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Indice
Dedicaçã o
Prefá cio
Linha do tempo: pessoas e eventos papais, eclesiá sticos e seculares
Introduçã o
I. VIDAS DOS PAPAS
PARTE I: De Pedro ao Inı́cio de um Papado Universal
PARTE II: De Leã o, o Grande, ao alvorecer do Impé rio Carolı́ngio
PARTE III: Do Impé rio Carolı́ngio ao Inı́cio do Papado Moná rquico
PARTE IV: Da Reforma Gregoriana à Reforma Protestante
PARTE V: Da Contra-Reforma ao Inı́cio do Papado Moderno
PARTE VI: Papas modernos de Pio IX a Pio XII
PARTE VII: Papas modernos de Joã o XXIII a Bento XVI
II. EPILOGO: O FUTURO DA PAPACIA
III. ANEXOS
A. Como os papas sã o eleitos
B. Como os papas sã o removidos do cargo
C. Avaliando os papas
INSERÇAO DE FOTO
4. TABELAS
1. Lista cronoló gica de papas
2. Ponti icados mais longos e mais curtos
3. “Primeiros” e “Ultimos” papais
4. Principais encı́clicas papais
5. Lista de antipapas
V. GLOSSARIO
VI. SELECIONE A BIBLIOGRAFIA
INDICE
1. Papas
2. Nomes pessoais
3. Assuntos
CREDITOS DE FOTOGRAFIA
Sobre o autor
També m por Richard P. McBrien
Cré ditos
direito autoral
Sobre a Editora
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DEDICAÇÃO
Em grata memória de
III. ANEXOS
A. Como os papas sã o eleitos
B. Como os papas sã o removidos do cargo
C. Avaliando os papas
INSERÇÃO DE FOTO
4. TABELAS
1. Lista cronoló gica de papas
2. Ponti icados mais longos e mais curtos
3. “Primeiros” e “Ultimos” papais
4. Principais encı́clicas papais
5. Lista de antipapas
V. GLOSSÁRIO
ÍNDICE
1. Papas
2. Nomes pessoais
3. Assuntos
CRÉDITOS DE FOTOGRAFIA
Sobre o autor
També m por Richard P. McBrien
Cré ditos
direito autoral
Sobre a Editora
PREFÁCIO
ESTE LIVRO TEM A NATUREZA DE UM SPIN-OFF FROM ONE - o volume HarperCollins Encyclopedia of Catholicism , publicado em
1995, para o qual servi como editor geral. Um dos muitos recursos populares dessa enciclopé dia é sua lista de vinte
pá ginas de papas, contendo nã o apenas seus nomes e anos de mandato (a ú nica informaçã o contida nas listas usuais
de lista telefô nica), mas també m um breve esboço de cada ponti icado. Muitos leitores acharam fascinante, até
mesmo divertido, digitalizar esses resumos altamente compactados nã o apenas porque fornecem uma visã o geral
conveniente da histó ria da igreja, mas també m porque abrem uma janela para a grande variedade de homens que
realmente ocuparam a Cá tedra de Pedro sobre o durante quase vinte sé culos, guerreiros e paci icadores, santos e
canalhas, polı́ticos e pastores, reformadores e nepotistas.
Este livro nã o apenas expande muito os esboços de cada ponti icado, mas també m inclui recursos que fornecem
um contexto histó rico e teoló gico mais amplo: uma linha do tempo de importantes personalidades e eventos papais e
eclesiá sticos, por um lado, e de personalidades seculares igualmente importantes e eventos, por outro; uma
explicaçã o introdutó ria do papado e dos dois principais dogmas papais (primado e infalibilidade); introduçõ es a
cada um dos sete perı́o dos histó ricos em que as vidas dos papas estã o agrupadas; uma histó ria dos conclaves papais
e um resumo das ú ltimas regras para as eleiçõ es papais, promulgadas pelo Papa Joã o Paulo II em 1996; uma
explicaçã o de como os papas podem, ou foram, destituı́dos do cargo sem ser por morte; uma classi icaçã o dos papas,
de “excelente” a “pior”; uma re lexã o, por meio de um epı́logo, sobre o futuro do papado; uma sé rie de tabelas,
incluindo uma lista cronoló gica de papas, cá lculos dos ponti icados mais longos e mais curtos, uma lista de
"primeiros" e "ú ltimos" papais, uma lista das principais encı́clicas papais e uma lista de antipapas; um glossá rio de
termos; uma bibliogra ia selecionada de recursos populares e acadê micos; uma seçã o de dezesseis pá ginas de fotos
de papas e outras pessoas, eventos e monumentos relacionados ao papado; e um ı́ndice de papas junto com os
ı́ndices usuais de nomes pessoais e assuntos.
Nenhum leitor deve ter a ilusã o de que esta é uma obra de estudo histó rico fundamental. Nesse caso, apresso-me
a emitir uma declaraçã o em contrá rio. Na verdade, nã o consigo imaginar nenhum historiador individual hoje
escrevendo uma histó ria verdadeiramente completa e abrangente de cada um dos mais de 260 ponti icados
espalhados ao longo de quase dois mil anos. Seria o trabalho de mais de uma vida, e provavelmente de vá rias. Por
exemplo, os quarenta volumes do grande Ludwig von Pastor, History of the Papacy (em traduçã o inglesa), cobre
apenas os papas do inal da Idade Mé dia. O livro de Horace K. Mann, de 18 volumes, Lives of the Popes, cobre apenas
o inı́cio da Idade Mé dia. Por que, entã o, esta revisã o de um volume das vidas e ponti icados de todos os papas? Este
tipo de resumo já nã o foi feito? Sim e nã o. Sim, existem vá rios compê ndios recentes que servem muito bem como
dicioná rios enciclopé dicos ou simplesmente dicioná rios dos papas. Pensamos imediatamente em The Oxford
Dictionary of Popes , de JND Kelly , publicado em 1986. E sem dú vida a melhor obra de um volume desse tipo na
lı́ngua inglesa. O leitor cuidadoso deste livro saberá que con iei em Kelly o tempo todo, assim como ele con iou em
cinco volumes de Franz Xaver Seppelt, Geschichte der Päpste ( 1954-1959 ). Mas este livro difere do de Kelly por
oferecer mais do que resumos da vida e do ponti icado de cada papa. Ele fornece ao leitor um contexto teoló gico no
qual localizar e interpretar esses resumos. Como um estudioso anglicano que tem estado ativo no diá logo ecumê nico
com a Igreja Cató lica Romana (ele acompanhou o arcebispo de Canterbury, Robert Runcie, em sua visita ao Papa
Paulo VI em 1966), o cô nego Kelly pode ter estado sob maior restriçã o do que um romano titular. Teó logo cató lico,
para que ele nã o cruze a linha da propriedade ecumê nica ao levantar questõ es embaraçosas sobre as reivindicaçõ es
papais ou as implicaçõ es das açõ es tomadas por papas individuais, concı́lios ecumê nicos e outras agê ncias
autorizadas da Igreja. Em qualquer caso, as caracterı́sticas acima mencionadas deste livro - alé m dos resumos da
vida de cada papa e de seus ponti icados - nã o fazem parte do volume esplê ndido e ú til do Cô nego Kelly.
Existem també m dicioná rios enciclopé dicos (ou simplesmente dicioná rios) do papado em outras lı́nguas. Em
italiano, há uma excelente Storia dei Papi , ricamente ilustrada, em dois volumes , de Francesco Gligora e Biagia
Catanzaro (1989) e um Dizionario Enciclopedico dei Papi , mais compacto, mas substantivo, em um volume , de
Battista Mondin (1995). Em alemã o existe um Die Päpste in Lebensbildern , de um volume , de Josef Gelmi (1989), que,
ao contrá rio dos outros, situa os papas em vá rios perı́o dos histó ricos (por exemplo, o inı́cio da Idade Mé dia, o
Renascimento, da Revoluçã o Francesa à a Primeira Guerra Mundial) e apresenta cada seçã o com um breve
comentá rio histó rico. Mas algumas das entradas desse volume sã o extraordinariamente breves. Finalmente, em
francê s, há um Dictionnaire historique de la papauté de um volume impressionantemente amplo , um esforço coletivo
de mais de duzentos estudiosos sob a direçã o de Philippe Levillain (1994). Inclui muitas entradas sobre tó picos
listados no glossá rio deste livro e conté m uma rica variedade de atraentes fotos coloridas e mapas. Uma
desvantagem é que, ao contrá rio dos outros volumes mencionados acima, o material sobre os papas teve que ser
organizado em ordem alfabé tica em vez de cronologicamente. Perde-se, portanto, o sentido do desenvolvimento
histó rico. Em vez disso, torna-se uma obra de referê ncia por si só , em vez de um livro que se possa ler de capa a
capa. Alé m disso, as entradas sã o escritas por um grupo grande e muito diverso de autores. O que se ganha em
termos de profundidade e especializaçã o mais concentradas pode ser perdido em termos de coerê ncia e
consistê ncia de estilo e conteú do. Mas para quem lê francê s, é uma obra de referê ncia excelente e extremamente
valiosa. Na verdade, ao escrever meu pró prio livro, con iei em todas essas obras, em um grau ou outro, e també m
nas entradas individuais de cada um dos papas na monumental New Catholic Encyclopedia (quatorze volumes, mais
um volume de ı́ndice e quatro volumes suplementares), originalmente publicado sob copyright da The Catholic
University of America em 1967. Este ú ltimo recurso, entretanto, re lete em mais do que algumas das entradas sobre
os papas um retrato pré -Vaticano II, quase triunfalista do papado. Há uma tendê ncia a explicar os crimes papais e as
polı́ticas e iniciativas papais desastrosas, e evitar abordar suas implicaçõ es teoló gicas de importâ ncia crucial. Mas
algumas das entradas sã o excelentes e a enciclopé dia como um todo é uma conquista maravilhosa.
Duas outras fontes també m merecem mençã o especial. Tenho grande interesse no primeiro, como seu editor geral.
Essa é a já mencionada HarperCollins Encyclopedia of Catholicism , que se provou repetidas vezes como uma obra de
referê ncia extraordinariamente valiosa, nã o apenas para o material relativo ao papado, mas també m para muitos
outros tó picos teoló gicos e histó ricos relacionados. Sem esse recurso - produto de tantos estudiosos e alunos
excelentes com os quais tive orgulho de trabalhar - nã o poderia ter concluı́do este livro dentro do tempo que a
editora me reservou. A outra fonte a que iz referê ncia constante é o clá ssico virtual The Oxford Dictionary ofthe
Christian Church , editado por FL Cross e EA Livingstone (segunda ediçã o, 1974). També m aproveitei a terceira
ediçã o, que surgiu no inı́cio de 1997.
No entanto, o que um nã o-historiador como eu icou surpreso ao descobrir enquanto vasculhava seu caminho por
meio dessas diversas fontes secundá rias é o grande nú mero de discrepâ ncias, inconsistê ncias e erros absolutos em
relaçã o a datas e nomes e à s vezes até mesmo em relaçã o aos detalhes de eventos histó ricos signi icativos, como
eleiçõ es papais. Apreciamos mais plenamente como o pecado original é transmitido de geraçã o em geraçã o.
Analogamente, a transmissã o do erro factual acontece nos estudos histó ricos o tempo todo. Um autor con ia em
outro, que con ia, por sua vez, em outro, e este con ia em outro - e assim por diante.
Dado o imenso territó rio histó rico aqui coberto, o leitor pode estar moralmente certo de que també m existem
erros factuais neste livro, apesar dos esforços feitos para detectá -los e eliminá -los. Espera-se, entretanto, que
nenhum dos erros distorça ou invalide o per il bá sico de um papa ou ponti icado individual, ou especialmente as
aná lises teoló gicas do livro e a perspectiva eclesioló gica abrangente. O magistral Oxford Dictionary da Christian
Church , por exemplo, passou por vá rias ediçõ es, cada vez corrigindo erros detectados em versõ es anteriores. E, sem
dú vida, JND Kelly descobriu, ou tomou conhecimento de, uma sé rie de erros em seu pró prio livro excelente. Até o
melhor de nó s é humano e pode cometer um ou dois erros.
A originalidade deste livro consiste, em primeiro lugar, no material selecionado do vasto corpo da literatura
secundá ria como teoló gica e historicamente pertinente, bem como potencialmente interessante para um leitor nã o
especializado; segundo, na organizaçã o do material em perı́o dos histó ricos particulares, com introduçõ es
apropriadas; terceiro, e especialmente, nas interpretaçõ es teoló gicas e pastorais fornecidas ao longo; e quarto, nas
vá rias caracterı́sticas destinadas a expandir e complementar a compreensã o e apreciaçã o do leitor pela instituiçã o
do papado e seus muitos e diversos ocupantes.
O livro é uma obra de referê ncia para ser usada à medida que surgem perguntas ou é um livro para ser lido como
qualquer outro, do inı́cio ao im? E ambos. Mas pretende-se, em primeira instâ ncia, como um livro a ser lido como
qualquer outro, de capa a capa. Depois disso, pode servir de referê ncia, para ser consultado sempre que algué m
tiver dú vidas sobre o papado ou papas individuais.
Talvez a parte mais controversa do livro (alé m de sua visã o crı́tica predominante de vá rias suposiçõ es bı́blica e
historicamente ingê nuas sobre a estrutura da Igreja em geral e a natureza e autoridade do ofı́cio papal em
particular) serã o as avaliaçõ es dos papas como "excelente", "bom" (ou "acima da mé dia"), "pior" e "historicamente
importante". Os cató licos, em particular, nã o estã o acostumados a ler julgamentos francos e comparativos sobre o
cará ter e o desempenho dos vá rios sucessores de Sã o Pedro. Alguns deles até acham irreverente ou ı́mpio fazer isso.
Alé m disso, estudiosos e nã o-acadê micos sem dú vida discutirã o com a colocaçã o de papas individuais em categorias
especı́ icas e a ausê ncia de outros de uma ou outra categoria. Mas a adiçã o desse recurso terá servido bem ao seu
propó sito se estimular um interesse mais vivo nos papas e no papado, e especialmente se ajudar as pessoas a
perceber que os papas nã o surgem de um cortador de biscoitos celestial, que frequentemente diferem nitidamente
de um de outro (em personalidade, estilo de liderança, espiritualidade, teologia e até moralidade), que muitas vezes
há mais polı́tica do que piedade envolvida na seleçã o de um novo papa, e que nossas pró prias visõ es pessoais dos
vá rios papas sã o na verdade re lexos de nossos visõ es nã o apenas do papado, mas també m da Igreja e da pró pria
religiã o. Aqueles, por exemplo, que consideram Bonifá cio VIII como um dos melhores papas da Igreja, e nã o um dos
seus piores, como este livro a irma, estã o evidentemente trabalhando com uma eclesiologia diferente daqueles que
concordam com o julgamento do livro de que o Papa Joã o XXIII é o o papa mais notá vel de toda a histó ria. Mas
vamos começar as discussõ es!
Resta apenas a tarefa sempre agradá vel de agradecer à queles que contribuı́ram de forma signi icativa para a
conclusã o deste livro. Thomas Grady, ex-vice-presidente e editor executivo da Harper San Francisco, propô s
originalmente o livro e ofereceu orientaçã o e incentivo importantes ao longo do caminho. Trabalhei em estreita
colaboraçã o com John B. Shopp, ex-Editor Sê nior da Harper San Francisco durante os está gios iniciais deste projeto
e anteriormente na revisã o e atualizaçã o do Catolicismo (1994), bem como da HarperCollins Encyclopedia of
Catholicism (1995). A fase inal de produçã o estava nas mã os competentes de Terri K. Leonard, editora
administrativa, e Karen Levine, editora assistente. Judith Kleppe foi responsá vel pela seçã o de fotos do livro. Minha
pró pria assistente por doze anos, Donna J. Shearer, prestou uma assistê ncia inestimá vel ao coletar e compilar
materiais de pesquisa pertinentes, auxiliando na produçã o das listas de papas e antipapas e, especialmente,
mantendo todos os meus outros compromissos em ordem para que eu pudesse preservar tempo su iciente para
este. Beverly M. Brazauskas, uma educadora religiosa de muitos anos, preparou o ı́ndice de assuntos e leu o
manuscrito para ajudar a garantir que o conteú do e o estilo atraı́ssem o interesse do leitor em geral. Minha
assistente de pó s-graduaçã o, Sally M. Vance-Trembath, uma estudante de doutorado em teologia sistemá tica em
Notre Dame, executou uma sé rie de tarefas ú teis de e para a biblioteca da universidade, garantindo que eu tivesse
todas as referê ncias de que precisava e no momento precisava deles. També m sou muito grato a Robert J. Wister,
padre da arquidiocese de Newark e professor associado de Histó ria da Igreja na Escola de Teologia da Universidade
Seton Hall, por ler todo o manuscrito e por ajudar a reduzir o nú mero de erros e inconsistê ncias que escapou para a
versã o inal deste livro. Nem é preciso dizer que nem ele nem ningué m, exceto o autor, é responsá vel pelas opiniõ es
e julgamentos aqui expressos. Ao contrá rio da HarperCollins Encyclopedia of Catholicism , este tem sido, na maior
parte, um projeto solo - o que signi ica que, se eu icar tentado a receber quase todo o cré dito, també m terei que
assumir quase toda a culpa por tudo o que de iciê ncias permanecem. Só espero que o leitor goste de usar este livro
tanto quanto gostei de escrevê -lo.
Richard P. McBrien
Universidade de Notre Dame
Março de 1997
Linha do tempo
1- Cristianismo estabelecido em Roma (cerca de 40 anos) 1- Imperadores romanos: Tibé rio (14–37), Calı́gula (37–41), Clá udio 41–
100 100 54), Nero (54–68), Domiciano (ca. 81-ca. 96)
Pedro vem a Roma (ca. inı́cio dos anos 60)
Perseguiçõ es por Nero (ca. 64), Domiciano (ca. 81 – ca. 96) e Trajano
(ca. 98–117)
100 Pio I (ca. 142 – ca. 155): o monoepiscopado começa em Roma 100 Imperadores romanos: Trajano (ca. 98–117), Antonino Pio (138–61),
Marco Auré lio (161–80), Sé timo Severo (193–211)
Victor I (189-98): o primeiro papa a tentar impor os padrõ es romanos
em outros lugares (em relaçã o à data da Pá scoa)
Pontian (230-35): o primeiro papa a abdicar Imperadores romanos: Decius (249–51), Gallus (251–53), Valerian
Stephen I (254–57): entrou em confronto com Cipriano de Cartago por (253–60), Gallienus (260–68), Diocleciano (284–305)
300 Perseguiçã o iniciada por Diocleciano (303-13) 300 Inı́cio do perı́odo clá ssico das civilizaçõ es mesoamericanas (300-800)
Constantino apresenta a Melquı́ades (311-14) o Palá cio de Latrã o Inı́cio da dinastia Gupta na India (ca. 320)
Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325) Sede do Impé rio Romano mudou-se para Constantinopla (331)
Primeira Bası́lica de Sã o Pedro construı́da (ca. 330) O Impé rio se divide novamente em Ocidente e Oriente (340)
Primeiro Concı́lio de Constantinopla (381): Credo Niceno- Começam as migraçõ es bá rbaras (ca. 375 – ca. 568)
Constantinopolitano Teodó sio, o Grande (392-95): ú ltimo governante do impé rio unido
Siricius (384-99): primeiro papa a emitir decretos
400 Inocê ncio I (401-17): alegou autoridade suprema de ensino; sucedeu 400 As migraçõ es bá rbaras continuam
seu pai como papa
Visigodos invadem Itá lia (401)
Agostinho de Hipona (354–430) Alaric captura e saqueia Roma (410)
Concı́lio de Efeso (431) Vâ ndalos saqueiam Roma (455)
Patrick (ca. 390-ca. 461): missã o à Irlanda (ca. 431)
Fim dos imperadores romanos ocidentais (476)
Papa Leã o, o Grande (440-61): alegou autoridade suprema e universal Teodorico funda o reino ostrogodo da Itá lia (493)
para o papa
Clovis, rei dos francos, se converte ao cristianismo (496)
Conselho de Calcedô nia (451)
Acacian Schism (482-519)
Gelá sio I (492-96): primeiro papa a ser chamado Vigá rio de Cristo
500 Symmachus (498-514): primeiro papa a conceder o pá lio a um bispo 500 Justiniano, o Grande (527-65)
fora da Itá lia
Fim da dinastia Gupta na India (ca. 550)
Bento de Nursia (ca. 480 – ca. 547) funda Monte Cassino (ca. 525) Roma e Ná poles anexadas ao Impé rio Oriental (Bizantino) (553)
Joã o II (533-35): primeiro papa a mudar seu nome de nascimento Os lombardos expulsam os bizantinos do norte da Itá lia (565)
como papa
600 Honó rio I (625-38): condenado postumamente por Constantinopla III 600 Muhammad (570-632)
por monotelismo
As migraçõ es bá rbaras terminam na Europa Ocidental (ca. 600)
Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680-81) Arabes conquistam Jerusalé m (637) e destroem Cartago (697)
Contrové rsia monotelita
A aprovaçã o exigida pelos imperadores bizantinos das consagraçõ es
papais continua
700 Bonifá cio (ca. 675-754): missã o aos alemã es (719) 700 Cristianismo no Norte da Africa exterminado por muçulmanos (por
700)
Contrové rsia da iconoclastia (ca. 726-843)
Estê vã o II (III) (752-57): forma os Estados Papais (dados por Pepin III, Carlos Magno torna-se o ú nico governante do reino franco (771)
756)
800 Leã o III (795-816): Coroou Carlos Magno como imperador (800) 800 Carlos Magno coroado como primeiro imperador carolı́ngio (800)
Cirilo (826-69) e Metó dio (cerca de 815-85): missã o aos eslavos Arabes saqueiam Roma (846) e conquistam a Sicı́lia (878)
Bası́lica de Sã o Pedro saqueada por piratas muçulmanos (846) O imperador Bası́lio recaptura a Itá lia dos á rabes (880)
900 O papado afunda nas profundezas morais; dominado por famı́lias 900 Arabes expulsos da Itá lia central (916)
romanas
Otto I coroado Sacro Imperador Romano (962)
Mosteiro de Cluny fundado (909) Otto II coroado Sacro Imperador Romano (967)
Hungria é cristianizada (ca. 942) Otto III coroado Sacro Imperador Romano (996)
Joã o XII (955–64): eleito aos dezoito anos; um dos papas mais corruptos
da histó ria
1000 Clemente II (1046–47): primeiro papa a permanecer bispo de sua ex- 1000 Muçulmanos saqueiam a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalé m (1009)
diocese
Batalha de Hastings (1066)
Começa o cisma leste-oeste (1054) Henrique IV excomungado por Gregó rio VII (1076)
Nicolau II (1058–61): eleiçõ es papais limitadas aos cardeais Henrique IV aprisiona Gregó rio VII (1084)
Gregó rio VII (1073–85): papa reformador; reivindicou autoridade
Cruzados capturam Jerusalé m (1099)
sobre toda a Igreja
1100 Primeiro Concı́lio de Latrã o (1123) 1100 Henrique V é coroado pelo Sacro Imperador Romano (1111)
Segundo Conselho de Latrã o (1139) Lothair III é coroado pelo Sacro Imperador Romano (1133)
Eugenius III (1145–53): primeiro papa cisterciense Frederico Barbarossa coroado imperador do Sacro Impé rio Romano
1200 Inocê ncio III (1198-1216): alegou autoridade sobre todo o mundo 1200 Os cruzados capturam Constantinopla, estabelecem o impé rio latino
cristã o (1204)
Quarta à Sé tima Cruzadas (1202–54) Inglaterra e Irlanda tornam-se feudos papais (1213)
Quarto Conselho de Latrã o (1215) Dinastia Sung derrubada por Kublai Khan (1279)
Gregó rio IX (1227–41): Inquisiçã o papal estabelecida (1231) As cruzadas terminam formalmente (1291)
Nicolau III (1277-80): primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua
residê ncia
Bonifá cio VIII (1295-1303): declarou que toda criatura está sujeita ao
papa
1300 Primeiro Ano Santo (1300) 1300 Peste Negra na Europa (1347-49)
Papado de Avignon (1309-77) Os bizantinos perdem a ú ltima posse na Asia Menor para os turcos
Martin V (1417-31): sua eleiçã o encerrou o Grande Cisma Ocidental Queda de Constantinopla para os turcos (1453)
Nicolau V (1447-55): o primeiro dos papas da Renascença Lorenzo de 'Medici governa Florença (1469-1492)
Sisto IV (1471-84): construiu a Capela Sistina Começa o comé rcio de escravos africanos (ca. 1482)
Alexandre VI (1492-1503): o papa mais infame da histó ria Judeus expulsos da Espanha (1492)
Adriano VI (1522-1523): o ú nico papa holandê s; ú ltimo nã o italiano até Inı́cio do impé rio Mogol na India (1526)
Joã o Paulo II (1978) Thomas More executado (1535)
A Reforma Inglesa começa (1534) Maria sucede a Eduardo VI (1553)
Fundaçã o da Sociedade de Jesus (Jesuı́tas) (1534)
Isabel I sucede Maria (1558)
Paulo III (1534-1549): estabeleceu o Santo Ofı́cio; convocou o Concı́lio Catacumbas romanas descobertas (1578)
de Trento
Adotado o calendá rio gregoriano (1582)
Missã o jesuı́ta na India (1542–45, 1548–49)
Derrota da Armada Espanhola (1588)
Concı́lio de Trento (1545–63)
1600 Catolicismo barroco (ca. 1600 – ca. 1750) 1600 Inı́cio do shogunato Tokugawa no Japã o (1600)
O missioná rio jesuı́ta Matteo Ricci admitido em Pequim (1601) Primeiros escravos africanos trazidos para a Amé rica do Norte (1619)
Paulo V (1605-21): censurado Galileu Peter Minuit compra a ilha de Manhattan por $ 24 (1626)
Gregó rio XV (1621-23): decretou eleiçõ es papais por voto secreto Harvard College é fundada (1636)
Urbano VIII (1623-44): consagrada Bası́lica de Sã o Pedro (1626); Isaac Newton (1642–1727)
Castel Gandolfo como residê ncia de verã o Dinastia Ming substituı́da por Ch'ing (Manchu) na China (1644)
Galileu preso (1633) Paz de Westfá lia (1648)
Jansenismo (ca. 1640-ca. 1800)
Galicanismo (1682-1789)
1700 Clemente XI (1700-21): proibiu o uso de ritos chineses 1700 Declaraçã o Americana de Independê ncia (1776)
Clemente XIV (1769-74): suprimiu os jesuı́tas (1773) Constituiçã o dos EUA (1788)
Gregó rio XVI (1831-46): ú ltimo nã o-bispo eleito papa Fim do Sacro Impé rio Romano (1806)
Pio IX (1846-1878): o ponti icado mais longo Guerras de independê ncia hispano-americanas (1808-1829)
Perda de Roma e arredores, ú ltimo dos territó rios papais (1870) Guerra Civil Americana (1861-65)
Leã o XIII (1878–1903): Rerum novarum (1891); segundo ponti icado Proclamaçã o de Emancipaçã o dos EUA (1863)
1900 Pio X (1903–14): juramento contra o modernismo (1910) 1900 Sigmund Freud (1856–1939)
Bento XV (1914–22): campanha antimodernista interrompida Estabelecida a Comunidade da Austrá lia (1901)
Có digo de Direito Canô nico (1917) Nova Zelâ ndia atinge o status de Domı́nio (1907)
Pio XI (1922–39): primeiro papa a usar o rá dio; nazismo condenado Repú blica chinesa estabelecida (1911)
Pio XII (1939–58): primeiro papa a usar a televisã o Revoluçã o Russa (1917–18)
Dogma da Assunçã o (1950) Estabelecido Estado Livre da Irlanda (1922)
Joã o XXIII (1958–63): o papa mais amado da histó ria Frank D. Roosevelt eleito presidente dos EUA (1932)
Paulo VI (1963-78): primeiro papa a viajar de aviã o Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
Joã o Paulo I (1978): primeiro papa a nã o ser coroado em um sé culo ou Segunda Guerra Mundial (1939–45)
mais Carta das Naçõ es Unidas (1945)
Joã o Paulo II (1978–2005): primeiro papa eslavo; o papa mais viajado Guerra Fria (1945–89)
da histó ria
Repú blica da Irlanda estabelecida (1949)
Có digo de Direito Canô nico Revisto (1983)
Repú blica Popular da China estabelecida (1949)
Catecismo da Igreja Católica (1992)
John F. Kennedy assassinado (1963)
Bento XVI (2005–): o homem mais velho eleito para o papado desde
Guerra do Vietnã (1965–73)
1730; sexto papa nascido na Alemanha
Colapso do comunismo (1989)
UMA PESSOA TRADIÇAO CATOLICA, COMEÇANDO NO inal do segundo e inı́cio do terceiro sé culo, considera Sã o Pedro como o
primeiro bispo de Roma e, portanto, como o primeiro papa, nã o há evidê ncias de que Pedro esteve envolvido no
estabelecimento inicial da comunidade cristã em Roma (na verdade, as evidê ncias que existem parecem apontar na
direçã o oposta) ou que ele serviu como o primeiro bispo de Roma. Somente no ponti icado de Sã o Pio I em meados
do sé culo II (c. 142 – c. 155) a igreja romana teve uma estrutura de governo monoepiscopal (um bispo como lı́der
pastoral de uma diocese). Aqueles que a tradiçã o cató lica listou como sucessores imediatos de Pedro (Linus,
Anacletus, Clement, et al.) Nã o funcionaram como o ú nico bispo de Roma. (As listas de sucessã o foram transmitidas
por Santo Irineu de Lyon [m. Ca. 200] e pelo historiador Sã o Hegesipo [m. Ca. 180], e foram atestadas por Eusé bio
de Cesaré ia [m. Ca. 339], muitas vezes chamado de “Pai da Histó ria da Igreja”.) A comunidade romana parece ter tido
uma forma corporativa ou colegiada de liderança pastoral. Aqueles contados entre os primeiros papas, portanto,
podem muito bem ter sido simplesmente os indivı́duos que presidiram o conselho local de anciã os ou presbı́teros-
bispos. Ou podem ter sido os lı́deres pastorais mais proeminentes da comunidade. Em qualquer caso, os papas dos
primeiros quatro sé culos - isto é , até o papado divisor de á guas de Leã o I em meados do sé culo V - funcionaram com
autoridade relativamente limitada alé m de Roma e seus arredores imediatos.
Por exemplo, o Papa Silvestre I (314-35) parece nã o ter exercido nenhuma in luê ncia discernı́vel sobre o primeiro
concı́lio ecumê nico realizado em Nicé ia em 325. Ele nã o o convocou nem compareceu. O mesmo pode ser dito do
Papa Dâ maso I (366-84) com respeito ao segundo concı́lio ecumê nico realizado em Constantinopla em 381, e do
Papa Celestino I (422-32) com respeito ao terceiro concı́lio ecumê nico realizado em Efeso em 431. E quando os
cismá ticos donatistas no norte da Africa apelaram ao imperador Constantino para anular uma decisã o do Papa
Melquı́ades, o imperador convocou um conselho de representantes de todas as provı́ncias ocidentais para se reunir
em Arles em 1 de agosto de 314. Melquı́ades morreu vá rios meses antes do conselho. realmente se reuniram, mas é
signi icativo que o imperador, ao convocar o concı́lio, nã o tenha considerado a decisã o do papa como inal e que nem
Melquı́ades nem seu sucessor izeram objeçõ es à açã o do imperador.
Tampouco há qualquer evidê ncia de que os bispos de Roma realmente governaram outras igrejas locais,
legislaram para elas ou nomearam seus bispos. No má ximo, os bispos de Roma durante esses primeiros quatro
sé culos podem ter exercido uma espé cie de autoridade metropolitana sobre as vizinhas sedes italianas, que vieram a
ser conhecidas como sedes suburbicá rias. Mas há menos evidê ncia até mesmo para isso do que há para a autoridade
claramente “soberana” exercida pela sé de Alexandria sobre todas as igrejas do Egito e da Cirenaica. De fato, quando
o Papa Jú lio I agiu em apoio a Santo Ataná sio apó s sua segunda expulsã o de Alexandria em 339, é signi icativo que
Jú lio justi icou sua intervençã o nã o com base no primado petrino, ao qual papas posteriores apelariam, mas com
base do costume eclesiá stico e da colegialidade do episcopado. E quando Celestino I (422-32) reabilitou um
presbı́tero excomungado pelos bispos africanos e que mais tarde admitiu sua culpa, os bispos africanos castigaram o
papa por nã o respeitar sua autonomia e por entrar em comunhã o com pessoas que haviam excomungado, uma
prá tica, lembraram-lhe que isso era expressamente proibido pelo Concı́lio de Nicé ia (325). Somente no ponti icado
de Leã o, o Grande (440-61) a reivindicaçã o da jurisdiçã o papal universal (ou seja, sobre toda a Igreja, tanto no
Oriente como no Ocidente) foi articulada e começou a ser exercida de uma maneira realmente decisiva.
Pouco se sabe sobre esses primeiros papas. Há razã o para acreditar, entretanto, que, como Pedro, muitos, senã o
todos, eram casados. Pelo menos quatro desses primeiros papas eram ilhos de sacerdotes: Sisto I (ca. 116 – ca.
125), Dâ maso I (366–84), Bonifá cio I (418–22) e Inocê ncio I (401–17), cujo meu pai nã o era apenas um sacerdote,
mas també m um papa, Anastá cio I (399–401). Se o Papa Anastá cio I nã o fosse casado, seu ilho seria ilegı́timo e,
portanto, inelegı́vel para a ordenaçã o sacerdotal, muito menos para a eleiçã o para o papado.
O primeiro papa que estendeu a mã o para a irmar sua autoridade alé m das fronteiras de sua pró pria comunidade
eclesiá stica e de suas sedes subú rbios foi Victor I (189-98), um africano. Foi Victor quem ordenou que outras igrejas
se conformem com a prá tica romana de celebrar a Pá scoa no domingo seguinte ao dé cimo quarto dia do mê s judaico
de Nisan (o dia da Pá scoa). Por sua insistê ncia, sı́nodos foram realizados em vá rias partes do mundo cristã o antigo,
da Gá lia (atual França) à Mesopotâ mia (atual Iraque), onde se tornou gradualmente claro que a maioria estava de
acordo com o Papa Victor. Mas quando Victor presumiu excomungar aqueles que discordassem de sua decisã o, ele
foi repreendido por nã o menos igura proeminente da Igreja primitiva do que Santo Irineu de Lyon, que claramente
lembrou ao papa que todos os seus predecessores foram indulgentes com a diversidade de prá ticas e nã o ousou
recorrer à arma de initiva da excomunhã o.
Quando os papas começaram a se envolver em disputas teoló gicas com os lı́deres pastorais de outras igrejas, eles
à s vezes eram rejeitados como intrusos ou, pior, por terem pontos de vista errô neos. Por exemplo, o Papa Estê vã o I
(254-57) e Sã o Cipriano (m. 258), bispo de Cartago, entraram em con lito sobre a questã o da validade do batismo
administrado por hereges e cismá ticos. Cipriano seguia a crença e prá tica da maioria das igrejas do Norte da Africa,
Sı́ria e Asia Menor, a saber, que aqueles batizados por hereges e cismá ticos deveriam ser rebatizados se quisessem
entrar ou se reconciliar com a Igreja Cató lica. Estevã o representou a tradiçã o de Roma, Alexandria e Palestina, que
sustentava que os batismos por hereges e cismá ticos sã o vá lidos e que a ú nica condiçã o exigida para aqueles que
buscam entrar ou se reconciliar com a Igreja Cató lica era a absolviçã o de seus pecados pela imposiçã o de mã os.
Quando Estê vã o ameaçou quebrar a comunhã o com todas as igrejas que praticavam o rebatismo, ele foi implorado
pelo Bispo Dionı́sio de Alexandria (m. 264/5), ele mesmo um defensor da posiçã o romana, para nã o seguir uma
linha tã o dura. A situaçã o certamente teria piorado se Estê vã o nã o tivesse morrido no meio da contrové rsia.
Este incidente foi indicativo da tendê ncia emergente do papado de reivindicar autoridade pastoral sobre as igrejas
locais fora de Roma, mas també m da prontidã o de outros bispos para confrontar e desa iar o bispo de Roma quando
sentiram que ele estava indo longe demais na aplicaçã o da pastoral prá tica ou disciplina. Stephen I parece ter sido o
primeiro papa a apelar para o clá ssico “você é Pedro. . . ” texto do Evangelho de Mateus (16:18) como base do
primado romano. O papa Dâ maso I (366-84), que garantiu do imperador Graciano o direito dos bispos ocidentais de
apelar diretamente a Roma, costumava designar Roma como "a Sé Apostó lica" e refutava as reivindicaçõ es de
Constantinopla de igualar-se a Roma. Como Estevã o antes dele, Dâ maso també m aplicou o texto de Mateus ao
primado romano. Seu sucessor imediato, o Papa Siricius (384–99), determinou que nenhum bispo deveria ser
consagrado sem seu conhecimento (embora nã o necessariamente sua aprovaçã o ou autorizaçã o). Mais
vigorosamente do que qualquer papa anterior havia feito, o papa Inocê ncio I (401-17) reivindicou a suprema
autoridade do ensino e acolheu (e esperava) apelos de vá rias igrejas em questõ es de disputa doutriná ria. Como
Inocê ncio, o Papa Bonifá cio I (418-22) promoveu enfaticamente a autoridade do ofı́cio papal, uma vez escrevendo:
“Nunca foi legal que o que uma vez foi decidido pela Sé Apostó lica fosse reconsiderado.” E, no entanto, seu pró prio
sucessor imediato, o Papa Celestino I (422-32), desempenhou um pequeno papel no grande conselho cristoló gico
realizado em Efeso em 431 - um conselho preocupado com as naturezas humana e divina de Jesus Cristo e com a
questã o de se Maria poderia ser considerada a Mã e de Deus. Essa era a lacuna que frequentemente existia entre a
retó rica papal e a realidade pastoral no inı́cio da histó ria do papado - isto é , antes do ponti icado de Leã o, o Grande
(440-61).
1
1 Pedro, Apóstolo, São, Galileu, d. ca. 64
O apó stolo principal de Jesus, que a tradiçã o cató lica considera como o primeiro papa, Pedro nasceu na aldeia de
Betsaida, no mar da Galilé ia. (A primeira lista de sucessã o, no entanto, identi icou Linus, nã o Pedro, como o primeiro
papa. Pedro nã o foi considerado o primeiro bispo de Roma até o inal do segundo ou inı́cio do terceiro sé culo.) O
nome hebraico original de Pedro era šim'ôn , traduzido em Grego como Simon ( 00028). També m foi traduzido como
Simeã o ( 00030) duas vezes no Novo Testamento: Atos 15:14 e 2 Pedro 1: 1. Jesus deu-lhe um novo nome, a palavra
aramaica para rocha, kêp 0' , mais tarde transliterada para o grego como 00047( Kephas ). Mas o nome Kephas
aparece apenas nove vezes no Novo Testamento, uma vez em Joã o e oito vezes nas Cartas de Paulo. O nome Pedro é
uma traduçã o grega da palavra aramaica, kêp 0' , e é usado mais de 150 vezes nos Evangelhos e nos Atos dos
Apó stolos. Esse nome transmitia aos cristã os de lı́ngua grega muito mais sobre a funçã o de Pedro na Igreja do que o
evasivo Kephas . O nome duplo Simã o Pedro ocorre cerca de vinte vezes no Novo Testamento, principalmente em
Joã o.
Que Pedro era casado e permaneceu assim mesmo depois de se tornar um discı́pulo de Jesus é claro no relato da
cura de Jesus da sogra de Pedro (Marcos 1: 29-31) e na referê ncia de Paulo ao fato de que Pedro e o outro os
apó stolos levavam suas esposas em suas viagens apostó licas (1 Corı́ntios 9: 5). A crença piedosa de que os
apó stolos, incluindo Pedro, “repudiaram” suas esposas assim que receberam o chamado de Jesus nã o tem base
histó rica. Em vez disso, surge da suposiçã o equivocada e essencialmente anticristã de que o celibato é mais virtuoso
do que o casamento, porque a intimidade sexual de alguma forma compromete o compromisso total com Deus e
com as coisas do espı́rito.
O papel singular de Pedro no Novo Testamento: A tradiçã o cató lica considera Pedro como o primeiro papa por causa
da comissã o especial que ele recebeu de Jesus Cristo e por causa do status ú nico de que desfrutou e do papel central
que desempenhou no colé gio dos doze apó stolos. Ele foi o primeiro discı́pulo a ser chamado por Jesus (Mateus 4:
18–19). Ele serviu como porta-voz dos outros apó stolos (Marcos 8:29; Mateus 18:21; Lucas 12:41; Joã o 6: 67–69).
De acordo com a tradiçã o de Paulo e Lucas (1 Corı́ntios 15: 5; Lucas 24:34), ele foi o primeiro a quem o Senhor
apareceu apó s sua ressurreiçã o. (Maria Madalena é a principal testemunha da Ressurreiçã o na tradiçã o de Mateus,
Joã o e o apê ndice marcano, mas mesmo em Marcos o anjo na tumba instrui Maria Madalena e as outras mulheres a
"ir e contar a seus discı́pulos e a Pedro" [ 16: 7].) Pedro é , de fato, o mais freqü entemente comissionado dos Doze
apó s a ressurreiçã o. Ele també m é o discı́pulo mais freqü entemente mencionado em todos os quatro Evangelhos e é
regularmente listado como o primeiro entre os Doze (Marcos 3: 16–19; Mateus 10: 1–4; Lucas 6: 12–16). Este ú ltimo
ponto, ao lado de outros, é de particular importâ ncia porque, no mundo antigo, o respeito e a autoridade residiam
no primeiro de uma linha, no primogê nito ou no primeiro escolhido. Ele é , portanto, proeminente na comunidade
original de Jerusalé m - descrito por Paulo como um de seus “pilares” (Gá latas 2: 9) - e é bem conhecido por muitas
outras igrejas (Atos 1: 15–26; 2: 14–40; 3 : 1–26; 4: 8; 5: 1-11, 29; 8: 18–25; 9: 32–43; 10: 5; 12:17; 1 Pedro 2:11;
5:13). Foi Pedro quem deu o passo decisivo para ordenar o batismo do gentio Corné lio sem primeiro requerer a
circuncisã o (Atos 10). Embora Paulo tenha falado do ministé rio de Jesus como sendo dirigido aos circuncidados
(Gá latas 2: 7), a in luê ncia de Pedro nas á reas gentı́licas é ó bvia (1 Corı́ntios 1:12; 1 Pedro 1: 1).
Por outro lado, seu papel nem sempre foi tã o singular. Ele freqü entemente compartilhava sua posiçã o de destaque
com Tiago e Joã o, constituindo com eles uma espé cie de elite interna dentro dos Doze. Os trê s acompanharam Jesus
à ressurreiçã o da ilha de Jairo (Marcos 5:37), na Trans iguraçã o (9: 2), no Monte das Oliveiras para um discurso
especial de despedida (13: 3), e ao Jardim do Getsê mani (14 : 33).
As atividades de Pedro nã o sã o relatadas apó s o Concı́lio de Jerusalé m, onde ele exerceu um papel importante,
embora nã o necessariamente “papal”, na abertura da missã o da Igreja aos gentios (Atos 15: 7–12).
Signi icativamente, foi Tiago, nã o Pedro, quem presidiu o conselho e rati icou suas decisõ es. No entanto, há um
acordo crescente entre historiadores e estudiosos da Bı́blia de que Pedro foi a Roma e foi martirizado lá (por
cruci icaçã o, de acordo com o teó logo norte-africano Tertuliano [morto em cerca de 225]). O lı́der romano Clemente
(considerado o terceiro sucessor de Pedro, ca. 91 – ca. 101) descreve os julgamentos de Pedro em Roma ( 1
Clemente 5: 4), e Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339) relata uma histó ria antiga sobre a cruci icaçã o de Pedro lá (
História Eclesiástica 2.25.5, 8). Santo Irineu de Lyon (falecido por volta de 200) assume que Pedro e Paulo fundaram
em conjunto a igreja de Roma e inauguraram sua sucessã o de bispos ( Contra as heresias 3.1.2; 3.3.3). No entanto,
nã o há nenhuma evidê ncia de que antes de sua morte Pedro realmente serviu a igreja de Roma como seu primeiro
bispo, embora o "fato" seja regularmente considerado certo por um amplo espectro de cató licos e outros (por
exemplo, no estudo do estudioso jesuı́ta Thomas Reese caso contrá rio, ó timo livro Inside the Vatican [Cambridge, MA:
Harvard University Press, 1996, p. 11]). Na verdade, nã o há nenhuma evidê ncia de que Roma sequer teve uma forma
monoepiscopal de governo eclesiá stico até meados do segundo sé culo. Como foi apontado anteriormente, entre as
cartas de Santo Iná cio de Antioquia (m. Ca. 107) à s sete igrejas do mundo cristã o antigo, a carta de Iná cio a Roma foi
a ú nica em que ele nã o faz qualquer mençã o a seu bispo. O antigo texto conhecido como O Pastor , atribuı́do a
Hermas, um membro leigo da comunidade romana, conté m indı́cios de disputas sobre a posiçã o entre os lı́deres da
igreja ( Visões 2.2.6; 3.9.7), que à s vezes sã o referidos como “os anciã os que estã o encarregados da Igreja ”(2.4.3).
Signi icativamente, as referê ncias estã o todas no plural. Onde os bispos sã o mencionados (novamente no plural), eles
geralmente estã o ligados a outros bispos, mestres e diá conos (3.5.1), como se a Igreja fosse uma torre em
construçã o e esses lı́deres estivessem contados entre suas pedras. No inal do segundo ou inı́cio do terceiro sé culo,
entretanto, Pedro foi identi icado na tradiçã o como o primeiro bispo de Roma. Mas a tradiçã o nã o é uma fá brica de
fatos. Nã o pode tornar algo um fato histó rico quando nã o o é .
Pedro é creditado por escrever duas cartas que fazem parte do câ non do Novo Testamento: 1 e 2 Pedro. Embora
os estudiosos da Bı́blia geralmente aceitem sua autoria da primeira, eles consideram imprová vel a autoria da
segunda. No entanto, como um compê ndio de tradiçõ es altamente lisonjeiras sobre Pedro, a segunda Carta é uma
importante testemunha da estatura que ele gozava e do respeito que lhe era concedido na Igreja primitiva. Diz-se
que ele teve, por exemplo, o dom de inspiraçã o (2 Pedro 1: 20–21) e recebeu revelaçõ es sobre futuros falsos
profetas (2: 1-3), tradiçõ es especiais sobre a Parusia ou Segunda Vinda de Cristo (3: 8) e a regeneraçã o do mundo
(3: 11-12). Um corpo de literatura apó crifa associada ao nome de Pedro surgiu no sé culo II: o Apocalipse de São
Pedro , os Atos de São Pedro e o Evangelho de São Pedro. Mesmo que nã o seja autenticamente petrino em sua autoria,
esses escritos atestam o crescente prestı́gio de Pedro na Igreja primitiva. O relato da cruci icaçã o de Pedro de cabeça
para baixo é derivado dessa literatura.
Pedro e o Primado: Na tradiçã o cató lica, a base bı́blica para associar o primado a Pedro está incorporada em trê s
textos: Mateus 16: 13-19; Lucas 22: 31–32; e Joã o 21: 15-19. O fato de Jesus nomear Pedro como a “rocha” ocorre
em trê s contextos diferentes nesses trê s Evangelhos levanta uma questã o sobre o cená rio original do pró prio
incidente. Os estudiosos nã o tê m certeza se a nomeaçã o ocorreu durante o ministé rio terreno de Jesus ou apó s a
Ressurreiçã o, com o que é chamado de “retrojeçã o” subsequente nos relatos do ministé rio terreno de Jesus. A
atribuiçã o do poder das chaves do reino certamente sugere uma medida impositiva de autoridade, dado o
simbolismo das chaves, mas nã o há indicaçã o explı́cita de que a autoridade conferida deveria ser exercida sobre os
outros, muito menos que fosse absolutamente moná rquico em espé cie (como reivindicado e exercido por papas
posteriores, especialmente na Idade Mé dia e até mesmo no inal do sé culo XX). Em Atos, de fato, Pedro é mostrado
consultando os outros apó stolos e até mesmo sendo enviado por eles (8:14). Ele e Joã o sã o retratados agindo como
uma equipe (3: 1–11; 4: 1–22; 8:14). E Paulo confronta Pedro por sua inconsistê ncia e hipocrisia em abandonar a
comunhã o à mesa com cristã os gentios em Antioquia, sob pressã o de alguns cristã os judeus que chegaram mais
tarde de Jerusalé m. Paulo “se opô s a ele frontalmente, porque ele claramente estava errado” (Gá latas 2:11; ver
també m 12–14).
Os estudiosos, no entanto, apontam para uma trajetó ria signi icativa de imagens relacionadas a Pedro e seu
ministé rio como uma base independente para as reivindicaçõ es primaciais. Ele é chamado de pescador (Lucas 5:10;
Joã o 21: 1-14), uma ocupaçã o que, de fato, ele e seu irmã o André haviam exercido, como pastor das ovelhas de
Cristo (Joã o 21: 15-17) , como o má rtir cristã o (Joã o 13:36; 1 Pedro 5: 1), como um anciã o que se dirige a outros
anciã os (1 Pedro 5: 1), como um proclamador da fé em Jesus como o Filho de Deus (Mateus 16:16 –17), como o
receptor de uma revelaçã o especial (Marcos 9: 2–8; 2 Pedro 1: 16–18; Atos 1: 9–16; 5: 1–11; 10: 9–16; 12: 7– 9),
como o guardiã o da verdadeira fé contra falsos ensinos e mal-entendidos (2 Pedro 1: 20-21; 3: 15-16), e, claro, como
a rocha sobre a qual a Igreja deve ser construı́da (Mateus 16 : 18).
Essa trajetó ria de imagens bı́blicas continuou na vida da Igreja primitiva, pó s-bı́blica, e essas imagens foram
enriquecidas por outras: pregador missioná rio, grande visioná rio, destruidor de hereges, receptor da nova lei,
porteiro do cé u, timoneiro do navio do Igreja, co-professor e co-má rtir com Paulo. Isso nã o quer dizer, é claro, que
Pedro foi retratado sempre e apenas de maneira positiva. Ele també m é apresentado como um homem fraco e
pecador. Ele é reprovado por Paulo (Gá latas 2: 11-14), nã o entende Jesus (Marcos 9: 5-6; Joã o 13: 6-11; 18: 10-11),
enfraquece a fé apó s começar a andar sobre as á guas (Mateus 14 : 30-31), é repreendido por Jesus (Marcos 8:33;
Mateus 16:23), e, apesar de jactos anteriores em contrá rio (Marcos 14: 29,31; Joã o 13:37), ele negou a Cristo (
Marcos 14: 66–72). Mas ele está sempre arrependido e acabou sendo reabilitado. O Senhor Ressuscitado aparece a
Pedro e ele se torna mais uma vez uma fonte de força para a Igreja (Lc 22,32).
A importâ ncia ú nica de Pedro como primeiro e principal discı́pulo de Jesus e como lı́der do colé gio dos doze
apó stolos é bastante clara. Nenhum papa na histó ria alcançou seu status, e nã o é por acaso que nenhum dos mais de
260 indivı́duos que a tradiçã o cató lica considera como seus sucessores assumiram o nome de Pedro II, incluindo
dois cujos nomes de batismo eram Pedro (Joã o XIV, eleito em 983, e Sé rgio IV, eleito em 1009). O que pode ser dito,
entretanto, sobre o signi icado duradouro de Pedro para o papado e para a pró pria Igreja?
Sucessão petrina: a histó ria fornece uma longa lista de papas seguindo Pedro, começando com Lino (ca. 66-ca. 78)
e continuando no sé culo XXI e no inı́cio do terceiro milê nio cristã o com papas como Pio XII (1939- 58), Joã o XXIII
(1958–63), Paulo VI (1963–78), Joã o Paulo I (1978), Joã o Paulo II (1978–2005) e Bento XVI (2005–). A tradiçã o
cató lica considera todos esses papas como sucessores de Pedro. Em que sentido eles sã o seus sucessores e em que
sentido nã o sã o?
Em pelo menos dois de seus papé is apostó licos, Pedro não poderia ter tido sucessores: primeiro, como o
cofundador tradicional com Paulo da Sé Apostó lica de Roma; e, segundo, como um dos Doze que foram testemunhas
pessoais do Senhor Ressuscitado. Esses sã o aspectos ú nicos, nã o repetı́veis e nã o transmissı́veis do apostolado de
Pedro. Por outro lado, os bispos de Roma continuam o ministé rio de Pedro de evangelizar o mundo e de manter a
unidade de toda a Igreja. Eles també m continuam a exercer dentro do colé gio de bispos o mesmo tipo de autoridade
pastoral que Pedro exerceu dentro da companhia original dos Doze. A palavra “continuar” é importante. Os papas
nã o sucedem Pedro no sentido de substituí- lo, como um recé m-empossado presidente dos Estados Unidos, por
exemplo, substitui seu antecessor. Os papas dã o continuidade ao ministé rio de Pedro, mas Pedro como tal é
insubstituı́vel. Só ele é a rocha sobre a qual a Igreja está construı́da.
De fato, para Sã o Cipriano de Cartago (m. 258), cada bispo em sua pró pria sé episcopal, ou diocese, é em certo
sentido um sucessor de Pedro. Como sucessores dos apó stolos, todos os bispos sã o sinais de unidade e portadores
da tradiçã o apostó lica. Santo Hilá rio de Poitiers (falecido em 367) també m se referiu a todos os bispos como
"sucessores de Pedro e Paulo". Santo Agostinho de Hipona (m. 430) assinalou que em Pedro toda a Igreja, e nã o
apenas Pedro, recebeu as chaves do reino. Alé m disso, as igrejas ortodoxas a irmam que Roma nã o é a ú nica sé em
que Pedro exerceu seu primado apostó lico e em que ocorreu uma sucessã o episcopal. Eles citam Antioquia como
uma dessas outras sedes apostó licas.
No entanto, é uma questã o de doutrina cató lica que a sucessã o petrina, como a sucessã o apostó lica, é um
desenvolvimento guiado pelo Espı́rito Santo e, nesse sentido, é de instituiçã o divina.
Ministério petrino: De acordo com a tradiçã o cató lica, o ministé rio que o Bispo de Roma exerce na qualidade de
Vigá rio de Pedro (ver abaixo) é uma continuaçã o do pró prio ministé rio de Pedro em nome da Igreja universal. Como
tal, é chamado de ministé rio petrino, que se acredita que Jesus conferiu a Pedro na Ultima Ceia, quando declarou:
“Rezei para que a tua fé nã o desfaleça; e depois de voltares, deves fortalecer os teus irmã os ”(Lucas 22:32). O
ministé rio de liderança pastoral exercido por Pedro na primeira parte dos Atos é o modelo e a norma para o
ministé rio petrino exercido pelo papa. Envolve testemunhar a fé , supervisionando a maneira como as igrejas locais
preservam e transmitem esta fé , fornecendo assistê ncia e encorajamento aos outros bispos em seu pró prio
ministé rio local e universal de proclamaçã o e defesa da fé , falando em nome dos bispos e de seus igrejas locais
quando surge a necessidade, e articulando a fé da Igreja em nome de toda a comunhã o das igrejas locais que juntas
constituem a Igreja universal. Em suma, o ministé rio petrino é o de um “servo dos servos de Deus” (lat., Servus
servorum Dei ): um servo de seus irmã os bispos e um servo de todo o Povo de Deus.
Vigário de Pedro: O tı́tulo mais tradicional concedido ao papa (a partir do inal do sé culo IV) é o de Vigá rio de
Pedro. O bispo de Roma nã o ocupa o lugar de Pedro. Ao contrá rio de Pedro, o papa nã o é apó stolo nem testemunha
ocular do Senhor Ressuscitado. Essas sã o qualidades que nã o podem ser transmitidas a quem segue. Os papas só
podem continuar o ministé rio de Pedro mantendo viva a fé que foi transmitida a eles. A palavra em inglê s mais
pró xima de “vigá rio” é “substituto”. Como um professor substituto em uma sala de aula, o papa substitui Pedro, mas
nã o o substitui. Embora o tı́tulo Vigá rio de Cristo seja praticamente sinô nimo hoje da pessoa e do ofı́cio do papa, ele
nã o tem o mesmo valor histó rico na tradiçã o cató lica que o de Vigá rio de Pedro. Originalmente, todos os bispos eram
considerados vigá rios de Cristo. Somente no ponti icado de Eugê nio III (1145–53) o tı́tulo de Vigá rio de Cristo se
identi icou exclusivamente com o Bispo de Roma. Posteriormente, o papa Inocê ncio III (1198-1216) apelou ao tı́tulo
como base de seu poder universal, mesmo sobre as autoridades temporais. No entanto, em 1964, o Concı́lio Vaticano
II a irmou que “os bispos governam as igrejas particulares que lhes sã o con iadas como vigá rios de Cristo e seus
embaixadores” (Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja, n. 27). O papa é Vigá rio de Cristo na medida em que é bispo, e
nã o na medida em que é papa. O tı́tulo que captura suas distintas responsabilidades petrinas é o de Vigá rio de Pedro.
Dia da festa (com Sã o Paulo): 29 de junho.
3 Anacletus [Cletus], St., grego (?), Ca. 79 – ca. 91 (76–88 na lista o icial do Vaticano).
O nome do segundo sucessor de Pedro, Anacletus, é na verdade Anencletus, um adjetivo grego que signi ica
“irrepreensı́vel”. Visto que també m era um nome comum para um escravo, pode ser um indicativo de suas origens
sociais. Cletus, o nome pelo qual ele é comemorado na Oraçã o Eucarı́stica I apó s o de Linus, é simplesmente uma
forma abreviada de Anacletus. Em algumas fontes antigas, os dois nomes foram assumidos incorretamente como
sendo os de dois papas diferentes.
Anacletus evidentemente exerceu uma posiçã o de liderança pastoral em Roma, mas a estrutura monoepiscopal
(també m conhecida como episcopado moná rquico) ainda nã o existia lá . Uma tradiçã o nã o con irmada é que, durante
seu ponti icado, ele dividiu Roma em vinte e cinco paró quias. O historiador da igreja Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca.
339) relata que ele morreu no dé cimo segundo ano do reinado do imperador Domiciano (81-96). A tradiçã o de que
ele morreu má rtir també m nã o foi atestada. Seu antigo dia de festa, 26 de abril, foi abandonado durante a reforma
do calendá rio litú rgico do Papa Paulo VI em 1969.
5 Evaristus, St., grego, ca. 100-ca. 109 (97–105 na lista o icial do Vaticano).
Evaristus é considerado pela tradiçã o cató lica como o quarto sucessor de Pedro. As primeiras listas de sucessã o, no
entanto, diferem quanto à duraçã o de seu ponti icado e até mesmo sobre seu lugar exato na lista. O historiador
Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339), por exemplo, indicou que Evaristo serviu por oito ou nove anos, enquanto o
Catá logo da Libé ria do sé culo IV (que o chamava de Aristo e o colocava depois de Anacletus em vez de Clemente)
calculava seu mandato como pouco menos de quatorze anos. Há pouca ou nenhuma informaçã o con iá vel sobre ele.
Especi icamente, nã o há base para a alegaçã o de que ele morreu como um má rtir e foi enterrado na colina do
Vaticano perto de Sã o Pedro. Duas cartas e dois fragmentos de decretais associados a ele nã o sã o autê nticos. O fato
de ele estar nas primeiras listas de sucessã o indica, no mı́nimo, que ele exerceu um papel proeminente de liderança
na igreja romana, embora nã o como seu ú nico bispo ou superintendente. A estrutura monoepiscopal (també m
conhecida como episcopado moná rquico) nã o chegou a Roma até meados do sé culo II, com o ponti icado de Sã o Pio
I (ca. 142 – ca. 155). Dia da festa: 26 de outubro.
7 Sixtus [Xystus] I, St., ca. 116 – ca. 125 (115-125 na lista o icial do Vaticano).
Sisto I é considerado pela tradiçã o cató lica como o sexto sucessor de Pedro, daı́ o nome latino Sisto (que signi ica
“sexto”), embora seja mais corretamente conhecido como Xisto. As datas de seu ponti icado sã o tã o incertas quanto
as de seus predecessores imediatos. As primeiras fontes geralmente concordam que durou cerca de dez anos. Pouco
ou nada mais se sabe sobre ele. O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de biogra ias papais compiladas pela primeira vez
em meados do sé culo VI) indica que ele era ilho de um padre e atribui a ele, sem base histó rica, um decreto que os
vasos sagrados (por exemplo, cá lices, ciboria) deveriam apenas ser tocado pelo clero e outro decreto que as pessoas
deveriam cantar o Sanctus (o “Santo, Santo, Santo” no inı́cio da Oraçã o Eucarı́stica) com o sacerdote. També m nã o há
fundamento para a alegaçã o de que ele morreu como um má rtir e foi enterrado na Colina do Vaticano, perto de Sã o
Pedro. Dia da festa: 3 ou 6 de abril.
8 Telesphoros, St., grego, ca. 125 – ca. 136 (125–136 na lista o icial do Vaticano).
Telesphoros é o ú nico papa do sé culo II cujo martı́rio é historicamente veri icá vel. Embora as datas exatas de seu
ponti icado sejam incertas, as primeiras fontes concordam que durou onze anos. O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de
biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI) atribui erroneamente a ele a inauguraçã o
de um jejum de sete semanas antes da Pá scoa e o uso da Gloria na Missa da meia-noite de Natal. Ambas as prá ticas
nã o foram introduzidas até muito tarde. Santo Irineu (falecido por volta de 200) observa que Telesphoros sempre
observava a Pá scoa no domingo, e nã o em qualquer dia da semana em que a Pá scoa caı́sse (que era a prá tica
daqueles cristã os que eram conhecidos como Quartodecimans - a palavra latina para “ dé cimo quarto ”- porque eles
observavam a Pá scoa no dé cimo quarto dia do mê s judaico de Nisan). Dia da festa: 5 de janeiro (no oeste); 22 de
fevereiro (no Leste).
9 Hyginus, St., grego, ca. 138 – ca. 142 (136-140 na lista o icial do Vaticano).
Hyginus é considerado pela tradiçã o cató lica como o oitavo sucessor de Pedro. As estimativas da duraçã o desse
ponti icado variam de doze anos a quatro (o nú mero mais con iá vel). De acordo com o Liber Ponti icalis (uma
coleçã o de biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI), Hyginus era um grego de
Atenas com formaçã o em iloso ia. Seu contemporâ neo, Sã o Justino Má rtir (morto em cerca de 165), també m veio do
Oriente para Roma e foi, como Hyginus, um iló sofo e apologista (isto é , defensor da fé ). Santo Irineu (m. Ca. 200)
relata que durante o ponti icado de Hyginus os mestres gnó sticos Valentinus (m. Ca. 175) e Cerdo vieram para Roma
do Egito e da Sı́ria, respectivamente, indicando que Roma estava se tornando um importante centro cristã o. Marcion
(morto em cerca de 160), considerado pelos historiadores da Igreja como um dos hereges mais formidá veis já
confrontados pela Igreja, també m veio a Roma por volta de 140, onde caiu sob a in luê ncia de Cerdo. Quatro anos
depois, durante o pró ximo ponti icado, Marciã o foi excomungado pela igreja romana por heresia.
Hyginus foi considerado um má rtir (e foi incluı́do no Martiroló gio Romano), mas nã o há nenhuma evidê ncia
histó rica para substanciar essa crença ou a tradiçã o piedosa de que ele foi enterrado na Colina do Vaticano perto de
Sã o Pedro. Dia da festa: 11 de janeiro.
10 Pio I, St., ca. 142 – ca. 155 (140–155 na lista o icial do Vaticano).
Pio I foi o primeiro dos papas listados a ter funcionado como o ú nico, ou ú nico, bispo de Roma. Antes de seu
ponti icado, a igreja romana parece ter sido governada por um conselho ou grupo de presbı́teros ou presbı́teros-
bispos. Aqueles considerados papas pela tradiçã o cató lica antes do ponti icado de Pio I podem ter sido simplesmente
os membros mais proeminentes desses grupos governantes.
As primeiras fontes estã o confusas sobre as datas deste ponti icado. Em algum lugar Pio I apó s seu sucessor
Aniceto (ca. 155 – ca. 166). O Câ non Muratoriano do sé culo II (a lista mais antiga existente dos livros do Novo
Testamento) identi ica Pio como irmã o de Hermas, um ex-escravo e autor de uma obra visioná ria historicamente
signi icativa com temas fortemente penitenciais conhecidos como O Pastor . Nã o se sabe muito sobre o ponti icado de
Pio, exceto que os gnó sticos Valentinus (morto em cerca de 175), Cerdo e Marciã o (morto em cerca de 160) estavam
promovendo ativamente seus pontos de vista na cidade, especi icamente que o Antigo Testamento havia sido
completamente suplantado por o Novo Testamento para que o Cristianismo nã o seja em nenhum sentido um
cumprimento do Judaı́smo, mas sim sua substituiçã o. Os gnó sticos també m nutriam uma atitude negativa em relaçã o
ao mundo material e ao corpo, mesmo negando a realidade do corpo humano de Jesus. Acredita-se que Pio presidiu
um sı́nodo de presbı́teros que excomungou Marciã o em julho de 144.
Embora Pio seja mencionado em um martiroló gio pouco con iá vel do sé culo IX compilado por Santo Ado de
Vienne (falecido em 875), nã o há evidê ncias de que ele tenha sido martirizado ou que tenha sido enterrado na colina
do Vaticano perto de Sã o Pedro. Dia da festa: 11 de julho.
11 Anicetus, St., Syrian, ca. 155 – ca. 166 (155-166 na lista o icial do Vaticano).
Aniceto era bispo de Roma numa é poca em que a cidade estava se tornando um pró spero centro de atividade cristã ,
atraindo algumas das principais iguras da Igreja antiga, incluindo o grande erudito anti-gnó stico sı́rio Santo
Hegesipo (m. Ca. 180) e Sã o Justino Má rtir (falecido por volta de 165). Embora o Liber Ponti icalis (uma coleçã o de
biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI) relate que Anicetus proibia os clé rigos de
usar cabelos longos, ele talvez seja mais lembrado por suas discussõ es sé rias, mas amigá veis, com uma das iguras
mais reverenciadas no inı́cio igreja, Sã o Policarpo (m. ca. 155/6), bispo de Esmirna (na atual Turquia), que tinha sido
um discı́pulo de Sã o Joã o Evangelista.
Já na casa dos 80 anos, Policarpo tinha vindo a Roma para exortar o papa a adotar a prá tica litú rgica comum na
Asia Menor de observar a festa da Pá scoa, considerada a Pá scoa cristã , no dé cimo quarto dia do mê s judaico de
Nisan (o dia de a Pá scoa judaica), independentemente do dia da semana em que caı́sse. Como esses cristã os
preferiam o dé cimo quarto dia de nisã , eles eram conhecidos pela palavra latina para “dé cimo quarto”, ou seja,
quartodecimanos. E importante notar que, até este momento, a pró pria Roma nã o observava nenhuma festa especial
da Pá scoa. A igreja romana considerava todo domingo uma celebraçã o da Ressurreiçã o. Aniceto negou o pedido de
Policarpo de que Roma conformasse sua prá tica com a das igrejas da Asia Menor, insistindo que se sentia limitado
pelo costume de seus predecessores de celebrar a Ressurreiçã o todos os domingos. A discussã o continuou amigá vel
e Anicetus convidou Policarpo para presidir a Eucaristia. Eles partiram em paz, mas Roma e o Oriente continuaram
suas prá ticas separadas. Desde o primeiro concı́lio ecumê nico em Nicé ia em 325, os cató licos romanos celebraram a
Pá scoa no domingo seguinte à lua cheia apó s o equinó cio vernal (ou seja, entre 22 de março e 25 de abril). No
entanto, muitos cató licos de rito oriental, bem como ortodoxos e outros cristã os orientais nã o cató licos que seguem
o calendá rio juliano em vez do calendá rio gregoriano, celebram a Pá scoa em um domingo diferente.
Provavelmente foi Aniceto quem ergueu um santuá rio em memó ria de Sã o Pedro na Colina do Vaticano, familiar
aos visitantes na virada do sé culo (cerca de 200). Dia da festa: 17 de abril.
12 Soter, St., ca. 166 – ca. 174 (166–175 na lista o icial do Vaticano).
O desenvolvimento mais signi icativo no ponti icado de Soter foi a introduçã o da Pá scoa como uma festa litú rgica
anual em Roma. Até entã o, a igreja romana nã o tinha uma festa de Pá scoa separada, mas considerava cada domingo
como uma celebraçã o da Ressurreiçã o. A data combinada para a nova festa era o domingo seguinte ao dé cimo
quarto dia do mê s judaico de nisã (em outras palavras, o domingo seguinte ao dia da Pá scoa). Isso contrastava com
uma prá tica cristã comum na Asia Menor de celebrar a Pá scoa no pró prio dia da Pá scoa, nã o importando o dia da
semana em que caı́sse. Aqueles que seguiam essa prá tica eram chamados de Quartodecimans (do latim, "dé cimo
quarto", para o dé cimo quarto dia de nisã ).
O historiador Eusé bio de Cesaré ia (m. Ca. 339) preservou fragmentos de uma carta que Dionı́sio, bispo de Corinto,
escreveu a Soter em reconhecimento da carta do papa à comunidade de Corinto e prometendo que sua carta seria
lida regularmente nas reuniõ es do Igreja de Corinto. Os historiadores modernos especulam, com base em outras
cartas escritas por Dionı́sio, que Soter pode ter expressado sua desaprovaçã o de uma certa frouxidã o moral na
comunidade corı́ntia, especi icamente no que diz respeito à conduta sexual e uma restauraçã o muito tolerante dos
penitentes à comunhã o com a Igreja, independentemente de seus pecados. A resposta obsequiosa de Dionı́sio pode
ter sido planejada para acalmar as á guas entre Roma e Corinto.
O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de biogra ias papais compilada pela primeira vez em meados do sé culo VI) relata
que Soter ordenou que monges nã o ordenados nã o tocassem nos panos do altar ou oferecessem incenso na igreja -
uma indicaçã o de que a microgestã o pastoral nã o é um fenô meno exclusivamente moderno. Embora Soter tenha
sido posteriormente venerado como um má rtir, nã o há evidê ncias de que ele morreu como má rtir. Dia da festa: 22
de abril.
13 Eleutherius [Eleutherus], St., grego, ca. 174 – ca. 189 (175–189 na lista o icial do Vaticano).
Eleuté rio é considerado pela tradiçã o cató lica como o dé cimo segundo sucessor de Pedro, tendo servido como
diá cono (assistente) do Papa Aniceto (ca. 155-ca. 166) antes de ser eleito para o papado. Em 177 ou 178, ele recebeu
a visita de Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200), trazendo uma carta dos cristã os de Lyon (no sul da Gá lia, ou na França
dos dias modernos) que expô s suas visõ es altamente crı́ticas sobre Montanismo, um novo movimento religioso que
estava profetizando um im rá pido do mundo e pregando a necessidade de impor prá ticas ascé ticas severas à Igreja.
Embora o registro histó rico nã o seja completamente claro, parece que Eleuté rio nã o percebeu o perigo do
Montanismo e se recusou a julgar suas a irmaçõ es profé ticas. No entanto, Tertuliano (falecido por volta de 225), um
proeminente convertido ao montanismo, a irmou que o papa originalmente enviou cartas conciliató rias
reconhecendo a autenticidade das profecias e só mais tarde rejeitou o movimento.
O Liber Ponti icalis (uma coleçã o de biogra ias papais compiladas pela primeira vez em meados do sé culo VI)
atribui duvidosamente a Eleuté rio a regra de que os cristã os nunca devem rejeitar qualquer alimento como
naturalmente impuro. Tal regulamento teria sido mais apropriado para a Roma do sé culo V, quando as proibiçõ es
maniqueı́stas de certos alimentos estavam na moda. També m havia uma crença popular, mas lendá ria, de que um rei
britâ nico pedira a esse papa que enviasse missioná rios à Grã -Bretanha. Eleuté rio é mencionado pela primeira vez
como um má rtir no martiroló gico um tanto pouco con iá vel do sé culo IX, compilado por Santo Ado de Viena
(falecido em 875). Dia da festa: 26 de maio.
18 Pontian [Pontianus], St., d. Outubro de 235, papa de 21 de julho de 230 a 28 de setembro de 235.
Pontian foi o primeiro papa a abdicar do cargo papal. (Houve trê s, e talvez cinco, outros que o izeram depois dele:
Silverius em 537, Celestino V em 1294, Gregó rio XII em 1415 e provavelmente Joã o XVIII em 1009. Durante o
ponti icado canonicamente confuso de Bento IX, ele abdicou em 1045 a favor de seu padrinho, mas foi reintegrado
em 1047.) Ele fez isso apenas porque foi deportado pelo novo imperador anticristã o Maximinus Thrax para
trabalhar nas minas na ilha da Sardenha, conhecida como a "ilha da morte", do qual poucos voltaram vivos. Pontian
nã o queria que houvesse um vá cuo de liderança na igreja romana.
Todos, exceto os ú ltimos meses de seu ponti icado, foram pacı́ icos porque o tolerante imperador Severo ainda
reinava. Depois de suceder Severus em março de 235, no entanto, Maximinus Thrax abandonou a polı́tica de
tolerâ ncia de seu predecessor e iniciou uma violenta campanha contra os lı́deres cristã os. Ele prendeu Pô ncio e o
antipapa Hipó lito (m. Ca. 236), um forte crı́tico dos papas Zefrino (198/9-217) e Calisto (217-22) e o aparente lı́der
de um cisma na igreja romana. Ambos foram presos em Roma e depois exilados na Sardenha. De acordo com o
Catá logo da Libé ria do sé culo IV, Pontian abdicou em 28 de setembro de 235, a primeira data registrada com
precisã o na histó ria papal.
Nem Pô ncio nem Hipó lito sobreviveram ao duro tratamento e à s condiçõ es na Sardenha. Pontian morreu menos
de um mê s apó s sua renú ncia. Foi sugerido que Pô ncio e Hipó lito se reconciliaram enquanto estavam na prisã o ou
no exı́lio. Seus corpos, em qualquer caso, foram trazidos de volta a Roma pelo Papa Fabiano em 236 ou 237 e foram
enterrados na cripta papal recé m-concluı́da nas catacumbas de Calisto na Via Apia. Fragmentos da laje do tú mulo de
Pontian foram descobertos lá no inı́cio do sé culo XX, com seu nome e tı́tulo episcopal inscritos em grego.
O ú nico outro assunto pelo qual o ponti icado de Pô ncio era conhecido foi a aprovaçã o formal pela igreja romana
da condenaçã o de Orı́genes (m. Ca. 254), um dos primeiros grandes teó logos da Igreja primitiva, por Demé trio, bispo
de Alexandria, em 230 ou 231. Presume-se que, como Bispo de Roma, Pô ncio deve ter presidido o Sı́nodo Romano
que aprovou a expulsã o de Orı́genes do Egito, do seu cargo de professor e do pró prio sacerdó cio.
Um martiroló gio do sé culo IV lista Pô ncio como o primeiro bispo-má rtir romano (depois de Pedro). Dia da festa:
13 de agosto (com Santo Hipó lito).
30 Marcellus I, St., novembro / dezembro 306 - 16 de janeiro de 308 (27 de maio ou 26 de junho de 308 - 16 de janeiro
de 309, na lista o icial do Vaticano).
Marcelo é mais conhecido por sua atitude severa para com os cristã os que haviam decaı́do em tempos de
perseguiçã o - tã o severa, na verdade, que o novo imperador, Maxê ncio, acabou banindo-o da cidade como um
perturbador da paz. No entanto, há alguma confusã o sobre sua identidade real e sobre as datas de seu ponti icado.
Alguns o confundiram com seu predecessor, Marcelino (Marcelo nã o é mencionado, por exemplo, na histó ria da
Igreja de Eusé bio de Cesaré ia), e o Annuario Ponti icio , uma publicaçã o o icial do Vaticano, dá suas datas de maio /
junho 308 a 16 de janeiro, 309. (A confusã o sobre as datas de seu ponti icado també m afeta a data dos ponti icados
de seus dois sucessores imediatos, Eusé bio e Melquı́ades.) Seja como for, ele parece ter governado a igreja romana
durante o perı́o do entre a morte de Marcelino em 304 e pouco antes de Eusé bio (nã o Eusé bio de Cesaré ia) ser eleito
em 310.
Por causa das perdas sofridas durante a perseguiçã o de Diocleciano e das divisõ es internas que criou dentro da
pró pria Igreja, a eleiçã o de um sucessor de Marcelino foi adiada por mais de trê s anos e meio. Marcelo, um dos
principais presbı́teros durante o ponti icado de Marcelino e aquele que provavelmente manteve a Igreja Romana
unida durante o perı́o do intermediá rio, foi eleito. Talvez o principal problema pastoral que ele enfrentou como bispo
de Roma foi a disposiçã o daqueles cristã os que comprometeram sua fé sob Diocleciano. Nã o havia dú vida em sua
mente como deveria proceder: vigorosa e impiedosamente. No entanto, as severas penitê ncias que ele impô s
provocaram uma reaçã o na igreja. Houve desordem pú blica e até mesmo derramamento de sangue. A situaçã o se
tornou tã o sé ria que o imperador Maxê ncio o baniu da cidade em nome da paz pú blica. Marcellus morreu logo em
seguida. Seu corpo foi posteriormente trazido de volta a Roma e enterrado no cemité rio particular de Santa Priscila.
Dia da festa: 16 de janeiro.
31 Eusébio, Santo, grego, 18 de abril a 21 de outubro de 310 (18 de abril de 309 a 17 de agosto, 309 ou 310, na lista
o icial do Vaticano).
O ponti icado extremamente breve de Eusé bio foi completamente dominado pela questã o da reconciliaçã o daqueles
que haviam comprometido sua fé durante a perseguiçã o de Diocleciano (eles eram conhecidos como lapsi , “os
decaı́dos”). Como seus predecessores, Eusé bio adotou uma abordagem pastoral, oferecendo reconciliaçã o total para
aqueles que se arrependeram de seus pecados e realizaram uma penitê ncia apropriada. E como seus predecessores,
ele foi condenado por uma facçã o, desta vez sob a liderança de Herá clio, por nã o ser severo o su iciente. Seus
oponentes eram contra a readmissã o em quaisquer condiçõ es. A discó rdia interna dentro da comunidade cristã era
tã o amarga e perturbadora que o imperador Maxentius mais uma vez interveio e deportou o papa e Herá clio para a
Sicı́lia. Eusé bio morreu logo depois disso. Seu corpo foi levado de volta a Roma e sepultado no cemité rio de Callistus
na Via Apia. Dia da festa: 17 de agosto.
38 Siricius, St., dezembro 384 – 26 de novembro de 399 (15 ou 22 de dezembro ou 29, 384, na lista o icial do Vaticano).
Siricius foi o primeiro papa a emitir decretos, isto é , diretivas legalmente vinculativas formuladas no estilo de é ditos
imperiais. O decretal mais antigo, datado de 11 de fevereiro de 385, foi dirigido a Himerius, bispo de Tarragona, em
resposta a quinze perguntas sobre questõ es de disciplina eclesiá stica. Começa com a a irmaçã o de que o apó stolo
Pedro está presente no bispo de Roma e, em seguida, passa a oferecer diretrizes sobre itens como a readmissã o de
hereges à Igreja (eles nã o deveriam ser rebatizados), a idade e as quali icaçõ es dos candidatos à ordenaçã o , a
exigê ncia do celibato para padres e diá conos e a disciplina penitencial. Siricius pediu que esses decretos fossem
distribuı́dos à s igrejas nas provı́ncias vizinhas da Africa, Espanha e Gá lia (a França atual). Em janeiro de 386, ele
enviou nove câ nones aprovados por um sı́nodo romano a vá rias igrejas na Africa e em outros lugares estipulando
que nenhum bispo deveria ser consagrado sem o conhecimento da “Sé Apostó lica” ou apenas por um ú nico
consagrador.
Siricius foi eleito por unanimidade, apesar da candidatura do antipapa Ursinus. O imperador Valentiniano II icou
encantado com a demonstraçã o de apoio a Siricius e con irmou o icialmente sua eleiçã o, talvez para afastar qualquer
oposiçã o residual dos partidá rios de Ursinus. Embora Siricius se opusesse a heresias e outros movimentos
dissidentes tanto quanto seu predecessor, Dâ maso, ele pediu um tratamento leniente para aqueles que se
arrependeram. Ele repreendeu e quebrou a comunhã o com os bispos responsá veis pela condenaçã o à morte do
herege rigorista Prisciliano em 386, a primeira pessoa a ser executada por desvio doutriná rio. Por outro lado, ele
també m excomungou Joviniano, um monge, por criticar o valor do jejum e do celibato e por negar a virgindade
perpé tua de Maria. A pedido de Santo Ambró sio (falecido em 397), bispo de Milã o, ele interveio com sucesso em um
cisma em Antioquia e o encerrou instando o conselho de Cesaré ia (na Palestina) a reconhecer Flaviano em vez de
Evagrio como bispo.
Embora homenageado como santo nos sé culos anteriores, seu nome foi omitido da primeira ediçã o do
Martiroló gio Romano (1584) por causa de seus con litos pessoais com Sã o Jerô nimo, em cuja expulsã o da cidade de
Roma tinha concordado, e com Sã o Paulinus de Nola (falecido em 431), que se queixou da arrogâ ncia do papa. Seu
nome foi acrescentado ao martiroló gio em 1748 pelo Papa Bento XIV. Ele foi enterrado na bası́lica de San Silvestro
perto do cemité rio particular de Priscila. Dia da festa: 26 de novembro.
42 Bonifácio I, St., 28 de dezembro de 418 – 4 de setembro de 422 (28 ou 29 de dezembro de 418, na lista o icial do
Vaticano).
Um oponente dedicado do Pelagianismo (que sustentava que a salvaçã o só pode ser alcançada pelo esforço humano,
sem a ajuda da graça) e um defensor vigoroso da autoridade papal, Bonifá cio I é o autor do axioma: “Nunca foi lı́cito
para o que foi uma vez decidido pela Sé Apostó lica para ser reconsiderado. ” Em sua forma latina mais familiar, lê -se:
Roma locuta est; causa inita est (“Roma falou; a causa acabou”).
Quase imediatamente apó s o sepultamento de Zó simo, os diá conos da igreja romana junto com alguns presbı́teros
se barricaram na Bası́lica de Latrã o e elegeram Eulá lio, o diá cono chefe de Zó simo, que provavelmente també m era
grego. No dia seguinte, a grande maioria dos presbı́teros, com muitos leigos, reuniu-se na Bası́lica de Teodora e
elegeu o idoso e frá gil presbı́tero Bonifá cio, ele pró prio ilho de um sacerdote. No dia seguinte, ambos foram
consagrados separadamente. Eulalius foi consagrado na Bası́lica de Latrã o pelo bispo de Ostia, que costumava
ordenar o Bispo de Roma, e Bonifá cio foi consagrado na igreja de San Marcello na presença de nove bispos.
Bonifá cio foi instalado na Bası́lica de Sã o Pedro porque o Latrã o estava sob o controle da facçã o que apoiava Eulá lio.
O prefeito pagã o da cidade deu seu pró prio apoio a Eulá lio e entã o relatou sua decisã o ao imperador em Ravena.
Bonifá cio recebeu ordens de deixar Roma, o que fez sob protesto. Mas Bonifá cio tinha muitos amigos e apoiadores
em Roma e na corte, incluindo a irmã do imperador. Quando a maioria dos presbı́teros romanos fez uma petiçã o ao
imperador em nome de Bonifá cio, o imperador convocou os dois bispos para um sı́nodo em Ravena. Quando
nenhuma decisã o foi alcançada lá , um concı́lio foi realizado em Spoleto em 13 de junho de 419, no qual bispos da
Gá lia e da Africa estavam presentes. O imperador exigiu que Bonifá cio e Eulá lio deixassem Roma nesse meio tempo.
Bonifá cio concordou, mas Eulá lio recusou. Isso causou desordem civil em Roma e enfureceu o imperador, que
ordenou que Eulá lio fosse banido da cidade e declarou Bonifá cio o bispo legı́timo.
Bonifá cio começou a desfazer o dano causado por seu antecessor, Zó simo, ao estabelecer um vicariato papal em
Arles. Ele restaurou os direitos metropolitanos de Marselha, Vienne e Narbonne. Com a ajuda do imperador
ocidental, ele també m manteve a prefeitura de Illyricum (na penı́nsula balcâ nica) sob a jurisdiçã o romana, apesar
dos esforços contı́nuos do imperador oriental para transferi-la para o patriarcado de Constantinopla. Na luta
contı́nua contra o Pelagianismo, ele foi irme em sua defesa da ortodoxia e persuadiu o imperador a publicar um
é dito exigindo que todos os bispos assinassem o Tractoria de Zó simo, condenando a heresia.
Quando Bonifá cio morreu, o antipapa Eulalius nã o fez nenhum esforço para reivindicar a sé . Bonifá cio foi
sepultado em uma capela que mandou construir no cemité rio de Santa Felicidade, na Via Salaria, pró ximo ao tú mulo
do santo. Dia da festa: 4 de setembro.
T seu segundo perı́odo na histó ria DA papado, a partir de meados do sé culo V até o im do oitavo, inclui os ú nicos dois papas
que foram chamados “o Grande”: Leo I (440-61) e Gregory I ( 590–604). Leã o foi particularmente forte em
reivindicar autoridade suprema e universal para o papado, alegando que o papa é o herdeiro de Pedro, interveio
ativamente para ajudar a moldar o ensino de initivo da Igreja sobre a humanidade e divindade de Jesus Cristo no
Concı́lio de Calcedô nia (451). e pessoalmente persuadiu Atila, o Huno, a se retirar de seu avanço ameaçador em
direçã o a Roma em 452. Com o colapso completo da ordem civil em Roma um sé culo e meio depois, Gregó rio se
tornou seu governante virtual virtual. Ele tinha experiê ncia polı́tica anterior, no entanto, serviu como prefeito da
cidade de Roma por dois ou trê s anos antes de se desfazer de seus bens pessoais e se tornar um monge. Gregory foi
um escritor prodigioso; seu trabalho mais duradouro, Pastoral Care , serviu de livro-texto para bispos medievais. Ao
mesmo tempo, Gregory tinha uma compreensã o realista dos limites de seu cargo. Ele repreendeu o patriarca de
Constantinopla por usar o tı́tulo de “patriarca ecumê nico”, insistindo que nenhum bispo pode reivindicar ser um
patriarca universal, incluindo até mesmo o papa! Nenhum outro papa deste perı́o do exerceu tanta in luê ncia quanto
Leã o I e Gregó rio I, seja na Igreja contemporâ nea ou no desenvolvimento subsequente do pró prio papado.
Houve vá rios “primeiros” durante este perı́o do da histó ria papal. Gelá sio I (492-96), como Leã o, o Grande, um
vigoroso defensor da supremacia papal, foi o primeiro papa a assumir o tı́tulo de "Vigá rio de Cristo", embora nã o se
tornasse exclusivamente atribuı́do ao bispo de Roma até o ponti icado de Eugê nio III (1145–53). Foi també m Gelá sio
quem avançou a teoria dos “dois poderes” ou das “duas espadas” (referindo-se à autoridade do papa nas esferas
sagrada e temporal) - uma teoria que seria tã o in luente na Idade Mé dia. Symmachus (498-514) foi o primeiro papa
a conceder o pá lio (uma vestimenta de lã usada em volta do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral) a um
bispo fora da Itá lia. Bonifá cio II (530–32) foi o primeiro papa de origem germâ nica. Seu sucessor, Joã o II (533-35),
foi o primeiro papa a assumir um nome diferente ao ser eleito para o papado, mas apenas porque seu pró prio nome
de nascimento, Mercú rio, era de um deus pagã o. Silverius (536-37) foi o primeiro e ú nico subdiá cono eleito papa e o
segundo papa a seguir os passos de seu pai (Hormisdas [514-23]) como papa. Gregó rio, o Grande (590-604) foi o
primeiro papa a usar o tı́tulo de "servo dos servos de Deus". Paulo I (757-67) foi o primeiro a suceder seu irmã o
como papa (Estê vã o II [III]). Joã o IV (640-42) foi o primeiro e ú nico papa dá lmata.
També m houve mudanças na forma como os papas foram eleitos. Originalmente determinadas apenas pelo clero e
leigos de Roma (visto que o papa é , antes de tudo, bispo de Roma), as eleiçõ es papais nessa é poca estavam sob a
in luê ncia decisiva do imperador. Na verdade, o sucessor de Vigı́lio, Pelá gio I (556-61), foi elevado ao papado sem o
benefı́cio de qualquer eleiçã o formal, sua nomeaçã o tendo sido assegurada diretamente pelo imperador Justiniano.
Como regra, entretanto, as eleiçõ es nã o eram consideradas vá lidas a menos e até que o imperador as aprovasse
formalmente. Bento II (684-85) ganhou uma pequena concessã o do imperador ao permitir que o vice-rei imperial
(exarca) em Ravena rati icasse as eleiçõ es papais, eliminando assim o atraso em receber a aprovaçã o de
Constantinopla para que o papa recé m-eleito fosse consagrado como bispo de Roma. Todo o arranjo terminou, no
entanto, apó s a morte de Gregó rio III (731-41), o ú ltimo papa a buscar a aprovaçã o imperial para sua consagraçã o.
Logo depois disso, Estê vã o II [III] (752-57), que sucedeu o ú ltimo dos papas gregos, Zacarias (741-52), inalmente
estabeleceu a independê ncia do papado do Impé rio Bizantino, colocando-o sob a proteçã o do Reino franco. Foi
també m Estê vã o II (III) que formou os Estados Papais, assumindo o controle jurı́dico e administrativo dos territó rios
na Itá lia central sobre os quais o papado havia reivindicado a soberania temporal desde o sé culo IV. Talvez para
trazer alguma integridade moral interna ao processo eleitoral, Bonifá cio III (607) decretou que a pena de
excomunhã o seria imposta a qualquer um que discutisse um sucessor de um papa durante a vida do papa e até trê s
dias apó s sua morte. Estê vã o III (IV) decretou em 769, apó s a eleiçã o do antipapa Constantino, que era leigo na
é poca em que foi escolhido, que doravante apenas diá conos e cardeais-sacerdotes (isto é , os presbı́teros romanos
que eram pastores das paró quias-chave de Roma) deve ser elegı́vel para a eleiçã o como papa e que os leigos nã o
devem mais ter qualquer voto nessas eleiçõ es.
Este perı́o do també m foi marcado por casos de desvio papal da ortodoxia doutriná ria, ou pelo menos fac-sı́miles
desconcertantes disso. Joã o II, sob pressã o do imperador oriental, contradisse o ensino de um papa anterior,
Hormisdas (514-23), sobre as duas naturezas de Jesus Cristo. Honó rio I (625-38) tornou-se um adepto involuntá rio
do monotelismo, que a irmava que existe apenas uma vontade (divina) em Jesus Cristo. Apó s sua morte, Honó rio foi
formalmente condenado pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680) - uma açã o posteriormente rati icada pelo
Papa Leã o II (682-83). Quando a contrové rsia monotelita continuou a dividir Roma e Constantinopla, Eugê nio I (654-
57) tentou bravamente reconciliar os dois lados. Ao fazer isso, no entanto, ele aceitou prematuramente um
compromisso que parecia apresentar trê s vontades em Cristo. Isso provocou uma tempestade de protestos entre o
clero e os leigos de Roma. O papa foi impedido de continuar com a missa na bası́lica de Santa Maria Maior até que
ele prometeu rejeitar o acordo. Esses sã o os caprichos da histó ria papal.
59 Vigilius, 29 de março de 537 - 7 de junho de 555 (a lista o icial do Vaticano também reconhece Vigilius como papa de
29 de março de 537, embora seu predecessor, Silverius, ainda não tivesse abdicado formalmente até 11 de novembro
do mesmo ano).
Vigilius foi claramente um dos papas mais corruptos da histó ria da Igreja. Como nú ncio papal em Constantinopla, ele
celebrou um pacto secreto com a imperatriz mono isita Teodora para devolver o patriarca mono isita Antimo à sé de
Constantinopla e repudiar o Concı́lio de Calcedô nia (451). (O Concı́lio de Calcedô nia condenou o mono isismo como
uma heresia porque negava que Jesus Cristo tivesse uma natureza humana e també m divina.) Em troca de sua
cooperaçã o, ela o cobriu de presentes e garantiu sua eleiçã o para o papado apó s a morte de Agapitus I (535–36).
(Vigilius já havia sido nomeado pelo Papa Bonifá cio II [530–32] como seu sucessor, mas a nomeaçã o foi anulada
como nã o canô nica.) Na é poca em que Vigilius retornou a Roma, Silverius já havia sido eleito sucessor de Agapitus.
Sob as ordens da imperatriz, o general imperial em Roma, Belisarius, providenciou para que Agapitus fosse deposto
e exilado e Vigilius “eleito” para sucedê -lo. Vigilius entã o bloqueou o julgamento justo que o imperador Justiniano
ordenou para Agapitus e sequestrou o papa e o levou para a ilha de Palmaria no Golfo de Gaeta, onde foi forçado a
abdicar e provavelmente morreu de fome para evitar o julgamento potencialmente embaraçoso. O clero romano
parece ter validado retroativamente a “eleiçã o” de Vigilius apó s a renú ncia de Silverius em novembro de 537.
Vigilius fez um jogo dú bio com o Oriente. Em particular, ele garantiu a Antimo e outros mono isitas que
concordava com eles, mas també m escreveu para assegurar ao imperador Justiniano que endossava totalmente os
ensinamentos de Calcedô nia e que apoiava a deposiçã o de Antimus e outros mono isitas pelo imperador. Quando
Justiniano publicou um é dito condenando os "Trê s Capı́tulos", isto é , os escritos de trê s teó logos (o mais famoso dos
quais foi Teodoro de Mopsué stia), cujo trabalho o Concı́lio de Calcedô nia nã o questionou, ele exigiu que o papa o
assinasse junto com os outros patriarcas. Quando Vigı́lio resistiu, o imperador mandou prendê -lo enquanto
celebrava a missa em 22 de novembro de 545 e mandou-o para a Sicı́lia. Depois de uma longa estada lá , o papa foi
levado a Constantinopla em janeiro de 547. Enquanto estava lá , ele e Mennas, o patriarca de Constantinopla,
excomungaram um ao outro. Mas em junho, Vigilius cedeu. Ele retomou a comunhã o com Mennas e prometeu ao
imperador e à imperatriz que condenaria os “Trê s Capı́tulos”. Quando ele fez isso, no entanto, seu Iudicatum
(“decisã o” ou “julgamento”) foi interpretado em todo o Ocidente como uma traiçã o à Calcedô nia.
Um sı́nodo de bispos africanos em Cartago excomungou o papa em 550. Até o sobrinho do papa, o diá cono
Rusticus, repudiou publicamente o Iudicatum no dia de Natal de 549 e foi posteriormente excomungado por seu tio
no inı́cio de 550. A crise tornou-se tã o grave que O papa e o imperador concordaram que um conselho seria
necessá rio para resolvê -lo. Vigilius foi autorizado a retirar seu é dito condenando os “Trê s Capı́tulos”, mas logo
depois disso o imperador emitiu um novo é dito de condenaçã o. O papa excomungou o conselheiro teoló gico do
imperador e refugiou-se com seu clero na bası́lica dos Santos. Peter e Paul. Depois de ser isicamente agredido pela
polı́cia imperial enquanto estava no altar e depois tratado como um prisioneiro, o papa fugiu pelo Bó sforo em
dezembro de 551 e se refugiou, ironicamente, na bası́lica de Santa Eufê mia em Calcedô nia, onde o concı́lio havia
ocorrido .
Apó s novas ameaças e con litos entre o papa e as forças imperiais, houve, em junho de 552, uma reconciliaçã o
iniciada pelo pró prio imperador Justiniano. O papa voltou a Constantinopla e os planos para o concı́lio avançaram
mais uma vez. Embora o papa quisesse que o concı́lio fosse realizado na Sicı́lia ou Itá lia (ou pelo menos precedido
por um sı́nodo lá ), o imperador decidiu que seria realizado em Constantinopla em 5 de maio de 553, no grande salã o
anexo à igreja de Santa So ia. O papa se recusou a comparecer por causa da pequena representaçã o de bispos
ocidentais. Em 14 de maio, ele emitiu sua Primeira Constituiçã o, assinada por dezesseis outros bispos, que
condenava os ensinamentos, mas nã o a pessoa, de apenas um dos trê s teó logos (Teodoro de Mopsué stia) incluı́dos
nos “Trê s Capı́tulos”. O imperador rejeitou e depois humilhou o papa, revelando a correspondê ncia secreta que ele e
o papa tinham sobre toda a questã o. Ele també m removeu o nome do papa da lista dos que deveriam ser rezados na
missa, deixando claro que ele estava apenas quebrando a comunhã o com Vigı́lio pessoalmente, mas nã o com a
pró pria Santa Sé .
O imperador fez o concı́lio condenar os “Trê s Capı́tulos” e entã o jogou o diá cono do papa na prisã o, deposto e
exilou bispos latinos que nã o cooperavam e colocou o pró prio papa em prisã o domiciliar. Depois de seis meses, o
papa doente e isolado cedeu e, em 8 de dezembro de 553, escreveu ao novo patriarca, revogando sua defesa
anterior dos “Trê s Capı́tulos” e admitindo que eles precisavam ser condenados. Mas o imperador ainda nã o estava
satisfeito. Em 23 de fevereiro de 554, Vigilius emitiu sua Segunda Constituiçã o, que endossava completamente a açã o
do conselho em condenar os “Trê s Capı́tulos”. (Os oponentes da infalibilidade papal no Concı́lio Vaticano I em 1869-
70 citaram o caso do Papa Vigı́lio em seus argumentos contra o dogma proposto, embora a infalibilidade nã o
estivesse em questã o em todo esse lamentá vel episó dio.) Vigı́lio foi libertado e autorizado a retornar a Roma, se ele
desejasse. Embora sua presença ali fosse exigida, o papa permaneceu em Constantinopla por mais um ano, onde
obteve de Justiniano, em troca de seu comportamento cooperativo, a chamada Sançã o Pragmá tica (13 de agosto de
554), garantindo à Igreja importantes direitos e privilé gios no Itá lia.
Quando Vigilius inalmente partiu para Roma na primavera, ele sofreu outro de muitos ataques de cá lculos biliares
e morreu em Siracusa, na Sicı́lia. Quando seu corpo foi levado de volta a Roma, nã o foi enterrado na Bası́lica de Sã o
Pedro por causa de sua impopularidade. Em vez disso, foi enterrado em San Marcello na Via Salaria.
63 Pelágio II, agosto de 579 - 7 de fevereiro de 590 (a lista o icial do Vaticano dá o início de seu ponti icado como 26 de
novembro, data de sua con irmação imperial, mas teologicamente ele se tornou papa assim que foi ordenado bispo de
Roma, em agosto )
Eleito quando o cerco lombardo a Roma estava no auge, Pelá gio II, o segundo papa de origem germâ nica, foi
ordenado bispo de Roma imediatamente (provavelmente em agosto), sem esperar pela aprovaçã o formal do
imperador. O novo papa imediatamente enviou seu diá cono (o futuro Gregó rio, o Grande) a Constantinopla como
seu representante (apocrisarius) para explicar o afastamento do precedente e implorar por ajuda militar. Mas o
imperador nã o tinha as forças necessá rias para despachar. Os apelos aos Franks també m falharam. Em 585, poré m,
o exarca imperial (vice-rei) em Ravena conseguiu uma tré gua com os lombardos, que durou quatro anos. O papa
tentou aproveitar essa pausa nas hostilidades para consertar as cercas eclesiá sticas com as igrejas do norte da Itá lia,
mas esses esforços geralmente també m falharam, exceto no caso de Aquilé ia, com a qual a comunhã o foi restaurada.
Durante o ponti icado de Pelá gio II, os visigodos foram convertidos ao cristianismo na Espanha, e ainda outra
contrové rsia com Constantinopla eclodiu sobre o uso do patriarca do tı́tulo de “patriarca ecumê nico”, um costume
que data do sé culo anterior. Quando o patriarca Joã o IV assumiu o tı́tulo em um sı́nodo em 588, o papa se recusou a
endossar os atos do sı́nodo por causa de sua convicçã o de que o tı́tulo infringia a supremacia papal. Pelá gio ordenou
que Gregó rio, seu nú ncio, quebrasse a comunhã o com Joã o até que este repudiasse o tı́tulo.
Em Roma, o papa foi um construtor ativo. Ele reconstruiu a igreja de San Lorenzo fuori le Mura (Sã o Lourenço
Fora dos Muros), onde seu retrato aparece em um mosaico contemporâ neo no arco triunfal. Quando uma praga
eclodiu apó s uma enchente causada pelo transbordamento do rio Tibre, Pelá gio II foi uma das primeiras vı́timas. Ele
foi enterrado no pó rtico, ou alpendre, da Bası́lica de Sã o Pedro.
64 Gregório I, “o Grande”, St., ca. 540–604, papa de 3 de setembro de 590 a 12 de março de 604.
Apenas o segundo papa em toda a histó ria da igreja a ser chamado de “o Grande” (Leã o I [440–61] foi o primeiro),
Gregó rio I foi o primeiro papa a ter sido monge e foi um dos escritores mais in luentes do papado. Seu cuidado
pastoral , que de inia o ministé rio episcopal como pastor de almas, tornou-se o livro-texto para bispos medievais.
Embora apenas um diá cono jú nior na é poca da morte de Pelá gio II, ele foi eleito por unanimidade para o papado.
Mas Gregó rio escreveu imediatamente ao imperador pedindo-lhe que retirasse seu consentimento da eleiçã o, que
ele nã o havia buscado nem desejado. Nesse ı́nterim, Gregó rio se envolveu em intenso trabalho pastoral entre os
habitantes de Roma atingidos pela peste. Depois que o mandato imperial chegou, no entanto, ele aceitou a
consagraçã o como bispo de Roma sob protesto.
Suas primeiras cartas revelam sua infelicidade por ter sido forçado a deixar a vida contemplativa para assumir as
pesadas responsabilidades do papado. Na verdade, essas responsabilidades eram muito mais pesadas do que o
normal por causa do colapso geral da ordem civil na é poca. Gregó rio viu-se profundamente envolvido nas questõ es
temporais e polı́ticas, bem como nas questõ es espirituais e eclesiá sticas. (Ele havia sido prefeito da cidade antes de
vender todos os seus bens, dar os rendimentos aos pobres e converter sua casa em um mosteiro.) Ele
imediatamente organizou a distribuiçã o de alimentos aos famintos, e, a im de expandir o reservató rio de recursos,
ele reorganizou os territó rios papais na Itá lia, Sicı́lia, Dalmá cia, Gá lia e Norte da Africa. Ele admoestou cada reitor das
propriedades papais “a cuidar dos pobres” e “promover nã o tanto os interesses mundanos da Igreja, mas o alı́vio
dos necessitados em sua a liçã o”. Ele insistiu que nã o estava dispensando seus pró prios bens, mas bens que
pertenciam por direito aos pobres, dados originalmente por Sã o Pedro, que continuou a cuidar de seu rebanho
atravé s de Gregó rio.
Quando o exarca imperial (vice-rei) em Ravena se mostrou incapaz de fazer qualquer coisa a respeito da ameaça
lombarda, o papa assumiu a liderança e formou uma tré gua com o duque de Spoleto. Quando o exarca quebrou a
tré gua e os lombardos se moveram contra Roma, Gregó rio salvou a cidade subornando o rei lombardo e
prometendo tributos anuais. Como resultado de todos esses esforços, Gregó rio se tornou virtualmente o governante
civil e espiritual de Roma. Ele negociou tratados, pagou as tropas e nomeou generais e governadores. Ao mesmo
tempo, ele atendeu cuidadosamente à necessidade de reforma també m no governo da Igreja. Ele impô s um có digo
detalhado, por exemplo, para a eleiçã o e conduta dos bispos na Itá lia e impô s o celibato clerical. Ele també m garantiu
melhores relacionamentos com as igrejas da Espanha e da Gá lia (a França dos dias modernos). Quando ele
descobriu que os invasores anglo-saxõ es nã o haviam sido evangelizados pelo clero nativo da Grã -Bretanha, ele
despachou Agostinho (mais tarde de Canterbury), com quarenta outros monges, para a Inglaterra em 596 e mais
tarde conferiu o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral) em
Agostinho como arcebispo dos ingleses.
Suas relaçõ es com o Oriente foram complicadas pela presença do imperador, a quem ele, como papa, estava
sujeito. Gregó rio freqü entemente teve que submeter-se ao imperador, mesmo em questõ es de governo eclesiá stico.
Mas o papa continuou a insistir no primado papal e no papel da visã o romana como tribunal de apelaçõ es, mesmo
para o Oriente. O con lito com o uso do patriarca do tı́tulo de “patriarca ecumê nico” continuou durante o ponti icado
de Gregó rio. Gregó rio insistiu que nã o existe um patriarca universal na Igreja (incluindo o papa!) E que sua pró pria
reivindicaçã o primacial exigia humildade. Na verdade, ele se referia a si mesmo constantemente como o "servo dos
servos de Deus".
Dada a sua pró pria formaçã o moná stica, Gregó rio foi um promotor vigoroso do monaquismo e da liturgia,
particularmente da mú sica litú rgica. Na verdade, seu nome foi tã o intimamente identi icado com a cançã o da planı́cie
que veio a ser conhecido como canto gregoriano. Muitas das oraçõ es recitadas na Eucaristia sã o atribuı́das a
Gregó rio, por exemplo, o Prefá cio do Natal e os Prefá cios da Pá scoa e da Ascensã o. Ele també m é creditado com a
colocaçã o do "Pai Nosso" na missa. Seu apoio ao monaquismo e aos monges, no entanto, criou divisõ es dentro das
ileiras do clero romano que durariam muitos anos e afetariam vá rias eleiçõ es papais subsequentes , com os
eleitores divididos entre forças pró -gregorianas e anti-gregorianas, isto é , entre clero pró -moná stico e clero pró -
diocesano.
Seus escritos eram mais prá ticos do que teó ricos e mais derivados do que originais. Mas ele foi um sintetizador
tã o e icaz, especialmente da obra de Santo Agostinho de Hipona (falecido em 430), que acabou sendo incluı́do com
Ambró sio, Agostinho e Jerô nimo como Doutor da Igreja. Mesmo em sua pró pria vida, sua pastoral foi traduzida para
o grego e anglo-saxã o. Nela expô s uma visã o de pastoral adaptada à s necessidades do povo e enraizada no exemplo
pessoal e na pregaçã o, com um equilı́brio delicado entre os aspectos contemplativos e ativos de todo ministé rio. Em
quatro livros, ele tratou do tipo de pessoa e motivos necessá rios para o ministé rio pastoral, as virtudes exigidas em
um pastor, a maneira de pregar para muitos tipos diferentes de pessoas e a necessidade dos pastores examinarem
suas pró prias consciê ncias. Os Diálogos descrevem os milagres e feitos dos santos italianos, especialmente Sã o Bento
de Nú rsia (morto em cerca de 547). Uma de suas metas era incentivar as pessoas a suportar as provaçõ es da vida
terrena como preparaçã o para a vida eterna que viria. Suas Quarenta Homilias sobre os Evangelhos sã o exemplos de
sua pregaçã o popular, misturando histó rias com doutrina e textos bı́blicos, e as Homilias sobre Ezequiel sã o exemplos
de discurso mais erudito dirigido a clé rigos e monges. Sua Moralia , uma exposiçã o mı́stica e alegó rica do livro de Jó ,
foi um texto espiritual in luente sé culos depois. Santo Tomá s de Aquino (falecido em 1274), por exemplo, o cita 374
vezes na segunda parte da Summa Theologiae . A espiritualidade de Gregó rio foi marcada por um sentimento vı́vido
do im iminente do mundo, intensi icado talvez pelos problemas de saú de que o prejudicaram ao longo de seu
ponti icado. Ele estava tã o atormentado pela gota que, na hora de sua morte, nã o conseguia mais andar. Infelizmente,
Roma, sob mais um cerco, estava mais uma vez nas garras da fome. Em seu desespero, os romanos se voltaram
contra o papa que tanto havia feito por eles. Ele morreu em 12 de março de 604 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro com o epitá io "cô nsul de Deus". Dia da festa: 3 de setembro.
89 Gregório II, St., ca. 669–731, papa de 19 de maio de 715 a 11 de fevereiro de 731.
O primeiro romano a ser eleito papa depois de sete papas consecutivos de origem grega, sı́ria ou trá cio, Gregó rio II
foi talvez o papa notá vel do sé culo VIII. Ele persuadiu o rei lombardo a devolver valiosas propriedades papais,
liderou a resistê ncia do povo italiano aos novos e pesados impostos impostos pelo imperador Leã o III e salvou a
cidade de Roma de um cerco armado pelo rei lombardo e o exarca imperial. Ele també m resistiu irmemente aos
esforços do imperador para proibir o uso e veneraçã o de imagens sagradas (conhecidas como iconoclastia) por
preocupaçã o, o imperador insistiu, que tais prá ticas eram um obstá culo à conversã o de judeus e muçulmanos. O
papa repreendeu formalmente o imperador em um sı́nodo romano em 727.
No entanto, a nova polı́tica de iconoclastia foi o icialmente promulgada em um edito assinado pelo patriarca de
Constantinopla em 730. Gregó rio II se recusou veementemente a apoiá -la, até mesmo classi icando a iconoclastia
como heresia, e advertiu o imperador de que ele estava excedendo sua autoridade temporal. A populaçã o italiana se
ressentiu do ultimato do imperador ao papa, e houve revoltas no norte. Na verdade, o imperador havia pensado em
assassinar o papa, mas pensou melhor a respeito por causa do forte apoio do papa entre o povo.
Gregó rio II també m foi celebrado por seu apoio à missã o na Alemanha na pessoa de Bonifá cio (falecido em 754),
nome dado a Wynfrith pelo pró prio papa. Bonifá cio viera da Inglaterra para Roma em 718 e partira no ano seguinte,
sob comissã o direta de Gregó rio II, para evangelizar o povo da Frı́sia. Em suas instruçõ es aos missioná rios, o papa
aconselhou leniê ncia ao lidar com o casamento entre os alemã es recé m-convertidos, autorizando a separaçã o em
certos casos e outras exceçõ es à s leis de casamento. Dado o sucesso de Bonifá cio, o papa o consagrou bispo em 722
e deu-lhe uma carta de recomendaçã o a Carlos Martel, governante dos francos (morto em 741), que forneceria
proteçã o para o trabalho missioná rio de Bonifá cio. Por causa da estreita relaçã o de trabalho entre Bonifá cio e
Gregó rio II, a prá tica litú rgica romana foi adotada em todos os lugares na emergente igreja alemã .
Em casa, o papa consertou as paredes da cidade devastada pela guerra, iniciou os reparos necessá rios pela
enchente do rio Tibre, restaurou extensivamente muitas igrejas e promoveu o monaquismo, especialmente os
beneditinos, reconstruindo e repovoando mosteiros desertos e decadentes, incluindo o famoso Monte Cassino,
reduzido a ruı́nas pelos lombardos. Ele també m foi liturgicamente ativo, apresentando uma missa para as quintas-
feiras da Quaresma. A evidê ncia de seu culto apareceu pela primeira vez no martiroló gio de Ado, no sé culo IX.
Gregó rio II morreu em 11 de fevereiro de 731 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 11 de fevereiro.
90 Gregório III, São, Sírio, 18 de março de 731 - 28 de novembro de 741 (a lista o icial do Vaticano dá apenas o mês de
novembro como o im de seu ponti icado).
Gregó rio III, sı́rio de nascimento, foi capturado por uma multidã o animada no funeral de Gregó rio II, levado ao
Latrã o e eleito papa por aclamaçã o popular. Ele foi consagrado cinco semanas depois, apó s obter a aprovaçã o o icial
do exarca imperial em Ravenna. Ele foi o ú ltimo papa a buscar tal aprovaçã o. Seu ponti icado foi marcado por
crescentes tensõ es sobre a iconoclastia (a polı́tica do imperador de proibir a exibiçã o e o uso de imagens sagradas).
O novo papa exortou o imperador Leã o III a se afastar da polı́tica, mas como nã o recebeu resposta, convocou um
sı́nodo que condenou a iconoclastia e declarou excomungado qualquer pessoa que destruı́sse imagens sagradas.
Isso teria incluı́do o pró prio imperador e o patriarca de Constantinopla. No entanto, os enviados papais que levavam
esses decretos ao Oriente foram interceptados por funcioná rios imperiais na Sicı́lia e presos. Depois que um enviado
conseguiu terminar com os documentos, o imperador decidiu usar a força contra o papa. Ele primeiro despachou
uma frota armada para a Itá lia, que se perdeu em um naufrá gio, con iscou propriedades papais na Calá bria e na
Sicı́lia e declarou que as provı́ncias eclesiá sticas do Ilı́rico e da Sicı́lia estavam sob a jurisdiçã o do patriarca de
Constantinopla, e nã o do papa. No entanto, Gregó rio III permaneceu leal ao impé rio, vendo-o como a ú nica
autoridade polı́tica legı́tima. Na verdade, o apoio do papa ao impé rio foi crucial para a recaptura de Ravena dos
lombardos em 733. Tanto o imperador quanto o exarca mostraram sua gratidã o, respectivamente, fazendo uma
tré gua com o papa e doando seis colunas de ô nix colocadas em frente do tú mulo de Sã o Pedro na bası́lica.
Gregó rio III, no entanto, percebeu que Roma agora estava vulnerá vel ao ataque dos lombardos. Ele reconstruiu as
muralhas da cidade e restaurou as de Civitavecchia. Ele també m fez alianças defensivas com os duques de Spoleto e
Benevento. O rei dos lombardos icou furioso. Depois de capturar Spoleto, ele marchou sobre a pró pria Roma. Dado
o estado enfraquecido do impé rio, Gregó rio III pediu ajuda aos francos na pessoa de seu governante, Carlos Martel
(falecido em 741). Mas Carlos recusou, dada sua aliança anterior com o rei lombardo em sua luta contra os
invasores á rabes da Provença. O papa entã o fez uma aliança politicamente desastrosa com o desprezado duque de
Spoleto, aumentando assim a distâ ncia entre Roma e o rei lombardo.
Em questõ es eclesiais, o papa deu todo o seu apoio, como seu antecessor, aos esforços missioná rios de Bonifá cio
(falecido em 754) na Alemanha, promovendo-o a arcebispo em 732, com autoridade para estabelecer dioceses. O
papa també m fortaleceu as relaçõ es com a Igreja inglesa, conferindo o pá lio (a vestimenta de lã usada ao redor do
pescoço como um sinal de autoridade pastoral) a Egbert de York e Tatwine de Canterbury e nomeando este ú ltimo
vigá rio papal para toda a Inglaterra. Ao mesmo tempo, ele dedicou suas energias ao embelezamento de Roma e suas
igrejas, fazendo questã o de erguer inú meras imagens coloridas em desa io à iconoclastia. Promoveu o monaquismo,
fez as melhorias necessá rias nos cemité rios e construiu um orató rio em Sã o Pedro, dedicado a Cristo Salvador e à
Bem-aventurada Virgem Maria, para a recepçã o das relı́quias dos santos. Gregó rio III morreu em 28 de novembro de
741 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro no orató rio que ele havia construı́do. A primeira evidê ncia de seu culto,
como a de seu predecessor, aparece no martiroló gio de Ado, no sé culo IX. Dia da festa: 28 de novembro.
A mbora tenha havido perı́odos de baixa MUITAS na histó ria do Papado, o perı́odo entre o inı́cio do Impé rio Carolı́ngio (800) e
no inal do ponti icado de Dâ maso II (1048) foi, sem dú vida, seus mais baixos, algumas exceçõ es felizes à regra a
despeito de. O perı́o do foi marcado pela corrupçã o papal (incluindo simonia, isto é , a compra e venda de escritó rios
da igreja, nepotismo, estilos de vida pró digos, concubinato, brutalidade e até assassinato) e a dominaçã o do papado
por reis alemã es e por poderosas famı́lias aristocrá ticas romanas. Durante este perı́o do, pelo menos cinco papas, e
possivelmente um sexto, foram assassinados. Um papa, Sé rgio III (904-11), era ele pró prio um assassino, tendo
ordenado os assassinatos de seu antecessor, Leã o V, e do antipapa Cristó vã o. Dois papas foram presos e mutilados
ou morreram de fome (Estê vã o VIII [IX] [939-42] e Joã o XIV [983-84], respectivamente), e o corpo de um papa
(Formosus [891-96]) foi igualado exumado de seu lugar de descanso, por ordem de um de seus sucessores, e
submetido a julgamento pú blico no chamado Sı́nodo do Cadá ver.
Os eventos que se seguiram à eleiçã o do primeiro papa deste perı́o do, Leã o III (795-816), alertaram sobre o caos
que viria nos pró ximos dois sé culos e meio. Embora eleito por unanimidade, Leã o tinha muitos inimigos entre a
nobreza romana, liderada por Paschalis, um parente de seu predecessor, Adriano I, e outros. Certo dia, enquanto
cavalgava em procissã o para a missa, uma gangue atacou o papa e tentou, sem sucesso, arrancar seus olhos e cortar
sua lı́ngua. Apó s uma cerimô nia formal de depoimento, o papa foi colocado em prisã o domiciliar em um mosteiro.
Com a ajuda de amigos, ele escapou para a corte real de Carlos Magno em Paderborn, mas seus oponentes logo o
seguiram, carregando com eles acusaçõ es de perjú rio e adulté rio, que os francos consideravam bem fundadas. Foi
só em dezembro do ano seguinte, entretanto, que, com a ajuda aberta do pró prio Carlos Magno, o papa se puri icou
cerimonialmente das acusaçõ es. Mas uma nuvem moral pairaria sobre o restante de seu ponti icado.
Por que a Igreja mundial nã o sofreu maiores danos do que durante esse perı́o do de duzentos anos de degradaçã o
e declı́nio papal (embora nem todos os papas dessa é poca fossem “maus papas”)? Por que as igrejas fora da Itá lia
nã o foram tã o seriamente afetadas por esse deplorá vel estado de coisas? Como explicar o fato, por exemplo, de que
a Igreja Anglo-Saxô nica experimentou um perı́o do de vigoroso reavivamento e reforma? Embora seja verdade que o
poder da igreja de Roma sobre outras igrejas locais tenha se expandido continuamente nos anos anteriores, o
exercı́cio desse poder era apenas ocasional e intermitente. Mesmo sob papas fortes como Leã o, o Grande (440-61),
Gregó rio, o Grande (590-604) e Nicolau I (858-67), nã o existia um governo central da Igreja. Ao contrá rio de hoje,
nã o havia sistemas de comunicaçã o para tornar isso possı́vel. A Igreja era menos como uma monarquia ou impé rio
centralizado do que uma federaçã o livre de igrejas locais, que eram federaçõ es sinodais de sé s moná rquicas. Uma
vez que o papado moná rquico foi claramente estabelecido no ponti icado de Gregó rio VII (1073-1085), no entanto, a
corrupçã o poderia se espalhar mais facilmente a partir do centro de uma instituiçã o agora excessivamente
centralizada.
També m houve muitos “primeiros” durante este perı́o do. Felizmente, alguns dos “primeiros”, como o julgamento
do Formosus exumado, nunca se repetiram. Assim, Leã o III (795-816) foi o primeiro - e ú nico - papa a oferecer
reverê ncia a um imperador ocidental. Estê vã o IV (V) (816–17) foi o primeiro papa a ungir um imperador. Joã o VIII
(872-82) tem a duvidosa distinçã o de ser o primeiro papa a ser assassinado, tendo sido envenenado e espancado até
a morte. Marinus I (882-84) foi o primeiro bispo de outra diocese a ser eleito Bispo de Roma, em violaçã o do câ non
15 do Concı́lio de Nicé ia (325). Portanto, ele foi també m o primeiro bispo a ser eleito Bispo de Roma! A prá tica de
eleger bispos de outras dioceses como Bispo de Roma logo se tornou comum, no entanto, e permanece até hoje.
Bonifá cio VI (896) foi o primeiro e ú nico papa a ser eleito depois de ter sido destituı́do por duas vezes por conduta
imoral, uma vez como subdiá cono e depois como sacerdote. Joã o XI (931-35 / 6) foi o primeiro e ú nico ilho
ilegı́timo de um papa que se tornou papa. Joã o XV (985-96) foi o primeiro papa a canonizar formalmente um santo,
Ulric de Augsburg, em 993. Gregó rio V (996-99) foi o primeiro papa nascido na Alemanha. (Bonifá cio II [530-32] foi
o primeiro papa de origem germâ nica.) Silvestre II (999-1003) foi o primeiro papa francê s. Leã o VIII (963-65) foi o
primeiro leigo eleito papa, embora a legitimidade canô nica de sua eleiçã o tenha sido questionada devido à maneira
como seu predecessor foi deposto. O antipapa Constantino, també m um leigo, havia sido eleito e consagrado em 767,
mas ambos os atos foram posteriormente declarados nulos e sem efeito por um Sı́nodo de Latrã o. Uma sé rie de trê s
leigos foram eleitos para o papado no sé culo XI: Bento VIII (1012-24), o irmã o mais novo de Bento, Joã o XIX (1024-
32) e Bento IX, que també m foi o ú nico papa na histó ria a ter realizado o ofı́cio papal em trê s momentos diferentes
(1032–44, 1045 e 1047–48). Joã o XII (955-64) foi o primeiro e ú nico adolescente eleito para o papado (ele tinha
dezoito anos). No entanto, ele nã o teve um longo ponti icado, morrendo de um derrame sofrido menos de nove anos
depois, supostamente enquanto estava na cama com uma mulher casada. Clemente II (1046–47) foi o primeiro papa
a permanecer bispo de sua diocese anterior (Bamberg, Alemanha) enquanto servia como bispo de Roma. Seus
sucessores imediatos, Dâ maso II (1048), Leã o IX (1049–1054) e Victor II (1055–57) izeram o mesmo, mantendo as
dioceses de Brixen, Toul e Eichstä tt, respectivamente. Estê vã o IX (X) (1057–1058) permaneceu como abade de Monte
Cassino durante seu ponti icado, e Nicolau II (1058–1061) permaneceu como bispo de Florença durante o seu.
Os leigos participaram das eleiçõ es papais durante a maior parte do primeiro milê nio cristã o - à s vezes
diretamente junto com o clero romano e à s vezes representativamente por meio da nobreza romana. Durante
grande parte do perı́o do coberto por esta seçã o, os imperadores també m estiveram diretamente envolvidos nas
eleiçõ es papais, seja por meio de aprovaçã o subsequente ou por indicaçã o direta de candidatos. Nicolau II (1058-
1061) foi o primeiro papa a tentar restringir tais eleiçõ es aos cardeais-bispos, com o consentimento subsequente do
clero e leigos. Em qualquer caso, muitos dos papas eleitos durante esse perı́o do cumpriram mandatos
extraordinariamente curtos. Assim, houve vinte papas eleitos no sé culo IX e vinte e trê s no sé culo X, em comparaçã o
com apenas seis papas eleitos no sé culo XIX e oito papas no sé culo XX (e isso inclui o ponti icado de trinta e trê s dias
de Joã o Paulo I em 1978).
Este perı́o do també m testemunhou sé rias rupturas entre as igrejas do Oriente e do Ocidente, levando
eventualmente ao Cisma Leste-Oeste que continua até hoje. A medida que esse perı́o do chegava ao im em meados
do sé culo XI, a necessidade de reforma tornava-se cada vez mais evidente. Os cinco papas pouco antes do
crucialmente importante Gregó rio VII (1073–85), cujo ponti icado marcou o inı́cio de mais um perı́o do importante
na histó ria papal, foram todos reformadores com vá rios graus de sucesso. Mas nã o há emblema mais vı́vido deste
perı́o do do que o chamado Sı́nodo do Cadá ver, no qual o falecido Papa Formoso foi exumado de sua sepultura,
colocado em julgamento pú blico, sacramentalmente degradado e entã o mutilado - tudo sob a direçã o de um de seus
sucessores, Stephen VI (VII). Stephen, entretanto, pagaria por seu pecado. Ele pró prio foi deposto, despojado de sua
insı́gnia papal, preso e estrangulado até a morte. Essas foram as palhaçadas de mais do que alguns dos sucessores
do apó stolo Pedro nos sé culos IX, X e XI.
96 Leão III, Santo, 27 de dezembro de 795 - 12 de junho de 816 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado no dia
de sua eleição, 26 de dezembro, e não no dia de sua consagração como Bispo de Roma, 27 de dezembro).
Leã o III é mais conhecido por sua coroaçã o de Carlos Magno, rei dos francos, como o primeiro imperador carolı́ngio
(e o precursor do Sacro Impé rio Romano) em Sã o Pedro no dia de Natal de 800. Ele també m é o primeiro e ú nico
papa a ofereça reverê ncia a um imperador ocidental.
Como mencionado acima, sua eleiçã o para o papado em 26 de dezembro de 795, embora unâ nime, nã o foi sem
oposiçã o real, particularmente de membros da aristocracia que eram parentes do predecessor de Leã o, Adriano I.
(Ele foi consagrado no dia seguinte.) Em 25 de abril de 799, ele foi violentamente atacado durante a procissã o para a
missa e uma tentativa malsucedida foi feita para cortar sua lı́ngua e cegá -lo. Ele foi entã o formalmente deposto e
enviado para um mosteiro, de onde mais tarde escapou com a ajuda de amigos. Ele foi até a corte de Carlos Magno
em Paderborn e foi recebido com a devida pompa.
O rei franco se recusou a reconhecer o depoimento do papa. Logo depois disso, entretanto, representantes da
facçã o anti-Leonina chegaram carregando acusaçõ es de perjú rio e adulté rio contra o papa. Embora muitos francos
considerassem as acusaçõ es crı́veis, eles foram impedidos de fazer um julgamento sobre elas por causa do princı́pio
comumente aceito de que nenhum poder poderia julgar a Sé Apostó lica. Carlos mandou escoltar o papa de volta a
Roma, mas os problemas na cidade persistiram. Um ano depois, o pró prio Carlos chegou a Roma e foi recebido de
maneira apropriada para um imperador visitante. Em 1 ° de dezembro de 800, o rei realizou um concı́lio em Sã o
Pedro e explicou que seu objetivo era examinar as acusaçõ es contra o papa. Mas a assemblé ia disse que nã o
desejava fazê -lo porque nã o poderia julgar o papa. Em 23 de dezembro, Leo declarou-se pronto para ser expurgado
dessas “falsas acusaçõ es” e entã o fez um juramento de purgaçã o, jurando inocê ncia. Seus oponentes foram
condenados à morte, mas o papa teve suas sentenças comutadas para o exı́lio. Dois dias depois, quando a missa de
Natal estava começando, Carlos levantou-se de suas oraçõ es em frente ao tú mulo de Sã o Pedro e o papa colocou
uma coroa imperial em sua cabeça. A congregaçã o o saudou como “Imperador dos Romanos” e Leo se ajoelhou em
homenagem a ele.
A coroaçã o foi de grande benefı́cio para ambos os lados. Carlos Magno agora gozava de pelo menos status igual ao
de seu homó logo imperial em Constantinopla e de uma posiçã o legal mais clara em relaçã o a Roma e aos Estados
Pontifı́cios. Para Leã o III, a coroaçã o estabeleceu um poder secular em Roma para manter a ordem, pô s im à
dependê ncia do papado dos imperadores bizantinos e acrescentou prestı́gio ao pró prio ofı́cio papal, já que foi o
papa quem concedeu a coroa ao imperador. A coroaçã o, no entanto, també m plantou as sementes de um eventual
con lito entre as duas potê ncias - um con lito que perduraria durante grande parte da Idade Mé dia.
Embora agora reabilitado e contando com o total apoio do novo imperador, Leã o III viu-se ofuscado por Carlos
Magno, que, por sua vez, fez o que quis, nã o apenas no domı́nio temporal, mas també m em questõ es eclesiá sticas. Ele
interferiu nos negó cios da Igreja Romana e na gestã o dos Estados Pontifı́cios, e induziu Leã o em 798 a elevar
Salzburgo a uma arquidiocese com status metropolitano e a convocar um sı́nodo em Roma para condenar o
Adopcionismo Espanhol (uma heresia que sustentava que Jesus Cristo é o ilho natural e adotado de Deus). E
signi icativo, portanto, que Leã o III resistiu ao esforço de Carlos Magno de adicionar a frase “e do Filho” (lat., Filioque
) ao Credo Niceno. (Já estava em uso na Igreja franca.) Leo nã o teve problemas com a doutrina implı́cita na frase,
mas ele se opô s a qualquer alteraçã o do credo histó rico. Ele nã o queria alienar os gregos, que se opunham
fortemente à mudança por motivos doutriná rios. Quando Charles morreu (28 de janeiro de 814), Leo começou a
agir com mais independê ncia, mas infelizmente nã o com mais sabedoria. Quando outra conspiraçã o contra ele veio à
tona, ele pessoalmente julgou os conspiradores sob a acusaçã o de traiçã o e condenou muitos deles à morte (815).
Fora isso, Leã o III era um administrador e iciente dos Estados Papais e do vasto sistema de bem-estar da Igreja.
Ele també m deu continuidade ao programa de seu predecessor de construir, restaurar e embelezar as igrejas de
Roma. Em assuntos estrangeiros, ele manteve um grande interesse nos assuntos da Igreja Inglesa, ajudando a
restaurar o rei da Nortú mbria ao trono, resolvendo uma disputa entre os arcebispos de Cantuá ria e York e retirando
o pá lio (a vestimenta de lã usada em torno do pescoço como sinal de autoridade pastoral) do bispo de Lich ield.
Apesar de seu ponti icado severo, divisivo e moralmente duvidoso, ele foi incluı́do em um catá logo de santos em
1673, por causa do presumido “milagre” da restauraçã o de seus olhos e lı́ngua no ataque a ele em 799. Ele morreu
em 12 de junho de 816 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 12 de junho.
99 Eugenius [Eugene] II, 11 de maio (?), 824 - 27 de agosto (?), 827 (maio de 824 - agosto de 827 na lista o icial do
Vaticano).
Durante o ponti icado de Eugê nio II, o papado icou sob o controle mais direto do imperador. A mudança foi
provocada pelo partidarismo em Roma entre a nobreza pró -franca e o clero romano e pela preocupaçã o do
imperador com a cadeia de eventos no ponti icado anterior, de Pascal I, que levou ao assassinato e exı́lio dos
principais o iciais pró -franco. A eleiçã o de Eugê nio se seguiu a vá rios meses de distú rbios em Roma, com o clero e a
aristocracia fazendo indicaçõ es rivais. O clero e os leigos comuns favoreciam o presbı́tero Sisı́nio, enquanto a
nobreza favorecia Eugê nio, arcipreste de Santa Sabina no Aventino. Apó s prolongadas discussõ es, o monge Wala, da
abadia beneditina de Corbi, que també m era um conselheiro de con iança dos dois co-imperadores, Luı́s, o Piedoso e
seu ilho Lotá rio, arquitetou a eleiçã o de Eugê nio, provavelmente no inı́cio de maio de 824. Ele foi consagrado Bispo
de Roma em 11 de maio ou por aı́.
Eugê nio nã o apenas informou a corte imperial de sua eleiçã o, mas també m reconheceu sua soberania nos Estados
papais e fez um juramento de lealdade a Luı́s. Depois de uma reuniã o entre o novo papa e o co-imperador Lothair
em Roma, uma “Constituiçã o Romana” foi publicada (1 de novembro de 824), fortalecendo o controle franco sobre
Roma e o papado. Entre os termos estava a restauraçã o da prá tica antiga, suspensa desde o sı́nodo do Papa Estê vã o
III (IV) de 769, do povo de Roma, bem como da participaçã o do clero nas eleiçõ es papais. No entanto, antes de ser
consagrado, o papa eleito era obrigado a fazer um juramento de lealdade ao imperador perante o legado imperial.
Todos os cidadã os dos Estados Papais també m deveriam fazer um juramento de lealdade ao imperador. Em um
sı́nodo de Latrã o convocado por Eugê nio II em novembro de 826, os termos da constituiçã o foram rati icados.
No entanto, o sı́nodo també m mostrou sua independê ncia da corte franca em questõ es eclesiá sticas. Aplicou-se à
Igreja franca uma coleçã o de câ nones disciplinares que tratam da simonia (a compra e venda de ofı́cios da igreja), as
quali icaçõ es e deveres dos bispos, educaçã o clerical, vida moná stica, observâ ncia do domingo, casamento e outros
assuntos. E quando Luı́s enviou um enviado para instar o papa a aceitar um acordo na contrové rsia iconoclasta com
o Oriente, o papa insistiu que a questã o havia sido resolvida pelo Segundo Concı́lio de Nicé ia (787). Em 1º de
novembro de 825, Luı́s convocou uma comissã o de teó logos francos em Paris, com o conhecimento e a aprovaçã o do
papa, para examinar toda a questã o. Seu relató rio rejeitou Nicé ia II e censurou o papa por proteger o erro e a
superstiçã o. Mas o papa nã o cedeu e Luı́s nã o insistiu no assunto. Nesse ı́nterim, o papa manteve correspondê ncia
com Theodore of Studios (falecido em 826), o lı́der da facçã o pró -imagem no Oriente. Entre outras atividades do
ponti icado de Eugê nio II estava a bê nçã o de Ansgar e a missã o de seus companheiros aos dinamarqueses no
outono de 826. Ele morreu no inal de agosto de 827 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
101 Gregório IV, 29 de março de 828 – 25 de janeiro de 844 (827 – janeiro de 844 na lista o icial do Vaticano).
Embora o ponti icado de Gregó rio IV tenha durado cerca de dezesseis anos, em geral nã o foi distinguido. Ele vinha
de uma famı́lia romana aristocrá tica e foi eleito com o apoio da nobreza leiga, cujos direitos de voto nas eleiçõ es
papais foram restaurados pela “Constituiçã o Romana” do imperador franco Lotá rio, promulgada durante o
ponti icado de Eugê nio II (824). Parece que ele tentou escapar de sua eleiçã o refugiando-se na bası́lica de Santi
Cosma e Damiano, mas a multidã o o seguiu até lá , o aclamou com alegria como papa e o conduziu ao palá cio de
Latrã o. De acordo com os termos da constituiçã o, no entanto, a consagraçã o de Gregó rio foi adiada até que ele
recebeu a aprovaçã o formal de um legado imperial e jurou lealdade ao imperador. Ele foi consagrado Bispo de Roma
em 29 de março de 828.
Quando uma disputa diná stica surgiu entre o imperador Luı́s, o Piedoso, e seus ilhos Lotá rio, Pepino e Luı́s, o
Alemã o, Gregó rio IV apoiou Lotá rio. Os bispos francos icaram irritados com a demonstraçã o de partidarismo,
lembraram ao papa seu juramento de lealdade a Luı́s e ameaçaram excomungá -lo. O papa manteve sua posiçã o,
a irmando que a autoridade do sucessor de Sã o Pedro era maior do que a autoridade imperial. Quando os exé rcitos
dos ilhos se reuniram contra o exé rcito de seu pai perto de Colmar, no verã o de 833, os irmã os persuadiram o papa
a ir ao acampamento de Luı́s para negociar. Quando ele voltou com o que julgou ser um acordo razoá vel, o papa
descobriu que Lothair o havia enganado. Na noite em que o papa voltou, a maioria dos partidá rios de Luı́s o
abandonou e o imperador foi forçado a se render incondicionalmente, sendo posteriormente deposto. Gregó rio IV
voltou a Roma abatido. Luı́s foi mais tarde restaurado ao poder, mas apó s sua morte um con lito sangrento se
desenvolveu entre os ilhos. O papa mais uma vez tentou mediar um acordo, mas sem sucesso.
Pouco mais se sabe sobre o ponti icado de Gregó rio IV. Ele construiu uma fortaleza em Ostia, que chamou de
Gregorió polis, para defender contra os sarracenos, que haviam se estabelecido na Sicı́lia. Em 831 ou 832, ele
també m recebeu Ansgar, que havia sido enviado em uma missã o entre os dinamarqueses, e deu-lhe o pá lio (a veste
de lã usada ao redor do pescoço de um arcebispo como um sinal de sua autoridade pastoral) e nomeou-o legado
papal para a Escandiná via e as missõ es eslavas. Por volta da mesma é poca, ele recebeu Amalarius de Metz (m. Ca.
850), um famoso erudito litú rgico, e designou um arquidiá cono para ensinar as prá ticas litú rgicas romanas de
Amaralius. O papa gastou grandes somas de dinheiro construindo e decorando igrejas. Ele encomendou um retrato
de si mesmo em mosaico que pode ser visto na abside de Sã o Marcos, a igreja onde havia sido cardeal-sacerdote na
é poca de sua eleiçã o para o papado. Ele morreu em 25 de janeiro de 844 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
103 Leão IV, Santo, 10 de abril de 847 - 17 de julho de 855 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado em janeiro,
mês de sua eleição, mas ele não foi consagrado Bispo de Roma até 10 de abril).
Leã o IV fez muito para consertar a cidade de Roma apó s os ataques sarracenos de 846, incluindo a construçã o de
um muro de 12 metros ao redor da Bası́lica de Sã o Pedro e grande parte do Monte do Vaticano, criando o que veio a
ser chamado de “Cidade Leonina”. Ele foi eleito papa por unanimidade no dia em que seu antecessor, Sé rgio II,
morreu (27 de janeiro de 847), e foi consagrado bispo de Roma seis semanas depois, em 10 de abril. Ele nã o
esperou o consentimento imperial exigido pela Constituiçã o Romana de 824, sob o argumento de que os recentes
ataques sarracenos à cidade impossibilitaram o atraso.
Alé m de dar atençã o à s muralhas de Roma, Leã o organizou uma aliança entre vá rias cidades gregas na Itá lia e em
849 lançou um ataque marı́timo bem-sucedido contra os sarracenos nos arredores de Ostia, quando se preparavam
para atacar Roma novamente. Em 854 ele reconstruiu Centumcellae (agora Civitavecchia), chamando-a de Leó polis.
O prestı́gio do papa crescia a cada nova iniciativa e sucesso. No entanto, suas relaçõ es com o imperador franco eram
tensas. Externamente, ele permaneceu respeitoso, mas agiu independentemente da corte imperial na maior parte do
tempo. Assim, embora ele tenha concordado em coroar e ungir o ilho do imperador Lothair, Luı́s II, em Roma, na
Pá scoa de 850, ele també m executou trê s agentes imperiais pelo assassinato de um legado papal.
O estilo autoritá rio de Leã o també m se re letiu em sua denú ncia de poderosos prelados francos como Hincmar,
arcebispo de Rheims, e Joã o, arcebispo de Ravena, pelo uso excessivo da autoridade episcopal, sua excomunhã o de
Anastá cio, cardeal-sacerdote de San Marcello (e um posterior antipapa), e sua recusa ao pedido de Lothair de
nomear Hincmar vigá rio apostó lico e conceder o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de
autoridade pastoral) ao bispo de Autun. Ele també m anulou o Sı́nodo de Soissons (853), que havia invalidado as
ordenaçõ es do bispo deposto temporariamente de Rheims, e exigiu que outro conselho fosse realizado, presidido
por representantes papais. Ele adotou uma abordagem arrogante para com o patriarca de Constantinopla,
castigando o patriarca por ter deposto o bispo de Siracusa (na Sicı́lia) sem primeiro consultar o papa, e convocando
ambas as partes a Roma.
Leã o IV era geralmente um disciplinador estrito em assuntos internos da igreja, como prá ticas penitenciais. Ele
també m promoveu a mú sica sacra e dizem que acrescentou asperges (borrifar á gua benta) à missa. Como muitos de
seus predecessores, Leã o IV reconstruiu ou restaurou vá rias igrejas em Roma, e seu retrato em fresco ainda pode
ser visto em a bası́lica inferior de Sã o Clemente. Ele morreu em 17 de julho de 855 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. Seu dia de festa, agora suprimido, era 17 de julho.
105 Nicholas I, St., ca. 820-67, papa de 24 de abril de 858 a 13 de novembro de 867.
Como Leã o, o Grande (440-61), Gelá sio I (492-96) e Gregó rio, o Grande (590-604) antes dele, Nicolau I concebeu o
papa como o representante de Deus na terra, com autoridade sobre toda a Igreja, Oriente e Ocidente, incluindo todos
os seus bispos, e com o direito de zelar e in luenciar o estado e de receber proteçã o dele. Apó s a morte de Bento III,
uma parte do clero romano voltou-se mais uma vez para Adriano, o cardeal-sacerdote de San Marco, que havia
recusado a eleiçã o trê s anos antes. E mais uma vez ele retirou seu nome de consideraçã o. Nicolau, conselheiro e
amigo do papa anterior, foi eleito na presença e com a aprovaçã o do imperador Luı́s II, que correu para Roma assim
que soube da morte de Bento III. Nicolau I foi consagrado Bispo de Roma em 24 de abril de 858.
A visã o exaltada de Nicolau do papado moldou todo o seu ponti icado. Ele excomungou e depô s o arcebispo de
Ravenna e o reintegrou somente depois que ele prometeu se submeter a Roma no futuro. O papa també m entrou em
confronto com o arcebispo Hincmar de Rheims, o metropolita mais poderoso do impé rio, sobre a destituiçã o de
alguns de seus clé rigos e do bispo de Soissons pelo arcebispo. Ao anular as açõ es de Hincmar, Nicolau I apelou para
documentos falsos, conhecidos como Falsos Decretais (atribuı́dos a Isidoro de Sevilha), que a irmavam a autoridade
superior dos papas sobre sı́nodos e metropolitas. Quando a esposa do rei Lothair de Lorraine apelou ao papa
depois de ser abandonada por seu marido por outra mulher, e depois de um sı́nodo em Aachen e outro em Metz
rati icar o divó rcio e aprovar o segundo casamento de Lothair, o papa depô s e excomungou os dois arcebispos (de
Colô nia e Trier) quando entregaram os decretos sinodais a ele em Roma. O imperador Luı́s II enviou tropas a Roma
e Nicolau refugiou-se na Bası́lica de Sã o Pedro. Mas eventualmente o imperador recuou, e Lothair voltou para sua
esposa, pelo menos temporariamente.
Nicolau I foi igualmente assertivo em suas relaçõ es com o Oriente. Ele reviveu as reivindicaçõ es jurisdicionais há
muito adormecidas de Roma sobre o Ilı́rico, e quando o patriarca de Constantinopla, Iná cio, foi forçado a abdicar em
favor de Photius, o papa recusou-se a reconhecer Photius e o depô s e excomungou em um sı́nodo realizado em
Latrã o em 863 Quando o imperador bizantino Miguel III protestou, o papa o repreendeu, apontando que ele agiu em
conformidade com os direitos da Sé Apostó lica. As relaçõ es com o Oriente pioraram quando o papa enviou bispos
missioná rios à Bulgá ria em resposta a um apelo de seu rei, Bó ris I. O conselho da delegaçã o papal sobre questõ es
morais e canô nicas tinha um tom anti-bizantino, e Photius icou indignado com isso. Visto que a Bulgá ria havia sido
evangelizada originalmente por missioná rios bizantinos, ele sentiu que estava sob sua pró pria jurisdiçã o espiritual.
Depois de denunciar a interferê ncia latina aos outros patriarcas do Oriente, Photius convocou um sı́nodo em
Constantinopla (867) que excomungou e depô s Nicolau. O papa havia morrido (em 13 de novembro de 867) antes
que a palavra da açã o do Sı́nodo chegasse a Roma, mas as excomunhõ es mú tuas estabeleceram claramente as bases
para o Cisma Leste-Oeste de 1054 - um cisma que perdura até hoje. Embora o sucessor de Nicolau I, Adriano II,
recomendasse que seu nome fosse incluı́do nas oraçõ es da missa, o nome de Nicolau I nã o foi listado entre os santos
até 1630. Ele foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Dia da festa: 13 de novembro.
106 Adriano [Adrian] II, 792-867, papa de 14 de dezembro de 867 a 14 de dezembro de 872.
Casado antes da ordenaçã o, Adriano II, cardeal-sacerdote de San Marco, era tã o amplamente respeitado que recusou
duas vezes a eleiçã o para o papado (em 855 e 858) antes de inalmente aceitar a eleiçã o em 867, e apenas porque os
partidá rios e oponentes de Nicolau I o estilo linha-dura nã o chegava a acordo sobre um sucessor. Embora nã o
saibamos a data da sua eleiçã o, foi consagrado Bispo de Roma na Bası́lica de Sã o Pedro a 14 de dezembro de 867,
pelos bispos Donato de Ostia, Formosus do Porto (que seria eleito Papa em 891, apenas para ter seu cadá ver
exumado e julgado em 897), Pietro da Caverna e Leone da Silva Câ ndida.
O ponti icado de Adriano II foi prejudicado desde o inı́cio, quando o duque de Spoleto atacou e saqueou Roma.
Entã o sua pró pria ilha foi estuprada e assassinada junto com sua mã e, a esposa do papa, por um irmã o do ex-
antipapa Anastá cio, que Adriano II havia nomeado arquivista papal. Adriano demitiu e excomungou Anastá cio, mas
menos de um ano depois deu-lhe outro cargo na chancelaria. O papa idoso també m mostrou fraqueza em outras
á reas. Ele devolveu a comunhã o ao rei Lothair de Lorena, embora o papa nã o tivesse nenhuma evidê ncia irme de
que o rei havia cumprido a ordem de Nicolau I de retomar sua esposa divorciada. Ele també m suspendeu a
excomunhã o da amante de Lothair. Alé m disso, ele falhou em suas tentativas de in luenciar a linha de sucessã o em
Lorraine apó s a morte de Lothair e de trazer disputas civis e eclesiá sticas nos reinos carolı́ngios perante a corte
papal. Por este ú ltimo, ele recebeu uma repreensã o mordaz do arcebispo Hincmar de Rheims. Ao contrá rio de
Nicolau I, no entanto, Adriano II recuou imediatamente.
Quando soube da excomunhã o e deposiçã o de seu predecessor pelo patriarca Photius, Adriano convocou um
sı́nodo em 869 que condenou Photius e seus associados. Ao mesmo tempo, ele enviou dois (e talvez trê s)
representantes pessoais ao Quarto Concı́lio de Constantinopla (869-70), embora eles nã o tivessem permissã o para
presidir como o papa solicitou. O concı́lio manteve a condenaçã o do sı́nodo romano de Photius, mas també m listou
os patriarcados na ordem de precedê ncia seguida no Oriente: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e
Jerusalé m. Roma sempre se opô s à colocaçã o de Constantinopla à frente de Alexandria, mas cedeu neste caso,
restaurando temporariamente a paz entre o Oriente e o Ocidente. No entanto, trê s dias apó s o encerramento do
conselho, o imperador Bası́lio decidiu que a Bulgá ria icaria sob a jurisdiçã o de Constantinopla, nã o de Roma. Um
metropolita bizantino foi consagrado para ela e o clero latino recebeu ordem de partir. Adriano reteve o controle
romano sobre a Morá via ao aprovar o uso da liturgia eslava antiga e consagrar Metó dio como arcebispo de Sirmium
e legado papal aos eslavos. O ú ltimo ato registrado de Adriano II foi o recrutamento de Luı́s II na Bası́lica de Sã o
Pedro no dia de Pentecostes (18 de maio) de 872. O papa morreu em 14 de dezembro de 872 e foi sepultado na
Bası́lica de Sã o Pedro.
115 Teodoro II, novembro / dezembro de 897 (dezembro de 897 na lista o icial do Vaticano).
Embora ele estivesse no cargo apenas vinte dias (as datas exatas sã o desconhecidas), Teodoro II realizou um sı́nodo
invalidando o chamado Sı́nodo do Cadá ver de 897, que havia colocado o cadá ver do Papa Formoso em julgamento
(ver Formosus, nú mero 111, acima) . Teodoro II reabilitou Formoso, reconheceu a validade de suas ordenaçõ es e
atos papais e ordenou que fossem queimadas todas as cartas solicitadas pelo Papa Estê vã o VI (VII) ao clero - cartas
nas quais eles foram forçados a renunciar à validade de suas ordenaçõ es por Formoso . Teodoro entã o ordenou que
o corpo de Formoso fosse exumado da sepultura particular em que fora colocado depois de ter sido lançado no rio
Tibre, vestido com as vestes pontifı́cias e reenterrado com honras em sua sepultura original na Bası́lica de Sã o
Pedro. As circunstâ ncias da morte de Teodoro II sã o desconhecidas, mas um historiador acredita que os atos
corajosos do papa lhe custaram a vida. Dada a atmosfera altamente carregada da é poca, essa especulaçã o
provavelmente nã o é sem fundamento. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.
118 Leo V, d. início de 904 ou outubro de 905, papa de julho / agosto a setembro de 903.
Depois de menos de dois meses no cargo, Leã o V foi derrubado por um antipapa, Christopher, preso e assassinado.
Na é poca de sua eleiçã o, Leo era padre em uma cidade a cerca de 32 quilô metros a sudoeste de Roma. Os
historiadores nã o sabem como um homem que nã o era membro do clero romano poderia ter sido eleito papa neste
perı́o do. Possivelmente era um candidato de compromisso, escolhido por causa de sua boa reputaçã o. Mas talvez
por ser um estranho, ele foi derrubado em uma revoluçã o no palá cio por Christopher, cardeal-sacerdote de San
Damaso, que se declarou papa e mandou lançar Leã o na prisã o. Mas Christopher foi, por sua vez, deposto por Sé rgio
(mais tarde Papa Sé rgio III) e enviado para a prisã o com Leã o. Depois de suportar vá rias semanas de misé ria, ambos
foram assassinados. (Outra versã o diz que Christopher ordenou que Leo fosse assassinado, e entã o ele pró prio foi
assassinado por ordem de Sergius.) Uma lenda do sé culo XI confunde Leã o V com Tugdual (també m Tutwal e Tual),
um santo bretã o que se pensava ter sido milagrosamente eleito papa durante uma peregrinaçã o a Roma. Tugdual, no
entanto, realmente viveu no sé culo VI, nã o no dé cimo. (O Dictionnaire historique de la papauté de Levillain insiste que
Leã o V morreu " sans doute " [Fr., "sem dú vida"] em outubro de 905. JND Kelly coloca sua morte no inı́cio de 904.)
Leã o V pode ter sido sepultado em Sã o Pedro ou no Latrã o.
120 Anastasius III, ca. Junho de 911-ca. Agosto de 913 (abril de 911 a junho de 913 na lista o icial do Vaticano; o
Dictionnaire historique de la papauté de Levillain começa seu ponti icado em setembro de 911 e termina em
outubro de 913).
O ponti icado de Anastá cio III foi completamente dominado pela famı́lia Teo ilata, especi icamente por seu poderoso
chefe de famı́lia (cô nsul, senador, diretor inanceiro da Santa Sé ) e sua ambiciosa esposa, Teodora. Nenhum registro
sobreviveu da eleiçã o e consagraçã o de Anastá cio como bispo de Roma, e pouco de seu ponti icado. Existe apenas
um documento, um touro concedendo o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade
pastoral) ao bispo de Vercelli. Ele recebeu uma longa carta de Nicolau, o patriarca reintegrado de Constantinopla,
que deplorava a aprovaçã o do Papa Sé rgio III do quarto casamento do imperador Leã o VI em 906 e o
comportamento dos legados papais. Nã o há registro da resposta do papa, mas provavelmente foi insatisfató ria
porque Nicolau removeu o nome do papa da lista daqueles que deveriam ser orados na missa e mais uma vez as
relaçõ es entre Roma e Constantinopla azedaram. Apó s um ponti icado de pouco mais de dois anos, Anastá cio III
morreu e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
121 Lando [Landus], ca. Agosto 913-ca. Março de 914 (julho de 913 a fevereiro de 914 na lista o icial do Vaticano;
Dictionnaire historique de la papauté de Levillain começa seu ponti icado em novembro de 913 e termina em
março de 914).
Os historiadores nã o concordam com a data da eleiçã o e consagraçã o de Lando como bispo de Roma. E prová vel que
sua candidatura tenha sido aprovada pela poderosa famı́lia Teo ilato em Roma. Seu breve ponti icado de cerca de
seis meses foi indistinto. Na verdade, nada é registrado sobre seu reinado, exceto uma doaçã o, dada em memó ria de
seu pai, à igreja catedral em seu territó rio natal, Sabina. Ele foi enterrado em Sã o Pedro.
122 João X, março / abril de 914 a maio de 928 (março de 914 a maio de 928 na lista o icial do Vaticano; Dictionnaire
historique de la papauté de Levillain diz que seu ponti icado começou no início de abril e situa sua morte em 929).
Por tentar se distanciar das poderosas famı́lias nobres de Roma, Joã o X foi deposto, preso e sufocado até a morte
apó s um ponti icado de cerca de quatorze anos. Ele havia sido arcebispo de Ravenna por nove anos quando, por
instigaçã o da nobreza romana e especialmente da famı́lia Teo ilacta, foi eleito para o papado. A ironia nã o foi perdida
por aqueles que eram leais à memó ria do Papa Formoso (891-96), um papa cujo corpo foi exumado de sua
sepultura e colocado em julgamento pú blico, entre outras coisas por ter se mudado de uma diocese (Porto) para
outro (Roma) ao aceitar a eleiçã o para o papado. No entanto, com a crescente proeminê ncia da Sé Romana, as
objeçõ es canô nicas de longa data à eleiçã o de bispos de outras dioceses para o papado estavam começando a
enfraquecer.
Talvez o verdadeiro motivo da nobreza romana para convocar Joã o X de Ravena a Roma fosse sua reputaçã o de
liderança, numa é poca em que suas grandes propriedades eram ameaçadas pelos contı́nuos ataques sarracenos na
Itá lia central. Joã o X organizou imediatamente uma coalizã o de prı́ncipes italianos e convenceu o imperador
bizantino, Constantino VII, a fornecer ajuda naval. Apó s um cerco de trê s meses do qual o pró prio papa participou, a
aliança derrotou os sarracenos de forma decisiva em agosto de 915. No mê s seguinte, ele coroou Berengar I como
imperador na Bası́lica de Sã o Pedro, arrancando dele o juramento tradicional de garantir os direitos e posses da
Santa Sé .
Na frente eclesiá stica, Joã o X aprovou a regra moná stica estrita da recé m-fundada abadia de Cluny (910),
promoveu a conversã o dos normandos, resolveu disputas sobre a sucessã o episcopal nas dioceses de Narbonne e
Lovaina, respectivamente, e trabalhou (sem sucesso) trazer a Croá cia e a Dalmá cia de volta à comunhã o com Roma e
suprimir o uso litú rgico da lı́ngua eslava. No inal de 923, ele restaurou a unidade com a Igreja Oriental, uma unidade
que foi quebrada mais uma vez em 912 porque os papas Sé rgio III (904-11) e Anastá cio III (911-13) aprovaram o
quarto casamento do imperador, em violaçã o do Direito canô nico oriental. Na pró pria Roma, Joã o X reconstruiu e
decorou completamente o Latrã o. Mas ele també m tomou algumas açõ es bizarras, como con irmar a eleiçã o do ilho
de cinco anos do conde Heribert, Hugo, como arcebispo de Reims, em troca da qual garantiu a libertaçã o do rei
Carlos, o Simples, que Heribert havia aprisionado.
O que levou à queda do papa, no entanto, foram seus esforços deliberados para marcar um curso
independentemente das poderosas famı́lias nobres de Roma. Dois anos apó s o assassinato do imperador Berengar
em 924, Joã o X fez um pacto com o novo rei da Itá lia, Hugo da Provença. Isso alarmou Marozia, a ilha poderosa de
Teo ilato, que morrera cerca de seis anos antes. Ela e seu marido, Guido, o marquê s da Toscana, organizaram uma
revolta contra Joã o X e seu irmã o Pedro, em quem o papa cada vez mais con iava. Pedro foi morto no Latrã o, diante
dos olhos de Joã o X, e meio ano depois o pró prio papa foi deposto e preso no Castelo de Santo Angelo. Ele morreu
depois de vá rios meses (provavelmente no inı́cio de 929), quase certamente por as ixia por ordem de Marozia. Ele
foi enterrado na Bası́lica de Latrã o.
125 João XI, março de 931 a dezembro de 935 ou janeiro de 936 (março de 931 a dezembro de 935 na lista o icial do
Vaticano).
Eleito e consagrado bispo de Roma quando ainda tinha vinte e poucos anos, o papa Joã o XI era ilho ilegı́timo do
papa Sé rgio III (904-11) e de Marozia, chefe da poderosa famı́lia Teo ilato. Este é o ú nico caso registrado de um ilho
ilegı́timo de um papa anterior que sucedeu ao papado.
Um dos primeiros atos o iciais de Joã o XI foi con irmar que a nova abadia reformista de Cluny (fundada em 909)
estava sob a proteçã o da Santa Sé e que seus abades deveriam ser eleitos livremente. Quando o imperador bizantino
Romano I pediu ao papa no inı́cio de 932 que aprovasse a nomeaçã o de seu ilho de 16 anos, Teo ilato, como
patriarca de Constantinopla, o papa o fez e no ano seguinte enviou dois bispos como seus representantes para
consagrar e entronizar os jovens homem - uma açã o que chocou muitos na Igreja Oriental. Nesse mesmo verã o, Joã o
XI o iciou o casamento da viú va Marozia e Hugo da Provença, rei da Itá lia. O casamento e a participaçã o do papa nele
foram altamente controversos porque Hugo era cunhado de Marozia. O casamento era contrá rio à s leis canô nicas da
é poca. També m era impopular entre o povo romano por causa de suas suspeitas de domı́nio estrangeiro. Uma
revolta foi incitada por Alberico II, ilho de Marozia de seu primeiro casamento, a quem Hugo havia insultado no
banquete de casamento. Em dezembro, uma multidã o armada invadiu o Castel Sant'Angelo, onde o casal residia.
Hugh escapou, mas Alberic prendeu sua mã e e seu meio-irmã o, o papa, e se proclamou prı́ncipe de Roma, senador
de todos os romanos, conde e patrı́cio. Nada mais se ouviu falar de Marozia, mas Joã o XI foi mais tarde libertado da
prisã o e colocado em prisã o domiciliar em Latrã o, onde Alberico o tratou como seu escravo pessoal. Um historiador
posterior do sé culo descreveu o papa como "impotente, sem qualquer distinçã o, administrando apenas
sacramentos". Ele foi sepultado na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.
134 Bento VI, 19 de janeiro de 973 a julho de 974 (19 de janeiro de 973 a junho de 974 na lista o icial do Vaticano).
Quando seu protetor, o imperador Otto I, morreu, Bento VI foi capturado, preso e estrangulado até a morte por
ordem do antipapa Bonifá cio, um instrumento da nova poderosa famı́lia Crescentii em Roma. As circunstâ ncias da
eleiçã o de Bento XVI (em setembro ou outubro de 973) permanecem obscuras. Ele parece ter tido o apoio tanto do
partido pró -imperial quanto dos reformadores, que se opuseram a outro papa polı́tico. Ele nã o teve o apoio da
aristocracia romana. A consagraçã o de Bento XVI como bispo de Roma foi adiada até 19 de janeiro de 973, porque,
sob as regras restauradas, a aprovaçã o imperial formal era exigida e o imperador estava de volta à Alemanha na
é poca.
As primeiras decisõ es de Bento VI foram consistentes com os interesses do imperador e també m dos
reformadores. Ele con irmou a posiçã o de premier de Trier, a diocese mais antiga da Alemanha, promoveu a reforma
dos mosteiros e proibiu os bispos de cobrar taxas por ordenaçõ es e consagraçõ es. Mas quando Otto morreu em 7
de maio, o papa perdeu seu pilar de sustentaçã o. O novo imperador, Otto II, preocupado com seus pró prios
problemas na Alemanha, nã o pô de ajudar quando uma facçã o nacionalista, liderada pelo chefe da famı́lia Crescentii,
montou uma revolta contra Bento VI. Em junho de 974, o papa foi apreendido e encarcerado no Castelo de Santo
Angelo.
Um cardeal-diá cono chamado Franco, que era o candidato originalmente escolhido pela famı́lia Crescentii para
suceder Joã o XIII, foi rapidamente eleito e consagrado papa, recebendo o nome de Bonifá cio VII. O representante
imperial correu para Roma no mê s seguinte para exigir a libertaçã o de Bento XVI, mas Bonifá cio, o antipapa,
mandou estrangulá -lo até a morte por um padre chamado Estevã o, a im de fortalecer sua pró pria reivindicaçã o
sobre o papado. O representante imperial liderou uma força que invadiu o castelo, mas Bonifá cio escapou, levando
uma parte do tesouro papal com ele. Outro papa foi eleito (Bento VII) e Bonifá cio foi excomungado. No entanto,
Bonifá cio voltou a Roma seis anos depois, apó s a morte do imperador Otto II, para reclamar o papado do impopular
Bento VII (que foi posteriormente preso, deposto e assassinado).
Notavelmente, o antipapa Bonifá cio VII permaneceu no cargo por cerca de onze meses sem protesto imperial ou
popular signi icativo. Ele morreu repentinamente em 20 de julho de 985, levantando suspeitas de que ele havia sido
assassinado. Seu corpo foi despojado de suas vestes, arrastado nu pelas ruas e deixado aos pé s da está tua de Marco
Auré lio (entã o em frente ao palá cio papal de Latrã o), onde foi pisoteado e esfaqueado repetidamente com lanças. Ele
foi referido agora como “Malefatius” (“malfeitor”) ao invé s de “Bonifá cio” (“fazedor do bem”). Até 1904 Bonifá cio VII
foi classi icado como um papa legı́timo, e o pró ximo papa a assumir o nome Bonifá cio assumiu o nú mero VIII. Alguns
argumentaram que Bonifá cio VII era um papa legı́timo desde a morte de Joã o XIV em agosto de 984. O papa legı́timo,
Bento VI, morreu por estrangulamento em junho de 974 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
139 Sylvester [Silvester] II, Francês, ca. 945–1003, papa de 2 de abril de 999 a 12 de maio de 1003.
Silvestre II foi o primeiro papa francê s. Sua escolha do nome Silvestre representou uma decisã o consciente de se
associar ao Papa Silvestre I (314-35), que há muito era considerado um modelo de cooperaçã o papal com o
imperador. Antes de sua escolha como papa por seu amigo e conselheiro, o imperador Otto III, ele era Gerberto de
Aurillac, arcebispo de Ravenna e anteriormente arcebispo de Rheims, embora sua reivindicaçã o a essa sé fosse
contestada pelos papas Joã o XV e Gregó rio V (ver Joã o XV, nú mero 137 e Gregó rio V, nú mero 138, acima).
Bem educado em literatura, mú sica, matemá tica, iloso ia, ló gica e astronomia, Sylvester deu uma guinada apó s sua
eleiçã o para o papado. Um forte defensor dos direitos dos bispos franceses e um crı́tico igualmente forte do papado
em meio à disputa pela arquidiocese de Rheims (991-95), ele se tornou um tenaz defensor dos direitos papais. Ele
reintegrou seu ex-rival Arnulf (també m Arnoul) como arcebispo de Rheims, alegando que seu depoimento original
nã o havia sido autorizado pelo papa, e agiu de maneira autoritá ria em relaçã o a vá rios bispos que incorreram em
seu descontentamento. Por outro lado, ele foi um reformador dedicado, denunciando a simonia (a compra e venda
de bens espirituais e ofı́cios da igreja), o nepotismo e as violaçõ es do celibato clerical. Ele també m insistiu na livre
eleiçã o de abades pelos monges.
O imperador estava tã o determinado a manter uma relaçã o de cooperaçã o com o papado que acrescentou oito
condados da Pentá polis aos Estados papais, que antes havia se recusado a dar ao Papa Gregó rio V. Juntos, eles
organizaram as igrejas da Polô nia (o papa deu o nome de primeiro arcebispo em 1000) e na Hungria, e em 1001 o
papa enviou uma coroa real ao rei Estê vã o I da Hungria em reconhecimento de seu direito ao trono. Mas em
fevereiro de 1001, os romanos se revoltaram mais uma vez contra o domı́nio estrangeiro. O imperador e o papa
foram forçados a deixar a cidade. Otto morreu no ano seguinte, antes que pudesse restabelecer sua autoridade em
Roma. O novo chefe da famı́lia Crescentii, Joã o II Crescentius, permitiu que o papa voltasse, mas com a condiçã o de
que se limitasse à s funçõ es espirituais. O papa morreu menos de um ano depois, em 12 de maio de 1003, e foi
sepultado na Bası́lica de Latrã o.
140 João XVII, 16 de maio a 6 de novembro de 1003 (junho-dezembro de 1003 na lista o icial do Vaticano; mas JND Kelly
e o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain fornecem as datas de maio a novembro).
O curto ponti icado de Joã o XVII deixou pouco ou nenhum vestı́gio na histó ria do papado. Ele pegou o nú mero XVII
porque havia um antipapa chamado Joã o XVI, entre ele e Joã o XV. Joã o XVII era provavelmente um parente da famı́lia
Crescentii dominante em Roma e sua eleiçã o foi, sem dú vida, planejada pelo lı́der da famı́lia, Joã o II Crescentius.
Nascido John Sicco, era casado antes da ordenaçã o e pai de trê s ilhos. O ú nico ato papal notá vel do papa foi a
autorizaçã o de missioná rios poloneses para trabalhar entre os eslavos. Nã o se sabe como ele morreu ou quantos
anos ele tinha quando morreu. Ele provavelmente foi enterrado na Bası́lica de Latrã o.
141 João XVIII, 25 de dezembro de 1003 - junho / julho de 1009 (janeiro de 1004 - julho de 1009 na lista o icial do
Vaticano; JND Kelly e Levillain’s Dictionnaire historique de la papauté discordam apenas no inal deste ponti icado:
Kelly dá junho / julho, Levillain dá inal de junho).
Pouco se sabe sobre o ponti icado de Joã o XVIII, mas ele pode ter abdicado pouco antes de sua morte e se tornar um
monge na bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros, onde está enterrado. Ele foi cardeal-sacerdote de Sã o Pedro quando
eleito para o papado pela in luê ncia decisiva do chefe da poderosa famı́lia Crescentii, que governou Roma de 1003 a
1012. Em 1004 ele restaurou a diocese de Merseburg, que o Papa Bento VII tinha suprimida e dividida em 981 a
pedido do imperador Otto II, e també m aprovou em 1007 o estabelecimento da diocese de Bamberg na Baviera. No
inal de 1007, ele convocou os bispos de Sens e Orleans a Roma, sob pena de excomunhã o, para confrontá -los sobre
suas ameaças aos privilé gios papais concedidos à abadia de Fleury, també m conhecida como Saint-Benoı̂t-sur-Loire.
Há evidê ncias de que as relaçõ es entre Roma e Constantinopla melhoraram durante este ponti icado, talvez por
causa das simpatias pró -bizantinas do chefe da famı́lia Crescentii. Em qualquer caso, o nome do papa foi restaurado
à lista dos que deveriam ser orados na missa em Constantinopla. Joã o XVIII seguiu o precedente estabelecido por
Joã o XV em 993 e canonizou solenemente cinco má rtires poloneses em 1004. Ele també m enviou o pá lio (a veste de
lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade pastoral) aos arcebispos de Trier e Canterbury. Se Joã o
XVIII abdicou antes de sua morte no inal de junho ou inı́cio de julho de 1009, é prová vel que tenha sido forçado a
fazê -lo. Como mencionado acima, ele foi enterrado na bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros.
143 Bento VIII, ca. 980–1024, papa de 18 de maio de 1012 a 9 de abril de 1024 (JND Kelly começa o ponti icado em 17
de maio, e o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain identi ica a data de consagração como 21 de maio).
O primeiro de uma sé rie de trê s leigos eleitos consecutivamente para o papado, Bento VIII (nascido Teo ilato)
estabeleceu-se desde o inı́cio como um papa polı́tico e até militar. Eleito em 17 de maio de 1012, recebeu ordens
sacramentais menores e maiores e consagrado bispo de Roma em 18 de maio (ou possivelmente em 21 de maio).
Um produto da famı́lia recé m-ascendente Tusculan, ele usou a força armada para esmagar a famı́lia Crescentii rival
(que elegeu outro papa, chamado Gregó rio) enquanto seu irmã o Romanus (mais tarde Papa Joã o XIX) assumiu as
ré deas do governo civil em Roma. Bento VIII restaurou as boas relaçõ es com o imperador alemã o, convidando
Henrique II a Roma e coroando-o na Bası́lica de Sã o Pedro em fevereiro de 1014. Em um sı́nodo apó s a coroaçã o, o
papa consagrou o meio-irmã o do imperador, Arnaldo, como arcebispo de Ravena. Entã o as partes se mudaram para
a pró pria Ravenna para outro sı́nodo, que estabeleceu idades mı́nimas para as Ordens Sagradas e aprovou leis
contra a simonia (a compra e venda de bens espirituais) e outros abusos.
O papa passou a maior parte dos seis anos seguintes em campanhas militares destinadas a solidi icar o poder
polı́tico de Roma em toda a Itá lia central. Ele liderou pessoalmente uma aliança naval contra invasores sarracenos no
norte da Itá lia e libertou a Sardenha em 1016. Ele també m apoiou revoltas anti-bizantinas no sul da Itá lia a im de
proteger os interesses materiais e as reivindicaçõ es do papado na regiã o. Quando as forças bizantinas esmagaram a
revolta e avançaram para o norte, o papa partiu para a Alemanha em busca da ajuda do imperador. Os alemã es
icaram tã o impressionados com a apariçã o do papa em seu paı́s que o imperador restaurou verbalmente o
Privilé gio Otoniano (962), que havia con irmado solenemente as doaçõ es de Pepino e Carlos Magno, mas que
també m acrescentou novos territó rios substanciais aos Estados Papais compreendendo entre dois- terços e trê s
quartos da Itá lia. O imperador també m prometeu ajuda militar, mas seus exé rcitos foram incapazes de fazer mais do
que lutar contra os bizantinos até um empate. Seu avanço para o norte foi pelo menos interrompido.
Mais tarde, em um sı́nodo em Pavia (1022), o imperador e o papa juntos aprovaram uma legislaçã o que proı́be o
casamento clerical, incluindo aqueles na categoria de subdiá cono (uma ordem que foi suprimida apó s o Concı́lio
Vaticano II [1962-65]), e reduzindo à servidã o os ilhos das uniõ es clericais. O imperador estava principalmente por
trá s das reformas e imediatamente as incorporou ao có digo imperial. O papa, por outro lado, estava mais
preocupado com a perda das propriedades da igreja para os ilhos das uniõ es clericais. Na verdade, Bento VIII
sempre teve ciú me do poder canô nico e dos direitos da Santa Sé . Assim, quando o arcebispo de Mainz proibiu todos
os apelos a Roma em questõ es disciplinares (insistindo que tais apelos deveriam ser dirigidos apenas aos arcebispos
metropolitanos apropriados), o papa o repreendeu severamente. Alguns se referiram a este papa como mais
poderoso do que todos os seus predecessores imediatos, mas ele exerceu um poder - polı́tico e militar
especialmente - que está muito distante do signi icado e propó sito originais do ministé rio petrino. Ele morreu em 9
de abril de 1024 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
144 João XIX, 19 de abril de 1024 a 20 de outubro de 1032 (maio de 1024 a 1032 na lista o icial do Vaticano; JND Kelly e
o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain concordam com nossas datas, e não com as do Annuario
Ponti icio).
Joã o XIX foi o primeiro e ú nico papa a suceder seu irmã o mais velho ao papado. Como seu irmã o mais velho, ele
ainda era um leigo (nascido Romanus) quando “eleito” (uma palavra que precisa estar entre aspas porque na
verdade ele comprou a eleiçã o por meio de suborno). O suborno de Joã o e sua passagem canonicamente ilı́cita da
condiçã o de leigo para o papado em um ú nico dia chocaram e enfureceram muitos dos romanos, embora certamente
nã o a nova e poderosa famı́lia Tusculana que foi responsá vel por sua escolha.
No inı́cio de 1027, Joã o XIX coroou Conrado II imperador na Bası́lica de Sã o Pedro, mas Conrado nã o renovou os
privilé gios imperiais tradicionais concedidos à Santa Sé , nem prometeu ser seu protetor, como izeram os
imperadores anteriores. Na verdade, o imperador tratou o papa com pouco respeito e deu-lhe ordens à vontade.
Assim, ele obrigou o papa a fazer um favor a um amigo leal, o patriarca alemã o de Aquilé ia, decretando que outro
patriarcado, Grado, estava sujeito a Aquilé ia e que Aquilé ia era a sede metropolitana de todas as dioceses da Itá lia. E
quando o bispo de Constança reclamou ao imperador que o papa havia concedido ao abade de Reichenau o direito
de usar paramentos pontifı́cios na missa, o imperador ordenou que o abade entregasse ao bispo o decreto papal e a
insı́gnia e mandou queimar publicamente .
Em outras frentes eclesiá sticas, o papa deu seu total apoio à abadia reformista de Cluny na Borgonha, rea irmando
seus privilé gios e defendendo-a das crı́ticas do bispo de Mâ con, mas as relaçõ es com o Oriente azedaram mais uma
vez e o nome do papa foi retirado da lista daqueles a serem rezados na Missa em Constantinopla. Talvez por causa
da maneira inadequada como ele ascendeu ao papado, uma nuvem moral pairou sobre a cabeça de Joã o XIX ao
longo de seu ponti icado. Houve acusaçõ es, por exemplo, de que ele exigia dinheiro em troca de nomeaçõ es para a
hierarquia. Ele morreu em 20 de outubro de 1032 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
145 Bento IX, d. ca. Novembro / dezembro de 1055, papa de 21 de outubro de 1032 a setembro de 1044; 10 de março a 1
de maio de 1045; 8 de novembro de 1047 a 16 de julho de 1048 (a lista o icial de papas do Vaticano fornece os três
conjuntos de datas como 1032–1044; 10 de abril a 1º de maio de 1045; e 8 de novembro de 1047 a 17 de julho de
1048; JND Kelly e O Dictionnaire historique de la papauté de Levillain concorda mais com nossas datas do que com
as do Annuario Ponti icio).
Bento IX (nascido Teo ilato) foi o terceiro leigo consecutivo a assumir o cargo papal e o ú nico papa na histó ria a
ocupar o cargo por trê s perı́o dos separados de tempo (embora a contabilidade dependa de como se avalia a
legalidade de seus dois depoimentos do cargo e sua abdicaçã o). Em qualquer caso, ele foi um dos ponti icados mais
canonicamente confusos de toda a histó ria papal.
Apó s a morte de Joã o XIX, Alberico III, o novo chefe da famı́lia governante de Tusculan em Roma e irmã o de Joã o
XIX, arranjou atravé s de suborno para ter seu pró prio ilho Teo ilato, sobrinho dos dois papas anteriores, eleito e
entronizado como Bento IX. De modo geral, o novo papa colocou os interesses de si mesmo e de sua famı́lia à frente
das preocupaçõ es espirituais da Igreja. No entanto, ele conseguiu ter um ponti icado relativamente ativo. Ele colocou
a abadia de Monte Cassino sob proteçã o papal direta em 1038 e, em um sı́nodo romano em abril de 1044, restaurou
o status patriarcal de Grado, que Joã o XIX havia removido em deferê ncia ao imperador Conrado II. Em setembro
daquele mesmo ano, entretanto, houve outra revolta em Roma, principalmente em reaçã o à vida imoral do papa e ao
domı́nio da famı́lia Tusculan sobre a Igreja e o estado. Bento IX fugiu da cidade.
No mê s de janeiro seguinte (1045), embora Bento XVI nunca tivesse sido deposto formalmente, um ramo da
famı́lia rival Crescentii nomeou Joã o, bispo de Sabina, como papa. Ele assumiu o nome de Sylvester III. Bento XVI
prontamente o excomungou e em 10 de março conseguiu expulsá -lo de Roma e reivindicar o trono papal. Dois
meses depois, poré m, por motivos que nã o sã o claros (talvez fosse o dinheiro que ganharia com a venda de seu
cargo), ele abdicou em favor de seu padrinho, Joã o Graciano, que adotou o nome de Gregó rio VI. No outono de
1046, o imperador Henrique III veio para a Itá lia com o desejo de ser formalmente coroado pelo papa. Ele convocou
os trê s requerentes - Bento IX (que se retirou para a propriedade de sua famı́lia fora de Roma), Silvestre III e
Gregó rio VI - para um sı́nodo em Sutri, perto de Roma, em 20 de dezembro, onde Silvestre e Gregó rio foram
depostos. Bento XVI foi formalmente deposto quatro dias depois em um sı́nodo romano na vé spera de Natal. O
imperador entã o nomeou Suidger de Bamberg como papa, que adotou o nome de Clemente II. Clemente morreu
repentinamente oito meses depois, e o povo, talvez encorajado por subornos, exigiu que Bento IX fosse restaurado
no cargo.
Bento IX foi reintegrado em 8 de novembro de 1047 e permaneceu no cargo até 16 de julho de 1048, quando foi
destituı́do do trono papal por ordem do imperador. Poppo de Brixen foi instalado como Damasus II. Bento 16
retirou-se para sua terra natal em Tusculan, continuando a se considerar o papa legı́timo contra o intruso Dâ maso e,
mais tarde, contra o sucessor de Dâ maso, Leã o IX. Um sı́nodo de Latrã o em abril de 1049 convocou Bento XVI para
enfrentar a acusaçã o de simonia (a compra e venda de bens espirituais e ofı́cios da igreja) e, quando ele se recusou a
comparecer, excomungou-o. Bento IX viveu pelo menos mais sete anos e meio, morreu em algum momento entre
meados de setembro de 1055 e o inı́cio de janeiro de 1056 e foi sepultado na igreja da abadia de Grottaferrata nas
colinas de Alban.
146 Sylvester [Silvester] III, d. 1063, papa (ou antipapa?) De 20 de janeiro a 10 de março de 1045 (20 de janeiro a 10 de
fevereiro de 1045 na lista o icial do Vaticano; JND Kelly dá nossas datas e Levillain’s Dictionnaire historique de la
papauté dá 13 ou 20 de janeiro para o início e março de 1046 como o inal).
A legitimidade do ponti icado de Silvestre III é questioná vel. Se sua eleiçã o nã o foi vá lida, ele pertence à lista dos
antipapas. Depois que Bento IX foi expulso de Roma, Silvestre foi eleito candidato da famı́lia Crescentii, que havia
dominado a polı́tica romana até ser desalojada pela nova poderosa famı́lia Tusculana. Assim que Bento IX soube da
eleiçã o de Silvestre, ele o excomungou. Dois meses depois, Bento 16 voltou a Roma e removeu Sylvester do trono
papal. Sylvester entã o retomou seus deveres como bispo de Sabina, um posto que nunca havia renunciado. Dezoito
meses depois, em 20 de dezembro de 1046, Henrique III, rei da Alemanha, fez com que Silvestre III fosse condenado
no sı́nodo de Sutri, con inado a um mosteiro e destituı́do de suas ordens sagradas. A pena deve ter sido suspensa,
entretanto, porque Silvestre continuou a funcionar em Sabina até 1062, quando um sucessor foi nomeado. Ele
provavelmente está enterrado em Sabina.
147 Gregório VI, d. inal de 1047, papa de 5 de maio de 1045 a 20 de dezembro de 1046.
Dadas as circunstâ ncias de sua eleiçã o, apó s a abdicaçã o de Bento IX, Gregó rio VI foi acusado de simonia (compra e
venda de bens espirituais e ofı́cios eclesiá sticos) pelo imperador e sı́nodo de Sutri e deposto. Nascido John Gratian,
ele era arcipreste de San Giovanni a Porta Latina (Sã o Joã o no Portã o Latino) quando seu a ilhado Bento IX abdicou
em seu favor em 1º de maio de 1045 - e por uma grande quantia em dinheiro. Embora a designaçã o de seu pró prio
sucessor por Bento XVI fosse explicitamente proibida pela lei da igreja, é dito (com base em que, nã o sabemos) que
o processo eleitoral adequado foi observado. Muitos reformadores da Igreja saudaram sua eleiçã o com entusiasmo
(eles ainda nã o estavam cientes dos arranjos inanceiros). Henrique III veio da Alemanha com a esperança de ser
coroado imperador pelo papa, mas havia pelo menos trê s possibilidades de escolha: Bento IX, Silvestre III e Gregó rio
VI. Em um sı́nodo em Sutri (cerca de vinte e cinco milhas ao norte de Roma) em 20 de dezembro de 1046, o rei e o
sı́nodo declararam Gregó rio culpado de simonia e o depuseram do cargo. Gregó rio VI foi levado de volta à
Alemanha, acompanhado de seu capelã o e amigo, o futuro Papa Gregó rio VII, e colocado sob a supervisã o do bispo
de Colô nia. Ele morreu no inal do mesmo ano. Seu local de sepultamento é desconhecido.
150 Leo IX, St., Alsacian, 1002-54, papa de 12 de fevereiro de 1049 a 19 de abril de 1054.
O terceiro e melhor dos papas alemã es impostos à Igreja pelo imperador Henrique III, Leã o IX (Bruno de Egisheim),
como seus dois predecessores imediatos, manteve sua diocese de Toul (até 1051) enquanto servia como bispo de
Roma. Diz-se, entretanto, que ele aceitou a nomeaçã o do imperador apenas com a condiçã o de que fosse
posteriormente aprovada pelo clero e pelo povo de Roma. Ao chegar a Roma, vestido com o traje simples de
peregrino, foi saudado com aclamaçã o e coroado no dia 12 de fevereiro, tomando o nome de Leã o para recordar a
Igreja antiga e ainda nã o corrompida.
Dois meses depois, ele convocou um sı́nodo em Roma que denunciou a simonia (a compra e venda de bens
espirituais, incluindo ofı́cios da igreja) e as violaçõ es da castidade clerical. Vá rios bispos simonı́acos foram depostos
e a penitê ncia imposta por seu predecessor Clemente II aos padres ordenados conscientemente por tais bispos foi
rea irmada. Ele reuniu um “armá rio de cozinha” de personalidades da Lorena para ajudar na reorganizaçã o da
Cú ria. Estes incluı́am Hildebrand (mais tarde Papa Gregó rio VII) e Humbert de Moyenmoutier (mais tarde cardeal-
bispo de Silva Câ ndida). Ele també m procurou o conselho do abade da abadia reformista de Cluny na Borgonha e
Peter Damian (falecido em 1072). Chamado de “Peregrino Apostó lico”, Leã o promoveu suas reformas viajando
extensivamente pela Europa - na Itá lia, Alemanha, França e até na Hungria - realizando uma dú zia de sı́nodos em
Roma, Bari, Mainz, Pavia, Rheims e Roma. Em Rheims, por exemplo, ele insistiu que bispos e abades devem ser eleitos
pelo clero e leigos.
Infelizmente, os ú ltimos anos de Leã o IX no cargo foram marcados pelo fracasso. Em 1053, ele liderou uma
desastrosa expediçã o militar contra os normandos no sul da Itá lia em defesa dos Estados Papais, e ele pró prio foi
capturado e mantido preso por nove meses. Ele só foi libertado depois de fazer concessõ es humilhantes. Enquanto
isso, o patriarca anti-latino de Constantinopla, Michael Cerularius (falecido em 1058), irritado com a interferê ncia do
papa nas á reas do sul da Itá lia reivindicadas por Bizâ ncio e por ter nomeado Humbert arcebispo da Sicı́lia, fechou as
igrejas latinas em Constantinopla em 1053 e atacou veementemente vá rias prá ticas latinas, incluindo o uso de pã o
sem fermento na Eucaristia. Em janeiro de 1054, ainda prisioneiro, Leã o IX enviou uma delegaçã o a Constantinopla
liderada por Humbert. A missã o foi um fracasso espetacular devido à intransigê ncia de ambos os lados. Em 16 de
julho de 1054, na presença de toda a congregaçã o na Hagia Sophia, Humbert colocou no altar uma bula
excomungando o patriarca e seus partidá rios. Cerularius respondeu com suas pró prias condenaçõ es em 24 de julho.
O Cisma Leste-Oeste, que dura até hoje, é convencionalmente datado desta trá gica sé rie de eventos no verã o de
1054. Embora Leã o IX tivesse morrido alguns meses antes, o a brecha está na porta de seu ponti icado, já que os
enviados agiram em seu nome. Seus ú ltimos dias foram marcados por doenças e profundo pesar, mas logo depois
ele passou a ser considerado um santo. Ele está enterrado em Sã o Pedro. Dia da festa: 19 de abril.
151 Victor II, Suábia, ca. 1018–57, papa de 13 de abril de 1055 a 28 de julho de 1057 (16 de abril na lista o icial do
Vaticano, mas JND Kelly e o Dictionnaire historique de la papauté de Levillain concordam sobre o ponto de partida
de 13 de abril para este ponti icado).
O quarto e ú ltimo dos papas alemã es nomeados pelo rei alemã o Henrique III, o papa Victor II (Gebhard), como seus
trê s predecessores, continuou como bispo de sua diocese (Eichstä tt) depois de ser eleito para o papado. Apó s a
morte de Leã o IX em abril de 1054, houve extensas discussõ es sobre a sucessã o papal em Mainz entre a delegaçã o
romana che iada pelo diá cono Hildebrand (mais tarde Gregó rio VII) e o imperador e seus representantes. Nã o foi
até novembro que Henrique III nomeou Gebhard como papa. Mas Gebhard resistiu por cerca de quatro meses até
receber garantias de que certas propriedades e tesouros retirados da Santa Sé seriam devolvidos e que ele poderia
manter a diocese de Eichstä tt. Ele nã o foi entronizado até quase um ano apó s a morte de Leo. Canô nica e
teologicamente, ele deveria ter sido considerado papa e bispo de Roma assim que aceitou a eleiçã o, visto que já era
bispo. A entronizaçã o é puramente cerimonial e nã o adiciona nada de essencial. No entanto, se Victor II reteve seu
assentimento até o dia de sua entronizaçã o, 13 de abril de 1055, esse seria o dia em que seu ponti icado começou
o icialmente.
O novo papa e o imperador convocaram um sı́nodo em Florença em junho, que condenou a simonia (compra e
venda e bens espirituais, incluindo ofı́cios da igreja), casamento clerical, violaçõ es da castidade clerical e a alienaçã o
de propriedade da igreja (venda de propriedade da igreja por ganho privado). Vá rios bispos foram depostos de suas
sedes. Decisõ es semelhantes foram tomadas em sı́nodos no sul da França (Lyon e Toulouse) presididos por bispos
locais como representantes do papa e por Hildebrand como seu delegado especial. Como expressã o de con iança em
Victor II, o imperador o nomeou duque de Spoleto e conde de Fermo, tornando o papa um o icial imperial. Apó s uma
breve doença em outubro de 1056, Henrique III morreu, tendo con iado pessoalmente os cuidados do impé rio e de
seu ilho de cinco anos ao papa, que estava na Alemanha na é poca em busca de ajuda militar contra os normandos
no sul da Itá lia. Victor II habilmente assegurou a sucessã o do menino (Henrique IV), coroando-o em Aachen, com
sua mã e, Agnes, como regente, e mais tarde negociou uma reconciliaçã o entre a casa imperial e dois de seus
adversá rios mais poderosos (Lorena e Flandres).
O papa voltou à Itá lia em meados de fevereiro de 1057 e realizou um sı́nodo no Latrã o em abril. Para agradar a
um de seus novos aliados, Godfrey de Lorraine, o papa nomeou Frederico, irmã o de Godfrey, como abade de Monte
Cassino e o nomeou cardeal-sacerdote de San Crisogono. Mas seis dias depois de realizar um sı́nodo local em
Arezzo, em 23 de julho, o papa morreu de febre. Sua equipe alemã queria levar seu corpo de volta para Eichstä tt,
mas o povo de Ravenna apreendeu o corpo e foi enterrado em Santa Maria Rotonda (o mausolé u de Teodorico, o
Grande [d. 526]), fora dos muros da cidade. Com a morte do papa Victor II e do imperador Henrique III, o perı́o do
de dez anos de reforma papal-imperial chegou a um im abrupto.
152 Stephen IX (X), francês, ca. 1000–1058, papa de 2 de agosto de 1057 a 29 de março de 1058 (a lista o icial do
Vaticano marca o início de seu ponti icado em 3 de agosto, o dia de sua entronização, em vez de 2 de agosto, o dia de
sua eleição e consagração) .
(Para uma explicaçã o da dupla numeraçã o, veja Estê vã o II (III), nú mero 92, na Parte II.) Outro em uma longa sé rie de
ponti icados muito breves do sé culo XI, Estê vã o IX (X) promoveu a agenda reformista, mas sem a colaboraçã o direta
da corte imperial alemã que dominou os quatro ponti icados anteriores. Nascido Frederico (da Lorena), Estê vã o era
abade de Monte Cassino quando eleito e consagrado no mesmo dia, 2 de agosto de 1057. Ele adotou o nome de
Estevã o porque 2 de agosto era a festa de Santo Estê vã o I. Nenhum esforço foi feito para contatar a corte imperial na
Alemanha antes de proceder à s eleiçõ es. Os romanos, sem dú vida, estavam se aproveitando do fato de que o novo
imperador, Henrique IV, era uma criança muito jovem. Outra possı́vel razã o para nã o consultar a corte imperial e
para proceder rapidamente à s eleiçõ es era o medo de que as famı́lias aristocrá ticas de Roma tentassem rea irmar
sua in luê ncia nas eleiçõ es papais. Quatro meses depois, uma delegaçã o à corte imperial liderada por Hildebrand (o
futuro Papa Gregó rio VII) parece ter recebido aprovaçã o retroativa para a eleiçã o de Estê vã o.
Stephen IX (X) permaneceu abade de Monte Cassino, onde tentou restaurar a regra da pobreza. Ele promoveu as
atividades reformistas de Peter Damian (falecido em 1072) nomeando-o cardeal-bispo de Ostia, e os reformadores
Humbert de Silva Câ ndida e Hildebrand estavam entre os conselheiros mais pró ximos do papa. O papa morreu em
Florença em 29 de março de 1058, enquanto tentava organizar uma aliança contra os normandos no sul da Itá lia e
foi sepultado em San Reparata. Antes de partir de Roma para Florença, Estê vã o havia obrigado solenemente o clero
e os leigos, no caso de sua morte, a nã o eleger um sucessor até que Hildebrand voltasse de sua missã o na corte
imperial na Alemanha.
153 Nicolau II, francês, ca. 1010–61, papa de 6 de dezembro de 1058 a 27 de julho de 1061 (a lista o icial do Vaticano
começa este ponti icado em 24 de janeiro de 1059, o dia da entronização, em vez do dia de sua aceitação da eleição).
Durante o ponti icado de Nicolau II, a eleiçã o de um papa foi restrita aos cardeais-bispos, com o clero romano e o
povo dando seu consentimento subsequente. Bispo de Florença quando eleito bispo de Roma em 6 de dezembro de
1058, em Siena, Nicolau continuou a servir em ambas as funçõ es apó s sua eleiçã o para o papado. Ele també m pode
ter sido o primeiro papa coroado com o camelaucum , a forma original da tiara papal.
Apó s a morte de Estê vã o IX (X) em 29 de março de 1058, os cardeais reformistas honraram o mandato solene do
falecido papa de que deveriam esperar até que o lı́der reformador Hildebrand (o futuro Papa Gregó rio VII)
retornasse de sua missã o à corte imperial na Alemanha antes de proceder à eleiçã o de um sucessor. Uma facçã o anti-
reformista dentro da aristocracia romana, no entanto, aproveitou o atraso e em 5 de abril elegeu Joã o, bispo de
Velletri, que assumiu o nome de Bento X. Ele teve que ser consagrado irregularmente porque Pedro Damian, o bispo
de Ostia, o faria nã o participar. Os cardeais reformistas recusaram-se a reconhecer Bento XVI, deixaram Roma e
elegeram Gé rard, bispo de Florença, em Siena em dezembro. O novo papa, que assumiu o nome de Nicolau II,
convocou um sı́nodo em Sutri, vinte e cinco milhas ao norte de Roma, no inı́cio de janeiro de 1059 e na presença do
chanceler imperial condenou o antipapa Bento X. Nicolau II foi entã o a Roma em a companhia das tropas do duque
de Lorena, onde foi recebido com entusiasmo (Bento já tinha fugido da cidade). O novo papa foi instalado em Latrã o
em 24 de janeiro de 1059.
Como seu predecessor, Estê vã o IX (X), Nicolau II foi muito in luenciado pelos principais reformadores da é poca:
Humbert de Silva Câ ndida (m. 1061), Hildebrand (m. 1085) e Pedro Damiã o (m. 1072). Em um sı́nodo de Latrã o em
13 de abril, que declarou a eleiçã o de Bento X nã o canô nica, o papa promulgou um decreto histó rico determinando
que, a im de evitar o risco de simonia (a compra e venda de cargos religiosos), as eleiçõ es papais deveriam ser
conduzidas pelo cardeal -bispos, com o consentimento subsequente do clero romano e leigos. (Houve grande
oposiçã o a essa mudança, e ela teve que ser emendada apó s a morte de Nicolau.) O sı́nodo també m permitiu a
eleiçã o de um clé rigo nã o romano e a realizaçã o da eleiçã o fora de Roma. Essa prá tica já existia, é claro, na eleiçã o
do pró prio Nicolau II. Ele era francê s e sua eleiçã o foi realizada em Siena, nã o em Roma. E ele certamente nã o foi o
primeiro clé rigo nã o romano a se tornar papa. O sı́nodo deixou a possibilidade de envolvimento imperial nas
eleiçõ es, mas a direita imperial nã o era incondicional e poderia ser con iscada por abuso. Alé m disso, o sı́nodo
legislou contra o casamento clerical e o concubinato, exigia que o clero da igreja catedral compartilhasse uma vida
comum e emitiu a primeira proibiçã o formal de investidura leiga, ou seja, o recebimento de cargos eclesiá sticos de
leigos. Outros sı́nodos foram realizados em 1060 e 1061, tratando mais uma vez com simonia e ordenaçõ es
simonô nicas. O arcebispo Guido de Milã o compareceu ao sı́nodo de 1060 e, ao aceitar seu anel do papa, reconheceu
tacitamente que sua investidura anterior pelo imperador havia sido simoniacal (isto é , dada por um preço).
Politicamente, Nicolau II reverteu a polı́tica de seus predecessores imediatos em relaçã o aos normandos no sul da
Itá lia. Em vez de combatê -los, ele fez uma aliança com eles e, assim, garantiu uma base polı́tica e econô mica para o
papado na maior parte do sul. No entanto, a nova aliança (bem como as severas medidas disciplinares) gerou
ressentimento na corte imperial e na hierarquia alemã , liderada pelo arcebispo de Colô nia. Um cardeal-delegado do
papa enviado em 1061 para explicar as polı́ticas do papa à corte imperial nã o foi recebido. Alé m disso, um sı́nodo de
bispos alemã es declarou os atos de Nicolau II nulos e sem efeito e rompeu a comunhã o com ele. Antes que houvesse
qualquer repercussã o na Santa Sé , o papa morreu em Florença, sua segunda diocese, em 27 de julho de 1061. Como
o papa Estê vã o IX (X), també m falecido em Florença, foi sepultado em San Reparata.
154 Alexandre II, 30 de setembro de 1061 - 21 de abril de 1073 (a lista o icial do Vaticano dá 1º de outubro como o
ponto de partida deste ponti icado; é o dia da entronização, e não da eleição).
Um papa reformador como seus predecessores imediatos, Alexandre II (nascido Anselmo) apoiou a libertaçã o de
terras cristã s dos muçulmanos, bem como o vitorioso duque Guilherme da Normandia contra Haroldo da Inglaterra
na batalha de Hastings em 1066. Ele era bispo de Lucca quando eleito bispo de Roma em 30 de setembro de 1061,
com o apoio do lı́der reformista Hildebrand (o futuro papa Gregó rio VII) e apoiado pelas tropas normandas em face
dos distú rbios em Roma.
No entanto, os cardeais eleitores nã o consultaram a corte imperial alemã , de acordo com o decreto do sı́nodo de
Latrã o de 1059 sobre as eleiçõ es papais. A corte, por sua vez, nomeou um papa rival, Honó rio II (Cadalus, o rico, anti
-bispo reformista de Parma), em uma assemblé ia na Basilé ia e com o apoio dos membros da aristocracia romana. O
antipapa Honó rio II derrotou as forças armadas de Alexandre em abril de 1062 e instalou-se em Roma. Mas o
poderoso duque de Lorena chegou no mê s seguinte com forças superiores e convenceu os dois pretendentes ao
trono papal a se retirarem para suas dioceses originais (Lucca e Parma) até que a corte alemã resolvesse o con lito.
Apó s audiê ncias em Augsburg em outubro e em Roma em dezembro, foi proferida uma sentença a favor de
Alexandre II. Em maio seguinte (1063), Honó rio anatematizou Alexandre e atacou Roma, tomando posse do Castelo
de Santo Angelo por vá rios meses. Enquanto isso, Alexandre II avançou com sua agenda reformista. Num sı́nodo de
Latrã o naquele mesmo ano, renovou o decreto de seu antecessor, Nicolau II, contra a simonia (compra e venda de
ofı́cios da igreja), proibiu a participaçã o na missa celebrada por padres casados, proibiu a investidura leiga sem a
permissã o da diocese, e recomendou a vida comum ao clero da catedral. Houve també m uma enxurrada de
atividades sinodais, com a participaçã o de legados papais, na Lombardia, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha,
Boê mia, Croá cia-Dalmá cia e Escandiná via.
O papa també m enviou faixas e concedeu indulgê ncias a soldados normandos e cavaleiros franceses que lutavam
contra os muçulmanos na Sicı́lia e na Espanha, respectivamente. Na verdade, a reconquista de terras anteriormente
tomadas pelos muçulmanos foi um importante prelú dio para as Cruzadas. Mas em 1063 o papa també m interveio no
sul da França e na Espanha para defender os judeus que haviam sofrido nessas campanhas militares. Ele renovou a
proibiçã o do Papa Gregó rio, o Grande (590-604) contra os maus-tratos aos judeus.
A medida que o cisma entre os seguidores de Alexandre II e de Honó rio II se arrastava, Pedro Damiã o persuadiu o
arcebispo de Colô nia a convocar um sı́nodo de bispos alemã es e italianos em Mâ ntua em maio de 1064, para o qual
seriam convidados os dois pretendentes ao trono papal. Honorius recusou-se a comparecer porque lhe foi negado o
direito de presidir. Alexandre compareceu, presidiu e fez um juramento de purgaçã o, jurando que nunca havia sido
culpado de simonia. Como consequê ncia, Alexandre II foi reconhecido como papa e Honó rio II foi formalmente
condenado, apó s o que ele retornou à sua diocese de Parma, nunca abandonando suas reivindicaçõ es ao papado.
Em 1068, o rei de Aragã o colocou seu paı́s sob a proteçã o feudal do papa e em 1071 substituiu a liturgia
moçá rabe pela liturgia romana. Em 1070, Alexandre II atacou duramente os bispos alemã es que suspeitava de
praticarem simonia e forçou a renú ncia do bispo de Constança. Até o rei Henrique IV recuou de sua intençã o de se
divorciar de sua esposa, dada a irme oposiçã o do papa à s violaçõ es do vı́nculo matrimonial. Mas uma sé ria cisã o se
desenvolveu entre o papa e o imperador quando, em 1071, Henrique IV tentou impor sua indicaçã o como o novo
arcebispo de Milã o, enquanto o papa apoiava outro candidato na tradiçã o reformista. Por causa do teimoso apoio do
imperador a seu pró prio candidato, o papa excomungou cinco de seus conselheiros por simonia. També m em 1071,
o papa enviou um representante ao imperador bizantino, o primeiro contato desse tipo desde as excomunhõ es
mú tuas do papa e do patriarca em 1054. Esse contato nada aconteceu antes da morte de Alexandre II em abril de
1073. Mas o cená rio agora estava montado para o verdadeiro ponti icado fundamental de Gregó rio VII, que
marcaria o inı́cio efetivo do papado moná rquico que muitos cató licos e outros supõ em ser um produto da vontade
de Jesus Cristo e nã o das vicissitudes da histó ria humana. Alexandre II foi enterrado na Bası́lica de Latrã o.
Parte IV
O NE DOS MAIORES TEOLOGOS DO sé culo XX, o Cardeal Yves Congar, OP (falecido em 1995), argumentou que “o grande
ponto de in lexã o na eclesiologia [a teologia da Igreja] é o sé culo XI. Esse ponto de viragem está , é claro,
corpori icado na pessoa de Gregó rio VII. ” Congar reconheceu que Gregó rio VII enfrentou problemas internos e
externos avassaladores quando foi eleito em 1073: simonia (a compra e venda de bens espirituais e ofı́cios da
igreja), nepotismo, violaçõ es do celibato clerical e a interferê ncia de prı́ncipes leigos na nomeaçã o e instalaçã o de
bispos e abades (“investidura leiga”). Gregó rio VII fez com que seus canonistas vasculhassem os arquivos em busca
de cada traço ou fragmento de apoio para o tipo de exercı́cio do poder papal que ele considerava necessá rio para
enfrentar esses desa ios. Alguns dos materiais que eles descobriram eram autê nticos; outros eram espú rios -
falsi icaçõ es.
O cardeal Congar destacou que, ao buscar basear-se em precedentes legais para o exercı́cio do que deveria ser
apenas autoridade espiritual, Gregó rio VII “acabou por fazer da pró pria Igreja uma instituiçã o legal”. Assim, quando
a Igreja se opô s ao poder temporal, “foi levada a adotar atitudes muito semelhantes à s do pró prio poder temporal, a
se conceber como uma sociedade, como um poder, quando na realidade é uma comunhã o, com os ministros,
funcioná rios." O que levou a Igreja a se tornar uma instituiçã o legal, argumentou Congar, foi “a a irmaçã o do poder
papal como a base de tudo” ( Fifty Years of Catholic Theology: Conversations with Yves Congar , ed. Bernard Lauret
[Philadelphia: Fortress Press, 1988] , pp. 40, 42). Gregó rio VII, em outras palavras, lançou o papado do segundo
milê nio como um cargo legalista e moná rquico - um conceito estranho à Igreja do primeiro milê nio e a todo o
Oriente, tanto no passado quanto no presente. Foi també m Gregó rio VII que decretou em 1073 que o tı́tulo de
“papa” deveria, a partir de entã o, ser restrito ao bispo de Roma. Anteriormente, o tı́tulo se aplicava a todos os bispos
no Ocidente, enquanto no Oriente parece ter sido usado també m para padres e era um tı́tulo especial do patriarca de
Alexandria. Ainda é usado pelo patriarca copta de Alexandria.
Alguns cató licos consideram este perı́o do de Gregó rio VII à Reforma Protestante como o á pice do papado, cuja
gló ria, grandeza e poder só foram restaurados recentemente pelo Papa Joã o Paulo II (1978-2005). Outros,
entretanto, consideram os desenvolvimentos desse perı́o do uma aberraçã o, embora de muitos sé culos de duraçã o.
Qualquer que seja o ponto de vista de cada um, o perı́o do sem dú vida rendeu homens de talento e habilidade
incomuns, a começar pelo pró prio Gregó rio VII. Alguns dos papas mais importantes de toda a histó ria reinaram
durante esses quatro sé culos e meio - e alguns dos piores. Inocê ncio III (1198–1216), um dos papas mais poderosos
de todos os tempos, reivindicou autoridade nã o apenas sobre toda a Igreja, como Gregó rio VII, mas també m sobre o
mundo inteiro. Bonifá cio VIII (1295-1303), como Inocê ncio III, també m reivindicou a supremacia papal sobre os
reinos temporal e espiritual. Pelo menos trê s outros papas desse perı́o do sã o bem conhecidos por diferentes razõ es.
Celestino V (1294) é sempre citado pela mı́dia e suas fontes “especialistas” na Igreja Cató lica como o ú nico papa que
renunciou ao cargo. Isso nã o é verdade. Houve pelo menos dois, e provavelmente quatro, outros papas antes dele
que renunciaram ao papado por uma razã o ou outra: Pontian (230-35), que foi preso e deportado no ano 235 pelo
imperador anticristã o Maximinus Thrax; Silverius (536-37), que foi forçado a renunciar por seu sucessor, Vigilius
(537-55); Joã o XVIII (1003-9), que provavelmente renunciou e entrou para um mosteiro; e Bento IX, que, durante
seu ponti icado canonicamente confuso, abdicou em 1045 em favor de seu padrinho, mas foi reintegrado em 1047.
Apó s Celestino V, Gregó rio XII renunciou em 1415 para ajudar a resolver o Cisma do Grande Oeste (1378-1417).
Outro papa conhecido desse perı́o do é o infame e espetacularmente corrupto Alexandre VI (1492-1503), que está
no topo da lista de quase todos os chamados maus papas. Menos conhecido, mas nã o menos importante, é Leã o X
(1513-1521), que ajudou a lançar a Reforma Protestante com sua "venda" de indulgê ncias e ofı́cios da Igreja e sua
excomunhã o de Martinho Lutero em 1521. Leã o X foi, por sua vez, precedido por uma sé rie de alguns dos piores
papas de toda a histó ria, incluindo seu antecessor imediato, Jú lio II (1503-13), que passou quase tanto tempo no
campo de batalha militar quanto cuidando de suas responsabilidades pastorais.
Entre os menos cé lebres e, em alguns casos, notó rios papas desse perı́o do estã o os seguintes. Urbano II (1088-99)
estabeleceu a Cú ria Romana e lançou a Primeira Cruzada (1096-99) em uma tentativa mal concebida e totalmente
contraproducente (repetida pelo menos mais trê s vezes pelos papas subsequentes) para recapturar os lugares
sagrados na Palestina do Muçulmanos. Eugenius III (1145-53), um cisterciense, manteve o há bito e estilo de vida de
um monge durante todo o seu ponti icado (Urbano V, um beneditino, fez o mesmo, 1362-70). A eleiçã o de Alexandre
III (1159-1181) provocou um cisma de vinte anos, cobrindo quase todo o seu ponti icado de vinte e dois anos. Lú cio
III (1181-85), por causa da hostilidade do povo romano em relaçã o a ele, teve que passar a maior parte de seu
ponti icado vivendo fora da cidade (o mesmo foi necessá rio para Urbano IV, 1261-64, Clemente IV, 1265-68, e Martin
IV, 1281-1285); Lú cio III també m lançou as bases para a infame Inquisiçã o ao de inir procedimentos pelos quais
supostos hereges poderiam ser suprimidos e punidos. Celestino III (1191–98), embora já tivesse oitenta e cinco anos
de idade quando eleito, conseguiu servir por quase sete anos. Inocê ncio III, mencionado acima, també m chamado de
Quarto Conselho de Latrã o (1215), que exigia a con issã o anual de todos os cató licos e o uso de uma vestimenta
distinta por judeus e muçulmanos - este ú ltimo um precursor perturbador da exigê ncia na Alemanha nazista do
sé culo XX de que Os judeus usam a estrela de Davi para serem facilmente identi icá veis. Gregó rio X (1272-76) foi
eleito no famoso conclave de Viterbo, no qual as autoridades civis trancaram os cardeais dentro do palá cio papal e,
em seguida, devido ao longo atraso na eleiçã o de um novo papa, removeram o telhado e os ameaçaram de fome.
Joã o XXI (1276–77) emitiu a bula papal que o bispo de Paris con iou para condenar dezenove proposiçõ es de Sã o
Tomá s de Aquino. Durante o ponti icado de Nicolau IV (1288 a 1292), o catolicismo foi estabelecido pela primeira
vez na China. Clemente V (1305-14) foi o primeiro de uma linhagem de setenta anos de papas franceses que fez sua
residê ncia o icial em Avignon, em vez de Roma. Clemente VI (1342-52) lançou as bases para a doutrina das
indulgê ncias, cujo abuso se tornaria uma das causas imediatas da Reforma Protestante quase duzentos anos depois
(de acordo com o ensino cató lico, as indulgê ncias sã o mé ritos espirituais conquistados por nó s por Cristo e os
santos, a serem atraı́dos pelos ié is por meio de suas oraçõ es e boas obras). Inocê ncio VI (1352–1362) foi
denunciado por Santa Brı́gida da Sué cia como perseguidor do rebanho de Cristo. Gregó rio XI (1371-1378), a pedido
de Santa Catarina de Sena, devolveu o papado de Avinhã o a Roma em 1377. Urbano VI (1378-89) era tã o instá vel e
abusivo que um antipapa foi eleito para substituı́-lo. o lançamento do Great Western Schism de 1378-1417, durante o
qual havia pelo menos dois e à s vezes trê s pretendentes ao papado ao mesmo tempo. Durante o ponti icado de
Nicolau V (1447-55), Constantinopla, o centro do cristianismo oriental por quase toda a histó ria da Igreja, caiu nas
mã os dos turcos em 1453. Sisto IV (1471-1484) superou todos os outros no campo do nepotismo , tendo nomeado
seis de seus sobrinhos cardeais (ele també m transformou Roma de uma cidade medieval em uma cidade
renascentista, construiu a Capela Sistina e estabeleceu os arquivos do Vaticano). Jú lio II (1503-13) foi o patrono de
dois dos maiores artistas da histó ria, Michelangelo e Rafael, e quem encomendou os planos para a nova Bası́lica de
Sã o Pedro, a ser inanciada pela venda de indulgê ncias. E Leã o X (1513-1521) continuou o projeto de construçã o de
seu predecessor e seus mé todos de arrecadar os fundos necessá rios - e excomungou Martinho Lutero també m.
També m houve muitos “primeiros” durante este perı́o do. Victor III (1087) foi o primeiro papa a ser beati icado
sem posteriormente ser canonizado santo. Eugenius III (1145-1153) foi o primeiro papa cisterciense. Adriano
(Adrian) IV (1154-1159) foi o primeiro e ú nico papa inglê s. Calisto III (1455–1458) foi o primeiro de dois papas
espanhó is (o segundo foi o infame Alexandre VI, 1492–1503). Alexandre III (1159-1181) foi o primeiro de muitos
advogados a ser eleito papa. Em 1276, pela primeira vez, havia quatro papas canonicamente reconhecidos no mesmo
ano: Gregó rio X (1272-76), Inocê ncio V (1276), Adriano V (1276) e Joã o XXI (1276-77), embora por presentes os
padrõ es canô nicos e os padrõ es da boa teologia, Adriano V nã o foi papa, isto é , o bispo de Roma, porque nã o era
bispo quando eleito e morreu antes de ser consagrado. Inocê ncio V (1276) foi o primeiro papa dominicano. Como
ele continuou a usar sua batina branca dominicana enquanto papa, os papas subsequentes a adotaram como seu
traje papal comum, embora o costume pareça nã o ter sido inalmente estabelecido até o ponti icado de outro
dominicano, Pio V (1566-1572). Joã o XXI (1276-1277) foi o primeiro e ú nico papa portuguê s e també m o ú nico
mé dico a ocupar a cá tedra de Pedro. Nicolau III (1277-80) foi o primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua
residê ncia o icial. Nicolau IV (1288 a 1292) foi o primeiro papa franciscano. Bonifá cio VIII (1295-1303) foi o
primeiro papa a proclamar um Ano Santo (em 1300). Nicolau V (1447-55) foi o primeiro dos papas da Renascença,
atuando como patrono da literatura, das artes e da arquitetura, bem como o fundador da Biblioteca do Vaticano. E,
mais uma vez, Celestino V (1294) não foi o primeiro e ú nico papa a renunciar ao papado. Houve pelo menos dois, e
possivelmente quatro, antes dele (Pô ncio em 235, Silverius em 537, Joã o XVIII em 1009 e Bento IX em 1045), e um
desde entã o (Gregó rio XII em 1415).
Pelo menos trê s papas desse perı́o do foram atribuı́dos aos seus destinos por Dante Alighieri (m. 1321) em sua
Divina Comédia: Adriano V (1276) foi colocado no Purgató rio pelo pecado da avareza; Joã o XXI (1276–77), no
Paraı́so; e Nicolau III (1277–80), no Inferno para o nepotismo e avareza.
Quase metade dos vinte e um concı́lios ecumê nicos da Igreja Cató lica foram realizados durante esse perı́o do
també m: Latrã o I (1123), que encerrou a contrové rsia sobre a investidura leiga (a prá tica de governantes leigos
determinando nomeaçõ es de bispos e abades); Lateran II (1139), que anulou todos os atos papais e ordenaçõ es do
antipapa Anacletus II; Lateran III (1179), que decretou que doravante uma maioria de dois terços dos cardeais era
necessá ria para a eleiçã o de um papa; Latrã o IV (1215), que decretou que os cató licos devem fazer uma con issã o
anual de pecados; Lyon I (1245), que excomungou e depô s o imperador; Lyon II (1274), que forjou uma uniã o de
curta duraçã o entre Roma e a Igreja Grega; Vienne (1311–1312), que condenou os Cavaleiros Templá rios e apoiou a
observâ ncia franciscana mais estrita da pobreza; Constança (1414-17), que encerrou o Cisma do Grande Oeste ao
depor dois pretendentes ao papado e obrigar o terceiro a abdicar, antes de conduzir um conclave no qual Martinho
V (1417-31) foi eleito; Basel-Ferrara-Florence-Rome (1431-45), que foi realizada em quatro cidades diferentes e que
tentou, sem sucesso, reunir as Igrejas latina e grega do Ocidente e do Oriente; e Latrã o V (1512-1517), que invalidou
o conselho de Pisa-Milã o (1511-1512), que, por sua vez, declarou Jú lio II suspenso. Latrã o V també m rea irmou a
Pragmá tica Sançã o de Bourges (1438), que havia a irmado a independê ncia da Igreja francesa do controle papal.
Em resumo, este foi um perı́o do da histó ria papal em que o papado se tornou essencialmente um ofı́cio ocidental e
a Igreja Cató lica Romana essencialmente uma igreja papal. Nenhum dos desenvolvimentos foi teologicamente ou
pastoralmente feliz. Na verdade, os maus papas desse perı́o do (e havia muitos no sé culo XV e no inı́cio do sé culo
XVI) causaram muito mais danos à Igreja do que os maus papas dos sé culos IX, X e XI, porque a forma recentemente
centralizada de o governo eclesiá stico tornou possı́vel que a corrupçã o se espalhasse rapidamente por muitas outras
partes da Igreja. Nos sé culos IX, X e XI - antes que a centralizaçã o papal realmente criasse raı́zes - a corrupçã o teve
efeitos relativamente limitados alé m de Roma e Itá lia. No inal desse perı́o do, a Igreja Ocidental foi dilacerada por
uma Reforma, cujos efeitos ainda estã o conosco quase cinco sé culos depois.
155 Gregório VII, St., ca. 1020-85, papa de 30 de junho de 1073 a 25 de maio de 1085 (a lista o icial do Vaticano dá
como o início de seu ponti icado em 22 de abril de 1073, dia em que foi eleito por aclamação popular; um diácono na
época de sua eleição, ele não foi consagrado como bispo de Roma até 30 de junho).
O ponti icado de Gregó rio VII, um dos papas mais importantes e in luentes em toda a histó ria da Igreja, marca um
verdadeiro divisor de á guas na histó ria do papado, do primeiro ao segundo milê nio cristã o. No primeiro milê nio
cristã o, o papado funcionou em grande medida como mediador de disputas, tanto eclesiá sticas quanto polı́ticas. O
bispo de Roma era apenas um dos vá rios patriarcas ocidentais (embora hoje haja patriarcas honorá rios em Lisboa,
Veneza e nas Indias Orientais e Ocidentais, e um patriarca de rito latino em Jerusalé m, o papa a irma implicitamente
ser o patriarca universal da Igreja, em contradiçã o com a insistê ncia do Papa Gregó rio, o Grande [590-604] de que a
Igreja nã o tem um patriarca universal). Para ter certeza, papas individuais do primeiro milê nio, como Leã o, o Grande
(440-61) prontamente vestiram o manto do Apó stolo Pedro e reivindicaram a primazia da jurisdiçã o pastoral - mas
na maior parte apenas sobre o Ocidente, e mesmo assim apenas nas principais regiõ es do Ocidente. Ao mesmo
tempo, houve constantes cabos de guerra entre Roma e Constantinopla (envolvendo tanto o imperador bizantino
quanto o patriarca), mas o Oriente nunca aceitou totalmente o primado papal no sentido em que passou a ser
compreendido desde Gregó rio VII . Gregó rio foi o primeiro papa a reivindicar jurisdiçã o universal sobre toda a
Igreja - leigos, religiosos e clé rigos, prı́ncipes e indigentes - e o fez com base em precedentes canô nicos e legais aos
quais nenhum outro papa antes dele havia apelado. Ele també m é o papa que restringiu o uso do tı́tulo de “papa” ao
bispo de Roma. Antes disso, o tı́tulo era usado por todos os bispos do Ocidente.
Nascido Hildebrand, ele serviu sob vá rios papas antes de ser ele mesmo eleito para o papado: Gregó rio VI (1045–
46), como capelã o; Leã o IX (1049–54), como tesoureiro da Igreja Romana (ou administrador do Patrimô nio de Sã o
Pedro); e Nicolau II (1058 a 1061) e Alexandre II (1061 a 1073), como arquidiá cono, chanceler e principal
conselheiro. Apó s a morte de Alexandre II, ele foi eleito papa por aclamaçã o (ao contrá rio dos procedimentos
detalhados estabelecidos por Nicolau II em 1059) e tomou o nome de Gregó rio, em homenagem a seu patrono,
Gregó rio VI, e Gregó rio, o Grande (590-604). Ele adiou sua consagraçã o até depois da festa dos Santos. Pedro e
Paulo em 29 de junho em respeito aos dois apó stolos. Ele nã o informou ou pediu a aprovaçã o do rei alemã o,
Henrique IV.
Gregó rio fez da reforma a peça central de seu ponti icado. Mas, para realizar suas reformas, ele in lou as
reivindicaçõ es papais tradicionais tanto nas esferas espirituais quanto nas temporais. Em março de 1075, ele
publicou seu Dictatus papae (“Pronunciamentos do Papa”), contendo vinte e sete proposiçõ es sobre os poderes do
papa, incluindo a irmaçõ es como: “Que só ele pode usar insı́gnias imperiais”; “Que apenas os pé s do papa devem ser
beijados por todos os prı́ncipes”; “Que lhe é lı́cito depor imperadores”; “Que lhe é lı́cito transferir bispos, sob
pressã o da necessidade, de ver para ver”; “Que nenhum sı́nodo deve ser chamado de 'geral' sem o seu comando”; e
"Que ele nã o deve ser julgado por ningué m." (O documento é geralmente considerado como uma coleçã o de tı́tulos
de capı́tulos de uma compilaçã o inacabada do direito canô nico.) A norma da idelidade cató lica era obediê ncia
inquestioná vel ao bispo de Roma, que exercia um governo universal sobre toda a cristandade, incluindo reis e
imperadores.
Nos sı́nodos da Quaresma de 1074 e 1075, Gregó rio VII rea irmou os decretos de seus predecessores contra o
casamento clerical e a simonia (a compra e venda de bens espirituais, incluindo ofı́cios da igreja) e, apesar da forte
oposiçã o, os aplicou por meio da agê ncia papal legados na França, Alemanha e Inglaterra. Até o poderoso arcebispo
de Rheims foi deposto com sucesso. Desse ponto em diante, os legados papais (hoje conhecidos como nú ncios e
delegados apostó licos) tornaram-se um importante braço administrativo do papado. O Sı́nodo de Latrã o de 1078
ameaçou os bispos com a suspensã o se eles permitissem que seu clero se casasse e permanecesse no cargo. O papa
també m exigiu que os bispos recé m-eleitos izessem um juramento de obediê ncia e que todos os bispos visitassem a
Santa Sé . Dada a composiçã o e o conteú do dos sı́nodos de Latrã o sob Gregó rio, era quase natural que eles tivessem
evoluı́do para concı́lios gerais ou ecumê nicos (dos quais havia cinco no perı́o do medieval).
A proibiçã o de Gregó rio de investidura leiga, ou seja, a interferê ncia de prı́ncipes leigos e outros governantes
temporais na nomeaçã o e posse de bispos e abades, provocou oposiçã o ainda mais forte, desta vez do pró prio rei da
Alemanha, Henrique IV. Depois de derrotar os saxõ es em 1075, Henrique nomeou seus pró prios homens como
arcebispo de Milã o e como bispos (e abades) na Alemanha e em outras partes da Itá lia, incluindo Spoleto e Fermo.
Quando o papa repreendeu o rei, Henrique IV convocou um sı́nodo de 26 bispos alemã es em Worms (24 de janeiro
de 1076), que depô s o papa, referindo-se a ele como o "monge Hildebrando". O pró prio Henrique pediu que
Gregó rio renunciasse. Em Piacenza, os bispos lombardos seguiram o exemplo. Entã o, no sı́nodo quaresmal de 1076,
Gregó rio excomungou Henrique, suspendeu-o do exercı́cio de seus poderes reais e liberou os sú ditos do rei de toda
idelidade a ele. Os bispos que apoiaram Henrique foram excomungados ou suspensos. Como manobra polı́tica,
Henrique IV pediu perdã o e buscou a absolviçã o, usando traje de penitê ncia e ajoelhando-se na neve em Canossa,
perto de Reggio, no norte da Itá lia, em janeiro de 1077. Gregó rio perdoou e absolveu o rei. Poré m, trê s anos depois,
ele novamente excomungou e depô s Henrique devido a uma disputa persistente que Henrique estava tendo com
Rodolfo da Suá bia, que os prı́ncipes alemã es elegeram como rei rival. Depois de uma violenta guerra civil na
Alemanha e do fracasso do papa em unir os dois lados, Gregó rio VII reconheceu a reivindicaçã o de Rodolfo ao trono.
Henrique entã o convocou um conselho de bispos imperiais em Brixen em 25 de junho de 1080. O conselho depô s
Gregó rio (seu segundo depoimento!) E elegeu Guibert, arcebispo de Ravenna, como Clemente III para substituir
Gregó rio. (Guibert foi suspenso por Gregó rio por nã o comparecer ao sı́nodo de 1075 e depois foi excomungado por
participar da reuniã o dos bispos lombardos em Piacenza, que apoiou o primeiro depoimento do sı́nodo de Worms
como papa.)
Henrique ainda estava aberto a concessõ es porque queria ser coroado imperador, mas Gregó rio foi in lexı́vel,
tanto que perdeu muitos de seus apoiadores, incluindo treze cardeais. Depois que Henrique tomou Roma em março
de 1084, apó s um cerco de dois anos, o clero romano e os leigos elegeram Guibert (Clemente III) papa e ele foi
entronizado na Bası́lica de Latrã o em 24 de março de 1084. Uma semana depois, em 31 de março, enquanto
Gregó rio VII ainda estava no Castel Sant'Angelo, o antipapa Clemente III coroou o imperador Henrique na Bası́lica de
Sã o Pedro. Mas Henrique e Clemente deixaram Roma quando Robert Guiscard, duque de Apú lia, marchou sobre
Roma com tropas normandas e resgatou Gregó rio. (Clemente voltou para Ravenna, onde permaneceu como
arcebispo enquanto travava uma feroz guerra de pan letos contra Gregó rio e os reformadores gregorianos. Mais
tarde, ele voltaria a Roma para exercer seu papel como presumı́vel papa mais uma vez durante os ponti icados de
Victor III, 1087, e Urbano II, 1088–99.) O comportamento violento das tropas de Robert enfureceu o povo romano e
eles se voltaram contra o papa que os havia convidado a entrar. Gregó rio VII deixou Roma, indo primeiro para
Monte Cassino e depois para Salerno, onde morreu em maio 25, 1085. Ele foi enterrado na catedral de Salerno.
Muitas cartas sobreviveram do ponti icado de Gregó rio VII. Eles mostram seu profundo interesse mesmo nas
igrejas distantes da Dinamarca, Espanha, Polô nia, Hungria, Rú ssia, França e Inglaterra. Ele sempre enfatizou a virtude
da justiça, insistindo que o dever do rei cató lico era ser um amante da justiça. Ele insistiu que os arcebispos
deveriam vir a Roma para receber o pá lio (a veste de lã usada ao redor do pescoço como um sinal de autoridade
pastoral). Sob ele, a liturgia romana, já em uso em Aragã o, substituiu os ritos moçá rabes nas regiõ es da Espanha
controladas pelo rei de Castela. Ele també m ixou os Dias do Ember (uma sé rie de dias penitenciais de jejum e
abstinê ncia parcial observada quatro vezes por ano) na Igreja latina. Ele esperava libertar o Santo Sepulcro em
Jerusalé m dos turcos e restaurar a uniã o com a Igreja Oriental, mas as muitas contrové rsias perto de casa
frustraram esses planos.
Embora um dos grandes papas reformadores da histó ria, sua obstinaçã o, à s vezes se aproximando do fanatismo,
minou muito de sua agenda reformista. Os conclaves papais subsequentes foram frequentemente marcados pela
divisã o entre cardeais eleitores gregorianos e anti-gregorianos. No entanto, ele é o papa que, mais do que qualquer
outro, moldou o desenvolvimento do papado no Ocidente ao longo do segundo milê nio cristã o - para o bem ou para
o mal. Foi beati icado em 1584 e canonizado pelo Papa Paulo V em 1606. Dia da festa: 25 de maio.
156 Victor III, Bl., Ca. 1027-87, papa de 9 de maio a 16 de setembro de 1087 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado em 24 de maio de 1086, a data de sua primeira eleição - uma eleição que ele não aceitou formalmente - e
quase um ano antes de sua consagração como Bispo de Roma em 9 de maio de 1087).
Victor III foi o primeiro papa a ser beati icado sem ser posteriormente canonizado um santo.
Quando o grande papa reformador Gregó rio VII morreu no exı́lio em Salerno, o partido reformista estava em um
estado de confusã o e desordem. Alguns de seus principais cardeais mudaram seu apoio ao antipapa Clemente III,
eleito em 1084, enquanto Gregó rio ainda estava em Roma, no Castelo de Santo Angelo. Demorou quase um ano - e
com muita pressã o do prı́ncipe normando Jordan de Cá pua - até que os cardeais elegeram Desidé rio (nascido
Daufer ou Daufari), abade de Monte Cassino desde 1058 e talvez o abade mais in luente da Igreja nessa é poca. Um
ano depois de ser eleito abade, foi nomeado pelo Papa Nicolau II como cardeal-sacerdote de Santa Cecı́lia e vigá rio
papal dos mosteiros do sul da Itá lia. (Ele també m deu refú gio a Gregó rio VII quando fugiu de Roma em 1084 e
esteve presente na morte de Gregó rio em Salerno.) Os eleitores concluı́ram que Desidé rio poderia trazer uma
reconciliaçã o com o imperador Henrique IV. Entã o, em 24 de maio de 1086, eles o elegeram papa na igreja diaconal
de Santa Lú cia em Roma. Desidé rio resistiu à eleiçã o, insistindo que os cardeais deveriam selecionar o cardeal
Oddone di Châ tillon (que seria eleito na pró xima vez, como Urbano II). O abade entã o fugiu de Roma para Terracina.
Depois de um longo perı́o do de indecisã o, a resistê ncia de Desidé rio inalmente acabou. O lı́der normando Jordan de
Cá pua interveio e instou Desidé rio a convocar um sı́nodo em Cá pua, nã o como papa, mas como vigá rio papal para os
mosteiros do sul da Itá lia. O sı́nodo o convenceu a aceitar sua eleiçã o como papa, apesar da oposiçã o intensa e
residual de uma minoria liderada pelo arcebispo de Lyon. O abade Desiderius foi canonicamente eleito em Cá pua no
Domingo de Ramos, 21 de março de 1087, assumindo o nome de Victor III, em homenagem ao Papa Victor II, que
havia sido nomeado pelo pai de Henrique para o papado e servira como guardiã o de Henrique IV quando ele era um
menino muito jovem. (Antes de sua morte, Gregó rio VII havia recomendado trê s possı́veis sucessores. Desidé rio nã o
era um deles.)
Quatro dias apó s sua eleiçã o canô nica, o papa eleito foi forçado a fugir de Roma por causa dos distú rbios na
cidade. Desanimado com os distú rbios civis e as amargas disputas faccionais entre os gregorianos e os anti-
gregorianos que sua eleiçã o havia exacerbado, Victor III deixou de lado sua insı́gnia papal e voltou para seu
mosteiro em Monte Cassino, onde reassumiu suas funçõ es como abade. Em 9 de maio de 1087, entretanto, ele foi
conduzido com segurança a Roma e consagrado como bispo de Roma na Bası́lica de Sã o Pedro, enquanto o antipapa
Clemente III, tendo sido desalojado pelas tropas normandas, refugiou-se no Panteã o.
O resto da cidade, entretanto, ainda estava sob o controle dos partidá rios do antipapa. Desanimado, Victor III
voltou mais uma vez a Monte Cassino. Ele voltou a Roma por mar no inı́cio de junho em resposta aos apelos da
condessa Matilda, da Toscana. Em 1o de julho, aqueles que lhe eram leais conseguiram retomar a cidade inteira.
Entã o, apenas algumas semanas depois, com rumores circulando sobre a chegada iminente do imperador Henrique
IV à Itá lia, o papa voltou mais uma vez a Monte Cassino, onde permaneceu como abade até trê s dias antes de sua
morte em 16 de setembro de 1087. No inal Em agosto, ele realizou um conselho local em Benevento que rea irmou
a proibiçã o de Gregó rio VII de investidura leiga (a nomeaçã o e instalaçã o de bispos e abades por governantes
leigos), invalidou ordenaçõ es simonô nicas (aquelas conduzidas por bispos que obtiveram seus cargos por meio de
suborno), e excomungou o antipapa Clemente III e o lı́der dos extremistas gregorianos, o arcebispo de Lyon, que se
opô s à sua tomada do trono papal. Durante o conselho, entretanto, a saú de de Victor III piorou. Ele voltou
imediatamente para Monte Cassino, onde morreu e foi enterrado. Victor III foi beati icado pelo Papa Leã o XIII em
1887, mas nunca foi canonizado santo. Dia da festa: 16 de setembro.
157 Urban II, Bl., Francês, ca. 1042–99, papa de 12 de março de 1088 a 29 de julho de 1099.
Durante o ponti icado de Urbano II, a Cú ria Romana foi estabelecida e a Primeira Cruzada (para libertar Jerusalé m
dos muçulmanos) foi lançada (1096-99). Ele també m foi o primeiro de oito papas consecutivos que tiveram o
nú mero “II” apó s seus nomes papais.
Batizado de Oddone (di Châ tillon), ele era ex-prior da abadia reformista de Cluny na Borgonha e atual cardeal-
bispo de Ostia quando Victor III morreu em Monte Cassino em 16 de setembro de 1087. Roma estava mais uma vez
sob o controle de forças leais à o antipapa Clemente III e seus partidá rios. Conseqü entemente, a eleiçã o de um
sucessor de Victor III teve que ser conduzida no Duomo di San Pietro (Catedral de Sã o Pedro) em Terracina, ao sul
de Roma perto de Gaeta. Estavam presentes cerca de quarenta cardeais, bispos e abades, bem como representantes
da corte alemã . O cardeal-bispo do Porto representava o clero romano. O abade de Monte Cassino representou os
cardeais-diá conos. O cardeal de Sã o Clemente representou os impedidos de vir de Roma. O prefeito de Roma
representou o povo romano. Depois de observar trê s dias de oraçã o, os cardeais elegeram o cardeal Oddone por
unanimidade em 12 de março de 1088, e ele foi consagrado no mesmo dia, no mesmo lugar, pelos cardeais-bispos
do Porto, Tuscolo e Albano. Ele adotou o nome de Urbano ao ser eleito papa, por qual motivo nã o sabemos; Urbano
I (222-30) deixou poucos vestı́gios histó ricos na histó ria papal a nã o ser, como Urbano II, ele teve que lutar com um
antipapa (Hipó lito) durante seu reinado.
Urbano II tentou desde o inı́cio marcar um curso mais moderado na reforma da igreja. Embora ele tenha
rea irmado a legislaçã o de Gregó rio VII contra o casamento clerical, simonia (a compra e venda de cargos da igreja)
e investidura leiga (a nomeaçã o e posse de bispos e abades por governantes leigos) em um conselho em Mel i
(1089), ele adotou um mais abordagem benigna aos bispos que haviam sido investidos por seus soberanos, mas
canonicamente eleitos, e à validade das missas celebradas por padres que foram devidamente ordenados, mas que
se entregaram ao cisma. Embora seus esforços conciliató rios tenham conquistado alguns pontos na Alemanha e em
outros lugares, eles nã o apaziguaram o imperador, Henrique IV, que forçou o papa em 1090 a render Roma (o papa
havia entrado na cidade no ano anterior) ao antipapa Clemente III e a pede asilo com seus aliados normandos no sul
da Itá lia.
Apó s a deserçã o de Conrado, ilho de Henrique, para o lado do papa, no entanto, Urbano II conseguiu retornar a
Roma no inal de 1093 e, por meio de suborno, recuperar o Palá cio de Latrã o em 1094 e o Castelo de Santo Angelo
em 1098. Em 1095, embora o O cisma imperialmente apoiado pelo antipapa Clemente III continuou, a posiçã o de
Urbano II agora era segura o su iciente para ele convocar vá rios sı́nodos. Em março de 1095, o sı́nodo de Placê ncia
anulou as ordenaçõ es do antipapa e seus seguidores, condenou o ensino eucarı́stico de Berengá rio de Tours (que
havia negado a presença real de Cristo) e encorajou os cristã os a se unirem ao apoio militar da Igreja oriental sitiada
pelos muçulmanos. Um sı́nodo em Clermont em novembro de 1095 proibiu bispos e clé rigos de se tornarem
vassalos de governantes leigos ou de qualquer leigo, decretou que a chamada Tré gua de Deus (a suspensã o de todas
as hostilidades militares em um determinado dia da semana) deveria ser observada, e emitiu uma convocaçã o para a
Primeira Cruzada (1096–1099) para libertar Jerusalé m dos muçulmanos. Um sı́nodo em Bari em 1098 buscou uma
reconciliaçã o com os bispos gregos do sul da Itá lia. Anselm de Canterbury (falecido em 1109) estava presente no
sı́nodo para tentar persuadir os gregos a aceitarem como um acré scimo ao credo a chamada clá usula Filioque (lat.,
"E do Filho"), que postulava uma dupla procissã o do Espı́rito Santo do Pai e do Filho, ao invé s do Pai atravé s do Filho
( per Filium ). Mas as tentativas gerais do papa de reconciliaçã o com o Oriente nã o tiveram sucesso.
Sua “polı́tica externa” europeia pode ter sido um pouco mais bem-sucedida, ganhando algum apoio para suas
reformas na França e reorganizando a Igreja na Espanha, incluindo o estabelecimento do arcebispo de Toledo como
primaz do paı́s. Mas, devido à s distraçõ es do papa com o cisma interno, os soberanos da Inglaterra, França, Espanha
e Sicı́lia (para nã o mencionar a pró pria Alemanha) foram capazes de ignorar à vontade os regulamentos reformistas
do papado. Urbano II morreu em 29 de julho de 1099, no Palazzo dei Pierleone, pró ximo à igreja de San Nicolò in
Carcere. Duas semanas antes de sua morte, os cruzados haviam reconquistado Jerusalé m, mas a notı́cia da vitó ria
nã o chegou ao papa a tempo. Ele foi enterrado em Sã o Pedro. Pessoa de piedade e humildade moná stica, foi
beati icado pelo Papa Leã o XIII em 1881. Festa: 29 de julho.
159 Gelásio II, 10 de março de 1118 - 28 de janeiro de 1119 (24 de janeiro de 1118 - 28 de janeiro de 1119, na lista
o icial do Vaticano; 24 de janeiro é a data da eleição; a consagração como Bispo de Roma não ocorreu até 10 de
março) .
Já idoso quando eleito, Gelá sio II foi atacado e preso imediatamente apó s sua eleiçã o pelo chefe de uma famı́lia
patrı́cia em Roma que detestava seu predecessor, Pascoal II. O papa acabou fugindo para a França e morreu no
mosteiro de Cluny.
Batizado de Giovanni (Joã o) e educado em Monte Cassino, onde se tornou monge, foi cardeal-diá cono com o tı́tulo
de Santa Maria in Cosmedin e chanceler da Santa Igreja Romana por cerca de trê s dé cadas sob Urbano II e Pascal II,
que també m o nomeou arquidiá cono e bibliotecá rio. Apó s sua eleiçã o em 24 de janeiro de 1118, nã o em Latrã o, mas
secretamente no mosteiro de Santa Maria em Pallara, no Monte Palatino, devido à perigosa situaçã o polı́tica e militar
em Roma, ele foi violentamente agredido e preso por Cencius Frangipani, chefe do uma famı́lia patrı́cia que detestava
Pascal II, a quem o novo papa fora intensamente leal. A pedido de outras famı́lias aristocrá ticas e do povo romano,
Gelá sio II foi libertado, mas ele e os cardeais tiveram que fugir de Roma quase imediatamente porque o imperador
Henrique V estava a caminho da cidade. Em sua terra natal, Gaeta, Gelá sio II foi ordenado sacerdote (ele ainda era
apenas diá cono na é poca de sua eleiçã o em janeiro) e consagrado Bispo de Roma em 10 de março.
Henrique V exigiu que o papa voltasse a Roma para que eles pudessem resolver juntos suas diferenças sobre a
contrové rsia da investidura (a nomeaçã o e posse de bispos e abades por governantes leigos). Quando o papa se
recusou a retornar, o imperador fez com que o arcebispo de Braga fosse proclamado papa; ele assumiu o nome de
Gregó rio VIII. Gelá sio excomungou o imperador e o antipapa um mê s depois em Cá pua (9 de abril) e enviou cartas
denunciando o antipapa a todos os principais centros cristã os. Quando Henrique deixou Roma devido à
aproximaçã o do exé rcito de Roberto de Cá pua, Gelá sio II retornou apenas para encontrar a cidade sob o controle do
antipapa Gregó rio VIII e outras forças hostis. Ele nã o pô de ser formalmente instalado no Palá cio de Latrã o ou na
Bası́lica de Sã o Pedro, e em 21 de julho foi novamente atacado pelos agentes de Frangipani durante a celebraçã o da
Missa em Santa Prassede. Embora o papa tenha conseguido escapar, ele decidiu fugir para a França, junto com vá rios
de seus cardeais. Gelá sio II realizou um sı́nodo em Vienne, no sul da França, no inı́cio de janeiro de 1119, mas depois
de adoecer, retirou-se para a abadia de Cluny, onde, algumas semanas depois (28 de janeiro, possivelmente 29),
morreu e foi sepultado perto do altar principal da igreja da abadia.
160 Callistus [Calixtus] II, francês, 1050–1124, papa de 2 de fevereiro de 1119 a 13 de dezembro de 1124.
Callistus II foi o papa que concordou com a Concordata de Worms em 1122, que inalmente resolveu a contrové rsia
da investidura. A Igreja reteria todos os direitos espirituais na nomeaçã o e posse de bispos e abades, enquanto o
papel do imperador seria em grande parte limitado à Alemanha. A concordata foi formalmente rati icada no
Primeiro Concı́lio de Latrã o em 1123.
Em 2 de fevereiro de 1119, em Cluny, o punhado de cardeais que acompanharam Gelá sio II à França (ver Gelá sio
II, nú mero 159, acima) elegeu por unanimidade Guido, o arcebispo reformista de Vienne, como papa; ele foi coroado
uma semana depois na catedral de Vienne. (Como Guido já era bispo, sua aceitaçã o da eleiçã o foi su iciente para se
tornar bispo de Roma.) A maioria dos cardeais, ainda em Roma, junto com o clero e os leigos rati icaram a eleiçã o
em 1º de março.
Apó s o fracasso de uma tentativa inicial de reconciliaçã o com o imperador Henrique V sobre a questã o da
investidura leiga (a nomeaçã o e posse de bispos e abades por governantes leigos), o novo papa rea irmou a
proibiçã o da investidura leiga e a excomunhã o de Henrique em um conselho em Rheims (29 a 30 de outubro de
1119), com a presença de cerca de quatrocentos prelados e o rei da França, Luı́s VI. O papa entã o marcou um
caminho triunfal pela Lombardia e Toscana e foi recebido com entusiasmo em Roma em 3 de junho de 1120. O
antipapa Gregó rio VIII já havia fugido para Sutri, de onde foi entregue a Calisto II, publicamente humilhado e entã o
con inado a um mosteiro. As ordenaçõ es do antipapa foram posteriormente declaradas invá lidas no Primeiro
Concı́lio de Latrã o em 1123.
Nesse ı́nterim, os prı́ncipes alemã es instaram Henrique V a reconhecer o novo papa e a entrar em negociaçõ es
com ele sobre o assunto de investidura leiga, sem prejudicar os interesses do impé rio. Apó s trê s semanas de duras
negociaçõ es, a histó rica Concordata de Worms foi aprovada em 23 de setembro de 1122. Sob o acordo, o imperador
renunciou ao seu suposto direito de investir bispos e abades com anel e bá culo (sı́mbolos de autoridade espiritual),
e as eleiçõ es livres e consagraçõ es de bispos e abades foram garantidas. Em troca, o papa concedeu a Henrique a
garantia de que as eleiçõ es de bispos e abades na Alemanha seriam realizadas em sua presença e que Henrique
investiria os eleitos com o sı́mbolo da autoridade temporal (o cetro). Em eleiçõ es disputadas, o imperador faria a
seleçã o. Fora da Alemanha, a presença do imperador nã o seria exigida nas eleiçõ es, e a investidura dos sı́mbolos da
autoridade temporal ocorreria seis meses apó s a consagraçã o. A longa luta entre a Igreja e o estado sobre a
investidura leiga inalmente acabou. Em março de 1123, o papa convocou um concı́lio geral, ou ecumê nico, no
Latrã o, que rati icou solenemente a Concordata de Worms. O conselho també m rea irmou uma sé rie de leis
anteriores sobre simonia (compra e venda de ofı́cios da igreja), casamento clerical, falsi icaçã o de documentos
eclesiá sticos e outros assuntos. Calisto II morreu em 13 de dezembro de 1124, em Latrã o, e foi sepultado ali ao lado
do tú mulo de Pascoal II (1099-1118).
162 Inocêncio II, 23 de fevereiro de 1130 - 24 de setembro de 1143 (a lista o icial do Vaticano indica a data de início de
seu ponti icado como 14 de fevereiro, dia de sua eleição; no entanto, ele ainda não era bispo de Roma até 23 de
fevereiro )
Inocê ncio II convocou o Segundo Conselho de Latrã o em 1139, que anulou todos os atos do antipapa Anacletus e
rea irmou a legislaçã o de reforma do passado.
Nascido Gregorio Papareschi, ele era cardeal-diá cono da igreja de San Angelo quando eleito para o papado na
noite da morte de seu predecessor em um encontro clandestino de uma minoria de cardeais (mais jovens) no
convento forti icado de San Andrea. Na verdade, a eleiçã o consistiu em cinco membros do comitê eleitoral de
cardeais que havia sido originalmente formado para evitar cismas. Embora a maioria geral dos cardeais fosse mais
velha, os cardeais mais jovens tinham maioria no comitê por causa do sistema pelo qual os cardeais-bispos, cardeais-
sacerdotes e cardeais-diá conos votavam separadamente. O resto dos cardeais mais jovens imediatamente o
aclamaram papa. Ele adotou o nome de Inocê ncio II. (O primeiro Inocê ncio [401-17] havia feito a reivindicaçã o mais
forte até o momento da autoridade suprema de ensino da Sé Apostó lica.) Quando a notı́cia da eleiçã o chegou a cerca
de vinte e quatro outros cardeais mais velhos, a maioria gregorianos da velha guarda (que ou seja, leais à memó ria e
ao estilo administrativo do Papa Gregó rio VII [1073–85]), eles se recusaram a aceitar o resultado e se encontraram
mais tarde naquela mesma manhã na igreja de San Marco, onde elegeram o Cardeal Pietro Pierleoni, que assumiu o
nome de Anacletus II. Ambas as eleiçõ es foram canonicamente irregulares.
Como Inocê ncio II e seus partidá rios nã o puderam usar a Bası́lica de Sã o Pedro nem a de Latrã o para sua
consagraçã o como Bispo de Roma, uma vez que ambos estavam nas mã os da famı́lia Pierleoni, eles conduziram o
papa recé m-eleito em 23 de fevereiro ao encontro do chanceler romano Aimeric igreja titular de Santa Maria Nuova
em Campo Vincino, onde foi consagrado pelo cardeal-bispo de Ostia. O antipapa Anacletus II també m foi consagrado
no mesmo dia - na Bası́lica de Sã o Pedro. Se um cató lico moderno fosse milagrosamente transportado de volta no
tempo até 23 de fevereiro de 1130, qual dos dois cardeais consagrados esse cató lico reconheceria como o
verdadeiro papa: o consagrado em Santa Maria Nuova ou o consagrado em Sã o Pedro? O Annuario Ponti icio
reconhece o primeiro como o papa legı́timo e o segundo como um antipapa. Mas nã o teria sido tã o evidente para
uma testemunha ocular desses eventos.
O resultado foi um cisma de oito anos. A posiçã o de Anacletus era a princı́pio mais segura do que a de Inocê ncio,
talvez porque ele tivesse melhores conexõ es polı́ticas em Roma e o apoio do rei normando, Roger II. Inocê ncio II
fugiu para a França, onde gradualmente conquistou o reconhecimento como papa de todos os lugares, exceto da
Escó cia, Aquitâ nia e sul da Itá lia, talvez porque a maioria dos membros ativos da Igreja preferia a ê nfase espiritual
em sua agenda de reforma. Seus apoiadores mais e icazes foram Bernardo de Clairvaux (falecido em 1153), que
conquistou o rei Luı́s VI da França e o rei Henrique I da Inglaterra, e o arcebispo Norbert de Magdeburg, fundador
dos Norbertinos (Premonstratenses), que derrotou os bispos alemã es e os rei, Lothair III, para o lado de Inocente.
Inocê ncio encontrou Lothair III em Liè ge e ganhou seu apoio em sua luta contra Anacletus II (que a Igreja Cató lica
hoje considera um antipapa). Em troca, Inocê ncio II prometeu a Lothair a coroa imperial, mas nã o a restauraçã o dos
direitos de investidura perdidos na Concordata de Worms (1122). Posteriormente, Inocê ncio condenou Anacletus
em um sı́nodo em Rheims. Lothair marchou sobre Roma na primavera de 1133, mas os partidá rios de Anacletus II
mantiveram-se irmes em Sã o Pedro e na velha cidade Leonina (uma á rea murada ao redor de Sã o Pedro criada pelo
Papa Leã o IV em 852). Portanto, Lothair III teve que ser coroado na Bası́lica de Latrã o, em 3 de junho. Depois que
Lothair retornou à Alemanha, a posiçã o de Inocê ncio II em Roma se tornou insustentá vel, forçando-o a se retirar
para Pisa, onde realizou outro sı́nodo excomungando Anacletus e seu apoiador normando, Roger II. A contenda
entre Inocê ncio II e Anacletus II, no entanto, nunca terminou até a morte de Anacletus em 25 de janeiro de 1138. (O
antipapa Victor IV foi eleito para suceder Anacletus, mas ele rapidamente renunciou e seus apoiadores transferiram
sua lealdade para Inocente.)
Em abril de 1139, Inocê ncio II convocou o Segundo Conselho de Latrã o, que anulou todos os atos o iciais
(incluindo ordenaçõ es) de Anacleto e seus aliados e rea irmou a legislaçã o de reforma das dé cadas anteriores. Em
julho do mesmo ano, entretanto, Inocê ncio foi capturado durante uma expediçã o militar contra Roger II e foi forçado
a reconhecer o tı́tulo de Roger como rei da Sicı́lia. Por sua vez, Roger aceitou a reivindicaçã o de Inocê ncio II ao trono
papal. Em 1141, ele e o rei da França, Luı́s VII, tornaram-se adversá rios por causa de uma nomeaçã o para a diocese
de Bourges. O papa impô s uma proibiçã o sobre qualquer regiã o que desse abrigo ao rei. Dois anos depois, ele teve
mais problemas em seu pró prio terreno. Apó s um perı́o do de violê ncia e tumultos, os cidadã os romanos
estabeleceram uma comuna com um senado independente. Inocê ncio II morreu em 24 de setembro de 1143 e foi
sepultado na Bası́lica de Latrã o. Seus restos mortais foram transferidos para a igreja de Santa Maria Trastevere
depois que a Bası́lica de Latrã o foi destruı́da por um incê ndio em 1308.
163 Celestino II, 3 de outubro de 1143 - 8 de março de 1144 (a lista o icial do Vaticano marca o início de seu ponti icado
em 26 de setembro, o dia de sua eleição; mas ele não era bispo na época e não se tornou bispo de Roma até ser
consagrado como tal em 3 de outubro).
Como o Cardeal Teobaldo Boccapecci é considerado o icialmente, embora injustamente, como um antipapa, tendo
adotado o nome de Celestino II quando eleito para suceder Calisto II em 1124 (ver Honó rio II, nú mero 161, acima),
este Papa Celestino escolheu o nú mero II em vez de III quando eleito para suceder a Inocê ncio em 1143. (O primeiro
Papa Celestino [422-32] reivindicou supervisã o como o sucessor do Apó stolo Pedro sobre toda a Igreja, Oriente e
Ocidente.) Nascido Guido, ele era cardeal-sacerdote da Igreja San Marco quando eleito papa por unanimidade dois
dias apó s a morte de Inocê ncio II.
Os dois primeiros atos o iciais de Celestino II foram reversõ es de posiçõ es tomadas por seu predecessor,
Inocê ncio II. Primeiro, ele levantou o interdito em todos os lugares que abrigavam o rei Luı́s VII da França (que
originalmente se opô s a Inocê ncio II na nomeaçã o do arcebispo de Bourges devidamente eleito). Em segundo lugar,
ele se recusou a rati icar o tratado que Inocê ncio fora forçado a aceitar enquanto prisioneiro do rei Rogé rio II da
Sicı́lia. O tratado exigia que o papa reconhecesse a soberania de Roger sobre o sul da Itá lia, bem como sobre a Sicı́lia.
Mas Celestine acabou tendo que suavizar sua abordagem a Roger por causa da pressã o militar nas fronteiras dos
Estados Papais. Já idoso quando eleito, Celestino II serviu menos de seis meses como papa. Ele morreu em 8 de
março de 1144 e foi sepultado no Latrã o.
165 Eugenius [Eugene] III, Bl., 18 de fevereiro de 1145 - 8 de julho de 1153 (a lista o icial do Vaticano dá a data de sua
eleição, 15 de fevereiro, como o início de seu ponti icado, mas como ainda não era bispo, ele não poderia ser bispo de
Roma até que fosse consagrado em 18 de fevereiro).
Um cisterciense, Eugenius III manteve o há bito e estilo de vida de um monge enquanto servia como papa e
proclamou a Segunda Cruzada em 1145. Ele també m é considerado o ú ltimo dos papas reformadores deste perı́o do
histó rico especı́ ico.
Nascido Bernardo Paganelli (ou Pignatelli), foi abade da casa cisterciense da SS. Vincenzo e Anastasio fora de
Roma quando eleitos para o papado no mesmo dia (15 de fevereiro de 1145) em que seu predecessor, Lú cio II,
morreu devido aos ferimentos sofridos enquanto liderava uma expediçã o militar contra o Senado romano. A eleiçã o
foi realizada secretamente na igreja de San Caesareo (a igreja titular do Papa Joã o Paulo II como cardeal). O papa
eleito foi conduzido imediatamente ao Latrã o, onde foi instalado. Visto que Eugê nio III se recusou a reconhecer a
comuna popular que agora governava Roma, ele teve que ser consagrado trê s dias depois em Farfa, vinte e cinco
milhas ao norte da cidade, e ixar residê ncia em Viterbo. A comuna, entretanto, logo o aceitou como papa, bem como
sua soberania, e ele celebrou o Natal em Roma naquele ano. Mas o acordo fracassou e ele estava de volta a Viterbo
em janeiro de 1146; de lá , no ano seguinte, ele foi para a França.
Em 1 de dezembro de 1145, Eugê nio III proclamou a Segunda Cruzada depois de saber da captura pelos turcos do
posto avançado dos Cruzados em Edessa, e encarregou seu colega cisterciense, Bernardo de Clairvaux (falecido em
1153), de pregar em seu nome. A Segunda Cruzada, embora de alcance impressionante, foi um grande fracasso. Por
insistê ncia de Bernard, Eugenius III promoveu a reforma clerical e moná stica em sı́nodos importantes como Paris
(1147), Trier (1147-48) e Reims (1148). Em seu convite para o ú ltimo dos trê s sı́nodos, o papa a irmou que Cristo
conferiu ao papado, por meio de Sã o Pedro, autoridade suprema sobre assuntos temporais e espirituais. Ele també m
interveio nos assuntos da Igreja Inglesa, apoiando Theobald, arcebispo de Canterbury, contra o rei Stephen, e
depondo William Fitzherbert como arcebispo de York. Ele estabeleceu quatro arquidioceses metropolitanas na
Irlanda.
Eugê nio III retornou à Itá lia em junho de 1148 e, em Cremona, no mê s seguinte excomungou Arnaldo de Brescia,
que se aliara ao movimento da comuna antipapal em Roma, tornou-se o lı́der do senado e denunciou o papa como
um "homem de sangue". O papa, apó s um breve retorno a Roma em dezembro de 1149, chegou a um entendimento
com os cidadã os romanos com a ajuda do novo rei alemã o, Frederico I Barbarossa, o que permitiu a Eugê nio III
retornar mais uma vez em 1152. Em 23 de março de 1153, o papa concluiu um tratado com o rei em Constança no
qual o papa prometia a coroa imperial ao rei e o rei, por sua vez, prometia nã o fazer a paz com a comuna romana ou
os normandos sem o consentimento do papa. Cada lado també m concordou em nã o fazer concessõ es territoriais ao
impé rio oriental.
Eugenius III morreu de violenta febre em Tivoli em 8 de julho de 1153, muito antes de Frederick poder vir a Roma
para ser coroado. O corpo do papa foi transportado de volta para Roma e enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro ao
lado de Gregó rio VII (1073–85). Devido à austera simplicidade de sua vida, Eugenius III foi beati icado pelo Papa Pio
IX em 1872. Festa: 8 de julho.
168 Alexander III, ca. 1105–81, papa de 20 de setembro de 1159 a 30 de agosto de 1181 (a lista o icial do Vaticano leva
a data de sua eleição, 7 de setembro, como o início de seu ponti icado, mas como ele ainda não era bispo, ele não
poderia tornar-se bispo de Roma até ser consagrado como tal em 20 de setembro).
Alexandre III foi o primeiro de muitos advogados a se tornar papa. Infelizmente, sua eleiçã o provocou um cisma de
vinte anos entre os leais a ele e os leais aos trê s antipapas apoiados pelo imperador alemã o Frederico Barbarossa.
Ele també m é o papa que impô s uma penitê ncia ao rei inglê s, Henrique II, pelo assassinato de Sã o Tomá s Becket
(1172) e que convocou o Terceiro Concı́lio de Latrã o em 1179, que decretou que uma maioria de dois terços dos
cardeais é necessá ria para a eleiçã o papal.
Nascido Orlando (ou Rolando) Bandinelli, ele serviu como chanceler e legado papal sob seu predecessor, Adriano
IV, e foi um cardeal-sacerdote na é poca de sua pró pria eleiçã o para o papado. Um punhado de cardeais pró -
imperiais (provavelmente sete em nú mero) tinha votado no cardeal Ottaviano de Monticelli, mas a grande maioria
(provavelmente vinte e dois) apoiava o cardeal Bandinelli. Como havia um acordo de que a eleiçã o deveria ser
unâ nime, uma violenta disputa eclodiu. Os partidá rios armados do cardeal Ottaviano invadiram a reuniã o e
arrancaram o manto papal vermelho dos ombros de Orlando, e o novo papa teve que buscar refú gio na fortaleza do
Vaticano ao lado de Sã o Pedro. Os partidá rios de Ottaviano conduziram-no em procissã o triunfal ao Latrã o.
Alexandre III foi consagrado bispo de Roma trê s semanas depois, em 20 de setembro, em Ninfa, a sudeste de Velletri,
pelo bispo de Ostia. Ottaviano foi consagrado como Victor IV na abadia imperial de Farfa, a nordeste de Roma, em 4
de outubro.
Em seguida, o imperador convocou um sı́nodo de cerca de cinquenta bispos alemã es e italianos em Pavia em
fevereiro de 1160, que endossou Victor IV e excomungou Alexandre III. O papa já havia excomungado Victor, e em
24 de março ele condenou o imperador Frederico. Em outubro, os bispos e chefes de ordens moná sticas da maioria
dos paı́ses ocidentais, reunidos em Toulouse na presença do rei Henrique II da Inglaterra e do rei Luı́s VII da França
(que já haviam se anunciado para Alexandre no conselho de Beauvais em julho), ouviram argumentos em nome de
ambos os pretendentes ao trono papal, declararam seu apoio a Alexandre III e condenaram Victor IV. Por causa da
oposiçã o imperial na Itá lia, o papa mudou-se para a França em abril de 1162, localizando-se eventualmente em Sens
(junto com sua Cú ria) de 1163 a 1665. Ele retornou a Roma a convite do povo em novembro de 1165, mas nã o pô de
evitar a recoronaçã o de Frederico e a coroaçã o de sua esposa como imperatriz em 1167 pelo antipapa Pascal III
(cuja eleiçã o, apó s a morte do antipapa Victor IV em 1164, foi conduzida por dois cardeais cismá ticos, dois bispos
alemã es e o prefeito de Roma). Um terceiro antipapa, Callistus III, foi eleito em 1168 e serviu até 1178, quando se
submeteu a Alexandre III.
Alexandre III acabou se mudando para Benevento. Enquanto estava lá , a posiçã o polı́tica do papa melhorou
gradualmente. Depois que a Liga Lombard das cidades do norte da Itá lia derrotou Frederico em Legnano em 1176
com o apoio do papa (e a Liga deu o nome dele à nova cidade de Alexandria), o imperador estava pronto para
negociar. Em Veneza, ele e o papa concordaram que a excomunhã o seria retirada de Frederico em troca de seu
reconhecimento de Alexandre como papa. Alexandre nã o apenas impô s sançõ es ao rei Henrique II da Inglaterra pelo
assassinato de Thomas Becket, mas també m con irmou o rei de Portugal em sua posiçã o e colocou o rei da Escó cia e
seu reino sob interdiçã o por interferir nas nomeaçõ es da igreja.
De 5 a 19 de março de 1179, Alexandre III presidiu o Terceiro Concı́lio de Latrã o, que encerrou de initivamente o
cisma. També m decretou que uma maioria de dois terços dos cardeais votantes é necessá ria para a eleiçã o ao
papado; encorajou universidades e escolas catedrais; e previa a puniçã o dos hereges (em particular os cá taros, ou
albigenses, no sul da França). Logo apó s o concı́lio, poré m, a comuna popular forçou o papa a deixar Roma e, em
setembro de 1179, um quarto antipapa, Inocê ncio III, foi instalado e rapidamente eliminado. Alexandre passou os
ú ltimos dois anos em vá rias partes dos Estados Papais e morreu em 30 de agosto de 1181, em Cività Castellana,
cerca de trinta e cinco milhas ao norte de Roma. Seu corpo foi levado de volta a Roma para sepultamento no Latrã o,
mas os cidadã os o profanaram de antemã o.
169 Lúcio III, 1 de setembro de 1181 - 25 de novembro de 1185 (a lista o icial do Vaticano indica sua morte como 25 de
agosto de 1185, mas a data de 25 de novembro aparece em JND Kelly, Dictionnaire historique de la papauté de
Levillain e The New Catholic Encyclopedia) .
Em conjunto com o imperador, Lú cio III estabeleceu procedimentos para a repressã o e puniçã o dos hereges. Nascido
Ubaldo Allucingoli, ele foi um monge cisterciense no inı́cio de sua vida e depois cardeal-bispo de Ostia e Velletri
quando eleito papa. Por causa da hostilidade do povo romano, no entanto, a coroaçã o do novo papa foi realizada em
Velletri em 6 de setembro de 1181.
Alé m do perı́o do entre novembro de 1181 e março de 1182, Lú cio III passou seu ponti icado fora de Roma,
principalmente em Velletri e Anagni. No inı́cio de seu ponti icado, houve tentativas de mediar as disputas entre o
imperador Frederico e o papado. Apó s algumas negociaçõ es malsucedidas, Frederico e Lú cio III se reuniram em
Verona em outubro e novembro de 1184, onde nã o chegaram a um acordo sobre trê s questõ es seculares: o pedido
do papa de assistê ncia militar contra os rebeldes romanos; uma disputa pelas terras papais herdadas pela condessa
Matilda da Toscana; e outra disputa sobre o pedido do imperador para que o papa coroasse seu ilho Henrique
(Henrique VI) e o noivado do ilho com a ilha de Rogé rio II da Sicı́lia e sobrinha do rei reinante da Sicı́lia (a Cú ria
temia uma aliança entre o impé rio e a Sicı́lia ser perigoso para a Santa Sé ).
Em algumas questõ es eclesiá sticas havia acordo: um programa para lidar com os hereges (eles deveriam ser
excomungados pela Igreja e depois entregues ao estado para puniçã o) e os preparativos para uma nova cruzada na
Terra Santa. Sobre outras questõ es eclesiá sticas nã o houve acordo, particularmente no que diz respeito à validade
das ordenaçõ es cismá ticas na Alemanha e na Itá lia. Lú cio morreu em 25 de novembro de 1185, antes que as
relaçõ es com o imperador se rompessem completamente. Ele está enterrado no Duomo (catedral) em Verona.
171 Gregório VIII, ca. 1100–1187, papa de 25 de outubro a 17 de dezembro de 1187 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado no dia de sua eleição, 21 de outubro, mas como ainda não era bispo, não poderia se tornar bispo de
Roma até que fosse consagrado como como em 25 de outubro).
Já com cerca de oitenta e sete anos de idade quando eleito papa em Ferrara, um dia apó s a morte de Urbano III
naquela cidade, Gregó rio VIII cumpriu pouco menos de dois meses. Nascido Alberto de Morra (ou Mora), serviu por
nove anos como chanceler da Santa Igreja Romana e foi, desde 1158, cardeal-diá cono no tı́tulo de San Lorenzo in
Lucina. Na eleiçã o realizada apó s a morte de Urbano III, os cardeais a princı́pio escolheram por unanimidade Enrico
di Castel Marsiaco, monge de Chiaravalle e bispo de Albano, mas ele recusou a eleiçã o e recomendou o cardeal
Alberto de Morra. Morra assumiu o nome de Gregó rio VIII e foi consagrado bispo de Roma em 25 de outubro de
1187. Em ambas as preferê ncias, os cardeais expressaram sua infelicidade com a virulentamente antiimperial polı́tica
de Urbano III, assim como já haviam elegido Urbano porque pensavam que era seu predecessor , Lucius III, tinha
sido muito complacente com o imperador. (Assim oscila o pê ndulo das eleiçõ es papais, ao contrá rio da suposiçã o
popular de hoje de que os papas geralmente sã o sucedidos por có pias de carbono deles mesmos.) Gregó rio VIII
imediatamente mudou para restaurar a harmonia nas relaçõ es papal-imperiais. Ele enviou cartas conciliató rias a
Frederico e seu ilho Henrique e repreendeu o candidato anti-imperial pela arquidiocese de Trier por sua severidade
para com os partidá rios de seu rival. O imperador suspendeu a virtual prisã o domiciliar sob a qual Urbano III e a
Cú ria haviam sido colocados e ordenou que Gregó rio VIII pudesse viajar para onde quisesse e com escolta militar.
Gregó rio, como seu famoso xará Gregó rio VII (1073–85), estava preocupado com a reforma do clero. Ele os
proibiu de pegar em armas e de usar roupas extravagantes. Mas ele estava principalmente preocupado com os
preparativos para outra cruzada, motivada pela notı́cia de uma vitó ria muçulmana em Hattin, na Galilé ia, e depois
pelo relato chocante da pró pria captura de Jerusalé m (2 de outubro de 1187). Ele enviou legados à Alemanha,
França, Dinamarca e até mesmo à Polô nia para pregar a cruzada. Gregó rio VIII viu as conquistas muçulmanas como
um sinal do descontentamento de Deus com os pecados dos cristã os e ordenou que todos os cruzados usassem
trajes penitenciais. Em meados de novembro, ele deixou Ferrara e mudou-se para o sul em direçã o a Roma. Ele
parou em Lucca, onde o antipapa Victor IV havia morrido e foi enterrado. Ele ordenou que seu tú mulo (em um
mosteiro fora das muralhas da cidade) fosse aberto e seus restos mortais fossem jogados para fora da igreja -
di icilmente um ato piedoso e penitencial por quaisquer padrõ es. Quando chegou a Pisa em 10 de dezembro,
adoeceu e morreu uma semana depois, em 17 de dezembro de 1187. Ele foi sepultado no Duomo (catedral) de Pisa,
mas seu tú mulo foi destruı́do em um incê ndio em 1595.
173 Celestine III, ca. 1106–1198, papa de 14 de abril de 1191 a 8 de janeiro de 1198.
Já com oitenta e cinco anos de idade quando eleito por unanimidade, Celestino III teve um reinado
surpreendentemente longo, embora indistinto, de quase sete anos. Nascido Giacinto Bobo, era cardeal-diá cono de
Santa Maria in Cosmedin na altura da sua eleiçã o no inal de março, estando nesta posiçã o há quarenta e sete anos.
Ele teve que ser ordenado sacerdote e bispo em 13 e 14 de abril (Pá scoa), respectivamente, e adotou o nome de seu
velho amigo e patrono, Celestino II (1143–1444).
O ponti icado de Celestino III foi dominado por suas relaçõ es com o novo jovem rei da Alemanha, Henrique VI, que
esperava fora dos limites da cidade para receber a coroa imperial, prometida por Gregó rio VIII. Com alguma
relutâ ncia, o idoso papa coroou Henrique em 15 de abril. Apó s o retorno do imperador à Alemanha (depois de uma
campanha fracassada ao sul de Roma), ele começou a nomear arbitrariamente bispos para vá rias dioceses, rejeitou o
recé m-eleito e con irmado papalmente bispo de Liè ge e mandou matá -lo, e prendeu o rei inglê s Ricardo, o coraçã o
de Leã o, embora Ricardo estivesse sob proteçã o papal como um Cruzado que retornava. Mas o papa nã o tomou
nenhuma açã o direta contra o imperador, nem mesmo por esses dois ú ltimos ultrajes. Ele també m empregou tá ticas
retardadoras contra os esforços de Henrique para fazê -lo aprovar seus planos controversos de uma uniã o
permanente entre a Sicı́lia e o impé rio como uma monarquia hereditá ria. Henrique VI morreu na Sicı́lia em 28 de
setembro de 1197.
A essa altura, o papa já estava na casa dos noventa e, no Natal de 1197, manifestou seu desejo de renunciar, desde
que os cardeais elegessem seu colaborador pró ximo, o cardeal Giovanni de Santa Prisca. Eles rejeitaram sua
proposta e ele morreu algumas semanas depois, em 8 de janeiro de 1198. Ele foi sepultado no Latrã o.
174 Innocent III, ca. 1160 / 1–1216, papa de 22 de fevereiro de 1198 a 16 de julho de 1216 (de acordo com a lista o icial
do Vaticano, canonicamente ele foi papa assim que aceitou a eleição em 8 de janeiro; teologicamente ele não foi papa
até ser consagrado Bispo de Roma em 22 de fevereiro).
Inocê ncio III foi um dos papas mais importantes e poderosos de toda a histó ria da Igreja, e seu ponti icado é
considerado o á pice do papado medieval. De fato, como papa, ele reivindicou autoridade nã o apenas sobre toda a
Igreja, mas també m sobre todo o mundo. “Os prı́ncipes tê m poder na terra, os sacerdotes sobre a alma”, escreveu ele.
“Por mais que a alma valha mais do que o corpo, muito mais valioso é o sacerdó cio do que a monarquia”. Ele se
considerava, na verdade, como Melquisedeque, o rei-sacerdote bı́blico. Embora nã o tenha sido o primeiro papa a
usar o tı́tulo de Vigá rio de Cristo, ele foi um dos mais enfá ticos em seu uso. Ele se considerava um papa colocado em
algum lugar entre Deus e a humanidade - menos do que Deus, mas maior do que os humanos.
Nascido Lotario di Segni, ele foi feito cardeal-diá cono da SS. Sergio e Bacco em 1190 aos 29 anos por seu tio, o
papa Clemente III, e em 1198, no dia da morte de Celestino III, ele foi eleito papa por unanimidade (provavelmente
na segunda votaçã o) aos 37 anos. Foi ordenado sacerdote em 21 de fevereiro e consagrado e coroado Bispo de
Roma no dia seguinte pelos bispos de Ostia, Albano e Porto. Ele imediatamente estabeleceu sua autoridade na cidade
de Roma, substituindo funcioná rios do impé rio e da comuna romana por homens leais a ele. Ele rea irmou o
controle papal sobre os Estados papais e acrescentou outros territó rios a eles.
Quando dois candidatos rivais eleitos para suceder Henrique VI como rei da Alemanha se candidataram ao papa
pela coroa imperial, ele indicou que tinha o direito de intervir porque só ele poderia conceder a coroa e porque ele
tinha que escolher o homem mais adequado para o necessidades e interesses da Igreja. Alé m disso, argumentou ele,
a transferê ncia do impé rio dos gregos para os alemã es ocorreu por meio do papa. Ele escolheu Otto de Brunswick
quando Otto prometeu reconhecer os Estados papais ampliados e renunciar ao direito de despojos (o direito dos
governantes de se apropriarem de todos os bens mó veis de prelados falecidos) na Alemanha. Mas, quando Oto IV
posteriormente invadiu o sul da Itá lia e a Sicı́lia, Inocê ncio III o excomungou e depô s e transferiu seu apoio à coroa
para Frederico da Sicı́lia, que fez ao papa as mesmas promessas de Otto.
Inocê ncio interveio em outro lugar també m. Ele excomungou o rei Joã o da Inglaterra por se recusar a reconhecer
Stephen Langton como arcebispo de Canterbury. Quando o rei fez sua submissã o e entregou seus domı́nios anglo-
irlandeses como feudo papal, Inocê ncio III declarou a Carta Magna nula porque ela havia sido extorquida do rei
pelos barõ es sem o consentimento papal. Ele falhou em suas tentativas de trazer o rei da França, Filipe II, sob seu
domı́nio (o rei aceitou de volta sua esposa divorciada, mas provavelmente por razõ es polı́ticas, nã o espirituais), mas
o papa adquiriu como feudos papais reinos como Aragã o , Portugal, Sicı́lia e Polô nia e enviou a coroa real ao novo
monarca da Bulgá ria. Ele també m fez sentir sua autoridade na Escandiná via, Espanha, Balcã s, Chipre e Armê nia e
apoiou a evangelizaçã o cisterciense da Prú ssia.
Embora Inocê ncio III tenha sido um papa polı́tico magistral, ele també m tinha uma agenda eclesiá stica clara: a
Quarta Cruzada (1202-4), reforma da Igreja e combate à heresia. Quando a cruzada falhou (Constantinopla caiu em
1204), ele apelou em 1213 por outra e ixou a data no Quarto Concı́lio de Latrã o (1215) para 1217. O clero deveria
contribuir com um vigé simo de sua renda para seu sustento, enquanto o papa e os cardeais deveriam contribuir com
um dé cimo. Com relaçã o à reforma da igreja, ele insistiu na simplicidade de vida para os membros da Cú ria e
prá ticas comerciais honestas. (Seu ponti icado foi um dos poucos que nã o passou por di iculdades inanceiras.) Ele
limitou os apelos a Roma e encorajou os conselhos provinciais e nacionais, mas encorajou os bispos a encaminhar
assuntos mais sé rios a ele e a visitar Roma a cada quatro anos. (Os bispos locais nã o gostavam de sua visã o deles
como subordinados, meras emanaçõ es da plenitude de poder do papa dada diretamente por Cristo.) Ele trabalhou
para elevar a conduta moral dos padres e fazer cumprir a regra nas casas religiosas. Simpá tico aos crescentes apelos
à prá tica da pobreza evangé lica na Igreja, ele autorizou os primeiros franciscanos a pregar na estrada. Ele lutou
muito contra a heresia, especialmente o albigensianismo no sul da França, e encarregou Domingos Guzmá n (falecido
em 1221), mais conhecido hoje como Sã o Domingos, o fundador dos dominicanos, para disputar publicamente com
os hereges. O esforço falhou e, apó s o assassinato do legado papal em 1208, Inocê ncio III ordenou uma cruzada em
grande escala contra os hereges, resultando em muito derramamento de sangue e destruiçã o.
Mais de 1.200 prelados e muitos representantes de prı́ncipes leigos participaram do Quarto Concı́lio de Latrã o em
1215. Seus setenta decretos incluı́am uma de iniçã o da Eucaristia em termos de transubstanciaçã o (a mudança
sacramental do pã o e do vinho na Missa no Corpo e Sangue de Cristo ), a condenaçã o das heresias (e um apelo por
ajuda dos poderes seculares para suprimir as heresias), a proibiçã o da fundaçã o de novas ordens religiosas, os
requisitos de que todos os cató licos devem fazer uma con issã o anual e que judeus e muçulmanos devem usar
roupas distintas (um precursor da exigê ncia na Alemanha nazista do sé culo XX de que todos os judeus deveriam
usar a estrela de Davi amarela em suas roupas externas), e o mandato de que todos os governantes cristã os
observassem uma tré gua de quatro anos em preparaçã o para o lançamento da pró xima cruzada em 1217.
No verã o seguinte ao conselho, durante uma viagem ao norte para resolver pessoalmente as diferenças entre os
dois portos marı́timos de Pisa e Gê nova, ele morreu repentinamente de febre em 16 de julho de 1216, em Perugia.
Ele foi enterrado na catedral de San Lorenzo, em Perugia. Em 1891, o Papa Leã o XIII (1878–1903), ele pró prio um
ex-bispo de Perugia, transferiu os restos mortais de Inocê ncio III para a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o em Roma.
176 Gregório IX, ca. 1170–1241, papa de 19 de março de 1227 a 22 de agosto de 1241.
Gregó rio IX foi o papa que estabeleceu a Inquisiçã o papal sob a direçã o dos dominicanos. Ele també m foi um grande
apoiador dos franciscanos. Nascido Ugolino (ou Ugo) da Segni, era sobrinho de Inocê ncio III; ele foi cardeal-bispo de
Ostia e Velletri quando eleito papa um dia apó s a morte de seu predecessor, Honó rio III. Os cardeais haviam
delegado trê s deles para selecionar o novo papa. Ugolino foi a segunda escolha (depois do cardeal-bispo do Porto,
Conrad d'Urach, que recusou a eleiçã o). Ele foi coroado dois dias depois, em 21 de março.
Gregó rio IX provou ser um forte apoiador dos franciscanos (ele havia sido seu protetor antes de sua eleiçã o) e
dos dominicanos, canonizando seu amigo pessoal Francisco de Assis (falecido em 1226) em 1228, Antô nio de Pá dua
(falecido em 1231) em 1232 e Domingos (falecido em 1221) em 1234 e promovendo o crescimento das Clarissas.
Em 1234 publicou també m uma coleçã o de decretos papais ( Liber extra ), compilados a seu pedido por Raymond de
Peñ afort (falecido em 1275), que permaneceria como a fonte fundamental do direito canô nico até o inı́cio do sé culo
XX, quando um novo Có digo de O Direito Canô nico foi promulgado (1917). Em 1231, ele tornou os hereges passı́veis
de pena de morte nas mã os das autoridades civis e instituiu a Inquisiçã o papal sob a direçã o dos dominicanos que
agiriam com sua "autoridade apostó lica" direta. (De outubro de 1235 a maio de 1236, o pró prio papa esteve em
Viterbo emitindo veredictos contra os hereges em reuniõ es abertas a im de impressionar a populaçã o em geral.) Ele
reabriu a Universidade de Paris també m em 1231 (havia sido fechada por dois anos) e modi icou o proibiçã o dos
escritos ilosó icos de Aristó teles. Em 1233, ele fundou uma nova universidade em Toulouse com a mesma
constituiçã o bá sica da Universidade de Paris.
Infelizmente, a maior parte de seu ponti icado foi marcada pelas contı́nuas e profundas tensõ es entre Gregó rio IX
e o imperador Frederico II. O imperador, que adiou o embarque na cruzada durante o ponti icado anterior de
Honó rio III, foi avisado para partir para a Terra Santa no verã o de 1227 ou seria excomungado. Embora o
imperador tenha zarpado em agosto, ele adoeceu (ou pelo menos disse que sim) e voltou ao porto. Gregó rio nã o
aceitou a desculpa e excomungou-o em 29 de setembro. No mê s de junho seguinte, “recuperado” da doença, o
imperador voltou a zarpar e, apesar dos obstá culos colocados em seu caminho pelo papa (havia proclamado um
interdito sobre suas terras e sobre quaisquer terras onde ele pudesse residir, mesmo por um tempo), reconquistou
Jerusalé m. Como Gregó rio IX icou furioso por algué m que foi excomungado liderar a cruzada, ele deixou em vigor a
condenaçã o do imperador. O papa entã o tentou estabelecer um rei rival na Alemanha, libertou os sú ditos do
imperador na Sicı́lia de sua idelidade a ele e reuniu um exé rcito para se opor à s forças imperiais nos Estados papais
e para invadir a Sicı́lia. Assim que Frederico retornou em junho de 1230, ele esmagou as forças papais, respeitando
as fronteiras dos Estados papais. Apó s outra breve enxurrada de pronunciamentos recriminató rios, o papa e o
imperador alcançaram a paz em Ceprano em julho de 1230, por meio da qual o imperador fez concessõ es na Sicı́lia e
prometeu nã o violar os territó rios papais e o papa, por sua vez, suspendeu a excomunhã o. A tré gua desconfortá vel
durou, mais ou menos, vá rios anos.
O imperador ofereceu ajuda ao papa de vez em quando, quando ele encontrou novos problemas com os cidadã os
romanos e teve que fugir da cidade (1234), e o papa retribuiu ao tentar mediar entre o imperador e a Liga
Lombarda das cidades. No entanto, as relaçõ es com o imperador mais uma vez se deterioraram em 1236, quando o
imperador pediu ao papa que excomungasse seus inimigos na Liga Lombard. Em vez disso, Gregó rio IX lembrou o
imperador de suas transgressõ es contra a Igreja na Sicı́lia e de sua sujeiçã o ao sucessor do Apó stolo Pedro. Em
1238, depois que Frederico conquistou o exé rcito lombardo, icou evidente que ele pretendia dominar toda a Itá lia,
incluindo Roma. Em 1239, o papa mais uma vez excomungou o imperador por sua invasã o da Sardenha, um assunto
da Santa Sé . Frederico entã o convocou um conselho geral para julgar o papa, e o papa, por sua vez, chamou o
imperador de blasfemador e precursor do Anticristo. Em uma carta circular dirigida a todos os prı́ncipes, Frederico
a irmou que em Gregó rio IX “a maldade estava assentada no trono do Senhor”. Gregó rio, por sua vez, circulou sua
pró pria carta referindo-se ao imperador como o “monstro da calú nia”. Frederick nã o icaria atrá s. Gregó rio, ele
escreveu, era um “fariseu sentado na cadeira da pestilê ncia, ungido com o ó leo da maldade” - trazendo assim a
“crı́tica ao papa” a um novo nı́vel de eloqü ê ncia. Entã o a guerra de palavras se transformou em uma guerra real.
Frederico invadiu os Estados Papais e cercou Roma.
Gregó rio IX convocou um conselho geral para se reunir em Roma na Pá scoa de 1241. Mas o imperador
interceptou todos os bispos-delegados que viajavam para Roma de fora da Itá lia, tendo fechado todas as rotas
terrestres e assumido o controle das rotas marı́timas. Os navios imperiais capturaram os navios que transportavam
os bispos e cardeais franceses e prenderam todos a bordo. No calor sufocante de agosto, com as forças do
imperador ainda cercando a cidade, o papa morreu em 22 de agosto de 1241 e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. O imperador retirou-se para a Sicı́lia para aguardar acontecimentos futuros.
178 Innocent IV, ca. 1200–54, papa de 28 de junho de 1243 a 7 de dezembro de 1254 (a lista o icial do Vaticano marca o
início de seu ponti icado no dia de sua eleição, 25 de junho, mas ele ainda não era bispo até 28 de junho).
Inocê ncio IV foi o primeiro papa a aprovar o uso da tortura na Inquisiçã o para extrair con issõ es de heresia. Nascido
Sinibaldo Fieschi, foi cardeal-sacerdote com o tı́tulo de San Lorenzo in Lucina, vice-chanceler da Santa Sé e um
distinto canonista quando eleito papa em Anagni apó s uma vacâ ncia de dezoito meses. Foi consagrado bispo de
Roma e coroado papa trê s dias depois, em 28 de junho. O atraso na eleiçã o de mais de dezoito meses foi causado
pelo imperador Frederico II, que mantinha dois cardeais presos e que ainda sofria com a excomunhã o imposta a ele
por Gregó rio IX em 1239. O imperador queria ter certeza de que o novo papa seria simpá tico a ele.
Embora possuı́sse muitas das mesmas qualidades de liderança que Gregó rio IX tinha, Inocê ncio IV nã o tinha o
temperamento - ou virtude de Gregó rio. Ele seguiu o princı́pio, “o im justi ica os meios”. Ele elevou o nepotismo à
categoria de arte, colocando parentes em posiçõ es-chave a im de criar uma rede de apoiadores leais, e apagou a
distinçã o entre receitas da igreja e receitas pessoais. Ele acreditava, como seu homô nimo anterior, Inocê ncio III
(1198-1216), que, como Vigá rio de Cristo, o papa é supremo sobre tudo, mas reconheceu que era um de iure (lat.,
"Por direito"), nã o um supremacia de fato (“de fato”).
Enquanto o imperador planejava ter sua excomunhã o suspensa em troca de vá rias concessõ es à Santa Sé , o
descon iado papa fugiu secretamente no verã o de 1244 para Lyon, França, por meio de Gê nova (sua cidade natal).
Em Lyon, ele estava sob a proteçã o do rei Luı́s IX da França. Entre 26 de junho e 17 de julho de 1245, ele realizou o
Primeiro Concı́lio de Lyon, que incluiu representantes de todo o mundo cristã o, exceto aquelas regiõ es sob controle
imperial, com uma agenda que incluı́a questõ es em andamento de reforma da igreja, a libertaçã o dos lugares
sagrados em Palestina e di iculdades contı́nuas com o imperador, que foi considerado culpado à revelia de perjú rio,
sacrilé gio e heresia e depois deposto. O imperador desa iou o direito do papa de depô -lo, mas o papa argumentou
que Cristo havia dado a Pedro e seus sucessores autoridade absoluta tanto temporal quanto espiritual. A
excomunhã o contra ele foi renovada em abril de 1248, e o imperador morreu no inal de 1250.
Inocê ncio IV voltou triunfante a Roma no ano seguinte e imediatamente se envolveu com o ilho do imperador,
Conrado IV, na esperança de reconquistar a Sicı́lia como feudo papal. Depois da morte de Conrado (1254), o papa
anexou a Sicı́lia aos Estados papais e mudou sua residê ncia para Ná poles, onde morreu menos de dois meses depois,
em 7 de dezembro de 1254, exatamente quando uma rebeliã o estava sendo levantada contra o governo papal na
Sicı́lia. Seu tú mulo original estava na bası́lica de Santa Restituta em Ná poles, que foi incorporada à catedral no sé culo
XIII.
180 Urban IV, francês, ca. 1200–1264, papa de 29 de agosto de 1261 a 2 de outubro de 1264.
O ponti icado de Urbano IV nã o deixou uma imagem duradoura na histó ria papal, tendo falhado em resolver (ou
mesmo melhorar) uma sé rie de problemas polı́ticos contı́nuos herdados de papas anteriores. Em uma nota menor,
ele foi o papa que estendeu a festa de Corpus Christi a toda a Igreja e que encarregou Sã o Tomá s de Aquino (falecido
em 1274) de preparar um ofı́cio (Liturgia das Horas) para ela.
Nascido Jacques Pantalé on, ilho de um sapateiro, era patriarca de Jerusalé m e estava em visita à Cú ria a negó cios
quando foi eleito em Viterbo, em 29 de agosto de 1261, para suceder Alexandre IV, falecido naquela cidade. Como
Alexandre IV nã o criou cardeais durante seu ponti icado de seis anos e meio, o nú mero de cardeais caiu para oito na
é poca da eleiçã o. O novo papa adotou o nome de Urbano IV, talvez em homenagem a Urbano II (1088 a 1099), que
també m era francê s. Ele foi coroado em 4 de setembro. Quase imediatamente, nomeou catorze novos cardeais, seis
deles franceses altamente quali icados.
O primeiro movimento de Urbano foi substituir o hostil Manfred como chefe do reino da Sicı́lia e eliminar o poder
da dinastia Hohenstaufen da Itá lia. Em poucos meses, ele recuperou a maioria dos Estados papais (perdidos por seu
predecessor) no sul e começou a reconstruir o prestı́gio papal no norte. Em junho de 1263, Urbano IV ofereceu o
reino da Sicı́lia e o sul da Itá lia ao irmã o do rei francê s, Carlos, em troca de uma grande quantia em dinheiro e um
tributo anual e garantias de liberdade para a Igreja nesses territó rios e de assistê ncia militar quando necessá rio.
Quando Manfred soube do acordo, retomou as operaçõ es militares na Toscana, Campagna e nos Estados Papais. O
papa teve que se refugiar em Orvieto, onde foi obrigado a modi icar o tratado com Carlos e a aceitar a eleiçã o de
Manfredo como senador romano. Quando o pró prio Orvieto foi ameaçado militarmente, o papa se retirou para
Perugia, onde morreu em 2 de outubro de 1264. Ele foi enterrado na catedral de San Lorenzo, em Perugia.
182 Gregório X, Beato, 1210–76, papa de 27 de março de 1272 a 10 de janeiro de 1276 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado em 1º de setembro de 1271, o dia de sua eleição, mas ele não foi consagrado Bispo de Roma
até 27 de março de 1272).
Gregó rio X é famoso pela maneira como foi eleito para o papado - no conclave extraordiná rio de Viterbo, no qual as
autoridades civis trancaram os cardeais no palá cio papal e, a conselho de Boaventura (falecido em 1274), o ministro
general dos franciscanos (e mais tarde canonizado como santo), removeu seu teto e os ameaçou de fome se nã o
procedessem rapidamente à eleiçã o de um sucessor de Clemente IV. (Já haviam levado quase trê s anos inteiros!) Os
cardeais entã o delegaram a escolha de um sucessor a um comitê de seis cardeais. Os cardeais eleitores haviam se
dividido em linhas polı́ticas: aqueles que queriam romper a aliança do papado com Carlos de Anjou e aqueles que
queriam manter a orientaçã o pró -francesa de Urbano IV e Clemente IV. O ponti icado de Gregó rio X també m foi
signi icativo para o decreto, formulado no Segundo Concı́lio de Lyon (1274), de que as eleiçõ es papais deveriam ser
realizadas dentro de dez dias apó s a morte de um papa, na cidade onde o papa morreu, e com o cardeal eleitores
sem contato com o mundo exterior.
Nascido Teobaldo (ou Tebaldo) Visconti, Gregó rio ainda nã o era sacerdote ou cardeal quando eleito para o
papado em 1 de setembro de 1271. Ele era arquidiá cono de Liè ge e estava ausente na é poca em Acre (Akko, na atual
Israel) em uma cruzada na Terra Santa com o futuro Rei Eduardo I da Inglaterra. Ele já havia servido por anos com o
cardeal James de Palestrina, foi um dos organizadores do Primeiro Concı́lio de Lyon em 1245, acompanhou o cardeal
Ottobono em uma missã o diplomá tica na Inglaterra em 1265 e era pró ximo à s famı́lias reais na França e na
Inglaterra. Teobaldo chegou a Viterbo em 10 de fevereiro de 1272, mais de cinco meses apó s sua eleiçã o, e depois foi
para Roma, onde nenhum de seus dois predecessores imediatos havia posto os pé s como papa. Foi ordenado
sacerdote em 19 de março e consagrado Bispo de Roma na Bası́lica de Sã o Pedro em 27 de março de 1272.
Por causa de sua formaçã o como um cruzado, Gregó rio X fez da libertaçã o dos lugares sagrados o tema central de
seu breve ponti icado. Em 13 de abril de 1272, ele começou a enviar convites para outro concı́lio geral, ou
ecumê nico, com uma agenda trı́plice: uma nova cruzada, a reuniã o com a Igreja grega e a reforma do clero. Para
ganhar apoio para a cruzada, Gregó rio X enviou emissá rios a Constantinopla em outubro de 1272 e, ao retornar,
convidou o imperador bizantino Miguel VIII Paleó logo a enviar delegados ao conselho. Ele també m se moveu para
unir as potê ncias europeias para a cruzada. Tendo persuadido Afonso de Castela a retirar sua reivindicaçã o ao trono
alemã o, Gregó rio aprovou a eleiçã o de Rodolfo, conde de Habsburgo, como rei da Alemanha e o coroou rei dos
romanos em Aachen em 1 ° de outubro de 1273. No Segundo Concı́lio de Lyon (que o papa manteve em Lyon para
evitar a pressã o de Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia e no controle de grande parte do centro e norte da Itá lia), Rudolf
renunciou a todos os direitos aos territó rios papais e reconheceu a separaçã o permanente da Sicı́lia do impé rio (um
ponto que a Cú ria favoreceu durante anos). Rudolf con irmou essas promessas em uma reuniã o com Gregó rio X em
Lausanne em outubro de 1275, a caminho de casa do papa depois do concı́lio.
O conselho foi aberto em 7 de maio de 1274, e os delegados gregos chegaram em 24 de junho. Eles consentiram
ao primado da Santa Sé e ao credo romano, incluindo o polê mico Filioque (lat., "E do Filho"), para que a Igreja Grega
tinha consistentemente objetado porque diminuı́a o status moná rquico de Deus o Pai dentro da Trindade (um ponto
que nem todos os leitores irã o apreciar imediatamente, embora nã o tenham culpa disso!). Na quarta sessã o do
concı́lio (6 de julho), o papa rati icou formalmente a (de curta duraçã o) uniã o das Igrejas latina e grega. Alé m de
estabelecer um sistema de inanciamento da cruzada (que nunca foi lançada), o conselho decretou na constituiçã o
Ubi periculum (7 de julho de 1274) que, havendo uma vaga na Santa Sé , os cardeais deveriam se reunir em dez dias
apó s a morte do papa na cidade ou vila onde ele morreu e proceder à eleiçã o de um sucessor sem qualquer contato
posterior com o mundo exterior. Quanto mais demora o processo eleitoral, mais austeras se tornam as condiçõ es de
vida dos cardeais. (O papa e o conselho foram obviamente in luenciados pelas circunstâ ncias da pró pria eleiçã o de
Gregó rio.) Outros decretos conciliares proibiam longas ausê ncias de benfeitorias ou outros cargos eclesiá sticos e
impunham restriçõ es severas à s ordens religiosas, com exceçã o dos franciscanos e dominicanos.
Depois de cruzar os Alpes, o papa visitou vá rias cidades do norte da Itá lia para resolver disputas locais, mas
contraiu uma forte febre e morreu em Arezzo em 10 de janeiro de 1276. Ele foi enterrado no Duomo (catedral) de
Arezzo. Um culto logo se desenvolveu lá , em Piacenza e em outros lugares que ele havia visitado. Foi aprovado por
Clemente XI em 1713. O nome de Gregó rio X foi adicionado posteriormente ao Martiroló gio Romano durante o
ponti icado de Bento XIV (1740-1758). Dia da festa: 9 de janeiro.
183 Innocent V, Bl., French, ca. 1224–1276, papa de 21 de janeiro a 22 de junho de 1276.
Inocê ncio V foi o primeiro papa dominicano, e o costume papal ainda atual de usar uma batina branca pode ter
começado com ele quando decidiu continuar usando seu há bito dominicano branco como papa. (Outros sugerem
que o costume nã o foi inalmente estabelecido até o ponti icado de outro dominicano, Pio V [1566-1572].) Inocê ncio
V foi o segundo de quatro indivı́duos listados como papas no ano de 1276. Nascido Pierre de Tarentaise, ele era um
Teó logo renomado e bem publicado e cardeal-bispo de Ostia quando eleito por unanimidade para o papado em 21
de janeiro de 1276, em Arezzo, onde Gregó rio X havia morrido. O novo papa foi o mais rá pido possı́vel a Roma,
chegando em 22 de fevereiro. Foi imediatamente entronizado no Latrã o e coroado em 25 de fevereiro.
Inocê ncio V tinha sido amigo de Sã o Boaventura e pregou em seu funeral em 1274. Ele també m foi um
participante ativo no Segundo Concı́lio de Lyon (1274); antes disso, ele havia sido duas vezes provincial dominicano
da França e arcebispo de Lyon. Sua eleiçã o sinalizou uma mudança de curso na polı́tica papal (que muitas eleiçõ es
papais izeram). A Cú ria queria se afastar do cultivo dos alemã es por Gregó rio X a im de contrabalançar o domı́nio
da Itá lia por Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia. Assim, em 2 de março, Inocê ncio V con irmou Carlos como senador
romano e vigá rio imperial na Toscana e pediu a Rodolfo, o rei da Alemanha, que adiasse sua viagem a Roma,
originalmente planejada para sua coroaçã o como imperador por Gregó rio X. Ele també m tentou ressuscitar os
planos de Gregó rio para uma nova cruzada e seus esforços para uni icar as potê ncias europeias para que pudessem
conduzir a cruzada com mais e icá cia.
Seu tratamento das relaçõ es com o Oriente era geralmente inepto. Ele quase se desculpou com o imperador
bizantino Miguel VIII Paleó logo pelos planos de Carlos de recapturar Constantinopla, alegando que ela havia sido
tirada à força dos latinos, e exigiu que o clero grego izesse juramento pessoal de aceitaçã o do Filioque (Lat., "E do
Filho ”) no credo e no primado do papa. Inocê ncio VI morreu em 22 de junho, apenas cinco meses apó s sua eleiçã o e
antes que seus enviados chegassem a Constantinopla. Foi sepultado na Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o e beati icado
pelo Papa Leã o XIII em 1898. Festa: 22 de junho.
185 João XXI, português, ca. 1210 / 15–77, papa de 8 de setembro de 1276 a 20 de maio de 1277.
Joã o XXI foi o primeiro e ú nico Papa portuguê s, o primeiro e ú nico mé dico a ser papa (o seu pai també m era
mé dico), e o quarto indivı́duo canonicamente reconhecido a ocupar a Cá tedra de Pedro no ano de 1276. E numerado
como Joã o XXI, embora nenhum papa tenha tomado o nome de Joã o XX. Pode ter havido confusã o na é poca, criada
pelo fato de que dez papas haviam adotado o nome de Joã o nos sé culos X e XI.
Nascido Pedro Juliã o (mais conhecido como Pedro de Espanha, ou Petrus Hispanus), foi cardeal-bispo de
Tusculum quando eleito papa em Viterbo dez dias apó s a morte de Adriano V naquela cidade. Ele foi coroado em 15
de setembro. O novo papa ensinou medicina na nova Universidade de Siena e serviu como mé dico pessoal do Papa
Gregó rio X (1272-1276). Alé m disso, ele foi um estudioso e autor talentoso, tendo escrito um livro de ló gica
amplamente usado e in luente, um tratado sobre a alma e até mesmo um estudo de oftalmologia intitulado The Eye (
De oculis ). Mas foi com base na bula Relatio nimis implacida de Joã o XXI (18 de janeiro de 1277) que Stephen
Tempier, bispo de Paris, condenou 219 proposiçõ es ilosó icas e teoló gicas, incluindo dezenove de Santo Tomá s de
Aquino (falecido em 1274).
Como Joã o XXI era um estudioso sem interesse em administraçã o, ele deixou os detalhes da formulaçã o de
polı́ticas para o cardeal Giovanni Gaetano, da nobre famı́lia Orsini e do futuro papa Nicolau III (1277-80). Em uma
reversã o da abordagem anti-imperial de Inocê ncio V (21 de janeiro a 22 de junho de 1276), Joã o XXI se absteve de
con irmar Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia, como um senador romano e vigá rio imperial na Toscana e procurou
reconciliar Carlos com Rei Rodolfo I da Alemanha para preparar o caminho para a coroaçã o de Rodolfo como
imperador. Ele també m procurou reunir os governantes europeus para fornecer um esforço unido em outra cruzada
para libertar os lugares sagrados na Palestina, e fez esforços (sem sucesso) para sanar a brecha com a Igreja Grega.
A morte de Joã o XXI foi bizarra. Imediatamente apó s sua eleiçã o como papa, ele construiu um pequeno estú dio
para si mesmo nos fundos do palá cio papal em Viterbo. Por ter sido construı́do à s pressas, o teto caiu sobre ele e ele
morreu em 20 de maio de 1277, poucos dias depois de sofrer os ferimentos. Embora tenha sido criticado por alguns
de seus contemporâ neos por alegada instabilidade moral e antipatia pelas ordens religiosas, o grande poeta Dante
colocou o papa entre os santos do cé u na Divina Comédia ( Paraíso , 12.134). Ele foi enterrado no Duomo (catedral)
de Viterbo.
186 Nicolau III, 1210 / 20-80, papa de 26 de dezembro de 1277 a 22 de agosto de 1280 (a lista o icial do Vaticano indica
o início de seu ponti icado como o dia de sua eleição, 25 de novembro, mas ele ainda não era bispo quando eleito,
tornou-se bispo de Roma em 26 de dezembro).
Nicolau III foi o primeiro papa a fazer do Palá cio do Vaticano sua residê ncia. Ele també m teve a infeliz distinçã o de
ter sido colocado no Inferno na Divina Comédia pelo poeta italiano Dante por nepotismo e avareza ( Inferno ,
19.61ss.).
Nascido Giovanni Gaetano, da nobre famı́lia Orsini, ele fora arcipreste de Sã o Pedro e cardeal-diá cono com o tı́tulo
de San Nicolò in Carcere por mais de trinta anos quando eleito papa no palá cio papal de Viterbo em 25 de novembro
de 1277, apó s um impasse de seis meses. Trê s cardeais o apoiaram e trê s outros se opuseram a ele por causa de sua
animosidade contra Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia. Quando o impasse foi quebrado, ele foi eleito e adotou o nome de
Nicolau III, o nome de sua igreja titular em Roma. O mais prová vel é que ele tenha adotado o nome em homenagem a
Nicolau I (858-67). Ele retornou imediatamente a Roma no dia seguinte à sua eleiçã o e no dia seguinte ao Natal de
1277, foi consagrado Bispo de Roma e coroado.
O ponti icado de Nicolau foi moldado em reaçã o a Inocê ncio V (1276) e em apoio a Gregó rio X (1272-76); a saber,
restaurar a independê ncia polı́tica da Santa Sé na Itá lia. Portanto, ele persuadiu Carlos de Anjou a renunciar ao
cargo de vigá rio imperial da Toscana e nã o buscar a renomeaçã o como senador romano quando seu mandato
expirasse, e decretou que no futuro nenhum prı́ncipe pode se tornar membro do senado sem a permissã o do papa
(o papa elegeu-se para o Senado vitalı́cio). Enquanto isso, ele negociou com o rei Rodolfo I uma renú ncia formal à s
reivindicaçõ es imperiais sobre os territó rios papais na Romagna, que teve o efeito de ampliar os Estados papais e
estabelecer limites que permaneceriam mais ou menos em vigor até a dissoluçã o dos Estados papais (exceto Roma)
em 1860. O papa també m arranjou um casamento entre a ilha de Rodolfo e o neto de Carlos para garantir a paz
entre as casas de Habsburgo e Anjou (e a supremacia papal na Itá lia).
Como Joã o XXI, Nicolau III tentou, sem sucesso, restaurar a unidade entre as Igrejas latina e grega, nos termos de
Roma. Ele fez algumas nomeaçõ es excelentes para o Colé gio de Cardeais e promoveu franciscanos (de quem tinha
sido protetor) e dominicanos a cargos diplomá ticos e episcopais. Com sua bula Exiit qui seminat (14 de agosto de
1279), ele resolveu pelo menos temporariamente a disputa dentro da ordem franciscana (entre os espirituais e os
conventuais) sobre a interpretaçã o do voto de pobreza. Adotando a abordagem de Sã o Boaventura (falecido em
1274), Nicolau III distinguia entre a total falta de bens, que ele considerava meritó ria, e o “uso moderado” das coisas
necessá rias para a vida e o cumprimento da pró pria vocaçã o e ministé rio. Ele també m realizou uma grande
restauraçã o da Bası́lica de Sã o Pedro (onde ele havia servido anteriormente como arcipreste) e fez do Palá cio do
Vaticano sua residê ncia. Ele ampliou e remodelou e comprou lotes para seus jardins. Ele morreu em 22 de agosto de
1280, de um derrame em sua nova residê ncia de verã o em Soriano, perto de Viterbo. De acordo com suas
instruçõ es, seu corpo foi levado de volta a Roma e sepultado na capela Orsini de Sã o Nicolau, cuja construçã o ele
havia comandado, na Bası́lica de Sã o Pedro.
187 Martin IV, francês, ca. 1210 / 20-85, papa de 23 de março de 1281 a 28 de março de 1285 (a lista o icial do Vaticano
começa este ponti icado no dia de sua eleição, 22 de fevereiro, mas como ainda não era bispo, não poderia se tornar
bispo de Roma até ser consagrado em 23 de março).
Martin IV, que na verdade foi o segundo Papa Martin (os Papas Marinus I e II foram incorretamente indicados como
Martin II e III nas listas o iciais do sé culo XIII), anulou a uniã o com a Igreja Grega forjada no Segundo Concı́lio de
Lyon (1274 ) quando excomungou o imperador bizantino Miguel VIII Paleó logo em 1281.
Nascido Simon de Brie, ele foi cardeal-sacerdote de Santa Cecı́lia quando eleito papa em Viterbo apó s seis meses
de animosidade e intriga entre as forças simpá ticas a Carlos de Anjou, rei da Sicı́lia, e aqueles que lhe sã o hostis. O
impasse foi resolvido apenas depois que um novo prefeito favorá vel a Carlos prendeu dois cardeais da famı́lia Orsini
(o papa falecido, Nicolau III, era um Orsini) e impediu outro de participar da eleiçã o. Simon foi eleito por meio de
poderosa pressã o exercida por Charles. Os romanos, poré m, recusaram a entrada do novo papa na cidade, entã o ele
teve que ser coroado em Orvieto, onde passou a maior parte de seu ponti icado. Ele foi consagrado como bispo de
Roma e coroado e entronizado em Orvieto em 23 de março. Ele tomou o nome de Martin em homenagem ao santo
padroeiro da França, Martin de Tours (m. 397).
Mais uma vez, esta eleiçã o solapa a suposiçã o convencional de que os papas geralmente sã o sucedidos por
duplicatas de si mesmos. A eleiçã o de Martinho IV representou uma rejeiçã o completa das polı́ticas de seu
predecessor, e seu ponti icado, de fato, as reverteu. Assim, quando os romanos elegeram o novo papa senador
vitalı́cio (uma posiçã o que Nicolau III havia garantido para si mesmo ao forçar Carlos a renunciar à sua participaçã o
no senado), Martinho IV transferiu o cargo para Carlos e efetivamente entregou o controle dos Estados papais para
ele també m.
Ao contrá rio de seus predecessores, Martinho IV apoiou os esforços de Carlos para recuperar Constantinopla
para o Ocidente por meios militares e, em 1281, excomungou o imperador bizantino Miguel VIII Paleó logo como
cismá tico, embora o imperador tivesse feito tudo ao seu alcance para se acomodar à s exigê ncias da Santa Sé . Assim,
a fó rmula de uniã o das Igrejas latina e grega forjada no Segundo Concı́lio de Lyon em 1274 foi efetivamente anulada.
A "cruzada" para libertar Constantinopla, no entanto, foi prejudicada por uma revolta na Sicı́lia contra o controle
francê s - uma rebeliã o assinalada pelo repicar de sinos para as Vé speras em 30 de março de 1282 (as chamadas
Vé speras da Sicı́lia). Os rebeldes vitoriosos ofereceram a ilha ao papa como estado vassalo, mas Martinho IV rejeitou
a oferta e instou os rebeldes a se submeterem a Carlos. Mais tarde, ele excomungou e depô s o rei Pedro III, o
Grande, de Aragã o, ao aceitar a coroa da Sicı́lia.
Martin IV també m teve problemas dentro da Igreja. Amigo e protetor dos franciscanos, ele relaxou suas regras
sobre a pobreza e concedeu-lhes direitos espirituais ampliados de pregar e ouvir con issõ es e, no processo,
perturbou o clero diocesano e provocou debates nas universidades. (Sua iniciativa foi posteriormente modi icada
pelo papa Bonifá cio VIII em 1300.) Suas polı́ticas excessivamente pró -francesas alienaram muitos cató licos,
especialmente na Alemanha. Martinho IV morreu em Perugia em 28 de março de 1285, poucas semanas depois de
seu amigo e patrono Carlos I da Sicı́lia. Ele foi enterrado na catedral de San Lorenzo, em Perugia.
188 Honório IV, 1210-87, papa de 20 de maio de 1285 a 3 de abril de 1287 (a lista o icial do Vaticano começa este
ponti icado no dia de sua eleição, 2 de abril, mas como ele ainda não era bispo, ele não podia tornou-se bispo de
Roma até ser consagrado em 20 de maio).
O ponti icado de Honó rio IV, sobrinho-neto de Honó rio III (1216-1227), nã o teve forma ou distinçã o particular.
Nascido Giacomo Savelli, ele era o cardeal-diá cono idoso e artrı́tico de Santa Maria in Cosmedin quando eleito papa
por unanimidade em Perugia quatro dias apó s a morte de Martin IV. Sua eleiçã o foi recebida com entusiasmo em
Roma, e ele foi consagrado bispo de Roma e coroado na pró pria Roma em 20 de maio e mais tarde eleito senador
vitalı́cio. Ele residiu em Roma durante todo o seu ponti icado, primeiro no Vaticano e depois em um palá cio novo e
suntuoso que ele construiu no Monte Aventino.
Como a maioria dos cardeais era francesa, o novo papa atendeu aos seus desejos de recuperar a Sicı́lia para os
angevinos (a casa de Anjou). Mas os meios eram altamente complexos e, em ú ltima aná lise, malsucedidos. Uma
cruzada lançada contra o domı́nio espanhol da Sicı́lia pelo rei francê s, Filipe III, levou à morte de Filipe e do rei
reinante da Sicı́lia, Pedro III. Quando o ilho de Pedro, Tiago, se coroou rei da Sicı́lia, Honó rio IV o excomungou. Mas
entã o o herdeiro de Carlos de Anjou, Carlos II de Salerno, renunciou ao seu tı́tulo para a Sicı́lia em favor de Jaime, a
im de obter sua pró pria libertaçã o da prisã o. O papa se recusou a aprovar o acordo, mas a Sicı́lia estava perdida.
O papa retomou os contatos com o rei alemã o Rodolfo I e ixou a data de sua coroaçã o como imperador para 2 de
fevereiro de 1287. Mas Rodolfo nã o pô de fazer a viagem a Roma a tempo e a data teve de ser adiada. Em seguida, foi
adiado uma segunda vez quando o legado papal à Dieta de Wü rzburg (16 a 18 de março) foi rejeitado em seus
esforços para garantir contribuiçõ es inanceiras por ocasiã o da planejada coroaçã o. A coroaçã o nunca aconteceu.
Honó rio IV foi um forte apoiador dos dominicanos e franciscanos, con irmando e estendendo seus privilé gios e
nomeando vá rios deles para bispados. Ele també m promoveu o estudo das lı́nguas orientais em Paris na esperança
de reunir as Igrejas do Oriente e do Ocidente. Ele morreu em Roma em 3 de abril de 1287 e foi sepultado na Bası́lica
de Sã o Pedro, mas seus restos mortais foram posteriormente transferidos por Paulo III (1534-1549) para a Chiesa
dell 'Aracoeli, para ser colocado ao lado dos de sua mã e.
190 Celestino V, Santo, 1209/10 (ou 1215?) - 96, papa de 29 de agosto a 13 de dezembro de 1294 (a lista o icial do
Vaticano começa seu ponti icado em 5 de julho, dia de sua eleição; mas ele ainda não foi bispo até sua consagração
como bispo de Roma em 29 de agosto).
Celestino V é mais conhecido por ser constante, e erroneamente, identi icado como o ú nico papa a renunciar ao
papado. Houve dois outros papas antes dele (e possivelmente um terceiro e um quarto) que renunciaram ao papado
por um motivo ou outro, sendo o primeiro Pontian, que foi preso e deportado no ano 235 pelo imperador
anticristã o Maximinus Thrax, e o segundo sendo Silverius, que foi forçado a abdicar em 537. Um terceiro papa, Joã o
XVIII (1003-9), també m pode ter renunciado sob pressã o. Um quarto, Bento IX, abdicou em favor de seu padrinho
em 1045, mas foi reintegrado em 1047. Um quinto papa, Gregó rio XII, renunciou em 1415 para ajudar a pô r im ao
Cisma do Grande Oeste (1378-1417).
Nascido Pietro del Murrone (també m Morrone) na regiã o de Abruzzi, na Itá lia, o dé cimo primeiro ilho de pais
camponeses, ele era um simples eremita sob a Regra de Sã o Bento na é poca de sua eleiçã o como papa, por volta dos
oitenta anos. cinco, em Perugia, apó s uma vaga de 27 meses. Os doze cardeais eleitores, divididos pela lealdade
familiar entre os Orsinis e as Colonas, nã o conseguiram reunir os dois terços dos votos necessá rios para a eleiçã o
apó s a morte de Nicolau IV em 4 de abril de 1292. Duas vezes vá rios deles deixaram Roma para escapar do calor
sufocante, enquanto os cardeais da poderosa famı́lia Colonna icavam para trá s e tentavam realizar uma eleiçã o por
conta pró pria. Em outubro de 1293, o conclave se reuniu novamente em Perugia e a pressã o aumentou sobre os
cardeais para eleger algué m - pressã o de Carlos II, rei da Sicı́lia e de Ná poles, e dos distú rbios em Roma e na regiã o
de Orvieto. Em 5 de julho de 1294, o decano do Colé gio dos Cardeais citou uma profecia do renomado eremita Pietro
del Murrone de que os cardeais sofreriam a retribuiçã o divina se nã o elegessem um papa logo. O cardeal-reitor
també m anunciou que votaria em Pietro. Por etapas, a margem de Pietro atingiu dois terços e depois a unanimidade.
Ele foi saudado como o “papa anjo” com base no sonho do sé culo XIII de um papa que inauguraria a era do Espı́rito
Santo.
Montado em um burro, Pietro foi escoltado por Carlos II e seu ilho até L'Aquila (uma cidade no domı́nio de
Carlos), onde foi consagrado como bispo de Roma em sua pró pria igreja de Santa Maria di Collemaggio em 29 de
agosto. nome Celestine V. Charles providenciou para que o novo papa ixasse residê ncia em Ná poles, no Castel
Nuovo, em vez de em Roma, como exigia a Cú ria. De Ná poles, Celestino fez tudo o que Carlos lhe ordenou, colocando
seus homens em posiçõ es-chave na Cú ria e nos Estados Papais, criando doze cardeais que Carlos propô s, incluindo
sete franceses, e nomeando o ilho de Carlos, Luı́s de Toulouse, arcebispo de Lyon. Ele també m reintroduziu as
regras do conclave estabelecidas por Gregó rio X (1272-76), tornando o rei o guardiã o da pró xima eleiçã o papal. Sem
instruçã o (nã o falava latim) e geralmente confuso (à s vezes nomeava duas pessoas para o mesmo benefı́cio), ele se
revelou um administrador inepto. Com a aproximaçã o do Advento, ele propô s que trê s cardeais assumissem a
responsabilidade pelo governo da Igreja enquanto ele jejuava e orava. Quando o plano foi rejeitado, ele consultou o
cardeal Benedetto Caetani (que o sucederia como Bonifá cio VIII), um notá vel canonista, sobre a possibilidade de
renunciar. Caetani o incentivou a fazê -lo e preparou todos os documentos e procedimentos. No dia 13 de dezembro,
na ı́ntegra do consistó rio, Celestino V leu a fó rmula de abdicaçã o que Caetani preparara para ele. Ele retirou sua
insı́gnia papal e, em um apelo inal, exortou os cardeais a procederem imediatamente à eleiçã o de seu sucessor. A
renú ncia provocou uma guerra de tratados a favor e contra sua validade.
Quando o pró prio Caetani foi eleito, providenciou para que Pietro nã o voltasse ao seu eremité rio no Monte
Murrone, como desejava. O novo papa temia que Pietro pudesse se tornar um ponto de encontro para um cisma. Por
isso, colocou o ex-papa sob guarda (de onde escapou por alguns meses) e acabou con inando-o na torre de Castel
Fumone, a leste de Ferentino, onde parece nã o ter sido maltratado. Ele morreu de uma infecçã o causada por um
abscesso em 19 de maio de 1296. Seu corpo foi inicialmente enterrado em Ferentino, mas foi transferido em 1317
para Santa Maria di Collemaggio, em L'Aquila, onde foi coroado papa. Sob pressã o posterior do rei Filipe IV da
França, um inimigo dedicado de Bonifá cio VIII, o papa Clemente V canonizou Pietro em 5 de maio de 1313, como um
confessor (isto é , algué m que sofreu pela fé , antes da morte) e nã o como um má rtir, como Philip desejava. Dia da
festa: 19 de maio (nã o observado universalmente).
191 Boniface VIII, ca. 1235-1303, papa de 23 de janeiro de 1295 a 11 de outubro de 1303 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado em 24 de dezembro de 1294, o dia de sua eleição, mas como ainda não era bispo, não poderia
se tornar bispo de Roma até a consagração em 23 de janeiro de 1295).
Poucos papas na histó ria izeram maiores reivindicaçõ es dos poderes espirituais e temporais do papado do que
Bonifá cio VIII, que declarou que toda criatura está sujeita ao papa. Como tal, ele foi o ú ltimo dos papas medievais e
um dos trê s papas medievais mais poderosos, junto com Gregó rio VII (1073–85) e Inocê ncio III (1198–1216).
Nascido Benedetto Caetani, foi cardeal-sacerdote de San Martino e possuidor de muitos benefı́cios lucrativos na
é poca de sua eleiçã o como papa na vé spera de Natal em Ná poles, onze dias apó s a renú ncia de Celestino V. Um
renomado canonista, ele arranjou para o abdicaçã o de seu predecessor, pela qual foi duramente criticado pelos
franciscanos espirituais (aqueles que exigiam a observâ ncia literal e intransigente da regra de pobreza). Apó s a
eleiçã o, Bonifá cio anulou a maioria dos privilé gios concedidos por Celestino V, demitiu vá rios funcioná rios da Cú ria
impostos por Carlos II da Sicı́lia e transferiu a corte papal de Ná poles para Roma, onde foi consagrado bispo de
Roma e coroado em 23 de janeiro de 1295 Ele adotou o nome de Bonifá cio VIII (existiu um antipapa com o nome de
Bonifá cio VII em 974 e novamente em 984-85, mas nenhum papa o icialmente reconhecido com esse nú mero).
Segundo todos os relatos, ele era um homem de temperamento extremamente irascı́vel, dado a explosõ es de
impaciê ncia e raiva, e uma pessoa empenhada em adquirir riqueza e poder para si e sua famı́lia.
Bonifá cio deu uma contribuiçã o duradoura ao campo do direito canô nico com a publicaçã o em 1298 do Liber
sextus , que deu continuidade aos cinco livros do Liber extra do papa Gregó rio IX (1234) e que constitui o terceiro
volume do Corpus Iuris Canonici , o precursor de o Có digo de Direito Canô nico de 1917. Ele també m reorganizou os
arquivos da Cú ria e do Vaticano e catalogou a biblioteca papal. Para reduzir o atrito entre as ordens mendicantes
(franciscanos e dominicanos) e o clero diocesano, ele limitou severamente o direito das ordens mendicantes de
pregar e ouvir con issõ es. Em 1303 ele fundou uma universidade em Roma conhecida como Sapienza. Por outro
lado, ele encomendou ou permitiu tantas está tuas de si mesmo que foi acusado de encorajar a idolatria.
A maior parte do ponti icado de Bonifá cio VIII, poré m, foi ocupada com questõ es polı́ticas. Ele tentou, sem sucesso,
restaurar Carlos II de Ná poles ao trono da Sicı́lia (antes tomado pelos rebeldes e transferido para a casa de Aragã o).
Seus esforços para mediar uma disputa entre Veneza e Ná poles, para defender a independê ncia da Escó cia da
Inglaterra e para garantir a coroa hú ngara para o neto de Carlos II foram em vã o. Suas tentativas de encerrar as
hostilidades entre a França e a Inglaterra abriram um con lito mais sé rio entre ele e Filipe IV (Filipe, o Belo) da
França. Ambos os paı́ses estavam inanciando a guerra taxando seu clero, uma prá tica proibida pela lei canô nica sem
o consentimento do papa (Quarto Conselho de Latrã o, 1215). Em um esforço para impedir a prá tica, Bonifá cio VIII
emitiu uma das mais famosas bulas papais, Clericis laicos , em 25 de fevereiro de 1296, que começou com a
a irmaçã o de que “os leigos sempre foram hostis ao clero”. Filipe IV retaliou proibindo a exportaçã o de ouro, moeda
negociá vel e outros objetos de valor e expulsando mercadores estrangeiros, sabendo que o papa dependia das
receitas da França. O papa entã o recuou e em 1297 autorizou o rei a cobrar o imposto sobre o clero em caso de
necessidade e sem consultar a Santa Sé . A paz (por meio da capitulaçã o papal) foi selada pela canonizaçã o do avô de
Filipe, Luı́s IX (falecido em 1270) por Bonifá cio.
Enquanto isso, o papa estava tendo problemas em sua casa. A famı́lia Colonna, que apoiou a eleiçã o de Bonifá cio,
tornou-se sua crı́tica mais forte. Eles se ressentiam de seu estilo de governo autoritá rio e autocrá tico e se opunham à
sua polı́tica siciliana. Eles també m questionaram a validade da renú ncia de Celestino V e a subsequente eleiçã o de
Bonifá cio para sucedê -lo. Quando um parente dos Colonas roubou um comboio que carregava um tesouro papal em
1297, Bonifá cio ordenou que os dois cardeais Colonna entregassem a ele trê s castelos familiares estraté gicos.
Quando eles se recusaram e mais tarde declararam que Bonifá cio havia usurpado o papado por meio da abdicaçã o
ilegal de Celestino V, Bonifá cio VIII depô s e excomungou os dois, que entã o se refugiaram na corte de Filipe IV da
França. Bonifá cio proclamou 1300 um ano de Jubileu (o primeiro Ano Santo) e concedeu indulgê ncias plená rias (a
remissã o de todas as penas temporais no Purgató rio) à s dezenas de milhares de peregrinos a Roma e aos santuá rios
dos apó stolos. Ele começou a vestir-se ocasionalmente com trajes imperiais, declarando-se tanto um imperador
quanto um papa.
Mas no outono de 1301 o con lito com Filipe foi reacendido. O rei aprisionou o bispo de Parmiers e exigiu sua
degradaçã o (reduçã o ao estado laico). Bonifá cio VIII viu a açã o do rei como uma intrusã o em sua autoridade
espiritual. Sem examinar mais o caso, o papa condenou a açã o do rei, retirou certos privilé gios da Igreja francesa e
convocou sua liderança a Roma para um sı́nodo em novembro de 1302. Trinta e nove bispos franceses
compareceram, apesar da ordem do rei de nã o comparecer . Apó s o sı́nodo, Bonifá cio VIII publicou sua segunda
bula famosa, Unam sanctam , em 18 de novembro de 1302. Entre as a irmaçõ es nela contidas estã o: (1) que “fora
desta Igreja [cató lica] nã o há salvaçã o nem remissã o de pecados”; (2) que “desta ú nica Igreja há um corpo e uma
cabeça - nã o duas cabeças, como um monstro - a saber, Cristo, e o vigá rio de Cristo é Pedro, e o sucessor de Pedro. . .
”; (3) que “nesta Igreja e em seu poder estã o duas espadas, a espiritual e a temporal. . . . Ambos estã o no poder da
Igreja, o espiritual e o material. Mas o ú ltimo deve ser usado para a Igreja, o primeiro por ela; o primeiro pelo
sacerdote, o ú ltimo pelos reis e capitã es, mas por vontade e com a permissã o do sacerdote. Uma espada, entã o, deve
estar sob a outra, e a autoridade temporal sujeita à espiritual ”; (4) que “se. . . o poder terreno errar, será julgado
pelo poder espiritual. . . . Mas se o poder supremo errar, só pode ser julgado por Deus, nã o pelo homem ”; e (5) que
“é absolutamente necessá rio para a salvaçã o que toda criatura humana esteja sujeita ao Romano Pontı́ ice”.
Philip respondeu com um ataque pessoal mordaz ao papa, valendo-se de materiais fornecidos pela famı́lia
Colonna. As acusaçõ es incidiram sobre ilegitimidade, má conduta sexual, blasfê mia, simonia, usurpaçã o do cargo
papal e heresia. Filipe convocou um conselho geral para depor Bonifá cio VIII. Depois de preparar uma bula de
excomunhã o contra o rei, o papa mudou-se de Roma para o palá cio papal em Anagni, onde pretendia promulgar a
bula. O palá cio, no entanto, foi invadido por um bando de mercená rios che iados pela famı́lia Colonna. Quando o
papa se recusou a renunciar, ele foi preso enquanto vestia suas vestes pontifı́cias completas. Seus captores
planejaram levá -lo para a França para ser julgado por um conselho, mas os cidadã os de Anagni (a cidade de seu
nascimento) e a zona rural circundante o resgataram apó s trê s dias e expulsaram seus captores. Apó s um perı́o do
de descanso de sua provaçã o, Bonifá cio VIII retornou a Roma sob a proteçã o da famı́lia Orsini em 25 de setembro de
1303, mas morreu um homem quebrado menos de trê s semanas depois, em 12 de outubro, e foi enterrado na cripta
de Bası́lica de Sã o Pedro. Em 1605, seu tú mulo foi aberto para inspeçã o e seu corpo foi encontrado intacto.
Pelos padrõ es de alguns cató licos considerados para igualar um catolicismo saudá vel e vibrante a papas fortes e
militantes, o ponti icado de Bonifá cio VIII deve ser uma das maiores histó rias de sucesso da Igreja. Mas os padrõ es
estã o errados. Outros papas eram mais ineptos e corruptos, mas nenhum fez reivindicaçõ es para o papado que
fossem mais distantes do espı́rito do apó stolo Pedro, sem mencionar o pró prio Senhor.
192 Bento XI, Bl., 1240-1304, papa de 22 de outubro de 1303 a 7 de julho de 1304.
O ponti icado de Bento XI foi marcado por sua fraca aquiescê ncia à s exigê ncias do rei da França. Nascido Niccolò
Boccasini, de uma famı́lia comum da classe trabalhadora, ele era o cardeal-bispo de Ostia e um dominicano (ele tinha
sido Mestre da Ordem) quando eleito papa por unanimidade em Roma em 22 de outubro de 1303. Ele escolheu o
nome de Bento, apó s o nome de baptismo do seu antecessor, como demonstraçã o de apoio e solidariedade para com
o poderoso mas trá gico Bonifá cio VIII. O novo papa foi um dos dois cardeais que permaneceram ielmente ao lado
de Bonifá cio durante o ataque contra ele em Anagni. (Houve um antipapa que adotou o nome de Bento X em 1058. E
interessante aqui, como em alguns outros casos citados anteriormente, que aqueles que a Igreja Cató lica agora
claramente caracteriza como antipapas nem sempre foram considerados assim nos sé culos anteriores. senã o o
cardeal Boccasino teria adotado o nome de Bento XI em vez de Bento X?) Ele foi coroado em 27 de outubro de 1303,
em Roma.
Bento XI foi descrito por historiadores como um erudito, mas fraco, homem que se sentia à vontade apenas com
seus companheiros dominicanos. Na verdade, ele nomeou apenas trê s cardeais durante seu ponti icado, e todos os
trê s eram dominicanos. Ele també m revogou a bula de seu predecessor que restringia os direitos dos mendicantes
(dominicanos e franciscanos) de pregar e ouvir con issõ es. Um homem de paz, ele imediatamente levantou a
excomunhã o de Bonifá cio VIII das cabeças dos dois cardeais Colonna, mas sem restaurar suas propriedades ou sua
posiçã o cardinalı́cia. Embora o gesto do papa nã o tenha satisfeito completamente os partidá rios de Colonna, ele
exasperou os bonifacianos. O con lito de facçõ es que eclodiu depois forçou Bento XI a deixar Roma para Perugia em
abril de 1304.
Enquanto isso, o rei da França, Filipe IV (Filipe, o Belo), ainda exigia um conselho geral para denunciar a memó ria
de seu desprezado adversá rio Bonifá cio VIII. Em 25 de março de 1304, Bento XI publicou uma bula absolvendo
Filipe e sua famı́lia de todas as censuras e penas eclesiá sticas. Mas a insistê ncia do rei no conselho continuou. O papa
entã o revogou todas as outras penas impostas à França e à corte francesa por Bonifá cio VIII, e ele até ofereceu
garantias de perdã o à queles (exceto o lı́der da gangue) que haviam cometido o ultraje contra Bonifá cio VIII em
Anagni, pouco antes da morte de Bonifá cio . Alé m disso, a famosa bula de Bonifá cio, Clericis laicos (1296), proibindo
governantes temporais de taxar seu clero sem o consentimento do papa, foi quase totalmente retirada, e Filipe
recebeu dı́zimos por dois anos. O rei foi temporariamente apaziguado e a convocaçã o de um conselho geral
diminuiu. Em 7 de julho de 1304, o papa morreu de disenteria aguda em Perugia. Ele foi sepultado, de acordo com
sua vontade, na igreja de San Domenico em Perugia, onde houve relatos posteriores de curas milagrosas em seu
tú mulo. Foi beati icado pelo Papa Clemente XII em 1736. Dia da festa: 7 de julho.
193 Clemente V, francês, ca. 1264–1314, papa de 5 de junho de 1305 a 20 de abril de 1314.
Com o ponti icado de Clemente V começou o “cativeiro babilô nico” de setenta anos do papado em Avignon, França.
Nascido Bertrand de Got, ele foi arcebispo de Bordé us quando eleito papa em Perugia em 5 de junho de 1305, apó s
um impasse de onze meses entre cardeais pró -Bonifá cio VIII que se opunham ao rei Filipe IV da França e os cardeais
pró -franceses anti-Bonifá cio aliada à famı́lia Colonna. Bertrand acabou sendo escolhido apenas porque os
bonifacianos se permitiram eventualmente ser separados. Ele adotou o nome de Clemente V por respeito ao Papa
Clemente anterior (IV, 1265-1268), que també m era francê s. A princı́pio, ele pretendia ser coroado em Vienne, onde
esperava mediar a paz entre os reis ingleses e franceses, preparando assim o caminho para outra cruzada para
libertar os lugares sagrados na Palestina dos muçulmanos. Mas o rei Filipe IV tinha outras idé ias, e Clemente V foi
coroado na presença do rei em Lyon em 15 de novembro, cerca de cinco meses apó s sua eleiçã o. (Como já era bispo
quando eleito, seu ponti icado nã o começou com sua coroaçã o, mas com sua eleiçã o.) Como muitos outros papas,
Clemente V assumiu o cargo com uma saú de menos do que vigorosa. A ligido com câ ncer, ele teria que se afastar da
vista do pú blico por meses a io.
Um mê s depois de sua coroaçã o, o novo papa criou dez cardeais, um dos quais inglê s e nove franceses - e quatro
franceses eram seus sobrinhos! Os italianos agora estavam em minoria dentro do Colé gio Cardinalı́cio. Depois de
vagar pela Provença e Gasconha, especialmente em Poitiers (1307-8) durante os primeiros anos de seu ponti icado,
Clemente V inalmente estabeleceu-se com a Cú ria no priorado dominicano em Avignon, porque a cidade nã o
pertencia ao rei francê s, mas ao seu vassalos, os reis angevinos de Ná poles, e com fá cil acesso ao mar. Ele també m
viveu em Venaissin, que era territó rio papal. Enquanto isso, o rei renovou a pressã o por um conselho geral para
condenar seu velho inimigo Bonifá cio VIII. Depois de protelar por um longo perı́o do de tempo, o papa inalmente
cedeu e concordou em abrir o caso em 2 de fevereiro de 1309. Por causa de distraçõ es polı́ticas, o rei suspendeu os
procedimentos em abril de 1311. Mas ele cobrou um preço incrivelmente alto do papa. Os cardeais Colonna que
foram excomungados por Bonifá cio VIII foram completamente reabilitados e a famı́lia Colonna foi totalmente
compensada por suas perdas. Todos os atos o iciais de Bonifá cio contra os interesses franceses foram anulados, o
lı́der do ataque armado a Bonifá cio em Anagni foi absolvido e uma bula papal, Rex gloriae (27 de abril de 1311), foi
emitida elogiando Filipe por seu zelo em atacar o papa morto . Finalmente, Celestino V, o papa idoso que Bonifá cio
VIII havia tirado do cargo, foi canonizado santo em 5 de maio de 1313.
Mas havia mais. Porque Philip cobiçava a riqueza dos Cavaleiros Templá rios, uma ordem religiosa devotada à
libertaçã o dos lugares sagrados na Palestina do controle muçulmano, ele os prendeu ao retornar da Terra Santa em
outubro de 1307 e extraiu con issõ es sob tortura. Essas con issõ es foram entregues a Clemente V com a exigê ncia,
fortalecida por ameaças, de que condenasse a ordem. Apó s uma hesitaçã o inicial, o papa convocou um concı́lio geral
ou ecumê nico em Vienne (outubro de 1311 a maio de 1312), no qual os Cavaleiros Templá rios foram dissolvidos por
açã o papal unilateral. O papa també m determinou que todas as propriedades dos Cavaleiros Templá rios deveriam
ser transferidas para os Cavaleiros de Sã o Joã o de Jerusalé m (os Hospitalá rios, hoje conhecidos como Cavaleiros de
Malta). Com efeito, no entanto, o rei Filipe IV manteve sua propriedade considerá vel até sua pró pria morte em 1314.
De acordo com outros decretos do Concı́lio de Vienne, Clemente V formou um acordo de compromisso na disputa
entre os franciscanos conventuais e espirituais e, com o objetivo de promover o trabalho missioná rio no Extremo
Oriente, estabeleceu cá tedras de lı́nguas orientais em Paris, Oxford, Bolonha e Salamanca. Ele també m fundou
universidades em Orlé ans e Perugia e publicou os decretos do Conselho de Vienne junto com uma coleçã o de seus
decretos e os de seus dois predecessores em uma ú nica obra conhecida como as Clementinas (ou Constituiçõ es de
Clementina), que fazia parte de o Corpus Iuris Canonici , precursor do Có digo de Direito Canô nico de 1917. A
centralizaçã o do governo da Igreja també m aumentou durante este ponti icado. Novos tipos de benefı́cios (ofı́cios
eclesiá sticos que geram renda) foram reservados à nomeaçã o papal, e tanto o papado quanto a Cú ria lucraram.
Houve outros atos o iciais menos signi icativos durante este ponti icado. Em 1306, por exemplo, Clemente
suspendeu Roberto de Wilchelsea como arcebispo de Canterbury, a quem o rei inglê s, Eduardo I, acusou de traiçã o
por seu apoio a Bonifá cio VIII, e entã o, dois anos depois, o reintegrou a pedido de Eduardo II. També m em 1306 ele
excomungou Robert I, o Bruce da Escó cia, pelo assassinato de um velho inimigo, Red Comyn, e depô s dois bispos
escoceses por apoiarem os rebeldes. No ano seguinte, ele resolveu uma contrové rsia de longa data sobre o trono
hú ngaro. Depois que o imperador alemã o Henrique VII morreu em 1313, o papa publicou uma famosa bula,
Pastoralis cura , que ia alé m das reivindicaçõ es exageradas de Bonifá cio VIII pela autoridade papal. O papa, declarou
Clemente V, é superior ao imperador e, em tempos de vacâ ncia, tem o direito de nomear vigá rios imperiais. Ele entã o
nomeou Roberto de Ná poles como vigá rio imperial da Itá lia.
Clemente V morreu de câ ncer no estô mago em 20 de abril de 1314, em Roquemaure, perto de Carpentras,
enquanto viajava para sua cidade natal, Villandraut. Na é poca de sua morte, o tesouro papal estava esgotado devido
ao uso pessoal excessivo. Ele foi enterrado na igreja paroquial de Uzeste, a cerca de cinco quilô metros de seu local
de nascimento. Um monumento erguido em sua memó ria foi destruı́do pelos calvinistas dois sé culos depois.
194 João XXII, francês, ca. 1244–1334, papa de 7 de agosto de 1316 a 4 de dezembro de 1334.
Joã o XXII, o segundo dos papas de Avignon, foi um dos relativamente poucos papas a ser acusado de heresia, neste
caso por causa de sua crença declarada de que os santos nã o vê em Deus (a Visã o Beatı́ ica) até depois do
julgamento inal.
Nascido Jacques Duè se (de Cahors), era cardeal-bispo do Porto na altura da sua eleiçã o para o papado a 7 de
Agosto de 1316, em Lyon, mais de dois anos apó s a morte do seu antecessor, Clemente V. Evidentemente, o os
cardeais tiveram alguma di iculdade em decidir sobre um candidato, dadas as correntes polı́ticas con litantes. Eles se
encontraram primeiro no palá cio episcopal de Carpentras, de acordo com a lei canô nica que exige que uma eleiçã o
papal seja realizada no local onde o papa anterior havia morrido. Mas o conclave teve de ser transferido para Lyon
em março de 1316 por causa dos distú rbios locais. (Um bando armado invadiu os cardeais gritando: "Morte aos
italianos! Queremos um papa! Morte aos italianos!") O cardeal Duè se, de setenta e dois anos, foi obviamente uma
escolha de compromisso, mas apoiada por Filipe, conde de Poitiers (e o futuro rei Filipe V) e rei Roberto de Ná poles.
Ele foi coroado em Lyon em 5 de setembro pelo cardeal Napoleone Orsini. Seus eleitores obviamente o
consideravam um papa de transiçã o, dada sua idade. Seu ponti icado durou mais de dezoito anos!
Embora de baixa estatura e com saú de debilitada, esse papa idoso mergulhou em suas novas funçõ es com energia
e entusiasmo incomuns. Ele restaurou a e iciê ncia da Cú ria e a estabilidade inanceira da Igreja, ambos tendo sofrido
muito com Clemente V. Ele estendeu os poderes do papado sobre as nomeaçõ es para benefı́cios (cargos eclesiá sticos
que geram renda), proibiu qualquer pessoa de exercer mais de dois benefı́cios em um tempo, e removeu a eleiçã o
dos bispos dos capı́tulos das catedrais (corpos de padres diocesanos, conhecidos como cô negos, responsá veis pelo
bem-estar espiritual e temporal das catedrais diocesanas). Ele també m dividiu os territó rios de grandes dioceses e
redesenhou as fronteiras de outras. Para melhorar o luxo de receitas para a Santa Sé (que era Roma, nã o Avignon,
no entanto), ele criou um novo sistema pelo qual cada paı́s pagaria a receita do primeiro ano de um benefı́cio ao
papa. Esses pagamentos eram chamados de anates. Em 1319, Joã o XXII reservou para si todos os benefı́cios
menores por um perı́o do de trê s anos e impô s outros impostos papais. Ele també m compilou um novo livro de
impostos que estabeleceu uma tabela de taxas para documentos da igreja. Todas as suas nomeaçõ es para o Colé gio
dos Cardeais foram francesas, exceto um espanhol e quatro romanos. Seu pior defeito era seu nepotismo
desavergonhado, concedendo dinheiro, presentes e cargos religiosos a parentes e amigos.
Em 1318, ele interveio na disputa em curso entre os franciscanos conventuais e espirituais, icando ao lado dos
primeiros. Ele baniu o há bito simpli icado dos espirituais e ordenou que obedecessem a seus superiores e
aceitassem como legı́timo o armazenamento de provisõ es. Vinte e cinco recalcitrantes foram entregues à Inquisiçã o,
e quatro foram realmente queimados na fogueira em 1318. Mas o papa entrou em con lito total com a ordem
franciscana quando seu capı́tulo geral, reunido em Perugia em 1322, desa iou uma decisã o da Inquisiçã o e declarou
ser um ensino ortodoxo que Cristo e os apó stolos nada possuı́am como propriedade deles. Joã o XXII denunciou a
declaraçã o de Perugia como heresia (1323), enfurecendo assim os membros da ordem que, por sua vez,
denunciaram o papa como herege. A maioria dos franciscanos inalmente se submeteu ao papa no verã o de 1325,
mas uma minoria fugiu, incluindo o ministro geral da ordem, Miguel de Cesena, e o famoso iló sofo franciscano
Guilherme de Occam (falecido em 1347). Joã o XXII os excomungou em abril de 1329 e entã o emitiu uma bula mais
tarde naquele mesmo ano declarando que o direito de possuir propriedade era anterior à queda de Adã o e Eva e
que o Novo Testamento descreve Cristo e os apó stolos como possuidores de bens pessoais. Occam respondeu à bula,
item por item, no primeiro de muitos escritos dirigidos contra o papa.
Os dissidentes franciscanos tornaram-se aliados do inimigo do papa Luı́s IV, que derrotou seu rival pelo trono
alemã o, um homem a quem Joã o XXII havia apoiado. Por causa das açõ es agressivamente antipapais de Luı́s IV na
Itá lia, o papa o excomungou em 1324. Em seguida, Luı́s convocou um conselho geral para denunciar o papa por
heresia por causa de sua atitude para com a compreensã o dos franciscanos espirituais sobre a pobreza evangé lica.
Luı́s foi apoiado nã o apenas pelos franciscanos dissidentes, mas també m por Marsı́lio de Pá dua (m. 1342), cujo
Defensor pacis (1324), que promovia as noçõ es de um estado laico e a superioridade de um conselho geral sobre o
papa, havia sido condenado por Joã o XXII em 1327. Acompanhado por Marsilius, Louis entrou em Roma em janeiro
de 1328 e fez-se coroar imperador pelo senador Sciarra Colonna, o chamado capitã o do povo romano. Trê s meses
depois, Luı́s publicou um decreto declarando que “Jacques de Cahors” (o papa) foi deposto por heresia, e uma efı́gie
de palha dele em mantos pontifı́cios foi queimada solenemente. Luı́s entã o teve um franciscano espiritual, Pietro
Rainalducci, eleito papa por representantes do clero romano. O antipapa assumiu o nome de Nicolau V e se instalou!
Depois que Luı́s deixou Roma no inı́cio de 1329, no entanto, o antipapa perdeu seu apoio, escondeu-se e inalmente
foi para Avinhã o, onde se submeteu a Joã o XXII e foi perdoado e colocado em cativeiro confortá vel.
Entre os outros atos desse ponti icado notavelmente ativo foram o estabelecimento de dioceses na Armê nia, India
e Irã , o inı́cio de uma biblioteca papal em Avignon, a fundaçã o de uma universidade em Cahors e a condenaçã o de
vinte e oito sentenças de Meister Eckhart (falecido em 1327), o famoso mı́stico alemã o. Mas entre o Dia de Todos os
Santos (1º de novembro de 1331) e a festa da Anunciaçã o (25 de março de 1332), o papa proferiu quatro sermõ es
que o perseguiram pelos anos restantes de seu ponti icado. Ele disse que os santos nã o veriam Deus face a face até
depois do julgamento inal - em oposiçã o à doutrina tradicional de que os santos tê m a Visã o Beatı́ ica
imediatamente apó s a morte. Antes do julgamento inal, ele sugeriu, os santos só podiam contemplar a humanidade,
nã o a divindade de Cristo. Ele també m propô s que os demô nios e os condenados ainda nã o estavam no Inferno.
Essas opiniõ es foram condenadas na Universidade de Paris no outono de 1333, e os inimigos do papa, incluindo
Guilherme de Occam, tiraram proveito da contrové rsia. Luı́s IV conspirou com o cardeal Napoleone Orsini para a
condenaçã o e deposiçã o do papa em um conselho geral, mas o papa adoeceu. Em seu leito de morte e na presença
de seus cardeais, ele modi icou sua posiçã o. Antes do julgamento inal, disse ele, os santos veem Deus face a face tã o
claramente quanto sua condiçã o permite, e ele insistiu que nunca sustentou o ponto de vista contrá rio, exceto como
uma opiniã o pessoal que ele estava preparado para rejeitar se fosse contrá ria à fé da Igreja. E de se perguntar como
uma questã o tã o insigni icante pode ter criado tamanha turbulê ncia. Mas aconteceu.
Joã o XXII morreu em 4 de dezembro de 1334, aos oitenta e nove anos, e foi sepultado na catedral de Notre-Dame-
des-Doms em Avignon.
195 Bento XII, francês, 1285-1342, papa de 8 de janeiro de 1335 a 25 de abril de 1342 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado com sua eleição em 20 de dezembro de 1334, mas ele ainda não era bispo; não podia tornar-se bispo
de Roma até ser consagrado bispo em 8 de janeiro de 1335).
O terceiro dos papas de Avignon, Bento XII, resolveu uma questã o teoló gica disputada sobre se os santos vê em Deus
face a face antes do julgamento inal.
Nascido Jacques Fournier, de pais economicamente pobres, foi cisterciense, cardeal-sacerdote da igreja de Santa
Prisca e ex-conselheiro de seu antecessor, Joã o XXII, quando eleito papa em 20 de dezembro de 1334, em Avignon.
(Havia vinte e quatro cardeais presentes no conclave - a maioria franceses.) Diz-se que o candidato principal, o
cardeal John de Cominges, foi derrotado porque se recusou a prometer nã o transferir o papado de volta para Roma.
De qualquer forma, o cardeal Fournier foi eleito no sé timo dia do conclave e recebeu o nome de Bento XII. Foi
consagrado bispo de Roma e coroado pelo cardeal Napoleone Orsini em 8 de janeiro de 1335, na igreja dominicana
de Avignon. E de se perguntar se algum dos papas de Avignon viu a ironia de sua consagraçã o como bispo de Roma,
uma diocese a muitas centenas de quilô metros de distâ ncia que eles nunca visitariam.
Quase imediatamente apó s sua consagraçã o e coroaçã o, Bento XII foi pressionado por enviados de Roma a
devolver o papado lá . O novo papa pode ter pensado em fazer exatamente isso porque ele iniciou uma restauraçã o e
refazer a Bası́lica de Sã o Pedro naquele mesmo ano e em 1341 gastou grandes somas tanto na Bası́lica de Sã o Pedro
quanto no Latrã o. Mas a maioria dos cardeais e o pró prio rei francê s eram contra a medida, e a contı́nua agitaçã o
polı́tica em Roma e nos Estados papais deu muita força prá tica a seu argumento. Na verdade, logo icou claro que
Bento XII concordava com essa posiçã o. Ele transferiu os arquivos papais de Assis para Avignon e iniciou a
construçã o de um palá cio papal permanente (o Palais Vieux) para servir como residê ncia para ele e para a Cú ria e
també m como fortaleza militar. Ele també m se somou ao contingente francê s do Colé gio Cardinalı́cio, nomeando
cinco franceses e apenas um italiano.
Bento XII assumira o cargo com reputaçã o de teó logo culto e inquisidor incansá vel, há bil em extrair con issõ es de
supostos hereges, alguns dos quais foram queimados na fogueira. O papa anterior, Joã o XXII, em duas ocasiõ es o
felicitou por seus esforços para erradicar a heresia em sua diocese. Ao contrá rio de seu predecessor minú sculo e
fraco, Bento XII era alto, corpulento e forte na fala. Logo apó s sua coroaçã o, ele dispensou um grande nú mero de
clé rigos da corte papal de Avignon e os mandou de volta para seus benefı́cios (ofı́cios eclesiá sticos que geram
renda). Ele estava convencido de que o clero deveria permanecer residente em seus postos pastorais e que monges
errantes deveriam retornar aos seus mosteiros. Ele també m proibiu a transferê ncia de dinheiro quando os serviços
espirituais eram prestados, limitou as taxas que poderiam ser cobradas pelos documentos e proibiu a retirada de
receitas de benefı́cios vagos (exceto no caso de cardeais e patriarcas). Na verdade, ele estabeleceu crité rios tã o
rı́gidos para preencher benefı́cios que muitos permaneceram vagos por longos perı́o dos de tempo. Alé m disso, ele
regulamentou a autoridade temporal dos cistercienses, franciscanos e beneditinos, ordenou capı́tulos regulares
(reuniõ es formais em casas) e visitaçõ es a mosteiros, estabeleceu casas de estudo e reformou o programa de
treinamento para noviços. (Infelizmente, a maioria dessas medidas se mostraram ine icazes devido à relativa
brevidade de seu ponti icado e ao fracasso de seu sucessor em seguir com a aplicaçã o dessas iniciativas.) Ele
també m de iniu estritamente os direitos e deveres da Sagrada Penitenciá ria, que emitiu indulgê ncias e dispensas, e
as primeiras decisõ es registradas do tribunal conhecido como Rota ocorreram durante seu ponti icado.
Em 1336, Bento XII resolveu uma contrové rsia que agitou os ú ltimos anos do ponti icado de seu predecessor; a
saber, se os santos vê em Deus face a face imediatamente apó s a morte ou nã o antes do julgamento inal. Joã o XXII
havia especulado que os santos nã o viram a Deus até depois do julgamento inal. Bento XII determinou em
Benedictus Deus (1336) que as almas tê m uma visã o intuitiva e face a face da essê ncia divina, que os teó logos
chamam de Visã o Beatı́ ica, e que essa visã o de Deus ocorre imediatamente apó s a morte no caso dos que morrem
no estado de graça.
Bento XII encontrou vá rios problemas na frente polı́tica. Ele nã o pô de evitar a eclosã o da Guerra dos Cem Anos
(1337-1453) entre a Inglaterra e a França ou encerrar as hostilidades apó s o inı́cio, entã o suas esperanças foram
frustradas pelo lançamento de outra cruzada para libertar os lugares sagrados na Palestina do controle muçulmano.
Seu favoritismo aberto em relaçã o à polı́tica francesa, é claro, criou muito ressentimento na Inglaterra. Ele també m
nã o conseguiu defender a integridade dos territó rios papais na Itá lia, perdendo o controle sobre a Romagna, a
Marcha de Ancona e até mesmo Bolonha. As relaçõ es com o imperador Luı́s IV da Alemanha eram cheias de
hostilidade mú tua. A primeira Dieta de Frankfurt (1338) decretou que a autoridade imperial deriva diretamente de
Deus, nã o do papa. A segunda Dieta em 1338 declarou que a posiçã o e o poder imperiais pertencem por direito a
Luı́s IV e que a con irmaçã o ou consentimento do papa nã o é necessá ria.
Bento XII morreu em 25 de abril de 1342 e foi sepultado na catedral de Notre-Dame-des-Doms em Avignon.
196 Clemente VI, francês, 1290 / 91-1352, papa de 7 de maio de 1342 a 6 de dezembro de 1352.
O quarto - e mais partidá rio francê s - dos papas de Avignon, Clemente VI lançou as bases para a doutrina das
indulgê ncias que iguraria tã o amplamente na Reforma Protestante cerca de dois sé culos depois.
Nascido Pierre Roger, ele era um beneditino, arcebispo de Rouen, chanceler da França e cardeal-sacerdote da
igreja de Santi Nereo e Achilleo quando foi eleito papa por cerca de dezessete cardeais reunidos em Avignon em 7 de
maio de 1342. Ele escolheu o nomeou Clemente para deixar claro que o poder deve ser exercido com clemê ncia e foi
coroado no domingo de Pentecostes, 19 de maio, pelo cardeal Napoleone Orsini na igreja dominicana em Avignon.
Embora o rei da França, Filipe VI, tenha enviado seu ilho ao conclave para in luenciar a eleiçã o em favor do cardeal
Roger, o gesto se mostrou desnecessá rio. Ele foi eleito por unanimidade porque, como em tantos casos ao longo da
histó ria dos conclaves papais, os cardeais se cansaram do estilo do papa anterior e ansiavam por uma mudança.
Assim, eles escolheram substituir o austero e rı́gido Bento XII pelo mais descontraı́do e mundano Clemente VI.
Cerca de seis meses apó s sua eleiçã o, Clemente recebeu uma delegaçã o de Roma, conferindo-lhe o posto de
senador romano e implorando que voltasse à cidade. A delegaçã o també m pediu uma reduçã o no intervalo entre os
anos jubilares (seu motivo era mais econô mico do que espiritual, já que os anos jubilares atraı́am muitos peregrinos
a Roma). O novo papa atendeu ao pedido, e o ano do Jubileu de 1350 rendeu grandes benefı́cios econô micos para
uma Roma empobrecida. Mais importante do que o pró prio ano jubilar foi o touro, Unigenitus , que o anunciou. O
papa de iniu ali o tesouro de mé ritos, uma vasta reserva de mé ritos construı́da por Cristo e os santos que pode ser
aplicada a indivı́duos, mediante a recitaçã o de certas oraçõ es e a realizaçã o de certas obras espirituais, para
compensar o fardo do pecado. Os meios pelos quais esses mé ritos sã o aplicados acabaram sendo chamados de
indulgê ncias. Disputas sobre a venda de indulgê ncias foram um fator importante na provocaçã o da Reforma
Protestante cerca de dois sé culos depois.
O novo papa rejeitou o apelo da delegaçã o romana para seu retorno à cidade. Na verdade, ele comprou a cidade
de Avignon e o condado de Venaissin da rainha Joanna I de Ná poles em 1348, ampliou o palá cio papal e nomeou
principalmente franceses para o Colé gio dos Cardeais. Sua intrusã o nos assuntos polı́ticos foi marcada por um
fracasso consistente. Ele a princı́pio apoiou Cola di Rienzo como governante civil de Roma, mas depois o abandonou
e excomungou quando Cola a irmou a independê ncia do povo romano tanto do papa quanto do imperador.
Clemente VI, como seu antecessor, nã o foi capaz de parar a Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França e, em
todo caso, di icilmente poderia ingir ser um corretor honesto. O exé rcito papal nã o conseguiu reconquistar
Romagna para o papado, e o papa foi forçado a ceder o controle de Bolonha a seu adversá rio, o arcebispo de Milã o.
Seus esforços para se unir à Igreja Grega també m falharam. Por outro lado, a morte acidental do imperador Luı́s IV
da Alemanha em 1347 melhorou a sorte papal naquele paı́s. O papa já havia apoiado Carlos, rei da Boê mia, para
substituir Luı́s, e agora que Luı́s estava morto, o papa tinha um ocupante amigá vel do trono alemã o pela primeira
vez em muitos anos.
Infelizmente, o ponti icado de Clemente VI foi modelado menos no exemplo do apó stolo Pedro, cujo sucessor ele
a irmava ser, do que no de um prı́ncipe mundano. Sua corte era banhada por luxos e pontuada por suntuosos
banquetes e grandes festividades. Foram feitas acusaçõ es sobre sua pró pria vida sexual. Ele descaradamente
conferiu ofı́cios e presentes da igreja a parentes, amigos e conterrâ neos. A compra da cidade de Avignon e do
condado de Venaissin, a construçã o de um novo palá cio papal (Palais Neuf), empré stimos generosos à França e
despesas militares na Itá lia e na luta contra os turcos acabaram esgotando o tesouro papal que havia sido tã o
meticulosamente reabastecido por Joã o XXII (1316-34) e Bento XII (1335-42). Novos impostos tiveram que ser
impostos, e nomeaçõ es para um nú mero crescente de dioceses e benefı́cios geradores de receita foram reservados
ao papa. Essas iniciativas provocaram uma reaçã o fortemente negativa na Alemanha e, especialmente, na Inglaterra.
Em 1351, o rei Eduardo III da Inglaterra emitiu o Primeiro Estatuto dos Provisadores, reservando ao rei o direito de
apresentaçã o em todas as nomeaçõ es papais para benfeitores.
Em 1348-1349, quando a Peste Negra atingiu a pró pria Avinhã o, o papa defendeu os judeus contra a acusaçã o de
que eles eram os responsá veis por ela. Ele també m estendeu a mã o para ajudar os pobres e a litos durante a crise.
Clemente VI morreu em 6 de dezembro de 1352, apó s uma curta doença. A princı́pio foi enterrado na catedral, mas
seu corpo foi transferido em abril para a abadia beneditina de La Chaise-Dieu, onde havia estudado e desejava ser
sepultado. Seu tú mulo foi posteriormente profanado e seus restos mortais queimados pelos huguenotes em 1562.
197 Innocent VI, French, 1282–1362, papa de 18 de dezembro de 1352 a 12 de setembro de 1362.
O ponti icado de Inocê ncio VI, o quinto dos papas de Avignon, foi marcado por muita atividade, tanto eclesiá stica
quanto polı́tica, mas com poucos efeitos duradouros. Nascido Etienne Aubert, ele foi cardeal-bispo de Ostia quando
eleito papa em Avignon em 18 de dezembro de 1352. Como de costume, os cardeais nã o queriam uma có pia carbono
do antigo papa, mas sim um estilo e abordagem totalmente novos. O novo papa, já com setenta e dois anos de idade,
foi coroado na catedral de Avignon pelo cardeal Gaillard de la Mothe, o cardeal-diá cono sê nior, em 30 de dezembro.
Apesar de sua idade e saú de instá vel (os cardeais eleitores o consideravam um papa em transiçã o), ele
imediatamente reviveu o espı́rito reformista de Bento XII (1335-42). Ele invalidou um acordo alcançado pelos vinte e
cinco cardeais no conclave (incluindo ele mesmo) de que as receitas seriam depois divididas entre o papa e o Colé gio
de Cardeais e que as nomeaçõ es papais de novos cardeais estariam sujeitas à aprovaçã o do colé gio. Inocê ncio VI
també m reduziu o tamanho da casa papal e simpli icou o estilo de vida da corte papal, que estava inanceiramente e
moralmente exausta durante o ponti icado anterior. Mais uma vez, o clero era obrigado a residir em seus benefı́cios
(cargos eclesiá sticos que geravam renda), os candidatos a cargos tinham que estabelecer suas credenciais para o
cargo e ningué m podia ter mais de um benefı́cio por vez. O papa també m apoiou a agenda reformista do Mestre da
ordem dominicana e foi particularmente severo com os franciscanos espirituais (aqueles que insistiam que um
franciscano nã o deveria possuir absolutamente nada), entregando alguns deles à Inquisiçã o para serem presos ou
até mesmo queimado na fogueira. Algumas de suas medidas foram tã o extremas que Brı́gida da Sué cia (falecida em
1373), que estava em Roma na é poca e havia saudado a eleiçã o de Inocê ncio VI, denunciou-o como perseguidor do
rebanho de Cristo.
Como esperava retornar o papado a Roma em algum momento de seu ponti icado, Inocê ncio VI dedicou muito de
seu tempo e atençã o à paci icaçã o dos Estados papais e ao retorno deles à idelidade ao papa. (O esforço fracassado
levaria à falê ncia o tesouro papal.) Os principais instrumentos de Inocê ncio VI a esse respeito foram o cardeal
espanhol Gil de Albornoz, o legado papal na Itá lia, e Cola di Rienzo, cuja excomunhã o (por Clemente VI) o papa
suspendeu apó s um julgamento em Avignon. Cola morreu logo depois em um motim, e Carlos IV da Boê mia foi eleito
rei dos romanos, mais tarde coroado imperador, com a aprovaçã o do papa, pelo cardeal-bispo de Ostia (1355). No
ano seguinte, Carlos publicou sua chamada Bula de Ouro, na qual decretava que reis alemã es eleitos nã o precisavam
ser aprovados pelo papa. Signi icativamente, Innocent VI nã o se opô s.
A maioria das outras atividades polı́ticas do papa se mostraram igualmente infrutı́feras. Ele falhou em evitar o
recomeço da guerra entre a Inglaterra e a França em 1355 (embora tenha efetuado uma paz temporá ria em 1360),
para persuadir o imperador Carlos IV a libertar o rei Joã o II da França da captura, para montar uma nova cruzada
para libertar o lugares sagrados na Palestina do controle muçulmano, para mediar a paz entre Castela e Aragã o e
para reunir as Igrejas latina e grega (na verdade, os gregos perderam o interesse quando icou ó bvio que o papa nã o
poderia montar um exé rcito para lutar contra os turcos). Para aumentar seus fardos polı́ticos, Inocê ncio VI
enfrentou novos perigos na pró pria Avignon, agora cada vez mais sujeita a saques por bandos de saqueadores de
tropas mercená rias ociosas por tré guas temporá rias de guerra. A certa altura, no inal de dezembro de 1360, as
comunicaçõ es entre Avignon e o mundo exterior foram cortadas e Innocent teve que subornar os saqueadores para
que nã o causassem mais destruiçã o. Inocê ncio VI morreu dois anos depois, em 12 de setembro de 1362, e foi
sepultado na capela da Santı́ssima Trindade, na casa de aluguel de Villeneuve-lè s-Avignon, por ele construı́da.
198 Urban V, Bl., French, ca. 1310-70, papa de 6 de novembro de 1362 a 19 de dezembro de 1370 (a lista o icial do
Vaticano marca o início de seu ponti icado no dia de sua eleição, 28 de setembro, mas ele ainda não era bispo e não
poderia se tornar bispo de Roma até a consagração em 6 de novembro).
O sexto - e provavelmente o melhor - dos papas de Avignon, Urbano V restaurou o papado em Roma por trê s anos,
retornando a Avinhã o pouco antes de sua morte.
Nascido Guillaume de Grimoard, ele era um monge beneditino, canonista, abade de Saint-Victor em Marselha e
legado papal na Itá lia - mas nã o um cardeal - quando eleito papa em Avignon em 28 de setembro de 1362. Durante o
conclave, ele foi na verdade, em uma missã o diplomá tica em Ná poles. Os cardeais primeiro elegeram o irmã o do
Papa Clemente VI (1342-52), mas ele recusou. Quando eles nã o conseguiram chegar a um acordo sobre um deles,
eles se voltaram para o Abade Grimoard, profundamente espiritual, e o elegeram por unanimidade. Apó s seu
retorno à França, o papa eleito foi entronizado em 31 de outubro em Avignon e entã o consagrado como bispo de
Roma em 6 de novembro pelo cardeal Aldeimo Alberto, bispo de Ostia. Sua entronizaçã o e coroaçã o foram feitas sem
a pompa usual.
Mantendo seu há bito beneditino negro e regra de vida, Urbano V deu continuidade à agenda reformista de seu
predecessor. Ele reduziu ainda mais o luxo da corte papal e combateu a posse de mais de um benefı́cio (cargo
eclesiá stico de produçã o entrante) ao mesmo tempo, enquanto cortava a taxa de dı́zimos pela metade. Em 1363,
entretanto, ele reservou ao papa as nomeaçõ es para todas as sedes patriarcais e episcopais e para os principais
mosteiros. Ele també m exauriu o tesouro papal mais uma vez com seu apoio generoso a estudantes empobrecidos,
de faculdades e de artistas e arquitetos. Ele fundou novas universidades em Orange (sul da França), Cracó via e Viena.
Dois dos principais objetivos de seu ponti icado foram a reuniã o com o Oriente e a libertaçã o dos lugares
sagrados na Palestina do controle turco. Nenhum dos dois foi cumprido. Ele nã o conseguiu reunir as forças
necessá rias para a cruzada, chegando mesmo a irmar um humilhante acordo de paz com seu inimigo em Milã o,
Bernabò Visconti, na esperança de conseguir sua participaçã o. Ao mesmo tempo, ele esperava sinceramente
devolver o papado de uma vez por todas a Roma. Ele tinha boas razõ es para fazer isso, alé m de sua conexã o
histó rica com o apó stolo Pedro. Ele poderia organizar melhor (1) uma aliança contra os bandos de mercená rios
saqueadores que estavam causando estragos em todos os lugares, (2) uma cruzada e (3) esforços para se reunir
com o Oriente. Alé m disso, o imperador Carlos IV estava instando o papa a deixar Avignon e ir para Roma e se
ofereceu para ser sua escolta. Embora o habilidoso legado do papa, o cardeal espanhol Gil de Albornoz, tivesse
conseguido restaurar a lealdade dos Estados papais, a pró pria Roma estava um caos e o Vaticano estava inabitá vel.
No entanto, em 30 de abril de 1367, contra as fortes objeçõ es dos cardeais franceses e da Cú ria, Urbano V deixou
Avignon, desembarcando em Corneto (hoje Tarquinia) em 3 de junho. Apó s uma breve estada em Viterbo, ele entrou
em Roma com um impressionante exé rcito escolta em 16 de outubro. Como o Palá cio de Latrã o estava em desordem,
ele ixou residê ncia no Vaticano, que havia sido restaurado o su iciente antes de sua chegada. Ele permaneceu lá por
trê s anos, mas se mudou no verã o para Viterbo e Monte iascone para escapar do intenso calor romano. Enquanto
estava em Roma, o papa dirigiu os reparos e reforma de igrejas e outros edifı́cios e reconstruiu completamente a
bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, que havia incendiado em 1360. Em setembro de 1368, ele criou sete novos cardeais:
seis franceses e apenas um romano . No mê s seguinte, o imperador Carlos IV chegou à cidade para discutir com o
papa, que coroou sua rainha como imperatriz. No mê s de junho seguinte (1369), o imperador bizantino Joã o V
Paleó logo visitou Roma para obter ajuda ocidental contra a ameaça turca a Constantinopla. Para obter essa ajuda, o
imperador mudou sua lealdade da Ortodoxia Oriental para o Catolicismo Latino e se submeteu ao papa nos degraus
da Bası́lica de Sã o Pedro. Nenhum bizantino esteve presente na cerimô nia e nenhuma reuniã o ocorreu. Os bispos
orientais instaram o papa a convocar um concı́lio ecumê nico, mas ele recusou. Ele preferiu organizar uma Igreja
latina dentro do impé rio grego e enviar missioná rios ao Oriente.
No inal de seu ponti icado, Urbano V considerou seriamente voltar para Avignon. Os cardeais franceses o
pressionavam constantemente para que o izesse. A situaçã o na Itá lia estava instá vel. Na primavera de 1370, os
romanos uniram forças com os rebeldes em Perugia (agora sob interdiçã o papal), e o adversá rio do papa em Milã o,
Bernabò Visconti, estava concentrando suas tropas na Toscana. O papa fugiu de Roma para a cidade murada de
Viterbo e depois Monte iascone. Enquanto isso, a Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França estourou mais
uma vez. Apesar dos apelos dos romanos e da advertê ncia da santa Brı́gida da Sué cia (d. 1373) de que morreria
prematuramente se retornasse a Avignon, Urbano V deixou Monte iascone em 26 de agosto de 1370 e zarpou de
Corneto (Tarquinia) em 5 de setembro, chegando a Marselha em 16 de setembro e depois em Avignon em 27 de
setembro. Menos de dois meses depois, adoeceu gravemente e morreu em 19 de dezembro. Foi sepultado na
catedral de Avignon (Notre-Dame-des -Doms) a princı́pio, mas seu irmã o, o cardeal Angelico, transferiu seus restos
mortais em 5 de junho de 1372, para a abadia de Saint-Victor em Marselha, onde o papa serviu como abade na
é poca de sua eleiçã o para o papado. Seu tú mulo se tornou o centro de um culto. Urbano V foi beati icado pelo Papa
Pio IX em 1870. Dia da festa: 19 de dezembro.
199 Gregório XI, francês, 1329 / 30-78, papa de 4 de janeiro de 1371 a 27 de março de 1378 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 30 de dezembro de 1370, mas ele ainda não era um bispo e não poderia
se tornar bispo de Roma até que fosse consagrado em 4 de janeiro de 1371).
O ú ltimo dos papas de Avignon e o ú ltimo papa francê s, Gregó rio XI devolveu o papado a Roma sob pressã o de Santa
Catarina de Sena (falecido em 1380).
Nascido Pierre Roger de Beaufort, ele foi nomeado para o Colé gio dos Cardeais (como cardeal-diá cono da igreja
de Santa Maria Nuova) por seu tio, o Papa Clemente VI (1342-52), aos dezoito ou dezenove anos. (Na é poca, havia
apenas dezenove cardeais ainda vivos: trê s italianos, um inglê s e o resto franceses.) Embora ele tentasse recusar
repetidamente, o cardeal Pierre Roger foi eleito por unanimidade para o papado em Avignon em 30 de dezembro de
1370, em aos quarenta e dois anos, apó s um conclave de dois dias composto por dezessete cardeais. Por ser ainda
apenas diá cono, foi ordenado sacerdote e consagrado bispo no dia 4 de janeiro pelo cardeal Guido di Bologna, bispo
do Porto. No dia seguinte, ele foi entronizado e coroado. Ao contrá rio de seu antecessor, Urbano V, que recusou a
habitual pompa e circunstâ ncia apó s sua coroaçã o, o novo papa, Gregó rio XI, acedeu à tradicional procissã o triunfal
pelas ruas de Avignon, enquanto o duque de Angiò , irmã o do rei da França, Carlos V segurou o freio do cavalo do
papa.
A agenda pontifı́cia de Gregó rio XI era bastante direta: devolver o papado a Roma (para que ele pudesse exercer
mais efetivamente autoridade sobre os Estados papais), montar outra cruzada para libertar os lugares sagrados na
Palestina do controle muçulmano, para trazer o reencontro com os Igreja Oriental, e para reabastecer o tesouro
papal esgotado. Gregó rio formou uma liga de cidades contra o nê mesis papal, os Visconti de Milã o, em 1371 e
interditou a famı́lia no inı́cio de 1373. (Um interdito é uma pena eclesiá stica que proı́be as pessoas de participar no
culto pú blico e de receber o sacramentos). Na primavera de 1375, o papa estava pronto para partir para a Itá lia para
dar o golpe inal contra os visconti, mas teve de recuar quando a aliança começou a se dissolver e o dinheiro acabou.
Entã o, os reis da Inglaterra e da França pediram ao papa que mediasse o con lito. Isso signi icava que a partida de
Gregó rio XI para a Itá lia foi adiada mais uma vez. O atraso revelou-se caro. Como Florença, normalmente uma aliada
papal, icou irritada com o envio de agentes da Santa Sé para rea irmar o poder papal na Itá lia central e sua retençã o
de suprimentos de alimentos durante uma escassez em 1374-75, ela liderou uma revolta nos Estados Papais. O papa
impô s um interdito a Florença, seus aliados e à s cidades rebeldes, o que teve um impacto negativo até mesmo em sua
vida bancá ria e comercial. Ele també m enviou um exé rcito de mercená rios sob o comando do cardeal Robert de
Genebra (mais tarde o antipapa Clemente VII), que reconquistou os Estados Papais.
Enquanto isso, Catarina de Siena passou o verã o de 1376 em Avignon e inalmente convenceu Gregó rio XI a
devolver o papado a Roma. Apesar dos apelos de seus parentes, dos cardeais franceses e da Cú ria, o papa deixou a
cidade para sempre em 13 de setembro. Ele partiu de Marselha em 2 de outubro, mas nã o chegou a Corneto (atual
Tarquinia) até 6 de dezembro porque de mares tempestuosos. Foi somente em 17 de janeiro de 1377 que Gregó rio
XI entrou em Roma e ixou residê ncia no Vaticano.
Embora estivesse preocupado com a tarefa de governar os Estados papais e com a proteçã o dos interesses
econô micos e polı́ticos do papado na Itá lia em geral, o papa també m se dedicou à reforma das ordens religiosas e foi
particularmente ativo, infelizmente, na repressã o à heresia em Provença, Alemanha, Espanha e especialmente França.
Em 22 de maio de 1377, ele dirigiu cinco bulas papais ao rei Eduardo III da Inglaterra, ao arcebispo de Canterbury,
ao bispo de Londres e à Universidade de Oxford, condenando dezenove proposiçõ es dos escritos anteriores do
teó logo e reformador de Oxford John Wycliffe (d. 1384). Wycliffe rejeitou uma sé rie de ensinamentos cató licos
tradicionais sobre a Eucaristia (transubstanciaçã o), Purgató rio e indulgê ncias. O papa falhou em seus esforços para
montar uma nova cruzada e icou politicamente constrangido quando o imperador Carlos IV fez seu ilho de quinze
anos, Venceslau, ser eleito e coroado rei dos romanos no inı́cio do verã o de 1376, sem consulta pré via com o Papa.
Apó s o retorno de Gregó rio XI a Roma, entretanto, a situaçã o na Itá lia foi de mal a pior. As negociaçõ es de paz com
Florença foram interrompidas porque as exigê ncias do papa eram muito severas (pelo que Catarina de Siena o
repreendeu fortemente), e a hostilidade em relaçã o ao papa em Roma se intensi icou por causa do ataque
particularmente brutal do cardeal Robert de Genebra a Cesena em fevereiro anterior. Gregó rio XI retirou-se para
Anagni, onde morreu em 27 de março de 1378, antes que termos de paz mais realistas com Florença pudessem ser
acertados e na vé spera do Grande Cisma Ocidental (1378-1417). Ele foi sepultado na igreja de Santa Maria Nuova,
sua antiga igreja titular como cardeal, hoje conhecida como a igreja de Santa Francesca Romana (no Fó rum
Romano).
200 Urban VI, ca. 1318–1389, papa de 8 de abril de 1378 a 15 de outubro de 1389.
Urbano VI foi um dos papas mais instá veis da histó ria e o ú ltimo nã o cardeal a ser eleito papa; sua intransigê ncia e
irracionalidade levaram os cardeais franceses a eleger um antipapa, dando inı́cio ao Cisma do Grande Oeste de 1378-
1417.
Nascido Bartolomeo Prignano, foi arcebispo de Bari quando eleito papa em 8 de abril de 1378, no primeiro
conclave papal a ser realizado em Roma desde 1303. E foi um conclave tumultuoso. O povo romano se reuniu em
frente ao Palá cio do Vaticano exigindo um papa romano, ou pelo menos italiano. A certa altura, parte da multidã o
realmente conseguiu entrar no palá cio para pressionar diretamente os cardeais eleitores. Os chefes das regiõ es da
cidade també m visitaram o palá cio para alertar os dezesseis cardeais (seis cardeais ainda estavam em Avignon)
contra ignorar a vontade do povo. Na manhã seguinte, novos distú rbios estouraram e todos, exceto um dos cardeais,
votaram no arcebispo Prignano. Antes que pudessem contatá -lo para obter seu consentimento, uma turba entrou. Os
apavorados cardeais os aplacaram, ingindo que haviam elegido um idoso cardeal romano. No dia seguinte, poré m,
doze cardeais voltaram ao palá cio e con irmaram a eleiçã o de Bartolomeo Prignano. O ú ltimo nã o cardeal eleito para
o papado, ele fora considerado um administrador zeloso e e iciente, tendo servido por vinte anos como uma igura
importante na Cú ria em Avignon e depois como regente da chancelaria papal depois que Gregó rio IX voltou a Roma.
O outro lado, mais obstinado e irascı́vel de sua personalidade, ainda nã o havia sido revelado. Ele foi entronizado
como Urbano VI no domingo de Pá scoa, 18 de abril.
Naquele verã o, o novo papa alienou os pró prios cardeais que o elegeram, fazendo comentá rios abusivos e
ameaçando nomear cardeais italianos su icientes para inclinar a balança do colé gio em favor dos italianos. Quando
ele começou a manifestar um lado mais sombrio de sua personalidade, incluindo tiradas incontrolá veis, os cardeais
franceses retiraram-se para Anagni para considerar suas opçõ es. Depois de uma tentativa fracassada de chegar a um
acordo com o novo papa (por exemplo, um sistema de coadjutores ou um conselho de regê ncia), eles publicaram em
2 de agosto uma declaraçã o de que a eleiçã o de abril era invá lida porque nã o foi conduzida livremente, mas sob a
ameaça de violê ncia da turba. Os cardeais franceses convidaram Urbano VI a abdicar. Cinco dias depois (9 de
agosto), eles enviaram um aviso ao mundo cristã o que o papa havia sido deposto como incompetente e intruso. Eles
se mudaram entã o de Anagni para Fondi, onde, sob a proteçã o do conde Onorato Caetani, elegeram o primo do rei
francê s, o cardeal Robert de Genebra, como papa em 20 de setembro. Sua coroaçã o como Clemente VII em 31 de
outubro deu inı́cio ao Grande Cisma Ocidental ( 1378-1417), que nã o seria resolvido até que outro concı́lio
ecumê nico, o Concı́lio de Constança (1414-18), dispusesse de trê s pretendentes simultâ neos ao trono papal e
elegesse Martinho V (1417-31). No entanto, o conselho nunca resolveu a contrové rsia sobre as reivindicaçõ es de
Urbano e Clemente ao papado.
A lealdade da Europa foi dividida entre os dois requerentes concorrentes. França, Borgonha, Sabó ia, Ná poles e
Escó cia aceitaram Clemente VII, enquanto a Inglaterra, Alemanha, a maior parte da Itá lia, Escandiná via, Portugal e os
paı́ses da Europa central (Hungria, Polô nia) declararam Urbano VI. A Espanha permaneceu temporariamente neutra.
Catarina de Siena (d. 1380) apoiou fortemente Urbano. Quando a Cú ria original de Urbano desertou para Clemente,
ele organizou uma nova, nomeando vinte e nove novos cardeais de vá rias nacionalidades em 17 de setembro de
1378. Os dois rivais lutaram entre si em duas frentes: a espiritual e a temporal. Primeiro, eles se excomungaram e
depois enviaram forças mercená rias armadas uns contra os outros. As forças de Urbano venceram a batalha decisiva
perto de Marino em abril de 1379, capturaram o Castel Sant'Angelo e garantiram o controle da cidade de Roma.
Clemente retirou-se para o sul, para Ná poles e depois para Avignon em junho, onde estabeleceu uma corte papal
cheia de pompa e luxo. Os dois homens nã o tiveram contato direto depois disso. Clemente morreu de apoplexia em
16 de setembro de 1394.
Como Urbano VI nunca teve dú vidas sobre a legitimidade de sua reivindicaçã o ao papado, ele respondeu com
indiferença aos apelos de vá rias fontes acadê micas e polı́ticas para encontrar uma soluçã o para a crise. Ele estava
principalmente preocupado em garantir o reino de Ná poles para um de seus sobrinhos. Ele excomungou e depô s a
Rainha Joanna em 1380 por ter reconhecido e apoiado o antipapa Clemente e a substituiu por seu primo, Carlos de
Durazzo, a quem coroou em Roma em 1381, mas com quem brigou mais tarde. Charles conspirou com certos
cardeais para substituir Urbano por causa de sua aparente instabilidade mental. Quando soube da conspiraçã o, o
papa pregou uma cruzada contra Carlos, revogou seu tı́tulo real e colocou Ná poles sob interdiçã o (uma pena
eclesiá stica que privava o reino de benefı́cios espirituais e sacramentais). Ele també m liderou pessoalmente uma
força contra Carlos, mas foi sitiado em Nocera. Ele escapou e fugiu para Gê nova com os seis cardeais que
conspiraram contra ele. Uma vez lá , ele os jogou na prisã o e os torturou brutalmente. Cinco dos cardeais foram
executados. Depois que Carlos morreu na Hungria em fevereiro de 1386, Urbano VI mudou-se para Lucca em
dezembro de 1386 e depois para Pisa em outubro de 1387, onde recrutou mercená rios para uma campanha contra
Ná poles, agora nas mã os de partidá rios do antipapa Clemente VII. Mas Urbano nã o tinha os fundos necessá rios (o
tesouro papal estava vazio) e a campanha nunca começou. Em outubro de 1388, ele retornou a Roma, onde
rapidamente alienou o povo.
Com os Estados Papais em estado de anarquia, Urbano VI morreu no ano seguinte, em 15 de outubro de 1389,
provavelmente de envenenamento. Ele foi enterrado em Sã o Pedro. (O antipapa Clemente VII ainda estava vivo em
Avignon, mas nã o havia interesse em reconhecê -lo a im de encerrar o cisma.) Dado o cará ter errá tico e até brutal de
seu ponti icado, é pelo menos ligeiramente divertido que biogra ias convencionais se preocupem em apontar
destacou que foi Urbano VI quem decretou que se celebrasse um Ano Santo a cada trinta e trê s anos (em
homenagem à longevidade de Jesus) e que colocou a festa da Visitaçã o da Bem-Aventurada Virgem Maria no
calendá rio litú rgico do universal Igreja.
201 Boniface IX, ca. 1350-1404, papa de 9 de novembro de 1389 a 1 de outubro de 1404 (a lista o icial do Vaticano
marca o início de seu ponti icado no dia de sua eleição, 2 de novembro, mas como ainda não era bispo, não poderia se
tornar Bispo de Roma até a consagração em 9 de novembro).
O segundo dos papas na linha romana durante o Grande Cisma Ocidental (1378-1417), Bonifá cio IX governou como
um dé spota benevolente em um ponti icado marcado pelo nepotismo e simonia (a compra e venda de ofı́cios
eclesiá sticos e benefı́cios espirituais, como indulgê ncias ) Nascido Pietro Tomacelli, ele era cardeal-sacerdote da
igreja de Santa Anastasia quando foi eleito papa por quatorze cardeais romanos em 2 de novembro de 1389. Ele foi
consagrado bispo de Roma e coroado em 9 de novembro.
Como em muitos outros casos, Bonifá cio IX era completamente diferente de seu antecessor, Urbano VI, em estilo e
temperamento. Ele tinha uma personalidade agradá vel e era um lı́der habilidoso e prá tico. O novo papa foi
imediatamente excomungado pelo papa de Avignon (o antipapa Clemente VII) e ele, por sua vez, excomungou seu
rival na França. Bonifá cio IX també m rejeitou como pecaminoso o pedido de Clemente de um conselho geral para
resolver o cisma, bem como as exigê ncias dos franceses e alemã es de que ele abdicasse. Logo apó s sua eleiçã o, ele
recebeu de volta em comunhã o com Roma vá rios cardeais que haviam passado para Clemente principalmente por
causa de sua desilusã o com o instá vel Urbano VI.
Bonifá cio IX venceu sua primeira grande luta com Clemente VII no campo de batalha, reconquistando a aliança
com o reino de Ná poles. O papa també m recuperou o controle sobre os territó rios do norte da Itá lia perdidos
durante o ponti icado anterior. No inı́cio, as relaçõ es do papa com os romanos eram muito amigá veis, tã o aliviados
icaram por terem sido libertados do regime errá tico e dispé ptico de Urbano VI. Mas a atmosfera logo mudou e
Bonifá cio IX teve que se mudar para Perugia e depois para Assis. Mas quando os romanos começaram a temer que o
papa pudesse mais uma vez remover a sede do papado de Roma, eles cederam e o receberam de volta à cidade. No
verã o de 1398, poré m, ele descobriu uma conspiraçã o contra si mesmo e usou isso como desculpa para abolir o
governo republicano de Roma e se estabelecer como seu governante absoluto, com alguns senadores como seus
administradores designados. Ele reconstruiu as ruı́nas do Castel Sant'Angelo e reforti icou o Capitó lio.
Bonifá cio IX nada fez, por outro lado, para lidar com o cisma na Igreja. Ele cultivou seus laços com a Alemanha e a
Inglaterra, enquanto ignorava todos os apelos para uma resoluçã o da divisã o. Mas ele se ofereceu para tornar o
antipapa Clemente VII um legado para a França e a Espanha e permitir que ele e seus cardeais mantivessem seu
posto cardinalı́cio - em troca da abdicaçã o de Clemente. Clemente VII morreu em 1394 sem concordar com os
termos de Bonifá cio. O rei da França, Carlos VI, exortou os vinte e um cardeais de Avignon a nã o elegerem um
sucessor de Clemente VII, mas eles foram em frente e elegeram o cardeal Pedro de Luna antes de abrir a carta do
rei. O novo papa de Avignon, Bento XIII, profundamente convencido da legitimidade de sua pró pria reivindicaçã o ao
papado, ainda assim tentou abrir os canais de comunicaçã o com Roma, mas Bonifá cio recusou novamente. E por
boas razõ es polı́ticas: até o pró prio rei francê s retirou o reconhecimento do pretendente de Avignon ao papado de
1398 a 1403 porque Bento XVI se recusou a honrar o juramento que todos os cardeais de Avignon haviam feito no
conclave de abdicar se e quando a maioria julgasse apropriado para fazer isso.
Embora um administrador capaz, até mesmo notá vel, Bonifá cio IX era famoso por seu nepotismo lagrante e
trapaça inanceira. Por causa da necessidade desesperada de dinheiro do papado, ele vendeu abertamente os
escritó rios da igreja aos que ofereceram mais. Ele també m aumentou os impostos da igreja de forma exorbitante,
vendeu indulgê ncias (meios espirituais de recorrer e aplicar os mé ritos de Cristo e dos santos para compensar o
peso do pecado) durante os anos santos de 1390 e 1400 e autorizou Jubileus geradores de renda em cidades muito
alé m a cidade de Roma (por um preço, é claro).
Em 22 de setembro de 1404, recebeu um representante do antipapa Bento XIII em busca de uma reuniã o para
discutir a soluçã o do cisma, com a possibilidade de abdicaçã o mú tua na ordem do dia. Bonifá cio, no entanto, já
estava doente demais para tal encontro, mas nã o teria concordado de qualquer maneira. Uma segunda reuniã o em
29 de setembro foi marcada por violentas trocas. Bonifá cio IX morreu dois dias depois, em 1º de outubro, e foi
sepultado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Os romanos consideraram os representantes do antipapa responsá veis
pela sú bita deterioraçã o da saú de do papa e os jogaram na prisã o. Eles foram libertados somente depois que um
resgate substancial de 5.000 lorins de ouro (mais de $ 200.000) foi pago.
202 Inocêncio VII, ca. 1336-1406, papa de 17 de outubro de 1404 a 6 de novembro de 1406.
O terceiro papa na linha romana durante o Grande Cisma Ocidental (1378-1417), Inocê ncio VII rejeitou todos os
esforços para resolver a crise. Nascido Cosimo (ou Cosma) Gentile de 'Migliorati, ele foi por dez anos o cobrador de
impostos papal na Inglaterra, entã o cardeal-sacerdote de Santa Croce in Gerusalemme e arcebispo de Bolonha
quando eleito papa por oito cardeais em Roma em 17 de outubro de 1404, apesar dos apelos do papa de Avignon,
Bento XIII, que estava em Roma na é poca, para adiar a eleiçã o e també m apesar da oposiçã o de muitos romanos à
sua eleiçã o. Ele foi coroado em 11 de novembro.
Embora o novo papa e os outros cardeais tivessem feito um juramento no conclave de fazer tudo em seu poder, se
eleitos, para encerrar o cisma, Inocê ncio VII recusou o pedido de Bento XVI de um encontro cara a cara. No inal do
ano, entretanto, Inocê ncio cedeu à pressã o de Rupert, o recé m-eleito rei da Alemanha, para convocar um conselho
para se reunir em novembro seguinte. Por causa da agitaçã o civil em Roma, o conselho foi adiado duas vezes e, em
seguida, totalmente cancelado. Inocê ncio VII apelou a Ladislau, rei de Ná poles, para sufocar uma revolta, mas o papa
teve que jurar que nã o faria nenhum acordo com o papa de Avignon que nã o reconhecesse o tı́tulo de Ladislau para
Ná poles. Vá rios meses depois, os romanos se revoltaram novamente. Desta vez, o sobrinho corrupto do papa teve
onze cidadã os importantes assassinados, provocando uma multidã o para invadir o Vaticano. Inocê ncio VII e seus
cardeais tiveram a sorte de escapar ilesos para Viterbo. Mas depois de vá rios meses do governo de Ladislau em
Roma, o povo estava pronto para receber Inocê ncio de volta no inı́cio de março de 1406. O papa teve de impor a
pena de excomunhã o a Ladislau para fazê -lo desocupar Castel Sant'Angelo, mas depois de Ladislau e suas tropas à
esquerda, o papa o nomeou defensor e porta-estandarte da Igreja! Inocê ncio VII morreu dois meses depois e foi
sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro.
203 Gregório XII, ca. 1325–1417, papa de 19 de dezembro de 1406 a 4 de julho de 1415 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 30 de novembro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar
bispo de Roma até ser consagrado em 19 de dezembro).
O quarto e ú ltimo dos papas da linha romana durante o Cisma do Grande Oeste (1378-1417), Gregó rio XII
exacerbou a crise ao quebrar uma promessa pré -eleitoral de nã o nomear novos cardeais, provocando assim a
eleiçã o no concı́lio de Pisa (1409) de um terceiro pretendente ao trono papal. Gregó rio XII foi o ú ltimo papa a
renunciar ao papado.
Nascido Angelo Correr, foi cardeal-sacerdote de San Marco e secretá rio papal quando eleito papa, aos 81 anos,
por quatorze cardeais em 30 de novembro de 1406. Ele foi coroado em 19 de dezembro. Junto com os outros
cardeais, o novo papa havia jurado durante o conclave que, se eleito, (1) abdicaria - com a condiçã o de que o papa
de Avignon, Bento XIII, també m abdicasse; que (2) ele, em qualquer caso, nã o criaria quaisquer novos cardeais,
exceto para manter a paridade numé rica com os cardeais de Avignon; e que (3) dentro de trê s meses ele entraria em
negociaçõ es com seu rival de Avignon sobre o agendamento de uma reuniã o entre os dois.
A princı́pio parecia que o papa octogená rio, Gregó rio XII, cumpriria suas promessas. Foi marcado um encontro
com Bento XIII na cidade de Savona, a realizar-se o mais tardar no dia 1 de novembro seguinte. Mas entã o a pressã o
começou a ser aplicada ao papa idoso pelos reis de Ná poles, Hungria e Boê mia, bem como por seus sobrinhos, que
desfrutaram dos benefı́cios do parentesco com um papa reinante. As negociaçõ es se arrastaram por meses, e
tornou-se cada vez mais evidente para Gregó rio XII que Bento XIII nã o tinha intençã o de abdicar do trono de
Avignon. Mas quando os cardeais que apoiaram Gregó rio XII icaram impacientes, ele suspeitou de sua lealdade e
quebrou sua promessa pré -eleitoral de nã o nomear nenhum novo cardeal. Em 4 de maio de 1408, ele criou quatro,
dois dos quais eram seus sobrinhos. Todos os seus cardeais, exceto trê s, o abandonaram e fugiram para Pisa. Eles
izeram uma aliança com quatro dos cardeais de Bento XVI em Livorno e juntos, no inı́cio de julho, despacharam
uma convocaçã o para um conselho geral a ser realizado em Pisa em março de 1409. Ambos os pretendentes ao
papado foram convidados a participar do conselho, mas ambos recusaram, cada convocaçã o de conselhos pró prios.
O Conselho de Pisa se reuniu no Duomo (ou catedral) em 25 de março de 1409, e acusaçõ es de má -fé e até mesmo
de conluio foram imediatamente feitas contra os dois reclamantes. Em 5 de junho, na dé cima quinta sessã o, tanto
Gregó rio XII quanto Bento XIII foram formalmente depostos como cismá ticos, hereges intratá veis e perjuros. A Santa
Sé foi declarada vaga e, em 26 de junho, os cardeais reunidos em Pisa elegeram um novo papa, Alexandre V.
Enquanto isso, Gregó rio XII abriu seu pró prio conselho em Cividale, perto de Aquileia, em 6 de junho de 1409.
Muito poucos compareceram, mas antes de encerrá -lo em 6 de setembro, Gregó rio excomungou Bento XIII e
Alexandre V. Porque o arcebispo de Aquileia era hostil a ele, Gregó rio fugiu disfarçado para Gaeta com a proteçã o do
rei Ladislau de Ná poles (Gregó rio també m manteve o apoio dos governantes da Hungria, Baviera e Alemanha).
Quando Alexandre V morreu repentinamente em 3 de maio de 1410, o Conselho de Pisa elegeu o cardeal Baldassare
Cossa para sucedê -lo. Ele tomou o agora famoso nome de Joã o XXIII e inalmente negociou um tratado cı́nico com
Ladislau de Ná poles, que baniu Gregó rio XII de Ná poles em 31 de outubro de 1411. Gregó rio refugiou-se com Carlo
Malatesta, senhor de Rimini.
Depois que o Concı́lio de Constança (1414-18) depô s Joã o XXIII em 29 de maio de 1415, ele procurou abrir
negociaçõ es com Gregó rio XII com vistas a sua abdicaçã o. Ele concordou em considerá -lo com a condiçã o de ter
permissã o para convocar formalmente o conselho, uma vez que ele nã o reconheceu a autoridade de Joã o XXIII para
fazê -lo originalmente. O pedido foi aceito e, em 4 de julho de 1415, o cardeal de Gregó rio, John Dominici, leu em voz
alta a bula de Gregó rio convocando o concı́lio e renunciando ao cargo papal. Os dois colé gios de cardeais (Roma e
Avignon) foram unidos, os atos papais de Gregó rio foram rati icados e ele foi nomeado cardeal-bispo do Porto e
legado vitalı́cio da Marcha de Ancona. Ele també m foi declarado inelegı́vel para a eleiçã o como papa, mas seria o
pró ximo em precedê ncia ao novo papa. (O papa de Avignon, Bento XIII, ainda se recusou a abdicar, mas o conselho o
declarou herege e o privou de todos os direitos ao papado.) Trê s semanas antes da eleiçã o de Martinho V, que
encerrou o Cisma do Grande Oeste, Gregó rio XII, já com mais de noventa anos, morreu em Recanati, nã o muito longe
de Ancona, em 18 de outubro de 1417. Ele foi sepultado na catedral de Recanati. Em 1623, durante uma reforma da
catedral, o tú mulo de Gregó rio XII foi aberto. Seu corpo perfeitamente preservado foi vestido com vestes pontifı́cias.
204 Martinho V, 1368-1431, papa de 21 de novembro de 1417 a 20 de fevereiro de 1431 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado em 11 de novembro, o dia de sua eleição, mas ele não foi consagrado Bispo de Roma até 21
de novembro )
Com a eleiçã o de Martinho V para o papado, o Cisma do Grande Oeste (1378-1417) inalmente chegou ao im.
Nascido Oddo Colonna, ele foi cardeal-diá cono de San Giorgio in Velabro quando eleito papa por unanimidade em
11 de novembro de 1417 (festa de Sã o Martinho), apó s um conclave incomum de trê s dias no qual vinte e dois
cardeais e trinta representantes do cinco naçõ es presentes no conselho participaram e votaram (o primeiro - e
ú ltimo - conclave papal desde 1058 a incluir eleitores leigos). Ele foi imediatamente ordenado sacerdote, consagrado
Bispo de Roma e coroado em 21 de novembro na igreja catedral de Constança. Uma procissã o triunfal pelas ruas da
cidade seguiu a coroaçã o. Como um sinal de sua submissã o ao novo papa, o rei alemã o Sigismundo e Frederico de
Brandemburgo seguraram o freio do cavalo do papa.
O novo papa havia sido leal a Gregó rio XII, mas rompeu com ele no verã o de 1408 e foi ativo nos preparativos
para o Concı́lio de Pisa (1409), que elegeu o antipapa Joã o XXIII. Martinho V (entã o Cardeal Colonna) permaneceu
leal a Joã o XXIII sobre Gregó rio XII até que Joã o repentinamente fugiu de Pisa disfarçado quando o Concı́lio de
Constança (1414-18) pediu sua renú ncia, bem como a dos outros dois pretendentes ao trono papal.
A eleiçã o de Martinho V efetivamente encerrou o cisma, embora primeiro Bento XIII (o antipapa de Avignon) e
depois seu sucessor, Clemente VIII, resistiram até que seus seguidores diminuı́ssem até a insigni icâ ncia. Mas a
abdicaçã o de Gregó rio XII e a aceitaçã o, sob coaçã o, de Joã o XXIII de sua pró pria deposiçã o pelo concı́lio foram os
eventos decisivos que abriram caminho para o reconhecimento quase universal de Martinho V como o ú nico papa
legı́timo. (Clemente VIII renunciou ao papado e, junto com os poucos cardeais que ainda o apoiavam, submeteu-se a
Martinho V em 1429.)
Embora Martinho V estivesse publicamente comprometido com a realizaçã o das reformas do Concı́lio de
Constança, ele també m estava interessado em fortalecer a situaçã o canô nica e inanceira do papado. Ele trouxe
legalistas de Roma e Avignon para a Cú ria, mas nã o conseguiu remover os abusos e manteve os direitos papais sobre
os benefı́cios. Em 20 de março de 1418, ele promulgou sete reformas, entre as quais a renú ncia aos direitos papais
sobre as receitas das sedes vagas. Ele suspendeu formalmente o Concı́lio de Constança em 22 de abril de 1418 e, em
10 de maio, em uma constituiçã o nã o publicada, proibiu a apelaçã o de atos de um papa a um conselho geral.
Preocupado com o caos que se desenvolveu nos Estados Papais durante o curso do cisma (1378-1417), Martinho
V resistiu à s pressõ es para fazer sua residê ncia papal na Alemanha ou em Avignon e em 16 de maio de 1418, deixou
Constança para Roma (com paradas intermediá rias em Mâ ntua e Florença, esta ú ltima por mais de um ano). Ele
chegou a Roma em 28 de setembro de 1420. Ele rapidamente negociou um acordo com a rainha Joanna II de
Ná poles, e suas tropas foram retiradas da cidade. Em 1424, as tropas papais (um conceito teoló gica e pastoralmente
dissonante, com certeza) derrotaram Braccione di Montone, o governante dominante da Itá lia central, na batalha de
L'Aquila, e em 1429 eles esmagaram pela força das armas uma revolta de Bolonha. Agora livre para reorganizar os
Estados Papais com o apoio de suas tropas, Martinho V recuperou o tesouro papal perdido, enriquecendo nã o
apenas a Santa Sé , mas també m seus parentes Colonna.
Suas iniciativas diplomá ticas na Europa restauraram parte do prestı́gio do papado, mas ele falhou em suas
tentativas de fazer progressos rumo à reuniã o com a Igreja Grega e o imperador bizantino em Constantinopla ou de
montar uma cruzada contra os seguidores do reformador Joã o Hus (falecido em 1415 ) na Boê mia. Por outro lado,
ele demonstrou uma sensibilidade incomum para com os judeus. Ele denunciou a pregaçã o antijudaica e proibiu o
batismo obrigató rio de crianças judias com menos de 12 anos.
Em Roma, ele organizou um vasto programa de reconstruçã o de igrejas e edifı́cios pú blicos em ruı́nas. Suas
nomeaçõ es para o Colé gio Cardinalı́cio foram de alta qualidade, mas ele manteve todos os seus membros em seus
lugares. Embora nã o simpatizasse com o decreto do Concı́lio de Constança ( Frequens , 1417) de que os concı́lios
fossem realizados em intervalos regulares, ele convocou um para se reunir em Pavia em 1423. Por causa de um
surto de peste, seus legados transferiram o conselho para Siena ( o pró prio papa nã o compareceu). Mas quando
sentimentos antipapais foram expressos lá , como haviam sido anteriormente em Constança, Martin V usou a fraca
presença como uma desculpa para dissolver o conselho em março de 1424. Ao mesmo tempo, ele anunciou que o
pró ximo conselho seria realizado em Basel, em 1431. Martin V morreu de apoplexia em 20 de fevereiro de 1431,
antes do inı́cio do concı́lio. Ele foi sepultado na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.
205 Eugenius [Eugene] IV, ca. 1383-1447, papa de 11 de março de 1431 a 23 de fevereiro de 1447 (a lista o icial do
Vaticano começa seu ponti icado em 3 de março, mas como ele ainda não era bispo, não poderia se tornar bispo de
Roma até que fosse consagrado em 11 de março) .
Tendo falhado em dissolver o Concı́lio de Basileia em 1431, Eugê nio IV convocou o Concı́lio de Florença em 1439 em
uma tentativa louvá vel, mas vã , de restabelecer a comunhã o entre as Igrejas latina e grega.
Nascido Gabriele Condulmaro (també m Condulmer), ele era sobrinho do papa Gregó rio XII (1406-15), que o
nomeou cardeal-sacerdote de San Clemente em 1408. Na é poca de sua eleiçã o unâ nime para o papado em 3 de
março de 1431 , na bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, o Cardeal Condulmaro foi governador (por nomeaçã o do
Papa Martinho V) da Marcha de Ancona e de Bolonha. Como em tantos outros conclaves papais, os outros treze
cardeais eleitores (de um total de vinte e dois no pró prio colé gio) procuravam uma mudança, nã o uma continuaçã o,
das polı́ticas e do estilo do papa falecido, a quem consideravam como muito autoritá rio. Eles queriam um papa que
estivesse comprometido com a agenda de reforma do iminente Concı́lio de Basileia e que trabalhasse em
colaboraçã o com o Colé gio dos Cardeais na reforma da Igreja e na administraçã o dos Estados Papais. Apó s sua
eleiçã o como Eugê nio IV, ele publicou uma bula con irmando o pacto eleitoral, mas iria ignorá -la completamente
durante seu ponti icado de dezesseis anos. Ele foi consagrado como bispo de Roma e coroado na Bası́lica de Sã o
Pedro no domingo seguinte, 11 de março, e entã o conduzido em uma procissã o solene até a catedral do papa, a
Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.
O novo papa primeiro agiu contra a famı́lia de seu predecessor (os Colonnas), forçando-os a devolver os vastos
territó rios que Martin V havia dado a seus sobrinhos, mas sua principal preocupaçã o no inı́cio de seu ponti icado
era o conselho de reforma de Basel, que Martin havia chamado . O conselho foi inaugurado em 23 de julho de 1431,
e Eugenius IV o dissolveu em 18 de dezembro, usando a escassa presença como desculpa. Ele garantiu aos
delegados que convocaria um novo conselho dentro de dezoito meses e que ele pró prio o presidiria. Mas a açã o do
papa foi considerada precipitada e foi amplamente criticada. O conselho se recusou a se dispersar. Em 15 de
fevereiro de 1432, o Concı́lio de Basileia apelou ao ensinamento do Concı́lio de Constança (1414-18) de que um
concı́lio geral ou ecumê nico é superior em autoridade ao papa e em 18 de dezembro emitiu um ultimato a Eugê nio
IV. Apenas seis dos vinte e um cardeais icaram do lado do papa. Exigiu os esforços do rei alemã o Sigismundo para
evitar um cisma. No ano seguinte (15 de dezembro de 1433), o papa teve que retirar sua bula dissolvendo o concı́lio
e reconhecer sua legitimidade.
Enquanto isso, o papa enfrentava problemas terrı́veis em casa. Os Estados Papais foram ocupados por poderes
leigos hostis e uma revolta, instigada pela famı́lia Colonna, irrompeu em Roma em maio de 1434. Como outros papas
antes dele, Eugê nio IV teve que fugir da cidade disfarçado. Ele foi para Florença, onde residiria até 1443 (e onde
icaria sob a in luê ncia de sua extraordiná ria cultura artı́stica). Em 9 de junho de 1435, o Concı́lio de Basilé ia
decretou o im dos impostos papais anuais (conhecidos como anates) e exigiu uma limitaçã o dos poderes do papado
e da Cú ria. No mê s de junho seguinte (observe-se quanto tempo demorou para reagir aos acontecimentos daqueles
dias), o papa denunciou as açõ es do concı́lio em uma carta distribuı́da a vá rios governantes cristã os. Mas a ruptura
inal entre Eugê nio IV e o Concı́lio de Basilé ia veio em um assunto com o qual ambos estavam comprometidos, a
saber, a reuniã o das Igrejas latina e grega. A grande maioria dos delegados do conselho favoreceu a pró pria Basileia,
ou Avinhã o, ou Sabó ia para as negociaçõ es, enquanto os gregos favoreceram Constantinopla. O papa preferia uma
cidade italiana. Ele conquistou os gregos em seu ponto de vista e o conselho foi transferido para Ferrara em 18 de
setembro de 1437, inaugurando em 8 de janeiro de 1438.
O papa enviou uma frota para transportar o imperador, o patriarca e um sé quito de setecentos. Visto que nã o
chegaram até o inı́cio de março, o conselho foi solenemente inaugurado em 9 de abril. No entanto, em janeiro
seguinte, o conselho teve que se mudar mais uma vez, desta vez para Florença. (Vá rios delegados conciliares
permaneceram desa iadoramente na Basilé ia, no entanto.) O motivo dado para a mudança foi o surto de peste, mas o
motivo mais plausı́vel era inanceiro. O papa havia assumido total responsabilidade por toda a delegaçã o bizantina e
agora estava atrasado em seus pagamentos. Um ato de uniã o entre as igrejas latina e grega (intitulado Laetentur coeli
, 6 de julho de 1439) foi imposto ao imperador bizantino Joã o VIII Paleó logo por causa da iminê ncia de uma invasã o
turca. Os termos da uniã o incluı́am o reconhecimento do primado papal, a existê ncia do Purgató rio (um estado pó s-
morte de puri icaçã o dos efeitos dos pecados já perdoados), a legitimidade do uso de pã es á zimos na Eucaristia e a
legitimidade do uso do Filioque (Lat., "e do Filho") no credo. O Filioque foi acrescentado ao credo pelo Papa Bento
VIII em 1024 a pedido do imperador alemã o Henrique II e foi veementemente contestado pelo Oriente porque
minou o status ú nico de Deus Pai.
Posteriormente, o papa assinou acordos com os armê nios (1429), os coptas no Egito (1443), certos grupos
dissidentes nestorianos na Mesopotâ mia (1444) e os caldeus e maronitas de Chipre (1445). (Nestorians sustentou
que em Jesus Christ há duas pessoas, uma divina e outra humana, ao invé s de apenas uma pessoa divina, como
ensinado pelo Concı́lio de Efeso em 431.)
Os delegados conciliares que permaneceram em Basel apó s a transferê ncia do conselho para Ferrara e depois
para Florença primeiro suspenderam e depois depuseram Eugenius IV em 24 de janeiro de 1438 e 25 de junho de
1439, respectivamente. O papa respondeu em 4 de setembro de 1439, desa iando a ecumenicidade das fases
anteriores do Concı́lio de Constança e condenando o Concı́lio de Basilé ia. Em 5 de novembro de 1439, os que
permaneceram na Basilé ia elegeram um leigo, Amadeus VIII, o duque de Sabó ia, como antipapa (Fé lix V). A eleiçã o
foi conduzida por apenas um cardeal e trinta e dois outros eleitores nomeados por uma comissã o e nã o foi
geralmente reconhecida, exceto nos territó rios que o duque governou e em alguns estados menores. Por um tempo,
Fé lix V empregou um futuro papa como seu secretá rio e conselheiro mais há bil, Ené ia (també m Ené ias) Silvio
Piccolomini (mais tarde Pio II, 1458-64), que posteriormente fez as pazes com Eugê nio IV (1442). Piccolomini até
ajudou a organizar uma concordata entre o papa e o novo rei alemã o, Frederico III, e ganhou o apoio dos eleitores
alemã es e, por im, de toda a Alemanha para a autoridade de Eugê nio como papa. Dadas as pró prias relaçõ es difı́ceis
do antipapa com o conselho traseiro de Basel, seus escrú pulos pessoais e ameaças à famı́lia, Fé lix V abdicou em 7 de
abril de 1449 e foi nomeado pelo sucessor de Eugê nio IV, Nicolau V, como cardeal-bispo de Santa Sabina e como
vigá rio papal e legado em Sabó ia e dioceses adjacentes. Felix V foi o ú ltimo dos antipapas.
Na primavera de 1443, quando Eugê nio IV reconheceu as reivindicaçõ es de Afonso V de Aragã o ao trono do reino
de Ná poles, Alfonso ordenou que seus bispos retirassem seu apoio ao antipapa Fé lix V e tornou possı́vel o retorno
do papa de Florença a Roma em Setembro, apó s uma ausê ncia de cerca de nove anos. No ano seguinte, uma cruzada
que ele havia inanciado contra os turcos terminou em derrota em Varna, na Bulgá ria. E, embora as concessõ es
tenham sido feitas de ambos os lados nos acordos entre Eugê nio IV e a Alemanha sobre questõ es relativas à
administraçã o de propriedade temporal e nomeaçõ es para benefı́cios vagos, Eugê nio emitiu uma bula no leito de
morte na qual declarou que nã o pretendia com esses acordos para diminuir a autoridade ou privilé gios da Santa Sé .
Diz-se que, enquanto estava morrendo, ele lamentou ter deixado o mosteiro em que viveu durante sua juventude. Ele
foi inicialmente enterrado na cripta de Sã o Pedro ao lado do tú mulo de Eugenius III, mas seu corpo foi inalmente
transferido para a igreja de San Salvatore em Lauro, em Roma.
207 Callistus [Calixtus] III, espanhol, 1378-1458, papa de 8 de abril de 1455 a 6 de agosto de 1458.
O primeiro papa espanhol, Callistus III criou dois de seus sobrinhos cardeais, um dos quais se tornaria o segundo - e
ú ltimo - papa espanhol, o infame Alexandre VI (1492-1503). Ele també m foi um ex-apoiador de um antipapa, Bento
XIII (1394-1417), durante o Grande Cisma Ocidental (1378-1417), mas acabou persuadindo o sucessor de Bento
XVI, Clemente VIII (1423-29), a se submeter ao Papa Martinho V em 1429, serviço pelo qual o papa o promoveu a
bispo de Valê ncia no mesmo ano. Nascido Alfonso de Borja (Borgia, em italiano), ele foi cardeal-sacerdote da igreja
de Santi Quattro Coronati, bem como bispo de Valê ncia quando eleito papa em 8 de abril de 1455, como candidato
de compromisso entre as facçõ es concorrentes Colonna e Orsini - e presumivelmente seguro, dada sua saú de (ele
estava debilitado pela gota) e idade (setenta e sete). Ele foi coroado na Bası́lica de Sã o Pedro em 20 de abril pelo
cardeal Gaspare Colonna.
Callistus III imediatamente assumiu suas novas responsabilidades, organizando uma cruzada para libertar
Constantinopla dos turcos (capturada em maio de 1453). Ele despachou pregadores, ofereceu indulgê ncias, cobrou
impostos e vendeu obras de arte em ouro e prata e encadernaçõ es de livros valiosos para inanciar o custo de
construçã o de uma frota. Embora tenha havido alguns sucessos iniciais (a derrota dos turcos fora de Belgrado, para
a qual o papa ordenou a festa da Trans iguraçã o universalmente observada em 6 de agosto; a derrota da frota turca
na ilha de Lesbos; e a libertaçã o de vá rios cristã os ilhas no Egeu), os governantes cristã os no Ocidente, preocupados
com as questõ es domé sticas, eram geralmente indiferentes à causa. Enquanto isso, os mé todos pesados do papa
para arrecadar dinheiro começaram a despertar ressentimento e oposiçã o na França (a Universidade de Paris
convocou um concı́lio geral) e na Alemanha (onde os lı́deres da Igreja começaram a exigir as mesmas liberdades de
interferê ncia papal que a França desfrutava). Calisto III també m provocou a ira de Alfonso, rei de Aragã o e Ná poles,
quando ele desviou uma frota dos cruzados para Gê nova para promover os interesses territoriais papais.
Como muitos indivı́duos aparentemente piedosos, Callistus III era um homem teimoso que nã o tolerava oposiçã o
de ningué m, incluindo seus cardeais. Seu nepotismo lagrante irritou e amargurou muitos. Ele alistou comandantes
espanhó is para liderar as tropas nas fortalezas dos Estados Pontifı́cios e nomeou um sobrinho governador do
Castelo de Santo Angelo e prefeito de Roma, e conspirou para colocar outro no trono de Ná poles. Ele encheu a Cú ria
com nomeados espanhó is de Valê ncia e Catalunha e nomeou dois outros sobrinhos, ainda com vinte e poucos anos,
como cardeais, incluindo Rodrigo Borgia (mais tarde Alexandre VI), a quem nomeou vice-chanceler da Cú ria.
Ele reabriu o caso de Joana d'Arc, queimada na fogueira como bruxa e herege em Rouen em 30 de maio de 1431;
sua sentença foi anulada e ela foi declarada inocente (16 de junho de 1456). No mesmo ano, poré m, ele
envergonhou seu ponti icado ao reviver a dura legislaçã o antijudaica, deixada moribunda por seus predecessores,
proibindo toda comunicaçã o social entre cristã os e judeus. Callistus III morreu em 6 de agosto de 1458 (a festa da
Trans iguraçã o que ele ordenou que fosse celebrada universalmente). Apó s sua morte, os italianos manifestaram sua
ira sobre os catalã es, que fugiram aterrorizados. Callistus III foi enterrado originalmente na capela de San Andrea em
Sã o Pedro, mas seu corpo foi transferido em 1610 para a igreja de Santa Maria di Monserrato, a igreja espanhola em
Roma.
210 Sisto IV, 1414-84, papa de 25 de agosto de 1471 a 12 de agosto de 1484 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado no dia de sua eleição, 9 de agosto, mas como ainda não era bispo, ele não podia tornar-se bispo de Roma
até ser consagrado em 25 de agosto).
Sisto IV transformou a cidade de Roma de medieval em uma cidade renascentista, construiu a Capela Sistina, fundou
o coro Sistino, estabeleceu os arquivos do Vaticano, mas també m praticou abertamente o nepotismo (tornando
cardeais seis sobrinhos), estabeleceu a Inquisiçã o Espanhola, anulou os decretos do reformista Concı́lio de
Constança (1414-18), esteve pessoalmente envolvido em uma conspiraçã o que incluiu assassinato e ajudou a
preparar o caminho para a Reforma Protestante.
Nascido Francesco della Rovere na pobreza (um dos relativamente poucos papas que nã o veio de uma famı́lia
aristocrá tica ou economicamente pró spera), ele foi educado por franciscanos e ingressou na ordem no inı́cio de sua
vida. Pregador cé lebre e teó logo respeitado, ele se tornou ministro geral dos franciscanos em 1464 e foi nomeado
cardeal de San Pietro in Vincoli em 1467. Na confusã o que se seguiu à morte repentina de Paulo II aos 54 anos, o
cardeal della Rovere rapidamente emergiu como o favorito , com o apoio do duque de Milã o e com seu pró prio
sobrinho fazendo muitas promessas aos cardeais eleitores antes da votaçã o de 9 de agosto de 1471. Foi consagrado
bispo de Roma e coroado pelo cardeal Borgia (o futuro Alexandre VI), que atuou como arquidiá cono, no dia 25 de
agosto na Praça de Sã o Pedro, a primeira vez que tal cerimô nia foi realizada ali.
Logo apó s sua eleiçã o, Sisto IV nomeou dois de seus jovens sobrinhos como cardeais (um dos quais se tornaria o
papa Jú lio II) e promoveu e enriqueceu vá rios outros parentes. (Posteriormente, ele nomearia quatro outros
sobrinhos para o Colé gio de Cardeais.) Como muitos de seus predecessores, ele estava ansioso por uma cruzada
contra os turcos, mas també m enfrentou a indiferença geral dos governantes cristã os na Europa. Depois de um
esforço fraco em 1472, ele proclamou outra cruzada em 1481, quando Otranto, no continente italiano, caiu. Foi
recuperado no ano seguinte com a ajuda das forças venezianas e hú ngaras e provavelmente devido à morte
repentina do sultã o.
Como franciscano, Sisto IV teve o prazer de aumentar os privilé gios de sua ordem e canonizar em 1482 o grande
teó logo franciscano Boaventura (falecido em 1274). Mas ele estava preocupado durante grande parte de seu
ponti icado com o bem-estar dos Estados papais. Em 1478, ele foi atraı́do por um de seus sobrinhos para a
conspiraçã o Pazzi, na qual Giuliano de 'Medici foi morto e seu irmã o Lorenzo foi ferido. (Naquele mesmo ano, ele
anulou os decretos do reformista Conselho de Constança [1414-18] e estabeleceu a Inquisiçã o Espanhola, mais
tarde procurou veri icar seus abusos, e entã o con irmou o infame Tomá s de Torquemada como grande inquisidor.)
Este ato assassino atraiu o papa em uma guerra inú til e escandalosa com Florença (1478-80), e entã o ele incitou
Veneza a atacar Ferrara - apenas para mudar de lado e impor penalidades espirituais a Veneza. Os prı́ncipes e
cidades da Itá lia forçaram o papa a aceitar a Paz de Bagnolo em 1484, deixando-o sem territó rios adicionais e muitos
problemas em Roma e no Lá cio.
As vã s expediçõ es militares de Sisto IV e sua indecorosa generosidade para com a famı́lia haviam esgotado o
tesouro papal e forçado-o a se envolver na venda de indulgê ncias e outras formas duvidosas de arrecadaçã o de
receitas (incluindo a duplicaçã o dos cargos da cú ria). Em março de 1482, um ex-aliado do papa, o arcebispo croata
Andrea Zamometi , tentou reunir o Conselho de Basileia (1431-1449) a im de julgar Sisto IV. No ano seguinte, o
papa renovou a proibiçã o de apelaçõ es aos concı́lios gerais sobre um papa.
Muito poucos dos 34 cardeais que ele criou (incluindo seis sobrinhos) eram quali icados, e ele reinou como um
prı́ncipe da Renascença - uma postura realmente estranha para um franciscano vitalı́cio. Como um prı́ncipe da
Renascença, no entanto, ele melhorou as estradas, edifı́cios e pontes da cidade, construiu igrejas (incluindo a Capela
Sistina) e restaurou o hospital do Espı́rito Santo. Ele atraiu pintores, escultores e mú sicos para Roma e, como
mencionado acima, fundou o coro Sistino, estabeleceu os arquivos do Vaticano e reorganizou e ampliou a Biblioteca
do Vaticano e abriu-a para estudiosos, como resultado disso ele é geralmente considerado o O segundo fundador da
biblioteca (Nicolau V [1447-55] foi seu fundador inicial). Sisto IV morreu em 12 de agosto de 1484, apó s a imposiçã o
da desagradá vel Paz de Bagnolo e foi sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro, onde seu tú mulo de bronze é considerado
uma obra-prima.
212 Alexandre VI, espanhol, 1431-1503, papa de 26 de agosto de 1492 a 18 de agosto de 1503 (a lista o icial do
Vaticano começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 11 de agosto, mas como ainda não era bispo, ele não poderia
se tornar bispo de Roma até que fosse consagrado em 26 de agosto).
Alexandre VI foi o papa mais notó rio de toda a histó ria. Seu ponti icado foi marcado por nepotismo, ganâ ncia e
sensualidade desenfreada.
Nascido Rodrigo de Borja y Borja (Borgia em italiano) perto de Valê ncia, ele era sobrinho do Papa Calisto III
(1455-1458), que o nomeou cardeal-diá cono aos 25 anos e no ano seguinte vice-chanceler do Santo Veja, uma
posiçã o que lhe permitiu acumular tal riqueza que foi considerado o segundo cardeal mais rico. Ele també m viveu
uma vida abertamente promı́scua, tendo vá rios ilhos antes e depois de sua eleiçã o para o papado. Rodrigo esperava
suceder Sisto IV ao papado em 1484, mas teve que esperar pelo pró ximo conclave em 1492 para realizar sua
ambiçã o, embora nã o sem a ajuda de subornos generosos e promessas de nomeaçõ es e benefı́cios lucrativos.
Portanto, sua eleiçã o na Capela Sistina em 11 de agosto de 1492 foi simoniacal (ou seja, comprada). (Diz-se que
apenas cinco dos vinte e dois cardeais, excluindo Borgia, nã o puderam ser comprados: Carafe, Piccolomini, della
Rovere, lo Zeno e del Portugal.) Alexandre VI foi coroado em Sã o Pedro em 26 de agosto. ( Ele havia adotado o nome
de Alexandre VI em vez de Alexandre V, embora Alexandre V fosse, de acordo com o pensamento atual, um antipapa
eleito pelo Conselho de Pisa em 1409. Evidentemente, a reivindicaçã o de legitimidade de Alexandre V era mais forte
do que agora.)
Embora o novo papa parecesse ter um inı́cio forte, restaurando a ordem em Roma e prometendo reforma da
Cú ria e uma cruzada contra os turcos, logo se tornou evidente que as paixõ es consumistas de seu ponti icado seriam
ouro, mulheres e os interesses de seus famı́lia. Ele nomeou seu ilho Cesare, aos dezoito anos, um cardeal, junto com
o irmã o da atual amante papal. Ele també m arranjou vá rios casamentos para sua ilha Lucré cia e muitas vezes a
deixou no comando do papado, como regente virtual, quando ele estava fora de Roma.
Apó s a morte de Fernando I, rei de Ná poles, no inı́cio de 1494, Alexandre VI coroou Alfonso II, ilho de
Ferdinando, como seu sucessor, um ato que levou o rei Carlos VIII da França a invadir a Itá lia, ameaçando convocar
um conselho para depor o papa. Como Alexandre VI nã o poderia defender Roma contra os invasores, ele teve que
chegar a um acordo com Carlos. Mais tarde, em aliança com outros governantes italianos, ele forçou o rei francê s a
sair da Itá lia. Mais tarde, no entanto, o papa deu meia-volta e restabeleceu relaçõ es amistosas com a França,
chegando a aprovar a divisã o de Ná poles entre a França e a Espanha em 1501. Mas a principal preocupaçã o polı́tica
do papa durante seu ponti icado foi com a transformaçã o dos Estados papais e Itá lia central em uma empresa
familiar e com a contençã o das grandes famı́lias romanas. Os meios empregados incluı́am assassinatos, apreensõ es
de propriedades e a criaçã o de cardeais por um alto preço.
O ato polı́tico pelo qual Alexandre VI é mais lembrado ocorreu em 1493, quando ele traçou uma linha de
demarcaçã o entre as zonas espanholas e portuguesas de exploraçã o no Novo Mundo (embora tivesse que ser
modi icada no ano seguinte porque foi projetada para favorecer indevidamente a Espanha) . O ato eclesiá stico pelo
qual ele també m é lembrado foi sua excomunhã o, tortura e execuçã o em 1498 do famoso pregador e reformador
lorentino Girolamo Savonarola, que vinha denunciando a corrupçã o papal e convocando um conselho para
reformar a Igreja e depor Alexandre VI. Em uma nota artı́stica, o papa restaurou o Castel Sant'Angelo, mandou
decorar os apartamentos dos Borgia no Vaticano por Pinturicchio, o cé lebre pintor da Umbria, e convenceu
Michelangelo a traçar planos para a reconstruçã o da Bası́lica de Sã o Pedro.
Em junho de 1497, quando seu ilho favorito, Juan, foi assassinado e a suspeita centrada em Cé sar, Alexandre VI
icou tã o abalado que resolveu se dedicar posteriormente à reforma da igreja. Mas sua resoluçã o nã o resistiu à s
contı́nuas tentaçõ es da carne e à s exigê ncias de sua famı́lia. E entã o nã o deu em nada. Em agosto de 1503, ele e seu
ilho Cé sar estavam em um jantar oferecido por um cardeal. Ambos ingeriram um veneno evidentemente destinado
ao hospedeiro. O papa morreu, mas seu ilho sobreviveu. Relatos piedosos dizem que Alexandre VI morreu de febre
em uma epidemia. Ele foi sepultado primeiro na capela de San Andrea em Sã o Pedro e, em 1610, seus restos mortais,
junto com os de seu tio, o Papa Calisto III (1455-58), foram transferidos para a igreja espanhola de Santa Maria di
Monserrato em Roma.
213 Pio III, ca. 1439-1503, papa de 1 de outubro a 18 de outubro de 1503 (a lista o icial do Vaticano marca o início de
seu ponti icado no dia de sua eleição, 22 de setembro, mas aparentemente, embora ele tenha sido nomeado arcebispo
de Siena, ele ainda não tinha foi ordenado sacerdote ou bispo; sua consagração como bispo de Roma não ocorreu até
1 de outubro).
Candidato conciliador ou provisó rio com a saú de debilitada, Pio III morreu apenas dezessete dias apó s sua
consagraçã o e coroaçã o como papa. Tomando o dia de sua consagraçã o episcopal como o inı́cio de seu ponti icado,
ele foi possivelmente o quarto ponti icado mais curto da histó ria, e mesmo o segundo ou terceiro mais curto devido
à di iculdade em determinar as datas exatas de Bonifá cio VI (896) e Celestino IV ( 1241).
Nascido Francesco Todeschini-Piccolomini, ele era sobrinho do Papa Pio II (1458-1464), que o nomeou arcebispo
de sua cidade natal, Siena, aos 21 anos e algumas semanas depois o nomeou cardeal-diá cono de San Eustachio. Ele
també m permitiu que ele usasse o sobrenome Piccolomini (sobrenome de Pio II). Ele foi colocado no comando de
Roma e dos Estados Papais quando seu tio Pio II embarcou em uma cruzada em 1464 e foi por muitos anos cardeal-
protetor da Inglaterra e da Alemanha e entã o legado papal para a Alemanha. Durante o ponti icado de Alexandre VI,
no entanto, ele manteve distâ ncia da corte papal. No conclave que elegeu Alexandre VI, o cardeal Piccolomini
(Todeschini) recusou-se a ser subornado e cinco anos depois foi o ú nico membro do Colé gio de Cardeais a protestar
contra a transferê ncia de territó rios papais substanciais de Alexandre VI para seu ilho Juan. Embora tenha sido
considerado para o papado em conclaves anteriores, ele deveu sua eleiçã o, desta vez, à necessidade de quebrar um
impasse. (O conclave foi transferido do Vaticano para a bası́lica de Santa Maria sopra Minerva por causa das ameaças
de força de Cesare Borgia, ilho de Alexandre VI.) Piccolomini adotou o nome de Pio III em homenagem a seu tio.
Na é poca de sua eleiçã o, Pio III estava com a saú de debilitada (com gota) e prematuramente velho, ambos os quais
o tornaram um candidato atraente para fornecer à Igreja um pouco de espaço para respirar apó s o ponti icado de
Alexandre VI. Mas o reinado do novo papa provou ser ainda mais curto do que os pró prios cardeais esperavam ou
esperavam. Ele foi ordenado sacerdote (era apenas diá cono na é poca da eleiçã o) e consagrado bispo em 1º de
outubro e coroado em 8 de outubro. Ele estava tã o fraco, poré m, que as cerimô nias tiveram que ser abreviadas. Ele
morreu dezessete dias depois e foi sepultado na capela de San Andrea em Sã o Pedro. Os restos mortais de Pio III
foram transferidos em 1614 para a igreja de Sant'Andrea della Valle em Roma.
214 Júlio II, 1443-1513, papa de 1º de novembro de 1503 a 21 de fevereiro de 1513 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado em 31 de outubro, mas ele foi eleito no dia seguinte, 1º de novembro).
Patrono de artistas como Michelangelo, Rafael e Bramante, Jú lio II encomendou planos para a nova Bası́lica de Sã o
Pedro, a ser inanciada pela venda de indulgê ncias - o fogo para a Reforma Protestante que logo se seguiria.
Nascido Giuliano della Rovere, de pais pobres, mas nobres, ele era, como tantos outros papas, sobrinho de um
papa anterior, Sisto IV (1471-1484) e, como esses outros, ele se bene iciou muito dos favores concedidos por seu tio,
o papa. Ele foi nomeado bispo de Carpentras aos dezoito anos e, posteriormente, no mesmo ano, cardeal-sacerdote
de San Pietro in Vincoli. Ele recebeu rapidamente outras dioceses (incluindo Avignon), abadias e benefı́cios (cargos
eclesiá sticos que geram renda), incluindo a nomeaçã o como cardeal-bispo de Santa Sabina. Como cardeal, ele teve
trê s ilhas.
Ele havia feito lobby (com a ajuda de subornos) para a eleiçã o de Inocê ncio VIII em 1484, quando percebeu que
nã o poderia ser eleito e exerceu grande in luê ncia sobre o novo papa. Giuliano era inimigo, no entanto, de Alexandre
VI e fugiu para a França para escapar de um possı́vel assassinato em 1494, mas falhou em suas tentativas de ganhar
o apoio do rei para um conselho geral que depuseria Alexandre VI por simonia. De fato, Carlos VIII assinou um
tratado com o papa em 1495. Apó s a morte de Alexandre VI em 1503, Giuliano voltou a Roma, mas nã o foi eleito
papa no conclave. No entanto, o escolhido, Pio III, morreu quase imediatamente apó s sua coroaçã o e Giuliano
inalmente teve sucesso em sua ambiçã o no conclave seguinte. Ele foi eleito por unanimidade em um ú nico dia, 1º de
novembro de 1503, com a ajuda de substanciais subornos e promessas de preferê ncias eclesiá sticas, especialmente
para Cesare Borgia. Ele foi coroado em 18 de novembro e tomou posse da catedral papal, a bası́lica de Sã o Joã o de
Latrã o, em 26 de novembro, apó s uma procissã o triunfal pelas ruas de Roma.
Alé m de seu interesse pela arte e arquitetura, Jú lio II foi um papa inteiramente polı́tico, até militar, muito distante
do exemplo do apó stolo Pedro e do mandato de Jesus Cristo. Ele restaurou e ampliou os Estados Papais, forçou o
ainda perigoso Cesare Borgia a sair da Itá lia, reconquistou a maior parte da Romagna e, em 1506, com armadura
completa e na liderança, capturou Perugia e Bolonha de seus governantes tirâ nicos. Em 1508, tendo aderido à Liga
de Cambria (França, Alemanha e Espanha), ele derrotou Veneza tã o completamente que ela teve que render Rimini e
Faenza, bem como todos os direitos tributá rios. Temendo a dominaçã o francesa no norte da Itá lia e preocupado com
a necessidade de ajuda veneziana contra os turcos, Jú lio II fez as pazes com Veneza e, para ganhar o apoio da
Espanha, reconheceu Fernando II de Aragã o como rei de Ná poles, desconsiderando as reivindicaçõ es da França
sobre ele.
Com ele mesmo à frente de seu exé rcito, Jú lio II capturou Mirandola em janeiro de 1511, mas escapou por pouco
da captura durante a queda de Bolonha para os franceses. Com o apoio de nove cardeais anticulianos, o rei Luı́s XII
da França convocou um concı́lio em Pisa em 1º de outubro de 1511, com a intençã o de depor o papa. O conselho
teve até o apoio do imperador Maximiliano I. Depois que o papa retirou os cardeais rebeldes de sua posiçã o, o
conselho mudou-se para Milã o, onde declarou a suspensã o do papa. (Posteriormente, mudou-se para Lyon, onde
chegou ao im depois de perder o patrocı́nio dos franceses.) No ano anterior, Jú lio II havia formado a Santa Liga com
Veneza e Espanha para a defesa do papado, à qual Henrique VIII da Inglaterra aderiu no inal do ano. Embora os
exé rcitos da Liga tenham sido inicialmente derrotados em Ravenna, com a ajuda das tropas suı́ças a maré mudou e
os franceses foram expulsos da Itá lia. Os Estados Papais foram aumentados com a adiçã o de Parma, Piacenza e
Reggio Emilia, e Jú lio se considerou seu fundador.
Jú lio II foi principalmente um polı́tico e um guerreiro, pelo que foi severamente atacado pelo humanista Erasmo
(falecido em 1536) em seu Louvor da Loucura (1509). Jú lio prestou pouca atençã o à s preocupaçõ es eclesiá sticas,
muito menos espirituais. Ele concedeu uma dispensa fatı́dica a Henrique VIII da Inglaterra, permitindo-lhe se casar
com a viú va de seu irmã o, Catarina de Aragã o, publicou uma bula (14 de janeiro de 1505) declarando as eleiçõ es
papais (como as dele?) Anuladas se engendradas por simonia e estabelecidas as primeiras dioceses da Amé rica do
Sul. Ele també m convocou um concı́lio ecumê nico, Latrã o V, em maio de 1512. O concı́lio de cinco anos se preocupou
principalmente com as condenaçõ es do concı́lio realizado em Pisa em 1511-1512 e a Pragmá tica Sançã o de Bourges
(um decreto de 1438 que restringia os direitos papais na França ) O papa icou especialmente satisfeito com a
submissã o do imperador Maximiliano a ele na terceira sessã o do concı́lio. O conselho, no entanto, foi mal atendido
desde o inı́cio. Dos oitenta a noventa bispos presentes, a maioria era italiana.
Jú lio II talvez seja mais lembrado por seu patrocı́nio a grandes artistas como Michelangelo, Rafael e Bramante.
Entre as obras inspiradas e inanciadas por Jú lio estavam a está tua de Michelangelo de Moisé s na igreja de San
Pietro in Vincoli (Sã o Pedro em Correntes) e as pinturas na Capela Sistina e os afrescos de Rafael no Vaticano. O
papa encarregou Bramante de preparar os planos para a nova Bası́lica de Sã o Pedro e ele ajudou no lançamento da
pedra fundamental em 18 de abril de 1506. Em uma decisã o historicamente importante, Jú lio II providenciou para
inanciar a construçã o com a venda de indulgê ncias, iluminando assim a partida que iniciou a Reforma Protestante. A
venda de indulgê ncias foi a ocasiã o para as histó ricas 95 teses de Martinho Lutero. Quando Jú lio II morreu de febre
em 21 de fevereiro de 1513, ele foi pranteado por alguns como o libertador da Itá lia da dominaçã o estrangeira e foi
posteriormente saudado por outros como um precursor de sua eventual uni icaçã o. Foi sepultado na igreja de San
Pietro in Vincoli, da qual fora cardeal-sacerdote.
215 Leão X, 1475-1521, papa de 17 de março de 1513 a 1 de dezembro de 1521 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado em 9 de março, o dia de sua eleição, mas como ainda não era bispo, ele não podia tornar-se bispo de
Roma até ser consagrado em 17 de março).
A Reforma Protestante começou durante o ponti icado de Leã o X, em grande parte por causa de sua decisã o de
vender ofı́cios e indulgê ncias da igreja para pagar dı́vidas contraı́das por extravagâ ncias pessoais, campanhas
militares e a construçã o da Bası́lica de Sã o Pedro.
Nascido Giovanni de 'Medici, ilho de Lorenzo, o Magnı́ ico, foi tonsurado (ou seja, admitido no estado clerical) aos
sete anos, nomeado cardeal-diá cono de Santa Maria na Dominica aos treze anos e foi o governante efetivo de
Florença aos a é poca de sua eleiçã o para o papado em 9 de março de 1513, aos trinta e sete anos. O Colé gio de
Cardeais nã o estava com força total na é poca porque nove cardeais anti-Julianos (isto é , aqueles que se opunham ao
Papa Jú lio II) que participaram do concı́lio realizado em Pisa e Milã o (1511-1512) foram excluı́dos. Mais uma vez
(como tantas vezes aconteceu nas eleiçõ es papais), os vinte e cinco cardeais eleitores queriam um papa muito
diferente do falecido soldado papa Jú lio II. O cardeal de 'Medici conquistou o apoio dos cardeais mais jovens e, em
seguida, dos cardeais mais velhos, que pensaram que seu estado de saú de garantiria um breve ponti icado. Leã o X
foi ordenado sacerdote em 15 de março (ele era diá cono no momento da eleiçã o), consagrado bispo de Roma em 17
de março e coroado papa em 19 de março.
Um prı́ncipe da Renascença que amava livros, mú sica, arte, caça e teatro, Leã o X fez de Roma uma vez contra o
centro cultural do mundo ocidental. Politicamente, ele estava preocupado em preservar a Itá lia, e especialmente sua
amada Florença, do domı́nio estrangeiro. Para fazer isso, ele assinou um tratado impopular com a França em 1515
(apó s uma sé rie de vitó rias militares francesas na Itá lia, incluindo Milã o). Leã o X rendeu Parma e Piacenza em troca
da independê ncia de Florença, sob o controle dos Medici. Ele també m providenciou uma concordata com a França
que duraria até a Revoluçã o Francesa em 1789. A concordata concedeu à coroa francesa o direito de nomeaçã o a
todos os cargos mais altos da Igreja (bispos, abades e priores), reservando apenas benefı́cios menores para o papa.
Mas a concordata també m inalmente removeu a Pragmá tica Sançã o de Bourges (um decreto de 1438 que restringia
os direitos papais na França). Em 1516, ele travou uma guerra polı́tica e inanceiramente desastrosa em um esforço
para impor seu sobrinho Lorenzo como duque de Urbino. No ano seguinte, descobrindo uma conspiraçã o de alguns
cardeais para envenená -lo, Leã o X executou seu lı́der, o cardeal Alfonso Petrucci, prendeu outros quatro e lotou o
Colé gio de Cardeais com trinta e um novos membros.
Quando eleito papa, Leã o X jurou continuar o Quinto Concı́lio de Latrã o, convocado por seu predecessor, Jú lio II,
em 1512. Ele abriu a sexta sessã o em 27 de abril de 1513, e na oitava e nona sessõ es (19 de dezembro de 1513, e 5
de março de 1514) recebeu o repú dio do rei francê s ao conselho cismá tico de Pisa-Milã o (1511-1512) e a submissã o
dos bispos franceses. Latrã o V també m rati icou a concordata de Leã o X com Francisco I da França e a aboliçã o da
Sançã o Pragmá tica de Bourges. Embora o conselho també m tenha abordado uma sé rie de medidas de reforma (por
exemplo, condenaçõ es do pluralismo, ou a realizaçã o de mais de um cargo religioso ao mesmo tempo, e do
absenteı́smo), nã o havia meios e icazes de coaçã o. Quando Leã o X fechou o conselho em 16 de março de 1517, nã o
havia nenhum senso aparente de urgê ncia sobre as nuvens de revoluçã o que se formavam no horizonte.
A extravagâ ncia pessoal de Leo e seu patrocı́nio à s artes forçaram-no a penhorar os mó veis do palá cio e as placas
de prata e ouro, mas suas dı́vidas o iciais o levaram a medidas ainda mais sé rias. Para inanciar suas expediçõ es
militares, a cruzada projetada contra os turcos e a construçã o da nova Bası́lica de Sã o Pedro, ele teve que pedir
dinheiro emprestado em escala gigantesca e vender escritó rios da igreja, incluindo chapé us de cardeais. Para a
construçã o da nova bası́lica, ele renovou a venda das indulgê ncias autorizadas por Jú lio II e, em seguida, fez um
acordo altamente lucrativo (mas simoniacal) com Albrecht, o arcebispo de Brandemburgo e Mainz, para a
indulgê ncia a ser pregada em suas dioceses. (Quando a rica arquidiocese de Mainz icou vaga, Albrecht solicitou, mas
nã o conseguiu levantar os fundos necessá rios para o imposto de instalaçã o e para a dispensa papal para manter
uma pluralidade de dioceses. Com a condiçã o de que Albrecht permitisse que pregadores da indulgê ncia fossem em
suas dioceses, o dinheiro foi adiantado ao papa pela casa bancá ria de Jacob Fugger. Metade do dinheiro arrecadado
pela pregaçã o iria para os Fuggers, a outra metade para o papa.) Quando o dominicano John Tetzel (d . 1519)
começou a pregar a indulgê ncia em janeiro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero (m. 1546) postou suas
famosas Noventa e cinco teses de protesto na porta da igreja em Wittenberg.
Quando um resumo das opiniõ es de Lutero chegou a Roma no inı́cio de 1518, o papa ordenou que o general da
ordem de Lutero o silenciasse, mas o esforço nã o teve sucesso. Apó s uma sé rie de debates entre Lutero e o teó logo
John Eck (falecido em 1543) em Leipzig em 1519, Leã o X publicou sua famosa bula, Exsurge Domine (15 de junho de
1520), condenando Lutero por quarenta e uma acusaçõ es. Quando, em 10 de dezembro de 1520, Lutero queimou
publicamente a bula papal, Leã o X o excomungou na bula Decet Romanum ponti icem em 3 de janeiro de 1521.
Ironicamente, em 11 de outubro do mesmo ano, o papa conferiu o tı́tulo de “Defensor do Faith ”no rei Henrique VIII
da Inglaterra por sua defesa dos sete sacramentos contra Lutero.
Infelizmente, Leã o X e a Cú ria nã o compreenderam o signi icado desses movimentos de reforma ou da
necessidade urgente da Igreja de erradicar a corrupçã o e os abusos. Na verdade, ele provavelmente estava muito
distraı́do com assuntos militares e polı́ticos (ele continuou, por exemplo, como governante de Florença ao longo de
seu ponti icado). Quando Leã o X morreu repentinamente de malá ria em 1º de dezembro de 1521, a Itá lia estava em
turbulê ncia polı́tica, o norte da Europa estava prestes a explodir em uma explosã o de con lito religioso, e o tesouro
papal estava vazio e o papado com grandes dı́vidas. Leã o X foi sepultado primeiro na Bası́lica de Sã o Pedro, mas seus
restos mortais foram transferidos em 1536 para a bası́lica de Santa Maria sopra Minerva, onde um grande
monumento a ele foi erguido.
Parte V
P ERPOS OS QUATRO EVENTOS MAIS SIGNIFICATIVOS que afetam a Igreja Cató lica no segundo milê nio cristã o sã o o Cisma Leste-
Oeste de 1054, a Reforma Protestante do sé culo XVI, a Contra-Reforma Cató lica montada pelo Concı́lio de Trento
entre 1545 e 1563, e o Concı́lio Vaticano II de 1962-65. Embora seja verdade que a Igreja é “ao mesmo tempo santa
e sempre necessitada de puri icaçã o” e deve seguir constantemente “o caminho da penitê ncia e da renovaçã o”
(Vaticano II, Constituiçã o Dogmá tica sobre a Igreja, n. 8), a Reforma Protestante deve nã o foram necessá rios. Foi o
produto de uma sé rie de erros trá gicos e imperdoá veis e açõ es corruptas por parte da liderança da Igreja, o papado
em particular. Os sé culos XIV e XV estiveram entre os piores da Igreja Ocidental. O papado moná rquico, enraizado
especialmente no ponti icado de Gregó rio VII (1073-1085), que se desenvolveu nos sé culos XII e XIII, tornou-se uma
burocracia inchada chafurdando na sede de dinheiro e poder. O papado de Avignon (1305-78) e, em seguida, o
Grande Cisma Ocidental (1378-1417) diminuı́ram tanto a posiçã o do papado na Igreja e no mundo secular que os
concı́lios de Constança (1414-18) e Basel (1431-1449) buscaram substituir o papa como cabeça terrena da Igreja
por um concı́lio geral ou ecumê nico.
Durante esses mesmos anos, o clero tornou-se cada vez mais corrupto, os cargos da igreja estavam à venda e o
principal motivo de muitos detentores de cargos era riqueza, nã o serviço ministerial. Os carreiristas eclesiá sticos
acumulavam tantos benefı́cios (cargos geradores de renda) quanto possı́vel (prá tica conhecida como pluralismo),
sabendo que nunca poderiam atendê -los pessoalmente (situaçã o conhecida como absenteı́smo). Os substitutos mal
pagos nesses benefı́cios eram geralmente ignorantes e pastoralmente incompetentes. A necessidade de reforma foi
quase universalmente reconhecida. De fato, em muitos dos conclaves papais durante esses sé culos pré -Reforma, os
cardeais eleitores obrigaram os candidatos ao papado a se comprometerem sob juramento a realizar certas
reformas da Igreja, se eleitos. Infelizmente, muitos dos papas recé m-eleitos ignoraram suas promessas solenes. Alé m
disso, o interesse pró prio dos papas, bispos e governantes seculares mitigou um compromisso autê ntico com a
reforma, porque muitos deles lucraram pessoalmente com os abusos. A crescente insatisfaçã o popular e o
anticlericalismo criaram um barril de pó lvora que seria de lagrado por Martinho Lutero e outros reformadores no
inı́cio do sé culo XVI. O papado, como vimos na Parte IV, estava terrivelmente despreparado para o desa io. Pelo
contrá rio, era a maior parte do problema.
Lutero postou suas famosas Noventa e cinco teses na porta de uma igreja em Wittenberg em 1517. Só em 1545,
depois que a maior parte do dano foi feito à unidade da Igreja, o papado começou a montar uma resposta sé ria ao
incessante apela à renovaçã o e reforma. No entanto, a maioria das atividades do papado durante esses anos foram
reativas, em vez de proativas. A Reforma Protestante colocou a Igreja Cató lica na defensiva, e ela permaneceria lá até
meados do sé culo XX, combatendo ferozmente o Iluminismo, a Revoluçã o Francesa, o nacionalismo italiano, os
movimentos intelectuais modernos e, especialmente, os estudos teoló gicos e bı́blicos. Nenhum papa desse perı́o do
tipi icou melhor essa atitude defensiva negativa do que o ú ltimo, Gregó rio XVI (1831-46), o primeiro e ú nico monge
camaldulense a servir no papado. Gregó rio XVI foi um papa reacioná rio no sentido literal do mundo. Ele temia e
desprezava quase todos os desenvolvimentos modernos. Ele proibiu as ferrovias nos territó rios papais, se opô s ao
nacionalismo italiano, governou os Estados papais com mã o de ferro, até mesmo esmagando uma revolta com o uso
de tropas austrı́acas, e condenou a liberdade de consciê ncia, liberdade de imprensa e a separaçã o entre Igreja e
Estado. A ú nica exceçã o lagrante à sua agenda reacioná ria foi sua denú ncia da escravidã o e do comé rcio de
escravos.
Paulo III (1534-1549) convocou o Concı́lio de Trento em 1545 e, assim, lançou o que é conhecido como a Contra-
Reforma Cató lica. Que esta Contra-Reforma gerou as sementes de seus pró prios excessos tornou-se rapidamente
evidente durante o ponti icado de Paulo IV (1555-1559), que fortaleceu a Inquisiçã o, estabeleceu o Indice de Livros
Proibidos e con inou os judeus a um bairro especial em Roma e exigiu eles devem usar um capacete distinto. (Leã o
XII [1823-1829] també m con inou os judeus em guetos.) O sucessor de Paulo IV, Pio IV (1559-65), reuniu novamente
o Concı́lio de Trento apó s uma suspensã o de dez anos e comprometeu seu ponti icado com a reforma. Seu sucessor,
Pio V (1566-1572), o ú nico santo canonizado entre os 36 papas do perı́o do coberto na Parte V, fez cumprir os
decretos do Concı́lio de Trento, publicou o Catecismo Romano e reformou o Missal Romano e o Ofı́cio Divino (Liturgia
das Horas). Infelizmente, ele també m excomungou a rainha Elizabeth da Inglaterra, colocando assim os cató licos
daquele paı́s em uma situaçã o de risco de vida. Gregó rio XIII (1572-1585) també m foi um irme defensor das
reformas tridentinas. Ele reconstruiu e dotou o antigo Colé gio Romano, que foi renomeado em sua homenagem
como Universidade Gregoriana, e també m reformou o calendá rio juliano diminuindo dez dias e adicionando um ano
bissexto. O nome do calendá rio reformado també m homenageia sua memó ria. E conhecido como calendá rio
gregoriano.
Foi Sisto V (1585-1590) que estabeleceu o nú mero má ximo de cardeais em setenta - um nú mero nã o excedido até
o ponti icado de Joã o XXIII (1958-63) - e que reorganizou a Cú ria Romana de uma forma que permaneceria
essencialmente inalterada até o Concı́lio Vaticano II (1962-1965). Ele també m transformou Roma de uma cidade
renascentista em uma grande cidade barroca. Paulo V (1605-1621) sempre será lembrado como o papa que
censurou o astrô nomo Galileu - uma censura removida quase quatro sé culos depois no ponti icado de Joã o Paulo II
(1978-2005). Gregó rio XV (1621-23) decretou que as eleiçõ es papais deveriam, a partir de entã o, ser conduzidas
por voto secreto - uma prá tica ainda em vigor hoje. Urbano VIII (1623-44) consagrou a nova Bası́lica de Sã o Pedro
em 1626 (a maneira de inanciar sua construçã o no inı́cio do sé culo XVI foi uma das causas imediatas da Reforma
Protestante) e adotou Castel Gandolfo como residê ncia papal de verã o - ainda é usado hoje para esse im. Alexandre
VII (1655-67) permitiu que os missioná rios jesuı́tas na China usassem os ritos chineses na missa e nos sacramentos
e també m encarregou Bernini de cercar a Praça de Sã o Pedro com duas colunatas semicirculares. Clemente XI
(1700-1721) reverteu a aprovaçã o de Alexandre VII do uso dos ritos chineses - uma decisã o desastrosa que minou
completamente o esforço missioná rio cató lico na China. (A proibiçã o foi inalmente levantada por Pio XII em 1939.)
A memó ria de Clemente XIV (1769-74), um franciscano, é desonrada por sua repressã o aos jesuı́tas em 1773. A
Companhia de Jesus (o tı́tulo formal dos jesuı́tas) foi reintegrado por Pio VII (1800-1823) em 1814. Pio VI (1775-99)
denunciou a Revoluçã o Francesa e morreu prisioneiro de Napoleã o Bonaparte.
Nã o houve muitos “primeiros” durante esses trê s sé culos de histó ria papal. Adriano VI (1522-1523) foi o primeiro
e ú nico papa holandê s, e o ú ltimo nã o italiano até o ponti icado de Joã o Paulo II em 1978. Adriano (Adriano)
també m foi um dos dois ú nicos papas desde o sé culo XVI a manter seu batismo nome como papa. O outro foi
Marcelo II em 1555. O ú ltimo papa a manter sua ex-diocese enquanto servia como bispo de Roma foi Bento XIII
(1724–30). Ele permaneceu como arcebispo de Benevento. (A prá tica era conhecida como pluralismo e sempre foi
fortemente condenada pelos reformadores.) O primeiro papa a publicar uma encı́clica (ou carta circular a todos os
bispos cató licos do mundo) foi Bento XIV em 1740. Este perı́o do també m testemunhou o mais curto ponti icado da
histó ria, o de Urbano VII, eleito em 15 de setembro de 1590 e falecido em 27 de setembro, antes de ser coroado.
216 Adriano [Adrian] VI, holandês, 1459–1523, papa de 9 de janeiro de 1522 a 14 de setembro de 1523.
O primeiro papa da Contra-Reforma Cató lica, Adriano [Adrian] VI foi o ú nico holandê s a servir como papa e o ú ltimo
nã o italiano até Joã o Paulo II (1978–2005). Ele també m é um dos dois ú nicos papas no segundo milê nio cristã o a
reter seu nome de batismo como papa (Marcelo II fez o mesmo em 1555).
Nascido Adrian Florensz Dedal em Utrecht, ele era, como Jesus, ilho de um carpinteiro. Ele foi cardeal-arcebispo
de Utrecht quando eleito por unanimidade para o papado em 9 de janeiro de 1522, com o apoio do imperador
Carlos V. Ele havia sido anteriormente professor, reitor e chanceler na Universidade de Louvain; regente de Aragã o;
bispo de Tortosa; inquisidor de Aragã o, Navarra, Castela e Leã o; e vice-rei da Espanha pelo imperador Carlos.
Quando eleito papa em um conclave profundamente dividido (o chanceler da Inglaterra, Thomas Woolsey, era um
dos principais candidatos), o cardeal Dedal estava na Espanha. Ele veio a Roma por mar para ressaltar sua
independê ncia da França e do impé rio. Conseqü entemente, ele nã o foi coroado até 31 de agosto.
Desde o inı́cio de seu ponti icado, Adriano VI viu sua tarefa como a de conter a Reforma, atendendo à reforma da
administraçã o central da Igreja e de unir o Ocidente cristã o contra os turcos (pelos quais a maioria dos papas desse
perı́o do era obcecada) . Ambos terminariam em fracasso. Primeiro, ele foi mal recebido pelo povo romano, que o
considerava um "bá rbaro" do norte. Eles també m se ressentiam de suas economias apertadas (tornadas necessá rias
pela extravagâ ncia de seu predecessor, Leã o X) e seu desinteresse pela arte e cultura renascentistas. Como os
cardeais també m estavam infelizes, tendo esperado alguns “recompensas” generosas pela eleiçã o dele, eles se
recusaram a cooperar com suas tentativas de reformar a Cú ria.
O legado de Adriano VI na Dieta de Nuremberg (dezembro de 1522) foi instruı́do a reconhecer que a culpa pela
desordem na Igreja estava principalmente na pró pria Cú ria - uma admissã o que os historiadores descreveram como
o primeiro passo na Contra-Reforma Cató lica. O papa, poré m, foi irme em sua oposiçã o à s posiçõ es doutriná rias
tomadas por Martinho Lutero e seus seguidores - opiniõ es que ele havia anteriormente condenado como inquisidor
na Espanha. Adriano VI ordenou a aplicaçã o da proibiçã o dos ensinamentos de Lutero decretada no Edito de Worms
(8 de maio de 1521). Mas o papa (como muitos outros) realmente nã o apreciou a seriedade da revolta de Lutero.
As esperanças de Adriano VI de uma cruzada contra os turcos fracassaram diplomaticamente, apesar da queda de
Rodes para os turcos em dezembro de 1522 e da ameaça iminente à Hungria. O papa alienou Carlos V ao
permanecer neutro na luta de Carlos contra Francisco I da França. Entã o, ele alienou Francisco ao prender o cardeal
Soderini, um aliado do rei francê s. Francisco interrompeu o luxo de dinheiro da França para Roma e se preparou
para invadir a Lombardia. Isso forçou o papa a uma aliança defensiva com o impé rio, Inglaterra, Austria, Milã o e
outras cidades italianas. Pouco mais de um mê s depois, desgastado por esses acontecimentos e enfraquecido pelo
forte calor romano, Adriano adoeceu gravemente e morreu em 14 de setembro de 1523. Ele foi sepultado primeiro
na capela de San Andrea em Sã o Pedro, entre os tú mulos de Pio II e Pio III. Que a má vontade do povo romano para
com ele continuou mesmo depois de sua morte é revelado no graf ito latino escrito em seu tú mulo: “ Hic jacet impius
inter Pios ” (lat., “Aqui jaz um ı́mpio [papa] entre [dois] Pios ”). Seus restos mortais foram transferidos dez anos
depois para a igreja nacional alemã de Santa Maria dell'Anima, em Roma.
218 Paulo III, 1468-1549, papa de 13 de outubro de 1534 a 10 de novembro de 1549 (se ainda não foi ordenado bispo na
época de sua eleição, seu ponti icado começaria em 3 de novembro, supondo que fosse consagrado bispo bem como
coroado naquele dia; por outro lado, ele já era cardeal-bispo de Ostia quando eleito; veja abaixo o motivo da
confusão - ele tinha sido bispo de várias dioceses antes mesmo de ser ordenado sacerdote).
Um papa lı́der da Contra-Reforma, Paulo III convocou o Concı́lio de Trento em 1545.
Nascido Alessandro Farnese, ele tinha sessenta e sete anos de idade, era decano do Colé gio dos Cardeais e
cardeal-bispo de Ostia quando eleito papa por unanimidade em 13 de outubro de 1534, apó s um conclave de dois
dias. (Ele tinha sido um candidato sé rio nos conclaves de 1521 e 1523, mas teve a oposiçã o das famı́lias Colonna e
Mé dici.) Ele queria usar o nome de Honó rio IV, mas os cardeais se opuseram e ele escolheu o nome Paulo III em
homenagem ao homem que era papa quando Alessandro nasceu. A eleiçã o de Paulo III foi saudada com alegria e
entusiasmo delirantes porque ele foi o primeiro romano a ser eleito papa em 103 anos. Ele foi coroado em 3 de
novembro. Ele havia sido tesoureiro da Santa Sé e cardeal-diá cono sob a nomeaçã o de Alexandre VI (1439), bispo de
Corneto e Monte iascone, e depois bispo de Parma em 1509, tudo antes de sua ordenaçã o sacerdotal em 1519! Ele
havia adiado a ordenaçã o para continuar seu estilo de vida promı́scuo, sendo pai de quatro ilhos ilegı́timos com
uma nobre amante romana. Seu apelido era “Cardeal Petticoat” porque sua irmã Giulia fora amante de Alexandre VI.
Apó s sua ordenaçã o, ele se aliou aos reformadores da Cú ria.
Paulo III foi um papa da Renascença no sentido mais amplo da palavra. Ele adorava caçar, patrocinou artistas e
escritores, nomeou teó logos proeminentes para cá tedras na universidade romana, contribuiu com manuscritos
valiosos para a Biblioteca do Vaticano, encomendou a Michelangelo para completar o Juízo Final na Capela Sistina
(apó s Paulo censurar Michelangelo pela nudez de suas iguras , o artista retratou o papa entre os condenados com
uma orelha de burro e uma serpente em volta do corpo) e iniciou a construçã o do Palazzo Farnese como uma
homenagem à sua famı́lia. Ele també m organizou bailes de má scaras, organizou banquetes esplê ndidos e reviveu o
carnaval. Seu nepotismo també m estava na tradiçã o renascentista. Dois meses depois de sua eleiçã o, ele nomeou
dois de seus netos como cardeais, com quatorze e dezesseis anos, respectivamente, e entã o deu-lhes importantes
cargos na Igreja. Por outro lado, ele també m fez algumas nomeaçõ es excelentes para o Colé gio de Cardeais, incluindo
Gian (Giovanni) Pietro Carafa (mais tarde Paulo IV), Reginald Pole (arcebispo de Cantuá ria e legado papal na
Inglaterra), St. John Fisher (um lı́der defensor da fé cató lica na Inglaterra), Giovanni Morone (um importante bispo
reformista), Marcello Cervini (mais tarde Marcelo II) e Gasparo Contarini (um importante reformador leigo).
Paulo III está listado entre os papas da reforma cató lica por causa de seus esforços para a renovaçã o da Igreja,
culminando no Concı́lio de Trento em 1545. Esse concı́lio só se reuniu apó s vá rios falsos começos. Paulo III anunciou
originalmente o conselho de Mâ ntua em 1537 e depois de Vicenza em 1538, mas ambos tiveram de ser adiados por
causa das objeçõ es do imperador Carlos V e do rei Francisco I da França. Ele formou uma comissã o de cardeais em
1536 para examinar o estado da Igreja. Seu relató rio contundente tornou-se a base para o Concı́lio de Trento. Em 17
de dezembro de 1538, o papa excomungou Henrique VIII (a sentença anterior de Clemente VII foi suspensa) e
colocou a Inglaterra sob interdiçã o (uma pena eclesiá stica que proibia a administraçã o dos sacramentos). As
potê ncias europeias, no entanto, recusaram-se a ceder aos desejos do papa de impor suas pró prias sançõ es contra a
Inglaterra. A Inglaterra se afastou ainda mais de Roma. Ao mesmo tempo, poré m, o papa promoveu a reforma das
ordens religiosas e o desenvolvimento de novas, incluindo a Companhia de Jesus (ou Jesuı́tas), que ele aprovou
formalmente em 27 de setembro de 1540. Infelizmente, ele també m estabeleceu a Congregaçã o dos a Inquisiçã o
Romana (també m conhecida como Santo Ofı́cio e hoje como Congregaçã o para a Doutrina da Fé ) em 21 de julho de
1542, concedendo-lhe amplos e punitivos poderes de censura.
Somente depois da Paz de Cré py em 18 de setembro de 1544, encerrando a guerra entre a França e o impé rio, o
papa foi capaz de realizar o conselho geral que sempre quis. (O persistente estado de guerra entre as duas potê ncias
tornou impossı́vel para o papa organizar uma cruzada contra os turcos, que ameaçavam as costas da Itá lia e os
postos avançados cristã os no leste.) O concı́lio foi inaugurado em 13 de dezembro de 1545, em Trento , uma cidade
do norte da Itá lia recomendada pelo imperador. O papa foi representado por vá rios legados. O conselho nã o atendeu
à s expectativas dos Reformadores, que esperavam por um corpo mais representativo (incluindo alguns dos pró prios
Reformadores), ou do imperador, que pediu que limitasse sua agenda a questõ es de disciplina e reforma, para nã o
para perturbar os luteranos.
A missa de abertura do Espı́rito Santo na catedral de Trento contou com a presença de quatro cardeais, quatro
arcebispos, vinte e um bispos, cinco generais de ordens religiosas e cinquenta teó logos e canonistas. As primeiras
sete sessõ es trataram da relaçã o entre Escritura e tradiçã o, pecado original, justi icaçã o e os sete sacramentos.
Quando a tensã o renovada se desenvolveu entre o papa e o imperador, o papa usou um surto de tifo como desculpa
para mover o conselho para Bolonha, uma cidade dentro da esfera de in luê ncia papal, em 11 de março de 1547. No
entanto, o imperador objetou e proibiu os bispos alemã es e espanhó is participassem (ele també m era rei da
Espanha). Paulo III, portanto, nã o teve outra opçã o a nã o ser suspender a oitava sessã o em 1º de fevereiro de 1548
(a suspensã o nã o foi publicada formalmente até setembro do ano seguinte).
Seus ú ltimos anos foram marcados por di iculdades familiares. Em 1545, ele deu o controle de Parma e Piacenza
(entã o ducados dentro dos Estados Papais) a seu ilho indigno, Pierluigi, um inimigo do imperador. Quatro anos
depois, Pierluigi foi assassinado e o imperador Carlos V reivindicou os dois ducados para seu genro, Ottavio, que
també m era neto do papa. O papa em seu leito de morte perdoou Ottavio e ordenou que Parma fosse dado a ele.
Paulo III morreu de febre violenta em 10 de novembro de 1549, aos 81 anos, e foi sepultado na Bası́lica de Sã o
Pedro. Seu tú mulo, do aluno de Michelangelo, Giacomo della Porta, é considerado um dos melhores da bası́lica.
220 Marcellus II, 1501–55, papa de 10 de abril a 1 de maio de 1555 (a lista o icial do Vaticano começa seu ponti icado
no dia de sua eleição, 9 de abril, mas como ainda não era bispo, não poderia se tornar bispo de Roma até a
consagração no dia seguinte).
Um dos ú nicos dois papas nos tempos modernos a manter seu nome de batismo como papa (o outro foi Adriano VI
em 1522), Marcelo II morreu de derrame antes de poder implementar seu ambicioso programa de reformas.
Nascido Marcello Cervini, ele serviu como administrador de trê s dioceses italianas, cardeal-sacerdote de Santa Croce
in Gerusalemme, legado papal na corte imperial, um dos trê s co-presidentes do Concı́lio de Trento e chefe da
Biblioteca do Vaticano. Como chefe de uma comissã o de reforma estabelecida pela primeira vez por Paulo III, ele
criticou tanto o nepotismo e o estilo de vida de seu predecessor, Jú lio III, que teve de se retirar para sua diocese de
Gubbio. Poucas eleiçõ es papais foram tã o promissoras quanto à reforma. Eleito por unanimidade em 9 de abril de
1555, consagrou um bispo e foi coroado no dia seguinte (embora contra a oposiçã o do imperador), reduziu
drasticamente as despesas de sua coroaçã o e diminuiu o tamanho da Cú ria. Para evitar que o nepotismo infectasse
seu ponti icado, como fez com tantos outros antes dele, ele proibiu seus parentes de virem a Roma. Ele reuniu todos
os documentos de reforma preparados por Jú lio III com a intençã o de promulgá -los em uma ú nica bula papal.
Depois de apenas 21 dias como bispo de Roma, Marcelo morreu de um acidente vascular cerebral no dia 1º de maio
e foi enterrado simplesmente na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Ele é homenageado na Missa Papae Marcelli de
Palestrina .
229 Clemente VIII, 1536-1605, papa de 3 de fevereiro de 1592 a 3 de março de 1605 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado no dia de sua eleição, 30 de janeiro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar bispo de
Roma até a consagração em 3 de fevereiro).
O quarto papa eleito no espaço de apenas um ano e quatro meses, Clemente VIII publicou uma ediçã o corrigida da
Bı́blia Vulgata, expandiu o Indice de Livros Proibidos e aumentou a severidade da Inquisiçã o.
Nascido Ippolito Aldobrandini, ele serviu em vá rios cargos na cú ria sob Pio V (1566-1572) e Sisto V (1585-1590),
que o tornou cardeal-sacerdote no tı́tulo de San Pancrazio em 1585. Legado papal para a Polô nia em 1588-1589, ele
foi um sé rio candidato ao papado nos trê s conclaves anteriores de 1590-1591. Embora nã o fosse um favorito do
partido pró -espanhol, ele teve o apoio su iciente para ser eleito em 30 de janeiro de 1592. (Os cardeais espanhó is
haviam tentado eleger o cardeal Sartorio por aclamaçã o, ou “adoraçã o”, mas foram bloqueados pelos cardeais
Altemps, Gesualdi e Colonna, que exigiam uma eleiçã o canô nica regular.) O papa eleito foi consagrado bispo de Roma
em 3 de fevereiro e coroado em 9 de fevereiro. Ele adotou o nome de Clemente porque seu amigo Philip Neri previu
que ele o faria se tornaria papa algum dia e levaria esse nome.
Uma pessoa ascé tica que sofre de gota, Clemente VIII viveu uma vida tradicionalmente piedosa e austera, viajando
a pé todos os meses para as sete igrejas de peregrinaçã o de Roma. Ele era um amigo pró ximo de Sã o Filipe Neri
(falecido em 1595), fundador dos Oratorianos, e o cé lebre historiador Cesare Baronius (falecido em 1607) foi seu
confessor. Entre os cardeais que ele nomeou estavam o pró prio Baronius e o famoso teó logo jesuı́ta Robert
Bellarmine (m. 1621), mais tarde canonizado um santo. Por outro lado, ele gostava de exibiçõ es e era indevidamente
generoso com sua famı́lia. Embora tivesse sido um forte crı́tico do nepotismo quando ele pró prio era cardeal, ele
nomeou seus sobrinhos Cinzio e Pietro Aldobrandini para o Colé gio de Cardeais e entregou os assuntos da Igreja a
eles quase inteiramente. Ele també m nomeou um sobrinho-neto de quatorze anos para a faculdade.
Clemente VIII pelo menos tentou levar avante o movimento de reforma lançado pelo Concı́lio de Trento (1545-
1563). Ele promoveu a reforma das casas religiosas, publicou uma versã o corrigida da Bı́blia Vulgata (que
permaneceu em vigor até as traduçõ es mais recentes e crı́ticas de meados do sé culo XX) e emitiu ediçõ es revisadas
de uma sé rie de livros litú rgicos, incluindo o Pontifı́cio , o Breviá rio, o Cerimonial e o Missal Romano. No entanto, ele
també m expandiu o Indice de Livros Proibidos, incluindo a proibiçã o de todos os livros judeus. Ele aumentou a
severidade da Inquisiçã o que, durante seu ponti icado, enviou mais de trinta pessoas à fogueira, incluindo o ex-
iló sofo dominicano Giordano Bruno (1600). Mas sua preocupaçã o com a ortodoxia foi acompanhada por uma
indecisã o enervante. Assim, ele observou cuidadosamente a acirrada disputa teoló gica entre os jesuı́tas e os
dominicanos sobre a presciê ncia de Deus e a relaçã o entre graça e livre arbı́trio (Deus sabe se seremos salvos ou
nã o? Em caso a irmativo, que papel Deus desempenha no resultado? Se for um papel decisivo, que tal o nosso livre
arbı́trio?), mas nã o chegou a nenhuma conclusã o sobre o debate, mesmo depois de presidir pessoalmente a
comissã o que designou para resolver a contrové rsia.
Na á rea polı́tica, ele veio a contragosto em 1595 para reconhecer o agora cató lico Henrique IV como rei da França
e absolvê -lo da excomunhã o imposta por Sisto V dez anos antes. Isso signi icou, no entanto, que Clemente VIII teve
que aceitar o Edito de Nantes (1598) que concedeu liberdade religiosa e igualdade civil aos huguenotes protestantes.
Ao mesmo tempo, esse ato de reconhecimento de Henrique IV també m libertou o papado do domı́nio espanhol.
Clemente VIII mediou a paz entre a Espanha e a França em 1598 (o Tratado de Vervins). Ele falhou, entretanto, em
organizar uma aliança efetiva de potê ncias cristã s contra os turcos, que entã o ameaçavam a Hungria e a Austria. Suas
esperanças de conversã o de Jaime I e o retorno da Inglaterra ao rebanho cató lico també m fracassaram, assim como
seu sonho de uma restauraçã o cató lica na Sué cia.
Em relaçã o a questõ es mais diretamente eclesiá sticas, Clemente VIII endossou em 1595 propostas que foram
posteriormente aceitas pelo Sı́nodo de Brest-Litovsk (1596), segundo as quais milhõ es de Cristã os Ortodoxos na
Polô nia se uniriam à Igreja Cató lica Romana, mantendo sua liturgia. Ele nomeou Sã o Francisco de Sales (falecido em
1622) como coadjutor, entã o bispo de Genebra, para fortalecer a Contra-Reforma na Suı́ça. O ano do Jubileu que ele
proclamou para 1600 trouxe milhõ es de peregrinos a Roma. Só oitenta mil testemunharam a abertura da Porta
Santa na Bası́lica de Sã o Pedro em 31 de dezembro de 1599. Clemente VIII morreu em 3 de março de 1605 e foi
sepultado na Bası́lica de Sã o Pedro. Em 1646 seus restos mortais foram transferidos para um magnı́ ico tú mulo na
Capela Borghese (ou “Paolina”) na bası́lica de Santa Maria Maggiore (Santa Maria Maior).
238 Innocent XI, Bl., 1611-89, papa de 21 de setembro de 1676 a 12 de agosto de 1689.
Embora considerado o papa notá vel do sé culo XVII, Inocê ncio XI manifestou inclinaçõ es jansenistas e anti-jesuı́tas.
Nascido Benedetto Odescalchi, ocupou uma sé rie de nomeaçõ es no serviço papal antes de ser nomeado cardeal-
diá cono com o tı́tulo de Santi Cosma e Damiano em 1645, legado de Ferrara em 1648 e bispo de Novara em 1650.
Generoso com os pobres (ele foi chamado de “pai dos pobres”), renunciou à diocese em 1654 por causa de
problemas de saú de e viveu tranquilamente em Roma enquanto trabalhava na Cú ria. Ele icou surpreso, portanto,
quando os cardeais o elegeram depois de outro conclave dominado por facçõ es de dois meses de duraçã o. (Sua
candidatura havia sido bloqueada no conclave anterior em 1670 por causa da oposiçã o do rei Luı́s XIV da França.) O
cardeal Odescalchi aceitou a eleiçã o em 21 de setembro de 1676, somente depois que os cardeais subscreveram o
programa de reforma que ele havia proposto durante o pró prio conclave (incluindo a conclusã o do trabalho do
Concı́lio de Trento, a defesa da liberdade e dos direitos da Igreja e a defesa da Europa cristã contra os turcos
islâ micos). Ele adotou o nome de Inocê ncio XI em respeito ao papa que o criou cardeal (Inocê ncio X) e foi coroado
em 4 de outubro.
O novo papa impô s severas reduçõ es no orçamento papal e apelou para a pregaçã o evangé lica e catequese, a
estrita observâ ncia dos votos moná sticos, seleçã o cuidadosa de padres e bispos, e o recebimento frequente da
Sagrada Comunhã o. Suas tentativas de persuadir os cardeais a proibir o nepotismo terminaram em fracasso, e sua
proibiçã o dos carnavais foi ridicularizada e ignorada pelo povo. Ele era tã o ascé tico em sua vida pessoal que muitos
suspeitavam de suas inclinaçõ es jansenistas (isto é , uma abordagem rı́gida da vida moral). Nã o foi surpresa,
portanto, que ele condenou sessenta e cinco proposiçõ es laxistas em 1679 (qualquer condenaçã o do laxismo era
considerada um ataque aos jesuı́tas, os mais ferozes oponentes do jansenismo). Ele també m icou impressionado
quando um teó logo jesuı́ta, Tirso Gonzá lez de Santalla, em Salamanca (Espanha) se voltou contra o probabilismo (o
sistema moral, promovido pelos jesuı́tas, que a irmava que um cató lico poderia seguir qualquer opiniã o “prová vel”
que tivesse pelo menos uma respeitá vel teó logo em seu apoio). Em 1687, ele conseguiu a eleiçã o de Gonzá lez como
superior geral da Companhia de Jesus. Por outro lado, Inocê ncio XI recuou do apoio a Miguel de Molinos (falecido
em 1697), o quietista espanhol cujo trabalho, Guia Espiritual , promovia uma atitude de total passividade (ou
“quietude”), isto é , de deixar tudo até Deus. O Santo Ofı́cio dominado pelos jesuı́tas (anteriormente a Inquisiçã o)
persuadiu o papa a permitir que Molinos fosse preso em 1685. Inocê ncio XI entã o denunciou suas opiniõ es na bula
pastor Coelestis (1687).
Na frente polı́tica, Inocê ncio XI estava em con lito constante com o rei Luı́s XIV da França. Uma vez que o
predecessor de Inocê ncio, Clemente X, nada disse em resposta à reivindicaçã o do rei do direito de fazer nomeaçõ es
para cargos religiosos e para a renda de dioceses e abadias vagas, o clero francê s tomou o silê ncio do papa como
consentimento e se submeteu ao desejos. Quando dois bispos franceses protestaram, no entanto, Inocê ncio XI
rejeitou uma extensã o do acordo. Luı́s XIV entã o ordenou que a assemblé ia do clero se reunisse e adotasse os
quatro chamados Artigos Galicanos em 19 de março de 1682. Os Artigos negavam autoridade papal em assuntos
temporais ou sobre reis, a irmavam a superioridade dos concı́lios gerais ou ecumê nicos sobre o papa , e rea irmou
as antigas liberdades da Igreja Francesa (Galicana). Inocê ncio XI rejeitou os Artigos em 11 de abril do mesmo ano e
se recusou a rati icar a nomeaçã o dos bispos que subscreveram os Artigos. O rei pensou que o papa poderia ser
mais cooperativo por causa de sua campanha brutal (de Louis) contra os huguenotes (calvinistas) e sua revogaçã o
do Edito de Nantes em 1685. (O Edito de Nantes foi uma concessã o de tolerâ ncia aos protestantes franceses em
1598 por Rei Henrique IV.) Mas o papa, horrorizado com a desumanidade da perseguiçã o do rei aos huguenotes,
nã o se tornou mais cooperativo. Em 1687, o papa recusou-se a receber o novo embaixador francê s em Roma e, no
ano seguinte, ele rejeitou o nomeado do rei como arcebispo de Colô nia e nomeou o nomeado do imperador. Em
janeiro de 1688, havia trinta e cinco dioceses vagas na França. Naquele mesmo mê s, Inocê ncio XI informou
secretamente a Luı́s XIV que ele e seus ministros foram excomungados. Em setembro seguinte, o rei ocupou os
territó rios papais de Avignon e Venaissin e encarcerou o nú ncio papal. O cisma aberto foi evitado apenas pela
intervençã o de François Fé nelon (falecido em 1715), mais tarde arcebispo de Cambrai, e a ascensã o de Guilherme de
Orange ao trono inglê s.
Ao contrá rio da maioria dos papas antes dele, Inocê ncio XI teve maior sucesso na campanha contra os turcos. Uma
aliança organizada papal e patrocinada inanceiramente entre o imperador Leopoldo I e Joã o III Sobieski da Polô nia
libertou Viena do cerco turco (1683), e a libertaçã o da Hungria (1686) e a recuperaçã o de Belgrado (1688) se
seguiram, desta vez atravé s do esforços da Santa Liga do impé rio, que incluı́a Polô nia, Veneza e Rú ssia.
Embora os romanos se ressentissem das medidas de austeridade do papa durante sua vida, muitos o
reverenciaram apó s sua morte em 12 de agosto de 1689. Ele foi enterrado na Bası́lica de Sã o Pedro sob o altar de
San Sebastiano. Os esforços para beati icá -lo no sé culo XVIII foram suspensos por causa de objeçõ es da corte
francesa. No entanto, Inocê ncio XI foi beati icado por Pio XII em 1956. Dia da festa: 12 de agosto.
241 Clemente XI, 1649-1721, papa de 30 de novembro de 1700 a 19 de março de 1721 (a lista o icial do Vaticano
começa seu ponti icado no dia de sua eleição, 23 de novembro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar
bispo de Roma até a consagração em 30 de novembro).
O longo e ine icaz ponti icado de Clemente XI foi prejudicado por sua decisã o infeliz e contraproducente de proibir
os missioná rios na China de usar os ritos chineses, uma proibiçã o que nã o foi revogada até 1939, por Pio XII.
Nascido Giovanni Francesco Albani, ele serviu na Cú ria Romana e como governador em vá rias partes dos Estados
Papais, foi secretá rio das instruçõ es papais e foi nomeado cardeal-diá cono com o tı́tulo de Santa Maria in Portico em
1690 (ele nã o foi ordenado sacerdote por mais dez anos, pouco antes de sua elevaçã o ao papado). Foi o cardeal
Albani quem redigiu a importante bula de Inocê ncio XII, proibindo o nepotismo papal. O conclave que se seguiu à
morte de Inocê ncio XII durou quarenta e seis dias, dividido mais uma vez entre facçõ es pró -francesas e pró -
imperiais. Albani foi eleito por unanimidade em 23 de novembro de 1700, aos 51 anos, como um candidato de
compromisso com o apoio de cardeais independentes que estavam comprometidos com um papa apolı́tico. Por se
sentir inadequado para o cargo, ele nã o aceitou a eleiçã o imediatamente. Foi consagrado bispo de Roma em 30 de
novembro e coroado em 8 de dezembro. Ele adotou o nome de Clemente XI porque o dia em que aceitou a eleiçã o
era a festa de Sã o Clemente, papa e má rtir. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a Bası́lica de Latrã o, em 10 de
abril.
Por instigaçã o do rei Luı́s XIV, o novo papa desempenharia um papel fundamental na repressã o do jansenismo
(um movimento moralmente rı́gido que enfatizava o funcionamento da graça divina com a exclusã o prá tica do livre
arbı́trio humano) na França. Em 1705, ele condenou a visã o, aprovada na Sorbonne, de que era possı́vel rejeitar as
cinco proposiçõ es jansenistas censuradas por Inocê ncio X, mas permanecer em silê ncio sobre se essas proposiçõ es
estavam ou nã o realmente presentes no Augustinus de Cornelius Jansen (publicado em 1640, dois anos depois morte
do autor). Em 1708, o papa condenou um livro de re lexõ es morais de Pasquier Quesnel, um lı́der jansenista, e em 8
de setembro de 1713, em uma famosa bula intitulada Unigenitus Dei Filius , ele condenou 101 proposiçõ es
supostamente jansenistas extraı́das do livro de Quesnel. Depois que Luı́s XIV morreu em 1715, os lı́deres jansenistas
convocaram um conselho geral para lidar com a questã o de sua ortodoxia. O papa recusou o apelo e em 1718
excomungou aqueles que o apelaram. Os lı́deres jansenistas, no entanto, ignoraram a excomunhã o.
Clemente XI també m estava comprometido com o empreendimento missioná rio da Igreja. Ele promoveu missõ es
no norte da Alemanha (agora sob controle protestante), India, China e Filipinas e o estabelecimento de novos
colé gios missioná rios em Roma. Um problema especı́ ico infeccionou na missã o chinesa, no entanto. Em seu
ministé rio pastoral, os missioná rios jesuı́tas usavam ritos chineses, como o culto a Confú cio e aos ancestrais
(justi icando-os com o fundamento de que eram de natureza cı́vica), enquanto os dominicanos se opunham à prá tica.
(Alexandre VII havia aprovado o uso de ritos chineses em 1656.) Em 20 de novembro de 1704, Clemente XI aceitou
o julgamento do Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o) de que os missioná rios na China estavam proibidos de
usar ritos chineses e repetiu o julgamento em 1715 A açã o de Clemente foi desastrosa para o alcance missioná rio da
Igreja na China. Os cató licos chineses foram perseguidos e muitas missõ es foram fechadas. A açã o de Clemente nã o
foi revertida até 1939, por Pio XII.
Clemente XI nomeou setenta cardeais durante seu ponti icado, foi um patrono generoso das artes e da bolsa de
estudos, especialmente da arqueologia, e um benfeitor generoso da Biblioteca do Vaticano. Ele també m fez da festa
da Imaculada Conceiçã o (8 de dezembro) um dia sagrado universal de obrigaçã o em 1708. Embora eleito como um
papa apolı́tico, ele foi inevitavelmente arrastado para o atoleiro polı́tico, particularmente em relaçã o à complicada
questã o da sucessã o à coroa espanhola. Ele foi pego em um fogo cruzado entre aqueles que apoiavam o Bourbon,
Felipe V de Anjou, e aqueles que apoiavam os Habsburgo, o arquiduque Carlos. O papa, que inicialmente favoreceu
Filipe e depois tentou permanecer neutro, foi forçado a dar seu apoio a Carlos quando as tropas imperiais invadiram
os Estados Papais, conquistaram Ná poles e ameaçaram Roma em janeiro de 1709. A açã o do papa precipitou uma
ruptura nas relaçõ es diplomá ticas com a Espanha, e ele foi sistematicamente excluı́do de qualquer envolvimento em
decisõ es polı́ticas importantes que afetassem os interesses papais na Sardenha, Sicı́lia, Parma e Piacenza. Quando o
papa emitiu uma bula protestando contra o estabelecimento de uma monarquia siciliana, ele foi completamente
ignorado. Em 1717, ele experimentou uma humilhaçã o particularmente aguda quando uma frota espanhola que ele
havia equipado para lutar contra os turcos foi desviada para conquistar a Sardenha do impé rio.
Clemente XI faleceu em 19 de março de 1721, e foi sepultado, conforme sua vontade expressa, sob o pavimento da
Capela do Coro, na Bası́lica de Sã o Pedro. Seu coraçã o, poré m, está preservado na igreja de Santi Vincenzo e
Anastasio em Roma (junto com as entranhas de dezenas de outros papas cujos nomes estã o listados na parede do
santuá rio), enquanto outras partes de seu corpo sã o preservadas na igreja de San Francesco em sua Urbino natal.
242 Inocêncio XIII, 1655-1724, papa de 8 de maio de 1721 a 7 de março de 1724.
O curto e improdutivo ponti icado de Inocê ncio XIII foi marcado por doenças constantes e aversã o pessoal aos
jesuı́tas. Nascido Michelangelo de 'Conti (també m dei Conti ou simplesmente Conti), serviu na Cú ria Romana, ocupou
trê s governadores nos Estados Pontifı́cios, foi nú ncio na Suı́ça (e arcebispo titular de Tarso) e depois em Portugal, e
foi nomeado cardeal. sacerdote de Santi Quirico e Giulitta em 1706. Depois foi nomeado bispo de Osimo e depois de
Viterbo, renunciando a este ú ltimo por problemas de saú de. Ele foi eleito papa por unanimidade em 8 de maio de
1721, apó s um longo conclave no qual o imperador, por meio de seu delegado, o cardeal Althan, vetou o candidato
favorito, o cardeal Fabrizio Paolucci, que havia sido secretá rio de Estado de Clemente XI. (Os vetos imperiais foram
proibidos por Pio X em 1904.) O cardeal Conti adotou o nome de Inocê ncio XIII por respeito a Inocê ncio III (1198-
1216), de cuja famı́lia ele descendia. Inocê ncio XIII foi coroado pelo cardeal Pam ili (Pamphili), cardeal-diá cono
sê nior, em 18 de maio e tomou posse de sua igreja catedral, a Bası́lica de Latrã o, em 16 de novembro.
Embora educado pelos jesuı́tas em Roma, o novo papa desenvolveu uma forte aversã o à Companhia de Jesus
enquanto servia como nú ncio em Portugal. Ele até pensou em suprimir a ordem por causa da falta de conformidade
com a proibiçã o de Clemente XI (em 1704 e 1715) contra o uso de rituais chineses. Ele proibiu os jesuı́tas de aceitar
noviços, a menos que, dentro de trê s anos, tivesse provas satisfató rias de que eles estavam cumprindo a proibiçã o
papal. Mas ele també m rea irmou a condenaçã o de Clemente XI aos jansenistas, ferozes adversá rios dos jesuı́tas. De
fato, quando sete bispos franceses lhe pediram para retirar a bula Unigenitus de Clemente , Inocê ncio XIII fez com
que o Santo Ofı́cio (anteriormente a Inquisiçã o) censurasse sua petiçã o e pediu ao rei francê s que tomasse medidas
contra os bispos.
Na frente polı́tica, Inocê ncio XIII apaziguou o imperador Carlos VI investindo-o nos reinos de Ná poles e Sicı́lia (o
que Clemente XI se recusou a fazer) e aplacou o regente francê s nomeando seu ministro para o Colé gio dos
Cardeais. Por outro lado, ele nã o conseguiu dissuadir Carlos VI de reivindicar autoridade suprema sobre a Igreja na
Sicı́lia e de investir o prı́ncipe espanhol Don Carlos nos ducados de Parma e Piacenza, dois feudos tradicionalmente
papais.
Inocê ncio XIII morreu em 7 de março de 1724 e foi sepultado em uma tumba simples na Bası́lica de Sã o Pedro.
Nenhum monumento marca seu local de descanso.
247 Clemente XIV, 1705-74, papa de 28 de maio de 1769 a 22 de setembro de 1774 (a lista o icial do Vaticano começa
seu ponti icado no dia da eleição, 19 de maio, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar bispo de Roma até
a consagração em 28 de maio).
Um franciscano amigo dos jesuı́tas antes de sua eleiçã o, Clemente XIV foi o papa que inalmente cedeu à s exigê ncias
dos poderes cató licos e suprimiu a Companhia de Jesus em 1773.
Nascido Giovanni Vincenzo Antonio Ganganelli, ele adotou o nome de seu pai, Lorenzo, como seu nome religioso
ao entrar para os franciscanos. Ele foi professor de teologia, reitor do colé gio e consultor do Santo Ofı́cio (antiga
Inquisiçã o) antes de ser nomeado cardeal no tı́tulo de San Lorenzo in Panisperna (posteriormente alterado para
Santi Apostoli) em 1759 por Clemente XIII, que fez referê ncia a ele como um jesuı́ta com roupas de franciscano. Ele
foi eleito papa em 19 de maio de 1769, apó s um contencioso conclave no qual os poderes cató licos (particularmente
os monarcas Bourbon na França, Espanha, Ná poles e Parma) ameaçaram vetar um candidato pró -jesuı́ta. Os
Bourbons se alegraram. Havia trê s grupos entre os cardeais-eleitores: os que eram a favor da supressã o dos
jesuı́tas, os que se opunham à supressã o e os que eram indiferentes. As regras de sigilo estabelecidas para conclaves
por papas anteriores foram violadas. Certos cardeais mantinham comunicaçã o aberta e frequente com os
embaixadores da França e da Espanha. Havia també m uma lista de candidatos inaceitá veis a serem vetados, e todos
os cardeais foram categorizados como “muito bons”, “bons”, “ruins” ou “muito ruins”. O cardeal Branciforte, um
“grande senhor siciliano”, foi escolhido por aclamaçã o (“adoraçã o” é o termo té cnico), mas foi vetado pelos cardeais
franceses em nome da coroa. O conclave dirigiu-se ao ú nico cardeal que pertencia a uma ordem religiosa, o cardeal
Ganganelli, que teria “aparado as velas ao vento” a respeito dos jesuı́tas. Ele nã o prometeu formalmente suprimir a
ordem, mas concordou que tal ato seria canonicamente possı́vel e poderia até ter certas vantagens. Apó s a eleiçã o,
ele adotou o nome do papa (Clemente XIII) que o havia nomeado para o Colé gio dos Cardeais. Como ainda nã o era
bispo, foi consagrado bispo de Roma em 28 de maio pelo cardeal Lante, subdiano do Colé gio dos Cardeais. Ele foi
coroado em 4 de junho e tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 26 de novembro.
Durante a procissã o para a bası́lica, o papa foi jogado de seu cavalo e caiu com tanta força que nã o pô de monte seu
cavalo novamente.
O novo papa começou a se distanciar agora dos jesuı́tas de quem antes era amigo. (Na verdade, ele dedicou um de
seus livros a Santo Iná cio de Loyola, o fundador da Sociedade de Jesus, e seu prefá cio incluı́a elogios à ordem.) Ele
sabia que sua primeira tarefa seria satisfazer os poderes cató licos 'sede de sangue jesuı́ta. Na verdade, eles o
lembraram formalmente daquele negó cio inacabado em julho, dois meses apó s sua eleiçã o. Apó s um rompimento de
dez anos nas relaçõ es diplomá ticas com Portugal, Clemente XIV sanou a violaçã o enviando um nú ncio complacente e
nomeando o irmã o do implacá vel ministro portuguê s, o Marquê s de Pombal, ao Colé gio dos Cardeais (apó s a morte
do irmã o, o Papa nomeou outro amigo de Pombal) e ao con irmar oito dos nomeados de Pombal como bispos.
Na Quinta-feira Santa de 1770, Clemente XIV omitiu a leitura da famosa bula de Pio V, In coena Domini (1568), que
condenava os esforços dos Estados para exercer o controle sobre a Igreja. (Clemente XIII usou a bula para anunciar
a excomunhã o do duque de Parma em 1768, um ato que provocou o ultimato dos estados Bourbon para dissolver a
ordem dos jesuı́tas.) No entanto, Clemente XIV temporizou por quatro anos, esperando que o problema de alguma
forma resolver-se. Ele aconselhou os bispos a reter as permissõ es dos jesuı́tas para pregar ou ouvir con issõ es. Os
jesuı́tas foram removidos de seus cargos em certos colé gios nos Estados papais. Jesuı́tas exilados de Portugal foram
privados das pensõ es que lhes era atribuı́da por Clemente XIII. Mas, na primavera de 1773, os Estados Bourbon
advertiram o papa de que romperiam as relaçõ es diplomá ticas com Roma se ele nã o agisse contra os jesuı́tas. Até a
imperatriz pró -jesuı́ta Maria Teresa mudou-se para o campo neutro (mas depois da supressã o da ordem, ela
permitiu que eles permanecessem em suas casas como padres diocesanos). Em 21 de julho de 1773, o papa emitiu a
bula Dominus ac Redemptor noster , dissolvendo completamente a Companhia de Jesus e extinguindo seus 11.000
membros restantes, 266 faculdades, 103 seminá rios e 88 residê ncias. O superior geral Lorenzo Ricci e seus
assistentes na Espanha, Itá lia, Portugal, Alemanha e Polô nia foram presos no Castelo de Santo Angelo por
questionarem a decisã o.
O motivo que Clemente XIV deu para sua açã o foi que os jesuı́tas haviam incorrido em hostilidade e estavam no
centro da contrové rsia. A ordem dos jesuı́tas foi esmagada em todos os lugares, exceto na Prú ssia e na Rú ssia, cujos
soberanos, Frederico II e Catarina II, proibiram a promulgaçã o da bula papal. O sistema escolar cató lico na Europa e
o esforço missioná rio no exterior sofreram danos incalculá veis - tudo para satisfazer os interesses polı́ticos e
econô micos de governantes nominalmente cató licos. Pode-se dizer que as trinta peças de prata do papa consistiram
na devoluçã o de Avignon e Venaissin ao controle papal. (Ná poles també m restaurou Benevento e Pontecorvo, mas
em condiçõ es humilhantes.) Mas a açã o do papa nã o o conquistou muito mais do que isso. Na França, uma comissã o
real para a reforma das ordens religiosas continuou seu trabalho, suprimindo as casas religiosas sem a aprovaçã o
papal. Em Portugal, as autoridades seculares interferiram com o trabalho da Igreja e, em particular, com a educaçã o
dos jovens. Os esforços do papa para melhorar as condiçõ es econô micas nos Estados papais falharam, em grande
parte por causa da oposiçã o dos cardeais e da nobreza romana, que nã o podiam perdoar o papa por ter suprimido
a ordem jesuı́ta.
Em outro lugar na frente polı́tica, Clemente XIV falhou em impedir a divisã o da Polô nia entre a Prú ssia, a Rú ssia e a
Austria em 1772, mas ele fez movimentos politicamente astutos em relaçã o à Inglaterra ao receber membros da
famı́lia real em Roma e minimizar o apoio papal aos Stuarts cató licos exilados. Durante o ú ltimo ano, ele esteve
gravemente deprimido, em constante medo de ser assassinado e atormentado por uma doença aguda de pele.
Clemente XIV morreu em sua residê ncia de verã o, o Palá cio do Quirinale, em 22 de setembro de 1774, e foi
sepultado inicialmente na Bası́lica de Sã o Pedro. Em 1802 seus restos mortais foram transferidos para a Igreja dos
Santos Apó stolos (Santi Apostoli), onde foram sepultados em um magnı́ ico monumento de Antonio Canova.
Ironicamente, esta igreja (també m conhecida como Dodici Apostoli) está perto de duas grandes instituiçõ es jesuı́tas
em Roma: o Pontifı́cio Instituto Bı́blico e a Pontifı́cia Universidade Gregoriana. Era costume dos seminaristas
americanos que estudavam em Roma colocar lores no tú mulo de Clemente XIV depois de exames particularmente
difı́ceis administrados por seus professores jesuı́tas na Gregoriana.
O elogio de Clemente XIV nã o mencionou a supressã o dos jesuı́tas. De acordo com o historiador JND Kelly, seu
ponti icado “viu o prestı́gio do papado cair ao seu nı́vel mais baixo durante sé culos”. O grande bió grafo papal Ludwig
von Pastor o chamou de "um dos mais fracos e infelizes da longa linhagem de papas".
248 Pio VI, 1717-99, papa de 22 de fevereiro de 1775 a 29 de agosto de 1799 (a lista o icial do Vaticano começa seu
ponti icado no dia de sua eleição, 15 de fevereiro, mas ele ainda não era bispo e não poderia se tornar bispo de Roma
até a consagração em 22 de fevereiro).
Pio VI foi papa durante a Revoluçã o Francesa, que ele denunciou e pela qual Napoleã o invadiu os Estados Papais e o
prendeu. Seu foi o terceiro ponti icado mais longo da histó ria (depois de Pio IX [1846-78] e Leã o XIII [1878-1903]).
Por causa das circunstâ ncias em que ele morreu, um prisioneiro de Napoleã o Bonaparte, no exı́lio, muitos pensaram
que ele poderia ser de fato “o ú ltimo papa”.
Nascido Giovanni Angelo Braschi, ilho de pais aristocrá ticos de recursos modestos, ele serviu como secretá rio do
cardeal Antonio Ruffo em vá rios cargos diferentes e, em seguida, como secretá rio particular de Bento XIV (1740-
1758). Ele nã o foi ordenado sacerdote até 1758, aos quarenta e um anos. Foi nomeado tesoureiro da câ mara
apostó lica em 1766 (responsá vel pelas inanças dos Estados papais) e cardeal-sacerdote com o tı́tulo de Sant
'Onofrio em 1773 por Clemente XIV. Ele foi eleito papa no conclave de 134 dias apó s a morte de Clemente XIV,
porque foi considerado pró -jesuı́ta pelos cardeais pró -jesuı́tas e anti-jesuı́ta pelos cardeais anti-jesuı́tas. Ele tinha
cinquenta e sete anos de idade e adotou o nome de Pio porque tinha uma devoçã o particular a Sã o Pio V (1566-
1572). Foi consagrado bispo de Roma e coroado em 22 de fevereiro. Em 30 de novembro, tomou posse da igreja
catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o.
O novo papa era afetado pelas partes externas de seu cargo e gostava de protocolos desatualizados. Ele reviveu a
prá tica do nepotismo papal, concedendo somas substanciais a seus parentes e construindo o Palazzo Braschi para
seu sobrinho. Ele també m gastou grandes quantias na sacristia de Sã o Pedro e no Museu Pio-Clementino, na reforma
de estradas e na (malsucedida) drenagem dos pâ ntanos Pontinos - todos os quais levaram à falê ncia o tesouro.
Sem qualidades especiais de intelecto ou dom para a diplomacia, seus primeiros anos foram marcados por vá rios
reveses polı́ticos. Ná poles recusou-se a reconhecê -lo como senhor feudal, apesar das demandas persistentes do
papa, e reivindicou para seu rei o direito de apresentar nomeados episcopais para dioceses. No impé rio, José II
absorveu o espı́rito do febronismo e do Iluminismo, concedendo total tolerâ ncia a todas as religiõ es, limitando a
intervençã o papal aos assuntos espirituais, proibindo seus bispos de solicitar dispensas a Roma, exigindo que os
candidatos ao sacerdó cio diocesano izessem seu curso de Estado faculdades e sujeitando a Igreja ao estado. Em
1781, o imperador promulgou um é dito de tolerâ ncia que suprimiu certas ordens religiosas e transferiu certos
mosteiros da jurisdiçã o papal para a episcopal. Pio VI viajou para Viena em 1782 (o primeiro papa a deixar Roma
desde 1533, quando Clemente VII viajou a Marselha para casar sua sobrinha neta com o ilho do rei Francisco I)
para dissuadir o imperador de seu curso. Embora o imperador tenha recebido o papa com cortesia, o papa nã o teve
sucesso em mudar a opiniã o de José II. Quando, quatro anos depois, o papa tentou estabelecer uma nunciatura em
Munique, os arcebispos alemã es se opuseram a ele, insistindo que eles poderiam dirigir sua pró pria Igreja sem
interferê ncia papal. O espı́rito do febronianismo (agora chamado de Jose inismo) se espalhou até mesmo pela Itá lia
quando a Toscana, liderada pelo irmã o do imperador, anunciou planos para tornar a igreja local independente de
Roma. O Sı́nodo de Pistoia (setembro de 1786) adotou os quatro Artigos Galicanos de 1682 (declarando a Igreja
Francesa independente de Roma na maioria dos assuntos) e isentou os bispos locais da autoridade papal. O papa
acabou pedindo ao bispo que presidia o sı́nodo que renunciasse e, em 28 de agosto de 1794, condenou formalmente
85 dos artigos de Pistó ia. Sobre a questã o dos jesuı́tas, Pio VI tentou agradar os monarcas Bourbon colocando
alguma pressã o sobre Frederico II da Prú ssia e Catarina II da Rú ssia (nenhum dos quais eram cató licos romanos),
onde os jesuı́tas ainda loresciam em desa io à declaraçã o de supressã o de Clemente XIV. Mas o papa falhou aqui
també m. Catarina estabeleceu um noviciado para os jesuı́tas em 1780. Diz-se que o papa aprovou tacitamente a
presença contı́nua dos jesuı́tas na Rú ssia.
Mas o evento que lançou a sombra mais escura sobre seu ponti icado foi a Revoluçã o Francesa. No inı́cio, o papa
foi cauteloso, embora considerasse a revoluçã o um ato de rebeliã o contra uma ordem social sancionada por Deus e
uma conspiraçã o contra a Igreja. Ele nã o disse nem fez nada quando, em 12 de julho de 1790, a Constituiçã o Civil do
Clero reorganizou a Igreja francesa e tornou o clero funcioná rios assalariados do estado. Mas no ano seguinte ele
denunciou o juramento de lealdade que o novo regime impô s ao clero e condenou a Constituiçã o Civil, bem como a
Declaraçã o dos Direitos do Homem (1789). Ele declarou sacrı́legas as ordenaçõ es dos novos bispos do estado e
suspendeu os padres, bispos e abades que haviam feito o juramento civil. As relaçõ es diplomá ticas entre a França e a
Santa Sé foram imediatamente rompidas, e a França anexou os enclaves papais de Avinhã o e Vê nassin, onde os
cidadã os já haviam se levantado contra a continuaçã o da soberania papal ali. A Igreja francesa dividiu-se entre os
simpá ticos à Revoluçã o e os leais à monarquia. Pio VI nã o ajudou em nada quando deu apoio a uma aliança,
conhecida como Primeira Coalizã o, contra a nova França e recebendo calorosamente numerosos monarquistas em
Roma e nos Estados Pontifı́cios. Quando Napoleã o Bonaparte ocupou Milã o na primavera de 1796, os franceses
exigiram que o papa retirasse sua condenaçã o à Constituiçã o Civil e à revoluçã o. O papa recusou. Napoleã o entã o
invadiu os Estados Papais e derrotou as forças do papa. Pela Paz de Tolentino (1797), Pio VI foi obrigado a pagar
uma indenizaçã o enorme, entregar manuscritos e obras de arte valiosos e ceder porçõ es substanciais dos Estados
Papais à França, incluindo Ferrara, Bolonha e Romanha.
As coisas, poré m, foram de mal a pior. Um general francê s foi morto durante um motim em Roma e o Diretó rio (os
lı́deres revolucioná rios em Paris) ordenou a ocupaçã o dos Estados Papais. O general Louis Berthier entrou em Roma
em 15 de fevereiro de 1798, proclamou a Repú blica Romana, depô s Pio VI como chefe de estado e forçou-o a se
retirar para a Toscana. Ele viveu vá rios meses em Florença, isolado de quase todos os seus assessores, mas usando
seu nú ncio em Florença como secretá rio de Estado. Quando a guerra estourou novamente, o Diretó rio estava
preocupado que as tropas tentassem resgatar o papa, entã o eles o transferiram de Florença em 28 de março de
1799, para Turim, depois atravé s dos Alpes para Briançon (30 de abril), e entã o para Valence (13 de julho).
Pio VI morreu prisioneiro em Valence aos 81 anos em 29 de agosto de 1799 e foi sepultado no cemité rio local
com uma inscriçã o simples: “O corpo de Pio VI, supremo pontı́ ice. Reze por ele." Sua morte provocou muitas
expressõ es de tristeza em todo o mundo, e houve funerais pú blicos realizados em paı́ses que nã o estavam sob o
controle ou in luê ncia do Diretó rio em Paris. Seus restos mortais foram transferidos para a Bası́lica de Sã o Pedro em
Roma em fevereiro de 1802 e posteriormente transferidos para a cripta da bası́lica em 1983. Muitos pensaram que o
papado havia inalmente chegado ao im com sua morte, que Pio VI era de fato “o ú ltimo papa, ”Mas ele havia
deixado instruçõ es cuidadosas para a realizaçã o do pró ximo conclave em condiçõ es de emergê ncia.
A TRANSIÇAO PARA UM PAPACY MODERNO EM meados do sé culo XIX ocorreu principalmente atravé s da perda dos Estados
Papais, um evento que Pio IX (1846-1878) interpretou na é poca como gravemente hostil à Igreja, mas que, na
verdade, permitiu à Igreja, pela primeira vez em sé culos, redirecionar todas as suas energias para sua missã o
espiritual e, assim, elevar a autoridade moral do papado a nı́veis até entã o raramente atingidos. Ironicamente, o
primeiro dos papas modernos foi o menos moderno de todos. O ponti icado de Pio IX foi o mais longo da histó ria:
cerca de trinta e um anos, sete meses e vinte e um dias. Foi Pio IX quem de iniu o dogma da Imaculada Conceiçã o em
1854 e chamou o Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70), que de iniu a primazia e a infalibilidade do papa. Ele també m
publicou o famoso “Syllabus of Errors” em 1864 que colocou a Igreja e o papado em con lito com a maioria dos
principais desenvolvimentos do mundo moderno, incluindo o princı́pio do consentimento dos governados. Embora
ele tenha sido eleito como um progressista moderado em 1846, como um alı́vio bem-vindo de seu predecessor
extremamente conservador, Gregó rio XVI (1831 a 1846), turbas romanas tentaram jogar o corpo de Pio IX no rio
Tibre apó s sua morte.
Como Pio IX foi o papa reinante mais longo da histó ria e criou a maioria dos cardeais eleitores, de acordo com a
sabedoria convencional, ele deveria ter sido sucedido por outro conservador. Em vez disso, ele foi sucedido por um
progressista moderado, Leã o XIII (1878–1903), o primeiro papa do sé culo XX. Leã o XIII també m foi o primeiro papa
a tentar seriamente trazer a Igreja ao mundo moderno. Ele abriu os arquivos do Vaticano aos estudiosos, com um
sentimento expresso de con iança de que a Igreja nada tem a temer da verdade. Ele apoiou a pesquisa bı́blica e deu
pelo menos uma aprovaçã o provisó ria aos novos movimentos democrá ticos. Sua encı́clica mais famosa, Rerum
novarum (lat., “Das coisas novas”), publicada em 1891, ainda é uma referê ncia histó rica no campo da teologia moral e
da é tica social. As encı́clicas papais subsequentes sobre a questã o social (relaçõ es trabalho-gestã o, justiça social,
papel do governo, direitos humanos, relaçõ es internacionais, paz mundial) sempre se situaram em relaçã o a essa
encı́clica. Assim, o nome da encı́clica Quadragesimo anno de Pio XI (“Depois de quarenta anos”) deriva do fato de ter
sido publicada em 1931, quarenta anos depois da Rerum novarum de Leã o XIII . A carta apostó lica Octogesima
adveniens (“O octogé simo ano”) de Paulo VI foi publicada em 1971, oitenta anos apó s a Rerum novarum . E a encı́clica
Centesimus annus de Joã o Paulo II (“O centé simo ano”) foi lançada em 1991 para marcar o centená rio da encı́clica de
Leã o XIII. Durante o ponti icado de Leã o XIII, houve també m uma vasta expansã o missioná ria da Igreja.
Embora Leã o XIII tenha sido o segundo ponti icado mais longo da histó ria, o pê ndulo oscilou mais uma vez de
moderado a conservador no conclave papal apó s a morte de Leã o XIII em 1903. Leã o XIII reinou por tanto tempo
que um cardeal exclamou: “Pensei que havı́amos eleito um Santo Padre, nã o um Pai Eterno! ” No entanto, os cardeais
elegeram algué m muito diferente de Leã o em perspectivas teoló gicas, espirituais e polı́ticas. Pio X (1903-1914) mais
uma vez assumiu a causa de enfatizar os direitos da Igreja contra as autoridades temporais, bem como a urgê ncia de
manter a pureza da doutrina cató lica. Este ú ltimo ele cumpriu com um juramento contra o modernismo e um
processo vigoroso, e à s vezes cruel, dos suspeitos de heresia (o que era de inido de forma ampla e freqü entemente
imprudente). Do lado mais benigno, Pio X, que foi canonizado santo por Pio XII em 1954, é lembrado també m como
o papa que reduziu a idade para a recepçã o da Primeira Comunhã o para a "idade de discriçã o (ou razã o)", ou
aproximadamente sete anos.
O pê ndulo papal balançou novamente em 1914, no momento em que a Primeira Guerra Mundial estava
estourando. Os cardeais nã o selecionaram outro homem como Pio X, mas se voltaram para um moderado, Bento XV
(1914-22), que imediatamente pediu o im dos amargos con litos internos entre tradicionalistas e progressistas na
Igreja. Bento XVI foi, por sua vez, sucedido por um papa autoritá rio, Pio XI (1922-39), que se opunha fortemente ao
comunismo na Rú ssia e ao nazismo na Alemanha, mas apoiava o fascismo na Espanha. Ele també m condenou a
contracepçã o e concluiu o Tratado de Latrã o com Mussolini, estabelecendo o Estado da Cidade do Vaticano como
uma entidade polı́tica independente. Ele foi o primeiro papa a usar o rá dio como meio de comunicaçã o.
Embora igualmente oposto ao comunismo, o sucessor de Pio XI, Pio XII (1939-58), provou ser um papa
geralmente mais progressista do que Pio XI. Pio XII tinha sido secretá rio de Estado de Pio XI, e sua experiê ncia
diplomá tica fez dele o candidato inevitá vel enquanto a Europa e o resto das naçõ es se preparavam para mais uma
guerra mundial. Apesar da terrı́vel distraçã o daqueles anos de guerra, Pio XII promoveu a renovaçã o dos estudos
bı́blicos endossando os mé todos da erudiçã o crı́tica moderna, a renovaçã o da liturgia por meio de uma maior
participaçã o dos leigos e a renovaçã o da teologia da Igreja por meio ê nfase na Igreja como o Corpo Mı́stico de Cristo,
com cada membro dando sua pró pria contribuiçã o distinta para o trabalho missioná rio e ministerial do Corpo. Pio
XII també m de iniu o dogma da Assunçã o da Bem-Aventurada Virgem Maria ao cé u (1950), proclamou um Ano
Mariano (1954) e promoveu a devoçã o à relatada apariçã o Mariana de Fá tima, em Portugal. Infelizmente, o
preconceito pró -alemã o do pró prio papa (ele serviu lá como nú ncio na dé cada de 1920 e gostava genuinamente do
povo alemã o e de sua cultura) parece tê -lo tornado menos sensı́vel à terrı́vel ameaça representada por Adolf Hitler e
seu movimento nazista e para o Holocausto perpetrado pelos nazistas contra os judeus. Havia també m um lado
reacioná rio nele, semelhante ao de Pio X, em sua atitude para com a teologia moderna. Ele condenou a chamada
nova teologia na França (embora trê s futuros cardeais fossem iguras de destaque) e permitiu que o Santo Ofı́cio
(anteriormente a Inquisiçã o), sob a liderança do Cardeal Alfredo Ottaviani, perseguisse alguns dos teó logos mais
ilustres da Igreja quem estaria entre os futuros formadores dos documentos do Concı́lio Vaticano II: Yves Congar, OP;
Karl Rahner, SJ; Henri de Lubac, SJ; Jean Danié lou, SJ; MD Chenu, OP; John Courtney Murray, SJ; e muitos outros.
(Congar, Danié lou e de Lubac foram posteriormente nomeados cardeais.) Ao mesmo tempo, ao aumentar o nú mero
de bispos nativos na Asia e na Africa e internacionalizar o Colé gio de Cardeais, Pio XII preparou o caminho para um
concı́lio ecumê nico verdadeiramente global, Vaticano II, que foi o acontecimento religioso mais importante do sé culo
XX e um dos mais importantes de todo o segundo milê nio cristã o. Ele foi o primeiro papa a usar a televisã o como
meio de comunicaçã o pastoral.
E o Concı́lio Vaticano II (1962-65) que separa o primeiro conjunto de papas modernos, começando com Pio IX, do
segundo, começando com Joã o XXIII (1958-63), talvez o maior papa de todos os tempos depois de Sã o O pró prio
Pedro (na medida em que o Abençoado Apó stolo pode ser considerado um papa em qualquer sentido estritamente
teoló gico).
O NE SO TEM DE ESTUDAR COM ALGUM CUIDADO E detalhar a histó ria do papado de dois mil anos da Igreja Cató lica para
perceber quã o singularmente importante foi o ponti icado de Joã o XXIII (1958-63), eleito aos setenta anos -seis, um
mê s antes de seu septuagé simo sé timo aniversá rio. Alé m do pró prio apó stolo Pedro, nã o houve nenhum outro papa
como Joã o XXIII. Em um perı́o do de menos de cinco anos, ele quase sozinho transformou a Igreja Cató lica de um
corpo clericalista, moná rquico, nã o ecumê nico e teologicamente rı́gido em uma comunidade de igualdade radical em
Cristo - leigos, religiosos e clé rigos - aberta ao diá logo e colaboraçã o com outras comunidades cristã s e nã o cristã s,
com nã o crentes e com o mundo em geral. Ele o fez principalmente pela força de seu pró prio exemplo pessoal - tã o
diferente em estilo de seu antecessor indiferente e autoritá rio, Pio XII - e da maneira autenticamente pastoral com
que exerceu o ministé rio petrino: humilde, gentil, compassivo e sempre com calor humor. O mecanismo institucional
dessa transformaçã o da Igreja foi o Concı́lio Vaticano II (1962-65), que Joã o XXIII concebeu, convocou e convocou e
que seu sucessor, Paulo VI (1963-78), conduziu até a conclusã o.
Paulo VI foi o primeiro papa na histó ria a viajar de aviã o como papa (Pio XII o izera quando ainda era cardeal).
Até Joã o Paulo II (1978–2005), Paulo VI foi o papa mais viajado da histó ria, visitando paı́ses a milhares de
quilô metros de Roma. Embora progressista em teologia, pensamento social e perspectiva pastoral, o ponti icado de
Paulo VI foi infelizmente ofuscado por sua encı́clica divisiva e amplamente rejeitada, condenando todas as formas de
controle arti icial da natalidade. Ele icou tã o angustiado com a reaçã o negativa à Humanae vitae (1968) que jurou
nunca mais escrever outra encı́clica. E, de fato, Paulo VI nã o emitiu nenhum outro durante os dez anos restantes de
seu ponti icado.
Paulo VI foi sucedido - sem surpresa - por um homem muito diferente dele em personalidade. Joã o Paulo I, no
entanto, teria um dos ponti icados mais curtos de toda a histó ria, cumprindo apenas 33 dias antes de morrer
repentinamente de ataque cardı́aco. Apesar da brevidade de seu ponti icado, Joã o Paulo I fez histó ria por dois
motivos, um trivial, o outro signi icativo: ele foi o primeiro papa na histó ria a ter um nome duplo (em respeito a seus
dois predecessores imediatos, Joã o XXIII e Paulo VI), e ele foi o primeiro papa em pelo menos mil anos a dispensar a
tradicional cerimô nia de coroaçã o com a tripla tiara apó s sua eleiçã o (a im de enfatizar a natureza pastoral e
ministerial do papado). Em vez disso, ele foi investido com o pá lio de um arcebispo, uma vestimenta de lã usada ao
redor do pescoço como um sı́mbolo de autoridade pastoral.
Quando, apó s a morte repentina de Joã o Paulo I, os cardeais foram chamados à s pressas de volta a Roma para
outra eleiçã o papal, eles estavam determinados a eleger algué m jovem e vigoroso o su iciente para cuidar do cargo.
No inı́cio, eles olharam, como de costume, para a lista de candidatos italianos. Mas quando icou claro que os
italianos nã o conseguiam chegar a um acordo entre si, eles se afastaram da minoria italiana no Colé gio dos Cardeais
e elegeram o primeiro papa eslavo da histó ria e o primeiro papa nã o italiano desde Adriano VI (1522-1523), o
cardeal polonê s Karol Wojty a, arcebispo de Cracó via. Joã o Paulo II rapidamente se estabeleceu como o papa mais
viajado da histó ria, superando o notá vel recorde de Paulo VI. Por meio de suas muitas viagens ao exterior, suas
apariçõ es na televisã o e itas de vı́deo, suas muitas encı́clicas e alocuçõ es e seus livros, ele també m se tornou o papa
mais conhecido por seus contemporâ neos em toda a histó ria. Embora comprometido em princı́pio com a renovaçã o
e reformas do Concı́lio Vaticano II, do qual ele pró prio participou como bispo, Joã o Paulo II dedicou grande parte de
seu ponti icado à contençã o de ideias progressistas que considerava perigosas para a vida e a fé da Igreja. Por essa
razã o, alguns se referem a seu ponti icado como restauracionista, isto é , comprometido com a restauraçã o de grande
parte do catolicismo pré -Vaticano II, especialmente sua centralizaçã o de poder no Vaticano e seu foco na autoridade
e personalidade do pró prio papa. Outros, poré m, estã o igualmente convencidos de que ele é um dos grandes papas
de todos os tempos, conduzindo a Igreja com coragem e sem comprometer as verdades fundamentais para um novo
sé culo e um novo milê nio.
Mais atençã o detalhada é dada aqui na Parte VII do que em qualquer outra parte do livro ao processo pelo qual
esses papas modernos foram eleitos para o papado. A negociaçã o e negociaçã o, a construçã o de coalizõ es, a
formulaçã o de estraté gias e o bloqueio de um candidato ou outro considerado inaceitá vel para um determinado
grupo de cardeais sã o todos parte do drama de um conclave papal e dos eventos que levaram a ele. Eles també m
reforçam o ponto de que o papado é uma instituiçã o muito humana e polı́tica, assumida de maneiras muito humanas
e polı́ticas. Tudo o que acontece em conexã o com uma eleiçã o papal nã o pode ser simplesmente, e ingenuamente,
atribuı́do à obra do Espı́rito Santo.
259 João XXIII, 1881–1963, papa de 28 de outubro de 1958 a 3 de junho de 1963.
Talvez o papa mais amado de toda a histó ria, Joã o XXIII convocou o Concı́lio Vaticano II (1962-65) e colocou a Igreja
Cató lica em um novo rumo pastoral, enfatizando o papel dos leigos, a colegialidade dos bispos, a fé autê ntica e
bondade de cristã os nã o cató licos e nã o cristã os, e a dignidade de todos os seres humanos.
Nascido Angelo Giuseppe Roncalli, o terceiro de treze ilhos de uma famı́lia de camponeses, foi ordenado em 1904
e tornou-se secretá rio de seu bispo em Bé rgamo, ao mesmo tempo que lecionava histó ria da Igreja no seminá rio
diocesano. Ele serviu como ordenança do hospital conscrito durante a Primeira Guerra Mundial e depois como
capelã o militar. Em 1921, Bento XV o nomeou diretor nacional da Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé . Por causa
de seu interesse pela histó ria, especialmente por Sã o Carlos Borromeo (m. 1584), e suas pesquisas na Biblioteca
Ambrosiana de Milã o, o Padre Roncalli chamou a atençã o de seu bibliotecá rio, Achille Ratti, o futuro Pio XI (1922-39
) Foi Ratti, depois de ser eleito papa, quem lançou Angelo Roncalli na carreira diplomá tica na Igreja, nomeando-o
arcebispo titular de Areó polis e visitante apostó lico (1925) e depois delegado apostó lico (1931) na Bulgá ria e
delegado apostó lico na Turquia e Gré cia ( 1934). Na Turquia, ele estabeleceu relaçõ es amigá veis nã o apenas com o
governo, mas també m com as igrejas ortodoxas. Durante a ocupaçã o alemã da Gré cia (1941-44), ele fez o que pô de
para aliviar a a liçã o do povo e, em particular, para evitar a deportaçã o de judeus. Ele foi nomeado nú ncio na França
em 22 de dezembro de 1944, onde lidou com tato com uma sé rie de problemas difı́ceis, incluindo o ressentimento
em relaçã o aos bispos que haviam colaborado com o regime pró -nazista de Vichy (ele convenceu trê s bispos a
renunciar) e os trabalhadores movimento sacerdotal (que ele apoiou). Ele també m serviu, enquanto nú ncio na
França, como o primeiro observador permanente do Vaticano na Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Educaçã o, a
Ciê ncia e a Cultura (UNESCO) por dezenove meses em 1951 e 1952. Em 1953 foi nomeado cardeal com o tı́tulo de
Santa Prisca e o patriarca de Veneza, onde, alé m de suas funçõ es pastorais, completou o quinto e ú ltimo volume de
sua coleçã o de documentos de Sã o Carlos Borromeu.
Apó s a morte de Pio XII, havia cinquenta e um cardeais que se reuniram para o conclave que elegeria um sucessor,
dos quais dezoito eram italianos. (Os cardeais Mindszenty da Hungria e Stepinac da Iugoslá via nã o eram livres para
deixar seus paı́ses controlados pelos comunistas, e o cardeal Mooney de Detroit morreu repentinamente pouco
antes do inı́cio do conclave em 25 de outubro.) Embora apenas um mê s antes de seu septuagé simo sé timo
aniversá rio , o afá vel e jovial cardeal Roncalli foi considerado por muitos o candidato mais prová vel a ser eleito. Ele
també m reconheceu a possibilidade. (A inal, havia vinte e quatro cardeais no conclave mais velhos do que o pró prio
Roncalli.) Apesar de suas origens humildes, Roncalli tinha ampla experiê ncia diplomá tica, era altamente culto e era
pro iciente em francê s, bú lgaro, russo, turco e grego moderno. Os cardeais (mais uma vez!) Procuravam algué m
diferente do papa morto, a quem consideravam indiferente e autocrá tico. Em seu discurso formal em nome de todos
os cardeais, pouco antes do inı́cio do conclave, o cardeal Antonio Bacci disse que a Igreja precisava de "um papa
dotado de grande força espiritual e ardente caridade", um homem que possa "abraçar o Oriente e o Igreja Ocidental
", um homem que" pertencerá a todos os povos ", especialmente aqueles que vivem sob opressã o ou na pobreza, um
homem capaz de construir" uma ponte entre todos os nı́veis da sociedade, entre todas as naçõ es - mesmo aqueles
que rejeitam e perseguem o cristã o religiã o." Em outras palavras, algué m diferente de Pio XII.
Embora o segredo do conclave de 1958 tenha sido bem guardado, há pistas a serem lidas em vá rias fontes,
incluindo o Journal of a Soul, publicado postumamente pelo pró prio Joã o XXIII . Ele observou que o conclave oscilou
para frente e para trá s ao longo de trê s dias e que ele "se alegrou quando vi as chances de eu ser eleito diminuir e a
probabilidade de outras pessoas, em minha opiniã o, pessoas verdadeiramente mais venerá veis e dignas, serem
escolhidas". Ao inal do primeiro dia, Roncalli tinha vinte votos e o cardeal Gregory Peter Agagianian, um armê nio
que havia trabalhado na Cú ria Romana por muitos anos e era odiado por seus companheiros cató licos de rito
oriental em Roma por nã o ter contato com o catolicismo oriental , tinha dezoito. Dois votos foram dados para um
nã o cardeal, o arcebispo Giovanni Battista Montini de Milã o (o futuro Paulo VI). Diz-se que o pró prio Roncalli deu um
desses votos a Montini. O cardeal Giacomo Lercaro de Bolonha, considerado o candidato mais progressista, tinha
apenas quatro (provavelmente escolhidos pelos cardeais alemã es), assim como o cardeal Valerio Valeri. Em qualquer
caso, os cardeais nã o italianos viam Agagianian como mais romano do que oriental, portanto, mesmo que eles
pudessem estar dispostos a um papa nã o italiano, ele nã o era o homem deles. Joã o XXIII mais tarde admitiu, em uma
palestra trê s meses depois no Colé gio Armê nio em Roma, que seu nome e o de Agagianian "subiam e desciam como
dois grã os-de-bico em á gua fervente". Na hora do almoço do segundo dia, depois de mais duas votaçõ es, o conclave
chegou a um impasse. A essa altura, Lercaro havia dado seus votos a Roncalli. Embora o cardeal Eugene Tisserant
(falecido em 1972), decano do Colé gio de Cardeais e prefeito da Congregaçã o para as Igrejas Orientais, fosse
fortemente a favor de um papa nã o italiano, ele mudou seu apoio de Agagianian para o cardeal Benedetto Masella.
Nesse ponto, Roncalli pode ter caı́do para quinze votos ou algo parecido. Mais duas cé dulas e a fumaça continuava
negra. Nenhum papa foi eleito. No inı́cio do dia seguinte, 28 de outubro, Roncalli tinha trinta e quatro votos, ainda
aqué m dos dois terços necessá rios. O cardeal Ottaviani, temido chefe do Santo Ofı́cio, estava agora do lado de
Roncalli e trouxe consigo uma sé rie de votos que haviam sido dados a Masella. Mas ainda foram necessá rias mais
trê s votaçõ es para levar Roncalli aos trinta e oito votos necessá rios - na dé cima primeira votaçã o.
Ele adotou o nome de Joã o XXIII (també m havia um antipapa com o nome de Joã o XXIII, durante o Grande Cisma
Ocidental do sé culo XV) por uma sé rie de razõ es diferentes: era o nome de seu pai; era o nome da igreja paroquial
onde foi batizado; e era o nome de vá rias catedrais em todo o mundo, incluindo a catedral do pró prio papa, Sã o Joã o
de Latrã o. O novo papa apontou que Joã o era o nome mais freqü entemente usado pelos papas ao longo da histó ria,
e que quase todos tiveram breves ponti icados! Ele també m explicou que amava o nome de Joã o porque era usado
pelos dois homens mais pró ximos de Jesus: Joã o Batista e Joã o Evangelista. Chamava-se Joã o, disse inalmente aos
cardeais, para renovar a exortaçã o do apó stolo Joã o de que nos amemos uns aos outros.
Ele deu sua primeira bê nçã o papal da varanda externa central, ou loggia, da Bası́lica de Sã o Pedro, onde foi
recebido com grande alegria pela multidã o reunida. Pela primeira vez na histó ria, a bê nçã o foi televisionada. Joã o
XXIII foi coroado em 4 de novembro, festa de Sã o Carlos Borromeu. Na missa da coroaçã o, em que ele pró prio
pregou (ao contrá rio da tradiçã o), insistiu que queria ser, acima de tudo, um bom pastor. Mais tarde, quando tomou
posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 23 de novembro, ele lembrou à congregaçã o que
ele nã o era um prı́ncipe cercado por sinais de poder exterior, mas “um padre, um pai, um pastor." Ele provou ser iel
à sua palavra. Naquele Natal, por exemplo, ele reviveu o costume, extinto desde a ocupaçã o de Roma em 1870, de
visitar os presos de Regina Coeli (onde relembrou a prisã o de um de seus pró prios parentes) e os pacientes de um
dos hospitais. Ele també m fez visitas frequentes à s paró quias de sua diocese, bem como outros hospitais, casas de
convalescença para idosos e instituiçõ es educacionais e de caridade. Todos os dias ele celebrava o que entã o era
conhecido como uma missa de diá logo (isto é , com respostas da congregaçã o). Na Quinta-feira Santa, ele lavou os
pé s de membros selecionados da congregaçã o, e na Sexta-feira Santa ele fez a procissã o da cruz. Mais do que
qualquer outro papa desde os primeiros sé culos, ele reconheceu que era, antes de tudo, o bispo de Roma. Seu
exemplo sem dú vida in luenciou Joã o Paulo II (1978–2005), que o levou a nı́veis ainda mais amplos de prá tica.
Em seu primeiro consistó rio (ou assemblé ia) de cardeais, Joã o XXIII aboliu a regra, estabelecida por Sisto V (1585-
1590), limitando o nú mero má ximo de cardeais a setenta e nomeou vinte e trê s novos cardeais para o Colé gio de
Cardeais. Ele també m abandonou as antigas distinçõ es entre cardeais-bispos, cardeais-sacerdotes e cardeais-
diá conos. Doravante, todos os cardeais teriam de ser ou tornar-se bispos. Em 1962, depois de mais quatro
consistó rios, ele aumentou o nú mero total para oitenta e sete (mais trê s cujos nomes nã o foram revelados porque
estavam em naçõ es controladas pelos comunistas), com uma composiçã o mais internacional do que nunca na
histó ria. Em 25 de janeiro de 1959, ele propô s trê s projetos: um sı́nodo diocesano para Roma (seria realizado em
janeiro seguinte na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, mas sem muito sucesso perceptı́vel), uma revisã o do Có digo de
Direito Canô nico (ele criou uma comissã o pontifı́cia para a revisã o do có digo em 1963, mas seu trabalho nã o seria
inalmente concluı́do até 1983 sob Joã o Paulo II), e um concı́lio ecumê nico (Vaticano II, iniciado em outubro de 1962
e concluı́do sob seu sucessor, Paulo VI) . Ele atribuiu a ú ltima ideia a uma inspiraçã o repentina do Espı́rito Santo e se
referiu ao conselho como um "novo Pentecostes".
Joã o XXIII deixou claro em seu discurso de abertura ao concı́lio que nã o havia sido convocado, como os concı́lios
anteriores, para refutar erros e esclarecer pontos de doutrina. “A substâ ncia da antiga doutrina do depó sito da fé é
uma coisa”, disse ele, “e a maneira como é apresentada é outra. E é este ú ltimo que deve ser levado em consideraçã o
com paciê ncia, se necessá rio, sendo tudo medido nas formas e proporçõ es de um magisté rio predominantemente
pastoral ”. Ele reconheceu que a Igreja havia punido com muita severidade os que erraram no passado, mas insistiu
que hoje “a Esposa de Cristo prefere fazer uso do remé dio da misericó rdia ao invé s do da severidade. Ela considera
que atende à s necessidades dos dias atuais, demonstrando a validade de seu ensino, e nã o por meio de condenaçõ es
”. O meio mais e icaz de erradicar a discó rdia e de promover a harmonia, a paz e a unidade, disse ele, é espalhar em
todos os lugares "a plenitude da caridade cristã ". O discurso de abertura, um dos pronunciamentos mais importantes
em todo o seu ponti icado, colocou Joã o XXIII em oposiçã o direta à s iguras proeminentes da Cú ria Romana que
sustentavam uma visã o mais autoritá ria, defensiva e punitiva da Igreja. “No exercı́cio diá rio de nosso ofı́cio”,
observou ele, “à s vezes temos que ouvir, com grande pesar, vozes de pessoas que, embora ardendo em zelo, nã o sã o
dotadas de muito senso de discriçã o ou medida. Nestes tempos modernos, eles nã o podem ver nada alé m de
prevaricaçã o e ruı́na. Dizem que a nossa era, em comparaçã o com outras eras, está piorando e se comportam como
se nada tivessem aprendido com a histó ria, que é , no entanto, a mestra da vida. Eles se comportam como se na é poca
dos concı́lios anteriores tudo fosse um triunfo completo para a idé ia e a vida cristã e para a liberdade religiosa
adequada. Sentimos que devemos discordar daqueles profetas das trevas, que estã o sempre prevendo desastres,
como se o im do mundo estivesse pró ximo. Na ordem atual das coisas, a Providê ncia Divina está nos conduzindo a
uma nova ordem das relaçõ es humanas que, por nossos pró prios esforços e mesmo alé m de nossas pró prias
expectativas, se dirigem ao cumprimento dos desı́gnios superiores e inescrutá veis de Deus. E tudo, mesmo as
diferenças humanas, conduzem ao bem maior da Igreja ”. Em uma palavra italiana, que ele mesmo nos deu, o
propó sito do conselho era o aggiornamento , uma atualizaçã o da Igreja. A metá fora que ele empregou foi a de uma
janela fechada repentinamente aberta "para deixar entrar um pouco de ar fresco". Nã o nascemos para ser
"guardiã es de museus", disse ele uma vez, "mas para cultivar um pró spero jardim da vida".
Observadores o iciais de dezoito igrejas cristã s nã o cató licas estiveram presentes a convite na abertura do concı́lio.
Embora o pró prio papa nã o tenha participado das sessõ es, ele interveio decisivamente em 21 de novembro de 1962,
para determinar que um documento teologicamente rı́gido sobre a revelaçã o, rejeitado por mais da metade do
concı́lio, mas sem os necessá rios dois terços dos votos, deveria ser redigido por uma nova comissã o mista de bispos.
Ele suspendeu a primeira sessã o do conselho em 8 de dezembro, mas nunca viveria para ver a abertura da segunda
sessã o em setembro seguinte. Ele já estava sofrendo de um câ ncer terminal no estô mago, diagnosticado
originalmente em 23 de setembro de 1962. Ele disse a um amigo: “Pelo menos eu lancei este grande navio - outros
terã o que trazê -lo para o porto”.
Suas encı́clicas re letiam o tom pastoral e ecumê nico de seu ponti icado. Ad Petri Cathedram (lat., “Para a Cá tedra
de Pedro,” 29 de junho de 1959), sobre os temas da verdade, unidade e paz, saudou os nã o cató licos como “irmã os
separados”. Mater et magistra (“Mã e e professora”, 15 de maio de 1961), lançado no septuagé simo aniversá rio da
revolucioná ria encı́clica social de Leã o XIII, Rerum novarum (1891), atualizou o ensino social cató lico sobre a
propriedade, os direitos dos trabalhadores e as obrigaçõ es do governo. Ela atingiu um equilı́brio entre os princı́pios
da subsidiariedade (ou seja, nada deve ser feito por uma agê ncia superior que possa ser feito tã o bem, se nã o
melhor, por uma agê ncia inferior) e a socializaçã o (ou seja, “a crescente interdependê ncia dos cidadã os na sociedade
”Exigindo agê ncias superiores, especialmente governamentais, para atender à s necessidades que de outra forma nã o
poderiam ser atendidas por agê ncias inferiores ou voluntá rias). As ideias da encı́clica eram tã o progressistas que um
proeminente escritor conservador cató lico americano replicou: “ Mater, si! Magistra, não! ”(“ Mã e, sim! Professora,
nã o! ”). Pacem in terris (“Paz na Terra”, 11 de abril de 1963), publicada menos de dois meses antes de sua morte,
insistia que o reconhecimento dos direitos e responsabilidades humanos é a base da paz mundial. Muitos viram essa
encı́clica e outros gestos contemporâ neos (por exemplo, receber em audiê ncia o genro do primeiro-ministro
sovié tico Nikita Khrushchev) como sinais de que o papa nutria a esperança de uma eventual reconciliaçã o entre o
Ocidente e o Oriente comunista. Antes, durante a crise dos mı́sseis cubanos, em 25 de outubro de 1962, ele havia
transmitido uma mensagem pela Rá dio Vaticano aos chefes de Estado, pedindo a ambos os lados que tivessem
cautela. No dia seguinte, o jornal sovié tico Pravda publicou uma citaçã o do endereço em uma manchete: “Imploramos
a todos os governantes que nã o sejam surdos ao clamor da humanidade”. Já foi dito que o apelo de Joã o XXIII
possibilitou a Khrushchev recuar sem perder prestı́gio. O evento també m encorajou o papa a escrever sua cé lebre
encı́clica sobre a paz, Pacem in terris , publicada na primavera seguinte. Recebeu o Prê mio da Paz da Fundaçã o
Balzan Internacional em 1962, com a concordâ ncia dos quatro membros sovié ticos do conselho geral da fundaçã o e,
portanto, com a aprovaçã o do pró prio Nikita Khrushchev. Em 1963, apó s sua morte, ele foi premiado com a Medalha
Presidencial da Liberdade dos Estados Unidos.
Nenhum papa na histó ria foi tã o comprometido com a unidade cristã como Joã o XXIII. Em 5 de junho de 1960, ele
estabeleceu o Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos Cristã os, com o venerá vel estudioso da Bı́blia, Cardeal
Augustin Bea (falecido em 1968) como seu primeiro presidente. Ele recebeu formalmente o Arcebispo de
Canterbury, Geoffrey Fisher, em 20 de dezembro de 1960 (o primeiro primaz anglicano a ser assim recebido). Ele
també m enviou dois enviados a Istambul (antiga Constantinopla) para transmitir suas saudaçõ es ao Patriarca
Ecumê nico Atená goras I em 27 de junho de 1961, e trocou saudaçõ es com o Patriarca Alexis de Moscou. Em
novembro de 1961, cinco observadores cató licos o iciais compareceram, com a aprovaçã o do papa, ao Conselho
Mundial de Igrejas, reunido em Nova Delhi. No que diz respeito aos judeus, a quem ele havia ajudado durante a
Segunda Guerra Mundial enquanto um diplomata na Gré cia, ele removeu a ofensiva "pé r ida" da oraçã o pelos judeus
na liturgia da Sexta-feira Santa, e em uma ocasiã o saudou um grupo de visitantes judeus com as palavras, "Eu sou
Joseph, seu irmã o."
Joã o XXIII fez sua ú ltima apariçã o pú blica da janela de seu apartamento na quinta-feira da Ascensã o, 23 de maio
de 1963. Ao meio-dia entoou a oraçã o Regina Coeli (Rainha dos Cé us) com voz ainda musical e forte. Os aplausos da
multidã o na Praça de Sã o Pedro foram tã o fortes que ele quase foi impedido de dar sua bê nçã o. Os dias seguintes
foram cheios de dor, mas o papa permaneceu consciente e comunicativo, fazendo declaraçõ es que foram
transmitidas ao redor do mundo, atraindo a comunidade humana global para uma solidariedade sem precedentes.
Ele orou pelo conselho e pela unidade - nã o apenas da Igreja, mas de toda a humanidade. “Nã o é que o evangelho
tenha mudado”, disse ele, “é que começamos a entendê -lo melhor”. Quando Joã o XXIII morreu na noite de 3 de junho
de 1963, o mundo inteiro reagiu com profunda dor, tã o profundamente ele tocou o coraçã o de toda a comunidade
humana. Até a Union Jack foi reduzida a meio mastro na cidade terrivelmente dividida de Belfast. Joã o XXIII foi
sepultado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro, onde uma guia turı́stica italiana disse certa vez sua festa: “Este é o
tú mulo do Papa Joã o XXIII, o papa mais amado de toda a histó ria”. E entã o ele foi o papa mais amado da histó ria. Na
Igreja primitiva, ele teria sido imediatamente proclamado santo por demanda popular. E entã o ele era um santo.
260 Paulo VI, 1897–1978, papa de 21 de junho de 1963 a 6 de agosto de 1978.
Paulo VI deu continuidade ao Concı́lio Vaticano II iniciado por Joã o XXIII e se tornou o primeiro papa a viajar ao
redor do globo de aviã o. Embora progressista na teologia e no pensamento social, seu ponti icado foi marcado pela
malfadada encı́clica Humanae vitae , que condenava a contracepçã o.
Nascido Giovanni Battista Montini, ilho de um advogado e polı́tico bem-sucedido, ele foi ordenado em 1920
depois de fazer seus cursos de seminá rio em casa devido a problemas de saú de. Apó s a pó s-graduaçã o em Roma,
serviu desde 1922 na Secretaria de Estado, com um breve perı́o do como adido na nunciatura de Varsó via (1923) e
contemporaneamente como capelã o do movimento estudantil cató lico (1924-1933). Em 1937 foi nomeado assistente
do secretá rio de Estado, cardeal Eugenio Pacelli (o futuro Pio XII), para assuntos internos da Igreja. Depois que o
primeiro e ú nico secretá rio de Estado de Pio XII, o cardeal Luigi Maglione, morreu em 1944, Monsenhor Montini foi
colocado como encarregado dos assuntos internos da Igreja. Ele foi o grande responsá vel pela organizaçã o do Ano
Santo de 1950 e do Ano Mariano de 1954. Foi promovido a pró -secretá rio de Estado em 1952 (Pio XII atuou como
seu pró prio secretá rio de Estado apó s 1944), apó s recusar sua nomeaçã o para o Colé gio de Cardeais.
Em meio a rumores de que de alguma forma havia caı́do em desgraça em Roma, Monsenhor Montini foi nomeado
arcebispo de Milã o em novembro de 1954. (Os rumores ganharam cré dito pela longa demora entre sua nomeaçã o
para Milã o e a concessã o do chapé u vermelho do cardeal .) Ele se autodenominou “o arcebispo operá rio” e se
dedicou a enfrentar os numerosos problemas pastorais, sociais e industriais de Milã o. Foi nomeado cardeal com o
tı́tulo de Santi Silvestro e Martino ai Monti por Joã o XXIII em 15 de dezembro de 1958. Seu nome estava no topo da
lista de vinte e trê s novos cardeais. O cardeal Montini fez sua segunda visita aos Estados Unidos em 1960 (a primeira
foi em 1951), onde recebeu um tı́tulo honorá rio, ao lado do presidente Dwight D. Eisenhower, da Universidade de
Notre Dame. Embora ele tenha falado apenas duas vezes na primeira sessã o do Concı́lio Vaticano II (outono de
1962), o cardeal Montini foi um de seus lı́deres nos bastidores.
Joã o XXIII morreu em 3 de junho de 1963. O conclave para eleger seu sucessor seria o maior da histó ria. Oitenta e
um cardeais podiam votar, desde que pudessem chegar a Roma. Cinquenta e sete eram europeus (dos quais 29 eram
italianos). Doze cardeais eram da Amé rica Latina, sete da Amé rica do Norte, trê s da Asia, dois da Oceania e um
solitá rio da Africa. Os cardeais dividiram-se em dois grupos: os que queriam mudar o curso progressivo do concı́lio
e os que queriam que o projeto de Joã o XXIII fosse levado a bom termo. O candidato deste ú ltimo grupo era
claramente o cardeal Montini, com algum apoio també m para o cardeal Giacomo Lercaro de Bolonha. O porta-voz
pú blico do primeiro grupo era o cardeal espanhol Arcadio Larraona, amigo do ditador fascista Generalı́ssimo
Francisco Franco (m. 1975) e campeã o romano do Opus Dei, um movimento secreto de direita que se opõ e a todas
as iniciativas progressistas do conselho . O candidato desse grupo era o cardeal Giuseppe Siri, de Gê nova, criado
cardeal aos quarenta e cinco anos por Pio XII. Embora tenha apoiado a eleiçã o de Joã o XXIII em 1958, ele agora
considerava seu ponti icado um desastre, dizendo que levaria quatro sé culos para a Igreja se recuperar dele.
Mas os conservadores exageraram no inı́cio. O discurso tradicional sobre a eleiçã o de um novo papa, dado por um
cardeal pouco antes do conclave, deveria fornecer uma descriçã o do trabalho do novo papa. Amleto Tondini, um
latinista cujo tı́tulo o icial era Secretá rio de Resumos Latinos, atacou Joã o XXIII em seu discurso. Ele lançou dú vidas
sobre os aplausos entusiá sticos que Joã o XXIII havia recebido de todo o mundo. Ele veio, ele perguntou, "de pessoas
que eram verdadeiros crentes que aceitaram todos os ensinamentos dogmá ticos e morais da Igreja?" Ele zombou do
otimismo do papa morto e ofereceu uma visã o sombria e apocalı́ptica do mundo, conclamando os cardeais a
"a irmar sem incertezas os sagrados dogmas da fé cató lica, refutar os erros contrá rios ao dogma, defender
abertamente aqueles que sofrem perseguiçã o por por uma questã o de justiça. ” Ele deu a entender que o novo papa
deveria suspender o concı́lio até que as questõ es amadurecessem. Ao atacar Joã o XXIII, é claro, Tondini e seus
aliados conservadores estavam realmente atacando Montini. Mas no Siri eles nã o tinham uma alternativa con iá vel.
Entã o Siri mudou seu apoio ao cardeal Ildebrando Antoniutti, prefeito da Congregaçã o dos Religiosos. Os
conservadores nã o esperavam realmente que Antoniutti vencesse, mas esperavam bloquear Montini dos dois terços
necessá rios para a eleiçã o.
As duas primeiras votaçõ es na manhã de 20 de junho sugeriram que a estraté gia poderia dar certo. Montini
recebeu cerca de trinta votos, enquanto Antoniutti estava na faixa dos vinte. Lercaro també m tinha cerca de vinte. Os
dez restantes foram espalhados entre vá rios candidatos. O azarã o da Cú ria, o cardeal Francesco Roberti, teve o
su iciente para marcá -lo como um possı́vel candidato de compromisso se Antoniutti vacilasse. O cardeal Leo Josef
Suenens, de Malines-Bruxelas, Bé lgica, um dos lı́deres do conselho, pediu aos apoiadores de Lercaro que mudassem
para Montini. Mas a terceira votaçã o foi tã o inconclusiva quanto as duas primeiras. Entã o aconteceu algo tã o notá vel
e memorá vel que o segredo tradicional do conclave foi posteriormente quebrado para contar a histó ria. O cardeal
Gustavo Testa, chefe da Congregaçã o para as Igrejas Orientais e um homem que Joã o XXIII fez cardeal em 1959,
estava sentado entre o cardeal Carlo Confalonieri e o cardeal Albert Di Jorio. De repente, ele perdeu a paciê ncia. Ele
disse a seus dois vizinhos em voz alta o su iciente para que outros ouvissem que deveriam parar com suas manobras
desonrosas e pensar no bem da Igreja. O cardeal Siri "bateu no teto". Testa, acusou ele, quebrou as regras. Nã o
deveria haver discussã o na Capela Sistina.
Apó s a “intervençã o” de Testa, a quarta votaçã o foi realizada. Montini obteve mais alguns votos, mas ainda estava
substancialmente aqué m dos cinquenta e quatro mais um necessá rios para a eleiçã o (Pio XII havia mudado a regra
de longa data de dois terços para dois terços mais um). A essa altura, alguns dos cardeais da Cú ria haviam admitido
seu pró prio fracasso em apresentar uma candidatura alternativa con iá vel e concluı́ram que deveriam apoiar
Montini. Até o velho cã o de guarda da ortodoxia, o cardeal Ottaviani, gostava de Montini pessoalmente e
provavelmente aceitou o argumento pragmá tico. O cardeal Siri, entretanto, rejeitou e pediu que Antoniutti fosse
dispensado em favor do cardeal Roberti. Na manhã seguinte, 21 de junho, apó s uma quinta votaçã o indecisa,
Montini, aos 65 anos, inalmente obteve a maioria de dois terços necessá ria para a eleiçã o: cinquenta e sete na sexta
votaçã o, ou dois a mais do que o necessá rio. E signi icativo que cerca de vinte e dois a vinte e cinco cardeais
(principalmente italianos e principalmente na Cú ria) se recusaram a votar em Montini, mesmo quando sua eleiçã o
estava assegurada.
O papa recé m-eleito escolheu o nome Paulo VI como um sinal de que ele queria alcançar os gentios modernos
(isto é , o mundo inteiro), como o apó stolo Paulo havia feito. Mas seu modelo como papa nã o seria Joã o XXIII; seria
Pio XII, com quem tanto trabalhara na Secretaria de Estado. Na verdade, quando alguns dos padres conciliares,
incluindo o in luente cardeal Suenens, propuseram que Joã o XXIII fosse proclamado santo pelo concı́lio, Paulo VI
resistiu à idé ia, para que tal açã o nã o re letisse mal em Pio XII. Em novembro de 1965, com imparcialidade
caracterı́stica, Paulo VI anunciou o inı́cio de procedimentos que olham para a beati icaçã o e canonizaçã o de ambos
John XXIII e Pio XII. Paulo VI foi coroado em 30 de junho de 1963, proferindo uma alocuçã o em nove lı́nguas. Ele foi
o ú ltimo papa a ser coroado. Mais tarde, ele vendeu a tiara ao cardeal Francis Spellman (falecido em 1967), de Nova
York, e distribuiu o dinheiro aos pobres em vá rios paı́ses. (A tiara está agora em exibiçã o na Bası́lica do Santuá rio
Nacional da Imaculada Conceiçã o em Washington, DC) Depois disso, ele usou apenas a mitra do bispo habitual como
cocar cerimonial. O novo papa tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 10 de
novembro.
Nove anos depois de sua eleiçã o, Paulo VI escreveu: “Talvez o Senhor me chamou para este serviço, nã o porque eu
tenha aptidã o para isso, ou para que eu possa governar e salvar a Igreja em suas di iculdades atuais, mas para que
eu possa sofrer algo por a Igreja para que ique claro que é o Senhor, e nã o ningué m mais, que a guia e salva ”. A
abordagem de Paulo VI para sua eleiçã o contrastou com a de um de seus sucessores, Joã o Paulo II, que considerou
sua eleiçã o um sinal da mã o providencial de Deus nã o apenas sobre a Igreja, mas també m sobre a Polô nia e toda a
Europa e o mundo.
Paulo VI anunciou imediatamente que continuaria o conselho (abriu a segunda sessã o em 29 de setembro), levaria
adiante a revisã o do Có digo de Direito Canô nico e trabalharia pela promoçã o da paz e da justiça na ordem temporal
e pela unidade dos a famı́lia cristã de igrejas. Ele admitiu leigos como auditores do conselho (as mulheres seriam
convidadas no ano seguinte) e convidou as vá rias igrejas cristã s nã o cató licas a enviarem mais observadores. Em 4
de janeiro de 1964, fez uma viagem de aviã o sem precedentes à Terra Santa, onde se encontrou com o patriarca
ecumê nico Atená goras I em Jerusalé m. Em 6 de setembro, ele anunciou que mulheres leigas e religiosas seriam
convidadas para o conselho como auditores. A terceira sessã o, no entanto, terminou com muitos dos lı́deres do
conselho desmoralizados. O concı́lio aprovou a Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja ( Lumen gentium ), que
continha a doutrina da colegialidade, ou seja, o princı́pio de que os bispos participam do governo da Igreja universal
em colaboraçã o com o papa. Os conservadores se opunham veementemente a essa doutrina, argumentando que ela
contradizia a estrutura divinamente estabelecida da Igreja, na qual o papa é o sucessor de Pedro e, por esse fato, o
cabeça incontestá vel da Igreja. Em um esforço para apaziguar os conservadores, Paulo VI autorizou o acré scimo de
um apê ndice ao texto (tecnicamente, uma nota praevia; lat., “Nota introdutó ria”) assegurando aos conservadores que
nada no documento diminuı́a ou de alguma forma comprometia o supremo. autoridade do papa. O Papa també m
proclamou, por conta pró pria e contra o melhor julgamento da maioria dos bispos, que a Bem-Aventurada Virgem
Maria é a Mã e da Igreja.
Durante o recesso, Paulo VI voou para Bombaim para o Congresso Eucarı́stico Internacional (2 a 5 de dezembro
de 1964). Durante a quarta sessã o, ele voou para Nova York (4 de outubro de 1965) para implorar pela paz nas
Naçõ es Unidas. O discurso, feito em francê s, continha as palavras poderosas, “ Jamais plus la guerre! Jamais plus la
guerre! ”(“ Guerra nunca mais! ”). Antes da missa conciliar em 7 de dezembro de 1965, foi lida uma declaraçã o
conjunta do papa e do patriarca Atená goras deplorando os aná temas mú tuos lançados nas igrejas uns dos outros
em Constantinopla em 1054 e o cisma que resultou. No dia seguinte, Paulo VI con irmou solenemente todos os
decretos do Concı́lio e proclamou um Jubileu extraordiná rio (1 de janeiro a 29 de maio de 1966) para re lexã o e
renovaçã o à luz do Concı́lio.
A difı́cil tarefa de implementar esses decretos agora enfrentava o papa. Embora muitos tenham icado
descontentes com as mudanças, Paulo VI nã o as atenuou. Ele estabeleceu vá rias comissõ es pó s-conciliares e
autorizou o uso do verná culo na missa e nos sacramentos. Uma nova Ordem da Missa entrou em vigor com sua
aprovaçã o em 1969, para grande desgosto dos cató licos conservadores que erroneamente acreditavam que o Missal
de Pio V (1566-1572) nunca poderia ser suplantado, como se fosse de alguma forma divinamente mandatado para
todos Tempo. Ele també m aprovou uma nova Liturgia das Horas (Ofı́cio Divino, ou Breviá rio), novas traduçõ es e
revisõ es de outros textos litú rgicos e rituais, e restaurou o diaconato permanente no Rito Romano. Ele reduziu o
jejum eucarı́stico para uma hora antes da recepçã o da Sagrada Comunhã o. Ele reorganizou a Cú ria Romana e
con irmou como secretariados permanentes o Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos Cristã os, o
Secretariado para as Religiõ es Nã o Cristã s e o Secretariado para os Nã o Crentes. Ele teve um encontro o icial em
Roma com o Arcebispo de Canterbury, Michael Ramsey, em 24 de março de 1966, e com o Patriarca Ecumê nico
Atená goras I em Istambul em 25 de julho de 1967, e novamente em Roma em 26 de outubro de 1967. A im de
render permanente a estrutura do conselho, ele decretou em 15 de setembro de 1965, que sı́nodos mundiais de
bispos deveriam se reunir em Roma em intervalos regulares para tratar de questõ es pastorais de grande interesse
para a Igreja universal, como o sacerdó cio, a catequese e a famı́lia, e oferecer oportunidades de colaboraçã o entre os
bispos do mundo e o Bispo de Roma. (O Có digo de Direito Canô nico revisado de 1983 prevê a estrutura,
responsabilidades e poderes do sı́nodo nos câ nones 342-48.)
As encı́clicas de Paulo VI eram poucas e mescladas. Seu primeiro em 1964, Ecclesiam Suam (lat., "Sua Igreja"),
destacou que a Igreja deve estar sempre pronta para corrigir seus pró prios defeitos por meio da reforma e que
deve ser marcada pelo espı́rito e pela prá tica do diá logo: entre todos os cató licos , com outras igrejas cristã s, com
religiõ es nã o-cristã s e com a comunidade humana em geral. No ano seguinte, poré m, ele lançou uma encı́clica
conservadora, Mysterium idei (“Misté rio da fé ”), na qual rea irmou o ensino neo-escolar tradicional sobre a
presença real de Cristo na Eucaristia contra algumas novas interpretaçõ es, baseadas em uma visã o de mundo
ilosó ica diferente, que havia sido proposta por certos teó logos holandeses e outros. Em 1967 publicou a Populorum
progressio (“Sobre o progresso dos povos”), que destacava e deplorava a distâ ncia entre as naçõ es ricas e pobres e
lembrava aos leitores que os bens da terra sã o destinados por Deus para todos. O “novo nome para a paz”, disse ele,
“é desenvolvimento”. Mas trê s meses depois ele emitiu Sacerdotalis caelibatus (“celibato sacerdotal”), rea irmando a
tradiçã o do celibato obrigató rio para padres cató licos romanos. No mê s de junho seguinte, ele emitiu um Credo do
Povo de Deus de orientaçã o tradicional e, no mê s seguinte, a fatı́dica encı́clica sobre o controle da natalidade,
Humanae vitae ("Da vida humana"), que declarou que todo ato sexual dentro do casamento deve esteja aberto à
transmissã o da vida. Em outras palavras, nã o pode haver meios arti iciais de contracepçã o. A encı́clica criou uma
tempestade de protestos em todo o mundo, mas especialmente na Amé rica do Norte e na Europa. Muitos estavam
cientes das descobertas e recomendaçõ es da Comissã o Papal de Controle de Natalidade em 1966; a saber, que o
papa deve mudar o ensino, reconhecendo que nosso entendimento da lei natural amadureceu. Havia uma
expectativa generalizada, portanto, de que o papa aceitaria essa recomendaçã o e modi icaria o ensino tradicional.
Quando ele nã o o fez, houve um profundo choque e decepçã o. Algumas açõ es punitivas foram tomadas contra
dissidentes pú blicos, mas a maioria discordou discretamente e na privacidade de suas pró prias casas. Pesquisa apó s
pesquisa mostrou, desde o inı́cio, que mais de 80% dos casais cató licos ignoraram a encı́clica. A reaçã o de Paulo VI
icou tã o abalado que jurou nunca mais publicar uma encı́clica, e nã o o fez.
Haveria outros documentos papais, entretanto, mesmo que nã o fossem chamados de encı́clicas. Dois dos mais
importantes foram Octogesima adveniens (conhecido pelo tı́tulo em inglê s como “A Call to Action”), lançado em 1971
por ocasiã o do octogé simo aniversá rio da encı́clica social Rerum novarum de Leã o XIII (1891), e Evangelii nuntiandi
(“On Evangelizaçã o no mundo moderno ”), publicada em 1975, por ocasiã o do im de um Ano Santo, o dé cimo
aniversá rio do encerramento do Vaticano II e o aniversá rio da Terceira Assembleia Geral do Sı́nodo dos Bispos, que
tinha focado sobre evangelizaçã o. Alguns consideram este ú ltimo documento o melhor de seu ponti icado.
Relacionava o processo de evangelizaçã o (literalmente, a proclamaçã o do evangelho) à preocupaçã o permanente da
Igreja com as questõ es de justiça social, direitos humanos e paz. A evangelizaçã o, escreveu Paulo VI, proclama a
vinda do reino de Deus como forma de libertaçã o “do pecado e do Mal”, mas també m de toda forma de opressã o
econô mica, social e polı́tica. Embora seja da essê ncia da missã o da Igreja evangelizar, ela deve começar “sendo ela
pró pria evangelizada”.
Embora a encı́clica do controle da natalidade tenha lançado uma sombra sobre seu ponti icado, Paulo VI
empreendeu muitas outras iniciativas pastorais antes e depois do lançamento da encı́clica. Ele viajou para Portugal e
Turquia (1967), para Bogotá , Colô mbia (1968), para Genebra (para discursar no Conselho Mundial de Igrejas) e
para Uganda (1969), e para a Asia, ilhas do Pacı́ ico e Austrá lia (1970). Durante esta ú ltima peregrinaçã o, ele
escapou de uma tentativa de assassinato em Manila. Em 1968, ele instituiu a celebraçã o anual do Dia Mundial da Paz
em 1º de janeiro. Elevou Santa Teresa de Avila (m. 1582) e Santa Catarina de Sena (falecida em 1380) ao status de
Doutores da Igreja, o primeiro mulheres para serem reconhecidas e canonizadas oitenta e quatro santos, incluindo
dois americanos: Elizabeth Ann Bayley Seton (falecida em 1821) e John Nepomucene Neumann (falecida em 1860).
Ele ixou a idade de aposentadoria para padres e bispos em setenta e cinco (embora ele pró prio nã o se aposentasse
com essa idade) e decretou que cardeais com mais de oitenta anos nã o deveriam participar dos negó cios da Cú ria
Romana ou nas eleiçõ es papais e que o o nú mero má ximo de cardeais eleitores nã o poderia ultrapassar 120. Ele
convocou e presidiu quatro sı́nodos internacionais de bispos e continuou o exemplo de Joã o XXIII de ampliar e
internacionalizar o Colé gio de Cardeais. Em 1976, tinha 138 membros, dos quais os italianos constituı́am uma
pequena minoria.
No ú ltimo ano de sua vida, Paulo VI foi profundamente abalado pelo sequestro e assassinato de seu amigo Aldo
Moro, ex-primeiro-ministro da Itá lia e proeminente lı́der democrata-cristã o. Sua ú ltima apariçã o pú blica foi para
presidir o funeral de Moro na bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o. Ele morreu de ataque cardı́aco em Castel Gandolfo em
6 de agosto de 1978 e foi enterrado na cripta da Bası́lica de Sã o Pedro. Ele havia planejado seu pró prio funeral e, à
maneira tı́pica italiana, prestou muita atençã o ao gesto ( igura ) e ao sı́mbolo. Seu caixã o icava ao nı́vel do solo,
encimado nã o por uma tiara, nem mesmo por uma mitra ou estola, mas pelo livro aberto dos Evangelhos,
tremulando na brisa leve na Praça de Sã o Pedro.
262 João Paulo II, polonês, b. 1920, papa de 16 de outubro de 1978 a 2 de abril de 2005.
O primeiro papa eslavo da histó ria e o primeiro nã o italiano desde Adriano VI (1522-1523), Joã o Paulo II foi o papa
mais viajado da histó ria. Embora comprometido com o Concı́lio Vaticano II (1962-65), do qual participou como
bispo, seu ponti icado foi dedicado à contençã o e até mesmo à repressã o das interpretaçõ es e implementaçõ es
progressistas do concı́lio. Enquanto alguns o caracterizaram como o primeiro papa pó s-moderno, outros
descreveram seu ponti icado como restauracionista, isto é , aquele que buscava restaurar o estilo mais moná rquico
do papado, com toda autoridade efetiva centrada no Vaticano.
Nascido Karol Wojty a em Wadowice, Polô nia, em uma famı́lia de recursos modestos, ele era um estudante
universitá rio, entã o trabalhador braçal, durante a ocupaçã o nazista de sua terra natal. Ele estudou secretamente
para o sacerdó cio durante a Segunda Guerra Mundial e foi ordenado em 1946. Ele obteve seu doutorado em
teologia na Angelicum (Universidade de St. Thomas) em Roma em 1948, escrevendo uma dissertaçã o sobre Sã o Joã o
da Cruz (d . 1591) sob a direçã o de um dos teó logos mais conservadores de Roma, Reginald Garrigou-Lagrange, OP
(m. 1964). Ele serviu como pá roco na Polô nia de 1948 a 1951, depois retornou à Universidade Jagiellonian em
Cracó via para estudar iloso ia, publicando uma tese em 1960 sobre o iló sofo Max Scheler. Durante esses anos, ele
ensinou é tica social no seminá rio local e em 1956 foi nomeado professor de é tica na Universidade de Lublin. Dois
anos depois, foi nomeado bispo auxiliar de Cracó via por Pio XII. Em 30 de dezembro de 1963, Paulo VI o nomeou
arcebispo de Cracó via e, trê s anos e meio depois (26 de junho de 1967), nomeou-o cardeal com o tı́tulo de San
Caesareo al Palatino. O cardeal Wojty a tomou posse de sua igreja titular em Roma em 21 de fevereiro de 1968. Ele
tinha sido um membro relativamente ativo do Concı́lio Vaticano II (1962-65) e serviu em vá rias funçõ es em ó rgã os
pó s-conciliares, incluindo os sı́nodos mundiais de bispos. Apesar do controle comunista da Polô nia, o cardeal Wojtya
pô de viajar livre e freqü entemente ao redor do mundo: para o congresso eucarı́stico na Filadé l ia em 1976, para o
Oriente Mé dio, Africa, sul e leste da Asia e Austrá lia. Em 1976, a convite de Paulo VI, deu o retiro quaresmal ao papa
e à famı́lia papal. Seus discursos foram publicados posteriormente em inglê s em 1979 sob o tı́tulo Sign of
Contradiction . (Ele já havia publicado um livro sobre sexualidade humana em 1960 intitulado Amor e
responsabilidade , que chamou a atençã o de Paulo VI.)
Quando Joã o Paulo I morreu repentinamente em 28 de setembro de 1978, depois de apenas 33 dias como papa,
os cardeais que retornaram rapidamente a Roma, virtualmente em estado de choque, agora procuravam eleger
algué m com vigor fı́sico para suportar as exigê ncias do cargo . A discussã o pú blica antes da abertura do conclave
centrou-se no ultraconservador cardeal Giuseppe Siri, de Gê nova, de setenta e dois anos, provavelmente como
resultado de um esforço bem orquestrado em seu nome na imprensa conservadora italiana. Uma coalizã o de
cardeais de centro, incluindo Leo Josef Suenens (Bé lgica), Bernard Alfrink (Holanda), Franz Koenig (Austria), Narciso
Jubany Arnau (Espanha), Vicente Enrique y Tarancó n (Espanha), François Marty (França), Paulo Evaristo Arns
(Brasil), Aloı́sio Lorscheider (Brasil), e outros, concordaram em apoiar o Cardeal Giovanni Benelli de Florença, com
um apoio de Luciani (Joã o Paulo I) se Benelli vacilasse. Eles estavam pensando em algué m como o cardeal Ugo
Poletti, o vigá rio de Roma. Mas outros membros da coalizã o, especialmente os brasileiros, sentiram que este pode
ser o momento para um nã o italiano e que se Benelli fracassasse, eles deveriam seguir nessa direçã o. Entre os
nomes nã o italianos discutidos estavam Jan Willebrands, da Holanda, chefe do Secretariado para a Promoçã o da
Unidade dos Cristã os, e Karol Wojty a, arcebispo de Cracó via. Koenig, em particular, estava interessado em Wojty a,
e pensava-se que o cardeal John Krol, da Filadé l ia, era capaz de dar votos americanos a ele. Os alemã es també m
apoiavam Wojty a como o ú nico nã o italiano que podiam apoiar. Eles gostaram de sua dureza diante dos
comunistas, de sua inteligê ncia e charme e de seu pragmatismo polı́tico. Achava-se que eles poderiam trazer muitos
dos cardeais do Terceiro Mundo que dependiam dos alemã es para o sustento inanceiro de suas igrejas. O cardeal
Lorscheider també m era fortemente favorá vel ao cardeal polonê s, mas por razõ es diferentes das alemã s. Ele
apreciou os discursos de Wojty a nos sı́nodos mundiais de bispos, sua atençã o à s diferentes culturas e naçõ es, seu
compromisso com a evangelizaçã o e sua sensibilidade para as questõ es de justiça social. Lorscheider, junto com
Koenig, tornou-se um dos grandes eleitores do conclave, instando seus companheiros cardeais do Terceiro Mundo a
apoiarem o cardeal Wojty a. (Ele viria a perceber, alguns anos apó s a eleiçã o, que ele e o cardeal Wojty a realmente
compartilhavam muito menos posiçõ es do que ele pensava na é poca do conclave.) Embora o cardeal Siri de Gê nova
nã o tivesse uma chance realista de ganhar dois -terceiros dos votos mais um, ele destruiu totalmente qualquer
chance que ele teve com uma entrevista in lamada que ele conduziu com a Gazetta del Popolo . Na entrevista, ele
zombou da doutrina do Vaticano II da colegialidade episcopal e falou veementemente contra a democratizaçã o da
Igreja. A entrevista nã o deveria ser publicada antes que os cardeais tivessem sido selados no conclave, mas o
embargo foi quebrado e os cardeais-eleitores perceberam a tempo.
Ao inal da primeira votaçã o, em 15 de outubro, o cardeal Siri estava na frente, mas na dé cada de trinta, muito
aqué m dos cinquenta votos que seus apoiadores esperavam. O cardeal Benelli nã o icou muito atrá s, també m na
dé cada de trinta. Outros italianos tiveram blocos de votos substanciais: Corrado Ursi de Ná poles, Ugo Poletti de
Roma e Giovanni Colombo de Milã o. Wojty a teve cinco votos. Na segunda votaçã o, Siri caiu cerca de seis votos,
enquanto Benelli passou para a liderança, com os votos dos outros candidatos italianos avançando. (Outro relató rio
diz que Siri també m aumentou um pouco seu voto na segunda votaçã o.) Mas os cardeais da Cú ria italiana
mantiveram uma reuniã o tempestuosa, facilmente ouvida por outros cardeais, entre a votaçã o da manhã e da tarde e
concluı́ram que devem fazer todo o possı́vel para prevenir Eleiçã o de Benelli. Eles o consideravam muito dó cil para
com os nã o-italianos (os stranieri , ou estrangeiros) e arrogante e implacá vel nas maneiras. Eles també m se
ressentiram da maneira como ele planejou a eleiçã o do cardeal Luciani (Joã o Paulo I) um mê s antes. Em outras
palavras, havia cardeais italianos su icientes, que nunca aceitariam Benelli, tornando assim impossı́vel para ele
atingir os dois terços necessá rios mais um necessá rio para vencer. E foi exatamente isso o que aconteceu. (Benelli
morreria dois anos depois.)
Na terceira votaçã o, Siri continuou a perder votos, alguns dos quais derivaram para o cardeal Colombo, de Milã o,
de setenta e seis anos, e Benelli atingiu um pico em algum lugar abaixo dos setenta e cinco necessá rios para a
eleiçã o. O cardeal Poletti, vigá rio de Roma e chefe da Conferê ncia Episcopal Italiana, recebeu um bloco de cerca de
trinta votos. Na quarta votaçã o, houve uma onda de votos em favor de Colombo como um compromisso aceitá vel
para todos os italianos. O cardeal Pericle Felici també m teria recebido alguns votos nesta votaçã o. Wojty a teve cerca
de dez votos. Mas Colombo anunciou que, se eleito, nã o aceitaria. Naquela noite, o cardeal Franz Koenig, de Viena, fez
campanha abertamente em nome do cardeal Wojty a com os alemã es, os europeus centrais, os franceses, os
espanhó is e os americanos. (E signi icativo que, em uma entrevista franca concedida no inal de 1996, Koenig, entã o
aposentado como arcebispo de Viena, falou de uma forma altamente crı́tica das polı́ticas e estilo de governo do
ponti icado de Joã o Paulo II.) No dia seguinte, 16 de outubro , Os votos do cardeal Wojty a dobraram na quinta
votaçã o, passando de cerca de dez para cerca de vinte. Poletti continuou a receber apoio e també m houve um
aumento a favor do cardeal Willebrands. Siri e Benelli agora estavam perdendo votos. Ficou claro que um italiano
nã o poderia ser eleito. Na sexta votaçã o, antes do almoço, os votos de Wojty a subiram para cerca de quarenta.
Antes da primeira votaçã o da tarde, Willebrands disse a seus apoiadores que apreciava seus votos, mas achava que
eles deveriam se unir em apoio de Wojty a. Na sé tima votaçã o, o cardeal Wojty a estava pouco aqué m dos dois
terços mais um necessá rios para a eleiçã o. Na oitava votaçã o ele recebeu mais de noventa votos (um relató rio diz
noventa e nove), o su iciente para a eleiçã o, mas ningué m propô s que fosse unâ nime. Um punhado de apoiadores do
Siri votou obstinadamente em seu candidato até o im.
O papa recé m-eleito, aos 58 anos, escolheu o nome de Joã o Paulo II por causa de sua “reverê ncia, amor e devoçã o
a Joã o Paulo II e també m a Paulo VI, que foi minha inspiraçã o, minha força”. Signi icativamente, ele nã o fez referê ncia
a Joã o XXIII, que foi o primeiro papa a quem Joã o Paulo I pretendeu homenagear com seu duplo nome. (Diz-se que
també m considerou tomar o nome de Estanislau, em homenagem ao padroeiro de Cracó via.) Joã o Paulo II, seguindo
o novo exemplo dado por seu predecessor, foi “inaugurado” em seu ministé rio petrino, ao invé s de coroado, em 22
de outubro. Ele estava vestido com o pá lio, a veste de lã usada em volta do pescoço de um arcebispo como um
sı́mbolo de autoridade pastoral. Ele tomou posse de sua igreja catedral, a bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, em 12 de
novembro.
Joã o Paulo II via sua eleiçã o para o papado como providencial, uma compensaçã o pelos sofrimentos poloneses
durante o sé culo XIX e depois sob os nazistas e os comunistas no sé culo XX. Ele até viu a tentativa fracassada de
assassinato contra ele em 13 de maio de 1981, como mais um sinal da mã o providencial de Deus em açã o,
mantendo-o seguro para cumprir sua missã o especial. Em sua opiniã o, sua missã o especial era dupla: levar as
percepçõ es e valores da Igreja sofredora do Oriente (especialmente a Polô nia) para as igrejas confortá veis do
Ocidente e pô r im ao que ele e outros cardeais e bispos conservadores consideravam a tendê ncia pó s-conciliar da
Igreja, uma crı́tica contundente a Paulo VI (1963-78). Quando ele nomeou o Sts. Cirilo e Metó dio (falecido em 869,
885) copatrons da Europa em 1985, era para enfatizar que a Igreja deve “respirar com dois pulmõ es”, combinando a
tradiçã o latina da lei e da ordem com a tradiçã o grega mais mı́stica. Quando recebeu o presidente sovié tico Mikhail
Gorbachev no Vaticano em dezembro de 1989, apó s a queda do Muro de Berlim, pareceu ao papa uma resposta a
sua oraçã o.
Em seu discurso aos cardeais no dia seguinte à sua eleiçã o, o novo papa prometeu promover “com açã o prudente,
mas encorajadora” as reformas do Concı́lio Vaticano II. Em janeiro de 1979, ele viajou ao Mé xico para participar da
Conferê ncia Latino-Americana de Bispos, reunida em Puebla, onde advertiu os bispos e seu clero contra o
envolvimento direto na polı́tica (tomada como uma crı́tica indireta à teologia da libertaçã o latino-americana). Os trê s
co-presidentes da reuniã o foram selecionados pelo papa, nã o pelos bispos - outra indicaçã o do respeito de Joã o
Paulo II pela colegialidade episcopal e pela autonomia das conferê ncias episcopais nacionais. Um discurso mais tarde
no antigo seminá rio Palafox deixou a audiê ncia de bispos, clé rigos e alguns leigos subjugados. O papa advertiu:
“Devemos zelar pela pureza da doutrina. . . . Essa noçã o de um Jesus polı́tico, um revolucioná rio, o subversivo de
Nazaré , nã o está em harmonia com o ensino da Igreja ”. Na segunda parte do discurso, no entanto, ele falou
apaixonadamente em nome da justiça, usando a palavra libertaçã o doze vezes. A mensagem era clara: justiça social,
sim, mas sempre dentro dos limites da ortodoxia cató lica interpretada pelo papa e pelo Vaticano. Essa abordagem
permaneceria constante durante o ponti icado de Joã o Paulo II: socialmente liberal, teoló gica e doutrinariamente
conservadora, talvez até ultraconservadora. A viagem triunfante do Mé xico tornou-se uma espé cie de paradigma
para todas as viagens papais subsequentes e estabeleceu Joã o Paulo II como uma superestrela global. Em seis dias, o
papa fez 26 discursos e homilias, presidiu vá rias missas pú blicas e se reuniu com numerosos grupos, incluindo a
comunidade polonesa local (uma prá tica que ele seguiria em suas viagens subsequentes ao exterior). Ele pretendia, a
partir desta viagem ao Mé xico, chamar a atençã o de volta para a pessoa do papa e, assim, reforçar a autoridade
espiritual do centro da Igreja Cató lica, o Vaticano.
Joã o Paulo II publicou sua primeira encı́clica em março de 1979. Intitulada Redemptor hominis (lat., “Redentor da
humanidade”), enfatizava a dignidade e o valor de cada pessoa humana, deplorava a “exploraçã o da terra” e a
destruiçã o do meio ambiente. , e o consumismo condenado, ou seja, a acumulaçã o e o mau uso de bens por classes
sociais privilegiadas e paı́ses ricos “em grau excessivo”. També m condenou a corrida armamentista, especialmente
por desviar recursos essenciais dos pobres, e a violaçã o dos direitos humanos em todo o mundo.
Em junho, ele voltou triunfantemente à sua Polô nia natal para participar do nono centená rio de seu patrono Santo
Estanislau. Quase um em cada trê s cidadã os poloneses pô de vê -lo pessoalmente durante sua visita de oito dias. Em
10 de junho, mais de um milhã o de poloneses assistiram à missa na campina de B onie, nos arredores de Cracó via.
Seria a primeira de nove viagens de volta à Polô nia: a segunda em 1983, a terceira em 1987, a quarta e a quinta em
1991, a sexta, e a menos satisfató ria, em 1994, quando repreendeu furiosamente seus colegas poloneses, agora
libertos da Comunismo, por sua atitude recentemente independente em relaçã o à autoridade da Igreja e suas rı́gidas
normas morais, e os ú ltimos trê s em junho de 1997, junho de 1999 e agosto de 2002. Na é poca de sua morte, o papa
havia feito 104 visitas pastorais ao exterior e 146 visitas dentro da Itá lia.
Ao mesmo tempo, ele publicou vá rias cartas encı́clicas substanciais. Em 1981, alguns meses apó s o atentado contra
sua vida na Praça de Sã o Pedro, ele publicou Laborem exercens (lat., “Sobre o trabalho” ou “Sobre o trabalho
humano”) para marcar o nonagé simo aniversá rio da Rerum novarum de Leã o XIII . Nesta encı́clica, o Papa via o
trabalho humano como uma forma de colaboraçã o na obra criadora de Deus e, portanto, de in inita dignidade. Ele
insistiu na prioridade do trabalho sobre o capital e condenou o que chamou de um capitalismo “rı́gido” que exagera
os direitos da propriedade privada sobre o bem comum e o uso comum dos bens. Em 1985 publicou Slavorum
Apostoli (“Apó stolos dos Eslavos”), em homenagem aos Santos. Cirilo e Metó dio como copatrons da Europa ao lado
de Sã o Bento de Nú rsia (morto em cerca de 547), proclamado patrono da Europa por Paulo VI. Sua segunda grande
encı́clica social, Sollicitudo rei socialis (“Solicitude pelas preocupaçõ es sociais” ou “Sobre a preocupaçã o social da
Igreja”), foi publicada em 1987 para marcar o vigé simo aniversá rio da Populorum progressio de Paulo VI (1967). A
encı́clica enfatizou as obrigaçõ es das naçõ es ricas e desenvolvidas para com os paı́ses pobres e subdesenvolvidos e a
“opçã o preferencial pelos pobres” como diretriz de açã o moral. Os bens da terra, ele insistia, sã o destinados a todos.
Em 1991 publicou duas grandes encı́clicas, uma sobre as missõ es, Redemptoris missio (“Missã o do Redentor”), e a
outra, a sua terceira grande encı́clica social, Centesimus annus (“Centená rio”), para marcar o centená rio de Leã o.
Rerum novarum de XIII . No centro da mensagem social da Igreja, escreveu ele, está a dignidade de cada pessoa
humana - uma a irmaçã o que ele já havia destacado em sua primeira encı́clica em 1979. Ele rea irmou a “opçã o
preferencial pelos pobres” da Igreja e se referiu positivamente aos sistemas democrá ticos para garantir a
participaçã o dos cidadã os na vida polı́tica de uma naçã o.
Duas importantes encı́clicas polê micas sobre teologia moral apareceram em 1993 e 1995, respectivamente:
Veritatis splendor (lat., "O esplendor da verdade"), que criticava a dissidê ncia teoló gica na mı́dia pú blica, o relativismo
moral e um mé todo de moral teologia conhecida como proporcionalismo e Evangelium vitae (“O evangelho da vida”),
que condenava veementemente a contracepçã o, a eutaná sia e o aborto em uma linguagem semelhante à empregada
no ensino infalı́vel. Signi icativamente, o papa també m condenou a pena de morte, insistindo que nã o há , para todos
os efeitos prá ticos, razõ es su icientes para justi icá -la. També m em 1995, ele publicou o que pode ter sido sua
encı́clica mais notá vel - notá vel por sua abertura nos tó picos ecumê nicos mais sensı́veis, o pró prio papado. Em Ut
unum sint (“Para que todos sejam um”), ele reconheceu que, embora o ofı́cio petrino pertença à estrutura essencial
da Igreja, a forma como o ofı́cio papal é exercido está sempre sujeita a crı́ticas e melhorias. Ele convidou seus
leitores, especialmente os de outras igrejas cristã s, a dialogar com ele sobre a maneira como seu ofı́cio é exercido e a
recomendar maneiras pelas quais seu exercı́cio possa se conformar mais ielmente ao evangelho.
As duas ú ltimas encı́clicas de Joã o Paulo II foram Fides et ratio (Lat., “Fé e Razã o”) em 1998 e Ecclesia de Eucharista
(Lat., “A Igreja da Eucaristia”) em 2003. Ele publicou uma carta apostó lica, Tertio millennio adveniente (Lat., “No
terceiro milê nio que se aproxima”), em 1994 para convidar a Igreja a se preparar para o novo milê nio que se
aproxima, um evento que se aproxima e que despertou seu mais profundo interesse durante todo o seu ponti icado.
Joã o Paulo II estava profundamente convencido, desde o inı́cio de seu ponti icado, de que estava destinado por Deus
a conduzir a Igreja Cató lica a esse novo milê nio e que seria um milê nio que veria as paredes entre as vá rias religiõ es
do mundo cair. para que houvesse uma frente religiosa unida contra o ateı́smo, materialismo e individualismo. Em
1994, ele també m emitiu uma declaraçã o formal contra a ordenaçã o de mulheres, Ordinatio sacerdotalis (“ordenaçã o
sacerdotal”), insistindo que a Igreja nã o está autorizada a ordenar mulheres como padres. Sua maneira enfá tica de
a irmar e fazer cumprir esse ensino contribuiu, em certa medida, para o sentimento de alienaçã o que muitas
mulheres cató licas sentiam em relaçã o à Igreja institucional e ao ponti icado de Joã o Paulo II em particular.
Em 1996, na Universi Dominici gregis (“De todo o rebanho do Senhor”), Joã o Paulo II mudou as regras que regem
as eleiçõ es papais. Dispensando oitocentos anos de tradiçã o exigindo uma maioria de dois terços para a eleiçã o, o
papa decretou que, se depois de trinta e trê s votos em vá rios dias, nenhum candidato recebeu uma maioria de dois
terços, uma maioria absoluta é su iciente para a eleiçã o. Alguns comentaristas viram isso como um afastamento
radical da tradiçã o da Igreja, que sempre encorajou o compromisso e o consenso na eleiçã o de um novo papa.
Agora, um grupo ideologicamente comprometido, seja da esquerda ou da direita, pode possivelmente resistir até
depois de feitas as mais de trinta cé dulas e buscar eleger seu pró prio candidato por uma mera maioria matemá tica.
Embora as eleiçõ es continuem ocorrendo na Capela Sistina, os cardeais eleitores icarã o alojados na recé m-
construı́da Domus Sanctae Marthae, em vez dos pequenos e desconfortá veis cubı́culos do Palá cio Apostó lico.
Alé m de suas encı́clicas e cartas apostó licas, Joã o Paulo II foi um autor produtivo e comercialmente bem-sucedido.
Ele publicou Crossing the Threshold of Hope em 1994 e Gift and Mystery em 1996. Vá rios outros escritos meditativos
també m foram publicados durante seu ponti icado, incluindo Memory and Identity em 2005, bem como coleçõ es de
seus poemas e peças.
Entre os outros desenvolvimentos importantes neste ponti icado estavam a promulgaçã o em 1983 do Có digo de
Direito Canô nico revisado, um projeto iniciado pelo Papa Joã o XXIII (1958-63); a publicaçã o, sob a direçã o do
cardeal Joseph Ratzinger, do Catecismo da Igreja Católica em 1992 (a traduçã o para o inglê s foi adiada até 1994 por
causa de reclamaçõ es de cató licos ultraconservadores sobre a linguagem inclusiva de gê nero empregada na primeira
traduçã o); em 1985, a renegociaçã o dos Pactos de Latrã o de 1929, pelos quais a separaçã o da Igreja e do Estado na
Itá lia foi formalmente reconhecida, Roma nã o deveria mais ser considerada uma cidade sagrada, a instruçã o cató lica
nã o era mais exigida nas escolas pú blicas e o clero nã o deveriam mais receber salá rios do Estado; e o
estabelecimento de relaçõ es diplomá ticas formais com os Estados Unidos em 1984 (o delegado apostó lico é agora o
nú ncio) e com o Estado de Israel em 1994. Joã o Paulo II foi també m o primeiro papa a visitar a principal sinagoga de
Roma, onde reconheceu a presença da Igreja pecados contra os judeus, até mesmo por parte de alguns de seus
predecessores, que sabiam ser cú mplices de campanhas anti-semitas e que con inaram os judeus em guetos em
Roma e nos antigos Estados papais.
O papa convocou e presidiu sete sı́nodos mundiais de bispos (um sı́nodo extraordiná rio em 1985 para celebrar o
vigé simo aniversá rio do encerramento do Concı́lio Vaticano II) e sete sı́nodos regionais, canonizou mais de 480
santos (a maioria deles padres e freiras, incluindo o controverso fundador do movimento ultraconservador Opus
Dei, Josemaria Escrivá de Belaguer), beati icou muitos mais do que isso (incluindo Madre Teresa e o Papa Joã o XXIII),
e nomeou todos, exceto trê s dos cardeais eleitores que eram elegı́veis para participar do conclave que elegeu seu
sucessor, Bento XVI.
No inal de seu primeiro ano completo no cargo, Joã o Paulo II surpreendeu a comunidade teoló gica ao revogar o
status de teó logo cató lico do teó logo suı́ço Hans Kü ng. Açã o semelhante já havia sido tomada contra o teó logo
francê s Jacques Pohier, que foi proibido de escrever, pregar ou dar palestras sem permissã o explı́cita. O renomado
teó logo holandê s Edward Schillebeeckx, um dominicano, foi submetido a severo escrutı́nio do Vaticano (ele foi
atacado por um de seus examinadores na Rá dio Vaticano antes mesmo de a audiê ncia no Vaticano começar), e o
teó logo brasileiro Leonardo Boff, um franciscano, foi proibido escrever ou ensinar por um ano. Ele acabou deixando
a ordem franciscana e o sacerdó cio em protesto contra as açõ es do Vaticano contra ele. Charles Curran, o teó logo
moral americano, foi expulso da faculdade de teologia da Universidade Cató lica da Amé rica. Em janeiro de 1997, um
conhecido teó logo do Terceiro Mundo, Tissa Balasuriya, um sacerdote do Sri Lanka de setenta e dois anos, membro
da ordem marista, foi excomungado da Igreja por ter “se desviado da integridade da verdade de a fé cató lica. ” Ele
questionou, entre outras coisas, certos excessos na devoçã o mariana e recusou-se a rejeitar a possibilidade de que
mulheres pudessem ser ordenadas ao sacerdó cio. O padre Balasuriya, entretanto, foi restaurado à plena comunhã o
com a Igreja no ano seguinte.
O papa també m interveio para impedir a Companhia de Jesus (Jesuı́tas) de eleger um sucessor para seu superior
geral, padre Pedro Arrupe (m. 1991), e suspendeu a constituiçã o da ordem. Ele nomeou um conservador de oitenta
anos para atuar como seu delegado pessoal até que um novo superior geral pudesse ser eleito com sua aprovaçã o.
Procedimentos disciplinares també m foram instituı́dos contra vá rios bispos, incluindo Raymond Hunthausen,
arcebispo de Seattle, Walter Sullivan, bispo de Richmond, e Jacques Gaillot, bispo de Evreux na França. Na verdade,
um dos legados mais duradouros deste ponti icado, para o bem ou para o mal, será o grande nú mero de bispos
conservadores nomeados para vá rias dioceses em todo o mundo, muitas vezes em oposiçã o aos desejos e
recomendaçõ es das hierarquias locais e do padres e pessoas das vá rias dioceses.
A partir de 1992, uma sé rie de doenças e acidentes deixou o papa em uma condiçã o fı́sica debilitada. Ele nã o podia
mais se envolver em suas atividades recreativas favoritas, como esquiar, fazer caminhadas e escalar montanhas, e
começaram a circular rumores de que ele estava muito mais doente do que o Vaticano admitia. Mas há um antigo
ditado que diz que a ú nica vez que algué m tem um relató rio totalmente preciso sobre a saú de de um papa é quando
sua morte é anunciada. Nos sé culos passados, até mesmo essa informaçã o foi mantida em segredo pelo maior tempo
possı́vel por causa da tradiçã o de saquear os aposentos papais ao ouvir a notı́cia da morte do papa. Nem todas as
tradiçõ es associadas ao papado sobreviveram, incluindo aquela. Apó s uma sé rie de contratempos mé dicos no inı́cio
de 2005, complicados pela doença de Parkinson e outras doenças, incluindo a gripe, Joã o Paulo II morreu no Palá cio
Apostó lico em 2 de abril de 2005. Seu funeral na Praça de Sã o Pedro foi o maior já registrado. Alguns na multidã o
ergueram cartazes com os dizeres 'Santo Subito' (italiano, “um santo imediatamente”). Logo apó s sua eleiçã o, o novo
papa, Bento XVI, suspendeu o perı́o do de espera exigido de cinco anos e autorizou o inı́cio do processo formal que
levaria à eventual beati icaçã o e canonizaçã o de Joã o Paulo II.
O FUTURO DA PAPACIA
I N encı́clica DE 25 maio de 1995, Ut unum sint ( “Que todos sejam um”), o Papa Joã o Paulo II fez um convite notá vel para
lı́deres pastorais e teó logos das igrejas cristã s nã o-cató licas de entrar em diá logo com ele sobre papal primazia e a
maneira pela qual a autoridade papal é exercida. Ele reconheceu, de acordo com o ensino do Concı́lio Vaticano II,
que tudo o que o papa faz como bispo de Roma e como cabeça terrena da Igreja universal "deve sempre ser feito em
comunhã o", porque o ministé rio papal e o ofı́cio nunca podem ser separados da “missã o con iada a todo o corpo
dos bispos, també m 'vigá rios e embaixadores de Cristo'” (Constituiçã o dogmá tica sobre a Igreja, n. 27). O Bispo de
Roma, Joã o Paulo II destacou na encı́clica, é ele pró prio membro do colé gio dos bispos e todos os outros bispos sã o
seus “irmã os de ministé rio” (n. 95)
Joã o Paulo II indicou que, em espı́rito de abertura a uma “situaçã o nova”, a Igreja deve “encontrar uma forma de
exercer o primado” que facilite nossa peregrinaçã o comum no caminho da unidade cristã . Reconhecendo que nã o
pode realizar esta “imensa tarefa” sozinho, ele convidou “os lı́deres da Igreja e seus teó logos a se engajarem em um
diá logo paciente e fraterno sobre o assunto, um diá logo no qual, deixando para trá s contrové rsias inú teis,
poderı́amos escutai-nos uns aos outros, mantendo diante de nó s apenas a vontade de Cristo para a sua Igreja e
deixando-nos comover profundamente pelo seu apelo para que todos sejam um. . . para que o mundo creia que tu
me enviaste '(Jo 17:21) ”(n. 96).
Qual é a “nova situaçã o” a que o papa se referiu? Que mudanças possı́veis poderia haver no exercı́cio do ofı́cio
papal que poderia servir para promover a unidade da Igreja sem de forma alguma comprometer a missã o,
ministé rios e estruturas essenciais da Igreja? Por que futuro os cristã os separados podem trabalhar, em diá logo com
o bispo de Roma?
A especulaçã o sobre o futuro, é claro, é apenas isso: especulaçã o. Por de iniçã o, o futuro é algo que ainda nã o
aconteceu. E uma questã o de promessa, expectativa (à s vezes ansiedade e até medo) e esperança. Nesse ı́nterim,
temos apenas o passado e o presente a partir dos quais extrapolar possı́veis desenvolvimentos futuros. O Papa Joã o
XXIII (1958-63), ele pró prio um historiador, disse em seu celebrado discurso de abertura do Concı́lio Vaticano II em
11 de outubro de 1962, que a histó ria é a grande “mestra da vida”. As liçõ es da histó ria sã o consistentemente
instrutivas e quase sempre libertadoras. A histó ria nos ensina que as coisas nem sempre foram assim e que é
possı́vel, portanto, transformá -las daquilo que sã o. Em nenhum lugar este princı́pio é mais aplicá vel do que à histó ria
do papado em si.
Cató licos e nã o cató licos tê m geralmente assumido que os papas com os quais estã o mais familiarizados - os papas
atuais e recentes - exerceram autoridade de uma certa maneira (para todos os ins prá ticos, como se a autoridade
fosse ilimitada) porque é isso que Jesus O pró prio Cristo deve ter intencionado quando disse ao apó stolo: “Tu é s
Pedro e sobre esta pedra edi icarei a minha igreja. . . . Tudo o que você ligar na terra será ligado no cé u; e tudo o que
desligardes na terra será desligado no cé u ”(Mateus 16: 18–19). A suposiçã o convencional é que essa autoridade,
exatamente da mesma forma em que é exercida hoje, foi conferida primeiro ao apó stolo Pedro e depois transmitida
em uma linha ininterrupta de sucessã o a todos os indivı́duos que a Igreja Cató lica o icialmente reconhece como
papa, a partir de Linus (supostamente o sucessor imediato de Pedro) de Bento XVI. Presume-se, alé m disso, que esta
linha de sucessã o nunca esteve em dú vida, que nunca houve qualquer questã o sé ria sobre a legitimidade de uma
reivindicaçã o particular à cadeira papal, e que, se alguma vez houve uma dú vida, a Igreja prontamente resolvido.
A histó ria, “o mestre da vida”, ensina que nã o houve papas no sentido moderno da palavra (isto é , como o ú nico
bispo de Roma) até meados do segundo sé culo. Até entã o, a igreja de Roma era governada nã o por um ú nico bispo,
mas por uma comissã o ou conselho de anciã os e presbı́teros-bispos, talvez com um indivı́duo agindo como o
organizador ou presidente do corpo. Esses indivı́duos proeminentes na comunidade romana podem ter sido aqueles
a quem a Igreja Cató lica considera os sucessores imediatos do pró prio Pedro: Linus, Anacletus, Clement, Evaristus, et
al. Mas nã o podemos ter certeza. E signi icativo, por exemplo, que quando Santo Iná cio de Antioquia (m. Ca. 107)
endereçou suas famosas cartas à s vá rias igrejas do mundo mediterrâ neo, a carta a Roma foi a ú nica em que o bispo
local nã o foi mencionado . Na verdade, nã o há evidê ncia de que o pró prio Pedro tenha desempenhado um papel
episcopal em Roma. Embora tradicionalmente considerado o fundador da igreja lá , junto com o apó stolo Paulo,
Pedro nem estava presente quando o cristianismo chegou a Roma, provavelmente no inı́cio dos anos 40, quase duas
dé cadas antes de Pedro chegar. Alé m disso, Paulo nã o faz nenhuma mençã o a Pedro em sua Carta aos Romanos,
escrita provavelmente no inverno de 57-58.
Alé m disso, os papas dos primeiros quatro sé culos exerceram autoridade relativamente limitada alé m de Roma e
seus arredores imediatos. Por exemplo, Silvestre I (314-35) parece nã o ter exercido nenhuma in luê ncia discernı́vel
sobre o primeiro concı́lio ecumê nico realizado em Nicé ia em 325. Ele nã o o convocou nem compareceu. E, no
entanto, este foi o concı́lio que emitiu o primeiro ensino de initivo da Igreja sobre a divindade de Jesus Cristo - uma
questã o dogmá tica tã o central quanto a Igreja trataria, ou poderia abordar em toda a sua histó ria. O mesmo pode
ser dito de Damá sio I (366-84) com relaçã o ao Concı́lio de Constantinopla em 381, que rea irmou o ensino de Nicé ia
e de iniu a divindade do Espı́rito Santo, e de Celestino I (422-32) com relaçã o a o Concı́lio de Efeso em 431, que
de iniu que Jesus Cristo é uma Pessoa divina e que Maria é a Mã e de Deus e nã o apenas a mã e do homem Jesus. Só
no ponti icado de Leã o, o Grande (440-61) a reivindicaçã o da jurisdiçã o papal universal (isto é , sobre toda a Igreja,
tanto no Oriente como no Ocidente) foi articulada pela primeira vez e foi feita uma tentativa de exercê -la de uma
maneira realmente decisiva.
O primeiro papa que estendeu a mã o para a irmar sua autoridade alé m das fronteiras de sua pró pria comunidade
eclesiá stica foi Victor I (189-98), um africano, que ordenou que outras igrejas se conformem com a prá tica romana
de celebrar a Pá scoa no domingo seguinte ao dé cimo quarto dia de Nisan (Pá scoa). Mas quando Victor ameaçou
excomungar aqueles que discordassem de sua decisã o, ele foi repreendido por nã o menos igura proeminente da
Igreja primitiva do que Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200), que claramente lembrou ao papa que todos os seus
predecessores tinha sido indulgente com a diversidade de prá ticas e nã o ousara recorrer à arma de initiva da
excomunhã o. E quando os papas começaram a se envolver em disputas teoló gicas com os lı́deres pastorais de outras
igrejas, eles foram à s vezes rejeitados como intrusos ou, pior, como tendo pontos de vista errô neos, como no caso do
confronto entre Estê vã o I (254-57) e Cipriano (d. 258), bispo de Cartago, sobre a questã o da validade do batismo
administrado por hereges e cismá ticos.
Com o passar do tempo, disputas e con litos sobre a prá tica pastoral desenvolveram-se em con litos sobre
doutrina. Assim, Joã o II (533-35), sob pressã o do imperador oriental, contradisse o ensino de um papa anterior,
Hormisdas (514-23), sobre as duas naturezas de Jesus Cristo. Honó rio I (625-38) tornou-se um adepto involuntá rio
do monotelismo, que a irmava que existe apenas uma vontade (divina) em Jesus Cristo. Apó s sua morte, Honó rio foi
formalmente condenado pelo Terceiro Concı́lio de Constantinopla (680) - açã o posteriormente rati icada por Leã o II
(682-83). Quando a contrové rsia monotelita continuou a dividir Roma de Constantinopla, Eugê nio I (654-57) tentou
bravamente reconciliar os dois lados. Ao fazer isso, no entanto, ele aceitou prematuramente um compromisso que
parecia apresentar trê s vontades em Cristo. Isso provocou uma tempestade de protestos entre o clero e os leigos de
Roma. O papa foi impedido de continuar com a missa na bası́lica de Santa Maria Maior (Santa Maria Maggiore) até
que ele prometeu rejeitar o acordo.
Mas o desvio doutriná rio foi apenas um dos problemas sé rios que surgiram neste perı́o do inicial da histó ria papal.
Entre o inı́cio do Impé rio Carolı́ngio (800) e o im do ponti icado de Dâ maso II (1048), o papado afundou nas
profundezas morais, manchado pela simonia, ou seja, a compra e venda de ofı́cios da igreja, nepotismo, estilos de
vida pró digos , concubinato, brutalidade e até assassinato. Na maior parte desse tempo, també m foi dominado por
reis alemã es e por poderosas - e corruptas - famı́lias aristocrá ticas romanas. Durante este perı́o do, pelo menos cinco
papas, e possivelmente um sexto, foram assassinados. Um papa, Sé rgio III (904-11), era ele pró prio um assassino,
tendo ordenado a matança de seu predecessor, Leã o V, e do antipapa Cristó vã o. Dois papas foram presos e
mutilados ou morreram de fome (Estê vã o VIII [939-42] e Joã o XIV [983-84], respectivamente), e o corpo de um
papa (Formosus [891-96]) foi até exumado de seu repouso local, por ordem de um de seus sucessores, Estê vã o VI
(896-97), e levado a julgamento pú blico no chamado Sı́nodo do Cadá ver. O pró prio Estê vã o foi posteriormente
deposto, preso e estrangulado até a morte.
No entanto, o “grande ponto de viragem” na histó ria do papado, de acordo com o distinto teó logo dominicano
cardeal Yves Congar (m. 1995), veio com o ponti icado de Gregó rio VII (1073–85). Foi Gregó rio, mais do que
qualquer outro papa, quem reformulou substancialmente o papado no tipo de instituiçã o moná rquica e legalista que
é hoje. Para ter certeza, Gregó rio VII enfrentou problemas internos e externos esmagadores quando foi eleito em
1073: simonia, nepotismo, violaçõ es do celibato clerical e a interferê ncia de prı́ncipes leigos na nomeaçã o e posse de
bispos e abades (també m conhecido como “investidura leiga ”). O papa fez com que seus canonistas vasculhassem os
arquivos romanos em busca de cada traço ou fragmento de apoio para o exercı́cio do poder papal que ele
considerasse necessá rio para enfrentar esses desa ios. Parte do material descoberto era autê ntico; outras partes
eram espú rias - falsi icaçõ es. Ao buscar contar com precedentes legais para o exercı́cio do que deveria ser apenas
autoridade espiritual, o papa transformou a Igreja principalmente em uma instituiçã o jurı́dica, com o poder papal
como a base de toda a autoridade da Igreja. Como resultado infeliz, a Igreja passou a adotar as mesmas atitudes e a
fazer as mesmas reivindicaçõ es que os pró prios poderes temporais. Gregó rio VII, assim, colocou o papado do
segundo milê nio em um curso legalista e moná rquico, completamente estranho ao da Igreja primitiva e das igrejas
orientais em geral. A Igreja Romana deu uma guinada tã o brusca que dois dos sucessores de Gregó rio, Inocê ncio III
(1198-1216) e Bonifá cio VIII (1295-1303), reivindicaram autoridade, na verdade supremacia, nã o apenas sobre toda
a Igreja, como Gregó rio VII tinha, mas em todo o mundo també m - nos reinos temporais e espirituais.
A suposiçã o convencional de que o papado fornece ao cató lico um canal direto de e para Jesus Cristo requer, é
claro, que o cató lico seja capaz de determinar quem é o papa. Durante o Cisma do Grande Oeste (1378-1417),
sempre houve dois, e depois trê s, pretendentes contemporâ neos ao trono papal. Apó s a morte de Gregó rio XI em
1378, a eleiçã o de um sucessor foi interrompida pela violê ncia entre o povo romano, que exigiu um papa italiano
apó s o “cativeiro” de setenta anos do papado em Avignon, França. Em pâ nico, os cardeais principalmente franceses
elegeram Urbano VI, um homem instá vel cujo comportamento inicial alienou os cardeais e os levou a questionar a
validade de sua eleiçã o. Praticamente os mesmos cardeais que elegeram Urbano agora o rejeitaram. Eles deixaram
Roma para Fondi (no reino de Ná poles), onde declararam formalmente a eleiçã o de Urbano invá lida e elegeram o
cardeal Robert de Genebra (que també m era francê s) como Clemente VII. Embora os trê s cardeais italianos nã o
votaram na eleiçã o na catedral de Fondi, eles concordaram com sua presença.
A Inglaterra, o Sacro Impé rio Romano e a maior parte da Itá lia icaram do lado de Urbano VI, mas a França, o
reino da Sicı́lia, a Escó cia, o reino de Ná poles e a Espanha icaram do lado de Clemente VII, que ixou residê ncia em
Avignon, como izeram os papas nos setenta anos anteriores. Houve uma confusã o geral na Igreja quando os chefes
de mosteiros, ordens religiosas, dioceses e paró quias apelaram a um ou outro papa como base para sua autoridade.
Em 1409, cerca de trinta e um anos apó s a eclosã o do cisma, os adeptos de ambos os lados decidiram que um
conselho geral deveria ser convocado para pô r im à crise. Cardeais de ambas as obediê ncias (a romana, agora
che iada por Gregó rio XII, e a de Avinhã o, agora che iada por Bento XIII) convocaram o Concı́lio de Pisa, que depô s
ambos os papas, denunciando-os como cismá ticos, hereges e perjuros, e elegeu um terceiro, Alexandre V. Mas nem
Gregó rio XII nem Bento XIII aceitaram a decisã o do concı́lio. Portanto, a Igreja agora tinha trê s homens que
a irmavam ser papa, em vez de dois.
Gregó rio XII entã o convocou seu pró prio conselho em Cividale, perto de Aquilé ia, mas foi mal atendido e teve de
ser adiado apó s vá rias sessõ es. Antes de encerrar, no entanto, o conselho excomungou os outros dois pretendentes
papais, Bento XIII (da linha de Avignon) e agora Alexandre V (da linha de Pisan). Mas Gregó rio XII, o papa da linha
romana, estava tã o sitiado e tã o pouco apoiado que teve de fugir disfarçado de Aquilé ia, cujo arcebispo local era
hostil a ele, para Gaeta, onde buscou a proteçã o do rei de Ná poles. Quando o rei de Ná poles, no entanto,
posteriormente concluiu um tratado com Joã o XXIII, o segundo papa na linhagem de Pisã , Gregó rio foi banido de
Ná poles. Eventualmente, com a ajuda do rei alemã o Sigismundo, o Concı́lio de Constança (1414-18) foi convocado e
deposto Joã o XXIII. Gregó rio XII renunciou (apó s ter sido autorizado a convocar o Concı́lio de Constança para
o icializá -lo aos seus olhos); Bento XIII (o papa na linha de Avignon) fugiu para um castelo bem forti icado na costa
de Valê ncia, alegando aos enviados do conselho que esta era agora a verdadeira igreja, a arca de Noé ; e Martin V foi
eleito. Deve ser apontado que, embora a Igreja Cató lica reconheça retrospectivamente Gregó rio XII e os outros
papas da linha romana como os ú nicos papas legı́timos durante este perı́o do confuso e conturbado, sua legitimidade
di icilmente era ó bvia para todos os cató licos da é poca. Por quase quarenta anos - uma vida inteira para a maioria
das pessoas daquela é poca - os cató licos nã o podiam ter certeza de quem era o papa, muito menos o que ele estava
ensinando em nome de Cristo. Mesmo assim, a Igreja sobreviveu e as pessoas seguiram o caminho da salvaçã o sob o
poder da graça de Deus, sem o benefı́cio da orientaçã o do sucessor de Pedro - seja ele quem for.
Mas o Grande Cisma Ocidental nã o foi o ú nico perı́o do na histó ria da igreja em que a identidade do papa icou em
dú vida. Houve trinta e nove antipapas ao todo, começando com Santo Hipó lito (sim, “Santo” Hipó lito), de 217 a 235, e
terminando com Fé lix V, de 1439 a 1449. A pró pria lista o icial de papas do Vaticano, em o Annuario Ponti icio ,
ocasionalmente transferiu papas de uma coluna para outra ao decidir - muitos sé culos depois - que um indivı́duo
que sempre considerou como legı́timo sucessor de Pedro nã o foi eleito validamente, a inal. Mesmo com este
processo de correçã o, restam quatro instâ ncias em que o Anuário ainda nã o consegue se decidir.
Silverius (536-37) ainda estava vivo quando Vigilius (537-55) foi eleito papa em 29 de março de 537. O Annuario
Ponti icio reconhece esta data como o inı́cio do ponti icado de Vigilius, embora també m marque o im do ponti icado
de Silverius em novembro 11 de 537, o dia em que renunciou formalmente, trê s semanas antes de sua morte. Houve
dois papas entre 29 de março e 11 de novembro?
O ponti icado de Martinho I é listado como tendo terminado com sua morte, no exı́lio, em 16 de setembro de 655.
Mas o inı́cio do ponti icado de seu sucessor, Eugê nio I, está listado como 10 de agosto de 654, dia em que foi eleito
pelo Romano clero e pessoas depois de concluı́rem que Martin eu nunca mais voltaria. Eles temiam que, se
esperassem mais, o imperador bizantino imporia um novo papa completamente inaceitá vel sobre eles. Martin ainda
era papa ou nã o? Se sim, como Eugenius I poderia ser um papa legı́timo? Se Martin I nã o era mais o verdadeiro
papa, com que açã o canô nica seu ponti icado chegou ao im? Nã o há evidê ncias de que ele renunciou, nem de que foi
validamente deposto por um conselho da Igreja.
O terceiro caso é o do notó rio Joã o XII (eleito para o papado aos dezoito anos!). O Annuario Ponti icio enumera o
im de seu ponti icado como 14 de maio de 964, que foi o dia de sua morte. Mas dá o inı́cio do ponti icado de seu
sucessor, Leã o VIII (o primeiro leigo eleito papa), em 4 de dezembro de 963 - enquanto Joã o XII ainda estava vivo. O
ponti icado de Leã o é listado como tendo terminado em 1o de março de 965, mas seu sucessor, Bento V, disse ter
começado seu pró prio ponti icado em 22 de maio de 964 - enquanto Leã o VIII ainda estava vivo. O Almanaque
Católico de 2006 e a Enciclopédia Católica do Our Sunday Visitor's (1991), ambos os quais reproduzem a lista o icial de
papas e suas datas conforme consta do Annuario Ponti icio , reconhecem a confusã o. Eles apontam que Joã o XII foi
deposto por um concı́lio romano em 4 de dezembro de 963. No entanto, se o depoimento era invá lido, entã o Leã o
VIII era um antipapa. Se o depoimento fosse vá lido, Leã o era um papa vá lido e Bento V, um antipapa. Mas a lista
o icial do Vaticano nã o considera Leã o VIII nem Bento V como antipapa - e ainda assim registra o im do ponti icado
de Joã o XII em 14 de maio de 964, cerca de cinco meses após a eleiçã o de Leã o VIII. Assim, també m, Bento V começa
seu ponti icado mais de oito meses antes do im do ponti icado de Leã o. De acordo com a pró pria lista o icial do
Vaticano, portanto, tivemos um breve perı́o do no inal do sé culo X, quando dois papas governaram a Igreja
simultaneamente.
Finalmente, há o caso de Bento IX, o ú nico papa a ter exercido o cargo papal em trê s momentos diferentes (1032–
44, 1045 e 1047–48). Se a remoçã o forçada de Bento XVI em 1044 era invá lida, Silvestre III (20 de janeiro a 10 de
março de 1045) era um antipapa (mas ele ainda está listado com os papas legı́timos). E se a renú ncia de Bento IX em
1045 e sua remoçã o por um sı́nodo em 1046 nã o fossem vá lidas, Gregó rio VI (5 de maio de 1045 - 20 de dezembro
de 1046) e Clemente II (25 de dezembro de 1046 - 9 de outubro de 1047) també m eram antipapas (mas, novamente,
eles ainda estã o listados com os papas legı́timos no Annuario Ponti icio ).
Na histó ria do papado, nã o havia apenas dú vidas sobre quem era papa, mas també m sobre quando um papa se
tornava papa. Durante a maior parte do primeiro milê nio cristã o, os mandatos papais eram contados nã o a partir do
momento em que um indivı́duo aceitava sua eleiçã o, como foi o caso durante a maior parte do segundo milê nio
cristã o, mas a partir do momento de sua consagraçã o como bispo. Isso acontecia porque, até Marinus I (882–84),
nenhum dos eleitos para o papado era bispo. Eles eram padres (presbı́teros) ou diá conos (e um subdiá cono). Visto
que o papa é , antes de tudo, o bispo de Roma, ele nã o poderia ter sido considerado papa até ser consagrado como
bispo. Alé m disso, durante grande parte desse perı́o do, foi o imperador bizantino, com sede em Constantinopla, e
nã o os eleitores papais, que determinaram quando - e se - essa consagraçã o ocorreria. O imperador, de fato,
costumava demorar para noti icar o papa recé m-eleito de sua aprovaçã o para o prosseguimento da consagraçã o.
Joã o IV (640–42), por exemplo, teve que esperar cinco meses entre sua eleiçã o e consagraçã o. Nesse ı́nterim, o
arcipreste Hilarus e outro Joã o, o secretá rio-chefe ( primicério ), continuaram a administrar a igreja romana como
"vice-regentes da Sé Apostó lica". E quando a igreja romana enviou uma carta o icial a certos bispos e abades
irlandeses sobre a data apropriada para a celebraçã o da Pá scoa, o papa eleito, Joã o IV, foi o segundo signatá rio, nã o
o primeiro. Por outro lado, vá rios papas no segundo milê nio cristã o (o ú ltimo sendo Gregó rio XVI em 1831) ainda
nã o eram bispos quando eleitos. No entanto, de acordo com o direito canô nico em vigor durante a maior parte do
milê nio (até a revisã o do Có digo de Direito Canô nico em 1983), esses indivı́duos eram considerados papa, antes
mesmo de serem consagrados como bispos. A Igreja do primeiro milê nio cristã o teria achado essa prá tica teoló gica e
pastoralmente inconcebı́vel.
O que dizer, entã o, do futuro do papado? O recente perı́o do de recentralizaçã o da autoridade papal e da
restauraçã o de vá rios estilos de governo pré -Vaticano II na Igreja Cató lica muito provavelmente terá terminado com
o ponti icado de Joã o Paulo II ou de seu sucessor de setenta e oito anos . A histó ria das eleiçõ es papais,
especialmente (mas nã o exclusivamente) durante os sé culos XIX e XX, deixa claro que os papas geralmente nã o sã o
sucedidos por có pias de carbono de si mesmos, nã o importa há quanto tempo estejam no cargo e nã o importa
quantos cardeais eles pode ter nomeado. A sucessã o de Pio IX por Leã o XIII em 1878, e de Leã o XIII por Pio X em
1903 sã o dois casos dramá ticos em questã o. Pio IX foi o papa reinante mais longo da histó ria (quase trinta e dois
anos), e Leã o XIII teve o segundo ponti icado mais longo (mais de vinte e cinco anos). Ambos foram sucedidos por
papas marcadamente diferentes deles mesmos - pessoal, teoló gica e pastoralmente. E assim tem sido ao longo da
maior parte da histó ria papal.
Nos anos anteriores ao inı́cio do segundo milê nio cristã o e antes do ponti icado de Gregó rio VII em particular, os
papas funcionavam amplamente no papel de mediadores, resolvendo disputas e con litos sobre crença e disciplina
"por consentimento comum" (Joã o Paulo II, Ut unum Sint , nº 95). Nã o reivindicaram apenas para si o tı́tulo de
Vigá rio de Cristo. Eles nã o nomearam bispos (exceto nas dioceses vizinhas ou nas dioceses missioná rias fundadas
pela Igreja Romana). Eles nã o governaram por meio de uma Cú ria Romana. Eles nã o impuseram ou obrigaram o
celibato clerical. Eles nã o escreveram encı́clicas nem autorizaram catecismos para a Igreja universal. Eles nã o
retiveram apenas para si o poder de canonizaçã o dos santos. Via de regra, eles nã o convocavam ou presidiam
concı́lios ecumê nicos - e certamente nã o os principais concı́lios doutriná rios de Nicé ia (325), Constantinopla (381),
Efeso (431) e Calcedô nia (451). O papado do terceiro milê nio cristã o será mais provavelmente semelhante ao
papado do primeiro milê nio do que do segundo, mas certamente será diferente de ambos, pois a Igreja enfrenta
circunstâ ncias pastorais, desa ios e oportunidades novas e atualmente imprevistas nas dé cadas e sé culos vir.
Da mesma forma, a autoridade eclesiá stica será exercida nos pontos mais pró ximos dos nı́veis pastorais, onde
suas decisõ es terã o maior impacto. Haverá uma descentralizaçã o crescente da governança da igreja, sem prejuı́zo da
necessidade de signi icar e manter a unidade da Igreja universal, embora por meio de um papado estruturado de
forma diferente e por meio de concı́lios ecumê nicos e sı́nodos mundiais que també m incluirã o clé rigos, religiosos e
leigos como participantes ativos e votantes, como foi o caso no Concı́lio de Constança no sé culo XV.
As barreiras historicamente contingentes e muitas vezes arti iciais entre as igrejas també m cairã o, à medida que a
intercomunhã o e o reconhecimento mú tuo dos ministé rios ordenados se tornem um lugar-comum da Igreja
ecumê nica do sé culo XXI e do inı́cio do terceiro milê nio cristã o. O alcance à s religiõ es nã o-cristã s se intensi icará ,
com avanços especı́ icos, agora inimaginá veis, nas relaçõ es entre cristã os e judeus.
E a Igreja reconhecerá mais plenamente do que hoje que é apenas um meio, nã o um im. O Reino de Deus sozinho
é absoluto e supremo. Tudo o mais, incluindo o pró prio papado, está subordinado a ele e está a seu serviço. A Igreja
do terceiro milê nio cristã o se contentará em fazer como sua a conhecida petiçã o na Oraçã o do Senhor: “Venha o teu
reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no cé u”.
A vontade de Deus pode ter um lugar para o ministé rio petrino, ou papado, na Igreja do terceiro milê nio cristã o,
mas precisamente qual lugar nã o está claro a partir desta distâ ncia histó rica. O que parece fora de questã o é que o
papado do futuro funcionará de maneira muito diferente do papado como o conhecemos hoje.
Apêndices
Introdução.
Joã o Paulo II con irmou a regra de Paulo VI de que os ú nicos eleitores papais sã o cardeais com menos de oitenta
anos (a partir do dia em que o papado icou vago) e estã o limitados em nú mero a 120. A eleiçã o deve ocorrer na
Capela Sistina, mas os os aposentos dos cardeais podem ser em qualquer "lugar adequado dentro do estado da
Cidade do Vaticano". (Isso representa uma mudança dos aposentos apertados e improvisados no Palá cio Apostó lico,
nas á reas pró ximas à Capela Sistina. Os eleitores agora serã o alojados em uma casa de hó spedes recé m-construı́da
chamada Domus Sanctae Marthae.) Rigoroso sigilo ainda será observada em relaçã o a tudo o que diz respeito ao
processo eleitoral.
A eleiçã o por aclamaçã o (ou “por adoraçã o”), entretanto, nã o é mais possı́vel. Isso ocorre quando um ou mais
cardeais se levantam e proclamam um candidato e entã o outros o seguem até que haja um consenso geral para
eleger esse candidato sem uma votaçã o formal. Joã o Paulo II també m encerrou a eleiçã o por meio de um
compromisso, onde os cardeais selecionam um pequeno nú mero de seus companheiros eleitores para chegar a um
acordo entre si a respeito de um candidato, com o entendimento de que o restante dos eleitores entã o obedeceriam
a esse acordo. A ú nica forma de eleiçã o, portanto, é por voto secreto, do qual participam todos os eleitores.
C. CLASSIFICANDO OS PAPAS
O historiador Arthur Schlesinger Jr. apontou em um artigo na The New York Times Magazine (15 de dezembro de
1996) que o “jogo dos presidentes de classi icaçã o é um passatempo popular entre os estudiosos”. Em 1948, seu pai,
Arthur Schlesinger Sê nior, convidou cinquenta e cinco historiadores importantes para proferir seus veredictos. Os
resultados foram publicados na revista Life . Em 1962, a revista Time persuadiu o pai de Schlesinger a repetir a
votaçã o. Mais uma vez, despertou muito interesse e contrové rsia. As pesquisas pediam aos historiadores que
classi icassem cada presidente (exceto dois que morreram logo apó s tomar posse) em uma das cinco categorias:
ó timo, quase ó timo, mé dio, abaixo da mé dia e fracasso. O padrã o nã o era conquista vitalı́cia, mas desempenho na
Casa Branca. Houve trê s pesquisas subsequentes conduzidas sob diferentes auspı́cios em 1981 e 1982. Em 1996, a
The New York Times Magazine persuadiu Arthur Schlesinger Jr. a fazer outra pesquisa, que publicou em dezembro do
mesmo ano.
E essa tradiçã o relativamente recente de classi icar os presidentes dos Estados Unidos que incita (nã o se atreva a
dizer “inspira”) esta tentativa de fazer o mesmo em relaçã o aos mais de 260 ocupantes o icialmente listados da
Cá tedra de Pedro. No entanto, seria impraticá vel avaliar cada um dos papas, nã o apenas porque há muito mais papas
do que presidentes dos Estados Unidos, mas també m porque há um nú mero excepcionalmente alto de ponti icados
abreviados (44 papas, ou quase 17 por cento, serviram menos mais de um ano). Alé m disso, dado o material muito
mais limitado que os historiadores do papado tê m de con iar em comparaçã o com o que os historiadores da
presidê ncia tê m à sua disposiçã o, seria difı́cil, senã o impossı́vel, fazer distinçõ es tã o sutis entre grandes e quase
grandes papas ou entre papas mé dios e abaixo da mé dia. De fato, Arthur Schlesinger Jr. aponta que, em todas as
vá rias pesquisas desde 1948, a “escolha dos melhores e piores presidentes permaneceu relativamente está vel ao
longo dos anos. Há muita lutuaçã o no meio. ” Por esse motivo, oferecemos a seguir apenas uma amostra organizada
cronologicamente dos melhores e dos piores papas, porque quaisquer distinçõ es mais sutis sã o simplesmente muito
difı́ceis de fazer, dadas as variaçõ es histó ricas pronunciadas de ponti icado para ponti icado.
Quatro categorias de papas sã o empregadas aqui: excelente, bom (ou acima da mé dia), pior e uma categoria
especial para papas historicamente importantes, alguns dos quais nã o aparecem em nenhuma das outras listas.
Arthur Schlesinger Jr. indica que grandes presidentes "possuem, ou sã o possuı́dos por, uma visã o de uma Amé rica
ideal" e estã o determinados a "garantir que o navio do estado navegue no curso certo". O mesmo é verdade para
papas excelentes e bons, ou acima da mé dia. Eles possuem, ou sã o possuı́dos por, uma visã o de uma Igreja ideal e
estã o determinados a que a Igreja siga um curso consistente com esse ideal. Os dois crité rios positivos para papas
excelentes e bons sã o: (1) as contribuiçõ es que o papa fez (a) para o bem-estar pastoral e espiritual da Igreja
contemporâ nea, (b) para a integridade do ofı́cio papal em seu perı́o do de tempo, e ( c) ao bem comum da sociedade
contemporâ nea; e (2) a contribuiçã o duradoura que um papa fez (a) para o bem-estar pastoral e espiritual de longo
prazo da Igreja, (b) para o desenvolvimento de longo prazo do ofı́cio papal de maneiras pastoral e espiritualmente
enriquecedoras, e (c) para o bem comum da pró pria humanidade. Os dois crité rios negativos para os piores papas
sã o: (1) o dano imediato que o papa pode ter causado (a) ao bem-estar pastoral e espiritual da Igreja
contemporâ nea, (b) ao ofı́cio papal de seu perı́o do, e (c) para o bem comum da sociedade contemporâ nea; e (2) o
dano duradouro que o papa pode ter causado, por meio de comportamento contraproducente ou mesmo
escandaloso, (a) para o bem-estar pastoral e espiritual de longo prazo da Igreja, (b) para o desenvolvimento de
longo prazo do ofı́cio papal, e (c) para o bem comum da humanidade. (Infelizmente, a lista dos piores papas é mais
longa do que a dos papas notá veis e bons, ou acima da mé dia combinados.) Os crité rios para papas historicamente
importantes sã o sua proeminê ncia na histó ria da Igreja e seu reconhecimento como tal pelos historiadores da
papado. Sã o Pedro, o Apó stolo, nã o está incluı́do nas classi icaçõ es porque os papas sã o, por de iniçã o, seus
sucessores. Ele permanece em uma categoria à parte, nã o sujeito a comparaçã o com outros.
I. Notáveis papas
1. João XXIII (1958–63). Provavelmente o papa mais amado, ecumê nico e de coraçã o aberto da histó ria, ele tocou a
comunidade humana mundial de uma forma que nenhum outro papa jamais fez. “Bom Papa Joã o”, como o falecido
cardeal-arcebispo de Boston, Richard Cushing (m. 1970), uma vez o chamou, també m revelou à Igreja e ao mundo o
real objetivo e propó sito do ministé rio petrino. Cada papa, antes e depois dele, deve ser comparado ao padrã o que
ele estabeleceu.
2. Gregório, o Grande (590–604). Como Joã o XXIII, um papa genuinamente pastoral, com uma profunda
preocupaçã o pelos pobres, ele ajudou a moldar a evoluçã o do ministé rio durante sé culos. Seu cuidado pastoral ,
traduzido para o grego e anglo-saxã o em sua pró pria vida, permaneceu uma obra extraordinariamente in luente até
a Idade Mé dia. Nela expô s uma visã o de pastoral adaptada à s necessidades do povo e enraizada no exemplo pessoal
e na pregaçã o, com um equilı́brio delicado entre os aspectos contemplativos e ativos de todo ministé rio. Ele foi o
primeiro a se referir ao papa como o “servo dos servos de Deus”.
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3 Sã o Leã o I, “o Grande” (440-461), o primeiro papa a reivindicar ser o herdeiro de Pedro.
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4 Sã o Gregó rio I, “o Grande” (590–604), um dos escritores mais in luentes do papado.
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5 Sã o Leã o III (795-816), que coroou Carlos Magno como imperador em 800.
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6 Sã o Gregó rio VII (1073–1085), cujas reformas criaram o papado moná rquico do segundo milê nio cristã o.
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7 Bl. Urbano II (1088–1099), que lançou a Primeira Cruzada e estabeleceu a Cú ria Romana.
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8 Inocê ncio III (1198–1216), um dos papas mais poderosos da histó ria.
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9 Bonifá cio VIII (1295-1303), que reivindicou autoridade sobre os reinos temporal e espiritual.
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13 Sã o Pio V (1566-1572), que impô s as reformas do Concı́lio de Trento e excomungou a Rainha Elizabeth I em
1570.
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14 Pio VII (1800–1823), que restaurou os Jesuı́tas em 1814 e sofreu o cativeiro sob Napoleã o.
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15 Pio IX (1846-1878), o papa que reinou mais tempo na histó ria, que convocou o Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-
1870), de iniu o dogma da Imaculada Conceiçã o (1854) e publicou o “Syllabus of Errors” (1864) )
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16 Leã o XIII (1878–1903), o primeiro papa a trazer a Igreja Cató lica para a era moderna e o autor da primeira
grande encı́clica social, Rerum novarum (1891).
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17 Sã o Pio X (1903–1914), o ú ltimo papa a ser canonizado um santo e o “papa da comunhã o frequente”, mas
també m o iniciador de uma campanha massiva contra os estudiosos cató licos.
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18 Bento XV (1914–1922), um papa paci icador que interrompeu a guerra destrutiva entre tradicionalistas e
progressistas na Igreja.
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19 Pio XI (1922–1939), aprovou os Pactos de Latrã o que estabeleceram o Estado da Cidade do Vaticano em 1929.
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20 Pio XII (1939–1958), papa durante a Segunda Guerra Mundial e um irme oponente do comunismo.
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21 Joã o XXIII (1958–1963), o papa mais amado da histó ria, que convocou o Concı́lio Vaticano II (1962–1965) e
iniciou a renovaçã o moderna da Igreja.
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22 Paulo VI (1963–1978), que implementou as reformas do Concı́lio Vaticano II, mas també m publicou a controversa
encı́clica sobre o controle da natalidade (1968).
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23 Joã o Paulo I (1978), o primeiro papa em mil anos que se recusou a ser coroado.
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24 Joã o Paulo II (1978–2005), o primeiro papa nã o italiano desde 1522 e o papa mais viajado da histó ria.
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25 Joã o XXIII discursando na sessã o de abertura do Concı́lio Vaticano II em 11 de outubro de 1962. O cardeal
Francis Spellman, de Nova York (falecido em 1967), está sentado à direita do papa.
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26 Paulo VI discursando na Assembleia Geral das Naçõ es Unidas durante sua histó rica visita aos Estados Unidos em
4 de outubro de 1965.
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27 Joã o Paulo I, mostrado aqui sendo levado na tradicional sedia gestatoria , foi o primeiro papa em sé culos a se
recusar a ser coroado como um soberano temporal e, em vez disso, foi investido com o pá lio simples e a mitra.
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29 Concı́lio de Trento (1545–1563), a principal resposta da Igreja Cató lica à Reforma Protestante.
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30 Vaticano II (1962–1965), talvez o evento religioso mais signi icativo desde a Reforma Protestante e o mais
importante do sé culo XX.
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31 A Bası́lica de Sã o Pedro (Cidade do Vaticano), a principal igreja do catolicismo, construı́da sobre o local no Monte
do Vaticano onde acredita-se que Sã o Pedro tenha sido enterrado. Embora a igreja original tenha sido erguida no
sé culo IV, a igreja atual foi dedicada em 1626.
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32 Capela Sistina, em homenagem ao Papa Sisto IV (1471–1484), a capela principal do Palá cio do Vaticano onde sã o
realizadas as eleiçõ es papais.
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34 Bası́lica de Santa Maria Maior (Roma), fundada pelo Papa Libé rio em meados do sé culo IV, com a atual igreja
erguida no sé culo seguinte pelo Papa Sisto III.
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35 Hagia Sophia (Constantinopla, agora Istambul), a principal igreja do Cristianismo oriental até a conquista turca da
cidade em 1453, e o local de quatro concı́lios ecumê nicos.
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36 Palá cio de Avignon (França), a residê ncia papal de 1309 até 1377 e a sede dos antipapas durante o Grande Cisma
Ocidental (1378-1417).
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37 O encontro de Silvestre I (314-335) e o primeiro imperador cristã o, Constantino, o Grande (falecido em 337).
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38 Carlos Magno (cerca de 742–814), o primeiro imperador do que mais tarde foi chamado de "Sacro Impé rio
Romano".
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39 Michelangelo Buonarroti (1475–1564) apresentando o modelo da Bası́lica de Sã o Pedro a Paulo IV (1555–1559).
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7 Alexandre III (20 de setembro de 1159 - 30 de agosto de 1181), ou 21 anos, 11 meses, 13 dias.
8 Leã o, o Grande (29 de setembro de 440 - 10 de novembro de 461), ou 21 anos, 1 mê s, 12 dias.
9 Urbano VIII (6 de agosto de 1623 - 29 de julho de 1644), ou 20 anos, 11 meses, 3 semanas +.
10 Sylvester I (31 de janeiro de 314 - 31 de dezembro de 335), ou 20 anos, 11 meses.
11 Leo III (26 de dezembro de 795 - 12 de junho de 816) ou 20 anos, 5 meses, 2 semanas ou mais.
3
Pio IX (1846-78):
Ubi primum (lat., “Onde primeiro”), que antecipou a proclamaçã o do papa do dogma da Imaculada Conceiçã o da
Bem-Aventurada Virgem Maria em 1854 (17 de junho de 1847).
Cum nuper (lat., “Ultimamente com”), que defendia o direito da Santa Sé aos Estados Papais, que estavam para ser
expropriados pelo novo Estado italiano (18 de junho de 1859).
Quanta cura (lat., "Com que cuidado"), que condenava certos erros modernos e incluı́a, como apê ndice, o famoso
"Programa de Erros", contendo oitenta proposiçõ es anteriormente condenadas (8 de dezembro de 1864)
Ubi Nos (lat., "Onde nó s"), que rea irmou a reivindicaçã o da Santa Sé aos Estados Papais, recentemente
expropriados - incluindo, inalmente, a pró pria Roma - pelo novo Estado italiano (15 de maio de 1871)
Bento XV (1914–22):
Ad beatissimi Apostolorum (lat., “No [limiar] dos mais abençoados Apó stolos”), sua primeira encı́clica, na qual ele
pediu o im da guerra destrutiva entre os chamados cató licos integralistas e cató licos progressistas que se
desenvolveram e se intensi icaram durante o ponti icado anterior. O papa insistiu, sem usar o nome “integralista”, que
o substantivo “cató lico” nã o precisa ser quali icado por “novos epı́tetos” (1º de novembro de 1914).
Ilud máximo (lat., "Este maior"), que insistia que os missioná rios recebessem uma melhor preparaçã o espiritual e
teoló gica, e que os bispos missioná rios formassem um clero nativo o mais rá pido possı́vel e nunca colocassem os
interesses de seus pró prios paı́ses de origem à frente da pastoral necessidades de seu povo (30 de novembro de
1919).
Pacem, Dei munus pulcherrimum (lat., “Paz, a mais bela obra de Deus”), que clamava pela reconciliaçã o
internacional apó s a Primeira Guerra Mundial (23 de maio de 1920).
Pio XI (1922–39):
Ubi arcano Dei consilio (lat., “Onde [está ] o plano oculto de Deus”), sua primeira encı́clica, que promoveu a Açã o
Cató lica, ou a participaçã o dos leigos no apostolado da hierarquia (23 de dezembro de 1922).
Quas primas (lat., “Essas primeiras coisas”), escrito por ocasiã o do estabelecimento da festa de Cristo Rei, para
combater o ateı́smo e o secularismo (11 de dezembro de 1925).
Rerum Ecclesiae (lat., “Dos assuntos da Igreja”), que desenvolveu os temas da encı́clica Maximum illud de Bento XV
(1919) sobre as missõ es (28 de fevereiro de 1926).
Mortalium animos (lat., "As almas dos mortais"), que ofereceu uma avaliaçã o negativa do movimento ecumê nico
nascente, proibiu qualquer envolvimento cató lico em conferê ncias ecumê nicas e insistiu que o catolicismo nã o fosse
considerado igual a outras religiõ es (6 de janeiro de 1928 )
Rerum Orientalium (Lat., “Dos assuntos das [Igrejas] Orientais”), que clamava por uma maior compreensã o das
igrejas orientais e promoveu os estudos orientais (8 de setembro de 1928).
Casti connubii (lat., “Do casamento puro”), que a irmou a doutrina da Igreja de que o casamento é casto,
monogâ mico e iel e que, em resposta à abordagem menos restritiva da Conferê ncia Anglicana de Lambeth de 1930,
condenou veementemente a contracepçã o. No entanto, a encı́clica també m introduzia, como im secundá rio ou
inalidade do casamento (apó s a procriaçã o), a ajuda mú tua dos cô njuges (31 de dezembro de 1930).
Quadragesimo anno (lat., “Depois de quarenta anos”), que comemorava o quadragé simo aniversá rio da Rerum
novarum de Leã o XIII (1891). O papa criticou tanto o individualismo excessivo do capitalismo quanto o coletivismo
amortecedor do socialismo, insistiu nas responsabilidades sociais que andam de mã os dadas com o direito à
propriedade privada e introduziu o princı́pio da subsidiariedade, segundo o qual nada deve ser feito por uma
agê ncia superior (por exemplo, o governo) isso també m pode ser feito, se nã o melhor, por uma agê ncia inferior (15
de maio de 1931).
Non abbiamo bisogno (It., “Nã o precisamos”), que condenou o fascismo italiano e promoveu a Açã o Cató lica na
Itá lia, um movimento laico de cooperaçã o com a hierarquia (29 de junho de 1931).
Ad Catholici sacerdotii (Lat., “A respeito do sacerdó cio cató lico”), uma rea irmaçã o dos ensinamentos tradicionais
da Igreja sobre o sacerdó cio (20 de dezembro de 1935).
Vigilanti cura (lat., “Vigilant care”), escrita para os bispos dos Estados Unidos, a primeira encı́clica papal totalmente
dedicada ao cinema (29 de junho de 1936).
Mit brennender Sorge (alemã o, “With searing ansiedade”), que denunciou as violaçõ es da concordata entre a Santa
Sé e o Terceiro Reich alemã o e que condenou o nazismo como fundamentalmente racista e anticristã o. A encı́clica foi
contrabandeada para a Alemanha e lida em todos os pú lpitos cató licos do paı́s (14 de março de 1937).
Divini Redemptoris (lat., “Do Divino Redentor”), que condenou o comunismo como ateu (19 de março de 1937).
Paulo VI (1963–78):
Ecclesiam Suam (lat., "Sua Igreja"), a primeira encı́clica do papa, que conclamava a Igreja a estar pronta para corrigir
seus pró prios defeitos e entrar em diá logo com outros cató licos, com outros cristã os, com nã o-cristã os e com toda a
humanidade (6 de agosto de 1964).
Mense maio (Lat., “O mê s de maio”), sobre as oraçõ es de maio pela preservaçã o da paz (29 de abril de 1965).
Mysterium idei (lat., "Misté rio da fé "), que foi escrito para contrariar opiniõ es e prá ticas errô neas sobre a
Eucaristia e para rea irmar a doutrina tradicional da transubstanciaçã o, ou seja, que atravé s das palavras do
sacerdote de consagraçã o na Missa o pã o e o vinho tornar-se plenamente e sem resto o pró prio Corpo e Sangue de
Jesus Cristo (3 de setembro de 1965).
Christi Matri (lat., “Da Mã e de Cristo”), sobre as oraçõ es pela paz durante o mê s de outubro (15 de setembro de
1966).
Populorum progressio (lat., “Sobre o progresso dos povos”), que destacou e deplorou a distâ ncia entre as naçõ es
ricas e pobres e que lembrou aos leitores que os bens da terra sã o destinados por Deus para todos. O “novo nome
para a paz”, disse o papa, “é desenvolvimento” (26 de março de 1967).
Sacerdotalis caelibatus (Lat., “ Celibato sacerdotal”), rea irmando a tradiçã o do celibato obrigató rio para padres
cató licos romanos (24 de junho de 1967).
Humanae vitae (lat., “Da vida humana”), que declarou que todo ato sexual dentro do casamento deve estar aberto
à transmissã o da vida. Em outras palavras, nã o pode haver meios arti iciais de contracepçã o. A encı́clica criou uma
tempestade de protestos em todo o mundo, mas especialmente na Amé rica do Norte e na Europa. A reaçã o de Paulo
VI icou tã o abalado que jurou nunca mais publicar uma encı́clica, e nã o o fez (25 de julho de 1968).
5. LISTA DE ANTIPOPOS
Se um antipapa compartilha o mesmo nome e nú mero de um papa legı́timo, seu nú mero é dado entre parê nteses.
Santo Hipó lito (217-35)
Novaciano (251–58)
Felix II (355-65)
Ursinus (366-67)
Eulalius (418–19)
Lawrence (498-99, 501-6)
Dió scoro (530)
Pascal (687)
Theodore (687)
Constantino (767-68)
Philip (768)
John (844)
Anastasius Bibliothecarius (855)
Christopher (903-4)
Boniface VII (974, 984-85)
Joã o XVI (997-98)
Gregó rio (VI) (1012)
Bento X (1058–59)
Honó rio (II) (1061–64)
Clement (III) (1080, 1084-1100)
Teodorico (1100-1101)
Albert (1101)
Sylvester IV (1105-11)
Gregó rio (VIII) (1118-21)
Celestina (II) (1124)
Anacletus II (1130–38)
*
Victor IV (1138)
Victor IV (1159-64)
Pascal III (1164-68)
Calisto (III) (1168-78)
Inocente (III) (1179-80)
Nicholas (V) (1328–30)
Clemente (VII) (1378-94)
Bento (XIII) (1394–1417)
Alexandre V (1409–10)
Joã o (XXIII) (1410–15)
Clemente (VIII) (1423-29)
Bento (XIV) (1425-?)
Felix V (1439-49)
GLOSSARIO
Para uma lista mais completa de termos e de iniçõ es eclesiá sticas relevantes, consulte The HarperCollins Encyclopedia
of Catholicism (HarperCollins, 1995), Richard P. McBrien, editor geral.
abdicação, a renú ncia a um ofı́cio eclesiá stico. O termo era comumente usado em uma é poca em que o modelo
predominante de ofı́cio eclesiá stico, incluindo o papado, era moná rquico. O termo atual no direito canô nico é
renú ncia.
Acacianismo, a divisã o do sé culo V entre Roma (o centro da Igreja Ocidental) e Constantinopla (o centro da Igreja
Oriental) por causa de um documento teoló gico, o Decreto da Uniã o, conhecido como Henoticon (482), redigido por
Acá cio, patriarca de Constantinopla, e Pedro Mongus, patriarca de Alexandria, a im de conseguir a uniã o entre
cató licos ortodoxos e mono isitas. Roma sentiu que o documento nã o fazia justiça aos ensinamentos do Concı́lio de
Calcedô nia (451), porque nã o mencionava as duas naturezas de Cristo. O Cisma Acaciano começou em 484 quando o
Papa Fé lix III (II) excomungou Acá cio por reconhecer Pedro Mongus como patriarca de Alexandria. O cisma
continuou até 519, quando foi inalmente resolvido pelo imperador Justiniano.
Action Française, um movimento polı́tico nacionalista, moná rquico e anti-semita francê s iniciado no inal do
sé culo XIX, que enfatizou a importâ ncia do catolicismo na cultura nacional. Foi apoiado por Pio X (1903-1914), mas
condenado por Pio XI em 1926. No entanto, continuou a in luenciar a polı́tica francesa por meio do governo pró -
alemã o de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial.
visitas ad limina (lat., ad , “para”; limina , “limiares”), a visita que cada bispo diocesano deve fazer regularmente a
Roma (“aos limiares [dos tú mulos dos apó stolos Pedro e Paulo]” ), a im de se encontrar com o Papa e funcioná rios
da Cú ria para informar sobre a situaçã o de sua diocese. Essas visitas tornaram-se comuns a partir do ponti icado de
Bento VII (974-83).
Adopcionismo, um termo geral para visõ es teoló gicas que consideram Jesus Cristo como o ilho puramente
humano e “adotado” de Deus. Mais especi icamente, aplica-se a uma visã o do sé culo VIII, amplamente difundida na
Espanha e condenada por Adriano I, bem como pelo Conselho de Frankfurt em 794, de que existe uma dupla iliaçã o
em Cristo, uma natural e a outra adotada.
aggiornamento (It., “atualizando”), um termo que se tornou sinô nimo do programa de renovaçã o e reforma da
igreja do Papa Joã o XXIII, que culminou no Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Albigensianismo, uma heresia dualista que via toda a realidade como uma batalha eterna entre o mundo do
espı́rito criado pelo Deus in initamente bom e o mundo da carne criado pelo in initamente mau Sataná s. O
albigensianismo loresceu no sul da França e no norte da Itá lia de meados do sé culo XII ao sé culo XIV. Seus
seguidores defendiam um ascetismo austero, rejeitando todas as atividades sexuais e comendo carne, ovos e leite e
praticando jejuns rigorosos. Eles se consideravam mais santos do que a Igreja e rejeitaram sua autoridade. Os
cistercienses e dominicanos pregaram contra ela, mas sem sucesso. Eventualmente, foi superado pela Cruzada
Albigense (1209–19) e a Inquisiçã o.
alocução, papal, um endereço dado pelo papa a um departamento da Cú ria Romana ou a algum outro grupo de
pessoas.
Americanismo, um movimento mal de inido e amplamente mal compreendido associado aos esforços para
adaptar o catolicismo à cultura americana. Foi condenado por Leã o XIII em Testem benevolentiae (lat., “Testemunha
de benevolê ncia”; 1899). O cardeal James Gibbons de Baltimore (morto em 1921), a quem a carta papal foi
endereçada, negou que tal heresia tenha existido nos Estados Unidos.
anates, impostos sobre o primeiro ano de renda de um benefı́cio. No sé culo XIV, os anatos pagos ao tesouro papal
eram comuns e se tornaram uma fonte de grande tensã o entre o papado e vá rias igrejas e naçõ es locais.
Annuario Ponti icio (It., “Anuá rio papal”), publicaçã o anual o icial do Vaticano de uma lista completa dos
membros da hierarquia, ofı́cios e o iciais da Cú ria Romana, e nomes de dioceses e institutos religiosos com
estatı́sticas pertinentes. Ele també m conté m uma lista dos papas com as datas de seus ponti icados.
antipapa, um indivı́duo cuja reivindicaçã o ao papado foi rejeitada pela Igreja como invá lida. Como as regras para
as eleiçõ es papais mudaram ao longo da histó ria e, em alguns casos, foram contornadas, nem sempre é fá cil
distinguir entre requerentes vá lidos e invá lidos ao cargo papal. Houve trinta e nove antipapas. O primeiro antipapa
foi Santo Hipó lito (217-35); o ú ltimo foi Felix V (1439-1449).
Apolinarianismo, a heresia do sé culo IV, em homenagem a Apoliná rio de Laodicé ia, que negou a existê ncia de
uma alma racional em Jesus Cristo. A heresia foi condenada pelo Concı́lio de Constantinopla em 381.
Apostolicae curae (lat., "De interesse apostó lico"), a encı́clica de Leã o XIII em 1896 na qual as ordens anglicanas
foram declaradas invá lidas porque o ordinal de Eduardo VI (1550) omitiu vá rios elementos necessá rios do rito e
porque o ritual nã o incluı́a a intençã o de conferir o poder de oferecer sacrifı́cio.
constituição apostólica, um documento papal que é solene na forma e no conteú do legal e normalmente lida
com questõ es de fé , doutrina ou disciplina que sã o importantes para a Igreja universal ou para uma parte particular
dela. Pode ser assinado pelo pró prio papa ou por um o icial da Cú ria.
delegado apostólico, um clé rigo ou leigo que atua como emissá rio do papa para a Igreja em uma á rea ou paı́s
especı́ ico com o qual a Santa Sé nã o manté m relaçõ es diplomá ticas formais.
Sé Apostólica. Veja Santa Sé .
Arianismo, uma heresia do sé culo IV que negava a divindade de Jesus Cristo, considerando-o apenas a maior das
criaturas. Foi condenado pelo Concı́lio de Nicé ia em 325, mas continuou a dividir o impé rio durante a maior parte do
restante do sé culo, à medida que ganhava e perdia o favor de sucessivos imperadores. A heresia foi inalmente
vencida no Concı́lio de Constantinopla em 381, em grande parte graças ao cuidadoso trabalho teoló gico dos Padres
da Capadó cia: Bası́lio o Grande, Gregó rio de Nazianzo e Gregó rio de Nissa.
audiência, papal, uma visita ou recepçã o dada pelo papa a uma pessoa ou grupo de pessoas que visitam a Santa
Sé . Audiê ncias papais gerais e pú blicas sã o normalmente realizadas à s quartas-feiras no Salã o de Audiê ncias no lado
sul da Bası́lica de Sã o Pedro. Audiê ncias semiprivadas ou privadas sã o realizadas na residê ncia papal, por acordo da
Prefeitura da Casa Pontifı́cia. Durante o verã o, as audiê ncias acontecem na residê ncia de verã o do papa em Castel
Gandolfo, a 25 quilô metros de Roma.
Avignon, uma cidade e arquidiocese no sudeste da França que foi a sede do papado de 1309 a 1377 (um perı́o do
també m descrito como o "cativeiro babilô nico" do papado) e també m de papas rivais durante o Grande Cisma
Ocidental (1378-1417) . Esta nã o foi a ú nica vez que o papado estabeleceu sua sede fora de Roma. Roma era
freqü entemente perigosa e os papas tiveram que se estabelecer temporariamente em vá rias cidades da Itá lia, bem
como em Avignon. Alguns papas, de fato, foram forçados a passar seus ponti icados inteiros fora de Roma por causa
das condiçõ es desfavorá veis na cidade.
basílica (gr., “salã o do rei”), uma igreja de importâ ncia acima da mé dia. Existem quatro bası́licas principais em
Roma: Sã o Pedro, Sã o Joã o de Latrã o, Sã o Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior. Existem centenas de bası́licas
menores em todo o mundo. O termo originalmente designava um edifı́cio o icial no Impé rio Romano.
beati icação, penú ltimo passo no processo o icial de proclamaçã o de um indivı́duo santo. A pessoa beati icada é
chamada de “bem-aventurada”.
Bene ice, um escritó rio eclesiá stico que gera renda. O Concı́lio Vaticano II e o Có digo de Direito Canô nico de 1983
recomendaram a supressã o dos benefı́cios.
bispos, colégio de, o corpo de bispos che iados pelo papa que supostamente sucedem o colé gio dos apó stolos na
autoridade de ensino e no governo pastoral da Igreja.
breve, papal (ou apostólica), uma carta papal, menos formal que uma bula, assinada pelo papa por um
secretá rio e impressa com o selo do anel papal, també m conhecido como Anel do Pescador.
bula papal (lat., bulla , "selo de chumbo"), desde o sé culo XIII, o termo comum para um importante documento
papal carimbado com um selo de chumbo gravado com as marcas faciais dos Apó stolos Pedro e Paulo de um lado e
o nome do papa em letras maiú sculas, do outro. Os touros podem ser usados, por exemplo, para conferir tı́tulos a
bispos e cardeais, para promulgar canonizaçõ es de santos ou para proclamar anos santos.
Bizantino, pertencente a Bizâ ncio, o nome original da cidade de Constantinopla (agora Istambul). O adjetivo se
aplica ao Impé rio Bizantino, outrora centrado em Constantinopla (mas també m estendendo-se a partes da Itá lia) e
ao rito bizantino (també m conhecido como rito grego), que se originou no patriarcado ortodoxo de Constantinopla.
Cesaropapismo, um sistema polı́tico em que o governante temporal tem soberania sobre a Igreja e també m sobre
o estado. Ele atingiu seu apogeu sob o imperador Justiniano (527–65) e permaneceu como um princı́pio governante
dos governantes bizantinos por um milê nio. Isso contribuiu para as tensõ es entre Roma e Constantinopla que
eventualmente levaram ao Cisma Leste-Oeste de 1054.
Camerlengo (It., “Camareiro”), tı́tulo detido por um cardeal que exerce funçõ es inanceiras especı́ icas. Existem o
Camerlengo da Santa Igreja Romana e o Camerlengo do Colé gio dos Cardeais. O primeiro administra a propriedade e
as inanças da Santa Sé durante uma vaga, e o ú ltimo supervisiona os ativos inanceiros do Colé gio dos Cardeais e
registra os negó cios de suas reuniõ es o iciais, ou consistó rios, convocados pelo papa e conduzidos em sua presença.
canonização, o processo pelo qual um indivı́duo é elevado à santidade na Igreja Cató lica. Visto que a palavra
“câ non” é derivada de uma palavra grega que signi ica “regra” ou “lista”, a canonizaçã o é literalmente o processo de
adicionar algué m à “lista” o icial de santos. A primeira canonizaçã o papal foi em 993 por Joã o XV. Em 1234, o papa
Gregó rio IX decretou que apenas o papa pode canonizar um santo. Antes disso, os santos eram proclamados
localmente e seus cultos se desenvolveram naturalmente entre as pró prias pessoas.
cardeal (lat., cardo , “dobradiça”), o tı́tulo dado a um membro do Colé gio de Cardeais, todos os quais sã o
nomeados diretamente pelo papa e que servem como seus conselheiros pró ximos e como eleitores papais. O tı́tulo
foi originalmente dado a membros do clero romano que administravam certas igrejas-chave (“dobradiças”) em
Roma. Os cardeais que nã o tinham responsabilidades pastorais na cidade de Roma foram nomeados pastores
titulares dessas igrejas. Assim, algué m é nomeado cardeal “no tı́tulo de” uma igreja particular. Existem quatro
categorias de cardeais: cardeais-diá conos, que originalmente cuidavam dos pobres nos sete distritos de Roma, mas
agora sã o bispos titulares designados para o serviço de tempo integral na Cú ria Romana; cardeais-sacerdotes, que
serviram como pá rocos nas principais paró quias de Roma, mas que agora sã o bispos de dioceses fora de Roma;
cardeais-bispos, que eram chefes das dioceses vizinhas (ou subú rbios) em torno de Roma, mas que agora estã o
engajados no serviço de tempo integral na Cú ria Romana; e os cardeais-patriarcas, que sã o chefes de sé de origem
apostó lica com liturgias antigas. Em 1962, o Papa Joã o XXIII decretou que todos os cardeais també m deveriam ser
bispos, mas alguns indivı́duos foram excluı́dos desta regra, por exemplo, os dois teó logos, Avery Dulles e Yves
Congar.
cardeal-nephew, um tı́tulo informal para um sobrinho ou outro parente pró ximo de um papa que serviu como
seu colaborador e conselheiro mais pró ximo, à s vezes como seu secretá rio de Estado o icial ou nã o o icial. O arranjo
existiu desde o tempo de Paulo III (1534-49) até o inal do sé culo XVII, quando Inocê ncio XII (1691-1700) decretou
que o papa nunca deveria conceder propriedades, cargos ou receitas a parentes, que apenas um parente deveria ser
elegı́vel para nomeaçã o para o Colé gio de Cardeais, desde que ele seja quali icado, e que sua renda deva ter um teto
modesto.
Cardinals, College of, o corpo de cardeais responsá veis por (desde 1059) eleger um novo papa (embora os
direitos de voto sejam restritos aos cardeais com menos de oitenta anos) e ajudar o papa no governo da Igreja
universal. O reitor eleito do colé gio por tradiçã o deté m o tı́tulo da diocese de Ostia, a sé tima das dioceses vizinhas de
Roma, alé m de sua pró pria sé suburbana. O reitor ordena ao episcopado a pessoa eleita papa, se ainda nã o for
bispo. O primeiro cardeal-diá cono anuncia o nome do novo papa.
Reforma carolíngia, reformas da Igreja e da sociedade realizadas pelo imperador Carlos Magno (falecido em
814) e seus sucessores envolvendo a renovaçã o da vida moná stica, a substituiçã o da liturgia galicana pela liturgia
romana, o estabelecimento de novas estruturas diocesanas e provinciais , e provisã o para a educaçã o do clero.
Castel Gandolfo, residê ncia papal de verã o a cerca de quinze milhas a sudeste de Roma, à s margens do Lago
Albano. E també m o local do Observató rio do Vaticano. Toda a propriedade está sob os direitos extraterritoriais do
Estado da Cidade do Vaticano.
celibato, clerical, a renú ncia canonicamente imposta, vitalı́cia do casamento por padres ordenados no rito
romano ou latino. A disciplina do celibato obrigató rio teve uma histó ria irregular até o ponti icado de Gregó rio VII
(1073–85), que impô s uma observâ ncia mais uniforme no Ocidente. Nas igrejas orientais, os padres podem se casar
antes da ordenaçã o, mas nã o depois. Os bispos nã o podem ser casados.
Calcedônia, Concílio de, o concı́lio ecumê nico de 451 que ensinou de initivamente que em Jesus Cristo há apenas
uma Pessoa divina, mas duas naturezas, uma divina e uma humana.
Controvérsia sobre os ritos chineses, um con lito amargo entre os jesuı́tas e os dominicanos nos sé culos XVII e
XVIII sobre a legitimidade de vá rias acomodaçõ es da liturgia cató lica e prá ticas devocionais à cultura chinesa. No
centro da contrové rsia estavam os mé todos de Matteo Ricci (1552–1610), um missioná rio jesuı́ta, que foi o principal
defensor da adaptaçã o ritual. O uso de ritos chineses foi proibido por Bento XIV em 1742, mas a proibiçã o foi
levantada por Pio em 1939, muito depois que a China foi “perdida” para o catolicismo.
Cluny, mosteiro beneditino francê s fundado perto de Mâ con, na Borgonha, em 909, e o centro da reforma
moná stica durante os sé culos X e XI. Em meados do sé culo XII, havia mais de mil mosteiros Cluniac. Eventualmente,
foi eclipsado por novas ordens e foi inalmente suprimido pela Revoluçã o Francesa em 1790.
Código de Direito Canônico, uma codi icaçã o dos câ nones ou leis da Igreja Cató lica Romana, originalmente
promulgado por Bento XV em 1917 e promulgado de forma revisada por Joã o Paulo II em 1983. Um Có digo dos
Câ nones das Igrejas Orientais foi promulgado por Joã o Paulo II em 1990.
Colégio de Cardeais. Veja Cardinals, College of.
colegialidade, uma doutrina que a irma que o episcopado mundial, juntamente com o papa, o bispo de Roma, tem
o ensino supremo e a autoridade pastoral sobre a Igreja universal. Os bispos nã o ajudam simplesmente o papa a
governar a Igreja; eles o governam em colaboraçã o com ele, embora ele seja o chefe, ou presidente, do colé gio dos
bispos, com sua pró pria autoridade distinta dentro do colé gio e sobre a Igreja universal.
conciliarismo, visã o emanada dos canonistas dos sé culos XII e XIII, segundo a qual um concı́lio geral ou
ecumê nico é considerado a mais alta autoridade eclesiá stica, superior até mesmo ao papa. O concı́lio foi ensinado
o icialmente pelo Concı́lio de Constança em 1415 e atingiu seu auge no Concı́lio de Basilé ia (1431-1449).
conclave (lat., cum clavis , “com a chave”), a reuniã o de cardeais para eleger um novo papa. També m se refere à
parte separada e trancada do Vaticano onde ocorre a eleiçã o. O conclave se originou em 1271 em Viterbo quando as
autoridades locais, cansadas por uma demora de dois anos e nove meses na eleiçã o de um novo papa, trancaram os
cardeais em aposentos con inados até que conseguissem escolher um novo papa.
concordata, um acordo formal entre a Santa Sé e uma entidade polı́tica. O exemplo mais famoso nos ú ltimos
tempos sã o os Acordos de Latrã o de 1929, garantindo os direitos soberanos e independentes da Santa Sé sobre o
Estado da Cidade do Vaticano.
congregação, um departamento da Cú ria Romana. Existem nove dessas congregaçõ es na Cú ria, incluindo, por
exemplo, a Congregaçã o para a Doutrina da Fé , a Congregaçã o para os Bispos e a Congregaçã o para a Evangelizaçã o
dos Povos.
consistory (lat., consistere , “permanecer juntos”), uma reuniã o formal de cardeais convocada e presidida pelo
papa. O termo teve origem na é poca romana para designar encontros com o imperador na antecâ mara do palá cio
imperial.
Constança, Concílio de (1414-18), dé cimo sexto concı́lio ecumê nico da Igreja, que pô s im ao Grande Cisma
Ocidental (1378-1417) ao depor ou garantir a renú ncia de trê s pretendentes simultâ neos ao cargo papal e, entã o,
eleger Martin V. O concı́lio foi signi icativo també m por incluir o baixo clero, religiosos, teó logos e leigos entre seus
participantes ativos. Decretou que os concı́lios deveriam ser realizados em intervalos regulares e declarou que um
concı́lio geral recebe sua autoridade diretamente de Cristo, sem a aprovaçã o papal.
Constantino, Édito de (313), à s vezes chamado de Edito de Milã o, um documento de Constantino, o Grande,
concedendo tolerâ ncia a todas as religiõ es, incluindo o Cristianismo. Por este ato, todas as propriedades con iscadas
foram devolvidas à Igreja, e a Igreja foi reconhecida como uma pessoa jurı́dica, capaz de possuir e dispor de bens.
Constantinopla, a sede tradicional do Cristianismo Oriental. O imperador Constantino transferiu a capital do
Impé rio Romano de Roma para Constantinopla em 330, construindo a nova cidade no local da cidade grega de
Bizâ ncio. Permaneceu a capital do impé rio oriental, ou bizantino, até 1453, quando caiu nas mã os dos turcos. O
Concı́lio de Calcedô nia em 451 concedeu a Constantinopla um status patriarcal equivalente a Roma porque ambas
eram cidades imperiais. Quatro concı́lios ecumê nicos foram realizados em Constantinopla, em 381, 553, 680-81 e
869-70.
constituição, papal (ou apostólica), documento em que um papa promulga ou promulga uma lei para a Igreja
universal. (Existem també m constituiçõ es, dogmá ticas e pastorais, emitidas por um concı́lio ecumê nico.)
coroação papal, coroaçã o de um novo papa com a tiara, ou seja, uma cobertura formal para a cabeça (que
acabou se transformando em uma trı́plice coroa), alguns dias apó s sua eleiçã o. Os bispos de Roma provavelmente
começaram a usar uma tiara no sé culo III. A cerimô nia de coroaçã o foi inalmente modelada segundo a dos
governantes seculares. Entre os sé culos VI e VIII, isto é , apó s as guerras contra os Godos (535-53), um papa recé m-
eleito nã o poderia ser coroado sem a aprovaçã o do imperador. E até que fosse coroado, ele nã o era considerado
papa. Esse arranjo terminou apó s o ponti icado de Gregó rio III (731-41), o ú ltimo papa a buscar a aprovaçã o do
imperador bizantino para sua consagraçã o e coroaçã o. No entanto, em 824, o imperador carolı́ngio, Luı́s, o Piedoso,
impô s uma constituiçã o romana na qual, alé m de restaurar o papel dos leigos nas eleiçõ es papais, exigia que um
papa recé m-eleito izesse um juramento de idelidade ao imperador, na presença de seu representante, antes de ser
consagrado e coroado. Esse arranjo foi mais ou menos aplicado até o sé culo X, quando as famı́lias aristocrá ticas de
Roma começaram a exercer um controle decisivo, embora també m temporá rio, sobre as eleiçõ es papais. Nicolau II
(1058–61) decretou que a con irmaçã o imperial nã o era mais necessá ria. Desde Paulo VI (1963-78), que vendeu sua
tiara, e Joã o Paulo II (1978-2005), que rejeitou o rito da coroaçã o, os papas nã o sã o mais coroados, mas
simplesmente "inaugurados" em seu ministé rio petrino por serem investidos do pá lio (a vestimenta de lã usada ao
redor do pescoço de um arcebispo como um sinal de autoridade pastoral).
conselho, assembleia o icial dos lı́deres da igreja. Os concı́lios ecumê nicos ou gerais sã o assemblé ias provenientes
de toda a Igreja e exercem o ensino supremo e a autoridade pastoral em uniã o com o bispo de Roma. Existem, e tê m
existido, muitos outros tipos de conselho na Igreja: local, provincial, regional e nacional (plená rio).
Contra-Reforma / Reforma Católica, a renovaçã o e reforma da Igreja Cató lica empreendida apó s a eclosã o da
Reforma Protestante no inı́cio do sé culo XVI. Entre seus elementos estavam o Concı́lio de Trento (1545–63), a
fundaçã o de novas ordens religiosas, como os Jesuı́tas (1540), e o estabelecimento de seminá rios para a educaçã o e
treinamento de futuros padres. Entre seus elementos menos agradá veis estavam a Inquisiçã o e o Indice de Livros
Proibidos.
Cruzadas, uma sé rie de guerras travadas inicialmente para recuperar ou defender o territó rio cristã o e locais
sagrados na Terra Santa (Palestina), Espanha e Sicı́lia. A Primeira Cruzada foi convocada por Urbano II em 1095, e a
Quinta Cruzada terminou em 1221. Muitos dos papas medievais estavam quase obcecados com a necessidade de
lançar cruzadas e repelir os turcos e outros muçulmanos de um lugar ou de outro, incluindo a pró pria Itá lia .
Infelizmente, as Cruzadas foram transformadas em empreendimentos econô micos e polı́ticos e izeram muito para
alargar o fosso entre as Igrejas Orientais e Ocidentais.
curia, a rede administrativa que auxilia o papa ou qualquer bispo no governo de sua diocese ou, no caso do papa,
da Igreja universal. Veja também Cú ria Romana.
decretal, uma carta papal emitida em resposta a uma pergunta ou para resolver uma questã o controversa. Os
decretos papais foram emitidos pela primeira vez no sé culo IV e foram uma fonte importante do direito canô nico na
Idade Mé dia.
dicastério (gr., dikast s , “juiz”, “tribunal”), termo gené rico para um departamento ou agê ncia do governo da
igreja, especialmente na Cú ria Romana.
Dictatus papae (lat., “Pronunciamento do papa”), uma sé rie de declaraçõ es coletadas, datada de março de 1075 e
associada a Gregó rio VII, descrevendo um papado com vastos poderes nas esferas religiosa e secular. Eles a irmam,
por exemplo, que o papa pode depor imperadores e que ele mesmo nã o pode ser julgado por ningué m mais (exceto,
presumivelmente, Deus).
diocese, uma comunidade cristã dentro de um determinado territó rio geográ ico sob os cuidados pastorais de um
bispo. També m é conhecido como ver. Uma diocese maior é conhecida como arquidiocese e seu bispo como
arcebispo.
Docetismo (grego, dokein , “parecer”), uma heresia do segundo sé culo que a irmava que Jesus Cristo parecia ter
apenas um corpo humano. Tinha muito em comum com o gnosticismo, uma heresia contemporâ nea que també m
negava a humanidade plena de Cristo.
Doutor da Igreja, um santo canonizado o icialmente reconhecido pelo papa (ou um concı́lio ecumê nico) como um
eminente mestre da fé , por exemplo, os Santos. Agostinho de Hipona, Ataná sio, Bası́lio o Grande, Tomá s de Aquino,
Boaventura, Joã o da Cruz, Teresa de Avila e Catarina de Sena.
doutrina, um ensino o icial da Igreja, embora nã o necessariamente de initivo, ou infalı́vel.
dogma (gr., “o que parece certo”), um ensino de initivo ou infalı́vel da Igreja. A promulgaçã o de um dogma é
prerrogativa do papa atuando como cabeça terrena da Igreja ou de um concı́lio ecumê nico em uniã o com o papa.
Doação de Constantino, o suposto legado do imperador Constantino ao Papa Silvestre I (314-35) do domı́nio
temporal sobre a Itá lia e outras regiõ es ocidentais. Gozou de ampla credibilidade durante sé culos e foi usado como
base de vá rias reivindicaçõ es da Igreja à soberania temporal, mas passou a ser considerado inautê ntico em meados
do sé culo XV.
Doação de Pepin. Veja os Estados Papais.
Donatismo, um movimento cismá tico norte-africano dos sé culos IV e V tendendo ao rigorismo moral. O cisma
surgiu de uma disputa sobre a eleiçã o de Cecilian como bispo de Cartago em 311. Os donatistas (ou seguidores de
Donato) argumentaram que o consagrador de Cecilian havia sido um comerciante , ou seja, aquele que "entregou" as
Escrituras durante o tempo de a perseguiçã o de Diocleciano (303-12). O cisma perdurou até a conquista muçulmana
do Norte da Africa no sé culo VII.
Igrejas orientais, aquelas igrejas cristã s de rito oriental cujas origens estavam na metade oriental do Impé rio
Romano ou alé m das fronteiras orientais do impé rio. A partir do sé culo V, vá rias contrové rsias levaram à separaçã o
de vá rias igrejas orientais da ocidental, ou de rito latino, centrada em Roma.
Cisma Leste-Oeste, a ruptura dos laços de comunhã o eclesiá stica entre Roma e Constantinopla, começando já com
as contrové rsias cristoló gicas do sé culo V, mas chegando ao clı́max em 1054 com as excomunhõ es mú tuas do
patriarca de Constantinopla, Miguel Cerularius, e do bispo de Roma, Leã o IX. O cisma foi selado pelas Cruzadas
(1095–1221) e a rejeiçã o ortodoxa do Decreto de Uniã o do Concı́lio de Florença em 1439.
concílio ecumênico, a assemblé ia de todos os bispos do mundo, sob a presidê ncia do bispo de Roma, e a mais
alta autoridade terrestre na Igreja.
eleição papal. Veja a eleiçã o papal.
Eminência, o tı́tulo de honra dado a um cardeal, pela primeira vez pelo Papa Urbano VIII em 1630.
encíclica, uma carta pastoral formal (lit., uma carta circular) escrita por, ou sob a autoridade do papa, a respeito
de questõ es morais, doutriná rias ou disciplinares e dirigida à Igreja universal (e agora a toda a comunidade
humana). Eles foram empregados pela primeira vez por Bento XIV em 1740 e se tornaram um meio padrã o de
ensino papal comum nos tempos modernos.
encíclicas, cartas sociais e papais circularam por todo o mundo sobre questõ es de justiça social, direitos
humanos e paz. A primeira grande encı́clica social foi a Rerum novarum de Leã o XIII em 1891. O centená rio de sua
publicaçã o foi marcado pela Centesimus annus de Joã o Paulo II em 1991.
Iluminismo, o movimento ilosó ico, polı́tico e cientı́ ico da Europa do sé culo XVIII, no qual as idé ias de grandes
pensadores do sé culo XVII foram levadas adiante por iguras como Rousseau, Hume e Kant. Os pensadores
iluministas rejeitaram a tradiçã o e a autoridade, especialmente a autoridade religiosa, e con iaram na razã o humana.
A Igreja e seus papas reagiram fortemente contra o movimento, mas passaram a adotar uma atitude mais simpá tica
para com seus muitos aspectos vá lidos no Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Éfeso, Concílio de (431), o terceiro concı́lio ecumê nico da Igreja, que de iniu (contra os Nestorianos) que em
Cristo há apenas uma Pessoa divina, e que Maria é , portanto, a Mã e de Deus, nã o apenas a mã e de Jesus.
episcopado, tanto o ofı́cio do bispo como o corpo coletivo dos bispos.
ex cathedra (lat., “da cadeira”), o nı́vel mais alto de ensino papal; um ensino infalı́vel, ou seja, um imune ao erro.
Existem trê s condiçõ es para uma declaraçã o ex cathedra : (1) deve dizer respeito a uma questã o de fé e moral; (2) o
papa deve estar falando como o cabeça terrestre da Igreja; e (3) ele deve ter a intençã o clara de vincular toda a
Igreja.
excomunhão, pena do direito canô nico que exclui o membro da Igreja da plena participaçã o na vida sacramental
e ministerial. Pode ser imposta automaticamente, como no caso de um bispo que ordena um bispo sem a aprovaçã o
papal, ou pode ser imposta apó s um processo canô nico, como no caso de um teó logo cujos escritos sã o
considerados heré ticos.
Exsurge Domine (lat., “Levanta-te, Senhor”), a bula papal de Leã o X, 15 de junho de 1520, que condenou Martinho
Lutero como herege. Ele foi excomungado no ano seguinte.
Falsos Decretais, uma sé rie de cartas papais e documentos canô nicos que foram forjados por volta de 850 na
França e falsamente atribuı́dos a Santo Isidoro de Sevilha (falecido em 636). Eles foram usados por Gregó rio VII
(1073–85) e seus canonistas para apoiar seus argumentos de que o papa e os outros bispos eram independentes do
controle leigo.
Febronianism, um movimento do sé culo XVIII na Alemanha que subordinou a Igreja aos interesses nacionais.
Originado por um bispo auxiliar de Trier que escreveu sob o pseudô nimo de Justinus Febronius, argumentou, entre
outras coisas, que os pronunciamentos papais sã o vinculativos apenas se receberem consentimento episcopal. Pio VI
condenou essa opiniã o em 1778. O bispo se retratou, mas o movimento continuou no sé culo XIX.
Filioque (lat., “E do Filho”), um termo latino adicionado ao Credo Niceno-Constantinopolita no Ocidente no sé culo
IX que criou sé rio con lito, e continua a fazê -lo até hoje, entre as Igrejas Orientais e Ocidentais. O Oriente insiste na
versã o original, “o Espı́rito Santo que procede do Pai”, a im de preservar o papel ú nico do Pai dentro da Trindade
como a fonte da vida divina.
Fisherman's Ring, um anel de sinete gravado com a imagem de Sã o Pedro pescando em um barco e circundado
com o nome do atual papa. O anel nã o é usado pelo papa, mas é usado para selar documentos papais e outros
documentos o iciais. E destruı́do com a morte de cada papa.
Florença, Concílio de (1438-45), um concı́lio ecumê nico, iniciado em Ferrara e terminado em Roma, que tentou
sanar a brecha entre as Igrejas Oriental e Ocidental, mas acabou falhando. O Decreto de Uniã o, aceitando o Filioque
(veja acima), foi assinado por alguns dos gregos, mas muitos mudaram de ideia depois do concı́lio e Constantinopla
caiu nas mã os dos turcos em 1453, interrompendo qualquer progresso em direçã o à uniã o que fosse alcançado.
Galicanismo (lat., Gallia , “Gá lia,” ou França moderna), um movimento que reivindicou para a Igreja francesa uma
independê ncia da intervençã o papal. Considerava um conselho geral superior ao papa e insistia que os
pronunciamentos papais estavam sujeitos à aprovaçã o episcopal subsequente. O movimento foi essencialmente
dissolvido com a Revoluçã o Francesa, embora tenha sido revivido de alguma forma apó s a restauraçã o da
monarquia no sé culo XIX. O Primeiro Concı́lio Vaticano (1869-70) direcionou uma parte de seu ensino sobre a
infalibilidade papal contra o galicanismo quando declarou que os ensinamentos infalı́veis sã o autorizados em si
mesmos e nã o do consentimento da Igreja.
Gnosticismo (gr., Gnose , “conhecimento”), a primeira das heresias cristã s, que negava que a Palavra de Deus
tivesse assumido carne humana (a encarnaçã o). Alé m de enfatizar o papel da iluminaçã o interior ou do
conhecimento salvı́ ico de Deus, disponı́vel apenas para poucos, també m negava a bondade da criaçã o e da ordem
material.
Grande eleitor, um cardeal que desempenha um papel importante na eleiçã o de um novo papa, funcionando
como uma espé cie de gerente de campanha em um conclave, apontando as virtudes e qualidades de liderança de seu
candidato e estimulando com sucesso blocos signi icativos de cardeais-eleitores de vá rios paı́ses e / ou a Cú ria
Romana para dar o seu apoio ao seu candidato.
Reforma gregoriana, o movimento de renovaçã o da igreja que começou no sé culo X, mas se vinculou mais
diretamente ao seu expoente mais forte, Gregó rio VII (1073-1085). Incluı́a o combate à simonia, nepotismo,
casamento clerical e investidura leiga de o iciais da igreja.
Henoticon, fó rmula de uniã o entre cató licos ortodoxos e mono isitas elaborada em 482 entre Acá cio, patriarca de
Constantinopla, e Pedro Mongus, patriarca de Alexandria, por instigaçã o do imperador Zenã o. O Papa Fé lix III (II)
posteriormente excomungou Acá cio, provocando assim o Cisma Acaciano.
heresia, a negaçã o sabida e obstinada de um dogma de inido da Igreja.
hierarquia (gr., “governo de padres”), o corpo ordenado do clero (bispos, padres [presbı́teros], diá conos) ou,
mais comumente, apenas de bispos.
Santidade, Sua, um tı́tulo desde o sé culo XIV restrito na Igreja Cató lica ao papa. Durante os primeiros sé culos, foi
usado por todos os bispos.
Santo Padre, um tı́tulo do papa, usado pela primeira vez em inglê s na dé cada de 1830. O latim é mais expansivo,
Beatissimus Pater (“O Santı́ssimo Padre”).
Santo O ício, originalmente a Congregaçã o da Inquisiçã o, estabelecida por Paulo III em 1542. Tornou-se a
Congregaçã o para a Doutrina da Fé em 1967 sob Paulo VI.
Sacro Império Romano, o estado europeu fundado pelo rei alemã o Otto I em 962 como sucessor do impé rio de
Carlos Magno. Seu nú cleo consistia nos principados alemã es, Austria, Boê mia e partes da Itá lia e Holanda. Os
imperadores foram eleitos pelos prı́ncipes mais poderosos e entã o coroados pelo papa em Roma, uma prá tica
descontinuada em 1562. O impé rio foi dissolvido em 1806.
Santa Sé (lat., Sancta sedes , "cadeira sagrada"), um termo originalmente relacionado à cerimô nia de instalaçã o do
Bispo de Roma em sua cadeira de autoridade, mas agora se referindo apenas à Sé Apostó lica, ou diocese de Roma,
incluindo especialmente seu bispo, ou seja, o papa, e a Cú ria Romana. O termo també m se refere à Igreja Cató lica
como entidade moral e jurı́dica, incluindo a autoridade espiritual e diplomá tica exercida pelo Papa. Nã o se deve
confundir com o Estado da Cidade do Vaticano, que é a entidade polı́tica e o territó rio em que se encontra a Santa Sé
e que garante a independê ncia da Santa Sé . As relaçõ es diplomá ticas que mais de cem naçõ es mantê m com o
Vaticano sã o com a Santa Sé , nã o com o Estado da Cidade do Vaticano.
Ano Santo, um ano de oraçã o, peregrinaçõ es a Roma e benefı́cios espirituais especiais proclamados pelo papa em
vá rios intervalos (originalmente a cada cem anos) e por razõ es especiais de necessidade ou celebraçã o. O primeiro
Ano Santo foi proclamado por Bonifá cio VIII em 1300.
iconoclastia, destruiçã o de imagens religiosas encomendadas pelos imperadores bizantinos do imperador Leã o
III (717–41) a 843, quando seu uso foi restaurado pela imperatriz Teodora. A contrové rsia entre iconoclastas e
iconó ilos - uma repetiçã o das contrové rsias cristoló gicas do quinto ao sé timo sé culo - foi amarga e intensa, o
primeiro insistindo que qualquer representaçã o de Cristo constituı́a um ataque à sua divindade, enquanto o ú ltimo
insistiu que, de acordo com o princı́pio da Encarnaçã o, o divino é sempre capaz de ser corpori icado, ou imaginado,
no humano ou no material.
Índice de Livros Proibidos, lista de livros que os cató licos foram proibidos de ler ou possuir sob pena de
excomunhã o. Estabelecido em 1557 por Paulo IV e posteriormente supervisionado pela Congregaçã o no Indice
fundado por Pio V em 1571, e depois pelo Santo Ofı́cio em 1917, o Indice foi abolido por Paulo VI em 1966.
indulgências, a remissã o da pena temporal por pecados já perdoados, alcançada por meio de oraçã o ou outras
boas obras. Eles se tornaram uma fonte de grande contrové rsia pouco antes e durante a Reforma Protestante
porque os papas da é poca colocaram indulgê ncias à venda a im de arrecadar dinheiro para a construçã o da nova
Bası́lica de Sã o Pedro. Martinho Lutero e outros protestaram contra isso, e o resto é histó ria. Em uma reformulaçã o
da teologia e prá tica das indulgê ncias em 1967, Paulo VI tentou colocá -los em sua perspectiva adequada - o que
signi ica que eles foram reduzidos em importâ ncia para a vida espiritual dos cató licos.
infalibilidade, um carisma ou dom do Espı́rito Santo pelo qual a Igreja é protegida do erro quando de ine uma
questã o de fé ou moral a ser sustentada por toda a Igreja. O papa é infalı́vel quando fala como cabeça terrena da
Igreja, sobre uma questã o de fé e moral, e com a clara intençã o de vincular toda a Igreja. O mesmo ocorre com um
concı́lio ecumê nico - nas mesmas condiçõ es.
Inquisição, uma instituiçã o extinta estabelecida na Idade Mé dia para a erradicaçã o e puniçã o da heresia. As vezes,
a puniçã o incluı́a tortura e morte. A Inquisiçã o Romana estabelecida e mantida pelos papas deve ser distinguida da
ainda mais infame Inquisiçã o Espanhola, estabelecida por Fernando e Isabel em 1479. Esta ú ltima foi dirigida
especialmente contra muçulmanos convertidos e judeus convertidos que haviam retornado secretamente à prá tica
de seus respectivos religiõ es. Foi abolido por decreto real em 1834. A vı́tima mais famosa da Inquisiçã o Romana foi o
astrô nomo e matemá tico italiano Galileu (falecido em 1642), que foi reabilitado postumamente por Joã o Paulo II em
1992. A Congregaçã o Romana da Inquisiçã o, junto com o Santo Ofı́cio, foi renomeado e dobrado na Congregaçã o
para a Doutrina da Fé por Paulo VI em 1965.
Integralismo, um movimento ultraconservador do sé culo XIX e inı́cio do XX na França que se opô s ao
ecumenismo, aos estudos bı́blicos modernos e à teologia de base histó rica. O movimento foi apoiado e encorajado
por Pio X (1903-1914), mas denunciado por seu sucessor, Bento XV, em sua primeira encı́clica, Ad beatissimi
Apostolorum (1914).
interdito, pena eclesiá stica que proı́be uma pessoa de participaçã o ministerial no culto pú blico e de receber os
sacramentos e sacramentais da Igreja. No passado, os interditos eram aplicados a comunidades, cidades e regiõ es
inteiras.
controvérsia de investidura. Veja investidura leiga.
Jansenismo, um movimento de reforma cató lica do sé culo XVII originado nos Paı́ses Baixos e na França, mas se
expandindo para os territó rios dos Habsburgos e da Itá lia durante o sé culo XVIII. Era pessimista sobre a natureza
humana e o livre arbı́trio e enfatizava a necessidade de um ascetismo rı́gido, o que o opunha aos jesuı́tas, que
adotavam uma abordagem pastoralmente mais realista da vida moral. També m se opô s à s tendê ncias centralizadoras
da Contra-Reforma, que a opô s à hierarquia da Igreja, e à s tendê ncias absolutistas do governo francê s, que a opô s
també m à s autoridades temporais. Foi condenado por vá rios papas, incluindo Alexandre VII (1656 e 1665) e
Clemente XI (1713). O jansenismo desapareceu na França apó s a morte de um simpá tico arcebispo de Paris em
1729, mas produziu um cisma na Holanda em 1723 e sobrevive hoje como um ramo da Velha Igreja Cató lica.
Joana, “Papa”, sujeito de uma fá bula medieval amplamente aceita no sé culo XIII e até o sé culo XVII, quando um
protestante francê s, David Blondel (falecido em 1655), refutou a crença em um tratado publicado em Amsterdã em
1647 e 1657 Pensa-se que o Papa Victor III (falecido em 1087) foi sucedido por uma mulher que, tendo disfarçado o
seu sexo, tinha trabalhado na Cú ria e sido nomeada cardeal. Ela teria sido eleita papa, mas seu disfarce foi revelado
quando ela deu à luz uma criança montando em seu cavalo. Em outra versã o da histó ria, o Papa Leã o IV (falecido em
855) foi sucedido por Joã o Anglicus, que na verdade era uma mulher, mas cujas brilhantes palestras em Roma e cuja
vida edi icante resultou em sua eleiçã o unâ nime como papa. Diz-se que ela serviu como papa por mais de dois anos.
Como a outra suposta papa, este també m foi exposto quando, cavalgando em procissã o da Bası́lica de Sã o Pedro ao
Latrã o, deu à luz uma criança em uma rua estreita entre o Coliseu e a igreja de Sã o Clemente. Ela morreu e foi
enterrada no local. Desenvolveu-se a tradiçã o de que os papas depois disso evitassem aquela rua estreita em
procissõ es. O problema com a histó ria em ambos os casos é que nã o há lugar para encaixar uma papa Joana na
histó ria papal. Os dois papas que ela supostamente sucedeu tiveram outros sucessores que atuaram como papas e
cujas atividades estã o claramente registradas na histó ria.
Josefenismo, um esforço do sé culo XVIII dos imperadores austrı́acos para subordinar a Igreja aos interesses
nacionais. O nome é derivado do Sacro Imperador Romano Joseph II (falecido em 1790), que instituiu uma polı́tica
de controle estatal sobre a Igreja. A apó lice foi retirada em 1850.
Jubileu, ano de, um termo usado no catolicismo desde 1300 em conexã o com, e geralmente como sinô nimo de,
um Ano Santo.
chaves, poder do, uma referê ncia ao comissionamento de Pedro por Jesus e a autoridade conferida a ele em
Mateus 16: 13–20.
A Basílica e o Palácio de Latrão, a catedral do papa como bispo de Roma e a igreja cató lica de mais alto escalã o
do mundo. E uma das quatro bası́licas principais de Roma. Foi construı́do no inı́cio do sé culo IV no Monte Celio
(Monte Celian), em um local anteriormente ocupado pelo palá cio do Laterani, uma nobre famı́lia romana. A
propriedade foi doada à Igreja pelo imperador Constantino em ca. 312. A bası́lica e a residê ncia papal serviram
como residê ncia papal o icial desde o sé culo IV até a remoçã o do papado para Avignon, França, em 1309. Depois de
ser destruı́da por terremotos e incê ndios, foi reconstruı́da e rededicada a Sã o Joã o Batista em 905. Mais dois
incê ndios no sé culo XIV mantiveram-no em estado de degradaçã o até o inal dos anos 1500, quando Clemente VIII
encomendou uma renovaçã o barroca. A fachada data de 1735.
Concílios de Latrão, cinco concı́lios ecumê nicos que ocorreram no Palá cio de Latrã o entre 1123 e 1517. Lateran
III (1179) decretou que uma maioria de dois terços é necessá ria para a eleiçã o de um papa. Latrã o IV (1215), o mais
importante dos concı́lios, exigia a con issã o e a comunhã o anuais para todos os cató licos. Lateran V (1512-1517)
perdeu uma oportunidade crucial para promover a reforma da igreja e evitar as interrupçõ es da Reforma
Protestante.
Tratado de Latrão , acordo assinado em 11 de fevereiro de 1929 entre a Santa Sé e o governo italiano para
resolver a Questã o Romana. A Santa Sé foi inanceiramente compensada pela perda dos Estados Papais, o Estado da
Cidade do Vaticano foi estabelecido como uma entidade polı́tica independente dentro da Itá lia e o Catolicismo foi
declarado a religiã o o icial da Itá lia. A concordata baseada no tratado foi renegociada em 1985. Roma nã o seria mais
uma cidade sagrada; O catolicismo nã o seria mais a religiã o o icial do estado; a instruçã o religiosa nã o era mais
obrigató ria nas escolas pú blicas; e os padres nã o deveriam mais ser empregados assalariados do estado.
o laxismo, atitude moral, com origens no sé culo XVII, que tenta encontrar formas de contornar as obrigaçõ es
cristã s e que sempre resolve a dú vida em favor da isençã o, mesmo quando nã o existem bons motivos para a isençã o.
Associado injustamente aos jesuı́tas pelos jansenistas, o laxismo foi condenado por Alexandre VII em 1665 e 1666, e
novamente em 1679 por Inocê ncio XI.
investidura leiga, uma prá tica medieval pela qual bispos e abades eram nomeados e entã o instalados
(“investidos”) em seus cargos por governantes temporais. Durante a cerimô nia, o bispo ou abade prestava
homenagem ao governante leigo e o governante leigo dava ao eclesiá stico o bá culo e o anel como sı́mbolos de ofı́cio.
Em 1075, Gregó rio VII emitiu um decreto proibindo a investidura leiga. O decreto foi fortemente contestado pelo
imperador alemã o Henrique IV, a quem o papa excomungou. Um acordo foi inalmente alcançado na Dieta de Worms
em 1122 entre o Papa Calisto II e Henrique V. A prá tica de interferê ncia leiga em nomeaçõ es eclesiá sticas continuou,
no entanto, no sé culo XX, quando o imperador austro-hú ngaro submeteu um veto a um candidato papal no conclave
de 1903. O veto foi ignorado e, a partir de entã o, tais vetos imperiais foram proibidos.
Leonine City, a seçã o murada de Roma na margem direita do Rio Tibre que abrange a Bası́lica de Sã o Pedro e
grande parte do Monte do Vaticano, erigida pelo Papa Leã o IV em 846 para proteger a Roma papal de futuros
ataques sarracenos.
Macedonianism, uma heresia do sé culo IV, em homenagem ao Bispo Macedonius de Constantinopla, que negou a
divindade do Espı́rito Santo. Foi condenado pelo Concı́lio de Constantinopla em 381.
magistério, a funçã o de ensino e autoridade da Igreja. E exercido pela hierarquia, pelos teó logos e pelos membros
ordiná rios da Igreja (pais, catequistas, etc.). O termo é mais comumente aplicado, entretanto, à hierarquia.
martirologia, uma lista de dias de festa dos santos com todos os nomes aplicá veis para qualquer data. O
martiroló gio fornece alguns dados biográ icos, como local de nascimento, falecimento e sepultamento.
Mestre do Palácio Sagrado, tı́tulo dado à quele que atua como teó logo pessoal do papa, tradicionalmente
membro da ordem dominicana. O Mestre també m atua como teó logo na Secretaria de Estado e em outros escritó rios
da Cú ria Romana.
mendicantes, també m conhecidos como frades, religiosos com o privilé gio de mendigar (lat., mendicare ) nas
dioceses onde foram estabelecidos. As ordens mendicantes, fundadas no inı́cio do sé culo XIII, sã o juradas à pobreza
comunitá ria e pessoal. As primeiras ordens mendicantes foram os franciscanos e dominicanos. Os carmelitas,
agostinianos, servitas e outros també m receberam o tı́tulo e os privilé gios de mendicantes. Ao contrá rio dos monges
tradicionais da tradiçã o beneditina, os frades tinham permissã o para trabalhar no mundo, fora de suas fundaçõ es
moná sticas, onde se engajavam na pregaçã o, ouvindo con issõ es e outros trabalhos ministeriais.
metropolitano, substantivo ou adjetivo aplicado à principal igreja local de uma regiã o ou ao seu bispo
(geralmente um arcebispo).
Idade Média, o perı́o do histó rico que abrange o milê nio entre o colapso do Impé rio Romano em 476 e o
nascimento do mundo moderno no inal do sé culo XV.
mitra (lat., mitra , “bandana”), a cobertura para a cabeça usada por bispos e alguns abades durante os ritos
litú rgicos.
Modalismo, uma abordagem teoló gica geral da Trindade, durante os sé culos terceiro, quarto e quinto, que via as
trê s Pessoas como trê s modos, aspectos ou energias diferentes das operaçõ es de Deus, mas nã o como trê s Pessoas
distintas. No Oriente, era conhecido como sabelianismo; no Ocidente, como Patripassianismo.
Modernismo, nome dado à crise doutriná ria e disciplinar da Igreja Cató lica nos primeiros anos do sé culo XX,
particularmente durante o ponti icado de Pio X (1903-1914). A crise surgiu porque vá rios teó logos, estudiosos da
Bı́blia, historiadores e iló sofos sociais foram levados, por meio de suas pesquisas, a revisar sua compreensã o de
alguns ensinamentos tradicionais da Igreja. Eles propuseram uma leitura mais crı́tica da Bı́blia, uma teologia baseada
na experiê ncia e uma atitude mais positiva em relaçã o à democracia. Modernismo, um termo gené rico para todas
essas vá rias abordagens, foi condenado por Pio X e um juramento contra o Modernismo foi imposto a todos os
bispos, clé rigos e teó logos em 1910. Uma rede secreta de espionagem, chamada Sodalitium Pianum , encorajava os
indivı́duos a denunciarem suspeitos de hereges para Roma. O sucessor de Pio X, Bento XV (1914–22), dispersou a
rede de espionagem e convocou os cató licos ultraconservadores, ou integralistas, a interromper sua guerra contra
os cató licos mais progressistas. Mas o movimento antimodernista teve um efeito assustador sobre os estudos
cató licos até o Concı́lio Vaticano II (1962-65).
Monarquianismo, uma heresia do sé culo terceiro de segunda e que tã o estressado a unidade de Deus no
governo divino (gr., Monarchia ) que negou a personalidade distintamente divina do Filho e do Espı́rito Santo. Vá rias
formas de heresia eram conhecidas como sabelianismo, patripassianismo e modalismo.
monaquismo (grego, monos , "um, só "), uma forma institucionalizada de vida religiosa ascé tica na qual os
indivı́duos fazem votos de pobreza, castidade, obediê ncia e (como nos beneditinos) estabilidade, separando-se da
sociedade individualmente (eremita forma) ou em comunidade (forma cenobı́tica).
Mono isismo (gr., Monos , “um”; physis , “natureza”), a heresia do sé culo V que a irmava que Jesus Cristo tinha
apenas uma natureza divina, e nã o uma natureza humana també m. A heresia foi condenada pelo Concı́lio de
Calcedô nia em 451, mas a opiniã o continuou a ser mantida por muitos no Oriente e foi a fonte de sé rios problemas
polı́ticos e eclesiá sticos.
Monotelitismo (grego, monos , “um”; theleis , “vontade”), uma heresia do sé culo sé timo que a irmava que Jesus
Cristo possuı́a apenas uma vontade divina. O papa Honó rio I (625-38) se viu defendendo essa visã o em um esforço
para reconciliar os mono isitas com a Igreja, pela qual foi excomungado postumamente pelo Terceiro Concı́lio de
Constantinopla (680-81).
Montanismo, um movimento apocalı́ptico e carismá tico do sé culo II, identi icado com Montanus da Frı́gia, que
enfatizou o im iminente do mundo e impô s uma moralidade austera na preparaçã o para o evento. Seu convertido
mais famoso foi Tertuliano (falecido em cerca de 225), o escritor cristã o latino e apologista da Africa romana.
motu proprio (lat., "por iniciativa pró pria"), documento papal originado do pró prio escritó rio do papa a respeito
de vá rios assuntos administrativos e pastorais. Muitas das mudanças introduzidas pelo Concı́lio Vaticano II (1962-
65) tiveram aplicaçã o prá tica por este tipo de documento papal.
neo-Escolástica , termo utilizado para o renascimento, de 1860 a 1960, da tradiçã o ilosó ica das universidades
medievais e barrocas. També m descreve um tipo muito conservador de teologia que era geralmente abstrato, nã o
experiencial e nã o histó rico no mé todo.
sobrinho, cardeal-. Veja sobrinho cardeal.
Nestorianismo, a heresia do sé culo V, em homenagem a Nestó rio, bispo de Constantinopla, que sustentava que em
Cristo há duas pessoas, uma divina e uma humana. Maria, portanto, é a mã e do Jesus humano apenas, nã o a Mã e de
Deus. O Concı́lio de Efeso condenou essa heresia em 431.
Nicéia, Primeiro Concílio de, o primeiro concı́lio ecumê nico da Igreja, realizado em 325 a convite do imperador
Constantino para lidar com o problema do arianismo, que ensinava que Cristo era apenas a maior das criaturas. O
concı́lio de iniu a divindade de Cristo, declarando-o "da mesma substâ ncia" (gr., Homoousios ) de Deus Pai. (O
Segundo Concı́lio de Nicé ia em 787 validou a prá tica de venerar imagens. Foi o ú ltimo concı́lio ecumê nico
reconhecido pelo Oriente.)
Credo Niceno, també m conhecido como Credo Niceno-Constantinopolitano, uma declaraçã o de fé cristã
formulada pelo Concı́lio de Nicé ia em 325 e a irmada, com algumas modi icaçõ es, pelo Concı́lio de Constantinopla em
381. E o mesmo credo recitado todas as semanas na missa .
Nobres Guardas, guarda-costas aristocrá ticos do papa, fundada em 1801 e dissolvida por Paulo VI em 1970. Nã o
deve ser confundida com a Guarda Suı́ça, fundada em 1505, e ainda servindo ao papa.
núncio (lat., nuntius , “mensageiro”), um legado papal que representa a Santa Sé para um estado ou naçã o e
també m representa o papa para igrejas especı́ icas naquele estado ou naçã o. Um nú ncio deve ser distinguido de um
delegado apostó lico, que representa o papa nas igrejas particulares de um estado ou naçã o com o qual a Santa Sé
nã o tem relaçõ es diplomá ticas formais.
Cristianismo ortodoxo, as igrejas apostó licas originais e as igrejas posteriores que fundaram na metade oriental
do Impé rio Romano e em outros territó rios orientais alé m das fronteiras imperiais. O termo “ortodoxo”
originalmente foi aplicado apenas para aqueles que aceitaram os ensinamentos do Concı́lio de Calcedô nia (451)
sobre a divindade e humanidade de Cristo. Hoje, o termo se aplica mais comumente à s igrejas cristã s do Oriente que
nã o estã o em comunhã o com Roma, particularmente a ortodoxa russa e a ortodoxa grega.
Osservatore Romano , jornal diá rio o icial do Vaticano, fundado em 1861.
pálio , a vestimenta de lã usada ao redor do pescoço e ombros de um arcebispo como um sinal de autoridade
pastoral. E constituı́da por uma estreita faixa circular de lã de cordeiro branca marcada com seis cruzes roxas
escuras, com duas faixas penduradas na frente e atrá s. Sua atribuiçã o agora está reservada ao papa. A histó ria inicial
do pá lio é obscura. Derivado da insı́gnia imperial, foi inicialmente usado por arcebispos e nã o tinha nenhuma ligaçã o
com Roma ou com o investimento da autoridade papal. Só mais tarde o papa assumiu isso para si mesmo. Somente
no sé culo IX todos os arcebispos metropolitanos foram obrigados a fazer uma petiçã o a ele.
bênção papal, uma bê nçã o ou bê nçã o concedida pelo papa. O termo també m se aplica à certidã o de pergaminho
contendo as palavras da bê nçã o para pessoas especı́ icas em ocasiõ es especiais em suas vidas.
coroação papal. Veja coroaçã o papal.
eleição papal, a eleiçã o de um papa por membros do Colé gio de Cardeais com menos de oitenta anos em um
conclave, ou reuniã o secreta. O conclave começa entre quinze e vinte dias apó s a morte de um papa. O reitor do
colé gio convoca e preside o conclave. Antes de 1059, um papa era eleito pelo clero romano e pelo povo, depois
somente pelo clero romano, com a subsequente aprovaçã o do povo. Durante vá rios sé culos, a aprovaçã o da eleiçã o
pelo imperador foi essencial porque, sem sua aprovaçã o, o papa nã o poderia ser consagrado bispo de Roma e
coroado. Desde 1179, uma maioria de dois terços dos cardeais eleitores foi necessá ria para a eleiçã o. O Papa Pio XII
mudou isso para dois terços mais um em 1945. Em 1996, Joã o Paulo II mudou os procedimentos mais uma vez. Uma
maioria de dois terços (sem o mais um) é su iciente, mas uma maioria absoluta també m é su iciente depois que trinta
e trê s votaçõ es foram conduzidas ao longo de vá rios dias, interrompidas por um dia ocasional de oraçã o sem
votaçã o.
legado papal, um representante do papa em uma determinada igreja ou governo civil ou em um conselho ou
conferê ncia internacional.
Estados papais, també m conhecidos como Patrimô nio de Sã o Pedro, partes da Itá lia central e o territó rio de
Avignon e Vê nassin no sul da França que já estiveram sob a soberania temporal da Santa Sé e do papa como seu
chefe temporal e espiritual . Os Estados Papais começaram com uma doaçã o de terras, tomadas aos lombardos, por
Pepino III, rei dos francos, ao Papa Estê vã o II em 754 e 756: Ravenna e as cidades do exarcado bizantino, a
Pentá polis (Rimini, Pesaro, Fano , Senigallia e Ancona, com territó rios adjacentes) e Emilia. O controle papal sobre
essas terras era esporá dico, entretanto, até Jú lio II (1503-13) estabelecer uma irme autoridade papal sobre elas por
meio de uma sé rie de campanhas militares. A porçã o francesa dos Estados Papais, comprada pelo Papa Clemente VI
de Joanna, rainha de Ná poles, em 1348, foi absorvida pela nova Repú blica Francesa em 1791. Em 1860 os territó rios
restantes na Itá lia, exceto Roma, passaram a fazer parte do reino da Itá lia, e em 1870, apó s a retirada da proteçã o
francesa, a pró pria Roma també m se tornou parte do reino italiano. Em 1929, os Pactos de Latrã o forneceram uma
compensaçã o inanceira pela perda de certos territó rios e propriedades papais e o Estado da Cidade do Vaticano foi
reconhecido como uma entidade polı́tica separada e independente.
patriarca, tı́tulo do bispo de mais alto escalã o de uma igreja autô noma ou federaçã o de igrejas locais (conhecidas
como dioceses ou eparquias). Em 451, o imperador bizantino Justiniano determinou as cinco principais sedes
patriarcais como Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalé m. No Oriente, o tı́tulo icou restrito a essas
sedes. Há també m uma estrutura patriarcal nos seis ritos cató licos orientais: armê nio, caldeu, copta, maronita,
melquita e sı́rio ocidental.
Patrimônio de São Pedro. Veja os Estados Papais.
Pelagianismo, uma heresia do sé culo V, ligada ao nome de Pelá gio (m. Ca. 425), um monge britâ nico que
ministrava em Roma, que a irmava que a salvaçã o é possı́vel apenas pelo esforço humano, sem a ajuda da graça. A
heresia foi vigorosamente combatida por Agostinho de Hipona (m. 430), os bispos norte-africanos e o Papa Zó simo
(m. 418).
Peter's Pence, contribuiçõ es inanceiras anuais de cató licos de todo o mundo para apoiar a Santa Sé e as obras
apostó licas do papa. Começou na Inglaterra em 787 como um imposto de um centavo sobre todos, exceto os pobres,
a ser entregue ao papa. A prá tica foi revivida em 1860 por Pio IX, apó s a perda de todos os Estados Papais, exceto
Roma.
Ministério petrino, ministé rio que o Bispo de Roma exerce na qualidade de Vigá rio de Pedro. Preocupa-se com a
unidade da Igreja universal e com o fortalecimento da fé de seus irmã os bispos.
Sucessão petrina, processo complexo pelo qual os bispos de Roma seguem na linha de Sã o Pedro como seus
vigá rios e como chefes terrestres da Igreja universal. Como Sã o Cipriano de Cartago (m. 258) apontou, entretanto,
em certo sentido, todos os bispos sã o sucessores de Sã o Pedro em suas pró prias dioceses - eles sã o sinais de
unidade e portadores da tradiçã o.
pluralismo, ocupar mais de um cargo eclesiá stico ao mesmo tempo, um abuso comum na Idade Mé dia. O primeiro
papa a manter sua ex-diocese enquanto servia como bispo de Roma foi Clemente II (1046–47), que manteve sua
diocese de Bamberg. Os trê s papas alemã es que o sucederam izeram o mesmo: Damá sio II (1048) manteve a sé de
Brixen; Leã o IX (1049–54) manteve a sé de Toul; e Victor II (1055–1057) manteve a sé de Eichstä tt. Da mesma
forma, Nicolau II (1058-1061) permaneceu bispo de Florença. Stephen IX [X] (1057–58) permaneceu como abade
de Monte Cassino apó s sua eleiçã o como papa. Urbano III (1185–1187) manteve sua arquidiocese de Milã o para
evitar que as receitas passassem para o tesouro imperial, e Bento XIII (1724–1730) manteve Benevento, o ú ltimo
papa a reter sua diocese.
Pontifex Maximus (lat., "Sumo Pontı́ ice" ou "construtor de pontes"), um tı́tulo de honra concedido ao Bispo de
Roma desde o inal do sé culo IV, mas originalmente um tı́tulo pagã o dado ao imperador como chefe do colé gio de (
sacerdotes pagã os) em Roma.
papa (It., papa , “pai”), o bispo de Roma e o chefe terreno da Igreja. Nos sé culos anteriores, o tı́tulo era usado para
designar qualquer bispo do Ocidente, enquanto o Oriente o aplicava també m aos padres. Em 1073, Gregó rio VII
proibiu seu uso para todos, exceto o bispo de Roma.
Papa, títulos do, Bispo de Roma, Vigá rio de Jesus Cristo, Sucessor do Chefe dos Apó stolos (Vigá rio de Pedro),
Sumo Pontı́ ice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itá lia, Arcebispo e Metropolita de Roma
Provı́ncia, Soberana do Estado da Cidade do Vaticano e Servo dos Servos de Deus.
Papa Joan. Veja Joan, “Papa”.
Pragmática Sanção de Bourges (1438), um decreto negociado entre o Conselho de Basileia e o rei francê s Carlos
VII por meio do qual os direitos papais aos benefı́cios franceses foram restringidos, bem como o poder papal de
intervir em disputas canô nicas e cobrar impostos. Permaneceu uma fonte de tensã o entre o papado e o governo
francê s e a Igreja francesa por muitos anos depois.
prelado, um sacerdote que tem o poder de governar no foro externo (pú blico) da Igreja, isto é , sobre alguma
porçã o ou agê ncia canô nica da Igreja.
primado, papal, a autoridade honorá ria e jurisdicional possuı́da pelo Bispo de Roma e exercida sobre a Igreja
universal. O primado, entretanto, é sempre exercido dentro do colé gio episcopal, presidido pelo papa.
O priscilianismo, uma heresia do quarto ao sexto sé culo que considerava o corpo humano como mau, insistia
que Cristo nã o tinha um corpo humano e sustentava que as trê s Pessoas da Trindade sã o trê s modos ou facetas de
um Ser divino. O movimento, cujo nome deriva de Prisciliano, asceta que ensinou e se tornou bispo na Espanha no
inal do sé culo IV, foi condenado pelo Concı́lio de Braga em 563.
probabilismo, um sistema moral para a formaçã o da consciê ncia em casos de dú vida que sustenta que se pode
seguir com segurança uma opiniã o teoló gica se ela for proposta por algué m com autoridade teoló gica su iciente e
posiçã o. Tornou-se fonte de contrové rsia no sé culo XVII, quando seus proponentes foram acusados de laxismo, que,
ao contrá rio do probabilismo, sustentava que sempre se poderia resolver dú vidas morais em favor da liberdade,
mesmo quando nã o houvesse boas razõ es.
pró-núncio, termo já extinto para o embaixador papal em paı́ses onde o representante da Santa Sé nã o é chefe do
corpo diplomá tico (como é o caso dos Estados Unidos, por exemplo). O pró -nú ncio representava a Santa Sé nã o só
perante o governo, mas també m perante a Igreja e sua hierarquia naquele paı́s.
Propaganda Fide (Lat.), Ou Congregaçã o para a Propagaçã o da Fé , um departamento da Cú ria Romana
originalmente estabelecido por Pio V (1566-65) e Gregó rio XIII (1572-85) para promover as missõ es aos nã o-
cristã os no Oriente e mais tarde també m aos protestantes na Europa. Agora é chamada de Congregaçã o para a
Evangelizaçã o dos Povos.
Quartodecimanos (lat., "Dé cimo quarto"), aqueles, especialmente na Asia Menor, que celebravam a Pá scoa no
dé cimo quarto dia do mê s judaico de nisã (o que eles chamavam de Pá scoa cristã ), em vez de no domingo seguinte,
de acordo com a prá tica em Roma e em outras partes da Igreja. A disputa preocupou os papas dos primeiros quatro
sé culos. Victor I (189–98) até ameaçou excomungá -los, mas foi repreendido por Santo Irineu de Lyon (m. Ca. 200)
por fazer tal ameaça. O Primeiro Concı́lio de Nicé ia (325) estabeleceu-se na celebraçã o dominical da Pá scoa, mas a
prá tica Quartodecimana continuou até o sé culo V.
Palácio Quirinale (ou Quirinal), a residê ncia de verã o original dos papas (antes de Castel Gandolfo), cuja
construçã o foi iniciada por Gregó rio XIII (1572-1585). Alguns conclaves papais de verã o foram realizados lá por
causa de sua localizaçã o mais fria, situada no topo do Monte Quirinal. Em 1870, durante o ponti icado de Pio IX
(1846-78), foi expropriada pelo novo estado italiano e usada como residê ncia o icial do rei da Itá lia. Bento XV
(1914–22) suspendeu a proibiçã o de Pio IX de visitas papais ao Palá cio do Quirinale.
Ravenna, cidade do norte da Itá lia que primeiro serviu como local de residê ncia imperial em 404 e depois como
capital do exarcado bizantino de 540 a 751, quando caiu para os lombardos. Sua localizaçã o geográ ica e seu antigo
status polı́tico deram aos arcebispos medievais uma importâ ncia especial.
Ordens e congregações religiosas, grupos que vivem sob uma regra religiosa e professam publicamente os votos
de pobreza, castidade e obediê ncia ou seus equivalentes.
rescrito, papal, uma resposta por escrito do papa a uma pergunta ou pedido especı́ ico dirigido a ele. Suas
disposiçõ es vinculam apenas aqueles a quem o rescrito é enviado.
Cúria Romana, a rede de secretariados, congregaçõ es, tribunais, conselhos, escritó rios, comissõ es, comitê s e
indivı́duos que auxiliam o papa em suas responsabilidades como chefe terreno da Igreja universal. Embora os papas
dos primeiros sé culos tivessem assistentes em sua capacidade de bispo de Roma, a Cú ria Romana como tal foi
organizada pela primeira vez por Sisto V em 1588.
Império Romano, territó rio ao redor do Mediterrâ neo e na Europa que foi governado por Roma desde o
primeiro sé culo antes de Cristo até o inal do quarto sé culo depois de Cristo (395), quando o impé rio foi dividido em
Oriente e Ocidente. O impé rio ocidental terminou em 476 quando o ú ltimo imperador do Ocidente, Romulus
Augustulus, foi deposto pelos godos sob Odoacro. A Igreja primitiva adotou parte da estrutura organizacional do
Impé rio Romano para seu pró prio plano organizacional de provı́ncias, sedes metropolitanas, dioceses e
semelhantes. Constantino mudou a capital do impé rio para Constantinopla em 330, onde se tornou a sede do
Impé rio Bizantino (a partir do nome da cidade, Bizâ ncio, na qual a nova cidade de Constantinopla foi erguida). Este
ú ltimo sobreviveu até a queda de Constantinopla para os turcos em 1453. No Ocidente, o Impé rio Romano deu lugar
aos novos reinos germâ nicos em 476. O Sacro Impé rio Romano começou sob o rei alemã o Otto I em 962, como
sucessor do impé rio de Carlos Magno , iniciado em 800. O Sacro Impé rio Romano terminou em 1806.
Roman Question. Veja o Tratado de Latrã o.
O sabelianismo, uma heresia dos sé culos III e IV, batizada em homenagem ao clé rigo romano Sabé lio, que
a irmava que Deus é triú no apenas em relaçã o ao mundo. Por causa de sua ê nfase exagerada na unidade de Deus,
muitas vezes foi associado ao Monarquianismo; e por causa de sua insistê ncia em que as trê s Pessoas divinas sã o
meramente modos da ú nica Pessoa divina exercendo trê s operaçõ es diferentes, també m foi associado ao Modalismo.
Basílica de São João de Latrão. Veja a Bası́lica de Latrã o.
Santa Maria Maior (també m Santa Maria Maggiore), uma das quatro bası́licas maiores de Roma, fundada no
sé culo IV pelo Papa Libé rio no Monte Esquilino. A atual igreja foi reconstruı́da por Sixtus III no sé culo V.
Saint Paul's Outside the Walls, uma das quatro principais bası́licas de Roma, construı́da sobre as relı́quias de
Sã o Paulo por Constantino no sé culo IV e posteriormente ampliada. A bası́lica queimou totalmente em 1823 e foi
reconstruı́da e rededicada em 1854.
Basílica de São Pedro, uma das quatro principais bası́licas de Roma e a principal igreja da Igreja Cató lica.
Construı́do sobre o local do tú mulo de Sã o Pedro na Colina do Vaticano, foi originalmente construı́do durante o
reinado do imperador Constantino (falecido em 337). A atual igreja foi iniciada em 1506 e dedicada em 1626. Os
planos para a nova igreja, incluindo sua grande cú pula, foram projetados por seu arquiteto-chefe, Michelangelo
(falecido em 1564). A colunata que envolve a Praça de Sã o Pedro, ou piazza, foi projetada por Bernini (falecido em
1680), que se tornou o arquiteto da Bası́lica de Sã o Pedro em 1629, onde projetou seus detalhes internos, bem como
a praça. As criptas e altares contê m os locais de sepultamento de mais de 130 papas.
cisma ( grego , cisma , “lá grima”), uma violaçã o formal da unidade da igreja. Ao contrá rio da heresia, um cisma nã o
é dirigido contra a ortodoxia da doutrina, mas contra a comunhã o. Os cismas mais famosos na histó ria da Igreja
foram o Cisma Leste-Oeste (iniciado em 1054) e o Cisma do Grande Oeste (1378–1417).
sedia gestatoria (lat., “cadeira portá til”), a cadeira na qual o papa pode ser carregado no meio de uma multidã o
para que possa ser facilmente visto por todos. Foi usado pela ú ltima vez por Joã o Paulo I (1978) para sua entrada na
Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o ao tomar posse de sua igreja catedral apó s sua eleiçã o.
veja (lat., sedes , “assento”), uma igreja local ou diocese. A palavra latina se refere à cadeira do bispo como sı́mbolo
de sua autoridade episcopal.
Servus servorum Dei (lat., “Servo dos servos de Deus”), tı́tulo papal usado pela primeira vez por Gregó rio, o
Grande (590–604) e em uso geral desde Gregó rio VII (1073–85).
simonia, a compra e venda de escritó rios da igreja, em homenagem a Simã o Mago, que tentou comprar o poder
de impor as mã os de Pedro (Atos 8: 9–24). Foi um grande problema para a Igreja em geral e para o papado em
particular durante a Idade Mé dia.
Capela Sistina, em homenagem ao Papa Sisto IV (1471 a 1484), a capela principal do Palá cio do Vaticano, famosa
por seus afrescos de vá rios artistas, mas mais conhecida por seu teto e parede do altar (representando o Juı́zo Final)
de Michelangelo. A Capela Sistina é usada para as eleiçõ es papais.
Subordinacionismo, uma heresia dos sé culos II e III que a irmava que o Filho e o Espı́rito Santo sã o menos do
que o Pai e, portanto, menos divinos, porque procedem do pai. Os concı́lios de Nicé ia (325) e Constantinopla (381)
condenaram os ensinamentos subordinacionistas associados ao sacerdote alexandrino Ario.
subsidiariedade, princípio de, um elemento da doutrina social cató lica, proposto pela primeira vez por Pio XI em
sua encı́clica Quadragesimo anno (1931), que a irma que nada deve ser feito por uma agê ncia superior na sociedade,
governo ou Igreja que possa ser feito como bem, ou melhor, por uma agê ncia inferior.
suburbicarian vê, as dioceses vizinhas de Roma: Ostia, Palestrina, Porto-Santa Ru ina, Albano, Velletri-Segni,
Frascati e Sabina-Poggio Mirteto. Estas sã o agora sedes titulares, mantidas por vá rios cardeais-bispos. O decano do
Colé gio Cardinalı́cio é o bispo titular de Ostia e també m uma das outras sedes subú rbios. Hoje é ele quem consagra
um papa recé m-eleito, se o papa ainda nã o for bispo. Nos primeiros oito sé culos e meio, quando ningué m que já
fosse bispo foi eleito papa, o papa recé m-eleito seria consagrado bispo pelos bispos de Ostia, Albano e Porto.
supressão, um termo canô nico que pertence à remoçã o da festa de um santo do calendá rio litú rgico da Igreja; a
aboliçã o de uma ordem clerical (por exemplo, o subdiaconado); o redesenho dos limites diocesanos de tal forma que
uma diocese existente nã o mais exista com seu nome anterior, mas seja incorporada a outra diocese de con iguraçã o
diferente; e o encerramento formal de uma ordem religiosa ou de uma instituiçã o eclesiá stica como um mosteiro.
Guarda Suíça, soldados a serviço do Vaticano como uma pequena força de segurança para o palá cio papal e a
pessoa do papa. Originalmente recrutados na Suı́ça como mercená rios a serviço do papado no inı́cio do sé culo XVI,
eles usam uniformes desenhados por Michelangelo. Os novos recrutas devem ser suı́ços, cató licos, solteiros e
menores de 25 anos.
Syllabus of Errors, um documento anexado à encı́clica Quanta cura do Papa Pio IX de 1864 (lat., “Quanto
cuidado”), contendo oitenta teses anteriormente condenadas, incluindo a condenaçã o da liberdade de imprensa e da
democracia em geral.
sínodos, reuniõ es de lı́deres da Igreja para tratar de assuntos de interesse para a vida e missã o da Igreja. Depois
do Vaticano II, Paulo VI estabeleceu o Sı́nodo Mundial dos Bispos, que se reú ne em intervalos regulares para
aconselhar o papa sobre questõ es que dizem respeito à Igreja universal.
tiara, papal, uma cobertura gené rica da cabeça papal que assumiu diferentes formas ao longo dos sé culos. A
partir do sé culo XV, a coroa papal de trê s camadas, semelhante a uma colmeia, foi usada nas cerimô nias de coroaçã o
papal. Paulo VI (1963-78) foi o ú ltimo papa a ser coroado com a tiara em 1963. Posteriormente, ele a vendeu e deu o
dinheiro aos pobres. Desde Joã o Paulo I em 1978, os papas sã o “inaugurados” em seu ministé rio com a investidura
do pá lio, a veste de lã usada ao redor do pescoço de um arcebispo como um sinal de autoridade pastoral.
título (lat., titulus , “inscriçã o”), uma inscriçã o clá ssica que denota uma reivindicaçã o a um edifı́cio ou territó rio
particular. O termo se aplica à s dioceses de subú rbio de Roma e à s igrejas e diaconias (postos de ajuda) de Roma
para as quais os cardeais sã o designados como bispos honorá rios, pastores ou administradores. Assim, um cardeal é
nomeado "no tı́tulo de Sã o Marcos", por exemplo, ou seja, como pastor honorá rio da igreja de Sã o Marcos, em
memó ria da é poca em que os cardeais eram os atuais pastores de vá rias igrejas importantes no cidade de Roma.
Tomo de Leão, carta enviada em junho de 449 pelo Papa Leã o Magno a Flaviano, patriarca de Constantinopla,
articulando a doutrina da Igreja das duas naturezas (humana e divina) e da ú nica Pessoa divina em Jesus Cristo. A
carta foi adotada como base para o ensino do Concı́lio de Calcedô nia em 451.
Trento, Concílio de, o conselho da Contra-Reforma realizado em trê s segmentos diferentes de 1545 a 1563.
De iniu os sete sacramentos, a presença real de Cristo na Eucaristia e o papel da tradiçã o ao lado da Escritura, e
decretou o estabelecimento de seminá rios para a formaçã o dos futuros sacerdotes e um catecismo para a Igreja
universal. O concı́lio moldou a vida e o culto cató licos até o Concı́lio Vaticano II (1962-65).
teoria das duas espadas, a crença medieval de que o papa tem poder tanto no reino temporal quanto no
espiritual. A teoria encontrou sua expressã o extrema no touro Unam Sanctam de Bonifá cio VIII (1302).
Ultramontanismo (lat., "Alé m das montanhas"), um movimento do sé culo XIX em paı́ses europeus alé m dos Alpes
(França, Alemanha, Espanha e Inglaterra) que exaltou o papado como o grande baluarte contra o liberalismo polı́tico
e o relativismo ilosó ico e é tico. Inicialmente, muitos cató licos liberais eram ultramontanos porque viam o papado
como o guardiã o da independê ncia da Igreja contra regimes seculares hostis. O ultramontanismo atingiu seu auge
nos ponti icados de Gregó rio XVI (1831 a 1846) e Pio IX (1846 a 1878) e foi uma força motriz por trá s das doutrinas
papais do Vaticano I (1869 a 1870).
Vaticano, a abreviatura para a sede central da Igreja Cató lica Romana, incluindo o papa e a Cú ria Romana. Seu
nome vem da Colina do Vaticano, que na Roma clá ssica icava fora dos muros da cidade e era o local do circo de
Nero e de um cemité rio. A tradiçã o diz que Sã o Pedro foi martirizado no circo de Nero e enterrado no cemité rio
pró ximo. A Bası́lica de Sã o Pedro foi construı́da naquele local.
Estado da Cidade do Vaticano, entidade polı́tica que governa o territó rio onde está localizada a Santa Sé . E o
menor estado soberano do mundo (108,7 acres ao todo) e está completamente rodeado pela cidade de Roma. Ele
conté m a Bası́lica de Sã o Pedro, o Palá cio do Vaticano, o Museu do Vaticano, a Biblioteca do Vaticano, a Rá dio
Vaticano, o Centro de Televisã o do Vaticano, os Jardins do Vaticano, uma agê ncia dos correios, um banco, um jornal,
uma estaçã o ferroviá ria e vá rios outros escritó rios e galerias. Seus direitos extraterritoriais també m se estendem à s
trê s outras bası́licas maiores de Roma (Sã o Joã o de Latrã o, Sã o Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior), vá rios
escritó rios da Cú ria Romana na cidade de Roma propriamente dita e ao papal vilas e o Observató rio do Vaticano em
Castel Gandolfo, quinze milhas a sudeste de Roma. O Estado da Cidade do Vaticano foi estabelecido pelos Pactos de
Latrã o de 1929 como uma soluçã o inal para a disputa entre o papado e o governo italiano sobre a perda dos
Estados Papais no sé culo XIX.
Concílio Vaticano I (1869-70), o concı́lio ecumê nico que de iniu os dogmas do primado papal e da infalibilidade
papal.
Concílio Vaticano II (1962-65), o concı́lio ecumê nico que encerrou a era tridentina (começando com o Concı́lio
de Trento no sé culo XVI) e inaugurou uma nova era de renovaçã o e reforma marcada por uma ê nfase na Igreja
como todo o Povo de Deus, na colegialidade dos bispos (governando a Igreja em colaboraçã o com, e nã o sob, o
papa), na missã o social da Igreja em favor dos pobres e oprimidos, na participaçã o dos leigos no culto e ministé rios
da Igreja e sobre a necessidade da Igreja de dialogar e colaborar com outras igrejas cristã s, outras religiõ es e com a
humanidade em geral.
Biblioteca do Vaticano, fundada pelo Papa Nicolau V (1447-55), biblioteca que conté m cerca de 70.000
manuscritos, cerca de 800.000 livros impressos e muitos outros documentos, incluindo todos os arquivos do
Vaticano, que foram abertos aos estudiosos por Leã o XIII em 1881.
Centro de Rádio e Televisão do Vaticano, estaçã o de rá dio, fundada por Pio IX em 1931, e estaçã o de televisã o,
fundada por Joã o Paulo II em 1983, do Vaticano. A Rá dio Vaticano foi projetada e supervisionada pelo famoso
Guglielmo Marconi, inventor do rá dio, até sua morte em 1937. A estaçã o transmite em cerca de 34 idiomas para
todas as partes do mundo.
Vigário de Cristo, o tı́tulo tradicional de um bispo, embora agora reservado ao Bispo de Roma desde Eugê nio III
(1145–1153). Inocê ncio III (1198-1216) apelou especialmente para este tı́tulo como a base de sua autoridade
universal, mesmo sobre governantes temporais. O tı́tulo distintivo mais adequado para o papa é Vigá rio de Pedro.
Vigário de Pedro, tı́tulo mais tradicional que designa a funçã o do Bispo de Roma. Foi comumente aceito pelos
papas desde o inal do sé culo IV, mas foi substituı́do pelo tı́tulo de Vigá rio de Cristo (que originalmente se aplicava a
todos os bispos, nã o apenas ao papa) durante o ponti icado de Eugê nio III (1145-53), que reservou o ú ltimo tı́tulo
ao Bispo de Roma. O tı́tulo Vigá rio de Pedro ressalta o ponto de que o papa nã o substitui Pedro, porque o papa nã o
é uma testemunha ocular da Ressurreiçã o. Ele e os outros bispos só podem manter vivo o que receberam. Como
vigá rio de Pedro, o papa continua a missã o de Pedro de servir a unidade de toda a Igreja e fortalecer a fé de seus
irmã os bispos.
zucchetto, o solidé u branco usado pelo papa. A cor dos bispos é roxa; para cardeais, escarlate; e para outros,
como abades, preto.
SELECIONE A BIBLIOGRAFIA
A literatura sobre os papas e o papado é volumosa. Visto que este livro nã o se destina a acadê micos, mas a um
pú blico geral e nã o especializado, a lista de tı́tulos abaixo é incluı́da para fornecer uma amostra representativa de
trabalhos acadê micos, enciclopé dicos e populares. A bibliogra ia nã o conté m referê ncias a artigos acadê micos ou
populares, que superam em muito as monogra ias e coleçõ es. Todos os livros listados, no entanto, fornecem
bibliogra ias pró prias. Alé m disso, uma bibliogra ia anual sobre o papado aparece no Archivum Historiae Ponti iciae
(Roma). Se o autor deste livro pudesse recomendar outro tratamento abrangente, de um volume, histó rico, teoló gico,
canô nico e pastoral dos papas e do papado voltado para o leitor nã o especializado, ele o faria. Mas essa é
precisamente a lacuna que este livro pretende preencher.
Trabalhos acadêmicos
Casper, Erich. Geschichte des Papstums von den Anfängen bis zur Höhe der Weltherrschaft (Uma Histó ria do Papado desde o inı́cio até [meados do sé culo
Oitavo]), 2 vols. Tü bingen: Mohr, 1930–33.
Davis, Raymond, trad. e ed. O Livro dos Pontí ices (Liber Ponti icalis) . Liverpool: Liverpool University Press, 1989.
Mann, Horace K. As Vidas dos Papas na Primeira Idade Média , 18 vols. Londres: Kegan Paul, Trench, Trü bner, 1902–32.
Pastor, Ludwig von. A História do Papado desde o Fim da Idade Média , 40 vols. St. Louis: Herder, 1899–1933.
Seppelt, Franz Xaver. Geschichte der Päpste von den Anfängen bis zur Mitte des zwanzigsten Jahrhunderts (A histó ria dos papas desde o inı́cio até o meio do
sé culo XX), 5 vols. Munich: Kö sel, 1954–59.
——— e G. Schwaiger. Geschichte der Päpste von den Anfängen bis zur Gegenwart (A histó ria dos papas desde o inı́cio até o presente). Munique: Kö sel, 1964.
Abordagens Ecumênicas
Comissã o Internacional Anglicano-Cató lica Romana. O relatório inal . Washington, DC: Conferê ncia Cató lica dos Estados Unidos, 1982.
Dionne, J. Robert. O Papado e a Igreja: Um Estudo de Práxis e Recepção em Perspectiva Ecumênica . Nova York: Philosophical Library, 1987.
Empie, Paul C., et al., Eds. Papal Primacy ea Igreja Universal: luteranos e católicos em diálogo V . Minneapolis, MN: Augsburg, 1974.
———. Autoridade docente e infalibilidade na Igreja: luteranos e católicos no diálogo VI . Minneapolis, MN: Augsburg, 1978.
McCord, Peter J., ed. Um Papa para todos os cristãos: uma investigação sobre o papel de Pedro na igreja moderna . Nova York: Paulist Press, 1976.
Papas modernos
Greeley, Andrew M. The Making of the Papes 1978: The Politics of Intrigue in the Vatican . Kansas City, MO: Andrews e McMeel, 1979.
Hebblethwaite, Peter. Paulo VI: o primeiro Papa moderno . Nova York: Paulist Press, 1993.
———. Papa João Paulo II e a Igreja . Kansas City, MO: Sheed & Ward, 1995.
———. Papa João XXIII: Pastor do Mundo Moderno . Garden City, NY: Doubleday, 1985.
———. O ano dos três papas . Cleveland, OH: William Collins, 1979.
Zizola, Giancarlo. A Utopia do Papa João XXIII . Traduzido por Helen Barolini. Maryknoll, NY: Orbis, 1978.
O vaticano hoje
Reese, Thomas J. Dentro do Vaticano: A Política e Organização da Igreja Católica . Cambridge, MA: Harvard University Press, 1996.
INDICE
1. Índice de Papas (Veja também Índice de Nomes Pessoais)
Adeodatus I. Veja Deusdedit.
Adeodatus II (672-76), 109
Adrian. Veja Adriano.
Agapitus I (535-36), 90
Agapitus II (946-55), 156-57
Agatho (678-81), 110-112
Alexandre I (ca. 109-ca. 116), 37
Alexandre II (1061–73), 179–80
Alexandre III (1159–81), 203–205
Alexandre IV (1254-61), 216
Alexandre VI (1492-1503), 267-69
Alexandre VII (1655–67), 306–308
Alexandre VIII (1689-91), 312-13
Anacletus (ca. 79-ca. 91), 34
Anastá cio I (399-401), 65-66
Anastá cio II (496-98), 82-83
Anastá cio III (911-13), 152
Anastá cio IV (1153–54), 201–202
Anicetus (ca. 155 – ca. 166), 39–40
Antero (235-36), 46
Bento I (575-79), 95
Bento II (684-85), 113
Bento III (855-58), 137-38
Bento IV (900-903), 149
Bento V (964), 159-60
Bento VI (973-74), 161-62
Bento VII (974-83), 162-63
Bento VIII (1012–24), 168–70
Bento IX (1032–44; 1045; 1047–48), 170–72
Bento XI (1303-4), 232-33
Bento XII (1335-42), 238-40
Bento XIII (1724–30), 318–20
Bento XIV (1740-58), 321-23
Bento XV (1914–22), 355–58
Bento XVI (2005–), 392–94
Boniface I (418-22), 68-69
Boniface II (530-32), 88
Boniface III (607), 99
Boniface IV (608-15), 99-100
Boniface V (619–25), 100–101
Boniface VI (896), 146
Boniface VIII (1295-1303), 229-32
Boniface IX (1389-1404), 249-51
Ibas de Edessa, 94
Iná cio, Patriarca, 145
Iná cio de Antioquia, Santo, 18, 30, 396
Iná cio de Loyola, Santo, 284, 300, 301, 302, 326
Inocê ncio I, Papa St., 26, 27, 65, 66-67, 68
Inocê ncio II, Papa, 197-99, 202
Innocent III (antipapa), 205
Inocê ncio III, Papa, 33, 182, 183, 209-11, 212, 215, 229, 317, 398, 440, 443
Inocê ncio IV, Papa, 215-16, 222, 437
Inocê ncio V, Papa Bl., 184, 220-21, 223
Inocê ncio VI, Papa, 183, 242-43, 251
Inocê ncio VII, Papa, 251-52
Inocê ncio VIII, Papa, 266-67, 270, 439
Inocê ncio IX, Papa, 295-96
Innocent X, Pope, 304–306, 307, 310, 316
Innocent XI, Pope Bl., 309, 310-12, 313, 314, 355, 435
Inocê ncio XII, Papa, 313-15, 435
Inocê ncio XIII, Papa, 317-18, 364
Irineu de Lyon, Santo, 25, 26, 29, 33, 37, 38, 41, 42, 397
Irmengard, 131
Ivan III da Rú ssia, 264
Jairo, 29
Tiago de Palestrina, Cardeal, 219
Jaime I, Rei da Inglaterra, 298
Tiago o Apó stolo, St., 29
Jane Francis de Chantal, St., 303
Jansen, Cornelius, 303–304, 305, 307, 308, 316
Jeanne de Chantal, St., 325
Jerome, St., 36, 41, 45, 55, 62, 64, 65, 66, 98
Jesus Cristo, 17, 18, 28, 29, 30, 32, 36, 43, 58, 59, 67, 71, 73, 74, 75, 76, 101, 237, 242, 257, 270, 354, 366, 371 , 394, 397, 399
Joanna I, Rainha de Ná poles, 241, 248
Joanna II, Rainha de Ná poles, 255
Joana d'Arc, St., 261, 357
Joã o (arcebispo), 136
Joã o, arcebispo de Ravenna, 137
Joã o, Rei da Inglaterra, 210
John Chrysostom, St., 66, 67
Joã o de Antioquia, 71
Joã o de Jerusalé m, Bispo, 66
Joã o da Cruz, Sã o, 310, 319, 359
Joã o I, Imperador, 161
Joã o I, Papa St., 86-87
Joã o II, Rei da França, 243
Joã o II, Papa, 73, 74, 85, 89-90, 95, 100, 157, 163, 397
Joã o III, Papa, 95, 157, 163, 407
John III Sobieski da Polô nia, 309, 312
Joã o IV, Papa, 74, 96, 103-104, 109, 402
Joã o V Paleó logo, Imperador, 244
Joã o V, Papa, 110, 114
Joã o VI, Papa, 116
Joã o VII, Papa, 116-17, 121
Joã o VIII Paleó logo, Imperador, 257
Joã o VIII, Papa, 128, 141-42, 143, 145, 146
Joã o IX, Papa, 146, 148-49, 151, 423
Joã o X, Papa, 152-53, 154, 423
Joã o XI, Papa, 128, 150, 151, 154-55, 410
Joã o XII, Papa, 128, 156, 157-59, 160, 163, 401, 410, 423-24, 437
Joã o XIII, Papa, 160-61
Joã o XIV, Papa, 32, 127, 162, 163, 164, 398, 425
Joã o XV, Papa, 128, 164-65, 166, 168
Joã o XVI (antipapa), 165, 166, 167
Joã o XVII, Papa, 167
Joã o XVIII, Papa, 45, 90, 167-68, 182, 184, 228, 425, 427
Joã o XIX, Papa, 128, 169, 170, 171
Joã o XXI, Papa, 183, 184, 222-23, 224
Joã o XXII, Papa, 235-38, 239, 241
Joã o XXIII (antipapa), 253, 254, 371, 400, 428
Joã o XXIII, Papa, 32, 277, 292, 293, 343, 354, 367, 368, 369-75, 376, 377, 381, 382, 383, 387, 390, 395-96, 432, 442, 465
Joã o Paulo I, Papa, 32, 129, 355, 368, 381-84, 385, 386, 387, 394, 443
Joã o Paulo II, Papa, 32, 182, 200, 277, 278, 300, 342, 365, 367, 368, 371, 372, 378, 384-92, 393, 394, 402, 412, 413-18, 443- 44, 466-67
Joã o Apó stolo, Sã o, 29, 31
Joã o Batista, St., 371
Joã o Evangelista, St., 39, 78, 371
Jordan, Prı́ncipe de Cá pua, 189
Joseph II, 329
Jovinian, 65
Judas Iscariotes, 34
Jú lio I, Papa, 26, 44, 52, 59-60
Jú lio II, Papa, 182, 183, 265, 266, 270-72, 273, 283, 412, 439
Jú lio III, Papa, 283-84, 285, 286, 289
Justiniano, 74, 85, 89, 92, 94, 95, 99, 407, 421
Justiniano II, 114, 116, 117
Justin Martyr, St., 38, 39
Justin I, 85
Macarius I, 113
Macchiavelli, Niccolò , 280
McCloskey, Cardeal John, 348
Maf i, Cardinal, 356
Magee, John, 384
Maglione, Cardeal Luigi, 375
Magnus, St. Albertus, 359
Maidalchini, Donna Olimpia, 305, 306
Majorinus, 56
Malatesta, Carlo, Senhor de Rimini, 253
Malcenus, 149
Manfred, 216, 217, 218
Marcelino, Papa, 21, 54-55, 420, 436
Marcelo de Ancira, 59 anos
Marcelo I, Papa S., 54, 55
Marcellus II, Pope, 278, 281, 284-85, 384
Marcia, 43
Marciano, bispo de Arles, 49
Marciã o, 38, 39
Maria Theresa, Imperatriz, 327
Marini, Cardeal, 322
Marinus, Bispo de Arles, 57
Marinus I, Pope, 101, 128, 142, 143, 145, 156, 224, 401, 407, 410
Marinus II, Pope, 156, 224
Mark (Marcus), Pope St., 59
Marcos Apó stolo, Sã o 29
Marozia, 153, 154, 155, 423
Marsı́lio de Pá dua, 237
Martel, Charles, 118, 119, 120, 122
Martin de Tours, St. 225
Martin I, Pope, 105-107, 108, 109, 400, 421-22
Martin IV, Pope, 183, 224-25, 226
Martin V, Pope, 185, 248, 253–55, 256, 260, 400, 411, 427
Martini, Carlo, 394
Marty, Cardeal François, 385
Maria, Santı́ssima Virgem, 28, 71
Maria Madalena, 29
Maria I, Rainha da Inglaterra, 284, 285
Masci, Girolamo, 226, 227
Masella, Cardeal Benedetto, 370, 371
Mastai-Ferretti, Giovanni Maria, 344
Matilda da Toscana, Condessa, 189, 205
Mattei, Cardinal, 331
Mateus o Apó stolo, Sã o, 26
Matthias, St., 34
Maurı́cio, Arcebispo de Braga, 193
Maxentius, 55, 56
Maximiliano I, Imperador, 271
Maximiliano II, Imperador, 290
Maximinus Thrax, Imperador, 45, 182, 228, 419
Má ximo, o Confessor, 104
Mazarin, Cardeal Jules, 304, 305, 306, 308
Mazzini, Giuseppe, 345
Medici, Alessandro Ottaviano de ', 298
Medici, Catherine de ', 290
Medici, Gian Angelo de ', 286
Medici, Giovanni de ', 272
Medici, Giuliano de ', 265, 279, 438
Medici, Giulio de ', 279
Medici, Lorenzo de ', 265, 266, 272, 273, 438
Famı́lia Medici, 281
Melchiades (Miltiades), Pope St., 25-26, 54, 55, 56-57
Melquisedeque, 209
Meletius, 63, 64
Mennas, 90, 92
Mercú rio (deus), 89
Merry del Val, Cardeal Rafael, 353, 356, 359
Metó dio, St., 141, 142, 143, 144, 387, 389
Miguel de Cesena, 237
Miguel III, Imperador, 139
Miguel VIII Paleó logo, Imperador, 219, 221, 224, 225
Michelangelo, 183, 268, 270, 271, 280, 281, 283, 288
Mieszko, Duke, 164
Migliorati, Cosimo Gentile de ', 251
Mindszenty, Cardinal, 369
Mirandola, 271
Modena, Cardeal Toschi di, 299
Molinos, Miguel de, 311, 313
Montalto, Cardeal, 293
Monte Corvino, Giovanni di, 227
Montesquieu, 323
Montini, Arcebispo Giovanni Battista, 370, 375, 376, 377, 383
Montone, Braccione di, 255
Mooney, Cardinal, 369
More, St. Thomas, 359
Moro, Aldo, 381
Morone, Giovanni, 281, 286, 287
Morra, Alberto de, 206, 207
Mothe, Cardeal Gaillard de la, 242
Murray, John Courtney, 343, 365
Murrone, Pietro del, 228
Mussolini, Benito, 357, 358, 361, 362
Napoleã o Bonaparte, 277, 328, 330, 331, 332, 333, 336, 337, 435
Narses, 95
Neri, St. Philip, 292, 297, 298, 300, 301, 302
Nestó rio de Constantinopla, 70, 71
Neumann, Sã o Joã o Nepomuceno, 381
Newman, Cardeal John Henry, 351
Nicolau, Patriarca de Constantinopla, 152
Nicolau de Cusa, Cardeal, 259, 262
Nicolau I, Papa St., 128, 138-40, 141, 142, 145, 223, 422
Nicolau II, Papa, 129, 177-79, 186, 189, 411
Nicolau III, Papa, 184, 223-24, 225, 227
Nicolau IV, Papa, 183, 184, 226-27, 228
Nicholas V (antipapa), 237
Nicolau V, Papa, 183, 184, 258-60, 262, 263, 266, 434
Norberto, arcebispo de Magdeburg, 198
Novaciano (antipapa), 47, 48, 49
Wala, 133
Wenceslas, King, 247
Wilfrid de York, 115, 116
3. Índice de assuntos
Abdicaçã o. Veja Papa, abdicaçã o de.
Acacian Schism, 79-81, 82, 84, 85, 469
Action Française , 353, 361, 469
Visitas ad limina , 162, 187, 210, 293, 469
Adopcionismo, 42, 43, 125-26, 131, 469
Aeterni Patris , 349
Albigensianism, 204, 210-11, 212, 469-70
Alexandria, ver de, 18, 26, 27, 50, 52, 59, 77, 140, 181; e Acacian Schism, 79-80
Americanismo, 350, 436, 442, 470
Ordens anglicanas, 351, 436, 442, 470
Anatos, 236, 256, 259, 470
Annuario Ponti icio , 54, 55, 91, 101, 107, 121, 159, 198, 221, 400, 401, 420, 422, 423, 424, 428, 453, 470
Antioquia, ver de, 18, 31, 32, 63, 65, 77, 113, 140
Antipopes, 44, 468, 470
Apolinarismo, 63, 470
Apó stolos, 28-29, 31, 32, 35
Sé Apostó lica. Veja Roma, veja de
Apostolicae curae . Ver ordens anglicanas
Sı́nodo do cadá ver, 127, 129, 144-48, 150-51, 263, 398, 410, 423, 434, 437
Calvinismo, 287
Camelaucum , 177
Camerlengo, 414, 415, 416, 417, 471-72
Canon 332.1, 101, 104, 222, 418, 453
Direito Canô nico, Có digo de. Ver Có digo de Direito Canô nico
Canonizaçã o. Veja Papa e canonizaçã o.
Canterbury, ver de, 116, 246; e ordens anglicanas, 351; atribuiçã o de palio, 103, 120, 157, 168; e o rei da Inglaterra, 201, 210, 235; recepçã o do arcebispo
por Paulo VI, 374, 379, 436, 442-43; e a sé de York, 131, 201
Capuchinhos, 280
Sobrinho cardeal, 296, 297, 300, 301, 305, 309, 320, 472
Cardinals, College of, 472; e antipapas, 259; nomeaçõ es para, 224, 255, 273, 281, 391, 439; como co-administradores da Santa Sé , 227, 242, 256, 321;
divisõ es internas, 293; Nomeaçõ es francesas para, 236, 239, 241, 310; Congregaçõ es Gerais, 393; internacionalizaçã o de, 343, 366; Contingente italiano
em, 234; nú mero má ximo de, 277, 306, 372; como eleitores papais, 34, 394, 413–14; reforma de, 314, 435; idade de aposentadoria para, 381
Ordem carmelita, 211, 212, 292
Castel Gandolfo, 277, 303, 361, 472
Casti connubii , 360, 463
Catarismo. Veja Albigensianismo
Catecismo da Igreja Católica , 390-91, 443
Açã o Cató lica, 259, 462, 463
Universidade Cató lica da Amé rica, 461
Celibato, clerical, 19, 64, 97, 161, 166, 176, 178, 181, 186, 187, 191, 196, 288, 380, 398, 402, 466, 472-73
Centesimus annus , 342, 389, 467
Calcedô nia, Conselho de, 18, 21, 75, 76–77, 78, 79, 81, 85, 86, 89, 92, 94, 115, 403, 421, 433, 437, 464, 473
China, Igreja em, 183, 227, 277, 300, 305, 307, 316, 321, 360, 435
Ritos chineses, 277, 305, 307, 316, 317, 321, 323, 435, 473
Igreja dos Santos Apó stolos (Roma), 60, 327
Cistercienses, 239
Clementinas , o, 235
Clericis laicos , 230, 233
Cluny, 153, 154, 155, 156, 163, 170, 173, 175, 190, 194, 195, 473
Có digo de Direito Canô nico, 212, 222, 230, 235, 354, 357, 372, 378, 383, 390, 473
Có digo de Justiniano, 89
Colé gio dos Bispos. Ver Bispos, Colé gio de
Colé gio de Cardeais. Veja Cardeais, Colé gio de
Colegialidade, 20, 26, 60, 378, 388, 395, 442, 473
Comunismo, 342, 349, 358, 362, 363, 364, 366, 388, 442, 463
Compilatio quinta , 212
Concordata de Worms. Veja Worms, Concordata de
Congregaçã o para a Doutrina da Fé , 393
Constâ ncia, Conselho de, 248, 253, 254, 255, 256, 257, 264, 265, 275, 347, 400, 403, 411, 427, 428, 438, 473-74
Constantine, Edito de. Veja Milã o, Edito de
Constantinopla, Primeiro Concı́lio de, 19, 64, 94, 397, 403
Constantinopla, Quarto Conselho de, 140, 142
Constantinopla, Segundo Concı́lio de, 25, 93, 102, 115
Constantinopla, veja de, 18, 64, 66, 69, 78, 90, 99, 105, 111, 140, 183, 433, 474; apela para, 72; jurisdiçã o de, 119; como nova Roma, 86; e Roma, 76, 81, 110,
137, 138, 145, 168; como segundo ver, 77
Constantinopla, Terceiro Conselho de, 21, 75, 101, 102, 105, 107, 111, 112, 113, 114, 115, 118, 196, 397
Franciscanos Conventuais. Ver ordem franciscana, conventuais
Contra-Reforma, 275, 276, 278, 441, 474-75
Cruzadas, 180, 182, 190, 207, 213, 219, 220, 221, 223, 475; Primeiro, 191; Quinto, 211; Quarto, 210, 440; Em segundo lugar, 200, 201; Terceiro, 208; e os
turcos, 258, 260, 262, 265, 267
Curia, Roman. Ver Cú ria Romana
Pá scoa, data de 26, 38, 39-40, 41-42, 83, 104, 109, 397
Igrejas orientais, 366, 463, 476; e a data da Pá scoa, 40; e o papado, 19, 21; e uniã o com Roma, 220, 256–57. Veja também Filioque
Cisma Leste-Oeste, 18, 82, 129, 139, 175, 275, 379, 422, 476
Ecclesia de Eucharistia , 467
Ecthesis , 102, 103, 104, 105, 112
Patriarca Ecumê nico, 96, 97, 99, 185
Ecumenismo, 463, 464, 467
Edito do Milan. Veja Milã o, Edito de
Edito de Nantes, Ver Nantes, Edito de
Edito de Worms, Ver Worms, Edito de
Inglaterra, Igreja em, 128, 131, 142, 145, 188, 191, 201, 230, 246, 285; excomunhã o de soberano, 21, 280, 282, 290; e Great Western Schism, 248; e
investidura leiga, 193; e a Reforma Protestante, 79, 288, 299; restabelecimento da hierarquia em, 346; restauraçã o do catolicismo em, 284 ;. Veja também
Grã -Bretanha, Igreja em
Iluminismo, o, 276, 323, 325, 329, 476
Efeso, Concı́lio de, 19, 25, 27, 69-70, 71, 94, 257, 397, 403
Efeso, “Conselho Ladrã o” de. Veja “Conselho Ladrã o” de Efeso
Epistola Tractoria , 68, 69
Evangelii nuntiandi , 380
Evangelium vitae , 389, 467
Ex cathedra , 22, 476. Ver também Pope, infalibility of
Execrabilis , 262
Exsurge Domine , 274, 477
Jansenismo, 22, 303-4, 305, 307, 308, 311, 313, 316, 317-18, 319, 479-80
Jerusalé m, Conselho de, 29, 140
Jesuı́tas. Veja a Sociedade de Jesus
Jesus Cristo, humanidade e divindade de, 27-28, 42, 43, 58, 61, 70-71, 72, 73, 76, 89, 102
Judeus. Veja Papa, Judeus e
Josephenism, 480. Ver também Febronianism
Calendá rio juliano, 40, 277, 292
Ravenna, exarquia de, 68, 74, 408, 486; e a aprovaçã o das consagraçõ es papais, 111, 113, 119
Ravenna, ver de, 86, 109, 110, 113, 115, 137, 139, 166, 486
Rebatismo, 27, 47, 49–50, 51, 57, 65, 70, 80, 397, 433
Reforma, protestante, 272-74, 275, 276, 277, 280, 439
Rerum novarum , 341, 347-48, 349-50, 360, 373, 435, 442, 461
Renú ncia. Veja Papa, abdicaçã o de
"Conselho Ladrã o" de Efeso, 76, 77
Rock, Peter as, 30, 31
Roma locuta est; causa inita est , 68
Catecismo Romano, 276, 289, 441
Roman College. Veja a Gregorian University
Cú ria Romana, 205, 206, 221, 228, 235, 254, 256, 266, 268, 383, 402, 439, 444, 475, 486–87; e Avignon, 244, 246; estabelecimento de, 182, 190; e a
Reforma Protestante, 274; reforma de, 236, 263, 278; reorganizaçã o de, 174, 277, 230, 284, 293, 354, 379, 437, 441; idade de aposentadoria para, 381;
Nomeaçõ es espanholas para, 261; e Concı́lio Vaticano II, 372
"Constituiçã o Romana", 133-35, 136, 148, 158, 409
Impé rio Romano, 18, 36, 487
Martiroló gio Romano, 65
Missal Romano, 276, 288, 289, 297, 303, 354, 441
Roman Question. Ver Tratado de Latrã o
Roma, veja de, 18–19, 21, 32, 38, 39, 43, 64, 86, 89, 140, 408, 433; como Sé Apostó lica, 27; e o imperador bizantino, 180; e Constantinopla, 76, 81, 110, 138,
168; como tribunal de apelaçã o, 50, 66; e erro, 21; como ver primeiro, 77; como chefe de todas as igrejas, 99; e con litos jurisdicionais com
Constantinopla, 66, 69; organizaçã o de, 25, 34, 35, 46, 48; e Peter, 29-30; privilé gios de, 117; e uniã o com igrejas orientais, 220, 256-57
Rota, Romano, 239
Rú ssia, Igreja em, 144, 188, 327, 361
Sabelianismo, 43, 52, 487
Sagrada Penitenciá ria, 239
Massacre do Dia de Sã o Bartolomeu, 291-92
Bası́lica de Sã o Joã o de Latrã o, 58, 63, 69, 136, 227, 238, 244, 321, 480; capelas de, 78; embelezamento de, 227; redecoraçã o de, 72; restauraçã o de, 151,
153
Bası́lica de Santa Maria Maior, 62, 63, 72, 75, 78, 83, 227, 487; embelezamento de, 227
Bası́lica de Sã o Paulo Fora dos Muros, 136, 141, 192, 487; abadia anexa a, 156; redecoraçã o de, 72; restauraçã o de, 115
Bası́lica de Sã o Pedro, 58, 69, 103, 110, 136, 183, 224, 238, 259, 268, 270, 272, 277, 284, 439, 487; consagraçã o de, 302-3; construçã o de, 273, 288; cú pula
de, 294, 296; decoraçã o de interiores de, 305; como residê ncia papal, 84; pó rtico de, 300; redecoraçã o de, 72; restauraçã o de, 113, 115; sacristia de, 328
Sarracenos, 144
Escandiná via, Igreja em, 135, 248, 280. Ver também Dinamarca, Igreja em; Noruega, Igreja em; Sué cia, Igreja em
Cisma, Great Western. Veja o Cisma do Great Western
Escó cia, Igreja em, 198, 248
Secretariado para a Promoçã o da Unidade dos Cristã os, 374, 442
Secretaria de Estado, 293, 296
Sé de Roma. Veja Roma, veja de
Semi-pelagianism, 70, 87, 88. Ver também Pelagianism
“Servo dos servos de Deus”, 33, 74, 97, 433, 440, 488
Shepherd, The , 30, 35, 39
Vé speras da Sicı́lia, 225
Sicı́lia, Igreja em, 175, 191, 213, 227, 317, 318; expulsã o dos jesuı́tas de, 324 ;; e Estados Papais, 97, 114, 119, 210, 212, 216, 217, 220, 226; autoridade
temporal sobre, 202, 211-12
Simony, 136, 172, 173, 180, 249, 250, 266, 267, 273, 275, 293, 398, 438, 439, 488; esforços de reforma contra, 94, 162, 166, 169, 174, 176, 179, 181, 186,
190, 191, 196, 270, 271, 314, 411, 412, 417, 426, 440
Capela Sistina, 264, 266, 271, 280, 281, 325, 349, 356, 413, 415, 416, 438, 488
Coro Sistino, 264, 266
Escravidã o, 303, 339, 350, 440, 461
Eslavos, missã o para, 135, 141, 142, 143, 144, 153, 157, 167
Sociedade de Jesus, 277, 280, 282, 283, 291, 292, 293, 297, 311, 313, 317, 323, 324, 338; e Joã o Paulo II, 391–92; restauraçã o de, 332, 435; supressã o de,
325-28, 329, 391-92, 439
Sodalitium Pianum , 334, 354
Sollicitudo rei socialis , 389, 466-67
Amé rica do Sul, Igreja em, 271, 323, 324, 339, 435
Espanha, Igreja em, 64, 157, 188, 200, 210, 322; apelos a Roma, 50; reforma da igreja em, 191; con litos com o papa, 49, 113; e democracia, 362; expulsã o
dos jesuı́tas de, 324, 325; heresia em, 126, 246; e os mouros, 212, 267; como vicariato papal, 78
Inquisiçã o espanhola, 264, 265, 438. Ver também Inquisiçã o
Speyer, dieta de, 280
Franciscanos espirituais. Ver ordem franciscana, espiritual
Subordinacionismo, 52, 61, 488
Suburbicarian vê , 26, 112, 114, 406, 488
Sué cia, Igreja em, 202, 292. Ver também Escandiná via, Igreja em
Guardas Suı́ços, 488
Suı́ça, Igreja em, 280, 338, 347
Programa de Erros, 341, 346, 441, 488
Symmachan Forgeries, 84
Sı́nodo dos Bispos, Mundo, 379, 380, 436
Vâ ndalos, 77
Arquivos do Vaticano, 266, 349, 437, 441
Estado da Cidade do Vaticano, 342, 358, 489-90
Concı́lio Vaticano I, 19, 20, 22, 62, 85, 93, 102, 346, 441, 467, 490; dogmas de, 341
Concı́lio Vaticano II, 19, 23, 33, 275, 277, 343, 362, 365, 367, 372-73, 375, 387, 392, 436, 442, 490
Biblioteca do Vaticano, 184, 259, 281, 294, 316, 321, 323, 359, 361, 434, 490; ampliaçã o de, 300; fundaçã o de, 259; modernizaçã o de, 361; reorganizaçã o
de, 266
Observató rio do Vaticano, 349, 361
Palá cio do Vaticano, 184, 223, 224
Vaticano Press, 294
Venaissin, 234, 241, 307, 312, 313, 325, 327, 330, 332, 439. Ver também Estados Papais
Veneza, Repú blica da, 298, 307, 324
Veritatis splendor , 389, 467
Vigá rio de Cristo, 33, 73, 80, 81, 202, 209, 215, 231, 402, 490
Vigá rio de Pedro, 17, 19, 33, 490
Vienne, Conselho de, 234-35
Vicentinos, 303
Visigodos, 67, 72, 96, 113
Pedido de visita, 303
Bı́b lia Vulgata, 293, 295, 297
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CRÉDITOS
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Pintura da capa: Pins II entrando em San Giovanni in Laterano após sua coroação por Bernardino Pinturicchio; cortesia
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ISBN-13: 978–0–06–087807–8
ISBN-10: 0–06–087807 – x
Ediçã o EPub de abril de 2013 ISBN 9780062288349
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1
Salvo indicaçã o em contrá rio, a origem é tnica ou nacionalidade de um papa individual deve ser considerada italiana, ou seja, dentro do territó rio da
penı́nsula italiana.
1
O Annuario Ponti icio começa o seu ponti icado a 15 de fevereiro, dia da sua eleiçã o, e nã o a 22 de fevereiro, dia da sua consagraçã o como Bispo de
Roma.
2
O Anuário inicia o seu ponti icado no dia 7 de setembro, dia da sua eleiçã o.
3
O Anuário inicia o seu ponti icado no dia 23 de novembro, dia da sua eleiçã o.
1
O Annuario difere de outras fontes histó ricas no cá lculo do im do ponti icado de Silvestre III como 10 de fevereiro de 1045, em vez de 10 de março. Se
o primeiro, seu ponti icado foi de apenas 21 dias, fazendo dele e de Marcelo II o sé timo ponti icado mais curto, e Joã o Paulo I é o dé cimo segundo mais
baixo. Por outro lado, o ponti icado de Bento V era canonicamente duvidoso. O de Joã o Paulo I també m poderia ser considerado um dia o dé cimo mais
curto da histó ria.
*
Observe que existem dois Victor IVs entre os antipapas. O segundo Victor IV nã o deu atençã o ao primeiro porque estava “no cargo” menos de dois
meses.