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Série 

Gotas de Sabedoria ­ Volume 1 

            A FACE 
       OCULTA DE
DEUS
Fábio cancela 
 
 
 
 
 
            A FACE 
       OCULTA DE
DEUS

Deus arriscou o trono 
do universo, apenas 
para salvar você  
 
Primeira Edição

Esta cópia do livro está licenciada com uma Licença Creative


Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0
Internacional.
Copyright 2015 © Fábio Cancela
Todos os direitos reservados
Curitiba-PR, Brasil

Revisão: Lidio Vargas e Fábio Cancela


Edição e Diagramação: Lidio Vargas

Versos bíblicos na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA)

Alguns nomes foram alterados para preservar a identidade dos


personagens reais.

ISBN 978-85-910917-1-3
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a você, caro leitor, por ler este livro, pois
você é a verdadeira razão para ele existir.

Minha gratidão aos meus amigos das horas difíceis...

À minha família porque sempre dividiram comigo


todos os sorrisos e lágrimas que...

Agradeço especialmente a Deus, pela sua


misericordiosa direção no processo que culminou
nesta experiência escrita.

E, de coração, eu desejo que o Altíssimo purifique


cada uma destas palavras para que sejam semeadas
na terra fértil do teu coração, e no tempo de Deus,
nasçam, cresçam e frutifiquem para a vida eterna.
GSD 

i
PREFÁCIO 
Este livro ajudará você, prezado leitor, a
compreender melhor como e por que o pecado
esmagou a alma de Cristo no jardim do Getsêmani.

Você descobrirá como aconteceu e o que


causou o rompimento da perfeita unidade entre o
Pai e o Filho.
Entenderá porque Deus arriscou tudo, até
mesmo o trono do universo, apenas para salvar
você.
Por fim, você perceberá que seja você quem
for, tenha você o caráter que tiver, para Deus, você
é a mais preciosa obra da sua criação.
E a cruz levantada no Gólgota, é a maior
prova de que ele jamais desistirá de você.
iii
SUMÁRIO 
Agradecimentos ................................................................................I

Prefácio ............................................................................................III

Sumário.............................................................................................V

1. O abacate que pagou o taxi................................... 1


2. A pedra que esmagou o espírito ......................... 21


3. O mais tenebroso abismo .................................... 39


4. Dormir pode ser uma tentação ........................... 69


5. Por que Jesus suou sangue?................................. 77


6. O dia em que Deus sangrou .............................. 107


7. Na fornalha conosco ........................................... 117


8. Epílogo: Por que Jesus vacilou? .......................... 127


Palavras do autor........................................................................ 133



Outras obras................................................................................ 135

Contato......................................................................................... 136

Onde adquirir.............................................................................. 136

V
O ABACATE QUE 
PAGOU O TAXI 
E
m março de 1991, numa agradável e
perfumada manhã de sol, o meu novo amigo
Tony e eu descíamos pela encantada
Estradinha do Céu. Eu disse “encantada”,
porque aquela humilde estradinha de barro se
tornava cinematográfica quando as flores das mais
de 100 mil laranjeiras exalavam a sua preciosa
fragrância, perfumando o ar.
A sua beleza se aproximava da perfeição
quando milhões de pétalas caiam das flores dos
abacateiros, tingindo de amarelo o vermelho chão

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 1


de barro. Era quase impossível não ser tocado
profundamente pela magnífica experiência de
caminhar descalço por aquele quase encantado
pedacinho do céu.
Nós conversávamos empolgados, afinal,
aqueles eram os primeiros dias da nossa tão
desejada faculdade de teologia. Trazíamos nos
braços uns poucos abacates. É, eu sei, eu disse
“poucos”. Eu disse poucos, porque eram poucos
mesmo. Não dava para carregar nos braços muitos
daqueles enormes frutos. Eles eram tão grandes que
a maioria deles se desprendia da árvore mesmo
antes de amadurecer completamente.
Os abacates eram tão pesados que se
tornavam uma verdadeira ameaça para um
caminhante desatento. Certo dia, quando eu
desfilava pela singela estradinha de barro com o
Azeitona, o meu velho Chevette verde ano 79, um
desses enormes teleguiados verdes atingiu o
carrinho. A pancada foi tão forte que marcou o capô
do velho carro para sempre.

2 A FACE OCULTA DE DEUS


A   CORRIDA   DO  PECADO
 
Enquanto caminhávamos, um Fiat prêmio vermelho
parou ao nosso lado e, de dentro dele, alguém
perguntou:
— Querem uma carona?
Gentilmente, o Tony me cedeu o banco
dianteiro, e o carro seguiu descendo pela bonita
estradinha de barro. Levando-se em conta que a
carona nos pouparia uma longa caminhada, eu
resolvi agradecer. Coloquei um dos enormes
abacates no colo do motorista, e brincando, disse:
— Marcão, fique com este abacate; como
pagamento pela corrida.
Sorrindo, ele colocou a enorme fruta no
console do carro, e disse:
— Que coisa mais linda! Este abacate deve
pesar mais de um quilo.
E então arrematou:
— Obrigado! Está bem paga a corrida!
Depois de refletir por um instante, ele nos
perguntou:

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 3


—Vocês apanharam estas frutas do chão, ou
tiraram da árvore?
Confesso que me deu uma vontade enorme
de dizer “do chão”. Mas, como mentir não era um
bom treinamento para um futuro pastor, e eu
também não queria arrastar o meu novo amigo
Tony para a minha mentira branca, sorrindo, eu
disse:
— Você me pegou! Eu tirei o abacate da
árvore (só era permitido apanhar as frutas do chão).
Então, despertado em seu inocente zelo,
Marcos acentuou:
— Sinto muito, amigos, eu não posso aceitar
este presente e penso que vocês entendem a razão.
Em tom de brincadeira, e também para aliviar um
pouco o clima que se formou, eu disse:
— Sendo assim, eu vou ter que comer sozinho
o fruto do meu pecado; mas a corrida vai ter que
ficar no fiado, ok?

O  ADVOGADO DE DEUS 
Eu tive o privilégio de ser companheiro de classe do
Marcos Santa Cruz. À medida que convivíamos,

4 A FACE OCULTA DE DEUS


percebi que ele era uma pessoa de pureza incomum.
Honesto e absolutamente sincero em tudo o que
fazia. Um dia, enquanto eu estudava à beira do lago,
sob a sombra agradável de um frondoso flamboyant,
vi quando o seu carro se aproximou estacionando
não muito distante. Depois de algum tempo, eu me
aproximei dele, e lhe perguntei:
— Como é que um advogado tão bem
sucedido como você, aos 40 anos, tomou a difícil
decisão de deixar tudo para trás, para cursar
teologia?
Foi como se eu tivesse despertado o que de
melhor havia nele. Empolgado, ele começou
contando onde nascera e como vivera intensamente
a sua religiosidade. Com visível ar de felicidade, ele
falou do privilégio de haver visitado quatro vezes o
Vaticano, na Itália. Contou da sua gratidão a Deus
por lhe haver chamado para ser um pescador de
homens. Falou com tanta empolgação do alto preço
que pagara para adotar a nova fé, que eu me
emocionei ao ver quão rica era a sua experiência
com Deus.
Não precisei fazer nenhum esforço para me
tornar seu admirador. Quando os amigos de classe
souberam como ele deu as costas ao seu escritório

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 5


de advocacia, abdicando da sua classe de alunos na
faculdade para vir cursar teologia, logo o elegeram o
presidente da turma.

PENTEANDO  O  TRIGO  DOURADO 


Em fevereiro de 1991, o meu amigo Alan Rodrigo e
eu iniciamos juntos a faculdade de teologia. Com 33
anos eu era quase o vovô da classe, e ele com 17, o
caçula.
O tempo voou e dois anos depois nós já
começávamos o quinto semestre de teologia. Era
uma segunda feira, e como de costume, havíamos
feito mais uma difícil prova de grego. Era uma
manhã ensolarada, onde o vento morno tornava o
clima ameno e agradável. Mas a notícia daquela
grande tragédia trouxe dor sobre o coração de
todos os alunos.
O Alan e eu saímos da sala de aulas
extremamente abatidos. Buscamos um lugar calmo
tentando assimilar melhor a dor que visitava o
nosso coração. Por algum tempo, caminhamos em
silêncio até o ligeiro elevado de uma colina próxima.
Era um campo semeado que agora acomodava uma

6 A FACE OCULTA DE DEUS


já dourada plantação de trigo. Contemplar o sopro
calmo da brisa penteando o trigo maduro, por
alguma razão, amenizava um pouco o nosso
sofrimento.
A chocante notícia daquela inexplicável
tragédia havia abalado duramente o nosso coração.

CORRENDO ATRÁS   DOS  FILHOS 


Alguns meses antes, no final de 1992, nós já
terminávamos o quarto semestre de teologia e nos
preparávamos para as férias. Este era um período
um pouco tenso para a maioria dos estudantes, pois
era durante as “férias” que nos empenhávamos ao
máximo, trabalhando duramente para conseguir
recursos a fim de continuar estudando.
No corredor do terceiro andar do prédio dos
casados, Linda, a minha esposa, me chamou a
atenção para um detalhe incomum: Loren, a esposa
do Marcos, estava jogando futebol com os seus dois
filhos. Lembro-me do sorriso no rosto da Linda ao
dizer:

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 7


— Olha como a Loren está feliz! Ela está
­
correndo atrás da bola com os filhos. Está tão feliz,
que até parece uma menininha.
Não era muito comum vê-la correndo com os
filhos atrás de uma bola de plástico. A sua família
era mais voltada para o lado intelectual. Logo
depois, chegou o Marcos. Me aproximei dele, e
perguntei:
— E aí, amigão? Tudo pronto para a grande
viagem?
— Sim! — disse ele. — Mais pronto do que
nunca!
E acrescentou:
— Eu vou evitar viajar para o sul usando a BR
116. Os acidentes são muito mais constantes para
quem viaja por ali.
Empolgado, ele falou da saudade causada
pelo tempo, e também da alegria em rever os
amigos. Depois, se despediu de mim, dizendo:
— Eu vou sem pressa; a viagem é longa.
Ajeitou as muitas coisas no porta malas do
carro, orou com a família, e partiu.

8 A FACE OCULTA DE DEUS


RECOMPENSADO COM  A  MORTE
 
Os relatos dizem que o motorista de uma carreta
perdeu o controle do grande caminhão e não
conseguiu fazer a curva. Desgovernado e em alta
velocidade, aquele monstro com rodas passou,
literalmente, por cima do carro onde viajavam
Marcos e sua família.
Aquela trágica fração de segundo que ceifou a
vida do nosso amigo Santa Cruz, roubou também a
vida dos seus dois lindos filhos. Apenas a sua jovem
esposa sobreviveu, ficando muito ferida.
Inexplicável! Foi uma tragédia inexplicável.
Ele era um homem muito especial. Tão
especial que ao descobrir o Cristo do evangelho,
abdicou de tudo, apenas para se dedicar 100% à
pregação daquela nova verdade.
O nosso consolo era pensar que o Marcos,
assim como o profeta João Batista, por sua
dedicação ao evangelho, também recebera como
recompensa uma injusta e imerecida morte
prematura. Para quem ama aquele que foi levado
pela morte, toda morte será sempre injusta,
imerecida e prematura. Até que tudo seja

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 9


esclarecido pelo próprio Deus, precisamos acreditar
que ele sempre faz o melhor.
Hoje, entendemos que João Batista já havia
concluído a missão para a qual nascera.
Profeticamente ele fora concebido para anunciar a
chegada do Messias.
A injusta morte de João Batista, em verdade,
não o privara de nada, senão de ter que participar
de muitos outros sofrimentos que esta vida lhe
imporia. Aos nossos olhos, Marcos Santa Cruz
morreu prematuramente. Mas, aos olhos de Deus,
assim como o profeta João Batista, Marcos apenas
foi levado para um outro plano. Onde ele estaria
preservado para sempre dos injustos dardos
inflamados do inimigo.
Não sei se Marcos Santa Cruz foi um profeta
tão grande quanto João Batista. Mas, de uma coisa
eu estou certo. Para aqueles que dele ouviram falar,
ou que com ele conviveram, a sua injusta morte
prematura é um bálsamo para curar as feridas do
coração.

10 A FACE OCULTA DE DEUS


UMA  CONVERSA  PROFÉTICA
 
Nós só ficamos sabendo dos fatos nos primeiros
dias do quinto período de faculdade. Era só mais
uma segunda feira na qual tínhamos pela frente
mais uma difícil prova de grego. Porém, tudo ficou
cinza quando a triste notícia do acidente nos
alcançou. O Alan e eu saímos andando meio sem
rumo até alcançar o alto de uma colina próxima.
Ficamos ali, por algum tempo em silêncio, pois não
havia muito o que dizer.
Um vento amigo enxugou as lágrimas.
Tentando amenizar um pouco o clima de dor, eu lhe
perguntei:
— Se um dia você sofresse um acidente e
tivesse que perder um dos seus cinco sentidos, qual
te faria mais falta?
De imediato ele respondeu:
— A visão!
­
Surpreso, eu perguntei:
­
— Por que justamente a visão?
E novamente de pronto, ele explicou:

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 11


— Eu sofreria muito se tivesse que depender
da boa vontade de outra pessoa para ler a bíblia
para mim. Você já imaginou? Toda madrugada eu
teria que acordar alguém para ler o texto sagrado
para mim, apenas porque eu desejo muito ouvir a
voz de Deus. Seria muito inconveniente.
Tudo, menos a visão.
­
Não! Não! A visão, não!
­

99% CEGO 
Quatro anos se passaram, ajudando a cicatrizar um
pouco a dor daquela tragédia. Formado, eu já
trabalhava como co-pastor de um pequeno rebanho
de Cristo, quando recebi uma terrível notícia.
Terminando uma reunião de trabalho, voltei para
casa e ao sair do carro eu me deparei com um
quadro alarmante. Linda, a minha esposa, estava aos
prantos. Ela soluçava tão alto que logo imaginei o
pior. Pensei nos meus filhos... quem sabe a minha
mãe... ou a dela... E não podendo esperar mais para
enfrentar os fatos, abraçando-a, eu perguntei:
— O que aconteceu querida?

12 A FACE OCULTA DE DEUS


Uns oito minutos depois, e ainda soluçando,
ela respondeu:
— O Alan! O Alan! Está cego!
A primeira coisa que me passou pela cabeça
foi a lembrança daquela conversa que tivemos, no
alto da colina, quando recebemos a triste notícia da
morte do nosso amigo, Marcos Santa Cruz. Mas,
acho que para o meu consolo, pensei que mesmo
que não houvesse equívoco quanto à trágica notícia,
o Alan dificilmente perderia as duas vistas ao
mesmo tempo.
Alguns minutos depois, Linda acabou
definitivamente com as minhas esperanças, ao
dizer:
— Estava chovendo, e o carro dele se
desgovernou enquanto ele tentava se desviar de
uma carreta que manobrava no meio da pista. O seu
carro bateu no rodado traseiro da carreta; foi
horrível! O pai dele me disse que a coluna à
esquerda do motorista foi cortada pela violência do
choque. E a lata retorcida arrancou fora a sua vista
esquerda. Me disse ainda que os vidros estilhaçados
do para-brisa entraram em sua vista direita.

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 13


— Os médicos — continuou dizendo ela —
tiraram onze ou doze cacos. Disseram que ele tem
somente um por cento de possibilidade de salvar
uma das vistas. Estimaram em apenas um por cento!
E meio em off, acrescentaram: “Só mesmo por um
grande milagre!”
Eu fiquei tão abalado que não contive as
lágrimas por algum tempo. Afinal de contas, aquela
tragédia alcançara alguém muito especial para
minha família. Estava cego o Alan, o meu amigo das
horas difíceis. Foi quase inevitável imaginar como
seriam sombrios os seus dias de total escuridão.
Mesmo estando ainda muito abalado pelo
choque, apanhei o telefone e liguei para o hospital.

A   MORTE  DO  MINISTÉRIO 


Quando o seu pai lhe passou o telefone, eu tentei
disfarçar a emoção, dizendo:
— Olá meu amigo! Como está o teu coração?
Ele respondeu:
— É, amigo Cancela. Acabou! O meu
ministério que mal começou, já morreu.

14 A FACE OCULTA DE DEUS


O tom triste da sua voz, refletia todo o seu
sofrimento.
Desejando dar-lhe alguma esperança, eu
disse:
— Tudo é possível àquele que crê.
Arrancando as palavras do fundo da sua alma,
ele disse:
— A organização não teria motivos para
manter no ministério um jovem pastor que sequer
pode ler a bíblia para as suas ovelhas. Eu, que
esperava usar toda força da minha juventude para
apascentar as ovelhas de Cristo, agora terei que
usá-la para cuidar desta única ovelha ferida.

JUSTIFICANDO  O INJUSTIFICÁVEL 
Tentando justificar a minha ausência naquela hora
tão difícil, expliquei a ele que ainda que eu desejasse
muito, não poderia ir vê-lo. Me justifiquei dizendo
que no dia seguinte eu iria começar uma campanha
evangelística e que todo o programa dependia de
mim.

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 15


Ele agradeceu o telefonema e se despediu, me
pedindo que orasse para que Deus lhe ajudasse a
suportar aquele duro golpe.
Assim que eu desliguei o telefone, a minha
esposa fez uma observação que foi como o
despertar de um pesadelo. Disse ela:
— Se ocorresse o inverso, e fosse você o
acidentado, pela amizade que ele tem por você, a
despeito de qualquer prejuízo, ele viria te ver.
E continuou:
— Por telefone o pai dele me disse que,
durante o acidente, desfigurado, ele sangrou por
mais de 30 minutos no meio da rua, enquanto
tateando às cegas tentava socorrer a sua noiva
Natália. E nesta hora, tudo o que ele dizia era:
— Eu queria muito ver o meu amigo Cancela,
e a Bill (é como os amigos chamam a minha filha
Sarah Alexandra).
Com estas palavras, Linda enterrou de vez os
meus mais sinceros argumentos.

16 A FACE OCULTA DE DEUS


AMIZADE  CURA  MAIS  DO  QUE  REMÉDIO 
De imediato colocamos as coisas no carro e
partimos. Contávamos apenas com alguns trocados
que haviam sobrado dos preparativos para o
evangelismo.
Naquele meu pequeno projeto evangelístico,
eu havia investido tudo, até mesmo o décimo
terceiro salário que havia recebido para as férias.
Munidos com pão e queijo, entramos no
nosso velho Corcel II, ano 80, e viajamos por 9 horas
até São Paulo. Já era noite quando chegamos ao
hospital. Rapidamente eu expliquei para a
enfermeira que havíamos viajado o dia todo para
visitar o nosso amigo, o pastor Alan Rodrigo. Com
voz mansa e um tanto emocionada, ela disse:
— Sinto muito pastor, mas não poderei
permitir que o veja.
Surpreso e um tanto decepcionado, lhe
perguntei:
— Mas, por que?
­
Ela me respondeu, dizendo:
­
— Este jovem pastor é muito amado por suas
ovelhas. Eu comecei liberando visitas a ele de dois

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 17


em dois. Depois, devido à demanda, de três em três,
quatro em quatro, cinco em… Foi uma verdadeira
procissão para o quarto dele o dia todo. Até que o
médico proibiu as visitas a ele alegando que o
excessivo número de visitas iria prejudicar o
paciente.
— Sendo assim — continuou ela, — por mais
que eu queira, não posso permitir que o senhor
suba para visitá-lo.
Pedi para falar com médico responsável pelo
hospital. Pelo telefone, eu disse:
— Doutor, sei que você trabalha
incansavelmente para promover a saúde dos seus
pacientes. Porém, o pastor Alan está ligado a minha
família por laços mais fortes do que laços de sangue.
E eu tenho certeza que você entende que a nossa
visita fará mais bem pelo seu paciente do que todos
os remédios alopáticos que ele possa tomar.
De imediato ele nos autorizou entrar.
Tomando o elevador, subimos até o
apartamento em que ele se encontrava. Assim que
batemos à porta, com um aperto de mão e um
rápido aceno de cabeça, o seu pai Francisco nos fez

18 A FACE OCULTA DE DEUS


entrar. Dando alguns passos na sua direção, o pai
lhe perguntou:
— Rodrigo, você sabe quem veio te visitar?
— É o meu amigo Cancela, — respondeu ele,
enquanto tentava levantar com as mãos uma das
muitas fileiras de gaze que protegiam o seu
desfigurado rosto.
Tentando disfarçar o choro da voz, eu disse:
— Então, amigão? A Linda, as crianças e eu,
viemos aqui te dar um abraço neste momento tão
difícil.
Eu estava tão abalado ao ver o seu rosto tão
inchado pelos ferimentos, que não consegui pensar
num texto apropriado para ler para ele. Então abri a
bíblia, confiando que o anjo do Senhor nos ajudaria
a encontrar as palavras mais apropriadas.

O  NASCIMENTO  DE  UM  LIVRO 


Então, eu li aleatoriamente o primeiro texto que o
céu nos sugeriu:

O ABACATE QUE PAGOU O TAXI 19


“Então lhes disse: A minha alma está
profundamente triste até à morte; ficai aqui e
vigiai comigo. Adiantando-se um pouco,
prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo:
Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu
queres.”1

Fantástico! Que milagre! Quando eu terminei


de meditar com ele, todos nós sentimos os
milagrosos efeitos daquelas palavras sagradas. Nada
havia realmente mudado, mas nos sentimos
milagrosamente consolados.
Foi ali, naquele momento de dor, no quarto
sombrio daquele hospital, que nasceu este livro.
Ele foi trazido à luz para explicar que ao
suar sangue no jardim do Getsêmani, Jesus estava
manipulando o único remédio capaz de curar a
mortal ferida aberta pelo pecado no coração do
homem.

1
Mateus 26:38 e 39

20 A FACE OCULTA DE DEUS


A PEDRA QUE 
ESMAGOU O 
ESPÍRITO  
A
lgo de consequências cósmicas aconteceu ali
no Jardim do Getsêmani quando Jesus Cristo
foi alcançado por aquela sobre-humana dor.
Foi ali, sob a luz da lua pascal que se abateu
sobre o seu coração a suprema angústia. Uma
aflição mental de proporções centuplicadamente
maiores do que é capaz de suportar a natureza
humana. Algo tão desesperador que os poros de sua
pele se romperam, não podendo mais reter o seu

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 21


sangue que verteu pele à fora.2 Algo tão abrangente,
tão profundo e tão inimaginável que o chamaremos
de, o mistério dos mistérios. É seguramente o maior
de todos os mistérios e constitui um gigantesco
deságio para a mente humana.
Então, para que nós possamos alcançar uma
melhor compreensão deste supremo mistério, o
examinaremos estudando os textos de Mateus,
Marcos e Lucas, de maneira combinada.

UMA  BATALHA  CÓSMICA 


Jesus, como Deus, já havia tomado a decisão de
beber do amargo cálice do fel do pecado para nos
salvar; mas, como homem, Cristo ainda precisava
tomar esta mesma decisão.
O texto sagrado diz que, após tomarem a
santa ceia, Jesus e os seus onze discípulos,
cantaram um hino. Talvez eles tenham cantado as
duas estrofes do salmo 117; louvando e bendizendo
ao Senhor pela bondade da sua salvação. Então se

2
Lucas 22:44

22 A FACE OCULTA DE DEUS


dirigiram para o Jardim do Getsêmani, no monte
das Oliveiras.
Jesus tinha por costume retirar-se para o
interior daquele silencioso horto, a fim de, ao longo
das madrugadas, entreter comunhão absoluta com
o Pai. Este lugar foi cuidadosamente “escolhido” para
ser o palco da mais renhida batalha espiritual de
toda a história da humanidade.
Ali, naquele singelo jardim, um conflito
espiritual de proporções inimagináveis seria travado
entre o bem e o mal. A mesma batalha mental que,
de certa forma, também ocorre no interior de cada
coração humano.
Jesus, pela fé, escolheu renunciar a sua
própria vontade, para fazer a vontade do seu Pai,
em tudo. Assim como ele o fez, também nós
teremos que escolher renunciar a nossa própria
vontade, colocando a vontade de Deus no trono do
nosso coração.
Esta batalha, mental, espiritual e cósmica,
decidiria o destino eterno de cada ser humano. As
consequências eternas envolvidas naquele conflito,
eram tão graves que, para enfrentá-lo, Jesus se
preparou por 30 anos.

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 23


Todos nós deveríamos tremer ao meditar na
abrangência e na gravidade daquele combate
espiritual. Estejamos conscientes ou não, ali naquele
enluarado jardim, o destino eterno de todos os
seres humanos estava sendo decidido.
É muito importante lembrar que, todo ser
humano, em algum momento da sua existência, terá
que decidir o seu próprio destino eterno.
É triste pensar que boa parte da humanidade
desperdiça a sua vida correndo atrás de diversão de
glutonarias e prazeres, enquanto o seu próprio
destino eterno está sendo decidido. Sejam grandes
ou pequenas, todas as nossas escolhas se somam
para decidir se viveremos ou morreremos para
sempre.

A   PEDRA   QUE  ESMAGOU   O  ESPÍRITO 


O lugar “escolhido” por Deus para ser palco da
maior de todas as batalhas espirituais, foi um lugar
chamado Jardim do Getsêmani. Um dos significados
para a palavra “Getsêmani” é lugar onde a azeitona é
esmagada.

24 A FACE OCULTA DE DEUS


Esta escolha talvez tenha sido feita porque ali,
no lugar onde a azeitona era literalmente esmagada
pela gigantesca pedra de mó, Jesus teria a sua alma
esmagada pelo peso do pecado de todos os homens.
Nenhum ser humano jamais poderá mensurar
realmente o quanto Jesus sofreu naquele sombrio
jardim.
O profeta Isaías é quem descreve melhor a
aflição de Cristo naquela obscura madrugada:

“Certamente, ele tomou sobre si as nossas


enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e
nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e
oprimido.

“Mas ele foi traspassado pelas nossas


transgressões e moído pelas nossas iniquidades;
o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados.

“Todos nós andávamos desgarrados como


ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 25


o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós
todos.”3

SEMEANDO  O  PRÓPRIO  SOFRIMENTO 


Ao longo desta vida, todos nós seremos chamados a
passar por algum sofrimento. Mas é preciso nos
lembrar que só há dois tipos de sofrimento: o
primeiro é o sofrimento merecido. É quando
sofremos como fruto (consequência) das nossas
próprias escolhas: “pois aquilo que o homem semear,
isso também ceifará.”4
O segundo tipo de sofrimento acontece
quando sofremos como fruto de alguma injustiça. É
quando sofremos sem merecimento, como Jó. O
verdadeiro cristão passará a vida tendo o seu
caráter aprimorado pelo sofrimento injusto.
Alcançar semelhança de caráter com Jesus, também
envolve sofrer como ele.

3
Isaías 53:4 a 6
4
Gálatas 6:7

26 A FACE OCULTA DE DEUS


ASSOMBRADO PELA  CRUZ
 
Enquanto Jesus caminhava com os seus onze
melhores amigos, começou a entristecer-se a
angustiar-se. Era uma estranha tristeza vinda de
lugar nenhum, que de repente se abateu sobre ele.
Ainda que Jesus estivesse fisicamente
acompanhado, o salmista diz que, espiritualmente, o
Filho de Deus estava caminhando sozinho, pelo vale
escuro da sombra e da morte.5
Jesus estava estranhamente silencioso e
caminhava com muita dificuldade. Tinha a sua alma
turbada pela densa e tenebrosa sombra da cruz.

ESMAGADO  PELA  ANGÚSTIA  MENTAL 


No capítulo 26 do evangelho de Mateus, Jesus disse
aos seus discípulos: “A minha alma está
profundamente triste até à morte.”6
Ao buscar no grego antigo um melhor
significado para estas palavras, descobrimos que

5
Salmo 23:4.
6
Mateus 26:38

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 27


Jesus se referia a um grau de angústia jamais vivido
por qualquer ser humano. É como se ele dissesse:

“O grande sofrimento se abateu sobre mim, e a


extrema angústia me cercou por todos os lados.
Estou atribulado de alma, e se existir um grau
de aflição maior do que este, só a morte.”

Jesus não se referia aqui a um sofrimento


apenas físico, mas a uma desconhecida angústia
mental, que o visitava naquela sombria noite de
agonia.

NO  ESCURO  ABRAÇO  DA  MORTE 


Em maio de 2005, minha esposa e eu aceitamos o
desafio de ser missionários em Rondônia, estado
vizinho do Amazonas, no norte do Brasil. O povo
local é muito acolhedor, o estado tem muitas
belezas, e a capital é grande e bem desenvolvida.

Somados os anos que estivemos em Rondônia


e no Acre, estado que vizinha com a Bolívia, foram
quase sete anos. Ali nós vivemos momentos
inesquecíveis. Eu vivi os extremos de pregar para

28 A FACE OCULTA DE DEUS


uma população muito carente, às margens do Rio
Madeira; e também de falar às autoridades no
palácio do governo.

Os desafios maiores ficavam por conta das


longas viagens de barco a lugares muito distantes.
Comunidades pobres de pessoas simples e queridas,
que nos acolhiam de coração, e dividiam conosco o
pouco ou quase nada que ainda possuíam.

O difícil acesso e as grandes distâncias


levavam precariedade de recursos aos vilarejos.
Todos os meses eu visitava São Carlos e Calama;
pequenos vilarejos que ficavam às margens do
grande rio Madeira, na divisa com o Amazonas.

Certa vez, o meu filho Kaoê foi acometido por


três gravíssimas infecções, que o levaram a
emagrecer 8 quilos em uma semana. A doutora
Judite, uma infectologista da capital, nos orientou a
levá-lo às pressas para algum grande centro onde
houvesse maiores recursos. O levamos de avião para
Curitiba, a 3.500 quilômetros de distância de Porto
Velho, onde morávamos. Ele esteve à beira da morte
por muitos dias. Mas, depois de trinta e quatro dias
de intenso tratamento, aos poucos ele se

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 29


recuperou, ficando apenas com uma pequena
sequela na vista direita.

Numa outra oportunidade, minha esposa foi


acometida por uma bactéria. E aquilo que parecia
ser um caso simples acabou por levá-la ao hospital.

Depois de estar internada por duas semanas,


ficou constatado que não houve melhora em seu
quadro clínico. Decidimos que ela deveria buscar
um especialista em Manaus, a capital do Amazonas,
distante 900 quilômetros de Porto Velho.

Depois de três dias de tratamento ela já


estava bem melhor. O médico resolveu examiná-la
por suspeita de uma possível aderência, herança do
seu segundo parto.
A operação, que seria feita por laparoscopia,
deveria ter levado pouco mais de uma hora. Mas
algo ocorreu e o procedimento que parecia simples
se complicou, e a operação demorou mais de cinco
horas. Eu fiquei muito preocupado, pois minha
esposa operara pela manhã, e já era o final da tarde
e ela ainda não havia voltado da anestesia.
Por fim, lá pelas oito da noite finalmente
consegui falar com ela pelo telefone. Ela estava
sonolenta e quase não falava coisa com coisa. Eu

30 A FACE OCULTA DE DEUS


fiquei um pouco mais tranquilo ao ver que ela
estava se recuperando. A fim de tranquilizá-la, eu
disse que ligaria assim que amanhecesse.

Não consegui dormir, rolei na cama como se


ela tivesse espinhos. Minha rotina envolvia acordar
muito cedo. Eu costumava passar algum tempo com
Deus, e assim que o dia nascia eu fazia uma corrida
ou nadava na piscina da escola. Aquela noite parecia
não ter mais fim; impacientemente esperei que o
dia nascesse. Mas, antes de sair resolvi ligar para
Linda, pois queria ter certeza que tudo estava bem.
Tomei o telefone e liguei para ela no quarto do
hospital. Ela me atendeu ainda meio dormindo.
Perguntei-lhe:

— Como você está hoje, sente-se melhor?

Ela não conseguia raciocinar direito, falava


arrastado, estava sonolenta. Parecia ainda estar um
pouco sob os efeitos dos remédios. Mas ainda
assim, entendendo que falava comigo, ela disse:
— Querido, eu senti tanto a sua falta... desejei
muito que você estivesse aqui comigo!
Foi como se eu tivesse sido atropelado por
um trem. Não sei explicar o que aconteceu comigo.

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 31


Tudo rodou. Foi um impacto tão forte que eu tive
que me segurar na mesa do computador para não
cair. Temendo que ela pudesse perceber que algo
estava errado comigo, eu lhe disse:
— Querida, tenho uma reunião daqui a pouco.
Vou desligar, descanse um pouco. Eu ligo mais
tarde.
Até este dia, eu sempre fora agradecido a
Deus por ter mais de 50 anos e nunca haver tido
nenhum sério problema de saúde. Agora, eu estava
pálido, trêmulo, e me segurando na mesa do
computador. Eu tentava permanecer em pé. Em
realidade nada acontecera, mas o impacto no meu
coração foi tão forte que eu não conseguia respirar,
via tudo girando desordenadamente.

Com algum esforço eu fui até o banheiro;


achei que um banho morno ou frio me despertaria.
Assim que fiz menção de tirar a camiseta, as
palavras da Linda reviveram em minha mente...
— Querido, eu senti tanto a sua falta... desejei
muito que você estivesse aqui comigo...
De imediato tudo rodou novamente. Mas
desta vez com muito mais intensidade. Senti ânsia.
Não consegui raciocinar. Meu sistema nervoso

32 A FACE OCULTA DE DEUS


travou. Eu não conseguia respirar. Meus olhos
escureceram. Pensei seriamente que eu ia morrer
ali, no chão do banheiro... Então decidi buscar ajuda.
Cambaleando desci as escadas. Ao lado da
minha casa morava um amigo. Por instinto eu tentei
buscar socorro nele. Me segurando na parede,
cambaleando me arrastei até a sua casa. Com
grande esforço consegui chegar na área da sala de
entrada. Era uma área coberta, de uns 3,5 por 4,5
metros. Me apoiei na grossa pilastra de concreto e
sem forças escorreguei até o chão. Rastejei pelo
piso tentando chegar à porta de entrada da casa.
Faltando menos de 2 metros para a porta, fiquei
completamente sem forças; então rolei ficando de
costas no chão. E como eu não conseguia gritar,
tentei bater com os nós dos dedos na porta para
pedir socorro. Mas não consegui. Achando
sinceramente que eu ia morrer, fiquei ali, de barriga
para cima olhando para o teto; orando pelo socorro
divino.
Não posso precisar quanto tempo eu fiquei
ali, a mercê da morte. Até que de repente recobrei
os sentidos.
Recuperando um pouco a consciência, eu
percebi que estava deitado de barriga para cima na

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 33


área da casa do meu vizinho; fiquei desconcertado e
senti muita vergonha. Meio zonzo ainda, mas já bem
melhor, decidi sair de mansinho e voltei para minha
casa. Meio assustado e tentando compreender o
ocorrido, subi a escada para o andar de cima e fui
para o chuveiro. Estando novamente no banheiro,
eu comecei a tirar a roupa e quando levantei os
braços para puxar a camiseta... aquelas palavras
soaram uma vez mais em minha mente:
— Querido, eu senti tanto a sua falta... desejei
muito que você estivesse aqui comigo...
Uma vez mais aquela estranha bomba
explodiu dentro de mim. Minha vista escureceu...
meu sangue parou de circular... perdi a noção de
profundidade... cambaleei.

Fui impactado pela minha própria mente. A


descarga emocional foi tão grande que desordenou
os meus cinco sentidos. Era uma angústia enorme,
causada por um estranho sentimento de omissão.
Era como se eu estivesse me auto punindo por
haver desamparado aquela que dividiu comigo todas
as lágrimas da minha vida, ao longo de 30 anos.

Eu sabia que ela não falara em tom de


reclamação... Foi muito pior do que isso. Ela estava

34 A FACE OCULTA DE DEUS


entorpecida demais para dar cunho às palavras. Eu
sabia que suas palavras eram somente a expressão
do seu desamparo; um pedido de socorro. Isto me
destruiu por dentro.

Na marinha de guerra eu aprendi o real


significado da palavra lealdade. Mas, quando o
melhor amigo de toda a minha vida mais precisou
de mim, eu não estava lá.

Eu poderia ter faltado com ela em seu


aniversário, ou em qualquer outra data, mas nunca
naquele momento de tamanha fragilidade. Minha
mente me condenou. Me abalou tão profundamente
que convulsionou todo o meu ser. Eu sentia como
se o meu corpo estivesse entrando em erupção;
como se ele fosse explodir. Nada, senão Deus,
poderia me salvar daquela angústia mental.
Tão forte fora o impacto causado por minha
mente que eu pensei que estava enfartando. Meus
olhos escureceram por completo, meus pulmões
travaram e eu não pude mais respirar.
Desta vez a crise parecia ser ainda mais
intensa do que a primeira.

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 35


A única coisa que pude pensar foi que, se eu
caísse no chão do banheiro, eu morreria ali, distante
de todos e sem socorro. Num instinto de
sobrevivência, cambaleante e me agarrando pelas
paredes, desci as escadas. Sem consciência de
quase nada, eu só queria cair onde alguém pudesse
me ver e me socorrer.

Uma vez mais eu me encontrei encostado na


pilastra da área da casa do meu vizinho, mas desta
vez, eu não tive forças sequer para cruzar a área, e
caí ali mesmo. Defendendo o rosto com o braço,
quedei sem forças escorregando pilastra abaixo.
Parecia um pesadelo real. Eu só conseguia olhar
para a porta ali tão perto, mas não tinha forças para
gritar por socorro. Eu sabia que meu corpo não
tomara nenhum golpe ou impacto físico. Minha
intensa dor não era fruto de nenhuma contusão.
Mas ainda assim, eu sentia como se o meu coração
estivesse sendo esmagado por um imenso fardo.
Nada estava realmente acontecendo; nenhum fato
físico, mas, ainda assim, eu não conseguia respirar,
meus olhos estavam turvos...tudo em mim havia
travado...

Então, num esforço sobre-humano me virei


de barriga para cima, sentindo o gelado do piso nas

36 A FACE OCULTA DE DEUS


costas. E como não houvesse mais nada a fazer,
comecei a falar com Deus. Me surpreendi ao ver
que, mesmo estando de frente para a morte, eu
estava surpreendentemente tranquilo. Então, com o
resto de consciência que ainda me sobrava eu
resolvi acertar as contas com Deus.

Comecei agradecendo pela abençoada vida


que me deu viver. E disse:

— Senhor, obrigado por me chamar das trevas


para a sua maravilhosa luz. Me despeço desta vida
com um sentimento de missão cumprida, pois sinto
que o manto branco da tua justiça cobriu todos os
meus pecados e estou em paz.

Perdi a consciência.

Aqueles que me socorreram me descreveram


como eu estando com os lábios roxos e olhos
abertos, mas paralisados. Eles afirmaram que eu não
respirei por todo o trajeto até o hospital. Disseram
que eu fui o vivo mais morto que eles já viram.

Todo esse sofrimento foi causado apenas


porque a angústia da minha mente esmagou o meu
sistema nervoso.

A PEDRA QUE ESMAGOU O ESPÍRITO 37


O evangelho apresenta Jesus Cristo
agonizando no jardim do Getsêmani a ponto dele
suar sangue. Descreve a sua agonia mental como
sendo tamanha que fez os seus poros se abrirem,
não podendo mais reter o seu sangue que vasou
pele afora. Porém, nós não o vemos sofrendo por
causa de alguma contusão física.
Seja o que for que levou o Filho de Deus a um
sofrimento capaz de fazê-lo suar sangue, foi algo
que certamente transcendeu o plano físico.
Algo tão extraordinário aconteceu em sua
mente que dilacerou sua natureza física.
O sofrimento do Filho de Deus foi tão acima
do sofrimento humano, quanto Deus é maior do
que o homem.
Por causa do pecado, da desobediência
humana, Jesus foi obrigado a passar pelo
tenebroso abismo da separação.

38 A FACE OCULTA DE DEUS


O MAIS 
TENEBROSO 
ABISMO 
C
aminhando uns sessenta metros mais para o
interior do horto, Jesus ajoelhou-se,
prostrando-se sobre o seu rosto...“e orava
para que, se possível, lhe fosse poupada àquela hora.”7
O Messias veio a esta Terra especialmente
para enfrentar as terríveis consequências do pecado
em nosso lugar. Então, por que ele suplicaria ao Pai
para que lhe fosse poupada justamente àquela hora,

7
Marcos 14:35

O MAIS TENEBROSO ABISMO 39


quando ele enfrentaria as consequências do pecado
em nosso lugar?
Quando pensamos em pecado, quase sempre
o que nos vem à mente é o castigo que advém da
desobediência da expressa vontade de Deus. Mas
normalmente não pensamos nas reais e
devastadoras consequências do pecado.
Ao fazer a sua primeira oração, Jesus tinha
em mente a principal consequência do pecado, que
é a sua terrível capacidade de separar eternamente
o pecador do seu Criador. Sendo assim, para salvar
aqueles que não mereciam, mas a quem Jesus
amava, ele precisava passar pelo tenebroso abismo
da separação com o Pai.
Quando eu falo da terrível dor que nos vem
pela separação, eu me lembro da morte do meu avô
Manoel Guilherme. Eu me lembro de como a sua
repentina partida deixou cicatrizes que parecem
abertas até hoje.

MEU   HERÓI,   UM  CAIÇARA 


Eu havia chegado do trabalho. E com a perna direita
literalmente em cima da mesa, estava tomando um

40 A FACE OCULTA DE DEUS


lanche na sala. Minha mãe tentava conversar com
minha avó Sebastiana.
A vó Bastica (que era como os netos
carinhosamente a chamavam) era uma caiçara
baixinha, filha da minha bisavó Calú, cuja única
lembrança que tenho é de uma senhorinha muito
idosa carregando um grande feixe de lenhas na
cabeça. Minha vó era uma mulher pequena, de rosto
bem feito e nariz afilado. Ela me impressionava
sempre contando algumas histórias de quando era
mais nova. Falava de como a vida era mais dura e
mais sofrida naquele tempo. Dizia que muitas vezes,
pela madrugada, a onça vinha afiar as suas unhas
nas frestas das paredes da sua casa de chão batido,
feita com paredes de troncos, e coberta com sapê.
Contava como ela caminhava com um
enorme saco de farinha na cabeça, mato à dentro,
por quarenta quilômetros, do seu sítio, na cidade
litorânea de Matinhos, até Paranaguá, cidade
histórica, e berço da civilização do estado do
Paraná. Fazia todo aquele enorme esforço, apenas
para trocar a farinha, por um pouco de óleo e de sal.
A preciosa farinha era extraída a partir das
raízes da mandioca. O processo para fabricar a
farinha era muito penoso. As mudas eram plantadas

O MAIS TENEBROSO ABISMO 41


com a enxada, debaixo de muito sol. A água vinha na
cabeça, armazenada numa lata de 20 litros, trazida
de um poço distante. A raízes eram colhidas uma
por uma e lavadas à mão.
Depois, vinha o paciente processo de ralar a
raiz. Meu avô movia a manivela que girava a pesada
roda de madeira. Nela havia uma improvisada lixa
feita de uma manta (tira larga) de cobre, que era
furada com o prego. Depois ela esmagava a pilorda
(papa da farinha molhada) na prensa; a prensa era
uma morsa (torno de bancada) de 2 metros de
altura, feita de grande e sólidos troncos de madeira
entalhados à mão.
Depois de enxuta, a farinha era torrada num
forno artesanal, feito de barro misturado com as
fibras da palmeira. A farinha era pacientemente
assada pelo fogo da lenha, rachada das árvores que
eram derrubadas no machado e transportadas nos
ombros.
Ela me contou que certa vez teve que jogar o
saco de farinha dos ombros e subir correndo numa
árvore. E ficar ali, tremendo e orando com a espada
na mão, torcendo para que a onça escolhesse outra
árvore para comer o animal que havia abatido.

42 A FACE OCULTA DE DEUS


Agora, já com o seu corpo cansado por causa
das muitas lutas da sua longa vida, a dona
Sebastiana estava muito doente. Fazia pouco que ela
havia passado por maus momentos, estando entre a
vida e a morte por muitos dias. Neste dia, ela estava
um pouco melhor, mas ainda muito senil. Já tinha
dificuldades até com as tarefas mais simples. Ela
acendia o seu velho cachimbo de barro e o colocava
na xícara para adoçar o café, preto e puro.
Estávamos ali, na sala, eu e a vovó Sebastiana;
enquanto a minha mãe, Maria Joana, costurava
alguma roupa à mão.
Sentado na mesa, onde eu me encontrava,
podia ver o meu avô Manoel na cozinha; enquanto
ele passava o café já fervido pelo coador de pano.
Meu avô Manoel Guilherme era um homem
claro de cabelos ondulados e absolutamente
brancos. Aquele valente caiçara (local onde os
pescadores guardam os barcos, pessoas que vivem à
beira mar) tinha o rosto bastante marcado pelos
seus muitos anos. No corpo, ele ainda trazia alguns
músculos que insistiam em resistir ao rigor do
tempo.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 43


Serenidade! Talvez seja esta a melhor palavra
para descrever aquele ancião espanhol. Era um
homem à moda antiga, cujo ritual de se barbear com
sua velha navalha espanhola durava pelo menos
uma hora.
Me impressionava o seu olhar de dignidade,
agora já acinzentado pelos anos. Eu amava desafiá-
lo a acertar a marca que eu fazia com o lápis
colorido no tronco que nós usávamos como base
para rachar a lenha. Era um homem de poucas
palavras, que apesar dos seus 75 anos, ainda fazia
questão de trazer nos braços as suas duas sacolas
cheias de compras. Sentia-se vivo ao carregá-las
por 2 quilômetros, do mercado de peixes até minha
casa.
Pra mim ele era um herói. Um homem à moda
antiga, de uma só palavra; justo e íntegro, a quem eu
tive o privilégio de chamar de meu avô.

ELE  MORREU  POR  5   MINUTOS 


Nessa tarde, como de costume, com a mesma
paciência habitual, ele estava cumprindo o seu
religioso ritual de passar o café. Da mesa onde eu

44 A FACE OCULTA DE DEUS


estava, podia vê-lo quase debruçado sobre a pia da
cozinha.
De repente, ele derrubou na pia a panela de
água fervendo que tinha nas mãos. O barulho atraiu
minha atenção. Foi quando o vi levar a mão direita
ao peito, numa visível expressão de desconforto. Eu
vi quando ele passou ao meu lado, caminhando
devagar, como se fosse para o seu quarto, no fim do
corredor. Vovó Sebastiana estava sentada no sofá,
bem perto de onde ele havia de passar.
Quatro passos depois de passar por mim, ele
cruzou com a minha avó. Deu um gemido forte de
dor, levou a mão direita ao peito, e como já havia
passado dela, deu meia volta, virando-se para trás
para vê-la. Estendeu-lhe a mão esquerda, como se
fosse lhe dizer alguma coisa; e não conseguindo
alcança-la, caiu para trás.
Foi quando eu, horrorizado, ouvi o barulho
oco da sua cabaça batendo no chão. Derrubei a
xícara que estava em minhas mãos e corri para ele.
O apanhei nos braços, como se ele fosse um bebê
desamparado. Fiquei ali, com meu avô nos braços
sem saber o que fazer. Com a mão direita, minha
experiente mãe indicou o sofá. Com cuidado eu o
deitei ali. Estava em pânico. Nunca alguém a mim

O MAIS TENEBROSO ABISMO 45


tão querido, havia passado por uma situação tão
desesperadora.
Minha mãe sentou-se calmamente ao seu
lado, e já sabendo o que ia acontecer, manteve-se
plácida como a se despedir do seu velho herói.
O lado direito do seu rosto próximo da orelha
arroxeou mudando de cor; e o seu peito já não
inflava mais.
Eu o vi ali, absolutamente imóvel; morto por
tempo suficiente para relembrar muitos episódios
pitorescos vividos nos mais de 20 anos que ele
morou conosco.
Meu avô já estava morto há mais de 5
minutos quando, de repente, ele abriu os olhos, e se
sustentando nas mãos firmes de minha mãe, se
sentou no sofá. E olhando em seus lacrimejantes
olhos, calmamente lhe perguntou:
— Maria, o que aconteceu?
Com a voz embargada pelas lágrimas, ela
respondeu:
— Nada, pai. Não aconteceu nada, está tudo
bem.
Diante da morte, ele me surpreendeu mais
uma vez ao dizer, calmamente:

46 A FACE OCULTA DE DEUS


— Ah! Que bom, filha, que bom que tudo está
bem.
E como um soldado ferido deitou-se para
descansar o sono do justo.

FATÍDICA  LIÇÃO 
Naquela tarde, à custa daquela insuportável dor, foi
que eu aprendi uma importante lição.
Entendi que muitas dores visitariam o meu
coração ao longo da minha vida, mas nenhuma seria
tão devastadora quanto a dor da separação daqueles
a quem amamos.
A separação definitiva é uma dor
inconsolável, incurável, irremediável e
irreversível. Não há um lugar para onde dela se
esconder, nem há um refúgio para onde dela se
abrigar.
Não adianta nada gritar, ou espernear; nem
reclamar da má sorte. O que nos resta então é
apenas esperar que o tempo passe, e que de alguma
maneira, ele amenize a nossa devastadora sensação
de vazio.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 47


A dor da separação torna impossível imaginar
a vida sem a presença daquele que se foi.
Só aquele que já perdeu para a morte alguém
tão precioso, pode realmente entender quão
profunda é a dor da separação.

REALIZE UM  MILAGRE,  HOJE 


A insuportável dor da separação, é a mais
reveladora evidência de que nós não fomos criados
para morrer.
Esta dor não surge pelo fato da separação em
si mesma. Pois a morte de um desconhecido não
nos abate com a mesma intensidade. O nosso
desespero vem ao saber que nunca mais estaremos
com aquele que para nós era tão precioso. Não dá
para imaginar a vida, o futuro, sem a felicidade da
sua companhia, sem a alegria de estar com aquele
que se foi para sempre.
A dor da separação pela morte eterna, é o
maior de todos os intrusos na obra da criação de
Deus.
Quando a morte levou para sempre o meu
avô Manoel Guilherme, a dor da separação esmagou

48 A FACE OCULTA DE DEUS


o meu coração. E foi assim, pela dor, que eu aprendi
uma importante lição:

É muito melhor, com um sorriso nos lábios,


declarar em vida todo o amor que sentimos, do
que esperar para, com lágrimas nos olhos, fazer
a nossa declaração de amor a um coração que já
não ouve, não sente e nem bate mais.

Hoje, antes de sair de casa para a rotina do


seu dia, abrace a quem você ama e a quem você
ainda tem o privilégio de ter consigo. Olhe em seus
olhos, e diga: “Eu amo muito você. Não posso
imaginar os meus dias sem você. Porque você é muito
importante para mim.”
Então, veja como esta simples declaração de
amor realizará instantaneamente um verdadeiro
milagre no coração de quem você ama muito.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 49


CRISTO  ACREDITOU   QUE IA  FRACASSAR
 
“Eu e o Pai somos um.”8 Entre o Pai e o Filho, sempre
existiu perfeita unidade, desde os tempos eternos.
Agora, ali no jardim do Getsêmani, por amor a
você, Jesus escolheria enfrentar o tenebroso abismo
da separação. Este infinito sacrifício não pode ser
mensurado, em toda a sua amplitude, por nenhuma
mente criada. Tal separação, de alguma forma,
envolveria o rompimento da perfeita unidade de
Deus.
Quando Cristo imaginou o que ocorreria
consigo ao separar-se do Pai, não pode acreditar
que a sua frágil natureza humana fosse suportar
tamanho sofrimento. Ele sabia que o seu corpo
humano iria se desfazer, como o corpo de uma
lesma que literalmente se derrete quando é
borrifada com sal.
Sentindo que iria fracassar, Jesus pediu ao Pai
para que lhe fosse poupada àquela hora.

8
João 10:30

50 A FACE OCULTA DE DEUS


O  ONIPOTENTE  QUE  NÃO PODE  TUDO 
Orando, Jesus disse: “...Pai, tudo te é possível”.9
Sabemos que tudo é realmente possível a um
Deus onipotente. Mas há coisas que Deus se limita a
não fazer por causa de um bem maior. Se Deus
pudesse fazer tudo o que ele deseja, certamente
salvaria todos os seres humanos,
independentemente da nossa vontade ou recusa em
ser salvos.
O Pai não pôde evitar a morte do seu próprio
Filho na cruz. Esta é a maior prova de que mesmo
sendo Onipotente, Deus não pode fazer tudo o que
deseja.
Não estou afirmando que exista alguma coisa
que o Deus todo poderoso não seja capaz de
realizar. Mas, olhando para o “inevitável” sofrimento
de Jesus na cruz do calvário, apenas digo que há
coisas que o Onipotente Deus, mesmo podendo,
não fará, por causa de um benefício muito superior
ao nosso finito entendimento.

9
Marcos 14:36

O MAIS TENEBROSO ABISMO 51


JESUS   VACILOU PELA  PRIMEIRA   VEZ
 
No instante em que Jesus disse: “Todavia, não seja
como eu quero, e sim como tu queres;”10 de imediato,
ele começou a identificar-se com o pecador.
A partir desta decisão, o Pai iniciou o
processo de retirar de seu amado Filho a luz de sua
glória, a luz mantenedora do seu amor.
Sentindo-se imergir no tenebroso abismo do
pecado, Jesus começou a tremer como se fosse uma
cana açoitada pelo vento. Angustiado, ele caiu por
terra, e agarrou-se ao solo frio, como que para não
ser separado do amor do Pai. O cálice do fel do
pecado era tão amargo que começou a desintegrar
o seu corpo. Não suportando ir mais adiante, a sua
natureza humana vacilou, e ele então desejou algum
alívio daquele intenso sofrimento.

10
Mateus 26:39

52 A FACE OCULTA DE DEUS


A   INSANIDADE  DO  ÓDIO
 
No ano de 1996, enquanto eu auxiliava o Bom Pastor
no cuidado de uma pequena parte do seu rebanho,
algo incomum aconteceu.
Um bom amigo meu de tempos passados,
começou a me olhar com outros olhos. E em dado
momento, convencido dos meus enganos, ele
resolveu levantar a sua mão contra mim.
Por alguma razão que eu desconheço, este
outrora amigo, resolveu em seu coração que era a
sua tarefa demonstrar para todos que o meu
cristianismo não passava de aparências.
Ele abraçou com tanto empenho esta
estranha missão, que a minha vida passou a ser um
exaustivo fardo de tristezas.
Começou a seguir os meus passos em todos
os lugares que eu ia. Buscava ver se em algum lugar
eu havia deixado alguma prova de que eu não era
fiel ao meu chamado divino.
Os meus dias se tornaram tristes ao sentir o
inexplicável e declarado desafeto daquele que
outrora fora meu amigo.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 53


A grande dificuldade numa situação dessas é
que para se defender, aquele que vive sob as regras
do cristianismo não pode usar as mesmas armas
que os demais. Àquele que se baseia em Cristo como
modelo, só lhe é permitido dar a outra face, e orar
pedindo que em algum momento seja desviado o
furor daquele que lhe fere, ou pelo menos, que ele
se canse de tanto bater. Àquele que “não” se
governa pelas normas do cristianismo, todas as
armas lhe são lícitas. Ele pode aumentar, diminuir,
enganar, mentir, e até maltratar.
Esta é uma luta muito injusta e parece que
dura tanto tempo quanto o cristão a possa suportar.
Todo sofrimento imerecido é uma provação. Toda
provação suportada confere àquele que é provado
algum benefício, algum crescimento espiritual.11

O  PROSELITISMO DO  ÓDIO 
Dar a outra face para alguém que, apesar de toda a
tua passividade, você sabe que vai continuar te

11
Tiago 1:2,3

54 A FACE OCULTA DE DEUS


ferindo, é uma das maiores provas de fé para um
cristão.
Só o fato de eu não revidar, nem me defender
com as mesmas armas, já deveria tê-lo feito
entender que eu não era do mal. Mas, ele estava tão
empenhado em provar o seu negro ponto de vista
que nem chegou a perceber que eu só estava
tentando dar a outra face.
Nada que eu fazia atenuava a situação.
Eu esperava que ao longo de alguma oração
ele analisasse honestamente as suas razões.
Supliquei a Deus que lhe desse luz para que
examinasse os seus verdadeiros sentimentos.
Depois, eu finalmente entendi que o ódio é
cego; ele vê razão para odiar onde razão não existe.
Parece que apenas me odiar sem motivos não
lhe satisfazia. Então ele passou a fazer
“proselitismo”, e arregimentar outras pessoas
inocentes para sentirem o mesmo ódio contra mim.
Esta satânica estratégia aumentou ainda mais a
minha aflição.
Com a sua injusta forma de me ver, e as suas
más ações, baseadas unicamente na sua versão dos
fatos, eu sofri prejuízos profissionais irreversíveis.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 55


Nas minhas madrugadas insones, muitas
­
vezes eu examinei honestamente o meu coração. Eu
realmente queria saber se em algum momento eu
havia feito algo que justificasse o seu ódio. Sofri em
silêncio por provocar em um homem tão bom, tão
cristão, sentimentos tão nocivos. Antes deste
inexplicável capítulo, ele era um bom amigo, uma
boa pessoa, um bom pai e um ótimo líder cristão. E
eu não queria, de uma forma ou de outra, ser o
motivo para que ele prejudicasse sua experiência
cristã. Afinal de contas, eu havia prometido a Cristo
cuidar das suas ovelhas, e ainda que o meu ex-
amigo não quisesse, a minha promessa também o
incluía.
O tempo passou e as coisas só mudavam para
pior. Dois anos de sofrimento sem absolutamente
nenhuma causa útil, ou razão que justificasse.

UMA  CARNIFICINA  MORAL 


O auge do meu sofrimento se deu quando, ao ir ao
banheiro, a minha filha pequena passou pela sala de
reuniões, e presenciou uma carnificina espiritual.

56 A FACE OCULTA DE DEUS


Ela ouviu infundadas acusações, e sabia que
não procediam.
Não me permitiram participar da reunião. Os
meus superiores que ali estavam para servir de
mediadores, nunca me disseram do que se tratava,
nem me deram o direito de resposta. Então, eu
nunca soube realmente do que era acusado.
Quando eu cheguei no meu carro, encontrei
minha filhinha, literalmente em pânico. Ela havia
presenciado a destruição moral de alguém a quem
amava muito. Ela já tinha idade, e me conhecia o
suficiente para saber que eu era inocente.
Entrou literalmente em desespero por não ter
como me defender. Chorou por muito tempo
escondida no meu carro, até que eu a encontrasse.
Quando a vi naquele estado, eu a abracei, e a
confortei dizendo que o céu nos protegeria.
Vendo as suas inocentes lágrimas, eu
finalmente entendi quanto mal pode resultar de
alguém que se disponha a idolatrar a própria ideia,
dispondo-se a ferir com ou sem razão.
Com ela em meus braços eu orei. Disse-lhe
que Deus tomaria a nossa causa em Suas mãos, e
por fim, tudo acabaria bem.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 57


Aquilo que minha filha pequena viu e ouviu
naquele dia de injustiças, se tornou uma sombra
psicológica que a perseguiu por muitos anos.
Não bastando todos os desafios naturais do
cuidado do rebanho de Cristo, eu ainda tinha que
me desgastar tentando assimilar aqueles inflamados
dardos do inimigo. Eu estava no meu limite, e
precisava muito de algum alívio.

O  CORREDOR  INVISÍVEL 
No íntimo do meu coração, eu sempre acreditei que
uma das principais razões para a doença, é a
violação das sagradas leis da saúde. Por isso, desde
que eu comecei a me orientar pelos sábios
conselhos da bíblia, eu sempre busquei manter
hábitos saudáveis.
Um dia, quando eu corria em volta de uma
linda lagoa, me lembrei do imerecido sofrimento da
minha filha, e uma tristeza enorme se abateu sobre
o meu coração.
Normalmente, enquanto corro costumo orar
em pensamento. Então, orando eu disse para Deus:

58 A FACE OCULTA DE DEUS


— “Senhor, sabes que eu estou sofrendo muito, e o
Senhor sabe que eu nada fiz. Minha filhinha está
pagando um preço bem alto, mesmo sem ter feito
nada para merecer tal sofrimento.
“Está me doendo muito vê-la sofrer assim. Por
favor, eu não estou lhe pedindo que diminuas o fogo
ou que me tires de dentro da fornalha da fé.
“Eu só lhe peço que alivie um pouco o meu fardo, ou
pelo menos que, o Senhor me dê mais força para
suportar melhor esta dor que está esmagando o
meu coração.”
Naquele mesmo instante em que eu orava,
minha atenção foi desviada para um solitário
corredor que estava do outro lado da lagoa. Era um
atleta! Não tive dúvidas; suas passadas eram largas e
tinham um bom ritmo.
Minha atenção foi sutilmente desviada da
minha oração para o corredor. Do nada, eu me
peguei pensando que aquele atleta poderia me
ajudar a avaliar na prática as minhas reais condições
físicas. Mas logo percebi que ele era bem melhor do
que eu. Começou a se aproximar rapidamente. Duas
voltas depois, ele já estava tão próximo que eu podia
ouvir suas passadas. Me surpreendi com a facilidade

O MAIS TENEBROSO ABISMO 59


com que ele se aproximara. Então, assentei em meu
coração que, assim que ele me passasse, eu iria
colar nele, e tentar correr com ele o máximo
possível para melhorar o meu ritmo.
Ele vestia um traje de corrida todo branco, o
que destacava a sua silhueta esguia de um
verdadeiro fundista. Pensei: não tenho nenhuma
chance contra um atleta desse nível, mas ele vai ter
que suar muito até me deixar para trás. Ele corria
com passadas mais largas e mais eficientes que as
minhas. Aumentei a minha passada para ficar no
mesmo ritmo, e seguimos juntos por uns
quinhentos metros. Eu esperava que em algum
momento ele me passasse, mas ele se limitou a me
seguir.
Eu estava um passo à frente dele, e assim
chegamos a uma linda ponte feita de troncos. Sendo
feita de madeira, eu podia ouvir claramente as
passadas firmes do meu concorrente, que
estranhamente ainda se limitava a me seguir.
A ponte tinha uns 90 metros de
cumprimento, e ficava suspensa sobre o lago, a mais
ou menos um metro e meio de altura. Eu estava
concentrado no ritmo das passadas dele, e também,
na minha respiração. Eu estava realmente decidido

60 A FACE OCULTA DE DEUS


que assim que ele me passasse, eu iria resistir o
mais que eu pudesse. O som das suas passadas ficou
bem demarcado pela madeira da ponte.

O  DIA  EM   QUE  O TEMPO PAROU 


De repente, ele aumentou o ritmo, e as suas
passadas ficaram mais rápidas que as minhas. Eu
pude ver no chão da ponte, a sua sombra me
ultrapassando pelo lado esquerdo. Sem virar a
cabeça, procurei ver de quem se tratava. Foi quando
tudo sumiu. A sua sombra, o som das suas passadas,
e o dono delas, desapareceram.
Instintivamente eu parei. Estava muito
intrigado; não compreendi nada. Olhei ao meu
redor. Nada! Não havia mais ninguém lá.
Eu tive a nítida impressão que o tempo havia
parado. Não havia som de nada. Nenhum
movimento em coisa alguma ao meu redor.
Intrigado, eu voltei uns 40 metros, até o início
da ponte, e olhei por baixo na água, mas não havia
ninguém lá. Fosse quem fosse, ele havia
desaparecido.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 61


Eu me surpreendi pois apesar de tudo, eu
estava estranhamente calmo. Caminhando devagar,
eu voltei para casa. Ainda muito intrigado, contei o
que havia acontecido para minha esposa. Depois de
me ouvir com atenção, ela me perguntou:
— O homem apareceu bem na hora em que
você começou a orar pedindo alívio da sua
angustia? –
— Sim! — respondi.
— E como você se sentiu depois que ele
desapareceu?
— Intrigado! — eu disse sem pensar muito nas
palavras, — mas incrivelmente calmo.
Sorrindo, Linda concluiu:
— Era uma resposta de Deus a tua oração. Um
anjo veio do céu para levar a tua angustia embora,
como você pediu.
Realmente, Deus não me livrou do meu
problema, mas me fortaleceu para que eu pudesse
suportá-lo, até que tudo terminasse.

62 A FACE OCULTA DE DEUS


O  SONO  DO  MUNDO
 
O tão desejado alívio pelo qual Jesus orara não veio.
Mais e mais, a sua alma era esmagada pelo pesado
fardo do pecado. A extrema agonia fez o cálice
tremer em suas mãos pela primeira vez.
Foi com muita dificuldade que Jesus se
levantou. Cambaleante, caminhou procurando apoio
em seus discípulos. Esperava encontra-los
vigilantes, em oração, mas os encontrou dormindo.
Se tão somente ele os visse intercedendo, seria
fortalecido, mas o desinteresse deles por seu
sofrimento aumentou muito a sua aflição.
É decepcionante que, no exato momento em
que Jesus decidia o destino eterno de todos os
homens, os discípulos estivessem dormindo.
A realidade de hoje, não difere muito daquela.
Hoje, enquanto o destino eterno de todos os
homens está sendo decidido, o mundo dorme,
embalado pelo sono do divertimento e dos prazeres.
Mesmo os sinceros cristãos se deixam embalar pelo
confortável sono das madrugadas, quando deveriam
estar vigiando e orando, suplicando pela plenitude
do Espírito Santo.

O MAIS TENEBROSO ABISMO 63


Os tempos e os discípulos mudaram, mas o
sono e o desinteresse quanto ao vigiar e orar,
continuam os mesmos.

OS   ESTRANHOS  DESEJOS   DE  DEUS 


Foi na primeira oração que Jesus disse: “Pai, se
queres, passa de mim este cálice...”12
Como podemos imaginar que um cristão
possa pensar que era da vontade de Deus Pai que o
seu único Filho morresse na cruz? Se nós, que
somos pecadores, jamais desejaríamos que o nosso
filho sofresse, o que nos faz pensar que a morte de
Jesus na cruz do calvário era um desejo do seu
próprio Pai?

MORTE CEREBRAL 
Era um agradável final de semana do morno e
ensolarado verão de 1997. Eu já havia pregado o meu

12
Lucas 22:42

64 A FACE OCULTA DE DEUS


sermão e ainda estava nas dependências da igreja,
quando alguém me interpelou:
— Pastor, você teria tempo para fazer uma
visita no hospital? É muito importante!
— Sim, — eu respondi.
Ao estar ali na UTI, me deparei com uma
triste realidade. Havia sobre a cama um homem que
estava com morte cerebral. Orei com ele e pedi a
Deus pelo milagre da cura. Então, saí para consolar
a família. Eles não pertenciam ao rebanho que eu
pastoreava. Quando eu entrei na casa, uma jovem
senhora me agarrou pela ombreira do paletó; ela
estava desesperada. Em lágrimas, e quase gritando,
ela disse:
— Você, pastor, que se diz um homem de
Deus, me diga: por que Deus permitiu que
acontecesse isso com o meu pai? Um homem bom,
um homem de família, que estava trabalhando, e
não num bordel, bebendo.
Então, procurando encontrar o fôlego, ela
arrematou:
— Onde estava Deus, quando permitiu que
esta tragédia acontecesse com um homem tão bom?

O MAIS TENEBROSO ABISMO 65


O seu pai estava trabalhando num torno,
quando uma peça de ferro se soltou e bateu
violentamente em sua cabeça. Quebrou o crânio,
arrancando parte da massa encefálica.
Mentalmente, orei a Deus, dizendo:
— Senhor, o que posso dizer a esta tua filha
que possa aliviar a sua dor?
Com a voz um tanto embargada, olhei em
seus olhos, e disse:
— Amiga, infelizmente eu não tenho todas as
repostas. Eu não sei exatamente onde estava Deus
quando permitiu que o seu pai sofresse este terrível
acidente. Mas, eu penso que, quando ele permitiu
que esta tragédia se abatesse sobre o seu pai, ele
deve ter ficado no mesmo lugar que ficou quando
permitiu que o seu próprio Filho morresse na cruz
do calvário, para salvar a mim, a você, e ao seu pai
também.
Aquelas palavras, milagrosamente enxugaram
as suas lágrimas. E a jovem senhora, um pouco mais
calma, se sentou, e quase sussurrando, suplicou:
— Fale-me mais a respeito do amor deste
Deus.

66 A FACE OCULTA DE DEUS


Com a mais absoluta certeza, a morte de
Jesus Cristo na cruz do Calvário, não era da
“vontade” do seu Pai. Mas, se o Pai não desejava que
Jesus morresse na cruz, por que permitiu?
Deus permitiu a morte do seu único e amado
Filho, porque só o sacrifício de Cristo, o verdadeiro
Cordeiro de Deus, devolveria a vida eterna aos
condenados pecadores. Só a sua morte semearia
vida. “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão
de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas
se morrer, dá muito fruto.”13

13
João 12:24

O MAIS TENEBROSO ABISMO 67


DORMIR PODE 
SER UMA 
TENTAÇÃO 
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação;
o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne
é fraca.”14

N
esta parte do texto Jesus afirmou aos seus
discípulos que, dormir, ao em vez de vigiar
e orar, pode nos levar a cair nas tentações
que a nossa natureza carnal nos impõe.

14
Mateus 26:41

DORMIR PODE SER UMA TENTAÇÃO 69


Em Gálatas 4:16 e 17, o apóstolo Paulo
explicou mais claramente o que o Senhor Jesus quis
dizer quando usou a palavra “carne”, no sentido
espiritual:

“Digo, porém: andai no Espírito e jamais


satisfareis à concupiscência da carne. Porque a
carne milita contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne, porque são opostos entre si...”15

Paulo estava falando das baixas inclinações da


nossa natureza carnal. Então, ele usou a palavra
concupiscência.
O dicionário Michaelis define a palavra
concupiscência, como sendo cobiça, ganância,
ambição, libidinagem, luxúria e lascívia.
O dicionário Aurélio, por sua vez, define a
palavra concupiscência, como sendo um desejo
intenso por bens ou gozos materiais; apetite sexual.
Nota-se claramente que ambas as definições
se referem às inclinações e desejos baixos da
natureza humana. Estas nossas inclinações, valores
e desejos, são opostos às inclinações, valores e

15
Gálatas 4:16 e 17

70 A FACE OCULTA DE DEUS


desejos revelados pelo caráter de Jesus. Lembrando
que o Caráter e a Vida de Jesus Cristo são o “único
modelo” de caráter e de vida proposto para todos os
cristãos.

DORMIR  ATROFIA  O  ESPÍRITO 


Dormir quando deveríamos estar orando parece ser
um erro inocente, mas suas consequências podem
ser extremamente nocivas para o espírito.
O inimigo das almas desenvolveu
subterfúgios que nos levam a justificar a ausência da
oração na nossa vida cristã. Satanás sabe que a
oração vence a carne, e a falta da oração atrofia o
espírito.
A falta da comunhão da madrugada nos expõe
às más inclinações da nossa natureza carnal.
Se analisarmos a rotina de Jesus,
observaremos que ele se deitava quando o sol se
punha. Por isso ele passava várias horas, se não
madrugadas inteiras, em oração. Se um cristão se
deitar às 19 horas, quando for 2 da madrugada, já
terá descansado 7 horas de um sono bom e
reparador. Então, ele poderá amanhecer o dia lendo

DORMIR PODE SER UMA TENTAÇÃO 71


a bíblia e orando, sem nenhum prejuízo para a sua
saúde.
Aliás, a ciência confirma que as horas de sono
que antecedem à meia noite, são as mais
reparadoras e saudáveis. É durante o sono que os
bebês crescem, e o cérebro desincha das dilatações
causadas pelas atividades do dia.

HOMENS  DEFORMADOS 
Eu sei, você dirá, que nos dias de hoje é quase
impossível alguém dormir às 19 horas. Você está
certo. Estudos realizados por uma revista científica,
revelaram que ficar sem a televisão, sem o celular,
sem o computador, sem as redes sociais, sem os
games, ou sem a internet, é quase impossível para
esta geração, e será absolutamente impossível para
a próxima. Isto parece ser algo de somenos
importância; apenas mais uma contingência do
avanço científico presente.
Isto seria aceitável, não fossem as
deformações de caráter que esta nova rotina impõe
aos seus praticantes. Veja como Paulo descreve os
homens do nosso tempo:

72 A FACE OCULTA DE DEUS


“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão
tempos difíceis, pois os homens serão egoístas,
avarentos, jactanciosos, arrogantes,
blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos,
irreverentes, desafeiçoados, implacáveis,
caluniadores, sem domínio de si, cruéis,
inimigos do bem, traidores, atrevidos,
enfatuados, mais amigos dos prazeres que
amigos de Deus, tendo forma de piedade,
negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também
destes.”16

Não bastassem todas essas baixas


qualificações da civilização contemporânea, o
apóstolo ainda nos aconselha, dizendo: “Foge
também destes”.
O verdadeiro cristão jamais deveria se desviar
daqueles que precisam da sua ajuda, auxílio para se
libertar das suas más inclinações. O que Paulo está
realmente dizendo, não é que devemos fugir destes
homens, mas que devemos fugir de nos tornar
semelhantes a eles.

16
2 Timóteo 3:1 a 5

DORMIR PODE SER UMA TENTAÇÃO 73


SUICÍDIO  ESPIRITUAL
 
Nós podemos justificar o nosso descuido na
comunhão da madrugada falando da nossa
exaustiva rotina de atividades. Afinal de contas, é a
nossa manutenção profissional que assegura o bem
estar da nossa família. Os jovens também terão boas
justificativas baseadas em fatos reais. E estas justas
alegações realmente inviabilizam a prática de da
comunhão pela madrugada.
Mas lembre-se, nem todas as nossas
explicações nos justificarão diante das palavras de
Cristo: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus...e
todas estas coisas vos serão acrescentadas.”17
A comunhão através da oração e da leitura
meditativa da Palavra de Deus, não pode ser uma
opção para o verdadeiro cristão.
A bíblia afirma que não existe vida cristã sem
comunhão.
Logo, optar por não orar pela madrugada, por
esta ou por aquela razão, é o mesmo que optar pela
atrofia do espírito, pelo próprio suicídio espiritual.

17
Mateus 6:33

74 A FACE OCULTA DE DEUS


Se a negligência na comunhão da madrugada
não fosse um erro tão mortal para vida cristã, o
evangelho jamais teria destacado este triste
episódio, na vida dos três principais discípulos de
Jesus.
Renuncie e abdique do que for necessário,
para que te seja possível comungar pela
madrugada. Pois se a falta da comunhão atrofia o
espírito, a prática dela aperfeiçoa o caráter.

DORMIR PODE SER UMA TENTAÇÃO 75


POR QUE JESUS 
SUOU SANGUE? 
A
rrastando-se mais uma vez para o interior do
horto, Jesus prostrou-se sobre o seu rosto e
“orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é
possível passar de mim este cálice sem que eu o beba,
faça-se a tua vontade.”18 Com estas palavras, todo o
processo de rompimento da sua perfeita unidade
com o Pai foi reiniciado.
Uma vez mais, o Pai começou a retirar a
mantenedora luz do seu amor de sobre o seu amado

18
Mateus 26:42

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 77


Filho. À medida que o Pai se distanciava do Filho, e
lhe velava a face divina, Jesus sentia mais e mais
abrir-se entre ele e o Pai um inexplicável e
tenebroso abismo. O tenebroso abismo da
separação eterna com Deus.
Uma angustia indescritível veio sobre o
coração de Cristo, e desfalecendo, ele caiu por
terra. Mais uma vez, sua alma estava sendo
esmagada sob o peso do pecado de todos os seres
humanos. “E, estando em agonia, orava mais
intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou
como gotas de sangue caindo sobre a terra.”19
Ao sentir que estava sendo separado do amor
do Pai, a extrema agonia exigiu de Jesus um sobre-
humano esforço. Ele sofria tão acima do
humanamente suportável, que os seus poros se
dilataram, não podendo mais reter o seu sangue,
deixando escapar, pele a fora, aquela preciosa seiva
salvadora.

19
Lucas 22:42

78 A FACE OCULTA DE DEUS


O  TENEBROSO  ABISMO
 
O profundo negror do abismo aberto entre o Pai e o
Filho, uma vez mais, parecia engolir a sua alma no
desespero.
A mente finita não é capaz de avaliar com
exatidão tudo o que estava envolvido naquele
momento de extrema agonia.
Mas, eu posso crer que, ao longo de toda
aquela suprema angústia, algo de muito intenso
estava ocorrendo no coração de Deus.
Afinal, para um ser divino, cuja essência é a
mais absoluta unidade e a mais perfeita harmonia;
uma separação, rápida que fosse, é algo
inimaginável.
Explicar a sobre-humana dor de Cristo, só
nos seria possível se disséssemos que a sua
angústia era tão maior que a nossa, quanto a sua
grandeza divina é infinitamente maior do que a
nossa humanidade.
Cristo precisava vencer o pecado no lugar de
Adão.
Jesus era um homem sofrendo como Deus.

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 79


Algo inexplicável se interpôs entre o Pai e o
Filho, e uma vez mais, entre eles, se abriu o infinito
precipício. Um terrível inferno sem fim, cuja
escuridão faz desaparecer a alma, cuja
profundidade faz sumir o espírito.
Algo estava se rompendo em Deus, algo que
não pode ser mensurado por nossa mente finita.
Estava havendo uma ruptura entre o Pai e o Filho;
uma fenda no seu amor; um abismo no coração de
Deus; um ferimento tão profundo que certamente
deixará cicatrizes eternas.
Que difícil decisão!

TRAUMATIZADA  PELA   DECEPÇÃO 


Em 1989, eu e minha esposa lutávamos para
solidificar um restaurante vegetariano do qual
éramos sócios. Ainda que o nosso sócio fosse sócio
majoritário, sem nos avisar ele resolveu ficar
também com o pouco do restaurante que nos
pertencia. Devido ao grande trauma sofrido pela
perda da nossa única fonte de renda, somada à
decepção com o nosso sócio cristão; Linda, a minha
esposa, adoeceu seriamente. Orei a Deus para que

80 A FACE OCULTA DE DEUS


ela resistisse a mais aquela madrugada de delírios
por causa da febre alta, e assim que o dia
amanheceu, deixando todo aquele pesadelo para
trás, voltamos a Paranaguá. O Azeitona consumia 1
litro de óleo a cada 200 quilômetros, mas ainda
assim, o velho carrinho resistiu percorrer os 750
quilômetros até a minha cidade natal, que fica no
litoral do estado do Paraná.
Estávamos ali, e precisávamos sobreviver,
então abrimos uma fornecedora de comida
vegetariana.
A comida era saudável e apesar de ser
vegetariana, tinha um paladar bastante agradável.
Por esta razão, estávamos indo muito bem.
Numa segunda-feira, assim que voltei de uma
entrega, estacionei o azeitona, meu velho carro, na
porta de casa. Entrei a fim de me reorganizar para
fazer novas entregas. Ao passar pela sala de espera,
cumprimentei um rapaz que retribuiu com um
menear de cabeça. Fui direto para a cozinha, onde
Linda se escondia atrás das panelas.
Ela parecia um pouco sobressaltada, e eu lhe
perguntei:
— Querida, tudo bem?

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 81


— Algo diferente aconteceu aqui hoje, — disse
ela.
— Há poucos minutos, aquele rapaz que está
na sala de espera se fez anunciar, e entrou aqui. Ele
me contou uma história surpreendente. E agora
está aguardando por você na sala de espera.

CASADO  COM  UMA   MÁQUINA 


Fui até onde ele estava, e me apresentei:
— Olá amigo. Eu sou o Fábio, em que posso
ajudá-lo?
Ele tinha os olhos mareados e uma aparência
de fragilidade. Me olhou um tanto emocionado, e
disse:
— Eu sou Jessé de Alcântara, e vim aqui
indicado por amigos que sabem do meu problema
de saúde.
— Há poucos minutos — continuou ele — algo
muito diferente me aconteceu, quando a sua esposa
gentilmente me atendeu, e me pediu que
aguardasse na sala de espera. Ali, ouvindo aquelas
músicas instrumentais, de repente senti uma

82 A FACE OCULTA DE DEUS


felicidade que até então eu nunca havia
experimentado.
Foi então que ele me contou uma das mais
inacreditáveis histórias.
Ele me disse que sempre foi um cristão
praticante. Que desde pequeno sempre procurou se
envolver nas atividades da sua igreja. Porém, há
alguns anos, algo muito triste lhe aconteceu.
Quando ele fez dezenove anos, descobriu que
estava com insuficiência renal aguda.
— Pareceu que o mundo tinha caído em cima
de mim — disse.
Jessé estava morrendo de medo quando saiu
da sala do médico, pois sabia que teria que
enfrentar incontáveis e dolorosas sessões de
hemodiálise.
— E se algo desse errado? — me confidenciou.
E continuou dizendo:
— Confesso que aos dezenove anos, eu não
me sentia preparado para enfrentar o juízo eterno.
Foi aí que pela primeira vez na vida eu realmente
pensei no meu futuro. Será que realmente haveria
um futuro para mim?

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 83


Assim que começou a fazer as sessões de
hemodiálise, percebeu que dali por diante, os seus
poucos dias de vida seriam duvidosos e cinzentos.
— Afinal de contas, — dizia — agora estava
casado com uma máquina que me sugava por
dentro.
Foi sofrendo que ele entendeu que tudo o que
realmente precisava para ser feliz, não era mais do
que apenas ter saúde, e estar em paz com o seu
Criador.
Jessé entrou para a longa fila de espera por
um transplante de rim. Os amigos lhe haviam dito
que muitos morriam antes mesmo de conseguir o
transplante.
Neste ponto, Jessé franziu um pouco a testa,
apertou os lábios, e continuou contando:
— Consciente da minha até então efêmera
vida de futilidades, resolvi apelar para Deus. Foi só
ali, quando eu estava deitado numa cama de
hospital, que realmente olhei para o céu pela
primeira vez. É curioso como, por vezes, Deus se
obriga a permitir que a mão do inimigo pese sobre
nós, para que nos conscientizemos de que a vida é
muito mais do que apenas respirar e se divertir.

84 A FACE OCULTA DE DEUS


As suas dolorosas sessões de hemodiálise se
tornaram cada vez mais frequentes.

UMA  CARTA  SALVADORA 


Já havia passado muito tempo, e Jessé ainda
esperava na fila do transplante. O dia em que o
carteiro parou na frente do seu portão, e sorriu, ele
quase não pôde acreditar.
O carteiro tinha na mão uma carta com a
logomarca da entidade de transplantes.
— Minhas pernas vacilaram como se houvesse
acontecido um terremoto — comentou.
Devido às suas muitas desilusões ele desejou
muito que a carta salvadora não fosse apenas mais
um terrível engano. Expectante, ele leu onde dizia
“endereçado”. Ali estava o seu nome, Jessé de
Alcântara. Ainda um pouco vacilante, ele abriu a
carta; orava em seu coração para que, finalmente,
houvesse chegado a sua vez de receber vida.
— Do fundo do meu coração, — dizia ele — eu
só queria voltar a fazer as coisas simples da vida. Eu
desejava apenas poder correr na grama com os pés
descalços, e sentir a grama molhada sob a pele. Eu

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 85


só queria poder comprar pão de bicicleta e sentir,
mais uma vez, o vento pentear o meu cabelo. Eu só
queria poder me sentar na varanda e contemplar as
flores, sem estar casado com aquela impiedosa
máquina, que três vezes por semana vasculhava o
meu corpo atrás da sujeira do meu sangue.
Finalmente, depois de tanto sofrimento,
chegara a sua vez. Ele estava tão ansioso que cinco
dias antes da data marcada, ele viajou para Curitiba.
Não queria correr o risco de perder a sua única
chance. Já com a roupa de hospital, fez os exames
para o tão esperado transplante. Ele sabia que
estava muito debilitado. Por isso, esperar a
aprovação dos médicos para o transplante, foi um
verdadeiro martírio.
Mas, apesar da sua visível fraqueza física,
tudo deu certo.

UMA  HISTÓRIA  INACREDITÁVEL 


Ele estava tão feliz que não conseguia dormir. De
repente, a sua atenção foi chamada para o
lamentoso choro de uma mulher, que vinha lá do
fim do corredor.

86 A FACE OCULTA DE DEUS


— Não parecia ser um choro por causa de
uma dor física, era mais para um lamento de alma —
ele me contava.
Mesmo contrariando as orientações médicas,
Jessé apanhou o suporte do seu soro, e caminhou
em direção àquela aflita criatura. Foi aí que ele
conheceu a Márcia, aquela jovem senhora que
chorava com a alma.
A porta do quarto dela estava entreaberta,
então ele bateu suavemente, e pediu a sua
permissão para entrar. Ele se aproximou do seu
leito, e com voz calma, perguntou:
— Posso fazer alguma coisa por você?
Foi com o coração manquitolando, e em
câmera lenta, que o Jessé disse ter ouvido dela a
mais incrível e surpreendente de todas as histórias.
Certamente daria um ótimo filme.
Ela enxugou as lágrimas, e lhe contou o seu
inacreditável drama.
Márcia disse que também havia nascido num
lar cristão, e que sempre se considerou amiga de
Jesus. Disse ser casada há anos, e que o seu sonho
sempre foi ter um filho. Contou que, por 8 anos, ela
e o esposo fizeram vários tratamentos e depois de

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 87


várias tentativas, ela finalmente engravidou. Contou
que há um ano Deus lhes deu de presente a sua
preciosa princesinha Sofia.
Porém, logo depois do parto, ela passou a
sofrer crises renais severas. Com o passar do tempo
o seu problema foi se agravando. Não suportando
mais a pressão, o seu esposo lhe abandonou. Desde
então, a sua vida se resumiu a cuidar da sua
preciosa filhinha e esperar por um transplante de
rim.
Jessé me contava o que a Márcia lhe
confidenciara:
— “Eu tenho passado noites inteiras em
oração pedindo a Deus para que tenha piedade de
mim. Suplico-lhe para que em sua misericórdia ele
me deixe ver a minha filhinha crescer.”
A iminência da morte fez com que os dias de
Márcia parecessem anos.
Depois de tanta angústia, fazia apenas duas
semanas que ela recebera uma carta. Era do
hospital, e lhe comunicava que finalmente chegara a
sua vez. Ela estava na angustiante lista de espera há
pelo menos três anos. A sua felicidade era tão

88 A FACE OCULTA DE DEUS


grande que ela chegou a ter medo de morrer de
emoção.
— Minha felicidade era tanta que eu quase
não pude acreditar — dissera a Márcia.

UM   EQUÍVOCO  FATAL 
Eu estava acompanhando atento quando o Jessé me
contava emocionado o que a Márcia lhe contara:
— Eu vim para este hospital, certa de que o
meu pesadelo chegara ao fim. Eu tinha certeza de
que, ao sair daqui, eu finalmente voltaria a ter uma
vida. Talvez recuperar meu esposo; ver minha a
minha pequena Sofia crescer. Mas acabo de ser
comunicada que o hospital cometeu um equívoco,
um grande engano. Um terrível erro que eles
chamaram de “uma duplicidade de comunicação”.
— Descobriram — a Márcia dizia ao Jessé —
que os órgãos do transplante que eram compatíveis
comigo e me foram prometidos, também são
compatíveis com outra pessoa, e também lhe foram
prometidos. O problema é que esta outra pessoa
tem primazia sobre mim, por estar esperando há
mais tempo. Os meus rins, pertencem na verdade a

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 89


um senhor chamado Jessé de Alcântara. É ele quem
vai ser transplantado amanhã; e assim, eu volto para
o meu pesadelo, para o corredor da morte.
O Jessé ficara paralisado enquanto Márcia
finalizava a sua inacreditável história:
— Eu estou muito angustiada, pois a minha
única esperança de vida se foi. E eu sinto que desta
vez, não terei forças para suportar tanto
sofrimento. Eu não tenho mais os meus pais, e nem
o meu esposo. E agora? O que será da minha
filhinha?

OUVINDO A   VOZ   DE  DEUS 


Enquanto me contava esta inacreditável história,
Jessé estava com a voz embargada; havia lágrimas
em seus olhos, e ele pigarreou várias vezes. Era
visível a sua emoção.
— Eu estava anestesiado com a história da
Márcia — me disse ele. — Voltei para o meu quarto e
me derramei sobre a cama. Aquele filme de terror
era tão real que eu não conseguia raciocinar.

90 A FACE OCULTA DE DEUS


Ainda tentando se reencontrar em meio a
tantas emoções, ele me contava que fez a mais
sentida oração de toda a sua vida:
— Deus, por favor, tenha misericórdia da
Márcia. O Senhor já realizou em sua vida o milagre
de ser mãe. Agora ela precisa apenas de mais um
milagre. Por favor, Deus, o Senhor pode todas as
coisas. Por bondade, dê mais um pouco de vida para
Márcia. Deixe a Márcia voltar para casa, para ver a
sua filhinha crescer.
Naquele mesmo instante foi que ele ouviu
uma suave voz sussurrando:
— Dê você a sua vida por ela.

Assustado, ele abriu os olhos.
­
— A voz que eu ouvi tinha sido tão real que ao
abrir os olhos busquei por todo o quarto — me
contava. — Era uma voz em estéreo, solene, e tão
serena, como nada que eu já ouvira antes.
Jessé tentou descrever o fenômeno da voz
dizendo que o som não entrara por seus ouvidos;
mas viera de dentro do seu cérebro enchendo o seu
coração.
— Eu me arrepiei sentindo claramente a
presença de Deus — me contou.

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 91


Naquele mesmo instante, ocorreu uma
iluminação em sua mente, e finalmente entendeu
tudo o que precisava.
— Ele estivera ali — me disse. — Eu sei, foi
Deus que falou comigo. Naquela mesma hora eu
entendi por que o Senhor me disse o que disse. Eu
sabia bem o que ele esperava que eu fizesse.

VIVER   OU   DAR  A  MINHA   VIDA? 


— Um estranho torpor se abateu sobre mim
— disse Jessé, — e eu senti muito sono. No íntimo da
minha alma eu sabia o que tinha que fazer, mas era
uma difícil escolha. Uma decisão fatal. Deus me
fizera entender que a vida da Márcia dependia
somente da minha decisão. Se eu decidisse doar a
ela o meu rim, eu daria a ela literalmente a minha
vida.
Jessé me falou da sua extrema angústia diante
da difícil decisão. Seus lábios tremiam e suas mãos
suavam, enquanto a sua garganta parecia lhe
sufocar.

92 A FACE OCULTA DE DEUS


— Eu sabia o que devia fazer, — disse ele —
mas não eu conseguia me decidir. Porém, pela fé, eu
sabia que Deus me dera uma preciosa missão: a
minha vida pela dela. Mas, e se eu estivesse errado?
E se a voz que eu ouvi não fosse mais do que apenas
a minha imaginação? A minha angústia, e a minha
aflição, se arrastaram por aquela madrugada toda.
— E assim que o dia clareou — disse ele — eu
busquei a direção do hospital e fiz um solene
pedido: “Por favor, eu sou o paciente Jessé de
Alcântara, e gostaria de desistir do meu transplante
de rim, em favor da senhora Márcia.’”
O hospital tentou resistir ao seu pedido,
falando de burocracias. Mas o Jessé forçou a
situação, argumentando:
— Vocês sabem que ambos fomos
comunicados para receber o transplante de órgãos
ao mesmo tempo, o que denota um erro
administrativo grave. E vocês sabem não é bom que
isto vaze para a imprensa...
Jessé não soube explicar a verdadeira razão,
mas o fato é que o hospital solicitou a assinatura de
alguns documentos, e deram à Márcia os rins que
por direito eram dele.

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 93


Jessé afirmou que por algum tempo
permaneceu num misto de sentimentos. Por um
lado estava triste, pois sabia que iria enfrentar pelo
menos outros quatro anos de hemodiálises. Por
outro, ele se sentia muito feliz, pois sabia que havia
agradado a Deus, dando, literalmente, a vida para
que a Márcia pudesse continuar a ser mãe.
— Eu me senti até um pouco poderoso, pelo
privilégio de ter sido para Márcia a própria resposta
divina à sua oração — disse ele.
Três meses depois, o Jessé recebeu uma carta
de gratidão. Nela, a Márcia havia escrito as suas
últimas palavras:

“Olá amigo Jessé. Eu gostaria que você soubesse


que, ao me dar a sua vida, você me deu muito
mais do que um mortal poderia me dar.

“Foi através do seu gesto de amor que eu pude


compreender melhor o infinito sacrifício que
Deus fez, ao dar a vida de seu próprio Filho,
para nos salvar.

“Ao me dar a sua vida, você me ajudou a


experienciar Jesus, e eu não tenho mais temor

94 A FACE OCULTA DE DEUS


da morte. Assim como ele usou você para cuidar
de mim, eu sei que ele usará outros bons
samaritanos para cuidar da minha preciosa
Sofia.

“Obrigada por me dar a sua vida.

“Para sempre, sua filha em Cristo Jesus,


Márcia.”

ROMPENDO  COM  A   SUPERSTIÇÃO 


Jessé estava visivelmente emocionado, enquanto
continuava contando a inacreditável história:
— Foi necessário que se passassem dois anos,
para que eu pudesse entender a verdadeira razão
daquela inversão no transplante de rins. Hoje,
quando entrei aqui, e me sentei pensando nos fatos
da vida, ouvi a mesma voz divina que me disse: “Tire
dos seus braços a pulseira e arranque do seu pescoço
o colar. Porque este lugar é especial, e estas pessoas
tem uma mensagem para você.”
Jessé me contou que reconheceu a voz que
lhe falara, e de imediato arrancou o colar e as

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 95


pulseiras que tinha ganhado de presente, como um
amuleto. Foi até onde estava a minha esposa e falou
a ela do intrigante fenômeno. Perguntou à Linda
quem eram as pessoas que viviam ali.
Linda o atendeu, ouviu suas palavras e
gentilmente lhe pediu para aguardar um pouco,
dizendo que logo eu chegaria.
— Confesso que eu estou muito ansioso para
saber o que você tem para me dizer — finalmente
me disse.
Pedi a ele que me acompanhasse, e entramos
em minha casa. Nos ajoelhamos e, em oração, eu
pedi que o Espírito Santo nos orientasse na
compreensão da sua Palavra. Então, eu abri a bíblia
e li algumas passagens. A sua avidez por aprender
era tamanha, que estudamos por quase três horas
seguidas.

DEVORANDO A   BÍBLIA 
Ao longo da bíblia, eu apresentei a ele a preciosa
história do amor de Deus. Começando pelo livro do
Gênesis, eu lhe apresentei a história cronológica do
cristianismo.

96 A FACE OCULTA DE DEUS


Expliquei a ele a triste história do pecado e
também a da salvação pela graça; falei de como
somos justificados pela fé, e julgados pelas obras.
Falei da vida, da morte e da ressurreição de
Jesus. Descrevi com detalhes o imensurável amor de
Cristo por todos os homens, mesmo pecadores. Era
nítida a felicidade no seu rosto. Por fim, ele
desabafou:
— Deus me preservou com vida, para que eu
vivesse até este dia.
Em lágrimas, ele me contou que depois de
mais dois anos de sofrendo e a dura rotina das
hemodiálises, fazia dois meses que ele finalmente
recebera o transplante de um novo rim.
Eu dei a ele um bom livro sobre justificação
pela fé. Emprestei-lhe também dois outros livros: o
primeiro era uma linda biografia de Cristo, e o outro
era sobre orientações para a vida.
Oramos. Ele me abraçou e se despediu
levando consigo a comida e os livros recebidos.
Uma semana depois, ele voltou. Já havia lido dois
dos três livros que levara. Podia-se perceber nele
várias mudanças. Havia um novo brilho, uma alegria
diferente em seu olhar.

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 97


Naquele dia, ele me pediu que lhe ajudasse a
compreender melhor a formação do cânon sagrado.
Queria saber como Deus reuniu os vários livros
sagrados para formar a bíblia. E por que o novo
testamento foi escrito em grego. Estudamos por
mais de quatro horas.
Ele devorava cada palavra. Eu tinha a
impressão que, enquanto eu falava de coisas que eu
levara vinte anos para aprender, Deus colocava em
ordem cronológica o conhecimento a ele
transmitido.
Por fim, ele se despediu dizendo que iria à
capital para fazer exames de rotina, e levaria alguns
dias para voltar. Ele estava diabético por causa dos
remédios ministrados para evitar a rejeição dos
órgãos transplantados. Os fortes efeitos colaterais
haviam afetado seriamente o seu pâncreas.
Um mês depois, vendo que ele não voltava,
procurei saber onde ele morava. Descobri a sua
casa, e fui visitá-lo. Queria saber como ele estava.

98 A FACE OCULTA DE DEUS


GERANDO VIDA   ESPIRITUAL
 
Ao bater à porta, apareceu um homem corpulento,
com dois livros na mão. Antes mesmo que eu me
apresentasse, ele me convidou para entrar.
Estando muito emocionado, ele me abraçou,
dizendo:
— Obrigado Fábio, pelo que você fez por meu
filho.
Confesso que eu fui pego de surpresa pela
sua sentida gratidão. Mas, a julgar pelas lágrimas
que alagaram os seus olhos, eu percebi de imediato
que o pior havia acontecido.
Ele disse que Jessé havia viajado para os tais
exames de rotina. Mas, ao estar no hospital, o seu
estado de saúde se agravou. Os médicos exigiram
que ele ficasse internado para checar melhor o grau
de rejeição dos órgãos implantados e os efeitos
colaterais dos remédios.
Me disse que enquanto Jessé esperava por
alguma melhora, começou a divulgar as novas
verdades que conhecera. Me contou como os
médicos e as enfermeiras se detinham em seu
quarto por longo tempo para ouvir as histórias da

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 99


bíblia que empolgado ele contava. Disse que ele
falava do amor de Deus com tanta convicção que
emocionava os que o ouviam.
Devolvendo-me dois dos três livros que Jessé
levara, seu pai me disse:
— Mesmo antes que a sua saúde piorasse, ele
já sabia que ia morrer, e se preparou para isso. Me
pediu que devolvesse estes dois livros a você, e te
desse este recado:

“Amigo Fábio; ter escolhido dar a minha vida


por aquela jovem mãe, me ensinou duas
verdades:

“A primeira é que, por vezes, Deus não passará


de nós o amargo cálice do sofrimento.

“A segunda é que para ser um verdadeiro


cristão, por vezes, será necessário suar sangue.

“Deus estava absolutamente certo quando disse


que você tinha uma mensagem muito
importante para mim.

100 A FACE OCULTA DE DEUS


“Obrigado, amigo Fábio, por você me ajudar a
conhecer melhor a Cristo Jesus.

“Eu te vejo quando ele voltar.”

DORMIR  PODE SER   PECADO 


A dor da separação com seu Pai foi tão grande que
Jesus não pode sustentar a decisão tomada. E o
amargo cálice amargo do fel do pecado tremeu em
suas mãos pela segunda vez.
Mais uma vez Cristo se levantou, e com muito
esforço, foi ao encontro dos seus amigos.
Mais uma vez Jesus buscava encontrar neles,
alguma empatia em seu sofrimento.
Mais uma vez os encontrou dormindo;
derrotados pelo silencioso inimigo do sono.
Muitos cristãos sinceros agem hoje
exatamente como os discípulos de Jesus. Cuidam-se
para não serem derrotados pelos “pecadaços”, e são
vencidos pelos “pecadinhos”.
Se o inimigo não nos derrotar pelo adultério,
pelo craque, ou pelo roubo seguido de morte, ele se

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 101


contentará em nos levar a dormir, quando
deveríamos estar vigiando em oração. Dormir
quando deveríamos orar, não é mais do que um
pecadinho. Digo isso, porque eu não consigo
imaginar alguém perdendo sua salvação apenas por
ter dormido, quando estava com sono.

UMA  CAMISETA   SUADA 


Há situações que se criam apenas para nos enganar.
Nos dias de hoje, o mundo sucumbe enganado por
uma ardilosa hipocrisia religiosa.
Boa parte da humanidade vive em condições
sub-humanas, comendo bolachas feitas com óleo,
sal e barro. Enquanto boa parte do mundo “cristão”,
vive à larga, atirando as ricas sobras no lixo.
Parece que o nosso cristianismo não
ultrapassa a barreira da teoria da fé, quando deveria
se materializar pela prática das obras.
Em 2013 aconteceu uma tragédia no Rio de
Janeiro, quando durante uma chuva torrencial,
houve uma série de deslizamentos. Muitas mortes, e
muitas famílias desabrigadas. O Brasil inteiro se
comoveu com a dor dos enlutados e desamparados.

102 A FACE OCULTA DE DEUS


Os noticiários destacavam a má sorte, e o
sofrimento, dos milhares de desafortunados.
O coro por socorro era uníssono em todas as
camadas da sociedade. E a resposta veio pronta, e
de muitas maneiras diferentes. Eu me lembro de um
fato que me fez pensar no quanto realmente nos
importamos com a dor do próximo.
Era uma reportagem onde o destaque era o
lindo exemplo dos jogadores de um famoso clube de
futebol. Comovido com a dor dos milhares, um
jogador resolveu arregimentar seus famosos
companheiros de clube, a fim de fazerem uma
campanha em prol dos desafortunados.
A emocionada repórter lhe perguntou:
— Como surgiu esta ideia tão humana e
inspiradora?
Todo emocionado, o famoso atleta disse que,
ao longo de um dos treinamentos da equipe,
enquanto ele conversava com os seus companheiros
de clube sobre a impiedosa tragédia do Rio de
Janeiro, foi que surgiu a iluminada ideia. E então ele
apanhou uma camiseta usada por um atleta famoso,
e todos os seus companheiros de clube
autografaram-na. Depois, eles doaram a camiseta

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 103


autografada para que fosse leiloada, e o valor
arrecadado fosse revertido em benefício daqueles
que haviam perdido tudo.
Eu não me lembro exatamente qual foi o valor
arrecadado; e isto nem é o mais importante.
É preciso, sim, exaltar a boa ação dos bem
intencionados atletas.
Mas, eu posso acreditar que com algum
esforço, qualquer um daqueles bem sucedidos
atletas poderia ter doado sozinho, pelo menos 10
vezes mais.

É  PRECISO  SENTIR   O  ABALO 


Amigos, o problema maior, neste caso, não está na
bem intencionada campanha realizada pelos atletas.
O problema está no quanto eles estavam
pessoalmente dispostos a se sacrificar para ajudar
aqueles que estavam sofrendo.
Não fosse a sincera boa intenção dos atletas,
aquele episódio seria quase uma afronta aos ensinos
de Jesus, quando ele disse que deveríamos amar o
nosso próximo como a nós mesmos. Eu não posso
acreditar que o máximo que aqueles bem sucedidos

104 A FACE OCULTA DE DEUS


atletas poderiam ter pessoalmente doado era
apenas e tão somente uma assinatura numa
camiseta suada.
Como cristãos, nós deveríamos nos dispor a
doar não apenas doar das sobras, mas doar a ponto
de sentir o abalo da nossa doação.

VENCIDOS  POR   UMA  FORMIGUINHA 


Eu citei o episódio dos jogadores, apenas para
destacar que uma atitude inocente pode ter
consequências eternas. Os discípulos de Jesus, de
uma forma ou de outra, escolheram dormir no exato
momento em que ele sofria sobre-humana dor. Este
sono inocente ficou registrado para sempre na
bíblia, como sinônimo de uma grande derrota
espiritual.
A bíblia diz que o mesmo rei Davi que, numa
luta de vida ou de morte venceu um gigante
chamado Golias, caiu diante dos encantos de uma
mulher chamada Bate-Seba.
Este fato revela que se estivermos
totalmente empenhados na fé, poderemos vencer
até um leão selvagem. Mas, se houver

POR QUE JESUS SUOU SANGUE? 105


complacência com as baixas inclinações da nossa
carne, seremos vencidos até mesmo por uma
pequena formiguinha.

106 A FACE OCULTA DE DEUS


O DIA EM 
QUE DEUS 
SANGROU 
S
e já existiu alguém sobre a Terra cuja vida
merecesse ter as suas orações atendidas, este
alguém certamente foi Jesus.
No jardim do Getsêmani, por duas vezes, o
cálice tremeu em suas mãos. No mesmo jardim, por
duas vezes, suas orações não foram atendidas;
então, “deixando-os novamente, foi orar pela terceira
vez, repetindo as mesmas palavras... faça-se a tua
vontade.” 20

20
Mateus 26:44 e 42

O DIA EM QUE DEUS SANGROU 107


Por duas vezes, reunira todas as suas forças,
tentando definitivamente decidir a salvação do
homem. Mas, o seu sofrimento foi tão grande, que
mesmo o mais fervoroso de todos os homens
vacilou por duas vezes.
Ele sabia que, sem que o Filho se separasse do
Pai, não haveria perdão.
Portanto, era absolutamente necessário que
a divindade atravessasse o intransponível abismo
da separação eterna.
Já sem forças e trêmulo, uma vez mais, Jesus
se arrastou para o interior do horto, e orou pela
terceira vez, dizendo: Pai, se não é possível
salvarmos o ser humano de outra maneira que não
seja à custa de nossa separação, então eu aceito me
divorciar de ti.

HOUVE SILÊNCIO NO  CÉU 
Neste instante, uma vez mais, o Pai começou a
retirar de sobre o seu Filho a luz mantenedora do
seu amor.
Uma vez mais, entre o Pai e o Filho se abriu o
tenebroso abismo da separação.

108 A FACE OCULTA DE DEUS


Agora, Jesus estava caminhando sozinho, pelo
vale escuro da sombra e da morte.
Era um inexplicável abismo; tão largo, tão
escuro e tão profundo, que era capaz até de
esconder a onipresença do próprio Deus.
Era como se todos os demônios do universo
tivessem deixado suas atividades para vir tentar um
único homem.
O instrumento do mal sussurrava em seus
ouvidos: “uma vez identificado com o pecador, para
sempre separado do Pai”.
Mais uma vez, o negror das densas trevas
espirituais atormentou a sua atribulada alma, a
ponto de obscurecer os seus olhos da fé.
Pela terceira vez Jesus estava tentando
enfrentar a dor da suprema aflição. Aquela dor que
mata não só o corpo, mas também o espírito.
O Filho de Deus estava sendo sugado pelo o
abismo extremo, do qual só a fé absoluta poderia
trazê-lo de volta.
As únicas testemunhas da sua suprema
agonia eram o tenebroso negror da escuridão, e as
invisíveis criaturas da noite.

O DIA EM QUE DEUS SANGROU 109


Diante de tamanho sofrimento, o universo
inteligente se calou.

A   SEPARAÇÃO  DA DIVINDADE 
Vendo toda a agonia do seu sofrimento, Gabriel, o
anjo maior, pediu ao Pai que o deixasse tomar o
lugar de Jesus. Com voz embargada, Deus o Pai
explicou que nenhuma obra criada poderia passar
pelo escuro abismo do inferno e retornar, senão o
próprio Deus.
Sabendo que não havia outra forma de salvar
o homem, senão à custa do rompimento da sua
eterna unidade, reunindo até a sua última gota de
energia, Jesus bradou, dizendo: ‘‘Faça-se a tua
vontade!’’21

O coração da Trindade sangrou, Deus foi


impiedosamente ferido pelo rompimento da sua
perfeita unidade.

21
Mateus 26:42

110 A FACE OCULTA DE DEUS


Envergonhada a lua escondeu a sua face; as
estrelas fugiram do céu; e a natureza camuflou-se
no escuro da noite.
Houve silêncio absoluto em todo o universo.
Ajoelhados, os anjos se derramavam em
lágrimas.
A divindade cambaleou no trono do
universo, e todos os seres vivos sentiram que era
chegado o final absoluto.

DEUS  ARRISCOU  TUDO 


Durante muito tempo, em minha inocência
teológica, eu pensei que se o plano de Deus para
salvar o homem não desse certo, o Altíssimo
simplesmente passaria uma borracha nos problemas
do passado e começaria tudo de novo.
Porém, se isso fosse verdade, onde estaria o
verdadeiro sacrifício de Deus para nos salvar?
Quanto Deus teria realmente arriscado para o nosso
bem?
Amigos, todos os anos, no nordeste do Brasil,
certos homens um pouco embriagados se deixam

O DIA EM QUE DEUS SANGROU 111


literalmente crucificar, pregados no madeiro. É sim,
um grande sacrifício, mas nem por isto eles vão
salvar alguém.
O verdadeiro sacrifício de Jesus foi muito
além da cruz.
Se a Deus não corresse o risco de um sério
prejuízo real, todo o sacrifício da divindade para
nos salvar seria apenas e tão somente um grande
faz de conta.
Compreender o quanto realmente Deus
arriscou para nos salvar, elevará o nosso amor a
limites que jamais permitirão ao pecado se levantar
uma segunda vez.
O Pai, assim como também o Filho,
carregarão por toda eternidade a profunda cicatriz
que a ruptura pelo pecado deixou no coração de
Deus.
Ao ver a cicatriz eterna, fruto da ruptura feita
no coração de Deus causada pelo tenebroso abismo
da separação, nenhum ser criado jamais suportará a
ideia de ver tamanho sofrimento se levantar sobre o
coração de Deus uma segunda vez.

112 A FACE OCULTA DE DEUS


UM  RAIO  SAIU   DO TRONO  DE  DEUS
 
Depois de alguns segundos, que mais pareceram
anos luz, do trono de Deus saiu um raio vivo.
Era Gabriel, o anjo superior, que como um
raio de luz rompeu o céu, vindo em socorro do Filho
de Deus. Ele sustentou o desfalecido corpo do
Messias sobre o seu antebraço esquerdo. Apoiou
sua sanguinolenta cabeça sobre o seu próprio peito.
Apontou com a sua mão direita para o céu, que se
enrolou como um grande pergaminho azul, e com a
voz ainda embargada, disse: Jesus, Filho do Deus
Altíssimo, vê o fruto do teu trabalho, e fica satisfeito.
Mesmo estando ainda com a sua visão
embaçada, Jesus viu que muitos pecadores
aceitariam o seu sacrifício. Recebeu alento desta
profética visão, e finalmente, se levantou vitorioso.
Gabriel só recebeu a permissão para socorrer
Jesus, depois que ele tomou a definitiva decisão de
salvar.
Isto nos faz entender que, em casos de fé
extrema, o céu só vai nos socorrer após a nossa
definitiva decisão ser tomada.

O DIA EM QUE DEUS SANGROU 113


Assim foi na vida desastrosa do patriarca Jó,
cuja fé extrapolou os limites do seu próprio
sofrimento.
Assim foi também com Abraão, cujo sacrifício
de fé foi muito além da sua própria razão.

UMA  MUDANÇA   NA   ESSÊNCIA   DE  DEUS 


Falando da Pessoa de Deus, o texto sagrado diz: “em
quem não pode existir variação ou sombra de
mudança.”22
Este texto deixa bem claro que Deus não
muda nunca. Não melhora, não cresce, não se
aperfeiçoa; pois Deus é a mais absoluta perfeição.
Não há como aperfeiçoar aquilo que já é
absolutamente perfeito.
Eu sinceramente acredito que, se Jesus
tivesse fracassado e pecado, a sua separação do Pai
se tornaria permanente, tão permanente quanto se
tornaria o pecado.

22
Tiago 1:17

114 A FACE OCULTA DE DEUS


Essa ruptura na unidade de Deus mudaria a
essência de quem Deus é.
Que consequências isso teria para a
divindade?
Deus é quem ele é, justo por ele ser
exatamente como ele é.
Absolutamente perfeito, em quem não há
sombra de variação.
Mas, se em Deus algo realmente mudasse,
uma variação, mínima que fosse, ele deixaria de ser
exatamente quem ele é, para ser outro que ele não
é.
Eu só me arrisquei a escrever estes últimos
parágrafos, para dizer que:
→ A divindade arriscou absolutamente tudo
para salvar você.
→ O céu todo estava em risco.
→ O equilíbrio do universo dependia da vitória
do Cordeiro.
→ Se a essência eterna da Divindade mudasse,
haveria um caos universal.
→ E todas as células vivas estariam em risco de
desexistir.

O DIA EM QUE DEUS SANGROU 115


→ Lembre-se: o sofrimento de Cristo foi tão
maior que o sofrimento humano, quanto o
Criador é maior do que a criatura.
→ Jesus sofreu na exata medida da sua
santidade.
→ Deus arriscou tudo: o domínio da Terra, a
integridade dos anjos, a harmonia do céu, o
trono do universo, e até a essência da sua
própria unidade perfeita.
→ Ele ariscou absolutamente tudo, apenas para
salvar você.

116 A FACE OCULTA DE DEUS


NA FORNALHA 
CONOSCO 
O
nosso processo de santificação,
dependendo do nosso empenho, pode
requerer que sejamos levados aos extremos
da nossa fé.
O fato é que, mesmo quando Jesus agonizou e
suou sangue no jardim do Getsêmani, o anjo Gabriel
não veio para evitar que Jesus bebesse do amargo
cálice do fel do pecado, senão para fortalecê-lo, a
fim de que dele o bebesse.
O processo da restauração da imagem de
Deus no homem, de alguma forma, sempre

NA FORNALHA CONOSCO 117


envolverá beber algumas gotas, e quem sabe até,
alguns goles, do amargo cálice do sofrimento
injusto.
Deus não nos prometeu que enviaria um anjo
do céu para evitar que entrássemos na ardente
fornalha da fé, ou que ele nos tiraria de dentro dela.
O que ele prometeu foi que sempre entraria na
fornalha conosco.

UM   VERDADEIRO MILAGRE 
Em 1999, eu a minha família aceitamos a desafiante
responsabilidade de pastorear oito igrejas no litoral
do estado do Paraná.
Era uma região histórica, de vários rios e
muito verde. Compreendia um grande território
que abrangia longas distâncias, indo desde a
exuberante e isolada Ilha Rasa, na pitoresca e
antiguíssima cidade de Guaraqueçaba, até a
aconchegante e tranquila cidade de Antonina, onde
nós morávamos.
Era o ensolarado mês de janeiro de 2001, e
nós estávamos de férias. Naquela morna tarde de
verão, eu e minha família recebemos para o lanche

118 A FACE OCULTA DE DEUS


da tarde vários rapazes e moças da igreja local.
Assim que nós terminamos de lanchar, eu convidei o
grupo para que passássemos para o segundo andar
da casa onde havia uma sala muito espaçosa e
ventilada.
O grupo era muito falante e animado, e
conversamos sobre muitos assuntos. Como eram
rapazes e moças da igreja, curiosos eles me pediram
falasse sobre alguns momentos marcantes do meu
ministério. O dia a dia do ministério pastoral
envolve variadas situações espirituais o que por si
só já favorece viver situações curiosas e marcantes.
Assim, eu resolvi falar de como Deus me dera o
privilégio de viver alguns milagres.
Eu havia acabado de contar a eles a história
de um triste acidente de carro ocorrida em 1995, na
grande cidade de São Paulo, que ceifou a visão do
meu amigo, o jovem pastor Alan Rodrigo de Melo.
Contara a eles, com alguma riqueza de
detalhes, como havia sido o acidente e como a
lataria do carro arrancara o seu olho esquerdo. Eu
havia acabado de comentar o diagnóstico dos
médicos apresentado à família: “Com a amputação
da sua vista esquerda, e por causa dos 12
fragmentos de vidros que se alojaram na sua vista

NA FORNALHA CONOSCO 119


direita, sentimos muito, mas ele tem apenas 1% de
chance enxergar novamente.”
Justo quando a conversa passava por um tom
triste de lamento, ouvimos uma insistente buzina
em frente da minha casa. Da espaçosa sacada de
onde estávamos, nós pudemos ver que se tratava de
um automóvel novo, cujos vidros eram escuros o
suficiente para tornar impossível ver quem estava
ao volante.
Eu pedi licença ao grupo de jovens, desci pela
espiralada escada de ferro e me apressei o quanto
pude para atender a visita.
Ao sair do carro o motorista sorriu e abriu os
braços. E aquela conhecida voz grave surgiu feliz
atrás do seu sorriso, dizendo: Surpresa!
Nada havia sido combinado, mas ali estava em
pessoa, o outrora acidentado pastor Alan Rodrigo
de Melo, o meu amigo das horas difíceis.
Eu o abracei sentidamente por algum tempo.
Recuperando o fôlego eu me dirigi ao jovem grupo
de amigos que, curiosos, observavam tudo da
sacada da casa. Então eu disse:
— Amigos, este é o pastor Alan Rodrigo, sobre
quem falávamos ainda agora. Ele acaba de chegar de

120 A FACE OCULTA DE DEUS


São Paulo, veio para nos fazer uma agradável
surpresa.
— Que bom vê-lo, amigo. Traga a sua família e
entre; temos visitas.
Atônito o jovem grupo de amigos ficou
paralisado olhando do alto da sacada. Enquanto
subíamos podíamos ouvir ao fundo os curiosos
comentários feitos em voz baixa:
— Será que eu entendi direito? Este á aquele
de quem falávamos? O pastor que ficou cego por
causa do acidente de carro?
— Não pode ser, como ele estaria dirigindo o
próprio carro? — Disse alguém.
— Claro que não! — respondeu uma das
garotas do grupo — Só se tivesse acontecido um
milagre.
Tão logo subimos, eu, o pastor, a sua esposa e
os dois filhinhos do casal, nos assentamos na roda.
Era um círculo feito de cadeiras dispostas para
acomodar o grupo de jovens. E assim que nos
assentamos, eu me dirigi a eles, e sorrindo, disse:
— Amigos, este é o pastor Alan Rodrigo, sobre
quem nós conversávamos, minutos atrás.

NA FORNALHA CONOSCO 121


Foi um susto!
­
Os jovens quase não puderam acreditar.
Ali estava, diante deles, o jovem pastor Alan;
aquele mesmo que sofrera o acidente de carro, e
ficara 99% cego.
Que grandioso milagre!
Ele estava vendo. E não somente vendo, mas
vendo e dirigindo o seu próprio carro.

DE  VOLTA   ÀS   OVELHAS 


Diante da feliz surpresa do grupo, mais uma vez eu
me lembrei da conversa que tivemos pelo telefone
quatro anos antes, quando recém acidentado e
ainda enfeixado o pastor Alan se lamentava,
dizendo:
— Eu tenho medo que a minha iminente
cegueira faça escorrer por entre os meus dedos o
sagrado ministério que o Senhor me confiou.
Poucas pessoas podem avaliar o que o
ministério pastoral significa para um homem que
tenha sido realmente chamado por Deus. A missão
que recebemos de Deus toma proporções tão

122 A FACE OCULTA DE DEUS


abrangentes em nossa vida que por ele abdicamos
de tudo. Pelo chamado divino, nós dedicamos todas
as horas de todos os dias, de todos os meses, de
todos os anos, de toda a nossa vida.
Para um verdadeiro pastor, não existe vida
longe do cuidado das preciosas ovelhas de Cristo.
Perder o ministério é como ser privado de todos os
outros motivos para viver.
Enquanto os rapazes e moças ainda se
recuperavam da grande surpresa, eu solicitei ao
jovem pastor que nos contasse como tudo
aconteceu.
— Não vindo de família rica, eu me formei em
teologia com muitas dificuldades. Para custear
minha faculdade foram quatro anos trabalhando na
marcenaria até mesmo nos feriados.
Emocionado ele falava olhando fixo para o
quadro de um barco pendurado na parede.
— Os meus olhos — continuou ele — inchavam
muitas vezes estudando madrugadas adentro para
apresentar uma monografia a cada semestre. Eu
reunia cada centavo afim de comprar alguns dos
muitos livros que precisava ler ao longo do
semestre. Eu tinha muitos planos para o meu

NA FORNALHA CONOSCO 123


ministério. Suportei tudo porque eu queria fazer do
meu pedacinho de mundo um mundo melhor.
O absoluto silêncio enquanto o narrador
falava, demonstrava quão atendo estava o grupo.
— Quando aquele inexplicável acidente
aconteceu — seguiu ele dizendo — eu entendi que
aquela tragédia não havia me tirado apenas os olhos
mas, ao me deixar em total escuridão, ele roubara
também todos os meus sonhos.
Nesta altura do seu relato, a sua voz era
visivelmente vacilante.
— Então, diante da escuridão que envolvia a
minha alma, eu tentei não perder o único fiozinho
de esperança que me restara junto com aquele 1%
de vista.
— Nesse momento — disse ele — eu me
lembrei das palavras dos três hebreus quando
ameaçados de morte por se recusarem adorar a
estátua feita pelo rei Nabucodonosor:
“E quem é o deus que vos poderá livrar das
minhas mãos? Responderam: quanto a isto não
necessitamos de te responder. Se o nosso Deus,
a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos
livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas

124 A FACE OCULTA DE DEUS


mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não
serviremos a teus deuses, nem adoraremos a
imagem de ouro que levantaste.”23
Falando quase como se ele mesmo estivesse
na presença do rei Nabucodonosor, ele sentenciou:
— Mesmo estendo na iminência da cegueira
definitiva, eu decidi que, assim como os condenados
jovens hebreus, eu também permaneceria firme ao
lado de Deus. Pois Deus não nos prometeu que
enviaria um anjo para nos tirar da fornalha, senão
que o próprio Deus entraria na fornalha conosco.
Nesta altura do seu relato, ele fez um ar de
riso com um dos cantos da boca, e continuou...
— Por fim, assim como por razões que só o
céu poderá um dia explicar, Deus não livrou da
ardente fornalha os três jovens hebreus que
entraram no fogo por causa da sua fé, ele também
não pode me livrar daquele infeliz acidente. Mas
assim como Deus os livrou de serem mortos
queimados pelo fogo, assim eu também sobrevivi ao
acidente.

23
Daniel 3:15-18

NA FORNALHA CONOSCO 125


À medida em que ele falava, foi ficando cada
vez mais emocionado, e derramando uma lágrima
solitária no canto do olho, concluiu:
— Assim como Deus lhes devolveu a sua
preciosa liberdade e a sua missão de pregar entre os
estrangeiros, assim também, por um verdadeiro
milagre, Deus não só me devolveu luz à visão, como
também trouxe de volta o meu sagrado ministério.

126 A FACE OCULTA DE DEUS


EPÍLOGO: POR 
QUE JESUS 
VACILOU? 
H
á muitos anos que, ao longo de quase todas
as madrugadas, eu medito na maravilhosa
história do amor de Deus.
Em uma certa madrugada, me deparei com a
seguinte pergunta: Por que o amargo cálice do fel
do pecado tremeu nas mãos de Cristo por duas
vezes? Do que Jesus teve tanto medo?

EPÍLOGO: POR QUE JESUS VACILOU? 127


O  MAIOR  MEDO  DE  JESUS
 
A primeira reposta que me ocorreu foi que Jesus
teve medo de enfrentar a morte na cruz. Esta é uma
boa reposta, e está 100% correta.
Porém, depois de muito pensar eu me deparei
com o curioso fato de que, no episódio que
envolveu a cruz, Jesus sangrou por causa das suas
muitas contusões. Ele sangrou por causa das
bofetadas que desfiguraram a sua face. Sangrou por
causa das duas quarentenas de açoites que
dilaceraram as suas carnes. Na cruz ele sangrou por
causa dos maciços pregos de dezoito centímetros
que foram impiedosamente cravados em suas mãos
e pés. Naquela escura noite sem luar, Jesus sangrou
por causa dos pontiagudos espinhos da imerecida
coroa que com violência lhe foi cravada na cabeça.
Por fim, ali no horto, o seu sangue verteu por causa
da enorme fenda aberta em seu flanco rasgado pelo
ferro afiado da impiedosa lança.
Porém, naquela angustiante madrugada no
interior do jardim do Getsêmani, o sangue do Filho
de Deus vasou do seu corpo humano sem que
houvesse nenhuma contusão física.

128 A FACE OCULTA DE DEUS


Jesus sangrou porque ele era apenas um
­
homem sofrendo a dor de Deus.
­
Depois de alguns anos, eu concluí que Jesus
teve medo de que enfrentar o inexplicável e
tenebroso abismo que causou o rompimento do seu
coração ao ser interrompida a sua perfeita unidade
com o Pai.
E esta resposta também está absolutamente
certa.
Passados mais alguns anos, eu passei a achar
que seu medo maior foi por causa do risco
envolvido no seu sacrifício. Afinal de contas, a vida
de todos os seres vivos e a integridade de todo o
universo dependiam da sua vitória.
E esta resposta está tão certa quanto as
anteriores.
Só agora, trinta e cinco anos depois, eu
acredito que finalmente encontrei a reposta que eu
tanto procurava.
Hoje, eu creio que a principal razão para que
o cálice tenha tremido em suas mãos por duas
vezes, foi porque Jesus teve medo de perder você.
Ele temeu que o seu corpo humano não fosse
suportar à dor da separação com o Pai. Ele

EPÍLOGO: POR QUE JESUS VACILOU? 129


acreditou, sinceramente, que fosse morrer. E
morrendo, ele teria fracassado em sua missão de
salvar, e consequentemente, ele teria perdido você.
Sim amigo, o Filho de Deus não conseguiu
imaginar como seria a sua vida por toda a
eternidade, sem você.
Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, suou
sangue e desfaleceu por duas vezes diante do
tenebroso abismo do pecado, por medo de perder
você. E esta é a maior de todas as verdades da
bíblia.
Porque para o Filho de Deus, seja você quem
for, tenha você o defeito de caráter que tiver, para
Emanuel, o Deus conosco, você é a mais preciosa
obra da criação de Deus.
Foi ali, naquele escuro e gelado jardim que o
Pai e o Filho tiveram a sua alma despedaçada pelo
tenebroso abismo da separação.
Foi ali, no jardim do Getsêmani, que naquele
dia Deus sangrou; e o seu sangue divino, ao cair na
terra, semeou sobre todos a sua salvação.
Lembre-se: foi ali, no escuro daquele singelo
jardim, que Jesus enfrentou a suprema angústia de
arriscar tudo, literalmente tudo, para salvar você.

130 A FACE OCULTA DE DEUS


Foi ali, naquele dia em que depois de suar o
seu sangue divino, diante do tenebroso abismo da
separação, Jesus viu o cálice tremer em suas mãos
por duas vezes.
Em jogo estava o trono do universo...
Havia um risco real ameaçando a existência
de todas as células vivas...
Até mesmo a essência e a integridade da
própria divindade corriam o risco de mudar...
E tudo isso que aconteceu com Deus foi
apenas para salvar você.
Sim! Por você! Apenas por amor a você!
E agora?
O que é que você vai fazer a respeito disso?

Fábio cancela 
GSD 

EPÍLOGO: POR QUE JESUS VACILOU? 131


PALAVRAS  DO AUTOR 
Amigo, sinta-se à vontade para adquirir os nossos
livros através dos contatos indicados na última
página.
Este trabalho não é financiado por nenhuma
instituição física ou formal, logo, a continuidade
dele depende da colaboração dos leitores e amigos.
Assim, você poderá dar o suporte necessário para a
continuidade deste ministério.
Se você gostou deste livro, ajude a divulgá-lo
dando vida a este ministério. Compartilhe nossos
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divulgar a preciosa história do amor de Jesus.
Que o Altíssimo te bendiga sempre, e a todos
aqueles a quem você ama.

Fábio Cancela 

133
OUTRAS   OBRAS   DO  AUTOR 

Coleção Gotas de Sabedoria 
Volume 1 – A Face Oculta de Deus
Volume 2 - Transplantados Pelo Espírito*
Volume 3 – Medalhas Do Evangelho*
Volume 4 - A Trilogia De Pedro*

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135
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136 A FACE OCULTA DE DEUS


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Que o Altíssimo te bendiga sempre, e a todos
aqueles a quem você ama.

EPÍLOGO: POR QUE JESUS VACILOU? 137

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