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Cultura Corporal do Movimento

Indústria cultural e fetichismo da mercadoria


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Nesta webaula vamos entender a indústria cultural, suas principais características e sua conexão com a Educação
Física.

A indústria cultural
O período de grandes avanços científicos e tecnológicos emplacados pela Revolução Industrial, fez com que o
capitalismo se fortalecesse cada vez mais, transformando tudo em mercadoria, tudo tinha seu preço e o interesse
econômico se sobrepôs aos valores e princípios dos homens.

A visão de lucro passou a ser a principal perspectiva das pessoas, guiadas principalmente pelo consumo. A
indústria passou a ser responsável por criar “necessidades” nas pessoas, e não aquelas que são básicas do ser
humano, como alimentação e habitação, mas o consumismo descontrolado, quase irracional.

Esse processo de mercantilização das pessoas e de suas produções chegou em todos os setores da sociedade e
não foi diferente com a cultura. Para Theodor Adorno, essa indústria seria capaz de “corromper” os indivíduos e
ela se basearia em três pontos:

1. O tempo de lazer tem aspecto tóxico 

Ao invés de fomentar oportunidades para exercitar uma percepção crítica sobre a realidade durante seu
tempo livre, de descanso, essa indústria cultural “entorpece” a capacidade crítica dos indivíduos.

2. O capitalismo cria necessidades de que não precisamos 

Passa-se a valorizar mais o “ter” do que o “ser”, o que faz evoluir o individualismo; a busca por consumir os
desejos criados pela indústria ao invés de consumir o que realmente precisamos.

3. O perigo do totalitarismo gerado por mentalidades intolerantes 

Pensamentos intransigentes não permitem que haja oposição ou discórdia entre ideias, tendo o seu
posicionamento como único, o que fomenta a possibilidade de subsidiar tal forma de governo autoritário.

Essa indústria que transforma a cultura em mercadoria e vice-versa (atribuindo-lhe um valor) converte uma
produção cultural em um “objeto cultural” consumível e, portanto, o artista produtor cultural submete-se aos
padrões estéticos ditados pelo mercado.

Massificação da cultura
A indústria cultural surge como uma perfeita ferramenta para essa massificação da cultura, que busca a
homogeneização através dos meios de comunicação, propagando modelos de cultura alienados, os quais não
consideram as diferenças e individualidades.
Era do Ouro do Rádio
O apogeu das transmissões de rádio popularizou-o como veículo de comunicação em massa. Com essa
massificação da cultura, foi preciso aumentar o conteúdo produzido para o rádio e torná-lo mais popular,
deixando-o menos complexo (como eram as obras voltadas para a elite), afim de padronizar a nova
“mercadoria”, satisfazendo assim o maior número de ouvintes consumidores.

O uso dos meios de comunicação de massa consegue trazer uma homogeneização de pensamentos e hábitos,
fazendo com que grande parte das pessoas tenha, além do comportamento generalizado, gostos e desejos
semelhantes e padronizados. A isso dá-se o nome de sociedade de massas.

Fetichismo e cultura
O fetichismo, em algumas culturas, é conhecido como a prática de atribuir “alma” e poderes a objetos, fazendo
deles algo mágico e com poderes sobrenaturais. Aqui, vamos utilizar o termo para entender o fetichismo da
mercadoria, que traz a ideia de os produtos consumidos ganharem “vida própria”. Veja alguns fatores que
desumanizam essa relação:

Produz-se mais do que as pessoas necessitam 

A produção se torna autônoma em relação à vontade humana, baseando-se no interesse apenas do capital e
não das pessoas. É a oferta gerando a demanda e não o contrário.

Ocultação do caráter social do trabalho 

Há uma ocultação do caráter social do trabalho (através de características simbólicas), que omite qualquer
tipo de exploração das relações de trabalho (e que deveriam definir seu valor). Esse fator é benéfico para o
lucro, mas prejudicial para a sociedade, colocando o trabalhador como parte na reprodução desse sistema e
ao mesmo tempo assumindo o papel de consumidor dessa produção.

Inversão de valores entre o sujeito e o objeto 

A mercadoria, muitas vezes, passa a ser objeto de adoração, o que ocorre quando há a chamada
“coisificação” das relações sociais, e as pessoas (e suas relações) se tornam objetos, os quais passam a ter
características humanas, como vontades. Nessa alienação, as pessoas são dominadas pelas próprias
criações, trazendo uma inversão de valores entre o sujeito e o objeto.

Na indústria cultural (na qual também há representação de relação social), é possível perceber o sistema de
dominação através de elementos culturais. A cultura se torna, então, um meio eficaz de manipulação da ideologia
dominante.

Indústria da cultura e a Educação Física


O principal elo entre a indústria da cultura e a Educação Física pode ser notado no objeto da nossa área – a cultura
corporal do movimento humano. Dentre os principais produtos culturais que envolvem o movimento humano,
temos as práticas corporais de lazer e esportivas.

Com relação às práticas esportivas, além do caráter da atividade, também vemos o uso político delas (como a não
participação, em jogos olímpicos, de países em edições específicas por desavenças políticas); o uso do esporte
como instrumento ideológico do Estado, baseado na competição e no rendimento (tal qual os valores capitalistas)
e a ideia do individualismo e do corpo como máquina (com finalidades competitivas ou laborais) também
perpetuam os sistemas de dominação da sociedade.
O impacto da mercantilização para a Educação Física não se restringe apenas ao domínio cultural
(envolvendo o lazer), mas também se manifesta sobre o corpo e os cuidados com a saúde, sobre as relações
humanas e as práticas esportivas, além do conhecimento e das práticas pedagógicas.

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