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A obra se inicia, apropriadamente, com o tema das relações étnico-

raciais e a educação na Amazônia. Digo apropriadamente porque a


característica diferencial da região amazônica é, sem dúvida, a presença
de uma multiplicidade de povos indígenas em seu amplo território,
caracterizado pela mais rica biodiversidade do planeta.
Na sequência, a segunda parte agrupa os cinco estudos voltados para a
temática da história das instituições escolares, seguindo-se a terceira
parte com cinco estudos sobre a Escola Nova na Amazônia, e a quarta
parte, que reúne, também ela, cinco estudos sobre a forma como se deu,
na região amazônica, a importante iniciativa do período republicano de
transformar as escolas isoladas em escolas reunidas e grupos escolares.
Finalmente, a quinta parte reúne sete estudos sobre o tema da formação
de professores e a política educacional na Amazônia.
No livro, adotou-se a sistemática de começar a abordagem de cada um
dos temas por um texto introdutório de caráter histórico-teórico. É assim
que o primeiro tema, relativo à educação dos povos indígenas, começa
com uma análise da educação e emancipação da escola indígena à luz
dos fundamentos filosóficos da pedagogia histórico-crítica. Após essa
introdução, são contemplados, na análise, o caso dos índios munduruku
no Amazonas, o Instituto do Prata no Pará, a ONG Operação Amazônia
Nativa e a luta por educação escolar levada a efeito pelas organizações
indígenas no Amazonas.

O segundo tema se abre, por sua vez, com as considerações teórico-


metodológicas sobre a história das instituições escolares, passando à
análise das seguintes instituições educacionais: Asilo Santo Tereza, no
Maranhão; Instituição Pia Nossa Senhora das Graças, em Belém do Pará;
Liceu Cuiabano, em Mato Grosso; e a Universidade do Estado do
Amazonas.
Na mesma linha, a análise do terceiro tema, referente à Escola Nova na
Amazônia, se inicia com um estudo sobre o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova de 1932 como elemento desencadeador da renovação
educacional no Brasil, complementado, ainda no plano da introdução
teórica, com um estudo crítico da contribuição de John Dewey para a
consolidação do pensamento liberal na educação. A partir dessa
introdução, desenvolvem-se dois estudos sobre a Sociedade Amazonense
de Professores, contemplando, o primeiro, a formulação de diretrizes
educacionais de inspiração escolanovista para o Amazonas e, o segundo,
a veiculação das ideias da Escola Nova pela Revista de Educação da
Sociedade Amazonense de Professores. E a abordagem desse tema se
completa com um estudo sobre a introdução da Escola Nova em Mato
Grosso.
O quarto tema, que versa sobre as escolas reunidas e grupos escolares,
começa com um estudo sobre a compreensão da cultura educacional e da
instituição de uma escola de verdade, pensado a partir do aparecimento
dos grupos escolares, seguido de estudos específicos sobre os casos do
Maranhão, do Pará e do Amapá.
Por fim, o quinto e último tema relativo à formação de professores e à
política educacional começa com um estudo geral sobre o dilema entre
teoria e prática na formação dos profissionais da educação no Brasil,
com foco na passagem das escolas normais aos institutos de educação.
Na sequência, são estudadas as escolas normais do sul de Mato Grosso e
da província do Amazonas, a instrução primária no Amazonas e no
Maranhão no período do império, as escolas de linha em Rondônia e a
política higienista no Pará da Belle Époque.

Ainda que não tenha esgotado todos os aspectos da educação e


conseguido cobrir todos os locais compreendidos na região amazônica –
o que simplesmente era impossível fazer num trabalho pioneiro
formatado em apenas um livro –, a presente obra avança
significativamente no campo dos estudos de história regional da
educação no Brasil. E isto é de grande relevância porque, como assinalei
na conferência de abertura da IX Jornada do HISTEDBR realizada em
julho de 2010 em Belém do Pará, as investigações sobre as formas
específicas que a educação assume em nível local e regional são
necessárias não apenas para conhecermos essas manifestações
particulares: elas são uma exigência também para a compreensão
concreta da educação em âmbito nacional. Com efeito, como disse Marx,
o concreto é concreto por ser a síntese de múltiplas determinações, logo,
unidade da diversidade. Sem os estudos regionais e locais, o nacional
será reduzido a mera abstração ou será tomada como nacional a
manifestação local ou regional mais influente, como ocorreu com o
município neutro e a província do Rio de Janeiro no Império, o Distrito
Federal e os estados de São Paulo e Minas Gerais na Primeira República,
e Rio de Janeiro e São Paulo após a Revolução de 1930.
Enfim, estamos diante de uma obra que traz importante contribuição ao
desenvolvimento da historiografia da educação brasileira. Recomendo,
pois, sua leitura e estudo aos pesquisadores do campo da história da
educação e aos professores não apenas da região amazônica, mas de todo
o País, pois a compreensão das especificidades da educação nas várias
regiões brasileiras é condição para compreendermos concretamente a
educação nacional.

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