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SINOPSE

Harleigh Wren Maguire ama Phoenix Wilder desde que se


lembra.

Ele é tudo que ela não é.

Corajoso.

Irresponsável.

Cem por cento sem remorso.

Mas é Halloween... a desculpa perfeita para se fantasiar e


ser alguém que você não é. Sair da zona de conforto e fazer
coisas que normalmente não faria.

E Harleigh está determinada a fazer seu melhor amigo


notá-la pelo menos uma vez.

Há apenas um problema.

Todo mundo sabe que monstros saem para brincar na


véspera de Todos os Santos...

Ela só nunca pensou que Nix se tornaria seu pior pesadelo.


Nunca gostei do Halloween.

Havia algo desconcertante sobre a coisa toda. Vestir-se para


ser alguém – ou algo – que você não era. Batendo na porta de
estranhos e pedindo doces. Era como se, naqueles dias por volta
de 31 de outubro, todos perdessem a cabeça.

Então, sim, eu não gostava do Halloween.

Mas Phoenix, meu melhor amigo no mundo inteiro, amava. O


que significava que eu tinha que engolir, porque quando se tratava
de festas de Halloween ninguém o fazia como Nix e seus amigos, e
eles nunca me deixavam de fora.

Nunca.

— Ei, Birdie. — Pedras foram atiradas em minha janela e eu


sorri, esticando meus braços acima da minha cabeça, meus dedos
se enrolando enquanto eu sacudia fora o sono persistente.

— Dez minutos. — Nix gritou além da janela do meu pequeno


quarto no trailer em que vivi toda minha vida.

— Dez minutos. — gritei de volta, meu sorriso crescendo. Ele


sempre dizia dez minutos, mas eu sempre levava pelo menos vinte.

Eu não era uma pessoa matinal. Eu preferia a noite. Algo sobre


o silêncio do escuro. Nix dizia que eu tinha atração pela a
escuridão, algo que o divertia muito considerando o quanto eu
odiava o Halloween.
Saindo cautelosamente da cama, eu domei meu cabelo escuro
em um rabo de cavalo e escorreguei no meu banheiro do tamanho
de um armário para me lavar.

Anos atrás, o cheiro de bacon teria enchido o ar. Ou talvez


panquecas e xarope. Mas esses dias se foram há muito tempo.
Agora, se eu não fizesse o meu próprio café da manhã não havia
ninguém para fazer isso para mim.

Meu coração apertou com o pensamento.

Ela ainda está aqui, eu me lembrei. Mas não era a mesma


coisa. A luz tinha se apagado dos olhos da minha mãe. Agora ela
não era nada mais do que uma concha. Vazia e oca.

Inalando uma respiração profunda, me preparei para qualquer


estado em que ela estava, e caminhei para a sala de estar.

— Mãe? — chamei.

Apreensão deslizou pela minha coluna quando eu me


aproximei da porta do quarto dela do outro lado do trailer. — Mãe,
você está acordada?

Espiando dentro, fui atingida por uma onda de alívio ao ver


sua frágil forma enrolada na cama, dormindo. Mas foi substituída
por decepção e raiva quando meus olhos caíram na garrafa vazia
de vodca virada na cabeceira dela.

Peguei uma tigela na cozinha e coloquei ao lado dela, rolando-


a na direção da mesma o melhor que pude. Eu a encontrei muitas
vezes engasgada com seu próprio vômito para não tomar
precauções. Era como uma segunda natureza agora.
Quando terminei, tinha cinco minutos de sobra para pegar
uma barra de granola e um pouco de suco. Não era exatamente o
café da manhã dos campeões, mas não era como se eu tivesse
muito apetite hoje em dia de qualquer maneira.

Eu tinha acabado de chegar à porta, quando a sombra de Nix


cintilou pela janela.

— Bom dia. — Eu sorri ao sair para a varanda. Quando eu era


apenas uma garotinha, pensava que tínhamos sorte de ter um dos
maiores trailers de toda Darling Row.

Como eu estava errada.

— Venha aqui. — Nix me puxou para os braços dele,


abraçando-me firmemente e eu me derreti em seu aperto forte.

Se mamãe era a tempestade na minha vida, imprevisível e


tumultuada, Nix era o sol. Constante e verdadeiro, ele nunca me
decepcionou. Ele era meu melhor amigo, meu protetor, meu
confidente, e enquanto crescia, ele tinha sido o irmão mais velho
que eu nunca tive.

Mas ultimamente, algo havia mudado entre nós. Seu toque


deixava minha pele um pouco mais sensível e seu sorriso fazia meu
estômago flutuar como mil borboletas voando.

Não éramos mais crianças. Éramos juniors agora, ambos com


17 anos. Eu tinha peitos, quadris e uma bunda, e Nix tinha
músculos em lugares que eu não sabia que os caras podiam
desenvolver músculos. Se ele notou as mudanças no meu corpo,
ele não disse, e eu não sabia se ficaria aliviada ou amargamente
desapontada.

Porque eu não queria que as coisas mudassem entre nós.


Não queria.

Mesmo que eu estivesse irremediavelmente, irrevogavelmente


apaixonada por Phoenix Wilder.

— Ei, Nix. — Cherri Jardin caminhou até ele enquanto saímos


de seu Corolla rebaixado. Ela não me deu atenção, mas isso não
era novidade.

Quando você era melhor amiga de um cara como Nix, você


rapidamente se acostuma com a hostilidade das garotas ou a
ignorância total. Elas não me viam como uma ameaça, eu era a
pequena Harleigh Wren Maguire, a garota que, apesar da nossa
mesma idade, Nix sempre tratava como uma irmãzinha.

— Eu estava esperando para vê-lo esta manhã. — Ela


ronronou.

— Ei, Cher. — Ele deu-lhe um de seus sorrisos de marca


registrada. — Como estão as coisas?

— Melhor ainda por vê-lo. — Ela bateu os cílios com tanta


força que fiquei surpresa por ela não ter perdido alguns.

Olhei para baixo, fingindo ler o livro em minhas mãos.

Nix riu. Profundo e grave, o som rolou através de mim como


um trovão à distância. A risada dele nem sempre me afetou tanto,
mas ultimamente... Ultimamente, notava tudo sobre ele. Como ele
sempre usava seus óculos escuros, mesmo que o sol não estivesse
forte, como se ele não quisesse que ninguém visse seus olhos
cinza-escuro. Como ele se inclinava contra qualquer coisa que
podia encontrar – a parede, seu carro, os bancos de armários na
escola – como se ficar em pé fosse muito esforço. Ou como ele
sempre inalava uma respiração aguda cada vez que colocávamos
os pés na escola, como se a pressão de crescer fosse quase demais
para suportar.

Então, sim, não havia muito que eu não notasse sobre Nix.
Mas se ele percebeu que eu estava notando, guardou para si
mesmo.

E neste momento, ele não notava ninguém além de Cherri e


sua saia jeans muito curta para a escola. Eu gostava de me punir,
vendo como seus olhos lentamente caíram pelo corpo dela,
trabalhando seu caminho de volta para cima, permanecendo por
um segundo a mais no decote derramando fora de sua camisa
xadrez preta e vermelha.

— Você vai estar na festa hoje à noite, certo?

— Você sabe que sim. — Ele disse.

— Bom. — Ela lambeu os lábios sugestivamente, e a intensa


vontade de me colocar ao seu lado e declarar minha reivindicação
caiu sobre mim.

Isso era novo.

Eu amava Nix, é claro que sim. Ele tinha sido a pessoa – a


única pessoa – que eu poderia confiar por tanto tempo quanto eu
poderia me lembrar. Ele me salvou mais vezes do que eu poderia
contar. Sem mencionar o fato de que ele era o único que sabia a
verdade sobre minha mãe.
Mas nunca pensei no que meu amor por ele poderia se tornar
à medida que envelhecemos.

O ciúme me atravessou enquanto observava Cherri se


aproximar, estendendo a mão ao longo de seu braço musculoso. O
mesmo que tinha me abraçado há menos de quinze minutos.

— Eu tenho que ir para a aula. — Eu disse abruptamente,


passando por ambos.

— Birdie, espere aí. — Nix me alcançou, deixando o braço


sobre o meu ombro. Instantaneamente, parte do fogo dentro de
mim morreu. — Não é fã de Cherri? — Perguntou ele.

Olhei para ele e revirei os olhos. — Eu não sei o que você vê


nela.

— Se você tem que perguntar, não está pronta para saber a


resposta. — A expressão dele era provocante, mas só deixava o nó
no meu estômago mais apertado.

— Eu não tenho mais onze anos, Nix. — Eu me afastei do seu


aperto, odiando a forma como minhas bochechas queimaram sob
seu escrutínio.

Correndo para longe dele, não fiquei surpresa quando ele


pegou meu braço e me puxou de volta. — O que está acontecendo
com você?

Diga a ele.

Eu poderia dizer a ele e o que... esperar que ele correspondesse


o meu afeto quando eu sabia que ele não sentia o mesmo? Eu era
a melhor amiga dele. A garota que ele colocou na zona de amizade
anos atrás.
Não, eu não poderia dizer a ele. Nix era meu melhor amigo.
Sua amizade significava muito para arriscar em um caso bobo de
amor não correspondido.

Eu só tinha que ignorar meus sentimentos crescentes, o senso


de possessividade que eu sentia sobre ele, e eventualmente, iria
embora, e as coisas poderiam voltar a como sempre estiveram
entre nós.

— Wren, — disse ele, preferindo usar meu nome do meio. —


Fale comigo.

— Eu...

Diga a ele.

Apenas diga a ele.

Não, não diga a ele.

Nunca diga a ele.

— Estou preocupada com a mamãe. — Eu soltei um suspiro


cansado. — Ela tem estado pior do que o normal ultimamente. Isso
me deixa... agitada.

— Merda, baby. Venha aqui. — Ele me puxou para os braços


dele como se fosse a coisa mais natural do mundo.

E era.

Tudo sobre a forma como ele me segurou parecia certo.


Parecia... destinado. Como se fôssemos inevitáveis.

Mas sempre haverá uma parede gritante entre nós porque


meus sentimentos por ele não eram mais platônicos.
Eles não eram há anos.

— Estou bem. — Eu o afastei gentilmente, sorrindo. — Eu


sempre me sinto inquieta nesta época do ano.

— Sério, B, você precisa superar seu medo do Halloween. —


Ele me deu um sorriso torto.

— Eu não estou com medo, idiota. — Eu mostrei minha língua


para ele. — É só... você sabe que todos os trajes e caos
desnecessário me dá calafrios. — Trocando alguns livros no meu
armário, levei um segundo para recuperar o fôlego.

Ele sabia.

Ele sabia que algo estava errado entre nós.

Deus, isso foi a pior coisa que poderia acontecer.

— Você ainda está vindo para a festa, certo?

A festa que as crianças do nosso bairro realizavam no


reservatório todos os anos.

— Nix. — O nome dele estava preso na minha garganta como


o suspiro de um amante. — Eu não sei...

— Mas você tem que vir.

— Por quê? — Eu olhei para ele através dos meus cílios longos.
Eu não queria perguntar, mas agora a palavra estava entre nós, e
percebi que precisava saber.

Eu precisava saber por que era tão importante para ele que eu
estivesse lá.
— Por quê? — Uma ondulação atravessou o ar, minha pele
ficando apertada novamente enquanto ele me estudava. Suas
sobrancelhas se uniram, seus olhos cinza metalizados girando
com escuridão. Seu polegar pressionado suavemente em seu lábio
inferior enquanto o silêncio perfurava entre nós.

Mas então alguém gritou no corredor e o feitiço foi quebrado.


Nix piscou, aquele sorriso fácil de sua fixação de volta ao lugar.

— Por quê? — Ele riu. — Porque eu não seria um grande amigo


se eu deixasse você ficar em casa e assistir reprises de Friends,
seria?

Soltei a respiração que estava segurando.

Por um segundo, por uma única batida de tempo, pensei que


ele ia dizer outra coisa completamente diferente.

Desânimo se espalhou dentro de mim como uma onda


gigantesca, devastadora e implacável, e tive que olhar para longe
para tentar e disciplinar minha decepção.

— Vamos, B, vai ser divertido. — Ele estendeu a mão para


mim, girando um fio do meu cabelo em torno de seu dedo. Sempre
me tocando como os caras tocavam suas namoradas. Uma
escovada da mão dele contra a minha. Me esmagando em um
abraço de urso. Deixando cair um beijo na minha cabeça ou
bochecha.

Nix não tinha medo do contato humano. Ele procurava por


isso. Só não significava a mesma coisa quando ele me tocava como
quando o fazia em garotas como Cherri.

Meu coração se encolheu.


Eu o vi por anos flertando e curtindo em cantos escuros de
festas ou atrás das arquibancadas. Nix adorava beijar, adorava
sexo. Eu o ouvi falar com os caras sobre isso o suficiente. E nunca
me incomodou porque eu sabia que tinha a única coisa que elas
nunca teriam.

O coração dele.

Phoenix Wilder me amava.

Ele me amava com tudo o que era.

Ele apenas não me amava o suficiente.


Darling Row, ou The Row como todos chamavam, era o vasto
parque de trailers à beira de Darling Hill, uma pequena cidade
aninhada no Vale Hudson entre Albany e Hudson.

O lugar onde os sonhos vinham para morrer, ou pelo menos


era como minha mãe gostava de chamá-lo sempre que ela estava
sóbria o suficiente para manter uma conversa real.

Ela cresceu do outro lado da cidade, Old Darling Hill. Onde o


dinheiro não era objeto e as crianças não tinham que se preocupar
com a próxima refeição. Mas quando ela engravidou de mim aos
19 anos de um homem sete anos mais velho, foi exilada de sua
família. Minha família.

Então ela se mudou para o The Row e começou de novo. Uma


jovem com um bebê a caminho e nada além das roupas do corpo.
Meu pai – ou doador de esperma, como ele merecia ser chamado
por direito – pagou-a. Ele lhe deu dinheiro suficiente para pagar as
despesas e lavou as mãos de nós.

Raiva brilhou dentro de mim enquanto eu me sentava na


varanda, bebendo meu leite quente.

Eu só conhecia isto.

As filas e filas de trailers. Ar espesso com desespero e


contaminado com o sabor de sonhos despedaçados. Poderia ser
pior, eu sabia disso. Mas era uma pílula amarga para engolir
sabendo que se as coisas tivessem sido diferentes, que se meu
doador de esperma a amasse tanto quanto ela o amava, eu teria
sido uma das crianças ricas da Academia Darling.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios.

Eu não poderia imaginar nunca ser um deles, com seus carros


caros e marcas de grifes e boutiques.

Crianças deste lado da cidade raramente se aventuravam pelo


reservatório. Era a linha de fronteira que separava Old Darling Hill
com o nosso bairro que corria para o norte ao longo do rio Hudson.

Ocasionalmente, crianças da academia vagavam pelo nosso


território, mas isso nunca acabava bem para ninguém.

— Harleigh, querida, você está aí fora? — A voz grave da


mamãe flutuou de dentro.

— Sim, mãe, estou aqui fora. — Eu drenei o resto do meu leite


e me preparei.

Ela apareceu na porta, magra e pálida, seu cabelo tão


despenteado quanto suas roupas.

— Aí está você, baby. — Ela sorriu, revelando dentes


manchados de licor.

— O que houve, mãe?

— Só queria ver como você está, querida. Eu senti sua falta


hoje.

— Você estava inconsciente quando eu saí. — Arquei uma


sobrancelha, imaginando se ela confessaria a garrafa vazia de
vodca.

Claro que não.


Porque o vício dela era algo que não falávamos. O elefante
enorme na sala.

— Foi uma noite ruim. — Vergonha lavou sobre ela quando


deixou cair o olhar. — Nix lhe deu uma carona para a escola?

— Você sabe que ele deu, mãe. — Ele me dá uma carona todas
as manhãs desde que tirou a carteira de motorista.

— Ele é bom para você. Mas eu me preocupo, Harleigh. Nix e


seus amigos são...

— Não. — Eu pulei, pronta para lutar pela única pessoa que


já tinha dado a mínima para mim.

— Querida, eu só...

— Não. — Eu surtei. — Você não pode fazer isso. Você não


pode agir como se importasse quando mal está sóbria desde o
início do semestre. — O que tinha sido há semanas.

Sua expressão se rasgou quando ela inalou uma respiração


profunda.

— Eu estou tentando, baby. Eu só me preocupo. Você é... Você


é uma garota tão boa, Harleigh, querida. E Nix é... Há algo escuro
dentro daquele garoto. Eu posso senti-lo.

Uma risada estrangulada borbulhou no meu peito. — Sim,


bem, novidade, mãe. Há escuridão em mim também.

Ela recuou como se eu tivesse a esbofeteado fisicamente. —


Não diga isso, nunca diga isso.
— Tanto faz, mãe. — Passando por ela, deslizo para dentro do
trailer, mas ela segue, cambaleando atrás de mim como um
fantasma se movendo pelas sombras.

— Harleigh Wren, por favor, baby, eu não quero brigar.

Girei de volta e olhei para ela. — O que você quer, então?


Porque, com certeza, você não quer saber como foi meu dia, ou se
estou mantendo minhas notas, ou comendo direito, ou...

— Pare. — Ela chorou, esfregando a clavícula. — Por favor,


pare.

— Bem, o quê, mãe? O que você quer, hein?

Às vezes, era mais fácil lidar com mamãe quando ela estava
bêbada do que lidar com... com isso. Sua tentativa de fingir que se
importava quando não tinha se incomodado em perguntar por
semanas se eu tinha dinheiro suficiente para comprar
mantimentos, materiais escolares ou para substituir as coisas
usadas do meu armário.

— É Halloween e eu sei que você geralmente sai com Nix e...

— Sério, mãe. Você conseguiu se arrastar para fora da cama


para me advertir sobre a festa.

Inacreditável.

— Eu tenho ido ao Halloween com Nix por anos.

— Eu sei, querida. Eu sei. Mas você não é mais uma criança,


Harleigh. Vocês são todos adultos e... e eu me preocupo.
— Oh, por favor. Você está um pouco atrasada para falar
comigo sobre como os bebês são feitos, mãe.

O sangue foi drenado de seu rosto enquanto ela gaguejava: —


Você quer dizer ... você e Nix...

— O quê? — Minhas bochechas queimaram. — Não. Deus,


não.

Alívio caiu sobre ela, mas eu não tive coragem de dizer que eu
estava corada por razões completamente diferentes.

Porque agora só conseguia pensar em estar com Nix assim.


Nossos corpos pressionados juntos, molhados com suor. O som de
nossos gemidos na escuridão. A sensação dele se movendo em
cima de mim.

Apertei os olhos fechados, forçando-me a respirar fundo.

— Harleigh, querida? — A voz da mamãe rachou de


arrependimento. Mas era sempre a mesma coisa. Ela se tirava do
estupor bêbado tempo suficiente para me repreender e depois
voltava aos seus velhos costumes.

Ela nunca gostou do Nix. Parte de mim achava que ela estava
com ciúmes porque ele era a pessoa a quem eu recorria. Mas não
era como se eu nunca tivesse sido capaz de me apoiar nela.

— Olha, mãe. — Suspirei, odiando o confronto. — Nix é meu


melhor amigo. Ele esteve lá por mim. — Ele ainda está lá por mim.
— Eu sei que você não gosta dele, mas eu preciso dele.

— Eu sei, querida. Eu sei. Eu só... Eu não quero que você


desperdice seus últimos anos na escola em sua sombra. — Ela se
aproximou, agarrando minha mão na dela. Seus dedos ósseos
agarraram-me como um bote salva-vidas. — Você pode fazer o que
quiser, baby. Ser o que quiser.

— Mãe...

— Apenas me prometa que sempre vai perseguir seus sonhos,


Harleigh. Vá atrás do que você quer.

— Claro, mãe. — Lutei contra a vontade de revirar os olhos. —


Tanto faz.

— Você é uma menina tão boa, baby. Estou tão orgulhosa de


você.

Orgulhosa de mim?

Ela tinha um jeito engraçado de demonstrar isso.

Eu estava aplicando a última parte da minha maquiagem


quando meu celular tocou.

Nix: Doces ou travessuras?

Eu: Haha, muito engraçado. Estou quase pronta.


NIX: Bom, estou pronto para estragar as coisas.

Revirei os olhos para isso. Nix não precisava de uma desculpa


para estragar as coisas, ele vivia para o caos.

Ele e seus dois amigos mais próximos, Zane e Kye, eram bem
conhecidos por Darling Hill. Eles gostavam de festejar, viver a vida
no lado selvagem, e geralmente foder com o sistema.

Palavras deles, não minhas.

Nunca me incomodou antes. Eles geralmente me mantinham


fora do seu caos e Nix nunca me colocaria em perigo. Mas depois
da minha discussão com a mamãe, não pude afastar a sensação
de que algo parecia diferente.

Eu sabia que eu estava diferente – eu estava tendo todos esses


sentimentos luxuriosos por Nix – mas havia algo mais circulando.
Uma mudança no ar.

Ou talvez eu só precisasse relaxar e ter uma noite de diversão


adolescente à moda antiga.

Olhando para mim mesma no espelho, eu bufei. Nix ia morrer


quando visse minha escolha de fantasia este ano. A roupa da
Arlequina era a coisa mais sexy que eu já tinha usado, mas quando
eu vi isso na loja local Goodwill, tinha comprado por capricho.

Talvez, no fundo, eu tenha comprado para tentar fazer Nix me


notar.
Todos saiam com muita pele exposta para a festa,
especialmente as meninas. Noivas zumbis vadias, anjos sensuais,
diabinhas sedutoras; os caras sempre tinham um dia de campo. E
eu geralmente me misturava nas sombras, optando por algo mais
reservado. Porque eu não era aquela garota.

Mas talvez eu pudesse ser hoje à noite.

Meu celular tocou de novo, e eu sorri.

NIX: Sua carruagem aguarda.

Ele era um idiota.

Só para você. Eu silenciei a voz pequena.

Era verdade. Poucas pessoas viram o lado que Nix guardava


só para mim. Mas parecia uma troca justa quando eu não podia
ver o lado reservado para as garotas em sua vida.

Meus dedos tremiam quando eu enviei um texto de volta,


energia nervosa saltando no meu estômago.

— Relaxe. — Eu inalei uma respiração afiada. — Você


consegue.

Eu estava gostosa. Eu parecia o tipo de garota com quem Nix


normalmente ficava. A saia azul e vermelha estava no alto das
minhas coxas e o pequeno cropped branco revelava meu estômago
liso. Eu tinha enrolado meu cabelo e puxado em duas maria
chiquinhas altas. Minhas botas pretas tinham visto dias melhores,
mas elas teriam que servir, e pareciam assassinas junto com meu
par de meias arrastão brancas.

Deus, eu estava mesmo fazendo isso?

Chupei meu lábio inferior entre os dentes, tentando imaginar


a reação do Nix. Uma risada suave de descrença se derramou para
fora dos meus lábios. Ele ia pirar quando me visse.

Especialmente depois que eu insinuei que não queria ir. Mas


vê-lo com Cherri, e depois ouvir minha mãe me dizer para sempre
ir atrás do que eu queria... Bem, tinha girado um interruptor
dentro de mim.

Ela estava certa.

Esta vida não me entregaria meus sonhos. Eu teria que


persegui-los. Agarrá-los com as duas mãos e fazê-los acontecer.

E a coisa que eu mais queria no mundo? Nix.

Pela primeira vez, eu queria que ele olhasse para mim do jeito
que ele olhava para elas. Não queria nada mais do que afetá-lo
como ele me afetava.

Outro texto chegou e eu li rapidamente.

NIX: Kye está ficando inquieto... Você vem?

Eu: Saindo agora.


Peguei os dólares que economizei por cuidar dos filhos dos
vizinhos e enfiei na minha bolsa junto com meu brilho labial e
celular. Então eu a joguei pelo ombro e fui ver a mamãe.

— Eu estou sain…

Decepção rolou sobre mim enquanto eu a observava sua forma


de dormir, enrolada no sofá, dedos ainda vagamente enrolados em
torno de outra garrafa de vodca.

A ironia não passou despercebida por mim. A geladeira estava


sempre nua, os armários cheios de nada além de pacotes de miojo
e biscoitos velhos. Mas ela sempre poderia encontrar dinheiro para
comprar sua amada bebida.

— Até mais tarde, mãe. — Eu murmurei quando cheguei à


porta da frente, e saí para a noite.

— Puta. Merda. Aquela é a pequena Harleigh Wren Maguire


debaixo de tudo... isso? — Kye soltou um assobio baixo quando
subi no carro do Nix.

— Ei, pessoal. — Meu estômago tremia enquanto eu puxava a


bainha da minha saia, totalmente ciente de como era revelador.

— Birdie. — Nix sussurrou grosseiramente, seus olhos


vagando sobre meu corpo. Suas mãos estavam curvadas em torno
do volante, segurando-o firmemente.
— O que você acha? — Eu perguntei, espiando-o um pouco
envergonhada.

— Eu... É... — Ele limpou a garganta. — É um pouco... demais,


você não acha?

Um pouco demais?

Meu coração murchou dentro do meu peito.

— Cara. — Kye se inclinou do banco de trás e acertou a cabeça


de Nix. — Um pouco demais? Você perdeu a cabeça? Ela parece
gostosa pra – ei, cuzão, para que diabos foi isso?

— A gente deveria ir. — Nix resmungou, acelerando o motor.

Tanto para impressioná-lo. Ele pensou que eu parecia


estúpida.

Por que eu sequer fiquei surpresa?

Nix não pensava em mim como nada mais do que uma


irmãzinha. Alguém que ele tinha que proteger e cuidar. Alguém
que ele deixou vir junto porque sentia pena dela.

Eu pressionei minha cabeça contra o vidro frio, tentando


recuperar o fôlego. Tentando não deixar a torrente de emoção
caindo dentro de mim se libertar.

Não chore. Não ouse chorar.

— Ouvi dizer que algumas das crianças da academia podem


aparecer. — disse Zane.

— Não, sem chance. — Nix trocou.


Eu não olhei para ele. Eu não poderia. Não depois que seu
comentário arrogante tinha rasgado meu coração em pedaços
minúsculos e retalhados. Mas senti a animosidade rolando para
fora dele. Havia poucas coisas que ele odiava mais do que as
crianças que viviam do outro lado da cidade.

— Eles não têm bolas grandes o suficiente para isso.


Especialmente depois de como chutamos seus traseiros no campo
no mês passado.

— Só te dizendo o que eu ouvi, cara.

— Se eles são estúpidos o suficiente para entrar em nosso


território, então é melhor que eles estejam prontos para pagar o
preço.

— Claro que sim. — Zane se inclinou para a frente, rindo, e os


dois bateram as mãos em um high-five através dos assentos.

Os três estavam vestidos com seus costumeiros capuzes e


jeans pretos, mas esta noite, eles adicionaram máscaras
assustadoras de LED neon. Nix não estava usando a dele, mas Kye
e Zane estavam, e o efeito foi estranhamente arrepiante. Mas então
eu não podia ver os olhos deles, e os olhos contam muito sobre
uma pessoa.

Como quando olhei para Nix e seu olhar colidiu com o meu.
Frio e tempestuoso, girando com desaprovação. Sua mandíbula se
cerrou enquanto ele puxava uma respiração aguda e concentrava
sua atenção de volta na estrada.

— Nix, eu...

— Agora não, B, ok. Agora não.


Eu afundei mais baixo no assento, desejando que ele me
engolisse inteira.

Esta noite era para nos aproximar mais, para fazê-lo perceber
que eu não era mais uma criança.

Mas naquele momento, ele nunca pareceu tão distante.


Darling Hill Reservoir era um ponto de acesso local para os
garotos do nosso bairro. Todos que eram um “qualquer” passaram
pelo menos um verão ou dois aqui, nadando nas águas azuis
turvas, tomando sol nos bancos sombrios. Cercado pela floresta
densa, era o lugar perfeito para adolescentes virem e se soltarem
sem perturbar as autoridades.

Esta noite, foi transformado na festa principal. Uma enorme


fogueira lambeu o céu noturno enquanto as pessoas dançavam e
riam, bebendo cerveja quente e licor roubadas dos armários de
seus pais.

— Wilder, já era hora. — Paul Odell perambulou até nós,


cumprimentando os caras. — Merda, Harleigh, é você embaixo
disso tudo...

— Não vá por aí, cara. — Kye murmurou. — Não, a menos que


você queira que Nix arranque sua cabeça.

Paul recuou, sorrindo enquanto levantava as mãos.

— Eu posso ver por que seria um problema. — Ele olhou para


mim novamente e depois de volta para Nix. — Merda, cara. — Ele
riu como se estivessem compartilhando uma piada interna.

Mas só fez o nó no meu estômago apertar um pouco mais.

Nix mal tinha dito duas palavras para mim no passeio e estava
começando a me irritar.
Então, ele não gostou da minha fantasia. Ele não precisava ser
um idiota sobre isso.

— Eu vou pegar uma bebida. — Eu disse, deixando-os falando


sobre qualquer coisa que os caras normalmente conversam.

Você sabe do que falam, garotas como Cherri.

Nix não seguiu.

E parte de mim queria não querer que ele o fizesse.

Alguns caras me observaram enquanto eu descia até a coleção


de coolers de cerveja e roubava uma garrafa, mas assim que
encontrei seus olhares, eles olharam para longe. Era sempre a
mesma coisa toda vez que eu saía com Nix. Ninguém olhava para
mim, ninguém falava comigo... ninguém, exceto...

— Chloe. — Eu disse, caindo no banco ao lado dela. — Você


veio.

— Burrice, não é? Quero dizer, Kye provavelmente vai me


matar quando perceber. Mas dane-se ele. Tenho 16 anos. Ele
estava curtindo muito antes disso.

Meus lábios se curvaram. Chloe Carter era uma garota difícil


de ser controlada. Forte e atrevida, ela não aceitava merda de seu
irmão ou seus amigos. Mas ao contrário de mim, ela era o tipo de
garota que navegava na hierarquia social do ensino médio.

— Eu gosto da sua roupa. — Eu disse, estudando sua fantasia


de Mulher-Gato.

— Essa coisa velha. — Ela me mostrou um sorriso. — Era


minha fantasia da sétima série para o concurso na escola. Eu tive
que alterá-la um pouco para caber, mas estou satisfeita de como
ficou.

— Você está incrível.

— Você não parece tão ruim, Arlequina. — Ela sorriu. — Agora,


tudo que você precisa é encontrar seu Coringa. — Seu riso mal
penetrou em mim quando encontrei Nix na fogueira, rindo e
conversando com um grupo de anjinhas sensuais. Mas uma delas
me chamou mais a atenção do que as outras.

Cherri.

Meu coração se encolheu.

— Sabe, você poderia apenas dizer a ele como se sente. —


Chloe cutucou meu ombro com o dela.

— Eu não sei o que você quer dizer.

— Claro, você não sabe. — Ela revirou os olhos. — Você esteve


apaixonada por ele a vida toda.

— Eu... — Eu tinha certeza que minhas bochechas estavam


pegando fogo.

— Está tudo bem, não vou contar a ninguém. Quer dizer, eu


entendo. É o Nix. Vocês dois têm esse laço especial. Amigos de
infância que viraram amantes. É fofo.

— Ele não me vê assim. — As palavras eram como cinzas na


minha língua.

— Ele teria que ser burro para não notar.


— Da mesma forma que você e Maddox. — Eu disse, seguindo
sua linha de visão para onde Maddox West estava com seus
amigos. Um grupo deles vestidos de jogadores de futebol zumbis.

— Não é assim entre nós. Maddox é... ele é uma espécie de


imbecil.

Eu ri disso. Eu sabia tudo sobre imbecis, especialmente


aqueles com cabelos escuros e olhos derretidos e tatuagens que
gritavam bad boy.

Mas Nix nunca foi um idiota, não para mim.

Não até hoje à noite.

— Eu não sei como você aguenta. — A voz de Chloe baixou. —


Observando-o com elas.

As palavras dela me fizeram olhar para Nix e as garotas


novamente. Cherri se aproximou, pressionando seus seios
tamanho 44 em seu braço enquanto ela olhava para ele, toda
sedução e pecado.

Meu estômago caiu.

— Eu... Estou acostumada.

— Sim, bem, ele é um tolo por não perceber o que está bem na
frente dele.

— Obrigada.

Uma trilha pegajosa de desânimo atravessou por mim.

— Olhe para nós. — Chloe ficou de pé, escovando as mãos


para baixo em seu short de látex justo. — É Halloween. A noite em
si é feita em maldade e caos e estamos sentadas aqui
completamente deprimidas. Vamos, Maguire.

— V-vamos?

— Sim. — Ela revirou os olhos. — Pegar uma bebida, dançar...


encontrar alguns caras bonitos para conversar. Qualquer coisa
que não seja sentar aqui assim. — Mágoa brilhou em seus olhos
quando ela olhou de volta para onde Maddox estava. — O que você
diz?

Chloe estendeu a mão para mim, e eu olhei para Nix


novamente. Seu braço estava em torno de Cherri agora enquanto
eles riram. Seus lábios pressionados em sua orelha, na curva
esbelta de seu pescoço.

Droga, Phoenix Wilder.

— Vamos. — Eu disse, com um ar de confiança que realmente


não senti.

Mas ela estava certa. Eu não podia ficar aqui e deixar meu
coração partir-se mais do que já tinha. Além disso, Nix era minha
carona para casa.

Eu estava presa aqui agora.

Quisesse eu ou não estar.


— Isso é divertido, certo? — Chloe gritou por cima da música
enquanto dançávamos com a batida pesada vociferando pelo ar.
Minha pele estava escorregadia com suor, meu coração acelerado
com cada movimento dos meus quadris e balanço dos meus
braços.

Ela estava certa, era divertido.

As duas bebidas que ela pegou nos ajudaram.

Mas então meus olhos caíram sobre Nix através da fogueira, e


tudo se fechou ao meu redor. Eu inalei bruscamente, observando
como uma espécie de masoquista enquanto ele enganchava o
braço em volta de Cherri e a puxava para o lado dele. Ela riu,
arrastando o braço em volta do pescoço dele e jogando a cabeça
para trás deixando-o lamber sua pele. Beijá-la. Mordê-la.

Calor floresceu no meu estômago, mas não era só o ódio


girando lá. Era outra coisa. Algo escuro e carente. Uma vibração
profunda dentro de mim. Uma pulsação que só acelerou quando
seus olhos se trancaram com os meus. Nada mais existia. Não
Chloe, a música ou as chamas selvagens dançando contra o
cenário obscuro.

Só havia Nix e eu.

O garoto que era dono do meu coração, mesmo que não


quisesse.

E ela.

Ela fazia parte disso, quer percebesse ou não.

Cherri montou suas longas pernas estendidas e começou a


dançar, moendo sobre ele como se ele pertencesse a ela.
Ele não pertencia.

Nix era meu.

Só que ele não era, não de todas as maneiras que contavam.

Nix não tirou os olhos de mim, mas ele a deixou beijá-lo, tocá-
lo, pegar o que não era dela.

Por que?

Por que você está fazendo isso?

Emoção crua me esfaqueou. Profunda e visceral, ele rasgou o


que sobrou do meu coração escancarado. Mas eu não conseguia
parar de assistir. Não conseguia parar de perguntar o porquê?

— Harleigh. — Chloe agarrou meu braço, tentando me afastar.


— Não faça isso com você mesma. Ele não vale a pena.

Mas ele valia.

Nix era tudo para mim, tudo.

Então por que ele estava sendo tão idiota?

Lágrimas picaram meus olhos e eu pisquei, quebrando a


conexão volátil entre nós.

— Eu preciso de um pouco de ar.

— Garota. — Chloe riu. — Estamos no meio da porra do nada.

— Você sabe o que quero dizer. — Eu tropecei em direção ao


reservatório onde era mais silencioso, a multidão de adolescentes,
todos olhando para a festa, aconchegando-se mais perto da
fogueira.

— Harleigh, espere. — Ela chamou atrás de mim, mas não


pude parar. Eu precisava ficar longe dela, deles.

De mim mesma.

O que eu estava pensando usando essa roupa estúpida e


pensando que eu poderia impressioná-lo?

Nix não me enxergava assim.

Ele nunca me enxergaria assim.

Eu era a pequena Birdie dele. Sua melhor amiga. A garota que


ele sempre amaria, mas nunca desejaria.

Deus, isso doía.

— Ei, você está bem? — Chloe me cutucou gentilmente,


entrelaçando o braço dela junto ao meu.

— Eu sou... Eu sou estúpida.

— Não, você não é. Mas você sabe, talvez devesse apenas dizer
a ele como realmente se sente. Pelo menos vai colocar para fora e
você pode seguir em frente, de um jeito ou de outro...

— Então ele pode me rejeitar com palavras também? Não,


obrigada. — O riso estrangulado quase me sufocou. Eu me inclinei
para ela, grata por não estar sozinha.

Chloe e eu não éramos melhores amigas ou algo assim, mas


ela era a coisa mais próxima que eu tinha de uma amiga. Eu
poderia falar com ela sobre essas coisas, não é?
— Eu sei que não somos tão próximas. — Continuou ela. —
Mas eu estarei sempre aqui, Harleigh. Se você precisa de uma
amiga... — algo chamou a atenção dela ao longo da praia e seus
olhos se abriram. — Oh, merda. — Ela suspirou, e minha cabeça
girou para o que quer que ela tinha visto.

— Isso é...

— Marc Denby e sua equipe, sim.

Nós duas vimos Marc e seus amigos caminhando em direção


à festa como se fossem donos do lugar.

Eles não eram.

Eles eram do outro lado da cidade, Old Darling Hill, e eles


definitivamente não pertenciam a um lugar como este.

— Por que eles viriam aqui? — Eu sussurrei.

— Por que você acha? — Ela me deu um olhar sinistro. —


Vamos lá. Deveríamos ver o que está acontecendo. Kye não pode
se meter em problemas de novo. Ele vai ser expulso do time.

Assim como Nix.

O Darling Hill High Hawks estava em uma série de vitórias; em


parte porque Nix e Kye executavam um ataque impressionante e
em parte porque a maioria das outras equipes os temia.

Chloe me arrastou de volta para a fogueira. Marc e seus


amigos já tinham chegado à festa, pessoas ao redor dando-lhes
passagem aberta.
— Você deve estar perdido. — disse Nix, dando um passo à
frente, sua máscara de LED empurrada para cima em sua cabeça
e Cherri agora em lugar nenhum à vista. — Porque eu sei que você
não veio aqui de bom grado.

Kye e Zane flanquearam-no, os três como uma parede de


músculos, tatuagens e intimidação.

— É um país livre, Wilder. — Marc cuspiu, pegando seu boné


e girando de trás para frente antes de colocá-lo de volta. Como se
aquele movimento de alguma forma fizesse dele algum tipo de
competição para Nix.

Não aconteceu.

Eu sabia disso.

Marc sabia disso.

Toda a maldita multidão sabia disso. Mas os caras eram


estúpidos e gostavam de brigar.

Especialmente Darling Hill High e Darling Academy.

— Você nos fodeu no jogo.

— Ainda chorando sobre isso, Denby? — Nix bufou. — Você


veio ao lugar errado se estiver procurando por simpatia.

— Você é um idiota, sabe disso, não é? — Marc deu um passo


mais perto, uma onda de antecipação voando pelo ar.

Do aperto de seus punhos ao seu lado, estava claro que ele


não tinha aparecido para fazer as pazes.
— O cara tem um desejo de morte. — Chloe murmurou,
agarrando minha mão e me puxando por trás da multidão para
onde seu irmão e Nix estavam. Mas um braço disparou para fora,
me puxando.

— O que temos aqui? — Disse uma voz, com os olhos se


ampliando com reconhecimento. — Eu te conheço.

— Duvidoso. — Eu assobiei.

— Não, eu conheço. Você é o animal de estimação do Wilder.


— Os olhos do cara patinavam pelo meu corpo, iluminando-se com
intenções sombrias. Um arrepio violento passou por mim.

— Tire as mãos dela, idiota. — Chloe estourou pela multidão.

— Sem chance, coisa sexy. Denby ficará feliz em vê-la. — Ele


apertou o controle sobre mim e empurrou-me para a frente do
círculo grosseiramente formado.

Todo mundo estava olhando agora.

Olhando para Nix e Marc... e eu.

Não me atrevi a olhar para Nix, mas senti seu olhar


penetrante, queimando na lateral do meu rosto.

— E o que temos aqui? — Marc disse com uma voz arrastada,


me dando uma olhada mais uma vez. Seu amigo se inclinou,
sussurrando algo sobre o animal de estimação de Wilder.

Eu odiava esse apelido, odiava que eles pensassem isso de


mim.

Odiava ainda mais que eles estavam certos.


Nix não me queria. Ele não me via como sua namorada ou
mesmo sua amiga com benefícios. Eu era a melhor amiga dele,
claro. Mas as pessoas fora do nosso grupo – ele, Kye, Zane e eu –
realmente não entendiam. E isso nunca me incomodou.

Até agora.

Até que os sussurros começaram como uma onda lenta


rolando em direção à costa. Ouvi Cherri e seus amigos rindo, suas
palavras cruéis e provocações subindo acima do barulho das
vozes.

É aquela Harleigh... a pequena Harleigh Maguire?

O que ela está vestindo?

O animal de estimação do Wilder... parece isso mesmo, a


maneira como ela os segue por aí como um cachorrinho perdido.

É trágico, ela é trágica.

Todos sabem que Nix não é o tipo de uma garota só.

Eu nunca tinha estado no centro da atenção deles antes, não


assim. Porque Nix me protegia. Ele manteve os lobos afastados,
avisando qualquer um que ousasse falar de mim.

Mas não hoje.

Hoje à noite, Nix ficou parado lá, sem fazer nada.

Enfiando a faca mais fundo no meu coração.


— Deixe-me ir. — Eu sibilei, puxando contra o aperto de Marc.

Se Nix não fosse me salvar, eu me salvaria.

Mas quando eu estava prestes a fazer algo estúpido, como


acertar o joelho nas bolas de Marc, Kye deu um passo à frente.

— Movimento corajoso, Denby. Harleigh pertence a nós.

Não dele.

Não a Nix.

A Nós.

Em qualquer outro momento, as palavras teriam aquecido


minha alma, mas não está noite. Esta noite, elas tocaram alto e
claro em minha mente como “não pertencia a Nix”.

Eu pisquei para afastar uma nova onda de lágrimas.

— Engraçado, eu pensei que ela era o animal de estimação de


Wilder. Ou talvez todos vocês compartilham. Talvez ela fique de
joelhos como uma boa vadia para os três...

— Chega. — Nix rosnou, dando um único passo à frente, o


chão tremendo sob suas botas. No entanto, ele ainda não olhou
para mim.

E essa única inação me cortou mais fundo do que qualquer


outra coisa.
Por que não olha para mim?

— O que você realmente quer, Denby? Certamente, mesmo


você sabe que está começando algo que você não pode terminar.

— Você se acha tão intocável. — Marc apertou meu bíceps, a


pele sendo machucada sob seu toque cruel. — O poderoso Phoenix
Wilder, sem medo de nada ou ninguém.

— Quando você não tem nada a perder é fácil não dar a


mínima. — Nix encolheu os ombros, piscando aquele sorriso fácil.
O que ele usava muitas vezes. Mas eu sabia que era apenas o
exterior. Uma máscara. Uma fachada.

Nix se importava. Ele só não gostava que as pessoas


soubessem.

Ainda assim, isso não impediu que suas palavras me


atingissem no peito.

— Interessante. — Marc me puxou para seu peito, abaixando


seus lábios na minha orelha. — Talvez Wilder não se importe se
eu...

— Você nunca se cansa de se ouvir? — Zane escorregou sua


máscara do rosto, pavoneando-se em nossa direção, um brilho
escuro em seus olhos. Onde Nix era o líder, e Kye era o coringa,
Zane era o imprevisível. Uma tempestade mercurial silenciosa.
Quando ele entrava em uma situação, as coisas geralmente
terminavam em violência.

Mas ele não me assustava. Talvez tenha sido o modo como ele
sempre foi o protetor silencioso na minha vida. Cuidando de mim
e do Nix na mesma medida.
Ou talvez eu tivesse um problema com garotos e corações
negros. Porque se Nix mantinha seu coração trancado, Zane
mantinha o seu enterrado sob dois metros de gelo.

— Olha só, é o...

— Venha aqui, Harleigh. — disse Zane, chamando-me para


ele.

Tentei me mexer, mas Marc apertou o controle. — Não tão


rápido.

— Você está jogando um jogo perigoso, Denby. — Zane


encarou, seus olhos tão escuro como a noite. Um arrepio passou
por mim. Ele parecia mortal. Uma tempestade mortal e fria
esperando para atacar.

— Apenas diga a eles, cara. — Os amigos de Marc pediram.

— Diga-nos o quê? — Nix perguntou, ainda não olhando para


mim.

— Queremos uma revanche. Hawks contra Devils.

— Uma revanche? — O riso encheu o ar. — Nós ganhamos de


vocês de forma justa.

— Em seu campo. Todos sabemos que se você e seus caras


vierem para o nosso campo será uma história diferente.

Nix estreitava os olhos, estudando Marc com atenção irritante.

— Então, o que vai ser, Wilder?

— E podemos entrar na sua escola, sem perguntas?


— Considere tratado.

Chloe murmurou algo sob sua respiração. Provavelmente o


quanto a ideia era estúpida. Se Nix e a equipe se aproximassem da
Darling Academy, haveria problemas.

Todos sabiam disso.

Todos, incluindo Nix.

Mas quando isso o impediu antes?

— Diga a data e a hora e estaremos lá.

— No próximo fim de semana, semana da folga. — Marc


parecia presunçoso como se soubesse que Nix tinha feito uma
conclusão precipitada. E talvez ele tivesse. — Sábado à noite às
oito.

Nix deu-lhe um aceno imperceptível, seus olhos finalmente


piscando para o meu. Mas não senti nada do seu calor habitual.
Na verdade, seu olhar penetrante me arrepiou até o osso.

— Agora, se você quer sair daqui inteiro, deixe-a ir.

— Ela é toda sua. — Marc beijou minha bochecha antes de me


empurrar para a frente. Muito forte.

Perdi meu equilíbrio, tropeçando.

— Harleigh! — Chloe gritou, mas era tarde demais. Eu estava


caindo. Para baixo, para baixo e mais baixo enquanto risadinhas
soavam ao meu redor.

— Foda-se. — Alguém suspirou, enquanto braços fortes me


pegaram.
Por um segundo, pensei que fosse Nix, mas quando meu olhar
levantou, Zane era quem me observava.

— Você está bem? — Ele cortou, ajudando-me a ficar em pé.


Acenei com a cabeça, muito envergonhada para responder. —
Sabe, talvez...

— Filho da puta. — Kye gritou, e eu me virei bem a tempo de


vê-lo colidir com um dos amigos de Marc.

Os dois caíram no chão em um borrão de punhos.

— Você olha para minha irmã de novo e eu vou te matar.

Kye ficou em vantagem, prendendo-o enquanto ele enfiava o


punho no nariz do cara. Um barulho doentio de algo sendo
triturado reverberou pelo ar, sangue se espalhando por toda parte.

— Kye, pare! — Chloe tentou tirar o irmão do cara. — Pare.

— Porra — Zane me liberou, correndo para Kye. Ele o afastou


do cara que estava gemendo de dor, segurando seu nariz
quebrado.

— Que diabos, Kye? — Chloe começou a chorar pelo irmão.

— Ele olhou para você como...

— Você quebrou o nariz dele porque ele olhou para mim?


Sério? O que há de errado com você?

— Você não vai se safar dessa, Carter. — disse Marc, ajudando


seu amigo ferido a se levantar.

— Com o quê? Tudo o que vi foi o seu amigo caindo e


esmagando o próprio rosto no chão. — Nix deu de ombros, usando
um sorriso divertido. — Agora, se você não quer que a mesma coisa
aconteça com você, sugiro que corra de volta para o seu lado da
cidade.

Todos seguraram a respiração, esperando para ver o que Marc


faria. Mas pareceu pensar melhor, porque ele e seus amigos
seguiram de volta para a floresta.

Nix foi até um refrigerador e pegou uma garrafa de cerveja,


abrindo-a e suspendendo-a no ar.

— É Halloween, — ele gritou. — Vamos nos embebedar.

O lugar entrou em erupção, todos aplaudindo e assobiando.


Cervejas voavam, bebidas sendo borrifadas no ar como um lençol
de chuva. As garotas gritavam e os caras batiam as mãos em um
high-five.

A festa tinha começado oficialmente, e eu não queria nada


além de escapar.

— Meu Deus, Harleigh. — Chloe veio correndo até mim. —


Você está bem?

— Estou bem.

Eu não estava, nem de longe, mas ela não precisava saber


disso.

— Ouça. — Eu disse. — Posso pegar uma carona de volta com


você mais tarde?

— Claro. — Seu olhar preso em algo sobre o meu ombro, e


minha coluna endureceu. Não precisei me virar para saber que Nix
estava lá, olhando para mim.
— Qual é o seu problema, Wilder? — Chloe cuspiu.

— Deixa pra lá, Clo. — Kye se juntou a nós, cuidando de sua


mão quebrada.

— Você deveria dar uma olhada nisso. — Eu disse.

— Não. — Ele sorriu. — Nada que um pouco de licor e boceta


não vá consertar.

— Cara, nojento. — Chloe agarrou sua garganta e fingiu


vomitar.

Ele voltou sua atenção para ela, sua expressão escurecendo.

— Eu pensei ter lhe dito para não vir hoje à noite.

— E eu pensei ter lhe dito para ir se foder.

— Eu vou dizer a mamãe...

Ela soltou uma risada amarga. — Sério? Você acha que eu ligo.
Ela estará mais interessada em você entrando em outra luta.

Kye comprimiu os lábios.

— Você sabe que está a uma suspensão de ser expulso do time,


certo?

— Não comece, pequena. — Ele se inclinou para bagunçar o


cabelo dela, mas Chloe o afastou.

— Não me chame assim. Eu tenho dezesseis, não sou uma


criança.

— Apenas... vá para casa, Clo.


Ela bufou.

— Tanto faz, irmãozão. Vamos, Harleigh, vamos deixar a


brigada de idiotas aí. — Ela agarrou meu braço e me afastou deles.

Eles não tentaram nos parar.

Nix não tentou me impedir.

Não que eu esperasse isso dele.

Ele deixou bem claro que não me queria aqui.

Mas o que eu não consegui entender foi: por quê?

— Merda, estou tão bêbada.

Chloe se enrolou ao meu lado enquanto caminhávamos em


direção a alguns troncos de árvores derrubados longe do caos.

— Você não está bêbada? — Ela me espiou através de seus


cílios borrados.

— Não, parei depois de mais algumas cervejas. — Quando sua


mãe era uma alcoólatra, isso meio que te afastava dessa coisa toda
de se embebedar.

— Não, você precisa se soltar. Fique bêbada e dê uns amassos


em um desses jogadores de futebol zumbis.
— Acho que esse é o seu sonho, não o meu. — Eu rio. —
Falando em... ele está vindo aqui.

— Quem? — Ela levantou a cabeça, quase escorregando sobre


o tronco. — Uau, essa foi por pouco.

— Clo. — disse Maddox, pairando sobre nós. Ele era grande


para um aluno do segundo ano, já portando alguns músculos
grandes.

— Vá embora, Maddox. — Ela murmurou, enxotando-o.

— Não vai rolar, Clover.

— Está tudo bem. — Eu disse. — Eu vou tomar conta dela.

— Vou levá-la para casa.

— Como o inferno que você vai. — Ela saltou para cima,


levantando-se na cara dele. — Você não falou uma única palavra
para mim a noite toda e agora acha que pode apenas chegar e
bancar o herói? Novidade, amigo. — Ela enfiou o dedo no peito
dele. — Eu não quero jogar seus jogos.

— West. — A voz de Kye a fez eriçar. — Leve minha irmã para


casa.

— Não comece, Kye. Estou farta de...

Maddox se abaixou e a pegou, jogando-a sobre seu ombro e


seguindo em direção aos carros espalhados do outro lado das
árvores.

— Acho que não vou para casa com a Chloe. — Resmunguei,


com os dedos enrolando na casca áspera.
— Vamos lá. — Kye disse. — Antes que Nix venha aqui e aja
todo homem das cavernas em você também.

Sim, certo.

Como se isso fosse acontecer depois desta noite.

Mas não era como se eu tivesse outro lugar para ir. Sem a
Chloe, eu estava sozinha.

Nós caminhamos de volta para a festa em um silêncio


constrangedor. Casais começaram a se emparelhar, escondidos
nas sombras, pressionados juntos, se tocando e gemendo. Outros
dançavam, selvagens e livres, abraçando a noite de travessuras e
caos.

Eles fizeram parecer tão fácil, tão divertido.

Nunca tinha sentido dessa maneira. Mas eu estava começando


a pensar que talvez Nix estava certo. Talvez eu estivesse errada.

— O que aconteceu antes...

— Isso não importa. — Marc Denby não era ninguém para


mim. Eu me importava menos com a maneira como ele tinha me
tocado e mais sobre a maneira como Nix se recusou a olhar para
mim. Como se eu o tivesse desapontado... ou o enojado.

— Acho que vou embora. — Eu disse, brincando nervosamente


com a barra do meu cropped. Eu me senti bem saindo do trailer
com a minha fantasia de Arlequina. Até mesmo sexy. Mas desde
que vi a reação do Nix, senti-me nada mais do que uma tola.

— Sim, certo. Como se Wilder fosse deixar você sair com algum
idiota.
Minhas sobrancelhas franziram. Depois do jeito que Nix me
tratou a noite toda, por que ele se importaria com quem eu vou
embora?

Kye me estudou, seus lábios se curvando.

— Vocês dois realmente são sem noção, às vezes.

— O quê...

— Ei, Carter. — Zane chamou. — Vamos embora.

— Nós vamos?

— Sim, temos algumas merdas para cuidar do outro lado da


cidade. — Ele nos mostrou um sorriso de lobo.

— Foda-se, sim. Podemos deixar B primeiro, certo?

— Sim, tanto faz.

Nix pulou de uma pilha de pneus e drenou sua garrafa de


água.

Ele tinha suas próprias razões para não beber. Do mesmo jeito
que eu.

Foi apenas uma das muitas coisas que compartilhamos.

— Eu posso tentar encontrar outra carona para casa. — Eu


disse calmamente.

Nix ficou pálido, inalando um hálito irregular. Quando os


olhos dele encontraram os meus, meu coração tremulava
descontroladamente no meu peito. — Você acha que eu iria deixá-
la aqui? Sozinha?
— Eu...

— Vamos, garoto Zee. — Kye jogou o braço no pescoço de Zane


e começou a afastá-lo. — Vamos dar a B e Wilder um pouco de
privacidade.
O ar estalou ao nosso redor enquanto permanecíamos olhando
um para o outro.

— Devemos ir. — Nix rangeu, raiva irradiando de todos os seus


poros.

Ele se afastou, mas eu agarrei o braço dele e gritei: — Espere.

Seu olhar foi para onde eu estava segurando-o antes que ele
lentamente levantasse o olhar para o meu rosto.

— Eu fiz... algo de errado?

Deus, eu odiava o quão fraca eu parecia, quão vulnerável. Mas


eu odiava esse abismo entre nós.

Um abismo que ele mesmo fez.

— Harleigh, não aqui, não agora. — Ele soltou um suspiro


exasperado.

— O que isso significa? Então eu fiz alguma coisa? É a


fantasia? Porque eu pensei...

— Eu não posso fazer isso agora. — Ele fugiu, desaparecendo


nas sombras.

A raiva borbulhava dentro de mim, explodindo como um


vulcão.

Sem pensar, fui atrás dele.


— Não se atreva a se afastar de mim. — Eu gritei, punhos
cerrados ao meu lado. — Estamos falando sobre isso. Agora
mesmo.

Nix balançou ao redor, seus olhos brilhando ao luar. —


Harleigh...

— Não me chame assim. — Meu coração se encolheu. — Você


nunca me chama assim.

Eu era sempre Wren, ou Birdie ou B.

Ele me chamando de Harleigh parecia como um adulto


repreendendo uma criança.

— Só me diga por que você está sendo tão... tão estranho.

O silêncio se estendeu diante de nós, meu peito cheio com o


peso das palavras.

— Eu... — Seus olhos se desviaram para longe, um palavrão


deixando seus lábios.

— Phoenix. — Eu dei um passo à frente. — Fale comigo, por


favor. — Eu peguei a mão dele, mas ele recuou.

— Não.

— Eu sei que não sou como Cherri ou...

— Cherri? — Ele empalideceu, resfolegando. — Você acha que


isso é sobre Cherri?

— Bem, ela... Garotas como ela.


— Birdie, não é... foda-se. Porra. — Ele enfiou os dedos no
cabelo escuro e puxou as pontas, frustração saindo dele.

— Nix, o que está acontecendo conosco? Eu não... — Nix me


prendeu contra uma árvore, inclinando-se e tocando sua cabeça
com a minha.

— Eu... — Ele parou de novo e meu estômago torceu.

Por que ele não podia falar comigo? Do jeito que ele sempre
fazia.

— Você tem alguma ideia do que você está fazendo comigo? —


Sua voz era um sussurro escuro em meu ouvido, seus lábios
precariamente perto da minha pele. Tão perto que pude sentir cada
palavra como um toque gentil acariciando contra o meu pescoço.

— E-eu? — perguntei. Porque ele não estava fazendo nenhum


sentido.

Pressionando de volta contra a casca áspera, eu tentei dar


uma olhada melhor em seus olhos. Estava na ponta da minha
língua implorar para ele me dizer o que estava errado. Mas ele
curvou sua mão em torno da minha garganta, arrastando o polegar
sobre o meu lábio inferior.

— Tão linda.

Linda?

Meus olhos se arregalaram enquanto ele me segurava lá, presa


contra a árvore, traçando a forma da minha boca como se eu fosse
algo precioso. Frágil e delicado.

— Nix, o que você está...


— Sssh, B. Estou me esforçando para não perder o controle
agora.

Foi então que notei que ele estava tremendo. Seu corpo inteiro,
tremendo enquanto me tocava. Foi mais do que eu poderia esperar
e ainda assim nem de perto o suficiente.

— Por que? — eu persuadi. — O que aconteceria se você


perdesse o controle?

— Isso.

A boca do Nix caiu na minha, dura e exigente. Eu engasguei


com o contato repentino enquanto sua língua se arrastava para
fora, lambendo meus lábios.

Meu Deus.

Nix estava me beijando.

Ele estava me beijando e era tudo.

Cada pressão de seus lábios, cada golpe de sua língua, me


levou cada vez mais alto até que eu estava tonta, meu coração
batendo tão forte que eu pensei que eu poderia desmaiar.

— Você tem alguma ideia de quantas vezes eu imaginei fazer


isso? — Nix segurou meu rosto com sua mão, me observando, com
os olhos cheios de luxúria.

— Você imaginou?

Um sorriso se formou em seus lábios, inchados por me beijar.

— Eu não entendo. Esta noite você agiu como se estivesse


chateado comigo.
— Eu estava, Birdie. — Ele cutucou meu pescoço com o nariz,
mandando pequenos choques através de mim. — Você saiu com
essa roupa ridícula, parecendo sexo e pecado, e tudo que eu
conseguia pensar era pega-la e... — Ele parou a si mesmo,
deixando cair um suspiro irregular. — Devemos ir, os outros estão
esperando.

— Ir? — Eu fiz beicinho, me sentindo tonta. — Mas você estava


apenas chegando à parte boa.

Nix sorriu e com aquele olhar único, toda a tensão em volta do


meu coração como um punho se derreteu.

— Vamos, pequena Birdie. — Ele jogou o braço em volta do


meu pescoço e me guiou mais fundo na floresta, em direção a onde
ele estacionou seu carro.

Avistando-nos, Kye pulou do capô do Nix. — Vocês dois


resolveram suas diferenças? — Sua sobrancelha se arqueou, um
sorriso consciente repuxando a sua boca.

— Cale a boca, idiota. — Nix me libertou e abriu a porta do


passageiro. — B vai na frente.

— Quando ela não vai? — Zane resmungou, deslizando para o


banco de trás.

— Eu disse que tudo ia ficar bem, B. — Kye piscou antes de


se jogar para dentro.

Minha boca estava aberta, confusão girando no meu


estômago. Eles sabiam... a noite toda eles sabiam o que havia de
errado com Nix. É por isso que Kye estava fazendo essas
declarações enigmáticas.
Mas eu ainda não podia acreditar.

Nix... Sentia o mesmo.

Todo esse tempo, e ele sentiu o mesmo por mim.

Borboletas subiram no meu estômago, me fazendo formigar.

Nix saiu do estacionamento sujo com uma mão no volante e


pegou a minha mão com a outra, mostrando-me um sorriso
misterioso que fazia coisas pecaminosas no meu interior. — Pronto
para fazer alguma bagunça?

— Você não vai me levar para casa?

— Você quer ir para casa? — Suas sobrancelhas escuras


levantadas, seus olhos cinzentos brilhando com um desafio que
ambos sabemos que eu não seria capaz de resistir.

Apertando meus lábios, eu balancei a cabeça. Eu não queria


ir para casa. Eu queria estar aqui com ele.

— Boa garota. — Ele piscou, com os olhos correndo para a


minha boca.

Expirando uma longa respiração, Nix sorriu e ligou o motor.

Deixando a festa e todas as minhas dúvidas atrás de nós na


poeira.
Não vinha muito a Old Darling Hill, mas eu sabia no segundo
em que cruzamos a fronteira. As casas ficaram maiores, mais
agradáveis, com gramados bem cortados e enormes calçadas.
Carros chamativos ficavam em frente a garagens duplas e as ruas
eram adornadas com plantadores e árvores pitorescas.

Old Darling era uma cidade por excelência de Hudson Valley,


com seu cenário idílico e charme artesanal. Era tudo o que Darling
Row não era. Bonita. Bem-amada. Próspera.

— Para onde estamos indo? — Eu perguntei, escovando meu


polegar sobre a parte de trás da mão de Nix.

Eu gostava de tocá-lo, sentir os dedos entrelaçados com os


meus. Parecia íntimo. Possessivo. E fez as partes escuras do meu
coração cantarem.

— Você realmente não pensou que deixaríamos Denby ir


embora sem lhe ensinar uma lição, não é?

— Nix. — Eu sussurrei. — Você não pode entrar em apuros.


Se o treinador Farringdon descobrir, ele vai...

— Relaxe, B. — disse Kye, inclinando-se para a frente e


arrastando o braço em volta do ombro do meu assento. — O
treinador Farringdon sabe que precisa de nós se os Hawks tiverem
alguma chance de chegar aos playoffs.

— Pode apostar. — Nix sorriu para Kye através do retrovisor.


— Além disso, entraremos e sairemos antes que eles saibam que
estávamos aqui.

Nix navegou pelas ruas de Old Darling Hill com facilidade


enquanto eu olhava para as casas. Ao lado dos trailers que todos
chamamos de lar, elas pareciam palacianas. Uma lembrança de
tudo o que mamãe desistiu para me ter.

Como isso era justo? Ela foi expulsa de casa, da família, por
se apaixonar pelo cara errado. Eu nunca tinha pensado muito
nisso antes desta noite. Mas não era de admirar que ela estivesse
perdida, vagando pela vida sem nada além de chances perdidas e
arrependimentos amargos atormentando seus pensamentos.

Meu doador de esperma morava neste bairro. Ou pelo menos,


presumi que ainda morava. Eu me perguntava se ele estava em
casa agora, com sua família, aquela que ele não tinha vergonha de
reivindicar como sua.

Meu peito apertou, mas não estava mais ferido. Eu tinha


superado a ideia de ter uma família feliz.

— É essa daqui. — disse Kye, apontando para a última casa


na fila. Voltando para a rua, era uma bela casa de estilo vitoriano.

— Ele está de volta, esse é o carro dele.

— Bom. — Nix estendeu a mão e Kye jogou a máscara nela. —


Máscaras no rosto, mantenha os LEDs desligados. Este lugar está
cheio de câmeras de segurança.

Ele passou pelo carro de Marc e seguiu pela rua em torno de


uma pequena esquina, encostando. As sombras das árvores que
revestiam a calçada envolviam o carro, disfarçando-o.

— Fique aqui, ok?! — Nix ordenou, puxando sua mão para


longe.

— Não, eu estou indo.


— Birdie...

— Phoenix. — Estreitei os meus olhos, recusando-me a me


mover.

— Tudo bem. — O canto da boca dele tombou. — Você pode


ser nossa motorista de fuga. Deslize para o meu assento quando
estivermos fora e mantenha o motor funcionando.

— Mas...

— Pegue isso ou saia, mas você está louca se acha que vou
deixar você vir conosco e arriscar ser vista.

— Ele está certo, B. Sua fantasia não é exatamente discreta.


— Kye sorriu e Nix olhou para ele. Se os olhares pudessem matar,
Kye estaria a dois metros debaixo da terra.

— Tudo bem. — Eu sussurrei, não gostando da tensão


irradiando entre os dois. — Eu serei sua motorista de fuga.

Os olhos de Nix deslizaram para os meus, queimando de fome.

— Essa é a minha garota.

A garota dele.

Ele me chamou assim tantas vezes antes, mas parecia


diferente esta noite.

— Saiam e me esperem perto das árvores. — Ele ordenou a


Kye e Zane.

Kye riu sombriamente, e disse: — Cuidado, B. Ele morde


quando está com fome.
— Idiota. — Zane grunhido, empurrando Kye em direção à
porta. Eles deslizaram suas máscaras para o rosto e saíram,
desaparecendo nas sombras.

No momento em que a porta se fechou, Nix estendeu a mão


para mim, curvando-a em volta do meu pescoço. Ele me
aproximou, com os olhos cinzentos me prendendo no lugar.

— Você está bem?

Eu acenei com a cabeça. — O que você vai fazer?

Um sorriso lento puxou sua boca. — Nada que ele não mereça.
— Nix correu o nariz ao longo da minha mandíbula, me deixando
sem fôlego. Meu coração bateu contra minha caixa torácica,
sobrecarregado com sua intensidade. O ar ficou carregado,
eletrificado com o calor fervendo entre nós.

— Tenha cuidado. — Eu sussurrei, sabendo que não havia


sentido em tentar convencê-lo a não o fazer.

Quando Nix estava de olho em algo, nada o impedia.

Sua língua disparou para fora, correndo ao longo da costura


dos meus lábios, provando-me. Um gemido necessitado derramou
de mim enquanto eu segurei o seu capuz. — Você tem que ir? —
Eu sorri. — Zane e Kye poderiam ir e poderíamos... — Eu me
afastei, minhas bochechas queimando com minhas palavras não
ditas.

Nix recuou, procurando nos meus olhos, uma expressão


dolorosa em seu rosto.

— O quê? — Eu perguntei.
— Nada. — Ele balançou a cabeça, a expressão se foi tão
rapidamente que eu pensei ter imaginado. — Não vamos demorar.
Deslize para o meu assento e espere, ok?

Ele hesitou, mas depois murmurou algo sob sua respiração e


saiu do carro. Rastejei sobre o console central e deslizei para o
assento dele, correndo minhas mãos ao redor do volante. Eu tinha
tirado a licença de motorista, mas eu não podia pagar um carro,
então às vezes Nix me deixava dirigir o dele.

Eu os observei no retrovisor enquanto pegavam algo do porta-


malas e desapareciam na calçada. Eu os vi fazer um monte de
merdas loucas ao longo dos anos, mas eu nunca tinha sido
cúmplice antes. Nix nunca permitiria. Ele disse que meu coração
era muito puro para ser manchado com seus modos degenerados.
Mas ele estava errado.

Porque sentada ali na sombra da noite, esperando que ele e os


caras se vingassem de Marc Denby por invadir a festa – por me
colocar em perigo – meu coração não bateu com medo ou
trepidação.

Bateu firme de emoção.

Adrenalina crua e poderosa correndo pelas minhas veias.

Talvez minha mãe estivesse certa. Talvez Nix já tivesse me


manchado.

Ou talvez eu realmente preferisse viver na escuridão, e eu


simplesmente não tinha abraçado tudo o que isso significava
ainda.
Nix abriu a porta do motorista e olhou para dentro. — Oi, —
disse ele, sem fôlego.

As portas traseiras se abriram e Zane e Kye mergulharam no


banco de trás, a risada de Kye enchendo o carro. — Caramba, que
emoção. — disse ele, sorrindo.

— O que vocês fizeram? — Arquei uma sobrancelha.

— Isso é para nós sabermos e você nunca descobrir. — Ele


piscou, e Nix bufou.

Minha cabeça bateu de volta para enfrentar Nix, mas ele só


sorriu. — É melhor deixar passar, Birdie, ou pisar fundo, antes
que a polícia apareça.

Minha boca estava aberta. Ele não estava falando sério,


estava?

— Merda, mano, isso é frio. — Kye se inclinou e puxou um dos


meus rabos de cavalo da Arlequina. — Relaxe, B, ninguém nos viu.
Mas todo mundo vai ver Denby amanhã.

Suas risadas lavaram-se sobre mim novamente, fazendo


minha pele formigar. Eu tinha ido de me sentir como a pária a
noite toda para ser um dos caras.

E eu gostei.

— Sério, B, precisamos ir agora. Então, a menos que você


realmente queira dirigir...
Zane agarrou Kye e o puxou de volta para o banco enquanto
eu rastejava de volta para o banco do passageiro.

— Eu preciso comer.

— Hambúrgueres no Pat?

— Vou deixá-los lá. — disse Nix, batendo a porta. — Então eu


vou levar Birdie para casa.

— Oh, eu poderia comer.

Eu não queria que a noite acabasse ainda.

— É tarde. Eu deveria levá-la para casa. — Ele cortou e eu


franzi a testa, meu estômago mergulhando. Qual era o problema
dele?

Nós aceleramos pela rua, as rodas gritando enquanto viramos


a esquina.

— Que maneira de ser furtivo, idiota. — Zane resmungou.

— Bolas azuis faz isso com um cara. — Kye gargalhou e Nix


mostrou-lhe outro olhar sujo no retrovisor.

Certamente, ele não quis dizer...

— Ignore-o. — Nix murmurou enquanto ele apertava o volante.

Eu afundei de volta no assento, vendo o cenário pitoresco se


transformar de volta nas ruas familiares. Esquinas grafitadas e
lojas degradadas. Carros velhos e enferrujados descartados do
lado de fora de casas antigas com pintura lascada e gramados
crescidos.
Às vezes, era difícil acreditar que nosso lado da cidade
compartilhava um CEP com Old Darling Hill.

Quando paramos do lado de fora do Pat, o estranho mal-estar


que senti a noite toda tinha voltado, fazendo meu estômago agitar.

— Foda-se sim, eu amo este lugar. — disse Kye. — Você tem


certeza que B não pode se juntar...

— Fora. — Nix rosnou.

— Boa noite, B. Espero que ele seja legal com você.

Eles escorregaram no escuro, indo embora para o restaurante.

— Você está com raiva de novo. — Eu disse, olhando para Nix.

— Eu não estou.

— Não parece. — Sarcasmo pingou das minhas palavras


enquanto eu revirei meus olhos e dobrei meus braços sobre meu
peito. — Tudo bem, me leve para casa.

Seu ato quente e frio estava me dando chicotadas.

Mas Nix não me levou para casa.

Em vez disso, ele pegou a estrada que levava para longe de


Darling Row.

— Você sabe que este é o caminho errado.

— Harleigh... — Ele soltou um suspiro tenso.

— Entendi. — Eu soltei.
Voltamos para Harleigh.

Meus lábios estavam apertados com indignação queimando


dentro de mim.

Mas quando ele saiu da estrada principal, por uma estrada de


terra, não pude negar que minha curiosidade levou a melhor sobre
mim.

— O que é esse lugar?

— É o velho moinho de grãos.

— Eu nunca estive aqui antes.

— Eu venho aqui às vezes. Para fugir de tudo isso. — O carro


parou e Nix desligou o motor.

— Você sabe, a vida não será assim para sempre. — Eu disse.


Senti toda a minha raiva por ele se dissipar. Porque este era o meu
Nix. O garoto que ele não deixava muitas pessoas verem.

— Você acha? — Ele olhou para mim, um sorriso frágil tocando


seus lábios. — Você acha que nós vamos sair do The Row?

— Você não acha?

Ele deu de ombros. — Garotos como eu... eles não têm muitas
oportunidades, Wren.

— Você tem o futebol. O treinador Farringdon acredita que


você poderia conseguir uma bolsa de estudos um dia, e eu
também. Você só tem que tentar ficar fora de problemas.

Ele revirou os olhos. — Não me dê esse olhar.


— Que olhar?

— Você sabe quem eu sou, B. O que passa pelo meu sangue.


Eu não tenho certeza se eu sou feito para a faculdade.

— As ações dele não definem você, Nix.

O pai de Nix era um filho da puta malvado com um gancho de


direita perverso e uma propensão para fazer dinheiro fácil, não
importava o quão ilegal fosse a atividade. Mas ele não só
nocauteava Nix por aí, ele geralmente jogava coisas em Jessa,
madrasta do Nix também.

— Você é mais do que apenas o filho de Joe Wilder.

— Talvez. Talvez não. — Sua voz mal era um sussurro e havia


algo tão vulnerável sobre essas três pequenas palavras que meu
coração rachou.

— Nix, eu...

Ele pegou minha mão na dele e me olhou morto nos olhos. —


Eu preciso que você saiba que é você, Birdie. Sempre foi você. Mas
eu...

— Não. Não faça isso.

Não nos acabe antes de começarmos.

Quando Nix me beijou mais cedo, senti sua necessidade


delirante por mim. A urgência e o desespero quando sua boca se
moveu contra a minha. Mas algo tinha mudado no carro. Uma
nova fissura no abismo que ele tinha forçado entre nós.
— Você não vê, Wren? Você merece mais do que... do que eu
posso te dar. Muito mais.

Risos estrangulados rastejaram até minha garganta enquanto


eu arrancava a minha mão da dele.

— Passei anos te observando com garotas. Garotas como


Cherri. Garotas que são tudo o que eu não sou. No entanto, eu
ainda quero você. Eu ainda quero que você olhe para mim do jeito
que você olha para elas. Eu usei isso para você, sabia? — As
palavras caíram como lava quente. — Eu vesti isso para que, por
uma noite, você olhasse para mim e visse além da imagem que
formou de mim.

— Veja-me, Nix. Por favor, apenas me enxergue. — Lágrimas


pinicaram os cantos dos meus olhos, meu coração correndo dentro
do meu peito.

— Eu vejo você, B. Eu sempre vi você, mas isso não muda


nada. Estou bagunçado, baby. Quebrado e com cicatrizes. Essas
garotas são apenas um meio para um fim. Mas você, você seria a
minha ruína.

Uma lágrima caiu. E outra. Até que um rio delas escorreram


pelas minhas bochechas. Ele me queria, mas não se deixaria me
ter.

Aquele beijo, meu primeiro beijo, não foi o começo de algo, foi
Nix se permitindo um momento. Um gosto.

— Eu acho que você deveria me levar para casa. — Eu disse,


incapaz de olhar para ele.

— Wren, por favor...


— Não, eu não posso fazer isso. Eu preciso de algum tempo.

Porque o tempo e a distância me ajudariam a ganhar


perspectiva. Eles me ajudariam a ver que eu merecia mais. Eu
merecia alguém para me encontrar no meio do caminho.

Deus, eu queria que fosse ele. Mas eu não imploraria.

Eu tinha acabado de implorar.

— Nix, me leve...

— Pare. Porra. Só me dê um minuto, ok?

Mas não conseguia parar de chorar. Eu deveria saber que um


dia Phoenix Wilder iria partir meu coração, mas eu o amei mesmo
assim.

Eu não podia deixar de amá-lo.

Ele era a minha constante. Minha Estrela do Norte em céus


escuros.

Mas ele não era meu.

Não importa o quanto eu quisesse que fosse.

— Merda, B, não chore. Por favor, não chore.

Mas a agonia na voz dele só me fez chorar mais.

Antes que eu pudesse pará-lo, ele me puxou para o colo dele,


forçando-me a montar as pernas dele.
— Deixe-me ir. — Eu chorei, ciente da bagunça que eu estava
fazendo. Rímel grosso escorrendo no meu rosto, o dilúvio de
lágrimas borrando minha maquiagem da Arlequina. —Deixe-me...

— Garota teimosa. — Ele agarrou meu queixo, forçando-me a


olhar para ele. — Você não deve me dar suas lágrimas, Birdie, eu
não mereço.

— Você está certo, você não merece.

— Diga-me que você sempre será minha. Que eu sempre vou


possuir uma parte disso aqui. — A mão dele caiu no meu peito,
bem em cima do meu coração.

— Não.

— Diga.

Eu apertei meus lábios, balançando a cabeça.

A raiva brilhou em seus olhos, mas ele conseguiu dizer


calmamente:

— Ok, acho que mereço isso. Apenas me prometa que quem


ganhar você vai te merecer. Prometa-me, B.

— Vai se foder. — Eu zombei.

Ele arruinou tudo.

Cada maldita coisa.

E naquele momento, eu o odiava.

Seus olhos caíram para a minha boca e um gemido baixo


retumbou em seu peito.
— Não se atreva...

A mão dele se enrolou na minha garganta quando ele bateu


minha boca na dele, me devorando.

— Precisa tocar você. — Ele murmurou entre beijos. — Preciso


sentir você, só uma vez.

Em algum lugar nas reentrâncias da minha mente, uma


pequena voz gritava para eu parar, para não dar mais a ele de mim
mesma. Mas eu não consegui.

Eu não poderia pará-lo, mesmo que eu quisesse... e eu não fiz.

Porque sonhei com isso, sonhei por tanto tempo que Nix me
tocava, me beijava e me dava essa parte dele.

— Você tem um gosto tão bom, porque você tem um gosto tão
bom? — Ele despejou beijos quentes de boca aberta ao longo da
minha mandíbula, chupando a pele dali, beliscando e lambendo.
Eu me aproximei, sentindo-o tão duro embaixo de mim. Era tão
estranho, e ainda assim, tão emocionante saber que eu o afetei
assim.

Eu.

A pequena Harleigh Maguire.

Eu rolei meus quadris, desesperada por mais atrito,


sobrecarregada com as novas sensações correndo através de mim.

Eu já tinha me tocado antes. Explorei meu corpo na escuridão


da noite, sozinha na minha cama. Mas nunca me senti assim.
Como se eu pudesse morrer a qualquer momento se Nix não me
tocasse.
— Continue fazendo isso, B, e isso vai acabar comigo enterrado
no fundo de você. — Ele me deu um olhar perverso, um que me
dizia para me comportar.

Mas em vez de prestar atenção ao seu aviso, eu sussurrei. —


Isso é uma promessa?

— Porra. — Ele suspirou. — Você não pode dizer coisas assim


para mim.

Eu podia, e eu faria. Especialmente se isso significasse mais


beijos e toques e... apenas mais.

Eu me inclinei para trás, raspando minhas unhas ao longo de


sua mandíbula, traçando a costura de seus lábios com a minha
língua. Nix abriu os dentes, beliscando a ponta da minha língua e
depois sugando-a para a boca dele, enviando outra onda de luxúria
rolando por mim. Suas mãos deslizaram mais embaixo para a
minha bunda e ele começou gentilmente balançando-me sobre ele,
para frente e para trás, para cima e para baixo.

— Isso é bom?

Eu acenei com a cabeça, tentando prender o choramingo na


parte de trás da minha garganta. Foi tão bom.

Ele parecia tão bom.

Mas não era o suficiente. Eu queria mais. Eu queria que ele


curasse a profunda dor sem fim dentro de mim.

Mergulhando minha cabeça no pescoço dele, provei a pele


dele, respirando sua colônia. Limpo, masculino e cem por cento
Nix.
— Toque-me. — eu sussurrei. — Eu quero que você me toque.

Talvez quando o sol nascesse e a luz do dia brilhasse sobre


mim, eu me arrependeria deste momento. Mas isso seria depois.
Isso era o agora.

E agora, eu nunca desejei nada mais do que eu queria as mãos


de Nix no meu corpo.

— Uma noite. — disse ele, apagando algumas das chamas que


estavam dentro de mim. — Isso é tudo o que pode ser. Então as
coisas voltam a ser como sempre foram, Wren.

Eu acenei com a cabeça, meus olhos tremulando enquanto ele


empurrava contra mim, nossos corpos se movendo em perfeita
sincronia, como se soubessem exatamente o que fazer.

— Estou falando sério, B. — Ele agarrou meu queixo de novo,


puxando-nos olho no olho. — Você é minha melhor amiga. Meu
maldito até a morte. Eu não posso perder você.

— Pare. — Eu disse, tentando acariciar seu pescoço


novamente. — Pare de tornar tudo tão difícil. Eu quero isso, eu
quero você.

Mesmo que seja só por hoje.

Isso me mudaria, eu não tinha dúvidas disso. Mas eu tinha


que saber, eu tinha que saber como era estar com Nix.

Ele me beijou de novo, mais forte, sua língua se emaranhando


com a minha até o fundo, exigentes pinceladas. Uma de suas mãos
escorregou na frente do meu corpo e encontrou a fenda de pele
onde meu cropped terminava. Meu corpo tremia enquanto ele
dedilhava os dedos pelo meu estômago, me provocando bem abaixo
do umbigo.

— Nix. — Soltei um suspiro.

Ele me observava, seus olhos cinzentos escuros me prendendo


no lugar enquanto ele mergulhava os dedos debaixo da minha saia
e encontrava minha calcinha.

— Porra. — Ele assobiou. — Você está encharcada.

— Para você. Apenas para você. — Eu estava murmurando


palavras incoerentes, muito rendida pela forma como seus dedos
me acariciavam para frente e para trás por cima da minha calcinha
úmida. Parecia divino e ele nem estava me tocando ainda.

— Mais. — Levantei meus quadris, arqueando-me na mão


dele.

— Coisinha gananciosa. — Ele sorriu, olhos escuros como a


noite. Meu coração quase estourou quando ele enfiou dois dedos
dentro da minha calcinha e lentamente afundou-os em mim.

— Oh, Deus. — Eu chorei, ancorando meus braços sobre seus


ombros.

— Tudo bem? — Perguntou ele, e eu acenei com a cabeça. —


Você é tão apertada, B. — O polegar dele circulou meu clitóris,
lentos círculos torturantes que fizeram meus olhos revirarem atrás
da minha cabeça.

— Nunca vou esquecer isso. — Ele disse rouco, com a voz


quebrada com luxúria crua.
Mas eu não queria ouvir nada que puxasse meu coração de
volta à Terra. Porque eu estava voando.

Naquele momento, eu não era um pássaro enjaulado,


algemado a uma vida sem saída em Darling Row. Eu era a pequena
Birdie de Phoenix Wilder...

E eu estava livre.
Nix estava quieto no passeio de volta para Darling Row. No
início, os sentimentos enlouquecedores tinham permanecido,
correndo pela minha corrente sanguínea como algo sintético. A
maneira como ele me tocou, empurrou meu corpo sobre a borda e
me desfez, era tudo.

Mas rapidamente morreu quando ele voltou para o seu eu


fechado.

— Nix...

— Não, B. Ok. — Ele inalou um suspiro esfarrapado. —


Apenas... não.

— Você está fazendo disso um negócio maior do que é. — Eu


soltei, irritada que ele estava arruinando tudo de novo.

Não me arrependi do que tinha acontecido. Mesmo que ele


nunca mais me tocasse e quebrasse meu coração em pedacinhos
irregulares, eu não me arrependeria.

— Eu apenas fodi você com os dedos no meu carro. — Suas


palavras grosseiras me fizeram estremecer. — Você não é uma
puta, B. — Ele me deu um olhar de lado com sua mandíbula
cerrada.

— Eu não sabia que escolher quem eu deixo me tocar e onde,


me faz uma puta.
— Não foi isso que eu... — ele suspirou, esfregando a
mandíbula. — Esqueça. É tarde demais. Podemos falar sobre isso
amanhã.

— Amanhã. — Eu bufei. — Quer dizer, quando você voltar a


fingir que não me quer e deixar meninas como Cherri caírem em
cima de você? Garotas que não se importam com você. Não do jeito
que eu me importo.

— Harleigh...

— Inacreditável. — Eu gritei. — Inacreditável porra. Eu queria,


Nix. Eu queria sentir seus lábios nos meus, suas mãos no meu
corpo. Porque... Não. Consigo. Parar. De. Pensar. Em. Você. Eu o
vejo com elas e quero que seja eu. Deveria ser eu. — Meu peito se
agitou com o peso das palavras.

— Você vale muito mais...

— Não se atreva a me dizer quanto eu valho. — Eu gritei. —


Você sabe o que eu acho? Acho que está com medo. Porque o amor
é confuso e duro e dói. — Deus, isso doía tanto.

— Você me ama, Birdie?

— Você sabe que eu amo, idiota.

Seus lábios se torceram em um sorriso arrependido. — Eu


gostaria que as coisas fossem diferentes.

Ele não ia ceder. E eu estava muito exausta emocionalmente


para tentar lutar por nós esta noite. Então eu apertei minha
cabeça contra o vidro frio e vi as fileiras familiares de trailers
passarem.
Darling Row era casa. Mas nunca tinha parecido assim.

Quando paramos do lado de fora do meu trailer, o ar estava


tão grosso, que eu queria abrir a porta e inalar um pulmão cheio
de ar fresco.

Em vez disso, virei-me para Nix e disse: — Amanhã. Vamos


falar sobre isso amanhã.

Quando eu não estivesse vestida como uma versão de segunda


categoria da Arlequina e Nix não estivesse preso pela culpa.

Ele acenou com a cabeça, mal conseguindo olhar para mim.

— Boa noite. — Eu murmurei, hesitando. — O que você acha


que eu mereço, você está errado. Eu conheço o meu coração, Nix,
e ele quer você.

Com isso, eu saí e não olhei para trás enquanto caminhava até
o meu trailer. Senti seus olhos me seguirem, senti sua culpa e
arrependimento. Convencer Nix a arriscar uma chance por nós ia
ser mais difícil do que eu pensava...

Mas eu não ia desistir sem lutar.

Acordei sobressaltada. Um pedaço de luar derramando através


da fenda na minha cortina lançando um brilho prateado em torno
do meu pequeno quarto.
Olhando para o relógio, era 03:30. Fiquei surpresa por ter
adormecido. Quando tirei a roupa e limpei a maquiagem do meu
rosto, deitei na minha cama segurando meu celular esperando Nix
me mandar uma mensagem.

Mas nunca chegou.

Mas as lágrimas vieram. Soluços grandes, gordos e feios que


deixaram minha alma cansada e meu coração dolorido.

Mamãe estava desmaiada quando eu a verifiquei. Nada de


novo lá. Mas algo me acordou.

Talvez seja ele.

Eu escutei, meu coração acelerado no meu peito. Nix pensou


melhor? Ele queria consertar as coisas entre nós?

Jogando as cobertas de lado, eu fui até a janela e puxei a


cortina ligeiramente. Mas ninguém estava lá fora.

Meu estômago afundou.

Quem eu estava enganando, não era Nix.

Já acordada, decidi pegar um copo d'água. Rastejando pelo


trailer, fui beber quando uma sensação estranha passou por mim.

Olhei em volta, tentando descobrir o sentimento indesejado. —


Mãe? — Eu chamei, minhas palmas ficando úmidas.

Andando pelo corredor em direção ao quarto dela, sangue


rugiu entre meus ouvidos. Algo estava errado. Eu podia senti-lo no
ar, escuridão e pressentimento.
— Mãe? — Eu abri a porta dela e espiei dentro. Aliviada por
encontrar o contorno de seu corpo na cama.

Fui voltar quando algo me parou, e olhei para trás. — O que...


— Eu entrei, correndo para ela. — Mãe? — Estendendo a mão, eu
toquei seu rosto, sua pele gelada e fria sob meus dedos. — Mamãe?

Lágrimas silenciosas rolaram pelas minhas bochechas quando


a realização bateu em mim.

Minha mãe estava morta.

Segurei meu celular como uma balsa enquanto me sentava no


departamento de polícia de Darling Hill. Quando liguei para o 911,
eles enviaram os paramédicos junto com um carro da polícia. Eu
estava muito incoerente para articular o que tinha acontecido.
Agora eu estava dormente.

Ela tinha partido.

A minha mãe. A mulher que tinha desistido de sua vida de


privilégio e riqueza para me ter.

Morta.

Assim, sem mais nem menos.

Nada fazia sentido, mas parte de mim esperava que ela tivesse
encontrado paz.
— Senhorita Maguire? — O oficial com olhos gentis se
aproximou de mim. — Seu pai está aqui para levá-la para casa.

— Você deve estar enganado. — Eu disse sem rodeios. — Eu


não tenho pai.

— Harleigh? — A voz forte e de comando caiu sobre mim, e


levantei meu rosto para olhar para o seu dono. — Sinto muito pela
sua perda. — disse o homem.

— Desculpe, quem é você? — Eu me abracei mais apertado,


querendo estar em qualquer lugar, menos aqui.

O que eu realmente queria era estar com Nix. Ele me abraçaria


e faria tudo melhorar. Mas ele não respondeu ao meu fluxo
interminável de mensagens. Nem Kye ou Zane, quando eu
finalmente cedi e mandei mensagens para eles também.

Mesmo quando deixei uma mensagem de voz desesperada


para Nix explicando o que tinha acontecido, ele ainda não tinha
respondido.

Aquilo tinha quebrado algo dentro de mim. Algo irreparável.


As coisas estavam estranhas entre nós, eu sabia disso. Mas eu
precisava dele, e ele não estava aqui.

Você está sozinha agora.

— Eu sou Michael Rowe. Seu pai.

Risos amargos derramaram-se de mim enquanto eu olhava


para o homem que não era nada além de um estranho. — Como
eu disse ao oficial, eu não tenho um pai.

— Srta. Maguire, seu arquivo...


— Meu arquivo? — bati meu olhar de volta para o oficial em
questão e franzi a testa. — Você tem um arquivo sobre mim?

— Agora não. — disse o homem que dizia ser meu pai. — Por
favor, nos dê um pouco de privacidade.

— Na verdade, não. Eu não tenho nada a dizer a você.

— Eu vim para levá-la para casa, Harleigh. — Ele sentou-se


ao meu lado. Eu não tinha notado antes, mas agora eu podia ver
como imaculadamente ele estava vestido. — Eu queria conhecê-la
há muito tempo.

— Não... — minha voz tremeu. — Não venha para cá e finja se


importar. É sua culpa que ela deixou Old Darling Hill. Sua culpa
por termos vivido naquele trailer de merda. Sua culpa que ela não
poderia escapar de seus demônios.

— Eu cometi erros, sim. Mas eu estou esperando poder


corrigir...

— Ela está morta. — Eu me agitei, estreitando meus olhos


para ele. — Ela está morta e você está sentado aqui esperando por
um recomeço?

Eu vi então. A semelhança entre nós. Os mesmos olhos verdes


de jade e cabelo preto da meia-noite. A leve fissura em nossos
queixos.

Michael Rowe era meu pai.

E ele estava aqui para me levar embora.

— Eu não vou com você. — Eu disse desafiadoramente.


— Você mal tem 17 anos, Harleigh. Menor de idade. Se você
não vier comigo, onde você vai ficar? Como você vai se dar ao luxo
de viver?

— Eu tenho... amigos. Eles vão me ajudar. — Eu estava


prestes a dizer que eu tinha Nix, mas tinha sido quase três horas
desde que eu tinha encontrado minha mãe morta e ele ainda não
tinha respondido.

Olhei para o meu celular de novo.

Onde você está?

— Venha para casa comigo e vamos conversar sobre algumas


coisas. Eu só quero ajudar. Você não deve estar sozinha agora.

— Sr. Rowe, Srta. Maguire, processamos toda a papelada. —


Um oficial diferente apareceu. — Você está livre para ir.

— Obrigado. — Michael levantou-se e apertou a mão do


homem. Ambos me olhavam com expectativa.

— Eu tenho que ir com ele? — Eu perguntei.

— Você é menor, Srta. Maguire. Você tem outro adulto com


quem possa ficar?

— Eu... Não. — A derrota bateu em mim.

— Eu entendo que as coisas estão confusas e assustadoras


agora. — disse ele. — Mas você tem sorte de ter família com quem
pode ficar.

Sorte.

Nada sobre a situação era sorte.


— Vamos, meu motorista está esperando. — Michael pediu
que eu o seguisse. Mas eu estava muito presa na parte onde ele
disse que seu motorista estava esperando.

Quem diabos era esse cara?

Eu rapidamente puxei uma nova conversa no meu celular e


mandei uma mensagem para Nix.

Nix, onde você está? Eu preciso de você. Um homem veio


me buscar. Ele diz que é meu pai. Ele quer me levar para casa
com ele. Ele quer me levar embora. Nix... Sei que as coisas
estão estranhas entre nós, mas preciso de você... Por favor.

Mas ele não respondeu.

Não na viagem de volta para a casa de Michael ou mais tarde


naquele dia enquanto eu me sentava em silêncio na mesa de jantar
dele empurrando a comida em volta do meu prato. Ele não
respondeu naquela noite, quando eu estava sozinha no meu
quarto em um lugar novo e estranho.

Nix não me mandou uma mensagem.

E assim, o garoto que amei a vida toda, o garoto que eu achava


que sempre poderia contar, tornou-se o garoto que me destruiu.

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