e politicamente realista. Ele assinou concordatas com a Sardenha,
Ná poles, Espanha e Austria (para Milã o). Todos continham concessõ es substanciais aos governantes polı́ticos. Na
Espanha, por exemplo, o papa cedeu quase todas as nomeaçõ es da Igreja para a coroa. Pelo mesmo mé todo, ele
també m restaurou boas relaçõ es com Portugal e a Prú ssia. Mas ele tropeçou em suas relaçõ es com a Austria por
causa das complexidades da sucessã o apó s a morte do imperador Carlos VI em outubro de 1740.
Consequentemente, o papa teve que sofrer o con isco de todos os benefı́cios na Austria e a invasã o dos Estados
Papais pelos austrı́acos tropas.
Dois meses apó s sua eleiçã o, Bento XIV estabeleceu uma congregaçã o para selecionar homens dignos como
bispos e, no mê s seguinte, outra congregaçã o para responder à s perguntas dos bispos dirigidas à Santa Sé . Ele
promoveu melhor treinamento clerical, residê ncia episcopal (evidentemente, muitos bispos ainda viviam longe de
suas dioceses) e visitaçã o pastoral. Ele abordou temas como esses em uma carta circular escrita a todos os bispos do
mundo cató lico. Intitulado Ubi primum (lat., “Onde primeiro”), dizia respeito aos deveres dos bispos e é geralmente
considerada a primeira encı́clica papal (3 de dezembro de 1740). Em 1741, ele isentou os casamentos de nã o
cató licos e mistos (entre cató licos e nã o cató licos) da forma canô nica exigida pelo Concı́lio de Trento (isto é , perante
um padre e duas testemunhas). Em carta aos bispos portugueses da Amé rica do Sul, també m em 1741, ele pediu um
tratamento mais humano aos ı́ndios. Em 11 de julho de 1742, ele formal e inalmente suprimiu os ritos chineses em
uso pelos missioná rios jesuı́tas na China, estendendo a proibiçã o até mesmo aos ritos do Malabar na India. Embora
ele renovou a condenaçã o de Clemente XII à Maçonaria e condenou vá rios escritos do Iluminismo, ele publicou uma
nova e melhorada ediçã o do Indice de Livros Proibidos em 1758, prescrevendo padrõ es de inclusã o mais justos e
acadê micos. Um mê s antes de sua morte, ele instruiu o patriarca de Lisboa a investigar os jesuı́tas naquele paı́s, por
causa das muitas (falsas) reclamaçõ es que vinha recebendo sobre o descaso com seu governo e o envolvimento no
comé rcio.
Embora Bento XIV fosse um homem de seu tempo teoló gica e espiritualmente, muitos protestantes e estudiosos
agnó sticos o respeitavam pela amplitude de seus interesses acadê micos e por seu apoio à s artes e ciê ncias. Ele
fundou quatro academias acadê micas, comprou manuscritos e livros para a Biblioteca do Vaticano e melhorou a
Universidade de Roma. Montesquieu (morto em 1755) o descreveu como “o papa dos eruditos”, embora Bento XIV
tenha condenado seu O Espírito das Leis (1748). Seu livro sobre a formaçã o de santos, De servorum Dei beati icatione
et beatorum canonizatione [lat., "Sobre a beati icaçã o dos servos de Deus e a canonizaçã o dos bem-aventurados"]
(1738-48), foi freqü entemente reimpresso e manteve o tratamento clá ssico do assunto por muitos anos. Ele també m
compô s outra obra duradoura sobre sı́nodos diocesanos em 1748. O grande Voltaire (m. 1778) até dedicou sua
tragé dia Maomé ao papa, o que causou certa consternaçã o nos cı́rculos cató licos conservadores. Bento XIV morreu
em 3 de maio de 1758 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, onde é homenageado por um impressionante
monumento de Pietro Bracci, erguido com as contribuiçõ es inanceiras dos 64 cardeais que ele havia criado durante
seu ponti icado.

246 Clemente XIII, 1693-1769, papa de 6 de julho de 1758 a 2 de fevereiro de 1769.


O ponti icado de Clemente XIII foi dominado pela questã o dos jesuı́tas; ele estava sob forte pressã o de Portugal e
outros paı́ses cató licos para suprimir a ordem, mas morreu antes de um consistó rio especial se reunir.
Nascido Carlo Rezzonico de uma famı́lia comercial extremamente rica em Veneza, ele serviu primeiro na Cú ria
Romana, como governador nos Estados Pontifı́cios e depois como auditor da Rota (um ó rgã o judicial que trata
principalmente de casos de casamento) para Veneza. Foi nomeado cardeal-diá cono no tı́tulo de San Niccolò in
Carcere em 1737 por Clemente XII (o tı́tulo foi posteriormente alterado para cardeal-sacerdote de Santa Maria em
Ara Coeli, e depois para San Marco), e foi nomeado bispo de Pá dua em 1743, onde se inspirou em Sã o Carlos
Borromeu (m. 1584) e foi considerado por alguns como um santo. O conclave que se reuniu apó s a morte de Bento
XIV elegeu pela primeira vez o cardeal Cavalchini em 19 de junho de 1758, mas os cardeais franceses apresentaram
um veto da coroa francesa. Essa açã o confundiu o conclave. Por vá rios dias, faltou uma direçã o clara, até que alguns
cardeais recordaram que o cardeal Rezzonico havia recebido alguns votos em 29 de maio. Em 4 de julho, ele recebeu
vinte e dois dos quarenta e quatro votos. Depois de um debate animado, em 6 de julho, ele recebeu trinta e um
votos, ou pouco mais dos dois terços necessá rios para a eleiçã o. Assim, depois de um conclave de cerca de 53 dias, o
cardeal Rezzonico foi eleito papa por cardeais-eleitores que queriam um papa muito diferente de Bento XIV (esse
padrã o novamente!) E nã o um antijesuı́ta. Ele adotou o nome de Clemente XIII em homenagem a seu patrono,
Clemente XII, e foi coroado em 16 de julho. Os venezianos icaram tã o satisfeitos com sua eleiçã o que anularam toda
a legislaçã o antipapal datada de 1754.
O novo papa enfrentou alguns problemas antigos do ponti icado anterior, especi icamente uma investigaçã o de
acusaçõ es contra os jesuı́tas em Portugal. Os Bourbons na França, Espanha, Ná poles e Parma estavam agora
travando uma ofensiva em grande escala contra a Companhia de Jesus. (Na é poca, os jesuı́tas tinham 23.000
membros, 800 residê ncias, 700 colé gios e 270 missõ es.) O poderoso ministro de Portugal, o Marquê s de Pombal,
odiava os jesuı́tas, principalmente porque os via como uma ameaça à monarquia e por causa de sua interferê ncia
nos desı́gnios econô micos de Portugal na Amé rica do Sul, e no Paraguai em particular. Pombal entã o con iscou os
bens dos jesuı́tas em Portugal e suas colô nias e, em seguida, prendeu cerca de 250 jesuı́tas (60 foram
posteriormente libertados) e deportou outros 1.100 para os Estados Pontifı́cios em 1759. Quando Clemente XII
protestou, seu nú ncio foi expulso e relaçõ es diplomá ticas foram rompidas por dé cada. A França seguiu o exemplo de
Portugal e novamente o papa resistiu. As suas cé lebres palavras ao superior geral jesuı́ta Lorenzo Ricci foram “ Sint
ut sint aut non sint ” (“sejam como sã o ou deixem de o ser”).
Em 1º de dezembro de 1764, a Companhia de Jesus foi abolida na França por decreto real de Luı́s XV e quase
todos os membros foram enviados ao exı́lio. Em 7 de janeiro de 1765, Clemente XII publicou uma bula, Apostolicum
pascendi munus , rea irmando seu apoio à Sociedade, aplaudindo suas realizaçõ es e insistindo que um ataque aos
jesuı́tas era equivalente a um ataque à pró pria Igreja, mas em vã o. Os jesuı́tas també m foram expulsos da Espanha
em 1767 e enviados para Civitavecchia, e depois de Ná poles e Sicı́lia no ano seguinte. Parma o seguiu em 1768. O
papa invocou a bula de Pio V de 1568, In coena Domini , que condenava o controle estatal da Igreja. Os tribunais
Bourbon protestaram. Quando Clemente XIII se recusou a recuar, a França ocupou os enclaves papais de Avignon e
Venaissin. Em janeiro de 1769, Espanha, França e Ná poles exigiam que o papa suprimisse a ordem. Embora nã o
tivesse intençã o de fazê -lo, convocou um consistó rio especial de cardeais para 3 de fevereiro, mas sofreu um
derrame e morreu na vé spera da reuniã o.
O papa també m nã o teve sucesso em persuadir os governantes alemã es ou mesmo os bispos alemã es a
condenarem o febronianismo, um movimento compará vel ao galicanismo (ambos os quais buscavam subordinar a
autoridade papal ao controle local). Em outras á reas, o papa reagiu contra o Iluminismo colocando certas obras no
Indice de Livros Proibidos (incluindo o Emílio de Rousseau em 1763) e lançando uma encı́clica em 1766 condenando
todas as publicaçõ es consideradas inconsistentes com a doutrina cató lica. Ele canonizou Jeanne de Chantal (falecida
em 1641), amiga de Sã o Francisco de Sales, e Joã o Cantius (falecida em 1473), padroeira da Polô nia e da Lituâ nia, e
em 1765 autorizou a Missa e o Ofı́cio Divino para a festa do Sagrado Coraçã o para a Polô nia e a Arquiconfraria do
Sagrado Coraçã o de Roma, uma devoçã o muito apreciada pelos Jesuı́tas. Finalmente, embora apoiasse as artes, ele
ordenou a cobertura de certas nudez em está tuas e pinturas, incluindo alguns afrescos da Capela Sistina. Clemente
XIII foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.

247 Clemente XIV, 1705-74, papa de 28 de maio de 1769 a 22 de setembro de 1774 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado no dia da eleição, 19 de maio, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar bispo de Roma até
a consagração em 28 de maio).
Um franciscano amigo dos jesuı́tas antes de sua eleiçã o, Clemente XIV foi o papa que inalmente cedeu à s exigê ncias
dos poderes cató licos e suprimiu a Companhia de Jesus em 1773.
Nascido Giovanni Vincenzo Antonio Ganganelli, ele adotou o nome de seu pai, Lorenzo, como seu nome religioso
ao entrar para os franciscanos. Ele foi professor de teologia, reitor do colé gio e consultor do Santo Ofı́cio (antiga
Inquisiçã o) antes de ser nomeado cardeal no tı́tulo de San Lorenzo in Panisperna (posteriormente alterado para
Santi Apostoli) em 1759 por Clemente XIII, que fez referê ncia a ele como um jesuı́ta com roupas de franciscano. Ele
foi eleito papa em 19 de maio de 1769, apó s um contencioso conclave no qual os poderes cató licos (particularmente
os monarcas Bourbon na França, Espanha, Ná poles e Parma) ameaçaram vetar um candidato pró -jesuı́ta. Os
Bourbons se alegraram. Havia trê s grupos entre os cardeais-eleitores: os que eram a favor da supressã o dos
jesuı́tas, os que se opunham à supressã o e os que eram indiferentes. As regras de sigilo estabelecidas para conclaves
por papas anteriores foram violadas. Certos cardeais mantinham comunicaçã o aberta e frequente com os
embaixadores da França e da Espanha. Havia també m uma lista de candidatos inaceitá veis a serem vetados, e todos
os cardeais foram categorizados como “muito bons”, “bons”, “ruins” ou “muito ruins”. O cardeal Branciforte, um
“grande senhor siciliano”, foi escolhido por aclamaçã o (“adoraçã o” é o termo té cnico), mas foi vetado pelos cardeais
franceses em nome da coroa. O conclave dirigiu-se ao ú nico cardeal que pertencia a uma ordem religiosa, o cardeal
Ganganelli, que teria “aparado as velas ao vento” a respeito dos jesuı́tas. Ele nã o prometeu formalmente suprimir a
ordem, mas concordou que tal ato seria canonicamente possı́vel e poderia até ter certas vantagens. Apó s a eleiçã o,
ele adotou o nome do papa (Clemente XIII) que o havia nomeado para o Colé gio dos Cardeais. Como ainda nã o era
bispo, foi consagrado bispo de Roma em 28 de maio pelo cardeal Lante, subdiano do Colé gio dos Cardeais. Ele foi
coroado em 4 de junho e tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 26 de novembro.
Durante a procissã o para a bası́lica, o papa foi jogado de seu cavalo e caiu com tanta força que nã o pô de monte seu
cavalo novamente.
O novo papa começou a se distanciar agora dos jesuı́tas de quem antes era amigo. (Na verdade, ele dedicou um de
seus livros a Santo Iná cio de Loyola, o fundador da Sociedade de Jesus, e seu prefá cio incluı́a elogios à ordem.) Ele
sabia que sua primeira tarefa seria satisfazer os poderes cató licos 'sede de sangue jesuı́ta. Na verdade, eles o
lembraram formalmente daquele negó cio inacabado em julho, dois meses apó s sua eleiçã o. Apó s um rompimento de
dez anos nas relaçõ es diplomá ticas com Portugal, Clemente XIV sanou a violaçã o enviando um nú ncio complacente e
nomeando o irmã o do implacá vel ministro portuguê s, o Marquê s de Pombal, ao Colé gio dos Cardeais (apó s a morte
do irmã o, o Papa nomeou outro amigo de Pombal) e ao con irmar oito dos nomeados de Pombal como bispos.
Na Quinta-feira Santa de 1770, Clemente XIV omitiu a leitura da famosa bula de Pio V, In coena Domini (1568), que
condenava os esforços dos Estados para exercer o controle sobre a Igreja. (Clemente XIII usou a bula para anunciar
a excomunhã o do duque de Parma em 1768, um ato que provocou o ultimato dos estados Bourbon para dissolver a
ordem dos jesuı́tas.) No entanto, Clemente XIV temporizou por quatro anos, esperando que o problema de alguma
forma resolver-se. Ele aconselhou os bispos a reter as permissõ es dos jesuı́tas para pregar ou ouvir con issõ es. Os
jesuı́tas foram removidos de seus cargos em certos colé gios nos Estados papais. Jesuı́tas exilados de Portugal foram
privados das pensõ es que lhes era atribuı́da por Clemente XIII. Mas, na primavera de 1773, os Estados Bourbon
advertiram o papa de que romperiam as relaçõ es diplomá ticas com Roma se ele nã o agisse contra os jesuı́tas. Até a
imperatriz pró -jesuı́ta Maria Teresa mudou-se para o campo neutro (mas depois da supressã o da ordem, ela
permitiu que eles permanecessem em suas casas como padres diocesanos). Em 21 de julho de 1773, o papa emitiu a
bula Dominus ac Redemptor noster , dissolvendo completamente a Companhia de Jesus e extinguindo seus 11.000
membros restantes, 266 faculdades, 103 seminá rios e 88 residê ncias. O superior geral Lorenzo Ricci e seus
assistentes na Espanha, Itá lia, Portugal, Alemanha e Polô nia foram presos no Castelo de Santo Angelo por
questionarem a decisã o.
O motivo que Clemente XIV deu para sua açã o foi que os jesuı́tas haviam incorrido em hostilidade e estavam no
centro da contrové rsia. A ordem dos jesuı́tas foi esmagada em todos os lugares, exceto na Prú ssia e na Rú ssia, cujos
soberanos, Frederico II e Catarina II, proibiram a promulgaçã o da bula papal. O sistema escolar cató lico na Europa e
o esforço missioná rio no exterior sofreram danos incalculá veis - tudo para satisfazer os interesses polı́ticos e
econô micos de governantes nominalmente cató licos. Pode-se dizer que as trinta peças de prata do papa consistiram
na devoluçã o de Avignon e Venaissin ao controle papal. (Ná poles també m restaurou Benevento e Pontecorvo, mas
em condiçõ es humilhantes.) Mas a açã o do papa nã o o conquistou muito mais do que isso. Na França, uma comissã o
real para a reforma das ordens religiosas continuou seu trabalho, suprimindo as casas religiosas sem a aprovaçã o
papal. Em Portugal, as autoridades seculares interferiram com o trabalho da Igreja e, em particular, com a educaçã o
dos jovens. Os esforços do papa para melhorar as condiçõ es econô micas nos Estados papais falharam, em grande
parte por causa da oposiçã o dos cardeais e da nobreza romana, que nã o podiam perdoar o papa por ter suprimido
a ordem jesuı́ta.
Em outro lugar na frente polı́tica, Clemente XIV falhou em impedir a divisã o da Polô nia entre a Prú ssia, a Rú ssia e a
Austria em 1772, mas ele fez movimentos politicamente astutos em relaçã o à Inglaterra ao receber membros da
famı́lia real em Roma e minimizar o apoio papal aos Stuarts cató licos exilados. Durante o ú ltimo ano, ele esteve
gravemente deprimido, em constante medo de ser assassinado e atormentado por uma doença aguda de pele.
Clemente XIV morreu em sua residê ncia de verã o, o Palá cio do Quirinale, em 22 de setembro de 1774, e foi
sepultado inicialmente na Bası́lica de Sã o Pedro. Em 1802 seus restos mortais foram transferidos para a Igreja dos
Santos Apó stolos (Santi Apostoli), onde foram sepultados em um magnı́ ico monumento de Antonio Canova.
Ironicamente, esta igreja (també m conhecida como Dodici Apostoli) está perto de duas grandes instituiçõ es jesuı́tas
em Roma: o Pontifı́cio Instituto Bı́blico e a Pontifı́cia Universidade Gregoriana. Era costume dos seminaristas
americanos que estudavam em Roma colocar lores no tú mulo de Clemente XIV depois de exames particularmente
difı́ceis administrados por seus professores jesuı́tas na Gregoriana.
O elogio de Clemente XIV nã o mencionou a supressã o dos jesuı́tas. De acordo com o historiador JND Kelly, seu
ponti icado “viu o prestı́gio do papado cair ao seu nı́vel mais baixo durante sé culos”. O grande bió grafo papal Ludwig
von Pastor o chamou de "um dos mais fracos e infelizes da longa linhagem de papas".

248 Pio VI, 1717-99, papa de 22 de fevereiro de 1775 a 29 de agosto de 1799 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado no dia de sua eleição, 15 de fevereiro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar bispo de Roma
até a consagração em 22 de fevereiro).
Pio VI foi papa durante a Revoluçã o Francesa, que ele denunciou e pela qual Napoleã o invadiu os Estados Papais e o
prendeu. Seu foi o terceiro ponti icado mais longo da histó ria (depois de Pio IX [1846-78] e Leã o XIII [1878-1903]).
Por causa das circunstâ ncias em que ele morreu, um prisioneiro de Napoleã o Bonaparte, no exı́lio, muitos pensaram
que ele poderia ser de fato “o ú ltimo papa”.
Nascido Giovanni Angelo Braschi, ilho de pais aristocrá ticos de recursos modestos, ele serviu como secretá rio do
cardeal Antonio Ruffo em vá rios cargos diferentes e, em seguida, como secretá rio particular de Bento XIV (1740-
1758). Ele nã o foi ordenado sacerdote até 1758, aos quarenta e um anos. Foi nomeado tesoureiro da câ mara
apostó lica em 1766 (responsá vel pelas inanças dos Estados papais) e cardeal-sacerdote com o tı́tulo de Sant
'Onofrio em 1773 por Clemente XIV. Ele foi eleito papa no conclave de 134 dias apó s a morte de Clemente XIV,
porque foi considerado pró -jesuı́ta pelos cardeais pró -jesuı́tas e anti-jesuı́ta pelos cardeais anti-jesuı́tas. Ele tinha
cinquenta e sete anos de idade e adotou o nome de Pio porque tinha uma devoçã o particular a Sã o Pio V (1566-
1572). Foi consagrado bispo de Roma e coroado em 22 de fevereiro. Em 30 de novembro, tomou posse da igreja
catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.
O novo papa era afetado pelas partes externas de seu cargo e gostava de protocolos desatualizados. Ele reviveu a
prá tica do nepotismo papal, concedendo somas substanciais a seus parentes e construindo o Palazzo Braschi para
seu sobrinho. Ele també m gastou grandes quantias na sacristia de Sã o Pedro e no Museu Pio-Clementino, na reforma
de estradas e na (malsucedida) drenagem dos pâ ntanos Pontinos - todos os quais levaram à falê ncia o tesouro.
Sem qualidades especiais de intelecto ou dom para a diplomacia, seus primeiros anos foram marcados por vá rios
reveses polı́ticos. Ná poles recusou-se a reconhecê -lo como senhor feudal, apesar das demandas persistentes do
papa, e reivindicou para seu rei o direito de apresentar nomeados episcopais para dioceses. No impé rio, José II
absorveu o espı́rito do febronismo e do Iluminismo, concedendo total tolerâ ncia a todas as religiõ es, limitando a
intervençã o papal aos assuntos espirituais, proibindo seus bispos de solicitar dispensas a Roma, exigindo que os
candidatos ao sacerdó cio diocesano izessem seu curso de Estado faculdades e sujeitando a Igreja ao estado. Em
1781, o imperador promulgou um é dito de tolerâ ncia que suprimiu certas ordens religiosas e transferiu certos
mosteiros da jurisdiçã o papal para a episcopal. Pio VI viajou para Viena em 1782 (o primeiro papa a deixar Roma
desde 1533, quando Clemente VII viajou a Marselha para casar sua sobrinha neta com o ilho do rei Francisco I)
para dissuadir o imperador de seu curso. Embora o imperador tenha recebido o papa com cortesia, o papa nã o teve
sucesso em mudar a opiniã o de José II. Quando, quatro anos depois, o papa tentou estabelecer uma nunciatura em
Munique, os arcebispos alemã es se opuseram a ele, insistindo que eles poderiam dirigir sua pró pria Igreja sem
interferê ncia papal. O espı́rito do febronianismo (agora chamado de Jose inismo) se espalhou até mesmo pela Itá lia
quando a Toscana, liderada pelo irmã o do imperador, anunciou planos para tornar a igreja local independente de
Roma. O Sı́nodo de Pistoia (setembro de 1786) adotou os quatro Artigos Galicanos de 1682 (declarando a Igreja
Francesa independente de Roma na maioria dos assuntos) e isentou os bispos locais da autoridade papal. O papa
acabou pedindo ao bispo que presidia o sı́nodo que renunciasse e, em 28 de agosto de 1794, condenou formalmente
85 dos artigos de Pistó ia. Sobre a questã o dos jesuı́tas, Pio VI tentou agradar os monarcas Bourbon colocando
alguma pressã o sobre Frederico II da Prú ssia e Catarina II da Rú ssia (nenhum dos quais eram cató licos romanos),
onde os jesuı́tas ainda loresciam em desa io à declaraçã o de supressã o de Clemente XIV. Mas o papa falhou aqui
també m. Catarina estabeleceu um noviciado para os jesuı́tas em 1780. Diz-se que o papa aprovou tacitamente a
presença contı́nua dos jesuı́tas na Rú ssia.
Mas o evento que lançou a sombra mais escura sobre seu ponti icado foi a Revoluçã o Francesa. No inı́cio, o papa
foi cauteloso, embora considerasse a revoluçã o um ato de rebeliã o contra uma ordem social sancionada por Deus e
uma conspiraçã o contra a Igreja. Ele nã o disse nem fez nada quando, em 12 de julho de 1790, a Constituiçã o Civil do
Clero reorganizou a Igreja francesa e tornou o clero funcioná rios assalariados do estado. Mas no ano seguinte ele
denunciou o juramento de lealdade que o novo regime impô s ao clero e condenou a Constituiçã o Civil, bem como a
Declaraçã o dos Direitos do Homem (1789). Ele declarou sacrı́legas as ordenaçõ es dos novos bispos do estado e
suspendeu os padres, bispos e abades que haviam feito o juramento civil. As relaçõ es diplomá ticas entre a França e a
Santa Sé foram imediatamente rompidas, e a França anexou os enclaves papais de Avinhã o e Vê nassin, onde os
cidadã os já haviam se levantado contra a continuaçã o da soberania papal ali. A Igreja francesa dividiu-se entre os
simpá ticos à Revoluçã o e os leais à monarquia. Pio VI nã o ajudou em nada quando deu apoio a uma aliança,
conhecida como Primeira Coalizã o, contra a nova França e recebendo calorosamente numerosos monarquistas em
Roma e nos Estados Pontifı́cios. Quando Napoleã o Bonaparte ocupou Milã o na primavera de 1796, os franceses
exigiram que o papa retirasse sua condenaçã o à Constituiçã o Civil e à revoluçã o. O papa recusou. Napoleã o entã o
invadiu os Estados Papais e derrotou as forças do papa. Pela Paz de Tolentino (1797), Pio VI foi obrigado a pagar
uma indenizaçã o enorme, entregar manuscritos e obras de arte valiosos e ceder porçõ es substanciais dos Estados
Papais à França, incluindo Ferrara, Bolonha e Romanha.
As coisas, poré m, foram de mal a pior. Um general francê s foi morto durante um motim em Roma e o Diretó rio (os
lı́deres revolucioná rios em Paris) ordenou a ocupaçã o dos Estados Papais. O general Louis Berthier entrou em Roma
em 15 de fevereiro de 1798, proclamou a Repú blica Romana, depô s Pio VI como chefe de estado e forçou-o a se
retirar para a Toscana. Ele viveu vá rios meses em Florença, isolado de quase todos os seus assessores, mas usando
seu nú ncio em Florença como secretá rio de Estado. Quando a guerra estourou novamente, o Diretó rio estava
preocupado que as tropas tentassem resgatar o papa, entã o eles o transferiram de Florença em 28 de março de
1799, para Turim, depois atravé s dos Alpes para Briançon (30 de abril), e entã o para Valence (13 de julho).
Pio VI morreu prisioneiro em Valence aos 81 anos em 29 de agosto de 1799 e foi sepultado no cemité rio local
com uma inscriçã o simples: “O corpo de Pio VI, supremo pontı́ ice. Reze por ele." Sua morte provocou muitas
expressõ es de tristeza em todo o mundo, e houve funerais pú blicos realizados em paı́ses que nã o estavam sob o
controle ou in luê ncia do Diretó rio em Paris. Seus restos mortais foram transferidos para a Bası́lica de Sã o Pedro em
Roma em fevereiro de 1802 e posteriormente transferidos para a cripta da bası́lica em 1983. Muitos pensaram que o
papado havia inalmente chegado ao im com sua morte, que Pio VI era de fato “o ú ltimo papa, ”Mas ele havia
deixado instruçõ es cuidadosas para a realizaçã o do pró ximo conclave em condiçõ es de emergê ncia.

249 Pio VII, 1742-1823, papa de 14 de março de 1800 a 20 de agosto de 1823.


Como seu predecessor, Pio VII foi preso por Napoleã o. Ele també m restaurou a ordem dos jesuı́tas em 1814, apó s
cerca de quarenta anos sob repressã o. Foi o quinto ponti icado mais longo da histó ria, depois de Pio IX (1846–78),
Leã o XIII (1878–1903), Pio VI (1775–99) e Adriano I (772–95).
Nascido Luigi Barnabà Chiaramonti de pais nobres, juntou-se aos beneditinos aos quatorze anos, assumindo o
nome de Gregó rio, foi professor de teologia em Parma e em San Anselmo's em Roma, foi nomeado bispo de Tivoli
em 1782 e depois bispo de Imola em 1785, quando també m foi nomeado cardeal por Pio VI. Embora as regras para
os conclaves papais ditassem que a eleiçã o do sucessor de Pio VI deveria ocorrer tecnicamente onde ele morreu, ou
seja, em Valê ncia, na França, os cardeais seguiram os desejos de Pio VI de que o cardeal sê nior convocasse o
conclave onde ele desejasse. Com Roma agora ocupada por tropas do reino de Ná poles, os cardeais escolheram
Veneza, que estava sob proteçã o austrı́aca. O conclave foi inaugurado em 1º de dezembro com a presença de trinta e
quatro cardeais. Durante semanas, a votaçã o produziu maiorias de dezoito a vinte e dois a favor do cardeal
Bellisomi, bispo de Cesena, e de dez a treze votos a favor do candidato austrı́aco, o cardeal Mattei, arcebispo de
Ferrara. Um impasse de quatorze semanas foi quebrado depois que os apoiadores de Mattei concordaram em
nomear um eleitor de Bellisomi aceitá vel para eles. A escolha recaiu sobre o bispo beneditino de Imola, cardeal
Chiaramonti, que foi eleito em 14 de março de 1800. Ele adotou o nome de Pio VII em homenagem a seu antecessor,
que o havia nomeado cardeal, e foi coroado em 21 de março em Veneza , na mesma igreja moná stica onde foi
realizado o conclave, San Giorgio Maggiore, porque o imperador austrı́aco Francisco II se recusou a dar permissã o
para que a entronizaçã o ocorresse na catedral de San Marco (como um sinal de seu descontentamento com o
resultado de eleiçã o, embora ele tenha concordado com ela). Como a igreja era tã o pequena, os espectadores se
reuniam na praça do lado de fora, enquanto outros observavam das gô ndolas ou espiavam atravé s de telescó pios a
distâ ncias mais longas. Como os franceses roubaram os trajes papais, Pio VII foi coroado com uma tiara de papel
machê .
O novo papa resistiu à pressã o para mudar a sede do papado para Viena. Ele partiu para Roma em 3 de julho e
nomeou um cardeal notá vel, Ercole Consalvi, para ser seu secretá rio de Estado. Quando o novo papa chegou a Roma,
apó s uma difı́cil viagem por mar e terra arranjada pelo imperador austrı́aco, as tropas austrı́acas foram derrotadas
por Napoleã o Bonaparte na batalha de Marengo, no noroeste da Itá lia, em 14 de junho. Pio VII logo persuadiu a
Austria e Ná poles deve se retirar dos territó rios papais ocupados. O papa e o cardeal Consalvi negociaram uma
concordata com Napoleã o, agora primeiro cô nsul da nova Repú blica Francesa, em 16 de julho de 1801. A concordata
restaurou o catolicismo na França, embora condiçõ es posteriormente tenham sido anexadas ao acordo por
Napoleã o (os chamados Artigos Orgâ nicos ) fortaleceu o controle do governo sobre a Igreja e restringiu as
intervençõ es papais na França. Ao assegurar pela primeira vez o poder de remover um bispo de sua diocese, no
entanto, o papado deu mais um passo em direçã o ao status quase absolutamente moná rquico que tem desfrutado
sobre a Igreja nos tempos modernos. Na verdade, a concordata com Napoleã o pode ter estabelecido as bases para
as reivindicaçõ es de autocracia papal que foram feitas cerca de setenta anos depois, no Concı́lio Vaticano I.
Pio VII chegou a um acordo semelhante com a nova Repú blica Italiana em 1803, mas falhou em sua tentativa de
fazê -lo com a Alemanha. Contra o conselho da Cú ria Romana, o papa foi a Paris para participar da coroaçã o de
Napoleã o como imperador em 2 de dezembro de 1804. O gesto nã o foi correspondido. Napoleã o nã o modi icou as
limitaçõ es que impô s à Igreja e ao papa. E quando o papa insistiu em permanecer neutro nas renovadas guerras
europeias, Napoleã o o forçou a demitir seu secretá rio de Estado, o cardeal Consalvi. E quando se recusou a apoiar o
bloqueio da Inglaterra, Napoleã o ocupou Roma em 2 de fevereiro de 1808, e anexou o restante dos Estados Papais
em maio de 1809. Pio VII entã o excomungou todos os "ladrõ es do patrimô nio de Pedro" em 10 de junho, mas sem
mencionando Napoleã o pelo nome.
O papa foi preso em 5 de julho e colocado em virtual con inamento solitá rio em Savona, perto de Gê nova,
guardado por quase 1.400 soldados. A princı́pio, ele se recusou a aprovar a investidura dos bispos nomeados por
Napoleã o, mas depois sucumbiu a grande pressã o e concordou verbalmente com a investidura dos arcebispos
metropolitanos. Isso nã o foi su iciente para Napoleã o, que transferiu o papa secretamente de Savona para
Fontainebleau (perto de Paris) em 1812, apó s uma viagem isicamente angustiante de cerca de doze dias em uma
carruagem puxada por cavalos. No mê s de janeiro seguinte, o papa, doente e exausto, foi forçado a assinar um
projeto de convençã o (conhecido como Concordata de Fontainebleau), que incluı́a uma renú ncia implı́cita aos
Estados papais. Napoleã o publicou o documento como se fosse a versã o inal. Dois meses depois, o papa retirou sua
assinatura e, no ano seguinte, com Napoleã o tendo sofrido grandes derrotas na Rú ssia e em Leipzig, Pio VII foi
enviado de volta a Savona e libertado em 10 de março de 1814. (Paris caiu no mesmo mê s e Napoleã o abdicou em
11 de abril.) O papa reentrou em Roma em 24 de março e em 7 de maio reintegrou o cardeal Consalvi como seu
secretá rio de Estado. No Congresso de Viena, Consalvi negociou o retorno de quase todos os Estados Pontifı́cios,
exceto Avignon e Vê nassin, ambos em territó rio francê s.
Em 7 de agosto de 1814, festa de Santo Iná cio de Loyola (agora celebrada em 31 de julho), apesar dos protestos
das potê ncias cató licas, Pio VII restaurou a Companhia de Jesus, apó s ter regularizado seu status na Rú ssia e em
Ná poles em 1801 e 1804, respectivamente. Depois que Napoleã o escapou de seu exı́lio na ilha de Elba, Pio VII teve
que se refugiar em Gê nova na primavera de 1815. Ele retornou a Roma em 7 de junho. (Napoleã o encontrou seu
famoso Waterloo alguns dias depois.)
A segunda parte do ponti icado de Pio VII foi muito menos dramá tica do que a primeira. Ele estava preocupado
em reorganizar os Estados Papais, ao mesmo tempo em que traçava um caminho intermediá rio entre os mé todos
antigos e os novos introduzidos durante a ocupaçã o francesa. Os compromissos nã o satis izeram nem a esquerda
nem a direita, mas pelo menos o papa reconheceu que havia aspectos bons e ruins na Revoluçã o Francesa e na nova
onda de democracia que varria o mundo ocidental. O papa també m estava preocupado com a restauraçã o da Igreja
em vá rios paı́ses.
Depois de cair e fraturar a coxa cerca de seis semanas antes, Pio VII morreu em 20 de agosto de 1823, dois anos
depois de seu inimigo, Napoleã o Bonaparte, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Seu secretá rio de Estado de
longa data, o cardeal Consalvi, vendeu todos os seus preciosos objetos e mandou erguer um grande monumento de
Antonio Canova em memó ria de Pio VII.

250 Leo XII, 1760-1829, papa de 28 de setembro de 1823 a 10 de fevereiro de 1829.


O ponti icado de Leã o XII foi extremamente conservador: ele condenou a tolerâ ncia religiosa, reforçou o Indice dos
Livros Proibidos e do Santo Ofı́cio (antiga Inquisiçã o), restabeleceu a aristocracia feudal nos Estados Papais e
con inou os judeus mais uma vez em guetos.
Nascido Annibale Sermattei Della Genga de pais nobres, ele serviu apó s a ordenaçã o sacerdotal em 1783 como
secretá rio particular de Pio VI. Ele foi entã o embaixador em Lucerna (1784), arcebispo titular de Tiro (1793), nú ncio
em Colô nia e na Baviera (1794-1805) e enviado papal especial em vá rias outras situaçõ es. Enquanto Pio VII estava
preso por Napoleã o na França, o cardeal Della Genga vivia na abadia de Monticelli, perto de Piacenza, como um
virtual prisioneiro do estado. Apó s a primeira derrota de Napoleã o e o retorno de Pio VII a Roma em 1814, Della
Genga foi nomeado nú ncio em Paris, mas caiu em desgraça com o cardeal-secretá rio de Estado, Ercole Consalvi, por
nã o negociar o retorno de Avignon ao controle papal. Retornou a Monticelli, mas Pio VII nomeou-o cardeal-
sacerdote no tı́tulo de Santa Maria in Trastevere e bispo de Sinigallia em 1816. Dois anos depois tornou-se bispo de
Spoleto, em sua regiã o natal. Em 1820 foi nomeado vigá rio de Roma e chefe (prefeito) de vá rias congregaçõ es da
Cú ria. Ele foi eleito papa em 28 de setembro de 1823, apó s um conclave de cerca de 25 dias devido aos votos de
cardeais reacioná rios (conhecidos como zelanti ) que estavam insatisfeitos com as polı́ticas liberais do secretá rio de
Estado e queriam um retorno ao governo papal mais tradicional .
O conclave apó s a morte de Pio VII foi realizado no Palá cio Quirinale por causa do calor tó rrido na regiã o da
cidade do Vaticano. A pró pria eleiçã o foi fortemente contestada, com o veto da Austria à eleiçã o do cardeal Severoli
(os vetos imperiais foram proibidos por Pio X em 1904). Na tarde de 27 de setembro, o cardeal Della Genga recebeu
doze votos. No dia seguinte, sua contagem de votos aumentou para vinte e quatro e depois para trinta e quatro de
quarenta e nove votos, os dois terços necessá rios para a eleiçã o. No inı́cio, ele tentou recusar a eleiçã o por causa do
seu estado de saú de precá rio. Entã o ele cedeu e assumiu o nome de Leã o XII, em homenagem ao Papa Leã o, o
Grande (440-61), a quem tinha uma devoçã o especial. Mais uma vez, a suposiçã o convencional de que os papas sã o
sucedidos por duplicatas de si mesmos, especialmente se eles estã o no cargo há muitos anos (Pio VII foi papa por
mais de 23 anos), foi totalmente minada. Leã o XII foi coroado em 5 de outubro. No entanto, ele adoeceu gravemente
logo em seguida e recebeu os ú ltimos sacramentos na vé spera de Natal. (Outra fonte diz que ele adoeceu cerca de
uma semana apó s sua eleiçã o e que só foi coroado depois de sua recuperaçã o, bem no inı́cio do ano novo.) Diz-se
que seu amigo Vincenzo Maria Strambi, bispo de Macerata, ofereceu o seu pró prio vida se Deus salvasse o papa.
Leã o XII se recuperou e Strambi morreu no dia de ano novo.
O novo papa compartilhou as visõ es conservadoras de linha dura dos zelanti que foram fundamentais em sua
eleiçã o. Leã o XII substituiu imediatamente o cardeal-secretá rio de Estado, Ercole Consalvi, pelo conservador cardeal
Della Somaglia e estabeleceu uma Congregaçã o de Estado para assessorá -lo em questõ es polı́ticas e religiosas. Em
maio de 1825, ele condenou o indiferentismo religioso, a tolerâ ncia religiosa e a Maçonaria. Ele també m reforçou o
Indice de Livros Proibidos e o Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o), restaurou a Universidade Gregoriana para
os Jesuı́tas e estabeleceu novas cá tedras de teologia, mas com maior supervisã o sobre a ortodoxia dos professores.
Ele reintegrou a aristocracia feudal, com posiçõ es privilegiadas, nos Estados Papais, bem como nas cortes
eclesiá sticas anteriores a 1800. Ele també m pô s im à laicizaçã o da administraçã o dos Estados papais, restaurando o
domı́nio do clero e da nobreza, e em 1826 os judeus foram novamente con inados em guetos e suas propriedades
con iscadas. O estado moderno que o cardeal Consalvi vinha tentando estabelecer, sem prejuı́zo dos direitos e
interesses da Igreja, foi agora desmantelado em favor de um estado policial severo, completo com censura da
imprensa, pena de morte, sociedades secretas (o precursor do Sodalitium Pianum no ponti icado de Pio X no inı́cio
do sé culo XX) que farejou os menores indı́cios de revoluçã o. Como resultado das polı́ticas reacioná rias do novo
papa, os Estados papais perderam muitos cidadã os produtivos, incluindo judeus, e sofreram estagnaçã o econô mica.
A classe mé dia em ascensã o estava zangada com o declı́nio de seu bem-estar econô mico e as violaçõ es de suas
liberdades pessoais, e os Estados papais ganharam a reputaçã o de serem os mais atrasados de toda a Europa.
No inı́cio, as potê ncias europeias icaram preocupadas com o fato de a eleiçã o de Leã o XII sinalizar uma reversã o
da atitude mais liberal de Pio VII em relaçã o ao crescente pluralismo polı́tico mundial. Algumas das primeiras
medidas do novo papa con irmaram esses temores, mas ele logo percebeu que a Igreja precisava ter boas relaçõ es
com outros paı́ses. Ele passou a adotar uma polı́tica mais conciliató ria com as potê ncias europeias do que com seus
pró prios sú ditos nos Estados papais. Ele até pediu o conselho do cardeal Consalvi e o nomeou prefeito da
Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé (Propaganda) - o que assustou e enervou os cardeais zelanti que haviam
apoiado sua eleiçã o para o papado. Ele voltou à prá tica de assinar concordatas com potê ncias estrangeiras, como a
Holanda, mas continuou a favorecer regimes conservadores na esperança de conter a maré de liberalismo.
Sua polı́tica interna foi projetada para rejuvenescer a vitalidade espiritual da Igreja. Ele convocou um Ano Santo
em 1825 para restabelecer o contato entre o papado e o povo cató lico e se esforçou para elevar os padrõ es da
educaçã o e formaçã o clerical (que ele abordou em sua primeira encı́clica, Ubi primum , em 3 de maio de 1824). Mas
sua agenda foi moldada por uma teologia e espiritualidade rigidamente clericalistas e um medo dominante e
hostilidade em relaçã o ao mundo moderno. Ele morreu em 10 de fevereiro de 1829 e foi sepultado na Bası́lica de
Sã o Pedro. O papa Gregó rio XVI, que Leã o XII havia nomeado cardeal, ergueu um grande monumento a Leã o em
1837, do escultor Giuseppe Fabris.
251 Pio VIII, 1761-1830, papa de 31 de março de 1829 a 30 de novembro de 1830.
Apó s o ponti icado geralmente reacioná rio de Leã o XII, Pio VIII retornou à s polı́ticas mais liberais de Pio VII (1800-
1823). Ele aprovou os decretos do Primeiro Conselho de Baltimore nos Estados Unidos (1830).
Nascido Franceso Saverio Castiglioni de pais nobres, foi nomeado bispo de Montalto em 1800, mas foi preso de
1808 a 1814 por se recusar a jurar lealdade ao regime napoleô nico na Itá lia. Pio VII nomeou-o cardeal e bispo de
Cesena em 1816 e depois o chamou a Roma em 1821 para se tornar bispo de Frascati e grande penitenciá ria
(encarregado de absolviçõ es, dispensas, indulgê ncias e assim por diante). Pio VII esperava que o cardeal Castiglione
o sucedesse no papado, mas o conclave de 1823 escolheu Leã o XII. Apó s a morte de Leã o, o conclave de cinco
semanas de 1829, dominado desta vez por cardeais moderados, elegeu Castiglione em 31 de março com o apoio da
Austria e da França e apesar de sua saú de debilitada. Ele tomou o nome de Pio VIII em homenagem a seu patrono,
Pio VII, e foi coroado em 5 de abril.
Embora o novo papa estivesse empenhado em reviver as polı́ticas mais liberais de Pio VII, sua primeira e ú nica
encı́clica, Traditi humiliati nostrae (24 de maio de 1829), atribuiu a quebra da religiã o e da ordem social ao
indiferentismo, à s atividades das sociedades bı́blicas protestantes , ataques ao dogma cató lico e à sacralidade do
casamento, e à existê ncia de sociedades secretas. No ano seguinte, ele condenou a in luê ncia da Maçonaria na
educaçã o e no declı́nio dos padrõ es morais dos jovens. Por outro lado, ele revogou a maioria das medidas severas
de Leã o XII nos Estados papais e fez adaptaçõ es pastorais no caso de casamentos mistos (entre um cató lico e um
protestante) na Prú ssia. (Ele permitiu que os padres assistissem passivamente nas cerimô nias em que o partido
protestante nã o havia prometido criar os ilhos como cató licos. Isso nã o satisfez a Prú ssia e o problema aumentou
novamente no ponti icado seguinte.)
Ele nomeou o cardeal Giuseppe Albani, o homem mais responsá vel pela eleiçã o do papa no conclave, como
secretá rio de Estado. Albani era abertamente pró -austrı́aca, o que signi icava que as polı́ticas de Pio VIII em relaçã o
à s jovens igrejas na Amé rica Latina, anteriormente sujeitas à coroa espanhola, eram na verdade menos progressistas
do que as de Leã o XII. A in luê ncia de Albani també m colocou a Igreja em oposiçã o aos movimentos emancipató rios
na Bé lgica, Irlanda e Polô nia em 1830. Por outro lado, Pio VIII aceitou, contra o conselho de seu nú ncio e da Cú ria, a
Revoluçã o de julho de 1830 em Paris, que depô s o altamente impopular rei Carlos X em favor de Luı́s Filipe, que
prometeu respeitar a concordata de 1801 com Napoleã o Bonaparte que restaurou o catolicismo na França. Ele
també m chegou a um acordo com o sultã o da Turquia garantindo os direitos religiosos e civis dos armê nios cató licos
e estabeleceu um arcebispado de rito armê nio em Constantinopla em 1830. No mesmo ano, ele aprovou os decretos
do Primeiro Concı́lio de Baltimore, realizado em outubro de 1829 .
Pio VIII morreu em 30 de novembro de 1830 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. O cardeal Albani ergueu um
monumento a ele, obra de Pietro Tenerani.

252 Gregório XVI, 1765-1846, papa de 2 de fevereiro de 1831 a 1º de junho de 1846.


Um monge camaldulense (e o ú ltimo monge a ser eleito papa), Gregó rio XVI foi um dos papas mais reacioná rios da
Igreja, empregando tropas austrı́acas em duas ocasiõ es para esmagar levantes nos Estados Papais e opor-se ao
nacionalismo italiano, liberdade de consciê ncia, liberdade do imprensa e a separaçã o entre Igreja e Estado. Ao
mesmo tempo, ele foi um forte promotor das missõ es. Ele pode ser mais lembrado, entretanto, por ter denunciado e
proibido o uso de ferrovias nos Estados Papais, chamando-os, em uma peça sobre os franceses, de chemins d'enfer
("estradas do inferno") em vez de chemins de fer (" estradas de ferro ”). Ele també m proibiu a iluminaçã o pú blica,
para que as pessoas nã o se reunissem sob eles para conspirar contra as autoridades. Ele foi o ú ltimo nã o-bispo a ser
eleito papa.
Nascido Bartolomeo Alberto Cappellari, ilho de um advogado aristocrá tico, entrou para um mosteiro
camaldulense (comunidade beneditina reformada que enfatizava o jejum, o silê ncio e a solidã o) aos 18 anos,
tomando o nome de Mauro, foi ordenado em 1787 e tornou-se professor de ciê ncias e iloso ia em 1780. Ele
publicou um livro defendendo a infalibilidade papal e a autoridade temporal e independê ncia da Santa Sé em 1799.
(Tem um longo tı́tulo em italiano que começa: Il trionfo della S. Sede e della Chiesa contro gli assalti dei novatori (...) [“O
triunfo da Santa Sé e a Igreja contra os ataques dos inovadores”].) Em 1805 ele se tornou abade de San Gregorio in
Cé lio (no monte Celian em Roma) e dois anos depois procurador geral de sua ordem. Ele ensinou fora de Roma
durante o exı́lio e prisã o de Pio VII por Napoleã o (1809-14) e foi nomeado vigá rio geral de sua ordem em 1823.
Tendo recusado a nomeaçã o como bispo de Zante e de Tivoli, ele foi proclamado cardeal com o tı́tulo de San Callisto
em 1826 (ele havia sido nomeado cardeal no ano anterior in pectore [lat., "No seio (do papa)", ou secretamente]) e
nomeado prefeito da Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé (Propaganda). Ele foi considerado um candidato ao
papado no conclave de 1829, apó s a morte de Leã o XII, e recebeu até vinte e dois votos.
No difı́cil e trabalhoso conclave de cinquenta dias apó s a morte de Pio VIII, o cardeal Cappellari foi eleito em 2 de
fevereiro de 1831, com o apoio dos zelanti (os cardeais ultraconservadores ou reacioná rios) e do conservador
estadista austrı́aco Klemens von Metternich (falecido em 1859), que argumentou que um papa absolutista nã o
cederia à "loucura polı́tica da é poca". (Cappellari foi a terceira escolha dos zelanti , depois dos cardeais DeGregorio e
Giustiniani, este ú ltimo vetado pela Espanha.) No inı́cio, o cardeal Cappellari resistiu à possibilidade de eleiçã o, mas o
cardeal Zurza, o general de sua ordem, o colocou sob obediê ncia para aceitar, se oferecida. Ele recebeu trinta e dois
votos em quarenta e cinco expressos. Ele tomou o nome de Gregó rio XVI, em homenagem a Gregó rio o Grande (590-
604), porque ele també m era um monge na tradiçã o beneditina, de Gregó rio VII (1073-85), por sua defesa da Igreja,
e de Gregó rio XV (1621-1623), fundador da Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé , que o novo papa havia
encabeçado. Como ainda nã o era bispo, Gregó rio XVI foi consagrado imediatamente e coroado em 6 de fevereiro.
O novo papa foi imediatamente confrontado com uma revolta popular nos Estados Papais e na cidade de Roma. O
povo clamava por mais liberdade e uma repú blica italiana. Gregó rio XVI buscou ajuda do governo conservador
austrı́aco, que prontamente esmagou as revoltas. Mas as outras grandes potê ncias europeias (Rú ssia, Inglaterra,
França e Prú ssia) intervieram nesse ponto e exigiram reformas substanciais nos Estados Papais. Gregó rio estava
preparado para conceder em pontos menores, mas manteve-se irmemente contra as assembleias eleitas e os
conselhos de estado dominados por leigos. Novos distú rbios surgiram e as tropas austrı́acas foram convocadas pela
segunda vez. A França entã o apreendeu Ancona e por sete anos os Estados Papais estiveram sob ocupaçã o militar.
Em todas as suas relaçõ es internacionais, o papa foi auxiliado por seus dois sucessivos secretá rios de Estado
conservadores, Tommaso Bernetti e Luigi Lambruschini.
Gregó rio XVI era tã o rı́gido ao lidar com questõ es teoló gicas quanto o era ao lidar com questõ es polı́ticas. Em sua
encı́clica Mirari vos (15 de agosto de 1832), precursora do famoso Syllabus of Errors (1864) de Pio IX , ele denunciou
os conceitos de liberdade de consciê ncia, liberdade de imprensa e separaçã o entre Igreja e Estado, particularmente
as visõ es liberais. associado ao padre francê s Fé licité Robert de Lamennais (falecido em 1854) e ao seu jornal
L'Avenir . (Lamennais favorecia a liberdade religiosa e a separaçã o da Igreja e do Estado e també m considerava o
consentimento comum de toda a humanidade como uma norma da verdade.) O papa parecia apagar a distinçã o
entre as estruturas hierá rquicas da Igreja e as instituiçõ es moná rquicas clericalizadas do Papa Estados. Ele aceitou
os pressupostos bá sicos da eclesiologia neo-escolá stica de que as estruturas moná rquicas clericalizadas da Igreja
eram de alguma forma divinamente mandatadas e inferiu que deveriam ser duplicadas na ordem temporal també m.
Conseqü entemente, ele apoiou irmemente os regimes moná rquicos contra os novos movimentos democrá ticos e
declarou que a origem divina do papado era a base da soberania temporal do papado sobre os Estados papais.
Preocupado com o efeito das idé ias de Lamennais sobre a situaçã o polı́tica na Itá lia e nos Estados Papais, Gregó rio
XVI o condenou pessoalmente em Singulari Nos (1834) por nã o estar satisfeito com a reaçã o de Lamennais à
encı́clica anterior. O papa també m censurou o ensino do teó logo alemã o Georg Hermes (falecido em 1831) por
enfatizar demais o papel da razã o na compreensã o da fé , assim como os ensinamentos do padre francê s Louis
Bautain (falecido em 1867) por enfatizar també m muito o papel da fé em detrimento da razã o.
O papa se viu em con lito com a Espanha e Portugal por sua legislaçã o anticlerical, com a Suı́ça pelos Artigos de
Baden (1834), que buscavam eliminar a autoridade papal sobre os cató licos suı́ços, e com a Polô nia por se revoltar
contra o czar russo. Ele acatou as exigê ncias do governo francê s de que os jesuı́tas fossem retirados do paı́s (1845)
e, por im, chegou a um acordo com a Prú ssia sobre a questã o dos casamentos mistos (isto é , entre um cató lico e um
protestante).
Gregó rio XVI, tendo che iado a Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé (Propaganda) antes de sua eleiçã o como
papa, foi um forte promotor das missõ es. Durante seu ponti icado, cerca de setenta dioceses e vicariatos apostó licos
(igrejas locais ainda nã o prontas para serem dioceses) foram estabelecidas, e quase duzentos bispos missioná rios
foram nomeados. Ele encorajou a criaçã o de um clero nativo e uma hierarquia nativa em terras de missã o. Em sua
bula Sollicitudo ecclesiarum (1831), ele insistiu que, quando houver uma mudança de governo, a Igreja negociará
com o governo de facto , preferindo esse governo ou nã o. Isso signi icava que a Igreja nã o esperaria até que as
disputas polı́ticas terminassem antes de nomear bispos para dioceses vagas na Amé rica Latina e na India - para
grande consternaçã o da Espanha e Portugal. També m é importante notar que Gregó rio XVI, por mais reacioná rio
que tenha sido um papa, denunciou claramente a escravidã o e o comé rcio de escravos em um escrito papal, In
supremo (1839).
Gregó rio XVI fundou os museus etruscos e egı́pcios no Vaticano e o museu cristã o no Latrã o. No inal deste
ponti icado, entretanto, o tesouro papal estava esgotado por causa de todos os gastos militares para manter a ordem
nos Estados papais. Gregó rio XIV morreu em 1º de junho de 1846, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, primeiro
na cripta e depois, em 1853, na pró pria bası́lica, com um monumento feito por Luigi Amici e inanciado pelos
cardeais que Gregó rio XVI havia criado durante sua ponti icado.
Parte VI

PAPAS MODERNOS DE PIUS IX A PIUS XII

A TRANSIÇAO PARA UM PAPACY MODERNO EM meados do sé culo XIX ocorreu principalmente atravé s da perda dos Estados
Papais, um evento que Pio IX (1846-1878) interpretou na é poca como gravemente hostil à Igreja, mas que, na
verdade, permitiu à Igreja, pela primeira vez em sé culos, redirecionar todas as suas energias para sua missã o
espiritual e, assim, elevar a autoridade moral do papado a nı́veis até entã o raramente atingidos. Ironicamente, o
primeiro dos papas modernos foi o menos moderno de todos. O ponti icado de Pio IX foi o mais longo da histó ria:
cerca de trinta e um anos, sete meses e vinte e um dias. Foi Pio IX quem de iniu o dogma da Imaculada Conceiçã o em
1854 e chamou o Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70), que de iniu a primazia e a infalibilidade do papa. Ele també m
publicou o famoso “Syllabus of Errors” em 1864 que colocou a Igreja e o papado em con lito com a maioria dos
principais desenvolvimentos do mundo moderno, incluindo o princı́pio do consentimento dos governados. Embora
ele tenha sido eleito como um progressista moderado em 1846, como um alı́vio bem-vindo de seu predecessor
extremamente conservador, Gregó rio XVI (1831 a 1846), turbas romanas tentaram jogar o corpo de Pio IX no rio
Tibre apó s sua morte.
Como Pio IX foi o papa reinante mais longo da histó ria e criou a maioria dos cardeais eleitores, de acordo com a
sabedoria convencional, ele deveria ter sido sucedido por outro conservador. Em vez disso, ele foi sucedido por um
progressista moderado, Leã o XIII (1878–1903), o primeiro papa do sé culo XX. Leã o XIII també m foi o primeiro papa
a tentar seriamente trazer a Igreja ao mundo moderno. Ele abriu os arquivos do Vaticano aos estudiosos, com um
sentimento expresso de con iança de que a Igreja nada tem a temer da verdade. Ele apoiou a pesquisa bı́blica e deu
pelo menos uma aprovaçã o provisó ria aos novos movimentos democrá ticos. Sua encı́clica mais famosa, Rerum
novarum (lat., “Das coisas novas”), publicada em 1891, ainda é uma referê ncia histó rica no campo da teologia moral e
da é tica social. As encı́clicas papais subsequentes sobre a questã o social (relaçõ es trabalho-gestã o, justiça social,
papel do governo, direitos humanos, relaçõ es internacionais, paz mundial) sempre se situaram em relaçã o a essa
encı́clica. Assim, o nome da encı́clica Quadragesimo anno de Pio XI (“Depois de quarenta anos”) deriva do fato de ter
sido publicada em 1931, quarenta anos depois da Rerum novarum de Leã o XIII . A carta apostó lica Octogesima
adveniens (“O octogé simo ano”) de Paulo VI foi publicada em 1971, oitenta anos apó s a Rerum novarum . E a encı́clica
Centesimus annus de Joã o Paulo II (“O centé simo ano”) foi lançada em 1991 para marcar o centená rio da encı́clica de
Leã o XIII. Durante o ponti icado de Leã o XIII, houve també m uma vasta expansã o missioná ria da Igreja.
Embora Leã o XIII tenha sido o segundo ponti icado mais longo da histó ria, o pê ndulo oscilou mais uma vez de
moderado a conservador no conclave papal apó s a morte de Leã o XIII em 1903. Leã o XIII reinou por tanto tempo
que um cardeal exclamou: “Pensei que havı́amos eleito um Santo Padre, nã o um Pai Eterno! ” No entanto, os cardeais
elegeram algué m muito diferente de Leã o em perspectivas teoló gicas, espirituais e polı́ticas. Pio X (1903-1914) mais
uma vez assumiu a causa de enfatizar os direitos da Igreja contra as autoridades temporais, bem como a urgê ncia de
manter a pureza da doutrina cató lica. Este ú ltimo ele cumpriu com um juramento contra o modernismo e um
processo vigoroso, e à s vezes cruel, dos suspeitos de heresia (o que era de inido de forma ampla e freqü entemente
imprudente). Do lado mais benigno, Pio X, que foi canonizado santo por Pio XII em 1954, é lembrado també m como
o papa que reduziu a idade para a recepçã o da Primeira Comunhã o para a "idade de discriçã o (ou razã o)", ou
aproximadamente sete anos.
O pê ndulo papal balançou novamente em 1914, no momento em que a Primeira Guerra Mundial estava
estourando. Os cardeais nã o selecionaram outro homem como Pio X, mas se voltaram para um moderado, Bento XV
(1914-22), que imediatamente pediu o im dos amargos con litos internos entre tradicionalistas e progressistas na
Igreja. Bento XVI foi, por sua vez, sucedido por um papa autoritá rio, Pio XI (1922-39), que se opunha fortemente ao
comunismo na Rú ssia e ao nazismo na Alemanha, mas apoiava o fascismo na Espanha. Ele també m condenou a
contracepçã o e concluiu o Tratado de Latrã o com Mussolini, estabelecendo o Estado da Cidade do Vaticano como
uma entidade polı́tica independente. Ele foi o primeiro papa a usar o rá dio como meio de comunicaçã o.
Embora igualmente oposto ao comunismo, o sucessor de Pio XI, Pio XII (1939-58), provou ser um papa
geralmente mais progressista do que Pio XI. Pio XII tinha sido secretá rio de Estado de Pio XI, e sua experiê ncia
diplomá tica fez dele o candidato inevitá vel enquanto a Europa e o resto das naçõ es se preparavam para mais uma
guerra mundial. Apesar da terrı́vel distraçã o daqueles anos de guerra, Pio XII promoveu a renovaçã o dos estudos
bı́blicos endossando os mé todos da erudiçã o crı́tica moderna, a renovaçã o da liturgia por meio de uma maior
participaçã o dos leigos e a renovaçã o da teologia da Igreja por meio ê nfase na Igreja como o Corpo Mı́stico de Cristo,
com cada membro dando sua pró pria contribuiçã o distinta para o trabalho missioná rio e ministerial do Corpo. Pio
XII també m de iniu o dogma da Assunçã o da Bem-Aventurada Virgem Maria ao cé u (1950), proclamou um Ano
Mariano (1954) e promoveu a devoçã o à relatada apariçã o Mariana de Fá tima, em Portugal. Infelizmente, o
preconceito pró -alemã o do pró prio papa (ele serviu lá como nú ncio na dé cada de 1920 e gostava genuinamente do
povo alemã o e de sua cultura) parece tê -lo tornado menos sensı́vel à terrı́vel ameaça representada por Adolf Hitler e
seu movimento nazista e para o Holocausto perpetrado pelos nazistas contra os judeus. Havia també m um lado
reacioná rio nele, semelhante ao de Pio X, em sua atitude para com a teologia moderna. Ele condenou a chamada
nova teologia na França (embora trê s futuros cardeais fossem iguras de destaque) e permitiu que o Santo Ofı́cio
(anteriormente a Inquisiçã o), sob a liderança do Cardeal Alfredo Ottaviani, perseguisse alguns dos teó logos mais
ilustres da Igreja quem estaria entre os futuros formadores dos documentos do Concı́lio Vaticano II: Yves Congar, OP;
Karl Rahner, SJ; Henri de Lubac, SJ; Jean Danié lou, SJ; MD Chenu, OP; John Courtney Murray, SJ; e muitos outros.
(Congar, Danié lou e de Lubac foram posteriormente nomeados cardeais.) Ao mesmo tempo, ao aumentar o nú mero
de bispos nativos na Asia e na Africa e internacionalizar o Colé gio de Cardeais, Pio XII preparou o caminho para um
concı́lio ecumê nico verdadeiramente global, Vaticano II, que foi o acontecimento religioso mais importante do sé culo
XX e um dos mais importantes de todo o segundo milê nio cristã o. Ele foi o primeiro papa a usar a televisã o como
meio de comunicaçã o pastoral.
E o Concı́lio Vaticano II (1962-65) que separa o primeiro conjunto de papas modernos, começando com Pio IX, do
segundo, começando com Joã o XXIII (1958-63), talvez o maior papa de todos os tempos depois de Sã o O pró prio
Pedro (na medida em que o Abençoado Apó stolo pode ser considerado um papa em qualquer sentido estritamente
teoló gico).

253 Pio IX, 1792-1878, papa de 16 de junho de 1846 a 7 de fevereiro de 1878.


O ponti icado de Pio IX, també m conhecido como Pio Nono (“Pio Nono”), foi o mais longo até agora na histó ria do
papado (trinta e um anos e pouco mais de sete meses). Eleito moderado apó s o ponti icado reacioná rio de Gregó rio
XVI, ele logo se estabeleceu entre os papas mais reacioná rios da histó ria. Ele convocou o Primeiro Concı́lio Vaticano
(1869-70), que de iniu o primado papal e a infalibilidade papal; ele de iniu a Imaculada Conceiçã o de Maria; e
publicou o “Syllabus of Errors”, que condenou os principais desenvolvimentos do mundo moderno.
Nascido Giovanni Maria Mastai-Ferretti, ilho de um conde e condessa, apó s a ordenaçã o sacerdotal (1819) serviu
em uma missã o diplomá tica no Chile (1823–25), administrou o Hospı́cio de San Michele em Roma (1825–1827) , foi
nomeado arcebispo de Spoleto em 1827 e depois bispo de Imola em 1832, e foi proclamado cardeal com o tı́tulo de
Santi Pietro e Marcellino em 1840. Ele foi considerado um liberal durante seus anos como bispo em Spoleto e Imola
porque apoiou mudanças administrativas nos Estados Papais e simpatizava com o movimento nacionalista na Itá lia.
Apó s a morte de Gregó rio XVI, havia quarenta e seis cardeais presentes em Roma (de um total de sessenta e dois).
Os cardeais estrangeiros decidiram nã o vir a Roma para o conclave por causa da situaçã o polı́tica instá vel na Itá lia. O
conclave foi fortemente dividido entre os cardeais intransigenti , que apoiavam o secretá rio de Estado reacioná rio de
Gregó rio XVI, o cardeal Luigi Lambruschini, e os cardeais liberali , que apoiavam o cardeal Gizzi. Reconhecendo que
o impasse entre esses dois candidatos nã o seria quebrado, o conclave voltou-se para o jovem cardeal Mastai-Ferreti
(cinquenta e quatro anos), que havia recebido quinze votos no primeiro escrutı́nio, mas que teve pouco diplomá tico
e nenhum experiê ncia curial. Ele foi eleito papa em 16 de junho de 1846, apó s um conclave de dois dias. Mastai
recebeu trinta e seis votos e Lambruschini dez. O papa recé m-eleito adotou o nome de Pio IX em homenagem a Pio
VII (1800-1823), o papa que encorajou sua vocaçã o ao sacerdó cio apesar de um problema de epilepsia na infâ ncia e
que fora um de seus predecessores como bispo de Imola . Como a eleiçã o ocorreu à noite, era tarde demais para
anunciar a decisã o ao povo romano. No entanto, o sinal de fumaça branca já havia sido dado, e muitos presumiram
que o cardeal Gizzi havia sido eleito papa. Sua cidade natal, Ceccano, entrou em erupçã o em jú bilo, com procissõ es
iluminadas nas ruas. Seu palá cio em Roma foi saqueado, de acordo com um antigo costume, e seus servos
alegremente queimaram todas as suas vestes roxas cardinalı́cias. Na manhã de 17 de junho, entretanto, o cardeal-
diá cono sê nior anunciou a eleiçã o do cardeal Mastai, sob aplausos mornos. Depois que o papa recé m-eleito
apareceu na varanda do Palá cio do Quirinale para dar sua primeira bê nçã o, o clima icou mais alegre. Pio IX foi
coroado em 21 de junho e escolheu o cardeal Gizzi como seu secretá rio de Estado. A Europa liberal aplaudiu sua
eleiçã o.
Um mê s apó s sua eleiçã o, o novo papa concedeu anistia a presos polı́ticos e exilados e aprovou vá rias reformas na
administraçã o dos Estados Pontifı́cios. Elas foram projetadas apenas para corrigir abusos, e nã o para alterar
estruturas. No ano seguinte, ele aprovou o estabelecimento de conselhos municipais e estaduais e deu vá rios indı́cios
de que simpatizava com o nacionalismo italiano. Ele també m chegou a um acordo com o Impé rio Otomano que
resultou no restabelecimento do patriarcado latino de Jerusalé m no mesmo ano. O entusiasmo pelo novo papa
estava no auge na Itá lia, onde qualquer sinal de resistê ncia aos Habsburgos e outros regimes reacioná rios era
saudado com gritos de "Viva Pio Nono!" Mas, apó s esse perı́o do inicial de euforia, os cidadã os de Roma e dos
Estados papais se voltaram contra ele quando icou claro que ele nã o tinha intençã o de concordar com o
estabelecimento de um Estado constitucional.
Pio IX acreditava, como outros papas antes dele, que a soberania temporal da Santa Sé (o chamado Patrimô nio de
Sã o Pedro) era indispensá vel para sua independê ncia espiritual - uma crença que desde entã o foi amplamente
refutada. A razã o pela qual os Estados Papais eram considerados um obstá culo à uni icaçã o italiana era que eles se
estendiam por toda a Itá lia central, separando o sul do norte. Em qualquer caso, a gota d'á gua foi sua recusa em
apoiar a guerra para expulsar a Austria da Itá lia em 1848. Com os Estados papais em crise econô mica, o primeiro-
ministro de Pio IX, o conde Rossi, foi assassinado em 15 de novembro de 1848. O papa foi sitiado por
revolucioná rios no Palá cio do Quirinale e foi forçado a fugir disfarçado para Gaeta, ao sul de Roma, em 24 de
novembro. Em 9 de fevereiro de 1849, Giuseppe Mazzini e seus seguidores proclamaram a Repú blica Romana.
O papa apelou aos poderes cató licos da Europa por ajuda. As tropas francesas restauraram o governo papal em
Roma em 15 de julho, e Pio IX voltou à cidade em 12 de abril de 1850. Com Giacomo Antonelli agora como seu
secretá rio de Estado, o papa estabeleceu um regime antinacionalista e paternalista nos Estados papais que alienou
os instruı́dos cidadania e que seu pró prio conselheiro, monsenhor Giovanni Corboli-Bussi, descreveu como
“reacioná rio e desajeitado”. Mas, um apó s o outro, o papa perdeu vá rios dos Estados Papais (Romagna, Umbria, as
Marcas). O conde Camillo Cavour, ministro-chefe do Piemonte, aproveitou-se da situaçã o e em setembro de 1860,
apó s a derrota do exé rcito papal em Castel idardo, todos os Estados papais, com exceçã o de Roma e arredores
imediatos, foram tomados por o novo reino da Itá lia. O papa permaneceu em Roma sob a proteçã o de uma guarniçã o
francesa, mas depois de dez anos os franceses tiveram que partir com a eclosã o da Guerra Franco-Prussiana.
(Durante esta dé cada sob a proteçã o francesa, ele emitiu um decreto em 29 de fevereiro de 1868, proibindo os
cató licos de participarem da vida polı́tica do reino “usurpador” da Itá lia.)
Em 20 de setembro de 1870, as forças italianas comandadas por Victor Emmanuel ocuparam Roma. Em um
plebiscito de outubro, Roma foi incorporada ao estado italiano. Em 13 de maio de 1871, a Lei de Garantias
assegurou ao papa a inviolabilidade pessoal e o deixou com o Vaticano e outros edifı́cios. Mas Pio IX recusou-se a
aceitar o arranjo (que nã o tinha estatuto de direito internacional) e nunca mais pô s os pé s fora do Vaticano,
considerando-se ali prisioneiro. Ele calma e irmemente encarou os eventos como uma forma de batalha cada vez
mais violenta entre Deus e Sataná s, na qual a derrota de Sataná s era inevitá vel.
Durante seu ponti icado politicamente perturbador, o papa encontrou tempo para continuar com os negó cios
comuns da Igreja. Assim, ele estabeleceu mais de duzentas novas dioceses e vicariatos apostó licos (territó rios
eclesiá sticos ainda nã o prontos para o status diocesano) e restabeleceu as hierarquias na Inglaterra (1850) e na
Holanda (1853). Em 8 de dezembro de 1854, ele de iniu o dogma da Imaculada Conceiçã o da Bem-aventurada
Virgem Maria (ou seja, que Maria foi concebida sem pecado original), dando origem a uma nova onda de devoçõ es
marianas em todo o mundo ocidental. Em 8 de dezembro de 1864, ele publicou a encı́clica Quanta cura (lat., “Quanto
cuidado”) com o famoso “Syllabus of Errors” anexado. Os oitenta erros diziam respeito, primeiro, à s tentativas de
identi icar Deus com o mundo (panteı́smo) ou de excluir Deus dele (naturalismo); segundo, com a relaçã o entre fé e
razã o, com uma censura particular a todas as formas de racionalismo; e, terceiro, com o liberalismo e os direitos da
Igreja. Um dos erros dizia: “Que nos dias atuais, nã o é mais necessá rio que a Igreja Cató lica seja tida como a ú nica
religiã o do Estado, com exclusã o de todos os outros modos de culto: de onde foi sabiamente provido pelo lei, em
alguns paı́ses nominalmente cató licos, que as pessoas que vierem a residir devem desfrutar do livre exercı́cio de seu
pró prio culto. . . . Que o Romano Pontı́ ice pode e deve reconciliar-se e concordar com o progresso, o liberalismo e a
civilizaçã o moderna. ”
Entã o, em 1869 Pio IX convocou o Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70) que, em sua constituiçã o dogmá tica, o
Pastor Aeternus (Lat., "Pastor Eterno") e sob intensa pressã o pessoal do pró prio papa, de iniu a primazia do papa
sobre a Igreja universal, bem como sua infalibilidade. O papa, ensinou o concı́lio, tem “poder total e supremo de
jurisdiçã o sobre toda a Igreja, nã o apenas em questõ es que dizem respeito à fé e à moral, mas també m em questõ es
que dizem respeito à disciplina e ao governo da Igreja em todo o mundo. ” Alé m disso, esse poder é “ordiná rio [ou
seja, nã o delegado] e imediato [ou seja, nã o é exercido por meio de outra parte]. . . sobre cada Igreja [e] sobre cada
pastor e iel ”. Sobre a infalibilidade: “E um dogma divinamente revelado que o Romano Pontı́ ice, quando fala ex
cathedra [“ da cadeira ”], isto é , quando atua no ofı́cio de pastor e mestre de todos os cristã os, ele de ine, em virtude
de sua suprema autoridade apostó lica, uma doutrina sobre a fé ou a moral a ser sustentada pela Igreja universal,
possui, por meio da assistê ncia divina que lhe foi prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro, a infalibilidade
com que o divino Redentor quis que sua Igreja fosse dotada para de inir o doutrina sobre fé ou moral; e que tais
de iniçõ es do Romano Pontı́ ice sã o, portanto, irreformá veis por si mesmas, nã o por causa do consentimento da
Igreja ”. Nenhuma de iniçã o poderia ter sido removida do ensino do Concı́lio de Constança (1414-18), da teologia e
da prá tica das igrejas orientais e da prá tica da Igreja universal, tanto no Ocidente quanto no Oriente, do primeiro
milê nio cristã o . Deve-se notar, no entanto, que a outra constituiçã o dogmá tica do concı́lio, Dei Filius ("o Filho de
Deus"), forneceu um programa teoló gico mais equilibrado, igualmente condenando o racionalismo, à esquerda, e o
ideı́smo, à direita - aquele que exagera os poderes da razã o em detrimento da fé ; o outro exagerando os poderes da
fé em detrimento da razã o.
Infelizmente, a noçã o extremamente in lada de Pio IX do ofı́cio papal criou sé rios problemas dentro e fora da
Igreja. Um cisma se desenvolveu na Holanda e em outros lugares (os Velhos Cató licos, que rejeitaram o dogma da
infalibilidade papal), e uma onda de anticlericalismo irrompeu por toda a Europa, exempli icado particularmente
pelos ataques do Chanceler Protestante Otto von Bismarck à Igreja na Alemanha (o chamado Kulturkampf , ou
“guerra cultural”). A Austria repudiou sua concordata com o Vaticano e confrontos religiosos eclodiram na Suı́ça.
Ironicamente, quando seu ponti icado recorde terminou e apesar de seus pró prios desejos, Pio IX testemunhou a
criaçã o do que agora é conhecido como o papado moderno, livre do peso morto da soberania temporal e exercendo
uma visã o espiritual de mais longo alcance autoridade talvez mais do que nunca em sua histó ria. Quando Pio IX
morreu em 7 de fevereiro de 1878, no entanto, ele era um papa extremamente impopular com o povo de Roma e
com as classes educadas em geral, embora tivesse sido um papa extraordinariamente popular com as massas
cató licas, especialmente fora da Itá lia, ambos por causa de sua personalidade calorosamente piedosa e també m por
simpatia por todos os problemas que havia sofrido com tanta serenidade e coragem. Em 13 de julho de 1881, houve
uma interrupçã o da procissã o que acompanhava seu corpo desde seu local de sepultamento original em Sã o Pedro
até San Lorenzo fuori le Mura (Sã o Lourenço Fora dos Muros). Uma multidã o tentou, sem sucesso, agarrar o corpo e
jogá -lo no rio Tibre.

254 Leão XIII, 1810–1903, papa de 20 de fevereiro de 1878 a 20 de julho de 1903.


Leã o XIII foi o primeiro dos papas verdadeiramente modernos, buscando levar a Igreja ao diá logo com o mundo
moderno, mas també m desa iando o mundo moderno a viver de acordo com os padrõ es do evangelho em termos de
justiça social. Sua encı́clica Rerum novarum (lat., “Das coisas novas”, 1891) foi um dos pronunciamentos papais mais
importantes da histó ria e continuou a moldar a formaçã o do pensamento social cató lico mais de um sé culo depois.
Foi o segundo ponti icado mais longo da histó ria, depois do de Pio IX, seu antecessor.
Nascido Gioacchino Vincenzo Pecci, serviu apó s a ordenaçã o sacerdotal como governador de Benevento (1838-
41) e depois de Perugia (1841-43), onde teve de se envolver em atividades como o controle do banditismo, a
construçã o de estradas, e o estabelecimento de um banco de poupança para os agricultores. Gregó rio XVI entã o o
enviou como nú ncio papal para a Bé lgica (1843-46), como arcebispo titular de Damietta. Na Bé lgica, ele testemunhou
o inı́cio da Revoluçã o Industrial na Europa. No entanto, o jovem arcebispo foi chamado de volta da Bé lgica quando
seu apoio aos bispos locais contra o primeiro-ministro do rei em uma questã o educacional levou o rei a pedir sua
remoçã o. Ele foi entã o nomeado bispo de Perugia em 1846 e cardeal com o tı́tulo de San Crisogono em 1853. Ele
permaneceu em Perugia até 1878 (quando foi eleito papa) porque o ultraconservador secretá rio de Estado de Pio
IX, o cardeal Antonelli, nã o con iava nele. Como bispo de Perugia, ele modernizou o curso de estudos em seu
seminá rio, promoveu um renascimento do tomismo e começou, em uma sé rie de cartas pastorais amplamente
conhecidas, a defender uma reconciliaçã o entre a Igreja e a cultura moderna. No Concı́lio Vaticano I (1869-70), ele
votou com a maioria na infalibilidade papal, mas nã o assumiu nenhuma posiçã o de liderança. Apó s a morte do
Cardeal Antonelli em 1877, Pio IX convidou o Arcebispo Pecci a voltar a Roma como o Camerlengo (It., “Camareiro”)
da Santa Igreja Romana, aquele que administra a Santa Sé quando há uma vaga na Cá tedra de Pedro.
Pio IX morreu em 7 de fevereiro de 1878, e os cardeais temiam nã o poder realizar um conclave pacı́ ico e livre em
Roma, devido ao ambiente polı́tico desfavorá vel. Uma mudança do conclave para Malta foi cogitada, mas eles
receberam garantias do governo de que nã o seriam perturbados em Roma. Compareceram sessenta dos sessenta e
quatro cardeais. Entre os ausentes estava o cardeal-arcebispo de Nova York, John McCloskey (falecido em 1885), o
primeiro cardeal americano. No inı́cio, todos os olhares se voltaram para o cardeal Bilio como favorito. Mas como ele
foi um dos principais contribuintes para o altamente impopular “Syllabus of Errors” (1864), ele obteve apenas seis
votos na primeira votaçã o, contra dezenove para o favorito dos moderados, o Cardeal Pecci, que era impopular com
os conservadores amigos do falecido secretá rio de Estado, cardeal Antonelli. O voto de Pecci subiu para vinte e seis
na segunda votaçã o e, em 20 de fevereiro de 1878, para quarenta e quatro na terceira votaçã o, mais do que os dois
terços exigidos para a eleiçã o. Ele adotou o nome de Leã o XIII em homenagem a Leã o XII (1823-1829), embora
tenha sido um papa muito conservador e impopular. O novo papa teve de ser coroado (em 3 de março) na Capela
Sistina, e nã o na pró pria Bası́lica de Sã o Pedro, porque o governo anticlerical temia manifestaçõ es a seu favor se ele
abençoasse o povo romano da varanda externa da Bası́lica de Sã o Pedro. No entanto, imediatamente apó s a
cerimô nia ele deu sua bê nçã o Urbi et Orbi (lat., "Para a cidade e para o mundo") da varanda interna da Bası́lica de
Sã o Pedro. Leã o XIII já estava com 68 anos e com a saú de debilitada quando foi eleito. Muitos provavelmente o viram
como um papa de transiçã o apó s o ponti icado recorde de Pio IX. Mas o pró prio Leã o permaneceria no cargo por
mais de 25 anos, morrendo aos 93 anos - o segundo ponti icado mais longo da histó ria, depois do de Pio IX. Os dois
papas juntos - Pio IX e Leã o XIII - reinaram por pouco mais de cinquenta e sete anos! Nunca dois reinados papais
consecutivos foram tã o longos em toda a histó ria da Igreja.
Embora o novo papa fosse muito mais moderado do que seu predecessor, Leã o XIII deu continuidade a muitas das
polı́ticas de Pio IX em relaçã o, por exemplo, ao socialismo, ao comunismo e à maçonaria. Ele até aumentou a
centralizaçã o do governo da Igreja intervindo ativamente nos episcopados nacionais, fortalecendo a autoridade de
seus nú ncios e concentrando as sedes das ordens religiosas em Roma. Leã o XIII se parecia menos com Pio IX em sua
compreensã o da relaçã o entre a Igreja e a sociedade e sua abertura geral à erudiçã o e à vida intelectual. Com sua
encı́clica Aeterni Patris de 1879 (lat., "Do Pai Eterno"), ele encorajou o estudo de Sã o Tomá s de Aquino (falecido em
1274), embora atravé s das lentes da atual iloso ia e teologia neo-escolá stica e com a intençã o de empregar o
tomismo contra o liberalismo polı́tico e social. Ele promoveu o estudo da astronomia (modernizando o Observató rio
do Vaticano) e das ciê ncias naturais no Vaticano, abriu os arquivos do Vaticano para estudiosos de todas as origens
(1883), declarando que "a Igreja nã o tem nada a temer da verdade" e pediu aos cató licos historiadores para
escrever objetivamente sobre a Igreja. Ele també m estabeleceu as diretrizes para o estudo cientı́ ico da Sagrada
Escritura em sua encı́clica Providentissimus Deus de 1893 (“Deus providente”). Ele dedicou vá rias encı́clicas à ordem
social: em 1881, sua encı́clica Diuturnum illud (“Este duradouro ...”) deu um reconhecimento provisó rio à democracia;
em 1885, a encı́clica Immortale Dei (“O Deus imortal”) distinguia entre os reinos temporal e espiritual, insistindo que
qualquer forma de governo pode ser legı́tima se servir ao bem comum; e em 1888 seu Libertas praestantissimum
(“Liberdade”) argumentou que a Igreja é a guardiã da liberdade, devidamente entendida. Mas sua encı́clica social
mais importante e duradoura foi Rerum novarum ("Das coisas novas"), publicada em 15 de maio de 1891. Embora
defendesse fortemente o direito à propriedade privada (contra o socialismo), també m insistia (contra o capitalismo
laissez-faire ) sobre as responsabilidades sociais que acompanham a posse privada de bens, designadamente, a
obrigaçã o de pagar aos trabalhadores uma remuneraçã o justa e de respeitar os direitos dos trabalhadores,
nomeadamente o direito de constituiçã o de sindicatos.
Ao mesmo tempo, Leã o XIII estava profundamente preocupado com a recuperaçã o dos Estados Pontifı́cios e do
poder temporal da Santa Sé . Algumas de suas açõ es, no entanto, foram claramente contraproducentes. Assim, ao
proibir os cató licos de participar das eleiçõ es no novo estado italiano, ele minou a capacidade da Igreja de
in luenciar os acontecimentos polı́ticos. Fora isso, Leã o XIII era um diplomata mais astuto e realista polı́tico do que
seu antecessor. Ele garantiu uma revisã o em 1886 e 1887 das leis anticlericais aprovadas na Alemanha durante o
Kulturkampf (Alemanha, "guerra cultural") e conseguiu acomodaçõ es com a Bé lgica em 1884 e a Rú ssia em 1894. Ele
també m garantiu a retirada da legislaçã o anticlerical no Chile, Mé xico e Espanha. Ele esperava relaçõ es diplomá ticas
formais com a Inglaterra, mas isso nã o se concretizou durante seu ponti icado. Seus esforços para reunir os cató licos
franceses à Terceira Repú blica també m falharam. Os cató licos realistas na França icaram indignados, e o governo
francê s realmente intensi icou sua legislaçã o anticató lica.
Na frente eclesiá stica (e especialmente missioná ria), o ponti icado de Leã o XIII teve mais sucesso. Ele estabeleceu
248 dioceses e 48 vicariatos fora da Europa, por exemplo, no Norte da Africa, India, Japã o e Estados Unidos (onde
28 novas dioceses foram erigidas). Ele publicou duas encı́clicas pedindo o im da escravidã o dos africanos, uma para
a hierarquia brasileira em 1888 e outra para todos os bispos em 1890. Ele nomeou o primeiro delegado apostó lico
aos Estados Unidos em 1893 e, enquanto elogiou alguns aspectos da Igreja nos Estados Unidos, advertiu contra a
idealizaçã o da separaçã o entre Igreja e Estado em sua carta apostó lica Longinqua oceani de 1895 (lat., “Um oceano à
parte”). Em 22 de janeiro de 1899, ele també m censurou - na carta apostó lica Testem benevolentiae ("Testemunha de
benevolê ncia") - uma opiniã o, erroneamente chamada de americanismo, por sua acomodaçã o muito fá cil com as
idé ias e prá ticas modernas, especialmente em relaçã o à aceitaçã o do pluralismo religioso. Os historiadores de hoje
estã o geralmente convencidos de que o papa realmente tinha a França em mente, e nã o os Estados Unidos.
Ecumenicamente, o histó rico de Leã o XIII foi misto, mas mais negativo do que positivo. Por um lado, ele foi o
primeiro papa a falar dos cristã os nã o cató licos como “irmã os separados” e convidou protestantes e ortodoxos a
retornarem à uniã o com Roma, mas sem mencionar heresia ou cisma. Por outro lado, ele seguiu a eclesiologia
dominante do perı́o do da Contra-Reforma, que enfatizou os elementos hierá rquicos e estruturais da Igreja, bem
como a autoridade suprema do papa. Assim, sua encı́clica Satis cognitum de 1896 (lat., “Conhecido o su iciente”)
estipulou que a aceitaçã o do primado do papa era uma condiçã o necessá ria para a reuniã o cristã . Sua carta Ad
Anglos de 1895 (“Para o povo inglê s”) indicava uma preocupaçã o especial com a “conversã o” da Inglaterra. No
mesmo ano, ele nomeou uma comissã o para investigar a validade das ordens anglicanas. Nã o surpreendentemente, o
julgamento foi negativo. O papa o icializou o julgamento em sua famosa bula papal Apostolicae curae (“De interesse
apostó lico”), publicada em 13 de setembro de 1896. As ordens anglicanas foram declaradas “absolutamente nulas e
totalmente nulas”. O argumento era que, na consagraçã o de Matthew Parker como arcebispo de Canterbury em
1559, a forma de ordenaçã o, baseada no ordinal do rei Eduardo VI (1550), omitia vá rios elementos necessá rios do
rito (posteriormente restaurado pelo arcebispo William Laud em sé culo seguinte) e que a intençã o da ordenaçã o
expressa no ritual anglicano nã o incluı́a a atribuiçã o do poder de oferecer sacrifı́cios. Portanto, a linha de sucessã o
apostó lica foi quebrada e as ordenaçõ es subsequentes ao episcopado anglicano e ao sacerdó cio tornaram-se
invá lidas. A luz do atual entendimento litú rgico e teoló gico na Igreja Cató lica, entretanto, nenhum argumento (nem
forma nem intençã o) é mais considerado como probató rio do caso contra as ordens anglicanas. (Em 1879, Leã o XIII
tornou cardeal o ex-anglicano John Henry Newman.)
Homem de devoçã o e piedade cató lica tradicional, Leã o XIII publicou dez encı́clicas sobre o Rosá rio e consagrou
toda a raça humana ao Sagrado Coraçã o de Jesus durante o ano do Jubileu de 1900. No inal de seu ponti icado, suas
atitudes em relaçã o aos desenvolvimentos modernos se endureceram . Assim, ele publicou novas normas de censura
em 1897 e um novo Indice de Livros Proibidos em 1900 e estabeleceu a Comissã o Bı́blica Pontifı́cia em 1902 para
monitorar o trabalho dos estudiosos bı́blicos cató licos. No entanto, apesar das limitaçõ es impostas pelo con lito
contı́nuo com o governo italiano sobre os direitos do papado à s suas propriedades expropriadas (a chamada
Questã o Romana), Leã o XIII trouxe maior prestı́gio internacional ao papado apó s longos anos de papado reacioná rio
e separatista atitudes em relaçã o ao mundo moderno emergente.
O mundo percebeu quando Leã o XIII morreu em 20 de julho de 1903. Ele foi sepultado temporariamente na
Bası́lica de Sã o Pedro, mas seu corpo foi posteriormente transferido, de acordo com sua vontade, para a bası́lica de
Sã o Joã o de Latrã o. Antes de sua morte, aos 93 anos de idade e depois de mais de 25 anos como papa, um cardeal
supostamente fez o comentá rio: “Achei que havı́amos elegido um Santo Padre, nã o um Pai Eterno!”

255 Pius X, St., 1835–1914, papa de 4 de agosto de 1903 a 20 de agosto de 1914.


Embora Pio X tenha sido canonizado santo em 1954, seu ponti icado é um dos mais polê micos do papado moderno.
Ele assumiu uma postura crı́tica negativa em relaçã o aos governos democrá ticos modernos e liderou uma campanha
à s vezes cruel e destrutiva contra teó logos cató licos, estudiosos bı́blicos e historiadores (agrupando-os todos sob a
é gide do Modernismo), da qual a Igreja nã o começou a se recuperar até o segundo Concı́lio Vaticano (1962-1965).
Por outro lado, Pio X era um homem profundamente espiritual em sua vida pessoal e é lembrado como o “papa da
comunhã o frequente”, tendo reduzido a idade da Primeira Comunhã o para a “idade da discriçã o” (aproximadamente
sete).
Nascido Giuseppe Melchiorre Sarto, ilho do carteiro da aldeia e de uma costureira, foi ordenado em 1858 e
trabalhou durante os primeiros oito anos como pá roco e depois nove como pastor. Em 1875 foi nomeado chanceler
da diocese de Treviso e diretor espiritual do seminá rio maior. Em 1884, ele foi nomeado bispo de Mâ ntua, uma
diocese decadente que ele rapidamente revitalizou. Em 1893 foi nomeado patriarca de Veneza e cardeal com o tı́tulo
de San Bernardo alle Terme. Em Veneza, ele se dedicou mais uma vez à s tarefas pastorais, geralmente evitando a
polı́tica. No entanto, sua primeira carta pastoral aos venezianos pressagiou a abordagem que ele mais tarde tomaria
como papa. Em questõ es relativas ao Vigá rio de Cristo, ele escreveu: “nã o deve haver perguntas, nem sutilezas, nem
oposiçã o dos direitos pessoais aos seus direitos, mas apenas obediê ncia”.
O cardeal Sarto foi eleito papa em 4 de agosto de 1903, embora o claro favorito para entrar no conclave fosse o
secretá rio de estado de Leã o XIII por sete anos, o cardeal Mariano Rampolla del Tindaro. Na primeira votaçã o da
manhã de 1º de agosto, Rampolla recebeu vinte e quatro votos; O cardeal Giuseppi Gotti, dezessete; e o cardeal Sarto,
cinco. Na segunda votaçã o da tarde, Rampolla tinha 29 votos; Gotti, dezesseis; e Sarto, dez. No dia seguinte, quando
parecia que ningué m poderia impedir a eleiçã o de Rampolla, o arcebispo de Cracó via, cardeal Puzyna de Kozielsko,
proclamou solenemente o veto da candidatura de Rampolla por Franz Joseph, imperador da Austria e rei da
Hungria. Os cardeais, especialmente os franceses e o pró prio Rampolla, protestaram vigorosamente contra essa
intrusã o nos negó cios do conclave e decidiram continuar com a votaçã o. Nesse ponto, o cardeal Vivos y Tuto propô s
que os cardeais elegessem Rampolla por aclamaçã o como uma resposta ao veto do imperador. Mas a terceira
votaçã o já havia começado e os cardeais foram obrigados a contar os votos. Desta vez, Sarto teve 21 votos (mais do
que o dobro de seu apoio na votaçã o anterior). Na quarta votaçã o da tarde, Rampolla tinha trinta votos e Sarto
subiu para vinte e quatro. Os cardeais franceses sentiram que haviam defendido o veto imperial, mas agora
reconheciam que a eleiçã o havia tomado um novo rumo e que a situaçã o se tornara incerta. Começou a parecer que
os cardeais queriam um tipo diferente de papa de Leã o XIII (o pê ndulo balançou mais uma vez!). Na manhã seguinte
(4 de agosto), a contagem de votos de Rampolla caiu para dez; Gotti tinha dois; e Sarto recebeu cinquenta. Ele
adotou o nome de Pio X em respeito aos recentes papas com esse nome, que corajosamente resistiram à
perseguiçã o e lutaram contra o erro. Como seu antecessor, o novo papa concedeu sua primeira bê nçã o papal da
varanda interna da Bası́lica de Sã o Pedro para enfatizar que o papa ainda se considera um “prisioneiro” do governo
italiano. Pio X foi coroado em 9 de agosto. (Em janeiro seguinte, ele decretou que os vetos de candidatos papais por
poderes cató licos seriam doravante proibidos.)
Ao adotar como lema, “Restaurar todas as coisas em Cristo” (Efé sios 1:10), o novo papa deixou claro que
pretendia ser um papa pastoral e nã o um papa polı́tico. No entanto, sua visã o “pastoral” o levou inevitavelmente a
á guas polı́ticas turbulentas. Ele começou nomeando um secretá rio de Estado igualmente conservador (alguns diriam
“reacioná rio”), o cardeal espanhol Rafael Merry del Val (falecido em 1930), a im de reverter a abordagem mais
complacente de Leã o XIII com os governos seculares. Isso levou, no ano seguinte, a um rompimento diplomá tico com
a França. Em 1906, ele denunciou a Lei de Separaçã o da França e, contra os apelos dos bispos franceses, rejeitou
qualquer acordo de compromisso. A Igreja conquistou sua independê ncia, mas perdeu todo o seu suporte material.
O papa adotou a mesma postura em relaçã o a Portugal em 1911, enquanto seu apoio à s minorias cató licas na
Irlanda e na Polô nia irritava a Inglaterra e a Rú ssia. A popularidade do papa nos Estados Unidos despencou quando,
em 1910, ele se recusou a receber o ex-presidente Theodore Roosevelt porque Roosevelt estava escalado para falar
na Igreja Metodista em Roma. Suspendeu a Opera Dei Congressi , que coordenava o trabalho das associaçõ es cató licas
na Itá lia em 1904, e em 1910 condenou o Le Sillon , movimento social francê s que tentava conciliar o catolicismo com
visõ es polı́ticas mais liberais e de composiçã o ecumê nica. O papa també m se opô s aos sindicatos que nã o eram
exclusivamente cató licos. Ao mesmo tempo, ele foi tolerante com uma falha da direita monarquista Action Française .
Por outro lado, principalmente por medo do socialismo na Itá lia, Pio X relaxou a proibiçã o da participaçã o de
cató licos nas eleiçõ es italianas.
O conceito “pastoral” de Pio X també m incluı́a a defesa do rebanho contra a heresia. No decreto Lamentabili sane
exitu (lat., "De fato, uma partida lamentá vel"), emitido pelo Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o, agora a
Congregaçã o para a Doutrina da Fé ) em 3 de julho de 1907, sessenta e cinco proposiçõ es relativas ao a natureza da
Igreja, a revelaçã o, a exegese bı́blica, os sacramentos e a divindade de Cristo foram explicitamente condenadas. Este
decreto foi seguido em 8 de setembro pela encı́clica Pascendi Dominici gregis (“Alimentando o rebanho do Senhor”),
que caracterizou o Modernismo como a “sı́ntese de todas as heresias”. Em 1o de setembro de 1910, ele continuou
seu esforço para erradicar o modernismo da Igreja, impondo, na Sacrorum antistitum , um juramento contra o
modernismo a todos os clé rigos. Ele també m encorajou em trê s cartas papais uma rede de informantes, conhecida
como Sodalitium Pianum (Liga de Sã o Pio V), para relatar casos de desvios da ortodoxia doutriná ria onde e por
quem quer que eles ocorressem, levando em muitos casos ao destituiçã o de docentes dos cargos docentes e, nos
demais casos, suspensã o do sacerdó cio e / ou excomunhã o da Igreja. O juramento contra o Modernismo exigia que
o clé rigo concordasse que a existê ncia de Deus pode ser conhecida e provada pela razã o natural, que milagres e
profecias sã o certos sinais de revelaçã o, que a Igreja como instituiçã o foi fundada por Jesus Cristo, que existe uma
constante depó sito de fé em que os dogmas nã o podem mudar seu signi icado de uma geraçã o para outra, e essa fé
envolve um assentimento real do intelecto à s verdades apresentadas de fora do crente. O juramento foi imposto a
todo o clero cató lico, e apenas cerca de quarenta se recusaram a jurá -lo. Professores de teologia na Alemanha, no
entanto, foram dispensados do juramento a pedido dos bispos alemã es. (Uma encı́clica em 1910 dedicada a Sã o
Carlos Borromeu [m. 1584] teve que ser rapidamente retirada por causa de sua polê mica vulgar contra o
protestantismo alemã o.) O efeito geral do juramento sobre os estudos cató licos foi devastador - um golpe do qual
nã o aconteceu começam a se recuperar até os ponti icados de Pio XII (1939–58) e Joã o XXIII (1958–63) e o Concı́lio
Vaticano II (1962–65). O juramento desencorajou estudiosos cató licos de buscar novas linhas de investigaçã o em seu
ensino e pesquisa e de publicar os resultados de suas pesquisas, e ao mesmo tempo encorajou elementos mais
faná ticos na Igreja a declarar uma espé cie de guerra contra teó logos e estudiosos da Bı́blia que nã o seguiu a linha
conservadora. O sucessor de Pio X, Bento XV (1914-22), teve que declarar o im do con lito destruidor na Igreja, e o
pró prio juramento foi inalmente rescindido pela Congregaçã o para a Doutrina da Fé em julho de 1967, durante o
ponti icado de Paulo VI (1963-1978).
E claro que houve iniciativas positivas e menos controversas tomadas durante este ponti icado. A Cú ria Romana foi
reorganizada. O Có digo de Direito Canô nico foi revisado (embora nã o publicado até depois da morte do papa). Os
seminá rios e seus currı́culos foram reformados. A instruçã o catequé tica foi melhorada. O Pontifı́cio Instituto Bı́blico
foi estabelecido em 1909. Os leigos foram incentivados a cooperar com seus bispos no apostolado da Igreja. A
comunhã o frequente foi encorajada (os jansenistas dos sé culos XVII e XVIII teriam icado chocados), e a idade para a
Primeira Comunhã o foi reduzida para a “idade da discriçã o” (aproximadamente sete). Pio X també m restaurou o
canto gregoriano como modelo de mú sica sacra e iniciou uma revisã o do Breviá rio (Ofı́cio Divino) e do Missal
Romano.
Depois de sofrer um ataque cardı́aco em 1913, Pio X viveu à sombra da morte. Ele caiu em uma melancolia apó s
saber dos eventos que precipitariam a Primeira Guerra Mundial, especialmente o assassinato do arquiduque
Francisco Ferdinand, herdeiro aparente do trono austro-hú ngaro, em Sarajevo em 28 de junho de 1914. Um mê s
depois, Austria- A Hungria declarou guerra à Sé rvia, e outras declaraçõ es de guerra se seguiram. Pio X morreu em
20 de agosto de 1914, e foi sepultado em uma tumba simples e sem adornos na cripta de Sã o Pedro, de acordo com
sua vontade. No entanto, um monumento foi erguido em sua memó ria na pró pria bası́lica em 1923, ano em que
iniciou o processo de sua canonizaçã o. Ele foi beati icado em 3 de junho de 1951 (o primeiro papa a ser beati icado
desde Inocê ncio XI [1676-89]) e canonizado em 29 de maio de 1954 (o primeiro papa a ser canonizado desde Pio V
[1566-72]). Seu corpo foi transferido apó s a canonizaçã o para um lugar sob o altar da Capela da Apresentaçã o em
Sã o Pedro. Como ele havia deixado instruçõ es para que seu corpo nã o fosse embalsamado, nenhum papa
subsequente foi embalsamado apó s a morte, com resultados à s vezes desagradá veis (o nariz de Pio XII quase caiu; o
rosto de Joã o Paulo I icou verde; e as orelhas de Paulo VI icaram pretas). Dia da festa: 21 de agosto.
256 Bento XV, 1854–1922, papa de 3 de setembro de 1914 a 22 de janeiro de 1922.
Embora seu ponti icado tenha sido ofuscado pela Primeira Guerra Mundial, a maior realizaçã o de Bento XV pode ter
sido sua convocaçã o para deter a guerra destrutiva dentro da Igreja provocada pela veemente campanha
antimodernista de seu predecessor, Pio X. Bento XV pode muito bem ter sido um dos melhores papas da histó ria,
mas certamente um dos menos apreciados, tanto dentro como fora da Igreja.
Nascido Giacomo della Chiesa, ilho de pais patrı́cios, ele nã o impressionava pela aparê ncia devido a uma lesã o
sofrida no nascimento. Um olho, uma orelha e um ombro eram visivelmente mais altos que o outro. Ele també m era
baixo, extremamente magro, ombros caı́dos, pele ligeiramente azulada e mancava. No entanto, temperamentalmente,
ele era gentil e simpá tico e sempre acessı́vel, embora tivesse erupçõ es de temperamento ocasionais, pelas quais se
desculpava abjetamente. Ordenado em 1878, ele foi designado para estudar na Academia de Nobres Eclesiá sticos
(agora chamada de Pontifı́cia Academia Eclesiá stica, a escola de treinamento para o corpo diplomá tico do Vaticano)
em Roma. De 1883 a 1887 foi secretá rio do Arcebispo Mariano Rampolla, entã o nú ncio na Espanha. Quando
Rampolla se tornou cardeal-secretá rio de estado em 1887, della Chiesa permaneceu com ele, tornando-se
subsecretá rio de estado em 1901. Ele continuou nessa posiçã o mesmo depois da morte de Leã o XIII e Rampolla foi
sucedido pelo cardeal Merry del Val em 1903. Embora tenha advertido contra condenaçõ es injusti icadas de
estudiosos do perı́o do antimodernista, Pio X uma vez se referiu a ele como seu "braço direito na luta contra o
modernismo". Ele esperava se tornar nú ncio na Espanha, assim como seu mentor, mas Merry del Val descon iou dele
por causa de sua associaçã o com Rampolla e convenceu o papa a remover della Chiesa do serviço diplomá tico. Pio X
entã o nomeou della Chiesa arcebispo de Bolonha em 1907 e pessoalmente o consagrou na Capela Sistina. Só em
maio de 1914, entretanto, o papa o nomeou cardeal (no tı́tulo de Santi Quattro Coronati), embora Bolonha fosse
tradicionalmente uma sé cardinalı́cia. Quando o novo cardeal veio a Roma para tomar posse de sua igreja titular em
4 de junho, o papa já estava gravemente doente. Trê s meses depois, em 3 de setembro de 1914, o pró prio della
Chiesa seria eleito papa.
Na primeira votaçã o do conclave na manhã de 1º de setembro, os cardeais della Chiesa e Maf i tiveram doze votos
cada um. Cada um dos votos subiu para dezesseis na segunda votaçã o. Na oitava votaçã o, della Chiesa tinha trinta e
dois votos, Maf i nenhum. Mas o cardeal Sera ini saiu enquanto isso com vinte e quatro votos. Na dé cima votaçã o, em
3 de setembro, os votos para della Chiesa chegaram a trinta e oito, o su iciente para a eleiçã o. O papa recé m-eleito
adotou o nome de Bento XV em memó ria de Pró spero Lambertini, que, como ele, havia sido arcebispo de Bolonha
quando eleito papa com o nome de Bento XIV. Como seus dois predecessores imediatos, ele deu sua primeira bê nçã o
papal da varanda interna da Bası́lica de Sã o Pedro para uma multidã o estimada em mais de cinquenta mil. Sua
eleiçã o foi recebida com grande surpresa porque ele havia sido nomeado cardeal recentemente. Sem dú vida, sua
experiê ncia diplomá tica foi uma consideraçã o importante para os que votaram nele, tendo em vista a recente eclosã o
da Primeira Guerra Mundial. Ele foi coroado nã o na Bası́lica de Sã o Pedro propriamente dita, de acordo com a
tradiçã o secular, mas na Capela Sistina para dar ao evento um signi icado mais puramente religioso e evitar o
aparecimento de muita festa em tempos de guerra e misé ria humana.
O novo papa imediatamente avaliou a situaçã o inanceira da Santa Sé , determinado a dispensar o má ximo de
dinheiro possı́vel aos necessitados. Ele nomeou o cardeal Domenico Ferrara como seu secretá rio de Estado, mas
Ferrara morreu em 10 de outubro e foi substituı́do pelo cardeal Pietro Gasparri. O cardeal Merry del Val foi
transferido para o Santo Ofı́cio como seu secretá rio. Enquanto as nuvens da guerra continuavam a se formar na
Europa e alé m, o papa manteve uma postura estritamente neutra, recusando-se a condenar qualquer lado - com o
resultado de ambos os lados o acusarem de parcialidade. Ele procurou de vá rias maneiras aliviar o sofrimento
causado pela guerra, por exemplo, tentando reunir os prisioneiros de guerra com suas famı́lias e persuadindo a
Suı́ça a aceitar soldados de todas as naçõ es afetados pela tuberculose. Mas quando, em 1o de agosto de 1917, ele
propô s um plano de paz de sete pontos, incluindo a renú ncia à s indenizaçõ es de guerra e a devoluçã o de todos os
territó rios ocupados, tanto os Aliados quanto as Potê ncias Centrais o ignoraram. Os Aliados, de fato, suspeitavam
que o papa se inclinasse em direçã o à Alemanha por causa da promessa da Alemanha de devolver Roma à Santa Sé
apó s derrotar a Itá lia. Bento XV també m temia a expansã o da Ortodoxia Russa se a Rú ssia e os Aliados triunfassem.
Os Aliados se referiram a ele com desprezo como " le pape boche " ou "o papa Kraut", enquanto os alemã es, por sua
vez, o rejeitaram como " der französische Papst " ou "o papa francê s". Quando o armistı́cio foi realmente alcançado em
1919, o papa foi deliberadamente excluı́do das negociaçõ es de acordo com um acordo alcançado entre os Aliados e
a Itá lia.
Depois da guerra, Bento XV implorou pela reconciliaçã o entre as naçõ es e deu pelo menos apoio geral à Liga das
Naçõ es. Ele enviou dois futuros papas em missõ es diplomá ticas: Achille Ratti (mais tarde Pio XI) como visitante
apostó lico na Polô nia e Lituâ nia e Eugenio Pacelli (mais tarde Pio XII) como nú ncio na Baviera. A Grã -Bretanha
enviou seu primeiro representante diplomá tico à Santa Sé desde o sé culo XVII. A canonizaçã o de Joana d'Arc
(falecida em 1431) pelo papa em 1920 ajudou no restabelecimento das relaçõ es diplomá ticas com a França. Quanto
ao estatuto da Santa Sé na Itá lia, adoptou um rumo polı́tico mais moderado, permitindo a plena participaçã o dos
cató licos no processo polı́tico (deu a sua bê nçã o ao Partido Popular fundado por P. Luigi Sturzo) e levantando a
proibiçã o de o icial visitas ao Palá cio Quirinale por chefes de estado cató licos. O palá cio já foi a residê ncia de verã o
dos papas, mas em 1870 foi tomado como residê ncia do rei da Itá lia. Ele també m autorizou um encontro secreto
entre o ditador italiano Benito Mussolini e o cardeal Gasparri na casa do conde Carlo Santucci, um velho amigo do
papa, para iniciar o processo de regularizaçã o da sede da Santa Sé na Itá lia (o resultado seria ser o Tratado de
Latrã o de 1929).
Em 28 de junho de 1917, ele promulgou o novo Có digo de Direito Canô nico, cuja revisã o havia sido iniciada por
seu antecessor, Pio X, e em setembro constituiu uma comissã o para interpretá -lo. Como muitos papas antes dele,
Bento XV sonhava com uma reconciliaçã o entre as igrejas orientais e ocidentais. Ele pensou, erroneamente, que a
Revoluçã o Russa abriu essa possibilidade novamente. Em maio de 1917, tornou autô noma a Congregaçã o para as
Igrejas Orientais (antes havia sido unida à Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé ), tendo ele mesmo como prefeito, e
fundou o Pontifı́cio Instituto Oriental em Roma no mê s de outubro seguinte (ele o deu para a direçã o dos Jesuı́tas em
1922). Em 1920 ele declarou Santo Efré m (falecido em 373), o exegeta e teó logo sı́rio, um Doutor da Igreja. Os
turcos ergueram uma está tua de Bento XV em Istambul (antiga Constantinopla) que o saudou como “o grande papa
da tragé dia mundial. . . o benfeitor de todas as pessoas, independentemente da nacionalidade ou religiã o. ” Na frente
missioná ria, ele també m seguiu um curso mais criativo, exortando em sua encı́clica Maximum illud (lat., "Este maior",
1919) que os missioná rios recebam uma melhor preparaçã o espiritual e teoló gica e que os bispos missioná rios
formem um clero nativo tã o rapidamente quanto possı́vel e nunca coloque os interesses de seus paı́ses de origem
acima das necessidades pastorais de seu povo.
Talvez a conquista mais importante e permanentemente relevante de seu ponti icado tenha ocorrido dois meses
apó s sua eleiçã o. Em 1 de novembro de 1914, ele publicou sua primeira carta encı́clica, Ad beatissimi Apostolorum
(“No [limiar] dos mais abençoados Apó stolos”), na qual ele exortou a parar a guerra destrutiva entre os chamados
cató licos integralistas e cató licos progressistas que se desenvolveu e se intensi icou durante o ponti icado anterior. O
papa insistiu, sem usar o nome "integralista", que o substantivo "cató lico" nã o precisava ser quali icado por "novos
epı́tetos". No inal, ele foi um papa dedicado à cura e à reconciliaçã o, mesmo que, na frente polı́tica, seu ministé rio
nã o fosse apreciado.
Bento XV morreu inesperadamente aos 67 anos de gripe que evoluiu para pneumonia em 22 de janeiro de 1922.
Ele foi enterrado na cripta de Sã o Pedro. Um monumento a ele por Pietro Canonica foi erguido na bası́lica
propriamente dita em 1928.

257 Pio XI, 1857–1939, papa de 6 de fevereiro de 1922 a 10 de fevereiro de 1939.


Primeiro papa a usar o rá dio como meio de comunicaçã o e primeiro papa com uma vocaçã o sé ria de alpinismo, Pio
XI concluiu os Pactos de Latrã o (també m conhecidos como Acordos de Latrã o) com o ditador italiano Benito
Mussolini, estabelecendo o Estado da Cidade do Vaticano como uma entidade polı́tica separada e independente. Tã o
intensa era sua oposiçã o e medo do comunismo que ele assinou acordos ou concordatas com dois dos mais notó rios
lı́deres fascistas do sé culo XX (Mussolini e Hitler) e deu seu total apoio a outro (o espanhol Francisco Franco).
Nascido Ambrogio Damiano Achille Ratti, foi ordenado em 1879, obteve trê s doutorados na Pontifı́cia
Universidade Gregoriana, foi professor do seminá rio em Pá dua (1882–1888) e trabalhou na Biblioteca Ambrosiana
de Milã o (1888–1911). Tornou-se pró -prefeito da Biblioteca do Vaticano em 1911 e prefeito em 1914. Em 1918
Bento XV o enviou à Polô nia como visitante apostó lico, no ano seguinte promovendo-o a nú ncio e arcebispo titular
de Lepanto. Quando a delicada situaçã o polı́tica na regiã o tornou o arcebispo Ratti uma fonte de ressentimento
nacionalista por causa de sua parcialidade para com os cató licos poloneses, Bento XV o nomeou em 1921 arcebispo
de Milã o e cardeal com o tı́tulo de San Martino ai Monti (apropriado para um montanhista) . No ano seguinte, em 6
de fevereiro de 1922, foi eleito papa como candidato de compromisso na dé cima quarta votaçã o.
O conclave foi inaugurado em 5 de fevereiro de 1922, com os cardeais divididos em dois campos: os que apoiavam
o ultraconservador cardeal espanhol Merry del Val, secretá rio de Estado de Pio X e chefe do Santo Ofı́cio de Bento
XV, e os que apoiavam Cardeal Gasparri, secretá rio de Estado de Bento XVI. Merry del Val, entretanto, nunca
conseguiu mais do que dezessete votos, e o má ximo de Gasparri foi vinte e quatro. O apoio entã o mudou para o
cardeal La Fontaine, o patriarca de Veneza, que alcançou um má ximo de 23 votos, e entã o, inesperadamente, o apoio
foi desenvolvido para o cardeal Ratti, que recebeu 24 votos na dé cima primeira votaçã o. Nas trê s votaçõ es seguintes,
o apoio de La Fontaine caiu de vinte e dois para dezoito, para nove, enquanto o de Ratti aumentou de vinte e sete
para trinta e depois para quarenta e dois, o su iciente para os dois terços exigidos para a eleiçã o. Ratti assumiu o
nome de Pio XI em homenagem a Pio IX, que o apoiou em seus primeiros anos de formaçã o eclesiá stica, e a Pio X,
que o chamou a Roma para servir na Biblioteca do Vaticano. O primeiro gesto do novo papa foi de reconciliaçã o
polı́tica. Ele deu sua bê nçã o pontifı́cia Urbi et Orbi (lat., “A cidade e ao mundo”) da varanda externa da Bası́lica de Sã o
Pedro, a primeira vez que um papa o fez desde 1870, quando as forças italianas ocuparam Roma e incorporaram a
cidade no novo estado italiano. A multidã o que se reuniu na Praça de Sã o Pedro gritou: “Viva Pio Undicesimo! Viva
Italia! ” Ele foi coroado em 12 de fevereiro de 1922.
Pio XI tomou como lema “A paz de Cristo no reino de Cristo”, para enfatizar que a Igreja deve ser ativa no mundo,
nã o isolada dele. Sua primeira encı́clica no mê s de dezembro seguinte, Ubi arcano Dei consilio (“Onde [está ] o plano
oculto de Deus”), promoveu a Açã o Cató lica, ou a participaçã o dos leigos no apostolado da hierarquia. Em 1925, ele
instituiu a festa de Cristo Rei para combater o secularismo e, com o mesmo propó sito, proclamou os anos jubilares
em 1925, 1929 e 1933, bem como os congressos eucarı́sticos bienais. Suas numerosas canonizaçõ es, especialmente
durante o ano do Jubileu de 1925, foram planejadas para promover o mesmo im: John Fisher (m. 1535), Thomas
More (m. 1535), John Bosco (m. 1888) e Thé rè se de Lisieux (m. . 1897), mais conhecida como "a Florzinha". Ele
declarou quatro teó logos como Doutores da Igreja: Albertus Magnus (falecido em 1280), Pedro Canisius (falecido em
1597), Joã o da Cruz (falecido em 1591) e Robert Bellarmine (falecido em 1621).
Pio XI també m tinha um forte compromisso com as missõ es. Ele exigia que todas as ordens religiosas se
engajassem na obra missioná ria. Como resultado, o nú mero de missioná rios dobrou durante seu ponti icado. Ele
pessoalmente consagrou os primeiros seis bispos chineses nativos em 1926, entã o um bispo japonê s nativo em
1927, e padres nativos para a India, Sudeste Asiá tico e China em 1933. O nú mero total de padres nativos em terras
de missã o aumentou de quase trê s mil para mais sete mil durante seu ponti icado. No inı́cio de seu ponti icado, nã o
havia dioceses missioná rias sob a direçã o de um bispo nativo. Apó s a morte de Pio XI, havia quarenta dessas
dioceses. A populaçã o cató lica nos paı́ses de missã o aumentou de nove milhõ es para vinte e um milhõ es. Ele també m
estabeleceu uma faculdade de missiologia em sua alma mater, a Pontifı́cia Universidade Gregoriana.
Os esforços ecumê nicos de Pio XI deram menos frutos. Seus apelos para a reuniã o entre Roma e o Oriente
Ortodoxo caı́ram em ouvidos surdos, para nã o dizer hostis. Ao mesmo tempo, ele fez tudo o que pô de para apoiar as
igrejas de rito oriental em uniã o com Roma (à s vezes chamadas de igrejas uniatas, um termo injurioso e indesejá vel).
Ele promoveu o trabalho do Instituto Oriental em Roma, reconstruiu os Colé gios Etı́o pe e Rutê nio em Roma e, em
uma encı́clica, Rerum Orientalium (lat., "Dos assuntos das [Igrejas] Orientais," 1928), pediu um maior entendimento
das igrejas orientais. O papa foi negativo, entretanto, em sua atitude para com os protestantes e, em sua encı́clica
Mortalium animos (“As almas dos mortais”, 1928), proibiu qualquer envolvimento cató lico em conferê ncias
ecumê nicas. Seus esforços iniciais de aproximaçã o com os anglicanos (ele havia aprovado, por exemplo, as conversas
entre cató licos e anglicanos em Malines em 1921-26) fracassaram quando, em 1930, sua encı́clica Casti connubii ("Do
casamento puro") condenou intransigentemente o nascimento arti icial controle como imoral - em oposiçã o direta à
posiçã o assumida pelos bispos anglicanos em sua Conferê ncia de Lambeth.
Sua encı́clica mais duradoura, ainda hoje estudada como uma parte importante do corpus dos ensinamentos
sociais cató licos, foi Quadragesimo anno ("Depois de quarenta anos", 1931), escrita por ocasiã o do quadragé simo
aniversá rio da pioneira encı́clica social de Leã o XIII, Rerum novarum e em meio a uma terrı́vel depressã o econô mica
mundial. Pio XI criticou tanto o excessivo individualismo da direita capitalista quanto o excessivo coletivismo da
esquerda socialista. Ele insistiu que o direito à propriedade privada é um direito quali icado - quali icado pelas
exigê ncias de justiça social e do bem comum. Ele també m introduziu um dos princı́pios mais importantes do
pensamento social cató lico, o princı́pio da subsidiariedade: nada deve ser feito por uma agê ncia superior que possa
ser feito melhor ou pelo menos tã o bem por uma agê ncia inferior. Nos ú ltimos anos, os teó logos cató licos
começaram a aplicar esse princı́pio à pró pria Igreja Cató lica, a im de desa iar a tendê ncia crescente de
recentralizaçã o da autoridade no Vaticano.
Como ex-bibliotecá rio e estudioso, Pio XI estava comprometido com o avanço da ciê ncia e do aprendizado em
geral. Ele reabilitou alguns estudiosos que haviam sido punidos durante o perı́o do antimodernista de Pio X (1903–
14) e modernizou e ampliou a Biblioteca do Vaticano, da qual ele havia sido prefeito. Em 1925 ele fundou o Pontifı́cio
Instituto de Arqueologia Cristã , ergueu a Pinocoteca para as coleçõ es de fotos do Vaticano e mudou o Observató rio
do Vaticano para Castel Gandolfo, com equipamento moderno adicionado. Instalou uma estaçã o de rá dio (Rá dio
Vaticano) na Cidade do Vaticano em 1931 e foi o primeiro papa a usar o rá dio como meio de comunicaçã o pastoral.
Ele advertiu os bispos a manter seus arquivos diocesanos e introduzir novas reformas na educaçã o do seminá rio.
Ele fundou a Pontifı́cia Academia de Ciê ncias em 1936 e abriu suas listas de membros a cientistas de vá rios paı́ses.
Pio XI nã o era politicamente inativo. Seu primeiro ato, como mencionado acima, foi sinalizar um degelo nas
relaçõ es entre a Santa Sé e o novo Estado italiano. Auxiliado por dois secretá rios de Estado, o cardeal Pietro
Gasparri (até 1930) e o cardeal Eugenio Pacelli (o futuro Pio XII), ele concluiu concordatas e outros acordos com
cerca de vinte governos e melhorou as relaçõ es com a França, onde condenou o movimento cató lico nacionalista e
moná rquico Action Française (1926). Sua iniciativa polı́tica mais importante, entretanto, foi o Tratado de Latrã o (11
de fevereiro de 1929), irmado com o primeiro-ministro italiano Benito Mussolini apó s dois anos e meio de difı́ceis
negociaçõ es. Por meio do tratado, o Vaticano reconheceu pela primeira vez desde 1870 o reino da Itá lia, tendo Roma
como capital. A Itá lia, por sua vez, compensou inanceiramente o Vaticano pela perda dos Estados papais e
reconheceu o catolicismo como a religiã o o icial do paı́s. Muitas leis anticlericais foram revogadas e a instruçã o
religiosa nas escolas secundá rias tornou-se obrigató ria. O Estado da Cidade do Vaticano foi estabelecido como uma
entidade polı́tica, ou estado soberano, independente da Itá lia. (Apó s a queda da monarquia italiana em 1946, o
Tratado de Latrã o foi incorporado à nova constituiçã o republicana da Itá lia. A concordata foi renegociada e
formalmente rati icada em 3 de junho de 1985. Pela nova concordata, a instruçã o cató lica nã o é mais obrigató ria no
governo escolas e o clero nã o recebem mais salá rios do governo.)
A atençã o de Pio XI voltou-se entã o da Itá lia para os novos estados totalitá rios que haviam surgido na Rú ssia e na
Alemanha. No inı́cio de seu ponti icado, o papa fez um esforço vã o para impedir a perseguiçã o aos cristã os na
Rú ssia. Seu esforço, por meio do bispo jesuı́ta francê s Michael d'Herbigny (falecido em 1957), para consagrar bispos
secretamente na Uniã o Sovié tica revelou-se contraproducente. Dom d'Herbigny foi expulso do paı́s e os bispos que
ele consagrou foram enviados para campos penais. Em sua encı́clica Divini Redemptoris (lat., “Do Divino Redentor”,
1937), Pio XI condenou o comunismo como ateı́sta. Tã o intensa foi sua repulsa e medo que o papa chegou a fazer
uma concordata com a Alemanha nacional-socialista (nazista) ostensivamente anticomunista em 1933, con iando nas
garantias de Hitler de que os direitos da Igreja seriam respeitados. Como resultado desse infeliz acordo, o regime de
Hitler ganhou prestı́gio internacional e a oposiçã o cató lica domé stica a ele foi silenciada. Entre 1933 e 1936,
entretanto, Pio XI foi forçado a endereçar trinta e quatro notas ao governo nazista para protestar contra sua
crescente opressã o da Igreja. A maioria das notas icou sem resposta. O rompimento veio em 1937, quando ele
ordenou que sua encı́clica Mit brennender Sorge (alemã o, "Com searing ansiedade"), denunciando as violaçõ es da
concordata e condenando o nazismo como fundamentalmente racista e anticristã o, fosse lida em todos os pú lpitos
alemã es. A carta, escrita em grande parte por Michael von Faulhaber (falecido em 1952), o cardeal-arcebispo de
Munique, teve de ser contrabandeada para a Alemanha. (O cardeal Faulhaber trabalhou com as forças de ocupaçã o
americanas apó s a Segunda Guerra Mundial na reconstruçã o de Munique e recebeu a Grã -Cruz da Ordem do Mé rito,
o maior prê mio que poderia ser concedido pela entã o Repú blica da Alemanha Ocidental.) A liderança nazista, pega
completamente desprevenido, enfureceu-se e intensi icou a perseguiçã o à Igreja e especialmente aos padres. Muitos
se perguntam por que o sucessor de Pio XI, Pio XII, nunca fez um gesto semelhante de protesto contra os ultrajes
nazistas contra a humanidade.
Quando Mussolini dissolveu as organizaçõ es juvenis cató licas na Itá lia em 1931, Pio XI começou a mudar sua
atitude em relaçã o ao regime italiano. Ele publicou uma crı́tica encı́clica ao fascismo italiano, Non abbiamo bisogno (It.,
“Nã o temos necessidade”). A ruptura foi completa em 1938, quando o regime adotou as doutrinas racistas de Hitler,
especialmente contra os judeus. Por outro lado, Pio XI nunca teve problemas com o fascismo espanhol, do tipo
defendido pelo ditador espanhol Generalı́ssimo Francisco Franco, a quem o papa apoiou durante a guerra civil de
1936-1939. O papa nã o se opô s quando Mussolini interveio naquela guerra em nome de Franco. (Apó s a morte de
Franco em 1975, a Igreja Cató lica em geral apoiou a transiçã o pacı́ ica da Espanha para a democracia, o que acabou
ocasionando a primeira separaçã o completa entre Igreja e Estado na histó ria do catolicismo espanhol.)
Embora autoritá rio em seu exercı́cio do ministé rio papal e desinibido em alguns dos aspectos mais triunfalistas do
cargo, ele preparou o caminho, pelo menos em parte, para a renovaçã o da Igreja Cató lica no Concı́lio Vaticano II,
mais de duas dé cadas depois. Pio XI morreu em 10 de fevereiro de 1939, aos oitenta e um e dezessete anos como
papa. Ele foi enterrado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. As escavaçõ es na cripta preparató ria para o sepultamento
do papa acidentalmente quebraram o chã o, e as investigaçõ es subsequentes levaram à descoberta de um cemité rio
do primeiro sé culo e da suposta sepultura de Sã o Pedro. Em 9 de fevereiro de 1941, os restos mortais de Pio XI
foram colocados em um magnı́ ico sarcó fago de má rmore de Carrara, debaixo de uma está tua dele de Giannino
Castiglioni.

258 Pio XII, 1876–1958, papa de 2 de março de 1939 a 9 de outubro de 1958.


O ponti icado de Pio XII abrangeu toda a Segunda Guerra Mundial e o perı́o do do pó s-guerra, quando ele dedicou
suas energias ao combate ao comunismo por vá rios meios, incluindo a promoçã o da piedade e devoçã o mariana.
Embora amplamente tradicional em suas visõ es teoló gicas e pastorais, Pio XII, de fato, lançou muitas das bases para
a renovaçã o que loresceu no Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli, ilho de um advogado, estudou, como vá rios papas anteriores,
na Pontifı́cia Universidade Gregoriana e no Colé gio Capranica. Ordenado em 1899, serviu de 1904 a 1916 como
assistente do cardeal Pietro Gasparri na codi icaçã o do direito canô nico, ordenado por Pio X (1903-1914). Em 1917,
foi nomeado por Bento XV (1914-22) como nú ncio na Baviera (cuja capital era Munique) e arcebispo titular de
Sardes. Em 1920 foi nomeado nú ncio na nova repú blica alemã , onde foi reitor do corpo diplomá tico. Ele foi criado
cardeal em 1929 com o tı́tulo de Santi Giovanni et Paolo. Menos de dois meses depois, em 7 de fevereiro de 1930, ele
sucedeu seu mentor, o cardeal Gasparri, como secretá rio de Estado. Nessa nova funçã o, o cardeal Pacelli foi
responsá vel por concluir concordatas com a Austria e a Alemanha nacional-socialista (nazista) em 1933. Hitler
violaria lagrantemente a ú ltima. Lingü ista talentoso e viajante do mundo, o cardeal Pacelli fez visitas o iciais à
Argentina, França e Hungria e uma extensa visita particular aos Estados Unidos em 1936, que incluiu um encontro
com o presidente recé m-reeleito, Franklin D. Roosevelt.
Com a Segunda Guerra Mundial prestes a estourar, o cardeal Pacelli foi eleito papa em 2 de março de 1939, na
terceira votaçã o de um conclave de um dia, obtendo quarenta e oito dos sessenta e trê s votos (outra fonte coloca o
total de votos em cinquenta - trê s, nã o sessenta e trê s). Os bispos italianos residentes eram originalmente favorá veis
ao cardeal-arcebispo de Florença, Elia Dalla Costa. (O cardeal Pacelli havia recebido votos su icientes para a eleiçã o
na segunda votaçã o, mas pediu uma terceira votaçã o para con irmar a vontade dos cardeais eleitores. A brevidade
do conclave estimulou o falso rumor de que ele havia realmente sido eleito por unanimidade.) Pacelli era o mais
conhecido de todos os cardeais, especialmente entre os nã o italianos, e parecia possuir a experiê ncia diplomá tica
necessá ria naquela é poca conturbada. Ele també m foi o primeiro secretá rio de estado eleito para o papado desde
Clemente IX em 1667. (Apó s a morte de seu pró prio primeiro secretá rio de estado em 1944, ele pró prio ocuparia o
cargo depois disso.) O novo papa adotou o nome de Pio XII em grata memó ria de Pio XI. Os romanos icaram
satisfeitos com a eleiçã o de Pacelli porque ele pró prio era um romano nativo (“ romano de Roma ”), o primeiro desde
Inocê ncio XIII em 1721. Pio XII deu sua primeira bê nçã o papal da varanda central externa, ou loggia, de Sã o Bası́lica
de Pedro e foi o primeiro papa a fazê -lo pelo rá dio. Ele foi coroado em 12 de março de 1939.
A preocupaçã o central do novo papa ao iniciar seu ponti icado era a paz mundial. Ele apelou à s naçõ es para
evitarem a guerra por meio de iniciativas diplomá ticas e instou a convocaçã o de uma conferê ncia internacional para
resolver as diferenças paci icamente. “Nada se perde com a paz”, disse ele, “tudo se perde com a guerra”. Em 24 de
agosto de 1940, ele fez um apelo pelo rá dio ao mundo em nome da paz (a pró pria Itá lia havia entrado na guerra
dois meses antes). Quando seus esforços falharam e a guerra estourou para valer, Pio XII garantiu para Roma o
status de cidade aberta e ele pró prio adotou uma postura imparcial. Embora estivesse convencido de que o
comunismo era um mal maior do que o nazismo, o papa nã o aprovou o ataque de Hitler à Rú ssia. Mas ele també m se
opô s à exigê ncia dos Aliados em Casablanca (janeiro de 1943) de rendiçã o incondicional. Depois que Hitler ocupou
Roma em 10 de setembro de 1943, a Cidade do Vaticano se tornou um santuá rio para muitos refugiados, incluindo
judeus. No entanto, Pio XII foi severamente criticado por nã o ter falado e agido com mais força em nome da situaçã o
dos judeus.
Aqueles que escreveram em defesa de sua postura durante a guerra ressaltam sua denú ncia do extermı́nio de
povos com base na raça, ainda que em termos gerais, sua preocupaçã o de que denú ncias mais fortes e explı́citas
levariam a represá lias ainda maiores e seu apoio pessoal aos esforços de render assistê ncia e refú gio aos judeus. Ao
mesmo tempo, poré m, em duas declaraçõ es separadas (1944 e 1946), ele implicitamente exonerou a Alemanha de
qualquer noçã o de culpa coletiva. A contrové rsia certamente continuará , mas o julgamento da histó ria sobre o
assunto parece ter se voltado contra Pio XII. Em uma palavra, ele poderia e deveria ter feito muito mais para
protestar contra o Holocausto - algo semelhante à forte denú ncia das polı́ticas e prá ticas racistas do nazismo de seu
predecessor, Pio XI, na encı́clica Mit brennender Sorge (1937). Aqueles que tê m uma visã o mais crı́tica da posiçã o do
papa especulam que sua experiê ncia como nú ncio na Alemanha na dé cada de 1920, sua parcialidade geral para com
os alemã es e a cultura alemã e seu desprezo pelo comunismo como mais perigoso do que o nazismo tiveram muito a
ver com sua relutâ ncia para falar contra as atrocidades contra os judeus.
Embora a Segunda Guerra Mundial e a atitude pú blica do papa em relaçã o ao Holocausto tenham dominado a
maior parte do interesse secular neste ponti icado, Pio XII foi notavelmente produtivo e bem-sucedido em suas
atividades pastorais e eclesiá sticas. Havia poucos tó picos religiosos e morais que ele nã o abordou em suas
alocuçõ es, encı́clicas e outros pronunciamentos. Ele estabeleceu claramente as bases para a extraordiná ria
renovaçã o da Igreja realizada pelo Concı́lio Vaticano II (1962-65). Sua encı́clica sobre a Igreja como Corpo Mı́stico de
Cristo, Mystici corporis (29 de junho de 1943), preparou o caminho para o ensino do concı́lio de que a Igreja é todo o
Povo de Deus (isto é , incluindo mais do que a hierarquia e o clero) e o Templo do Espı́rito Santo (ou seja, uma
comunidade carismá tica e també m uma organizaçã o institucional). Sua encı́clica naquele mesmo ano sobre a
renovaçã o dos estudos bı́blicos, Divino af lante Spiritu (lat., "Inspirado pelo Espı́rito Divino", 30 de setembro de
1943), incentivou os estudiosos bı́blicos cató licos a fazer uso de todas as ferramentas modernas de estudos
cientı́ icos e crı́ticos na interpretaçã o da Palavra de Deus. As conquistas consequentes da erudiçã o bı́blica cató lica
enriqueceram toda a teologia cató lica e, em conjunto, informaram e moldaram os documentos centrais do Concı́lio
Vaticano II: sobre a natureza e a missã o da Igreja, sobre o ecumenismo, sobre a salvaçã o dos nã o-cristã os, sobre a
revelaçã o , e sobre a liberdade religiosa. Ao apelar a uma maior participaçã o dos leigos no culto da Igreja, sua
encı́clica Mediator Dei ("Mediador de Deus", 20 de novembro de 1947) preparou o caminho para a Constituiçã o
inovadora do concı́lio sobre a Sagrada Liturgia e as muitas mudanças que esse documento gerou na vida litú rgica da
Igreja apó s o concı́lio. Algumas dessas mudanças, no entanto, já estavam em curso por causa das pró prias reformas
de Pio XII antes do concı́lio: a reforma da liturgia da Semana Santa em meados da dé cada de 1950, o relaxamento do
jejum eucarı́stico (os cató licos nã o eram mais obrigados a jejuar meia-noite antes da recepçã o da Sagrada
Comunhã o, e a á gua nã o quebrava mais o jejum), e a introduçã o das Missas da noite (que a situaçã o de guerra
tornou necessá ria primeiro).
Havia també m, no entanto, um lado conservador, até reacioná rio, na agenda teoló gica e pastoral de Pio XII. Seu
Santo Ofı́cio, sob a liderança do Cardeal Alfredo Ottaviani, prosseguiu determinada perseguiçã o (alguns diriam
perseguiçã o) de alguns dos teó logos mais ilustres da Igreja: MD Chenu, OP; Yves Congar, OP; Henri de Lubac, SJ; Jean
Danié lou, SJ; Karl Rahner, SJ; John Courtney Murray, SJ; e outros. Em sua encı́clica Humani generis (“Da raça humana”,
12 de agosto de 1950), Pio XII condenou a chamada nova teologia e advertiu que, uma vez que o papa havia falado
sobre um assunto controvertido, os teó logos nã o eram mais livres para discuti-lo. Ironicamente, trê s dos teó logos
que sentiram o açoite do Vaticano nessa é poca foram reabilitados e feitos cardeais por papas posteriores: Danié lou
(por Paulo VI) e de Lubac e Congar (por Joã o Paulo II).
Sua devoçã o pessoal à Santı́ssima Virgem Maria e sua convicçã o de que ela era o principal baluarte espiritual
contra o comunismo ateı́sta levaram Pio XII a de inir o dogma da Assunçã o corporal de Maria ao cé u (
Muni icentissimus Deus , 1º de novembro de 1950), para promover a devoçã o a Nossa Senhora de Fá tima (uma
cidade em Portugal onde se diz ter aparecido a trê s crianças para exortar o mundo à conversã o, fazer penitê ncia e
rezar o Rosá rio), para declarar um Ano Mariano em 1954 e para deixar aberto o questã o nã o apenas de seu papel
como mediadora de toda a graça, mas até mesmo como corredentora com Jesus Cristo.
Pio XII canonizou trinta e trê s pessoas durante seu ponti icado, incluindo Pio X (1903-14), e criou um nú mero
invulgarmente grande de cardeais: trinta e dois em 1946 e vinte e quatro em 1953. Aqui, novamente, ele antecipou o
novo, mais direçã o internacional da Igreja do Vaticano II. Os novos cardeais provinham de muitos paı́ses do mundo e
o contingente italiano no Colé gio de Cardeais foi reduzido a cerca de um terço.
O papa tomou muito poucas iniciativas ecumê nicas durante seu ponti icado. Sua atitude em relaçã o ao Conselho
Mundial de Igrejas e Protestantes geralmente era cautelosa, embora ele permitisse que estudiosos cató licos se
envolvessem em discussõ es teoló gicas com acadê micos nã o cató licos. Ele tentou estimular melhores relaçõ es entre
as igrejas cató licas orientais e os ortodoxos, mas com pouco efeito discernı́vel. Havia pouco ou nenhum contato
inter-religioso formal com nã o-cristã os, nem mesmo com judeus, mas o papa apoiava o conceito de tolerâ ncia para
com os outros.
Por causa da prevalê ncia do rá dio, dos noticiá rios e da televisã o (ele havia escrito uma encı́clica sobre essas novas
mı́dias em 1957, Miranda prorsus , "Inteiramente admirá vel"), Pio XII se tornou o papa mais conhecido da histó ria até
aquela data. Na é poca de sua morte em Castel Gandolfo em 9 de outubro de 1958, ele ganhou considerá vel
credibilidade e in luê ncia para o papado e a Igreja Cató lica entre os nã o cató licos em todo o mundo. Pio XII foi
sepultado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro.
Parte VII

PAPAS MODERNOS DE JOAO XXIII A BENTO XVI

O NE SO TEM DE ESTUDAR COM ALGUM CUIDADO E detalhar a histó ria do papado de dois mil anos da Igreja Cató lica para
perceber quã o singularmente importante foi o ponti icado de Joã o XXIII (1958-63), eleito aos setenta anos -seis, um
mê s antes de seu septuagé simo sé timo aniversá rio. Alé m do pró prio apó stolo Pedro, nã o houve nenhum outro papa
como Joã o XXIII. Em um perı́o do de menos de cinco anos, ele quase sozinho transformou a Igreja Cató lica de um
corpo clericalista, moná rquico, nã o ecumê nico e teologicamente rı́gido em uma comunidade de igualdade radical em
Cristo - leigos, religiosos e clé rigos - aberta ao diá logo e colaboraçã o com outras comunidades cristã s e nã o cristã s,
com nã o crentes e com o mundo em geral. Ele o fez principalmente pela força de seu pró prio exemplo pessoal - tã o
diferente em estilo de seu antecessor indiferente e autoritá rio, Pio XII - e da maneira autenticamente pastoral com
que exerceu o ministé rio petrino: humilde, gentil, compassivo e sempre com calor humor. O mecanismo institucional
dessa transformaçã o da Igreja foi o Concı́lio Vaticano II (1962-65), que Joã o XXIII concebeu, convocou e convocou e
que seu sucessor, Paulo VI (1963-78), conduziu até a conclusã o.
Paulo VI foi o primeiro papa na histó ria a viajar de aviã o como papa (Pio XII o izera quando ainda era cardeal).
Até Joã o Paulo II (1978–2005), Paulo VI foi o papa mais viajado da histó ria, visitando paı́ses a milhares de
quilô metros de Roma. Embora progressista em teologia, pensamento social e perspectiva pastoral, o ponti icado de
Paulo VI foi infelizmente ofuscado por sua encı́clica divisiva e amplamente rejeitada, condenando todas as formas de
controle arti icial da natalidade. Ele icou tã o angustiado com a reaçã o negativa à Humanae vitae (1968) que jurou
nunca mais escrever outra encı́clica. E, de fato, Paulo VI nã o emitiu nenhum outro durante os dez anos restantes de
seu ponti icado.
Paulo VI foi sucedido - sem surpresa - por um homem muito diferente dele em personalidade. Joã o Paulo I, no
entanto, teria um dos ponti icados mais curtos de toda a histó ria, cumprindo apenas 33 dias antes de morrer
repentinamente de ataque cardı́aco. Apesar da brevidade de seu ponti icado, Joã o Paulo I fez histó ria por dois
motivos, um trivial, o outro signi icativo: ele foi o primeiro papa na histó ria a ter um nome duplo (em respeito a seus
dois predecessores imediatos, Joã o XXIII e Paulo VI), e ele foi o primeiro papa em pelo menos mil anos a dispensar a
tradicional cerimô nia de coroaçã o com a tripla tiara apó s sua eleiçã o (a im de enfatizar a natureza pastoral e
ministerial do papado). Em vez disso, ele foi investido com o pá lio de um arcebispo, uma vestimenta de lã usada ao
redor do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral.
Quando, apó s a morte repentina de Joã o Paulo I, os cardeais foram chamados à s pressas de volta a Roma para
outra eleiçã o papal, eles estavam determinados a eleger algué m jovem e vigoroso o su iciente para cuidar do cargo.
No inı́cio, eles olharam, como de costume, para a lista de candidatos italianos. Mas quando icou claro que os
italianos nã o conseguiam chegar a um acordo entre si, eles se afastaram da minoria italiana no Colé gio dos Cardeais
e elegeram o primeiro papa eslavo da histó ria e o primeiro papa nã o italiano desde Adriano VI (1522-1523), o
cardeal polonê s Karol Wojty a, arcebispo de Cracó via. Joã o Paulo II rapidamente se estabeleceu como o papa mais
viajado da histó ria, superando o notá vel recorde de Paulo VI. Por meio de suas muitas viagens ao exterior, suas
apariçõ es na televisã o e itas de vı́deo, suas muitas encı́clicas e alocuçõ es e seus livros, ele també m se tornou o papa
mais conhecido por seus contemporâ neos em toda a histó ria. Embora comprometido em princı́pio com a renovaçã o
e reformas do Concı́lio Vaticano II, do qual ele pró prio participou como bispo, Joã o Paulo II dedicou grande parte de
seu ponti icado à contençã o de ideias progressistas que considerava perigosas para a vida e a fé da Igreja. Por essa
razã o, alguns se referem a seu ponti icado como restauracionista, isto é , comprometido com a restauraçã o de grande
parte do catolicismo pré -Vaticano II, especialmente sua centralizaçã o de poder no Vaticano e seu foco na autoridade
e personalidade do pró prio papa. Outros, poré m, estã o igualmente convencidos de que ele é um dos grandes papas
de todos os tempos, conduzindo a Igreja com coragem e sem comprometer as verdades fundamentais para um novo
sé culo e um novo milê nio.
Mais atençã o detalhada é dada aqui na Parte VII do que em qualquer outra parte do livro ao processo pelo qual
esses papas modernos foram eleitos para o papado. A negociaçã o e negociaçã o, a construçã o de coalizõ es, a
formulaçã o de estraté gias e o bloqueio de um candidato ou outro considerado inaceitá vel para um determinado
grupo de cardeais sã o todos parte do drama de um conclave papal e dos eventos que levaram a ele. Eles també m
reforçam o ponto de que o papado é uma instituiçã o muito humana e polı́tica, assumida de maneiras muito humanas
e polı́ticas. Tudo o que acontece em conexã o com uma eleiçã o papal nã o pode ser simplesmente, e ingenuamente,
atribuı́do à obra do Espı́rito Santo.
259 João XXIII, 1881–1963, papa de 28 de outubro de 1958 a 3 de junho de 1963.
Talvez o papa mais amado de toda a histó ria, Joã o XXIII convocou o Concı́lio Vaticano II (1962-65) e colocou a Igreja
Cató lica em um novo rumo pastoral, enfatizando o papel dos leigos, a colegialidade dos bispos, a fé autê ntica e
bondade de cristã os nã o cató licos e nã o cristã os, e a dignidade de todos os seres humanos.
Nascido Angelo Giuseppe Roncalli, o terceiro de treze ilhos de uma famı́lia de camponeses, foi ordenado em 1904
e tornou-se secretá rio de seu bispo em Bé rgamo, ao mesmo tempo que lecionava histó ria da Igreja no seminá rio
diocesano. Ele serviu como ordenança do hospital conscrito durante a Primeira Guerra Mundial e depois como
capelã o militar. Em 1921, Bento XV o nomeou diretor nacional da Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé . Por causa
de seu interesse pela histó ria, especialmente por Sã o Carlos Borromeo (m. 1584), e suas pesquisas na Biblioteca
Ambrosiana de Milã o, o Padre Roncalli chamou a atençã o de seu bibliotecá rio, Achille Ratti, o futuro Pio XI (1922-39
) Foi Ratti, depois de ser eleito papa, quem lançou Angelo Roncalli na carreira diplomá tica na Igreja, nomeando-o
arcebispo titular de Areó polis e visitante apostó lico (1925) e depois delegado apostó lico (1931) na Bulgá ria e
delegado apostó lico na Turquia e Gré cia ( 1934). Na Turquia, ele estabeleceu relaçõ es amigá veis nã o apenas com o
governo, mas també m com as igrejas ortodoxas. Durante a ocupaçã o alemã da Gré cia (1941-44), ele fez o que pô de
para aliviar a a liçã o do povo e, em particular, para evitar a deportaçã o de judeus. Ele foi nomeado nú ncio na França
em 22 de dezembro de 1944, onde lidou com tato com uma sé rie de problemas difı́ceis, incluindo o ressentimento
em relaçã o aos bispos que haviam colaborado com o regime pró -nazista de Vichy (ele convenceu trê s bispos a
renunciar) e os trabalhadores movimento sacerdotal (que ele apoiou). Ele també m serviu, enquanto nú ncio na
França, como o primeiro observador permanente do Vaticano na Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Educaçã o, a
Ciê ncia e a Cultura (UNESCO) por dezenove meses em 1951 e 1952. Em 1953 foi nomeado cardeal com o tı́tulo de
Santa Prisca e o patriarca de Veneza, onde, alé m de suas funçõ es pastorais, completou o quinto e ú ltimo volume de
sua coleçã o de documentos de Sã o Carlos Borromeu.
Apó s a morte de Pio XII, havia cinquenta e um cardeais que se reuniram para o conclave que elegeria um sucessor,
dos quais dezoito eram italianos. (Os cardeais Mindszenty da Hungria e Stepinac da Iugoslá via nã o eram livres para
deixar seus paı́ses controlados pelos comunistas, e o cardeal Mooney de Detroit morreu repentinamente pouco
antes do inı́cio do conclave em 25 de outubro.) Embora apenas um mê s antes de seu septuagé simo sé timo
aniversá rio , o afá vel e jovial cardeal Roncalli foi considerado por muitos o candidato mais prová vel a ser eleito. Ele
també m reconheceu a possibilidade. (A inal, havia vinte e quatro cardeais no conclave mais velhos do que o pró prio
Roncalli.) Apesar de suas origens humildes, Roncalli tinha ampla experiê ncia diplomá tica, era altamente culto e era
pro iciente em francê s, bú lgaro, russo, turco e grego moderno. Os cardeais (mais uma vez!) Procuravam algué m
diferente do papa morto, a quem consideravam indiferente e autocrá tico. Em seu discurso formal em nome de todos
os cardeais, pouco antes do inı́cio do conclave, o cardeal Antonio Bacci disse que a Igreja precisava de "um papa
dotado de grande força espiritual e ardente caridade", um homem que possa "abraçar o Oriente e o Igreja Ocidental
", um homem que" pertencerá a todos os povos ", especialmente aqueles que vivem sob opressã o ou na pobreza, um
homem capaz de construir" uma ponte entre todos os nı́veis da sociedade, entre todas as naçõ es - mesmo aqueles
que rejeitam e perseguem o cristã o religiã o." Em outras palavras, algué m diferente de Pio XII.
Embora o segredo do conclave de 1958 tenha sido bem guardado, há pistas a serem lidas em vá rias fontes,
incluindo o Journal of a Soul, publicado postumamente pelo pró prio Joã o XXIII . Ele observou que o conclave oscilou
para frente e para trá s ao longo de trê s dias e que ele "se alegrou quando vi as chances de eu ser eleito diminuir e a
probabilidade de outras pessoas, em minha opiniã o, pessoas verdadeiramente mais venerá veis e dignas, serem
escolhidas". Ao inal do primeiro dia, Roncalli tinha vinte votos e o cardeal Gregory Peter Agagianian, um armê nio
que havia trabalhado na Cú ria Romana por muitos anos e era odiado por seus companheiros cató licos de rito
oriental em Roma por nã o ter contato com o catolicismo oriental , tinha dezoito. Dois votos foram dados para um
nã o cardeal, o arcebispo Giovanni Battista Montini de Milã o (o futuro Paulo VI). Diz-se que o pró prio Roncalli deu um
desses votos a Montini. O cardeal Giacomo Lercaro de Bolonha, considerado o candidato mais progressista, tinha
apenas quatro (provavelmente escolhidos pelos cardeais alemã es), assim como o cardeal Valerio Valeri. Em qualquer
caso, os cardeais nã o italianos viam Agagianian como mais romano do que oriental, portanto, mesmo que eles
pudessem estar dispostos a um papa nã o italiano, ele nã o era o homem deles. Joã o XXIII mais tarde admitiu, em uma
palestra trê s meses depois no Colé gio Armê nio em Roma, que seu nome e o de Agagianian "subiam e desciam como
dois grã os-de-bico em á gua fervente". Na hora do almoço do segundo dia, depois de mais duas votaçõ es, o conclave
chegou a um impasse. A essa altura, Lercaro havia dado seus votos a Roncalli. Embora o cardeal Eugene Tisserant
(falecido em 1972), decano do Colé gio de Cardeais e prefeito da Congregaçã o para as Igrejas Orientais, fosse
fortemente a favor de um papa nã o italiano, ele mudou seu apoio de Agagianian para o cardeal Benedetto Masella.
Nesse ponto, Roncalli pode ter caı́do para quinze votos ou algo parecido. Mais duas cé dulas e a fumaça continuava
negra. Nenhum papa foi eleito. No inı́cio do dia seguinte, 28 de outubro, Roncalli tinha trinta e quatro votos, ainda
aqué m dos dois terços necessá rios. O cardeal Ottaviani, temido chefe do Santo Ofı́cio, estava agora do lado de
Roncalli e trouxe consigo uma sé rie de votos que haviam sido dados a Masella. Mas ainda foram necessá rias mais
trê s votaçõ es para levar Roncalli aos trinta e oito votos necessá rios - na dé cima primeira votaçã o.
Ele adotou o nome de Joã o XXIII (també m havia um antipapa com o nome de Joã o XXIII, durante o Grande Cisma
Ocidental do sé culo XV) por uma sé rie de razõ es diferentes: era o nome de seu pai; era o nome da igreja paroquial
onde foi batizado; e era o nome de vá rias catedrais em todo o mundo, incluindo a catedral do pró prio papa, Sã o Joã o
de Latrã o. O novo papa apontou que Joã o era o nome mais freqü entemente usado pelos papas ao longo da histó ria,
e que quase todos tiveram breves ponti icados! Ele també m explicou que amava o nome de Joã o porque era usado
pelos dois homens mais pró ximos de Jesus: Joã o Batista e Joã o Evangelista. Chamava-se Joã o, disse inalmente aos
cardeais, para renovar a exortaçã o do apó stolo Joã o de que nos amemos uns aos outros.
Ele deu sua primeira bê nçã o papal da varanda externa central, ou loggia, da Bası́lica de Sã o Pedro, onde foi
recebido com grande alegria pela multidã o reunida. Pela primeira vez na histó ria, a bê nçã o foi televisionada. Joã o
XXIII foi coroado em 4 de novembro, festa de Sã o Carlos Borromeu. Na missa da coroaçã o, em que ele pró prio
pregou (ao contrá rio da tradiçã o), insistiu que queria ser, acima de tudo, um bom pastor. Mais tarde, quando tomou
posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 23 de novembro, ele lembrou à congregaçã o que
ele nã o era um prı́ncipe cercado por sinais de poder exterior, mas “um padre, um pai, um pastor." Ele provou ser iel
à sua palavra. Naquele Natal, por exemplo, ele reviveu o costume, extinto desde a ocupaçã o de Roma em 1870, de
visitar os presos de Regina Coeli (onde relembrou a prisã o de um de seus pró prios parentes) e os pacientes de um
dos hospitais. Ele també m fez visitas frequentes à s paró quias de sua diocese, bem como outros hospitais, casas de
convalescença para idosos e instituiçõ es educacionais e de caridade. Todos os dias ele celebrava o que entã o era
conhecido como uma missa de diá logo (isto é , com respostas da congregaçã o). Na Quinta-feira Santa, ele lavou os
pé s de membros selecionados da congregaçã o, e na Sexta-feira Santa ele fez a procissã o da cruz. Mais do que
qualquer outro papa desde os primeiros sé culos, ele reconheceu que era, antes de tudo, o bispo de Roma. Seu
exemplo sem dú vida in luenciou Joã o Paulo II (1978–2005), que o levou a nı́veis ainda mais amplos de prá tica.
Em seu primeiro consistó rio (ou assemblé ia) de cardeais, Joã o XXIII aboliu a regra, estabelecida por Sisto V (1585-
1590), limitando o nú mero má ximo de cardeais a setenta e nomeou vinte e trê s novos cardeais para o Colé gio de
Cardeais. Ele també m abandonou as antigas distinçõ es entre cardeais-bispos, cardeais-sacerdotes e cardeais-
diá conos. Doravante, todos os cardeais teriam de ser ou tornar-se bispos. Em 1962, depois de mais quatro
consistó rios, ele aumentou o nú mero total para oitenta e sete (mais trê s cujos nomes nã o foram revelados porque
estavam em naçõ es controladas pelos comunistas), com uma composiçã o mais internacional do que nunca na
histó ria. Em 25 de janeiro de 1959, ele propô s trê s projetos: um sı́nodo diocesano para Roma (seria realizado em
janeiro seguinte na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, mas sem muito sucesso perceptı́vel), uma revisã o do Có digo de
Direito Canô nico (ele criou uma comissã o pontifı́cia para a revisã o do có digo em 1963, mas seu trabalho nã o seria
inalmente concluı́do até 1983 sob Joã o Paulo II), e um concı́lio ecumê nico (Vaticano II, iniciado em outubro de 1962
e concluı́do sob seu sucessor, Paulo VI) . Ele atribuiu a ú ltima ideia a uma inspiraçã o repentina do Espı́rito Santo e se
referiu ao conselho como um "novo Pentecostes".
Joã o XXIII deixou claro em seu discurso de abertura ao concı́lio que nã o havia sido convocado, como os concı́lios
anteriores, para refutar erros e esclarecer pontos de doutrina. “A substâ ncia da antiga doutrina do depó sito da fé é
uma coisa”, disse ele, “e a maneira como é apresentada é outra. E é este ú ltimo que deve ser levado em consideraçã o
com paciê ncia, se necessá rio, sendo tudo medido nas formas e proporçõ es de um magisté rio predominantemente
pastoral ”. Ele reconheceu que a Igreja havia punido com muita severidade os que erraram no passado, mas insistiu
que hoje “a Esposa de Cristo prefere fazer uso do remé dio da misericó rdia ao invé s do da severidade. Ela considera
que atende à s necessidades dos dias atuais, demonstrando a validade de seu ensino, e nã o por meio de condenaçõ es
”. O meio mais e icaz de erradicar a discó rdia e de promover a harmonia, a paz e a unidade, disse ele, é espalhar em
todos os lugares "a plenitude da caridade cristã ". O discurso de abertura, um dos pronunciamentos mais importantes
em todo o seu ponti icado, colocou Joã o XXIII em oposiçã o direta à s iguras proeminentes da Cú ria Romana que
sustentavam uma visã o mais autoritá ria, defensiva e punitiva da Igreja. “No exercı́cio diá rio de nosso ofı́cio”,
observou ele, “à s vezes temos que ouvir, com grande pesar, vozes de pessoas que, embora ardendo em zelo, nã o sã o
dotadas de muito senso de discriçã o ou medida. Nestes tempos modernos, eles nã o podem ver nada alé m de
prevaricaçã o e ruı́na. Dizem que a nossa era, em comparaçã o com outras eras, está piorando e se comportam como
se nada tivessem aprendido com a histó ria, que é , no entanto, a mestra da vida. Eles se comportam como se na é poca
dos concı́lios anteriores tudo fosse um triunfo completo para a idé ia e a vida cristã e para a liberdade religiosa
adequada. Sentimos que devemos discordar daqueles profetas das trevas, que estã o sempre prevendo desastres,
como se o im do mundo estivesse pró ximo. Na ordem atual das coisas, a Providê ncia Divina está nos conduzindo a
uma nova ordem das relaçõ es humanas que, por nossos pró prios esforços e mesmo alé m de nossas pró prias
expectativas, se dirigem ao cumprimento dos desı́gnios superiores e inescrutá veis de Deus. E tudo, mesmo as
diferenças humanas, conduzem ao bem maior da Igreja ”. Em uma palavra italiana, que ele mesmo nos deu, o
propó sito do conselho era o aggiornamento , uma atualizaçã o da Igreja. A metá fora que ele empregou foi a de uma
janela fechada repentinamente aberta "para deixar entrar um pouco de ar fresco". Nã o nascemos para ser
"guardiã es de museus", disse ele uma vez, "mas para cultivar um pró spero jardim da vida".
Observadores o iciais de dezoito igrejas cristã s nã o cató licas estiveram presentes a convite na abertura do concı́lio.
Embora o pró prio papa nã o tenha participado das sessõ es, ele interveio decisivamente em 21 de novembro de 1962,
para determinar que um documento teologicamente rı́gido sobre a revelaçã o, rejeitado por mais da metade do
concı́lio, mas sem os necessá rios dois terços dos votos, deveria ser redigido por uma nova comissã o mista de bispos.
Ele suspendeu a primeira sessã o do conselho em 8 de dezembro, mas nunca viveria para ver a abertura da segunda
sessã o em setembro seguinte. Ele já estava sofrendo de um câ ncer terminal no estô mago, diagnosticado
originalmente em 23 de setembro de 1962. Ele disse a um amigo: “Pelo menos eu lancei este grande navio - outros
terã o que trazê -lo para o porto”.
Suas encı́clicas re letiam o tom pastoral e ecumê nico de seu ponti icado. Ad Petri Cathedram (lat., “Para a Cá tedra
de Pedro,” 29 de junho de 1959), sobre os temas da verdade, unidade e paz, saudou os nã o cató licos como “irmã os
separados”. Mater et magistra (“Mã e e professora”, 15 de maio de 1961), lançado no septuagé simo aniversá rio da
revolucioná ria encı́clica social de Leã o XIII, Rerum novarum (1891), atualizou o ensino social cató lico sobre a
propriedade, os direitos dos trabalhadores e as obrigaçõ es do governo. Ela atingiu um equilı́brio entre os princı́pios
da subsidiariedade (ou seja, nada deve ser feito por uma agê ncia superior que possa ser feito tã o bem, se nã o
melhor, por uma agê ncia inferior) e a socializaçã o (ou seja, “a crescente interdependê ncia dos cidadã os na sociedade
”Exigindo agê ncias superiores, especialmente governamentais, para atender à s necessidades que de outra forma nã o
poderiam ser atendidas por agê ncias inferiores ou voluntá rias). As ideias da encı́clica eram tã o progressistas que um
proeminente escritor conservador cató lico americano replicou: “ Mater, si! Magistra, não! ”(“ Mã e, sim! Professora,
nã o! ”). Pacem in terris (“Paz na Terra”, 11 de abril de 1963), publicada menos de dois meses antes de sua morte,
insistia que o reconhecimento dos direitos e responsabilidades humanos é a base da paz mundial. Muitos viram essa
encı́clica e outros gestos contemporâ neos (por exemplo, receber em audiê ncia o genro do primeiro-ministro
sovié tico Nikita Khrushchev) como sinais de que o papa nutria a esperança de uma eventual reconciliaçã o entre o
Ocidente e o Oriente comunista. Antes, durante a crise dos mı́sseis cubanos, em 25 de outubro de 1962, ele havia
transmitido uma mensagem pela Rá dio Vaticano aos chefes de Estado, pedindo a ambos os lados que tivessem
cautela. No dia seguinte, o jornal sovié tico Pravda publicou uma citaçã o do endereço em uma manchete: “Imploramos
a todos os governantes que nã o sejam surdos ao clamor da humanidade”. Já foi dito que o apelo de Joã o XXIII
possibilitou a Khrushchev recuar sem perder prestı́gio. O evento també m encorajou o papa a escrever sua cé lebre
encı́clica sobre a paz, Pacem in terris , publicada na primavera seguinte. Recebeu o Prê mio da Paz da Fundaçã o
Balzan Internacional em 1962, com a concordâ ncia dos quatro membros sovié ticos do conselho geral da fundaçã o e,
portanto, com a aprovaçã o do pró prio Nikita Khrushchev. Em 1963, apó s sua morte, ele foi premiado com a Medalha
Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos.
Nenhum papa na histó ria foi tã o comprometido com a unidade cristã como Joã o XXIII. Em 5 de junho de 1960, ele
estabeleceu o Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos Cristã os, com o venerá vel estudioso da Bı́blia, Cardeal
Augustin Bea (falecido em 1968) como seu primeiro presidente. Ele recebeu formalmente o Arcebispo de
Canterbury, Geoffrey Fisher, em 20 de dezembro de 1960 (o primeiro primaz anglicano a ser assim recebido). Ele
també m enviou dois enviados a Istambul (antiga Constantinopla) para transmitir suas saudaçõ es ao Patriarca
Ecumê nico Atená goras I em 27 de junho de 1961, e trocou saudaçõ es com o Patriarca Alexis de Moscou. Em
novembro de 1961, cinco observadores cató licos o iciais compareceram, com a aprovaçã o do papa, ao Conselho
Mundial de Igrejas, reunido em Nova Delhi. No que diz respeito aos judeus, a quem ele havia ajudado durante a
Segunda Guerra Mundial enquanto um diplomata na Gré cia, ele removeu a ofensiva "pé r ida" da oraçã o pelos judeus
na liturgia da Sexta-feira Santa, e em uma ocasiã o saudou um grupo de visitantes judeus com as palavras, "Eu sou
Joseph, seu irmã o."
Joã o XXIII fez sua ú ltima apariçã o pú blica da janela de seu apartamento na quinta-feira da Ascensã o, 23 de maio
de 1963. Ao meio-dia entoou a oraçã o Regina Coeli (Rainha dos Cé us) com voz ainda musical e forte. Os aplausos da
multidã o na Praça de Sã o Pedro foram tã o fortes que ele quase foi impedido de dar sua bê nçã o. Os dias seguintes
foram cheios de dor, mas o papa permaneceu consciente e comunicativo, fazendo declaraçõ es que foram
transmitidas ao redor do mundo, atraindo a comunidade humana global para uma solidariedade sem precedentes.
Ele orou pelo conselho e pela unidade - nã o apenas da Igreja, mas de toda a humanidade. “Nã o é que o evangelho
tenha mudado”, disse ele, “é que começamos a entendê -lo melhor”. Quando Joã o XXIII morreu na noite de 3 de junho
de 1963, o mundo inteiro reagiu com profunda dor, tã o profundamente ele tocou o coraçã o de toda a comunidade
humana. Até a Union Jack foi reduzida a meio mastro na cidade terrivelmente dividida de Belfast. Joã o XXIII foi
sepultado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro, onde uma guia turı́stica italiana disse certa vez sua festa: “Este é o
tú mulo do Papa Joã o XXIII, o papa mais amado de toda a histó ria”. E entã o ele foi o papa mais amado da histó ria. Na
Igreja primitiva, ele teria sido imediatamente proclamado santo por demanda popular. E entã o ele era um santo.
260 Paulo VI, 1897–1978, papa de 21 de junho de 1963 a 6 de agosto de 1978.
Paulo VI deu continuidade ao Concı́lio Vaticano II iniciado por Joã o XXIII e se tornou o primeiro papa a viajar ao
redor do globo de aviã o. Embora progressista na teologia e no pensamento social, seu ponti icado foi marcado pela
malfadada encı́clica Humanae vitae , que condenava a contracepçã o.
Nascido Giovanni Battista Montini, ilho de um advogado e polı́tico bem-sucedido, ele foi ordenado em 1920
depois de fazer seus cursos de seminá rio em casa devido a problemas de saú de. Apó s a pó s-graduaçã o em Roma,
serviu desde 1922 na Secretaria de Estado, com um breve perı́o do como adido na nunciatura de Varsó via (1923) e
contemporaneamente como capelã o do movimento estudantil cató lico (1924-1933). Em 1937 foi nomeado assistente
do secretá rio de Estado, cardeal Eugenio Pacelli (o futuro Pio XII), para assuntos internos da Igreja. Depois que o
primeiro e ú nico secretá rio de Estado de Pio XII, o cardeal Luigi Maglione, morreu em 1944, Monsenhor Montini foi
colocado como encarregado dos assuntos internos da Igreja. Ele foi o grande responsá vel pela organizaçã o do Ano
Santo de 1950 e do Ano Mariano de 1954. Foi promovido a pró -secretá rio de Estado em 1952 (Pio XII atuou como
seu pró prio secretá rio de Estado apó s 1944), apó s recusar sua nomeaçã o para o Colé gio de Cardeais.
Em meio a rumores de que de alguma forma havia caı́do em desgraça em Roma, Monsenhor Montini foi nomeado
arcebispo de Milã o em novembro de 1954. (Os rumores ganharam cré dito pela longa demora entre sua nomeaçã o
para Milã o e a concessã o do chapé u vermelho do cardeal .) Ele se autodenominou “o arcebispo operá rio” e se
dedicou a enfrentar os numerosos problemas pastorais, sociais e industriais de Milã o. Foi nomeado cardeal com o
tı́tulo de Santi Silvestro e Martino ai Monti por Joã o XXIII em 15 de dezembro de 1958. Seu nome estava no topo da
lista de vinte e trê s novos cardeais. O cardeal Montini fez sua segunda visita aos Estados Unidos em 1960 (a primeira
foi em 1951), onde recebeu um tı́tulo honorá rio, ao lado do presidente Dwight D. Eisenhower, da Universidade de
Notre Dame. Embora ele tenha falado apenas duas vezes na primeira sessã o do Concı́lio Vaticano II (outono de
1962), o cardeal Montini foi um de seus lı́deres nos bastidores.
Joã o XXIII morreu em 3 de junho de 1963. O conclave para eleger seu sucessor seria o maior da histó ria. Oitenta e
um cardeais podiam votar, desde que pudessem chegar a Roma. Cinquenta e sete eram europeus (dos quais 29 eram
italianos). Doze cardeais eram da Amé rica Latina, sete da Amé rica do Norte, trê s da Asia, dois da Oceania e um
solitá rio da Africa. Os cardeais dividiram-se em dois grupos: os que queriam mudar o curso progressivo do concı́lio
e os que queriam que o projeto de Joã o XXIII fosse levado a bom termo. O candidato deste ú ltimo grupo era
claramente o cardeal Montini, com algum apoio també m para o cardeal Giacomo Lercaro de Bolonha. O porta-voz
pú blico do primeiro grupo era o cardeal espanhol Arcadio Larraona, amigo do ditador fascista Generalı́ssimo
Francisco Franco (m. 1975) e campeã o romano do Opus Dei, um movimento secreto de direita que se opõ e a todas
as iniciativas progressistas do conselho . O candidato desse grupo era o cardeal Giuseppe Siri, de Gê nova, criado
cardeal aos quarenta e cinco anos por Pio XII. Embora tenha apoiado a eleiçã o de Joã o XXIII em 1958, ele agora
considerava seu ponti icado um desastre, dizendo que levaria quatro sé culos para a Igreja se recuperar dele.
Mas os conservadores exageraram no inı́cio. O discurso tradicional sobre a eleiçã o de um novo papa, dado por um
cardeal pouco antes do conclave, deveria fornecer uma descriçã o do trabalho do novo papa. Amleto Tondini, um
latinista cujo tı́tulo o icial era Secretá rio de Resumos Latinos, atacou Joã o XXIII em seu discurso. Ele lançou dú vidas
sobre os aplausos entusiá sticos que Joã o XXIII havia recebido de todo o mundo. Ele veio, ele perguntou, "de pessoas
que eram verdadeiros crentes que aceitaram todos os ensinamentos dogmá ticos e morais da Igreja?" Ele zombou do
otimismo do papa morto e ofereceu uma visã o sombria e apocalı́ptica do mundo, conclamando os cardeais a
"a irmar sem incertezas os sagrados dogmas da fé cató lica, refutar os erros contrá rios ao dogma, defender
abertamente aqueles que sofrem perseguiçã o por por uma questã o de justiça. ” Ele deu a entender que o novo papa
deveria suspender o concı́lio até que as questõ es amadurecessem. Ao atacar Joã o XXIII, é claro, Tondini e seus
aliados conservadores estavam realmente atacando Montini. Mas no Siri eles nã o tinham uma alternativa con iá vel.
Entã o Siri mudou seu apoio ao cardeal Ildebrando Antoniutti, prefeito da Congregaçã o dos Religiosos. Os
conservadores nã o esperavam realmente que Antoniutti vencesse, mas esperavam bloquear Montini dos dois terços
necessá rios para a eleiçã o.
As duas primeiras votaçõ es na manhã de 20 de junho sugeriram que a estraté gia poderia dar certo. Montini
recebeu cerca de trinta votos, enquanto Antoniutti estava na faixa dos vinte. Lercaro també m tinha cerca de vinte. Os
dez restantes foram espalhados entre vá rios candidatos. O azarã o da Cú ria, o cardeal Francesco Roberti, teve o
su iciente para marcá -lo como um possı́vel candidato de compromisso se Antoniutti vacilasse. O cardeal Leo Josef
Suenens, de Malines-Bruxelas, Bé lgica, um dos lı́deres do conselho, pediu aos apoiadores de Lercaro que mudassem
para Montini. Mas a terceira votaçã o foi tã o inconclusiva quanto as duas primeiras. Entã o aconteceu algo tã o notá vel
e memorá vel que o segredo tradicional do conclave foi posteriormente quebrado para contar a histó ria. O cardeal
Gustavo Testa, chefe da Congregaçã o para as Igrejas Orientais e um homem que Joã o XXIII fez cardeal em 1959,
estava sentado entre o cardeal Carlo Confalonieri e o cardeal Albert Di Jorio. De repente, ele perdeu a paciê ncia. Ele
disse a seus dois vizinhos em voz alta o su iciente para que outros ouvissem que deveriam parar com suas manobras
desonrosas e pensar no bem da Igreja. O cardeal Siri "bateu no teto". Testa, acusou ele, quebrou as regras. Nã o
deveria haver discussã o na Capela Sistina.
Apó s a “intervençã o” de Testa, a quarta votaçã o foi realizada. Montini obteve mais alguns votos, mas ainda estava
substancialmente aqué m dos cinquenta e quatro mais um necessá rios para a eleiçã o (Pio XII havia mudado a regra
de longa data de dois terços para dois terços mais um). A essa altura, alguns dos cardeais da Cú ria haviam admitido
seu pró prio fracasso em apresentar uma candidatura alternativa con iá vel e concluı́ram que deveriam apoiar
Montini. Até o velho cã o de guarda da ortodoxia, o cardeal Ottaviani, gostava de Montini pessoalmente e
provavelmente aceitou o argumento pragmá tico. O cardeal Siri, entretanto, rejeitou e pediu que Antoniutti fosse
dispensado em favor do cardeal Roberti. Na manhã seguinte, 21 de junho, apó s uma quinta votaçã o indecisa,
Montini, aos 65 anos, inalmente obteve a maioria de dois terços necessá ria para a eleiçã o: cinquenta e sete na sexta
votaçã o, ou dois a mais do que o necessá rio. E signi icativo que cerca de vinte e dois a vinte e cinco cardeais
(principalmente italianos e principalmente na Cú ria) se recusaram a votar em Montini, mesmo quando sua eleiçã o
estava assegurada.
O papa recé m-eleito escolheu o nome Paulo VI como um sinal de que ele queria alcançar os gentios modernos
(isto é , o mundo inteiro), como o apó stolo Paulo havia feito. Mas seu modelo como papa nã o seria Joã o XXIII; seria
Pio XII, com quem tanto trabalhara na Secretaria de Estado. Na verdade, quando alguns dos padres conciliares,
incluindo o in luente cardeal Suenens, propuseram que Joã o XXIII fosse proclamado santo pelo concı́lio, Paulo VI
resistiu à idé ia, para que tal açã o nã o re letisse mal em Pio XII. Em novembro de 1965, com imparcialidade
caracterı́stica, Paulo VI anunciou o inı́cio de procedimentos que olham para a beati icaçã o e canonizaçã o de ambos
John XXIII e Pio XII. Paulo VI foi coroado em 30 de junho de 1963, proferindo uma alocuçã o em nove lı́nguas. Ele foi
o ú ltimo papa a ser coroado. Mais tarde, ele vendeu a tiara ao cardeal Francis Spellman (falecido em 1967), de Nova
York, e distribuiu o dinheiro aos pobres em vá rios paı́ses. (A tiara está agora em exibiçã o na Bası́lica do Santuá rio
Nacional da Imaculada Conceiçã o em Washington, DC) Depois disso, ele usou apenas a mitra do bispo habitual como
cocar cerimonial. O novo papa tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 10 de
novembro.
Nove anos depois de sua eleiçã o, Paulo VI escreveu: “Talvez o Senhor me chamou para este serviço, nã o porque eu
tenha aptidã o para isso, ou para que eu possa governar e salvar a Igreja em suas di iculdades atuais, mas para que
eu possa sofrer algo por a Igreja para que ique claro que é o Senhor, e nã o ningué m mais, que a guia e salva ”. A
abordagem de Paulo VI para sua eleiçã o contrastou com a de um de seus sucessores, Joã o Paulo II, que considerou
sua eleiçã o um sinal da mã o providencial de Deus nã o apenas sobre a Igreja, mas també m sobre a Polô nia e toda a
Europa e o mundo.
Paulo VI anunciou imediatamente que continuaria o conselho (abriu a segunda sessã o em 29 de setembro), levaria
adiante a revisã o do Có digo de Direito Canô nico e trabalharia pela promoçã o da paz e da justiça na ordem temporal
e pela unidade dos a famı́lia cristã de igrejas. Ele admitiu leigos como auditores do conselho (as mulheres seriam
convidadas no ano seguinte) e convidou as vá rias igrejas cristã s nã o cató licas a enviarem mais observadores. Em 4
de janeiro de 1964, fez uma viagem de aviã o sem precedentes à Terra Santa, onde se encontrou com o patriarca
ecumê nico Atená goras I em Jerusalé m. Em 6 de setembro, ele anunciou que mulheres leigas e religiosas seriam
convidadas para o conselho como auditores. A terceira sessã o, no entanto, terminou com muitos dos lı́deres do
conselho desmoralizados. O concı́lio aprovou a Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja ( Lumen gentium ), que
continha a doutrina da colegialidade, ou seja, o princı́pio de que os bispos participam do governo da Igreja universal
em colaboraçã o com o papa. Os conservadores se opunham veementemente a essa doutrina, argumentando que ela
contradizia a estrutura divinamente estabelecida da Igreja, na qual o papa é o sucessor de Pedro e, por esse fato, o
cabeça incontestá vel da Igreja. Em um esforço para apaziguar os conservadores, Paulo VI autorizou o acré scimo de
um apê ndice ao texto (tecnicamente, uma nota praevia; lat., “Nota introdutó ria”) assegurando aos conservadores que
nada no documento diminuı́a ou de alguma forma comprometia o supremo. autoridade do papa. O Papa també m
proclamou, por conta pró pria e contra o melhor julgamento da maioria dos bispos, que a Bem-Aventurada Virgem
Maria é a Mã e da Igreja.
Durante o recesso, Paulo VI voou para Bombaim para o Congresso Eucarı́stico Internacional (2 a 5 de dezembro
de 1964). Durante a quarta sessã o, ele voou para Nova York (4 de outubro de 1965) para implorar pela paz nas
Naçõ es Unidas. O discurso, feito em francê s, continha as palavras poderosas, “ Jamais plus la guerre! Jamais plus la
guerre! ”(“ Guerra nunca mais! ”). Antes da missa conciliar em 7 de dezembro de 1965, foi lida uma declaraçã o
conjunta do papa e do patriarca Atená goras deplorando os aná temas mú tuos lançados nas igrejas uns dos outros
em Constantinopla em 1054 e o cisma que resultou. No dia seguinte, Paulo VI con irmou solenemente todos os
decretos do Concı́lio e proclamou um Jubileu extraordiná rio (1 de janeiro a 29 de maio de 1966) para re lexã o e
renovaçã o à luz do Concı́lio.
A difı́cil tarefa de implementar esses decretos agora enfrentava o papa. Embora muitos tenham icado
descontentes com as mudanças, Paulo VI nã o as atenuou. Ele estabeleceu vá rias comissõ es pó s-conciliares e
autorizou o uso do verná culo na missa e nos sacramentos. Uma nova Ordem da Missa entrou em vigor com sua
aprovaçã o em 1969, para grande desgosto dos cató licos conservadores que erroneamente acreditavam que o Missal
de Pio V (1566-1572) nunca poderia ser suplantado, como se fosse de alguma forma divinamente mandatado para
todos Tempo. Ele també m aprovou uma nova Liturgia das Horas (Ofı́cio Divino, ou Breviá rio), novas traduçõ es e
revisõ es de outros textos litú rgicos e rituais, e restaurou o diaconato permanente no Rito Romano. Ele reduziu o
jejum eucarı́stico para uma hora antes da recepçã o da Sagrada Comunhã o. Ele reorganizou a Cú ria Romana e
con irmou como secretariados permanentes o Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos Cristã os, o
Secretariado para as Religiõ es Nã o Cristã s e o Secretariado para os Nã o Crentes. Ele teve um encontro o icial em
Roma com o Arcebispo de Canterbury, Michael Ramsey, em 24 de março de 1966, e com o Patriarca Ecumê nico
Atená goras I em Istambul em 25 de julho de 1967, e novamente em Roma em 26 de outubro de 1967. A im de
render permanente a estrutura do conselho, ele decretou em 15 de setembro de 1965, que sı́nodos mundiais de
bispos deveriam se reunir em Roma em intervalos regulares para tratar de questõ es pastorais de grande interesse
para a Igreja universal, como o sacerdó cio, a catequese e a famı́lia, e oferecer oportunidades de colaboraçã o entre os
bispos do mundo e o Bispo de Roma. (O Có digo de Direito Canô nico revisado de 1983 prevê a estrutura,
responsabilidades e poderes do sı́nodo nos câ nones 342-48.)
As encı́clicas de Paulo VI eram poucas e mescladas. Seu primeiro em 1964, Ecclesiam Suam (lat., "Sua Igreja"),
destacou que a Igreja deve estar sempre pronta para corrigir seus pró prios defeitos por meio da reforma e que
deve ser marcada pelo espı́rito e pela prá tica do diá logo: entre todos os cató licos , com outras igrejas cristã s, com
religiõ es nã o-cristã s e com a comunidade humana em geral. No ano seguinte, poré m, ele lançou uma encı́clica
conservadora, Mysterium idei (“Misté rio da fé ”), na qual rea irmou o ensino neo-escolar tradicional sobre a
presença real de Cristo na Eucaristia contra algumas novas interpretaçõ es, baseadas em uma visã o de mundo
ilosó ica diferente, que havia sido proposta por certos teó logos holandeses e outros. Em 1967 publicou a Populorum
progressio (“Sobre o progresso dos povos”), que destacava e deplorava a distâ ncia entre as naçõ es ricas e pobres e
lembrava aos leitores que os bens da terra sã o destinados por Deus para todos. O “novo nome para a paz”, disse ele,
“é desenvolvimento”. Mas trê s meses depois ele emitiu Sacerdotalis caelibatus (“celibato sacerdotal”), rea irmando a
tradiçã o do celibato obrigató rio para padres cató licos romanos. No mê s de junho seguinte, ele emitiu um Credo do
Povo de Deus de orientaçã o tradicional e, no mê s seguinte, a fatı́dica encı́clica sobre o controle da natalidade,
Humanae vitae ("Da vida humana"), que declarou que todo ato sexual dentro do casamento deve esteja aberto à
transmissã o da vida. Em outras palavras, nã o pode haver meios arti iciais de contracepçã o. A encı́clica criou uma
tempestade de protestos em todo o mundo, mas especialmente na Amé rica do Norte e na Europa. Muitos estavam
cientes das descobertas e recomendaçõ es da Comissã o Papal de Controle de Natalidade em 1966; a saber, que o
papa deve mudar o ensino, reconhecendo que nosso entendimento da lei natural amadureceu. Havia uma
expectativa generalizada, portanto, de que o papa aceitaria essa recomendaçã o e modi icaria o ensino tradicional.
Quando ele nã o o fez, houve um profundo choque e decepçã o. Algumas açõ es punitivas foram tomadas contra
dissidentes pú blicos, mas a maioria discordou discretamente e na privacidade de suas pró prias casas. Pesquisa apó s
pesquisa mostrou, desde o inı́cio, que mais de 80% dos casais cató licos ignoraram a encı́clica. A reaçã o de Paulo VI
icou tã o abalado que jurou nunca mais publicar uma encı́clica, e nã o o fez.
Haveria outros documentos papais, entretanto, mesmo que nã o fossem chamados de encı́clicas. Dois dos mais
importantes foram Octogesima adveniens (conhecido pelo tı́tulo em inglê s como “A Call to Action”), lançado em 1971
por ocasiã o do octogé simo aniversá rio da encı́clica social Rerum novarum de Leã o XIII (1891), e Evangelii nuntiandi
(“On Evangelizaçã o no mundo moderno ”), publicada em 1975, por ocasiã o do im de um Ano Santo, o dé cimo
aniversá rio do encerramento do Vaticano II e o aniversá rio da Terceira Assembleia Geral do Sı́nodo dos Bispos, que
tinha focado sobre evangelizaçã o. Alguns consideram este ú ltimo documento o melhor de seu ponti icado.
Relacionava o processo de evangelizaçã o (literalmente, a proclamaçã o do evangelho) à preocupaçã o permanente da
Igreja com as questõ es de justiça social, direitos humanos e paz. A evangelizaçã o, escreveu Paulo VI, proclama a
vinda do reino de Deus como forma de libertaçã o “do pecado e do Mal”, mas també m de toda forma de opressã o
econô mica, social e polı́tica. Embora seja da essê ncia da missã o da Igreja evangelizar, ela deve começar “sendo ela
pró pria evangelizada”.
Embora a encı́clica do controle da natalidade tenha lançado uma sombra sobre seu ponti icado, Paulo VI
empreendeu muitas outras iniciativas pastorais antes e depois do lançamento da encı́clica. Ele viajou para Portugal e
Turquia (1967), para Bogotá , Colô mbia (1968), para Genebra (para discursar no Conselho Mundial de Igrejas) e
para Uganda (1969), e para a Asia, ilhas do Pacı́ ico e Austrá lia (1970). Durante esta ú ltima peregrinaçã o, ele
escapou de uma tentativa de assassinato em Manila. Em 1968, ele instituiu a celebraçã o anual do Dia Mundial da Paz
em 1º de janeiro. Elevou Santa Teresa de Avila (m. 1582) e Santa Catarina de Sena (falecida em 1380) ao status de
Doutores da Igreja, o primeiro mulheres para serem reconhecidas e canonizadas oitenta e quatro santos, incluindo
dois americanos: Elizabeth Ann Bayley Seton (falecida em 1821) e John Nepomucene Neumann (falecida em 1860).
Ele ixou a idade de aposentadoria para padres e bispos em setenta e cinco (embora ele pró prio nã o se aposentasse
com essa idade) e decretou que cardeais com mais de oitenta anos nã o deveriam participar dos negó cios da Cú ria
Romana ou nas eleiçõ es papais e que o o nú mero má ximo de cardeais eleitores nã o poderia ultrapassar 120. Ele
convocou e presidiu quatro sı́nodos internacionais de bispos e continuou o exemplo de Joã o XXIII de ampliar e
internacionalizar o Colé gio de Cardeais. Em 1976, tinha 138 membros, dos quais os italianos constituı́am uma
pequena minoria.
No ú ltimo ano de sua vida, Paulo VI foi profundamente abalado pelo sequestro e assassinato de seu amigo Aldo
Moro, ex-primeiro-ministro da Itá lia e proeminente lı́der democrata-cristã o. Sua ú ltima apariçã o pú blica foi para
presidir o funeral de Moro na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o. Ele morreu de ataque cardı́aco em Castel Gandolfo em
6 de agosto de 1978 e foi enterrado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Ele havia planejado seu pró prio funeral e, à
maneira tı́pica italiana, prestou muita atençã o ao gesto ( igura ) e ao sı́mbolo. Seu caixã o icava ao nı́vel do solo,
encimado nã o por uma tiara, nem mesmo por uma mitra ou estola, mas pelo livro aberto dos Evangelhos,
tremulando na brisa leve na Praça de Sã o Pedro.

261 João Paulo I, 1912–78, papa de 26 de agosto a 28 de setembro de 1978.


O primeiro papa a ter um nome duplo, Joã o Paulo I deixou sua marca na histó ria ao ser o primeiro papa em mais de
um milê nio a se recusar a ser coroado com a tiara tripla. Embora tenha sido papa por apenas 33 dias, seu
ponti icado nã o foi o mais curto da histó ria. Houve dez (e possivelmente onze) outros papas que serviram por trinta
e dois dias ou menos, sendo o mais curto Urbano VII, de 15 a 27 de setembro de 1590, um ponti icado de doze dias.
Nascido Albino Luciani, ilho de pais pobres da classe trabalhadora, foi ordenado em 1935, fez doutorado na
Universidade Gregoriana de Roma e serviu como pá roco em sua paró quia natal, em um vilarejo pró ximo a Belluno.
Em 1937 foi nomeado vice-reitor e membro do corpo docente de seu seminá rio diocesano e atuou també m como
vigá rio geral de sua diocese. Em 1958 foi nomeado bispo de Vittorio Veneto e ordenado pelo pró prio Joã o XXIII na
Bası́lica de Sã o Pedro. Onze anos depois, foi nomeado patriarca de Veneza por Paulo VI. Ele participou do Concı́lio
Vaticano II (1962-65) sem desempenhar um papel de liderança nele. Em 1973, foi nomeado cardeal com o tı́tulo de
San Marco (a quem é dedicada a catedral de Veneza). Durante seus nove anos em Veneza, ele hospedou cinco
conferê ncias ecumê nicas, incluindo uma reuniã o da Comissã o Internacional Cató lica Anglicana Romana (ARCIC), que
produziu uma Declaraçã o Acordada sobre a autoridade em 1976. Ele també m publicou uma sé rie de cartas
caprichosas, intitulada Illustrissimi , a vá rios personagens reais e ictı́cios para trazer vá rios pontos catequé ticos. Ele
serviu como vice-presidente da Conferê ncia Episcopal Italiana de 1972 a 1975. Ele era geralmente conservador em
teologia (ele defendeu fortemente a polê mica encı́clica de Paulo VI sobre controle de natalidade, Humanae vitae ),
mas era sensı́vel aos pobres e à s questõ es sociais. Este ú ltimo traço o recomendaria mais tarde aos cardeais do
Terceiro Mundo no pró ximo conclave papal.
Apó s a morte de Paulo VI em 6 de agosto de 1978, e apó s o tradicional perı́o do de luto de nove dias, 111 cardeais
entraram no conclave para eleger um sucessor - o maior nú mero de eleitores da histó ria. O conclave começaria - e
terminaria - no sá bado, 26 de agosto. Na primeira votaçã o, o cardeal Luciani e o cardeal Siri, de Gê nova, um lı́der
ultraconservador e candidato perene, receberam quase o mesmo nú mero de votos. Siri, com vinte e cinco votos, teve
um pouco mais que Luciani. Outros votos foram recebidos pelos Cardeais Pignedoli (menos de vinte), Baggio, Koenig
(de Viena), Bertoli, Pironio e um casal para Felici e Aloı́sio Lorscheider (de Fortaleza, Brasil, e presidente da
Conferê ncia Latino-Americana de Bispos), em quem o pró prio Luciani admitiu ter votado. A segunda votaçã o foi
realizada imediatamente apó s o anú ncio dos resultados. Desta vez, Luciani obteve trinta votos, para um total de
cinquenta e cinco. Muitos de seus novos votos vieram de pessoas no meio do caminho que haviam entrado no
conclave sem saber ao certo como depositar seus votos. Quando viram a surpreendente força de Luciani no
primeiro escrutı́nio, moveram-se naturalmente para ele. Siri permaneceu com vinte e cinco. (Um relató rio diz que seu
voto foi a zero quando seus apoiadores, por plano anterior, mudaram seus votos para Luciani.) Pignedoli caiu para
quinze, e Lorscheider subiu para doze. Na terceira votaçã o, alguns dos apoiadores de Pignedoli e Siri mudaram para
Luciani, mas ele ainda estava a cinco ou seis votos da necessá ria maioria de dois terços mais um. Na quarta e ú ltima
votaçã o, Luciani recebeu cerca de noventa votos, houve um voto para Lorscheider (de Luciani!), E vinte votos em
branco lançados por partidá rios intransigentes do Siri. No conclave anterior, que elegeu o cardeal Montini como
Paulo VI, o cardeal Suenens, da Bé lgica, atuou como o grande eleitor, ou “fazedor de reis”. Nesse conclave, esse papel
parece ter sido desempenhado pelo cardeal Giovanni Benelli de Florença e pelo cardeal Lorscheider, com Suenens
desempenhando um papel coadjuvante. Era evidente, em qualquer caso, que os cardeais queriam um papa pastoral,
algué m nã o ligado à Cú ria Romana e algué m (de novo!) Diferente em estilo do papa anterior.
O novo papa escolheu um nome duplo, Joã o Paulo (o primeiro papa a fazê -lo na histó ria). Ele o fez, disse ele, para
homenagear o papa (Joã o XXIII) que o ordenou bispo e que o precedeu como patriarca de Veneza e o papa (Paulo
VI) que o nomeou cardeal. “Esteja certo disso”, ressaltou ele no dia seguinte, antes de sua bê nçã o papal dominical,
“nã o tenho a sabedoria de coraçã o do Papa Joã o. Nã o tenho a preparaçã o e a cultura do Papa Paulo ”. Em seu
discurso aos cardeais no inı́cio daquela manhã , ele enfatizou duas vezes que a Igreja existe nã o por si mesma, mas
para o serviço do mundo. Por outro lado, ele continuou, a Igreja deve à s vezes se posicionar contra o mundo em um
protesto profé tico. Ele se comprometeu a continuar a implementar o Concı́lio Vaticano II, a revisar o Có digo de
Direito Canô nico para as Igrejas Latinas e Orientais e a promover a evangelizaçã o, o ecumenismo, o diá logo com
todas as pessoas e a paz. O novo papa quebrou uma tradiçã o de mais de mil anos ao se recusar a ser coroado com a
tiara tripla. Em 3 de setembro, ele foi investido com o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço de um
arcebispo como um sı́mbolo de autoridade pastoral) em uma cerimô nia descrita como “a inauguraçã o de seu
ministé rio como pastor supremo”. Ele tomou posse de sua catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 23 de
setembro. (Embora ele també m tivesse abandonado a sedia gestatoria , a cadeira portá til na qual os papas foram
carregados acima da multidã o, ele se permitiu ser carregado para a bası́lica na cadeira porque muitos reclamaram
de nã o poder vê -lo de outra forma.) Essa seria sua ú ltima apariçã o pú blica fora do Vaticano.
No inal da noite de 28 de setembro, Joã o Paulo I morreu de ataque cardı́aco enquanto lia na cama. Sua luz ainda
estava acesa quando seu corpo foi descoberto na manhã seguinte. Rumores sobre a causa de sua morte
proliferaram. Alguns acusaram o papa de ter sido envenenado para impedi-lo de expor irregularidades inanceiras
no Banco do Vaticano. A falta de autó psia (ligada à ideia equivocada de que papas falecidos nã o podem ser
embalsamados) e a falta de veracidade quanto à s circunstâ ncias em que o corpo foi descoberto serviram apenas
para alimentar tais rumores. O Vaticano a irmou que o papa morto foi encontrado por seu padre-secretá rio irlandê s,
John Magee, quando, na verdade, era a irmã Vincenza, sua governanta. A verdade mais prová vel é que o papa
morreu prematuramente, pouco antes de completar sessenta e seis anos, porque precisava de tratamento para
alguns problemas graves de saú de e nã o o procurou ou recebeu. Em todo caso, os romanos gostaram tanto desse
papa humilde e sorridente que reagiram mais emocionalmente à sua morte do que à de Paulo VI, apenas dois meses
antes. Em seu discurso no funeral do papa, o cardeal Carlo Confalonieri disse que Joã o Paulo I havia "disparado
como um meteoro no cé u". Ele foi enterrado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro, do outro lado do corredor de outro
papa com reinado curto, Marcelo II, cujo ponti icado durou apenas 21 dias.

262 João Paulo II, polonês, b. 1920, papa de 16 de outubro de 1978 a 2 de abril de 2005.
O primeiro papa eslavo da histó ria e o primeiro nã o italiano desde Adriano VI (1522-1523), Joã o Paulo II foi o papa
mais viajado da histó ria. Embora comprometido com o Concı́lio Vaticano II (1962-65), do qual participou como
bispo, seu ponti icado foi dedicado à contençã o e até mesmo à repressã o das interpretaçõ es e implementaçõ es
progressistas do concı́lio. Enquanto alguns o caracterizaram como o primeiro papa pó s-moderno, outros
descreveram seu ponti icado como restauracionista, isto é , aquele que buscava restaurar o estilo mais moná rquico
do papado, com toda autoridade efetiva centrada no Vaticano.
Nascido Karol Wojty a em Wadowice, Polô nia, em uma famı́lia de recursos modestos, ele era um estudante
universitá rio, entã o trabalhador braçal, durante a ocupaçã o nazista de sua terra natal. Ele estudou secretamente
para o sacerdó cio durante a Segunda Guerra Mundial e foi ordenado em 1946. Ele obteve seu doutorado em
teologia na Angelicum (Universidade de St. Thomas) em Roma em 1948, escrevendo uma dissertaçã o sobre Sã o Joã o
da Cruz (d . 1591) sob a direçã o de um dos teó logos mais conservadores de Roma, Reginald Garrigou-Lagrange, OP
(m. 1964). Ele serviu como pá roco na Polô nia de 1948 a 1951, depois retornou à Universidade Jagiellonian em
Cracó via para estudar iloso ia, publicando uma tese em 1960 sobre o iló sofo Max Scheler. Durante esses anos, ele
ensinou é tica social no seminá rio local e em 1956 foi nomeado professor de é tica na Universidade de Lublin. Dois
anos depois, foi nomeado bispo auxiliar de Cracó via por Pio XII. Em 30 de dezembro de 1963, Paulo VI o nomeou
arcebispo de Cracó via e, trê s anos e meio depois (26 de junho de 1967), nomeou-o cardeal com o tı́tulo de San
Caesareo al Palatino. O cardeal Wojty a tomou posse de sua igreja titular em Roma em 21 de fevereiro de 1968. Ele
tinha sido um membro relativamente ativo do Concı́lio Vaticano II (1962-65) e serviu em vá rias funçõ es em ó rgã os
pó s-conciliares, incluindo os sı́nodos mundiais de bispos. Apesar do controle comunista da Polô nia, o cardeal Wojtya
pô de viajar livre e freqü entemente ao redor do mundo: para o congresso eucarı́stico na Filadé l ia em 1976, para o
Oriente Mé dio, Africa, sul e leste da Asia e Austrá lia. Em 1976, a convite de Paulo VI, deu o retiro quaresmal ao papa
e à famı́lia papal. Seus discursos foram publicados posteriormente em inglê s em 1979 sob o tı́tulo Sign of
Contradiction . (Ele já havia publicado um livro sobre sexualidade humana em 1960 intitulado Amor e
responsabilidade , que chamou a atençã o de Paulo VI.)
Quando Joã o Paulo I morreu repentinamente em 28 de setembro de 1978, depois de apenas 33 dias como papa,
os cardeais que retornaram rapidamente a Roma, virtualmente em estado de choque, agora procuravam eleger
algué m com vigor fı́sico para suportar as exigê ncias do cargo . A discussã o pú blica antes da abertura do conclave
centrou-se no ultraconservador cardeal Giuseppe Siri, de Gê nova, de setenta e dois anos, provavelmente como
resultado de um esforço bem orquestrado em seu nome na imprensa conservadora italiana. Uma coalizã o de
cardeais de centro, incluindo Leo Josef Suenens (Bé lgica), Bernard Alfrink (Holanda), Franz Koenig (Austria), Narciso
Jubany Arnau (Espanha), Vicente Enrique y Tarancó n (Espanha), François Marty (França), Paulo Evaristo Arns
(Brasil), Aloı́sio Lorscheider (Brasil), e outros, concordaram em apoiar o Cardeal Giovanni Benelli de Florença, com
um apoio de Luciani (Joã o Paulo I) se Benelli vacilasse. Eles estavam pensando em algué m como o cardeal Ugo
Poletti, o vigá rio de Roma. Mas outros membros da coalizã o, especialmente os brasileiros, sentiram que este pode
ser o momento para um nã o italiano e que se Benelli fracassasse, eles deveriam seguir nessa direçã o. Entre os
nomes nã o italianos discutidos estavam Jan Willebrands, da Holanda, chefe do Secretariado para a Promoçã o da
Unidade dos Cristã os, e Karol Wojty a, arcebispo de Cracó via. Koenig, em particular, estava interessado em Wojty a,
e pensava-se que o cardeal John Krol, da Filadé l ia, era capaz de dar votos americanos a ele. Os alemã es també m
apoiavam Wojty a como o ú nico nã o italiano que podiam apoiar. Eles gostaram de sua dureza diante dos
comunistas, de sua inteligê ncia e charme e de seu pragmatismo polı́tico. Achava-se que eles poderiam trazer muitos
dos cardeais do Terceiro Mundo que dependiam dos alemã es para o sustento inanceiro de suas igrejas. O cardeal
Lorscheider també m era fortemente favorá vel ao cardeal polonê s, mas por razõ es diferentes das alemã s. Ele
apreciou os discursos de Wojty a nos sı́nodos mundiais de bispos, sua atençã o à s diferentes culturas e naçõ es, seu
compromisso com a evangelizaçã o e sua sensibilidade para as questõ es de justiça social. Lorscheider, junto com
Koenig, tornou-se um dos grandes eleitores do conclave, instando seus companheiros cardeais do Terceiro Mundo a
apoiarem o cardeal Wojty a. (Ele viria a perceber, alguns anos apó s a eleiçã o, que ele e o cardeal Wojty a realmente
compartilhavam muito menos posiçõ es do que ele pensava na é poca do conclave.) Embora o cardeal Siri de Gê nova
nã o tivesse uma chance realista de ganhar dois -terceiros dos votos mais um, ele destruiu totalmente qualquer
chance que ele teve com uma entrevista in lamada que ele conduziu com a Gazetta del Popolo . Na entrevista, ele
zombou da doutrina do Vaticano II da colegialidade episcopal e falou veementemente contra a democratizaçã o da
Igreja. A entrevista nã o deveria ser publicada antes que os cardeais tivessem sido selados no conclave, mas o
embargo foi quebrado e os cardeais-eleitores perceberam a tempo.
Ao inal da primeira votaçã o, em 15 de outubro, o cardeal Siri estava na frente, mas na dé cada de trinta, muito
aqué m dos cinquenta votos que seus apoiadores esperavam. O cardeal Benelli nã o icou muito atrá s, també m na
dé cada de trinta. Outros italianos tiveram blocos de votos substanciais: Corrado Ursi de Ná poles, Ugo Poletti de
Roma e Giovanni Colombo de Milã o. Wojty a teve cinco votos. Na segunda votaçã o, Siri caiu cerca de seis votos,
enquanto Benelli passou para a liderança, com os votos dos outros candidatos italianos avançando. (Outro relató rio
diz que Siri també m aumentou um pouco seu voto na segunda votaçã o.) Mas os cardeais da Cú ria italiana
mantiveram uma reuniã o tempestuosa, facilmente ouvida por outros cardeais, entre a votaçã o da manhã e da tarde e
concluı́ram que devem fazer todo o possı́vel para prevenir Eleiçã o de Benelli. Eles o consideravam muito dó cil para
com os nã o-italianos (os stranieri , ou estrangeiros) e arrogante e implacá vel nas maneiras. Eles també m se
ressentiram da maneira como ele planejou a eleiçã o do cardeal Luciani (Joã o Paulo I) um mê s antes. Em outras
palavras, havia cardeais italianos su icientes, que nunca aceitariam Benelli, tornando assim impossı́vel para ele
atingir os dois terços necessá rios mais um necessá rio para vencer. E foi exatamente isso o que aconteceu. (Benelli
morreria dois anos depois.)
Na terceira votaçã o, Siri continuou a perder votos, alguns dos quais derivaram para o cardeal Colombo, de Milã o,
de setenta e seis anos, e Benelli atingiu um pico em algum lugar abaixo dos setenta e cinco necessá rios para a
eleiçã o. O cardeal Poletti, vigá rio de Roma e chefe da Conferê ncia Episcopal Italiana, recebeu um bloco de cerca de
trinta votos. Na quarta votaçã o, houve uma onda de votos em favor de Colombo como um compromisso aceitá vel
para todos os italianos. O cardeal Pericle Felici també m teria recebido alguns votos nesta votaçã o. Wojty a teve cerca
de dez votos. Mas Colombo anunciou que, se eleito, nã o aceitaria. Naquela noite, o cardeal Franz Koenig, de Viena, fez
campanha abertamente em nome do cardeal Wojty a com os alemã es, os europeus centrais, os franceses, os
espanhó is e os americanos. (E signi icativo que, em uma entrevista franca concedida no inal de 1996, Koenig, entã o
aposentado como arcebispo de Viena, falou de uma forma altamente crı́tica das polı́ticas e estilo de governo do
ponti icado de Joã o Paulo II.) No dia seguinte, 16 de outubro , Os votos do cardeal Wojty a dobraram na quinta
votaçã o, passando de cerca de dez para cerca de vinte. Poletti continuou a receber apoio e també m houve um
aumento a favor do cardeal Willebrands. Siri e Benelli agora estavam perdendo votos. Ficou claro que um italiano
nã o poderia ser eleito. Na sexta votaçã o, antes do almoço, os votos de Wojty a subiram para cerca de quarenta.
Antes da primeira votaçã o da tarde, Willebrands disse a seus apoiadores que apreciava seus votos, mas achava que
eles deveriam se unir em apoio de Wojty a. Na sé tima votaçã o, o cardeal Wojty a estava pouco aqué m dos dois
terços mais um necessá rios para a eleiçã o. Na oitava votaçã o ele recebeu mais de noventa votos (um relató rio diz
noventa e nove), o su iciente para a eleiçã o, mas ningué m propô s que fosse unâ nime. Um punhado de apoiadores do
Siri votou obstinadamente em seu candidato até o im.
O papa recé m-eleito, aos 58 anos, escolheu o nome de Joã o Paulo II por causa de sua “reverê ncia, amor e devoçã o
a Joã o Paulo II e també m a Paulo VI, que foi minha inspiraçã o, minha força”. Signi icativamente, ele nã o fez referê ncia
a Joã o XXIII, que foi o primeiro papa a quem Joã o Paulo I pretendeu homenagear com seu duplo nome. (Diz-se que
també m considerou tomar o nome de Estanislau, em homenagem ao padroeiro de Cracó via.) Joã o Paulo II, seguindo
o novo exemplo dado por seu predecessor, foi “inaugurado” em seu ministé rio petrino, ao invé s de coroado, em 22
de outubro. Ele estava vestido com o pá lio, a veste de lã usada em volta do pescoço de um arcebispo como um
sı́mbolo de autoridade pastoral. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 12 de
novembro.
Joã o Paulo II via sua eleiçã o para o papado como providencial, uma compensaçã o pelos sofrimentos poloneses
durante o sé culo XIX e depois sob os nazistas e os comunistas no sé culo XX. Ele até viu a tentativa fracassada de
assassinato contra ele em 13 de maio de 1981, como mais um sinal da mã o providencial de Deus em açã o,
mantendo-o seguro para cumprir sua missã o especial. Em sua opiniã o, sua missã o especial era dupla: levar as
percepçõ es e valores da Igreja sofredora do Oriente (especialmente a Polô nia) para as igrejas confortá veis do
Ocidente e pô r im ao que ele e outros cardeais e bispos conservadores consideravam a tendê ncia pó s-conciliar da
Igreja, uma crı́tica contundente a Paulo VI (1963-78). Quando ele nomeou o Sts. Cirilo e Metó dio (falecido em 869,
885) copatrons da Europa em 1985, era para enfatizar que a Igreja deve “respirar com dois pulmõ es”, combinando a
tradiçã o latina da lei e da ordem com a tradiçã o grega mais mı́stica. Quando recebeu o presidente sovié tico Mikhail
Gorbachev no Vaticano em dezembro de 1989, apó s a queda do Muro de Berlim, pareceu ao papa uma resposta a
sua oraçã o.
Em seu discurso aos cardeais no dia seguinte à sua eleiçã o, o novo papa prometeu promover “com açã o prudente,
mas encorajadora” as reformas do Concı́lio Vaticano II. Em janeiro de 1979, ele viajou ao Mé xico para participar da
Conferê ncia Latino-Americana de Bispos, reunida em Puebla, onde advertiu os bispos e seu clero contra o
envolvimento direto na polı́tica (tomada como uma crı́tica indireta à teologia da libertaçã o latino-americana). Os trê s
co-presidentes da reuniã o foram selecionados pelo papa, nã o pelos bispos - outra indicaçã o do respeito de Joã o
Paulo II pela colegialidade episcopal e pela autonomia das conferê ncias episcopais nacionais. Um discurso mais tarde
no antigo seminá rio Palafox deixou a audiê ncia de bispos, clé rigos e alguns leigos subjugados. O papa advertiu:
“Devemos zelar pela pureza da doutrina. . . . Essa noçã o de um Jesus polı́tico, um revolucioná rio, o subversivo de
Nazaré , nã o está em harmonia com o ensino da Igreja ”. Na segunda parte do discurso, no entanto, ele falou
apaixonadamente em nome da justiça, usando a palavra libertaçã o doze vezes. A mensagem era clara: justiça social,
sim, mas sempre dentro dos limites da ortodoxia cató lica interpretada pelo papa e pelo Vaticano. Essa abordagem
permaneceria constante durante o ponti icado de Joã o Paulo II: socialmente liberal, teoló gica e doutrinariamente
conservadora, talvez até ultraconservadora. A viagem triunfante do Mé xico tornou-se uma espé cie de paradigma
para todas as viagens papais subsequentes e estabeleceu Joã o Paulo II como uma superestrela global. Em seis dias, o
papa fez 26 discursos e homilias, presidiu vá rias missas pú blicas e se reuniu com numerosos grupos, incluindo a
comunidade polonesa local (uma prá tica que ele seguiria em suas viagens subsequentes ao exterior). Ele pretendia, a
partir desta viagem ao Mé xico, chamar a atençã o de volta para a pessoa do papa e, assim, reforçar a autoridade
espiritual do centro da Igreja Cató lica, o Vaticano.
Joã o Paulo II publicou sua primeira encı́clica em março de 1979. Intitulada Redemptor hominis (lat., “Redentor da
humanidade”), enfatizava a dignidade e o valor de cada pessoa humana, deplorava a “exploraçã o da terra” e a
destruiçã o do meio ambiente. , e o consumismo condenado, ou seja, a acumulaçã o e o mau uso de bens por classes
sociais privilegiadas e paı́ses ricos “em grau excessivo”. També m condenou a corrida armamentista, especialmente
por desviar recursos essenciais dos pobres, e a violaçã o dos direitos humanos em todo o mundo.
Em junho, ele voltou triunfantemente à sua Polô nia natal para participar do nono centená rio de seu patrono Santo
Estanislau. Quase um em cada trê s cidadã os poloneses pô de vê -lo pessoalmente durante sua visita de oito dias. Em
10 de junho, mais de um milhã o de poloneses assistiram à missa na campina de B onie, nos arredores de Cracó via.
Seria a primeira de nove viagens de volta à Polô nia: a segunda em 1983, a terceira em 1987, a quarta e a quinta em
1991, a sexta, e a menos satisfató ria, em 1994, quando repreendeu furiosamente seus colegas poloneses, agora
libertos da Comunismo, por sua atitude recentemente independente em relaçã o à autoridade da Igreja e suas rı́gidas
normas morais, e os ú ltimos trê s em junho de 1997, junho de 1999 e agosto de 2002. Na é poca de sua morte, o papa
havia feito 104 visitas pastorais ao exterior e 146 visitas dentro da Itá lia.
Ao mesmo tempo, ele publicou vá rias cartas encı́clicas substanciais. Em 1981, alguns meses apó s o atentado contra
sua vida na Praça de Sã o Pedro, ele publicou Laborem exercens (lat., “Sobre o trabalho” ou “Sobre o trabalho
humano”) para marcar o nonagé simo aniversá rio da Rerum novarum de Leã o XIII . Nesta encı́clica, o Papa via o
trabalho humano como uma forma de colaboraçã o na obra criadora de Deus e, portanto, de in inita dignidade. Ele
insistiu na prioridade do trabalho sobre o capital e condenou o que chamou de um capitalismo “rı́gido” que exagera
os direitos da propriedade privada sobre o bem comum e o uso comum dos bens. Em 1985 publicou Slavorum
Apostoli (“Apó stolos dos Eslavos”), em homenagem aos Santos. Cirilo e Metó dio como copatrons da Europa ao lado
de Sã o Bento de Nú rsia (morto em cerca de 547), proclamado patrono da Europa por Paulo VI. Sua segunda grande
encı́clica social, Sollicitudo rei socialis (“Solicitude pelas preocupaçõ es sociais” ou “Sobre a preocupaçã o social da
Igreja”), foi publicada em 1987 para marcar o vigé simo aniversá rio da Populorum progressio de Paulo VI (1967). A
encı́clica enfatizou as obrigaçõ es das naçõ es ricas e desenvolvidas para com os paı́ses pobres e subdesenvolvidos e a
“opçã o preferencial pelos pobres” como diretriz de açã o moral. Os bens da terra, ele insistia, sã o destinados a todos.
Em 1991 publicou duas grandes encı́clicas, uma sobre as missõ es, Redemptoris missio (“Missã o do Redentor”), e a
outra, a sua terceira grande encı́clica social, Centesimus annus (“Centená rio”), para marcar o centená rio de Leã o.
Rerum novarum de XIII . No centro da mensagem social da Igreja, escreveu ele, está a dignidade de cada pessoa
humana - uma a irmaçã o que ele já havia destacado em sua primeira encı́clica em 1979. Ele rea irmou a “opçã o
preferencial pelos pobres” da Igreja e se referiu positivamente aos sistemas democrá ticos para garantir a
participaçã o dos cidadã os na vida polı́tica de uma naçã o.
Duas importantes encı́clicas polê micas sobre teologia moral apareceram em 1993 e 1995, respectivamente:
Veritatis splendor (lat., "O esplendor da verdade"), que criticava a dissidê ncia teoló gica na mı́dia pú blica, o relativismo
moral e um mé todo de moral teologia conhecida como proporcionalismo e Evangelium vitae (“O evangelho da vida”),
que condenava veementemente a contracepçã o, a eutaná sia e o aborto em uma linguagem semelhante à empregada
no ensino infalı́vel. Signi icativamente, o papa també m condenou a pena de morte, insistindo que nã o há , para todos
os efeitos prá ticos, razõ es su icientes para justi icá -la. També m em 1995, ele publicou o que pode ter sido sua
encı́clica mais notá vel - notá vel por sua abertura nos tó picos ecumê nicos mais sensı́veis, o pró prio papado. Em Ut
unum sint (“Para que todos sejam um”), ele reconheceu que, embora o ofı́cio petrino pertença à estrutura essencial
da Igreja, a forma como o ofı́cio papal é exercido está sempre sujeita a crı́ticas e melhorias. Ele convidou seus
leitores, especialmente os de outras igrejas cristã s, a dialogar com ele sobre a maneira como seu ofı́cio é exercido e a
recomendar maneiras pelas quais seu exercı́cio possa se conformar mais ielmente ao evangelho.
As duas ú ltimas encı́clicas de Joã o Paulo II foram Fides et ratio (Lat., “Fé e Razã o”) em 1998 e Ecclesia de Eucharista
(Lat., “A Igreja da Eucaristia”) em 2003. Ele publicou uma carta apostó lica, Tertio millennio adveniente (Lat., “No
terceiro milê nio que se aproxima”), em 1994 para convidar a Igreja a se preparar para o novo milê nio que se
aproxima, um evento que se aproxima e que despertou seu mais profundo interesse durante todo o seu ponti icado.
Joã o Paulo II estava profundamente convencido, desde o inı́cio de seu ponti icado, de que estava destinado por Deus
a conduzir a Igreja Cató lica a esse novo milê nio e que seria um milê nio que veria as paredes entre as vá rias religiõ es
do mundo cair. para que houvesse uma frente religiosa unida contra o ateı́smo, materialismo e individualismo. Em
1994, ele també m emitiu uma declaraçã o formal contra a ordenaçã o de mulheres, Ordinatio sacerdotalis (“ordenaçã o
sacerdotal”), insistindo que a Igreja nã o está autorizada a ordenar mulheres como padres. Sua maneira enfá tica de
a irmar e fazer cumprir esse ensino contribuiu, em certa medida, para o sentimento de alienaçã o que muitas
mulheres cató licas sentiam em relaçã o à Igreja institucional e ao ponti icado de Joã o Paulo II em particular.
Em 1996, na Universi Dominici gregis (“De todo o rebanho do Senhor”), Joã o Paulo II mudou as regras que regem
as eleiçõ es papais. Dispensando oitocentos anos de tradiçã o exigindo uma maioria de dois terços para a eleiçã o, o
papa decretou que, se depois de trinta e trê s votos em vá rios dias, nenhum candidato recebeu uma maioria de dois
terços, uma maioria absoluta é su iciente para a eleiçã o. Alguns comentaristas viram isso como um afastamento
radical da tradiçã o da Igreja, que sempre encorajou o compromisso e o consenso na eleiçã o de um novo papa.
Agora, um grupo ideologicamente comprometido, seja da esquerda ou da direita, pode possivelmente resistir até
depois de feitas as mais de trinta cé dulas e buscar eleger seu pró prio candidato por uma mera maioria matemá tica.
Embora as eleiçõ es continuem ocorrendo na Capela Sistina, os cardeais eleitores icarã o alojados na recé m-
construı́da Domus Sanctae Marthae, em vez dos pequenos e desconfortá veis cubı́culos do Palá cio Apostó lico.
Alé m de suas encı́clicas e cartas apostó licas, Joã o Paulo II foi um autor produtivo e comercialmente bem-sucedido.
Ele publicou Crossing the Threshold of Hope em 1994 e Gift and Mystery em 1996. Vá rios outros escritos meditativos
també m foram publicados durante seu ponti icado, incluindo Memory and Identity em 2005, bem como coleçõ es de
seus poemas e peças.
Entre os outros desenvolvimentos importantes neste ponti icado estavam a promulgaçã o em 1983 do Có digo de
Direito Canô nico revisado, um projeto iniciado pelo Papa Joã o XXIII (1958-63); a publicaçã o, sob a direçã o do
cardeal Joseph Ratzinger, do Catecismo da Igreja Católica em 1992 (a traduçã o para o inglê s foi adiada até 1994 por
causa de reclamaçõ es de cató licos ultraconservadores sobre a linguagem inclusiva de gê nero empregada na primeira
traduçã o); em 1985, a renegociaçã o dos Pactos de Latrã o de 1929, pelos quais a separaçã o da Igreja e do Estado na
Itá lia foi formalmente reconhecida, Roma nã o deveria mais ser considerada uma cidade sagrada, a instruçã o cató lica
nã o era mais exigida nas escolas pú blicas e o clero nã o deveriam mais receber salá rios do Estado; e o
estabelecimento de relaçõ es diplomá ticas formais com os Estados Unidos em 1984 (o delegado apostó lico é agora o
nú ncio) e com o Estado de Israel em 1994. Joã o Paulo II foi també m o primeiro papa a visitar a principal sinagoga de
Roma, onde reconheceu a presença da Igreja pecados contra os judeus, até mesmo por parte de alguns de seus
predecessores, que sabiam ser cú mplices de campanhas anti-semitas e que con inaram os judeus em guetos em
Roma e nos antigos Estados papais.
O papa convocou e presidiu sete sı́nodos mundiais de bispos (um sı́nodo extraordiná rio em 1985 para celebrar o
vigé simo aniversá rio do encerramento do Concı́lio Vaticano II) e sete sı́nodos regionais, canonizou mais de 480
santos (a maioria deles padres e freiras, incluindo o controverso fundador do movimento ultraconservador Opus
Dei, Josemaria Escrivá de Belaguer), beati icou muitos mais do que isso (incluindo Madre Teresa e o Papa Joã o XXIII),
e nomeou todos, exceto trê s dos cardeais eleitores que eram elegı́veis para participar do conclave que elegeu seu
sucessor, Bento XVI.
No inal de seu primeiro ano completo no cargo, Joã o Paulo II surpreendeu a comunidade teoló gica ao revogar o
status de teó logo cató lico do teó logo suı́ço Hans Kü ng. Açã o semelhante já havia sido tomada contra o teó logo
francê s Jacques Pohier, que foi proibido de escrever, pregar ou dar palestras sem permissã o explı́cita. O renomado
teó logo holandê s Edward Schillebeeckx, um dominicano, foi submetido a severo escrutı́nio do Vaticano (ele foi
atacado por um de seus examinadores na Rá dio Vaticano antes mesmo de a audiê ncia no Vaticano começar), e o
teó logo brasileiro Leonardo Boff, um franciscano, foi proibido escrever ou ensinar por um ano. Ele acabou deixando
a ordem franciscana e o sacerdó cio em protesto contra as açõ es do Vaticano contra ele. Charles Curran, o teó logo
moral americano, foi expulso da faculdade de teologia da Universidade Cató lica da Amé rica. Em janeiro de 1997, um
conhecido teó logo do Terceiro Mundo, Tissa Balasuriya, um sacerdote do Sri Lanka de setenta e dois anos, membro
da ordem marista, foi excomungado da Igreja por ter “se desviado da integridade da verdade de a fé cató lica. ” Ele
questionou, entre outras coisas, certos excessos na devoçã o mariana e recusou-se a rejeitar a possibilidade de que
mulheres pudessem ser ordenadas ao sacerdó cio. O padre Balasuriya, entretanto, foi restaurado à plena comunhã o
com a Igreja no ano seguinte.
O papa també m interveio para impedir a Companhia de Jesus (Jesuı́tas) de eleger um sucessor para seu superior
geral, padre Pedro Arrupe (m. 1991), e suspendeu a constituiçã o da ordem. Ele nomeou um conservador de oitenta
anos para atuar como seu delegado pessoal até que um novo superior geral pudesse ser eleito com sua aprovaçã o.
Procedimentos disciplinares també m foram instituı́dos contra vá rios bispos, incluindo Raymond Hunthausen,
arcebispo de Seattle, Walter Sullivan, bispo de Richmond, e Jacques Gaillot, bispo de Evreux na França. Na verdade,
um dos legados mais duradouros deste ponti icado, para o bem ou para o mal, será o grande nú mero de bispos
conservadores nomeados para vá rias dioceses em todo o mundo, muitas vezes em oposiçã o aos desejos e
recomendaçõ es das hierarquias locais e do padres e pessoas das vá rias dioceses.
A partir de 1992, uma sé rie de doenças e acidentes deixou o papa em uma condiçã o fı́sica debilitada. Ele nã o podia
mais se envolver em suas atividades recreativas favoritas, como esquiar, fazer caminhadas e escalar montanhas, e
começaram a circular rumores de que ele estava muito mais doente do que o Vaticano admitia. Mas há um antigo
ditado que diz que a ú nica vez que algué m tem um relató rio totalmente preciso sobre a saú de de um papa é quando
sua morte é anunciada. Nos sé culos passados, até mesmo essa informaçã o foi mantida em segredo pelo maior tempo
possı́vel por causa da tradiçã o de saquear os aposentos papais ao ouvir a notı́cia da morte do papa. Nem todas as
tradiçõ es associadas ao papado sobreviveram, incluindo aquela. Apó s uma sé rie de contratempos mé dicos no inı́cio
de 2005, complicados pela doença de Parkinson e outras doenças, incluindo a gripe, Joã o Paulo II morreu no Palá cio
Apostó lico em 2 de abril de 2005. Seu funeral na Praça de Sã o Pedro foi o maior já registrado. Alguns na multidã o
ergueram cartazes com os dizeres 'Santo Subito' (italiano, “um santo imediatamente”). Logo apó s sua eleiçã o, o novo
papa, Bento XVI, suspendeu o perı́o do de espera exigido de cinco anos e autorizou o inı́cio do processo formal que
levaria à eventual beati icaçã o e canonizaçã o de Joã o Paulo II.

263 Bento XVI, alemão, b. 1927, papa de 19 de abril de 2005.


O sexto papa nascido na Alemanha na histó ria e o primeiro desde Victor II (1055–1057), Bento XVI, em seu papel
como Prefeito da Congregaçã o para a Doutrina da Fé , foi um conselheiro de con iança de Joã o Paulo II. Aos setenta e
oito anos, ele é a pessoa mais velha eleita para o papado desde Clemente XII em 1730. Embora tenha sido um
conselheiro teoló gico do Cardeal Joseph Frings de Colô nia durante o Concı́lio Vaticano II, escreveu para ele as
famosas linhas em um discurso que escorou o que era entã o chamado de Santo Ofı́cio por seus mé todos á speros
empregados contra teó logos, um colaborador do famoso teó logo jesuı́ta Karl Rahner, e uma vez um amigo pró ximo e
colega do controverso teó logo suı́ço, Hans Kü ng, ele gradualmente desenvolveu uma atitude crı́tica em relaçã o a
algumas das reformas do concı́lio, especialmente aquelas relacionadas com a liturgia, e també m em relaçã o a alguns
dos desenvolvimentos pó s-conciliares na Igreja, particularmente aqueles que clamam por reformas adicionais em
seu governo interno e por um maior pluralismo na teologia e na pastoral prá tica.
Nascido Joseph Alois Ratzinger em Marktl am Inn, uma cidade na regiã o rural da Baviera, em 16 de abril de 1927,
ilho de um policial e garçonete, serviu por um tempo, sob coaçã o legal, como membro da Juventude Hitlerista e
como um recrutado no exé rcito alemã o (e mais tarde prisioneiro de guerra) durante a Segunda Guerra Mundial. Ele
foi ordenado sacerdote pela diocese de Regensburg em 1951, e recebeu o doutorado em teologia pela Universidade
de Munique em 1953 com uma dissertaçã o sobre a doutrina da Igreja de Santo Agostinho. Apó s sua
Habilitationsschrift em Sã o Boaventura, uma segunda dissertaçã o de quali icaçã o para um cargo de professor em
teologia, ele serviu no corpo docente das universidades de Bonn (1959–63), Mü nster (1963–66), Tü bingen (1966–
69), e Regensburg (1966–77), onde seu irmã o mais velho, o padre Georg, era o mestre do coro da catedral.
Em março de 1977, foi nomeado pelo Papa Paulo VI para suceder ao cardeal Julius Dö pfner como arcebispo de
Munique e Freising, e menos de trê s meses depois foi nomeado cardeal com o tı́tulo de Santa Maria Consolatrice al
Tiburtino. O Papa Joã o Paulo II o nomeou em novembro de 1981 como prefeito da Congregaçã o para a Doutrina da
Fé , onde estabeleceu uma reputaçã o como um aplicador estrito da ortodoxia doutriná ria e da disciplina clerical,
sendo marcado com vá rios apelidos, como "o cardeal Panzer" e “O rottweiler do papa”. Ele serviu simultaneamente
como presidente da Pontifı́cia Comissã o Bı́blica e da Comissã o Teoló gica Internacional.
Em 1993 foi promovido de cardeal-sacerdote a cardeal-bispo no tı́tulo da diocese suburbana de Velletri-Segni. Em
1998, tornou-se vice-reitor do Colé gio dos Cardeais e, em novembro de 2002, foi nomeado reitor do colé gio e,
simultaneamente, cardeal-bispo da histó rica diocese suburbana de Ostia. Ele é o primeiro decano eleito para o
papado desde Paulo IV em 1555. Como decano do Colé gio dos Cardeais, ele presidiu e pregou no funeral do Papa
Joã o Paulo II e na Missa para Eleger um Papa, pouco antes do conclave. Ele també m presidiu as reuniõ es diá rias dos
cardeais (chamadas de Congregaçõ es Gerais) entre a morte de Joã o Paulo II e o inı́cio do conclave, respondendo à
maioria dos cardeais em sua pró pria lı́ngua, seja alemã o, francê s, inglê s, italiano ou espanhol . Ele estava, como a
revista Time colocou, "no centro do palco em cada turno".
Logo apó s a morte de Joã o Paulo II em 2 de abril de 2005, a imprensa italiana noticiou que o cardeal Ratzinger
contava com o apoio de pelo menos cinquenta cardeais eleitores, ou cerca de vinte e cinco a menos do que os dois
terços exigidos para a eleiçã o. Essa especulaçã o assustou muitos que consideravam o cardeal uma igura muito velha
e polarizadora para ser considerado seriamente, muito menos eleito. No entanto, icou claro que os principais
cardeais da Cú ria e outros associados aos chamados novos movimentos, como o Opus Dei e os Legioná rios de Cristo,
cultivaram cuidadosamente o apoio dentro do corpo dos cardeais-eleitores (a revista Time se referiu a isso como um
“furto campanha"). Os cardeais mais moderados foram pegos despreparados e desorganizados. O ú nico cardeal de
estatura su iciente para atrair um nú mero signi icativo de votos foi Carlo Martini, o arcebispo aposentado de Milã o,
que aos setenta e oito anos e com saú de debilitada, supostamente pediu a seus partidá rios que nã o votassem nele
alé m da primeira votaçã o. Diz-se que muitos votos foram transferidos para Jorge Bergoglio, també m jesuı́ta, que foi
arcebispo de Buenos Aires. Como no segundo conclave de 1978, apó s a morte repentina de Joã o Paulo I, os italianos
nã o chegaram a um acordo sobre um deles. Pelo contrá rio, nove dos cardeais eleitores italianos eram membros da
Cú ria e pareciam ter decidido de antemã o que apoiariam o cardeal Ratzinger. Na segunda votaçã o, ele teria atingido
mais de 60 votos e, na terceira, estava apenas aqué m dos dois terços exigidos (77 votos). Ele foi eleito na quarta
votaçã o.
Depois de aceitar a eleiçã o, o papa recé m-eleito foi questionado, de acordo com a tradiçã o, por qual nome ele
seria conhecido. Ao contrá rio de outros no passado, ele respondeu imediatamente, como se tivesse se preparado
para este momento. Ele seria chamado de Bento XVI. Mais tarde, ele explicou aos cardeais que escolheu o nome para
homenagear Bento XV (1914-22), que foi "um corajoso profeta da paz" na é poca da Primeira Guerra Mundial e que
trabalhou pela "reconciliaçã o e harmonia entre os povos", e para homenagear també m Sã o Bento de Nú rsia (ca. 480-
ca. 574), co-patrono da Europa “cuja vida evoca as raı́zes cristã s da Europa” e “a centralidade de Cristo em nossa
vida cristã ”.
Quando Bento XVI, aos setenta e oito anos de idade e com um histó rico de pelo menos duas doenças graves antes
de sua eleiçã o para o papado, começou seu ponti icado, muitos cató licos estavam em dú vida sobre o curso que ele
seguiria. Seus partidá rios mais conservadores esperavam que seu ponti icado fosse uma continuaçã o e extensã o do
de Joã o Paulo II, se nã o ainda mais linha dura no que diz respeito a limitar o alcance da dissidê ncia teoló gica e do
desenvolvimento litú rgico. Os cató licos progressistas se perguntavam se o papa Ratzinger governaria com as mesmas
atitudes e abordagens que o cardeal Ratzinger adotou como chefe da Congregaçã o para a Doutrina da Fé . Outros no
meio perguntaram se as responsabilidades do cargo amenizariam algumas dessas posiçõ es anteriores e se sua
escolha do nome Bento XVI sugeria um desejo de trazer paz nã o apenas para o mundo, mas també m para a Igreja.
Apenas o tempo e as circunstâ ncias acabarã o por produzir um padrã o.
Epílogo

O FUTURO DA PAPACIA

I N encı́clica DE 25 maio de 1995, Ut unum sint ( “Que todos sejam um”), o Papa Joã o Paulo II fez um convite notá vel para
lı́deres pastorais e teó logos das igrejas cristã s nã o-cató licas de entrar em diá logo com ele sobre papal primazia e a
maneira pela qual a autoridade papal é exercida. Ele reconheceu, de acordo com o ensino do Concı́lio Vaticano II,
que tudo o que o papa faz como bispo de Roma e como cabeça terrena da Igreja universal "deve sempre ser feito em
comunhã o", porque o ministé rio papal e o ofı́cio nunca podem ser separados da “missã o con iada a todo o corpo
dos bispos, també m 'vigá rios e embaixadores de Cristo'” (Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja, n. 27). O Bispo de
Roma, Joã o Paulo II destacou na encı́clica, é ele pró prio membro do colé gio dos bispos e todos os outros bispos sã o
seus “irmã os de ministé rio” (n. 95)
Joã o Paulo II indicou que, em espı́rito de abertura a uma “situaçã o nova”, a Igreja deve “encontrar uma forma de
exercer o primado” que facilite nossa peregrinaçã o comum no caminho da unidade cristã . Reconhecendo que nã o
pode realizar esta “imensa tarefa” sozinho, ele convidou “os lı́deres da Igreja e seus teó logos a se engajarem em um
diá logo paciente e fraterno sobre o assunto, um diá logo no qual, deixando para trá s contrové rsias inú teis,
poderı́amos escutai-nos uns aos outros, mantendo diante de nó s apenas a vontade de Cristo para a sua Igreja e
deixando-nos comover profundamente pelo seu apelo para que todos sejam um. . . para que o mundo creia que tu
me enviaste '(Jo 17:21) ”(n. 96).
Qual é a “nova situaçã o” a que o papa se referiu? Que mudanças possı́veis poderia haver no exercı́cio do ofı́cio
papal que poderia servir para promover a unidade da Igreja sem de forma alguma comprometer a missã o,
ministé rios e estruturas essenciais da Igreja? Por que futuro os cristã os separados podem trabalhar, em diá logo com
o bispo de Roma?
A especulaçã o sobre o futuro, é claro, é apenas isso: especulaçã o. Por de iniçã o, o futuro é algo que ainda nã o
aconteceu. E uma questã o de promessa, expectativa (à s vezes ansiedade e até medo) e esperança. Nesse ı́nterim,
temos apenas o passado e o presente a partir dos quais extrapolar possı́veis desenvolvimentos futuros. O Papa Joã o
XXIII (1958-63), ele pró prio um historiador, disse em seu celebrado discurso de abertura do Concı́lio Vaticano II em
11 de outubro de 1962, que a histó ria é a grande “mestra da vida”. As liçõ es da histó ria sã o consistentemente
instrutivas e quase sempre libertadoras. A histó ria nos ensina que as coisas nem sempre foram assim e que é
possı́vel, portanto, transformá -las daquilo que sã o. Em nenhum lugar este princı́pio é mais aplicá vel do que à histó ria
do papado em si.
Cató licos e nã o cató licos tê m geralmente assumido que os papas com os quais estã o mais familiarizados - os papas
atuais e recentes - exerceram autoridade de uma certa maneira (para todos os ins prá ticos, como se a autoridade
fosse ilimitada) porque é isso que Jesus O pró prio Cristo deve ter intencionado quando disse ao apó stolo: “Tu é s
Pedro e sobre esta pedra edi icarei a minha igreja. . . . Tudo o que você ligar na terra será ligado no cé u; e tudo o que
desligardes na terra será desligado no cé u ”(Mateus 16: 18–19). A suposiçã o convencional é que essa autoridade,
exatamente da mesma forma em que é exercida hoje, foi conferida primeiro ao apó stolo Pedro e depois transmitida
em uma linha ininterrupta de sucessã o a todos os indivı́duos que a Igreja Cató lica o icialmente reconhece como
papa, a partir de Linus (supostamente o sucessor imediato de Pedro) de Bento XVI. Presume-se, alé m disso, que esta
linha de sucessã o nunca esteve em dú vida, que nunca houve qualquer questã o sé ria sobre a legitimidade de uma
reivindicaçã o particular à cadeira papal, e que, se alguma vez houve uma dú vida, a Igreja prontamente resolvido.
A histó ria, “o mestre da vida”, ensina que nã o houve papas no sentido moderno da palavra (isto é , como o ú nico
bispo de Roma) até meados do segundo sé culo. Até entã o, a igreja de Roma era governada nã o por um ú nico bispo,
mas por uma comissã o ou conselho de anciã os e presbı́teros-bispos, talvez com um indivı́duo agindo como o
organizador ou presidente do corpo. Esses indivı́duos proeminentes na comunidade romana podem ter sido aqueles
a quem a Igreja Cató lica considera os sucessores imediatos do pró prio Pedro: Linus, Anacletus, Clement, Evaristus, et
al. Mas nã o podemos ter certeza. E signi icativo, por exemplo, que quando Santo Iná cio de Antioquia (m. Ca. 107)
endereçou suas famosas cartas à s vá rias igrejas do mundo mediterrâ neo, a carta a Roma foi a ú nica em que o bispo
local nã o foi mencionado . Na verdade, nã o há evidê ncia de que o pró prio Pedro tenha desempenhado um papel
episcopal em Roma. Embora tradicionalmente considerado o fundador da igreja lá , junto com o apó stolo Paulo,
Pedro nem estava presente quando o cristianismo chegou a Roma, provavelmente no inı́cio dos anos 40, quase duas
dé cadas antes de Pedro chegar. Alé m disso, Paulo nã o faz nenhuma mençã o a Pedro em sua Carta aos Romanos,
escrita provavelmente no inverno de 57-58.
Alé m disso, os papas dos primeiros quatro sé culos exerceram autoridade relativamente limitada alé m de Roma e
seus arredores imediatos. Por exemplo, Silvestre I (314-35) parece nã o ter exercido nenhuma in luê ncia discernı́vel
sobre o primeiro concı́lio ecumê nico realizado em Nicé ia em 325. Ele nã o o convocou nem compareceu. E, no
entanto, este foi o concı́lio que emitiu o primeiro ensino de initivo da Igreja sobre a divindade de Jesus Cristo - uma
questã o dogmá tica tã o central quanto a Igreja trataria, ou poderia abordar em toda a sua histó ria. O mesmo pode
ser dito de Damá sio I (366-84) com relaçã o ao Concı́lio de Constantinopla em 381, que rea irmou o ensino de Nicé ia
e de iniu a divindade do Espı́rito Santo, e de Celestino I (422-32) com relaçã o a o Concı́lio de Efeso em 431, que
de iniu que Jesus Cristo é uma Pessoa divina e que Maria é a Mã e de Deus e nã o apenas a mã e do homem Jesus. Só
no ponti icado de Leã o, o Grande (440-61) a reivindicaçã o da jurisdiçã o papal universal (isto é , sobre toda a Igreja,
tanto no Oriente como no Ocidente) foi articulada pela primeira vez e foi feita uma tentativa de exercê -la de uma
maneira realmente decisiva.
O primeiro papa que estendeu a mã o para a irmar sua autoridade alé m das fronteiras de sua pró pria comunidade
eclesiá stica foi Victor I (189-98), um africano, que ordenou que outras igrejas se conformem com a prá tica romana
de celebrar a Pá scoa no domingo seguinte ao dé cimo quarto dia de Nisan (Pá scoa). Mas quando Victor ameaçou
excomungar aqueles que discordassem de sua decisã o, ele foi repreendido por nã o menos igura proeminente da
Igreja primitiva do que Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200), que claramente lembrou ao papa que todos os seus
predecessores tinha sido indulgente com a diversidade de prá ticas e nã o ousara recorrer à arma de initiva da
excomunhã o. E quando os papas começaram a se envolver em disputas teoló gicas com os lı́deres pastorais de outras
igrejas, eles foram à s vezes rejeitados como intrusos ou, pior, como tendo pontos de vista errô neos, como no caso do
confronto entre Estê vã o I (254-57) e Cipriano (d. 258), bispo de Cartago, sobre a questã o da validade do batismo
administrado por hereges e cismá ticos.
Com o passar do tempo, disputas e con litos sobre a prá tica pastoral desenvolveram-se em con litos sobre
doutrina. Assim, Joã o II (533-35), sob pressã o do imperador oriental, contradisse o ensino de um papa anterior,
Hormisdas (514-23), sobre as duas naturezas de Jesus Cristo. Honó rio I (625-38) tornou-se um adepto involuntá rio
do monotelismo, que a irmava que existe apenas uma vontade (divina) em Jesus Cristo. Apó s sua morte, Honó rio foi
formalmente condenado pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680) - açã o posteriormente rati icada por Leã o II
(682-83). Quando a contrové rsia monotelita continuou a dividir Roma de Constantinopla, Eugê nio I (654-57) tentou
bravamente reconciliar os dois lados. Ao fazer isso, no entanto, ele aceitou prematuramente um compromisso que
parecia apresentar trê s vontades em Cristo. Isso provocou uma tempestade de protestos entre o clero e os leigos de
Roma. O papa foi impedido de continuar com a missa na bası́lica de Santa Maria Maior (Santa Maria Maggiore) até
que ele prometeu rejeitar o acordo.
Mas o desvio doutriná rio foi apenas um dos problemas sé rios que surgiram neste perı́o do inicial da histó ria papal.
Entre o inı́cio do Impé rio Carolı́ngio (800) e o im do ponti icado de Dâ maso II (1048), o papado afundou nas
profundezas morais, manchado pela simonia, ou seja, a compra e venda de ofı́cios da igreja, nepotismo, estilos de
vida pró digos , concubinato, brutalidade e até assassinato. Na maior parte desse tempo, també m foi dominado por
reis alemã es e por poderosas - e corruptas - famı́lias aristocrá ticas romanas. Durante este perı́o do, pelo menos cinco
papas, e possivelmente um sexto, foram assassinados. Um papa, Sé rgio III (904-11), era ele pró prio um assassino,
tendo ordenado a matança de seu predecessor, Leã o V, e do antipapa Cristó vã o. Dois papas foram presos e
mutilados ou morreram de fome (Estê vã o VIII [939-42] e Joã o XIV [983-84], respectivamente), e o corpo de um
papa (Formosus [891-96]) foi até exumado de seu repouso local, por ordem de um de seus sucessores, Estê vã o VI
(896-97), e levado a julgamento pú blico no chamado Sı́nodo do Cadá ver. O pró prio Estê vã o foi posteriormente
deposto, preso e estrangulado até a morte.
No entanto, o “grande ponto de viragem” na histó ria do papado, de acordo com o distinto teó logo dominicano
cardeal Yves Congar (m. 1995), veio com o ponti icado de Gregó rio VII (1073–85). Foi Gregó rio, mais do que
qualquer outro papa, quem reformulou substancialmente o papado no tipo de instituiçã o moná rquica e legalista que
é hoje. Para ter certeza, Gregó rio VII enfrentou problemas internos e externos esmagadores quando foi eleito em
1073: simonia, nepotismo, violaçõ es do celibato clerical e a interferê ncia de prı́ncipes leigos na nomeaçã o e posse de
bispos e abades (també m conhecido como “investidura leiga ”). O papa fez com que seus canonistas vasculhassem os
arquivos romanos em busca de cada traço ou fragmento de apoio para o exercı́cio do poder papal que ele
considerasse necessá rio para enfrentar esses desa ios. Parte do material descoberto era autê ntico; outras partes
eram espú rias - falsi icaçõ es. Ao buscar contar com precedentes legais para o exercı́cio do que deveria ser apenas
autoridade espiritual, o papa transformou a Igreja principalmente em uma instituiçã o jurı́dica, com o poder papal
como a base de toda a autoridade da Igreja. Como resultado infeliz, a Igreja passou a adotar as mesmas atitudes e a
fazer as mesmas reivindicaçõ es que os pró prios poderes temporais. Gregó rio VII, assim, colocou o papado do
segundo milê nio em um curso legalista e moná rquico, completamente estranho ao da Igreja primitiva e das igrejas
orientais em geral. A Igreja Romana deu uma guinada tã o brusca que dois dos sucessores de Gregó rio, Inocê ncio III
(1198-1216) e Bonifá cio VIII (1295-1303), reivindicaram autoridade, na verdade supremacia, nã o apenas sobre toda
a Igreja, como Gregó rio VII tinha, mas em todo o mundo també m - nos reinos temporais e espirituais.
A suposiçã o convencional de que o papado fornece ao cató lico um canal direto de e para Jesus Cristo requer, é
claro, que o cató lico seja capaz de determinar quem é o papa. Durante o Cisma do Grande Oeste (1378-1417),
sempre houve dois, e depois trê s, pretendentes contemporâ neos ao trono papal. Apó s a morte de Gregó rio XI em
1378, a eleiçã o de um sucessor foi interrompida pela violê ncia entre o povo romano, que exigiu um papa italiano
apó s o “cativeiro” de setenta anos do papado em Avignon, França. Em pâ nico, os cardeais principalmente franceses
elegeram Urbano VI, um homem instá vel cujo comportamento inicial alienou os cardeais e os levou a questionar a
validade de sua eleiçã o. Praticamente os mesmos cardeais que elegeram Urbano agora o rejeitaram. Eles deixaram
Roma para Fondi (no reino de Ná poles), onde declararam formalmente a eleiçã o de Urbano invá lida e elegeram o
cardeal Robert de Genebra (que també m era francê s) como Clemente VII. Embora os trê s cardeais italianos nã o
votaram na eleiçã o na catedral de Fondi, eles concordaram com sua presença.
A Inglaterra, o Sacro Impé rio Romano e a maior parte da Itá lia icaram do lado de Urbano VI, mas a França, o
reino da Sicı́lia, a Escó cia, o reino de Ná poles e a Espanha icaram do lado de Clemente VII, que ixou residê ncia em
Avignon, como izeram os papas nos setenta anos anteriores. Houve uma confusã o geral na Igreja quando os chefes
de mosteiros, ordens religiosas, dioceses e paró quias apelaram a um ou outro papa como base para sua autoridade.
Em 1409, cerca de trinta e um anos apó s a eclosã o do cisma, os adeptos de ambos os lados decidiram que um
conselho geral deveria ser convocado para pô r im à crise. Cardeais de ambas as obediê ncias (a romana, agora
che iada por Gregó rio XII, e a de Avinhã o, agora che iada por Bento XIII) convocaram o Concı́lio de Pisa, que depô s
ambos os papas, denunciando-os como cismá ticos, hereges e perjuros, e elegeu um terceiro, Alexandre V. Mas nem
Gregó rio XII nem Bento XIII aceitaram a decisã o do concı́lio. Portanto, a Igreja agora tinha trê s homens que
a irmavam ser papa, em vez de dois.
Gregó rio XII entã o convocou seu pró prio conselho em Cividale, perto de Aquilé ia, mas foi mal atendido e teve de
ser adiado apó s vá rias sessõ es. Antes de encerrar, no entanto, o conselho excomungou os outros dois pretendentes
papais, Bento XIII (da linha de Avignon) e agora Alexandre V (da linha de Pisan). Mas Gregó rio XII, o papa da linha
romana, estava tã o sitiado e tã o pouco apoiado que teve de fugir disfarçado de Aquilé ia, cujo arcebispo local era
hostil a ele, para Gaeta, onde buscou a proteçã o do rei de Ná poles. Quando o rei de Ná poles, no entanto,
posteriormente concluiu um tratado com Joã o XXIII, o segundo papa na linhagem de Pisã , Gregó rio foi banido de
Ná poles. Eventualmente, com a ajuda do rei alemã o Sigismundo, o Concı́lio de Constança (1414-18) foi convocado e
deposto Joã o XXIII. Gregó rio XII renunciou (apó s ter sido autorizado a convocar o Concı́lio de Constança para
o icializá -lo aos seus olhos); Bento XIII (o papa na linha de Avignon) fugiu para um castelo bem forti icado na costa
de Valê ncia, alegando aos enviados do conselho que esta era agora a verdadeira igreja, a arca de Noé ; e Martin V foi
eleito. Deve ser apontado que, embora a Igreja Cató lica reconheça retrospectivamente Gregó rio XII e os outros
papas da linha romana como os ú nicos papas legı́timos durante este perı́o do confuso e conturbado, sua legitimidade
di icilmente era ó bvia para todos os cató licos da é poca. Por quase quarenta anos - uma vida inteira para a maioria
das pessoas daquela é poca - os cató licos nã o podiam ter certeza de quem era o papa, muito menos o que ele estava
ensinando em nome de Cristo. Mesmo assim, a Igreja sobreviveu e as pessoas seguiram o caminho da salvaçã o sob o
poder da graça de Deus, sem o benefı́cio da orientaçã o do sucessor de Pedro - seja ele quem for.
Mas o Grande Cisma Ocidental nã o foi o ú nico perı́o do na histó ria da igreja em que a identidade do papa icou em
dú vida. Houve trinta e nove antipapas ao todo, começando com Santo Hipó lito (sim, “Santo” Hipó lito), de 217 a 235, e
terminando com Fé lix V, de 1439 a 1449. A pró pria lista o icial de papas do Vaticano, em o Annuario Ponti icio ,
ocasionalmente transferiu papas de uma coluna para outra ao decidir - muitos sé culos depois - que um indivı́duo
que sempre considerou como legı́timo sucessor de Pedro nã o foi eleito validamente, a inal. Mesmo com este
processo de correçã o, restam quatro instâ ncias em que o Anuário ainda nã o consegue se decidir.
Silverius (536-37) ainda estava vivo quando Vigilius (537-55) foi eleito papa em 29 de março de 537. O Annuario
Ponti icio reconhece esta data como o inı́cio do ponti icado de Vigilius, embora també m marque o im do ponti icado
de Silverius em novembro 11 de 537, o dia em que renunciou formalmente, trê s semanas antes de sua morte. Houve
dois papas entre 29 de março e 11 de novembro?
O ponti icado de Martinho I é listado como tendo terminado com sua morte, no exı́lio, em 16 de setembro de 655.
Mas o inı́cio do ponti icado de seu sucessor, Eugê nio I, está listado como 10 de agosto de 654, dia em que foi eleito
pelo Romano clero e pessoas depois de concluı́rem que Martin eu nunca mais voltaria. Eles temiam que, se
esperassem mais, o imperador bizantino imporia um novo papa completamente inaceitá vel sobre eles. Martin ainda
era papa ou nã o? Se sim, como Eugenius I poderia ser um papa legı́timo? Se Martin I nã o era mais o verdadeiro
papa, com que açã o canô nica seu ponti icado chegou ao im? Nã o há evidê ncias de que ele renunciou, nem de que foi
validamente deposto por um conselho da Igreja.
O terceiro caso é o do notó rio Joã o XII (eleito para o papado aos dezoito anos!). O Annuario Ponti icio enumera o
im de seu ponti icado como 14 de maio de 964, que foi o dia de sua morte. Mas dá o inı́cio do ponti icado de seu
sucessor, Leã o VIII (o primeiro leigo eleito papa), em 4 de dezembro de 963 - enquanto Joã o XII ainda estava vivo. O
ponti icado de Leã o é listado como tendo terminado em 1o de março de 965, mas seu sucessor, Bento V, disse ter
começado seu pró prio ponti icado em 22 de maio de 964 - enquanto Leã o VIII ainda estava vivo. O Almanaque
Católico de 2006 e a Enciclopédia Católica do Our Sunday Visitor's (1991), ambos os quais reproduzem a lista o icial de
papas e suas datas conforme consta do Annuario Ponti icio , reconhecem a confusã o. Eles apontam que Joã o XII foi
deposto por um concı́lio romano em 4 de dezembro de 963. No entanto, se o depoimento era invá lido, entã o Leã o
VIII era um antipapa. Se o depoimento fosse vá lido, Leã o era um papa vá lido e Bento V, um antipapa. Mas a lista
o icial do Vaticano nã o considera Leã o VIII nem Bento V como antipapa - e ainda assim registra o im do ponti icado
de Joã o XII em 14 de maio de 964, cerca de cinco meses após a eleiçã o de Leã o VIII. Assim, també m, Bento V começa
seu ponti icado mais de oito meses antes do im do ponti icado de Leã o. De acordo com a pró pria lista o icial do
Vaticano, portanto, tivemos um breve perı́o do no inal do sé culo X, quando dois papas governaram a Igreja
simultaneamente.
Finalmente, há o caso de Bento IX, o ú nico papa a ter exercido o cargo papal em trê s momentos diferentes (1032–
44, 1045 e 1047–48). Se a remoçã o forçada de Bento XVI em 1044 era invá lida, Silvestre III (20 de janeiro a 10 de
março de 1045) era um antipapa (mas ele ainda está listado com os papas legı́timos). E se a renú ncia de Bento IX em
1045 e sua remoçã o por um sı́nodo em 1046 nã o fossem vá lidas, Gregó rio VI (5 de maio de 1045 - 20 de dezembro
de 1046) e Clemente II (25 de dezembro de 1046 - 9 de outubro de 1047) també m eram antipapas (mas, novamente,
eles ainda estã o listados com os papas legı́timos no Annuario Ponti icio ).
Na histó ria do papado, nã o havia apenas dú vidas sobre quem era papa, mas també m sobre quando um papa se
tornava papa. Durante a maior parte do primeiro milê nio cristã o, os mandatos papais eram contados nã o a partir do
momento em que um indivı́duo aceitava sua eleiçã o, como foi o caso durante a maior parte do segundo milê nio
cristã o, mas a partir do momento de sua consagraçã o como bispo. Isso acontecia porque, até Marinus I (882–84),
nenhum dos eleitos para o papado era bispo. Eles eram padres (presbı́teros) ou diá conos (e um subdiá cono). Visto
que o papa é , antes de tudo, o bispo de Roma, ele nã o poderia ter sido considerado papa até ser consagrado como
bispo. Alé m disso, durante grande parte desse perı́o do, foi o imperador bizantino, com sede em Constantinopla, e
nã o os eleitores papais, que determinaram quando - e se - essa consagraçã o ocorreria. O imperador, de fato,
costumava demorar para noti icar o papa recé m-eleito de sua aprovaçã o para o prosseguimento da consagraçã o.
Joã o IV (640–42), por exemplo, teve que esperar cinco meses entre sua eleiçã o e consagraçã o. Nesse ı́nterim, o
arcipreste Hilarus e outro Joã o, o secretá rio-chefe ( primicério ), continuaram a administrar a igreja romana como
"vice-regentes da Sé Apostó lica". E quando a igreja romana enviou uma carta o icial a certos bispos e abades
irlandeses sobre a data apropriada para a celebraçã o da Pá scoa, o papa eleito, Joã o IV, foi o segundo signatá rio, nã o
o primeiro. Por outro lado, vá rios papas no segundo milê nio cristã o (o ú ltimo sendo Gregó rio XVI em 1831) ainda
nã o eram bispos quando eleitos. No entanto, de acordo com o direito canô nico em vigor durante a maior parte do
milê nio (até a revisã o do Có digo de Direito Canô nico em 1983), esses indivı́duos eram considerados papa, antes
mesmo de serem consagrados como bispos. A Igreja do primeiro milê nio cristã o teria achado essa prá tica teoló gica e
pastoralmente inconcebı́vel.
O que dizer, entã o, do futuro do papado? O recente perı́o do de recentralizaçã o da autoridade papal e da
restauraçã o de vá rios estilos de governo pré -Vaticano II na Igreja Cató lica muito provavelmente terá terminado com
o ponti icado de Joã o Paulo II ou de seu sucessor de setenta e oito anos . A histó ria das eleiçõ es papais,
especialmente (mas nã o exclusivamente) durante os sé culos XIX e XX, deixa claro que os papas geralmente nã o sã o
sucedidos por có pias de carbono de si mesmos, nã o importa há quanto tempo estejam no cargo e nã o importa
quantos cardeais eles pode ter nomeado. A sucessã o de Pio IX por Leã o XIII em 1878, e de Leã o XIII por Pio X em
1903 sã o dois casos dramá ticos em questã o. Pio IX foi o papa reinante mais longo da histó ria (quase trinta e dois
anos), e Leã o XIII teve o segundo ponti icado mais longo (mais de vinte e cinco anos). Ambos foram sucedidos por
papas marcadamente diferentes deles mesmos - pessoal, teoló gica e pastoralmente. E assim tem sido ao longo da
maior parte da histó ria papal.
Nos anos anteriores ao inı́cio do segundo milê nio cristã o e antes do ponti icado de Gregó rio VII em particular, os
papas funcionavam amplamente no papel de mediadores, resolvendo disputas e con litos sobre crença e disciplina
"por consentimento comum" (Joã o Paulo II, Ut unum Sint , nº 95). Nã o reivindicaram apenas para si o tı́tulo de
Vigá rio de Cristo. Eles nã o nomearam bispos (exceto nas dioceses vizinhas ou nas dioceses missioná rias fundadas
pela Igreja Romana). Eles nã o governaram por meio de uma Cú ria Romana. Eles nã o impuseram ou obrigaram o
celibato clerical. Eles nã o escreveram encı́clicas nem autorizaram catecismos para a Igreja universal. Eles nã o
retiveram apenas para si o poder de canonizaçã o dos santos. Via de regra, eles nã o convocavam ou presidiam
concı́lios ecumê nicos - e certamente nã o os principais concı́lios doutriná rios de Nicé ia (325), Constantinopla (381),
Efeso (431) e Calcedô nia (451). O papado do terceiro milê nio cristã o será mais provavelmente semelhante ao
papado do primeiro milê nio do que do segundo, mas certamente será diferente de ambos, pois a Igreja enfrenta
circunstâ ncias pastorais, desa ios e oportunidades novas e atualmente imprevistas nas dé cadas e sé culos vir.
Da mesma forma, a autoridade eclesiá stica será exercida nos pontos mais pró ximos dos nı́veis pastorais, onde
suas decisõ es terã o maior impacto. Haverá uma descentralizaçã o crescente da governança da igreja, sem prejuı́zo da
necessidade de signi icar e manter a unidade da Igreja universal, embora por meio de um papado estruturado de
forma diferente e por meio de concı́lios ecumê nicos e sı́nodos mundiais que també m incluirã o clé rigos, religiosos e
leigos como participantes ativos e votantes, como foi o caso no Concı́lio de Constança no sé culo XV.
As barreiras historicamente contingentes e muitas vezes arti iciais entre as igrejas també m cairã o, à medida que a
intercomunhã o e o reconhecimento mú tuo dos ministé rios ordenados se tornem um lugar-comum da Igreja
ecumê nica do sé culo XXI e do inı́cio do terceiro milê nio cristã o. O alcance à s religiõ es nã o-cristã s se intensi icará ,
com avanços especı́ icos, agora inimaginá veis, nas relaçõ es entre cristã os e judeus.
E a Igreja reconhecerá mais plenamente do que hoje que é apenas um meio, nã o um im. O Reino de Deus sozinho
é absoluto e supremo. Tudo o mais, incluindo o pró prio papado, está subordinado a ele e está a seu serviço. A Igreja
do terceiro milê nio cristã o se contentará em fazer como sua a conhecida petiçã o na Oraçã o do Senhor: “Venha o teu
reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no cé u”.
A vontade de Deus pode ter um lugar para o ministé rio petrino, ou papado, na Igreja do terceiro milê nio cristã o,
mas precisamente qual lugar nã o está claro a partir desta distâ ncia histó rica. O que parece fora de questã o é que o
papado do futuro funcionará de maneira muito diferente do papado como o conhecemos hoje.
Apêndices

A. COMO OS PAPAS SAO ELEITOS


ALGUNS CATOLICOS ASSUMEM QUE, PORQUE EM SUAS MENTES OS PAPAS sã o representantes ú nicos de Deus na terra, eles sã o de
alguma forma escolhidos pela inspiraçã o direta do Espı́rito Santo. Assim, quando os cardeais se reú nem em conclave
apó s a morte de um papa, é simplesmente para orar por orientaçã o divina e selecionar aquele para quem essa
orientaçã o aponta. Por que mais de uma votaçã o quase sempre é necessá ria nã o é explicado - nem há explicaçõ es
para as manobras polı́ticas, a interferê ncia direta de governantes temporais para impedir que certos cardeais sejam
eleitos ou a oferta ocasional de subornos e promessas de outros benefı́cios a apoiadores em potencial .
Mas nã o é uma explicaçã o para tudo isso. Embora a doutrina cató lica sustente que o papa (mais precisamente, o
bispo de Roma) é o sucessor de Sã o Pedro e Vigá rio de Cristo na terra (Vigá rio de Pedro é o tı́tulo mais tradicional e
mais preciso), o processo pelo qual ele é selecionado é um processo humano e, de fato, polı́tico. Os eleitores
escolhem entre uma sé rie de candidatos possı́veis e muitas vezes concorrentes. Alguns eleitores preferem um
candidato em vez de outros porque, para eles, ele parece ter qualidades mais adequadas à s necessidades da Igreja
naquele momento especı́ ico da histó ria. Outros se opõ em irmemente a um candidato porque ele parece ter
qualidades que consideram prejudiciais à missã o e ao bem-estar da Igreja naquela é poca. Os eleitores, é claro, nem
sempre conseguem fazer com que seus candidatos favoritos sejam eleitos. Portanto, eles devem se comprometer.
Outro candidato é escolhido porque é mais aceitá vel (ou menos inaceitá vel) para aqueles cujos votos sã o necessá rios
para a vitó ria.
Embora os eleitores se reú nam em conclave, separados do mundo exterior, as pressõ es do mundo exterior nã o
estã o ausentes no interior. Os eleitores sã o parte desse mundo e vieram diretamente dele, com todas as suas
pressõ es e contrapressõ es girando em torno deles. Algumas dessas pressõ es sã o eclesiá sticas, outras sã o puramente
polı́ticas. Normalmente, eles sã o uma mistura dos dois. E isso é o que se poderia esperar, dada a crença cató lica na
Igreja como uma instituiçã o humana e divina. Na medida em que a Igreja tem cará ter divino, Deus está de alguma
forma envolvido no processo de seleçã o de um lı́der pastoral tã o importante quanto o papa. Mas, na medida em que
a Igreja també m tem cará ter humano, os seres humanos estã o envolvidos na escolha do papa. E onde você tem seres
humanos envolvidos, você tem os fatores humanos de polı́tica, interesse pró prio, ganâ ncia e desejo de poder. Como
os dois - o divino e o humano - interagem precisamente em uma eleiçã o papal, nã o se pode determinar. E na
interaçã o do divino e do humano, poré m, que se confronta o misté rio da Igreja.

O primeiro milênio cristão


Durante os primeiros mil anos de existê ncia da Igreja, ou seja, durante metade de sua histó ria, os papas foram
eleitos pelo clero e pelo povo de Roma, porque, antes de tudo, o papa é o bispo da igreja local, ou diocese, de Roma.
Desde os primeiros sé culos da Igreja, o clero e os leigos sempre selecionaram seus pró prios pastores em todas as
partes do mundo cristã o. Roma nã o foi exceçã o. Assim, quando Corné lio foi eleito papa em 251, Sã o Cipriano, bispo
de Cartago, descreveu o processo em uma carta a Antoniano: “Corné lio foi feito bispo pelo julgamento de Deus e de
Seu Cristo, pelo testemunho de quase todo o clero , pelo voto das pessoas entã o presentes, pela assembleia de
venerá veis bispos e bons homens ”(citado por Patrick Gran ield, The Papacy in Transition , p. 126). Em muitas outras
cartas em que se referia à eleiçã o de bispos no Norte da Africa, Roma, Espanha e quase todas as provı́ncias do
Impé rio Romano, Cipriano indicava que essas eleiçõ es envolviam toda a comunidade e ocorriam em trê s etapas: a
testemunho (lat., “testemunha”), pelo qual a comunidade testemunhou as quali icaçõ es de um candidato; o suffragium
( “voto”), pelo qual a comunidade manifesta a sua preferê ncia por um candidato ou outro; e o judicium
(“julgamento”), por meio do qual a comunidade rati icou a votaçã o realizada.
Nos sé culos IV e V, as eleiçõ es populares dos bispos, incluindo o Bispo de Roma, continuaram, mas agora os
bispos das dioceses vizinhas (ou subú rbios) assumiram um papel maior. Em sua carta aos bispos da Gá lia (França
moderna), o Papa Celestino I (422-32) escreveu: “Que nenhum bispo seja dado a uma comunidade contra sua
vontade; o consentimento e desejo do clero, do povo e da nobreza sã o necessá rios. ” E o Papa Leã o Magno (440-61)
fez o mesmo: “Nenhuma consideraçã o permite fazer bispos daqueles que nã o foram escolhidos pelos clé rigos,
procurados pelo povo e consagrados pelos bispos provinciais com o consentimento do metropolita . ” Foi Leã o
quem articulou o princı́pio canô nico bá sico que é honrado hoje na violaçã o, nã o na prá tica: “Aquele [o bispo] que
está no comando de tudo deve ser escolhido por todos”.
Nos sé culos VI e VII, o clero e os bispos das dioceses vizinhas tiveram um papel mais proeminente na eleiçã o do
Bispo de Roma. Leigos in luentes, como funcioná rios civis e militares, també m começaram a exercer um papel maior
do que os cidadã os comuns, embora a aprovaçã o da populaçã o em geral sempre tenha sido considerada necessá ria.
Desde a conquista bizantina do norte e extremo sul da Itá lia e da Sicı́lia em 535-53 até o declı́nio de seu poder com a
ascensã o dos lombardos no inı́cio do sé culo VIII, os imperadores orientais també m exerceram uma in luê ncia
profunda, mas raramente positiva sobre as eleiçõ es papais. Justiniano (falecido em 565) forçou a eleiçã o de Vigı́lio
em 537 (um papa que mais tarde seria excomungado por um sı́nodo de bispos africanos por sua vacilaçã o em
pontos cruciais da doutrina a respeito da divindade de Cristo). Na pró xima transiçã o papal em 556, a interferê ncia
do imperador foi ainda mais lagrante. Pelá gio I, que fora legado papal em Constantinopla, onde Justiniano veio a
conhecê -lo e a admirá -lo, foi instalado no papado sem sequer uma eleiçã o. Quando Pelá gio chegou a Roma
preparado para assumir suas novas responsabilidades, recebeu uma recepçã o hostil, especialmente de muitos
religiosos e nobres que romperam a comunhã o com ele. Sua consagraçã o como bispo (ele ainda era apenas um
diá cono) teve que ser adiada porque nenhum bispo iria o iciar a princı́pio. Eventualmente, os bispos de Perugia e
Ferentino concordaram em fazer a consagraçã o, e um presbı́tero (sacerdote) representou o bispo de Ostia, que
normalmente era um dos consagradores papais. Na é poca em que o pró ximo papa, Joã o III, foi eleito em 561, foi
dado como certo que ele nã o poderia ser consagrado sem a aprovaçã o do imperador. E ele teve que esperar quatro
meses até que essa aprovaçã o chegasse de Constantinopla.
E importante entender por que a aprovaçã o imperial para a consagraçã o (isto é , ordenaçã o episcopal) de um papa
recé m-eleito foi, de fato, essencial para a validade da reivindicaçã o do papa ao cargo. O papa é , antes de mais nada, o
bispo de Roma. E por ser bispo de Roma, que é a sé primacial da Igreja universal e tradicionalmente associada ao
apó stolo Pedro, que é també m papa. Mas se um papa recé m-eleito ainda nã o é bispo (o que nenhum era até Marinus
I, que veio para Roma de outra diocese em 882), ele nã o pode ser o bispo de Roma até que seja consagrado como
tal. E se a aprovaçã o do imperador é necessá ria para isso, sua aprovaçã o se torna pelo menos tã o essencial quanto a
pró pria eleiçã o. (Deve-se notar que todos os papas de Agapitus I em 535 até Deusdedit em 615 eram diá conos, e
nem mesmo sacerdotes, na é poca de sua eleiçã o para o papado.)
Bento I, o sucessor imediato de Joã o III, teve que esperar onze meses a partir da é poca de sua eleiçã o em julho de
574 até que a aprovaçã o imperial para sua consagraçã o chegasse de Constantinopla. O sucessor de Bento XVI,
Pelá gio II, avançou com sua pró pria consagraçã o em 579 sem esperar a aprovaçã o do imperador, porque a cidade
de Roma estava sitiada pelos lombardos na é poca e havia um sentimento de urgê ncia no ar. Mas a prá tica de
aguardar a con irmaçã o imperial foi retomada no pró ximo ponti icado. A prá tica em si é de extraordiná rio interesse
à luz das tradicionais reivindicaçõ es papais sobre a supremacia da Sé Apostó lica. Por exemplo, o Papa Siricius (384-
99) decretou que nenhum bispo deveria ser consagrado sem o conhecimento da Sé Apostó lica. E, no entanto, havia
uma situaçã o menos de dois sé culos depois, em que a pró pria Sé Apostó lica nã o poderia ter seu pró prio bispo, o
sucessor de Pedro, consagrado sem a aprovaçã o de um governante leigo, o imperador bizantino, a muitas centenas
de quilô metros de Constantinopla. A ú nica concessã o que o papado obteve do imperador neste perı́o do foi permitir
que o exarca imperial (vice-rei) em Ravena, a sede da autoridade bizantina na Itá lia, rati icasse as eleiçõ es papais em
vez de o papa recé m-eleito ter de aguardar a aprovaçã o da pró pria Constantinopla. Este novo arranjo, alcançado por
Bento II (684-85), pelo menos acelerou o processo de con irmaçã o ao estreitar o intervalo de tempo entre a eleiçã o
e a consagraçã o do Bispo de Roma.
Durante esse mesmo perı́o do, o nı́vel de politicagem e disputa pelo poder tornou-se cada vez mais intenso e
desedi icante. Bonifá cio III realizou um sı́nodo em 607, que introduziu um dos primeiros regulamentos formais das
eleiçõ es papais. Daı́ em diante, a pena de excomunhã o seria imposta a qualquer pessoa que discutisse um sucessor
de um papa (ou de qualquer outro bispo) durante a vida do papa (ou de outro bispo) e até trê s dias apó s sua morte.
Os historiadores apontam que o atraso de mais de um ano entre a morte do antecessor de Bonifá cio, Sabiniano, e a
pró pria eleiçã o de Bonifá cio como papa em 607 pode ter sido o resultado de extensas campanhas e trocas de
cavalos entre os leais à memó ria do Papa Gregó rio, o Great (590-604) e os anti-gregorianos, que achavam que
Gregó rio havia mostrado muito favoritismo ao clero nas ordens religiosas à s custas do clero diocesano, ou secular.
No inı́cio do sé culo VIII, o equilı́brio do poder militar e polı́tico mudou dos bizantinos para os lombardos e depois
para os francos. Gregó rio III (731-41) foi o ú ltimo papa a buscar a aprovaçã o do imperador bizantino para sua
consagraçã o. Com o ponti icado de Estê vã o II (III) de 752 a 757, o papado se separou completamente do Impé rio
Bizantino e se colocou sob a proteçã o do reino franco, governado na é poca por Pepino III. O sucessor de Estê vã o,
Paulo I (757-67), simplesmente noti icou Pepin de sua eleiçã o sem buscar qualquer aprovaçã o formal, conforme
exigido pelos imperadores bizantinos. Na é poca em que Leã o III foi eleito em 795, Carlos Magno (falecido em 814)
era rei dos francos. Leã o enviou-lhe uma noti icaçã o de sua eleiçã o, junto com as chaves do tú mulo de Sã o Pedro e a
bandeira de Roma em reconhecimento de sua soberania. Nesse ı́nterim, um sı́nodo romano (769), sob o Papa
Estê vã o III (IV), decidiu que apenas diá conos e cardeais-sacerdotes (isto é , padres que eram pastores das igrejas
titulares ou cardeais de Roma) eram elegı́veis para a eleiçã o como bispo de Roma e que doravante apenas o clero
poderia votar nas eleiçõ es papais. O papel dos leigos era o de aceitaçã o subsequente de seu bispo recé m-eleito.
No inı́cio do sé culo IX, o novo Impé rio Carolı́ngio foi estabelecido sob Carlos Magno. Apó s a morte de Carlos
Magno em 814, seu sucessor, Luı́s, o Piedoso, restaurou o papel dos leigos nas eleiçõ es papais. Agindo por meio de
seu ilho Lotá rio I, Luı́s promulgou uma constituiçã o romana em 824, com a aprovaçã o do Papa Eugê nio II (824-27),
decretando, entre outras coisas, um renascimento da tradiçã o antiga, recentemente suspensa pelo Papa Estê vã o III
(IV) em 769 , por meio da qual o povo de Roma, bem como o clero, participariam das eleiçõ es papais. A constituiçã o
també m estipulou, no entanto, que antes de ser consagrado, o papa recé m-eleito deve fazer um juramento de
lealdade ao imperador carolı́ngio perante o legado imperial. O Papa Eugê nio II rati icou esses termos em um sı́nodo
realizado em Latrã o em 826. O pró ximo papa, Valentim (827), foi eleito por unanimidade pelo clero, nobreza e pelo
povo de Roma. No entanto, houve uma forte divisã o entre os leigos de Roma na pró xima eleiçã o. Apó s a morte de
Valentim, cerca de quarenta dias depois, o povo romano proclamou um diá cono chamado Joã o como o novo papa,
tomou o Palá cio de Latrã o e o entronizou. A aristocracia leiga, entretanto, tinha outras idé ias. Reunidos na bası́lica de
San Martino, eles elegeram o arcipreste Sé rgio, idoso, mas de origem nobre, como papa, expulsaram Joã o do Latrã o
e rapidamente esmagaram a oposiçã o. Por causa da situaçã o tensa, a consagraçã o de Sé rgio II foi apressada sem
esperar a aprovaçã o imperial. O imperador Lothair I estava irado. Os territó rios papais foram saqueados de forma
punitiva e, em um sı́nodo em Sã o Pedro, no qual participaram cerca de vinte bispos italianos, Sé rgio II teve que se
submeter a uma difı́cil e longa investigaçã o de sua reivindicaçã o ao trono papal. Embora sua eleiçã o tenha sido
rati icada, ele teve que jurar lealdade a Lothair e aceitar a condiçã o do imperador de que papas recé m-eleitos nã o
poderiam ser consagrados sem a aprovaçã o do imperador e na presença de seu representante. O sucessor de
Sé rgio, Leã o IV (847-55), honrou essa condiçã o, esperando seis semanas a partir da é poca de sua eleiçã o pela
aprovaçã o imperial para sua consagraçã o.
A nova exigê ncia de aprovaçã o imperial, no entanto, també m proporcionou oportunidades para sé rios danos à s
eleiçõ es papais. Quando Leã o IV morreu em 855, a primeira escolha do clero e do povo de Roma foi Adriano,
cardeal-sacerdote da igreja de San Marco. Mas quando Adriano recusou a eleiçã o, o clero e o povo elegeram Bento
XVI, o cardeal-sacerdote altamente respeitado da igreja de San Calisto. Um grupo in luente pró ximo à corte imperial
preferia Anastá cio, um ex-cardeal-sacerdote que havia sido degradado (isto é , seu tı́tulo de cardeal foi tirado) e
excomungado por Leã o IV. Explorando a regra de que Bento XVI nã o poderia ser consagrado sem o consentimento
imperial e na presença de seu representante, a facçã o imperialista declarou a eleiçã o de Bento nula e sem efeito,
realizou uma eleiçã o pró pria em Orte, trouxe Anastá cio a Roma na companhia de representantes imperiais, e o
instalou no Latrã o. Bento XVI foi arrastado do trono papal, expulso do palá cio e preso. Mas a reaçã o do povo foi tã o
intensa (foram trê s dias de revolta) que os representantes imperiais retiraram seu apoio a Anastá cio e permitiram
que a consagraçã o de Bento XVI fosse adiante. Anastá cio foi despojado de sua insı́gnia papal e ejetado do Latrã o. De
acordo com os termos de um acordo alcançado entre Bento XVI e os representantes do imperador, Anastá cio nã o
recebeu outra puniçã o senã o a reduçã o ao estado laico e o con inamento no mosteiro de Santa Maria em Trastevere.
(Anastá cio passaria por uma reabilitaçã o notá vel, no entanto, servindo como um importante conselheiro para os
pró ximos trê s papas e como bibliotecá rio da igreja romana; daı́ seu nome nos livros de histó ria, Anastá cio
Bibliothecarius.)
A eleiçã o de Marinus I em 882 foi de imensa importâ ncia histó rica porque ele foi o primeiro bispo de Roma a já
ter sido bispo. Em violaçã o direta do câ non 15 do Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325), que proı́be um bispo de se
transferir de uma diocese para outra, Marinus deixou sua diocese de Caere (agora Cerveteri) na Etrú ria para aceitar
a eleiçã o como Bispo de Roma. Ele també m nã o buscou a aprovaçã o do imperador Carlos III. (A questã o da
transferê ncia de um bispo de uma diocese para outra tornou-se uma das questõ es centrais no infame “Sı́nodo do
Cadá ver”, no qual o cadá ver do Papa Formoso foi levado a julgamento em janeiro de 897. Formoso tinha sido bispo
do Porto quando eleito Bispo de Roma.)
O cará ter das eleiçõ es papais mudou para pior no sé culo X, com as famı́lias aristocrá ticas de Roma dominando nã o
apenas a voz dos leigos comuns, mas també m a do clero. O papado se tornou o joguete dessas famı́lias,
especialmente dos Teo ilatos, dos Crescentii e dos Tusculans. Os Teo ilatos controlaram o papado desde o ponti icado
de Sé rgio III (904-11) até o de Joã o XI (931-35 / 6). Alberico II, prı́ncipe de Roma, patrı́cio e senador de todos os
romanos, governou a cidade, incluindo o papado, com controle absoluto de 932 a 954, e seu ilho ilegı́timo Otaviano
(que assumiu o nome de Joã o XII) foi eleito papa no ano apó s a morte de seu pai. (Em seu leito de morte, Alberico
convocou o papa, Agapitus II, a nobreza e o clero e os forçou a jurar que, apó s a morte de Agapitus II, eles elegeriam
seu ilho como papa - em violaçã o direta do decreto de 499 do papa Symmachus, proibindo tais pactos. ) O Sacro
Imperador Romano Otto I (falecido em 973) controlou as pró ximas trê s eleiçõ es, mas apó s sua morte a poderosa
famı́lia Crescentii de Roma emergiu como a nova força dominante, sem negar, entretanto, a in luê ncia contı́nua dos
sucessores de Otto. Na verdade, o parente de 24 anos de Otto III se tornaria o primeiro papa alemã o da histó ria,
Gregó rio V (996-99). Mas a in luê ncia dos Crescentii continuou mesmo no inı́cio do sé culo XI, até o ponti icado de
Sé rgio IV (1009-12). Entã o a famı́lia Tusculan veio à tona, planejando a eleiçã o de trê s sucessivos leigos para o
papado em 1012, 1024 e 1032. Durante esse caó tico sé culo dé cimo, havia cerca de 25 papas e antipapas. Os bispos
franceses, reunidos no Concı́lio de Saint-Basle de Verzy em 991, perguntaram amargamente: “E a tais monstros,
inchados de sua ignomı́nia e desprovidos de todo conhecimento humano ou divino, que os inú meros sacerdotes de
Deus em todo o mundo que se distinguem por seus conhecimentos e virtudes devem ser apresentados? ”

O Segundo Milênio Cristão


O poder dos reis-imperadores alemã es se rea irmou com força total no sé culo XI com a eleiçã o de quatro papas
alemã es consecutivos em 1046, 1048, 1049 e 1055. Logo depois disso, Nicolau II, um papa francê s que permaneceu
bispo de Florença durante seu ponti icado (1058-61), nã o só proibiu a simonia nas eleiçõ es papais (isto é , ganhar o
cargo por meio de suborno e promessas de preferê ncias eclesiá sticas), mas també m decretou que, a partir de entã o,
apenas cardeais-bispos poderiam votar nas eleiçõ es papais. (Alexandre III modi icou essa ú ltima disposiçã o em
1179, incluindo cardeais-sacerdotes e cardeais-diá conos como eleitores papais e també m exigindo uma maioria de
dois terços para a eleiçã o.) O clero e os leigos deveriam dar seu consentimento subsequente. O imperador també m
seria noti icado da eleiçã o, mas nã o teria mais o direito de con irmaçã o. O papa Gregó rio VII (1073-1085) desferiria
outro grande golpe contra a contı́nua interferê ncia de governantes leigos nas eleiçõ es papais, atacando diretamente
a investidura leiga e excomungando o imperador-rei alemã o Henrique IV por resistir a ele. No entanto, os reis
alemã es continuaram a interferir por um tempo nas eleiçõ es papais, com Henrique IV e Henrique V apoiando vá rios
antipapas. Mas o novo arranjo funcionou razoavelmente bem, exceto na eleiçã o de Martinho V pelo Concı́lio de
Constança em 1417, terminando o Cisma do Grande Oeste (1378-1417). Martin foi eleito por vinte e dois cardeais,
mas també m por trinta outros prelados - seis de cada uma das cinco principais naçõ es representadas no conselho:
Itá lia, França, Espanha, Alemanha e Inglaterra.
Gregó rio X, a im de evitar a repetiçã o de longas vacâ ncias, decretou atravé s do Segundo Concı́lio de Lyon em
1274 que as eleiçõ es papais deveriam ser realizadas dez dias apó s a morte de um papa (a exigê ncia atual é de quinze
a vinte dias apó s o inı́cio de vaga) e que os cardeais eleitores conduzam a eleiçã o em local seguro, onde nã o terã o
contato com mais ningué m. Ele també m estipulou que a eleiçã o fosse realizada na cidade ou vila onde o papa
morreu (uma prá tica seguida até o inal do sé culo XVIII). Os cardeais també m foram advertidos de que, se nã o
elegessem um papa em trê s dias, suas raçõ es seriam reduzidas para cinco dias. Se depois daqueles cinco dias eles
ainda nã o tivessem elegido um novo papa, deveriam receber apenas pã o, vinho e á gua até que tivessem eleito um
novo papa. Alé m disso, durante todo o conclave, os cardeais nã o deveriam obter nenhuma receita do tesouro papal
ou de qualquer outra fonte eclesiá stica.
O Quinto Concı́lio de Latrã o (1512-1517) decretou que se um concı́lio ecumê nico estiver em sessã o quando um
papa morre, o concı́lio deve ser suspenso imediatamente. (O Papa Joã o Paulo II rea irmou essa regra em 1996, mas
també m incluiu sı́nodos de bispos.) Jú lio II (1503-13) decretou que as eleiçõ es simonô nicas nã o sã o apenas ilı́citas,
mas invá lidas, e que o candidato eleito é um apó stata (ou seja, aquele que tem rejeitou completamente a fé ).
Signi icativamente, a pró pria eleiçã o de Jú lio foi simoniacal. Pio X revogou esta ú ltima estipulaçã o em 1904, e Paulo
VI, embora deplorasse a simonia em qualquer forma, revogou o decreto de nulidade em 1975 para que a validade de
uma eleiçã o papal nã o pudesse ser contestada por este motivo. Em 1945, Pio XII modi icou a antiga regra de dois
terços de Alexandre III, dada em 1179, aumentando a maioria de dois terços necessá ria para dois terços mais um.
Em 1996, Joã o Paulo II rescindiu a emenda de Pio XII, de modo que a maioria necessá ria voltou a dois terços, mas
agora com uma grande diferença. Nas novas regras de Joã o Paulo II para as eleiçõ es papais, será possı́vel que um
candidato seja eleito papa por maioria simples se, apó s vá rios dias de votaçã o e oraçã o (trinta e trê s cé dulas ao
todo), um candidato ainda nã o tiver recebido o maioria necessá ria de dois terços. Em 1970, Paulo VI decretou que
apenas cardeais com menos de oitenta anos tê m direito a votar nas eleiçõ es papais, com o nú mero má ximo de
cardeais eleitores ixado em 120. Joã o Paulo II con irmou essas normas em 1996.

As novas regras de João Paulo II


[A seguir estão trechos e sínteses de normas e procedimentos para as eleições papais promulgadas por João Paulo II em 22
de fevereiro de 1996, festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo, em uma constituição apostólica intitulada Universi Domini
gregis (Lat., “ De todo o rebanho do Senhor ”).]

Introdução.
Joã o Paulo II con irmou a regra de Paulo VI de que os ú nicos eleitores papais sã o cardeais com menos de oitenta
anos (a partir do dia em que o papado icou vago) e estã o limitados em nú mero a 120. A eleiçã o deve ocorrer na
Capela Sistina, mas os os aposentos dos cardeais podem ser em qualquer "lugar adequado dentro do estado da
Cidade do Vaticano". (Isso representa uma mudança dos aposentos apertados e improvisados no Palá cio Apostó lico,
nas á reas pró ximas à Capela Sistina. Os eleitores agora serã o alojados em uma casa de hó spedes recé m-construı́da
chamada Domus Sanctae Marthae.) Rigoroso sigilo ainda será observada em relaçã o a tudo o que diz respeito ao
processo eleitoral.
A eleiçã o por aclamaçã o (ou “por adoraçã o”), entretanto, nã o é mais possı́vel. Isso ocorre quando um ou mais
cardeais se levantam e proclamam um candidato e entã o outros o seguem até que haja um consenso geral para
eleger esse candidato sem uma votaçã o formal. Joã o Paulo II també m encerrou a eleiçã o por meio de um
compromisso, onde os cardeais selecionam um pequeno nú mero de seus companheiros eleitores para chegar a um
acordo entre si a respeito de um candidato, com o entendimento de que o restante dos eleitores entã o obedeceriam
a esse acordo. A ú nica forma de eleiçã o, portanto, é por voto secreto, do qual participam todos os eleitores.

Parte I: A vacância da Santa Sé.


1. Poderes do Colégio Cardinalício durante a vacância. Durante uma vacâ ncia da Santa Sé (que Joã o Paulo II
reconheceu explicitamente que poderia ser por morte ou "renú ncia vá lida" do papa), o Colé gio dos Cardeais nã o tem
poder ou jurisdiçã o em assuntos relativos ao papa "durante sua vida ou em o exercı́cio do seu cargo ”(n. 1). O poder
do colé gio se limita à conduçã o dos “negó cios ordiná rios e dos assuntos que nã o podem ser adiados, e à preparaçã o
de tudo o que é necessá rio para a eleiçã o do novo papa” (n. 2). Nenhuma mudança pode ser feita nas regras para a
eleiçã o de um novo papa. E as açõ es que contradizem essa prescriçã o sã o “nulas e sem efeito” (nº 4). Em caso de
dú vida ou contrové rsia a respeito de qualquer coisa contida nesta constituiçã o apostó lica, a maioria do colé gio
determinará o que deve ser feito (n. 5).
2. Congregações de Cardeais preparatórias para as eleições. Uma congregaçã o geral de todos os cardeais, realizada
no Palá cio Apostó lico (ou outro lugar adequado no Vaticano) e presidida pelo reitor do Colé gio dos Cardeais, deve
ser realizada diariamente, começando em um dia ixado pelo Camerlengo do Igreja romana (que també m tem a
responsabilidade de administrar os bens e temporalidades da Santa Sé durante a vacâ ncia), e o cardeal-bispo sê nior,
o cardeal-sacerdote sê nior e o cardeal-diá cono sê nior (n. 11). No primeiro dia, todas as regras e normas relativas a
uma eleiçã o papal devem ser revistas e discutidas, e um juramento deve ser feito por todos os cardeais para
observar as prescriçõ es da constituiçã o apostó lica e manter o sigilo (n. 12) .
Em uma das reuniõ es subsequentes da congregaçã o, os cardeais ixam os detalhes do funeral do falecido papa (a
ser celebrado por nove dias consecutivos) e do sepultamento (nn. 13a, b). A congregaçã o de cardeais també m
seleciona dois “eclesiá sticos conhecidos por sua sã doutrina, sabedoria e autoridade moral” para a tarefa de
apresentar aos cardeais “duas meditaçõ es bem preparadas sobre os problemas que a Igreja enfrenta neste
momento e sobre a necessidade de um discernimento cuidadoso em escolha do novo papa ”(n. 13d). A congregaçã o
lê todos os documentos deixados pelo falecido papa para o Colé gio dos Cardeais (n. 13f) e providencia a destruiçã o
do anel do pescador e do selo de chumbo com o qual as cartas apostó licas sã o enviadas (n. 13g). A congregaçã o
també m determina a distribuiçã o de salas para os cardeais eleitores (n. 13h) e determina o dia e a hora para o inı́cio
do processo de votaçã o (n. 13i).
3. Sobre Certos Escritórios Durante a Vaga. A autoridade daqueles que che iam os departamentos da Cú ria termina
com a morte ou renú ncia de um papa, exceto para o Camerlengo da Igreja Romana, a Penitenciá ria Maior, que é
responsá vel por resolver questõ es relativas ao sacramento da Reconciliaçã o, ou Penitê ncia, e outros o iciais ,
incluindo o Cardeal-Vigá rio Geral para a Diocese de Roma (n. 14).
E tarefa do Camerlengo veri icar a morte do papa e colocar um selo no escritó rio e no quarto do papa. Depois do
sepultamento, todo o apartamento é lacrado (nº 17). O decano do Colé gio dos Cardeais, ao ser informado da morte
do Papa, informa os outros cardeais e os convoca para as congregaçõ es (reuniõ es) dos cardeais. Comunica també m
a notı́cia da morte do Papa ao corpo diplomá tico credenciado junto à Santa Sé e aos chefes das respectivas naçõ es
(n. 19). Certos funcioná rios da Secretaria de Estado e outros departamentos preocupados com as relaçõ es com
outras naçõ es (incluindo os representantes papais dessas naçõ es), bem como os secretá rios dos vá rios
departamentos da Cú ria, permanecem em funçõ es durante a vacâ ncia (nn. 20, 21).
4. Faculdades dos Dicastérios da Cúria. Esta seçã o se preocupa com a autoridade (faculdades) que é retida por
vá rios funcioná rios e cargos da Cú ria durante a vaga.
5. Ritos fúnebres do Romano Pontí ice. Os ritos fú nebres devem ser celebrados por nove dias consecutivos (nº 27).
Fotogra ias do papa falecido só podem ser tiradas com a permissã o do Camerlengo e somente se o papa estiver
vestido com as vestes pontifı́cias (nº 30).

Parte II: Eleição do Romano Pontí ice


1. Os eleitores. Os ú nicos eleitores vá lidos sã o os cardeais da Igreja Cató lica que ainda nã o atingiram a idade de
oitenta anos no dia em que o papado icou vago. O nú mero má ximo de cardeais eleitores é 120. Ningué m mais pode
participar na eleiçã o, nem pode haver qualquer intervençã o (veto) de qualquer poder leigo (nº 33). Um concı́lio
ecumê nico ou sı́nodo mundial de bispos deve ser suspenso imediatamente, uma vez que haja uma vaga no ofı́cio
papal (n. 34).
A partir do momento em que ica vacante a Sé Apostó lica, os cardeais-eleitores devem esperar quinze dias pelos
ausentes, e o Colé gio dos Cardeais pode até adiar a eleiçã o até um má ximo de vinte dias apó s a morte ou renú ncia de
um papa (n . 37). Um cardeal que chegue apó s o inı́cio do processo eleitoral, mas antes que um novo papa seja eleito,
pode ser admitido no conclave com plenos direitos de voto (nº 39). Se um cardeal é forçado a deixar o conclave por
causa de doença e depois busca ser readmitido, ele deve ser autorizado a voltar, mesmo que tenha deixado a Cidade
do Vaticano por algum outro "motivo grave" reconhecido como tal pela maioria dos eleitores cardeais (n. 40).
2. Local de eleição e pessoas admitidas por seus cargos. Embora a constituiçã o apostó lica estipule que o conclave
deve ocorrer "dentro do territó rio da Cidade do Vaticano, em determinadas á reas e edifı́cios fechados a pessoas nã o
autorizadas" (n. 41), indica posteriormente que a pró pria eleiçã o deve ser realizada na Capela Sistina do Palá cio
Apostó lico (n. 50). Ningué m pode se aproximar de nenhum dos cardeais eleitores durante o transporte de ida e volta
entre a Domus Sanctae Marthae e a Capela Sistina (nº 43). Os pró prios cardeais-eleitores nã o devem se comunicar
com ningué m fora do conclave por qualquer meio de comunicaçã o, "exceto em casos de necessidade comprovada e
urgente" devidamente reconhecidos pela "congregaçã o particular", composta pelo Camerlengo e trê s outros
cardeais, um de cada uma das ordens (cardeal-bispo, cardeal-sacerdote e cardeal-diá cono), escolhidos por sorteio
(nº 44).
Alé m dos cardeais eleitores, o conclave també m inclui: o secretá rio do Colé gio dos Cardeais, que atua como
secretá rio da assembleia eleitoral, o mestre das celebraçõ es litú rgicas papais com dois mestres de cerimô nias e dois
religiosos vinculados à sacristia papal, um eclesiá stico escolhido pelo reitor do colé gio para auxiliá -lo em seus
deveres, vá rios padres de ordens religiosas para ouvir con issõ es em diferentes lı́nguas, dois mé dicos e pessoal para
preparar e servir as refeiçõ es e cuidar da casa. Todas essas pessoas devem ser previamente aprovadas pelo
Camerlengo e seus trê s cardeais assistentes (nº 46). Todos també m devem fazer o juramento de sigilo, caso tomem
conhecimento de algo relacionado com o processo eleitoral (nº 47).
3. Início da eleição. No dé cimo quinto dia apó s a morte ou renú ncia do papa, e o mais tardar no vigé simo, os
cardeais eleitores se reú nem, de preferê ncia pela manhã , na Bası́lica de Sã o Pedro (ou em outro lugar, se as
circunstâ ncias o justi icarem) para uma solene celebraçã o eucarı́stica. com a Missa votiva Pro eligendo papa (lat.,
“Para eleger o papa”; n. 49). Depois desta missa, os cardeais reú nem-se na Capela Paulina do Palá cio Apostó lico,
cantam o Veni Criador (“Vem, Criador [Espı́rito]”) e seguem para a Capela Sistina, onde se realizará a eleiçã o (nº 50).
Uma pré via triagem eletrô nica da capela deve ser conduzida para garantir a total privacidade da eleiçã o (nº 51).
Quando os cardeais eleitores chegam à Capela Sistina, eles fazem o juramento enquanto tocam nos Santos
Evangelhos para observar os termos da constituiçã o apostó lica de Joã o Paulo II relativos à eleiçã o. Quando o ú ltimo
cardeal faz o juramento, o mestre das celebraçõ es litú rgicas papais anuncia, “ Extra omnes ” (“Todos fora”), e todos
aqueles que nã o participam da eleiçã o deixam a capela, exceto o mestre papal das celebraçõ es litú rgicas e o
eclesiá stico escolhido para pregar a segunda meditaçã o, na qual os cardeais sã o instados a “agir com boa intençã o
para o bem da Igreja universal” (n. 52). Depois que o eclesiá stico e o mestre papal das celebraçõ es litú rgicas saem da
capela, o reitor do colé gio pergunta aos cardeais se estã o prontos para proceder à votaçã o. Se forem, o fazem
imediatamente (nº 54).
4. Observância do sigilo em todas as questões eleitorais. Este capı́tulo repete os termos do segredo e a proibiçã o de
todas as formas de comunicaçã o com o mundo exterior durante o curso do conclave (nn. 55-57). Os cardeais-
eleitores sã o proibidos de revelar qualquer coisa sobre a votaçã o ou sobre as discussõ es do processo eleitoral antes
ou durante o tempo da eleiçã o (nn. 59, 60).
5. Procedimento de eleição. Visto que as formas de eleiçã o conhecidas como aclamaçã o e acordo foram abolidas, a
ú nica forma de eleger um papa é por voto (lat., Escrutínio ). Uma maioria de dois terços do nú mero total de eleitores
presentes é necessá ria para uma eleiçã o vá lida. E necessá rio um voto adicional se o nú mero de cardeais presentes
nã o for divisı́vel por trê s (nº 62). Se a eleiçã o começar na tarde do primeiro dia, apenas uma votaçã o deverá ser
realizada. Se ningué m for eleito, realizam-se duas votaçõ es na manhã seguinte e mais duas na tarde seguinte (nº 63).
Se ningué m foi eleito apó s trê s dias de votaçã o, a votaçã o é suspensa por um má ximo de um dia para oraçã o,
discussã o informal e uma breve exortaçã o espiritual dada pelo cardeal-diá cono sê nior. A votaçã o é reiniciada, mas
se, depois de mais sete votaçõ es, ningué m for escolhido, há outra pausa para oraçã o, discussã o e exortaçã o, desta
vez do cardeal-sacerdote sê nior. Outra sé rie de sete votaçõ es ocorre. Se nã o houve eleiçã o, há outra pausa para
oraçã o, discussã o e uma exortaçã o dada desta vez pelo cardeal-bispo sê nior. A votaçã o é entã o reiniciada para mais
sete votaçõ es (nº 74).
Se, depois de tantas votaçõ es, ainda nã o houver eleiçã o, o Camerlengo convida os cardeais eleitores a
manifestarem a sua opiniã o sobre a forma de proceder. A eleiçã o entã o prossegue “de acordo com o que a maioria
absoluta dos eleitores decidir”. Mas nã o pode haver dispensa do requisito de que “uma eleiçã o vá lida ocorre apenas
por maioria absoluta dos votos ou entã o pela votaçã o apenas dos dois nomes que na votaçã o imediatamente
anterior tenham recebido o maior nú mero de votos; també m neste segundo caso apenas é necessá ria a maioria
absoluta ”(n. 75). Qualquer violaçã o destes procedimentos torna a eleiçã o “nula e sem efeito” (n. 76).
6. Questões a serem observadas ou evitadas. Qualquer eleitor culpado de simonia é automaticamente excomungado,
mas a eleiçã o simoniacal nã o é invá lida (nº 78). Nenhum cardeal pode fazer planos a respeito de um sucessor ou
prometer votos ou tomar decisõ es a esse respeito em reuniõ es privadas durante a vida de um papa e “sem tê -lo
consultado” (n. 79). Qualquer cardeal eleitor que aceite a tarefa de apresentar o veto de qualquer espé cie de uma
autoridade civil é automaticamente excomungado (n. 80). Nenhum cardeal pode fazer quaisquer pactos ou
compromissos de pré -eleiçã o de qualquer tipo direcionando seus votos a favor ou contra qualquer candidato. Esses
acordos sã o nulos e sem efeito e aqueles que se envolvem em tais atividades sã o automaticamente excomungados.
No entanto, a troca de pontos de vista sobre a eleiçã o nã o é proibida (nº 81). Nenhum cardeal pode fazer qualquer
promessa ou compromisso sobre o curso de seu ponti icado, caso seja eleito, e tais promessas, ainda que sob
juramento, sã o nulas e sem valor (nº 82). Os cardeais nã o devem ser in luenciados por amizade ou aversã o ou por
quaisquer outras pressõ es externas ao votar. Devem “dar o seu voto à pessoa, també m fora do Colé gio Cardinalı́cio,
que a seu juı́zo seja mais adequada para governar de maneira fecunda e bené ica a Igreja universal” (n. 83).
7. Aceitação e Proclamação do Novo Papa. Apó s a eleiçã o de um novo papa, o cardeal-diá cono jú nior convoca para a
sala de eleiçã o o secretá rio do Colé gio dos Cardeais e o mestre das celebraçõ es litú rgicas papais. O reitor do colé gio,
ou o cardeal mais antigo, pergunta ao eleito: "Você aceita sua eleiçã o canô nica como pontı́ ice supremo?" Assim que
recebeu o consentimento, ele perguntou ao novo papa: "Por que nome você deseja ser chamado?" O mestre das
celebraçõ es litú rgicas papais, com os dois mestres de cerimô nias (entã o convocados) como testemunhas, redige um
documento que certi ica a aceitaçã o do novo papa e o nome por ele adotado (n. 87). O conclave termina o icialmente
com a aceitaçã o de sua eleiçã o pelo novo papa.
Se o eleito já é bispo, é imediatamente bispo de Roma, “verdadeiro papa e chefe do colé gio dos bispos”, com “plena
e suprema autoridade sobre a Igreja universal”. Se o eleito ainda nã o for bispo (algué m de fora do Colé gio
Cardinalı́cio, visto que todos os Cardeais sã o Bispos), é imediatamente ordenado Bispo pelo Reitor do Colé gio
Cardinalı́cio. E importante notar que o Có digo de Direito Canô nico de 1983 resolve a questã o teoló gica e canô nica se
algué m que ainda nã o é bispo se torna papa assim que aceita sua eleiçã o. Ele nã o. Visto que é papa porque é bispo
de Roma, ele ainda nã o é papa até que seja ordenado bispo: “O Romano Pontı́ ice obté m o poder pleno e supremo na
Igreja por meio da eleiçã o legı́tima por ele aceita juntamente com a consagraçã o episcopal. . . ” (câ n. 332,1). O Có digo
de Direito Canô nico de 1917 estipulou, em contraste, que um homem se torna papa “assim que aceita a eleiçã o” (câ n.
219).
Os cardeais entã o se aproximam do papa recé m-eleito para prestar-lhe “homenagem e obediê ncia”, e um ato de
agradecimento é entã o prestado por todos os presentes. O cardeal-diá cono sê nior anuncia o nome do novo papa
para aqueles na Praça de Sã o Pedro, e o novo papa imediatamente depois concede a bê nçã o apostó lica Urbi et Orbi
(lat., "Para a cidade e para o mundo") da varanda da Bası́lica de Sã o Pedro (n. 89).
Uma cerimô nia solene de "inauguraçã o do ponti icado" (antiga coroaçã o) ocorre vá rios dias depois, e é seguida,
"dentro de um prazo apropriado", pela posse do novo papa da arquibancada patriarcal de Latrã o, que é a a igreja da
catedral do papa como bispo de Roma (n. 92).

B. COMO OS PAPAS SAO REMOVIDOS DO ESCRITORIO


O CODIGO DE LEI CANONIZADO DA IGREJA NAO ANTECIPA NENHUMA RAZAO PARA UMA VAGA noofı́cio papal, exceto a morte ou a renú ncia
feita “livremente e. . . devidamente manifestado ”, mas nã o“ aceito por ningué m ”(can 332.2). Em outras palavras,
ningué m está autorizado a receber a renú ncia; o papa simplesmente renuncia. A lei eclesiá stica nã o prevê
absolutamente nenhuma situaçã o em que um papa possa se tornar mentalmente incapaz, entrar em coma ou sofrer
alguma outra de iciê ncia radical que o impeça de exercer seu cargo e ministé rio. Nem há qualquer processo a ser
seguido se, no julgamento de muitos, o papa caiu em heresia ou cisma. A lei simplesmente pressupõ e que, como
pastor supremo da Igreja, ele “está sempre unido em comunhã o com os outros bispos e com a Igreja universal” (câ n.
333.2). De fato, o mesmo câ none deixa claro que “Nã o há apelaçã o nem recurso contra uma decisã o ou decreto do
Romano Pontı́ ice” (câ n. 333.3). Alé m disso, “aquele que recorrer de um ato do Romano Pontı́ ice a um concı́lio
ecumê nico ou ao colé gio dos bispos seja punido com uma censura” (câ n. 1372).
Na lei, se nã o na teologia, o papa é , com efeito, um monarca absoluto. Que recurso tem a Igreja se acontecer de um
papa violar gravemente os deveres sagrados de seu cargo ou nã o for mais fı́sica ou psicologicamente capaz de
exercê -los? No passado, tanto a Igreja quanto as autoridades civis tomaram certos tipos de açã o, embora nem
sempre no interesse superior do evangelho ou de maneira consistente com o evangelho. O que se segue sã o os casos
de vinte e seis papas que foram destituı́dos, permanente ou temporariamente, do cargo por outros meios que nã o a
morte ou que foram declarados excomungados e / ou depostos do cargo, sem, no entanto, o reconhecimento dessa
açã o pelo mais amplo Igreja.
1. Pontian (230–35) foi o primeiro papa a abdicar ou renunciar ao cargo papal. Ele fez isso apenas porque foi
deportado pelo novo imperador anticristã o Maximinus Thrax para trabalhar nas minas na ilha da Sardenha,
conhecida como a “ilha da morte”, da qual poucos voltaram vivos. O papa exilado nã o queria que houvesse um vá cuo
de liderança na igreja romana. De acordo com o Catá logo da Libé ria do sé culo IV, Pontian abdicou em 28 de
setembro de 235, a primeira data registrada com precisã o na histó ria papal.
2. Durante a perseguiçã o de Diocleciano iniciada em 303, Marcelino (296–304) cumpriu as ordens imperiais de
entregar có pias da Sagrada Escritura e outros livros sagrados e de oferecer incenso aos deuses. Alguns
historiadores pensam que ele foi deposto ou abdicado antes de sua morte. Por um tempo, seu nome foi realmente
omitido da lista o icial de papas. O Annuario Ponti icio , uma publicaçã o o icial do Vaticano, identi ica a data de seu
té rmino do cargo com a data de sua morte, 25 de outubro de 304. As açõ es do papa, no entanto, o teriam
automaticamente desquali icado do sacerdó cio e, portanto, do papado como bem, por volta de maio de 303. Se ele
foi deposto ou abdicado voluntariamente, nã o temos data para nenhum dos dois eventos.
3. Libério (352-66) inicialmente se opô s à condenaçã o de Santo Ataná sio de Alexandria (m. 373) pelos arianos nos
concı́lios de Aquilé ia e Arles e novamente em Milã o em outubro de 355. Em retaliaçã o, o imperador ariano
Constâ ncio depô s Liberius deixou o cargo e o mandou para o exı́lio severo na Trá cia. Embora o clero romano
inicialmente se recusasse a eleger um novo bispo, eles eventualmente cederam à pressã o imperial e elegeram o
arquidiá cono Fé lix, que foi consagrado como bispo de Roma no palá cio imperial em Milã o por trê s bispos que
tinham tendê ncias arianas. Quando Fé lix foi instalado no Latrã o em Roma, houve uma forte reaçã o popular contra
ele e em apoio a Libé rio. O imperador Constâ ncio, respondendo eventualmente à realidade polı́tica, permitiu que
Libé rio voltasse a Roma em 358 (Libé rio já havia abandonado Ataná sio), com o entendimento de que Libé rio e Fé lix
serviriam como co-bispos. O povo protestou: “Um Deus, um Cristo, um bispo” e expulsou Fé lix da cidade. Mas parece
que de 357 a 365 Roma teve dois homens atuando como bispos da Sé Apostó lica: Libé rio ocupando o Palá cio de
Latrã o e Fé lix II estabelecido nos subú rbios, com clero e leigos desigualmente divididos em suas lealdades. Fé lix
morreu em 22 de novembro de 365, e seu nome foi incluı́do por algum tempo nas listas o iciais de papas como Fé lix
II. Na verdade, o pró ximo Papa Fé lix assumiu o nome de Fé lix III.
4. Silverius (536-37) renunciou ao cargo sob pressã o. A imperatriz mono isita Teodora, chateada com a deposiçã o
do patriarca mono isita Antimo de Constantinopla pelo papa anterior, instou-o a renunciar em favor do diá cono
romano Vigı́lio, o legado papal de Constantinopla, com quem ela izera um pacto para restaurar Antimo
Constantinopla. Quando Silverius se recusou a renunciar, foi convocado ao quartel-general do imperador geral, onde
foi despojado de seu pá lio, degradado à condiçã o de monge e deposto em 11 de março de 537. Ele foi deportado
para Patara, uma cidade portuá ria na Lı́cia, e mais tarde foi condenado a voltar a Roma para ser julgado. A essa
altura, entretanto, Vigilius já havia sido eleito o novo papa. Quando Silverius chegou a Roma, Vigilius providenciou
para que ele fosse levado para Palmaria, uma ilha no Golfo de Gaeta, onde ele renunciou ao papado sob ameaça em
11 de novembro. Silverius morreu menos de um mê s depois, em 2 de dezembro, provavelmente de abuso fı́sico e
fome projetada para evitar um julgamento potencialmente embaraçoso.
5. Vigilius (537-55) pagou por seu pecado de cumplicidade na deposiçã o injusta, renú ncia forçada e morte cruel
de seu predecessor, Silverius. Por causa de sua vacilaçã o sobre os ensinamentos do Concı́lio de Calcedô nia (451), ele
foi preso, exilado e mantido em prisã o domiciliar pelo imperador pró -Calcedô nia, Justiniano, e entã o sofreu duas
excomunhõ es. Ele e o patriarca de Constantinopla excomungaram um ao outro durante o exı́lio do papa em
Constantinopla, mas depois se reconciliaram. Vigilius també m foi excomungado por um sı́nodo de bispos africanos
em Cartago em 550, mas nã o há registro de uma reconciliaçã o subsequente. Ele continuou como papa até sua morte
em 555.
6. Martinho I (649-54) foi o primeiro papa em dé cadas a ser consagrado sem esperar pela aprovaçã o imperial, um
ato que enfureceu o imperador Constante II, que se recusou a reconhecê -lo como um papa legı́timo. Um oponente
forte e decidido do monotelismo (a heresia que sustentava que em Cristo há apenas uma vontade divina, nã o duas: a
humana e a divina), Martinho I pagou um alto preço pessoal por seu desa io ao imperador e por sua defesa da
ortodoxia cató lica . No verã o de 653, o exarca imperial prendeu o papa na Bası́lica de Latrã o, onde ele se refugiou e
icou acamado por causa da gota. O exarca entregou ao clero um decreto imperial declarando que Martin nã o era o
papa legal e, portanto, foi deposto. O papa foi contrabandeado para fora de Roma e levado à força para
Constantinopla, onde chegou em setembro de 653. Apó s trê s meses de con inamento solitá rio, o papa foi levado a
julgamento, nã o como papa, mas como diá cono rebelde e ex-legado papal. Ele foi despojado publicamente de suas
vestes episcopais, sua tú nica foi rasgada de cima a baixo e ele foi acorrentado. Ele foi considerado culpado,
condenado à morte e açoitado publicamente. Somente por causa do apelo do patriarca moribundo de
Constantinopla, Paulo II, a sentença do papa foi comutada para o exı́lio. Depois de mais trê s meses na prisã o, o papa
foi levado de navio para Chersonesus, na Crimeia, onde morreu em 16 de setembro de 655, em conseqü ê ncia de seu
tratamento cruel.
Enquanto Martin I estava no exı́lio e ainda vivo, o clero e os leigos de Roma elegeram um sucessor, Eugenius I. Foi
Eugenius I um papa legı́timo? Nã o há evidê ncias de que Martin I abdicou, ou renunciou, durante o exı́lio. Eugenius e
seus partidá rios provavelmente concluı́ram que Martin nunca voltaria a Roma e que, se esperassem mais, o
imperador imporia um papa monotelita à Igreja. Pouco antes de sua morte em 16 de setembro de 655, Martin
enviou uma carta a um amigo na qual mencionava que orava especialmente “por aquele que agora governa a Igreja”.
Isso foi uma aquiescê ncia tá cita ou aprovaçã o da eleiçã o de Eugenius? Nó s nã o sabemos. Pode-se perguntar,
entretanto, por que o Annuario Ponti icio marca o im do ponti icado de Martinho como 16 de setembro de 655, e o
inı́cio do de Eugê nio I como 10 de agosto de 654. O Vaticano deseja a irmar que a Igreja Cató lica já teve dois papas
legitimamente eleitos e consagrados servindo simultaneamente? Embora seja exatamente isso o que a lista o icial de
papas do Vaticano implica, nã o é o ú nico exemplo na histó ria papal. A mesma pergunta se aplica, por exemplo, ao
caso anterior de Vigilius e Silverius em 537.
7. Embora eleito por unanimidade como Bispo de Roma, Leão III (795-816) tinha muitos inimigos entre as famı́lias
aristocrá ticas de Roma. Em 25 de abril de 799, ele foi violentamente atacado durante a procissã o para a missa e uma
tentativa malsucedida foi feita para cortar seus olhos e lı́ngua. Ele foi entã o formalmente deposto e enviado para um
mosteiro, de onde mais tarde escapou com a ajuda de amigos. Ele foi até a corte de Carlos Magno em Paderborn e foi
calorosamente recebido. O rei franco recusou-se a reconhecer o depoimento do papa do cargo, mas representantes
da facçã o anti-leonina chegaram logo depois de Roma, carregando acusaçõ es de perjú rio e adulté rio contra o papa.
Embora muitos francos considerassem as acusaçõ es crı́veis, eles foram impedidos de fazer um julgamento sobre elas
por causa do princı́pio comumente aceito de que nenhum poder poderia julgar a Sé Apostó lica.
Um ano depois, Carlos Magno foi a Roma e, em 1 ° de dezembro de 800, realizou um concı́lio em Sã o Pedro para
examinar as acusaçõ es contra o papa. A assemblé ia se recusou a fazê -lo, alegando que nã o poderia julgar o papa. Em
23 de dezembro, Leã o III declarou-se pronto para ser expurgado dessas “falsas acusaçõ es” e entã o fez um
juramento de purgaçã o, jurando inocê ncia. Seus acusadores foram mandados para o exı́lio. Dois dias depois, o papa
coroou Carlos Magno como "imperador dos romanos".
8. Depois de depor e excomungar Photius, o recé m-nomeado patriarca de Constantinopla em 863, Nicolau I (858-
67) piorou ainda mais as coisas ao enviar bispos missioná rios para a Bulgá ria em resposta a um apelo de seu rei,
Boris I. Já que a Bulgá ria havia sido evangelizado originalmente por missioná rios bizantinos, Photius sentiu que
estava sob sua jurisdiçã o espiritual. Depois de denunciar a interferê ncia latina aos outros patriarcas do Oriente,
Photius convocou um sı́nodo em Constantinopla (867), que excomungou e depô s Nicolau. O papa havia morrido (em
13 de novembro de 867) antes que a palavra da açã o do Sı́nodo chegasse a Roma, mas as excomunhõ es mú tuas
estabeleceram claramente as bases para o Cisma Leste-Oeste de 1054 - um cisma que perdura até hoje.
9. Estêvão VI (VII) (896-97) foi o papa que ordenou a exumaçã o do corpo do Papa Formoso e presidiu um
julgamento simulado (o chamado Sı́nodo do Cadá ver) do papa falecido em janeiro de 897, nove meses apó s o a
morte do papa idoso. Por sua açã o vergonhosa, o pró prio Estê vã o foi mais tarde deposto, despojado de sua insı́gnia
papal, preso e estrangulado até a morte.
10. Romanus (897) provavelmente se tornou um monge apó s seu breve perı́o do no trono papal. Nesse caso, ele
provavelmente també m foi deposto pela mesma facçã o pró -Formosana que o elegeu na esperança de substituı́-lo
por um defensor mais vigoroso e e icaz da memó ria de seu heró i.
11. Sérgio III (904-11) foi originalmente eleito papa para suceder a Teodoro II em 897 e foi até instalado no
Palá cio de Latrã o. No entanto, ele foi rapidamente expulso em favor do pró -Formosano Joã o IX, que teve o apoio do
imperador Lamberto de Spoleto. Sé rgio foi deposto e exilado, mas se viu com uma segunda chance quando, sete
anos depois, o antipapa Cristó vã o derrubou Leã o V. Sergius marchou sobre Roma com uma força armada, jogou
Cristó vã o na prisã o, foi aclamado papa e foi consagrado em 29 de janeiro de 904. Pouco depois, ele estrangulou Leo
e Christopher até a morte na prisã o. Sé rgio datou seu pró prio reinado de dezembro de 897, quando foi eleito pela
primeira vez, e considerou todos os papas subsequentes como intrusos. No entanto, o diretó rio o icial do Vaticano, o
Annuario Ponti icio , data o inı́cio de seu ponti icado como 904. Seu depoimento, portanto, nã o teria sido como papa.
Por outro lado, nã o é absolutamente claro se sua primeira eleiçã o foi canô nica ou teologicamente invá lida, apesar de
seu cará ter repreensı́vel.
12. João X (914-28) entrou em con lito com as poderosas famı́lias nobres de Roma, especialmente quando, apó s o
assassinato do imperador Berengar em 924, ele fez um pacto com o novo rei da Itá lia, Hugo da Provença. Isso
alarmou Marozia e seu marido, Guido, o marquê s da Toscana, os quais organizaram uma revolta contra o papa e seu
irmã o Pedro, em quem o papa cada vez mais con iava. Pedro foi morto no Latrã o, diante dos olhos de Joã o X, e meio
ano depois o pró prio papa foi deposto e preso no Castelo de Santo Angelo. Ele morreu depois de vá rios meses
(provavelmente no inı́cio de 929), quase certamente por as ixia por ordem de Marozia.
13. João XII (955-64) encontrou-se em di iculdades com o clero romano por causa do cará ter abertamente imoral
de sua vida, e com o imperador alemã o, Otto I, porque ele (o papa) intrigou o imperador com o seu (o imperador)
odiava o inimigo Berengar, rei da Itá lia. Em novembro de 963, o imperador voltou a Roma, e Joã o XII fugiu com o
tesouro papal para Tivoli. Otto presidiu um sı́nodo em Sã o Pedro no qual, apó s ouvir acusaçõ es do clero sobre o
comportamento indigno do papa, ele acusou o papa de perfı́dia e traiçã o. O sı́nodo escreveu trê s vezes ao papa
pedindo-lhe que comparecesse ao sı́nodo. Ele recusou e ameaçou excomunhã o. Em sua ausê ncia, foi deposto em 4
de dezembro de 963. A pedido do sı́nodo, Otto propô s o nome de Leã o, leigo, como digno sucessor, e Leã o foi eleito
em 4 de dezembro de 963, sendo consagrado bispo de Roma dois dias depois de receber todas as Ordens Sagradas
requeridas em sequê ncia. Há uma sé ria questã o canô nica, é claro, se este sı́nodo (ou qualquer outro) tinha o direito
de julgar o papa e depoı́-lo - o que, por sua vez, levanta uma questã o sobre a validade da eleiçã o e consagraçã o de
Leã o VIII.
O comportamento de Leo no cargo fez com que as pessoas ansiassem por Joã o XII. Leã o fugiu e, em outro sı́nodo
em 26 de fevereiro de 964, o sı́nodo imperial anterior foi anulado, Leã o VIII foi deposto e suas ordenaçõ es foram
declaradas invá lidas.
14. Leão VIII (963-65) foi eleito papa apó s a deposiçã o de Joã o XII. Sua eleiçã o tem sido uma questã o de debate
canô nico por causa da natureza questioná vel da deposiçã o de Joã o XII por um sı́nodo romano presidido pelo
imperador alemã o em 4 de dezembro de 963. Signi icativamente, a lista o icial de papas no Annuario Ponti icio do
Vaticano aceita a sobreposiçã o sem resolver a questã o canô nica. (Este nã o é o ú nico caso em que a lista o icial de
papas do Vaticano permite tal sobreposiçã o, como já vimos.) Em qualquer caso, o desempenho de Leã o no cargo
provocou distú rbios generalizados na cidade e ele foi forçado a buscar asilo no impé rio tribunal, permitindo assim
que Joã o XII recuperasse o trono papal. Um sı́nodo convocado por Joã o XII em Sã o Pedro em 26 de fevereiro depô s
Leã o como usurpador e declarou sua ordenaçã o e consagraçã o invá lida, bem como as Ordens sagradas daqueles
que o pró prio Leã o havia ordenado.
15. O ponti icado de um mê s de Bento V (22 de maio a 23 de junho de 964) foi canonicamente duvidoso porque
outro pretendente ao papado, Leã o VIII, ainda estava vivo. Quando Joã o XII morreu em 14 de maio de 964, o povo
romano e muitos do clero ignoraram os desejos do imperador Otto I de restabelecer Leã o VIII (a quem Joã o XII
havia deposto como usurpador). Em vez disso, em 22 de maio, eles aclamaram Bento XVI, um erudito cardeal-
diá cono reformista, como papa, o consagrou como bispo de Roma e o entronizou no Palá cio de Latrã o.
O imperador sitiou a cidade de Roma, ameaçando submeter o povo à fome. O povo logo cedeu e entregou Bento
XVI ao imperador em 23 de junho. Um sı́nodo foi imediatamente realizado em Latrã o, presidido conjuntamente por
Leã o VIII e o imperador Otto I. Bento XVI foi condenado como usurpador (o que era apenas se Leã o VIII fosse sua
duvidosa eleiçã o e consagraçã o em dezembro de 963 foram canonicamente vá lidas), foi despojado de suas vestes e
insı́gnias pontifı́cias, e teve sua equipe pastoral, ou bá culo, quebrada sobre sua cabeça pelo pró prio Leã o enquanto
Bento XVI estava prostrado. O imperador permitiu que Bento XVI mantivesse o posto de diá cono, mas o deportou
para Hamburgo, onde o bispo local o tratou com cortesia e dignidade.
16. Mal João XIV (983-84) foi empossado, apó s a morte de Bento VII, quando o imperador alemã o Oto II foi
atacado de malá ria e morreu nos braços do papa. A imperatriz Teó fano imediatamente deixou Roma e foi para a
Alemanha para defender a reivindicaçã o de seu ilho Otto III, de trê s anos. Joã o XIV estava agora completamente
indefeso contra seus inimigos. O antipapa Bonifá cio VII retornou do exı́lio em Constantinopla em abril de 984. Joã o
foi preso, espancado, deposto do cargo e encarcerado no Castelo de Santo Angelo. Ele morreu quatro meses depois
de fome.
17. Pouco se sabe sobre o ponti icado de João XVIII (1003-9), mas ele pode ter abdicado pouco antes de sua morte
e se tornar um monge na bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros, onde está enterrado. Se Joã o XVIII abdicou antes de
sua morte no inal de junho ou inı́cio de julho de 1009, é prová vel que tenha sido forçado a fazê -lo.
18. Bento IX (1032–44, 1045, 1047–48) teve um dos ponti icados mais canonicamente confusos de toda a histó ria.
Em setembro de 1044, ele fugiu de Roma por causa da crescente hostilidade contra ele por seu estilo de vida imoral
e contra sua famı́lia (os tusculanos) por sua interferê ncia nos assuntos da cidade. No mê s de janeiro seguinte (1045),
embora Bento XVI nunca tivesse sido deposto formalmente, um ramo da famı́lia rival Crescentii nomeou Joã o, bispo
de Sabina, como papa. Ele assumiu o nome de Sylvester III. Bento XVI prontamente o excomungou e, em 10 de
março, conseguiu expulsá -lo de Roma e reivindicar o trono papal. Dois meses depois, poré m, por motivos que nã o
sã o claros (talvez fosse o dinheiro que ganharia com a venda de seu cargo), ele abdicou em favor de seu padrinho,
Joã o Graciano, que adotou o nome de Gregó rio VI. Agora, havia trê s pretendentes ao trono papal. Silvestre III e
Gregó rio VI (ambos na lista o icial de papas do Vaticano) foram depostos em um sı́nodo em Sutri em 1046, e entã o o
pró prio Bento IX foi deposto em um sı́nodo romano quatro dias depois, na vé spera de Natal. O imperador entã o
nomeou Suidger de Bamberg como papa, que adotou o nome de Clemente II. (Clemente II també m está na lista o icial
de papas do Vaticano.) Clemente morreu repentinamente oito meses depois, e o povo romano, talvez encorajado por
subornos, exigiu que Bento IX fosse restaurado ao cargo.
Bento IX foi reintegrado em 8 de novembro de 1047 e permaneceu no cargo até 16 de julho de 1048, quando foi
destituı́do do trono papal por ordem do imperador. Poppo de Brixen foi instalado como Damasus II. Bento 16
retirou-se para sua terra natal em Tusculan, continuando a se considerar o papa legı́timo contra o intruso Dâ maso e,
mais tarde, contra o sucessor de Dâ maso, Leã o IX. Um sı́nodo de Latrã o em abril de 1049 convocou Bento XVI para
enfrentar a acusaçã o de simonia e, quando ele se recusou a comparecer, excomungou-o. Bento IX viveu pelo menos
mais sete anos e meio depois disso, seu terceiro perı́o do no papado.
19. Silvestre III (20 de janeiro a 10 de março de 1045) foi eleito papa como candidato da famı́lia Crescentii, depois
que Bento IX foi expulso de Roma. Mas assim que Bento IX soube da eleiçã o de Silvestre, ele o excomungou. Dois
meses depois, Bento 16 voltou a Roma e removeu Sylvester do trono papal. Sylvester entã o retomou seus deveres
como bispo de Sabina, um posto que nunca havia renunciado. Dezoito meses depois, Henrique III, rei da Alemanha,
condenou Silvestre III no sı́nodo de Sutri em 20 de dezembro de 1046, foi con inado em um mosteiro e despojado de
suas ordens sagradas. A pena deve ter sido suspensa, entretanto, porque Silvestre continuou a funcionar em Sabina
até 1062, quando um sucessor foi nomeado.
20. Gregório VI (1045–46) foi deposto em 20 de dezembro de 1046, por um sı́nodo em Sutri convocado pelo rei
alemã o Henrique III, que antes havia descido a Roma com a esperança de ser coroado imperador pelo papa. Mas
havia trê s que a irmavam ser papa: Bento IX, Silvestre III e Gregó rio VI. O rei e o sı́nodo declararam Gregó rio
culpado de simonia e o depuseram do cargo. Gregó rio VI foi levado de volta à Alemanha, acompanhado de seu
capelã o e amigo, o futuro Papa Gregó rio VII, e colocado sob a supervisã o do bispo de Colô nia. Ele morreu no inal do
mesmo ano.
21. Gregório VII (1073–85) foi deposto duas vezes durante seu ponti icado, ambas as vezes por sı́nodos de bispos
alemã es (com o apoio na primeira instâ ncia dos bispos lombardos) e por instigaçã o do rei alemã o Henrique IV. A
primeira vez foi por um sı́nodo de 26 bispos alemã es em Worms (24 de janeiro de 1076), que se referiu a ele com
desprezo como o "monge Hildebrand". O papa e o rei haviam discutido sobre a nomeaçã o de candidatos ao
arcebispado de Milã o e a vá rios bispados e abadias em outras partes da Alemanha e Itá lia. No sı́nodo quaresmal de
1076, Gregó rio excomungou Henrique, suspendeu-o do exercı́cio de seus poderes reais e liberou os sú ditos do rei
de toda idelidade a ele. Os bispos que apoiaram Henrique foram excomungados ou suspensos. A segunda vez que
Gregó rio VII foi deposto ocorreu apó s uma disputa entre ele e o rei sobre quem deveria ser reconhecido como rei
da Alemanha, Henrique ou Rodolfo, que os prı́ncipes alemã es elegeram como rei rival. Gregory inalmente
reconheceu Rudolf. Henrique entã o convocou um conselho de bispos imperiais em Brixen em 25 de junho de 1080.
O conselho depô s Gregó rio e elegeu Guibert, arcebispo de Ravenna, como Clemente III para substituir Gregó rio.
Henrique ainda estava aberto a concessõ es porque queria ser coroado imperador. Mas Gregó rio VII foi in lexı́vel,
tanto que perdeu muitos de seus apoiadores, incluindo treze cardeais. Depois que Henrique tomou Roma em março
de 1084, apó s um cerco de dois anos, o clero romano e os leigos elegeram Guibert (Clemente III) papa e ele foi
entronizado na Bası́lica de Latrã o em 24 de março de 1084. Uma semana depois, em 31 de março, enquanto
Gregó rio VII ainda estava no Castel Sant'Angelo, o antipapa Clemente III coroou o imperador Henrique na Bası́lica de
Sã o Pedro. Mas Henrique e Clemente deixaram Roma quando Robert Guiscard, duque de Apú lia, marchou sobre
Roma com tropas normandas e resgatou Gregó rio. No entanto, o comportamento violento das tropas de Robert
enfureceu o povo romano e eles se voltaram contra o papa que os havia convidado. Gregó rio VII saiu de Roma, indo
primeiro para Monte Cassino e depois para Salerno, onde morreu em 25 de maio de 1085.
22. Todos parecem saber sobre o caso de Celestino V (1294). Na verdade, muitos continuam a pensar nele como o
ú nico papa a renunciar ao cargo. Ele nã o era. Havia pelo menos trê s outros (Pô ncio em 235, Silverius em 537 e
Gregó rio XII em 1415), e possivelmente um quarto (Joã o XVIII em 1009). E preciso lembrar també m que Bento IX
abdicou em favor de seu padrinho em 1045, mas foi reintegrado em 1047. Quando percebeu como estava mal
equipado para o papado, Celestino convocou um consistó rio em 13 de dezembro de 1294 e leu o fó rmula de
abdicaçã o que o cardeal Caetani (que o sucederia como Bonifá cio VIII) preparou para ele. Ele entã o tirou sua
insı́gnia papal e, em um apelo inal, exortou os cardeais a procederem imediatamente à eleiçã o de seu sucessor. A
renú ncia provocou uma guerra de tratados teoló gicos e canô nicos a favor e contra sua validade.
23. Quase imediatamente apó s sua eleiçã o, Urbano VI (1378–1389) começou a manifestar um lado mais sombrio
de sua personalidade, incluindo tiradas incontrolá veis. Os cardeais franceses retiraram-se para Anagni para
considerar suas opçõ es. Depois de uma tentativa fracassada de chegar a um acordo com o novo papa (um conselho
de coadjutores ou regentes foi proposto), eles publicaram em 2 de agosto de 1378 uma declaraçã o de que a eleiçã o
de abril era invá lida porque nã o foi conduzida livremente, mas sob a ameaça de multidã o violê ncia. Os cardeais
franceses convidaram Urbano VI a abdicar. Cinco dias depois (9 de agosto), eles enviaram um aviso ao mundo
cristã o que o papa havia sido deposto como incompetente e intruso. Eles se mudaram entã o de Anagni para Fondi,
onde elegeram o primo do rei francê s, o cardeal Robert de Genebra, como papa em 20 de setembro. Sua coroaçã o
como Clemente VII em 31 de outubro deu inı́cio ao Cisma do Grande Oeste (1378-1417), que nã o seria resolvido até
outro concı́lio ecumê nico, o Concı́lio de Constança (1414-18), eliminou trê s pretendentes simultâ neos ao trono papal
e elegeu Martinho V (1417-1431). No entanto, o conselho nunca resolveu a contrové rsia sobre as reivindicaçõ es de
Urbano e Clemente ao papado. O Annuario Ponti icio , entretanto, considera Clemente um antipapa.
24. Gregório XII (1406-15) foi deposto pelo Conselho de Pisa em 1409 depois que quebrou sua promessa de pré -
eleiçã o de nã o nomear nenhum novo cardeal. Ele criou quatro, dois dos quais eram seus sobrinhos. Ele e Bento XIII
(o papa rival na linha de Avignon) foram convidados a comparecer ao concı́lio, mas ambos recusaram, cada um
convocando seus pró prios concı́lios. Em 5 de junho de 1409, tanto Gregó rio XII quanto Bento XIII foram
formalmente depostos como cismá ticos, hereges intratá veis e perjuros. A Santa Sé foi declarada vaga e, em 26 de
junho, os cardeais reunidos em Pisa elegeram um novo papa, Alexandre V. Enquanto isso, Gregó rio XII abriu seu
pró prio conselho em Cividale, perto de Aquilé ia, em 6 de junho de 1409. Muito poucos compareceram, mas antes de
encerrá -lo em 6 de setembro, Gregó rio excomungou Bento XIII e Alexandre V.
Depois que o Concı́lio de Constança (1414-18) depô s Joã o XXIII em 29 de maio de 1415, ele procurou abrir
negociaçõ es com Gregó rio XII com vistas a sua abdicaçã o. Ele concordou em considerá -lo com a condiçã o de ter
permissã o para convocar formalmente o conselho, uma vez que ele nã o reconheceu a autoridade de Joã o XXIII para
fazê -lo originalmente. O pedido foi aceito e, em 4 de julho de 1415, o cardeal de Gregó rio, John Dominici, leu em voz
alta a bula de Gregó rio convocando o concı́lio e renunciando ao cargo papal. Os dois colé gios de cardeais (Roma e
Avignon) foram unidos, os atos papais de Gregó rio foram rati icados e ele foi nomeado cardeal-bispo do Porto e
legado vitalı́cio da Marcha de Ancona. Ele també m foi declarado inelegı́vel para a eleiçã o como papa, mas seria o
pró ximo em precedê ncia ao novo papa.
25. Eugenius IV (1431-47) foi suspenso e, em seguida, deposto em 24 de janeiro de 1438 e 25 de junho de 1439,
respectivamente, pelos delegados conciliares que se opuseram à transferê ncia do papa do concı́lio ecumê nico de
Basileia para Ferrara e, em seguida, para Florença e que desa iadoramente icou para trá s em Basel. O papa
respondeu em 4 de setembro de 1439, desa iando a ecumenicidade das fases anteriores do Concı́lio de Constança e
condenando o Concı́lio de Basilé ia. Em 5 de novembro de 1439, os que permaneceram na Basilé ia elegeram um
leigo, Amadeus VIII, o duque de Sabó ia, como antipapa (Fé lix V). Na primavera de 1443, quando Eugê nio IV
reconheceu as reivindicaçõ es de Afonso V de Aragã o ao trono do reino de Ná poles, Alfonso ordenou que seus
bispos retirassem seu apoio ao antipapa Fé lix V e tornou possı́vel o retorno do papa de Florença a Roma em
Setembro, apó s uma ausê ncia de cerca de nove anos.
26. A ú ltima instâ ncia de uma suposta deposiçã o papal é a de Pio VI (1775-1799) Depois que um general francê s
foi morto durante um motim em Roma, o governo francê s ordenou a ocupaçã o dos Estados papais. O general Louis
Berthier entrou em Roma em 15 de fevereiro de 1798, proclamou a Repú blica Romana, depô s Pio VI como chefe de
estado e forçou-o a se retirar para a Toscana. Ele viveu vá rios meses em Florença, isolado de quase todos os seus
assessores, mas usando seu nú ncio em Florença como secretá rio de Estado. Quando a guerra estourou novamente, o
governo francê s estava preocupado que as tropas tentassem resgatar o papa, entã o eles o transferiram de Florença
em 28 de março de 1799 para Torino, depois atravé s dos Alpes para Briançon (30 de abril), e depois para Valence
(13 de julho). Pio VI morreu prisioneiro em Valence, aos oitenta e um anos.

C. CLASSIFICANDO OS PAPAS
O historiador Arthur Schlesinger Jr. apontou em um artigo na The New York Times Magazine (15 de dezembro de
1996) que o “jogo dos presidentes de classi icaçã o é um passatempo popular entre os estudiosos”. Em 1948, seu pai,
Arthur Schlesinger Sê nior, convidou cinquenta e cinco historiadores importantes para proferir seus veredictos. Os
resultados foram publicados na revista Life . Em 1962, a revista Time persuadiu o pai de Schlesinger a repetir a
votaçã o. Mais uma vez, despertou muito interesse e contrové rsia. As pesquisas pediam aos historiadores que
classi icassem cada presidente (exceto dois que morreram logo apó s tomar posse) em uma das cinco categorias:
ó timo, quase ó timo, mé dio, abaixo da mé dia e fracasso. O padrã o nã o era conquista vitalı́cia, mas desempenho na
Casa Branca. Houve trê s pesquisas subsequentes conduzidas sob diferentes auspı́cios em 1981 e 1982. Em 1996, a
The New York Times Magazine persuadiu Arthur Schlesinger Jr. a fazer outra pesquisa, que publicou em dezembro do
mesmo ano.
E essa tradiçã o relativamente recente de classi icar os presidentes dos Estados Unidos que incita (nã o se atreva a
dizer “inspira”) esta tentativa de fazer o mesmo em relaçã o aos mais de 260 ocupantes o icialmente listados da
Cá tedra de Pedro. No entanto, seria impraticá vel avaliar cada um dos papas, nã o apenas porque há muito mais papas
do que presidentes dos Estados Unidos, mas també m porque há um nú mero excepcionalmente alto de ponti icados
abreviados (44 papas, ou quase 17 por cento, serviram menos mais de um ano). Alé m disso, dado o material muito
mais limitado que os historiadores do papado tê m de con iar em comparaçã o com o que os historiadores da
presidê ncia tê m à sua disposiçã o, seria difı́cil, senã o impossı́vel, fazer distinçõ es tã o sutis entre grandes e quase
grandes papas ou entre papas mé dios e abaixo da mé dia. De fato, Arthur Schlesinger Jr. aponta que, em todas as
vá rias pesquisas desde 1948, a “escolha dos melhores e piores presidentes permaneceu relativamente está vel ao
longo dos anos. Há muita lutuaçã o no meio. ” Por esse motivo, oferecemos a seguir apenas uma amostra organizada
cronologicamente dos melhores e dos piores papas, porque quaisquer distinçõ es mais sutis sã o simplesmente muito
difı́ceis de fazer, dadas as variaçõ es histó ricas pronunciadas de ponti icado para ponti icado.
Quatro categorias de papas sã o empregadas aqui: excelente, bom (ou acima da mé dia), pior e uma categoria
especial para papas historicamente importantes, alguns dos quais nã o aparecem em nenhuma das outras listas.
Arthur Schlesinger Jr. indica que grandes presidentes "possuem, ou sã o possuı́dos por, uma visã o de uma Amé rica
ideal" e estã o determinados a "garantir que o navio do estado navegue no curso certo". O mesmo é verdade para
papas excelentes e bons, ou acima da mé dia. Eles possuem, ou sã o possuı́dos por, uma visã o de uma Igreja ideal e
estã o determinados a que a Igreja siga um curso consistente com esse ideal. Os dois crité rios positivos para papas
excelentes e bons sã o: (1) as contribuiçõ es que o papa fez (a) para o bem-estar pastoral e espiritual da Igreja
contemporâ nea, (b) para a integridade do ofı́cio papal em seu perı́o do de tempo, e ( c) ao bem comum da sociedade
contemporâ nea; e (2) a contribuiçã o duradoura que um papa fez (a) para o bem-estar pastoral e espiritual de longo
prazo da Igreja, (b) para o desenvolvimento de longo prazo do ofı́cio papal de maneiras pastoral e espiritualmente
enriquecedoras, e (c) para o bem comum da pró pria humanidade. Os dois crité rios negativos para os piores papas
sã o: (1) o dano imediato que o papa pode ter causado (a) ao bem-estar pastoral e espiritual da Igreja
contemporâ nea, (b) ao ofı́cio papal de seu perı́o do, e (c) para o bem comum da sociedade contemporâ nea; e (2) o
dano duradouro que o papa pode ter causado, por meio de comportamento contraproducente ou mesmo
escandaloso, (a) para o bem-estar pastoral e espiritual de longo prazo da Igreja, (b) para o desenvolvimento de
longo prazo do ofı́cio papal, e (c) para o bem comum da humanidade. (Infelizmente, a lista dos piores papas é mais
longa do que a dos papas notá veis e bons, ou acima da mé dia combinados.) Os crité rios para papas historicamente
importantes sã o sua proeminê ncia na histó ria da Igreja e seu reconhecimento como tal pelos historiadores da
papado. Sã o Pedro, o Apó stolo, nã o está incluı́do nas classi icaçõ es porque os papas sã o, por de iniçã o, seus
sucessores. Ele permanece em uma categoria à parte, nã o sujeito a comparaçã o com outros.

I. Notáveis papas
1. João XXIII (1958–63). Provavelmente o papa mais amado, ecumê nico e de coraçã o aberto da histó ria, ele tocou a
comunidade humana mundial de uma forma que nenhum outro papa jamais fez. “Bom Papa Joã o”, como o falecido
cardeal-arcebispo de Boston, Richard Cushing (m. 1970), uma vez o chamou, també m revelou à Igreja e ao mundo o
real objetivo e propó sito do ministé rio petrino. Cada papa, antes e depois dele, deve ser comparado ao padrã o que
ele estabeleceu.
2. Gregório, o Grande (590–604). Como Joã o XXIII, um papa genuinamente pastoral, com uma profunda
preocupaçã o pelos pobres, ele ajudou a moldar a evoluçã o do ministé rio durante sé culos. Seu cuidado pastoral ,
traduzido para o grego e anglo-saxã o em sua pró pria vida, permaneceu uma obra extraordinariamente in luente até
a Idade Mé dia. Nela expô s uma visã o de pastoral adaptada à s necessidades do povo e enraizada no exemplo pessoal
e na pregaçã o, com um equilı́brio delicado entre os aspectos contemplativos e ativos de todo ministé rio. Ele foi o
primeiro a se referir ao papa como o “servo dos servos de Deus”.

II. Papas bons ou acima da média (arranjados cronologicamente)


1. Sixtus II (257–58). Um dos má rtires mais reverenciados da Igreja primitiva, ele foi decapitado pelas forças
imperiais durante a celebraçã o da Eucaristia. Durante seu breve ponti icado, ele devotou com sucesso suas energias
para curar a brecha entre Roma e as igrejas do Norte da Africa e da Asia Menor criada pela questã o do rebatismo de
hereges e cismá ticos que desejavam entrar ou se reconciliar com a Igreja e, em particular , pela abordagem
intransigente adotada por seu antecessor, Estê vã o I. Embora Sisto II, como Estevã o I, tenha mantido a polı́tica
romana de aceitar a validade dos batismos administrados por hereges e cismá ticos, ele restaurou relaçõ es amigá veis
com Cipriano (m. 258), bispo de Cartago e as igrejas distantes da Asia Menor, provavelmente por tolerar a
coexistê ncia das duas prá ticas. Sisto II via seu ministé rio como um de cura e reconciliaçã o, ao invé s de
endurecimento das divisõ es dentro da Igreja por meio da aplicaçã o estrita e irracionalmente rı́gida da disciplina.
2. Leão, o Grande (440–61). Um dos ú nicos dois papas na histó ria a ser chamado de “o Grande”, Leã o I estabeleceu
o ofı́cio papal como um dos lı́deres na formulaçã o da doutrina e nas relaçõ es com os poderes seculares. Ele foi o
autor de uma sé rie de homilias e cartas claras e teologicamente substantivas, e seu famoso Tomo foi aceito pelo
Concı́lio de Calcedô nia em 451 como base para seu ensino de initivo sobre a divindade e a humanidade de Cristo. Ele
també m é cé lebre por seu corajoso confronto pessoal com Atila, o Huno em 452, quando o guerreiro devastava o
norte da Itá lia e se preparava para seguir para o sul, em direçã o a Roma. Leo convenceu Atila a retirar-se para alé m
do Danú bio. Trê s anos depois, ele també m conseguiu evitar que o rei vâ ndalo Gaiseric (ou Genseric) incendiasse a
cidade e massacrasse seu povo. Por outro lado, seu ciú me das prerrogativas papais o levou a atrasar por dois anos e
meio seu endosso dos importantes ensinamentos dogmá ticos do Concı́lio de Calcedô nia (451) sobre a divindade e
humanidade de Jesus Cristo. Leã o icou perturbado com a concessã o do concı́lio à sé de Constantinopla de uma
dignidade eclesiá stica quase equivalente à de Roma. Ele també m foi o primeiro papa a reivindicar ser o herdeiro de
Pedro, o que, de acordo com a lei romana, signi icava que todos os direitos e deveres associados a Pedro
permaneceriam em Leã o. Papas anteriores haviam falado sobre sua sucessã o à cadeira de Pedro ou apelado para
seu martı́rio e sepultamento em Roma como base de sua autoridade. Daı́ em diante, os papas claramente se
consideraram como estando no lugar de Pedro, exercendo autoridade nã o apenas sobre todos os ié is, mas també m
sobre todos os outros bispos. Alguns consideram isso uma grande conquista de Leã o, a elevaçã o da autoridade do
papado a nı́veis novos e mais elevados. Na realidade, poré m, as reivindicaçõ es de Leã o sã o em grande parte
responsá veis pela in laçã o da autoridade papal, que o Oriente nunca aceitou e que foi levada em excesso no Ocidente
durante a Idade Mé dia e mesmo no inal do sé culo XX. (Este ú ltimo ponto nã o é feito para diminuir as realizaçõ es
positivas de Leã o I como bispo de Roma, mas para fornecer uma explicaçã o para sua exclusã o da pequena lista de
papas "notá veis", embora ele seja apenas um dos dois papas na histó ria a ser chamado "O grande.")
3. Boniface V (619–25). Conhecido por sua compaixã o e generosidade, ele distribuiu toda a sua fortuna pessoal
aos pobres. Ele está sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, onde seu epitá io o descreve como “generoso, sá bio, puro,
sincero e justo”. Só nos perguntamos por que ele acabou nã o sendo reconhecido como santo, já que o tı́tulo havia
sido conferido a muitos papas menos merecedores antes dele.
4. Theodore II (novembro / dezembro 897). Embora ele tenha permanecido no cargo por apenas vinte dias, ele
realizou um sı́nodo invalidando o chamado Sı́nodo do Cadá ver de 897, que havia colocado o cadá ver do Papa
Formoso em julgamento. Teodoro II reabilitou Formoso, reconheceu a validade de suas ordenaçõ es e atos papais e
ordenou que fossem queimadas todas as cartas solicitadas pelo Papa Estê vã o VI (VII) ao clero - cartas nas quais eles
foram forçados a renunciar à validade de suas ordenaçõ es por Formoso . Teodoro entã o ordenou que o corpo de
Formoso fosse exumado da sepultura particular em que fora colocado depois de ter sido lançado no rio Tibre,
vestido com as vestes pontifı́cias e reenterrado com honras em sua sepultura original na Bası́lica de Sã o Pedro. Os
atos corajosos do papa provavelmente custaram-lhe a vida.
5. Nicolau V (1447-55). Um paci icador nas frentes polı́tica e eclesiá stica, ele restaurou a ordem na cidade de
Roma, livrou os Estados Papais das tropas mercená rias e reconquistou a lealdade de vá rias cidades; ele també m
persuadiu o antipapa Fé lix V a abdicar e admitiu vá rios cardinalı́cios do antipapa nomeados para o Colé gio de
Cardeais como um gesto de reconciliaçã o. Ele també m se dedicou à reforma da Igreja, enviando cardeais de prestı́gio
à Alemanha e à França para promover a reforma nesses paı́ses. Em casa com estudiosos e artistas, ele acumulou
uma grande biblioteca pessoal de livros e manuscritos, que, apó s sua morte, se tornou a base da Biblioteca do
Vaticano. Na Igreja primitiva, ele provavelmente teria sido proclamado santo, dada sua vida moralmente correta em
meio a muita corrupçã o e brutalidade contemporâ neas.
6. Innocent XI (1676–89). Ele impô s severas reduçõ es no orçamento papal e convocou a pregaçã o evangé lica e a
catequese, a estrita observâ ncia dos votos moná sticos, a seleçã o cuidadosa de padres e bispos e a frequente
recepçã o da Sagrada Comunhã o. Suas tentativas de persuadir os cardeais a proibir o nepotismo terminaram em
fracasso, no entanto, e sua proibiçã o dos carnavais foi ridicularizada e ignorada pelo povo. Ele era tã o ascé tico em
sua vida pessoal que muitos suspeitavam de suas inclinaçõ es jansenistas (ou seja, uma abordagem muito rı́gida da
vida moral).
7. Innocent XII (1691–1700). Sua iniciativa mais signi icativa foi o decreto Romanum decet ponti icem (22 de junho
de 1692), que determinava que os papas nunca concedessem propriedades, cargos ou receitas a parentes e que, se
tais parentes fossem pobres, deveriam ser tratados como outros necessitados. Alé m disso, apenas um parente pode
ser nomeado para o Colé gio Cardinalı́cio, se quali icado, e sua renda deve ser limitada. Inocê ncio XII encontrou
alguma resistê ncia ao decreto de vá rios cardeais, mas todos eles inalmente o assinaram, cravando uma estaca no
coraçã o do nepotismo papal.
8. Bento XIV (1740-58). Dois meses apó s sua eleiçã o, ele estabeleceu uma congregaçã o para selecionar homens
dignos como bispos. Ele també m promoveu um melhor treinamento clerical, a residê ncia episcopal (evidentemente,
muitos bispos ainda viviam longe de suas dioceses) e a visitaçã o pastoral. Ele isentou os casamentos de nã o cató licos
e mistos (entre cató licos e nã o cató licos) da forma canô nica exigida pelo Concı́lio de Trento (isto é , perante um padre
e duas testemunhas). Em carta aos bispos portugueses da Amé rica do Sul, també m em 1741, ele pediu um
tratamento mais humano aos ı́ndios. Por outro lado, ele també m suprimiu formal e inalmente os ritos chineses em
uso pelos missioná rios jesuı́tas na China, estendendo a proibiçã o até mesmo aos ritos do Malabar na India. Embora
Bento XIV fosse um homem de seu tempo teoló gica e espiritualmente, muitos protestantes e estudiosos agnó sticos o
respeitavam pela amplitude de seus interesses acadê micos e por seu apoio à s artes e ciê ncias.
9. Pio VII (1800-1823). Ele bravamente sofreu cinco anos de prisã o nas mã os de Napoleã o Bonaparte e restaurou
os jesuı́tas em 1814. Embora geralmente se opusesse à nova onda de modernidade que varria a Europa, ele
reconheceu alguns dos aspectos positivos da Revoluçã o Francesa e tentou incorporá -los na a governança dos
Estados Papais.
10. Leo XIII (1878–1903). Ele foi o primeiro papa a tentar reconciliar a Igreja Cató lica com o mundo moderno. Sua
encı́clica Rerum novarum em 1891 marcou o inı́cio de mais de um sé culo de pronunciamentos papais formais sobre
justiça social, direitos humanos e paz. Por outro lado, ele emitiu um julgamento negativo e nã o ecumê nico sobre a
validade das ordens anglicanas e condenou o americanismo sem realmente compreender a diferença entre a
democracia americana e certas opiniõ es expressas na França na é poca.
11. Bento XV (1914–22). Talvez o mais subestimado dos papas modernos, ele deu um basta à guerra destrutiva
dentro da Igreja Cató lica que opô s os chamados cató licos integralistas aos cató licos mais progressistas durante o
ponti icado obsessivamente antimodernista de seu predecessor, Pio X. Bento XV pacientemente sofreu
incompreensã o de sua neutralidade durante a Primeira Guerra Mundial e tentou corajosamente promover a
reconciliaçã o das Igrejas do Oriente e do Ocidente. Ele promoveu com sucesso o desenvolvimento de hierarquias
nativas em paı́ses missioná rios.
12. Paulo VI (1963-1978). Embora estivesse pessoalmente em con lito, seu ponti icado foi geralmente marcado por
compaixã o e razoabilidade. Comprometido com a implementaçã o das reformas do Concı́lio Vaticano II - e com
grande custo pessoal devido à oposiçã o determinada de lı́deres religiosos e leigos rigidamente conservadores - ele
instituiu o Sı́nodo Mundial dos Bispos, estendeu a mã o ao patriarca ecumê nico de Constantinopla e ao arcebispo de
Canterbury em gestos de reconciliaçã o, promoveu o ensino social da Igreja enfatizando as obrigaçõ es das naçõ es
ricas para com as naçõ es pobres, vendeu a tiara papal e distribuiu o dinheiro aos pobres. Embora a encı́clica sobre o
controle da natalidade, Humanae vitae (1968), tenha lançado uma sombra sobre todo o seu ponti icado, sua recusa
em agir duramente contra os dissidentes foi um sinal de seu respeito pela liberdade de consciê ncia, mais do que um
sinal de fraqueza. Ao planejar seu pró prio funeral, ele providenciou para que seu caixã o icasse ao nı́vel do solo e
fosse encimado nã o por uma tiara ou mesmo uma mitra e estola, mas por um livro aberto do Evangelho.

III. Piores Papas


(Na verdade, o "Pior" dos "Piores Papas", em ordem cronológica)
1. Marcelino (296–304). Durante as perseguiçõ es de Diocleciano, ele cumpriu as ordens imperiais de entregar có pias
da Sagrada Escritura e oferecer incenso aos deuses. Esses indivı́duos eram conhecidos como traditores (lat.,
“Traidores”; literalmente, “aqueles que entregam ou entregam”).
2. Liberius (352-66). Um homem fraco, ele cedeu à pressã o ariana e concordou com a excomunhã o de Ataná sio, o
principal defensor dos ensinamentos do Concı́lio de Nicé ia (325) sobre a divindade de Cristo.
3. Vigilius (537–55). Pessoa desonesta e fraca, facilmente manipulada pela imperatriz bizantina Teodora, foi eleito
em circunstâ ncias suspeitas nas quais obrigou seu predecessor a abdicar. Sua vacilaçã o quanto ao ensino do Concı́lio
de Calcedô nia (451) causou tanta consternaçã o no Ocidente que ele foi excomungado por um sı́nodo de bispos
norte-africanos.
4. Sabiniano (604–6). Ele vendeu grã os para os famintos - com lucro. Ele era tã o impopular quando morreu que
seu cortejo fú nebre teve de ser desviado para fora das muralhas da cidade para chegar à Bası́lica de Sã o Pedro.
5. Estêvão VI (VII) (896-97). Ele ordenou que o corpo de um de seus antecessores, Formosus, fosse exumado de
seu tú mulo, vestido com as vestes pontifı́cias completas e julgado por alegados crimes contra a Igreja no infame
“Sı́nodo do Cadá ver”. Ele mesmo foi mais tarde deposto e estrangulado até a morte.
6. Sergius III (904-11). Ele ordenou o assassinato de seu predecessor, Leã o V, e do antipapa Cristó vã o e rea irmou
os atos do notó rio "Sı́nodo do Cadá ver", lançando assim a Igreja mais uma vez no caos porque todos os atos
sacramentais do Papa Formoso foram declarados invá lidos, incluindo todos os seus ordenaçõ es de bispos e padres.
Ao longo de seu ponti icado ignó bil, ele consistentemente obedeceu à s ordens das poderosas famı́lias romanas,
especialmente dos corruptos Teo ilatos.
7. João XII (955–64). Eleito aos dezoito anos, ele levou uma das vidas mais imorais de qualquer papa na histó ria e
morreu de um derrame, supostamente na cama de uma mulher casada.
8. Inocêncio IV (1243–54). O primeiro papa a aprovar o uso da tortura na Inquisiçã o para extrair con issõ es de
heresia, ele seguiu o princı́pio "o im justi ica os meios". Ele elevou o nepotismo à categoria de arte, colocando
parentes em posiçõ es-chave a im de criar uma rede de apoiadores leais, e apagou a distinçã o entre receitas da igreja
e receitas pessoais.
9. Boniface VIII (1295-1303). Embora tenha feito uma contribuiçã o duradoura para o campo do direito canô nico e
reorganizado a Cú ria e os arquivos do Vaticano, ele tinha um senso excepcionalmente in lado de sua pró pria
importâ ncia pessoal e polı́tica, bem como do cargo papal que ocupou, embora em circunstâ ncias eleitorais suspeitas.
Ele encomendou ou permitiu tantas está tuas de si mesmo que foi acusado de encorajar a idolatria. Ele declarou que
a autoridade papal se estende a todas as criaturas do mundo, e ele até mesmo se veste ocasionalmente com trajes
imperiais porque se considera tanto um imperador quanto um papa. Poucos papas na histó ria se desviaram tanto da
norma petrina de serviço humilde aos outros como Bonifá cio VIII. Ele també m causou danos incalculá veis à imagem
do papado e da Igreja nos sé culos seguintes. Cató licos historicamente ingê nuos e teologicamente desinformados
continuam a citá -lo hoje como se suas reivindicaçõ es exageradas de autoridade papal, mesmo sobre o domı́nio
polı́tico, fossem, de fato, consistentes com a vontade de Cristo.
10. Clement VI (1342-52). Seu ponti icado foi modelado menos no exemplo do apó stolo Pedro, cujo sucessor ele
a irmava ser, do que no de um prı́ncipe mundano. Sua corte era banhada por luxos e pontuada por suntuosos
banquetes e grandes festividades. Ele descaradamente conferiu ofı́cios e presentes da igreja a parentes, amigos e
conterrâ neos. Foram feitas acusaçõ es sobre sua pró pria vida moral pessoal. No entanto, quando a Peste Negra
atingiu Avignon, ele defendeu os judeus contra a acusaçã o de que eles eram de alguma forma responsá veis e
també m estendeu a mã o para ajudar os pobres.
11. Urban VI (1378-89). Mentalmente instá vel, volá til e abusivo, ele era um papa tã o intransigente e irracional que
os cardeais que o elegeram o declararam deposto e elegeram outro em seu lugar, iniciando assim o Great Western
Schism (1378-1417). Ele teve cinco de seus cardeais-crı́ticos torturados e executados.
12. Boniface IX (1389-1404). Embora fosse um administrador excepcional, ele era famoso por seu nepotismo
lagrante e trapaça inanceira. Por causa da necessidade desesperada de dinheiro do papado, ele vendeu
abertamente os escritó rios da igreja aos que ofereceram mais. Ele també m aumentou os impostos da igreja de forma
exorbitante, vendeu indulgê ncias durante os anos santos de 1390 e 1400 e autorizou jubileus geradores de renda
em cidades muito alé m da cidade de Roma - sempre por um preço.
13. Callistus III (1455-58). O lagrante nepotismo de Calisto III, o primeiro de dois papas espanhó is e tio do infame
Alexandre VI (o outro papa espanhol), a quem ele fez cardeal, gerou profundo ressentimento entre os cardeais e
outros o iciais da Igreja. Ele també m envergonhou seu ponti icado ao reviver a dura legislaçã o antijudaica, deixada
moribunda por seus antecessores, proibindo toda comunicaçã o social entre cristã os e judeus. Apó s sua morte, os
romanos manifestaram sua ira sobre os catalã es, que fugiram da cidade aterrorizados.
14. Paulo II (1464-71). Ele renegou suas promessas de promover a reforma da igreja, era auto-indulgente em
termos de luxo, esporte e entretenimento e tinha desprezo pelos estudiosos.
15. Sixtus IV (1471-84). Embora seja mais conhecido como o construtor da Capela Sistina, seu ponti icado foi
seriamente marcado por vá rias manchas: o estabelecimento da Inquisiçã o Espanhola e a nomeaçã o do notó rio
Tomá s de Torquemada como grande inquisidor; seu envolvimento na conspiraçã o Pazzi, na qual Giuliano de 'Medici
foi morto e seu irmã o Lorenzo foi ferido; sua anulaçã o dos decretos do reformista Concı́lio de Constança (1414-18);
seu esgotamento do tesouro papal por meio de expediçõ es militares vã s e uma generosidade indecorosa para com
sua famı́lia, que o forçou a se envolver na venda de indulgê ncias e outras formas duvidosas de arrecadaçã o de
receitas (incluindo a duplicaçã o dos cargos da Cú ria); e suas nomeaçõ es extremamente indistintas para o Colé gio de
Cardeais, incluindo seis de seus sobrinhos. Embora um franciscano por toda a vida, Sisto IV reinou como um
prı́ncipe da Renascença.
16. Innocent VIII (1484-92). Um prelú dio apropriado para o ponti icado de Alexandre VI, o ponti icado de
Inocê ncio VIII fez com que o papado afundasse nas profundezas do mundanismo. Menos de trê s meses depois de
ser coroado papa, ele ordenou que a Inquisiçã o na Alemanha punisse as “bruxas” com a maior severidade. Para
superar as enormes dı́vidas deixadas por seu predecessor, ele criou novos e desnecessá rios escritó rios na Cú ria
Romana e os vendeu pelo lance mais alto - um lagrante ato de simonia. No momento de sua morte, os Estados
Papais estavam em anarquia. Enquanto estava morrendo, ele implorou aos cardeais que elegessem algué m melhor
do que ele.
17. Alexander VI (1492-1503). O papa mais notó rio da histó ria. Nepotismo e sensualidade desenfreada foram as
marcas de seu ponti icado.
18. Júlio II (1503–13). Embora patrono de Michelangelo e de outros artistas, era a antı́tese do apó stolo Pedro e
dos ideais do ministé rio petrino. Eleito por meio de suborno e falsas promessas, Jú lio II gastou a maior parte de seu
tempo e energia em batalha militar. Ele també m pavimentou o caminho para a Reforma ao providenciar a venda de
indulgê ncias para arrecadar dinheiro para a construçã o da nova Bası́lica de Sã o Pedro.
19. Leo X (1513-1521). Cego para as nuvens de tempestade da Reforma, ele perdeu uma oportunidade de ouro de
abordar a necessidade de reforma no Quinto Concı́lio de Latrã o (1512-1517). Ele també m concordou com a venda
de indulgê ncias para a construçã o da nova Bası́lica de Sã o Pedro e, em seguida, iniciou a Reforma excomungando
Martinho Lutero em 1521.
20. Paulo IV (1555-1559). Triunfalista até o â mago, ele era amargamente antiprotestante e anti-semita, con inando
os judeus a um bairro especial em Roma e forçando-os a usar capacete caracterı́stico. Ele emprestou seu forte apoio
pessoal à Inquisiçã o e criou o Indice de Livros Proibidos. Quando ele morreu, o povo romano invadiu a sede da
Inquisiçã o e derrubou sua está tua.
21. Clemente XIV (1769-74). Sob pressõ es polı́ticas e econô micas, ele suprimiu os jesuı́tas, com consequê ncias
desastrosas para o trabalho missioná rio, educacional e pastoral da Igreja em todo o mundo. Suas “trinta moedas de
prata” consistiam na devoluçã o de Avignon e Vê nassin, na França, ao controle papal. O grande bió grafo papal Ludwig
von Pastor o chamou de "um dos mais fracos e infelizes da longa linhagem de papas".
22. Leo XII (1823-1829). Ele reforçou o Indice de Livros Proibidos e o poder do Santo Ofı́cio, restabeleceu a
aristocracia feudal nos Estados Papais e con inou os judeus mais uma vez em guetos - tudo como o mundo moderno
estava começando a existir.
23. Gregório XVI (1831–46). Ele se opô s tanto à modernidade que proibiu as ferrovias nos territó rios papais,
condenou o nacionalismo italiano e esmagou um levante nos Estados papais com o uso de tropas austrı́acas. Ele
denunciou a liberdade de consciê ncia, a liberdade de imprensa e a separaçã o entre Igreja e Estado. Por outro lado,
ele també m denunciou a escravidã o e o trá ico de escravos.
24. Pio X (1903-1914). Embora um homem pessoalmente espiritual (ele foi canonizado um santo em 1954), sua
campanha intemperante contra teó logos e estudiosos da Bı́blia, que incluiu o uso de informantes secretos, criou uma
atmosfera de medo e mesquinhez na Igreja que atrasou o progresso de Bolsa cató lica por meio sé culo.

4. Papas historicamente importantes (organizados cronologicamente)


1. Leão, o Grande (440–61). Um bom papa, ou acima da mé dia (veja acima), ele foi o primeiro a estabelecer o papado
como um cargo espiritual e politicamente poderoso.
2. Gregório, o Grande (590–604). Um dos dois papas verdadeiramente notá veis (veja acima), ele remodelou o
papado em um ministé rio de serviço (“servo dos servos de Deus”) e in luenciou o desenvolvimento do cuidado
pastoral por sé culos.
3. Gregório VII (1073–85). Seu ponti icado foi um momento decisivo na histó ria do papado e da pró pria Igreja.
Para combater os verdadeiros desa ios à integridade da Igreja (simonia, nepotismo, corrupçã o clerical e a
interferê ncia de governantes leigos na vida interna da Igreja), ele transformou o pró prio papado em um ofı́cio
legalista e moná rquico. Ele in luenciou - embora, principalmente para o mal - a evoluçã o do papado durante todo o
segundo milê nio cristã o.
4. Innocent III (1198–1216). Um dos papas mais poderosos - e pretensiosos - da histó ria, ele reivindicou
autoridade nã o apenas sobre toda a Igreja, mas sobre todo o mundo cristã o. Ele se considerava um papa situado em
algum lugar entre Deus e a humanidade - menos do que Deus, mas maior do que os homens e mulheres comuns.
Embora fosse um papa polı́tico magistral, ele també m tinha uma agenda eclesiá stica clara: a Quarta Cruzada (1202-
4), a reforma da igreja (que ele realizou com energia e determinaçã o) e o combate à heresia (mesmo por meios
violentos, como acabou). E revelador de sua mentalidade e da é poca que ele també m decretou que judeus e
muçulmanos deveriam usar trajes distintos.
5. Boniface VIII (1295-1303). Poucos papas na histó ria izeram maiores reivindicaçõ es dos poderes espirituais e
temporais do papado do que Bonifá cio VIII, que declarou que toda criatura está sujeita ao papa. Como tal, ele foi o
ú ltimo dos papas medievais e um dos trê s mais poderosos, junto com Gregó rio VII (1073–85) e Inocê ncio III (1198–
1216). Bonifá cio VIII deu uma contribuiçã o duradoura ao campo do direito canô nico, reorganizou os arquivos da
Cú ria e do Vaticano e catalogou a biblioteca papal. A maior parte de seu ponti icado, no entanto, foi ocupada com
batalhas polı́ticas com Filipe, o Belo da França, nas quais Bonifá cio VIII in lou as reivindicaçõ es papais alé m das de
qualquer papa anterior ou posterior. Ele a irmou que a autoridade papal se estende a todas as criaturas do mundo e
começou a se vestir ocasionalmente com trajes imperiais, declarando-se tanto um imperador quanto um papa (ver
també m acima).
6. Pio V (1566-1572). Ele fez cumprir os decretos do Concı́lio de Trento, publicou o Catecismo Romano , reformou o
Missal Romano e o Breviá rio Romano (Ofı́cio Divino) e excomungou a Rainha Elizabeth I da Inglaterra. O ú ltimo se
mostrou extremamente contraproducente, causando grande dano aos cató licos na Inglaterra. Seu intenso
compromisso de erradicar a heresia (um retrocesso aos seus primeiros anos como grande inquisidor) o levou a uma
dependê ncia excessiva da Inquisiçã o e seus mé todos desumanos. Ele praticou o que pregou em sua pró pria vida, no
entanto. Ele continuou a seguir um regime moná stico para si mesmo (incluindo a prá tica de refeiçõ es simples e
solitá rias que permaneceram um costume papal até meados do sé culo XX), e alguns de seus contemporâ neos até o
acusaram de tentar impor o monaquismo a outros també m, incluindo toda a cidadania romana. Ele se opô s ao
nepotismo (embora tenha nomeado seu sobrinho-neto e companheiro dominicano Michele Bonelli um cardeal e
secretá rio de Estado papal), insistiu que os clé rigos residiam em suas atribuiçõ es pastorais e manteve uma vigilâ ncia
cuidadosa sobre as ordens religiosas. Em suma, seu ponti icado da Contra-Reforma foi uma estranha mistura de
impulsos autenticamente evangé licos e cruamente promotores.
7. Pio IX (1846–78). Seu ponti icado foi o mais longo da histó ria. Eleito moderado apó s o ponti icado reacioná rio
de Gregó rio XVI, ele logo se estabeleceu també m entre os papas mais reacioná rios da histó ria. Ele convocou o
Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70), que de iniu o primado papal e a infalibilidade papal, de iniu a Imaculada
Conceiçã o de Maria e publicou um “Syllabus of Errors” que condenou os principais desenvolvimentos do mundo
moderno. Ironicamente, quando seu ponti icado recorde terminou e apesar de seus pró prios desejos, Pio IX
testemunhou a criaçã o do que agora é conhecido como o papado moderno, livre do peso morto da soberania
temporal (os Estados Papais) e exercendo mais autoridade espiritual talvez mais do que nunca em sua histó ria. Na
é poca de sua morte, no entanto, Pio IX era um papa extremamente impopular com o povo de Roma e com as classes
educadas em geral, embora tivesse sido um papa extraordinariamente popular com as massas cató licas,
especialmente fora da Itá lia, tanto por causa de sua personalidade calorosamente piedosa e també m por simpatia
por todos os problemas que sofreu com tanta serenidade e coragem.
8. Leo XIII (1878–1903). Seu foi o segundo ponti icado mais longo da histó ria. Embora fosse muito mais moderado
do que seu antecessor, ele deu continuidade a muitas das polı́ticas de Pio IX em relaçã o, por exemplo, ao socialismo,
ao comunismo e à maçonaria. Ele até aumentou a centralizaçã o do governo da Igreja intervindo ativamente nos
episcopados nacionais, fortalecendo a autoridade de seus nú ncios e concentrando as sedes das ordens religiosas em
Roma. Leã o XIII se parecia menos com Pio IX em sua compreensã o da relaçã o entre a Igreja e a sociedade e sua
abertura geral à erudiçã o e à vida intelectual. Na verdade, Leã o XIII foi o primeiro papa a tentar uma reconciliaçã o
entre a Igreja e o mundo moderno. Embora tenha proferido um julgamento nã o ecumê nico contra a validade das
ordens anglicanas e emitido uma condenaçã o mal concebida do que ele erroneamente chamou de americanismo,
Leã o XIII fez uma grande e duradoura contribuiçã o ao papado e à Igreja ao iniciar a prá tica de encı́clicas papais
destacando o aplicaçã o do evangelho à vida econô mica e polı́tica. Sua Rerum novarum em 1891 permanece uma
referê ncia do ensino social cató lico.
9. João XXIII (1958–63). O papa mais destacado da histó ria, ele convocou o Concı́lio Vaticano II e deu à Igreja
Cató lica um novo rumo pastoral, enfatizando o papel dos leigos, a colegialidade dos bispos, a fé autê ntica e a
bondade dos cristã os nã o cató licos e nã o cató licos Cristã os e a dignidade de todos os seres humanos. Por meio do
concı́lio e especialmente pelo exemplo de sua pró pria vida e ministé rio, ele també m estabeleceu um novo padrã o
pastoral para os papas modernos no exercı́cio de seu ofı́cio petrino. Suas encı́clicas re letiam o tom pastoral e
ecumê nico de seu ponti icado. Ad Petri Cathedram (29 de junho de 1959), sobre os temas da verdade, unidade e paz,
saudou os nã o cató licos como “irmã os separados”. Mater et magistra (15 de maio de 1961), lançado no septuagé simo
aniversá rio da revolucioná ria encı́clica social de Leã o XIII, Rerum novarum (1891), atualizou o ensino social cató lico
sobre a propriedade, os direitos dos trabalhadores e as obrigaçõ es do governo. Pacem in terris (11 de abril de
1963), publicada menos de dois meses antes de sua morte, insistia que o reconhecimento dos direitos e
responsabilidades humanos é a base da paz mundial. Nenhum papa na histó ria foi tã o comprometido com a unidade
cristã como Joã o XXIII. Em 5 de junho de 1960, ele estabeleceu o Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos
Cristã os, tendo como primeiro presidente o venerá vel estudioso bı́blico Cardeal Augustin Bea. Ele recebeu
formalmente o arcebispo de Canterbury, Geoffrey Fisher, em 20 de dezembro de 1960 (o primeiro primaz anglicano
a ser recebido). Ele també m enviou dois enviados a Istambul (antiga Constantinopla) para transmitir suas saudaçõ es
ao Patriarca Ecumê nico Atená goras I em 27 de junho de 1961, e trocou saudaçõ es com o Patriarca Alexis de Moscou.
Quando Joã o XXIII morreu na noite de 3 de junho de 1963, o mundo inteiro reagiu com profunda dor, tã o
profundamente ele tocou o coraçã o de toda a comunidade humana.
10/11. Paulo VI (1963–78) e João Paulo I (1978). Ao quebrar uma das tradiçõ es papais mais anti-evangé licas de
mais de mil anos de duraçã o, isto é , ao se recusar a ser coroado papa, Joã o Paulo I libertou o papado inalmente de
suas pretensõ es imperiais. O caminho foi preparado, poré m, por seu predecessor Paulo VI, que vendeu a tiara papal
e distribuiu o dinheiro aos pobres.
12. João Paulo II (1978–2005). O papa mais viajado da histó ria e o primeiro papa eslavo e polonê s, Joã o Paulo II
teve um impacto amplo e profundo na comunidade mundial por meio de suas visitas pastorais a todas as partes do
globo, suas encı́clicas sobre temas morais, sociais e tradicionalmente religiosos, seus escritos pessoais e o Catecismo
da Igreja Católica , publicado sob sua autoridade. Ele teve um papel signi icativo no eventual colapso do impé rio
sovié tico, especialmente por meio de seu apoio inabalá vel ao movimento Solidariedade em sua Polô nia natal. Seu
ponti icado també m foi marcado por denú ncias profé ticas de injustiça social e opressã o em vá rias partes do mundo,
um reconhecimento dos pecados da Igreja ao se aproximar de um novo milê nio, uma notá vel abertura à s religiõ es
nã o-cristã s (simbolizado em sua convocaçã o de um controversa conferê ncia inter-religiosa em Assis em 1986 para
orar pela paz mundial e seus muitos gestos de reconciliaçã o para com os judeus), e sua encı́clica Ut unum sint de
1995 (lat., "Que todos sejam um"), na qual ele convidou nã o-cató licos Os cristã os devem criticar e entã o ajudar a
melhorar o exercı́cio do ministé rio papal. Mas esse ponti icado també m teve um lado menos inclusivo e menos
irê nico - mais parecido talvez com os ponti icados de Inocê ncio III e Bonifá cio VIII na Idade Mé dia e de Pio IX no
sé culo XIX do que de Joã o XXIII ou de Paulo VI no sé culo XX. O ceticismo de Joã o Paulo II em relaçã o à democracia
(com sua ê nfase na liberdade de expressã o e no direito de criticar as autoridades) esteve presente como um io
condutor consistente ao longo de sua vida e de seu ponti icado. Suas virtudes favoritas - paciê ncia diante do
sofrimento, obediê ncia aos superiores e lealdade à Igreja institucional - serviram de crité rio para a maioria de suas
nomeaçõ es para a hierarquia, para as açõ es punitivas tomadas contra certos bispos considerados insu icientemente
ié is ao Vaticano ensinamentos e polı́ticas, e contra os chamados teó logos dissidentes e ordens religiosas de
mentalidade independente, bem como por recompensas concedidas a grupos favorecidos como o Opus Dei por meio
da beati icaçã o e canonizaçã o incrivelmente apressada de seu fundador. Os maiores apoiadores de Joã o Paulo II
falam dele como o primeiro papa pó s-moderno (sem de inir claramente o signi icado do termo), e seus maiores
crı́ticos falam de seu ponti icado como restauracionista, isto é , como dedicado à restauraçã o de grande parte do pré -
Vaticano II Catolicismo, especialmente sua ê nfase na pessoa do papa e na autoridade jurı́dica do papado e da Cú ria
Romana em relaçã o à s igrejas locais e seus bispos. Sua importâ ncia histó rica está fora de questã o. Como a histó ria vai
se lembrar dele ultrapassa os limites de nosso conhecimento hoje.
INSERÇÃO DE FOTO

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1 Sã o Pedro o Apó stolo (falecido ca. 64).

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2 Sã o Clemente I (ca. 91 – ca. 101).


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3 Sã o Leã o I, “o Grande” (440-461), o primeiro papa a reivindicar ser o herdeiro de Pedro.

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4 Sã o Gregó rio I, “o Grande” (590–604), um dos escritores mais in luentes do papado.
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5 Sã o Leã o III (795-816), que coroou Carlos Magno como imperador em 800.

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6 Sã o Gregó rio VII (1073–1085), cujas reformas criaram o papado moná rquico do segundo milê nio cristã o.
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7 Bl. Urbano II (1088–1099), que lançou a Primeira Cruzada e estabeleceu a Cú ria Romana.

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8 Inocê ncio III (1198–1216), um dos papas mais poderosos da histó ria.
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9 Bonifá cio VIII (1295-1303), que reivindicou autoridade sobre os reinos temporal e espiritual.

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10 Alexandre VI (1492–1503), o papa mais notó rio da histó ria.


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11 Jú lio II (1503-1513), papa-guerreiro e patrono de Michelangelo e Rafael.

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12 Leo X (1513–1521), que excomungou Martinho Lutero em 1521.


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13 Sã o Pio V (1566-1572), que impô s as reformas do Concı́lio de Trento e excomungou a Rainha Elizabeth I em
1570.

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14 Pio VII (1800–1823), que restaurou os Jesuı́tas em 1814 e sofreu o cativeiro sob Napoleã o.
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15 Pio IX (1846-1878), o papa que reinou mais tempo na histó ria, que convocou o Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-
1870), de iniu o dogma da Imaculada Conceiçã o (1854) e publicou o “Syllabus of Errors” (1864) )

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16 Leã o XIII (1878–1903), o primeiro papa a trazer a Igreja Cató lica para a era moderna e o autor da primeira
grande encı́clica social, Rerum novarum (1891).
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17 Sã o Pio X (1903–1914), o ú ltimo papa a ser canonizado um santo e o “papa da comunhã o frequente”, mas
també m o iniciador de uma campanha massiva contra os estudiosos cató licos.

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18 Bento XV (1914–1922), um papa paci icador que interrompeu a guerra destrutiva entre tradicionalistas e
progressistas na Igreja.
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19 Pio XI (1922–1939), aprovou os Pactos de Latrã o que estabeleceram o Estado da Cidade do Vaticano em 1929.

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20 Pio XII (1939–1958), papa durante a Segunda Guerra Mundial e um irme oponente do comunismo.
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21 Joã o XXIII (1958–1963), o papa mais amado da histó ria, que convocou o Concı́lio Vaticano II (1962–1965) e
iniciou a renovaçã o moderna da Igreja.

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22 Paulo VI (1963–1978), que implementou as reformas do Concı́lio Vaticano II, mas també m publicou a controversa
encı́clica sobre o controle da natalidade (1968).
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23 Joã o Paulo I (1978), o primeiro papa em mil anos que se recusou a ser coroado.

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24 Joã o Paulo II (1978–2005), o primeiro papa nã o italiano desde 1522 e o papa mais viajado da histó ria.
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25 Joã o XXIII discursando na sessã o de abertura do Concı́lio Vaticano II em 11 de outubro de 1962. O cardeal
Francis Spellman, de Nova York (falecido em 1967), está sentado à direita do papa.

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26 Paulo VI discursando na Assembleia Geral das Naçõ es Unidas durante sua histó rica visita aos Estados Unidos em
4 de outubro de 1965.
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27 Joã o Paulo I, mostrado aqui sendo levado na tradicional sedia gestatoria , foi o primeiro papa em sé culos a se
recusar a ser coroado como um soberano temporal e, em vez disso, foi investido com o pá lio simples e a mitra.

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28 Joã o Paulo II com Mikhail Gorbachev em Roma, 1 de dezembro de 1989.


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29 Concı́lio de Trento (1545–1563), a principal resposta da Igreja Cató lica à Reforma Protestante.

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30 Vaticano II (1962–1965), talvez o evento religioso mais signi icativo desde a Reforma Protestante e o mais
importante do sé culo XX.

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31 A Bası́lica de Sã o Pedro (Cidade do Vaticano), a principal igreja do catolicismo, construı́da sobre o local no Monte
do Vaticano onde acredita-se que Sã o Pedro tenha sido enterrado. Embora a igreja original tenha sido erguida no
sé culo IV, a igreja atual foi dedicada em 1626.

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32 Capela Sistina, em homenagem ao Papa Sisto IV (1471–1484), a capela principal do Palá cio do Vaticano onde sã o
realizadas as eleiçõ es papais.

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33 Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o (Roma), a igreja catedral do papa.


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34 Bası́lica de Santa Maria Maior (Roma), fundada pelo Papa Libé rio em meados do sé culo IV, com a atual igreja
erguida no sé culo seguinte pelo Papa Sisto III.

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35 Hagia Sophia (Constantinopla, agora Istambul), a principal igreja do Cristianismo oriental até a conquista turca da
cidade em 1453, e o local de quatro concı́lios ecumê nicos.
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36 Palá cio de Avignon (França), a residê ncia papal de 1309 até 1377 e a sede dos antipapas durante o Grande Cisma
Ocidental (1378-1417).

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37 O encontro de Silvestre I (314-335) e o primeiro imperador cristã o, Constantino, o Grande (falecido em 337).
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38 Carlos Magno (cerca de 742–814), o primeiro imperador do que mais tarde foi chamado de "Sacro Impé rio
Romano".

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39 Michelangelo Buonarroti (1475–1564) apresentando o modelo da Bası́lica de Sã o Pedro a Paulo IV (1555–1559).
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40 O julgamento de Galileo Galilei (1564–1642) antes da Inquisiçã o, 1633.


Mesas

1. LISTA CRONOLOGICA DE PAPAS


As datas entre parê nteses sã o as do Annuario Ponti icio do Vaticano .

1 Pedro, Apóstolo, São , Galileu, d. ca. 64


2 Linus, St. , ca. 66 – ca. 78 (67–76).
3 Anacletus [Cletus], St. , grego (?), Ca. 79 – ca. 91 (76–88).
4 Clement I, St. , ca. 91 – ca. 101 (88–97).
5 Evaristus, St. , grego, ca. 100 – ca. 109 (97–105).
6 Alexander I, St. , ca. 109 – ca. 116 (105-115).
7 Sixtus [Xystus] I, St. , ca. 116 – ca. 125 (115-125).
8 Telesphoros, St. , grego, ca. 125 – ca. 136 (125–136).
9 Hyginus, St. , grego, ca. 138 – ca. 142 (136-140).
10 Pio I, St. , ca. 142 – ca. 155 (140–155).
11 Anicetus, St. , Syrian, ca. 155 – ca. 166 (155–166).
12 Soter, St. , ca. 166 – ca. 174 (166–175).
13 Eleutherius [Eleutherus], St. , grego, ca. 174 – ca. 189 (175–189).
14 Victor I, St. , African, 189–198.
15 Zephrynus, St. , 198 / 9–217 (199–217).
16 Callistus [Calixtus] I, St. , 217-222.
17 Urban I, St. , 222–230.
18 Pontian [Pontianus], St. , 21 de julho de 230 a 28 de setembro de 235.
19 Anterus, St. , Greek, 21 de novembro de 235 - 3 de janeiro de 236.
20 Fabian, St. , 10 de janeiro de 236 - 20 de janeiro de 250.
21 Cornelius, St. , março de 251 a junho de 253.
22 Lucius I, St. , 25 de junho de 253 - 5 de março de 254.
23 Stephen I, St. , 12 de maio de 254 - 2 de agosto de 257.
24 Sixtus [Xystus] II, St. , grego, 30 de agosto de 257 - 6 de agosto de 258.
25 Dionysius, St. , 22 de julho de 260 - 26 de dezembro de 268.
26 Felix I, St. , 5 de janeiro de 269 - 30 de dezembro de 274.
27 Eutychian, St. , 4 de janeiro de 275 - 7 de dezembro de 283.
28 Caius [Gaius], St. , 17 de dezembro de 283 - 22 de abril de 296.
29 Marcellinus, St. , 30 de junho de 296 - 25 de outubro de 304.
30 Marcellus I, St. , novembro / dezembro 306 - 16 de janeiro de 308 (27 de maio ou 26 de junho de 308 - 16 de janeiro de 309).
31 Eusébio, St. , grego, 18 de abril a 21 de outubro de 310 (18 de abril de 309 a 17 de agosto, 309 ou 310).
32 Melchiades [Miltiades], St. , Africano (?), 2 de julho de 311 - 11 de janeiro de 314.
33 Sylvester [Silvester] I, St. , 31 de janeiro de 314 - 31 de dezembro de 335.
34 Mark [Marcus], St. , 18 de janeiro a 7 de outubro de 336.
35 Julius I, St. , 6 de fevereiro de 337 - 12 de abril de 352.
36 Liberius , 17 de maio de 352 - 24 de setembro de 366.
37 Damasus I, St. , 1 de outubro de 366 - 11 de dezembro de 384.
38 Siricius, St. , dezembro 384 - 26 de novembro de 399 (15 ou 22 de dezembro ou 29, 384).
39 Anastasius I, St. , 27 de novembro de 399 - 19 de dezembro de 401.
40 Innocent I, St. , 22 de dezembro de 401 - 12 de março de 417.
41 Zosimus, St. , Greek, 18 de março de 417 - 26 de dezembro de 418.
42 Boniface I, St. , 28 de dezembro de 418 - 4 de setembro de 422 (28 ou 29 de dezembro de 418).
43 Celestine I, St. , 10 de setembro de 422 - 27 de julho de 432.
44 Sixtus [Xystus] III, St. 31 de julho de 432 - 19 de agosto de 440.
45 Leão I, “o Grande” , Santo , 29 de setembro de 440 - 10 de novembro de 461.
46 Hilarus [Hilary], St. , 19 de novembro de 461 - 29 de fevereiro de 468.
47 Simplicius, St. , 3 de março de 468 - 10 de março de 483.
48 Felix III (II), St. , 13 de março de 483 - 1º de março de 492.
49 Gelasius I, St. , Africano, 1 de março de 492 - 21 de novembro de 496.
50 Anastácio II , 24 de novembro de 496 - 19 de novembro de 498.
51 Symmachus, St. , 22 de novembro de 498 - 19 de julho de 514.
52 Hormisdas, St. , 20 de julho de 514 - 6 de agosto de 523.
53 John I, St. , 13 de agosto de 523 a 18 de maio de 526.
54 Felix IV (III), St. , 12 de julho de 526 - 22 de setembro de 530.
55 Boniface II , 22 de setembro de 530 - 17 de outubro de 532.
56 João II , 2 de janeiro de 533 - 8 de maio de 535.
57 Agapitus I, St. , 13 de maio de 535 - 22 de abril de 536.
58 Silverius, St. , 1 de junho ou 8, 536 - 11 de novembro de 537.
59 Vigilius , 29 de março de 537 - 7 de junho de 555.
60 Pelágio I , 16 de abril de 556 - 4 de março de 561.
61 João III , 17 de julho de 561 - 13 de julho de 574.
62 Bento I , 2 de junho de 575 - 30 de julho de 579.
63 Pelágio II , agosto de 579 - 7 de fevereiro de 590 (a lista o icial do Vaticano dá o inı́cio de seu ponti icado como 26 de novembro, a data de sua
con irmaçã o imperial).
64 Gregório I, "o Grande" , St. , 3 de setembro de 590 - 12 de março de 604.
65 Sabinian , 13 de setembro de 604 - 22 de fevereiro de 606.
66 Boniface III , 19 de fevereiro a 12 de novembro de 607
67 Boniface IV, St. , 25 de agosto de 608 - 8 de maio de 615.
68 Deusdedit [Adeodatus I], St. , 19 de outubro de 615 - 8 de novembro de 618.
69 Boniface V , 23 de dezembro de 619 - 25 de outubro de 625.
70 Honório I , 27 de outubro de 625 - 12 de outubro de 638.
71 Severinus , 28 de maio a 2 de agosto de 640.
72 João IV , Dá lmata, 24 de dezembro de 640 - 12 de outubro de 642.
73 Theodore I , grego, 24 de novembro de 642 - 14 de maio de 649.
74 Martin I, St. , 5 de julho de 649 – 10 de agosto de 654 (o dia em que um sucessor, Eugenius I, foi eleito; a lista o icial do Vaticano dá como o im de seu
ponti icado em 16 de setembro de 655, dia de sua morte em exı́lio).
75 Eugenius [Eugene] I, St. , 10 de agosto de 654 - 2 de junho de 657.
76 Vitalian, St. , 30 de julho de 657 - 27 de janeiro de 672.
77 Adeodatus II , 11 de abril de 672 - 17 de junho de 676.
78 Donus , 2 de novembro de 676 a 11 de abril de 678.
79 Agatho, St. , 27 de junho de 678 - 10 de janeiro de 681.
80 Leo II, St. , 17 de agosto de 682 - 3 de julho de 683.
81 Benedict II, St. , 26 de junho de 684 - 8 de maio de 685.
82 João V , Sı́rio, 23 de julho de 685 - 2 de agosto de 686.
83 Conon , Trá cio, 21 de outubro de 686 - 21 de setembro de 687.
84 Sergius I, St. , Syrian, 15 de dezembro de 687 - 8 de setembro de 701.
85 João VI , grego, 30 de outubro de 701 - 11 de janeiro de 705.
86 João VII , grego, 1 de março de 705 a 18 de outubro de 707.
87 Sisinnius , Sı́ria, 15 de janeiro a 4 de fevereiro de 708.
88 Constantino , Sı́ria, 25 de março de 708 a 9 de abril de 715.
89 Gregory II, St. , 19 de maio de 715 - 11 de fevereiro de 731.
90 Gregório III, São , Sı́rio, 18 de março de 731 - 28 de novembro de 741 (18 de março de 731 - novembro de 741).
91 Zacharias [Zachary], St. , grego, 10 de dezembro de 741 - 22 de março de 752.
92 Stephen II (III) , 26 de março de 752 - 26 de abril de 757.
93 Paul I, St. , 29 de maio de 757 - 28 de junho de 767.
94 Stephen III (IV) , 7 de agosto de 768 - 24 de janeiro de 772.
95 Hadrian [Adrian] I , 9 de fevereiro de 772 a 25 de dezembro de 795.
96 Leão III, Santo , 27 de dezembro de 795 - 12 de junho de 816 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado em 26 de dezembro, dia de sua
eleiçã o, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 27 de dezembro) .
97 Stephen IV (V) , 22 de junho de 816 a 24 de janeiro de 817.
98 Pascal I, St. , 25 de janeiro de 817 - 11 de fevereiro de 824.
99 Eugenius [Eugene] II , 11 de maio (?), 824 - 27 de agosto (?), 827 (maio de 824 - agosto de 827).
100 Valentine , agosto-setembro de 827.
101 Gregório IV , 29 de março de 828 a 25 de janeiro de 844 (827 a janeiro de 844).
102 Sergius II , janeiro de 844 - 27 de janeiro de 847.
103 Leão IV, Santo , 10 de abril de 847 - 17 de julho de 855 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado em janeiro, mê s de sua eleiçã o, mas
ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 10 de abril).
104 Bento III , 29 de setembro de 855 a 17 de abril de 858.
105 Nicholas I, St. , 24 de abril de 858 - 13 de novembro de 867.
106 Hadrian [Adrian] II , 14 de dezembro de 867 - 14 de dezembro de 872.
107 João VIII , 14 de dezembro de 872 - 16 de dezembro de 882.
108 Marinus I , 16 de dezembro de 882 - 15 de maio de 884.
109 Hadrian [Adrian] III, St. , 17 de maio de 884 - setembro de 885.
110 Stephen V (VI) , setembro de 885 - 14 de setembro de 891.
111 Formosus , 6 de outubro de 891 - 4 de abril de 896.
112 Boniface VI , abril de 896.
113 Estêvão VI (VII) , maio de 896 a agosto de 897.
114 Romanus , agosto-novembro de 897.
115 Theodore II , novembro / dezembro 897 (dezembro 897).
116 João IX , janeiro de 898 a janeiro de 900.
117 Bento IV , fevereiro de 900 a julho de 903.
118 Leão V , julho / agosto-setembro 903.
119 Sergius III , 29 de janeiro de 904 - 14 de abril de 911.
120 Anastasius III , ca. Junho de 911-ca. Agosto de 913 (abril de 911 a junho de 913).
121 Lando [Landus] , ca. Agosto 913-ca. Março de 914 (julho de 913 a fevereiro de 914).
122 John X , março / abril de 914 a maio de 928 (março de 914 a maio de 928).
123 Leo VI , maio-dezembro 928.
124 Estêvão VII (VIII) , dezembro de 928 a fevereiro de 931.
125 John XI , março de 931 a dezembro de 935 ou janeiro de 936 (março de 931 a dezembro de 935).
126 Leão VII , 3 de janeiro de 936 - 13 de julho de 939.
127 Estêvão VIII (IX) , 14 de julho de 939 a outubro de 942.
128 Marinus II , 30 de outubro de 942 a maio de 946.
129 Agapitus II , 10 de maio de 946 - dezembro de 955.
130 João XII , 16 de dezembro de 955 a 14 de maio de 964.
131 Leo VIII , 6 de dezembro de 963 - 1º de março de 965.
132 Benedict V , 22 de maio a 23 de junho de 964.
133 João XIII , 1 de outubro de 965 - 6 de setembro de 972.
134 Bento VI , 19 de janeiro de 973 a julho de 974 (19 de janeiro de 973 a junho de 974).
135 Bento VII , outubro de 974 a 10 de julho de 983.
136 João XIV , dezembro de 983 - 20 de agosto de 984.
137 João XV , agosto 985 - março 996.
138 Gregório V , Saxon, 3 de maio de 996 a 18 de fevereiro de 999.
139 Sylvester [Silvester] II , Francê s, 2 de abril de 999 - 12 de maio de 1003.
140 João XVII , 16 de maio a 6 de novembro de 1003 (junho a dezembro de 1003).
141 João XVIII , 25 de dezembro de 1003 - junho / julho de 1009 (janeiro de 1004 - julho de 1009).
142 Sergius IV , 31 de julho de 1009 - 12 de maio de 1012.
143 Bento VIII , 18 de maio de 1012 - 9 de abril de 1024.
144 João XIX , 19 de abril de 1024 a 20 de outubro de 1032 (maio de 1024 a 1032).
145 Bento IX , 21 de outubro de 1032 - setembro de 1044; 10 de março a 1º de maio de 1045; 8 de novembro de 1047 a 16 de julho de 1048 (1032–
1044; 10 de abril a 1º de maio de 1045; 8 de novembro de 1047 a 17 de julho de 1048).
146 Sylvester [Silvester] III , 20 de janeiro a 10 de março de 1045 (20 de janeiro a 10 de fevereiro de 1045).
147 Gregório VI , 5 de maio de 1045 - 20 de dezembro de 1046.
148 Clemente II , Saxon, 25 de dezembro de 1046 - 9 de outubro de 1047.
149 Damasus II , Bavarian, 17 de julho a 9 de agosto de 1048.
150 Leo IX, St. , Alsacian, 12 de fevereiro de 1049 - 19 de abril de 1054.
151 Victor II , Suá bia, 13 de abril de 1055 a 28 de julho de 1057 (16 de abril de 1055 a 28 de julho de 1057).
152 Estêvão IX (X) , francê s, 2 de agosto de 1057 - 29 de março de 1058 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado em 3 de agosto, o dia de
sua entronizaçã o, em vez de 2 de agosto, o dia de sua eleiçã o e consagraçã o).
153 Nicolau II , francê s, 6 de dezembro de 1058 - 27 de julho de 1061 (a lista o icial do Vaticano começa este ponti icado em 24 de janeiro de 1059, o dia da
entronizaçã o, em vez do dia de sua aceitaçã o da eleiçã o).
154 Alexandre II , 30 de setembro de 1061 - 21 de abril de 1073 (a lista o icial do Vaticano dá 1º de outubro como o ponto de partida deste ponti icado; é o
dia da entronizaçã o, e nã o da eleiçã o).
155 Gregório VII, São , 30 de junho de 1073 – 25 de maio de 1085 (embora 22 de abril de 1073 seja dado como o inı́cio de seu ponti icado, o dia em que foi
eleito por aclamaçã o popular, Gregó rio VII ainda era apenas um diá cono na é poca, ele nã o foi consagrado como bispo de Roma até 30 de junho).
156 Victor III, Bl. , 9 de maio de 1087 - 16 de setembro de 1087 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em 24 de maio de 1086, data de sua
primeira eleiçã o - uma eleiçã o que ele nã o aceitou formalmente - e quase um ano antes de sua consagraçã o como Bispo de Roma em 9 de maio de
1087).
157 Urban II, Bl. , Francê s, 12 de março de 1088 - 29 de julho de 1099.
158 Pascal II , 14 de agosto de 1099 - 21 de janeiro de 1118.
159 Gelásio II , 10 de março de 1118 - 28 de janeiro de 1119 (24 de janeiro de 1118 - 28 de janeiro de 1119, na lista o icial do Vaticano; 24 de janeiro é a
data da eleiçã o; a consagraçã o como Bispo de Roma nã o ocorreu até 10 de março) .
160 Callistus [Calixtus] II , francê s, 2 de fevereiro de 1119 - 13 de dezembro de 1124.
161 Honorius II , 21 de dezembro de 1124 - 13 de fevereiro de 1130.
162 Inocêncio II , 23 de fevereiro de 1130 - 24 de setembro de 1143 (a lista o icial do Vaticano indica a data de inı́cio de seu ponti icado como 14 de
fevereiro, dia de sua eleiçã o, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 23 de fevereiro) .
163 Celestino II , 3 de outubro de 1143 - 8 de março de 1144 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado em 26 de setembro, o dia de sua
eleiçã o, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 3 de outubro).
164 Lúcio II , 12 de março de 1144 - 15 de fevereiro de 1145.
165 Eugenius [Eugene] III, Bl. , 18 de fevereiro de 1145 - 8 de julho de 1153 (a lista o icial do Vaticano dá a data de sua eleiçã o, 15 de fevereiro, como o inı́cio
de seu ponti icado, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 18 de fevereiro).
166 Anastácio IV , 12 de julho de 1153 - 3 de dezembro de 1154.
167 Hadrian [Adrian] IV , Inglê s, 4 de dezembro de 1154 - 1º de setembro de 1159.
168 Alexandre III , 20 de setembro de 1159 - 30 de agosto de 1181 (a lista o icial do Vaticano considera a data de sua eleiçã o, 7 de setembro, como o inı́cio
de seu ponti icado, mas ele nã o foi consagrado bispo de Roma até 20 de setembro).
169 Lúcio III , 1 de setembro de 1181 - 25 de novembro de 1185 (a lista o icial do Vaticano dá a data de sua morte como 25 de agosto de 1185).
170 Urban III , 25 de novembro de 1185 - 20 de outubro de 1187.
171 Gregório VIII , 25 de outubro a 17 de dezembro de 1187 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 21 de outubro, mas ele
nã o foi consagrado Bispo de Roma até 25 de outubro).
172 Clemente III , 19 de dezembro de 1187 - março de 1191.
173 Celestino III , 14 de abril de 1191 - 8 de janeiro de 1198.
174 Inocêncio III , 22 de fevereiro de 1198 - 16 de julho de 1216 (de acordo com a lista o icial do Vaticano, canonicamente ele era papa depois de aceitar a
eleiçã o em 8 de janeiro; teologicamente ele nã o era papa até ser consagrado Bispo de Roma em 22 de fevereiro)
175 Honório III , 24 de julho de 1216 a 18 de março de 1227.
176 Gregório IX , 19 de março de 1227 a 22 de agosto de 1241.
177 Celestine IV , 25 de outubro a 10 de novembro de 1241.
178 Inocêncio IV , 28 de junho de 1243 - 7 de dezembro de 1254 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 25 de
junho, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 28 de junho).
179 Alexandre IV , 12 de dezembro de 1254 a 25 de maio de 1261.
180 Urban IV , French, 29 de agosto de 1261 - 2 de outubro de 1264.
181 Clemente IV , Francê s, 5 de fevereiro de 1265 - 29 de novembro de 1268.
182 Gregory X, Bl. , 27 de março de 1272 - 10 de janeiro de 1276 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado em 1º de setembro de 1271,
dia de sua eleiçã o, mas ele nã o foi consagrado bispo de Roma até 27 de março de 1272).
183 Innocent V, Bl. , Francê s, 21 de janeiro a 22 de junho de 1276.
184 Hadrian [Adrian] V , 11 de julho a 18 de agosto de 1276.
185 João XXI , Portuguê s, 8 de setembro de 1276 - 20 de maio de 1277.
186 Nicolau III , 26 de dezembro de 1277 - 22 de agosto de 1280 (a lista o icial do Vaticano indica o inı́cio de seu ponti icado como o dia de sua eleiçã o, 25
de novembro, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 26 de dezembro).
187 Martinho IV , francê s, 23 de março de 1281 - 28 de março de 1285 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 22 de
fevereiro, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 23 de março).
188 Honório IV , 20 de maio de 1285 - 3 de abril de 1287 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 2 de abril, mas ele nã o foi
consagrado Bispo de Roma até 20 de maio).
189 Nicolau IV , 22 de fevereiro de 1288 a 4 de abril de 1292.
190 Celestino V, Santo , 29 de agosto - 13 de dezembro de 1294 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em 5 de julho, dia de sua eleiçã o, mas ele
nã o foi consagrado Bispo de Roma até 29 de agosto).
191 Bonifácio VIII , 23 de janeiro de 1295 - 11 de outubro de 1303 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em 24 de dezembro de 1294, o dia de
sua eleiçã o, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 23 de janeiro de 1295).
192 Bento XI, Bl. , 22 de outubro de 1303 a 7 de julho de 1304.
193 Clemente V , francê s, 5 de junho de 1305 - 20 de abril de 1314.
194 João XXII , francê s, 7 de agosto de 1316 - 4 de dezembro de 1334.
195 Bento XII , francê s, 8 de janeiro de 1335 - 25 de abril de 1342 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado com sua eleiçã o em 20 de dezembro de
1334, mas ele nã o foi consagrado bispo de Roma até 8 de janeiro de 1335).
196 Clemente VI , Francê s, 7 de maio de 1342 - 6 de dezembro de 1352.
197 Innocent VI , French, 18 de dezembro de 1352 - 12 de setembro de 1362.
198 Urban V, Bl. , Francê s, 6 de novembro de 1362 - 19 de dezembro de 1370 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado no dia de sua
eleiçã o, 28 de setembro, mas ele nã o foi consagrado bispo de Roma até 6 de novembro).
199 Gregório XI , francê s, 4 de janeiro de 1371 - 27 de março de 1378 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 30 de
dezembro de 1370, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 4 de janeiro de 1371) .
200 Urban VI , 8 de abril de 1378 a 15 de outubro de 1389.
201 Bonifácio IX , 9 de novembro de 1389 – 1 de outubro de 1404 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 2 de
novembro, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 9 de novembro).
202 Inocêncio VII , 17 de outubro de 1404 - 6 de novembro de 1406.
203 Gregório XII , 19 de dezembro de 1406 - 4 de julho de 1415 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 30 de novembro,
mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 19 de dezembro).
204 Martinho V , 21 de novembro de 1417 - 20 de fevereiro de 1431 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado em 11 de novembro, dia de
sua eleiçã o, mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 21 de novembro).
205 Eugenius [Eugene] IV , 11 de março de 1431 - 23 de fevereiro de 1447 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em 3 de março, mas ele nã o foi
consagrado Bispo de Roma até 11 de março).
206 Nicholas V , 6 de março de 1447 - 24 de março de 1455.
207 Callistus [Calixtus] III , espanhol, 8 de abril de 1455 - 6 de agosto de 1458.
208 Pio II , 19 de agosto de 1458 - 15 de agosto de 1464.
209 Paulo II , 30 de agosto de 1464 a 26 de julho de 1471.
210 Sisto IV , 25 de agosto de 1471 – 12 de agosto de 1484 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 9 de agosto, mas ele nã o
foi consagrado Bispo de Roma até 25 de agosto).
211 Innocent VIII , 29 de agosto de 1484 - 25 de julho de 1492.
212 Alexandre VI , espanhol, 26 de agosto de 1492 - 18 de agosto de 1503 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 11 de
agosto, mas ele nã o foi consagrado bispo de Roma até 26 de agosto).
213 Pio III , 1–18 de outubro de 1503 (a lista o icial do Vaticano marca o inı́cio de seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 22 de setembro, mas
aparentemente, embora tenha sido nomeado arcebispo de Siena, ainda nã o havia sido ordenado um padre ou bispo; sua consagraçã o como bispo de
Roma nã o ocorreu até 1º de outubro).
214 Júlio II , 1º de novembro de 1503 - 21 de fevereiro de 1513 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em 31 de outubro, mas ele foi eleito no
dia seguinte, 1º de novembro).
215 Leão X , 17 de março de 1513 - 1 de dezembro de 1521 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em 9 de março, o dia de sua eleiçã o, mas ele
nã o foi consagrado Bispo de Roma até 17 de março).
216 Adriano [Adrian] VI , Holandê s, 9 de janeiro de 1522 - 14 de setembro de 1523.
217 Clemente VII , 19 de novembro de 1523 - 25 de setembro de 1534.
218 Paulo III , 13 de outubro de 1534 - 10 de novembro de 1549.
219 Julius III , 8 de fevereiro de 1550 - 23 de março de 1555.
220 Marcelo II , 10 de abril a 1o de maio de 1555 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 9 de abril, mas ele nã o foi
consagrado Bispo de Roma até o dia seguinte).
221 Paulo IV , 23 de maio de 1555 a 18 de agosto de 1559.
222 Pio IV , 25 de dezembro de 1559 - 9 de dezembro de 1565.
223 Pio V, St. , 7 de janeiro de 1566 - 1 de maio de 1572.
224 Gregório XIII , 13 de maio de 1572 a 10 de abril de 1585.
225 Sixtus V , 24 de abril de 1585 - 27 de agosto de 1590.
226 Urban VII , 15 a 27 de setembro de 1590.
227 Gregório XIV , 5 de dezembro de 1590 - 16 de outubro de 1591.
228 Innocent IX , 29 de outubro a 30 de dezembro de 1591.
229 Clemente VIII , 3 de fevereiro de 1592 – 3 de março de 1605 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 30 de janeiro, mas
ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 3 de fevereiro).
230 Leo XI , 1–27 de abril de 1605.
231 Paulo V , 16 de maio de 1605 - 28 de janeiro de 1621.
232 Gregório XV , 9 de fevereiro de 1621 a 8 de julho de 1623.
233 Urban VIII , 6 de agosto de 1623 - 29 de julho de 1644.
234 Innocent X , 15 de setembro de 1644 - 7 de janeiro de 1655.
235 Alexandre VII , 7 de abril de 1655 a 22 de maio de 1667.
236 Clemente IX , 20 de junho de 1667 - 9 de dezembro de 1669.
237 Clemente X , 29 de abril de 1670 - 22 de julho de 1676.
238 Innocent XI, Bl. , 21 de setembro de 1676 a 12 de agosto de 1689.
239 Alexandre VIII , 6 de outubro de 1689 - 1º de fevereiro de 1691.
240 Innocent XII , 12 de julho de 1691 - 27 de setembro de 1700.
241 Clemente XI , 30 de novembro de 1700 - 19 de março de 1721 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 23 de novembro,
mas ele nã o foi consagrado Bispo de Roma até 30 de novembro).
242 Innocent XIII , 8 de maio de 1721 - 7 de março de 1724.
243 Bento XIII , 29 de maio de 1724 - 21 de fevereiro de 1730.
244 Clemente XII , 12 de julho de 1730 - 6 de fevereiro de 1740.
245 Bento XIV , 17 de agosto de 1740 - 3 de maio de 1758.
246 Clemente XIII , 6 de julho de 1758 - 2 de fevereiro de 1769.
247 Clemente XIV , 28 de maio de 1769 - 22 de setembro de 1774 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia da eleiçã o, 19 de maio, mas ele
nã o foi consagrado Bispo de Roma até 28 de maio).
248 Pio VI , 22 de fevereiro de 1775 – 29 de agosto de 1799 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleiçã o, 15 de fevereiro, mas ele
nã o foi consagrado Bispo de Roma até 22 de fevereiro).
249 Pio VII , 14 de março de 1800 a 20 de agosto de 1823.
250 Leo XII , 28 de setembro de 1823 a 10 de fevereiro de 1829.
251 Pio VIII , 31 de março de 1829 - 30 de novembro de 1830.
252 Gregório XVI , 2 de fevereiro de 1831 a 1 ° de junho de 1846.
253 Pio IX , 16 de junho de 1846 - 7 de fevereiro de 1878.
254 Leão XIII , 20 de fevereiro de 1878 a 20 de julho de 1903.
255 Pius X, St. , 4 de agosto de 1903 - 20 de agosto de 1914.
256 Bento XV , 3 de setembro de 1914 a 22 de janeiro de 1922.
257 Pio XI , 6 de fevereiro de 1922 a 10 de fevereiro de 1939.
258 Pio XII , 2 de março de 1939 - 9 de outubro de 1958.
259 João XXIII , 28 de outubro de 1958 a 3 de junho de 1963.
260 Paulo VI , 21 de junho de 1963 a 6 de agosto de 1978.
261 João Paulo I , 26 de agosto a 28 de setembro de 1978.
262 João Paulo II , polonê s, 16 de outubro de 1978 - 2 de abril de 2005.
263 Bento XVI , alemã o, 19 de abril de 2005–.

2. PONTIFICADOS MAIS LONGOS E CURTOS


O inı́cio de cada ponti icado nas listas abaixo é determinado pela data de consagraçã o do indivı́duo, se ele ainda nã o
era bispo quando eleito. A lista o icial do Vaticano no Annuario Ponti icio começa cada ponti icado, de acordo com a
lei canô nica em vigor durante a maior parte do segundo milê nio cristã o, com a data da eleiçã o, nã o da consagraçã o,
mesmo que o indivı́duo já nã o seja bispo. Isso pode ser apropriado canonicamente, mas nã o teologicamente. O papa
é o bispo de Roma. Ele nã o pode se tornar bispo de Roma até que seja consagrado como bispo, se já nã o era bispo.
Hoje, o direito canô nico e a teologia voltam a coincidir. Um indivı́duo nã o é considerado papa até que seja
consagrado Bispo de Roma, se já nã o era bispo quando eleito (câ n. 332.1). Sã o Pedro nã o é considerado nos cá lculos
a seguir porque seu papel é ú nico, suas datas sã o incertas e os papas sã o mais precisamente seus sucessores .

Ponti icados mais longos (em 16 de outubro de 1997)


1 Pio IX (16 de junho de 1846 - 7 de fevereiro de 1878), ou 31 anos, 7 meses, 3 semanas.
2 Joã o Paulo II (16 de outubro de 1978 - 2 de abril de 2005), ou 26 anos, 5 meses, 2 semanas +.
3 Leã o XIII (20 de fevereiro de 1878 a 20 de julho de 1903), ou 25 anos, 5 meses.
1

4 Pio VI (22 de fevereiro de 1775 - 29 de agosto de 1799), ou 24 anos, 6 meses, 1 semana.


5 Adriano I (9 de fevereiro de 772 - 25 de dezembro de 795), ou 23 anos, 10 meses, 2 semanas +.
6 Pio VII (14 de março de 1800 - 20 de agosto de 1823), ou 23 anos, 4 meses, 2 semanas +.
2

7 Alexandre III (20 de setembro de 1159 - 30 de agosto de 1181), ou 21 anos, 11 meses, 13 dias.
8 Leã o, o Grande (29 de setembro de 440 - 10 de novembro de 461), ou 21 anos, 1 mê s, 12 dias.
9 Urbano VIII (6 de agosto de 1623 - 29 de julho de 1644), ou 20 anos, 11 meses, 3 semanas +.
10 Sylvester I (31 de janeiro de 314 - 31 de dezembro de 335), ou 20 anos, 11 meses.
11 Leo III (26 de dezembro de 795 - 12 de junho de 816) ou 20 anos, 5 meses, 2 semanas ou mais.
3

12 Clemente XI (30 de novembro de 1700 - 19 de março de 1721), ou 20 anos, 3 meses, 11 dias.


13 Pio XII (2 de março de 1939 - 9 de outubro de 1958), ou 19 anos, 7 meses, 1 semana.

Ponti icados mais curtos


1 Urbano VII (15 a 27 de setembro de 1590), ou 12 dias.
2 Boniface VI (abril, 896) ou 15 dias (?).
3 Celestino IV (25 de outubro a 10 de novembro de 1241) ou 16 dias.
1

4 Pio III (1 a 18 de outubro de 1503), ou 17 dias.


5 Sisinnius (15 de janeiro a 4 de fevereiro de 708) ou 20 dias.
6 Theodore II (novembro / dezembro, 897), ou 20 dias (?).
2

7 Marcelo II (10 de abril a 1º de maio de 1555), ou 21 dias.


8 Damasus II (17 de julho a 9 de agosto de 1048) ou 23 dias.
9 Leã o XI (1 a 27 de abril de 1605) ou 26 dias.
10 Bento V (22 de maio a 23 de junho de 964), ou 32 dias.
3

11 Joã o Paulo I (26 de agosto a 28 de setembro de 1978), ou 33 dias.

3. PAPAL "PRIMEIROS" E "DURAS"


1 O primeiro papa má rtir e o primeiro a ser reconhecido como santo pela Igreja: o apóstolo Pedro (falecido cerca de 64).
2 O primeiro dos onze papas gregos: Evaristus (ca. 100–109). O ú ltimo dos papas gregos: Zacarias (741-52).
3 O primeiro papa a funcionar como o ú nico Bispo de Roma: Pio I (ca. 142 - ca 155). (A forma de governo na igreja romana antes de Pio I era colegial, em vez
de monoepiscopal.)
4 O primeiro dos seis papas sı́rios: Aniceto (ca. 155 – ca. 166). O ú ltimo dos papas sı́rios: Gregório III (731-41).
5 O primeiro de dois, e possivelmente trê s, papas africanos: Victor I (189–198); o terceiro (ou segundo) foi Gelásio I (492-96). (Melchiades, 311-14, era
possivelmente africano.) Victor I també m foi o primeiro papa a a irmar sua autoridade alé m de sua pró pria diocese, exigindo que certas igrejas sigam a
prá tica romana de celebrar a Pá scoa no domingo apó s a Pá scoa, em vez de no dé cimo quarto dia do mê s de Nisan.
6 O primeiro papa a abdicar (depois de ser preso e deportado): Pontian (230–35). O ú ltimo papa a abdicar ou renunciar nã o foi Celestino V (1294), mas
Gregório XII em 1415. Outros papas que abdicaram ou renunciaram incluem Silverius em 537, Joã o XVIII em 1009 e Bento IX em 1045 (reintegrado em
1047).
7 O primeiro papa a usar o Palá cio de Latrã o como residê ncia papal (dado a ele pelo imperador Constantino): Melquíades (311-14).
8 O primeiro papa a nã o ser listado entre os santos (sob pressã o imperial, ele aprovou a excomunhã o de Santo Ataná sio durante a contrové rsia ariana):
Libério (352-66).
9 O primeiro papa a emitir decretos no estilo dos é ditos imperiais: Siricius (384-99).
10 O primeiro (e ú nico) papa a suceder seu pai como papa: Inocêncio I (401–17). Seu pai foi Anastácio I (399–401). Ambos sã o reconhecidos como santos. (
Hormisdas [514-23] també m teve um ilho que se tornou papa, mas nã o como seu sucessor imediato: Silverius .. [536-37] Ambos sã o honrados como
santos)
11 O primeiro de dois papas a ser chamado de “o Grande” e també m o primeiro papa a reivindicar jurisdiçã o sobre a Igreja universal, tanto no Oriente como
no Ocidente: Leão I (440-61). O outro papa chamado de “o Grande” foi Gregório I (590-604)
12 O primeiro papa a ser chamado Vigá rio de Cristo: Gelásio I (492–96).
13 O primeiro papa a conceder o pá lio (um sı́mbolo de autoridade pastoral) a um bispo fora da Itá lia: Symmachus (498-514).
14 O primeiro papa a deixar a Itá lia e ir para o Oriente (Constantinopla): João I (523–26).
15 O primeiro papa de origem germâ nica (embora nascido em Roma): Bonifácio II (530–32). Seis papas nascidos na Alemanha serviriam mais tarde,
começando com Gregório V (996-99) e terminando com Bento XVI (2005-).
16 O primeiro papa a ter um nome diferente ao ser eleito para o papado (seu nome de nascimento era de um Deus pagã o, Mercú rio): João II (533-35). O
ú ltimo papa a assumir seu pró prio nome como papa foi Marcelo II (1555).
17 O primeiro papa a ser excomungado (por um sı́nodo africano de bispos por vacilar sobre os ensinamentos do Concı́lio de Calcedô nia [451]): Vigílio (537-
55).
18 O primeiro papa a ser consagrado com a aprovaçã o do imperador bizantino (exigido para validade apó s a conquista bizantina da Itá lia): Pelágio I (556-
61). (Pelá gio I també m foi o primeiro e ú nico papa a ser instalado no papado por açã o imperial, sem uma eleiçã o pré via). O ú ltimo papa a buscar a
aprovaçã o imperial para sua consagraçã o foi Gregório III (731-41).
19 O primeiro papa (de vá rios) que foi monge: Gregório, o Grande (590-604).
20 O primeiro (e ú nico) papa a ser excomungado por um concı́lio ecumê nico (o Terceiro Concı́lio de Constantinopla em 680, por sua adesã o involuntá ria à
heresia do monotelismo): Honório I (625-38).
21 O ú ltimo papa a ser reconhecido como má rtir: Martinho I (649–54).
22 O primeiro (e ú nico) papa a rati icar a condenaçã o de um predecessor por um concı́lio ecumê nico (Constantinopla III em 680) (Honó rio I [625-38]):
Leão II (682-83).
23 O primeiro homem eleito papa cujo nome nã o aparece na lista o icial de papas porque ele morreu antes de ser consagrado Bispo de Roma: Estêvão II
(752).
24 O primeiro papa a governar os Estados Papais: Estêvão II (III) (752–57).
25 O primeiro papa a suceder seu irmã o como papa (Estê vã o II [III]): Paulo I (757-67). O outro era João XIX (1024–32), o irmã o mais novo de Bento VIII
(1012–24)
26 O primeiro papa a ser assassinado: João VIII (872–82). Outros papas cujas vidas terminaram por meio de assassinato: possivelmente Adriano III (884-
85), Estêvão VI [VII] (896-97), Leão V (903), João X (914-28), possivelmente Sérgio IV (1009-12) , Bento VI (973-74), e possivelmente Urbano VI (1378-
89). Dois outros papas morreram apó s tratamento brutal na prisã o: Estêvão VIII [IX] (939-42) e João XIV (983-84).
27 O primeiro (e ú nico) papa a oferecer reverê ncia a um imperador ocidental: Leão III (795-816).
28 O primeiro papa a ungir um imperador: Estêvão IV (V) (816–17).
29 O primeiro bispo de outra diocese a ser eleito Bispo de Roma e, portanto, papa - em violaçã o do câ non 15 do Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325): Marinus I
(882-84).
30 O primeiro (e ú nico) papa cujo corpo foi exumado de seu tú mulo e colocado em julgamento (o "Sı́nodo do Cadá ver") por um de seus sucessores (Estê vã o
VI [VII]) por vá rios crimes alegados, incluindo ter aceitado a eleiçã o como Bispo de Roma, enquanto já servindo como bispo de outra diocese: Formoso
(891-96).
31 A primeira (e ú nica) pessoa a ser eleita papa depois de ter sido previamente destituı́da do subdiaconado e do sacerdó cio por imoralidade: Bonifácio VI
(896). (Ele morreu quinze dias apó s sua eleiçã o, o que era canonicamente duvidoso em primeiro lugar.)
32 O primeiro papa a ser deposto do cargo por outra açã o que nã o imperial: Estêvão VI (VIII) (896-97), o papa que presidiu o chamado Sı́nodo do Cadá ver,
que considerou o falecido Papa Formoso culpado de vá rios crimes. O primeiro papa a ser deposto por um sı́nodo romano (e posteriormente reintegrado)
foi João XII (963 e 964, respectivamente).
33 O primeiro (e ú nico) papa a ordenar o assassinato de seu predecessor (Leã o V): Sérgio III (904-11).
34 O primeiro (e ú nico) ilho ilegı́timo de um papa que també m foi eleito papa: João XI (931-35 / 6). Seu pai era Sérgio III (904-11).
35 O primeiro (e ú nico) papa a ter sido eleito ainda adolescente: João XII (955-64), eleito aos dezoito anos. Ele també m foi o segundo papa a mudar seu
nome (Otaviano) apó s ser eleito papa.
36 O primeiro leigo eleito papa (embora a legitimidade de sua eleiçã o tenha sido uma questã o de debate canô nico): Leão VIII (963-65). Trê s sucessivos
leigos (cujas eleiçõ es nã o estã o em dú vida) foram eleitos papa no sé culo seguinte: Bento VIII (1012–24), João XIX (1024–1032) e Bento IX (1032–44;
1045; 1047–48).
37 O primeiro de dois papas a ser eleito com o nome de batismo Pedro e que, em respeito ao Abençoado Apó stolo, mudou seu nome papal: João XIV (983-
84). O outro foi Sérgio IV (1009-12).
38 O primeiro papa a canonizar formalmente um santo (Ulric de Augsburg em 993): João XV (985-96).
39 O primeiro de cinco papas alemã es: Gregório V (996–99). O ú ltimo papa alemã o foi Victor II (1055–1057).
40 O primeiro dos dezesseis papas franceses: Silvestre II (999–1003). O ú ltimo dos papas franceses foi Gregório XI (1371–1378).
41 Apenas 5 dos 123 papas do segundo milê nio foram santos canonizados. O primeiro foi Leão IX (1049–54) e o ú ltimo, Pio X (1903–14). Os outros trê s
foram: Gregório VII (1073–85), Celestino V (1294) e Pio V (1566–72).
42 O primeiro (e ú nico) papa cujo mandato consistiu em trê s segmentos de tempo separados: Bento IX (1032–44; 1045; 1047–48).
43 O primeiro papa claramente legı́timo a reter sua ex-diocese enquanto servia como Bispo de Roma: Clemente II (1046–47), que manteve sua diocese de
Bamberg. Os trê s papas alemã es que o sucederam izeram o mesmo: Damásio II (1048) manteve a sé de Brixen; Leão IX (1049–54) manteve a sé de Toul;
e Victor II (1055–1057) manteve a sé de Eichstä tt. Da mesma forma, Nicolau II (1058-1061) permaneceu bispo de Florença. Stephen IX [X] (1057–58)
permaneceu abade de Monte Cassino apó s sua eleiçã o como papa. Urbano III (1185-87) manteve sua arquidiocese de Milã o para evitar que as receitas
passassem para o tesouro imperial, e Bento XIII (1724-1730) manteve sua diocese de Benevento, o ú ltimo papa a manter duas dioceses simultaneamente
- uma prá tica condenada conhecida como pluralismo. (Sylvester III manteve sua diocese de Sabina em 1045, mas pode ter sido um antipapa.)
44 O primeiro papa a restringir a eleiçã o de um papa para o Colé gio de Cardeais: Nicolau II , em 1059. Alexandre III decretou em 1179 no Terceiro Concı́lio
de Latrã o que uma maioria de dois terços era necessá ria para a eleiçã o. ( Pio XII em 1945 mudou para dois terços mais um. João Paulo II em 1996 mudou
de volta para dois terços, enquanto també m decretava que apenas uma maioria absoluta é necessá ria apó s trinta e trê s cé dulas inconclusivas.) Gregory X
(1272– 76) decretou que uma eleiçã o papal deve ser realizada dentro de dez dias apó s a morte do papa, na cidade onde ele morreu, e com os cardeais
eleitores sem contato com o mundo exterior. Gregório XV (1621-23) decretou que tais eleiçõ es deveriam ser conduzidas por voto secreto.
45 O primeiro papa a reivindicar autoridade temporal e espiritual sobre todo o mundo cristã o, e també m o primeiro papa a exigir que os arcebispos
metropolitanos viessem a Roma para receber o pá lio: Gregório VII (1073–85). Inocêncio III (1198-1216) foi o primeiro papa a reivindicar tal autoridade
sobre o mundo inteiro.
46 O primeiro papa a ser beati icado sem posteriormente ser canonizado um santo: Victor III (1086–1087). O ú ltimo até agora é Innocent XI (1676-89).
47 O papa que estabeleceu a Cú ria Romana (1089) e o primeiro papa a convocar uma Cruzada para libertar Jerusalé m dos muçulmanos: Urbano II (1088–
99).
48 O primeiro papa cisterciense: Eugenius III (1145–53).
49 O primeiro (e ú nico) papa inglê s: Adriano [Adrian] IV (1154–1159).
50 O primeiro de muitos papas que foram advogados: Alexandre III (1159–1181).
51 O primeiro papa a estabelecer procedimentos para a Inquisiçã o para a supressã o e puniçã o de hereges: Lúcio III (1181-85). Gregório IX (1227-41)
estabeleceu a Inquisiçã o papal sob a direçã o dos Dominicanos, e Paulo III (1534-49) estabeleceu a Congregaçã o da Inquisiçã o Romana (Santo Ofı́cio).
52 O primeiro papa a ser eleito por um conclave composto por menos de dez cardeais: Celestino IV (1241). (Quando Urbano IV foi eleito em 1261, havia
apenas oito cardeais restantes no colé gio.)
53 O primeiro papa dominicano e o primeiro papa a adotar a batina branca (o há bito dominicano) como traje papal normal: Inocêncio V (1276). O costume
da batina papal branca tornou-se normal apó s o ponti icado de outro dominicano, Sã o Pio V (1566-1572). (Quando Urbano V foi eleito em 1362, ele
manteve seu há bito negro beneditino como papa.)
54 O primeiro (e ú nico) papa portuguê s e o ú nico mé dico que serviu no papado: João XXI (1276–77).
55 O primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua residê ncia: Nicolau III (1277–1280).
56 O primeiro papa franciscano: Nicolau IV (1288–1292).
57 O primeiro (e ú nico) eremita eleito papa: Celestino V (1294).
58 O primeiro papa a proclamar um Ano Santo (1300): Bonifácio VIII (1295–1303).
59 O primeiro dos papas de Avignon: Clemente V (1305-14). O ú ltimo foi Gregório XI (1371–1378).
60 O ú ltimo papa nã o cardeal eleito: Urbano VI (1378-89).
61 O primeiro dos papas da Renascença: Nicolau V (1447-55).
62 O primeiro de dois papas espanhó is: Callistus III (1455–1458). O segundo foi o infame Alexandre VI (1492-1503).
63 O papa que construiu a Capela Sistina e estabeleceu os arquivos do Vaticano: Sisto IV (1471–1484).
64 O papa que primeiro encomendou os planos para a reconstruçã o da Bası́lica de Sã o Pedro: Júlio II (1503-13).
65 O primeiro papa da Reforma, que excomungou Martinho Lutero em 1521: Leão X (1513–21).
66 O primeiro (e ú nico) holandê s eleito papa e o ú ltimo papa nã o italiano até Joã o Paulo II em 1978: Adriano [Adrian] VI (1522-1523).
67 O ú ltimo papa a manter seu nome de batismo como papa: Marcelo II (1555).
68 O papa que criou o Indice de Livros Proibidos em 1557: Paulo IV (1555–1559).
69 O papa que reformou o calendá rio juliano no calendá rio gregoriano: Gregório XIII (1572-1585).
70 O papa que consagrou a nova Bası́lica de Sã o Pedro e que primeiro usou Castel Gandolfo como residê ncia de verã o: Urbano VIII (1623 a 1644).
71 O primeiro (e ú nico) papa a suprimir uma ordem religiosa importante, a Companhia de Jesus, em 1773: Clemente XIV (1769-74). (Os jesuı́tas foram
restaurados em 1814 por Pio VII. )
72 O primeiro (e ú nico) monge camaldulense eleito papa e a ú ltima pessoa eleita que ainda nã o era bispo: Gregório XVI (1831-46).
73 O primeiro papa a tentar reconciliar a Igreja com o mundo moderno: Leão XIII (1878–1903).
74 O primeiro papa a usar o rá dio para comunicaçã o pastoral: Pio XI (1922–39).
75 O primeiro papa a usar a televisã o como meio de comunicaçã o pastoral: Pio XII (1939–58).
76 O primeiro papa a viajar de aviã o e visitar paı́ses a milhares de quilô metros de Roma: Paulo VI (1963-78).
77 O primeiro papa a ter um nome duplo e o primeiro papa em mais de mil anos a renunciar ao rito tradicional de coroaçã o: João Paulo I (1978).
78 O primeiro papa eslavo (polonê s) e o primeiro papa nã o italiano desde Adriano VI (1522–23): João Paulo II (1978–2005).

4. PRINCIPAIS ENCICLICAS PAPAIS


Uma encı́clica papal é , em princı́pio, uma carta circular enviada pelo Bispo de Roma a toda a Igreja sobre questõ es
doutriná rias, morais, pastorais ou disciplinares. No entanto, a maioria das encı́clicas do ponti icado de Pio X (1903–
14) foram escritas para igrejas particulares sobre problemas nacionais ou regionais e nã o eram de interesse da
Igreja universal. Vá rios dos que eram mais universais do que locais proclamaram um Ano Santo ou ano jubilar para
a Igreja universal ou delinearam os planos de um novo papa para seu ponti icado. Até a dé cada de 1960, as
encı́clicas eram dirigidas apenas a bispos e outros o iciais da Igreja; só muito mais tarde o foram a todos os ié is
cató licos e, inalmente, com a Pacem in terris do Papa Joã o XXIII (1963), a todos os cristã os nã o cató licos e a todas as
pessoas de boa vontade. Os nomes latinos das encı́clicas sã o tirados das primeiras duas ou trê s palavras do texto
original em latim, que geralmente nã o tê m sentido quando traduzidas literalmente. A autoridade de uma encı́clica
depende de seu conteú do, do pú blico a que se destina e da força magistral com a qual seus ensinamentos centrais
sã o apresentados. E geralmente aceito que a primeira encı́clica papal foi publicada por Bento XIV em 1740. A lista a
seguir, organizada cronologicamente, conté m apenas uma amostra das encı́clicas mais importantes. As listas das
encı́clicas de Joã o XXIII, Paulo VI e Joã o Paulo II, entretanto, estã o completas. Para uma lista completa de todas as
encı́clicas papais, consulte o Almanaque católico anual (Huntington, IN: Our Sunday Visitor Publishing Division).
Bento XIV (1740-58):
Ubi primum (Lat., “Onde primeiro”), sobre os deveres dos bispos (3 de dezembro de 1740).

Gregório XVI (1831-46):


Mirari vos (lat., "Você se pergunta"), que condenou (sem mencionar o nome) os princı́pios sociais e polı́ticos
defendidos em L'Avenir (Fr., "O Futuro"), o jornal cató lico editado por cató licos franceses liberais, incluindo Padre
Fé licité Robert de Lamennais (falecido em 1854), que defendia a liberdade social, a separaçã o entre a Igreja e o
Estado, e a liberdade de religiã o e de imprensa (15 de agosto de 1832).
Singulari Nos (lat., “Nó s singulares”), que condenou Lamennais pessoalmente porque o papa estava insatisfeito
com a reaçã o de Lamennais à encı́clica anterior (25 de junho de 1834).

Pio IX (1846-78):
Ubi primum (lat., “Onde primeiro”), que antecipou a proclamaçã o do papa do dogma da Imaculada Conceiçã o da
Bem-Aventurada Virgem Maria em 1854 (17 de junho de 1847).
Cum nuper (lat., “Ultimamente com”), que defendia o direito da Santa Sé aos Estados Papais, que estavam para ser
expropriados pelo novo Estado italiano (18 de junho de 1859).
Quanta cura (lat., "Com que cuidado"), que condenava certos erros modernos e incluı́a, como apê ndice, o famoso
"Programa de Erros", contendo oitenta proposiçõ es anteriormente condenadas (8 de dezembro de 1864)
Ubi Nos (lat., "Onde nó s"), que rea irmou a reivindicaçã o da Santa Sé aos Estados Papais, recentemente
expropriados - incluindo, inalmente, a pró pria Roma - pelo novo Estado italiano (15 de maio de 1871)

Leão XIII (1878–1903):


Aeterni Patris (lat., “Do Pai Eterno”), sobre a restauraçã o da iloso ia cristã e particularmente a de Sã o Tomá s de
Aquino (4 de agosto de 1879).
Diuturnum illud (Lat., "Este duradouro..."), Sobre as origens da autoridade civil, dando reconhecimento provisó rio
à democracia (29 de junho de 1881).
Immortale Dei (lat., "O Deus imortal"), que distinguia entre os reinos temporal e espiritual, insistindo que qualquer
forma de governo pode ser legı́tima se servir ao bem comum (1 de novembro de 1885).
Libertas praestantissimum (lat., “Liberdade”), sobre a Igreja como guardiã da liberdade, devidamente entendida (20
de junho de 1888).
Magni Nobis (lat., “Grande para nó s”), aos bispos dos Estados Unidos na inauguraçã o da nova Universidade
Cató lica da Amé rica (7 de março de 1889).
Sapientiae Christianae (lat., “Da sabedoria cristã ”), sobre os cristã os como cidadã os (10 de janeiro de 1890).
Catholicae Ecclesiae (lat., “Igrejas cató licas”), contra a escravidã o nas missõ es (20 de novembro de 1890).
Rerum novarum (lat., “De coisas novas”), a encı́clica social clá ssica. Embora defendesse fortemente o direito à
propriedade privada (contra o socialismo), també m insistia (contra o capitalismo laissez-faire) nas responsabilidades
sociais que acompanham a posse privada de propriedade, nomeadamente, a obrigaçã o de pagar aos trabalhadores
um salá rio justo e de honrar os trabalhadores. 'direitos, especialmente o direito de formar sindicatos (15 de maio de
1891).
Providentissimus Deus (Lat., “Deus providente”), que estabeleceu as diretrizes para o estudo cientı́ ico da Sagrada
Escritura. Foi um documento cauteloso, a irmando que a Escritura foi escrita “por ditado” do Espı́rito Santo e que
toda interpretaçã o da Bı́blia deve estar em conformidade com os ensinamentos da Igreja (18 de novembro de 1893).
Longinqua oceani (lat., “Um oceano à parte”), que alertou a Igreja dos Estados Unidos contra a idealizaçã o da
separaçã o entre Igreja e Estado. Este documento, como muitos outros da lista das encı́clicas do Almanaque Católico ,
pode nã o pertencer à lista das encı́clicas, visto ter mais o cará ter de uma carta apostó lica (6 de janeiro de 1895).
Satis cognitum (Lat., “Conhecido o su iciente”), que estipulava que a aceitaçã o do primado do papa era uma
condiçã o necessá ria para a reuniã o cristã (29 de junho de 1896).
Divinum munus (lat., "Esta funçã o divina"), no Espı́rito Santo (9 de maio de 1897).
Annum Sacrum (lat., “Ano Santo”), sobre a consagraçã o ao Sagrado Coraçã o (25 de maio de 1899).
Tametsi futura prospicientibus (lat., “Embora aqueles que olham para as coisas futuras”), sobre Jesus Cristo, o
Redentor (1º de novembro de 1900).
Graves de communi re (lat., “Assuntos sé rios a respeito de uma realidade comum”), sobre a democracia cristã (18
de janeiro de 1901).
In amplissimo (lat., “Na ı́ntegra”), aos bispos dos Estados Unidos sobre a Igreja nos Estados Unidos (15 de abril de
1902).
Mirae caritatis (lat., “Maravilhas do amor”), sobre a Eucaristia (28 de maio de 1902).
Pio X (1903-1914):
E supremi (lat., “Do mais alto”), sua primeira encı́clica, sobre a restauraçã o de todas as coisas em Cristo, o lema de
seu ponti icado (4 de outubro de 1903).
Vehementer Nos (lat., “Nó s veementemente”), aos bispos, clé rigos e ao povo da França, condenando a lei francesa
de separaçã o entre Igreja e Estado (11 de fevereiro de 1906).
Pascendi Dominici gregis (Lat., “Alimentando o rebanho do Senhor”), que condenou o Modernismo como “a sı́ntese
de todas as heresias”, elogiou o ensino e o estudo da Escolá stica e defendeu a censura dos escritos (8 de setembro
de 1907).

Bento XV (1914–22):
Ad beatissimi Apostolorum (lat., “No [limiar] dos mais abençoados Apó stolos”), sua primeira encı́clica, na qual ele
pediu o im da guerra destrutiva entre os chamados cató licos integralistas e cató licos progressistas que se
desenvolveram e se intensi icaram durante o ponti icado anterior. O papa insistiu, sem usar o nome “integralista”, que
o substantivo “cató lico” nã o precisa ser quali icado por “novos epı́tetos” (1º de novembro de 1914).
Ilud máximo (lat., "Este maior"), que insistia que os missioná rios recebessem uma melhor preparaçã o espiritual e
teoló gica, e que os bispos missioná rios formassem um clero nativo o mais rá pido possı́vel e nunca colocassem os
interesses de seus pró prios paı́ses de origem à frente da pastoral necessidades de seu povo (30 de novembro de
1919).
Pacem, Dei munus pulcherrimum (lat., “Paz, a mais bela obra de Deus”), que clamava pela reconciliaçã o
internacional apó s a Primeira Guerra Mundial (23 de maio de 1920).

Pio XI (1922–39):
Ubi arcano Dei consilio (lat., “Onde [está ] o plano oculto de Deus”), sua primeira encı́clica, que promoveu a Açã o
Cató lica, ou a participaçã o dos leigos no apostolado da hierarquia (23 de dezembro de 1922).
Quas primas (lat., “Essas primeiras coisas”), escrito por ocasiã o do estabelecimento da festa de Cristo Rei, para
combater o ateı́smo e o secularismo (11 de dezembro de 1925).
Rerum Ecclesiae (lat., “Dos assuntos da Igreja”), que desenvolveu os temas da encı́clica Maximum illud de Bento XV
(1919) sobre as missõ es (28 de fevereiro de 1926).
Mortalium animos (lat., "As almas dos mortais"), que ofereceu uma avaliaçã o negativa do movimento ecumê nico
nascente, proibiu qualquer envolvimento cató lico em conferê ncias ecumê nicas e insistiu que o catolicismo nã o fosse
considerado igual a outras religiõ es (6 de janeiro de 1928 )
Rerum Orientalium (Lat., “Dos assuntos das [Igrejas] Orientais”), que clamava por uma maior compreensã o das
igrejas orientais e promoveu os estudos orientais (8 de setembro de 1928).
Casti connubii (lat., “Do casamento puro”), que a irmou a doutrina da Igreja de que o casamento é casto,
monogâ mico e iel e que, em resposta à abordagem menos restritiva da Conferê ncia Anglicana de Lambeth de 1930,
condenou veementemente a contracepçã o. No entanto, a encı́clica també m introduzia, como im secundá rio ou
inalidade do casamento (apó s a procriaçã o), a ajuda mú tua dos cô njuges (31 de dezembro de 1930).
Quadragesimo anno (lat., “Depois de quarenta anos”), que comemorava o quadragé simo aniversá rio da Rerum
novarum de Leã o XIII (1891). O papa criticou tanto o individualismo excessivo do capitalismo quanto o coletivismo
amortecedor do socialismo, insistiu nas responsabilidades sociais que andam de mã os dadas com o direito à
propriedade privada e introduziu o princı́pio da subsidiariedade, segundo o qual nada deve ser feito por uma
agê ncia superior (por exemplo, o governo) isso també m pode ser feito, se nã o melhor, por uma agê ncia inferior (15
de maio de 1931).
Non abbiamo bisogno (It., “Nã o precisamos”), que condenou o fascismo italiano e promoveu a Açã o Cató lica na
Itá lia, um movimento laico de cooperaçã o com a hierarquia (29 de junho de 1931).
Ad Catholici sacerdotii (Lat., “A respeito do sacerdó cio cató lico”), uma rea irmaçã o dos ensinamentos tradicionais
da Igreja sobre o sacerdó cio (20 de dezembro de 1935).
Vigilanti cura (lat., “Vigilant care”), escrita para os bispos dos Estados Unidos, a primeira encı́clica papal totalmente
dedicada ao cinema (29 de junho de 1936).
Mit brennender Sorge (alemã o, “With searing ansiedade”), que denunciou as violaçõ es da concordata entre a Santa
Sé e o Terceiro Reich alemã o e que condenou o nazismo como fundamentalmente racista e anticristã o. A encı́clica foi
contrabandeada para a Alemanha e lida em todos os pú lpitos cató licos do paı́s (14 de março de 1937).
Divini Redemptoris (lat., “Do Divino Redentor”), que condenou o comunismo como ateu (19 de março de 1937).

Pio XII (1939–58):


Summi ponti icatus (lat., “Do supremo ponti icado”), sua primeira encı́clica, publicada no limiar da Segunda Guerra
Mundial, que apresentava uma visã o cristã de uma sociedade harmoniosa (20 de outubro de 1939).
Mystici Corporis Christi (lat., “Do Corpo Mı́stico de Cristo”), que nã o só rea irmou a estrutura hierá rquica
institucional da Igreja, mas també m insistiu na sua dimensã o interior e carismá tica. A verdadeira membresia
pertence à queles que foram batizados, professam a verdadeira fé e estã o em uniã o com o papa. Portanto, a Igreja é
idê ntica à Igreja Cató lica, posiçã o posteriormente modi icada pela Constituiçã o Dogmá tica do Concı́lio Vaticano II
sobre a Igreja e pelo Decreto sobre o Ecumenismo de 1964 (29 de junho de 1943).
Divino af lante Spiritu (lat., "Inspirado pelo Espı́rito divino"), que comemorou o quinquagé simo aniversá rio da
Providentissimus Deus de Leã o XIII e promoveu o estudo histó rico-crı́tico da Sagrada Escritura entre os estudiosos da
Bı́blia cató lica, orientando-os a determinar o sentido literal da Bı́blia, isto é , "o que o escritor pretendia expressar".
As vá rias diretrizes desta encı́clica foram incorporadas à Constituiçã o dogmá tica do Concı́lio Vaticano II sobre a
Revelaçã o Divina de 1965 (30 de setembro de 1943).
Deiparae Virginis Mariae (lat., “De Maria, a Virgem Mã e de Deus”), que levantou a possibilidade de de inir o dogma
da Assunçã o de Maria ao cé u, um dogma que foi de inido posteriormente em 1950 (1 de maio de 1946).
Mediator Dei (lat., “Mediador de Deus”), que encorajou a plena participaçã o dos leigos na Eucaristia e estabeleceu
uma base pastoral e teoló gica para reformar a liturgia. Foi a primeira encı́clica papal inteiramente dedicada ao tema
do culto (20 de novembro de 1947).
Humani generis (lat., "Da raça humana"), que tentou deter novas tendê ncias teoló gicas e pastorais (particularmente
entre teó logos franceses que escrevem sobre a relaçã o entre natureza e graça, pecado original, ecumenismo e
renovaçã o litú rgica), para expor erros na iloso ia e na ciê ncia contemporâ neas (existencialismo, historicismo,
evolucionismo), e novamente para propor o tomismo como a verdadeira iloso ia cristã . A encı́clica també m é
importante pelas reivindicaçõ es que fez sobre a autoridade do ensino das encı́clicas papais, insistindo que quando o
papa toma uma posiçã o sobre um ponto disputado, ele nã o é mais um assunto para discussã o entre teó logos. Esta
ú ltima declaraçã o foi proposta para inclusã o na Constituiçã o dogmá tica do Concı́lio Vaticano II sobre a Igreja, mas os
padres conciliares a rejeitaram (12 de agosto de 1950).
Evangelii praecones (lat., “Proclamadores do evangelho”), sobre a promoçã o da obra missioná ria da Igreja, com
especial ê nfase na necessidade de implantar o evangelho em todas as culturas (2 de junho de 1951).
Sempiternus Rex Christus (lat., "Cristo o Rei eterno"), que comemorava o dé cimo quinto centé simo aniversá rio do
Concı́lio de Calcedô nia, que ensinava que em Jesus Cristo existem duas naturezas, humana e divina, hipostaticamente
unidas em uma Pessoa divina ( 8 de setembro de 1951).
Fulgens corona (lat., “Coroa brilhante”), que proclamou um Ano Mariano para comemorar o centé simo aniversá rio
da de iniçã o do dogma da Imaculada Conceiçã o (8 de setembro de 1953).
Sacra virginitas (lat., “Santa virgindade”), sobre a vocaçã o cristã à virgindade consagrada (25 de março de 1954).
Ad Caeli Reginam (lat., “A Rainha do Cé u”), que proclamou a realeza de Maria (11 de outubro de 1954).
Musicae sacrae ”(lat.,“ Da mú sica sacra ”), que conté m diretrizes sobre o uso da mú sica na liturgia (25 de dezembro
de 1955).
Haurietis aquas (lat., “Você desenha á guas”), sobre o fundamento teoló gico para a devoçã o ao Sagrado Coraçã o de
Jesus (15 de maio de 1956).
Fidei donum (lat., “Dom da fé ”), sobre o estado atual das missõ es cató licas, especialmente na Africa, e a necessidade
de adaptaçã o à s culturas nativas (21 de abril de 1957).
Miranda prorsus (lat., “Totalmente admirá vel”), que se preocupava com o rá dio, a televisã o e o cinema e com os
problemas pastorais colocados pelos meios de comunicaçã o modernos (8 de setembro de 1957).

João XXIII (1958–63):


Ad Petri Cathedram (lat., “A Cá tedra de Pedro”), a primeira encı́clica do papa, que tratou dos temas da verdade,
unidade e paz e saudou os nã o cató licos como “irmã os separados” (29 de junho de 1959).
Sacerdotii Nostri primordia (lat., “O fundamento do nosso sacerdó cio”), no exemplo sacerdotal de Sã o Joã o Vianney
(1º de agosto de 1959).
Grata recordatio (lat., “Memó ria agradecida”), sobre o Rosá rio como oraçã o e icaz pela Igreja, pelas missõ es e pela
justiça e paz mundial (26 de setembro de 1959).
Princeps Pastor (Lat., “Pastor Chefe”), sobre as missõ es, a necessidade de clero nativo e a importâ ncia da
participaçã o leiga (28 de novembro de 1959).
Mater et magistra (lat., “Mã e e professora”), lançado no septuagé simo aniversá rio da Rerum novarum de Leã o XIII
(1891), uma atualizaçã o sobre o ensino social cató lico sobre a propriedade, os direitos dos trabalhadores e as
obrigaçõ es do governo. També m alcançou um equilı́brio entre os princı́pios da subsidiariedade, ou seja, que nada
deve ser feito por uma agê ncia superior que possa ser feito tã o bem, se nã o melhor, por uma agê ncia inferior, e a
socializaçã o, ou seja, “a crescente interdependê ncia dos cidadã os em sociedade ”exigindo agê ncias superiores,
especialmente governamentais, para atender à s necessidades que de outra forma nã o poderiam ser atendidas por
agê ncias inferiores ou voluntá rias (15 de maio de 1961).
Aeterna Dei sapientia (lat., “A sabedoria do Deus Eterno”), sobre a sé de Pedro como o centro da unidade cristã ,
escrita no dé cimo quinto centená rio da morte do Papa Leã o, o Grande (11 de novembro de 1961).
Paenitentiam agere (lat., “Fazer penitê ncia”), sobre a necessidade da prá tica da penitê ncia interior e exterior (1 de
julho de 1962).
Pacem in terris (lat., “Paz na terra”), uma encı́clica publicada menos de dois meses antes da morte do papa, que
insistia que o reconhecimento dos direitos humanos e responsabilidades é a base da paz mundial (11 de abril de
1963).

Paulo VI (1963–78):
Ecclesiam Suam (lat., "Sua Igreja"), a primeira encı́clica do papa, que conclamava a Igreja a estar pronta para corrigir
seus pró prios defeitos e entrar em diá logo com outros cató licos, com outros cristã os, com nã o-cristã os e com toda a
humanidade (6 de agosto de 1964).
Mense maio (Lat., “O mê s de maio”), sobre as oraçõ es de maio pela preservaçã o da paz (29 de abril de 1965).
Mysterium idei (lat., "Misté rio da fé "), que foi escrito para contrariar opiniõ es e prá ticas errô neas sobre a
Eucaristia e para rea irmar a doutrina tradicional da transubstanciaçã o, ou seja, que atravé s das palavras do
sacerdote de consagraçã o na Missa o pã o e o vinho tornar-se plenamente e sem resto o pró prio Corpo e Sangue de
Jesus Cristo (3 de setembro de 1965).
Christi Matri (lat., “Da Mã e de Cristo”), sobre as oraçõ es pela paz durante o mê s de outubro (15 de setembro de
1966).
Populorum progressio (lat., “Sobre o progresso dos povos”), que destacou e deplorou a distâ ncia entre as naçõ es
ricas e pobres e que lembrou aos leitores que os bens da terra sã o destinados por Deus para todos. O “novo nome
para a paz”, disse o papa, “é desenvolvimento” (26 de março de 1967).
Sacerdotalis caelibatus (Lat., “ Celibato sacerdotal”), rea irmando a tradiçã o do celibato obrigató rio para padres
cató licos romanos (24 de junho de 1967).
Humanae vitae (lat., “Da vida humana”), que declarou que todo ato sexual dentro do casamento deve estar aberto
à transmissã o da vida. Em outras palavras, nã o pode haver meios arti iciais de contracepçã o. A encı́clica criou uma
tempestade de protestos em todo o mundo, mas especialmente na Amé rica do Norte e na Europa. A reaçã o de Paulo
VI icou tã o abalado que jurou nunca mais publicar uma encı́clica, e nã o o fez (25 de julho de 1968).

João Paulo II (1978–2005):


Redemptor hominis (lat., "Redentor da humanidade"), a primeira encı́clica do papa, que enfatizou a dignidade e o
valor de cada pessoa humana, deplorou a "exploraçã o da terra" e a destruiçã o do meio ambiente, e condenou o
consumismo, isto é , a acumulaçã o e o mau uso de bens por classes sociais privilegiadas e paı́ses ricos “em grau
excessivo”. També m condenou a corrida armamentista, especialmente por desviar recursos essenciais dos pobres, e
a violaçã o dos direitos humanos em todo o mundo (4 de março de 1979).
Mergulha na misericórdia (lat., “Rico em misericó rdia”), na misericó rdia de Deus (30 de novembro de 1980).
Laborem exercens (Lat., “Sobre fazer o trabalho”), que via o trabalho humano como uma forma de colaboraçã o na
obra criadora de Deus e, portanto, de dignidade in inita. Insistia na prioridade do trabalho sobre o capital e
condenava o que o papa chamou de capitalismo “rı́gido” que exagera os direitos da propriedade privada sobre o
bem comum e o uso comum dos bens (14 de setembro de 1981). A encı́clica foi originalmente planejada para
publicaçã o em 15 de maio, para comemorar o nonagé simo aniversá rio da Rerum novarum de Leã o XIII , mas o
atentado contra a vida do papa na Praça de Sã o Pedro na primavera anterior atrasou sua publicaçã o.
Slavorum Apostoli (lat., "Apó stolos dos eslavos"), que honrou os Santos. Cirilo e Metó dio como copatrons da
Europa ao lado de Sã o Bento de Nú rsia, que havia sido proclamado patrono da Europa por Paulo VI (2 de junho de
1985).
Dominum et vivi icantem (Lat., “E o Senhor que dá vida”), sobre o Espı́rito Santo na vida da Igreja e do mundo (18
de maio de 1986).
Redemptoris Mater (lat., “Mã e do Redentor”), sobre o papel de Maria no misté rio de Cristo e sua presença ativa na
vida da Igreja (25 de março de 1987).
Sollicitudo rei socialis (lat., “Solicitude pelas preocupaçõ es sociais”, també m conhecido como “Sobre a preocupaçã o
social da Igreja”), que comemorou o vigé simo aniversá rio da Populorum progressio de Paulo VI . Enfatizou as
obrigaçõ es das naçõ es ricas e desenvolvidas para com os paı́ses pobres e subdesenvolvidos e a “opçã o preferencial
pelos pobres” como diretriz de açã o moral. Os bens da terra, insistia o papa, sã o destinados a todos (30 de
dezembro de 1987).
Redemptoris missio (lat., “Missã o do Redentor”), sobre a responsabilidade missioná ria permanente da Igreja (22 de
janeiro de 1991).
Centesimus annus (lat., “O centé simo ano”), escrita para marcar o centená rio da Rerum novarum de Leã o XIII . No
centro da mensagem social da Igreja, declarou o papa, está a dignidade de cada pessoa humana - um ponto que ele
já havia destacado em sua primeira encı́clica, Redemptor hominis , em 1979. Ele rea irmou a “opçã o preferencial pelos
pobres” da Igreja e referia-se positivamente aos sistemas democrá ticos para garantir a participaçã o dos cidadã os na
vida polı́tica de uma naçã o (1 de maio de 1991).
Veritatis splendor (Lat., "O esplendor da verdade"), que era crı́tico da dissidê ncia teoló gica na mı́dia pú blica, do
relativismo moral e de um mé todo de teologia moral conhecido como proporcionalismo (6 de agosto de 1993).
Evangelium vitae (lat., “O evangelho da vida”), que condenou veementemente a contracepçã o, a eutaná sia e o
aborto em linguagem semelhante à empregada no ensino infalı́vel. Signi icativamente, o papa també m condenou a
pena de morte, insistindo que nã o há , para todos os efeitos prá ticos, razõ es su icientes para justi icá -la (25 de março
de 1995).
Ut unum sint (Lat., "Para que [todos] sejam um"), que reconheceu que, embora o ofı́cio petrino pertença à
estrutura essencial da Igreja, a maneira como o ofı́cio papal é exercido está sempre sujeita a crı́ticas e melhoria. O
papa convidou seus leitores, especialmente os de outras igrejas cristã s, a dialogar com ele sobre a maneira como seu
cargo é exercido e a recomendar maneiras pelas quais seu exercı́cio possa se conformar mais ielmente com o
evangelho (25 de maio de 1995). .
Fides et ratio (lat., “Fé e razã o”), sobre a relaçã o entre fé e razã o, escrita no espı́rito do Concı́lio Vaticano I, que
insistiu que a fé está sempre em consonâ ncia com a razã o, enquanto a razã o é sempre iluminada pela fé . A relaçã o é
complementar e nã o de oposiçã o (1 de outubro de 1998).
Ecclesia de Eucharistia (lat., “A Igreja da Eucaristia”), uma meditaçã o pessoal sobre o lugar da Eucaristia na vida
devocional cató lica, com alguma ê nfase na adoraçã o do sacramento reservado (17 de abril de 2003).

5. LISTA DE ANTIPOPOS
Se um antipapa compartilha o mesmo nome e nú mero de um papa legı́timo, seu nú mero é dado entre parê nteses.
Santo Hipó lito (217-35)
Novaciano (251–58)
Felix II (355-65)
Ursinus (366-67)
Eulalius (418–19)
Lawrence (498-99, 501-6)
Dió scoro (530)
Pascal (687)
Theodore (687)
Constantino (767-68)
Philip (768)
John (844)
Anastasius Bibliothecarius (855)
Christopher (903-4)
Boniface VII (974, 984-85)
Joã o XVI (997-98)
Gregó rio (VI) (1012)
Bento X (1058–59)
Honó rio (II) (1061–64)
Clement (III) (1080, 1084-1100)
Teodorico (1100-1101)
Albert (1101)
Sylvester IV (1105-11)
Gregó rio (VIII) (1118-21)
Celestina (II) (1124)
Anacletus II (1130–38)
*
Victor IV (1138)
Victor IV (1159-64)
Pascal III (1164-68)
Calisto (III) (1168-78)
Inocente (III) (1179-80)
Nicholas (V) (1328–30)
Clemente (VII) (1378-94)
Bento (XIII) (1394–1417)
Alexandre V (1409–10)
Joã o (XXIII) (1410–15)
Clemente (VIII) (1423-29)
Bento (XIV) (1425-?)
Felix V (1439-49)
GLOSSARIO
Para uma lista mais completa de termos e de iniçõ es eclesiá sticas relevantes, consulte The HarperCollins Encyclopedia
of Catholicism (HarperCollins, 1995), Richard P. McBrien, editor geral.
abdicação, a renú ncia a um ofı́cio eclesiá stico. O termo era comumente usado em uma é poca em que o modelo
predominante de ofı́cio eclesiá stico, incluindo o papado, era moná rquico. O termo atual no direito canô nico é
renú ncia.
Acacianismo, a divisã o do sé culo V entre Roma (o centro da Igreja Ocidental) e Constantinopla (o centro da Igreja
Oriental) por causa de um documento teoló gico, o Decreto da Uniã o, conhecido como Henoticon (482), redigido por
Acá cio, patriarca de Constantinopla, e Pedro Mongus, patriarca de Alexandria, a im de conseguir a uniã o entre
cató licos ortodoxos e mono isitas. Roma sentiu que o documento nã o fazia justiça aos ensinamentos do Concı́lio de
Calcedô nia (451), porque nã o mencionava as duas naturezas de Cristo. O Cisma Acaciano começou em 484 quando o
Papa Fé lix III (II) excomungou Acá cio por reconhecer Pedro Mongus como patriarca de Alexandria. O cisma
continuou até 519, quando foi inalmente resolvido pelo imperador Justiniano.
Action Française, um movimento polı́tico nacionalista, moná rquico e anti-semita francê s iniciado no inal do
sé culo XIX, que enfatizou a importâ ncia do catolicismo na cultura nacional. Foi apoiado por Pio X (1903-1914), mas
condenado por Pio XI em 1926. No entanto, continuou a in luenciar a polı́tica francesa por meio do governo pró -
alemã o de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial.
visitas ad limina (lat., ad , “para”; limina , “limiares”), a visita que cada bispo diocesano deve fazer regularmente a
Roma (“aos limiares [dos tú mulos dos apó stolos Pedro e Paulo]” ), a im de se encontrar com o Papa e funcioná rios
da Cú ria para informar sobre a situaçã o de sua diocese. Essas visitas tornaram-se comuns a partir do ponti icado de
Bento VII (974-83).
Adopcionismo, um termo geral para visõ es teoló gicas que consideram Jesus Cristo como o ilho puramente
humano e “adotado” de Deus. Mais especi icamente, aplica-se a uma visã o do sé culo VIII, amplamente difundida na
Espanha e condenada por Adriano I, bem como pelo Conselho de Frankfurt em 794, de que existe uma dupla iliaçã o
em Cristo, uma natural e a outra adotada.
aggiornamento (It., “atualizando”), um termo que se tornou sinô nimo do programa de renovaçã o e reforma da
igreja do Papa Joã o XXIII, que culminou no Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Albigensianismo, uma heresia dualista que via toda a realidade como uma batalha eterna entre o mundo do
espı́rito criado pelo Deus in initamente bom e o mundo da carne criado pelo in initamente mau Sataná s. O
albigensianismo loresceu no sul da França e no norte da Itá lia de meados do sé culo XII ao sé culo XIV. Seus
seguidores defendiam um ascetismo austero, rejeitando todas as atividades sexuais e comendo carne, ovos e leite e
praticando jejuns rigorosos. Eles se consideravam mais santos do que a Igreja e rejeitaram sua autoridade. Os
cistercienses e dominicanos pregaram contra ela, mas sem sucesso. Eventualmente, foi superado pela Cruzada
Albigense (1209–19) e a Inquisiçã o.
alocução, papal, um endereço dado pelo papa a um departamento da Cú ria Romana ou a algum outro grupo de
pessoas.
Americanismo, um movimento mal de inido e amplamente mal compreendido associado aos esforços para
adaptar o catolicismo à cultura americana. Foi condenado por Leã o XIII em Testem benevolentiae (lat., “Testemunha
de benevolê ncia”; 1899). O cardeal James Gibbons de Baltimore (morto em 1921), a quem a carta papal foi
endereçada, negou que tal heresia tenha existido nos Estados Unidos.
anates, impostos sobre o primeiro ano de renda de um benefı́cio. No sé culo XIV, os anatos pagos ao tesouro papal
eram comuns e se tornaram uma fonte de grande tensã o entre o papado e vá rias igrejas e naçõ es locais.
Annuario Ponti icio (It., “Anuá rio papal”), publicaçã o anual o icial do Vaticano de uma lista completa dos
membros da hierarquia, ofı́cios e o iciais da Cú ria Romana, e nomes de dioceses e institutos religiosos com
estatı́sticas pertinentes. Ele també m conté m uma lista dos papas com as datas de seus ponti icados.
antipapa, um indivı́duo cuja reivindicaçã o ao papado foi rejeitada pela Igreja como invá lida. Como as regras para
as eleiçõ es papais mudaram ao longo da histó ria e, em alguns casos, foram contornadas, nem sempre é fá cil
distinguir entre requerentes vá lidos e invá lidos ao cargo papal. Houve trinta e nove antipapas. O primeiro antipapa
foi Santo Hipó lito (217-35); o ú ltimo foi Felix V (1439-1449).
Apolinarianismo, a heresia do sé culo IV, em homenagem a Apoliná rio de Laodicé ia, que negou a existê ncia de
uma alma racional em Jesus Cristo. A heresia foi condenada pelo Concı́lio de Constantinopla em 381.
Apostolicae curae (lat., "De interesse apostó lico"), a encı́clica de Leã o XIII em 1896 na qual as ordens anglicanas
foram declaradas invá lidas porque o ordinal de Eduardo VI (1550) omitiu vá rios elementos necessá rios do rito e
porque o ritual nã o incluı́a a intençã o de conferir o poder de oferecer sacrifı́cio.
constituição apostólica, um documento papal que é solene na forma e no conteú do legal e normalmente lida
com questõ es de fé , doutrina ou disciplina que sã o importantes para a Igreja universal ou para uma parte particular
dela. Pode ser assinado pelo pró prio papa ou por um o icial da Cú ria.
delegado apostólico, um clé rigo ou leigo que atua como emissá rio do papa para a Igreja em uma á rea ou paı́s
especı́ ico com o qual a Santa Sé nã o manté m relaçõ es diplomá ticas formais.
Sé Apostólica. Veja Santa Sé .
Arianismo, uma heresia do sé culo IV que negava a divindade de Jesus Cristo, considerando-o apenas a maior das
criaturas. Foi condenado pelo Concı́lio de Nicé ia em 325, mas continuou a dividir o impé rio durante a maior parte do
restante do sé culo, à medida que ganhava e perdia o favor de sucessivos imperadores. A heresia foi inalmente
vencida no Concı́lio de Constantinopla em 381, em grande parte graças ao cuidadoso trabalho teoló gico dos Padres
da Capadó cia: Bası́lio o Grande, Gregó rio de Nazianzo e Gregó rio de Nissa.
audiência, papal, uma visita ou recepçã o dada pelo papa a uma pessoa ou grupo de pessoas que visitam a Santa
Sé . Audiê ncias papais gerais e pú blicas sã o normalmente realizadas à s quartas-feiras no Salã o de Audiê ncias no lado
sul da Bası́lica de Sã o Pedro. Audiê ncias semiprivadas ou privadas sã o realizadas na residê ncia papal, por acordo da
Prefeitura da Casa Pontifı́cia. Durante o verã o, as audiê ncias acontecem na residê ncia de verã o do papa em Castel
Gandolfo, a 25 quilô metros de Roma.
Avignon, uma cidade e arquidiocese no sudeste da França que foi a sede do papado de 1309 a 1377 (um perı́o do
també m descrito como o "cativeiro babilô nico" do papado) e també m de papas rivais durante o Grande Cisma
Ocidental (1378-1417) . Esta nã o foi a ú nica vez que o papado estabeleceu sua sede fora de Roma. Roma era
freqü entemente perigosa e os papas tiveram que se estabelecer temporariamente em vá rias cidades da Itá lia, bem
como em Avignon. Alguns papas, de fato, foram forçados a passar seus ponti icados inteiros fora de Roma por causa
das condiçõ es desfavorá veis na cidade.
basílica (gr., “salã o do rei”), uma igreja de importâ ncia acima da mé dia. Existem quatro bası́licas principais em
Roma: Sã o Pedro, Sã o Joã o de Latrã o, Sã o Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior. Existem centenas de bası́licas
menores em todo o mundo. O termo originalmente designava um edifı́cio o icial no Impé rio Romano.
beati icação, penú ltimo passo no processo o icial de proclamaçã o de um indivı́duo santo. A pessoa beati icada é
chamada de “bem-aventurada”.
Bene ice, um escritó rio eclesiá stico que gera renda. O Concı́lio Vaticano II e o Có digo de Direito Canô nico de 1983
recomendaram a supressã o dos benefı́cios.
bispos, colégio de, o corpo de bispos che iados pelo papa que supostamente sucedem o colé gio dos apó stolos na
autoridade de ensino e no governo pastoral da Igreja.
breve, papal (ou apostólica), uma carta papal, menos formal que uma bula, assinada pelo papa por um
secretá rio e impressa com o selo do anel papal, també m conhecido como Anel do Pescador.
bula papal (lat., bulla , "selo de chumbo"), desde o sé culo XIII, o termo comum para um importante documento
papal carimbado com um selo de chumbo gravado com as marcas faciais dos Apó stolos Pedro e Paulo de um lado e
o nome do papa em letras maiú sculas, do outro. Os touros podem ser usados, por exemplo, para conferir tı́tulos a
bispos e cardeais, para promulgar canonizaçõ es de santos ou para proclamar anos santos.
Bizantino, pertencente a Bizâ ncio, o nome original da cidade de Constantinopla (agora Istambul). O adjetivo se
aplica ao Impé rio Bizantino, outrora centrado em Constantinopla (mas també m estendendo-se a partes da Itá lia) e
ao rito bizantino (també m conhecido como rito grego), que se originou no patriarcado ortodoxo de Constantinopla.
Cesaropapismo, um sistema polı́tico em que o governante temporal tem soberania sobre a Igreja e també m sobre
o estado. Ele atingiu seu apogeu sob o imperador Justiniano (527–65) e permaneceu como um princı́pio governante
dos governantes bizantinos por um milê nio. Isso contribuiu para as tensõ es entre Roma e Constantinopla que
eventualmente levaram ao Cisma Leste-Oeste de 1054.
Camerlengo (It., “Camareiro”), tı́tulo detido por um cardeal que exerce funçõ es inanceiras especı́ icas. Existem o
Camerlengo da Santa Igreja Romana e o Camerlengo do Colé gio dos Cardeais. O primeiro administra a propriedade e
as inanças da Santa Sé durante uma vaga, e o ú ltimo supervisiona os ativos inanceiros do Colé gio dos Cardeais e
registra os negó cios de suas reuniõ es o iciais, ou consistó rios, convocados pelo papa e conduzidos em sua presença.
canonização, o processo pelo qual um indivı́duo é elevado à santidade na Igreja Cató lica. Visto que a palavra
“câ non” é derivada de uma palavra grega que signi ica “regra” ou “lista”, a canonizaçã o é literalmente o processo de
adicionar algué m à “lista” o icial de santos. A primeira canonizaçã o papal foi em 993 por Joã o XV. Em 1234, o papa
Gregó rio IX decretou que apenas o papa pode canonizar um santo. Antes disso, os santos eram proclamados
localmente e seus cultos se desenvolveram naturalmente entre as pró prias pessoas.
cardeal (lat., cardo , “dobradiça”), o tı́tulo dado a um membro do Colé gio de Cardeais, todos os quais sã o
nomeados diretamente pelo papa e que servem como seus conselheiros pró ximos e como eleitores papais. O tı́tulo
foi originalmente dado a membros do clero romano que administravam certas igrejas-chave (“dobradiças”) em
Roma. Os cardeais que nã o tinham responsabilidades pastorais na cidade de Roma foram nomeados pastores
titulares dessas igrejas. Assim, algué m é nomeado cardeal “no tı́tulo de” uma igreja particular. Existem quatro
categorias de cardeais: cardeais-diá conos, que originalmente cuidavam dos pobres nos sete distritos de Roma, mas
agora sã o bispos titulares designados para o serviço de tempo integral na Cú ria Romana; cardeais-sacerdotes, que
serviram como pá rocos nas principais paró quias de Roma, mas que agora sã o bispos de dioceses fora de Roma;
cardeais-bispos, que eram chefes das dioceses vizinhas (ou subú rbios) em torno de Roma, mas que agora estã o
engajados no serviço de tempo integral na Cú ria Romana; e os cardeais-patriarcas, que sã o chefes de sé de origem
apostó lica com liturgias antigas. Em 1962, o Papa Joã o XXIII decretou que todos os cardeais també m deveriam ser
bispos, mas alguns indivı́duos foram excluı́dos desta regra, por exemplo, os dois teó logos, Avery Dulles e Yves
Congar.
cardeal-nephew, um tı́tulo informal para um sobrinho ou outro parente pró ximo de um papa que serviu como
seu colaborador e conselheiro mais pró ximo, à s vezes como seu secretá rio de Estado o icial ou nã o o icial. O arranjo
existiu desde o tempo de Paulo III (1534-49) até o inal do sé culo XVII, quando Inocê ncio XII (1691-1700) decretou
que o papa nunca deveria conceder propriedades, cargos ou receitas a parentes, que apenas um parente deveria ser
elegı́vel para nomeaçã o para o Colé gio de Cardeais, desde que ele seja quali icado, e que sua renda deva ter um teto
modesto.
Cardinals, College of, o corpo de cardeais responsá veis por (desde 1059) eleger um novo papa (embora os
direitos de voto sejam restritos aos cardeais com menos de oitenta anos) e ajudar o papa no governo da Igreja
universal. O reitor eleito do colé gio por tradiçã o deté m o tı́tulo da diocese de Ostia, a sé tima das dioceses vizinhas de
Roma, alé m de sua pró pria sé suburbana. O reitor ordena ao episcopado a pessoa eleita papa, se ainda nã o for
bispo. O primeiro cardeal-diá cono anuncia o nome do novo papa.
Reforma carolíngia, reformas da Igreja e da sociedade realizadas pelo imperador Carlos Magno (falecido em
814) e seus sucessores envolvendo a renovaçã o da vida moná stica, a substituiçã o da liturgia galicana pela liturgia
romana, o estabelecimento de novas estruturas diocesanas e provinciais , e provisã o para a educaçã o do clero.
Castel Gandolfo, residê ncia papal de verã o a cerca de quinze milhas a sudeste de Roma, à s margens do Lago
Albano. E també m o local do Observató rio do Vaticano. Toda a propriedade está sob os direitos extraterritoriais do
Estado da Cidade do Vaticano.
celibato, clerical, a renú ncia canonicamente imposta, vitalı́cia do casamento por padres ordenados no rito
romano ou latino. A disciplina do celibato obrigató rio teve uma histó ria irregular até o ponti icado de Gregó rio VII
(1073–85), que impô s uma observâ ncia mais uniforme no Ocidente. Nas igrejas orientais, os padres podem se casar
antes da ordenaçã o, mas nã o depois. Os bispos nã o podem ser casados.
Calcedônia, Concílio de, o concı́lio ecumê nico de 451 que ensinou de initivamente que em Jesus Cristo há apenas
uma Pessoa divina, mas duas naturezas, uma divina e uma humana.
Controvérsia sobre os ritos chineses, um con lito amargo entre os jesuı́tas e os dominicanos nos sé culos XVII e
XVIII sobre a legitimidade de vá rias acomodaçõ es da liturgia cató lica e prá ticas devocionais à cultura chinesa. No
centro da contrové rsia estavam os mé todos de Matteo Ricci (1552–1610), um missioná rio jesuı́ta, que foi o principal
defensor da adaptaçã o ritual. O uso de ritos chineses foi proibido por Bento XIV em 1742, mas a proibiçã o foi
levantada por Pio em 1939, muito depois que a China foi “perdida” para o catolicismo.
Cluny, mosteiro beneditino francê s fundado perto de Mâ con, na Borgonha, em 909, e o centro da reforma
moná stica durante os sé culos X e XI. Em meados do sé culo XII, havia mais de mil mosteiros Cluniac. Eventualmente,
foi eclipsado por novas ordens e foi inalmente suprimido pela Revoluçã o Francesa em 1790.
Código de Direito Canônico, uma codi icaçã o dos câ nones ou leis da Igreja Cató lica Romana, originalmente
promulgado por Bento XV em 1917 e promulgado de forma revisada por Joã o Paulo II em 1983. Um Có digo dos
Câ nones das Igrejas Orientais foi promulgado por Joã o Paulo II em 1990.
Colégio de Cardeais. Veja Cardinals, College of.
colegialidade, uma doutrina que a irma que o episcopado mundial, juntamente com o papa, o bispo de Roma, tem
o ensino supremo e a autoridade pastoral sobre a Igreja universal. Os bispos nã o ajudam simplesmente o papa a
governar a Igreja; eles o governam em colaboraçã o com ele, embora ele seja o chefe, ou presidente, do colé gio dos
bispos, com sua pró pria autoridade distinta dentro do colé gio e sobre a Igreja universal.
conciliarismo, visã o emanada dos canonistas dos sé culos XII e XIII, segundo a qual um concı́lio geral ou
ecumê nico é considerado a mais alta autoridade eclesiá stica, superior até mesmo ao papa. O concı́lio foi ensinado
o icialmente pelo Concı́lio de Constança em 1415 e atingiu seu auge no Concı́lio de Basilé ia (1431-1449).
conclave (lat., cum clavis , “com a chave”), a reuniã o de cardeais para eleger um novo papa. També m se refere à
parte separada e trancada do Vaticano onde ocorre a eleiçã o. O conclave se originou em 1271 em Viterbo quando as
autoridades locais, cansadas por uma demora de dois anos e nove meses na eleiçã o de um novo papa, trancaram os
cardeais em aposentos con inados até que conseguissem escolher um novo papa.
concordata, um acordo formal entre a Santa Sé e uma entidade polı́tica. O exemplo mais famoso nos ú ltimos
tempos sã o os Acordos de Latrã o de 1929, garantindo os direitos soberanos e independentes da Santa Sé sobre o
Estado da Cidade do Vaticano.
congregação, um departamento da Cú ria Romana. Existem nove dessas congregaçõ es na Cú ria, incluindo, por
exemplo, a Congregaçã o para a Doutrina da Fé , a Congregaçã o para os Bispos e a Congregaçã o para a Evangelizaçã o
dos Povos.
consistory (lat., consistere , “permanecer juntos”), uma reuniã o formal de cardeais convocada e presidida pelo
papa. O termo teve origem na é poca romana para designar encontros com o imperador na antecâ mara do palá cio
imperial.
Constança, Concílio de (1414-18), dé cimo sexto concı́lio ecumê nico da Igreja, que pô s im ao Grande Cisma
Ocidental (1378-1417) ao depor ou garantir a renú ncia de trê s pretendentes simultâ neos ao cargo papal e, entã o,
eleger Martin V. O concı́lio foi signi icativo també m por incluir o baixo clero, religiosos, teó logos e leigos entre seus
participantes ativos. Decretou que os concı́lios deveriam ser realizados em intervalos regulares e declarou que um
concı́lio geral recebe sua autoridade diretamente de Cristo, sem a aprovaçã o papal.
Constantino, Édito de (313), à s vezes chamado de Edito de Milã o, um documento de Constantino, o Grande,
concedendo tolerâ ncia a todas as religiõ es, incluindo o Cristianismo. Por este ato, todas as propriedades con iscadas
foram devolvidas à Igreja, e a Igreja foi reconhecida como uma pessoa jurı́dica, capaz de possuir e dispor de bens.
Constantinopla, a sede tradicional do Cristianismo Oriental. O imperador Constantino transferiu a capital do
Impé rio Romano de Roma para Constantinopla em 330, construindo a nova cidade no local da cidade grega de
Bizâ ncio. Permaneceu a capital do impé rio oriental, ou bizantino, até 1453, quando caiu nas mã os dos turcos. O
Concı́lio de Calcedô nia em 451 concedeu a Constantinopla um status patriarcal equivalente a Roma porque ambas
eram cidades imperiais. Quatro concı́lios ecumê nicos foram realizados em Constantinopla, em 381, 553, 680-81 e
869-70.
constituição, papal (ou apostólica), documento em que um papa promulga ou promulga uma lei para a Igreja
universal. (Existem també m constituiçõ es, dogmá ticas e pastorais, emitidas por um concı́lio ecumê nico.)
coroação papal, coroaçã o de um novo papa com a tiara, ou seja, uma cobertura formal para a cabeça (que
acabou se transformando em uma trı́plice coroa), alguns dias apó s sua eleiçã o. Os bispos de Roma provavelmente
começaram a usar uma tiara no sé culo III. A cerimô nia de coroaçã o foi inalmente modelada segundo a dos
governantes seculares. Entre os sé culos VI e VIII, isto é , apó s as guerras contra os Godos (535-53), um papa recé m-
eleito nã o poderia ser coroado sem a aprovaçã o do imperador. E até que fosse coroado, ele nã o era considerado
papa. Esse arranjo terminou apó s o ponti icado de Gregó rio III (731-41), o ú ltimo papa a buscar a aprovaçã o do
imperador bizantino para sua consagraçã o e coroaçã o. No entanto, em 824, o imperador carolı́ngio, Luı́s, o Piedoso,
impô s uma constituiçã o romana na qual, alé m de restaurar o papel dos leigos nas eleiçõ es papais, exigia que um
papa recé m-eleito izesse um juramento de idelidade ao imperador, na presença de seu representante, antes de ser
consagrado e coroado. Esse arranjo foi mais ou menos aplicado até o sé culo X, quando as famı́lias aristocrá ticas de
Roma começaram a exercer um controle decisivo, embora també m temporá rio, sobre as eleiçõ es papais. Nicolau II
(1058–61) decretou que a con irmaçã o imperial nã o era mais necessá ria. Desde Paulo VI (1963-78), que vendeu sua
tiara, e Joã o Paulo II (1978-2005), que rejeitou o rito da coroaçã o, os papas nã o sã o mais coroados, mas
simplesmente "inaugurados" em seu ministé rio petrino por serem investidos do pá lio (a vestimenta de lã usada ao
redor do pescoço de um arcebispo como um sinal de autoridade pastoral).
conselho, assembleia o icial dos lı́deres da igreja. Os concı́lios ecumê nicos ou gerais sã o assemblé ias provenientes
de toda a Igreja e exercem o ensino supremo e a autoridade pastoral em uniã o com o bispo de Roma. Existem, e tê m
existido, muitos outros tipos de conselho na Igreja: local, provincial, regional e nacional (plená rio).
Contra-Reforma / Reforma Católica, a renovaçã o e reforma da Igreja Cató lica empreendida apó s a eclosã o da
Reforma Protestante no inı́cio do sé culo XVI. Entre seus elementos estavam o Concı́lio de Trento (1545–63), a
fundaçã o de novas ordens religiosas, como os Jesuı́tas (1540), e o estabelecimento de seminá rios para a educaçã o e
treinamento de futuros padres. Entre seus elementos menos agradá veis estavam a Inquisiçã o e o Indice de Livros
Proibidos.
Cruzadas, uma sé rie de guerras travadas inicialmente para recuperar ou defender o territó rio cristã o e locais
sagrados na Terra Santa (Palestina), Espanha e Sicı́lia. A Primeira Cruzada foi convocada por Urbano II em 1095, e a
Quinta Cruzada terminou em 1221. Muitos dos papas medievais estavam quase obcecados com a necessidade de
lançar cruzadas e repelir os turcos e outros muçulmanos de um lugar ou de outro, incluindo a pró pria Itá lia .
Infelizmente, as Cruzadas foram transformadas em empreendimentos econô micos e polı́ticos e izeram muito para
alargar o fosso entre as Igrejas Orientais e Ocidentais.
curia, a rede administrativa que auxilia o papa ou qualquer bispo no governo de sua diocese ou, no caso do papa,
da Igreja universal. Veja também Cú ria Romana.
decretal, uma carta papal emitida em resposta a uma pergunta ou para resolver uma questã o controversa. Os
decretos papais foram emitidos pela primeira vez no sé culo IV e foram uma fonte importante do direito canô nico na
Idade Mé dia.
dicastério (gr., dikast s , “juiz”, “tribunal”), termo gené rico para um departamento ou agê ncia do governo da
igreja, especialmente na Cú ria Romana.
Dictatus papae (lat., “Pronunciamento do papa”), uma sé rie de declaraçõ es coletadas, datada de março de 1075 e
associada a Gregó rio VII, descrevendo um papado com vastos poderes nas esferas religiosa e secular. Eles a irmam,
por exemplo, que o papa pode depor imperadores e que ele mesmo nã o pode ser julgado por ningué m mais (exceto,
presumivelmente, Deus).
diocese, uma comunidade cristã dentro de um determinado territó rio geográ ico sob os cuidados pastorais de um
bispo. També m é conhecido como ver. Uma diocese maior é conhecida como arquidiocese e seu bispo como
arcebispo.
Docetismo (grego, dokein , “parecer”), uma heresia do segundo sé culo que a irmava que Jesus Cristo parecia ter
apenas um corpo humano. Tinha muito em comum com o gnosticismo, uma heresia contemporâ nea que també m
negava a humanidade plena de Cristo.
Doutor da Igreja, um santo canonizado o icialmente reconhecido pelo papa (ou um concı́lio ecumê nico) como um
eminente mestre da fé , por exemplo, os Santos. Agostinho de Hipona, Ataná sio, Bası́lio o Grande, Tomá s de Aquino,
Boaventura, Joã o da Cruz, Teresa de Avila e Catarina de Sena.
doutrina, um ensino o icial da Igreja, embora nã o necessariamente de initivo, ou infalı́vel.
dogma (gr., “o que parece certo”), um ensino de initivo ou infalı́vel da Igreja. A promulgaçã o de um dogma é
prerrogativa do papa atuando como cabeça terrena da Igreja ou de um concı́lio ecumê nico em uniã o com o papa.
Doação de Constantino, o suposto legado do imperador Constantino ao Papa Silvestre I (314-35) do domı́nio
temporal sobre a Itá lia e outras regiõ es ocidentais. Gozou de ampla credibilidade durante sé culos e foi usado como
base de vá rias reivindicaçõ es da Igreja à soberania temporal, mas passou a ser considerado inautê ntico em meados
do sé culo XV.
Doação de Pepin. Veja os Estados Papais.
Donatismo, um movimento cismá tico norte-africano dos sé culos IV e V tendendo ao rigorismo moral. O cisma
surgiu de uma disputa sobre a eleiçã o de Cecilian como bispo de Cartago em 311. Os donatistas (ou seguidores de
Donato) argumentaram que o consagrador de Cecilian havia sido um comerciante , ou seja, aquele que "entregou" as
Escrituras durante o tempo de a perseguiçã o de Diocleciano (303-12). O cisma perdurou até a conquista muçulmana
do Norte da Africa no sé culo VII.
Igrejas orientais, aquelas igrejas cristã s de rito oriental cujas origens estavam na metade oriental do Impé rio
Romano ou alé m das fronteiras orientais do impé rio. A partir do sé culo V, vá rias contrové rsias levaram à separaçã o
de vá rias igrejas orientais da ocidental, ou de rito latino, centrada em Roma.
Cisma Leste-Oeste, a ruptura dos laços de comunhã o eclesiá stica entre Roma e Constantinopla, começando já com
as contrové rsias cristoló gicas do sé culo V, mas chegando ao clı́max em 1054 com as excomunhõ es mú tuas do
patriarca de Constantinopla, Miguel Cerularius, e do bispo de Roma, Leã o IX. O cisma foi selado pelas Cruzadas
(1095–1221) e a rejeiçã o ortodoxa do Decreto de Uniã o do Concı́lio de Florença em 1439.
concílio ecumênico, a assemblé ia de todos os bispos do mundo, sob a presidê ncia do bispo de Roma, e a mais
alta autoridade terrestre na Igreja.
eleição papal. Veja a eleiçã o papal.
Eminência, o tı́tulo de honra dado a um cardeal, pela primeira vez pelo Papa Urbano VIII em 1630.
encíclica, uma carta pastoral formal (lit., uma carta circular) escrita por, ou sob a autoridade do papa, a respeito
de questõ es morais, doutriná rias ou disciplinares e dirigida à Igreja universal (e agora a toda a comunidade
humana). Eles foram empregados pela primeira vez por Bento XIV em 1740 e se tornaram um meio padrã o de
ensino papal comum nos tempos modernos.
encíclicas, cartas sociais e papais circularam por todo o mundo sobre questõ es de justiça social, direitos
humanos e paz. A primeira grande encı́clica social foi a Rerum novarum de Leã o XIII em 1891. O centená rio de sua
publicaçã o foi marcado pela Centesimus annus de Joã o Paulo II em 1991.
Iluminismo, o movimento ilosó ico, polı́tico e cientı́ ico da Europa do sé culo XVIII, no qual as idé ias de grandes
pensadores do sé culo XVII foram levadas adiante por iguras como Rousseau, Hume e Kant. Os pensadores
iluministas rejeitaram a tradiçã o e a autoridade, especialmente a autoridade religiosa, e con iaram na razã o humana.
A Igreja e seus papas reagiram fortemente contra o movimento, mas passaram a adotar uma atitude mais simpá tica
para com seus muitos aspectos vá lidos no Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Éfeso, Concílio de (431), o terceiro concı́lio ecumê nico da Igreja, que de iniu (contra os Nestorianos) que em
Cristo há apenas uma Pessoa divina, e que Maria é , portanto, a Mã e de Deus, nã o apenas a mã e de Jesus.
episcopado, tanto o ofı́cio do bispo como o corpo coletivo dos bispos.
ex cathedra (lat., “da cadeira”), o nı́vel mais alto de ensino papal; um ensino infalı́vel, ou seja, um imune ao erro.
Existem trê s condiçõ es para uma declaraçã o ex cathedra : (1) deve dizer respeito a uma questã o de fé e moral; (2) o
papa deve estar falando como o cabeça terrestre da Igreja; e (3) ele deve ter a intençã o clara de vincular toda a
Igreja.
excomunhão, pena do direito canô nico que exclui o membro da Igreja da plena participaçã o na vida sacramental
e ministerial. Pode ser imposta automaticamente, como no caso de um bispo que ordena um bispo sem a aprovaçã o
papal, ou pode ser imposta apó s um processo canô nico, como no caso de um teó logo cujos escritos sã o
considerados heré ticos.
Exsurge Domine (lat., “Levanta-te, Senhor”), a bula papal de Leã o X, 15 de junho de 1520, que condenou Martinho
Lutero como herege. Ele foi excomungado no ano seguinte.
Falsos Decretais, uma sé rie de cartas papais e documentos canô nicos que foram forjados por volta de 850 na
França e falsamente atribuı́dos a Santo Isidoro de Sevilha (falecido em 636). Eles foram usados por Gregó rio VII
(1073–85) e seus canonistas para apoiar seus argumentos de que o papa e os outros bispos eram independentes do
controle leigo.
Febronianism, um movimento do sé culo XVIII na Alemanha que subordinou a Igreja aos interesses nacionais.
Originado por um bispo auxiliar de Trier que escreveu sob o pseudô nimo de Justinus Febronius, argumentou, entre
outras coisas, que os pronunciamentos papais sã o vinculativos apenas se receberem consentimento episcopal. Pio VI
condenou essa opiniã o em 1778. O bispo se retratou, mas o movimento continuou no sé culo XIX.
Filioque (lat., “E do Filho”), um termo latino adicionado ao Credo Niceno-Constantinopolita no Ocidente no sé culo
IX que criou sé rio con lito, e continua a fazê -lo até hoje, entre as Igrejas Orientais e Ocidentais. O Oriente insiste na
versã o original, “o Espı́rito Santo que procede do Pai”, a im de preservar o papel ú nico do Pai dentro da Trindade
como a fonte da vida divina.
Fisherman's Ring, um anel de sinete gravado com a imagem de Sã o Pedro pescando em um barco e circundado
com o nome do atual papa. O anel nã o é usado pelo papa, mas é usado para selar documentos papais e outros
documentos o iciais. E destruı́do com a morte de cada papa.
Florença, Concílio de (1438-45), um concı́lio ecumê nico, iniciado em Ferrara e terminado em Roma, que tentou
sanar a brecha entre as Igrejas Oriental e Ocidental, mas acabou falhando. O Decreto de Uniã o, aceitando o Filioque
(veja acima), foi assinado por alguns dos gregos, mas muitos mudaram de ideia depois do concı́lio e Constantinopla
caiu nas mã os dos turcos em 1453, interrompendo qualquer progresso em direçã o à uniã o que fosse alcançado.
Galicanismo (lat., Gallia , “Gá lia,” ou França moderna), um movimento que reivindicou para a Igreja francesa uma
independê ncia da intervençã o papal. Considerava um conselho geral superior ao papa e insistia que os
pronunciamentos papais estavam sujeitos à aprovaçã o episcopal subsequente. O movimento foi essencialmente
dissolvido com a Revoluçã o Francesa, embora tenha sido revivido de alguma forma apó s a restauraçã o da
monarquia no sé culo XIX. O Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70) direcionou uma parte de seu ensino sobre a
infalibilidade papal contra o galicanismo quando declarou que os ensinamentos infalı́veis sã o autorizados em si
mesmos e nã o do consentimento da Igreja.
Gnosticismo (gr., Gnose , “conhecimento”), a primeira das heresias cristã s, que negava que a Palavra de Deus
tivesse assumido carne humana (a encarnaçã o). Alé m de enfatizar o papel da iluminaçã o interior ou do
conhecimento salvı́ ico de Deus, disponı́vel apenas para poucos, també m negava a bondade da criaçã o e da ordem
material.
Grande eleitor, um cardeal que desempenha um papel importante na eleiçã o de um novo papa, funcionando
como uma espé cie de gerente de campanha em um conclave, apontando as virtudes e qualidades de liderança de seu
candidato e estimulando com sucesso blocos signi icativos de cardeais-eleitores de vá rios paı́ses e / ou a Cú ria
Romana para dar o seu apoio ao seu candidato.
Reforma gregoriana, o movimento de renovaçã o da igreja que começou no sé culo X, mas se vinculou mais
diretamente ao seu expoente mais forte, Gregó rio VII (1073-1085). Incluı́a o combate à simonia, nepotismo,
casamento clerical e investidura leiga de o iciais da igreja.
Henoticon, fó rmula de uniã o entre cató licos ortodoxos e mono isitas elaborada em 482 entre Acá cio, patriarca de
Constantinopla, e Pedro Mongus, patriarca de Alexandria, por instigaçã o do imperador Zenã o. O Papa Fé lix III (II)
posteriormente excomungou Acá cio, provocando assim o Cisma Acaciano.
heresia, a negaçã o sabida e obstinada de um dogma de inido da Igreja.
hierarquia (gr., “governo de padres”), o corpo ordenado do clero (bispos, padres [presbı́teros], diá conos) ou,
mais comumente, apenas de bispos.
Santidade, Sua, um tı́tulo desde o sé culo XIV restrito na Igreja Cató lica ao papa. Durante os primeiros sé culos, foi
usado por todos os bispos.
Santo Padre, um tı́tulo do papa, usado pela primeira vez em inglê s na dé cada de 1830. O latim é mais expansivo,
Beatissimus Pater (“O Santı́ssimo Padre”).
Santo O ício, originalmente a Congregaçã o da Inquisiçã o, estabelecida por Paulo III em 1542. Tornou-se a
Congregaçã o para a Doutrina da Fé em 1967 sob Paulo VI.
Sacro Império Romano, o estado europeu fundado pelo rei alemã o Otto I em 962 como sucessor do impé rio de
Carlos Magno. Seu nú cleo consistia nos principados alemã es, Austria, Boê mia e partes da Itá lia e Holanda. Os
imperadores foram eleitos pelos prı́ncipes mais poderosos e entã o coroados pelo papa em Roma, uma prá tica
descontinuada em 1562. O impé rio foi dissolvido em 1806.
Santa Sé (lat., Sancta sedes , "cadeira sagrada"), um termo originalmente relacionado à cerimô nia de instalaçã o do
Bispo de Roma em sua cadeira de autoridade, mas agora se referindo apenas à Sé Apostó lica, ou diocese de Roma,
incluindo especialmente seu bispo, ou seja, o papa, e a Cú ria Romana. O termo també m se refere à Igreja Cató lica
como entidade moral e jurı́dica, incluindo a autoridade espiritual e diplomá tica exercida pelo Papa. Nã o se deve
confundir com o Estado da Cidade do Vaticano, que é a entidade polı́tica e o territó rio em que se encontra a Santa Sé
e que garante a independê ncia da Santa Sé . As relaçõ es diplomá ticas que mais de cem naçõ es mantê m com o
Vaticano sã o com a Santa Sé , nã o com o Estado da Cidade do Vaticano.
Ano Santo, um ano de oraçã o, peregrinaçõ es a Roma e benefı́cios espirituais especiais proclamados pelo papa em
vá rios intervalos (originalmente a cada cem anos) e por razõ es especiais de necessidade ou celebraçã o. O primeiro
Ano Santo foi proclamado por Bonifá cio VIII em 1300.
iconoclastia, destruiçã o de imagens religiosas encomendadas pelos imperadores bizantinos do imperador Leã o
III (717–41) a 843, quando seu uso foi restaurado pela imperatriz Teodora. A contrové rsia entre iconoclastas e
iconó ilos - uma repetiçã o das contrové rsias cristoló gicas do quinto ao sé timo sé culo - foi amarga e intensa, o
primeiro insistindo que qualquer representaçã o de Cristo constituı́a um ataque à sua divindade, enquanto o ú ltimo
insistiu que, de acordo com o princı́pio da Encarnaçã o, o divino é sempre capaz de ser corpori icado, ou imaginado,
no humano ou no material.
Índice de Livros Proibidos, lista de livros que os cató licos foram proibidos de ler ou possuir sob pena de
excomunhã o. Estabelecido em 1557 por Paulo IV e posteriormente supervisionado pela Congregaçã o no Indice
fundado por Pio V em 1571, e depois pelo Santo Ofı́cio em 1917, o Indice foi abolido por Paulo VI em 1966.
indulgências, a remissã o da pena temporal por pecados já perdoados, alcançada por meio de oraçã o ou outras
boas obras. Eles se tornaram uma fonte de grande contrové rsia pouco antes e durante a Reforma Protestante
porque os papas da é poca colocaram indulgê ncias à venda a im de arrecadar dinheiro para a construçã o da nova
Bası́lica de Sã o Pedro. Martinho Lutero e outros protestaram contra isso, e o resto é histó ria. Em uma reformulaçã o
da teologia e prá tica das indulgê ncias em 1967, Paulo VI tentou colocá -los em sua perspectiva adequada - o que
signi ica que eles foram reduzidos em importâ ncia para a vida espiritual dos cató licos.
infalibilidade, um carisma ou dom do Espı́rito Santo pelo qual a Igreja é protegida do erro quando de ine uma
questã o de fé ou moral a ser sustentada por toda a Igreja. O papa é infalı́vel quando fala como cabeça terrena da
Igreja, sobre uma questã o de fé e moral, e com a clara intençã o de vincular toda a Igreja. O mesmo ocorre com um
concı́lio ecumê nico - nas mesmas condiçõ es.
Inquisição, uma instituiçã o extinta estabelecida na Idade Mé dia para a erradicaçã o e puniçã o da heresia. As vezes,
a puniçã o incluı́a tortura e morte. A Inquisiçã o Romana estabelecida e mantida pelos papas deve ser distinguida da
ainda mais infame Inquisiçã o Espanhola, estabelecida por Fernando e Isabel em 1479. Esta ú ltima foi dirigida
especialmente contra muçulmanos convertidos e judeus convertidos que haviam retornado secretamente à prá tica
de seus respectivos religiõ es. Foi abolido por decreto real em 1834. A vı́tima mais famosa da Inquisiçã o Romana foi o
astrô nomo e matemá tico italiano Galileu (falecido em 1642), que foi reabilitado postumamente por Joã o Paulo II em
1992. A Congregaçã o Romana da Inquisiçã o, junto com o Santo Ofı́cio, foi renomeado e dobrado na Congregaçã o
para a Doutrina da Fé por Paulo VI em 1965.
Integralismo, um movimento ultraconservador do sé culo XIX e inı́cio do XX na França que se opô s ao
ecumenismo, aos estudos bı́blicos modernos e à teologia de base histó rica. O movimento foi apoiado e encorajado
por Pio X (1903-1914), mas denunciado por seu sucessor, Bento XV, em sua primeira encı́clica, Ad beatissimi
Apostolorum (1914).
interdito, pena eclesiá stica que proı́be uma pessoa de participaçã o ministerial no culto pú blico e de receber os
sacramentos e sacramentais da Igreja. No passado, os interditos eram aplicados a comunidades, cidades e regiõ es
inteiras.
controvérsia de investidura. Veja investidura leiga.
Jansenismo, um movimento de reforma cató lica do sé culo XVII originado nos Paı́ses Baixos e na França, mas se
expandindo para os territó rios dos Habsburgos e da Itá lia durante o sé culo XVIII. Era pessimista sobre a natureza
humana e o livre arbı́trio e enfatizava a necessidade de um ascetismo rı́gido, o que o opunha aos jesuı́tas, que
adotavam uma abordagem pastoralmente mais realista da vida moral. També m se opô s à s tendê ncias centralizadoras
da Contra-Reforma, que a opô s à hierarquia da Igreja, e à s tendê ncias absolutistas do governo francê s, que a opô s
també m à s autoridades temporais. Foi condenado por vá rios papas, incluindo Alexandre VII (1656 e 1665) e
Clemente XI (1713). O jansenismo desapareceu na França apó s a morte de um simpá tico arcebispo de Paris em
1729, mas produziu um cisma na Holanda em 1723 e sobrevive hoje como um ramo da Velha Igreja Cató lica.
Joana, “Papa”, sujeito de uma fá bula medieval amplamente aceita no sé culo XIII e até o sé culo XVII, quando um
protestante francê s, David Blondel (falecido em 1655), refutou a crença em um tratado publicado em Amsterdã em
1647 e 1657 Pensa-se que o Papa Victor III (falecido em 1087) foi sucedido por uma mulher que, tendo disfarçado o
seu sexo, tinha trabalhado na Cú ria e sido nomeada cardeal. Ela teria sido eleita papa, mas seu disfarce foi revelado
quando ela deu à luz uma criança montando em seu cavalo. Em outra versã o da histó ria, o Papa Leã o IV (falecido em
855) foi sucedido por Joã o Anglicus, que na verdade era uma mulher, mas cujas brilhantes palestras em Roma e cuja
vida edi icante resultou em sua eleiçã o unâ nime como papa. Diz-se que ela serviu como papa por mais de dois anos.
Como a outra suposta papa, este també m foi exposto quando, cavalgando em procissã o da Bası́lica de Sã o Pedro ao
Latrã o, deu à luz uma criança em uma rua estreita entre o Coliseu e a igreja de Sã o Clemente. Ela morreu e foi
enterrada no local. Desenvolveu-se a tradiçã o de que os papas depois disso evitassem aquela rua estreita em
procissõ es. O problema com a histó ria em ambos os casos é que nã o há lugar para encaixar uma papa Joana na
histó ria papal. Os dois papas que ela supostamente sucedeu tiveram outros sucessores que atuaram como papas e
cujas atividades estã o claramente registradas na histó ria.
Josefenismo, um esforço do sé culo XVIII dos imperadores austrı́acos para subordinar a Igreja aos interesses
nacionais. O nome é derivado do Sacro Imperador Romano Joseph II (falecido em 1790), que instituiu uma polı́tica
de controle estatal sobre a Igreja. A apó lice foi retirada em 1850.
Jubileu, ano de, um termo usado no catolicismo desde 1300 em conexã o com, e geralmente como sinô nimo de,
um Ano Santo.
chaves, poder do, uma referê ncia ao comissionamento de Pedro por Jesus e a autoridade conferida a ele em
Mateus 16: 13–20.
A Basílica e o Palácio de Latrão, a catedral do papa como bispo de Roma e a igreja cató lica de mais alto escalã o
do mundo. E uma das quatro bası́licas principais de Roma. Foi construı́do no inı́cio do sé culo IV no Monte Celio
(Monte Celian), em um local anteriormente ocupado pelo palá cio do Laterani, uma nobre famı́lia romana. A
propriedade foi doada à Igreja pelo imperador Constantino em ca. 312. A bası́lica e a residê ncia papal serviram
como residê ncia papal o icial desde o sé culo IV até a remoçã o do papado para Avignon, França, em 1309. Depois de
ser destruı́da por terremotos e incê ndios, foi reconstruı́da e rededicada a Sã o Joã o Batista em 905. Mais dois
incê ndios no sé culo XIV mantiveram-no em estado de degradaçã o até o inal dos anos 1500, quando Clemente VIII
encomendou uma renovaçã o barroca. A fachada data de 1735.
Concílios de Latrão, cinco concı́lios ecumê nicos que ocorreram no Palá cio de Latrã o entre 1123 e 1517. Lateran
III (1179) decretou que uma maioria de dois terços é necessá ria para a eleiçã o de um papa. Latrã o IV (1215), o mais
importante dos concı́lios, exigia a con issã o e a comunhã o anuais para todos os cató licos. Lateran V (1512-1517)
perdeu uma oportunidade crucial para promover a reforma da igreja e evitar as interrupçõ es da Reforma
Protestante.
Tratado de Latrão , acordo assinado em 11 de fevereiro de 1929 entre a Santa Sé e o governo italiano para
resolver a Questã o Romana. A Santa Sé foi inanceiramente compensada pela perda dos Estados Papais, o Estado da
Cidade do Vaticano foi estabelecido como uma entidade polı́tica independente dentro da Itá lia e o Catolicismo foi
declarado a religiã o o icial da Itá lia. A concordata baseada no tratado foi renegociada em 1985. Roma nã o seria mais
uma cidade sagrada; O catolicismo nã o seria mais a religiã o o icial do estado; a instruçã o religiosa nã o era mais
obrigató ria nas escolas pú blicas; e os padres nã o deveriam mais ser empregados assalariados do estado.
o laxismo, atitude moral, com origens no sé culo XVII, que tenta encontrar formas de contornar as obrigaçõ es
cristã s e que sempre resolve a dú vida em favor da isençã o, mesmo quando nã o existem bons motivos para a isençã o.
Associado injustamente aos jesuı́tas pelos jansenistas, o laxismo foi condenado por Alexandre VII em 1665 e 1666, e
novamente em 1679 por Inocê ncio XI.
investidura leiga, uma prá tica medieval pela qual bispos e abades eram nomeados e entã o instalados
(“investidos”) em seus cargos por governantes temporais. Durante a cerimô nia, o bispo ou abade prestava
homenagem ao governante leigo e o governante leigo dava ao eclesiá stico o bá culo e o anel como sı́mbolos de ofı́cio.
Em 1075, Gregó rio VII emitiu um decreto proibindo a investidura leiga. O decreto foi fortemente contestado pelo
imperador alemã o Henrique IV, a quem o papa excomungou. Um acordo foi inalmente alcançado na Dieta de Worms
em 1122 entre o Papa Calisto II e Henrique V. A prá tica de interferê ncia leiga em nomeaçõ es eclesiá sticas continuou,
no entanto, no sé culo XX, quando o imperador austro-hú ngaro submeteu um veto a um candidato papal no conclave
de 1903. O veto foi ignorado e, a partir de entã o, tais vetos imperiais foram proibidos.
Leonine City, a seçã o murada de Roma na margem direita do Rio Tibre que abrange a Bası́lica de Sã o Pedro e
grande parte do Monte do Vaticano, erigida pelo Papa Leã o IV em 846 para proteger a Roma papal de futuros
ataques sarracenos.
Macedonianism, uma heresia do sé culo IV, em homenagem ao Bispo Macedonius de Constantinopla, que negou a
divindade do Espı́rito Santo. Foi condenado pelo Concı́lio de Constantinopla em 381.
magistério, a funçã o de ensino e autoridade da Igreja. E exercido pela hierarquia, pelos teó logos e pelos membros
ordiná rios da Igreja (pais, catequistas, etc.). O termo é mais comumente aplicado, entretanto, à hierarquia.
martirologia, uma lista de dias de festa dos santos com todos os nomes aplicá veis para qualquer data. O
martiroló gio fornece alguns dados biográ icos, como local de nascimento, falecimento e sepultamento.
Mestre do Palácio Sagrado, tı́tulo dado à quele que atua como teó logo pessoal do papa, tradicionalmente
membro da ordem dominicana. O Mestre també m atua como teó logo na Secretaria de Estado e em outros escritó rios
da Cú ria Romana.
mendicantes, també m conhecidos como frades, religiosos com o privilé gio de mendigar (lat., mendicare ) nas
dioceses onde foram estabelecidos. As ordens mendicantes, fundadas no inı́cio do sé culo XIII, sã o juradas à pobreza
comunitá ria e pessoal. As primeiras ordens mendicantes foram os franciscanos e dominicanos. Os carmelitas,
agostinianos, servitas e outros també m receberam o tı́tulo e os privilé gios de mendicantes. Ao contrá rio dos monges
tradicionais da tradiçã o beneditina, os frades tinham permissã o para trabalhar no mundo, fora de suas fundaçõ es
moná sticas, onde se engajavam na pregaçã o, ouvindo con issõ es e outros trabalhos ministeriais.
metropolitano, substantivo ou adjetivo aplicado à principal igreja local de uma regiã o ou ao seu bispo
(geralmente um arcebispo).
Idade Média, o perı́o do histó rico que abrange o milê nio entre o colapso do Impé rio Romano em 476 e o
nascimento do mundo moderno no inal do sé culo XV.
mitra (lat., mitra , “bandana”), a cobertura para a cabeça usada por bispos e alguns abades durante os ritos
litú rgicos.
Modalismo, uma abordagem teoló gica geral da Trindade, durante os sé culos terceiro, quarto e quinto, que via as
trê s Pessoas como trê s modos, aspectos ou energias diferentes das operaçõ es de Deus, mas nã o como trê s Pessoas
distintas. No Oriente, era conhecido como sabelianismo; no Ocidente, como Patripassianismo.
Modernismo, nome dado à crise doutriná ria e disciplinar da Igreja Cató lica nos primeiros anos do sé culo XX,
particularmente durante o ponti icado de Pio X (1903-1914). A crise surgiu porque vá rios teó logos, estudiosos da
Bı́blia, historiadores e iló sofos sociais foram levados, por meio de suas pesquisas, a revisar sua compreensã o de
alguns ensinamentos tradicionais da Igreja. Eles propuseram uma leitura mais crı́tica da Bı́blia, uma teologia baseada
na experiê ncia e uma atitude mais positiva em relaçã o à democracia. Modernismo, um termo gené rico para todas
essas vá rias abordagens, foi condenado por Pio X e um juramento contra o Modernismo foi imposto a todos os
bispos, clé rigos e teó logos em 1910. Uma rede secreta de espionagem, chamada Sodalitium Pianum , encorajava os
indivı́duos a denunciarem suspeitos de hereges para Roma. O sucessor de Pio X, Bento XV (1914–22), dispersou a
rede de espionagem e convocou os cató licos ultraconservadores, ou integralistas, a interromper sua guerra contra
os cató licos mais progressistas. Mas o movimento antimodernista teve um efeito assustador sobre os estudos
cató licos até o Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Monarquianismo, uma heresia do sé culo terceiro de segunda e que tã o estressado a unidade de Deus no
governo divino (gr., Monarchia ) que negou a personalidade distintamente divina do Filho e do Espı́rito Santo. Vá rias
formas de heresia eram conhecidas como sabelianismo, patripassianismo e modalismo.
monaquismo (grego, monos , "um, só "), uma forma institucionalizada de vida religiosa ascé tica na qual os
indivı́duos fazem votos de pobreza, castidade, obediê ncia e (como nos beneditinos) estabilidade, separando-se da
sociedade individualmente (eremita forma) ou em comunidade (forma cenobı́tica).
Mono isismo (gr., Monos , “um”; physis , “natureza”), a heresia do sé culo V que a irmava que Jesus Cristo tinha
apenas uma natureza divina, e nã o uma natureza humana també m. A heresia foi condenada pelo Concı́lio de
Calcedô nia em 451, mas a opiniã o continuou a ser mantida por muitos no Oriente e foi a fonte de sé rios problemas
polı́ticos e eclesiá sticos.
Monotelitismo (grego, monos , “um”; theleis , “vontade”), uma heresia do sé culo sé timo que a irmava que Jesus
Cristo possuı́a apenas uma vontade divina. O papa Honó rio I (625-38) se viu defendendo essa visã o em um esforço
para reconciliar os mono isitas com a Igreja, pela qual foi excomungado postumamente pelo Terceiro Concı́lio de
Constantinopla (680-81).
Montanismo, um movimento apocalı́ptico e carismá tico do sé culo II, identi icado com Montanus da Frı́gia, que
enfatizou o im iminente do mundo e impô s uma moralidade austera na preparaçã o para o evento. Seu convertido
mais famoso foi Tertuliano (falecido em cerca de 225), o escritor cristã o latino e apologista da Africa romana.
motu proprio (lat., "por iniciativa pró pria"), documento papal originado do pró prio escritó rio do papa a respeito
de vá rios assuntos administrativos e pastorais. Muitas das mudanças introduzidas pelo Concı́lio Vaticano II (1962-
65) tiveram aplicaçã o prá tica por este tipo de documento papal.
neo-Escolástica , termo utilizado para o renascimento, de 1860 a 1960, da tradiçã o ilosó ica das universidades
medievais e barrocas. També m descreve um tipo muito conservador de teologia que era geralmente abstrato, nã o
experiencial e nã o histó rico no mé todo.
sobrinho, cardeal-. Veja sobrinho cardeal.
Nestorianismo, a heresia do sé culo V, em homenagem a Nestó rio, bispo de Constantinopla, que sustentava que em
Cristo há duas pessoas, uma divina e uma humana. Maria, portanto, é a mã e do Jesus humano apenas, nã o a Mã e de
Deus. O Concı́lio de Efeso condenou essa heresia em 431.
Nicéia, Primeiro Concílio de, o primeiro concı́lio ecumê nico da Igreja, realizado em 325 a convite do imperador
Constantino para lidar com o problema do arianismo, que ensinava que Cristo era apenas a maior das criaturas. O
concı́lio de iniu a divindade de Cristo, declarando-o "da mesma substâ ncia" (gr., Homoousios ) de Deus Pai. (O
Segundo Concı́lio de Nicé ia em 787 validou a prá tica de venerar imagens. Foi o ú ltimo concı́lio ecumê nico
reconhecido pelo Oriente.)
Credo Niceno, també m conhecido como Credo Niceno-Constantinopolitano, uma declaraçã o de fé cristã
formulada pelo Concı́lio de Nicé ia em 325 e a irmada, com algumas modi icaçõ es, pelo Concı́lio de Constantinopla em
381. E o mesmo credo recitado todas as semanas na missa .
Nobres Guardas, guarda-costas aristocrá ticos do papa, fundada em 1801 e dissolvida por Paulo VI em 1970. Nã o
deve ser confundida com a Guarda Suı́ça, fundada em 1505, e ainda servindo ao papa.
núncio (lat., nuntius , “mensageiro”), um legado papal que representa a Santa Sé para um estado ou naçã o e
també m representa o papa para igrejas especı́ icas naquele estado ou naçã o. Um nú ncio deve ser distinguido de um
delegado apostó lico, que representa o papa nas igrejas particulares de um estado ou naçã o com o qual a Santa Sé
nã o tem relaçõ es diplomá ticas formais.
Cristianismo ortodoxo, as igrejas apostó licas originais e as igrejas posteriores que fundaram na metade oriental
do Impé rio Romano e em outros territó rios orientais alé m das fronteiras imperiais. O termo “ortodoxo”
originalmente foi aplicado apenas para aqueles que aceitaram os ensinamentos do Concı́lio de Calcedô nia (451)
sobre a divindade e humanidade de Cristo. Hoje, o termo se aplica mais comumente à s igrejas cristã s do Oriente que
nã o estã o em comunhã o com Roma, particularmente a ortodoxa russa e a ortodoxa grega.
Osservatore Romano , jornal diá rio o icial do Vaticano, fundado em 1861.
pálio , a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço e ombros de um arcebispo como um sinal de autoridade
pastoral. E constituı́da por uma estreita faixa circular de lã de cordeiro branca marcada com seis cruzes roxas
escuras, com duas faixas penduradas na frente e atrá s. Sua atribuiçã o agora está reservada ao papa. A histó ria inicial
do pá lio é obscura. Derivado da insı́gnia imperial, foi inicialmente usado por arcebispos e nã o tinha nenhuma ligaçã o
com Roma ou com o investimento da autoridade papal. Só mais tarde o papa assumiu isso para si mesmo. Somente
no sé culo IX todos os arcebispos metropolitanos foram obrigados a fazer uma petiçã o a ele.
bênção papal, uma bê nçã o ou bê nçã o concedida pelo papa. O termo també m se aplica à certidã o de pergaminho
contendo as palavras da bê nçã o para pessoas especı́ icas em ocasiõ es especiais em suas vidas.
coroação papal. Veja coroaçã o papal.
eleição papal, a eleiçã o de um papa por membros do Colé gio de Cardeais com menos de oitenta anos em um
conclave, ou reuniã o secreta. O conclave começa entre quinze e vinte dias apó s a morte de um papa. O reitor do
colé gio convoca e preside o conclave. Antes de 1059, um papa era eleito pelo clero romano e pelo povo, depois
somente pelo clero romano, com a subsequente aprovaçã o do povo. Durante vá rios sé culos, a aprovaçã o da eleiçã o
pelo imperador foi essencial porque, sem sua aprovaçã o, o papa nã o poderia ser consagrado bispo de Roma e
coroado. Desde 1179, uma maioria de dois terços dos cardeais eleitores foi necessá ria para a eleiçã o. O Papa Pio XII
mudou isso para dois terços mais um em 1945. Em 1996, Joã o Paulo II mudou os procedimentos mais uma vez. Uma
maioria de dois terços (sem o mais um) é su iciente, mas uma maioria absoluta també m é su iciente depois que trinta
e trê s votaçõ es foram conduzidas ao longo de vá rios dias, interrompidas por um dia ocasional de oraçã o sem
votaçã o.
legado papal, um representante do papa em uma determinada igreja ou governo civil ou em um conselho ou
conferê ncia internacional.
Estados papais, també m conhecidos como Patrimô nio de Sã o Pedro, partes da Itá lia central e o territó rio de
Avignon e Vê nassin no sul da França que já estiveram sob a soberania temporal da Santa Sé e do papa como seu
chefe temporal e espiritual . Os Estados Papais começaram com uma doaçã o de terras, tomadas aos lombardos, por
Pepino III, rei dos francos, ao Papa Estê vã o II em 754 e 756: Ravenna e as cidades do exarcado bizantino, a
Pentá polis (Rimini, Pesaro, Fano , Senigallia e Ancona, com territó rios adjacentes) e Emilia. O controle papal sobre
essas terras era esporá dico, entretanto, até Jú lio II (1503-13) estabelecer uma irme autoridade papal sobre elas por
meio de uma sé rie de campanhas militares. A porçã o francesa dos Estados Papais, comprada pelo Papa Clemente VI
de Joanna, rainha de Ná poles, em 1348, foi absorvida pela nova Repú blica Francesa em 1791. Em 1860 os territó rios
restantes na Itá lia, exceto Roma, passaram a fazer parte do reino da Itá lia, e em 1870, apó s a retirada da proteçã o
francesa, a pró pria Roma també m se tornou parte do reino italiano. Em 1929, os Pactos de Latrã o forneceram uma
compensaçã o inanceira pela perda de certos territó rios e propriedades papais e o Estado da Cidade do Vaticano foi
reconhecido como uma entidade polı́tica separada e independente.
patriarca, tı́tulo do bispo de mais alto escalã o de uma igreja autô noma ou federaçã o de igrejas locais (conhecidas
como dioceses ou eparquias). Em 451, o imperador bizantino Justiniano determinou as cinco principais sedes
patriarcais como Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalé m. No Oriente, o tı́tulo icou restrito a essas
sedes. Há també m uma estrutura patriarcal nos seis ritos cató licos orientais: armê nio, caldeu, copta, maronita,
melquita e sı́rio ocidental.
Patrimônio de São Pedro. Veja os Estados Papais.
Pelagianismo, uma heresia do sé culo V, ligada ao nome de Pelá gio (m. Ca. 425), um monge britâ nico que
ministrava em Roma, que a irmava que a salvaçã o é possı́vel apenas pelo esforço humano, sem a ajuda da graça. A
heresia foi vigorosamente combatida por Agostinho de Hipona (m. 430), os bispos norte-africanos e o Papa Zó simo
(m. 418).
Peter's Pence, contribuiçõ es inanceiras anuais de cató licos de todo o mundo para apoiar a Santa Sé e as obras
apostó licas do papa. Começou na Inglaterra em 787 como um imposto de um centavo sobre todos, exceto os pobres,
a ser entregue ao papa. A prá tica foi revivida em 1860 por Pio IX, apó s a perda de todos os Estados Papais, exceto
Roma.
Ministério petrino, ministé rio que o Bispo de Roma exerce na qualidade de Vigá rio de Pedro. Preocupa-se com a
unidade da Igreja universal e com o fortalecimento da fé de seus irmã os bispos.
Sucessão petrina, processo complexo pelo qual os bispos de Roma seguem na linha de Sã o Pedro como seus
vigá rios e como chefes terrestres da Igreja universal. Como Sã o Cipriano de Cartago (m. 258) apontou, entretanto,
em certo sentido, todos os bispos sã o sucessores de Sã o Pedro em suas pró prias dioceses - eles sã o sinais de
unidade e portadores da tradiçã o.
pluralismo, ocupar mais de um cargo eclesiá stico ao mesmo tempo, um abuso comum na Idade Mé dia. O primeiro
papa a manter sua ex-diocese enquanto servia como bispo de Roma foi Clemente II (1046–47), que manteve sua
diocese de Bamberg. Os trê s papas alemã es que o sucederam izeram o mesmo: Damá sio II (1048) manteve a sé de
Brixen; Leã o IX (1049–54) manteve a sé de Toul; e Victor II (1055–1057) manteve a sé de Eichstä tt. Da mesma
forma, Nicolau II (1058-1061) permaneceu bispo de Florença. Stephen IX [X] (1057–58) permaneceu como abade
de Monte Cassino apó s sua eleiçã o como papa. Urbano III (1185–1187) manteve sua arquidiocese de Milã o para
evitar que as receitas passassem para o tesouro imperial, e Bento XIII (1724–1730) manteve Benevento, o ú ltimo
papa a reter sua diocese.
Pontifex Maximus (lat., "Sumo Pontı́ ice" ou "construtor de pontes"), um tı́tulo de honra concedido ao Bispo de
Roma desde o inal do sé culo IV, mas originalmente um tı́tulo pagã o dado ao imperador como chefe do colé gio de (
sacerdotes pagã os) em Roma.
papa (It., papa , “pai”), o bispo de Roma e o chefe terreno da Igreja. Nos sé culos anteriores, o tı́tulo era usado para
designar qualquer bispo do Ocidente, enquanto o Oriente o aplicava també m aos padres. Em 1073, Gregó rio VII
proibiu seu uso para todos, exceto o bispo de Roma.
Papa, títulos do, Bispo de Roma, Vigá rio de Jesus Cristo, Sucessor do Chefe dos Apó stolos (Vigá rio de Pedro),
Sumo Pontı́ ice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itá lia, Arcebispo e Metropolita de Roma
Provı́ncia, Soberana do Estado da Cidade do Vaticano e Servo dos Servos de Deus.
Papa Joan. Veja Joan, “Papa”.
Pragmática Sanção de Bourges (1438), um decreto negociado entre o Conselho de Basileia e o rei francê s Carlos
VII por meio do qual os direitos papais aos benefı́cios franceses foram restringidos, bem como o poder papal de
intervir em disputas canô nicas e cobrar impostos. Permaneceu uma fonte de tensã o entre o papado e o governo
francê s e a Igreja francesa por muitos anos depois.
prelado, um sacerdote que tem o poder de governar no foro externo (pú blico) da Igreja, isto é , sobre alguma
porçã o ou agê ncia canô nica da Igreja.
primado, papal, a autoridade honorá ria e jurisdicional possuı́da pelo Bispo de Roma e exercida sobre a Igreja
universal. O primado, entretanto, é sempre exercido dentro do colé gio episcopal, presidido pelo papa.
O priscilianismo, uma heresia do quarto ao sexto sé culo que considerava o corpo humano como mau, insistia
que Cristo nã o tinha um corpo humano e sustentava que as trê s Pessoas da Trindade sã o trê s modos ou facetas de
um Ser divino. O movimento, cujo nome deriva de Prisciliano, asceta que ensinou e se tornou bispo na Espanha no
inal do sé culo IV, foi condenado pelo Concı́lio de Braga em 563.
probabilismo, um sistema moral para a formaçã o da consciê ncia em casos de dú vida que sustenta que se pode
seguir com segurança uma opiniã o teoló gica se ela for proposta por algué m com autoridade teoló gica su iciente e
posiçã o. Tornou-se fonte de contrové rsia no sé culo XVII, quando seus proponentes foram acusados de laxismo, que,
ao contrá rio do probabilismo, sustentava que sempre se poderia resolver dú vidas morais em favor da liberdade,
mesmo quando nã o houvesse boas razõ es.
pró-núncio, termo já extinto para o embaixador papal em paı́ses onde o representante da Santa Sé nã o é chefe do
corpo diplomá tico (como é o caso dos Estados Unidos, por exemplo). O pró -nú ncio representava a Santa Sé nã o só
perante o governo, mas també m perante a Igreja e sua hierarquia naquele paı́s.
Propaganda Fide (Lat.), Ou Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé , um departamento da Cú ria Romana
originalmente estabelecido por Pio V (1566-65) e Gregó rio XIII (1572-85) para promover as missõ es aos nã o-
cristã os no Oriente e mais tarde també m aos protestantes na Europa. Agora é chamada de Congregaçã o para a
Evangelizaçã o dos Povos.
Quartodecimanos (lat., "Dé cimo quarto"), aqueles, especialmente na Asia Menor, que celebravam a Pá scoa no
dé cimo quarto dia do mê s judaico de nisã (o que eles chamavam de Pá scoa cristã ), em vez de no domingo seguinte,
de acordo com a prá tica em Roma e em outras partes da Igreja. A disputa preocupou os papas dos primeiros quatro
sé culos. Victor I (189–98) até ameaçou excomungá -los, mas foi repreendido por Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200)
por fazer tal ameaça. O Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325) estabeleceu-se na celebraçã o dominical da Pá scoa, mas a
prá tica Quartodecimana continuou até o sé culo V.
Palácio Quirinale (ou Quirinal), a residê ncia de verã o original dos papas (antes de Castel Gandolfo), cuja
construçã o foi iniciada por Gregó rio XIII (1572-1585). Alguns conclaves papais de verã o foram realizados lá por
causa de sua localizaçã o mais fria, situada no topo do Monte Quirinal. Em 1870, durante o ponti icado de Pio IX
(1846-78), foi expropriada pelo novo estado italiano e usada como residê ncia o icial do rei da Itá lia. Bento XV
(1914–22) suspendeu a proibiçã o de Pio IX de visitas papais ao Palá cio do Quirinale.
Ravenna, cidade do norte da Itá lia que primeiro serviu como local de residê ncia imperial em 404 e depois como
capital do exarcado bizantino de 540 a 751, quando caiu para os lombardos. Sua localizaçã o geográ ica e seu antigo
status polı́tico deram aos arcebispos medievais uma importâ ncia especial.
Ordens e congregações religiosas, grupos que vivem sob uma regra religiosa e professam publicamente os votos
de pobreza, castidade e obediê ncia ou seus equivalentes.
rescrito, papal, uma resposta por escrito do papa a uma pergunta ou pedido especı́ ico dirigido a ele. Suas
disposiçõ es vinculam apenas aqueles a quem o rescrito é enviado.
Cúria Romana, a rede de secretariados, congregaçõ es, tribunais, conselhos, escritó rios, comissõ es, comitê s e
indivı́duos que auxiliam o papa em suas responsabilidades como chefe terreno da Igreja universal. Embora os papas
dos primeiros sé culos tivessem assistentes em sua capacidade de bispo de Roma, a Cú ria Romana como tal foi
organizada pela primeira vez por Sisto V em 1588.
Império Romano, territó rio ao redor do Mediterrâ neo e na Europa que foi governado por Roma desde o
primeiro sé culo antes de Cristo até o inal do quarto sé culo depois de Cristo (395), quando o impé rio foi dividido em
Oriente e Ocidente. O impé rio ocidental terminou em 476 quando o ú ltimo imperador do Ocidente, Romulus
Augustulus, foi deposto pelos godos sob Odoacro. A Igreja primitiva adotou parte da estrutura organizacional do
Impé rio Romano para seu pró prio plano organizacional de provı́ncias, sedes metropolitanas, dioceses e
semelhantes. Constantino mudou a capital do impé rio para Constantinopla em 330, onde se tornou a sede do
Impé rio Bizantino (a partir do nome da cidade, Bizâ ncio, na qual a nova cidade de Constantinopla foi erguida). Este
ú ltimo sobreviveu até a queda de Constantinopla para os turcos em 1453. No Ocidente, o Impé rio Romano deu lugar
aos novos reinos germâ nicos em 476. O Sacro Impé rio Romano começou sob o rei alemã o Otto I em 962, como
sucessor do impé rio de Carlos Magno , iniciado em 800. O Sacro Impé rio Romano terminou em 1806.
Roman Question. Veja o Tratado de Latrã o.
O sabelianismo, uma heresia dos sé culos III e IV, batizada em homenagem ao clé rigo romano Sabé lio, que
a irmava que Deus é triú no apenas em relaçã o ao mundo. Por causa de sua ê nfase exagerada na unidade de Deus,
muitas vezes foi associado ao Monarquianismo; e por causa de sua insistê ncia em que as trê s Pessoas divinas sã o
meramente modos da ú nica Pessoa divina exercendo trê s operaçõ es diferentes, també m foi associado ao Modalismo.
Basílica de São João de Latrão. Veja a Bası́lica de Latrã o.
Santa Maria Maior (també m Santa Maria Maggiore), uma das quatro bası́licas maiores de Roma, fundada no
sé culo IV pelo Papa Libé rio no Monte Esquilino. A atual igreja foi reconstruı́da por Sixtus III no sé culo V.
Saint Paul's Outside the Walls, uma das quatro principais bası́licas de Roma, construı́da sobre as relı́quias de
Sã o Paulo por Constantino no sé culo IV e posteriormente ampliada. A bası́lica queimou totalmente em 1823 e foi
reconstruı́da e rededicada em 1854.
Basílica de São Pedro, uma das quatro principais bası́licas de Roma e a principal igreja da Igreja Cató lica.
Construı́do sobre o local do tú mulo de Sã o Pedro na Colina do Vaticano, foi originalmente construı́do durante o
reinado do imperador Constantino (falecido em 337). A atual igreja foi iniciada em 1506 e dedicada em 1626. Os
planos para a nova igreja, incluindo sua grande cú pula, foram projetados por seu arquiteto-chefe, Michelangelo
(falecido em 1564). A colunata que envolve a Praça de Sã o Pedro, ou piazza, foi projetada por Bernini (falecido em
1680), que se tornou o arquiteto da Bası́lica de Sã o Pedro em 1629, onde projetou seus detalhes internos, bem como
a praça. As criptas e altares contê m os locais de sepultamento de mais de 130 papas.
cisma ( grego , cisma , “lá grima”), uma violaçã o formal da unidade da igreja. Ao contrá rio da heresia, um cisma nã o
é dirigido contra a ortodoxia da doutrina, mas contra a comunhã o. Os cismas mais famosos na histó ria da Igreja
foram o Cisma Leste-Oeste (iniciado em 1054) e o Cisma do Grande Oeste (1378–1417).
sedia gestatoria (lat., “cadeira portá til”), a cadeira na qual o papa pode ser carregado no meio de uma multidã o
para que possa ser facilmente visto por todos. Foi usado pela ú ltima vez por Joã o Paulo I (1978) para sua entrada na
Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o ao tomar posse de sua igreja catedral apó s sua eleiçã o.
veja (lat., sedes , “assento”), uma igreja local ou diocese. A palavra latina se refere à cadeira do bispo como sı́mbolo
de sua autoridade episcopal.
Servus servorum Dei (lat., “Servo dos servos de Deus”), tı́tulo papal usado pela primeira vez por Gregó rio, o
Grande (590–604) e em uso geral desde Gregó rio VII (1073–85).
simonia, a compra e venda de escritó rios da igreja, em homenagem a Simã o Mago, que tentou comprar o poder
de impor as mã os de Pedro (Atos 8: 9–24). Foi um grande problema para a Igreja em geral e para o papado em
particular durante a Idade Mé dia.
Capela Sistina, em homenagem ao Papa Sisto IV (1471 a 1484), a capela principal do Palá cio do Vaticano, famosa
por seus afrescos de vá rios artistas, mas mais conhecida por seu teto e parede do altar (representando o Juı́zo Final)
de Michelangelo. A Capela Sistina é usada para as eleiçõ es papais.
Subordinacionismo, uma heresia dos sé culos II e III que a irmava que o Filho e o Espı́rito Santo sã o menos do
que o Pai e, portanto, menos divinos, porque procedem do pai. Os concı́lios de Nicé ia (325) e Constantinopla (381)
condenaram os ensinamentos subordinacionistas associados ao sacerdote alexandrino Ario.
subsidiariedade, princípio de, um elemento da doutrina social cató lica, proposto pela primeira vez por Pio XI em
sua encı́clica Quadragesimo anno (1931), que a irma que nada deve ser feito por uma agê ncia superior na sociedade,
governo ou Igreja que possa ser feito como bem, ou melhor, por uma agê ncia inferior.
suburbicarian vê, as dioceses vizinhas de Roma: Ostia, Palestrina, Porto-Santa Ru ina, Albano, Velletri-Segni,
Frascati e Sabina-Poggio Mirteto. Estas sã o agora sedes titulares, mantidas por vá rios cardeais-bispos. O decano do
Colé gio Cardinalı́cio é o bispo titular de Ostia e també m uma das outras sedes subú rbios. Hoje é ele quem consagra
um papa recé m-eleito, se o papa ainda nã o for bispo. Nos primeiros oito sé culos e meio, quando ningué m que já
fosse bispo foi eleito papa, o papa recé m-eleito seria consagrado bispo pelos bispos de Ostia, Albano e Porto.
supressão, um termo canô nico que pertence à remoçã o da festa de um santo do calendá rio litú rgico da Igreja; a
aboliçã o de uma ordem clerical (por exemplo, o subdiaconado); o redesenho dos limites diocesanos de tal forma que
uma diocese existente nã o mais exista com seu nome anterior, mas seja incorporada a outra diocese de con iguraçã o
diferente; e o encerramento formal de uma ordem religiosa ou de uma instituiçã o eclesiá stica como um mosteiro.
Guarda Suíça, soldados a serviço do Vaticano como uma pequena força de segurança para o palá cio papal e a
pessoa do papa. Originalmente recrutados na Suı́ça como mercená rios a serviço do papado no inı́cio do sé culo XVI,
eles usam uniformes desenhados por Michelangelo. Os novos recrutas devem ser suı́ços, cató licos, solteiros e
menores de 25 anos.
Syllabus of Errors, um documento anexado à encı́clica Quanta cura do Papa Pio IX de 1864 (lat., “Quanto
cuidado”), contendo oitenta teses anteriormente condenadas, incluindo a condenaçã o da liberdade de imprensa e da
democracia em geral.
sínodos, reuniõ es de lı́deres da Igreja para tratar de assuntos de interesse para a vida e missã o da Igreja. Depois
do Vaticano II, Paulo VI estabeleceu o Sı́nodo Mundial dos Bispos, que se reú ne em intervalos regulares para
aconselhar o papa sobre questõ es que dizem respeito à Igreja universal.
tiara, papal, uma cobertura gené rica da cabeça papal que assumiu diferentes formas ao longo dos sé culos. A
partir do sé culo XV, a coroa papal de trê s camadas, semelhante a uma colmeia, foi usada nas cerimô nias de coroaçã o
papal. Paulo VI (1963-78) foi o ú ltimo papa a ser coroado com a tiara em 1963. Posteriormente, ele a vendeu e deu o
dinheiro aos pobres. Desde Joã o Paulo I em 1978, os papas sã o “inaugurados” em seu ministé rio com a investidura
do pá lio, a veste de lã usada ao redor do pescoço de um arcebispo como um sinal de autoridade pastoral.
título (lat., titulus , “inscriçã o”), uma inscriçã o clá ssica que denota uma reivindicaçã o a um edifı́cio ou territó rio
particular. O termo se aplica à s dioceses de subú rbio de Roma e à s igrejas e diaconias (postos de ajuda) de Roma
para as quais os cardeais sã o designados como bispos honorá rios, pastores ou administradores. Assim, um cardeal é
nomeado "no tı́tulo de Sã o Marcos", por exemplo, ou seja, como pastor honorá rio da igreja de Sã o Marcos, em
memó ria da é poca em que os cardeais eram os atuais pastores de vá rias igrejas importantes no cidade de Roma.
Tomo de Leão, carta enviada em junho de 449 pelo Papa Leã o Magno a Flaviano, patriarca de Constantinopla,
articulando a doutrina da Igreja das duas naturezas (humana e divina) e da ú nica Pessoa divina em Jesus Cristo. A
carta foi adotada como base para o ensino do Concı́lio de Calcedô nia em 451.
Trento, Concílio de, o conselho da Contra-Reforma realizado em trê s segmentos diferentes de 1545 a 1563.
De iniu os sete sacramentos, a presença real de Cristo na Eucaristia e o papel da tradiçã o ao lado da Escritura, e
decretou o estabelecimento de seminá rios para a formaçã o dos futuros sacerdotes e um catecismo para a Igreja
universal. O concı́lio moldou a vida e o culto cató licos até o Concı́lio Vaticano II (1962-65).
teoria das duas espadas, a crença medieval de que o papa tem poder tanto no reino temporal quanto no
espiritual. A teoria encontrou sua expressã o extrema no touro Unam Sanctam de Bonifá cio VIII (1302).
Ultramontanismo (lat., "Alé m das montanhas"), um movimento do sé culo XIX em paı́ses europeus alé m dos Alpes
(França, Alemanha, Espanha e Inglaterra) que exaltou o papado como o grande baluarte contra o liberalismo polı́tico
e o relativismo ilosó ico e é tico. Inicialmente, muitos cató licos liberais eram ultramontanos porque viam o papado
como o guardiã o da independê ncia da Igreja contra regimes seculares hostis. O ultramontanismo atingiu seu auge
nos ponti icados de Gregó rio XVI (1831 a 1846) e Pio IX (1846 a 1878) e foi uma força motriz por trá s das doutrinas
papais do Vaticano I (1869 a 1870).
Vaticano, a abreviatura para a sede central da Igreja Cató lica Romana, incluindo o papa e a Cú ria Romana. Seu
nome vem da Colina do Vaticano, que na Roma clá ssica icava fora dos muros da cidade e era o local do circo de
Nero e de um cemité rio. A tradiçã o diz que Sã o Pedro foi martirizado no circo de Nero e enterrado no cemité rio
pró ximo. A Bası́lica de Sã o Pedro foi construı́da naquele local.
Estado da Cidade do Vaticano, entidade polı́tica que governa o territó rio onde está localizada a Santa Sé . E o
menor estado soberano do mundo (108,7 acres ao todo) e está completamente rodeado pela cidade de Roma. Ele
conté m a Bası́lica de Sã o Pedro, o Palá cio do Vaticano, o Museu do Vaticano, a Biblioteca do Vaticano, a Rá dio
Vaticano, o Centro de Televisã o do Vaticano, os Jardins do Vaticano, uma agê ncia dos correios, um banco, um jornal,
uma estaçã o ferroviá ria e vá rios outros escritó rios e galerias. Seus direitos extraterritoriais també m se estendem à s
trê s outras bası́licas maiores de Roma (Sã o Joã o de Latrã o, Sã o Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior), vá rios
escritó rios da Cú ria Romana na cidade de Roma propriamente dita e ao papal vilas e o Observató rio do Vaticano em
Castel Gandolfo, quinze milhas a sudeste de Roma. O Estado da Cidade do Vaticano foi estabelecido pelos Pactos de
Latrã o de 1929 como uma soluçã o inal para a disputa entre o papado e o governo italiano sobre a perda dos
Estados Papais no sé culo XIX.
Concílio Vaticano I (1869-70), o concı́lio ecumê nico que de iniu os dogmas do primado papal e da infalibilidade
papal.
Concílio Vaticano II (1962-65), o concı́lio ecumê nico que encerrou a era tridentina (começando com o Concı́lio
de Trento no sé culo XVI) e inaugurou uma nova era de renovaçã o e reforma marcada por uma ê nfase na Igreja
como todo o Povo de Deus, na colegialidade dos bispos (governando a Igreja em colaboraçã o com, e nã o sob, o
papa), na missã o social da Igreja em favor dos pobres e oprimidos, na participaçã o dos leigos no culto e ministé rios
da Igreja e sobre a necessidade da Igreja de dialogar e colaborar com outras igrejas cristã s, outras religiõ es e com a
humanidade em geral.
Biblioteca do Vaticano, fundada pelo Papa Nicolau V (1447-55), biblioteca que conté m cerca de 70.000
manuscritos, cerca de 800.000 livros impressos e muitos outros documentos, incluindo todos os arquivos do
Vaticano, que foram abertos aos estudiosos por Leã o XIII em 1881.
Centro de Rádio e Televisão do Vaticano, estaçã o de rá dio, fundada por Pio IX em 1931, e estaçã o de televisã o,
fundada por Joã o Paulo II em 1983, do Vaticano. A Rá dio Vaticano foi projetada e supervisionada pelo famoso
Guglielmo Marconi, inventor do rá dio, até sua morte em 1937. A estaçã o transmite em cerca de 34 idiomas para
todas as partes do mundo.
Vigário de Cristo, o tı́tulo tradicional de um bispo, embora agora reservado ao Bispo de Roma desde Eugê nio III
(1145–1153). Inocê ncio III (1198-1216) apelou especialmente para este tı́tulo como a base de sua autoridade
universal, mesmo sobre governantes temporais. O tı́tulo distintivo mais adequado para o papa é Vigá rio de Pedro.
Vigário de Pedro, tı́tulo mais tradicional que designa a funçã o do Bispo de Roma. Foi comumente aceito pelos
papas desde o inal do sé culo IV, mas foi substituı́do pelo tı́tulo de Vigá rio de Cristo (que originalmente se aplicava a
todos os bispos, nã o apenas ao papa) durante o ponti icado de Eugê nio III (1145-53), que reservou o ú ltimo tı́tulo
ao Bispo de Roma. O tı́tulo Vigá rio de Pedro ressalta o ponto de que o papa nã o substitui Pedro, porque o papa nã o
é uma testemunha ocular da Ressurreiçã o. Ele e os outros bispos só podem manter vivo o que receberam. Como
vigá rio de Pedro, o papa continua a missã o de Pedro de servir a unidade de toda a Igreja e fortalecer a fé de seus
irmã os bispos.
zucchetto, o solidé u branco usado pelo papa. A cor dos bispos é roxa; para cardeais, escarlate; e para outros,
como abades, preto.
SELECIONE A BIBLIOGRAFIA
A literatura sobre os papas e o papado é volumosa. Visto que este livro nã o se destina a acadê micos, mas a um
pú blico geral e nã o especializado, a lista de tı́tulos abaixo é incluı́da para fornecer uma amostra representativa de
trabalhos acadê micos, enciclopé dicos e populares. A bibliogra ia nã o conté m referê ncias a artigos acadê micos ou
populares, que superam em muito as monogra ias e coleçõ es. Todos os livros listados, no entanto, fornecem
bibliogra ias pró prias. Alé m disso, uma bibliogra ia anual sobre o papado aparece no Archivum Historiae Ponti iciae
(Roma). Se o autor deste livro pudesse recomendar outro tratamento abrangente, de um volume, histó rico, teoló gico,
canô nico e pastoral dos papas e do papado voltado para o leitor nã o especializado, ele o faria. Mas essa é
precisamente a lacuna que este livro pretende preencher.

Trabalhos acadêmicos
Casper, Erich. Geschichte des Papstums von den Anfängen bis zur Höhe der Weltherrschaft (Uma Histó ria do Papado desde o inı́cio até [meados do sé culo
Oitavo]), 2 vols. Tü bingen: Mohr, 1930–33.
Davis, Raymond, trad. e ed. O Livro dos Pontí ices (Liber Ponti icalis) . Liverpool: Liverpool University Press, 1989.
Mann, Horace K. As Vidas dos Papas na Primeira Idade Média , 18 vols. Londres: Kegan Paul, Trench, Trü bner, 1902–32.
Pastor, Ludwig von. A História do Papado desde o Fim da Idade Média , 40 vols. St. Louis: Herder, 1899–1933.
Seppelt, Franz Xaver. Geschichte der Päpste von den Anfängen bis zur Mitte des zwanzigsten Jahrhunderts (A histó ria dos papas desde o inı́cio até o meio do
sé culo XX), 5 vols. Munich: Kö sel, 1954–59.
——— e G. Schwaiger. Geschichte der Päpste von den Anfängen bis zur Gegenwart (A histó ria dos papas desde o inı́cio até o presente). Munique: Kö sel, 1964.

Enciclopédias, dicionários enciclopédicos e dicionários


Cross, Frank L. e Elizabeth A. Livingstone, eds. O Dicionário Oxford da Igreja Cristã , 3ª ed. Londres: Oxford University Press, 1997.
Gelmi, Josef. Die Päpste in Lebensbildern (Os papas em seus per is de vida). Viena: Verlag Styria, 1989.
Gligora, Francesco e Biagia Catanzaro. Storia dei Papi a degli Antipapi da San Pietro a Giovanni Paolo II (A Histó ria dos Papas e Antipapas de Sã o Pedro a Joã o
Paulo II), 2 vols. Roma: Panda Edizioni, 1989.
Kelly, John ND O Dicionário Oxford de Papas . Nova York: Oxford University Press, 1986.
Levillain, Philippe, ed. Dictionnaire historique de la papauté (Dicioná rio Histó rico do Papado). Paris: Fayard, 1994.
McBrien, Richard P., ed. The HarperCollins Encyclopedia of Catholicism . San Francisco: HarperCollins, 1995.
McDonald, William J., ed. The New Catholic Encyclopedia , 14 vols. (mais um vol. ı́ndice e quatro vol. suplementares). Washington, DC: The Catholic University
of America, 1967.
Mondin, Battista. Dizionario Enciclopedico dei Papi (Dicioná rio Enciclopé dico dos Papas). Roma: Città Nuova Editrice, 1995.
Steiner, Bruno e Michael G. Parker, eds. Dicionário de Papas e o Papado (A Enciclopé dia de Teologia e Igreja). Nova York: Crossroad, 2001.

Obras gerais sobre o papado


O ministério petrino no Novo Testamento.
Brown, Raymond, et al. Pedro no Novo Testamento . Minneapolis, MN: Augsburg, 1973.
Caragounis, Chrys C. Peter e a Rocha . Nova York: W. De Gruter, 1990.
Cwiekowski, Frederick J. O Início da Igreja . Nova York: Paulist Press, 1988.

O papado através da história


Brezzi, Paolo. O papado: suas origens e evolução histórica . Westminster, MD: Newman Press, 1958.
Duffy, Eamon. Santos e pecadores: uma história dos papas . New Haven, CT: Yale University Press, 2002, 2ª ed.
Eno, Robert B. The Rise of the Papacy . Wilmington, DE: Michael Glazier, 1990.
Hughes, John Jay. Pontí ices: papas que moldaram a história . Huntington, IN: Our Sunday Visitor, 1994.
La Due, William J. A Cátedra de São Pedro: Uma História do Papado. Maryknoll, NY: Orbis Books, 1999.
Schatz, Klaus. Primado papal: das origens ao presente . Traduzido por John A. Otto e Linda M. Maloney. Collegeville, MN: Liturgical Press, 1996.
Schimmelpfennig, Bernhard. O papado . Traduzido por James Sievert. Nova York: Columbia University Press, 1992.
Tierney, Brian. Origins of Papal Infallibility 1150–1350 . Leiden: Brill, 1972.

Estudos Teológicos do Papado


Bertrams, Wilhelm. O papado, o episcopado e a colegialidade . Westminster, MD: Newman Press, 1964.
Gran ield, Patrick. O papado em transição . Garden City, NY: Doubleday, 1980.
———. Os limites do papado: autonomia e autoridade na Igreja . Nova York: Crossroad, 1987.
Tillard, Jean-MR O Bispo de Roma . Wilmington, DE: Michael Glazier, 1983.

Abordagens Ecumênicas
Comissã o Internacional Anglicano-Cató lica Romana. O relatório inal . Washington, DC: Conferê ncia Cató lica dos Estados Unidos, 1982.
Dionne, J. Robert. O Papado e a Igreja: Um Estudo de Práxis e Recepção em Perspectiva Ecumênica . Nova York: Philosophical Library, 1987.
Empie, Paul C., et al., Eds. Papal Primacy ea Igreja Universal: luteranos e católicos em diálogo V . Minneapolis, MN: Augsburg, 1974.
———. Autoridade docente e infalibilidade na Igreja: luteranos e católicos no diálogo VI . Minneapolis, MN: Augsburg, 1978.
McCord, Peter J., ed. Um Papa para todos os cristãos: uma investigação sobre o papel de Pedro na igreja moderna . Nova York: Paulist Press, 1976.

Papas modernos
Greeley, Andrew M. The Making of the Papes 1978: The Politics of Intrigue in the Vatican . Kansas City, MO: Andrews e McMeel, 1979.
Hebblethwaite, Peter. Paulo VI: o primeiro Papa moderno . Nova York: Paulist Press, 1993.
———. Papa João Paulo II e a Igreja . Kansas City, MO: Sheed & Ward, 1995.
———. Papa João XXIII: Pastor do Mundo Moderno . Garden City, NY: Doubleday, 1985.
———. O ano dos três papas . Cleveland, OH: William Collins, 1979.
Zizola, Giancarlo. A Utopia do Papa João XXIII . Traduzido por Helen Barolini. Maryknoll, NY: Orbis, 1978.

O vaticano hoje
Reese, Thomas J. Dentro do Vaticano: A Política e Organização da Igreja Católica . Cambridge, MA: Harvard University Press, 1996.
INDICE
1. Índice de Papas (Veja também Índice de Nomes Pessoais)
Adeodatus I. Veja Deusdedit.
Adeodatus II (672-76), 109
Adrian. Veja Adriano.
Agapitus I (535-36), 90
Agapitus II (946-55), 156-57
Agatho (678-81), 110-112
Alexandre I (ca. 109-ca. 116), 37
Alexandre II (1061–73), 179–80
Alexandre III (1159–81), 203–205
Alexandre IV (1254-61), 216
Alexandre VI (1492-1503), 267-69
Alexandre VII (1655–67), 306–308
Alexandre VIII (1689-91), 312-13
Anacletus (ca. 79-ca. 91), 34
Anastá cio I (399-401), 65-66
Anastá cio II (496-98), 82-83
Anastá cio III (911-13), 152
Anastá cio IV (1153–54), 201–202
Anicetus (ca. 155 – ca. 166), 39–40
Antero (235-36), 46

Bento I (575-79), 95
Bento II (684-85), 113
Bento III (855-58), 137-38
Bento IV (900-903), 149
Bento V (964), 159-60
Bento VI (973-74), 161-62
Bento VII (974-83), 162-63
Bento VIII (1012–24), 168–70
Bento IX (1032–44; 1045; 1047–48), 170–72
Bento XI (1303-4), 232-33
Bento XII (1335-42), 238-40
Bento XIII (1724–30), 318–20
Bento XIV (1740-58), 321-23
Bento XV (1914–22), 355–58
Bento XVI (2005–), 392–94
Boniface I (418-22), 68-69
Boniface II (530-32), 88
Boniface III (607), 99
Boniface IV (608-15), 99-100
Boniface V (619–25), 100–101
Boniface VI (896), 146
Boniface VIII (1295-1303), 229-32
Boniface IX (1389-1404), 249-51

Caius (283-96), 53-54


Calixtus. Veja Callistus.
Callistus I (217-22), 43-44
Callistus II (1119–24), 195–96
Callistus III (1455-58), 260-61
Celestino I (422-32), 69-71
Celestino II (1143-44), 199
Celestino III (1191–98), 208–209
Celestino IV (1241), 214-15
Celestine V (1294), 227-29
Clemente I (ca. 91-ca. 101), 35-36
Clement II (1046-47), 173
Clement III (1187–91), 207–208
Clement IV (1265–68), 217–18
Clemente V (1305-14), 233-35
Clement VI (1342-52), 240-42
Clemente VII (1523-34), 279-80
Clement VIII (1592-1605), 296-98
Clemente IX (1667-69), 308-309
Clement X (1670-76), 309-10
Clemente XI (1700-1721), 315-17
Clement XII (1730-40), 320-21
Clemente XIII (1758-69), 323-25
Clement XIV (1769-74), 325-28
Cletus. Veja Anacletus.
Conon (686-87), 114
Constantine (708-15), 117-18
Cornelius (251-53), 47-48

Damasus I (366-84), 62-64


Damá sio II (1048), 174
Deusdedit (mais tarde Adeodatus I) (615-18), 100
Dionı́sio (260-68), 51-52
Donus (676-78), 110

Eleuté rio (ca. 174-89), 41


Eleutherus. Veja Eleutherius.
Eugene. Veja Eugenius.
Eugenius I (654–57), 107–108
Eugenius II (824-27), 133-34
Eugenius III (1145–53), 200–201
Eugenius IV (1431-47), 255-58
Eusé bio (310), 55-56
Eutychian (275-83), 53
Evaristus (ca. 100 – ca. 109), 36-37

Fabian (236-50), 46-47


Felix I (269-74), 53
Felix III (II) (483-92), 79-80
Felix IV (III) (526-30), 87-88
Formosus (891-96), 144-46

Gaius. Veja Caius.


Gelá sio I (492-96), 80-82
Gelá sio II (1118–19), 194
Gregó rio I (590-604), 96-98
Gregó rio II (715–31), 118–19
Gregó rio III (731–41), 119–20
Gregó rio IV (828-44), 134-35
Gregory V (996-99), 165-66
Gregó rio VI (1045-46), 172-73
Gregó rio VII (1073–85), 185–88
Gregó rio VIII (1187), 206–207
Gregó rio IX (1227-41), 212-14
Gregory X (1272–76), 219–20
Gregory XI (1371-78), 245-47
Gregory XII (1406-15), 252-53
Gregory XIII (1572-85), 291-92
Gregory XIV (1590–91), 294–95
Gregó rio XV (1621–23), 301–302
Gregó rio XVI (1831-46), 336-39

Adriano I (772-95), 125-26


Adriano II (867-72), 140-41
Adriano III (884-85), 143
Adriano IV (1154–59), 202–203
Adriano V (1276), 221-22
Adriano VI (1522-23), 278-79
Hilarus (461-68), 77-78
Hilary. Veja Hilarus.
Honorius I (625–38), 101–103
Honorius II (1124–30), 196–97
Honó rio III (1216–27), 211–12
Honó rio IV (1285-87), 225-26
Hormisdas (514-23), 85-86
Hyginus (ca. 138-ca. 142), 38

Inocê ncio I (401-17), 66-67


Innocent II (1130–43), 197–99
Innocent III (1198-1216), 209-11
Innocent IV (1243–54), 215–16
Innocent V (1276), 220-21
Innocent VI (1352-62), 242-43
Inocê ncio VII (1404-6), 251-52
Innocent VIII (1484-92), 266-67
Innocent IX (1591), 295-96
Innocent X (1644–55), 304–306
Innocent XI (1676-89), 310-12
Innocent XII (1691–1700), 313–15
Innocent XIII (1721-24), 317-18

Joã o I (523–26), 86–87


Joã o II (533-35), 89-90
Joã o III (561-74), 95
Joã o IV (640–42), 103–104
Joã o V (685-86), 114
Joã o VI (701-5), 116
Joã o VII (705-7), 116-17
Joã o VIII (872-82), 141-42
Joã o IX (898-900), 148-49
John X (914-28), 152-53
John XI (931-35 / 6), 154-55
John XII (955-64), 157-59
Joã o XIII (965-72), 160-61
John XIV (983-84), 163
Joã o XV (985-96), 164-65
Joã o XVII (1003), 167
Joã o XVIII (1003-9), 167-8
Joã o XIX (1024–32), 170
[Joã o XX: nenhum papa adotou esse nome]
Joã o XXI (1276–77), 222–23
Joã o XXII (1316-34), 235-38
Joã o XXIII (1958–63), 369–75
John Paul I (1978), 381-84
Joã o Paulo II (1978–2005), 384–92
Julius I (337-52), 59-60
Julius II (1503-13), 270-72
Julius III (1550–55), 283–84

Lando (913-14), 152


Landus. Veja Lando.
Leã o I (440-61), 75-77
Leã o II (682-83), 112-13
Leã o III (795-816), 129-31
Leã o IV (847-55), 136-37
Leo V (903), 150
Leã o VI (928), 153-54
Leã o VII (936-39), 155
Leã o VIII (963-65), 159
Leã o IX (1049–54), 174–75
Leo X (1513–21), 272–74
Leã o XI (1605), 298
Leo XII (1823-29), 333-35
Leo XIII (1878–1903), 347–51
Liberius (352-66), 60-62
Linus (ca. 66 - ca. 78), 33-34
Lucius I (253-54), 48-49
Lucius II (1144-45), 200
Lú cio III (1181-85), 205

Marcelino (296-304), 54-55


Marcelo I (306–8), 55
Marcelo II (1555), 284-85
Marcus. Veja Mark.
Marinus I (882-84), 142
Marinus II (942-46), 156
Mark (336), 59
Martin I (649–54), 105–107
Martin II. Veja Marinus I.
Martin III. Veja Marinus II.
Martin IV (1281–85), 224–25
Martin V (1417-31), 253-55
Melchiades (311-14), 56-57
Miltı́ades. Veja Melchiades.
Nicolau I (858-67), 138-140

Nicolau II (1058-61), 177-79


Nicolau III (1277-80), 223-24
Nicolau IV (1288-92), 226-27
Nicolau V (1447-55), 258-60

Pascal I (817-24), 132-33


Pascal II (1099-1118), 192-93
Paulo I (757-67), 123
Paulo II (1464-71), 263-64
Paulo III (1534–49), 280–83
Paulo IV (1555–59), 285–86
Paulo V (1605–21), 298–301
Paulo VI (1963-78), 375-81
Pelá gio I (556-61), 94
Pelá gio II (579-90), 95-96
Pedro, o Apó stolo (falecido ca. 64), 28-33
Pio I (ca. 142 - ca 155), 39
Pio II (1458-64), 261-63
Pio III (1503), 269-70
Pio IV (1559-65), 286-88
Pio V (1566–72), 288–90
Pio VI (1775-99), 328-30
Pio VII (1800-1823), 330-33
Pio VIII (1829–30), 335–36
Pio IX (1846-78), 343-47
Pius X (1903–14), 351–55
Pio XI (1922–39), 358–63
Pio XII (1939–58), 363–66
Pontian (230-35), 45-46
Pontianus. Veja Pontian.

Romano (897), 147

Sabiniano (604-6), 98-99


Sergius I (687-701), 114-16
Sergius II (844-47), 135-36
Sé rgio III (904-11), 150-51
Sé rgio IV (1009-12), 168
Severinus (640), 103
Silverius (536-37), 90-91
Silvester. Veja Sylvester.
Simplicius (468-83), 78-79
Siricius (384-99), 64-65
Sisinnius (708), 117
Sixtus I (ca. 116-ca. 125), 37-38
Sixtus II (257-58), 51
Sixtus III (432-40), 71-72
Sixtus IV (1471-84), 264-66
Sixtus V (1585–90), 292–94
Soter (ca. 166-ca. 174), 40-41
Stephen I (254-57), 49-50
Stephen II (III) (752-57), 121-23
Stephen III (IV) (768-72), 124-25
Stephen IV (V) (816-17), 131-32
Stephen V (VI) (885-91), 143-44
Estê vã o VI (VII) (896-97). 146-47
Stephen VII (VIII) (928-31), 154
Stephen VIII (IX) (939-42), 155-56
Stephen IX (X) (1057–58), 176–77
Sylvester I (314-35), 57-58
Sylvester II (999-1003), 166-67
Silvestre III (1045), 172
Symmachus (498-514), 83-85

2. Índice de nomes pessoais


Acacius, 78, 79, 81, 82
Adelaide, Queen, 158
Adeodato II, Papa, 109
Ado of Vienne, St., 39, 41, 68
Agagianian, Cardeal Gregory Peter, 370
Agapitus I, Pope St., 90, 92, 407
Agapitus II, Pope, 156-57, 410
Agatho, Pope St., 110-12, 114
Aimeric, 196, 197, 198
Aistulf, 121, 122, 123
Alaric, o Visigodo, 67, 70, 71
Albani, Cardeal Giuseppe, 336
Albani, Giovanni Francesco, 315
Telesforo (ca. 125-ca. 136), 38
Theodore I (642-49), 104-105
Theodore II (897), 147-48

Urban I (222-30), 44-45


Urban II (1088–99), 190–92
Urban III (1185–87), 205–206
Urban IV (1261-64), 216-17
Urban V (1362-70), 243-45
Urban VI (1378-89), 247-49
Urbano VII (1590), 294
Urban VIII (1623–44), 302–304

Valentine (827), 134


Victor I (189-98), 41-42
Victor II (1055–57), 175–76
Victor III (1087), 188-90
Vigilius (537-55), 91-93
Vitalian (657–72), 108–109

Xystus. Veja Sixtus.

Zacarias (741-52), 120-21


Zachary. Veja Zacarias.
Zephyrnus (198 / 9–217), 42-43
Zó simo (417-18), 67-68

Albergati, Cardeal Niccolò , 258, 259


Alberic II, 155, 156, 157, 410
Alberic III, 171
Albert (antipapa), Cardeal-Bispo de Silva Candida, 192
Alberto, Cardeal Aldeimo, 243
Albornoz, Cardeal Gil de, 242, 244
Aldobrandini, Cinzio e Pietro, 297
Aldobrandini, Ippolito, 296
Aldovrandi, Cardeal, 322
Alessandrino, Cardeal, 289
Alexandre I, Papa S., 37
Alexandre II, Papa, 179-80, 186
Alexandre III, Papa, 182, 184, 203–205, 306, 411, 412
Alexandre IV, Papa, 216, 217
Alexander V (antipapa), 253, 267, 268, 397, 428
Alexandre VI, 150, 182, 184, 260, 265, 266, 267-69, 270, 281, 438, 439
Alexandre VII, 277, 305, 306–308, 312, 316
Alexandre VIII, Papa, 312-13, 314, 320
Alexis de Moscou, Patriarca, 374, 443
Alfonso de Castela, 219
Alfonso II, Rei de Ná poles, 268
Alfonso V, Rei de Aragã o, 258, 261, 428
Alfredo, o Grande, Rei da Inglaterra, 142
Alfrink, Cardeal Bernard, 385
Allucingoli, Ubaldo, 205
Althan, Cardeal, 317
Altieri, Emilio, 309
Amadeus VIII, duque de Sabó ia, 257, 428
Amalarius de Metz, 135
Santo Ambró sio, Bispo de Milã o, 65, 98
Anacletus (Cletus), Pope St., 22, 34, 36, 48, 197, 396
Anacletus II (antipapa), 198, 199, 200
Anastasius Bibliothecarius (antipapa), 137, 138, 140, 410
Anastá cio I, Imperador, 81, 82, 84, 85
Anastá cio I, Papa St., 26, 65-66, 67
Anastá cio II, Papa, 82-83
Anastá cio III, Papa, 152, 153
Anastá cio IV, Papa, 201–202
Andrea, bispo de Ostia, 112
André de Tessalô nica, Bispo, 82
Angé lico, Cardeal, 245
Anglicus, John, 138
Anicetus, Pope St., 39-40, 41
Anselm of Canterbury, 191
Anterus, Pope St., 46
Antê mio, Imperador, 77
Anthimus, 90, 91, 92, 420
Antô nio de Pá dua, Santo, 212
Antonelli, Giacomo, 345, 348
Antoniutti, Cardeal Ildebrando, 376, 377
Apiarius, 70
Tomá s de Aquino, Sã o Tomá s, 21, 98, 183, 217, 222, 290, 319, 349
Aquitane, 198
Arginus, Bispo de Langres, 149
Aristó teles, 213
Ario, 59
Arnau, Cardeal Narciso Jubany, 385
Arnauld, Antoine, 305, 307
Arns, Cardeal Paulo Evaristo, 385
Arnulf, Imperador, 145, 146, 148
Arnulf (Arnoul), 164, 165, 166
Arrupe, padre Pedro, 391
Assemani, Joseph, 321
Ataná sio de Alexandria, St., 21, 26, 59, 60, 61, 420
Atená goras I, Patriarca Ecumê nico, 374, 378, 443
Atila, o Huno, 73, 77, 433
Aubert, Etienne, 242
Agostinho de Canterbury, St., 97
Agostinho de Hipona, St., 32, 54, 67, 68, 87, 98, 307, 319
Aureliano, 53
Autcar, 122
Auxilius, 151

Bacci, Cardeal Antonio, 370


Baggio, Cardeal, 382
Balasuriya, Tissa, 391
Bandinelli, Orlando, 203
Barberini, padre, 322
Barberini, Maffeo, 302
Famı́lia Barberini, 302, 304–305
Barbo, Cardeal Pietro, 146, 263
Bardanes, Philippicus, 117
Baronius, Cesare, 108, 297, 298, 299
Bası́lio o Grande, Sã o, 63
Bautain, Louis, 338
Bea, Cardeal Augustin, 374, 442
Beaufort, Pierre Roger de, 245
Becket, St. Thomas, 203, 204
Belaguer, Josemarı́a Escrivá de, 391
Belisarius, 91, 92
Bellarmine, St. Robert, 22, 298, 299, 301, 359
Bellisomi, Cardinal, 331
Benedict of Nursia, St., 98, 389, 394
Bento I, Papa, 95, 407, 409, 410
Bento II, Papa S., 74, 113, 408
Bento III, Papa, 137-38, 139
Bento IV, Papa, 149
Bento V, Papa, 159-60, 399, 424-25
Bento VI, Papa, 161-62
Bento VII, Papa, 162-63, 167, 425
Bento VIII, Papa, 128, 168-70, 229, 257
Bento IX, Papa, 45, 90, 128, 170-72, 173, 182, 184, 228, 401, 425-26, 427
Bento X (antipapa), 178, 232
Bento XI, Papa Bl., 232-33, 318
Bento XII, Papa, 238-40, 241, 242
Bento XIII (antipapa), 250, 251, 252, 253, 254, 260
Bento XIII, Papa, 277, 318–20, 322, 399, 400, 428
Bento XIV, Papa, 65, 220, 277, 318, 321-23, 324, 328, 435, 460
Bento XV, Papa, 342, 354, 355-58, 359, 363, 369, 394, 436, 462
Bento XVI, Papa, 391, 392-94, 396, 455
Benelli, Cardeal Giovanni, 383, 385, 386
Benevento, duque de, 116, 119, 122
Berengá rio de Friuli, 149
Berengar I, Rei da Itá lia, 149, 153
Berengar II, Rei da Itá lia, 158, 423
Bernardino de Siena, 259
Bernardo de Clairvaux, St., 21, 198, 201
Bernetti, Tommaso, 338
Bernini, Giovanni Lorenzo, 277, 302, 304, 306, 307, 308
Berthier, General Louis, 330, 429
Bertoli, Cardeal, 382
Bé rulle, Pierre de, 300
Bı́lio, Cardeal, 348
Bismarck, Otto von, 347
Blackwell, George, 299
Boccapecci, Cardeal Teobaldo, 199
Boccasini, Niccolò , 232
Boff, Leonardo, 391
Bolonha, Cardeal Guido di, Bispo do Porto, 245
Bonaventure, St., 219, 221, 224, 226, 265, 293
Bonelli, Michele, 289, 441
Boniface, St., 118, 120, 121, 156
Boniface I, Pope St., 26, 27, 68-69, 76
Bonifá cio II, Papa, 73, 87, 88, 89, 90, 92, 128
Boniface III, Pope, 74, 99, 408
Boniface IV, Pope St., 99-100
Boniface V, Pope, 100-101, 434
Bonifá cio VI, Papa, 128, 146, 214, 269
Boniface VII (antipapa), 161, 162, 163, 164, 230, 425
Boniface VIII, Pope, 100, 164, 182, 184, 229-32, 233, 234, 235, 399, 427, 437, 440-41, 443
Bonifá cio IX, Papa, 249-51, 438
Borghese, Camillo, 298, 299
Borghese, Cardeal Scipioni Cafarrelli, 300, 301
Famı́lia Borghese, 300
Borgia, Cesare, 269, 270
Famı́lia Borgia, 260-61, 267-268
Borgia, Francis, 310
Borgia, Rodrigo, 261, 265
Boris I, Rei da Bulgá ria, 139, 145
Borja, Alfonso de, 260
Borja y Borja, Rodrigo de, 267
Borromeo, St. Charles, 289, 291, 295, 300, 301, 324, 354, 369, 371
Borromeo, Cardeal Frederico, 301
Bosco, John, St., 359
Bossuet, Bispo Jacques, 315
Bracci, Pietro, 323
Bramante, 270, 271, 272
Branciforte, Cardinal, 326
Braschi, Giovanni Angelo, 328
Breakspear, Nicholas, 202
Brı́gida da Sué cia, St., 183, 242, 245
Brie, Simon de, 224
Bruno, arcebispo de Colô nia, 157, 165
Bruno, Giordano, 297
Bufalo, Cardeal Innocenzo del, 304
Buoncompagni, Ugo, 291

Caccianemici, Gherardo, 200


Cecilian, 56, 57
Caedwalla, 115
Cesá rio, Bispo de Arles, 87
Caetani, Cardeal Benedetto, 229, 427
Caetani, Conde Onorato, 248
Caius (Gaius), Pope St., 53-54
Calepodius, 44
Calliopas, Theodore, 106
Callistus (Calixtus) I, Pope St., 42, 43-44, 45, 46, 48, 49, 50, 52, 53, 54
Callistus (Calixtus) II, Pope, 195-96, 199
Callistus (Calixtus) III, Pope, 184, 260-61, 262, 267, 269, 438
Callistus (Calixtus) III (antipapa), 204
Cambio, Arnulfo di, 222
Canepanova, Peter, 163
Canisius, Peter, St., 359
Canonica, Pietro, 357
Canova, Antonio, 333
Cantius, John, St., 325
Cappellari, Bartolomeo Alberto, 336, 337
Carafa, Carlo, 286, 287, 302
Carafa, Gian Pietro, 281, 285, 289
Famı́lia Carafa, 289
Carloman, 141
Carlos, Rei das Duas Sicı́lias, 321
Cassian, John, 70
Castagna, Giovan Battista, 294
Castel Marsiaco, Enrico de, 207
Castiglioni, Francesco Saverio, 335
Castiglioni, Giannino, 363
Castiglioni, Goffredo, 214
Catarina de Aragã o, 271, 279, 280
Catarina de Siena, Santa, 21, 183, 245, 246, 247, 248, 261, 381
Catarina II, Rainha da Rú ssia, 327, 329
Cavalchini, Cardinal, 324
Cavour, Conde Camillo, 345
Celestine I, Pope St., 25, 26, 27, 69-71, 199, 397, 406
Celestino II, Papa, 199, 208
Celestine II, (antipapa), 196
Celestino III, Papa, 183, 208–209
Celestino IV, Papa, 214-15, 269
Celestine V, Pope St., 45, 90, 182, 184, 227-29, 230, 231, 234, 427
Celestius, 67, 68
Cellini, Benvenuto, 280
Cerdo, 38, 39
Cerularius, Michael, 175
Cervini, Marcello, 281, 284
Carlos Magno, 125, 126, 127, 129, 130, 131, 132, 158, 169, 408, 409, 422
Carlos, arquiduque, 316
Carlos, Rei da Boê mia, 241
Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia, 218-24
Carlos de Durazzo, 249
Carlos I, Rei da Sicı́lia, 225
Carlos II, Rei da Sicı́lia e Ná poles, 226, 228, 230
Carlos III, Imperador, 142, 143, 144, 410
Carlos IV, Imperador, 243, 244, 247
Carlos V, Imperador, 278, 279, 280, 282, 283, 284, 285
Carlos V, Rei da França, 246
Carlos VI, Imperador, 318, 320, 322
Carlos VI, Rei da França, 250
Carlos VIII, Rei da França, 268, 270
Carlos X, Rei da França, 336
Carlos, o Calvo, 141
Carlos, o Simples, Rei, 153
Chaves, Cardeal Antonio Martino di, 258
Chenu, MD, 343, 365
Chiaramonti, Luigi Barnabà , 331
Chigi, Fabio, 305, 306, 312
Chrestus, Bispo de Syracuse, 57
Christopher (antipapa), 125, 127, 150, 151, 398, 423
Chrodegang de Metz, Bispo, 122
Cibò , Giovanni Battista, 266
Ciocchi del Monte, Giovanni Maria de ', 283
Clara de Assis, St., 216
Clemente I, Papa St., 22, 29, 35-36, 48, 51, 396
Clemente II, Papa, 129, 171, 173, 174, 401, 425
Clemente III (antipapa), 426, 427
Clemente III, Papa, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 207–208, 209
Clemente IV, Papa, 183, 217-18, 219, 233
Clemente V, Papa, 183, 227, 233-35, 236
Clemente VI, Papa, 183, 240-42, 243, 245, 438
Clemente VII (antipapa), 246, 248, 249, 250
Clemente VII, Papa, 279-80, 282, 329, 399, 427
Clement VIII (antipapa), 254, 260
Clemente VIII, Papa, 296-98, 300
Clemente IX, Papa, 308–309, 364
Clement X, Pope, 290, 309–10, 311, 314, 318
Clement XI, Pope, 220, 277, 290, 315-17, 318, 319, 320, 321
Clemente XII, Papa, 233, 320-21, 323, 324, 392
Clemente XIII, Papa, 323-25, 326
Clemente XIV, Papa, 277, 325-28, 329, 439
Colombo, Cardeal Giovanni, 386
Colonna, Cardeal Gaspare, 260
Colonna, Cardeal Giovanni, 214
Colonna, Oddo, 254
Colonna, Cardeal Prospero, 258, 259
Colonna, Sciarra, 237
Famı́lia Colonna, 227, 228, 231, 232, 233, 234, 255, 256, 260, 281, 300
Colombo, Cristó vã o, 267
Cominges, Cardeal John de, 238
Comyn, Red, 235
Condulmaro, Gabriele, 255
Confalonieri, Cardeal Carlo, 377, 384
Congar, Cardeal Yves, 181, 343, 365, 398
Conon, Papa, 114
Conradin, duque da Suá bia, 218
Conrad II, Rei da Alemanha, 170, 171
Conrad III, Rei da Alemanha, 200
Conrad IV, Rei da Alemanha, 216
Consalvi, Cardinal Ercole, 331, 332, 333, 334, 335
Constante II, Imperador, 105, 107, 108, 113, 421
Constantia, 59
Constantino, Papa, 117-18
Constantino (antipapa), 124, 125, 128
Constantino, Imperador, 56-59
Constantino I, Patriarca, 109
Constantino III, Imperador, 103
Constantino IV, Imperador, 102, 107, 109, 110, 111, 112
Constantino V, Imperador, 121, 123
Constantino VII, Imperador, 153
Constâ ncio, Imperador, 60, 420
Constâ ncio II, Imperador, 61
Contarini, Gasparo, 281
Conti, Michelangelo de ', 317
Conti di Segni, Rinaldo dei, 216
Copernicus, Nicolaus, 300, 303
Corboli-Bussi, Giovanni, 345
Cornelius, Pope St., 47-48, 49, 51, 406
Correr, Angelo, 252
Corsini, Lorenzo, 320
Corsini, Neri, 320
Coscia, Niccolò , 319, 320
Cosmas, St., 87
Cossa, Cardeal Baldassare, 253
Famı́lia Crescentii, 161, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 171, 410, 411, 425, 426
Crescentius, 166
Crescentius, John II, 167, 168
Crivelli, Umberto, 206
Curran, Charles, 391
Cushing, Cardeal Richard, 432
Cipriano, Bispo de Cartago, 27, 32, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 397, 406
Cirilo de Alexandria, St., 70, 72, 387, 389

Dalla Costa, Elia, 363


Damá sio I, Papa St., 25, 26, 27, 51, 54, 60, 62-64, 65, 70, 397
Damá sio II, Papa, 127, 129, 171, 172, 174, 398, 425
Damian, Peter, 175, 177, 178, 180
Damian, St., 88
Danié lou, Cardeal Jean, 343, 365
Dante Alighieri, 82, 184, 222, 223
Dé cio, 46, 47
Dedal, Adrian Florensz, 278
DeGregorio, Cardinal, 337
De Guyon, Madame, 315
De Lionne, Hugues, 308
Della Chiesa, Giacomo, 355, 356
Della Genga, Annibale Sermattei, 333, 334
Della Porta, Giacomo, 283
Della Rovere, Francesco, 264, 265
Della Rovere, Giuliano, 266, 270
Della Somaglia, Cardeal, 334
Della Valle, Filippo, 315
De Lubac, Cardeal Henry, 343, 365
Demetrius, bispo de Alexandria, 45
Desiderius, 123, 125
Desiderius, Abbot, 189
D'Estouteville, Cardinal, 259
Deusdedit (Adeodatus I), Papa, 100
D'Herbigny, Bispo Michael, 361
Di Jorio, Cardeal Alberto, 377
Diocleciano, 53, 54
Dionı́sio, Papa St., 51-52
Dionı́sio, Bispo de Alexandria, 27, 47, 48, 50, 51
Dionı́sio, Bispo de Corinto, 40, 41, 52
Dió scoro (antipapa), 84, 88, 90
Dominic, St., 211, 212
Dominici, John, 253, 428
Domiciano, 34
Donatus, 54, 56, 57
Donus, Pope, 110, 111
Dopfner, Cardeal Julius, 393
Duè se, Jacques, 235, 236

Ebbo de Rheims, Arcebispo, 132


Eck, John, 274
Eckhart, Meister, 237
Eduardo I, Rei da Inglaterra, 219, 235
Eduardo II, Rei da Inglaterra, 235
Eduardo III, Rei da Inglaterra, 241, 246
Eduardo VI, Rei da Inglaterra, 284, 351
Edwin, Rei da Nortú mbria, 100, 101, 103
Egberto de York, 120
Eisenhower, Dwight D., 375
Eleutherius (Eleutherus), Pope St., 41, 43
Elizabeth I, Rainha da Inglaterra, 276, 285, 288, 290, 292, 441
Enrique y Tarancó n, Cardeal Vicente, 385
Ephraem, St., 358
Erasmus, 271
Ethelburga, Rainha da Nortú mbria, 100
Eugenius (Eugene) I, Pope St., 75, 106, 107–108, 397, 400, 421, 422
Eugenius (Eugene) II, Pope, 133-34, 409
Eugenius (Eugene) III, Pope Bl., 33, 73, 80, 182, 184, 200–201, 202, 203, 258
Eugenius (Eugene) IV, Pope, 255-58, 259, 261, 262, 263, 428
Eulalius (antipapa), 69
Eusé bio, Papa St., 55-56
Eusé bio de Cesaré ia, 25, 29, 33, 34, 36, 40, 46, 55
Eutyches, 76
Eutychian, Pope St., 53
Evagrius, 65
Evaristus, Pope St., 36-37, 396

Fabian, Pope St., 45, 46-47


Fá bio, Bispo de Antioquia, 47, 48
Fabris, Giuseppe, 335
Facchinetti, Giovanni Antonio, 295, 296
Farnese, Alessandro, 281, 291
Farnese, Odoardo, 304
Farnese, Ottavio, 284
Fausta, Imperatriz, 56
Felici, Cardeal Pericle, 386
Felix I, Papa St., 53, 420
Felix II (antipapa), 60, 61, 62, 63, 79, 87, 420
Felix III (II), Papa St., 79-80, 81, 82, 420
Felix IV (III), Papa St., 87-88
Felix V (antipapa), 44, 257, 258, 259, 261, 262, 400, 428, 434
Fé nelon, François, 312, 315
Fernando I, Rei de Ná poles, 262, 266, 268, 271, 287
Fernando V, Rei da Espanha, 267
Ferrara, Cardeal Domenico, 356
Ferrata, Ercole, 310
Festus, 82, 83, 84
Fieschi, Ottobono, 222
Fieschi, Sinibaldo, 215
Firmiliano de Cesaré ia, 50
Fisher, Geoffrey, Arcebispo de Canterbury, 374, 442
Fisher, St. John, 281, 359
Fitzherbert, William, 201, 202
Flavian, Bispo de Antioquia, 64, 65
Flavian, Bispo de Constantinopla, 18, 76, 77
Florinus, 42
Formosus, Pope, 127, 140, 143, 144-46, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 398, 410, 423, 434, 437
Fortunatus, 48
Fournier, Jacques, 238
Fra Angelico, 259
Francisco de Roma, Sã o, 300
Francisco de Sales, St., 298, 303, 307, 325
Francis Ferdinand, Arquiduque da Austria, 355
Francisco de Assis, Sã o, 212
Francisco I, Rei da França, 273, 279, 282, 329
Francisco II, Imperador, 331
Franco, Francisco, 358, 362, 376
Frangipani, Cencius, 194
Famı́lia Frangipani, 196, 197
Franz Joseph, imperador da Austria e rei da Hungria, 352
Frederico, Abade de Monte Cassino, 176, 177
Frederico, Arcebispo de Mainz, 156
Frederick Barbarossa, Imperador, 201, 202, 203, 204, 205, 208
Frederico II, Imperador, 211, 213, 215, 216, 218
Frederico II, Rei da Prú ssia, 327, 329
Frederico III, Imperador, 258, 259, 260, 261, 262
Frederico V, Rei da Boê mia, 301
Frings, Cardeal Joseph, 392
Fuga, Ferdinando, 315
Fugger, Jacob, 273
Fulrad, abade de St.-Denis, 122

Gaetano, Giovanni, 222, 223


Gaillot, Jacques, Bispo de Evreux, 392
Gaiseric, 77, 433
Galileo Galilei, 277, 298, 300, 303
Galieno, 52
Gallus, 48, 200
Ganganelli, Giovanni Vincenzo Antonio, 325, 326
Garrigou-Lagrange, Reginald, 384
Gasparri, Cardeal Pietro, 356, 357, 361, 363
Gasser, Bispo Vincenz, 22
Gebhard, 175, 176
Gelasius I, Pope St., 73, 80-82, 138
Gelá sio II, Papa, 194, 195
Gerard, bispo de Florença, 178
Gerbert de Aurillac, 164, 165, 166
Ghislieri, Antonio, 288
Giovanni, Bispo do Porto, 112
Giovanni, Cardeal de Santa Prisca, 209
Giovanni, duque de Palino, 287
Giovanni, John, 193, 194
Giovanni de Pavia, bispo, 144
Giustiniani, Cardeal, 337
Gizzi, Cardinal, 344
Godarz, 144
Godfrey of Lorraine, 176
Gonzaga, St. Aloysius, 319
Gonzá lez de Santalla, Tirso, 311
Gorbachev, Mikhail, 387
Gordian III, 46
Got, Bertrand de, 233
Gotti, Cardeal Giuseppi, 352, 353
Grado, 170, 171
Gran ield, Patrick, 406
Granvella, Cardeal, 291
Gratian, John, 58, 171, 172, 425
Gregó rio I (Gregó rio Magno), Papa Sã o, 73, 74, 75, 79, 96-98, 99, 100, 102, 121, 128, 138, 141, 165, 180, 185, 186, 291, 337, 408, 432-33, 440
Gregó rio II, Papa Sã o, 117, 118-19
Gregó rio III, Papa Sã o, 74, 119–20, 122, 408
Gregó rio IV, Papa, 134-35
Gregó rio V, Papa, 128, 165-66, 167, 411
Gregó rio VI (antipapa), 169
Gregó rio VI, Papa, 171, 172-73, 186, 401, 425, 426
Gregó rio VII, Papa St., 17, 19, 128, 129, 174-75, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 185-88, 189, 190, 192, 196, 197, 201, 207 , 218, 229, 275, 319, 398,
399, 402, 411, 426, 427, 440, 441
Gregó rio VIII (antipapa), 193, 195
Gregó rio VIII, Papa, 206–207, 208
Gregó rio IX, Papa, 212-14, 215, 216, 230, 247
Gregó rio X, Papa Beato, 183, 184, 219–20, 221, 222, 223, 229, 412
Gregory XI, Pope, 183, 245-47, 399
Gregó rio XII, Papa, 45, 90, 184, 228, 252–53, 254, 255, 399, 400, 427, 428
Gregó rio XIII, Papa, 276-77, 290, 291-92, 293, 295, 301
Gregó rio XIV, Papa, 294-95, 296
Gregó rio XV, Papa, 277, 301–302, 337
Gregó rio XVI, Papa, 276, 335, 336-39, 341, 343, 344, 348, 402, 440, 441, 460
Grimoard, Guillaume de, 243
Guibert, 187, 427
Guido, Arcebispo de Milã o, 178
Guido, Arcebispo de Vienne, 195
Guido, Marquê s da Toscana, 153, 423
Guiscard, Robert, Duke of Apulia, 188, 427

Adriano, cardeal-sacerdote de San Marco, 137, 139, 409


Adriano (Adrian) I, Papa, 125-26, 127, 130, 330
Adriano (Adrian) II, Papa, 140-41, 145
Adriano (Adrian) III, Papa S., 143
Adriano (Adrian) IV, Papa, 184, 202–203
Adriano (Adrian) V, Papa, 184, 221-22
Adriano (Adrian) VI, Papa, 277, 278-79, 284, 368, 384
Habsburgo, 287, 303, 316, 318
Harold da Inglaterra, 179
Hegesippus, St., 25, 39
Henrique I, Rei da Inglaterra, 198
Henrique II, Imperador, 169, 257
Henrique II, rei da Inglaterra, 203, 204
Henrique II, rei da França, 283
Henrique III, rei da Inglaterra, 218
Henrique III, Rei da Alemanha, 172, 173, 174, 175, 176, 426
Henrique IV, Rei da França, 295, 296, 297, 299, 311, 319
Henrique IV, Rei da Alemanha, 176, 177, 180, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 411, 426
Henrique V, Imperador, 192, 193, 194, 195, 196, 411
Henrique VI, Rei da Alemanha, 205, 206, 208, 209, 210
Henrique VII, rei da Inglaterra, 266
Henrique VII, Rei da Alemanha, 235
Henrique VIII, rei da Inglaterra, 271, 274, 279, 280
Heraclius, 56, 100, 102, 103, 104
Heribert, Conde, 153
Hermas, 30, 35, 39
Hermes, Georg, 338
Hilarus, Arcipreste, 104
Hilarus (Hilary), Pope St., 77-78, 402
Hilá rio de Arles, 75, 76
Hilá rio de Poitiers, St., 32
Hildebrand, Cardinal, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 186
Himerius, Bispo de Tarragona, 64
Hincmar, arcebispo de Rheims, 137, 139, 140
Hipó lito (antipapa), St., 42, 43, 44, 45, 46, 400
Hitler, Adolf, 343, 358, 362, 363, 364
Honó rio, Imperador, 67, 68
Honó rio I, Papa, 21, 74, 75, 101–103, 108, 109, 111, 112, 397
Honorius II (antipapa), 179, 180
Honó rio II, Papa, 196-97
Honó rio III, Papa, 211-12, 213, 226
Honó rio IV, Papa, 225-26, 281
Hormisdas, Pope St., 74, 85-86, 88, 89, 90, 397
Hugh, Arcebispo de Rheims, 153
Hugo da Provença, Rei da Itá lia, 155, 423
Humbert de Moyenmoutier, 175
Humbert da Silva Câ ndida, 177, 178
Hunthausen, Raymond, Arcebispo de Seattle, 392
Hus, John, 255, 264
Hyginus, Pope St., 38

Ibas de Edessa, 94
Iná cio, Patriarca, 145
Iná cio de Antioquia, Santo, 18, 30, 396
Iná cio de Loyola, Santo, 284, 300, 301, 302, 326
Inocê ncio I, Papa St., 26, 27, 65, 66-67, 68
Inocê ncio II, Papa, 197-99, 202
Innocent III (antipapa), 205
Inocê ncio III, Papa, 33, 182, 183, 209-11, 212, 215, 229, 317, 398, 440, 443
Inocê ncio IV, Papa, 215-16, 222, 437
Inocê ncio V, Papa Bl., 184, 220-21, 223
Inocê ncio VI, Papa, 183, 242-43, 251
Inocê ncio VII, Papa, 251-52
Inocê ncio VIII, Papa, 266-67, 270, 439
Inocê ncio IX, Papa, 295-96
Innocent X, Pope, 304–306, 307, 310, 316
Innocent XI, Pope Bl., 309, 310-12, 313, 314, 355, 435
Inocê ncio XII, Papa, 313-15, 435
Inocê ncio XIII, Papa, 317-18, 364
Irineu de Lyon, Santo, 25, 26, 29, 33, 37, 38, 41, 42, 397
Irmengard, 131
Ivan III da Rú ssia, 264

Jairo, 29
Tiago de Palestrina, Cardeal, 219
Jaime I, Rei da Inglaterra, 298
Tiago o Apó stolo, St., 29
Jane Francis de Chantal, St., 303
Jansen, Cornelius, 303–304, 305, 307, 308, 316
Jeanne de Chantal, St., 325
Jerome, St., 36, 41, 45, 55, 62, 64, 65, 66, 98
Jesus Cristo, 17, 18, 28, 29, 30, 32, 36, 43, 58, 59, 67, 71, 73, 74, 75, 76, 101, 237, 242, 257, 270, 354, 366, 371 , 394, 397, 399
Joanna I, Rainha de Ná poles, 241, 248
Joanna II, Rainha de Ná poles, 255
Joana d'Arc, St., 261, 357
Joã o (arcebispo), 136
Joã o, arcebispo de Ravenna, 137
Joã o, Rei da Inglaterra, 210
John Chrysostom, St., 66, 67
Joã o de Antioquia, 71
Joã o de Jerusalé m, Bispo, 66
Joã o da Cruz, Sã o, 310, 319, 359
Joã o I, Imperador, 161
Joã o I, Papa St., 86-87
Joã o II, Rei da França, 243
Joã o II, Papa, 73, 74, 85, 89-90, 95, 100, 157, 163, 397
Joã o III, Papa, 95, 157, 163, 407
John III Sobieski da Polô nia, 309, 312
Joã o IV, Papa, 74, 96, 103-104, 109, 402
Joã o V Paleó logo, Imperador, 244
Joã o V, Papa, 110, 114
Joã o VI, Papa, 116
Joã o VII, Papa, 116-17, 121
Joã o VIII Paleó logo, Imperador, 257
Joã o VIII, Papa, 128, 141-42, 143, 145, 146
Joã o IX, Papa, 146, 148-49, 151, 423
Joã o X, Papa, 152-53, 154, 423
Joã o XI, Papa, 128, 150, 151, 154-55, 410
Joã o XII, Papa, 128, 156, 157-59, 160, 163, 401, 410, 423-24, 437
Joã o XIII, Papa, 160-61
Joã o XIV, Papa, 32, 127, 162, 163, 164, 398, 425
Joã o XV, Papa, 128, 164-65, 166, 168
Joã o XVI (antipapa), 165, 166, 167
Joã o XVII, Papa, 167
Joã o XVIII, Papa, 45, 90, 167-68, 182, 184, 228, 425, 427
Joã o XIX, Papa, 128, 169, 170, 171
Joã o XXI, Papa, 183, 184, 222-23, 224
Joã o XXII, Papa, 235-38, 239, 241
Joã o XXIII (antipapa), 253, 254, 371, 400, 428
Joã o XXIII, Papa, 32, 277, 292, 293, 343, 354, 367, 368, 369-75, 376, 377, 381, 382, 383, 387, 390, 395-96, 432, 442, 465
Joã o Paulo I, Papa, 32, 129, 355, 368, 381-84, 385, 386, 387, 394, 443
Joã o Paulo II, Papa, 32, 182, 200, 277, 278, 300, 342, 365, 367, 368, 371, 372, 378, 384-92, 393, 394, 402, 412, 413-18, 443- 44, 466-67
Joã o Apó stolo, Sã o, 29, 31
Joã o Batista, St., 371
Joã o Evangelista, St., 39, 78, 371
Jordan, Prı́ncipe de Cá pua, 189
Joseph II, 329
Jovinian, 65
Judas Iscariotes, 34
Jú lio I, Papa, 26, 44, 52, 59-60
Jú lio II, Papa, 182, 183, 265, 266, 270-72, 273, 283, 412, 439
Jú lio III, Papa, 283-84, 285, 286, 289
Justiniano, 74, 85, 89, 92, 94, 95, 99, 407, 421
Justiniano II, 114, 116, 117
Justin Martyr, St., 38, 39
Justin I, 85

Kelly, JND, 50, 63, 106, 114, 150, 328


Khrushchev, Nikita, 374
Koenig, Cardeal Franz, 382, 385, 386
Krol, Cardeal John, 385
Kubla Khan, 227
Kü ng, Hans, 391, 392

Ladislas, Rei de Ná poles, 251, 253


La Fontaine, Cardeal, 359
Lambertini, Prospero Lorenzo, 321, 322, 356
Lamberto, cardeal-bispo de Ostia, 196
Lambert de Spoleto, 145, 149, 151, 421
Lambruschini, Luigi, 338, 344
Lamennais, Fé licité Robert de, 338
Lando (Landus), Papa, 152
Lanfredini, Cardeal, 322
Langton, Stephen, 210
Lante, Cardeal, 326
Larraona, Cardeal Arcadio, 376
Lateran I, 184
Latrã o II, 184
Latrã o III, 184
Latrã o IV, 184
Lateran V, 185
Laud, Arcebispo William, 351
Lauret, Bernard, 181
Lawrence (antipapa), 83, 84, 85, 90
Lawrence, St., 51
Leone da Silva Câ ndida, 140
Leã o I (Leã o, o Grande), Papa S., 18, 26, 28, 73, 75-77, 78, 80, 85, 96, 115-16, 128, 138, 185, 334, 397, 406, 433- 34, 440
Leã o II, Papa S., 75, 102, 111, 112-13, 114, 397
Leã o III, Papa St., 113, 119, 127, 128, 129-31, 132, 133, 408, 422
Leo IV, Pope St., 113, 136-37, 138, 198, 259, 409, 410
Leã o V, Papa, 127, 133, 150, 398, 423, 437
Leã o VI, Papa, 151, 152, 153-54
Leã o VII, Papa, 155
Leã o VIII, Papa, 128, 157, 158, 159, 160, 401, 424, 425
Leã o IX, Papa S., 129, 172, 174-75, 186
Leã o X, Papa, 182, 183, 272-74, 278, 279, 298, 439
Leã o XI, Papa, 298
Leã o XII, Papa, 113, 276, 333-35, 336, 337, 348, 439-40
Leã o XIII, Papa, 125, 190, 192, 211, 221, 328, 330, 341, 342, 347-51, 352, 353, 355, 360, 373, 380, 389, 402, 435-36, 442, 461 –62
Leopoldo I, Imperador, 312, 313, 315
Lercaro, Cardeal Giacomo, 370, 376, 377
Liberius, Pope, 21, 60-62, 63, 83, 420, 436
Linus, Pope St., 25, 28, 32, 33-34, 48, 396
Lorscheider, Cardeal Aloı́sio, 382, 383, 385
Lothair, Rei da Lorena, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 139, 140
Lothair I, Rei da Alemanha, 148, 158, 409
Lothair III, Rei da Alemanha, 197, 198
Luı́s de Toulouse, 228-29
Louis-Philippe, Rei da França, 336
Louis "o cego", 149
Luı́s o Alemã o, 135
Luı́s o Piedoso, 131, 132, 133, 134, 135, 409
Luı́s II, Imperador, 136, 137, 139, 141, 149
Luı́s IV, Imperador, 237, 238, 240
Luı́s IV, Rei da França, 156, 157
Luı́s VI, Rei da França, 195, 197, 198
Luı́s VII, Rei da França, 199, 204
Luı́s VIII, Rei da França, 212
Luı́s IX, Rei da França, 215, 231
Luı́s XI, Rei da França, 262
Luı́s XII, Rei da França, 271
Luı́s XIV, Rei da França, 306, 307, 309, 310, 311, 312, 313, 314, 315, 316
Luı́s XV, Rei da França, 324
Luciani, Albino, 382, 383, 385, 386
Lucius I, Pope St., 48-49, 200
Lú cio II, Papa, 200
Lú cio III, Papa, 182, 183, 205, 206, 207
Ludovisi, Alessandro, 301
Ludovisi, Ludovico, 301
Lucas o apó stolo, Sã o 29
Luna, Cardeal Pedro de, 250
Luther, Martin, 182, 183, 272, 273, 274, 276, 278, 439

Macarius I, 113
Macchiavelli, Niccolò , 280
McCloskey, Cardeal John, 348
Maf i, Cardinal, 356
Magee, John, 384
Maglione, Cardeal Luigi, 375
Magnus, St. Albertus, 359
Maidalchini, Donna Olimpia, 305, 306
Majorinus, 56
Malatesta, Carlo, Senhor de Rimini, 253
Malcenus, 149
Manfred, 216, 217, 218
Marcelino, Papa, 21, 54-55, 420, 436
Marcelo de Ancira, 59 anos
Marcelo I, Papa S., 54, 55
Marcellus II, Pope, 278, 281, 284-85, 384
Marcia, 43
Marciano, bispo de Arles, 49
Marciã o, 38, 39
Maria Theresa, Imperatriz, 327
Marini, Cardeal, 322
Marinus, Bispo de Arles, 57
Marinus I, Pope, 101, 128, 142, 143, 145, 156, 224, 401, 407, 410
Marinus II, Pope, 156, 224
Mark (Marcus), Pope St., 59
Marcos Apó stolo, Sã o 29
Marozia, 153, 154, 155, 423
Marsı́lio de Pá dua, 237
Martel, Charles, 118, 119, 120, 122
Martin de Tours, St. 225
Martin I, Pope, 105-107, 108, 109, 400, 421-22
Martin IV, Pope, 183, 224-25, 226
Martin V, Pope, 185, 248, 253–55, 256, 260, 400, 411, 427
Martini, Carlo, 394
Marty, Cardeal François, 385
Maria, Santı́ssima Virgem, 28, 71
Maria Madalena, 29
Maria I, Rainha da Inglaterra, 284, 285
Masci, Girolamo, 226, 227
Masella, Cardeal Benedetto, 370, 371
Mastai-Ferretti, Giovanni Maria, 344
Matilda da Toscana, Condessa, 189, 205
Mattei, Cardinal, 331
Mateus o Apó stolo, Sã o, 26
Matthias, St., 34
Maurı́cio, Arcebispo de Braga, 193
Maxentius, 55, 56
Maximiliano I, Imperador, 271
Maximiliano II, Imperador, 290
Maximinus Thrax, Imperador, 45, 182, 228, 419
Má ximo, o Confessor, 104
Mazarin, Cardeal Jules, 304, 305, 306, 308
Mazzini, Giuseppe, 345
Medici, Alessandro Ottaviano de ', 298
Medici, Catherine de ', 290
Medici, Gian Angelo de ', 286
Medici, Giovanni de ', 272
Medici, Giuliano de ', 265, 279, 438
Medici, Giulio de ', 279
Medici, Lorenzo de ', 265, 266, 272, 273, 438
Famı́lia Medici, 281
Melchiades (Miltiades), Pope St., 25-26, 54, 55, 56-57
Melquisedeque, 209
Meletius, 63, 64
Mennas, 90, 92
Mercú rio (deus), 89
Merry del Val, Cardeal Rafael, 353, 356, 359
Metó dio, St., 141, 142, 143, 144, 387, 389
Miguel de Cesena, 237
Miguel III, Imperador, 139
Miguel VIII Paleó logo, Imperador, 219, 221, 224, 225
Michelangelo, 183, 268, 270, 271, 280, 281, 283, 288
Mieszko, Duke, 164
Migliorati, Cosimo Gentile de ', 251
Mindszenty, Cardinal, 369
Mirandola, 271
Modena, Cardeal Toschi di, 299
Molinos, Miguel de, 311, 313
Montalto, Cardeal, 293
Monte Corvino, Giovanni di, 227
Montesquieu, 323
Montini, Arcebispo Giovanni Battista, 370, 375, 376, 377, 383
Montone, Braccione di, 255
Mooney, Cardinal, 369
More, St. Thomas, 359
Moro, Aldo, 381
Morone, Giovanni, 281, 286, 287
Morra, Alberto de, 206, 207
Mothe, Cardeal Gaillard de la, 242
Murray, John Courtney, 343, 365
Murrone, Pietro del, 228
Mussolini, Benito, 357, 358, 361, 362

Napoleã o Bonaparte, 277, 328, 330, 331, 332, 333, 336, 337, 435
Narses, 95
Neri, St. Philip, 292, 297, 298, 300, 301, 302
Nestó rio de Constantinopla, 70, 71
Neumann, Sã o Joã o Nepomuceno, 381
Newman, Cardeal John Henry, 351
Nicolau, Patriarca de Constantinopla, 152
Nicolau de Cusa, Cardeal, 259, 262
Nicolau I, Papa St., 128, 138-40, 141, 142, 145, 223, 422
Nicolau II, Papa, 129, 177-79, 186, 189, 411
Nicolau III, Papa, 184, 223-24, 225, 227
Nicolau IV, Papa, 183, 184, 226-27, 228
Nicholas V (antipapa), 237
Nicolau V, Papa, 183, 184, 258-60, 262, 263, 266, 434
Norberto, arcebispo de Magdeburg, 198
Novaciano (antipapa), 47, 48, 49

Oddone, Cardinal, 189, 190


Odescalchi, Cardinal, 309, 310
Odo de Cluny, 155
Orı́genes, 36, 43, 45, 65
Orsini, Matteo Rosso, 214
Orsini, Cardeal Napoleone, 238, 240
Orsini, Pietro Francesco, 318
Famı́lia Orsini, 223, 225, 228, 232, 260, 300, 318
Ossius, bispo de Có rdoba, 58, 60
Ottaviani, Cardeal Alfredo, 343, 365, 371, 377
Ottaviano, Cardinal, 203, 204
Ottoboni, Pietro, 312
Ottobono, Cardeal, 219
Otto I, Imperador, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 165, 411, 423, 424
Otto II, Imperador, 161, 162, 163, 167, 425
Otto III, Imperador, 160, 163, 164, 165, 166, 411, 425
Otto IV, Imperador, 210

Pacelli, Cardeal Eugenio, 361, 363, 375


Paganelli, Bernardo, 200
Palestrina, Giovanni, 284, 285
Paluzzi degli Albertoni, Cardeal, 309
Pam ili, Cardeal Camillo, 305, 306, 317
Pam ili, Giovanni Battista, 304
Panciroli, Cardinal, 305
Pantalé on, Jacques, 217
Paolucci, Cardeal Fabrizio, 317, 319
Papareschi, Gregorio, 197
Parentucelli, Tommaso, 258
Parker, Matthew, 351
Pascal (antipapa), 115
Paschalis, 127
Pascal I, Papa St., 132-33, 192
Pascoal II, Papa, 192-93, 194, 196
Pascal III (antipapa), 204
Pá troclo de Arles, 67
Paulo, bispo de Samosata, 53
Paulinus, 63
Paulino de Nola, St., 65
Paulo de Tessalô nica, Bispo, 105-106
Paulo I, Papa S., 58, 74, 123, 124, 408
Paulo II, Papa, 104, 105, 106, 263-64, 421, 438
Paulo III, Papa, 226, 276, 280-83, 285, 286, 291, 305
Paulo IV, Papa, 276, 280, 281, 285-86, 288, 289, 290, 291, 354, 439
Paulo V, Papa, 277, 298–301, 302, 307
Paulo VI, Papa, 32, 34, 342, 355, 365, 367, 368, 372, 375-81, 382, 383, 384, 385, 387, 389, 391, 393, 412, 413, 436, 443, 465 –66
Paulo, o Apó stolo, Sã o, 17, 18, 28, 29, 31, 33, 34, 36, 377, 396
Pecci, Gioacchino Vincenzo, 348
Pelá gio I, Papa, 67, 68, 72, 74, 94, 95, 407
Pelá gio II, Papa, 95-96, 407
Pepin, 135, 158, 169
Pepin III, 120, 121, 122, 123, 124, 408
Peretti, Felice, 292
Pedro, Bispo de Altinum, 83
Pedro da Espanha, 222
Pedro, o Apó stolo, Sã o, 17, 18, 22, 25, 26, 28-33, 34, 37, 38, 40, 41, 50, 64, 67, 70, 75, 97, 108, 114, 185, 213 , 241, 244, 270, 343, 367, 396, 405, 407, 408,
432, 433
Pedro III o Grande, Rei de Aragã o, 225
Petrucci, Cardeal Alfonso, 273
Philip (antipapa), 124
Filipe II, Rei da França, 210
Filipe II, Rei da Espanha, 287, 290, 291, 292
Filipe III, Rei da França, 226
Filipe IV, Rei da França, 229, 230, 231, 232, 233, 234, 441
Filipe V, Rei da França, 236
Filipe V de Anjou, 316
Filipe VI, Rei da França, 240
Filipe o Arabe, 46
Focas, 99, 100
Photinus, 82
Photius, 139, 140, 141, 142, 143, 145, 422
Piacentino, bispo de Velletri, 112
Piccolomini, Enea Silvio, 58, 257, 261, 266
Piccolomini, Francesco Todeschini-, 269
Pierleoni, Cardeal Pietro, 197-98
Pierleoni, Giordano, 200
Famı́lia Pierleoni, 196, 198
Pietro da Caverna, 140
Pignatelli, Antonio, 313, 314
Pignedoli, Cardeal, 382
Pinturicchio, 268
Pironio, Cardeal, 382
Pio I, Papa S., 18, 25, 37, 39
Pio II, Papa, 58, 257, 261-63, 279
Pio III, Papa, 269-70, 279
Pio IV, Papa, 276, 286-88, 289
Pio V, Papa St., 184, 221, 276, 288-90, 291, 293, 296, 310, 324, 326, 328, 355, 379, 441
Pio VI, Papa, 125, 277, 328-30, 331, 428-29
Pio VII, Papa, 277, 330-33, 334, 335, 337, 344, 435
Pio VIII, Papa, 335-36
Pio IX, Papa, 22, 125, 201, 245, 328, 330, 338, 341, 343-47, 348, 349, 359, 402, 441-42, 443, 460-61
Pio X, Papa St., 291, 303, 334, 342, 343, 351-55, 357, 359, 361, 363, 366, 402, 412, 436, 440, 462
Pio XI, Papa, 341, 342, 357, 358-63, 364, 369, 462-63
Pio XII, Papa, 32, 277, 312, 315, 316, 342, 343, 354, 355, 357, 362, 363-66, 367, 370, 375, 376, 377, 384, 412, 463-65
Platina, Bartolomeo, 264
Pohier, Jacques, 391
Pole, Cardeal Reginald, 283, 284
Poletti, Cardeal Ugo, 386
Policarpo, St., 39, 40
Polı́crates, Bispo de Efeso, 42
Pombal, Marquê s de, 324, 326
Pontian (Pontianus), Pope St., 45-46, 90, 182, 184, 419, 427
Poppo de Brixen, Bishop, 171, 174, 425
Porcaro, Stefano, 260
Prignano, Bartolomeo, 247
Priscillian, 65
Proclus, Bispo de Constantinopla, 72
Puzyna de Kozielsko, Cardeal, 352
Pirro I, Patriarca, 103, 104, 105

Quesnel, Pasquier, 316

Rahner, Karl, 343, 365, 392


Rainalducci, Pietro, 237
Rampolla del Tindaro, Cardeal Mariano, 352, 355
Ramsey, Michael, Arcebispo de Canterbury, 379
Rafael, 183, 270, 271, 280
Ratti, Ambrogio Damiano Achille, 357, 358, 359, 369
Ratzinger, Cardeal Joseph, 390. Ver também Bento XVI
Raimundo de Peñ afort, 212
Reese, Thomas, 30
Rezzonico, Carlo, 323, 324
Ricci, Lorenzo, 324, 327
Ricardo Coraçã o de Leã o, 209
Richelieu, Cardinal, 303
Rienzo, Cola di, 241, 242
Robert, rei de Ná poles, 236
Roberti, Cardeal Francesco, 377
Roberto de Genebra, Cardeal, 246, 247, 248, 399, 427
Roberto de Wilchelsea, 235
Robert I o Bruce da Escó cia, 235
Roger, Pierre, 240
Roger II, Rei da Sicı́lia, 198, 199, 200, 205
Romano I, Imperador, 154
Romanus, Pope, 147, 423
Romulus Augustulus, 78
Roncalli, Angelo Giuseppe, 369, 370, 371
Roosevelt, Franklin D., 363
Roosevelt, Theodore, 353
Rosa de Lima, 309, 310
Rospigliosi, Giulio, 308
Rossi, conde, 345
Rousseau, Jean Jacques, 325
Rudolf da Suá bia, 187
Rudolf I, Rei da Alemanha, 220, 223, 224, 226, 426
Ruffo, Cardeal Antonio, 328
Rusticus, 92

Sabiniano, Papa, 98-99, 408, 437


Santucci, conde Carlo, 357
Sarpi, Fra Paolo, 299
Sarto, Giuseppe Melchiorre, 352, 353
Savelli, Cencio, 211
Savelli, Giacomo, 226
Savonarola, Girolamo, 268
Scheler, Max, 384
Schillebeeckx, Edward, 391
Schlesinger, Arthur, Jr., 431, 432
Scolari, Paolo, 207
Sebastian, St., 47
Segni, Lotario di, 209
Segni, Ugolino da, 212
Sé rgio, Bispo de Caere, 148
Sergius I, Pope St., 101, 102, 114-16, 409
Sé rgio II, Papa, 135-36, 409
Sé rgio III, Papa, 127, 150-51, 152, 153, 154, 398, 410, 423, 437
Sé rgio IV, Papa, 32, 163, 168, 411
Seton, St. Elizabeth Ann Bayley, 381
Severinus, Papa, 103
Severoli, Cardeal, 333
Severo, Imperador Alexandre, 44, 45, 54
Sfondrati, Niccolò , 294
Sfondrati, Paolo Emilio, 295
Sicco, John, 167
Sigismund, duque do Tirol, 262
Sigismund, Rei da Alemanha, 254, 256, 400
Silverius, Pope St., 45, 74, 85, 90-91, 92, 100, 182, 184, 228, 400, 420-21, 422, 427
Simplicius, Pope St., 78-79
Siri, Cardeal Giuseppe, 376, 382, 383, 385, 386, 387
Siricius, St., 27, 64-65, 66, 408
Sisinnius, Pope, 117, 133
Sixtus (Xystus) I, Pope St., 26, 36, 37-38, 48
Sixtus (Xystus) II, Pope St., 51, 433
Sixtus (Xystus) III, Pope St., 71-72
Sisto IV, Papa, 183, 264-66, 267, 270, 438-39
Sixtus V, Pope, 277, 292-94, 295, 296, 297, 371
Soderini, Cardeal, 279
Sophronius, 102
Soter, Pope St., 40-41, 42
Spellman, Cardeal Francis, 377
Spoleto, duque de, 119, 120, 122, 145
Estê vã o de Ná poles, bispo, 151
Estê vã o I, Rei da Hungria, 167
Stephen I, Pope St., 27, 49-50, 51, 145, 397, 433
Stephen II (III), Pope, 74, 121-23, 124, 125, 131, 143, 146, 154, 155, 177, 408
Stephen III (IV), Pope, 74, 124-25, 134, 409
Stephen IV (V), Pope, 128, 131-32
Stephen V (VI), Pope, 143-44, 145
Stephen VI (VII), Pope, 145, 146-47, 149, 150, 398, 423, 434, 437
Estê vã o VII (VIII), Papa, 154
Stephen VIII (IX), Pope, 127, 155-56, 398
Stephen IX (X), Pope, 129, 176-77, 178, 179
Stepinac, Cardinal, 369
Strambi, Vincenzo Maria, 334
Sturzo, Don Luigi, 357
Suburra, Corrado della, 201–202
Suenens, Cardeal Leo Josef, 377, 383, 385
Suidger de Bamberg, 425
Sullivan, Walter, Bispo de Richmond, 392
Sylvester (Silvester) I, Pope St., 25, 54, 57-58, 166, 397
Sylvester (Silvester) II, Pope, 128, 164, 166-67
Sylvester (Silvester) III, Pope, 171, 172, 173, 401, 425, 426
Silvestre IV (antipapa), 192
Symmachus, Pope St., 73, 83-85, 88, 156, 165, 411

Tarentaise, Pierre de, 221


Tatwine de Canterbury, 120
Telesphoros, 37, 38
Tempier, Stephen, Bispo de Paris, 222
Tenerani, Pietro, 336
Teobaldo, Cardeal-Priest, 196, 207
Teresa de Avila, S., 292, 300, 301, 302, 381
Tertuliano, 29, 36, 41, 42
Testa, Cardeal Gustavo, 377
Tetzel, John, 273
Theobald, Arcebispo de Canterbury, 201
Theodahad, 90, 91
Theodora, Empress, 91, 151, 152, 420, 436
Theodore (antipapa), 114
Teodoro de Mopsué stia, 92, 93, 94
Theodore of Studios, 134
Teodoro de Tarso, 109
Teodoro I, Papa, 104-105
Theodore II, Pope, 145, 147-48, 151, 423, 434
Teodoreto de Cyrrhus, 94
Teodorico (antipapa), 192
Teodorico, Rei da Itá lia, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 176
Teodó sio II, Imperador, 69, 71, 76
Teó doto de Bizâ ncio, 42
Theophano, Empress, 163, 164
Teo ilato, 168
Famı́lia Theophylact, 151, 152, 153, 154, 410, 437
Thé rè se de Lisieux, St., 359
Timothy, St., 34
Tisserant, Cardeal Eugene, 370
Tomacelli, Pietro, 249
Tondini, Cardeal Amleto, 376
Torquemada, Tomá s de, 265, 438
Trivulsi, Cardinal, 306
Tugdual, 150
Famı́lia Tusculan, 168, 169, 170, 171, 172, 410, 411, 425

Ulric, St., 164


Ulric de Augsburg, 128
Urbano I, Papa St., 44-45, 190
Urbano II, Papa Bl., 182, 188, 189, 190-92, 194, 217
Urbano III, Papa, 205–206, 207
Urbano IV, Papa, 183, 216-17, 219
Urbano V, Papa Bl., 182, 243-45
Urbano VI, Papa, 183, 247-49, 250, 399, 427-28, 438
Urbano VII, Papa, 146, 214, 277, 294, 381
Urbano VIII, Papa, 53, 277, 302–304
Ursi, Cardeal Corrado, 386
Ursinus (antipapa), 63, 65

Valentine, Pope, 134, 409


Valentiniano II, Imperador, 65
Valentiniano III, Imperador, 76
Valentinus, 38, 39
Valeri, Cardeal Valerio, 370
Valerian, 48, 51, 52, 200
Verallo, Cardinal, 294
Victor Emmanuel, Rei da Itá lia, 345
Victor I, Pope St., 26, 41-42, 43, 397
Victor II, Pope, 175-76, 189, 392
Victor III, Papa Bl., 138, 184, 188-90
Victor IV (antipapa), 198, 204, 207
Vigilius, Pope, 21, 74, 88, 91-93, 94, 102, 182, 400, 407, 420, 421, 422, 436-37
Sã o Vicente de Paulo, 303, 321
Virgil, 262
Visconti, Bernabò , 244, 245
Visconti, Teobaldo, 219
Vitalian, Pope St., 108-109, 110
Vivos y Tuto, Cardeal, 352
Voltaire, 323
Von Faulhaber, Cardeal Michael, 362
Von Metternich, Klemens, 337
Von Pastor, Ludwig, 328

Wala, 133
Wenceslas, King, 247
Wilfrid de York, 115, 116

3. Índice de assuntos
Abdicaçã o. Veja Papa, abdicaçã o de.
Acacian Schism, 79-81, 82, 84, 85, 469
Action Française , 353, 361, 469
Visitas ad limina , 162, 187, 210, 293, 469
Adopcionismo, 42, 43, 125-26, 131, 469
Aeterni Patris , 349
Albigensianism, 204, 210-11, 212, 469-70
Alexandria, ver de, 18, 26, 27, 50, 52, 59, 77, 140, 181; e Acacian Schism, 79-80
Americanismo, 350, 436, 442, 470
Ordens anglicanas, 351, 436, 442, 470
Anatos, 236, 256, 259, 470
Annuario Ponti icio , 54, 55, 91, 101, 107, 121, 159, 198, 221, 400, 401, 420, 422, 423, 424, 428, 453, 470
Antioquia, ver de, 18, 31, 32, 63, 65, 77, 113, 140
Antipopes, 44, 468, 470
Apolinarismo, 63, 470
Apó stolos, 28-29, 31, 32, 35
Sé Apostó lica. Veja Roma, veja de
Apostolicae curae . Ver ordens anglicanas

Willebrands, Cardeal Jan, 385


William, duque da Normandia, 179
Guilherme de Occam, 237, 238
Guilherme de Orange, 312
Guilherme I, Rei da Sicı́lia, 202, 203
Willibrord, St., 115
0 a, Karol, 368, 384, 385, 386, 387
Wojty
Woolsey, Thomas, 278
Wycliffe, John, 246

Xavier, Sã o Francisco, 300, 301, 302

Zacharius (Zachary), Pope St., 74, 120-21, 122, 123


Zamometi
00 , Andrea, 265
Zeno, Imperador, 79, 82
Zeno de Sevilha, Bispo, 78
Zephrynus, Pope St., 42-43, 44, 45
Zosimus, Pope St., 67-68, 69, 70, 72, 76
Zurza, Cardinal, 337

Armê nia, Igreja em, 237, 336


Arianismo, 21, 59, 60, 63, 77, 84, 86, 90, 470
Arles, Conselho de, 25, 57, 61
Asia Menor, Igreja em, 40, 42, 50, 51, 433
Suposiçã o, dogma de, 343, 464
Eremitas Agostinianos, 216
Austria, Igreja em, 288, 322, 347
Avignon, 252, 469; anexaçã o de, 330, 332, 399; e a peste negra, 438; cardeais em, 250; agitaçã o civil em, 243; ocupaçã o de, 307, 312, 313, 325; biblioteca
papal em, 237, 239; como residê ncia papal, 183, 233, 244, 245, 246, 254; compra de, 241; retornar ao controle papal, 327, 439; local do tribunal papal,
248

Balcã s, Igreja em, 210, 227


Estados Bá lticos, Igreja em, 212
Batismo. Veja Rebatismo
Invasõ es bá rbaras, 66
Basileia, Conselho de, 255, 256, 257, 261, 265, 275, 428
Basel-Ferrara-Florence-Rome, Council of, 185
Visã o beatı́ ica, 235, 237-38, 239
Bé lgica, Igreja em, 336, 348
Ordem beneditina, 118, 239
Benedictus Deus , 239
Benefı́cios, 218, 220, 235, 236, 239, 241, 242, 244, 254, 258, 267, 275, 313, 471
Controle de natalidade, 360, 367, 380, 436, 466
Bispos, Colé gio de, 20, 23, 32, 59, 471
Peste Negra, 214, 438
Bobbio Missal, 107
Bourbons, 324, 325, 326
Brest-Litovsk, Sı́nodo de, 298
Grã -Bretanha, Igreja em, 41, 70, 97, 100–101, 103, 109, 111, 115, 116, 120, 357. Ver também Inglaterra, Igreja em
Bulgá ria, Igreja em, 139, 141, 144, 210

Sı́nodo do cadá ver, 127, 129, 144-48, 150-51, 263, 398, 410, 423, 434, 437
Calvinismo, 287
Camelaucum , 177
Camerlengo, 414, 415, 416, 417, 471-72
Canon 332.1, 101, 104, 222, 418, 453
Direito Canô nico, Có digo de. Ver Có digo de Direito Canô nico
Canonizaçã o. Veja Papa e canonizaçã o.
Canterbury, ver de, 116, 246; e ordens anglicanas, 351; atribuiçã o de palio, 103, 120, 157, 168; e o rei da Inglaterra, 201, 210, 235; recepçã o do arcebispo
por Paulo VI, 374, 379, 436, 442-43; e a sé de York, 131, 201
Capuchinhos, 280
Sobrinho cardeal, 296, 297, 300, 301, 305, 309, 320, 472
Cardinals, College of, 472; e antipapas, 259; nomeaçõ es para, 224, 255, 273, 281, 391, 439; como co-administradores da Santa Sé , 227, 242, 256, 321;
divisõ es internas, 293; Nomeaçõ es francesas para, 236, 239, 241, 310; Congregaçõ es Gerais, 393; internacionalizaçã o de, 343, 366; Contingente italiano
em, 234; nú mero má ximo de, 277, 306, 372; como eleitores papais, 34, 394, 413–14; reforma de, 314, 435; idade de aposentadoria para, 381
Ordem carmelita, 211, 212, 292
Castel Gandolfo, 277, 303, 361, 472
Casti connubii , 360, 463
Catarismo. Veja Albigensianismo
Catecismo da Igreja Católica , 390-91, 443
Açã o Cató lica, 259, 462, 463
Universidade Cató lica da Amé rica, 461
Celibato, clerical, 19, 64, 97, 161, 166, 176, 178, 181, 186, 187, 191, 196, 288, 380, 398, 402, 466, 472-73
Centesimus annus , 342, 389, 467
Calcedô nia, Conselho de, 18, 21, 75, 76–77, 78, 79, 81, 85, 86, 89, 92, 94, 115, 403, 421, 433, 437, 464, 473
China, Igreja em, 183, 227, 277, 300, 305, 307, 316, 321, 360, 435
Ritos chineses, 277, 305, 307, 316, 317, 321, 323, 435, 473
Igreja dos Santos Apó stolos (Roma), 60, 327
Cistercienses, 239
Clementinas , o, 235
Clericis laicos , 230, 233
Cluny, 153, 154, 155, 156, 163, 170, 173, 175, 190, 194, 195, 473
Có digo de Direito Canô nico, 212, 222, 230, 235, 354, 357, 372, 378, 383, 390, 473
Có digo de Justiniano, 89
Colé gio dos Bispos. Ver Bispos, Colé gio de
Colé gio de Cardeais. Veja Cardeais, Colé gio de
Colegialidade, 20, 26, 60, 378, 388, 395, 442, 473
Comunismo, 342, 349, 358, 362, 363, 364, 366, 388, 442, 463
Compilatio quinta , 212
Concordata de Worms. Veja Worms, Concordata de
Congregaçã o para a Doutrina da Fé , 393
Constâ ncia, Conselho de, 248, 253, 254, 255, 256, 257, 264, 265, 275, 347, 400, 403, 411, 427, 428, 438, 473-74
Constantine, Edito de. Veja Milã o, Edito de
Constantinopla, Primeiro Concı́lio de, 19, 64, 94, 397, 403
Constantinopla, Quarto Conselho de, 140, 142
Constantinopla, Segundo Concı́lio de, 25, 93, 102, 115
Constantinopla, veja de, 18, 64, 66, 69, 78, 90, 99, 105, 111, 140, 183, 433, 474; apela para, 72; jurisdiçã o de, 119; como nova Roma, 86; e Roma, 76, 81, 110,
137, 138, 145, 168; como segundo ver, 77
Constantinopla, Terceiro Conselho de, 21, 75, 101, 102, 105, 107, 111, 112, 113, 114, 115, 118, 196, 397
Franciscanos Conventuais. Ver ordem franciscana, conventuais
Contra-Reforma, 275, 276, 278, 441, 474-75
Cruzadas, 180, 182, 190, 207, 213, 219, 220, 221, 223, 475; Primeiro, 191; Quinto, 211; Quarto, 210, 440; Em segundo lugar, 200, 201; Terceiro, 208; e os
turcos, 258, 260, 262, 265, 267
Curia, Roman. Ver Cú ria Romana

Defensor pacis , 237


Dinamarca, Igreja em, 132, 134, 135, 157, 188. Ver também Escandiná via, Igreja em
Dictatus papae , 186, 475
Divina Comédia , 83, 184, 212, 223
Ofı́cio Divino, 276, 288, 289, 297, 303, 354, 379, 441
Divino af lante Spiritu , 365, 464
Doutrina da Fé , Congregaçã o para o, 282, 354. Ver também Santo Ofı́cio
Dodici Apostoli, Igreja do. Ver Igreja dos Santos Apó stolos
Ordem Dominicana, 211, 212, 220, 224, 226, 230, 232-33, 297
Domus Sanctae Marthae, 413, 415
Doaçã o de Constantino, 58, 475
Donation of Pepin, 122, 475, 484. Ver também Estados Papais
Donatismo, 25, 54, 56-57, 65, 475-76

Pá scoa, data de 26, 38, 39-40, 41-42, 83, 104, 109, 397
Igrejas orientais, 366, 463, 476; e a data da Pá scoa, 40; e o papado, 19, 21; e uniã o com Roma, 220, 256–57. Veja também Filioque
Cisma Leste-Oeste, 18, 82, 129, 139, 175, 275, 379, 422, 476
Ecclesia de Eucharistia , 467
Ecthesis , 102, 103, 104, 105, 112
Patriarca Ecumê nico, 96, 97, 99, 185
Ecumenismo, 463, 464, 467
Edito do Milan. Veja Milã o, Edito de
Edito de Nantes, Ver Nantes, Edito de
Edito de Worms, Ver Worms, Edito de
Inglaterra, Igreja em, 128, 131, 142, 145, 188, 191, 201, 230, 246, 285; excomunhã o de soberano, 21, 280, 282, 290; e Great Western Schism, 248; e
investidura leiga, 193; e a Reforma Protestante, 79, 288, 299; restabelecimento da hierarquia em, 346; restauraçã o do catolicismo em, 284 ;. Veja também
Grã -Bretanha, Igreja em
Iluminismo, o, 276, 323, 325, 329, 476
Efeso, Concı́lio de, 19, 25, 27, 69-70, 71, 94, 257, 397, 403
Efeso, “Conselho Ladrã o” de. Veja “Conselho Ladrã o” de Efeso
Epistola Tractoria , 68, 69
Evangelii nuntiandi , 380
Evangelium vitae , 389, 467
Ex cathedra , 22, 476. Ver também Pope, infalibility of
Execrabilis , 262
Exsurge Domine , 274, 477

Fascismo, 342, 358, 362, 463


Decretais falsos , 58, 139, 477
Febronianism, 325, 329, 477. Ver também Josephenism
Fides et ratio , 467
Filioque , 131, 191, 220, 221, 257, 477. Ver também igrejas orientais
Florença, Conselho de, 255, 477
Fórmula de Hormisdas , 21, 85
Fó rmula de Sirmium, 61
Fó rmula de Uniã o, 72
França, Igreja em, 134, 149, 156, 164, 166, 188, 200, 230, 231, 262, 273, 308, 327, 350, 353, 357, 462; Papado de Avignon em, 230; e reforma da igreja,
176, 191, 259; e a Revoluçã o Francesa, 329-30; e galicanismo, 311-12; e o Great Western Schism, 248; heresia em, 246; independê ncia de, 185, 261,
299-300; e a Reforma Protestante, 288; restauraçã o do catolicismo em, 336; e supressã o da Companhia de Jesus, 324, 325. Ver também Galicanismo;
Gá lia, Igreja em
Ordem franciscana, 211, 212, 220, 224, 225, 226, 227, 233, 236-37, 239; Conventuals, 224, 234-35, 236; e pobreza, 21–22, 185, 210, 224, 225, 230, 236–
37; Espiritual, 224, 230, 235, 236, 237, 242
Frankfurt, Sı́nodo de, 125
Franks, 119, 122, 123, 130, 133, 136; bispos de, 125, 135; e controle do papado, 134; reino de, 74
Maçonaria, 321, 323, 334, 336, 349, 442
Revoluçã o Francesa, 276, 277, 329–30, 333, 435

Artigos galicanos, 311, 313, 314, 329


Galicanismo, 22, 102, 314-15, 325, 477
Gá lia, Igreja em, 26, 41, 49, 50, 64, 67, 70, 75, 76, 78, 84, 94, 97. Ver também França, Igreja em
Colé gio Alemã o, 284, 291
Alemanha, Igreja em, 145, 156, 158, 259, 285; e Comunhã o em ambos os tipos, 288; e con litos com o papado, 179, 203, 225, 261, 262, 329; e o Great
Western Schism, 248; heresia em, 246; e investidura leiga, 187, 193, 195, 258; e o Kulturkampf , 347, 350; missã o para, 118, 120; e Morá via, 144; e
nazismo, 361-62; e o juramento contra o modernismo, 354; e a sé de Trier, 116, 206
Gnosticismo, 18, 38, 39, 477
Graciano, Decretais de, 58
Great Western Schism, 182, 247, 371, 399, 400; inı́cio de, 183, 248, 254, 427, 438; inal de, 185, 228, 253, 411; e a Reforma Protestante, 275
Igreja Grega. Veja igrejas orientais
Calendá rio Gregoriano, 40, 277, 291, 292
Gregorian University, 277, 291, 327, 360; restauraçã o de, 334

Hagia Sophia, 86, 93


Henoticon , 79, 82, 478
Holocausto, 343, 364
Santo Ofı́cio, 282, 311, 334, 343, 392, 439. Ver também Doutrina da Fé , Congregaçã o para o
Sacro Impé rio Romano, 157, 18, 303, 478
Humanae vitae , 367, 375, 380, 436, 466
Humani generis , 365, 464
Humiliati, 289
Guerra dos Cem Anos, 239-40, 241, 245
Hungria, Igreja em, 167, 188, 248, 288

Iconoclastia, 18, 119, 123, 125, 133, 134, 142, 478


Imaculada Conceiçã o, dogma de, 441, 460, 464; festa de, 316, 341, 346
Indice de Livros Proibidos, 276, 285, 286, 287, 288, 290, 297, 300, 323, 325, 334, 351, 439, 479
India, Igreja em, 237, 316, 339, 359
Indulgê ncias, 182, 183, 231, 240-41, 249, 250-51, 260, 265, 270, 272, 273, 289, 438, 439, 479
Infalibilidade da Igreja, 20, 22, 23. Ver também Papa, infalibilidade de
Inquisiçã o, 183, 276, 285-86, 439, 479; estabelecimento de, 212, 282; Vı́timas franciscanas de, 236; e Galileo, 300; reforma de, 287; e tortura, 215, 239,
289-90, 297, 437. Ver também a Inquisiçã o Espanhola
Integralismo, 358, 479
Irlanda, Igreja em, 70, 104, 201, 336, 353
Israel, Estado de, 391

Jansenismo, 22, 303-4, 305, 307, 308, 311, 313, 316, 317-18, 319, 479-80
Jerusalé m, Conselho de, 29, 140
Jesuı́tas. Veja a Sociedade de Jesus
Jesus Cristo, humanidade e divindade de, 27-28, 42, 43, 58, 61, 70-71, 72, 73, 76, 89, 102
Judeus. Veja Papa, Judeus e
Josephenism, 480. Ver também Febronianism
Calendá rio juliano, 40, 277, 292

Chaves, potê ncia de, 31, 32, 480


Cavaleiros de Malta, 234
Cavaleiros Templá rios, 184, 197, 234

Laborem exercens , 389, 466


Laetentur coeli , 257
Lamentabili sane exitu , 353
Lapsi , 47-48, 49, 54, 55, 56
Bası́lica de Latrã o. Veja a Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o
Concı́lio de Latrã o I, 184, 195, 196
Concı́lio de Latrã o II, 184, 197, 199
Concı́lio de Latrã o III, 184, 203, 204, 214
Conselho de Latrã o IV, 183, 184, 210, 211, 230
Concı́lio de Latrã o V, 185, 271, 273, 412, 439
Pactos de Latrã o, 358, 391, 480-81
Palá cio de Latrã o, 56, 57, 121, 157, 294, 314, 480
Tratado de Latrã o, 342, 361, 480-81
L'Avenir , 460
Laxismo, 307
Investidura leiga, 178, 181, 187, 190, 191, 192-93, 194, 195-96, 198, 398, 411, 440, 481
Liga das Naçõ es, 357
Legioná rios de Cristo, 394
Leonine City, 136, 198, 259, 481
Le Sillon , 353
Liber extra , 212, 230
Liber Ponti icalis , 37, 38, 39, 41, 56, 112
Liber sextus , 230
Teologia da libertaçã o, 388
Bası́lica da Libé ria. Veja a Bası́lica de Santa Maria Maior
Catá logo da Libé ria, 36, 45
Liturgia. Veja Papa, liturgia e
Lombardos, 95, 96, 97, 99, 116, 118, 119–20, 121–22, 123, 125, 138, 407, 408
Luteranismo, 280
Lyons, Primeiro Conselho de, 215, 219, 220
Lyon, Segundo Conselho de, 19, 184, 219, 221, 224, 225, 412

Macedonianism, 63, 481


Magna Carta , 210
Ritos Malabar, 323, 435
Maniqueı́smo, 41
Igreja Maronita, 291, 321
Papas casados. Ver Papa, casamento de
Mater et magistra , 373, 442, 465
Mateus 16: 18–19, 17, 27, 30, 31, 50, 64, 396
Mediador Dei , 365, 464
Mendicantes, 481
Mé xico, Igreja em, 388
Milã o, Edito de, 56, 474
Missõ es, 338-39, 350, 358, 360, 436, 462, 464, 465
Mit brennender Sorge , 362, 463
Modalismo, 43, 44, 482
Modernismo, 342, 352, 353, 356, 436, 462, 482
Monarquianismo, 43, 482
Papado moná rquico. Veja o Papa, como monarca
Monasticismo, 97-98, 99-100, 118-19, 120, 126, 155, 156, 162, 482
Monoepiscopado, 18, 25, 30, 34, 37, 39
Mono isismo, 78, 79, 82, 85, 89, 91-92, 101-2, 105, 110, 482
Monotelitismo, 21, 74-75, 102, 103, 104, 105, 106, 108, 109, 110, 111, 112, 117, 196, 397, 421, 482
Montanismo, 41, 42-43, 482
Monte Cassino, 119, 149, 156, 171, 176, 177, 188, 189, 190, 194
Muçulmanos. Veja Papa e Muçulmanos
Mysterium Ecclesiae , 23
Mystici Corporis , 365, 463

Nantes, edital de, 297, 311


Nazismo, 342, 362, 364, 463
Nepotismo, 164, 183, 184, 215, 236, 241, 249, 250, 261, 264, 265, 267, 281, 286, 287, 304, 305, 312-13, 328, 398, 437, 438, 439; esforços de reforma
contra, 166, 181, 284-85, 289, 297, 308, 311, 315, 435, 440, 441
Nestorianismo, 70-71, 72, 89, 110, 257, 483
Holanda, Igreja em, 347
Nicé ia, Primeiro Conselho de, 19, 25, 26, 40, 57-58, 59, 60, 61, 68, 77, 94, 101, 128, 142, 147, 397, 403, 410, 436, 483
Nicé ia, Segundo Conselho de, 125, 134, 142, 483
Norbertines. Veja os premonstratenses
Normans, 153, 158, 180, 189, 198, 201
Norte da Africa, Igreja em, 27, 49–50, 51, 56–57, 64–65, 66–67, 68, 70, 75, 80, 84, 90, 94, 95, 97, 102, 433
Noruega, Igreja em, 202. Ver também Escandiná via, Igreja em
Novacianismo, 47-48

Juramento contra o modernismo, 354


Octogesima adveniens , 342, 380
Velhos cató licos, 347
Liturgia eslava antiga, 141, 143, 144, 153
Opus Dei, 391, 394, 444
Orange, Segundo Conselho de, 87, 88
Orató rio (oratorianos), Congregaçã o do, 292, 297, 300
Orató rio do Amor Divino, 280
Ordenaçã o de mulheres, 390
Igrejas Orientais, Congregaçã o para o, 357
Ostia, ver de, 59, 63, 69, 94, 112, 114, 140, 159, 209, 216, 281
Ostrogodos, 80, 89, 90, 91
Ottonian Privilege, 158, 169

Pacem in terris , 373, 374, 442, 465


Pactum Ludovicianum , 132
Palestina, Igreja em, 27, 50
Palazzo Farnese, 281
Papado. Ver papa
Eleiçõ es papais. Ver Papa, eleiçã o de
Infalibilidade papal. Veja Papa, infalibilidade de
Primazia papal. Veja Papa, primado de
Estados papais, 123, 125, 130, 131, 132, 133, 134, 144, 164, 165, 175, 199, 209, 210, 212, 213, 225, 227, 228, 241, 249, 254, 256, 259 , 261, 265, 266,
268, 269, 279, 283, 288, 293, 313, 319, 322, 327, 330, 334, 350, 434, 435, 439, 440, 441, 461, 484; anarquia em, 267; anexaçã o de, 332; conquista de,
216; ampliaçã o de, 158, 166-67, 169, 216, 224, 270-71; formaçã o de, 74, 122; invasã o e ocupaçã o de, 206, 214, 316, 321; perda de, 240, 341, 345;
paci icaçã o de, 242; revolta popular em, 337-38; reorganizaçã o de, 255, 333, 336, 344-45; restauraçã o de, 161, 208, 217, 244, 250, 270-71; revolta em,
238, 246
Paris, Universidade de, 212, 213, 226, 235, 238, 261
Pascendi Dominici gregis , 353-54
Pastor aeternus , 346
Cuidado pastoral , 73, 96, 98, 235, 432-33
Conspiraçã o Pazzi, 265, 438
Pelagianism, 66-67, 68, 69, 70, 104, 484-85. Veja também Semipelagianismo
Peter, cartas de, 30
Ministé rio petrino, 17, 31, 32-33, 485. Ver também Papa, como sucessor de Pedro
Sucessã o petrina. Veja Papa, como sucessor de Pedro
Filipinas, Igreja em, 316
Pisa, Conselho de, 252-53, 254, 268, 399, 428
Pistoia, Sı́nodo de, 329
Pluralismo, 318, 485
Polô nia, Igreja em, 164, 167, 188, 210, 248, 325, 336, 353, 387, 388, 443
Pontifı́cia Academia de Ciê ncias, 361
Comissã o Bı́b lica Pontifı́cia, 351
Pontifı́cio Instituto Oriental, 357, 360
Pobres Clarissas, 216
Papa, abdicaçã o de, 45, 90–91, 108, 182, 229, 254, 419, 420, 425, 427, 469; nomeaçã o de bispos por, 331–32, 402; autoridade de, 26, 27, 31, 33, 70, 73, 78,
135, 201, 209, 231, 235, 398-99, 434, 437, 440-41; como bispo de Roma, 407; bê nçã o de 349, 353, 356, 359, 364, 371; e canonizaçã o, 19, 303, 323, 392,
402, 472; coroamento de, 368, 377-78, 383, 443, 474; deposiçã o de, 420, 421, 422, 423, 424, 425, 426, 427, 428, 429; eleiçã o de, 34, 74, 124, 129, 148,
178, 184, 204, 219, 220, 221-22, 301, 390, 405-18, 484; embalsamamento de, 355; como herdeiro de Pedro, 75, 433–34; infalibilidade de, 20-23, 62,
93, 102, 341, 346-47, 441, 479; e judeus, 118, 155, 180, 183, 211, 241, 255, 261, 276, 286, 290, 297, 334, 343, 362, 364, 366, 374, 391, 403, 438, 439,
440, 443 ; jurisdiçã o no Leste, 85, 86; e liturgia, 37, 38, 40, 64, 66, 97–98, 116, 119, 135, 137, 188; casamento de, 26, 28, 65, 79, 85, 140, 217; como
monarca, 19-20, 31, 128, 181, 398, 419, 440; e muçulmanos, 118, 157, 179, 180, 182, 183, 190, 193, 208, 211, 440; primazia de; 17–20, 26, 27, 30-32,
50, 57, 60, 64, 85, 185–86, 193, 220, 257, 341, 346, 395, 461, 485; como Rock, 75; como sucessor de Pedro, 18, 25, 27, 28, 29, 31, 32, 64, 67, 75, 396,
485; como Sumo Pontı́ ice, 485; autoridade temporal de, 215, 231, 299, 311, 338, 345, 399, 437, 440-41; tı́tulos de, 17, 171, 186, 485; batina branca de,
221; e universidades, 212–13, 226, 230, 235, 244, 291, 305. Ver também Infallibility of the Church; Nepotismo; Ministé rio petrino; Rock, Peter como;
Roma, veja de; Simonia; Escravidã o; Vigá rio de Cristo; Vigá rio de Pedro
Populorum progressio , 380, 466
Portugal, Igreja em, 200, 210, 248, 322, 324, 327, 353
Pobreza franciscana. Veja a ordem franciscana e a pobreza
Pragmatic Sanction of Bourges, 185, 271, 273, 485
Premonstratenses, 197
Presidentes, EUA, 431-32
Primazia papal. Veja Papa, primado de
Priscilianismo, 75, 486
Probabilismo, 307
Propagation of the Faith, Congregation for the, 301–2, 303, 305, 338, 486
Reforma Protestante. Veja Reforma, Protestante
Providentissimus Deus , 349
Purgató rio, 257

Quadragesimo anno , 342, 360, 463


Quartodecimans, 38, 40, 42, 486. Ver também Pá scoa, data de
Quietismo, 313, 319
Palá cio Quirinale, 294, 302, 305, 344, 357, 486; como local da eleiçã o papal, 333; visitas o iciais a, 357

Ravenna, exarquia de, 68, 74, 408, 486; e a aprovaçã o das consagraçõ es papais, 111, 113, 119
Ravenna, ver de, 86, 109, 110, 113, 115, 137, 139, 166, 486
Rebatismo, 27, 47, 49–50, 51, 57, 65, 70, 80, 397, 433
Reforma, protestante, 272-74, 275, 276, 277, 280, 439
Rerum novarum , 341, 347-48, 349-50, 360, 373, 435, 442, 461
Renú ncia. Veja Papa, abdicaçã o de
"Conselho Ladrã o" de Efeso, 76, 77
Rock, Peter as, 30, 31
Roma locuta est; causa inita est , 68
Catecismo Romano, 276, 289, 441
Roman College. Veja a Gregorian University
Cú ria Romana, 205, 206, 221, 228, 235, 254, 256, 266, 268, 383, 402, 439, 444, 475, 486–87; e Avignon, 244, 246; estabelecimento de, 182, 190; e a
Reforma Protestante, 274; reforma de, 236, 263, 278; reorganizaçã o de, 174, 277, 230, 284, 293, 354, 379, 437, 441; idade de aposentadoria para, 381;
Nomeaçõ es espanholas para, 261; e Concı́lio Vaticano II, 372
"Constituiçã o Romana", 133-35, 136, 148, 158, 409
Impé rio Romano, 18, 36, 487
Martiroló gio Romano, 65
Missal Romano, 276, 288, 289, 297, 303, 354, 441
Roman Question. Ver Tratado de Latrã o
Roma, veja de, 18–19, 21, 32, 38, 39, 43, 64, 86, 89, 140, 408, 433; como Sé Apostó lica, 27; e o imperador bizantino, 180; e Constantinopla, 76, 81, 110, 138,
168; como tribunal de apelaçã o, 50, 66; e erro, 21; como ver primeiro, 77; como chefe de todas as igrejas, 99; e con litos jurisdicionais com
Constantinopla, 66, 69; organizaçã o de, 25, 34, 35, 46, 48; e Peter, 29-30; privilé gios de, 117; e uniã o com igrejas orientais, 220, 256-57
Rota, Romano, 239
Rú ssia, Igreja em, 144, 188, 327, 361
Sabelianismo, 43, 52, 487
Sagrada Penitenciá ria, 239
Massacre do Dia de Sã o Bartolomeu, 291-92
Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, 58, 63, 69, 136, 227, 238, 244, 321, 480; capelas de, 78; embelezamento de, 227; redecoraçã o de, 72; restauraçã o de, 151,
153
Bası́lica de Santa Maria Maior, 62, 63, 72, 75, 78, 83, 227, 487; embelezamento de, 227
Bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros, 136, 141, 192, 487; abadia anexa a, 156; redecoraçã o de, 72; restauraçã o de, 115
Bası́lica de Sã o Pedro, 58, 69, 103, 110, 136, 183, 224, 238, 259, 268, 270, 272, 277, 284, 439, 487; consagraçã o de, 302-3; construçã o de, 273, 288; cú pula
de, 294, 296; decoraçã o de interiores de, 305; como residê ncia papal, 84; pó rtico de, 300; redecoraçã o de, 72; restauraçã o de, 113, 115; sacristia de, 328
Sarracenos, 144
Escandiná via, Igreja em, 135, 248, 280. Ver também Dinamarca, Igreja em; Noruega, Igreja em; Sué cia, Igreja em
Cisma, Great Western. Veja o Cisma do Great Western
Escó cia, Igreja em, 198, 248
Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos Cristã os, 374, 442
Secretaria de Estado, 293, 296
Sé de Roma. Veja Roma, veja de
Semi-pelagianism, 70, 87, 88. Ver também Pelagianism
“Servo dos servos de Deus”, 33, 74, 97, 433, 440, 488
Shepherd, The , 30, 35, 39
Vé speras da Sicı́lia, 225
Sicı́lia, Igreja em, 175, 191, 213, 227, 317, 318; expulsã o dos jesuı́tas de, 324 ;; e Estados Papais, 97, 114, 119, 210, 212, 216, 217, 220, 226; autoridade
temporal sobre, 202, 211-12
Simony, 136, 172, 173, 180, 249, 250, 266, 267, 273, 275, 293, 398, 438, 439, 488; esforços de reforma contra, 94, 162, 166, 169, 174, 176, 179, 181, 186,
190, 191, 196, 270, 271, 314, 411, 412, 417, 426, 440
Capela Sistina, 264, 266, 271, 280, 281, 325, 349, 356, 413, 415, 416, 438, 488
Coro Sistino, 264, 266
Escravidã o, 303, 339, 350, 440, 461
Eslavos, missã o para, 135, 141, 142, 143, 144, 153, 157, 167
Sociedade de Jesus, 277, 280, 282, 283, 291, 292, 293, 297, 311, 313, 317, 323, 324, 338; e Joã o Paulo II, 391–92; restauraçã o de, 332, 435; supressã o de,
325-28, 329, 391-92, 439
Sodalitium Pianum , 334, 354
Sollicitudo rei socialis , 389, 466-67
Amé rica do Sul, Igreja em, 271, 323, 324, 339, 435
Espanha, Igreja em, 64, 157, 188, 200, 210, 322; apelos a Roma, 50; reforma da igreja em, 191; con litos com o papa, 49, 113; e democracia, 362; expulsã o
dos jesuı́tas de, 324, 325; heresia em, 126, 246; e os mouros, 212, 267; como vicariato papal, 78
Inquisiçã o espanhola, 264, 265, 438. Ver também Inquisiçã o
Speyer, dieta de, 280
Franciscanos espirituais. Ver ordem franciscana, espiritual
Subordinacionismo, 52, 61, 488
Suburbicarian vê , 26, 112, 114, 406, 488
Sué cia, Igreja em, 202, 292. Ver também Escandiná via, Igreja em
Guardas Suı́ços, 488
Suı́ça, Igreja em, 280, 338, 347
Programa de Erros, 341, 346, 441, 488
Symmachan Forgeries, 84
Sı́nodo dos Bispos, Mundo, 379, 380, 436

Testem benevolentiae , 350


Teatinos, 285
Fó rmula teofasquita, 89, 90
Theotokos , 71, 89
Guerra dos Trinta Anos, 303, 305
“Trê s capı́tulos,” o, 92, 93, 94
Toledo, Dé cimo Quarto Conselho de, 113
Tomo de Leã o, 18, 77, 85, 433, 489
Traditores , 436
Trent, Concı́lio de, 275, 276, 280, 282, 283-84, 285, 287-88, 289, 291, 303, 435, 441, 489
Trinity, doutrina de, 52
Conselho de Trullan, 115, 116, 117
Teoria das "duas espadas", 80, 81, 489
Erros de digitação , 105, 109

Perículo Ubi , 220


Ultramontanismo, 489
Unam sanctam , 231
Naçõ es Unidas, 379
Estados Unidos, Igreja em, 350, 353, 391, 461, 462
Universidades. Veja o Papa e universidades
Colé gio Urbano de Propaganda, 303
Ursulinas, 280
Ut unum sint , 389, 395, 443, 467

Vâ ndalos, 77
Arquivos do Vaticano, 266, 349, 437, 441
Estado da Cidade do Vaticano, 342, 358, 489-90
Concı́lio Vaticano I, 19, 20, 22, 62, 85, 93, 102, 346, 441, 467, 490; dogmas de, 341
Concı́lio Vaticano II, 19, 23, 33, 275, 277, 343, 362, 365, 367, 372-73, 375, 387, 392, 436, 442, 490
Biblioteca do Vaticano, 184, 259, 281, 294, 316, 321, 323, 359, 361, 434, 490; ampliaçã o de, 300; fundaçã o de, 259; modernizaçã o de, 361; reorganizaçã o
de, 266
Observató rio do Vaticano, 349, 361
Palá cio do Vaticano, 184, 223, 224
Vaticano Press, 294
Venaissin, 234, 241, 307, 312, 313, 325, 327, 330, 332, 439. Ver também Estados Papais
Veneza, Repú blica da, 298, 307, 324
Veritatis splendor , 389, 467
Vigá rio de Cristo, 33, 73, 80, 81, 202, 209, 215, 231, 402, 490
Vigá rio de Pedro, 17, 19, 33, 490
Vienne, Conselho de, 234-35
Vicentinos, 303
Visigodos, 67, 72, 96, 113
Pedido de visita, 303
Bı́b lia Vulgata, 293, 295, 297

Whitby, Sı́nodo de, 109


Conselho Mundial de Igrejas, 366, 374, 381
Sı́nodo Mundial dos Bispos. Veja Sı́nodo dos Bispos, Mundo
Primeira Guerra Mundial, 342, 355, 356-57, 436, 462
Segunda Guerra Mundial, 362, 363, 364, 463
Worms, Concordata de, 195, 196, 198
Vermes, dieta de, 143
Worms, edital de, 278
CRÉDITOS DE FOTOGRAFIA
1: Masaccio, O Tributo Dinheiro (detalhe de Sã o Pedro e Jesus). Capela Brancacci, S. Maria del Carmine, Florença. Foto: Erich Lessing / Art Resource, NY.
2: Rafael, São Clemente I entre Moderatio e Comitas. Stanze di Raffaello, Palá cio do Vaticano, Cidade do Vaticano. Foto: Alinari / Art Resource, NY.
3: Rafael, Encontro de Leão, o Grande e Átila, o Huno. Stanze di Raffaello, Palá cio do Vaticano, Cidade do Vaticano. Foto: Scala / Art Resource, NY.
4: São Gregório e três escribas. Painel de mar im alemã o do sé culo X. Museu Kunsthistorisches, Kunstkammer, Viena. Foto: Erich Lessing / Art Resource, NY.
5: Coroação de Carlos Magno em Roma. In Grandes Chroniques de France , francê s, sé culo XIV. Musé e Goya, Castres, França. Foto: Giraudon / Art Resource, NY.
6: Gregório VII. Foto: Coleçã o de Imagens da Biblioteca Pú blica de Nova York.
7: Conselho de Clermont: Chegada do Papa Urbano II à França. Miniatura do Roman de Godefroi de Bouillon , 1337. Sra. Fr. 22495, fol. 15. Bibliothé que
Nationale, Paris. Foto: Giraudon / Art Resource, NY.
8: Papa Inocêncio III com a Bula Papal de Doação ao Mosteiro (detalhe do afresco). Cacro Speco, Subiaco, Itá lia. Foto: Scala / Art Resource, NY.
9: Giotto di Bondone, Papa Bonifácio VIII. Fresco. Sã o Joã o de Latrã o, Roma. Foto: Alinari / Art Resource, NY.
10: Bernardino Pinturicchio, Papa Alexandre VI Borgia ajoelhado em oração. Sala dei Misteri della Fede, Appartamento Borgia, Palá cio do Vaticano, Cidade do
Vaticano. Foto: Scala / Art Resource, NY.
11: Rafael, Retrato do Papa Júlio II , 1511. Uf izi, Florença. Foto: Erich Lessing, Art Resource, NY.
12: Rafael, Retrato do Papa Leão X com Dois Cardeais. Uf izi, Florença. Foto: Nicolo Orsi Battaglini / Art Resource, NY.
13: Leonardo Sormanno, monumento ao Papa Pio V (detalhe). Santa Maria Maior, Roma. Foto: Alinari / Art Resource, NY.
14: Domenico De Angelis, Pio VII Formando o Acervo do Museu e Galeria de Arte. Biblioteca Apostolica Vaticana, Cidade do Vaticano. Foto: Scala / Art Resource,
NY.
15: Serviço de notı́cias cató lico.
16: Corbis-Bettmann.
17: UPI / Corbis-Bettmann.
18: Novo serviço cató lico.
19: Corbis-Bettmann.
20: Art Resource, NY.
21: Serviço de notı́cias cató lico.
22: Serviço de notı́cias cató lico.
23: Serviço de notı́cias cató lico.
24: Reuters / Corbis-Bettmann.
25: UPI / Corbis-Bettman.
26: Serviço de notı́cias cató lico.
27: UPI / Corbis-Bettmann.
28: Fabian / Sygma.
29: Reuters / Corbis-Bettmann.
30: Ticiano, O Concílio de Trento . Escola veneziana, sé culo XVI. Louvre, Paris. Foto: Arquivo Bettmann.
31: Serviço de notı́cias cató lico.
32: Serviço de notı́cias cató lico.
33: UPI / Corbis-Bettmann.
34: Michelangelo Buonarroti, vista interior, Capela Sistina, Palá cio do Vaticano, Cidade do Vaticano. Foto: Scala / Art Resource, NY.
35: UPI / Corbis-Bettmann.
36: Ferdinando Fuga, fachada sul, Santa Maria Maior, Roma. Foto: Alinari / Art Resource, NY.
37: Vista interna em direçã o ao altar, St. Paul's Outside the Walls, Roma. Foto: Scala / Art Resource, NY.
38: Vista exterior, Hagia Sophia, Istambul. Foto: Vanni / Art Resource, NY.
39: Vista externa, Palá cio dos Papas, Avignon, França. Foto: Erich Lessing / Art Resource, NY.
40: Encontro do Papa Silvestre e do Imperador Constantino. Afresco do sé culo XII. Quattro Santi Coronati, Roma. Foto: Art Resource, NY.
41: Albrecht Dü rer, Retrato de Carlos Magno. Germanisches Nationalmuseum, Nuremberg, Alemanha. Foto: Giraudon / Art Resource, NY.
42: Domenico Passignano, Michelangelo Apresentando a Maquete de São Pedro a Paulo IV. Casa Buonarroti, Florença. Foto: Scala / Art Resource, NY.
43: Anô nimo, Julgamento de Galileu antes da Inquisição em 1633 . Sé culo XVII. Coleçã o particular, NY. Foto: Erich Lessing / Art Resource, NY.
SOBRE O AUTOR
RICHARD P. MCBRIEN , autor do best-seller Catolicismo, Lives of the Saints e editor geral da The HarperCollins
Encyclopedia of Catholicism , é um importante comentarista de TV, rá dio e jornal da Igreja Cató lica. Ele é o Professor
Crowley-O'Brien de Teologia da Universidade de Notre Dame.

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TAMBÉM POR RICHARD P. MCBRIEN
catolicismo
The HarperCollins Encyclopedia of Catholicism (editor geral)
CRÉDITOS
Design da capa: Design da luva
Pintura da capa: Pins II entrando em San Giovanni in Laterano após sua coroação por Bernardino Pinturicchio; cortesia
de Scala / Art Resource
DIREITO AUTORAL
L IVES DOS PAPAS : Os Pontı́ ices de Sã o Pedro a Bento XVI. Copyright © 1997 de Richard P. McBrien. Todos os direitos reservados sob as convençõ es internacionais
e pan-americanas de direitos autorais. Mediante o pagamento das taxas exigidas, você terá o direito nã o exclusivo e intransferı́vel de acessar e ler o texto
deste e-book na tela. Nenhuma parte deste texto pode ser reproduzida, transmitida, baixada, descompilada, submetida a engenharia reversa ou armazenada
ou introduzida em qualquer sistema de armazenamento e recuperaçã o de informaçõ es, em qualquer forma ou por qualquer meio, seja eletrô nico ou
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PRIMEIRA EDIÇAO DE HARPERCOLLINS PAPERBACK PUBLICADA EM 2000

Os dados de catalogação na publicação da Biblioteca do Congresso estão disponíveis.

ISBN-13: 978–0–06–087807–8
ISBN-10: 0–06–087807 – x
Ediçã o EPub de abril de 2013 ISBN 9780062288349

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Estados Unidos
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1

Salvo indicaçã o em contrá rio, a origem é tnica ou nacionalidade de um papa individual deve ser considerada italiana, ou seja, dentro do territó rio da
penı́nsula italiana.
1

O Annuario Ponti icio começa o seu ponti icado a 15 de fevereiro, dia da sua eleiçã o, e nã o a 22 de fevereiro, dia da sua consagraçã o como Bispo de
Roma.
2

O Anuário inicia o seu ponti icado no dia 7 de setembro, dia da sua eleiçã o.
3

O Anuário inicia o seu ponti icado no dia 23 de novembro, dia da sua eleiçã o.
1

O Anuário inicia seu ponti icado em 22 de setembro, dia de sua eleiçã o.


2

O Anuário inicia o seu ponti icado em 9 de abril, dia da sua eleiçã o.


3

O Annuario difere de outras fontes histó ricas no cá lculo do im do ponti icado de Silvestre III como 10 de fevereiro de 1045, em vez de 10 de março. Se
o primeiro, seu ponti icado foi de apenas 21 dias, fazendo dele e de Marcelo II o sé timo ponti icado mais curto, e Joã o Paulo I é o dé cimo segundo mais
baixo. Por outro lado, o ponti icado de Bento V era canonicamente duvidoso. O de Joã o Paulo I també m poderia ser considerado um dia o dé cimo mais
curto da histó ria.
*

Observe que existem dois Victor IVs entre os antipapas. O segundo Victor IV nã o deu atençã o ao primeiro porque estava “no cargo” menos de dois
meses.

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