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literário do
Jornal A União
Abril - 2019
Ano LXX - Nº 2
R$ 6,00
Exemplar encartado no jornal A União apenas para assinantes. Nas bancas e representantes, R$ 6,00
6 índice
, 4 @ 12 2 14 D 24
poesia crítica cinema música
Milton Marques Júnior Hildeberto Barbosa Filho Francisco Gil Messias Maria Aparecida L.
analisa o poema "As aponta equívocos na comenta o lançamento, Francisco aprecia o CD
Cismas do Destino", que crítica de José Aderaldo no Brasil, do filme Anna Citizen 18, de Washington
considera uma das linhas Castello e Flávio R. Kothe Karenina: A História de Espínola, e explica por
de sustentação do EU, de à obra de Augusto dos Vronsky, do diretor Karen que o artista atingiu a
Augusto dos Anjos. Anjos. Shakhnazarov. maioridade musical.
PABX: (083) 3218-6500 / ASSINATURA-CIRCULAÇÃO: 3218-6518 / Comercial: 3218-6544 / 3218-6526 / REDAÇÃO: 3218-6539 / 3218-6509
6 ensaio ilustração: domingos sávio
Teleologia
e as significações se camuflando
sob a linguagem aparente que se
lê. A linguagem literária, mais do
que qualquer outra, tem dobras e
mais dobras, sob as quais se re-
U
m dos grandes problemas da humanidade é a lingua- tenho certeza: dicionários, léxi-
gem. Embora tenhamos sido programados para falar, cos, glossários, mesmo os espe-
isso não significa que nossa expressão linguística nos cializados, se ajudam não são su-
isenta de erros e de equívocos. Se no dia a dia temos ficientes para o desvendamento
problemas de entendimento, as nossas dificuldades do léxico de Augusto dos Anjos.
aumentam exponencialmente, quando a linguagem É preciso que estejamos sintoni-
é utilizada com significações particulares. Digo isto zados com as suas leituras e bus-
porque sei o quanto o adensamento da linguagem no car nos autores especializados o
campo filosófico afasta o vulgo da apreensão da filoso- sentido da sua linguagem estra-
fia. No que diz respeito à linguagem artística, na nar- nha ao cotidiano e, ainda mais,
rativa ou na poesia, o adensamento tem ainda como à poesia. Além do vocabulário
aliado o não-dito ou o interdito, com o pensamento filosófico ou do léxico explicita- c
Augusto
e mais dois historiados
A
lguns historiadores da literatura, para além dos equí- saios monográficos que recolocam
vocos e estereótipos que repetem em relação à poesia Augusto em zona literária melhor
de Augusto dos Anjos, são extremamente lacunosos, definida, auxiliaria, sem dúvida,
se considerarmos o crescimento, sempre renovável, o historiador a não recorrer a esse
de sua fortuna crítica. Visito, aqui, dois deles, impres- chavão da crítica. Um Ferreira
sionado com as impropriedades de seus argumentos Gullar, um Mário Chamie, um Zé
esvaziados de qualquer força exegética e eivados de Maria Pinto e um Henrique Duar-
preconceitos analíticos. São eles: José Aderaldo Cas- te Neto, por exemplo, direta ou in-
tello e Flávio R. Kothe. diretamente elucidam a contento
Em A literatura brasileira: origens e unidade (1999), o his- esta questão, em seus respectivos
toriador paulista insere Augusto dos Anjos no segundo estudos acerca da poesia de Au-
volume da obra, capítulo XV, sob a rubrica de “Antece- gusto dos Anjos.
dentes imediatos do modernismo – persistências e reno- Se se pode considerar o poema
vações literárias”. Acertando quando afirma que o poeta de abertura do Eu, “Monólogo de
paraibano nem é simbolista nem parnasiano, tende, no uma sombra”, uma espécie de pro-
entanto, a reduzir a amplitude e a ambiguidade de seu fissão de fé, tal assertiva mereceria
lirismo, ao defender a ideia de que o autor de “A árvore exame mais minudente, sobretu-
da serra” é o autêntico “herdeiro do no que diz respeito ao caráter
Foto: reprodução internet personalíssimo da poesia cientí- singular da “dor estética”, obvia-
fico-filosófica que, com a ‘realis- mente diversa da dor humana, e
ta’, precedeu o Parnasianismo”. cuja expressão melhor se forma-
A leitura atenta do texto poético, liza nos âmbitos da obra de arte.
associada ao exame de alguns en- Escapa, aqui, ao historiador, um
ingrediente essencial
Foto: Salomão Sousa do poema, trazido à
Flávio R. Kothe,
baila pelo agudo en-
autor de O cânone saio de Abrahão Cos-
republicano I ta Andrade, “Origem
da moderna poesia
brasileira”, publicado
no livro, em coautoria
com Hildeberto Bar-
bosa Filho, Augusto
José Aderaldo dos Anjos: origem e mo-
Castello, autor dernidade (2012). Refi-
de A Literatura ro-me ao fato de que
Brasileira: origens e predominam no poe-
unidade (1500-1960)
ma a voz e a visão da c
6 cinema
O ponto de vista do
amante
Francisco Gil Messias
gmessias@reitoria.ufpb.br
A
s possibilidades da arte são ilimitadas. te último, o que faz toda a diferença. Para
As variações em torno de um mesmo se ter uma ideia, é como se o Dom Cas-
tema são infinitas. Escrevo isto ao ler a murro de Machado de Assis fosse narrado
notícia do lançamento, aqui no Brasil, de não por Bentinho mas por Escobar. Seria
um filme que reconta a história de Anna outra coisa, inevitavelmente.
Karenina, personagem célebre do livro De forma resumida, como deve lem-
homônimo de Tolstói. Até aí nada de brar o leitor, o enredo de Anna Karenina
mais, uma vez que já foram filmadas inú- no fundo é a história de um adultério,
meras versões do livro, considerado clás- tal como Madame Bovary, de Flaubert. As
sico da literatura universal. A novidade duas histórias, inclusive, são, em suas
agora é que a trama amorosa que envolve linhas gerais e na medida do possível,
a protagonista, seu marido e seu amante, semelhantes: uma entediada esposa que
Vronsky, é contada do ponto de vista des- provavelmente casou sem amor, o apare- c
6 poesia
A
s comemorações dos 70 anos de criação do Correio das Artes rados da novíssima geração da
tiveram continuidade, na manhã do dia 29 de março, com o poesia paraibana, a exemplo de
Sarau Poesia da Paraíba, realizado na Praça da Alegria, no Jon Moreira, autor deste
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade poema sem título:
Federal da Paraíba (CCHLA/UFPB), Campus I, João Pessoa. O
encontro, organizado pelos professores e poetas Amador Ri- louvado seja deus
beiro Neto e Expedito Ferraz Jr., ambos da UFPB e colunistas que nunca pegou uma fila
do suplemento de literatura e artes do Jornal A União, reuniu nunca maldisse
autores de várias gerações, numa demonstração de força es- uma reunião de condomínio
tética e diversidade da poesia paraibana. de departamento, de pais, do sindicato...
Na ocasião, o jornalista e escritor William Costa, editor do louvado seja por nunca ter recebido
Correio das Artes, fez um resumo dos 70 anos do suplemen- visita de parente distante
to, destacando sua importância na divulgação da literatura e nunca ter andado
das artes não só paraibanas, mas brasileiras, de modo geral. de chinelos em dia de chuva
Explicou, também, o processo de edição e, após sua explana- por nem saber o que é um ônibus
ção, convidou os estudantes que estão se iniciando em artes às seis da tarde
visuais ou literatura, por exemplo, a enviarem colaborações nem acordar às seis
para o Correio das Artes, como forma não só de divulgarem
seus trabalhos, mas também no sentido de participarem da bendito deus
sempre necessária renovação editorial do suplemento. que nunca desgraçou
Expedito Ferraz Jr. e Amador Ribeiro Neto também fize- o dedo mindinho na quina dos móveis
ram referências ao papel que, historicamente, vem sendo de- que não tem um vizinho sequer
sempenhado pelo Correio das Artes, não só na promoção da que escuta amado batista
literatura, por exemplo, como também na avaliação crítica louvado seja deus
de uma produção cultural brasileira. Ambos se reportaram que nunca pagou um boleto
ainda ao significado de serem colunistas do suplemento, que do contrário
adicionou pontos positivos a trajetória de ambos na poesia e o inferno seria uma eterna fila de banco
no magistério. Amador e Expedito exercitam, prioritariamen-
te, a crítica literária, em suas colunas no Correio das Artes.
Expedito I(mar)gem 1
Ferraz Jr. lê
poemas de seu
livro O visgo
Sou rio caudaloso
das coisas... Multidão vermelha
Espreguiçando-se na navalha
Explorando o desejo encardido e medieval
Languidamente tenho as direções possíveis
E o controle da carne em minha fronteira
... Vitória Lima Percebo nitidamente o fluxo da vontade
recita versos Desde a eletricidade gerada até a cerca que a protege
de seu livro
Fúcsia... Desde o disparate e a loucura desenfreada até o arreio turvo
Que, em muitos casos, só é plateia
E, em outros, é muro.
Sou vertical
Encorajo o sul motor feito de tempo e coleira
... e Sérgio de E persigo o norte em suas conexões de luz e de precipício.
Castro Pinto
declama textos
Sou dente e flanco ao mesmo tempo
de seu livro anoiteço a cada mordida
Folha corrida e a cada capa que me cobre de línguas.
De Renálide Carvalho,
autora deste poema De Weslley Barbosa Rosendo,
sem título: que assina o poema sem título:
meu orixá hightech
O amor é a única rosa que nasce e brota sem o auxílio das estações.
cansou de cinema
A natureza enviara a primavera como noiva ao filho da poesia.
e de festival
Com a descida do eu lírico matinal,
quer voltar agora a ser tribal
encobertou-se a terra de ervas e flores as alturas e o véu dourado dos
morar no mato
segredos dos anjos se fez conhecido às leis desumanas.
perto do rio
Meu orixá hightech
cansou de stella artois
quer beber coisa artesanal De Ana Amélia, autora E de Israela Rana
ficar rindo de papo pra cima do poema sem título: Araújo Lacerda,
meu orixá só gosta de coisa fina.
autora do poema:
Devora-me com teus lábios
De Francisco Calado, Dança tua língua em meu ventre Noite
autor do poema: Prova. Suspirei pra noite
William Costa
apresenta o
Toca-me com teus dedos Olhei
o velório dos vivos Marca com tuas mãos
Correio das
Agraciei Artes para
o celular Sente. e disse: estudantes da
túmulo de atento Adentra-me com teu corpo N(oi)te,
UFPB
Fidélia
solta o pássaro azul Capa do
em novo livro de poemas novo livro da
poeta Fidélia
Cassandra
(Arribaçã, 2019)
Linaldo Guedes sabe que esse tributo não é à toa. Fidélia é uma das
linaldo.guedes@gmail.com mais belas vozes da música paraibana, com shows
antológicos realizados em Campina Grande, sua terra
natal. Nada mais natural, portanto, que resolvesse fa-
zer uma homenagem ao universo musical e a artistas
A
relação entre poesia e música é antiga e remon- que tanto influenciaram sua carreira como cantora.
ta aos gregos. Qualquer aprendiz de Mas Fidélia também é poeta. E das melhores vozes
poeta sabe bem disso, sabe bem que a lírica paraibana produziu nos últimos anos.
que o ritmo, a rima e as figuras de lin- Vários poemas desse livro mostram sua habili-
guagem ou estilo moldam o poema dade e talento na tessitura do verso. Além do
de forma musical, por mais que que homenageia Sarah Vaughan (que lem-
o autor – a exemplo de um João bra o poema “As Cigarras”, de Sérgio de
Cabral de Melo Neto – renegue Castro Pinto), há poemas outros, como
a música. Mas o que Fidélia “Águas”, “Reclame”, “Abandono I”,
Cassandra faz em Antes de “Lobo”, “Dicksoniana II”, “Lei-
ser blues (Arribaçã, 2019) te derramado”, “Quintaniana”,
não são apenas poemas “Bilhete”, “Doído”, “Escon-
com ritmo. Fidélia vai derijo” e “Mrs Dalloway”
além e presta uma ho- (numa bela homenagem a
menagem a um dos Virginia Woolf). Todos es-
ritmos mais mar- ses poemas citados, além
cantes da música de outros que estão no li-
mundial: o blues. vro, são responsáveis por ver-
A começar da epí- sos dos mais líricos da poesia
grafe com trechos de na Paraíba.
célebre canção de Billie Em Antes de ser blues, Fi-
Holliday e do poema de délia Cassandra se apre-
Bukowski, Fidélia não senta aos seus leitores
foge aos tributos que em seu melhor momen-
esse ritmo merece. to na poesia. Depois de
Daí, surgem poemas alguns livros publica-
dedicados a Bessie dos, Fidélia chega com
Smith, Nina Simo- uma poesia madura,
ne, Elza Soares, lírica, bem construí-
Louis Armstrong, da, valorizando, so-
Robert Johnson, bretudo, a imagem e
Ella Fitzgerald, o ritmo, que é o que
Chet Baker, Sa- move todo bom poe-
rah Vaughan e, ma. No poema de
claro, a Billie Ho- Bukowski citado por
liday. Em seus tributos, Fidélia na epígrafe, o
Fidélia não se prende ao autor diz que “há um
mundo do blues. Djavan, pássaro azul em meu
Maria Callas e Belchior peito que quer sair”.
são outros artistas da mú- Fidélia solta o pássaro
sica homenageados nas pági- azul preso em seu peito e se
nas de Antes de ser blues. impõe como uma das melho-
Quem conhece a autora, res vozes poéticas da Paraíba. c
Déjà vu
O frio
traz-me saudades
de coisas que ainda
não vivi.
Lobo
Ao sentir
o sequestro iminente
o carneiro
enovela-se
em sua cerca.
Sequer ousa
balir.
Esconderijo
Menina bonita
é hora de vestir Linaldo Guedes é jornalista e poeta. Nasceu em Cajazeiras e mora em João
a couraça. Pessoa (PB). Como jornalista, atuou nos principais órgãos de comunicação da
Paraíba e foi editor do Correio das Artes. Lançou, entre outros livros, Os zumbis
A matilha também escutam blues e outros poemas, Tara e outros otimismos (poesia) e O
se aproxima. nirvana do Eu (ensaio). E-mail: linaldo.guedes@gmail.com.
O eterno
ro (Fernando Gabeira), O amor de
Pedro e João (Tabajara Ruas), É tar-
de para saber (Josué Guimarães),
Os que bebem como os cães (Assis
Brasil), Cabo de guerra (Ivone Be-
inverno de nosso nedetti), O fantasma de Luís Buñuel
(Maria José Silveira), Não falei
desassossego
(Beatriz Bracher), Não és tu, Brasil
(Marcelo Rubens Paiva), A noite
da espera (Milton Hatoum), O in-
dizível sentido do amor (Rosângela
Vieira Rocha), dentre outros.
The past is not dead. A representação da ditadura
It is not even past. na literatura acaba de ganhar
mais uma obra que vem ao en-
(William Faulkner) contro de uma necessidade cada
vez mais urgente, a de retomar a
verdade do passado (que a histó-
Ronaldo Cagiano ria oficial sempre quis manipu-
Especial para o Correio das Artes
lar, esconder ou negar) para que
ele seja lembrado não em clave
N
a literatura brasileira não são poucas as obras, seja de revanchismo, mas como im-
no cunho jornalístico ou ficcional, que abordam o periosa ordem moral e ética que
período da ditadura, percursos narrativos que aju- nos imponha a obrigação íntima
dam a lançar um olhar crítico sobre os anos que cul- de revidar toda tentativa de não
minaram na morte da democracia, na negação das repeti-lo, não nos esquecendo do
liberdades individuais e coletivas, no engessamento horror que representou.
das instituições e extinção de garantias constitucio- Outono, de Lucília Garcez (Ou-
nais, além do atraso político, moral e social que pe- tubro, 2017), um dos mais recen-
sam sobre gerações. tes e indispensáveis livros para a
Apenas para não eludir a memória, que nesses tem- compreensão desse período, per-
pos de ressurreição do obscurantismo e de assanha- corre com maestria e faro jorna-
mento saudosista dos insones arquitetos dos golpes, lístico, mas sem cair na tentação
vale lembrar livros que mapearam e continuam a lan- do didatismo ou da panfletagem,
essa triste e inesquecível quadra
çar luzes sobre a noite e as catástrofes que se segui-
de nossa aviltada República. A
ram ao golpe militar de 1964: Zero (Ignácio de Loyola
história é contada sob o prisma
Brandão), Reflexos do baile e Quarup (Antonio Callado),
de uma vítima do regime mili-
Os carbonários (Alfredo Sirkis), O que é isso, companhei-
tar, Ângela, que perdeu o mari-
do para o aparato de repressão e
fotos: reprodução internet
explora o temor vivido por uma
personagem que passou sua exis-
tência na esperança de encontrar
um corpo e consumar um luto.
A figura emblemática de Dani-
Lucília Garcez,
lo, o companheiro desaparecido,
autora de
Outono, leitura como de tantos outros militantes
indispensável contra a opressão, criou a terrí-
para entender o vel sensação de impotência das
Brasil atual famílias que buscavam seus pa-
rentes tragados pelo buraco ne-
gro do terrorismo de estado.
Ângela é símbolo dessa luta
e remete-nos a 1977, à memória
dos discursos inflamados dos
deputados Marcos Tito (MG),
Chico Pinto (BA), Lisâneas Ma-
ciel (RJ) e Alencar Furtado (PR),
da ala autêntica do MDB, que c
Josafá de
A palavra lavra
Que tempo enorme uma palavra encerra!
(W. Sheakespeare - 1564-1616. Ricardo II, Ato I. Tradução Carlos Alberto Nunes)
Dize a tua palavra e segue o teu caminho, deixando que a roam até o osso.
(Miguel de Unamuno - 1864-1936)
A palavra é brava
A palavra Não tem limite
É obtusa Não tem cava.
Se se mastiga
É oclusa. A palavra escrava
Se aperta incisiva
A palavra é reclusa Entre um amor canino e uma mordida.
Entre dentes
Enamora língua e silencia. A palavra induz
Ela flexiona
A palavra recusa Avessa a língua, traduz.
Entre lábios
Outras línguas. A palavra engendra
Aficciona-se hermafrodita
Entre dentros Seduz.
A palavra
Só se mostra no escuro. A palavra
individualiza...
A palavra Dar forma. Deforma.
É lavra desconhecida
Aventura dizeres A palavra fala
A palavra falo: como filha de Zeus,
como filha de mnemósine
É estátua de lira e rosas: É Érato.
á de Orós
A outra carta a Ilse Blumenthal-Weiss
.
.
a R.M. Rilke e aos ciganos
(nômades do pensamento e da imaginação)
.
Hoje novamente eu
assediado e aos pés das mil páginas da poesia
olho pros olhos de Wera Ouckama Knoop
e me penso chama
flâmula cigana
de vermelho e sangue
.
chama doida me chama
entre o vestido e os seios
sopros de seda e mel
avoantes mouros
.
bebo a imaginação e o caos
onda de crista e sal, mar de púbis
nas entranhas do mistério
.
vou me perder em sua boca
naufragar em palavras inventadas
voar, corcel negro
os seus flancos vazios
os alados pensamentos
de patas fincadas no infinito.
.
nos meus olhos
névoas mornas são imagens
e são grânulos do deserto
e são viveres sob os pés de viandantes berberes
a perderem entre cheiros
e paredes
outros ares, suas asas
noutra torre do castelo de Duíno.
Citizen 18
A maioridade musical do
paraibano Washington Espínola
O
cantor, compositor e multi-instrumentista Washing- já ultrapassou, e muito, o limite
ton Espínola atingiu sua maioridade musical. Eis a dos “80 por hora”, inicialmente
proposição de seu mais recente CD, já disponibili- prognosticados.
zado, em conteúdo integral, por alguns serviços de Desde então, Espínola não
streaming de música, podcast e vídeo, tais quais Dee- apenas produz com regularida-
zer, Spotify e YouTube. de, mas, sobretudo, com paixão,
Desde seu début no cenário fonográfico, em 1992, profissionalismo e de forma bas-
com Manaíra, que, segundo a definição do apresen- tante eclética. Repudia a repeti-
tador do disco e crítico de música Ricardo Anísio, é ção. Estuda, experimenta ritmos
“praia de guitarra” ou “guitarra de praia”, o artista e produz sob múltiplas influên-
cias musicais e artísticas. Com-
põe e canta em português, em
inglês, em italiano, em francês
o
çã
D I SC OG
Pio X, entre outros, e de festivais
nacionais, como o Festival Ba-
nespa, em São Paulo, e o Festival
Nacional de Artes (Fenart).
No final da década de 90, WE
viajou para Genebra, enquanto
integrante da banda da cantora
paraibana radicada na Europa
Diana Miranda. Participou do • 1992, participação na Coletânea Aquarius
Festival de Mains (Alemanha) Vol. II, com sua composição “Fase III” e lan-
e do Festival Off de Montreux çamento do primeiro disco autoral, Manaíra,
(França). Tocou, também, na contendo oito músicas.
Áustria (Viena), na Inglaterra, • 1994, gravação do CD Quintal de Infância,
na Itália (Moncalvi e Sicília) e em com 12 composições próprias, sendo três regra-
Portugal (na Expo 98 e no Fes- vações, “Manaíra”, “Bluesão” e “A La Francesa”.
tival do Porto). Formou, nessa • 1995, gravação do CD Contemporâneo (Estú-
época, um grupo com o baterista dio SG), com texto de apresentação do amigo e
israelense Rony Man, o baixista vocalista da banda de rock Paralamas do Suces-
italiano Enzo Criscuolo e o tecla- so, Herbert Viana, contendo 15 músicas instru-
dista suíço Nicolat Currat. mentais, dentre as quais a composição “Funk II”.
Radicado, desde então, na • 1996, lançamento, em dueto com o gaitista
Suíça, vem realizando concer- Roberto Lyra, do CD Afinidades, no qual WE assi-
tos e shows pela Europa, onde na a direção musical e alguns arranjos; também
é professor da École Internacio- nesse ano, em comemoração aos 10 anos de car-
nale de Genève. reira, se deu a gravação do CD 10.
Embora tenha gravado, em • 1997, lançamento dos CDs 10 e Caliel.
1992, ainda em João Pessoa, uma • 1999, lançamento, em João Pessoa, no bar Pa-
composição em uma coletânea rahyba Café, do CD Sy’s Theme, gravado na Suíça;
produzida por Dércio Alcântara nesse mesmo ano, gravação, em Genebra, com a
e dirigida por Lis, o primeiro dis- participação do baterista Nelson Ned Júnior, do
co de WE com músicas autorais guitarrista austríaco Roman Hranitzky, dos te-
viria à luz nesse mesmo ano. cladistas italianos Nicolat Currat e Antônio Di
Leo, dos percussionistas suíços Patrick Merz e
Maico Pagano, além dos paraibanos Sérgio Gallo
I
(baixo) e Paulinho de Tarso (percussão), do CD
The 5th Change.
• 2000, lançamento do CD Virgo.
• 2003, lançamento do CD Strangers Anytime.
• 2006, lançamento do CD Grue.
• 2008, lançamento do CD Fellin’ Allright.
• 2009, lançamento do CD Le Saleve.
• 2011, lançamento do CD Ice Cream Sun e do
CD duplo Greatest Hits (este último composto
de um volume com músicas cantadas em vários
Observando idiomas e de outro com músicas instrumentais).
• 2016, lançamento do CD The King’s Dream.
• 2018, lançamento do CD Citizen 18.
músicos em suas
performances REFERÊNCIAS
http://dicionariompb.com.br/washington-es-
pinola/dados-artisticos
artísticas, o citoyen STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poé-
tica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969.
WE rememora seu
país e reverencia
Maria Aparecida de Lima Francisco leciona Língua Portuguesa e Língua Francesa
nas redes públicas estadual e municipal de ensino, com atuação no Centro de
a musicalidade do Línguas do Estado da Paraíba (CELIN) e no Centro de Línguas Estrangeiras
(CELEST) da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Aprecia a literatura, em
especial a poesia, e a boa música nacional e estrangeira de que tem conhecimento.
Nordeste Brasileiro. Mora em João Pessoa (PB). Contato: mcidalimaf@gmail.com.
A fúria de
Aquiles, de
Giovanni Battista
Tiepolo
Tradução
do proêmio da
P
ara traduzirmos um texto, devemos partir da formu- mos 1) a invocação, 2) o assunto
lação de algumas perguntas, dentre elas podemos e 3) o resultado.
destacar três, que são: 1) O quê traduzir? Como tradu- Portanto, nosso trabalho visa
zir? E para quem traduzir (qual público alvo)? uma breve análise e tradução
Essas e outras perguntas são necessárias para do proêmio da Ilíada, de Home-
darmos encaminhamento ao trabalho de tradução, ro. Salientando que se trata de
tendo em vista que não será qualquer texto, mas a uma tradução mecânica em que
minha tradução. tentaremos contemplar a essên-
É necessário também que, aqueles que se pro- cia do texto para depois cons-
põem a fazer e/ou ter esse trabalho, o conhecimento truirmos, dentro das limitações
de sua própria língua, que chamaremos de “língua da língua de chegada, uma ver-
de chegada”. Sem esse conhecimento nossa tradu- são que possa ser palatável e de
ção poderá perder um pouco da essência do texto fácil entendimento. c
Nossa tradução:
Ao começar pela invocação instrumento pelo qual a divin- Musa Calíope, de Cesare
às Musas, Homero pretende dade irá se manifestar. Dandini (1595-1658)
mostrar que este canto não é O assunto já está marcado no
de si mesmo, mas algo que está proêmio: a ira de Aquiles. Esta
fora dele mesmo. Para estes ira é reforçada pelo adjetivo
povos antigos qualquer forma οὐλομένην, que pode ser tradu-
de arte era inspiração de algo zido por funesto, cruel, sinis-
ou alguém que estava fora do tro. No canto I será evidencia-
plano material, portanto, vindo da pela tomada do seu espólio
do mundo imaterial, que neste de guerra, Briseida. Agamêm-
caso do texto seria a musa. Te- nom irá tomá-la e o melhor dos
mos essa invocação em muitos Aqueus abandonará a guerra
outros escritos, dentre os quais (Canto 1, versos 189-192; versos
destacamos: a Odisseia, Eneida e 234-244). O canto XXI será ou-
a Teogonia. É neste último que tro momento em que veremos
vemos duas funções das musas: toda essa ira em sua forma
1) Cantar aos deuses e 2) inspi- mais cruel. Aquiles perpetra- der enumerar essas sensações.
rar no aedo um canto divino. rá uma carnificina monstruo- Traduzimos este trecho: ἣ μυρί᾽
Na nossa tradução optamos por sa ao ponto de parar o curso Ἀχαιοῖς ἄλγε᾽ ἔθηκε, por: “que
chamá-la pelo nome, Kalíope, da água do Rio Xanto, que em inúmeros sofrimentos causou
para aqueles leitores que não súplica, lhe roga que lute nas aos Aqueus”, entendendo que a
têm conhecimento prévio sobre planícies e o deixe chegar ao palavra “sofrimento” coloca-se
mitologia. Kalíope (Καλλιόπη, Oceano. Toda a consumação de forma prática e real.
em grego), era uma das nove desta ira é dada no canto XXII Estes sofrimentos não ces-
musas filhas de Zeus e Memó- com a morte de Heitor e o ul- sam enquanto os heróis estão
ria. Era esta que inspirava nos traje de seu corpo. Temos então vivos, mas transcendem para
aedos o belo canto. Isso pode o início, o meio e o fim desta um outro plano, para o Hades,
ser observado na Teogonia, de ira. Ira que causa sofrimento a região dos mortos. Pelo ver-
Hesíodo, verso 79. não só aos Aqueus, mas tam- bo utilizado, acreditamos que
É interessante notar também bém aos Troianos. Observe que nem todos chegam ao Hades,
o verbo ἄειδε, ἄειδω, que uma μυρί pode ser traduzido por mas são lançados diante das
tradução possível seria “cele- “inumeráveis”. Isto dá a ideia portas. A nossa teoria se fun-
brar”. Fiz opção por “celebrar” de que não houve uma enu- damenta no seguinte: o verbo
tendo em vista o seu caráter sa- meração fixa, mas algo incon- é προΐαψεν, que está na tercei-
cro, religioso. Isso remonta aos tável e que traz uma sensação ra pessoa do aoristo. Este é o
ritos sagrados, tais como: os ri- de dor. Neste caso poderíamos verbo προΐαπτω, formado por
tos de cura. Talvez seja essa a traduzir μυρί᾽ ἄλγε᾽, por “inu- προ+ἰάπτω. ἰάπτω pode ser
acepção que mais se aproxima meráveis sensações de dores”, traduzido por lançar, arrojar e
aqui, pois o aedo é somente o dando um sentido de não po- a preposição προ, diante de, o c
Roth: entre
Imagine o distinto leitor ou
distinta leitora a vida de um es-
critor nascido em finais do sé-
culo XIX, cuja cidade natal, em
zona fronteiriça de Impérios ri-
a nostalgia
vais, pertenceu a um desses Im-
périos na sua infância, tornou-se
território de outro país após o fi-
nal da I Guerra Mundial – quan-
do ele contava então com 24 anos
e a vida trepidante,
de idade – passou a integrar mais
outro país logo após a II Guerra
Mundial, poucos anos após a
morte do referido escritor – fale-
um escritor de cido aos 45 anos de idade incom-
pletos, no exílio. Imagine, ainda,
várias terras e nenhuma que esse mesmo escritor, dada
a sua ascendência familiar, não
tinha uma nacionalidade plena-
mente reconhecida em nenhuma
Ângelo Emílio da Silva Pessoa dessas circunstâncias.
Especial para o Correio das Artes O que pode parecer algo fan-
tasioso é fato bem constatado
quando falamos da cidade de
Brody, situada na região da Ga-
M
ais tarde, desde que eu voltara da guerra não só mais amadure- lícia (essa não a espanhola, mas a
cido como também envelhecido, as noites vienenses tinham-se Galícia na Europa Oriental, hoje
enrugado e murchado... Era preciso agarrar essas noites fuga- dividida entre Polônia e Ucrâ-
zes e quase medrosas antes que estivessem prestes a desapa- nia). Surgida em torno do século
recer... Desterrado era eu no meio dos vivos... A manhã já se XI, após uma longa história de
acinzentava sobre as cruzes totalmente estrangeiras. Passou guerras e migrações, em finais
uma ligeira brisa balançando os velhos lampiões ainda não do século XIX integrava a vas-
apagados, naquela noite ainda não apagados. Fui andando por ta colcha de nacionalidades que
ruas vazias com um cão estranho. Ele estava decidido a me compunha o Império Austro-
seguir. Para onde? – Eu sabia tão pouco quanto ele. -Húngaro, comandado pela di-
A Cripta dos Capuchinhos, onde os meus imperadores ja- nastia dos Habsburgo. Após a
ziam sepultados em urnas de pedra, estava fechada... dissolução desse Império ao final
Para onde devo eu ir agora, eu, um Trotta?... da I Guerra Mundial, a cidade foi
(Joseph Roth. A Cripta dos Capuchinhos, 1938) palco de novas guerras, passan-
do à Polônia e posteriormente à
A primavera de Berlim é oficialmente sancionada como es- Ucrânia, cujo território integra
tação do divertimento com a abertura do enorme Luna Park... nos dias que correm.
Aqui a diversão se torna insana, o absurdo hiperbólico, a folia Em 1894 veio à luz em Brody,
a um só tempo penosa e inofensiva. Há máquinas infernais que numa família de origem judaica,
causam suor frio antes de despertarem algum prazer... O pro- Joseph Roth, cuja vida e parte da
pósito de toda essa máquina grotesca é expor em sua inadequa- produção literária apreciaremos
ção tragicômica a pessoa que se põe à sua mercê. O propósito em largas pinceladas, tentando
das outras diversões é o mesmo... entender, refratada pela sua es-
A diversão aqui consiste justamente no deboche do esfor- crita, um pouco das mudanças
ço humano. Vejo um senhor despedaçar a louça da “loja de que sacudiram esse canto do
porcelana” com bolas de borracha dura. Ele não sabe que o mundo em pouco mais de cin-
som da destruição o incita a novos arremessos, ele atira bola quenta anos, entre finais do sé-
após bola, não vê que ao seu redor muita gente se amontoa. culo XIX e meados do XX, quan-
Talvez tenham um terrível vislumbre da verdade, e a questão do a existência foi quase que
de saber se essa devastação pode conter o sentido da vida não literalmente sacudida por duas
aflora a seus lábios... guerras catastróficas que pari-
(Joseph Roth. Uma hora na agitação de prima- ram o mundo no qual vivemos
vera. Frankfurter Zeitung, 16/05/1924) nos dias que correm. c
io
ilustr ação: tôn
La Ursas
eo
Carnaval Tradição
Lucas Santos Jatobá
Especial para o Correio das Artes
L
á vem uma imensa La Ursa acorrenta- capital paraibana, no encerramento dos
da, acompanhada de filhotes, subjugada festejos momescos.
pelo seu domador. Eis que, ao som en- As crianças, às centenas, vão ao de-
surdecedor de tambores e de outros ins- lírio, contagiando os adultos com tanta
trumentos de percussão da agremiação, excitação emanada das performances e
põe-se, a família dos ursos, a dançar fre- ritmos alucinantes das La Ursas, que se
neticamente, dirigindo-se à plateia que dirigem loucamente à garotada, onde
lota as arquibancadas e, também, espre- são fotografadas – selfies – quais astros
me-se junto aos gradis que margeiam a internacionais, seguindo seus desfiles
Avenida Duarte da Silveira, centro de irreverentes sob intenso aplauso do pú-
João Pessoa, em noite festiva e alegre na blico, e em meio aos jatos de espumas c
Tresvario
José Caitano de Oliveira
Especial para o Correio das Artes
A garota
do vigésimo andar
Carlos Alberto Azevedo
Especial para o Correio das Artes
N
o momento, estou com um roteiro na cabeça: A garota do vigésimo
andar, com certeza será o meu último grande filme, ouviu? Me sin-
to o próprio Mick do filme Youth, de Paolo Sorrentino. Pretensioso,
eu? Ora, ora, o senhor não sabe do que eu sou capaz. Dizem as
más-línguas que sou o último erudito do Recife.
Tenho oitenta anos e estou apaixonado loucamente por uma ga-
rota de dezoito anos do vigésimo andar do prédio onde moro. Foi
tudo inesperado, aconteceu, simplesmente aconteceu — paquera-
mos quase dois anos, com flertes profundos nos elevadores, os
abraços vieram muito depois. Ouviu? c
Pabllo
colaborar para o meu bom hu-
mor. Podiam sim, deveriam! Res-
peitar os outros saiu de moda faz
tempo, que dirá os mais velhos
como eu. Se eles ajudassem, eu
N
ão tinha dia que Pabllo Vittar não invadisse minha casa. pedem apresentação, vão toman-
Um apartamento pequeno, que se não era um ovo era o do logo os seus lugares e pronto.
próprio cu da galinha, onde eu morava sozinho. Eu não Fim de papo!
tinha idade nem paciência para aquele berreiro desen- Quando eu me lembro dessas
toado. Um alarido medonho! No meu tempo, música era coisas, me dá um negócio esque-
coisa mais refinada, exigente. E ainda deve ser, toda arte sito no coração. E olhe que eu
o é. Devem ser esses tempos de hoje, tudo de pernas pro não sou homem de frescura não,
ar. Sei lá. Me dá um cansaço só de tentar entender o gosto nunca fui. Mas... sei lá! Não sei
dos outros. Nem quero. Prefiro me restringir a reclamar pra que reclamei tanto deles. E já
ao porteiro do prédio, o Cláudio. Bom dia, seu Jonas!, ele faz um ano! Um ano que eles fo-
sempre me recebe sorrindo. Deve achar graça na minha ram embora e que o apartamento
implicância com os meninos do outro prédio. Ah... esque- está vazio, escuro. O silêncio frio
ci de explicar, é a idade, não leve à mal. Meu apartamento e indiferente daquelas torres de
faz parte de um conjunto de quatro prédios, um de fren- prédios ampliado. Tá na vida que
te para o outro. O que me permite ver um pedacinho de pediu a Deus, né, seu Jonas?! De-
nada da rua, entre os dois prédios que ficam na frente da pois que aqueles meninos foram
minha varanda. Quando vi o tamanho da varanda, logo embora tá um silêncio que Deus
que eu cheguei aqui, comprei uma rede. Grande merda. me livre. Agora eu vejo que o
Nunca usei. Faltava a privacidade necessária, dávamos senhor tinha razão mesmo. Isso
uns com a cara dos outros, e bem perto. É justamente em aqui agora tá mais pra cemitério.
um desses dois prédios que moram os rapazes, que são Cláudio falou enquanto se per-
verdadeiras cópias pioradas do Pabllo Vittar, que eles não signava. Não respondi, agarrado
largam nem por um dia. Eles, ao contrário de mim, não ao pacote que trazia nas mãos.
saem da varanda. Um na rede, outro no chão, passam a Oculto entre remédios e meias,
noite ouvindo música, conversando e rindo, com vozes Pabllo Vittar. Ele ficaria. E