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PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CULTURA E

DA CADEIA PRODUTIVA DO BAMBU NO PARANÁ:


TENDO COMO REFERÊNCIA A INOVAÇÃO, A EDUCAÇÃO
TECNOLÓGICA E O MODELO PRODUTIVO CHINÊS

Fabiano Ostapiv1
Edson Domingos Fagundes2

Ostapiv, F.; Fagundes, E. D.; “Perspectivas para o desenvolvimento da cultura e da


cadeia produtiva do bambu no Paraná: tendo como referência a inovação, a
educação tecnológica e o modelo produtivo chinês” Revista Athena, vol. 9. Curitiba, PR,
2008.

RESUMO
O trabalho tem por objetivo: (i) apresentar a cadeia produtiva chinesa do bambu mossô
(Phyllostachys pubescens), considerando os aspectos históricos, culturais e tecnológicos
envolvidos no seu cultivo, manejo e comercialização; (ii) traçar um esboço da situação mundial,
brasileira e paranaense do setor bambuzeiro; (iii) delinear um cenário possível para iniciar o
desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu no Paraná; (iv) indicar perspectivas a serem
projetadas para os diversos segmentos da economia que podem vir a receber benefícios de
possíveis parcerias tecnológicas e comerciais, tendo como parceiro principal a China, líder
mundial deste setor; e, finalmente, (v) discutir a importância estratégica do treinamento e
capacitação no processo de desenvolvimento sustentado da cadeia produtiva do bambu.
Palavras chave: Bambu mossô; Cadeia produtiva; Desenvolvimento sustentado.

ABSTRACT
The study aims at: (i) introducing the productive chain of the moso bamboo (Phyllostachys
pubescens), considering the historical, cultural and technological aspects involved in its
growing, management and trade; (ii) draw the profile of the bamboo culture sector for world,
Brazil and Paraná; (iii) outline a possible scenario for the development of the bamboo
productive chain in Paraná; (iv) indicate perspectives to be projected for the various economic
segments that could benefit from possible technological and commercial partnerships, with
China – a world leader of this sector - in special; and, finally, (v) discuss the strategic
importance of training and capacitating in sustained development process of productivity
bamboo chain.

1
Professor do Departamento de Mecânica – UTFPR. Mestre em Eng. Mecânica e Materiais UTFPR.
fabianoostapiv@utfpr.edu.br
2
Professor de Língua Alemã do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras – UTFPR. Doutor em
Letras, Estudos Lingüísticos – UFPR. edsondfagundes@utfpr.edu.br
Key words: Moso bamboo, productive chain, sustained development.

INTRODUÇÃO: O BAMBU NA CHINA

A história de uso do bambu na China remonta da Idade da Pedra (Neolítico). O


bambu é e sempre um recurso vital para a economia chinesa, em razão de haver nesse
país escassez de componentes florestais, de possuir uma ecologia frágil e grande
deficiência no suprimento de madeira para o mercado interno (CHUNG, 2003).
Phyllostachys pubescens (bambu mossô) é a principal espécie de bambu cultivada na
China, com 70% do mercado e da área plantada, e uma das principais espécies
destinadas à utilização econômica no mundo. Esta espécie de bambu alastrante 3, de
clima subtropical, é largamente usada como alimento e matéria-prima, da familiar à
grande indústria.
Na República Popular da China, desde sua fundação, em 1949, o governo tem
promovido, através de políticas públicas e investimentos, o desenvolvimento do setor
bambuzeiro. Foram cumpridas várias etapas de um grande e conseqüente projeto, sendo
que, na década de 90, a indústria chinesa do bambu entrou em uma fase de elevado e
rápido crescimento, fazendo uso, para tanto, de ciência, educação e tecnologia, o que
levou o país a se tornar o líder mundial em processamento e utilização do bambu
(YUHE, 2004). Na Figura 1, tem-se os seguintes produtos de bambu, carvão, esteiras e
capas para fabricação de placas.

Figura 1 – Carvão e esteiras de bambu mossô, China 2007

FONTE: OSTAPIV (2007)

Na China, o bambu é tido como um importante componente florestal que combina


no seu plantio, manejo e aplicações: ecologia, economia e benefícios sociais; trazendo
consigo uma rara oportunidade de desenvolvimento sustentado às mais diversas e
3
As espécies de bambus são classificadas normalmente em alastrantes e entouceirantes, segundo sua
forma de propagação.
distantes populações de um país de dimensões continentais, muito semelhante, neste
sentido, ao Brasil.
A área destinada ao plantio de bambu na China vem crescendo ao longo destes
últimos 50 anos, passando de 1,2 milhões de hectares, em 1950, para os atuais 7
milhões, fato que tem levado à racionalização da utilização destas áreas, aumentando a
rentabilidade das plantações e enriquecendo, desta maneira, a população local. Ainda,
como conseqüência imediata da adoção desta política, a geração de empregos na cadeia
produtiva, tanto no campo, quanto nas indústrias das cidades, proporcionou uma
estabilidade social importante ao país, sem a qual, a destinação de investimentos em
outras áreas não teria sido possível.
Dos principais produtos e utilizações trazidos pela nova cadeia produtiva do bambu
na China, destacam-se: alimentação, papel, construção civil, transportes, medicina,
produtos processados (como pisos e compensados), carvão, paisagismo e fármacos.
Além disso, o bambu é importante também na indústria do turismo e um respeitável
agente na remediação de danos ambientais, como na contenção de encostas e do solo,
funcionando como ator importante para a preservação do meio ambiente. Contudo,
apesar das inúmeras vantagens apresentadas, existem alguns problemas e limitações na
indústria chinesa de bambu. Muitos destes aspectos estão relacionados a carências na
área de ciência, educação e tecnologia, tais como:
 Ausência de pesquisas de base, principalmente na linha de
processamento do bambu.
 Pouca pesquisa em desenvolvimento de produtos com alto valor
agregado.
 Questões de direito e patentes sobre inovações tecnológicas, resultantes
de pesquisa e desenvolvimento.
 Deficiência na qualificação profissional de grande parte das empresas.
 Problemas significativos com resíduos e desperdícios.
 Manejo inadequado de bambuzais por parte de muitos agricultores.
 Baixa qualidade em muitos dos produtos fabricados.
 Vícios de competição na cadeia produtiva.
 Regulamentação inconsistente para a indústria do bambu.
 Gerenciamento ineficiente.
 Condições competitivas desiguais entre as regiões ricas e pobres da China.
 Condições inadequadas de trabalho, especialmente nas empresas familiares
mais pobres.
 Parceria internacional insuficiente para fomentar o desenvolvimento da
cultura do bambu fora da China.
Assim, qualquer projeto que pretenda envolver o cultivo e uso do bambu fora da
China, deve levantar questões semelhantes, relacionadas ao contexto de cada país.

O BAMBU NO MUNDO: EXEMPLOS

Trazendo a questão para um quadro mais amplo, pesquisadores chineses, como


CHUNG (2003) e MAOYI (2004), estimam que a área atual total de bambu no mundo
seja de 22 milhões de hectares, ocupando, assim, um por cento da área total das florestas
no planeta. Todavia, a perspectiva para o século XXI é de que essa área passe a algo em
torno de 55 a 65 milhões de hectares, ocupando aproximadamente de dois a três por
cento da área florestal total do planeta. Esta projeção tem como principais fatores de
causa: (i) o aumento do uso desta planta no mundo todo e o conseqüente aumento no
plantio dos bambuzais; (ii) as atuais divergências apresentadas no que se refere aos
números oficiais de áreas de bambuzais em alguns países tropicais principalmente da
América do Sul e África; e (iii) a ausência de um inventário florestal dos bambus
difusos nas florestas tropicais.
Consciente da tendência de aumento na exploração do bambu como recurso
alimentar e florestal, e considerando a perspectiva de acirramento das limitações
ambientais no mundo, aliado à necessidade de ampliar mercados de um modo geral, a
China, líder mundial do setor, busca estabelecer parcerias estratégicas para o
desenvolvimento sustentado da cadeia produtiva do bambu, especialmente com os
países tropicais. Neste sentido, o Brasil, como maior país tropical do mundo, pode, a
exemplo da China, estabelecer com sucesso uma cadeia virtuosa de desenvolvimento
econômico, social e ambiental, tendo como base o bambu. É importante ressaltar neste
ponto que, para a difusão dos resultados benéficos e sustentáveis da cadeia produtiva do
bambu no Brasil, não só a matéria-prima é fundamental, mas também a pesquisa, a
inovação, a educação e capacitação, e a difusão tecnológica, a exemplo do que fazem
muitos países, tais como: a Alemanha, o Chile, o Japão, a China e a Índia.
A Alemanha é um país que tem muito pouco bambu, cujo uso, em termos de plantio,
em função das condições climáticas, se destina principalmente à jardinagem. Apesar
disso, a Alemanha é um centro de excelência em pesquisa tecnológica para usos, testes e
experimentações conceituais usando bambu (ver www.conbam.de e www.conbam.info).
A lógica que está por trás desta política, além das preocupações ecológicas, ambientais,
do compromisso ético no trato com o meio ambiente, que sempre tem caracterizado as
políticas da Alemanha em relação a temas correlatos, também está naquilo que é
esboçado no mote “Deutschland – Land der Ideen” (Alemanha – País das idéias), cuja
página na internet buscou divulgar e enfatizar – no ano de 2006, quando a Alemanha foi
sede da Copa do Mundo de Futebol – que o desenvolvimento da Alemanha, tanto no
passado quanto no futuro, é determinado pelas idéias das pessoas. A iniciativa, só para
se ter uma idéia, além do governo e do Ministério da Economia, teve como
representantes a Federação das Indústrias Alemãs e da Federação dos Bancos, dentre
outros patrocinadores.
Na página do “País das Idéias” (www.land-der-ideen.de) encontra-se, dentre os
vários projetos destacados, a referência à empresa CONBAM, que valoriza as
aplicações do bambu sob o ponto de vista estético com alto valor agregado. Para isso
enfatiza, além das propriedades estruturais e das qualidades ecológicas do material, as
aplicações do bambu na construção civil, na decoração e na indústria de pisos e móveis,
entre outras.
Mas, afinal, considerando as condições climáticas nada favoráveis, que tipo de
pretensões têm os alemães ao desenvolverem design e tecnologias envolvendo o bambu,
já que não dispõem da matéria prima em quantidade significativa para suprir suas
próprias necessidades? Dentre as respostas que poderíamos apresentar, está certamente
o elenco de razões envolvendo o meio ambiente. Contudo, muito além do politicamente
correto, empresas, pesquisadores e toda uma gama de universidades somente se
envolvem em projetos que tragam consigo algum potencial, capaz de mobilizar gente,
recursos e ser economicamente viável. O que a Alemanha busca, desta forma, ao
investir no bambu é, principalmente, o desenvolvimento e a capacitação de seu próprio
pessoal.
A importância do bambu pode ser medida, ainda, pela quantidade de sociedades
internacionais dedicadas ao estudo, conhecimento e divulgação do bambu 4. O que por si

4
Apresentamos, a título de ilustração, a relação das principais sociedades mundiais dedicadas ao
bambu: INBAR (International Network for Bamboo and Rattan), IBA (International Bamboo
Association), ABS (American Bamboo Society), BSA (Bamboo Society of Australia), EBS (European
Bamboo Societies). Além destas, há ainda as sociedades latino-americanas como a Red Chilena del
Bambu, a Bambu-brasileiro, a BAMBUSC (Associação Catarinense do Bambu), Instituto do Bambu
INBAMBU (Instituto do Bambu, Maceió-Al).
só nos dá a dimensão da preocupação que no mundo inteiro tem sido dedicada ao
bambu nos diferentes continentes e que, ao mesmo tempo, nos leva a questionar a razão
pela qual aqui no Brasil, o bambu ainda não ganhou esse papel de um dos grandes
atores para o desenvolvimento de culturas e tecnologias sustentáveis. A resposta para tal
questão está no fato de que ainda estamos trilhando e construindo este caminho.
Outra questão que se apresenta, à medida que constatamos haver no mundo todo um
interesse significativo pelo bambu, especialmente de países que não são produtores
desta importante matéria-prima, como é o caso da Europa; é que estes países se
constituem em importantes mercados de consumo e podem vir a ser, além da China,
importantes parceiros em projetos que envolvam o cultivo, a industrialização e a
exportação do bambu e de seus derivados.
Na Figura 2 são mostrados alguns produtos estruturais reconstituídos, fabricados a
partir do bambu, testados em laboratórios na Alemanha. Com isso procuramos chamar a
atenção para a viabilidade técnica deste tipo de produto de engenharia.

Figura 2 - Vigas de seção retangular e perfil (I) de bambu laminado colado

FONTE: CONBAM

Um exemplo mais próximo a nós é o do Chile, país que estabeleceu um grande


projeto, financiado pelo FONDEF “Fondo de Fomento al Desarrollo Científico y
Tecnológico”, em 1998, denominado de “Projeto de Utilização Industrial de Bambus
Nativos e Exóticos”. Neste projeto, assim como ocorreu na China, houve parceria entre
a universidade, institutos florestais, empresas, comunidades e governo. Muitos
resultados positivos foram atingidos na implementação das etapas iniciais do projeto
como, por exemplo, o inventario dos recursos bambuzeiros no país. Na etapa atual, o
projeto vem desenvolvendo novos produtos e usos de alto valor agregado para o bambu
tais como: carvão, produtos químicos, brotos comestíveis, técnicas de manejo
sustentável e conservação de solos, bem como pacotes de difusão de conhecimento e
transferência de tecnologia, além do desenvolvimento da Norma Chilena do Bambu.
(FONDEF, 2003)
Nas Américas, segundo Londoño & Villegas (2003), existem aproximadamente 455
espécies de bambus, número superado apenas da Ásia. No continente americano, o
Brasil é o país que detém o maior número de espécies, sendo que a região da Bahia é
onde se encontra a maior biodiversidade desta gramínea. O Brasil é sem dúvida um país
privilegiado em termos deste recurso natural, como mostra o Quadro 1.

Quadro 1- Número de espécies de bambu nas Américas e no Brasil


Número América Brasil
Espécies lenhosas 295 141
Espécies herbáceas 160 100
Total de espécies 455 241
Gêneros 41 34
FONTE: LONDOÑO & VILLEGAS, 2003

Como se vê, além do potencial oferecido pelo bambu mossô e a diversidade de


espécies presentes nas Américas, e especialmente no Brasil, podem constituir juntos
uma cadeia produtiva única, trazendo consigo possibilidades excepcionais de
desenvolvimento.

O BAMBU MOSSÔ NO BRASIL

O bambu mossô é uma espécie de elevado potencial econômico. Planta exótica,


vinda da China e do Japão, adaptou-se bem na Região Sul do Brasil, facilitando, desta
maneira, a implantação de uma cadeia produtiva na região sul, usando como base o
mossô. Esta espécie pode catalisar o desenvolvimento sustentado de uma cadeia
produtiva que também aproveite economicamente os diferentes tipos de bambus nativos
brasileiros.
No Paraná, especialmente em algumas regiões colonizadas por japoneses e
descendentes, o cultivo do mossô é conhecido e praticado, destacando-se
particularmente os municípios de Fazenda Rio Grande (UMEZAWA, 2002) e Maringá.
Entretanto, a dimensão dos empreendimentos envolvendo o cultivo do bambu nestas
cidades e no estado do Paraná, é praticamente desconhecida pela grande maioria das
pessoas, muito tímida e pouco profissional frente às possibilidades de desenvolvimento
sócio-econômico oferecido por esta planta.

A CADEIA PRODUTIVA DO BAMBU


Com o intuito de incentivar e promover o desenvolvimento do ciclo produtivo
industrial do bambu mossô no Paraná, e com isso também o uso industrial dos demais
bambus, algumas tentativas vêm sendo feitas, porém, em nosso entendimento, com o
foco equivocado. Normalmente, o que se vê são projetos isolados que buscam
inicialmente processar os colmos do mossô, ou outros bambus, para então fabricar em
seguida algum tipo de produto. Estes projetos, via de regra, não têm se mantido ao
longo do tempo, devido vários fatores: (i) desconhecimento das reservas, espécies
existentes e áreas totais dos bambuzais; (ii) falta de matéria-prima a curto e médio
prazo; (iii) manejo inadequado e baixa produtividade dos bambuzais utilizados; (iv)
dificuldades para garantir a qualidade dos produtos fabricados; (v) deficiências nos
equipamentos para processar bambu, como a falta de segurança no processo; (vi) maior
divulgação dentre os consumidores das características positivas dos produtos feitos a
partir do bambu e do material utilizado na sua fabricação; e (vii) ausência de macro
projetos que orientem as ações (OSTAPIV, 2007).
XINGCUI (2003) avalia que para estabelecer uma cadeia produtiva do bambu de
forma eficiente é importante considerar a necessidade de:
 Estabelecer uma parceria entre os diversos setores do governo, dos trabalhadores e
empresários.
 Capacitar os agricultores e trabalhadores em geral para que estes reconheçam o
potencial econômico, ecológico e nutritivo da planta.
 Capacitar os agricultores para a produção de brotos comestíveis.
 Capacitar os operários para uso das técnicas produtivas adequadas.
 Adaptar inicialmente a estrutura dos bambuzais existentes para a máxima produção
simultânea de brotos e colmos, quando isto for possível.
 Usar técnicas modernas de manejo, adubação, plantio e propagação.
 Desenvolver e estruturar cooperativas para a produção, beneficiamento,
distribuição e comercialização de brotos e colmos de bambu.
 Estabelecer centros de capacitação e treinamento.
 Captar recursos e investimentos.
A agricultura familiar pode, com o estratégico negócio de brotos e colmos de bambu
mossô, diversificar as suas plantações, ampliar os seus rendimentos e reduzir a
dependência nas propriedades de materiais não produzidos por ela, como o aço e
polímeros. Assim, será possível ter à disposição, primeiro o alimento, e, em um prazo de
cinco anos5, excedentes de colmos suficientes para suprir indústrias de pequeno e médio
porte.
Muito precisa ser feito para que o bambu se transforme em uma planta
economicamente importante para o país, pois no Brasil ainda há muito desconhecimento
sobre o assunto, seja por parte das empresas, dos pesquisadores ou dos organismos
governamentais; além disso, segundo Duarte & Moraes (2007) em artigo publicado na
revista O Papel, faltam também investimentos e tecnologias apropriadas. Entretanto, o
caminho para viabilizar o desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu no Brasil, como
aconteceu na China, (CHINGCUI, 2004; MAOYI, 2004) e recentemente no Chile
(FONDEF, 2003), passa pela elaboração de um projeto amplo com o apoio de governo,
empresas, universidades, centros de pesquisa, comunidades rurais e fundos de fomento,
contemplando as seguintes etapas:
1. Avaliação dos recursos no país (espécies, áreas e distribuição, por exemplo).
2. Estudo da silvicultura (produção de mudas, controle de doenças e pragas,
manejo, interação com outras plantas, propagação, espécies mais produtivas e
plantios experimentais).
3. Estudo do tratamento e preservação dos colmos.
4. Desenvolvimento de produtos e usos para o bambu. (industrial, construção civil,
paisagismo e agricultura).
5. Desenvolvimento de tecnologia de processamento e fabricação.
6. Estudo da viabilidade técnica e econômica de indústrias que usem o bambu
como matéria-prima.
7. Promulgação de leis que regulamentem e incentivem investimentos e atividades
produtivas no setor6.
8. Fomento à organização de cooperativas de agricultores que apliquem
tecnologias e práticas inovadoras no campo e no processamento do bambu, com
suporte das instituições de pesquisa.
9. Estabelecimento de parcerias internacionais com países que estejam na Rede
Mundial do Bambu e Ratan (IMBAR) e/ou redes análogas.
10. Criação de banco de dados de publicações para divulgação.
11. Elaboração de normas técnicas para o bambu.

5
Para a primeira colheita do bambu mossô são necessários pelo menos cinco anos; já para espécies
entouceirantes, é possível obter resultados em três anos.
6
No Paraná existe um Projeto de Lei, de autoria da Deputada Estadual Cida Borguetti, incentivando o
plantio e uso do bambu no estado.
12. Criação de sistemas de comunicação entre as comunidades, cooperativas,
governo e universidades.
13. Treinamento e educação de trabalhadores com foco na cultura do bambu.

Parte destas medidas se encontra já em fase de implementação no Brasil. O que


falta, no entanto é um projeto articulado, que aglutine os esforços isolados, das
universidades, do governo e das empresas estatais e privadas7. O Quadro 2 mostra
alguns exemplos destas iniciativas.

Quadro 2 - Iniciativas isoladas na cadeia produtiva do bambu no Paraná


PESQUISADORES/
INICIATIVAS ENTIDADES EXECUTORAS
REFERÊNCIA

Inventário florestal brasileiro está


Avaliação dos recursos
sendo realizado pela (Oliveira, 2005)
de bambu no País
Embrapa/FAO

Universidades e Centros de Embrapa Florestas (Oliveira, 2005)


Silvicultura Pesquisa que trabalham com outras Emater (Corrêa Jr., 2006)
espécies e tem interesse no bambu CPRA (Farah, 2007)
Tratamento de colmos Universidades UNESP/FEG (Gonçalves, 1996)
Desenvolvimento/ensaio UFPR (Matos et al., 1994)
Empresas e Universidades
de produtos de bambu Minatto Móveis de Bambu
Inovação em processos UTFPR (Ostapiv, 2007)
de fabricação e Empresas e Universidades
construção de máquinas UTFPR (Salamon et al.,2007)

Leis e regulamentações Assembléia Legislativa do Paraná Deputada Cida Borguetti, 2007


Cooperativas e Universidades e Governo UTFPR (Casagrande Jr., 2004)
tecnologias apropriadas Municipal de Fazenda Rio Grande UTFPR (Umezawa, 2002)
Bibliotecas das universidades, www. bambubrasileiro.com
Banco de dados e
centros de pesquisa e sites
informações www.remade.com.br
especializados na internet.
Cooperação Convênios entre a China e
CBRC-UTFPR (Ostapiv, 2007)
Internacional universidades brasileiras

Com isso, procuramos demonstrar que há uma quantidade significativa de


iniciativas em torno do tema. A articulação destes diferentes projetos, tendo como
elemento catalisador o bambu mossô, pode vir a se transformar em um projeto regional
7
Dentre as instituições envolvidas com o bambu, destacam-se: CBRC (China National Bamboo
Research Center), CPRA (Centro Paranaense de Referência em Agroecologia), EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), EMATER-Pr (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e
Extensão Rural), REMADE (Portal Eletrônico da Revista da Madeira), UFPR (Universidade Federal do
Paraná), UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), UNESP/FEG (Universidade Estadual
Paulista/ Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá- campus experimental de Itapeva SP).
com capacidade de alavancar em nível nacional o uso do bambu como matéria prima
industrial. A fim de que esse projeto possa se concretizar, trazendo consigo o
desenvolvimento local, regional e nacional aos atores envolvidos na cadeia produtiva, é
necessário reiterar a importância fundamental de um projeto de educação, treinamento e
capacitação para as pessoas e m geral, especialmente os trabalhadores.
A base de um projeto do bambu no Brasil, começa com um plano de capacitação
junto ao pequeno agricultor. Para a agricultura familiar o bambu pode representar:
redução da dependência das propriedades agrícolas de matérias industrializados de alto
impacto ambiental, como os plásticos e metais, diversificação das plantações, ampliação
dos lucros e redução de custos produtivos.
Naturalmente, para que isso ocorra, um primeiro passo é a conscientização de
agricultores, através de projetos pilotos que mostrem as boas práticas de plantio,
manejo, adubação, preservação do meio-ambiente e comercialização, entre outros, que
podem ser desenvolvidos por centros de pesquisa, tais como o CPRA, a EMATER, a
EMBRAPA, e as universidades.
Num segundo momento, a ênfase deve ser dada para os trabalhadores do setor
industrial, envolvidos na transformação da matéria-prima em produtos para trabalhar
com uma matéria prima nova. Isto possibilitaria a inserção destas pessoas em segmentos
industriais de alto valor agregado, como é a indústria de móveis e pisos. Para que este
salto qualitativo seja dado existe a necessidade de capacitação técnica destas pessoas,
que pode ser assumida por diferentes entidades, especialmente as que trabalham com a
educação tecnológica tais como: as Escolas Técnicas, as Universidades, o SEBRAE e o
SENAI e também centros de pesquisa como a EMATER e a EMBRAPA.
Criada a base operacional, a perspectiva que se abre é promissora. O mercado
brasileiro para produtos de bambu se encontra em um estágio inicial. Isto significa que
empresas pioneiras terão espaço e tempo para se posicionarem com qualidade e
segurança. A cadeia produtiva do bambu poderá desencadear um círculo virtuoso que
crie desenvolvimento sustentável e duradouro, envolvendo agricultores, trabalhadores,
artesãos, empresários, representantes do governo, centros de pesquisa e universidades
entre outros. Estes últimos atores têm um importante papel na educação e difusão
tecnológica, buscando determinar, por exemplo, as melhores técnicas de produção de
mudas, jardinagem, paisagismo, bem como estudos de projetos usando bambu para as
diferentes indústrias: madeireira, moveleira, de alimentos, farmacêutica, do carvão e da
construção civil. Treinamento, educação e inovações tecnológicas, que podem projetar o
Brasil como uma referência respeitável dentro deste segmento.

CONCLUSÃO

A primeira questão que se evidencia é a necessidade de um projeto de educação


tecnológica voltada para o bambu e a preparação adequada de recursos humanos para
preencher quadros e aplicar técnicas apropriadas ao beneficiamento deste material. No
entanto, Bastos (1997) mostra que educação tecnológica não se reduz à capacitação.
A interação da educação com a tecnologia forja um saber de práticas e de vida,
essenciais a condição humana, inclusive para a libertação do próprio homem. Na
construção do retorno à sua totalidade, o homem torna-se capaz de compreender o
mundo técnico, social e cultural para agir em benefício das sociedades.
O progresso do capitalismo não realizou as idéias de liberdade e riqueza social a que
se propôs, mas estimulou a coisificação da sociedade, estreitamente correlacionada ao
sistema técnico. Os sistemas estritamente tecnológicos por sua vez são insuficientes
para mudar as estruturas sociais, apesar de exercerem um importante papel político na
própria estrutura de poder.
A história mostra que a relação da educação com a tecnologia imprime a esta última,
a inspiração criativa e a organização, gerando ações na cadeia técnica como um todo,
com repercussões no próprio sistema social. A relação educação-tecnologia é em muito
mediada pelo trabalho, elemento fundamental para o desenvolvimento do potencial
humano. Neste contexto, uma linguagem própria é construída, com capacidade para
revelar processos inovadores que podem ser compartilhados, principalmente pela ação
da educação tecnológica. Educação esta que não deixa de ser uma visão de mundo que
interpreta tecnologias, transcendendo em muito o mero treinamento, pois, repensa o
saber e o fazer. Como aponta BASTOS (1997), elemento indispensável para o
desenvolvimento econômico e social da nação. Estas são as bases sobre as quais uma
cadeia tecnológica, produtiva e sustentada, usando o bambu como matéria-prima, teria
as condições ideais para estabelecer-se.
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