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Universidade do Sul de Santa Catarina

Desenvolvimento Socioeconômico
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2013
Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul

Reitor Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Diretora do Campus Universitário de Tubarão


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Márcia Loch Coordenador do Laboratório Multimídia Adenir Siqueira Viana
Coordenadora do Desenho Educacional Sérgio Giron Walter Félix Cardoso Junior
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Marcelo Bitencourt Osmar de Oliveira Braz Júnior

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Artes Gestão Financeira Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública
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História Militar Gestão Pública Ciências Aeronáuticas
Roberto Iunskovski José Gabriel da Silva
Gestão de Cooperativas Agronegócios
Ciências Sociais, Direito,
Negócios e Serviços Mauro Faccioni Filho
Pós-graduação
Sistemas para Internet
Roberto Iunskovski Aloísio José Rodrigues
Articulador Gestão de Segurança Pública Pós-graduação
Graduação Danielle Maria Espezim da Silva Luiz Otávio Botelho Lento
Direitos Difusos e Coletivos Gestão da Segurança da Informação.
Aloísio José Rodrigues
Serviços Penais Giovani de Paula Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher
Segurança Programa em Gestão de Tecnologia da Informação
Ana Paula Reusing Pacheco
Administração Letícia Cristina B. Barbosa
Gestão de Cooperativas de Crédito
João Antolino Monteiro

Desenvolvimento Socioeconômico
Livro didático

Design instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva

Palhoça
UnisulVirtual
2013
Copyright © UnisulVirtual 2012
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
João Antolino Monteiro

Design Instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Marina Broering Righetto

Revisão
Diane Dal Mago

ISBN
978-85-7817-547-4

330.981
M77 Monteiro, João Antolino
Desenvolvimento socieconômico: livro didático / João Antolino
Monteiro; design instrucional Marina Melhado Gomes da Silva. – Palhoça:
UnisulVirtual, 2013.
131 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-547-4

1. Economia – Brasil. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Brasil –


Condições econômicas. I. Silva, Marina Melhado Gomes da. II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - Crescimento e desenvolvimento econômico . . . . . . . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 - Abordagem histórica do processo
de desenvolvimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
UNIDADE 3 - Teorias do crescimento econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
UNIDADE 4 - Desenvolvimento segundo a CEPAL e o
desenvolvimento no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 129
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Desenvolvimento


Socioeconômico.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada


e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da
UnisulVirtual. Nesse sentido, a “distância” fica caracterizada
somente como a modalidade de ensino por que você optou para
sua formação. É que, na relação de aprendizagem, professores e
instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade, entre em contato. Você


tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso,
tais como: telefone, e-mail e o Espaço UnisulVirtual de
Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que
for enviado e recebido fica registrado, para seu maior controle
e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior
prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal
objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual

7
Palavras do professor

Prezado/a aluno/a,

Seja bem vindo(a) à disciplina de Desenvolvimento


Socioeconômico. O objetivo central é levar você ao encontro
das teorias do crescimento e desenvolvimento econômico e
ao conhecimento sobre a problemática do desenvolvimento
econômico dentro de sua dimensão sociopolítica. Para tanto,
são abordadas diferentes concepções acerca do fenômeno do
desenvolvimento dentro de uma abordagem pluralista.

Num primeiro momento, você estudará os conceitos de


desenvolvimento e crescimento econômico, entendendo as
principais diferenças entre crescimento e desenvolvimento
e a teoria do subdesenvolvimento. Entenderá porque o
desenvolvimento exige mudanças de estruturas econômicas,
sociais e políticas.

Na sequência, você estudará as principais teorias sobre


crescimento e desenvolvimento econômico e como se dá esse
processo, além das principais contribuições do pensamento
econômico.

Conhecerá também a contribuição da CEPAL –


Comissão Econômica para América Latina e Caribe - ao
desenvolvimento latino-americano.

Ressalto que não pretendemos esgotar a temática com esse


livro, mas despertar você para os estudos dessa temática
importante e ao mesmo tempo apaixonante, dentro das
Ciências Econômicas.

Bons estudos!

Prof. João Antolino Monteiro


Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Conceitos de crescimento e desenvolvimento. Abordagem
histórica do processo de desenvolvimento. Teorias de
crescimento econômico. Etapas do crescimento econômico.
Estratégias de desenvolvimento. Problemas que afetam
o crescimento econômico. O desenvolvimento segundo a
CEPAL. O caso brasileiro.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos da disciplina

Geral
Conhecer o pensamento histórico econômico sobre o
desenvolvimento por meio do estudo, da análise e da
contextualização das teorias econômicas construídas nas
sociedades, desde a história moderna até o momento
contemporâneo.

Específicos

„„ Conhecer os conceitos de crescimento e desenvolvimento;

„„ Conhecer uma abordagem histórica do processo de


desenvolvimento;

„„ Conhecer as teorias de crescimento econômico;

„„ Conhecer a contribuição da CEPAL para o


desenvolvimento econômico latino-americano.

Carga horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 4

12
Desenvolvimento Socioeconômico

Unidade 1 - Crescimento e desenvolvimento econômico


Nesta unidade apresentamos uma análise conceitual e histórica
sobre o tema crescimento e desenvolvimento econômico, bem
como as suas diferentes abordagens nas Ciências Econômicas.
Entre as questões que serão levantadas, destaca-se a diferença
entre o crescimento e o desenvolvimento econômico, incluindo
os indicadores utilizados para a mensuração de ambos, o conceito
de desenvolvimento e as questões estruturais pertinentes ao tema.
Fechamos o estudo com a temática do subdesenvolvimento.

Unidade 2 - Abordagem histórica do processo de desenvolvimento


Nesta unidade, apresentamos os principais fatores que
contribuíram para desencadear o processo de desenvolvimento
econômico, as contribuições marxista, keynesiana,
schumpeteriana e de Kalecki, para o aprofundamento dos estudos
dessa temática. Para entender o processo de desenvolvimento pelo
qual passaram as diferentes nações, é importante olhar para trás,
numa perspectiva histórica. Os avanços pelos quais a sociedade
mundial passou a partir da Revolução Industrial são incontestáveis,
o que nos permite dizer que, nessa perspectiva, pode-se dividir
a humanidade em dois períodos: antes e depois da Revolução
Industrial.

Unidade 3 - Teorias do crescimento econômico


Nesta unidade, você estudará o crescimento econômico como
um dos grandes desafios que se apresentam na humanidade,
dada a sua complexidade. Governos, pesquisadores e pensadores
de diferentes áreas do conhecimento tem se debruçado sobre
essa temática. Diversas estratégias têm sido criadas a partir dos
estudos teóricos e empíricos que o tema vem permitindo. Nesse
sentido, nesta unidade vamos nos debruçar sobre as principais
teorias do crescimento econômico, conhecendo suas bases e seus
principais pontos de convergência e divergência. Não temos
o objetivo de esgotar o tema, mas apresentar os pressupostos
fundamentais de cada teoria estudada e assim fomentar novos
estudos e novas compreensões acerca do tema.

13
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 4 - Desenvolvimento segundo a CEPAL e o desenvolvimento


no Brasil
Nesta unidade, você vai estudar que o desenvolvimento econômico
é um tema efervescente nos estudos econômicos, sociológicos e
da geografia. Tamanha a sua importância, formular políticas para
o desenvolvimento corresponde a melhorar a vida da sociedade.
Dessa forma, a partir do surgimento da ONU – Organização
das Nações Unidas, esse tema ganhou destaque e gerou ações
práticas, com o objetivo de compreender os motivos do atraso de
determinados países em relação a outros. Nesse sentido, a ONU
cria, no Chile, a Comissão Econômica para América Latina e
Caribe (CEPAL), com o objetivo de compreender e desenvolver
estratégias desenvolvimentistas na America Latina. Nesta unidade,
vamos conhecer a CEPAL e as principais formulações desse
órgão. Vamos, também, conhecer o processo de desenvolvimento
brasileiro, suas dificuldades e avanços.

14
Desenvolvimento Socioeconômico

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

15
1
unidade 1

Crescimento e desenvolvimento
econômico

Objetivos de aprendizagem
„„ Aprofundar os conhecimentos sobre crescimento
e desenvolvimento econômico, compreendendo a
diferença entre esses dois conceitos.

„„ Aprofundar os conhecimentos sobre


subdesenvolvimento.

Seções de estudo
Seção 1 Conceitos de desenvolvimento econômico e
crescimento econômico

Seção 2 Crescimento versus desenvolvimento

Seção 3 Desenvolvimento como mudança de estrutura


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, apresentamos uma análise conceitual e histórica
sobre o tema crescimento e desenvolvimento econômico, bem
como as suas diferentes abordagens nas Ciências Econômicas.
Entre as questões que serão levantadas, destaca-se a diferença
entre o crescimento e o desenvolvimento econômico, incluindo os
indicadores utilizados para a mensuração de ambos, a abordagem do
conceito de desenvolvimento e as questões estruturais pertinentes ao
tema. Fechamos o estudo com a temática do subdesenvolvimento.

Seção 1 - Conceitos de desenvolvimento econômico e


crescimento econômico
O termo crescimento econômico é recorrente na literatura
econômica e está entre as metas macroeconômicas, sendo assim,
um dos fundamentos das políticas nessa área. Compreender a
evolução conceitual e a importância dessa temática é fundamental.

Segundo Garcia e Vasconcellos (2004, p. 87), as metas


macroeconômicas são “alto nível de emprego, estabilidade
de preços, distribuição da renda e crescimento econômico”,
sendo esse uma meta de longo prazo, também chamada de
estrutural, dado que para alcançá-lo, são necessárias mudanças
nas estruturas do país. Independente da matriz ideológica
dos governos, todos têm como estratégias e planos alcançar o
crescimento econômico, condicionando, assim, as políticas do
Estado para essa finalidade.

Quanto ao termo desenvolvimento econômico, ainda que


também recorrente na literatura econômica atual, é usado
muitas vezes de forma equivocada. Assim, o que se define
por desenvolvimento muitas vezes é, na verdade, crescimento
econômico, dado que esse é uma variável quantitativa, enquanto
desenvolvimento econômico é uma variável qualitativa.

18
Desenvolvimento Socioeconômico

1.1 O tema crescimento nas principais correntes do


pensamento econômico
Nesse primeiro momento, vamos apresentar o conceito de
crescimento econômico nas principais correntes do pensamento
econômico, tendo como objetivo entender as fontes e os principais
elementos que poderiam desencadear o crescimento econômico
de uma região ou nação.

As primeiras discussões sobre o tema vão surgir durante a fase


mercantilista, a partir daí tomam forma. Para os mercantilistas,
esse crescimento estava associado ao acúmulo de riquezas em
forma de metais preciosos, e para alcançá-lo um país deveria
fomentar seu comércio internacional.

Segundo Souza (1999), o acúmulo de metais preciosos alcançado


com o comércio internacional deveria ser estimulado, fazendo,
dessa forma, com que o país tivesse superávits na sua balança
comercial. Seria esse o caminho natural para o crescimento
econômico.

No século XVIII, surgiram na Europa os fisiocratas.


Contradizendo os mercantilistas, os fisiocratas defendiam que
a riqueza de um país seria formada na agricultura, sendo outras
atividades, como o comércio, estéreis, como afirma Quesnay
(apud KUNTZ, 1984, p. 13): “É a agricultura que fornece a
matéria para a manufatura e para o comércio e paga uma e outro;
mas esses dois ramos restituem seus ganhos à agricultura, que
renova as riquezas despendidas consumidas cada ano”.

E a riqueza formada pela atividade agrícola vai gerar outras


riquezas, como afirmam os autores abaixo:

São estas primeiras riquezas, sempre renovadas, que


sustentam todos os outros estados do reino, possibilitam
a atividade de todas as outras profissões, fazem florescer o
comércio, favorecem o povoamento, animam a indústria
e mantêm a prosperidade da nação. (QUESNAY apud
KUNTZ, 1984, p.13).

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

Fica evidente que, para esta escola, o crescimento econômico está


associado ao desenvolvimento da agricultura, assim como um
país, para crescer, precisa dar prioridade ao setor primário.

Os economistas fisiocratas combatiam a doutrina


mercantilista ao propor uma conduta liberal por parte do
Estado e ao transferir a atenção da análise da órbita do
comercio para a da produção. Segundo eles, a indústria e
o comércio apenas transportam valores; o produto líquido
somente é gerado na agricultura, por meio do fator terra,
que é uma dádiva da natureza. (SOUZA, 1999, p. 91).

Com o passar do tempo, podemos afirmar que a agricultura


adquiriu importância no crescimento de um país, mas não elevou
o nível da riqueza das sociedades como um todo, somente dos
proprietários de terra. Dessa forma, constituiu-se como uma
atividade que concentra renda, pois para gerar riqueza precisa ser
desenvolvida de forma intensiva e em grandes propriedades. Já a
indústria, ao contrário do que afirmavam os fisiocratas, é geradora
de crescimento econômico ao distribuir a riqueza produzida.

Na esteira dos fisiocratas, surge também no século XVIII, na


Inglaterra, a Escola Clássica, protagonizada por Adam Smith e
David Ricardo, principais expoentes que vão também contribuir
para o desenvolvimento do conceito de crescimento econômico.

Ao estimular a livre iniciativa, a Escola Clássica tira da


responsabilidade do Estado o crescimento econômico. Segundo
Adam Smith, ao buscar o benefício pessoal, o indivíduo colabora
com toda a sociedade. Conforme afirma Napoleoni (2000, p. 41),
“ocorrem à formação e o desenvolvimento da riqueza quando o
indivíduo se esforça por conseguir a maior vantagem pessoal na
troca, vai mais além da sua própria vontade, de tal sorte que seja
máxima a disponibilidade de bens para todos”.

Adam Smith (1983) ressalta a importância da vontade


individual para estimular o crescimento econômico,
uma vez que, na busca de vantagens pessoais, busca-se
também alcançar o bem coletivo.

20
Desenvolvimento Socioeconômico

Outro elemento importante para o crescimento econômico é a


divisão social do trabalho, como afirma Smith (1983, p. 35), “O
trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente
lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais que
consistem sempre na produção imediata do referido trabalho ou
naquilo que com essa produção é comprado de outras nações”.
Dessa forma, a divisão social do trabalho passar a ser, na teoria
smithiana, fundamental para o crescimento econômico.

Como se pode ver na citação abaixo, a riqueza de uma nação está


diretamente relacionada à produtividade do trabalho, e, dessa
forma, também à divisão social do trabalho, que vão oportunizar
o crescimento econômico.

A riqueza das Nações determina-se, em primeiro


lugar, pela produtividade do trabalho útil ou trabalho
produtivo, em oposição ao trabalho improdutivo. O
primeiro traduz-se por aquele trabalho que produz um
excedente de valor sobre o seu custo de reprodução.
Em segundo lugar, a riqueza deriva da quantidade de
trabalho empregada no processo produtivo, em relação
à população total. A função de produção de Adam
Smith está sujeita a rendimentos crescentes, em virtude
da expansão dos mercados, que permite maior grau de
divisão do trabalho, o que aumenta a produtividade. O
crescimento econômico cria um processo cumulativo,
porque rendas maiores geram poupança e investimento
em níveis ampliados. À medida que aumenta os gastos
em educação e saúde e que se expande a dimensão dos
mercados, aumenta a produtividade do trabalho, gerando
maior taxa de crescimento econômico. O crescimento
gera economias externas, responsáveis, como as
economias de escala, pela redução dos custos médios de
produção [...] (MEIER; BALDWIN, 1968, p. 41).

A Escola Clássica, assim, muda o enfoque dado pelos


mercantilistas e fisiocratas, ao trazer para a discussão a
importância da livre iniciativa e reduzir o papel do Estado para o
crescimento econômico.

O crescimento econômico, para os clássicos, está associado ao


pleno emprego dos fatores de produção, maximizando, dessa
forma, a taxa de lucros, estimulando o aumento da poupança
interna e os investimentos.

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para David Ricardo (1982), economista clássico contemporâneo


de Adam Smith, a chave para o crescimento econômico estava
na distribuição da riqueza produzida entre os trabalhadores, os
capitalistas e os donos da terra, dessa forma a sociedade poderia
usufruir de estágios significativos de desenvolvimento.

Ainda para Ricardo, a agricultura era um entrave para o crescimento


econômico, dada a sua baixa produtividade, além de o crescimento
ser prejudicado pelo aumento dos salários dos trabalhadores na
agricultura, tornando difícil a contratação de novos trabalhadores
produtivos, a aquisição dos meios necessários para a produção,
a elevação do nível do produto, tendo como consequência o
surgimento do estado de estagnação. (SOUZA, 1999).

Para Marx, o capitalismo era o responsável pelo não crescimento


econômico, dado as suas crises, e a solução seria a economia
centralizada, como afirma Filellini:

No entender de Marx, o crescimento econômico existiria


a partir do fim das crises cíclicas do modelo capitalista,
se transformado em uma economia centralizada, com
substituição direta do modelo de mercado, sem os
malefícios do trabalho assalariado e com a implantação
plena da igualdade de condições sociais e econômicas
para todos. (FILELLINI, 1994, p.25).

Por sua vez, os neoclássicos pensam o crescimento econômico


como um ciclo virtuoso da economia, sendo a análise precedida
por eles de curto prazo e focada nos aspectos microeconômicos.
Assim: “(...) consideravam o desenvolvimento como um processo
gradual, contínuo e harmonioso e mostravam-se, em geral,
otimistas quanto às possibilidades de um progresso econômico
contínuo”. (MEIER; BALDWIN, 1968, p. 09).

Dessa forma, as diversas abordagens elencadas objetivaram


apresentar como o crescimento econômico foi tratado pelos
pensadores econômicos em destaque. Outros pensadores também
se debruçaram sobre o tema, porém, entende-se que os citados
acima deram maior expressão à temática.

22
Desenvolvimento Socioeconômico

Seção 2 - Crescimento versus desenvolvimento


O crescimento econômico pode ser entendido como uma variável
quantitativa, enquanto o desenvolvimento econômico como uma
variável qualitativa.

Durante algum tempo, os dois termos eram vistos com sentido


único, e os acréscimos na riqueza produzida, mensurada pelo
Produto Interno Bruto (PIB), era sinal de que um país estava se
desenvolvendo.

Segundo Souza (1993, p.27),

Uma primeira corrente considera crescimento como


sinônimo de desenvolvimento; para outros autores,
o crescimento é condição indispensável para o
desenvolvimento, mas não é condição suficiente.
Enquadram-se nessa primeira corrente os modelos de
crescimento de tradição neoclássica como o de Meade,
ou pós-keynesiana como os de Harrod e Domar.
Para os economistas da primeira corrente, um país
é subdesenvolvido porque cresce menos do que os
desenvolvidos, apesar de possuírem recursos ociosos,
como, por exemplo, terra e mão,de,obra. O país mostra-
se subdesenvolvido porque não utiliza integralmente os
fatores de produção de que dispõe e sua economia cresce
abaixo de suas possibilidades. Associados a essa noção,
emergem modelos que enfatizam apenas a acumulação
de capital, solução simplificadora da realidade, que coloca
todos os países dentro da mesma problemática.

Ao considerar crescimento e desenvolvimento econômico


como o mesmo conceito, as ideias são resumidas em variáveis
quantitativas, mensuradas por indicadores também quantitativos,
que escondem, por exemplo, a má distribuição de renda.

Quando utilizamos indicadores como o PIB e PIB per capita para


mostrar o crescimento econômico e também o desenvolvimento
econômico, não levamos em conta, por exemplo, a propriedade
dos fatores, nem sua nacionalidade, o que pode significar que
a riqueza produzida esteja sendo transferida para outros países,
ou que os salários estejam muito baixos, entre outros problemas,
como afirma Paz e Rodrigues (1972, p.2), apud Sandro
Wollenhaupt (2003, p.4):

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

O desenvolvimento econômico não deve ser confundido


com crescimento, porque os frutos dessa expansão podem
não estar beneficiando a economia como um todo bem
como sua população. Podem estar ocorrendo efeitos
perversos, tais como:
a) transferência do excedente para outros países;
b) apropriação do excedente por poucas pessoas no próprio
país;
c) os salários continuam extremamente baixos;
d) as empresas tradicionais não conseguem desenvolver-se
pelo pouco dinamismo do mercado interno;

Entendido o crescimento econômico como acréscimos no produto


de um país, enquanto o desenvolvimento representa melhora
na qualidade de vida da população, como afirma Vasconcelos e
Garcia (2004, p.210):

Crescimento e desenvolvimento econômico são dois


conceitos diferentes. Crescimento Econômico é o
crescimento contínuo da renda per capita ao longo do
tempo. O Desenvolvimento Econômico é um conceito
mais qualitativo, incluindo as alterações da composição do
produto e alocação dos recursos pelos diferentes setores da
economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar
econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade,
condições de saúde, nutrição, educação e moradia).

O crescimento tem como fontes (Vasconcelos e Garcia, 2004): o


aumento da força de trabalho, do estoque de capital, a melhora na
qualidade da mão de obra, nos aspectos tecnológicos e a eficiência
organizacional. É a partir da análise desses fatores que se conhece
as diferenças de desenvolvimento entre os diferentes países.

O crescimento econômico é representado por


acréscimos na produção e tem como indicador o
aumento no Produto Interno Bruto. O desenvolvimento
representa melhora nas condições de vida da
população.

24
Desenvolvimento Socioeconômico

Para alcançar o desenvolvimento, um país precisa crescer, já


que isso é condição para o desenvolvimento. Para isso, algumas
condições são fundamentais.

Entre elas, destaca-se a formação de poupança como forma


de financiamento dos investimentos necessários. Na busca
por recursos para investimento, um país pode tanto utilizar a
poupança interna ou a estrangeira, por meio de empréstimos
ou ajuda financeira. Fomentar a poupança interna deve ser
prioridade quando se quer alcançar o crescimento, pois dessa
forma o país terá recursos para satisfazer as suas necessidades de
investimento. Se a poupança doméstica é o pré-requisito para a
acumulação de capital, então, a atenção deve ficar voltada para
as políticas que incentivem as pessoas a se absterem de parte do
consumo presente. (VASCONCELOS; GARCIA, 2004).

Outra condição apresentada por Vasconcelos e Garcia (2004),


para alavancar o crescimento, é a existência de “um mercado
financeiro e de capitais razoavelmente desenvolvidos, sendo assim
fator importante na mobilização de recursos das famílias, via
intermediários financeiros, para o investimento das empresas.”

Nos países pobres, esbarra-se na renda baixa, impedindo que


a maioria da população consiga fazer poupança, sendo, muitas
vezes, a renda limitada, a qual permite apenas a subsistência.

Quando não consegue fazer poupança interna que dê conta das


necessidades de investimentos para fomentar o crescimento, o
caminho é buscar poupança estrangeira, que pode ser alcançada
de três maneiras (VASCONCELOS e GARCIA, 2004):

a) Por meio de investimento direto;

b) Por meio de empréstimos no mercado financeiro mundial


ou nos bancos de fomento como o BIRD- Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento;

c) Por meio de ajuda estrangeira de países industrializados.

O quadro abaixo mostra uma das formas de atração de poupança


estrangeira, que é pelos investimentos diretos:

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

Investimentos estrangeiros no Brasil atingem US$ 7,7 bilhões


em outubro e batem recorde para o mês
22/11/2012 - 17h20
Wellton Máximo - Repórter da Agência Brasil
Brasília – Os investimentos das empresas estrangeiras no Brasil
bateram recorde em outubro. Segundo dados divulgados hoje
(22/11/12), pelo Banco Central (BC), o montante que as empresas
internacionais aplicaram no país somou US$ 7,73 bilhões no mês
passado, o maior valor registrado para o mês.
De acordo com o chefe adjunto do Departamento Econômico
do Banco Central, Fernando Rocha, o comportamento dos
investimentos estrangeiros diretos está estável em relação a 2011.
De janeiro a outubro, as empresas multinacionais investiram US$
55,306 bilhões no Brasil, praticamente o mesmo valor que os US$
55,960 bilhões registrados em igual período do ano passado.
O técnico do BC ressaltou que os investimentos estrangeiros
diretos estão compensando o rombo nas contas externas
brasileiras, que acumula US$ 39,554 bilhões entre janeiro e
outubro. “O nível dos investimentos estrangeiros diretos mostra
que o financiamento do déficit em transações correntes está
sendo feito com qualidade”, ressaltou.
Formada pela soma dos saldos da balança comercial, de serviços,
de rendas e das transferências unilaterais, a conta de transações
correntes mede a dependência do país em relação aos capitais
financeiros internacionais e aos investimentos estrangeiros
diretos. Se não fossem os investimentos das empresas no Brasil,
o país dependeria do capital especulativo de estrangeiros para
cobrir o rombo nas contas externas.
Rocha informou ainda que, depois do recorde em outubro, os
investimentos estrangeiros diretos deverão recuar em novembro.
Isso porque uma empresa estrangeira, que não teve o nome
divulgado, vendeu a participação no país para um grupo
nacional, o que impactou a conta de investimentos estrangeiros
líquidos. O nome da empresa não foi revelado, mas o valor da
operação foi estimado em US$ 1,5 bilhão.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, o saldo
dos investimentos estrangeiros líquidos somou US$ 1 bilhão
até o dia 20. Por causa da compra da empresa estrangeira pela
brasileira, o BC estima que a conta fechará o mês com saldo
positivo de US$ 3 bilhões.
Fonte: Agência Brasil, 2012.

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Desenvolvimento Socioeconômico

Ainda sobre os índices de desenvolvimento, o gráfico abaixo


mostra os investimentos diretos no Brasil, fazendo um
comparativo dos últimos quatro anos (2009-2012):

Figura 1.1- Investimento estrangeiro direto acumulado no ano

Fonte: ITAÚ, 2012.

2.1 Como países com renda per capita baixa podem fomentar
a poupança?
Essa questão se relaciona ao fato de baixos índices de
desenvolvimento estarem associados a países de maioria pobre
e de alta concentração de renda. Muitas vezes um país rico,
mas que apresenta nível alto de concentração de renda, alcança
crescimento econômico, condição para o desenvolvimento, não
consegue se desenvolver, porque desenvolvimento não condiz
com concentração de renda.

Países onde o setor primário é predominante têm


como característica forte crescimento econômico,
porém, com baixo nível de desenvolvimento.

Para identificar e analisar os níveis de desenvolvimento e


concentração de renda, faz-se uso de indicadores como o IDH-
Índice de desenvolvimento humano, e do Índice de Gini.

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

Sobre esse índice, ele pode ser conhecido no quadro abaixo,


o qual mostra que quanto mais desenvolvido o país menor a
concentração de renda.

O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano


Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de
concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta
a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos
mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns
apresentam de zero a cem). O valor zero representa a
situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda.
O valor um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma
só pessoa detém toda a riqueza. Na prática, o Índice de
Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20%
mais ricos. No Relatório de Desenvolvimento Humano
2004, elaborado pelo Pnud, o Brasil aparece com Índice
de 0,591, quase no final da lista de 127 países. Apenas
sete nações apresentam maior concentração de renda.
(WOLFFENBÜTTEL, 2007).

Quadro 1.1 – Exemplos do índice de Gini


Posição
ranking País Índice
mundial
1 Hungria 0,244
2 Dinamarca 0,247
3 Japão 0,249
34 Índia 0,325
67 Portugal 0,385
76 EUA 0,408
90 China 0,447
93 Rússia 0,456
109 Argentina 0,522
112 México 0,546
118 Chile 0,571
119 Colômbia 0,576
120 Brasil 0,591
121 África do Sul 0,593
127 Namíbia 0,707
Fonte: IPEA, 2007.

28
Desenvolvimento Socioeconômico

Além dos elementos apresentados anteriormente como


fundamentais para o desenvolvimento, os autores enfatizam dois
fatores estratégicos para que um país alcance o desenvolvimento:
o capital humano e o capital físico.

O capital humano é o valor do ganho de renda potencial


incorporado em cada indivíduo, ou seja, inclui a habilidade
inerente à pessoa e seu talento, assim como a educação e as
habilidades adquiridas; enquanto o capital físico está relacionado
à presença notável de maquinário e de equipamentos sofisticados
e abundantes em países ricos, e à sua escassez e ausência em
países pobres.

Investir na formação dos trabalhadores é um dos grandes


diferenciais que os países que lograram alcançar níveis altos de
desenvolvimento fizeram. Países como Coreia do Sul, Taiwan,
Singapura, estão entre aqueles que optaram pelo desenvolvimento
a partir do fortalecimento do estoque de capital humano,
representando acréscimos no estoque de capital físico.

A questão do desenvolvimento também passa necessariamente pelas


mudanças estruturais de um país. Pensar o desenvolvimento é pensar
educação, saúde de qualidade, questões ambientais, infraestrutura,
inovação tecnológica, segurança, entre outros pontos.

Segundo Bresser Pereira (2008, p.15):

O desenvolvimento econômico é um processo histórico


deliberado de elevação dos padrões de vida que ocorre
dentro de cada Estado-Nação. É o resultado de uma
estratégia nacional que tem como líderes os governantes,
como principais agentes os empresários e a burocracia
do estado, e como forma de realização a acumulação de
capital e a incorporação de conhecimento à produção.
Em cada estado nacional sua liderança é exercida pelo
governo, que age em estreita relação com os cidadãos
e particularmente com os empresários no processo de
definir políticas econômicas e instituições legais que
promovam o investimento e o aumento da produtividade.

Por mais que um país apresente crescimento econômico,


representado por indicadores como PIB e PIB per capita, não
necessariamente esse crescimento vai resultar em melhorias na

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

qualidade de vida. Ele poderá provocar concentração de renda e


de recursos numa região específica do país, resultando em “ilhas
de prosperidade”, rodeadas por “ilhas de pobreza e atraso”.

2.2 Subdesenvolvimento
As relações econômicas entre os países favorecem, na sua grande
maioria, o surgimento de dois tipos de nações: as desenvolvidas e
as subdesenvolvidas. Mesmo com todo avanço tecnológico que a
humanidade vem desfrutando nos últimos anos, os frutos desse
avanço não de distribuem de maneira uniforme, como afirma
Furtado (1992, p. 7): “os aumentos de produtividade e assimilação
de novas técnicas não conduzem à homogeneização social, ainda
que causem a elevação do nível de vida médio da população”.

Nos países subdesenvolvidos essa condição é fortalecida pela


sua estrutura econômica que, segundo Souza (1995, p.27),
“encontra-se compartimentada em um setor de subsistência, um
setor de mercado interno e um setor de mercado externo”, que
se caracterizam por baixa produtividade, pouca diversidade nos
produtos e direcionamento ao mercado externo.

Mesmo evoluindo de forma significativa, a economia brasileira


ainda é fortemente direcionada ao mercado externo, e tem a sua
pauta de exportação baseada fortemente em produtos primários
ou semimanufaturados.

Quem acompanha o mercado acionário, suas altas


e baixas, percebe a influência das commodities no
desempenho dos pregões em todo o mundo. As notícias
em jornais ou noticiários financeiros, normalmente, são
compostas pelas frases: “Bolsas sobem com commodities”
ou então, “Commodities derrubam as bolsas”. Por quê?
Commodities em inglês significa mercadorias. No mercado
financeiro, a palavra refere-se às transações de matéria-
prima, agrícola ou mineral, de grande importância
para toda a economia internacional. São exemplos
de commodities: petróleo, minério de ferro, cobre, café,
soja, entre outros. Seus preços são cotados em dólar
e os contratos de compra e venda são negociados nas
bolsas internacionais. Sendo assim, elas representam
recursos fundamentais para a produção industrial e

30
Desenvolvimento Socioeconômico

para o consumo de qualquer economia, e a oscilação em


sua cotação tem influência direta nos fluxos financeiros
internacionais. (INVESTBOLSA, 2008).

Veja o gráfico abaixo, que mostra as principais exportações


brasileiras no período 2009-2010, focadas, principalmente, em
commodities.

Figura 1.2 – Valor e participação de algumas commodities na pauta de exportações


35.000 35%

Participação no total exportado


30.000 30%

25.000 25%
US milhões

20.000 20%

15.000 15%

10.000 10%

5.000 5%

0 0%
16- preparações de carnes

20- preparações de produtos hortícolas

26- minérios, escórias e cinzas


28- produtos químicos inorgânicos
08- frutas
09- café
10- cereais
12- soja
15- gorduras e óleos animais e vegetais

21- preparações alimentícias diversas


23- resíduos das indústrias alimentares
24- fumo

47- papel
52- algodão
74- cobre
76- alumínio
02- carnes

17- açúcar

Valor exportado (2009) Participação (2009)


Valor exportado (2010) Participação (2010)

Fonte: IPEA, 2010.

Nos países que têm importância forte o setor primário e grande


parte da produção desse setor é direcionada à exportação, a pauta
de importação está fortemente atrelada a produtos manufaturados
de alto valor agregados, assim, corre-se o risco de que as relações
de trocas fiquem deterioradas, pois é necessário vender muito
para comprar uma quantidade pequena.

Para explicar essa relação, Raul Prebisch cria a teoria das relações
trocas deterioradas.

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

2.2.1 Principais expoentes dos estudos sobre o subdesenvolvimento


no Brasil
Celso Furtado, economista brasileiro que figurou entre os
grandes pensadores da CEPAL (Comissão Econômica para
America Latina e Caribe), fez uma abordagem crítica em
relação à temática do desenvolvimento e do subdesenvolvimento,
conceitos que estão vinculados entre si. Nessa perspectiva,
segundo Furtado (2009, p.30), “o desenvolvimento no mundo
todo tende a criar desigualdades. É uma lei universal inerente ao
processo de crescimento: a lei da concentração”.

Celso Furtado parte da premissa levantada por Raul Prebisch,


economista argentino e membro da Cepal, de que o capitalismo é
“um processo de difusão do progresso técnico, difusão irregular,
comandada pelos interesses das economias criadoras de novas
técnicas”. (Furtado, 1992, p.5).

Partindo dessa afirmação, pode-se entender o porquê dos


desequilíbrios entre países e mesmo entre regiões, como no caso
da América Latina e na sua relação com os países desenvolvidos.
Mesmo internamente aos países, temos diferenças significativas,
em que se observa o desenvolvimento e o subdesenvolvimento
convivendo “pacificamente”, de forma que as diferenças parecem
se atenuar à medida que se avança tecnologicamente. Dessa
forma, a difusão da “riqueza” não se dá de maneira uniforme.

Para Furtado (1992, p.8), “o subdesenvolvimento é um


desequilíbrio na assimilação dos avanços tecnoló­gicos produzidos
pelo capitalismo industrial a favor das inovações que incidem
dire­tamente sobre o estilo de vida.” Para usufruir desses avanços,
faz-se necessário uma forte dominação e estratificação pelas
classes dominantes, como afirma Furtado (1992, p.9):

A teoria do subdesenvolvimento, entre muitas coisas,


mostra claramente que para manter o nível de consumo das
classes mais ricas brasileiras, níveis e padrões de consumo
que tendem a imitar os padrões de consumo das altas
classes dos países centrais, há a necessidade de reforçar as
estruturas de dominação e estratificação existentes. Com
isso permite-se a uma privilegiada parcela da população,
usufruir da maior parte do produto nacional, causando
uma repartição extremamente perversa e desigual, porém
necessária para a manutenção do status quo.

32
Desenvolvimento Socioeconômico

Sendo assim, tem-se claro que para vencer o subdesenvolvimento


é necessária vontade política. O Estado deve assumir um papel
fundamental no processo de superação do subdesenvolvimento,
o que, para Furtado (1992), é possível, principalmente, por
intermédio de ações referentes a políticas públicas e econômicas,
direcionadas à superação do subdesenvolvimento.

Ao elencar ações para a superação do subdesenvolvimento, Celso


Furtado utiliza exemplos da Coreia do Sul e Taiwan, países que
têm elevado nível de homogeneidade social:

As experiências referidas nos ensinam que a


homogeneização social é condição necessária,
mas não suficiente para alcançar a superação do
subdesenvolvimento. Segunda condição necessária é a
criação de um sistema produtivo eficaz, dotado de relativa
autonomia tecnológica, o que requer: (a) descentralização
de decisões que somente os mercados asseguram; (b)
ação orientadora do Estado dentro de uma estratégia
adrede concebida; e (c) exposição à concorrência
internacional. Também aprendemos que para vencer a
barreira do subdesenvolvimento não se necessita alcançar
os altos níveis de renda por pessoa dos atuais países
desenvolvidos. (FURTADO, 1992, p.15).

Para conhecer mais sobre a teoria de Celso Furtado,


leia o artigo O subdesenvolvimento revisitado, na obra
Economia e Sociedade, de 1992, indicado no Saiba Mais
desta unidade.

Outros pensadores também se debruçaram sobre o tema do


subdesenvolvimento, como Raul Prebisch, ao apontar três
questões importantes, como seguem:

1) Uma tal estrutura entorpece consideravelmente a


mobilidade social, isto é, a origem e o crescimento
dos elementos dinâmicos da sociedade, dos homens
com iniciativa e energia, capazes de assumir riscos e
responsabilidades, tanto na técnica e na economia quanto
nos outros aspectos da vida coletiva;

Unidade 1 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) A estrutura social se caracteriza em grande parte pelo


privilégio na distribuição da riqueza e, assim, da renda;
o privilégio debilita ou elimina o incentivo à atividade
econômica, em detrimento do emprego eficaz dos
homens, das terras e das máquinas;
3) Esse privilégio distributivo não se traduz em forte
ritmo de acumulação de capital, a não ser em formas
exageradas do consumo nas camadas superiores da
sociedade em contraste com a precária existência das
massas populares.
(PREBISCH, 1963, p. 12).

Para Prebisch, a estrutura social predominante na América


Latina, na sua condição periférica, apresenta forte entrave ao
progresso técnico e ao desenvolvimento econômico e social.

Outro pensador brasileiro que contribuiu de maneira importante


para a discussão do subdesenvolvimento brasileiro foi Florestan
Fernandes.

Na sua relação econômica com outros países, especificamente


os desenvolvidos, o Brasil assume um papel de produtor de
excedentes, atuando de forma subsidiária.

Conforme Fernandes (1968, p. 36-37), o Brasil se torna uma


plataforma de produção de excedente econômico a ser apropriado
por nações e capitais imperialistas:

Trata-se de uma economia de mercado capitalista


constituída para operar, estrutural e dinamicamente:
como uma entidade especializada, ao nível da integração
do mercado capitalista mundial; como uma entidade
subsidiária e dependente, ao nível das aplicações
reprodutivas do excedente econômico das sociedades
desenvolvidas; e como uma entidade tributária, ao nível
do ciclo de apropriação capitalista internacional, no qual
ela aparece como uma fonte de incrementação ou de
multiplicação do excedente econômico das economias
capitalistas hegemônica.

Essa relação dependente é danosa para o país, pois impede, dessa


forma, o desenvolvimento, condenando, assim, todos os esforços
que são feitos no sentido de sair da condição de subdesenvolvido.

34
Desenvolvimento Socioeconômico

Nesse contexto, Florestan Fernandes (1981, p.16) inaugura a era


da discussão sobre capitalismo dependente na América Latina.

As influências externas atingiram todas as esferas


da economia, da sociedade e da cultura, não apenas
através de mecanismos indiretos do mercado mundial,
mas também através de incorporação maciça e direta
de algumas fases dos processos básicos de crescimento
econômico e de desenvolvimento sociocultural. Assim,
a dominação externa tornou-se imperialista, e o
capitalismo dependente surgiu como uma realidade
histórica na América Latina.

A teoria do capitalismo dependente de Florestan e a teoria


do subdesenvolvimento de Furtado são convergentes ao
desacreditarem no subdesenvolvimento como condição
preliminar para o desenvolvimento.

Como Prebisch e outros pensadores cepalinos, Florestan


Fernandes elenca elementos importantes para a condição
dependente da América Latina, considerados por ele entraves
permanentes ao desenvolvimento:

Os países latino-americanos enfrentam duas realidades


ásperas: 1) estruturas econômicas, socioculturais e
políticas internas que podem absorver as transformações
do capitalismo, mas que inibem a integração nacional
e o desenvolvimento autônomo; 2) dominação externa
que estimula a modernização e o crescimento, nos
estágios mais avançados do capitalismo, mas que
impede a revolução nacional e uma autonomia real.
Os dois aspectos são faces opostas da mesma moeda
(FERNANDES, [1973] 1981, p. 26).

Resumindo, de acordo com Florestan, a situação política, social


e econômica dos países da periferia tem como características a
polarização social, a baixa autonomia, a dependência ao mercado
externo e forte exportação de excedente, sendo resultado da
crescente expansão internacional do capital para as regiões
periféricas. Isto é de fato um fator sistêmico e determinante
externo da dependência e do subdesenvolvimento.

Unidade 1 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você estudou os conceitos de crescimento e


desenvolvimento econômico em suas diferentes abordagens.
Evidenciou-se a diferença entre o crescimento e desenvolvimento
econômico, incluindo os indicadores utilizados para a
mensuração de ambos, o conceito de desenvolvimento e as
questões estruturais pertinentes ao tema. Estudamos também o
subdesenvolvimento econômico e as suas diversas abordagens.

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

1) Sobre o desenvolvimento econômico e sua abordagem é incorreto


afirmar que:

a. ( ) É um processo histórico deliberado de elevação dos padrões de


vida que ocorre dentro de cada Estado-Nação.
b. ( )Assume o mesmo conceito de crescimento econômico, pois as
variáveis analisadas são as mesmas.
c. ( ) A presença de crescimento econômico em um país não garante
desenvolvimento econômico.
d. ( )Ao considerar crescimento e desenvolvimento econômico
como o mesmo conceito, as ideias são resumidas em variáveis
quantitativas, mensuradas por indicadores também quantitativos,
que escondem, por exemplo, a má distribuição de renda.
e. ( ) Uma das condições para que um país se desenvolva é a formação
de poupança como forma de financiamento dos investimentos
necessários.

36
Desenvolvimento Socioeconômico

2) Diferencie desenvolvimento econômico de crescimento econômico.

3) A partir dos elementos levantados por Florestan Fernandes, explique


como pode ser caracterizado o desenvolvimento do Brasil e da América
Latina.

Unidade 1 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

FILELLINI, Alfredo. Desenvolvimento e


subdesenvolvimento. São Paulo: EDUC, 1994.

FURTADO, Celso. O subdesenvolvimento revisitado.


Economia e Sociedade. No1. Agosto 1992.

GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco


Antonio Sandoval de. Fundamentos de economia. 2 ed. São
Paulo: Saraiva, 2004.

KUNTZ, Rolf (ORG.). François Quesnay: economia. São


Paulo: Ática, 1984. 192 p.

KUNTZ, Rolf. Capitalismo e natureza: ensaio sobre os


fundadores da economia política. São Paulo: Brasiliense, 1982.
139 p.

MEIR, G. M.;BALDWIN, R. E. Desenvolvimento


econômico. São Paulo: Mestre Jou, 1968.

NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo, Marx. 8 ed. Rio de Janeiro:


Biblioteca de Economia, 2000.

PAZ, Pedro, RODRIGUES, Octávio. Modelos de crescimento


econômico. Rio de Janeiro: Forum, 1972.

SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. 4 ed. São


Paulo: Atlas, 1999.

VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E. Fundamentos


da economia. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

38
2
unidade 2

Abordagem histórica do processo


de desenvolvimento

Objetivos de aprendizagem
„„ Aprofundar os conhecimentos sobre o processo de
desenvolvimento.

„„ Analisar a contribuição teórica das diferentes escolas


do pensamento econômico e sociológico sobre o
desenvolvimento econômico.

Seções de estudo
Seção 1 Fatores que desencadearam o processo de
desenvolvimento

Seção 2 Interpretação marxista do desenvolvimento

Seção 3 Interpretação schumpeteriana do


desenvolvimento

Seção 4 Interpretação keynesiana do desenvolvimento


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, apresentamos os principais fatores que
contribuíram para desencadear o processo de desenvolvimento
econômico, as contribuições marxista, keynesiana,
schumpeteriana e de Kalecki para o aprofundamento dos estudos
dessa temática.

Para entender o processo de desenvolvimento pelo qual passaram


as diferentes nações, é importante olhar para trás, numa
perspectiva histórica.

Os avanços pelos quais a sociedade mundial passou a partir da


Revolução Industrial são incontestáveis, o que nos permite dizer
que nessa perspectiva pode-se dividir a humanidade em dois
períodos: antes e depois da Revolução Industrial.

Seção 1 - Fatores que desencadearam o processo de


desenvolvimento
O processo de desenvolvimento se dá a partir das grandes
navegações e do descobrimento de vários países, o que permitiu
o surgimento de novos produtos e ao mesmo tempo ganhos
econômicos, por meio do comércio que se desenvolveu.

Alguns fatores foram importantes para fortalecer esse processo,


como apresentamos abaixo.

1.1 O fim do feudalismo


O primeiro fator que desencadeou o desenvolvimento certamente
foi o fim do feudalismo, modo de organização social que, devido
à ênfase nas relações de troca e na produção de subsistência e

40
Desenvolvimento Socioeconômico

ausência do comércio, impedia o desenvolvimento das forças


produtivas e, dessa forma, o crescimento econômico.

Segundo Souza (1995, p.33), “no interior dos feudos, o


regime, ao mesmo tempo em que proporcionava estabilidade
social, constituía-se em um imobilismo secular, prejudicial ao
desenvolvimento das forças produtivas”.

O comércio vai ser o elemento mais importante na derrocada do


feudalismo e na passagem para novas fases, o renascimento e o
mercantilismo que, segundo Souza (1995), permitiram alcançar
novos horizontes e deram origem à uma modificação social na
Europa.

1.2 A Revolução Industrial Inglesa


O advento da Revolução Industrial Inglesa determinou o avanço
na produção industrial e o surgimento de novas tecnologias,
permitindo o incremento nos transportes e na atividade agrícola,
tendo efeito direto sobre os custos de produção e o aumento da
oferta de bens e serviços, que vão culminar na redução dos preços e
no acesso de uma gama maior de bens e serviços pela população.

Os principais fatores que permitiram o desenvolvimento da


Revolução Industrial pela Inglaterra foram (SOUZA, 1995):

„„ O comércio permitiu à Inglaterra o acúmulo de capitais,


favorecido por um sistema de créditos originados com a
fundação do Banco da Inglaterra, o que vai favorecer o
aumento do comércio internacional;

„„ A posse de propriedades rurais pelos capitalistas


permitiu a expansão da atividade agrícola, o aumento da
produtividade e ao mesmo tempo o êxodo rural;

„„ O aumento da população, que vai se dar em função


da melhora da atividade agrícola, gerou um aumento
da produção de alimentos e melhoria na qualidade da
produção agrícola;

Unidade 2 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ O comércio marítimo, dado a condição geográfica da


Inglaterra;

„„ A existência de grandes jazidas de carvão, que vão passar


a ser utilizadas a partir do surgimento da máquina a
vapor, permitiu a redução nos custos de transportes;

„„ O uso do carvão nas siderúrgicas e na indústria permitiu


o barateamento do processo produtivo do aço e o
aumento da produtividade dos trabalhadores.

Outros fatores ainda poderiam ser elencados, como o aumento


da renda per capita e das taxas de lucros, o crescimento da
população nas áreas urbanas, a abertura de novos mercados
externos e a melhora nos processos produtivos no setor têxtil,
como a introdução da fiandeira volante e da máquina de fiar, a
produção em galpões, entre outros.

Segundo Souza (1995, p.36), “O crescimento da renda estimulava


o consumo, os investimentos e a adoção de inovações técnicas,
fechando o círculo dinâmico do crescimento”.

O Estado também foi fundamental para o desenvolvimento inglês,


ao criar “regulamentação comercial, a proteção internacional de
interesses privados ingleses, como a abertura e preservação de
novos mercados; [..] evitar a queda da taxa de lucros e, então, do
ritmo dos investimentos” (SOUZA, 1995, p.36).

Aqui temos um grande paradoxo, pois no berço das teorias


liberais da Escola Clássica, que defendia o Estado mínimo, e
do capitalismo moderno, o Estado tem papel importante no
fortalecimento da Revolução Industrial inglesa.

1.3 O surgimento dos EUA como nova potência industrial


Alguns aspectos foram importantes para o declínio do papel da
Inglaterra como potência industrial nessa época, principalmente
o surgimento de concorrentes, destacando-se os Estados Unidos,
acompanhados da Alemanha e do Japão, que começam a usufruir
dos avanços proporcionados pela Revolução Industrial Inglesa, já
difundidos para outros países.

42
Desenvolvimento Socioeconômico

Com a busca da Inglaterra por novas áreas para negócios e


expansão econômica, forçada pelo seu crescimento demográfico,
que demandava uma produção sempre maior de alimentos, as
conquistas coloniais foram a saída encontrada para a necessidade
de terra fértil e em grande quantidade.

Nessa busca, os imigrantes ingleses encontram as terras


americanas, férteis e em grande quantidade. Segundo Souza
(1995), os imigrantes levavam, além da vontade de trabalhar,
conhecimento e capital, fatores determinantes para a revolução
industrial americana.

Porque a colonização americana pelos ingleses


oportunizou o desenvolvimento americano, ao
contrário de outros países, como a Índia, que
foi colonizada pelos ingleses e não alcançou o
desenvolvimento?

A diferença está na forma de colonização, pois enquanto nos


Estados Unidos os ingleses foram para ficar, estabeleceram aí sua
nova vida; na Índia, a colonização tinha como objetivo explorar os
recursos produtivos e enviar para a metrópole, no caso, a Inglaterra.

Os Estados Unidos, portanto, vão se beneficiar dos avanços


tecnológicos criados na Inglaterra, e isso será fundamental no
desenvolvimento americano, como afirma Tauile (2001, p.22):

A revolução industrial, que surgiu e se desenvolveu


inicialmente na Europa Setentrional, mais precisamente
centrada na Inglaterra, foi um importante fator para trazer
ao continente americano, em especial para os Estados
Unidos, as “sementes” dessa nova revolução tecnológica.
A colonização norte-americana foi condicionada por
um conjunto de características que fizeram não apenas
com que o desenvolvimento do capitalismo nos Estados
Unidos se desse de maneira extremamente vigorosa - na
virada para o século XX, a produção industrial americana
já era maior do que a da Inglaterra -, como também que
surgisse uma série de novas peculiaridades na dinâmica do
capitalismo moderno. 

Unidade 2 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esses avanços vão fazer com que os Estados Unidos sejam o


destino de 27,8 milhões de pessoas no período de 50 anos,
que vai de 1880 a 1930, impactando consideravelmente o
desenvolvimento da Revolução Industrial Americana.

São fatores determinantes da Revolução Industrial Americana


(SOUZA, 1995, p.38):

1. As inovações tecnológicas: Fortes transformações vão


se dar na agricultura, principalmente na produção de
algodão, que vai alimentar de matérias primas o setor
têxtil da Inglaterra, tornando-se o principal produto
exportado pela economia americana.
A inovação não fica restrita ao algodão, alcançando outros
setores da atividade agrícola, como os secadores de cereais,
os debulhadores de milho e os semeadores de trigo.

2. A introdução de métodos científicos no cultivo e na


criação de animais.

3. A democratização do acesso à terra.

Na questão da terra, o acesso foi democratizado por meio do


Homestead Act de 1862.

Conforme Veiga (1991, p. 60):


A promulgação da famosa Homestead Law, que
procurava facilitar a distribuição de lotes de 160 acres
(64,75 ha), ocorreu em 1862, quando a rebelião do sul
deu maioria no Congresso ao jovem partido Republicano,
emanação dos meios industriais e financeiros do nordeste,
francamente partidários da free land.

A democratização do acesso a terra permitiu aos Estados Unidos


ter uma base agrícola bem distribuída e de base familiar, o que
lança as bases para um forte desenvolvimento, consolidando a
revolução agrícola americana e permitindo o crescimento da
renda dos agricultores.
O crescimento da renda agrícola, devido aos assentamentos
de colonos e às transformações da agricultura, assim
como a expansão industrial urbana, fruto das inovações
tecnológicas ocorridas na agricultura, favoreceu o setor de
mercado interno (SOUZA, 1995, p.39)

44
Desenvolvimento Socioeconômico

Outros fatores ainda devem ser considerados, como a revolução


nos transportes e o crescimento da renda agrícola, que vão
influenciar o crescimento do mercado interno e irão acontecer de
forma simultânea com o crescimento das exportações.

Mesmo com todo o desenvolvimento que o Estados Unidos


aufere, esse país não vai ficar imune às crises, como a Grande
Depressão ocorrida nos anos 1930, que vai demonstrar o que
Marx chama de contradições do capitalismo.

A expansão súbita e intermitente da escala de produção


é o pressuposto de sua contração súbita; a contração
provoca novamente a expansão, mas essa é impossível
sem material humano disponível, sem multiplicação dos
trabalhadores independente do crescimento absoluto da
população (MARX, 1984, p. 201).

Devido às suas crises e aos aspectos inerentes ao seu


desenvolvimento, vão se constituir nos Estados Unidos diferenças
significativas entre as regiões. Assim, o Sul não teve acesso ao
mesmo nível de desenvolvimento da média americana, sendo que
alguns estados do Sul (SOUZA, 1995, p.41), “tinham renda per
capta de 50% da renda do país.”

1.4 O Japão como modelo de desenvolvimento


Quando se pensa em um país modelo de desenvolvimento
geralmente se associa ao Japão essa qualidade.

O primeiro passo para o desenvolvimento japonês foi o fim do


Xogunato, também conhecido pelos governos militares, em
1986, como o movimento chamado Restauração Meiji. Segundo
Brandão (1998, p. 28),

as forças do “Xogum” eram compostas por 80.000


hatamotos (soldados fortemente armados) que serviam
para estabelecer a “paz” interna a qualquer eventual
conflito. Desse modo, o período Tokugawa corresponde
ao fortalecimento da unidade nacional japonesa ao impor
uma capital (Tóquio), que deveria abrigar a família de
todos os Xoguns. A consequência foi a formação de um
centro comercial e cultural “nacional”.

Unidade 2 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

Ao mesmo tempo em que favorecia a unidade nacional, o


Xogunato fechava o Japão às influências externas, mantinha
a concentração de terra nas mãos da Familia Tokugawa, que
exercia o Xogunato. (SOUZA,1995).

A restauração Meiji vai permitir ao país a abertura ao ocidente,


a abolição do sistema feudal, as mudanças na posse da terra
e a contínua abertura dos portos. “A Restauração Meiji
transformou em duas décadas o Japão num mais moderno”
(JANEIRA, 1985, p. 34).

A restauração Meiji
A era Meiji (1868-1912) representa um dos períodos mais notáveis
da história das nações. Sob o reinado do imperador Meiji, o Japão
realizou, em apenas algumas décadas, o que levou séculos para
se desenvolver no Ocidente - a criação de uma nação moderna,
com indústrias modernas, instituições políticas modernas e um
modelo moderno de sociedade.
Nos primeiros anos de seu reinado, o imperador Meiji transferiu
a capital imperial de Kyoto para Edo, sede do governo feudal
anterior. A cidade foi rebatizada de Tóquio, que significa “Capital
Oriental”. Foi promulgada uma Constituição, que estabelecia um
gabinete e uma legislatura bicameral. Foram abolidas as velhas
classes nas quais a sociedade havia sido dividida durante a era
feudal. O país inteiro lançou-se, com energia e entusiasmo, ao
estudo e à adoção da moderna civilização ocidental.
A Restauração Meiji assemelhou-se ao rompimento de um
dique atrás do qual haviam se acumulado as energias e forças de
séculos. A onda e o fermento provocados pela súbita liberação
dessas energias se fizeram sentir no exterior. Antes do final do
século XIX, o país envolveu-se na Guerra Sino-Japonesa de 1894-
95, que terminou com a vitória do Japão. Uma das consequências
da guerra, por parte do Japão, de Taiwan, na China. Dez anos
depois, na Guerra Russo-Japonesa de 1904-05, o Japão saiu
vitorioso mais uma vez, conquistando a ilha Sakalina do Sul, que
havia sido cedida à Rússia em 1875, em troca das Ilhas Kurilas, e
teve reconhecido seu interesse especial na Manchúria. Após ter
excluído outras potências de exercer qualquer influência sobre
a Coreia, o Japão, primeiramente, tornou-a seu protetorado, em
1905, e depois anexou-a em 1910.

46
Desenvolvimento Socioeconômico

O imperador Meiji, cujo governo ilustrado e construtivo


ajudou a conduzir a nação durante as décadas dinâmicas de
transformação, morreu um 1912, antes da eclosão da Primeira
Guerra Mundial. No final dessa guerra, na qual o Japão entrou
sob as cláusulas da Aliança Anglo-Japonesa de 1902, o país foi
reconhecido como uma das grandes potências do mundo. O
imperador Taisho, que sucedeu o imperador Meiji, foi sucedido,
por seu turno, pelo imperador Hirohito, em 1926, e começou a
era Showa.
Fonte: HISTÓRIA. Embaixada do Japão no Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.rio.br.emb-japan.go.jp/caracteristicas/historia.htm>. Acesso em:
12 mar. 2013.

Seção 2 - Interpretação marxista do desenvolvimento


O ponto de partida para entender a teoria marxista do
desenvolvimento econômico é o “materialismo dialético”. Para
Marx, a história da humanidade se dá em função da forma como
os indivíduos satisfazem suas necessidades materiais por meio do
trabalho.

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que


participam o homem e a natureza, processo em que o
ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula
e controla seu intercâmbio material com a natureza.
Defronta-se com a natureza como uma de suas forças.
Põe em movimento as forças naturais de seu corpo –
braços e pernas, cabeça e mãos -, a fim de apropriar-se
dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à
vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e
modificando-a, ao mesmo tempo, modifica sua própria
natureza. (MARX, [1988] 2002, p.211).

Começa, assim, a construção da teoria do valor trabalho por


Marx, a partir das premissas levantadas por Adam Smith,
segundo ele,o valor de um bem dependia da quantidade de
trabalho necessário para a sua produção, ou seja, “os bens contêm

Unidade 2 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

certa quantidade de trabalho que permutamos por aquilo que,


na ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade igual.”
(SMITH, 1988, p.36).

Ao diferenciar valor de uso do valor de troca, Marx reforça a


importância das trocas para o desenvolvimento econômico, sendo
que elas têm a “função de desafogar os estoques e dinamizar a
produção.” (SOUZA, 1995, p.77). Assim, quanto maior forem
as trocas na economia, maior tende a ser o nível de produção,
que vai determinar de forma significativa a utilização dos fatores
produtivos capital, trabalho, recursos naturais e de inovação.

Marx vai chamar de relações de produção “ a interação entre


as técnicas de produção e a organização socioeconômica da
sociedade, que vão compreender a organização do trabalho,
suas qualificações, conhecimento, processos e o estado geral da
técnica” (SOUZA, 1995, p.77). Para isso, ele parte da ideia de
que as relações entre capitalistas e trabalhadores caracterizam
uma relação social, e que os antagonismos dessas duas classes
emergem das contradições internas do sistema capitalista.

O antagonismo existente entre trabalhadores e capitalistas


vai determinar a organização e o fortalecimento da classe
trabalhadora, visando a modificar a situação existente.

Com o desenvolvimento da indústria, o proletariado não


apenas se multiplica; concentra-se em massas cada vez
maiores, sua força aumenta e ele sente mais tudo isso.
Os interesses, as condições de existência no interior do
proletariado igualam-se cada vez mais à medida que a
maquinaria elimina todas as distinções de trabalho e
reduz, quase por toda parte, os salários a um mesmo nível
baixo. A crescente concorrência dos burgueses entre si e
as crises comerciais que disso resultam tornamos salários
dos operários cada vez mais instáveis; o aperfeiçoamento
constante e cada vez mais rápido das máquinas torna as
condições de vida do operário cada vez mais precárias;
as colisões entre o operário singular e o burguês singular
assumem cada vez mais o caráter de colisões entre duas
classes. Os operários começam a formar coalizões contra
os burgueses; reúnem-se para defender seus salários.
Chegam até mesmo a fundar associações permanentes
para estarem precavidos no caso de eventuais sublevações.
Aqui e ali a luta explode em revoltas (MARX;
ENGELS, 1998, p. 74).

48
Desenvolvimento Socioeconômico

A organização do proletariado vai ensejar uma resposta por parte


dos capitalistas, que se manifesta na melhora das relações de
trabalho e no acesso a direitos trabalhistas aos trabalhadores.

Seção 3 - Interpretação schumpeteriana do


desenvolvimento
As transformações ocorridas na economia mundial, nas últimas
décadas, trazem à tona as ideias de um economista que contribuiu
de forma significativa para a temática do desenvolvimento: Joseph
Alois Schumpeter.

Schumpeter coloca em evidência na sua teoria o papel das


inovações, resultado do incremento que a tecnologia vem
desempenhando no processo de desenvolvimento econômico.

Segundo ele, as inovações são determinadas a partir dos


investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e
são incorporadas pelos consumidores à medida que são ofertadas.

As inovações no sistema econômico não aparecem, via


de regra, de tal maneira que primeiramente as novas
necessidades surgem espontaneamente nos consumidores
e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão.
Não negamos a presença desse nexo. Entretanto, é o
produtor que, igualmente, inicia a mudança econômica,
e os consumidores são educados por ele, se necessário;
são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas,
ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas
que tinham o hábito de usar. Portanto, apesar de
ser permissível, e até mesmo necessário, considerar
as necessidades dos consumidores como uma força
independente e, de fato, fundamental na teoria do fluxo
circular, devemos tomar uma atitude diferente quando
analisamos a mudança (SCHUMPETER, 1988, p. 48).

Essas mudanças vão originar as inovações, que são características


do “empresário inovador”, ou seja, daquele tipo de empresário que
adota “novas cominações produtivas” e coloca-as em prática.

Unidade 2 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

O empresário, nesse caso, seria a figura central no processo de


dinamizar a economia e colocar para a sociedade as inovações,
para que elas não fiquem ociosas, “pois se não forem postas em
prática, permanecem economicamente relevantes” (SOUZA,
1995, p.113).

Para definir o indivíduo que possui perfil de empresário, Possas


(1987, p. 175) afirma que “o empresário não se confunde com o
capitalista nem constitui uma classe, podendo exercer qualquer
função numa firma. Não é necessariamente proprietário ou
acionista, embora a classe capitalista seja nutrida por empresários
bem-sucedidos”. E a sua função primordial seria colocar no
mercado as inovações, assumindo, assim, o papel de líder
econômico.

Na visão de Schumpeter (1988, p. 48-49), as inovações podem ser


definidas como:

Introdução de um novo bem, ou seja, um bem com que


os consumidores ainda não estejam familiarizados ou de
uma nova qualidade de um bem.
Introdução de um novo método de produção, ou seja, um
método que ainda não tenha sido testado pela experiência
no ramo próprio da indústria de transformação, que,
de modo algum, precisa ser baseado numa descoberta
cientificamente nova, e pode consistir também em nova
maneira de manejar comercialmente uma mercadoria.
Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado
em que o ramo particular da indústria de transformação
do país em questão não tenha ainda entrado, quer esse
mercado tenha existido antes ou não.
Conquista de uma nova fonte de matérias-primas
ou de bens semimanufaturados, mais uma vez
independentemente do fato de que essa fonte já existia ou
teve que ser criada.
Estabelecimento de uma nova organização de qualquer
indústria, como a criação de uma posição de monopólio
(por exemplo, pela trustificação) ou a fragmentação de
uma posição de monopólio.

Dessa forma, Schumpeter traz à tona a importância das


inovações tecnológicas e do empresário para o processo de
desenvolvimento econômico.

50
Desenvolvimento Socioeconômico

Ainda na perspectiva do desenvolvimento, outro elemento


importante para que o empresário possa realizar as suas
atividades, para Schumpeter, seria o crédito.

Segundo Souza (1995, p.113), “conceder crédito ao empresário


significa emitir uma ordem ao sistema econômico, em
consonância com os anseios do empresário, no sentido de criar
capacidade produtiva adicional”.

O crédito assume, portanto, uma função importante na teoria


schumpeteriana. O capital passa a ser um bem econômico
especial, que necessita de um mercado definido. Surge, então, o
mercado monetário ou de capitais, que além de ter um produto
específico, também tem funções diferentes de outros mercados.

(...) a função principal do mercado de monetário ou


de capital é o comércio de crédito com o propósito de
financiar o desenvolvimento. O desenvolvimento cria e
alimenta esse mercado. No curso do desenvolvimento
lhe é atribuída ainda uma outra, ou seja, terceira função:
ele se torna mercado das próprias fontes de rendimentos
(SCHUMPETER, 1988, p. 86).

Outro aspecto importante elencado por Schumpeter que contribui


para o desenvolvimento econômico de uma sociedade seria o
processo de “destruição criadora”, que surge a partir da existência
das inovações e tem como princípio a eliminação de empresas não
inovadoras, que por serem ineficientes e crescerem a uma taxa
menor, acabam desaparecendo do mercado. (SOUZA, 1995).

O lucro do empresário assume um papel essencial dentro


dinâmica do desenvolvimento econômico, como propulsor e
motivador das inovações. E quando se leva em consideração o
sistema capitalista,

Sem o desenvolvimento não há nenhum lucro, sem


lucro não há nenhum desenvolvimento. Para o sistema
capitalista deve ser acrescentado ainda que sem lucro não
haveria nenhuma acumulação de riqueza. Ao menos não
haveria grande fenômeno social que temos em vista – este
é certamente uma conseqüência do desenvolvimento e, de
fato, do lucro (SCHUMPETER, 1988, p. 103).

Unidade 2 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

O grande legado de Schumpeter foi o de definir


a inovação como elemento fundamental para o
desenvolvimento, e o empresário “empreendedor”
como elemento importante na difusão das inovações
geradas.

Seção 4 - Interpretação keynesiana do desenvolvimento


A abordagem keynesiana do desenvolvimento está centrada na
macroeconomia do pleno emprego, nos fatores de crescimento
do investimento e nos seus impactos sobre o emprego e a renda.
A partir da crise de 1930, a teoria macroeconômica clássica,
representada pela lei de Say, segundo a qual toda a oferta cria a
sua demanda, cai por terra, dando lugar a uma ação mais efetiva
do Estado nos rumos da economia.

Para a economia sair da crise, fazia-se necessário a redução do


nível de desemprego e o aumento da produção, e segundo Keynes
(1982), isso só aconteceria a partir da ação do Estado, uma vez
que o mercado seria incapaz de alcançar o pleno emprego.

Um dos pontos importantes levantados por Keynes e não


considerados pelos economistas clássicos foi o desemprego
involuntário. Como as empresas não conseguem reduzir os
salários, item importante nos seus custos, nos momentos de baixa
demanda começam a fazer demissões para adequar a produção à
demanda do mercado.

Dessa forma, as demissões realizadas passam a ser um freio ao


crescimento da demanda e à elevação dos preços. Assim, não se
atinge o pleno emprego por insuficiência de demanda (SOUZA,
1995).

52
Desenvolvimento Socioeconômico

O tema central da análise keynesiana é o estudo das causas


das flutuações da produção, da renda e do emprego. A seguir,
apresentam-se elementos importantes pensados por Keynes, entre
os quais se destaca:

„„ A demanda efetiva: determina o volume de emprego na


economia, diferentemente do apregoavam os clássicos.
Para esses últimos, a oferta era o elemento dinâmico da
economia, conforme a lei de Say. Keynes (1982, p.59)
define o que vem a ser a demanda efetiva como “(...)
simplesmente a renda agregada (ou produto) que os
empresários esperam receber, incluídas de rendas que
fazem passar às mãos dos outros fatores de produção,
por meio do volume de emprego corrente que resolvem
conceder”.

„„ As expectativas dos agentes econômicos: por meio


da política monetária e fiscal, o governo age sobre as
expectativas dos agentes econômicos, influenciando
diretamente o nível dos investimentos.

„„ O grau de confiança: o grau de confiança dos


empresários é uma componente psicológica importante
apontada por Keynes, pois influencia as flutuações
econômicas e, mais especificamente, o nível de emprego.

„„ A propensão marginal a consumir: quanto melhor forem


as expectativas dos agentes econômicos quanto ao futuro,
maior tende a ser a propensão marginal a consumir, ou
seja, o consumo é uma função crescente da renda.

„„ Os investimentos: têm papel importante na economia


keynesiana. Eles que dependem do crescimento da
população, das inovações no processo produtivo e
do incentivo a investir. Dessa forma, quanto maior a
eficiência marginal do capital, maior tende a ser o nível
de investimentos na economia por parte dos empresários.

„„ Incerteza e risco: são dois componentes importantes


na análise keynesiana, sendo que a estabilidade das
instituições, o aumento da eficiência e a abertura de
novos mercados reduzirá o grau de incerteza e risco e
aumentará o nível de investimentos na economia.

Unidade 2 53
Universidade do Sul de Santa Catarina

Cabe destacar que a análise keynesiana é uma


abordagem de curto prazo, não descrevendo a
trajetória da economia no longo prazo, como a
teoria do desenvolvimento exige. Nesse sentido, a
abordagem pós-keynesiana vai se preocupar em
analisar a economia no longo prazo.

A abordagem pós-keynesiana, especificamente de Harrod e


Domar, tinha como preocupação, segundo Souza (1995, p.101),
“(...) saber como manter o crescimento persistente sem inflação
ou deflação”. Objetiva, dessa forma, encontrar um nível de
crescimento compatível com o pleno emprego, em uma economia
em expansão.

Segundo Bresser Pereira (1975, p. 9-10):

O modelo Harrod-Domar foi o primeiro modelo


específico de crescimento a ser elaborado. Sem
dúvida, Ricardo, Marx e Schumpeter já haviam
elaborado modelos de desenvolvimento. E na obra de
outros economistas já estavam contidos modelos de
desenvolvimento, mas nunca sob a forma explícita e
precisa do modelo Harrod-Domar. Mais importante
que essa prioridade no tempo, porém, este modelo
apresenta uma característica que o torna notável: sua
extrema simplicidade. Está baseado em dois conceitos
básicos: do lado da oferta agregada, na relação marginal
produto-capital, ou seja, em quanto aumenta a produção
ou a oferta global, quando, através do investimento,
aumenta de uma unidade o estoque de capital; e do lado
da demanda, no propensão marginal a poupar, ou seja,
em quanto aumenta a poupança, quando aumenta de uma
unidade a renda ou demanda agregada.

Ainda segundo o mesmo autor (1975, p.12)

Este modelo extremamente simples está baseado em uma


concepção de fio da navalha do crescimento. O processo
de desenvolvimento, nesses termos, é eminentemente
instável Existe apenas uma taxa de crescimento dos
investimentos e da renda que assegura o equilíbrio,
e, dentro de uma perspectiva tipicamente keynesiana,
não há nenhum mecanismo automático que garanta o
crescimento àquela taxa.

54
Desenvolvimento Socioeconômico

Harrod, em seu modelo, faz a distinção entre poupanças e


investimentos planejados e poupanças e investimentos realizados,
afirmando que a poupança realizada será igual ao investimento
realizado e que ambas as poupanças, tanto a planejada como a
realizada, são funções da renda. (SOUZA, 1995).

Matematicamente, podemos dizer que poupança realizada (St) é


igual ao investimento realizado (It). Dessa forma: St = It, em que
a poupança (s) será uma função da renda (Y). Assim, St= f(Y).

O ponto fundamental, segundo Harrod, é saber o que leva os


empresários a investirem e quais as condições de realização do
pleno emprego no longo prazo, uma vez que a poupança depende
da renda e que os investimentos são uma proporção constante da
variação da renda.

Para Domar, também citado por Souza (1995), a questão


se resume em determinar uma taxa de crescimento ideal do
investimento que assegure crescimento com pleno emprego, de
forma que a expansão da renda nacional dependa não do nível de
investimento corrente, mas sim da variação desse investimento.

Tanto Harrod quanto Domar chegam à conclusão que a


propensão marginal a poupar é a variável que determina a taxa
de crescimento da renda e a taxa dos investimentos, ou seja, para
que a economia cresça, estabelecendo o pleno emprego, torna-
se necessário que a renda nacional possa se expandir no mesmo
ritmo da capacidade produtiva. (SOUZA, 1995).

4.1 A contribuição de outros autores para o desenvolvimento


econômico
Uma das contribuições importantes para o tema do
desenvolvimento foi a ideia de financiamento do investimento
dada por Kalecki (1983).

Segundo Souza (1995 p.104), “o investimento, o consumo dos


capitalistas, os gastos do governo e as exportações constituem
as variáveis fundamentais na determinação no nível de atividade
econômica”, ou seja, o princípio da demanda efetiva.

Unidade 2 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

A variável investimento assume papel importante na teoria de


Kalecki (1983, p.39), pois,

O investimento, uma vez realizado, automaticamente fornece


poupança necessária para financiá-lo. De fato, em nosso modelo
simplificado, os lucros em um dado período constituem o
resultado direto do consumo dos capitalistas e do investimento
naquele período. Se o investimento aumenta em um certo valor,
a poupança a partir dos lucros é, portanto, maior.

Outros pensadores também deixaram sua contribuição para a


temática do desenvolvimento além dos apresentados acima.

Podemos destacar Malthus, que também contribuiu para a


construção do princípio da demanda efetiva. Segundo Souza
(1995 p.93),

Malthus, apesar de reconhecer a importância da oferta


na determinação do nível do produto, sustentava que
a redução gradual dos salários reais deprime tanto a
demanda como a oferta [...] e que os níveis de emprego
e produto dependem da demanda agregada efetiva.
Quando poder de compra da população se reduz, diminui
a procura de bens e serviços e o nível da atividade
econômica se contrai.!

Malthus reforça a ideia de que não pode haver acumulação com


a redução do consumo. Dessa forma, coloca na demanda a chave
para o crescimento do produto.

O que quero dizer é que nenhuma nação tem a


possibilidade de enriquecer mediante uma acumulação
de capital decorrente de uma redução permanente do
consumo, porque se tal acumulação ultrapassa de muito
o necessário para se obter uma demanda efetiva do
produto, uma parte dela logo perde tanto o seu uso
quanto o seu valor e deixa de ter o caráter de riqueza.”
(MALTHUS, T. R., 1983, p. 198).

Malthus afirma, então, que é inútil acumular se não há demanda


adequada para os produtos desse capital.

56
Desenvolvimento Socioeconômico

Outro ponto importante foi a sua insistência na ineficiência da


Lei de Say, parte do pensamento clássico. Sobre ela, Malthus
(1983, p.194), afirma que ‘’é um erro muito grave considerar
ponto pacífico que a humanidade produzirá e consumirá tudo o
que produzir e consumir, e que nunca preferirá a indolência às
recompensas do trabalho’’.

Ainda na sua crítica aos clássicos, Malthus enfatiza que esses não
levam em conta, na sua análise, as necessidades e os gostos dos
consumidores, que seriam variáveis importantes na composição
da demanda, mesmo sendo variáveis subjetivas.

O preço de mercado, segundo ele, irá variar, independente dos


custos de produção, bastando, para isso, ter situações de escassez
ou excesso de produtos no mercado.

Para Malthus, é um erro pensar a acumulação a partir da redução


permanente do consumo, pois dessa forma a riqueza perderia seu
valor e o equilíbrio seria desfeito.

Não quero dizer que a parcimônia ou mesmo a


diminuição temporária do consumo não seja útil,
e, às vezes, mesmo absolutamente necessária ao
desenvolvimento da riqueza. Tudo que pretendo,
é que nenhuma nação jamais poderá tornar-se rica
pela acumulação de um capital proveniente de uma
diminuição permanente do consumo, porque uma tal
acumulação de um capital, ultrapassando muito o que é
necessário para satisfazer a demanda efetiva dos produtos,
perderia logo uma parte de sua utilidade e seu valor e
assim, o caráter da riqueza. (MALTHUS apud SOUZA,
1995 p.95).

Dessa forma, afirma que, ao estimular a poupança visando a


uma acumulação permanente, a economia correria o risco de
desaquecimento, pois o consumo é fundamental para o crescimento
econômico; e que variáveis como as necessidades e os gostos dos
consumidores são importantes, apesar de sua subjetividade.

Unidade 2 57
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você conheceu os principais fatores que


contribuíram para alavancar o processo de desenvolvimento
econômico das diferentes economias, fatores como o fim do
feudalismo e as Revoluções Industriais Inglesa e Americana,
destacando-se também a Revolução Japonesa.

Ainda para aprofundar esta temática, foram apresentadas


as contribuições marxista, keynesiana, pós-keynesiana,
schumpeteriana e de Kalecki, para o desenvolvimento econômico.

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

1) Sobre a Revolução Industrial Inglesa e os fatores determinantes para o


seu surgimento, assinale a única alternativa incorreta.
a) ( ) O acúmulo de capitais no comércio, favorecido por um sistema de
créditos originados com a fundação do Banco da Inglaterra, o que
vai estimular o comércio internacional;
b) ( ) A manutenção do feudalismo, dadas as condições de estabilidade
existentes em seu interior;
c) ( ) A posse de propriedades rurais pelos capitalistas, que permitiu a
expansão da atividade agrícola, o aumento da produtividade e ao
mesmo tempo o êxodo rural.
d) ( ) O comércio marítimo;
e) ( ) A existência de grandes jazidas de carvão, que vão passar a ser
utilizadas a partir do surgimento da máquina a vapor, permitiu a
redução nos custos de transportes.

58
Desenvolvimento Socioeconômico

2) A Revolução Industrial Inglesa vai acontecer num período em que se


desenvolviam as teorias liberais da escola clássica ,a partir de estudos
de Adam Smith e David Ricardo, entre outros. Nesse sentido, explique
qual a importância do Estado para o sucesso da Revolução Industrial na
Inglaterra.

3) Na interpretação dos modelos de desenvolvimento, Schumpeter


apresenta fatores determinantes para o desenvolvimento econômico.
Entre as alternativas abaixo, é incorreto dizer, sobre a análise de
Schumpeter:
a) ( ) Ele coloca em evidência o papel das inovações;
b) ( ) O empresário inovador é uma peça importante no processo de
desenvolvimento;
c) ( ) O crédito atua como elemento no financiamento do
desenvolvimento;
d) ( ) O lucro é o elemento que dinamiza o surgimento das inovações;
e) ( ) O empresário age por impulso e, dessa forma, o desenvolvimento
independe de sua ação.

Unidade 2 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Para aprofundar o tema da interpretação marxista do


desenvolvimento, leia o capítulo 4 - Desenvolvimento segundo
Karl Marx, do livro: SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento
econômico. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2005.

60
3
unidade 3

Teorias do crescimento
econômico

Objetivos de aprendizagem
„„ Aprofundar os conhecimentos sobre as teorias do
crescimento econômico.

„„ Conhecer as diferentes etapas do crescimento


econômico.

Seções de estudo
Seção 1 Teorias do crescimento econômico

Seção 2 Etapas do crescimento econômico

Seção 3 Teoria evolucionária do desenvolvimento


econômico
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


O crescimento econômico é um dos grandes desafios que se
apresentam à humanidade, dada a sua complexidade. Governos,
pesquisadores e pensadores de diferentes áreas do conhecimento
têm se debruçado sobre essa temática. Diversas estratégias são
criadas a partir dos estudos teóricos e empíricos que o tema vem
permitindo.

Nesse sentido, nesta unidade vamos nos debruçar sobre as


principais teorias do crescimento econômico, conhecendo suas
bases e seus principais pontos de convergência e divergência.
Não temos o objetivo de esgotar o tema, mas de apresentar os
pressupostos fundamentais de cada teoria estudada e assim
fomentar novos estudos e novas compreensões a cerca do tema.

Uma boa leitura.

Seção 1 - Teorias do crescimento econômico


As teorias do crescimento econômico vêm atualmente
contribuindo significativamente para identificar as causas que
levam ao crescimento das economias. As diferenças entre os
países, configuradas pela existência de países desenvolvidos
em contraposição aos de baixo desenvolvimento, são fatores
motivadores para busca de conhecer os fatores que interferem
nessa conjuntura.

Apresentar teorias e modelos que deem conta de explicar as


causas e os fatores determinantes ao desenvolvimento econômico
vem sendo o desafio enfrentado por diferentes pesquisadores dos
ramos da economia.

62
Desenvolvimento Socioeconômico

Nesse intento, apresentaremos aqui as principais teorias e


modelos de crescimento econômico mais recentes, começando
pelo Modelo de Crescimento Neoclássico e seus principais
expositores, especificamente o trabalho de James Meade.

Os modelos apresentados a seguir surgem após o advento da


Teoria Geral, protagonizada por Keynes.

1.1 O Modelo de Crescimento Neoclássico


A busca pelo crescimento econômico sempre esteve entre os
objetivos dos governos, independente das linhas políticas, visando
a aumentar a renda e a redução da pobreza. O crescimento
econômico passa a ser um desafio aos economistas, que se
lançam no desenvolvimento de modelos e teorias, procurando
identificar quais fatores seriam determinantes para que os países
encontrassem o caminho do desenvolvimento.

Os principais elementos do Modelo Neoclássico, segundo Paz e


Rodrigues (1972, p. 107), são:

„„ concorrência perfeita e pleno emprego em todos os


mercados;

„„ economia fechada e sem governo;

„„ função de produção com rendimentos constantes à escala


(quando variam simultaneamente todos os fatores) e
rendimentos decrescentes quando se altera apenas um
dos fatores;

„„ economia produzindo um único bem com apenas três


fatores: capital fixo (K), trabalho (L) e terra (N);

„„ fatores de produção homogêneos, divisíveis e


imperfeitamente substituíveis entre si.

Unidade 3 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

1.2 Modelo de Meade


Esse é construído considerando o curto prazo, que, segundo
Meade (apud HELLER, 2001, p.8), é definido como: “o
período no qual a razão entre a produção de novos bens de
capital e o estoque existente de bens de capital é pequeno, de
modo que as alterações no estoque de bens de capital podem ser
negligenciadas”.

No modelo apresentado por Meade, as variações


ocorridas no produto no período T vão ser iguais as
variações dos fatores K e L, multiplicadas por suas
produtividades marginais, mais uma variação residual
atribuída ao progresso técnico. (PAZ E RODRIGUES,
1972, p. 117).

O modelo apresenta várias hipóteses que para o crescimento


em diferentes proporções, que levam em conta a existência ou
não de progresso técnico, o crescimento demográfico positivo
ou negativo. Além disso, essas hipóteses determinam, nas suas
diferentes formulações, o nível de crescimento da economia, que
vai depender das hipóteses que se fizer em torno das variáveis
envolvidas.

1.2.1 Primeira hipótese


Quando se consideram nulos o crescimento demográfico e
o progresso técnico, o nível de crescimento da economia vai
depender da produtividade marginal do capital e do ritmo de seu
crescimento, bem como da propensão a poupar. (SOUZA, 2005).

1.2.2 Segunda hipótese


Com a hipótese de crescimento demográfico positivo e progresso
técnico nulo, a economia precisa crescer no mesmo ritmo do
crescimento demográfico e da acumulação de capital para
manter o crescimento equilibrado, isto é, sem desemprego ou
hiperemprego (SOUZA, 2005).

64
Desenvolvimento Socioeconômico

Ainda segundo Souza (2005):

„„ Se não houver progresso técnico, taxas de crescimento


diferentes para o capital e para a população conduzem
a variações tanto nas remunerações dos fatores capital e
trabalho, como nas participações desses fatores na renda
nacional. Logo, o crescimento equilibrado depende da
igualdade entre essas taxas, pois capital e população
crescendo na mesma proporção fazem com que o
crescimento aconteça de forma equilibrada.

„„ Maior crescimento demográfico requer acumulação de


capital na mesma proporção, para manter no longo prazo
o crescimento de Y, K e L em equilíbrio estável.

„„ Crescimento demográfico menor aumenta os salários e


reduz o crescimento econômico. Nesse caso, é necessário
que o progresso técnico e o capital aumentem sua
contribuição para o crescimento econômico.

James E. Meade foi um economista keynesiano


que ganhou, em 1977, o Prêmio Nobel de Ciências
Econômicas, junto com Bertil Ohlin, por sua pesquisa
sobre o comércio internacional e dos movimentos de
capitais internacionais. Meade analisou como as políticas
governamentais afetaram o comércio e como as políticas
de comércio têm afetado o bem-estar econômico. Por
duas vezes ocupou cargos econômicos no governo
britânico, onde pesquisou a política econômica na
Grã-Bretanha, após a Segunda Guerra Mundial. Seu
interesse principal era pesquisar sobre desemprego em
massa. Meade ensinou Comércio na London School
of Economics e Economia Política na Universidade de
Cambridge. Ele também foi membro da Liga das Nações,
na seção de economia. James Meade nasceu em 1907 e
morreu em 1995. (MEADE, 2013).

Unidade 3 65
Universidade do Sul de Santa Catarina

1.3 Modelo de Solow


Em 1956, em uma publicação intitulada “A Contribuition to
the Theory of Economic Grouth”, que o fez ganhar Prêmio
Nobel de Economia em 1987, Robert Solow trabalhou os temas
crescimento e desenvolvimento econômico.

Na mesma perspectiva do modelo de Meade, modelo de Solow


chega a conclusões usando relações per capita. Relacionando
poupança, acumulação de capital e crescimento demográfico, ele
procura explicar a variação do produto per capita.

De acordo com Rodrigues (2004), o modelo de Solow defende


a acumulação de capital como o principal instrumento
para o crescimento econômico no curto prazo, sendo que o
investimento, à medida que aumenta a capacidade produtiva, é
fundamental para o crescimento econômico.

(...) o investimento é financiado através da poupança,


uma economia cuja taxa de poupança está a aumentar
permanentemente experienciará crescimento econômico.
Mas, como o impacto de uma unidade adicional de
capital é cada vez menor, esta economia não poderá
atingir sempre uma taxa de crescimento mais elevada,
sendo que no longo prazo a taxa de crescimento
econômico é antes determinada pelo progresso
tecnológico. (RODRIGUES, 2004, p.202).

No curto prazo, o investimento é fundamental para o


crescimento econômico, o que não vai acontecer no longo
prazo, dado que os acréscimos de investimento em capital não
repercutirão da mesma forma no acréscimo do crescimento
do produto. Dessa forma, Solow defende que, para manter o
crescimento no longo prazo, os recursos devem ser canalizados
para o progresso tecnológico, fomentando, assim, o surgimento
de inovações. “Solow argumentava que no longo prazo a
única fonte de crescimento possível é a mudança tecnológica”
(EASTERLY, 2004, p.67).

No modelo de crescimento econômico de Solow, sem progresso


tecnológico, a taxa de crescimento do produto real da economia,
no estado estacionário, é igual à taxa de crescimento da força de
trabalho.

66
Desenvolvimento Socioeconômico

A não repercussão dos acréscimos de capital na mesma proporção


do crescimento econômico vai se dar em função da Lei dos
Rendimentos Decrescentes, segundo a qual o aumento de capital
numa proporção, devido à existência de um fator constante, não
resultará de incrementos na produção na mesma magnitude.
Exemplificando: dado um conjunto fixo de trabalho e um
conjunto fixo de capital, os incrementos de capital representarão
aumentos do produto de forma decrescente, sendo que o produto
marginal será decrescente.

Segundo Souza (2005, p.6),

(...) a contribuição neoclássica à teoria do crescimento


econômico é inegável e continua muito atual. O modelo
de Solow mostra a dinâmica de longo prazo de uma
economia capitalista desenvolvida, que se dirige a um
estado de equilíbrio estável. Nesse ponto, o crescimento
demográfico e a tecnologia determinam o ritmo de
crescimento equilibrado.

No modelo de Solow, a tecnologia é um fator externo, como


afirma (JONES, 2000, p. 30),

o progresso tecnológico é exógeno: usando uma


comparação comum, a tecnologia é como um maná
que cai do céu, no sentido em que surge na economia
automaticamente, sem levar em consideração outros
acontecimentos que estejam afetando a economia.

Pensando dessa forma, o modelo exclui o fator tecnologia no


curto prazo, sendo essa uma variável que só cabe no modelo no
longo prazo.

Robert M. Solow é um economista americano e


destinatário do prêmio John Bates Clark Medal (1961)
e do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas (1987). Ele
é mais conhecido por seus esforços sobre a teoria
do crescimento econômico. Como um estudante
em Harvard, ele se tornou assistente de pesquisa
de Wassily Leontief, o economista que introduziu o
método de análise de input-output em economia. A
contribuição mais conhecida de Robert Solow foi o

Unidade 3 67
Universidade do Sul de Santa Catarina

modelo Solow-Swan, um modelo de crescimento


exógeno segundo o qual Solow separa fatores
de crescimento econômico em aumentos em
insumos (incluindo trabalho e capital) e progresso
técnico. Outras obras importantes incluem o modelo
de Solow de crescimento econômico baseado em
diferentes tipos de capital. Solow considerava o capital
novo mais produtivo do que o velho capital. (CLARK,
2013, tradução nossa).

1.4 Teoria de crescimento endógeno


Num primeiro momento, o crescimento econômico é explicado
como dependente de uma variável externa (exógena), o progresso
tecnológico, apresentado por Solow e Meade. Num segundo
momento, acompanhando a evolução das pesquisas, surge o
modelo focado em variáveis endógenas (internas).

Variáveis endógenas: Determinadas pela solução dos


modelos econômicos. Os modelos são construídos para
estimar o valor dessas variáveis a partir de choques ou
mudanças na economia.

Variáveis exógenas: Variáveis determinantes dos modelos


econômicos. Os modelos econômicos são construídos
com base nessas variáveis, supondo-se que seus valores
não serão afetados por outras variáveis do modelo. Um
exemplo comum de variável exógena é o nível de um
imposto qualquer cobrado pelo governo. O valor do
imposto, digamos, 10% sobre o preço da gasolina, só
seria alterado caso o governo resolvesse mudar seu valor.
Portanto, outras variáveis do modelo não são capazes
de afetar essa variável. Por outro lado, ela é importante
para determinar outras variáveis econômicas do modelo,
como o valor do imposto coletado, a quantidade vendida
de gasolina, entre outras. Choques ou mudanças na
economia são representados por alterações nas variáveis
exógenas. A partir desses choques, o modelo é resolvido
matematicamente de forma a determinar o valor das
variáveis endógenas, que, no exemplo acima, seriam a
quantidade vendida de gasolina e o valor coletado de
imposto. (GLOSSÁRIO ICONE BRASIL, 2007).

68
Desenvolvimento Socioeconômico

Dado que o crescimento econômico não pode ser explicado


apenas pelos fatores trabalho (L) e capital (K), faz-se necessário
explicar o papel que a tecnologia tinha no crescimento.

Segundo Souza (2005, p.3),

A nova teoria que trata o progresso técnico como


elemento ativo no processo de crescimento, afirma que
ele exerce efeitos expansivos sobre o produto ao elevar a
produtividade dos fatores e ao retransmitir esses efeitos
entre as unidades produtivas. A teoria do crescimento
com progresso técnico endógeno tomou impulso nos anos
de 1980, por não haver uma tendência à convergência dos
produtos per capita entre áreas com diferentes níveis de
desenvolvimento iniciais. Pelo contrário, as desigualdades
entre regiões ou países ricos e pobres tendem a aumentar.
Na ausência de perfeita mobilidade dos fatores de
produção K e L entre países ou regiões, as desigualdades
aumentam. O crescimento do produto não se explica
apenas por K e L, permanecendo uma parte importante
não explicada, atribuída no modelo neoclássico à
tecnologia, A(t), a qual varia lentamente no tempo.

O modelo do crescimento endógeno procurava, assim, encontrar


internamente as fontes do crescimento econômico.

1.5 O modelo de Romer


Na busca de entender o papel das inovações tecnológicas para o
crescimento econômico, o modelo de Romer, segundo Oreiro
(1999, p.58), “foi um dos primeiros modelos da nova teoria do
crescimento a tratar o progresso tecnológico como o resultado da
busca intencional de lucros por parte das firmas.”

Além do capital e trabalho, que não explicam sozinhos o


crescimento, segundo Souza (2005, p.7), “Outras fontes
explicativas do crescimento econômico seriam investimentos
em capacitação tecnológica e geração de conhecimento.” Dessa
forma, o conhecimento passa a ter importância significativa, o
que representa reconhecer a importância do capital humano.

Unidade 3 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para o modelo de Romer, os produtos marginais do capital e do


trabalho são constantes.

Oreiro (1999, p. 58) apresenta os insumos básicos do modelo de


Romer:

No modelo em consideração existem quatro insumos


básicos: capital físico, trabalho, capital humano e o
conhecimento tecnológico. O trabalho é visto como
aquelas faculdades possuídas por qualquer indivíduo
em boas condições de saúde, como, por exemplo, a
coordenação motora. O capital humano, por sua vez, é
uma medida que o efeito cumulativo de atividades como
a educação formal e o treinamento no trabalho tem sobre
a produtividade dos trabalhadores.

Ao investirem em pesquisa e desenvolvimento, as empresas


estão disseminando conhecimento, que passa a ter um papel
importante para o desenvolvimento econômico, por fazer
aumentar a produtividade do fator trabalho.

Estudando outras fontes de crescimento, além do


capital e do trabalho, Langoni (1976) mostrou que a
contribuição líquida da educação para o crescimento
do PIB foi de 15,7% no Brasil (1960/1970), 23% nos
EUA (1950/1962) e de 10% na França (1950/1962).
Com relação ao Brasil, a contribuição do capital físico,
entr1960/1970, foi de 32%, contra 47% do trabalho
(incluído os 15,7% da educação), sendo de 21% a parcela
do crescimento do PIB não explicada pelo capital, nem
pelo trabalho, sendo atribuída ao progresso técnico
(LANGONI apud SOUZA, 2005, p. 216).

Como se pode constatar nesse estudo, o conhecimento passa


a ser uma variável fundamental para entender o crescimento
econômico.

No modelo de Romer (OREIRO, 1999, p.59):

A economia é composta por três setores: o setor


de pesquisa e desenvolvimento, o setor de bens
intermediários e o setor de bens finais. O setor de
pesquisa e desenvolvimento utiliza capital humano e o
estoque de conhecimento existente para produzir novos

70
Desenvolvimento Socioeconômico

projetos de bens de capital. Esses novos projetos são


vendidos ao setor de produção de bens intermediários
onde serão transformados em novos bens de capital.
Esses, por sua vez, serão licenciados para o setor produtor
de bens finais, que os combina com trabalho e capital
humano para a produção dos referidos bens. A população
e a força de trabalho permanecem constantes ao longo
do tempo, assim como o estoque de capital humano.
A produção de bens finais é uma função do volume
empregado de trabalho, da fração do estoque de capital
humano empregado nesse setor e da quantidade e da
variedade de bens intermediários empregados para esse
fim. Nesse contexto, o progresso tecnológico aumenta
a produtividade do trabalho ao aumentar a variedade, e
não a qualidade, dos bens intermediários utilizados na
produção de bens finais.

No modelo de Romer, a tecnologia é explicada como um bem


não rival, mas excludente, ou seja, pode se apropriada por registro
de patentes, tornando-se, assim, uma fonte de lucro para seus
detentores, quando licenciadas a terceiros.

A forma mais comum de remuneração da tecnologia são os


royalties, cuja definição apresentamos a seguir.

Royalties são o valor pago ao detentor de uma marca,


patente industrial, processo de produção, produto ou
obra literária original pelos direitos de sua exploração
comercial. No caso do petróleo, por exemplo, são
recursos financeiros provenientes da compensação
financeira paga aos Estados e municípios pela
exploração de petróleo ou gás natural em depósitos
localizados na plataforma continental brasileira.
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2004).

Um exemplo de pagamento de royalties por uso da tecnologia


de terceiros são os transgênicos. Veja reportagem que ilustra
esse caso, que divide os deputados da Câmara: alguns defendem
o patenteamento de produções transgênicas para incentivar
pesquisas, enquanto outros querem proibi-lo para preservar
espécies nativas.

Unidade 3 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

Produtores reclamam que royalties reduzem lucros de


produções transgênicas - 19/10/2012
No Brasil, desde o início da década de 90, são cultivadas
variedades de soja, milho e algodão que sofreram modificações
genéticas para ficarem resistentes a herbicidas e pragas.
Apesar de a transgenia também ser capaz de criar plantas
mais produtivas, os agricultores brasileiros atestam que não há
diferença entre transgênicos e plantas convencionais.
Agricultores economizam com agrotóxicos, mas têm de pagar
royalties pelas sementes.
Se por um lado o agricultor economiza em defensivos agrícolas
quando cultiva transgênicos, por outro tem que pagar royalties à
empresa que produz a semente modificada.
O produtor paranaense Gilberto Pivoto explica que, no início,
a empresa não cobrava royalties, isso tornava o produto
transgênico mais lucrativo do que o convencional, por causa da
facilidade no cultivo. Com a cobrança, no entanto, o agricultor
afirma que a vantagem desapareceu.
O agrônomo e assessor técnico da organização não
governamental Agricultura Familiar e Agroecologia, Gabriel
Biancone Fernandes, critica o patenteamento de sementes. “O
interesse das empresas maior é vender as sementes transgênicas,
porque elas são patenteadas e feitas para o uso casado com
agrotóxicos. Com o passar do tempo, elas vão tirando do
mercado, sobretudo de soja e de milho, as sementes comuns e
deixam o produtor praticamente sem opção.”
Fonte: CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2012. Produtores reclamam que royalties
reduzem lucros de produções transgênicas. Disponível em: <http://www2.
camara.leg.br/camaranoticias/noticias/AGROPECUARIA/428223-PRODUTORES-
RECLAMAM-QUE-ROYALTIES-REDUZEM-LUCROS-DE-PRODUCOES-
TRANSGENICAS.html>. Acesso em: 11 mar. 2013.

Nesse contexto, o conhecimento passa a figurar como fator de


produção, como o capital físico, o capital humano e a mão de
obra, ou seja, nesse sentido tem-se claro que é preciso investir na
produção de conhecimento, assim como se investe em capital fixo
e na educação dos trabalhadores.

72
Desenvolvimento Socioeconômico

Investimentos em novos conhecimentos geram


externalidades, como explicou Romer: A criação de
novos conhecimentos por uma firma produz efeitos
externos positivos sobre as possibilidades de produção
de outras firmas, porque o conhecimento não pode ser
perfeitamente patenteado ou mantido secreto. E o que
é mais importante: a produção de bens de consumo
como uma função do estoque de conhecimento e outros
insumos exibe retornos crescentes; mais precisamente, o
conhecimento pode ter um produto marginal crescente.
(ROMER apud SOUZA, 1995, p.10).

Nessa perspectiva, segundo Souza e Oliveira (2005, p.220),

O capital humano, o capital físico e a força de trabalho


estão intimamente associados ao conhecimento técnico,
gerado internamente, ou importado, e que se difunde
entre os agentes produtivos, produzindo externalidades
positivas e que são captadas pelas empresas. Para
aumentar o PIB per capita, a sociedade precisa investir
na saúde, educação geral e treinamento específico
dos trabalhadores, bem como na produção de novos
conhecimentos técnicos, além de capital físico. Os novos
conhecimentos produzem externalidades positivas, que
são apropriadas pelos agentes produtivos, elevando o nível
da produção agregada.

Temos, então, um ciclo virtuoso, em que quanto mais


investimentos forem feitos em educação e pesquisa, mais
forte tende a ser o crescimento econômico, o qual vai se
transformar em desenvolvimento econômico, dadas as variáveis
qualitativas incorporadas aos agentes produtivos pelo acesso ao
conhecimento.

As externalidades positivas vão se dar porque o conhecimento


é um bem que só pode ser utilizado quando compartilhado,
permitindo, assim, a difusão dos avanços tecnológicos.

As externalidades podem ser definidas como as alterações


de custos e benefícios para a sociedade derivadas da
produção de empresas, ou também como as alterações de
custos e receitas da empresa devido aos fatores externos.

Unidade 3 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

Uma externalidade positiva é quando uma unidade


econômica cria benefícios para outras, sem receber
pagamentos por isso. Por exemplo, uma empresa treina a
mão de obra, que acaba, após o treinamento, transferindo-
se para outra empresa;a beleza do jardim do vizinho, que
valoriza sua casa; uma nova estrada; os comerciantes de um
mesmo ramo que se localizam na mesma região.
Temos externalidades negativas (ou deseconomia
externa), quando uma unidade econômica cria custos
para outras, sem pagar por isso. Por exemplo, poluição e
congestionamento causados por automóveis, caminhões e
ônibus; uma indústria que polui um rio e impõe custos a
atividades pesqueiras.
O conceito de externalidade revela a diferença entre
custos privados e custos sociais. (VASCONCELOS;
GARCIA, 2007, pp. 71-72).

1.6 Inovações tecnológicas


Devido à importância que o conhecimento tem no modelo
proposto, e ao fato de que o conhecimento é gerador de inovações
tecnológicas, faz-se necessário entender o que vem a ser inovação
tecnológica numa perspectiva dos modelos apresentados.

Outro ponto importante é que inovações tecnológicas não são


somente representadas por inovações no produto, mas também
por inovações na forma de organizar a produção.

Lemos (1999) destaca dois tipos de inovação: a radical e a


incremental. Segundo esse autor, a inovação radical representa
o novo, ou seja, o surgimento de um novo produto ou processo
produtivo:

Algumas importantes inovações radicais, que causam


impacto na economia e na sociedade como um todo e
alteraram para sempre o perfil da economia mundial,
podem ser lembradas, como, por exemplo, a introdução
da máquina a vapor, no final do século XVIII, ou o
desenvolvimento da microeletrônica, a partir da década de
1950. Estas e outras inovações radicais impulsionaram a
formação de padrões de crescimento, com conformação de
paradigmas tecnoeconômicos. (LEMOS, 1999, p.124).

74
Desenvolvimento Socioeconômico

Poderíamos ainda citar, a título de exemplo, a fotografia digital


como uma inovação radical. Nesse caso específico tivemos um
revés, pois o criador do processo foi tirado do mercado pelo
processo criado, como no caso da Kodak, citado a seguir.

Kodak: como a era digital se voltou contra um de seus


criadores - 21/01/2012
A caça que se virou contra o caçador. O fim do momento Kodak.
Ironias com a concordata da empresa criada por George Eastman
em 1880 e registrada como marca em 1888 não faltaram na
mídia internacional com a notícia dada na quinta-feira e que há
tempos assombrava uma das maiores e mais antigas companhias
do setor. O ponto crucial dessa história - que para muitos ganhou
contornos de tragédia - é que foi a Kodak quem inventou a
câmera fotográfica digital, símbolo dessa “era” que pôs um fim,
ou quase, na importância dos filmes, seu principal filão.
A empresa que já foi responsável por vender 90% do filme
utilizado nos Estados Unidos e desenvolveu um filme, o
Kodachrome, tão amado por fotógrafos amadores e profissionais
que Paul Simon escreveu uma canção a respeito, finalmente
sucumbiu à revolução digital que deixou seus produtos
obsoletos. Mesmo o Kodachrome, um slide e filme produzido por
74 anos, exaltado por sua nitidez, durabilidade e tons vibrantes,
morreu em 2009. Ao longo dos seus anos, entretanto, ele foi um
ícone da marca amarela e vermelha: foi usado para fazer filmes
de Hollywood durante o século XX, incluindo 80 ganhadores de
Melhor Filme no Oscar, para gravar a coroação da rainha em 1953
e usado por Neil Armstrong para fazer close-ups na superfície
lunar na missão Apollo 11.
Muito da veia criativa da Kodak foi herdada de Eastman,
que tinha uma doença degenerativa e tirou sua própria vida
em 1932, mas que durante décadas influenciou a Kodak e
uma sucessão de inovações. Mas não pelos seus quase 132
anos. Para Nancy West, da Universidade de Missouri, citada
pela Reuters, Eastman havia exercido tal influência sobre a
empresa que quando ele morreu a Kodak rapidamente se
transformou numa companhia ligada à nostalgia. “Nostalgia é
adorável, mas ela não permite que as pessoas sigam em frente”,
disse ela, que já estudou a empresa a fundo.

Unidade 3 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

A primeira câmera da Kodak data de 1900. Pouco mais de meio


século depois, em 1975, eles criavam a primeira câmera digital,
um protótipo do tamanho de uma torradeira que precisava de
23 segundos de exposição para produzir uma imagem de 0,01
megapixel em preto e branco.
“A Kodak foi a primeira empresa a criar a câmera digital, mas
naquela época, a maioria de seus lucros vinha da vendas de
produtos químicos utilizados nos filmes e eles tinham medo de
investir em algo novo, porque achavam que podia prejudicar o
seu negócio tradicional”, disse Olivier Laurent, editor de notícias
do British Journal of Photography. “Quando eles perceberam, o
mercado digital tinha chegado para ficar, ultrapassado o filme e
todos os concorrentes da Kodak tinham câmeras digitais muito
superiores. As câmeras Kodak nunca foram boas e a empresa
perdeu a reputação conquistada com o ‘momento Kodak’”.
Em 1992, Don Strickland, ex-vice-presidente da Kodak, disse
segundo o The Guardian que a empresa estava pronta para dar
espaço em seu negócio para as câmeras digitais, mas que seus
chefes vetaram a ideia com medo de uma “canibalização do filme”.
Fonte: KODAK: como a era digital se voltou contra um de seus criadores. Terra.
Negócios e TI, Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/
kodak-como-a-era-digital-se-voltou-contra-um-de-seus-criadores,19382feb71
1ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 11 mar. 2013.

Além da inovação radical, temos a inovação incremental, que se


refere basicamente à melhoria nos processos produtivos ou no
produto.

Segundo Lemos (1999, p. 125),

inúmeros são os exemplos de inovações incrementais,


muitas delas imperceptíveis para o consumidor, podendo
gerar crescimento de eficiência técnica, aumento da
produtividade, redução de custos, aumento de qualidade
e mudanças que possibilitem a ampliação das aplicações
de um produto ou processo. A otimização de processos
de produção, o design de produtos ou a diminuição na
utilização de materiais e componentes na produção de um
bem podem ser considerados inovações incrementais.

76
Desenvolvimento Socioeconômico

As inovações são fundamentais para o desenvolvimento


econômico, como defendeu Schumpeter (1988), pois além de
representar melhorias, exigem investimentos em educação e
ciência, gerando assim o conhecimento, que por meio delas irá se
materializar.

Com relação ao modelo de Romer, as inovações não são


consideradas bem público, portanto, o investimento em
pesquisa e desenvolvimento pelas empresas acaba gerando
aumento de competitividade, o que seria uma vantagem gerada
especificamente a essas empresas.

Segundo Dias (1999, p.85),

A inovação concede uma vantagem específica a quem


a produz, na medida em que garante certo grau de
monopólio e, consequentemente, um rendimento
suplementar. Devido às melhorias trazidas pela inovação
e à exclusividade que possui o inovador, este pode praticar
um preço acima do custo marginal (isto é, do preço de
concorrência perfeita). Esta vantagem específica constitui
a motivação para o investimento em P&D. Ora, como
os rendimentos crescentes provenientes das inovações
técnicas são internos à firma, tem de se abandonar o
quadro de concorrência perfeita.

Mesmo permitindo o uso exclusivo por seus detentores, as


inovações no modelo de Romer assumem características de não
rivalidade, ou seja, podem ser usadas por outros mediante venda
ou concessão.

Dessa forma, ao concederem vantagens aos seus


produtores, as inovações incentivam as empresas
a realizarem investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.

Além da inovação e do capital humano, o papel do governo é


outro fator importante elencado por Romer, sendo determinantes
para o crescimento e o desenvolvimento econômico. Como
afirma Porter (1989, p. 758), “O papel adequado do governo é

Unidade 3 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

animar ou mesmo empurrar as empresas para que aumentem suas


aspirações e passem a um nível superior de feitos competitivos,
embora esse processo possa ser desequilibrador e mesmo
desagradável.”

Seção 2 - Etapas do crescimento econômico


O crescimento econômico não acontece de maneira aleatória, mas
segue uma determinada sequência. Nesse entendimento, Rostow
(1961[1960]) propôs cinco etapas pelas quais passa uma economia
e que são determinantes para seu desenvolvimento. São elas:

1. Sociedade tradicional: sociedade caracterizada por


uma economia de subsistência, em que a produção é
consumida pelos próprios produtores;

Com características frequentemente identificadas como


problemas, sobretudo situadas ao nível da produção
(produtividade, rendimento do trabalho, pertinência
tecnológica etc.), a sociedade tradicional é definida
em relação à sociedade moderna, confundindo-se
essa última com a produção capitalista industrial. O
retrato que ele traça da sociedade tradicional começa por
um ponto que se mostra central nessa caracterização: a
insuficiência de recursos. (CANDIDO, 1999, p.5).

2. Transição: surgem, na economia, excedentes para a


comercialização com o exterior, mediante suporte de
infraestrutura e transporte;

3. Take-off: cresce a industrialização e os trabalhadores


migram do campo para as atividades de manufatura;

4. Impulso para a maturidade: inovação tecnológica oferece


apoio a uma industrialização diversificada. Segundo
Candido (1999, p.6):

Neste momento, um país que se coloca no caminho


correto deve reunir uma série de elementos para preparar
a decolagem, tais como: a existência de um espírito
empreendedor, disseminado entre os elementos mais

78
Desenvolvimento Socioeconômico

capazes e talentosos; a existência de bancos; a criação de


uma infraestrutura (estradas de ferro, comunicações)
que favoreça os deslocamentos das pessoas e
das mercadorias e cuja construção signifique
investimento para a criação e o movimento de
riquezas; o alargamento do comércio exterior e interno;
um Estado concentrado e eficiente. Considerando que o
país já reuniu as condições necessárias para dar um salto
de qualidade, a ideia de progresso econômico aí aparece e
se recobre de uma intensa positividade.

5. Consumo de massa: a renda per capita cresce a um ponto


de os ganhos auferidos por um grande número de pessoas
cobrirem muito mais que apenas suas necessidades de
subsistência.

As etapas do crescimento elencadas por Rostow precisam ser


entendidas a partir de uma realidade histórica, pois deslocadas do
contexto não conseguem explicar, de modo geral, a realidade de
todos os países.

Seção 3 - Teoria evolucionária do desenvolvimento


econômico
Ao sairmos da ideia de crescimento econômico para a ideia
de desenvolvimento econômico, temos uma transformação
importante, pois o conceito de desenvolvimento vai de encontro
a novos conceitos e implicações, bem como suplanta velhos
conceitos, que tiveram implicações importantes na visão do
crescimento econômico.

Tendo o crescimento como uma variável quantitativa e o


desenvolvimento como uma variável qualitativa, faz-se necessário
uma nova abordagem conceitual.

Segundo essa abordagem, ao pensarmos o desenvolvimento,


segundo Souza (1995, p. 201), “incorporamos a noção de
mudanças de estruturas econômicas, sociais, culturais e
tecnológicas.”

Unidade 3 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

O processo histórico vivenciado pelas sociedades é, em


determinados momentos, incapaz de promover mudanças;
mas em outros momentos é capaz de alterar profundamente
os rumos das sociedades. Ao alterar os rumos da sociedade,
criando novos arranjos sociais, políticos, econômicos e culturais,
entre outros, dizemos que esse processo é constituído de
acontecimentos evolutivos (SOUZA, 2005), tendo como base a
teoria evolucionista.

Isso porque a teoria evolucionista diferencia dos economistas


clássicos a variável meio sociocultural e institucional,
considerando-a como uma variável endógena, que afeta e é
afetada pelas variáveis econômicas, enquanto os clássicos a
consideravam uma variável exógena. (SOUZA, 2005).

Entender como se dá o processo de crescimento em determinado


lugar e determinada época tem sido a função da teoria do
desenvolvimento ao longo do tempo. Diferentes compreensões
surgiram ao longo dos anos, atribuindo o crescimento a fatores
específicos, como a tecnologia, a poupança, novas descobertas, o
papel do Estado, que são vistos como fatores interagindo.

Segundo Souza (1995, p.203), “o comportamento dos diferentes


agente econômicos sofre a influência dessas variáveis na dinâmica
do crescimento. A motivação dos agentes econômicos, como a
análise schumpeteriana demonstrou, forma o móbil que está por
trás dessa dinâmica.”

Nesse sentido, Guha, citado por (Souza, 1995, p.203), afirma


que essa motivação é biológica, enquanto para Marx a motivação
é econômica, como já vimos. Vamos estudar a seguir um pouco
sobre as ideias de Guha.

3.1 Teoria Evolucionista de Guha


Como ponto de partida, Guha, citado por Souza (1995, p.203),
afirma que

80
Desenvolvimento Socioeconômico

O processo evolucionário desenvolveu as armas da


sobrevivência e os meios de adaptação ao meio; e todos os
produtos resultantes de habilidades especificas do homem
– sua cultura, sua tecnologia, seus modos de organização
social, política e econômica – não podem ser entendidos a
não ser em termos de seu valor adaptativo.

Para Guha, o crescimento econômico é uma extensão do processo


evolutivo, sendo que o comportamento do homem em relação ao meio
é um contínuo adaptar-se. Nesse processo, o homem procura obter
especializações e vantagens comparativas, sendo que sua organização
social e econômica se dá em função do meio (SOUZA, 1995). No
sentido da destruição criadora, que está em continua transformação, a
tese de Guha vai de encontro às ideias de Schumpeter.

Segundo Rezende (1998, p.2),

A abordagem evolucionista ou neoschumpeteriana é


uma corrente teórica que rompeu com os pressupostos da
teoria econômica clássica, notadamente com a crença do
equilíbrio e da racionalidade perfeita dos agentes. Entre
os principais pontos da corrente neoschumpeteriana estão
as considerações sobre a descontinuidade do processo de
desenvolvimento, incerteza no processo decisório, entre
outros. Destaca-se como o elemento mais importante
dessa teoria, a consideração de que a inovação tecnológica
é o processo motor do desenvolvimento, que desenvolve
vantagens competitivas e promove a seleção das empresas
no mercado. A base para o desenvolvimento da teoria
evolucionista foi dada por Schumpeter no início do século.

Nessa concepção, a inovação representa o elemento principal e o


que desencadeia o processo de desenvolvimento.

De acordo com a teoria evolucionista, desenvolvida a


partir da década de 1970, a tríade de fatores de produção
(capital, mão de obra e recursos naturais) não abarca
mais os únicos fatores que asseguram o progresso de uma
nação. Além desses fatores, o conhecimento e a inovação
são hoje preponderantes para o desenvolvimento. Sem o
conhecimento não é possível utilizar a tríade dos fatores de
produção de forma a ganhar competitividade. Somente ter
conhecimento também não basta; a inovação é a aplicação
desse conhecimento na prática, e gera novos produtos e
novos processos. O evolucionismo estuda a economia sob a
lente do progresso técnico, expresso pelas inovações. (DE
AQUINO, 2004, p.25).

Unidade 3 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

Segundo Dosi, citado por Rezende (1998, p.3), “O enfoque


evolucionista se preocupa em compreender como se dá o
processo de inovação dentro das empresas”, e também como essas
administram o conhecimento e o transformam em inovação.

Nesse sentido, Lemos (1999, p.132) afirma que:

Desde o pós-guerra, vem se reconhecendo,


paulatinamente, que a produtividade e competitividade
dos agentes econômicos depende cada vez mais da
capacidade de lidar eficazmente com a informação para
transformá-la em conhecimento (...) apontou-se para
uma tendência de aumento da importância dos recursos
intangíveis da economia – particularmente nas formas
de educação e treinamento da força de trabalho e do
conhecimento adquirido com investimento em pesquisa e
desenvolvimento.

Com isso, podemos concluir que o investimento em educação e


qualificação vai ser gerador de inovação e de desenvolvimento.

Síntese

Ao longo desta unidade, você pôde conhecer as principais teorias


do crescimento econômico, suas bases e seus principais pontos
de convergência e divergência. Os estudos feitos não objetivaram
esgotar o tema, mas apresentar os pressupostos fundamentais
de cada teoria estudada e assim fomentar novos estudos e novas
compreensões acerca desse tema.

Além disso, você estudou as principais teorias do crescimento,


conheceu as etapas que se dá o processo de crescimento, bem
como os aspectos evolutivos que fazem parte do processo.

82
Desenvolvimento Socioeconômico

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

1) No modelo de crescimento econômico de Solow, sem progresso


tecnológico, a taxa de crescimento do produto real da economia, no
estado estacionário, é igual a/à:
a. ( ) Taxa de inflação do ano anterior;
b. ( ) Taxa de poupança interna;
c. ( ) Zero;
d. ( ) Taxa de crescimento da força de trabalho;
e. ( ) 3% ao ano

2) Sobre o Modelo de Romer, assinale a alternativa incorreta:


a. ( ) A economia é composta por três setores: o setor de pesquisa
e desenvolvimento, o setor de bens intermediários e o setor de
bens finais.
b. ( ) A população e a força de trabalho permanecem constantes ao
longo do tempo, assim como o estoque de capital humano.
c. ( ) A criação de novos conhecimentos por uma firma produz efeitos
externos positivos sobre as possibilidades de produção de outras
firmas, porque o conhecimento não pode ser perfeitamente
patenteado ou mantido secreto.
d. ( ) A tecnologia é bem rival, e não excludente, á medida que se
uma firma usa uma determinada tecnologia, essa não pode ser
mais usada por mais nenhuma firma.
e. ( ) O progresso tecnológico é resultado da busca intencional de
lucros por parte das firmas.

Unidade 3 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

3) A inovação tecnológica assume um papel importante no


desenvolvimento econômico, dado que para aumentar seus lucros
as empresas investem em novos produtos e novos processos. Nesse
sentido, explique a diferença entre inovação radical e inovação
incremental.

Saiba mais

HIRSCHMAN, A. Estratégia do Desenvolvimento


Econômico. Rio de Janeiro: Editora Fundo da Cultura, 1960.

84
4
unidade 4

Desenvolvimento segundo a CEPAL


e o desenvolvimento no Brasil

Objetivos de aprendizagem
„„ Aprofundar os conhecimentos sobre a CEPAL e sua
contribuição para o crescimento da América Latina.

„„ Conhecer a teoria da dependência e sua gênese.

„„ Aprofundar o conhecimento sobre o processo de


desenvolvimento brasileiro.

Seções de estudo
Seção 1 A CEPAL e o desenvolvimento latino-americano

Seção 2 Desenvolvimento econômico brasileiro


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


O desenvolvimento econômico é um tema efervescente nos
estudos econômicos, sociológicos e da geografia. Tamanha a
sua importância, formular políticas para o desenvolvimento
corresponde a melhorar a vida da sociedade. Dessa forma, a
partir do Surgimento da ONU – Organização das Nações
Unidas, esse tema tem gerado ações práticas, no sentido de
compreender os motivos do atraso de determinados países em
relação a outros.

Nesse sentido, a ONU criou, no Chile, a Comissão Econômica


para América Latina e Caribe (CEPAL), com o objetivo de
compreender e desenvolver estratégias desenvolvimentistas na
América Latina.

Nesta unidade, vamos conhecer a CEPAL e as principais


formulações desse órgão.

Vamos também entender o processo de desenvolvimento


brasileiro, suas dificuldades e avanços.

Seção 1 - A CEPAL e o desenvolvimento latino-


americano
Com a criação da CEPAL (Comissão Econômica para América
Latina e Caribe), o desenvolvimento nos países caribenhos e
latino-americanos começa a ser pensado. Surgida após a Segunda
Guerra Mundial, essa comissão passa a ter uns instrumentos da
ONU para estudar e fomentar o desenvolvimento como estratégia.

A preocupação básica da CEPAL era a de explicar o


atraso da América Latina, em relação aos chamados
centros desenvolvidos, e encontrar a forma de superá-
lo. Neste sentido, a análise enfocava, de um lado, as

86
Desenvolvimento Socioeconômico

peculiaridades da estrutura socioeconômica dos países da


“periferia”, ressaltando os entraves ao “desenvolvimento
econômico”, em contraste com o dinamismo das estruturas
dos centros avançados; e, de outro lado, centrava-se nas
transações comerciais entre os parceiros ricos e pobres do
sistema capitalista mundial que, ao invés de auxiliarem
o desenvolvimento da periferia, agiam no sentido de
acentuar as disparidades (MANTEGA, 1985, p.34).

Até então, as abordagens existentes sobre o crescimento econômico


na América Latina eram fruto de conhecimento empírico, sendo
este o ponto de partida para os estudiosos que estavam à frente
da CEPAL, ou seja, entender o contexto histórico e as suas
implicações no crescimento econômico na região.

Nesse sentido, o documento produzido por Raul Prebisch, em


1949, para um seminário interno da CEPAL, passa a ser, então,
documento que vai orientar os estudos feitos pelos economistas
dessa comissão, e Raul Prebish tornou-se o principal nome do
pensamento desenvolvimentista latino-americano.

Consulte o documento orientador dos estudos feitos na


CEPAL: “El desarrollo económico de la América Latina
y algunos de sus principales problemas” (PREBISCH,
1949), que traz uma versão regional da economia do
desenvolvimento, indicado no Saiba Mais desta unidade.

Os principais pensadores da CEPAL que vão somar forças junto


a Prebisch são: Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares,
Oswaldo Sunkel, Aníbal Pinto, Fernando Fajnzylber, entre outros.

1.1 O pensamento cepalino


Bielschowsky (2000, p.18) divide o pensamento da CEPAL em
cinco fases:

1. As origens e anos 1950: industrialização;

2. Os anos 1960: “reformas para desobstruir a


industrialização”;

Unidade 4 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

3. Os anos 1970: a reorientação dos “estilos” de


desenvolvimento na direção da homogeneização social e
na direção da industrialização pró-exportadora;

4. Os anos 1980: a superação do endividamento externo via


“ajuste com crescimento”;

5. Os anos 1990: a transformação produtiva com equidade.

Partindo da ideia de que as relações de trocas entre os países


periféricos e os do centro, esses industrializados, dá-se de forma
prejudicial aos países periféricos, agrícolas e atrasados. Assim, está
se contrariando o pensamento dominante que o livre comércio
e a especialização levariam à propagação do progresso e a
difusão técnica. Sobre isso, Prebish (1949) questiona a Teoria das
Vantagens Comparativas, ao defender que os países exportadores
de matéria-prima são prejudicados, pois não recebem os
incrementos de produtividade auferidos pelos países ricos.

A deterioração dos termos de troca acontece, segundo Prebish,


porque ao trocar bens primários via exportação, por produtos
industrializados via importação, o poder de compra dos países
exportadores é reduzido, uma vez que os preços dos produtos
primários tendem a cair em relação aos industrializados,
necessitando aumentar continuamente as exportações, para
fazer frente às necessidades internas não supridas pela ausência
de indústrias.

As causas do atraso dos países periféricos da América Latina se


relacionam à falta de dinamismo de suas estruturas produtivas,
baseadas em produtos primários e dependentes dos mercados
consumidores dos centros. (MANTEGA, 1985).

Dessa forma, segundo Bastos e Silva (1995, p.175),


“contrapondo-se à ideia de que as causas do subdesenvolvimento
são os obstáculos internos, as análises da CEPAL destacaram as
relações entre países, baseando-se na concepção centro-periferia”.

Conforme Souza (1995), havia a ideia de um crescimento


empobrecedor, dado que o aumento das exportações reduz os
preços dos produtos exportados, pressionados pelo crescimento
da oferta; o que, por sua vez, aumenta as importações, devido

88
Desenvolvimento Socioeconômico

ao crescimento da renda interna. Ou seja, o aumento das


exportações é anulado pelo aumento no preço das importações.

Outro fato levantado por Prebish foi a demanda dos produtos


primários em relação à demanda dos manufaturados. Segundo
Mantega, (1985, p. 37), “a demanda de bens manufaturados
crescia muito mais rapidamente do que a demanda de bens
primários, devido a estes últimos representarem uma proporção
decrescente da demanda global, à medida que a renda da
população aumente.”

1.2 O caminho para o desenvolvimento


Partindo da ideia de que, no livre mercado, as economias
periféricas não conseguirão romper o subdesenvolvimento devido
a sua condição de agrário-exportadoras e consumidoras de bens
industrializados importados, a CEPAL propõe a implementação
de uma política de industrialização, tendo como característica
principal o desenvolvimento “para dentro”, que foi chamado de
modelo de substituição de importações.

Segundo Bastos e Silva (1995, p. 176),

A partir da constatação da deterioração dos termos


de intercâmbio, desenvolveu-se o argumento de que
a industrialização dos países periféricos poderia
reverter a situação. A industrialização deveria iniciar-
se com a produção dos bens que eram importados e
para os quais havia mercado consumidor. A estratégia
recomendada era, então, um processo de industrialização
pela substituição de importações. Uma vez iniciada, a
industrialização reduziria a dependência com relação
aos manufaturados exportados pelo centro, aumentaria
o emprego e a renda interna, expandindo o mercado
doméstico e propiciando a expansão da indústria.
Mediante a industrialização e a expansão do mercado
interno, os benefícios do progresso técnico na produção
de manufaturados seriam mantidos no próprio país.
A industrialização era, assim, o único meio de que
dispunham os países periféricos para captar parte dos
frutos do progresso técnico e levar progressivamente o
nível de renda da população.

Unidade 4 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

O modelo de substituição de importações, de acordo com


Tavares (1972, p.35), era “ um processo de desenvolvimento
parcial e fechado que, respondendo às restrições de comércio
exterior, procurou repetir aceleradamente, em condições
históricas distintas, a experiência de industrialização dos países
desenvolvidos”.

Esse modelo tinha no Estado o agente preponderando,


puxando para si a tarefa de promover o crescimento econômico,
fornecendo infraestrutura, poupança e capacitação para a
indústria nacional.

Caberia ao Estado o papel de ordenar a execução da


expansão necessária à industrialização, captando e
orientando recursos financeiros nacionais e internacionais e
promovendo investimentos diretos em setores prioritários
e naqueles em que a iniciativa privada fosse insuficiente,
assim como propiciar a cooperação técnica externa nestes
países (HAFFNER, [1950-1961], 2002, p.11).

Como vimos, alguns elementos foram centrais nas proposições


da CEPAL para o desenvolvimento, como a mudança do modelo
desenvolvimentista e a participação efetiva do estado como agente
indutor do processo desenvolvimentista.

Conforme Mantega (1985), o modelo proposto pela CEPAL


assume caráter nacionalista, apontando como caminho a
substituição de importações com busca de poupança externa,
dada a escassez de capital dos países latino-americanos.

1.3 Os resultados alcançados


Os resultados alcançados com o modelo de substituição de
importações proposto pela CEPAL não foram os esperados,
devido alguns entraves, como afirma Furtado (1985), sendo
que houve um processo de industrialização dos países latino-
americanos que ensejou crescimento econômico, mas, devido à
concentração de renda, ao êxodo e à pobreza rural, não aconteceu
o processo de desenvolvimento.

90
Desenvolvimento Socioeconômico

Conforme Mantega (1985, p.42),

Ao postular o desenvolvimento capitalista, a CEPAL


pressupunha que essa forma de organização econômica
traria benefícios socais gerais não apenas para a burguesia
industrial, que era uma parcela reduzida da população,
como também para as demais classes e grupos sociais
(trabalhadores, classe média, etc.) que se constituíam no
grosso da nação.

Celso Furtado, um dos teóricos do modelo de desenvolvimento


para dentro, deixa claro a sua frustração por não ter atingido
o estágio de desenvolvimento esperado com o processo
de industrialização, a partir do modelo de substituição de
importações.

Naquela época, dávamos por certo que o desenvolvimento


econômico e sua mola principal, a industrialização, eram
condição necessária para resolver os grandes problemas
da sociedade brasileira: a pobreza, a concentração de
renda, as desigualdades regionais. Mas demoramos a
perceber que estavam longe de ser condição suficiente.
Daí que a consciência de êxito que tive na fase inicial
de avanço da industrialização haja substituída por
sentimento de frustração (FURTADO, 2000. p.20).

Mesmo alcançando os resultados propostos, o processo de


industrialização, a estratégia da CEPAL não foi bem sucedida
em modificar as condições sociais, aumentando a concentração de
renda e piorando a situação da população.

Independente dos resultados alcançados pelo modelo, que não


agradaram aos teóricos da CEPAL, é inegável a contribuição
desse organismo para a economia latino-americana e dos seus
principais expositores, pois seus pensadores ousaram ir de
encontro aos problemas, estudá-los e apresentar propostas para
a sua solução.

Unidade 4 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

1.4 Teoria da dependência- uma abordagem neocepalina


Além de estudar e propor modelos para o desenvolvimento
latino americano, a CEPAL, por meio de seus pesquisadores,
contribuiu para o conhecimento e a compreensão dos entraves ao
desenvolvimento da região.

Saindo da perspectiva da pobreza, como uma das explicações


para o baixo crescimento, a CEPAL trouxe à tona aspectos que
iam além da economia e dos recursos econômicos, criando a
teoria da dependência, que procurou colocar luz nas razões do
não desenvolvimento latino americano, mesmo após o processo
de industrialização idealizado pelo mesmo órgão.

A teoria da dependência surgiu em meados da década


de 1960, parte como uma reação ao aparente fracasso
da análise e das propostas dos estruturalistas. Os
teóricos da dependência argumentam que a estratégia de
industrialização baseada na substituição das importações
deixou de produzir crescimento sustentado nos países
menos desenvolvidos em razão da permanência das suas
condições econômicas e sociais tradicionais (GILPIN,
2002, p. 311).

As razões para o não desenvolvimento não foram motivadas


unicamente pelo fracasso do modelo de substituição de
importações, mas pela sua incapacidade de modificar as
estruturas econômicas e sociais da região.

Fernando Henrique Cardoso, um dos grandes expoentes da


teoria da dependência, afirma que a dependência existe porque
os interesses dos países subdesenvolvidos são determinados pelas
nações desenvolvidas.

A dependência da situação de subdesenvolvimento


implica socialmente uma forma de dominação que se
manifesta por uma série de características no modo
de atuação e na orientação dos grupos que no sistema
econômico aparecem como produtores ou como
consumidores. Essa situação supõe, nos casos extremos,
que as decisões que afetam a produção ou o consumo
de uma economia dada são tomadas em função da
dinâmica e dos interesses das economias desenvolvidas.
(CARDOSO; FALETTO, 2004, p.39).

92
Desenvolvimento Socioeconômico

Dos Santos (2002, p.25) afirma que o fator determinante para


o não desenvolvimento foi a forma como essas economias se
integraram à economia mundial.

O caminho do desenvolvimento econômico que havia


sido realizado pelas nações europeias, pelos EUA e
pelo Japão era impossível de ser repetido, porque a
conformação do subdesenvolvimento nas economias
latino-americanas e, da mesma forma, na Ásia e
na África, não era simplesmente um resultado de
conservação de economias pré-capitalistas, mas sim
um resultado da forma como essas economias foram
integradas na economia mundial.

Cardoso e Faletto reforçam a ideia de que os sistemas políticos e


econômicos funcionam de forma conjunta, e que a dependência
é determinada pelos interesses do sistema político, que tem
predominância sobre o econômico. Ou seja, primeiro viriam
os interesses políticos e depois os econômicos. “A noção de
dependência alude diretamente às condições de existência e
funcionamento do sistema econômico e do sistema político,
mostrando a vinculação entre ambos, tanto no que se refere ao
plano interno do país como ao plano externo”. (CARDOSO e
FALETTO, 2004, p. 27).

Machado (1999), argumenta que as economias latino-americanas


não se desenvolveram dadas a sua situação de dependência da
Europa, num primeiro momento, e dos Estados Unidos num
segundo momento. De acordo com este autor,

A América Latina experimentou, ao longo dos séculos,


um crescimento vegetativo à sombra da Europa e dos
Estados Unidos, situando-se praticamente fora da
própria historicidade do Ocidente. Na forma da sua
inserção aos domínios ultramarinos europeus está a
origem do subdesenvolvimento e da dependência, que
se prolongaram no tempo. A ocidentalização desses
espaços iniciou-se com o sistema colonial, confrontando
o modo de produção agroextrativista com os padrões
de produção, acumulação de capital, práticas e teorias
mercantis e, posteriormente, monopolistas-industriais.
Daí que o capitalismo tardio e dependente latino-
americano decorreu originalmente de contingência
histórica. (MACHADO, 1999, p.4).

Unidade 4 93
Universidade do Sul de Santa Catarina

O capitalismo tardio vai se dar, portanto, em função do atraso


das economias latino-americanas, ao romperem com a fase
escravagista e ingressarem no capitalismo mundial.

Seção 2 - Desenvolvimento econômico brasileiro


Dentro do contexto latino-americano, o Brasil, a partir dos
pensadores brasileiros membros da CEPAL, começa a pensar o
processo de desenvolvimento nacional, tendo como característica
histórica a dependência externa, ocasionada pelo processo de
colonização.

Segundo Brum (1999, p.118), “a dependência caracteriza-se como


uma situação econômica social e política no qual determinada
sociedade tem sua estrutura e funcionamento condicionados pelas
necessidades de outras nações mais poderosas que exercem sobre
ela dominação.”

Um aspecto importante levantado por Brum (1999) é que a


dependência só se configura quando existe interesse interno
de setores importantes da sociedade, que de forma geral são
favorecidos.

Quanto à história brasileira, Brum (1999) identifica três grandes


fases da dependência:

„„ Fase 1: Os três primeiros séculos, que compreendem o


período colonial brasileiro e latino-americano;

„„ Fase 2: O período de emancipação política do Brasil


(em 1822), que ocorreu quando a Europa ingressava
numa nova era – a Revolução industrial – liderada pela
Inglaterra, em que essa tinha necessidade de matérias-
primas para as suas fábricas, de produtos agrícolas para
as suas populações urbanas e de mercados para seus
produtos industrializados. O vínculo de dependência é
fortalecido em relação ao país líder da industrialização.

94
Desenvolvimento Socioeconômico

„„ Fase 3: O período da segunda revolução industrial e o


fim da Primeira Guerra Mundial, quando os Estados
Unidos assumem a liderança mundial. Novamente,
o vínculo de dependência é mantido, tendo o Brasil
como fornecedor de insumos e consumidor de produtos
industrializados e de tecnologia.

Marini (2000, p. 145) confirma a assertiva de Brum, afirmando que:

A industrialização latino-americana corresponde assim a uma


nova divisão internacional do trabalho, em cujo âmbito se
transfere aos países dependentes etapas inferiores da produção
industrial [...], reservando-se para os centros imperialistas
as etapas mais avançadas [...] e o monopólio da tecnologia
correspondente.

Ainda segundo Brum (1999, p.119), “com tais vínculos externos,


o Brasil cumpriu, historicamente, em maior ou menor grau, uma
função subalterna em relação aos centros mundiais dominantes.”

Essa relação de dependência e dominação é clarificada também


pelo antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (2007, p. 23):

Nestas análises, partimos do pressuposto, geralmente


aceito, de que o desenvolvimento geraram, simultânea
e correlativamente, as economias metropolitanas e as
coloniais, conformando-as como um sistema interativo
integrado por pólos mutuamente complementares de
atraso e de progresso. E configuraram as sociedades
subdesenvolvidas, não como réplicas de estágios passados
das desenvolvidas, mas como contrapartes necessárias à
perpetuação do sistema que ambas compõem.

Complementado, Darcy Ribeiro (2007, p.39) afirma que “as


nações latino-americanas foram contidas e condicionadas em seu
desenvolvimento pelos desígnios dos seus novos dominadores que
operavam no sentido de perpetuar sua condição de economias
complementares e subalternas.”

Para entendermos o desenvolvimento econômico brasileiro,


adotaremos a cronologia de Argemiro Brum, em seu livro
Desenvolvimento Econômico Brasileiro (2003), segundo a qual

Unidade 4 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

o primeiro modelo econômico adotado pelo Brasil teria sido o


exportador, entre os anos de 1500 e 1930, conforme veremos a
seguir.

2.1 Modelo econômico primário – exportador (1500 – 1930)


O primeiro momento do processo de desenvolvimento brasileiro
vai do ano de 1500 até 1930, período colonial. O Brasil segue
dependente de Portugal até 1822, e após a independência, o
vínculo vai se transferir para a Inglaterra, marcando esse período
pela questão financeira.

Segundo Brum (1999, p.121),

Nesse longo período da história brasileira, os interesses


da classe senhorial, representado apenas por dois por
cento da sociedade, dominaram o cenário do país.
O poder econômico e o poder político estiveram
concentrados, de fato e forma quase absoluta nas mesas
pessoas: os senhores da terra ( latifundiários).

Sempre ligados aos interesses externos, os senhores de terra


faziam com que fosse refletida internamente a dominação
externa. Não tinham uma relação de pertença com o Brasil,
pois seus interesses estavam fora do país. Seus filhos estudavam
nas escolas estrangeiras, suas mulheres vestiam roupas
confeccionadas no estrangeiro, por isso sua relação com o país se
dava numa perspectiva de exploração.

Nesse período, vão acontecer inúmeros focos de resistência e


de revolta da população, mas que não vão modificar a estrutura
dominante, política e econômica.

Já no plano internacional, o colonialismo e o mercantilismo


estavam no seu auge, dando origem aos descobrimentos de novas
terras (BRUM, 199, p.123), “determinando a orientação da
economia e a vida na sociedade em formação.”

As colônias, nesse período, sofriam influência do mercantilismo,


segundo o qual só poderia haver lucro de um país, ou seja,

96
Desenvolvimento Socioeconômico

numa relação econômica entre dois países, um sempre sairia em


prejuízo, conforme já estudamos.

Um reflexo do modelo colonialista brasileiro implantando por


Portugal no Brasil foi a organização imposta de fora, ou seja, todas
as formas de organização eram uma prerrogativa da metrópole,
criando, assim, um país dependente, organizado a partir dos
interesses dos outros, o que reflete na atualidade. Assim, conforme
Brum (1999, p.125), “(...) ainda hoje temos dificuldade de gerar
formas próprias de organização, de renová-las e adequá-las à
realidade mutante, ou de fazê-las funcionar a contento”.

Como podemos ver, ainda sentimos os reflexos do modelo


colonialista, dependente dos interesses externos, visto que as
classes dominantes ainda mantêm uma mentalidade entreguista.

2.2 Tentativas de industrialização e ciclos econômicos


Graças aos tratados de 1654 e de 1703, com a Inglaterra,
Portugal abandonou o projeto de desenvolver sua indústria,
consumindo diretamente manufaturados da Inglaterra.

Pelos tratados acima citados, os ingleses tinham o direito de


negociar diretamente com as colônias, e em troca era garantida a
entrada de vinhos portugueses na Inglaterra. (BRUM, 1999).

Nesse período, a economia brasileira passou por três ciclos


econômicos bem definidos, o ciclo do açúcar, do ouro e do café.

Segundo Brum (1999, p.31),

o ciclo pode ser definido como o período em que


determinado produto, beneficiando-se da conjuntura 
favorável do momento, constitui-se no centro dinâmico
da economia, atraindo as forças econômicas – capital
e mão de obra – e provocando mudanças em todos os
outros principais setores da sociedade.

O ciclo do ouro modificou a estrutura da sociedade brasileira,


mesmo essa enfrentando as condições impostas externamente.

Unidade 4 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

O ciclo do ouro fez surgir, na região de minas, uma classe


abastada. [...] diferente da sociedade rural açucareira,
estruturou-se graças à relativa distribuição da riqueza
decorrente da extração aurífera e à implantação de
atividades agropastoris diversificadas [...] ocorrendo
assim em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, em menor
escala, um surto manufatureiro de relevante importância.
(BRUM, 1999, p.128).

Ainda sobre o ciclo do ouro, Furtado (1998, p.34-35) coloca que

O ciclo do ouro constitui um sistema mais ou menos


integrado, dentro do qual coube a Portugal a posição
secundária de simples entreposto. Ao Brasil o ouro
permitiu financiar uma grande expansão demográfica,
que trouxe alterações fundamentais à estrutura de sua
população, na qual os escravos passaram a constituir
minoria e o elemento de origem européia, maioria: Para
a Inglaterra o ciclo do ouro brasileiro trouxe vim forte
estímulo ao desenvolvimento manufatureiro, uma grande
flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu
uma concentração de reservas que fizeram do sistema
bancário inglês o principal centro financeiro da Europa.

Como podemos ver, o ciclo do ouro permitiu um período


de crescimento desassociado da metrópole, um crescimento
endógeno. O fim desse momento, em que a manufatura
começava a ganhar corpo, vai acontecer com o Alvará 1785, que
proibia a manufatura no Brasil.

2.3 A independência
A independência representou o fim das amarras coloniais com
Portugal, coincidindo com o fim do mercantilismo e com o
surgimento da Revolução Industrial, mas a estrutura colonial do
Brasil permaneceu a mesma.

Segundo Brum (1999, p.153), “a independência foi pouco


mais que um arranjo político de cúpula: manteve-se o regime
democrático [...], a mesma estrutura econômica e o sistema
escravagista, com uma sociedade dicotomizada e acentuada
discriminação.”

98
Desenvolvimento Socioeconômico

Dessa forma, a mudança do status político não altera a situação


econômica, e o país continua com características de colônia.
Brum (1999) afirma que a autonomia política conquistada não
foi suficiente para superar a situação colonial, porque o país não
conseguiu implantar um projeto nacional que permitisse também
a independência econômica e cultural.

A dependência continuou, permanecendo o país numa


condição subalterna, mero reflexo das necessidades, dos
interesses e das ações dos centros de poder mundial. Do
mesmo modo que no período colonial, durante o império e
a primeira república o Brasil continuou a desempenhar uma
função econômica complementar. (BRUM, 199. P.154).

Essa condição de dependência vai perdurar até a década de


1920, com o esgotamento da estrutura colonial brasileira. Esse
esgotamento Brum (1999) vai chamar de Crise de Transição
da década de 1920, período em que o mundo vive momentos
importantes, como a Primeira Guerra mundial, que vai mudar o
centro hegemônico mundial da Europa para os Estados Unidos, a
Segunda Revolução Industrial, a Revolução Socialista na Rússia,
e outros acontecimentos que vão desencadear mudanças políticas
e econômicas significativas em diversos países.

Na economia, mudanças importantes acontecem também no


Brasil, como a crise do café. Alcoforado (2000, p.101) apresenta a
situação que se desenrolava no período em análise:

O modelo agrário-exportador que prevaleceu no Brasil


do período colonial até 1930 tinha como principais
interessados na sua manutenção a classe de latifundiários
e os setores agroexportadores. Este modelo se esgotou
em consequência da crise econômica mundial, que
afetou profundamente as exportações do Brasil para
o mercado internacional a partir do crack da Bolsa de
Nova Iorque em 1929, da emergência de uma burguesia
industrial comprometida com a modernização do país e
o desenvolvimento nacional e da crise política resultante
da eleição fraudulenta para a sucessão do então presidente
Washington Luís que redundou na Revolução de 30 e na
ascensão ao poder de Getúlio Vargas.

Unidade 4 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

A ascensão de Vargas ao poder vai marcar definitivamente a


transição do modelo agrário-exportador para a industrialização.

Nesse sentido, as palavras de Wilson Cano (1998) mostram


claramente o rumo que o país tomou.

No período de 1929/33 se altera o caráter principal do


antigo padrão de acumulação (o modelo “primário-
exportador” ou “o desenvolvimento para fora”). Ou
seja: a dominação que as exportações exerciam sobre a
determinação do nível e ritmo da atividade econômica
do país passaria a segundo plano. A partir desse
momento, seria a indústria o principal determinador
do nível de atividade. No dizer de Furtado, dar-se-ia o
deslocamento do centro dinâmico da economia nacional
(CANO, 1998, p.172).

O papel do Estado passa a ser agente econômico fundamental


no modelo que se propõe no período que se inicia na década
de 1930, com o governo Getúlio Vargas. Mesmo já tendo
participação na economia em períodos anteriores, nesta década,
o Estado assume o processo de desenvolvimento da economia,
chamando para si as principais funções nesse processo, e age
como parceiro dos agentes econômicos privados.

Exemplo disso foram as crises do café, em que o Estado


comprava o excedente, permitindo que a oferta não excedesse
a demanda, fortalecendo o papel de agente interventor da
economia.

Assume, portanto, no governo Vargas, a tarefa de ser o agente


dinamizador do desenvolvimento econômico, agindo como
empresário, regulador, financiador das atividades econômicas e
fornecedor de bens e serviços.

A participação do governo brasileiro na economia já havia


começado a ser delineada com a fundação do Banco do Brasil em
1808, por D. João VI, além de algumas fábricas que visavam a
atender a Coroa Portuguesa no Brasil. Depois da Independência,
podemos citar diversas iniciativas de intervenção, segundo
Rezende (1988):

100
Desenvolvimento Socioeconômico

„„ 1858: criação da Estrada de ferro D. Pedro II;

„„ 1890: criação da Companhia de navegação Loyd


Brasileiro e a criação de ferrovias federais, que chegaram,
na década de 1950, a compor 94% da malha ferroviária;

„„ 1940: criação da Fábrica Nacional de Motores (FNM);

„„ 1941: criação da Cia. Nacional de Álcalis;

„„ 1941: criação da CSN e Acesita;

„„ 1942: criação da Cia. Vale do Rio Doce;

„„ 1953: criação da Petrobras;

„„ 1957: criação das Centrais Elétricas Furnas;

„„ 1956: criação da Usiminas;

„„ 1960: criação da Cosipa;

„„ 1961: criação da Eletrobrás, na área de abastecimentos e


armazenagens;

„„ 1962: criação da Cibrazem e Cobal;

„„ 1963: criação da Docenave, na área de navegação;

„„ 1964: criação do Serpro, Embratel, Embraer,


Embrafilme;

„„ 1972: criação da Telebrás;

„„ 1972: criação da Infraero, Hidrelétrica de Itaipu;

„„ 1975: criação da Portobras, Imbel.

As funções econômicas do governo no período que vai de 1947


a 1970 também foram muito expressivas. Atuando diretamente
como empresário, o Estado criou um número significativo
de autarquias, que saltam de pouco mais de 30 no início do
período para mais de 80 na década de 70, atuando nos diversos

Unidade 4 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

segmentos da economia. Entre as mais expressivas, Rezende


(1988) cita as autarquias ligadas à construção de estradas, portos, e
desenvolvimento regional, como: DNER, IAA, INM, SUDENE,
CMN, DPNVN, DNOS, CNEM, SUDAM, entre outras.

Essas autarquias representaram um aumento considerável nas


receitas correntes da União, representando aproximadamente
70% de todas as receitas. Em contrapartida, no cumprimento de
seu papel de fomento do desenvolvimento, representaram uma
participação no investimento estatal de 4,4% do PIB em 1969.
(SILVA, 1980).

Segundo Riani (1997, p.46), “existiam em 1984 aproximadamente


317 empresas estatais no Brasil; desse total, 62% tinham suas
atividades voltadas para o setor produtivo.”

Mesmo com esses avanços no processo de industrialização da


economia brasileira, ele vai acontecer de forma tardia em relação
aos centros desenvolvidos.

Segundo Brum (1999, p.206), “A industrialização tardia é


uma característica da econômica brasileira, que vai entrar na
era industrial com 150 anos de atraso em relação às nações
pioneiras”.

Enquanto a Inglaterra e os Estados Unidos usufruíam dos


avanços trazidos pela Revolução Industrial, o Brasil relutava em
acabar com a escravidão.

Brum (1999) divide a industrialização brasileira em três fases,


marcadas como prioridade pela política governamental.

a) Fase da produção de bens de consumo não durável;

b) Fase da produção de bens de consumo durável;

c) Fase da produção de bens de capital e de insumos


básicos.

Na primeira fase, que vai até meados dos anos 1950, a


produção visava a atender a demanda imediata, tendo como
características o uso de matéria-prima e mão de obra local, um
processo artesanal (industrial de base familiar), e uma produção

102
Desenvolvimento Socioeconômico

espalhada pelo território ocupado, dependente, em grande


parte, das importações de bens de capital para uso no processo
de industrialização. Os principais segmentos da fase industrial
foram o têxtil, alimentação, bebidas, vestuário, utensílios
domésticos e instrumentos de trabalho. (BRUM, 1999).

A segunda fase foi marcada pela produção de bens de consumo


duráveis, quando se fez necessário o aperfeiçoamento da
infraestrutura, especificamente em energia, comunicações
e transportes. A propaganda começa a se dar num processo
intenso, o que vai dinamizar o consumo e a indústria.

A terceira fase é caracterizada pela produção de bens de capital


e de insumos básicos, marcando o processo de substituições de
importações.

2.4 O Estado brasileiro como regulador


O controle estatal brasileiro assumiu importância fundamental
por permitir que a economia se desenvolvesse de forma
equilibrada, não havendo a ocorrência de grandes sobressaltos,
principalmente nos preços.

A criação de mecanismos de controle de preços de serviços de


utilidade pública fez com que o Estado interviesse no setor elétrico,
por exemplo, vindo a ser o principal fornecedor de energia.

Foi criado o CIP (Conselho Interministerial de Preços), em


1968, com o objetivo de criar mecanismos de controle e combate
à inflação, controlando os preços dos setores-chave da economia
(RIANI, 1997).

Em 1979 foi criada, no âmbito da Presidência da República, a


Secretaria Especial de Abastecimento e Preços (SEAP), sendo
sucedida, em 1990, pelo Departamento de Abastecimento e
Preços, subordinado à Secretaria Nacional de Economia, do
extinto Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento.

Na continuação da política reguladora no governo brasileiro,


foi criada, em 1992, no âmbito do Ministério da Fazenda, a
Secretaria de Política Econômica, que, desmembrada, dois
anos depois, deu origem à Secretaria de Acompanhamento

Unidade 4 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

Econômico. Atualmente, o órgão regulador é a Secretaria


de Acompanhamento Econômico – SEAE, criada em 1985,
como resultado do desmembramento da Secretaria de Política
Econômica do Ministério da Fazenda. Com o papel de fazer o
acompanhamento de preços e o reajuste de tarifas públicas, essa
Secretaria herdou parte de estrutura de unidades do Executivo
responsáveis, no passado, pelo controle de preços da economia, a
exemplo do extinto Conselho Interministerial de Preços (CIP).

A questão do acompanhamento econômico, no entanto, é


bastante anterior à criação da SEAE, remetendo-se à Comissão
Nacional de Estímulo à Estabilização de Preços (CONEP),
criada em 23 de fevereiro de 1965, no âmbito da SUNAB. A
CONEP estava autorizada a conceder estímulos de caráter fiscal
ou a restringir o aumento de preços, aumentando-os somente
com autorização prévia.

O processo de intervenção do governo se fortalece também no


setor financeiro (RIANI, 1997). O Banco do Brasil e Banco
Central, por meio do sistema fiscal, passaram a exercer rígidos
controles sobre o crédito, pelos Bancos Estaduais de Crédito e
de Desenvolvimento, e de uma série de órgãos de administração
indireta, que aumentam significativamente as atividades do
governo.

Com a criação do Sistema Financeiro Nacional, em 1964, por


meio da Lei 4595, conhecida como Lei da Reforma Bancária,
foram criados inúmeros órgãos reguladores, com a finalidade de
disciplinar e regular o sistema financeiro.

2.5 O Estado brasileiro como financiador das atividades


econômicas
Além de se tornar o principal empresário, o Estado percebeu
a necessidade de fazer investimentos e de reconhecer que esses
recursos representavam uma soma vultuosa. Nessa linha, foi
criado, em 1908, o Banco do Brasil, destinado a conceder
crédito agrícola; a Caixa Econômica, para o crédito imobiliário;
e o BNDES, criado pela Lei nº 1628 de 20/06/1952 como
autarquia federal.

104
Desenvolvimento Socioeconômico

O BNDES assumiu o papel de agente financiador do projeto


de desenvolvimento brasileiro, fortalecendo o setor empresarial
nacional, corrigindo desequilíbrios regionais e atuando também
como sócio, avalista e garantidor de operações financeiras
internacionais (PINHEIRO, 2002).

Outros bancos foram criados além do BNDES, como o


BASA (Banco da Amazônia), o BNB (Banco do Nordeste
Brasileiro) e outros bancos regionais, que assumiram a função
de financiar o desenvolvimento do país. Estudaremos esse tema
mais profundamente quando estudarmos o Sistema Financeiro
Nacional.

Os bancos de desenvolvimento e os estaduais tiveram, portanto,


um papel importante no processo de crescimento econômico
registrado nas décadas de 1950 até 1970, financiando as
atividades geradoras de emprego e renda.

2.6 O papel de Juscelino Kubitschek no processo de


desenvolvimento brasileiro
Eleito presidente em 1955, com o slogan “Cinquenta anos em
cinco”, Juscelino Kubitschek teve como ponto forte o plano
de metas, baseado em cinco setores: energia, transportes,
alimentação, indústria de base e educação e a construção de
Brasília, marcando, assim, o planejamento como instrumento de
governo no Brasil.

Conceição Tavares (1978, p.72) destaca no período do governo


de JK a forte participação do Estado e a abertura para o capital
internacional privado.

De 1956 a 1961 entramos na terceira fase de


desenvolvimento do pós-guerra, que se caracterizou por
dois fatores mais destacados: o aumento da participação
direta e indireta do Governo nos investimentos e a entrada
de capital estrangeiro privado e oficial para financiar
parcela substancial do investimento em certos setores.

Unidade 4 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os resultados alcançados são referenciados por Skidmore (1996,


p.204):

Entre 1955 e 1961, a produção industrial cresceu 80%


(em preços constantes), com as porcentagens mais altas
registradas pelas indústrias de aço (100%), indústrias
mecânicas (125%), indústrias elétricas e de comunicações
(380%) e indústria de equipamentos de transportes
(600%). De 1957 a 1961, a taxa de crescimento real foi de
7% ao ano e, aproximadamente, 4% per capita.

Os avanços alcançados na economia brasileira no período


em estudo trouxeram também grandes contradições, como a
concentração econômica na região sudeste, especificamente
em São Paulo, acentuando os desequilíbrios regionais, o
enfraquecimento da empresa privada nacional em detrimento da
empresa estrangeira.

A economia brasileira apresentava um ritmo de crescimento


declinante no início dos anos 60. Parecia terem-se esgotado as
possibilidades de crescimento econômico com base na expansão
da indústria de bens de consumo duráveis, que fora a mola
propulsora no período anterior.

Já no final do seu governo, JK começara a reduzir o volume de


investimentos, deixando obras e transferindo problemas para o seu
sucessor. Recorrera também a empréstimos externos de curto prazo
e a emissões de moeda, com reflexos posteriores no agravamento
do serviço da dívida e na elevação dos índices de inflação.

Segundo Brum (1999), a inflação saltou de 47,79% ,em 1961,


para 79.87%, em 1963, em contrapartida, o crescimento do PIB
caiu de 8,6% para 0,6% no mesmo período, no governo de João
Goulart.

Outros fatores também podem ser elencados, como o balanço de


pagamentos com o exterior, que apresentava sucessivos déficits. A
dívida externa total, superior a três bilhões de dólares, exigia mais
de 30% do valor das exportações para pagamentos de amortizações
e juros. O Fundo Monetário Internacional (FMI) pressionava
para que o governo adotasse um plano econômico de rigorosa
austeridade, dentro dos padrões ortodoxos (BRUM, 1999).

106
Desenvolvimento Socioeconômico

Como resposta ao momento econômico, João Goulart lança o


Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, que
tinha como bases:

O Plano Trienal adotava uma linha de austeridade com


vistas ao saneamento financeiro e contemplava exigências
do FMI quanto à política monetária e fiscal, à redução
dos gastos públicos e à contenção dos salários, com o
objetivo de restaurar as finanças públicas, controlar a
inflação e alcançar a estabilidade econômica e financeira.
Tratava-se de medidas necessárias, mas de caráter
um tanto recessivo e implicavam perda, ao menos
momentânea de poder aquisitivo para os assalariados,
o que conflitava com a base política do partido e do
governo (BRUM, 1999, p. 268).

No período seguinte, que vai de 1964 a 1984, será caracterizado


pelo regime militar. Em março de 1964, o movimento militar
destituiu o governo Goulart e levou à presidência o Marechal
Castelo Branco (1964-1967). Em novembro do mesmo ano, foi
apresentado o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG),
o qual tinha como principais objetivos: acelerar o ritmo de
desenvolvimento econômico e conter o processo inflacionário.

Segundo Abreu (1992), os objetivos do PAEG eram os seguintes:

1. Acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico,


interrompido nos dois anos anteriores;

2. Conter, de maneira progressiva, a inflação, regulando os


preços nos anos de 1964 e 1965, com o objetivo de que se
estabilizem a partir de 1966;

3. Atenuar os desníveis econômicos setoriais e regionais,


assim como as tensões criadas pelos desequilíbrios
sociais, mediante a melhoria das condições de vida;

4. Assegurar, pela política de investimentos, oportunidades


de emprego produtivo à mão de obra que continuamente
aflui ao mercado de trabalho;

Unidade 4 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

5. Corrigir a tendência a déficits descontrolados do balanço


de pagamentos, que ameaçam a continuidade do processo
de desenvolvimento econômico, pelo estrangulamento
periódico da capacidade de importar.

Para Lacerda (2000, p.104)

O PAEG mantinha os objetivos básicos dos discursos


dos desenvolvimentistas, retomada do desenvolvimento,
via aumento dos investimentos; estabilidade de preços;
atenuação dos desequilíbrios regionais; e correção dos
déficits do balanço de pagamentos, que periodicamente
ameaçavam a continuidade do desenvolvimento. As
prioridades imediatas eram, interinamente, o controle
da inflação, e externamente, a normalização das relações
com os organismos financeiros internacionais.

Como resultado do PAEG, Brum (1997, p.322) afirma que se


alcançou a estabilização e preparou-se o país para o crescimento
econômico.

Ultrapassada a fase de estabilização, o país estava


preparado para uma nova etapa de expansão econômica.
O crescimento econômico acelerado passou a ser a
preocupação central. Seu carro-chefe, a expansão
industrial, sobretudo a indústria de bens de consumo das
camadas alta e média da sociedade e os setores industriais
que produziam esses bens. Um modelo econômico
característico de sociedades em elevado estágio de
desenvolvimento e com alto padrão de vida.

No período seguinte, que se estende de 1967 a 1973, presenciou-


se grande expansão na economia brasileira, fase que ficou
caracterizada como o “milagre brasileiro”. A economia obteve um
crescimento acelerado de taxas médias anuais de 10%, enquanto
a inflação apresentava índices relativamente baixos, com média
anual de 20% (BRUM, 1997).

O quadro abaixo mostra a evolução dos indicadores econômicos


no período de 1968 a 1973, o que caracteriza o milagre
econômico brasileiro.

108
Desenvolvimento Socioeconômico

Quadro 4.1 - Indicadores macroeconômicos – 1968 a 1973


Indicadores selecionados 1968 1969 1970 1971 1972 1973
Tx. do cresc. do PIB (%) 11,2 10,0 8,8 11,3 11,9 14
Inflação (IGP, dez./dez., var. %) 25,5 19,3 19,3 19,5 15,7 15,6
Invest. (% PIB a preços correntes) 18,7 19,1 18,8 19,9 20,3 20,4
Saldo da balança comercial (em US$ milhões) 26 318 232 -344 -241 7,0
Fonte: Brum (1992, p.323).

A expansão econômica do período foi favorecida por inúmeros


fatores, como mostra Alves (1984, p.146):

Havia um clima favorável aos investimentos econômicos:


saneamento da economia e das finanças públicas;
estabilidade sociopolítica; embora sob a égide de
um grande regime autoritário; perspectivas seguras
de expansão e lucratividade dos empreendimentos
econômicos; restauração da confiança dos investidores. O
crescimento econômico que se operou a partir de então
se deve, principalmente, ao aumento dos investimentos
estrangeiros e a um amplo programa de investimento
do Estado, financiando com recursos de instituições
internacionais de crédito.

Um fator importante que deve ser considerado foi o


endividamento externo, que vai se agravar a partir de 1970, com
o financiamento da expansão econômica. No ano de 1960, a
dívida externa bruta era de 2,1 bilhões de dólares, chegou a 21,2
bilhões em 1975 e a 91 bilhões em 1984 (BRUM, 1999).

O crescimento das desigualdades sociais também foi um fator


marcante no período, como afirma Lacerda (2000, p.115)

O intenso crescimento que houve durante o milagre


econômico trouxe grandes benefícios para as classes
de maior renda, incluindo-se aí a parte da classe
média assalariada que fornecia os quadros técnicos
necessários à gestão da economia, como engenheiros,
economistas, administradores, analistas de sistemas etc.
A renda concentrou-se ainda mais, em consequência da
diminuição do valor real do salário mínimo.

Unidade 4 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os setores que mais de destacaram, segundo Abreu et al. (1992,


p. 239), foram:

O crescimento industrial foi particularmente


significativo: no mesmo período 1968-73, a indústria
de transformação cresceu á taxa média de 13,3% ao ano
(com o máximo de 16,6% em 1973) e a indústria de
construção (forte absorvedora de mão-de-obra) à taxa
média ainda mais elevada, de 15% ao ano. Os serviços
industriais de utilidade pública, incluindo principalmente
a geração de energia elétrica, e que em boa parte
estavam sob controle do governo apresentaram também
crescimento anual da ordem de 12,1%.

Brum (1999) caracteriza o modelo de desenvolvimento no


período militar como “periférico-associado-dependente”, quando
comparado ao anterior, considerado “elitista-concentrador e
excludente” no plano interno.

A fase seguinte, que vai de 1974 a 1979, é chamada por Brum


(1999) de “O Projeto Brasil Potência”, materializada no Governo
Geisel como o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento).

Para Lessa (1982, p.23), o II PND tinha forte motivação para a


descentralização econômica.

O II PND dispunha de uma estratégia que internaliza


em seu coração a incorporação dos recursos das regiões
periféricas. Esta diretiva, que apontava naturalmente para
uma política de desconcentração industrial, foi reforçada
de forma explícita à concentração de atividade industrial
na área metropolitana paulista, perseguindo-se um
equilíbrio no triangulo São Paulo-Rio-Belo Horizonte.
Aqui a montagem de um polo industrial pesado em Belo
Horizonte – iniciada no Governo Médice com a Fiat em
Betim – é reforçada pelo II PND: prioridades para o polo
mineiro e reforço na região do Rio com o aquinhoamento
de projetos tipo CSN II(Itaguaí), Valesul (alumínio),
Centrais Nucleares em Angra dos Reis, etc.

Outro ponto importante sobre o II PND era a relação proposta


com a economia internacional:

110
Desenvolvimento Socioeconômico

A estratégia econômica externa, no próximo período, será


condicionada, de um lado, pela necessidade de atender aos
novos desafios decorrentes da situação mundial - petróleo,
insumos básicos, negociações multilaterais de comércio - e,
de outro pela determinação de realizar a maior integração
com a economia internacional sem tornar vulneráveis os
objetivos internos (II PND, 1974, p. 67).

Dadas as condições da economia, o projeto Brasil Potência tinha


como metas, segundo Brum (1999): manter a performance do
milagre com taxas de crescimento entre 8 e 10%, implantar um
novo padrão de industrialização, diminuir as disparidades de
renda e corrigir a distorção no setor de transportes, priorizando o
transporte ferroviário e marítimo.

Os resultados alcançados pelo projeto Brasil Potência trouxeram


avanços, como: o crescimento médio da economia em 6,9 %, e
a expansão da indústria de bens de capital e de insumos básicos,
petróleo, petroquímica, fertilizantes e celulose, completando a
fase se substituições de importações.

Outro aspecto importante foi a descentralização do crescimento


econômico originada pelo II PND, com grandes projetos surgindo
fora da região sudeste, como o II Polo Petroquímico de Camaçari,
na Bahia, e Triunfo, no Rio Grande do Sul, entre outros.

Para aprofundar seus estudos sobre o período, leia as


seguintes obras indicadas no Saiba Mais:

LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica.


São Paulo: Brasiliense, 1982.

LAFER, Celso. JK e o programa de metas (1956-1961):


processo de planejamento e sistema político no Brasil.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.

No período que vai de 1980 a 1985, com João Figueiredo na


presidência da república, entra em vigor o III Plano Nacional
de Desenvolvimento. Os principais pontos do projeto foram
(BRUM, 1999):

Unidade 4 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Acelerado crescimento da econômica;

„„ Melhoria na distribuição da renda;

„„ Redução das disparidades regionais;

„„ Equilíbrio do balanço de pagamentos;

„„ Controle do endividamento externo;

„„ Desenvolvimento da agropecuária;

„„ Desenvolvimento do setor energético;

„„ Controle da inflação;

„„ Aperfeiçoamento das instituições públicas.

Os dois primeiros anos do plano apresentaram resultados


econômicos importantes, que podem ser evidenciados pelo
crescimento do PIB, que foi de 6,8% em 1979 e 9,2% em 1980,
pelo Proálcool e pelo aumento da produção de petróleo no país,
que vai responder por 40% do consumo total.

O sucesso do plano foi curto, graças ao cenário externo


desfavorável, caracterizado por (BRUM, 1999):

a) Segundo choque do petróleo, que duplicou o preço dos


combustíveis,

b) Recessão econômica dos países capitalistas;

c) Elevação das taxas de juros no mercado internacional;

d) Suspensão de novos empréstimos ao Brasil.

Esses fatores externos levam a economia à recessão, significando


o fim do sonho dos governos militares.

112
Desenvolvimento Socioeconômico

Na década de 1980 e início dos anos de 1990, o


Brasil viveu a sua terceira grande crise global aguda,
decorrente da conjugação de vários fatores e várias
circunstancias desfavoráveis, internas e externas. A
extensão e a complexidade da crise advieram também da
expressão populacional do país, das desigualdades e das
contradições históricas da nossa sociedade, das mudanças
ocorridas nas décadas anteriores, do tamanho e das
características da economia brasileira e da natureza de
seus vínculos com o exterior. Além de econômica, a crise
era também social, política, moral, ética e psicológica.
(BRUM, 1999, p. 419).

A crise nesta década de 1980 vai fazer com que seja conhecida
como a “década perdida”.

Na tentativa de manter o crescimento econômico, o país utilizou-


se de capital externo, o que agravou seu quadro econômico.

A dívida externa bruta subiu 209% e a dívida líquida,


250%, no período de 1978 a 1984, representando um
acréscimo médio de US$ 8 bilhões ao ano. A dívida
interna elevou-se de Cr$0,5 trilhões para Cr$ 90,3
trilhões (ou do equivalente a US$ 12,3 bilhões para US$
28,3 bilhões, pelo cambio oficial), de 1979 a 1984. O
déficit em conta corrente saltou de US$ 5,8 bilhões em
1978, para US$ 10,7 bilhões em 1979, para US$ 12,8
bilhões em 1980, e para US$ 16,5 bilhões em 1982. A
economia entrou em recessão, com o PIB apresentando
queda de 4,3% em 1981 e de 2,9% em 1983, sendo que a
media anual no triênio recessivo (1981-1983) foi de –2,1%
(negativa). A inflação saltou para 77,2% em 1979, para
110,2% em 1980 e para 223,8% em 1984. As reservas
cambiais caíram de US$ 11,9 bilhões em 1978 para cerca
de US$ 4,0 bilhões em 1982 e 1983. Mas essas reservas
não estavam disponíveis. Eram constituídas de créditos
que o Brasil tinha junto a devedores inadimplentes, como
a Polônia, a Bolívia e outros. Era a crise cambial (falta de
moeda forte – dólares – para atender a seus compromissos
externos). (BRUM, 1999, p. 289).

Brum (1999) apresenta como razões para a crise brasileira o


esgotamento do projeto de desenvolvimento e a falta de um novo
projeto, não deixando de considerar como um fator importante a
crise da dívida externa, que vai estancar a facilidade de acesso ao
capital externo.

Unidade 4 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

Diante da moratória decretada pelo governo mexicano,


no mês anterior, por incapacidade financeira daquele
país, os dirigentes dos bancos credores internacionais
deram-se conta de que haviam emprestado demais a
muitos países que talvez não tivessem condições de
cumprir pontualmente os compromissos financeiros
assumidos. Receosos, suspenderam a concessão de
novos empréstimos para financiar projetos e refinanciar
automaticamente a dívida vincenda e os juros. E
passaram a cobrar a conta. (BRUM, 1999, p. 428).

A falta de recursos vai significar a recessão, como afirma Brum


(1999, p.430): “o país passou a conviver traumaticamente com os
fantasmas da estagnação/recessão, do descontrole inflacionário e
do agravamento dos problemas sociais, acrescidos de indecisões,
tentativas frustradas e incertezas”.

Dessa forma, encerra-se o ciclo do governo militar, que vai se


seguir pelo governo de transição eleito por eleição indireta, com
Tancredo Neves e Jose Sarney, presidente e vice, respectivamente.
Tancredo Neves não assume o governo, vindo a ocupar o cargo o
vice-presidente José Sarney, cujo governo foi marcado pelo Plano
Cruzado, que tinha como objetivo o combate à inflação.

No período que vai de 1990 até 1994, as características mais


marcantes foram: a implementação dos planos Collor I e II, a
abertura comercial, a criação do Mercosul e a adesão ao modelo
neoliberal.

A abertura comercial, diante do fracasso dos planos econômicos,


passa a ser um ponto importante do governo Collor, permitindo
uma mudança na estrutura industrial.

A abertura provocou uma profunda reestruturação


industrial no Brasil, trazendo benefícios para os
consumidores pela maior disponibilidade de bens e
serviços, com melhores preços e tecnologia, embora com
impactos negativos sobre o nível de emprego. A abertura
brasileira se deu em condições particulares, sem que os
fatores de competitividade sistêmica fossem adaptados,
o que provocou um desafio exemplar para os produtores
locais. Estes ao contrario dos concorrentes internacionais,
foram prejudicados com tributação e juros elevados,
carência de infraestrutura e excessiva burocracia. (REGO
e MARQUES, 2003, p. 204).

114
Desenvolvimento Socioeconômico

Mesmo com os impactos positivos, as críticas ao processo de


abertura se fazem justas, dado o contexto em que se encontravam
as empresas brasileiras, que se demonstraram incapazes de se
manterem competitivas.

A partir do Plano Collor, a economia brasileira entrou na era


neoliberal, com políticas de privatização, redução da importância do
Estado na economia, Estado e forte desnacionalização do capital.

Com a cassação do mandato de Collor, assume Itamar


Franco, vice-presidente, que vai consolidar o Plano Real para
estabilização da economia brasileira. Anunciado em 7 de
dezembro de 1993, esse plano tinha como objetivo:

Estabilizar a moeda e recuperar-lhe a confiança, atacando


as causas básicas da inflação. O êxito na consecução
desse objetivo imediato representaria o primeiro passo
fundamental – para a nova etapa de desenvolvimento
econômico e social, em bases sustentáveis e duradouras.
Depois de mais de uma década de sucessivos fracassos e
incertezas, o país passaria a ter um rumo, definindo-se
as linhas gerais de um novo projeto nacional, em bases
consistentes e com possibilidade real de implementação.
(BRUM, 1999, p. 482).

O Plano Real e as etapas pós-real foram fundamentais para a


estabilização da economia, rompendo com a ideia dos choques
consecutivos em forma de planos econômicos. Porém, ainda não se
conseguiu implementar um processo contínuo de desenvolvimento.

Na fase pós-real, a inflação caiu, o ambiente econômico


tornou-se mais estável e previsível, mas a equação básica
do crescimento não foi solucionada. Como a capacidade
instalada não cresceu o quanto deveria, qualquer movimento
de crescimento de consumo foi abortado por medidas
de restrição ao credito, elevação dos juros e aumento dos
empréstimos compulsórios, de forma que o crescimento
tornou-se um subproduto, não o objetivo principal da
política econômica. (REGO e MARQUES, 2003, p. 234).

Segundo Dowbor (2001, p.197), para alcançar o


desenvolvimento, precisa-se romper com as políticas neoliberais,
as quais fazem com que o crescimento econômico não dê conta
de resolver os entraves ao desenvolvimento.

Unidade 4 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

O crescimento econômico, quando existe, não é


suficiente. Nem a área produtiva, nem as redes de
infraestruturas, nem os serviços de intermediação
funcionarão de maneira adequada se não houver
investimento no ser humano, na sua formação, na sua
saúde, na sua cultura, no seu lazer, na sua informação.
Em outros termos, a dimensão social do desenvolvimento
deixa de ser um “complemento”, uma dimensão
humanitária de certa forma externa aos processos
econômicos centrais, para se tornar um dos componentes
essenciais da transformação social que vivemos.
(DOWBOR, 2001, p.197)

Encontrar caminhos que levem o país ao desenvolvimento pleno


é uma tarefa desafiadora para governos, estudiosos, empresários
e sociedade em geral. Alcançar um modelo de desenvolvimento
que leve em conta a dimensão humanitária é um dos desafios que
está posto.

Síntese

Nesta unidade, apresentamos um retrato da economia latino-


americana, em que evidenciou-se o papel da CEPAL – Comissão
Econômica para América Latina e Caribe e sua contribuição para
o entendimento dos elementos que impediam o desenvolvimento
da região, bem como aspectos gerais sobre seus principais
teóricos, destacando-se Raul Prebish e Celso Furtado.

Também estudamos a Teoria da Dependência e sua contribuição


para o entendimento do atraso econômico da América Latina em
geral.

Por fim, apresentou-se um breve retrospecto do desenvolvimento


econômico brasileiro, suas nuances, seus entraves e avanços
até o Plano Real, uma vez que após esse período não tivemos
a existência de outros planos, tampouco houve grandes
modificações no processo econômico brasileiro.

116
Desenvolvimento Socioeconômico

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

1) Sobre a CEPAL e seu papel no desenvolvimento da América Latina, é


incorreto afirmar que:
a. ( ) Os estudos da CEPAL objetivavam explicar o atraso da América
Latina em relação aos chamados centros desenvolvidos e
encontrar a forma de superação desse atraso.
b. ( ) A abordagem da CEPAL sobre o crescimento econômico na
América Latina era fruto de conhecimento empírico.
c. ( ) Um dos enfoques dos estudos de Raul Prebish foi contestar a
teoria das vantagens comparativas, pois os países exportadores
de matéria-prima são prejudicados, uma vez que não recebem os
incrementos de produtividade auferidos pelos países ricos.
d. ( ) O pensamento cepalino desde a sua origem até os anos 50 tinha
como enfoque a industrialização.
e. ( ) A ausência de desenvolvimento decorria da produção restrita a
produtos primários, cuja demanda no mercado mundial tendia a
ser pouco dinâmica, submetendo a periferia à deterioração dos
termos de troca.

2) A CEPAL propõe a implementação de uma política de industrialização,


tendo como característica principal o desenvolvimento “para dentro”. A
partir dos estudos feitos, descreva (em torno de 10 linhas) como deveria
se dar esse processo de desenvolvimento.

Unidade 4 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

LAFER, Celso. JK e o programa de metas (1956-1961):


processo de planejamento e sistema político no Brasil. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2002.

LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. São Paulo:


Brasiliense, 1982.

PREBISCH, Raul. (1949): El desarrollo económico de la


América Latina y algunos de sus principales problemas, Santiago
de Chile, CEPAL. Reproducido en A. Gurrieri. La obra de
Prebisch em la CEPAL, México, D.F., Fondo de Cultura
Económica, 1982.

118
Para concluir o estudo

Ao longo desse livro, você teve a oportunidade de


conhecer aspectos relacionados ao desenvolvimento
socioeconômico, estudando seus principais conceitos e
conhecendo a contribuição de economistas, sociólogos e
historiadores sobre o tema.

Os conteúdos aqui estudados não pretendem dar conta


de toda a temática que envolve o desenvolvimento
socioeconômico, mas permitem um primeiro contato
e assim despertar um interesse pelo tema, que é de
fundamental importância para a academia.

Na unidade 1, você pôde conhecer as principais


contribuições que os estudos sobre o crescimento e
desenvolvimento econômico alcançaram para a ação do
Estado.

Na unidade 2, apresentamos uma abordagem histórica


do processo de desenvolvimento, contribuindo
para o entendimento das dificuldades em conciliar
desenvolvimento com crescimento econômico.

A seguir, na unidade 3, você estudou as principais teorias


do crescimento e a busca por estratégias que permitam
às nações encontrarem o caminho do crescimento
econômico, e assim chegarem a um estágio mais
avançado de desenvolvimento.

Por fim, na unidade 4, você pôde conhecer as principais


contribuições da CEPAL e de como se deu o crescimento
econômico brasileiro, que, como vimos, ainda não
alcançou o estágio de desenvolvimento econômico.

Dessa forma, espero que essa leitura tenha contribuído


para sua formação pessoal e profissional, por meio dos
estudos aqui feitos.
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de política econômica republicana 1889-1989. Rio de Janeiro:
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investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e ciclo econômico. São
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TAUILE, José Ricardo. Para (re)construir o Brasil contemporâneo. Rio de
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TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao
capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira. 7ª ed. Rio de
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ZILBOVICIUS, M.; ABRAMOVAY, R. (Org.) Razões e ficções do
desenvolvimento. São Paulo: UNESP, 2001.

126
Sobre o professor conteudista

João Antolino Monteiro, graduado em ciências


econômicas, 2002. Concluiu a especialização em gestão
de marketing e em docência do ensino superior pela
Universidade do Sul de Santa Catarina, em 2004.

Atualmente, é professor titular da Universidade do Sul


de Santa Catarina no ensino presencial e a distância.

Desenvolve atividades de consultoria empresarial na


incubadora de empresas CRIE – Centro Referência em
Inovação e Empreendedorismo.
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação
Unidade 1
1) A alternativa b é incorreta.
2) Crescimento econômico pode ser definido como acréscimos
no produto, enquanto desenvolvimento econômico
representa melhoras na qualidade de vida. A diferença entre
os dois é que crescimento é representado por uma variável
quantitativa e desenvolvimento por uma variável qualitativa.
3) Fernandes mostra que o Brasil e a América Latina são
caracterizados por uma economia de mercado capitalista,
constituída para operar estrutural e dinamicamente como
uma entidade especializada, ao nível da integração do
mercado capitalista mundial; como uma entidade subsidiária
e dependente, ao nível das aplicações reprodutivas do
excedente econômico das sociedades desenvolvidas; e como
uma entidade tributária, ao nível do ciclo de apropriação
capitalista internacional, no qual ela aparece como uma
fonte de incrementação ou de multiplicação do excedente
econômico das economias capitalistas hegemônicas.

Unidade 2
1) A alternativa b é incorreta.
2) O Estado teve um papel importante para o desenvolvimento
inglês, ao criar uma regulamentação comercial, a proteção
internacional de interesses privados ingleses, como a abertura
e preservação de novos mercados, evitar a queda da taxa de
lucros e, então, do ritmo dos investimentos.
3) A alternativa e é incorreta.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 3
1) A alternativa d é correta.
2) A alternativa d é correta.
3) Inovação radical representa a novidade e a inovação incremental
representa a otimização de processos de produção, o design de
produtos ou a diminuição na utilização de materiais e componentes na
produção de um bem.

Unidade 4
1) A alternativa b é incorreta.
2) O primeiro passo do modelo proposto era produzir internamente os
bens, antes importados, que fossem demandados pelos consumidores,
fortalecendo, assim, o mercado interno. A base para o modelo foi o
processo de substituição de importações.

130
Biblioteca Virtual

Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos


alunos a distância:

„„ Pesquisa a publicações on-line


<www.unisul.br/textocompleto>
„„ Acesso a bases de dados assinadas
<www.unisul.br/bdassinadas>
„„ Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas
<www.unisul.br/bdgratuitas>
„„ Acesso a jornais e revistas on-line
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„„ Empréstimo de livros
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