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Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC

Licenciatura em Sociologia
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS - 4ª FASE
Drª Profª Neiva Furlin
Acadêmico: Luís Gustavo Brum Rodrigues

A INDÚSTRIA CULTURAL: ESCLARECIMENTO COMO MISTIFICAÇÃO DAS


MASSAS.
Theodor W. Adorno e Max Horkheimer

O livro que serviu como base para a extração dos conceitos abaixo, intitulado
Dialética do Esclarecimento - Fragmentos Filosóficos, de 1947, publicado por Theodor
W. Adorno e Max Horkheimer, é uma obra crítica que analisa a influência da cultura de
massa e a sua relação com a sociedade capitalista. Para uma compreensão inicial dessa
condição, serviu como base de estudo o capítulo intitulado A Indústria Cultural:
Esclarecimento Como Mistificação Das Massas.

Alguns dos conceitos centrais e ideias discutidos no referido capítulo foram


discriminados e incluem:

Indústria Cultural
Refere-se à produção em massa de produtos culturais, como música, cinema,
rádio, televisão, revistas, que são produzidos e consumidos em uma escala industrial. A
indústria cultural é caracterizada pela padronização, homogeneização e comercialização
da cultura, visando ao lucro e ao controle social.
Os autores reforçam essa percepção do efeito do modelo capitalista exercido
sobre a cultura ao afirmar:

“Tudo só tem valor na medida em que se pode trocá-lo, não na medida em que é algo em si
mesmo. O valor de uso da arte, o seu ser, é considerado como um fetiche, e o fetiche, a
avaliação social que é erroneamente entendida como hierarquia das obras de arte – torna-se
seu único valor de uso, a única qualidade que elas desfrutam. [...] Ela é um género de
mercadorias, preparadas, computadas, assimiladas à produção industrial, compráveis e
fungíveis, mas a arte como um género de mercadorias, que vivia de ser vendida e, no entanto,
de ser invendível, torna-se algo hipocritamente invendível, tão logo o negócio deixa de ser
meramente sua intenção e passa a ser seu único princípio.” (ADORNO E HORKHEIMER,
1979, p 131).

Esclarecimento deturpado
Os autores questionam a concepção tradicional de esclarecimento como um
processo de emancipação intelectual. Eles argumentam que, na sociedade contemporânea,
o esclarecimento se transformou em um instrumento de dominação, manipulação e
controle das massas. O suposto progresso do esclarecimento tornou-se uma ilusão que
perpetua a alienação e a opressão.

“Os padrões teriam resultado originariamente das necessidades dos consumidores: eis por
que são aceitos sem resistência. De fato, o que o explica é o círculo da manipulação e da
necessidade retroativa, no qual a unidade do sistema se torna cada vez mais coesa. O que não
se diz é que o terreno no qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que
os economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a
racionalidade da própria dominação.” (ADORNO E HORKHEIMER, 1979, p 100)

Mistificação das Massas


Os autores discutem como a indústria cultural cria uma falsa ilusão de liberdade
e escolha para as massas, ao mesmo tempo em que as submete a um controle e
manipulação ideológica. As massas são enganadas e mantidas em um estado de
passividade e conformidade, perdendo a capacidade crítica e autônoma.

“Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e


empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais.
Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização
histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a
liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção económica, revela-se em
todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.” (ADORNO E
HORKHEIMER, 1979, p.138).

Padronização
A padronização segundo os autores, é a capacidade da indústria cultural de
produzir produtos culturais com forma estrutura que atendam e mantenham um
determinado padrão e uniformidade, buscando atingir o maior público possível. Isso
resulta na perda da diversidade cultural e na promoção de uma cultura de massa
homogênea, que enfraquece a individualidade e a expressão criativa.
“Na indústria, o indivíduo é ilusório não apenas por causa da padronização do modo de
produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional com o universal
está fora de questão. Da improvisação padronizada no jazz até os tipos originais do cinema,
que têm de deixar a franja cair sobre os olhos para serem reconhecidos como tais, o que
domina é a pseudo-individualidade. O individual reduz-se à capacidade do universal de
marcar tão integralmente o contingente que ele possa ser conservado como o mesmo. [...] As
particularidades do eu são mercadorias monopolizadas e socialmente condicionadas, que se
fazem passar por algo de natural.” (ADORNO E HORKHEIMER, 1979, p.128)

Com base nessas observações de cada um desses conceitos, corroborados pelas citações
dos autores, podemos perceber a intrincada correlação desses elementos agindo em prol do
desenvolvimento da indústria cultural. Ela é impulsionada pelo esclarecimento que assume um
papel deturpado, onde originalmente prometia emancipação das pessoas, mas que é transformado
em uma forma de dominação. Alia-se a essa relação à padronização que simplifica e uniformiza
os produtos culturais para atingir um público amplo. Essa padronização contribui para a
mistificação das massas, tratando-as como uma massa homogênea sem levar em conta suas
diferenças individuais.
A cultura de consumo produzida pela indústria cultural nos impõe padrões de
pensamento e comportamento, direcionando as pessoas para um consumo passivo de
entretenimento. Esses conceitos se entrelaçam para criar uma sociedade em que a cultura se torna
uma mercadoria, as pessoas são alienadas de sua individualidade e autonomia, e a dominação e a
conformidade encontram mais um mecanismo no engendro capitalista para sua perpetuação.

Referência
ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max. Industria cultural: O esclarecimento
como mistificação das massas. In: _____. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Editora Graal, 1979

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