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Universidade Federal de Pernambuco

História das Sociedades Contemporâneas


Luanna Victória de Brito Silva

Influência do Capitalismo na Indústria Cultural

Recife

2022
Resumo:

O artigo irá debater como em um sistema que visa meramente o lucro, a indústria
cultural perde seu real sentindo e passa a ser usada para alienação controlado pelos
detentores de capital. Moda, música, indústria cinematográfica, tudo o que chega a
grande massa com um teor inofensivo é, na verdade um instrumento eficaz usado
pela burguesia para controlar e manter a população alienada. Busca mostrar o
impacto dessa indústria nos indivíduos, mostrando a importância de uma autocrítica
e reavaliação do que se é consumido. Tem como principal base “Industria Cultural”
do teórico Theodor W. Adorno, e obras de Karl Marx. Também é utilizado artigos e
sites da internet.

Palavras-chave: Indústria Cultural, alienação, capitalismo.

Abstract:

The article will discuss how in a system that merely aims for profit, the cultural
industry loses its real meaning and starts to be used as a means of alienation
controlled by the owners of capital. Fashion, music, the film industry, everything that
reaches the masses with a harmless content is actually an effective instrument used
by the bourgeoisie to control and keep the population alienated. It seeks to show the
impact of this industry on individuals, showing the importance of self-criticism and re-
evaluation of what is consumed. It has as its main basis "Cultural Industry" by
Theodor W. Adorno, and works by Karl Marx. Articles and internet sites are also
used.

Keywords: Cultural Industry, alienation, capitalism.


1 Introdução

Em 1924, foi fundada a também chamada de instituto de Pesquisa Social (Institut für
Sozialforschung) Escola de Frankfurt, teve seu fundamento por um grupo de
filósofos ligados a ideias marxistas, sendo eles Max Horkheimer, Theodor Adorno e
Friederich Pollock. Com a introdução do capitalismo na sociedade, a arte na
totalidade ganhou um novo sentido, segundo Adorno, os meios de comunicação não
têm mais necessidade de serem incorporados como arte, e nada são além de
negócios que lhe serve de ideologia.

A expressão “Indústria Cultural”, criada por Adorno e Max Horkheimer, determina a


padronização de pensamento e comportamento dos indivíduos dentro de uma
sociedade exercida por uma classe que detém os meios de produção e busca
manter o ciclo do capitalismo por meio da alienação de massa. Segundo Adorno:

“A diferença do valor orçado na indústria cultural não tem nada a ver com a
diferença objetiva de valor, com os significados produtos. Mesmo os meios técnicos
tendem a uma crescente uniformidade recíproca. A televisão tende a uma síntese do
rádio e do cinema, retardada enquanto os produtos interessados ainda não tenham
negociado um acordo satisfatório, mas cujas possibilidades ilimitadas prometam
intensificar a tal ponto o empobrecimento dos materiais estéticos que a identidade
apenas ligeiramente mascarada de todos os produtos da indústria cultural já amanhã
poderá triunfar abertamente. Seria ironicamente a realização do sonho wagneriano
da obra da arte total” (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, P.5).

Partindo deste ponto, o artigo busca expor como essa alienação está fundida na
cultura e a importância de senso crítico sobre o que é apresentado as massas em
forma de entretenimento, uma vez que é carregado da intenção de uma
padronização de pensamentos.
2 Desenvolvimento

2.1 INDÚSTRIA CULTURAL

O termo Indústria Cultural foi criado por Theodor Adorno em junção a Marx
Horkheimer na obra dialética do esclarecimento, suas críticas principais visam
mostrar como a cultura não está mais atrelada a arte, uma vez que ela se tornou
uma forma de mercadoria e controle das grandes massas. A indústria cultural além
de seu desejo pelo lucro, tinha como objetivo estabelecer padrões nas grandes
massas, mantendo-as alienadas pelo que era passado por veículos de
comunicação, filmes, novelas e músicas se tornam bens de consumo com o poder
de alienar a sociedade. Segundo Adorno e Horkheimer, a indústria: “[…] não
introduz as massas nas áreas de que eram antes excluídas, mas serve, ao contrário,
nas condições sociais existentes, justamente para a decadência da cultura e para o
progresso da incoerência bárbara” (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, P. 132).

Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989) crítico literário brasileiro,


cita a alienação na filosofia marxista, explicando que no sistema capitalista os
indivíduos são apartados dos bens que eles mesmos produzem. Para Karl Marx
(1818-1883) o conceito de alienação refere-se a uma condição objetiva que é
historicamente situada, sendo fruto do processo de divisão social do trabalho do
sistema capitalista e da universalização da propriedade privada, Marx concebe o
conceito de alienação como método que exprime a humanidade enquanto essência
refletindo nos conhecimentos da ação, sendo assim, pode-se dizer que o obstáculo
da alienação é seria reflexão do ser proveniente e a condição social historicamente
situada fazendo com que a possibilidade de automedicação própria de cada sujeito
se volte contra ele mesmo.

2.2 AUSÊNCIA DA REFLEXÃO CRÍTICA

A alienação que os indivíduos são submetidos faz com que gere uma necessidade
de obter certo bem, sem nenhuma reflexão do porquê precisam daquilo, de modo
atual, tendências que surgem como soluções para problemas que nem existem de
forma concreta são recorrentes. No documentário “O dilema das redes” lançado pela
Netflix em 2020, Tristan Harris, ex-funcionário do Google, descreve de forma
detalhada como as grandes empresas de tecnologia trabalham para tornar as redes
sociais cada vez mais viciantes, tornando seus usuários meros produtos, uma vez
que é direcionado a cada usuários milhares de anúncios com base em seu nicho de
consumo. A partir disso é fulcral a reflexão do indivíduo, uma vez que segundo
Adorno e Horkheimer o consumo puro e simples se dá por meio de um processo
acrítico, ou seja, uma vez imerso ao entretenimento o indivíduo deixar de pensar,
facilitando uma concordância com as intenções da indústria cultural.

É visível a interligação entre cinema e capitalismo, primeiro o cinema é um produto


dele e produz o que é de interesse de determinada classe. Suas produções são
feitas especificadamente para um determinado público que a irá consumir, se um
determinado grupo diz consumir apenas filmes com conteúdo crítico, logo, terá
produções que visam os atingir, ou seja, ele não estará fora da curva mesmo que a
demanda por produções críticas sejam consideravelmente menores. Em outros
casos, filmes que retratam estruturas da sociedade, como relação entre proletário e
burguesia, são feitos sob um olhar burguês e visam de modo implícito ou explicito
alimentar todo um fetiche sobre a classe dominante, alimentando assim um desejo
de fazer parte daquele determinado grupo. Exemplos corriqueiros são filmes ou
séries históricas, glamorização da aristocracia medieval, e a história contada pela
visão do europeu não facilitam para uma crítica, pelo contrário, alimentam o mito do
“antigamente que era bom”.

Formas de controle podem ser encontradas de forma não tão explicitas em filmes
famosos como Pantera Negra, estreado pela Marvel em 2018, o filme que se passa
em uma sociedade futurista expõe o olhar americano em seu desenvolver, temos
como vilão um grande revolucionário que almejava a tomada de poder do povo afro-
americano. Na indústria musical, artista de grande sucesso baseiam sua estética
nos anos dourados do capitalismo, trazendo uma nostalgia eminente em suas letras
e romantizando um ponto de vista burguês. Como disse Zygmunt Bauman:

Numa sociedade marcada pela agitação, pela ansiedade e acima de tudo pela
incapacidade de obter uma experiência profunda de felicidade e bem-estar, a disposição
consumista desponta como uma forma compensatória do indivíduo vir a obter um razoável
nível de prazer em sua vida cotidiana.
Com o surgimento de aplicativos que permitem acesso a diferentes conteúdos em
vídeos curtos e possuem um grande alcance, a música que ao longo da história
carrega suma importância evidenciando fatos no contexto em que está inserida vem
perdendo sua essência uma vez que está sendo moldada para o consumo de
determinado grupo, sendo assim sua função artística é retirada e ela ganha um
único intuito, viralizar. A transformação de elementos artísticos em mero objeto de
consumo sem grande valor atrelado não ocorre apenas em músicas, na moda a
substituição de uma tendência para outra se dá de modo cada vez mais rápido,
tendencias que antes duravam ao menos uma estação tem se tornado cada vez
mais descartáveis e essa necessidade de mudança imediata é apresentada a
grandes massas sob a ameaça de uma exclusão.

O fast fashion (moda rápida) que consiste em uma alta produção utilizando material
de baixo custo, tem se popularizado cada vez mais, mesmo com mão de obra
questionável e uso de materiais derivados do plástico contribuindo para poluição do
meio ambiente, grandes marcas como Shein tem se popularizado mesmo com
escândalos envolvendo até mesmo uso de mão de obra escrava, o fato é que,
mesmo com essas informações disponíveis ao público, o constante crescimento de
compra nesses aplicativos mostra a necessidade exacerbada pelo consumo que
ultrapassa até mesmo questões morais. Rachel Bick, Erika Halsey e Christine C.
Ekenga, desenvolveram um estudo chamado “The global environmental injustice of
fast fashion (A injustiça ambiental global da fast fashion, em tradução livre), que
apontam impactos da fast fashion nos Estados Unidos, são comprados 80 mil
milhões por ano de peças de vestuário em todo o mundo. Já em Portugal, dados da
Agência portuguesa do ambiente (APA) em 2019 divulgou que foram recolhidas 185
mil toneladas de resíduos têxteis. Fibras como o poliéster e o algodão, bastante
usadas para a produção dos produtos, apresentam impactos bastantes negativos,
uma vez que para o cultivo do algodão são utilizados água em abundância,
fertilizantes e pesticidas que, poluem os mares, rios e lagos.

Como uma breve alternativa para esse modo de vida consumista temos o
minimalismo, filosofia criada por Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, baseada
no minimalismo artístico surgido no século XX, surge como alternativa para a
sociedade consumista. Este modo de vida defende a utilização de coisas essenciais
partindo de uma reflexão sobre o que é de fato necessário e o que consumimos por
influência externa, se opondo contra a sociedade de consumo. A sociedade de
consumo, sociedade esta que experencia um desenvolvimento industrial avançado,
onde há uma produção elevada, aumentando o consumo massivo. Para Zygmunt
Bauman, as relações sociais são baseadas no consumo, ou seja, o que vestimos,
escutamos e todos os outros serviços que julgamos indispensáveis nos coloca em
determinada posição, os tornando parte de um grupo. No Brasil, a Indústria Cultural
se desenvolveu por volta 1970, televisão e rádio foram os principais meios de sua
consolidação. Presentemente, passamos onda impermeável de Fake News, em
2020 uma conta do Twitter denomina Sleeping Giant Brasil alertou várias empresas
sobre seus anúncios estarem expostos em portais investigados por disseminação de
Fake News. O fato é que, conteúdos com alto teor fantasioso são repassados por
meios de grupos de WhatsApp, contas em diversas redes sociais chega na grande
massa como verdade, segundo o sociólogo Marcos Coimbra, o bolsonarismo foi
fundado através de notícias falsas, tendo o primeiro turno das eleições presidenciais
de 2018 marcadas por ciberataques, algo não muito diferente do que ocorreu nas
eleições de Donald Trump nos Estados Unidos. Em diferentes períodos da
sociedade brasileira é possível encontrar diferentes sistemas de ideias, no século
XVII, primeira fase da colonização predominava a ideologia do colonizador,
ideologias essas que mais tarde entrariam em choque com ideias da população. No
século XX, com a consolidação da república, houve uma tomada de consciência
nacionalista devido ao alcance nacional dos programas políticos, as populações
urbanas se viram influenciadas por ideias anarquistas e comunistas dos imigrantes
europeus, enquanto nas regiões ruralistas ainda predominava um autoritarismo
arcaico herdado da colônia. Na atualidade, a onda conservadora é um fenômeno
surgido em meados de 2010 na américa latina como resposta a um avanço
esquerdista no continente, discursos ditos “conservadores” carregados de uma
distorção da doutrina cristã como legitimador de um discurso de ódio tem
influenciado cada vez mais a classe trabalhadora, os meios de comunicação
desempenham um papel fundamental para a propagação destes discursos. Na
televisão, programações cristãs ganham cada vez mais espaço, programações estas
que atualmente carregam um forte apelo político voltado a direita, conseguindo
assim implementar uma doutrina em pessoas que não tiveram acesso a
determinados estudos políticos.
2.3 SAÚDE MENTAL NO SISTEMA CAPITALISTA

No modelo de sistema capitalista, o adoecimento mental é um marco, os resultados


de uma exploração e alienação se materializam em doenças mentais, muitas vezes
tendo como desfecho o suicídio. A pressão sofriada pelos trabalhadores em uma era
que é propagada o discurso da gratidão e do viver bem (entende-se “viver bem” a
partir de uma visão da classe dominante do que significa o mesmo) tem contribuído
para o aumento de casos síndrome do esgotamento profissional. Segundo Marx, o
capital

Usurpa o tempo para o crescimento, o desenvolvimento e a manutenção saudável do


corpo. Avança sobre o horário das refeições e os incorpora, sempre que possível, ao
processo de produção, fazendo com que os trabalhadores, como meros meios de produção,
sejam abastecidos de alimentos do mesmo modo como a caldeira é abastecida de carvão, e
a maquinaria, de graxa ou óleo.

Engels, no seu estudo sobre a classe trabalhadora no século XIX na Inglaterra,


escreve:

Acontece com frequência que, acabando o salário semanal antes do fim de semana, nos
últimos dias a família careça de alimentação ou tenha apenas o estritamente necessário
para não morrer de fome. É claro que semelhante modo de vida só pode originar toda sorte
de doenças; quando as enfermidades chegam, quando o homem – cujo trabalho sustenta a
família e cuja atividade física exige mais alimentação e, por conseguinte, é o primeiro a
adoecer - quando esse homem adoece, é então que começa a grande miséria.

Com tanto desgaste, físico e mental, os trabalhadores possuem o medo de serem


descartados, com o avanço da idade e o surgimento de doenças crônicas.

3 Conclusão

Neste artigo foi apresentado brevemente a Escola de Frankfurt, também de maneira


mais aprofundada a indústria cultural termo desenvolvido pelos autores Theodor
Adorno e Max Horkheimer, e seus mecanismos usados para alienar a sociedade,
mostrando alguns pontos onde somos influenciados através da moda, filmes e tv. A
partir da leitura de obras que elucidam a alienação em que estamos inseridos, a
atenção exacerbada ao que chega a nós e que se fazem parecer inofensivos e
investigação do que está por trás não só do que é consumido, mas também do
porquê se faz necessário a obtenção de determinado bem. A autorreflexão do
indivíduo e do esclarecimento é fulcral para saber reconhecer onde se manifesta as
necessidades do capitalismo moderno. O que é nos é passado através de rádio,
televisão e principalmente internet deve ser avaliado com um olhar crítico.

4 Referências

Adorno. T.; HORKHEIMER, M. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação


de massa. In: LIMA, L. C. Teoria da cultura de massa. 5. ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2000.

Cinema e Sociedade - Breves Análises Fílmicas: Capitalismo e Cinema.


Disponível em:

<https://cinemamanifestacaosocial.blogspot.com/2018/02/capitalismo-e-
cinema.html>.

Fast fashion: os problemas da segunda indústria mais poluente do mundo.


Disponível em:

<https://linktoleaders.com/fast-fashion-problemas-poluicao-ambiente/>.

Minimalismo, consumo e infelicidade - lições da filosofia antiga e uma crítica


marxista. Disponível em:

<https://www.filosofiaepsicanalise.org/2021/03/minimalismo-consumo-e-
infelicidade.html>.

RIDENTI, M. A indústria cultural brasileira na formulação de Renato Ortiz.


Ciências Sociais Unisinos, v. 54, n. 2, 2018.

Fake news no Brasil: uma guerra ideológica e de receita publicitária. Disponível


em:

<https://entretenimento.uol.com.br/noticias/efe/2020/06/05/fake-news-no-brasil-uma-
guerra-ideologica-e-de-receita-publicitaria.htm>.

BRASIL 247, R. Marcos Coimbra: as fakes news elegeram Bolsonaro”.


Disponível em: <https://www.brasil247.com/midia/marcos-coimbra-as-fake-news-
elegeram-bolsonaro>.
O capitalismo, os trabalhadores e a saúde mental. Disponível em:
<https://www.marxismo.org.br/o-capitalismo-os-trabalhadores-e-a-saude-mental/

A Fast Fashion e a sustentabilidade. Disponível em:


<https://www.santander.pt/salto/fast-fashion-impacto-ambiental>.

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